Você está na página 1de 10

CONTRIBUIÇÃO PARA A CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DOS

PIROCLASTOS BASALTICOS (BAGACINAS)

CONTRIBUTION FOR GEOTECHNICAL CARACTERIZATION OF BASALTIC


PYROCLASTS (SCORIA)

Marques, Filipe, Laboratório Regional de Engenharia Civil, Ponta Delgada, Portugal,


Filipe.MP.Marques@azores.gov.pt
Malheiro, Ana, Laboratório Regional de Engenharia Civil, Ponta Delgada, Portugal,
Ana.MM.Malheiro@azores.gov.pt
Amaral, Paulo, Laboratório Regional de Engenharia Civil, Ponta Delgada, Portugal,
Paulo.AP.Amaral@azores.gov.pt
Moniz, Letícia, Laboratório Regional de Engenharia Civil, Ponta Delgada, Portugal,
Leticia.CM.Moniz@azores.gov.pt
Amaral, Catarina, Laboratório Regional de Engenharia Civil, Ponta Delgada, Portugal,
Catarina.SE.Amaral@azores.gov.pt

RESUMO

Com este trabalho pretende-se contribuir para o conhecimento sobre as principais


características geotécnicas dos piroclastos de natureza basáltica (localmente
designados por “bagacinas”), normalmente classificados, segundo a classificação
unificada revista de solos, entre areia ou cascalho bem ou mal graduado, uma vez que
este é um dos materiais mais abundantes na ilha de S. Miguel, particularmente na
região dos Picos. Devido às suas características naturais, é comummente utilizado
como material de aterro. Para a concretização deste estudo, procedeu-se à recolha de
amostras em vários cones vulcânicos monogenéticos que servem, ou já serviram, para
a exploração deste material na ilha de São Miguel. Para além dessas amostras, ainda
se incluíram neste estudo duas originárias da ilha de Santa Maria. Este estudo incluiu
a realização de um conjunto de ensaios laboratoriais e a execução de ensaios de
campo, de forma a caracterizar do ponto de vista físico, geométrico e mecânico os
referidos materiais, assim como avaliar algumas características de deformabilidade do
material in situ. Para além disso, este trabalho incluiu a recolha e análise de
informação existente em relatórios geotécnicos realizados pelo Laboratório Regional
de Engenharia Civil - Açores. Analisa-se a informação recolhida e obtida nos ensaios
realizados, visando ser um contributo para a caracterização deste tipo de material
vulcânico para a Região Autónoma dos Açores (LREC) e para outros locais de
natureza vulcânica.

ABSTRACT

This work aims to contribute to the knowledge about the main geotechnical
characteristics of basaltic pyroclasts (locally designated by “bagacinas”), usually
classified according to the revised unified classification of soils between well or poorly
graded sand or gravel, once it is one of the most abundant materials in the Miguel
Island, particularly in the Picos region. Due to its natural characteristics, it is commonly
used as landfill material. For the realization of this study, the samples were collected in
several monogenetic volcanic cones that serve, or have already been used, for the
exploration of this material on the island of São Miguel. In addition to these samples,
this study included two from Santa Maria Island. This study included a set of laboratory
and field tests, to characterize this material from a physical, geometric, and mechanical
point of view, as well as to evaluate some deformability characteristics of the material
in situ. Besides, this work included the collection and analysis of existing information in
Regional Laboratory of Civil Engineering - Azores (LREC) geotechnical reports. The
information collected and obtained in the tests performed is analyzed to contribute to
the characterization of this type of volcanic material for the Autonomous Region of the
Azores and other places of volcanic nature.

1. INTRODUÇÃO

Os piroclastos basálticos, vulgarmente conhecidos por “bagacinas” (designação que


será adotada no presente trabalho), “cascalho” ou “bagaço”, é um material existente
em todas as ilhas dos Açores e relativamente abundante. Devido às suas
características intrínsecas, é utilizado, de forma generalizada, como um agregado
natural não britado de granulometria extensa em aterros e como agregado leve no
fabrico de misturas cimentícias.

Dada a especificidade genética destes materiais, é essencial o conhecimento das suas


propriedades físicas, mecânicas, hidráulicas e químicas para poder determinar o seu
comportamento, tanto no entendimento dos processos geomorfológicos (e.g.
movimentos de vertente) como em obra, ou para equacionar novas utilizações,
enquanto solo de fundação para estruturas, como material de aterro, na estrutura de
pavimentos rodoviários, ou ainda como matéria-prima (agregado leve) para incorporar
em produtos cimentícios na construção civil.

Neste trabalho, apresentam-se os dados relativos à caracterização geomecânica


obtida a partir dos ensaios realizados e da informação recolhida, visando ser um
contributo para a caracterização deste tipo de material vulcânico para a Região
Autónoma dos Açores e para outros locais de natureza vulcânica. Os resultados,
referentes à caracterização química destes materiais, foram apresentados
anteriormente em Amaral et al. (2014).

2. ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO

2.1. Localização

O presente trabalho desenvolveu-se nas ilhas do grupo oriental do arquipélago dos


Açores, nas ilhas de São Miguel e Santa Maria, duas das nove ilhas de origem
vulcânica do arquipélago.

S. Miguel situa-se entre as latitudes 37º 42’ e 37º 54’N e as longitudes 25º 51’ e 25º
08’ O, e exibe um formato retangular e alongado segundo a direção E-O (Fig.1).
Apresenta uma superfície com cerca de 746 km2 e o número de habitantes ronda os
137 mil, correspondendo, deste modo, à maior ilha do arquipélago, sendo também a
mais populosa e desenvolvida em termos de estruturas de engenharia do arquipélago
dos Açores.

Santa Maria situa-se, sensivelmente, 100 km a sul, e está compreendida entre os


paralelos 36º 55' e 37º 01' N e os meridianos 25º 00' e 25º 11' O. O seu formato é
sensivelmente quadrangular, com uma superfície de 97 km² e uma população
residente de cerca de 5,6 mil habitantes.

A ilha de São Miguel apresenta três vulcões centrais materializados com caldeira: o
vulcão das Sete Cidades, o do Fogo e o das Furnas, conectados por zonas de
vulcanismo fissural (Sistema vulcânico dos Picos e do Congro). Os sistemas
vulcânicos com caldeira foram responsáveis pela emissão de produtos vulcânicos de
composição traquítica, enquanto que as zonas de vulcanismo fissural foram
responsáveis pela formação dos cones de escórias e escoadas lávicas de natureza
basáltica associadas.

BG13

Figura 1 – Localização Geográfica da Ilha de São Miguel e de Santa Maria, no Arquipélago dos
Açores. Identificação dos Locais onde Foram Efetuados os Ensaios In Situ e Realizadas as
Colheitas das Amostras

Do ponto de vista geológico, em Santa Maria predominam produtos vulcânicos de


natureza basáltica, desde cones de escórias depositados em ambientes subaéreos,
escoadas lávicas de natureza basáltica subaéreas e submarinas, piroclastos
submarinos e depósitos de fluxo de enxurradas e de vertente. Face à sua idade
geológica, esta ilha já sofreu processos de transgressão e regressão do nível do mar.
Como resultado destes processos formaram-se depósitos de natureza sedimentar
(calcários, calcarenitos, argilitos) com origem em ambiente marinho.

2.2. Caracterização geológica

Nas ilhas dos Açores, são frequentes os cones de escórias, resultantes de erupções
de natureza basáltica em regime subaéreo. Os piroclastos basálticos são fragmentos
projetados aquando da fase mais explosiva de erupções vulcânicas do tipo havaiano
e/ou estromboliano. Estes materiais depositam-se por queda e/ou trajetória balística. A
sua acumulação junto ao centro emissor origina os designados “cones de escórias”,
que correspondem a estruturas cónicas geralmente bem definidas e simétricas, com
alturas que raramente ultrapassam as poucas centenas de metros. Por vezes, estas
estruturas apresentam, no seu topo, uma ou mais crateras e podem assumir formas
mais alongadas quando se desenvolvem ao longo de fissuras.

Uma característica destes cones vulcânicos é o facto da inclinação das suas vertentes,
quando recentes, corresponder, sensivelmente, ao ângulo de atrito em repouso dos
seus constituintes (aproximadamente 33º). Com o passar do tempo, e devido à
erosão, essa inclinação tende a diminuir (Fraga, 1988).

Os piroclastos mais grosseiros não apresentam, normalmente, grande dispersão,


depositando-se numa área próxima do centro emissor. No entanto, os materiais mais
finos podem ser encontrados a distâncias consideráveis, dependendo da altura da
coluna eruptiva e da intensidade e direção do vento aquando da sua formação. Na
zona proximal, quando atingem a superfície com uma temperatura elevada, as suas
margens ainda plásticas vão soldar-se, formando depósitos de spatter de queda.

Os piroclastos basálticos assumem variadas formas e dimensões, por ex. muitas


vezes são ejetados ainda fluidos e solidificam no ar, adquirindo diversas formas, desde
o arredondado ao alongado. Quanto às dimensões, tal como já referido, podem
apresentar variados tamanhos que, de um modo geral, se podem agrupar em três
categorias: (1) Depósitos Piroclásticos Basálticos Finos, aqueles que apresentam
texturas de siltes basálticos; (2) Depósitos Piroclásticos Basálticos Grosseiros, aqueles
que apresentam clastos das dimensões dos cascalhos basálticos; (3) Depósitos
Piroclásticos Basálticos Indiferenciados, tal como o nome indica, aqueles que
apresentam uma variedade textural, embora com maior predomínio para a classe
granulométrica das areias (Amaral et al., 2012).

As partículas que correspondem aos piroclastos basálticos caracterizam-se por


apresentarem colorações variadas, que vão desde o negro até ao avermelhado,
passando pelo negro com laivos azulados iridescentes e acastanhados. Amaral et al.
(2014), num estudo efetuado sobre as propriedades químicas destes materiais,
verificaram que a diferença de coloração estava intimamente ligada às diferentes
temperaturas de formação destas partículas. Com efeito, submetendo bagacinas de
coloração negra a determinados níveis de temperatura, observaram que estas
partículas ficavam com uma coloração avermelhada, tendo apurado que esta alteração
ocorria para temperaturas iguais ou superiores a 750ºC. Este estudo propôs que esta
alteração de cor seria o resultado da formação de minerais de hematite (óxido de ferro
(III) – Fe2O3), que, de acordo com Fraga (1988), apenas se encontram presentes nas
amostras de bagacina de cor vermelha.

De referir também que em termos de jazidas, as diferentes bagacinas apresentam


algumas particularidades: de um modo geral, as negras apresentam-se na camada
exterior dos cones e mais soltas, enquanto as avermelhadas se encontram na zona
central dos cones e possuem uma maior tendência para se encontrarem soldadas /
aglutinadas, o que faz sentido em função da temperatura de deposição. Este material
caracteriza-se ainda por ser leve e de textura escoriácea, devido à existência de
bolhas gasosas aquando da sua formação.

No que diz respeito à mineralogia, Malheiro et al. (2010) constataram que nas
amostras analisadas, quer dos Açores quer da Madeira, o mineral mais abundante era
uma plagioclase (anortite), seguida de piroxenas (augite) e olivinas (forsterite). Estes
autores constataram ainda que nas amostras correspondentes aos piroclastos
basálticos vermelhos, havia a presença de hematite, resultante da oxidação do ferro.

3. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

Os trabalhos de caraterização dos depósitos piroclásticos basálticos foram executados


em diferentes períodos temporais e espaciais, fruto de condicionalismos existentes e
de aspetos logísticos associados à execução de ensaios de campo. Incluíram apenas
a execução de ensaios de garrafa de areia, e a colheita de amostras para ensaios
laboratoriais, por forma a determinar-se as características físicas, mecânicas e
químicas dos referidos produtos vulcânicos.

Os pontos de amostragem foram definidos em função das características


litoestratigráficas dos locais e das acessibilidades, procurando fazer-se pelo menos
duas recolhas representativas em cada um dos cones. Por vezes, a localização da
colheita de amostras não foi a mesma da realização de ensaios in situ, fruto de
condicionalismos existentes no terreno.

Para além disso, foi realizado um levantamento da informação disponível em relatórios


geotécnicos no LREC, em particular resultados relativos a ensaios de penetração
(SPT) e ensaios de carga com placa (ECP), desde o início da sua atividade, sobre o
material geológico em análise, por forma a definir a gama de variação das
caraterísticas mensuradas.

3.1. Ensaios de campo e laboratório

Os trabalhos conducentes à caracterização geotécnica in situ incluíram apenas


ensaios para se aferir a massa volúmica e o teor em água dos depósitos naturais,
tendo para o efeito utilizado duas metodologias: (1) o ensaio pelo método da garrafa
de areia (LNEC E204); (2) o ensaio através do método do gamadensímetro (ASTM
D2922 / ASTM D3017).

Na Figura 1 ilustra-se a localização espacial dos sítios onde foram colhidas as


amostras para a realização dos ensaios laboratoriais, assim como dos locais onde se
executaram ensaios para avaliar a massa volúmica in situ dos depósitos de piroclastos
basálticos.

Os ensaios de laboratório consistiram em: (1) ensaios de identificação (caracterização


das propriedades geométricas), como análises granulométricas (NP EN 933-1),
ensaios para determinar a forma das partículas – índice de achatamento (NP EN 933-
3) e de forma (NP EN 933-4), o equivalente de areia (NP EN 933-8) e o azul de
metileno (NP EN 933-9); (2) ensaios para determinar as propriedades físicas, como a
baridade e volume de vazios (NP EN 1097-3), massa volúmica e a absorção de água
das partículas (NP EN 1097-6), e propriedades mecânicas, como a resistência ao
desgaste – método micro-Deval (MDE) (NP EN 1097-1), a resistência à fragmentação
– método de Los Angeles (LA) (NP EN 1097-2), o ensaio de compactação (LNEC
E197 / AASTHO T224) e o California Bearing Ratio (CBR) (LNEC E198). Importa
referir que os ensaios de compactação foram realizados segundo a tipologia de
compactação pesada em molde grande. O valor de CBR foi avaliado para 95% da
massa volúmica seca máxima, tendo-se determinado a expansibilidade dos provetes.

3.2. Informação existente no LREC

A recolha de informação tendo em vista a caracterização geotécnica in situ incluiu,


fundamentalmente, a pesquisa de resultados relativos a ensaios de campo: (1)
ensaios de carga com placa e (2) ensaios SPT;

Os ensaios ECP foram efetuados de acordo com o estabelecido na norma BS 1377-9


e visaram, fundamentalmente, a caracterização in situ da deformabilidade do solo. Nos
ensaios efetuados foram aplicados dois ciclos de carga e descarga, registando-se as
deformações em cada patamar de tensão. O cálculo do módulo de deformabilidade
secante foi determinado de acordo com a seguinte expressão:

Esec =
(
π .∆T .φ . 1 − υ 2 ) [1]
4.∆d .1000

onde ∆T corresponde ao acréscimo de tensão, em kPa, φ representa o diâmetro da


placa, em mm, ν o coeficiente de Poisson, admitindo-se 0,35 para agregados e 0,40
para solos, e ∆d corresponde à variação de deformação, em mm, ocorrida durante o
acréscimo de tensão ∆T.

Para a obtenção de índices de resistência à penetração do solo referentes à


caracterização geotécnica dos depósitos piroclásticos basálticos mediante a obtenção
do número de pancadas do ensaio SPT (NSPT), procedeu-se à recolha da informação,
análise e tratamento de dados obtidos em relatórios geotécnicos elaborados pelo
LREC ao longo de mais de 30 anos de atividade. Uma vez que são materiais de
caracter arenoso, pouco consolidados e incoerentes, os parâmetros de resistência ao
corte foram estimados empiricamente por correlações vulgarmente utilizadas em
geotecnia (Décourt, 1989). Foram aplicadas correções para obtenção do valor
normalizado (N60):

Er
N 60 = .λ.CN .N [2]
60

onde: λ é o fator de correção em função do comprimento das varas, CN é o fator de


correção da profundidade, e Er é a energia transmitida ao sistema de varas. Em função
do comprimento das varas aplicaram-se os fatores de correção de 0,75, 0,85, 0,95 e
1,00, consoante as profundidades de ensaio, respetivamente, inferiores a 4 m, de 4 m
a 6 m, de 6 m a 10 m e superiores a 10 m. No que respeita à energia transmitida ao
sistema de varas, utilizou-se uma eficiência de 60%, uma vez que o sistema de
disparo do equipamento é automático (Folque, 1987). Tendo em consideração que
estas formações geológicas apresentam-se normalmente consolidadas, o fator de
correção CN foi determinado com base nas expressões de Liao e Whitman (1986).

4. RESULTADOS OBTIDOS

4.1. Dados de campo e de laboratório

4.1.1. Massa volúmica in situ

Os resultados obtidos através do ensaio de garrafa de areia mostram que estes


depósitos in situ apresentam valores médios de massa volúmica seca (ρd) entre 560 e
990 kg/m3, com valores mínimos de 470 kg/m3 e máximos de 1110 kg/m3. Calculando-
se o índice de vazios, considerando para massa volúmica das partículas sólidas (ρs) o
valor da massa volúmica aparente das partículas secas em estufa (ρrd), para não se
considerar os vazios intrínsecos das partículas, obtiveram-se, ainda assim, valores
compreendidos entre 0,64 e 1,10. É de referir, por último, que os extratos de
bagacinas pretas apresentam em média valores de ρd mais baixos 3 a 27% que os de
bagacina vermelha, num mesmo cone vulcânico.
Entre os ensaios efetuados in situ para a avaliação da massa volúmica seca, verificou-
se que, em média, os valores obtidos pelo método do gamadensímetro, em relação
aos determinados pelo método de referência (garrafa de areia), são 20% e 32%
superiores, respetivamente, para as bagacinas pretas e para as vermelhas. Constatou-
se, ainda, que em média os valores de teor em água medidos pelo gamadensímetro
são inferiores aos reais em 10 pontos percentuais.

4.1.2. SPT e ECP

Em termos de ensaios SPT realizados pelo LREC nestes materiais é possível balizar
valores entre as 2 e as >60 pancadas, refletindo uma elevada heterogeneidade de
compacidade e de influência de clastos rochosos (bombas vulcânicas) nos valores de
NSPT obtidos. A estimativa de ângulos de atrito interno por ensaios SPT permitiu obter
valores compreendidos entre os 25º e os 43º, com um valor médio de 34º.

Relativamente aos ensaios de carga com placa a experiencia do LREC permite afirmar
que estes materiais apresentam, quando compactados em aterros, módulos de
deformabilidade secantes que se situam entre os 80 MPa e os 100 MPa, para níveis
de tensão entre os 250 e os 300 kPa.

4.1.3. Ensaios de identificação e de caracterização geométrica

A figura 2 apresenta as curvas granulométricas dos materiais colhidos nos diferentes


cones, enquanto o quadro 2 ilustra um resumo das características texturais e dos
parâmetros extraídos da curva granulométrica, como o coeficiente de curvatura (Cc) e
de uniformidade (Cu).

Figura 2 – Curvas Granulométricas dos Materiais Analisados. Curvas a Preto e a Vermelho, em


Correspondência Direta com a Cor da Jazida

Os resultados obtidos para esta formação geológica denotam uma grande


variabilidade da dimensão das partículas, com um grande predomínio do cascalho
(média de 63%, um mínimo e máximo de 33% e 88%, respetivamente). A fração de
areia apresentou valores a oscilar entre os 11% e os 66%, com uma média de 34%,
enquanto a fração fina, não plástica, manifestou um somatório médio de 1,2%, com
um mínimo de 0,5% e um máximo de 3,6%, refletindo a baixa representatividade das
frações mais finas.

O coeficiente de curvatura (Cc) variou entre os 0,8 e os 2,3 e o coeficiente de


uniformidade (Cu) entre 3 e 72. As características texturais descritas correspondem a
solos classificados fundamentalmente como GW – Cascalho bem graduado com areia,
obteve-se também SW – Areia bem graduada com cascalho, areias e cascalhos mal
graduados, de acordo com a Classificação Unificada Revista de Solos, demonstrando
que são solos maioritariamente grosseiros, apresentando alguma variabilidade
granulométrica fruto da estratificação granulométrica que apresentam face a
alternâncias de dinâmicas eruptivas aquando da deposição subaérea.

Relativamente à forma das partículas, a fração de cascalho (D > 4 mm) destes


materiais é maioritariamente constituída por partículas cúbicas; disso deram conta os
resultados dos ensaios para avaliação do índice de achatamento e do índice de forma,
cujos resultados se situam entre 1 e 8, em ambos.

Relativamente à fração fina destes materiais (D ≤ 2 mm), efetuaram-se ensaios de


equivalente de areia e de azul de metileno. Verificou-se uma reduzida amplitude de
resultados no ensaio de equivalente de areia, tendo-se obtido para todas as amostras
valores compreendidos entre 84 e 98, exceto para uma amostra (BG12-SE-V) para a
qual se obteve 71. Em termos do ensaio de azul de metileno, os resultados foram
baixos como seria previsível, tendo-se obtido em todas as amostras valores inferiores
a 0,7 g/kg, exceto para a referida amostra, na qual se obteve um valor de 1,6 g/kg.

Tendo em conta os limites estabelecidos pelo Caderno de Encargos das


Infraestruturas de Portugal para a utilização de solos e de agregados na estrutura de
pavimentos, verifica-se que os resultados obtidos permitem a sua utilização.

4.1.4. Ensaios físicos e mecânicos

Os resultados das propriedades físicas e mecânicas são apresentados na Figura 3 e


no Quadro 2, sendo que no primeiro se exibem os dados relativos aos ensaios MDE, e
LA, enquanto no segundo são apresentados os dados referentes à baridade e massa
volúmica das partículas secas em estufa e à absorção de água em 24 horas.

Figura 3 – Resultados do Ensaio de Micro-Deval (MDE) e de Los Angeles (LA)

Constata-se, quer em termos do ensaio de resistência à fragmentação, pelo método


LA, e ao desgaste, segundo o ensaio MDE, que o comportamento de todas as
bagacinas ensaiadas é bastante variável, embora por vezes entre a bagacina preta e a
vermelha, dum mesmo cone, se verifiquem valores semelhantes.
No que concerne ao ensaio da baridade e do volume de vazios (NP EN 1097-3),
obtiveram-se valores de baridade entre os 550 kg/m3 e os 1120 kg/m3, tendo-se
encontrado valores do volume de vazios compreendidos entre 32% e 68%. Os
resultados obtidos apresentam-se no Quadro 1, tendo-se acrescentado a estes, os
valores da massa volúmica das partículas secas em estufa (NP EN 1097-6),
determinados para cada amostra, com os quais se calculou o volume de vazios.

Da observação dos resultados da determinação da massa volúmica e da absorção de


água (Quadro 1) verifica-se que em termos de média ponderada os valores da massa
volúmica das partículas secas em estufa variam de valores entre 1,08 Mg/m3 e 2,38
Mg/m3 e que em termos da absorção de água, essa variação vai de 3,3% a 18,0%.

Quadro 1- Baridade e Massa Volúmica das Partículas Secas em Estufa


Baridade Massa volúmica das partículas secas em estufa (Mg/m3)
(kg/m3) Absorção de água (%)
Amostra
V. Vazios Média ≤ 0,063 ] 0,063 – 4] ] 4 – 63 ]
≥ 63 mm
(%) ponderada mm mm mm
755 1,77 2,77 2,34 1,67 -
BG1-9J-P
57,3% 7,5% 0% * 0,6% 9,2% -
776 1,62 3,08 2,88 1,49 1,47
BG2-9J-V
52,1% 13% 0% * 0,6% 15,5% 15,6%
687 1,62 2,85 2,69 1,44 -
BG3-PC-P
57,6% 12,2% 0% * 0,4% 15,9% -
1117 2,38 - 2,66 2,19 -
BG4-EI-P
53,1% 5,9% 0% * 2,2% 9,5%
1029 2,21 - 2,94 2,06 -
BG5-EI-V
53,5% 11% 0% * 0,4% 14,2% -
871 1,94 2,82 2,51 1,90 -
BG6-MF-P
55,1% 3,3% 0% * 0,4 % 3,6 % -
747 1,73 2,75 2,46 1,56 -
BG7-MF-V
56,8% 9,9% 0% * 0,3% 11,8% -
841 1,68 - 2,88 1,43 1,32
BG8-EV-P
49,9% 9,0% 0% * 0,6% 12,5% 20%
820 1,82 - 2,77 1,54 1,38
BG9-EV-V
54,9% 10,9% 0% * 0,4% 17% 19,2%
549 1,08 2,47 2,12 0,87 0,70
BG13-Rib-P
49,2% 17 0% * 0,2% 24,8% 41,5%
613 1,48 - 2,72 1,28 1,18
BG10-Rib-V
58,6% 18 0% * 0,5% 24,3% 25,4%
1102 2,33 2,77 2,57 2,04 -
BG11-SB-V
52,7% 6,4% 0% * 5,1% 8,5% -
891 1,55 2,77 2,59 1,52 1,27
BG12-SE-V
42,5% 12,9% 0% * 4,9% 13% 19,2%
* Valor admitido para a absorção de água das partículas inferiores a 0,063 mm para se calcular a média ponderada.

Observando os dados por frações, constata-se que, em termos gerais, quanto maior é
dimensão das partículas menor é a massa volúmica, verificando-se que a amplitude
dos valores das massas volúmicas das frações tende a decrescer à medida que a
dimensão das frações aumenta. Em termos de absorção de água, as tendências são
semelhantes com a diferença de que a magnitude dos valores evolui de forma inversa,
isto é, quando a massa volúmica aumenta a absorção diminui.

Para além destas variações genéricas, verifica-se que entre os valores da baridade e
da média ponderada das massa volúmica das partículas secas em estufa, existe uma
proporcionalidade direta que abrange a quase totalidade dos resultados, o que é
constatável pela pequena variação dos valores do volume de vazios, cuja maioria se
situa entre os 50% e os 57%.

Os resultados dos parâmetros de compactação obtidos pelo ensaio do tipo Proctor e


CBR permitiram verificar que estes materiais, por possuírem poucos finos e por a sua
matriz mesmo depois de compactada possuir índice de vazios, em regra superiores a
0,15, não considerando a porosidade das partículas, geralmente as curvas de
compactação não possuem ramo húmido nas curvas de compactação. Para além
disso, dum modo geral, não se observa variação significativa da massa volúmica seca
com o teor em água. Em termos da massa volúmica seca máxima obtiveram-se
valores a oscilar entre 0,96 e 1,75 Mg/m3, verificando-se ainda existir entre estes
valores, uma proporcionalidade direta, quase geral, com os valores da média
ponderada da massa volúmica seca das partículas secas em estufa.

Em termos de valores de CBR, obtiveram-se valores compreendidos entre 14 e 65%


verificando-se em média a obtenção de resultados semelhantes tanto para as
bagacinas vermelhas como para as pretas.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As bagacinas nos Açores, desde o estudo efetuado por Fraga (1988), tiveram um
incremento na sua utilização como material estrutural em aterros, em particular nas
obras rodoviárias. Com este trabalho pretendeu-se dar continuidade àquele estudo e
assim contribuir para uma utilização mais vasta deste material endógeno dos Açores.
Tendo presente que embora nesta fase do estudo se tenha avançado pouco em
termos da caracterização deste material, a mesmo se torna essencial para a
implementação da fase seguinte, que consiste na caracterização dos parâmetros de
resistência ao corte, através de ensaios de compressão triaxial do tipo consolidado
isotropicamente com fase de corte drenada (CID), onde se pretende estudar como
variam esses parâmetros em função da compacidade e do estado de tensão aplicado
ao material.

REFERÊNCIAS
Amaral, C., Malheiro, A., Marques, F. e Amaral, P. (2014). Contributo para a
caracterização química dos piroclastos de natureza basáltica. 14º Congresso
Nacional de Geotecnia., Covilhã, pp. 411-412
Amaral, P. e Malheiro, A. (2012). Classificação geológico-geotécnica de depósitos
vulcânicos – Proposta qualitativa. Documento do LREC.
Décourt, L. (1989). The Standard Penetration Test – State of Art Report: In: XII
International Conference on Soil Mechanics and Foundation Engineering. Rio de
Janeiro, Brasil, vol.4, pp. 2405-2416.
Folque, J. (1987). Comportamento de maciços terrosos sob a ação de solicitações
sísmicas. Revista Geotecnia, nº 51, Lisboa, pp. 1-31.
Fraga, C. (1988). Caracterização geotécnica de escórias vulcânicas. Tese de
Mestrado, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 146 p.
Liao, S. S.C. and Whitman, R. V. (1986): "Overburden correction factors for SPT in
sand," Jour. of Geotechnical Engineering, ASCE, Vol. 112, No. 3, pp. 373-377.
Malheiro, A., Sousa, J., Marques, F. e Sousa, D. (2010) – Contribution to geotechnical
characterization of basaltic pyroclasts. Volcanic Rock Mechanics. Rock
Mechanics and Geo-Engineering in Volcanic Environments. C. Olalla, L.
Hernandez, J. Rodriguez-Losada, A. Perucho e J. Gonzalez-Gallego (eds). CRC
Press, Taylor & Francis Group, Londres, pp. 53-58.

Você também pode gostar