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Princípios do Direito Administrativo.

E o que são princípios? São diretrizes, elementos norteadores, que embasam toda a
construção das normas jurídicas deste ramo do Direito. Assim, o todas as normas do
Direito Administrativo devem ser interpretadas por esses prismas.

O conhecimento este assunto é bastante útil no cotidiano do agente público porque,


no desconhecimento de textos legais específicos, é possível recorrer a ele para a
tomada de decisões.

No caso do Direito Administrativo, existem princípios que estão expressos no texto


constitucional e outros que são presumidos pelos doutrinadores, que é o nome dado
aos especialistas em alguma área do Direito, ao analisar o contexto normativo. Além
disso, existem pequenas variações e desdobramentos na nomenclatura utilizada pelos
especialistas. Vamos apresentar a mais utilizada na literatura de referência.

Começaremos pelos princípios expressos, que estão do caput do artigo 37 da


Constituição Federal. Vamos analisá-lo: (E se você ainda não sabe o que é caput, dê
uma olhada no material de apoio “estrutura do texto legal”)

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer


dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte: (...)

Como é possível observar, não há muito mistério: a Constituição enumerou estes


princípios de forma explicita. Vamos à análise:

1. Princípio da legalidade

De forma sucinta, quer dizer que a Administração Pública, por meio de seus agentes,
deve seguir a lei. Mas há alguns desdobramentos dessa ideia que são importantes.

O primeiro é que os agentes públicos não podem agir contra a lei, sob pena de
responsabilização, que pode ser administrativa, civil ou penal, a depender do ato.
Veremos melhor esse tema em outro módulo.
O segundo é que a lei deve prever todas as ações da Administração Pública. Explico
melhor: vocês já ouviram aquela máxima “tudo que não é proibido, é permitido”? Ela
costuma ser utilizada para se referir ao Direito Penal, ao supor que se um crime não
está previsto na lei, ele não existe, então não é crime. (O que é uma suposição correta,
inclusive. Um dos princípios do Direito Penal é o nulla poena sine lege, um brocardo
em latim que quer dizer que não é possível aplicar uma pena a um crime que não
existe em lei anterior ao ato em discussão).

Acontece que no Direito Administrativo ocorre o contrário. A Administração Pública,


ao contrário dos particulares, só pode fazer o que está previsto em lei. Essa derivação
do princípio tem uma razão de existir: o objetivo é impedir que a Administração,
alegando brechas normativas, interfira no patrimônio ou na vida dos cidadãos, o que
caracterizaria uma violação ao Estado Democrático de Direito.

Imagino que vocês podem estar se perguntando se é possível prever todas as


possibilidades em lei. De fato, não é algo tão literal, mas hoje já temos um arcabouço
normativo que consegue cobrir nossas atribuições de forma satisfatória. É claro que
exceções existem e, nesses casos, a autoridade competente deve tomar a decisão
embasada pelos princípios administrativos. Um ótimo exemplo disso foram as
Resoluções elaboradas pelos nossos conselhos superiores (CONSUNI e CEPE) durante o
evento extraordinário da pandemia de COVID-19.

O terceiro desdobramento é a necessidade de observância às normas


hierarquicamente superiores na elaboração de portarias, resoluções, instruções
normativas e etc., sob pena de ilegalidade. Para nos auxiliar a compreender essa
hierarquia, segue a figura abaixo:
Fonte: jusbrasil.com.br

Esta é a pirâmide normativa e por ela podemos observar como funciona a hierarquia
das leis. As leis ordinárias, por exemplo, devem estar de acordo com as leis
complementares e com a Constituição Federal, mas elas são referência para as leis
abaixo delas.

Acredito que o grande impacto desta questão no nosso dia-a-dia na UFES é que os
departamentos, colegiados ou centros de ensino não podem criar determinações
contrárias às normas dos conselhos superiores ou acima deles, sob pena de ferirem o
princípio da legalidade.

Diante destes desdobramentos do princípio da legalidade, observamos a importância


de compreender que desempenhar uma função gratificada ou um cargo de direção
não significa liberdade de atuação, como seria na iniciativa privada, uma vez que o
agente continua vinculado à lei.

2. Princípio da impessoalidade

O princípio da impessoalidade também se relaciona com o Estado Democrático de


Direito quando parte do pressuposto que a Administração Pública está a serviço de
todos, indistintamente. O princípio impõe que o agente público atue conforme o
devido procedimento, sem intenção de beneficiar ou prejudicar qualquer pessoa por
seu interesse pessoal.
Dele deriva a Lei de combate ao nepotismo (Lei 7.203/2010), que não precisaria existir
se houvesse prévia observância ao princípio, bem como o crime de prevaricação
(artigo 319, Código Penal), que vamos analisar em momento oportuno.

3. Princípio da moralidade

O princípio da moralidade propõe que a Administração Pública, por meio de seus


agentes, atue de acordo com critérios morais da sociedade em que está inserida.
Contudo, não podemos deixar de observar que existe grande subjetividade nesta
hipótese, porque na moralidade pública se encontram debates que tratam desde
códigos de vestimenta até questões sobre estética e sexualidade.

Claramente essas discussões não são o foco do princípio. O principal objetivo é


reprimir condutas que possam incorrer em situações de corrupção do agente. Assim,
não é considerado moralmente aceito que membros de bancas examinadoras aceitem
presentes de candidatos do concurso público que avaliam, por exemplo. O ato, por si,
não significa a corrupção do avaliador, mas é considerado antiético pela sociedade em
que vivemos.

4. Princípio da publicidade

O princípio da publicidade foi um dos grandes promotores do combate à corrupção nas


últimas décadas, aliado à informatização da Administração Pública. Por meio dele,
foram criados instrumentos de divulgação da prestação de contas de órgãos públicos
e, em 2011, a Lei de acesso à informação (Lei 12.527/2011).

O princípio parte do pressuposto que todos podem ter conhecimento das atividades
da Administração Pública, uma vez que ela está a serviço do povo. Por isso, questões
mais sensíveis que envolvem certames e despesas devem preferencialmente constar
nos sites institucionais, como muitas resoluções da UFES já estabelecem.

A grande questão do princípio é seu equilíbrio com a privacidade e a dignidade dos


agentes públicos ou de particulares que usufruem de serviços da Administração.
Existem elementos óbvios, como a não publicidade de informações pessoais e
servidores e alunos. Inclusive o lepisma, que é outro instrumento de publicidade da
UFES, já é programado para proteger esses dados, bastando que usuário indique a
presença delas.

Questões mais sensíveis tratam de aspectos que podem comprometer a dignidade de


algum servidor ou usuário. Exemplo é o sigilo de sindicâncias investigativas em
andamento ou apuração de denúncias. Se a situação questão puder criar um dano
moral ao investigado, é interessante que permaneça em sigilo até sua conclusão.
Lembrando que o relatório conclusivo deve ter publicidade.

5. Eficiência

O princípio da eficiência trabalha com a premissa que o agente público deve


desenvolver sua atividade da forma mais célere e menos onerosa para a Administração
Pública. Ele é um dos grandes responsáveis pela informatização no setor público e,
consequentemente, pela prestação de vários serviços de forma virtual.

Assim, concluímos o rol de princípios expressos. Sobre os princípios presumidos,


seguem os mais descritos pela literatura especializada:

6. Supremacia do interesse público

Como já apresentamos no módulo anterior, o Direito Administrativo pertence ao ramo


do Direito Público e, por isso, trata do interesse público. Por isso, toda decisão do
administrador púbico deve ser pautada pela supremacia do interesse público sobre o
interesse particular. Esse princípio que motiva, por exemplo, a possibilidade de
interrupção de férias do servidor por sua Chefia no serviço público. É que a
continuidade da prestação do serviço é mais relevante que as férias do servidor. Claro
que devem ser guardadas as devidas proporções: se um servidor não pode sair de
férias jamais, provavelmente é porque um acréscimo no número de servidores
naquele setor é necessário.

7. Razoabilidade

O princípio da razoabilidade exige que os agentes administrativos atuem de acordo


com um bom senso lastreado pela cultura da comunidade quando não há previsão
expressa na lei. Infelizmente esse é um mandamento basta raso de caracterização, mas
é fácil ser percebido quando um Chefe autoriza a ausência sem compensação posterior
das horas não trabalhadas na ocasião de uma greve de transporte público na cidade
onde se localiza o órgão público. Não existe previsão legal para tanto, mas é uma
medida razoável por parte do gestor.

8. Motivação

O princípio da motivação também é outro alicerce para o Estado Democrático de


Direito, uma vez que impõe que todas as decisões administrativas devem ser
motivadas. Ao expor os motivos da atitude tomada pelo agente público, é mais fácil
perceber se ele respeitou outros princípios, como o da legalidade ou impessoalidade,
ou apenas exerceu uma vontade própria.

Por essa razão, quando o Chefe de um Departamento, por exemplo, analisa as


solicitações de alunos especiais para o próximo semestre letivo, é adequado que no
caso de denegação, o Chefe a motive, justificando que não haverá vagas na turma ou
que o conteúdo é demasiado avançado para um leigo.
Referências:

BÛLOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. 13. ed. São Paulo: Saraiva,
2020.

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 34. ed. São
Paulo: Atlas, 2020.

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 34. ed. São Paulo:
Malheiros, 2019.

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