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Ética Dos Servidores Públicos

Segundo Villoria (2000)1 citado por Serrano(2010:20) A ética pública ou ética dos servidores
públicos é uma ética colectiva, processo no qual os indivíduos vão gerando pautas de conduta
para um melhor desenvolvimento da convivência e uma maior expansão da autonomia e da
liberdade do ser humano. Nesse caminho estão implicados os cidadãos, as organizações e
instituições do Estado: entidades económicas, empresariais, organizações, associações,
actividades profissionais e a opinião pública. Qualquer discurso sobre a ética pública nos
exorta a reconhecer que seres humanos são seres sociais e que a sociedade se expressa como
um sistema equitativo de cooperação social e de representantes racionais dos cidadãos que
exigem os termos da cooperação sujeitos a condições razoáveis, surgindo assim o sistema de
direitos fundamentais e as liberdades básicas. Esta realidade nos obriga a viver em sociedade
e a tentar superar o conflito que toda a convivência engrenada. Dai a procura por regras de
condutas que permitiriam a convivência. Tudo isso, justifica a necessidade de aceitar normas
que podem ser contrarias a nossos desejos e, incluso, a nossa concepção de bem-estar.

Ética administrativa (ética na administração ou ética para os empregados públicos) é uma


ética aplicada, em concreto, uma ética profissional que surge paralelamente a um conjunto de
éticas, que indicamos requisitos para alcançar os fins das determinadas profissões. Assim a
ética dos empregados públicos visa esclarecer, de forma pós-convencional, o “bem” interno a
ser atingido pelo funcionário (agente ou empregado) público, facto que justifica a existência
da profissão, por exemplo, servir objectivando interesses gerais e, assim, definir as normas de
conduta, valores, hábitos que devem reger a sua actividade, a fim de legitimar socialmente
seu trabalho e permitir o desenvolvimento de uma actividade (serviço) que é essencial para a
sociedade (Ibid.).

Objectivos da ética administrativa

O objectivo principal da ética administrativa é contribuir para um novo ideal de profissional:


aquele capaz de desenvolver uma gestão pública eficaz. Portanto as pesquisas sobre ética
administrativa deverão:

 Diagnosticar os principais problemas e dilemas éticos constatados na AP;

1
Villoria, M.M. (2000), Etica publica y corrupcion : Curso de Etica Administratriva. Madrid tecnos.
 Caracterizar e definir as hipóteses, as variáveis e os indicadores possíveis que incidem
no mundo da AP;
 Sugerir conclusões para a possível resolução da actual problemática (problema) que
derivam da falta de moralidade na AP. (Ibid:22).

Ética e moralidade administrativa

A ética deontológica valoriza primeiramente o conceito de dever, e só posteriormente o


conceito de bem e das consequências das acções. Significa, portanto, que os juízos morais da
acção humana não têm como justificação a obtenção de bons resultados ou a sua utilidade.
Essa teoria avalia as acções do homem em função do seu princípio implícito e
independentemente dos seus efeitos, tratando-se assim de uma ética formal, de uma ética do
dever.

Para Di Prietro (2005:709)2 citado por Serrano ( 2010:69), quando se exige a probidade ou
moralidade administrativa, quer dizer que não basta a legalidade formal e restrita, da actuação
administrativa, como a observância da lei; é preciso também a observância de princípios
éticos, de lealdade, de boa-fé, de regras que assegurem a boa AP.

Na mesma senda, Gonçalves (2010:19) define o princípio da moralidade administrativa como


a proibição da actuação administrativa de se distanciar da moral, dos princípios éticos, da
boa-fé, da lealdade. A actuação administrativa não pode contrariar, além da lei, a moral, os
bons costumes, a honestidade, os deveres de boa administração. A boa-fé, a lealdade, a
razoabilidade e a proporcionalidade são princípios gerais que ditam o conteúdo do princípio
da moralidade administrativa

No que tange a actuação administrativa na Ap moçambicana, os seus princípios encontram-se


plasmados no artigo 4 a 14 do decreto n.°30/2001 de 15 de Outubro3

No entanto, probidade administrativa não se confunde com moralidade administrativa. A


probidade parece ser uma especificação da moralidade, quando observado um tipo de prática
ou de conduta desonesta ou desleal que agride a AP. (Serrano,2010).

2
Di Prietro,M.S.Z. (2005), Direito administrativo.18.atlas editora: São Paulo.
3
Dcreto
O princípio da moralidade administrativa é fundamento da ética administrativa que norteia o
exercício da actividade administrativa e constitui ferramenta essencial da aplicabilidade dos
demais princípios constitucionais e da realização da cidadania. (Ibid:100).

Do conflito entre valores, princípios e normas

Segundo Serrano (2010:109) o grande problema, o cerne da ética corporativa está na


necessidade de engendrar uma cultura organizativa adequada, capaz de assegurar uma
convivência e a harmonia entre os valores e princípios burocráticos e democráticos. Como foi
visto existe uma relação entre cultura e valores.

Para VIlloria ( 2000:124)4 citado por Serrano (2010) os valores convertem-se em cultura
permitindo adaptar a organização ao meio, quando, de forma inconsciente, fazem parte
influente do pensamento e do sentimento do ser humano.

Contudo, para Serrano (2010: 110), é preciso ter consciência da possibilidade de um conflito
entre valores e princípios; conflitos que participam da experiencia diária de Qualquer
empregado público. Isto é possível pois existe uma pluralidade (multiplicidade) de valores e
princípios implícitos em toda e qualquer opção política. Por essa razão, as pessoas, agentes
públicos priorizam os valores de diversas maneiras e interpretam as situações e experiências
conforme interesses, sejam individuais, sejam colectivos.

No tocante aos valores, os que são plasmados em Moçambique encontram-se nos termos do
n.º 2 do artigo 30 da Lei n.º 16/2012 de 14 de Agosto.

Os conflitos de valores e princípios são de vários tipos, porque, durante o agir diário do
funcionário público, conflituem valores e princípios de muitas naturezas, pois existem valores
e princípios, sociais, económicos, profissionais, jurídico-constitucionais e organizacionais,
cada um com sua própria variedade de normas e regras especificas que viabilizam a sua
realização. Essa é uma situação para qual nem sempre existem respostas claras ou definitivas,
temos como exemplo os seguintes casos:

 Conflitos aparentes entre posturas (valores e princípios) políticas e


organizacionais. É o conflito que existe entre o individualismo e o tecnicismo,
porque os fins tendem a justificar os meios, nem sempre morais. Assim, a missão do
empregado público seria zelar pela prática dos direitos humanos e fazer que cada
4
cidadão considerado capaz e autónomo seja reconhecido como pessoa, sujeito-
interlocutor;
 Conflitos aparentes entre princípios e normas organizacionais e os valores
sociais. Trata-se do conflito ético originário da priorização do princípio da eficácia
social, isto é, do respeito e obediência social de determinadas normas e regras em face
da incompreensão social da necessidade delas. Conflitos observados, por exemplo, na
aplicação das normas e regras do código de trânsito: fiscalização por radares, multas,
e mais. O conflito que deriva, por um lado, da observação de conduta moral por parte
de futuros funcionários públicos (defesa da igualdade e do mérito) e a oposição dos
grupos sociais e políticos que directa ou indirectamente defendem e promovem
valores com base no nepotismo;
 Conflitos aparentes entre princípios económicos e normas organizacionais. É o
conflito possível que ocorre na chamada eficiência. Assim, por exemplo, o princípio
da economia processual, que pode vir a conflituar com os mecanismos de controlo
criados para inibir a corrupção e a impunidade.(Ibid.).

No caso vertente de Moçambique, também são reconhecidos os conflitos de interesse na AP e


são classificados em seguintes categorias: relações de parentesco e de afinidade; relações
patrimoniais; ofertas e gratificações; uso ilegítimo da qualidade de agente público em
benefício próprio; a situação de ex-titular ou membro de órgão publico. Estas categorias
encontram-se plasmadas nos termos do artigo 36 da Lei n.°16/2012 de 14 de Agosto. Mas
também são abordadas no artigo 39 da lei supracitada.

Da resolução de conflitos

Perante um conflito aparente entre valores e princípios constitucionais, os empregados


públicos devem de forma consciente:

 Observar e respeitar os valores sociais primários, assim como todos aqueles que
configurem as bases do regime constitucional democrático;
 Observar e respeitar os princípios constitucionais;
 Observar e respeitar as regras e normas instrumentais de sua organização, sempre que
tais regras (e normas) sejam coerentes com a missão e com os objectivos da
instituição. Com base na vida, orienta-se definir o que é, de qualquer maneira, imoral,
isto é, inadequado ou inoportuno para a colectividade ou para a convivência humana
(Serrano,2010).
Segundo os diplomas legais, precisamente o número 3 do artigo 6 do EGFAE e o artigo 35 da
Lei n.°16/2012 de 14 de Agosto, estes estabelecem que o servidor público em caso de
conflitos de interesses devem abster-se de tomar decisões , de praticar qualquer acto ou
celebrar contratos que configurem conflito de interesse.

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