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DISCIPLINA: RESPONSABILIDADE FISCAL

TEXTO DE APOIO DO PROFESSOR

AULA 03

(continuidade)

3.11. Princípio da moralidade


Como a Administração é mera gestora dos interesses
alheios, qual seja o interesse público, logo se pressupõe que deverá agir com
ética, lealdade e boa-fé.
Trata-se nada mais do que o princípio da moralidade,
explicitamente enunciado no caput do art. 37 da Carta Magna.
Maria Sylvia Zanella DI PIETRO anota que o
comportamento moral deverá ser observado tanto pela Administração como
pelo particular que com ela se relaciona.

“Em resumo, sempre que em matéria administrativa se


verificar que o comportamento da Administração ou do
administrado que com ela se relaciona juridicamente,
embora em consonância com a lei, ofende a moral, os
bons costumes, as regras de boa administração, os
princípios de justiça e de eqüidade, a idéia de bem
comum de honestidade, estará havendo ofensa ao
1
princípio da moralidade.”

Insta mencionar que o princípio da moralidade não possui


uma definição estanque, visto que depende de acordo com os parâmetros da
sociedade.

1
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2004, p.
78.
Dessa forma, é um conceito abstrato e que se fixa com
base nos valores éticos e morais, os quais por deveras mencionar não
possuem uma fixação.
Sob este pensamento, Egon Bockmann MOREIRA
corrobora, relatando que:

“Sob o aspecto subjetivo, o princípio da moralidade pública


atinge não só a Administração (direta e indireta), mas
também as pessoas privadas, quando em relação com os
entes públicos. Ainda que se possa sustentar validade a
atos avessos à Moral praticados entre particulares, a
Administração jamais poderia prestigiar condutas de
particulares contrárias a preceito constitucional. As pessoas
privadas não se encontram imunes à moralidade em seu
relacionamento com a Administração – mesmo porque na
hipótese de um agente público prestigiar um ato imoral/
amoral de um particular estará, ao seu tempo, praticando
um ato violador do princípio constitucional.
(..........)
A moralidade proíbe condutas praticadas de forma imoral
(conscientemente oposta à Moral em vigor) e amoral
(indiferente às valorizações da Ética, caracterizada pela
ausência de senso moral). Ainda que o agente esteja
absolutamente convencido de que atendeu ao interesse
público, sem qualquer benefício pessoal, pode haver
violação ao princípio. Trata-se de vício submetido a um
controle objetivo. ” 2

3.12. Princípio do controle judicial dos atos administrativos


Pelo princípio do controle judicial dos atos administrativos,
na realidade brasileira, incumbe ao Poder Judiciário realizar o efetivo controle
judicial dos atos administrativos e resolver definitivamente qualquer demanda

2
MOREIRA, Egon Bockmann. Processo administrativo. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2003, p.
96-97.
sobre qualquer litígio de direito (conflitos de interesses). Ou seja, o Poder
Judiciário é o competente para solucionar em definitivo qualquer demanda que
verse sobre um ato administrativo.
Para consubstanciar este raciocínio, há o dispositivo
constitucional que representa a inafastabilidade do Poder Judiciário de julgar
qualquer lesão ou ameaça de direito:

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de


qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
(....)
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a direito;”

3.13. Princípio da responsabilidade do Estado pelos atos administrativos


O princípio da responsabilidade do Estado pelos atos
administrativos é estampado pelo art. 37, § 6º, da Constituição da República:

“Art. 37 ....
(.....)
§ 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de
direito privado prestadoras de serviços públicos
responderão pelos danos que seus agentes, nessa
qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de
regresso contra o responsável nos casos de dolo ou
culpa. “

Segundo Odete MEDAUAR, “A responsabilidade civil do


Estado diz respeito à obrigação a este imposta de reparar danos causados a
terceiros em decorrência de suas atividades ou omissões; por exemplo:
atropelamento por veículo oficial, queda em buraco na rua, morte em prisão.” 3

3.14. Princípio da boa administração


O princípio da boa administração equivale em finalidade
ao princípio da eficiência.
O princípio da eficiência foi incluído expressamente no
caput do art. 37 da Constituição da República pela Emenda Constitucional nº
19/98.
O seu conteúdo é simples: deverá a Administração atuar
de forma eficaz, ou seja, deverá satisfazer as necessidades públicas de forma
rápida e econômica, realizando assim uma boa administração.
Vale dizer ainda que o princípio da eficiência, mesmo
antes da sua inserção na Constituição, já se encontrava implícito no texto
constitucional. Isso porque, estando a Administração submetida ao regime
jurídico-administrativo, tem ela o dever de obter, observando os meios legais,
os resultados mais satisfatórios para o interesse público.

3.15. Princípio da segurança jurídica


A segurança jurídica representa ao administrado ter o
conhecimento do dever-ser (regras jurídicas) e de qual será a conseqüência do
seu descumprimento, o que permite a objetividade no tratamento e a
possibilidade de prever as conseqüências jurídicas de uma determinada
conduta.
Segundo Celso Antônio BANDEIRA DE MELLO:
“Esta ‘segurança jurídica’ coincide com uma das mais
profundas aspirações do Homem: o da segurança em si
mesma, a da certeza possível em relação ao que o cerca,
sendo esta uma busca permanente do ser humano. É a
insopitável necessidade de assentar-se sobre algo
reconhecido como estável, ou relativamente estável, o
que permite vislumbrar com alguma previsibilidade o

3
MEDAUAR, Odete. Direito administrativo moderno. 10. ed. São Paulo: RF, 2006, p. 365.
futuro; é ela, pois, que enseja projetar e iniciar,
conseqüentemente – e não aleatoriamente, ao mero
sabor do acaso -, comportamentos cujos frutos são
esperáveis a médio e longo prazo. Dita previsibilidade é,
portanto, o que condiciona a ação humana. Esta é a
normalidade da coisa.” 4

III. LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL

a) Origem
A necessidade da criação da Lei Complementar n. 101
decorreu da sanção da Emenda Constitucional n. 19/1998 que em seu artigo
23 determinou a inclusão ao artigo 169 da Constituição da necessidade de lei
complementar para regulamentar despesa com pessoal, dentre outras matérias
afeitas à qualidade na boa gestão fiscal.

b) Emenda Constitucional n. 19/1998


A Emenda Constitucional n. 19/1998 é chamada de
Emenda da Reforma Administrativa.
A referida emenda pode ser considerada como uma
conseqüência à reforma administrativa no Estado Brasileiro que foi idealizada
desde, aproximadamente, 1995 com a criação do Ministério da Administração
Federal e Reforma do Estado - MARE - e tinha por finalidade a inclusão e
determinação à Administração Pública de um atuar mais adstrito ao modelo
gerencial.

c) Lei de Responsabilidade Fiscal X Lei n. 4320/64


A criação da Lei de Responsabilidade Fiscal não impõe a
substituição e quiçá a revogação da Lei n. 4.320/64, haja vista que os objetivos
tracejados por cada texto normativo são distintos.

d) Diferença entre déficit e dívida

4
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 14. ed. São Paulo:
Malheiros, 2002, p. 106.
Déficit é o resultado apurado num determinado corte de
tempo, a rigor utiliza-se o exercício financeiro nos termos do art. 34 da Lei n.
4.320.
Dívida é o resultado do desequilíbrio fiscal ocorrido em
vários exercícios precedentes.

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