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07/02/24, 16:32 Envio | Revista dos Tribunais

DANOS ESTÉTICOS: UMA ANÁLISE À LUZ DA FUNÇÃO SOCIAL DA


RESPONSABILIDADE CIVIL E DA DIGNIDADE HUMANA

DANOS ESTÉTICOS: UMA ANÁLISE À LUZ DA FUNÇÃO SOCIAL DA RESPONSABILIDADE


CIVIL E DA DIGNIDADE HUMANA
Revista de Direito Privado | vol. 50/2012 | p. 205 - 226 | Abr - Jun / 2012
Doutrinas Essenciais de Dano Moral | vol. 1/2015 | p. 951 - 971 | Jul / 2015
DTR\2012\38910

Fabio Queiroz Pereira


Mestre em Direito Civil pela Universidade de Coimbra. Doutorando em Direito Civil pela UFMG. Professor Substituto
de Direito Civil na UFMG. Advogado.

Área do Direito: Constitucional; Civil


Resumo: O presente trabalho tem por escopo basilar a análise e caracterização do dano estético, bem como a
verificação de como se opera a imputação da responsabilidade civil nessa seara. Objetivando alcançar uma precisão
teórica, intenta-se fazer um exame acerca do enquadramento do dano estético, realizando um contraste com outras
denominações jurídicas, como "danos não patrimoniais", "danos morais" e "danos corporais". Busca-se, ainda,
analisar as denominadas novas formas de cotejo do quantum indenizatório, notadamente, o uso de baremas para o
cálculo dos valores condenatórios. Identificam-se, por fim, a função social da responsabilidade civil e a dignidade da
pessoa humana como balizas para a apuração casuística da tipologia do dano em apreço.

Palavras-chave: Danos estéticos - Responsabilidade civil - Valores indenizatórios - Baremas - Função social -
Dignidade humana.
Abstract: The main purpose of this paper is to present an analysis and characterization of the aesthetic damage, as
well as checking how the imputation of civil liability in this endeavor works. Aiming to achieve a theoretical accuracy, an
examination on the framework of the aesthetic damage is held, contrasting it with other legal concepts, such as
"personal injury", "moral damages" and "bodily harm". This paper also intends to analyze the new forms to establish a
quantum of compensation, mainly the use of tables for the sentence calculation. Finally, the social function of civil
liability and human dignity are identified as pillars for determining the compensation for aesthetic damages in a
casuistry analysis.

Keywords: Aesthetic damages - Civil liability - Compensation - Use of tables - Social function - Human dignity.
Sumário:

1. INTRODUÇÃO - 2. DANOS PATRIMONIAIS E DANOS NÃO PATRIMONIAIS - 3. INDENIZAÇÃO EM DANOS NÃO


PATRIMONIAIS E SUA NATUREZA JURÍDICA - 4. CARACTERIZAÇÃO DO DANO ESTÉTICO - 5. ASPECTOS
RESSARCITÓRIOS DOS DANOS ESTÉTICOS - 6. SÍNTESES CONCLUSIVAS - 7. REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS

1. INTRODUÇÃO
Os ordenamentos jurídicos contemporâneos ocidentais, quase em sua totalidade, revelam sua base axiológica na
figura da pessoa humana. Em razão do desenvolvimento histórico e social, a personalidade passa a não ser mais
vista em seu caráter estático, patrimonialista. Em viés oposto, hodiernamente, requer-se que a dimensão existencial
do ser humano seja valorada a ponto de ser a própria justificativa para a existência de um direito positivado.
Judith Martins-Costa assevera que essa mudança paradigmática deu-se, em grande parte, em razão dos
acontecimentos do século XX. Assinala a autora que:
“O totalitarismo estatal, econômico ou científico teve como contrapartida a afirmação do valor pessoa como titular de
sua própria esfera de personalidade, a qual, antes de ser vista como mero suposto do conhecimento técnico de
capacidade, fundamenta-se no reconhecimento da dignidade própria à pessoa. Embora o termo dignidade fosse há
muito conhecido, e o juízo de uma dignidade própria remonte à filosofia de Kant, a ideia de uma existência de uma
proteção jurídica que é devida em razão da dignidade liga-se fundamentalmente a um duplo fenômeno: a barbárie
nazista e à biomedicina.”1
Por conseguinte, essa importante mudança de valores leva à necessidade de que os institutos jurídicos (abrangendo,
também, os tradicionais desenhos do direito privado) devam ser compreendidos e aplicados tendo como interesse
final a proteção e o respeito à essencial dignidade do homem enquanto ser. A nova axiologia interpretativa impele na
transposição da pessoa para o centro de aplicação de princípios e regras, objetivando, em instância última, o amparo
e garantia de seus direitos fundamentais.
Transpondo-se tal inteligência para o campo da responsabilidade civil, tem-se por necessária a ponderação acerca da
dignidade da pessoa humana na apuração dos danos e dos conseguintes cômputos de valores indenizatórios. O juízo

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que deve prevalecer na análise de tal instituto cinge-se à máxima pro teção do lesado, em respeito às vicissitudes que
compõem a sua própria esfera de personalidade.

Nesse ponto, os danos de caráter não patrimonial, também denominados pela alcunha de danos morais,2 denotam
curial importância. A referida figura tem por característica essencial a não suscetibilidade de ser avaliada
pecuniariamente. Está ligada a uma perturbação da esfera jurídica pessoal do lesado e, normalmente, materializa-se
por uma ofensa à vida ou à integridade física do indivíduo. Dessa forma, a dor, o prejuízo estético, o desgosto, o
prejuízo de afirmação pessoal, a perda de um ente querido ou os problemas psicológicos oriundos de uma lesão são
algumas das formas de concretização, no plano fático, da ocorrência de danos não patrimoniais.
No plano da responsabilidade civil, as indenizações perpassam, necessariamente, por um juízo pautado na dignidade
da pessoa humana. É o intuito de se proteger os direitos reflexos à personalidade que induz e pauta os valores a
serem fixados nas instâncias judiciais. A busca por uma quantia pecuniária que almeje compensar o indivíduo pelos
danos não patrimoniais sofridos é matéria controvertida, tanto na doutrina, quanto na jurisprudência. Contudo, o
operador do Direito não pode furtar-se a procurar adequadas bases para a fixação de valores indenizatórios por danos
não patrimoniais, que intentem, ao máximo, materializar o necessário respeito à dignidade da pessoa humana.
Os danos estéticos, como modalidade autônoma dos danos não patrimoniais, não fogem a essa regra, principalmente,
em razão da importância social crescente dada à beleza. Sua ponderação e conseguinte avaliação pecuniária devem
ser realizadas com inafastável respeito às premissas que delineiam a função social da responsabilidade civil. O
objetivo do presente trabalho centra-se, assim, em qualificar e caracterizar o dano estético, verificando, em seguida, a
forma mais adequada de ponderação dos valores indenizatórios. A tendência atual de utilização de baremas e tabelas
na definição do quantum pelos tribunais deve ser abordada de maneira atenta, buscando-se apurar se essa nova
sistemática apresenta-se como modelo ideal de reconstrução das bases da responsabilidade civil em situações que
envolvam o tipo de dano em apreço.
2. DANOS PATRIMONIAIS E DANOS NÃO PATRIMONIAIS
Precipuamente, importante cotejo a se realizar está na necessária distinção entre os danos patrimoniais e os danos
não patrimoniais, bem como nos seus consectários efeitos na fixação dos montantes indenizatórios.
Partindo da definição de dano patrimonial, tem-se que o referido dano é materializado na perda ou deterioração de um
bem suscetível de valoração pecuniária. A título de exemplo, poder-se-ia apresentar a situação em que um indivíduo
tem seu automóvel abalroado por outro veículo. Utilizando-se de uma análise perfunctória e generalista, só se
observam, no presente caso, danos de natureza patrimonial. A diminuição do valor do veículo e os gastos relativos ao
seu necessário conserto devem ser apurados, fixando-se um justo valor indenizatório. Assim, está-se diante de danos
que têm sua indenização fixada por simples apuração ou cálculo matemático. Computa-se qual o montante
indenizatório apto a suprir o prejuízo sofrido por meio de uma simples operação de subtração. Se o patrimônio do
lesado teve uma redução, deve ser integralizado por meio da fixação de um valor indenizatório, restabelecendo-se o
status quo ante.
Em ponto diametralmente oposto, estão os danos de caráter não patrimonial, que são aqueles que não são
suscetíveis de uma avaliação em dinheiro. Revelam uma desafetação no caráter pessoal do indivíduo. Assim,
configuram-se nesse conceito os danos morais em sentido estrito, os danos corporais, também chamados danos
pessoais, o sofrimento de todas as ordens, o desgosto, as dores físicas, as chateações e aborrecimentos.
A distinção entre as duas categorias de danos – patrimoniais e não patrimoniais – é efetivada consoante sejam ou não
suscetíveis de avaliação pecuniária. Quer dizer, os primeiros, porque incidem sobre interesses de natureza material ou
econômica, refletem-se no patrimônio do lesado, ao contrário dos últimos, que se reportam a valores de ordem
espiritual, ideal ou moral.3
Importante destacar que tal distinção não leva a uma ponderação estanque de cada uma das modalidades de danos.
A ofensa a alguns bens e interesses não patrimoniais pode resultar em danos patrimoniais e/ou não patrimoniais.
Lado outro, há situações em que um bem de natureza patrimonial é lesado, mas acarreta a ponderação acerca dos
seus reflexos na esfera da personalidade do lesado.
Nesse contexto, são conclusivas as palavras de António Pinto Monteiro:
“Pode o bem ou interesse lesado não ter natureza patrimonial, como sucede com a integridade física, com a saúde, a
liberdade, a honra, o bom nome e reputação, e, apesar disso, da lesão resultarem danos patrimoniais. É o que pode
acontecer, por exemplo, caso ocorra uma ofensa ao bom nome e reputação de um médico, advogado ou engenheiro:
embora o bem lesado, em si mesmo, careça de valor pecuniário, a ofensa traduzir-se-á, freqüentemente, num prejuízo
pecuniário, expresso numa diminuição das receitas provenientes do exercício da atividade profissional respectiva
(perda de clientela). Inversamente, pode tratar-se de violação de um bem patrimonial – e, ainda assim, da lesão
resultarem (também) danos não patrimoniais. Imagine-se que alguém destrói determinado objeto, com o qual seu
proprietário tinha uma forte e justificada relação afetiva. Não é de excluir que, numa situação deste tipo, para lá do
dano patrimonial, ocorram danos não patrimoniais merecedores de tutela jurídica”.4
3. INDENIZAÇÃO EM DANOS NÃO PATRIMONIAIS E SUA NATUREZA JURÍDICA

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Demonstra-se importante salientar que, hoje, encontram-se rechaçadas, pela doutrina e jurisprudência, teses que
taxavam de imoralidade as situações em que se deveria atribuir uma indenização em virtude da ocorrência de danos
não patrimoniais. Esse entendimento era sustentado na premissa de que não seria moralmente adequado valorar em
pecúnia uma situação que revelava aspectos da personalidade do indivíduo. Bens imateriais, como a integridade física
ou a vida, não seriam passíveis de ponderação que tivessem por cerne a valoração em dinheiro.
Hoje, as referidas ilações não prosperam por uma série de fundamentos. Primeiramente, não parece ser justo deixar o
lesado sem qualquer ressarcimento em razão de um prejuízo sofrido em sua esfera de pessoalidade. A ausência de
proteção jurídica para tais situações revelaria caráter anacrônico, não podendo prosperar. A título de exemplo,
demonstra-se de todo inaceitável uma circunstância fática em que um indivíduo sofre um dano corporal (v.g. uma
amputação ou uma desfiguração dos traços da face) e não tem qualquer possibilidade de ajuizar uma compensação
pelos prejuízos ocasionados.
Um segundo ponto a corroborar com o referido rechaço à tese da imoralidade centra-se na necessária compensação
do indivíduo. Computa-se não uma indenização em seu sentido estrito. Antes, parece importante compensar o lesado
pelo prejuízo sofrido. Assim, ao se fixar um quantum indenizatório, o juiz age no intuito de contrabalançar a conjuntura
do lesado pelos prejuízos sofridos. Não se trata de retornar ao status quo ante, mas sim, buscar proporcionar prazeres
que levem o lesado a amenizar o prejuízo sofrido ou compensar, de certa maneira, os danos a ele causados.5
A inafastável função punitiva da indenização é um último ponto a corroborar para a necessária fixação de um valor
pecuniário, nas situações em que se esteja diante de danos não patrimoniais. O valor indenizatório, em seu conjunto,
deve englobar uma parcela relativa à materialização de uma função pedagógica, que busque extirpar, por meio da
exemplaridade, a ocorrência dos referidos danos em situações fáticas futuras. Logo, os tribunais devem estar sempre
atentos, buscando aplicar equilibradas sanções aos lesantes. A compensação do lesado deve estar, necessariamente,
acompanhada da ponderação da culpa em que sobreveio o autor do dano.6
Assim, tem-se que a configuração da natureza jurídica da indenização fixada por danos não patrimoniais é dotada de
caráter duplo. Se por um lado, objetiva compensar o lesado pelo prejuízo pessoal sofrido, por outro, intenta sancionar
o ato praticado pelo lesante, visando a não disseminação do dano pela sociedade. Esse ponto característico
demonstra-se de curial importância para a fixação do montante indenizatório. É necessária a ponderação de ambos os
aspectos para que se fixe um montante pecuniário justo.
4. CARACTERIZAÇÃO DO DANO ESTÉTICO
A crescente valorização da beleza demonstra-se na contemporaneidade como verdadeiro fenômeno social. A
constante busca pela graça e perfeição é peculiar característica a perfilhar os intuitos e desejos de nossa população
consumidora. Os meios de comunicação ajudam a difundir esse ideal, fazendo com que grande parte da economia
mundial esteja pautada e gire em torno da busca pelo belo.
Diante desse panorama, tem-se que os elementos estéticos que compõem uma pessoa são dotados de curial
importância, seja para a formação de uma rede de relacionamentos, seja para a sua própria necessidade de
autoafirmação. Muitas vezes, é pautando-se nos seus elementos de ordem estética que o indivíduo molda a sua
personalidade. Nesse ponto, soma-se ainda a relevância com que é ponderada a beleza no mercado de trabalho,
principalmente, em profissões que exijam um contato direto com o público.
Desse modo, os danos estéticos e sua ressarcibilidade exigem, hodiernamente, especial consideração. O contexto
socioeconômico atual impele à realização de uma adequada ponderação judicial acerca dos valores a serem fixados a
título de indenização quando verificado um dano da referida ordem. Uma simples cicatriz ou uma completa
desfiguração merecem a atenção do órgão julgador que deverá se debruçar sobre a temática, no intuito de melhor
compensar o prejuízo sofrido pelo lesado.
Dada a importância com que passou a se revestir a matéria, o dano estético é categoria que, hoje, tende a ganhar
autonomia dentro do quadro epistemológico dos danos pessoais.7 A excessiva valorização dos aspectos corporais de
um indivíduo traz como consectário efeito a necessária ponderação do prejuízo estético como modalidade autônoma
de dano.
Adentrando-se a qualificação da figura jurídica em apreço, tem-se que o dano estético consiste na lesão dos aspectos
exteriores de um indivíduo. A imagem e apresentação física da pessoa são alteradas, ocorrendo uma quebra nas
características que compõem sua estrutura corporal.8 Esses prejuízos são identificados na percepção do próprio
lesado, bem como no juízo dos terceiros que compõem um corpo social. Possuem, pois, um duplo viés marcado por
subsídios distintos: elemento pessoal e elemento social.
Em sentido amplo, poder-se-ia estabelecer como conceito médico-legal de prejuízo estético as consequências das
lesões traumáticas sobre uma pessoa, de natureza anatômica ou funcional, que alterem de modo permanente as
qualidades materiais da mesma que podem ser percebidas pelos demais e por ele, e que têm efeito sobre seu maior
ou menor grau de atração e de aceitação social.9
Assim, configuram danos estéticos: as cicatrizes, as amputações de membros, as deformações físicas, as paralisias
faciais, as paralisias motoras, a perda do pavilhão auricular, o efeito de coxear, dentre outras lesões que interfiram na
forma como o indivíduo apresenta-se perante o grupo social. Estas sequelas são, normalmente, subdivididas em dois
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tipos: implicações estáticas e implicações dinâmicas. No primeiro grupo, encontram-se as cicatrizes, queimaduras,
pigmentações anormais, assimetrias, entre outros danos. Já no segundo grupo, verificam-se as lesões perceptíveis,
normalmente, por meio de movimentos, como alterações da marcha, alterações de mímica, modificações de gestos ou
as mudanças vocais.10
Em verdade, a análise de um prejuízo estético não prescinde de uma adequada valoração médico-legal. A perícia,
nesse ponto, é elementar para a apuração dos danos causados ao lesado. Pautando-se na estética como uma das
funções desempenhadas pelo corpo humano,11 é imperioso que se efetue as avaliações de alterações dentro de
caracteres biológicos. Assim, o laudo pericial deve ser o fio condutor para a adequada fixação de justo valor
indenizatório. Os fatores médicos e sua correta ponderação pelo juízo são de análise essencial para correta
compensação da vítima de um dano estético.
Observa-se, ademais, que para que se tenha por configurado um dano dessa tipologia, a doutrina é assente que se
deve estar diante de lesão visível.12 O referido elemento é marcado pelo fato de que a alteração estética deve ser
aparente. A título de exemplo, uma cicatriz no couro cabeludo que está permanentemente coberta pelos cabelos não
configura um dano estético.
Situação sensivelmente diferente configura-se diante de lesão em parte do corpo que fica normalmente coberta por
vestimentas, como, por exemplo, quando se está diante de uma queimadura nas nádegas ou na barriga. Nessa última
hipótese, decisivamente, permanece a obrigação de ressarcimento do dano.
João António Álvaro Dias aponta que são múltiplos os fatores suscetíveis de influenciar o quantum do dano estético, e
que vão desde as ocupações da vítima (v.g. contato mais acentuado com o público), à intensidade da lesão sofrida,
sua localização, seu caráter estático ou dinâmico (v.g. o ato de coxear tem um significado estético mais profundo que
a simples cicatriz, mesmo que esta seja visível e de grande intensidade), possibilidade ou não de ser corrigida, maior
ou menor vulnerabilidade do lesado para as questões da imagem e da interação com os outros, sexo13 e idade da
vítima.14
Importante ressaltar que o critério de ponderação que se pauta na ocupação da vítima deve ser utilizado apenas na
medida em que se revele como dano não patrimonial. Nesse ponto, não devem ser tomados em consideração os
valores remuneratórios do lesado. Se, eventualmente, houver prejuízos financeiros em razão da lesão, estes devem
ser tratados como danos materiais, ou seja, perda de rendimentos futuros. Assim, a título de exemplo, um dano
estético – como uma cicatriz na face – causado a uma modelo requer que se ponderem prejuízos de ambas as
ordens: patrimoniais e não patrimoniais. Contudo, os danos estéticos, em seu caráter compensatório, devem estar
adstritos apenas à última categoria.15 As implicações reflexas deverão ser avaliadas de maneira autônoma.
Quando se está diante de dano estético de caráter dinâmico, normalmente, demonstram relevo as considerações
acerca do dano funcional. É comum identificar-se, simultaneamente, as duas categorias de dano no plano fático. A
título de exemplo, a amputação de um braço é conjectura que deve recair na análise de ambas as vertentes de
prejuízos. Deve-se salientar que, em hipóteses como essa, o dano funcional e o dano estético devem ser analisados
de maneira autônoma e apartada. São danos distintos que devem ser sopesados de forma diferente. Não há que falar
em duplicação de valores indenizatórios, quando se está diante de efeitos diversos que têm apenas a origem como
ponto comum.
Outro elemento que deve estar sempre na base do delineamento do dano estético materializa-se no seu necessário
caráter permanente. Nesse ponto, João António Álvaro Dias aduz que:
“O dano estético só poderá ser avaliado e reparado como dano estético se e quando assumir o qualificativo de
permanente. Enquanto não assumir tal configuração, o dano estético não poderá ser avaliado e reparado como
entidade categorial própria, antes devendo os sofrimentos, incômodos ou desconsiderações de qualquer natureza a
que possa dar lugar ser avaliados e reparados no quadro do dano não patrimonial ou moral em sentido estrito”.16
Aspecto que acende maiores discussões reside na possibilidade de reparação do dano por meio de procedimento
cirúrgico.17 Com o crescente desenvolvimento científico, cada vez mais, surgem novas técnicas de intervenção
plástica aptas a sanarem prejuízos ou servirem de paliativo em situações em que se esteja diante de danos estéticos.
Diante de tal panorama, se o lesado optar por se submeter a um procedimento cirúrgico corretor, a apuração e
determinação do dano e do conseguinte quantum indenizatório só poderá ocorrer em momento posterior à cirurgia.
Apenas utilizando-se dessa sistemática, poder-se-ia verificar a extensão e gravidade das sequelas para a vítima.
Destaca-se, nesse ponto, que o lesado pode não querer se submeter a nenhum procedimento médico, seja por razões
de cunho pessoal, seja por ser dotado de espírito avarento. Desse modo, em casos como esse, não há como impor a
submissão a uma cirurgia estética. Fica ao arbítrio do lesado optar ou não por se sujeitar a realização de uma
intervenção reparadora.
Observa-se, assim, que as vicissitudes que compõem o dano estético são variadas, não prescindindo de uma
avaliação casuística. A realidade, extensão e natureza das sequelas, o grau de sua perceptibilidade, a sua
possibilidade de correção e a ponderação da gravidade da lesão são alguns dos elementos a serem considerados
pelos juízes quando estiverem diante de uma situação que envolva a ocorrência de um dano estético. Somente após a

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realização desse essencial cotejo, poder-se-á adentrar aos aspectos ressarcitórios a serem apregoados no momento
da valoração do quantum indenizatório.
5. ASPECTOS RESSARCITÓRIOS DOS DANOS ESTÉTICOS
Como asseverado, os danos de natureza estética têm suas principais e ordinárias repercussões no plano dos
prejuízos não patrimoniais. Desse modo, denota importância a abordagem dos aspectos ressarcitórios relativos aos
danos morais, para depois adentrarmos o exame das específicas questões concernentes aos prejuízos de ordem
corporal e alcance estético.
Nesse ínterim, deve-se assinalar que a reparação do dano não patrimonial na ordem jurídica brasileira segue,
fundamentalmente, o que está preceituado no Código Civil (LGL\2002\400) de 2002. As principais disposições
normativas18 referentes ao tema são as seguintes:
“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”
“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei,
ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos
de outrem.”
“Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.
Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir,
equitativamente, a indenização.”
Pela breve leitura dos dispositivos acima, constata-se que a concretização de um dano moral é configurada como ato
ilícito, e tem por consequência o necessário dever de indenização. Por sua vez, os valores ressarcitórios deverão
seguir o enunciado pelo art. 944 do CC/2002 (LGL\2002\400), medindo-se pela extensão do dano. Quanto maiores os
prejuízos, maiores serão os montantes indenizatórios.
Uma primeira observação a ser enfatizada centra-se na necessária gravidade do dano. Os danos insignificantes,
incômodos, indisposições, aborrecimentos não são, em princípio, indenizáveis. Para que sejam passíveis de
compensação pela via judicial, demonstra-se essencial que os danos se revistam de intensidade ou relativa
profundidade. O sofrimento começará a ser grave sempre que o seu diagnóstico, em termos razoáveis, possa revelá-
lo como inexigível, do ponto de vista da resignação.19
O preceito geral para a ponderação do valor indenizatório segue a regra do alargamento do dano. Contudo, o
parágrafo único do art. 944 do CC/2002 (LGL\2002\400) prevê que, na hipótese de excessiva desproporção entre a
culpa e o dano, o magistrado poderá reduzir a indenização. A aludida avaliação do grau de culpa reflete o, já citado,
caráter punitivo do montante indenizatório. Dessa forma, ao se fixar o quantum, o juízo deve estar atento para a sua
função sancionatória, inibindo, de certa forma, a difusão social da ocorrência de danos não patrimoniais.
A fixação proporcional da indenização, entretanto, deve ser vista com necessária cautela. Nesse ponto, vale destacar
as asseverações de Jorge Sinde Monteiro, que também se aplicam ao ordenamento jurídico brasileiro:
“Embora se note por vezes na jurisprudência uma tendência para aplicar com alguma largueza esta disposição,
parece que a redução ou limitação equitativa da indenização só deve ter lugar quando existirem razões ponderosas
para se abandonar o princípio-regra neste domínio, ou seja, o de que a indenização deve corresponder ao montante
do dano. Assim, a utilização de um critério pautado na equidade não deve descurar da necessária compensação a
que o lesado tem direito”.20-21
Apesar de não haver dispositivo expresso nesse sentido, o julgador não pode se descurar de outras circunstâncias
que podem ser aferidas no caso concreto. Aqui, devem ser ponderadas conjunturas como a idade da vítima, seu sexo,
sua profissão, as possibilidades de agravamento da lesão, a eventualidade de haver outros meios compensatórios
para a vítima (v.g. a existência de procedimento cirúrgico corretor em caso de prejuízo estético), dentre outros fatores
que se demonstrarem importantes.
Acrescenta-se, ainda, que nas situações em que se está diante de um dano não patrimonial, ordinariamente, apenas o
lesado pode pleitear em juízo o direito à indenização. Isso ocorre porque se trata de dano que afeta somente a esfera
jurídica pessoal da vítima, não havendo, por conseguinte, que estender a outros indivíduos o ressarcimento de um
dano que não sofreram. É, em verdade, dano que só afeta um único ser. Excetuam-se dessa regra as hipóteses em
que sobrevém a morte da vítima, ampliando-se a tutela para seus parentes.22
Das referidas disposições legais, é possível extrair-se um dos fundamentais princípios a pautar a responsabilidade
civil, qual seja a discricionariedade do juiz para a fixação do quantum indenizatório.23 Utilizar-se dessa norma significa
poder adentrar os elementos do caso concreto, ponderar as suas peculiaridades (trazidas aos autos do processo por
meio de produção de provas), aferir os prejuízos ocasionados em razão de um dano e apontar um valor pecuniário
apto a compensar o lesado dos prejuízos ocasionados. Todo esse procedimento é conduzido pelo juiz que se encontra

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livre para aplicar os seus critérios e a sua prudência axiológica, de forma a obter o melhor resultado possível, por meio
de um dispositivo sentencial.
Em tendência totalmente diversa, verifica-se, hodiernamente, em diversas ordens jurídicas o surgimento de tabelas
abstratas para a fixação de valores indenizatórios em danos de natureza não patrimonial. Assim, a ponderação dos
danos corporais e estéticos, por meio da utilização desses baremas, viria a reduzir, de maneira profunda, a margem
discricionária deixada ao juiz para a fixação dos valores ressarcitórios. Lado outro, não existindo tabelas ou outros
critérios certos, a indenização dos danos não patrimoniais fica dependente de múltiplos fatores a serem apreciados
pelo julgador e, obviamente, os valores acabam por variar muito de tribunal para tribunal e mesmo de juiz para juiz.
Como no domínio dos danos patrimoniais não é possível operar o cálculo da indenização segundo a teoria da
diferença consagrada para os danos patrimoniais, há que se recorrer a critérios de equidade, sempre balizados pelas
circunstâncias descritas.
Desse modo, a avaliação dos danos estéticos e a ponderação de uma equânime indenização são temas que, hoje,
suscitam grande número de digressões doutrinárias. E a principal questão cinge-se, notadamente, à introdução
desses baremas de natureza abstrata, que teriam por objetivo último uniformizar algumas espécies de danos não
patrimoniais, incluindo-se aqui os danos estéticos. A utilização desse instrumental deve ser analisada tendo por cerne
as soluções a que se propõe e os eventuais problemas originados desse desenho.
O principal argumento a contribuir para um sistema de tabelas no âmbito da responsabilidade civil materializa-se na
busca de mecanismos que visem à uniformização dos valores fixados a título de indenização. Aponta-se como um dos
grandes problemas judiciais hodiernos a disparidade de montantes atribuídos para situações que, em princípio,
redundariam em tratamento equânime. São argumentos, pois, que se localizam na necessária segurança jurídica em
que devem estar pautadas as decisões judiciais. Joaquim José de Sousa Dinis apregoa que:
“Se criaram nos países onde o sistema de baremas funciona, tabelas com pontuações, atribuindo, para cada dano
corporal determinada pontuação; e do mesmo modo para alguns dos tipos de dano não patrimonial (dores, prejuízo
estético, prejuízo de afirmação pessoal, enfim, aqueles que podem ser quantificados pelo médico legista de acordo
com os vários graus, de 1 a 7). Não se incluem, aqui, os danos patrimoniais (dano emergente e lucro cessante) nem
os demais danos não patrimoniais (desgostos, dores futuras etc.), que são objeto de avaliação autônoma. Nos
“barémes” pontua-se tão só o dano corporal”.24

Países como França, Itália e Espanha utilizam-se desse tipo de tabela para a avaliação dos danos corporais.25
Empregando-se esses baremas, o dano estético, por exemplo, demonstrar-se-ia passível de avaliação e pontuação
dentro de um limite mínimo e um limite máximo preestabelecidos pela legislação. Essa quantificação em pontos é
indexada a um determinado índice, encontrando-se, por fim, o correlato valor compensatório.26
Observa-se que essa tendência de padronização por meio de tabelas, atualmente, está sendo ventilada no Brasil.
Uma manifestação nesse sentido decorreu do próprio STJ, ao publicar matéria em seu sítio eletrônico, em 13.09.2009,
com o seguinte título: “STJ busca parâmetros para uniformizar valores de danos morais”.27 Por meio de tal texto, a
aludida instituição jurídica manifestou a sua preocupação com relação às disparidades verificadas na ponderação do
quantum indenizatório, elencando, por meio de uma tabela, valores indenizatórios fixados pela Corte em seus
precedentes que envolviam questionamentos acerca da reparação de danos não patrimoniais. A título de exemplo,
para a morte de paciente após cirurgia de amígdalas foi indicado o valor de R$ 200.000,00 a título de indenização, e
apresentado como parâmetro o REsp 1.074.251. Apesar do conteúdo jornalístico do referido texto, é importante
assinalar que decisões judiciais têm sido tomadas tendo por base os referidos valores apontados pela tabela.
Em paralelo à aludida questão, encontra-se em tramitação no Congresso Nacional, PLS 334/2008, que intenta
oferecer balizas para a reparação do dano moral. Entre suas disposições encontra-se uma referência específica ao
tema em análise, que estabelece “que a existência de dano estético, não passível de correção, deverá ser indenizada
mediante acréscimo de 20% no valor fixado para a reparação pecuniária do dano moral de natureza diversa,
decorrente do mesmo fato, ou, na sua falta, mediante o pagamento de um valor entre R$ 4.150,00 e R$ 62.250,00, de
acordo com a gravidade do dano”. Vê-se, pois, uma tentativa de oferecer parâmetros objetivos para a fixação de
valores indenizatórios em danos estéticos. Importa ponderar, contudo, se a referida objetivação pode ser considerada
como algo salutar para a nossa ordem jurídica.
Concernentemente às tabelas, Maria Manuel Veloso adverte para o ponto central do problema. Segundo a autora,
“o punctum crucis da questão de saber se tem sentido adotar uma tabela de avaliação do dano corporal não deve
residir numa mera questão de eficácia do sistema. A uniformidade, a redução da litigiosidade ou mesmo a celeridade
não garantem de per si o reforço da tutela do lesado e só esta pode justificar uma intervenção no poder equitativo do
juiz. Se é assim, há que determinar de antemão o que é verdadeiramente ‘baremizável’. O impacto de uma lesão
corporal pode ter conseqüências muito diferentes, ainda que os graus de incapacidade sejam iguais. Por conseguinte,
só aquilo que pode ser considerado equivalente para todo e qualquer indivíduo deve estar sujeito a determinação
tabelar”.28
Transpondo-se as ilações apresentadas para a análise do dano estético, verifica-se que a lesão desse gênero traz
reflexos e repercussões que só podem ser ponderados casuisticamente. Nem todas as consequências de um dano
estético podem ser traduzidas através de um barema. Se é certo que parte do dano é, nitidamente, igual em qualquer
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pessoa a que atinja, também é certo que existem reflexos e circunstâncias (agravantes ou atenuantes) que só podem
ser aferidas diante da concretude do caso. Poder-se-ia citar, a título de exemplo, a lesão que se materializa na perda
do pavilhão auricular. Tal dano estético deve ser sopesado de maneira diferente caso o indivíduo lesado faça uso
constante de óculos corretores. A profundidade do dano estético demonstra-se, claramente, maior nessa última
pessoa.
Assim, o emprego das tabelas indenizatórias deve ser visto com inafastável cuidado. Não há que se baremizar
situações que não são passíveis de tal procedimento. Neste ponto, tem-se que os danos estéticos são marcados por
um conjunto de vicissitudes que não podem ser agrupadas em um esquema abstrato fechado. Antes, deve-se dar
atenção para peculiaridades do caso, tendo por objetivo último a adequada compensação do indivíduo lesado.29
Nesse ponto, são conclusivas as sábias palavras de Aristóteles:
“Toda lei é de ordem geral, mas não é possível fazer uma afirmação universal que seja correta em relação a certos
casos particulares. Nestes casos, então, em que é necessário estabelecer regras gerais, mas não é possível fazê-lo
completamente, a lei leva em consideração a maioria dos casos, embora não ignore a possibilidade de falha
decorrente desta circunstância. E nem por isto a lei é menos correta, pois a falha não é da lei nem do legislador, e sim
da natureza do caso particular, pois a natureza da conduta é essencialmente irregular. (…) Com efeito, quando uma
situação é indefinida a regra também tem de ser indefinida, como acontece com a régua de usada pelos construtores
em Lesbos; a régua se adapta à forma da pedra e não é rígida, e o decreto se adapta aos fatos de maneira
idêntica”.30
Não é possível fazer uma previsão normativa que seja universal em relação a todos os casos que envolvam danos
estéticos. A regra jurídica, como consequência, deve seguir o enunciado por Aristóteles, apresentando-se como
indeterminada, mas passível de ser aplicada às variadas contingências constatadas no plano fático. A não previsão de
valores indenizatórios estanques por parte de nossa legislação – por meio da adoção de tabelas – intenta realizar a
justiça que se atém às importantes características do caso concreto.
6. SÍNTESES CONCLUSIVAS
1. Conforme demonstrado, os danos estéticos surgem como uma categoria de dano pessoal, que não prescinde de
uma análise sempre sopesada em razão do princípio da dignidade da pessoa humana. A verificação dos prejuízos
causados na esfera jurídica da vítima de uma lesão desfigurante deve ter sempre em conta as vicissitudes que
compõem os próprios direitos da personalidade. Vive-se em uma nova ordem paradigmática que encontra na
realização da pessoa a própria justificativa para a existência de um ordenamento jurídico. Logo, qualquer exame que
objetive a compensação de um dano deve buscar a máxima realização de um indivíduo em seu contexto social.
2. Nesse diapasão, surge o dano estético como modalidade autônoma de dano não patrimonial. Revela-se, pois,
como um prejuízo que não é suscetível de uma avaliação em pecúnia. Há uma alteração na forma como o indivíduo
se apresenta perante um corpo social. Incluem-se nessa modalidade danos estáticos, como uma cicatriz, uma
queimadura, uma desfiguração; e danos dinâmicos, como a sequela de coxear, as paralisias motoras, os problemas
envolvendo a fala. O que importa destacar, nesse ponto, é o fato de a imagem da pessoa ser alterada. Ela passa a
não se identificar com os novos desenhos de seu corpo, do mesmo modo que os terceiros passam a perceber tais
modificações.
3. A valorização da beleza do corpo e das formas revela-se como um fenômeno da contemporaneidade. Muitos dos
valores apregoados e difundidos pela nossa sociedade são marcadamente de caráter estético. O culto ao belo
manifesta-se em suas mais diversas nuances e os meios de comunicação de massa encarregam-se de repassar e
transmitir tal axiologia para todo o contexto global. Dessa forma, a busca de um emprego, a realização pessoal do
indivíduo ou a sua aceitação pelos outros membros do corpo social, geralmente, perpassam por valores de ordem
estética.
4. Como demonstrado, as indenizações em sede de danos não patrimoniais (aqui incluídos os danos estéticos)
apresentam duas funções diversas. A primeira centra-se na necessidade de compensar o lesado pelo dano sofrido.
Não há que se buscar a configuração do status quo ante. Contrariamente, o que se objetiva, nesse ponto, é amenizar
os prejuízos sofridos pela vítima, por meio da possibilidade de se empregar o dinheiro na realização de coisas que lhe
proporcionem prazer. Já a segunda função do quantum indenizatório cinge-se a aplicação de uma sanção ao lesante.
Há que estar incluído no montante ressarcitório uma parcela de caráter punitivo, com claro intuito de evitar que se
recaia em uma banalização do dano não patrimonial, marcada por consectária difusão social de sua ocorrência.
5. Tendência que surge nos ordenamentos jurídicos hodiernos relaciona-se a fixação de valores indenizatórios por
meio de tabelas. Objetiva-se, por meio da utilização de baremas, aumentar a segurança jurídica e uniformizar os
valores estabelecidos a título de indenização. Assim, alguns danos de conteúdo não material teriam seus montantes
ressarcitórios adstritos à consulta e à aplicação de uma correspondente tabela. Diante de uma lesão, buscar-se-ia em
tal desenho esquemático a pontuação correspondente. Essa pontuação seria multiplicada por um determinado índice
e, por fim, ter-se-ia o valor a ser fixado a título de indenização. Verifica-se que tal metodologia é apurada de forma
abstrata, não se prendendo às vicissitudes do caso concreto. Aqui, não seriam sopesados elementos como a idade da
vítima, sua profissão, seu sexo, ou sua propensão psicológica para lidar com o dano. Trata-se de um padrão adotado
que deve restringir-se apenas ao conteúdo estático das lesões jurídicas.

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6. Analisando a aplicação das tabelas no âmbito dos danos não patrimoniais, inquire-se se os prejuízos estéticos
seriam passíveis de ser abarcados por essa modalidade fechada de cálculo de montantes ressarcitórios. Um primeiro
problema a surgir centra-se na mitigação do princípio da discricionariedade do juiz, na ponderação da
responsabilidade civil, para fixar-se o adequado valor indenizatório. Nesse diapasão, não haveria margem de atuação
para o tribunal, devendo estar restrito ao cálculo matemático oferecido pela tabela para sanar os danos ocasionados.
Em verdade, deixaria de haver discricionariedade, perfilhando situação de juízo vinculado, em que só há uma decisão
apta a ser aplicada ao caso concreto.
7. Outra problemática que advém da aplicação dos baremas refere-se ao fato de que o dano estético não é composto
somente por elementos estáticos. Demonstra-se de curial importância que outros elementos de ordem pessoal do
lesado sejam ponderados no momento de fixação do valor indenizatório. Está-se diante de situação que não
prescinde de um juízo pautado na igualdade material, tratando-se de forma diferente aqueles que sofreram diferentes
abalos, mesmo que surgidos de situações assemelhadas. Assim, parece difícil fechar em um grupo hermético
situações que podem possuir nuances de ordem diversa.
8. Desse modo, verifica-se que os danos estéticos não são passíveis de reparação integral por meio da utilização de
tabelas ressarcitórias. O seu caráter estático, similar em todos os indivíduos, até poderia ser ponderado por meio de
baremas. Contudo, existe uma parcela contida nessa tipologia de danos que não prescinde da análise das qualidades
pessoais do lesado. O que se observa, na realidade fática, é que os prejuízos estéticos devem ser analisados de
maneira casuística. Cada pessoa tem uma forma de reagir a uma lesão que afeta a sua imagem, não se podendo
abrir mão de um adequado juízo das vicissitudes que compõem cada caso concreto.
9. Sob o paradigma do Estado Democrático de Direito, e pautando-se na dignidade da pessoa humana, não se deve
abrir mão da correta compensação, a cada indivíduo, dos danos estéticos sofridos. O argumento que se pauta em
necessária segurança jurídica e padronização dos valores indenizatórios não deve prosperar frente às vicissitudes do
caso concreto. É certo que situações díspares merecem tratamento diferenciado e, por conseguinte, valores
indenizatórios adequados à concretude. O dano estético abarca efeitos que só podem ser ponderados diante de
situações fáticas reais, não prevalecendo tese que fixe, de maneira abstrata, todas as suas consequências jurídicas,
sob pena de não se acatar a função social da responsabilidade civil.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Aristóteles. Ética a Nicômaco. Trad. Leonel Vallandro e Gerd Bornheim da versão inglesa de W. A. Pickard. São Paulo:
Nova Cultural, 1996.
Braga, Armando. A reparação do dano corporal na responsabilidade civil extracontratual. Coimbra: Almedina, 2005.
Costa, Mário Júlio de Almeida. Direito das obrigações. 10. ed. Coimbra: Almedina, 2006.
Dias, João António Álvaro. Dano corporal: quadro epistemológico e aspectos ressarcitórios. Coimbra: Almedina, 2001.
Dinis, Joaquim José de Sousa. A baremização do dano corporal na responsabilidade civil. Revista Portuguesa do
Dano Corporal. n. 13. p. 9-18. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra/Apadac/Instituto Nacional de Medicina
Legal, 2004.
_____. Dano corporal em acidentes de viação. Colectânea de Jurisprudência do Supremo Tribunal de Justiça.
Coimbra: Apadac, 2001. vol. I.
Gea Brugada, María; Bares JalóN, Victoria. Perjuicio estético. In: Borobia Fernandez, Cesar (org.). Valoración de
daños personales causados en los accidentes de circulación. Madrid: La Ley Actualidad, 1999.
Geraldes, António Santos Abrantes. Ressarcibilidade dos danos não patrimoniais de terceiros em caso de lesão
corporal. In: Cordeiro, António Menezes (org.). Estudos em homenagem ao Prof. Doutor Inocêncio Galvão Telles.
Coimbra: Almedina, 1998. vol. IV.
Lopez, Teresa Ancona. O dano estético: responsabilidade civil. 3. ed. São Paulo: Ed. RT, 2004.
Martins-Costa, Judith. Os danos à pessoa no direito brasileiro e a natureza da sua reparação. Roma e America –
Diritto Romano Comune. vol. 10. p. 157-185. Roma: Mucchi Editore, 2000.
Monteiro, António Pinto. Sobre a reparação dos danos morais. Revista Portuguesa do Dano Corporal. n. 1. p. 19.
Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra/Apadac/Instituto Nacional de Medicina Legal, 1992.
Monteiro, Jorge Sinde. Dano corporal: um roteiro no direito português. Revista de Direito e Economia. n. 15. p. 449-
454. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 1989.
Murcia Sáiz, Eduardo. La valoración médico-legal del perjuicio estético. Revista Portuguesa do Dano Corporal. n. 12.
p. 123. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra/Apadac/Instituto Nacional de Medicina Legal, 2003.
Veloso, Maria Manuel. Danos não patrimoniais. Comemoração dos 35 anos do Código Civil (LGL\2002\400) e dos 25
anos da Reforma de 1977. Coimbra: Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra/Coimbra Ed., 2007. vol. III.
Vicente Domingo, Elena. El resarcimiento de los daños corporales y el baremo de daños personales. In: Borobia
Fernandez, Cesar (org.). Valoración de daños personales causados en los accidentes de circulación. Madrid: La Ley
Actualidad, 1999.
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1 Martins-Costa, Judith. Os danos à pessoa no direito brasileiro e a natureza da sua reparação. Roma e America –
Diritto Romano Comune 10/160.

2 António Pinto Monteiro aduz que “a expressão dano moral tem por si a tradição e, ainda hoje, a simpatia de alguma
doutrina (francesa, sobretudo). (…) A expressão danos não patrimoniais é mais rigorosa do que a expressão danos
morais: por um lado, porque ela faz avultar a característica essencial deste tipo de dano (ou seja, repete-se, a
circunstância de serem danos insusceptíveis de uma avaliação em dinheiro); finalmente, porque é esta característica,
comum a uma categoria (sob outros ângulos) heterogênea de danos, que suscita o problema jurídico fundamental de
sua reparação”. Monteiro, António Pinto. Sobre a reparação dos danos morais. Revista Portuguesa do Dano Corporal
1/19.

3 Cf. Costa, Mário Júlio de Almeida. Direito das obrigações. 10. ed. Coimbra: Almedina, 2006. p. 592.

4 Monteiro, António Pinto. Op. cit., p. 19.

5 Armando Braga assevera que “face aos danos não patrimoniais, mais do que indenizar visa-se compensar, dar uma
satisfação, mitigar, minorar ou atenuar um mal. (…) Procura-se restabelecer o equilíbrio perdido, proporcionando ao
lesado, através do dinheiro, a realização de prazeres e sensações agradáveis que o compensem pelos males
infligidos na sua pessoa. Visa-se compensar a dor com o prazer, dado que ambos traduzem um conjunto de emoções
e sensações do ser humano, enquanto ser físico-psíquico”. Braga, Armando. A reparação do dano corporal na
responsabilidade civil extracontratual. Coimbra: Almedina, 2005. p. 162.

6 Nesse sentido, António Pinto Monteiro: “parece efectivamente de toda a justiça fazer recair sobre o lesante o ‘custo’
do dano não patrimonial sofrido pela vítima. Além da compensação do dano, através da soma em dinheiro que o
lesado recebe, essa prestação pecuniária, a cargo do lesante, acaba por constituir, simultaneamente, uma sanção
pelo dano provocado. E se este último aspecto não é novo, a verdade é que convirá salientar que vem crescendo, na
actualidade (sobretudo na doutrina italiana), o número dos que entendem que a compensação dos danos não
patrimoniais se deve configurar como uma medida mais punitiva do que reparatória, assumindo mesmo, na tese de
alguns autores, a natureza de pena privada”. Monteiro, António Pinto. Op. cit., p. 21.

7 Não se pretende defender, contudo, a possibilidade de cumulação de danos estéticos com danos morais. A
categoria dano estético é autônoma, mas seus reflexos serão sempre de natureza não patrimonial (moral) e,
eventualmente, de repercussão patrimonial (material). Não há, portanto, que se falar em cumulação sob pena de
incorrer em bis in idem. Em sentido contrário, ver: Lopez, Teresa Ancona. O dano estético: responsabilidade civil. 3.
ed. São Paulo: Ed. RT, 2004. p. 165.

8 Eduardo Murcia Sáiz conceitua o dano estético da seguinte forma: “Cuando la secuela consiste en una alteración
anatómica suele conllevar una alteración de la función en mayor o menor grado y, si es perceptible externamente, una
alteración de la forma que modifica la propia visión que el sujeto tiene de sí mismo y la que los demás tienen de él.
Esa modificación peyorativa de su imagen personal es lo que llamamos perjuicio estético. Incluso alteraciones
puramente funcionales pueden traducirse en cambios perceptibles por los demás en la vida de relación (una cojera,
una parálisis facial…)”. Murcia. Sáiz, Eduardo. La valoración médico-legal del perjuicio estético. Revista Portuguesa
do Dano Corporal 12/115.

9 Cf. Idem, p. 123.

10 Cf. Gea Brugada, María; Bares JalóN, Victoria. Perjuicio estético. In: Borobia Fernandez, Cesar (org.). Valoración
de daños personales causados en los accidentes de circulación. Madrid: La Ley Actualidad, 1999. p. 641.

11 Nesse ponto, Eduardo Murcia Sáiz assevera ser a estética uma das funções desempenhadas pelo corpo humano:
“En mi opinión, la forma en que los médicos podemos aproximarnos a la consideración médico-legal de este perjuicio
es la de considerar como una función más del cuerpo humano su estética. Y ello en dos sentidos: por un lado respecto
de sí mismo, la aceptación y la satisfacción con el propio cuerpo y por otro la capacidad de atracción tanto a nivel
social como a nivel sexual”. Murcia Sáiz, Eduardo. Op. cit., p. 116.

12 Eduardo Murcia Saíz aduz que podem existir prejuízos estéticos apreciados por outros sentidos, que não a visão.
O autor espanhol coloca como exemplo, uma lesão que leve a vítima a apresentar um problema de incontinência
urinária. Idem, p. 124.

13 Há quem pondere os danos estéticos de maneira diversa no homem e na mulher. Justificar-se-ia tal tratamento
diferenciado em razões de cunho histórico-social, sendo o prejuízo estético sempre de maior grau quando o indivíduo
lesado for do sexo feminino. Contudo, em função do princípio da igualdade e das hodiernas conjunturas sociais, não

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parece plausível esse tipo de cotejo. Os costumes são outros e não há porque manter essa diferenciação dentro do
atual contexto em que se insere.

14 Cf. DIAS, João António Álvaro. Dano corporal: quadro epistemológico e aspectos ressarcitórios. Coimbra:
Almedina, 2001. p. 377.

15 João António Álvaro Dias acrescenta que “ninguém em perfeito juízo e de recta intenção poderá sustentar que o
dano estético daquele que ganha mais, que tem rendimentos anuais mais elevados, é só por isso superior. Tanto mais
quanto é certo que o nível dos rendimentos pouco tem que ver com a maior ou menor exposição pública do sujeito
lesado e só tendencialmente contende ou poderá contender com a profissão exercida. Daí que nos pareça pouco
criterioso, para não dizer rotundamente insensata, a majoração do dano estético por referência a montantes ou
escalões de rendimento”. Idem, p. 381.

16 Idem, p. 386.

17 Nesse diapasão, Armando Braga assevera: “Devido aos avanços da cirurgia estética e reparadora, há quem
entenda que o dano estético praticamente se reconduz a um dano patrimonial, dada a possibilidade de reversão das
lesões estéticas. O dano estético constituiria, segundo esta óptica, uma lesão reparável e temporária que se resolveria
em perdas e danos, ou seja, segundo as regras relativas à reparação dos danos patrimoniais puros”. Braga, Armando.
Op. cit., p. 68.

18 Teresa Ancona Lopes apresenta, ainda, o art. 949 (“No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor
indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de
algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido”) como principal dispositivo a reger as hipóteses de dano
estético. Lopez, Teresa Ancona. Op. cit., p. 194.

19 Cf. Almeida, Dario Martins de. Manual de acidentes de viação. 3. ed. Coimbra: Almedina, 1987. p. 130-132 apud
Braga, Armando. Op. cit., p. 163.

20 Monteiro, Jorge Sinde. Dano corporal: um roteiro no direito português. Revista de Direito e Economia 15/367.

21 Nesse desiderato, Maria Manuel Veloso aponta que “alguns princípios gerais relativos à obrigação de indenização
também se aplicam aos danos não patrimoniais. É o caso do respeito ao princípio da reparação integral, que exige a
consideração de todas as categorias de dano. Já se nos antolha difícil (ou mesmo desadequada) a aplicação da teoria
da diferença, como decorreria das regras gerais (aliás pela impossibilidade de reparação natural atendendo à
natureza dos bens em causa). A situação hipotética actual, ou seja, a situação em que o lesado estaria se não tivesse
ocorrido a lesão não é tida como referente. Interessa saber como ultrapassar a situação actual, fornecendo os meios
para confrontar, suportar essa situação”. Veloso, Maria Manuel. Danos não patrimoniais. Comemoração dos 35 anos
do Código Civil (LGL\2002\400) e dos 25 anos da Reforma de 1977. Coimbra: Faculdade de Direito da Universidade
de Coimbra/Coimbra Ed., 2007. vol. III, p. 538.

22 Importante é o cotejo exarado por António Santos Abrantes Geraldes acerca da ressarcibilidade dos danos não
patrimoniais de terceiros (na terminologia francesa, chamados de dommages par ricochet) em casos de lesões
corporais. Para o autor, “são ressarcíveis os danos não patrimoniais suportados por pessoas diversas daquela que é
directamente atingida por lesões de natureza física ou psíquica graves, (…) designadamente quando fique
gravemente prejudicada a sua relação com o lesado ou quando as lesões causem neste grave dependência ou perda
de autonomia do lesado”. Geraldes, António Santos Abrantes. Ressarcibilidade dos danos não patrimoniais de
terceiros em caso de lesão corporal. In: Cordeiro, António Menezes (org.). Estudos em homenagem ao Prof. Doutor
Inocêncio Galvão Telles. Coimbra: Almedina, 1998. vol. IV, p. 289.

23 Nesse contexto, são de importância as ilações de Elena Vicente Domingo: “nos encontramos con el principio de la
discrecionalidad judicial en la valoración de los daños, lo que significa que tanto si se detallan las diversas partidas
indemnizatorias y sus correspondientes valoraciones en la demanda, como si no se hace, el juez puede
discrecionalmente valorarlas en conjunto, globalizando en una única cantidad todas ellas, con la indefensión que ello
provoca. Práctica que se ha generalizado y que veda la oportunidad de incrementar sensiblemente la previsibilidad de
cuantías indemnizatorias”. Vicente Domingo, Elena. El resarcimiento de los daños corporales y el baremo de daños
personales. In: Borobia Fernandez, Cesar (org.). Valoración de daños personales causados en los accidentes de
circulación. Madrid: La Ley Actualidad, 1999. p. 7.

24 Dinis, Joaquim José de Sousa. Dano corporal em acidentes de viação. Colectânea de Jurisprudência do Supremo
Tribunal de Justiça. Coimbra: Apadac, 2001. vol. I, p. 11.

25 Observa-se que essa tendência de padronização por meio de tabelas também está sendo seguida em Portugal,
com a introdução no ordenamento jurídico do Dec.-lei 352, de 23.10.2007, que trata das incapacidades oriundas de
acidentes de trabalho. O próprio preâmbulo de tal instrumento normativo já nos oferece a ideia uniformizadora em que

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está pautado. O documento dispõe do seguinte excerto: “De acordo com esta nova tabela, a avaliação da
incapacidade basear-se-á em observações médicas precisas e especializadas, dotadas do necessário senso clínico e
de uma perspectiva global e integrada, fazendo jus à merecida reputação que Portugal tem tido na avaliação do dano
corporal. Com a adopção desta nova tabela visa-se igualmente uma maior precisão jurídica e a salvaguarda da
garantia de igualdade dos cidadãos perante a lei, no respeito do princípio de que devem ter avaliação idêntica as
sequelas que, sendo idênticas, se repercutem de forma similar nas actividades da vida diária. Dado que a reparação
do dano corporal se traduz em regra na fixação de uma indemnização, em virtude da impossibilidade material da
plena restituição ao estado anterior, a instituição desta nova tabela constitui um importante passo com vista à
definição normativa e metodológica para avaliação do dano no domínio da responsabilidade civil, visando simplificar e
dar maior celeridade à fixação do valor das indemnizações, nomeadamente no âmbito do seguro de responsabilidade
civil automóvel”.

26 Em lado paralelo, tem-se que o sopesamento de indenizações por meio da utilização de tabelas tem o condão de
facilitar a previsão de riscos, por parte das seguradoras. Um benefício último, que poderia ser retirado da adoção de
tal sistemática, está adstrito a uma diminuição dos prêmios pagos a título de seguro, em razão de uma maior
previsibilidade (por meio de cálculos atuariais) das situações fáticas cotidianas.

27 Disponível em: [www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp. texto=93679]. Acesso em:


30.09.2011.

28 Veloso, Maria Manuel. Op. cit., p. 553.

29 Nesse mesmo sentido, manifesta-se Teresa Ancona Lopez: “Aqui, muito mais do que na formação da extensão do
dano, o arbítrio do juiz se manifesta e o uso deste poder discricionário talvez ainda seja a melhor maneira de chegar-
se a uma reparação equitativa dos danos não patrimoniais, apesar de outras hipóteses já terem sido aventadas”.
Lopez, Teresa Ancona. Op. cit., p. 135.

30 Aristóteles. Ética à Nicômaco. Trad. Leonel Vallandro e Gerd Bornheim da versão inglesa de W. A. Pickard. São
Paulo: Nova Cultural, 1996. p. 212.

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