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Palestra 19/09/2011 - Jornalista Augusto Nunes

A Ética na administração Pública.

O tema: Ética é por si só polêmico, entretanto causa ainda mais inquietação quando
falamos sobre a ética na administração pública, pois logo pensamos em corrupção,
extorsão, ineficiência, etc., mas na realidade o que devemos ter como ponto de referência
em relação ao serviço público, ou na vida pública em geral, é que seja fixado um padrão a
partir do qual possamos em seguida julgar a atuação dos servidores públicos ou daqueles
que estiverem envolvidos na vida pública, entretanto não basta que haja padrão, tão
somente, é necessário que esse padrão seja ético, acima de tudo. A questão da ética
pública está diretamente relacionada aos princípios fundamentais, sendo estes
comparados ao que chamamos no Direito, de "Norma Fundamental", uma norma
hipotética com premissas ideológicas e que deve reger tudo mais o que estiver relacionado
ao comportamento do ser humano em seu meio social, aliás, podemos invocar a
Constituição Federal. Esta ampara os valores morais da boa conduta, ou seja, na
Administração Pública contém princípios como a: legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência.
A boa fé acima de tudo também pauta-se como princípios básicos e essenciais a uma vida
equilibrada do cidadão na sociedade, lembrando inclusive o tão citado, pelos gregos
antigos, "bem viver". Outro ponto bastante controverso é a questão da impessoalidade. Ao
contrário do que muitos pensam, o funcionalismo público e seus servidores devem primar
pela questão da "impessoalidade", deixando claro que o termo é sinônimo de "igualdade",
esta sim é a questão chave e que eleva o serviço público a níveis tão ineficazes, não se
preza pela igualdade. No ordenamento jurídico está claro e expresso, "todos são iguais
perante a lei”. E também a idéia de impessoalidade, supõe uma distinção entre aquilo que
é público e aquilo que é privada (no sentido do interesse pessoal), que gera deste modo o
grande conflito entre os interesses privados acima dos interesses públicos.
Vemos constantemente nos meios de comunicação que a corrupção no Brasil é um dos
principais problemas que cerca o setor público, afetando assim, a ética. Não podemos falar
de ética, impessoalidade (sinônimo de igualdade), sem falar de moralidade.
A moralidade também é um dos principais valores que define a conduta ética, não só dos
servidores públicos, mas de qualquer indivíduo. O princípio moralidade na administração
pública deve abranger a idéia de que o fim é sempre o bem comum, ou seja, compreender
que não deve limitar-se às motivações individuais ou particulares e sim da sociedade como
um todo. Em algumas situações existe a legalidade mas pode não haver a moralidade, um
bom exemplo está na inexigibilidade de licitação, onde em algumas situações permite-se
contratar empresas de forma mais livre, mas será que é moral comprar produtos sem
licitação (mesmo a legislação facultando) em empresas de parentes de um prefeito? Pois
é, nem tudo que é legal é moral.
Podemos verificar que a ética está diretamente relacionada ao padrão de comportamento
do indivíduo, dos profissionais e também do político. O ser humano elaborou as leis para
orientar seu comportamento frente as nossas necessidades (direitos e obrigações) e em
relação ao meio social, entretanto, não é possível para a lei ditar nosso padrão de
comportamento e é aí que entra outro ponto importante que é a cultura, ficando claro que
não a cultura no sentido de quantidade de conhecimento adquirido, mas sim a qualidade
na medida em que esta pode ser usada em prol da função social, do bem estar e tudo
mais que diz respeito ao bem maior do ser humano, este sim é o ponto fundamental, a
essência, o ponto mais controverso quando tratamos da questão ética na vida pública.
APS 27/08/2011 - FABIANA NEVES

Direito previdenciário tem por objetivo examinar a impertinência da concessão/manutenção


do pagamento de benefícios por incapacidade a segurados cuja capacidade laborativa
permanece prejudicada em virtude de seu próprio comportamento.

Trata-se de temática fecunda, envolta em discussões em torno da própria fonte de


legitimidade do Direito, com repercussões tanto teóricas – por servir de contributo à
estipulação de parâmetros axiológicos no hercúleo processo de distinção entre direito e
abuso –quanto práticas – na medida em que, de acordo com a posição adotada, pode
haver substancial variação no dispêndio de recursos públicos destinados ao custeio de
benefícios previdenciários.

Para a consecução deste objetivo, o artigo percorrerá um itinerário em que, no primeiro


tópico, serão analisados os aspectos de validade e legitimidade jurídica apontados pelo
Direito Natural e pelo Positivismo Jurídico, concluindo-se pela superação dessas duas
concepções do Direito em favor de uma perspectiva intermediária, em que se procede a
uma entronização do Direito por valores derivados de um ideal de justiça: o pós-
positivismo.

Em seguida, serão apresentadas as consequências geradas pelo pós-positivismo no


âmbito da hermenêutica jurídica, com especial ênfase ao novo papel assumido pelo
intérprete, notadamente diante das denominadas cláusulas gerais.

No tópico subsequente, os paradigmas retro suscitados serão correlacionados à


concepção e estrutura normativa da categoria jurídica do abuso de direito, com o propósito
prefacial de pôr em destaque a relevância da postura crítica do operador do direito no
manuseio do referido instrumento jurídico.

Ao final, conclui-se que a concessão de benefícios por incapacidade aos segurados cuja
condição incapacitante seja fruto de sua própria apatia ante a condução de um tratamento
médico adequado configura abuso de direito e, portanto, merece rechaça administrativa e
jurisdicional.
APS 10/09/2011 - FABIANA NEVES

Destarte, se, por um lado, a concepção atual em torno da categoria jurídica abuso de
direito passa necessariamente pelo reconhecimento da ética como fator-limite ao exercício
de direitos subjetivos e, por outro, a técnica legislativa empregada pelo legislador pátrio ao
prever a figura jurídica em tela enfatiza o papel do intérprete no exercício na tarefa de
desvendar a carga axiológica subjacente aos conceitos jurídicos indeterminados
consubstanciados nas expressões normativas "fim econômico ou social", "boa fé" e "bons
costumes", para fins de se entabular condutas abusivas, não se pode chegar a outra
conclusão, senão a de que o tema abuso de direito constitui cenário fecundo ao exercício
do papel criativo do intérprete no processo de filtragem de aplicação da norma a partir dos
princípios de justiça.

Os benefícios previdenciários destinados a assegurar a cobertura de eventos causadores


de doenças, lesões ou invalidez encontram-se previstos na Lei n.º 8.213, de 24 de julho de
1991, nos arts. 42 e 59, respectivamente, dependendo da caracterização da incapacidade
– temporária ou definitiva – para o exercício de atividades laborais.

Entretanto, não raras vezes, a incapacidade persiste em virtude da falta de empenho do


próprio segurado da Previdência Social na condução do tratamento médico adequado para
a recuperação de sua capacidade laborativa.

Assim sendo, embora, nesses casos, o segurado aparentemente preencha o requisito


legal de incapacidade, a postura adotada por ele revela-se flagrantemente abusiva e,
portanto, impõe ser jurisdicionalmente rechaçada.

Não obstante, a prática forense previdenciária evidencia que a linha argumentativa sob
apreço sequer é explorada pelos operadores do direito, seja na formulação de quesitos
apropriados para esclarecimento da matéria, seja na construção do raciocínio jurídico
empregado na formulação de peças jurídicas (partes) ou formação do livre convencimento
motivado (juiz).

É corrente a adoção de uma postura simplista, sobretudo no âmbito dos Juizados


Especiais Federais – especializados em matéria previdenciária e, portanto, responsáveis
por parcela significativa das decisões envolvendo a concessão de benefícios por
incapacidade – em que se prefere a celeridade em desfavor de uma investigação
concatenada com os valores inscritos nos princípios vetores da sociedade. O exercício de
uma exegese jurídica eminentemente subsuntiva é levado a efeito sem objeções,
malgrado sua feição radicalmente contrária aos postulados inerentes à doutrina pós-
positivista.
Nesse ínterim, é benfazejo salientar que a Previdência Social tem por fim e fundamento a
cobertura de riscos sociais, isto é, infortúnios a que todos os homens estão sujeitos ao
longo de sua vida profissional.

APS 17/09/2011 - FABIANA NEVES

Dessarte, se a incapacidade é resultado de conduta imputada unicamente ao segurado e,


por isso, não contém qualquer gérmen de imprevisibilidade, desnatura-se a própria noção
de risco social e, por conseguinte, o motivo jurídico pelo qual se legitima a intervenção da
Previdência Social.

Conforme asseveram Daniel Machado da Rocha e José Paulo Baltazar Junior, "os regimes
previdenciários são instituídos com a finalidade de [...] amparar os trabalhadores e seus
dependentes quando vitimados por eventos" [16], o que em nada se confunde com a
hipótese em que eles (os trabalhadores) provocam a ocorrência dos referidos eventos.

De outra vertente, o segurado que não procura deixar seu estado de incapacidade e,
consequentemente, onera injustificadamente a Previdência Social não é leal com seus
pares que, por essa razão, precisam ser mais severamente tributados.

Em tal contexto, sem a necessidade de descer às minúcias acerca das variadas facetas da
"boa-fé" – mesmo porque fugiria aos objetivos do presente artigo –, não há elasticidade
hermenêutica capaz de compatibilizar a conduta sob enfoque ao cânone susomencionado,
cuja essência axiológica, grassa, obrigatoriamente, em torno de uma atuação respaldada
por padrões de lealdade e confiança.

Por derradeiro, o cidadão cuja conduta ora se repudia, certamente, não recebe o aval da
sociedade, que, a menos, em sua maioria, condena o perfil acomodado de qualquer
indivíduo economicamente ativo.

Nesse quadrante, partindo da sólida concepção de que "bons costumes", seja qual for o
eixo exegético, exprimem a moral social, consubstanciada em regras impeditivas de
comportamentos que não recebem consagração expressa pela coletividade, em
determinado tempo, não demanda maiores esforços se aduzir que a postura em testilha
não se ajusta ao sobredito conceito.

Pelo exposto, malgrado a conduta sob enfoque apresente revestimento estruturalmente


legítimo, sucumbe-se a essência axiologicamente disforme, isto é, configura nítida
hipótese de abuso de direito.

Em arremate, a bem da verdade, a solução aqui apontada não é nova. Pelo contrário,
remonta-se ao vetusto adágio "ninguém pode se beneficiar da própria torpeza".

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