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Introdução
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Mestranda do Programa de Pós Graduação em Antropologia e Arqueologia- Apoio CAPES.
2. Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas - Universidade Federal do Paraná, Departamento de
Antropologia
3 EPPC – Estudos e Projetos em Patrimônio Cultural
rochosos e os processos formativos naturais e culturais incidentes sobre esta categoria de
sítio arqueológico ainda pouco conhecida.
A pesquisa em cavernas e abrigos rochosos constitui uma das abordagens mais
reconhecidas na literatura arqueológica, definindo uma categoria específica de sítios
arqueológicos denominados “abrigados” ou “sob abrigo”. Entretanto, a maior parte desses
trabalhos concentram-se em cavidades formadas a partir de rochas carbonáticas, areníticas e
quartzíticas (ARAÚJO, 2008). Neste sentido, são poucas as referências na história da
arqueologia brasileira sobre a presença de registros culturais em cavidades naturais
cristalinas (ex. MENTZ RIBEIRO, 1997), em especial aquelas formadas pelo ajuntamento
de blocos de rochas ígneas e metamórficas, tais como granitos, gnaisses e migmatitos. A
baixa incidência de pesquisas se relaciona possivelmente ao desconhecimento dos processos
formativos neste tipo cavidade, as formas de ocorrência e grau de preservação sedimentar e
arqueológica relacionados. Muitos dos abrigos rochosos cristalinos se dispõem em locais de
pouco controle prospectivo, já que resultam muitas vezes do empilhamento “acidental” de
blocos e matacos em sistemas de encostas. As áreas abrigadas formam-se a partir
de processos erosivos e intempéricos, e que atuam nas zonas de fraquezas ou de acomodação
existentes entre os maciços rochosos (TOMAZZOLI et al., 2011), formando espaços vazios
relativamente estreitos ou rasos, passíveis de ocupação e uso humano. Apesar do caráter
aparentemente fortuito, estudos espeleológicos em áreas cristalinas vêm demostrando que a
ocorrência não se dá totalmente ao acaso, embora sejam necessários mais estudos
e levantamentos prospectivos a fim de compreender muitos aspectos sobre a gênese e
evolução de tais cavidades (ZAMPAULO et al., 2007; MOCHIUTTI e TOMAZZOLI,
2019). O potencial de utilização antrópica deste tipo de caverna e o grau de preservação
arqueológica associada aos espaços internos e externos ainda é muito pouco conhecido, em
especial nas cavidades e matacões cristalinos que se encontram em meio às encostas ou
afloramentos de maior declividade, umidade e densa cobertura vegetal, a exemplo da Serra
do Mar e morrarias de interface costeira. Entretanto, alguns trabalhos nessas áreas vêm
apontando situações promissoras de pesquisa e que já resultaram na identificação de
vestígios e estruturas arqueológicas conservadas, incluindo camadas conchíferas (malaco
fauna de sambaquis), ossadas humanas, pinturas rupestres, entre outros (BENDAZZOLI et
al, 2009; BANDEIRA et al., 2018).
No litoral do Paraná até o momento foram identificados sete abrigos rochosos
contendo vestígios de interesse arqueológico, porém em nenhum deles foram feitas
escavações arqueológicas (BROCHIER, 2023 comum. pessoal). Um refere-se ao Abrigo do
Cubatão em Guaratuba, no litoral sul do Estado, onde se observou na base do
abrigo fragmentos cerâmicos e material lítico possivelmente pré-coloniais (BROCHIER,
2002). Por sua vez, no litoral norte, outras cavidades rochosas vêm sendo recentemente
cadastradas (EPPC, 2023) e que apresentam a incidência de vestígios conchíferos, ósseos,
líticos e cerâmicos, além de grande potencial para ocorrências similares em subsuperfície.
Este é o caso dos abrigos rochosos Ilha Gamelas I, II e III localizados na ilha homônima, no
município de Guaraqueçaba. Ambos os abrigos estão próximos a costões rochosos e
pequenas enseadas, apresentando vestígios malacológicos e cerâmicas históricas
depositados sobre a superfície do terreno abrigado. Esses sítios estão muito próximos a
outros, como sambaquis, sítios ceramistas pré-coloniais e históricos, sugerindo formas de
uso concomitantes, porém diferenciadas daquelas amplamente reconhecidas no litoral
paranaense (CHMYZ, 2012). Neste trabalho serão trazidas algumas informações recolhidas
até o momento obtidas sobre esses registros verificando igualmente a literatura geológica e
espeleológica pertinente aos processos de formação de cavernas e abrigos rochosos
cristalinos no Brasil. A fim de contextualizar arqueologicamente os referidos sítios sob
abrigo, e considerando que ainda não foram pesquisados sistematicamente, também serão
descritas oportunamente as informações disponíveis sobre o sítio Abrigo Furnas em Ilha
Bela, litoral norte paulista (BENDAZZOLI et al, 2009) e as pesquisas no Sambaqui Sob
Rocha Casa de Pedra em São Francisco do Sul (BANDEIRA et al., 2018, entre outros). Cabe
ressaltar, que o Abrigo Cubatão em Guaratuba constitui o único abrigo cristalino com
vestígios arqueológicos até o momento localizado no sopé da Serra do Mar e, portanto, em
compartimento ambiental diferenciado em relação aos demais registros aqui discutidos.
A formação geológica de abrigos cristalinos
Foto 5: Abrigo Rochoso Ilha das Gamelas II. Foto de Foto 6: Abrigo Rochoso Ilha das Gamelas
um fragmento cerâmico encontrados na base do abrigo. III. Atividade de registro. Fonte: Antônio
Fonte: Antônio Cavalheiro (2023). Cavalheiro (2023).
Por fim, foi revisitado o Abrigo Rochoso Ilha das Gamelas III, onde realizou-se
medidas e estudos da forma do abrigo área (Foto 6). A cavidade apresentou dimensões
médias, sendo caracterizada por duas áreas estreitas e orientação perpendicular entre elas:
uma com cerca de 3,7 x 3,5 metros, e altura acima de 2 metros e outra, mais alongada com
cerca de 6,2 x 1,7 m na sua dimensão máxima e altura por volta de 1,5 metros. Na frente de
ambas as cavidades foi possível distinguir uma camada contendo valvas de Ostras em aclive,
sugerindo prolongamento do depósito em profundidade.
Considerações preliminares sobre o estudo da ocupação de abrigos cristalinos
no litoral paranaense
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p.335-340