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Livro Eletrônico

Aula 00

Direito Penal p/ OAB (2ª fase) XXIII Exame de Ordem - C/ correção de 4 Dissertações e 2 peças

Professor: Renan Araujo


DIREITO PENAL para o XXIII EXAME DA OAB Ð
SEGUNDA FASE
Curso te—rico com corre•‹o de pe•as
Prof. Renan Araujo Ð Aula DEMO
AULA DEMONSTRATIVA: REVISÌO DOS PRINCIPAIS
TîPICOS DE DIREITO PENAL (PARTE I)

SUMçRIO
1. PRINCêPIOS DO DIREITO PENAL ................................................................. 7
1.1 Princ’pio da legalidade .......................................................................... 7
1.1.1 Princ’pio da Reserva Legal ................................................................... 7
1.1.2 Princ’pio da anterioridade da Lei penal .................................................. 9
1.1. Princ’pio da individualiza•‹o da pena .................................................... 9
1.2. Princ’pio da intranscend•ncia da pena ................................................ 10
1.3. Princ’pio da limita•‹o das penas ou da humanidade ........................... 11
1.4. Outros princ’pios do Direito Penal ....................................................... 12
1.4.1. Princ’pio da alteridade (ou lesividade) ................................................. 12
1.4.2. Princ’pio da ofensividade ................................................................... 12
1.4.3. Princ’pio da Adequa•‹o social ............................................................. 12
1.4.4. Princ’pio da Fragmentariedade do Direito Penal .................................... 12
1.4.5. Princ’pio da Subsidiariedade do Direito Penal ........................................ 13
1.4.6. Princ’pio da Interven•‹o m’nima (ou Ultima Ratio) ................................ 13
1.4.7. Princ’pio do ne bis in idem ................................................................. 13
1.4.8. Princ’pio da proporcionalidade ............................................................ 14
1.4.9. Princ’pio da insignific‰ncia (ou da bagatela) ......................................... 14
2. APLICA‚ÌO DA LEI PENAL ......................................................................... 19
2.1. Aplica•‹o da Lei penal no tempo ......................................................... 19
2.1.1. Conflito de Leis penais no Tempo........................................................ 19
2.1.2. Lei nova incriminadora ...................................................................... 19
2.1.3. Lex Gravior ..................................................................................... 20
2.1.4. Abolitio Criminis ............................................................................... 20
2.1.5. Lex Mitior ou Novatio legis in mellius................................................... 21
2.1.6. Lei posterior que traz benef’cios e preju’zos ao rŽu ............................... 21
2.2. Tempo do crime .................................................................................. 23
2.3. Aplica•‹o da lei penal no espa•o ......................................................... 24
2.4. Princ’pio da Territorialidade ................................................................ 25
2.5. Extraterritorialidade............................................................................ 26
3. TEORIA DO DELITO ................................................................................... 28
3.1. Fato t’pico e seus elementos ............................................................... 28
3.1.1. Conduta .......................................................................................... 28
3.1.2. Resultado natural’stico ...................................................................... 30
3.1.3. Nexo de Causalidade ........................................................................ 31
3.1.4. Tipicidade........................................................................................ 31
3.1.5. Crime doloso e crime culposo ............................................................. 37
3.1.6. Crime doloso ................................................................................... 38

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3.1.7. Crime culposo .................................................................................. 40
3.2. Crime consumado, tentado e imposs’vel ............................................. 43
3.2.1. Tentativa ........................................................................................ 43
3.2.2. Crime imposs’vel .............................................................................. 47
3.2.3. Desist•ncia volunt‡ria e arrependimento eficaz .................................... 48
3.2.4. Arrependimento posterior .................................................................. 51
3.3. Ilicitude .............................................................................................. 53
3.3.1. Estado de necessidade ...................................................................... 54
3.3.2. Leg’tima defesa................................................................................ 56
3.3.3. Estrito cumprimento do dever legal ..................................................... 60
3.3.4. Exerc’cio regular de direito ................................................................ 61
3.3.5. Excesso pun’vel ............................................................................... 62
3.4. Culpabilidade ...................................................................................... 62
3.4.1. Imputabilidade penal ........................................................................ 63
3.4.2. Potencial consci•ncia da ilicitude ........................................................ 67
3.4.3. Exigibilidade de conduta diversa ......................................................... 67
3.5. ERRO ................................................................................................... 69
3.5.1. Erro de tipo ..................................................................................... 69
3.5.2. Erro de tipo acidental ........................................................................ 72
3.5.3. Erro de proibi•‹o .............................................................................. 74
4. EXERCêCIOS DA AULA ............................................................................... 76

Ol‡, meus amigos!

Hoje, aqui no ESTRATƒGIA CONCURSOS, daremos in’cio ˆ sua


prepara•‹o para a SEGUNDA FASE DO XXIII EXAME DA OAB. Nossa
‡rea? A melhor, claro: Direito Penal. Vamos estudar muito Direito Penal,
rumo ˆ sua aprova•‹o. A vermelhinha est‡ chegando!!
A prova da segunda fase (prova pr‡tico-profissional) est‡ agendada
para o dia 17 de setembro de 2017, e a Banca, como sabemos, Ž a
FGV.
E a’, povo, preparados para a maratona?
Como Ž de conhecimento comum, o ’ndice de reprova•‹o na prova
da OAB Ž muito elevado. Mais de 80% dos candidatos n‹o consegue
ser aprovado. Para ser mais exato, o ’ndice de aprova•‹o Ž de
17,5% (’ndice hist—rico). ƒ muito pouco!
N‹o conhecer a Banca e n‹o resolver quest›es anteriores talvez
sejam os principais motivos para um ’ndice de reprova•‹o t‹o elevado.
Isso faz com que os candidatos percam tempo estudando temas pouco
importantes. AlŽm disso, quem n‹o conhece a Banca muitas vezes acaba
se enrolando na hora da prova, pois n‹o est‡ acostumado com o ÒestiloÓ
da organizadora.

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No nosso curso iremos adotar uma metodologia que visa a evitar
exatamente estes problemas. Vamos estudar da seguinte forma:
a)! Curso te—rico (em PDF e videoaulas) Ð Analisaremos, nesta
primeira fase, os principais t—picos de Direito Penal e
Processual Penal, que ser‹o desenvolvidos com o
conhecimento pr‡tico-te—rico para atua•‹o do advogado, com
considera•‹o ˆs provas anteriores da OAB. Teremos, ainda,
aulas espec’ficas para a identifica•‹o de pe•as
processuais, nas quais o aluno aprender‡ n‹o s— a identificar as
principais pe•as, mas tambŽm a elaborar, de forma tŽcnica, a
pe•a processual.
b)! Resolu•‹o de TODAS as quest›es discursivas cobradas
pela FGV no Exame da OAB Ð Como a pr‡tica Ž fundamental,
vamos analisar em nosso curso te—rico todas as quest›es
discursivas cobradas anteriormente pela FGV nas provas pr‡tico-
profissionais no exame da OAB.
c)!Corre•›es de Pe•as e Quest›es com Corre•‹o Individual Ð
Ao final da parte te—rica ser‹o organizadas as aulas de
corre•‹o individual. Essa fase do curso ser‡ organizada em
forma de rodadas e ser‡ din‰mica. Ser‹o 2 rodadas, cada uma
delas organizada em tr•s aulas.
Exemplificando:
Aula X.1 (1» rodada)
Apresenta•‹o das propostas.
Cada aula compreender‡ tr•s pe•as pr‡ticas e 12 quest›es
discursivas.

Aula X.2
An‡lise das propostas apresentadas na Aula X.1.
Breves apontamentos te—ricos pertinentes ˆs propostas.
RŽgua de corre•‹o e sugest‹o de resposta para cada pe•a e
quest›es discursivas.

Aula X.3
Devolu•‹o individual da primeira rodada de corre•›es.
Coment‡rios Gerais a respeito da rodada.

Aula Y.1 (2» rodada)


Apresenta•‹o das propostas.
Cada aula compreender‡ tr•s pe•as pr‡ticas e oito quest›es
discursivas.

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Aula Y.2
An‡lise das propostas apresentadas na Aula Y.1.
Breves apontamentos te—ricos pertinentes ˆs propostas.
RŽgua de corre•‹o e sugest‹o de resposta para cada pe•a e
quest›es discursivas.

Aula Y.3
Devolu•‹o individual da primeira rodada de corre•›es.
Coment‡rios gerais a respeito da rodada.

Cada aluno poder‡ escolher das aulas Ò.01Ó, uma pe•a e duas
quest›es para corre•‹o. A elabora•‹o, pelo aluno, das propostas
apresentadas dever‡ ocorrer entre as aulas Ò.01Ó e Ò.02Ó.
A Aula Ò.03Ó marca o encerramento da rodada, com a devolu•‹o
de todas as pe•as, com as corre•›es individuais.
Ao final do curso, cada aluno ter‡ a oportunidade de an‡lise
pessoal do equivalente a duas pe•as e quatro quest›es.

d)! F—rum de dœvidas Ð Por meio do f—rum de dœvidas voc•s


poder‹o entrar em contato comigo para esclarecerem aqueles
pontos que, eventualmente, n‹o tenham sido compreendidos ou
para refor•ar a compreens‹o, etc.

Bom, est‡ na hora de me apresentar a voc•s, n‹o Ž?


Meu nome Ž Renan Araujo, tenho 30 anos, sou Defensor Pœblico
Federal desde 2010, atuando na Defensoria Pœblica da Uni‹o no Rio de
Janeiro, e mestre em Direito Penal pela Faculdade de Direito da
UERJ. Antes, porŽm, fui servidor da Justi•a Eleitoral (TRE-RJ), onde
exerci o cargo de TŽcnico Judici‡rio, por dois anos. Sou Bacharel em
Direito pela UNESA e p—s-graduado em Direito Pœblico pela Universidade
Gama Filho. Fiz o exame da OAB em 2009 e, gra•as a Deus, deu
tudo certo!
Abaixo segue o plano de aulas do curso todo:
!
AULA CONTEòDO DATA

Aula 00 Revis‹o dos principais t—picos de Direito Penal (Parte I) 10/07

Aula 01 Revis‹o dos principais t—picos de Direito Penal (Parte II) 14/07

Aula 02 Revis‹o dos principais t—picos de Direito Penal (Parte III) 18/07

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Aula 03 Revis‹o dos principais t—picos de Direito Penal (Parte IV) 22/07

Revis‹o dos principais t—picos de Direito Processual Penal 26/07


Aula 04
(Parte I)
Revis‹o dos principais t—picos de Direito Processual Penal 30/07
Aula 05
(Parte I)
Aula 06 Pe•as processuais: resposta ˆ acusa•‹o 03/08

Aula 07 Pe•as processuais: a•‹o penal privada 07/08

Aula 08 Pe•as processuais: alega•›es finais por memoriais 11/08

Aula 09 Pe•as processuais: apela•‹o 15/08

Aula 10 Pe•as processuais: recurso em sentido estrito 19/08

Aula 11 Pe•as processuais: outras pe•as 22/08

12.1. Apresenta•‹o das propostas 24/08


12.2. An‡lise das propostas apresentadas na Aula 12.1, 28/08
Aula 12 apontamentos te—ricos, rŽgua e corre•‹o e sugest‹o de
resposta.
12.3. Devolu•‹o individual da primeira rodada de 31/08
corre•›es e coment‡rios Gerais a respeito da rodada.
13.1. Apresenta•‹o das propostas 02/09
13.2. An‡lise das propostas apresentadas na Aula 13.1, 06/09
Aula 13 apontamentos te—ricos, rŽgua e corre•‹o e sugest‹o de
resposta.
13.3. Devolu•‹o individual da segunda rodada de 10/09
corre•›es e coment‡rios Gerais a respeito da rodada.

AlŽm da parte te—rica/pr‡tica, voc•s ter‹o acesso a duas


ferramentas muito importantes:
¥! RESUMOS Ð Cada aula ter‡ um resumo daquilo que foi
estudado, variando de 03 a 10 p‡ginas (a depender do tema),
indo direto ao ponto daquilo que Ž mais relevante! Ideal
para quem est‡ sem muito tempo.
¥! FîRUM DE DòVIDAS Ð N‹o entendeu alguma coisa?
Simples: basta perguntar ao professor Vinicius Silva, que Ž
o respons‡vel pelo F—rum de Dœvidas, exclusivo para os
alunos do curso.

Outro diferencial importante Ž que nosso curso em PDF ser‡


complementado por videoaulas. Nas videoaulas ser‹o apresentados

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alguns pontos considerados mais relevantes da matŽria, seja
atravŽs da apresenta•‹o da teoria seja atravŽs da resolu•‹o de exerc’cios
anteriores, como forma de ajudar na assimila•‹o da matŽria.

No mais, desejo a todos uma boa maratona de estudos!


Prof. Renan Araujo

E-mail: profrenanaraujo@gmail.com

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Observa•‹o importante: este curso Ž protegido por direitos autorais


(copyright), nos termos da Lei 9.610/98, que altera, atualiza e consolida
a legisla•‹o sobre direitos autorais e d‡ outras provid•ncias.

Grupos de rateio e pirataria s‹o clandestinos, violam a lei e prejudicam os


professores que elaboram os cursos. Valorize o trabalho de nossa equipe
adquirindo os cursos honestamente atravŽs do site EstratŽgia Concursos.
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1.!PRINCêPIOS DO DIREITO PENAL

1.1!Princ’pio da legalidade

O princ’pio da legalidade est‡ previsto no art. 5¡, XXXIX da


Constitui•‹o Federal1, e TAMBƒM est‡ previsto no C—digo Penal, em seu
art. 1¡2.
Nas palavras de Cezar Roberto Bitencourt:
Òpelo princ’pio da legalidade, a elabora•‹o de normas incriminadoras Ž fun•‹o
exclusiva da lei, isto Ž, nenhum fato pode ser considerado crime e nenhuma
pena criminal pode ser aplicada sem que antes da ocorr•ncia deste fato
exista uma lei definindo-o como crime e cominando-lhe a san•‹o
correspondente.Ó3
Este princ’pio, quem vem do latim (Nullum crimen sine praevia
lege), estabelece que uma conduta n‹o pode ser considerada criminosa
se antes de sua pr‡tica n‹o havia lei nesse sentido4. Entretanto, o
Princ’pio da Legalidade se divide em dois outros princ’pios, o da
Reserva Legal e o da Anterioridade da Lei Penal. Desta forma, vamos
estud‡-los em t—picos distintos.
1.1.1! Princ’pio da Reserva Legal
O princ’pio da Reserva Legal estabelece que SOMENTE LEI (EM
SENTIDO ESTRITO) pode definir condutas criminosas e estabelecer
san•›es penais (penas e medidas de seguran•a).5
Assim, somente a Lei (editada pelo Poder Legislativo) pode definir
crimes e cominar penas. Logo, Medidas Provis—rias, Decretos, e demais
diplomas legislativos6 NÌO PODEM ESTABELECER CONDUTAS
CRIMINOSAS NEM COMINAR SAN‚ÍES.
Assim, Ž poss’vel que haja viola•‹o ao Princ’pio da legalidade sem
que haja viola•‹o ˆ reserva legal. Entretanto, havendo viola•‹o ˆ reserva
legal, isso implica necessariamente em viola•‹o ao princ’pio da
legalidade, pois aquele Ž parte deste. Lembrem-se: Legalidade =
Reserva legal + Anterioridade da lei penal.

1
XXXIX - n‹o h‡ crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prŽvia comina•‹o
legal;
2
Art. 1¼ - N‹o h‡ crime sem lei anterior que o defina. N‹o h‡ pena sem prŽvia
comina•‹o legal.
3
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal Ð Parte Geral. Ed. Saraiva, 21¼
edi•‹o. S‹o Paulo, 2015, p. 51
4
BITENCOURT, Op. cit., P. 51
5
GOMES, Luiz Flavio. BIANCHINI, Alice. Curso de Direito Penal. JusPodivm. Salvador,
2015, p. 66
6
Inclusive os tratados internacionais, que devem ser incorporados ao nosso
ordenamento jur’dico por meio de Lei. GOMES, Luiz Flavio. BIANCHINI, Alice. Op. cit., p.
67

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O princ’pio da reserva legal implica a proibi•‹o da edi•‹o de leis
vagas, com conteœdo impreciso. Isso porque a exist•ncia de leis cujo
conteœdo n‹o seja claro, que n‹o se sabe ao certo qual conduta est‡
sendo criminalizada, acaba por retirar toda a fun•‹o do princ’pio da
reserva legal, que Ž dar seguran•a jur’dica ˆs pessoas, para que estas
saibam exatamente se as condutas por elas praticadas s‹o, ou n‹o,
crime.
Mas, o que s‹o as normas penais em branco? As normas penais
em branco s‹o aquelas que dependem de outra norma para que sua
aplica•‹o seja poss’vel.
A Doutrina divide, ainda, as normas penais em branco7 em:
¥! Homog•neas (norma penal em branco em sentido amplo) Ð
A complementa•‹o Ž realizada por uma fonte hom—loga, ou
seja, pelo mesmo —rg‹o que produziu a norma penal em
branco.
¥! Heterog•neas (norma penal em branco em sentido estrito)
Ð A complementa•‹o Ž realizada por fonte heter—loga, ou seja,
por —rg‹o diverso daquele que produziu a norma penal em
branco.

AlŽm disso, em raz‹o da reserva legal, em Direito Penal Ž


proibida a analogia in malam partem8, que Ž a analogia em desfavor
do rŽu. Assim, n‹o pode o Juiz criar uma conduta criminosa n‹o prevista
em lei, com base na analogia.
Com rela•‹o ˆ interpreta•‹o extensiva, parte da Doutrina entende
que Ž poss’vel, outra parte entende que, ˆ semelhan•a da analogia in
malam partem, n‹o Ž admiss’vel. A interpreta•‹o extensiva difere da
analogia, pois naquela a previs‹o legal existe, mas est‡ impl’cita. Nesta, a
previs‹o legal n‹o existe, mas o Juiz entende que por ser semelhante a
uma hip—tese existente, deva ser assim enquadrada. Cuidado com essa
diferen•a!
O STF, porŽm, entende que Ž poss’vel a interpreta•‹o extensiva,
mesmo que prejudicial ao rŽu (ainda que n‹o haja uma jurisprud•ncia
s—lida nesse sentido).9
Por se tratar de prova discursiva, porŽm, seria interessante
discorrer sobre ambas as correntes, j‡ que a corrente que defende a
impossibilidade de interpreta•‹o extensiva Ž uma posi•‹o que se coaduna
mais com um Estado Democr‡tico de Direito, pois se a conduta
criminalizada n‹o est‡ clara, a ponto de haver necessidade de
interpreta•‹o extensiva, j‡ houve viola•‹o ˆ reserva legal, pois como

7
BITENCOURT, Op. cit., p. 201/202.
8
BITENCOURT, Op. cit., p. 199/200. No mesmo sentido, GOMES, Luiz Flavio.
BIANCHINI, Alice. Op. cit., p. 101
9
RHC 106481/MS - STF

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vimos, a Lei penal deve ser clara e precisa, de forma que a conduta
incriminada seja facilmente verific‡vel.

1.1.2! Princ’pio da anterioridade da Lei penal


O princ’pio da anterioridade da lei penal estabelece que n‹o basta
que a criminaliza•‹o de uma conduta se d• por meio de Lei em sentido
estrito, mas que esta lei seja anterior ao fato, ˆ pr‡tica da conduta.
O princ’pio da anterioridade da lei penal culmina no princ’pio
da irretroatividade da lei penal. Pode-se dizer, inclusive, que s‹o
sin™nimos. Entretanto, a lei penal pode retroagir. Como assim? Quando
ela beneficia o rŽu, estabelecendo uma san•‹o menos gravosa para o
crime, quando deixa de considerar a conduta como criminosa, ou quando,
por qualquer forma, ameniza a situa•‹o do infrator10. Nesse caso, haver‡
retroatividade da lei penal, pois ela alcan•ar‡ fatos ocorridos ANTES
DE SUA VIGæNCIA.
ATEN‚ÌO! A lei nova mais benŽfica se aplica mesmo que j‡ tenha
havido senten•a penal condenat—ria transitada em julgado. N‹o ser‡
aplicada, porŽm, se j‡ houve a extin•‹o da punibilidade.

Obviamente, se a lei nova, ao invŽs de estabelecer uma pena mais


branda, estabelece que a conduta deixa de ser crime (O que chamamos
de abolitio criminis), TAMBƒM SERç APLICADA AOS FATOS
OCORRIDOS ANTES DE SUA VIGæNCIA, POR SER MAIS BENƒFICA
AO RƒU.11

1.1.! Princ’pio da individualiza•‹o da pena12


A individualiza•‹o da pena ocorre primeiramente pela aplica•‹o da
pena ao pr—prio infrator (princ’pio da personalidade da pena). Mas
simplesmente aplicar a pena ao pr—prio infrator n‹o Ž suficiente para que
a individualiza•‹o da pena esteja assegurada. ƒ necess‡rio, ainda, que a
pena seja aplicada ao infrator de acordo com suas peculiaridades e as
10
BITENCOURT, Op. cit., p. 207/208
11
No caso das Leis tempor‡rias, a lei continuar‡ a produzir seus efeitos mesmo ap—s o
tŽrmino de sua vig•ncia, caso contr‡rio, perderia sua raz‹o de ser. O caso mais cl‡ssico
era o da lei seca para o dia das elei•›es. Nesse dia, o consumo de bebida alco—lica era
proibido durante certo hor‡rio. Ap—s o tŽrmino das elei•›es, a ingest‹o de bebida
alco—lica passava a n‹o ser mais crime novamente. Entretanto, n‹o havia abolitio
criminis, havia apenas o tŽrmino do lapso temporal em que a proibi•‹o vigorava.
Somente haveria abolitio criminis caso a lei que proibia a ingest‹o de bebidas
alco—licas no dia da elei•‹o fosse revogada, o que n‹o ocorreu! Estudaremos melhor este
assunto quando analisarmos a aplica•‹o da Lei Penal no tempo.
12
A Constitui•‹o Federal estabelece, em seu art. 5¡, XLVI:
XLVI - a lei regular‡ a individualiza•‹o da pena e adotar‡, entre outras, as seguintes:

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peculiaridades do caso, para que a pena possa, efetivamente, ser
considerada adequada para alcan•ar suas finalidades preventivas e
retributivas. Esta Ž, propriamente, a individualiza•‹o da pena.
A individualiza•‹o da pena Ž feita em tr•s fases distintas:
Legislativa, judicial e administrativa.13
Na esfera legislativa, a individualiza•‹o da pena se d‡ atravŽs da
comina•‹o de puni•›es proporcionais ˆ gravidade dos crimes, e
com o estabelecimento de penas m’nimas e m‡ximas, a serem aplicadas
pelo Judici‡rio, considerando as circunst‰ncias do fato e as caracter’sticas
do criminoso.
Na fase judicial, a individualiza•‹o da pena Ž feita com base na
an‡lise, pelo magistrado, das circunst‰ncias do crime, dos
antecedentes do rŽu, etc. Nessa fase, a individualiza•‹o da pena sai do
plano meramente abstrato e vai para o plano concreto, devendo o Juiz
fixar a pena de acordo com as peculiaridades do caso (Tipo de pena a ser
aplicada, quantifica•‹o da pena, forma de cumprimento, etc.), tudo para
que ela seja a mais apropriada para cada rŽu, de forma a cumprir seu
papel ressocializador-educativo e punitivo.
Na terceira e œltima fase, a individualiza•‹o Ž feita na execu•‹o da
pena, a parte administrativa. Assim, quest›es como progress‹o de
regime, concess‹o de sa’das eventuais do local de cumprimento
da pena e outras, ser‹o decididas pelo Juiz da execu•‹o penal
tambŽm de forma individual, de acordo com as peculiaridades de cada
detento.14

1.2.! Princ’pio da intranscend•ncia da pena15


Este princ’pio constitucional do Direito Penal est‡ previsto no art. 5¡,
XLV da Constitui•‹o Federal:
XLV - nenhuma pena passar‡ da pessoa do condenado, podendo a
obriga•‹o de reparar o dano e a decreta•‹o do perdimento de bens ser, nos
termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, atŽ o
limite do valor do patrim™nio transferido; (grifo nosso)

13
GOMES, Luiz Flavio. BIANCHINI, Alice. Op. cit., p. 76
14
Por esta raz‹o, em 2006, o STF declarou a inconstitucionalidade do artigo da Lei de
Crimes Hediondos (Lei 8.078/90) que previa a impossibilidade de progress‹o de regime
nesses casos, nos quais o rŽu deveria cumprir a pena em regime integralmente fechado.
O STF entendeu que a terceira fase de individualiza•‹o da pena havia sido suprimida,
violando o princ’pio constitucional.
Outra indica•‹o clara de individualiza•‹o da pena na fase de execu•‹o est‡ no artigo 5¡,
XLVIII da Constitui•‹o, que estabelece o cumprimento da pena em estabelecimentos
distintos, de acordo com as caracter’sticas do preso. Vejamos:
XLVIII - a pena ser‡ cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza
do delito, a idade e o sexo do apenado;
15 TambŽm chamado de princ’pio da personifica•‹o da pena, ou princ’pio da
responsabilidade pessoal da pena, ou princ’pio da pessoalidade da pena.

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Esse princ’pio impede que a pena ultrapasse a pessoa do infrator, ou
seja, que outra pessoa receba a pena aplicada ao infrator.
Entretanto, como voc•s podem extrair da pr—pria reda•‹o do
dispositivo constitucional, isso n‹o impede que os sucessores do
condenado falecido sejam obrigados a reparar os danos civis
causados pelo fato (atŽ o limite do valor da heran•a).
Desta forma, tecnicamente falando, os herdeiros n‹o s‹o
responsabilizados pelo crime, pois n‹o respondem com seu pr—prio
patrim™nio, apenas com o patrim™nio eventualmente deixado pelo de
cujus.
CUIDADO! A multa n‹o Ž Òobriga•‹o de reparar o danoÓ, pois n‹o
se destina ˆ v’tima. A multa Ž espŽcie de PENA e, portanto, n‹o pode ser
executada em face dos herdeiros, ainda que haja transfer•ncia de
patrim™nio. Neste caso, com a morte do infrator, extingue-se a
punibilidade, n‹o podendo ser executada a pena de multa.

1.3.! Princ’pio da limita•‹o das penas ou da humanidade


A Constitui•‹o Federal estabelece em seu art. 5¡, XLVII, que:
XLVII - n‹o haver‡ penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de car‡ter perpŽtuo;
c) de trabalhos for•ados;
d) de banimento;
e) cruŽis;
Podemos perceber, caros alunos, que determinados tipos de pena
s‹o terminantemente proibidos pela Constitui•‹o Federal.
No caso da pena de morte, a Constitui•‹o estabelece uma œnica
exce•‹o: No caso de guerra declarada, Ž poss’vel a aplica•‹o de
pena de morte por crimes cometidos em raz‹o da guerra! Isso n‹o
quer dizer que basta que o pa’s esteja em guerra para que se viabilize a
aplica•‹o da pena de morte em qualquer caso. N‹o pode o legislador, por
exemplo, editar uma lei estabelecendo que os furtos cometidos durante
estado de guerra ser‹o punidos com pena de morte, pois isso n‹o guarda
qualquer razoabilidade. Esta ressalva Ž direcionada precipuamente aos
crimes militares.
A veda•‹o ˆ pena de trabalhos for•ados impede, por exemplo, que o
preso seja obrigado a trabalhar sem remunera•‹o. Assim, ao preso que
trabalha no estabelecimento prisional Ž garantida remunera•‹o mensal e
abatimento no tempo de cumprimento da pena.
A pris‹o perpŽtua tambŽm Ž inadmiss’vel no Direito brasileiro.
Em raz‹o disso, uma lei que preveja a pena m’nima para um crime em 60
anos, por exemplo, estaria violando o princ’pio da veda•‹o ˆ pris‹o
perpŽtua, por se tratar de uma burla ao princ’pio, j‡ que a idade m’nima

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para aplica•‹o da pena Ž 18 anos. Logo, se o preso tiver que ficar, no
m’nimo, 60 anos preso, ele ficar‡ atŽ os 78 anos preso, o que significa,
na pr‡tica, pris‹o perpŽtua.

1.4.! Outros princ’pios do Direito Penal

1.4.1.! Princ’pio da alteridade (ou lesividade)


Este princ’pio preconiza que o fato, para ser MATERIALMENTE
crime, ou seja, para que ele possa ser considerado crime em sua
ess•ncia, ele deve causar les‹o a um bem jur’dico de terceiro. Desse
princ’pio decorre que o DIREITO PENAL NÌO PUNE A AUTOLESÌO.
Assim, aquele que destr—i o pr—prio patrim™nio n‹o pratica crime de dano,
aquele que se lesiona fisicamente n‹o pratica o crime de les›es corporais,
etc.

1.4.2.! Princ’pio da ofensividade


N‹o basta que o fato seja formalmente t’pico (tenha previs‹o legal
como crime) para que possa ser considerado crime. ƒ necess‡rio que este
fato ofenda, de maneira grave, o bem jur’dico pretensamente protegido
pela norma penal. Assim, condutas que n‹o s‹o capazes de afetar o bem
jur’dico s‹o desprovidas de ofensividade e, portanto, n‹o podem ser
consideradas criminosas.16

1.4.3.! Princ’pio da Adequa•‹o social


Prega que uma conduta, ainda quando tipificada em Lei como crime,
quando n‹o afrontar o sentimento social de Justi•a, n‹o seria crime, em
sentido material, por possuir adequa•‹o social (aceita•‹o pela sociedade).
ƒ o que acontece, por exemplo, com o crime de adultŽrio, que foi
recentemente revogado. Atualmente a sociedade n‹o entende mais o
adultŽrio como um fato criminoso, mas algo que deva ser resolvido entre
os particulares envolvidos.

1.4.4.! Princ’pio da Fragmentariedade do Direito Penal


Estabelece que nem todos os fatos considerados il’citos pelo Direito
devam ser considerados como infra•‹o penal, mas somente aqueles
que atentem contra bens jur’dicos EXTREMAMENTE RELEVANTES. Ou

16
DÕçVILA, F‡bio Roberto. Ofensividade em Direito Penal: Escritos sobre a teoria do
crime como ofensa a bens jur’dicos. Porto Alegre: Ed. Livraria do Advogado, 2009. p. 67.

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seja, o Direito Penal s— deve tutelar bens jur’dicos de grande relev‰ncia
social.17

1.4.5.! Princ’pio da Subsidiariedade do Direito Penal


Estabelece que o Direito Penal n‹o deve ser usado a todo momento,
como regra geral, e sim como uma ferramenta subsidi‡ria, ou seja,
dever‡ ser utilizado apenas quando os demais ramos do Direito
n‹o puderem tutelar satisfatoriamente o bem jur’dico que se
busca proteger.18

1.4.6.! Princ’pio da Interven•‹o m’nima (ou Ultima Ratio)


Este princ’pio decorre do car‡ter fragment‡rio e subsidi‡rio do Direito
Penal. Este Ž um princ’pio limitador do poder punitivo estatal, que
estabelece uma regra a ser seguida para conter poss’veis arb’trios do
Estado.
Assim, por for•a deste princ’pio, num sistema punitivo, como Ž o
Direito Penal, a criminaliza•‹o de condutas s— deve ocorrer quando se
caracterizar como meio absolutamente necess‡rio ˆ prote•‹o de bens
jur’dicos ou ˆ defesa de interesses cuja prote•‹o, pelo Direito Penal,
seja absolutamente indispens‡vel ˆ coexist•ncia harm™nica e
pac’fica da sociedade.
Embora n‹o esteja previsto na Constitui•‹o, nem na legisla•‹o
infraconstitucional, decorre da pr—pria l—gica do sistema jur’dico-penal.
Tem como principais destinat‡rios o legislador e, subsidiariamente, o
operador do Direito. O primeiro Ž instado a n‹o criminalizar condutas que
possam ser resolvidas pelos demais ramos do Direito (Menos dr‡sticos). O
operador do Direito, por sua vez, Ž incumbido da tarefa de, no caso
concreto, deixar de realizar o ju’zo de tipicidade material. Resumindo: O
Direito Penal Ž a œltima op•‹o para um problema (Ultima ratio).19

1.4.7.! Princ’pio do ne bis in idem


Por este princ’pio entende-se que uma pessoa n‹o pode ser punida
duplamente pelo mesmo fato. AlŽm disso, estabelece que uma pessoa
n‹o possa, sequer, ser processada duas vezes pelo mesmo fato.

17
BECHARA, Ana Elisa Liberatore Silva. Bem jur’dico-penal. Ed. Quartier Latin. S‹o
Paulo, 2014, p. 77.
18
ROXIN, Claus. Derecho penal, parte general: Tomo I. Civitas. Madrid, 1997, p. 65.
19
TOLEDO, Francisco de Assis. Princ’pios b‡sicos de Direito Penal. S‹o Paulo: Ed.
Saraiva, 1994. p. 13-14.

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1.4.8.! Princ’pio da proporcionalidade
Este princ’pio determina que as penas devem ser aplicadas de
maneira proporcional ˆ gravidade do fato. Mais que isso: Estabelece que
as penas devem ser COMINADAS (previstas) de forma a dar ao infrator
uma san•‹o proporcional ao fato abstratamente previsto. Assim, se o CP
previsse que o crime de homic’dio teria como pena m‡xima dois anos de
reclus‹o, e que o crime de furto teria como pena m‡xima quatro anos de
reclus‹o, estaria, claramente, violado o princ’pio da proporcionalidade.

1.4.9.! Princ’pio da insignific‰ncia (ou da bagatela)


As condutas que ofendam minimamente os bens jur’dico-penais
tutelados n‹o podem ser consideradas crimes, pois n‹o s‹o capazes de
lesionar de maneira eficaz o sentimento social de paz20. Imagine um furto
de um pote de manteiga, dentro de um supermercado. Nesse caso, a
les‹o Ž insignificante, devendo a quest‹o ser resolvida no ‰mbito civil
(dever de pagar pelo produto furtado). Agora imagine o furto de um
sandu’che que era de propriedade de um morador de rua, seu œnico
alimento. Nesse caso, a les‹o Ž grave, embora o bem seja do mesmo
valor que anterior. Tudo deve ser avaliado no caso concreto. Para o STF,
os requisitos OBJETIVOS para a aplica•‹o deste princ’pio s‹o:
¥! M’nima ofensividade da conduta;
¥! Aus•ncia de periculosidade social da a•‹o;
¥! Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento;
¥! Inexpressividade da les‹o jur’dica.
O STJ, no entanto, entende que, alŽm destes, existem ainda
requisitos de ordem subjetiva:
¥! Import‰ncia do objeto material do crime para a v’tima, de
forma a verificar se, no caso concreto, houve ou n‹o, de fato,
les‹o;

Na verdade, esse requisito n‹o passa de uma an‡lise mais


aprofundada do œltimo dos requisitos objetivos estabelecidos pelo STF.
Sendo aplicado este princ’pio, n‹o h‡ tipicidade, eis que ausente um
dos elementos da tipicidade, que Ž a TIPICIDADE MATERIAL,
consistente no real potencial de que a conduta produza alguma les‹o ao
bem jur’dico tutelado. Resta, portanto, somente a tipicidade formal
(subsun•‹o entre a conduta e a previs‹o contida na lei), o que Ž
insuficiente.
Este princ’pio possui aplica•‹o a todo e qualquer delito, e n‹o
somente aos de ’ndole patrimonial, embora o STJ entenda n‹o se
aplicar aos crimes contra a administra•‹o pœblica, por se resguardar
20
BITENCOURT, Op. cit., p. 60

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n‹o s— o patrim™nio, mas a moralidade administrativa. O STF, no
entanto, n‹o recha•a absolutamente a hip—tese, havendo decis›es
nas quais se admitiu a aplica•‹o deste princ’pio a crimes contra a
administra•‹o pœblica21, desde que presentes os requisitos citados.
Os Tribunais superiores n‹o aceitam a aplica•‹o deste princ’pio,
ainda, no que se refere aos crimes praticados com viol•ncia ou grave
amea•a ˆ pessoa.22
Podemos resumir o entendimento Jurisprudencial no seguinte
quadro:
M’nima ofensividade OBS: ƒ aplic‡vel aos
da conduta crimes praticados
contra a administra•‹o
Aus•ncia de pœblica, desde que
periculosidade social
presentes os requisitos
da a•‹o citados (STF).
PRINCêPIO DA Reduzido grau de OBS²: O STJ entende
INSIGNIFICåNCIA reprovabilidade da que n‹o se aplica aos
conduta crimes contra a
(Requisitos)
administra•‹o pœblica.
Inexpressividade da
les‹o jur’dica
Import‰ncia do SOMENTE PARA O
objeto material para STJ
a v’tima*

CUIDADO! Em rela•‹o ao crime de descaminho h‡ um entendimento


pr—prio, no sentido de que Ž CABêVEL o princ’pio da insignific‰ncia, pois
apesar de se encontrar entre os crimes contra a administra•‹o pœblica,
trata-se de crime contra a ordem tribut‡ria. O patamar a ser considerado
para fins de insignific‰ncia, em rela•‹o a tal delito, Ž de R$ 10.000,00,
segundo o STJ, e R$ 20.000,00, segundo o STF.

CUIDADO MASTER! A reincid•ncia Ž uma circunst‰ncia que pode


afastar a aplica•‹o do princ’pio da insignific‰ncia. Contudo, esse
afastamento Ž discutido na jurisprud•ncia. A QUINTA TURMA do STJ

21
(...) Habeas Corpus. 2. Subtra•‹o de objetos da Administra•‹o Pœblica,
avaliados no montante de R$ 130,00 (cento e trinta reais). 3. Aplica•‹o do
princ’pio da insignific‰ncia, considerados crime contra o patrim™nio pœblico.
Possibilidade. Precedentes. 4. Ordem concedida.
(HC 107370, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em
26/04/2011, DIVULG 21-06-2011 PUBLIC 22-06-2011)
22
STF, RHC 106.360/DF, Rel. Ministra ROSA WEBER, Primeira Turma, DJe de
3/10/2012

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possui entendimento no sentido de que n‹o cabe aplica•‹o deste
princ’pio se o rŽu Ž reincidente (RHC 48.510/MG, Rel. Ministro FELIX
FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 07/10/2014, DJe 15/10/2014). A
SEXTA TURMA entende que a reincid•ncia, por si s—, n‹o Ž apta a
afastar a aplica•‹o do princ’pio (AgRg no AREsp 490.599/RS, Rel. Ministro
SEBASTIÌO REIS JòNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 23/09/2014, DJe
10/10/2014), havendo decis›es, contudo, no sentido de que a
reincid•ncia espec’fica (ou seja, reincid•ncia em crimes contra o
patrim™nio) afastaria a aplica•‹o do princ’pio (RHC 43.864/MG, Rel.
Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em
07/10/2014, DJe 17/10/2014).
O STF, por sua vez, firmou entendimento no sentido de que somente a
reincid•ncia espec’fica (pr‡tica reiterada de crimes da mesma
espŽcie) afastaria a aplica•‹o do princ’pio da insignific‰ncia:
(...) Afirmou, ademais, que, considerada a teoria da reitera•‹o n‹o cumulativa de
condutas de g•neros distintos, a contum‡cia de infra•›es penais que n‹o t•m o
patrim™nio como bem jur’dico tutelado pela norma penal (a exemplo da les‹o corporal)
n‹o poderia ser valorada como fator impeditivo ˆ aplica•‹o do princ’pio da
insignific‰ncia, porque ausente a sŽria les‹o ˆ propriedade alheia. HC 114723/MG,
rel. Min. Teori Zavascki, 26.8.2014. (HC-114723) Ð Informativo 756 do STF
Objetivamente, sugiro adotar o entendimento do STF: apenas a
reincid•ncia espec’fica Ž capaz de afastar a aplica•‹o do princ’pio da
insignific‰ncia.23

(FGV - OAB - XI EXAME DE ORDEM - PROVA DISCURSIVA)


O MinistŽrio Pœblico ofereceu denœncia contra Lucile, imputando-
lhe a pr‡tica da conduta descrita no Art. 155, caput, do CP. Narrou
a inicial acusat—ria que, no dia 18/10/2012, Lucile subtraiu, sem
viol•ncia ou grave amea•a, de um grande estabelecimento
comercial do ramo de venda de alimentos dois litros de leite e
uma sacola de verduras, o que totalizou a quantia de R$10,00
(dez reais). Todas as exig•ncias legais foram satisfeitas: a
denœncia foi recebida, foi oferecida suspens‹o condicional do
processo e foi apresentada resposta ˆ acusa•‹o.
O magistrado, entretanto, ap—s convencer-se pelas raz›es
invocadas na referida resposta ˆ acusa•‹o, entende que a fato Ž
at’pico.

23
Existem decis›es recentes do STF no sentido de que cabe ao Juiz de primeira inst‰ncia
analisar, caso a caso, a pertin•ncia da aplica•‹o do princ’pio. Como s‹o decis›es muito
recentes, ainda n‹o Ž poss’vel afirmar que forma uma nova jurisprud•ncia, de forma que
Ž mais prudente aguardar a consolida•‹o deste entendimento.

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Nesse sentido, tendo como base apenas as informa•›es contidas
no enunciado, responda, justificadamente, aos itens a seguir.
A) O que o magistrado deve fazer? Indique o fundamento legal.
B) Qual Ž o elemento ausente que justifica a alegada atipicidade?
COMENTçRIOS:
A) O Juiz deve absolver sumariamente Lucile, nos termos do art. 397, III
do CPP.
Vamos falar um pouco sobre a absolvi•‹o sum‡ria, para que voc•s
possam compreender o caso.
A absolvi•‹o sum‡ria Ž uma das provid•ncias que o Juiz pode tomar
depois de apresentada a resposta a acusa•‹o.
Estando a a•‹o penal em ordem, ou seja, tendo preenchido todos os
requisitos, o Juiz a receber‡, ordenando a cita•‹o do acusado. Vejamos o
que disp›e o art. 396 do CPP:
Art. 396. Nos procedimentos ordin‡rio e sum‡rio, oferecida a denœncia ou
queixa, o juiz, se n‹o a rejeitar liminarmente, receb•-la-‡ e ordenar‡ a
cita•‹o do acusado para responder ˆ acusa•‹o, por escrito, no prazo de 10
(dez) dias. (Reda•‹o dada pela Lei n¼ 11.719, de 2008).
Anteriormente ˆ reforma promovida pela Lei 11.719/08, A RESPOSTA
Ë ACUSA‚ÌO (nome que se d‡ ˆ defesa do rŽu) era uma mera peti•‹o
vazia, sem qualquer conteœdo, limitando-se a informar que, no momento
oportuno, o rŽu provaria a sua inoc•ncia.
Ap—s a reforma, a resposta ˆ acusa•‹o passou a ser uma grande
arma em favor do acusado, que poder‡ alegar tudo quanto for a seu
favor. Vejamos o que diz o art. 396-A do CPP:
Art. 396-A. Na resposta, o acusado poder‡ argŸir preliminares e alegar tudo o
que interesse ˆ sua defesa, oferecer documentos e justifica•›es, especificar
as provas pretendidas e arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo
sua intima•‹o, quando necess‡rio. (Inclu’do pela Lei n¼ 11.719, de 2008).

N‹o apresentando resposta nem constituindo defensor, o Juiz


nomear‡ defensor ao acusado, na forma do ¤2¡ do art. 396-A:
¤ 2o N‹o apresentada a resposta no prazo legal, ou se o acusado, citado, n‹o
constituir defensor, o juiz nomear‡ defensor para oferec•-la, concedendo-lhe
vista dos autos por 10 (dez) dias. (Inclu’do pela Lei n¼ 11.719, de 2008).

Portanto, fica claro que a resposta acusa•‹o Ž uma pe•a


OBRIGATîRIA em todo PROCESSO CRIMINAL, n‹o podendo ser
dispensada.
AlŽm disso, se mesmo tendo o acusado constitu’do advogado este
n‹o apresentar a defesa, o Juiz dever‡, de of’cio, remeter os autos ˆ
Defensoria Pœblica (se houver na localidade. Se n‹o houver, dever‡
nomear um defensor dativo) para que apresente a defesa em favor do
acusado.

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Isto se d‡ porque a defesa tŽcnica Ž absolutamente indispens‡vel, e
sua aus•ncia gera nulidade. Assim, a n‹o apresenta•‹o da resposta ˆ
acusa•‹o (principal pe•a defensiva) n‹o pode ser admitida, de forma que
se o rŽu n‹o providenciar sua apresenta•‹o (por meio de seu advogado),
o Juiz dever‡ faz•-lo.
O STF, inclusive, possui entendimento sumulado no sentido de que a
aus•ncia de defesa tŽcnica Ž causa de nulidade ABSOLUTA:
Sœmula 523 do STF - "No processo penal, a falta de defesa constitui
nulidade absoluta, mas a sua defici•ncia s— o anular‡ se houver prova de preju’zo para o
rŽu."

Como assim Òsua defici•nciaÓ? Ora, Ž poss’vel que o advogado


constitu’do pelo rŽu (ou nomeado pelo Juiz, quando o rŽu n‹o constituir
advogado) apresente uma defesa processual absolutamente vaga,
genŽrica, sem apontar efetivamente os pontos favor‡veis ˆ defesa, sem
adotar as ferramentas necess‡rias para se obter uma decis‹o favor‡vel
ao acusado, ou seja, uma defesa absolutamente negligente.
Nesse caso, teremos uma defesa que pode ser considerada
ÒdeficienteÓ. Em havendo constata•‹o da exist•ncia de uma defesa
deficiente o Juiz poder‡, de of’cio, intimar o acusado para que
constitua um novo advogado (se a defesa atual est‡ sendo realizada
por um advogado constitu’do) ou nomear um novo defensor dativo (se
a defesa atualmente estiver sendo realizada por um defensor dativo)24.
Isso se d‡ porque cabe ao Juiz evitar a ocorr•ncia de futuras nulidades
processuais. Como vimos pelo enunciado do verbete de n¼ 523 da sœmula
do STF, eventual defici•ncia na defesa poder‡ conduzir ˆ declara•‹o de
nulidade processual, desde que fique demonstrado que houve preju’zo ao
acusado (ƒ poss’vel que, mesmo diante da defici•ncia, ele seja absolvido,
por exemplo, e a’ n‹o ter’amos preju’zo).
Ap—s a apresenta•‹o da resposta do rŽu o Juiz poder‡:
ü! Absolver sumariamente o rŽu;
ü! Reconhecer algum v’cio na a•‹o penal, extinguindo o
processo;
ü! Dar sequ•ncia ao processo, designando data para
audi•ncia de instru•‹o e julgamento.
24
Entendimento externado pelo STJ em diversas oportunidades. Segue, como exemplo:
Ò(...) 4. O procedimento adotado pelo Ju’zo - consistente na intima•‹o do rŽu para
que constitu’sse novo defensor e, caso contr‡rio, fosse-lhe oportunizado
defensor dativo, encontra-se em perfeita conson‰ncia com as regras de
processo. Descabido, assim, o reconhecimento de tal nulidade, principalmente,
se o acusado concordou com a nomea•‹o do caus’dico.
(...)
7. Ordem de habeas corpus n‹o conhecida.
(HC 205.137/PA, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 06/02/2014,
DJe 26/02/2014)

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O Juiz dever‡ absolver sumariamente o rŽu quando:


Art. 397. Ap—s o cumprimento do disposto no art. 396-A, e par‡grafos, deste
C—digo, o juiz dever‡ absolver sumariamente o acusado quando verificar:
(Reda•‹o dada pela Lei n¼ 11.719, de 2008).
I - a exist•ncia manifesta de causa excludente da ilicitude do fato; (Inclu’do
pela Lei n¼ 11.719, de 2008).
II - a exist•ncia manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente,
salvo inimputabilidade; (Inclu’do pela Lei n¼ 11.719, de 2008).
III - que o fato narrado evidentemente n‹o constitui crime; ou (Inclu’do pela Lei
n¼ 11.719, de 2008).
IV - extinta a punibilidade do agente. (Inclu’do pela Lei n¼ 11.719, de 2008).

Percebam que o Juiz absolver‡ sumariamente o rŽu sempre que,


ap—s o prazo para resposta, verificar que o FATO NÌO CONSTITUI
CRIME, ou ainda, que est‡ presente alguma causa de exclus‹o da
ilicitude, da culpabilidade (salvo inimputabilidade) ou extintiva da
punibilidade.
Vejam, portanto, que em caso de atipicidade da conduta, como Ž o caso
da quest‹o, a hip—tese Ž de absolvi•‹o sum‡ria, eis que, uma vez sendo
at’pica a conduta, n‹o h‡ o primeiro dos elementos que configuram o
delito (o fato t’pico).
B) O fato Ž at’pico por aus•ncia de tipicidade material. No caso em tela,
atŽ h‡ tipicidade formal, pois a conduta se amolda ao tipo penal do delito
de furto (art. 155 do CP). N‹o h‡, contudo, a chamada Òtipicidade
materialÓ, que s— se configura quando h‡ efetiva les‹o (ou amea•a de
les‹o, nos crimes de perigo) ao bem jur’dico tutelado pela norma penal.
A aus•ncia de lesividade ao bem jur’dico (patrim™nio), no caso, decorre
do princ’pio insignific‰ncia, que Ž aplic‡vel ˆ hip—tese.

2.!APLICA‚ÌO DA LEI PENAL

2.1.! Aplica•‹o da Lei penal no tempo

2.1.1.! Conflito de Leis penais no Tempo


Ocorrendo a revoga•‹o de uma lei penal por outra, algumas
situa•›es ir‹o ocorrer, e as consequ•ncias de cada uma delas depender‹o
da natureza da norma revogadora.

2.1.2.! Lei nova incriminadora


Nesse caso, a lei nova atribui car‡ter criminoso ao fato. Ou seja, atŽ
ent‹o, o fato n‹o era crime. Nesse caso, a solu•‹o Ž bastante simples: A

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lei nova produzir‡ efeitos a partir de sua entrada em vigor, como
toda e qualquer lei, seguindo a regra geral da atividade da lei.

2.1.3.! Lex Gravior25


Aqui, a lei posterior n‹o inova no que se refere ˆ natureza criminosa
do fato, pois a lei anterior j‡ estabelecia que o fato era considerado
criminoso. No entanto, a lei nova estabelece uma situa•‹o mais
gravosa ao rŽu.
Frise-se que a lei nova ser‡ considerada mais gravosa ainda que n‹o
aumente a pena prevista para o crime. Basta que traga qualquer
preju’zo ao rŽu26, como forma de cumprimento da pena, redu•‹o ou
elimina•‹o de benef’cios, etc.

2.1.4.! Abolitio Criminis


A abolitio criminis ocorre quando uma lei penal incriminadora vem
a ser revogada por outra, que prev• que o fato deixa de ser considerado
crime.
EXEMPLO: Suponhamos que a Lei ÒAÓ preveja que Ž crime dirigir ve’culo
automotor sob a influ•ncia de ‡lcool. Vindo a Lei ÒBÓ a determinar que
dirigir ve’culo automotor sob a influ•ncia de ‡lcool n‹o Ž crime, ocorreu o
fen™meno da abolitio criminis.

Nesse caso, como a lei posterior deixa de considerar o fato


crime, ela produzir‡ efeitos retroativos, alcan•ado os fatos
praticados mesmo antes de sua vig•ncia, em homenagem ao art. 5,
XL da Constitui•‹o Federal e ao art. 2¡ do C—digo Penal27.
ƒ claro que quando uma lei deixa de considerar um determinado fato
como crime, ela est‡ beneficiando aquele praticou o fato e que,
porventura, esteja respondendo criminalmente por ele, ou atŽ mesmo,
cumprindo pena em decorr•ncia da condena•‹o pelo fato.
Em casos tais, ocorre o que se chama de retroatividade da Lei
Penal, que passa a produzir efeitos sobre fatos ocorridos anteriormente ˆ
sua vig•ncia.28

25
TambŽm chamada de ou Novatio Legis in Pejus ou Lei nova mais gravosa.
26
BITENCOURT, Op. cit., p. 208
27
Art. 5¼ (...)
XL - a lei penal n‹o retroagir‡, salvo para beneficiar o rŽu;
[...]
Art. 2¼ - NinguŽm pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime,
cessando em virtude dela a execu•‹o e os efeitos penais da senten•a condenat—ria.
28
N‹o confundam abolitio criminis com continuidade t’pico-normativa. Em alguns
casos, embora a lei nova revogue um determinado artigo que previa um tipo penal, ela

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2.1.5.! Lex Mitior ou Novatio legis in mellius


A Lex mitior, ou novatio legis in mellius, ocorre quando uma lei
posterior revoga a anterior trazendo uma situa•‹o mais benŽfica
ao rŽu. Nesse caso, em homenagem ao art. 5, XL da Constitui•‹o, j‡
transcrito, a lei nova retroage para alcan•ar os fatos ocorridos
anteriormente ˆ sua vig•ncia. Essa previs‹o est‡ contida tambŽm no art.
2¡, ¤ œnico do CP29.
Vejam que o C—digo Penal estabelece que a aplica•‹o da lei nova
se dar‡ ainda que o fato (crime) j‡ tenha sido julgado por
senten•a transitada em julgado.

2.1.6.! Lei posterior que traz benef’cios e preju’zos ao rŽu


Pode ocorrer, no entanto, que a lei nova tenha alguns pontos mais
favor‡veis e outros mais prejudiciais ao rŽu.
EXEMPLO: Suponhamos que Maria tenha praticado crime de furto, cuja
pena Ž de 1 a 04 anos de reclus‹o, e multa. Posteriormente, sobrevŽm
uma lei que estabelece que a pena passa a ser de 02 a 06 anos de
deten•‹o, sem multa. Percebam que a lei nova Ž mais benŽfica pois
extinguiu a pena de multa, e estabeleceu o regime de deten•‹o,
mas Ž mais gravosa pois aumentou a pena m’nima e a pena
m‡xima.

Nesse caso, como avaliar se a lei Ž mais benŽfica ou mais


gravosa? E mais, ser‡ que Ž poss’vel combinar as duas leis para se achar
a solu•‹o mais benŽfica para o rŽu? Duas correntes se formaram:
1¡ corrente: N‹o Ž poss’vel combinar as leis penais para se extrair
os pontos favor‡veis de cada uma delas, pois o Juiz estaria criando uma
terceira lei (Lex tertia), o que seria uma viola•‹o ao princ’pio da
Separa•‹o dos Poderes, j‡ que n‹o cabe ao Judici‡rio legislar. Essa Ž a
TEORIA DA PONDERA‚ÌO UNITçRIA ou GLOBAL.
2¡ corrente: ƒ poss’vel a combina•‹o das duas leis, de forma a
selecionar os institutos favor‡veis de cada uma delas, sem que com isso
se esteja criando uma terceira lei, pois o Juiz s— estaria agindo dentro dos
limites estabelecidos pelo pr—prio legislador. Essa Ž a TEORIA DA
PONDERA‚ÌO DIFERENCIADA.

simultaneamente insere esse fato dentro de outro tipo penal.28 Neste caso n‹o h‡
abolitio criminis, pois a conduta continua sendo considerada crime, ainda que por outro
tipo penal.
29
Art. 2¼ (...)
Par‡grafo œnico - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se
aos fatos anteriores, ainda que decididos por senten•a condenat—ria transitada em
julgado.

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O STF, embora tenha vacilado em alguns momentos, firmou
entendimento no sentido de que deve ser adotada a TEORIA DA
PONDERA‚ÌO UNITçRIA30, devendo ser aplicada apenas uma das leis,
em homenagem aos princ’pios da reserva legal e da separa•‹o dos
Poderes do Estado. O STJ sempre adotou esta posi•‹o31.

E quem deve aplicar a nova lei penal mais benŽfica ou a nova


lei penal abolitiva? O Supremo Tribunal Federal (STF) firmou
entendimento no sentido de que DEPENDE DO MOMENTO:
¥! Processo ainda em curso Ð Compete ao Ju’zo que est‡
conduzindo o processo
¥! Processo j‡ transitado em julgado Ð Compete ao Ju’zo da
execu•‹o penal.
Nos termos da sœmula 611 do STF:
SòMULA N¼ 611
Transitada em julgado a senten•a condenat—ria, compete ao Ju’zo das
execu•›es a aplica•‹o da lei mais benigna.

Mas e se a lei nova for revogada por outra lei mais gravosa?
Nesse caso, a lei mais gravosa n‹o se aplicar‡ aos fatos regidos pela lei
mais benŽfica, pois isso seria uma retroatividade da lei em preju’zo do
rŽu. No momento em que a lei intermedi‡ria (a que revogou, mas foi
revogada) entrou em vigor, passou a reger os fatos ocorridos antes de
sua vig•ncia. Sobrevindo lei posterior mais grave, aplica-se a regra geral
da irretroatividade da Lei em rela•‹o a esta œltima.
Assim, a lei intermedi‡ria produzir‡ efeitos mesmo ap—s sua
revoga•‹o (em rela•‹o aos fatos praticados durante sua vig•ncia e ANTES
de sua vig•ncia). Nesse caso, diz-se que h‡ a ULTRATIVIDADE DA
LEI.32

30
Entretanto, no julgamento do RE 596152/SP, o STF adotou posi•‹o contr‡ria, ou seja,
permitiu a combina•‹o de leis. Trata-se de uma decis‹o isolada, portanto, n‹o
caracteriza uma Òjurisprud•nciaÓ de verdade.
31
E de forma a consolidar sua tese, o STJ editou o verbete n¼ 501 de sua sœmula
de jurisprud•ncia, entendendo, relativamente aos crimes da lei de drogas, a
impossibilidade de combina•‹o de leis. Vejamos:
SòMULA N¼ 501
ƒ cab’vel a aplica•‹o retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da
incid•ncia das suas disposi•›es, na ’ntegra, seja mais favor‡vel ao rŽu do que o
advindo da aplica•‹o da Lei n. 6.368/1976, sendo vedada a combina•‹o de leis.

32
Quando a lei Ž aplicada fora de seu per’odo de vig•ncia, diz-se que h‡ extratividade. A
extratividade pode ocorrer em raz‹o da ultratividade ou da retroatividade, a depender do
caso. A extratividade, portanto, Ž um g•nero, que comporta duas espŽcies:
retroatividade e ultratividade. BITENCOURT, Op. cit., p. 207/209

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Excepcional Ž a situa•‹o das leis intermitentes, que se dividem em
leis excepcionais e leis tempor‡rias. As leis excepcionais s‹o
aquelas que s‹o produzidas para vigorar durante determinada situa•‹o.
Por exemplo, estado de s’tio, estado de guerra, ou outra situa•‹o
excepcional. Lei tempor‡ria Ž aquela que Ž editada para vigorar durante
determinado per’odo, certo, cuja revoga•‹o se dar‡ automaticamente
quando se atingir o termo final de vig•ncia, independentemente de se
tratar de uma situa•‹o normal ou excepcional do pa’s.
No caso destas leis, dado seu car‡ter transit—rio, o fato de estas
leis virem a ser revogadas Ž irrelevante! Isso porque a revoga•‹o Ž
decorr•ncia natural do tŽrmino do prazo de vig•ncia da lei. Assim, aquele
que cometeu o crime durante a vig•ncia de uma destas leis
responder‡ pelo fato, nos moldes em que previsto na lei, mesmo
ap—s o fim do prazo de dura•‹o da norma.33
2.2.! Tempo do crime
Para podermos aplicar corretamente a lei penal, Ž necess‡rio saber
quando se considerada praticado o delito. Tr•s teorias buscam explicar
quando se considera praticado o crime:
1)! Teoria da atividade Ð O crime se considera praticado quando da
a•‹o ou omiss‹o, n‹o importando quando ocorre o resultado. ƒ a
teoria adotada pelo art. 4¡ do C—digo Penal, vejamos:

33
CUIDADO! Sempre se entendeu que a posterior revoga•‹o da lei tempor‡ria n‹o
afetaria os fatos praticados durante sua vig•ncia. Isso deve ser analisado com cautela.
Existem duas hip—teses absolutamente distintas.
EXEMPLO Ð Existe uma Lei ÒAÓ que diz que Ž crime vender qualquer cerveja que n‹o
seja a cerveja ÒredondaÓ durante a realiza•‹o da Copa do Mundo no Brasil. Essa lei tem
dura•‹o prevista atŽ o dia da final da Copa. JosŽ foi preso em flagrante, durante uma
das semifinais da Copa do Mundo, vendendo a cerveja ÒquadradaÓ e, portanto,
praticando o crime previsto na Lei ÒAÓ.
Dessa situa•‹o, duas hip—teses podem ocorrer:
01 Ð A Lei ÒAÓ deixa de vigorar naturalmente porque se prazo de validade expirou Ð
Nenhuma consequ•ncia pr‡tica em favor de JosŽ, pois a expira•‹o da validade Ž o
processo natural da lei penal tempor‡ria.
02 Ð O Governo entende que Ž um absurdo criminalizar tais condutas que, na verdade,
tem como œnica finalidade proteger interesses econ™micos de particulares e, em raz‹o,
disso, edita uma nova Lei (ap—s a expira•‹o da lei tempor‡ria) que prev• a
descriminaliza•‹o da conduta incriminada Ð Nesse caso, teremos abolitio criminis, e isso
ter‡ efeitos pr‡ticos para JosŽ. O mesmo ocorreria se o Governo, ao invŽs de proceder ˆ
descriminaliza•‹o da conduta, tivesse abrandado a pena (lex mitior). Essa lei iria
retroagir.
CUIDADO! Eu j‡ vi este tema ser abordado das mais diversas formas. J‡ vi Banca
entendendo que a lei tempor‡ria ser‡ aplicada mesmo que sobrevenha lei nova, abolindo
o crime. Isso Ž complicado, porque traz inseguran•a ao candidato. Contudo, a’ vai meu
conselho: Lei tempor‡ria produz efeitos ap—s sua revoga•‹o ÒnaturalÓ (expira•‹o do
prazo de validade). Se houver superveni•ncia de lei abolitiva expressamente revogando
a criminaliza•‹o prevista na lei tempor‡ria, ela n‹o mais produzir‡ efeitos. Assim,
cuidado com a abordagem na prova.

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Art. 4¼ - Considera-se praticado o crime no momento da a•‹o ou omiss‹o,
ainda que outro seja o momento do resultado.

2)! Teoria do resultado Ð Para esta teoria, considera-se praticado o


crime quando da ocorr•ncia do resultado, independentemente de
quando fora praticada a a•‹o ou omiss‹o.
3)! Teoria da ubiquidade ou mista Ð Para esta teoria, considera-se
praticado o crime tanto no momento da a•‹o ou omiss‹o quanto
no momento do resultado.

Como vimos, nosso C—digo adotou a teoria da atividade como a


aplic‡vel ao tempo do crime. Isto representa sŽrios reflexos na
aplica•‹o da lei penal, pois esta depende da data do fato, que, como
vimos, Ž a data da conduta.
Nos crimes permanentes, aplica-se a lei em vigor ao final da
perman•ncia delitiva, ainda que mais gravosa que a do in’cio. O
mesmo ocorre nos crimes continuados, hip—tese em que se aplica a lei
vigente ˆ Žpoca do œltimo ato (crime) praticado. Essa tese est‡
consagrada pelo STF, atravŽs do enunciado n¡ 711 da sœmula de sua
Jurisprud•ncia:
SòMULA N¼ 711
A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime
permanente, se a sua vig•ncia Ž anterior ˆ cessa•‹o da continuidade
ou da perman•ncia.
Mas isso n‹o ofende o princ’pio da irretroatividade da lei mais
gravosa? N‹o, pois neste caso NÌO Hç RETROATIVIDADE. Neste
caso, a lei mais grave est‡ sendo aplicada a um crime que ainda est‡
sendo praticado, e n‹o a um crime que j‡ foi praticado.34
Isso Ž extremamente importante para o Exame da OAB!

2.3.! Aplica•‹o da lei penal no espa•o


T‹o importante quanto conhecer as minœcias referentes ˆ aplica•‹o
da lei penal no tempo Ž conhecer as regras atinentes ˆ lei penal no
espa•o.

34
Cezar Roberto Bitencourt critica parcialmente a sœmula, ao entendimento de que ela
poderia ser aplic‡vel ao crime permanente, sem nenhuma viola•‹o ˆ irretroatividade da
lei mais gravosa, mas a mesma solu•‹o n‹o poderia ser adotada em rela•‹o ao crime
continuado, por n‹o se tratar de crime œnico com execu•‹o prolongada no tempo, e sim
mera fic•‹o jur’dica que considera como crime œnico (para fins de aplica•‹o da pena),
uma sŽrie de delitos. BITENCOURT, Op. cit., p. 220.

A maioria da Doutrina, contudo, n‹o tece cr’ticas ˆ sœmula. Ver, por todos,
BITENCOURT, Op. cit., p. 120.

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Toda lei Ž editada para vigorar num determinado tempo e num
determinado espa•o. No que tange ˆ lei penal, via de regra ela se aplica
dentro do territ—rio do pa’s em que foi editada, pois este Ž o limite do
exerc’cio da soberania de cada Estado. Ou seja, nenhum Estado pode
exercer sua soberania fora de seu territ—rio.
Vamos estudar, ent‹o, as regras referentes ˆ aplica•‹o da lei penal
no espa•o.

2.4.! Princ’pio da Territorialidade


Essa Ž a regra no que tange ˆ aplica•‹o da lei penal no espa•o. Pelo
princ’pio da territorialidade, aplica-se ˆ lei penal aos crimes cometidos
no territ—rio nacional. Assim, n‹o importa se o crime foi cometido por
estrangeiro ou contra v’tima estrangeira. Se cometido no territ—rio
nacional, submete-se ˆ lei penal brasileira.
ƒ o que prev• o art. 5¡ do C—digo Penal:
Art. 5¼ - Aplica-se a lei brasileira, sem preju’zo de conven•›es, tratados e
regras de direito internacional, ao crime cometido no territ—rio nacional.

Na verdade, como o C—digo Penal admite algumas exce•›es,


podemos dizer que o nosso C—digo adotou O PRINCêPIO DA
TERRITORIALIDADE MITIGADA OU TEMPERADA.35
Territ—rio pode ser conceituado como espa•o em que o Estado
exerce sua soberania pol’tica. O territ—rio brasileiro compreende:
¥! O Mar territorial;
¥! O espa•o aŽreo (Teoria da absoluta soberania do pa’s
subjacente);
¥! O subsolo

S‹o considerados como territ—rio brasileiro por extens‹o:


¥! Os navios e aeronaves pœblicos, onde quer que se
encontrem
¥! Os navios e aeronaves particulares, que se encontrem
em alto-mar ou no espa•o aŽreo

Assim, aos crimes praticados nestes locais aplica-se a lei brasileira,


pelo princ’pio da territorialidade.

35
Ver, por todos, GOMES, Luiz Flavio. BIANCHINI, Alice. Op. cit., p. 123/124 e GOMES,
Luiz Flavio. BIANCHINI, Alice. Op. cit., p. 222.

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2.5.! Extraterritorialidade
A extraterritorialidade Ž a aplica•‹o da lei penal brasileira a um fato
criminoso que n‹o ocorreu no territ—rio nacional.
Como estudamos, a regra na aplica•‹o da lei penal brasileira Ž o
princ’pio da territorialidade, em que se aplica a lei penal brasileira aos
crimes cometidos no territ—rio nacional.
Entretanto, existem algumas hip—teses em que se aplica a lei penal
brasileira a crimes cometidos no exterior. Nestes casos, estamos diante
do fen™meno da extraterritorialidade da lei penal.
Esta extraterritorialidade pode ser incondicionada ou
condicionada.
No primeiro caso, como o pr—prio nome diz, n‹o h‡ qualquer
condi•‹o. Basta que o crime tenha sido cometido no estrangeiro. As
hip—teses s‹o poucas e j‡ foram aqui estudadas. S‹o as previstas no art.
7¡, I do CPB (Crimes contra bens jur’dicos de relev‰ncia nacional e crime
de genoc’dio). Nestes casos, pelos princ’pios da Prote•‹o e do Domic’lio
ou da Personalidade Ativa (a depender do caso), aplica-se a lei brasileira,
ocorrendo o fen™meno da extraterritorialidade:
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da
Repœblica;
b) contra o patrim™nio ou a fŽ pœblica da Uni‹o, do
Princípio da Distrito Federal, de Estado, de Territ—rio, de Munic’pio,
Proteção de empresa pœblica, sociedade de economia mista,
autarquia ou funda•‹o institu’da pelo Poder Pœblico;
c) contra a administra•‹o pœblica, por quem est‡ a seu
servi•o;

d) de genoc’dio, quando o agente for brasileiro ou


Princípio do domiciliado no Brasil;
Domicílio ou
Princípio da
personalidade
ativa

Embora sob fundamentos diversos (Princ’pios diversos), todas as


hip—teses culminam no fen™meno da extraterritorialidade
incondicionada da lei penal brasileira.
A extraterritorialidade condicionada, por sua vez, est‡ prevista
no art. 7¡, II e ¤ 3¡ do CP. Neste caso, a lei brasileira s— ser‡ aplicada
ao fato de maneira subsidi‡ria, ou seja, se n‹o tiver havido julgamento do
crime no estrangeiro. AlŽm disso, Ž necess‡rio que o agente ingresse no
territ—rio nacional, que o crime esteja dentre aqueles pelos quais se
admite extradi•‹o e que haja a chamada dupla tipicidade (O fato tem
que ser crime nos dois pa’ses).
Nos termos do C—digo Penal:

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Art. 7¼ - Ficam sujeitos ˆ lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:


(...)
II - os crimes:
Hipóteses de a) que, por tratado ou conven•‹o, o Brasil se obrigou a reprimir;
extraterritoriali b) praticados por brasileiro;
dade c) praticados em aeronaves ou embarca•›es brasileiras, mercantes
ou de propriedade privada, quando em territ—rio estrangeiro e a’ n‹o sejam
condicionada
julgados.
(...)
¤ 3¼ - A lei brasileira aplica-se tambŽm ao crime cometido por
estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condi•›es
previstas no par‡grafo anterior:

Estas s‹o as hip—teses em que se aplica, condicionalmente, a lei


penal brasileira a fatos ocorridos no estrangeiro. As condi•›es para esta
aplica•‹o se encontram no art. 7¡, ¤ 2¡ do CPB:

¤ 2¼ - Nos casos do inciso II, a aplica•‹o da lei


brasileira depende do concurso das seguintes condi•›es:
a) entrar o agente no territ—rio nacional;
b) ser o fato pun’vel tambŽm no pa’s em que foi
praticado;
c) estar o crime inclu’do entre aqueles pelos quais a lei
brasileira autoriza a extradi•‹o;
Condi•›es d) n‹o ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou
n‹o ter a’ cumprido a pena;
e) n‹o ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou,
por outro motivo, n‹o estar extinta a punibilidade, segundo
a lei mais favor‡vel.

Entretanto, exclusivamente para a hip—tese do ¤ 3¡, existem ainda


duas outras condi•›es:

Condi•›es a) n‹o foi pedida ou foi negada a extradi•‹o;


espec’ficas
para a b) houve requisi•‹o do Ministro da Justi•a.
hip—tese de
¤ 3¡

Trata-se da chamada Òextraterritorialidade


HIPERCONDICIONADAÓ.
S— para finalizar, vou deixar para voc•s um macete para gravarem
as teorias adotadas para o tempo do crime e para o lugar do crime:

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Lugar = Ubiquidade
Tempo = Atividade
Muita LUTA, meus amigos!!
3.!TEORIA DO DELITO

Este Ž um dos temas mais importantes para quem vai fazer a


prova PRçTICO-PROFISSIONAL DA OAB.
Isto porque ele Ž aplic‡vel a todo e qualquer delito, e em grande
parte dos casos a FGV cobra alguma coisa sobre consuma•‹o, tentativa,
desist•ncia volunt‡ria, rela•‹o de causalidade, etc.
Vamos come•ar analisando os elementos do crime (segundo seu
conceito anal’tico).

3.1.! Fato t’pico e seus elementos


O fato t’pico tambŽm se divide em elementos, s‹o eles:
¥! Conduta humana (alguns entendem poss’vel a conduta
de pessoa jur’dica)
¥! Resultado natural’stico
¥! Nexo de causalidade
¥! Tipicidade

3.1.1.! Conduta

Tr•s teorias buscam explicar a conduta: Teoria causal-natural’stica


(ou cl‡ssica), finalista e social.
Para a teoria causal-natural’stica, conduta Ž a a•‹o humana.
Assim, basta que haja movimento corporal para que exista conduta. Esta
teoria est‡ praticamente abandonada, pois entende que n‹o h‡
necessidade de se analisar o conteœdo da vontade do agente nesse
momento, guardando esta an‡lise (dolo ou culpa) para quando do estudo
da culpabilidade.36
Para a teoria finalista, de HANS WELZEL, a conduta humana Ž a
a•‹o volunt‡ria dirigida a uma determinada finalidade. Assim:
Conduta = vontade + a•‹o

Logo, retirando-se um dos elementos da conduta, esta n‹o


existir‡, o que acarreta a inexist•ncia de fato t’pico.

36
BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. cit., p. 287/288

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ESTA ƒ A TEORIA ADOTADA PELO NOSSO CîDIGO PENAL.
Vejamos os termos do art. 20 do CP37:
Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o
dolo, mas permite a puni•‹o por crime culposo, se previsto em lei.

Ora, se a lei prev• que o erro sobre um elemento do tipo


exclui o dolo, Ž porque entende que o dolo est‡ no tipo (fato
t’pico), n‹o na culpabilidade. Assim, a conduta Ž, necessariamente,
volunt‡ria.
A grande evolu•‹o da teoria finalista, portanto, foi conceber a
conduta como um Òacontecimento finalÓ38, ou seja, somente h‡ conduta
quando o agir de alguŽm Ž dirigido a alguma finalidade (seja ela l’cita ou
n‹o).
Para terceira teoria, a teoria social, a conduta Ž a a•‹o humana,
volunt‡ria e que Ž dotada de alguma relev‰ncia social.39
H‡ cr’ticas a esta teoria, pois a relev‰ncia social n‹o seria um
elemento estruturante da conduta, mas uma qualidade que esta poderia
ou n‹o possuir. Assim, a conduta que n‹o fosse socialmente relevante
continuaria sendo conduta.40
A conduta humana pode ser uma a•‹o ou uma omiss‹o. A
quest‹o Ž: Qual Ž o resultado natural’stico que advŽm de uma
omiss‹o? Naturalisticamente nenhum, pois do nada, nada surge. Assim,
aquele que se omite na presta•‹o de socorro a alguŽm, pode estar
cometendo o crime de omiss‹o de socorro, art. 135 do C—digo Penal, n‹o
porque causou a morte de alguŽm (atŽ porque este resultado Ž
irrelevante e n‹o fora diretamente provocado pelo agente), mas porque
descumpriu um comando legal.
Entretanto, o art. 13, ¤ 2¡ do CP diz o seguinte:
¤ 2¼ - A omiss‹o Ž penalmente relevante quando o omitente devia e podia
agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obriga•‹o de cuidado, prote•‹o ou vigil‰ncia;
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorr•ncia do resultado.

Esse artigo estabelece o crime omissivo impr—prio. Nesses crimes,


quando o agente se omite na presta•‹o do socorro ele n‹o responde por

37
DOTTI, RenŽ Ariel. Curso de Direito Penal, Parte Geral. 4. ed. S‹o Paulo: Ed. Revista
dos Tribunais, 2012, p. 397
38
DOTTI, RenŽ Ariel. Curso de Direito Penal, Parte Geral. 4. ed. S‹o Paulo: Ed. Revista
dos Tribunais, 2012, p. 396
39
DOTTI, RenŽ Ariel. Op. cit. p. 397
40
ROXIN, Claus. Derecho penal, parte general: Tomo I. Civitas. Madrid, 1997, p.
246/247

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omiss‹o de socorro (art. 135 do CP), mas responde pelo resultado
ocorrido (por exemplo, a morte da pessoa a quem ele deveria proteger).
EXEMPLO: O Pai leva o filho de 04 anos ˆ praia e o deixa brincando ˆ
beira da ‡gua e sai para beber cerveja com os amigos. De longe, v• seu
filho sendo levado para dentro do mar pela for•a das ‡guas, e sabe que
fatalmente a crian•a se afogar‡. Deliberadamente, o pai nada faz para
evitar o resultado morte, que efetivamente ocorre.

Mas como se pode dizer que a conduta do pai matou o filho?


Tecnicamente falando, a conduta do pai n‹o gerou a morte do filho. O que
gerou a morte do filho foi o afogamento. Entretanto, pela teoria
natural’stico-normativa, a ele Ž imputado o resultado, em raz‹o do seu
descumprimento do dever de vigil‰ncia.

3.1.2.! Resultado natural’stico


O resultado natural’stico Ž a modifica•‹o do mundo real
provocada pela conduta do agente.41
Entretanto, apenas nos crimes chamados materiais se exige um
resultado natural’stico. Nos crimes formais e de mera conduta n‹o h‡
essa exig•ncia.
Os crimes formais s‹o aqueles nos quais o resultado
natural’stico pode ocorrer, mas a sua ocorr•ncia Ž irrelevante para
o Direito Penal. J‡ os crimes de mera conduta s‹o crimes em que
n‹o h‡ um resultado natural’stico poss’vel. Vou dar um exemplo de
cada um dos tr•s:
¥! Crime material Ð Homic’dio. Para que o homic’dio seja consumado,
Ž necess‡rio que a v’tima venha a —bito. Caso isso n‹o ocorra,
estaremos diante de um homic’dio tentado (ou les›es corporais
culposas);
¥! Crime formal Ð Extors‹o (art. 158 do CP). Para que o crime de
extors‹o se consume n‹o Ž necess‡rio que o agente obtenha a
vantagem il’cita, bastando o constrangimento ˆ v’tima;
¥! Crime de mera conduta Ð Invas‹o de domic’lio. Nesse caso, a
mera presen•a do agente, indevidamente, no domic’lio da v’tima
caracteriza o crime. N‹o h‡ um resultado previsto para esse crime.
Qualquer outra conduta praticada a partir da’ configura crime
aut™nomo (furto, roubo, homic’dio, etc.).

41
BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. cit., p. 354

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AlŽm do resultado natural’stico (que nem
sempre estar‡ presente), h‡ tambŽm o
resultado jur’dico (ou normativo), que Ž
a les‹o ao bem jur’dico tutelado pela norma
penal. Esse resultado sempre estar‡
presente! Cuidado com isso! Assim, se a
banca perguntar: ÒH‡ crime sem resultado
jur’dico?Ó A resposta Ž NÌO!42

3.1.3.! Nexo de Causalidade


Nos termos do art. 13 do CP:
Art. 13 - O resultado, de que depende a exist•ncia do crime, somente Ž
imput‡vel a quem lhe deu causa. Considera-se causa a a•‹o ou omiss‹o
sem a qual o resultado n‹o teria ocorrido.

Assim, o nexo de causalidade pode ser entendido como o v’nculo


que une a conduta do agente ao resultado natural’stico ocorrido no
mundo exterior. Portanto, s— se aplica aos crimes materiais!
Algumas teorias existem acerca do nexo de causalidade:
¥!TEORIA DA EQUIVALæNCIA DOS ANTECEDENTES (OU DA
CONDITIO SINE QUA NON) Ð Para esta teoria, Ž considerada causa do
crime toda conduta sem a qual o resultado n‹o teria ocorrido. Assim, para
se saber se uma conduta Ž ou n‹o causa do crime, devemos retir‡-la do
curso dos acontecimentos e ver se, ainda assim, o crime ocorreria
(Processo hipotŽtico de elimina•‹o de ThyrŽn). EXEMPLO: Marcelo
acorda de manh‹, toma cafŽ, compra uma arma e encontra Jœlio, seu
desafeto, disparando tr•s tiros contra ele, causando-lhe a morte.
Retirando-se do curso o cafŽ tomado por Marcelo, conclu’mos que o
resultado teria ocorrido do mesmo jeito. Entretanto, se retirarmos a
compra da arma do curso do processo, o crime n‹o teria ocorrido.
O inconveniente claro desta teoria Ž que ela permite que se
coloquem como causa situa•›es absurdas, como a venda da arma ou atŽ
mesmo o nascimento do agente, j‡ que se os pais n‹o tivessem colocado
a crian•a no mundo, o crime n‹o teria acontecido. Isso Ž um absurdo!
Assim, para solucionar o problema, criou-se outro filtro que Ž o
dolo. Logo, s— ser‡ considerada causa a conduta que Ž
indispens‡vel ao resultado e que foi querida pelo agente. Assim, no
exemplo anterior, o vendedor da arma n‹o seria responsabilizado, pois
nada mais fez que vender seu produto, n‹o tendo a inten•‹o (nem sequer
imaginou) de ver a morte de Jœlio.
Nesse sentido:
42
Pelo princ’pio da ofensividade, n‹o Ž poss’vel haver crime sem resultado jur’dico.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. cit., p. 354

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CAUSA = conduta indispens‡vel ao resultado + que tenha
sido prevista e querida por quem a praticou

Podemos dizer, ent‹o, que a causalidade aqui n‹o Ž meramente


f’sica, mas tambŽm, psicol—gica.
Essa foi a teoria adotada pelo C—digo Penal, como regra.

¥!TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA Ð Trata-se de teoria


tambŽm adotada pelo C—digo Penal, porŽm, somente em uma hip—tese
muito espec’fica. Trata-se da hip—tese de concausa superveniente
relativamente independente que, por si s—, produz o resultado43.
Como assim? Vamos explicar desde o come•o!
As concausas s‹o circunst‰ncias que atuam paralelamente ˆ
conduta do agente em rela•‹o ao resultado. As concausas podem
ser: absolutamente independentes e relativamente independentes.
As concausas absolutamente independentes s‹o aquelas que
n‹o se juntam ˆ conduta do agente para produzir o resultado, e
podem ser preexistentes (existiam antes da conduta), concomitantes
(surgiram durante a conduta) e supervenientes (surgiram ap—s a
conduta). Exemplos:

EXEMPLO (1) Pedro resolve matar Jo‹o, e coloca veneno em seu


drink. PorŽm, Pedro n‹o sabe que Marcelo tambŽm queria matar Jo‹o
e minutos antes tambŽm havia colocado veneno no drink de Jo‹o, que
vem a morrer em raz‹o do veneno colocado por Marcelo. Nesse caso,
a concausa preexistente (conduta de Marcelo) produziu por si s— o
resultado (morte). Nesse caso, Pedro responder‡ somente por
tentativa de homic’dio.
__________________________________________________
EXEMPLO (2) Pedro resolve matar Jo‹o, e come•a a disparar contra
ele projŽteis de arma de fogo. Entretanto, durante a execu•‹o, o teto
da casa de Jo‹o desaba sobre ele, vindo a causar-lhe a morte. Aqui, a
causa concomitante (queda do teto) produziu isoladamente o resultado
(morte). Portanto, Pedro responde somente por homic’dio tentado.
__________________________________________________
EXEMPLO (3) Pedro resolve matar Jo‹o, desta vez, ministrando em
sua bebida certa dose de veneno. Entretanto, antes que o veneno fa•a
efeito, Marcelo aparece e dispara 10 tiros de pistola contra Jo‹o, o
mantando. Nesse caso, Pedro responder‡ somente por homic’dio
tentado.
__________________________________________________

43
CUNHA, RogŽrio Sanches. Manual de Direito Penal. Parte Especial. 7¼ edi•‹o. Ed. Juspodivm.
Salvador, 2015, p. 232/233

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Em todos estes casos o agente NÌO responde pelo resultado
ocorrido. Por qual motivo? Sua conduta NÌO FOI a causa da
morte (aplica-se a pr—pria e j‡ falada teoria da equival•ncia dos
antecedentes). Se suprimirmos a conduta de cada um destes agentes
(nos tr•s exemplos), o resultado morte ainda assim teria ocorrido da
mesma forma. Logo, a conduta dos agentes NÌO Ž considerada
causa.

Entretanto, pode ocorrer de a concausa n‹o produzir por si s— o


resultado (absolutamente independente), afastando o nexo entre a
conduta do agente e o resultado, mas unir-se ˆ conduta do agente e,
juntas, produzirem o resultado. Essas s‹o as chamadas concausas
relativamente independentes, que tambŽm podem ser
preexistentes, concomitantes ou supervenientes.
Mais uma vez, vou dar um exemplo de cada uma das tr•s e explicar
quais os efeitos jur’dico-penais em rela•‹o ao agente. Primeiro come•arei
pelas preexistentes e concomitantes. Ap—s, falarei especificamente sobre
as supervenientes.

EXEMPLO (1) Caio decide matar Maria, desferindo contra ela golpes de
fac‹o, causando-lhe a morte. Entretanto, Caio n‹o sabia que Maria era
hemof’lica, tendo a doen•a contribu’do em grande parte para seu
—bito. Nesse caso, embora a doen•a (concausa preexistente) tenha
contribu’do para o —bito, Caio responde por homic’dio consumado.
Por qual motivo? Sua conduta FOI a causa da morte (aplica-se a
pr—pria e j‡ falada teoria da equival•ncia dos antecedentes). Se
suprimirmos a conduta de Caio, o resultado teria ocorrido? N‹o. Caio
teve a inten•‹o de produzir o resultado? Sim. Logo, responde pelo
resultado (homic’dio consumado).
___________________________________________________
EXEMPLO (2) Pedro resolve matar Jo‹o, e coloca em seu drink
determinada dose de veneno. Ao mesmo tempo, Ricardo faz a mesma
coisa. Pedro e Ricardo querem a mesa coisa, mas n‹o se conhecem
nem sabem da conduta um do outro. Jo‹o ingere a bebida e acaba
falecendo. A per’cia comprova que qualquer das doses de veneno,
isoladamente, n‹o seria capaz de produzir o resultado. PorŽm, a soma
de esfor•os de ambas (a soma das quantidades de veneno) produziu o
resultado. Assim, Pedro responde por homic’dio consumado.
Por qual motivo? Sua conduta FOI a causa da morte (aplica-se a
pr—pria e j‡ falada teoria da equival•ncia dos antecedentes). Se
suprimirmos a conduta de Pedro, o resultado teria ocorrido? N‹o. Pedro
teve a inten•‹o de produzir o resultado? Sim. Logo, responde pelo
resultado (homic’dio consumado).

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AtŽ aqui n—s conseguimos resolver todos os casos pela teoria da
equival•ncia dos antecedentes, da seguinte forma:
¥! Nas concausas absolutamente independentes Ð Em todos
os casos a conduta do agente n‹o contribuiu para o
resultado. Logo, pelo ju’zo hip—tese de elimina•‹o, a conduta
do agente n‹o foi causa. Portanto, n‹o responde pelo
resultado.
¥! Nas concausas relativamente independentes
(Preexistentes e concomitantes) Ð Em todos os casos a
conduta do agente contribuiu para o resultado. Logo, pelo
ju’zo hip—tese de elimina•‹o, a conduta do agente foi causa.
Portanto, responde pelo resultado.

Agora Ž que a coisa complica um pouco.


No caso das concausas supervenientes relativamente
independentes, podem acontecer duas coisas:
§! A causa superveniente produz por si s— o resultado
§! A causa superveniente se agrega ao desdobramento natural da
conduta do agente e ajuda a produzir o resultado.

EXEMPLO (1) - Pedro resolve matar Jo‹o (insistente esse cara!), e


dispara 25 tiros contra ele, usando seu Fuzil Autom‡tico Ligeiro-Fal,
CALIBRE 7.62 (agora vai!). Pedro fica estirado no ch‹o, Ž socorrido por
uma ambul‰ncia e, no caminho para o Hospital, sofre um acidente de
carro (a ambul‰ncia bate de frente com uma carreta) e vem a morrer
em raz‹o do acidente, n‹o dos ferimentos causados por Pedro.
Nesse caso, Pedro responde apenas por tentativa de homic’dio.
Por qual motivo? Sua conduta n‹o foi a causa da morte. Mas, se
suprimirmos a conduta de Pedro, o resultado teria ocorrido? N‹o. Pedro
teve a inten•‹o de produzir o resultado? Sim.
Ent‹o por que n‹o responde pelo resultado??
Aqui o CP adotou a teoria da causalidade adequada. A causa
superveniente (acidente de tr‰nsito) produziu por si s— o resultado, j‡
que o acidente de ambul‰ncia n‹o Ž o desdobramento natural de um
disparo de arma de fogo (esse resultado n‹o Ž consequ•ncia natural e
previs’vel da conduta do agente44).
Perceba que a concausa superveniente (acidente de carro), apesar de
produzir sozinha o resultado, n‹o Ž absolutamente
independente, pois se n‹o fosse a conduta de Pedro, o acidente n‹o
teria ocorrido (j‡ que a v’tima n‹o estaria na ambul‰ncia).

44
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal Ð Parte Geral. Ed. Saraiva, 21¼ edi•‹o.
S‹o Paulo, 2015, p. 324/325

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Por isso dizemos que, aqui, temos:
§! Concausa superveniente relativamente independente Ð A
conduta de Pedro Ž relevante para o resultado.
§! Que por si s— produziu o resultado Ð Apesar disso, a conduta
de Pedro foi relevante apenas por CRIAR A SITUA‚ÌO, mas n‹o
foi a respons‡vel efetiva pela morte.

EXEMPLO (2) - No mesmo exemplo anterior, Jo‹o Ž socorrido e


chegando ao Hospital, Ž submetido a uma cirurgia. Durante a cirurgia, o
ferimento infecciona e Jo‹o morre por infec•‹o. Nesse caso, a causa
superveniente (infec•‹o hospitalar) n‹o produziu por si s— o
resultado, tendo se agregado aos ferimentos para causar a
morte de Jo‹o. Nesse caso, Pedro responde por homic’dio
consumado.

Mas qual a diferen•a entre o exemplo (1) e o exemplo (2)? A


diferen•a b‡sica reside no fato de que:
§! No exemplo (1) Ð A conduta do agente Ž relevante em
apenas um momento: por criar a situa•‹o (necessidade de ser
transportado pela ambul‰ncia).
§! No exemplo (2) - A conduta do agente Ž relevante em dois
momentos: (a) cria a situa•‹o, ao fazer com que a v’tima
tenha que ser operada; (b) contribui para o pr—prio resultado
(j‡ que a infec•‹o do ferimento n‹o Ž um novo nexo causal).

Segue abaixo um esquema para melhor compreens‹o:

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¥! TEORIA DA IMPUTA‚ÌO OBJETIVA Ð A teoria da imputa•‹o


objetiva, que foi melhor desenvolvida por Roxin45, tem por finalidade
ser uma teoria mais completa em rela•‹o ao nexo de causalidade, em
contraposi•‹o ˆs "vigentes" teoria da equival•ncia das condi•›es e
teoria da causalidade adequada.
Para a teoria da imputa•‹o objetiva, a imputa•‹o s— poderia ocorrer
quando o agente tivesse dado causa ao fato (causalidade f’sica) mas,
ao mesmo tempo, houvesse uma rela•‹o de causalidade NORMATIVA,
assim compreendida como a cria•‹o de um risco n‹o permitido para o
bem jur’dico que se pretende tutelar. Para esta teoria, a conduta deve:
a)! Criar ou aumentar um risco Ð Assim, se a conduta do agente n‹o
aumentou nem criou um risco, n‹o h‡ crime46. Exemplo cl‡ssico: JosŽ
conversa com Paulo na cal•ada. Pedro, inimigo de Paulo, atira um
vaso de planta do 10¼ andar, com a finalidade de matar Paulo. JosŽ v•
que o vaso ir‡ cair sobre a cabe•a de Paulo e o empurra. Paulo cai no
ch‹o e fratura levemente o bra•o. Neste caso, JosŽ deu causa
(causalidade f’sica) ˆs les›es corporais sofridas por Paulo. Contudo,
sua conduta n‹o criou nem aumentou um risco. Ao contr‡rio, JosŽ
diminuiu um risco, ao evitar a morte de Paulo.
b)! Risco deve ser proibido pelo Direito Ð Aquele que cria um risco de
les‹o para alguŽm, em tese n‹o comete crime, a menos que esse
risco seja proibido pelo Direito. Assim, o filho que manda os pais em
viagem para a Europa, na inten•‹o de que o avi‹o caia, os pais

45
ROXIN, Claus. Derecho penal, parte general: Tomo I. Civitas. Madrid, 1997, p. 362/411
46
ROXIN, Claus. Op. cit., p. 365

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morram, e ele receba a heran•a, n‹o comete crime, pois o risco por
ele criado n‹o Ž proibido pelo Direito.
c)! Risco deve ser criado no resultado Ð Assim, um crime n‹o pode ser
imputado ˆquele que n‹o criou o risco para aquela ocorr•ncia. Explico:
Imaginem que JosŽ ateia fogo na casa de Maria. JosŽ causou um risco,
n‹o permitido pelo Direito. Deve responder pelo crime de inc•ndio
doloso, art. 250 do CP. Entretanto, Maria invade a casa em chamas
para resgatar a œnica foto que restou de seu filho falecido, sendo
lambida pelo fogo, vindo a falecer. Nesse caso, JosŽ n‹o responde
pelo crime de homic’dio, pois o risco por ele criado n‹o se insere
nesse resultado, que foi provocado pela conduta exclusiva de Maria.

3.1.4.! Tipicidade
A tipicidade nada mais Ž que a adequa•‹o da conduta do agente
a uma previs‹o t’pica (norma penal que prev• o fato e lhe descreve
como crime). Assim, o tipo do art. 121 Ž: Òmatar alguŽmÓ. Portanto,
quando Marcio esfaqueia Luiz e o mata, est‡ cometendo fato t’pico, pois
est‡ praticando uma conduta que encontra previs‹o como tipo penal.
N‹o h‡ muito o que se falar acerca da tipicidade. Basta que o
intŽrprete proceda ao cotejo entre a conduta praticada no caso
concreto e a conduta prevista na Lei Penal. Se a conduta praticada
se amoldar ˆquela prevista na Lei Penal, o fato ser‡ t’pico, por estar
presente o elemento ÒtipicidadeÓ.

CUIDADO! Nem sempre a conduta praticada pelo


agente se amolda perfeitamente ao tipo penal
(adequa•‹o imediata). Ës vezes Ž necess‡rio
que se proceda ˆ an‡lise de outro dispositivo
da Lei Penal para se chegar ˆ conclus‹o de que
um fato Ž t’pico (adequa•‹o mediata). Por
exemplo: Imaginem que Abreu (El Loco) dispara
contra Adriano (El Imperador), que n‹o morre. Nesse
caso, como dizer que Abreu praticou fato t’pico
(homic’dio tentado), se o art. 121 diz ÒmatarÓ
alguŽm, o que n‹o ocorreu? Nessa hip—tese,
conjuga-se o art. 121 do CP com seu art. 14, II, que
diz ser o crime pun’vel na modalidade tentada. Isso
tambŽm se aplica aos crimes omissivos impr—prios
(art. 13, ¤ 2¡ do CP).

3.1.5.! Crime doloso e crime culposo


O dolo e a culpa s‹o o que se pode chamar de elementos
subjetivos do tipo penal.
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Com o finalismo de HANS WELZEL, o dolo e a culpa
(elementos subjetivos) foram transportados da culpabilidade para
o fato t’pico47 (conduta). Assim, a conduta (no finalismo) n‹o Ž mais
apenas objetiva, sin™nimo de a•‹o humana, mas sim a a•‹o humana
dirigida a um fim (il’cito ou n‹o).
Vamos estudar cada um destes elementos separadamente.

3.1.6.! Crime doloso


O dolo Ž o elemento subjetivo do tipo, consistente na vontade, livre
e consciente, de praticar o crime (dolo direto), ou a assun•‹o do risco
produzido pela conduta (dolo eventual). Nos termos do art. 18 do CP:
Art. 18 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Crime doloso(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-
lo;(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

O dolo direto, que Ž o elemento subjetivo cl‡ssico do crime, Ž


composto pela consci•ncia de que a conduta pode lesar um bem jur’dico
mais a vontade de lesar este bem jur’dico. Esses dois elementos
(consci•ncia + vontade) formam o que se chama de dolo natural.
Antigamente, quando o dolo pertencia ˆ culpabilidade, a
esses dois elementos era acrescido mais um elemento, que era a
consci•ncia da ilicitude. Esse era o chamado dolo normativo.
Atualmente, com a transposi•‹o do dolo e da culpa para o fato t’pico, os
elementos normativos ficaram na culpabilidade e a consci•ncia da ilicitude
tambŽm, passando, ainda a ser meramente potencial.
Desta maneira, podemos dizer que no finalismo o dolo Ž
natural e no causalismo o dolo Ž normativo.
O dolo eventual, por sua vez, consiste na consci•ncia de que
a conduta pode gerar um resultado criminoso, mais a assun•‹o
desse risco, mesmo diante da probabilidade de algo dar errado.
Trata-se de hip—tese na qual o agente n‹o tem vontade de produzir o
resultado criminoso (n‹o o que aconteceu, embora possa ser outro), mas,
analisando as circunst‰ncias, sabe que este resultado pode ocorrer e n‹o
se importa, age da mesma maneira.
EXEMPLO: Imagine que Renato, dono de um s’tio, e apreciador da
pr‡tica do tiro esportivo, decida levantar s‡bado pela manh‹ e praticar
tiro no seu terreno, mesmo sabendo que as balas possuem longo alcance
e que h‡ casas na vizinhan•a. Renato atŽ n‹o quer que ninguŽm seja
atingido, mas sabe que isso pode ocorrer e n‹o se importa, pratica a
conduta assim mesmo. Nesse caso, se Renato atingir alguŽm, causando-

47
BITENCOURT, Op. cit., p. 290/291

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lhe les›es ou mesmo a morte, estar‡ praticando homic’dio doloso por
dolo eventual.

O dolo pode ser, ainda:


¥! Dolo genŽrico Ð Atualmente, com o finalismo, passou a ser
chamado simplesmente de dolo, que Ž, basicamente, a
vontade de praticar a conduta descrita no tipo penal, sem
nenhuma outra finalidade;
¥! Dolo espec’fico, ou especial fim de agir Ð Em
contraposi•‹o ao dolo genŽrico, nesse caso o agente n‹o quer
somente praticar a conduta t’pica, mas o faz por alguma
raz‹o especial, com alguma finalidade espec’fica. ƒ o
caso do crime de injœria, por exemplo, no qual o agente deve
n‹o s— praticar a conduta, mas deve faz•-lo com a inten•‹o
de ofender a honra subjetiva da v’tima;
¥! Dolo direto de primeiro grau Ð Trata-se do dolo comum,
aquele no qual o agente tem a vontade direcionada para a
produ•‹o do resultado, como no caso do homicida que
procura sua v’tima e a mata com disparos de arma de fogo;
¥! Dolo direto de segundo grau Ð TambŽm chamado de Òdolo
de consequ•ncias necess‡riasÓ, se assemelha ao dolo
eventual, mas com ele n‹o se confunde. Aqui o agente possui
uma vontade, mas sabe que para atingir sua finalidade,
existem efeitos colaterais que ir‹o NECESSARIAMENTE
lesar outros bens jur’dicos. Diferentemente do dolo
eventual, aqui a ocorr•ncia da les‹o ao bem jur’dico n‹o
visado Ž certa, e n‹o apenas prov‡vel. Imagine o caso de
alguŽm que, querendo matar certo executivo, coloca uma
bomba no avi‹o em que este se encontra. Ora, nesse caso, o
agente age com dolo de primeiro grau em face da v’tima
pretendida, e dolo de segundo grau face aos demais
ocupantes do avi‹o, pois Ž certo que tambŽm morrer‹o,
embora este n‹o seja o objetivo do agente;
¥! Dolo geral, por erro sucessivo, ou aberratio causae Ð
Ocorre quando o agente, acreditando ter alcan•ado seu
objetivo, pratica nova conduta, com finalidade diversa, mas
depois se constata que esta œltima foi a que efetivamente
causou o resultado. Trata-se de erro na rela•‹o de
causalidade, pois embora o agente tenha conseguido
alcan•ar a finalidade proposta, somente o alcan•ou
atravŽs de outro meio, que n‹o tinha direcionado para
isso. Exemplo: Imagine a m‹e que, querendo matar o pr—prio
filho de 05 anos, o estrangula e, com medo de ser descoberta,
o joga num rio. Posteriormente a crian•a Ž encontrada e se
descobre que a v’tima morreu por afogamento. Nesse caso,

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embora a m‹e n‹o tenha querido matar o filho afogado, mas
por estrangulamento, isso Ž irrelevante penalmente,
importando apenas o fato de que a m‹e alcan•ou o fim
pretendido (morte do filho), ainda que por outro meio,
devendo, pois, responder por homic’dio consumado;
¥! Dolo antecedente, atual e subsequente Ð O dolo
antecedente Ž o que se d‡ antes do in’cio da execu•‹o da
conduta. O dolo atual Ž o que est‡ presente enquanto o
agente se mantŽm exercendo a conduta, e o dolo
subsequente ocorre quando o agente, embora tendo iniciado a
conduta com uma finalidade l’cita, altera seu ‰nimo, passando
a agir de forma il’cita. Esse œltimo caso Ž o que ocorre no
caso, por exemplo, do crime de apropria•‹o indŽbita (art. 168
do CP), no qual o agente recebe o bem de boa-fŽ, obrigando-
se devolv•-lo, mas, posteriormente, muda de idŽia e n‹o
devolve o bem nas condi•›es ajustadas, passando a agir de
maneira il’cita.

3.1.7.! Crime culposo


Se no crime doloso o agente quis o resultado, sendo este seu
objetivo, ou assumiu o risco de sua ocorr•ncia, embora n‹o fosse
originalmente pretendido o resultado, no crime culposo a conduta do
agente Ž destinada a um determinado fim (que pode ser l’cito ou n‹o), tal
qual no dolo eventual, mas pela viola•‹o a um dever de cuidado, o
agente acaba por lesar um bem jur’dico de terceiro, cometendo crime
culposo.
A viola•‹o ao dever objetivo de cuidado pode se dar de tr•s
maneiras:
¥! Neglig•ncia Ð O agente deixa de tomar todas as cautelas
necess‡rias para que sua conduta n‹o venha a lesar o bem
jur’dico de terceiro. ƒ o famoso relapso. Aqui o agente deixa
de fazer algo que deveria;
¥! Imprud•ncia Ð ƒ o caso do afoito, daquele que pratica atos
temer‡rios, que n‹o se coadunam com a prud•ncia que se
deve ter na vida em sociedade. Aqui o agente faz algo que
a prud•ncia n‹o recomenda;
¥! Imper’cia Ð Decorre do desconhecimento de uma regra
tŽcnica profissional. Assim, se o mŽdico, ap—s fazer todos
os exames necess‡rios, d‡ diagn—stico errado, concedendo
alto ao paciente e este vem a —bito em decorr•ncia da alta
concedida, n‹o h‡ neglig•ncia, pois o profissional mŽdico
adotou todos os cuidados necess‡rios, mas em decorr•ncia de
sua falta de conhecimento tŽcnico, n‹o conseguiu verificar

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qual o problema do paciente, o que acabou por ocasionar seu
falecimento;

A punibilidade da culpa se fundamenta no desvalor do resultado


praticado pelo agente, embora o desvalor da conduta seja menor, pois
n‹o deriva de uma deliberada a•‹o contr‡ria ao direito.
O CP prev• o crime culposo em seu art. 18, II:
Art. 18 - Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Crime culposo(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprud•ncia,
neglig•ncia ou imper’cia. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

O crime culposo Ž composto de:


¥! Uma conduta volunt‡ria Ð Dirigida a um fim l’cito, ou
quando il’cito, n‹o Ž destinada ˆ produ•‹o do resultado
ocorrido.
¥! A viola•‹o a um dever objetivo de cuidado Ð Que pode se
dar por neglig•ncia, imprud•ncia ou imper’cia.
¥! Um resultado natural’stico involunt‡rio Ð O resultado
produzido n‹o foi querido pelo agente (salvo na culpa
impr—pria).
¥! Nexo causal Ð Rela•‹o de causa e efeito entre a conduta do
agente e o resultado ocorrido no mundo f‡tico.
¥! Tipicidade Ð O fato deve estar previsto como crime. Em
regra, os crimes s— podem ser praticados na forma dolosa, s—
podendo ser punidos a t’tulo de culpa quando a lei
expressamente determinar. Essa Ž a regra do ¤ œnico do art.
18 do CP: Par‡grafo œnico - Salvo os casos expressos em lei,
ninguŽm pode ser punido por fato previsto como crime, sen‹o
quando o pratica dolosamente. (Inclu’do pela Lei n¼ 7.209, de
11.7.1984).
¥! Previsibilidade objetiva - O resultado ocorrido deve ser
previs’vel mediante um esfor•o intelectual razo‡vel. ƒ
chamada previsibilidade do homem mŽdio. Assim, se uma
pessoa comum, de intelig•ncia mediana, seria capaz de
prever aquele resultado, est‡ presente este requisito. Se o
resultado n‹o for previs’vel objetivamente, o fato Ž um
indiferente penal. Por exemplo: Se M‡rio, nas dunas de Natal,
d‡ um chute em Jo‹o, a fim de causar-lhe les›es leves, e Jo‹o
vem a cair e bater com a cabe•a sobre um motor de Bugre
que estava enterrado sob a areia, vindo a falecer, M‡rio n‹o
responde por homic’dio culposo, pois seria inimagin‡vel a
qualquer pessoa prever que naquele local a v’tima poderia
bater com a cabe•a em algo daquele tipo e vir a falecer.

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A culpa, por sua vez, pode ser de diversas modalidades:


¥! Culpa consciente e inconsciente Ð Na culpa consciente, o
agente prev• o resultado como poss’vel, mas acredita que
este n‹o ir‡ ocorrer. Na culpa inconsciente, o agente n‹o
prev• que o resultado possa ocorrer. A culpa consciente se
aproxima muito do dolo eventual, pois em ambos o
agente prev• o resultado e mesmo assim age.
Entretanto, a diferen•a Ž que, enquanto no dolo eventual
o agente assume o risco de produzi-lo, n‹o se
importando com a sua ocorr•ncia, na culpa consciente o
agente n‹o assume o risco de produzir o resultado, pois
acredita, sinceramente, que ele n‹o ocorrer‡.
¥! Culpa pr—pria e culpa impr—pria Ð A culpa pr—pria Ž
aquela na qual o agente NÌO QUER O RESULTADO
criminoso. ƒ a culpa propriamente dita. Pode ser consciente,
quando o agente prev• o resultado como poss’vel, ou
inconsciente, quando n‹o h‡ essa previs‹o. Na culpa
impr—pria, o agente quer o resultado, mas, por erro
inescus‡vel, acredita que o est‡ fazendo amparado por
uma causa excludente da ilicitude ou da culpabilidade. ƒ
o caso do pai que, percebendo um barulho na madrugada, se
levanta e avista um vulto, determinando sua imediata parada.
Como o vulto continua, o pai dispara tr•s tiros de arma de
fogo contra a v’tima, acreditando estar agindo em leg’tima
defesa de sua fam’lia. No entanto, ao verificar a v’tima,
percebe que o vulto era seu filho de 16 anos que havia sa’do
escondido para assistir a um show de Rock no qual havia sido
proibido de ir. Nesse caso, embora o crime seja naturalmente
doloso (pois o agente quis o resultado), por quest›es de
pol’tica criminal o C—digo determina que lhe seja aplicada a
pena correspondente ˆ modalidade culposa. Nos termos do
art. 20, ¤ 1¡ do CP: ¤ 1¼ - ƒ isento de pena quem, por erro
plenamente justificado pelas circunst‰ncias, sup›e situa•‹o de fato
que, se existisse, tornaria a a•‹o leg’tima. N‹o h‡ isen•‹o de
pena quando o erro deriva de culpa e o fato Ž pun’vel como
crime culposo.(Reda•‹o dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984)

Cuidado! N‹o existe a chamada Òcompensa•‹o de culpasÓ no Direito


Penal brasileiro. EXEMPLO: Imaginem que Jœlio, dirigindo seu ve’culo,
avan•a o sinal vermelho e colide com o ve’culo de Carlos, que vinha na
contram‹o. Ambos agiram com culpa e causaram-se les›es corporais.
Nesse caso, ambos respondem pelo crime de les›es corporais, um em
face do outro.

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H‡ ainda a figura do crime preterdoloso (ou preterintencional). O


crime preterdoloso ocorre quando o agente, com vontade de praticar
determinado crime (dolo), acaba por praticar crime mais grave, n‹o com
dolo, mas por culpa. Um exemplo cl‡ssico Ž o crime de les‹o corporal
seguida de morte, previsto no art. 129, ¤ 3¡ do CP. Nesse crime o agente
provoca les›es corporais na v’tima, mediante conduta dolosa. No
entanto, em raz‹o de sua imprud•ncia na execu•‹o (excesso), acabou
por provocar a morte da v’tima, que era um resultado n‹o pretendido
(culpa). A Doutrina distingue, no entanto, o crime preterdoloso do
crime qualificado pelo resultado48. Para a Doutrina, o crime
qualificado pelo resultado Ž um g•nero, do qual o crime preterdoloso Ž
espŽcie. Um crime qualificado pelo resultado Ž aquele no qual,
ocorrendo determinado resultado, teremos a aplica•‹o de uma
circunst‰ncia qualificadora. Aqui Ž irrelevante se o resultado que
qualifica o crime Ž doloso ou culposo. No delito preterdoloso, o
resultado que qualifica o crime Ž, necessariamente, culposo. Ou
seja, h‡ dolo na conduta inicial e culpa em rela•‹o ao resultado
que efetivamente ocorre.
EXEMPLO: Mariana agride Luciana com a inten•‹o apenas de lesion‡-la
(dolo de praticar o crime de les‹o corporal). Contudo, em raz‹o da for•a
empregada por Mariana, Luciana cai e bate com a cabe•a no ch‹o, vindo
a falecer. Mariana fica chocada, pois de maneira alguma pretendia a
morte de Luciana. Nesse caso, Mariana praticou o crime de les‹o corporal
seguida de morte, que Ž um crime preterdoloso (dolo na conduta inicial,
mas resultado obtido a t’tulo de culpa Ð sem inten•‹o).

3.2.! Crime consumado, tentado e imposs’vel

3.2.1.! Tentativa
Todos os elementos citados como sendo partes integrantes do fato
t’pico (conduta, resultado natural’stico, nexo de causalidade e tipicidade)
s‹o, no entanto, elementos do crime material consumado, que Ž
aquele no qual se exige resultado natural’stico e no qual este resultado
efetivamente ocorre.
Nos termos do art. 14 do CP:
Art. 14 - Diz-se o crime: (Reda•‹o dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984)

48
GOMES, Luiz Flavio. BIANCHINI, Alice. Op. cit., p. 337

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I - consumado, quando nele se reœnem todos os elementos de sua
defini•‹o legal; (Inclu’do pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984)
II - tentado, quando, iniciada a execu•‹o, n‹o se consuma por
circunst‰ncias alheias ˆ vontade do agente. (Inclu’do pela Lei n¼ 7.209,
de 11.7.1984)

Assim, nos crimes tentados, por n‹o haver sua consuma•‹o


(ocorr•ncia de resultado natural’stico), n‹o estar‹o presentes, em regra,
os elementos ÒresultadoÓ e Ònexo de causalidadeÓ.
Disse Òem regraÓ, porque pode acontecer que um crime tentado
produza resultados, que ser‹o analisados de acordo com a conduta do
agente e sua aptid‹o para produzi-los.
EXEMPLO: Imaginem que Marcelo, visando ˆ morte de Rodrigo, dispare
cinco tiros de pistola contra ele. Rodrigo Ž baleado, fica paraplŽgico, mas
sobrevive.
Nesse caso, como o objetivo n‹o era causar les‹o corporal, mas sim
matar, o crime n‹o foi consumado, pois a morte n‹o ocorreu. Entretanto,
n‹o se pode negar que houve resultado natural’stico e nexo causal,
embora este resultado n‹o tenha sido o pretendido pelo agente quando
da pr‡tica da conduta criminosa.

O crime consumado n—s j‡ estudamos, cabe agora analisar as


hip—teses de crime na modalidade tentada.
Como disse a voc•s, pode ocorrer de uma conduta ser
enquadrada em determinado tipo penal sem que sua pr‡tica
corresponda exatamente ao que prev• o tipo. No caso acima,
Marcelo responder‡ pelo tipo penal de homic’dio (art. 121 do CP), na
modalidade tentada (art. 14, II do CP). Mas se voc•s analisarem, o art.
121 do CP diz Òmatar alguŽmÓ. Marcelo n‹o matou ninguŽm. Assim,
como enquadr‡-lo na conduta prevista pelo art. 121? Isso Ž o que
chamamos de adequa•‹o t’pica mediata, conforme j‡ estudamos.
Na adequa•‹o t’pica mediata o agente n‹o pratica exatamente a
conduta descrita no tipo penal, mas em raz‹o de uma outra norma
que estende subjetiva ou objetivamente o alcance do tipo penal,
ele deve responder pelo crime. Assim, no caso em tela, Marcelo s—
responde pelo crime em raz‹o da exist•ncia de uma norma que aumenta
o alcance objetivo (relativo ˆ conduta) do tipo penal para abarcar tambŽm
as hip—teses de tentativa (art. 14, II do CP). Tudo bem, galera? Vamos
em frente!
O inciso II do art. 14 fala em Òcircunst‰ncias alheias ˆ vontade
do agenteÓ. Isso significa que o agente inicia a execu•‹o do crime, mas
em raz‹o de fatores externos, o resultado n‹o ocorre. No caso concreto
que citei, o fator externo, alheio ˆ vontade de Marcelo, foi provavelmente
sua falta de precis‹o no uso da arma de fogo e o socorro eficiente
recebido por Rodrigo, que impediu sua morte.
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O ¤ œnico do art. 14 do CP diz:
Art. 14 (...)
Par‡grafo œnico - Salvo disposi•‹o em contr‡rio, pune-se a tentativa com a
pena correspondente ao crime consumado, diminu’da de um a dois ter•os.
(Inclu’do pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984)

Desta forma, o crime cometido na modalidade tentada n‹o Ž punido


da mesma maneira que o crime consumado, pois embora o desvalor da
conduta (sua reprovabilidade social) seja o mesmo do crime consumado,
o desvalor do resultado (suas consequ•ncias na sociedade) Ž menor,
indiscutivelmente. Assim, diz-se que o CP adotou a teoria dual’stica,
realista ou objetiva da punibilidade da tentativa.49
Mas qual o critŽrio para aplica•‹o da quantidade de
diminui•‹o (1/3 ou 2/3)? Nesse caso, o Juiz deve analisar a
proximidade de alcance do resultado. Quanto mais pr—xima do
resultado chegar a conduta, menor ser‡ a diminui•‹o da pena, e
vice-versa. No exemplo acima, como Marcelo quase matou Rodrigo,
chegando a deix‡-lo paraplŽgico, a diminui•‹o ser‡ a menor poss’vel
(1/3), pois o resultado esteve perto de se consumar. Entretanto, se
Marcelo tivesse errado todos os disparos, o resultado teria passado longe
da consuma•‹o, devendo o Juiz aplicar a redu•‹o m‡xima.
A tentativa pode ser:

¥! Branca ou incruenta Ð quando o agente sequer atinge o objeto


que pretendia lesar;
¥! Vermelha ou cruenta Ð quando o agente atinge o objeto, mas
n‹o obtŽm o resultado natural’stico esperado, em raz‹o de
circunst‰ncias alheias ˆ sua vontade;
¥! Tentativa perfeita Ð O agente esgota completamente os meios de
que dispunha para lesar o objeto material;
¥! Tentativa imperfeita Ð O agente, antes de esgotar toda a sua
potencialidade lesiva, Ž impedido por circunst‰ncias alheias. Exemplo:
Marcelo possui um rev—lver com 06 projŽteis. Dispara os 03 primeiros
contra Rodrigo, mas antes de disparar o quarto Ž surpreendido pela

49
Em contraposi•‹o ˆ Teoria objetiva h‡ a Teoria subjetiva, que sustenta que a
punibilidade da tentativa deveria estar atrelada ao fato de que o desvalor da conduta Ž o
mesmo do crime consumado (Ž t‹o reprov‡vel a conduta de ÒmatarÓ quanto a de Òtentar
matarÓ). Para esta Teoria, a tentativa deveria ser punida da mesma forma que o crime
consumado (BITENCOURT, Op. cit., p. 536/537). Na verdade, adotou-se no Brasil uma
espŽcie de Teoria objetiva ÒtemperadaÓ ou mitigada. Isto porque a regra do art. 14, II
admite exce•›es, ou seja, existem casos na legisla•‹o p‡tria em que se pune a tentativa
com a mesma pena do crime consumado.

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chegada da Pol’cia Militar.

ƒ poss’vel a mescla de espŽcies de tentativa entre as duas primeiras


com as duas œltimas (cruenta e imperfeita, incruenta e imperfeita, etc.),
mas nunca entre elas mesmas (cruenta e incruenta e perfeita e
imperfeita), por quest›es l—gicas.

Em regra, todos os crimes admitem tentativa. Entretanto, n‹o admitem


tentativa:
¥! Crimes culposos Ð Nestes crimes o resultado natural’stico n‹o Ž
querido pelo agente, logo, a vontade dele n‹o Ž dirigida a um fim
il’cito e, portanto, n‹o ocorrendo este, n‹o h‡ que se falar em
interrup•‹o involunt‡ria da execu•‹o do crime;
¥! Crimes preterdolosos Ð Como nestes crimes existe dolo na
conduta precedente e culpa na conduta seguinte, a conduta
seguinte Ž culposa, n‹o se admitindo, portanto, tentativa;
¥! Crimes unissubsistentes Ð S‹o aqueles que se produzem
mediante um œnico ato, n‹o cabendo fracionamento de sua
execu•‹o. Assim, ou o crime Ž consumado ou sequer foi iniciada
sua execu•‹o. EXEMPLO: Injœria. Ou o agente profere a injœria e o
crime est‡ consumado ou ele sequer chega a proferi-la, n‹o
chegando o crime a ser iniciado;
¥! Crimes omissivos pr—prios Ð Seguem a mesma regra dos crimes
unissubsistentes, pois ou o agente se omite, e pratica o crime na
modalidade consumada ou n‹o se omite, hip—tese na qual n‹o
comete crime;
¥! Crimes de perigo abstrato Ð Como aqui tambŽm h‡ crime
unissubsistente (n‹o h‡ fracionamento da execu•‹o do crime), n‹o
se admite tentativa;
¥! Contraven•›es penais Ð N‹o se admite tentativa, nos termos do
art. 4¡ do Decreto-Lei n¡ 3.688/41 (Lei das Contraven•›es penais);
¥! Crimes de atentado (ou de empreendimento) Ð S‹o crimes
que se consideram consumados com a obten•‹o do resultado ou
ainda com a tentativa deste. Por exemplo: O art. 352 tipifica o
crime de Òevas‹oÓ, dizendo: Òevadir-se ou tentar evadir-seÓ...
Desta maneira, ainda que n‹o consiga o preso se evadir, o simples
fato de ter tentado isto j‡ consuma o crime;
¥! Crimes habituais Ð Nestes crimes, o agente deve praticar

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diversos atos, habitualmente, a fim de que o crime se consume.
Entretanto, o problema Ž que cada ato isolado Ž um indiferente
penal. Assim, ou o agente praticou poucos atos isolados, n‹o
cometendo crime, ou praticou os atos de forma habitual,
cometendo crime consumado. Exemplo: Crime de curandeirismo,
no qual ou o agente pratica atos isolados, n‹o praticando crime, ou
o faz com habitualidade, praticando crime consumado, nos termos
do art. 284, I do CP.

3.2.2.! Crime imposs’vel


TambŽm chamado de tentativa inid™nea ou Òcrime ocoÓ, est‡
previsto no art. 17 do C—digo Penal:
Art. 17 - N‹o se pune a tentativa quando, por inefic‡cia absoluta do meio ou
por absoluta impropriedade do objeto, Ž imposs’vel consumar-se o
crime.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Como podemos perceber, o crime imposs’vel guarda


semelhan•as com a tentativa, entretanto, com ela n‹o se
confunde.
Na tentativa, propriamente dita, o agente inicia a execu•‹o do
crime, mas por circunst‰ncias alheias ˆ sua vontade o resultado n‹o se
consuma (art. 14, II do CPC).
No crime imposs’vel, diferentemente do que ocorre na tentativa,
embora o agente inicie a execu•‹o do delito, JAMAIS o crime se
consumaria, em hip—tese nenhuma, ou pelo fato de que o meio
utilizado Ž completamente ineficaz ou porque o objeto material do crime Ž
impr—prio para aquele crime. Vou dar dois exemplos:
EXEMPLO: Imaginem que Marcelo pretenda matar sua sogra Maria.
Marcelo chega, ˆ surdina, de noite, e percebendo que Maria dorme no
sof‡, desfere contra ela 10 facadas no peito. No entanto, no laudo
pericial se descobre que Maria j‡ estava morta, em raz‹o de um mal
sœbito que sofrera horas antes.
Nesse caso, o crime Ž imposs’vel, pois o objeto material (a sogra,
Maria) n‹o era uma pessoa, mas um cad‡ver. Logo, n‹o h‡ como se
praticar o crime de homic’dio em face de um cad‡ver.
No mesmo exemplo, imagine que Marcelo pretenda matar sua
sogra a tiros e, surpreenda-a na servid‹o que d‡ acesso ˆ casa.
Entretanto, quando Marcelo aperta o gatilho, percebe que, na verdade,
foi enganado pelo vendedor, que o vendeu uma arma de brinquedo.
Nesse œltimo caso o crime Ž imposs’vel, pois o meio utilizado por
Marcelo Ž completamente ineficaz para causar a morte da v’tima.
Em ambos os casos temos hip—tese de crime imposs’vel.

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Na verdade, o crime imposs’vel Ž uma espŽcie de tentativa,


com a circunst‰ncia de que jamais poder‡ se tornar consuma•‹o,
face ˆ impropriedade do objeto ou do meio utilizado. Por isso, n‹o
se pode punir a tentativa nestes casos, eis que n‹o houve les‹o ou sequer
exposi•‹o ˆ les‹o do bem jur’dico tutelado, n‹o bastando para a puni•‹o
do agente o mero desvalor da conduta, devendo haver um m’nimo de
desvalor do resultado.
Cuidado! A inefic‡cia do meio ou a impropriedade do objeto
devem ser ABSOLUTAS, ou seja, em nenhuma hip—tese, considerando
aquelas circunst‰ncias, o crime poderia se consumar. Assim, se M‡rcio
atira em JosŽ, com inten•‹o de mat‡-lo, mas o crime n‹o se consuma
porque JosŽ usava um colete ˆ prova de balas, n‹o h‡ crime imposs’vel,
pois o crime poderia se consumar.50
Como o CP previu a impossibilidade de puni•‹o da tentativa
inid™nea (crime imposs’vel), diz-se que o CP adotou a teoria OBJETIVA
DA PUNIBILIDADE DO CRIME IMPOSSêVEL.51

3.2.3.! Desist•ncia volunt‡ria e arrependimento eficaz


Embora a Doutrina tenha se dividido quanto ˆ defini•‹o da natureza
jur’dica destes institutos, a Doutrina majorit‡ria entende se tratar de
causas de exclus‹o da tipicidade, pois n‹o tendo ocorrido o resultado,
e tambŽm n‹o se tratando de hip—tese tentada, n‹o h‡ como se punir o
crime nem a t’tulo de consuma•‹o nem a t’tulo de tentativa.
Na desist•ncia volunt‡ria o agente, por ato volunt‡rio, desiste de
dar sequ•ncia aos atos execut—rios, mesmo podendo faz•-lo. Conforme a
cl‡ssica FîRMULA DE FRANK:
Na tentativa Ð O agente quer, mas n‹o pode prosseguir.
Na desist•ncia volunt‡ria Ð O agente pode, mas n‹o quer
prosseguir.
Para que fique caracterizada a desist•ncia volunt‡ria, Ž necess‡rio
que o resultado n‹o se consume em raz‹o da desist•ncia do
agente.
EXEMPLO: Se Poliana dispara um tiro de pistola em Jason e, podendo
disparar mais cinco, n‹o o faz, mas este mesmo assim vem a falecer,
Poliana responde por homic’dio consumado. Se, no entanto, Jason n‹o

50
O STJ j‡ decidiu que a presen•a de c‰meras e dispositivos eletr™nicos de
seguran•a em estabelecimentos comerciais n‹o afasta a possibilidade de
consuma•‹o do crime de furto. Assim, se o agente tenta sair do local com um
produto escondido (furto), mas Ž detido pelos seguran•as, n‹o h‡ crime imposs’vel, pois
havia uma possibilidade, ainda que pequena, de que ele conseguisse burlar o sistema e
causar o preju’zo ao bem jur’dico tutelado (patrim™nio do estabelecimento).
51
BITENCOURT, Op. cit., p. 542/543.

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vem a —bito, Poliana n‹o responde por homic’dio tentado (n‹o h‡
tentativa, lembram-se?), mas por les›es corporais.

No arrependimento eficaz Ž diferente. Aqui o agente j‡


praticou todos os atos execut—rios que queria e podia, mas ap—s
isto, se arrepende do ato e adota medidas que acabam por impedir
a consuma•‹o do resultado.
Imagine que no exemplo anterior, Poliana tivesse disparado todos
os tiros da pistola em Jason. Depois disso, Poliana se arrepende do que
fez e providencia o socorro de Jason, que sobrevive em raz‹o do socorro
prestado. Neste caso, ter’amos arrependimento eficaz.
Ambos os institutos est‹o previstos no art. 15 do CP:
Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na
execu•‹o ou impede que o resultado se produza, s— responde pelos atos
j‡ praticados.(Reda•‹o dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984)

Para que estes institutos ocorram, Ž necess‡rio que a conduta


(desist•ncia volunt‡ria e arrependimento eficaz) impe•a a consuma•‹o do
resultado. Se o resultado, ainda assim, vier a ocorrer, o agente
responde pelo crime, incidindo, no entanto, uma atenuante de pena
genŽrica, prevista no art. 65, III, b do CP.
A Doutrina entende que tambŽm Hç DESISTæNCIA VOLUNTçRIA
quando o agente deixa de prosseguir na execu•‹o para faz•-la mais
tarde, por qualquer motivo, por exemplo, para n‹o levantar suspeitas.
Nesse caso, mesmo n‹o sendo nobre o motivo da desist•ncia, a Doutrina
entende que h‡ desist•ncia volunt‡ria.
Se o crime for cometido em concurso de pessoas e somente um
deles realiza a conduta de desist•ncia volunt‡ria ou arrependimento
eficaz, esta circunst‰ncia se comunica aos demais, pois como se
trata de hip—tese de exclus‹o da tipicidade, o crime n‹o foi cometido,
respondendo todos apenas pelos atos praticados atŽ ent‹o.
Este tema Ž MUITO importante para a segunda fase da OAB.
Vejam como vem sendo abordado:

(FGV - OAB - IX EXAME DE ORDEM - PROVA DISCURSIVA)


Wilson, extremamente embriagado, discute com seu amigo Junior
na cal•ada de um bar j‡ vazio pelo avan•ado da hora. A discuss‹o
torna-se acalorada e, com inten•‹o de matar, Wilson desfere
quinze facadas em Junior, todas na altura do abd™men. Todavia,
ao ver o amigo gritando de dor e esvaindo-se em sangue, Wilson,
desesperado, pega um taxi para levar Junior ao hospital. L‡

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chegando, o socorro Ž eficiente e Junior consegue recuperar-se
das graves les›es sofridas.
Analise o caso narrado e, com base apenas nas informa•›es
dadas, responda, fundamentadamente, aos itens a seguir.
A) ƒ cab’vel responsabilizar Wilson por tentativa de homic’dio?
B) Caso Junior, mesmo tendo sido socorrido, n‹o se recuperasse
das les›es e viesse a falecer no dia seguinte aos fatos, qual seria a
responsabilidade jur’dico-penal de Wilson?
RESPOSTA:
A) N‹o, pois aqui ocorreu o que se entende por arrependimento eficaz.
No arrependimento eficaz o agente j‡ praticou todos os atos execut—rios
que queria e podia, mas ap—s isto, se arrepende do ato e adota medidas
que acabam por impedir a consuma•‹o do resultado. Est‡ previsto no art.
15 do CP:
Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execu•‹o
ou impede que o resultado se produza, s— responde pelos atos j‡
praticados.(Reda•‹o dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984)
Assim, Wilson responder‡ apenas pelas les›es corporais praticadas.
B) Neste caso Wilson responderia pelo delito de homic’dio doloso, em sua
forma consumada, na forma do art. 121 do CP.

(FGV - OAB - XII EXAME DE ORDEM - PROVA DISCURSIVA)


FŽlix, objetivando matar Paola, tenta desferir-lhe diversas
facadas, sem, no entanto, acertar nenhuma. Ainda na tentativa de
atingir a v’tima, que continua a esquivar-se dos golpes, FŽlix,
aproveitando-se do fato de que conseguiu segurar Paola pela
manga da camisa, empunha a arma. No momento, ent‹o, que FŽlix
movimenta seu bra•o para dar o golpe derradeiro, j‡ quase
atingindo o corpo da v’tima com a faca, ele opta por n‹o continuar
e, em seguida, solta
Paola, que sai correndo sem ter sofrido sequer um arranh‹o,
apesar do susto.
Nesse sentido, com base apenas nos dados fornecidos, poder‡
FŽlix ser responsabilizado por tentativa de homic’dio?
Justifique.
COMENTçRIOS: N‹o, FŽlix n‹o responder‡ por tentativa de homic’dio
porque houve, aqui, o que se chama de desist•ncia volunt‡ria, prevista
no art. 15 do CP:
Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execu•‹o
ou impede que o resultado se produza, s— responde pelos atos j‡
praticados.(Reda•‹o dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984)

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Na desist•ncia volunt‡ria o agente, por ato volunt‡rio, desiste de dar
sequ•ncia aos atos execut—rios, mesmo podendo faz•-lo. Conforme a
cl‡ssica FîRMULA DE FRANK:
Na tentativa Ð O agente quer, mas n‹o pode prosseguir.
Na desist•ncia volunt‡ria Ð O agente pode, mas n‹o quer prosseguir.
Para que fique caracterizada a desist•ncia volunt‡ria, Ž necess‡rio que o
resultado n‹o se consume em raz‹o da desist•ncia do agente.
Assim, no caso em tela, FŽlix responde apenas pelos atos praticados.
Como a v’tima n‹o sofreu quaisquer les›es, FŽlix n‹o responde por crime
algum.

3.2.4.! Arrependimento posterior


O arrependimento posterior, por sua vez, n‹o exclui o crime,
pois este j‡ se consumou, mas Ž causa obrigat—ria de diminui•‹o
de pena. Ocorre quando, nos crimes em que n‹o h‡ viol•ncia ou grave
amea•a ˆ pessoa, o agente, atŽ o recebimento da denœncia ou queixa,
repara o dano provocado ou restitui a coisa. Nos termos do art. 16 do CP:
Art. 16 - Nos crimes cometidos sem viol•ncia ou grave amea•a ˆ pessoa,
reparado o dano ou restitu’da a coisa, atŽ o recebimento da denœncia ou da
queixa, por ato volunt‡rio do agente, a pena ser‡ reduzida de um a dois
ter•os. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

EXEMPLO: Imagine o crime de dano (art. 163 do CP), no qual o agente


quebra a vidra•a de uma padaria, revoltado com o esgotamento do p‹o
franc•s naquela tarde. Nesse caso, se antes do recebimento da queixa o
agente ressarcir o preju’zo causado, ele responder‡ pelo crime, mas a
pena aplicada dever‡ ser diminu’da de um a dois ter•os.

Vejam que n‹o se aplica o instituto se o crime Ž cometido


com viol•ncia ou grave amea•a ˆ pessoa.
A Doutrina entende que se a viol•ncia for culposa, pode ser aplicado
o instituto. Assim, se o agente comete les‹o corporal culposa (viol•ncia
culposa), e antes do recebimento da queixa paga todas as despesas
mŽdicas da v’tima, presta todo o aux’lio necess‡rio, deve ser aplicada a
causa de diminui•‹o de pena.
No caso de viol•ncia impr—pria, a Doutrina se divide. A
viol•ncia impr—pria Ž aquela na qual n‹o h‡ viol•ncia propriamente dita,
mas o agente reduz a v’tima ˆ impossibilidade de defesa (ex. Amorda•a e
amarra o caixa da loja no crime de roubo). Parte da Doutrina entende que
o benef’cio pode ser aplicado, parte entende que n‹o pode.
O arrependimento posterior tambŽm se comunica aos demais
agentes (coautores).

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A Doutrina entende, ainda, que se a v’tima se recusar a receber
a coisa ou a repara•‹o do dano, mesmo assim o agente dever‡
receber a causa de diminui•‹o de pena.
O quantum da diminui•‹o da pena (um ter•o a dois ter•os) ir‡
variar conforme a celeridade com que ocorreu o arrependimento e a
voluntariedade deste ato.
Vamos sintetizar isso tudo? O quadro abaixo pode ajudar voc•s
na compreens‹o dos institutos da tentativa, da desist•ncia volunt‡ria, do
arrependimento eficaz e do arrependimento posterior:

QUADRO ESQUEMçTICO
INSTITUTO RESUMO CONSEQUæNCIAS

TENTATIVA Agente pratica a conduta Responde pelo


delituosa, mas por crime, com
circunst‰ncias alheias ˆ redu•‹o de pena
sua vontade, o resultado de 1/3 a 2/3.
n‹o ocorre.

DESISTæNCIA O agente INICIA a pr‡tica da Responde apenas


VOLUNTçRIA conduta delituosa, mas se pelos atos j‡
arrepende, e CESSA a praticados.
atividade criminosa (mesmo Desconsidera-se o
podendo continuar) e o Òdolo inicialÓ, e o
resultado n‹o ocorre. agente Ž punido
apenas pelos danos
que efetivamente
causou.
ARREPENDIMENTO O agente INICIA a pr‡tica da Responde apenas
EFICAZ conduta delituosa E pelos atos j‡
COMPLETA A EXECU‚ÌO DA praticados.
CONDUTA, mas se arrepende Desconsidera-se o
do que fez e toma as Òdolo inicialÓ, e o
provid•ncias para que o agente Ž punido
resultado inicialmente apenas pelos danos
pretendido n‹o ocorra. O que efetivamente
resultado NÌO ocorre. causou.
ARREPENDIMENTO O agente completa a O agente tem a
POSTERIOR execu•‹o da atividade pena reduzida de
criminosa e o resultado 1/3 a 2/3.
efetivamente ocorre.
PorŽm, ap—s a ocorr•ncia do

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resultado, o agente se
arrepende E REPARA O DANO
ou RESTITUI A COISA.
1.! S— pode ocorrer nos
crimes cometidos sem
viol•ncia ou grave
amea•a ˆ pessoa
2.! S— tem validade se
ocorre antes do
recebimento da
denœncia ou queixa.

3.3.! Ilicitude
J‡ vimos que a conduta deve ser considerada um fato t’pico para que
o primeiro elemento do crime esteja presente. Entretanto, isso n‹o basta.
Uma conduta enquadrada como fato t’pico pode n‹o ser il’cita perante o
direito. Assim, a antijuridicidade (ou ilicitude) Ž a condi•‹o de
contrariedade da conduta perante o Direito.
Estando presente o primeiro elemento (fato t’pico), presume-
se presente a ilicitude, devendo o acusado comprovar a exist•ncia
de uma causa de exclus‹o da ilicitude. Percebam, assim, que uma
das fun•›es do fato t’pico Ž gerar uma presun•‹o de ilicitude da conduta,
que pode ser desconstitu’da diante da presen•a de uma das causas de
exclus‹o da ilicitude.

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As causas de exclus‹o da ilicitude podem ser:
¥! GenŽricas Ð S‹o aquelas que se aplicam a todo e qualquer crime.
Est‹o previstas na parte geral do C—digo Penal, em seu art. 23;
¥! Espec’ficas Ð S‹o aquelas que s‹o pr—prias de determinados crimes,
n‹o se aplicando a outros. Por exemplo: Furto de coisas comum,
previsto no art. 156, ¤2¡. Nesse caso, o fato de a coisa furtada ser
comum retira a ilicitude da conduta. PorŽm, s— nesse crime!

As causas genŽricas de exclus‹o da ilicitude s‹o: a) estado de


necessidade; b) leg’tima defesa; c) exerc’cio regular de um direito; d)
estrito cumprimento do dever legal. Entretanto, a Doutrina majorit‡ria e a
Jurisprud•ncia entendem que existem causas supralegais de exclus‹o da
ilicitude (n‹o previstas na lei, mas que decorrem da l—gica, como o
consentimento do ofendido nos crimes contra bens dispon’veis).

3.3.1.! Estado de necessidade


Est‡ previsto no art. 24 do C—digo Penal:
Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para
salvar de perigo atual, que n‹o provocou por sua vontade, nem podia de
outro modo evitar, direito pr—prio ou alheio, cujo sacrif’cio, nas
circunst‰ncias, n‹o era razo‡vel exigir-se.
!
O Brasil adotou a teoria unit‡ria de estado de necessidade, que
estabelece que o bem jur’dico protegido deve ser de valor igual ou
superior ao sacrificado.
EXEMPLO: Marcos e Jo‹o est‹o num avi‹o que est‡ caindo. S— h‡ uma
mochila com paraquedas. Marcos agride Jo‹o atŽ causar-lhe a morte, a
fim de que o paraquedas seja seu e ele possa se salvar. Nesse caso, o
bem jur’dico que Marcos buscou preservar (vida) Ž de igual valor ao bem
sacrificado (Vida de Jo‹o). Assim, Marcos n‹o cometeu crime, pois agiu
coberto por uma excludente de ilicitude, que Ž o estado de necessidade.

No caso de o bem sacrificado ser de valor maior que o bem


protegido, o agente responde pelo crime, mas tem sua pena
diminu’da. Nos termos do art. 24, ¤ 2¡ do CP:
Art. 24 (...)
¤ 2¼ - Embora seja razo‡vel exigir-se o sacrif’cio do direito amea•ado, a pena
poder‡ ser reduzida de um a dois ter•os.
!
Assim, se era razo‡vel entender que o agente deveria sacrificar o
bem que na verdade escolheu proteger, ele responde pelo crime, mas em

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raz‹o das circunst‰ncias ter‡ sua pena diminu’da de um a dois ter•os,
conforme o caso.
Os requisitos para a configura•‹o do estado de necessidade s‹o
basicamente dois: a) a exist•ncia de uma situa•‹o de perigo a um bem
jur’dico pr—prio ou de terceiro; b) o fato necessitado (conduta do agente
na qual ele sacrifica o bem alheio para salvar o pr—prio ou do terceiro).
Entretanto, a situa•‹o de perigo deve:
¥! N‹o ter sido criada voluntariamente pelo agente (ou seja,
se foi ele mesmo quem deu causa, n‹o poder‡ sacrificar o
direito de um terceiro a pretexto de salvar o seu). EXEMPLO:
O agente provoca ao naufr‡gio de um navio e, para se salvar,
mata um terceiro, a fim de ficar com o œltimo colete dispon’vel.
Nesse caso, embora os bens sejam de igual valor, a situa•‹o
de perigo foi criada pelo pr—prio agente, logo, ele n‹o estar‡
agindo em estado de necessidade.52
¥! Perigo atual Ð O perigo deve estar ocorrendo. A lei n‹o
permite o estado de necessidade diante de um perigo futuro,
ainda que iminente;
¥! A situa•‹o de perigo deve estar expondo ˆ les‹o um bem
jur’dico do pr—prio agente ou de um terceiro.
¥! O agente n‹o pode ter o dever jur’dico de impedir o
resultado.

Quanto ˆ conduta do agente, ela deve ser:


¥! Inevit‡vel Ð O bem jur’dico protegido s— seria salvo daquela
maneira. N‹o havia outra forma de salvar o bem jur’dico.
¥! Proporcional Ð O agente deve sacrificar apenas bens jur’dicos
de menor ou igual valor ao que pretende proteger.

O estado de necessidade pode ser


¥! Agressivo Ð Quando para salvar seu bem jur’dico o agente
sacrifica bem jur’dico de um terceiro que n‹o provocou a
situa•‹o de perigo.
¥! Defensivo Ð Quando o agente sacrifica um bem jur’dico de
quem ocasionou a situa•‹o de perigo.

52
A Doutrina se divide quanto ˆ abrang•ncia da express‹o ÒvoluntariamenteÓ. Alguns
sustentam que tanto a causa•‹o culposa quanto a dolosa afastam a possibilidade de
caracteriza•‹o do estado de necessidade (Por todos, ASSIS TOLEDO). Outros defendem
que somente a causa•‹o DOLOSA impede a caracteriza•‹o do estado de necessidade
(Por todos, DAMçSIO DE JESUS e CEZAR ROBERTO BITENCOURT). BITENCOURT, Op.
cit., p. 419

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Pode ser ainda:
¥! Real Ð Quando a situa•‹o de perigo efetivamente existe;
¥! Putativo Ð Quando a situa•‹o de perigo n‹o existe de fato,
apenas na imagina•‹o do agente. Imaginemos que no caso do
colete salva-vidas, ao invŽs de ser o œltimo, existisse ainda
uma sala repleta deles. Assim, a situa•‹o de perigo apenas
passou pela cabe•a do agente, n‹o sendo a realidade, pois
havia mais coletes. Nesse caso, o agente incorreu em erro,
que se for um erro escus‡vel (o agente n‹o tinha como saber
da exist•ncia dos outros coletes), excluir‡ a imputa•‹o do
delito (a maioria da Doutrina entende que teremos exclus‹o da
culpabilidade). J‡ se o erro for inescus‡vel (o agente era
marinheiro h‡ muito tempo, devendo saber que existia mais
coletes), o agente responde pelo crime cometido, MAS NA
MODALIDADE CULPOSA, se houver previs‹o em lei.

Alguns pontos importantes:


ESTADO DE ƒ poss’vel, desde que ambos n‹o tenham criado
NECESSIDADE a situa•‹o de perigo.
RECêPROCO
COMUNICABILIDADE Existe. Se um dos autores houver praticado o
fato em estado de necessidade, o crime fica
exclu’do para todos eles.
ERRO NA EXECU‚ÌO Pode acontecer, e o agente permanece coberto
pelo estado de necessidade. Ex.: Paulo atira em
M‡rio, visando sua morte, para tomar-lhe o
œltimo colete do navio. Entretanto, acerta Jo‹o.
Nesse caso, Paulo permanece acobertado pelo
estado de necessidade, pois se considera
praticado o crime contra a v’tima pretendida,
n‹o a atingida.
MISERABILIDADE O STJ entende que a simples alega•‹o de
miserabilidade n‹o gera o estado de necessidade
para que seja exclu’da a ilicitude do fato.
Entretanto, em determinados casos, poder‡
excluir a culpabilidade, em raz‹o da
inexigibilidade de conduta diversa (estudaremos
mais ˆ frente).

3.3.2.! Leg’tima defesa


Nos termos do art. 25 do CP:

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Art. 25 - Entende-se em leg’tima defesa quem, usando moderadamente dos
meios necess‡rios, repele injusta agress‹o, atual ou iminente, a direito seu
ou de outrem.

O agente deve ter praticado o fato para repelir uma agress‹o.


Contudo, h‡ alguns requisitos:

REQUISITOS PARA A CONFIGURA‚ÌO DA LEGêTIMA DEFESA


¥! Agress‹o Injusta Ð Assim, se a agress‹o Ž justa, n‹o h‡ leg’tima
defesa. Dessa forma, o preso que agride o carcereiro que o est‡
colocando para dentro da cela n‹o age em leg’tima defesa, pois a
agress‹o do carcereiro (empurr‡-lo ˆ for•a) Ž justa.
¥! Atual ou iminente Ð A agress‹o deve estar acontecendo ou prestes a
acontecer. Veja que aqui, diferente do estado necessidade, n‹o h‡
necessidade de que o fato seja atual, bastando que seja iminente.
Desta maneira, se Paulo encontra, em local ermo, Poliana, sua ex-
mulher, que por vingan•a amea•ou mat‡-lo, e esta saca uma arma,
Paulo poder‡ repelir essa agress‹o iminente, pois ainda que n‹o tenha
acontecido, n‹o se pode exigir que Paulo aguarde Poliana come•ar a
efetuar os disparos (absurdo!).
¥! Contra direito pr—prio ou alheio Ð A agress‹o injusta pode estar
acontecendo ou prestes a acontecer contra direito do pr—prio agente
ou de um terceiro. Assim, se Paulo agride Roberto porque ele est‡
agredindo Poliana, n‹o comete crime, pois agiu em leg’tima defesa da
integridade f’sica de terceiro (Poliana).

Quando uma pessoa Ž atacada por um animal, em regra n‹o


age em leg’tima defesa, mas em estado de necessidade, pois os
atos dos animais n‹o podem ser considerados injustos. Entretanto, se o
animal estiver sendo utilizado como instrumento de um crime
(dono determina ao c‹o bravo que morda a v’tima), o agente poder‡
agir em leg’tima defesa. Entretanto, a leg’tima defesa estar‡ ocorrendo
em face do dono (les‹o ao seu patrim™nio, o cachorro), e n‹o em face do
animal.
Com rela•‹o ˆs agress›es praticadas por inimput‡vel, a Doutrina se
divide, mas a maioria entende que nesse caso h‡ leg’tima defesa, e n‹o
estado de necessidade.
Na leg’tima defesa, diferentemente do que ocorre no estado de
necessidade, o agredido (que age em leg’tima defesa) n‹o Ž
obrigado a fugir do agressor, ainda que possa. A lei permite que o
agredido revide e se proteja, ainda que lhe seja poss’vel fugir!
A rea•‹o do agente, por sua vez, deve ser proporcional. Ou seja, os
meios utilizados por ele devem ser suficientes e necess‡rios a repelir a
agress‹o injusta.

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EXEMPLO: Se um ladr‹o furta uma caneta, a v’tima n‹o pode matar
este ladr‹o para repelir esta agress‹o ao seu patrim™nio, pois ainda que
o meio utilizado seja suficiente para que o patrim™nio seja preservado,
n‹o Ž proporcional sacrificar a vida de alguŽm por causa de uma caneta.
Mas nem se for uma Mont Blanc de R$ 5.000,00? N‹o!!!

A leg’tima defesa pode ser:


¥! Agressiva Ð Quando o agente pratica um fato previsto como
infra•‹o penal. Assim, se A agride B e este, em leg’tima defesa,
agride A, est‡ cometendo les›es corporais (art. 129), mas n‹o
h‡ crime, em raz‹o da presen•a da causa excludente da
ilicitude.
¥! Defensiva Ð O agente se limita a se defender, n‹o atacando
nenhum bem jur’dico do agressor.
¥! Pr—pria Ð Quando o agente defende seu pr—prio bem jur’dico.
¥! De terceiro Ð Quando defende bem jur’dico pertencente a outra
pessoa.
¥! Real Ð Quando a agress‹o a imin•ncia dela acontece, de fato,
no mundo real.
¥! Putativa Ð Quando o agente pensa que est‡ sendo agredido ou
que esta agress‹o ir‡ ocorrer, mas, na verdade, trata-se de
fruto da sua imagina•‹o. Aqui, aplica-se o que foi dito acerca
do estado de necessidade putativo!

A leg’tima defesa n‹o Ž presumida. Aquele que a alega deve provar


sua ocorr•ncia, pois, como estudamos, a exist•ncia do fato t’pico tem o
cond‹o de fazer presumir a ilicitude da conduta, cabendo ao acusado
provar a exist•ncia de uma das causas de exclus‹o da ilicitude.

CUIDADO! A leg’tima defesa sucessiva Ž poss’vel! ƒ aquela na qual


o agredido injustamente, acaba por se exceder nos meios para repelir a
agress‹o. Nesse caso, como h‡ excesso, esse excesso n‹o Ž permitido.
Logo, aquele que primeiramente agrediu, agora poder‡ agir em
leg’tima defesa. Se A agride B com tapas leves, e B saca uma pistola e
come•a a disparar contra A, que se afasta e para de agredi-lo, caso B
continue e atirar, A poder‡ sacar sua arma e atirar contra B, pois a
conduta de A se configura como excesso na rea•‹o, e B estar‡ agindo em
leg’tima defesa sucessiva.

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Da mesma forma que no estado de necessidade, se o agredido erra
ao revidar a agress‹o e atinge pessoa que n‹o tem rela•‹o com a
agress‹o (erro sobre a pessoa), continuar‡ amparado pela excludente de
ilicitude, pois o crime se considera praticado contra a pessoa visada, n‹o
contra a efetivamente atingida.
No caso de leg’tima defesa de terceiro, duas hip—teses podem
ocorrer:
¥! O bem do terceiro que est‡ sendo lesado Ž dispon’vel
(bens materiais, etc.) Ð Nesse caso, o terceiro deve concordar
com que o agente atue em seu favor.
¥! O bem do terceiro Ž indispon’vel (Vida, por exemplo) Ð
Nesse caso, o agente poder‡ repelir esta agress‹o ainda que o
terceiro n‹o concorde com esta atitude, pois o bem agredido Ž
um bem de car‡ter indispon’vel.

Voc•s devem ficar atentos a alguns pontos:


Ø! N‹o cabe leg’tima defesa real em face de leg’tima defesa
real, pois se o primeiro age em leg’tima defesa real, sua agress‹o
n‹o Ž injusta, o que impossibilita rea•‹o em leg’tima defesa.
Ø! Cabe leg’tima defesa real em face de leg’tima defesa
putativa. Assim, se A pensa estar sendo amea•ado por B e o
agride (leg’tima defesa putativa), B poder‡ agir em leg’tima defesa
real. Isto porque a atitude de A n‹o Ž justa, logo, Ž uma agress‹o
injusta, de forma que B poder‡ se valer da leg’tima defesa (A atŽ
pode n‹o ser punido por sua conduta, mas isso se dar‡ pela
exclus‹o da culpabilidade em raz‹o da leg’tima defesa putativa).
Ø! Se o agredido se excede, o agressor passa a poder agir em leg’tima
defesa (leg’tima defesa sucessiva).
Ø! Sempre caber‡ leg’tima defesa em face de conduta que
esteja acobertada apenas por causa de exclus‹o da
culpabilidade (pois nesse caso a agress‹o Ž t’pica e il’cita,
embora n‹o culp‡vel).
Ø! NUNCA haver‡ possibilidade de leg’tima defesa real em face
de qualquer causa de exclus‹o da ilicitude real.

(FGV Ð 2012 Ð OAB Ð VI EXAME DE ORDEM)


Ao chegar a um bar, Caio encontra T’cio, um antigo desafeto que,
certa vez, o havia amea•ado de morte. Ap—s ingerir meio litro de
u’sque para tentar criar coragem de abordar T’cio, Caio
partiu em sua dire•‹o com a inten•‹o de cumpriment‡-lo.
Ao aproximar-se de T’cio, Caio observou que seu
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desafeto bruscamente p™s a m‹o por debaixo da camisa, momento
em que achou que T’cio estava prestes a sacar uma arma de
fogo para vitim‡-lo. Em raz‹o disso, Caio imediatamente
muniu-se de uma faca que estava sobre o balc‹o do bar e
desferiu um golpe no abdome de T’cio, o qual veio a falecer. Ap—s
an‡lise do local por peritos do Instituto de Criminal’stica da
Pol’cia Civil, descobriu-se que T’cio estava tentando apenas
pegar o ma•o de cigarros que estava no c—s de sua cal•a.
Considerando a situa•‹o acima, responda aos itens a seguir,
empregando os argumentos jur’dicos apropriados e a
fundamenta•‹o legal pertinente ao caso.
a) Levando-se em conta apenas os dados do enunciado, Caio
praticou crime? Em caso positivo, qual? Em caso negativo, por
que raz‹o?
b) Supondo que, nesse caso, Caio tivesse desferido 35 golpes
na barriga de T’cio, como deveria ser analisada a sua conduta
sob a —tica do Direito Penal?
RESPOSTA:
A) N‹o, pois Caio agiu em leg’tima defesa putativa, pois acreditou estar
presente situa•‹o que, se de fato existisse, tornaria sua a•‹o leg’tima,
nos termos do art. 20, ¤1¼ do CP.
B) Neste caso, ficaria evidente que Caio agiu em excesso (excesso
doloso), de forma que deveria responder pelo resultado ocorrido
(homic’dio doloso consumado), pois sua rea•‹o n‹o teria sido moderada e
estritamente necess‡ria para repelir a injusta agress‹o, nos termos do
art. 23, ¤ œnico do CP.

3.3.3.! Estrito cumprimento do dever legal

Nos termos do art. 23, III do CP:


Art. 23 - N‹o h‡ crime quando o agente pratica o fato:
(...)
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exerc’cio regular de direito.

Age acobertado por esta excludente aquele que pratica fato t’pico,
mas o faz em cumprimento a um dever previsto em lei.
Assim, o Policial tem o dever legal de manter a ordem pœblica. Se
alguŽm comete crime, eventuais les›es corporais praticadas pelo policial
(quando da persegui•‹o) n‹o s‹o consideradas il’citas, pois embora tenha
sido provocada les‹o corporal (prevista no art. 129 do CP), o policial agiu
no estrito cumprimento do seu dever legal.

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CUIDADO! Quando o policial, numa troca de tiros, acaba por ferir ou
matar um suspeito, ele n‹o age no estrito cumprimento do dever legal,
mas em leg’tima defesa. Isso porque o policial s— pode atirar contra
alguŽm quando isso for absolutamente necess‡rio para repelir injusta
agress‹o contra si ou contra terceiros.53

Se um terceiro colabora com aquele que age no estrito cumprimento


do dever legal, a ele tambŽm se estende essa causa de exclus‹o da
ilicitude. Diz-se que h‡ comunicabilidade.

ƒ muito comum ver pessoas afirmarem que


essa causa s— se aplica aos funcion‡rios
pœblicos. ERRADO! O particular tambŽm
==0==

pode agir no estrito cumprimento do dever


legal. O advogado, por exemplo, que se
nega a testemunhar sobre fato conhecido
em raz‹o da profiss‹o, n‹o pratica crime,
pois est‡ cumprindo seu dever legal de
sigilo, previsto no estatuto da OAB. Esse Ž
apenas um exemplo.

3.3.4.! Exerc’cio regular de direito


O C—digo Penal prev• essa excludente da ilicitude tambŽm no art. 23,
III:
Art. 23 - N‹o h‡ crime quando o agente pratica o fato:
(...)
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exerc’cio regular de direito.
Dessa forma, quem age no leg’timo exerc’cio de um direito seu,
n‹o poder‡ estar cometendo crime, pois a ordem jur’dica deve ser
harm™nica, de forma que uma conduta que Ž considerada um direito da
pessoa, n‹o pode ser considerada crime, por quest›es l—gicas. Trata-se
de preservar a coer•ncia do sistema54.
Mas o direito deve estar previsto em lei? Sim! A Doutrina
majorit‡ria entende que os direitos derivados dos costumes locais n‹o
podem ser invocados como causas de exclus‹o da ilicitude.
Quando um atleta entra no octagon (aquela jaula das artes marciais
mistas, antigo vale-tudo), e agride o outro atleta, est‡ causando-lhe

53
BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. cit., p. 431
54
O Prof. Zaffaroni entenderia que, neste caso, o fato Ž at’pico, pois, pela sua teoria da
tipicidade conglobante, um fato nunca poder‡ ser t’pico quando sua pr‡tica foi tolerada
ou determinada pelo sistema jur’dico. Fica apenas o registro, mas essa teoria n‹o Ž
adotada pelo CP e Doutrinariamente Ž discutida. Lembrem-se: Fica apenas o registro.

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les›es corporais (art. 129 do CP). Entretanto, n‹o comete crime, pois tem
esse direito j‡ que ambos est‹o se submetendo a uma pr‡tica
desportiva que permite esse tipo de conduta.
CUIDADO! Se esse mesmo atleta descumprir as regras do esporte
(chutar a cabe•a do outro atleta ca’do, por exemplo) e causar-lhe les›es,
poder‡ responder pelo crime que cometer, pois n‹o lhe Ž permitido fazer
isso!

3.3.5.! Excesso pun’vel


O excesso pun’vel Ž o exerc’cio irregular de uma causa
excludente da ilicitude, seja porque n‹o h‡ mais a circunst‰ncia que
permitia seu exerc’cio (cessou a agress‹o, no caso da leg’tima defesa, por
exemplo, seja porque o meio utilizado n‹o Ž proporcional (agredido saca
uma metralhadora para repelir um tapa, no caso da leg’tima defesa). No
primeiro caso, temos o excesso extensivo, e no segundo, o excesso
intensivo. Nesses casos, a lei prev• que aquele que se exceder
responder‡ pelos danos que causar, art. 23, ¤ œnico do CP:
Art. 23 (...)
Par‡grafo œnico - O agente, em qualquer das hip—teses deste artigo,
responder‡ pelo excesso doloso ou culposo.
Aplica-se a qualquer das causas excludentes da ilicitude. Assim, o
policial que, ap—s prender o ladr‹o, come•a a desferir socos em seu rosto,
n‹o estar‡ agindo amparado pelo estrito cumprimento do dever legal,
pois est‡ se excedendo.

3.4.! Culpabilidade

A culpabilidade nada mais Ž que o ju’zo de reprovabilidade acerca


da conduta do agente, considerando-se suas circunst‰ncias
pessoais.55
Diferentemente do que ocorre nos dois primeiros elementos (fato
t’pico e ilicitude), onde se analisa o fato, na culpabilidade o objeto de
estudo n‹o Ž o fato, mas o agente. Da’ alguns doutrinadores
entenderem que a culpabilidade n‹o integra o crime (por n‹o estar
relacionada ao fato criminoso, mas ao agente). Entretanto, vamos
trabalh‡-la como elemento do crime.
N‹o vamos nos prender ˆs teorias acerca da culpabilidade. Basta que
voc•s saibam que o CP adotou a teria limitada da culpabilidade.56

55
BITENCOURT, Op. cit., p. 451/452
56
Esta teoria Ž uma subdivis‹o da Teoria Normativa Pura. Para a Teoria Normativa
Pura, os elementos da culpabilidade s‹o: a) imputabilidade; b) potencial consci•ncia da

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Vamos focar naquilo que realmente importa para a PROVA
PRçTICO-PROFISSIONAL do Exame da OAB, que s‹o as hip—teses
de exclus‹o da culpabilidade.

3.4.1.! Imputabilidade penal


O C—digo Penal n‹o define o que seria imputabilidade penal, apenas
descreve as hip—teses em que ela n‹o est‡ presente.
A imputabilidade penal pode ser conceituada como a capacidade
mental de entender o car‡ter il’cito da conduta e de comportar-se
conforme o Direito.
Existem tr•s sistemas acerca da imputabilidade:
Ø! Biol—gico Ð Basta a exist•ncia de uma doen•a mental ou
determinada idade para que o agente seja inimput‡vel. ƒ
adotado no Brasil com rela•‹o aos menores de 18 anos. Trata-
se de critŽrio meramente biol—gico: Se o agente tem menos de
18 anos, Ž inimput‡vel.
Ø! Psicol—gico Ð S— se pode aferir a imputabilidade (ou n‹o), na
an‡lise do caso concreto.
Ø! Biopsicol—gico Ð Deve haver uma doen•a mental (critŽrio
biol—gico, legal, objetivo), mas o Juiz deve analisar no caso
concreto se o agente era ou n‹o capaz de entender o car‡ter
il’cito da conduta e de se comportar conforme o Direito (critŽrio

ilicitude; c) exigibilidade de conduta diversa. A potencial consci•ncia da ilicitude seria a


an‡lise concreta acerca das possibilidades que o agente tinha de conhecer o car‡ter
il’cito de sua conduta.
Para a maior parte da Doutrina, a teoria normativa pura se divide em:
Teoria extremada e Teoria limitada.
A grande diferen•a entre elas reside no tratamento dispensado ao erro sobre as
causas de justifica•‹o (ou de exclus‹o da antijuridicidade), tambŽm conhecidas como
descriminantes putativas.
A teoria extremada defende que todo erro que recaia sobrea uma causa de justifica•‹o
seria equiparado ao erro de proibi•‹o.
A teoria limitada, por sua vez, divide o erro sobre as causas de justifica•‹o
(descriminantes putativas) em:
Erro sobre pressuposto f‡tico da causa de justifica•‹o (ou erro de fato) Ð Neste
caso, aplicam-se as mesmas regras previstas para o erro de tipo (tem-se aqui o que se
chama de ERRO DE TIPO PERMISSIVO).56
Erro sobre a exist•ncia ou limites jur’dicos de uma causa de justifica•‹o (erro
sobre a ilicitude da conduta) Ð Neste caso, tal teoria defende que devam ser aplicadas as
mesmas regras previstas para o erro de PROIBI‚ÌO, por se assemelhar ˆ conduta
daquele que age consci•ncia da ilicitude.

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psicol—gico). Essa foi a teoria adotada como REGRA pelo
nosso C—digo Penal.57

CUIDADO! A imputabilidade penal deve ser aferida quando do momento


em que ocorreu o fato criminoso. Assim, se A (menor com 17 anos e 11
meses de idade) atira contra B, que fica em coma e s— vem a falecer
quando A j‡ tinha mais de 18 anos, A ser‡ considerado INIMPUTçVEL,
pois no momento do crime (momento da a•‹o ou omiss‹o, art. 4¼ do
CP), era menor de 18 anos (critŽrio puramente biol—gico, adotado
como EXCE‚ÌO no CP).
Imaginem, agora, que Marcelo, com 17 anos, sequestra Juliana. O
sequestro dura 06 meses e, ao final, Marcelo j‡ contava com 18 anos.
Neste caso, Marcelo ser‡ considerado IMPUTçVEL, pois no momento do
crime Marcelo era imput‡vel (ainda que n‹o fosse imput‡vel no come•o,
a partir de um dado momento passou a ser imput‡vel, respondendo pelo
delito).

As causas de inimputabilidade est‹o previstas nos arts. 26, 27 e 28


do CP:
Art. 26 - ƒ isento de pena o agente que, por doen•a mental ou
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da
a•‹o ou da omiss‹o, inteiramente incapaz de entender o car‡ter
il’cito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
(Reda•‹o dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984)
Redu•‹o de pena
Par‡grafo œnico - A pena pode ser reduzida de um a dois ter•os, se o agente,
em virtude de perturba•‹o de saœde mental ou por desenvolvimento mental
incompleto ou retardado n‹o era inteiramente capaz de entender o
car‡ter il’cito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento. (Reda•‹o dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984)
Menores de dezoito anos
Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos s‹o penalmente
inimput‡veis, ficando sujeitos ˆs normas estabelecidas na legisla•‹o
especial. (Reda•‹o dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984)
Emo•‹o e paix‹o
Art. 28 - N‹o excluem a imputabilidade penal: (Reda•‹o dada pela Lei n¼
7.209, de 11.7.1984)
I - a emo•‹o ou a paix‹o; (Reda•‹o dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984)
Embriaguez
II - a embriaguez, volunt‡ria ou culposa, pelo ‡lcool ou subst‰ncia de efeitos
an‡logos.(Reda•‹o dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984)
¤ 1¼ - ƒ isento de pena o agente que, por embriaguez completa,
proveniente de caso fortuito ou for•a maior, era, ao tempo da a•‹o ou
da omiss‹o, inteiramente incapaz de entender o car‡ter il’cito do fato

57
BITENCOURT, Op. cit., p. 474.

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ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.(Reda•‹o dada
pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984)
¤ 2¼ - A pena pode ser reduzida de um a dois ter•os, se o agente, por
embriaguez, proveniente de caso fortuito ou for•a maior, n‹o
possu’a, ao tempo da a•‹o ou da omiss‹o, a plena capacidade de
entender o car‡ter il’cito do fato ou de determinar-se de acordo com
esse entendimento. (Reda•‹o dada pela Lei n¼ 7.209, de 11.7.1984)

Percebam que os critŽrios biol—gicos (circunst‰ncias que


presumidamente retiram a capacidade de discernimento) est‹o
grifados em preto, e os critŽrios psicol—gicos (an‡lise efetiva da
aus•ncia de discernimento quanto ˆ ilicitude do fato ou
possibilidade de agir conforme o Direito) est‹o grifados em
vermelho.
Para facilitar, ainda, o estudo de voc•s, grifei em azul as hip—teses
de semi-imputabilidade.
Vamos explicar as hip—teses de inimputabilidade:

(i) Menor de 18 anos


Esse Ž um critŽrio meramente biol—gico e taxativo: Se o agente
Ž menor de 18 anos, responde perante o ECA n‹o se aplicando a ele o CP,
nos termos do art. 27 do CP.

(ii)! Doen•a mental e Desenvolvimento mental incompleto


ou retardado
No caso dos doentes mentais, deve-se analisar se o agente era
inteiramente incapaz de entender o car‡ter il’cito da conduta ou se era
parcialmente incapaz disso. No primeiro caso, ser‡ inimput‡vel, ou seja,
isento de pena. No segundo caso, ser‡ semi-imput‡vel, e ser‡ aplicada
pena, porŽm, reduzida de um a dois ter•os.
Lembrando que o art. 26 do CP exige, para fins de inimputabilidade
por este motivo:
¥! Que o agente possua a doen•a (critŽrio biol—gico)
¥! Que o agente seja inteiramente incapaz de entender o
car‡ter il’cito do fato OU inteiramente incapaz de
determinar-se conforme este entendimento (critŽrio
psicol—gico)

Por isso se diz que este Ž um critŽrio BIOPSICOLîGICO (pois


mescla os dois critŽrios).
Nos dois casos acima, se o agente for inimput‡vel, exclui-se a
culpabilidade e ele Ž isento de pena. Se for semi-imput‡vel, ser‡
considerado culp‡vel (n‹o se exclui a culpabilidade), mas sua pena ser‡
reduzida de um a dois ter•os.

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No caso de o agente ser inimput‡vel, por ser menor de 18 anos, n‹o
h‡ processo penal, respondendo perante o ECA. No caso de ser
inimput‡vel em raz‹o de doen•a mental ou desenvolvimento incompleto,
ser‡ isento de pena (absolvido), mas o Juiz aplicar‡ uma medida de
seguran•a (interna•‹o ou tratamento ambulatorial). Isso Ž o que se
chama de senten•a absolut—ria impr—pria (Pois, apesar de conter
uma absolvi•‹o, contŽm uma espŽcie de san•‹o penal).
No caso de o agente ser semi-imput‡vel, ele n‹o ser‡ isento
de pena! Ser‡ condenado a uma pena, que ser‡ reduzida. Entretanto, a
lei permite que o Juiz, diante do caso, substitua a pena privativa de
liberdade por uma medida de seguran•a (interna•‹o ou tratamento
ambulatorial).

(ii)! Embriaguez
Segundo o CP, a embriaguez n‹o Ž uma hip—tese de
inimputabilidade, salvo se decorrente de caso fortuito ou for•a
maior (E mesmo assim, deve ser completa e retirar totalmente a
capacidade de discernimento do agente).
EXEMPLO: Imaginem que Luciana Ž embriagada por Carlos (que coloca
‡lcool em seus drinks). Sem saber, Luciana ingere as bebidas alco—licas e
comete crime. Nesse caso, Poliana poder‡ ser inimput‡vel ou semi-
imput‡vel, a depender de seu n’vel de discernimento quando da pr‡tica
da conduta.

Vejamos o seguinte esquema:

Embriaguez:

Volunt‡ria N‹o excluem a


Culposa imputabilidade

COMPLETA Ð agente
Acidental (caso fortuito ou for•a maior) Ž inimput‡vel

PARCIAL Ð agente Ž
semi-imput‡vel

Importante destacar que o CP exige que EM RAZÌO da embriaguez


decorrente de caso fortuito ou for•a maior o agente esteja
INTEIRAMENTE INCAPAZ de entender o car‡ter il’cito do fato ou
de determinar-se conforme este entendimento.
Em qualquer dos dois casos de embriaguez acidental, n‹o ser‡
poss’vel aplica•‹o de medida de seguran•a, pois essa visa ao
tratamento do agente considerado doente, e que oferece risco ˆ
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sociedade. No caso da embriaguez acidental, o agente Ž sadio, tendo
ingerido ‡lcool por caso fortuito ou for•a maior.
⇒! E a embriaguez patol—gica? A embriaguez patol—gica pode
excluir a imputabilidade, desde que se configure como embriaguez
verdadeiramente doentia (n‹o apenas embriaguez habitual). Nesse caso,
o agente ser‡ tratado como doente mental.
⇒! E a embriaguez preordenada? N‹o afeta a imputabilidade do
agente. Trata-se, ainda, de circunst‰ncia agravante da pena.

3.4.2.! Potencial consci•ncia da ilicitude


A potencial consci•ncia da ilicitude Ž a possibilidade (da’ o termo
ÒpotencialÓ) de o agente, de acordo com suas caracter’sticas, conhecer o
car‡ter il’cito do fato58. N‹o se trata do par‰metro do homem mŽdio, mas
de uma an‡lise da pessoa do agente. Assim, aquele que Ž formado em
Direito, em tese, tem maior potencial consci•ncia da ilicitude que
aquele que nunca saiu de uma aldeia de pescadores e tem pouca
instru•‹o. ƒ claro que isso varia de pessoa para pessoa e,
principalmente, de crime para crime, pois alguns s‹o do conhecimento
geral (homic’dio, roubo), e outros nem todos conhecem (bigamia, por
exemplo).
Quando o agente age acreditando que sua conduta n‹o Ž penalmente
il’cita, comete erro de proibi•‹o (art. 21 do CP).
O erro de proibi•‹o pode ser:
Ø! Escus‡vel Ð Nesse caso, era imposs’vel ˆquele agente,
naquele caso concreto, saber que sua conduta era contr‡ria ao
Direito Penal. Nesse caso, exclui-se a culpabilidade e o agente
Ž isento de pena.
Ø! Inescus‡vel Ð Nesse caso, o erro do agente quanto ˆ
proibi•‹o da conduta n‹o Ž t‹o perdo‡vel, pois era poss’vel,
mediante algum esfor•o, entender que se tratava de conduta
penalmente il’cita. Assim, permanece a culpabilidade,
respondendo pelo crime, com pena diminu’da de um sexto a
um ter•o (conforme o grau de possibilidade de conhecimento
da ilicitude).

3.4.3.! Exigibilidade de conduta diversa


N‹o basta que o agente seja imput‡vel, que tenha potencial
conhecimento da ilicitude do fato, Ž necess‡rio, ainda, que o agente
pudesse agir de outro modo.
EXEMPLO: imagine a situa•‹o de uma m‹e que v• seu filho clamar por

58
BACIGALUPO, Enrique. Manual de Derecho penal. Ed. Temis S.A., tercera
reimpressi—n. Bogot‡, 1996, p. 153

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comida e, diante disso, rouba um cesto de p‹es. Nesse caso, a m‹e era
maior de idade, sabia que a conduta era il’cita, mas n‹o se podia exigir
que, naquelas circunst‰ncias, agisse de outro modo. Dessa forma, nesse
caso, sua culpabilidade estaria exclu’da (isso sem comentar o princ’pio da
bagatela, que excluiria a pr—pria tipicidade, por aus•ncia de les‹o
tutel‡vel. Mas isso dependeria da an‡lise de outros fatores do caso
concreto).

Esse elemento da culpabilidade fundamenta duas causas de exclus‹o


da culpabilidade:
Ø! Coa•‹o MORAL irresist’vel Ð Ocorre quando uma pessoa
coage outra a praticar determinado crime, sob a amea•a de
lhe fazer algum mal grave. Ex.: Alberto coloca uma arma na
cabe•a de Poliana e diz que se ela n‹o atirar em Romeu,
matar‡ seu filho, que est‡ sequestrado por seus comparsas.
Nesse caso, n‹o se pode exigir de Poliana que deixe de atirar
em Romeu, pois est‡ sob amea•a de um mal grav’ssimo
(morte do filho).
Ø! Obedi•ncia hier‡rquica Ð ƒ o ato cometido por alguŽm em
cumprimento a uma ordem ilegal proferida por um superior
hier‡rquico. Cuidado! A ordem n‹o pode ser
MANIFESTAMENTE ILEGAL. Se aquele que cumpre a ordem
sabe que est‡ cometendo uma ordem ilegal, responde pelo
crime juntamente com aquele que deu a ordem. Se a ordem
n‹o Ž manifestamente ilegal aquele que apenas a cumpriu
estar‡ acobertado pela excludente de culpabilidade da
inexigibilidade de conduta diversa.

CUIDADO! Nesse caso, s— se aplica aos funcion‡rios pœblicos, n‹o


aos particulares!

Com rela•‹o ˆ coa•‹o mora irresist’vel, voc•s podem perceber que


eu coloquei a express‹o ÒMORALÓ em caixa alta. Foi para deixar BEM
CLARO que somente a coa•‹o MORAL irresist’vel Ž que exclui a
culpabilidade (por inexigibilidade de conduta diversa).
A coa•‹o FêSICA irresist’vel NÌO EXCLUI A CULPABILIDADE. A
coa•‹o FêSICA irresist’vel EXCLUI O FATO TêPICO, pois o fato n‹o
ser‡ t’pico por aus•ncia de CONDUTA, j‡ que n‹o h‡ vontade.

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3.5.! ERRO

3.5.1.! Erro de tipo


Sabemos que o crime, em seu conceito anal’tico, Ž formado
basicamente por tr•s elementos: Fato t’pico (para alguns, tipicidade, mas
a nomenclatura aqui Ž irrelevante), ilicitude e culpabilidade.
Quando o agente comete um fato que se amolda perfeitamente ˆ
conduta descrita no tipo penal (direta ou indiretamente), temos um fato
t’pico e, como disse, estar‡ presente, portanto, a tipicidade.
Pode ocorrer, entretanto, que o agente pratique um fato t’pico por
equ’voco! Isso mesmo! O agente pratica um fato considerado t’pico,
mas o faz por ter incidido em erro sobre algum de seus elementos.
O erro de tipo Ž a representa•‹o err™nea da realidade, na qual
o agente acredita n‹o se verificar a presen•a de um dos elementos
essenciais que comp›em o tipo penal.
EXEMPLO: Imaginemos o crime de desacato:
Art. 331 - Desacatar funcion‡rio pœblico no exerc’cio da fun•‹o ou em raz‹o
dela:
Pena - deten•‹o, de seis meses a dois anos, ou multa.
Imaginemos que o agente desconhecesse a condi•‹o de funcion‡rio
pœblico da v’tima. Nesse caso, houve erro de tipo, pois o agente incidiu
em erro sobre elemento essencial do tipo penal.

O erro de tipo pode ocorrer, tambŽm, nos crimes omissivos


impr—prios (comissivos por omiss‹o), pois o agente pode
desconhecer sua condi•‹o de garantidor no caso concreto59 (aquele que
tem o dever de impedir o resultado).
EXEMPLO: Imagine que uma m‹e presencie o estupro da pr—pria filha,
mas nada fa•a, por n‹o verificar tratar-se de sua filha. Nesse caso, a
m‹e incidiu em erro de tipo, pois errou na representa•‹o da realidade
f‡tica acerca de elemento que constitu’a o tipo penal. Ou seja, n‹o
identificou que a v’tima era sua filha, elemento este que faria surgir seu
dever de intervir.

59
BITENCOURT, Op. cit., p. 512

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ATEN‚ÌO! Quando o erro incidir sobre
elemento normativo do tipo60, h‡
diverg•ncia na Doutrina! Parte entende que
continua se tratando de erro de tipo. Outra
parte da Doutrina entende que n‹o se trata de
erro de tipo, mas de erro de proibi•‹o, pois o
agente estaria errando acerca da licitude do
fato61. Exemplo: O art. 154 do CP diz o
seguinte: Art. 154 - Revelar alguŽm, sem justa
causa, segredo, de que tem ci•ncia em raz‹o de fun•‹o,
ministŽrio, of’cio ou profiss‹o, e cuja revela•‹o possa
produzir dano a outrem: Pena - deten•‹o, de tr•s meses
a um ano, ou multa. Nesse caso, o elemento Òsem
justa causaÓ Ž elemento normativo do tipo. Se o
mŽdico revela um segredo do paciente para um
parente, acreditando que este poder‡ ajud‡-lo,
e faz isso apenas para o bem do paciente,
acreditando haver justa causa, quando na
verdade o parente Ž um tremendo fofoqueiro
que s— quer difamar o paciente, o mŽdico
incorreu em erro de tipo, pois acreditava estar
agindo com justa causa, que n‹o havia. PorŽm,
como disse a voc•s, parte da doutrina entende
que aqui se trata de erro de proibi•‹o. Mas a
teoria que prevalece Ž a de que se trata
mesmo de erro de tipo.

O erro de tipo pode ser:


¥! Escus‡vel Ð Quando o agente n‹o poderia conhecer, de fato,
a presen•a do elemento do tipo. Exemplo: ÒAÓ entra numa
loja e ao sair, verifica que esqueceu sua bolsa. Ao voltar, A
encontra uma bolsa id•ntica ˆ sua, e a leva embora.
Entretanto, ÒAÓ n‹o sabia que essa bolsa era de ÒBÓ, que
estava olhando revistas distra’da, tendo sua bolsa sido levada
por outra pessoa no momento em que saiu da loja pela
primeira vez. Nesse caso, ÒAÓ n‹o tinha como imaginar que
alguŽm, em t‹o pouco tempo, haveria roubado sua bolsa e
60
Com rela•‹o a estes termos, CEZAR ROBERTO BITENCOURT os considera como
Òelementos normativos especiais da ilicitudeÓ. Para o autor, elementos normativos
seriam aqueles que demandam mero ju’zo de valor acerca de um objeto (saber que o
documento falsificado Ž pœblico, por exemplo, no crime de falsifica•‹o de documento
pœblico). Termos como ÒindevidamenteÓ, Òsem justa causaÓ, etc., seriam antecipa•‹o da
ilicitude do fato inseridas dentro do tipo penal. (BITENCOURT, Op. cit., p. 350). Fica
apenas o registro, j‡ que a Doutrina majorit‡ria entende que tais express›es s‹o
elementos normativos do tipo penal. Ver, por todos: GOMES, Luiz Flavio. BIANCHINI,
Alice. Op. cit., p. 211.
61
BITENCOURT, Op. cit., p. 514/515

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que outra pessoa deixaria no mesmo lugar uma bolsa
id•ntica. Nesse caso, ÒAÓ incorreu em erro de tipo
escus‡vel, pois n‹o poderia, com um exerc’cio mental
razo‡vel, saber que aquela n‹o era sua bolsa.
¥! Inescus‡vel Ð Ocorre quando o agente incorre em erro sobre
elemento essencial do tipo, mas poderia, mediante um
esfor•o mental razo‡vel, n‹o ter agido desta forma.
Exemplo: Imaginemos que Marcelo esteja numa reparti•‹o
pœblica e acabe por desacatar funcion‡rio pœblico que l‡
estava. Marcelo n‹o sabia que se tratava de funcion‡rio
pœblico, mas mediante esfor•o mental m’nimo poderia ter
chegado a esta conclus‹o, analisando a postura da pessoa
com quem falava e o que a pessoa fazia no local. Assim,
Marcelo incorreu em erro de tipo inescus‡vel, e responderia
por crime culposo, caso houvesse previs‹o de desacato
culposo (n‹o h‡).

Assim, lembrem-se:
Agente comete o fato
típico por incidir em
erro sobre um dos
ERRO DE
elementos que
compõem o tipo penal
TIPO

Pode ser que se utilize o termo ÒErro sobre elemento constitutivo


do tipo penalÓ. Eu prefiro essa nomenclatura, mas ela n‹o Ž utilizada
sempre.

ATEN‚ÌO! Existe, ainda, o que se convencionou chamar de Òerro de tipo


permissivoÓ. O que Ž isso? O erro de Òtipo permissivoÓ Ž o erro sobre os
pressupostos objetivos de uma causa de justifica•‹o (excludente de
ilicitude). Assim, o erro de Òtipo permissivoÓ seria, basicamente,
uma descriminante putativa. Fala-se em Òtipo permissivoÓ em raz‹o
da teoria dos elementos negativos do tipo, surgida na Alemanha no
come•o do sŽculo passado. Para esta teoria, as causas de exclus‹o da
ilicitude seriam elementos NEGATIVOS do tipo. Ou seja, enquanto o
Òtipo incriminadorÓ propriamente dito seria a descri•‹o da conduta
proibida, as excludentes de ilicitude corresponderiam a ÒressalvasÓ ˆ
ilicitude da conduta. Desta forma, o que a Doutrina quis dizer foi que,
basicamente, quando o art. 121 do CP diz que Òmatar alguŽmÓ Ž crime,
ele na verdade quer dizer que Òmatar alguŽm Ž crime, exceto se houver
alguma causa de justifica•‹oÓ.
Esta Ž uma teoria que conta com alguns adeptos e, independentemente

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disso, o fato Ž que o termo Òerro de tipo permissivoÓ Ž largamente
utilizado e, portanto, digno de nota!
Este tambŽm Ž um tema que costuma ser lembrado no Exame
da OAB:

(FGV Ð 2012 Ð OAB Ð VII EXAME DE ORDEM)


Larissa, senhora aposentada de 60 anos, estava na rodovi‡ria
de sua cidade quando foi abordada por um jovem simp‡tico
e bem vestido. O jovem pediu-lhe que levasse para a cidade
de destino, uma caixa de medicamentos para um primo, que
padecia de grave enfermidade. Inocente, e seguindo seus
preceitos religiosos, a Sra. Larissa atende ao rapaz: pega a caixa,
entra no ™nibus e segue viagem. Chegando ao local da entrega, a
senhora Ž abordada por policiais que, ao abrirem a caixa de
remŽdios, verificam a exist•ncia de 250 gramas de coca’na em
seu interior. Atualmente, Larissa est‡ sendo processada pelo
crime de tr‡fico de entorpecente, previsto no art. 33 da lei n.
11.343, de 23 de agosto de 2006. Considerando a situa•‹o
acima descrita e empregando os argumentos jur’dicos
apropriados e a fundamenta•‹o legal pertinente, responda: qual
a tese defensiva aplic‡vel ˆ Larissa?
COMENTçRIOS: A principal tese defensiva a ser utilizada em favor de
Larissa Ž a tese de que teria havido erro de tipo.
Isso porque Larissa incidiu em erro sobre um dos elementos do tipo
penal, qual seja, a condi•‹o de subst‰ncia entorpecente da mercadoria,
pois acreditava que se tratava de uma caixa de medicamentos.
Aplica-se, portanto, o art. 20 do CP, afastando-se o dolo.

3.5.2.! Erro de tipo acidental


O erro de tipo acidental nada mais Ž que um erro na execu•‹o do
fato criminoso ou um desvio no nexo causal da conduta com o
resultado62. Pode ser:
ü! ERRO SOBRE A PESSOA (ERROR IN PERSONA) Ð Aqui o
agente pratica o ato contra pessoa diversa da pessoa visada,
por confundi-la com a pessoa que deveria ser o alvo do delito.
Neste caso, o erro Ž irrelevante, pois o agente responde
como se tivesse praticado o crime CONTRA A PESSOA
VISADA. Essa previs‹o est‡ no art. 20, ¤3¡ do CP.

62
GOMES, Luiz Flavio. BIANCHINI, Alice. Op. cit., p. 376

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ü! ERRO SOBRE O NEXO CAUSAL (ABERRATIO CAUSAE) Ð
Aqui temos o que se chama de DOLO GERAL OU
SUCESSIVO. ƒ o engano no que se refere ao meio de
execu•‹o do delito. Ocorre quando o agente, acreditando j‡ ter
ocorrido o resultado pretendido, pratica outra conduta, mas ao
final verifica que esta œltima foi a que provocou o resultado.
Ex.: O agente atira contra a v’tima, visando sua morte.
Acreditando que a v’tima morreu, atira o corpo num rio,
visando sua oculta•‹o. Mais tarde, descobre-se que esta œltima
conduta foi a que causou a morte da v’tima, por afogamento,
pois ainda estava viva. A Doutrina majorit‡ria entende que
o agente responde pelo crime originalmente previsto
(homic’dio doloso consumado, e n‹o homic’dio tentado
c/c homic’dio culposo), embora, na verdade, tivŽssemos um
homic’dio tentado (a primeira conduta) e um homic’dio culposo
consumado (a segunda conduta).
ü! ERRO NA EXECU‚ÌO (ABERRATIO ICTUS) Ð Aqui o agente
atinge pessoa diversa daquela que fora visada, mas n‹o por
confundi-la, mas por ERRAR NA HORA DE PRATICAR O
DELITO. Imagine que o agente, tentando acertar ÒAÓ, erre o
tiro e acaba acertando ÒBÓ. No erro sobre a pessoa o agente
n‹o Òerra o alvoÓ, ele Òacerta o alvoÓ, mas o alvo foi
confundido. SÌO COISAS DIFERENTES! Nesse caso, assim
como no erro sobre a pessoa, o agente responde pelo crime
originalmente pretendido. Esta Ž a previs‹o do art. 73 do CP. O
erro na execu•‹o pode ser: a) com unidade simples Ð O
agente atinge somente a pessoa diversa daquela visada; b)
com unidade complexa Ð O agente atinge a v’tima n‹o
visada, mas atinge tambŽm a v’tima originalmente pretendida.
Nesse caso, responde pelos dois crimes, em CONCURSO
FORMAL.
ü! ERRO NO CRIME (ABERRATIO DELICTI) Ð Aqui o agente
pretendia cometer um crime, mas acaba cometendo outro.
Imagine que alguŽm atire uma pedra num ve’culo parado, com
o dolo de danific‡-lo (art. 163 do CP). Entretanto, o agente
erra o alvo e atinge o dono, que estava perto (cometendo
les›es corporais, art. 129 do CP). Nesse caso, o agente acaba
por cometer CRIME DIVERSO DO PRETENDIDO. Responder‡
apenas pelo crime praticado efetivamente (les‹o corporal
culposa). Aplica-se a mesma regra do erro na execu•‹o: Se o
agente atingir ambos os bens jur’dicos (o pretendido e o n‹o
pretendido) responder‡ por AMBOS OS CRIMES, em
CONCURSO FORMAL (art. 70 do CP).63

63
GOMES, Luiz Flavio. BIANCHINI, Alice. Op. cit., p. 379

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3.5.3.! Erro de proibi•‹o
A culpabilidade (terceiro elemento do conceito anal’tico de crime) Ž
formada por alguns elementos, dentre eles, a POTENCIAL
CONSCIæNCIA DA ILICITUDE.
A POTENCIAL CONSCIæNCIA DA ILICITUDE Ž a possibilidade de
o agente, de acordo com suas caracter’sticas, conhecer o car‡ter il’cito do
fato. N‹o se trata do par‰metro do homem mŽdio, MAS DE UMA
ANçLISE DA PESSOA DO AGENTE.
Quando o agente age acreditando que sua conduta n‹o Ž il’cita,
comete ERRO DE PROIBI‚ÌO (art. 21 do CP).
O erro de proibi•‹o pode ser:
Ø! Escus‡vel Ð Nesse caso, era imposs’vel ˆquele agente,
naquele caso concreto, saber que sua conduta era contr‡ria ao
Direito. Nesse caso, exclui-se a culpabilidade e o agente Ž
isento de pena.
Ø! Inescus‡vel Ð Nesse caso, o erro do agente quanto ˆ
proibi•‹o da conduta n‹o Ž t‹o perdo‡vel, pois era poss’vel,
mediante algum esfor•o, entender que se tratava de conduta
il’cita. Assim, permanece a culpabilidade, respondendo pelo
crime, com pena diminu’da de um sexto a um ter•o
(conforme o grau de possibilidade de conhecimento da
ilicitude).

EXEMPLO: Um cidad‹o, l‡ do interior, encontra um bem (rel—gio de


ouro, por exemplo) e fica com ele para si. Entretanto, mal sabe ele que
essa conduta Ž crime, previsto no CP (apropria•‹o de coisa achada).
Vejamos:
Art. 169 - Apropriar-se alguŽm de coisa alheia vinda ao seu poder por erro,
caso fortuito ou for•a da natureza:
Pena - deten•‹o, de um m•s a um ano, ou multa.
Par‡grafo œnico - Na mesma pena incorre:
(...)
Apropria•‹o de coisa achada
II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou
parcialmente, deixando de restitu’-la ao dono ou leg’timo possuidor ou de
entreg‡-la ˆ autoridade competente, dentro no prazo de 15 (quinze) dias.

Percebam que atŽ mesmo uma pessoa de razo‡vel intelecto Ž capaz


de n‹o conhecer a ilicitude desta conduta. Assim, o agente,
diferentemente do que ocorre no erro de tipo, REPRESENTA
PERFEITAMENTE A REALIDADE (Sabe que a coisa n‹o Ž sua, Ž uma
coisa que foi perdida por alguŽm), mas ACREDITA QUE A CONDUTA ƒ
LêCITA.

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Imaginem, no mesmo exemplo, que o camarada que achou o rel—gio,
na verdade, soubesse que n‹o podia ficar com as coisas dos outros, mas
acreditasse que o rel—gio era um rel—gio que ele tinha perdido horas antes
(quando, na verdade, era o rel—gio de outra pessoa). Nesse caso, o
agente sabia que n‹o podia praticar a conduta de Òse apropriar de coisa
alheia perdidaÓ (N‹o h‡, portanto, erro de proibi•‹o), mas acreditou
que a coisa n‹o era ÒalheiaÓ, achando que fosse sua (erro de tipo). Ficou
clara a diferen•a?
O erro de proibi•‹o pode ser direto (que Ž a hip—tese mencionada)
ou indireto. O erro de proibi•‹o indireto ocorre quando o agente
atua acreditando que existe uma causa de justifica•‹o que o
ampare. Contudo, n‹o confundam o erro de proibi•‹o indireto com o erro
de tipo permissivo. Ambos se referem ˆ exist•ncia de uma causa de
justifica•‹o (excludente de ilicitude), mas h‡ uma diferen•a fundamental
entre eles:
¥! Erro de tipo permissivo Ð O agente atua acreditando que, no
caso concreto, est‹o presentes os requisitos f‡ticos que
caracterizam a causa de justifica•‹o e, portanto, sua conduta
seria justa. Ex.: JosŽ atira contra seu filho, de madrugada, pois
acreditava tratar-se de um ladr‹o (acreditava que as
circunst‰ncias f‡ticas autorizariam agir em leg’tima defesa).
¥! Erro de proibi•‹o indireto Ð O agente atua acreditando que
existe, EM ABSTRATO, alguma descriminante (causa de
justifica•‹o) que autorize sua conduta. Trata-se de erro sobre a
exist•ncia e/ou limites de uma causa de justifica•‹o em
abstrato. Erro, portanto, sobre o ordenamento jur’dico64. Ex.:
JosŽ encontra-se num barco que est‡ a naufragar. Como possui
muitos pertences, precisa de dois botes, um para se salvar e
outro para salvar seus bens. Contudo, Marcelo tambŽm est‡ no
barco e precisa salvar sua vida. JosŽ, no entanto, agride
Marcelo, impedindo-o de entrar no segundo bote, j‡ que tinha
a inten•‹o de utiliz‡-lo para proteger seus bens. Neste caso,
JosŽ n‹o representou erroneamente a realidade f‡tica (sabia
exatamente o que estava se passando). JosŽ, conduta, errou
quanto aos limites da causa de justifica•‹o (estado de
necessidade), que n‹o autoriza o sacrif’cio de um bem maior
(vida de Marcelo) para proteger um bem menor (pertences de
JosŽ).

CUIDADO! N‹o confundam Descriminantes Putativas com delito


putativo.
As descriminantes putativas s‹o quaisquer situa•›es nas quais o
agente incida em erro por acreditar que est‡ presente uma

64
BITENCOURT, Op. cit., p. 524/525

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situa•‹o que, se de fato existisse, tornaria sua a•‹o leg’tima (a
doutrina majorit‡ria limita estes casos ˆs excludentes de
ilicitude).

Imagine que o agente est‡ numa casa de festas e ou•a gritos de


ÒfogoÓ! Supondo haver um inc•ndio, corre atropelando pessoas,
agredindo quem est‡ na frente, para poder se salvar. Na verdade, tudo
n‹o passava de um trote. Nesse caso, o agente agrediu pessoas
(moderadamente, Ž claro), para se salvar, supondo haver uma situa•‹o
que, se existisse (inc•ndio) justificaria a sua conduta (estado de
necessidade). Dessa forma, h‡ uma descriminante putativa por estado de
necessidade putativo (descriminante putativa).
NO DELITO PUTATIVO acontece EXATAMENTE O OPOSTO do que
ocorre no erro de tipo, no erro de proibi•‹o e nas descriminantes
putativas (seja de que natureza forem). O agente acredita que est‡
cometendo o crime, quando, na verdade, est‡ cometendo um
INDIFERENTE PENAL.
EXEMPLO: Um cidad‹o, sem querer, esbarra no carro de um terceiro,
causando danos no ve’culo. Com medo de ser preso, foge. Na verdade,
ele acredita que est‡ cometendo crime de DANO CULPOSO, mas n‹o
sabe que o CRIME DE DANO CULPOSO NÌO EXISTE. Portanto, h‡,
aqui, DELITO PUTATIVO.

DESCRIMINANTES Agente acredita n‹o estar cometendo crime


PUTATIVAS algum, por incidir em erro. Contudo, est‡
praticando uma conduta t’pica e il’cita.
DELITO PUTATIVO Agente comete um INDIFERENTE PENAL,
mas acredita estar praticando crime.

4.!EXERCêCIOS DA AULA

01.! (FGV - OAB - XI EXAME DE ORDEM - PROVA DISCURSIVA)


O MinistŽrio Pœblico ofereceu denœncia contra Lucile, imputando-lhe a
pr‡tica da conduta descrita no Art. 155, caput, do CP. Narrou a inicial
acusat—ria que, no dia 18/10/2012, Lucile subtraiu, sem viol•ncia ou
grave amea•a, de um grande estabelecimento comercial do ramo de
venda de alimentos dois litros de leite e uma sacola de verduras, o que
totalizou a quantia de R$10,00 (dez reais). Todas as exig•ncias legais
foram satisfeitas: a denœncia foi recebida, foi oferecida suspens‹o
condicional do processo e foi apresentada resposta ˆ acusa•‹o.

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O magistrado, entretanto, ap—s convencer-se pelas raz›es invocadas na
referida resposta ˆ acusa•‹o, entende que a fato Ž at’pico.
Nesse sentido, tendo como base apenas as informa•›es contidas no
enunciado, responda, justificadamente, aos itens a seguir.
A) O que o magistrado deve fazer? Indique o fundamento legal.
B) Qual Ž o elemento ausente que justifica a alegada atipicidade?

02.! (FGV - OAB - IX EXAME DE ORDEM - PROVA DISCURSIVA)


Wilson, extremamente embriagado, discute com seu amigo Junior na
cal•ada de um bar j‡ vazio pelo avan•ado da hora. A discuss‹o torna-se
acalorada e, com inten•‹o de matar, Wilson desfere quinze facadas em
Junior, todas na altura do abd™men. Todavia, ao ver o amigo gritando de
dor e esvaindo-se em sangue, Wilson, desesperado, pega um taxi para
levar Junior ao hospital. L‡ chegando, o socorro Ž eficiente e Junior
consegue recuperar-se das graves les›es sofridas.
Analise o caso narrado e, com base apenas nas informa•›es dadas,
responda, fundamentadamente, aos itens a seguir.
A) ƒ cab’vel responsabilizar Wilson por tentativa de homic’dio?
B) Caso Junior, mesmo tendo sido socorrido, n‹o se recuperasse das
les›es e viesse a falecer no dia seguinte aos fatos, qual seria a
responsabilidade jur’dico-penal de Wilson?

03.! (FGV - OAB - XII EXAME DE ORDEM - PROVA DISCURSIVA)


FŽlix, objetivando matar Paola, tenta desferir-lhe diversas facadas, sem,
no entanto, acertar nenhuma. Ainda na tentativa de atingir a v’tima, que
continua a esquivar-se dos golpes, FŽlix, aproveitando-se do fato de que
conseguiu segurar Paola pela manga da camisa, empunha a arma. No
momento, ent‹o, que FŽlix movimenta seu bra•o para dar o golpe
derradeiro, j‡ quase atingindo o corpo da v’tima com a faca, ele opta por
n‹o continuar e, em seguida, solta
Paola, que sai correndo sem ter sofrido sequer um arranh‹o, apesar do
susto.
Nesse sentido, com base apenas nos dados fornecidos, poder‡ FŽlix ser
responsabilizado por tentativa de homic’dio?
Justifique.

04.! (FGV Ð 2012 Ð OAB Ð VI EXAME DE ORDEM)


Ao chegar a um bar, Caio encontra T’cio, um antigo desafeto que, certa
vez, o havia amea•ado de morte. Ap—s ingerir meio litro de u’sque
para tentar criar coragem de abordar T’cio, Caio partiu em sua
dire•‹o com a inten•‹o de cumpriment‡-lo. Ao aproximar-se de
T’cio, Caio observou que seu desafeto bruscamente p™s a m‹o por
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debaixo da camisa, momento em que achou que T’cio estava prestes a
sacar uma arma de fogo para vitim‡-lo. Em raz‹o disso, Caio
imediatamente muniu-se de uma faca que estava sobre o balc‹o do
bar e desferiu um golpe no abdome de T’cio, o qual veio a falecer. Ap—s
an‡lise do local por peritos do Instituto de Criminal’stica da Pol’cia
Civil, descobriu-se que T’cio estava tentando apenas pegar o ma•o de
cigarros que estava no c—s de sua cal•a.
Considerando a situa•‹o acima, responda aos itens a seguir,
empregando os argumentos jur’dicos apropriados e a fundamenta•‹o
legal pertinente ao caso.
a) Levando-se em conta apenas os dados do enunciado, Caio praticou
crime? Em caso positivo, qual? Em caso negativo, por que raz‹o?
b) Supondo que, nesse caso, Caio tivesse desferido 35 golpes na
barriga de T’cio, como deveria ser analisada a sua conduta sob a —tica
do Direito Penal?

05.! (FGV Ð 2012 Ð OAB Ð VII EXAME DE ORDEM)


Larissa, senhora aposentada de 60 anos, estava na rodovi‡ria de
sua cidade quando foi abordada por um jovem simp‡tico e bem
vestido. O jovem pediu-lhe que levasse para a cidade de destino,
uma caixa de medicamentos para um primo, que padecia de grave
enfermidade. Inocente, e seguindo seus preceitos religiosos, a Sra.
Larissa atende ao rapaz: pega a caixa, entra no ™nibus e segue viagem.
Chegando ao local da entrega, a senhora Ž abordada por policiais que,
ao abrirem a caixa de remŽdios, verificam a exist•ncia de 250
gramas de coca’na em seu interior. Atualmente, Larissa est‡ sendo
processada pelo crime de tr‡fico de entorpecente, previsto no art. 33 da
lei n. 11.343, de 23 de agosto de 2006. Considerando a situa•‹o
acima descrita e empregando os argumentos jur’dicos
apropriados e a fundamenta•‹o legal pertinente, responda: qual a tese
defensiva aplic‡vel ˆ Larissa?

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