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Resumo
Este artigo trata da representação política no Senado brasileiro (1986-2018), ao qual indivíduos ascendem a partir
de lutas no campo político, cada um mobilizando os capitais dos quais dispõe. Objetivamos contribuir com uma
discussão teórica sobre familismo-político; desenvolver pesquisa empírica para dimensionar o capital político-
familiar (derivado de capital-político de Bourdieu) presente na luta política para acesso ao Senado em 27 estados;
investigar possíveis padrões e prejuízos à representação democrática. Metodologicamente, recorremos à
prosopografia, pesquisa em trabalhos genealógicos e fontes documentais do Senado, sites dos senadores e da mídia
oficial, CPDOC/FGV e Congresso em Foco, para identificar vínculos político-familiares dos senadores e produzir
uma tabela ilustrativa, fundamental às análises. Descobertas confirmaram a hipótese de que em todos os estados,
o Senado é atravessado por famílias-políticas: quase 2/3 dos 380 cargos disputados no período; e que, destes, 40
foram alcançados por mulheres, sendo apenas 03 negras. Ou seja, majoritariamente representado por homens
brancos, com indícios de que são oriundos de classes dominantes. São resultados indicativos da reprodução das
desigualdades políticas e prejuízos ao recrutamento institucional, à igualdade de disputa, à representação de gênero
e raça; à edificação de uma democracia plural.
Palavras-chave: Democracia e Representação; Senado; Familismo-Político; Nepotismo; Poder Simbólico;
Abstract
This article deals with political representation in the Brazilian Senate (1986-2018), to which
individuals ascend from struggles in the political field, each one mobilizing the capital they
have. We aim to contribute to a theoretical discussion on political familism; develop empirical
research to measure the political-family capital (derived from Bourdieu's political capital)
present in the political struggle for access to the Senate in 27 states; investigate possible
patterns and damage to democratic representation. Methodologically, we used prosopography,
research in genealogical works and documentary sources from the Senate, senators' websites
and the official media, CPDOC/FGV and Congresso em Foco, to identify political-family ties
of the senators and produce an illustrative table, fundamental to the analyses. Findings
confirmed the hypothesis that in all states, the Senate is crossed by political families: almost
2/3 of the 380 positions disputed in the period; and that, of these, 40 were reached by women,
of which only 03 were black. That is, mostly represented by white men, with indications that
they come from the dominant classes. These are indicative results of the reproduction of
political inequalities and damage to institutional recruitment, to equality of dispute, to the
representation of gender and race; to building a plural democracy.
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Doutorando em Ciência Política na Universidade de Brasília; graduado e mestre na mesma área na Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, onde também é licenciado em Sociologia e especialista em Gestão Pública;
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1. Introdução
O objetivo desta pesquisa consiste em: contribuir com uma discussão teórica a respeito
da temática; desenvolver pesquisa empírica para tentar captar e dimensionar um dos capitais
políticos – o capital político-familiar – presente na luta política para o acesso ao Senado nos 26
estados e no Distrito Federal, no período histórico de um pouco mais de três décadas,
compreendido entre 1986 e 2018; buscar, a partir daí, investigar se há algum padrão na
representação dos estados; apontar alguns prejuízos causados à representação e,
consequentemente à própria democracia brasileira.
A hipótese deste artigo é que o Senado é uma instituição atravessada por famílias
políticas, em especial das classes dominantes, predominantemente representadas por homens,
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e que este fenômeno está presente em todas as regiões (CANEDO, 1997; OLIVEIRA, 2018;
MONTEIRO, 2016; CARVALHO, 2018; GOULART, 2018), sendo assim, um emblema que
reflete e colabora para reprodução das desigualdades políticas no Brasil, e causa prejuízos: ao
recrutamento institucional e à igualdade de disputa no Campo Político (BOURDIEU, 1981); à
representação pela concentração em núcleos familiares (OLIVEIRA, 2018; MONTEIRO, 2016;
MIGUEL, 2014); à igualdade de gênero, pela influência do patriarcalismo (BIROLI,
MACHADO, VAGIONE, 2020; FRASER, 2016; OKIN, 2008); à edificação de uma
democracia plural (ALMEIDA, 2012).
O espaço social, para Bourdieu (1981) é constituído por campos; em cada campo há
agentes que lutam, com base em regras, lógica e hábitus: este último, “é a classe incorporada”
(Bourdieu, 2007, p. 410) e funciona como princípio gerador e ordenador de todas as práticas
sociais e culturais existentes. O campo é um construto, que serve como ferramenta para se
estudar a realidade e em todo campo há relação entre dominantes e dominados e nele as
produções simbólicas se reproduzem por meio das estruturas de dominação social.
No campo político, que segundo o mesmo autor, é um universo regido por leis próprias,
os atores dispõem de diferentes e desiguais capitais, em qualidade e quantidade, que implicarão
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em condições diferenciadas nas lutas políticas conforme sejam nela aplicados. Capitais podem
assim, ser analogamente comparados a recursos mobilizados para a luta no campo. Segundo
Miguel (2003):
Tal condição se aplica, especialmente a uma das carreiras mais concorridas na hierarquia
dos cargos da república, notadamente o de senador. À luz da sociologia de Bourdieu e dos seus
conceitos, analisando a política brasileira na contemporaneidade, poderíamos considerar que
cada ator político pode herdar, desenvolver, acumular, utilizar e transferir capitais com os quais
irá lidar no campo das lutas políticas.
Para construir um cenário que favoreça a compreensão e análise dos capitais que podem
estar presentes no jogo político que permeia o Senado brasileiro, esta pesquisa recorre à
inspiração do texto de Miguel (2003) que apresentou, baseado nas categorias de Bourdieu, uma
divisão tríplice de capitais – capital delegado; capital convertido e capital heroico – para propor
formas mais específicas de possíveis fontes de capitais que possam ter sido mobilizadas pelos
atores políticos que alçaram ao posto de senador. Igualmente, em relação a estes
desdobramentos, este artigo adota o espírito da tipologia apresentada por Miguel, Marques e
Machado (2015), em estudo sobre deputados federais eleitos de 2002 a 2010, conforme citado
a seguir.
Embora o foco deste artigo repouse em um dos capitais: capital político-familiar, que
para efeitos deste artigo pode ser sinalizado como (KF), uma pesquisa prévia, porém ainda
insipiente, sobre o perfil dos senadores proporcionou a percepção sobre as seguintes formas de
capital político: capital midiático (KM); capital econômico-financeiro (KE); capital
institucional (KI); capital classista (KC); capital partidário (KP). Neste momento, por não ser o
foco deste trabalho, tais capitais não serão conceituados, mas, aqui são apontados, pois
apresentam o potencial de aprofundar esta e ensejar novas pesquisas, inclusive, retroagindo às
origens do Senado, no Império.
Para uma compreensão da composição das forças políticas que ocuparam o senado ao
longo de três décadas, é importante classificar os atores políticos de acordo com os capitais que
possuem. No entanto, como já dito, o foco principal deste artigo, será a tentativa de dimensionar
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De acordo com Monteiro (2016), o conceito de capital político familiar, fora extraído
do conceito de capital econômico, desenvolvido por Pierre Bourdieu e destaca que o próprio
fato de nascer nestas famílias já se constitui numa vantagem competitiva, que diz respeito a
herança de capitais diversos, cultivados e apropriados pelas mesmas, em um campo político
escasso destes meios. Além disso, “a construção do capital político-familiar se dá por meio da
constituição de distintivos simbólicos que operam no espaço social, tendo como sustentação o
‘nome de família’” (Monteiro, 2016, pág. 78).
O mesmo autor também propõe o conceito, baseado em um perfil temporal – que parece
se encaixar com o mesmo período de análise proposto por essa pesquisa – para identificar o que
ele chama de “novas famílias políticas”:
que é necessário se atentar às fronteiras das famílias, guardando o cuidado para não expandir
demais os vínculos até o período imperial, por exemplo, “para que não se perca de vista o que
se busca, pois não se trata de uma herança genética, mas, do fato de que aquela relação
contribuiu de maneira significativa para a carreira política de pelo menos um dos implicados”
(Miguel, Marques e Machado, 2015, p.728). Feita a observação, esses autores consideram como
regra para identificar famílias políticas:
Neste artigo, será considerada a definição de famílias políticas como sendo aquelas que
contenham a partir de um familiar ou parente de primeiro e segundo grau, que tenha ocupado
no passado ou ocupe no presente cargos políticos eletivos no Estado brasileiro e cargos
comissionados ou de direção partidária, tendo esses espaços sido ocupados em virtude da
relação do parentesco. Poderão ser consideradas também, se for o caso, parentes que disputaram
mandatos “em nome do sobrenome”, mesmo que não tenham sido eleitos, pois, também
sinalizam a mobilização do capital político-familiar.
O termo República, do latim Res Pública, significa “coisa pública ou do povo”. Para
Cícero (2011) “povo” é o conjunto razoável de homens associados entre si por um consenso de
direito baseado em leis, formado a partir de interesses e fins comuns, em detrimento dos
interesses e fins privados, e que reflitam a vontade dessa coletividade de cidadãos.
elites agrárias paulista e mineira, marcando o fim do Império (CARVALHO, 2017; GOMES,
2014; BRAGANÇA, 2018).
Segundo Holanda (1995), o ambiente de contrastes entre a influência das américas e das
culturas ibéricas, entre o privilégio da colonização de exploração – feitorização – em detrimento
da colonização de povoamento, e da prevalência do controle do campo sobre as cidades, mesmo
as estabelecidas no litoral, criou condições para o estabelecimento da família patriarcal. Esta,
foi se consolidando e, junto com ela, o cordialismo, que implica em relações onde os homens
privilegiam entre si os imperativos do coração em detrimento da impessoalidade e das normas
abstratas. Esse contexto, enseja a criação de um permanente ambiente doméstico, prejudicial
ao ambiente da República, que, feita por homens com essa mentalidade, agem no público como
se estivessem no âmbito da vida privada, configurando o patrimonialismo, que por sua vez,
“cria empecilhos para se ter uma ordem social mais impessoal e racional, e, ainda mais sério,
para a constituição da democracia no país”. (RICUPERO, 2011, p. 122).
República que tem por base o Estado Democrático de Direito, o princípio constitucional da
impessoalidade torna-se, na prática, mera formalidade.
Ainda nessa discussão, vale relembrar que outra importante obra do pensamento político
brasileiro, a de Viana (1949), soma-se à ideia de Holanda (1995), no sentido de que compreende
que a família, ao transbordar as barreiras da esfera privada restringiu a construção de um poder
central e forte, perpassando inclusive a própria democracia e a federalização, tornadas, assim,
vulneráveis ao veneno da confusão de interesses públicos com os privados: o patrimonialismo.
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A origem do Senado remonta à Roma Antiga, enquanto organização que surge na monarquia, formada por um
conselho de ex-reis, permanecendo nas fases seguintes da República e Império. Sobre a importância do Senado
para a consolidação da república romana, Maquiavel (2008), não considera um mal as mortes protagonizadas por
Rômulo, de um colega deste, Tito Tácio Sabino nem de Rêmulo, seu próprio irmão, por interpretar que a
consequência foi a consolidação da República e a união das cidades-estado italianas e que aí, inclusive, está
presente a formação do próprio Senado:
“O que demonstra que Rômulo merece ser absolvido da morte de seu irmão e do seu colega, e que agiu não para
satisfazer uma ambição pessoal, mas em prol do bem comum, é o estabelecimento imediato do Senado, cujo
conselho procurou, tomando como guia. [...] foi desnecessário então, alterar o antigo governo; tudo o que fez foi
criar dois cônsules anuais em que estavam mais ajustadas a um governo livre e popular do que a um governo
absoluto e tirano.” (MAQUIAVEL, 2008, p. 50, grifo nosso).
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O Senado constitui-se, assim, num dos palcos das discussões e decisões políticas mais
importantes de uma nação, de uma República. E, quando se pensa em política e democracia, é
necessário considerar a existência de interesses diversos, que devem ser representados pelas
instituições.
No jogo do poder, o que está em jogo é o poder de decidir e o Senado é uma casa de
acesso ao poder decisório que tem a condição de direcionar mudanças estruturantes na
sociedade para confirmar, manter ou alterar as relações de poder na sociedade, bem como as
desigualdades sociais e econômicas e a própria condição de dominância das classes dominantes.
Nesse contexto, alguma relação poderia ser desenvolvida que permitisse estabelecer
uma conexão analítica ente família e Senado no âmbito da República? Sim. E neste contexto, a
categoria central de análise será a família, fio condutor dessa abordagem, pois a família importa
para compreender e explicar o objeto de investigação, que é o Senado: uma instituição dita
republicana, que, na hipótese a ser confirmada ou negada pelas pesquisas, é atravessada por
famílias políticas, em especial as famílias das classes dominantes.
Em sintonia com esse argumento de Willems (1953 apud OLIVEIRA, 2018, p. 34) que
afirma que “não existe nenhuma instituição no Brasil que não seja atravessada por famílias”,
vale destacar algo aparentemente óbvio, mas que faz todo o sentido nesta nossa discussão: todas
as decisões tomadas no âmbito do Senado são decisões tomadas por pessoas físicas e todos eles
são oriundos e interconectados às suas próprias famílias.
A nossa percepção é a de que boa parte dos assentos da Alta Câmara, são ocupados por
famílias3 poderosas, que parecem suceder a si mesmas, como numa monarquia, onde o poder é
transmitido por hereditariedade e consanguinidade. No Senado, segundo Oliveira (2018), com
base em dados do Congresso em Foco em 2017, a taxa de parentesco é maior que a da Câmara:
Portanto, este trabalho concorda com a afirmação de Oliveira (2018) de que a família
importa e explica e que a dimensão familiar é central nos estudos sobre produção, reprodução,
acumulação e transmissão de riquezas, que apontam ao favorecimento de famílias da classe
dominante e à manutenção das desigualdades sociais, econômicas e políticas.
4. Democracia e representação
Porém, o que não consta como experiência grega clássica e aparece como novidade nas
democracias contemporâneas é “o parlamento como colégio de representantes e o processo
eleitoral” (Miguel, 2014, p. 12). Daí a temática da representação política ser pertinente para
estudar a democracia contemporânea no Brasil.
Bobbio (2015), em O futuro da democracia, alerta que uma das promessas não
cumpridas da democracia é a “persistência das oligarquias”, ou seja, a não derrota do poder
oligárquico, ainda presente nas democracias representativas, que pode ser facilmente
simbolizado pela presença das famílias políticas que atravessam as instituições.
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Atentar à frase final do filme “Democracia em vertigem”, que desenvolve uma visão crítica sobre o imbricamento
das famílias mais poderosas do Brasil com Estado: “[...] Somos uma República de famílias” (Democracia em
vertigem. Direção: Petra Costa, Produção: Joanna Natasegara, Tiago Pavan, Shane Boris. Brasíllia (DF): 2019).
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Quando se pensa na questão do familismo político, abordado neste artigo, ao que parece,
pode-se estabelecer conexões claras com os itens apontados acima e questionar: os políticos das
bancadas familiares no Senado representariam a massa de trabalhadores dos seus estados ou os
interesses de suas próprias famílias e dos que, junto a eles, mobilizaram capitais no campo
político e contribuíram para a sua alçada ao parlamento?
Vale lembrar que, antes mesmo da votação, há uma “seleção não natural dos
candidatos”. Primeiro há que se existir pessoas não só motivadas à disputa, mas, possuidoras
de recursos (capitais) para tal feito – como afirma Maquiavel, há os profetas armados e os
desarmados, não bastando assim, apenas a vontade ou o desejo para encarar as lutas políticas,
mas, ter meios e recursos necessários. Posteriormente, tem-se os candidatos a candidatos, que
são escolhidos pelos partidos políticos – em quantidade expressiva, também atravessados por
famílias políticas Oliveira (2012; 2018); e, só depois, os cidadãos entrarão no jogo de cartas
marcadas para fazer uma escolha de segunda mão, pois as opções que poderiam ser disponíveis,
foram limitadas previamente sem a sua influência ou mesmo conhecimento.
Refletindo sobre essas etapas que culminam com o processo eleitoral para escolha de
candidatos e futuros representantes, cabem dois questionamentos em sintonia com as ideias
desenvolvidas acima sobre alguns dos aspectos da representação, notadamente as sub-
representações de negros e mulheres, que implicam consequentemente na fragilização das
instituições tidas por democráticas.
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O segundo, aborda a sub-representação dos cidadãos negros, que são maioria em uma
sociedade de recente passado escravista, que espoliou drasticamente as suas oportunidades de
galgarem postos diversos na sociedade e onde é tão presente o que Almeida (2019) conceitua
como Racismo Estrutural. Para o autor:
da vida política do país? Que nível de acesso podem ter aos partidos políticos – dominados por
brancos – para que, no mínimo possam pleitear serem candidatos a candidatos? Considerados
todas essas “peneiras” ou “filtros”, é fácil crer nas chances reais de haver um expressivo número
de negros eleitos? E o que dizer das chances das mulheres negras?
Esta pesquisa estará delimitada no período que compreende as eleições para o Senado
entre 1986 e 2018, buscando, além da identificação das famílias políticas presentes nestas três
décadas, informações, nesta fase, sobre o gênero, e, posteriormente, sobre raça e formação e
ocupação dos representados – esta última que será muito importante para ajudar a identificar os
outros capitais que compõem os eleitos e eleitas para o senado, além do capital político familiar,
que é o objetivo momentâneo.
elegeram três senadores em 1990, com uma vaga para preencher quatro anos e duas vagas
contabilizando oito anos completos de mandato.
Para efeitos de análise, esta pesquisa considerará os eleitos e as eleitas para o mandato,
não se dedicando neste momento a aprofundamentos em relação a eventuais substituições,
sejam por quais forem os motivos, por parte dos suplentes. Estes, também são fundamentais
para identificar a mobilização de outros capitais políticos, como o econômico – empresários
que pagam a conta da campanha por exemplo – ou o midiático – há os que são donos de veículos
de comunicação, além também dos familiares: há diversos jogos cruzados entre famílias com
as suas respectivas suplências como demonstrado por Carvalho e Monteiro (2021) em um
estudo comparativo sobre a Paraíba e o Rio Grande do Norte.
Para a coleta de dados as fontes utilizadas foram: site oficial do Senado, páginas pessoais
dos políticos analisados, Centro de pesquisa e documentação de história contemporânea do
Brasil – CPDOC, site do Congresso em Foco e de empresas jornalísticas nacionais e trabalhos
publicados referenciados na bibliografia; hemeroteca digital e Family Search foram
eventualmente utilizadas. O trabalho foi feito e minuciosamente checado entre as fontes acima
citadas.
Feitas estas considerações, tem-se no total, a eleição para preenchimento de 380 vagas
para o senado, entre 1986 e 2018. Dessas, conforme Tabela 1, 311, equivalente a 81,84% foram
ocupadas por pessoas únicas, significando que há diversos casos em que determinados
parlamentares foram eleitos mais de uma vez para o mesmo cargo, chegando a ocorrer recordes,
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como no caso da bancada do Rio Grande do Norte, do senador José Agripino Maia (PFL/DEM)
e Edison Lobão no Maranhão, terem sido eleito quatro vezes cada um.
O único estado que elegeu 100% dos parlamentares diferentes para ocupar todas as
vagas nas eleições realizadas, foi o estado de Minas Gerais, ao passo em que os estados do
Maranhão e Alagoas ficaram na pior posição neste quesito, com 57, 14%, ou seja, oito das
quatorze disponíveis. Em Alagoas, Renan Calheiros e Teotônio Vilela se elegeram ambos três
vezes e Fernando Collor duas vezes; e, no Maranhão quatro vezes Edison Lobão, como já dito
e Alexandre Alves Costa, Epitácio Cafeteira e João Alberto de Souza duas vezes cada um.
Analisando a mesma tabela, ainda é possível observar que este fato onde há repetição de
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mandatos pela mesma pessoa, e que ocorre em 26 estados, não necessariamente ocorre
exclusivamente por parte de senadores com vínculos político-familiares. Em caminho contrário,
há dois estados que elegeram 100% de senadores que conservam relações político-familiares:
a Paraíba e o Piauí.
Ao analisar os dados em relação aos cargos preenchidos por eleitos que possuem
vínculos político-familiares nos termos já explicitados, tem-se que, dos 380 disponíveis no
período, 259, ou seja, 68,16%, foram ocupados por famílias-políticas.
Tomando os dados por região geográfica, em primeiro lugar está a Região Nordeste em
número de contribuição de mandatos com vínculos político-familiares, chegando ao total de
cem. Em seguida, estão as regiões: Norte, com sessenta e três; Centro-Oeste, com trinta e sete;
Sudeste, com trinta; e, por último, a Região Sul, com vinte e nove mandatos sob influência do
capital político-familiar.
Apesar de não ser o foco deste trabalho, foi possível identificar também que o
patriarcalismo reina livremente nesta instituição tida por republicana: das 380 vagas, 340, ou
seja, 89,47% representa a expressiva presença masculina nesta Casa. E, para reforçar o conjunto
de desigualdades políticas, há outro dado que ataca mais um aspecto do que deveria ser a
representação política: das 40 mulheres que chegaram a esse posto, 10,53% em percentual,
apenas 03 delas são negras: Marina Silva, no Acre, tendo ocupado o mandato por duas vezes,
Benedita da Silva, no Rio de Janeiro uma vez e, em Rondônia, Fátima Cleide uma vez, sendo
todas elas, na ocasião, filiadas ao Partido dos Trabalhadores.
Há que se destacar ainda que em três estados nunca houve a eleição de uma mulher para
o senado: Amapá, Pernambuco e Piauí; e os estados que mais as elegeram, contribuindo com
três mandatos cada um, foram: Mato Grosso do Sul, sendo três vezes a própria Simone Tebet,
do PMDB e apresentando mobilização de capital político-familiar; Rio Grande do Norte, com
três diferentes, onde Rosalba Ciarline, do DEM, e Zenaide Maia do PROS são respectivamente
membro das longevas e entrelaçadas famílias politicas (Rosado e Maia) e Fátima Bezerra do
PT, professora e sem conexões com famílias políticas. Por fim, Roraima contribuiu com duas
eleições da senadora Marluce Pinto do PTB e uma de Angela Portela do PT, ambas com
ligações político-familiares e Sergipe, com três eleições da mesma pessoa, também de família
política, Maria do Carmo Alves, do DEM.
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Considerando os dados por região, o Nordeste elegeu mais mulheres por mandato,
chegando a doze, seguido das regiões: Norte, com onze; Centro-Oeste, com oito; Sudeste com
cinco; e, por último, a região Sul, elegendo apenas quatro mulheres.
7. Considerações finais
Resgatando o objetivo inicial desta pesquisa, acredita-se que este texto colaborou com
uma discussão teórica a respeito da problemática que envolve as relações entre família e
política.
Porém, com muita precisão, é possível confirmar outra hipótese: uma maioria
expressiva de homens brancos preencheu todas as legislaturas do Senado brasileiro entre as
eleições de 1986 e 2018 e esse fato colabora sensivelmente para reprodução das desigualdades
políticas no Brasil. Como é possível pensar em República sem representação de negros e
mulheres que são a maioria da população, de índios que são os povos originários da nação e de
cidadãos de origem popular que representam a grande maioria da população brasileira? São
fatores que colaboram para o enfraquecimento da democracia.
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Por fim, a pesquisa apontou que quase dois terços dos cargos de senador da República
Federativa do Brasil foram ocupados por parlamentares que mobilizaram pelo menos o capital
político-familiar. Portanto, sim, família importa e explica a dinâmica do jogo político rumo às
instituições. Mas, é preciso entender que há também outros importantes capitais que são
mobilizados, às vezes exclusivamente, às vezes complementando-se uns com os outros, como
o midiático, econômico-financeiro, classista, partidário, religioso e militar, dentre outros. Sendo
assim, para tentar conhecer a dimensão e compreender a composição dos outros capitais que
compõem as lutas no campo político rumo ao Senado brasileiro, sugerimos que novas agendas
de pesquisa sejam desenvolvidas.
Bibliografia
CARVALHO, J.M. O pecado original da República. 1ª ed. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo,
2017.
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FAORO, R. Os donos do poder: Formação do patronato político brasileiro. 1ª ed. São Paulo:
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FREYRE, G. Casa grande & senzala: Formação da família brasileira sob o regime da
economia patriarcal. 5ª ed. São Paulo: Global, 2006.
FRASER, Nancy. “Contradições entre capital e cuidado.” Princípios, Revista de filosofia,
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_____ . Família importa e explica: Instituições políticas e parentesco no Brasil. 1ª ed. São
Paulo: LibertArs, 2018.