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Seja bem-vindo ao nosso curso Compras Sustentáveis e a Nova Lei de

Licitações!
MÓDULO I – SUSTENTABILIDADE
Neste primeiro módulo, vamos tratar dos fundamentos e dos conceitos de
sustentabilidade. Leia com atenção e repita a leitura, se necessário. Somente
passe à aula seguinte quando os conceitos estiverem bem sedimentados. Bons
estudos!

AULA 1 – Conceito de Sustentabilidade, Fundamentação Constitucional


e Legal, e Acórdão TCU 1.056/2017-Plenário
Nesta primeira aula, vamos estudar o conceito de sustentabilidade, sua
fundamentação constitucional e legal, em especial, as leis 8.666/1993 e
14.133/2021. Além disso, veremos em detalhes o Acórdão TCU 1.056/2017, que
é um marco na Administração Pública quando falamos de sustentabilidade.
Acesse as leis 8.666/1993 e 14.133/2021 no site www.planalto.gov.br. Basta
digitar o número da lei no google. Depois, baixe o arquivo e o salve no
computador.
OBJETIVO
Ao final desta aula, esperamos que você conheça as principais leis aplicáveis às
compras públicas e os princípios constitucionais que tratam da sustentabilidade,
assim como as disposições do Acórdão TCU 1.056/2017-Plenário, que serviu de
base a diversas pontos inseridos na Lei 14.133/2021, nova lei de licitações.

1. Introdução
De acordo com informações constantes do portal do Ministério do
Planejamento, as compras do governo chegam a 15% do produto interno
bruto (PIB). A dimensão dessas compras faz com que o governo tenha um
forte poder de interferência no mercado. Os impactos envolvem não apenas
o aspecto econômico, mas também questões sociais, ambientais e de políticas
públicas. A amplitude do contexto torna-se cada vez mais relevante, exigindo
do poder público uma atuação mais proativa, e mais eficaz.
O Tribunal de Contas da União (TCU) realizou alguns trabalhos de
avaliação da Administração Pública e constatou que muitas das ações
carecem de planejamento e monitoramento dos resultados obtidos. Diante
disso, por intermédio do Acórdão 2.622/2015-P, fez uma série de
recomendações no sentido de que as instituições governamentais passassem
a atuar de maneira organizada, aplicando os mecanismos de governança aos
seus processos de aquisições. É necessário que as ações da alta administração
de um órgão agreguem valor ao negócio “administração pública”. Esse é o
objetivo das recomendações do TCU que se pode inferir por uma leitura
minuciosa do referido acórdão, que pode ser acessado no link a seguir.
https://pesquisa.apps.tcu.gov.br/#/resultado/acordao-
completo/*/NUMACORDAO%253A2622%2520ANOACORDAO%25
3A2015/%2520
A Lei 12.349, de 2010, incluiu no art. 3º da Lei 8.666/1993, a promoção
do desenvolvimento nacional sustentável como um dos objetivos das
licitações públicas. Com esse dispositivo, a Lei passou a exigir que os
gestores públicos enfrentem a questão da sustentabilidade em seus três
aspectos: ambiental, social e econômico.
Por intermédio do Acórdão 1.056/2017-P, o TCU fez uma série de
determinações a vários órgãos da Administração Pública no sentido de que
fosse cumprida a disposição consignada no art. 3º da Lei 8.666/1993. A partir
daí, várias providências foram e estão sendo adotadas, com vistas ao efetivo
cumprimento das normas relacionadas à sustentabilidade nas licitações
públicas.
A recente Lei 14.133/2021, que irá substituir a atual Lei 8.666/1993, trata
do assunto sustentabilidade com mais atenção. Vários trechos da nova lei
cuidam de questões relacionadas com a sustentabilidade, especificamente
com o ciclo de vida dos produtos.
Vários entendimentos manifestados por órgãos de controle, como o TCU,
foram claramente consignados no novo estatuto das licitações, exigindo
maior profissionalização dos gestores responsáveis. Estes deverão ficar
atentos a questões referentes ao planejamento das compras públicas, à gestão
dos riscos envolvidos no processo, especialmente à profissionalização dos
responsáveis pela execução das atividades de aquisição de bens e serviços, e
à questão da sustentabilidade.
Nesse cenário, as compras públicas sustentáveis, que, em alguns
momentos, chegaram a ser consideradas como algo muito caro e de difícil
realização, passam a ser, de fato, uma obrigação do gestor público.
Para uma boa condução do processo de compras sustentáveis, algumas
necessidades foram identificadas, tais como: conhecimento da legislação,
capacidade técnica para especificar um produto ou um serviço que contemple
requisitos de sustentabilidade, condições de avaliar os impactos na qualidade
de vida dos trabalhadores que prestam serviços ao poder público, capacidade
de avaliar impactos ao meio ambiente, conhecimento do mercado.
Por conta disso, em sintonia com o Acórdão 1.056/2017-P do TCU, os
gestores públicos devem entender que é essencial capacitar os servidores
envolvidos nos processos de compras públicas sustentáveis.
Pensando nisso, definimos o conteúdo desta apostila e desenvolvemos este
curso. Não temos a pretensão de abordar toda a matéria que envolve compras
sustentáveis, mas oferecer aos interessados uma oportunidade de aprimorar
seus conhecimentos, de conhecer os conceitos relacionados com
sustentabilidade, a legislação aplicável à matéria, especialmente a nova Lei
de Licitações, e de dar os primeiros passos, para que possam auxiliar a
Administração na busca pelo desenvolvimento nacional sustentável por meio
das licitações públicas.
2. Conceito de Sustentabilidade, Fundamentação Constitucional e
Legal

É preciso entender sustentabilidade como um princípio constitucional


que não cuida apenas da conservação e da preservação do meio ambiente.
Existem muitos aspectos envolvidos, como o social, o econômico, o cultural.

A Oganização das Nações Unidas (ONU) nos apresenta o seguinte


conceito de sustentabilidade: “Sustentabilidade é a capacidade de suprir as
necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações
futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades.”

Sustentabilidade tem mesmo a ver com a capacidade de preservação do


meio ambiente, garantindo a disponibilidade de recursos para as gerações
futuras. Trata-se de não exaurir os recursos disponíveis na natureza.
Contudo, não podemos deixar de lado a questão social, que se refere às
ações destinadas à melhoria da qualidade de vida da sociedade que ocupa
esse meio ambiente. Ações que proporcionem a todos, segurança no trabalho
e geração de renda, que combatam o trabalho infantil e que busquem o
desenvolvimento regional são alguns exemplos do que deve ser entendido
como sustentabilidade social.
Sob o ponto de vista econômico, temos uma série de medidas que podem
ser adotadas, como: apoio a pequenas empresas, agricultura familiar,
compensação ambiental, utilização de fontes alternativas de energia.
2.1 Fundamentação Constitucional
O art. 170 da Constituição Federal de 1988 (CF/88) dispõe que a ordem
econômica se fundamenta na valorização do trabalho humano e na livre
iniciativa, buscando a existência digna dos cidadãos. Foram estabelecidos,
nesse artigo, alguns princípios, como a soberania nacional (inc. I),
a propriedade privada (inc. II), a função social da propriedade (inc. III), a
livre concorrência (inc. IV), a defesa do consumidor (inc. V), a proteção
do meio ambiente (inc. VI); a redução das desigualdades regionais e
sociais (inc. VII), a busca do pleno emprego (inc. VIII) e o tratamento
diferenciado para as empresas de pequeno porte (inc. IX).
No art. 225, a CF/88 impõe ao Poder Público e à coletividade o dever de
defender e preservar o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado
para as gerações presentes e futuras, nos seguintes termos: “Todos têm
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum
do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público
e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações.”
Nesse artigo, a CF/88 exige a elaboração de estudo prévio de impacto
ambiental (inciso IV) como forma de avaliar a eficiência da atividade
econômica, por meio da aplicação do conceito de sustentabilidade
ambiental e financeira.
O princípio do desenvolvimento sustentável exige a criação de um
conjunto de instrumentos preventivos que ordene as ações econômicas para
compatibilizá-las com a proteção do meio ambiente e da sociedade, fazendo
com que sempre existam os recursos necessários ao desenvolvimento.
Desse modo, sustentabilidade é garantia de meio ambiente saudável,
renovável, economicamente viável e socialmente justo, para as gerações
presentes e futuras.
Todo esse contexto é respaldado nos citados dispositivos constitucionais
e decorre do princípio fundamental do direito à vida, tornando-se
indisponível como o próprio direito à vida.
Não foi sempre que o legislador teve a percepção de proteger o meio
ambiente. A legislação específica que trata do assunto é muito recente no
Brasil.
O art. 37, XXI, da CF/88, representa o fundamento para a necessidade de
realização das licitações públicas em todas as esferas de governo do nosso
país:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1998)
XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras,
serviços, compras e alienações serão contratados mediante
processo de licitação pública que assegure igualdade de
condições a todos os concorrentes, com cláusulas que
estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições
efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente
permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica
indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.

Esses princípios constitucionais constantes dos arts. 170 e 37 da CF/88


criaram para a Administração a obrigação de licitar e proteger o meio
ambiente por meio das compras públicas. Veremos que tanto a Lei
8.666/1993 como a Lei 14.133/2021 absorveram esses mandamentos e
trazem, em seus textos, referências expressas à sustentabilidade.
2.2 Lei 8.666/1993
A Lei 8.666/1993 é o estatuto das licitações e contratos e ainda está
plenamente vigente em nosso país. Basicamente, ela regulamenta todo o
procedimento relacionado com a compra de bens e a contratação de serviços
pela Administração Pública.
Seu objetivo é permitir que, por meio desse procedimento, a
Administração Pública obtenha a proposta mais vantajosa para satisfazer as
suas necessidades, assim como as dos cidadãos que representa.
Esse procedimento administrativo deve observar uma série de preceitos
legais e princípios constitucionais, permitindo que qualquer interessado
habilitado para tanto dele possa participar em igualdade de condições.
Trata-se de um rito procedimental bastante formal.
De acordo com o art. 3º da Lei 8.666/1993, a licitação destina-se a
garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a seleção da
proposta mais vantajosa para a Administração e a promoção do
desenvolvimento nacional sustentável, e será processada e julgada em
estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da
impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade
administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento
objetivo e dos que lhes são correlatos.
Temos aí uma menção ao desenvolvimento sustentável, que, como
visto, foi definido pela Organização das Nações Unidas (ONU) da seguinte
maneira: “Sustentabilidade é suprir as necessidades do presente sem
comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas
próprias necessidades.” (ONU. Relatório Our Common Future, “Nosso
Futuro Comum”, da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento, 1983). No link abaixo você pode acessar o relatório
completo.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Relat%C3%B3rio_Brundtland

Veja que a lei elegeu como objetivo o desenvolvimento sustentável. Isso


quer dizer que todos os procedimentos desenvolvidos com base na Lei
8.666/1993 devem, no que for possível, obviamente, fazer compras e
contratar serviços caracterizados como sustentáveis. Ou seja, bens e serviços
que satisfaçam as necessidades das gerações atuais, mas não coloquem em
risco a possibilidade das gerações futuras de também terem as suas
necessidades satisfeitas.
A Lei 8.666/1993 regulamenta o art. 37, inciso XXI, da CF, instituindo
normas gerais sobre licitações e contratos (art. 1º). Essas normas gerais
vinculam todos os entes da administração federal, estadual e municipal.
Temos aqui a competência privativa da União para legislar sobre licitações e
contratos.
Art. 22 – Compete privativamente à União legislar sobre:
XXVII - normas gerais de licitação e contratação, em todas as
modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas
e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios,
obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas
e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1º, III.
As empresas públicas e as sociedades de economia mista não estão
sujeitas à Lei 8.666/1993, pois possuem legislação própria (Lei
13.303/2016).
Neste curso, não iremos tratar, em detalhes, da Lei 8.666/1993.
Nosso foco será a Lei 14.133/2021, que, além de trazer muitas
inovações, revogará a Lei 8.666/1993, que deixará de ser
utilizada a partir de abril do próximo ano.

2.3 Lei 14.133/2021

A nova Lei de Licitações entrou em vigor no dia 01/04/2021. Contudo, a


revogação das normas então vigentes somente ocorrerá em um prazo de dois
anos, pois muitos dos procedimentos tratados na nova lei estão carentes de
regulamentação. Em razão disso, nesse período de dois anos, o gestor
público poderá optar pela aplicação de uma ou outra norma. Assim, apenas
em abril de 2023 as normas antigas serão revogadas de fato.
A Lei 14.133/2021 pode ser considerada como uma consolidação de
normas, uma vez que abarca todos os assuntos tratados na Lei 8.666/1993,
na Lei 10.520/2002, e na Lei 12.462/2011, que trata do RDC (Regime
Diferenciado de Contratação).
A novalLei de licitações se aplica a toda administração nas esferas
federais, estaduais, municipais e distrital, no que se refere a normas gerais de
licitações. As empresas públicas e as sociedades de economia mista, como já
dito, são regidas pela Lei 13.303/2016.

2.3.1 Principais alterações


a) Fases da licitação – A inversão de fase, típica do pregão, foi
estendida a todas as modalidades com o objetivo de agilizar o processo, pois
somente será necessário examinar os documentos de habilitação do licitante
mais bem classificado.
b) O art. 17, em seu § 1º, esclarece que, diante de prévia
justificativa, a Administração poderá realizar a etapa de habilitação antes
da etapa de avaliação das propostas.
c) O § 2º do art. 17 exige motivação para a não realização da
licitações em meio eletrônico. Assim, independentemente da modalidade,
a sessão pública deverá ser on-line.
d) A modalidade de licitação não será mais definida em razão do
valor estimado da contratação, mas de acordo com a complexidade do
objeto. Deixam de existir as modalidades convite e tomada de preços. As
modalidades de licitação agora são as seguintes: pregão; concorrência;
concurso; leilão, e diálogo competitivo.
e) O pregão será a modalidade utilizada para a contratação de bens
ou serviços comuns, ao passo que a concorrência será a modalidade
escolhida para as contratações de bens e serviços especiais e obras de
engenharia. O concurso se aplica às contratações de serviços técnicos,
científicos ou artísticos, e o leilão deve ser utilizado nas alienações de
bens móveis ou imóveis.
f) O diálogo competitivo é uma modalidade de licitação originária
do RDC e deve ser utilizada nas licitações relacionadas com inovação
tecnológica ou técnica; quando houver necessidade de adaptação das
soluções disponíveis no mercado; e quando não for possível para a
Administração definir as especificações técnicas do objeto com a
precisão necessária.
g) Foram definidos novos valores para as dispensas de licitação em
razão do baixo valor do objeto. Agora esses valores são de até R$
100.000,00 (cem mil reais) para obras ou serviços de engenharia, ou
serviços de manutenção de veículos automotores; e de até R$ 50.000,00
(cinquenta mil reais) para bens e outros serviços.
h) Possibilidade de dar caráter sigiloso aos orçamentos, mediante
prévia justificativa. O sigilo não poderá ser utilizado nas licitações cujo
critério de seleção seja o de maior desconto.
i) Criação dos seguintes procedimentos auxiliares: credenciamento,
pré-qualificação, manifestação de interesse, registro de preços, e registro
cadastral.
j) Os critérios de habilitação também foram alterados, ampliando-
se a possibilidade de apresentação de documentos, como no caso do
balanço patrimonial e no da comprovação de qualificação técnica.
k) Definição de quatro modos de disputa para a etapa de julgamento
das propostas, quais sejam: modo aberto, modo fechado, modo aberto e
fechado e modo fechado e aberto.
l) Seguro-garantia de contratos de obras e serviços com a
possibilidade de a seguradora se obrigar a concluir o contrato caso ocorra
inadimplemento contratual pelo contratado.
m) Criação de novos modelos de contratos e ampliação dos prazos de
vigência.
n) Previsão da necessidade de avaliação de riscos na fase de
planejamento da contratação.
o) Criação do Portal Nacional de Compras Públicas – PNCP.

Todos esses pontos serão abordados em detalhes no Módulo III, que irá
tratar especificamente das licitações públicas.
3. Acórdão TCU 1.056/2017-Plenário
O Acórdão 1.056/2017-P do TCU, cuja relatoria coube ao Ministro André
Carvalho, foi um marco na Administração Pública Federal no que se refere à
sustentabilidade. Ele resultou de uma ampla auditoria operacional conduzida
pela Secretaria de Controle Externo da Agricultura e do Meio Ambiente (Secex
Ambiental) do TCU, realizada com o objetivo de avaliar a evolução das
medidas adotadas nas áreas de redução de consumo de papel, energia elétrica e
água. O resultado foi muito além disso, como se pode notar ao se examinar
algumas das determinações do Tribunal contidas no referido acórdão.
O Tribunal constatou que as ações da Administração Pública precisavam
ser aprimoradas para cumprir o objetivo das compras públicas previsto no
art. 3º da Lei 8.666/93, qual seja, “o desenvolvimento nacional sustentável”.
Além disso, entendeu o Tribunal que havia necessidade de preparar a
estrutura organizacional da Administração, implantando ações de
planejamento, controle e gestão de riscos efetivas.
As principais determinações contidas no Acórdão 1.056/2017-P, com
destaques nossos, são as seguintes:
9.1. determinar que, nos termos do art. 45 da Lei nº 8.443, de
1992, o Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão,
representado pela Coordenação Geral de Normas de sua
Secretaria de Gestão (SEGES/CGNOR), promova a necessária
aplicação do art. 3º, caput, da Lei nº 8.666, de 1993, com o
intuito de:
9.1.2. apresentar, no prazo de até 120 (cento e vinte) dias
contados do término do prazo fixado pelo item 9.1.1 deste
Acórdão, o devido plano de ação destinado a implementar o
necessário sistema de acompanhamento das ações de
sustentabilidade, conforme previsto no art. 1 do Decreto nº
7.746/2012, com vistas a dar conhecimento das ações de
sustentabilidade em execução na Administração Pública Federal
(APF) , levando em consideração as informações já existentes em
sistemas como o Sispes e o Ressoa, além de promover a criação
de parâmetros desejáveis de consumo, por tipologia de
edificações;
9.2. determinar que, nos termos do art. 45 da Lei nº 8.443, de
1992, o Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão,
representado pela Coordenação Geral de Normas de sua
Secretaria de Gestão (SEGES/CGNOR), promova a necessária
aplicação do art. 3º, caput, da Lei nº 8.666, de 1993, de sorte a
adotar as providências necessárias para que, a partir de 1º de
janeiro de 2018, sejam efetivamente aplicadas as seguintes
medidas:
9.2.2.1.exigir que os Planos de Gestão de Logística Sustentável
(PLS) ou instrumentos substitutos equivalentes estejam previstos
no planejamento estratégico de cada órgão e entidade da APF,
considerando o alcance e a transversalidade dos aspectos
inerentes à sustentabilidade, de modo a institucionalizar, com
isso, todas as ações de sustentabilidade junto à direção geral das
aludidas instituições;
9.2.2.2.exigir que os órgãos e as entidades da APF implementem,
em suas estruturas, o efetivo funcionamento de unidades de
sustentabilidade com caráter permanente, contando, em sua
composição, com servidores ou colaboradores dotados de perfil
técnico para a específica atuação nos assuntos pertinentes; e
9.2.2.3.exigir que as avaliações de desempenho dos PLS
contenham ferramentas de avaliação da efetividade do
instrumento de planejamento, com vistas a permitir a análise
dos resultados das ações implementadas e o comportamento dos
padrões de consumo, em busca da manutenção do ponto de
equilíbrio entre o consumo e os gastos;
9.2.4. concluir a revisão do Catálogo de Materiais – CATMAT
e do Catálogo de Serviços – CATSER, de sorte a regulamentar
a inclusão de itens com requisitos de sustentabilidade e a excluir
os itens cadastrados em duplicidade;
9.2.5. exigir a devida apresentação da Plano Anual de
Contratações pelos órgãos e entidades integrantes do SISG,
especificando os itens com requisitos de sustentabilidade que
serão adquiridos em consonância com o correspondente PLS;
9.2.7. exigir, em conjunto com o Ministério do Meio Ambiente,
que os órgãos e as entidades da administração federal elaborem
os seus Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos, visando
à correta destinação dos resíduos gerados pelo funcionamento da
máquina administrativa federal, de modo a atender os arts. 20 e
21 da Lei nº 12.305, de 2010, que instituiu a Política Nacional de
Resíduos Sólidos;

9.3. determinar que, nos termos do art. 45 da Lei nº 8.443, de


1992, a Cisap apresente a devida proposta de plano de trabalho [...]
relacionadas com:

9.3.1. a institucionalização de planos de incentivos à implantação


de ações de promoção da sustentabilidade perenes e atrativos;
9.3.2. o planejamento e a execução de ações para a ampla e
eficiente divulgação de boas práticas na área temática de
governança da sustentabilidade no âmbito de toda a APF; e
9.3.3. a promoção de ações de capacitação sobre a área
temática de governança da sustentabilidade, alcançando
principalmente os órgãos e entidades da APF mais
representativos em termos de gastos e consumos de insumos, com
vistas a disseminar os conhecimentos necessários à
implementação das diversas ações de promoção da
sustentabilidade;
9.4. determinar que, nos termos do art. 45 da Lei nº 8.443, de
1992, a Secretaria Executiva da Cisap, em conjunto com os
demais representados na comissão, promova a necessária
aplicação do art. 3º, caput, da Lei nº 8.666, de 1993, com o
intuito de, a partir de 1º de janeiro de 2018, exigir e acompanhar
a elaboração, a implementação e a avaliação dos Planos de
Gestão de Logística Sustentável (PLS) pelos órgãos e entidades
da administração federal direta, autárquica e fundacional (APF) ,
em consonância com o art. 16 do Decreto nº 7.746, de 2012;
9.5. determinar que, nos termos do art. 45 da Lei nº 8.443, de
1992, o Ministério do Meio Ambiente promova a necessária
aplicação do art. 3º, caput, da Lei nº 8.666, de 1993, com o
intuito de, no prazo de 180 dias contados da notificação deste
Acórdão, apresentar o devido plano de ação para a avaliação dos
recursos financeiros e humanos necessários ao alcance das metas
de expansão e de capacitação do Programa A3P previstas no atual
PPA, considerando as informações fornecidas pela sua Secretaria
de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental;
9.5.1. determinar que, nos termos do art. 45 da Lei nº 8.443, de
1992, a Secretaria de Mudança do Clima e Florestas do MMA
(SMCQ/MMA) promova, no prazo de 180 dias contados da
notificação deste Acórdão, a necessária aplicação do art. 3º,
caput, da Lei nº 8.666, de 1993, com o intuito de:ampliar as
ações de capacitação dos gestores relacionadas com a
certificação de prédios públicos e com a proposição de incentivos
a serem oferecidos para a obtenção da certificação, de modo a
obter maior aderência dos órgãos e entidades da administração
pública à IN SLTI/MP nº 2, de 2014, além de gerar incentivos em
decorrência da economia de recursos no consumo de água,
energia e papel, entre outros insumos;
9.5.2. apresentar os necessários estudos, em conjunto com a
Cisap, sobre as formas de considerar, no sistema de
acompanhamento das ações de sustentabilidade, o
monitoramento e o estabelecimento de parâmetros desejáveis
de consumo, por tipologia de edificações, a partir da
implementação das ações de promoção da sustentabilidade; e
9.9. determinar que, sob a coordenação da Secretaria Geral de
Controle Externo, a Secretaria de Controle Externo da
Agricultura e do Meio Ambiente (SecexAmbiental) adote as
seguintes providências:
9.9.1. fomente, em conjunto com a Secretaria Geral de
Administração do TCU, a possível implementação de
comunidade federal de governança da sustentabilidade com
o intuito de incentivar o emprego das boas práticas de
sustentabilidade no âmbito da administração pública federal
(APF);
9.9.2. acompanhe os eventuais estudos realizados pela APF, que
visem aprimorar as aquisições de produtos e serviços
sustentáveis e conferir maior agilidade e eficiência no processo,
além de outros incentivos legais, no caso de o órgão ou a entidade
federal contar com o devido Plano de Gestão de Logística
Sustentável (PLS);
9.9.4. acompanhe as ações implementadas pelo Ministério do
Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, com vistas ao
desenvolvimento e o emprego de aplicativo de TI destinado à
aferição, geral e específica, do IASA ou eventual instrumento
equivalente que vier ser instituído, no âmbito dos órgãos e das
entidades da APF, nos termos do item 9.2.1 deste Acórdão.
Extraordinária a insistência do Tribunal no sentido de que a
Administração Pública Federal (APF) cumpra as disposições contidas no art.
3º da Lei 8.666/1993. Por meio dessa auditoria operacional, constatou-se que
o assunto “sustentabilidade” não vinha recebendo a devida atenção dos
órgãos da Administração no que se refere às licitações públicas, apesar da
clara disposição normativa.
As recomendações e determinações do TCU envolveram todas as fases do
processo de aquisições, passando pela governança, pelo planejamento, pela
normatização de procedimentos, pela disseminação de boas práticas e pela
capacitação de pessoal.
A gestão dos resíduos, as compras públicas sustentáveis, e a necessidade
de sensibilização e capacitação dos servidores, que são eixos temáticos da
Agenda Ambiental da Administração Pública – A3P, foram abordadas no
Acórdão 1.056/2017-P do TCU. Não se trata apenas de cuidar dos resíduos,
ou de adquirir produtos e serviços que não agridam o meio ambiente, é
essencial que todo o processo seja aprimorado, que as pessoas envolvidas no
processo sejam qualificadas. Somente assim é que podem ser desenvolvidas
as atividades necessárias para que as licitações públicas funcionem como um
catalisador para o desenvolvimento nacional sustentável, conforme previsto
no estatuto das licitações públicas.
Vale salientar que esse acórdão do TCU não representa um entendimento
novo do Tribunal. Essa questão já foi tratada em diversas oportunidades,
ainda que com um enfoque um pouco diferente. O Acórdão 2.622/2015-P, por
exemplo, foi notável no tratamento das questões relativas à governança,
especialmente quanto à gestão e ao planejamento das aquisições e ao
controle dos riscos envolvidos, o que é essencial para que tenhamos
aquisições sustentáveis bem-sucedidas.
Diante disso, é fundamental que as compras públicas sejam estudadas não
somente quanto à sustentabilidade propriamente dita, mas também quanto ao
seu arcabouço administrativo, que, numa visão mais moderna, envolve
governança, gestão, planejamento e tratamento de riscos.
O resultado da auditoria materializado no Acórdão 1.056/2017 foi
extraordinário. Várias questões foram abordadas e as sugestões feitas peo
Tribunal acabaram sendo incorporadas e estão sendo aplicadas em toda a
Administração Pública. A nova lei de licitações trouxe para o seu texto
algumas questões que foram objeto de recomendações e determinações do
TCU, inclusive.
O Painel de Sustentabilidade, os Objetivos do Desenvolvimento
Sustentável (ODS), o Índice de Avaliação da Sustentabilidade na
Administração (IASA) foram relevados no acórdão, permitindo que se tenha
uma visão mais clara do nível de sustentabilidade na Administração. Mais à
frente, vamos examinar cada um desses indicadores com mais detalhes.
Acesse o inteiro teor do acórdão no link abaixo.

https://pesquisa.apps.tcu.gov.br/#/resultado/acordao-
completo/1056/NUMACORDAO%253A1056%2520ANOACORDAO%253A2017/%2520
AULA 2 – Sustentabilidade e Compras Públicas
Agora vamos cuidar dos conceitos de sustentabilidade e da relação desta com as
compras públicas. Veremos os pilares da sustentabilidade, preservação ambiental
e o que é desenvolvimento nacional sustentável.
Acesse os links indicados no texto a seguir, veja os aspectos culturais envolvidos
na sustentabilidade e faça uma leitura atenta da Agenda 21, no portal do
Ministério do Meio Ambiente.
OBJETIVO

Ao final da aula, o aluno deverá conhecer os conceitos relacionados com os


fundamentos teóricos da sustentabilidade e alguns objetivos que se buscam com
o desenvolvimento nacional sustentável.

1. Introdução
O mundo é dinâmico! Está em constante mudança. Problemas que
vivenciamos hoje não tinham importância alguma há alguns anos. Do mesmo
modo, problemas de tempos atrás hoje estão sob controle e sequer pensamos
neles. A questão do meio ambiente, por exemplo, só recentemente passou a
preocupar a sociedade e o governo de alguns países. O tratamento de esgotos,
a poluição do ar, a conservação das florestas e das fontes de água, a extinção
de animais, a degradação da camada de ozônio são assuntos relativamente
novos.
A sociedade, vivendo em um ambiente cada vez mais opressivo, passou a
cobrar uma atitude mais proativa de seus dirigentes, no sentido de preservar o
nosso mundo e de manter as boas condições de habitabilidade para as gerações
atuais e futuras. Isso fez com que governos e mercados passassem a tratar a
questão ambiental com mais cuidado, com um novo olhar, evitando ações
imediatistas que aparentemente resolviam o problema, mas que, na verdade,
criavam outros de muito mais difícil solução. Os conceitos mudaram, e
empresas e governantes também estão mudando, mas a mudança é lenta e a
cobrança da sociedade é fundamental para que haja uma humanização das
ações de governo com relação ao meio ambiente em que vivemos.

A sustentabilidade, contudo, não pode ser considerada apenas sob o aspecto


ambiental. Nós, seres humanos, também fazemos parte desse meio ambiente,
dependemos dele e, em muitos casos, sem saber, o estamos destruindo. A
qualidade do ambiente em que vivemos tem reflexos diretos na qualidade de
vida de cada um de nós. Nesse sentido, o aspecto social não pode ser
desconsiderado. Muito da degradação do nosso planeta se deve à falta de
preocupação com o povo que o habita. Desemprego, fome, miséria, violência,
abandono, degeneração humana, ausência de informações e conhecimento. É
preciso que as pessoas possam viver com um mínimo de dignidade e segurança
para que a sociedade, como um todo, não seja destruída, e isso passa
forçosamente por políticas públicas que devem ir além da questão
exclusivamente ambiental.

Assim, as ações de governo, em termos de sustentabilidade de compras


públicas não podem ter como foco apenas o meio ambiente, mas também a
componente humana. Há de se buscar o desenvolvimento sustentável da
sociedade por meio de ações planejadas, de curto, médio e longo prazo.
Governança e planejamento das ações! É preciso pensar no todo e não apenas
em alguns segmentos. De nada adianta, por exemplo, inaugurar uma grande
hidrelétrica se as pessoas não possuem casas para receber essa energia. O
desenvolvimento sustentável deve ser buscado permanentemente por meio do
crescimento econômico, do desenvolvimento social e da preservação do meio
ambiente. Esses três aspectos devem estão interligados e um não se mantém
sem o outro. Para que o meio ambiente seja preservado, é preciso
desenvolvimento social, o que não acontece sem crescimento econômico.
Conforme já vimos, a ONU entende que desenvolvimento sustentável é
aquele
[...] que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem
comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as
suas próprias necessidades, significa possibilitar que as pessoas,
agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento
social e econômico e de realização humana e cultural, fazendo, ao
mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da terra e preservando
as espécies e os habitats naturais (- ). (.” (ONU. Relatório Our
Common Future, “Nosso Futuro Comum”, da Comissão
Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1983
Como visto, a definição da ONU contempla os três aspectos que
mencionamos: social, econômico e ambiental. A Administração pública, ao
executar seu orçamento, tem uma importância capital nesse processo de
desenvolvimento, tornando-se um agente indutor em razão da sua importante
capacidade de interferência no mercado e na sociedade. Isso pode ser alcançado
por intermédio de sua política econômica e social, por meio do seu poder
normativo, de suas contratações, das ações sociais desenvolvidas, de normas
para proteção do meio ambiente e pela aplicação dos recursos à sua disposição
de maneira eficaz e de acordo com os requisitos necessários ao
desenvolvimento nacional sustentável.

2. Sustentabilidade e seus três pilares

A sustentabilidade, sob o ponto de vista das compras públicas, deve levar


em consideração questões muito mais amplas relacionadas com a qualidade de
vida das pessoas, o ambiente social em que vivem e suas necessidades
econômicas básicas: emprego, saúde, segurança, renda etc. Desse modo,
podemos considerar que a sustentabilidade se alicerça em três pilares:
desenvolvimento social, crescimento econômico e preservação do meio
ambiente. Com essa perspectiva, vamos examinar cada um deles nos tópicos a
seguir.

2.1 Desenvolvimento Social Sustentável

Trata-se de atender, de forma permanente, as necessidades de todas as


pessoas que façam parte da sociedade. Desse modo, as ações de
sustentabilidade de cunho social devem ser desenvolvidas com vistas a atingir
objetivos que beneficiem toda a sociedade e não apenas uma parcela dela.
Regiões mais carentes devem ser priorizadas, determinados segmentos da
sociedade devem ser atendidos com mais atenção, a educação deve ser
universalizada. A geração de renda para as camadas mais pobres e o incentivo
às empresas regionais e de pequeno porte devem ser metas permanentes, pois
são ações que equilibram a forma como o desenvolvimento acontece em toda
a sociedade. Alguns aspectos, dada a sua relevância no contexto social,
assumem destaque especial, como a educação, a geração de renda, a segurança,
cultura e a saúde, e não devem ser ignorados, nem tratados de forma genérica.

2.2 Desenvolvimento Econômico Sustentável

Em um cenário econômico sustentável, deve haver competição justa entre


as empresas que compõem o mercado. No Brasil, um grande número de
trabalhadores presta serviços para microempresas e empresas de pequeno
porte, o que demonstra a necessidade de dar solidez e acesso aos mercados a
essas empresas, mantendo, com isso, as condições de emprego e renda para os
cidadãos que a elas prestam seus serviços.
Muitas dessas empresas estão localizadas em pequenas cidades e o
fortalecimento delas permitirá que os habitantes dessas regiões consigam se
manter em sua terra natal. Isso fará com que o fluxo migratório para os grandes
centros urbanos seja reduzido, evitando-se situações incontroláveis de
superpopulação, favelização, falta de segurança pública e outras situações
indesejáveis.
A melhoria das relações de trabalho entre empregadores e empregados
também deve ser uma política permanente, evitando-se a concentração de
renda, o subemprego, as más condições de trabalho e a informalidade. Assim,
o pagamento de salários justos e a busca do desenvolvimento profissional e
educacional dos trabalhadores são fundamentais para o desenvolvimento
econômico sustentável. O ambiente de trabalho deve ser saudável e seguro,
tanto no aspecto físico quanto no aspecto das relações humanas, privilegiando-
se o respeito mútuo entre trabalhadores e empresários, o que, certamente, fará
com que o mercado cresça, minimizando os riscos da atividade empresarial e
garantindo a manutenção do emprego e a segurança no trabalho.

2.3 Preservação Ambiental

As empresas, partes da população e alguns órgãos públicos procuram


reduzir, ou controlar, os efeitos da economia e da população sobre o meio
ambiente – trata-se da compensação ambiental. A compensação ambiental é
um mecanismo legal para que as empresas retornem e minimizem os impactos
que podem ser causados no ambiente a partir de atividades utilizadoras de seus
recursos, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, bem como
aquelas capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental. Aos
poucos, medidas dessa natureza vêm sendo implementadas, estabelecendo uma
cultura de sustentabilidade que é essencial para que elas alcancem um bom
resultado e sejam compreendidas pela população. Como exemplo, podemos
citar o plantio de árvores para compensar a construção de uma rodovia ou de
um edifício. É um começo, mas quase nunca as medidas mitigadoras são
suficientes para reparar o dano sofrido pelo meio ambiente. Então é preciso
avançar, fazer mais.
O crescimento econômico e o desenvolvimento social, em regra, estão
relacionados com a utilização de recursos naturais. A questão ambiental, nesse
sentido, refere-se ao esforço de minimizar os efeitos negativos da utilização
desses recursos sobre o meio ambiente. Uma mudança de comportamento, de
cultura, deve acontecer e para que isso seja possível, as pessoas devem ser
preparadas para participar de ações que tenham em vista o atingimento de
objetivos claros, pois o fator humano é essencial sempre. Então é preciso
conhecimento e acesso à informação.
A sustentabilidade, como visto, leva em conta três aspectos: o ambiental, o
social e o econômico. Para que o desenvolvimento sustentável ocorra, esses
três aspectos devem se harmonizar, e isso não será possível se as ações não
forem planejadas, se os erros não forem corrigidos, e se as metas não forem
definidas previamente pelos gestores públicos e aceitas e entendidas por
empresários e pela sociedade.
O trabalho é permanente, como o próprio conceito de sustentabilidade
supõe, e as ações não podem ser adotadas de maneira isolada; o conjunto é o
que importa quando se fala em sustentabilidade. O meio ambiente, o mercado
e a sociedade não são organismos isolados, por isso, devem ser tratados de
maneira global, visando ao benefício de todos.
O mais importante é que todos os parceiros se envolvam nessa empreitada:
governo, empresários, trabalhadores, pois é a única forma de se produzirem os
resultados de que a sociedade e o meio ambiente necessitam.
Por conta disso, desenvolvimento sustentável é um tema que vem ganhando
destaque na agenda política da Administração Pública Federal (APF), ao longo
dos últimos anos. A APF está mais consciente como indutor de mudanças
culturais e estruturais nos processos produtivos, comerciais, e de consumo,
tornando-os verdadeiramente sustentáveis.
O legislador vem tentando aperfeiçoar os procedimentos de contratações
públicas sustentáveis por meio de uma série de normativos. Essa medida tem
servido como catalisador para a implementação de políticas públicas que
resultem em modernização tecnológica, economia de recursos, transparência,
preservação do meio ambiente, e outros resultados importantes para que o
desenvolvimento nacional sustentável aconteça.

2.4 Cultura e Sustentabilidade


Somente depois do ano 2000 é que a cultura passou a ser considerada
importante para o desenvolvimento nacional sustentável. Na verdade, a cultura
é fundamental para a sustentabilidade.

A própria Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a


Cultura (Unesco) afirma a importância de todas as culturas e das políticas que
as envolvem para apoiar o desenvolvimento sustentável de cidades no setor
econômico, político e social. Acesse o link abaixo e veja isso em detalhes.

https://pt.unesco.org/courier/april-june-2017/cultura-no-coracao-
dos-ods
Violência doméstica, perspectiva de gênero, consumo responsável,
religiosidade e educação são exemplos de aspectos de grande importância na
cultura sustentável.

A criação da Agenda 21 foi a maneira encontrada para mostrar aos


governantes como políticas culturais podem promover o desenvolvimento
sustentável. Veja mais detalhes no link Agenda 21 Global do Ministério do
Meio Ambiente, a seguir.

https://antigo.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda-
21/agenda-21-global.html

O que realmente importa quando falamos em cultura de um povo é o


respeito que se deve ter com relação aos direitos humanos, aos seus costumes,
às suas crenças. Essas características culturais devem ser consideradas na
criação de ações que atraiam a população e permitam proporcionar um ganho
de qualidade à vida dessas pessoas.

Como exemplo de ações culturais, temos: restauração de prédios ou locais


históricos, realização de festas populares com música e alimentos típicos,
festas religiosas, criação de centros culturais, apoio ao desenvolvimento do
comércio, da agricultura e da indústria, que seja compatível com a realidade
local, além da criação de agendas específicas, da divulgação e do patrocínio
dos eventos, ou mesmo de calendários culturais permanentes.
AULA 3 – Compras Públicas
O que são compras públicas? O que são compras públicas sustentáveis? Essas
questões serão respondidas nesta aula para que se possa entender por que
devemos fazer compras públicas sustentáveis.
Acesse o link e leia sobre a situação das compras públicas no Brasil e em alguns
países.
https://www.cepal.org/sites/default/files/publication/files/41009/S1601328_pt.p
df
OBJETIVO
Materializar os conceitos de sustentabilidade por meio das compras públicas.
Entender por que devemos fazer compras públicas e como o governo pode
interferir no processo.

1. Introdução
As contratações públicas mobilizam tanto o setor governamental quanto o
setor privado. O governo, como grande cliente do mercado, pode implementar
mudanças de caráter ambiental em suas aquisições, exigindo, por exemplo, o
uso racional e sustentável dos recursos. Assim, o poder de compra do Estado
passa a ser um instrumento de proteção ao meio ambiente e de
desenvolvimento econômico e social.
A CF, em seu art. 37, inciso XXI, prevê para a Administração Pública a
obrigatoriedade de licitar, nos seguintes termos:
Ressalvados os casos especificados na legislação, as obras,
serviços, compras e alienações serão contratados mediante
processo de licitação pública que assegure igualdade de condições
a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações
de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos
termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de
qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do
cumprimento das obrigações.
Esse artigo foi regulamentado pela Lei nº 8.666, de 1 de junho de 1993, que
estabeleceu normas gerais sobre licitações e contratos administrativos
pertinentes a obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações e
locações no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios. Em abril do ano passado, foi publicada a Lei nº 14.133, que
substituirá a Lei 8.666/1993.
Tanto em uma quanto em outra, podemos entender licitação como um
procedimento administrativo formal por intermédio do qual a Administração
Pública convoca, mediante condições estabelecidas em ato próprio (edital),
empresas interessadas na apresentação de propostas para fornecimento de bens
ou prestação de serviços.
A licitação objetiva garantir a observância do princípio constitucional da
isonomia e selecionar a proposta mais vantajosa para a Administração, de
maneira a assegurar oportunidade igual a todos os interessados e possibilitar o
comparecimento ao certame do maior número possível de concorrentes, o que
aumenta a concorrência e favorece o próprio interesse público.
O procedimento de licitação objetiva permitir que a Administração contrate
aqueles que reúnam as condições necessárias ao atendimento de determinada
necessidade, levando em consideração aspectos relacionados à capacidade
técnica e econômico-financeira do licitante, à qualidade do produto e ao valor
do objeto.
Fica evidente tratar-se de um procedimento formal, obrigatório, ao qual
todas as compras públicas devem ser submetidas, cabendo aos servidores e
autoridades envolvidas cumpri-los, sob o risco de cometerem ato ilegal,
portanto, passível de sanção penal e administrativa.

2. Compras Públicas Sustentáveis

De acordo com o art. 3° da Lei n° 8.666/1993,

a licitação destina-se a garantir a observância do princípio


constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa
para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional
sustentável e será processada e julgada em estrita conformidade
com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da
moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade
administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do
julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos (Redação da Lei
12.349, de 2010).

A Lei 14.133/2021, por sua vez, dispõe o seguinte:

Art. 5º Na aplicação desta Lei, serão observados os princípios da


legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade, da
eficiência, do interesse público, da probidade administrativa, da
igualdade, do planejamento, da transparência, da eficácia, da
segregação de funções, da motivação, da vinculação ao edital, do
julgamento objetivo, da segurança jurídica, da razoabilidade, da
competitividade, da proporcionalidade, da celeridade, da
economicidade e do desenvolvimento nacional sustentável […].
Nesse sentido, pode-se dizer que as compras públicas sustentáveis são
procedimentos administrativos formais que contribuem para a promoção do
desenvolvimento nacional sustentável, mediante a inserção de critérios sociais,
ambientais e econômicos nas aquisições de bens, contratações de serviços e
execuções de obras. De uma maneira geral, trata-se da utilização do poder de
compra do setor público para gerar benefícios econômicos, sociais e ambientais
para o nosso país.
No contexto de valorização das compras governamentais, como meio
indutor de desenvolvimento sustentável, o governo tem concebido várias
ações para o fortalecimento do sistema de Contratações Públicas Sustentáveis.
Essa pauta, que normalmente ficava a cargo do Ministério do Planejamento,
agora está com o Ministério da Economia. A ideia é que se desenvolva um
modelo de contratação que inclua diversas variáveis de sustentabilidade, que
consiga transformar tudo isso em uma cultura institucional que sirva de
modelo para a sociedade.
Com a publicação da Lei 14.133/2021, novos estudos deverão ser feitos e
será preciso aguardar os rumos que a Administração irá seguir, mas a
expectativa é de que haja um ganho com relação ao desenvolvimento das
licitações sustentáveis, pois a nova lei trata com mais detalhes desse assunto.
No módulo III, daremos um tratamento específico ao novo processo
administrativo de licitações, mas podemos adiantar que, em relação à
sustentabilidade, vários conceitos foram inseridos na nova lei, como ciclo de
vida do objeto, impactos ambientais, medidas mitigadoras, logística reversa,
reciclagem etc. Trata-se de um avanço, mas nem todos podem ser utilizados
de imediato, pois carecem de regulamentação.

2.1 Por que realizar compras públicas sustentáveis?

Trata-se de atender necessidades de desenvolvimento econômico e social e


de preservação ambiental. As compras e licitações sustentáveis têm um papel
estratégico para os órgãos públicos e, quando adequadamente realizadas,
promovem a sustentabilidade nas atividades públicas, disseminando uma
prática essencial para o desenvolvimento nacional, um dos objetivos previstos
tanto no art. 3º da Lei 8.666/1993 como no art. 5º da Lei 14.133/2021.
O governo brasileiro despende, anualmente, mais de 600 bilhões de reais
com a aquisição de bens e contratações de serviços (15% do PIB,
aproximadamente). Nesse sentido, direcionar o poder de compra do setor
público para a aquisição de produtos e serviços com critérios de
sustentabilidade implica a geração de benefícios socioambientais e a redução
de impactos ambientais, ao mesmo tempo em que induz e promove o mercado
de bens e serviços sustentáveis.
Para tanto, é fundamental que os compradores públicos saibam delimitar as
necessidades da instituição, conheçam a legislação aplicável e as
características dos bens e serviços que poderão ser adquiridos.
Muitas vezes, o administrador sente-se incomodado com os custos dos
produtos e serviços sustentáveis, mas isso não deve acontecer. É necessário
privilegiar a contratação desse tipo de produto, não vislumbrando um
benefício imediato, mas tendo um olhar no futuro, uma visão de médio e de
longo prazo.
A decisão de realizar uma compra sustentável não implica,
necessariamente, maiores gastos de recursos públicos. É preciso considerar
aspectos relacionados não apenas ao negócio em si, mas também ao processo
produtivo, aos efeitos sobre o meio ambiente e, especialmente a:
a) custos ao longo de todo o ciclo de vida: é importante ter em conta
os custos de um produto ou serviço ao longo de toda a sua vida útil – recursos
utilizados no processo fabril; preço de venda; custos de embalagem, utilização
e manutenção; custos de eliminação;
b) eficiência: as compras e licitações sustentáveis permitem satisfazer
as necessidades da Administração Pública mediante a utilização mais eficiente
dos recursos e com menor impacto socioambiental;
c) compras compartilhadas: por meio da criação de centrais de
compras, é possível a utilização de produtos inovadores e ambientalmente
adequados sem aumentar os gastos públicos, tendo em vista o ganho de escala
proporcionado por compras realizadas em conjunto por vários órgãos;
d) redução de impactos ambientais e problemas de saúde: grande parte
dos problemas ambientais e de saúde em nível local é resultado da qualidade
dos produtos consumidos, do processo fabril e dos serviços que são prestados
de forma deficiente ou que não são prestados;
e) desenvolvimento e inovação: o consumo de produtos mais
sustentáveis pelo poder público será um catalisador, estimulando mercados e
fornecedores a desenvolverem abordagens inovadoras e a aumentarem a
competitividade da indústria nacional e local.
AULA 4 – Ciclo de Vida de Produtos e Serviços – Parte 1
Nesta aula, vamos iniciar os estudos sobre ciclo de vida, que será dividido em
duas partes. Agora, vamos às disposições da nova lei de licitações sobre: ciclo
de vida, conceito de ciclo de vida e avaliação do ciclo de vida de um produto ou
serviço.
OBJETIVO
Entender o conceito de ciclo de vida, a abordagem da Lei 14.133/2021 sobre o
assunto e como se avalia esse ciclo de vida.

1. Introdução

Para abordar o assunto desta aula, vamos utilizar um estudo realizado


no âmbito da Secretaria-Geral de Administração cujo propósito foi atender
demanda da Secretaria de Licitações do Tribunal, mediante Representação,
avaliando a aplicabilidade do dispositivo constante do art. 6º, inciso XXIII, alínea
“c”, da Lei nº 14.133, de 1º de abril de 2021.

Dito dispositivo dispõe que, na contratação de bens e serviços pela


Administração Pública, o termo de referência deve descrever a solução como
um todo, considerado todo o ciclo de vida do objeto.

Conforme o referido estudo, o conceito de “ciclo de vida” foi introduzido


no ordenamento jurídico brasileiro pela Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010,
que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, e visa ao
desenvolvimento nacional sustentável: “ciclo de vida do produto: série de
etapas que envolvem o desenvolvimento do produto, a obtenção de matérias-
primas e insumos, o processo produtivo, o consumo e a disposição final.”
(inciso IV do art. 3º).

Nesse mesmo normativo, art. 3º, são apresentados diversos conceitos


relacionados com ciclo de vida e meio ambiente, tais como: coleta seletiva
(inciso IV), destinação final (inciso VI), logística reversa (inciso XII),
reciclagem (inciso XIV).
O art. 3º da Lei nº 8.666/1993 prevê o desenvolvimento nacional sustentável
como um dos objetivos da licitação pública, juntamente com a observância dos
princípios constitucionais da isonomia e da seleção da proposta mais vantajosa
para a Administração Pública. Em decorrência disso, o TCU (Acórdão
2.380/2012-TCU-2ª Câmara) determinou a utilização de critérios de
sustentabilidade ambiental em suas licitações.
A nova lei de licitações, Lei 14.133/2021, aborda em vários de seus
dispositivos, o conceito de ciclo de vida do objeto e de sua aplicação, além de
outros aspectos ambientais, conforme indicado nos itens relacionados a seguir.

Ciclo de vida

Art. 6º Para os fins desta Lei, consideram-se: […]


XXIII - termo de referência: documento necessário para a
contratação de bens e serviços, que deve conter os seguintes
parâmetros e elementos descritivos: […]
c) descrição da solução como um todo, considerado todo o ciclo de
vida do objeto;
Art. 11. O processo licitatório tem por objetivos:
I - assegurar a seleção da proposta apta a gerar o resultado de
contratação mais vantajoso para a Administração Pública, inclusive
no que se refere ao ciclo de vida do objeto;
Art. 18. A fase preparatória do processo licitatório é caracterizada
pelo planejamento e deve compatibilizar-se com o plano de
contratações anual de que trata o inciso VII do caput do art. 12
desta Lei, sempre que elaborado, e com as leis orçamentárias, bem
como abordar todas as considerações técnicas, mercadológicas e de
gestão que podem interferir na contratação, compreendidos:
VIII - a modalidade de licitação, o critério de julgamento, o modo
de disputa e a adequação e eficiência da forma de combinação
desses parâmetros, para os fins de seleção da proposta apta a gerar
o resultado de contratação mais vantajoso para a Administração
Pública, considerado todo o ciclo de vida do objeto;
§ 1º O estudo técnico preliminar a que se refere o inciso I
do caput deste artigo deverá evidenciar o problema a ser resolvido
e a sua melhor solução, de modo a permitir a avaliação da
viabilidade técnica e econômica da contratação, e conterá os
seguintes elementos: […]
XII - descrição de possíveis impactos ambientais e respectivas
medidas mitigadoras, incluídos requisitos de baixo consumo de
energia e de outros recursos, bem como logística reversa para
desfazimento e reciclagem de bens e refugos, quando aplicável;
Art. 34. O julgamento por menor preço ou maior desconto e,
quando couber, por técnica e preço considerará o menor dispêndio
para a Administração, atendidos os parâmetros mínimos de
qualidade definidos no edital de licitação.
§ 1º Os custos indiretos, relacionados com as despesas de
manutenção, utilização, reposição, depreciação e impacto
ambiental do objeto licitado, entre outros fatores vinculados ao seu
ciclo de vida, poderão ser considerados para a definição do menor
dispêndio, sempre que objetivamente mensuráveis, conforme
disposto em regulamento.
Art. 42. A prova de qualidade de produto apresentado pelos
proponentes como similar ao das marcas eventualmente indicadas
no edital será admitida por qualquer um dos seguintes meios: […]
III - certificação, certificado, laudo laboratorial ou documento
similar que possibilite a aferição da qualidade e da conformidade
do produto ou do processo de fabricação, inclusive sob o aspecto
ambiental, emitido por instituição oficial competente ou por
entidade credenciada.
Art. 45. As licitações de obras e serviços de engenharia devem
respeitar, especialmente, as normas relativas a:
I - disposição final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos
gerados pelas obras contratadas;
Art. 144. Na contratação de obras, fornecimentos e serviços,
inclusive de engenharia, poderá ser estabelecida remuneração
variável vinculada ao desempenho do contratado, com base em
metas, padrões de qualidade, critérios de sustentabilidade
ambiental e prazos de entrega definidos no edital de licitação e no
contrato.
Art. 147. Constatada irregularidade no procedimento licitatório ou
na execução contratual, caso não seja possível o saneamento, a
decisão sobre a suspensão da execução ou sobre a declaração de
nulidade do contrato somente será adotada na hipótese em que se
revelar medida de interesse público, com avaliação, entre outros,
dos seguintes aspectos:
[…]
II - riscos sociais, ambientais e à segurança da população local
decorrentes do atraso na fruição dos benefícios do objeto do
contrato;
III - motivação social e ambiental do contrato; […]

Examinando esses dispositivos, percebemos que o ciclo de vida pode ser


considerado em uma licitação para atender diversos propósitos, a depender do
objeto: definição do menor dispêndio para a Administração, obtenção da
melhor proposta, mitigação de riscos ambientais, adequada disposição final de
resíduos sólidos, conhecimento da melhor solução sob o ponto de vista
ambiental, e assim por diante.
Para dar luz ao assunto, a Representante informa a existência de manual
elaborado pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF – 3), que traz
interessante descrição do conceito citado e aborda outras questões relacionadas
à sustentabilidade. Nesse manual, assevera a unidade técnica interessada, são
explicitadas indagações sobre o conceito de ciclo de vida, do qual se conclui,
resumidamente, que a Administração Pública deve guiar suas licitações e
contratações com o objetivo de garantir produtos e serviços sustentáveis, que
causem o menor impacto ambiental possível.
É necessário, então, definir critérios objetivos de avaliação do desempenho
ambiental de um objeto em relação a outro que permitam aferir o menor
dispêndio para a Administração, conforme previsto no art. 34, § 1º, da Lei
14.133/2021, e/ou atestar o atendimento do princípio da sustentabilidade.
Vamos nos concentrar no estudo do ciclo de vida.
2. Do Conceito de Ciclo de Vida
O conceito de ciclo de vida está intrinsecamente ligado ao da
sustentabilidade, ou desenvolvimento sustentável. No dizer da ONU,
desenvolvimento sustentável é aquele que
procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem
comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as
suas próprias necessidades, significa possibilitar que as pessoas,
agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento
social e econômico e de realização humana e cultural, fazendo, ao
mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da terra e preservando
as espécies e os habitats naturais (ONU, 1987).

Sustentabilidade deve ser avaliada sob várias perspectivas: preservação do


meio ambiente, disponibilidade de recursos naturais (matérias-primas), bem-
estar das gerações futuras, desenvolvimento social, crescimento econômico,
realização cultural e outras.
Podemos dizer o mesmo de determinado produto, ressalvando, no entanto,
que, a depender de suas características, ele pode estar mais ou menos atrelado
a um desses aspectos da sustentabilidade.
O ciclo de vida contempla todas as etapas da cadeia de produção, desde a
extração da matéria-prima até o descarte final do produto no meio ambiente
(TRF, manual citado, página 8). Se examinarmos cada uma dessas etapas, será
possível determinar quais aspectos da sustentabilidade serão mais ou menos
afetados pelo produto durante sua vida útil.
Todo produto que avaliamos tem um ciclo de vida próprio, com suas
peculiaridades, insumos utilizados, maior ou menor impacto ambiental, e é
destinado a determinado grupo social, produz certo tipo de resíduos que podem
ou não ser aproveitados e, principalmente, busca suprir determinada
necessidade.

Por conta disso, ciclo de vida pode também ser entendido como o conjunto
de todas as etapas necessárias para que um produto cumpra sua função na cadeia
produtiva, considerando-se todo o trajeto desde o seu desenvolvimento (projeto
e produção), que passa por sua distribuição, seu uso, seu descarte, até o último
tratamento dos materiais que o compõem para reutilização ou não.
Esse é o entendimento do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização
e Qualidade Industrial (Inmetro): “Ciclo de vida é o conjunto de todas as
etapas necessárias para que um produto cumpra sua função na cadeia de
produtividade.” (InMetro, Análise de Ciclo de Vida - conceitos e função
2011).
Ciclo de vida de um produto

Fonte: InMetro (2011)

2.1 Ciclo de vida – Conceito Comercial


Sob o ponto de vista comercial, o ciclo de vida de um produto ou serviço
descreve a sua evolução no mercado, sendo composto de quatro fases:
Introdução – fase que contempla o desenvolvimento do produto (projeto),
sua fabricação (utilização de matéria-prima) e o seu lançamento no mercado.
Crescimento – crescimento exponencial da procura pelo produto,

caracterizando o sucesso ou não do produto no mercado.


Maturidade – os produtos bem-sucedidos começam a se estabilizar no
tocante ao volume de vendas, por conta de concorrência, novas tecnologias,
publicidade etc.
Declínio – a procura diminui, os lucros caem, os custos aumentam e o
produto sai do mercado.
Na fase de introdução, ocorre a concepção do produto. Essa concepção irá
enfrentar as questões comerciais e fabris que devem ser resolvidas antes da
conclusão pelo desenvolvimento ou não de determinado produto.
Nesse momento, todos os requisitos de sustentabilidade da matéria-prima a
ser utilizada no processo devem ser avaliados: custos envolvidos, margem de
lucro, expectativa de consumo, bem como possibilidade de utilização de
matéria-prima alternativa.
Para o projetista, é essencial conhecer o fluxo de todos os materiais
envolvidos em sua fabricação, tais como: matéria-prima, processo de extração
desse material, nível de consumo desse material, consumo de água e energia,
possibilidade de reaproveitamento dos resíduos, tratamento dado ao material
não reutilizável. É importante também conhecer a mão de obra envolvida, a
logística de transporte e armazenamento, os tipos de embalagens possíveis,
quais serão os impactos ambientais em cada uma dessas fases e como podem
ser minimizados.
Isso somente será possível se desde o início houver preocupação com todo
o ciclo de vida do produto. Infelizmente, o que observamos é que os projetistas
se preocupam muito com a conquista imediata do mercado, com o sucesso do
produto, e pouco com a questão ambiental. Por conta disso, a regulamentação é
essencial para que o cenário seja positivamente alterado e a questão ambiental
passe a ser essencial no desenvolvimento de projetos e de negócios.
A Lei 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos,
como já dito aqui, conceitua ciclo de vida do produto como uma “...série de
etapas que envolvem o desenvolvimento do produto, a obtenção de matérias-
primas e insumos, o processo produtivo, o consumo e a disposição final.” (art.
3º, inciso IV).
Esse normativo foi editado para estabelecer o adequado gerenciamento dos
resíduos sólidos (art. 4º), definindo princípios a serem observados e regras a
serem cumpridas. Veja que todas as etapas do ciclo de vida estão postas nesse
artigo de forma clara. A que fica mais evidente para o grande público é a
disposição final, ou seja, o destino final dos rejeitos, que quase sempre provoca
degradação ambiental e humana.
O início e o final do processo são fundamentais. O desenvolvimento
adequado de um produto permitirá que, ao longo de sua vida útil, ele provoque
um mínimo de danos ao meio ambiente, pois utilizará poucos recursos, poderá
ser reciclado, reutilizado, ou ser produzido por materiais que o meio ambiente
consiga absorver com facilidade.
Quando um produto é lançado no mercado de maneira planejada, fica mais
fácil, e muito mais barato, controlar tudo aquilo que vai ocorrer ao longo da sua
vida útil.
2.2 Da Avaliação do Ciclo de Vida

Avaliação do Ciclo de Vida é uma técnica para análise dos aspectos


ambientais e impactos potenciais associados à produção de determinado
produto, compreendendo etapas que vão desde a retirada da natureza das
matérias-primas que fazem parte do processo produtivo até o seu descarte final
no meio ambiente ou sua reinserção na cadeia produtiva mediante reciclagem,
reuso ou logística reversa.

O ciclo de vida de um produto deve ser monitorado e avaliado


permanentemente, permitindo o seu contínuo aperfeiçoamento. A preocupação
com a sustentabilidade é recente e muitas inovações podem surgir todo dia,
potencializando o desempenho ambiental de um produto por meio de ajustes
que podem ser feitos no ciclo.

Quando se faz a avaliação do ciclo de vida, o que se busca é conhecer todos


os impactos positivos e negativos provocados pela produção do produto, pelo
menos em tese, ao meio ambiente, às pessoas e à economia. A partir daí, é
possível adotar medidas que mitiguem os impactos negativos e potencializem
os impactos positivos no meio ambiente.

2.3 Etapas da Avaliação do Ciclo de Vida (ACV)

Definição de objetivo e escopo: principais razões para a realização da


avaliação e da definição do seu público-alvo. Aqui podemos ter, por exemplo a
avaliação do custo ambiental de determinado produto sob a ótica da
sustentabilidade como um objetivo. Feito isso, será possível definir um escopo,
consistente na escolha dos requisitos ou critérios que serão utilizados no
processo. O desafio, certamente, será avaliar o ciclo de vida para a definição do
seu custo ambiental e econômico e a utilização desse custo como requisito de
avaliação da vantajosidade de propostas em licitações públicas.
Análise do inventário: coleta e quantificação de todas as variáveis
envolvidas durante o ciclo de vida do produto, processo ou atividade. A
inexistência de dados, ou a falta de alguns deles, pode inviabilizar o processo
de avaliação.

Avaliação de impacto: a avaliação dos impactos ambientais, sociais e


econômicos visa determinar a intensidade com que todas as variáveis
envolvidas ao longo do ciclo de vida alteram essas três vertentes da
sustentabilidade, especialmente o meio ambiente.

Interpretação: os resultados obtidos nas fases de inventário e de avaliação


de impacto são analisados de acordo com o objetivo e o escopo previamente
definidos para o estudo. Nesse momento, ajustes podem ser propostos e as
informações coletadas devem servir de subsídio para a definição do custo de
um produto sob os aspectos ambientais, sociais e econômicos.

Ao analisar o ciclo de vida, o gestor deve definir a melhor estratégia a ser


utilizada para minimizar os riscos ao meio ambiente, à sociedade e à economia.
Ele pode, por exemplo, implantar a logística reversa para determinado produto,
decidir pelo reúso de matérias-primas, pelo desmanche de materiais, pelo
treinamento de pessoal, pela utilização de mão de obra local, pela reciclagem e
assim por diante.
A valoração do custo talvez seja a atividade de mais difícil execução no
processo de ACV. Temos, por exemplo, os custos devidos à disposição final de
um produto (associados à disposição do lixo urbano em aterros, coleta seletiva
ou incineração, ineficiência dos processos industriais e outros). É difícil avaliar
esses custos sob o ponto de vista financeiro, pois eles podem depender de
muitas variáveis não econômicas, envolvendo, inclusive, questões
socioculturais.

Os custos de reposição dos recursos utilizados – que se referem aos custos


das matérias-primas, renováveis ou não, efetivamente utilizadas na produção
do bem, também não facilitam as coisas para o analista de ciclo de vida. Será
possível repor determinada matéria-prima? Em quanto tempo? Qual será o
custo da busca por um meio alternativo? Precisamos mesmo desse produto? É
possível mensurar um benefício ambiental transformando-o em um valor
econômico? Como comparar o benefício ambiental de dois produtos
equivalentes?

Avaliar o ciclo de vida de um produto é essencial para que possamos utilizar


os dispositivos da nova lei de licitações que determinam que o ciclo de vida seja
considerado no momento de avaliação das propostas. Somente por meio dessa
avaliação é que será possível obter o seu custo ambiental, social, e econômico,
e conhecer o desempenho ambiental de um produto em relação a outro no
âmbito de um certame licitatório, o que permitirá selecionar a proposta que
representa o menor dispêndio para a Administração.
AULA 5 – Ciclo de Vida de Produtos e Serviços – Parte 2 – Preservação
Ambiental
Agora vamos estudar de que modo o ciclo de vida pode ser utilizado nas
licitações públicas como parâmetro para avaliação de propostas. Existe
regulamentação tratando desse assunto? O que é necessário fazer? Veremos, ao
final, alguns pontos e normativos que tratam da preservação ambiental no Brasil.
OBJETIVO
Entender a real situação relacionada com a utilização do ciclo de vida de bens e
produtos na avaliação de propostas, e a necessidade de regulamentação da
matéria e adequação do mercado. Conhecer a diferença entre preservar e proteger
o meio ambiente.

1. Introdução

Quando se trata da utilização do ciclo de vida nas licitações públicas, a


grande dificuldade está na avaliação da vantajosidade que deve ser feita com
relação aos produtos ofertados em uma licitação, conforme disposição dos arts.
11, 18 e 34 da Lei 14.133/2021. As informações necessárias não estão
disponíveis e o mercado produtor ainda não trabalha focado no ciclo de vida
daquilo que produzem.
2. Ciclo de Vida de Produtos e Serviços
Quando são comparados dois produtos, um com o ciclo de vida controlado
e outro produzido sem esse tipo de controle, é tudo muito simples. O produto
controlado será admitido na licitação, enquanto o outro deve ser recusado.
Difícil mesmo é comparar o ciclo de vida de produtos semelhantes, mas
com processos produtivos diferentes, desenvolvidos em ambientes diferentes, e
que utilizam mão de obra distinta. Qual deles é melhor sob o ponto de vista da
sustentabilidade. Qual tem o ciclo de vida menos danoso ao meio ambiente?
Qual é mais vantajoso?
Para responder essas perguntas é necessário, como já visto, conhecer em
detalhes o ciclo de vida desses produtos e isso exige envolvimento, informações
sobre todas as fases do processo produtivo, conhecimento do mercado e das
inúmeras variáveis que podem afetar a qualidade do meio ambiente e das
pessoas que nele vivem.
É evidente que a Administração Pública não tem condições para tanto,
cabendo-lhe as atribuições de ente regulamentador e de consumidora de bens e
serviços que tem, sim, a responsabilidade de conhecer razoavelmente os
produtos que adquire, o mercado no qual tais produtos estão inseridos, e de
cumprir os próprios regulamentos.
O conhecimento do mercado e dos produtos dificilmente será pleno, pois
quem conhece o ciclo de vida um produto são as próprias empresas
responsáveis pela sua produção. Cabe a elas demonstrar quais serão os recursos
utilizados no processo fabril, o tratamento de resíduos oriundos da produção e
do descarte final, as compensações ambientais a serem feitas etc.
A maneira mais simples de obter essas informações é mediante notícia do
próprio interessado. Contudo, em um ambiente competitivo, nem sempre essas
declarações são aceitas, pois carecem de isenção. Além disso, muitos dos
processos produtivos contam com a participação de várias empresas, impedindo
que mesmo elas tenham um pleno domínio de todo o ciclo de vida de um
produto.
No entanto, existem empresas que são especializadas na avaliação de
processos produtivos e que podem auxiliar os produtores e a Administração na
análise do ciclo de vida dos produtos. São as empresas certificadoras. O
processo de certificação consiste no exame de todas as fases de determinado
processo produtivo. Ao final desse exame, a empresa emite um certificado,
declarando o enquadramento do produto, no nosso caso, aos requisitos
ambientais e legais.
A dificuldade está no fato de que essa avaliação não tem o objetivo de aferir
o custo econômico sustentável desse processo produtivo, mas, sim, o
enquadramento do produto aos requisitos de sustentabilidade aplicáveis ao
caso. Por exemplo: a logística reversa de determinado produto é implantada,
mas quanto representa isso em termos do custo ambiental total? Quando apenas
parte da matéria-prima de um produto puder ser reciclada, quanto isso
representa de ganho para o meio ambiente? Essas dúvidas impedem que se faça
uma comparação entre produtos distintos de maneira objetiva, especialmente
quando se considera o cenário em que estão inseridos.
Algumas certificações já estão sendo utilizadas pela Administração que as
exige como documento essencial para aceitação de propostas em certames
licitatórios. Contudo, essas certificações, em razão do seu conteúdo, não podem
ser utilizadas como instrumento de comparação da vantajosidade prevista nos
arts. 11, 18 e 34 da Lei 14.133/2021.
O que se pode fazer, nesse caso, é aceitar ou recusar uma proposta em razão
da presença ou da ausência de certificação. Na prática, as certificações vão
declarar que determinado produto atende certos requisitos ambientais e legais
ao longo do seu ciclo de vida, sem que haja uma valoração econômica ou
ambiental.
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) possui a ISO 14000
que é uma série de certificações que estabelecem diretrizes para a
implementação de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) de qualidade. As
certificações ISO 14000 buscam assegurar o equilíbrio e a proteção ambiental.
A ideia é evitar problemas que afetem o meio ambiente, a sociedade e a
economia, que são os pilares da sustentabilidade. Assim, para obter o
certificado ISO 14000, a empresa precisa cumprir toda a legislação ambiental
prevista em nosso país ao longo do processo produtivo.
A ISO 14000 é um conjunto de normas internacionais relacionadas à gestão
ambiental, das quais a ISO 14001 é a norma mais conhecida, porque é nela que
são estabelecidos os requisitos para implantação de sistemas de gestão
ambiental e sua certificação.
A ISO 14040, por sua vez, especifica a estrutura geral, princípios e
requisitos para conduzir e relatar estudos da avaliação do ciclo de vida, sem
detalhar a técnica da avaliação do ciclo de vida que deve ser utilizada. Nessa
norma, é informado que o estudo do ACV não aborda os aspectos
econômicos ou sociais de um produto. Com essa ressalva, ficamos restritos à
abordagem exclusivamente ambiental.

Em outro ponto, a ISO 14.040 define afirmação comparativa como uma


declaração ambiental que trata da equivalência de um produto em relação a um
concorrente que tem a mesma função. Apesar dessa previsão, é feito um alerta,
nessa própria ISO, no sentido de que a comparação entre estudos de ACV só
pode ser feita quando os pressupostos e o contexto de cada estudo forem os
mesmos.
Assim, podemos dizer que, de acordo com a ABNT, a comparabilidade
ambiental entre produtos que têm a mesma função não é adequada, pois a ACV
pode ter sido desenvolvida em contextos diferentes ou com base em estudos
que estabeleceram premissas distintas.
Como consequência, não podemos utilizar certificações para demonstrar a
vantajosidade de um produto em relação a outro no âmbito das licitações
públicas. Sendo assim, elas só devem ser exigidas para comprovar que
determinado produto possui um ciclo de vida que observa certos requisitos de
sustentabilidade exigidos em lei, mas que não podem ser mensurados com
precisão. Com base nisso, definir a vantajosidade de uma proposta em relação
à outra será algo bem complexo de se fazer.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) está desenvolvendo um
trabalho muito importante relacionado à definição dos requisitos de
sustentabilidade dos bens e serviços produzidos por seus associados. A ideia é
criar fichas técnicas para cada produto, indicando as especificações técnicas que
deverão ser cobradas das empresas nos editais de licitações públicas.
Esse processo de criação de fichas técnicas está contando com o apoio do
TCU, que atendeu demanda da CNI nesse sentido. Trata-se de um trabalho cujo
resultado permitirá à administração tratar com isonomia os eventuais licitantes,
facilitará a especificação dos objetos licitados por meio da padronização e,
certamente, trará muitos benefícios sob o ponto de vista da sustentabilidade.
Teremos aí a padronização das especificações técnicas dos bens e serviços sob
a ótica da sustentabilidade.
Claro que os benefícios trazidos pela sistematização das especificações
técnicas estarão restritos às empresas associadas à CNI e aos bens produzidos
por elas. Contudo, essa iniciativa irá criar um paradigma de qualidade
importante para as demais empresas do mercado. Estas, para se manterem
competitivas, precisarão produzir bens com qualidade ambiental equivalente,
uma vez que a disponibilização dessas fichas nos portais de compras públicas
permitirá a universalização desse procedimento.
Apesar de ser uma iniciativa importante, as fichas técnicas também não têm
a serventia de atender ao propósito previsto na nova lei de licitações, qual seja,
a de demonstração da vantajosidade de um produto, por conta do seu ciclo de
vida, em detrimento de outro, e a obtenção do menor dispêndio para a
Administração (arts. 11, 18 e 34 da Lei 14.133/2021). Na verdade, essas fichas
não têm a pretensão de detalhar o ciclo de vida, mas tão somente de especificar
tecnicamente produtos sustentáveis.
2.1 Da utilização do ciclo da vida na avaliação das propostas
Devemos considerar que, atualmente, temos um mercado produtivo
pulverizado em nível mundial. Muitos produtos e matérias-primas originários
de outros países chegam ao Brasil com muita frequência. Isso aumenta a
dificuldade de avaliação do ciclo de vida, pois nem todos os países seguem as
mesmas regras de preservação ambiental, ou mesmo de certificação.
A avaliação econômica ou social do ciclo de vida é contraindicada, em
razão de sua inviabilidade técnica. Reduzir a valores monetários questões
humanas e culturais não é muito simples. Mesmo a avaliação ambiental deve
ser feita com base em critérios muito rígidos, haja vista o elevado risco que se
tem quando se comparam produtos que possuem ciclos de vida diferentes e que
estão inseridos em contextos distintos, conforme alerta feito pela ABNT. O
caráter subjetivo dessa avaliação cria um obstáculo muito grande em um
processo de licitação cuja seleção de proposta deve feita de maneira a preservar
o princípio da objetividade.
O processo de certificação, ou mesmo de autodeclaração do fabricante, nos
casos de objetos mais simples, talvez seja, no momento, a forma mais prática e
objetiva de se avaliar produtos quanto à sustentabilidade. Essa avaliação,
contudo, estará restrita à observância ou não dos requisitos de sustentabilidade
previstos em lei e que deve ser utilizada apenas para aceitação ou recusa de
propostas.
Normalmente, quando falamos sobre certificação, estamos pensando no
enquadramento de um produto a padrões previamente estabelecidos. Sendo
assim, em se tratando de ciclo de vida, a certificação deve declarar que
determinado produto atende requisitos ambientais e legais.
É exatamente isso que está previsto no artigo 42 da Lei 14.133/2021:
Art. 42. A prova de qualidade de produto apresentado pelos
proponentes como similar ao das marcas eventualmente indicadas
no edital será admitida por qualquer um dos seguintes meios: [...]
III - certificação, certificado, laudo laboratorial ou documento
similar que possibilite a aferição da qualidade e da conformidade
do produto ou do processo de fabricação, inclusive sob o aspecto
ambiental, emitido por instituição oficial competente ou por
entidade credenciada.

Ou seja, a certificação, no momento, destina-se a declarar que um produto


possui os requisitos mínimos de qualidade, e que está em conformidade com a
legislação geral e com aquela referente à sustentabilidade.

Resumindo, no atual cenário, parece não ser possível comparar


economicamente propostas em um processo licitatório sustentável, pelas
seguintes razões:
1) impossibilidade de se avaliar o desempenho ambiental dos produtos
ofertados;
2) inexistência de normativos específicos, tratando da matéria;
3) certificação de produtos existente não contempla aspectos
econômicos e sociais;
4) certificação de produtos existente não permite a comparação do
desempenho ambiental de produtos.

2.2 Da necessidade de Regulamentação


A nova lei lançou um desafio novo: a necessidade de mensurar os custos
envolvidos na fabricação de um produto sustentável e de comparar ciclos de
vida distintos de produtos semelhantes.
O novo estatuto das licitações prevê, ao longo do seu texto, a necessidade
de melhor detalhamento de seus dispositivos por meio de regulamentação. No
caso específico do julgamento por menor preço, por exemplo, a necessidade de
regulamentação está consignada no parágrafo 1º do art. 34.
Art. 34. O julgamento por menor preço ou maior desconto e,
quando couber, por técnica e preço considerará o menor dispêndio
para a Administração, atendidos os parâmetros mínimos de
qualidade definidos no edital de licitação.
§ 1º Os custos indiretos, relacionados com as despesas de
manutenção, utilização, reposição, depreciação e impacto
ambiental do objeto licitado, entre outros fatores vinculados ao seu
ciclo de vida, poderão ser considerados para a definição do menor
dispêndio, sempre que objetivamente mensuráveis, conforme
disposto em regulamento. (Lei 14.133/2021, grifo nosso).

Trata-se de obter o valor correspondente ao menor dispêndio, ao menor


custo para a Administração, ou o que podemos chamar de melhor preço
sustentável, haja vista a literal exigência de avaliação do impacto ambiental do
objeto licitado e de outros fatores vinculados ao ciclo de vida do produto sempre
que os custos decorrentes sejam mensuráveis.
A ressalva “sempre que objetivamente mensuráveis, conforme disposto em
regulamento” é adequada, pois a Administração e mesmo muitas das empresas
que integram o mercado ainda não possuem condições de avaliar
objetivamente esses custos. Questões ambientais, sociais, econômicas e
culturais tornam esse mister difícil, conforme abordamos quando tratamos da
certificação.
O Decreto nº 7.746 de 2012, que regulamenta o art. 3º da Lei 8.666/1993,
estabelece alguns critérios e práticas para a promoção do desenvolvimento
nacional sustentável (art. 4º) nas contratações realizadas pela Administração,
mas não cria mecanismos que permitam aferir ou mensurar tais requisitos. O
mesmo ocorre nos diversos normativos legais e nas normas técnicas que tratam
desse assunto.
Desse modo, fica evidente que o assunto está carente de regulamentação. A
seleção de muitos produtos e serviços que estão sendo ou serão contratados num
futuro próximo pela Administração não poderão ser feitas nos exatos termos
previstos na Lei 14.133/2021. É preciso que o assunto seja devidamente
regulamentado, como está indicado literalmente no § 1º do art. 34 para que seja
possível caracterizar o que seja menor dispêndio para a Administração.
Além disso, é oportuno lembrar que toda licitação deve atender os
princípios do julgamento objetivo e da legalidade. Desse modo, os requisitos
que serão exigidos dos licitantes precisam estar claramente indicados no edital
de licitação. Assim, não é possível que o administrador selecione uma ou outra
proposta com base em critérios meramente opinativos.

Por outro lado, o conceito de ciclo de vida pode ser considerado, quando
for conhecido, para atender alguns dispositivos da nova lei relacionados com o
cumprimento de requisitos de sustentabilidade, o que pode ser demonstrado
pelo interessado mediante certificação ou autodeclaração, desde que esta seja
uma prática amplamente disseminada no mercado.
2.3 Conclusão sobre avaliação do ciclo de vida nas propostas
Diante disso, é razoável tirar as seguintes conclusões:
– o conceito de ciclo de vida como parâmetro de comparabilidade entre
propostas no âmbito das licitações públicas carece de regulamentação e ainda
não pode ser utilizado;
– o ciclo de vida pode ser considerado para demonstrar o atendimento a
requisitos de sustentabilidade previstos em lei, o que pode ser feito mediante
autodeclaração do produtor ou certificação;
– os normativos técnicos desenvolvidos pelo Inmetro declaram não ser
possível fazer a avaliação econômica e social do ciclo de vida e contraindicam
a comparabilidade ambiental de produtos semelhantes, conforme consta da
série ISO 14.000.

3 Preservação do Meio Ambiente

Quando pensamos em preservação ou conservação ambiental, logo fazemos


uma associação com a degradação do meio ambiente. Poluição da natureza,
extinção de animais, desmatamento, assoreamento de rios, tudo provocado por
nós, seres humanos. Estamos certos, mas os termos preservação e conservação
têm significados diferentes quando tratamos de sustentabilidade.

3.1 Distinção entre Preservação e Conservação Ambiental


No caso da preservação ambiental, a natureza é protegida. Não há
intervenção humana. É o que ocorre com algumas reservas naturais cujo acesso
é vedado às pessoas. A natureza fica intocada. Não existe exploração
econômica. Os recursos naturais ali existentes não são explorados. Existem
cada vez menos áreas assim, e as que existem se tornam alvo daqueles que
veem sentido apenas na exploração econômica da natureza.
A conservação, por sua vez, é algo menos rígido. Procura-se fazer a
exploração sustentável dos recursos que podem ser renovados com a utilização
de técnicas de manejo adequadas. Existe uma busca pelo uso racional dos
recursos naturais, pelo desenvolvimento sustentável.

3.2 Proteção ambiental

A proteção ambiental é a prática de proteger o ambiente natural,


nos níveis individual, organizacional ou governamental, tanto em
benefício do próprio meio ambiente como dos seres humanos.
Devido às pressões populacionais e de tecnologia, o ambiente
biofísico está a ser degradado, por vezes de forma permanente. Isto
tem sido reconhecido, e os governos começaram a colocar
restrições sobre as atividades que causam degradação ambiental.
Desde os anos 1960, as atividades dos movimentos
ambientalistas criaram a consciência de várias questões
ambientais.[1] Não há acordo sobre a extensão do impacto
ambiental da atividade humana e as medidas de proteção são
ocasionalmente censuradas.
A proteção do meio ambiente é necessária devido às várias
atividades humanas. A produção de resíduos, a poluição do ar e
também a perda de biodiversidade (resultante da introdução
de espécies invasoras e da extinção de espécies) são algumas das
questões relacionadas com a proteção ambiental.
A proteção ambiental é influenciada por três fatores
interligados: legislação ambiental, ética e educação. Cada um
desses fatores desempenha o seu papel em influenciar decisões
ambientais a nível nacional e os valores e comportamentos
ambientais a nível pessoal. Para que a proteção do meio ambiente
se torne uma realidade, é importante que as sociedades
desenvolvam cada uma dessas áreas que, em conjunto, irão
informar e conduzir as decisões ambientais. (WIKIPEDIA,
https://pt.wikipedia.org/wiki/).
É preciso ressaltar que legislação adequada, ética, consistente no respeito à
natureza, e educação são fatores essenciais para a proteção do meio ambiente.
Para que o processo seja eficaz, é necessária a conjugação desses fatores. Existe
resistência, mas cada um de nós, de per si, pode praticar algumas ações que irão
ajudar e muito a preservar o meio ambiente. Veja alguns exemplos:
- Não jogue lixo nas ruas. Muitos materiais levam anos para se decompor
no ambiente natural.
- Não desperdice água.
- Separe o lixo orgânico do reciclável.
- Evite usar materiais descartáveis, como sacolas plásticas.
- Denuncie ações danosas ao meio ambiente.
- Não compre animais silvestres.
- Reduza o consumo.
- Doe o que você não usa mais.
- Evite cápsulas de café e saquinhos de chá. São extremamente agressivos
ao meio ambiente.

"Só quando a última árvore for derrubada, o último peixe for morto e o último
rio for poluído é que o homem perceberá que não pode comer dinheiro."

Provérbio indígena

https://www.youtube.com/watch?v=DHqMmFzAjP8

4. Brasil e o meio ambiente


Mesmo sendo diferentes os conceitos de preservação e de conservação
ambiental, os dois termos são utilizados um pelo outro de maneira generalizada.
No Brasil, existem diversas leis que foram editadas com a finalidade de proteger
o meio ambiente e as pessoas que nele vivem. O propósito maior é o
desenvolvimento sustentável em nosso país, que é um importante sítio natural
em nível global. O Ministério do Meio Ambiente é o responsável por ações
políticas e ambientais por meio da Lei de Crimes Ambientais, da Política
Nacional de Recursos Hídricos e da Política Nacional da Educação Ambiental,
entre outros. Os instrumentos existem, basta saber aplicá-los. Eis alguns deles:

Lei nº 6.938/1981 com alterações – instituiu a Política Nacional do Meio


Ambiente, buscando compatibilizar o desenvolvimento econômico e social com
a preservação da qualidade do meio ambiente por intermédio da definição das
áreas prioritárias de ação governamental, relativa à qualidade e ao equilíbrio
ecológico;

Lei nº 8.213/1991 – dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência e


dá outras providências. Regula a contratação de portadores de necessidades
especiais. As empresas com 100 ou mais funcionários devem preencher de 2% a
5% por cento dos seus cargos com pessoas reabilitadas ou com deficiência (art.
93). Esse normativo tem um forte caráter social na medida em que busca proteger
aquelas pessoas que, por sua condição física, têm grande dificuldade de inserção
no mercado de trabalho. Importante: esse percentual não se aplica de maneira
generalizada às licitações, ou seja, não incide necessariamente sobre o quadro de
empregados que serão disponibilizados a determinado órgão público.
Evidentemente, a admissão de PCDs depende do tipo de atividade que será
exercida;
Lei nº 10.098/2000, Lei da Acessibilidade – estabelece as normas gerais e
os critérios básicos para promover a acessibilidade de todas as pessoas
portadoras de deficiência ou que apresentam mobilidade reduzida,
indiferentemente de qual seja essa deficiência (visual, locomotora, auditiva
etc.), por meio da eliminação dos obstáculos e das barreiras existentes nas vias
públicas, na reforma e construção de edificações, no mobiliário urbano e, ainda,
nos meios de comunicação e transporte;

Lei nº 12.187/2009 – instituiu a Política Nacional sobre Mudança do Clima


(PNMC), oficializando o compromisso voluntário do Brasil junto à Convenção
das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, no sentido de reduzir a emissão
de gases de efeito estufa e garantir que o desenvolvimento econômico e social
contribua para a proteção do sistema climático global;

Lei nº 12.305/2010 – instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que


procura organizar o tratamento que deve ser dado ao lixo produzido, tanto no
setor público como no privado, estabelecendo requisitos de gerenciamento com
vistas à proteção do meio ambiente e ao possível reaproveitamento desses
resíduos no processo produtivo. O desordenado crescimento urbano, o fluxo
migratório, o aumento da população e a falta de políticas públicas eficientes
têm provocado um grande descontrole no elevado volume de resíduos
produzidos pela sociedade. O descarte inadequado desses resíduos, além de
prejudicar o meio ambiente, pode ser danoso à saúde humana, sem falar no
desperdício de materiais que poderiam ser reinseridos na cadeia produtiva;

Decreto nº 7.404/2010 – regulamenta a Lei 12.305/2010, que instituiu a


Política Nacional de Resíduos Sólidos, cria o Comitê Interministerial da
Política Nacional de Resíduos Sólidos e o Comitê Orientador para a
Implantação dos Sistemas de Logística Reversa;

Decreto nº 7.746/2012 – regulamenta o art. 3º da Lei nº 8.666, de 21 de


junho de 1993, para estabelecer critérios e práticas para a promoção do
desenvolvimento nacional sustentável nas contratações realizadas pela
Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional, e pelas
empresas estatais dependentes, e institui a Comissão Interministerial de
Sustentabilidade na Administração Pública (CISAP).
Aula 6 – A Agenda Ambiental da Administração Pública – A3P
Nesta aula, vamos conhecer a Agenda Ambiental da Administração Pública –
A3P: como o assunto licitações sustentáveis é tratado na Agenda, quais os
requisitos essenciais nela elencados para caracterização de bens e serviços
sustentáveis, os eixos temáticos da Agenda e a diretiva RoHs.
Acesse o link https://antigo.mma.gov.br/mma-em-numeros/a3p.html e leia a
cartilha da A3P.
Acesse o link
https://eur-lex.europa.eu/legal--
ontent/PT/TXT/?uri=CELEX%3A32011L0065
e conheça a diretiva RoHs do parlamento europeu.
OBJETIVO
Ao final da aula, o aluno deverá conhecer a Agenda A3P e seus eixos temáticos,
os requisitos para caracterização de bens e serviços sustentáveis e a diretiva
RoHs.

1. Introdução

A Administração Pública, como grande consumidora de bens e


serviços, como cumpridora responsável das políticas públicas e
com o poder de compra que possui por meio das licitações, precisa
dar o exemplo das boas práticas nas atividades que lhe cabem.
Desta forma, o material que compõe esta cartilha foi especialmente
elaborado para os gestores públicos federais, estaduais e
municipais com o intuito de auxiliá-los no processo de inserção da
responsabilidade socioambiental e da sustentabilidade em tais
atividades. O grande desafio consiste em transpor o discurso
meramente teórico e concretizar a boa intenção num compromisso
sólido, já que a adoção de princípios sustentáveis na gestão pública
exige mudanças de atitudes e de práticas. Para que isso ocorra, se
fazem necessárias a cooperação e união de esforços visando
minimizar os impactos sociais e ambientais advindos das ações
cotidianas atinentes à Administração Pública.Nesse sentido, o
Ministério do Meio Ambiente criou o programa Agenda Ambiental
na Administração Pública (A3P), uma ação que busca a construção
de uma nova cultura institucional nos órgãos e entidades públicos.
A A3P tem o objetivo de estimular os gestores públicos a
incorporar princípios e critérios de gestão socioambiental em suas
atividades rotineiras, levando à economia de recursos naturais e à
redução de gastos institucionais por meio do uso racional dos bens
públicos, da gestão adequada dos resíduos, da licitação sustentável
e da promoção da sensibilização, capacitação e qualidade de vida
no ambiente de trabalho. (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE,
Cartilha A3P, 3. ed., 2009).

A Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P) surgiu em 1999,


com a finalidade de fazer com que os requisitos de sustentabilidade passassem
a integrar os processos produtivos e de comercialização no âmbito da
Administração Pública com vistas à proteção do meio ambiente e ao
desenvolvimento econômico e social do país. Trata-se de uma agenda de
compromissos a que os órgãos da Administração podem aderir com o intuito de
atuar em sintonia com as ações mais avançadas de administração pública e
sustentabilidade, além de se manterem em conformidade com a legislação que
trata dessa matéria, a qual, por conta do ineditismo dessas questões, vem sendo
aperfeiçoada regularmente.
A A3P tem o objetivo de estimular os gestores públicos a incorporar
princípios e critérios de gestão socioambiental em suas atividades rotineiras. A
ideia é que, por meio desse projeto, a Administração Pública possa atuar como
indutora na busca pelo desenvolvimento nacional sustentável, como agora
dispõe a nossa lei de licitações, e de acordo com as práticas internacionais mais
avançadas.
A A3P está estruturada em seis eixos temáticos, baseados na política dos
5 Rs (Repensar, Reduzir, Reaproveitar, Reciclar e Recusar o consumo de
produtos com impactos socioambientais negativos. Esses seis eixos são os
seguintes:

1) uso racional dos recursos naturais e bens públicos;


2) gestão dos resíduos;
3) qualidade de vida no trabalho;
4) sensibilização e capacitação dos servidores;
5) compras públicas sustentáveis; e
6) construções sustentáveis.

Assim, por meio dessa agenda, tais questões passam a representar objetivos
a serem alcançados em toda a Administração pública. O nosso foco são as
compras públicas sustentáveis, e a agenda estabelece alguns requisitos que
devem ser observados para que elas se tornem prioritárias no âmbito da
Administração pública.
2. Licitações Sustentáveis na A3P
A Administração Pública deve promover a responsabilidade socioambiental
das suas compras. Licitações que levem à aquisição de produtos e serviços
sustentáveis são importantes não só para a conservação do meio ambiente, mas
também por representar melhor relação custo/benefício a médio e longo prazo.
Assim, é fundamental que os gestores públicos tenham informações sobre
produtos e serviços sustentáveis, conheçam os mecanismos legais para garantir
a preferência pelos produtos sustentáveis, e promovam a capacitação dos
agentes públicos (A3P).
Em todo o mundo, o poder de compra e contratação do Governo tem um
papel de destaque na orientação dos agentes econômicos quanto aos padrões do
sistema produtivo e do consumo de produtos e serviços ambientalmente
sustentáveis. No Brasil, estima-se que as compras governamentais movimentem
cerca de 10% a 15% do PIB nacional, como dito.
A utilização de recursos públicos para aquisição de produtos ou
contratação de serviços gera impactos significativos na economia. Nesse
contexto, o agente tomador de decisão deve dispor de instrumentos que lhe
permitam fundamentá-las nas melhores práticas que envolvam aspectos
econômicos, ambientais e sociais.
Compras sustentáveis consistem naquelas em que se tomam atitudes para
que o uso dos recursos materiais seja o mais eficiente possível. Isso envolve
integrar os aspectos ambientais em todos os estágios do processo de compra,
evitar compras desnecessárias e identificar produtos mais sustentáveis, que
cumpram as especificações de uso requeridas.
Não se trata de priorizar produtos apenas devido ao seu aspecto ambiental,
mas, sim, de considerar seriamente tal aspecto juntamente com os tradicionais
critérios de especificações técnicas e preço. Em muitos países, como Canadá,
Estados Unidos, Japão, e em países da União Europeia, as iniciativas de
compras sustentáveis foram introduzidas inicialmente como programas de
adoção de boas práticas ambientais, entre elas o acesso às informações sobre
produtos e serviços sustentáveis, mecanismos legais para garantir preferência a
produtos sustentáveis e capacitação dos agentes públicos (A3P).
3. Aquisição de Bens
Na aquisição de bens/produtos, alguns requisitos foram elencados como
essenciais à realização de licitações sustentáveis:
- que os bens sejam constituídos, no todo ou em parte, por material
reciclado, atóxico, biodegradável, conforme ABNT NBRs 15448-1 e 15448-2;
- que sejam observados os requisitos ambientais para a obtenção de
certificação do Inmetro como produtos sustentáveis ou de menor impacto
ambiental em relação aos seus similares;
- que os bens devam ser, preferencialmente, acondicionados em embalagem
individual adequada, com o menor volume possível, que utilize materiais
recicláveis, de forma a garantir a máxima proteção durante o transporte e o
armazenamento; e
- que os bens não contenham substâncias perigosas em concentração acima
da recomendada na diretiva RoHS (Restriction of Certain Hazardous
Substances), tais como mercúrio (Hg), chumbo (Pb), cromo hexavalente
(Cr(VI)), cádmio (Cd), bifenil-polibromados (PBBs), éteres difenil-polibromados
(PBDEs).
4. Contratação de Serviços
No caso da contratação de serviços, as empresas prestadoras também estão
sujeitas à obrigação de atender diversos requisitos, dentre os quais destacamos:
- usar produtos de limpeza e conservação de superfícies e objetos
inanimados que obedeçam às classificações e especificações determinadas pela
ANVISA;
- adotar medidas para evitar o desperdício de água tratada, conforme
instituído no Decreto nº 48.138, de 8 de outubro de 2003;
- fornecer aos empregados os equipamentos de segurança que se fizerem
necessários para a execução de serviços.
5. Termo de Adesão à Agenda A3P
O Termo de Adesão é o instrumento pelo qual a instituição (órgão público)
formaliza seu compromisso de implantar a A3P. Isso ocorre por meio da
assinatura do termo entre as partes e por meio da consolidação de um Plano de
Trabalho acordado com o MMA, contendo um rol de metas e ações a serem
atingidas pela instituição em prazos diversos. Dessa maneira, de forma
cooperativa e integrada, é possível inserir a variável socioambiental no
cotidiano da instituição.
Para o sucesso da implementação das ações da A3P, definidas no Plano de
Trabalho, principalmente no que tange às mudanças de hábitos e atitudes, é
imprescindível que os servidores estejam sensibilizados para a importância da
Agenda. Assim, deve haver um envolvimento mais significativo de cada
indivíduo no processo.
O monitoramento contínuo e a avaliação periódica permitem que sejam
determinados os pontos críticos, as melhorias indispensáveis e os
procedimentos exitosos, de forma que se identifiquem as necessidades e
prioridades para replanejar as atividades. O monitoramento necessita de um
conjunto de indicadores para mensurar os avanços atingidos.
A própria Agenda apresenta algumas sugestões de ações que devem ou
podem ser implementadas. O uso racional de recursos naturais e o combate ao
desperdício (redução do consumo de papel, energia, água, copos plásticos etc.);
gestão de resíduos (coleta seletiva, adequada destinação de resíduos perigosos);
qualidade de vida no trabalho (saúde, segurança, integração); licitações
sustentáveis.
Links de acesso:

https://antigo.mma.gov.br/mma-em-numeros/A3P.html (sítio da A3P)

https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/?uri=CELEX%3A32011L0065 (diretiva
RoHS – Parlamento europeu)
Aula 7 – Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS)
O que é um ODS? Quais são eles e o que representam? Quais as suas dimensões?
Esses pontos serão estudados nesta aula. Veremos também o que é IASA e como
monitorar esse índice.
Acesse o link https://portal.tcu.gov.br/sustentabilidade/ e veja como estão os
indicadores de sustentabilidade no TCU.
OBJETIVO
Entender o que é um ODS e como se deve monitorar esse indicador.
1. Introdução

Os dezessete ODS são marcos que foram criados pela Organização das
Nações Unidas (ONU) em 2015, durante a Cúpula das Nações Unidas para o
Desenvolvimento Sustentável, e compõem uma agenda mundial para a
construção e a implementação de políticas públicas que visam aumentar a
qualidade de vida da humanidade até 2030.
2. Os 17 ODS

A agenda global dos ODS refere-se a um compromisso assumido pelos 193


Estados-membros da ONU, a ser implementado até 2030, composto por
dezessete objetivos e 169 metas. Os ODS deverão orientar as políticas nacionais
dos países que aderiram à Agenda, sucedendo e atualizando os Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio (ODM).
Os dezessete ODS e suas metas abarcam temáticas diversificadas, como
erradicação da pobreza, segurança alimentar e agricultura, saúde e bem-estar,
educação, igualdade de gênero, redução das desigualdades, energia, água e
saneamento, padrões sustentáveis de produção e de consumo, mudança do
clima, cidades sustentáveis, proteção e uso sustentável dos oceanos e dos
ecossistemas terrestres, crescimento econômico inclusivo, infraestrutura e
industrialização, governança, e meios de implementação.
O assunto avançou e, diante da necessidade de unir forças para enfrentar os
principais desafios relacionados às questões sociais, econômicas e ambientais
em todo o mundo, a ONU propôs a seus países-membros a criação da Agenda
2030, que levou em consideração a busca pelo alcance dos objetivos de
desenvolvimento sustentável.
Para o cumprimento dos ODS, é preciso muita cooperação entre todos os
interessados. Por isso mesmo é que os ODS também são conhecidos
como Objetivos Globais, pois a mobilização de todos os países é fundamental
para o sucesso da Agenda. Somente com uma mobilização em nível global é
que será possível erradicar de vez a pobreza, proteger o meio ambiente de
maneira eficaz e proporcionar melhores condições de vida para todos, sem
qualquer tipo de distinção.
Os ODS devem ser vistos como elementos que se complementam – haja
vista o forte inter-relacionamento observado – e que envolvem as dimensões
econômica, social e ambiental do desenvolvimento sustentável.
Os 17 Objetivos Globais estão subdivididos em 169 metas, que
compreendem quatro dimensões principais:
1. Dimensão Social
São as necessidades humanas, cujo atendimento define o nível da qualidade
de vida das pessoas, tais como saúde, segurança, educação, justiça, lazer, e
assim por diante.
2. Dimensão Ambiental
Nesse caso, trata-se de preservar e conservar o meio ambiente. Aqui,
podemos relacionar a proteção das florestas, a conservação das fontes de água,
a manutenção da biodiversidade, as ações de combate à poluição atmosférica,
as mudanças climáticas etc.
3. Dimensão Econômica
Esta dimensão cuida do uso adequado dos recursos naturais: gestão de
resíduos, reciclagem, desperdício, uso sustentável da energia etc.
4. Dimensão Institucional
A quarta dimensão diz respeito ao que é possível ser feito para que os ODS
se tornem uma realidade.

A seguir, relacionamos os 17 ODS. Nossa sugestão é que você já comece a


refletir sobre o importante papel da sua organização no cumprimento das metas.
Como ela pode contribuir para alcançar os objetivos traçados? Que esforços já
estão sendo feitos e quais ainda podem acontecer?
ODS 1 – Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os
lugares.
ODS 2 – Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da
nutrição e promover a agricultura sustentável.
ODS 3 – Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos,
em todas as idades.
ODS 4 – Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e
promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos.
ODS 5 – Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e
meninas.
ODS 6 – Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e do
saneamento para todos.
ODS 7 – Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço
acessível à energia para todos.
ODS 8 – Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e
sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos.
ODS 9 – Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização
inclusiva e sustentável e fomentar a inovação.
ODS 10 – Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles.
ODS 11 – Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos,
seguros, resilientes e sustentáveis.
ODS 12 – Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis.
ODS 13 – Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e
seus impactos.
ODS 14 – Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos
recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável.
ODS 15 – Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos
ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a
desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de
biodiversidade.
ODS 16 – Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o
desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e
construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis.
ODS 17 – Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria
global para o desenvolvimento sustentável.
3. Índice de Acompanhamento da Sustentabilidade na
Administração (IASA)
Com o intuito de verificar o nível de implementação das ações de
sustentabilidade pela Administração Pública Federal, e considerando ainda que
a Administração não realiza esse tipo de acompanhamento, o TCU, no âmbito
da auditoria operacional que resultou no Acórdão 1.056/2017, criou o Índice de
Acompanhamento da Sustentabilidade da Administração (IASA), definido após
pesquisa realizada em mais de 100 instituições da esfera federal com maior
relevância nos gastos de água, de energia elétrica e de papel.
Devido à abrangência do tema, o IASA foi definido como a média de onze
critérios/eixos temáticos estabelecidos na auditoria. Os onze eixos temáticos da
sustentabilidade avaliados neste trabalho foram divididos conforme relação
seguinte:

1. elaboração, implementação e monitoramento do PLS;


2. racionalização no uso de energia elétrica;
3. racionalização no uso de água;
4. atendimento a requisitos de acessibilidade;
5. certificação de prédios públicos;
6. racionalização no uso de papel e implementação de processo
eletrônico;
7. gestão de resíduos e coleta seletiva;
8. contratações públicas sustentáveis;
9. mobilidade e gases de efeito estufa;
10. conscientização e capacitação; e
11. adesão a programas de sustentabilidade.
Vejam a figura 5.1: considerando uma escala de avaliação de 0 a 3 nas ações
constantes dos onze eixos temáticos da sustentabilidade abordados na auditoria,
a média obtida pelas instituições representantes dos Três Poderes (Executivo,
Legislativo e Judiciário) que aderiram ao questionário foi de 1,64, o que
enquadra a Administração Pública Federal em uma faixa de performance
intermediária (nível amarelo, de 1 a 2), demandando atenção para que as ações
alcancem a faixa superior, representada pela pontuação de 2 a 3 (nível verde).
O nível vermelho é representado pela pontuação de 0 a 1 (Acórdão 1.056/2017-
TCU).
Definidos esses requisitos, o TCU decidiu implementar o índice,
conforme item 9.2.1. do Acórdão 1.056/2017:
9.2.1. implementar o Índice de Acompanhamento da
Sustentabilidade na Administração (IASA), com eventuais
adaptações e atualizações que se fizerem necessárias, de acordo
com as tratativas já iniciadas em reuniões da Cisap, de modo a
possibilitar a verificação e o acompanhamento da evolução de
ações que visem à sustentabilidade na APF, valendo-se, na medida
do possível, do aplicativo de TI desenvolvido em cumprimento ao
item 9.9.4 deste Acórdão;

3.1 Monitoramento do IASA

No exercício de 2021, o TCU realizou uma auditoria de monitoramento que


resultou no Acórdao 3.254/2021. O objetivo foi monitorar o cumprimento do
Acórdão 1.056/2017-TCU-Plenário. Esse monitoramento consistiu na
avaliação das ações adotadas pela Administração para melhorar os indicadores
de sustentabilidade representados pelo IASA.

O TCU, em sua área administrativa, desenvolveu um painel de


sustentabilidade, disponibilizando todos os dados apurados em cada
exercício. A seguir, em formato de tabela, temos a evolução do IASA nos três
levantamentos feitos pelo Tribunal. Vejam que todos os índices atingiram o
nível de excelência, demonstrando que as ações adotadas internamente foram
muito bem-conduzidas.

IASA = Tabela Comparativa 2017-2020-2022 - TCU


INDICADOR – CONCEITO MÁXIMO 3,00 RESULTADO RESULTADO RESULTADO
2017-TCU 2020-TCU 2022-TCU

1- Elaboração, implementação e monitoramento do PLS 3,00 3,00 3,00

2 - Racionalização no uso de energia elétrica 2,00 3,00 3,00

3 - Racionalização no uso de água 3,00 3,00 3,00

4 - Atendimento a requisitos de acessibilidade 2,60 2,80 3,00

5 -Certificação de prédios públicos 1,00 3,00 3,00

6 - Racionalização uso de papel e implementação 3,00 3,00 3,00


processo eletrônico

7 - Gestão de resíduos e coleta seletiva 1,00 1,00 3,00


8 - Contratações públicas sustentáveis 2,00 2,80 3,00

9- Mobilidade e gases de efeito estufa 2,00 3,00 3,00

10- Conscientização e capacitação 3,00 3,00 3,00


11- Adesão a programas de sustentabilidade 1,00 3,00 3,00

Média obtida 2,15 2,71 3,00


Esses dados também podem ser apresentados na forma de infográfico,
conforme figura constante do item 5.1 acima. Isso facilita muito a visualização e
a compreensão das informações.
Acesse informações com detalhamento do consumo do TCU no link a
seguir.
https://portal.tcu.gov.br/sustentabilidade/

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