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ÉTICA, CIDADANIA E

SUSTENTABILIDADE
AULA 2

Prof. Nivaldo Vieira Lourenço


CONVERSA INICIAL

O Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder


Executivo foi aprovado por meio do Decreto n. 1.171, de 22 de junho de 1994, e
com isso entenderemos que as questões éticas e de cidadania são partes
importantes nos comportamentos dos indivíduos nas repartições públicas
federais, mas também sabemos que existem os códigos em âmbito estaduais,
municipais, distrital e nas empresas privadas. Por isso, nesta abordagem vamos
estudar os desafios diferenciados da ética com os seguintes tópicos:

1. Ética e cidadania na gestão pública e cidadania excludente;


2. A ética e os princípios éticos da gestão pública;
3. Os princípios constitucionais e os princípios do segundo plano;
4. O Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder
Executivo Federal;
5. Gestão da Ética na Administração Pública.

Esses tópicos serão importantes para compreendermos as relações da


ética e cidadania nos atos deliberatórios dos gestores públicos conforme emana
a legislação brasileira.
Assim, poderemos compreender a importância dos princípios
constitucionais e dos princípios infraconstitucionais complementares, que
estamos chamando de princípios de segundo grupo.

TEMA 1 – ÉTICA E CIDADANIA NA GESTÃO PÚBLICA E CIDADANIA


EXCLUDENTE

No mundo contemporâneo e no processo de elaboração das políticas


públicas, o termo cidadania tem um destaque muito importante e norteador para
o estudo da ética. Você sabe por quê?
Porque a cidadania está vinculada ao exercício dos direitos e dos deveres
sociais, civis e políticos de um cidadão, e esses direitos e deveres são definidos
pelas Constituição Federal de 1988. Nesse contexto, afirmamos que a ética e a
moralidade não se aplicam somente aos indivíduos, mas também àqueles que
exercem funções administrativas e de gestão coletivas e sociais, incluindo os
gestores públicos. Com relação a essa afirmação, Lopes (1993, p. 32) afirma
que:

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O alcance da moralidade vincula-se aos princípios ou normas de
conduta, aos padrões de comportamento geralmente reconhecidos,
pelos quais são julgados os atos dos membros de determinada
coletividade.

Concluímos que os servidores públicos também devem ser sujeitos à


apreciação ético-moral conforme a legislação do país. Rodrigues (2016, p. 130)
afirma que a ética surge como embasamento das ações humanas em suas
dimensões individuais e também coletivas, pois a Administração Pública não
pode desviar-se da sua condição coletiva e vinculada ao exercício do bem
comum. Chauí (1992, p. 362) deixa claro isso quando afirma que:

O Estado é um ser ético-político porque é uma Constituição. Esta não


se confunde com documentos ou com a lei maior de um país, mas é o
conjunto dos costumes (mores) e das instituições (religião, arte, família,
indústria, ciência) que constituem ethos de um povo seu espírito e sua
vida.

Quando apresentamos o tópico cidadania excludente, estamos afirmando


que a exclusão social é um processo de distanciamento e privação de
determinados indivíduos ou grupos sociais da estrutura social de uma sociedade
ou de um Estado. Essas pessoas “excluídas” sofrem preconceitos e são
marginalizadas pela sociedade, automaticamente são impedidas de exercer
direitos de cidadãos.
Assim, o Estado tem a função de garantir políticas públicas de inclusão,
mas recentemente definido como cidadania ativa. A cidadania ativa deve ser
vista como um processo de inserção dessas pessoas na sociedade por meio de
mediações positivas, respeitando seus direitos e deveres.
Importante compreendermos algumas características da sociedade que
acabam fortalecendo o processo de formação de uma cidadania excludente e
estão presentes:

1. Nas relações sociais, políticas e econômicas altamente hierarquizadas;


2. Nos privilégios e favorecimentos a grupos e ou pessoas;
3. Nos altos níveis de desigualdade, injustiça e exclusão social;
4. Nas marcas autoritárias vigentes nos diversos âmbitos da vida social,
política e econômica;
5. Nas relações políticas paternalistas;
6. Nos governos não democráticos ou populistas;
7. Nas relações de trabalho espúrias;

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8. Na precária organização social, cultural e política, em especial dos grupos
e das pessoas mais carentes.

TEMA 2 – A ÉTICA E OS PRINCÍPIOS ÉTICOS DA GESTÃO PÚBLICA

Os gestores públicos devem conhecer e aplicar os princípios


constitucionais no exercício de suas funções, porém vamos apresentar duas
importantes definições, para assim compreendermos o porquê existem e quais
são os princípios constitucionais, vejamos: o que são princípios?
Cretella Júnior (2004, p. 92) afirma que princípios “são as proposições
básicas fundamentais, típicas, que condicionam todas as estruturações
subsequentes, são os alicerces da ciência”. Concluímos que, conforme estudos
de Rodrigues (2016, p. 135), o princípio é mais abrangente que uma simples
regra, ele estabelece certas limitações, fornece diretrizes que embasam uma
ciência e visam à sua correta compreensão e interpretação.
O que vem a ser gestão pública? Di Pietro (2012, p. 61) afirma que é
“atividade concreta e imediata que o estado desenvolve sob regime jurídico de
direito público, para a consecução dos interesses coletivos”. Então agora
podemos compreender os três níveis administrativo existentes na gestão pública
brasileira, sendo: as esferas federal, estadual e municipal, e que em todas elas
e por meio dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário devem ser obedecidos
e respeitados os princípios constitucionais. O Poder Público, embora dividido
em três, é um poder uno, e responsável pela boa condução da governança
pública.

TEMA 3 – OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E OS PRINCÍPIOS DE


SEGUNDO PLANO

Vamos iniciar o tópico citando Rodrigues (2016, p. 138), que em seus


estudos, afirma:

Os princípios constitucionais, previstos no art. 37 da CF 1988, devem


ser aplicados em todas as ações empreendidas no âmbito da gestão
pública, em seus diversos níveis – federal, estadual, distrital e
municipal. O Estado se constitui em uma esfera ético-política,
caracterizada pela união de partes que se agregam, composto pela
participação dos cidadãos e de todos aqueles que se abrigam em sua
circunscrição constitucional e legal.

Os princípios constitucionais são:

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3.1 Princípio da moralidade

Implica que o administrador público paute seu comportamento na conduta


ético-moral voltada ao bem comum, fazendo com que as ações administrativas
busquem o real interesse do público, referem-se à caracterização de atos de
improbidade como aqueles ligados:

• ao uso de bens e equipamentos públicos com fins particulares;


• intermediação de verbas públicas para enriquecimento pessoal;
• contratação de serviços, ou compras sem a devida licitação;
• venda de bens públicos sem as devidas avaliações de mercado;
• aquisição de bens e serviços superfaturados.

3.2 Princípio da legalidade

O gestor público está sujeito aos mandamentos da lei e exigências do bem


comum. Esse princípio determina que: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar
de fazer alguma coisa senão em virtude da lei”.

3.3 Princípio da impessoalidade

Os agentes públicos jamais devem privilegiar seus próximos, esse


princípio desdobra-se no princípio da igualdade, pelo qual o interesse público
deve sempre prevalecer aos pessoais, ou seja, a impessoalidade é
fundamentada na verdade da igualdade de condições que a Constituição Federal
destaca em seu art. 5o.

3.4 Princípio da eficiência

Rodrigues (2016, p. 145), afirma que o princípio da eficiência foi aprovado


pela Emenda Constitucional n. 19/1998, segundo a qual o gestor público tem a
obrigação de executar suas atribuições, observando as regras de boa
administração, com eficiência, perfeição, idoneidade e rapidez. A eficiência na
gestão pública é relacionada às práticas de celeridade, qualidade, eficácia,
efetividade e economicidade.

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3.5 Princípio da publicidade

Um dos requisitos fundamentais à transparência e à idoneidade das


práticas administrativas visa à transparência e controle social dos atos da
administração pública em todos os seus níveis e modalidades de atuação.
Devemos assim conhecer alguns princípios do chamado segundo grupo;
tão importantes quanto os princípios constitucionais, esses princípios
expressam-se em leis infraconstitucionais, como, por exemplo, a Lei de
Responsabilidade Fiscal. O que é uma lei infraconstitucional?

Lei infraconstitucional é definida como sendo uma norma, preceito,


regramento, regulamento e lei que estão hierarquicamente abaixo da
Constituição Federal. A Constituição Federal é a Lei Maior do Estado,
e as demais normas jurídicas são consideradas infraconstitucionais,
pois são inferiores às regras previstas na Constituição. (Rodrigues,
2016, p. 146)

Vejamos alguns princípios do segundo grupo:

• Princípio do interesse público: é o princípio base da gestão pública,


pois garante que prevaleçam os interesses da coletividade sobre o que é
privado.
• Princípio da finalidade e da legalidade: conforme a Lei n. 9.784/1999, todo
ato administrativo deve ser praticado com vistas aos fins de interesse
geral e público previstos em lei.
• Princípio da razoabilidade: a administração pública deve agir de maneira
coerente e fundamentada em seus atos.
• Princípio da igualdade: no exercício de suas atividades, os gestores e
funcionários públicos não podem beneficiar ou prejudicar qualquer
cidadão em função da sua ascendência, sexo, raça, língua, convicções
políticas, ideológicas ou religiosas, situação econômica ou condição
social.
• Princípio da colaboração e boa-fé: os servidores públicos devem exercer
suas funções de maneira ética e voltada aos interesses da sociedade,
visando sempre ao bem comum dessa sociedade.
• Princípio da motivação: a gestão pública é obrigada a motivar todos os
seus atos, pois é geradora do ato público e representa os interesses da
coletividade.

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• Princípio da integridade: os funcionários devem agir com caráter e
honestidade pessoal em prol da qualidade dos serviços prestados pela
administração pública.
• Princípio da proporcionalidade: os funcionários podem exigir dos cidadãos
somente o indispensável à realização das suas atividades administrativas.
• Princípio da lealdade: os funcionários devem agir de forma leal, solidária,
colaborativa e cooperante.
• Princípio da informação e qualidade: prestar informações e ou
esclarecimentos adequados e fidedignos, de forma clara, simples,
compreensiva e rápida.
• Princípio da justiça e imparcialidade: tratar de forma justa e imparcial
todos os cidadãos.

TEMA 4 – O CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO SERVIDOR PÚBLICO CIVIL


DO PODER EXECUTIVO FEDERAL

O Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder


Executivo Federal assinado e publicado pelo Governo Federal em 22 de junho
de 1994, porém já existem alterações, mas sua concepção está no Decreto nº
1.171, sendo implementado tanto para a Administração Direta quanto para a
indireta. Também foi implantada a Comissão de Ética que terá a participação de
servidores públicos titulares de cargo efetivo na Administração Pública Federal.
Importante salientarmos que as Administrações Públicas Estaduais, Municipais,
e distrital também possuem seus códigos de éticas, assim como os três poderes,
executivo, legislativo e judiciário.
O Código de Ética Federal deixa claro que o decoro, a eficácia, a
dignidade, o zelo, e a consciência dos princípios morais são referendados e
devem nortear todos os serviços prestados aos cidadãos, ou seja, seus atos,
atitudes e comportamentos serão direcionados para a preservação da honra de
ser e de estar prestando um serviço público aos diversos cidadãos,
indiferentemente de raça, credo, condição socioeconômica. Os servidores
possuem diversos deveres e aqui citamos alguns:

1. Ser reto, justo e leal;


2. Tratar com zelo os usuários dos serviços;

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3. Respeitar a hierarquia, sem temer representar contra qualquer
comprometimento indevido;
4. Ser cortês;
5. Ter urbanidade;
6. Ter disponibilidade e atenção;
7. Não possuir qualquer espécie de preconceito ou distinção de raça,
nacionalidade, religião, idade, cunho político, posição social, sexo;
8. Não retardar prestações de contas;
9. Ter consciência que seu serviço é regido por princípios éticos;
10. Tratar com respeito os cidadãos;
11. Resistir às pressões de superiores hierárquicos, de contratantes,
interessados e outros que visem obter quaisquer favores;
12. Zelar pelas exigências da defesa da vida e da segurança pública;
13. Comunicar a seus superiores fatos contrários ao interesse público;
14. Ser assíduo;
15. Manter a ordem no local de trabalho;
16. Participar dos estudos e movimentos que relacionem com a melhoria do
exercício da função;
17. Manter-se atualizado com as instruções, normas, portarias e legislação;
18. Facilitar a fiscalização de todos os atos ou serviços a quem de direito;
19. Exercer com estrita moderação as prerrogativas funcionais que lhe sejam
atribuídas.

A comissão de ética é responsável por fornecer, aos organismos


interessados, os registros dos servidores sobre a sua conduta ética, para assim
fundamentar as devidas promoções e demais procedimentos administrativos de
acordo com as legislações vigentes.

TEMA 5 – GESTÃO DA ÉTICA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Importante entendermos que quando surge um tema a ser analisado e


discutido, é porque há antecedentes na história. O Código de Ética surge pela
necessidade de acabar com projetos individuais, acarretando muitas vezes com
um tema conhecido dos cidadãos, a corrupção. Neste histórico e até a
concepção do Código de Ética, é notório que a Administração Pública teve como

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referencial a insatisfação da sociedade com a atuação dos órgãos públicos que
prestam os serviços públicos.
Em relação à introdução ao Sistema de Gestão da Ética do Poder
Executivo Federal, este tem como parâmetro a Constituição Federal de 1988. A
partir desse marco, a ética passa a integrar as bases da gestão pública,
juntamente com os princípios que estudamos no tópico 3, consolidando assim o
princípio da moralidade como base principal da prestação dos serviços públicos
aos cidadãos.
A Comissão de Ética Pública é vinculada à Presidência da República,
sendo o órgão central do Poder Executivo Federal em relação ao tema ética.
Atua como instância consultiva aos Ministros de Estado e ao Presidente da
República, assim como coordena, supervisiona e orienta a sua aplicação.
A missão é consolidar a ética como base da Administração Pública Federal,
com celeridade e imparcialidade nas deliberações, para assim melhor gerenciar
a ética no serviço público. As comissões de ética têm como atribuições:

• Dar ampla divulgação ao regramento ético;


• Dar publicidade aos seus atos;
• Orientar os agentes públicos em relação ao que é certo;
• Responder as consultas públicas sobre ética;
• Dirimir dúvidas a respeito da interpretação das normas e resoluções;
• Apurar denúncias;
• Instaurar processos de sindicâncias;
• Investigar denúncias de infrações éticas;
• Realizar as devidas diligências.

NA PRÁTICA

Agora que você conhece o Código de Ética dos Servidores Públicos Civis
Federal, pesquise junto ao órgão público ou empresa privada em que você
trabalha ou faz estágio a existência de um código de ética, ou código de conduta,
ou um regimento ou regulamento de como os funcionários/servidores devem se
comportar.
Você entenderá que a questão da ética, da moral e da moralidade devem
estar em todas as ações que a pessoa aplica no seu dia a dia. Boa pesquisa!

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FINALIZANDO

É importante conhecer a legislação de nossa país, assim poderemos


compreender o tema estudado no âmbito ético-moral, pois definir seus princípios
constitucionais e infraconstitucionais é um avanço para agirmos de maneira ética
com os demais cidadãos
Para finalizar, fica claro que, no desempenho de uma gestão prezada pelo
respeito, pela qualidade dos serviços e demandas, os processos ocorrem de
forma adequada e conforme os preceitos legais e ético-morais.

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988.

BRASIL. Decreto n. 1.171. Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil


do Poder Executivo Federal. Diário Oficial da União, 22 jun. 1994.

CHAUI, M. Público, privado, despotismo. In: NOVAES, A. (Org.). Ética. São

Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 345-390.

CRETELLA JÚNIOR, J. Manual de direito administrativo. 5. ed. Rio de Janeiro:

Forense, 2004.

DI PIETRO, M. S. Z. Direito administrativo. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2012.

LOPES, M. A. R. Ética na administração pública. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 1993.

RODRIGUES, Z. A. L. Ética na gestão pública. Curitiba: InterSaberes, 2016.

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