Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
criar incentivos para que as partes adotem nível eficiente de precaução; criar incen-
tivos para que as partes adotem nível eficiente de atividade; criar incentivos para
que as partes obtenham informações, sobre o grau de risco e sobre tecnologias de
redução de risco, em nível eficiente; realizar eficiente distribuição social dos riscos;
minimizar custos administrativos; e a realização da justiça (...) 4
1
BATTESINI, Eugênio. Direito e Economia: Novos horizontes no estudo da responsabilidade
civil no Brasil. São Paulo, LTr, 2011, p. 284.
2
Idem.
3
Idem
4
Ibidem, 2011, p. 285.
5
Orlando Gomes identificou na doutrina brasileira um fenômeno que denominou de “giro con-
ceitual”, uma mudança de foco da conduta do causador do dano para a reparação da vítima. “O
aumento do número de danos ressarcíveis em virtude desse giro conceitual do ato ilícito para o
dano injusto, segundo o qual, como visto, a ressarcibilidade estende-se à lesão de todo bem jurídico
protegido, dilata a esfera da responsabilidade civil e espicha o manto da sua incidência. “GOMES,
Orlando. Tendências Modernas na Teoria da Responsabilidade Civil, in Estudos em Home-
nagem ao Professor Sílvio Rodrigues. Rio de Janeiro: Editora Saraiva, 1989, p. 296.
6
Art. 12 do Código de Defesa do Consumidor, por exemplo, fala de responsabilização indepen-
dentemente de culpa.
7
Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados
em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua
natureza, risco para os direitos de outrem.
8
Existe ainda um debate que este texto não pretende abordar, que trata da escolha social da
eficiência como objetivo a ser alcançado pelo Direito. Neste sentido, há vasta literatura sobre as
tensões entre o critério da eficiência, entendido como mandado de maximização de riqueza, e
critério da eqüidade ou justiça. Ver: POSNER, Richard A. The Value of Wealth: A Comment on
Dworkin and Kronman. The Journal of Legal Studies, vol. 9, no. 2. Março. The University of
Chicago Press.1980.
9
Deontologia se liga à ideia de ciência do dever, isto é, o conjunto de regras e deveres concer-
nentes a uma profissão ou atividade. Por exemplo, a deontologia da atividade dos advogados
está prevista no Código de Ética da OAB, uma vez que os conselhos regionais de profissões são
responsáveis por elaborar regras de conduta para os respectivos profissionais.
10
Nesse sentido, Sérgio Cavalieri Filho afirma que: “A responsabilidade extracontratual, por sua
vez, importa violação de um dever estabelecido na lei, ou na ordem jurídica, como, por exem-
plo, o dever geral de não causar dano a ninguém”. CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de
Responsabilidade Civil. 10ª Edição, Editora Atlas, São Paulo, 2012. p. 307. Portanto, a própria
ordem jurídica se estrutura sobre a ideia de existir um direito geral de não causar danos (ou de
cuidado) entre os cidadãos, o qual se consubstancia a partir das normas de responsabilidade
civil, as quais lidam com as situações em que tal dever não é adequadamente observado.
11
Ou seja, enquanto a dogmática tradicional leva em conta fatores como capacidade técnica,
formação, experiência, meio social dos agentes, a AED preocupa-se mais com quem poderia,
ao menor custo, exercer precaução de forma mais eficiente.
12
Economistas baseiam suas análises de eficiência nos critérios da maximização de riqueza e da
maximização de utilidade. Utilidade seria uma medida de satisfação pessoal, do efetivo bem-estar
de cada agente, ou de suas preferências, enquanto a riqueza é medida estritamente em termos de
valor monetário. Uma análise de custo-benefício guiada por maximização de riqueza contrapõe-se
a uma guiada pela maximização da utilidade, na medida em que indivíduos distintos podem
atribuir utilidade distinta (níveis diversos de satisfação) ao dinheiro. Neste caso, poderíamos
medir o valor das câmeras com base em seu valor de mercado (critério da riqueza) ou com base
no valor subjetivo individualmente atribuído pelo proprietário à sua coleção de estimação. Não é
difícil perceber que os impactos da escolha entre tais critérios podem ser muito significativos. Na
verdade, utilidade e riqueza possuem correlações pouco triviais. Não nos aprofundaremos neste
ponto neste texto, mas fazemos a ressalva de que, embora o critério da utilidade seja preferível,
raramente é utilizado na prática, devido a dificuldades de mensuração.
13
Posner utiliza as expressões “plaitiff ” e “victim”, às quais atribuímos a tradução livre ofensor e
vítima.
14
A fórmula foi elaborada pelo juiz Learned Hand no célebre caso United States vs. Carroll Towing
Co., com o objetivo de estabelecer um parâmetro para a caracterização das condutas culposas.
(United States v. Carroll Towing Co., 159 F.2d 169, 173 (2d Cir. 1947))
15
A fórmula é usualmente apresentada pela expressão C < DE, em que C denota o custo marginal
de precaução, e DE o montante do dano esperado. O agente terá agido com culpa quando os
custos marginais de precaução que deixou de adotar forem inferiores à redução marginal do
dano esperado.
16
Note que o benefício marginal é de apenas R$ 12,00, e, portanto inferior ao custo marginal de
precaução de R$ 13,00. Para calcular o benefício marginal basta subtrair o dano esperado antes
da adoção da medida preventiva (0,1% x R$ 20.000,00 = R$ 20,00) do dano esperado após sua
adoção (0,04% x R$ 20.000,00 = R$ 8,00). 20 – 8 = 12.
17
Neste caso a diferença entre 100 km/h e 80 km/h é de 20 km/h, assim como, a diferença entre
60 km/h e 40 km/h também é de 20 km/h, no entanto, a eficiência gerada por cada uma dessas
medidas pode variar significativamente.
18
Podemos pensar em dois tipos de custos: os custos contábeis e os custos de oportunidade.
Custos contábeis são medidos pela saída efetiva de recursos. No caso de uma atividade empre-
sarial, podem ser representados facilmente pelo balanço contábil de uma empresa. Os custos de
oportunidades, por sua vez, incluem não apenas os recursos gastos, mas também aquilo que se
deixa de ganhar. Ao decidir ingressar em uma universidade, por exemplo, um jovem estudante
não pensa apenas no que gasta com essa decisão (tempo, dinheiro etc.), mas também no que
deixa de ganhar por adiar seu ingresso no mercado de trabalho, ou por deixar de se divertir
nos finais de semana antes de uma prova. Os custos de oportunidades levam em consideração,
C < DE
portanto, o valor da melhor alternativa de cada decisão, e com isso aproximam-se mais da ideia
de racionalidade econômica. Quando economistas tratam de custos, em geral utilizam-se da
ideia de custo de oportunidade.
19
POSNER, Richard. Economic Analysis of Law. p. 169, 170. 6th edition. Aspen Publishers: New
York, 2003.
20
Idem.
21
Adam v. Bullock. 227 N.Y. 208, 125 N.E. 93 (1919) (Cardozo J.)
22
Hendricks v. Peabody Coal Co. 115 Ill. App. 2d 35, 253 N.E 2d 56 (1969)
23
Trazer alguma jurisprudência de forma exemplificativa.
24
BATTESINI, Eugênio. Direito e Economia: Novos horizontes no estudo da responsabilidade
civil no Brasil. São Paulo, LTr, 2011, p. 291.
25
Idem.
26
Idem.
27
Diferenciando a Responsabilidade Subjetiva da Objetiva, podemos citar, novamente, Sérgio Ca-
valieri Filho: Na responsabilidade subjetiva, como veremos, serão necessários, além da conduta
ilícita, a culpa, o dano e o nexo causal. Esse é o sentido do art. 186 do Código Civil. A culpa
está ali inserida como um dos pressupostos da responsabilidade subjetiva. Ela é, efetivamente,
o fundamento básico da responsabilidade subjetiva, elemento nuclear do ato ilícito que lhe dá
causa. Já na responsabilidade objetiva a culpa não integra os pressupostos necessários para sua
configuração. CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 10ª Edição,
Editora Atlas, São Paulo, 2012. p. 11.
28
Como ocorre ao se responsabilizar empresas por danos causados por produtos levados ao mer-
cado (art. 931 do CC). Ibidem, 2012, p. 292.
29
Como ocorre no caso da responsabilidade objetiva do Estado, do empregador em relação ao
empregado, dos proprietários de hotéis em relação aos atos danos de hóspedes, entre outros
casos. Idem.
30
Ibidem, 2012, p. 292-293.
31
Note que o benefício marginal de R$ 10,00, é superior ao custo marginal de precaução de R$ 5,00.
Para calcular o benefício marginal basta subtrair o dano esperado antes da adoção da medida
preventiva (0,1% x R$ 20.000,00 = R$ 20,00) do dano esperado após sua adoção (0,05% x R$
20.000,00 = R$ 10,00). 20 – 10 = 10.
32
“Avaliando os incentivos gerados pelas regras de responsabilidade civil sobre o nível de precau-
ção, em contexto de causação bilateral, tem-se: que as regras de ausência de responsabilidade e
de responsabilidade objetiva não proporcionam incentivos para que, respectivamente, o autor
e a vítima adotem nível ótimo de precaução e que as regras de responsabilidade objetiva com
exclusão do nexo causal por culpa da vítima, responsabilidade objetiva com redução do valor
da indenização proporcional à culpa da vítima, responsabilidade subjetiva, responsabilidade
subjetiva com exclusão do nexo causal por culpa da vítima e responsabilidade subjetiva com
redução do valor da indenização proporcional à culpa da vítima são capazes de induzir à adoção
de nível ótimo de precaução por autor e vítima.” BATTESINI, Eugênio. Direito e Economia:
Novos horizontes no estudo da responsabilidade civil no Brasil. São Paulo, LTr, 2011. p. 288.
33
COOTER, Robert; ULEN, Thomas. Law & Economics. p. 336-338. 5th edition. Pearson Publish-
ers: Chicago, 2008.
34
Adotamos neste exemplo uma curva de custo de precaução linear, a despeito dos exemplos
anteriores, para fins de simplificação do modelo. Seguimos assim a formulação elaborada por
COOTER & ULEN.
35
Os custos sociais podem ser representados pelo somatório dos custos de ofensores e vítimas. Con-
sideremos que existem duas funções (O(x) e V(x)) que descrevem os custos ($), respectivamente,
de ofensores e vítimas, para cada nível de precaução adotado. Os custos sociais podem então ser
descritos pela função CS(x)= O(x) + P(x), que associa a cada nível de precaução agregado, um
valor monetário que chamamos de custo social. O ponto p* é aquele em que essa função atinge
um valor mínimo em y ($), ou seja, em que minimizamos o custo social.
36
Vide, para mais informações sobre Teoria dos Jogos, o quinto capítulo deste livro, que aprofunda
o tema.
37
Neste capítulo, não nos aprofundaremos em discussões acerca da aplicabilidade da teoria ao
Direito, ou sequer apresentar de forma completa sua metodologia. Para maiores considerações
obre o tema, ver BAIRD, Douglas, et al. Game Theory and the Law. 3rd edition. Harvard Uni-
versity Press: Cambridge, 1998.
A tabela acima mostra os custos de cada decisão para ambos os agentes38. A vítima
arca com o dano esperado e seu custo de precaução. O ofensor arca apenas com seu
custo de precaução. Em um cenário de ausência de responsabilidade, é fácil notar que
o ofensor tende a não adotar o nível de precaução adequado39. O resultado do jogo
ilustrado na tabela acima é a situação em que a vítima exerce precaução, mas o ofensor
não o faz. Assim, não leva ao resultado eficiente e não minimiza os custos sociais40.
O resultado é bastante intuitivo: sem uma regra que impute responsabilidade ao
causador do dano, ele tem poucos incentivos para assumir os custos do exercício de
precaução. O modelo oferece, sem dúvida, uma representação simplificada da realidade,
mas, ainda assim, nos permite chegar a algumas conclusões. Podemos pensar que alguns
38
Os valores da tabela representam os “payoffs” de cada agente, ou seja, o resultado esperado
em cada situação, dependendo das condutas escolhidas por eles. Nas linhas estão dispostas as
condutas do ofensor, e nas colunas, as condutas da vítima. Os valores, seguindo uma convenção
usual, estão dispostos da seguinte forma: antes de cada vírgula está o resultado do agente cujas
condutas estão dispostas em linhas (ofensor), e após cada vírgula, o resultado do agente cujas
condutas estão dispostas em colunas (vítima). Desta forma, podemos ler a primeira célula da
seguinte forma: quando a vítima exerce precaução e o ofensor também exerce precaução, o custo
para o ofensor é de R$5,00, e o custo para a vítima, nesta mesma situação, é de R$ 9,00.
39
Quer a vítima exerça ou não precaução, o ofensor tende a optar por não incorrer no custo de
precaução de R$ 5,00, em face da alternativa de R$ 0,00.
40
Note que, quando ambos exercem precaução, CS = R$5,00 + R$9,00 = R$14,00; ao passo que,
quando a vítima exerce precaução, mas o ofensor deixa de exercer precaução, temos que CS =
0,00 + R$15,00 = R$15,00. Ocorre neste caso desperdício de recurso social, ainda que do ponto
de vista do ofensor seja vantajoso um cenário jurídico que não o responsabilize pelos danos do
acidente do ponto de vista social temos que essa não é o cenário jurídico ideal, vez que desper-
diçamos R$1,00.
Agora, podemos notar que a vítima é o agente que passa a não ter os incentivos
adequados para exercer precaução. O resultado do jogo apresentado pela tabela é a
situação em que o ofensor exerce precaução, mas a vítima não o faz42. Como o causador
do dano arca com o seu valor integral, a vítima prefere não assumir o custo de pre-
caução. A solução encontrada novamente não é eficiente, e não minimiza o montante
dos custos sociais43.
Assim como no exemplo anterior, a despeito da insuficiência do modelo, podemos
produzir conclusões razoáveis desta análise. Começamos por algumas ressalvas. Em
alguns casos, como em acidentes que causem danos irreparáveis à integridade física da
vítima, podemos pensar que ela terá fortes incentivos para adotar precaução, mesmo
41
Diferenciamos a hipótese da responsabilidade ilimitada da responsabilidade objetiva. Usualmen-
te, a aplicação da regra de responsabilidade civil objetiva admite a defesa da culpa exclusiva da
vítima, o que não admitimos para o que chamamos de responsabilidade ilimitada.
42
Neste caso, quer o ofensor exerça ou não precaução, a vítima tende a optar por não incorrer no
custo de precaução de R$ 5,00, em face da alternativa de R$ 0,00.
43
Note que, quando ambos exercem precaução, CS = R$9,00 + R$5,00 = R$14,00; ao passo que,
quando o ofensor exerce precaução, mas a vítima deixa de exercer precaução, temos que CS =
R$15,00 + 0,00 = R$15,00.
O causador do dano, neste caso, tenderá a exercer precaução. Note-se que, tanto
quando a vítima exerce a precaução, quanto quando ela não o faz, a resposta menos
custosa para o ofensor é exercê-la45. Isto se dá porque ele arca com o dano esperado
44
Vide, por exemplo CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 10ª
Edição, Editora Atlas, São Paulo, 2001.
45
Quando a vítima exerce precaução, o ofensor prefere o custo de exercício de precaução de R$
5,00 a se ver obrigado a pagar por um dano esperado de R$ 10,00; quando a vítima não exerce
precaução, o ofensor novamente opta por arcar com um custo de precaução de R$ 5,00, ao invés
de um dano esperado de R$ 20,00.
46
É possível, também, que o causador do dano também não seja responsabilizado quando ocorrer
um ato de terceiro. O exemplo clássico é o assalto em ônibus. A concessionária não é responsabi-
lizada pelos danos causados a seus passageiros pelo assaltante, uma vez que não é da normalidade
do negócio de transporte de passageiros a prevenção contra assaltos.
A vítima, neste caso, tenderá a exercer precaução. Note-se que, tanto quando o
ofensor exerce precaução, quanto quando não o faz, a resposta menos custosa para a
vítima é exercê-la47. Isto se dá porque ela arca com o dano esperado nos casos em que
não exerce precaução. Podemos dizer que o exercício de precaução neste jogo é uma
estratégia estritamente dominante para a vítima.
O causador do dano, por sua vez, não possui estratégia estritamente dominante48.
Caso a vítima exerça precaução, ele prefere também fazê-lo; caso contrário, prefere
não a exercer. Contudo, sabemos que a vítima tende a fazê-lo, uma vez que esta é sua
estratégia dominante. O ofensor, sabendo disso, decide também exercer precaução.
Assim como no exemplo anterior, o resultado se mantém para o caso de escolhas
diversificadas dos agentes, que tenderão sempre a escolher o nível ótimo de precaução,
pois, ao minimizar seus custos privados, minimizam também os custos sociais em
cada situação.
47
Quando o ofensor exerce precaução, a vítima prefere o custo de exercício de precaução de R$
5,00, a se ver obrigada a pagar por um dano esperado de R$ 10,00; quando o ofensor não exerce
precaução, a vítima novamente opta por arcar com um custo de precaução de R$ 5,00, ao invés
de um dano esperado de R$ 20,00.
48
Isto é, aquela estratégia que sempre será mais favorável, independente da ação do outro jogador.
49
Assim entendidos como a expressão monetária da culpa do causador do dano.
a. Nível de atividade
Como vimos, a análise dos modelos leva à conclusão de que tanto a regra da
responsabilidade subjetiva quanto objetiva fazem com que os agentes adotem um nível
ótimo de precaução quando a culpa de ambos é caracterizada com base nos critérios
oferecidos pela fórmula de Hand. Concluímos que este resultado é eficiente, embora a
realidade da aplicação destas regras nem sempre leve ao que é esperado, dado à exis-
tência de assimetria de informações e custos administrativos.
No entanto, uma variável importante foi deixada de lado ao longo da análise que
produzimos até aqui: o nível, isto é, a frequência da atividade exercida pelos agentes.
50
“Há dois critérios de aferição da previsibilidade: o objetivo e o subjetivo. O primeiro tem em
vista “o homem médio, diligente e cauteloso”. É considerado previsível um resultado quando
o prognóstico de seu advento pode ser exigida do “homem comum normal”, um indivíduo de
atenção e diligência ordinárias. Pelo critério subjetivo a previsibilidade deve ser aferida tendo
em vista as condições pessoais do sujeito, como idade, sexo, grau de cultura etc.” CAVALIERI
FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 10ª Edição, Editora Atlas, São Paulo,
2012. p. 37. Nesse caso, os defensores do critério subjetivo afirmam que a figura do “homem
médio” não observável na prática, eis que algo aparentemente razoável e prudente e um contexto
social, poderia não fazer o menor sentido em outro, portanto, tal abstração, mais provavelmente,
causaria decisões injustas do que seria capaz de uniformizar as condutas sociais.
51
As situações de dano unilateral são aquelas em que a conduta da vítima não influencia a pro-
babilidade de ocorrência do dano, ou o montante do dano. Nestes casos, a análise da conduta
da vítima torna-se dispensável, assim como torna-se desnecessário oferecer incentivos para o
exercício de precaução. Desta forma, a regra da responsabilidade ilimitada, que não oferece in-
centivos para a vítima, mas leva o ofensor à adoção do nível ótimo de precaução, será eficiente,
pois atinge o resultado desejado impondo menores custos administrativos. Ver SHAVELL, Steven.
Foundations of Economic Analysis of Law. Harvard University Press: Cambridge, 2004.
52
Podemos citar como exemplo a responsabilidade civil do Código do Consumidor (arts. 12 e
seguintes) e com o Código Civil de 2002 (arts. 927 em 931), Nesse sentido, vide: CAVALIERI
FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 10ª Edição, Editora Atlas, São Paulo,
2012. p. 150-169.
53
Externalidade é qualquer efeito econômico que, em razão de uma relação entre determinados
agentes, gera efeitos econômicos sobre terceiros, ou seja, sobre indivíduos externos à relação
inicial, com os quais os agentes da relação inicial teriam dificuldades de travar relação direta,
devido a altos custos de transação.
9.4.1 Seguro
Dirigir veículos automotores pode ser considerada uma atividade muito comum.
No entanto é um ato que envolve uma série de decisões, desde grandes, como qual
marca e modelo de automóvel comprar, até menores, como quais horários e locais se vai
trafegar. Todavia, todas essas escolhas acarretam, em maior ou menor grau, no aumento
54
Para uma análise mais completa dos incentivos dos agentes em relação ao nível de atividade
em cada regime de responsabilidade civil, ver: SHAVELL, Steven. Foundations of Economic
Analysis of Law. Harvard University Press: Cambridge, 2004.
55
Para verificar a afirmativa, basta aplicar o mesmo raciocínio às avessas. Como a vítima arca
sempre com os danos esperados, mesmo quando exerce precaução (uma vez que os danos de-
correntes do acidente recaem naturalmente sobre si, e tendo em vista que o ofensor tenderá a
exercer precaução e, portanto, não ser responsabilizado), a escolha do nível ótimo de precaução
é também aquela que minimiza seus custos individuais.
56
GROSSMAN, Peter Z.; CEARLEY Reed W.; COLE, Daniel H. Uncertainty, insurance and the
Learned Hand Formula. Law, Probability and Risk. vol. 5, 1-18, 2006, p. 4.
57
Ibidem, 2006, p. 6.
58
Ibidem, 2006, p. 9.
59
Motoristas mais cautelosos pagariam um prêmio mais elevado de seguro de automóvel para
compensar o uso excessivo por motoristas menos precavidos.
60
Idem.
61
Conforme mencionado no capítulo de falha de mercados, trata-se de um problema de Risco
Moral, quando o comportamento dos agentes acaba sendo alterado por conta de mudança no
quadro de risco. Nesse caso, antes de adquirir um seguro, o agente adota um nível mais elevado
de precaução, porém, ao estar coberto, o mesmo sujeito reduz seu nível de precaução. Esse
comportamento acaba levando a uma inflação no preço dos prêmios do seguro, os quais devem
ser calculados pré-considerando o risco moral dos agentes.
62
Idem.
Contudo, não obstante proporcionar aumento do bem-estar social, por afastar o risco
da parte avessa ao risco, o seguro constitui instrumento de eficácia relativa, eis que,
com frequência, os mercados de seguro não existem, não são acessíveis a todas as
partes envolvidas em atividades de risco e/ou funcionam de forma imperfeita, além
do que a presença de seguro cria problema adicional de risco moral.63
Portanto, o mercado de seguros pode, por um lado, servir para fornecer infor-
mações aos agentes e aos tribunais em relação à precificação da precaução, bem como
a probabilidade e magnitude de eventos danosos. No entanto, pode, por outro, acabar
gerando problemas ao próprio sistema de responsabilidade, desequilibrando os incen-
tivos à precaução eficiente, especialmente por conta do risco moral. Dessa maneira, é
importante que a regulação do mercado de seguros leve em consideração as regras de
responsabilidade civil do ordenamento jurídico para buscar um sistema eficiente de
precaução de acidentes.
63
BATTESINI, Eugênio. Direito e Economia: Novos horizontes no estudo da responsabilidade
civil no Brasil. São Paulo, LTr, 2011., p. 290.
64
COOTER, Robert; ULEN, Thomas. Direito e Economia. Quinta Edição. Porto Alegre. Bookman,
2010, p. 385.
Nos EUA esse raciocínio pode ser identificado na análise dos argumentos acio-
nados no julgamento emblemático do caso conhecido como Grimshaw v. Ford Motor
Co. (caso do Ford Pinto).66 O caso corresponde a situação de um motorista que, ao
se envolver em um acidente, teve seu automóvel, da marca Ford, envolto em chamas,
levando o condutor à morte e deixando o passageiro no carona com ferimentos graves.
A reprovabilidade da conduta da montadora ficou comprovada ao ser descoberto que
ela sabia da possibilidade desse tipo de acidente com o veículo, e que, para evitar tal
acontecimento, deveria gastar US$ 11,00 por automóvel. Calculando o custo normal
esperado de cada morte ou ferimento (US$ 200.000,00 e US$ 67.000,00, respectiva-
mente) e a probabilidade de ocorrência do dano, a Ford concluiu que o custo de evitar
completamente eventuais danos, trocando a peça de todos as unidades vendidas, seria
maior que arcar com potenciais indenizações.67
Ao final, o tribunal fixou uma indenização de US$ 2.516.000,00 para Grimshaw
e mais US$ 3.500.000,00 a título de punitive damages sobre a Ford. No total, o custo
foi 90 vezes maior do que a montadora esperava68. Se a avaliação anterior de que o
investimento de US$ 11,00 por unidade não era economicamente vantajoso, o au-
mento da indenização que a empresa poderia ser obrigada a pagar em casos futuros,
mudou o cálculo. Com isso, considerando uma indenização maior e a aplicação das
indenizações punitivas, criou-se um incentivo econômico para a inclusão de um item
de segurança no veículo.
Podemos afirmar, portanto, que o propósito do referido instituto é majorar
economicamente o quantum indenizatório de uma condenação cível, conferindo um
efeito pretensamente punitivo e dissuasório, tanto para evitar a reiteração de conduta
por parte dos agentes condenados, como para dissuadir os demais a não propagarem
65
MENDONÇA, Diogo Naves. Análise Econômica da Responsabilidade Civil. O dano e sua
quantificação. São Paulo. Editora Atlas, 2012, p. 111.
66
ROCHA, Maria Vital da; MENDES, Davi Guimarães. Da indenização Punitiva: Análise de sua
aplicabilidade na ordem jurídica brasileira. Revista de Direito Civil Contemporâneo. RDCC
12. 2017. p. 211-252. p. 233.
67
GROSSMAN, Peter Z.; CEARLEY Reed W.; COLE, Daniel H. Uncertainty, insurance and the
Learned Hand Formula. Law, Probability and Risk, Oxford, v. 5, p. 1-18, 2006, p. 7.
68
Idem.
69
COOTER, Robert; ULEN, Thomas. Direito e Economia. Quinta Edição. Porto Alegre. Bookman,
2010, p. 385.
70
ROCHA, Maria Vital da; MENDES, Davi Guimarães. Da indenização Punitiva: Análise de sua
aplicabilidade na ordem jurídica brasileira. Revista de Direito Civil Contemporâneo. RDCC
12. 2017. p. 234.
71
COOTER, Robert; ULEN, Thomas. Direito e Economia. Quinta Edição. Porto Alegre. Bookman,
2010, p. 386.
72
Ibidem, 2010, p. 387.
73
Ibidem, 2010, p. 388. “... Cooter e Ulen sugerem a adoção, no sistema jurídico da regra segundo
a qual, na concessão de indenizações punitivas, o múltiplo a ser utilizado corresponda sempre
ao inverso do erro de execução (“múltiplo punitivo”). Demonstrando-se que o autor do dano
deixou de adotar determinadas medidas de cuidado porque sabia que apenas uma fração dos
lesados o demandaria, caberá ao magistrado impor uma indenização mediante aplicação do
múltiplo punitivo.” MENDONÇA, Diogo Naves. Análise Econômica da Responsabilidade
Civil. O dano e sua quantificação. São Paulo. Editora Atlas, 2012, p. 77-81.
Não há, com isso, no Brasil, uma definição clara sobre quando e como as inde-
nizações punitivas podem ser aplicadas. Na realidade, ao fixar uma indenização, os
magistrados geralmente limitam-se a apenas afirmar se o dano foi material ou moral,
não delimitando qual parcela da condenação tem natureza compensatória e qual tem
natureza punitiva.
Com isso, a aplicação do instituto no ordenamento jurídico brasileiro sofre diver-
sas críticas. Em primeiro lugar, podemos falar de uma possível violação ao princípio
da vedação ao enriquecimento sem causa. O art. 884 do CC/0275 proíbe que alguém
se beneficie injustamente, em detrimento de outrem. A jurisprudência nacional reco-
nhece que a indenização deve se prestar a seu fim reparatório, sem, entretanto, causar
enriquecimento à vítima. As indenizações punitivas poderiam ferir esse princípio na
medida em que se confere à vítima (ou a algum terceiro), um valor que, reconhecida-
mente, não terá fim meramente reparatório.76
Todavia, podemos afastar o argumento do enriquecimento sem causa ao conside-
rarmos que a fixação de indenizações punitivas decorre de um ato do Poder Judiciário,
de modo que o pagamento é determinado por uma sentença, que confere legitimidade
mais que suficiente à transferência de renda.77
Um segundo argumento contrário seria a ausência de previsão legal para a
determinação da condenação mediante a aplicação de indenizações punitivas, pois
sua fixação representaria um descumprimento ao princípio da legalidade. Isto por-
que a previsão de uma indenização punitiva só poderia ser aplicada após a devida
manifestação do poder legislativo, em decorrência da própria natureza do sistema
romano-germânico78.
Nesse passo, é comum que se argumente contra a aplicação das punitive damages
porque aumentariam a incerteza em relação às indenizações concedidas pelo Poder
Judiciário. Primeiro, porque sem previsão legal não seria possível saber em quais casos
seriam aplicáveis, bem como não haveria uma previsão clara em relação aos parâmetros
74
Ibidem, 2012, p. 108-109.
75
Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a restituir
o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários.
76
ROCHA, Maria Vital da; MENDES, Davi Guimarães. Da indenização Punitiva: Análise de sua
aplicabilidade na ordem jurídica brasileira. Revista de Direito Civil Contemporâneo. RDCC
12. 2017. p. 238.
77
Ibidem,2017, p. 239.
78
Ibidem, 2017, p. 242-246.
86
Dispõe o art. 932: “São também responsáveis pela reparação civil: I – os pais, pelos filhos menores
que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; II – o tutor e o curador, pelos pupilos e
curatelados, que se acharem nas mesmas condições; III – o empregador ou comitente, por seus
empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;
IV – os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro,
mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos; V – os que gratui-
tamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia”. E o art. 933:
“As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua
parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos”.
87
COOTER, Robert; ULEN, Thomas. Direito e Economia. Quinta Edição. Porto Alegre. Bookman,
2010, p. 374.
88
“A regra cria um incentive para que o empregador tenha cuidado ao selecionar empregados,
distribuir tarefas e decidir que ferramentas serão usadas. A situação é eficiente se os empregadores
estão melhor posicionados que os empregados para tomar tais decisões, o que geralmente é o
caso” Ibidem, 2010, p. 374-375.
89
Ibidem, 2010, p. 375.
Podemos ver que, nos defeitos referidos acima, a empresa fabricante está em
melhor posição para internalizar os custos face à ocorrência de danos. Com isso, con-
sideramos a existência de uma responsabilidade objetiva, conforme prevista no próprio
Código de Defesa do Consumidor,
90
Arts. 12 e seguintes do CDC: Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estran-
geiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos
danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção,
montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. § 1º O pro-
duto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se
em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I – sua apresentação; II – o uso e
os riscos que razoavelmente dele se esperam; III – a época em que foi colocado em circulação.
§ 2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido
colocado no mercado. § 3º O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será
responsabilizado quando provar: I – que não colocou o produto no mercado; II – que, embora
haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; III – a culpa exclusiva do consumidor
ou de terceiro. Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior,
quando: I – o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados;
II – o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou
importador; III – não conservar adequadamente os produtos perecíveis. Parágrafo único. Aquele
que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os demais
responsáveis, segundo sua participação na causação do evento danoso. Art. 14. O fornecedor de
serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados
aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. § 1º O serviço é defeituoso quando
não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as
circunstâncias relevantes, entre as quais: I – o modo de seu fornecimento; II – o resultado e os
riscos que razoavelmente dele se esperam; III – a época em que foi fornecido. § 2º O serviço não
é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas. § 3º O fornecedor de serviços só não
será responsabilizado quando provar: I – que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; II – a
culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. § 4º A responsabilidade pessoal dos profissionais
liberais será apurada mediante a verificação de culpa.
91
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 10ª Edição, Editora Atlas,
São Paulo, 2012, p. 195.
92
COOTER, Robert; ULEN, Thomas. Direito e Economia. Quinta Edição. Porto Alegre. Bookman,
2010, p. 393.
93
Ibidem, 2010, p. 394.
94
“Mulher morre depois de usar cortador de grama enquanto chovia no RS”. Disponível em: http://
g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/rbs-noticias/videos/v/mulher-morre-depois-de-usar-corta-
dor-de-grama-enquanto-chovia-em-erechim-rs/3085946/ Acesso em 24/07/2019.
95
COOTER, Robert; ULEN, Thomas. Direito e Economia. Quinta Edição. Porto Alegre. Bookman,
2010, p. 371.
96
Idem.
97
Idem.
98
Idem.
99
“Algumas atividades arriscadas atraem empresas descapitalizadas, capazes de usar a falência
para evitar a responsabilização. As empresas com alto nível de capitalização costumam evitar
as mesmas atividades para evitar também o risco de serem responsabilizadas. Em setores nos
quais as empresas descapitalizadas enfrentam o risco de falência, as normas de segurança têm
vantagem sobre a responsabilidade. Coletando multas quando da ocorrência de acidentes, as
autoridades forçam as empresas descapitalizadas a seguirem padrões de segurança que seriam
violados caso a única sanção disponível fosse a responsabilização. Ibidem, 2010, p. 367.
100
Como ocorreu no Golfo do México: Desastre do Golfo do México causou US$ 17,2 bi em dano
ambiental. Disponível em: https://exame.abril.com.br/economia/desastre-do-golfo-do-mexico-
-causou-us-172-bi-em-dano-ambiental/ Acesso em 17/07/2019.
101
COOTER, Robert; ULEN, Thomas. Direito e Economia. Quinta Edição. Porto Alegre. Bookman,
2010, p. 381.
102
Ibidem, 2010, p. 381-382.
103
Idem.
104
Ibidem, 2010, p. 381-382.
105
Pensando do ponto de vista da moralidade social geral, a ideia de vender um filho é considera-
velmente repulsiva, assim como não parecer ser provável que encontremos pessoas dispostas a
perder membros em troca de dinheiro, não importa quanto seja o valor.
106
Ibidem, 2010, p. 382.
107
MENDONÇA, Diogo Naves. Análise Econômica da Responsabilidade Civil. O dano e sua
quantificação. São Paulo. Editora Atlas, 2012, p. 77-81.
Para aplicar o método em uma disputa jurídica, o tribunal deve considerar aquelas
situações na quais o risco é “razoável” e conhecido. Nessas circunstâncias, haverá
algum valor p para a probabilidade de um acidente fatal e algum valor B para o
ônus da precaução. A eficiência exige que tomemos precauções adicionais até
que o ônus seja igual à mudança na probabilidade p multiplicada pela perda L,
ou B = pL. (Observe que essa é a regra de Hand.) Assim, o tribunal resolve a
equação L para calcular o valor do risco fatal, produzindo L = B/p.
Observe como o método utiliza a regra de Hand de modo incomum. Normal-
mente, o tribunal usa a regra de Hand para determinar se a precaução do autor
do dano satisfaz o parâmetro jurídico. No caso incomum, o agente utiliza o
parâmetro jurídico de cuidado aceito, violado pelo indivíduo, para determinar
sua responsabilidade.110
O método pode parecer menos preocupado com a vida humana em si, por par-
tirmos de valores estritamente monetários. Não obstante, por meio do acionamento
de testes empíricos, é possível comprovar que o cálculo de indenizações utilizando a
fórmula de Hand pode definir valores mais elevados que os atualmente concedidos
pelos Tribunais.111 Assim, embora não seja possível atingir uma indenização perfeita,
conseguimos, mesmo que de forma indireta, estimar um patamar mínimo de valori-
zação da própria vida pelos indivíduos.
No presente capítulo procuramos apresentar algumas análises produzidas por
estudiosos do campo da AED no âmbito da Responsabilidade Civil Extracontratual que
entendemos ser úteis para o avanço da disciplina. Identificamos a Responsabilidade
Civil no Brasil como um campo em desenvolvimento, que passa por um processo de
transformação no sentido da objetivação das regras de responsabilidade. Com isso
procuramos apresentar instrumentos analíticos advindos da AED que possam auxiliar
o jurista a entender essas transformações. Para tanto, dividimos didaticamente os mo-
delos apresentados de forma a progressivamente aumentar a complexidade da análise.
Inicialmente, apresentamos o modelo desenvolvido na jurisprudência Norte-A-
mericana pelo juiz Learned Hand, que se foca na conduta do causador do dano, nos
custos de precaução e no dano esperado. A chamada fórmula de Hand tem o mérito
108
COOTER, Robert; ULEN, Thomas. Direito e Economia. Quinta Edição. Porto Alegre. Bookman,
2010, p. 383
109
Explicamos com a seguinte equação: 1/10.000 (valor do risco fatal) = 200; (valor do risco fatal)
= 200/(1/10.000); (valor do risco fatal) = 2.000.000.
110
Idem.
111
Ibidem, 2010, p. 384.
112
BATTESINI, Eugênio. Direito e Economia: Novos horizontes no estudo da responsabilidade
civil no Brasil. São Paulo, LTr, 2011. p. 293.