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Escorregou no molhado

Pão de Açúcar deve indenizar cliente que caiu na loja

O grupo Pão de Açúcar foi condenado a pagar indenização de R$ 3 mil por danos morais para uma
cliente que tomou um tombo dentro do supermercado. A decisão é da juíza Maria Helena Pinto
Machado Martins, da 42ª Vara Cível do Rio de Janeiro. Além dos danos morais, o Pão de Açúcar
terá de pagar R$ 866 por danos materiais, referente às despesas com táxi e medicamentos. Cabe
recurso.

Enquanto fazia compras, Eledi Menezes Sombini tropeçou em uma funcionária que estava abaixada
lavando o piso. Como o chão estava molhado, Eledi não conseguiu se equilibrar e caiu, fraturando
os tendões do pé direito.

Segundo os autos, ela foi levada por funcionários da loja para uma clínica e encaminhada para o
ortopedista. Diagnosticada a inflamação, Eledi precisou imobilizar o pé por 21 dias, ficando
afastada do trabalho.

A juíza considerou que esse tipo de acidente não é raro de acontecer nos estabelecimentos
comerciais. “O ato ilícito se mostra evidente e é representado pela negligência do supermercado em
bem alertar e afastar os consumidores do local onde se realizava a limpeza, o que, aliás, é causa
freqüente de acidentes semelhantes”, observou.

Processo 2003.001.123810-5

Leia a íntegra da decisão

ESTADO DO RIO DE JANEIRO PODER JUDICIÁRIO COMARCA DA CAPITAL 42ª VARA


CÍVEL Processo no 2003.001.123810-5 SENTENÇA Cuida-se de ação indenizatória ajuizada por
ELEDI MENEZES SOMBINI em face de SUPERMERCADOS PÃO DE AÇÚCAR, na qual
pretende a autora obter a reparação de danos morais e materiais sofridos em virtude de ter
escorregado no piso molhado de um dos supermercados da ré, fato este que lhe provocou lesões em
seu pé direito e acarretou a sua inatividade por cerca de vinte dias.

Alega a demandante ter tropeçado em uma funcionária da empresa requerida, a qual se encontrava
abaixada lavando o piso do estabelecimento em que a primeira, no dia 14 de junho de 2003, fazia
compras. Afirma a autora não ter visto a referida trabalhadora do supermercado e, pelo fato de estar
o piso molhado com sabão, não possível se equilibrar. Em razão da queda, sustenta que foi levada
por empregados da ré a uma clínica conveniada de seu plano de saúde possui convênio, onde lhe foi
recomendado que se dirigisse a um ortopedista, pois no tal profissional especializado naquele
momento.

A autora, então, foi encaminhada ao Centro de Reumatologia e Ortopedia Botafogo (CREB), no


qual foi diagnosticada tendinite na face dorsal de seu pé direito; o ensejado a imobilização de seu pé
direito por 21 (vinte e um) dias; tendo ficado afastada de seu trabalho e de suas atividades
esportivas por todo esse tempo. Pretendeu a autora, de forma subseqüente, obter ante a requerida o
reembolso das despesas efetuadas com sua recuperação; o que foi negado pela requerida, ante
fundamentação de que a autora havia declarado que alguns anos antes do fato em referência sofrera
uma lesão no tornozelo direito, pelo que o diagnóstico realizado no CREB referir-se-ia a esta.
Requer a demandante, portanto, a condenação da ré ao pagamento de R$865,99 (oitocentos e
sessenta e cinco reais e noventa e nove centavos) a título de danos materiais, bem como de
compensação pecuniária pelos alegados danos morais sofridos em virtude do mesmo fato.
Acompanham a inicial os documentos constantes a fls. 10/60. Regularmente citada, a ré apresenta
contestação a fls. 72/80, requerendo preliminarmente a denunciação da lide a UNIBANCO
SEGUROS, sob o argumento de manter com esta empresa contrato de seguro de responsabilidade
civil.

No mérito, a demandada procura afastar a existência de pressupostos do dever de indenizar na


espécie, aduzindo, para tanto, não ter ocorrido ato ilícito de sua parte, bem como não haver provas
do nexo de causalidade entre sua conduta e o dano afirmado pela autora. Afirma a ré ter o acidente
ocorrido por uma fatalidade, pois a queda da requerente não teria ocorrido em virtude de estar o
piso escorregadio como a mesma alega, mas sim do tropeço desta em sua funcionária.

Nega ainda a ré a ocorrência de dano moral na hipótese, pois seriam necessárias para configurá-lo
seqüelas estéticas ou humilhações decorrentes do fato, o que não teria ocorrido. Requer, ao final,
acolhimento do pedido de intervenção de terceiros e a improcedência da pretensão autoral. Os
documentos a fls. 81/96 instruem a inicial. Tendo sido intempestiva a réplica apresentada pela
autora, foi a mesma desentranhada dos autos e juntada por linha. Audiência de conciliação a fls.
105, frustrada em razão da ausência de ambas as partes. Decisão a fls. 107/108, na qual rejeitou-se a
denunciação da lide em virtude de economia processual e de sua desnecessidade na espécie.

Determinou-se, ainda, a produção de prova pericial. Laudo Pericial às fls. 125/131 determinando-se
a manifestação das partes.

É O RELATÓRIO. DECIDO.

Pelo exame dos documentos acostados nos autos, infere-se desde logo pela desnecessidade de
produção de outras provas em audiência, motivo pelo qual este Juízo passa a perfazer o julgamento
da lide no estado que se encontra. No caso em tela, resta incontroversa a ocorrência do acidente
narrado na inicial, bem como das lesões provocadas pelo mesmo. Com efeito, tanto os documentos
juntados pela autora a fls. 17/19, como o laudo pericial constante em fls. 125/131, concluem pela
existência daquelas, as quais encerrariam por incapacitar a autora a realizar suas atividades por
período não inferior a duas semanas.

Deste modo, não procede a argumentação da ré no sentido de inexistência de prova de nexo de


causalidade na hipótese. Com efeito, ainda que o piso de seu estabelecimento não estivesse molhado
como afirma a autora, a própria demandada confirma que sua queda não se deu de forma
espontânea, mas sim em razão de seu tropeço em uma de suas funcionárias, pela qual é responsável,
por força do disposto no art. 932, III, do Código Civil.

Outrossim, a mera alegação da ré de que as lesões sofridas pela autora, devidamente comprovadas,
não decorreram do referido acidente não tem o condão de afastar o nexo existente entre o mesmo e
aquelas, haja vista ter o laudo pericial revelado a existência de quadro de incapacidade total a partir
da data do acidente (fls. 129); imputando que as lesões apresentadas pela vítima deveras decorreram
do acidente noticiado nos autos. Vale dizer que o ato ilícito mostra-se evidente no caso em exame.

Este, entendido como o ato contrário à lei, é representado na hipótese pela negligência da
demandada em bem alertar e afastar os consumidores do local onde se realizava a limpeza, o que
aliás é causa freqüente de acidentes semelhantes. Como alegado na peça defensiva, o local no qual
ocorreu a queda da autora é um supermercado no qual é necessário, ao longo do dia, perfazer
limpeza para manutenção de sua higiene. Este procedimento, todavia, deve ser cercado de cautela,
posto que, conforme afirmado na contestação, a loja tem grande fluxo de clientela.

Ocorre que, na peça de resposta sequer é aventado que procedimentos básicos, no sentido de
advertir que a limpeza estava sendo realizada, foram perpetrados pela parte ré; o que seria
indispensável. Neste momento, faz-se necessário ressaltar a existência de relação de consumo na
hipótese, eis que a autora encontrava-se nas dependências da demandada adquirindo produtos desta
no momento do fato em questão, estando as partes configuradas exatamente como o disposto nos
arts. 2o e 3o do CDC.

Deste modo, aplica-se à espécie o art. 14 do mesmo diploma legal, o qual consagra a teoria do risco
do empreendimento, imputando responsabilidade objetiva ao fornecedor pelo defeito do serviço e o
correspondente dever de indenizar. Além dos danos materiais comprovados nos autos, correlatos ao
gastos atinentes ao procedimento de recuperação da lesão física experimentada pela autora; também
restaram evidentes os danos morais decorrentes do mesmo fato. Com efeito, a dor física e
incapacidade temporária que deste resultaram são suficientes para gerar a obrigação de compor os
referidos danos, como bem tem entendido a jurisprudência desta Corte.

Ainda deve se ter em conta os transtornos na rotina da autora e o constrangimento público, que por
si mesmos já ensejariam tal dever, o qual deve contemplar caráter pedagógico e compensativo. Na
fixação do valor devido, devem ser considerados o grau de culpa do agente causador do dano e sua
capacidade econômico-financeira, bem como a repercussão do fato na vida do lesado.

Considerando-se os fatores elencados e, com a finalidade de assegurar o caráter educativo da


reparação por danos morais, mostra-se adequada na hipótese presente a fixação do quantum
indenizatório no valor de R$3.000,00 (três mil reais), considerando-se a gravidade media da lesão, a
não configuração de danos estéticos, e a falta não intencional do fornecedor, respondendo por
negligência de prepostos. Já no que tange ao pedido de danos materiais, revela-se que a autora
enfrentou despesas no valor de R$865,99 (oitocentos e sessenta e cinco reais e noventa e nove
centavos) montante este que inclui as despesas efetuadas pela mesma com táxis, ainda que o
itinerário de cada ´corrida´ não esteja especificado nos respectivos recibos.

Efetivamente, dada a lesão que a requerente sofreu em seu pé direito, não seria razoável exigir que
esta optasse por meios de transporte coletivo, o que poderia inclusive agravar o dano. Isto posto,
diante da fundamentação acima e por tudo mais que nos autos consta, JULGO PROCEDENTES OS
PEDIDOS, condenando a ré ao pagamento da quantias de R$3.000,00 (três mil reais) a título de
danos morais, acrescida de juros de 1.0% desde a citação e correção monetária a fluir desta data e
danos materiais no montante de R$865,99 (oitocentos e sessenta e cinco reais e noventa e nove
centavos); acrescidos de juros de 1.0% desde a citação e correção monetária desde a data do fato.
Condeno ainda a parte ré ao pagamento de custas e honorários de advogado que fixo em 10% sobre
o valor da condenação. P.R.I. Rio de Janeiro, 06 de março de 2006.

Revista Consultor Jurídico, 17 de março de 2006


Órgão
:
Primeira Turma Cível
Classe
:
APC - Apelação Cível
Nº. Processo
:
2002.01.1.045417-7
Apelante
:
CARREFOUR COMÉRCIO E INDÚSTRIA LTDA
Apelado
:
MARISTELA ROZENDO DE SOUZA
Relator Des.
:
SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS
Revisor Des.
:
NATANAEL CAETANO

EMENTA

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. DANOS MATERIAIS E DANOS MORAIS.


SUPERMERCADO. QUEDA DE CONSUMIDOR. LESÃO NO JOELHO. LUCROS
CESSANTES. VERBA REPARATÓRIA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
1. Indiscutivelmente, se a consumidora vem cair dentro do estabelecimento comercial, em virtude
de material escorregadio derramado no piso, impõe-se obrigação deste em indenizar a vítima, ainda
mais sob a ótica de incidir, na espécie, o Código de Defesa do Consumidor.
2. Se a parte autora, trabalhadora autônoma, não consegue comprovar seus ganhos mensais, utiliza-
se o salário mínimo como base para a fixação dos lucros cessantes.
3. Mantém-se condenação por danos morais, como formulado em primeiro grau.
4. Recurso parcialmente provido.
ACÓRDÃO
Acordam os Desembargadores da `Primeira Turma Cível do Tribunal de Justiça
do Distrito Federal e dos Territórios, SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS - Relator,
NATANAEL CAETANO - Revisor, FLAVIO ROSTIROLA - Vogal, sob a presidência do
Desembargador FLAVIO ROSTIROLA, em CONHECER. DAR PROVIMENTO PARCIAL.
UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília-DF, 28 de fevereiro de 2007.

Desembargador SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS


Relator
RELATÓRIO
Cuida-se de demanda proposta por MARISTELA ROZENDO DE SOUZA em
desfavor de CARREFOUR COMÉRCIO E INDÚSTRIA LTDA., objetivando indenização por
danos materiais sob a forma de pensionamento mensal no importe de R$ 500,00 (quinhentos reais)
até a idade que completasse 65 anos e ainda reparação por danos morais, verba a ser arbitrada
judicialmente, haja vista ter caído no interior do estabelecimento comercial, em virtude da presença
de substância escorregadia no piso, com seqüela em seu joelho direito, isto na data de 29-abril-
2001.
Acrescento que, pela r. sentença de fls. 452-458, cujo relatório se adota como
complemento, a ilustre autoridade judiciária da 17ª Vara Cível de Brasília (Doutor Júlio Roberto
dos Reis) julgou parcialmente procedente a pretensão autoral, pontificando:

"(...) Diante do exposto, julgo procedente em parte os pedidos para confirmar a antecipação parcial
dos efeitos da tutela de sorte a condenar a empresa ré ao pagamento à autora das seguintes quantias:
1) R$30.000,00 (trinta mil reais) referente ao dano material, autorizando-se a compensação com os
valores já pagos à autora, inclusive os referentes à antecipação da tutela e despesas comprovadas
nos autos. O valor remanescente deve ser atualizado monetariamente desde a data do acidente e
acrescido de juros de mora de 1% ao mês, a contar da citação; 2) R$ 15,000,00 (quinze mil reais)
atinentes aos danos morais, com correção monetária e juros de mora de 1% ao mês a contar da
publicação até o efetivo pagamento. Por conseguinte, extingo o processo com resolução do mérito
(CPC, 269, i)."

Decisum mantido mesmo ante embargos de declaração (fl. 463).


Recorre tempestivamente o demandado, aduzindo e repisando teses, em resumo
(fls. 465-499), que: a) não pode ser debitada qualquer responsabilidade, em relação à sua pessoa,
pela ocorrência do tombo levado pela autora, pois, seus prepostos, de forma diligente, impedem a
permanência de qualquer umidade no interior do seu estabelecimento, inclusive, colocando placas
de advertência; b) ultrapassada a tese, a autora não comprovou qual teria sido o ato ilícito então
ocorrido, nem os danos sofridos, e muito menos o nexo de causalidade, agredindo-se o disposto no
art. 333, I, do Código de Processo Civil; c) é de se consignar que prestou toda assistência material a
autora, e o laudo judicial foi contundente em concluir que ela tinha condições para exercer suas
funções laborais rotineiras; d) inexiste dano moral a ser reparado; e) ultrapassadas todas as teses,
devem ser reduzidos os valores constantes da r. sentença.
Recurso recebido (fl. 482), preparado (fl. 480) e respondido (fls. 485-493),
sendo que a apelada bate-se pela manutenção da sentença, inclusive, repristinando teses expostas na
petição inicial.
É o relatório.
VOTOS
O Senhor Desembargador SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS - Relator
Conheço do recurso.
a) Dever de indenizar:
Indubitável que a responsabilidade civil ancora-se sobre quatro elementos: o ato
ilícito (fato), a culpa, o dano e o nexo de causalidade. Mas há exceção, haja vista incidência, na
espécie, do Código de Defesa do Consumidor.
Apesar da renitência do réu em negar a ocorrência de qualquer dos requisitos
acima nominados, eles exsurgem dos autos, de forma cristalina, merecendo reparo apenas em
determinado ponto, o que será feito no momento oportuno.
Ora, no pertinente ao primeiro requisito, este repousa na existência de produto
derramado sobre o solo, apontado pela autora, e como teve que ser encaminhada para um Hospital
público, onde atendida pelo Doutor Marco Andriani (fl. 16), deixou o local, e logicamente, o
material foi removido.
Está na petição inicial:

"(...) Ao aproximar-se da Seção de perfumaria para adquirir produtos que seriam usados no seu
trabalho de manicure/pedicure, sofreu um acidente após ter escorregado em um líquido que estava
esparramado no chão da dita Seção. Em decorrência da queda, começou a sentir fortes dores no
joelho direito. Como não estava conseguindo se locomover, os funcionários do Hipermercado
colocaram-na numa cadeira de rodas, providenciaram um táxi e a encaminharam para o Hospital de
Base de Brasília." (fl. 03).

No pertinente a culpa, ela torna-se dispensável, pois, tratando-se de relação de


consumo, como já afirmado, incide a responsabilidade objetiva, onde o fornecedor do produto ou do
serviço responde independente de culpa (artigos 12 e 14, do CDC).
Além do mais, se o evento ocorreu, a única conclusão a ser tirada é no sentido
de que as cautelas por parte dos prepostos do apelante não foram suficientes, incidindo o disposto
no art. 159, do Código Civil de 1916, época do fato, e mesmo que um terceiro estranho tenha
retirado qualquer placa de advertência, como anotado nas razões recursais, tem o condão de influir
na lide, pois, se por acaso isto ocorreu, que o apelante, querendo, vá atrás de tal pessoa para ser
ressarcido.
O nexo de causalidade repousa na circunstância de que, em virtude da lesão no
joelho, em conseqüência do tombo, não pôde a autora exercer sua profissão de manicure/pedicure.
- Dos danos materiais:
A pretensão autoral, no pertinente a este tema, restringiu-se aos lucros
cessantes. Veja:

"(...) b) a Autora, desde o acidente, ficou impossibilitada de trabalhar, razão porque requer
indenização por danos materiais, calculados levando-se em consideração um rendimento médio
mensal de R$500,00 (quinhentos reais), desde a sua idade atual (32 anos), até os 65 anos." (fl. 10).

No entanto, o apelante volta-se contra tal desiderato, pontificando que a


apelada, em nenhuma oportunidade, perdeu sua capacidade laboral:
Confira-se:

"(...) No mais, conforme é cediço na doutrina e jurisprudência pátrias, os danos materiais se


configuram em razão dos prejuízos suportados pela vítima, em conseqüência de atos de terceiros, e
devem ser provados para efeitos de ressarcimento.
Ainda mais, NÃO HOUVE QUALQUER PREJUÍZO MATERIAL À APELADA PORQUE ELAS
FORAM DEVIDAMENTE CUSTEADAS PELA APELANTE, CONFORME ROBUSTAMENTE
COMPROVADO NOS AUTOS, POR ESSE MOTIVO FORAM SACIADAS TODAS AS
NECESSIDADES QUE APELALDA TEVE, POR TODO ESSE PERÍODO, MESMO
RESTANDO COMPROVADO NA PERÍCIA TÉCNICA (fl. 388)QUE A MESMA TINHA
CONDIÇÕES DE EXERCER SUAS FUNÇÕES LABORAIS ROTINEIRAS. Assim, todos os
gastos extras foram devidamente quitados, devendo então a MM. Sentença ser reformada para
julgar improcedentes os pedidos por danos materiais, uma porque já foram quitados pela empresa
apelante, outra, porque não houve qualquer comprovação nos autos da parte apelada dos gastos e
prejuízos que sofrera." (fls. 471 e 472).

Verdade que o expert esclareceu que, quando do exame da autora, não percebeu
qualquer seqüela evidenciada ao exame físico e que se encontrava apta para exercer sua atividade
laborativa (fl. 333).
No entanto, provas documentais outras comprovam que, após o evento, a autora
muito sofreu, tendo que visitar médicos, e ainda submeter-se a uma cirurgia no joelho (fls. 69-188).
Inviável era exigir-se que trabalhasse, de forma intensa, mesmo sentindo dor.
De fato, a ilustre autoridade judiciária de primeiro grau consignou que a autora
não comprovou a percepção de renda mensal no valor de R$500,00 (fl. 455), no entanto, concedeu
indenização por danos materiais com a seguinte fundamentação:

"(...) Em sendo assim, descabe indenização por danos materiais até a autora completar 65 anos, uma
vez que com o tratamento e o grau da lesão, não consubstancia óbice ao exercício da atividade
laboral que desempenhava antes do lamentável acidente. Portanto, em juízo de verossimilhança, a
concessão de indenização, em parcela única, no valor de R$30.000,00 (trinta mil reais)
correspondente aos danos materiais suportados pela consumidora, notadamente em virtude da
dificuldade de locomoção durante todo o tratamento médico já realizado, as despesas médicas,
assim como a diminuição do faturamento com a perda da clientela no período de convalescença,
consoante os termos do seu depoimento pessoal." (fl. 456).

Necessário reparo, apesar do respeito a ilação de primeiro grau.


Com efeito, a autora não erigiu como fundamento para ser indenizada, neste
particular, os danos emergentes (tratamento médico), mas apenas o que teria deixado de ganhar
(lucros cessantes), e sob esta ótica não comprovou qual seria a média mensal dos seus ganhos como
manicure/pedicure na Cidade Ocidental, em Goiás, sendo que, em sede de alegações finais, noticiou
apenas uma diminuição na clientela:

"(...) 13 - Como já dito acima, a Suplicante tem a profissão de manicure/pedicure, profissão essa
que exige deslocamento para a casa das suas clientes. Desde 29 de abril de 2001, data da queda no
Carrefour, não tem ela desempenhado sua função a contento, pois está impedida de deslocar-se de
ônibus ou vans. Em razão disso e mesmo com dificuldades, só está atendendo as clientes que a
procuram na sua casa, diminuindo em muito sua clientela." (fl. 437).

A respeito dos lucros cessantes, eis a lição deixada por J. M. DE CARVALHO


SANTOS:

"(...) Os lucros cessantes, para serem indenizáveis, devem ser fundados em bases seguras, de modo
a não compreender os lucros imaginários ou fantásticos. Nesse sentido é que se deve entender a
expressão legal: razoavelmente deixou de lucrar" ("Código Civil Brasileiro Interpretado", vol.
XIV/256, 10ª edição, Livraria Freitas Bastos).

Neste diapasão, ante a diretiva de que a autora exercia atividade laboral,


todavia, sem meios para comprovar sua renda mensal média, deve-se aceitar aquele norte
estabelecido pela d. 2ª Turma Cível desta egrégia Corte, em precedente assim ementado:
"EMENTA: ACIDENTE DE TRÂNSITO. INDENIZAÇÃO CORRESPONDENTE A LUCROS
CESSANTES. RENDA MENSAL NÃO COMPROVADA. BASE DE CÁLCULO - SALÁRIO
MÍNIMO.
No julgamento de ação indenizatória decorrente de acidente de trânsito, ainda que se trate de
responsabilidade objetiva, o autor há de fazer a prova da sua renda. Se essa prova não restou
devidamente produzida, o juiz há de adotar como base, inclusive para o cálculo dos lucros
cessantes, o valor do salário mínimo.
(APC5317199, Relator ROMÃO C. OLIVEIRA, 2ª Turma Cível, julgado em 21/08/2000, DJ
04/10/2000 p. 19)"

E, no pertinente ao período em que devidos os lucros cessantes, deve ser


considerado como termo a quo aquele da data do acidente até a data da facção do laudo pelo vistor
judicial, ou seja, de 29-abril-2001 até 2-janeiro-2004.
Dos danos morais:
Pontificou a autora, em sua petição inicial, que, em virtude da lesão em seu
joelho, tendo dificuldade em trabalhar, tendo até que "mendigar" auxílio de parentes e perante o réu,
teve sua estima pessoal abalada . v. g. fl. 10.
Ora, não se tratou de uma lesão sem importância. As constantes visitas a
hospitais, sessões de fisioterapia, submissão a uma cirurgia, descaracteriza o sofrimento da autora
como sendo de mero dissabor, ou ser ela portadora de suscetibilidade exagerada.
Acolho, neste particular, às inteiras, os fundamentos elencados pelo ilustre
julgador de primeiro grau, inclusive, no pertinente ao valor da verba arbitrada, pois, justa e
adequada para a espécie, os quais passam a integrar este voto.
ISTO POSTO, dou provimento parcial ao recurso apenas para fixar os danos
materiais (lucros cessantes) em um salário mínimo que então vigorava para cada mês então devido,
e isto a partir da data do evento (29-abril-2001) até data de facção do laudo judicial (2-janeiro-
2004). Os juros moratórios, em relação aos meses anteriores a propositura da ação, incidirão a partir
da citação. Em relação aos meses posteriores a propositura da ação, desde a data em que devidos
mês a mês. Correção monetária desde o vencimento de cada mensalidade.
No mais, mantém-se a sentença, seja a respeito da compensação do que o
apelante já adimpliu, seja no pertinente a reparação pelo dano moral e seus consectários legais.
É o voto.

O Senhor Desembargador NATANAEL CAETANO - Revisor


Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso de apelação.
Concordo com o e. relator, porquanto a indenização por danos materiais deve se
limitar ao valor do prejuízo sofrido, sendo prudente, no presente caso, em que a apelada exercia a
ocupação de manicure autônoma, não tendo como apresentar os comprovantes de renda, a fixação
da indenização em um salário mínimo pelo período em que deixou de exercer a sua profissão.
Relativamente aos danos morais, considero razoável o valor fixado pelo d. juízo
a quo, sendo certo que a incapacidade laborativa justifica a condenação do apelante ao pagamento
de danos morais.
Desse modo, DOU PARCIAL PROVIMENTO ao recurso apelação, nos termos
em que fizera o e. relator.
É como voto.

O Senhor Desembargador FLAVIO ROSTIROLA - Presidente e Vogal


Com o Relator.
DECISÃO
CONHECIDO. DEU-SE PROVIMENTO PARCIAL. UNÂNIME.
??

??

??

??

APC 2002.01.1.045417-7
271834

271834

NÚMERO:
70019559400 Inteiro Teor

RELATOR: Odone Sanguiné

EMENTA: APELAÇÕES CÍVEIS. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR


DANOS MORAIS E MATERIAIS. QUEDA EM SUPERMERCADO EM RAZÃO DE LÍQUIDO
DERRAMADO NO CHÃO. FRATURA NO FÊMUR E PROCEDIMENTO CIRÚRGICO.
POSTERIOR MORTE DA VÍTIMA EM VIRTUDE DE EMBOLIA PULMONAR. NEXO DE
CAUSALIDADE EXISTENTE. DANOS MORAIS IN RE IPSA. 1. RESPONSABILIDADE CIVIL.
PRESSUPOSTOS CONFIGURADOS. A questão de fundo versa sobre o pedido de indenização por
danos morais e materiais deduzido pelo autor em virtude de queda sofrida por sua genitora no
estabelecimento comercial do réu Carrefour, causando na vítima fratura no fêmur e, supostamente,
posterior embolia pulmonar, que lhe acarretou a morte. Inobstante existirem, no caso, diversos fatores
de risco que podem ocasionar embolia pulmonar, três deles figuram como possíveis causas da patologia
que provocou a morte da vítima: fratura no fêmur, cirurgia e imobilização prolongada. 2. A queda da
qual resultou a fratura no fêmur, a cirurgia reparatória e a imobilização do membro inferior no
período pós-cirúrgico constituem causa adequada de embolia pulmonar e, pois, do evento morte.
Inclusive, o médico que atendeu a vítima em casa detectou como prováveis causas da embolia a fratura
no fêmur e o período de imobilização do membro inferior. Além disso, não há nos autos notícia de que a
mãe do autor era portadora de patologia preexistente que pudesse ocasionar a embolia pulmonar. 3.
QUANTUM INDENIZATÓRIO. MAJORAÇÃO. A indenização por dano moral deve representar para
a vítima uma satisfação capaz de amenizar de alguma forma o sofrimento impingido e de infligir ao
causador sanção e alerta para que não volte a repetir o ato. A eficácia da contrapartida pecuniária está
na aptidão para proporcionar tal satisfação em justa medida, de modo que não signifique um
enriquecimento sem causa para a vítima e produza impacto bastante no causador do mal a fim de
dissuadi-lo de novo atentado. Ponderação que recomenda a majoração do montante indenizatório. 4.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. COMPENSAÇÃO. AJG. POSSIBILIDADE. Consoante pacífico
entendimento do STJ, bem como desta Corte de Justiça, é cabível a compensação dos honorários
advocatícios, nos termos do art. 21 do CPC, ainda que uma das partes litigue ao amparo da assistência
judiciária gratuita. 5. DENUNCIAÇÃO DA LIDE. AUSÊNCIA DE RESISTÊNCIA DA
DENUNCIADA. ÔNUS SUCUMBENCIAIS. Ausente resistência da denunciada quanto à existência de
resseguro e obrigação de reembolso em caso de procedência da lide principal, descabida sua
condenação ao pagamento das custas processuais atinentes à denunciação e de verba honorária ao
causídico da denunciante. Precedentes do STJ e deste Tribunal. NEGARAM PROVIMENTO AO 1º
APELO. DERAM PARCIAL PROVIMENTO AOS 2º E 3º APELOS. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº
70019559400, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Odone Sanguiné, Julgado em
11/07/2007)

NÚMERO:
70016991481 Inteiro Teor

RELATOR: Jorge Alberto Schreiner Pestana

EMENTA: RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. QUEDA NO INTERIOR DE


SUPERMERCADO. INDENIZAÇÃO. VALOR. JUROS. CORREÇÃO MONETÁRIA.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. PREQUESTIONAMENTO. ¿Reveste a hipótese de danum in re
ipsa, prescindindo da prova do prejuízo concreto, a queda no interior do supermercado.¿ Hipótese em
que a demandada mostrou-se negligente ao providenciar a secagem do piso sem observância das
cautelas mínimas exigidas, sujeitando seus usuários a perigo de queda, como ocorreu com a
demandante. Precedentes jurisprudenciais. Indenização não deve ser em valor ínfimo, nem tão elevada
que torne desinteressante a própria inexistência do fato. Atenção às particularidades das circunstâncias
fáticas e aos precedentes da Câmara, na manutenção de equivalência de valores entre lides de
semelhante natureza de fato e de direito. Indenização majorada. Cuidando-se de hipótese de
responsabilidade contratual, a incidência dos juros se dá a partir da data da citação. A correção
monetária flui da data em que proferida a decisão. Descabe o prequestionamento, pois o magistrado
não é obrigado a responder a toda e qualquer indagação de ordem legal formulada pelo recorrente.
Percentual da verba honorária, a incidir sobre o valor da condenação, mantido, porque condizente com
a hipótese dos autos e observadas as operadoras do §3º do art. 20 do CPC. Apelação da demandante
parcialmente provida e apelo da demandada não-provido. Unânime. (Apelação Cível Nº 70016991481,
Décima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge Alberto Schreiner Pestana, Julgado
em 17/05/2007)

TIPO DE PROCESSO: NÚMERO:


Recurso Cível 71001256403 Inteiro Teor
RELATOR: João Pedro Cavalli Junior

EMENTA: CONSUMIDOR. INDENIZATÓRIA. QUEDA DENTRO DE ESTABELECIMENTO


COMERCIAL. AUSÊNCIA DE PROVA QUANTO ÀS ALEGAÇÕES DA AUTORA. Ação indenizatória
ajuizada em decorrência da queda da consumidora no interior do supermercado diante da alegação da
existência de poça d¿água. Não há nos autos a mínima prova (salvo a alegação da própria autora) de que
tenha caído em decorrência do piso molhado. O único elemento probatório dos autos foi trazido pela
demandada, em audiência de instrução, onde a testemunha (empregada desta) afirmou não haver a poça,
sendo ela quem ajudou a socorrer a autora no momento da queda. Circunstância devidamente sopesada na
sentença, que vai mantida pelos próprios fundamentos. Recurso desprovido. Unânime. (Recurso Cível Nº
71001256403, Primeira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: João Pedro Cavalli Junior,
Julgado em 28/06/2007)

TRIBUNAL: DATA DE JULGAMENTO: Nº DE FOLHAS:


Turmas Recursais 28/06/2007
ÓRGÃO JULGADOR: COMARCA DE ORIGEM: SEÇÃO:
Primeira Turma Recursal Cível Comarca de Porto Alegre CIVEL
PUBLICAÇÃO: TIPO DE DECISÃO:
Diário da Justiça do dia 05/07/2007 Acórdão
TIPO DE PROCESSO: NÚMERO:
Apelação Cível 70016122863 Inteiro Teor
RELATOR: Jorge Alberto Schreiner Pestana

EMENTA: AÇÃO ORDINÁRIA INDENIZATÓRIA POR DANO MORAL COMINADA COM


PERDAS E DANOS. RESPONSABILIDADE CIVIL. Cabe indenização por dano moral quando
supermercado, na limpeza de suas instalações, não alerta consumidora sobre a existência de piso
molhado ocasionando acidente capaz de fraturar o pulso da autora. Ausente sistema de tarifamento,
a fixação do montante indenizatório ao dano extrapatrimonial está adstrita ao prudente arbítrio do
juiz, atento às circunstâncias de fato. Não se conhece de recurso adesivo por ausência de
pressuposto quando o pedido já foi deferido na sentença guerreada. Apelação desprovida e recurso
adesivo não conhecido. Sentença mantida. Decisão unânime. (Apelação Cível Nº 70016122863,
Décima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge Alberto Schreiner Pestana, Julgado
em 03/05/2007)

TRIBUNAL: DATA DE JULGAMENTO: Nº DE FOLHAS:


Tribunal de Justiça do RS 03/05/2007
ÓRGÃO JULGADOR: COMARCA DE ORIGEM: SEÇÃO:
Décima Câmara Cível Porto Alegre CIVEL
PUBLICAÇÃO: TIPO DE DECISÃO:
Diário da Justiça do dia 15/05/2007 Acórdão
ASSUNTO:
INDENIZAÇÃO. DANO MORAL. LESÃO CORPORAL. QUEDA EM PISO MOLHADO DE
ESTABELECIMENTO COMERCIAL. RISCO DE ACIDENTE EM PISO MOLHADO. FALTA
DE ALERTA. ACIDENTE COM CONSUMIDORA. FRATURA DE PULSO.
RESPONSABILIDADE. RISCO DE ACIDENTE. NEGLIGÊNCIA. CARACTERIZAÇÃO.
SUPERMERCADO. CRITÉRIO PARA SUA FIXAÇÃO. FATORES. DANOS CAUSADOS A
CONSUMIDOR. RECURSO ADESIVO. NÃO CONHECIMENTO. *** NOTICIAS:
CONFIRMADA INDENIZAÇÃO POR QUEDA EM PISO MOLHADO DE
ESTABELECIMENTO COMERCIAL. PUBLICAÇÃO EM 20/06/2007

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