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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS

CAMPUS DE PALMAS
CURSO DE DIREITO

MARIA DO SOCORRO PEREIRA DOS SANTOS

LEI 13.964/19 E VEDAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA DE


OFÍCIO NO PACOTE ANTICRIME

Palmas/TO
2022
MARIA DO SOCORRO PEREIRA DOS SANTOS

LEI 13.964/19 E VEDAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA DE


OFÍCIO NO PACOTE ANTICRIME

Artigo foi avaliada(o) e apresentada (o) à UFT –


Universidade Federal do Tocantins – Campus
Universitário de Palmas, Curso de Direito, para
obtenção do título de Bacharel e aprovada (o) em sua
forma final pelo Orientador e pela Banca Examinadora.

Orientador<a>: <Titulação> <Nome>


Coorientador<a>: <Titulação> <Nome>

Palmas/TO
2022
https://sistemas.uft.edu.br/ficha/
FOLHA DE APROVAÇÃO

MARIA DO SOCORRO PEREIRA DOS SANTOS

LEI 13.964/19 E VEDAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA DE


OFÍCIO NO PACOTE ANTICRIME

Artigo foi avaliada(o) e apresentada (o) à UFT –


Universidade Federal do Tocantins – Campus
Universitário de Palmas, Curso de Direito para obtenção
do título de Bacharel e aprovada (o) em sua forma final
pelo Orientador e pela Banca Examinadora.

Data de aprovação: _____ / _____ / ___

Banca Examinadora

___________________________________________________
Prof. Dr. (Nome do professor), sigla da Instituição onde atua

___________________________________________________
Prof. Dr. (Nome do professor), sigla da Instituição onde atua

_________________________________________________
Prof. Dr. (Nome do professor), sigla da Instituição onde atua

Local, 2022
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as quais devem ser escritas em itálico,
alinhadas à direita e posicionadas na base da
página. Exclua esta página se não for incluir
nenhuma dedicatória.
AGRADECIMENTOS

Página opcional para agradecimentos. Exclua esta página se não incluir nenhum
agradecimento.
RESUMO

Introduzida ao ordenamento jurídico brasileiro em 24 de dezembro de 2019, a Lei 13.964


mais conhecida por Pacote Anticrime, surgiu com o escopo de aperfeiçoar a legislação penal e
processual penal, onde, entre diversas mudanças trouxe a vedação do pedido de prisão
preventiva de ofício, passando a ser obrigatório que essa medida esteja devidamente
fundamentada, além de apresentar outros requisitos. Nesse diapasão, o presente trabalho tem
por escopo abordar sobre as implicações dessa vedação e os possíveis impactos. Quanto aos
métodos utilizados para a realização dessa pesquisa, está foi realizada através da pesquisa
bibliográfica, com a perquirição de obras e livros de autores diversos, além de haverem sido
analisados artigos científicos sobre o tema. Na pesquisa para a obra em comento, foram
utilizados, no geral, livros e artigos científicos disponibilizados na internet, bem como
trabalhos apresentados em eventos jurídicos, com a finalidade de se estabelecer relação entre
os textos estudados, a fim de viabilizar a análise crítica sobre a matéria. Uma vez que, tal
medida é adotada justamente para evitar que o acusado possa fugir, ou que ele de alguma
forma irá prejudicar o andamento do processo. Demonstrando assim sua
inconstitucionalidade, visto que anterior essa norma, tem-se percebido que apesar o sistema
processual penal aqui no Brasil permitir que o Juiz agisse de ofício, contudo, sempre foi
possível perceber que essa ação era realizada de forma imparcial, portanto, sem contaminar o
devido processo legal.

Palavras-chaves: Pacote Anticrime. Prisão Preventiva. Sistema Acusatório.


ABSTRACT

Introduced to the Brazilian legal system on December 24, 2019, Law 13,964,
better known as the Anti-Crime Package, emerged with the scope of improving criminal
legislation and criminal procedure, where, among several changes, it brought the
prohibition of the request for preventive detention of office, making it mandatory that
this measure is duly substantiated, in addition to presenting other requirements. In this
vein, the present work aims to address the implications of this fence and the possible
impacts. As for the methods used to carry out this research, it was carried out through
bibliographic research, with the investigation of works and books by different authors,
in addition to having analyzed scientific articles on the subject. In the research for the
work in question, books, and scientific articles available on the internet were used, as
well as works presented at legal events, to establish a relationship between the texts
studied, in order to enable a critical analysis of school subjects. Since such a measure is
adopted precisely to prevent the accused from running away, or that he will somehow
harm the progress of the process. Thus, demonstrating its unconstitutionality, since this
norm was previous, it has been noticed that despite the criminal procedural system here
in Brazil allowing the Judge to act ex officio, however, it was always possible to
perceive that this action was carried out impartially, therefore, without contaminate due
process of law.

Keywords: Anti-Crime Package. Preventive Prison. Accusatory System.


SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................................10
2 PANORAMA CONSTITUCIONAL DA PRISÃO............................................................12
2.1 Ius puniendi: direito de punir........................................................................................14
2.2 Prisão Preventiva............................................................................................................15
3 SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS.................................................................................19
3.1 Evolução do processo penal no Brasil...........................................................................20
3.2 Modelo acusatório..........................................................................................................21
3.3 Modelo inquisitório........................................................................................................22
3.3.1 Prisão preventiva como medida cautelar...............................................................24
3.4 Modelo misto...................................................................................................................25
3.3.1 Prisão preventiva de ofício no Brasil......................................................................25
4 ALTERAÇÕES TRAZIDAS PELA LEI 13.964/2019 – (PACOTE ANTICRIME),
QUANTO À VEDAÇÃO DA PRISÃO DE OFÍCIO.............................................................26
4.1 Principais alterações do pacote anticrime....................................................................27
4.2 Vedação da prisão de ofício...........................................................................................28
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................31
REFERÊNCIAS.......................................................................................................................32
1 INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como objeto de estudo a vedação da prisão preventiva de


ofício no pacote anticrime, em razão das alterações trazidas pela Lei 13.964/19, e como
objetivos: institucional, produzir Monografia para obtenção do Título de Bacharel em
Direito pela Universidade Federal do Tocantins – Campus de Palmas; principal,
evidenciar os impactos e desdobramentos na redação do art. 311 do Código de Processo
Penal, por meio da Lei 13.964/2019, no que concerne à vedação da prisão preventiva de
ofício pelo magistrado, considerando a redação anterior da Lei 12.403/2011; e
específicos, contextualizar a evolução histórica do processo penal e das penas no Brasil;
identificar as alterações no sistema processual penal brasileiro, promovidas pelas
últimas leis penais; descrever as alterações trazidas pela lei 13.964/2019 – (pacote
anticrime) quanto à vedação da prisão de ofício.
A justificativa para tanto encontra-se no fato de que o pacote anticrime, trazido e
regulamentado por meio da Lei 13.964/19, trouxe inúmeras alterações legislativas.
Outrora, a prisão preventiva era permitida pelo magistrado, consoante o disposto do Art.
311 do CPP.
No entanto, o juiz, sendo agente imparcial no processo, poderia de fato, sem a
intervenção do interessado, promover este ato. Nesse sentido, o pacote anticrime alterou
e trouxe a vedação para este ato do magistrado.
Nesse sentido, o estudo proposto se justifica pela importância que o tema traz
não somente aos operadores do Direito, mas também a toda a sociedade. Qualquer
alteração de lei não é implementada repentinamente, e baseia-se na necessidade dos
processos do direito na sociedade. Por conta disso, se viu a necessidade de maiores
aprofundamentos nesta temática.
O produto científico, ora apresentado, divide-se em três capítulos: abordar-se-á,
no Capítulo 1, um panorama constitucional da prisão, seus principais conceitos, a
finalidade, sua natureza, aspectos históricos, evolução das formas e penas utilizadas, o
surgimento do direito de punir e, por fim, os aspectos específicos da prisão preventiva,
visando auxiliar a compreensão do leitor sobre como surge essa forma de punição e o
motivo pelo qual ela se encontra em nosso ordenamento jurídico.
No Capítulo 2, tratar-se-á dos sistemas processuais penais em sentido amplo,
iniciando-se um breve histórico sobre a evolução do processo penal no Brasil, seu
conceito, os modelos acusatório, inquisitório e misto; a possibilidade da prisão
preventiva como medida cautelar; e breves apontamentos sobre a prisão preventiva de
ofício no Brasil.
No terceiro e último capítulo, estudar-se-á o tema central do presente trabalho:
As alterações trazidas pela Lei 13.964/2019 (Pacote Anticrime), quanto à vedação da
prisão de ofício. Para tanto, analisar-se-á as principais modificações trazidas pela
legislação, tríplice função do princípio da presunção de inocência, como princípio
básico de todo sistema penal, com o foco no tema central, que é a vedação da prisão de
ofício pelo magistrado.
Por fim, em relação à metodologia do presente estudo, empregar-se-á métodos
de exploração do conteúdo, buscando informações em livros e artigos científicos na
intenção de esclarecer melhor a temática, abordando a opinião de autores, a fim de
entender o problema em questão, confrontando a opinião dos doutrinadores acerca das
alterações trazidas pela Lei 13.964/2019 sobre a vedação da prisão preventiva de ofício.
A realização deste estudo foi conduzida por meio de levantamento bibliográfico,
seleção e documentação da bibliografia publicada relacionada ao tema abordado,
viabilizando o aprofundamento dos conhecimentos a respeito do assunto por parte do
pesquisador (LAKATOS; MARKONI, 2007).
Serão utilizadas como fonte as bases de dados: Scientific Electronic Library
Online (SciELO), Physiotherapy Evidence Database (PEDro), Biblioteca Digital de
Teses e Dissertações (BDTD), Capes e Google Scholar. Os seguintes descritores serão
utilizados: pacote anticrime, lei 13.964/19, prisão preventiva de ofício.
A seleção dos artigos ocorrerá inicialmente pela leitura dos títulos e resumos,
seguida pela leitura na íntegra apenas dos artigos selecionados, onde as informações
mais relevantes para o presente estudo serão destacadas. Somente serão utilizados os
artigos cujos textos completos puderem ser acessados. Serão analisados estudos
publicados entre os anos de 2010 e 2022.

2 PANORAMA CONSTITUCIONAL DA PRISÃO

No entendimento de Marques (2009) a prisão é a privação de liberdade imposta


ao delinquente pela colocação em uma penitenciária designada para esse fim
(MARQUES, 2000). Capez (2009) define a prisão como a privação da liberdade de
locomoção cometida por ordem escrita da autoridade competente ou em flagrante.
Desde as primícias até a atualidade a pena é presente na vida humana, passando
por vários períodos, e tomando diferentes proporções com o decorrer do tempo; este
capítulo visa demonstrar a história da imposição das penas e suas transformações, desde
o que diz respeito à questão da aplicabilidade, bem como sua finalidade (CARVALHO
FILHO, 2002).
O cárcere sempre existiu, porém, sua destinação era à guarda de escravos e
prisioneiros de guerra. Em casos criminais, serviu essencialmente para manter os
perpetradores sob custódia aguardando sentença e julgamento – para que não fugissem e
fossem submetidos ao que costumava ser uma tortura de provas legítimas
(CARVALHO FILHO, 2002).
O recolhimento era meio, não o fim de uma punição. Desta forma, não existia
preocupação com a qualidade do estabelecimento nem tampouco com a dignidade do
prisioneiro. O Objetivo maior era a severa punição; não havia de se pensar em cárcere
como reconstrutor de índoles e comportamentos, nem tampouco reabilitação. Sua
função era totalmente punitiva. A partir do século XVIII, a natureza do cárcere
modifica-se. (BITENCOURT, 2001).
As instituições prisionais surgiram da necessidade do homem de inventar um
instrumento de coação que mitigasse as violações das regras sociais, separasse o
delinquente da sociedade e garantisse paz e tranquilidade na convivência de outras
pessoas. (CANTO, 2000).
A exemplo disso é que as primeiras penitenciárias, elas eram um ambiente
instalado no subterrâneo, eram lugares imundos, escuros, com celas individuais, um
sistema de reclusão total, no qual o preso ficava isolado do mundo externo e dos outros
presos em sua cela, que além de repouso servia para trabalho e exercícios (DI SANTIS,
ENGBRUCH e D’ELIA, 2016, p. 10).
Realidade essa que se deu por muito tempo, até que foi implantando um novo
sistema, agora o preso então era submetido ao isolamento somente noturno, trabalhando
durante os dias sob a regra do silêncio (sistema de Auburn). Havia uma espécie de vale
onde depois de algum tempo acumulando esses vales, poderia entrar no terceiro estágio,
no qual ficaria em um regime semelhante ao da liberdade condicional e, depois de
cumprir determinado prazo de sua pena, seguindo as regras do regime, obteria a
liberdade em definitivo (DI SANTIS, ENGBRUCH e D’ELIA, 2016, p. 10).
Aqui no Brasil, por exemplo, a pena de prisão foi introduzida em duas formas: a
prisão simples e a prisão com trabalho, inclusive com a opção de prisão perpetua. As
condições dentro dessas prisões eram inóspitas, a assistência médica era precária,
alimentação ruim e pouca, mistura de presos condenados e não condenados, falta de
água, acúmulo de lixo (CRUZ, 2014, p. 223-236).
O que, devido a uma série de críticas à realidade da época, propõe-se a criação
de instituições especiais para a execução de penas. São sugeridos alguns critérios para a
separação dos presos, o isolamento noturno do condenado e a religião como ferramenta
de regeneração. Ela também defende o estabelecimento de mecanismos de controle
externo, que agora estão estabelecidos mundialmente, pelo menos em nível formal
(gerenciar uma prisão é uma questão importante para deixá-la inteiramente aos cuidados
de um carcereiro) (PORTAL EDUCAÇÃO, 2012).
Como se vê, em relação à prisão, segundo Foucault (2009, p. 217):

A prisão é menos recente do que diz quando se faz datar seu nascimento dos
novos códigos. A forma-prisão preexiste à sua utilização sistemática nas leis
penais. Ela se constituiu fora do aparelho judiciário, quando se elaboravam,
por todo corpo social, os processos para repartir os indivíduos, fixá-los e
distribuí-los espacialmente, classificá-los, tirar deles o máximo de tempo e o
máximo de forças, treinar seus corpos, codificar seu comportamento
contínuo, mantê-los numa visibilidade sem lacuna, formar em torno deles um
aparelho completo de observação, registro e notações, constituir sobre eles
um saber que se acumula e se centraliza.

E não se relaciona ao conceito de estabelecimentos penitenciários, visto que


estes, segundo Nucci (2015), como sendo os lugares indicados pelo Estado para que seja
cumprida as penas nos mais variados regimes, sejam eles, aberto, semiaberto e fechado.
Enquanto prisão, para Mirza (2016, p. 2), é resultado do descumprimento de preceito
primário de norma penal incriminadora e representa um castigo, uma retribuição por ter
cometido um crime.
No mais, acrescenta-se que a finalidade é do encarceramento passa a isolar, bem
como recuperar o infrator. O cárcere de condições insalubres substitui-se pela ideia de
estabelecimento público, regulamentado, intransponível, higiênico, capaz de prevenir
novos delitos e ressocializar o apenado. (TURRI, 2016).

2.1 Ius puniendi: direito de punir

Sobre essa prerrogativa, se dá em decorrência a prática de um delito, momento


em que surge para o Estado o direito de punir (jus puniendi), devendo então a partir daí
iniciar uma apuração preliminar quanto à existência do crime (inquérito policial)
quando ainda não existem elementos suficientes para o início da ação penal, visando
com isso a garantia da efetividade e o cumprimento de sua finalidade, que nada mais é
que a repressão ao infrator e a prevenção social (LOPES, PIRES e PIRES, 2014).
Isso porque, o Estado, como ente soberano, detém o poder absoluto de ius
puniendi: direito de punir, sendo indelegável e exclusivo. Capez (2009) esclarece que o
direito de punir é a demonstração expressa da soberania do Estado. No entendimento de
Capez, a pena se define por:

Sanção penal de caráter aflitivo, imposta pelo Estado, em execução de uma


sentença, ao culpado pela prática de uma infração penal, consistente na
restrição ou privação de um bem jurídico, cuja finalidade é aplicar a
retribuição punitiva ao delinquente, promover a sua readaptação social e
prevenir novas transgressões pela intimidação dirigida à coletividade
(CAPEZ, 2009, p.34)

Ainda no mesmo entendimento o autor menciona que o jus puniendi é uma


expressão latina que pode ser traduzida como direito de punir do Estado, referindo-se ao
poder de sancionar do Estado, que é o direito de castigar, e uma expressão usada sempre
em referência ao Estado frente aos cidadãos. No momento em que uma violação é
cometida, esse poder até então geral torna-se concreto e se transforma em uma
reivindicação individualizada dirigida especificamente ao infrator (CAPEZ, 2009).
No entendimento de Marques, o direito de punir é o direito do Estado de aplicar
a pena imposta no requisito secundário da disposição penal onerosa de forma
condenável contra a pessoa que cometeu o ato ou omissão, descrito no requisito
primário que causou danos ou dano jurídico (MARQUES, 2009).
E que ao ser aplicada pelo Estado, busca-se com isso restringir e até privar o
delinquente do bem jurídico, que na maioria das vezes é a liberdade, com o intuito de
promover a readaptação social deste e prevenir que novas transgressões sejam práticas
pela intimidação dirigida à coletividade. Não há intenção a priori que esse indivíduo
retorne ao sistema prisional, mas, objetiva-se que este realmente após o encarceramento
volte ao convívio social ressocializado (CAPEZ, 2020, p. 332).
Um outro detalhe é que se desenvolve por impulso oficial, não havendo assim a
necessidade de provocação de juiz pelo Ministério Público ou por quem quer que seja.
Uma vez transitada a sentença condenatória ou absolutória imprópria em julgado,
caberá ao juiz da execução, recebendo, portanto, os autos do processo ou cópia das
principais peças que o compõem, a fim de determinar as providências cabíveis para
cumprimento da pena ou da medida de segurança (LEITE, 2019).
2.2 Prisão Preventiva

Por prisão preventiva, está pode ser entendida como sendo uma segregação do
acusado da sociedade por tempo determinado a fim de que ele não venha comprometer
o bom andamento da investigação policial ou até mesmo para preservar a vida deste,
dependendo do crime o qual estar sendo acusado, pois, em alguns casos a população
movida pelo espirito de vingança acaba fazendo justiça com as próprias mãos sem dar a
oportunidade do acusado se defender, seja, para contribuir no processo ou até para
demonstrar sua inocência perante os fatos (CARVALHO, 2020).
Ela estar prevista no art. 312 do CPP, e poderá, como já mencionado ser
decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da
instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da
existência do crime e indício suficiente de autoria. Como se observar o legislador optou
por especificar quatro requisitos, a saber: garantia da ordem pública, garantia da ordem
econômica, conveniência da instrução criminal, garantia da aplicação da lei penal
(BRASIL, 1941).
Em relação a garantia da ordem pública, de acordo com Morais (2016) está
almeja evitar a reiteração de delitos e quando põe em risco a sociedade. Nesse caso,
sendo possível constatar uma situação de comprovada intranquilidade coletiva no seio
da comunidade. Uma vez que, como indica Mirabete (2002), procura-se evitar que com
a medida o delinquente pratique novos crimes contra a vítima ou qualquer outra pessoa,
quer porque seja acentuadamente propenso à prática delituosa, quer porque, em
liberdade, encontrará os mesmos estímulos relacionados com a infração cometida.
A ordem pública, por sua vez, deve-se entender a paz e a tranquilidade social,
que deve existir no seio da comunidade, com todas as pessoas vivendo em perfeita
harmonia, sem que haja qualquer comportamento divorciado do modus vivendi em
sociedade. Assim, se o indiciado ou acusado em liberdade continuar a praticar ilícitos
penais haverá perturbação da ordem pública, e a medida extrema é necessária se
estiverem presentes os demais requisitos legais (RANGEL, 2016, p. 590).
Sobre a garantia da ordem econômica, trata-se do fim de coibir crimes contra a
ordem tributária, o sistema financeiro e a ordem econômica. Inclusive, que são os
crimes do “colarinho branco” que podem gerar grandes prejuízos para os acionistas da
bolsa de valores, as instituições financeiras e até mesmo aos órgãos do governo. Está,
tem por finalidade ao que tudo indica, repousa na satisfação que se pretende dar, com
forte dose de demagogia, à grande maioria da população carente, sempre ávida de
querer fazer cair quem quer que seja em nível superior (GONÇALVES, JUNIOR e
REIS, 2018; TOURINHO FILHO, 2013, p. 16).
Se a providência tem como objetivo perseguir a ganância, o lucro fácil, a
safadeza de industriais e comerciantes desonestos, que estabeleçam sanções em relação
a pessoa jurídica: fechamento por determinado prazo, aumento desse prazo nas
recidivas, impossibilidade de, durante certo tempo, fazer empréstimos em quaisquer
estabelecimentos de crédito etc. Essa a medida certa. Para o ganancioso, para o
industrial, ou comerciante que só tem em vista o lucro, para esses Shylocks da vida,
meter-lhe a mão no bolso é pior que prisão.
Por conveniência da instrução criminal, está, almeja a proteção da livre produção
das provas. Nesse caso deve estar vinculada ao processo propriamente dito; assim, não
havendo mais necessidade da prisão, uma vez que a testemunha que precisava ser
ouvida e estava sendo ameaçada, por exemplo, já foi ouvida, não há mais sentido na
manutenção da prisão e o réu precisa ser colocado em liberdade. Geralmente, é
decretada quando o autor do crime ameaça testemunhas ou induz outras a deporem em
seu favor; ou quando o réu está forjando ou destruindo provas que poderiam lhe
prejudicar. Estaria ele interferindo no perfeito andamento da instrução criminal
(MORAIS, 2016; GEMAQUE, 2011).
E, quanto a garantia da aplicação da lei penal, em casos de iminente fuga do
agente, almeja-se evitar a fuga. Morais (2016), relata que o risco de fuga não pode ser
presumido, deve estar fundado em circunstâncias concretas, não bastando como
fundamentação a gravidade do crime. Portanto, como alude Andrade (2017), diz, está
busca evitar a fuga do réu antes do término do processo, o legislador inseriu como um
dos pressupostos cautelares, a garantia de aplicação da lei penal.
Ao que tange a revogação, sabe-se que a prisão preventiva é movida pela
cláusula rebus sic stantibus, Távora esclarece que assim, se a situação das coisas se
alterar, revelando que a medida não é mais necessária, a revogação é obrigatória. Deve
o magistrado revogar a medida, de ofício, ou por provocação, sem a necessidade de
oitiva prévia do Ministério Público. O promotor será apenas intimado da decisão
judicial, para se desejar, apresentar o recurso cabível à espécie. Todavia, uma vez
presentes novamente os permissivos legais, nada obsta a que o juiz a decrete
novamente, quantas vezes se fizerem necessárias.
Em relação as hipóteses de cabimento, traz o art. 313 da norma processual penal:
Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da
prisão preventiva:
I - Nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima
superior a 4 (quatro) anos;
II - Se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada
em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-
Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal;
III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher,
criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir
a execução das medidas protetivas de urgência;
IV - (revogado).
Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva quando houver
dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer
elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado
imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese
recomendar a manutenção da medida (BRASIL, 1941).

Está tanto cabe tanto para prisão preventiva quanto para a prisão temporária, que
ocorreram dentro da legalidade, mas que não são mais úteis para o processo criminal e
ocorrerá quando não existir mais o motivo da prisão preventiva, conforme determina o
art. 316 CPP, o que consequentemente caso haja ausência de requisitos para sua
manutenção e pelo injustificado excesso de prazo, com a expedição do respectivo alvará
de soltura: “Art. 316. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no correr do
processo, verificar a falta de motivo para que subsista, bem como de novo decretá-la, se
sobrevierem razões que a justifiquem” (BRASIL, 1941).
Sobre a natureza jurídica dessa espécie, o Supremo Tribunal Federal ao debruçar
em um caso concreto, julgou a RTJ 180/262-264 em 2012 e defendeu que nesse caso a
prisão preventiva, enquanto medida de natureza cautelar – Não tem por objetivo infligir
punição antecipada ao indiciado ou ao réu. - A prisão preventiva não pode – e não deve
– ser utilizada, pelo Poder Público, como instrumento de punição antecipada daquele a
quem se imputou a prática do delito (BRASIL, 2012).
Pois, no sistema jurídico brasileiro, fundado em bases democráticas, prevalece o
princípio da liberdade, incompatível com punições sem processo e inconciliável com
condenações sem defesa prévia. A prisão preventiva – que não deve ser confundida com
a prisão penal – não objetiva infligir punição àquele que sofre a sua decretação, mas
destina-se, considerada a função cautelar que lhe é inerente, a atuar em benefício da
atividade estatal desenvolvida no processo penal (BRASIL, 2012).
Sendo indispensável fazer a ressalva que, uma vez realizada por qualquer do
povo ou por autoridade pública e ratificada pela autoridade policial, não há dúvidas de
que o flagrante, não é decretado por autoridade judicial, quando muito, esta exerce um
controle posterior da prisão (DE SIQUEIRA, 2015).
Ao que tange a contagem dos prazos, indiscutível que a prisão preventiva estar
revestida do princípio da reserva legal, ou seja, a previsão de que “não há crime sem lei
anterior que o defina, não há pena sem prévia cominação legal”, tem por objetivo, a
limitação do poder de processar e punir indiscriminadamente os indivíduos, operando
como última ratio em meio ao poder punitivo estatal (BITENCOURT, 2019, p. 17).
Este traz em si, muito além da simples percepção de seu texto, ou seja,
considera-se como um dos mais relevantes do direito penal, logo seu intuito é o de
garantir a licitude e sustar todas as normas incriminadoras. Destaca-se que seus
preceitos se convertem em maiores eficiências (BITENCOURT, 2019, p. 17).
Contudo, mesmo estando fundamentada nesse princípio é certo afirmar que não
há uma contagem no tempo em que a pessoa ficará pessoa, agindo assim de forma
arbitrária, dando a ideia de presunção de culpa e que o acusado já estaria cumprindo
antecipadamente a pena, o que de longe já percebe o prejuízo para esta pessoa, pois, a
prisão em si não representa apenas o cumprimento de uma pena, mas, refletirá por toda
a vida as relações que essa pessoa tinha antes de ser preso (BITENCOURT, 2019, p.
17).
Assim, diante dessa lacuna legislativa e em nome do princípio da razoável
duração do processo, ou como Câmara (2016) menciona o “princípio da tempestividade
da tutela jurisdicional”, o qual de acordo com Dinamarco (2003), pode ser entendido
como sendo o núcleo essencial da garantia, o trâmite processual sem dilações indevidas,
mas dentro de lapso temporal capaz de assegurar o exercício do direito de defesa e a
cognição adequada do juiz. É a busca não só de realizar um processo capaz de produzir
resultados efetivos na vida das pessoas (efetividade da tutela jurisdicional), como
também de fazê-lo logo (tempestividade) e mediante soluções aceitáveis segundo o
direito posto e a consciência comum da nação (justiça).
O Senado Federal entendeu estipular que ela “não poderá ultrapassar 180 dias, se
decretada no curso da investigação ou antes da sentença condenatória recorrível; ou de
360 dias, se decretada ou prorrogada por ocasião da sentença condenatória recorrível”,
e, se exceder a 90 dias serão obrigatoriamente reexaminadas pelo juiz ou tribunal
competente, que deverá avaliar se persistem ou não os motivos determinantes da sua
aplicação, podendo substitui-la, se for o caso, por outra medida cautelar.
Com isso, dizer que a prisão preventiva não apresenta um lapso temporal para
sua permanência é errôneo, isso porque, apesar de não estar registrado em lei, mas, que
em razão do bom senso e da previsão acima mencionada é então correto declarar que o
vicio estar sanado, assim, caso alguém venha ser submetido a um prazo superior aos já
relatados, consequentemente terá sua prisão relaxada, contudo, poderá voltar a estar
preso novamente assim seja o resultado da persecução penal.

3 SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS

Por sistemas, pode ser entendido como uma reunião ou um amálgama de


elementos, que, ao se interligarem, formam um único bloco. O sistema processual penal
busca ser o conjunto de teorias, conceitos e métodos utilizados para pacificar conflitos
que não possam ser dirimidos sem a intervenção estatal. Assim, sistema processual
penal seria um guia, para o qual todas as normas jurídicas estatais presentes deveriam
convergir.
Eles são adotados pelas sociedades refletem o contexto social, econômico e
político existentes em sua época. Desse modo, tais sistemas podem trazer maiores
garantias ou maiores reprimendas penais aos cidadãos, conforme o momento histórico
vivido pela comunidade (COLTRO, 2022).
Assim, períodos de maior violência, criminalidade e instabilidade social
impulsionam o estado a adotar legislações draconianas, ao passo que circunstâncias
sociais mais estáveis podem tornar mais flexíveis as legislações penais. Tais sistemas
também podem variar de acordo com os regimes estatais vigentes, regimes totalitários
podem adotar legislações repressivas, enquanto regimes democráticos devem tender a
observar legislações que preservem os direitos individuais.
Acerca de sistema processual penal, Marcão (2020) leciona que esse seria o
modelo político-jurídico utilizado pelo legislador durante todo o transcorrer da
persecução penal em juízo, desde o oferecimento da denúncia até o desfecho da
prestação jurisdicional. Sobre o tema, Lopes Jr (2018) pontua que o processo penal teve
sua estrutura modificada no decorrer do tempo, sendo punitiva ou libertária, a depender
da ideologia dominante.

3.1 Evolução do processo penal no Brasil

Nesse diapasão e à luz dos ensinos de Nader, tem-se que:

As instituições jurídicas são inventos humanos que sofrem variações no


tempo e no espaço. Como processo de adaptação social, o Direito deve estar
sempre se refazendo, em face da mobilidade social. A necessidade de ordem,
paz, segurança, justiça, que o Direito visa atender, exige procedimentos
sempre novos. Se o Direito se envelhece, deixa de ser um processo de
adaptação, pois passa a não exercer a função para a qual foi criado. Não
basta, portanto, o ser do Direito na sociedade, é indispensável o ser atuante, o
ser atualizado. Os processos de adaptação devem-se renovar, pois somente
assim o Direito será um instrumento eficaz na garantia do equilíbrio e da
harmonia social (NADER apud MARTINS, 2012).

Modificações essas que ocorrem no Direito após e em função das


transformações sociais, sejam de seus costumes ou conceitos, ou até mesmo aquelas
impostas por fenômenos naturais, entre tantos outros fatores que a modificam, são a
mola propulsora da evolução do Direito, o qual, na sua essência, deve ser compreendido
como um processo de adaptação social (MARTINS, 2012).
A exemplo dessas transformações ocorridas no direito e na sociedade tem-se s
evolução do processo penal aqui no Brasil, os quais, de uma em geral, pode se dizer,
que surgiram para coibir a criminalidade em um determinado período, fazendo com que,
ao invés de aplicação da pena servir para restaurar o indivíduo encarcerado, pelo
contrário, ter-se-ia cada vez mais um sistema penitenciário superlotado, com condições
mínimas de higiene e o aumento ainda mais crescente da violência.
A título da historicidade desse documento legal, apesar das Ordenações
(Afonsinas, Manuelinas e Filipinas), as quais não eram códigos no sentido atual, mas
sim compilações de leis, atos e costumes. Apenas foi utilizada como as fontes principais
do direito português vigente no Brasil. Estando ao lado delas, as fontes subsidiárias, que
são: direito consuetudinário, o direito romano e o direito foralício (formado pelos forais
ou cartas forais, com as quais o rei concedia terras) (GUSMÃO apud CAGLIARI e
DOS SANTOS, 2011).
Com estas, existiam também as Leis Extravagantes, isto é, leis avulsas, não
integradas nas Ordenações. A ordem jurídica portuguesa era composta pelas:
Ordenações Afonsinas, Manuelinas, e, ao tempo de dominação espanhola, as Filipinas
(GUSMÃO apud CAGLIARI e DOS SANTOS, 2011).
E que versavam sobre Direito Público, Privado e Canônico (dada a importância
da Igreja Católica no período), bem como questões relacionadas à diplomacia e à
sucessão do trono. As Ordenações regularam o Direito Penal brasileiro até a
promulgação do Código Criminal do Império em 1830. No âmbito civil, vigoraram até a
instituição do primeiro Código Civil Brasileiro, em 1916. (CHAVES e SANCHES,
2010).
Dentre outras penas aplicadas, as ordenações e de alguma previa algumas noções
como se daria o processo penal, no entanto, o primeiro diploma legal no sentido
processual penal, foi o Código de Processo Criminal do Brasil, o qual, surgiu apenas em
29 de novembro de 1832 e que teve, isto é, entre outras finalidades, a de apresentar uma
organização judiciária do país, dando fim as devassas e as querelas não resolvidas pelas
ordenações e colocando tanto a denúncia quanto a queixa nos seus devidos lugares
(LYRA, 2016, p. 7).
Depois desse, o próximo foi o Código de Processo Penal atual, o qual, nascido
no berço da ditadura, tendo por presente Getúlio Vargas e consequentemente todo o
acabaço histórico que o Brasil vivenciava nessa época, essa norma, surgiu no
ordenamento jurídico pátrio para coibir a criminalidade e reforçar os ideais da nova
república e sujeitos as normas constitucionais1. Visto que, na prática, tinha-se o
autoritarismo, o qual, fruto do período escravocrata justificava suas ações arbitrárias
como forma de garantir a segurança de todos (PATTO, 2017, p. 118).

3.2 Modelo acusatório

O segundo, que é o acusatório, ao se pronunciar sobre este, que ele se originou


do Direito Grego. Já no Direito Romano da Alta República, ainda segundo aquele autor,
surgiram as duas formas do direito penal:

Cognitio e Accusatio, com este último tendo marcado uma inovação no


Direito Processual Romano, já que, quando se tratasse de um crime de cunho
não privado, a persecução e o exercício da ação penal seriam realizados por
um órgão distinto do juiz, não pertencente ao Estado (LOPES JR, 2018).

O modelo acusatório foi questionado, na época do Império Romano, pela


alegação de que esse sistema não era suficiente para a reprimenda dos delitos, pois os
resultados obtidos por ele não seriam satisfatórios. Tais contestações deram ensejo a que
houvesse o surgimento do sistema inquisitório, com características como a atuação de
ofício dos juízes e a ausência de publicidade dos atos processuais (LOPES JR, 2018).
Modernamente, o sistema acusatório tem como algumas características a
explicita distinção entre as atividades de acusar e julgar; a igualdade entre as partes e a
atuação do Juiz como um terceiro imparcial, para quem se exige a impassividade na

1
Constituição está, a de 1937, que por sinal, vigeu após o golpe de Estado encenado pelo então Presidente
Getúlio Vargas, portanto, uma norma decorativa para encobrir o cenário ditatorial que havia sido
instalado (PATTO, 2017, p. 121).
coleta de provas, que deve caber às partes envolvidas no processo. Daí, porque, é um
imperativo do moderno processo penal, haja vista o contexto social e político vigente
(LOPES JR, 2018).
Acerca ainda do sistema acusatório, Marcão (2020) corrobora a afirmação de
Lopes Jr (2018), ao pontuar que, diferentemente do sistema inquisitório, o sistema
acusatório trata o acusado como sujeito de direitos e não apenas como objeto de
persecução, daí que se presume o acusado inocente, até comprovação em contrário, o
que em regra lhe permite permanecer em liberdade até o final dos trâmites judiciários
inerentes ao seu caso.

3.3 Modelo inquisitório

O primeiro, a saber, o inquisitório, esse sistema, se trata de um sistema próprio


de regimes totalitários ou absolutistas, no qual o processo não é percebido como um
instrumento para atingir a justiça, mas apenas um meio de atuação do Direito Penal,
com menosprezo à dignidade do imputado, com esse sendo tratado como simples objeto
de persecução penal (MARCÃO, 2020).
Acerca desse sistema, Rezende (2018), que expressa que o sistema penal teve
origem a partir da Igreja Católica, nos séculos XII e XIII, com vinculação ao sistema
feudal vigente na época. Como reforço a essa narrativa, Khaled Jr (2010, p. 293-308)
narra que o sistema inquisitório remonta à inquisição e que possui como fundamentação
uma serie de verdades consideradas como absolutas, as quais se assentavam em bases
religiosas daquele momento.
Para confirmar e inibir questionamentos às afirmativas impostas pela Igreja
Católica, essa Instituição criou, no século XIII, o Tribunal da inquisição ou Santo
Ofício, que tratava de reprimir quaisquer manifestações que duvidassem dos dogmas da
Igreja.
Nesse sentido, o processo era criado tão somente com a função de punir a
heresia ou o pecado, entendidos como os questionamentos feitos acerca da verdade
absoluta, verdade essa que estaria disposta nos textos emanados das autoridades
religiosas, acerca dos quais não poderia haver qualquer contestação. Desse modo, a
defesa do acusado era prejudicada, pois o juiz, também acusador, poderia se encarregar
de providenciar provas para apenas reforçar sua inicial convicção de condenação.
Sob essa ótica, afirma-se que o juiz inquisidor atuava como parte, pois
investigava, dirigia, acusava e julgava. Conforme aquele autor, O sistema possui-a
características demasiado persecutórias, a ponto de que, mesmo quando absolvido, a
sentença não era capaz de eximir de culpa o réu, pois asseverava que não houve provas
do crime, mas que novas informações acerca do delito imputado poderiam ensejar o
retorno do processo (KHALED JR, 2018, p. 293-308).
Também em relação ao sistema penal inquisitório, essa estrutura penal
transforma a relação entre o acusador e acusado em uma disputa desigual de juiz-
inquisidor e acusado, uma vez que aquele deixa sua condição de juiz imparcial e passa a
atuar como inquisidor e como acusador (LOPES JR, 2018).
Desse modo, confundiram-se as atividades do juiz e do acusador, visto que o
acusado é desapossado de sua condição de sujeito processual e passa a ser meramente
objeto da investigação. Sobre essa condição, Lopes Jr. assim expressa: “Ao inquisidor
cabe o mister de acusar e julgar, transformando-se o imputado em mero objeto de
verificação, razão pela qual a noção de parte não tem nenhum sentido” (LOPES JR,
2018).
A crítica de que, no sistema inquisitório, uma mesma pessoa exerce as
conflitantes funções de investigar, acusar, defender e julgar, fê-lo passar a ser
questionado e desacreditado, haja vista que, nessa condição, existe muita concentração
de poder com o julgador, o que pode criar obstáculos ao livre exercício de defesa do
acusado, bem como pode haver mácula ao princípio da imparcialidade, que deve nortear
o processo legal.
Daí o porquê, essa época foi considerada como uma parte obscura da história da
Igreja Católica pautada na investigação de crenças heréticas e cooperação com os
governos locais para vê-las punidas, apoiando-se em torturas físicas e psicológicas para
fazer com que um indivíduo viesse a confessar sua heresia (MURPHY, 2013, p. 222).
No mais, ainda sobre esse aspecto, com as características de um tribunal, o
interrogatório do acusado estava entre os deveres centrais dos inquisidores. Eles se
tornaram, surpreendentemente, habilidosos em psicologia humana ao observarem,
documentarem e compartilharem, um com o outro, suas descobertas sobre as várias
maneiras pelas quais as pessoas desviam as perguntas e ocultam informações.
Desenvolveram estratégias psicológicas próprias para extrair informações através do
processo de interrogatório, estratégias bastante similares às que os interrogadores ainda
utilizam hoje (MURPHY, 2013, p. 222).
3.3.1 Prisão preventiva como medida cautelar

Sobre esse aspecto, a tutela cautelar, por sua vez, como medida de restrição em
busca da segurança do processo deve ser decretada pela autoridade judiciária
competente. Assim como cabe à jurisdição à tutela do bem jurídico objeto do processo,
cabe a ela também a tutela da segurança e da utilidade do provimento final deste
procedimento (DE SIQUEIRA, 2015).
Até porque o juiz é apresentado como elemento subjetivo indispensável à
medida cautelar: "A relação processual envolve elementos subjetivos e objetivos, todos
importantes para a consecução final da meta do processo: a justa composição da lide.
São elementos "subjetivos", além do juiz que soberanamente representa o poder estatal,
as partes envolvidas na lide; e são elementos "objetivos" ora as provas (processo de
conhecimento), ora os bens (processo de execução) (JÚNIOR, 2016, p. 685).
Assim, todos esses elementos (pessoas, provas e bens) podem, na duração ou
demora do processo principal, enfrentar situação de risco de dano, por conduta de um
dos litigantes ou por evento ocasional. Para proteção provisória de todos eles, tem
cabimento a atuação da função cautelar (JÚNIOR, 2016, p. 685).
Mas, essa função não consiste em antecipar solução da lide para satisfazer
prematuramente o direito material subjetivo em disputa no processo principal. O que se
obtém no processo cautelar, e por meio de uma medida cautelar, é apenas a prevenção
contra o risco de dano imediato que afeta o interesse litigioso da parte e que
compromete a eventual eficácia da tutela definitiva a ser alcançada no processo de
mérito” (JÚNIOR, 2016, p. 685).
E, por isso, necessária se sua ordem for excepcionalmente adequada para
proteger a sociedade ou mesmo o bom andamento do processo, e for adequada ao caso
individual. No entanto, o problema não diz respeito à legalidade da sua aplicação, mas
ao seu abuso. A introdução da prisão preventiva para fins ilícitos de defesa social
despontou como um grande mal que assola o sistema penal brasileiro e desestabiliza a
segurança jurídica e a credibilidade da Constituição Federal de 1988, violando
diretamente o princípio da presunção de inocência e direitos fundamentais do
prisioneiro (VIANA, 2013).
3.4 Modelo misto

Por este, o sistema Processual penal Misto recebe essa denominação em razão de
que os demais sistemas puros não guardariam correspondência com os sistemas vigentes
atualmente, tendo exemplificado que a divisão do Processo penal em fase pré-
processual e fase processual acarretaria o predomínio da forma inquisitiva na fase
preparatória e da fase acusatória na fase processual, o que lhe daria o caráter de sistema
misto (LOPES JR, 2018).
Sobre esse tipo de sistema, como se vê, trata-se da união dos dois sistemas
supracitados, onde um ocorre na primeira fase pré-processual, ainda quando é um
procedimento administrativo, para que já em sede judiciária tenha-se a o segundo,
momento em que o juiz passará a julgar o processo e daí nascer ou não uma sentença
penal condenatória (COSTA, 2012).
Por essa razão, é, que nessa primeira fase, não há a obediência aos princípios
constitucionais, tais, por exemplo, a ampla defesa e o contraditório, entre outros, que
fazem parte da segunda etapa e que em breve serão trazidos à baila, porém, é essencial
para o andamento do processo, visto que, sem essa etapa o parquet não teria subsídios
necessários para oferecer a denúncia e tampouco o magistrado condições para proferir
uma sentença condizente com a realidade dos fatos.

3.3.1 Prisão preventiva de ofício no Brasil

Esse tipo de prisão, permite que o juiz mesmo sem ter sido provocado poderá
decretá-la, isto é, desde que estejam presentes a autoria e a materialidade, além dos
seguintes pressupostos de admissibilidades:
Tem-se que para que se possa decretar a custódia preventiva, o juiz deverá
verificar a presença dos pressupostos probatórios ou fumus commissi delicti
(materialidade do delito e indícios de autoria), e dos pressupostos cautelares ou
periculum libertatis (ordem pública, ordem econômica, conveniência da instrução
criminal e aplicação da lei penal), e após a observação de ambos, deverá analisar a
natureza e qualidade do delito exteriorizado, verificando se autorizada a decretação da
prisão preventiva.
Por fumus boni iuris ou fumus commissi delicti, é a verificação acerca da
serenidade dos indícios de autoria não se confunde, por óbvio, com eventual
prejudicamento, mesmo porque a prisão provisória não será nunca decretada com base
nessa constatação, mas sim, com fundamento em sua necessidade cautelar (JUNIOR,
1997).
Além disso, a indispensabilidade desses indícios sérios de autoria para que se
proceda ao encarceramento provisório afigura-se, antes de tudo, como uma verdadeira
exigência do direito à presunção de inocência, uma vez que vem a limitar ao máximo, a
utilização da prisão provisória que, repetimos, não será jamais decretada em função da
culpabilidade do acusado (JUNIOR, 1997).
Andrade ensina no sentido que nesse caso, exige-se prova da existência do
crime, não sendo lícito, portanto, a decretação da prisão preventiva quando houver
dúvidas quanto à prática delituosa. A fim de cumprir essa condição deve-se avaliar a
materialidade do injusto penal, analisando os vestígios deixados pelo crime, procurando,
assim, comprovar com a máxima veracidade a existência do fato delituoso tipificado na
legislação penal (ANDRADE, 2017).
Quanto ao periculum libertatis, traduz-se no fato de que a demora no curso do
processo principal pode fazer com que a tutela jurídica que se pleiteia, ao ser dado, não
tenha mais eficácia, pois o tempo fez com que a prestação jurisdicional se tornasse
inócua. O periculum traduz-se pelo binômio urgência e necessidade (ANDRADE,
2017).

4 ALTERAÇÕES TRAZIDAS PELA LEI 13.964/2019 – (PACOTE


ANTICRIME), QUANTO À VEDAÇÃO DA PRISÃO DE OFÍCIO

De início, vale salientar, que sobre o sistema processual penal adotado aqui no
Brasil, o sistema adotado foi o acusatório, quando o Estado ao dar início a persecução
criminal, indicando então que o infrator apresenta provas de autoria e materialidade
contra este, em outras palavras, precisando assim de um lastro probatório mínimo de
que o crime ocorreu e de que há a probabilidade do acusado ser o autor (PIMENTEL,
2016, p. 22).
Nascendo dessa forma o dito ente o direito/dever que apesar de não ser absoluto,
isso porque encontra limitações do direito, tem por objetivo garantir a segurança a todos
e evitar consequentemente todos e quaisquer atos de arbitrariedade e abusos contra os
indivíduos, a fim de haja um processo regular e que seja assegurado a aplicação da lei
penal ao caso em concreto sem fugir das normas já pré-estabelecidas (PIMENTEL,
2016, p. 22).
Além de uma relação muito próxima entre a tradição inquisitiva e o
autoritarismo político, onde para fazer valer o ideal do autoritarismo, práticas
inquisitivas foram adotadas como verdadeiros dogmas, se espalhando e contribuindo na
formação da matriz do Direito criminal do Brasil. Apesar da implementação do sistema
acusatório e do Estado Democrático de Direito pela Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988 (BATISTA, 2000, p. 363).
A exemplo disso, é a possibilidade do Juiz, de ofício, produzir prova, conforme
insculpido no artigo 156, incisos I e II do Código de Processo Penal, dentre outras, um
exemplo adotado pelo direito francês, o qual em 1795 dividiu a polícia administrativa da
judiciária dando origem em 1867 a Polícia Civil, refletindo assim um ““repertório
cultural que aponta para uma maneira de ver a vida e compreender o desvio, a culpa, os
mecanismos de penitência e como consequência, um processo penal” (CASARA e
MELCHIOR, 2013, p. 362).

4.1 Principais alterações do pacote anticrime

Conforme mencionado anteriormente, a prisão preventiva tem previsão legal nos


arts. 311 a 316 do CPP. Antes das alterações trazidas pela Lei 13.964/2019, a prisão
preventiva poderia ser decretada pelo Magistrado de ofício (se no curso da ação penal),
ou a pedido da Autoridade policial (representação), do membro do Ministério Público
(requerimento), do assistente de acusação ou do querelante. (FERNANDES, 2020)
O antigo artigo 311 do CPP assim dizia: Art. 311. “Em qualquer fase da
investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo
juiz, de ofício, se no curso da ação penal, a requerimento do Ministério Público, do
querelante ou do assistente, ou por representação da autoridade policial. (CPP, 1941).
No entanto, as alterações trazidas pela Lei 13.964/2019 modificaram essa hipótese.
De acordo com Melo (2020) o pacote anticrime, regido pela Lei nº 13.964 de 24
de dezembro de 2019, trouxe alterações na legislação criminal e em no mínimo 17 leis
já vigentes. Dentre estas se destacam:

O Código Penal Brasileiro (Decreto Lei nº 2.848/40), Código de Processo


Penal (Decreto Lei nº 3.689/41), Lei de Drogas (Lei nº 11.343/06), Lei de
Lavagem de Capitais (Lei nº 9.613/98), Lei da Improbidade Administrativa
(Lei nº 8.429/92), Lei de Interceptações Telefônicas (Lei nº 9.296/96), Lei de
Execução Penal (Lei nº 7.210/84), Estabelecimentos Penais Federais de
Segurança Máxima (Lei nº 11.671/08), Identificação Criminal (Lei
12.037/09), Colegiado em Primeiro Grau (Lei nº 12.694/12), Lei do “Disque-
denúncia” (Lei nº 13.608/18), trazendo um novo panorama ao procedimento
investigatório e às instruções judiciais nos processos criminais no Brasil
(MELO, 2020, p. 21).

O pacote inclui disposições voltadas ao combate às organizações criminosas,


células muito difundidas no Brasil que atuam em todos os setores e regiões do país,
causando danos ao erário e à sociedade em geral. Esta lei representa importantes
avanços no sistema de justiça criminal, reduzindo a sensação de impunidade refletida na
sociedade e, assim, levando novamente a efeitos positivos no campo da justiça criminal.
Além disso, estabelece a revisão da aplicação da lei e dos processos judiciais e fornece
medidas alternativas para agilizar os procedimentos de investigação (MELO, 2020).
Dentre as alterações trazidas pelo supramencionado pacote anticrime, ressalta-
se a alteração no artigo 311 do CPP, onde atualmente, a prisão preventiva jamais poderá
ser decretada de ofício pelo magistrado, conforme cita: Art. 311. “Em qualquer fase da
investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo
juiz, a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por
representação da autoridade policial” (BRASIL, 2019)
Nesse sentido, conforme esclarecimento de Fernandes & Fonseca (2020) a
prisão preventiva continuará a ser decretada pela autoridade judiciária, mas apenas
como provocação no curso das investigações criminais e na fase processual, desde que
existam os motivos pertinentes, (previstos no art. 312) e os requisitos legais (previstos
no art. 313).

4.2 Vedação da prisão de ofício

A justificativa seria que o juiz após a Lei nº 13.964 de 2019 teria vetado a prisão
preventiva de ofício, isso porque, essa medida estaria correlacionada ao sistema
inquisitório, portanto, sem cabimento aos dias atuais (BRASIL, 2019). Uma vez que,
espera que o magistrado apresente uma conduta imparcial, em que pese, trata-se a
garantia que as partes têm que o magistrado não irá no momento de proferir a sentença
pender para um lado sem realizar um juízo sobre os fatos e fundamentá-la conforme a
lei, afastado assim quaisquer interesses pessoal ou ideológico em favor de um. O que,
embora, não tenha condição dessa imparcialidade ser de forma plena, porém, é exigido
que suas ações fujam da subjetividade e se detenham apenas ao direito que estar
preterido (DE ANDRADE e CAVALCANTI, 2017, p. 7-8).
Um outro princípio que a decretação da dita prisão estaria ferindo, seria o da
presunção da inocência, este que por sinal, de acordo com Silva (2018), fundamento no
art. 5º, inciso LVII da Constituição Federal, dispõe que ninguém será considerado
culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. E apresenta um
tríplice função: a primeira, a função interpretativa, da qual é um elemento de apoio.
Segunda, a função de elaboração do direito do trabalho, já que auxiliam o legislador.
Terceira, a função de aplicação do direito, na medida em que servem de base para o juiz
sentenciar.
Ao que tange a esfera do Direito Processual Penal, precisamente ao princípio da
presunção de inocência, o qual, refere-se a garantia que o acusado tem de fazer uso de
todos os meios admitidos em lei e cabíveis para a situação para que não seja
considerado como culpado antes mesmo da finalização do processo e, portanto, da
sentença penal condenatória (LIMA e BEZERRO, 2016, p. 454).
Para Lopes Júnior (2011, p. 11 e 12), ele atua em duas vertentes, a saber: pela
via interna, porque impõe somente ao acusador o dever de apresentar as provas, a
justificativa é que o acusado, uma vez que até então como inocente não poderá produzir
provas contra si mesmo; na via externa, há uma exigência que as investigações sejam
realizadas em sigilo, dado ao fato de que publicitar os atos processuais. Além de que,
leciona Gomes (2009, p. 2), antes de ser proferida a sentença penal condenatória o
acusado não pode sofrer “qualquer antecipação de juízo condenatório”.
Por sinal, acrescenta mais uma etapa formando assim três: a primeira, quando
estar ocorrendo a instrução penal, ocasião em que as informações não devem ser
publicitada para evitar um juízo prévio por parte da sociedade; o segundo, na produção
de provas, ora, se quem estiver avaliando a ação não tiver uma visão holística e ficar
restrito a encontrar provas que condenem o acusado, consequentemente ele será
prejudicado; e, por fim, o terceiro, no curso de fato do processo e da aplicação ou não de
uma medida cautelar (CAPEZ, 2021, p. 39).
Razão pela qual esse princípio é reconhecido no ordenamento jurídico pátrio
como o princípio básico de todo o sistema penal, conforme o autor leciona, o acusado é
o protagonista da ação. Todavia, vale salientar, que não há cabimento para que em nome
desse princípio um acusado deixe de ser atuado e preso em flagrante delito (CATENA,
2015, p. 3).
Da mesma forma, o princípio não pode impedir que seja decretada a prisão
preventiva, pois “uma situação é a de presumir alguém inocente; outra, sensivelmente
distinta, é a de impedir a incidência dos efeitos da condenação até o trânsito em julgado
da sentença, que é justamente o que a Constituição brasileira garante a todos”. O que,
ainda impera uma discussão sobre esse princípio em relação a manutenção da aplicação
de medida cautelar, em especial a prisão preventiva, isso porque ela é adotada antes
mesmo que o processo inicie (CUNHA, 2015, p. 96).
Todavia, por não ser absoluto, mas, deve se adequar ao caso concreto, esse
princípio deve andar lado a lado aos requisitos do art. 312 do Código de Processo Penal,
a saber: garantia da ordem pública, garantia da ordem econômica, conveniência da
instrução criminal e garantia da aplicação da lei penal, visto, que ele atinge aos livres e
não para evitar que uma decisão punitiva deixe de ser efetivada. Motivos suficientes
para que seja cabível tanto para prisão preventiva quanto para a prisão temporária,
porque ambas ocorreram dentro da legalidade (BRASIL, 1941).
Também há a previsão do devido processo legal, ou seja, a obrigatoriedade que
todos os atos processuais sejam respeitados e com isso garantir a ampla defesa e o
contraditório para ambas as partes sem prejuízo para nenhuma delas. Na ampla defesa,
por exemplo, trata-se do direito que o acusado tem de se manifestar em relação as
acusações que estão sendo a ele desferidas (CAGLIARI, 2001, p. 6-8).
Continua Cagliari (2001, p. 6 a 8), ela é a garantia do contraditório, uma vez que
a partir dele que nasce a possibilidade de defesa, o momento em que o réu passa a ter
ciência do processo ou a ação movida pela outra parte. Bechara e Campos (1999, p. 4),
mencionam que nada mais é que a igualdade das condições para ambas as partes, ou
seja, o direito a paridade das armas, visto que o acusado não pode ser prejudicado por
não ter sido concedido que ele apresentasse a seu ver a verdade dos fatos.
Ao passo que o contraditório, previsto no art. 5º, LV, CF, este consiste na
ciência bilateral das partes a respeito da realização dos atos processuais. Trata-se da
igualdade jurídica, isso porque garanti ao acusado o direito de tomar ciências de todos
os atos do processo, bem como de poder produzir suas provas e sustentar suas razões
(CARVALHO, 2010).
Tal princípio tem a função de garantir que haja a citação e a participação no
processo, do postulado do pleno acesso ao Judiciário. E, o outro, a efetivação do
princípio da dignidade humana, que é evitar toda e quaisquer ato discriminatório em
relação as partes, portanto, princípios sem os quais não haverá o juiz de garantia e nem
tampouco o Estado Democrático de Direito, até porque, antes de estarem no processo, a
maioria desses são inerentes ao indivíduo enquanto pessoa humana (MEZZOMO,
2014).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa buscou apresentar um panorama histórico sobre a prisão, seus


fundamentos, modalidades e, por fim, demonstrar as últimas alterações promovidas, em
especial a vedação da decretação da prisão preventiva de ofício pelo magistrado,
fazendo um comparativo entre as alterações trazidas pela Lei 13.964/2019,
considerando a redação anterior da Lei 12.403/2011.
No Capítulo 1, foi abordado um panorama constitucional da prisão, seus
principais conceitos, finalidades, sua natureza, aspectos históricos, evolução das formas
e penas utilizadas, o surgimento do direito de punir e, por fim, os aspectos específicos
da prisão preventiva, visando auxiliar a compreensão do leitor sobre como surge essa
forma de punição e o motivo pelo qual ela se encontra em nosso ordenamento jurídico.
No Capítulo 2, tratou-se dos sistemas processuais penais em sentido amplo,
iniciando-se um breve histórico sobre a evolução do processo penal no Brasil, seu
conceito, os modelos acusatório, inquisitório e misto; a possibilidade da prisão
preventiva como medida cautelar; e breves apontamentos sobre a prisão preventiva de
ofício no Brasil.
No terceiro e último capítulo, abordou-se o tema central do presente trabalho: As
alterações trazidas pela Lei 13.964/2019 (Pacote Anticrime), quanto à vedação da prisão
de ofício. Para tanto, analisar-se-á as principais modificações trazidas pela legislação,
tríplice função do princípio da presunção de inocência, como princípio básico de todo
sistema penal, com o foco no tema central, que é a vedação da prisão de ofício pelo
magistrado.
Diante do exposto percebeu sobre as espécies de prisão no ordenamento jurídico
pátrio estas continuam ostentando a natureza jurídica de medida cautelar, tendo ela
todos os pressupostos, características e fundamentos exigíveis para que se enquadre em
tal categoria. Podemos ir além e afirmar que a natureza jurídica da prisão em flagrante,
em nosso sistema constitucional, como medida cautelar, é inerente à sua própria
existência, na medida em que é bastante plausível a tese de que a Constituição Federal
somente admite, em tempos de normalidade institucional e para o processo e direito
penal comuns, a prisão cautelar e a prisão pena.
Sobre o tema proposto, verificou-se que das mais recentes alterações legislativas
em matéria criminal foi a implementação da Lei 13.964/19, incluída no pacote
anticrime. Essa lei trouxe alterações no sistema penal brasileiro, e dentre elas, destaca-
se o artigo 311 do CPP, que menciona a prisão preventiva.
A partir das alterações trazidas pelo pacote anticrime, em especial no artigo 311,
não mais se admite prisão preventiva de ofício, ou seja, não há mais a possibilidade
deste ato ser praticado pelo magistrado, sem provocação. Já existia discussão em que
prevalecia o entendimento de que o juiz de ofício não poderia decretar prisão preventiva
na fase de inquérito, tendo em vista sua função não ser investigatória, e, além disso,
quebrando desta forma o sistema acusatório e indo contra a sua imparcialidade;
entretanto, na fase processual, o juiz poderia decretar de ofício a prisão preventiva.
Após as alterações trazidas no pacote anticrime, o que se entende é que é melhor
a aplicação do sistema acusatório na íntegra, onde cada um tem seu papel, seja o
Ministério Público o acusador, advogado defensor e juiz julgador, apenas; não podendo
tomar por si a iniciativa de decretar a prisão preventiva sem a devida provocação.
Importante destacar, a título de encerramento, que este trabalho não visou
esgotar a matéria abordada na pesquisa realizada, visto que tais mudanças legislativas
são inovações recentes, por isso ainda não possuem uma análise prática aprofundada da
doutrina, demonstrando uma carência de estudos mais aprofundados acerca da temática.

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