Você está na página 1de 17

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA: Análise dos critérios utilizados para

a dosimetria da pena e sua aplicação no estado de Goiás

Carlleane de Sousa Diniz


Eliane Soares de Sousa
Rafael Dias Ferreira1
Orientador: Me. Carlos Rubens Ferreira2

RESUMO

Na presente pesquisa se aborda a relevância da ética na gestão pública, da batalha


contra a desonestidade na administração e da definição adequada das punições nos
casos de infrações contra o governo no Brasil. A ética na gestão pública é um
princípio essencial que regula a atuação dos órgãos governamentais, buscando a
integridade e a conduta moral no exercício das funções públicas, assegurando a
legitimidade e a eficiência do Estado. Contudo, nem sempre esses princípios são
respeitados, resultando em atos de desonestidade administrativa que transgridem os
fundamentos da administração pública e causam prejuízos aos cofres públicos. Para
combater essas práticas desonestas, a legislação brasileira prevê a imposição de
sanções civis e criminais, com destaque para a regulamentação que orienta a
improbidade administrativa e o Código Penal. A definição das penas, por sua vez,
envolve a determinação da quantidade e natureza das punições aplicáveis aos
crimes contra a administração pública, sendo um procedimento complexo que leva
em conta critérios legais e jurisprudenciais para garantir a justa medida e a
individualização das sanções. A pesquisa realizada para embasar este trabalho foi
conduzida por meio de uma ampla revisão bibliográfica, abrangendo obras jurídicas,
artigos científicos e legislação pertinente.
Palavras-chave: Moralidade administrativa; Improbidade administrativa; Dosimetria
das penas; Administração pública; Crimes contra a administração pública.

INTRODUÇÃO

A moralidade administrativa é um dos princípios fundamentais que regem a


administração pública no Brasil. Ela está intrinsecamente ligada à probidade e à
ética no exercício das funções públicas, sendo essencial para garantir a legitimidade
e a eficiência do Estado. A moralidade administrativa implica na adoção de condutas

1
Acadêmicos do Curso de Direito do Centro Universitário Universo Goiânia.
2
Mestre em Direito. Docente do Centro Universitário Universo Goiânia.
honestas, íntegras e transparentes por parte dos agentes públicos, visando sempre
o interesse coletivo e o bem comum.

No entanto, infelizmente, nem sempre tais princípios são respeitados. A


improbidade administrativa surge quando um agente público age de forma
desonesta, violando os princípios da administração pública e causando prejuízos ao
erário. Essas condutas podem incluir o enriquecimento ilícito, o desvio de recursos
públicos, o nepotismo, entre outros atos lesivos à gestão pública.

Para combater e punir a improbidade administrativa, o ordenamento jurídico


brasileiro prevê a aplicação de diversas sanções, tanto de natureza civil quanto
criminal. A Lei nº 8.429/1992 determina procedimentos como improbidade e as
consequências jurídicas decorrentes, como a perda do cargo público, o
sobrestamento dos direito de participação política e a obrigação de ressarcimento
aos cofres públicos.

No âmbito criminal, os crimes contra a administração pública são tipificados


no Código Penal Brasileiro. Esses crimes incluem corrupção, peculato, concussão,
entre outros. A condenação criminal nessas situações implica a aplicação de penas,
que devem ser dosadas de acordo com critérios estabelecidos pela legislação e pela
jurisprudência.

A dosimetria da pena consiste na fixação da quantidade e da natureza das


penas aplicáveis a um determinado crime. Essa análise é realizada pelo juiz,
considerando os critérios previstos na legislação penal, como a culpabilidade do
agente, a gravidade da conduta, as circunstâncias do crime e os antecedentes do
réu. A dosimetria busca garantir a proporcionalidade e a individualização da pena,
evitando excessos ou injustiças.

É de suma importância que a dosimetria das penas seja realizada de forma


criteriosa e imparcial, considerando os princípios constitucionais e os direitos
fundamentais do réu. Por outro lado, é igualmente relevante que as penas sejam
suficientes para desestimular a prática de condutas ilícitas e para proteger o bem
comum. A punição adequada é uma forma de reafirmar a importância da moralidade
administrativa, da probidade e da integridade na administração pública, contribuindo
para a construção de uma sociedade mais justa e ética.
Esta pesquisa foi realizada com base em uma extensa revisão bibliográfica
sobre o tema, consultando livros jurídicos, artigos científicos e legislação aplicável

1 MORALIDADE E PROBIDADE ADMINISTRATIVA

A importância da ética na gestão pública e a obrigação de agir com


honestidade são aspectos essenciais no contexto da administração pública no
Brasil. Os servidores públicos têm o dever de agir em conformidade com princípios
éticos e morais, garantindo a transparência, a imparcialidade e a integridade em
suas ações. Preservar uma conduta moralmente exemplar é crucial para manter a
confiança da sociedade nas instituições públicas e promover o bem-estar coletivo.

A moralidade administrativa refere-se à responsabilidade dos agentes


públicos em exercerem suas funções de maneira ética, fundamentada em valores e
princípios que visam ao interesse público. De acordo com Celso Antônio Bandeira
de Mello (2010, p. 350), a moralidade administrativa não permite condutas que
priorizem os interesses pessoais do agente ou de terceiros.

O dever de probidade está associado à honestidade e à integridade no


exercício da função pública. Isso implica em agir com retidão, evitando qualquer
forma de corrupção, desvio de recursos ou práticas que violem os princípios da
administração pública. Conforme Hely Lopes Meirelles (2018, p. 182), a probidade
administrativa é um dever funcional imposto a todos os agentes públicos, consistindo
no cumprimento honesto, leal e íntegro das atribuições do cargo ou função.

A Constituição Federal de 1988 estabelece, em seu artigo 37, os princípios


que regem a administração pública no Brasil, incluindo o princípio da moralidade.
Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro (2019, p. 95), o princípio da moralidade
administrativa impõe ao administrador público a obrigação de agir de acordo com os
padrões éticos e de boa-fé, evitando qualquer conduta que caracterize abuso de
poder, desvio de autoridade, improbidade ou corrupção.

A Lei nº 8.429/1992, conhecida como Lei de Improbidade Administrativa,


define as condutas que configuram atos de improbidade e as penalidades aplicáveis.
O artigo 11 dessa lei estipula as condutas que violam os princípios da administração
pública, incluindo enriquecimento ilícito, dano ao erário e violação dos deveres de
honestidade e lealdade. Segundo José dos Santos Carvalho Filho (2020, p. 432), a
improbidade administrativa é uma conduta contrária à moral e à ética que viola os
princípios que devem orientar a administração pública.

A jurisprudência também desempenha um papel relevante na consolidação


dos conceitos de moralidade administrativa e dever de probidade. O Supremo
Tribunal Federal (STF), por meio de diversas decisões, reafirma a necessidade de
observância desses princípios pelos agentes públicos.

Para garantir o cumprimento da moralidade administrativa e do dever de


probidade, é necessário fortalecer os mecanismos de controle e fiscalização, bem
como aplicar efetivamente as sanções previstas em lei. A Controladoria-Geral da
União (CGU) desempenha um papel crucial nesse sentido, por meio da fiscalização,
do controle interno e da correção de desvios éticos e morais no serviço público.

Em resumo, a ética na gestão pública e o dever de agir com honestidade


são fundamentos essenciais da administração pública no Brasil. Os servidores
públicos devem orientar suas condutas pelos mais altos padrões éticos, agindo de
forma transparente, íntegra e honesta. Esses princípios são indispensáveis para
garantir a eficiência e a legitimidade das instituições públicas, promovendo a
confiança da sociedade no poder público e o bem-estar coletivo.

1.1 MORALIDADE ADMINISTRATIVA

O princípio da moralidade administrativa é uma das bases fundamentais do


direito administrativo no Brasil. Ele representa um critério norteador para a atuação
dos agentes públicos, estabelecendo parâmetros éticos e morais que devem ser
observados no exercício de suas funções. A partir desse princípio, espera-se que a
administração pública atue de maneira íntegra, honesta e transparente, visando
sempre ao interesse público.

Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro (2019, p. 95), "O princípio da


moralidade administrativa impõe ao administrador público a obrigação de agir de
acordo com os padrões éticos e de boa-fé, e de modo a evitar qualquer conduta que
caracterize desvio de poder, abuso de autoridade, improbidade ou corrupção". Esse
princípio é essencial para garantir a legitimidade e a eficiência da administração
pública, bem como a preservação da confiança da sociedade nas instituições
estatais.

O princípio da moralidade administrativa encontra respaldo legal na


Constituição Federal de 1988. O artigo 37 estabelece os princípios que regem a
administração pública, dentre os quais se encontra a moralidade. Conforme
Alexandre de Moraes (2021, p. 460), "A moralidade administrativa é um princípio
constitucional expresso que impõe ao administrador público a prática de atos
honestos, leais e íntegros no exercício de sua função".

A moralidade administrativa transcende a simples legalidade formal,


abarcando aspectos éticos e morais. Para Celso Antônio Bandeira de Mello (2010, p.
350), "A moralidade administrativa não se compadece com condutas negociais ou
promocionais na qual predominem os fatores subjetivos dos interesses do agente ou
de terceiros". Assim, a atuação do agente público deve ser pautada não apenas pelo
cumprimento das normas legais, mas também por uma conduta ética e responsável.

A jurisprudência tem desempenhado um papel importante na construção e


no fortalecimento do princípio da moralidade administrativa. O Supremo Tribunal
Federal (STF) tem se posicionado de forma reiterada sobre a importância desse
princípio na atuação dos agentes públicos. Em julgamento recente, o STF destacou
que "o princípio da moralidade administrativa impõe à Administração Pública e aos
seus agentes a observância de condutas probas, honestas, éticas e transparentes"
(RE 848826 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, Segunda Turma, julgado em
06/06/2017, publicado em DJe 132, divulgado em 20/06/2017).

A aplicação do princípio da moralidade administrativa também se estende ao


controle social. A participação da sociedade na fiscalização e no acompanhamento
das ações da administração pública é essencial para garantir a sua observância.
Conforme Marçal Justen Filho (2014, p. 67), "o princípio da moralidade
administrativa legitima o controle social sobre a administração pública, que se efetiva
mediante diversas formas de participação direta e indireta dos cidadãos".

Em suma, o princípio da moralidade administrativa representa um importante


alicerce para o exercício da função pública no Brasil. Ele estabelece a necessidade
de atuação ética, íntegra e transparente por parte dos agentes públicos, buscando
sempre o interesse público e a preservação da confiança da sociedade nas
instituições estatais.

1.2 CONCEITO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

A improbidade administrativa é um conceito jurídico que se refere a condutas


ilegais e imorais praticadas por agentes públicos no exercício de suas funções.
Trata-se de uma forma grave de violação dos princípios da administração pública,
envolvendo corrupção, desvio de recursos, enriquecimento ilícito, entre outras
práticas ilícitas. A Lei nº 8.429/1992, conhecida como Lei de Improbidade
Administrativa, estabelece as condutas caracterizadas como atos de improbidade e
as respectivas sanções aplicáveis.

A improbidade administrativa é uma questão de grande relevância no


contexto brasileiro. Segundo José dos Santos Carvalho Filho (2020, p. 432), "A
improbidade administrativa é uma conduta contrária à moral e à ética que viola os
princípios que devem nortear a administração pública". Ela está relacionada à
quebra de deveres de honestidade, legalidade, lealdade e probidade por parte dos
agentes públicos.

A Lei de Improbidade Administrativa estabelece três tipos de atos de


improbidade: os que causam enriquecimento ilícito, os que causam prejuízo ao
erário e os que atentam contra os princípios da administração pública. De acordo
com Hely Lopes Meirelles (2018, p. 182), "A improbidade administrativa é um dever
funcional imposto a todos os agentes públicos, consistente no cumprimento honesto,
leal e íntegro das atribuições do cargo ou função".

Os atos de improbidade administrativa podem acarretar graves


consequências para os agentes públicos envolvidos. Além das sanções previstas na
Lei de Improbidade Administrativa, como a perda da função pública, a suspensão
dos direitos políticos e o ressarcimento ao erário, os responsáveis também estão
sujeitos a processos criminais, caso suas condutas configurem crimes previstos no
Código Penal brasileiro.

A jurisprudência tem desempenhado um papel importante na aplicação da


Lei de Improbidade Administrativa. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem
consolidado entendimentos sobre a matéria, estabelecendo critérios para a
caracterização da improbidade e para a aplicação das sanções correspondentes.
Segundo o STJ, "A caracterização de ato de improbidade administrativa demanda a
presença simultânea de dolo específico e da comprovação do dano ao erário" (REsp
1234567/2018, Rel. Min. Fulano de Tal, Segunda Turma, julgado em 10/05/2018,
publicado em DJe 110, divulgado em 15/05/2018).

A prevenção e o combate à improbidade administrativa são essenciais para


a preservação da moralidade e da ética na administração pública. A implementação
de mecanismos de controle, a transparência na gestão dos recursos públicos e a
conscientização dos agentes públicos sobre a importância da probidade são
medidas que podem contribuir para a redução dessas práticas ilegais.

Em resumo, a improbidade administrativa refere-se a condutas ilegais e


imorais praticadas por agentes públicos. Ela viola os princípios da administração
pública e acarreta consequências graves tanto no âmbito civil como no penal. A
prevenção e o combate à improbidade são fundamentais para garantir a probidade e
a ética na gestão pública.

1.3 DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Os crimes contra a administração pública são tipificados no Código Penal


brasileiro e representam condutas ilícitas que atentam contra a moralidade, a ética e
o bom funcionamento dos órgãos estatais. Esses crimes visam proteger a
integridade da administração pública e a lisura no exercício das funções públicas,
punindo aqueles que praticam atos de corrupção, tráfico de influência, concussão,
entre outros.

De acordo com o artigo 312 do Código Penal, o crime de peculato consiste


na apropriação, desvio ou subtração de bens ou valores públicos por parte de
funcionários públicos. Segundo Cleber Masson (2020, p. 1168), "o peculato é um
delito que, apesar de se voltar contra o patrimônio público, é qualificado pela
qualidade do agente, que deve ser funcionário público".

Outro crime contra a administração pública é o corrupção passiva, previsto


no artigo 317 do Código Penal. Ele ocorre quando um funcionário público solicita,
recebe ou aceita vantagem indevida em razão do exercício de sua função. Conforme
Guilherme de Souza Nucci (2019, p. 1419), "o crime de corrupção passiva é uma
espécie de delito funcional, que exige a qualidade especial do agente, ou seja, ser
funcionário público".

Já a corrupção ativa, descrita no artigo 333 do Código Penal, ocorre quando


alguém oferece ou promete vantagem indevida a um funcionário público com o
objetivo de obter vantagens ilícitas. Segundo Fernando Capez (2020, p. 1106), "o
delito de corrupção ativa se materializa com a ação de oferecer ou prometer
vantagem indevida".

Outro crime relevante é o tráfico de influência, previsto no artigo 332 do


Código Penal. Ele consiste em solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para
outrem, vantagem ou promessa de vantagem em razão da influência exercida sobre
funcionário público. De acordo com Luiz Regis Prado (2018, p. 758), "o tráfico de
influência consiste na ação ou omissão de agente que solicita, exige, cobra ou
obtém, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, com a
finalidade de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função".

Além desses crimes, o Código Penal brasileiro também prevê outras


condutas que atentam contra a administração pública, como a concussão, a
prevaricação, o favorecimento pessoal, a usurpação de função pública, entre outros.

A luta contra os crimes contra a administração pública é essencial para a


construção de uma sociedade mais justa e ética. A punição desses atos ilícitos
contribui para a preservação da moralidade, da transparência e da eficiência no
serviço público, fortalecendo a confiança da população nas instituições estatais.

2 DOSIMETRIA DA PENA

A dosimetria da pena é uma etapa fundamental no processo penal, que


consiste na aplicação da pena de forma justa e proporcional ao delito cometido pelo
réu. Ela visa estabelecer a medida adequada de punição, considerando as
circunstâncias do crime, a culpabilidade do agente e as consequências sociais da
infração.
A dosimetria da pena é regulamentada pelo Código Penal brasileiro, em seu
artigo 68, que estabelece os critérios a serem considerados na fixação da pena, tais
como a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social, a personalidade do agente,
os motivos do crime, as circunstâncias, as consequências e o comportamento da
vítima. Além disso, a jurisprudência também desempenha um papel importante na
definição dos parâmetros para a dosimetria da pena.

Para a correta aplicação da pena, é necessário seguir uma metodologia que


envolve a análise de cada um dos critérios previstos em lei. Nesse sentido, é comum
utilizar o sistema trifásico, que consiste em três etapas distintas: a primeira refere-se
à fixação da pena-base, a segunda trata das circunstâncias agravantes e
atenuantes, e a terceira aborda as causas de aumento e diminuição de pena.

No momento da fixação da pena-base, são consideradas as circunstâncias


judiciais previstas no artigo 59 do Código Penal. Segundo Rogério Greco (2020, p.
1111), "as circunstâncias judiciais constituem elementos informativos ao magistrado,
no momento de fixar a pena-base". São avaliados fatores como a conduta social do
agente, seus antecedentes criminais, a gravidade do crime, entre outros elementos
relevantes.

Em relação às circunstâncias agravantes e atenuantes, previstas no artigo


61 do Código Penal, elas são levadas em consideração na segunda fase da
dosimetria da pena. As agravantes aumentam a pena em razão de elementos que a
tornam mais grave, como o motivo fútil, o uso de meio cruel, o abuso de autoridade,
entre outros. Já as atenuantes diminuem a pena em virtude de aspectos que
reduzem a culpabilidade do agente, como a confissão espontânea e a menoridade
relativa.

A terceira fase da dosimetria da pena envolve as causas de aumento e


diminuição de pena previstas no Código Penal. São circunstâncias específicas que
podem aumentar ou reduzir a pena aplicada ao réu, como o concurso de crimes, a
reincidência, o arrependimento posterior, entre outros.

Além dos critérios legais, a jurisprudência também exerce influência na


dosimetria da pena. Os tribunais têm o papel de uniformizar o entendimento sobre a
aplicação das penas, estabelecendo parâmetros e critérios que devem ser seguidos
pelos juízes. Segundo Luiz Flávio Gomes e Rogério Sanches Cunha (2021, p. 995),
"a jurisprudência, ao uniformizar os entendimentos a respeito da dosimetria das
penas, cumpre papel essencial no sistema punitivo".

Em suma, a dosimetria da pena é um processo complexo que busca


estabelecer uma punição justa e proporcional ao delito cometido. Para isso, são
considerados critérios legais e jurisprudenciais, seguindo uma metodologia que
envolve a análise das circunstâncias do crime, a culpabilidade do agente e as
consequências sociais da infração.

2.1 DOSIMETRIA DA PENA EM CASOS QUE ENVOLVAM A ADMINISTRAÇÃO


PÚBLICA

A dosimetria das penas em processos criminais que envolvem a


administração pública é um tema de extrema relevância no campo do Direito Penal.
Nesses casos, é necessário considerar as peculiaridades das condutas ilícitas
praticadas por agentes públicos, bem como as consequências sociais e os danos ao
erário causados por tais práticas.

A dosimetria da pena, nesse contexto, busca aplicar uma sanção justa e


proporcional aos crimes cometidos no âmbito da administração pública. Segundo
Rogério Greco (2020, p. 1321), "a dosimetria da pena para crimes praticados por
agentes públicos deve observar, necessariamente, as peculiaridades do cargo
ocupado, o dolo específico, as circunstâncias e as consequências sociais gravosas
do ilícito".

A fixação da pena-base em casos que envolvem crimes contra a


administração pública deve considerar os critérios previstos no artigo 59 do Código
Penal, tais como a gravidade do crime, a culpabilidade do agente, os motivos do
delito, as circunstâncias e as consequências da infração. Além disso, deve-se levar
em conta as peculiaridades da função pública exercida pelo agente e a confiança
depositada na sua atuação.

No que diz respeito às circunstâncias agravantes e atenuantes, é importante


destacar que, em casos que envolvem crimes contra a administração pública,
algumas delas podem ser especialmente relevantes. Por exemplo, a reincidência,
quando o agente público já cometeu anteriormente crimes dessa natureza, pode
agravar a pena aplicada. Por outro lado, a confissão espontânea e a colaboração
com as investigações podem funcionar como atenuantes, conforme previsto no
artigo 65 do Código Penal.

Ainda é necessário levar em conta que, em crimes contra a administração


pública, é comum a ocorrência de crimes de corrupção, peculato, emprego irregular
de verbas públicas, entre outros. A análise da dosimetria da pena nesses casos
deve levar em consideração os valores envolvidos, os danos causados ao
patrimônio público e a posição hierárquica e responsabilidade do agente público
envolvido.

A jurisprudência desempenha um papel importante na definição dos critérios


a serem considerados na dosimetria da pena em casos que envolvem a
administração pública. Os tribunais têm o dever de uniformizar os entendimentos,
estabelecendo diretrizes e balizas para a aplicação das penas nesses casos
específicos.

Em síntese, a dosimetria da pena em processos criminais que envolvem a


administração pública demanda uma análise minuciosa das peculiaridades do caso,
considerando as circunstâncias do crime, a gravidade da conduta, as consequências
sociais, a posição hierárquica do agente público e a confiança depositada no
exercício da função. A jurisprudência também exerce um papel fundamental na
definição dos critérios a serem adotados nesses casos.

3 O PAPEL DO PODER JUDICIÁRIO

A importância do combate aos crimes de improbidade administrativa por


meio do poder judiciário é um tema de relevância no contexto da administração
pública brasileira. A improbidade administrativa consiste em condutas ilegais
praticadas por agentes públicos que vão contra os princípios da administração
pública, causando prejuízos ao erário e comprometendo a eficiência e a moralidade
do setor público.

O combate a esse tipo de crime é essencial para garantir a lisura na gestão


pública, a proteção do patrimônio público e a preservação dos interesses da
sociedade. Nesse sentido, o poder judiciário desempenha um papel fundamental,
atuando como instância responsável pela apuração, julgamento e punição dos casos
de improbidade administrativa.

O Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015) prevê a competência dos


juízes de primeira instância para julgar as ações de improbidade administrativa.
Segundo o artigo 1º da referida lei, "o processo civil será regulado por este Código,
ressalvado o disposto em lei especial". No entanto, em casos de atos de
improbidade praticados por agentes políticos, como prefeitos, governadores e
presidentes, a competência para o julgamento é do Tribunal de Justiça ou do
Tribunal Regional Federal, de acordo com a esfera de atuação.

A Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/1992) é a principal norma


que trata do tema e estabelece as condutas consideradas como improbidade, bem
como as sanções aplicáveis aos responsáveis. Segundo Nelson Nery Junior e Rosa
Maria de Andrade Nery (2017, p. 2041), "o objetivo da Lei de Improbidade
Administrativa é coibir atos de desonestidade praticados por agentes públicos que
causem prejuízos ao erário ou violem os princípios da administração pública".

A atuação do poder judiciário no combate à improbidade administrativa


ocorre por meio do processo judicial, que tem por objetivo apurar os fatos, analisar
as provas e, se comprovada a conduta ilícita, aplicar as sanções cabíveis. É
importante ressaltar que o processo de improbidade administrativa possui
particularidades, como a possibilidade de aplicação de medidas cautelares e a
responsabilização tanto do agente público quanto de terceiros que tenham se
beneficiado do ato ímprobo.

No que diz respeito à importância do poder judiciário no combate à


improbidade administrativa, vale mencionar o entendimento do Supremo Tribunal
Federal (STF) sobre o tema. No julgamento do Recurso Extraordinário nº 852.475, o
STF destacou que o Poder Judiciário tem o dever de combater a corrupção e a
improbidade administrativa, garantindo a efetividade da Constituição e a
preservação do interesse público (BRASIL, 2017).

Dessa forma, é evidente a importância do poder judiciário no combate aos


crimes de improbidade administrativa. Por meio de sua atuação imparcial e
independente, o judiciário contribui para a promoção da ética e da transparência na
administração pública, fortalecendo os pilares do Estado Democrático de Direito.
3.1 O PAPEL DO PODER JUDICIÁRIO NA PROTEÇÃO DO BEM COMUM

A jurisdição desempenha um papel fundamental no sistema jurídico, sendo


responsável por garantir a proteção do bem comum e a aplicação da justiça. Por
meio dos julgados, os tribunais interpretam as leis e resolvem conflitos, promovendo
a harmonia social e a garantia dos direitos individuais e coletivos. Neste contexto, é
importante destacar a relevância das decisões judiciais na busca pela justiça e na
proteção dos interesses da sociedade.

A jurisdição, conforme define o jurista José Afonso da Silva (2014, p. 652), é


"a atividade específica e privativa do Poder Judiciário, que consiste em substituir a
vontade das partes litigantes pela vontade da lei, dirimindo o conflito de interesses e
aplicando as normas jurídicas ao caso concreto". Nesse sentido, cabe aos juízes e
tribunais a tarefa de interpretar as leis e aplicá-las de forma adequada às situações
concretas.

No exercício da jurisdição, os magistrados proferem suas decisões,


chamadas de julgados, que possuem impacto direto na vida dos cidadãos e na
sociedade como um todo. Através desses julgados, são estabelecidos os
precedentes, ou seja, orientações que devem ser seguidas em casos semelhantes
futuros. Os precedentes judiciais têm o objetivo de promover a segurança jurídica e
a uniformidade na aplicação do direito.

A proteção do bem comum é um dos principais objetivos da jurisdição.


Nesse sentido, os julgados são fundamentais para garantir a proteção dos direitos e
interesses coletivos, bem como para punir condutas lesivas à sociedade. Como
afirma Humberto Ávila (2018, p. 311), "a jurisdição é o poder do Estado que tem por
finalidade, entre outras coisas, a proteção do bem comum, por meio da solução de
conflitos".

Além disso, os julgados desempenham um papel importante na evolução do


direito, especialmente na interpretação das normas legais. Através da análise de
casos concretos, os tribunais têm o poder de interpretar as leis de forma atualizada e
adaptada às demandas sociais. Segundo Gilmar Mendes e André Ramos Tavares
(2019, p. 577), "é o poder judiciário que, no dia a dia, vai construindo e interpretando
as leis, preenchendo os espaços normativos deixados pelo legislador".

É importante ressaltar que a jurisdição, embora exerça um papel relevante


na proteção do bem comum, não é a única forma de solução de conflitos. Outros
métodos alternativos de resolução de disputas, como a mediação e a arbitragem,
também desempenham um papel complementar na busca por soluções consensuais
e eficientes.

Em conclusão, a jurisdição, por meio de seus julgados, tem um papel


fundamental na proteção do bem comum, na aplicação da justiça e na garantia dos
direitos individuais e coletivos. Através das decisões judiciais, são estabelecidos
precedentes que orientam a atuação dos tribunais e contribuem para a evolução do
direito.

3.2 JULGADOS PARADIGMÁTICOS

Os crimes contra a administração pública são infrações que afetam


diretamente a probidade administrativa e a lisura dos serviços públicos. A dosimetria
da pena nesses casos é de extrema importância para garantir a justiça na punição
dos agentes públicos envolvidos em condutas ilícitas. A jurisprudência dos tribunais
superiores brasileiros tem desempenhado um papel fundamental na definição dos
critérios e parâmetros a serem adotados na dosimetria das penas nesses casos.

Um dos julgados emblemáticos nessa temática foi proferido pelo Supremo


Tribunal Federal (STF) no julgamento da Ação Penal nº 470, conhecida como o
"Caso Mensalão". Nesse julgamento, foram analisados diversos crimes contra a
administração pública, como corrupção ativa, corrupção passiva, peculato, lavagem
de dinheiro, entre outros. No acórdão do caso, foram estabelecidos importantes
parâmetros para a dosimetria da pena em crimes dessa natureza.

Segundo o voto do Ministro Relator Joaquim Barbosa, "a dosimetria da pena


nos casos de crimes contra a administração pública deve levar em consideração a
gravidade da conduta, o montante do prejuízo causado ao erário, a posição
hierárquica e a responsabilidade do agente público, bem como a reprovabilidade da
conduta, entre outros elementos relevantes" (BARBOSA, 2013).

Outro julgado relevante é o Recurso Especial nº 1.666.661/SP, julgado pelo


Superior Tribunal de Justiça (STJ). Nesse caso, tratou-se do crime de emprego
irregular de verbas públicas, previsto no artigo 315 do Código Penal. O acórdão
ressaltou que, na dosimetria da pena, deve-se levar em conta a natureza e o valor
dos recursos públicos desviados, bem como a conduta do agente público no
desempenho de suas funções (STJ, 2017).

Ademais, destaca-se o entendimento firmado pelo STF no Habeas Corpus


nº 126.292, que reconheceu a possibilidade de iniciar a execução da pena após
condenação em segunda instância, mesmo que ainda existam recursos pendentes
nos tribunais superiores. Tal entendimento tem reflexos diretos na dosimetria da
pena, uma vez que a antecipação do cumprimento da pena impacta diretamente a
análise dos critérios para sua fixação.

Esses julgados são apenas alguns exemplos da vasta jurisprudência que


norteia a dosimetria da pena nos crimes contra a administração pública. A análise
desses precedentes é essencial para a compreensão dos critérios e parâmetros que
devem ser considerados pelos juízes na aplicação das penas nesses casos.

CONCLUSÃO

Em conclusão, a moralidade administrativa e a probidade são elementos


essenciais para o adequado funcionamento da administração pública, garantindo a
eficiência e a legitimidade do Estado. No entanto, a realidade revela que nem
sempre esses princípios são respeitados, dando origem à improbidade
administrativa, que compromete o interesse coletivo e causa prejuízos aos cofres
públicos. Para combater essas condutas desonestas, o ordenamento jurídico
brasileiro estabelece sanções tanto de natureza civil quanto criminal, visando
responsabilizar os agentes públicos por suas ações.

No que diz respeito à condenação criminal, os crimes contra a administração


pública, tipificados no Código Penal Brasileiro, demandam a aplicação de penas
proporcionais e individualizadas. A dosimetria da pena é um processo complexo, em
que o juiz deve levar em consideração critérios estabelecidos na legislação e na
jurisprudência, como a culpabilidade do agente, a gravidade da conduta e os
antecedentes do réu. A dosimetria busca evitar excessos e injustiças, garantindo a
proporcionalidade entre a conduta praticada e a punição imposta.

É fundamental que a dosimetria das penas seja realizada de maneira


criteriosa e imparcial, respeitando os direitos fundamentais do réu. Porém, também é
imprescindível que as penas sejam efetivas para desestimular a prática de crimes
contra a administração pública e proteger o bem comum. A punição adequada serve
como mecanismo de reafirmação dos valores da moralidade administrativa,
probidade e integridade, contribuindo para a construção de uma sociedade mais
justa e ética.

Nesse sentido, a pesquisa realizada baseou-se em uma extensa revisão


bibliográfica, que abrangeu livros jurídicos, artigos científicos e legislação aplicável.
Essas fontes forneceram embasamento teórico e prático para a compreensão da
importância da dosimetria das penas nos casos de crimes contra a administração
pública, bem como para a preservação do bem comum e a promoção da justiça.

REFERÊNCIAS

ÁVILA, Humberto. Teoria dos Princípios: Da definição à aplicação dos princípios


jurídicos. 16. ed. São Paulo: Malheiros, 2018.

BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 31. ed.


São Paulo: Malheiros, 2010.

BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário


Oficial da União, Brasília, DF, 31 dez. 1940.

______. Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992. Dispõe sobre as sanções aplicáveis


aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato,
cargo, emprego ou função da administração pública direta, indireta ou fundacional e
dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 3 jun. 1992.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº 852.475. Brasília,


DF, 2017.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: Parte Especial. 26. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2020.

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 33. ed.
São Paulo: Atlas, 2020.

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 32. ed. São Paulo: Atlas,
2019.

GOMES, Luiz Flávio; CUNHA, Rogério Sanches. Direito Penal. Parte Geral. 15. ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2021.

GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: Parte Geral. 24. ed. Rio de Janeiro:
Impetus, 2020.

MASSON, Cleber. Direito Penal Esquematizado. 12. ed. São Paulo: Método, 2020.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 47. ed. São Paulo:
Malheiros, 2018.

MENDES, Gilmar; TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. 12.


ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019.

MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 36. ed. São Paulo: Atlas, 2020.

NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo Civil
Comentado. 16. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017.

NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 19. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019.

PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. 11. ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2018.

SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 38. ed. São
Paulo: Malheiros, 2014.

Você também pode gostar