Você está na página 1de 25

Rogério Garbin

A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO NACIONAL


SUSTENTÁVEL NAS LICITAÇÕES E CONTRATAÇÕES PÚBLICAS

Porto Velho
2018
ROGERIO GARBIN

A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO NACIONAL


SUSTENTÁVEL NAS LICITAÇÕES E CONTRATAÇÕES PÚBLICAS

Artigo Científico apresentado no VII


Fórum de Direito Constitucional e
Administrativo Aplicado aos Tribunais de
Contas por ocasião do Concurso de
Artigos Científicos

Área de Concentração:
Administração Pública

Porto Velho
2018
GARBIN, Rogério. Título: A Aplicação do Princípio do Desenvolvimento Nacional
Sustentável nas Licitações e Contratações Pública.

RESUMO

A fim de garantir os direitos e suprir as necessidades da sociedade, o Estado busca


fornecer serviços como educação, saúde e segurança. Para tanto, as contratações
neste âmbito devem obrigatoriamente, como regra, ser realizadas à partir de processos
licitatórios que garantam a isonomia e a ampla concorrência. Tais licitações, regradas
através da Lei 8.666/93, são alicerçadas em princípios como legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Em 2010, além desses princípios,
a Lei Nº 12.349/10 vem consagrar mais um princípio na Administração Pública, a saber,
o Princípio do Desenvolvimento Nacional Sustentável, que não só garante os direitos já
vigentes como busca fomentar o desenvolvimento ecológico, ou seja, meio ambiente,
social e econômico da sociedade no processo de contratação ou aquisição de material.
A observância deste princípio não apenas protege o processo licitatório, mas garante
que as contratações e aquisições superem as expectativas da ação em si, e ainda
preocupa-se com o cumprimento dos objetivos que motivaram tal contratação. Este
artigo trará uma reflexão sobre a importância da aplicação deste Princípio nos
processos licitatórios e ainda proporá a incorporação de informações importantes no
instrumento de referência a fim de resguardar não apenas a contratação em si, mas
assegurar que as razões que motivaram a mesma, sejam alcançadas.

Palavras-chave: Desenvolvimento, Sustentabilidade, Meio Ambiente, Social,


Econômico.
RESUMEN

Con el fin de garantizar los derechos y satisfacer las necesidades de la sociedad, el


Estado busca proporcionar servicios como educación, salud y seguridad. Para ello, las
contrataciones en este ámbito deben obligatoriamente, como regla, ser realizadas a
partir de procesos licitatorios que garanticen la isonomía y la amplia competencia. Estas
licitaciones, regidas a través de la Ley 8.666 / 93, se basan en principios como legalidad,
impersonalidad, moralidad, publicidad y eficiencia. En el año 2010, además de estos
principios, la Ley Nº 12.349 / 10 viene a consagrar otro principio en la Administración
Pública, a saber, el Principio del Desarrollo Nacional Sostenible, que no sólo garantiza
los derechos ya vigentes como búsqueda de fomentar el desarrollo ecológico, es decir,
medio ambiente, social y económico de la sociedad en el proceso de contratación o
adquisición de material. La observancia de este principio no sólo protege el proceso
licitatorio, pero garantiza que las contrataciones y adquisiciones superen las
expectativas de la acción en sí, y aún se preocupa por el cumplimiento de los objetivos
que motivaron tal contratación. Este artículo traerá una reflexión sobre la importancia de
la aplicación de este Principio en los procesos licitatorios y propondrá la incorporación
de informaciones importantes en el instrumento de referencia para resguardar no sólo la
contratación en sí, sino asegurar que las razones que motivaron la misma.

Palabras clave: Desarrollo, Sustentabilidad, Medio Ambiente, Social, Económico.


Sumá rio

1 INTRODUÇÃO...............................................................................................6

2 A IMPORTÂNCIA DOS PRINCÍPIOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO


NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÕES PÚBLICAS..............................8

2.1. A MODALIDADE DAS NORMAS: O RACIOCÍNIO JURÍDICO ENTRE


REGRAS E PRINCÍPIOS.....................................................................9

2.2. CONCEITO DO PRINCÍPIO ISONÔMIA NA PERSPECTIVA DA


SUSTENTABILIDADE........................................................................12

2.3. CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL...................15

2.4 O PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO NACIONAL SUSTENTÁVEL


SOB A ÓTICA DO DECRETO Nº 7.746/12........................................16

2.5. A IMPORTÂNCIA DA VISÃO HOLÍSTICA DO GESTOR OU


SERVIDOR PÚBLICO NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO E/OU
CONTRATAÇÃO COM A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA....................19

2.6. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS........................20

3. CONCLUSÕES E/OU RECOMENDAÇÕES...............................................22

REFERÊNCIAS...............................................................................................23
1 INTRODUÇÃO

O Brasil é uma referência mundial no que se refere ao seu patrimônio


ambiental e sua responsabilidade quanto ao equilíbrio ecológico no planeta. De
acordo com o site www.goodcountry.org, o Brasil é o 33º país, num ranking de 163
países, mais preocupado com o meio ambiente no mundo.
Contudo, o Brasil não é feito apenas de florestas, rios e recursos naturais,
mas de povos, etnias, culturas. Além disso, o Brasil é feito de economia, educação e
saúde.
Pensando nisso, o Presidente da República promulga em 15 de Dezembro
de 2010, a Lei Nº 12.349 que altera as Leis 8.666/93, 8.958/94 e 10.973/04 e ainda
revoga o §1º do Art. 2º da Lei Nº 11.273/06.
Nesta Lei, além de elencar normas que induzem a realização de
contratações e aquisições sustentáveis, inclui no rol dos princípios básicos
elencados no Art. 3º da Lei 8.666/93 de contratações o termo promoção do
desenvolvimento nacional sustentável na seguinte redação:

Art. 1º - A Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, passa a vigorar com as


seguintes alterações:
“Art. 3º - A licitação destina-se a garantir a observância do princípio
constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a
administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável e
será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios
básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da
publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento
convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos.

A importância do termo desenvolvimento sustentável teve seu ápice em


1.972 na Conferência da ONU – Organização das Nações Unidas em Estolcomo-
Suécia e teve seu marco histórico com o Relatório de Brundtland, em 1.987
elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e o Desenvolvimento. Foi à
partir desse relatório que se originou a necessidade das práticas de
desenvolvimento sustentável. Eis um trecho desse relatório:

“Muitos de nós vivemos além dos recursos ecológicos, por exemplo, em


nossos padrões de consumo de energia. No mínimo, o desenvolvimento
sustentável não deve pôr em risco os sistemas naturais que sustentam a
vida na Terra: a atmosfera, as águas, os solos e os seres vivos. Na sua
essência, o desenvolvimento sustentável é um processo de mudança no
qual a exploração dos recursos, o direcionamento dos investimentos, a
orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional estão
em harmonia e reforçam o atual e futuro potencial para satisfazer as
aspirações e necessidades humanas.”

Desta forma, o Brasil se insere no desafio de fomentar o desenvolvimento


nacional sustentável em seu território com todas as nuanças ecológicas, culturais, e
sociais.
Ocorre que, por ser recente este conceito, o padrão de sustentabilidade em
nosso país tem sido discutido de maneira limitada, restringindo-se apenas as
questões ambientais, contudo, a sustentabilidade analisada de maneira segmentada
incorre no erro de não proporcionar a real sustentabilidade, pois a mesma se
caracteriza na manutenção de pilares que devem ser observados de maneira
concomitante, devidamente elencadas no Decreto 7.746/12 em seu Art. 4º:
Portanto, é mister que ao promover o desenvolvimento nacional sustentável
nas aquisições e contratações com a administração pública sejam observadas o
arcabouço de critérios que fundamentam o conceito, a saber, a conjugação dos dois
direito humanos fundamentais: o direito ao meio ambiente sadio (Procoloto de San
Salvador ratificado pelo Brasil em 21/08/1996) e o direito ao desenvolvimento (Art. 1º
da Resolução nº 41/128 da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 04/12/1986).
Além disso, não se deve fechar os olhos aos demais princípios constitucionais do
Art. 37 da Carta Magna, conjuminado com os princípios do Art. 3º da Lei 8.666/93 e
ainda outros princípios implícitos no âmbito do Art 5º da Constituição Federal.
Desta forma, será abordado desde a importância dos princípios do direito
administrativo, implícitos e explícitos até a necessidade de uma visão holística por
parte do agente público, que, nessa construção das bases da reflexão
compreenderá a importância do princípio de desenvolvimento nacional sustentável e
a aplicação prática nos processos de contratação e/ou aquisição pela Administração
Pública.
Desta forma, o problema é se pode-se assegurar que seja promovido o
Princípio do Desenvolvimento Nacional Sustentável nas licitações e contratações
com a administração pública para atender, em tempo hábil as necessidades sociais
finalísticas?
O objetivo geral desse estudo é despertar, através de uma análise crítica a
necessidade de se levar em consideração o desenvolvimento nacional sustentável
nos processos de contratação com a administração pública. Difundir e ampliar o
entendimento do princípio do desenvolvimento nacional sustentável; Exemplificar os
cuidados e benefícios resultantes à sociedade quando observado o principio do
desenvolvimento nacional sustentável; Propor acréscimos e itens a serem inseridos
na construção do Termo de Referência de maneira a garantir sustentabilidade nas
contratações, bem como o desenvolvimento sócio-econômico da sociedade em
geral. Propor critérios de julgamentos nos certames licitatórios que garantirá e
fomentará o desenvolvimento nacional.
Quanto aos procedimentos metodológicos, o estudo tem uma abordagem
qualitativa uma vez que avaliaremos sob um caráter subjetivo o tema. O resultado
da mesma quanto aos objetivos serão descritivos delineados sob a uma base
bibliográfica, já que serão consultados guias, artigos, livros e leis.
Os dados serão coletados em livros, artigos, leis, guias e obras relacionadas
ao tema.

2. A IMPORTÂNCIA DOS PRINCÍPIOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO NOS


PROCESSOS DE CONTRATAÇÕES PÚBLICAS

O Direito existe para regular as ordens e relações sociais e em sociedade de


maneira que cada um possa entender o seu real limite no exercício do seu direito a
liberdade. Todo individuo em qualquer sociedade tem em si os padrões de ética e
moral baseados em sua herança genética, psicossocial e educacional. A valoração
do certo e errado oscila sobre cada família de forma que, se todos, exercerem de
maneira plena o que entender por ideal, o mundo seria um caos. Neste contexto
surge o direito objetivo, ou seja, um sistema de normas de conduta que vislumbram
o dever/ser a fim de regular as relações sociais. Todavia, a norma pela norma, em
si mesmo não teria eficácia se primeiro não se tem compreensão das razões que a
levaram a existir, dos motivos subjetivos, intrínsecos, valorativos de cada regra
codificada ora de maneira explicita e nominal, ora inserida na vasta codificação da
norma (JUSTEN FILHO, 2016).
Neste sentido, é mister a compreensão dos princípios do direito e neste
particular os princípios do direito administrativo que se encontra inserida de maneira
pulverizada entre a Carta Magna em seu Art. 37 e nas mais diversas leis criadas
como, por exemplo, as Leis Nº 8.666/93 e 12.349/10 a fim de regular as relações
entre a administração pública e o mercado e ainda no resultado do produto da
relação anterior e a sociedade como beneficiário direto da mesma.
Entender a importância dos princípios aplicados ao direito administrativo
para Justen Filho (2016, p.61):

Os princípios apresentam enorme relevância no âmbito do direito


administrativo. A atividade administrativa traduz o exercício de poderes-
deveres, o que significa a vinculação quanto ao fim a ser atingido. Em inúmeras
oportunidades, a conduta a ser adotada dependerá das circunstâncias, o que
não equivalerá a consagrar a liberdade para o agente escolher o que bem
entender. Nessas situações, pode haver alguma autonomia de escolha quanto
ao meio a adotar, e os princípios serão o instrumento normativo apropriado
para evitar escolhas inadequadas. Serão inválidas todas as decisões
incompatíveis com os fins a serem promovidos e com os valores protegidos
pela ordem jurídica.

Desta forma, observando a máxima no mundo jurídico de que “na


administração pública só pode ser feito o que manda a lei”, saber apenas a lei a
tornará ineficaz e inepta, porém saber os princípios e os bens jurídicos defendidos
na criação da norma a tornará plena e suprirá os anseios de uma sociedade que
esperam dos agentes públicos muito além probidade, a eficácia de materializar os
direitos constitucionais para o mundo fático e real.

2.1. A MODALIDADE DAS NORMAS: O RACIOCÍNIO JURÍDICO ENTRE


REGRAS E PRINCÍPIOS

O Brasil é um país regido em todas as suas instâncias e entranhas por


normas que, dentro de sua velocidade legislativa tenta acompanhar o
desenvolvimento da sociedade como um todo, buscando suprir as lacunas que
surgem na repetição de casos concretos que anulem ou ameacem o direito comum.
Neste ponto de vista a norma é dividida em regras e princípios que coexistem no
arcabouço jurídico brasileiro e que estabelecem obrigações na medida em que o
bem ou direito tutelado na normativa jurídica brasileira dá-se por ameaçada.
Diferenciar regra e princípio traz sua importância no âmbito prático da
promoção da justiça. Tal discussão traz como precursores as obras de Ronald
Dworkin e depois, aperfeiçoado por Robert Alexy.
Para Dworkin, por exemplo, o positivismo fornece um modelo jurídico
constituído exclusivamente por regras, e, dessa forma, o subsídio disponível para
dar solução ao caso concreto é insuficiente dada as nuanças do mesmo. Para isso,
propõe Dworkin que o sistema jurídico seja constituído sim, por regras, mas também
por princípios. Assim, um juiz não deve tomar uma decisão completamente
discricionária quando da ausência clara de uma regra, pois pode se valer, além dela,
dos princípios para norteá-lo à decisão (DOWRKIN, 2002, p. 14-80).
Já para Alexy que aperfeiçoa o conceito e avalia com um pouco mais de
rigor essa divisão, dá sua contribuição desenvolvendo a tese dos princípios como
mandamentos de otimização. Para Alexy, os princípios possuem uma dimensão que
as regras não possuem. Sem suas próprias palavras, os princípios são:

“o ponto decisivo para a distinção entre regras e princípios é que os princípios


são normas que ordenam que algo seja realizado na maior medida possível
dentro das possibilidades fáticas e jurídicas” (Alexy, 1993, p. 86).

Desta forma, percebe-se que há uma preocupação legítima em preservar e


firmar que os direitos ora tutelados pela norma jurídica brasileira estejam garantidos
à toda a sociedade. Há que se ter uma flexibilidade quando da análise do caso
concreto, em que, quando a regra torna-se insipiente ao ponto de comprometer o
bem ou o direito tutelado, valer-se de mecanismos legítimos e probos para se
alcançar muito além da regra, a equidade nos contratos administrativos. Tal
argumento, não invalida a proeminência da regra, sob a égide de carregar o
julgamento do caso concreto de extrema subjetividade de modo que anule o marco
norteador da justiça.
Neste sentido, corrobora o ilustre doutrinador Marcelo Novelino, citando
Humberto Ávila:

“por ser a regra o resultado de um sopesamento feito pelo legislador no


momento da elaboração da norma, não cabe ao intérprete, no momento da
aplicação, substituir o resultado institucionalizado no plano legislativo a partir
das suas valorações pessoais” (NOVELINO, 2012, p. 134).

Não há, neste caso, qualquer apologia ao descarte da regra como premissa
primeira, pelo contrário, cônscios da limitação da regra, o que se busca neste
particular é abstrair acima da regra a tutela ao qual a mesma visa resguardar, ou
seja, defende-se mais que o apego a letra seca da lei, mas o espírito da Lei,
intangível, mas palpável quando olhado sob o prima do desenvolvimento sustentável
do Brasil em todas as suas vertentes. Corrobora com essa abordagem, André
Ramos Tavares, quando escreve, sem desprezar a letra da lei:

“Por meio desse critério toma-se em consideração a finalidade para qual a


norma foi editada ou redigida. Assim, fica superado o pego à mera letra da lei
formalmente posta (critério gramatical, próprio do textualismo, do formalismo
excessivo, e das concepções da Constituição invariável no tempo” (TAVARES,
2017, p. 190)

Fazendo, portanto, uma concatenação dos argumentos acima, afirmamos,


portanto, que a regra é o “dizer direito” fixo, rígido, criado sob a necessidade de uma
sociedade volátil, em constante desenvolvimento, e, nesse sentido, torna-se
impossível prever todas as nuanças que nos casos concretos podem suscitar,
principalmente no âmbito da Administração Pública em que o interessado é uma
gama maciça e heterogênea.
Já o princípio são as razões que levaram o legislador a criar a regra, e que,
na sua insuficiência resguarda, na intenção, a proteção do bem ou direito tutelado.
Nas palavras do Excelentíssimo Ministro do STF Gilmar Mendes:

“Um modelo feito de regras prestigiaria o valor da segurança jurídica, mas seria
limitada praticidade, por exigir uma disciplina minuciosa e plena de todas as
situações relevantes, sem deixar espaço para o desenvolvimento da ordem
social” (MENDES, 2017, p. 75)

É claro que, no que tange a norma jurídica, a regra não acompanha a


velocidade do desenvolvimento social, e, neste particular, o desenvolvimento
nacional sustentável, dada a sua peculiaridade do trâmite legislativo. Desta forma,
há que se conciliar, sob a égide da observância do princípio da Administração
Pública, previsto no Art. 3º da Lei 8.666/93, inserido pela Lei Nº 12.439/2010, da
promoção do Desenvolvimento Nacional Sustentável, tanto a regra quanto o
princípio nos padrões de Alexy, a saber, não de maneira substitutiva, mas na
contraposição do peso.
Prezar por este princípio, faz com que o operador do direito no âmbito da
Administração Pública, possa ver além da lei (regra), mas dos princípios que o
norteiam, e logo, na preservação do desenvolvimento nacional sustentável em todas
as esferas, sem considerar a isonomia nos processos bem como outros princípios
constitucionais vitais para a promoção da equidade no âmbito nacional.

2.2. CONCEITO DO PRINCÍPIO ISONÔMIA NA PERSPECTIVA DA


SUSTENTABILIDADE

Em linhas gerais, o princípio da isonomia, também conhecido como princípio


da igualdade indica o tratamento justo entre os cidadãos. Na Administração Pública,
a isonomia dá-se no âmbito da igualdade de tratamento e julgamento ante um
certame licitatório que ambiciona a celebração de futura contratação. Nas palavras
de João Alexandre e João de Deus (2017, p.490):

“...a Administração deve tratar, de forma idêntica, todos os licitantes que se


encontrem na mesma situação jurídica. Esse princípio garante que seja dada
a oportunidade de participar o certame licitatório a todos aqueles que tenham
condições de cumprir um futuro contrato e proíbe que sejam feitas
discriminações injustificadas no julgamento das propostas”.

Sendo assim, é mister que qualquer personalidade, seja ela física ou


jurídica, em qualquer local do Brasil, tenha a mesma oportunidade sob a égide da
justiça, e, neste particular, valendo-se da máxima de Nery Junior em seu comentário
sobre o Princípio Constitucional da Igualdade que diz que:

“dar tratamento isonômico às partes significa tratar igualmente os iguais e


desigualmente os desiguais, na exata medida de suas desigualdades (NERY
JUNIOR, 1999, 42)”.

Neste sentido, percebemos uma incompatibilidade entre a norma positivada


sob a ótica da intenção do legislador em apresentá-la e o mundo fático em que,
visando o tratamento isonômico em um certame licitatório, vislumbrando uma
contratação no âmbito municipal, por exemplo, não há igualdade entre uma empresa
local e uma empresa de grande porte que atende a todo o país.
O Artigo 3º da Lei 8.666/93 supracitado deixa explicito que um dos princípios
que dever ser observados numa licitação é o da isonomia e, para isso, criou várias
modalidades de certames, a saber, a concorrência, a tomada de preços, o convite, o
concurso e o leilão. Além disso, regulamentada pela Lei 10.520/02 o pregão,
podendo ser este presencial ou eletrônico.
Temendo o direcionamento nas licitações, o Governo Federal promulgou
Decreto nº 5.504 de 05 de agosto de 2005 que estabelece a exigência da utilização
do pregão, preferencialmente eletrônica, para entes públicos ou privados, nas
contratações de bens e serviços comuns, realizadas em decorrência de
transferências voluntárias de recursos públicos da União, decorrentes de convênios
ou instrumentos congêneres, ou consórcios públicos.
Veja como está disposta a redação da norma sobre este assunto:

Art. 1º. Os instrumentos de formalização, renovação ou aditamento de


convênios, instrumentos congêneres ou de consórcios públicos que envolvam
repasse voluntário de recursos públicos da União deverão conter cláusula
que determine que as obras, compras, serviços e alienações a serem
realizadas por entes públicos ou privados, com os recursos ou bens
repassados voluntariamente pela União, sejam contratadas mediante
processo de licitação pública, de acordo com o estabelecido na legislação
federal pertinente.

§ 1º. Nas licitações realizadas com a utilização de recursos repassados nos


termos do caput, para aquisição de bens e serviços comuns, será obrigatório
o emprego da modalidade pregão, nos termos da Lei no 10.520, de 17 de
julho de 2002, e do regulamento previsto no Decreto no 5.450, de 31 de maio
de 2005, sendo preferencial a utilização de sua forma eletrônica, de acordo
com cronograma a ser definido em instrução complementar. (grifo meu)

Como podemos perceber, há uma recomendação e não uma


obrigatoriedade pela utilização da modalidade pregão na forma eletrônica. Tal
recomendação se justifica sob a ótica de contratações ou aquisições realizadas no
âmbito federal em que a distribuição do material adquirido ou da prestação de
serviços será dada sob essa amplitude geográfica.
O que não torna isonômico esta forma de pregão num âmbito municipal,
sobretudo, em pequenos municípios de detém poucos e pequenos comércios que
buscam seu desenvolvimento ante a agressividade mercado. Porém, o que ocorre é
que, os órgãos de fiscalização, e, neste particular os Tribunais de Contas não vêem
com bons olhos qualquer licitação que não seja o Pregão Eletrônico, temendo
possíveis direcionamentos, em contrapartida trazendo o temor do gestor público em
promover certame de modo adverso a este. Tal comportamento a nosso ver, anula a
presunção de inocência onde o órgão fiscalizador deixa de atuar de modo preventivo
e pedagógico e pré-julga de antemão, todo gestor suspeito de improbidade
administrativa.
Na tentativa de minimizar essa desigualdade, surge a Lei Complementar
123/2006, prevendo em seu Art. 44 que:

Art. 44. Nas licitações será assegurada, como critério de desempate,


preferência de contratação para as microempresas e empresas de pequeno

porte.

Nas palavras do Dr. Ricardo Alexandre e João de Deus, o qual, neste


contexto, temos algumas reservas quanto a afirmativa:

“A Lei Complementar 123/2006 (Estatuto Nacional de Microempresa – ME e


da Empresa de Pequeno Porte – EPP) também estabeleceu uma aparente
exceção ao principio da igualdade...” (2017, p. 494).

A observação do nobre doutor encontra minhas reservas, uma vez que, ao


vislumbrar o mundo fático, não há, nem de longe, aparente exceção ao princípio da
igualdade. A supracitada Lei Complementar, nos Artigos 47 e 48, busca equalizar o
tratamento, ora sugerindo, ora obrigando o tratamento diferenciado a micros e
pequenas empresas, em que, dessa forma, cria-se se sim a igualdade sob a ótica da
justiça em que os desiguais são tratados no nível de sua desigualdade.
Como fica claro observar, o legislador foi assertivo quando da proposta da
lei vislumbrando diminuir a lacuna entre as grandes e pequenas empresas, apesar
de, atualmente, a norma ao nosso ver, merecer uma revisão de valores de
referências, principalmente no Art. 48, I e II.
Todavia, ao que se percebe no mundo fático, é um engessamento pelos
órgãos de controle em que já vê com pré-disposição negativa qualquer atuação de
um pregão que não seja eletrônico. Tal pré-julgamento tem criado o que o Ministro
do TCU Bruno Dantas chama de “apagão decisório”, nas palavras do Exmo.
Ministro:
“Deve haver, porém, equilíbrio entre gestão e seu controle, sob pena de
criarmos no país um “apagão decisório”, despertando nos gestores temor
semelhante ao de crianças inseguras educadas por pais opressores”.
(DANTAS, 2018).

Desta forma, entendemos ser de suma importância, considerar no bojo da


sustentabilidade, a observância irrestrita do princípio da isonomia e, para isto, não
há que se limitar em pregão eletrônico e sim promover pregões presenciais em que
além das proteções dos dispositivos legais já contemplados acima, oportuniza-se a
pequenas e médias empresas locais na participação do certame licitatório de
maneira competitiva.

2.3. CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

O Art. 3º da Constituição Federal elenca os objetivos fundamentais da


República Federativa do Brasil. Sendo a Constituição Federal do Brasil o documento
supremo no que tange a hierarquia das leis, todas as demais leis e normas se
originam à partir de seus princípios. Assim está expressa na Carta Mágna
(CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988):

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:


I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais
e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,
idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Portanto, faz-se necessário compreender as nuanças dos termos


“Desenvolvimento” e “Sustentabilidade” sobre a abrangência da etimologia da
palavra “ecologia” e não apenas limitado ao fato meio ambiente.
Não se pode limitar a importância das condições de meio ambiente sob o
reconhecimento de que os recursos são finitos, todavia, a finitude de recursos
perpassa os níveis no meio ambiente e alcançam os níveis da responsabilidade
social.
O desenvolvimento sustentável subsiste no tripé interdisciplinar, a saber,
social, econômico e ambiental. Nas palavras do Desembargador Jessé Torres
Pereira Junior, prefaciando a obra de Emery (2016, p.13):

pessoas, edificações, instalações e serviços demanda consumo diário de


energia elétrica, água, produtos e insumos dos mais variados, gerando
toneladas de resíduos, recicláveis ou não, a exigir gestão sustentável nos
três segmentos de sua integrada e interdisciplinar abrangência – social,
econômica e ambiental.

Em busca da observação dos princípios intrínsecos do direito administrativo


como a economicidade, a eficiência e a sustentabilidade faz necessária, em cada
processo licitatório e/ou contratação vislumbrar quais os aspectos do
desenvolvimento nacional são alcançados e quais são as ações para tornar os
resultados, insumos e recursos inerentes a essas contrações perdurem em sua
eficácia ao tempo e espaço compatíveis com os valores e bens jurídicos
intencionados quando da concepção da necessidade do dispêndio dos recursos ali
empregados (EMERY 2016).

2.4 O PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO NACIONAL SUSTENTÁVEL SOB A


ÓTICA DO DECRETO Nº 7.746/12

Sob o entendimento da importância da compreensão dos princípios


explícitos e implícitos que norteiam a administração pública e os conceitos de
desenvolvimento sustentável, temos ainda a necessidade de lançar outro alicerce
sobre o pensamento da aplicação do princípio específico de desenvolvimento
nacional sustentável nas licitações e contratações públicas, a saber, sob o aspecto
do Decreto Nº 7.746/12 que regulamenta o art. 3º da Lei no 8.666, de 21 de junho de
1993, para estabelecer critérios, práticas e diretrizes para a promoção do
desenvolvimento nacional sustentável nas contratações realizadas pela
administração pública federal, que foi alterado pela Lei Nº 12.349/10, sendo inserida
como princípio basilar das contratações públicas o desenvolvimento nacional
sustentável.
A regulamentação estabelecida no Decreto em questão traz a lume que o
desenvolvimento nacional sustentável como princípio está além dos limites do meio
ambiente, mas que preocupa-se com a manutenção e a ampliação dos recursos
sociais e econômicos nos limites geográficos em quem se efetuam e executam os
contratos com a administração pública.
Esclarece, portanto, o Art, 4º do Decreto Nº 7.746/12 as diretrizes a serem
observadas para o fomento da sustentabilidade:

Art. 4º São diretrizes de sustentabilidade, entre outras:


I – menor impacto sobre recursos naturais como flora, fauna, ar, solo e
água;
II – preferência para materiais, tecnologias e matérias-primas de origem
local;
III – maior eficiência na utilização de recursos naturais como água e energia;
IV – maior geração de empregos, preferencialmente com mão de obra local;
V – maior vida útil e menor custo de manutenção do bem e da obra;
VI – uso de inovações que reduzam a pressão sobre recursos naturais; e
VII – origem ambientalmente regular dos recursos naturais utilizados nos
bens, serviços e obras.

Não obstante o artigo em questão estabelecer um rol para as diretrizes da


sustentabilidade, a expressão “entre outras” em seu caput deixa claro que não se
trata de um rol taxativo, mas exemplificativo. Tal observação responsabiliza a
administração pública o busca da melhoria contínua objetivando em suas
contratações a defesa e a promoção dos bens e valores jurídicos inerentes na
justificativa de suas contratações e aquisições em nome do bem comum da
sociedade. (EMERY, 2016)
Por isso, as licitações devem possuir em seus critérios de avaliação para a
proposta mais vantajosa, outros além dos utilizados na velha concepção, limitados
ao preço e melhor técnica e/ou produto, a saber, critérios que alcancem relação
direta com o princípio do desenvolvimento nacional sustentável.
Freitas (2014, p.147-149), traz um exemplo hipotético, porém, muito
esclarecedor sobre os resultados que devem ser considerados na decisão sobre a
contratação mais vantajosa sob as diretrizes de sustentabilidade previstos no
Decreto Nº 7.746/12:

Em termos práticos pode citar o exemplo da construção de um edifício para


albergar três entidades estatais. A primeira delas tem como objetivo
fomentar as atividades das microempresas e das empresas de pequeno
porte. Há também uma agência reguladora que visa a defender a livre
concorrência. Por fim a terceira dela é uma Fundação de Proteção ao Meio
Ambiente.
Esse prédio foi construído em uma área que estava a sofrer riscos
ambientais e sociais muito graves. Apesar de estar bem conectado com o
serviço de transporte público o terreno, que não estava sendo utilizado pela
Administração Pública, era foco de doenças, tendo em vista que a única
empresa de remoção de lixo hospitalar da cidade e diversas outras de
recolhimento de entulho lançavam clandestinamente no período noturno os
seus resíduos no referido terreno. Soma-se a este questão ambiental o fato
de que diversas pessoas estavam remexendo os resíduos em busca de algo
que pudessem vender para auferir uma pequena renda, não raro adquirindo
doenças graves e que o respectivo tratamento de saúde era muito caro para
os cofres públicos.
Pois bem, a solução sustentável para a resolução desse caso hipotético
seria fazer o devido recolhimento dos resíduos e enviá-los para um local
adequado para recebe-los. No que tange à licitação para a construção do
novo edifício, tanto o projeto básico quanto o projeto executivo devem
contemplar aspectos que levem em conta tanto o custo direto como os
indiretos, por exemplo, de nada adianta fazer um telhado muito barato, mas
que seja feito de um material que não garanta o isolamento térmico, visto
que os gastos posteriores com refrigeração e calefação seriam enormes.
Também é salutar incluir um sistema de aproveitamento solar e da água da
chuva, dentre muitos outros aspectos técnicos.
Depois da construção do prédio aquela área começou a desenvolver uma
atividade comercial muito grande em virtude da grande quantidade de
pessoas que foram trabalhar naquelas entidades estatais, gerando assim,
diversos empregos diretos e indiretos. Foram construídas também no
mesmo terreno algumas praças que são usadas todos os dias pela
comunidade para atividades culturais e de lazer.
E para finalizar a agência de proteção à livre concorrência que foi aberta
naquele edifício descobriu que a empresa de remoção de lixo hospitalar era
a única na cidade, pois praticava dumping. É notório que uma atividade
substancial do custo que uma empresa deste ramo de atividade tem está
ligado com as despesas para o devido descarte dos resíduos em local
adequado. Como a empresa não tinha esse custo, já que lançava o lixo
hospitalar no terreno público, todas as outras empresas do ramo da região
foram à falência. Mediante a atividade fiscalizatória da agência reguladora
foi detectada a prática de dumping e a empresa foi autuada, e,
posteriormente, multada. Teve ela, então, de sair do mercado, o que acabou
por abrir espaço para novas empresas que, com a eficiente atividade
regulatória, começaram a trabalhar conforme os requisitos da legislação, ou
seja, depositavam os resíduos em locais adequados.
Como se pode notar no exemplo hipotético apresentado acima, uma
solução sustentável não pode contemplar apenas uma das dimensões do
princípio da sustentabilidade, mas todas as três. Tem que se observar sim a
questão ambiental (economia de água e energia, utilização de materiais em
que o descarte seja mais ecológico, utilização de produtos não poluentes,
etc), todavia os aspectos referentes à dimensão social (criação de
empregos, mobilidade urbana, fomento de atividades culturais, etc) e
também econômica (proteção da livre concorrência, livre iniciativa,
regulação dos mercados, equilíbrio orçamentário, etc.) devem ser
implementados também.

Agregado a este exemplo, fica nítida a necessidade de enriquecer e


estabelecer como critérios de escolha de contratação mais vantajosa á luz do
desenvolvimento sustentável, empresas que elencassem em suas propostas, a
contratação e a aquisição de materiais para a referida construção junto ao comércio
local, ou ainda, a promoção de formação profissional aos moradores daquele bairro
que, além de serem absorvidos pela própria obra civil em si, adquiririam nova
profissão para trabalhos futuros, etc.
Como se pode perceber no exemplo fictício apresentado pelo nobre autor, e,
é intensão perceptível do Legislador quando da elaboração do Decreto Nº 7.746/12
que a Administração Pública se valha de todos os meios possíveis para que, com
apenas uma ação, não apenas realize a contratação em si, mas fomente em seu
entorno o desenvolvimento nacional de maneira sustentável e perene, em que, mais
que o cumprimento estrito da norma, a defesa e a realização do bem jurídico e social
tutelado por ela, venha à tona de maneira concreta e palpável no mundo fático à
toda a sociedade.

2.5. A IMPORTÂNCIA DA VISÃO HOLÍSTICA DO GESTOR OU SERVIDOR


PÚBLICO NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO E/OU CONTRATAÇÃO COM A
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Lançados os alicerces para o pensamento ao princípio do desenvolvimento


nacional sustentável é agora necessária propulsionar ao agente público a
responsabilidade do conhecimento e do cuidado na observância dos preceitos legais
descritos na Lei Nº 8666/93 e ainda, de maneira mais atualizada a Lei Nº 12.462/11
que instituiu o Regime Diferenciado de Contratações Públicas – RDC sob o prisma
do princípio em discussão.
De acordo com Coimbra (2016) O estrabismo no agente público desde a
elaboração do Termo de Referência que norteará a contratação, compromete de
maneira cabal as diretrizes da sustentabilidade já mencionados acima. Portanto,
torna-se missão precípua a capacitação do agente público no sentido de não apenas
compor os documentos técnicos para a efetiva realização do certame, mas de
clarificar as intensões e objetivos em caráter amplo que se pode granjear sob aquela
pretensa contratação/aquisição.
Neste sentido, o agente público necessita da consciência de que sua
atividade licitatória precisa alcançar o nível, nas palavras do Ilustre Dr. Juarez
Freitas, de multidimensionalidade do bem-estar, quando este conceitua a
sustentabilidade como

Princípio constitucional que determina, com eficácia direta e imediata, a


responsabilidade do Estado e da sociedade pela concretização solidária do
desenvolvimento material e imaterial, socialmente inclusivo, durável e
equânime, ambientalmente limpo, inovador, ético e eficiente, no intuito de
assegurar, preferencialmente de modo preventivo e precavido, no presente
e no futuro, o direito ao bem-estar (FREITAS, 2016, p. 52).

À partir dessa discussão, o agente público assume a responsabilidade, no


tocante as suas atividades junto a sociedade, de abarcar uma visão holística no
processo de contratação, desde a sua fase preliminar, nos estudos de viabilidade,
justificativa e disponibilidade orçamentária, até a fase conclusiva da escolha das
proposta mais vantajosa à Administração Pública sob a lente do desenvolvimento
nacional sustentável até a fiscalização da execução do contrato e a mensuração das
metas estabelecidas quando da concepção da demanda.
Além disso, dentro de uma visão holística, o agente público precisa ainda
entender qual bem jurídico ele abarcará com a contratação e, olhando para fora dos
limites do seu órgão de atuação, perceber no seu entorno social, quais os benefícios
diretos e indiretos, podem ser promovidos mediante àquela contratação. Para tanto,
é necessário entrar na subjetividade da norma e rebocar para fora do código até ao
mundo factual a responsabilidade do Estado em criar um ambiente social e
econômico isonômico e igualitário, criando oportunidades e garantindo que os
recursos aplicados, sejam eles financeiros, naturais e educacionais se renovem e
alcancem, na linha do tempo, gerações futura (FREITAS, 2014).
Ratificando o entendimento de Freitas (2014), a etimologia da palavra
“ecologia” refere-se ao estudo da relação entre os seres vivos, o ambiente onde
vivem, bem como a influência que cada um exerce sobre o outro. Portanto, sob uma
análise jurídico-administrativa a proposta da aplicação do desenvolvimento nacional
sustentável é a cooperação do Estado e a sociedade, o contexto ambiental, social e
econômico em que vivem e a interação entre as partes e o ambiente em que vivem.
O desenvolvimento nacional sustentável é o desafio, dentre os demais
princípios da administração pública em que o agente público e a sociedade
interagem no afã de alcançarem o bem mais precioso nos dias atuais, o bem
comum.

2.6. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

O Brasil é um dos países que menos entrega serviços proporcionalmente


considerando os altos valores de arrecadação tributária. Nas palavras de Marcos
Lisboa, Vice-Presidente do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), quando
participou do evento Os Caminhos para o Brasil de 2022, “... apesar de tudo o que
nós arrecadamos, nossos serviços ainda são poucos”, de acordo com a reportagem
feita pela Folha de São Paulo (VIEIRA, 2014).
Segundo Santos (2017), em seu artigo Abusos e Desperdícios nas licitações
e contratações públicas o maior causador do desperdício do recurso está no
desconhecimento das normas e leis que norteiam as contratações e aquisições
públicas. Já para Campos e Pereira, o problema do desperdício dos recursos no
Brasil residem na ineficiência dos controles e no alto índice de corrupção que se
operam no país (CAMPOS, 2016).
Este desperdício resultado da soma da deficiência na e da ausência da
accountability1, andam na contramão do princípio constitucional da eficiência,
também presente no Art. 37 da Carta Magna através da Emenda Nº 19/98. Tal
princípio busca economicidade, redução de desperdícios, qualidade, rapidez,
produtividade e rendimento funcional.
Todavia, no bojo da Administração Pública a busca da eficiência não pode
dar lugar a ilegalidade, por isso, o conteúdo jurídico deste princípio preza pela busca
da melhoria dos resultados, sejam qualitativos ou quantitativos por meio da
aplicação da Lei.
Tal dualidade envolvida no princípio da eficiência, se observadas pelo
servidor público, corroborará, sem dúvida para a aplicação do princípio
constitucional ao qual estamos imbuídos, o desenvolvimento nacional sustentável.
As duas possibilidades que visam explicar a baixa oferta de serviço ante aos
valores arrecadados pelo Estado mostram que cada vez mais a Administração
Pública necessita da implementação de ferramentas que garantam a observação do
Princípio do Desenvolvimento Nacional Sustentável na sua plenitude.
Ombreando com o pensamento da Drª. Lucimar, não há, em via de regra,
servidores capacitados no sentido de considerar não apenas a normal de maneira
seca e fria, mas aplicar a mesma lei sob a essência dos princípios, pois isso exige
além do conhecimento puro e simples, o desenvolvimento da reflexão numa visão
holística em que a contratação sustenta e resguarda um bem jurídico e não apenas
a execução contratual (http://conteudojuridico.com.br/artigo,abusos-e-desperdicios-

1
Termo inglês que remete à obrigação, à transparência, de membros de um órgão
administrativo ou representativo de prestar contas a instâncias controladoras ou a seus representados
nas-licitacoes-e-contratacoes-publicas,58560.html, Acessado em 14/08/2017 às
11:35h)
A fim de exemplificar melhor, suponha-se que o Estado intencione construir
uma escola, pergunta-se: Qual é a intensão primeira que motiva tal contratação?
Ora, parece óbvio que é a promoção da educação e para tanto, necessita da devida
estrutura.
Pois bem, ao pensar no Projeto Básico e Termo de Referência que
subsidiará o processo licitatório, o servidor público necessita considerar o público
que será atendido, a classe social, o bairro eleito para receber tal estrutura e até
mesmo as condições dos profissionais que ali laborarão após a sua conclusão. Esta
análise perpassa aos limites dos cálculos estruturais ou nos projetos executivos
(FREITAS, 2014).
Tal análise, se negligenciada, incorrerá no erro de construir uma escola em
que o deslocamento dos alunos necessitados ensejará em gastos posteriores com
transporte escolar por ter sido construído em local inadequado, e ainda, se
contemplar na equipagem desta escola, tecnologias modernas e seus profissionais
não estarem devidamente qualificados para a sua operação, resultando num
sucateamento prematuro e desperdício de recurso público (COIMBRA, 2016).
A análise sob este prisma holística é a provocação exata proposta na
instauração do Princípio do Desenvolvimento Nacional Sustentável, em que o
legislador descreve, principalmente no Decreto Nº 7.746/12, os critérios a serem
observados para tanto.
Portanto, é razoável ombrear o pensamento da Drª. Lucimar em que o
desconhecimento e a falta de preparo dos servidores públicos são um ponto de
escoamento e desperdício do recurso público
(http://conteudojuridico.com.br/artigo,abusos-e-desperdicios-nas-licitacoes-e-
contratacoes-publicas,58560.html, Acessado em 14/08/2017 às 11:35h).
Não somente isso, o desconhecimento destas nuanças possibilita ainda o
aumento da corrupção citada pelos Drs. Francisco de Assis e Ricardo Castro, onde
esta, tem sua facilitação no despreparo da sociedade e do servidor público que
sequer terá condições de levantar os devidos questionamentos.
Assim, no pensamento do Coimbra (2016), a estruturação do Estado na
implantação do Princípio do Desenvolvimento Nacional Sustentável deverá ter seu
inicio na capacitação de servidores e na criação de manuais complementares, pelos
órgãos de controle, dos estudos e análises que devem ser feitas quando da
elaboração dos documentos referenciais que nortearão as contratações e aquisições
pela Administração Pública, tendo como premissa basilar o bem jurídico a ser
tutelado ou garantido quando da efetivação do serviço ou do fornecimento de
materiais.

3. CONCLUSÕES E/OU RECOMENDAÇÕES

Por fim, responde-se então a pergunta: Como se pode assegurar que seja
promovido o Princípio do Desenvolvimento Nacional Sustentável nas licitações e
contratações com a administração pública para atender, em tempo hábil as
necessidades sociais finalísticas?
A resposta a essa pergunta inicia-se pela afirmação de que já existe de
maneira consolidada e suficiente normas basilares capazes de estruturar
procedimentos aos estudos preliminares na construção de documentos técnicos.
Além disso, pode ser assegurado capacitando os servidores públicos no
desenvolvimento de uma visão holística em que, antes da concepção de qualquer
ato para o processo licitatório, tenha-se de maneira comprobatória e documental
qual o bem jurídico ou nuclear a ser garantido na contratação ou aquisição de
material.
Não obstante a este cuidado, tem-se ainda que, em incremento aos critérios
eleição de proposta mais vantajosa à Administração Pública, sejam considerados o
desenvolvimento, a empregabilidade dos componentes daquela sociedade local,
bem como a preservação dos recursos naturais disponível e que, direta ou
indiretamente serão impactados.
Paralelo essa visão está o papel imprescindível dos órgãos de fiscalização e
controle, neste particular, o órgão consagrado pela Carta Magna no Art. 70, a saber,
os Tribunais de Contas que são desafiados, a atuar de maneira preventiva,
coletando informações em tempo hábil anterior ao previsível dano ao erário e
consequentemente à sociedade.
Sim, o Princípio do Desenvolvimento Nacional Sustentável é uma garantia
de que não somente sejam atendidas as necessidades da sociedade, mas que
garantam sua durabilidade no espaço temporal e ainda produza efeitos positivos
secundários, desenvolvimento indústria e comercio, fomentando a educação e
geração de empregos e otimizando a utilização e exploração dos recursos naturais
de maneira sustentável e renovável, garantindo seu suprimento para gerações
futuras.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei Nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Brasília, DF: Senado Federal: Centro
Gráfico, 1993

BRASIL. Decreto Nº 7.746, de 05 de junho de 2012. Brasília, DF: Senado Federal:


Centro Gráfico, 2012

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

CAMPOS, Francisco de Assis Oliveira e Ricardo A. de Castro, artigo: Corrupção e


Ineficiência no Brasil : Uma análise de equilíbrio geral, 2016 disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-41612016000200373.
Acesso 15/08/2017 às 22:50h

COIMBRA, W. C. S.; ALVES, B. A. . TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE


RONDÔNIA E A SUA FUNÇÃO PEDAGÓGICA: PERSPECTIVA DE
SUSTENTABILIDADE NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. In: Denise Schmitt
Siqueira Garcia; Marcelo Buzaglo Dantas; Maria Cláudia da Silva Antunes de Souza.
(Org.). DIREITO AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE. 1ed.Alicante, Espanha:
Instituo Universitario del Agua y las Ciencias Ambientales, 2016, v. 1, p. 127-150

EMERY, Emerson Baldotto, Desenvolvimento Sustentável – Princípios da


eficiência em procedimentos licitatórios. 1ª edição. Editora Fórum, Belo Horizonte-
MG, 2016, p. 13.

FILHO, Marçal Justen. Curso de Direito Administrativo. 12ª Edição, Editora


Revistas dos Tribunais Ltda, São Paulo-SP, 2016, p. 61

FREITAS, Thiago Pereira de, Sustentabilidade e as Contratações Públicas. 1ª


Edição, Editora Lumen Juris, Rio de Janeiro –RJ, 2014, p. 147-149.

FREITAS, Juarez. Sustentabilidade - Direito ao Futuro. 3ª Edição. Editora Fórum:


Belo Horizonte - MG, 2016, p. 52.
SANTOS, Lucimar Rizzo Lopes dos Santos, site Conteúdo Jurídico, disponível em:
http://conteudojuridico.com.br/artigo,abusos-e-desperdicios-nas-licitacoes-e-
contratacoes-publicas,58560.html, Acessado em 14/08/2017 às 11:35h

VIEIRA, Gabriela, Portal do jornal Estadão - Estado de São Paulo, disponível em:
http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,desperdicio-de-recursos-publicos-e-
um-desafio-imp-,1566452. Acesso em 14/08/2017 às 8:30h

NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do processo civil na constituição federal. 5.


ed. rev. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999.

ALEXANDRE, Ricardo e João de Deus. Direito Administrativo. 3ª ed. rev. atual. E


ampl. São Paulo: Editora Forense Ltda, 2017.

DANTAS, Bruno, site O Globo, disponível em: https://oglobo.globo.com/opiniao/o-


risco-de-infantilizar-gestao-publica-22258401#ixzz5AOiKba6d, acessado em
21/03/2018 às 20:15

DWORKIN, Ronald, Levando do Direitos à Sério, 1ª Edição, São Paulo: Livraria


Martins Fontes Editora Ltda, 2002.

ALEXY, Robert, Teoria de los Derechos Fundamentales, Centro de Estudios


Constitucionales, Madrid, 1993.

NOVELINO, Marcelo, Direito Constitucional, 6ª Edição, Rev. Atual. e Ampl., São


Paulo: Editora Método, 2012.

TAVARES, André Ramos, Curso de Direito Constitucional, 15ª Edição, Rev. e


Atual., São Paulo: Editora Saraiva, 2017.

MENDES, Gilmar Ferreira e Paulo Gustavo Gonet Branco, Curso de Direito


Constitucional, 12ª Edição, São Paulo, Editora Saraiva, 2017.

Você também pode gostar