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SUMÁRIO

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ......................................................................................... 3


OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO ... 4
DIFERENÇA ENTRE GESTÃO PÚBLICA E PRIVADA ........................................................ 7
OS TRÊS PODERES .................................................................................................... 10
GESTÃO DE PESSOAS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ............................................... 14
CONFIRA AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS PARA GESTÃO DE RH .................................... 19
ORÇAMENTO PÚBLICO ............................................................................................. 23
FORMAS DE GOVERNO............................................................................................. 29
DESBUROCRATIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ............................................. 35
LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL ........................................................................... 44

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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Administração pública caracteriza-se pelo conjunto de órgãos, serviços e agentes do


Estado que procuram satisfazer as necessidades da sociedade, tais como educação,
cultura, segurança e saúde. Em outras palavras, administração pública é a gestão dos
interesses públicos por meio da prestação de serviços, sendo dividida em administração
direta e indireta.
A administração direta é aquela exercida pelo conjunto dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Nesse caso, os órgãos não possuem
personalidade jurídica própria, patrimônio, nem autonomia administrativa.
Diferentemente da administração direta, a qual o Estado exerce suas funções
diretamente; na administração indireta, o Estado transfere a sua titularidade ou execução
das funções para que outras pessoas jurídicas, ligadas a ele, possam realizar. A
administração indireta é composta pelas autarquias, fundações, sociedades de economia
mista, empresas públicas e outras entidades de direito privado. Tais entidades possuem
personalidade jurídica própria, patrimônio e autonomia administrativa.
A concessão que o Estado dá ao concessionário deve ser feita sempre através de
licitação, um processo de análise das propostas mais vantajosas para o Estado,
significando, portanto, uma medida de uso racional dos recursos públicos. A
administração indireta visa à descentralização, ou seja, a distribuição de competências de
uma para outra pessoa, física ou jurídica.

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OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NO SISTEMA JURÍDICO
BRASILEIRO

Os princípios estão expressos na constituição e são responsáveis por organizar toda a


estrutura e, além disso, mostrar requisitos básicos para uma “boa administração”, não
apenas isso, mas também gerar uma segurança jurídica aos cidadãos, como por
exemplo, no princípio da legalidade, que atribui ao indivíduo à obrigação de realizar algo,
apenas em virtude da lei, impedindo assim que haja abuso de poder.

Legalidade
O princípio da legalidade, que é uma das principais garantias de direitos individuais,
remete ao fato de que a Administração Pública só pode fazer aquilo que a lei permite, ou
seja, só pode ser exercido em conformidade com o que é apontado na lei, esse princípio
ganha tanta relevância pelo fato de não proteger o cidadão de vários abusos emanados
de agentes do poder público.
Deste modo, este princípio, além de passar muita segurança jurídica ao indivíduo, limita o
poder do Estado, ocasionando assim, uma organização da Administração Pública. Como
já afirmado, anteriormente, este princípio além de previsto no caput do art. 37, vem
devidamente expresso no rol de Direitos e Garantias Individuais, no art. 5º, II, que afirma
que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da
lei”.
Ficando claro que a legalidade é um dos requisitos necessários na Administração Pública,
um princípio que gera segurança jurídica aos cidadãos e limita o poder dos agentes da

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Administração Pública.

Moralidade
Tendo por base a “boa administração”, este princípio relaciona-se com as decisões legais
tomadas pelo agente de administração publica acompanhado, também, pela honestidade.
Ressaltando a importância da moralidade na Administração Publica. Um agente
administrativo ético que usa da moral e da honestidade consegue realizar uma boa
administração, consegue discernir a licitude e ilicitude de alguns atos, além do justo e
injusto de determinadas ações, podendo garantir um bom trabalho.

Impessoalidade
Um princípio ainda um pouco conturbado na doutrina, mas, a maioria, dos doutrinadores,
relaciona este princípio com a finalidade, ou seja, impõe ao administrador público que só
pratique os atos em seu fim legal.
Para a garantia deste principio o texto constitucional completa que para a entrada em
cargo público é necessário a aprovação em concurso público.

Razoabilidade e proporcionalidade
É um princípio que é implícito da Constituição Federal brasileira. “Trata-se de um princípio
aplicado ao direito administrativo como mais uma das tentativas de impor-se limitações à
discricionariedade administrativa, ampliando-se o âmbito de apreciações do ato
administrativo pelo Poder Judiciário.”

Publicidade
Para que os atos sejam conhecidos externamente, ou seja, na sociedade, é necessário
que eles sejam publicados e divulgados, e assim possam iniciar a ter seus efeitos,

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auferindo eficácia ao termo exposto. Além disso, relaciona-se com o Direito da
Informação, que está no rol de Direitos e Garantias Fundamentais.
Torna-se necessário que os atos e decisões tomados, sejam devidamente publicados
para o conhecimento de todos, o sigilo só é permitido em casos de segurança nacional.
Busca-se deste modo, manter a transparência, ou seja, deixar claro para a sociedade os
comportamentos e as decisões tomadas pelos agentes da Administração Pública.

Eficiência
Este princípio zela pela “boa administração”, aquela que consiga atender aos anseios na
sociedade, consiga de modo legal atingir resultados positivos e satisfatórios, como o
próprio nome já faz referência, ser eficiente.
A eficiência é uma característica que faz com que o agente público consiga atingir
resultados positivos, garantindo à sociedade uma real efetivação dos propósitos
necessários, como por exemplo, saúde, qualidade de vida e educação.

Interesse público
Também chamado de Princípio da Finalidade, é o resultado pela busca dos interesses da
sociedade, regulamentado pela Lei 9.784/99, que trata dos processos administrativos no
âmbito da Administração Pública Federal.
Assim, este princípio é o dispositivo que trata dos interesses da coletividade. Visa
contribuir com a maioria dos indivíduos da sociedade, e o Estado tem papel relevante
nisto, uma vez que foi criado para garantir uma organização e cumprir os interesses
gerais da sociedade com o bem-estar da coletividade. A primazia da esfera do público
sobre o privado levou a Supremacia do Interesse Público, e assim algumas funções do
Estado necessitaram ser ampliadas. Como exemplo tem-se a própria ampliação de
serviços públicos, ou como o poder de polícia que agora começou a prezar pela ordem
social, sempre objetivando trabalhar pelo interesse da coletividade.

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Além desta supremacia do interesse público, temos outro princípio que merece ser
analisado que é o da indisponibilidade do interesse público, que aponta que o
administrador público no uso de suas atribuições e em nome do interesse público não
pode dispor dos interesses do povo.
É necessário que haja de fato uma real busca pelos interesses públicos emanada da
administração púbica, para que seja cumprido seu real papel.

DIFERENÇA ENTRE GESTÃO PÚBLICA E PRIVADA

Quais as diferenças entre Gestão Pública e administração privada?


A diferença principal entre a Gestão Pública e a administração privada está na própria
finalidade de cada uma.
Em oposição à Gestão Pública, cujo foco é o bem comum; a administração privada volta-
se para o lucro ou para o consumo.
As ações visam o próprio desenvolvimento e crescimento do negócio, além do benefício
dos proprietários e gestores.
Existem mais diferenças entre a Gestão Pública e a administração privada: o modo como
as organizações são criadas e captam recursos, modelo de planejamento, entre outras
particularidades.

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Concepção ou extinção da pessoa jurídica
As organizações públicas são criadas ou autorizadas por determinações legais. Já as
privadas são formadas através de contratos entre sócios.

Público-alvo
Na Gestão Pública, o cidadão e o interesse coletivo. Na administração privada, o cliente e
o interesse individual.

Forma de captação de recursos


Na Gestão Pública, pela arrecadação compulsória de impostos, taxas e contribuições
destinadas aos cofres públicos. Na administração privada, pelos pagamentos realizados
espontaneamente pelos clientes na compra de produtos ou serviços.

Controle de desempenho
As organizações públicas têm um controle político do Estado por meio de eleições. Já nas
empresas privadas, o controle é exercido pelo mercado por meio da concorrência entre as
companhias.

Modelo de planejamento
Como o prazo de cada gestão é curto, o plano plurianual é um modelo de planejamento
usado para definir as políticas públicas e respectivas metas para um período de quatro
anos.
Na administração privada, é possível desenvolver um plano de negócios e planejamento
estratégico a curto, médio e longo prazo.

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Qualificação da gestão
Na Gestão Pública, a eficiência se mede pelo alcance de metas públicas. Já no setor
privado, pelo aumento das receitas, crescimento da empresa e redução de custos.

Área de abrangência
As fronteiras demográficas são bem definidas na Gestão Pública. Já a administração
privada não tem uma área específica, visto que as empresas podem atuar a nível local,
regional, nacional ou mundial.

Garantia de sobrevivência
O tempo de existência das organizações públicas é indeterminado, pois o Estado não
abre falência.
Já as empresas privadas dependem de uma boa gestão, pois o mercado é competitivo e
o negócio pode acabar caso não acompanhe as tendências e mudanças no
comportamento do consumidor.
Os conceitos de Gestão Pública e administração privada estão mudando atualmente. Os
princípios dessas diferentes formas de administração estão se aproximando naturalmente.
A administração privada vem sendo alterada pela sustentabilidade e preocupação com
questões sociais importantes. Ao mesmo tempo, a Gestão Pública está recebendo
influência de conceitos de eficiência e qualidade, capacitação e valorização por
meritocracia.
Um exemplo do dessa transformação é o sucesso das iniciativas de PPP (Parcerias

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Público-Privadas).
Por meio delas, o Estado e empresas privadas viabilizam a realização de projetos em
conjunto. Para isso, ele deve utilizar todos os recursos e competências disponíveis.
O sucesso da gestão, seja ela pública, seja ela privada, está diretamente ligada a sua
eficiência. A capacidade de formar e liderar equipes, coordenar e monitorar todas as
ações são requisitos fundamentais para um bom gestor.
Tanto no ambiente público como no privado, nos deparamos com a falta de profissionais
devidamente qualificados. A preparação e aprimoramento das habilidades do gestor são
fundamentais para o crescimento profissional.

OS TRÊS PODERES

Os três poderes, independentes e coesos entre si, são categorias dos poderes políticos
presentes na democracia de um país.
Assim, quando pensamos na Política de um Estado, em sua estrutura e organização,
existem três poderes políticos que norteiam suas ações, são eles:
 Poder Executivo;
 Poder Legislativo;
 Poder Judiciário.
Respectivamente, esses poderes são destinados a: executar as resoluções públicas,
produzir as leis e julgar os cidadãos.

História

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Desde a antiguidade muitos estudiosos, pensadores e filósofos discutiam questões sobre
a Política e sua organização.
Entretanto, foi o filósofo, político e escritor francês Charles-Louis de Secondat (1689-
1755), mas conhecido por Montesquieu, quem desenvolveu, no século XVIII, a “Teoria da
Separação dos Poderes”.

Essa Teoria relatada em sua obra “O Espírito das Leis”, apresentava a divisão dos
poderes políticos e seus respectivos campos de atuação.
Vale lembrar que, antes de Montesquieu outros grandes filósofos já haviam feito
referência sobre a importância desse modelo de Estado. Como exemplo notório, temos o
filósofo grego Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.) e sua obra intitulada “Política”.
Desde aquela época, o objetivo central da divisão dos poderes no campo político era o de
descentralizar o poder. Isso porque ele estava concentrado nas mãos de um pequeno
grupo.
A ideia central era de favorecer um Estado mais justo, democrático e igualitário para todos
os cidadãos.

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Poder Executivo
O Poder Executivo, como o próprio nome já pressupõe, é o poder destinado a executar,
fiscalizar e gerir as leis de um país.
No âmbito deste poder estão a Presidência da República, Ministérios, Secretarias da
Presidência, Órgãos da Administração Pública e os Conselhos de Políticas Públicas.

Sendo assim, essa escala do poder decide e propõe planos de ação de administração e
de fiscalização de diversos Programas (social, educação, cultura, saúde, infraestrutura) a
fim de garantir qualidade e a eficácia dos mesmos.
É válido destacar que no Município, o Poder Executivo é representado pelo Prefeito
enquanto a nível estatal é representado pelo Governador.

Poder Legislativo
O Poder Legislativo é o poder que estabelece as Leis de um país. Ele é composto pelo
Congresso Nacional, ou seja, a Câmara de Deputados, o Senado, Parlamentos,
Assembléias, cuja atribuição central é de propor leis destinadas a conduzir a vida do país
e de seus cidadãos.
O Poder Legislativo, além de desempenhar o papel de elaboração das leis que regerão a
sociedade, também fiscaliza o Poder Executivo.

Poder Judiciário
O Poder Judiciário atua no campo do cumprimento das Leis. É o Poder responsável por

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julgar as causas conforme a constituição do Estado.
É composto por juízes, promotores de justiça, desembargadores, ministros, representado
por Tribunais, com destaque para o Supremo Tribunal Federal – STF.Essencialmente, o
Poder Judiciário tem a função de aplicar a lei, julgar e interpretar os fatos e conflitos,
cumprindo desta forma, a Constituição do Estado.

Curiosidades
 A “Teoria dos Três Poderes” do Filósofo Montesquieu, influenciou na criação da
Constituição dos Estados Unidos. Com isso, a divisão dos três poderes da esfera
política, tornou-se a base de qualquer Estado Democrático Contemporâneo.
 Os mais antigos dos três poderes é o Poder Judiciário, uma vez que na cidade
Grega de Atenas existiam tribunais formados pelo povo. Além de possuírem suas
funções legislativas, tinham como principal intuito julgar as causas dos cidadãos
atenienses.
 A Constituição Brasileira adotou a Tripartição de Poderes — Legislativo, Executivo
e Judiciário — na Constituição de 1891.
 No Brasil, o Poder Executivo e o Poder Legislativo são definidos a partir de votação

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direta, enquanto o Poder Judiciário é direcionado por ministros indicados pelo
Presidente da República e aprovados pelo Senado.

GESTÃO DE PESSOAS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

A demanda por mudanças nas estruturas e dinâmicas de funcionamento das instituições


públicas têm sido cada vez mais comuns. Isso se deve à necessidade de aplicar
conhecimento que integre os servidores públicos com os processos e sistemas a fim de
oferecer um serviço qualificado e estratégico para a sociedade. Daí a importância de
implementar uma boa gestão de pessoas.

O que é gestão de pessoas?


Segundo Maria Tereza Leme Fleury e Rosa Maria Fischer, no livro Processo e relações
do trabalho no Brasil, a gestão de pessoas é um “conjunto de políticas e práticas definidas
de uma organização para orientar o comportamento humano e as relações interpessoais
no ambiente de trabalho”. Para convergir nesse processo de orientação, há seis bases
que devem ser consideradas pelos gestores, sendo elas:
 agregar;
 aplicar;
 recompensar;
 desenvolver

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 manter;
 monitorar.
A gestão de pessoas conhecida hoje teve o seu início no final do século XIX, a partir de
um movimento da administração científica, comandado por Frederick W. Taylor e Henri
Fayol. O movimento tinha o objetivo de propiciar a fundamentação científica a fim de
padronizar tal atividade, evitando que a improvisação nesse sentido fosse o principal guia
dos gestores.

Qual é a diferença entre a gestão de pessoas e Recursos Humanos?


A gestão de pessoas está mais focada em desenvolvê-las, enquanto o RH é voltado para
a criação de um relacionamento entre a organização e o colaborador. Alguns pontos
ajudam a demarcar melhor essa diferença.
Um bom exemplo disso é o engajamento dos profissionais. O encarregado de gerir
pessoas tem a capacidade de identificar a satisfação e insatisfação da equipe. A partir
disso, ele pode entender quais os fatores levaram ao problema a fim de propor ao RH
alternativas que ajudarão a solucioná-lo.
Outro aspecto importante diz respeito à reestruturação das equipes. O RH tem o papel de
admitir e demitir, mas é a gestão de pessoas que consegue identificar e apontar aquele
colaborador que poderá ser desligado. O interessante é que os dois se interligam, sendo
essencial a presença de ambos em uma organização.

Qual é a importância da gestão de pessoas para o setor público?


As novas necessidades da população, a demanda por uma assistência mais qualificada,
bem como a efetividade dos serviços fizeram com que a gestão de pessoas passasse a
ter um papel primordial no setor público. A inserção da tecnologia, por exemplo, atenuou
tal necessidade.
Isso porque as relações se tornaram mais complexas, as competências estão cada vez
mais específicas e é justamente o capital humano o responsável pela percepção, ideias e

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melhorias que serão por ele executadas ou que serão de responsabilidade das máquinas.
A crescente necessidade de maior efetividade na prestação dos serviços, focando no
interesse público, tornou indispensável o processo de humanização nessa área. Nele, a
gestão de pessoas tem um papel fundamental. Caberá ao setor promover o crescimento
intelectual, emocional, mas também desenvolver as dimensões psicocognitivas (reunir e
analisar informações) e político-organizacionais (tomar decisões).
Logo, a gestão de pessoas vem para humanizar o servidor, ou seja, pensar nele como um
profissional consciente e responsável pelos problemas da sociedade como um todo.
Focado nesse sentido, o servidor deixa de ser apenas uma peça na máquina pública e o
seu crescimento como indivíduo profissional passa a ser valorizado.

Como aplicar a gestão de pessoas no setor público?


Entre os principais objetivos da gestão de pessoas estão motivar os colaboradores,
investir em capacitação e treinamento, melhorar a qualidade de vida no trabalho, ajudar
no gerenciamento de mudanças, implementar processos de comunicação mais eficazes,
incentivar a atuação em equipe, promover a atuação ética, entre outros.
Nesse sentido, gerir pessoas em empresas públicas e privadas se assemelha em muitos
pontos.

Promova uma comunicação livre e transparente


Um dos maiores desafios da gestão de pessoas é com relação ao processo de
comunicação. Geralmente, eles não são transparentes e objetivos, gerando uma
interpretação ambígua ou dissonante da realidade.
O primeiro passo de um gerenciamento de qualidade começa com o estímulo a uma
comunicação mais integradora, ou seja, que dê abertura aos servidores e que também
evite fofocas no funcionalismo. A ideia é que sejam feitas reuniões e emitidos

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comunicados ligados ao trabalho da instituição, criando assim uma comunicação oficial.

Coloque os feedbacks como essenciais no seu dia a dia


Não é porque uma pessoa tem estabilidade como servidor que ela pode se acomodar e
deixar de melhorar o seu trabalho. Portanto, criar uma cultura de feedbacks é essencial
para desenvolver os colaboradores. Aliás, nesse sentido, também é importante dar
espaço ao servidor para que ele expresse as suas necessidades e dificuldades em
relação às suas funções diárias.
O feedback ajudará o profissional a melhorar os seus pontos fracos e a continuar
aperfeiçoando os seus pontos fortes. Isso permite uma progressão no trabalho do
servidor, que poderá oferecer melhores serviços à população e otimizar o trabalho interno,
aumentando a produtividade.

Trabalhe a autonomia e a liberdade de ação


Um colaborador motivado e satisfeito contribui efetivamente com a melhoria da qualidade
dos serviços a serem prestados à população. Portanto, uma questão importante da
gestão de pessoas se refere à autonomia dada aos servidores.
Uma maneira de incentivar tal ação é ter uma liderança que expressa confiança nos
colaboradores, dando a eles liberdade em sua rotina de trabalho. Para isso é preciso
incentivar o desenvolvimento de ações focadas na excelência e qualificar os profissionais
para que eles sempre dêem o seu melhor.

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Redução do número de chefes
Uma das tendências da gestão de pessoas aplicada à administração pública é a
passagem do modelo extremamente rígido e burocrático para uma metodologia mais
gerencial, tal como as empresas. Isso seria essencial no processo de descentralização do
poder e na busca por melhores resultados, visto que os servidores terão um papel mais
ativo na instituição.

Aumento do foco nos cidadãos


O desenvolvimento do trabalho interno dos servidores passará a ser voltado cada vez
mais ao cidadão. Ou seja, as métricas ligadas aos resultados apresentados pelos órgãos
serão medidas tanto pela satisfação quanto pelas entregas à população.

Criação de equipes de alta performance


Como a gestão de pessoas passa a ser melhor trabalhada, os gestores conseguem atuar
melhor com o capital intelectual, o que consequentemente forma equipes de alta
performance. Isso será fundamental para garantir um diferencial competitivo profissional
no fornecimento de serviços.

Implementação de um sistema de recompensas


O governo tem seus planos de carreira para o funcionalismo público. No entanto, existe
uma tendência focada em trabalhar com a implementação de um sistema que ajude na
recompensa dos talentos e na retenção deles, tornando a carreira pública ainda mais
atrativa e motivando os indivíduos ao desenvolvimento.
A gestão de pessoas no setor público segue uma linha um pouco diferente da
empresarial, pois essa primeira ainda está caminhando para um desenvolvimento macro

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de suas ações. A implementação de um sistema regido por competências visa a uma
contribuição para alcançar objetivos mais satisfatórios na administração pública.

CONFIRA AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS PARA GESTÃO DE RH

Transformação hierárquica
Aqui, há uma passagem do modelo burocrático, excessivamente rígido e formal, para o
gerencial, em que há descentralização, delegação de autoridade e foco em resultados.

Experiência do usuário
Os cidadãos fazem parte da estruturação dos produtos e serviços. Sendo assim,
concentrar-se em suas reais necessidades torna-se fundamental no processo de gestão,
visto que o objetivo é atingir a excelência no atendimento, promovendo eficiência, eficácia
e efetividade voltadas às novas demandas do mercado.

Promoção de qualidade de vida


Esta estratégia é voltada à otimização da produtividade e garantia de satisfação do
servidor ou colaborador. Trata-se de um elo entre os interesses individuais dos gestores e
dos servidores. Há preocupação por parte dos gestores com o bem-estar do profissional,
incluindo a sua saúde física e mental.

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Implantação de um sistema de recompensas justo
Esta estratégia busca motivar e reter os melhores talentos na área pública com o intuito
de gerar um maior nível de desempenho e produtividade no trabalho, de modo que:
 Melhora o nível de relacionamento dos gestores com os colaboradores, mantendo,
desta forma, um comportamento ético no órgão público;
 Proporciona a evolução do sistema de gestão fordista e taylorista, para um modelo
capaz de manter e desenvolver talentos.
Os sistemas fordistas (baseados na produção em massa) e taylorista (em que cada
indivíduo deveria cumprir sua tarefa no menor tempo possível, sendo premiados aqueles
que se destacavam) faziam com que os trabalhadores fossem vistos como máquinas.
Desta forma, eles resultavam em pouca motivação em relação ao trabalho
desempenhado e rara visão sobre possibilidade de ascensão profissional, já que o foco
dos gestores na época era apenas a produtividade, em detrimento das pessoas.
A boa notícia é que a nova tendência de gestão de pessoas no setor público é voltada à
humanização no relacionamento com os servidores e colaboradores e à ocorrência de
investimento na formação do capital humano.

Desenvolvimento de lideranças que inspiram


O investimento em capacitação de lideranças é forte tendência no setor de RH. De acordo
com o CEO da Great Place to Work, Michael C. Bush, o conceito de líder envolve mais do
que gestores, diretores e presidentes das empresas. Segundo ele, o ideal é que cada
profissional da instituição tenha capacidade de influenciar outros colaboradores.

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É importante lembrar que o líder deve agir como um agente de mudanças e disseminador
desta cultura no local onde trabalha.

Treinamentos para servidores e colaboradores aliados à tecnologia


É importante que haja a criação de programas de treinamento e desenvolvimento
profissional para que os servidores estejam alinhados às atividades e à cultura
organizacional.
Isto se faz necessário para a criação de um ambiente mais estimulante e desafiador, em
que os colaboradores possam se sentir responsáveis pelos resultados alcançados. É
preciso estimulá-los para a inovação, valorizando a sua opinião, criando oportunidades
para a sua participação nos objetivos da organização e seu desenvolvimento profissional.
Neste momento de transformação digital que estamos vivenciando, destacamos a
tendência de “Learning in the Flow of Work (Aprendizado no Fluxo de Trabalho, em
tradução livre), que consiste na utilização de plataformas e ferramentas que possibilitam o
aprendizado contínuo no próprio ambiente da empresa.

Otimização das estratégias de comunicação interna


O feedback e o coaching vêm tornando-se estratégias cada vez mais essenciais à gestão
voltada a resultados. Através destas ferramentas de comunicação, há aceleração nas
mudanças de atitudes e posturas dos colaboradores, de forma que eles atingem com
maior rapidez o seu potencial máximo aliado às expectativas e metas organizacionais.

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Utilização de soluções em nuvem
Outra tendência crescente, quanto à transformação digital no setor público, refere-se à
utilização de soluções em nuvem. Desta forma, as organizações conseguem acessar as
informações via internet, de forma rápida e segura. O acesso é totalmente independente
de programas instalados no computador.
Algumas das vantagens da computação em nuvem são: alta disponibilidade dos serviços,
segurança das informações, redução de custos, praticidade e garantia de se estar
trabalhando sempre com as versões mais atualizadas das soluções.

Automatização de processos
Temos ainda a automatização de processos como grande aliada à gestão de pessoas no
setor público. Há soluções desenvolvidas por especialistas, que buscam auxiliar nas
tomadas de decisões e proporcionar a entrega de resultados de forma ágil e eficiente.
Por exemplo, o uso de um software de gestão de pessoas e folhas de pagamento, como o
Ergon, possibilita a automatização dos processos e a geração dos cálculos financeiros
dos servidores de forma automática.
Utilizar a inovação digital nos processos administrativos, além de otimizar o tempo, mitigar
erros e falhas, também aumenta a produtividade e reduz custos. Todos os dados da
organização e seus colaboradores são armazenados de forma segura.

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ORÇAMENTO PÚBLICO

O orçamento público tem tudo a ver com o nosso dia a dia. Grande parte
das receitas arrecadadas pelo governo saem do nosso bolso, direta ou
indiretamente. Repassamos uma parcela do que ganhamos para o governo em
forma de impostos indiretos, isto é, impostos que estão embutidos no preço das
mercadorias e das tarifas de serviços públicos. Há também os impostos diretos,
como o imposto de renda, que é pago por milhões de pessoas quando recebem o
salário ou quando prestam serviços para uma empresa ou para outras pessoas.
O orçamento público transforma-se em lei após passar por um processo de ampla
negociação, em que os governos federal, estadual e municipal deixam claro como
pretendem gastar a curto e médio prazo os recursos arrecadados com impostos,
contribuições sociais e outras fontes de receita. A elaboração do orçamento público
é obrigatória a todos os níveis de governo.
A elaboração do orçamento segue uma periodicidade prevista em lei e
na Constituição Federal de 1988. Assim, ele acontece de forma cíclica, de maneira
que todas as ferramentas se encaixem, ou seja, formando uma orientação lógica
para orientar o orçamento público. Isso é chamado de ciclo orçamentário.

O ciclo orçamentário
O ciclo orçamentário é um processo dinâmico e contínuo, com várias etapas

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articuladas entre si, por meio das quais sucessivos orçamentos são discutidos,
elaborados, aprovados, executados, avaliados e julgados. Esse ciclo tem início com
a elaboração do Plano Plurianual (PPA) e se encerra com o julgamento da última
prestação de contas do Poder Executivo pelo Poder Legislativo.
O Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei
Orçamentária Anual (LOA) são as três leis que regem o ciclo orçamentário, são
estreitamente ligadas entre si, compatíveis e harmônicas. Elas formam um sistema
integrado de planejamento e orçamento, reconhecido na Constituição Federal, que
deve ser adotado pelos municípios, pelos estados e pela União.
A elaboração dos projetos de lei do PPA, da LDO e da LOA cabe exclusivamente ao
Executivo. Em nenhuma esfera o Poder Legislativo pode propor tais leis. No âmbito
municipal, por exemplo, apenas o prefeito pode apresentar à Câmara Municipal os
projetos de PPA, LDO e LOA. Os vereadores não apresentam tais projetos, mas podem
modificá-los por meio de emendas quando estes são enviados ao Legislativo para
discussão e votação.
O Ministério Público não discute, não vota, nem aprova o orçamento público. Porém, é
chamado para intervir legal e penalmente quando qualquer irregularidade é constatada
pelos órgãos de controle interno, externo ou social. Dessa maneira, o ciclo orçamentário
se inicia a cada quatro anos com o planejamento a longo prazo estruturado no PPA e, ao
longo desse tempo, elabora-se anualmente uma LDO e uma LOA para operacionalizar, no
curto prazo, a estratégia do PPA.

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Planejamento orçamentário em médio prazo: o plano plurianual (PPA)
A cada quatro anos, os chefes do Poder Executivo (prefeitos, governadores e presidente
da República) devem elaborar uma proposta de planejamento a médio prazo, chamado
Plano Plurianual (PPA), e enviá-la para discussão e votação para o respectivo órgão
legislativo.
O Plano Plurianual é o planejamento orçamentário de médio prazo do governo. O
PPA estabelece qualitativamente e quantitativamente quais serão os investimentos
da administração pública em cada área em que atua (Saúde, Educação, Transporte,
Indústria, Assistência Social, entre outros). O plano define as estratégias, diretr izes
e metas da administração para um período de quatro anos. O PPA é revisado,
monitorado e aperfeiçoado anualmente para ser readequado à situação esperada no
próximo ano.

Planejamento em curto prazo: a lei de diretrizes orçamentárias e a lei orçamentária


anual
Anualmente, acontece o processo de elaboração da Lei de Diretrizes Orçamentárias
(LDO) e da Lei Orçamentária Anual (LOA), que explicitam o plano de ação
governamental a curto prazo.

Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)


Essa lei anual define as metas e prioridades do governo, ou seja, as obras e os
serviços mais importantes a serem realizados no ano seguinte. A LDO estabelece as

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regras que deverão ser observadas na formulação do Projeto de Lei
Orçamentária Anual para atingir as metas previstas no PPA na execução das ações.
É elaborada pelo Poder Executivo e discutida, vota da e aprovada pelo Legislativo.

Lei Orçamentária Anual (LOA)


A Lei Orçamentária autoriza o Executivo a gastar os recursos arrecadados para
manter a administração, pagar os credores e fazer investimentos. A LOA materializa
as diretrizes do direcionamento de gastos e despesas do governo, indicando qual
será o orçamento público disponível para o próximo ano. A quantidade e a qualidade
dos gastos e investimentos indicam qual o nível de prioridade em investir naquela
área para que o plano estratégico alcance os resultados esperados.

Passo a passo do ciclo do orçamento


Cada poder exerce um papel específico no processo orçamentário. Ao Executivo
cabe elaborar os projetos de lei e executá-los. Ao Legislativo compete discutir,
propor emendas, aprovar as propostas orçamentárias e depois julgar as contas
apresentadas pelos/as chefes do Executivo – prefeitos/as, governadores/as e
presidente da República. Um poder não pode se intrometer na tarefa do outro.
Há órgãos encarregados da fiscalização e do julgamento das contas, como os
Legislativos e os Tribunais de Contas. Os cidadãos e as cidadãs também podem e
devem participar do processo orçamentário e se preparar para expor suas propostas
e reivindicações. O ciclo orçamentário é composto de diversas etapas que se

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relacionam, se completam e se repetem continuamente. Esses passos são
semelhantes na União, nos estados e nos municípios.
As diferenças podem estar nas datas-limite de cada um deles. No passo a passo
orçamentário, apresentamos os prazos da União. Os prazos dos Estados são
definidos na Constituição Estadual e no Regimento Interno da Assembléia
Legislativa. Já os prazos dos Municípios são estabelecidos na Lei Orgânica do
Município e no Regimento Interno da Câmara Municipal.

 O ciclo orçamentário tem início com a elaboração do Projeto de Lei do Plano


Plurianual pelo Poder Executivo. Isso ocorre no primeiro ano de governo do
presidente, governador ou prefeito recém-empossado ou reeleito. Na União, o
chefe do Executivo deve encaminhar o projeto de lei do PPA ao Legislativo
até o dia 31 de agosto.
 Os membros do Legislativo discutem, apresentam emendas e votam o projeto
de lei do PPA até o encerramento da sessão legislativa. Na União, esse prazo
termina em 15 de dezembro. Se até essa data o PPA não for votado, o
recesso é suspenso e os parlamentares continuam em atividade até concluir a
votação.
 Com base no PPA, o Executivo formula o Projeto de Lei de Diretrizes
Orçamentárias, definindo prioridades e metas de governo. Os governantes
recém-empossados baseiam-se no PPA elaborado no governo anterior. Na
União, o projeto de LDO deve ser enviado ao Legislativo até o dia 15 de abril.
 Os membros do Legislativo têm até o encerramento da primeira parte da
sessão legislativa (30 de junho, no caso da União) para examinar, modificar e
votar o projeto de LDO. Do contrário, o recesso pode ser suspenso até que a
LDO seja aprovada.

27
 O Poder Executivo formula o Projeto de Lei Orçamentária Anual de a cordo
com o PPA e a LDO. A elaboração da proposta orçamentária começa no início
do ano e é concluída depois da aprovação da LDO. Na União, o presidente
tem até 31 de agosto para encaminhar o projeto ao Congresso Nacional.

 O Poder Legislativo deve examinar, modificar e votar o projeto de LOA até o


encerramento da sessão legislativa, que ocorre em 15 de dezembro. Caso
contrário, o recesso é suspenso até que a votação seja concluída.
 Os órgãos e as entidades da administração pública executam seus
orçamentos e ficam sujeitos à fiscalização e ao controle interno do respectivo
poder, assim como ao controle externo (Poder Legislativo, Tribunal de Contas
e sociedade).
 Até 30 dias após a publicação da LOA, o Executivo estabelece o cronograma
mensal de desembolso e a programação financeira, de acordo com as
determinações da Lei de Responsabilidade Fiscal;
 A cada dois meses, o Executivo reavalia as estimativas de receitas e
despesas, para verificar se a meta fiscal será cumprida. Se necessário, para
atingir a meta, os poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário) reduzem
temporariamente os limites para a realização de despesas. Essa redução é
denominada contingenciamento.
 Conforme determina a Constituição Federal, 30 dias após o final de cada
bimestre, o Executivo deve divulgar um relatório resumido da execução
orçamentária (gastos do governo).
 De acordo com determinações da Lei de Responsabilidade Fiscal, os três

28
poderes divulgam um relatório de gestão fiscal 30 dias após o final de cada
quadrimestre. Isso permite comparar a despesa com pessoal e o montante da
dívida pública com os limites previstos na legislação.
 Após o encerramento do exercício financeiro (31 de dezembro), o Executivo
elabora os balanços e os demonstrativos contábeis gerais (de todos os órgãos
e entidades da administração pública). Cada poder – Executivo, Legislativo e
Judiciário elabora sua prestação de contas separadamente.
 O Executivo apresenta suas contas do ano anterior ao Legislativo em no
máximo 60 dias após a abertura da sessão legislativa, que tem início em 15
de fevereiro, no caso da União.
 O Tribunal de Contas emite parecer prévio sobre as contas do Executivo e
dos demais poderes. Normalmente, isso ocorre em até 60 dias após o
recebimento das contas pelo Tribunal.
 O Legislativo julga as contas apresentadas pelo Executivo. No âmbito da
União, não há prazo fixado.
 O Executivo divulga um relatório de avaliação da execução do Plano
Plurianual (PPA). Isso ocorre geralmente nos três primeiros meses do ano.

FORMAS DE GOVERNO

Quando falamos de formas de governo, referimo-nos ao modo como um determinado


governo organiza e divide seus poderes e, sobretudo, como aplica o poder sobre quem é
governado. Com o passar dos tempos, as formas de governo sofreram mudanças e foram

29
teorizadas por diferentes filósofos e teóricos políticos. Entre as formas mais conhecidas,
podemos citar: tirania, monarquia, democracia, república, principado e despotismo.

Definição de formas de governo


Paulo Bonavides, um dos maiores estudiosos de ciência política no Brasil, diz que existem
três momentos cruciais para o entendimento das formas de governo em nossa história: a
Antiguidade, com os escritos de Aristóteles, a Modernidade, com Maquiavel e
Montesquieu, e a Contemporaneidade, com autores ligados ao direito e à ciência política
que determinam formas de governo adequadas ao século XX.
As formas de governo incluem maneiras democráticas e não democráticas de governar.
As variantes relacionam-se ao número de pessoas que detêm o poder.
No entanto, a classificação mais completa dessas formas está no livro Política, de
Aristóteles, pois esse filósofo reconheceu, desde o início, que, para tratar delas, é preciso
reconhecer "o número de pessoas que exercem o poder soberano”. A proposição
aristotélica impõe a ideia de que as formas de governo estão diretamente relacionadas ao
número de pessoas que exercem o poder soberano e, de um modo direto ou indireto,
estão ligadas ao poder estatal.

30
Aristóteles discorreu sobre as formas de governo, na sua obra Política.

Classificação de Aristóteles
 Monarquia: o poder político concentra-se nas mãos de uma única pessoa, que
carrega consigo a soberania. O monarca deve estar capacitado para o cargo que
lhe compete, pois, caso contrário, o governo pode degenerar-se e tornar-se uma
tirania.
 Aristocracia: um grupo de pessoas aptas a governarem assume o poder. Caso o
governo seja injusto e não represente o povo, a tendência é que ele se corrompa,
tornando-se uma oligarquia.
 Democracia: quando o corpo de cidadãos reúne-se para distribuir, entre si, o
poder político, temos uma democracia. No entanto, é necessário observar os
rumos que esse governo toma, pois a sua degeneração leva à demagogia, em que
representantes políticos têm um governo que beneficia certa parte da população e
esquece-se de outra parte.

Classificação de Maquiavel

31
Maquiavel é o autor de O príncipe, livro em que orienta como os príncipes devem comportar-se para alcançarem
prestígio.

 República: nela há uma plural distribuição do poder. Podem ser classificadas


como republicanas as democracias e algumas monarquias.
 Principado: diferentemente da república, o poder no principado é, essencialmente,
concentrado nas mãos de um único governante, que chefia o Executivo e o
Legislativo.

Classificação de Montesquieu
 República: Para que o povo una-se em benefício próprio para legislar, é
necessário estabelecer as noções de igualdade e de pátria. Podem ser formas
republicanas a aristocracia e a democracia, desde que regidas por um corpo
legislativo.
 Monarquia: quando se estabelece um corpo legislativo e o poder Executivo, que
deve submeter-se ao Legislativo, é composto por uma pessoa, tem-se uma
monarquia.

32
Montesquieu defendia que o poder deveria ser dividido em três: Executivo, Legislativo e Judiciário.

Despotismo: quando o monarca corrompe-se, passa por cima das leis e ignora a
Constituição, temos um regime despótico.

Formas de governo para a ciência política e a sociologia


A ciência política e a sociologia compõem as ciências sociais. A ciência política visa
compreender os diversos elementos do espectro político, tais como governo, estado, leis,
sistema jurídico, ação política etc. Já a sociologia tem por finalidade compreender a
sociedade de maneira mais complexa e cientificamente metódica, criando um campo do
saber que formula leis para a organização social por meio de outros elementos fornecidos
por outras ciências, como a ciência política, as ciências jurídicas, a economia e a
antropologia.
A filosofia fornece, em muitos casos, elementos para que a sociologia, a economia, a
ciência política e a antropologia continuem operando. Quando elegemos as teorias de
Aristóteles, Montesquieu e Maquiavel para explicar elementos políticos concernentes às
formas de governo, por exemplo, estamos reconhecendo a primazia da filosofia para

33
tratar de política.

Diferença entre forma de governo e regime de governo


Essa distinção é simples, porém causa muita confusão entre leigos no assunto. Enquanto
as formas de governo dizem respeito ao número de governantes e à quantidade de
pessoas que exercem o poder, o regime de governo é um atributo de cada governo que
adjetiva o modo como ele ou seu governante comporta-se.
Como regimes de governo, temos os regimes democráticos, autoritários e totalitários. Os
regimes democráticos são aqueles em que as ações políticas são tomadas em conjunto
por um corpo de cidadãos que compreende a maioria.
Um regime autoritário é aquele em que o corpo de cidadãos é excluído das decisões
políticas e o poder é exercido autoritariamente por um grupo de pessoas ou por uma
pessoa, passando por cima das leis e controlando a vida e a atividade política.

Já os regimes totalitários, como os que ocorreram na Europa no século XX (nazismo,


stalinismo e fascismo), são aqueles em que todos os aspectos da vida pública e da vida
privada são controlados por um governo extremamente autoritário e por meio de um
processo de hiperinflação do Estado.

Formas de governo no Brasil


Quando o Brasil tornou-se independente de Portugal, em 1822, surgiu um novo império
na América do Sul sob o governo de Dom Pedro I. Nessa época, o Estado brasileiro foi
governado por um regime monárquico que estabeleceu, desde 1824, uma Constituição e
abriu a possibilidade da formação de um parlamento.
No ano de 1889, os republicanos, liderados pelo marechal Deodoro da Fonseca,
aplicaram um golpe que destituiu o então imperador, Dom Pedro II, do poder, instituindo
um regime republicano presidencialista. Até 1930, a república passa por um regime
oligárquico, conhecido como política café com leite, em que apenas um grupo seleto de

34
presidentes, produtores de leite, de Minas Gerais, e de café, de São Paulo, assume o
poder.

Em 1930, Getúlio Vargas toma o poder e estabelece um governo provisório. Após esse
episódio, ele aplica um golpe, fecha o parlamento e governa autoritariamente até 1945, o
que caracteriza uma forma não democrática de exercício do poder político.
Entre 1964 e 1985, o Brasil vive outra ditadura, a Ditadura Militar brasileira, que passa por
períodos de extremo autoritarismo, fechando o congresso em alguns momentos e
impedindo a eleição popular para a ocupação do cargo da presidência da república. Com
exceção desses momentos autoritários, que somam muitos anos, o Brasil viveu, desde
1889, sob o regime republicano.

DESBUROCRATIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

O Brasil é um dos países mais burocráticos do mundo. Não se trata de diagnóstico


extraído do senso comum, mas de constatação empírica.
De acordo com o Banco Mundial, na pesquisa "Doing business 2019", o Brasil ocupa a
posição 109 no ranking de "facilidade para fazer negócios", que conta com 190 países
avaliados a partir de diversos critérios, tais como o tempo gasto para abertura de
empresas, pagamento de impostos, obtenção de alvarás de construção, conexão com a
rede elétrica, registro de uma propriedade, obtenção de crédito, proteção de investidores
minoritários, pagamento de tributos, comércio internacional, execução de contratos e
resolução de insolvência.
Nada obstante a péssima colocação do Brasil no ranking verifica-se que a posição

35
melhorou em relação às últimas três pesquisas publicadas em 2018, 2017 e 2016, quando
o país ocupou, respectivamente, as posições 125, 123 e 116.

O excesso de burocracia representa o obstáculo ao desenvolvimento econômico e à


geração de empregos, bem como acarreta ineficiência na gestão púbica e privada.
De um modo geral, é possível perceber a existência do contínuo processo de
desburocratização da Administração Pública brasileira nos últimos anos, com o objetivo
de simplificar e agilizar as relações jurídico-administrativas.
A ampliação e a concentração de atividades administrativas nas mãos do Estado Social
de Direito (Welfare State), notadamente após a Segunda Guerra Mundial, acarretaram a
hipertrofia do aparato estatal. Em sua organização administrativa, o Estado passou a
contar com as empresas estatais, criadas para prestação de serviços públicos e para o
exercício de atividades econômicas, além de concessionários que prestavam serviços
públicos por meio de contratos de concessão.
Ocorre que o crescimento desmesurado do Estado e o inchaço da sua máquina
administrativa levaram à ineficiência das atividades administrativas.
A necessidade de desburocratização da Administração Pública - com o intuito de agilizar
a atuação estatal e torná-la eficiente - acarreta o "retorno do pêndulo", ou seja, o Estado
devolve aos particulares diversas tarefas, especialmente as de caráter econômico (muitas
empresas públicas e sociedades de economia mista demonstraram-se ineficientes).
Ademais, o Estado delega iniciativa privada tarefas que até então eram exclusivamente
desempenhadas pelo poder público (privatização de serviços públicos).
O Estado Pós-Social ou Subsidiário não significa uma desvalorização da Administração
Pública, mas, ao contrário, representa uma redefinição das atividades administrativas que
devem ser prestadas diretamente pelo Estado e das demais atividades que podem ser
prestadas por particulares, notadamente por não envolverem a necessidade do exercício

36
do poder de autoridade. Valoriza-se, atualmente, a sociedade civil no desempenho de
atividades socialmente relevantes.

A partir da década de 1980, diversos países iniciaram um movimento de ajuste fiscal e de


privatizações, com destaque para a Grã-Bretanha, Estados Unidos e Nova Zelândia.
No Brasil, a reformulação do papel e do tamanho do Estado foi implementada na década
de 1990, por meio de alterações legislativas importantes que liberalizaram a economia e
efetivaram a desestatização. No âmbito constitucional, as Emendas Constitucionais 6/95 e
7/95 abriram a economia para o capital estrangeiro, enquanto as Emendas
Constitucionais 5/95, 8/95 e 9/95 atenuaram os monopólios estatais. Nesse período, foi
instituído o Programa Nacional de Desestatização (PND) pela lei 8.031/90, substituída,
posteriormente, pela lei 9.491/97.
O aparelho estatal foi reduzido e a "Administração Pública burocrática", no estilo
burocrático weberiano, foi substituída pela "Administração Pública gerencial" ou
"Administração Pública de resultados", a partir da reforma administrativa instituída pela
EC 19/98. Enquanto a Administração Pública burocrática se preocupa com os processos,
a Administração Pública gerencial ou de resultados é orientada para a obtenção de
resultados (eficiência), sendo marcada pela descentralização de atividades e avaliação de
desempenho a partir de indicadores definidos em contratos (ex: contrato de gestão,
contratos de desempenho).

37
Convém esclarecer que a diminuição do aparelho estatal e a reformulação das atividades
que devem ser desenvolvidas pelo Estado não significam um simples retorno ao Estado
Liberal clássico, pois, agora, o Estado não abdica da intervenção na área econômica e
social. A mudança primordial está justamente na técnica utilizada para essa intervenção,
que deixa de ser direta e passa a ser indireta (subsidiariedade), notadamente através da
regulação (Estado Regulador) e do fomento público.
Com o intuito de evitar o simples retorno ao Estado liberal abstencionista, o ordenamento
jurídico, ao lado da desestatização, instituiu as agências reguladoras, sob inspiração
norte-americana, com a finalidade de regular os setores econômicos (ex: ANCINE, ANP)
e a prestação de serviços públicos por concessionárias (ex: ANEEL, ANATEL), o que
justificou, em grande medida, a consagração do denominado "Estado regulador".
Posteriormente, nos anos 2000, ocorre novo retorno do pêndulo no modelo de
intervenção estatal na economia, com o incremento da intervenção direta por meio da
instituição de novas empresas estatais (ex: Empresa Brasileira de Hemoderivados e
Biotecnologia - Hemobrás - Lei 10.972/04; Empresa de Pesquisa Energética - EPE - Lei
10.847/04; Empresa Brasil de Comunicação - EBC - Lei 11.652/08; Empresa Brasileira de
Serviços Hospitalares - EBSERH - Lei 12.550/11; Empresa de Planejamento e Logística
S.A. - EPL - Lei 12.743/12; etc.).
A revalorização das empresas estatais pode ser justificada, em síntese, pela visão crítica
do governo à época em relação ao modelo regulatório vigente, bem como pela crise
internacional iniciada em 2008, com a crise imobiliária norte-americana, que

38
impulsionaram a criação de empresas estatais para implementação de investimentos
necessários à recuperação da economia e ao desenvolvimento.
É intuitivo imaginar que a diminuição do tamanho do Estado, intensificada no Brasil a
partir da década de 90, tenha acarretado, igualmente, a diminuição das formalidades
burocráticas da Administração Pública.
Contudo, o processo de desburocratização tem se revelado lento, notadamente em razão
da necessidade de mudança da cultura dos gestores públicos nas relações com os
administrados.
Isto não impede, porém, o reconhecimento de importantes avanços em busca de uma
Administração Pública efetivamente gerencial e desburocratizada.
A inserção do princípio da eficiência no art. 37 da CRFB, por meio da EC 19/98, no
contexto de reforma da Administração Pública brasileira, demonstrou a necessidade de
obtenção dos resultados elencados pelo texto constitucional de maneira célere e efetiva.8
Os agentes públicos têm o dever-poder de desempenharem a função pública de forma
eficiente, com o intuito de satisfazerem as necessidades da população. Nesse contexto,
pode ser destacado o art. 5.º, LXXVIII, da CRFB, inserido pela EC 45/04, que garante às
pessoas, no âmbito judicial e administrativo, a duração razoável do processo e os meios
que garantam a celeridade de sua tramitação.

No âmbito da denominada Administração Pública gerencial ou de resultados, a


interpretação e a aplicação do direito não podem se afastar das consequências geradas
pelas escolhas que são efetivadas pelas autoridades estatais. Sem deixar de lado a
importância de certas formalidades, estritamente necessárias à formação legítima da
vontade estatal, o direito passa a se preocupar de maneira preponderante com os
resultados impostos pelo texto constitucional.
A relativização do formalismo (formalismo moderado) é justificada pelos resultados
alcançados pela Administração. Diversos exemplos podem ser citados: a) apesar da
nulidade dos contratos administrativos verbais (art. 60, parágrafo único, da lei 8.666/93), a
doutrina e a jurisprudência têm reconhecido o dever de pagamento por parte da

39
Administração, tendo em vista os princípios da boa-fé e da vedação do enriquecimento
sem causa; b) possibilidade de acordos decisórios (ou substitutivos) na Administração
Pública (Termo de Ajustamento de Conduta - TACs: art. 5º, § 6º, da lei 7.347/85, acordo
de leniência: art. 16 da lei 12.846/13, acordos administrativos: Lei de Introdução às
Normas do Direito Brasileiro - LINDB, etc.); c) relativização de formalidades nos atos,
processos administrativos (arts. 2º, parágrafo único, VIII e IX, e 22 da lei 9.784/99) e nas
licitações (exs.: art. 48, § 3.º, da lei 8.666/93, art. 12, IV, da lei 11.079/04); etc.
Aliás, a própria efetivação do direito à informação, na forma dos arts. 5º e 37, caput, da
CRFB, com a implementação da cultura da transparência administrativa, revela
importante passo rumo à desburocratização da Administração, facilitando a obtenção das
informações públicas pelos cidadãos. Nesse ponto, a lei 12.527/11 (Lei de Acesso à
Informação) garante não apenas a publicidade passiva - com a entrega das informações
solicitadas pelos interessados -, mas avança ao exigir a publicidade ativa, com a
divulgação de informações, independentemente de solicitação.
Mais recentemente, o processo de desburocratização da Administração Pública ganhou
dois novos capítulos com a promulgação das leis 13.460/17 e 13.726/18.

A lei 13.460/17 (também denominada "Lei de Defesa do Usuário do Serviço Público" ou


"Código de Defesa do Usuário do Serviço Público") estabelece as normas sobre
participação, proteção e defesa dos direitos do usuário dos serviços públicos da
Administração Pública. Nesse diploma legal, é possível encontrar a intensa preocupação
com a desburocratização da Administração nas relações com os usuários dos serviços
públicos.
Com efeito, ao dispor sobre as diretrizes que devem ser observadas pelos agentes
públicos e prestadores de sérviços públicos, o art. 5º da Lei de Defesa do Usuário do
Serviço Público prevê, por exemplo: a) autenticação de documentos pelo próprio agente
público, à vista do original apresentada pelo usuário, vedada a exigência de

40
reconhecimento de firma, salvo em caso de dúvida de autenticidade (inciso IX); b)
eliminação de formalidades e de exigências cujo custo econômico ou social seja superior
ao risco envolvido (inciso XI); c) aplicação de soluções tecnológicas que visem a
simplificar processos e procedimentos de atendimento ao usuário e a propiciar melhores
condições para o compartilhamento das informações (inciso XIII); d) utilização de
linguagem simples e compreensível, evitando o uso de siglas, jargões e estrangeirismos
(inciso XIV); e) vedação da exigência de nova prova sobre fato já comprovado em
documentação válida apresentada (inciso XV).

No elenco dos direitos básicos dos usuários, o art. 6º da Lei de Defesa do Usuário do
Serviço Público também demonstra a preocupação com a desburocratização quando
dispõe sobre a atuação integrada e sistêmica na expedição de atestados, certidões e
documentos comprobatórios de regularidade (inciso V) e a obtenção de informações
precisas e de fácil acesso nos locais de prestação do serviço, assim como sua
disponibilização na internet (inciso VI).
Por sua vez, com a promulgação da lei 13.726/18,11 que racionaliza atos e
procedimentos administrativos dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios e institui o Selo de Desburocratização e Simplificação, o processo de
desburocratização da Administração recebe novo incentivo.
Nas relações entre os Entes federados, independentemente do Poder, e os cidadãos, o
art. 3º da referida lei dispensa as seguintes exigências: a) reconhecimento de firma,
devendo o agente administrativo, confrontando a assinatura com aquela constante do
documento de identidade do signatário, ou estando este presente e assinando o
documento diante do agente, lavrar sua autenticidade no próprio documento (inciso I); b)
autenticação de cópia de documento, cabendo ao agente administrativo, mediante a
comparação entre o original e a cópia, atestar a autenticidade (inciso II); c) juntada de
documento pessoal do usuário, que poderá ser substituído por cópia autenticada pelo
próprio agente administrativo (inciso III); apresentação de certidão de nascimento, que

41
poderá ser substituída por cédula de identidade, título de eleitor, identidade expedida por
conselho regional de fiscalização profissional, carteira de trabalho, certificado de
prestação ou de isenção do serviço militar, passaporte ou identidade funcional expedida
por órgão público (inciso IV); e) apresentação de título de eleitor, exceto para votar ou
para registrar candidatura (inciso V); f) apresentação de autorização com firma
reconhecida para viagem de menor se os pais estiverem presentes no embarque (inciso
VI).

O mesmo art. 3º dispõe também: a) não poderá ser exigida prova relativa a fato que já
houver sido comprovado pela apresentação de outro documento válido (§ 1º); b) quando,
por motivo não imputável ao solicitante, não for possível obter diretamente do órgão ou
entidade responsável documento comprobatório de regularidade, os fatos poderão ser
comprovados mediante declaração escrita e assinada pelo cidadão, que, em caso de
declaração falsa, ficará sujeito às sanções administrativas, civis e penais aplicáveis (§ 2º);
e c) Os Entes Federados e seus respectivos poderes não poderão exigir do cidadão a
apresentação de certidão ou documento expedido por outro órgão ou entidade do mesmo
Poder, ressalvadas as seguintes hipóteses: certidão de antecedentes criminais,
informações sobre pessoa jurídica, outras expressamente previstas em lei (§ 3º).
De acordo com o art. 5º da referida lei, Entes Federados poderão criar grupos setoriais de
trabalho com os seguintes objetivos: a) identificar, nas respectivas áreas, dispositivos
legais ou regulamentares que prevejam exigências descabidas ou exageradas ou
procedimentos desnecessários ou redundantes; e b) sugerir medidas legais ou
regulamentares que visem a eliminar o excesso de burocracia.
A desburocratização pode ser demonstrada, ainda, pela previsão contida no art. 6º da lei
em questão, que estabelece a possibilidade de comunicação entre o Poder Público e o
cidadão por qualquer meio, inclusive verbal, direta ou telefônica, e correio eletrônico,

42
ressalvados os casos que impliquem imposição de deveres, ônus, sanções ou restrições
ao exercício de direitos e atividades.

Nos arts. 7º, 8º e 9º da sobredita lei, a novidade é a criação do Selo de Desburocratização


e Simplificação, destinado a reconhecer e a estimular projetos, programas e práticas que
simplifiquem o funcionamento da administração pública e melhorem o atendimento aos
usuários dos serviços públicos.
Cabe destacar que a participação do servidor em tais projetos será registrada em seus
assentamentos funcionais e os órgãos ou entidades estatais que receberem o Selo de
Desburocratização e Simplificação serão inscritos em Cadastro Nacional de
Desburocratização. Além disso, serão premiados, anualmente, dois órgãos ou entidades,
em cada unidade federativa, com base nos critérios previstos na lei (racionalização de
processos e procedimentos administrativos; eliminação de formalidades desnecessárias
ou desproporcionais para as finalidades almejadas; ganhos sociais oriundos da medida de
desburocratização; redução do tempo de espera no atendimento dos serviços públicos; e
adoção de soluções tecnológicas ou organizacionais que possam ser replicadas em
outras esferas da administração pública).
Trata-se de típica modalidade de sanção premial, isto é, normas que estimulam os
sujeitos a fazerem ou deixarem de fazer algo em troca de um prêmio. Por possuírem
função afirmativa e se irradiarem para o futuro, funcionam como catalisadores de
condutas benéficas. Na área administrativa, são vários os exemplos de instrumentos
premiais.
Em resumo, essa inegável escalada desburocratizante da Administração Pública busca
reduzir, de certo modo, o hiato existente entre a previsão constitucional de eficiência e a
realidade prática dos administrados.

43
LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL

Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar nº 101/2000) é um diploma


legal brasileiro que regulamenta a utilização de recursos públicos. Os seus
mecanismos buscam fazer com que os governantes controlem seus gastos,
respeitando limites de despesas e cumprindo metas orçamentárias. É uma lei
importante para a manutenção do equilíbrio das contas públicas.
Neste artigo, explicaremos como funciona esta Lei, seus principais aspectos e quais
foram às inovações trazidas ao regime jurídico brasileiro.

O que é a Lei de Responsabilidade Fiscal?


Para começar a entender a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), vale à pena ler o
seu primeiro artigo. Ele nos introduz de forma clara e concisa aos seus principais
objetivos. Não é preciso preocupar-se com a linguagem técnica, pois explicaremos os
principais conceitos tanto neste tópico quanto ao longo do artigo.
Art. 1º Esta Lei Complementar estabelece normas de finanças públicas voltadas para
a responsabilidade na gestão fiscal, com amparo no Capítulo II do Título VI da
Constituição.
§ 1º A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e transparente,
em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das
contas públicas, mediante o cumprimento de metas de resultados entre receitas e
despesas e a obediência a limites e condições no que tange a renúncia de receita,
geração de despesas com pessoal, da seguridade social e outras, dívidas

44
consolidada e mobiliária, operações de crédito, inclusive por antecipação de receita,
concessão de garantia e inscrição em Restos a Pagar.

Lei complementar: o que é


Em primeiro lugar, a LRF é uma Lei Complementar, é uma espécie de lei cuja criação
e objetos são determinados pela Constituição Federal (CF). Em alguns artigos, a
Constituição diz que certa matéria “será objeto de Lei Complementar”, isto é, ela
impõe uma diretriz, ou regula brevemente alguma questão, e dá autoridade aos
legisladores para complementar aquela matéria.
Até o ano 2000 (a nossa atual Constituição é de 1988), alguns assuntos que
deveriam compor leis complementares — principalmente os relativos às finanças
públicas, contidos no Capítulo II do Título VI da Constituição — ainda não haviam
sido regulados, ou as leis que o faziam já estavam defasadas, pois datavam de muito
antes da promulgação da CF/88. Para tratar de assuntos ainda ausentes na
legislação, ou para atualizar os mecanismos de leis antigas, nasceu, no dia 04 de
maio de 2000, a Lei Complementar nº 101, ou Lei de Responsabilidade Fiscal
.

Quais os objetivos da Lei de Responsabilidade Fiscal?


É claro que seu objetivo não foi apenas preencher lacunas. A partir do seu nome,
podemos deduzir que ela veio dar responsabilidades fiscais. Em Direito, quando
dizemos “fiscal”, estamos normalmente nos referindo à área tributária (impostos, por
assim dizer), e consequentemente aos entes que realizam a gestão do dinheiro
público, composto de tributos e outras receitas.
As responsabilidades fiscais que a lei introduziu recaem sobre todas as áreas
públicas que exercem alguma administração sobre esse dinheiro, ou seja, ela vale

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para os três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) em suas três esferas:
municipal, Estadual e Nacional. No entanto, a maioria das regras da LRF está focada
na gestão feita pelo Poder Executivo, pois é ele que exerce a administração primária
dos recursos.

Se hoje pensarmos que a administração pública é pouco cuidadosa com o nosso


dinheiro, antes a situação era ainda pior, pois a legislação era muito mais liberal com
condutas irresponsáveis. Crimes, como corrupção e desvio de dinheiro, eram
certamente puníveis. Mas algumas situações de gastos ou criação de dívidas
desordenadas, que prejudicavam até mesmo administrações futuras, ainda não
estavam previstas na legislação.
Em seu art. 1º, a LRF obrigou a administração pública ao cumprimento de planos
orçamentários e ao respeito limites de despesas e dívidas, adequando-se à própria
capacidade arrecadatória; ela passou também a ter de cumprir com a finalidade de
determinadas verbas — não usando o dinheiro reservado à Educação com outros
tipos de despesas.
A Lei de Responsabilidade Fiscal funciona como um “código de conduta” dos
administradores, que visa ao equilíbrio das contas públicas e à utilização
compromissada do orçamento.

46
Principais mecanismos da LRF
A atuação “planejada e transparente” dos administradores é assegurada por medidas
de cumprimento obrigatório, algumas das quais já citamos, como o respeito a
determinados limites de despesas e a certos planos orçamentários. Outros
mecanismos referem-se a punições propriamente ditas.

Planos Orçamentários
Grande parte dos mecanismos de planejamento criada pela LRF foi feitos com base
no Plano Plurianual (PPA), na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e na Lei
Orçamentária Anual (LOA). Na verdade, estes três planos orçamentários não foram
criados pela Lei de Responsabilidade Fiscal. A Constituição já os pre via desde 1988,
em seu art. 165. Mas a LRF, além de criar novas normas que condicionam suas
edições, ampliou as funções que cada um possui, dando mais força e importância à
utilização planejada do orçamento. As inovações são tão relevantes que é impossível
falar de planos orçamentários sem fazer referência à LRF.
Os três, em síntese, são Projetos de Lei que contêm o planejamento do uso que os
governantes farão do orçamento em um determinado período de tempo. São
enviados pelo Poder Executivo ao Poder Legislativo para aprovação, normalmente
até a metade de cada ano; no caso do PPA, uma vez a cada quatro anos. Tanto o
PPA quanto a LDO contêm diretrizes para o uso do orçamento. Já a LOA contém o
orçamento propriamente dito, com os valores precisos que cada ente estatal
receberá para realizar suas atividades.

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No Capítulo II da LRF (Do Planejamento), é possível ver algumas das imposições
feitas aos planos orçamentários. A LDO, por exemplo, passou a conter uma parte
específica para tratar do equilíbrio de despesas e receitas, bem como incluir um
anexo de Metas Fiscais que, além de estabelecer objetivos arrecadatórios, deverá
conter dados precisos sobre despesas, receitas e montantes da dívida pública.
A LOA também recebeu grandes contribuições. Uma das mais significativas é a
obrigação de estabelecer medidas de compensação quando houver renúncia de
receita (incentivos fiscais, por exemplo) e aumento de despesas de caráter
continuado (que durem mais de dois anos).
Nestas medidas é possível perceber o intuito da LRF: valorizar o planejamento do
dinheiro público e assegurar um balanço positivo, compensando despesas ou
renúncias com receitas equivalentes.

Receita Corrente Líquida


A Receita Corrente Líquida (RCL) foi criada pela própria Lei de Responsabilidade
Fiscal (art. 2º, IV) para servir de parâmetro a certos limites, como o de gastos com
pessoal e a dívida pública.
Ela é composta da soma das receitas tributárias, de contribuições, receitas patrimoniais,
industriais, agropecuárias, de serviços, transferências correntes e algumas outras fontes
cuja explicação seria muito longa para este espaço. Deste valor são deduzidos alguns
montantes, como as transferências constitucionais (valores repassados pela União aos
Estados e Municípios) e algumas contribuições definidas por lei. Em resumo, a RCL é

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uma espécie de base de ganhos periódicos, oriundos principalmente de tributos, produtos
e serviços estatais. Cada ente federativo (União, Distrito Federal, Estados e Municípios)
possui a própria RCL. Ela é calculada com base no mês de referência e nos onze
anteriores.

Despesas de Pessoal
As despesas de pessoal também foram definidas pela própria Lei de
Responsabilidade Fiscal, em seu art. 18. São, em síntese, os gastos estatais com
pessoal ativo, inativos (aposentados ou afastados) e pensionistas, seus salários,
subsídios, remunerações, adicionais, gratificações, horas extras etc.
A partir da LRF passou a existir um limite para os gastos com pessoal, que não
podem ultrapassar uma porcentagem da RCL daquele ente federativo. Para a União,
a regra é que gastos com pessoal não poderão ultrapassar 50% da RCL; para
Estados e Municípios o limite é 60%.
Assim, por exemplo, se a RCL da União em 2019 foi de R$ 901 bilhões, o valor gasto
com pessoal não poderia ter ultrapassado 50% deste valor, isto é, R$ 450,5 bilhões.
Sem este limite, e com inclinações para aumentar salários e vantagens de servidores
públicos indefinidamente, o governo tenderia a se endividar para pagar o pessoal, ou
deixaria de aplicar dinheiro em outras áreas. Este assunto está fortemente
relacionado com a Regra de Ouro, que proíbe aos governantes emprestar dinheiro
para pagar despesas correntes, como o são as despesas de pessoal.

Dívida Pública
Este é outro limite que usa como parâmetro a Receita Corrente Líquida. Segundo a
LRF, dívida pública consolidada corresponde ao “montante total, apurado sem
duplicidade, das obrigações financeiras do ente da Federação, assumidas em virtude
de leis, contratos, convênios ou tratados e da realização de operações de crédito,
para amortização em prazo superior a doze meses.” Já a dívida pública
mobiliária corresponde aos “títulos emitidos pela União, inclusive os do Banco
Central do Brasil, Estados e Municípios”.

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Embora as definições possuam algumas especificidades técnicas, trata-se de
somatórios das dívidas assumidas pelo ente em áreas específicas. Importante, para
nós, é entender que passou a existir um limite para a assunção dessas dívidas.
Por determinação da própria LRF, o estabelecimento do limite da dívida pública
consolidada ficou a cargo do Senado Federal, que posteriormente definiu,
na Resolução nº 40/2001, limite de 1,2 vezes a RCL para Municípios, e 2 vezes a
RCL para Estados e Distrito Federal. O limite para a dívida pública consolidada da
União ainda não foi estabelecido. Contudo, em 2000, logo após a aprovação da LRF,
a Presidência da República, em mensagem ao Senado Federal, sugeriu que fosse
utilizado o limite de 3,5 vezes a RCL. Apesar da demora para a sua
oficialização, este é o parâmetro usado atualmente.
Quando o limite é infringido, o ente é punido com algumas limitações, como a
impossibilidade de receber transferências da União ou dos Estados. Ele também
recebe um prazo para reconduzir a dívida ao valor adequado.

Anos eleitorais
A LRF possui duas regras importantes em anos de eleição. A primeira, prevista em
seu art. 42, proíbe que um governante contraia dívidas no último ano de seu mandato
se esta dívida não puder ser paga no mesmo exercício financeiro ou se existir a
possibilidade de não haver caixa para pagá-la no exercício seguinte. A outra regra
proíbe o aumento de gastos de pessoal nos 180 dias que antecedem as próximas
eleições.
Estas normas foram criadas principalmente para evitar dívidas maliciosas que
possam prejudicar a próxima administração.

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Finalidade de recursos
Este mecanismo é muito simples, mas também muito efetivo. Para assegurar o
planejamento financeiro, a LRF proibiu que os recursos vinculados a uma finalidade
específica (a um órgão, a uma área, como educação ou saúde) sejam utilizados em outra.
Isto vale inclusive para exercício seguintes, evitando irregularidades no planejamento e
desvios de verbas públicas para objetivos diversos daqueles a que elas foram prometidas.
As punições previstas na Lei de Responsabilidade Fiscal normalmente referem-se a
proibições aplicadas ao ente para contratar, receber empréstimos e transferências.
A Lei nº 10.028/2000, por exemplo, incluiu um capítulo inteiro no Código Penal,
criando a figura dos “crimes contra as finanças públicas” a partir do art . 359. Pode-se
citar o art. 359-G, que prevê o crime de “aumento de despesa total com pessoal no
último ano do mandato ou legislatura”. Segundo este artigo, o administrador que
aumentar despesa com pessoal nos 180 dias que antecedem às eleições, além de te r
seu ato anulado será punido com um a quatro anos de reclusão. A mesma punição é
dada para quem “ordenar despesa não autorizada por lei” (art. 359 -D do Código
Penal).
O site da Fazenda Nacional possui uma tabela que relaciona todas as infrações
relativas à LRF, junto às suas respectivas punições.

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