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A R T I G O

“FAMÍLIAS”, ASCENSÃO SOCIAL E ALINHAMENTOS


PARTIDÁRIOS NO RIO GRANDE DO SUL

IGOR GASTAL GRILL*

Apresentação RESUMO de diversificação social ob-


A pesquisa examina a dinâmica de constituição de pa-
trimônios políticos e as modalidades de sua transmis- servada no estado do Rio
são e apropriação por agentes inscritos em “famílias”
Os vínculos de paren- e partidos no Rio Grande do Sul. As dimensões de es- Grande do Sul ao longo do
tudo privilegiadas neste artigo referem-se às estratégias
tesco entre políticos, assim empregadas pelos agentes de valorização e de “resga- século XX; 2) dos efeitos de
como a constituição e os te” das diferentes “tradições políticas” neste estado, defusão e fissão que as estra-
reprodução do capital político, de celebração de seus
usos de “heranças familiares” “fundadores”, de gestão da memória e de uso do “le- tégias de reprodução pro-
gado”. Foram apreendidos as práticas, os códigos, os
no espaço de concorrência mecanismos e os instrumentos de apresentação e con- duzem nas “famílias de po-
sagração das “famílias de políticos”.
eleitoral, são aspectos tidos Palavras-chave: elites, família, partidos. líticos”; 3) da utilização das
como próprios de domínios ABSTRACT siglas partidárias como ex-
The present research examines the dynamics and deve-
“tradicionais”, “oligárquicos”, lopment of a political heritage frame and the ways and pediente, por um lado, para
“arcaicos”, “residuais”, etc. means by which it is trasmitted and assumed by agents promover a inscrição dos
belonging to political families and parties. The study
por boa parte das interpreta- dimensions privileged in this paper encompass stra- políticos e de suas “famílias”
tegies employed by agents acting for the appreciation
ções produzidas nos “mun- and “recovery” of the various “political traditions” of Rio na história política estadual,
Grande do Sul, the reproduction of political capital, the
dos” da política, da mídia e celebration of their “founders”, and the management of para orquestrar a divisão dos
their memory and “legacy”. Special emphasis was given
da intelectualidade. Além to practices, codes, mechanisms and instruments for the papéis entre os membros,
presentation and celebration of the “political families”.
disso, prevalecem no senso Keywords: elites, family, parties. para reunir o séquito de se-
comum e no senso comum guidores e aliados e para de-
* Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciên-
intelectual imagens de gru- cias Sociais e do Departamento de Sociologia e An- monstrar a “unidade”; por
tropologia da UFMA. Doutor em Ciência Política pela
pos familiares permanentes, UFRGS. igorgrill@terra.com.br outro lado, para equacionar
unidos e coesos mobilizados a “divisão” do “patrimônio
para perpetuar sua dominação política. Por fim, tais coletivo”, as bifurcações em termos de profissões e se-
laços e lógicas de sucessão são usualmente tomados tores de atuação e as adesões faccionais ou ideológicas
como sintomas ou indícios da ausência e ineficácia contrastantes.
das instituições (sobretudo dos partidos) como crité- Serão, então, privilegiados no texto segmentos
rio de identificação e como mecanismo de produção marcados pela ascensão social, e pela reconversão do
de alinhamentos. patrimônio econômico em capital político, os des-
O artigo ora apresentado, ao contrário, visa re- cendentes de imigrantes que formaram “famílias de
fletir sobre a centralidade de laços de parentesco no políticos”. Como tais, construíram rivalidades e enta-
universo da competição política à luz: 1) da dinâmica bularam alianças com segmentos designados como

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“tradicionais”, e são vistos como forças de transfor- como incorporam os princípios hierárquicos de or-
mação da estrutura social e de diversificação do es- denação social e a linguagem (por meio de metáforas
paço político regional. O foco recai, pois, sobre os referentes ao parentesco) do universo familiar no seu
movimentos e as estratégias com vistas à afirmação, funcionamento interno e nas dinâmicas de seleção de
às sucessões, às distinções e às aproximações, enfim, seus quadros.
a lógica processual dos conflitos, das rupturas e das A combinação de um cenário de mudanças so-
adesões dos quais participaram. ciais, de exaltação de partidos ou de filiações ideoló-
Logo, alguns fatores de estruturação do universo gicas como características que seriam ímpares deste
político em pauta podem ser desde já apresentados1. estado e de persistência da transmissão de posições e
Em primeiro lugar, constata-se que as transformações recursos políticos no interior de “famílias” permitiu
sociais (ascensão de novos segmentos, sobretudo des- testar algumas diretrizes de pesquisa3. Uma rápida re-
cendentes de “imigrantes”), políticas (realinhamen- visão dos referenciais que inspiraram a pesquisa pode
tos políticos e valorização das siglas partidárias) e esclarecer o enfoque adotado.
demográficas (crescimento populacional da chama- Acredita-se que as “famílias” funcionam como
da “metade norte” e, conseqüentemente, das “zonas estruturas informais do sistema político que são in-
coloniais”), ao longo do século XX, possibilitaram tersticiais, paralelas e suplementares às estruturas for-
a diversificação do perfil da “elite política” gaúcha mais (institucionais) e, como tais, fornecem trunfos
e, conseqüentemente, de “famílias de políticos” que com potencial de complementaridade, de distinção,
coabitam no espaço político estadual. Dito de outro de reforço e de compensação em relação aos meios de
modo, o ingresso de novas camadas sociais não sig- luta conquistados em organizações centrais (Estado,
nificou a perda da importância deste vínculo de pa- partidos, legislativos, etc.). Do mesmo modo, são
rentesco nas disputas eleitorais, mas a reconfiguração capazes de cumprir múltiplas funções como: aproxi-
de recursos e repertórios de identificação na disputa mar parentes (ligados por laços de consangüinidade
política e associados aos grupos familiares. Em se- e aliança); conectar círculos de parentes (via alian-
gundo lugar, como decorrência desta variação, ocorre ças matrimoniais e sociabilidades compartilhadas);
o conflito entre princípios de legitimação e critérios prover econômica, sexual e afetivamente seus mem-
de “excelência social” presentes na afirmação de agen- bros; promover a socialização; e condensar a reputa-
tes na competição eletiva e da associação entre ascen- ção, honra ou crédito social coletivo. Sem deixar de
dentes e descendentes na constituição de “heranças”2. mencionar que significam promessas de relações de
Em terceiro lugar, tal conflito se traduz em padrões de confiança e de cooperação em situações nas quais as
carreiras, em prescrição de papéis políticos e estabele- leis ou regras impessoais são vistas como arriscadas,
cimento de vínculos com seguidores ou eleitores dís- desvantajosas ou perigosas, logo, caracterizadas pela
pares, de acordo com a posição social de origem, mas incerteza (WOLF, 2003).
igualmente passíveis de transmissão e apropriação no Em outros termos, as “famílias” constituem o ló-
meio familiar. Em quarto lugar, os partidos políticos, cus de reprodução, pois são capazes de orquestrar um
ao contrário de constituírem contrapontos à suces- conjunto de estratégias (de fecundidade, profiláticas,
são familiar, atuam como um veículo de transmissão, de sucessão, educativas, matrimoniais, de sociodi-
de legitimação e gestão da memória familiar, assim céia, enfim, de investimentos em capital simbólico,

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econômico, cultural e social), que formam um sis- deixando, contudo, de registrar “divisões de grandes
tema de funções interdependentes, compensatórias famílias”, “alianças (via casamento, por exemplo) en-
e cronologicamente articuladas. O peso das diferen- tre famílias inimigas, ou, muito antes de qualquer ‘cri-
tes modalidades de estratégias de reprodução varia se da representação’, exemplos de infidelidade parti-
segundo o grau de objetivação dos capitais em cada dária e de mobilidade interpartidária” (PALMEIRA,
contexto, os patrimônios a transferir pelos grupos fa- 2010, p. 17). Tal fato se apóia, por sua vez, numa asso-
miliares e os mecanismos de reprodução disponíveis ciação propagada entre família e união (organização
(mais ou menos institucionalizados) em cada socie- ou ordem), política e divisão (conflito ou desordem),
dade (BOURDIEU, 1994). respectivamente, que chega, em casos de extrapolação
Por fim, o pertencimento às “famílias de políti- das clivagens internas em concorrência política, a ser
cos” e a associação aos “nomes de famílias” contri- lido como sinais de desonra ou algo que depõe contra
buem decisivamente para as condições de elegibilida- a reputação coletiva (PALMEIRA e HEREDIA, 2010).
de. Isto é, por meio dessas vinculações determinados Ou em outro extremo, a distribuição dos membros de
agentes são localizados em tecidos relacionais de po- uma mesma “família” em siglas distintas ou inclusi-
sições e “posicionalidades” (desvios, distinções, apro- ve antagônicas no espectro de distinções ideológicas,
ximações, afastamentos), se inscrevem na memória sendo imediatamente associada ao cálculo conscien-
política dos “territórios”4 que buscam representar (li- te e aos dividendos eleitorais que o “grupo” retiraria
gando-se a referências e simbologias compartilhadas disso.
da história política do estado, da “região”, dos muni-
cípios5, das localidades, da etnia, da religião, dos par- Afirmação social, usos do parentesco e estratégias
tidos, etc.) e retiram créditos para exercer a mediação de legitimação entre “descendentes de imigrantes”
política (ABÉLÈS, 1989). A mediação assume uma no Rio Grande do Sul
tripla acepção: 1) a de “intérprete” do passado com
vistas à tomada de posição no presente e ao esforço de Em uma pesquisa mais ampla, um estudo so-
se constituir como “porta voz” de “projeto de socie- bre padrões de seleção de deputados federais eleitos
dade”; 2) de ligação entre a “parte” e o “todo”, de pre- entre 1945 e 2006 no Rio Grande do Sul (GRILL,
enchimento de gaps, de “embaixador” de demandas, 2008), foram cotejados dados relativos aos perfis
de intermediário junto às instituições centrais; e 3) de sociais (profissão, grau de escolarização, instituição
capacidade de trânsito entre esferas, e de composição de obtenção de títulos universitários, etc.) e aos tra-
de linguagens e repertórios diversificados de atuação. jetos políticos (cargo e idade de ingresso na carrei-
Tendo isso presente, é possível romper com uma ra de postos eletivos e políticos, tempo de carreira e
série de representações nativas compartilhadas por número de candidaturas) de 200 deputados federais
estudiosos da política no Brasil e, mais especificamen- (pesquisando diversos repertórios biográficos, princi-
te, acerca de parentesco e partidos políticos. A par- palmente a publicação do CPDOC – FGV; ABREU,
tir delas as disputas entre “famílias” são concebidas 2001). Concomitantemente, considerou-se, para uma
como sinônimo de uma “guerra permanente” entre população mais restrita, o background social (posição
unidades fixas, acentuando a rigidez independente- social de origem ou atividades desempenhadas pelos
mente de qualquer calendário como o eleitoral, não ascendentes no período que precede o ingresso da

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“família” nas disputas eleitorais) de 93 parlamentares reprodução no espaço político. O primeiro abarca os
gaúchos (via biografias e entrevistas em profundida- “descendentes” das “famílias mais tradicionais”, esta-
de). De forma complementar, em relação a 24 par- belecidas social e politicamente desde o século XIX e
lamentares, foram analisadas (mediante entrevistas início do século XX. O segundo reúne os deputados
em profundidade) as concepções acerca da atividade egressos de “famílias” marcadas por uma “ascensão
política e os trunfos utilizados para a celebração da social” significativa na primeira metade do século
“família”. XX, com presença preponderante de “descendentes
Por meio do exame dos perfis e itinerários dos de imigrantes” (foco primordial deste artigo). E o ter-
agentes, associando-os aos dados sobre os ascen- ceiro congrega os casos de ascensão política a partir
dentes, foi possível identificar três padrões de afir- de origens sociais mais baixas, calcada na atuação mi-
mação social, bem como de acesso, especialização e litante em diversos espaços.

Quadro 1 – Modalidades de afirmação e reprodução políticas


Características/
“Tradicional” “Ascensão social” “Militância”
padrões
Pertencentes às elites econômicas, Baixa extração social ou origem
Comerciantes ligados ao
políticas e sociais estabelecidas humilde
processo de imigração que
Perfil dos ascendentes desde o século XIX (fazendeiros, (pequenos agricultores,
ascenderam e tornaram-se
comerciantes, altos funcionários pescadores, lavradores,
prósperos empresários.
públicos e militares). metalúrgico, pedreiro etc.).
Período de ingresso 1930-1970 (especialmente
Pós-1959 (especialmente nas três
do grupo familiar na Antes de 1930. na redemocratização
últimas décadas).
política eletiva iniciada em 1945).
Diplomas em Medicina, Maior diversificação dos títulos
Diplomas em Medicina, Direito Direito e Engenharia, escolares obtidos em instituições
Padrão de formação
e Engenharia, conquistados em conquistados em públicas, privadas e comunitárias
escolar
instituições públicas. instituições públicas e da capital, e públicas, privadas e
comunitárias na capital. comunitárias do interior.

Padrão de ingresso na Majoritariamente por cargos


Cargos eletivos e públicos. Cargos eletivos.
carreira política eletivos.
Padrão de ingresso na
Deputação federal. Vereança e prefeitura. Vereança.
carreira eletiva
Ênfase nas condições
adversas dos pioneiros
imigrantes e no trajeto
Ênfase na “precariedade”, na
Ênfase na vinculação com o passado excepcional ascendente da
“humildade” e na “carência” que
mítico de lutas militares e políticas. família.
marcaram os “antepassados”
Referências de síntese da “vocação Referências de síntese
do primeiro político e na
política” = idéia de possuírem para justificar a “vocação
Estratégias de excepcionalidade do trajeto de
uma “vocação” para a “coisa política” = “vocação” para o
consagração do grupo afirmação política.
pública”, pretensamente atestada “empreendedorismo” e para
familiar Referências de síntese para
por atributos naturalizados como: o “trabalho comunitário”,
justificar a “vocação política”
“formação”, “preparo”, “cultura”, atestada por atributos
= “missão”, “predestinação”
“erudição”, “conhecimento”, “poder naturalizados como:
e “obstinação”, atestadas pela
argumentativo”, “tradição de estudo”. “capacidade de trabalho”,
“superação” via engajamento.
“capacidade de
comunicação”, “audácia”,
“vivência empresarial”.

Fontes: Repertórios biográficos, biografias e entrevistas em profundidade.

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É possível observar o peso dos diferentes padrões 1982 sob a reorganização partidária), encontram-se,
associando os parlamentares às modalidades de afir- 10 deputados ligados ao primeiro padrão, 34 ao se-
mação social e de fixação na política. gundo, e 19 ao terceiro.
Considerando a posição social de origem (pelo A aproximação dos deputados a determinados
lado paterno) de 93 deputados, constata-se que 22 são padrões em cada momento permite algumas
egressos de grupos familiares ligados ao “mundo da considerações pertinentes. Em primeiro lugar,
estância” (“famílias tradicionais” ligadas ao primei- corrobora-se a importância da ascensão política (no
ro padrão); 43 de segmentos que ascenderam social período compreendido entre 1945-64) de segmentos
e politicamente na segunda metade do século XX, a até então outsiders, principalmente dos “descendentes
partir de atividades comerciais (na sua maioria, em- de imigrantes”, que passavam a coabitar o espaço
preendidas por imigrantes alemães, italianos, sírios e político com grupos familiares mais “tradicionais”.
libaneses e descendentes); e 22 ingressaram na arena Em segundo lugar, afirma-se a escalada de políticos
eletiva a partir de uma “origem humilde”. oriundos de camadas mais baixas da hierarquia social
No tocante ao momento de ingresso das “famí- (no último período), apontando para a valorização
lias” na arena eletiva, cabe destacar que entre os par- e consolidação de novas arenas de inserção como
lamentares, 24 deles pertencem a “famílias” que de- “viveiros” de novos quadros parlamentares, tais como
butaram no desempenho de cargos eletivos antes do os sindicatos, o movimento estudantil, as igrejas, e até
Estado Novo; 46 estrearam no período de 1945 a 1966; mesmo as próprias organizações partidárias6.
8, no decorrer dos anos de 1967-81; e 15 “famílias” ini-
ciaram sua inserção depois das eleições de 1982. “Família”, coesão e divisão partidária
Considerando ainda aqueles parlamentares para
os quais se dispõe do conjunto das informações (da- Os padrões de continuidade e de descontinuida-
dos sobre ascendentes, momentos de ingresso da de partidária, assim como a distribuição entre as siglas
“família” na arena de ocupação de cargos eletivos, dos candidatos a deputado, estão no centro da atenção
profissão, escolarização, local de escolarização e car- neste momento. O material apresentado faz parte de
reiras), evidencia-se que os mesmos podem se apro- um outro estudo, igualmente mais amplo, que anali-
ximar mais de um ou de outro padrão, em momentos sou 166 candidatos a deputado estadual e federal que
distintos. concorreram entre 1982 e 2002, no Rio Grande do
Tomando os parlamentares que atuaram no Sul, e possuem parentes que ocuparam cargos eletivos
Congresso Nacional entre 1945 e 1966, é possível re- (GRILL, 2003). Esses foram classificados conforme a
lacionar, em linhas gerais, 10 deputados ao primeiro sua filiação na última eleição em que concorreram. E
padrão, 8 ao segundo padrão, e apenas 2 ao terceiro. para a caracterização dos alinhamentos tomou-se o
Observando aqueles que ocuparam o cargo de depu- conjunto de políticos dos grupos familiares aos quais
tado federal entre 1967 e 1982, 6 casos aproximam-se pertencem, observando se estes se encontram situa-
do primeiro padrão, 12 do segundo, e 6 do terceiro. dos ou não nos mesmos pólos partidários.
Por fim, examinando os deputados federais do perío- Os pólos partidários dizem respeito aos padrões
do recente (iniciado com os parlamentares eleitos em de continuidade e descontinuidade que, por sua vez,

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referem-se aos alinhamentos políticos em questão a “famílias” atuantes politicamente e a divisão partidá-
partir de 1945. Assim, parte-se da divisão consagra- ria sul-rio-grandense.
da entre “PTB/anti-PTB” (PSD, UDN, PL), da sua Foram classificados como “alinhados” aqueles
rearticulação em MDB e Arena, e da sua re-configu- candidatos oriundos de “famílias” que, ao longo do
ração, com o pluripartidarismo, entre PMDB, PTB, período em que seus membros competiram eleitoral-
PDT, PPS, PSB e PT, de um lado, e PPB-PP e PFL- mente, permaneceram em um dos pólos. Por sua vez,
DEM[PDS não entra?], de outro lado, para verificar foram classificados como “desalinhados” aqueles des-
a recorrência das continuidades e das descontinui- cendentes de “famílias” em que no seu interior mem-
dades ao longo das gerações. Mais do que recolocar bros de gerações diferentes deslocam-se de um pólo
uma recorrente discussão sobre a “secular bipolariza- ao outro, ou em que as divisões políticas entre seus
ção da política gaúcha”7, utiliza-se esta tipologia para membros na mesma geração estiveram representadas
mapear processos sociais que envolvem a gestão da por pólos antagônicos.
coesão ou a explicitação do conflito no interior destas

Quadro 2 – Distribuição por partidos e padrões de alinhamento

N.º de candidatos
% sobre o
que possuem Alinhamento ideológico entre os políticos das “famílias”
Partidos parentesco total
com outros políticos
Alinhados % Desalinhados %
PPB 21 13 15 9 6 3,6
PMDB 34 20 22 13,2 12 7,2
PTB 19 11.5 17 10,2 2 1,2
PFL 3 1,5 2 1,2 1 0,6
PDT 36 21,5 30 18 6 3,6
PT 25 15 21 12,6 4 2,4
PCdoB 1 0,8 0 0 1 0,6
PPS 8 5 7 4,2 1 0,6
PSB 6 3.5 4 2,4 2 1,2
PV 2 1,2 2 1,2 0 0
PSDB 9 5,5 6 3,6 3 1,8
PL 1 0,8 1 0,6 0 0
PHS 1 0,8 0 0 1 0,6
Total 166 100 127 76,5 39 23,5
Fontes: Entrevistas e repertórios biográficos

Neste caso, grifa-se que a ocorrência de candida- dos partidos no estado. Afora isto, outro elemento a
tos com laços de parentesco com outros políticos não ser destacado é que, ao contrário do que uma leitura
se concentra em nenhuma sigla partidária e, em li- mais apressada poderia supor, este não é um fenôme-
nhas gerais, fortalece sua incidência conforme a força no ligado a partidos situados à “direita”, tampouco é

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menos presente em partidos situados mais à “esquer- deputado pelo PDT) são provas disso. Revelam, pois,
da” do espectro ideológico. as combinações entre notoriedades dos grupos fa-
No tocante aos alinhamentos partidários, destaca- miliares, divisões políticas, transmissão de clivagens
-se no quadro 2 o número de candidatos participantes intra-familiares e a divisão de papéis no interior do
de “famílias alinhadas” (padrões PTB→MDB→PMDB, grupo familiar, bem como deslocamentos entre siglas
PDT, PTB, PPS, PT ou PSD, UDN, PL→Arena→PPB- condicionados por novas configurações sociais e polí-
PP, PFL-DEM) que somam 127 casos ou 76,5% do ticas. As lógicas que presidem estes movimentos per-
total. Um primeiro procedimento, então, é observar, mitem apreender as transformações do espaço social
através de um número significativo de casos, a admi- e dos condicionantes da participação política de uma
nistração ao longo do tempo desta durabilidade de geração para outra.
filiações. Tal encaminhamento talvez seja uma das Na distribuição destes padrões entre as siglas
maneiras de desvendar prováveis interferências entre não se observa nenhuma variação significativa. E, no
reivindicações de “tradições familiares” e “partidá- conjunto de casos, algumas matizes merecem des-
rias” ou “ideológicas”. Entretanto, não se pode des- taque, notadamente no que toca aos partidos com
considerar que esta tipologia esconde no seu interior maior expressão eleitoral (PMDB, PT, PTB, PPB-PP e
fraturas, tão ou mais “conflitantes”, que as que podem PDT). A sigla que apresentou maior número de casos
ser identificadas nas divisões ou deslocamentos entre provenientes de grupos familiares desalinhados foi
os dois pólos. Casos em que irmãos se repartem en- o PMDB, fato que pode ser explicado pela sua posi-
tre siglas originárias de uma mesma matriz e passam ção ao centro do espectro político-partidário. Assim,
a dividir redutos eleitorais, ou em que pais e filhos a sigla abriga descendentes de líderes do antigo PTB
tomam trajetos partidários diversos e reivindicam a que militaram também no MDB como o ex-deputado
mesma “tradição ideológica”, são ilustrativos disso. Carlos Giacomazzi (filho e irmão de ex-deputados
Apesar de menos numerosos, somando 39 can- pelo PTB); descendentes de líderes do antigo Partido
didatos (23,5 % do total dos casos) o outro padrão Democrata Cristão e da Arena como o deputado es-
não é menos revelador de lógicas de gestão do pa- tadual eleito em 2002, Luiz Fernando Zachia (filho
trimônio político familiar. “Famílias” divididas entre do ex-deputado Alexandre Zachia); até descenden-
membros de dois pólos ao longo de décadas (como tes de líderes do antigo Partido Social Democrático
as “famílias” Guazelli, Nedel e Carrion); “famílias” e da Arena, como o ex-deputado Nélson Jobim (neto
que se deslocaram de um pólo ao outro (como os e filho de deputados pelo PSD). No entanto, mesmo
grupos familiares do ex-deputado Clóvis Ilgenfritz a sigla abrigando o maior número de candidatos pro-
da Silva: PSD→PT, e do deputado federal Mendes venientes de grupos familiares marcados pela descon-
Ribeiro Filho: Arena→PMDB); ou deslocamentos de tinuidade, prevalece o padrão de continuidade (22
uma geração para outra (como os efetuados por Luiz casos contra 12). Entre os 12 candidatos classificados
Fernando Zachia: filho de deputado do PDC, e depu- como provenientes de “famílias” desalinhadas ideolo-
tado pelo PMDB; por Frederico Antunes: neto de ex- gicamente, 3 vêm de grupos familiares com origem
-deputado pelo PTB, e deputado pelo PPB; ou ainda no PDC, 3 no PSD, 3 na Arena, 1 na UDN e 3 de “fa-
por Ciro Simoni: filho de uma vereadora pela UDN, e mílias” divididas desde a origem.

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O Partido dos Trabalhadores, fundado em con- com forte apelo e capacidade de ativar pontes com a
traposição às antigas correntes partidárias, abriga “história familiar”8.
no seu interior, por um lado, descendentes de tra- O PPB possui 6 candidatos classificados entre os
balhistas como Tarso e Luciana Genro (esta migrou “desalinhados”, os 15 demais são membros de “famí-
recentemente para o PSOL), ambos descendentes de lias” que concentram sua atuação nas siglas do PSD,
Adelmo Genro, líder do PTB em São Borja e Santa UDN, PDC, PL, Arena e PPB-PP (nenhum no PFL-
Maria; e Marcos Rolim (neto e sobrinho de líderes DEM). Entre os 6 participantes de grupos familiares
trabalhistas em Santa Maria); e, por outro lado, des- não alinhados, 4 dividem-se entre membros de uma
cendentes do antigo PSD e da Arena como Clóvis mesma geração e dois conformam deslocamentos
Ilgenfritz da Silva (filho de um Prefeito e líder do PSD operados de uma geração para outra. São os casos: do
de Ijuí) e Maria Luiza Jaeger (filha de um ex-deputa- deputado estadual Frederico Antunes, cujo avô pater-
do pelo PSD). Ainda sobre o PT, cabe sublinhar que no foi deputado estadual, secretário de estado e pre-
mesmo as lideranças sem vínculos familiares com os sidente do BNDES, pelo PTB, e o tio candidato a de-
partidos existentes anteriormente acabaram forman- putado estadual pelo PDT; e do candidato a deputado
do sucessores no interior da “família”, como é o caso estadual em 1986, Élbio Abreu, que foi vereador por 5
do ex-deputado federal e senador Paulo Paim (o filho legislaturas em Pelotas, pela Arena e pelo PDS/PPB, é
se elegeu vereador na cidade de Canoas, o principal neto de líderes e prefeitos do PSD em Erval e tem um
reduto de Paim) e do deputado estadual Elvino Bohn filho, Eduardo Abreu, que foi vereador em Pelotas e
Gass (um dos irmãos se elegeu prefeito na cidade de candidato a deputado estadual pelo PSB.
origem e outro é presidente do diretório municipal do Finalmente, o PDT conta com a maior quanti-
PT de Porto Alegre). dade de casos provenientes de “famílias alinhadas”.
O Partido Trabalhista Brasileiro congrega nas A construção de uma genealogia simbólica em torno
suas nominatas candidatos descendentes de lideran- da bandeira do trabalhismo e a edificação de ícones
ças do antigo Partido Trabalhista Brasileiro (pré-64). (Getúlio Vargas, Alberto Pasqualini, João Goulart e
Alguns casos como a “família” do candidato Alfredo Leonel Brizola) que compõem a sua história faz com
Scherer Neto (neto de um ex-prefeito e líder do PTB que em nenhuma outra sigla o trabalho de memória e
de Venâncio Aires, filho de um ex-vereador pelo PTB a valorização das origens dos candidatos estejam tão
e deputado estadual pelo MDB e PMDB), do ex-de- presentes9. Alguns exemplos podem ser elencados,
putado Marcelo Mincarone (neto e filho de dirigentes tais como: os deputados Gerson Burmann (filho de
e deputados do PTB de Bento Gonçalves), dos depu- prefeito e sobrinho de prefeito e deputado estadu-
tados estaduais Iradir Pietroski, Abílio dos Santos e al e líderes trabalhistas em Ijuí), Airton Dipp (filho
do ex-deputado estadual e federal Caio Riela (os três de prefeito, deputado e líder trabalhista em Passo
filhos de vereadores pelo antigo PTB) mostram que a Fundo) e João Vicente Goulart (filho do ex-presiden-
legenda foi escolhida pela potencialidade de ligação te da República e presidente nacional do PTB, João
com o passado. Nestes casos, devido às dissidências Goulart); ou os candidatos Romildo Bolzan Júnior
dessas “famílias” com o PMDB ou com o PDT, há (filho do ex-deputado e prefeito de Osório, Romildo
uma migração para uma legenda nova no estado, mas Bolzan), Carlos Chaise (filho do ex-prefeito de Porto

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Alegre e ex-deputado estadual Sereno Chaise), Uil A apresentação do seu perfil, feita por uma his-
Dias (filho do ex-deputado Getúlio Dias) e Adriane toriadora e secretária municipal de educação em uma
Rodrigues (filha do ex-prefeito de Pelotas, Anselmo das gestões do seu filho, Glauco Scherer, como prefei-
Rodrigues), entre outros. to, é reveladora dos efeitos do sucesso econômico para
A seguir, são apresentados dois casos exemplares a inscrição do personagem na história local e para a
de “famílias de políticos” que se notabilizaram, res- heroicização do “fundador” da “família de políticos”:
pectivamente, pela “unidade” ou pela “divisão” entre
os seus membros nas lutas políticas. Serão cotejados O prefeito Scherer é descendente dos pri-
meiros imigrantes alemães que se radica-
as estratégias de afirmação social e política, a ativação
ram em Rio Pardinho, daqueles pionei-
de um capital simbólico ligado aos “nomes de famí-
ros que deixaram seus parentes, irmãos e
lia”, os efeitos da configuração/reconfiguração do es- amigos, para aqui se aventurarem e com
paço político em seus redutos mais importantes, os seus conhecimentos auxiliarem outra ter-
deslocamentos entre siglas e as justificações dos agen- ra [...]. Destinado a permanecer na linha
tes para as adesões a partidos com base na história Palanque, deu início a uma atividade que
política da “família” e no esforço de associação com prometia ser rentável, a industrialização
e comercialização da erva-mate, cuja tra-
antepassados.
dição até hoje honra Venâncio Aires [...].
Jovem ainda, mas com uma vontade de
Os Scherer vencer, Alfredo dedicou-se à sua incipiente
indústria, na qual a sua atividade precoce
Os políticos da “família Scherer” se notabili- lhe trouxe experiência e maturidade para a
vida. (DIETTRICH, 1980, p. 12-14).
zaram pelo acúmulo de sucessos eleitorais ao lon-
go da segunda metade do século XX. Atuantes no
Casou com uma descendente de alemães e fi-
município de Venâncio Aires, estiveram à frente do
lha de agricultores e criadores (médios proprietá-
Executivo municipal por aproximadamente vinte e
rios). Sua liderança local acompanhou a aquisição
quatro anos (entre 1952 e 2002) e definiram os su-
de destaque econômico. Ainda antes de concorrer
cessores para outros dez anos de gestão na prefeitura.
ao primeiro cargo eletivo, ocupou cargos públicos
Afora isto, contaram com um deputado estadual em
“não-remunerados”, como comissário ou inspetor
quatro legislaturas e ocuparam o Legislativo munici-
de polícia e delegado da zona rural, e foi “festeiro” da
pal em duas ocasiões.
Em 1951, aos 40 anos, Alfredo Scherer dá inicio Festa de São Sebastião Mártir. Importante cabo elei-
à “tradição política-eleitoral”. Filho homem mais ve- toral na “região” de políticos com “origem alemã” e
lho de um comerciante rural e pequeno proprietário ligados ao Partido Trabalhista Brasileiro, principal-
– que já possuía uma liderança local no distrito de mente Sigfried Heuser, Alfredo Scherer foi por eles
Palanque –, assumiu os negócios da “família” aos 14 apoiado na sua primeira disputa eleitoral. Assim, em
anos de idade, com a morte do pai. A partir da ad- 1951, se elegeu prefeito, ocupando o posto até 1955.
ministração do “bolichão da família”, Alfredo Scherer Retornou nas eleições de 1959 (ano em que seu filho,
expandiu as atividades de agricultura e comércio e Gleno Scherer, se elegeu vereador com 27 anos) e per-
destacou-se no ramo da erva-mate. maneceu até 1963. Após as duas gestões pelo PTB,

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“Famílias”, ascensão social e alinhamentos partidários...

se filiou ao MDB (acompanhando Sigfried Heuser e tradição de 3 gerações, que eu sou a terceira
seu cunhado, Pedro Simon, que comandaram a si- geração da família Scherer (...). Um traba-
lho que se fez já durante 50 anos de man-
gla durante o regime militar)10 e, em 1968, disputou
datos públicos, de prefeito, vice-prefeito,
novamente à Prefeitura, obtendo sucesso e adminis-
vereador e deputado, que a minha família
trando o município até 1972. Em 1976, concorreu tem na comunidade e que as pessoas valo-
mais uma vez, cumprindo o seu mandato mais longo rizam e identificam na gente. (...) a tradição
(1977-1982). política da minha família foi decisiva pra
Alfredo Scherer conseguiu se firmar como uma receber o apoio que eu recebi disputando
depois de 20 anos afastado do município,
das principais lideranças do município. Por meio do
disputando uma eleição pra deputado es-
cultivo de redes de apoiadores (que incluíam víncu- tadual e conseguindo fazer, ser o segundo
los pessoais, lealdades cultivadas via atendimento, candidato mais votado no município. (en-
identificação étnica, laços profissionais, elos religio- trevista com Alfredo Scherer Neto).
sos e apoios partidários), ele estruturou sua liderança
política. A repetição e o acúmulo de vitórias eleito- As eleições municipais de 1976 abriram o pro-
cesso de sucessão na facção11 política controlada por
rais contribuíram ainda para a edificação da sua re-
Alfredo Scherer, fazendo despontar as principais lide-
putação local sustentada pelo caráter “vitorioso” do
ranças políticas do município nas décadas seguintes.
seu percurso nos dois terrenos: pessoal e político. Os
Entre elas, estavam seus filhos e seus colaboradores
trechos de entrevista reproduzidos a seguir sinalizam
mais diretos. Desse modo, elegeram-se vice-prefeito e
para a reputação da “família”, o “nome de família”
vereadores: Gleno Scherer, Rogério Scherer e Almedo
como catalisador do capital simbólico e a configura-
Dettenborn (este último considerado “cria política”
ção de uma rede de apoiadores transferida de forma
de Alfredo Scherer). Os três, e mais um outro filho
inter-geracional:
de Alfredo Scherer, Glauco Scherer, colecionaram
O pessoal diz: ‘Ah, sendo filho do Scherer, vitórias nos pleitos municipais através do PMDB até
sendo Scherer, nós votamos no Scherer’. 1996, ano da divisão da facção. A explicitação do de-
Então pra nós é bom ter esse nome
sencadeamento da sucessão pode ser observada em
Scherer. A gente sempre tem amigos que...
relato do próprio Alfredo Scherer, quando explica a
Corregilionários daqueles firmes, sempre
do nosso lado. Não nos abandonam nunca. escolha de Gleno Scherer para compor a chapa à pre-
Muitos trocaram de partido com a gente, feitura de Venâncio Aires, reproduzido abaixo:
outros ficaram no partido de origem, mas
votam nos Scherer (entrevista com Glauco Levei meu filho pensando justamente em
Scherer). deixá-lo no meu lugar, uma vez que devido
à minha idade, pode ocorrer algum proble-
ma de saúde e então, meu vice ficaria em
Com certeza nós temos um conceito for- meu lugar. Ele não quis aceitar, achando
mado lá dentro da nossa cidade, dentro da que não somaria votos pra mim, opinava
nossa região, dentro do nosso estado, e até dizendo que deveria levar um vice que des-
posso dizer dentro do nosso país. O nosso se mais garantia de votos. Minha concep-
conceito na política é muito bom. É uma ção é que vice não soma coisa nenhuma se

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o candidato a prefeito não agrada. O vice PMDB, com divisão de papéis e orquestração das
não dá a vitória de um prefeito, ao menos atividades e com uma área de abrangência regio-
nas minhas quatro candidaturas não in-
nal. Nesta ocasião, Almedo Dettenborn concorreu a
fluíram muito. (Entrevista com Alfredo
prefeito e Gleno Scherer disputou a vaga de deputa-
Scherer apud, Diettrich, 1980, p. 42).
do estadual, ambos apoiados pelo então prefeito de
Alfredo Scherer e Gleno Scherer venceram as Venâncio Aires, Alfredo Scherer, e pelo presidente do
eleições pelo MDB. O “advogado com especializa- PMDB e coordenador da campanha, Rogério Scherer.
ção em Direito Agrário” e “professor universitário” A “dobradinha” de Gleno Scherer no município foi
Rogério Scherer, e o “bacharel em filosofia”, “técnico com Segfried Heuser (principal liderança do PMDB
em contabilidade”, “administrador escolar” e “profes- da “região” e com a qual a “família” colaborava desde a
sor rural”, Almedo Dettenborn, elegeram-se vereado- década de cinqüenta). Este último se elegeu, enquan-
res pela mesma sigla. O primeiro foi escolhido líder to o primeiro conseguiu apenas a terceira suplência
do governo na Câmara dos Vereadores e o segundo como deputado estadual, assumindo durante a se-
ocupou uma das principais secretarias municipais, a gunda metade da legislatura. Em 1986, Gleno Scherer
Secretaria de Educação, Trabalho e Ação Social. concorreu à reeleição, contando com o apoio do então
Durante a gestão, houve a maturação da esco- Prefeito, Almedo Dettenborn. As fidelidades deriva-
lha partidária a ser seguida com a reorganização das do seu trabalho como deputado estadual possibi-
partidária do final da década de setenta. Liderados litaram a expansão da sua votação em Venâncio Aires
por Alfredo Scherer, os colaboradores do prefeito e outros municípios.
optaram “em bloco” pelo PMDB. Esta decisão, que Em 1988, Almedo Dettenborn (ainda prefei-
interferiu na força eleitoral do partido no municí- to) e Gleno Scherer (na ocasião, deputado estadual,
pio e “região”, teve raízes nas fidelidades verticais de presidente da Assembléia Legislativa e grande aliado
Alfredo Scherer, notadamente, e do seu filho, Gleno do então governador Pedro Simon) lançaram Glauco
Scherer, cultivadas ainda no período de militância no Scherer (chefe de gabinete de Gleno Scherer) à pre-
PTB: “O pai não era da linha do Brizola (...), o Gleno feitura, levando a facção política à terceira adminis-
tração consecutiva do PMDB. Glauco havia residido
também não era da linha do Brizola. O pai e o Gleno
em Porto Alegre e ocupado cargos que, segundo ele,
eram da linha do Ferrari e do Heuser, que era a linha
o faziam um “verdadeiro embaixador de Venâncio
mais branda do PTB. Seguimos essa linha do Siegfrid
Aires”. Mas toda a justificativa da sua candidatura re-
Heuser” (Entrevista com Glauco Scherer). Observa-
caia sobre o “nome da família”:
se que as tomadas de posição, além de obedecerem
ao espaço local de concorrência política e suas fide- Não foi decisão. Foi imposição do partido.
lidades/clivagens, são presididas pela atualização de Porque não tinha ninguém pra ganhar a
vínculos de lealdades anteriores. eleição. Tinha que ser o Gleno. O Simon
não liberou ele, disse que precisava dele.
Nas eleições de 1982, ocorreu a primeira suces-
Ele era deputado estadual e presidente da
são municipal em que a continuidade nos principais Assembléia Legislativa naquela época. E o
postos dos seguidores de Alfredo Scherer foi busca- único Scherer que tava disponível era eu
da. Consolidou-se uma empresa política situada no (entrevista com Glauco Scherer).

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Em 1990, Gleno Scherer concorreu ao terceiro política no plano local. E as repetidas vitórias locais
mandato como deputado estadual. Foi reconduzido do PMDB fortaleciam-no no estado, credenciando-o
à Assembléia Legislativa e, dois anos depois (1992), às posições de destaque que ocupou.
Almedo Dettenborn elegeu-se pela segunda vez Se no período de transmissão e de gestão com-
prefeito de Venâncio Aires, apoiado pelos “irmãos partilhada do patrimônio político familiar Gleno
Scherer”. A mesma facção chegou pela quinta vez con- Scherer foi o protagonista, a partir do dissenso ocor-
secutiva e de forma relativamente coesa à prefeitura. rido na facção política e da bifurcação Glauco Scherer
A última demonstração de unidade foi dada em 1994, passou a ser o personagem familiar nas disputas polí-
ano em que Gleno Scherer alcançou seu quarto e úl- ticas. Glauco Scherer havia sido prefeito entre 1989 e
timo mandato de deputado estadual. Neste período 1992, substituindo Almedo Dettenborn (1983-1988)
de simultaneidade de postos ocupados entre os dois e sendo depois substituído por ele (1993-1996).
principais sucessores da liderança de Alfredo Scherer, Embora com ingresso tardio nas competições po-
esboçam-se as rupturas que marcaram as disputas líticas, Glauco Scherer nunca esteve afastado das dis-
municipais a partir de 1996. putas e dos círculos políticos. Trabalhou na Secretaria
Deste modo, o itinerário político de Gleno da Fazenda quando era secretário o ex-deputado
Scherer coincidiu com o estabelecimento de uma em- “ligado à família”, Siegfrid Heuser. Foi assessor na
presa política que acionava o patrimônio político de Assembléia Legislativa da bancada do MDB e chefe
Alfredo Scherer, centralizava suas ações pela sua no- de gabinete de Gleno Scherer, já no PMDB. Elegeu-se
toriedade local e especializava-se nas funções de me- prefeito em 1988 pelo PMDB, quando a facção políti-
diação política. O perfil mais escolarizado e urbano de ca se encontrava no auge do acúmulo de prestígio po-
Gleno Scherer contribuía para o exercício de funções lítico (Gleno era presidente da Assembléia Legislativa
políticas mais codificadas e centrais, como a atuação e os políticos do PMDB local colecionavam vitórias e
em mandatos parlamentares. Considerado um “bom administrações aprovadas que faziam os sucessores).
orador”, “competente legislador” e um deputado com Foi também presidente municipal do PMDB. O úni-
reputação no meio político, ele contava com trun- co dos filhos de Alfredo a não cursar universidade,
fos não disponíveis ao seu pai e indispensáveis para Glauco possuía o curso técnico de contabilidade e
as atribuições do cargo. Além disso, por meio dos caracterizou-se, como o pai, por ser um político cujos
mandatos, Gleno Scherer conseguiu ampliar espacial trunfos se fundamentaram na “competência adminis-
e socialmente as bases de interconexões políticas e trativa”, na “capacidade de trabalho” e em valores mo-
pessoais ligadas ao grupo familiar. O instrumento do rais como “honestidade” e “seriedade”, entre outros.
atendimento aos pleitos regionais e municipais atra- Por conseguinte, essa imagem e a vinculação com o
vés de cadeia de líderes-seguidores auxiliava na ex- pai (em termos de parentesco, de redes de relações
pansão da sua área de influência eleitoral. Seu trânsito locais e de modos de fazer política) se constituíram
entre os pares e sua aliança vertical “para cima” com em recursos agilizados na empreitada de reconquistar
Pedro Simon levaram-no à presidência da Assembléia o predomínio político local e competir com os anti-
Legislativa e ao Tribunal de Contas do Estado. Sua gos aliados situados no PMDB. Ao chegar novamente
projeção estadual fortalecia a liderança da facção ao posto de prefeito pelo PTB em 2000, coroou um

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processo de disputa municipal iniciado em 1995 e PMDB e apoiado pelo então prefeito Celso Artus. E
pontuado por vários embates. Se a sua primeira elei- finalmente, em 2000, acontece o confronto da “famí-
ção para a prefeitura já fora computada como uma lia” com o seu antigo partido, o PMDB, por meio da
“prova” da eficácia eleitoral do “nome Scherer”, a sua disputa entre Glauco Scherer, pelo PTB, e Almedo
segunda eleição foi encarada como um “teste” deste Dettenborn, pelo PMDB, à prefeitura de Venâncio
recurso. Aires.
A competição local adquiria contornos de “re- Assim, a longa duração da influência política da
vanche” e de reivindicação de representar um “pas- facção local liderada por Alfredo Scherer e suas ra-
sado comum”12. As alianças horizontais que davam mificações em várias lideranças ou sub-líderes com
unidade à facção política e as alianças verticais com redes próprias, levaram à divisão da própria facção e
o ego e referência histórica (Alfredo Scherer) deixa- a disputa pela “herança política”. O desmembramento
ram de existir, interrompendo o circuito de trocas que em duas facções reduziu a abrangência da influência
alimentara o potencial eleitoral de todos. Cada uma eleitoral de todos ao plano municipal. A rivalidade
das facções formadas procurava estabelecer o seu elo entre os antigos aliados se apoiaria na ativação da me-
com o passado, utilizando as siglas (PTB e PMDB), mória política do seu ego original (Alfredo Scherer).
o parentesco e a proximidade com Alfredo Scherer e Os códigos utilizados são a “família” e a construção
a demonstração de lealdade a seu “legado”. Almedo de uma herança política que se concentra atualmente
Detenborn (PMDB) e Glauco Scherer (PTB) enfren- sobre a liderança de um de seus filhos (Glauco), cujos
taram-se ainda em 2004 e 2008. O primeiro se ele- atributos mais se aproximam daqueles presentes no
geu em 2004 e os dois foram derrotados em 2008, por pai. Por sua vez, o “outro lado” reivindica a continui-
Airton Artus do PDT (irmão de Celso Artus, outra dade do “legado” através do partido e da fidelidade
“cria política” de Alfredo Scherer). demonstrada como colaboradores ou seguidores pró-
Este processo de concorrência teria sido desen- ximos e leais à antiga liderança. A política local passa
cadeado pelas desavenças entre o então deputado a ter como objeto de disputa primordial a apropriação
Gleno Scherer e o então prefeito Almedo Dettenborn e a interpretação deste “passado comum”13.
e agravados na convenção para escolha dos candida- Observa-se como estão imbricadas a afirmação
tos a prefeito em 1996, quando Glauco Scherer foi local e as alianças verticais nestas opções partidárias
derrotado. Como represália, os membros da “família” e como ambas interagem com o fortalecimento das
retiraram-se do PMDB e se filiaram, juntamente com siglas que reclamam a continuidade com o trabalhis-
alguns seguidores, ao Partido Trabalhista Brasileiro. A mo. A “família Scherer”, originalmente ligada ao PTB
opção pelo PTB se sustentava na origem da liderança e principalmente ao deputado Sigfried Heuser, se afir-
da “família”: “acabamos optando por um novo partido mou localmente auxiliada por estes vínculos. Tal ali-
político, partido político que o meu avô havia iniciado nhamento definiu sua opção pelo MDB e principal-
a sua vida política” (Entrevista com Alfredo Scherer mente pelo PMDB, consolidando-se com a aproxima-
Neto). Por este partido, lançam Alfredo Scherer Neto ção com Pedro Simon (cunhado e grande aliado de
para deputado estadual, em 1998, que disputou os vo- Siegfrid Heuser). Com a cisão local e a perda do con-
tos locais com Almedo Dettenborn, candidato pelo trole partidário, optaram pelo PTB, organizado por

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“Famílias”, ascensão social e alinhamentos partidários...

Sérgio Zambiasi (ex-deputado estadual e senador). Nedel (vereador de São Luiz Gonzaga) e Jacob Nedel
Nesta sigla buscaram o fortalecimento da ligação com (“desbravador” de Crissiumal e candidato a prefeito),
o passado (sobretudo com aquele que inaugurou a sendo ambos comerciantes. Na primeira geração de
inserção política da “família”, Alfredo Scherer) e con- políticos descendentes de Mathias Nedel se desta-
tribuíram (ao lado de outras “famílias” que fizeram cou Silvino Nedel (candidato a deputado estadual
o mesmo movimento) para conferir legitimidade ao em 1978), que profissionalmente atuou como agen-
uso da legenda histórica nos últimos anos. te fiscal da exatoria estadual. Nas últimas décadas,
os sobrinhos de Reinaldo e Jacob Nedel e o filho de
Os Nedel Silvino Nedel percorreram carreiras políticas exitosas
no Rio Grande do Sul. São eles: Roque Nedel, Ruy
Outro grupo familiar marcado pela ascensão Nedel, René Nedel, Renato Nedel (netos de José Nedel
como comerciantes e pela afirmação política daí de- Sobrinho) e João Carlos Nedel (neto de Mathias
corrente é a “família” à qual pertence o ex-deputado Nedel). São abordados aqui os itinerários dos quatro
federal pelo PMDB Ruy Nedel. Ao longo de segunda primeiros que rivalizaram politicamente na “região
metade do século XX, os políticos desta “família” acu- de origem política” da “família”.
mularam cargos, sobretudo locais, e se diferenciaram Roque, Ruy, René e Renato Nedel são filhos de
pela divisão dos membros com atuação política em José Aluísio Nedel, um dos principais comerciantes
diferentes siglas (e pólos ideológicos) e pela disputa locais, casado com a filha de um importante comer-
que travaram, principalmente em um dos “ramos” ciante: “dono de um açougue, de uma bailanta e de
que contou com a competição local entre irmãos. um clube” (entrevista com Ruy Nedel), também de
Descendentes de imigrantes alemães, os Nedel se origem alemã. José Aluísio Nedel adquiriu liderança
instalaram no início do século XX no noroeste do Rio e destaque comercial se notabilizando, inclusive, em
Grande do Sul, na “região” em que hoje se situa o mu- relação aos “irmãos políticos”:
nicípio de São Luiz Gonzaga. Por meio da atividade
O pai era o melhor comerciante (...) ele ti-
comercial conquistaram importante liderança, o que
nha liderança em São Luiz Gonzaga, ele era
possibilitou a ocupação de cargos eletivos por uma o agente do Banco Nacional do Comércio
série de indivíduos. Dois “troncos” adquiriram des- ali, hoje Salvador das Missões. Ele cobrava
taque político. O primeiro consiste nos descendentes e pagava as duplicatas, fazia o que hoje um
de José Nedel Sobrinho e o segundo nos descendentes banco faz, ali no interior de Cerro Largo,
nem o Banco Nacional do Comércio estava
de Mathias Nedel. Os filhos de José Nedel Sobrinho
em Cerro Largo. (...) mas os irmãos do meu
se tornaram prósperos comerciantes e um deles pro- pai foram mais políticos do que ele, por-
prietário de um cartório. Um dos filhos de Mathias que ele dizia: ‘eu sou comerciante, eu quero
Nedel foi agricultor e comerciante, todos na “região” crescer’ e cresceu muito. (Entrevista com
onde hoje se situa o município de Cerro Largo (antigo Roque Nedel).
distrito de São Luiz Gonzaga).
Na primeira geração de políticos descenden- O comerciante tinha liderança. Entre os
tes de José Nedel Sobrinho se destacaram Reinaldo Nedel, os homens foram quase todos do

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setor do comércio e tinham liderança (...). ascendente e suas ligações com políticos de relevo no
Porque eles preservavam. Tinham um tra- cenário estadual.
balho comunitário. (...) as estradas quem
Para compreender a rivalidade entre os irmãos,
fazia eram os próprios colonos (...) não era
bem como os usos do patrimônio familiar, é necessá-
o estado que fazia. Não era o estado que fa-
zia a escola (...) e os comerciantes tinham rio reconstituir as condições de transmissão do mes-
uma liderança neste trabalho comunitário. mo no interior da “família” e os itinerários individu-
O pai tinha uma grande liderança nesse ais. José Aluísio Nedel teve nove filhos, entre eles sete
período. Na região, queimava uma casa o homens, e faleceu precocemente, aos 45 anos. Neste
pai dava todo o material necessário (...) ou
momento, os dois filhos mais velhos assumiram o em-
então havia uma peste suína (...) o banco
preendimento comercial e administraram o capital de
era a própria loja do pai (...) e depois iam
pagando à medida que pudessem (entrevis- relações sociais geridos a partir desta posição social.
ta com Ruy Nedel). O terceiro filho (Roque Nedel), também comerciante,
casou com a filha de um dos principais comerciantes
Este misto de “empreendedor” e “líder comunitá- da “região” e líder político (ligado ao PSD). Os demais
rio”, somado ao catolicismo cultivado no meio fami- (ainda adolescentes no momento da morte do pai)
liar, garantiu a conquista e a manutenção de lealdades tiveram os esforços familiares canalizados para a es-
dos “colonos”, constituindo ainda prestígio e alinha- colarização em grandes centros e para a conquista de
mento político com líderes estaduais. Porém, a versão cursos superiores. Desta divisão originou-se a cisão
dada pelos diferentes irmãos diverge quanto à identi- política.
ficação partidária ou política do pai e são congruentes A partir da aliança matrimonial, Roque Nedel
com as posições e itinerários dos próprios políticos e se situou em uma das facções locais e conseguiu in-
membros da “família”. Para um deles (que foi filiado corporar seus irmãos mais velhos ao seu posiciona-
ao PSD e à ARENA e hoje é filiado ao PP), “nós éra- mento político e à sua liderança local. Ruy Nedel (o
mos do PSD, o meu pai era getulista (...), o meu pai e quarto filho na ordem de idade), por sua vez, trilhou
os irmãos dele, todos permaneceram no PSD junto um percurso que envolveu movimento estudantil, uso
com um amigo dele que era irmão do Getúlio” (entre- do título de médico, habilidades como escritor e lide-
vista com Roque Nedel). Já para o outro (identificado rança regional, mas situou-se na outra polaridade do
com o PTB, depois com o MDB e com o PMDB, fi- espectro político e conquistou a adesão de dois dos
nalmente com o PSDB), “o pai era Getúlio e Alberto seus irmãos mais jovens, René Nedel e Renato Nedel.
Pasqualini, sempre pelo lado do social (...). Veja uma A morte prematura do pai, as diferentes estratégias
coisa, quando o pai morreu, eu cheguei em casa e tava acionadas para gerir a herança e as afinidades e ade-
nada menos que o irmão do Getúlio Vargas e o João sões construídas no interior da “família” acabaram
Goulart em casa” (entrevista com Ruy Nedel). por constituir duas facções locais centralizadas por
Tal discordância aponta para a disputa política dois irmãos: Roque Nedel e Ruy Nedel.
entre os irmãos que se reflete na concorrência pelo Roque Nedel se tornou comerciante, como o
uso e interpretação da “memória política familiar” e pai, o avô materno e os irmãos mais velhos: “Então
demonstra a convergência quanto à notoriedade do nós temos dentro de nós, da família Nedel, a índole

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“Famílias”, ascensão social e alinhamentos partidários...

comercial e política” (entrevista com Roque Nedel) A campanha de 1976 marcou a cisão familiar. Ruy
e casou com a filha de um importante comercian- Nedel se estabeleceu como médico em Cerro Largo
te. A “família” do seu sogro conquistou notoriedade no início da década de setenta e se tornou a princi-
como “empreendedores comerciais” e “líderes po- pal liderança local do MDB, apoiando os candidatos
líticos”, como afirma o próprio político ao falar dos da sigla em toda a “região”, inclusive em Cerro Largo,
ascendentes da esposa: “ele era filho primogênito onde seu irmão concorria pela ARENA. Os irmãos
do desbravador da comunidade e o colonizador de identificam a origem da divergência na adolescência,
Roque Gonzáles (...) que foi vice-prefeito de São Luiz quando Roque Nedel se aproximou da facção polí-
Gonzaga (...). O filho dele, o Arlindo, meu sogro, se tica liderada pelo futuro sogro, e Ruy Nedel morava
elegeu três vezes vereador em São Luiz Gonzaga, se fora da cidade, estudando em Seminário e depois na
elegeu duas vezes vereador em Cerro Largo, foi da Faculdade de Medicina da UFRGS, passando a sim-
comissão que iniciou o município...” (entrevista com patizar com a Juventude Universitária Católica (JUC)
Roque Nedel). Assim, seu sogro, era pertencente a e, posteriormente, com o trabalhismo.
uma “família” de mediadores locais. Após ser o re- Ruy Nedel, por sua vez, participou do
presentante do distrito como vereador, se tornou “Movimento da Legalidade” liderado pelo governador
o segundo prefeito da história de Cerro Largo, em Leonel Brizola (PTB) no início da década de 1960, e
1959, pelo PSD. Nesta mesma eleição, Roque Nedel apoiou algumas chapas vinculadas à Ação Popular
chegou pela primeira vez à vereança (com 24 anos) (AP) para o diretório acadêmico do curso de medi-
e teve como companheiros de bancada do PSD seu cina e para a União Estadual dos Estudantes. Porém,
cunhado (irmão da esposa) e seu primo Bruno Nedel só veio a ter uma participação eleitoral mais efetiva na
(filho do dono do cartório que veio a herdá-lo poste- década de setenta, quando retornou – depois de tra-
riormente). Seus dois irmãos mais velhos e sua mãe balhar como Servidor Público, Seventuário da Justiça
participaram ativamente da sua campanha. do Trabalho e professor da Faculdade de Medicina da
Sua participação na Câmara dos Vereadores e a UFRGS – para a sua “região de origem”, como mé-
reputação do sogro – como empreendedor, líder co- dico em Roque Gonzáles. Na campanha de 1972, se
munitário ligado ao catolicismo e prefeito – auxilia- manteve “neutro” (segundo a expressão usada por ele
ram na afirmação da sua liderança local. Todos eram em entrevista) e logo após o pleito passou a militar
vinculados aos deputados federais da “região”, Tarso no MDB. Em 1974, apoiou a candidatura de Porfírio
Dutra e ao seu cunhado, o também deputado Clóvis Peixoto, uma das principais lideranças do MDB da
Pestana. Roque Nedel se reelegeu em duas oportuni- “região”, à deputação estadual.
dades vereador (1963 e 1968), ocupando a presidên- Sua liderança se alicerçou na reputação adquiri-
cia da Câmara de Vereadores. Concorreu a prefeito da como médico, na “capacidade oratória” e nas alian-
em 1972 (sendo derrotado) e novamente a prefeito ças verticais (para cima e para baixo) com quadro do
em 1976 (vencendo as eleições). Cultivou uma aliança MDB.
com Hugo Mardini, deputado estadual pela ARENA Eu sabia fazer anestesia e não tinha aneste-
e adversário, no movimento estudantil, do seu irmão, sista lá. Vinha gente de duzentos, trezentos
Ruy Nedel. quilômetros pra se operar com Ruy Nedel

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(...). E eu tava com uma certa fama (...). Eu Em 1985, com a chegada do PMDB à pre-
era bom de oratória, a micro-região gosta- sidência da República, foi convidado a ocupar a
va mais de ter o Dr. Ruy falando do que um
Superintendência do INAMPS, quando adquiriu
deputado. Então eu apoiava os candidatos
do MDB a prefeito e a deputado na micro- maior projeção estadual. Em 1986, concorreu nova-
-região. Então, em 1976, eu estava compro- mente a deputado federal e alcançou 30.936 votos,
metido no comício de encerramento de seis obtendo uma cadeira na Câmara Federal. A lide-
municípios. Eu fazia o giro na região e não
era nem vereador, nem nada (entrevista
rança regional teve reflexos nas eleições municipais
com Ruy Nedel). de Cerro Largo. Como deputado federal, lançou a
candidatura do seu irmão, René Nedel, à prefeitura
Neste quadro de ascensão política, apoiou a can- de Cerro Largo, em 1988, sucedendo seu “compadre
didatura do MDB em 1976, em detrimento da candi-
Elemar Kuhn”. Nessa eleição, René Nedel conquistou
datura do seu irmão (vitoriosa). Em 1978, “emprestou
seu primeiro mandato (aos 46 anos) como prefeito de
seu prestígio” às candidaturas do MDB da “região”
Cerro Largo (pelo PMDB), derrotando seu outro ir-
– de Porfírio Peixoto a deputado estadual e Valdir
mão, Roque Nedel (candidato pelo PDS).
Walter a deputado federal – bem como se engajou na
Ruy Nedel foi vice-líder do PMDB na Câmara
campanha de Pedro Simon ao senado. Acompanhou
estas lideranças no final da década de setenta, quando Federal e se filiou ao PSDB no final da década de
optaram pelo PMDB na rearticulação partidária. Por oitenta. Por este partido concorreu mais duas vezes
este partido, Ruy Nedel concorreu a deputado federal à deputação federal, sem sucesso, e, segundo o seu
em 1982, somando 31.997 votos (ficando na quinta depoimento “sem grande esforço” para obter êxito,
suplência da bancada). Na articulação da candidatu- já que fora preterido no seu intuito em concorrer
ra “estruturou” uma série de candidaturas a prefeito à vice-governança em 1990. Dedicou-se também à
vinculadas a ele: “Onde eu estruturei esse negócio nós literatura, escrevendo cinco livros (até o momento
ganhávamos todas. (...) Eu sei dizer que nós fizemos da entrevista) que denomina de “romances histó-
oito prefeitos na região” (entrevista com Ruy Nedel). ricos” e que julga serem “mais úteis politicamente
Dedicou “atenção especial” a Cerro Largo e Roque que muitos mandatos” (entrevista com Ruy Nedel).
Gonzáles. Em Cerro Largo, segundo ele: “Eu disse pro Entre eles, podem ser grifadas as obras “Te arranca,
meu compadre, o Elemar Kuhn... eu exigi que ele fos-
Alemão Batata” e “Poder e Indecência”. A primeira
se candidato. Eu disse: ‘Elemar, tu tem 24 horas pra
mistura romance e biografia familiar. Divide-se em
puxar teu título pra cá e 48 horas pra dizer que é can-
duas partes que tratam, respectivamente, da imigra-
didato a prefeito. Depois, o resto tu deixa comigo’. Aí o
ção alemã e do caráter empreendedor do seu pai na
Elemar Kuhn foi prefeito. Mandato de seis anos, meu
“região”, parte que recebe o título de “O Pioneiro”
compadre” (entrevista com Ruy Nedel). Em Roque
Gonzáles, por sua vez, apoiou a candidatura do seu (NEDEL, 1986) e cuja publicação coincide com a sua
irmão Renato Nedel, que se elegeu prefeito pela pri- candidatura vitoriosa em 1986. A segunda faz parte
meira vez nesse pleito. Além disso, fez uma “dobradi- do seu desligamento do PSDB e das competições
nha” com o ex-prefeito de São Luiz Gonzaga, Jauri de eleitorais e visa uma crítica ao governo de Fernando
Oliveira (que foi filiado ao MDB, PMDB e PSB). Henrique Cardoso (NEDEL, 1997)14.

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“Famílias”, ascensão social e alinhamentos partidários...

Apesar do declarado afastamento da política elei- Ricardo Nedel, foi o primeiro prefeito da localidade
toral participou das campanhas dos seus dois irmãos, em 1992, e, em 2000, o próprio Roque Nedel foi can-
cujos itinerários foram por ele influenciados: René didato a prefeito, sendo derrotado.
Nedel e Renato Nedel.
O primeiro que é advogado formado pela Considerações finais
Universidade Regional Integrada (URI) e técnico
contábil, se elegeu, depois de 1988 (quando conquis- Os resultados apresentados ao longo do texto si-
tou o mandato pela primeira vez e contou, na ges- nalizam para a complexidade das interdependências
tão, com o auxílio decisivo do trabalho do irmão no que se estabelecem entre vínculos primordiais como
Congresso Nacional, como “embaixador da região”, o parentesco e identificações partidárias construídas
como afirmou em entrevista), mais duas vezes pre- e ativadas por membros de “famílias de políticos”.
feito de Cerro Largo, pelo PMDB, em 1996 (quando Observa-se como o ingresso de novos segmentos
derrotou mais uma vez seu irmão Roque Nedel), e em sociais no espaço político (no caso, descendentes de
2000. Para tanto, contou com o prestígio e o auxílio imigrantes) com novos recursos e estratégias de con-
do irmão, com a rede de clientes do seu escritório ju- sagração de agentes e grupos familiares alimentam
rídico-contábil, com as fidelidades conquistadas com um conjunto de sociodicéias, no sentido dado por
os sucessivos mandatos e com o capital de relações e Bourdieu (1994), isto é, de justificação das relações
as amizades que acumulou no plano municipal. de dominação e dos seus fundamentos ou bases so-
O segundo, professor, se elegeu novamente, de- ciais. Do mesmo modo, legitimam os mecanismos
pois de ocupar a prefeitura entre 1983 e 1988, pre- de transmissão familiar na política. Com efeito, as
feito de Roque Gonzáles pelo PSB (partido ao qual transformações na estrutura social não implicam
se filiou pela vinculação estabelecida com Jauri de direta ou necessariamente em desaparecimento ou
Oliveira) em 1996 e concorreu à reeleição em 2000, diminuição da fabricação das chamadas “linhagens”
sem sucesso. ou “dinastias” de políticos. Tampouco, como procura-
A ascensão de Ruy Nedel como uma liderança re- mos demonstrar, se pode afirmar que a persistência e
gional e a afirmação dos seus dois irmãos mais moços a relevância do que se costuma chamar de “heranças
como líderes locais incidiram na perda de influência políticas” sejam sinônimos de fragilidade das referên-
e do potencial eleitoral de Roque Nedel. Após a sua cias partidárias e até mesmo ideológicas.
gestão na prefeitura entre 1977 e 1982, não conseguiu O conjunto de dados sobre alinhamentos, coe-
eleger o seu sucessor (derrotado pelo “compadre” sões, divisões e deslocamentos entre siglas evidencia
de Ruy Nedel) e foi duas vezes derrotado por René que as etiquetas partidárias constituem instrumentos
Nedel (irmão). Sua liderança se reduziu ao distrito de privilegiados nas narrativas que visam fixar a coe-
origem da “família” da sua esposa, onde seu sogro se rência nos trajetos individuais e coletivos e, acima
notabilizou como líder distrital, no qual se concen- de tudo, inscrever as “famílias” na história de “loca-
tram os empreendimentos comerciais da “família” e lidades”, “regiões” e do próprio estado. Sem deixar
que veio a se emancipar, transformando-se no muni- de mencionar, como atestam os casos das “famílias”
cípio de São Pedro do Butiá. O filho de Roque Nedel, Scherer e Nedel, que as dinâmicas de reprodução dos

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grupos familiares obedecem ainda às configurações 7 A política gaúcha é descrita como marcada por uma
“secular bipolarização”. A formação do Partido Trabalhista
de concorrências, alianças, rivalidades, aproximações Brasileiro, sua inserção popular e o potencial de mobilização
do discurso situado “à esquerda” do espectro ideológico
e afastamentos com outros agentes. O que incide em e mais distante do “padrão populista”, encontrado nos
condicionantes mais ou menos favoráveis à fusão ou à outros estados, são fatores sublinhados como definidores
de uma bipolaridade (PTB-anti PTB), na qual o outro pólo
fissão, ao lado de outros elementos como a composi- é composto pelo Partido Social Democrático, o Partido
ção do patrimônio a ser transmitido, o momento em Democrata Cristão, o Partido Libertador. Durante o regime
militar, esta rivalidade se reacomodaria sob as siglas em
que se processa a transmissão e a série de estratégias conflito: MDB (Movimento Democrático Brasileiro) e
Arena (Aliança Renovadora Nacional). A migração “em
matrimoniais, escolares, econômicas e profissionais bloco” dos quadros do PTB para o MDB teria promovido
que pode unir ou distanciar os “herdeiros” ou “suces- uma maior coesão e identidade do partido de oposição
gaúcho em relação às experiências dos demais estados,
sores”, traduzindo-se, inclusive, em opções partidárias ficando para as forças contrárias, a opção de aglutinar-se
no “partido do governo” (TRINDADE e NOLL, 1991). O
discrepantes. que se traduziu, com a redemocratização, na pulverização
dos quadros oriundos do MDB e vinculados a “famílias” ou
lideranças trabalhistas em siglas como PDT, PMDB, PTB e
Notas PT e os ligados à Arena no PDS (depois PPB e PP) ou no
PFL (depois DEM).
1 Para mais detalhes, ver Grill (2003) 8 Para mais detalhes, ver Grill (2003).
2 Para uma análise dos critérios de celebração, as simbologias 9 As “famílias de trabalhistas” no interior desta genealogia
e as mitologias ativadas, que marcam a congruência entre simbólica mereceram tratamento à parte. Ver Grill (2003).
uma estrutura de dominação social e um tipo de heroísmo 10 Sobre a disputa entre os cunhados Heuser e Simon (PTB-
militar, social e político próprio ao “mundo da estância, e MDB-PMDB) e João Goulart e Leonel Brizola (PTB-PDT)
aqueles que enaltecem os novos mediadores e os novos pelo espólio trabalhista, ver Grill (2003).
princípios e critérios de hierarquização social associados ao
pertencimento étnico e religioso nas chamadas “colônias”, 11 O termo facção é utilizado neste artigo no sentido dado por
ver Coradini (1998). Landé (1977), Boissevain (1977) e Mayer (1977), isto é, como
coalizões políticas rivais, instáveis, temporárias, fundadas
3 Uma agenda de estudos sobre “heranças políticas” pode em laços interpessoais e em lideranças personalísticas e
ser encontrada no texto de Patriat (1992) que abre uma cujos seguidores são recrutados com base em retribuições
coletânea com trabalhos sobre o tema. materiais e em códigos morais.
4 Saint-Martin (1993) identificou a importância conferida 12 Outro processo de ruptura em uma facção, igualmente
ao nome e às estratégias, por descendentes da nobreza alimentada pela questão da honra, transformando
francesa, favorecendo a renovação da crença na existência sentimentos e ressentimentos em retóricas da denúncia,
de uma diferença essencial. Pinçon e Pinçon-Charlot (1990) assim como acionando a memória e a continuidade como
demonstraram como as famílias burguesas se apropriaram ingredientes da herança convertida em capital simbólico,
desse modelo aristocrático produzindo publicações de pode ser consultado em Barreira (2006).
consagração das famílias e dos seus nomes com sucesso
econômico visando a aquisição de um certificado de 13 Canêdo (2005, p. 485-486) já alertara para o fato de que
excelência social que somente a posição social de origem “diferentemente do que ocorre com os herdeiros de um
não garantia. Em ambos os casos o nome permite a inscrição capital econômico, a transmissão do capital político não
das famílias na memória local e as vinculam a territórios. está limitada aos herdeiros legítimos ou testamentários; em
Estes últimos fatores também são destacados por autores uma família de políticos, não só os membros dessa família,
que estudam linhagens políticas como Phelippeau (2002), mas o conjunto da parentela (...) herda os bens simbólicos
Offerlé (1995), Bleton-Ruget (1992), Pourcher (1992), Le do defunto. (...) pelo fato de pertencer à família (de sangue
Bart (1992), Laurent (1992), Briquet (1992, 1997), Garraud ou metaforicamente) ”.
(1992), Dourandeu (1992), Abélès (1992) e Canêdo (2011). 14 Para uma análise dos usos da produção escrita em
5 Dois trabalhos efetuados sobre contextos diversos de carreiras políticas e das combinações possíveis entre
luta política no Brasil (disputas políticas em municípios profissionalização política e publicação de livros, ver Grill e
do interior do Ceará e de Minas Gerais) que igualmente Reis (2012).
seguem essas trilhas podem ser consultados em Barreira
(2006) e Canêdo (2005).
6 Para um tratamento mais detalhado deste padrão, ver Reis
(2007)

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“Famílias”, ascensão social e alinhamentos partidários...

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