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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Sumário

Introdução ...........................................................................Erro! Indicador não definido.


Aula 1 – Introdução ao Direito Penal. .......................................................................... 4
1. Introdução ............................................................................................................... 4
2. Conceitos e fundamentos. ....................................................................................... 5
3. Finalidade do Direito Penal ..................................................................................... 7
4. Códigos do Brasil. (Cronologia do Direito Penal brasileiro) .................................. 8
5. Direito Penal Objetivo e Direito Penal Subjetivo ..................................................... 9
Aula 2 – Fontes do Direito Penal, Norma Penal e Interpretação da Lei Penal....... 10
1. Introdução ............................................................................................................. 10
2. Infração Penal........................................................................................................ 15
3. Conceito de crime ................................................................................................. 16
3.1. Sujeitos do crime .............................................................................................. 16
3.2. Objeto do crime ................................................................................................ 17
3.3. Punibilidade...................................................................................................... 17
3.4. Classificação doutrinária de crimes.................................................................. 17
4. Fato típico ............................................................................................................. 20
4.1. Tipo penal ..................................................................................................... 20
4.2. Conduta ........................................................................................................ 20
4.3. Crimes comissivos por omissão (omissivos impróprios) ............................. 21
4.4. Superveniência causal .................................................................................. 21
4.5. Resultado ...................................................................................................... 22
5. Iter criminis (Crime consumado e crime tentado) ................................................ 23
5.1. Trajetória do crime o fato delituoso apresenta uma trajetória denominada iter
criminis (termo latino cujo significado é “caminho do crime”), que se compõe de
quatro etapas ............................................................................................................ 24
5.2. Elementos da tentativa ................................................................................. 25
5.3. Espécies de tentativa .................................................................................... 27
5.4. Desistência voluntária, arrependimento eficaz............................................. 27
5.5. Arrependimento posterior ............................................................................ 27
5.6. Crime impossível.......................................................................................... 28

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Aula 3 – (Continuação). ............................................................................................... 29


1. Dolo e culpa .......................................................................................................... 29
1.1. Crime doloso ................................................................................................ 29
1.2. Crime culposo .............................................................................................. 30
1.3. Espécies de culpa ......................................................................................... 30
1.4. Crime preterdoloso ......................................... Erro! Indicador não definido.
2. Teoria do erro ........................................................................................................ 31
3. Antijuridicidade (ilicitude) .................................................................................... 32
3.1. Causas de exclusão da antijuridicidade ........................................................ 33
4. Imputabilidade....................................................................................................... 34
Aula 4 – (Continuação). ............................................................................................... 34
1. Concurso de pessoas ............................................................................................. 34
2. Ação penal ............................................................................................................. 35
2.1. Finalidade ..................................................................................................... 35
2.2. Fundamento legal ......................................................................................... 36
2.3. Classificação................................................................................................. 36
Aula 5 – (Continuação). ............................................................................................... 39
1. Homicídio.............................................................................................................. 39
2. Infanticídio ............................................................................................................ 43
3. Aborto ................................................................................................................... 43
4. Lesão Corporal ...................................................................................................... 45
4.1. Calúnia ......................................................................................................... 47
4.2. Difamação .................................................................................................... 50
Aula 6 – Crimes em Espécie (Continuação). .............................................................. 52
1. Injúria .................................................................................................................... 52
1.1. Constrangimento ilegal ................................................................................ 53
1.2. Ameaça ......................................................................................................... 54
1.3. Maus Tratos .................................................................................................. 55
2. Sequestro e cárcere privado .................................................................................. 56
3. Violação de domicílio ........................................................................................... 58
4. Furto ...................................................................................................................... 59
Aula 7 – Crimes em Espécie (Continuação). .............................................................. 63
1. Roubo .................................................................................................................... 63
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1.1. Extorsão........................................................................................................ 67
1.2. Extorsão mediante sequestro ........................................................................ 68
1.3. Apropriação indébita .................................................................................... 69
2. Estelionato ............................................................................................................. 70
3. Receptação ............................................................................................................ 72
4. Estupro .................................................................................................................. 75
Aula 8 – Crimes em Espécie (Continuação). .............................................................. 76
1. Estupro de vulnerável ............................................................................................ 76
2. Apologia de crime ou criminoso ........................................................................... 78
3. Associação criminosa ............................................................................................ 78
4. Peculato ................................................................................................................. 79
Aula 9 – Crimes em Espécie (Continuação). .............................................................. 83
1. Concussão ............................................................................................................. 83
2. Corrupção passiva ................................................................................................. 84
3. Prevaricação .......................................................................................................... 85
4. Resistência............................................................................................................. 86
Aula 10 – Crimes em Espécie (Continuação). ............................................................ 87
1. Desobediência ....................................................................................................... 87
2. Desacato ................................................................................................................ 88
3. Tráfico de influência ............................................................................................. 89
4. Corrupção ativa ..................................................................................................... 90
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 92

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Aula 1 – Introdução ao Direito Penal.

1. Introdução

O presente estudo objetiva oferecer uma contribuição para a disciplina


Direito Penal, enfocando o que for estritamente necessário à compreensão da matéria,
ao realizar uma abordagem sistemática, segundo a ótica prevalente, dos delitos mais
importantes vivenciados na prática policial. Os tópicos foram abordados, portanto, de
forma a proporcionar ao leitor uma visão ampla, a fim de evitar equivocadas
interpretações das leis e sua inadequada aplicação ao caso concreto.

É possível perceber, portanto, numa análise criteriosa, que o Direito Penal,


como veículo de tutela dos mais relevantes valores sociais, vem sofrendo um crescente
desvio de caráter, perdendo sua função instrumental e assumindo uma forma simbólica,
visando com isso ao restabelecimento da confiança nas instituições do Estado, ao ser
utilizado como única resposta e possível solução aos anseios da população por uma
sociedade mais justa. Portanto, esse desvio de finalidade tem levado o legislador a editar
uma sucessão de normas penais nos textos de leis que disciplinam as mais diversas
atividades da administração, gerando conflitos reais ou aparentes entre os preceitos
legais. Desta forma, os frequentes erros nas construções dos tipos penais, por parte dos
legisladores, são consequências diretas do desconhecimento da realidade a ser avaliada
e tutelada pela norma penal, com nefastos resultados para seus destinatários.

Por se tratar aqui de uma apostila, os temas são aflorados e indicados, não
havendo intenção de esgotar-lhes o conteúdo. Logo, cabe ao estudante, ir além do ponto
a que o presente trabalho chegou, se possível, com o auxílio do professor. Não é,
portanto, um estudo que tenha o objetivo de ser completo e definitivo, mas, unicamente,
constituir-se em um instrumento que permita uma abertura para questionamentos e
discussões.

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2. Conceitos e fundamentos.

A vida em sociedade exige um complexo de normas disciplinadoras que


estabeleça as regras indispensáveis ao convívio entre os indivíduos que a compõem; ao
conjunto dessas regras denomina-se direito positivo; já quanto à reunião das normas
jurídicas pelas quais o Estado proíbe determinadas condutas, sob ameaça de sanção
penal, estabelecendo ainda os princípios gerais e os pressupostos para a aplicação das
penas e das medidas de segurança, dá-se o nome de direito penal.

Como o Estado não pode aplicar as penas, arbitrariamente, na legislação


penal são definidos os fatos graves que passam a ser ilícitos penais (crimes e
contravenções), estabelecendo-se as penas e as medidas de segurança aplicáveis aos
infratores das normas jurídicas.

O conceito de Direito Penal perpassa por três aspectos1:

a) Sob o aspecto formal ou estático, Direito Penal é um conjunto de normas


que qualifica certos comportamentos humanos como infrações penais
(crime ou contravenção), define seus agentes e fixa sanções (pena ou
medida de segurança) a serem-lhes aplicadas.

b) Sob o aspecto material o Direito Penal refere-se a comportamentos


considerados altamente reprováveis ou danosos ao organismo social,
afetando bens jurídicos indispensáveis à sua própria conservação e
progresso.

c) Sob o aspecto sociológico ou dinâmico, o Direito Penal é mais um


instrumento de controle social de comportamentos desviados, visando
assegurar a necessária disciplina social, bem como a convivência
harmônica dos membros do grupo.

Direito Penal é, portanto, o conjunto de normas jurídicas que o Estado


estabelece para combater as ações humanas que violam essas normas (infrações penais).

O fundamento básico de atuação do Direito Penal é a manutenção da paz


social, que propicia a regular convivência humana em sociedade, através da existência

1
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal Parte Geral – 3ª ed. Bahia. Juspodivm. 2015.

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de normas destinadas a estabelecer diretrizes que determinam ou proíbem certos


comportamentos; assim, violadas as regras de condutas, surge para o Estado o poder-
dever de aplicar as sanções penais.

Os bens jurídicos tutelados pelo Direito Penal são aqueles que o legislador
considera os mais importantes para o Estado, o princípio da intervenção mínima é que
orienta a escolha desses bens jurídicos, pois, se forem suficientes medidas civis ou
administrativas, são estas que devem ser empregadas e não as penais2.

A criminalização de comportamentos só deve ocorrer quando se constituir


meio necessário e indispensável à proteção de bens jurídicos ou à defesa de interesses
relativos à coexistência harmônica e pacífica da sociedade.

A norma penal não pode servir como único instrumento de controle social.
Ela só deve ser aplicada quando não existir outro meio eficaz para a solução de conflito
como, por exemplo, a religião, a moral etc. Conclui-se, portanto, que o Direito Penal só
deve ser avocado como ultima ratio, ou seja, em último caso, aplicando seu princípio da
intervenção mínima.

Dentro do conceito de Direito Penal podemos extrair duas categorias:

a) Direito Penal Substantivo: corresponde ao direito material e Direito


Penal Adjetivo que seria o direito processual, as normas destinadas a
instrumentalizar a atuação do Estado, diante da ocorrência de um crime.

b) Direito Penal Objetivo: traduz o conjunto de leis penais em vigor no


país, devendo observar a legalidade.

c) Direito Penal Subjetivo: refere-se ao direito de punir do Estado, ou seja,


a capacidade que o Estado tem de produzir e fazer cumprir suas normas.

2
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal – Parte Geral. vol. 1 19ª ed. São Paulo: Saraiva. 2014.

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3. Finalidade do Direito Penal

A finalidade do Direito Penal é a proteção da sociedade e a garantia da paz


social com a defesa dos bens jurídicos fundamentais da pessoa (vida, integridade física
e mental, honra, liberdade, patrimônio).

Luiz Regis Prado ensina que “o pensamento jurídico moderno reconhece


que o escopo imediado e primordial do Direito Penal radica na proteção de bens
jurídicos - essenciais ao indivíduo e à comunidade”. (Bem jurídico-penal e
Constituição. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999, pág. 47).

Na mesma linha, Rogério Greco afirma que “A finalidade do Direito Penal é


proteger os bens mais importantes e necessários para a própria sobrevivência da
sociedade, [...]. (Curso de Direito Penal – Parte Geral -, v.I, Rio de Janeiro: Impetus,
2015, pág. 2.)

Exercícios:

1. Considerando-se que o direito objetivo se constitui um conjunto de regras


jurídicas obrigatórias, em vigor no país, em determinada época, enquanto o direito
subjetivo se trata da faculdade ou possibilidade que tem uma pessoa de fazer
prevalecer em juízo a sua vontade, analise o texto seguinte e indique os trechos que
correspondem ao direito objetivo e ao direito subjetivo, respectivamente. Justifique
sua resposta.

Problema: O seu veículo, parado no semáforo, é atingido na parte traseira por


outro. Há normas no Código Civil às quais você pode recorrer, através de uma ação,
para fazer valer seu direito.

2. Vivemos em um Estado democrático de direito, o qual assegura a igualdade entre


os homens e possui, como uma de suas características, a submissão de todos ao
império da lei. Tal igualdade é meramente formal, sem atuação efetiva e
interventiva do Poder Público, no sentido de impedir distorções sociais de ordem
material. Diante disto, podemos considerar que o Direito Penal se constitui em uma
das formas mais eficazes de controle social, face ao seu caráter abstrato e impessoal.
Assim:

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Problema: Compare e estabeleça as diferenças entre o conceito e a finalidade na

Direito Penal.
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4. Códigos do Brasil. (Cronologia do Direito Penal brasileiro)

Após a chegada dos portugueses, o Brasil passou a se submeter às regras


contidas nas ordenações do Reino de Portugal. As mais conhecidas foram as
Ordenações Afonsinas, Manoelinas e Filipinas, ou seja, aplicava-se no Brasil a
legislação portuguesa.

Contudo, depois da Proclamação da Independência, ocorrida em 1822, o


Brasil editou os seguintes Códigos na área penal:

• Código Criminal do Império (Código Imperial), aprovado na data


de 16.12.1830. (Obs.: Primeiro Código Penal sistematizado em toda
a América Latina).
• Código Penal dos Estados Unidos do Brasil (Código Republicano),
aprovado pelo Decreto nº 847, de 11.10.1890.
• Consolidação das Leis Penais, aprovada pelo Decreto nº 22.213, de
14.12.1932.
• Código Penal aprovado pelo Decreto-Lei nº 2.848, de 7.12.1940 -
recebeu inúmeras alterações, contudo, encontra-se em vigor.
• Código Penal aprovado pelo Decreto-Lei nº 1.004, de 21.10.1969 -
que permaneceu cerca de nove anos em vacatio leqis, sendo
revogado pela Lei nº 6.578, de 11.101978, sem entrar em vigor.
• Reforma Penal de 1984. (Lei nº 7.209, de 11.07.1984).

O Código Penal em vigor é composto por duas partes: a parte geral, do


artigo 1º ao 120°, e a parte especial, do artigo 121° ao 361°.

A primeira parte, a chamada geral, contém como o próprio nome sugere


regras gerais a serem aplicadas aos crimes previstos na parte especial do Código Penal,
bem como aos crimes constantes em toda a legislação especial, ou seja, àquelas normas
que não estão contidas no corpo do Código, mas que também dispõem de matérias
penais. A parte Especial prevê unicamente os crimes em espécie.

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5. Direito Penal objetivo e Direito Penal subjetivo

Denomina-se Direito Penal Objetivo ao conjunto de normas que regulam a


ação estatal, definindo os crimes e cominando as respectivas sanções. (É, portanto, o
conjunto de leis penais em vigor). Somente o Estado, na sua função de promover o bem
comum e combater a criminalidade, tem o direito de estabelecer e aplicar essas sanções.
Sendo, assim, o único e exclusivo titular do direito de punir (jus puniendi), que
constitui o que se denomina Direito Penal Subjetivo.

Você sabia?

A criminalidade é um fenômeno social, presente em todas as sociedades. Assim,


quando as violações aos interesses e direitos do indivíduo assumem determinadas
proporções e os demais meios de controle social mostram-se insuficientes ou
ineficazes para harmonizar o convívio das pessoas, surge o Direito Penal, buscando
solucionar os conflitos.

O Direito Penal é a proteção dos bens mais importantes e necessários para própria
sobrevivência da sociedade. A pena é, simplesmente, uma consequência pelo
descumprimento de um imperativo legal (norma implícita), não consistindo, assim,
na sua finalidade.

Diante disto, a Unidade I se constitui nas primeiras informações acerca do Direito


Penal, discorrendo sobre seus conceitos e sua finalidade: ao traduzir que o Direito
Penal é o ramo do Direito Público que se encarrega de selecionar condutas
atentatórias aos mais importantes bens jurídicos; enfocando o Direito Penal objetivo
e o Direito Penal subjetivo, esclarecendo ser o primeiro o conjunto de normas
jurídicas que perfazem o sistema penal, enquanto o segundo corresponde ao direito
de punir do Estado.

Por fim, aborda o percurso do Direito Penal no Brasil, desde seu descobrimento até
a presente data, indicando as normas mais importantes já editadas.

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Aula 2 – Fontes do Direito Penal, Norma Penal e Interpretação da Lei


Penal.

1. Introdução

Fonte é o lugar de onde provém o direito. Desta forma, as fontes do Direito


Penal se dividem em:

Materiais (de produção ou substanciais): referem-se ao órgão incumbido


de sua elaboração.
Exemplo: a União é a fonte de produção do Direito Penal (art. 22, l, Constituição
Federal (CF)).

Formais (de conhecimento): referem-se ao modo pelo qual o Direito Penal


se exterioriza.

• Imediatas: são as próprias leis, considerando-se: não há crime sem


lei anterior que o defina nem pena sem prévia cominação legal (art.
1º do Código Penal (CP)).
• Mediatas: são os costumes, os princípios gerais do direito, a
jurisprudência e a doutrina.

SAIBA MAIS...

Dispõe o art. 4º da Lei de Introdução do Código Civil:


“Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os
costumes e os princípios gerais de direito.”

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• Analogia em Direito Penal

A analogia é uma forma de preenchimento de lacunas (brechas) da lei.


Consiste em aplicar - a um caso não previsto na lei, de modo direto e por uma norma
jurídica - outra norma prevista para uma hipótese distinta, mas semelhante ao caso não
contemplado.

Em Direito Penal, contudo, somente se admite a analogia in bonam partem,


ou seja, em benefício do sujeito ativo da infração penal.

Norma penal

Como vimos, a única fonte formal imediata do Direito Penal é a lei, isso
em face do princípio da legalidade ou da reserva legal. Logo, a norma penal (ou lei), em
sentido amplo, tanto define crimes e comina abstratamente penas, quanto amplia o
sistema penal por meio de princípios gerais e disposições sobre limites e pela ampliação
de normas incriminadoras.

Já a norma penal em sentido estrito descreve uma conduta contrária ao


ordenamento jurídico, cominando determinada pena ao seu infrator.
Exemplo: art. 121 do CP.

Classificação das normas penais

• Incriminadoras: descrevem as condutas puníveis e impõem as


respectivas sanções.
Exemplos: arts. 121, 155, 157, 213 do CP etc.
• Permissivas: determinam que certa conduta, embora típica, seja
impunível ou lícita.
Exemplos: arts. 20 a 27, 28 § 1°, 128, 142, do CP.
• Explicativas: visam a delimitar o âmbito de aplicação de uma norma
ou explicam o conteúdo de outras.
Exemplos: arts. 4°, 5°, 7°, do CP.
• Norma penal em branco: na maioria dos casos, as normas penais
incriminadoras possuem a definição da conduta e a sanção completas

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e podem ser aplicadas a partir de sua vigência. Todavia, algumas


normas são incompletas e necessitam ser complementadas por outras
normas jurídicas (leis, regulamentos, portarias etc), embora o
preceito secundário (sanção) já esteja cominado. E esse
complemento poderá já existir ou ser posterior à publicação da
norma penal em branco.

SAIBA MAIS...

A norma penal em branco é, portanto, uma espécie de norma penal incriminadora


em que a definição do crime é incompleta, embora a sanção seja determinada.
Exemplos:
O art. 237 do CP incrimina a conduta de quem "contrair casamento conhecendo a
existência de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta" - os referidos
impedimentos encontram-se no art. 1.521 do Código Civil (CC).
O art. 269 do CP pune o médico que deixar de denunciar à autoridade pública
doença cuja notificação é compulsória - a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)
descreve as doenças profissionais cuja notificação pelo médico é compulsória.

Interpretação da lei penal

Você Sabia?

É através do processo interpretativo das leis, que se deve expressar com clareza e
objetividade o verdadeiro sentido e o alcance mais preciso da norma legal -
essencialmente genérica e abstrata -, objetivando, em última análise, ajustá-la ao
caso concreto individual.

Toda lei deve, necessariamente, ser interpretada. O intérprete é o mediador


entre o texto da lei e a realidade. A interpretação consiste, portanto, em extrair o
significado e a extensão da norma em relação a um determinado caso concreto. Em
resumo, ela visa descobrir a vontade da lei. A natureza da interpretação, quanto ao
sujeito que a faz, pode ser autêntica, doutrinária ou judicial.

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A interpretação autêntica procede do próprio órgão que criou a norma. Ela


pode ser contextual, quando o legislador a faz no próprio texto da lei (exemplo:
conceito de funcionário público, art. 327 do CP), ou posterior, realizada pelo sujeito da
regra que se interpreta depois de publicada a lei, com o fim de elidir incerteza ou
obscuridade.

A interpretação doutrinária, por sua vez, é a feita pelos estudiosos do


Direito, ao escreverem livros, artigos ou comentários às leis. Já a interpretação judicial
é a emanada dos órgãos judiciários (juízes ou tribunais). Não obriga os demais juizes à
mesma decisão, a não ser para aquele caso julgado. Exceção é a súmula vinculante, que
deve ser obedecida pelos demais órgãos do Poder Judiciário e pela Administração
Pública direta ou indireta, em todas as esferas.

No que se refere aos meios empregados, a interpretação pode ser


gramatical, literal ou sintática, lógica ou teleológica.

A interpretação gramatical é a chamada "ao pé da letra". Certamente, não é


suficiente, devendo ser analisada em conjunto com a lógica ou teleológica, a qual, por
sua vez, verifica a vontade ou a intenção descrita na lei - a lei sempre deverá visar aos
fins sociais a que ela se destina e às exigências do bem comum (Lei de Introdução às
Normas do Direito Brasileiro - LINDB).

A interpretação lógica ou teleológica deve valer-se dos seguintes elementos:

• Sistemático: deve ser comparado o preceito interpretado com os de


outras normas relacionadas com o mesmo instituto, com o conjunto
da legislação e mesmo com os princípios gerais do Direito.
• Histórico: deve ser procurada a origem da lei (debates, trabalhos de
estudos e as exposições de motivos).
• Comparatista (Direito Comparado): há o confronto com o direito
estrangeiro.
• Extrapenal: devem ser levadas em conta as condições da vida atual
(harmonia com os sistemas políticos).
• Extrajurídico: há o estudo dos pressupostos políticos, econômicos,
sociais, psiquiátricos etc.

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No que se refere ao resultado, a interpretação pode ser declarativa, restritiva


e extensiva.

Pela interpretação declarativa, eventual dúvida se resolverá pela


correspondência entre a letra e a vontade da lei, sem conferir à fórmula um sentido mais
amplo ou mais restrito.
Exemplo: art. 141, III, do CP - na presença de várias pessoas. Pergunta-se aqui: qual o
mínimo exigido pela lei, duas ou mais pessoas? De acordo com essa interpretação, deve
ser entendido que o mínimo exigido pela lei será superior a duas pessoas, porque
sempre que a lei se contenta com duas pessoas ela o diz textualmente.

A interpretação restritiva, por sua vez, deve ser empregada quando a lei diz
mais do que deveria. Restringe, portanto, o alcance das palavras até o seu sentido real.
Exemplo: art. 28, I e II, do CP - devem ser considerados os estados não patológicos,
uma vez que, caso assim não se entenda, haveria flagrante contradição com o art. 26,
caput, do CP.

Por outro lado, a interpretação extensiva deve ser aplicada quando a lei diz
menos do que pretendia.
Exemplo: art. 235 do CP – bigamia – neste caso, certamente, a poligamia também é
alcançada pela lei.

Há, também, a chamada interpretação progressiva, adaptativa ou


evolutiva, segundo a qual os dispositivos contidos no Código Penal devem ser
interpretados de acordo com as transformações sociais, políticas, científicas e jurídicas.
Quando não for possível a correta interpretação da norma, utilizando-se os métodos
existentes, deve-se interpretá-la em favor do réu.
SAIBA MAIS...
A aula nº 2 indica a origem do Direito Penal, através de suas fontes,
estabelecendo a ligação destas com as espécies de normas penais, bem como
permite ao leitor conhecer as inúmeras formas de interpretação da lei penal.
Sabemos que fontes são os lugares de onde provém o direito, ou seja, são todas
as formas ou modalidades por meio das quais são criadas, modificadas ou
aperfeiçoadas as normas de um ordenamento jurídico.
Sabemos, também, que a única fonte do Direito Penal é a própria lei e esta é
composta por normas penais; contudo, lei e norma são instâncias distintas.
O criminoso não infringe a lei, ao contrário: com a sua conduta, realiza
exatamente o que a lei prevê. Na verdade, viola algo que está acima da própria
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lei, que é a norma jurídica. A norma, deste modo, é o conteúdo da lei.
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2. Infração Penal.

O Direito Penal é um ramo do Direito Público que define as infrações


penais, estabelecendo as penas e as medidas de segurança.

As infrações penais dividem-se em crimes e contravenções. Os crimes


estão no Código Penal, nos artigos 121 a 360 e também nas leis especiais; as
contravenções são, em sua maioria, previstas no Decreto-Lei nº 3.688, de 03.10.1941
(conhecido como Lei das Contravenções Penais - LCP) e as medidas de segurança
encontram-se nos artigos 96 a 99 do CP.

Segundo Rogério Greco: “Na verdade, não há diferença substancial entre


contravenção e crime. O critério de escolha dos bens que devem ser protegidos pelo
Direito Penal é político, da mesma forma que é política a rotulação da conduta como
contravencional ou criminosa.” (Obra cit., pág. 191).

O crime e a contravenção se distinguem pela sua maior ou menor gravidade,


ou seja, a diferença entre eles é meramente quantitativa, classificada pela Doutrina
como crime anão, conforme se comprova, através do critério de diferenciação adotado
pelo legislador, contido no art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal (Decreto-Lei nº
3.914, de 09 de dezembro de 1941), vejamos:

Art. 1º Considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de


reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a
pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, penas
de prisão simples ou multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.

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3. Conceito de crime

O Código Penal brasileiro em vigor não conceitua crime, conforme faziam


os Códigos de 1830 e 1890, deixando, portanto, as definições a cargo da doutrina.

Por sua vez, a doutrina conceitua o ilícito penal sob três aspectos:

• Formal ou nominal => Crime é o fato típico e antijurídico.


• Material ou substancial => Crime é a violação de um bem
penalmente protegido.
• Analítico ou dogmático => Crime é a ação ou omissão típica ilícita
e culpável.

Doutrina majoritária e jurisprudência conceituam o crime no seu aspecto


analítico, ou seja, Crime é uma conduta humana voluntária que produz um resultado
fato (fato típico) que contraria a norma penal (ilícito), gerando um juízo de reprovação
social dessa conduta (culpável). Em que pese existir vozes que advogam que crime seria
o fato típico e ilícito, e a culpabilidade seria aferida para aplicação da pena.

3.1. Sujeitos do crime

Os sujeitos do crime são classificados como sujeito ativo ou sujeito


passivo.

• Sujeito ativo - é a pessoa que pratica a infração penal - autor,


coautor ou partícipe (ou seja, é aquele que pratica o fato típico e
antijurídico). Só pode sê-lo se for o ser humano maior de dezoito
anos (CF, art. 228 e CP, art. 27). As pessoas menores de dezoito
anos que praticam fatos definidos como crime ou contravenção penal
praticam atos infracionais, sujeitando-se às medidas socioeducativas
(Lei nº 8069/90, arts. 2º, 103 e 112).

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

• Sujeito passivo - é aquele que sofre as consequências da prática


criminosa. É o titular do bem jurídico lesado. Divide-se em Sujeito
passivo mediato e imediato:

1) Sujeito passivo constante, mediato, formal, geral, genérico ou


indireto: é o Estado, pois a ele pertence o direito público subjetivo
de exigir o cumprimento da legislação penal.
2) Sujeito passivo eventual, imediato, material, particular,
acidental ou direto: é o titular do bem jurídico especificamente
tutelado pela lei penal.

3.2. Objeto do crime

O objeto do crime é o bem jurídico tutelado pelo Direito Penal, pode ser
jurídico ou material.

• Objeto jurídico do crime - também conhecido como objetividade


jurídica, é o bem ou interesse protegido pela norma penal.
• Objeto material do crime - é o bem jurídico sobre o qual recai a
conduta criminosa.

3.3. Punibilidade

A punibilidade é a consequência jurídica do crime. Com a violação da


norma penal, surge para o Estado o direito de punir o sujeito ativo da infração. É o jus
puniendi.

3.4. Classificação doutrinária de crimes

Os delitos podem ser classificados em conformidade com inúmeros


critérios, levando-se em conta determinados aspectos da prática criminosa:

17 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

• Crime formal: aquele que não requer a realização do resultado


pretendido pelo agente, embora previsto em lei, consumando-se com
a prática da ação ou da omissão.
Exemplo: ameaça (art. 147 do CP - que se consuma com o
conhecimento pelo sujeito passivo, independentemente de sua
efetiva intimidação).
• Crime material: aquele que requer um resultado separado da ação,
descrito em lei (resultado material).
Exemplo: homicídio (art. 121 do CP).
• Crime de mera conduta (ou de simples atividade): aquele que não
exige a ocorrência de um resultado. O legislador somente descreve a
conduta do sujeito ativo.
Exemplo: violação de domicílio (art. 150 do CP).
• Crime comissivo: aquele que exige uma atuação positiva do agente
(ação).
Exemplo: furto (art. 155 do CP).
• Crime omissivo puro (ou próprio): aquele que exige uma conduta
negativa do agente (omissão).
Exemplo: omissão de socorro (art. 135 do CP).
• Crime comissivo por omissão (ou omissivo impróprio): aquele em
que a omissão se caracteriza pela inobservância de um dever jurídico
de evitar o resultado, praticando-se o crime (comissivo) pela
abstenção.
Exemplo: homicídio - art. 121 do CP - (A mãe que deixa de
alimentar o filho recém-nascido com a finalidade de matá-lo por
inanição).
• Crime comum: aquele que pode ser praticado por qualquer pessoa.
Exemplo: roubo (art. 157 do CP).
• Crime tentado: aquele que, iniciada a execução, esta não se
consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente (art. 14, lI,
do CP).

18 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

• Crime consumado: aquele em que se reúnem todos os elementos de


sua definição legal (art. 14, I, do CP).
• Crime doloso: aquele em que o agente quis o resultado (art. 18, I -
1ª parte do CP).
• Crime culposo: aquele em que o agente dá causa ao resultado por
imprudência, negligência ou imperícia (art. 18, II, do CP).
• Crime impossível: aquele que é impossível de ser consumado em
razão da ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade
do objeto (art. 17 do CP).
• Crime próprio: aquele que somente pode ser praticado por
determinada categoria de pessoas.
Exemplos: peculato (art. 312 do CP) e infanticídio (art. 123 do CP).
• Crime de mão própria: é aquele que só pode ser praticado por um
determinado sujeito ativo exclusivo.
Exemplo: falso testemunho (art. 342 do CP).
• Crime putativo: aquele em que o agente, por erro, supõe estar
praticando um crime, quando, na verdade, não está praticando ilícito
algum.
Exemplo: mulher que, supondo-se grávida, pratica manobras
abortivas (art. 124 do CP).

19 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

4. Fato típico

É o comportamento humano, positivo ou negativo, o qual provoca um


resultado e está previsto na lei penal como infração. É aquele que se amolda,
perfeitamente, nos elementos contidos no tipo penal.

4.1. Tipo penal

É a descrição de um comportamento criminoso.


Exemplo: art. 121 do CP.

4.1.1. Elementos do fato típico

• Conduta dolosa ou culposa.


• Resultado (só nos crimes materiais).
• Nexo causal (só nos crimes materiais).
• Enquadramento do fato material a uma norma penal incriminadora.

4.2. Conduta

É todo comportamento humano, consciente e voluntário, comissivo ou


omissivo, doloso ou culposo, tendente a um fim.

4.2.1. Formas de conduta

A conduta apresenta duas formas:

• Ação: atuação humana positiva voltada a uma finalidade.


• Omissão: ausência de comportamento; a inatividade ou o não fazer.

20 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Considerando-se que as condutas podem ser praticadas por ação ou por


omissão, os crimes comissivos consistem em uma ação positiva (fazer) e os crimes
omissivos consistem na abstenção da ação devida (não fazer).

4.2.2. Crimes omissivos próprios (omissivos puros)

Crimes de mera conduta ou de simples atividade, punindo a lei a simples


omissão, independentemente de qualquer resultado; podem ser imputados a qualquer
pessoa.
Exemplo: art. 135 do CP.

4.3. Crimes comissivos por omissão (omissivos impróprios)

Crimes de resultado e só podem ser praticados por pessoas que, por lei,
têm o dever de impedir o resultado e a obrigação de proteção e vigilância em relação a
alguém. Os agentes são garantidores ou garantem, conforme estabelece o parágrafo 2º,
“a”, “b” e “c”, do art. 13 do CP.

4.3.1. Nexo de causalidade (relação de causalidade)

O nexo causal constitui-se em um dos elementos do fato típico. Trata-se do


elo físico (material, natural) que se estabelece entre a conduta do agente e o resultado
naturalístico. O CP, em seu art. 13, adotou a teoria da equivalência dos antecedentes,
conhecida como teoria da conditio sine qua non, segundo a qual a causa é toda ação ou
omissão anterior sem a qual o resultado não teria ocorrido.

Aplica-se, para que se revele a causa de determinado evento, o processo


hipotético de eliminação, por meio do qual se suprime, mentalmente, uma a uma as
situações, sendo, então, possível verificar aquela sem a qual o resultado não teria
ocorrido.

4.4. Superveniência causal

21 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Constante no parágrafo 1º do art. 13 do CP, esta opera como uma restrição à


teoria da conditio sine qua non, pois prevê a existência de causas absolutamente
independentes e causas relativamente independentes.

As causas absolutamente independentes não podem ser atribuídas ao


agente. Dividem-se em preexistentes, concomitantes e supervenientes.
Exemplo: A e B atiram simultaneamente numa vítima, mas apenas A a acerta
mortalmente, sendo que o tiro de B a atinge somente no braço. A responde pelo
homicídio e B por tentativa de homicídio ou lesão corporal, conforme a sua intenção.

Já as causas relativamente independentes excluem a imputação, quando


determinarem por si mesmas o resultado. Dividem-se em preexistentes, concomitantes e
supervenientes.
Exemplo: A ferido por B, recolhe-se ao hospital, no qual vem a falecer em virtude de
um incêndio lá ocorrido.

Neste último caso, surge outro processo causal que, isoladamente, produz o
evento, não obstante a causa seja relativamente independente, pois, se a vítima não
tivesse sido ferida, não se encontraria no hospital.

4.5. Resultado

O resultado é outro elemento integrante do fato típico. Caracteriza-se como


sendo toda modificação do mundo exterior provocada pelo comportamento humano
voluntário.

Exercícios:

Sebastião Fernandes e Reinaldo Rezende, durante longo tempo disputaram o amor de


Veridiana Fagundes, sendo que, ao final, esta opta por ficar noiva do primeiro, o que
levou Reinaldo a nutrir indisfarçável ódio por Sebastião. Em determinada ocasião,
aproveitando-se de um descuido de Sebastião, Reinaldo, com a intenção de matar, efetua
vários disparos de arma de fogo contra ele, seu desafeto. Ferido gravemente, Sebastião é
levado a um hospital onde foi internado, e neste vem a falecer, não em razão dos
ferimentos resultantes dos disparos de arma de fogo efetuados por Reinaldo, mas sim,
queimado em um incêndio provocado por outro paciente, Severino Silva, na enfermaria
onde se encontrava. Assim, diante do caso hipotético apresentado, quais as consequências
jurídicas advirão em razão do comportamento de Reinaldo? Justifique e fundamente.

22 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

4.5.1. Crime qualificado pelo resultado

O crime qualificado pelo resultado são condutas cometidas pelo agente


caracterizadas como crime, ou seja, um tipo derivado que possui uma pena mais grave
que o tipo básico em razão do resultado provocado.
Exemplo: Lesão Corporal seguida de morte, art. 129, § 3º, do CP, a vontade do agente
era lesionar; contudo, o resultado foi agravado pela morte da vítima; entretanto, esse
resultado, a morte, não foi querido pelo agente.

4.5.2. Crime Preterdoloso

O crime preterdoloso ou preterintencional, é um tipo de crime agravado


pelo resultado, quando há dolo na conduta principal do agente e culpa no que tange ao
resultado agravante.
Exemplo: art. 129, § 3º, do CP.
Assim, podemos ainda dizer que, crime qualificado pelo resultado é o
gênero da espécie aqui estudada, o Crime Preterdoloso.
Segundo Damásio E. de Jesus, em sua obra Direito Penal, Parte Geral, 20
Ed., são preterintencionais aqueles crimes em que a ação causa um resultado mais grave
que o pretendido pelo agente.
Júlio Fabbrini Mirabete em seu Manual de Direito Penal, Parte Geral arts:1º
a 120 do Código Penal, 16 Ed., considera preterdolosos um tipo de crime misto, pois há
uma conduta dolosa que se dirige a um fim típico, que é culposa porque causa um outro
resultado que não objeto do crime fundamental, por inobservância do cuidado objetivo.
Exemplo clássico de preterdolosos é a lesão corporal seguida de morte, em que há a
conduta antecedente dolosa – lesionar a vítima – e a consequente mais grave, culposa –
a morte da mesma.

5. Iter criminis (Crime consumado e crime tentado)

O CP, em seu art. 14, define o crime consumado e o crime tentado.


Vejamos:

23 | P á g i n a
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Art. 14. Diz-se do crime:


Crime consumado
I – consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal;
Tentativa
II – tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias
alheias à vontade do agente.

O delito é consumado, portanto, quando existe a integral realização do tipo


penal.

Por sua vez, o crime é tentado quando, iniciada a execução, ela não se
consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.

Não há tentativa nos crimes culposos, nos de mera conduta, nos crimes
habituais, nos crimes unissubsistentes (a conduta não pode ser fracionada), nos
omissivos próprios, nos crimes de atentado (a própria tentativa já é punida como crime
consumado) e nos preterdolosos. Não é punível a tentativa de contravenção (art. 4°, Lei
das Contravenções Penais - LCP).

5.1. Trajetória do crime o fato delituoso apresenta uma trajetória denominada


iter criminis (termo latino cujo significado é “caminho do crime”), que se
compõe de quatro etapas:

• Cogitação do crime - não se pune.


• Atos preparatórios – em regra, não se punem.
• Execução - interrompida nesta fase, pune-se a tentativa.
• Consumação do crime - pune-se.

A cogitação não é punida no Direito Penal, pois o que se passa no foro


íntimo da pessoa não tem relevância criminal. Refere-se ao pensamento do agente em
praticar o delito.

Os atos preparatórios, por sua vez, são aqueles que se situam fora da
esfera de cogitação do agente, embora ainda não se traduzam em início da execução do

24 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

delito. Em regra, não são puníveis; contudo, poderão configurar, excepcionalmente, atos
de execução de infrações penais autônomas. São aqueles que o agente planeja a
execução do crime. Por exemplo: um revólver será o meio pelo qual o agente matará a
vítima, portanto, a aquisição dessa arma trata-se de ato preparatório para o crime de
homicídio. Por outro lado, insta dizer que, em algumas situações, o ato preparatório, por
si só, está previsto como crime autônomo. É o caso, por exemplo, do agente que adquire
uma arma de fogo com numeração raspada para matar seu desafeto; nesse exemplo,
embora a aquisição da arma de fogo seja um ato preparatório para o crime de homicídio,
ela também configura o crime de posse ou porte de arma de fogo de uso restrito (art.16
do Estatuto do Desarmamento), ou seja, o ato preparatório também é um crime
autônomo.
A regra é que estes atos não são puníveis. Contudo, a doutrina elenca
exceção, quando, por si só configurarem infração penal. Como exemplo, temos o art.
288 do CP, Associação Criminosa, que pune os agentes por se unirem para praticar
crimes e o art. 5º, da Lei nº 13.260/2016, Lei Antiterrorismo, que prevê a punição para
atos preparatórios de terrorismo.

A execução se inicia com o primeiro movimento que concretize a realização


da ação descrita no tipo. A punição ocorre somente nas fases de execução e
consumação. Na execução, o bem jurídico começa a ser atacado. O agente inicia a
realização do núcleo do tipo e o crime já se torna punível.

Na consumação, todos os elementos que se encontram descritos no tipo


penal foram realizados.

A Doutrina ainda elenca o exaurimento, que é quando o bem jurídico já foi


afetado pela conduta do agente (consumação), mas ainda há outros prejuízos
evidenciados dessa conduta.

5.2. Elementos da tentativa

São três os elementos da tentativa:

• A ação, caracterizada por início da execução.

25 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

• A interrupção da execução por circunstâncias alheias à vontade do


agente, que pode se dar em qualquer momento antes da consumação.
• O dolo, o elemento subjetivo do crime.

26 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

5.3. Espécies de tentativa

• Tentativa perfeita ou acabada (ou crime falho ou frustrado): o


agente consegue praticar todos os atos necessários à consumação,
embora esta acabe não ocorrendo.
• Tentativa imperfeita (ou inacabada): a ação do agente é
interrompida na fase de execução. O agente não chega a esgotar sua
capacidade ofensiva contra o bem jurídico visado.

A desistência voluntária e o arrependimento eficaz (confira item 4.4), são


espécies de tentativa abandonada.

5.4. Desistência voluntária, arrependimento eficaz

Na desistência voluntária, o agente voluntariamente interrompe a execução


do crime, impedindo sua consumação (CP, art. 15, 1ª parte). A lei quer, com tal medida,
estimular o agente a retroceder, o que não é possível nos crimes de mera conduta, nos
quais a execução é a própria consumação.

No arrependimento eficaz, o agente termina todo o processo de execução,


porém evita a consumação (CP, art. 15, 2ª parte).

Nos dois casos, o agente só responde pelos atos até então praticados.

5.5. Arrependimento posterior

O arrependimento posterior ocorre nos crimes cometidos sem violência


ou grave ameaça à pessoa, nos quais o agente, voluntariamente, repara o dano ou restitui
a coisa até o recebimento da denúncia ou queixa.

Neste caso, a pena será reduzida de um a dois terços (CP, art. 16). Tratando-
se de causa objetiva de diminuição de pena, o arrependimento posterior não se restringe
à esfera pessoal de quem o realiza, estendendo-se aos coautores e partícipes condenados
pelo mesmo fato.

27 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

5.6. Crime impossível

Ocorre o crime impossível quando o agente realiza uma conduta e não


atinge o seu objetivo por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do
objeto (pessoa ou coisa).

O crime impossível configura causa de exclusão da adequação típica do


crime tentado (natureza jurídica).

O crime impossível pode ocorrer por:

• Ineficácia absoluta do meio: o meio empregado ou instrumento


utilizado para a execução do crime não é idôneo para levar à
consumação.
Exemplos: usar um copo, contendo água para matar alguém
envenenado ou tentar matar alguém, com revólver de brinquedo.
• Absoluta impropriedade do objeto: o objeto (pessoa ou coisa)
sobre o qual recai a conduta é absolutamente inidôneo à produção de
algum resultado lesivo.
Exemplo: matar cadáver.

Exercícios:

1. Pretendendo matá-lo, Rui Santos coloca veneno no café de Nei Silva. Sem saber do
envenenamento, Nei Silva ingere o café. Logo em seguida, Rui Santos, arrependido,
prescreve o antídoto a Nei Silva, que sobrevive sem qualquer sequela. Diante disso, é
correto afirmar que tal relato trata de hipótese de:

(A) crime impossível, pois o meio empregado por Rui Santos era, absolutamente, ineficaz
para a obtenção do resultado pretendido.

(B) arrependimento eficaz, pois Rui Santos impediu, voluntariamente, que o resultado se
produzisse.

(C) tentativa, pois o resultado não se consumou por circunstâncias alheias à vontade de Rui
Santos.

(D) arrependimento posterior, pois o dano foi reparado por Rui Santos até o recebimento da
denúncia.
28 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Aula 3 – (Continuação).

1. Dolo e culpa

1.1. Crime doloso

O dolo - elemento subjetivo do tipo - é a vontade livre e consciente de


realizar a conduta típica, ou seja, é a vontade manifestada pela pessoa de realizar a
conduta.

Espécies de dolo:

• Dolo direto (ou determinado): aquele em que o agente quer o resultado.


• Dolo indireto (ou indeterminado): aquele em que a vontade do agente não
é exatamente definida.

O dolo indireto pode ser:

• alternativo: aquele em que o objeto da ação se divide entre dois ou mais


resultados.
Exemplo: matar ou ferir - para o agente, tanto faz a produção de um ou
outro resultado.
• eventual: o agente não tem a vontade direta de produzir o resultado, mas
sabe que consumada a conduta o resultado é possível; com isso, ele
assume o risco da produção do resultado ao realizar a conduta.
Exemplo: condutor de veículo automotor que, embriagado, dirige
tresloucadamente, assumindo o risco de matar, o que acaba por acontecer.

29 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

1.2. Crime culposo

Consiste na prática não intencional do delito, faltando ao agente um dever


de atenção e cuidado. Na culpa há a não observância do dever de cuidado pelo sujeito,
causando o resultado e tornando punível seu comportamento. Em regra, as condutas são
punidas a título de dolo, porque a finalidade da legislação penal é, em primeiro lugar,
coibir a própria intenção criminosa. Só existirá crime culposo quando for expressamente
previsto na legislação, logo culpa é o elemento normativo do tipo. Não há compensação
de culpas no Direito Penal.

1.2.1. Pressupostos da culpa

• Negligência: é a falta de cuidado. A displicência, o relaxamento


Exemplo: não observar a rua ao dirigir um carro.
• Imprudência: é a conduta precipitada, a criação desnecessária de um
perigo.
Exemplo: dirigir um carro com excesso de velocidade.
• Imperícia: é a falta de habilidade técnica para certas atividades.
Exemplo: não saber dirigir um carro.

1.3. Espécies de culpa

• Culpa inconsciente: é a mais comum nas modalidades de negligência. O


fato era previsível, mas o agente não o previu por falta da atenção devida.
• Culpa consciente: é uma forma excepcional de culpa, cujo agente prevê o
resultado, mas acredita que ele não ocorrerá, por confiar, erradamente, em
sua perícia ou nas circunstâncias. Difere do dolo eventual, porque neste, o
agente prevê o resultado, mas não se importa que ele ocorra; na culpa
consciente, embora prevendo o que possa acontecer, o agente repudia essa
possibilidade.

30 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

• Culpa imprópria: é aquela em que o agente, por erro de tipo inescusável,


supõe estar diante de uma causa de justificação que lhe permita praticar
um fato típico, licitamente.

2. Teoria do erro

Erro, em Direito Penal, corresponde a uma falsa representação da


realidade, que tanto pode incidir sobre situação fática prevista como elementar ou
circunstância do crime (erro de tipo), bem como sobre a ilicitude da conduta (erro de
proibição). Desta forma, a pessoa a qual subtrai coisa de outra, acreditando ser sua - não
sabe que subtrai coisa alheia - ou quando alguém, por exemplo, tem maconha em casa,
na crença de que esta constitui outra substância, inócua (exemplo: esterco), encontra-se
em erro de tipo (art. 20 do CP); contudo, se souber da natureza da substância, a qual
mantém por acreditar, equivocadamente, que o depósito não é proibido, incide no erro
de proibição (art. 21, do CP).

Vejamos as espécies de erro:

• Erro sobre elemento constitutivo do tipo (CP, art. 20, caput): "O erro
sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas
permite a punição por crime culposo, se previsto em lei". Tal erro pode
referir-se a uma situação de fato.
Exemplo: o caçador atira em uma pessoa, pensando tratar-se de um
animal perigoso.
• Descriminantes putativas (CP, art. 20, § 1°): "É isento de pena quem, por
erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato
que, se existisse, tornaria a ação legítima". Trata-se do erro de tipo
inevitável (invencível ou escusável) e, sendo assim, exclui a punição por
dolo ou por culpa. O fato, portanto, é atípico.

Importante lembrar que: "Não há isenção de pena quando o erro deriva de


culpa e o fato é punível como crime culposo." (CP, art. 20, § 1°, parte final).

31 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

• Erro determinado por terceiro (art. 20, § 2º, CP): "Responde pelo crime
o terceiro que determina o erro".
• Erro sobre a pessoa (art. 20, § 3°, CP): "O erro quanto à pessoa contra a
qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste
caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra
quem o agente queria praticar o crime". Ocorre quando, por exemplo, o
agente mata A pensando tratar-se de B, fato que não altera a figura típica
do homicídio.
• Erro sobre a ilicitude do fato (art. 21, CP): "O desconhecimento da lei é
inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena;
se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.

CP, art. 20, Parágrafo único: “Considera-se evitável o erro se o agente atua
ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas
circunstâncias, ter ou atingir essa consciência".

3. Antijuridicidade (ilicitude)

A antijuridicidade é um dos requisitos do crime. Constitui-se na relação de


contrariedade entre o fato e o ordenamento jurídico. Não basta, para a ocorrência de um
crime, que o fato seja típico (previsto em lei). É necessário também que seja
antijurídico, ou seja, contrário à lei penal, que viole bens jurídicos protegidos pelo
ordenamento jurídico.

32 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

3.1. Causas de exclusão da antijuridicidade

Além de típico, para ser considerado crime o fato deve ser também
antijurídico.

O art. 23 do CP dispõe que não há crime quando o agente pratica o fato nos
seguintes casos:

• Estado de necessidade: o agente pratica o fato para salvar de perigo


atual - que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo
evitar - direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias,
não era razoável exigir-se.
• Legítima defesa: quem, usando moderadamente dos meios
necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu
ou de outrem. Contra pessoas ou coisas, caracteriza legítima defesa.
Exemplo: policial que atira em um criminoso armado. Temos
também a legítima defesa com erro na execução, muito comum nos
dias atuais em que o policial adentra em comunidades, ou mesmo
nas ruas e ao se deparar com marginais armados, efetua disparo
para reprimir a injusta agressão atual ou iminente, atinge pessoa que
não era criminosa, que estava na linha de fogo ou próximo aos
marginais.
• Estrito cumprimento do dever legal: consiste na existência de um
dever proveniente de lei que obriga o agente a determinada conduta
Exemplo: policial prende em flagrante delito.
• Exercício regular de direito: ocorre quando o agente age dentro
dos limites autorizadores pelo ordenamento jurídico.
Exemplo: lesão corporal decorrente de violência desportiva.

33 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

4. Imputabilidade

Chama-se imputabilidade a capacidade de o agente entender o caráter ilícito


do fato ou de determinar-se, de acordo com esse entendimento. Consequentemente,
denomina-se inimputabilidade a incapacidade de o agente entender o caráter ilícito do
fato ou de determinar-se, de acordo com esse entendimento, seja em virtude de doença
mental ou desenvolvimento mental incompleto (menoridade penal) ou retardado, seja
em virtude de embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior,
conforme estabelecem os arts. 26, 27 e 28 do CP.

Aula 4 – (Continuação).

1. Concurso de pessoas

Normalmente, o crime é praticado por uma única pessoa. Contudo, pode ser
praticado por duas ou mais. Assim sendo, o CP utiliza o termo concurso de pessoas,
adotando a teoria unitária ou monista, segundo a qual, no concurso, existe um só
crime, em que todos os participantes respondem por ele.

O art. 29 do CP estatui: “Quem, de qualquer modo, concorre para o crime,


incide nas penas a este cominadas na medida de sua culpabilidade”. Além disso, a lei
penal distingue coautoria de participação (§ 1º, art. 29, CP).

Ocorre a coautoria quando várias pessoas realizam a conduta principal do


tipo penal, ou seja, há diversos executores.

Por sua vez, existe a participação quando o sujeito concorre de qualquer


modo para a prática da conduta típica, não realizando atos executórios do crime. O
sujeito, chamado partícipe, realiza atos diversos daqueles praticados pelo autor, não
cometendo a conduta descrita pelo preceito primário da norma. Pratica, entretanto,
atividade - induz, instiga ou presta auxílio - que contribui para a realização do delito.

Autor, portanto, é quem executa o núcleo da conduta típica.

Exemplo: aquele que mata, rouba etc.

34 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Já partícipe, é quem concorre de qualquer modo para a realização do crime,


praticando atos diversos dos do autor.

Exemplos: ele vigia a rua, enquanto o autor furta bens do interior da casa;
ele empresta a arma para o autor matar a vítima etc.

A participação pode ser, portanto, moral ou material.

Existe a participação moral quando o agente induz ou instiga o autor


principal à prática do crime. Ocorre a participação material quando o agente auxilia, de
algum modo, o autor principal na prática do crime.

2. Ação penal

Conceito: é o direito de pedir a tutela jurisdicional representada pela


aplicação da lei penal ao caso concreto. Ela pode ser pública, quando o próprio Estado,
representado pelo Ministério Público deflagra a ação ou privada, quando a vítima do
delito é quem representa junto ao Estado-Juiz para que haja a persecução penal.

Ensinam Alexandre Cebrian A. Reis e Victor Eduardo R. Gonçalves, que


AÇÃO PENAL é o procedimento judicial iniciado pelo titular da ação quando há
indícios de autoria e materialidade, a fim de que o juiz declare procedente a
pretensão punitiva estatal e condene o autor da infração penal.

Durante o transcorrer da ação penal será assegurado ao acusado pleno


direito de defesa, além de outras garantias como a estrita observância do procedimento
previsto em lei, de só ser julgado pelo juiz competente, de ter assegurado o contraditório
e o duplo grau de jurisdição etc. (Direito Processual Penal Esquematizado. São Paulo:
Saraiva, 2012, pág. 71.)

2.1. Finalidade

Através da ação penal o Estado exercita o direito de punir em face do agente


da infração penal.

35 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

O Estado, detentor do direito de punir (jus puniendi), concede o direito


exclusivo da iniciativa da ação penal ao Ministério Público (129, I, da CF e art. 24
do CPP) ou à vítima (art. 30 do CPP), dependendo do tipo de delito cometido.

Desta forma, para cada crime previsto na lei, o legislador estabeleceu,


previamente, uma espécie de ação penal, ou seja, de iniciativa pública ou de iniciativa
privada.

2.2. Fundamento legal

A Ação Penal tem previsão legal no Código Penal/CP, art. 100, Código de
Processo Penal/CPP, arts. 24 a 62 e na Constituição Federal- CF, art. 5.°,XXXV e LIX.

2.3. Classificação

A ação penal pode ser pública ou privada, conforme a iniciativa.

Pública = Promovida pelo MP (denúncia).

Privada = Iniciada pelo ofendido (queixa).

A ação penal pública divide-se em incondicionada = a atuação do


Ministério Público não está sujeita a nenhum tipo de condição, e condicionada = o MP
só pode agir se houver representação da vítima (exemplos arts. 130, § 2º, 147,
parágrafo único, etc., do CP) ou requisição do Ministro da Justiça (exemplo: art.
141, I, do CP - confira art. 145, parágrafo único do mesmo diploma legal).

Na ação penal pública condicionada a titularidade é do Ministério


Público que, todavia, só pode oferecer a denúncia se estiver no caso concreto à
representação da vítima ou a requisição do Ministro da Justiça que constituem,
assim, condições de procedibilidade.

Na ação penal pública condicionada, o ofendido (ou seus sucessores =


CPP, art. 24, § 1.°), tem o prazo de seis meses, a contar da data em que souber quem é
o autor do crime - art. 38, CPP -, para oferecer representação. Se não agir nesse
período, ocorrerá a decadência = perda do direito de ação - e, consequentemente,
provocará a extinção da punibilidade do autor do delito = CP, art. 107, IV-.

36 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Por ser regra no processo penal, no silêncio da lei, a ação será pública
incondicionada.

Importante salientar que, nos crimes em que se procede mediante ação


penal pública, havendo indícios de autoria e materialidade colhidos, durante as
investigações, o oferecimento da DENÚNCIA - pelo MP - pelo Princípio da
obrigatoriedade é obrigatório.

Ação Penal Privada é aquela em que a iniciativa da propositura da ação é


conferida à vítima. É certo que a peça inicial da ação se chama QUEIXA.

Confira art. 145 1ª parte do CP “Nos crimes previstos neste Capítulo


somente se procede mediante queixa, [...]”.

A ação penal privada divide-se em:

• EXCLUSIVA = A iniciativa da ação penal é da vítima.

Se a vítima for criança, adolescente ou incapaz, a ação poderá ser proposta


pelo representante legal.

Na hipótese de morte da vítima, a ação poderá ser proposta por seus


sucessores (cônjuge, companheiro, ascendente, descendente ou irmão - art. 31 do
CPP). Se a vítima morrer quando a ação já estiver em andamento, estes (sucessores)
poderão prosseguir com a ação.

A ação privada deve ser intentada no prazo de seis meses, a contar da data
em que o ofendido souber quem é o autor da infração penal - art. 38, CPP. Se nada for
feito, ocorrerá a decadência=perda do direito de ação e extinção da punibilidade do
autor do crime.

• PERSONALÍSSIMA = A ação só pode ser proposta pela vítima.

No caso de morte da vítima a ação NÃO PODERÁ ser proposta pelos


sucessores. Se já tiver sido proposta ação, esta será extinta na data do falecimento da
vítima.(Confira art. 236, parágrafo único do CP).

37 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

• SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA = Nos casos em que a ação penal


seja de iniciativa pública e o Estado, através do Ministério Público,
não intenta a ação penal no prazo legal (cinco dias, em caso de
indiciado preso e quinze dias, se estiver solto ou afiançado,
conforme art. 46, CPP), o ofendido ou seu representante legal
poderão SUBSIDIARIAMENTE, ajuizá-la. (Confira art. 5º, LIX, da
CF; art. 29, do CPP e art. 100, § 3º, do CP).

A existência da ação penal privada susidiária da pública constitui garantia


constituicional do ofendido contra possível desídia ou arbitrairedade do Estado
(representado pelo MP).

Esta deve ser ajuizada no prazo máximo de seis meses (art. 38, parte final,
CPP); se não o fizer, cabe apenas ao MP promovê-la, desde que a punibilidade não
esteja extinta pelo decurso do prazo prescricional (art. 109 do CP).

Exercícios:
Assinale a alternativa correta, de acordo o Código Penal brasileiro.

a) A representação poderá ser retratada até a citação do acusado.

b) O direito de oferecer queixa ou de prosseguir decai no caso de morte do


ofendido ou de ter sido declarado ausente por decisão judicial.
c) Quando a lei considera como elemento ou circunstâncias do tipo legal fatos
que, por si mesmos, constituem crimes, cabe ação pública em relação àquele,
desde que, em relação a qualquer destes se deva proceder por iniciativa do
Ministério Público.
d) Importa renúncia tácita ao direito de queixa o fato de o ofendido receber a
indenização do dano causado pelo crime.
e) O direito de queixa pode ser exercido a qualquer momento.

38 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Aula 5 – (Continuação).

O Código Penal brasileiro, instituído pelo Decreto-lei nº 2.848, de 7 de


dezembro de 1940, entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 1942 e está dividido em
duas partes distintas: a parte geral (art. 1º ao 120°) e a parte especial (art. 121° ao 361°).
Na primeira delas, estão previstas as regras aplicáveis a todos os crimes tratados na
parte especial. Na segunda parte, encontram-se os crimes em espécie – art. 121° ao 359°
-, cujo desenvolvimento se dá através da definição dos crimes, com suas respectivas
sanções.

Neste trabalho, abordaremos somente os tipos penais mais importantes e


com maior incidência, nos dias atuais. Os temas são indicados, não havendo, diante
disto, a intenção de esgotar-lhes o conteúdo. O objetivo é, unicamente, constituir-se em
um instrumento que propicie uma abertura para questionamentos e discussões,
fortalecendo a formação profissional.

Vamos aos crimes:

1. Homicídio

Tipo penal (art. 121): matar alguém. Pena: reclusão de seis a vinte anos.

Bem jurídico: vida humana.

Sujeito ativo: qualquer pessoa.

Sujeito passivo: qualquer ser humano com vida.

39 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Tipo objetivo: matar alguém (outro ser humano) por qualquer meio.
Admite-se o recurso a meios variados - diretos ou indiretos físicos ou morais -, desde
que idôneos à produção do resultado morte.

Tipo subjetivo: dolo, direto ou eventual.

Consumação e tentativa: consuma-se com a morte da vítima; a tentativa,


neste caso, é admissível.

• Homicídio privilegiado: ocorre quando o agente comete o crime


impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o
domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta provocação
da vítima (art. 121, § 1°, CP).
• Homicídio qualificado: verifica-se quando cometido (art. 121, § 2°,
CP):

I - mediante paga ou promessa de recompensa ou por outro motivo torpe;

II - por motivo fútil (que é a desproporção entre a causa e o resultado).


Exemplo: o sujeito A dirigindo seu veículo, colide com a traseira do veículo conduzido
por B, e este, enfurecido com o pequeno dano sofrido, acaba por matar A;

III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, através de asfixia, tortura ou


outro meio insidioso ou cruel ou de que possa resultar perigo comum;
Exemplo: colocar em risco a vida ou integridade física de diversas pessoas;

IV - à traição, de emboscada ou mediante dissimulação ou outro recurso que


dificulte ou torne impossível à defesa do ofendido;

V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou a vantagem de


outro crime.

VI - Tivemos recentemente alteração no Código Penal pela Lei nº. 13.104


de 2015, incluindo o FEMINICÍDIO, como homicídio qualificado em razão de a vítima
ser do sexo feminino.

40 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

• Homicídio culposo: a produção do resultado (morte) decorre da


inobservância, pelo agente, do cuidado objetivamente devido, da
diligência indispensável em face das circunstâncias, agindo, diante
disto, com imprudência, negligência ou imperícia (art. 121, § 3°,
CP).

41 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Exercícios:

Sérvulo, querendo matar seu vizinho que sempre ligava o som, após as 22h, prepara
um churrasco envenenado e entrega a seu vizinho Ticío; ao comer o churrasco,
Tício vem a óbito. Nessa situação, Sérvulo cometeu o crime de:

(A) Homicídio Privilegiado.

(B) Homicídio Culposo.

(C) Homicídio Simples.

(D) Homicídio Qualificado.

42 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

2. Infanticídio

Tipo Penal: (art. 123): matar, sob influência do estado puerperal, o próprio
filho, durante o parto ou logo após. Pena: reclusão, de dois a seis anos.

Bem jurídico: vida humana.

Sujeito ativo: somente a mãe.

Sujeito passivo: o ser humano nascente ou recém-nascido.

Tipo objetivo: matar, sob influência do estado puerperal (critério


fisiopsíquico), o próprio filho, durante o parto ou logo após (elemento normativo).

Obs.: Indispensável a prova pericial da vida extrauterina.

Tipo subjetivo: dolo, direto ou eventual.

Consumação e tentativa: consuma-se com a morte do filho nascente ou


recém- nascido; a tentativa, neste caso, é admissível.

Observação: Estado puerperal: Puerpério é o período que vai do


deslocamento e da expulsão da placenta até a volta do organismo materno às condições
pré-gravídicas. Sua duração é variável. A mulher, mentalmente sadia, mas abalada pela
dor física do fenômeno obstétrico, fatigada, enervada, sacudida pela emoção, vem a
sofrer um colapso do senso moral, uma liberação de impulsos maldosos, chegando a
matar o próprio filho.

3. Aborto

É a interrupção da gravidez fisiológica, com a consequente morte do ovo,


embrião ou feto, com ou sem a expulsão do concepto.

Tipo penal (art. 124): provocar aborto em si mesma ou consentir que


outrem lho provoque. Pena: detenção, de um a três anos.

Bem jurídico: vida humana intrauterina.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Sujeito ativo: no autoaborto, a própria gestante. Nas demais modalidades,


qualquer pessoa.

Sujeito passivo: o ser humano em formação. No aborto não consentido e no


aborto qualificado pelo resultado, a gestante também poderá figurar como vítima do
delito.

Tipo objetivo: provocar aborto - morte do nascituro no útero materno ou


fora deste - pelas manobras abortivas ou pelo estágio de sua evolução.

Objeto material: é o produto vivo da concepção, em qualquer fase de seu


desenvolvimento. O termo inicial para a prática do delito é o início da gravidez
(nidação) e o termo final, o início do parto. A gravidez deve ser normal. Indiferente o
meio executivo empregado, desde que idôneo.

Tipo subjetivo: dolo, direto ou eventual.

Consumação e tentativa: consuma-se com a morte do produto da


concepção. Prescindível sua expulsão. A tentativa, neste caso, é admissível.

Espécies de aborto:

• Autoaborto: provocar aborto em si mesma (art. 124, CP).


• Aborto consentido: consentir que outrem lho provoque (art. 124,
CP).
• Aborto provocado por terceiro: sem o consentimento da gestante
(art. 125, do CP) ou com o seu consentimento (art. 126, CP).
• Aborto qualificado pelo resultado: se, em consequência do aborto
praticado com ou sem o consentimento da gestante ou devido aos
meios empregados para provocá-lo, aquela sofre lesão corporal
grave ou lhe sobrevém a morte (art. 127, CP).
• Aborto necessário ou terapêutico: praticado por médico, se não há
outro meio de salvar a vida da gestante - estado de necessidade
justificante (art. 128, I, CP).
• Aborto sentimental ou humanitário: praticado por médico, se a
gravidez resulta de estupro. Deve ser precedido de consentimento da

44 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal - estado de


necessidade exculpante (art. 128, II, CP).
• Aborto eugenésico: realizado quando existirem riscos fundados de
que o produto da concepção será portador de graves anomalias
genéticas de qualquer natureza ou de outros defeitos físicos ou
psíquicos decorrentes da gravidez (aborto excludente de
culpabilidade).

4. Lesão Corporal

Tipo penal (art. 129): ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem.


Pena: reclusão, de três meses a um ano.

Bem jurídico: incolumidade física e psíquica do ser humano.

Sujeito ativo: qualquer pessoa.

Sujeito passivo: qualquer ser humano vivo, a partir do início do parto.

Tipo objetivo: ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem. Lesão


corporal é a alteração prejudicial - anatômica ou funcional, física ou psíquica, local ou
generalizada - produzida, por qualquer meio, no organismo alheio.

Tipo subjetivo: dolo, direto ou eventual.

Consumação e tentativa: consuma-se com a efetiva ofensa à integridade


corporal ou à saúde de outrem. A tentativa, neste caso, é admissível, salvo nas
hipóteses previstas no art. 129, parágrafos 1°, II, 2°, V, 3° (lesão corporal seguida de
morte) e 6° do CP (lesão corporal culposa).

Apenas a mulher grávida pode ser sujeito passivo das lesões previstas no
artigo 129, parágrafos 1°, IV, e 2°, V do CP.

45 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Espécies de lesão corporal:

• Lesão corporal leve ou simples: compreende os danos à


incolumidade física ou psíquica que, por exclusão, não integram as
hipóteses previstas como lesões graves e gravíssimas.
• Lesão corporal grave: se da ofensa à integridade corporal ou à
saúde de outrem resulta (art. 129, § 1°, CP):

a) Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;

b) Perigo de vida;

c) Debilidade permanente de membro, sentido ou função;

d) aceleração de parto.

• Lesão corporal gravíssima: se da ofensa à integridade corporal ou à


saúde de outrem resulta (art. 129, § 2°, CP):

a) Incapacidade permanente para o trabalho;

b) Enfermidade incurável;

c) Perda ou inutilização de membro, sentido ou função;

d) Deformidade permanente;

e) Aborto.

• Lesão corporal seguida de morte: se da ofensa à integridade


corporal ou à saúde resulta morte e as circunstâncias evidenciam que
o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo. É
um misto de dolo (antecedente) e culpa (consequente).

• Lesão corporal culposa: a produção do resultado material externo


(ofensa à integridade corporal ou à saúde de outrem), não querido
pelo agente, decorre da inobservância de dever objetivo de cuidado.

46 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

• Violência doméstica: se a lesão for praticada contra ascendente,


descendente, irmão, cônjuge ou companheiro ou com quem conviva
ou tenha convivido o agressor ou, ainda, prevalecendo-se o agente
das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade.

• Lesão Corporal contra Agentes de Segurança Pública e seus


Familiares: A Lei nº 13.142/2015, alterou o código penal para
incluir como causa de aumento de pena de 1/3 a 2/3 a lesão corporal
praticada contra “autoridade ou agente descrito nos art. 142 e 144 da
Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força
Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição”.

a) Causas de diminuição de pena: se o agente comete o crime impelido


por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção,
logo em seguida à injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto
a um terço (art. 129, § 4°, CP).

b) Causas de aumento de pena: culposa a lesão, a pena aumenta-se de um


terço, se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício ou
se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as
consequências do seu ato ou foge para evitar prisão em flagrante. Dolosa a lesão
corporal, a pena é igualmente aumentada de um terço, se o crime é praticado contra
pessoa menor de quatorze anos ou maior de sessenta anos (art. 129, § 7°, CP).

Nos casos previstos nos parágrafos 1° e 3° do artigo 129 do CP, se as


circunstâncias são as indicadas no parágrafo 9° deste artigo, aumenta-se a pena em um
terço (art. 129, § 10, CP).

4.1. Calúnia

Tipo penal (art. 138): Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato


definido como crime. Pena: reclusão, de seis meses a dois anos, e multa.

47 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Bem jurídico: a honra.

Sujeito ativo: qualquer pessoa.

Sujeito passivo: apenas a pessoa física, inclusive os inimputáveis e


desonrados.

Tipo subjetivo: o dolo, direto (art. 138, caput e § 1°, CP) ou eventual (art.
138, § 1°, CP), além do propósito de ofender (elemento subjetivo especial do tipo).

Consumação e tentativa: consuma-se com o conhecimento da imputação


falsa por terceira pessoa. A tentativa, neste caso, é inadmissível, salvo se a calúnia é
feita por escrito.

Retratação: o querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da


calúnia fica isento de pena (art. 143, CP). A retratação - completa e incondicional - pode
ser feita pelo próprio ofensor ou por seu procurador com poderes especiais até a
publicação da sentença, extinguindo a punibilidade (art. 107,VI, CP).

Pedido de explicações: se de referências, alusões ou frases se infere


calúnia, quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa
a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela ofensa (art. 144,
CP).

Causa de aumento de pena: as penas aumentam-se de um terço, se a


calúnia é cometida contra o Presidente da República ou contra chefe de governo
estrangeiro; contra funcionário público, em razão de suas funções; na presença de várias
pessoas ou por meio que facilite a divulgação da calúnia; contra pessoa maior de
sessenta anos ou portadora de deficiência (art. 141, I a IV, CP). Se o crime é cometido
mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena em dobro (art. 141,
parágrafo único, CP).

Na calúnia irrogada contra os mortos, são sujeitos passivos seus cônjuges,


ascendentes, descendentes ou irmãos.

A falsidade exigida pode referir-se tanto ao próprio fato como à sua autoria.
O fato imputado deve ser definido como crime e ser determinado. Na mesma pena

48 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala, propaga, espalha ou divulga - a


torna pública ou notória (art. 138, § 1°, CP).

Admitem-se vários meios de execução (palavras, escritos, desenhos, gestos


etc.). É prescindível que a imputação ocorra na presença do ofendido. É punível a
calúnia contra os mortos (art. 138, § 2°, CP).

49 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

4.2. Difamação

Tipo penal (art. 139): difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua
reputação. Pena: detenção, de três meses a um ano, e multa.

Bem jurídico: a honra.

Sujeito ativo: qualquer pessoa.

Sujeito passivo: a pessoa física, inclusive os inimputáveis e desonrados, ou


jurídica. Não é punível a difamação contra os mortos.

Tipo objetivo: difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua


reputação. A difamação não está condicionada à falsidade da imputação e não pode
versar sobre fato definido como crime. O fato ofensivo à reputação da vítima deve ser
determinado. Admitem-se vários meios de execução (palavras, gestos, canções, escritos,
desenhos etc.).

Tipo subjetivo: dolo - direto ou eventual - e o propósito de ofender -


elemento subjetivo especial do tipo.

Consumação e tentativa: consuma-se com o conhecimento da imputação


ofensiva por terceira pessoa. A tentativa, neste caso, é inadmissível, salvo se a
difamação for feita por escrito.

Exclusão do crime: não constituem difamação, pela exclusão da tipicidade


(art.142, CP):

1) A ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu


procurador;

2) A opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo


quando inequívoca a intenção de difamar;

3) O conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação


ou informação que preste no cumprimento de dever do ofício. Na primeira e terceira

50 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

hipóteses, responde pela difamação quem lhe dá publicidade (art. 142, parágrafo único,
CP).

Retratação: o querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da


difamação, fica isento de pena (art. 143, CP). A retratação - completa e incondicional -
pode ser feita pelo próprio ofensor ou por seu procurador com poderes especiais até a
publicação da sentença, extinguindo a punibilidade (art. 107,VI, CP).

Pedido de explicações: se, de referências, alusões ou frases, se infere


difamação, quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se
recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela ofensa (art.
144, CP).

51 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Aula 6 – Crimes em Espécie (Continuação).

1. Injúria

Tipo penal (art. 140): injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o


decoro. Pena: detenção, de um a seis meses, ou multa.

Bem jurídico: a honra.

Sujeito ativo: qualquer pessoa.

Sujeito passivo: apenas as pessoas físicas, inclusive os inimputáveis, se


podem perceber o caráter ultrajante da palavra ou do gesto que lhe são endereçados.
Não é punível a injúria contra os mortos.

Tipo objetivo: injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro.


Consiste na atribuição genérica de qualidades negativas ou de fatos vagos e
indeterminados. Prescinde da falsidade a imputação feita. Admitem-se vários meios de
execução (palavras, gestos, escritos, canções, imagens, caricaturas etc.).

Sujeito passivo: presença desnecessária.

Tipo subjetivo: dolo, direto ou eventual, e o propósito de ofender -


elemento subjetivo especial do tipo.

Consumação e tentativa: consuma-se com o conhecimento da ofensa pela


vítima. A tentativa, neste caso, é admissível, em tese.

Perdão judicial: cabível o perdão judicial quando o ofendido, de forma


reprovável provocou, diretamente, a injúria ou no caso de retorsão imediata que consista
em outra injúria (art. 140, § 1°, CP).
52 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Injúrias real e qualificada (discriminatória): a injúria real consiste em


violência ou vias de fato que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem
aviltantes (art. 140, § 2°, CP). De outro lado, constata-se a injúria discriminatória pela
utilização de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião, origem ou à condição de
pessoa idosa ou portadora de deficiência (art. 140, § 3°, CP).

Exclusão do crime: não constituem injúria, pela exclusão da tipicidade


(art.142, CP):

a) A ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu


procurador;

b) A opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo


quando inequívoca a intenção de injuriar;

c) O conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação


ou informação que preste no cumprimento de dever do ofício. Na primeira e terceira
hipóteses, responde pela injúria quem lhe dá publicidade (art. 142, parágrafo único, CP).

Retratação e pedido de explicações: a retratação é inadmissível em se


tratando de crime de injúria. Se de referências, alusões ou frases se infere injúria, quem
se julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a dá-las ou, a
critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela ofensa (art. 144, CP).

Nos casos em que o querelado tenha praticado a calúnia ou a difamação,


utilizando-se de meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se assim desejar o
ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa (art. 143. Parágrafo único).

1.1. Constrangimento ilegal

Tipo penal (art. 146): constranger alguém, mediante violência ou grave


ameaça ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de
resistência, a não fazer o que a lei permite ou a fazer o que ela não manda. Pena:
detenção, de três meses a um ano, ou multa.

Bem jurídico: liberdade pessoal.

53 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Sujeito ativo: qualquer pessoa.

Sujeito passivo: qualquer pessoa.

Tipo objetivo: constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça ou


depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a
não fazer o que a lei permite ou a fazer o que ela não manda (art. 146, caput, CP).

Tipo subjetivo: dolo, direto ou eventual.

Consumação e tentativa: consuma-se com a efetiva realização, pelo


coagido, da conduta visada pelo agente. A tentativa, neste caso, é admissível.

Causa de aumento de pena: o parágrafo 1º do artigo 146 determina a


aplicação cumulativa e em dobro das penas previstas - detenção ou multa - quando, para
a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas ou há emprego de armas.

A coação ilegítima pode ser realizada, através de violência (física), grave


ameaça (violência moral) ou qualquer outro meio idôneo a diminuir a capacidade de
resistência da vítima (hipnose, ingestão de álcool, drogas etc.). Não há crime (exclusão
da ilicitude) na intervenção médica ou cirúrgica realizada sem o consentimento do
paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida ou na
coação exercida para impedir suicídio (art. 146, § 3°, CP).

1.2. Ameaça

Tipo penal (art. 147): ameaçar alguém - por palavra falada, texto escrito,
gesto ou qualquer outro meio simbólico - de causar-lhe mal injusto e grave. Pena:
detenção, de um a seis meses, ou multa.

Bem jurídico: liberdade pessoal.

Sujeito ativo: qualquer pessoa.

Sujeito passivo: qualquer pessoa, desde que determinada.

Tipo objetivo: ameaçar alguém, por palavra falada, texto escrito,gesto ou


qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave. A ameaça é a
violência moral, destinada a perturbar a liberdade psíquica e a tranquilidade da vítima
54 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

pela intimidação ou promessa de causar, futura ou imediatamente, mal relevante e


injusto. Admitem-se vários meios de execução: palavra falada, texto escrito, gesto ou
outro meio simbólico, desde que idôneo. O mal ameaçado deve ser verossímil e sua
execução possível. Dispensável a presença da vítima.

Tipo subjetivo: dolo, direto ou eventual, - e o propósito de intimidar -


elemento subjetivo especial do tipo.

Consumação e tentativa: consuma-se quando a vítima tem ciência da


ameaça, ainda que não se sinta intimidada. A tentativa é inadmissível, salvo se escrita a
ameaça.

Trata-se de crime de ação penal pública condicionada a representação, con-


forme prevê o parágrafo único do art. 147 do CP.

1.3. Maus Tratos

Tipo penal (art. 136): expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua
autoridade, guarda ou vigilância, para fins de educação, ensino, tratamento ou custódia,
quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho
excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina. Pena:
reclusão, de dois meses a um ano, ou multa.

§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave. Pena: detenção, de


um a quatro anos.

§ 2º - Se resulta a morte. Pena: reclusão, de quatro a doze anos.

§ 3º - Aumenta-se a pena em um terço, se o crime é praticado contra pessoa


menor de catorze anos.

Bem jurídico: vida e incolumidade pessoal.

Sujeito ativo: apenas aquele que tenha a vítima sob sua guarda, vigilância
ou autoridade, para fins de educação, ensino, tratamento ou custódia.

Sujeito passivo: aquele que esteja sob a autoridade, guarda ou vigilância do


sujeito ativo, para fins de educação, ensino, tratamento ou custódia.

55 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Tipo objetivo: expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua


autoridade, guarda ou vigilância, para fins de educação, ensino, tratamento ou custódia,
quer privando-a - total ou parcialmente - de alimentação ou cuidados indispensáveis,
quer sujeitando-a a trabalho excessivo (além de suas forças físicas ou mentais) ou
inadequado (impróprio ou incompatível com suas habilidades ou condições orgânicas),
quer abusando de meios de correção ou disciplina. O exercício moderado do poder
disciplinar é considerado lícito (exercício regular de direito).

Tipo subjetivo: dolo, direto ou eventual.

Consumação e tentativa: consuma-se com o perigo à vida ou à saúde da


vítima. A tentativa, neste caso, é admissível.

Formas qualificadas: se do fato resulta lesão corporal de natureza grave, a


pena prevista é a de reclusão, de um a quatro anos (art. 136, § 1°, CP); se resulta a
morte, reclusão, de quatro a doze anos (art. 136, § 2°, CP).

Causa de aumento de pena: aumenta-se a pena em um terço, se o crime é


praticado contra pessoa menor de catorze anos (art. 136, § 3°, CP).

2. Sequestro e cárcere privado

Tipo penal (art. 148): privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro
ou cárcere privado. Pena: reclusão, de um a três anos.

Bem jurídico: liberdade individual.

Sujeito ativo: qualquer pessoa.

Sujeito passivo: qualquer pessoa, mesmo que não disponha da possibilidade


de locomover-se por si mesmo.

Tipo objetivo: privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou


cárcere privado.

O sequestro é o gênero do qual o cárcere privado é espécie. Enquanto neste


a privação de liberdade é feita em qualquer recinto fechado, naquele a vítima é detida
em local aberto, do qual não é possível sair. Perfaz-se o delito, mesmo que a liberdade

56 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

de locomoção esteja limitada a determinado espaço. Desnecessário que a vítima reste,


absolutamente, impossibilitada de retirar-se do local em que se encontra, bastando que
não possa fazê-lo sem grave risco pessoal. Admitem-se vários meios de execução, desde
que idôneos à restrição da capacidade de locomoção da vítima.

O art. 149-A elenca o crime de Tráfico de Pessoas, crime grave que o Brasil
assumiu o compromisso de combater.

Tipo Penal (Art. 149.) Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir,


comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou
abuso, com a finalidade. Pena: reclusão de 04 a 08 anos e multa.

Esse crime possui um especial fim de agir que está previsto nos incisos do
caput, vejamos:

I – remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo.

II- submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo.

III- submetê-la a qualquer tipo de servidão.

IV- adoção ilegal, ou

V- exploração sexual.

Temos as causas de aumento de pena previstas no § 1º do art. 149-A,


vejamos:

§ 1º A pena é aumentada de um terço até a metade se:

I - o crime for cometido por funcionário público no exercício de suas


funções ou a pretexto de exercê-las;

II - o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou


com deficiência;

III - o agente se prevalecer de relações de parentesco, domésticas, de


coabitação, de hospitalidade, de dependência econômica, de autoridade ou de
superioridade hierárquica inerente ao exercício de emprego, cargo ou função; ou

57 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território


nacional.

E uma causa de diminuição prevista no § 2º.

§ 2º A pena é reduzida de um a dois terços se o agente for primário e não


integrar organização criminosa.

3. Violação de domicílio

Tipo penal (art. 150): entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente


ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas
dependências. Pena: detenção, de um a três meses, ou multa.

§ 1º - Se o crime for cometido durante a noite, ou em lugar ermo, ou com o


emprego de violência ou de arma, ou por duas ou mais pessoas. Pena: reclusão, de seis
meses a dois anos, além da pena correspondente à violência.

Bem jurídico: liberdade individual (inviolabilidade domiciliar).

Sujeito ativo: qualquer pessoa.

Sujeito passivo: o morador, titular do direito de inclusão/exclusão.

Tipo objetivo: entrar (introduzir-se por inteiro nos limites da casa alheia ou
de suas dependências) ou permanecer (recusar-se a sair), clandestina (às escondidas) ou
astuciosamente (fraudulentamente) ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de
direito (afronta ostensiva à vontade expressa ou tácita de quem de direito), em casa
alheia ou em suas dependências.

Tipo subjetivo: dolo, direto ou eventual.

Consumação e tentativa: consuma-se - na modalidade entrar -, quando o


agente transpõe os limites que separam a casa ou suas dependências do mundo exterior
(delito instantâneo). Na modalidade permanecer, quando insiste em continuar no local,
por tempo juridicamente relevante (delito permanente). A tentativa é admissível.

58 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Formas qualificadas: comina-se pena de detenção, de seis meses a dois anos


- além da pena correspondente à violência -, se o crime é cometido durante a noite, ou
em lugar ermo, ou com o emprego de violência ou de arma, ou por duas ou mais
pessoas (art. 150, § 1°, CP).

Causa de aumento de pena: a pena aumenta-se de um terço, se o fato é


cometido por funcionário público, fora dos casos legais, ou com inobservância das
formalidades estabelecidas em lei, ou com abuso do poder (art. 150, § 2°, CP).

A expressão casa compreende qualquer compartimento habitado; aposento


ocupado de habitação coletiva ou compartimento não aberto ao público, onde alguém
exerce profissão ou atividade (art. 150, § 4°, CP). Não se compreendem na expressão
casa hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto abertas -
salvo o aposento ocupado -, e tampouco taverna, casa de jogos e outras locações do
mesmo gênero (art.150, § 5°, CP).

Dependências são locais incorporados funcionalmente à casa (pátios,


jardins, garagens, adegas etc.). O consentimento da vítima exclui a tipicidade da
conduta.

É lícita a entrada ou permanência em casa alheia ou em suas dependências


(art. 150, § 3°, CP):

1) Durante o dia, com observância das formalidades legais, para efetuar


prisão ou outra diligência;

2) A qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime está sendo ali
praticado ou na iminência de o ser.

4. Furto

Tipo penal (art. 155): subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel.
Pena: reclusão, de um a quatro anos, e multa.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

§ 1º A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o


repouso noturno.

[...]

§ 3º Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que


tenha valor econômico.

Bem jurídico: é variável, segundo a indicação na doutrina:

a) Só a propriedade.

b) Posse e propriedade.

c) Propriedade, posse e detenção.

Sujeito ativo: qualquer pessoa, salvo o proprietário.

Sujeito passivo: o proprietário ou o possuidor ou, ainda, o detentor.

Tipo objetivo: a conduta de subtrair (tirar, retirar de alguém) pode ser direta
ou mesmo indireta.

Tipo subjetivo: dolo (vontade livre a consciente de subtrair).

Consumação e tentativa: consuma-se quando a coisa é retirada da esfera de


disponibilidade da vítima e fica em poder tranquilo, mesmo que passageiro, do agente.
A tentativa é admissível.

• Furto qualificado (art. 155, § 4º): a pena do furto passa a ser


de 2 a 8 anos de reclusão, e multa, se o crime é praticado:

a) Mediante destruição ou rompimento de obstáculo (ativo ou


passivo) à subtração da coisa: abrange obstáculos ativos
(alarmes, armadilhas etc.) e passivos (trincos, portas,
fechaduras, cofres, janelas etc.).

b) Furto privilegiado (art. 155, § 2º): sendo primário o criminoso


(não são precisos bons antecedentes) e de pequeno valor a
coisa furtada (até um salário mínimo), o juiz pode substituir a

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois


terços ou aplicar somente multa.

confiança: para incidir a qualificadora, a vítima deve depositar,


por algum motivo, especial confiança no agente (amizade,
parentesco, relações profissionais etc), o qual dela se aproveita
de alguma forma.

c) Mediante fraude: emprego de artifício, meio enganoso usado


pelo agente capaz de reduzir a vigilância da vítima e permitir a
subtração do bem (engodo, insídia etc.).

d) Escalada, ou seja, utilização de via anormal para adentrar no


local onde o furto será realizado. Exige-se emprego de algum
instrumento, como corda ou escada, ou de esforço para
adentrar no local.

e) Destreza: trata-se da habilidade física ou manual que permite


ao agente subtrair bens sem que a vítima perceba.

f) Chave falsa: seu emprego dá-se com a utilização de


instrumento capaz de abrir uma fechadura sem arrombá-la,
como grampos, tesouras, michas, chaves de fenda -
englobando, inclusive, cópia da chave verdadeira obtida por
meios fortuitos ou criminosos.

g) Mediante concurso de duas ou mais pessoas: não é preciso que


todos os agentes estejam no local da subtração.

Art. 155. § 5º: A pena é de reclusão de 3 a 8 anos, se a


subtração for de veículo automotor que venha a ser
transportado para outro estado ou para o exterior.

Art. 155. § 6º: A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco)


anos se a subtração for de semovente domesticável de
produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da
subtração. (Incluído pela Lei nº 13.330, de 2016)

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Furto de coisa comum

Tipo penal (art. 156): subtrair o condômino, coherdeiro ou sócio, para si ou


para outrem, coisa comum a quem legitimamente a detém. Pena: detenção, de 6 meses a
2 anos, ou multa.

Bem jurídico: posse e propriedade legítimas. Trata-se de infração de menor


potencial ofensivo, que não se aplica, de regra, a bens fungíveis, salvo se o sujeito
apoderar-se de valor excedente à quota a que tem direito.

Consumação e tentativa: semelhante ao furto.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Aula 7 – Crimes em Espécie (Continuação).

1. Roubo

O roubo é a subtração de bem alheio mediante emprego de violência, grave


ameaça à pessoa ou ao meio que diminua a condição de defesa do ofendido.

• Roubo próprio

Tipo penal (art. 157, caput): subtrair coisa alheia móvel, para si ou para
outrem, mediante grave ameaça ou violência à pessoa, ou depois de havê-la, por
qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência.

Bem jurídico: patrimônio (posse e propriedade), e, secundariamente, a


integridade física, psíquica, a liberdade individual e a vida da pessoa.

Sujeito ativo: qualquer pessoa, salvo o proprietário.

Sujeito passivo: o proprietário ou o possuidor ou, ainda, o detentor.

Consumação e tentativa: há duas correntes:

a) Consuma-se no exato instante em que o agente se apodera do bem.


(Bitencourt, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. Vol. 3. São Paulo: Saraiva,
2009, pág. 88)

b) O objeto subtraído deve sair da esfera de disponibilidade e vigilância da


vítima.

63 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Porém a Jurisprudência pacificou o tema com a edição da Súmula nº 582 do


STJ, consumando o roubo, no exato momento em que a posse do bem passa para o
criminoso.

Súmula 582: Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do


bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em
seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo
prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada."

A tentativa é admissível.

Concurso de crimes:

a) O agente emprega grave ameaça ou violência contra duas pessoas, mas


subtrai objeto de só uma, ou seja, há crime único;

b) O sujeito, no mesmo contexto fático, subtrai bens de várias pessoas,


comete tantos crimes quantos forem os patrimônios lesados, em concurso formal;

c) O sujeito se utiliza de violência ou grave ameaça contra uma pessoa, mas


leva bens de outras, os quais estavam em seu poder, respondendo por vários roubos,
caso tivesse conhecimento da diversidade de proprietários.

• Roubo impróprio

Conceito (art. 157, § 1º, do CP): quando o agente, "logo depois de subtraída
a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a
impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro."

Características:

a) A violência ou grave ameaça é empregada depois da subtração do bem,


mas antes da consumação do furto;

b) O intuito é o de garantir a detenção da coisa ou a impunidade pelo crime.

Consumação e tentativa: consuma-se no momento em que é praticada a


violência ou grave ameaça.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Tentativa: há duas correntes:

a) inadmissível (Damásio).

b) admite-se a tentativa (Mirabete).

Majorado ou agravado: roubo com causa de aumento de pena (art. 157, §


2º).

Natureza jurídica: trata-se de causas de aumento de pena e não de


qualificadoras:

a) Se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma: abrange tanto


a arma própria (aparato com destinação específica de matar ou ferir) quanto a
imprópria (instrumento que tem finalidade diversa, mas pode ser utilizado para matar
ou lesionar);

b) Se há concurso de duas ou mais pessoas: não se exige a presença de todos


no local do crime;

Sujeito ativo: qualquer pessoa, salvo o proprietário.

Sujeito passivo: o proprietário ou o possuidor ou, ainda, o detentor.

Tipo objetivo: a conduta de subtrair (tirar, retirar de alguém) pode ser direta
ou mesmo indireta.

Tipo subjetivo: dolo (vontade livre e consciente de subtrair).

Consumação e tentativa: consuma-se quando a coisa é retirada da esfera de


disponibilidade da vítima e fica em poder tranquilo, mesmo que passageiro, do agente.
A tentativa é admissível.

• Roubo qualificado (art. 157, § 3º)

Roubo qualificado por lesão corporal grave (art. 157, § 3º, 1ª parte): a
incidência desta qualificadora importa na imposição da pena de reclusão de 7 a 15 anos
e multa.

65 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Latrocínio (art. 157, § 3º, parte final): o roubo seguido de morte (ou
latrocínio) encontra-se na lista do art. 1º, II, da Lei n. 8.072/90, ou seja, trata-se de
crime hediondo.

66 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Exercícios – Assinale a alternativa correta.

Nei, mediante arrombamento de uma janela, ingressa na residência de Rui e subtrai


algumas joias. Logo depois, ao se retirar com os objetos, é surpreendido por Rui,
que o aborda. Nei, então, para não ser preso, por meio de socos e pontapés, agride
Rui - causando-lhe lesões corporais de natureza leve - e foge com o objeto material
do crime. Nei responderá por:

(A) Roubo seguido de lesão corporal grave.

(B) Roubo próprio consumado.

(C) Roubo impróprio consumado.

(D) Furto qualificado pelo rompimento de obstáculo em concurso material com o


crime de lesão corporal leve.

(E) Roubo impróprio em concurso material com o crime de lesão corporal leve.

1.1. Extorsão

Tipo penal (art. 158): constranger alguém, mediante violência ou grave


ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica,
a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa.

Bem jurídico: em primeiro lugar, o patrimônio (posse e propriedade) e, em


caráter secundário, a integridade física, psíquica, a liberdade individual e a vida da
pessoa.

Observações:

a) Constranger significa forçar, compelir, coagir mediante violência ou


grave ameaça.

b) Utiliza meios executórios idênticos aos do roubo, exceto pela violência


imprópria.

67 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

c) Pressupõe intenção de obter indevida vantagem econômica.

Sujeitos do crime: crime comum. Se o agente for funcionário público e, em


razão de sua função, fizer uma exigência indevida, haverá concussão (art. 316, CP).

Consumação e tentativa: "O crime de extorsão consuma-se


independentemente da obtenção da vantagem indevida" (STJ, Súmula 96). A tentativa é
admissível.

Causas de aumento de pena: a pena do caput é aumentada de um terço até


a metade, se o crime for cometido por duas ou mais pessoas ou com emprego de arma.

Qualificadora: se da violência resultar lesão grave ou morte (crime


hediondo), nos mesmos moldes do art. 157, § 3º, ao qual se remete; frisando-se que a
pena será, respectivamente, de reclusão de 7 a 15 anos e multa, e de reclusão de 20 a 30
anos, além da multa.

1.2. Extorsão mediante sequestro

Tipo penal (art. 159): sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para
outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate. Pena: reclusão, de 8 a
15 anos.

Bem jurídico: o patrimônio e, secundariamente, a liberdade de locomoção,


a integridade física e a vida.

Observações:

a) Sequestrar: privar a liberdade por tempo juridicamente relevante.

b) Objeto material: a pessoa.

c) Pressupõe obtenção de vantagem indevida como condição ou preço do


resgate (elemento subjetivo específico).

Sujeito passivo: qualquer pessoa, englobando tanto a vítima do sequestro


como a da extorsão.

68 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Crime hediondo: a extorsão mediante sequestro, em qualquer de suas


formas, simples ou qualificada, é crime hediondo.

Consumação e tentativa: ocorre com a restrição da liberdade por tempo


juridicamente relevante (crime formal). A tentativa é admissível.

Qualificadora (§ 12): eleva os limites abstratos do tipo fundamental para


reclusão de 12 a 20 anos, nas seguintes hipóteses:

a) Se o sequestro dura mais do que 24 horas (art. 159, § 1º, 1ª figura).

b) Se o sequestrado é menor de 18 ou maior de 60 anos (art. 159, § 1º, 2ª


figura).

c) Se o crime é cometido por quadrilha ou bando (art. 159, § 1º, 3ª figura). A


aplicação dessa qualificadora impede o reconhecimento do crime autônomo de
quadrilha ou bando (art. 288, CP), pena de caracterização de bis in idem (duplo
agravamento pelo mesmo fato).

Qualificadoras (§§ 2º e 3º): a pena passa a ser de reclusão de 16 a 24 anos,


se do fato resulta lesão corporal de natureza grave, e de reclusão de 24 a 30 anos, se
resulta morte.

Delação premiada e eficaz (§ 4º): se o crime é cometido em concurso, o


concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá
sua pena reduzida de um a dois terços. Não fica excluída a aplicação dos institutos da
Lei nº 9.807/99 aos réus colaboradores na extorsão mediante sequestro, inclusive no
tocante ao perdão judicial, conforme artigo 13, da referida lei.

1.3. Apropriação indébita

Tipo penal (art. 168, do CP): apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem
a posse ou a detenção.

Bem jurídico: a propriedade e posse de coisas móveis.

Observações:

Para a configuração do crime são exigidos os seguintes requisitos:


69 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

1) Posse ou detenção lícitas e desvigiadas.

2) Boa-fé ao ingressar na posse ou detenção do bem.

3) Inversão do ânimo da posse.

Consumação e tentativa: exige inversão do ânimo da posse.

A tentativa é admissível (em se tratando de negativa de restituição, não há


como caracterizar a tentativa).

Apropriação de coisa achada

Tipo penal (art. 169, parágrafo único, lI, do CP): achar coisa alheia perdida
e dela se apropriar, total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou legítimo
possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro do prazo de quinze dias.

Bem jurídico: a inviolabilidade do patrimônio.

Sujeito ativo: qualquer pessoa.

Sujeito passivo: o proprietário da coisa achada.

Conduta punível: há crime quando o agente, encontrando coisa alheia


móvel perdida, dela se apropria, seja praticando ato típico de disposição, como venda,
consumo, doação, etc., seja negando-se a restituir o bem ao seu legítimo proprietário ou
à autoridade policial ou judiciária (art. 1.170, CPC), no prazo de 15 dias.

Consumação e tentativa: valem as mesmas observações feitas em relação


às demais formas de apropriação, cabendo acrescentar que, no delito em estudo, exige-
se o decurso do prazo de 15 dias sem que se dê a devolução do bem ao proprietário ou
sua entrega à autoridade competente - policial ou judiciária (art. 1.170, CPC). A
consumação pode antecipar-se, no entanto, se mesmo antes desse prazo for realizado
algum ato característico de disposição do bem, como venda, consumo etc.

2. Estelionato

70 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Tipo penal (art. 171, do CP): obter, para si ou para outrem, vantagem
indevida, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante
artifício, ardil ou qualquer meio fraudulento.

Observações:

a) Requisitos fundamentais: a vítima ser induzida ou mantida em erro e o


agente se utilizar, como meio executório, de fraude, por meio de algum artifício
(emprego de algum aparato material ou disfarce), ardil (conversa enganosa) ou outro
meio fraudulento (o silêncio, a mentira etc.);

b) Exige-se meio de execução apto a enganar alguém;

c) Pressupõe intenção de obter vantagem ilícita para si ou para outrem;

d) Se a vantagem for lícita, há exercício arbitrário das próprias razões (art.


345, CP);

e) É preciso haver uma vítima determinada (ou determinado grupo de


pessoas).

Consumação e tentativa: consuma-se com a obtenção da vantagem ilícita e


do efetivo prejuízo alheio (resultado duplo). A tentativa é admissível.

Obs: Se o crime for praticado contra idoso a pena será aplicada em


dobro, conforme § 4º, do art. 171 do CP, acrescentado pela Lei nº 13.228, de
28.12.2015.

STJ, Súmula 17: "Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais


potencialidade lesiva, é por este absorvido".

A pena do estelionato é aplicada em dobro quando o crime é cometido


contra idoso na forma do art.171, § 4º.

71 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

3. Receptação

Tipo penal (art.180, caput, do CP): adquirir, receber, transportar, conduzir


ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou
influir para que terceiro de boa-fé a adquira, receba ou oculte.

Receptação dolosa simples própria: art. 180, caput, 1ª parte, do CP.

Observações:

a) Trata-se de tipo misto alternativo. Assim, o agente que adquire e,


posteriormente, oculta o bem receptado, comete uma só infração penal (a incursão em
mais de uma ação nuclear, entretanto, tem reflexos na dosagem da pena);

b) Ocorrendo várias aquisições sucessivas do bem, respondem por


receptação todos aqueles que o adquirirem sabendo de sua origem criminosa;

c) Se o agente estiver em dúvida quanto ao fato de o bem ser produto de


crime, pode- se cogitar de receptação culposa (art. 180 § 3º, do CP);

d) É irrelevante ser o autor do crime anterior desconhecido ou isento de


pena (art. 180 § 4º, do CP);

e) A receptação simples é crime comum (qualquer pessoa pode praticá-lo),


mas a qualificada é crime próprio, pois exige uma qualidade especial do sujeito ativo:
ser comerciante ou industrial, ainda que de fato ou clandestino.

Consumação e tentativa: consuma-se com a aquisição, o recebimento, a


ocultação, o transporte ou a condução, sem necessidade de qualquer outro resultado. A
tentativa: é admissível.

Receptação dolosa simples imprópria: art. 180, caput, parte final, do CP.

Observações:

a) A receptação dolosa simples imprópria consubstancia-se no ato de influir


para que terceiro de boa-fé adquira, receba ou oculte o bem que o agente sabe ser
produto de crime.

72 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

b) quem furta carro e depois influi para que terceiro de boa-fé o adquira
responde apenas pelo furto, sendo considerado post factum impunível a disposição de
coisa alheia como própria e, da mesma forma, a receptação imprópria.

Consumação e tentativa: consuma-se com o mero ato de influir para que


terceiro de boa-fé adquira, receba ou oculte o bem (crime formal). A tentativa é
inadmissível.

Causa de aumento de pena: (art. 180 § 6º, do CP): "Tratando-se de bens


ou instalações do patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de
serviços públicos ou sociedade de economia mista, a pena prevista no caput deste artigo
aplica-se em dobro".

Receptação qualificada

Tipo penal (art. 180, § 1º, do CP): adquirir, receber, ocultar, ter em
depósito, conduzir, transportar, montar, desmontar, remontar, vender ou expor à venda
ou de qualquer forma utilizar, no exercício de atividade comercial ou industrial, coisa
que (a pessoa) deve saber ser produto de crime.

Observações:

a) Exige-se fato cometido no exercício de atividade comercial ou industrial,


assim considerada toda e qualquer forma de comércio irregular ou clandestino, inclusive
o exercido em residência (art. 180, § 2, do CP);

b) O agente deve saber ser o objeto produto de crime;

c) Não se deve confundir o art. 180, § 1º, do CP com o art. 334, § 1º, do CP
(conduta equiparada a contrabando ou descaminho), que se dá quando o sujeito
"adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade
comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de
documentação legal, ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos".

Receptação culposa

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Tipo penal (art. 180, § 3º, do CP): "Adquirir ou receber coisa que, por sua
natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a
oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso".

O tipo do art. 180, § 6º, elenca a receptação de bens públicos, forma grave
que fez o legislador colocar a causa de aumento de pena, dobrando a pena para o agente
que recepta esses bens.

§ 6º: Tratando-se de bens do patrimônio da União, de Estado, do Distrito


Federal, de Município ou de autarquia, fundação pública, empresa pública,
sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviços
públicos, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo

Já o artigo 180-A, introduzido pela Lei nº 13.330/2016, trouxe uma


novidade, a receptação de semovente, vejamos:

Tipo penal: Art. 180-A. Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter
em depósito ou vender, com a finalidade de produção ou de comercialização, semovente
domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes, que deve saber ser
produto de crime: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

74 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

4. Estupro

Tipo penal (art. 213): constranger alguém, mediante violência ou grave


ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro
ato libidinoso. Pena de reclusão de seis a dez anos.

§ 1° Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é


menor de dezoito ou maior de catorze anos. Pena de reclusão de oito a doze anos.

Bem jurídico: a liberdade sexual do ser humano (homem ou mulher).

Sujeito ativo: tanto o homem quanto a mulher. Importante lembrar, no que


se refere à conjunção carnal, que a mulher pode ser coautora ou partícipe de um homem.

Sujeito passivo: igualmente o homem ou a mulher.

Tipo objetivo: o núcleo é constranger (forçar, compelir, obrigar). A pessoa


a quem se constrange pode ser homem ou mulher, não importando se seja honesto (a)
ou que comercie o próprio corpo. O constrangimento deve ser feito mediante violência
(física) ou grave ameaça (de mal sério e idôneo) e deve haver dissenso da vítima.

Na primeira figura, o constrangimento visa à conjunção carnal (coito


vagínico), sendo indiferente que a penetração seja completa ou que haja ejaculação.

Na segunda figura, o constrangimento visa praticar ou obrigar a vítima a


permitir que com ela se pratique "outro ato libidinoso" (diverso da conjunção carnal),
compreendendo-se, aqui, o sexo anal, oral, a masturbação etc.

Tipo subjetivo: o dolo. Não há forma culposa.

Consumação: na primeira figura (conjunção carnal), com a penetração


vagínica completa ou não. Na segunda - outro ato libidinoso -, com qualquer prática
que sirva para atender ao desejo sexual (lascívia).

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Aula 8 – Crimes em Espécie (Continuação).

1. Estupro de vulnerável

Tipo Penal (art. 217- A, do CP): ter conjunção carnal ou praticar outro ato
libidinoso com menor de catorze anos:

§ 1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com


alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento
para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.

§ 3º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave.

§ 4º Se da conduta resulta morte.

Bem jurídico: a proteção sexual do vulnerável.

Sujeito ativo: qualquer pessoa.

Sujeito passivo: apenas o menor de 14 anos, do sexo feminino ou


masculino. É irrelevante que o menor de 14 anos tenha ou não experiência sexual.

Crime hediondo: o estupro de vulnerável, tanto em suas formas simples


(caput e § 1º) quanto qualificadas (§§ 3º e 4º), é crime hediondo (art. 1º, VI, da Lei nº
8.072/90).

Tipo objetivo: São duas as condutas incriminadas:

a) Ter conjunção carnal;

b) Praticar outro ato libidinoso, ou seja, diverso da conjunção carnal. Trata-


se neste art. 217-A de um tipo especial de estupro, voltado à proteção do menor de 14
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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

anos, não importando de a vítima tenha ou não experiência sexual anterior (STJ Súmula
593).

SÚMULA 593 STJ: O crime de estupro de vulnerável configura com a


conjunção carnal ou prática de ato libidinoso com menor de 14 anos, sendo
irrelevante o eventual consentimento da vítima para a prática do ato,
experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o
agente.

Tipo subjetivo: o dolo. Não há forma culposa.

Consumação e tentativa: consuma-se com a efetiva prática da conjunção


carnal ou de outro ato libidinoso. A tentativa é admissível.

Observações:

Figura equiparada (§ 1º): equiparam-se às condutas do caput as de quem


pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com pessoa, de qualquer idade, que:

a) Não tenha o necessário discernimento para a prática do ato, em virtude de


enfermidade ou deficiência mental. É necessário que o agente tenha conhecimento da
enfermidade ou deficiência mental da vítima, e que, em virtude dela, lhe falte
discernimento para o ato sexual. É imprescindível, igualmente, a existência de laudo
pericial médico que comprove a enfermidade ou a deficiência mental da vítima, a ponto
de comprometer-lhe o discernimento.

b) Por qualquer outra causa, não possa oferecer resistência. Embora a lei se
refira a "qualquer outra causa", é necessário haver prova segura da completa
impossibilidade de a vítima oferecer resistência, como no caso de ela estar sedada ou
anestesiada em clínica ou hospital. É indiferente ter sido o próprio agente o responsável
pela causa que levou à impossibilidade de resistência do ofendido.

Figura qualificada por lesão grave (§ 3º): havendo lesão corporal grave
(art. 129, §§ 1º e 2º), o estupro de vulnerável é qualificado.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Figura qualificada pela morte (§ 4º): ocorrendo o resultado morte, o estupro


de vulnerável é qualificado.

2. Apologia de crime ou criminoso

Tipo penal (art. 287, do CP): fazer, publicamente, apologia de fato


criminoso ou de autor de crime.

Bem jurídico: a proteção da paz pública, da tranquilidade social.

Sujeito ativo: qualquer pessoa.

Sujeito passivo: a coletividade.

Consumação e tentativa: a consumação ocorre com a apologia pública. A


tentativa é admissível, salvo na forma oral.

A conduta típica consiste em fazer apologia - publicamente - ao crime ou ao


criminoso. O que significa elogiar, exaltar, enaltecer (Excluem-se as contravenções
penais). A simples opinião ou manifestação de solidariedade, ainda que veemente, não
se confunde com a apologia de fato criminoso.

Trata-se de crime doloso, que pode ser praticado por qualquer meio: oral,
escrito, gestos, atitudes etc.

3. Associação criminosa

Tipo penal (art. 288, CP): associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o
fim específico de cometer crimes: Pena: reclusão de um a três anos.

Bem jurídico: a proteção da paz pública, da tranquilidade social.

Sujeitos ativos: por tratar-se de crime coletivo ou plurissubjetivo, os


sujeitos ativos, que poderão ser quaisquer pessoas, deverão estar necessariamente
reunidos em número mínimo de três. Trata-se de delito de concurso necessário.

Sujeito passivo: a coletividade.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Consumação e tentativa: A consumação ocorre com a mera associação de


três ou mais pessoas para a prática de crimes. A tentativa é inadmissível.

Associação armada: o parágrafo único do art. 288 do CP prevê figura a


causa de aumento de pena - a pena aumenta até a metade -, quando se tratar de
associação armada ou se houver a participação de criança ou adolescente.

A reunião entre os componentes da associação criminosa deve ser estável e


permanente, com a finalidade específica de cometer crimes, ou seja, é necessário que
exista o dolo de planejamento, a divisão de trabalho e organicidade.

Não se deve confundir o crime de associação criminosa com o simples


concurso de agentes, que consiste na reunião eventual de duas ou mais pessoas
para a prática do delito.

Trata-se de crime doloso, autônomo - possui existência própria,


independentemente dos demais delitos que possam ter sido praticados por seus
integrantes - exigindo-se o fim específico de se cometer crimes.

O legislador acrescentou o delito de Constituição de Milícia Privada,


previsto agora no art. 288-A do Código Penal.

TIPO PENAL: Constituir, organizar, integrar, manter ou custear


organização paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de
praticar qualquer dos crimes previstos neste Código. Pena: Reclusão de 04 a 08 anos.

O bem jurídico é o mesmo da Associação criminosa, a paz pública e a


tranquilidade social.

4. Peculato

Tipo penal (art. 312): apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor


ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do
cargo, ou desviá-lo em proveito próprio ou alheio.

Bem jurídico: a tutela da Administração Pública e do patrimônio público.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Sujeito ativo: o peculato é crime próprio. Somente o funcionário público


pode praticá-lo (art. 327 do CP). O particular que, de qualquer forma, concorrer para o
crime, estará nele incurso por força do disposto no art. 30 do mesmo CP.

Sujeito passivo: o Estado, por tratar-se de crime contra a Administração


Pública.

Observação: o caput do art. 312 contempla duas modalidades de peculato.


Na primeira parte, peculato-apropriação; na segunda parte, peculato-desvio. Essas duas
modalidades de peculato caracterizam o chamado peculato próprio.

Conduta típica: no art. 312, caput, 1º parte, vem expressa pelo verbo
flexionado apropriar-se, que significa apossar-se, apoderar-se, tomar para si. Trata-se
da modalidade de peculato-apropriação, semelhante ao tipo penal da apropriação
indébita, com a diferença de sujeito ativo.

Já no art. 312, caput, 2º parte, a lei pune também a modalidade de peculato-


desvio, em que o funcionário público, embora sem o ânimo de apossamento definitivo
da coisa, emprega-a de forma diversa da sua destinação, de maneira a obter benefício
próprio ou alheio, devolvendo-a, após.

É certo que a lei tutela não apenas os bens públicos, mas também aqueles
pertencentes aos particulares que estejam sob a guarda, vigilância, custódia etc. da
Administração.

Peculato-furto

Tipo penal (art. 312, § 1º, do CP): vem expresso pelo verbo subtrair, que
significa tirar, suprimir, assenhorear-se; e pelo verbo concorrer, que significa cooperar,
contribuir.

Objeto material: é a coisa sobre a qual recai a conduta criminosa, podendo


ser dinheiro (moeda metálica ou papel-moeda de circulação no país), valor (título,
documento ou efeito que representa dinheiro ou mercadoria) ou qualquer outro bem
móvel, público ou particular. Em tempo: o conceito de bem móvel é retirado do Direito
Civil.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Consumação e tentativa: consuma-se o delito com a efetiva subtração ou


concorrência para a subtração da coisa. A tentativa é admissível. O delito, na
modalidade peculato-apropriação, com a efetiva apropriação pelo funcionário público,
ou seja, no momento em que age como se fosse dono da coisa, e na modalidade
peculato-desvio, com o efetivo desvio, independentemente da obtenção de proveito
próprio ou alheio. A tentativa é admissível.

Tipo subjetivo: dolo. Admite-se a modalidade culposa (art. 312, § 2º).

Trata-se da modalidade chamada de peculato-furto, semelhante ao tipo


penal do furto, com a diferença de sujeito ativo.

Nesse tipo de peculato, o agente não tem a posse ou detenção da coisa,


subtraindo-a, entretanto, ou concorrendo para que seja subtraída, valendo-se das
facilidades que o cargo lhe proporciona.

É necessário que a subtração ou a concorrência para a subtração se dê em


proveito próprio ou alheio.

Peculato culposo (312, § 2º)

Nessa modalidade de crime, o funcionário público concorre, culposamente,


para o crime de outrem, ou seja, age com negligência, imprudência ou imperícia e
permite que haja apropriação, subtração ou utilização da coisa.

Consumação e tentativa: é necessário que se estabeleça relação entre a


concorrência culposa do agente com a ação dolosa de outrem, evidenciando que o
primeiro tenha dado ensejo à prática do último. A tentativa é inadmissível.

Reparação do dano no peculato culposo: o § 3º do art. 312 do CP prevê


um caso de extinção da punibilidade e um caso de atenuação da pena que se aplicam
exclusivamente ao peculato culposo.

Peculato mediante erro de outrem (art. 313)

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

O peculato mediante erro de outrem é crime previsto no art. 313 do CP,


tendo como objetividade jurídica a tutela da Administração Pública e do patrimônio
público.

A coisa deve ter vindo ao poder do funcionário público por meio de erro de
outrem, ou seja, de forma espontânea e equivocada.

É imprescindível que a entrega do bem ao funcionário tenha sido feita ao


sujeito ativo em razão do cargo que ocupa junto à Administração Pública, e que o erro
tenha relação com o seu exercício.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Aula 9 – Crimes em Espécie (Continuação).

1. Concussão

Tipo penal (art. 316, do CP): exigir, para si ou para outrem, direta ou
indiretamente, ainda que fora da função, ou antes, de assumi-la - mas em razão dela -
vantagem indevida.

Bem jurídico: a tutela da Administração Pública.

Sujeito ativo: somente o funcionário público (art. 327 do CP), ainda que
fora da função, ou antes, de assumi-la, mas em razão dela (crime próprio). O particular
pode ser coautor ou partícipe do crime, por força do disposto no art. 30 do mesmo CP.

Sujeito passivo: o Estado e, secundariamente, o particular ou funcionário


vítima da exigência.

A conduta típica vem expressa pelo verbo exigir, que significa ordenar,
intimar, impor como obrigação.

Objeto material: vantagem indevida, ou seja, vantagem ilícita, ilegal, não


autorizada por lei, expressa por dinheiro ou qualquer outra utilidade, de ordem
patrimonial ou não.

Trata-se de crime doloso.

Consumação e tentativa: consuma-se com a exigência da vantagem


indevida, independentemente de sua efetiva percepção. A tentativa é admissível, desde
que a exigência não seja verbal.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

2. Corrupção passiva

Tipo penal (art. 317, do CP): solicitar ou receber, para si ou para outrem,
direta ou indiretamente, ainda que fora da função, ou antes, de assumi-la, mas em razão
dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:

§ 1º A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou


promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica
infringindo dever funcional.

§ 2.° Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com


infração de dever funcional, cedendo a pedido ou a influência de outrem.

Bem jurídico: a proteção da Administração Pública.

Sujeito ativo: o funcionário público, tratando-se de crime próprio.

Sujeito passivo: o Estado e, secundariamente, o particular eventualmente


lesado.

A conduta típica vem expressa pelos verbos solicitar (que significa pedir,
requerer), receber (que significa tomar, obter) e aceitar (que significa anuir, consentir
no recebimento).

Corrupção passiva qualificada: o § 1º do art. 317 do CP trata da corrupção


passiva qualificada, que ocorre quando o funcionário público retarda ou deixa de
praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional, em
consequência de vantagem ou promessa.

Nesses casos, o exaurimento do delito implica a imposição de pena mais


severa, que será aumentada de um terço.

Corrupção passiva privilegiada (art. 317 § 2º): ocorre essa modalidade


quando o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de
dever funcional, cedendo a pedido ou a influência de outrem.

84 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Nesse outro caso, o funcionário não negocia o ato funcional em troca de


vantagem, mas, antes, deixa de cumprir com seu dever funcional, para atender um
pedido de terceiro, influente ou não.

É necessário que haja pedido ou influência de outrem, e que o sujeito ativo


atue por essa motivação.

Consumação: opera-se com a efetiva omissão ou o retardamento do ato de


ofício. Não admite a forma tentada.

3. Prevaricação

Tipo penal (art. 319): retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de


ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou
sentimento pessoal.

Bem jurídico: a proteção da Administração Pública.

Sujeito ativo: somente o funcionário público (art. 327 do CP). É crime


próprio.

Sujeito passivo: o Estado e, secundariamente, o particular eventualmente


lesado.

Consumação e tentativa: consuma-se com o retardamento, a omissão ou a


realização do ato de ofício. A tentativa é inadmissível nas modalidades de conduta,
retardamento e omissão; já na modalidade de conduta e realização, a tentativa é
admissível.

A conduta típica vem expressa de três formas:

a) Retardar ato de ofício, o que significa protelar, procrastinar, atrasar o ato


que deve executar (conduta omissiva).

b) Deixar de praticar ato de ofício, o que significa omitir-se na realização do


ato que deveria executar (conduta omissiva).

c) Praticar ato de ofício contra disposição expressa de lei, que significa


executar o ato de ofício de maneira irregular, ilegal (conduta comissiva).
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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Trata-se de crime doloso.

4. Resistência

Tipo penal (art. 329): opor-se à execução de ato legal, mediante violência
ou ameaça a funcionário competente para executá-la ou a quem lhe esteja prestando
auxílio.

Bem jurídico: a proteção da autoridade e do prestígio da função pública.

Sujeito ativo: qualquer pessoa, não sendo necessariamente aquela a quem o


ato da autoridade se destine.

Sujeito passivo: o Estado e, secundariamente, o funcionário público que


sofre a resistência ou o terceiro que o auxilia.

Consumação e tentativa: trata-se de crime doloso, que requer também,


para sua configuração, a finalidade de impedir a realização do ato funcional. A tentativa
é admissível.

Resistência qualificada pelo resultado: o § 1º do art. 329 do Código Penal


prevê a resistência qualificada pelo resultado, que ocorre quando, em razão da violência,
o ato não é realizado. Trata-se, nesse caso, do exaurimento do delito de resistência,
sendo necessário para a sua configuração que o sujeito passivo não realize o ato, devido
à violência física ou ameaça empregada.

Concurso: o § 2º do art. 329 do CP prevê o concurso material de crimes


entre a resistência e a violência física, que podem ser lesão corporal ou homicídio.

A conduta típica vem caracterizada pela oposição ao ato funcional, mediante


violência física ou ameaça a funcionário. Não é necessário que a ameaça seja grave,
podendo ser oral ou escrita. Deve o funcionário estar executando um ato legal, ou seja,
que se revista das formalidades impostas por lei, emanado da autoridade competente.

Caso a oposição do agente se dê contra ato ilegal da autoridade, não haverá


crime.

86 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Aula 10 – Crimes em Espécie (Continuação).

1. Desobediência

Tipo penal (art. 330): desobedecer à ordem legal de funcionário público.

Bem jurídico: a proteção à Administração Pública, no que concerne ao


cumprimento de determinação legal expedida por funcionário público.

Sujeito ativo: qualquer pessoa, inclusive o funcionário público, desde que


não haja relação entre o objeto da ordem e a sua função.

Sujeito passivo: o Estado e, secundariamente, o autor da ordem, que deve


ser o funcionário público legalmente investido do cargo público criado por lei, com
denominação própria, em número certo e pago pelos cofres públicos.

Consumação e tentativa: consuma-se com a ação ou omissão do


desobediente. No caso de omissão, ocorre a consumação com o decurso do prazo fixado
para o cumprimento da ordem. Se não houver prazo, considera-se o tempo
juridicamente relevante. A tentativa é admissível apenas na modalidade comissiva.

A conduta típica vem expressa pelo verbo desobedecer, que significa


descumprir, não acatar, desatender, e pode ser omissiva ou comissiva; porém, é
imprescindível que o destinatário da ordem tenha o dever jurídico de acatá-la. Trata-se
de crime doloso.

87 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

2. Desacato

Tipo penal: (art. 331, do CP): Desacatar funcionário público no exercício


da função ou em razão dela.

Bem jurídico: a proteção à Administração Pública, no que diz respeito à


dignidade e ao decoro devido a seus agentes no exercício de suas funções.

Sujeito ativo: qualquer pessoa, inclusive o funcionário público fora do


exercício de suas funções.

Sujeito passivo: o Estado e, secundariamente, o funcionário que sofre o


desacato.

Consumação e tentativa: consuma-se com o efetivo ato de ofensa. A


tentativa não é admissível.

A conduta típica vem expressa pelo verbo desacatar, que significa


desrespeitar, desprestigiar, ofender, humilhar o funcionário público no exercício da sua
função.

O delito pode ser cometido por meio de gestos, palavras, gritos, vias de fato,
ameaça etc.

Trata-se de crime formal, pois independe de o funcionário público sentir-se


ofendido, bastando que a conduta possa agredir sua honra profissional. É crime doloso,
pois deve abranger o conhecimento da qualidade de funcionário público do sujeito
passivo.

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LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

3. Tráfico de influência

Tipo penal (art. 332, do CP): solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou
para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado
por funcionário público no exercício da função.

Bem jurídico: a tutela do prestígio da Administração Pública.

Sujeito ativo: pode ser qualquer pessoa, inclusive o funcionário público.

Sujeito passivo: o Estado e, secundariamente, a pessoa que entrega ou


promete a vantagem.

Objeto material: é a vantagem ou promessa de vantagem, que pode ser de


qualquer natureza, material ou moral.

Consumação e tentativa: o tráfico de influência é crime formal, nas


modalidades de conduta solicitar, exigir e cobrar, ocorrendo a consumação no
momento em que o sujeito ativo solicita, exige ou cobra do sujeito passivo. Já na
modalidade de conduta obter, a consumação se dá no momento em que o sujeito obtém
a vantagem ou a promessa. Nesse caso, é crime material. Pouco importa o não
cumprimento da promessa ou a não influência do funcionário público. A tentativa é
admissível.

Causa de aumento de pena: o parágrafo único do art. 332 do CP prevê o


aumento da pena pela metade quando o agente alega ou apenas insinua que a vantagem
é também destinada ao funcionário.

A conduta típica vem expressa pelos verbos solicitar (pedir, rogar,


requerer), exigir (ordenar, impor, intimar), cobrar (pedir pagamento) e obter (alcançar,
conseguir).

O delito envolve uma modalidade de fraude em que o sujeito ativo solicita,


exige, cobra ou obtém a vantagem ou a promessa dela a pretexto de influir em ato
praticado por funcionário público no exercício da função. Tratando-se, portanto, de
crime doloso.

89 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

4. Corrupção ativa

Tipo penal (art. 333, CP): oferecer ou prometer vantagem indevida a


funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício. Pena:
reclusão de dois a doze anos e multa.

Bem jurídico: proteção à Administração Pública, no que tange ao seu


prestígio e à normalidade de seu funcionamento.

Sujeito ativo: qualquer pessoa, inclusive o funcionário público que não


esteja no exercício da função.

Sujeito passivo: o Estado.

Corrupção ativa qualificada: o parágrafo único do art. 333 do CP prevê a


corrupção ativa qualificada, que ocorre quando, em razão da vantagem ou promessa, o
funcionário retarda ou omite ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. Essa
hipótese trata do exaurimento da corrupção ativa.

Exemplo: “Pratica o delito de corrupção ativa quem oferece certa


importância em dinheiro a funcionário incumbido da fiscalização do trânsito com o
propósito de levá-lo a omitir o ato de autuação pela falta cometida" (Tribunal de Justiça
do Estado do Rio Grande do Sul - TJRS - RT, 569/376).

Trata-se de crime doloso, sendo necessário que o agente tenha


conhecimento de ser indevida a vantagem que é dirigida a funcionário público; é um
crime formal, pois independe de o funcionário público aceitar ou não realizar a conduta
almejada pelo agente. Além disso, o crime se consuma no momento em que o
funcionário toma conhecimento da oferta ou promessa.

A tentativa só é admissível se a oferta ou promessa for feita por escrito.

90 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

Saiba mais...

Cumprindo as regras do princípio da reserva legal, o Estado exerce o seu direito de


punir de forma vinculada e limitada. Além de limites temporais e processuais, deve
respeitar uma condição fundamental, ou seja, somente pode impor uma pena ao
responsável pela prática de um fato descrito em lei como infração penal. Muitos
desses fatos compõem a chamada Parte Especial do Código Penal, uma vez que
também há diversos crimes e contravenções penais em leis extravagantes.

Título do crime, também chamado de nomen iuris, é a denominação que consta nos
crimes definidos na Parte Especial do Código Penal; p.ex.: o art. 121 chama a
conduta de matar alguém de homicídio. Já as normas que contêm a descrição
abstrata de infrações penais são chamadas de normas penais incriminadoras.

A ordem de descrição dos tipos penais segue uma escala lógica , e, ao longo do
tempo, inúmeros foram os métodos empregados pelos legisladores para definir a
ordem dos crimes na Parte Especial.

Atualmente, a Parte Especial do Código Penal está ordenada em conformidade com


a natureza e a importância do bem jurídico protegido pelos tipos penais. Essa
classificação racional possui íntima correspondência com o conceito material de
crime. Com efeito, se crime é a ação ou omissão humana que lesa ou expõe a perigo
de lesão bens jurídicos penalmente tutelados, decorre como natural o efeito da
divisão com suporte na objetividade jurídica.

O Código Penal em vigor, em sua Parte Especial, tipifica, em primeiro lugar, os


crimes contra a pessoa; em seguida, os crimes contra o patrimônio, até alcançar,
finalmente, os crimes contra a Administração Pública.

Assim, ao discorrer sobre os delitos contidos na parte especial do Código Penal,


foram incluídos os mais importantes tipos penais, objetivando proporcionar ao aluno
uma visão teórica e prática dos crimes em espécie, enfatizando aspectos doutrinários
e jurisprudenciais das diversas infrações penais.

91 | P á g i n a
LEGISLAÇÃO PENAL COMUM

REFERÊNCIAS

BITENCOURT, Cesar Roberto. Tratado de Direito Penal. São Paulo:


Saraiva, 2016. Volumes I, II, III, IV e V.

CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal Parte Geral – 3ª ed.


Bahia. Juspodivm. 2015.

DELMANTO, Celso. Código Penal Comentado. São Paulo: Saraiva, 2012.

GRECO, Rogério Greco. Curso de Direito Penal Rio de Janeiro: Impetus,


2016. Volumes I, II, III e IV.

GRECO, Rogério. Atividade Policial. Rio de Janeiro: Impetus, 6ª ed., 2014.

Código Penal Comentado. Rio de Janeiro: Impetus, 2014.

HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal. Rio de Janeiro: Forense,


1956 e 1978.

JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal. São Paulo: Saraiva, 2011.
Volumes I, II, III e IV.

MASSON, Cleber Rogério. Direito Penal. São Paulo: Método, 2017.


Volumes I, II, e III.

NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. São Paulo: Editora


Revista dos Tribunais, 2012.

PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2014.

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