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ÉTICA

AULA 4

Prof. Nivaldo Vieira Lourenço


GESTÃO PÚBLICA E OS DESAFIOS DIFERENCIADOS DA ÉTICA

CONVERSA INICIAL

Sabemos que as questões éticas e de cidadania são partes singulares


que envolvem os comportamentos dos indivíduos nas sociedades, por isso,
nesta aula, vamos estudar a gestão pública e os desafios diferenciados da
ética com os seguintes temas:

1. Ética e cidadania na gestão pública;


2. Cidadania excludente;
3. A ética e os princípios éticos da gestão pública;
4. Os princípios constitucionais;
5. Princípios do segundo grupo.

Temas que serão importantes para compreendermos as relações da ética


e cidadania nos atos deliberatórios dos gestores públicos também são temas
importantes para que os gestores públicos administrem os bens públicos
conforme emana a legislação brasileira.
Nesse contexto os gestores públicos devem conhecer e entender a
importância dos princípios constitucionais e dos princípios infraconstitucionais
complementares, que estamos chamando de princípios de segundo grupo.

TEMA 1 – ÉTICA E CIDADANIA NA GESTÃO PÚBLICA

No mundo contemporâneo e no processo de discussão e elaboração de


políticas públicas, o termo cidadania tem um destaque muito valorativo. E por
quê? Porque a cidadania está vinculada ao exercício dos direitos e dos deveres
sociais, civis e políticos de um cidadão, e esses direitos e deveres estão
definidos na Constituição Federal de 1988. A cidadania pode ser ainda definida
como a condição do cidadão que vive de acordo com um conjunto de estatutos,
normas e leis, desde que sejam articulados e orientados de maneira ética e
moral.
No contexto atual da gestão pública podemos afirmar que a ética e a
moralidade não se aplicam somente aos indivíduos – cidadãos que necessitam
dos serviços públicos e das políticas públicas –, mas também àqueles que
exercem funções administrativas e de gestão coletivas e sociais, incluindo os
gestores públicos, e com relação a essa afirmação Lopes (1993, p.32) diz que:
O alcance da moralidade vincula-se aos princípios ou normas de
conduta, aos padrões de comportamento geralmente reconhecidos,
pelos quais são julgados os atos dos membros de determinada
coletividade.

Podemos assim concluir que os servidores públicos também devem ser


sujeitos a apreciação ético-moral conforme a legislação do país.
Rodrigues (2016, p. 130) afirma que a ética surge como embasamento
das ações humanas em suas dimensões individuais e também coletivas, pois a
Administração Pública não pode desviar-se da sua condição coletiva e vinculada
ao exercício do bem comum. Chaui (1992, p. 362) deixa claro isso quando afirma
que

O Estado é um ser ético-político porque é uma Constituição. Esta não


se confunde com documentos ou com a lei maior de um país, mas é o
conjunto dos costumes (mores) e das instituições (religião, arte, família,
indústria, ciência) que constituem ethos de um povo seu espírito e sua
vida.

Então, pode-se afirmar que a ética e a cidadania não se desvinculam da


questão dos princípios da ação do estado e da moralidade administrativa, pois
há regulamentações em relação às vinculações que existam entre as esferas
individuais e coletivas.

TEMA 2 – CIDADANIA EXCLUDENTE

Apresentamos aqui um tema complexo, pois Rodrigues afirma que:

a exclusão social assinala um processo de distanciamento e privação


de determinados indivíduos ou grupos sociais da estrutura social de
uma sociedade ou de um Estado. As pessoas que estão nessas
condições sociais sofrem preconceitos, são marginalizadas pela
sociedade e impedidas de exercer livremente seus direitos de
cidadãos. Nessas circunstâncias podemos evidenciar como causa da
exclusão as condições financeiras, a religião, a cultura, a questão de
gênero, entre outros. Portanto podemos concluir que os indivíduos ou
grupos sociais excluídos, geralmente são minorias étnicas, culturais e
religiosas e como exemplos podemos citar os idosos, os índios, os
pobres, os negros, os homossexuais, as pessoas com deficiência, os
desempregados, entre outros. (2016, p. 133)

Nesse contexto a função do Estado é garantir políticas públicas de


inclusão, surgindo assim na gestão pública contemporânea o que definimos
como cidadania ativa. A cidadania ativa não pode ser vista apenas como mera
inserção dos indivíduos historicamente excluídos do processo, mas sim como
um processo de inserção desses indivíduos na sociedade por meio de
mediações positivas, respeitando seus direitos e deveres.

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Assim, ao estudarmos ética e cidadania, é importante conhecermos
algumas características da sociedade que acabam fortalecendo o processo de
formação de uma cidadania excludente e estão presentes:

1. Nos altos níveis de desigualdade, injustiça e exclusão social;


2. Na intensa precarização dos espaços para discussão que tratem de temas
de interesse público;
3. Na perpetuação de uma sociedade de cunho escravocrata e senhoril;
4. Nas relações políticas paternalistas;
5. Nas relações sociais, políticas e econômicas altamente hierarquizadas;
6. Nos governos não democráticos ou populistas;
7. Nas relações de trabalho espúrias e nada democráticas;
8. Nos privilégios e favorecimentos a grupos e ou pessoas;
9. Na precária organização social, cultural e política, em especial dos grupos
e das pessoas mais carentes.
10. Nas marcas autoritárias vigentes nos diversos âmbitos da vida social,
política e econômica.

Nesse sentido, é de extrema importância os gestores públicos aplicarem,


em suas gestões, a relação ético-moral no processo e formação das políticas
públicas.

TEMA 3 – A ÉTICA E OS PRINCÍPIOS ÉTICOS DA GESTÃO PÚBLICA

Já afirmamos que é importante os gestores públicos conhecerem e


aplicarem os princípios constitucionais no exercício de suas funções, mas antes
de estudarmos cada um dos princípios devemos conhecer duas definições
importantes: princípios e gestão pública.
Cretella Júnior (2004, p. 92) afirma que princípios “...são as proposições
básicas fundamentais, típicas, que condicionam todas as estruturações
subsequentes, são os alicerces da ciência”. Então podemos concluir que,
conforme estudos de Rodrigues (2016, p. 135), o princípio é mais abrangente
que uma simples regra, ele estabelece certas limitações, fornece diretrizes que
embasam uma ciência e visam à sua correta compreensão e interpretação.
Em relação ao conceito de gestão pública, Di Pietro (2012, p. 61) afirma
que é “...atividade concreta e imediata que o estado desenvolve sob regime
jurídico de direito público, para a consecução dos interesses coletivos”. Assim

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sendo, é importante sabermos que na gestão pública brasileira há três níveis
administrativos: as esferas federal, estadual e municipal, e que em todas elas e
por meio dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário devem ser obedecidos
e respeitados os princípios constitucionais. Também importante conhecer que o
Poder Público, embora dividido em três, é um poder uno, e responsável pela boa
condução da governança pública.
Sendo assim podemos afirmar que o princípio base da gestão pública é o
de que os funcionários, servidores e gestores públicos, no exercício de suas
funções, encontram-se a serviço exclusivo da comunidade e dos cidadãos, o que
revela relação direta com a questão da moralidade pública.

TEMA 4 – OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

Rodrigues (2016, p. 138), em seus estudos, afirma que

Os princípios constitucionais, previstos no art. 37 da CF 1988, devem


ser aplicados em todas as ações empreendidas no âmbito da gestão
pública, em seus diversos níveis – federal, estadual, distrital e
municipal. O Estado se constitui em uma esfera ético-política,
caracterizada pela união de partes que se agregam, composto pela
participação dos cidadãos e de todos aqueles que se abrigam em sua
circunscrição constitucional e legal.

Os princípios constitucionais são:

4.1 Princípio da legalidade

O gestor público está sujeito aos mandamentos da lei e exigências do bem


comum. Esse princípio determina que: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar
de fazer alguma coisa senão em virtude da lei”.

4.2 Princípio da moralidade

Implica que o administrador público paute seu comportamento na conduta


ético-moral voltada ao bem comum, fazendo com que as ações administrativas
busquem o real interesse do público.
Aspectos que precisam ser considerados no tocante ao princípio da
moralidade na gestão pública referem-se à caracterização de atos de
improbidade como aqueles ligados:

 ao uso de bens e equipamentos públicos com fins particulares;


 à intermediação de verbas públicas para enriquecimento pessoal;
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 contratação de serviços sem a devida licitação;
 à venda de bens públicos sem as devidas avaliações de mercado;
 à aquisição de bens e serviços acima dos valores de mercado
(superfaturamento). (Rodrigues, 2016, p. 139)

4.3 Princípio da impessoalidade

O agente público jamais deve privilegiar seus amigos, esse princípio


desdobra-se no princípio da igualdade, pelo qual o interesse público deve
sempre prevalecer aos pessoais, ou seja, a impessoalidade é fundamentada na
verdade da igualdade de condições que a CF destaca em seu art. 5º.

4.4 Princípio da publicidade

É requisito fundamental à transparência e à idoneidade das práticas


administrativas, é sustentado por diversos dispositivos legais, em leis
complementares, tais como a LRF n. 101/2000. A LRF visa à transparência e ao
controle social dos atos da administração pública em todos os seus níveis e
modalidades de atuação.

4.5 Princípio da eficiência

Conforme Rodrigues (2016, p. 145), o princípio da eficiência foi aprovado


pela Emenda Constitucional n. 19/1998, segundo o qual o gestor público tem a
obrigação de executar suas atribuições, observando as regras de boa
administração, com eficiência, perfeição, idoneidade e rapidez. A eficiência na
gestão pública é relacionada às práticas de celeridade, qualidade, eficácia,
efetividade e economicidade.

TEMA 5 – PRINCÍPIOS DO SEGUNDO GRUPO

Os princípios apresentados nesse tema expressam-se em leis


infraconstitucionais, como, por exemplo, a LRF, e visam dar solidez e segurança
legal ao exercício da função do agente público em todas as esferas do Poder
Público.

lei infracional é definida como sendo uma norma, preceito, regramento,


regulamento e lei que estão hierarquicamente abaixo da Constituição
Federal. A Constituição Federal é a Lei Maior do Estado, e as demais
normas jurídicas são consideradas infraconstitucionais, pois são
inferiores às regras previstas na Constituição. (Rodrigues, 2016, p.
146)
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Vejamos os princípios do segundo grupo:

5.1 Princípio do interesse público

É o princípio base da gestão pública, pois garante que prevaleçam os


interesses da coletividade sobre o que é privado. Deve ser considerado desde a
fase da elaboração até os diferentes momentos da execução e/ou aplicabilidade
da lei que legitime o ato gerado pela administração pública.

5.2 Princípio da finalidade e da legalidade

Conforme a Lei n. 9.784/1999, todo ato administrativo deve ser praticado


com vistas aos fins de interesse geral e público previstos em lei.

5.3 Princípio da igualdade

No exercício de suas atividades, os gestores e funcionários públicos não


podem beneficiar ou prejudicar qualquer cidadão em função da sua ascendência,
sexo, raça, língua, convicções políticas, ideológicas ou religiosas, situação
econômica ou condição social.

5.4 Princípio da colaboração e boa-fé

Os servidores públicos devem exercer suas funções de maneira ética e


voltada aos interesses da sociedade, visando sempre ao bem comum dessa
sociedade.

5.5 Princípio da motivação

A gestão pública é obrigada a motivar todos os seus atos, pois é geradora


do ato público e representa os interesses da coletividade.

5.6 Princípio da razoabilidade

A administração pública deve agir de maneira coerente e fundamentada


em seus atos.

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5.7 Princípio da proporcionalidade

Os funcionários podem exigir dos cidadãos somente o indispensável à


realização das suas atividades administrativas.

5.8 Princípio da lealdade

Os funcionários devem agir de forma leal, solidária, colaborativa e


cooperante.

5.9 Princípio da integridade

Os funcionários devem agir com caráter e honestidade pessoal em prol


da qualidade dos serviços prestados pela administração pública.

5.10 Princípio da justiça e imparcialidade

Tratar de forma justa e imparcial todos os cidadãos.

5.11 Princípio da informação e qualidade

Prestar informações e ou esclarecimentos adequados e fidedignos, de


forma clara, simples, compreensiva e rápida.

5.12 Princípio da competência e responsabilidade

Agir de forma responsável e dedicada.

NA PRÁTICA

A Constituição Federal do Brasil afirma que os princípios constitucionais


devem ser aplicados em todas as ações requeridas no âmbito da gestão pública,
ofertando serviços públicos de qualidade e sempre promovendo as ações da
administração pública com eficiência, eficácia e efetividade.
Considerando essa afirmação, pesquise na internet um órgão público que,
em determinada prestação de serviço à população, agiu conforme os preceitos
constitucionais e apresente dados que comprovem essa ação.

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FINALIZANDO

É importante compreender como a gestão pública pode ser um campo


positivo para os déficits no âmbito ético-moral, pois definir seus princípios
constitucionais e infraconstitucionais, conforme estudamos, é um avanço muito
importante.
Para finalizar, fica claro que, no desempenho de uma gestão participativa
e corresponsável pela qualidade dos serviços e demandas, a gestão pública
deve ocorrer de forma adequada e conforme os preceitos legais e ético-morais.

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso
em: 19 fev. 2019.

CHAUI, M. Público, privado, despotismo. In: NOVAES, A. (Org.). Ética. São


Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 345-390.

CRETELLA JÚNIOR, J. Manual de direito administrativo. 5. ed. Rio de Janeiro:


Forense, 2004.

DI PIETRO, M. S. Z. Direito administrativo. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2012.

LOPES, M. A. R. Ética na administração pública. São Paulo: Revista dos


Tribunais, 1993.

RODRIGUES, Z. A. L. Ética na gestão pública. Curitiba: InterSaberes, 2016.

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