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EM BUSCA DA PREVENÇÃO E PRECAUÇÃO CONTRA A DILUIÇÃO DA

RESPONSABILIDADE AMBIENTAL: considerações sobre a complexidade do desafio de


efetivação da ordem constitucional ambiental

Diva Júlia Sousa da Cunha Safe Coelho1

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O presente artigo expõe os resultados de pesquisa que teve por finalidade promover uma
reflexão sobre a diluição da responsabilidade ambiental nas relações empresariais em sentido
amplo e a necessidade de uma resposta jurisdicional comprometida com a efetividade da ordem
constitucional ambiental. Visa apresentar, por meio de uma análise que parte da interligação dos
princípios basilares do direito ambiental no que tange sobretudo à responsabilidade penal
ambiental, o quadro atual de condição de eficácia desses frente às estratégias empresariais para
mitigar a eficiência dos procedimentos de aplicação de penalidades ambientais. Verificou-se no
decorrer da pesquisa, que a máxima efetividade da proteção contra o dano ambiental passa por
uma correta capacidade de identificar, no seio das atividades empreendedoras, o rol de agentes
responsáveis pelo dano, de modo a impedir que a plurilateralidade da responsabilidade pelo dano
ambiental não seja distorcida de modo a produzir o que chamaremos de “diluição da
responsabilidade ambiental”, pela qual, em razão da inafastável garantia da individualização do
agente e da pena, práticas ambientais abusivas poderiam ser cometidas (e de fato as são) sem que
se consiga efetivamente punir com rigor todos os responsáveis.
Ao se concluir a elucidação do tema proposto neste artigo acadêmico acerca da, é
necessário ressaltar que a análise proposta busca evidenciar o quanto é importante buscar um
tratamento doutrinário-argumentativo para a nova ordem constitucional-ambiental que possibilite
1
Doutora em Cidadania e Direitos Humanos pela Universitat de Barcelona (UB), mestre em Filosofia Política junto
ao Programa de Mestrado em Filosofia da Universidade Federal de Goiás (UFG), e graduada em Direito pela
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas). Pesquisadora do Grupo de Pesquisa Processo
Fraterno e Direito do Agronegócio da Universidade de Rio Verde (UniRV), junto ao CNPq. Membro permanente
do Grupo Internacional de Pesquisa em Cultura, História e Estado (GIRCHE) da Universitat de Barcelona (UB).
Membro permanente do Laboratório Americano de Estudos Constitucionais Comparados (LAECC), junto ao
CNPq. Membro do Grupo de Pesquisa “Processo Fraterno e Direito do Agronegócio” da Universidade de Rio
Verde (UniRV), certificado pelo CNPq. Contato: <divajulia.safe@gmail.com>.
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a sua máxima eficácia, em atendimento aos princípios da hermenêutica constitucional


contemporânea na perspectiva do neoconstitucionalismo em sua vertente esclarecida
(BARROSO, 2008) que não se confunde com um ativismo judicial ideologizado (STRECK,
2009) mas sim com o compromisso em garantir que as normas constitucionais de fato alcance o
plano da efetividade segundo os critérios e instrumentos previstos na própria constituição
(BARROSO, 2009), o que somente pode ocorrer se na compreensão das normas infra-
constitucionais estas forem estruturadas como desdobramento dos conteúdos constitucionais e se
a necessidade de interpretá-las conforme a máxima eficácia da constituição figurarem como
primeira baliza do hermeneuta e operador do Direito Ambiental.

2 A RESPONSABILIZAÇÃO OBJETIVA DA EMPRESA E DO EMPRESÁRIO PELO


DANO AMBIENTAL

2.1. Definição do modelo comportamental investigado

Muitos são os doutrinadores, tais como Regis Prado (2006), José Adércio Leite Sampaio
(2003) e Guilherme Feliciano (2005), a rechaçarem que, quando uma empresa é penalizada, por
conseguinte seus sócios acionistas e/ou até mesmo seus empregados sofrem, de alguma forma,
repreenda por parte da opinião pública, sendo eficiente essa repreenda. Outros, tais como Bessa
Antunes (2005) consideram que mesmo sendo verificável que a opinião pública, ao fazer a
identificação empresa-empresário tende a certamente atribuir ao sujeito empresário o ônus da
pena imputada à empresa, tal censura social não satisfaz ao Direito, nem à sociedade que confia
ao Direito a função de, como explica Bobbio (2001), compor, ao lado e com relativa
independência em relação às sanções advindas de outras esferas sociais, uma sanção
institucionalizada para aqueles a quem se imputa alguma conduta ilícita.
Nesse sentido, temos posicionamentos importantes tais com o de Feliciano, que afirma:

Nem se argumente que essa temibilidade compromete o princípio Constitucional da


responsabilidade pessoal (Art.5º, XLV), tanto mais quando empresa e empresário se
identificam na percepção da opinião pública. Há que discrepar, conceitualmente, o que
sejam efeitos jurídicos da pena e o que sejam seus efeitos sociais. O princípio da
responsabilidade pessoal cinge-se aos efeitos jurídicos da pena (...). Os efeitos sociais,
porém, não podem ser coarctados, por não dependerem da norma jurídica, mas do
substrato sociológico indissociável do seu plano de eficácia (FELICIANO, 2005, p 223).
3

De fato, a opinião pública pode interferir no processo de responsabilização social,


proferindo manifestações locucionárias e ilocucionárias de censura e reprovação por um ato
praticado (cf. HABERMAS, 1989), endereçadas ao empresário, ou à pessoa física que emprega
sua força de trabalho em uma pessoa jurídica, no entanto tal reprovação social não basta para se
considerar que seja juridicamente punida apenas a empresa enquanto pessoa jurídica na qual se
inserem esses sujeitos.
Outro erro consiste em adotar a postura radicalmente contrária, igualmente geradora de
ineficácia constitucional, qual seja, punir apenas os empresários, ou profissional que produziu o
ato danoso ao meio ambiente, e com isso considerar desnecessária a punição à própria empresa.
O que de fato se observa nas práticas jurisdicionais a tal respeito é a imputação da
empresa, que arca com toda a responsabilidade por atos praticados por seus administradores de
uma forma geral, sendo estes considerados atos dela, decorrendo da respectiva imputação, sê-la
aplicada a punição de acordo com a gravidade do ato típico, cessando aí a persecução na esfera
penal e a responsabilização na esfera administrativa e civil.
Outra situação que se vislumbra nos dias atuais são os sérios problemas quanto às
“empresas-laranja”, às fraudes e principalmente degradações ambientais feitas por empresas
descompromissadas com a responsabilidade ambiental e o desenvolvimento sustentável, que por
vezes emprestam seus serviços a outras empresas e, na condição de prepostas de tomadores de
serviços, ao lesarem o meio ambiente criam uma teia, entre empresas, empresários e funcionários,
de possíveis responsáveis na qual se perdem muitas vezes as instituições públicas que possuem a
função de perseguir e aplicar as respectivas punições.
O próprio poder público acaba por vezes compondo essa rede de possíveis responsáveis,
quando por ação ou omissão, seja no licenciamento, seja na fiscalização, acaba permitindo que
ocorra a prática do ato danoso pelo particular. E nesse caso soma-se à teia de possíveis
responsáveis, que precisam ser corretamente identificados e imputados, tanto a administração
pública, quantos os agentes públicos eventualmente envolvidos. Novamente observa-se que a
estratégia empresarial é, nesses casos, furtar-se da imputação alegando a responsabilidade do
poder público.
Cabe deixar claro de a estratégia empresarial furtiva que aqui estamos a apresentar não é
nessa investigação acadêmica tratada enquanto modelo comportamental necessário, verificável na
4

postura de toda e qualquer empresa, mas como um modelo comportamental possível e percebível
na ação de uma parcela significativas de empresas que atuam diretamente no meio ambiente. Há,
é certo, empresas que não adotam as posturas acima narradas e para elas não cabe os juízos aqui
feitos. Porém isso não mitiga o esforço que se as instituições públicas que recebem o dever de
proteger o meio ambiente raciocínios jurisdicionais cabazes de, em nome da efetividade da ordem
constitucional ambiental, furar as defesas criadas pelas estratégias de diluição da
responsabilidade que algumas empresas adotam.

2.2. Uma análise principiológica crítica em torno da Responsabilidade da Pessoa Jurídica e


seus Administradores

Nesse prisma, faz-se necessário abordarmos alguns princípios de maior relevância no


Direito Ambiental, numa perspectiva sistemático-teleológica Canaris, (1989), para clarificar de
quem são as responsabilidades advindas de danos ambientais e, também, quem são os
responsáveis dentro da empresa de impedir tais danos, e de que modo cada um deles pode ser
responsabilizado na medida de sua concorrência para o dano.
O primeiro princípio a ser analisado é o que está presente no caput do artigo 225 da
CRFB/88, qual seja, o princípio do direito humano fundamental ao meio ambiente sadio. O
Direito Ambiental tem como principal preocupação o ser humano, tendo como objetivo tentar
melhorar suas condições de vida.
Um ambiente sadio não deve ser entendido e/ou desejado como uma utopia, visto que
existe tanta fome e pobreza no mundo, e a cada dia mais e mais danos causados por devastações e
uso desenfreado de recursos naturais.
Esse princípio nos faz centro do Direito Ambiental, no entanto não nos confere a
liberdade de destruir desenfreadamente o Ambiente para a obtenção, seja de importantes
utilidades materiais imediatas, seja de lucro, mesmo que em nosso proveito. O direito ao meio
ambiente sadio exige a ponderação sobre o problemático princípio do desenvolvimento
sustentável.
5

Analisando o Princípio do Direito ao Desenvolvimento 2, faz-se necessário a explicitação


de um contraponto entre a pobreza (condições subumanas de vida) e as condições ambientais.
Nota-se destoante a distribuição de renda em todo o planeta. Esse fato é o principal obstáculo
para termos um ambiente sadio, pois não podemos nos limitar a observar apenas ao nosso redor.
O Direito Ambiental é universal (transindividual), e só poderemos alcançar um nível social
adequado quando conseguirmos ultrapassar fronteiras (municipais, estaduais e nacionais) de
modo a nivelar os extremos do contraponto aludido.
O Princípio Democrático confere o direito de participação ao cidadão na construção de
políticas públicas ambientais3 e informações de seu interesse 4. Vários são os instrumentos
constitucionais postos à disposição dos cidadãos, tais como o Plebiscito (art. 14, I, CRFB/88), a
iniciativa popular (art.14, II, CRFB/88) e o Referendo (art.14, II, CRFB/88), e ainda medidas
administrativas e medidas judiciais.5 (BRASIL, 1988).
A Precaução é considerada um princípio, distinguindo-se da Prevenção, outro princípio de
Direito Ambiental, ambos com o intuito de saber a proporção do dano, para buscar
consequentemente sua eliminação.
Para Machado (2002), o Princípio da Prevenção se distingue do Princípio da Precaução
em razão da natureza do dano Ambiental. No caso do Princípio da Prevenção, a Ciência não tem
dúvidas quanto à implicação de dano ambiental certo, enquanto o Princípio da Precaução ainda
não se pode afirmá-lo, uma vez que não é sabido cientificamente que certa obra ou material
poderá acarretar dano ao Ambiente.
A incerteza mencionada no Princípio da Precaução não é bastante para impedir o uso de
recursos naturais em empreendimentos, haja vista que Direito Ambiental também trabalha com

2
A Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento dispõe em seu §1º do art. 1º e § 1º do art. 2º, respectivamente,
in verbis: “O direito ao desenvolvimento é um direito humano inalienável, em virtude do qual toda pessoa e todos
os povos estão habilitados a participar do desenvolvimento econômico, social, cultural e político, a ele contribuir e
dele desfrutar, no qual todos os direitos humanos e liberdades fundamentais possam ser plenamente realizados” e
“A pessoa humana é o sujeito central do desenvolvimento e deveria ser participante ativo e beneficiário do direito
ao desenvolvimento”.
3
Evidenciando o Cidadão como sujeito principal do Direito Ambiental, e ao mesmo tempo concedendo-o direito de
opinar e obter informações junto ao Poder Público, consolidando o Estado Democrático de Direito.
4
Direito constitucional de informação previsto no art. 5º, XXIII, CRFB/88. No Direito Ambiental denominado
Princípio da Publicidade, previsto no art. 225, § 1º, VI, CRFB/88.
5
São medidas administrativas originárias do Princípio Democrático: direito de informação (art. 5º, XXIII,
CRFB/88), direito de petição (art. 5º, XXIV, CRFB/88), estudo prévio de impacto ambiental (art. 225, §1º,IV,
CRFB/88). E medidas judiciais originárias do Princípio em tela: ação popular e ação civil pública, ambas
constitucionais.
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riscos, tais como outros seguimentos do Direto, e isso não quer dizer que não existam
instrumentos para minimizar tais riscos.
Um instrumento em evidencia é o Estudo Prévio de Impacto Ambiental6, que é obrigatório
em nosso País e está previsto no art. 225, § 1º, IV, da nossa Carta Magna. E é incumbido ao
Poder Público “Exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação ao Meio Ambiente, o Estudo de Impacto Ambiental, a que
se dará publicidade” (BESSA, 2005, p. 249).
Nesse diapasão, podemos concluir que cabe ao Poder Público de uma forma geral (não
excluindo nesse sentido, o dever jurídico do cidadão de proteger e preservar o Meio Ambiente), a
função-dever de fiscalizar todo e qualquer procedimento que irá causar, mesmo que
potencialmente, dano não-insignificante ao Meio Ambiente. Demonstrando de maneira clara,
uma das maiores deficiências do Estado.
Apesar de serem criados vários órgãos no âmbito do SISNAMA 7 e, dos Sistemas
Estaduais de Meio Ambiente8, com o objetivo de fiscalizar, ainda sim, é possível ver
cotidianamente degradações feitas por empreendimentos e usos desmedidos dos recursos
naturais, que são punidos após ocorrerem e que muitas vezes se deram porque não se respeitaram
os Princípios da Prevenção e Precaução.
Nesse contexto, é importante esclarecer um equivoco que ocorre quando se faz uma
leitura rápida do Princípio do Poluidor Pagador (PPP)9, ensejando o seguinte entendimento: paga-
se para ter o direito de poluir. Não é esse o caminho correto a se perfazer. Tal Princípio tem como
escopo retirar das costas da sociedade e passar para quem faz uso dos recursos ambientais,
mediante a incorporação das externalidades negativas, ou seja, passar a atribuir o “custo” 10 da
exploração de recursos ambientais a quem de fato tem o aludido como atividade lucrativa.
6
Para Antunes (2005), o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) é o instrumento para assegurar a boa qualidade
ambiental. Também é fonte de informações técnicas, para a consecução plena e total dos objetivos fixados pela
Política Nacional do Meio Ambiente.
7
Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNANA). Está presente na Lei 6.938/81, art. 6º.
8
No caso de Minas Gerais chama atenção o Instituto Estadual de Florestas (IEF) do Estado de Minas Gerais, que
tem o objetivo de propor e executar políticas florestais. É uma Autarquia (pessoa jurídica de direito publico)
vinculada à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, no âmbito do SISEMA:
Sistema Estadual de Meio Ambiente do Estado de Minas Gerais. (Vide Lei Estadual nº 14.309/2002).
9
O Princípio do Poluidor Pagador, contemplado pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico), adotado pela Recomendação C (72) 128, do Conselho Diretor que trata de princípios dos aspectos
econômicos das políticas ambientais, datando de 26 de Maio de 1972. (BESSA, 2005)
10
Não há referência direta ao repasse desses custos ao consumidor, e é o Princípio do Usuário Pagador que trata
disso. Esse Princípio vem regulado de forma genérica pelo art. 4º, VII, da Lei 6.938/81, que estabelece dentre os
objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente, impor ao usuário uma contribuição pela utilização de recursos
ambientais com fins econômicos (ANTUNES, 2005, p. 39-40).
7

O Professor Adriano Stanley (2003), faz uma observação muito pertinente em relação ao
princípio, in verbis:

Também aqui o Direito Ambiental se contrapõe ao sistema tradicional. Neste a regra é


que aquele que esgota um recurso comum não precisa compensar a coletividade, já que
também é titular de tal recurso [...] a adoção do sistema tradicional é hipótese clara de
subsídio, que em termos ambientais a de ser evitada, através da obrigação daquele que
explora o bem, de pagar pelo seu consumo. Bem este que, justamente por ser de todos,
não pode ser explorado de maneira exclusiva por ninguém, a menos que pague por esta
exploração (STANLEY, 2003, p.69).

O princípio do poluidor pagador tem como objetivo estabelecer uma compensação


ambiental prévia presumida pela exploração dos recursos naturais tendo em vista da verificação
de intervenção no ambiente, inerente à atividade. Um instrumento jurídico busca tal fim pela
fixação de um preço nos recursos ambientais (que tem de ser compatível com a degradação
ambiental provocada pela exploração), posto que são escassos, para que esse ônus recaia sobre
quem de fato os explora visando ao lucro, passando assim, para os exploradores de atividade
econômica que façam uso dos recursos naturais, e retirando este preço da responsabilidade da
sociedade. O custo advindo do princípio do poluidor pagador não pode substituir a
responsabilidade por danos ambientais causados ou mesmo a punição por incremento ilegal do
risco ambiental nos casos em que a lei criminaliza tal conduta ou omissão (ANTUNES, 2005, p.
38-40).
Preço compatível quer dizer que, como são escassos os recursos naturais, o ônus a se
pagar para usufruir deles deve ter um valor significativo, tendo em vista evitar todo e qualquer
tipo de desperdício. Vários também são os exemplos de multas ínfimas que ensejam o empresário
a infringir normas, sabendo que o pagamento da referida multa se torna insignificante, uma vez
que o lucro alcançado pelo empreendimento é muito superior à pena de multa. Por isso é que o
PPP rechaça a importância de que se pague um preço correspondente ao dano causado.
O PPP não pode ser confundido com o Princípio da Responsabilidade, posto que neste se
pretende recuperar o dano ambiental, imputando as “penas alternativas” a quem praticar fato
típico, como já referido; essas penas podem colaborar para com o desenvolvimento da sociedade,
apesar do dano já causado11.
11
Menciona, ainda, Antunes (2005, p. 39) sobre as responsabilidades pós-consumo, in verbis: “[...] a
responsabilidade, no sistema jurídico Brasileiro decorre da lei ou do contrato”. A afirmação seria acaciana se, no
caso concreto do Direito Ambiental, não existissem ‘responsabilidades’ derivadas de atos administrativos
emanados do Ministério do Meio Ambiente e de diversos outros órgãos ambientais. Um exemplo eloquente do que
8

Todo empreendimento a ser realizado deve ter uma certa medida, ou seja, há de se fazer
um balanço a fim de buscar e comparar todas as consequências (econômicas e ambientais) para se
possa determinar a viabilidade de um projeto. Deve-se levar em conta o quão de utilidade
efetivamente importará à comunidade sem, contudo, gerar danos excessivos ao Ambiente; é o que
preceitua o Princípio do Equilíbrio12. (ANTUNES, 2005, p.36).
Outro princípio de grande importância é o Princípio do Limite, disposto de acordo com o
art. 225, §1º, V, CRFB/88. A Administração Pública tem a função-dever de estabelecer limites a
tudo que de alguma forma possa gerar dano ao Meio Ambiente, sob penas casos não respeitados.
Antunes (2005, p 37) afirma que “a fixação dos limites é de extrema importância, pois será a
partir deles que a Administração poderá impor coercitivamente as medidas necessárias para que
se evite, ou pelo menos se minimize, a poluição e a degradação”.
Mais uma vez, fica evidenciada a função-dever de fiscalização da Administração Pública,
ao passo que o Poder de Polícia 13 consiste na limitação do exercício de direitos individuais em
razão do interesse público (DI PIETRO, 2008, p.37), nesse seguimento especifico, em razão da
proteção ao meio ambiente saudável.
Restou claro, após a análise dos princípios norteadores do Direito Ambiental, que é dever
do Estado limitar e fiscalizar todo procedimento que gera ou possa gerar dano ao Meio Ambiente.
E, ainda, o dever de responsabilização aos responsáveis pelo dano ao Ambiente. De modo que
nos cabe agora passar à análise de quem são os responsáveis dentro da empresa, ou seja, quais
são as pessoas que têm a incumbência de observar se os procedimentos estão de acordo com a lei,
para que se possam impedir tais danos.
Apesar de a maioria da doutrina entender que a pessoa jurídica deve responder por danos
causados por um administrador, isentando-o da imputação cabível e justa, entendo que uma
empresa é formada por pessoas físicas dotadas de capacidade e objetivos que outrora se
transfiguram com metas a serem cumpridas pelos entes morais. Devendo-se, assim, a

se fala é a chamada responsabilidade pós-consumo, mediante a qual os produtores de determinados produtos


(pilhas e baterias, por exemplo) são responsabilizados pelo descarte final.
12
Segundo Antunes (2005, p. 37), in verbis: “Princípio do equilíbrio é o princípio pelo qual devem ser pesadas todas
as implicações de uma intervenção no meio ambiente, buscando-se adotar a solução que melhor concilie um
resultado globalmente positivo”.
13
Di pietro (2008, p 108), in verbis: “Pelo conceito moderno adotado no direito brasileiro, o Poder de Polícia é a
atividade do Estado consistente em limitar o exercício dos direitos individuais em beneficio do interesse público”.
9

responsabilização atingir não somente a empresa, mas também, o responsável pelo ato gerador de
dano, mais especificamente, prejuízo ao Meio Ambiente14.
Seguindo essa linha de raciocínio, Prado (2005), defende, in verbis:

Na atualidade, vem-se operando uma comunicação entre as esferas de propriedade e


controle nas grandes empresas, e nas pequenas concentram-se nas mãos de uma pessoa.
Isso quer dizer que as alusões a uma suposta vontade coletiva servem, na realidade, para
esconder, camuflar as vontades de pessoa individuais determinadas que realmente
controlam, regem os destinos a pessoa jurídica. É sobre elas que deve recair
propriamente a intervenção jurídico-penal, com penas privativas de liberdade (REGIS,
2005, p.154).

Cabe ao administrador todas as cautelas, posto que sua observância é elemento


fundamental para o bom desenvolvimento da atividade econômica em harmonia com o Meio
Ambiente.

2.3. O devir histórico-teórico da Responsabilidade da Pessoa Jurídica no Direito Ambiental


Brasileiro: com enfoque na criminalização do dano ambiental na ordem jurídica brasileira

Acerca dessa proteção Constitucional ao Meio Ambiente sua cumeada no âmbito da


responsabilidade jurídica ambiental se dá em três caminhos de responsabilização: o da
responsabilidade civil, o da responsabilidade administrativa e o da responsabilidade penal. Tendo
em vista que é nesta última que se tem a maior dificuldade em estruturar uma solidarização e uma
plurilateralização de responsáveis, haja vista as próprias garantias penais constitucionais, dentre
elas o princípio da individualização da pena, a compreensão desse percurso deve centrar forças na
questão da imputação penal de responsabilidade ambiental.

2.3.1. Incursão prévia para uma conceituação da imputação no campo do direito

14
Regis (2005, p 113-114) cita as palavras de Patrono, P., Diritto penale dell’impresa e interessi umani
fondamentali., in verbis: “ O problema da responsabilidade penal da pessoa jurídica é em grande parte um falso
problema, agigantado pela nem sempre consciente tentativa de traslado para o direito penal dos esquemas de
imputação e formas de responsabilidade de tipo civilístico e pela sugestão da experiência jurídica dos países do
common law que contempla a responsabilidade direta das pessoas jurídicas [...], mas ligada prevalentemente a
formas de imputação objetiva, com colateral responsabilidades das pessoa físicas que tenham agido por conta da
sociedade”
10

Nesse sentido, caberia um estudo prévio do devir do próprio conceito de imputação no


pensamento jurídico percurso que, segundo os penalistas brasileiros interessados na questão,
começa em Platão e Aristóteles, passa pelos racionalistas tais como Pufendorf, chega com
pensamento pós-revoluções iluministas, no campo da filosofia, com reflexões como as de Hegel,
e no campo do Direito como análises como as de Savigny, até chegar no pensamento jurídico do
séc. XX, com autores como Larenz, como Roxin e como Honing, em que se tem elaborações que
estruturam uma espécie de teoria geral da imputação jurídica (FELICIANO, 2005).
No contexto pós-revoluções, em Hegel, o conceito de imputação ganha nova configuração
em relação ao marco anterior, pautado na filosofia da consciência (SALGADO, 1996). Ela “é, em
seu sentido mais puro, o reconhecimento da conduta que pertence àquele a quem se imputa.
Imputa-se-me, então, apenas o que pode ser reconhecido como meu” e, ainda, a imputação só
pode recair a um fato como “responsabilidade da vontade” (FELICIANO, 2005, p. 49).
Segundo Hegel (2003), a ação quando em conjunto com o resultado formam uma unidade
dialética, e somente ela é passível de imputação, pois um resultado sem uma ação humana não é
passível de imputação.
A imputação passa a reintegrar a ação, como sua característica interna. Nessa seara, que o
querer (enquanto vontade de agir) é determinante para a composição de um resultado imputável,
vejamos o seguinte:

A vontade atuante no seu fim encontra, na medida em que o orienta para uma existência
dada, representação das circunstâncias. Como, porém, em virtude do que está
pressuposto no § 115º, ela é finita, acontece que a realização exterior é para ela
contingente e pode conter algo que não seja sua representação. Tem, por isso, a vontade
o direito de só reconhecer como ação sua aquilo que ela se representou e de, portanto, só
se considerar responsável por aquilo que sabe pertencer às condições em que atuou por
aquilo que estava nos seus propósitos.(HEGEL, 2003, p 104).

Feliciano afirma que na concepção hegeliana há um primor por dar à vontade atuação de
se distinguir o que deve ou não ser imputado. Nesse sentido, o penalista brasileiro considera que
se pode concluir, em Hegel, que as ações culposas não são passíveis de imputação, em
contrapartida as ações dolosas, exteriorização da vontade subjetiva ou moral, submetem-se ao
juízo de imputação (FELICIANO, 2005, p. 52).
Entendemos, porém que a conclusão de Feliciano quanto a Hegel é equivocada. Primeiro
porque ignora o fato de que vontade e ação interagem dialeticamente na definição da
11

responsabilidade. Segundo, porque ao fazer tal afirmação acerca do pensamento hegeliano sobre
a imputação, Feliciano confunde vontade como o querer de um agir, com a mera intenção de um
resultado. Ora, o que afirma Hegel é que somente o agir que foi querido pode ter suas
consequências imputadas ao agente, somente o agir conscientemente pretendido pode produzir
consequências que o agente pode vislumbrar como um quadro de possibilidades de resultado
acerca desse agir e, assim, responsabilizar-se por elas (mesmo que esse vislumbrar se dê depois
da prática do ato e verificação da consequência). Portanto, mesmo a conduta culposa é passível
de ser objetivamente imputada ao agente, se da ação conscientemente querida se verifica um
resultado que, mesmo não tendo sido imaginado pelo agente, pode ser posteriormente
identificado como resultado direto daquela conduta (querida) do agente. O elemento volitivo, em
Hegel se refere ao agir e somente indiretamente ao resultado do agir, numa dialética em que a
volição e a ação ganham o plano da relevância social (e não meramente subjetiva) da ação
querida e efetivada (HEGEL, 2003, passim).
Nesta compreensão do termo imputação, merece destaque o pensamento de Karl Larenz
(1903-1993).
Segundo Larenz, a imputação servia para distinguir se uma ação é ou não imputável, se é
fortuita ou praticada intencionalmente por um sujeito.
Larenz ao nosso ver, não diverge, mas explicita o que está implícito em Hegel 15, no
tocante aos conceitos de finalidade e imputação e evidenciar o aspecto objetivo da imputação,
posto que a objetivação do conceito abrange também os fatos culposos.
Em Karl Larenz, a imputação “é chamada de objetiva porque essa possibilidade de
previsão não é aferida com base na capacidade e conhecimentos do autor concreto, mas de acordo
com um critério geral e objetivo: o do homem inteligente-prudente”, é a norma que determina a
relevância da conduta do autor (PRADO, 2006, p. 41).
Por fim, é importante destacar o significado de imputação para Richard Honig. Segundo o
autor, “o propósito da imputação objetiva é deslindar o significado que a relação de causalidade
tem para com o ordenamento jurídico” (PRADO, 2006, p. 43).
Nesse sentido, Prado (2006), afirma que:

15
Nesse sentido, discordamos parcialmente do que é afirmado por Feliciano e Regis Prado sobre tais temas em suas
respectivas obras já referenciadas.
12

A imputação poderia ser qualificada, segundo Larenz e Honig, como um juízo


teleológico efetuado ex post, cujo objetivo seria aferir a dominabilidade de curso causal
pela vontade humana e, uma vez comprovada essa dominabilidade, imputar a ação a
determinado autor como obra sua (PRADO, 2006, p. 45).

Faz-se necessário saber identificar se a conduta do sujeito é previsível ou dirigida por sua
vontade, pois só assim poderão ser imputadas e enquadradas na tipicidade que melhor se adequar
à ação, deve haver identificação clara dos deveres objetivos de cuidado que os potenciais
envolvidos numa questão relevante para a proteção de um bem jurídico deve adotar, em havendo
essa definição de parâmetros de cuidado, consideração imputada a ação danosa e a
responsabilidade pelo dano àquele ou àqueles que não cumpriram com tais deveres.

2.3.2. Outra incursão prévia: a construção da teoria da imputação objetiva

Do conceito de imputação jurídica passa-se ao de imputação jurídica objetiva; fazendo-se


necessário examinar seu processo de construção doutrinal, passando pelas teorias e a antecederam
no séc. XX a começar pela Teoria da Condição ou da Equivalência, perpassando, num segundo
momento, pela Teoria da Adequação e, posteriormente, pela Teoria da Relevância Jurídica,
cumprindo-se, ao final, a análise da Teoria da Imputação Objetiva.
A Teoria da Condição ou da Equivalência, também conhecida no Brasil como teoria dos
equivalentes causais, e foi contemplada pelo CPP em seu artigo 13. Essa teoria defende a
causalidade em sentido amplo, qual seja, tudo aquilo que contribui para o resultado, em maior ou
menor nível de importância, é denominado causa. Se excluirmos mentalmente (in mente) algo (no
sentido de antecedente) que não seja fator dominante para a aferição do resultado, ou ainda, sem
este algo o resultado mesmo assim seria produzido, afastaríamos essa não-causa da relação
causa-resultado. A esse segmento teórico dá-se também a denominação teoria da conditio sine
qua non, visto que para estes a “causa é toda condição sem a qual o evento não teria ocorrido”.
Faz-se mister invocar os ensinamentos de Alvarado (1996), quanto à terminologia usada
de modo equivocado ao tratar a teoria da equivalência como teoria da conditio sine qua non:

A equivalência das condições é uma das mais importantes teorias causais, para cuja
precisão recorreu-se à criação de pelo menos duas importantes fórmulas, uma das quais é
a da “conditio sine qua non”; a outra [...] é a da causalidade como condição
(ALVARADO, 1996, p. 10).
13

Outra importante teoria é a da Adequação, podendo também ser denominada de Teoria da


Prognose Objetiva Póstuma ou Posterior. Segundo Wessels, a teoria da adequação trata a causa
somente como uma condição adequada ao tipo penal, tendo em vista uma avaliação “in casu”
concreto (WESSELS, 1976, p. 43).
A teoria em tela “propõe a desconsideração dos antecedentes que não sejam idôneos à
produção do resultado”. Isso quer dizer que devem ser dispensados da apreciação todos aqueles
fatos (tidos como inidôneos e/ou inadequados) que não contribuíram diretamente para a
realização do resultado. Pode-se concluir que idôneo “é tudo quanto provavelmente produziu o
resultado, à vista da experiência e das regras da vida (juízo de probabilidade)” (FELICIANO,
2005, p.70).
Essa teoria baseia-se no princípio do id quod plerunque accidit, tendo por base a vida
cotidiana das pessoas, a causa passa a ser, mormente o que acontece na vida delas, tornando-se
experiências para poderem distinguir quais ações probabilisticamente contribuíram para com o
resultado.
A terceira proposição teórica a ser estudada é a Teoria da Relevância Jurídica ou Teoria
da Causa Relevante, que é de fato uma teoria de imputação, “com critérios normativos de
referimento de resultado” (FELICIANO, 2005, p. 85).
A teoria da conditio sine qua non passa a ser o liame para determinar o nexo de
causalidade, no entanto a imputação do resultado deve ater-se à relevância jurídica da cadeia
causal do caso concreto.
Feliciano assevera que Edmund Mezger, o criador dessa teoria, precisou definir critérios
para apreciação da relevância jurídica, e o fez aperfeiçoando o conceito jurídico-penal de
adequação: “é relevante o evento geralmente apropriado para produzir o resultado. Não negou,
portanto, a relevância causal das condições não-adequadas, à diferença da teoria da causalidade
adequada” (FELICIANO, 2005, p. 86).
Frente às críticas às a busca de solucionar as eventualidades em que o comportamento do
sujeito fosse conforme ditava o Direito, Claus Roxin retomou a Teoria da Imputação Objetiva,
tentando resolvê-la com a criação da Teoria do Incremento do Risco (PRADO, 2006, p. 120).
Para Claus Roxin, o maior problema das Teorias que antecederam à da Imputação
Objetiva, é ter a causalidade como principal elemento objetivo do tipo. A inovação proposta por
14

ele, para opor aos conceitos finalistas e à substituição da causalidade, pela “criação e realização
de um risco não permitido abrangido pelo âmbito de proteção da norma de cuidado”.
Essa Teoria abrangia, de início, apenas os delitos culposos. Em um segundo momento,
Roxin passou a criar uma série de “critérios normativos” para os delitos culposos e dolosos de
resultado, viabilizando assim uma nova formulação de uma Teoria cuja sua amplitude não
permitira mais a estreita vinculação com a causalidade.
A vontade do sujeito continua no mesmo seguimento antes proposto por Honig, qual seja,
o resultado final típico deve estar sob domínio do sujeito que o pratica, assim, para Roxin quando
não há domínio ou previsibilidade por parte do individuo, ou o dever desse domínio ou
previsibilidade, é incabível sua conseqüente imputação.
Roxin tem como seguimentos determinantes do princípio geral da imputação objetiva: a
diminuição do risco, a criação ou não-criação de um risco juridicamente relevante, o incremento
ou falta de aumento do risco permitido e o âmbito de proteção da norma. Essas proposições
criadas como fatores determinantes, passaram então a serem tidas como “topoi interpretativos”,
para os teóricos que adotavam a Teoria da Imputação Objetiva, sendo usada para a análise tanto
dos delitos culposos16 quanto dos delitos dolosos.
A maior parte dos seguimentos teóricos da imputação objetiva estabelece como critérios
de imputação dos delitos dolosos, o âmbito de proteção da norma e a criação e realização do risco
(PRADO, 2006, p. 123). A teoria da imputação objetiva é uma das bases centrais para avaliação
da responsabilidade ambiental, não apenas no âmbito do penal, mas também no civil e
administrativo, quando a imputação objetiva ganha o invólucro discursivo de “responsabilidade
patrimonial objetiva”.
2.3.3. Responsabilidade penal ambiental objetiva da Pessoa Jurídica

Feita a necessária digressão apresentada nos dois tópicos anteriores, cabe analisar a
construção das bases de entendimento acerca da imputação de responsabilidade ambiental à
pessoa jurídica.
Admitimos como marco precípuo o XV Congresso Internacional de Direito Penal,
acontecido em 1994, no Rio de Janeiro, prevendo que, sempre que possível, os sistemas penais

16
Prado (2006) faz menção aos critérios de imputação objetiva nos delitos culposos, na doutrina alemã, quais sejam:
a relação de risco; a relação do fim da proteção da norma; a relação material e; a relação de adequação.
15

nacionais devem conter sanções penais para evitar os excessos por parte das pessoas jurídicas e
públicas.
Outro marco foi a lei 9.605 de 1998 que, de modo expresso, dispôs sobre a
responsabilidade penal da pessoa jurídica. A Carta Magna de 1988 admitiu, de forma expressa, a
responsabilização da pessoa jurídica, dispondo:

Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de


atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da
segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei.
[...]
§ 5º - A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa
jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às punições compatíveis
com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a
economia popular (BRASIL, 1988).

E, ainda em seu artigo 225, compondo um capitulo exclusivo sobre o Meio Ambiente, in
verbis:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados. (BRASIL, 1988, grifo
nosso).

Resta claro que a pessoa jurídica 17 deve arcar com os danos ambientais que vierem a dar
causa, bem como arcar com os riscos em potencial produzidos contra o Meio Ambiente sem
respaldo na ordem jurídica vigente. E mais, a responsabilização da pessoa jurídica não exclui a da
pessoa física responsável pela tomada de decisão na estrutura interna da mesma, e vice-versa.
Nesse diapasão a Constituição teve papel fundamental, inclusive de esclarecimento, não deixando
dúvidas quanto à atuação do Direito Penal para com a Proteção Ambiental.

17
Soares e Galvão (2003, p 472) “A pessoa jurídica não se caracteriza por qualquer reunião de pessoas ou afetação
de bens, mas somente quando a associação de pessoas ou o patrimônio se destinam a dar vida a uma unidade
orgânica de caráter duradouro que adquire individualidade própria, distinta da que é reconhecida a seus integrantes
[...] uma organização de pessoas ou de bens, um fim, e o reconhecimento pelo Estado”.
16

Fato é que a CRFB/88 não estabelece tipos penais, ficando a cargo de Leis Ordinárias,
como é o caso da Lei 9.605/9818, que trata dos Crimes Ambientais 19, e veio para regulamentar
exatamente o § 3º do artigo 225 da CRFB/88. Essa Lei tem conteúdo muito importante, pois
tratou tanto de a responsabilização da pessoa física, quanto da pessoa jurídica; tanto no âmbito
administrativo quanto penal, se necessário em todas essas hipóteses cumulativamente20.
Vários foram os entendimentos acerca dessa Lei e dos dispositivos supracitados da
CRFB/88, que até hoje ainda não foram totalmente pacificados. Numa visão de tentativa de
manutenção da clássica definição de crime e de criminoso no direito penal (termos
tradicionalmente referidos à pessoa física), apareceu como uma tentativa de leitura da Lei a
afirmação de que a responsabilização pela reparação do dano seria da empresa e o
enquadramento no tipo para fim de aplicação da punição penal (que não se confunde com a
reparação do dano), seria do agente, ou seja, da pessoa física envolvida na ação ou omissão
tipificada.
Entendemos que o legislador optou por responsabilizar a pessoa jurídica, tanto do ponto
de vista da punição quanto da reparação (sem prejuízo da imputação da pessoa física). Pode-se
inclusive ter alguma dúvida ao se ler o artigo 173, § 5°, da CRFB/88, em evidência o trecho
“punições compatíveis com sua natureza”, pois dá uma certa margem à discussão; no entanto,
com a análise do § 3º do artigo 225 do texto constitucional, fica inequívoca a posição do
legislador em atribuir responsabilidade penal à pessoa jurídica.

Veja-se o que afirma Fernando Galvão, a esse respeito:

Quando se discute o tema da responsabilidade penal da pessoa jurídica, não se pode


esquecer que o equacionamento da questão deve ser feito no âmbito político. E a opção
política sobre o tema já foi feita, por aqueles que detinham legítimo poder para tanto. O
ponto de vista contrário à responsabilização penal da pessoa jurídica foi vencido no
debate institucional, segundo as regras do jogo democrático. A opção política foi
inserida no ordenamento jurídico, o que significa a preponderância do entendimento da
18
Prado (2006) afirma, em relação à Lei dos Crimes Ambientais: “... mais uma opção criminalizadora, de cunho
eminentemente defensista, que só pode ser aceita se, num verdadeiro tour de force – pragmático e artificial - ,
privilegiar-se politico-criminalmente o fim em detrimento do meio. O que è inadmissível em Direito Penal de
perfil liberal e democrático, que tem o ser humano como centro de todo Direito”.
19
Nas palavras de Feliciano (2005, p. 205), “trata-se de sanções penais e administrativas derivadas de condutas e
atividades lesivas ao Meio Ambiente”.
20
“Outro caminho não resta senão a construir outro edifício dogmático para, paralelamente ao que define o limite da
responsabilidade individual, reprimir as atividades desenvolvidas por pessoas jurídicas em prejuízo dos bens e
interesses juridicamente tutelados. A construção do sistema dogmático para a responsabilização da pessoa jurídica
é o desafio que se apresenta aos operadores do Direito, e não se pode fugir dele” (GALVÃO, 2002, p. 450).
17

conveniência e oportunidade de utilizar a responsabilidade penal da pessoa jurídica


como instrumento eficaz no combate à criminalidade ambiental. (GALVÃO, 2002, p.
453)

O caráter psicológico ou etário, não deve ser atribuído à pessoa jurídica, pois em ambos
não se enquadra, consoante não haver uma pessoa jurídica inimputável. Nesse seguimento, não
são aplicáveis à pessoa jurídica, as inexigibilidades de conduta diversa, tendo em vista que ela
não é passível de sofrer coação moral irresistível e muito menos obediência hierárquica 21, pois a
pessoa jurídica não é capaz de se amedrontar como uma pessoa física dotada de peculiaridades e
sentimentos.
Vencidos alguns impasses doutrinários quanto à culpabilidade, faz-se justa a colocação de
Damásio de Jesus, quanto à culpabilidade da pessoa jurídica, qual seja, “a culpabilidade não se
reveste, como pretende a doutrina tradicional, da característica psicológica. É um juízo de valor,
puramente normativa, não tendo nenhum elemento psicológico” (JESUS, 1994, p. 126).
Toda PJ tem capacidade para ser parte em demandas judiciais, podendo inferir a sua
responsabilidade quanto às questões ligadas às atividades corporativas. As PJs podem ser autoras
de vontade, quando contraem obrigações ou fazem acordos.
Segundo a afirmação de Feliciano, in verbis:

Assim o paradoxo da capacidade de culpa resolve-se, aqui, como se resolveu no direito


penal francês (cujas linhas gerais estão no art. 3º da LCA): os elementos psicológicos
(consciência e vontade) apuram-se por simetria (“par ricochet”), projetando-se à pessoa
jurídica, reflexivamente, o elemento anímico de quem age por ela, desde que a infração
seja cometida sob a égide da corporação e no seu interesse. Dito de outro modo, “o
mesmo vínculo jurídico e moral que liga os co-partícipes une também a pessoa jurídica a
seus dirigentes ou prepostos e justifica-se especialmente quando a atividade criminosa é
praticada em proveito da pessoa jurídica” (FELICIANO, 2005, p. 219-220).

Ao tratar de culpabilidade penal, vê-se um leque de opções encontradas na seção III, do


item 8, da Resolução nº 45/110, da Assembléia Geral das Nações Unidas, datando de 14 de
dezembro de 199022, dentre outros vários exemplos, não restando incontroversa tão afirmação.
Denominam-se “penas alternativas” 23 as sanções penais aplicáveis à pessoa jurídica, quais
sejam, as penas restritivas de direitos, de multa, prestação e serviços à comunidade e a liquidação
forçada, prevista na Lei 9.605, esta não tendo natureza de pena.
21
Também conhecida como “causas exculpantes”.
22
Rol exemplificativo contendo padrões mínimos para elaboração de penas alternativas.
23
Para Feliciano (2005, p. 221), as penas alternativas “[...] são respostas estatais a infrações penais de menor
potencial ofensivo com as quais devem manter relação de proporcionalidade (daí serem mais brandas)”.
18

É perceptível que essas penas colaboraram para com a sociedade, posto que exigem por
parte da pessoa jurídica obras pelas quais resultem em melhorias significativas para a
comunidade, tais como a recuperação de áreas degradadas e financiamentos de projetos
ambientais e, sobretudo, o investimento em diminuição da capacidade poluidora de suas
atividades e em diminuição dos riscos de dano ao meio ambiente, traduzindo-se em otimização da
proteção ambiental.
Porém, é necessário que se tenha em mente que se não basta, no caso do bem jurídico
meio ambiente, tão somente a responsabilização das pessoas físicas para a sua proteção, também
não basta a responsabilização apenas das pessoas jurídicas. O completo sistema penal-
administrativo de proteção contra danos ambientais não pode abrir mão, em nome da perquirição
das empresas, da responsabilização dos agentes. Sem alcançar também aquela pessoa física que
toma decisões em nome da empresa, causando dano ambiental, o sistema brasileiro correria sério
risco de ineficácia, contrariando um dos mais importantes princípios de hermenêutica
constitucional que é justamente o da máxima eficácia de seus dispositivos24.
Isso se dá principalmente porque, caso não se garanta também a responsabilização dos
agentes, restaria não abarcada pelo direito a grave possibilidade de uso da pessoa jurídica como
escudo para a prática (na maioria das vezes lucrativa) de infrações ambientais. Para a proteção ao
bioma, o sistema jurídico deve tornar desvantajoso, tanto para a empresa, quanto para a pessoa
física, a prática desse tipo de conduta25.
3 POR UM NOVO PRINCÍPIO DE HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL
AMBIENTAL: A PREVENÇÃO CONTRA A DILUIÇÃO EMPRESARIAL DA
RESPONSABILIDADE AMBIENTAL.

Quem, por ação ou omissão, causar dano a outrem (ambiente), deve responder
pessoalmente, após a devida apuração da responsabilidade e, no caso da empresa, faz-se
24
Sobre os princípios de hermenêutica constitucional que guiam esse estudo monográfico, notadamente sobre o
princípio da efetividade constitucional, veja-se a já clássica obra de Luís Roberto Barroso (BARROSO, 1996).
25
A esse respeito, a relação entre a responsabilização das pessoas jurídicas que compõem o Estado e a
responsabilização de seus respectivos agentes também se revela da maior importância, tanto do pondo de vista da
atuação do Estado na prestação de serviços, quanto do ponto de vista de seu dever de fiscalizar. Muitas vezes, é a
omissão do agente (transferindo a responsabilidade para a pessoa estatal) que é responsável por graves danos
cometidos por empresas. Também ele deve ser responsabilizado e também a ele deve ser aplicada a imputação
objetiva da responsabilidade penal ambiental. Essa relevante questão, em razão das especificidades da relação
jurídico-administrativa de responsabilização dos agentes públicos, merece um tratamento específico. Porém, o
enfoque de nossa monografia é o da responsabilidade ambiental objetiva no âmbito da iniciativa privada, por isso
ficando aqui registrado o conseqüente recorte epistemológico.
19

necessária a observância das atividades realizadas por todas as pessoas envolvidas nos projetos da
pessoa jurídica, inclusive terceiros e prepostos, como, por exemplo, empresas terceirizadas que
vierem a participar na execução de empreendimentos e que por ventura possam causar danos ao
Meio Ambiente especificamente, mesmo que atuando em nome de quem eles estavam
trabalhando, tais como os diretores da empresa contratante, que não poderão se esquivar da
responsabilidade.
A apuração da responsabilidade como dito acima poderá atingir até algum funcionário
que, por insatisfação ou outro motivo, vier a sabotar algum equipamento ou sequer deixar de
prestar seu serviço de forma adequada, incorrendo em um dano ambiental, ou que, em razão da
natureza de seu contrato de trabalho ou prestação de serviço com a empresa, assuma
responsabilidades técnicas indispensáveis ao bom andamento do cuidado ambiental de empresa,
mas, por dolo ou culpa, haja com desídia nessa função. Ainda, não se obsta a penalização dos
diretores da empresa, a quem cabe o dever de vigília para com os seus contratados (culpa in
vigilandum).
A plurilateralidade da responsabilidade ambiental, não pode acarretar a ineficácia da
proteção ao meio ambiente, pelo contrário, deve significar a otimização dessa proteção. Logo, a
possibilidade de imputação de vários responsáveis representa uma importante conquista da
hermenêutica ambiental-penal que deve ser devidamente tratada do ponto de vista dogmático,
para não significar, conforme já advertido, justamente o contrário, ou seja, um instrumento de
esquiva da responsabilidade por parte daqueles que, bem assessorados juridicamente, buscam se
esconder por traz da empresa ou do Estado para praticar em nome do lucro ou do benefício
próprio ato de dano ao meio ambiente.
Tal prática se dá em razão justamente do risco do que se pode chamar de “diluição” da
responsabilidade ambiental. Dentro de um raciocínio utilitarista e a-ético do Direito (que,
obviamente, distorce o Direito), a identificação da prevenção do dano e do dever de respeito ao
meio ambiente como um dever de todos (do Estado, dos agentes públicos, das empresas, de seus
agentes e dos indivíduos em geral) faz com que, em situações concretas esses respectivos agentes
procurem, muitas vezes, diluir sua responsabilidade na responsabilidade dos demais. Assim, as
empresas, por vezes usam do erro do funcionário para se esquivar de responsabilidade, ou então
alegam omissão ou erro na fiscalização e controle por parte do Estado; por sua vez, os gerentes
das empresas por vezes se esquivam de responsabilidade alegando erros técnicos ou decisões
20

colegiadas; os agentes públicos por outro lado se esquivam, alegando tratar-se de dano praticado
pela empresa, e não pelo Estado (como se não fosse do Estado também o dever de fiscalizar a
atividade privada do ponto de vista ambiental). Gera-se, assim, o risco de constituição de uma
rede de irresponsabilidade ambiental, em total contradição com o propósito do art. 225 da
CRFB/88.
Tal compreensão do risco com o qual lida o operador do Direito quando da tutela do meio
ambiente pode apoiar-se na constatação colacionada na pesquisa da jusfilósofa mineira Mariá
Ferreira Brochado, que identifica, baseada nos estudos sobre a crise ética da contemporaneidade
que fez o professor emérito Henrique Cláudio de Lima Vaz (cf. LIMA VAZ, 1998), a “falsa
objetividade empírica das instituições” da sociedade contemporânea, na qual se dá um
“permissivismo anômico” (FERREIRA BROCHADO, p. 102-111).
Em rápida síntese, o que o “permissivismo anômico” possibilita é justamente, no seio da
“falsa objetividade empírica das instituições” contemporâneas, uma diluição da responsabilidade
no interior da intricada rede institucional das mega-empresas da atualidade, por meio do que se
produz uma altíssima dificuldade (senão uma impossibilidade) de identificação de responsáveis,
pois, no seio dessa rede de diluição da responsabilidade, muitas vezes a própria empresa esquiva-
se de suas obrigações. Segundo Ferreira Brochado:

Sob o cômodo pretexto de que “o sistema é assim e somos produto dele”, sistema sobre
o qual ninguém tem controle algum, fica muito fácil “ludibriar” [...]. Afinal de contas,
pessoas chegam a empresas e repartições públicas e na maioria das vezes “realizam um
serviço completamente isento de significados, sem questionamentos porque a estrutura o
exige. Não há vilões”, nem intermediários (FERREIRA BROCHADO, 2002, p. 108).

Assim sendo, para combater o risco de ineficácia da preservação ambiental em razão da


rede de irresponsabilidade que se cria, sobretudo nos grandes empreendimentos, propugnamos
pela consolidação do princípio hermenêutico da prevenção contra a diluição da responsabilidade
ambiental que, em linhas gerais, deve significar o seguinte: i) a responsabilidade ambiental é
solidária e acumulativa; assim sendo, a irresponsabilidade de um não pode ser motivo para, por si
só, elidir a irresponsabilidade dos demais, que deverão provar cada qual sua isenção por meio da
demonstração cabal do cumprimento de todos os deveres objetivos de cuidado que o
ordenamento jurídico exige de cada um; ii) cabe ao poder público exigir dos empreendimentos a
prévia identificação e atualização, com informações precisas, sobre a rede de responsáveis por
21

todas as suas atividades de relevância ambiental, sem que isso, porém, possa servir para elidir a
responsabilidade de outros envolvidos que venham a ser identificados, quando da verificação de
ocorrência de danos ambientais; iii) a responsabilidade (imputação) de todos os agentes do dano é
objetiva, bastando a verificação e comprovação da intervenção ilegal no meio ambiente
(resultado) para a responsabilização de todos que figuram na cadeia de ações ambientalmente
irresponsáveis que culminaram no dano.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse artigo acadêmico passamos pela evolução histórica do conceito de imputação e sua
distinção de causalidade, para entendermos melhor sua origem e seu significado. Em um
momento posterior analisamos as proposições teóricas anteriores até a Teoria da Imputação
Objetiva.
Traçamos uma linha jurídico-evolutiva sobre a responsabilização da pessoa jurídica. E
percebemos que a pessoa jurídica, também está sujeita à imputação, uma vez que ela também
produz danos, não se eximindo, no entanto, da devida responsabilização de seus sócios bem
como, os administradores, quando agirem sem observância do estabelecido no ordenamento
jurídico.
E, por fim na analise sobre responsabilização objetiva da empresa e do empresário,
relacionamos de maneira crítica os princípios de Direito Ambiental com a responsabilidade da
pessoa jurídica e seus administradores, e concluímos que sem a responsabilidade objetiva com a
devida punição, inclusive criminal, por delito das empresas envolvidas nas agressões contra o
ambiente a efetividade da ordem constitucional ambiental resta ameaçada. Verificou-se,
igualmente, que não basta dotar de aplicabilidade a imputação penal da pessoa jurídica. Nesse
caso, bem como no caso da responsabilidade patrimonial objetiva da empresa por danos
ambientais, deve-se continuar a perquirir os demais envolvidos e responsáveis pelo dano, não
podendo se transformar a responsabilização da empresa num artifício para a irresponsabilidade
pessoal dos empresários e funcionários, sob pena do instituto não cumprir com seu papel
constitucional. Assim, tanto no concurso de pessoas, no âmbito do direito penal, quanto e o
âmbito da responsabilidade solidária e subsidiária, no campo da reparação civil, deve-se buscar
22

compreender as estratégias furtivas que aqueles que atuam em áreas empresariais de constante
intervenção no meio ambiente por vezes utilizam para se livrar da imputação da responsabilidade.
Constata-se importância da construção, difusão e consolidação, na jurisdição
constitucional-ambiental, de um desdobramento adequador do princípio da prevenção, no sentido
e um princípio hermenêutico da prevenção contra a diluição da responsabilidade ambiental, a
fim de que se extinga o “permissivismo anômico”, que ocorre em vista das estratégias de atuação
das práticas empresariais. Tal postura jurisdicional é importante para que a solidariedade na
reparação civil do dano ambiental e a plurilateralidade da responsabilidade ambiental penal se
tornem um instrumento eficaz de se imputar a todos os responsáveis a justa sanção e, por
conseguinte, trazer maior concreção à proteção ao meio ambiente.

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