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A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO NACIONAL

SUSTENTÁVEL NAS LICITAÇÕES E CONTRATAÇÕES PÚBLICAS

Sumá rio

1 INTRODUÇÃO...............................................................................................6

2. A IMPORTÂNCIA DOS PRINCÍPIOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO


NOS PROCESSOS DE CONTRATAÇÕES PÚBLICAS..............................8

2.1. A MODALIDADE DAS NORMAS: O RACIOCÍNIO JURÍDICO ENTRE


REGRAS E PRINCÍPIOS.....................................................................9

2.2. CONCEITO DO PRINCÍPIO DA ISONOMIA NA PERSPECTIVA DA


SUSTENTABILIDADE........................................................................12

2.3. CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL...................15


2.4 O PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO NACIONAL SUSTENTÁVEL
SOB A ÓTICA DO DECRETO Nº 7.746/12........................................16

2.5. A IMPORTÂNCIA DA VISÃO HOLÍSTICA DO GESTOR OU


SERVIDOR PÚBLICO NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO E/OU
CONTRATAÇÃO COM A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA....................19

2.6. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS........................20

3. CONCLUSÕES E/OU RECOMENDAÇÕES...............................................22

REFERÊNCIAS...............................................................................................23
A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO NACIONAL
SUSTENTÁVEL NAS LICITAÇÕES E CONTRATAÇÕES PÚBLICAS

1 INTRODUÇÃO

O Brasil é uma referência mundial no que diz respeito a patrimônio ambiental


e responsabilidade quanto ao equilíbrio ecológico do planeta. De acordo com o site
www.goodcountry.org, ele é o 32º país mais preocupado com o meio ambiente no
mundo, num ranking de 163 países.
Contudo, o Brasil não é feito apenas de florestas, rios e recursos naturais,
mas de povos, etnias, culturas, economia, educação e saúde.
Pensando nisso, o Presidente da República promulga, em 15 de Dezembro
de 2010, a Lei Nº 12.349, que altera as Leis 8.666/93, 8.958/94 e 10.973/04 e ainda
revoga o §1º do Art. 2º da Lei Nº 11.273/06, elencando normas que induzem a
realização de contratações e aquisições sustentáveis, incluindo no rol dos princípios
básicos especificados no Art. 3º da Lei 8.666/93 de contratações, a expressão
“promoção do desenvolvimento nacional sustentável”, na seguinte redação:
Art. 1º - A Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, passa a vigorar com as
seguintes alterações:

Art. 3º - A licitação destina-se a garantir a observância do princípio


constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a
administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável e
será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios
básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da
publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento
convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos.

A importância dessa expressão teve seu ápice em 1.972, na Conferência da


ONU – Organização das Nações Unidas, em Estocolmo-Suécia e teve seu marco
histórico com o Relatório de Brundtland, em 1.987, elaborado pela Comissão
Mundial sobre Meio Ambiente e o Desenvolvimento, dando-se origem à necessidade
das práticas de desenvolvimento sustentável, conforme o trecho:
Muitos de nós vivemos além dos recursos ecológicos, por exemplo, em
nossos padrões de consumo de energia. No mínimo, o desenvolvimento
sustentável não deve pôr em risco os sistemas naturais que sustentam a
vida na Terra: a atmosfera, as águas, os solos e os seres vivos. Na sua
essência, o desenvolvimento sustentável é um processo de mudança no
qual a exploração dos recursos, o direcionamento dos investimentos, a
orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional estão
em harmonia e reforçam o atual e futuro potencial para satisfazer as
aspirações e necessidades humanas. (ONU, 1987).
Desta forma, o Brasil se insere no desafio de fomentar o desenvolvimento
nacional sustentável em seu território, com todas as nuanças ecológicas, culturais, e
sociais.
Porém, por ser recente este conceito, o padrão de sustentabilidade em
nosso país tem sido discutido de maneira limitada, restringindo-se apenas às
questões ambientais.
A sustentabilidade, analisada de maneira segmentada, incorre no erro de
não proporcionar a real sustentabilidade, pois esta se caracteriza na manutenção de
pilares que devem ser observados simultaneamente, de acordo com o que rege o
Decreto 7.746/12, em seu Art. 4º:
Art. 4º São diretrizes de sustentabilidade, entre outras:
I – menor impacto sobre recursos naturais como flora, fauna, ar, solo e
água;
II – preferência para materiais, tecnologias e matérias-primas de origem
local;
III – maior eficiência na utilização de recursos naturais como água e energia;
IV – maior geração de empregos, preferencialmente com mão de obra local;
V – maior vida útil e menor custo de manutenção do bem e da obra;
VI – uso de inovações que reduzam a pressão sobre recursos naturais; e
VII – origem ambientalmente regular dos recursos naturais utilizados nos
bens, serviços e obras.

Portanto, é mister que ao promover o desenvolvimento nacional


sustentável nas aquisições e contratações com a administração pública, seja
observado o arcabouço de critérios que fundamentam a conjugação dos dois direitos
humanos fundamentais: o direito ao meio ambiente sadio (Procoloto de San
Salvador ratificado pelo Brasil em 21/08/1996) e o direito ao desenvolvimento (Art. 1º
da Resolução nº 41/128 da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 04/12/1986).
Além disso, não se deve fechar os olhos aos demais princípios constitucionais do
Art. 37 da Carta Magna, conjuminado com os princípios do Art. 3º da Lei 8.666/93 e
ainda outros princípios implícitos no âmbito do Art 5º da Constituição Federal.
Esse assunto será abordado desde a importância dos princípios do direito
administrativo, implícitos e explícitos, até a necessidade de uma visão holística por
parte do agente público que, nessa construção das bases da reflexão,
compreenderá a importância do princípio do desenvolvimento nacional sustentável e
de sua aplicação prática nos processos de contratação e/ou aquisição pela
Administração Pública.
É importante ainda que se destaque a impossibilidade de assegurar, com
precisão, a promoção do Princípio do Desenvolvimento Nacional Sustentável nas
licitações e contratações com a administração pública para atender, em tempo hábil,
as necessidades sociais finalísticas.
Assim, o objetivo geral desse estudo é despertar, através de uma análise
crítica, a necessidade de se levar em consideração o desenvolvimento nacional
sustentável nos processos de contratação com a administração pública; difundir e
ampliar o entendimento do princípio do desenvolvimento nacional sustentável;
exemplificar os cuidados e benefícios resultantes à sociedade quando observado o
principio do desenvolvimento nacional sustentável; propor acréscimos e itens a
serem inseridos na construção do Termo de Referência de maneira a garantir
sustentabilidade nas contratações e o desenvolvimento socioeconômico da
sociedade em geral; propor critérios de julgamentos nos certames licitatórios que
garantirão e fomentarão o desenvolvimento nacional.
Quanto aos procedimentos metodológicos, o estudo tem uma abordagem
qualitativa, uma vez que o tema será avaliado sob um caráter subjetivo. Porém, o
resultado quanto aos objetivos serão descritivos, delineados sob a uma base
bibliográfica, tendo-se o cuidado de coletar dados fundamentados em consultas a
guias, artigos, livros, leis e obras relacionadas ao tema.

2. A IMPORTÂNCIA DOS PRINCÍPIOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO NOS


PROCESSOS DE CONTRATAÇÕES PÚBLICAS

O Direito existe para regular as ordens e relações sociais, de maneira que


cada um possa entender o seu real limite no exercício do direito à liberdade.
Todo indivíduo, em qualquer sociedade, tem em si os padrões de ética e
moral baseados em sua herança genética, psicossocial e educacional.
A valoração do certo e do errado oscila sobre cada família de forma que, se
todos exercessem de maneira plena o que entendessem por ideal, o mundo seria
um caos. Nesse contexto surge o direito objetivo, ou seja, um sistema de normas de
conduta que vislumbram o dever/ser, a fim de regular as relações sociais. Todavia,
a norma pela norma, em si mesma, não teria eficácia se primeiro não se tivesse
compreensão das razões que a levaram a existir, dos motivos subjetivos,
intrínsecos, valorativos de cada regra codificada, ora de maneira explicita e nominal,
ora inserida na vasta codificação da norma (JUSTEN FILHO, 2016).
Neste sentido, é fundamental a compreensão dos princípios do direito e,
especialmente, dos princípios do direito administrativo, inseridos de maneira
pulverizada na Carta Magna, em seu Art. 37, e nas mais diversas leis como, por
exemplo, as Leis Nº 8.666/93 e 12.349/10, a fim de regular as relações entre a
administração pública e o mercado e, ainda, entre ele e a sociedade.
A importância dos princípios aplicados ao direito administrativo é entendida
da seguinte forma por Justen Filho (2016, p.61):
Os princípios apresentam enorme relevância no âmbito do direito
administrativo. A atividade administrativa traduz o exercício de poderes-
deveres, o que significa a vinculação quanto ao fim a ser atingido. Em inúmeras
oportunidades, a conduta a ser adotada dependerá das circunstâncias, o que
não equivalerá a consagrar a liberdade para o agente escolher o que bem
entender. Nessas situações, pode haver alguma autonomia de escolha quanto
ao meio a adotar, e os princípios serão o instrumento normativo apropriado
para evitar escolhas inadequadas. Serão inválidas todas as decisões
incompatíveis com os fins a serem promovidos e com os valores protegidos
pela ordem jurídica.

O conhecimento da lei não a torna eficaz. Sem o pleno conhecimento dos


princípios que a fundamentam, a lei se tornaria inepta, pois a instrução a respeito
dos princípios e os bens jurídicos defendidos na criação da norma é o que a torna
plena, fazendo com que sejam supridos os anseios de uma sociedade que espera
dos agentes públicos muito mais que probidade, mas que procura obter a eficácia na
materialização dos direitos constitucionais para o mundo fático e real.

2.1. A MODALIDADE DAS NORMAS: O RACIOCÍNIO JURÍDICO ENTRE


REGRAS E PRINCÍPIOS

O Brasil é um país regido em todas as suas instâncias e entranhas por


normas que, dentro de sua velocidade legislativa, tenta acompanhar o
desenvolvimento da sociedade como um todo, buscando suprir as lacunas que
surgem na repetição de casos concretos que anulem ou ameacem o direito comum.
Neste ponto de vista, a norma é dividida em regras e princípios que
coexistem no arcabouço jurídico brasileiro e que estabelecem obrigações na medida
em que o bem ou direito tutelado, na normativa jurídica brasileira, dá-se por
ameaçada.
Diferenciar regra e princípio é de suma importância no âmbito prático da
promoção da justiça. Tal discussão traz como precursora a obra de Ronald Dworkin
(2002), depois aperfeiçoada por Robert Alexy (1993).
Para Dworkin, por exemplo, o positivismo fornece um modelo jurídico
constituído exclusivamente por regras, e, dessa forma, o subsídio disponível para
dar solução ao caso concreto é insuficiente, dadas às suas nuanças. Para isso,
propõe Dworkin que o sistema jurídico seja constituído sim, por regras, mas também
por princípios. Assim, um juiz não deve tomar uma decisão completamente
discricionária quando da ausência clara de uma regra, pois pode se valer, além dela,
dos princípios para norteá-lo à decisão (DOWRKIN, 2002, p. 14-80).
Já Alexy, que aperfeiçoa o conceito e avalia com um pouco mais de rigor
essa divisão, dá sua contribuição desenvolvendo a tese dos princípios como
mandamentos de otimização. Para ele os princípios possuem uma dimensão que as
regras não possuem. Em suas próprias palavras, os princípios são “o ponto decisivo
para a distinção entre regras e princípios é que os princípios são normas que
ordenam que algo seja realizado na maior medida possível dentro das possibilidades
fáticas e jurídicas” (Alexy, 1993, p. 86).
Nesse sentido, percebe-se que há uma preocupação legítima em preservar
e estabilizar os direitos ora tutelados pela norma jurídica brasileira, garantindo-os à
toda a sociedade, sendo necessário que haja flexibilidade quando da análise do
caso concreto, em que, quando a regra tornar-se insipiente ao ponto de
comprometer o bem ou o direito tutelado, é importante valer-se de mecanismos
legítimos e probos para se alcançar a equidade nos contratos administrativos.
Tal argumento não invalida a proeminência da regra, sob a égide de
carregar o julgamento do caso concreto de extrema subjetividade de modo que
anule o marco norteador da justiça.
Sob o mesmo ponto de vista, corrobora o ilustre doutrinador Marcelo
Novelino, citando Humberto Ávila: “por ser a regra o resultado de um sopesamento
feito pelo legislador no momento da elaboração da norma, não cabe ao intérprete,
no momento da aplicação, substituir o resultado institucionalizado no plano
legislativo a partir das suas valorações pessoais” (NOVELINO, 2012, p. 134). Apud
Ávila, 1999)
Não há, neste caso, qualquer apologia ao descarte da regra como premissa
primeira. O que se busca neste particular é abstrair a tutela à qual a regra visa
resguardar, ou seja, defende-se mais que o apego a letra seca da lei, defende-se o
espírito da Lei, intangível, mas palpável, quando olhado sob o prisma do
desenvolvimento sustentável do Brasil em todas as suas vertentes.
Corrobora com essa abordagem, Tavares, quando escreve, sem desprezar a
letra da lei:
Por meio desse critério toma-se em consideração a finalidade para qual a
norma foi editada ou redigida. Assim, fica superado o pego à mera letra da lei
formalmente posta (critério gramatical, próprio do textualismo, do formalismo
excessivo, e das concepções da Constituição invariável no tempo (TAVARES,
2017, p. 190)
Fazendo, portanto, uma concatenação dos argumentos acima, fica evidente
que a regra é o “dizer direito” fixo, rígido, criado sob a necessidade de uma
sociedade volátil, em constante desenvolvimento, e, nesse sentido, torna-se
impossível prever todos os pormenores que os casos concretos podem suscitar,
principalmente no âmbito da Administração Pública em que o interessado é uma
gama maciça e heterogênea.
Por outro lado, o princípio evidencia as razões pelas quais o legislador foi
levado a criar a regra, e que, em sua insuficiência, resguarda a intenção de proteção
ao bem ou direito tutelado.
Nas palavras do Excelentíssimo Ministro do STF, Mendes, entende-se que:
Um modelo feito de regras prestigiaria o valor da segurança jurídica, mas seria
limitada praticidade, por exigir uma disciplina minuciosa e plena de todas as
situações relevantes, sem deixar espaço para o desenvolvimento da ordem
social. (MENDES, 2017, p. 75)
É claro que, no que tange à norma jurídica, a regra não acompanha a
velocidade do desenvolvimento social, e, neste particular, o desenvolvimento
nacional sustentável, dada a sua peculiaridade do trâmite legislativo. Desta forma,
há que se conciliar, sob a égide da observância do princípio da Administração
Pública, previsto no Art. 3º da Lei 8.666/93, inserido pela Lei Nº 12.439/2010, da
promoção do Desenvolvimento Nacional Sustentável, tanto a regra quanto o
princípio, de acordo com os padrões de Alexy, a saber, não de maneira substitutiva,
mas na contraposição do peso.
Prezar por este princípio, faz com que o operador do direito, no âmbito da
Administração Pública, possa ver além da lei (regra), observando os princípios que a
norteiam, em todas as esferas da preservação do desenvolvimento nacional
sustentável, sem considerar a isonomia nos processos e os outros princípios
constitucionais vitais para a promoção da equidade no âmbito nacional.

2.2. CONCEITO DO PRINCÍPIO DA ISONOMIA NA PERSPECTIVA DA


SUSTENTABILIDADE

Em linhas gerais, o princípio da isonomia, também conhecido como princípio


da igualdade, indica o tratamento justo entre os cidadãos. Na Administração Pública,
a isonomia dá-se no âmbito da igualdade de tratamento e julgamento ante um
certame licitatório que ambiciona a celebração de futura contratação. Nas palavras
de Alexandre e Deus (2017, p.490):
...a Administração deve tratar, de forma idêntica, todos os licitantes que se
encontrem na mesma situação jurídica. Esse princípio garante que seja dada
a oportunidade de participar o certame licitatório a todos aqueles que tenham
condições de cumprir um futuro contrato e proíbe que sejam feitas
discriminações injustificadas no julgamento das propostas.
Sendo assim, é indispensável que qualquer personalidade, seja ela física ou
jurídica, em qualquer local do Brasil, tenha a mesma oportunidade sob a égide da
justiça, conforme a máxima de Nery Junior (1999, p.42) que, em seu comentário
sobre o Princípio Constitucional da Igualdade, diz: “dar tratamento isonômico às
partes significa tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na exata
medida de suas desigualdades”.
Neste sentido, percebe-se uma incompatibilidade entre a norma positivada
sob a ótica da intenção do legislador e o mundo fático em que, visando o tratamento
isonômico em um certame licitatório, vislumbrando uma contratação no âmbito
municipal, por exemplo, não há igualdade entre uma empresa local e uma empresa
de grande porte que atenda a todo o país.
O artigo 3º da Lei 8.666/93 deixa explícito que um dos princípios a serem
observados numa licitação é o da isonomia e, para isso, criou várias modalidades de
certames, a saber, a concorrência, a tomada de preços, o convite, o concurso e o
leilão e, além desses, regulamentado pela Lei 10.520/02, o pregão, podendo ser
presencial ou eletrônico.
Temendo o direcionamento, o Governo Federal promulgou o Decreto nº
5.504, de 05 de agosto de 2005, que estabelece a exigência da utilização do pregão,
preferencialmente eletrônico, para entes públicos ou privados, nas contratações de
bens e serviços comuns, realizadas em decorrência de transferências voluntárias de
recursos públicos da União, decorrentes de convênios ou instrumentos congêneres,
ou consórcios públicos.
A redação da norma sobre este assunto está disposta da seguinte forma:
Art. 1º. Os instrumentos de formalização, renovação ou aditamento de
convênios, instrumentos congêneres ou de consórcios públicos que envolvam
repasse voluntário de recursos públicos da União deverão conter cláusula
que determine que as obras, compras, serviços e alienações a serem
realizadas por entes públicos ou privados, com os recursos ou bens
repassados voluntariamente pela União, sejam contratadas mediante
processo de licitação pública, de acordo com o estabelecido na legislação
federal pertinente.
§ 1º. Nas licitações realizadas com a utilização de recursos repassados nos
termos do caput, para aquisição de bens e serviços comuns, será obrigatório
o emprego da modalidade pregão, nos termos da Lei no 10.520, de 17 de
julho de 2002, e do regulamento previsto no Decreto no 5.450, de 31 de maio
de 2005, sendo preferencial a utilização de sua forma eletrônica, de acordo
com cronograma a ser definido em instrução complementar. (grifo meu)
Percebe-se que há uma recomendação e não uma obrigatoriedade pela
utilização da modalidade pregão na forma eletrônica. Tal recomendação se justifica
sob a ótica de contratações ou aquisições realizadas no âmbito federal em que a
distribuição do material adquirido, ou da prestação de serviços, será dada sob essa
amplitude geográfica.
Porém, esta forma de pregão não é isonômica, sobretudo em pequenos
municípios que detêm poucos e pequenos comércios que buscam seu
desenvolvimento ante a agressividade do mercado.
Ocorre que, os órgãos de fiscalização, especialmente os Tribunais de
Contas, não apoiam licitações que não sejam realizadas na modalidade pregão
eletrônico, temendo possíveis direcionamentos. Esse posicionamento acaba
influenciando o gestor público a não promover certame de modo adverso a este. Tal
comportamento anula a presunção de inocência onde o órgão fiscalizador deixa de
atuar de modo preventivo e pedagógico e pré-julga, de antemão, todo gestor
suspeito de improbidade administrativa.
Na tentativa de minimizar essa desigualdade, surge a Lei Complementar
123/2006, prevendo em seu art. 44 que:
Art. 44. Nas licitações será assegurada, como critério de desempate,
preferência de contratação para as microempresas e empresas de pequeno

porte.
A Lei Complementar 123/2006 (Estatuto Nacional de Microempresa – ME e
da Empresa de Pequeno Porte – EPP) também estabeleceu uma aparente
exceção ao principio da igualdade...” (2017, p. 494).
A observação dos nobres doutores é questionável uma vez que, ao
vislumbrar o mundo fático, não há, nem de longe, aparente exceção ao princípio da
igualdade. A supracitada Lei Complementar busca equalizar o tratamento, ora
sugerindo, ora obrigando o tratamento diferenciado a micros e pequenas empresas:
Art. 47. Nas contratações públicas da administração direta e indireta,
autárquica e fundacional, federal, estadual e municipal, deverá ser concedido
tratamento diferenciado e simplificado para as microempresas e empresas de
pequeno porte objetivando a promoção do desenvolvimento econômico e
social no âmbito municipal e regional, a ampliação da eficiência das políticas
públicas e o incentivo à inovação tecnológica. (Redação dada pela Lei
Complementar nº 147, de 2014)
(...)
Art. 48. Para o cumprimento do disposto no art. 47 desta Lei Complementar,
a administração pública: (Redação dada pela Lei Complementar nº 147, de
2014)
I - deverá realizar processo licitatório destinado exclusivamente à participação
de microempresas e empresas de pequeno porte nos itens de contratação
cujo valor seja de até R$ 80.000,00 (oitenta mil reais); (Redação dada pela
Lei Complementar nº 147, de 2014)
II - poderá, em relação aos processos licitatórios destinados à aquisição de
obras e serviços, exigir dos licitantes a subcontratação de microempresa ou
empresa de pequeno porte; (Redação dada pela Lei Complementar nº 147,
de 2014)
III - em que se estabeleça cota de até 25% (vinte e cinco por cento) do objeto
para a contratação de microempresas e empresas de pequeno porte, em
certames para a aquisição de bens e serviços de natureza divisível.
IV - deverá estabelecer, em certames para aquisição de bens de natureza
divisível, cota de até 25% (vinte e cinco por cento) do objeto para a
contratação de microempresas e empresas de pequeno porte.
(Redação dada pela Lei Complementar nº 147, de 2014)
(...)
§ 3o Os benefícios referidos no caput deste artigo poderão, justificadamente,
estabelecer a prioridade de contratação para as microempresas e empresas
de pequeno porte sediadas local ou regionalmente, até o limite de 10% (dez
por cento) do melhor preço válido. (Incluído pela Lei Complementar nº 147, de
2014)
Como fica claro observar, o legislador foi assertivo quando da proposta da
lei, vislumbrando diminuir a lacuna entre as grandes e pequenas empresas, apesar
de, atualmente, a norma merecer uma revisão de valores de referências,
principalmente, no Art. 48, I e II.
Todavia, o que se percebe no mundo fático é um engessamento pelos
órgãos de controle que já veem com pré-disposição negativa qualquer atuação de
um pregão que não seja eletrônico. Tal pré-julgamento tem criado o que o Ministro
do Tribunal de Contas da União (TCU) Dantas (2018) chama de “apagão decisório”:
“Deve haver, porém, equilíbrio entre gestão e seu controle, sob pena de criarmos no
país um “apagão decisório”, despertando nos gestores temor semelhante ao de
crianças inseguras educadas por pais opressores”.
Desta forma, é imprescindível considerar, no bojo da sustentabilidade, a
observância irrestrita do princípio da isonomia e, para isto, não há que se limitar em
pregão eletrônico e sim promover pregões presenciais onde, além das proteções
dos dispositivos legais já contemplados acima, oportunize-se a pequenas e médias
empresas locais a participação no certame licitatório de maneira competitiva.

2.3. CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

A Constituição Federal, documento supremo cujos princípios dão origem a


todas as outras leis e normas, expressa em seu art. 3º: (CONSTITUIÇÃO FEDERAL,
1988):
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais
e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,
idade e quaisquer outras formas de discriminação.

É importante compreender as sutilezas dos termos “Desenvolvimento” e


“Sustentabilidade” a partir da abrangência da etimologia da palavra “ecologia” e não
apenas limitando-a ao fator meio ambiente.
Não se pode limitar a importância das condições de meio ambiente sob o
reconhecimento de que os recursos são finitos, todavia, a finitude de recursos
perpassa os níveis no meio ambiente e alcança os níveis da responsabilidade social.
O desenvolvimento sustentável subsiste no tripé interdisciplinar, a saber,
social, econômico e ambiental. Nas palavras do Desembargador Jessé Torres
Pereira Junior, prefaciando a obra de Emery (2016, p.13):
pessoas, edificações, instalações e serviços demanda consumo diário de
energia elétrica, água, produtos e insumos dos mais variados, gerando
toneladas de resíduos, recicláveis ou não, a exigir gestão sustentável nos
três segmentos de sua integrada e interdisciplinar abrangência – social,
econômica e ambiental.

Observando-se os princípios intrínsecos do direito administrativo como a


economicidade, a eficiência e a sustentabilidade, é importante, em cada processo
licitatório e/ou contratação, vislumbre os aspectos do desenvolvimento nacional que
são alcançados e quais são as ações para tornar esses resultados perenes em sua
eficácia no tempo e no espaço, compatíveis com os valores e bens jurídicos
intencionados quando da concepção da necessidade do dispêndio dos recursos ali
empregados (EMERY 2016).

2.4 O PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO NACIONAL SUSTENTÁVEL SOB A


ÓTICA DO DECRETO Nº 7.746/12

Sobre a importância da compreensão dos princípios explícitos e implícitos


que norteiam a administração pública e os conceitos de desenvolvimento
sustentável, tem-se ainda a necessidade de lançar outro alicerce sobre o
pensamento da aplicação do princípio específico de desenvolvimento nacional
sustentável nas licitações e contratações públicas, a saber, sob o aspecto do
Decreto Nº 7.746/12, que regulamenta o art. 3º da Lei no 8.666, de 21 de junho de
1993, para estabelecer critérios, práticas e diretrizes para a promoção do
desenvolvimento nacional sustentável nas contratações realizadas pela
administração pública federal. Esse Decreto foi alterado pela Lei Nº 12.349/10,
inserida como princípio basilar das contratações públicas o desenvolvimento
nacional sustentável.
A regulamentação estabelecida no Decreto em questão traz a lume que o
desenvolvimento nacional sustentável como princípio está além dos limites do meio
ambiente, mas preocupa-se com a manutenção e a ampliação dos recursos sociais
e econômicos, nos limites geográficos em quem se efetuam e executam os contratos
com a administração pública.
Esclarece, portanto, o art. 4º do Decreto Nº 7.746/12, as diretrizes a serem
observadas para o fomento da sustentabilidade:
Art. 4º São diretrizes de sustentabilidade, entre outras:
I – menor impacto sobre recursos naturais como flora, fauna, ar, solo e
água;
II – preferência para materiais, tecnologias e matérias-primas de origem
local;
III – maior eficiência na utilização de recursos naturais como água e energia;
IV – maior geração de empregos, preferencialmente com mão de obra local;
V – maior vida útil e menor custo de manutenção do bem e da obra;
VI – uso de inovações que reduzam a pressão sobre recursos naturais; e
VII – origem ambientalmente regular dos recursos naturais utilizados nos
bens, serviços e obras.

Não obstante o artigo em questão estabelecer um rol para as diretrizes da


sustentabilidade, a expressão “entre outras”, em seu caput, deixa claro que não se
trata de um rol taxativo, mas exemplificativo. Tal observação responsabiliza a
administração pública pela busca da melhoria contínua, objetivando em suas
contratações a defesa e a promoção dos bens e valores jurídicos inerentes na
justificativa de suas aquisições, em nome do bem comum da sociedade. (EMERY,
2016)
Por isso, as licitações devem possuir, além de seus critérios de avaliação
para a proposta mais vantajosa, outros fundamentos além dos utilizados na velha
concepção, limitados ao preço e melhor técnica e/ou produto, a saber, critérios que
alcancem relação direta com o princípio do desenvolvimento nacional sustentável.
Freitas (2014, p.147-149), traz um exemplo hipotético, porém, muito
esclarecedor sobre os resultados que devem ser considerados na decisão sobre a
contratação mais vantajosa, sob as diretrizes de sustentabilidade previstas no
Decreto Nº 7.746/12:
Em termos práticos pode citar o exemplo da construção de um edifício para
albergar três entidades estatais. A primeira delas tem como objetivo
fomentar as atividades das microempresas e das empresas de pequeno
porte. Há também uma agência reguladora que visa a defender a livre
concorrência. Por fim a terceira dela é uma Fundação de Proteção ao Meio
Ambiente.
Esse prédio foi construído em uma área que estava a sofrer riscos
ambientais e sociais muito graves. Apesar de estar bem conectado com o
serviço de transporte público o terreno, que não estava sendo utilizado pela
Administração Pública, era foco de doenças, tendo em vista que a única
empresa de remoção de lixo hospitalar da cidade e diversas outras de
recolhimento de entulho lançavam clandestinamente no período noturno os
seus resíduos no referido terreno. Soma-se a este questão ambiental o fato
de que diversas pessoas estavam remexendo os resíduos em busca de algo
que pudessem vender para auferir uma pequena renda, não raro adquirindo
doenças graves e que o respectivo tratamento de saúde era muito caro para
os cofres públicos.
Pois bem, a solução sustentável para a resolução desse caso hipotético
seria fazer o devido recolhimento dos resíduos e enviá-los para um local
adequado para recebe-los. No que tange à licitação para a construção do
novo edifício, tanto o projeto básico quanto o projeto executivo devem
contemplar aspectos que levem em conta tanto o custo direto como os
indiretos, por exemplo, de nada adianta fazer um telhado muito barato, mas
que seja feito de um material que não garanta o isolamento térmico, visto
que os gastos posteriores com refrigeração e calefação seriam enormes.
Também é salutar incluir um sistema de aproveitamento solar e da água da
chuva, dentre muitos outros aspectos técnicos.
Depois da construção do prédio aquela área começou a desenvolver uma
atividade comercial muito grande em virtude da grande quantidade de
pessoas que foram trabalhar naquelas entidades estatais, gerando assim,
diversos empregos diretos e indiretos. Foram construídas também no
mesmo terreno algumas praças que são usadas todos os dias pela
comunidade para atividades culturais e de lazer.
E para finalizar a agência de proteção à livre concorrência que foi aberta
naquele edifício descobriu que a empresa de remoção de lixo hospitalar era
a única na cidade, pois praticava dumping. É notório que uma atividade
substancial do custo que uma empresa deste ramo de atividade tem está
ligado com as despesas para o devido descarte dos resíduos em local
adequado. Como a empresa não tinha esse custo, já que lançava o lixo
hospitalar no terreno público, todas as outras empresas do ramo da região
foram à falência. Mediante a atividade fiscalizatória da agência reguladora
foi detectada a prática de dumping e a empresa foi autuada, e,
posteriormente, multada. Teve ela, então, de sair do mercado, o que acabou
por abrir espaço para novas empresas que, com a eficiente atividade
regulatória, começaram a trabalhar conforme os requisitos da legislação, ou
seja, depositavam os resíduos em locais adequados.
Como se pode notar no exemplo hipotético apresentado acima, uma
solução sustentável não pode contemplar apenas uma das dimensões do
princípio da sustentabilidade, mas todas as três. Tem que se observar sim a
questão ambiental (economia de água e energia, utilização de materiais em
que o descarte seja mais ecológico, utilização de produtos não poluentes,
etc), todavia os aspectos referentes à dimensão social (criação de
empregos, mobilidade urbana, fomento de atividades culturais, etc) e
também econômica (proteção da livre concorrência, livre iniciativa,
regulação dos mercados, equilíbrio orçamentário, etc.) devem ser
implementados também.

Agregado a este exemplo, fica nítida a necessidade de enriquecer e


estabelecer como critérios de escolha de contratação mais vantajosa, à luz do
desenvolvimento sustentável, empresas que elencassem em suas propostas a
contratação e a aquisição de materiais para a referida construção, junto ao comércio
local, ou ainda, a promoção de formação profissional aos moradores do bairro que,
além de serem absorvidos pela própria obra civil em si, adquiririam nova profissão
para trabalhos futuros, etc.
Percebe-se, no exemplo fictício apresentado pelo nobre autor, que a
Administração Pública utiliza todos os meios possíveis para que, com apenas uma
ação, não apenas realize a contratação em si, mas fomente em seu entorno o
desenvolvimento nacional de maneira sustentável e perene, em que, além do
cumprimento estrito da norma, a defesa e a realização do bem jurídico e social
tutelado por ela, venha à tona de maneira concreta e palpável no mundo fático à
toda a sociedade.

2.5. A IMPORTÂNCIA DA VISÃO HOLÍSTICA DO GESTOR OU SERVIDOR


PÚBLICO NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO E/OU CONTRATAÇÃO COM A
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Lançados os alicerces para o pensamento a respeito do princípio do


desenvolvimento nacional sustentável, é agora necessário propulsionar o agente
público à responsabilidade do conhecimento e do cuidado na observância dos
preceitos legais descritos na Lei Nº 8666/93 e ainda, de maneira mais atualizada, a
Lei Nº 12.462/11, que instituiu o Regime Diferenciado de Contratações Públicas –
RDC, sob o prisma do princípio em discussão.
De acordo com Coimbra (2016), o estrabismo no agente público, desde a
elaboração do Termo de Referência que norteará a contratação, compromete de
maneira cabal as diretrizes da sustentabilidade já mencionadas acima. Portanto,
torna-se missão precípua a capacitação do agente público no sentido de não apenas
compor os documentos técnicos para a efetiva realização do certame, mas de
clarificar as intensões e objetivos, em caráter amplo, que se podem granjear sob
aquela pretensa contratação/aquisição.
Assim, o agente público necessita da consciência de que a sua atividade
licitatória precisa alcançar o nível, nas palavras do Ilustre Freitas, de
multidimensionalidade do bem-estar, quando este conceitua a sustentabilidade
como:
Princípio constitucional que determina, com eficácia direta e imediata, a
responsabilidade do Estado e da sociedade pela concretização solidária do
desenvolvimento material e imaterial, socialmente inclusivo, durável e
equânime, ambientalmente limpo, inovador, ético e eficiente, no intuito de
assegurar, preferencialmente de modo preventivo e precavido, no presente
e no futuro, o direito ao bem-estar (FREITAS, 2016, p. 52).

A partir dessa discussão, o agente público assume a responsabilidade, no


tocante às suas atividades junto à sociedade, de abarcar uma visão holística no
processo de contratação, desde a sua fase preliminar, nos estudos de viabilidade,
justificativa e disponibilidade orçamentária, até a fase conclusiva da escolha da
proposta mais vantajosa para a Administração Pública, sob a lente do
desenvolvimento nacional sustentável, findando o ciclo na fiscalização da execução
do contrato e na mensuração das metas estabelecidas quando da concepção da
demanda.
Além disso, dentro dessa visão holística, o agente público precisa ainda
entender qual bem jurídico ele abarcará com a contratação e, olhando para fora dos
limites do seu órgão de atuação, perceber no seu entorno social, quais os benefícios
diretos e indiretos, podem ser promovidos. Para tanto, é necessário entrar na
subjetividade da norma e rebocar para fora do código, até o mundo factual, a
responsabilidade do Estado em criar um ambiente social e econômico isonômico e
igualitário, criando oportunidades e garantindo que os recursos aplicados, sejam
eles financeiros, naturais ou educacionais, se renovem e alcancem, na linha do
tempo, gerações futuras (FREITAS, 2014).
Ratificando o entendimento de Freitas (2014), a etimologia da palavra
“ecologia” refere-se ao estudo da relação entre os seres vivos, o ambiente onde
vivem, bem como a influência que cada um exerce sobre o outro. Portanto, sob uma
análise jurídico-administrativa, a proposta da aplicação do desenvolvimento nacional
sustentável é a cooperação do Estado e a sociedade, o contexto ambiental, social e
econômico em que vivem e a interação entre as partes e o ambiente em que vivem.
O desenvolvimento nacional sustentável é o desafio, dentre os demais
princípios da administração pública, em que o agente público e a sociedade
interagem, no afã de alcançarem o bem mais precioso nos dias atuais, o bem
comum.

2.6. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

O Brasil é um dos países que menos entrega serviços, considerando,


proporcionalmente, os altos valores de arrecadação tributária. A esse respeito, de
acordo com a reportagem feita pela Folha de São Paulo (VIEIRA, 2014), Marcos
Lisboa, Vice-Presidente do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), quando
participou do evento Os Caminhos para o Brasil de 2022, disse que “... apesar de
tudo o que nós arrecadamos, nossos serviços ainda são poucos”.
Segundo Santos (2017), em seu artigo Abusos e Desperdícios nas licitações
e contratações públicas, o maior causador do desperdício do recurso está no
desconhecimento das normas e leis que norteiam as contratações e aquisições
públicas. Já para Campos e Pereira, o problema do desperdício dos recursos no
Brasil reside na ineficiência dos controles e no alto índice de corrupção que se
operam no país (CAMPOS, 2016).
Esse desperdício, resultado da soma da deficiência na e da ausência da
accountability1, anda na contramão do princípio constitucional da eficiência, também
presente no Art. 37 da Carta Magna, através da Emenda Nº 19/98. Tal princípio
busca economicidade, redução de desperdícios, qualidade, rapidez, produtividade e
rendimento funcional.
Todavia, no bojo da Administração Pública, a busca da eficiência não pode
dar lugar à ilegalidade, por isso, o conteúdo jurídico desse princípio preza pela
busca da melhoria dos resultados, sejam qualitativos ou quantitativos, por meio da
aplicação da Lei.
Tal dualidade envolvida no princípio da eficiência, se observadas pelo
servidor público, corroborará, sem dúvida, para a aplicação do princípio
constitucional do desenvolvimento nacional sustentável.
As duas possibilidades, que visam explicar a baixa oferta de serviço ante
aos valores arrecadados pelo Estado, mostram que cada vez mais a Administração
Pública necessita da implementação de ferramentas que garantam a observação do
Princípio do Desenvolvimento Nacional Sustentável na sua plenitude.
Ombreando com o pensamento da Drª. Lucimar, não há, em via de regra,
servidores capacitados no sentido de considerar uma ação não apenas a normal no
alicerce da Lei seca e fria, mas aplicar a mesma lei sob a essência dos princípios,
pois isso exige, além do conhecimento puro e simples, o desenvolvimento da
reflexão numa visão holística em que a contratação sustenta e resguarda um bem
jurídico e não apenas a execução contratual (SANTOS, 2017).
A fim de exemplificar melhor, suponha-se que o Estado intencione construir
uma escola. Pergunta-se: Qual é a intensão primeira que motiva tal contratação?
Ora, parece óbvio que é a promoção da educação e, para tanto, necessita da devida
estrutura.
1
Termo inglês que remete à obrigação, à transparência, de membros de um órgão
administrativo ou representativo de prestar contas a instâncias controladoras ou a seus representados
Pois bem, ao pensar no Projeto Básico e Termo de Referência que
subsidiará o processo licitatório, o servidor público necessita considerar o público
que será atendido, a classe social, o bairro eleito para receber tal estrutura e até
mesmo as condições dos profissionais que ali laborarão após a sua conclusão. Esta
análise perpassa os limites dos cálculos estruturais e projetos executivos (FREITAS,
2014).
Se tal análise for negligenciada, incorrerá no erro de uma escola ter sido
construída em local inadequado, onde o deslocamento dos alunos necessitados
ensejará em gastos posteriores com transporte escolar, ou ainda, se contemplar na
sua equipagem tecnologias modernas e seus profissionais não estiverem
devidamente qualificados para a sua operação, o resultado será o sucateamento
prematuro e o desperdício de recurso público (COIMBRA, 2016).
A análise sob este prisma holístico é a provocação exata proposta na
instauração do Princípio do Desenvolvimento Nacional Sustentável, em que o
legislador descreve, principalmente no Decreto Nº 7.746/12, os critérios a serem
observados para tanto.
Portanto, é razoável ombrear o pensamento da Drª. Lucimar a respeito do
desconhecimento e da falta de preparo dos servidores públicos, como um ponto de
escoamento e desperdício do recurso público (SANTOS, 2017).
Além disso, o desconhecimento dessas nuanças possibilita ainda o aumento
da corrupção, citada pelos Drs. Francisco de Assis e Ricardo Castro, sendo ela
facilitada por meio do despreparo da sociedade e do servidor público que sequer
terá condições de levantar os devidos questionamentos.
Assim, de acordo com o pensamento de Coimbra (2016), a estruturação do
Estado na implantação do Princípio do Desenvolvimento Nacional Sustentável
deverá ter seu início na capacitação de servidores e na criação de manuais
complementares, por meio dos órgãos de controle, de estudos e análises que devem
ser feitos a partir da elaboração dos documentos referenciais que nortearão as
contratações e aquisições pela Administração Pública, tendo como premissa basilar
o bem jurídico a ser tutelado ou garantido, quando da efetivação do serviço ou do
fornecimento de materiais.

3. CONCLUSÕES E/OU RECOMENDAÇÕES


Por fim, responde-se então a pergunta: Como se pode assegurar que seja
promovido o Princípio do Desenvolvimento Nacional Sustentável nas licitações e
contratações com a administração pública, para atender, em tempo hábil, as
necessidades sociais finalísticas?
A resposta a essa pergunta inicia-se pela afirmação de que já existem, de
maneira consolidada e suficiente, normas basilares capazes de estruturar
procedimentos aos estudos preliminares na construção de documentos técnicos.
Além disso, tais normas podem ser asseguradas, capacitando-se os
servidores públicos no desenvolvimento de uma visão holística em que, antes da
concepção de qualquer ato para o processo licitatório, tenha-se de maneira
comprobatória e documental qual o bem jurídico ou nuclear a ser garantido na
contratação ou aquisição de material.
Não obstante a este cuidado, tem-se ainda que, em incremento aos critérios
de eleição da proposta mais vantajosa à Administração Pública, seja considerado o
desenvolvimento e a empregabilidade dos componentes daquela sociedade local,
bem como a preservação dos recursos naturais disponíveis e que, direta ou
indiretamente, serão impactados.
Paralelo a essa visão está o papel imprescindível dos órgãos de fiscalização
e controle, neste particular, os consagrados pela Carta Magna, no art. 70, a saber,
os Tribunais de Contas, que são desafiados a atuarem de maneira preventiva,
coletando informações em tempo hábil, anterior ao previsível dano ao erário e,
consequentemente, à sociedade.
Por fim, o Princípio do Desenvolvimento Nacional Sustentável é uma
garantia de que não somente as necessidades da sociedade serão atendidas, mas
garante também a durabilidade da resposta a essas necessidades no espaço
temporal, produzindo efeitos positivos secundários, como o desenvolvimento da
indústria e do comércio, fomentando a educação e gerando empregos e otimizando
a utilização e exploração dos recursos naturais de maneira sustentável e renovável,
garantindo seu suprimento para gerações futuras.

REFERÊNCIAS

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BRASIL. Lei Nº 12.349, de 10 de dezembro de 2010. Brasília, DF: Senado Federal:
Centro Gráfico, 1993

BRASIL. Decreto Nº 7.746, de 05 de junho de 2012. Brasília, DF: Senado Federal:


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