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Autor:
Michael Procopio
31 de Janeiro de 2022
Sumário
EFEITOS DA CONDENAÇÃO, REABILITAÇÃO E LIMITES DAS PENAS ....................................................................... 1
CONSIDERAÇÕES INICIAIS ........................................................................................................................ 3
EFEITOS DA CONDENAÇÃO ....................................................................................................................... 4
1 - EFEITOS PENAIS DA CONDENAÇÃO ................................................................................................................4
2 - EFEITOS EXTRAPENAIS DA CONDENAÇÃO .......................................................................................................5
REABILITAÇÃO .................................................................................................................................... 18
LIMITES DAS SANÇÕES PENAIS ................................................................................................................. 20
1 - LIMITES DAS PENAS .................................................................................................................................20
2 - LIMITES DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA ........................................................................................................22
FUNÇÃO DO DIREITO PENAL ................................................................................................................... 23
1 - FUNCIONALISMO SISTÊMICO OU RADICAL ...................................................................................................24
2 - FUNCIONALISMO TELEOLÓGICO OU MODERADO............................................................................................28
ABOLICIONISMO PENAL ........................................................................................................................ 31
DIREITO PENAL MÍNIMO ....................................................................................................................... 32
TEMAS DE EXECUÇÃO PENAL .................................................................................................................. 32
1 - DETRAÇÃO ............................................................................................................................................33
2 - REGIME ESPECIAL ...................................................................................................................................34
3 - DIREITOS DO PRESO E LEGISLAÇÃO ESPECIAL .................................................................................................35
4 - TRABALHO DO PRESO E LEGISLAÇÃO ESPECIAL ...............................................................................................36
5 - ORDEM DE EXECUÇÃO DAS PENAS ..............................................................................................................38
QUESTÕES COMENTADAS ...................................................................................................................... 39
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Ao final da aula, teremos estudado mais alguns temas da Parte Geral do Código Penal, parte que deveremos
finalizar na próxima aula. Com isso, poderemos passar à análise dos crimes em espécie, tratados na Parte
Especial do Código Penal. Os crimes tratados pela legislação extravagante, vale lembrar, são estudados no
Direito Penal Especial.
Como de praxe, espero que a aula seja produtiva. Nosso estudo, como sempre, deve ser aprofundado, para
que a prova nos pareça leve. Espero ter apresentado os temas aqui propostos de forma instigante, para que
haja atenção e verdadeiro aprendizado.
E relembro: SIGA O PERFIL PROFESSOR.PROCOPIO NO INSTAGRAM. Lá, haverá informações relevantes de
aprovação de novas súmulas, alterações legislativas e tudo o que houver de atualização, de forma ágil e com
contato direto. Use as redes sociais a favor dos seus estudos.
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EFEITOS DA CONDENAÇÃO
Neste capítulo, estudaremos os chamados efeitos da condenação. É um tema importante para
compreendermos as consequências da prolação de uma sentença penal condenatória, o que extrapola o
âmbito do Direito Penal e produz diversos efeitos em relação ao condenado.
A classificação dos efeitos da condenação pode ser vista no esquema gráfico a seguir:
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segurança ser imposta em uma sentença condenatória é o caso da dos semi-imputáveis, pois o juiz pode
substituir a pena por medida de segurança.
Há, também, os efeitos penais secundários. São os efeitos na órbita penal que não consistem na imposição
da sanção penal, como a reincidência e os maus antecedentes, interrupção do prazo prescricional,
revogação da suspensão condicional da pena, etc. O seu estudo permeia todo o Direito Penal.
Vejamos a reincidência, um dos efeitos penais secundários, tratada nos artigos 63 e 64 do Código Penal,
matéria analisada na teoria da pena:
Art. 63 - Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado
a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior.
Art. 64 - Para efeito de reincidência:
I - não prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento ou extinção da pena e a
infração posterior tiver decorrido período de tempo superior a 5 (cinco) anos, computado o período de
prova da suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer revogação;
II - não se consideram os crimes militares próprios e políticos.
Nota-se, portanto, que a reincidência advém da prática de um novo delito, tendo como pressuposto uma
sentença penal condenatória, anterior, que tenha transitado em julgado. É, portanto, um dos efeitos penais
secundários da condenação.
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Efeitos extrapenais genéricos são os efeitos penais de incidência automática, que são cabíveis, em princípio,
a todos os crimes. É o caso, por exemplo, de se tornar certa a obrigação de reparar o dano.
Os efeitos extrapenais específicos, por sua vez, são efeitos que devem ser impostos de forma fundamentada
na sentença condenatória, cabíveis para determinados casos.
Estudemos cada um deles a seguir:
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Deste modo, a condenação penal do indivíduo já torna certa sua obrigação de reparar o dano, ou seja, já
torna o condenado obrigado a indenizar os danos que causou com sua conduta delituosa. O que restará ao
juízo cível será a estipulação do valor devido, com a produção de provas e o direito ao contraditório.
A sentença penal condenatória transitada em julgado possui, portanto, a natureza jurídica de título
executivo judicial, possibilitando a execução para a cobrança dos valores devidos. É o que prevê o artigo
515, inciso VI, do Código de Processo Civil:
Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com os artigos previstos
neste Título:
(...)
VI - a sentença penal condenatória transitada em julgado; (...).
Sem a fixação dos valores devidos, já não se poderia questionar a existência de dívida, mas se procede
apenas à liquidação do quantum devido como reparação.
Entretanto, com o advento da Lei 11.719/2008, que modificou o artigo 387 do Código de Processo Penal,
tornou-se possível que o juiz criminal já estipule um valor mínimo de reparação do dano.
É o que prevê o artigo 387, inciso IV, do Código de Processo Penal:
Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória:
(...)
IV - fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos
sofridos pelo ofendido; (...)
Por conseguinte, ficam certos a obrigação de reparar o dano e o valor mínimo devido, sendo que, se o
interessando entender o valor suficiente, sequer é necessária a discussão sobre o montante devido para a
reparação do dano. Estipulam-se o na debeatur e o quantum debeatur, sendo este último estipulado no
valor mínimo.
Como toda privação de bens, é necessário que a estipulação do valor indenizatório mínimo obedeça ao
devido processo legal, isto é, é necessário que o condenado tenha direito à ampla defesa e ao contraditório.
Ele deve ser informado sobre o pedido de reparação mínima, poder produzir provas a respeito, ser ouvido
e ter suas alegações devidamente consideradas pelo juiz no momento da decisão. É o que tem entendido o
Superior Tribunal de Justiça:
“A fixação de valor mínimo para reparação dos danos materiais causados pela infração exige, além de
pedido expresso na inicial, a indicação de valor e instrução probatória específica” (STJ, AgRg no REsp
1856026/SC, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Sexta Turma, DJe 26/06/2020).
O ofendido, portanto, já poderá executar a sentença penal condenatória pelo valor mínimo, só necessitando
de discussão sobre o valor devido se entender que ele supera o fixado pelo juiz criminal.
O artigo 63 do Código de Processo Penal também trata sobre o tema, regulando a legitimidade para a
execução e a possibilidade de execução imediata pelo mínimo fixado:
Art. 63. Transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução, no juízo
cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros.
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Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá ser efetuada pelo
valor fixado nos termos do inciso IV do caput do art. 387 deste Código sem prejuízo da liquidação para
a apuração do dano efetivamente sofrido.
São legitimados, portanto, para a execução da sentença penal condenatória, que é título executivo judicial,
a vítima, seu representante legal ou seus herdeiros. Ademais, como já registrado, ao ofendido é facultado
promover a liquidação para se apurar o valor do dano sofrido, caso entenda que o mínimo fixado pelo juiz
não é suficiente.
Neste ponto, importante ressaltar que o Brasil não adotou o sistema de cumulação
ou união de instâncias. O juiz criminal apenas fixará o valor mínimo da indenização,
sendo que o tema não será exaurido. Caso o ofendido deseje, pode discutir o valor
total devido pelo dano, sem se contentar com o valor mínimo definido na sentença
condenatória. Portanto, o sistema brasileiro é o da separação mitigada das
instâncias.
O STJ já entendeu que a reparação civil pode abranger os danos morais decorrentes da conduta delitiva,
com estipulação do valor mínimo:
“CPP, PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA. AFRONTA AO ART. 387, IV, DO CPP. REPARAÇÃO CIVIL. CABIMENTO. PEDIDO EXPRESSO
DO MINISTÉRIO PÚBLICO E DO ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO. DANO MORAL. DECORRÊNCIA DA PRÓPRIA
CONDUTA DELITUOSA. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.1. Para que haja a fixação na sentença
do valor mínimo devido a título de indenização civil pelos danos causados à vítima, é necessário pedido
expresso, sob pena de afronta à ampla defesa. 2. Por se tratar de dano moral ex delicto, tem-se que o
dano ocorre in re ipsa, ou seja, exsurge da própria conduta típica, que já foi devidamente apurada na
instrução penal, não havendo falar em necessidade de instrução específica para comprovação de
valores, mormente porque se trata de valor mínimo de indenização, fixado nos termos do disposto no
artigo 387, IV, do Código de Processo Penal.3. Agravo regimental improvido.” (AgRg no REsp 1675965,
6ª Turma, DJe 04/10/2017).
A possibilidade de condenação, pelo juiz criminal, a um valor mínimo de reparação pelos danos causados,
foi considerada, pelo STJ, norma penal mais gravosa. Por isso, não pode ser aplicada a delitos praticados
antes da vigência da Lei 11.719/2008:
“(...) 2. Este Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento no sentido de que o disposto no art. 387,
IV, do Código de Processo Penal, que cuida da reparação civil dos danos sofridos pelo ofendido,
contempla norma de direito material mais rigorosa ao réu, não se aplicando a delitos praticados antes
da entrada em vigor da Lei nº 11.719/2008.Precedentes. (...)” (STJ, HC 318943, Rel. Min. Maria
Thereza de Assis Moura, 6ª Turma, DJe 25/08/2015)
II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé, dos instrumentos
do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato
ilícito
O instrumento do crime é o objeto utilizado para sua prática. Haverá a sua perda, em favor da União, no
caso de se tratar de coisa cuja fabricação, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito.
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O dispositivo legal ressalva o direito do terceiro de boa-fé, quanto à perda em favor da União. Por ser, por
exemplo, que uma farda militar tenha sido utilizada para a prática de um crime, mas que o agente subtraiu
de um familiar, que é oficial do Exército. Neste caso, o uso da farda pelo agente é ilícito, mas não pelo
terceiro, que estava de boa-fé.
No homicídio, por exemplo, é a arma de fogo, adquirida no mercado ilícito, utilizada para os disparos contra
a vítima. No roubo, também para exemplificar, é o simulacro de arma de fogo utilizado para amedrontar a
vítima.
Apesar de alguns doutrinadores defenderem que não se aplicam os efeitos da condenação do Código às
contravenções penais, há quem defenda a possibilidade de perda dos instrumentos do crime, por força do
art. 1º da Lei das Contravenções Penais, que assim determina:
Art. 1º Aplicam-se as contravenções às regras gerais do Código Penal, sempre que a presente lei não
disponha de modo diverso.
Neste sentido, o precedente do Superior Tribunal de Justiça:
“Penal. contravenção. porte ilegal de arma. confisco. - A regra do artigo 91, II, a, do Código Penal, que
prevê como efeito da condenação a perda do instrumento do crime cujo porte ou detenção constitua
fato ilícito, é aplicável na hipótese de condenação por porte ilegal de arma de fogo, por força do
previsto no artigo 1º da Lei das Contravenções Penais. - Precedentes do Superior Tribunal de Justiça. -
Recurso especial conhecido e provido.” (STJ, REsp 87971, Rel. Min. Vicente Leal, Sexta Turma, DJe
14/02/2000).
Não há perda de instrumento que constitua um objeto de uso profissional, por exemplo. Em sendo objeto
de trabalho, não se cuida de uso, porte, alienação ou fabricação ilícitos.
III - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé, dos produtos e
proveito do crime:
Produto do crime é vantagem direta advinda da prática criminosa. No caso do delito de furto, é produto do
crime a res furtiva. Deste modo, se o indivíduo subtraiu uma obra de arte de um museu, ela será considerada
produto do crime praticado.
Proveito do crime, por sua vez, é a vantagem que decorre do produto do crime. Por exemplo, podemos
imaginar que alguém roube um carro e venda-o para um receptador. O dinheiro proveniente da venda do
carro roubado é proveito da infração penal.
O artigo 91, § 1º, do Código Penal, possibilita a perda de bens equivalentes, se o produto ou proveito
estiverem no exterior:
§ 1º Poderá ser decretada a perda de bens ou valores equivalentes ao produto ou proveito do crime
quando estes não forem encontrados ou quando se localizarem no exterior.
Assim, se o produto ou o proveito do crime não forem localizados, ou estiverem no exterior,
impossibilitando sua efetiva perda em favor da União, o Código Penal autoriza a perda de bens ou valores
equivalentes.
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Não se deve confundir o efeito extrapenal da condenação com a perda de bens e valores.
Esta é espécie de pena, sendo uma das chamadas penas restritivas de direitos, cujo valor se
destina ao Fundo Penitenciário Nacional. Ademais, possui como teto o montante do prejuízo
causado ou do proveito obtido pelo agente, o que for maior. Atinge o patrimônio do
condenado, mesmo os bens licitamente obtidos por ele.
No caso da perda do produto do crime, a doutrina observa que ele deve ser restituído à
vítima, salvo se desconhecida. Deste modo, se furtado um relógio de ouro e a polícia conseguir sua
apreensão, sua destinação precípua deve ser a restituição para o ofendido, que teve seu bem furtado. Se
não for possível a restituição, aí sim deve haver a perda em favor da União.
Apesar de se tratar de legislação penal extravagante, o que transcende os objetivos desta disciplina, é
importante estabelecer relação entre os efeitos extrapenais previstos no Código Penal e aqueles trazidos
por outras leis penais. É o caso do artigo 60 da Lei 11.343/2006, o qual trata das medidas assecuratórias em
relação aos produtos dos crimes tratados pela lei:
Art. 60. O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante representação da
autoridade de polícia judiciária, ouvido o Ministério Público, havendo indícios suficientes, poderá
decretar, no curso do inquérito ou da ação penal, a apreensão e outras medidas assecuratórias
relacionadas aos bens móveis e imóveis ou valores consistentes em produtos dos crimes previstos nesta
Lei, ou que constituam proveito auferido com sua prática, procedendo-se na forma dos arts. 125 a 144
do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal.
A Constituição da República, em seu artigo 243, também trata do confisco de bens utilizados para culturas
de plantas psicotrópicas e exploração de trabalho escravo, bem como os valores econômicos apreendidos
em decorrência de tais crimes:
Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas
ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas
e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao
proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto
no art. 5º.
Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito
de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado e reverterá a
fundo especial com destinação específica, na forma da lei.
O Supremo Tribunal Federal já fixou a tese segundo a qual todo e qualquer bem que possua valor
econômico, apreendido em razão da prática do crime de tráfico ilícito de entorpecentes, pode ser
confiscado:
“Tese: É possível o confisco de todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência
do tráfico de drogas, sem a necessidade de se perquirir a habitualidade, reiteração do uso do bem
para tal finalidade, a sua modificação para dificultar a descoberta do local do acondicionamento da
droga ou qualquer outro requisito além daqueles previstos expressamente no artigo 243, parágrafo
único, da Constituição Federal” (STF, RE 638491/PR, Rel. Min. Luiz Fux, Tribunal Pleno, Julgamento:
17/05/2017).
O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê, em seu artigo 244-A, alterado pela Lei 13.440/2017, a sanção
de perda dos bens e valores utilizados na prática do crime de submeter criança ou adolescente à prostituição
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ou à exploração sexual, em favor do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente, ressalvando o direito
do terceiro de boa-fé:
Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais definidos no caput do art. 2o desta Lei, à
prostituição ou à exploração sexual:
Pena – reclusão de quatro a dez anos e multa, além da perda de bens e valores utilizados na prática
criminosa em favor do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente da unidade da Federação
(Estado ou Distrito Federal) em que foi cometido o crime, ressalvado o direito de terceiro de boa-fé.
Cumpre registrar, por fim, que o Supremo Tribunal Federal já decidiu que não é cabível o confisco de bens,
com base no artigo 91, II, do Código Penal, em caso de transação penal:
“1. Tese: os efeitos jurídicos previstos no art. 91 do Código Penal são decorrentes de sentença penal
condenatória. Tal não se verifica, portanto, quando há transação penal (art. 76 da Lei 9.099/95), cuja
sentença tem natureza homologatória, sem qualquer juízo sobre a responsabilidade criminal do
aceitante. As consequências da homologação da transação são aquelas estipuladas de modo
consensual no termo de acordo. 2. Solução do caso: tendo havido transação penal e sendo extinta a
punibilidade, ante o cumprimento das cláusulas nela estabelecidas, é ilegítimo o ato judicial que
decreta o confisco do bem (motocicleta) que teria sido utilizado na prática delituosa. O confisco
constituiria efeito penal muito mais gravoso ao aceitante do que os encargos que assumiu na
transação penal celebrada (fornecimento de cinco cestas de alimentos).” (STF, RE 795567/PR, Rel.
Min. Teoria Zavascki, Tribunal Pleno, Julgamento: 28/05/2015).
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consequência, o condenado criminalmente, por decisão transitada em julgado, tem seus direitos
políticos suspensos pelo tempo que durarem os efeitos da condenação. (...)” (STF, AP 470/MG, Rel.
Min. Joaquim Barbosa, Tribunal Pleno, Julg. 17/12/2012).
Deve-se atentar para o seguinte: não há suspensão dos direitos políticos antes de transitar em julgado a
sentença penal condenatória. Por isso, os presos provisórios possuem direito ao voto.
Apesar de ainda não ter havido discussão doutrinária, entendo que o artigo 91-A, acrescido pela Lei 13.964,
de 24 de dezembro de 2019, trouxe mais hipóteses de efeitos específicos da condenação:
Art. 91-A. Na hipótese de condenação por infrações às quais a lei comine pena máxima superior a 6
(seis) anos de reclusão, poderá ser decretada a perda, como produto ou proveito do crime, dos bens
correspondentes à diferença entre o valor do patrimônio do condenado e aquele que seja compatível
com o seu rendimento lícito.
§ 1º Para efeito da perda prevista no caput deste artigo, entende-se por patrimônio do condenado
todos os bens:
I - de sua titularidade, ou em relação aos quais ele tenha o domínio e o benefício direto ou indireto, na
data da infração penal ou recebidos posteriormente; e
II - transferidos a terceiros a título gratuito ou mediante contraprestação irrisória, a partir do início da
atividade criminal.
§ 2º O condenado poderá demonstrar a inexistência da incompatibilidade ou a procedência lícita do
patrimônio.
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§ 3º A perda prevista neste artigo deverá ser requerida expressamente pelo Ministério Público, por
ocasião do oferecimento da denúncia, com indicação da diferença apurada.
§ 4º Na sentença condenatória, o juiz deve declarar o valor da diferença apurada e especificar os bens
cuja perda for decretada.
§ 5º Os instrumentos utilizados para a prática de crimes por organizações criminosas e milícias deverão
ser declarados perdidos em favor da União ou do Estado, dependendo da Justiça onde tramita a ação
penal, ainda que não ponham em perigo a segurança das pessoas, a moral ou a ordem pública, nem
ofereçam sério risco de ser utilizados para o cometimento de novos crimes.
Iniciaremos, por ordem topográfica, com a inovação legislativa:
Art. 91-A – perda, como produto ou proveito do crime, da diferença entre o patrimônio do condenado e
o que seja compatível com seu rendimento lícito
Nesta hipótese, inserida pelo Pacote Anticrime, o legislador restringiu sua aplicação aos crimes
cuja pena máxima seja superior a 6 anos de reclusão. Portanto, não cabe a decretação da perda
de bens, com base no artigo 91-A do CP, em todos os delitos. Por isso, é um efeito específico da
condenação. A doutrina tem denominado essa hipótese de confisco alargado de bens.
A perda é decretada com fundamento na existência de produto ou proveito do crime, conceitos
já abordados acima. A ideia é alcançar bens do condenado sem exigência de comprovação de
que ele decorre diretamente da atividade criminosa (produto) ou deriva dela, por conversão dos bens
(proveito).
Nesta hipótese, o legislador exige apenas a demonstração de que o condenado possui patrimônio
incompatível com aquele que poderia ter sido amealhado com seu rendimento lícito.
Para tal comparação, o Código determina a consideração dos bens de titularidade do agente e daqueles
sobre os quais ele tenha o domínio e o benefício direto ou indireto, tanto na data da infração quanto após
o seu cometimento, ou seja, os bens recebidos após a data do delito.
Consideram-se, ainda, como patrimônio do agente aqueles que forem transferidos a terceiros a título
gratuito (como uma doação) ou mediante uma contraprestação irrisória (como um negócio de compra e
venda simulado, em que o preço só serve para ocultar a natureza gratuita da alienação), a partir do início da
atividade criminal. Entendo que, neste ponto, devemos considerar o início dos atos executórios, quando o
agente já pode ser punido pela prática do delito, a título de tentativa.
O parágrafo segundo do artigo 92-A do CP permite, ao condenado, que demonstre que o patrimônio é
compatível com sua renda lícita, o que afasta tal efeito da condenação. Possibilita, ainda, que o condenado
demonstre a procedência lícita do patrimônio, como uma doação de um familiar ou o recebimento de uma
herança.
A lei exige o pedido expresso do Ministério Público, que deve ser feito por ocasião da denúncia, inclusive
com a indicação da diferença apurada entre o patrimônio que o condenado possui e o que seria compatível
com sua atividade profissional e/ou econômica lícita.
Na sentença, o juiz deverá declarar a diferença efetivamente apurada, após o exercício do contraditório e
da ampla defesa, com a especificação dos bens que terão a perda decretada.
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Art. 91-A, parágrafo único – perda dos instrumentos do crime praticado por organizações criminosas e
milícias
Por fim, o parágrafo quinto do artigo 91-A do Código traz outro assunto, prevendo uma regra específica para
os instrumentos utilizados para a prática de crimes por organizações criminosas e milícias. Nestes casos,
serão declarados perdidos em favor da União ou do Estado, dependendo da Justiça onde tramita a ação
penal. Ainda se especifica que deve haver a perda ainda que tais instrumentos não ponham em perigo a
segurança das pessoas, a moral ou a ordem pública, nem ofereçam sério risco de ser utilizados para o
cometimento de novos crimes.
Se for caso de competência da Justiça Estadual, a perda dos instrumentos do crime será em favor do Estado.
Sendo de competência da Justiça Federal, os instrumentos do crime devem ser perdidos em favor da União.
==13272f==
Apesar de não haver menção a ser esse efeito automático ou não, a redação indica a necessidade de
decretação judicial (“deverão ser declarados perdidos”), além de sua previsão estar em um artigo que
menciona a necessidade de determinação na sentença. Deste modo, entendo ser também um caso de efeito
não automático, que deve ser decretado pelo juiz de forma expressa.
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No caso dos parlamentares federais, a Constituição prevê o seguinte, em seu artigo 55, § 2.º, da Constituição
Federal:
Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador:
(...)
VI - que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado.
(...)
§ 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será decidida pela Câmara dos Deputados ou
pelo Senado Federal, por maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido
político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.
No caso dos parlamentares estaduais e distritais, referida regra é aplicável em razão do que prescreve o
artigo 27, § 1º, da CF:
§ 1º Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais, aplicando-se-lhes as regras desta
Constituição sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato,
licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas.
Portanto, a perda só será diretamente imposta pela sentença condenatória, surtindo efeitos por si só, para
os parlamentares, no caso dos vereadores. Isto porque que a Constituição não lhes prevê nenhuma regra
de decisão do Poder Legislativo a respeito da perda do mandato em decorrência de condenação criminal1.
II - a incapacidade para o exercício do poder familiar, da tutela ou da curatela nos crimes dolosos sujeitos
à pena de reclusão cometidos contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar, contra filho,
filha ou outro descendente ou contra tutelado ou curatelado:
A incapacidade para o exercício do poder familiar, da tutela ou da curatela é cabível quando houver a
condenação por crimes dolosos, sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra o filho, a filha ou outro
descendente, o tutelado ou o curatelado. Além disso, há o referido efeito da condenação no caso de crime
doloso, com cominação de pena de reclusão, cometido contra titular do mesmo poder familiar. É o caso do
sujeito que mata a mãe do próprio filho.
Houve alteração na redação do inciso II do artigo 92 do Código Penal pela Lei 13.715/2018. Anteriormente,
já alertávamos que a expressão “pátrio poder” do Código Penal, ligado à figura paterna, deveria ser lida
conforme os ditames constitucionais, que influenciam o atual Direito Civil. Deste modo, já se utilizava, neste
Curso, a denominação “poder familiar”, aplicável tanto ao pai quanto à mãe. Atualmente, a redação do
dispositivo foi adequada, referindo-se a poder familiar.
Há uma notável limitação na aplicação de referido efeito da condenação, pois só é cabível em caso de crime
doloso e que seja punido com reclusão, além de o crime ter como vítima o filho, a filha, outro descendente,
o tutelado, o curatelado ou o titular do mesmo poder familiar.
Ademais, a Lei 13.715/2018 também modificou o ECA, passando o parágrafo segundo do seu artigo 23 a ter
a seguinte redação:
1
PRADO, Luiz Régis. Curso de Direito Penal. 18 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 334. O autor aponta ser a posição do STF,
apesar de discordar, ao defender que a condenação deve acarretar a perda do cargo de qualquer parlamentar.
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§ 2º A condenação criminal do pai ou da mãe não implicará a destituição do poder familiar, exceto na
hipótese de condenação por crime doloso sujeito à pena de reclusão contra outrem igualmente titular
do mesmo poder familiar ou contra filho, filha ou outro descendente.
De igual modo, alterou-se o Código Civil, com nova redação do parágrafo único do artigo 1.638, cuja atual
redação é de interessante leitura:
Parágrafo único. Perderá também por ato judicial o poder familiar aquele que:
I – praticar contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar:
a) homicídio, feminicídio ou lesão corporal de natureza grave ou seguida de morte, quando se tratar
de crime doloso envolvendo violência doméstica e familiar ou menosprezo ou discriminação à condição
de mulher;
b) estupro ou outro crime contra a dignidade sexual sujeito à pena de reclusão;
II – praticar contra filho, filha ou outro descendente:
a) homicídio, feminicídio ou lesão corporal de natureza grave ou seguida de morte, quando se tratar
de crime doloso envolvendo violência doméstica e familiar ou menosprezo ou discriminação à condição
de mulher;
b) estupro, estupro de vulnerável ou outro crime contra a dignidade sexual sujeito à pena de reclusão.
Ainda na redação anterior à Lei 13.715/2018, surgiu a controvérsia quanto ao referido efeito da condenação
se referir a todos os filhos ou apenas ao filho que tiver sido vítima de crime:
a) Uma corrente entende que a perda do poder familiar pressupõe o crime entre agente e vítima (redação
anterior do Código Penal), razão pela qual o efeito só incide sobre o poder familiar em relação à referida
vítima. Assim, o efeito não se estenderia aos demais filhos. É a posição de Guilherme de Souza Nucci.
b) Outra posição seria a de que a incapacidade abrange todos os filhos, já que se trata de um impedimento
do agente. Seria a posição de Cezar Bittencourt, aparentemente, já que ele entende que a reabilitação
abrange os demais filhos, sem que afete a relação contra a própria vítima.
Com a nova redação, surgiu a possibilidade de perda do poder familiar também no caso de a vítima ser
alguém que seja igualmente titular dele. Deste modo, pareceu ganhar força a corrente que defende que o
efeito da condenação se refere a todos os filhos que o agente tenha, já que agora não incide apenas em
caso de crime doloso, punível com reclusão, contra o próprio filho, mas também contra outra pessoa (que
seja igualmente titular do poder familiar). De todo modo, a corrente sobre a incapacidade sobre todos os
filhos faz mais sentido do ponto de vista da reabilitação, já que a lei veda a reintegração na situação anterior,
mas permite a cessação do efeito quanto a outras relações familiares.
III - a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso.
Se o veículo for utilizado para a prática de crime doloso, haverá a imposição da inabilitação para dirigir
veículo, ao condenado, como efeito extrapenal da sentença condenatória.
Não se deve confundir referida previsão com os crimes culposos praticados na direção de veículo automotor,
como o homicídio culposo e a lesão corporal culposa previstos no Código de Trânsito Brasileiro. Referido
Código, em seu artigo 292, prevê a possibilidade de imposição da suspensão ou a proibição de se obter a
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor, de forma isolada ou cumulativa com outras penas.
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Há, ainda, um efeito específico previsto em legislação extravagante, mas que trata de crimes previstos no
Código Penal:
IV - a cassação do documento de habilitação para dirigir veículo automotor ou a proibição de sua obtenção
pelo período de 5 anos.
A Lei 13.804, de 10 de janeiro de 2019, alterou a Lei 9.503/97, o Código de Trânsito Brasileiro
(CTB), para incluir novos efeitos da condenação com relação aos crimes de receptação,
contrabando e descaminho. Como se trata de crimes previstos no Código Penal, cumpre fazer
a análise do efeito da condenação, que está previsto no artigo 278-A do CTB, nos seguintes
termos:
Art. 278-A. O condutor que se utilize de veículo para a prática do crime de receptação,
descaminho, contrabando, previstos nos arts. 180, 334 e 334-A do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 (Código Penal), condenado por um desses crimes em decisão judicial transitada em
julgado, terá cassado seu documento de habilitação ou será proibido de obter a habilitação para dirigir
veículo automotor pelo prazo de 5 (cinco) anos.
§ 1º O condutor condenado poderá requerer sua reabilitação, submetendo-se a todos os exames
necessários à habilitação, na forma deste Código.
§ 2º No caso do condutor preso em flagrante na prática dos crimes de que trata o caput deste artigo,
poderá o juiz, em qualquer fase da investigação ou da ação penal, se houver necessidade para a
garantia da ordem pública, como medida cautelar, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público
ou ainda mediante representação da autoridade policial, decretar, em decisão motivada, a suspensão
da permissão ou da habilitação para dirigir veículo automotor, ou a proibição de sua obtenção.
O efeito da condenação será:
• Cassação do documento de habilitação para dirigir veículo automotor ou;
• Proibição de obtenção da habilitação para dirigir veículo automotor.
Em ambos os casos, o prazo de referido efeito da condenação será de 5 anos. Dada a natureza de norma
que restringe direitos, entendo não ser possível a analogia in malam partem. Deste modo, entendo que só
está incluída no efeito da condenação a CNH, chamada no CTB de habilitação para conduzir veículos, como,
por exemplo, no seu artigo 141, caput:
Art. 141. O processo de habilitação, as normas relativas à aprendizagem para conduzir veículos
automotores e elétricos e à autorização para conduzir ciclomotores serão regulamentados pelo
CONTRAN.
Por isso, não está incluída na norma a autorização para conduzir ciclomotores.
O veículo deve ter sido utilizado para a prática do crime de receptação, contrabando ou descaminho. É
comum que os condenados pelo crime de contrabando de cigarros provenientes do Paraguai, por exemplo,
utilizem caminhões ou furgões para sua conduta, bem como que reincidam na conduta, dado o cabimento
de liberdade provisória com fiança e a alta lucratividade da atividade ilícita. Busca-se coibir a reiteração
criminosa com a cassação da habilitação ou com a proibição da obtenção de habilitação para dirigir veículos
automotores.
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Considerando que, pela natureza de referidas infrações penais, a utilização de veículos é costumeira para o
maior volume da atividade e a maior rentabilidade com a prática criminosa, referidos efeitos podem,
efetivamente, ajudar a coibir determinada conduta. Ainda que se pense que os indivíduos continuarão a
praticar a receptação, o contrabando ou o descaminho, dirigindo veículos sem a habilitação, a falta do
documento torna mais fácil o trabalho de fiscalização da Polícia, fazendo com que a impunidade diminua.
Além disso, defendo que deve ser fundamentada a aplicação de referido efeito, ainda que de forma simples,
demonstrando o juiz que houve a utilização do veículo para a prática de um dos crimes previstos no caput
do artigo 278-A do CTB. Portanto, considero que o efeito não é automático.
Quanto à reabilitação, o artigo 278-A do CTB, em seu parágrafo primeiro, prevê regramento específico.
Dispõe que o condenado deve observar as normas do próprio Código de Trânsito para se reabilitar,
submetendo-se a todos os exames necessários para a habilitação.
O artigo 278-A, parágrafo segundo, do CTB dispõe sobre a possibilidade de imposição de medida cautelar.
Cuida-se de mais uma medida cautelar diversa da prisão, que pode ser determinada no caso de flagrante
em situação de que trata o caput do referido dispositivo.
Ou seja, sendo o agente preso em flagrante pela prática de receptação, contrabando ou descaminho, o Juiz
pode, em qualquer fase da investigação ou da ação penal, se houver necessidade para a garantia da ordem
pública, como medida cautelar, decretar, em decisão motivada, a suspensão da permissão ou da habilitação
para dirigir veículo automotor, ou a proibição de sua obtenção.
O magistrado pode agir de ofício, a requerimento do Ministério Público ou ainda mediante representação
da autoridade policial. Sua decisão deve ser fundamentada, indicando a necessidade concreta de garantia
da ordem pública.
No mais, deve-se aguardar o posicionamento dos Tribunais sobre referido efeito da condenação, por se
tratar de recente alteração legislativa.
REABILITAÇÃO
A reabilitação é um instituto de Direito Penal, de natureza declaratória, que concede o sigilo dos registros
sobre o seu processo e condenação. Também pode neutralizar os efeitos extrapenais específicos da
condenação. Possui o escopo de, atendidos determinados requisitos, permitir que o acusado obtenha a
reinserção social, sem que fique para sempre tachado pela condenação passada. Segundo Luiz Régis Prado,
cuida-se de medida político-criminal2.
A reabilitação é tratada nos artigos 93 a 95 do Código Penal, sendo que o primeiro deles possui o seguinte
teor:
Reabilitação
Art. 93 - A reabilitação alcança quaisquer penas aplicadas em sentença definitiva, assegurando ao
condenado o sigilo dos registros sobre o seu processo e condenação.
2
PRADO, Luiz Régis. Curso de Direito Penal Brasileiro, parte geral e especial. 18ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 334.
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Parágrafo único - A reabilitação poderá, também, atingir os efeitos da condenação, previstos no art.
92 deste Código, vedada reintegração na situação anterior, nos casos dos incisos I e II do mesmo
artigo.
Há vedação de reintegração na situação anterior nos casos de perda de cargo, função pública ou mandato
eletivo, bem como se o efeito for de incapacidade para o exercício do poder familiar, da tutela ou da
curatela. Deste modo, se condenado por tentativa de homicídio contra um filho, não poderá o agente
conseguir o restabelecimento do seu poder familiar sobre ele3. Caso tenha, por exemplo, uma filha de outro
casamento, a reabilitação pode alcançá-la e permitir ao agente o exercício do poder familiar sobre ela.
Portanto, a reabilitação alcança todas as penas impostas em condenação transitada em julgado. Assegura
que tais registros serão sigilosos. Entretanto, referido sigilo não é absoluto, nos termos do que prevê o
artigo 748 do Código de Processo Penal, situado em capitulo que trata da reabilitação:
Art. 748. A condenação ou condenações anteriores
1 não serão mencionadas na folha de antecedentes
do reabilitado, nem em certidão extraída dos livros do juízo, salvo quando requisitadas por juiz
criminal.
Portanto, o sigilo é relativizado apenas em relação a requisições efetuadas por Juízes Criminais. Ou seja,
apenas os juízos criminais, sejam da Justiça Federal, Justiça Militar, Justiça Eleitoral ou Justiça Estadual,
poderão ter acesso às informações atingidas pela reabilitação.
O artigo 94 do Código Penal trata dos requisitos para a reabilitação criminal:
Art. 94 - A reabilitação poderá ser requerida, decorridos 2 (dois) anos do dia em que for extinta, de
qualquer modo, a pena ou terminar sua execução, computando-se o período de prova da suspensão e
o do livramento condicional, se não sobrevier revogação, desde que o condenado:
I - tenha tido domicílio no País no prazo acima referido;
II - tenha dado, durante esse tempo, demonstração efetiva e constante de bom comportamento público
e privado;
III - tenha ressarcido o dano causado pelo crime ou demonstre a absoluta impossibilidade de o fazer,
até o dia do pedido, ou exiba documento que comprove a renúncia da vítima ou novação da dívida.
Parágrafo único - Negada a reabilitação, poderá ser requerida, a qualquer tempo, desde que o pedido
seja instruído com novos elementos comprobatórios dos requisitos necessários.
Portanto, os requisitos são os seguintes:
✓ decurso do prazo de dois danos desde a extinção ou o cumprimento da pena. Neste período, serão
computados o de livramento condicional e de suspensão condicional da pena, desde que não haja a
revogação deles;
✓ domicílio no país no prazo acima mencionado. Há doutrinadores, como Guilherme Nucci, que
entendem que este requisito é inconstitucional, por limitar o direito de ir e vir de quem já cumpriu a
sanção penal pela qual foi condenado;
✓ demonstração efetiva e constante, também no período acima definido, de bom comportamento
público e privado;
3
Referida posição é também adotada em: PRADO, Luiz Régis. Curso de Direito Penal Brasileiro, parte geral e parte especial. 18ª
ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 334.
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As penas de reclusão e detenção estão previstas no Código Penal, que trata sobre seus limites no artigo 75,
que possuía a seguinte redação:
Art. 75 - O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 30 (trinta)
anos.
§ 1º - Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a 30
(trinta) anos, devem elas ser unificadas para atender ao limite máximo deste artigo.
§ 2º - Sobrevindo condenação por fato posterior ao início do cumprimento da pena, far-se-á nova
unificação, desprezando-se, para esse fim, o período de pena já cumprido.
Assim, o limite fixado pela lei foi de 30 anos para as penas de reclusão e de detenção.
A Lei 13.694, de 24 de dezembro de 2019, modificou a redação do caput e do parágrafo primeiro do artigo
75 do Código Penal, para modificar o limite de 30 para 40 anos:
2
Art. 75. O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 40
(quarenta) anos.
§ 1º Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a 40
(quarenta) anos, devem elas ser unificadas para atender ao limite máximo deste artigo.
Portanto, com a modificação legislativa, o limite fixado pela lei passou a ser de 40 anos para as penas de
reclusão e de detenção, sendo que, se houver a fixação de penas em montante superior ao máximo, elas
devem ser unificadas pelo juiz da execução, adequando-as ao teto.
Entretanto, as penas devem ser consideradas no todo, sem o corte do teto de 40 anos, para a
finalidade de cômputo dos benefícios da execução penal, como a progressão de regime, as
saídas temporárias, o indulto, a comutação (indulto parcial) e o livramento condicional.
Este entendimento já foi sumulado pelo Supremo Tribunal Federal, sendo o seu enunciado de
número 715:
A pena unificada para atender ao limite de trinta anos de cumprimento, determinado pelo art. 75 do
Código Penal, não é considerada para a concessão de outros benefícios, como o livramento condicional
ou regime mais favorável de execução.
Imaginem que o indivíduo, ao ter suas penas somadas pelo juiz da execução, apresente o montante de 43
anos de reclusão, sendo todas as condenações por crimes comuns (não hediondos nem equiparados). Ele
somente poderá cumprir 40 anos, sendo que o juiz desprezará 3 anos do somatório para calcular o fim do
cumprimento das sanções penais.
Entretanto, para cálculo dos benefícios, o juiz da execução terá como base os 43 anos de reclusão, e não os
40 resultantes do decote determinado pelo artigo 75 do CP. Deste modo, para progressão de regime, ele
terá que cumprir um sexto do total de 43 anos, e não de 40.
Ademais, cada vez que sobrevier condenação por novo fato, o juiz procederá a uma nova unificação, sem
considerar o tempo de pena já cumprido. Deste modo, se o condenado voltar a delinquir, ele não ficará
impune por já estar cumprindo mais de 40 anos de pena privativa de liberdade.
Imaginem que o indivíduo foi condenado à pena de 50 anos de reclusão por um latrocínio e um roubo com
resultado lesão corporal de natureza grave. Unificada a execução, o juiz adequou a pena ao limite de 40
anos. Depois de cumpridos 35 anos de reclusão, ele mata seu companheiro de cela, sendo condenado a
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outros 15 anos de reclusão. Percebem que lhe restavam a cumprir 5 anos do total de 40, devendo o juiz
desprezar a pena já cumprida (35 anos de reclusão) para a nova unificação. Então, ele deverá cumprir os 5
anos que faltavam, além da condenação por fato novo a 15 anos de reclusão, o que leva ao montante de 20
anos. Como a nova unificação está dentro do limite máximo (40 anos), ele deverá cumprir os 20 anos de
reclusão.
Um problema de direito intertemporal que surgirá será a possibilidade ou não de aplicar o
limite de 40 anos para unificação de crime cometido antes da vigência da Lei 13.964/2019 e
infração cometida posteriormente a ela. Por exemplo: pena de 30 anos por crime cometido
antes do início de vigência do Pacote Anticrime e outra pena de 26 anos por outro crime
cometido após o início da vigência (total de 56 anos): aplica-se o limite de 30 ou de 40 anos? A
visão mais rígida da irretroatividade da lei mais gravosa, o que decorre de um princípio basilar
do Direito Penal, deve levar à conclusão de que somente se pode aplicar o limite de 40 anos como limite
com utilização de penas referentes tão-somente a7delitos praticados após o início de vigência do Pacote
Anticrime. De todo modo, há de se aguardar a discussão jurisprudencial sobre o tema.
Com relação à prisão simples, a Lei das Contravenções Penais, em seu artigo 10, prevê um limite específico:
Art. 10. A duração da pena de prisão simples não pode, em caso algum, ser superior a cinco anos, nem
a importância das multas ultrapassar cinquenta contos.
Portanto, em se tratando de prisão simples, pena prevista para contravenções penais, o limite máximo é de
5 anos.
4
ZAFFARONI, Eugenio Raul; BATISTA, Nilo; ALAGIA, Alejandro; SLOKAR, Alejandro. Direito Penal Brasileiro: primeiro volume –
Teoria Geral do Direito Penal. Rio de Janeiro, Revan, 2017 (3ª reimpressão), p. 137-139).
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O tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar o limite máximo da pena
abstratamente cominada ao delito praticado.
O Supremo Tribunal Federal tem entendido de forma diferente, acolhendo a visão de que o limite máximo
de duração da medida de segurança é o mesmo das penas privativas de liberdade. Deste modo, o máximo
que uma medida de segurança pode durar é por 40 anos. Neste sentido, o seguinte julgado:
“1. A prescrição da medida de segurança deve ser calculada pelo máximo da pena cominada ao delito
cometido pelo agente, ocorrendo o marco interruptivo do prazo pelo início do cumprimento daquela,
sendo certo que deve perdurar enquanto não haja cessado a periculosidade do agente, limitada,
contudo, ao período máximo de 30 (trinta) anos, conforme a jurisprudência pacificada do STF.
Precedentes: HC 107.432/RS, Relator Min. Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, Julgamento em
24/5/2011; HC 97.621/RS, Relator Min. Cezar Peluso, Julgamento em 2/6/2009.” (STF, RHC 100383,
Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, Julgamento em 18/10/2011).
2
Referido entendimento também foi adotado pela Segunda Turma do STF (HC 107777, j. 07/02/2012).
Vale recordar que a Lei 13.964, de 24 de dezembro de 2019, modificou o limite máximo de duração das
penas privativas de liberdade, passando de 30 para 40 anos. O julgado acima transcrito é anterior à
modificação legislativa.
Cumpre, então, visualizar o entendimento das Cortes Superiores sobre o limite de duração das medidas de
segurança no seguinte esquema:
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condutas tão gravosas e prejudiciais à vida em sociedade. Entretanto, a função do Direito Penal é mais ampla
que seu aspecto repressivo, do que uma concepção de finalidade das penas.
Função ético-social: Segundo Hans Welzel, o Direito Penal possui, além da função
preventiva, um caráter ético-social. Essa função ético-social se concretiza na seleção de
bens jurídicos a serem tutelados pela norma penal, com atenção aos valores da ética e
da sociedade que estão presentes do Direito Positivo, ou seja, nas leis. O valor de cada
bem jurídico é analisado em conjunto com os demais, o que forma a ordem social. Essa
função do Direito Penal busca manter o vínculo ético-social, garantindo os valores e a
segurança da sociedade, reagindo contra aqueles que os violam. Com a proteção dos
valores de natureza ético social, tutelam-se os bens jurídicos, possibilitando assim que
o Direito Penal cumpra outra função sua, a preventiva. Essa função busca evitar
comportamentos nocivos aos valores da sociedade, almejando a segurança da vida em
comunidade. f
Ademais, há a corrente de pensamento denominada Funcionalismo, que também se debruça sobre a função
efetivamente desempenhada pelo Direito Penal na atualidade. Cuida-se de teoria que trata da própria
concepção do delito, contrapondo-se ao finalismo em elementos estruturais.
O funcionalismo, como teoria do delito, busca compreender o Direito Penal não a partir de realidades
ontológicas prévias, como ação e causalidade, mas sim pelas finalidades buscadas por referido sistema
jurídico. Por focar na finalidade da ação e deixar de considerar a conduta humana como o núcleo do Direito
Penal, neste Curso o funcionalismo não foi elencado junto com as teorias da conduta, mas visto como teoria
do Direito Penal que foca na função que as normas penais desempenham.
A ação humana, para o funcionalismo, não é uma realidade pré-jurídica que receberá um tratamento penal,
ou seja, que existe independentemente do direito. Portanto, diferente do finalismo, o funcionalismo vai
compreender a conduta humana a partir de uma compreensão ou um juízo normativo. Ainda que não se
negue o conceito de conduta (ação), compreende-se que a realidade, da qual ela faz parte, pode receber
diferentes interpretações e será a interpretação valorativa ou axiológica a que lhe dará um sentido útil,
pragmático5.
Apesar de o funcionalismo ser uma concepção de todo o Direito Penal a partir da função de suas normas,
sendo denominado por alguns de pós finalismo, o estudo separado do finalismo tem por fim destacar que
não se trata de teoria da conduta (ou da ação). Entretanto, assim como as teorias da conduta (como o
finalismo e o causalismo), o funcionalismo muda a concepção de estrutura de crime e a visão da Ciência do
Direito Penal como um todo.
Há duas subdivisões do funcionalismo:
5
BRANDÃO, Cláudio. Teoria jurídica do crime. 6 ed. Belo Horizonte, São Paulo: D’Plácido, 2020, p. 74.
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O Funcionalismo Sistêmico ou Radical é defendido pelo jurista Günther Jakobs. Todo o Direito Penal é
compreendido a partir da ideia de que a função do Direito Penal é garantir a vigência da norma penal.
Ainda que haja divergências6, aponta-se que essa vertente do funcionalismo possui base na teoria de Niklas
Luhmann, que trata dos sistemas7. Segundo Luhmann, de forma bastante resumida, o Direito é um sistema
autopoiético, ou seja, possui suas próprias unidades de reprodução. Isto quer dizer que o Direito produz e
reproduz cada um dos seus elementos. Deste modo, o Direito resolve os conflitos, mas também os produz,
ao ser base para reclamação de um direito quando há sua violação. Da mesma forma que soluciona a lide
sobre o dano causado por uma ex-mulher no veículo do ex-marido, ele é a base para que, no outro dia, um
vizinho que teve seu carro intencionalmente atingido por outro, após uma discussão, possa noticiar o fato
ao delegado e, posteriormente, iniciar uma nova ação penal. Prosseguindo, o sistema possui um código, o
qual define o que é lícito e o que é ilícito (infração penal), o que implica em um fechamento operacional.
Por outro lado, existe uma abertura, que é cognitiva (de conhecimento), pois o sistema define o lícito e o
ilícito de acordo com a realidade social, que está fora do próprio sistema.
O funcionalismo de Jakobs também tem raízes na obra de Hegel. O filósofo concebe o Estado como a
“vontade divina” que organiza o mundo em que vivemos, ou seja, há uma visão autoritária de que o Estado
é o detentor da moralidade objetiva, a verdade moral é elaborada de forma universal na lei e que o Estado
representa o saber, o conhecimento8. Hegel, portanto, liga a moralidade ao Estado e entende que o Estado
busca a verdade racional. A partir disso, concebe que a vingança não tem a forma do Direito e, assim, não é
justa em sua essência. Quando o Estado assume a perseguição do crime, “a repressão passa a ser a
reconciliação do direito consigo mesmo na pena”9. O crime, para Hegel, é uma vontade negativa, a negação
da moralidade subjetiva. Em outras palavras, quem comete crime nega vigência às normas sociais. A pena,
por consequência, é a negação da negação. Isto é, a pena representa uma resposta à violação que o crime
representa: se o crime é uma negação (da norma), a pena é a negação da negação10. Reafirma-se a validade
da norma por meio da aplicação da pena.
Feita esta breve introdução sobre as bases utilizadas na elaboração do funcionalismo sistêmico, devemos
ter em mente que, para Jakobs, conceitos como o de conduta e de causalidade não têm um conteúdo pré-
jurídico, não são realidades prévias (ontológicas), como no finalismo. Na verdade, o funcionalismo entende
que tais conceitos devem ser determinados conforme as necessidades do ordenamento jurídico. A
atribuição de um resultado ao agente, portanto, não deve ser analisado apenas do ponto de vista da
causação material, mas por meio da imputação objetiva, com conteúdo jurídico.
Para Jakobs, a causalidade é analisada dentro da imputação objetiva. Enquanto o finalismo entende que a
causalidade é pré-jurídica, analisada do ponto de vista ontológico (ser), o funcionalismo sistêmico defende
que a causalidade é apenas um dos elementos da imputação objetiva, que é analisada do ponto de vista
normativo (dever-ser). A imputação do resultado ao agente não depende apenas da causalidade, mas
também de ter havido a criação de risco não permitido e a realização desse risco no resultado11. Assim, a
6
ALFLEN, Pablo Rodrigo. Apresentação. In: JAKOBS, Günther. Proteção de bens jurídicos? Sobre a legitimação do Direito Penal.
Tradução, apresentação e notas de Pablo Rodrigo Alflen. 2 ed Porto Alegre: CDS Editora, 2021, p. 14-15.
7
BITENCOURT, Cezar Roberto. Parte geral. Coleção Tratado de direito penal volume 1. 26 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020,
p. 141.
8
HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Princípios da Filosofia do Direito. Tradução de Orlando Vitorino. 1 ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1997, p. 231-241.
9
HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Ob. Cit., p. 196.
10
HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Ob. Cit., p. 86-91.
11
ROCHA, Ronan. A relação de causalidade no direito penal. Belo Horizonte: Editora D’Plácido, 2016, p. 77.
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imputação objetiva determina se o resultado pode ser imputado ao agente. A causalidade (a análise se a
conduta do agente é causa do resultado) faz parte da imputação objetiva.
Quanto ao tipo penal, Jakobs entende que é irrelevante, para o Direito Penal, se o agente atuou de forma
comissiva ou omissiva. Todos os crimes se baseiam, para ele, em um dever de garantia que o agente possui12.
O crime se define pela lesão da expectativa de observância das normas de comportamento. O autor
classifica os crimes, portanto, a partir do fundamento dessas expectativas. Se o crime deriva da criação ou
administração de um risco comum a todos, é chamado de delito em virtude de organização. Como cada um
tem uma esfera de liberdade, todos devem organizar o seu âmbito de atuação para que não provoque danos
aos outros, como ao dirigir o seu carro. Se o crime se origina de um dever especial que o indivíduo tem,
cuida-se de um crime em virtude de uma instituição. Há um dever de solidariedade em virtude da instituição
que o agente representa, como a instituição familiar e o papel de mãe e o dever de alimentar e proteger o
filho bebê13.
Como ponto central, há a ideia de que a função precípua do Direito Penal é a proteção da norma por si
mesma, e não a proteção dos bens jurídicos. Como um sistema, a função do Direito Penal é demonstrar que
sua norma continua vigorando, pois, após o comportamento que desrespeitou a norma, o bem jurídico já
foi violado. Há, portanto, uma mitigação da relevância do bem jurídico, que deixa de ter importância
nuclear e de ser critério norteador do poder punitivo e sua limitação. Para Jakobs, o bem jurídico é um
conceito vazio, que não serve para legitimar o Direito Penal. O crime representa um desvalor para a
sociedade, por ser um comportamento contrário à identidade normativa do grupo social. Cuida-se de uma
falta de fidelidade com o direito. Entretanto, o sistema penal não evita a ocorrência do crime. Sua função
será manter a confiança nas normas, de modo que a pena representa essa reafirmação da sua vigência.
Desse modo, o bem jurídico-penal seria a vigência efetiva da norma14.
Jakobs desenvolve o interessante raciocínio de que o Direito Penal não protege aquilo que se costuma
denominar de bem jurídico, como a vida e patrimônio. Esses são os motivos para a proteção da norma penal.
Ele conclui que a vigência da norma é, na verdade, o bem jurídico penal15. O que é tutelado pelo Direito
Penal é definido pela norma, de modo que o delito é uma agressão contra a estrutura normativa da
sociedade.
A pena, portanto, passa a ser vista como uma resposta à violação da norma. O relevante da conduta típica,
para essa concepção de Jakobs, não é tanto o resultado causal nocivo para a sociedade. O enfoque está na
contradição que o rompimento da norma representa. A pena, assim, é uma resposta ao rompimento da
norma, demonstrando que a sociedade pode continuar confiando na norma de comportamento, mesmo
que o agente a tenha violado16. Ele diz que “a vigência da norma pode ser defendida, isto é, preservada por
meio da pena; mas um bem afetado jamais será reparado por meio da pena”17.
12
RAMOS, Enrique Peñaranda et al. Um novo sistema do direito penal. Considerações sobre a teoria da imputação objetiva de
Günther Jakobs. Trad. André Luis Callegari e Nereu José Giacomolli. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2013, p. 87.
13
BOTTINI, Pierpaolo Cruz. Crimes de omissão imprópria. 1 ed. São Paulo: Marcial Pons, 2018, p. 100-102.
14
RAMOS, Enrique Peñaranda et al. Ob. Cit., p. 42.
15
JAKOBS, Günther. Ob. Cit., 2021, p. 14-15.
16
RAMOS, Enrique Peñaranda et al. Ob. Cit., p. 47.
17
JAKOBS, Günther. Ob. Cit., 2021, p. 64.
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Entretanto, há uma diferença com relação a Hegel. Enquanto Hegel tem uma visão retribucionista da pena
(teoria absoluta), Jakobs se volta mais a uma teoria de prevenção geral positiva, isto é, a pena se destina a
passar a mensagem à sociedade de que a lei continua vigente e de que vale a pena respeitá-la18.
A culpabilidade, assim, se fundamenta nessa ideia de prevenção geral da pena. A culpabilidade é medida
conforme a prevenção, que, por sua vez, se baseia na ideia de fidelidade ao Direito. A culpabilidade
seleciona, dentre as condições que frustraram a expectativa (de observância da lei), aquela que é
penalmente relevante. Supõe-se que o autor tinha condições de cumprir o que a norma exige, que ele
poderia evitar o resultado criminoso. A sua culpabilidade, portanto, se baseia no defeito da motivação do
autor. Não se mede a culpabilidade pelo que o autor “merece”, mas sim pela medida necessária para manter
a confiança da sociedade na norma19.
O Direito Penal, portanto, aplica suas sanções para manter a confiança em sua efetividade. A partir daí, é
possível diferenciar os indivíduos que reiteradamente descumprem a norma penal, desviando-se dela.
Devem ser vistos como inimigos e como tais combatidos, não sendo mais tratados como cidadãos. Daí a
denominação Direito Penal do Inimigo, com normas específicas para referida classe de indivíduos.
Só seria pessoa quem oferece uma “garantia cognitiva suficiente de um comportamento pessoal”20. Aos que
violam direitos humanos, é necessária a imposição da pena, não contra “pessoas culpáveis”, mas “contra
inimigos perigosos”. A isso se deve chamar, para Jakobs, Direito Penal do Inimigo21.
Os criminosos de alta periculosidade, devem ser tratados, deste modo, como inimigos do
Estado. Só se reserva a efetiva observância das garantias penais e, portanto, um Direito
Penal do Cidadão, aos indivíduos que praticam infrações penais com menor ofensividade,
aqueles que não possuem alta periculosidade. Como exemplos de criminosos de alta
periculosidade, podem ser citados os que praticam terrorismo, crimes econômicos,
delitos sexuais e os que integram organização criminosa, dentre outros. São considerados
pessoas que não possuem capacidade de obedecer à norma penal, de serem destinatários das regras legais
de convivência. Possuem déficit cognitivo quanto à compreensão da coerção que decorre das normas
penais, ou, de forma mais simples, não absorvem a ameaça de pena, como os cidadãos comuns fazem (o
que os impede de cometer crimes, ao menos em quase todas as oportunidades).
O Direito Penal do Inimigo se relaciona com a terceira velocidade do Direito Penal, nos termos da teoria do
Professor Jesús Maria Silva Sanchez22. A doutrina aponta como decorrência desta teoria um expansionismo
de referido ramo, tendente a um “Direito Penal máximo”.
Como críticas, há muitos autores que veem sua posição como autoritária e rechaçam a teoria da Jakobs, que
e que acaba destruindo as garantias e princípios do Direito Penal, já que basta ao Estado decidir que o
indivíduo é um inimigo e ele já poderia ser punido de forma mais livre, sem as barreiras técnico-jurídicas do
Direito Penal do Cidadão.
18
RAMOS, Enrique Peñaranda et al. Ob. Cit., p. 25-30.
19
RAMOS, Enrique Peñaranda et al. Ob. Cit., p. 59-61.
20
JAKOBS, Günther; CANCIO MELIÁ, Manuel. Organização e tradução de André Luís Callegari e Nereu José Giacomolli. 6ª ed.
Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2018, p. 43.
21
JAKOBS, Günther; CANCIO MELIÁ, Manuel. Ob. Cit., p. 46.
22
SANCHES, Jesús María Silva. La expansión del Derecho penal. 3ª ed. : Edisofer s.l, Madrid, 2011, p. 178-188.
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Cancio Meliá argumenta que o Direito Penal do Inimigo é um direito penal do autor, de modo que vulnera
o princípio do direito penal do fato. Seria uma consequência dessa teoria a eliminação entre preparação e
tentativa, por exemplo, no caso de organização terrorista23.
Mir Puig critica a posição de Jakobs, que para ele não justifica a pena, pois, se a questão é apenas reafirmar
a confiança nas normas e demonstrar que a expectativa social de sua observância persiste, bastaria uma
declaração a esse respeito, não sendo necessária a pena. Se a pena não tem finalidade de intimidação, não
se justificaria a imposição desse mal apenas para demonstrar a vigência da norma24.
23
JAKOBS, Günther; CANCIO MELIÁ, Manuel. Ob. Cit., p. 107-109.
24
RAMOS, Enrique Peñaranda et al. Ob. Cit., p. 15-21.
25
ROCHA, Ronan. A relação de causalidade no direito penal. Belo Horizonte: Editora D’Plácido, 2016, p. 76-77.
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A ação (conduta), para Roxin, é uma manifestação da personalidade. Só é ação para o Direito Penal aquilo
que se pode atribuir ao ser humano como centro anímico-espiritual de ação. Isso significa que não são
conduta para o Direito Penal o movimento decorrente de coação física irresistível, o movimento corporal
durante o sono, em um delírio ou um ataque convulsivo, ou mesmo uma reação por reflexo. Essas
manifestações não são dominadas pela vontade e consciência e, por isso, não são manifestações da
personalidade do agente. Também são excluídos do conceito os pensamentos e impulsos, pois, apesar de
pertencerem ao “centro anímico-espiritual” de ação, não são manifestações da personalidade26. As
manifestações da personalidade, as condutas, podem ser dolosas ou culposas, assim como podem ser
comissivas ou omissivas.
Quanto à abrangência do nexo causal, Roxin defende a adoção da teoria da
imputação objetiva que, de modo bastante sucinto, entende que só pode ser
considerada causa do crime a conduta que representa a produção de um risco
proibido ao bem jurídico tutelado. Deste modo, apenas quando o agente age ou se
omite e, com isso, coloca o bem jurídico protegido pela norma penal em perigo, de
modo que contrarie o ordenamento jurídico, pode-se falar em nexo causal.
Com fundamento nessas considerações, fica questionável a admissão dos crimes de perigo abstrato, ou seja,
aqueles cujo perigo apresentado ao bem jurídico é presumido, não necessitando de provas de sua
ocorrência para a configuração do delito.
Roxin entende que o finalismo teve como contribuição a compreensão do elemento subjetivo como parte
da conduta, e não da culpabilidade. Entretanto, de modo bastante crítico, parece reconhecer que a
contribuição de referida teoria termina aí, já que não resolveria os problemas do Direito Penal com base na
compreensão de que a ação humana é o exercício de atividade final.
Para o eminente jurista alemão, é necessário que se aceite que o Direito Penal seja permeado pela política
criminal, ou seja, que haja influência da realidade, com percepção efetiva da função preventiva da pena em
cada caso concreto, na dogmática de referido ramo do Direito. Teríamos como exemplo disso a possibilidade
de perdão judicial no caso de homicídio culposo, quando as consequências do delito para o agente são tão
gravosas que a pena se torna desnecessária para ele.
O funcionalismo teleológico compreende o crime a partir dos elementos consistentes no injusto e na
responsabilização penal, necessários para a imposição da pena.
O injusto seria a aglutinação das ideias de fato típico e da ilicitude. O injusto, ainda, deve ser analisado com
um critério de política criminal, consistente na imputação objetiva. Apesar de Roxin falar em injusto, ele
admite que o fato típico e a ilicitude possuem diferenças que implicam em seu estudo em separado.
A responsabilidade, por sua vez, envolveria a ideia de culpabilidade e o critério de política criminal
consistente na necessidade preventiva da punição. Para Roxin, a culpabilidade é condição necessária para a
imposição da pena, mas não condição suficiente. Além da culpabilidade, é necessário analisar se a pena é
necessária naquele caso, considerando a sua finalidade preventiva. Como faz Jakobs, Roxin também vincula
o seu conceito de culpabilidade à função da pena, apesar das divergências entre suas concepções.
A concepção de culpabilidade para Roxin é a realização do injusto apesar da idoneidade do agente para ser
destinatário de normas e da capacidade de autodeterminação que daí deve decorrer. Ele denomina sua
26
ROXIN, Claus. Derecho Penal. Parte General, Tomo I. Fundamentos. La estrutura de la teoria del delito. Traducción de la 2ª
edición alemana. Madrid: Thomson Reuters, 1997, p. 252.
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visão da teoria do delito de concepção de sistema normativo (campo do dever ser), que não seria
meramente ontológico (campo do ser), como o finalismo.
Em linhas gerais e de modo bastante resumido, este seria o denominado funcionalismo teleológico, que
pode ser visualizado, em linhas bem gerais, no seguinte esquema gráfico:
(VUNESP/TJ-RJ/Juiz de Direito/2016) Assinale a alternativa que indica a teoria do Direito Penal que está
intimamente ligada à seguinte ideia: “a estruturação do Direito Penal não deve se basear em uma realidade
ontológica, devendo ser mitigada a função do bem jurídico como pressuposto e critério norteador para a
intervenção penal".
a) Constitucionalista.
b) Clássica.
c) Finalista.
d) Funcionalista.
e) Garantista.
Comentários:
A alternativa D é o gabarito da questão. Como todas as teorias já foram abordadas no Curso, não as
abordaremos todas.
O enunciado se relaciona à mitigação da importância do bem jurídico, o que é feito por uma vertente do
funcionalismo, a sua concepção radical ou sistêmica. Entende-se que a função das normas penais é garantir
a sua própria validade, não devendo se nortear pela tutela dos bens jurídicos mais relevantes da sociedade.
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ABOLICIONISMO PENAL
Há autores, como Zaffaroni, que defendem que o sistema penal cumpre uma função substancialmente
simbólica para as minorias, para os setores marginalizados. Vale lembrar que, para o autor, o sistema penal
é o controle social punitivo institucionalizado, isto é, é a atividade punitiva exercida pelas instituições criadas
pela sociedade, abarcando a atividade do público, da Polícia, do Ministério Público, do Judiciário, do
Legislativo, dos servidores públicos em geral e da atividade de execução penal27.
O jurista argentino acredita que o sistema penal serve a uma estrutura de poder, por meio do controle social
dos setores excluídos do poder. A função social do sistema penal seria de sustentar a estrutura por meio da
violência, que se concretiza na criminalização seletiva dos marginalizados. Para ele, há uma influência de
todos os envolvidos nessa seleção das camadas mais marginalizadas pelo sistema penal, como o policial que
escolhe quais delitos investigar e quais indivíduos abordar e o juiz que exige mais provas quando se trata de
um delito cometido por alguém mais rico, por exemplo. Até a mídia e o público em geral exercem influência
no tipo de alvo preferencial do sistema penal.
Essa função social do direito penal seria simbólica. Essa função simbólica de sustentar o poder poderia ser
realizada, para uma proposta abolicionista, por meios menos violentos do que o penal. Surgem, então,
propostas radicais de abolir o sistema penal, substituindo por outro meio:
• Abolicionismo socialista: pensa-se em um modelo de sociedade em que a estrutura de poder é tão
repartida e igualitária que o sistema penal não seria exigido. Com a repartição do poder, os conflitos
se reduziriam naturalmente28.
Vale lembrar que, para Marx e Engels, o Direito é a vontade da classe dominante erigida em lei, com
conteúdo advindo de suas condições materiais. Eles adotam uma concepção do Direito como
superestrutura de dominação, em um viés materialista da história29. Marx apregoa o aniquilamento
do Estado e do Direito após a formação de uma sociedade comunista. Nas palavras do próprio autor
(In: Crítica do Programa de Gotha), o aniquilamento do Direito, conjuntamente com o do Estado,
ocorre quando “o trabalho não é apenas um meio de viver, mas ele próprio se transforma na primeira
necessidade vital”30.
• Abolicionismo verde ou ecológico: a proposta de Hulsman é de que se mantenha uma estrutura de
poder, democrática, mas que adote um grau de racionalidade para a solução dos conflitos. A sua
proposta, da ideologia verde ou ecológica, conclui que os conflitos permaneceriam, mas a sua
solução seria mais racional, substituindo-se o sistema penal31.
O próprio Zaffaroni, entretanto, apesar de ver um grau considerável de verdade nas teses, entende que elas
estão fora da história, por condicionamentos da vida real, em que o poder não é uma manifestação
27
ZAFFARONI, Eugênio Raúl. PIERANGELI, José Henrique. Manual de direito penal brasileiro. 13 ed. São Paulo: Thomson Reuters
Brasil, 2019, p. 68-75.
28
ZAFFARONI, Eugênio Raúl. PIERANGELI, José Henrique. Ob. Cit., p. 75.
29
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
30
PACHUNAKIS, E. B. Teoria Geral do Direito e Marxismo. Tradução Silvio Donizete Chagas. São Paulo: Editora Acadêmica, 1998.
31
ZAFFARONI, Eugênio Raúl. PIERANGELI, José Henrique. Ob. Cit., p. 75.
31
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meramente racional. O que se pode retirar das visões críticas é a necessidade de se limitar a violência do
sistema penal ao mínimo, com a consagração do princípio da intervenção mínima32.
32
ZAFFARONI, Eugênio Raúl. PIERANGELI, José Henrique. Ob. Cit., p. 76-77.
33
DOTTI, René Ariel. Curso de Direito Penal. Parte Geral. 7 ed. São Paulo: Thomson Reuteurs Brasil, 2020, p. 31.
34
DOTTI, René Ariel. Ob. Cit,, 2020, p. 32.
32
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1 - DETRAÇÃO
A detração consiste no cômputo, do total da pena definitiva imposta na condenação, do tempo de prisão
processual na pena a que foi condenado o indivíduo. Ou seja, do total da condenação, deve ser subtraído o
período que o acusado ficou preso provisoriamente ou internado em hospital de custódia e tratamento
psiquiátrico.
Detração advém do termo latino detractio, que tem o significado de retirada ou
supressão. Deste modo, a detração é a operação em que se subtrai, do tempo da
condenação imposta ao acusado, o período em que ficou preso ou internado
provisoriamente.
Está prevista no artigo 42 do Código Penal:
Detração
Art. 42 - Computam-se, na pena privativa de liberdade e na medida de segurança, o tempo de prisão
provisória, no Brasil ou no estrangeiro, o de prisão administrativa e o de internação em qualquer dos
estabelecimentos referidos no artigo anterior.
A doutrina majoritária entende que não cabe mais a chamada prisão administrativa no Brasil desde a
promulgação da Constituição de 1988, salvo nos restritos casos de Estado de Defesa, Estado de Sítio e prisão
determinada por autoridade administrativa militar, nos casos de transgressões militares e crimes militares.
Tal matéria pertence ao Direito Processual Penal, onde deve ser estudada de modo mais aprofundado,
sendo aqui mencionada apenas para compreensão da detração.
Portanto, o que mais interessa para a detração é a chamada prisão provisória, bem como o tempo de
internação em hospital de custódia e tratamento.
A detração determinada pelo artigo 42 do Código Penal dirige-se ao juiz da execução, que deve subtrair do
montante da condenação (ou das condenações), o tempo de prisão provisória, de internação em hospital
de custódia e tratamento, ou, excepcionalmente, o de prisão administrativa (em caso de Estado de Sítio,
Estado de Defesa ou de transgressão militar e crime militar).
✓ E se o condenado ficar preso durante determinado processo penal e, ao final, for absolvido. Ele
pode usar este tempo para subtrair da pena de um crime que cometeu posteriormente?
Não é possível. A doutrina majoritária e a jurisprudência rechaçam a chamada caderna de poupança de
pena. Deste modo, se o indivíduo foi preso provisoriamente durante determinado processo e restou
absolvido, não pode utilizar este período para detrair pena de um fato cometido posteriormente.
Caso contrário, caso alguém ficasse preso indevidamente por 5 anos, poderia cometer qualquer crime com
referido quantum de pena e ficar quite com o Estado. Representaria um saldo para cometer um crime, já
que possuiria um saldo de 5 anos de pena já cumprida. Isto não é aceitável, sendo que eventual prisão
indevida deve ser resolvida no juízo cível, com a reparação dos danos causados.
Neste sentido, o seguinte precedente do STJ:
“A jurisprudência deste Superior Tribunal admite a detração (art. 42 do CP) por custódia indevidamente
cumprida em outro processo, desde que o crime em virtude do qual o condenado executa a pena a ser
computada seja anterior ao período pleiteado. Busca-se, com isso, impedir uma espécie de crédito
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em desfavor do Estado, disponível para utilização no futuro.” (STJ, AgRg no HC 506413/SP, Rel. Min.
Rogério Schietti Cruz, Sexta Turma, DJe 30/09/2019).
O entendimento do Supremo Tribunal Federal é o mesmo, conforme o seguinte precedente:
“HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. DETRAÇÃO. PERÍODO ANTERIOR AO FATO DELITUOSO.
IMPOSSIBILIDADE. 1. É assente a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido de que o
condenado não faz jus à detração penal quando a conduta delituosa pela qual houve a condenação
tenha sido praticada posteriormente ao crime que acarretou a prisão cautelar. 2. Ordem denegada.”
(STF, HC 109599/RS, Rel. Min. Teori Zavascki, Segunda Turma, Julgamento em 26/02/2013).
Além disso, a Lei 12.736, de 2012, modificou o teor do artigo 387 do Código de Processo Penal para
possibilitar a detração já pelo juiz do conhecimento, aquele que profere a sentença condenatória:
Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória:
(...)
§ 2o O tempo de prisão provisória, de prisão administrativa ou de internação, no Brasil ou no
estrangeiro, será computado para fins de determinação do regime inicial de pena privativa de
liberdade.
A finalidade da alteração legislativa é que a detração já influencie a definição do regime inicial de
cumprimento de pena, pois, após a subtração do período de prisão provisória, a pena restante poderá se
adequar a um regime distinto daquele cabível para o montante total.
O Superior Tribunal de Justiça possui precedentes no sentido de que a análise da detração antes da
subtração da pena provisória da pena efetivamente imposta, em concreto, ao condenado não se confunde
com a progressão de regime. Deste modo, não se aplicariam os requisitos próprios da progressão de regime,
como o mérito do condenado ou a possibilidade de determinação, fundamentada com base em elementos
concretos, para a realização de exame criminológico. Neste sentido:
“(...) IV - Por fim, consigna-se que o art. 387, § 2º, do Código de Processo Penal versa sobre o regime
de cumprimento inicial de pena e não possui relação com o instituto da progressão de regime, próprio
da execução penal. (HC 421.761/SP, Quinta Turma, Rel. Ministro Ribeiro Dantas, DJe 12/03/2018).
Precedentes. (...)” (STJ, HC 464610/RN, Rel. Min. Felix Fischer, Quinta Turma, DJe 19/11/2018)
2 - REGIME ESPECIAL
O artigo 37 do Código Penal prevê o chamado regime especial de cumprimento de pena aplicável para as
mulheres:
Regime especial
Art. 37 - As mulheres cumprem pena em estabelecimento próprio, observando-se os deveres e direitos
inerentes à sua condição pessoal, bem como, no que couber, o disposto neste Capítulo.
A Lei de Execução Penal trata do assunto de forma mais detalhada, havendo diversas regras aplicáveis às
presas. Como exemplo, temos o artigo 77, § 2º:
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XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros meios
de informação que não comprometam a moral e os bons costumes.
XVI – atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da responsabilidade da autoridade
judiciária competente.
Parágrafo único. Os direitos previstos nos incisos V, X e XV poderão ser suspensos ou restringidos
mediante ato motivado do diretor do estabelecimento.
Art. 42 - Aplica-se ao preso provisório e ao submetido à medida de segurança, no que couber, o disposto
nesta Seção.
Art. 43 - É garantida a liberdade de contratar médico de confiança pessoal do internado ou do
submetido a tratamento ambulatorial, por seus familiares ou dependentes, a fim de orientar e
acompanhar o tratamento.
Parágrafo único. As divergências entre o médico oficial e o particular serão resolvidas pelo Juiz da
execução.
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b) à assistência à família;
c) a pequenas despesas pessoais;
d) ao ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a manutenção do condenado, em
proporção a ser fixada e sem prejuízo da destinação prevista nas letras anteriores.
§ 2º Ressalvadas outras aplicações legais, será depositada a parte restante para constituição do
pecúlio, em Caderneta de Poupança, que será entregue ao condenado quando posto em liberdade.
Art. 30. As tarefas executadas como prestação de serviço à comunidade não serão remuneradas.
SEÇÃO II
Do Trabalho Interno
Art. 31. O condenado à pena privativa de liberdade está obrigado ao trabalho na medida de suas
aptidões e capacidade.
Parágrafo único. Para o preso provisório, o trabalho não é obrigatório e só poderá ser executado no
interior do estabelecimento.
Art. 32. Na atribuição do trabalho deverão ser levadas em conta a habilitação, a condição pessoal e as
necessidades futuras do preso, bem como as oportunidades oferecidas pelo mercado.
§ 1º Deverá ser limitado, tanto quanto possível, o artesanato sem expressão econômica, salvo nas
regiões de turismo.
§ 2º Os maiores de 60 (sessenta) anos poderão solicitar ocupação adequada à sua idade.
§ 3º Os doentes ou deficientes físicos somente exercerão atividades apropriadas ao seu estado.
Art. 33. A jornada normal de trabalho não será inferior a 6 (seis) nem superior a 8 (oito) horas, com
descanso nos domingos e feriados.
Parágrafo único. Poderá ser atribuído horário especial de trabalho aos presos designados para os
serviços de conservação e manutenção do estabelecimento penal.
Art. 34. O trabalho poderá ser gerenciado por fundação, ou empresa pública, com autonomia
administrativa, e terá por objetivo a formação profissional do condenado.
§ 1o. Nessa hipótese, incumbirá à entidade gerenciadora promover e supervisionar a produção, com
critérios e métodos empresariais, encarregar-se de sua comercialização, bem como suportar despesas,
inclusive pagamento de remuneração adequada.
§ 2o Os governos federal, estadual e municipal poderão celebrar convênio com a iniciativa privada,
para implantação de oficinas de trabalho referentes a setores de apoio dos presídios.
Art. 35. Os órgãos da Administração Direta ou Indireta da União, Estados, Territórios, Distrito Federal
e dos Municípios adquirirão, com dispensa de concorrência pública, os bens ou produtos do trabalho
prisional, sempre que não for possível ou recomendável realizar-se a venda a particulares.
Parágrafo único. Todas as importâncias arrecadadas com as vendas reverterão em favor da fundação
ou empresa pública a que alude o artigo anterior ou, na sua falta, do estabelecimento penal.
SEÇÃO III
Do Trabalho Externo
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Art. 36. O trabalho externo será admissível para os presos em regime fechado somente em serviço ou
obras públicas realizadas por órgãos da Administração Direta ou Indireta, ou entidades privadas, desde
que tomadas as cautelas contra a fuga e em favor da disciplina.
§ 1º O limite máximo do número de presos será de 10% (dez por cento) do total de empregados na
obra.
§ 2º Caberá ao órgão da administração, à entidade ou à empresa empreiteira a remuneração desse
trabalho.
§ 3º A prestação de trabalho à entidade privada depende do consentimento expresso do preso.
Art. 37. A prestação de trabalho externo, a ser autorizada pela direção do estabelecimento, dependerá
de aptidão, disciplina e responsabilidade, além do cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena.
Parágrafo único. Revogar-se-á a autorização de trabalho externo ao preso que vier a praticar fato
definido como crime, for punido por falta grave, ou tiver comportamento contrário aos requisitos
estabelecidos neste artigo.
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QUESTÕES COMENTADAS
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A alternativa B está incorreta. A reabilitação será requerida ao juiz da condenação, conforme dispõe o art.
743 do Código de Processo Penal:
Art. 743. A reabilitação será requerida ao juiz da condenação, após o decurso de quatro ou oito anos,
pelo menos, conforme se trate de condenado ou reincidente, contados do dia em que houver terminado
a execução da pena principal ou da medida de segurança detentiva, devendo o requerente indicar as
comarcas em que haja residido durante aquele tempo.
A alternativa C está correta. É o que dispõe o inciso III do art. 94 do Código Penal:
Art. 94 - A reabilitação poderá ser requerida, decorridos 2 (dois) anos do dia em que for extinta, de
qualquer modo, a pena ou terminar sua execução, computando-se o período de prova da suspensão e
o do livramento condicional, se não sobrevier revogação, desde que o condenado:
III - tenha ressarcido o dano causado pelo crime ou demonstre a absoluta impossibilidade de o fazer,
até o dia do pedido, ou exiba documento que comprove a renúncia da vítima ou novação da dívida.
A alternativa D está correta. É o que prevê o parágrafo único do art. 94 do Código Penal:
Art. 94
Parágrafo único - Negada a reabilitação, poderá ser requerida, a qualquer tempo, desde que o pedido
seja instruído com novos elementos comprobatórios dos requisitos necessários.
A alternativa E está correta. Trata-se do teor do art. 95 do Código Penal:
Art. 95 - A reabilitação será revogada, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, se o
reabilitado for condenado, como reincidente, por decisão definitiva, a pena que não seja de multa.
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(...)
Parágrafo único - Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser motivadamente
declarados na sentença.
A alternativa C está correta. A obrigação de indenizar o dano causado pelo crime é efeito automático da
sentença penal condenatória e encontra fundamento legal no art. 91, inciso I do Código Penal:
Art. 91 - São efeitos da condenação:
I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime;
A alternativa D está incorreta, haja vista que o perdão tácito é admitido pelo Código Penal.
A alternativa E está incorreta. Com o perdão judicial, não subsiste quaisquer efeitos da condenação,
conforme teor da Súmula 18 do STJ:
Súmula 18 do STJ
A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da punibilidade, não subsistindo
qualquer efeito condenatório.
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O efeito específico da incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela impõe decisão
devidamente motivada pelo juiz, para incidir em relação ao condenado. A decretação da incapacidade em
relação à vítima do crime é perpétua. Após a reabilitação por cumprimento de sentença ou extinção da
pena, o sujeito pode tornar a exercer o poder familiar, tutela ou curatela em relação aos outros filhos,
tutelados ou curatelados, conforme prevê o art. 93, parágrafo único.
Entretanto, vale frisar que a doutrina diverge sobre a possibilidade de a perda de poder familiar envolver
apenas o filho que foi vítima do crime ou também os demais filhos. O tema é polêmico e, portanto, com
respeito à banca, não deveria ser cobrado em questão de múltipla escolha.
Portanto, a alternativa B está correta.
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Com referência a essa situação hipotética, assinale a opção correta de acordo com a jurisprudência do
STJ.
a) Estando ausente qualquer relação da ação com o exercício do cargo público, a exoneração do
serviço público como efeito da condenação extrapolaria as funções repressivas e preventivas da
sanção penal.
b) Na hipótese descrita e em casos semelhantes, sendo a pena privativa de liberdade inferior a quatro
anos, a condenação por si só nunca implica a perda do cargo público.
c) O policial militar não praticou crime funcional típico porquanto o delito previsto no art. 157 do CP
— Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência à pessoa
— é comum e, por isso, o réu em questão não poderia ser afastado do cargo.
d) O agente não responderia por crime doloso porque estava em estado de embriaguez, sendo incapaz
de entender o caráter criminoso de suas ações.
e) O policial militar, mesmo fora do exercício da função, violou dever inerente a ela, porque está
vinculado à administração pública no exercício das atividades cotidianas, sendo cabível a perda do
cargo como efeito da condenação.
Comentários:
A alternativa A está incorreta. A perda do cargo ou função constitui efeito extrapenal específico previsto
em lei.
A alternativa B está incorreta. As condenações com pena igual ou superior a um ano, não substituídas por
pena restritiva de direitos, em razão da prática de crime com abuso de poder ou violação de dever para com
a Administração, implicam na perda do cargo ou função pública, conforme prevê o art. 92, inciso I do Código
Penal.
A alternativa C está incorreta. O policial praticou crime comum, porém, agiu em nítida violação a dever para
com a Administração.
A alternativa D está incorreta. Neste caso, adota-se a teoria da actio libera in causa, analisando a vontade
e a consciência o agente no momento da ingestão da bebida. Como o agente é culpável, aplica-se a pena e
os efeitos da pena, na forma legal.
A alternativa E está correta. Este é o entendimento firmado pelo Superior Tribunal de Justiça, conforme o
seguinte acórdão:
RECURSO ESPECIAL. PENAL. TRÁFICO DE DROGAS. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO
COMPROVADA. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. PERDA DO CARGO DE POLICIAL MILITAR. ART. 92,
INCISO I, ALÍNEA A, DO CÓDIGO PENAL. POSSIBILIDADE. EFEITO DA CONDENAÇÃO. FUNDAMENTAÇÃO
IDÔNEA. AGRAVANTE PREVISTA NO ART. 61, INCISO II, ALÍNEA G, DO CÓDIGO PENAL. VIOLAÇÃO DE
DEVER INERENTE AO CARGO. LEGALIDADE.
(...)
4. A decretação de perda do cargo público, sendo a pena privativa de liberdade inferior a quatro anos,
só ocorre na hipótese em que o crime tenha sido cometido com abuso de poder ou com a violação de
dever para com a Administração Pública.
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5. Hipótese em que o crime, embora não tenha sido praticado com abuso de poder – porque não
estava o policial de serviço, nem se valeu do cargo –, foi perpetrado com evidente violação de dever
para com a Administração Pública.
6. O Magistrado sentenciante, com propriedade, declinou fundamentação idônea e adequada,
justificado sua decisão de afastar dos quadros da polícia pessoa envolvida em delito da natureza do
tráfico ilícito de entorpecentes, por ferir dever inerente à função de policial militar, pago pelo Estado
justamente para combater o crime.
7. Incide a agravante do art. 61, inciso II, alínea g, do Código Penal, quando se demonstra que o agente,
com a conduta criminosa, viola dever inerente a cargo, ofício, ministério ou profissão.
8. Recurso parcialmente conhecido e, nessa parte, desprovido.
(REsp 665.472/MS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 04/12/2009, DJe
08/02/2010)
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A alternativa C está incorreta. O Superior Tribunal de Justiça adota a corrente segundo a qual o limite de
duração das medidas de segurança deve ser o limite máximo da pena abstratamente cominada ao delito
praticado, conforme a Súmula 527:
O tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar o limite máximo da pena
abstratamente cominada ao delito praticado.
A alternativa D está incorreta. Como visto na última aula, conforme art. 7º da Lei de Contravenções Penais,
quando o agente que pratica contravenção penal, sendo condenado com trânsito em julgado, e depois
pratica crime não é considerado reincidente.
A alternativa E está incorreta. O instrumento do crime que trata o inciso II do art. 91 do Código Penal é o
objeto utilizado para sua prática. Haverá a sua perda, em favor da União, no caso de se tratar de coisa cuja
fabricação, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito. No caso retratado, o agente não pode
perder veículo em favor da União, uma vez que há perda de instrumento somente dos instrumentos e dos
produtos do crime.
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(...)
II - a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, nos crimes dolosos, sujeitos à
pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou curatelado;
Portanto, a alternativa A está correta.
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II. O servidor público tem o dever de exercer seu cargo ou função dentro dos limites da lei, agindo de
forma proba. Por essa razão, conforme dispõem o artigo 37, § 4º, da Constituição Federal e o artigo
92 do Código Penal, nos crimes contra a administração pública ou praticados com abuso de poder, a
perda do cargo, da função pública ou do mandato eletivo será automática, salvo se a pena aplicada
for inferior a um ano.
III. Em se tratando de réu estrangeiro não residente no país, poderá o juiz determinar, como efeito
secundário da sentença penal condenatória, sua expulsão, que deverá dar-se após o cumprimento da
pena no Brasil, nos termos do Estatuto do Estrangeiro (Lei nº 6.815/80, arts. 65 a 68).
IV. Atendidos os requisitos objetivos e subjetivos previstos no art. 44 do Código Penal, a substituição
da pena privativa de liberdade pela restritiva de direito consubstancia direito subjetivo do réu. Assim,
deverá o juiz explicitar fundamentadamente as penas restritivas de direito aplicadas em substituição
à pena privativa de liberdade, devendo optar entre prestação pecuniária, perda de bens e valores,
prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas, interdição temporária de direitos e
limitação de fim de semana.
a) Estão corretas apenas as assertivas I e II.
b) Estão corretas apenas as assertivas I e IV.
c) Estão corretas apenas as assertivas II e III.
d) Estão corretas apenas as assertivas III e IV.
e) Estão corretas todas as assertivas.
Comentários
O item I está correto. A alternativa descreve o efeito da perda de bens em favor da União, previsto no art.
91 do Código Penal, abaixo transcrito parcialmente:
Art. 91 - São efeitos da condenação:
II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé:
b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com
a prática do fato criminoso.
§ 1º Poderá ser decretada a perda de bens ou valores equivalentes ao produto ou proveito do crime
quando estes não forem encontrados ou quando se localizarem no exterior.
O item II está incorreto. Conforme o artigo 92 do Código Penal, nos crimes contra a administração pública
ou praticados com abuso de poder, a perda do cargo, da função pública ou do mandato eletivo deverá ser
fundamentada pelo juiz, sendo a pena aplicada pena igual ou superior a um ano, ou superior a 4 (quatro)
anos.
O item III está incorreto. Este item está desatualizado. Antes de 2017, apenas poderia decidir sobre expulsão
seria o Presidente da República, porém com a instituição da Lei de Migração, a expulsão passou a ser
regulada pelos artigos 54 e 55 da Lei 13.445/2017:
Art. 54. A expulsão consiste em medida administrativa de retirada compulsória de migrante ou
visitante do território nacional, conjugada com o impedimento de reingresso por prazo determinado.
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§ 1o Poderá dar causa à expulsão a condenação com sentença transitada em julgado relativa à prática
de:
I - crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão, nos termos
definidos pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998, promulgado pelo Decreto
no 4.388, de 25 de setembro de 2002; ou
II - crime comum doloso passível de pena privativa de liberdade, consideradas a gravidade e as
possibilidades de ressocialização em território nacional.
§ 2o Caberá à autoridade competente resolver sobre a expulsão, a duração do impedimento de
reingresso e a suspensão ou a revogação dos efeitos da expulsão, observado o disposto nesta Lei.
§ 3o O processamento da expulsão em caso de crime comum não prejudicará a progressão de regime,
o cumprimento da pena, a suspensão condicional do processo, a comutação da pena ou a concessão
de pena alternativa, de indulto coletivo ou individual, de anistia ou de quaisquer benefícios concedidos
em igualdade de condições ao nacional brasileiro.
§ 4o O prazo de vigência da medida de impedimento vinculada aos efeitos da expulsão será
proporcional ao prazo total da pena aplicada e nunca será superior ao dobro de seu tempo.
Art. 55. Não se procederáà expulsão quando:
I - a medida configurar extradição inadmitida pela legislação brasileira;
II - o expulsando:
a) tiver filho brasileiro que esteja sob sua guarda ou dependência econômica ou socioafetiva ou tiver
pessoa brasileira sob sua tutela;
b) tiver cônjuge ou companheiro residente no Brasil, sem discriminação alguma, reconhecido judicial
ou legalmente;
c) tiver ingressado no Brasil até os 12 (doze) anos de idade, residindo desde então no País;
d) for pessoa com mais de 70 (setenta) anos que resida no País há mais de 10 (dez) anos, considerados
a gravidade e o fundamento da expulsão; ou
e) (VETADO).
O item IV está correto. Trata-se entendimento consolidado pelo Superior Tribunal de Justiça, a se notar por
este acórdão:
PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. SUBSTITUIÇÃO DA PENA. DIREITO SUBJETIVO DO PACIENTE.
OBRIGATORIEDADE DE MANIFESTAÇÃO DO JULGADOR. NULIDADE ESPECIFICAMENTE DA
DOSIMETRIA. CONDENAÇÃO MANTIDA.
1. Preenchidos os requisitos do artigo 44 do Código Penal, a pena privativa de liberdade deve ser
substituída por restritiva de direitos, pois tal constitui- se em direito subjetivo do paciente.
2. A fixação da pena restritiva de direitos passa pela análise dos elementos objetivos e subjetivos.
3. Se o julgador simplesmente não se manifesta sobre a possibilidade de substituição, é nulo o decisum.
4. Ordem concedida para, mantida a condenação, anular o acórdão e a sentença, devendo o Juiz de
primeiro grau apreciar a possibilidade de substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de
direitos.
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(HC 58.970/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em
08/03/2007, DJ 26/03/2007, p. 289)
Logo, a alternativa B está correta.
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III. No que se refere às medidas de segurança, uma vez extinta a punibilidade, não se impõe a referida
medida, nem subsiste a que tenha sido imposta.
IV. A prescrição da pena de multa ocorrerá em 2 (dois) anos, quando a multa for alternativa ou
cumulativamente cominada ou cumulativamente aplicada; e no mesmo prazo estabelecido para
prescrição da pena privativa de liberdade, quando a multa for a única cominada ou aplicada.
Assinale a alternativa CORRETA.
a) Somente as assertivas I e II são verdadeiras.
b) Somente as assertivas III e IV são verdadeiras.
c) Somente as assertivas I, II e III são verdadeiras.
d) Somente as assertivas I, II e IV são verdadeiras.
Comentários
O item I está correto. É o que dispõe o art. 83, parágrafo único do Código Penal:
Art. 83
Parágrafo único - Para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave ameaça à
pessoa, a concessão do livramento ficará também subordinada à constatação de condições pessoais
que façam presumir que o liberado não voltará a delinquir.
O item II está correto. É o que dispõe o art. 91, §1º do Código Penal:
Art. 91
§ 1º Poderá ser decretada a perda de bens ou valores equivalentes ao produto ou proveito do crime
quando estes não forem encontrados ou quando se localizarem no exterior.
O item III está correto. É o que dispõe o art. 96, parágrafo único do Código Penal:
Art. 96
Parágrafo único - Extinta a punibilidade, não se impõe medida de segurança nem subsiste a que tenha
sido imposta.
O item IV está incorreto. O art. 114, incisos I e II prevê que a prescrição da pena de multa ocorrerá em 2
(dois) anos, quando for a única cominada; e no mesmo prazo estabelecido para prescrição da pena privativa
de liberdade, quando a multa for alternativa ou cumulativamente cominada ou cumulativamente aplicada.
Vejamos:
Art. 114 - A prescrição da pena de multa ocorrerá:
I - em 2 (dois) anos, quando a multa for a única cominada ou aplicada;
II - no mesmo prazo estabelecido para prescrição da pena privativa de liberdade, quando a multa for
alternativa ou cumulativamente cominada ou cumulativamente aplicada
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do âmbito criminal. Os genéricos são os efeitos penais de incidência automática, que são cabíveis, em
princípio, a todos os crimes. É o caso, por exemplo, de se tornar certa a obrigação de reparar o dano. Os
efeitos extrapenais específicos, por sua vez, são efeitos que devem ser impostos de forma fundamentada
na sentença condenatória, cabíveis para determinados casos.
Deste modo, o texto corretamente preenchido ficaria assim:
O principal efeito da sentença criminal condenatória é a sanção penal.
A legislação penal brasileira, porém, prevê também efeitos secundários da condenação, tanto de
natureza penal quanto extrapenal. Os efeitos secundários de natureza extrapenal se dividem em
genéricos e específicos.
Reincidência é exemplo de efeito secundário penal da decisão criminal condenatória transitada em
julgado.
Portanto, a alternativa C está correta.
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Nos crimes contra a administração pública, caso o servidor seja condenado a pena superior a um ano
de prisão, por delito praticado com abuso de poder ou violação do dever para com a administração
pública, poderá ser suspenso o efeito extrapenal específico da perda de cargo, função pública ou
mandato eletivo, disposto no CP, no caso em que tenha havido substituição da pena privativa de
liberdade por pena restritiva de direito.
o Certo
o Errado
Comentários:
Relembrando, para a imposição da perda de cargo, função pública ou mandato eletivo, deve haver adequada
fundamentação pelo juiz, ainda que os requisitos sejam de ordem objetiva. É o entendimento do Superior
Tribunal de Justiça:
"(...) A imposição da pena de perda do cargo, emprego ou função pública deve ser adequadamente
fundamentada, sendo uma consequência administrativa da condenação imposta, exigindo-se, para
tanto, apenas o preenchimento de requisitos objetivos para sua aplicação, quais sejam: pena
privativa de liberdade igual ou superior a 1 (um) ano, nos casos de crimes praticados com abuso de
poder ou violação de dever para com a administração pública ou pena privativa de liberdade igual
ou superior a 4 (quatro) anos, nos demais crimes, tendo sido tais parâmetros observados na hipótese
vertente" (HC 350.661/MG, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 21/2/2017, DJe
14/3/2017) (...)” (STJ, HC 393748/RS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Quinta Turma, DJe 30/08/2017).
O STJ tem admitido que a pena restritiva de direitos, multa ou privativa de liberdade inferior a um ano,
nestes casos, não impede a perda do cargo público. Vejamos:
PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. CABIMENTO. ACÓRDÃO CONDENATÓRIO. PRIVAÇÃO
DA LIBERDADE SUBSTITUÍDA POR RESTRIÇÃO DE DIREITOS. RECURSOS ESPECIAL E EXTRAORDINÁRIO.
EXECUÇÃO DAS PENAS SUBSTITUTIVAS. INCIDÊNCIA DE EFEITOS EXTRA-PENAIS DA CONDENAÇÃO:
PERDA DO CARGO E SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS. TRÂNSITO EM JULGADO DA DECISÃO
CONDENATÓRIA.
- Cabimento do habeas corpus para sanar constrangimento decorrente de execução antecipada de
penas restritivas de direitos, cuja potencialidade lesiva ao direito de locomoção está representada pela
sua conversibilidade em pena privativa de liberdade (precedente do STF).
- A sujeição do condenado à pena como decorrência da condenação definitiva é "regra" e não
"exceção".
- Antes do trânsito em julgado da condenação, as penas substitutivas são inexeqüíveis (precedente
deste STJ).
- Os efeitos extra-penais da condenação não incidem antes do seu trânsito em julgado (precedente
deste STJ).
- A incidência do efeito extrapenal específico disposto no artigo 92, I, a, do CP, nada tem a ver com
a efetiva execução de pena privativa de liberdade, mas com sua "aplicação" por tempo igual ou
superior a um ano, nos crimes ali definidos, subsistindo, assim, a perda do cargo, ainda que tenha
havido substituição da pena corporal.
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- O § 2º, do artigo 27, da Lei 8.038/90, não tem aplicação face ao disposto no artigo 15, inciso III, da
Constituição da República.
- Ordem parcialmente concedida, apenas para suspender a execução das penas restritivas de direitos
e a incidência dos efeitos da condenação até o trânsito em julgado do acórdão condenatório.
(HC 35.427/MG, Rel. Ministro PAULO MEDINA, SEXTA TURMA, julgado em 18/10/2005, DJ 20/11/2006,
p. 363)
Portanto, a assertiva está incorreta.
Q24. VUNESP/CETESB/Advogado/2013
Dentre os efeitos da condenação previstos e disciplinados no Código Penal, encontra-se a seguinte
hipótese:
a) perda em favor do Município, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé, dos
instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção
constitua fato ilícito.
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b) perda de cargo, função pública ou mandato eletivo quando aplicada pena privativa de liberdade por
tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever
para com a Administração Pública.
c) inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso, de
forma automática, sem necessidade de motivação expressa na sentença.
d) tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime, processando-se o cumprimento
da sentença no próprio processo penal, após o trânsito em julgado.
e) perda em favor do Estado, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé, do produto do
crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato
criminoso.
Comentários:
A alternativa A está incorreta. A perda dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo
fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito ocorre em favor da União.
A alternativa B está correta. A perda de cargo, função pública ou mandato eletivo quando aplicada pena
privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano está regulada no art. 92, inciso I, alínea a do
Código Penal:
Art. 92 - São também efeitos da condenação:
I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes
praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública;
A alternativa C está incorreta. Para a aplicação do efeito de inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado
como meio para a prática de crime doloso, exige-se motivação expressa na sentença.
A alternativa D está incorreta. A sentença penal condenatória torna certa a obrigação de indenizar
(andebeatur), devendo haver liquidação, no juízo cível, para se apurar o valor (quantum debeatur).
A alternativa E está incorreta. A perda do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua
proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso ocorre em favor da União.
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e) inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso, se
declarado na sentença.
Comentários
A alternativa A está incorreta. Com a condenação penal do indivíduo já torna certa sua obrigação de reparar
o dano, ou seja, já torna o condenado obrigado a indenizar os danos que causou com sua conduta delituosa.
A alternativa B está incorreta. No inciso II do art. 91 do Código Penal está prevista uma ressalva a aplicação
do efeito da condenação no que se refere aos direitos do lesado ou de terceiro de boa-fé:
Art. 91 - São efeitos da condenação:
II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé:
A alternativa C está incorreta. A perda de cargo não é automática, haja vista que há a exigência legal de
haver uma sentença motivada neste sentido. É o que dispõe o art. 92 do Código Penal:
Art. 92
Parágrafo único - Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser motivadamente
declarados na sentença.
A alternativa D está incorreta. A incapacidade para o exercício do poder familiar, da tutela ou da curatela é
cabível quando houver a condenação por crimes dolosos, sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra o
filho, o tutelado ou o curatelado. Vejamos o que previa o Código antes da modificação feita pela Lei
13.718/2018 (verificar comentários no tópico “Efeitos da Condenação”):
Art. 92 - São também efeitos da condenação:
II - a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, nos crimes dolosos, sujeitos à
pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou curatelado;
A alternativa E está correta. A inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática
de crime doloso, trata-se de efeito da condenação e sua imposição exige sentença motivada pelo juiz.
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c) O efeito de perda do Estado de bens e valores de origem ilícita abrange bens diversos, móveis ou
imóveis obtidos em proveito do delito;
d) A inabilitação para dirigir não se confunde com a suspensão de autorização ou de habilitação para
dirigir veículo. A primeira, considerado pelo estatuto repressivo efeito da condenação, dependente de
declaração judicial motivada, aplicável quando é utilizado algum veículo como meio para a prática de
crime doloso. A inabilitação tem efeito permanente, vigorando até que o condenado se reabilite. A
segunda, enquanto interdição temporária de direitos, é aplicada em casos de crimes culposos de
trânsito.
Comentários:
A alternativa A está incorreta. O efeito específico da condenação referente a incapacidade para o poder
familiar impõe decisão motivada, na sentença, pelo juiz.
A alternativa B está correta. A perda de cargo, função pública ou mandato eletivo ocorre no caso de o agente
ter sido condenado e lhe for aplicada as penas previstas nas alíneas do artigo 92 do Código Penal:
Art. 92 - São também efeitos da condenação:
I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes
praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública;
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais
casos.
A alternativa C está incorreta. O efeito de perda de bens e valores de origem ilícita abrange bens diversos,
obtidos como produto do crime. O proveito do crime, por sua vez, é a vantagem que decorre do produto do
crime. Entretanto, não se trata de perda do Estado nem para o Estado, mas sim de perda em benefício da
União.
A alternativa D está incorreta. De acordo com o art. 93, parágrafo único do Código Penal, a inabilitação para
dirigir é efeito específico da condenação quando o veículo é utilizado como instrumento de crime doloso,
não sendo de efeito permanente, pois, uma vez reabilitado, o condenado poderá obter nova carteira de
habilitação. Vejamos:
Art. 93 - A reabilitação alcança quaisquer penas aplicadas em sentença definitiva, assegurando ao
condenado o sigilo dos registros sobre o seu processo e condenação.
Parágrafo único - A reabilitação poderá, também, atingir os efeitos da condenação, previstos no art.
92 deste Código, vedada reintegração na situação anterior, nos casos dos incisos I e II do mesmo artigo.
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o Errado
Comentários:
Como visto em aula, a sentença penal condenatória torna certa a obrigação de indenizar (andebeatur),
devendo haver liquidação, no juízo cível, para se apurar o valor (quantum debeatur). Deste modo, a
condenação penal do indivíduo já torna certa sua obrigação de reparar o dano, ou seja, já torna o condenado
obrigado a indenizar os danos que causou com sua conduta delituosa. O que restará ao juízo cível será a
estipulação do valor devido, com a produção de provas e o direito ao contraditório.
Logo, a assertiva está correta.
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Devemos lembrar que, no caso do tráfico, há regras específicas sobre o uso do bem, tratadas na Lei
11.343/06, não se utilizando o Código Penal no caso.
Logo, a alternativa A foi considerada correta, mas a questão está desatualizada. Ela foi utilizada em virtude
de haver poucas questões sobre os temas da aula de hoje.
Q30. FCC/TCE-AL/Procurador/2008
A perda de função pública constitui efeito da condenação quando aplicada pena privativa de liberdade
igual ou superior a
a) quatro anos, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a
Administração Pública, independentemente de motivação na sentença.
b) quatro anos, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a
Administração Pública, desde que a sentença apresente a necessária motivação.
c) um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração
Pública, desde que a sentença apresente a necessária motivação.
d) um ano, para qualquer crime, desde que a sentença apresente a necessária motivação.
e) um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração
Pública, independentemente de motivação na sentença.
Comentários:
A alternativa C está correta. Trata-se de efeito específico da condenação que se volta a determinadas
infrações penais, devendo haver a imposição motivada, na sentença, pelo juiz, para incidir em relação ao
condenado. Está prevista no inciso I do artigo 92 do Código Penal:
Art. 92 - São também efeitos da condenação
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II – a incapacidade para o exercício do poder familiar, da tutela ou da curatela nos crimes dolosos
sujeitos à pena de reclusão cometidos contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar,
contra filho, filha ou outro descendente ou contra tutelado ou curatelado;
A alternativa C está correta. A reabilitação é um instituto de Direito Penal, de natureza declaratória, que
concede o sigilo dos registros sobre o seu processo e condenação. Também pode neutralizar os efeitos
extrapenais específicos da condenação. Possui o escopo de, atendidos determinados requisitos, permitir
que o acusado obtenha a reinserção social, sem que fique para sempre tachado pela condenação passada.
A reabilitação é tratada nos artigos 93 a 95 do Código Penal, sendo que o primeiro deles possui o seguinte
teor:
Reabilitação
Art. 93 - A reabilitação alcança quaisquer penas aplicadas em sentença definitiva, assegurando ao
condenado o sigilo dos registros sobre o seu processo e condenação.
Parágrafo único - A reabilitação poderá, também, atingir os efeitos da condenação, previstos no art.
92 deste Código, vedada reintegração na situação anterior, nos casos dos incisos I e II do mesmo artigo.
A alternativa D está incorreta. Negada a reabilitação, esta poderá ser requerida novamente a qualquer
tempo, como prevê o parágrafo único do art. 94 do Código Penal:
Art. 94 - A reabilitação poderá ser requerida, decorridos 2 (dois) anos do dia em que for extinta, de
qualquer modo, a pena ou terminar sua execução, computando-se o período de prova da suspensão e
o do livramento condicional, se não sobrevier revogação, desde que o condenado:
Parágrafo único - Negada a reabilitação, poderá ser requerida, a qualquer tempo, desde que o pedido
seja instruído com novos elementos comprobatórios dos requisitos necessários.
A alternativa E está incorreta. Há a possibilidade de revogação da reabilitação, de ofício pelo juiz ou a
requerimento do Ministério Público, caso o reabilitado seja novamente condenado, com trânsito em
julgado, como reincidente, a pena que não seja de multa. Portanto, não cabe revogação se a nova
condenação lhe impuser apenas a pena de multa. É o que prevê o artigo 95 do Código Penal:
Art. 95 - A reabilitação será revogada, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, se o
reabilitado for condenado, como reincidente, por decisão definitiva, a pena que não seja de multa.
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d) Sendo o reabilitado condenado exclusivamente a pena de multa, a reabilitação não será revogada.
Comentários:
A alternativa A está incorreta. De acordo com o parágrafo único do art. 93 do Código Penal, a reabilitação
alcança as penas aplicadas em sentença definitiva, como também atinge os efeitos específicos da
condenação, porém, não impede a configuração da reincidência. Vejamos o dispositivo mencionado:
Reabilitação
Art. 93 - A reabilitação alcança quaisquer penas aplicadas em sentença definitiva, assegurando ao
condenado o sigilo dos registros sobre o seu processo e condenação.
Parágrafo único - A reabilitação poderá, também, atingir os efeitos da condenação, previstos no art.
92 deste Código, vedada reintegração na situação anterior, nos casos dos incisos I e II do mesmo artigo.
A alternativa B está incorreta. Relembrando, os requisitos da reabilitação são os seguintes:
✓ decurso do prazo de dois danos desde a extinção ou o cumprimento da pena. Neste período, serão
computados o de livramento condicional e de suspensão condicional da pena, desde que não haja a
revogação deles;
✓ domicílio no país no prazo acima mencionado. Há doutrinadores, como Guilherme Nucci, que
entendem que este requisito é inconstitucional, por limitar o direito de ir e vir de quem já cumpriu a
sanção penal pela qual foi condenado;
✓ demonstração efetiva e constante, também no período acima definido, de bom comportamento
público e privado;
✓ ressarcimento do dano ou demonstração de absoluta impossibilidade de fazê-lo, comprovada à
época do requerimento. Pode haver, ainda, prova da renúncia da vítima ou de novação da dívida.
A alternativa C está incorreta. A prescrição da pretensão punitiva impede que se defira um pedido de
reabilitação, haja vista que neste caso não há condenação e como o objetivo da reabilitação é afastar os
registros sobre o processo e condenação, verifica-se se tratar de hipótese impossível.
A alternativa D está correta. Não cabe revogação se a nova condenação lhe impuser apenas a pena de multa.
É o que prevê o artigo 95 do Código Penal:
Art. 95 - A reabilitação será revogada, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, se o
reabilitado for condenado, como reincidente, por decisão definitiva, a pena que não seja de multa.
Q33. CESPE/DPE-DF/Procurador/2006
Acerca da ação penal nos crimes contra os costumes, julgue os itens a seguir.
Embora dependam de motivação na sentença, os efeitos específicos da condenação são automáticos
nas hipóteses previstas no Código Penal.
o Certo
o Errado
Comentários:
Os efeitos extrapenais específicos são efeitos que devem ser impostos de forma fundamentada na sentença
condenatória, cabíveis para determinados casos. Portanto, a assertiva está errada.
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Q35. CESPE/CAIXA/Advogado/2006
Considerando o posicionamento doutrinário e jurisprudencial dominante, julgue os itens
subsequentes, relativos à parte geral do Código Penal.
A reabilitação atinge todos os efeitos da condenação, alcançando, inclusive, os casos de perda de cargo
ou função pública, o que significa que o condenado que perdeu o cargo ou a função pode, se
reintegrado, ser reconduzido ao exercício do mesmo cargo, com reparação de vantagens e de
vencimentos, entre outros.
o Certo
o Errado
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Comentários:
A reabilitação é um instituto de Direito Penal, de natureza declaratória, que concede o sigilo dos registros
sobre o seu processo e condenação. Também pode neutralizar os efeitos extrapenais específicos da
condenação. Possui o escopo de, atendidos determinados requisitos, permitir que o acusado obtenha a
reinserção social, sem que fique para sempre tachado pela condenação passada.
A reabilitação é tratada nos artigos 93 a 95 do Código Penal, sendo que o primeiro deles possui o seguinte
teor:
Reabilitação
Art. 93 - A reabilitação alcança quaisquer penas aplicadas em sentença definitiva, assegurando ao
condenado o sigilo dos registros sobre o seu processo e condenação.
Parágrafo único - A reabilitação poderá, também, atingir os efeitos da condenação, previstos no art.
92 deste Código, vedada reintegração na situação anterior, nos casos dos incisos I e II do mesmo artigo.
Portanto, a reabilitação alcança todas as penas impostas em condenação transitada em julgada, mas veda a
reintegração na situação anterior no caso da perda de cargo, função pública ou mandato eletivo e da
incapacidade para o exercício do pátrio poder (poder familiar), tutela ou curatela, nos crimes dolosos,
sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou curatelado.
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A alternativa B está incorreta. A condenação produz efeitos penais e extrapenais, podendo-se enquadrar
entre aqueles (entre os efeitos penais) o de impedir ou invalidar o sursis, o de revogar o livramento
condicional ou a reabilitação, o de lançar o nome do réu no rol dos culpados, o de propiciar reincidências
etc;
A alternativa C está incorreta. O efeito da condenação de perda, em favor da União, de bens e valores, não
necessariamente de origem ilícita, consiste em efeito extrapenal.
A alternativa D está correta. Os efeitos específicos da condenação se voltam a determinadas infrações
penais, devendo haver a imposição motivada, na sentença, pelo juiz, para incidirem em relação ao
condenado. Estão previstos no artigo 92 do Código Penal:
Art. 92 - São também efeitos da condenação:
I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes
praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública;
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais
casos.
II – a incapacidade para o exercício do poder familiar, da tutela ou da curatela nos crimes dolosos
sujeitos à pena de reclusão cometidos contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar,
contra filho, filha ou outro descendente ou contra tutelado ou curatelado; III - a inabilitação para
dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso.
Parágrafo único - Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser motivadamente
declarados na sentença.
Comentários
Sobre o efeito da condenação consistente na perda do poder familiar (ou na antiga e ultrapassada linguagem
do CP, pátrio poder), vejamos o que diz o Código Penal:
Art. 92 – São também efeitos da condenação:
(…)
II – a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, nos crimes dolosos, sujeitos à
pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou curatelado; (…).
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Cabe, então, analisar se o crime cometido pela mãe é doloso. Neste ponto, verificamos que o enunciado se
refere a uma ação intencional. O crime também foi cometido contra o filho, sendo que este requisito
também está preenchido. Resta analisar se o crime é punido com reclusão:
Lesão corporal
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena – detenção, de três meses a um ano.
Violência Doméstica (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004)
(…)
9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com
quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de
coabitação ou de hospitalidade:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.
Logo, por não ser o crime punido com reclusão (ainda que se considere a violência doméstica), mas sim com
detenção, não se pode aplicar o efeito da condenação previsto no artigo 92, inciso II, do Código Penal,
reservado aos crimes punidos com reclusão. Por conseguinte, o item está correto.
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Comentários
O item está correto.
O Superior Tribunal de Justiça adota a corrente segundo a qual o limite de duração das medidas de segurança
deve ser o limite máximo da pena abstratamente cominada ao delito praticado. É o teor do enunciado nº
527 da sua Súmula:
O tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar o limite máximo da pena
abstratamente cominada ao delito praticado.
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Parágrafo único - Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser
motivadamente declarados na sentença.
A alternativa B está incorreta. Neste caso, conforme prevê o inciso II, alínea a do art. 92 do Código Penal, a
perda de cargo ou função pública não consiste em um efeito automático da condenação:
Art. 92 - São também efeitos da condenação:
I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes
praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública;
Parágrafo único - Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser
motivadamente declarados na sentença.
A alternativa C está incorreta, pois, o referido efeito não é automático, como dispõe a Lei nº 7.716/1989,
no seu art. 16 e art. 18:
Art. 16. Constitui efeito da condenação a perda do cargo ou função pública, para o servidor público,
e a suspensão do funcionamento do estabelecimento particular por prazo não superior a três
meses.
Art. 18. Os efeitos de que tratam os arts. 16 e 17 desta Lei não são automáticos, devendo ser
motivadamente declarados na sentença.
A alternativa D também está incorreta, já que a Lei nº 11.101/2005 prevê no seu art. 181, inciso I e § 1º,
que a inabilitação para o exercício de atividade empresarial em razão de crime falimentar não é efeito
automático da condenação, exigindo fundamentação em sentença para que possa ser aplicado. Vejamos:
Art. 181. São efeitos da condenação por crime previsto nesta Lei:
I – a inabilitação para o exercício de atividade empresarial;
(...)
§ 1º Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser motivadamente
declarados na sentença, e perdurarão até 5 (cinco) anos após a extinção da punibilidade, podendo,
contudo, cessar antes pela reabilitação penal.
A alternativa E está correta. De acordo com o Art. 1º, §5º da Lei 9.455/97, no caso de cometimento de crime
de tortura, nas condições específicas previstas em lei, a perda do cargo, função ou emprego público será
efeito automático da condenação, conforme se depreende do texto legal transcrito abaixo:
Art. 1º Constitui crime de tortura:
§ 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e ainterdição para seu
exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.
LISTA DE QUESTÕES
Q1. CESPE/Polícia Federal/Delegado de Polícia/2013
Em relação aos efeitos da condenação, julgue o item que se segue.
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Item 32 Considere que uma mulher, maior e capaz, chegue a casa, logo após ter sido demitida, e,
nervosa, agrida, injustificada e intencionalmente, seu filho de dois anos de idade, causando-lhe lesões
corporais de natureza leve. Nessa situação hipotética, caso essa mulher seja condenada pela referida
agressão após o devido processo legal, não caberá, como efeito da condenação, a decretação de sua
incapacidade para o exercício do poder familiar, nos termos do CP.
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a) III e IV.
b) I, II, III e V.
c) II, III, IV e V.
d) II, III e V.
e) I, II e IV.
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a) De forma fundamentada, por se tratar de crime cometido com abuso do poder familiar, decretar a
incapacidade para o exercício do pátrio poder em relação às três filhas, com o intuito de preservá-las
de futuras ações do autor delituoso. Trata-se de efeito secundário da sentença penal condenatória.
b) De forma fundamentada, por se tratar de crime cometido com abuso do poder familiar, decretar a
incapacidade para o exercício do pátrio poder em relação à filha de 12 (doze) anos, vítima do delito
em questão, não podendo fazê-lo em relação às demais, que não foram vítimas do crime. Trata-se de
efeito secundário da sentença penal condenatória.
c) Determinar que se oficie ao Juizado da Infância e Juventude, cientificando-o da Sentença Penal
Condenatória em relação à vítima do crime, adolescente de 12 (doze) anos, a fim de que fique
registrada a incapacidade para o exercício do pátrio poder, devido ao fato de se tratar de efeito
automático da sentença penal condenatória, não sendo necessário constar tal incapacidade para o
exercício do pátrio poder no decisium condenatório.
d) Determinar que se oficie ao Juizado da Infância e Juventude, cientificando-o da Sentença em relação
às três irmãs, a fim de que fique registrada a incapacidade para o exercício do pátrio poder em relação
a todas elas, vez que não é necessário que conste da sentença penal condenatória, devido ao fato de
se tratar de efeito automático.
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Com referência a essa situação hipotética, assinale a opção correta de acordo com a jurisprudência do
STJ.
a) Estando ausente qualquer relação da ação com o exercício do cargo público, a exoneração do
serviço público como efeito da condenação extrapolaria as funções repressivas e preventivas da
sanção penal.
b) Na hipótese descrita e em casos semelhantes, sendo a pena privativa de liberdade inferior a quatro
anos, a condenação por si só nunca implica a perda do cargo público.
c) O policial militar não praticou crime funcional típico porquanto o delito previsto no art. 157 do CP
— Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência à pessoa
— é comum e, por isso, o réu em questão não poderia ser afastado do cargo.
d) O agente não responderia por crime doloso porque estava em estado de embriaguez, sendo incapaz
de entender o caráter criminoso de suas ações.
e) O policial militar, mesmo fora do exercício da função, violou dever inerente a ela, porque está
vinculado à administração pública no exercício das atividades cotidianas, sendo cabível a perda do
cargo como efeito da condenação.
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b) pode ser recuperado em relação a todos os filhos, inclusive a vítima, por meio de deferimento da
reabilitação.
c) tratando-se de crime sexual praticado contra filha, só pode ser recuperado por meio de deferimento
da reabilitação em relação aos filhos homens, nunca em relação à vítima e demais filhas mulheres.
d) tratando-se de crime apenado com detenção, tal efeito civil da condenação tem caráter de mera
suspensão do pátrio poder, devendo ser imposto pelo Juiz com prazo determinado e somente em
relação à vítima.
e) tratando-se de crime apenado com detenção, tal efeito civil tem o caráter de mera suspensão do
pátrio poder, por isso que é imposto pelo Juiz por prazo determinado e em relação a todos os filhos
do agente.
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d) a perda em favor da vítima ou ofendido de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido
pelo agente com a prática do fato criminoso.
e) a perda, em favor do Município em que a infração foi cometida, do produto do crime ou de qualquer
bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso.
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o Errado
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magistrados nas condenações declarar a perda do objeto material dos delitos em apreço em favor do
Estado ou da União.
a) Em todas as hipóteses.
b) Apenas nas hipóteses II e III.
c) Apenas na hipótese II.
d) Apenas nas hipóteses I e II.
e) Apenas na hipótese III.
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Q24. VUNESP/CETESB/Advogado/2013
Dentre os efeitos da condenação previstos e disciplinados no Código Penal, encontra-se a seguinte
hipótese:
a) perda em favor do Município, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé, dos
instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção
constitua fato ilícito.
b) perda de cargo, função pública ou mandato eletivo quando aplicada pena privativa de liberdade por
tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever
para com a Administração Pública.
c) inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso, de
forma automática, sem necessidade de motivação expressa na sentença.
d) tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime, processando-se o cumprimento
da sentença no próprio processo penal, após o trânsito em julgado.
e) perda em favor do Estado, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé, do produto do
crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato
criminoso.
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a) O efeito específico da incapacidade para o poder familiar, tutela ou curatela trata-se de efeito
automático, que não necessita ser declarado em sentença condenatória;
b) A condenação criminal por fato praticado na atividade, pode resultar na perda de cargo, função,
sendo atribuição do juiz criminal declarar em sentença;
c) O efeito de perda do Estado de bens e valores de origem ilícita abrange bens diversos, móveis ou
imóveis obtidos em proveito do delito;
d) A inabilitação para dirigir não se confunde com a suspensão de autorização ou de habilitação para
dirigir veículo. A primeira, considerado pelo estatuto repressivo efeito da condenação, dependente de
declaração judicial motivada, aplicável quando é utilizado algum veículo como meio para a prática de
crime doloso. A inabilitação tem efeito permanente, vigorando até que o condenado se reabilite. A
segunda, enquanto interdição temporária de direitos, é aplicada em casos de crimes culposos de
trânsito.
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Q30. FCC/TCE-AL/Procurador/2008
A perda de função pública constitui efeito da condenação quando aplicada pena privativa de liberdade
igual ou superior a
a) quatro anos, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a
Administração Pública, independentemente de motivação na sentença.
b) quatro anos, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a
Administração Pública, desde que a sentença apresente a necessária motivação.
c) um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração
Pública, desde que a sentença apresente a necessária motivação.
d) um ano, para qualquer crime, desde que a sentença apresente a necessária motivação.
e) um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração
Pública, independentemente de motivação na sentença.
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Q33. CESPE/DPE-DF/Procurador/2006
Acerca da ação penal nos crimes contra os costumes, julgue os itens a seguir.
Embora dependam de motivação na sentença, os efeitos específicos da condenação são automáticos
nas hipóteses previstas no Código Penal.
o Certo
o Errado
Q35. CESPE/CAIXA/Advogado/2006
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GABARITO
Q1. CORRETA Q13. A Q25. E
Q2. E Q14. B Q26. B
Q3. B Q15. ERRADA Q27. CORRETA
Q4. D Q16. C Q28. A
Q5. B Q17. B Q29. B
Q6. C Q18. C Q30. C
Q7. B Q19. ERRADA Q31. C
Q8. E Q20. C Q32. D
Q9. E Q21. CORRETA Q33. ERRADA
Q10. A Q22. ERRADA Q34. A
Q11. A Q23. ERRADA Q35. ERRADA
Q12. E Q24. B Q36. D
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Art. 387, inciso IV, do Código de Processo Penal: com o advento da Lei 11.719/2008 tornou-se
possível que o juiz criminal já estipule um valor mínimo de reparação do dano.
Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória:
(...)
IV - fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os
prejuízos sofridos pelo ofendido; (...)
AgRg no REsp 1671240/STJ: quanto à fixação de reparação civil na sentença penal, é necessário
pedido expresso na inicial acusatória, sob pena de afronta à ampla defesa e ao contraditório.
PENAL E PROCESSO PENAL. RECURSO ESPECIAL. FURTO QUALIFICADO PELO ABUSO DE
CONFIANÇA E CONCURSO DE AGENTES. REPARAÇÃO CIVIL MÍNIMA. NECESSIDADE DE PEDIDO
EXPRESSO NA INICIAL.
1. De acordo com reiterados julgados deste Superior Tribunal de Justiça, para que haja a fixação
na sentença do valor mínimo devido a título de indenização civil pelos danos causados à vítima,
nos termos do artigo 387, IV, do Código de Processo Penal, é necessário pedido expresso na
inicial acusatória, sob pena de afronta à ampla defesa e ao contraditório.
2. Agravo regimental improvido.
(AgRg no REsp 1671240/PR, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA,
julgado em 22/05/2018, DJe 04/06/2018)
Art. 63 do Código de Processo Penal: regula a legitimidade para a execução e a possibilidade de
execução imediata pelo mínimo fixado em reparação civil.
Art. 63. Transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução, no
juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou seus
herdeiros.
Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá ser
efetuada pelo valor fixado nos termos do inciso IV do caput do art. 387 deste Código sem
prejuízo da liquidação para a apuração do dano efetivamente sofrido.
AgRg no REsp 1675965/STJ: entendimento que a reparação civil pode abranger os danos morais
decorrentes da conduta delitiva, com estipulação do valor mínimo.
PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA. AFRONTA AO ART. 387, IV, DO CPP. REPARAÇÃO CIVIL. CABIMENTO. PEDIDO
EXPRESSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO E DO ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO. DANO MORAL.
DECORRÊNCIA DA PRÓPRIA CONDUTA DELITUOSA. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. Para que haja a fixação na sentença do valor mínimo devido a título de indenização civil pelos
danos causados à vítima, é necessário pedido expresso, sob pena de afronta à ampla defesa.
2. Por se tratar de dano moral exdelicto, tem-se que o dano ocorre in reipsa, ou seja, exsurge
da própria conduta típica, que já foi devidamente apurada na instrução penal, não havendo
falar em necessidade de instrução específica para comprovação de valores, mormente porque
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se trata de valor mínimo de indenização, fixado nos termos do disposto no artigo 387, IV, do
Código de Processo Penal.
3. Agravo regimental improvido.
(AgRg no REsp 1675965/MS, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA,
julgado em 26/09/2017, DJe 04/10/2017)
HC 318943/STJ: a possibilidade de condenação, pelo juiz criminal, a um valor mínimo de reparação
pelos danos causados, foi considerada, pelo STJ, norma penal mais gravosa. Por isso, não pode ser
aplicada a delitos praticados antes da vigência da Lei 11.719/2008.
EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS. (1) QUESTÕES NÃO EXAMINADAS PELO TRIBUNAL DE
ORIGEM. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. (2) REPARAÇÃO CIVIL. ART. 387, IV, DO CÓDIGO DE
PROCESSO PENAL. LEI Nº 11.719/2008. IRRETROATIVIDADE. NORMA DE CUNHO MATERIAL.
PRECEDENTES. (3) FIXAÇÃO DA REPARAÇÃO. INCABIMENTO. INEXISTÊNCIA DE PEDIDO
EXPRESSO E FORMAL. PRECEDENTES. (4) WRIT NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE
OFÍCIO.
1. Quando for constatada a existência de manifesto constrangimento ilegal a ser sanado de
ofício, como no presente caso, é possível a sua concessão de ofício, ainda que a questão não
tenha sido examinada pelo tribunal de origem.
2. Este Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento no sentido de que o disposto no art.
387, IV, do Código de Processo Penal, que cuida da reparação civil dos danos sofridos pelo
ofendido, contempla norma de direito material mais rigorosa ao réu, não se aplicando a delitos
praticados antes da entrada em vigor da Lei nº 11.719/2008.
Precedentes.
3. A fixação, na sentença condenatória, de valor mínimo para reparação civil dos danos
causados ao ofendido, requer pedido expresso e formal, de modo a oportunizar o devido
contraditório.
Precedentes.
4. Writ não conhecido. Ordem concedida, de ofício, confirmando a liminar anteriormente
deferida, para afastar a reparação civil fixada na sentença condenatória - Processo nº 0002147-
30.2014.4.02.5104.
(HC 318.943/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em
06/08/2015, DJe 25/08/2015)
Art. 1º da Lei das Contravenções Penais: a possibilidade de perda dos instrumentos do crime é
aplicável às contravenções penais.
Art. 1º Aplicam-se as contravenções às regras gerais do Código Penal, sempre que a presente
lei não disponha de modo diverso.
REsp 87.971/STJ: perda da arma de fogo de porte ilegal.
PENAL. CONTRAVENÇÃO. PORTE ILEGAL DE ARMA. CONFISCO.
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- A regra do artigo 91, II, a, do Código Penal, que prevê como efeito da condenação a perda do
instrumento do crime cujo porte ou detenção constitua fato ilícito, é aplicável na hipótese de
condenação por porte ilegal de arma de fogo, por força do previsto no artigo 1º da Lei das
Contravenções Penais.
- Precedentes do Superior Tribunal de Justiça.
- Recurso especial conhecido e provido.
(REsp 87.971/SP, Rel. Ministro VICENTE LEAL, SEXTA TURMA, julgado em 14/12/1999, DJ
14/02/2000, p. 80)
Art. 91, § 1º, do Código Penal: possibilita a perda de bens equivalentes, se o produto ou proveito
estiverem no exterior.
§ 1º Poderá ser decretada a perda de bens ou valores equivalentes ao produto ou proveito do
crime quando estes não forem encontrados ou quando se localizarem no exterior.
Art. 60 da Lei 11.343/2006: trata das medidas assecuratórias em relação aos produtos dos crimes
tratados pela lei.
Art. 60. O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante representação da
autoridade de polícia judiciária, ouvido o Ministério Público, havendo indícios suficientes,
poderá decretar, no curso do inquérito ou da ação penal, a apreensão e outras medidas
assecuratórias relacionadas aos bens móveis e imóveis ou valores consistentes em produtos dos
crimes previstos nesta Lei, ou que constituam proveito auferido com sua prática, procedendo-
se na forma dos arts. 125 a 144 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de
Processo Penal.
Art. 243 Constituição da República: também trata do confisco de bens utilizados para culturas de
plantas psicotrópicas e exploração de trabalho escravo, bem como os valores econômicos
apreendidos em decorrência de tais crimes.
Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas
culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei
serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem
qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei,
observado, no que couber, o disposto no art. 5º.
Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será
confiscado e reverterá a fundo especial com destinação específica, na forma da lei.
RE 638491/STF: o Supremo Tribunal Federal já fixou a tese segundo a qual todo e qualquer bem
que possua valor econômico, apreendido em razão da prática do crime de tráfico ilícito de
entorpecentes, pode ser confiscado.
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PENAL. PROCESSUAL PENAL. REPERCUSSÃO GERAL
RECONHECIDA. TEMA 647 DO PLENÁRIO VIRTUAL. TRÁFICO DE DROGAS. VEÍCULO APREENDIDO
COM O SUJEITO ATIVO DO CRIME. DECRETAÇÃO DE PERDIMENTO DO BEM. CONTROVÉRSIA
SOBRE A EXIGÊNCIA DE HABITUALIDADE DO USO DO BEM NA PRÁTICA CRIMINOSA OU
ADULTERAÇÃO PARA DIFICULTAR A DESCOBERTA DO LOCAL DE ACONDICIONAMENTO.
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Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais definidos no caput do art. 2o desta Lei,
à prostituição ou à exploração sexual:
Pena – reclusão de quatro a dez anos e multa, além da perda de bens e valores utilizados na
prática criminosa em favor do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente da unidade da
Federação (Estado ou Distrito Federal) em que foi cometido o crime, ressalvado o direito de
terceiro de boa-fé.
RE 795567/STF: o Supremo Tribunal Federal já decidiu que não é cabível o confisco de bens, com
base no artigo 91, II, do Código Penal, em caso de transação penal.
Ementa: CONSTITUCIONAL E PENAL. TRANSAÇÃO PENAL. CUMPRIMENTO DA PENA RESTRITIVA
DE DIREITO. POSTERIOR DETERMINAÇÃO JUDICIAL DE CONFISCO DO BEM APREENDIDO COM
BASE NO ART. 91, II, DO CÓDIGO PENAL. AFRONTA À GARANTIA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL
CARACTERIZADA. 1. Tese: os efeitos jurídicos previstos no art. 91 do Código Penal são
decorrentes de sentença penal condenatória. Tal não se verifica, portanto, quando há transação
penal (art. 76 da Lei 9.099/95), cuja sentença tem natureza homologatória, sem qualquer juízo
sobre a responsabilidade criminal do aceitante. As consequências da homologação da
transação são aquelas estipuladas de modo consensual no termo de acordo. 2. Solução do caso:
tendo havido transação penal e sendo extinta a punibilidade, ante o cumprimento das cláusulas
nela estabelecidas, é ilegítimo o ato judicial que decreta o confisco do bem (motocicleta) que
teria sido utilizado na prática delituosa. O confisco constituiria efeito penal muito mais gravoso
ao aceitante do que os encargos que assumiu na transação penal celebrada (fornecimento de
cinco cestas de alimentos). 3. Recurso extraordinário a que se dá provimento.
(RE 795567, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado em 28/05/2015,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-177 DIVULG 08-09-2015 PUBLIC
09-09-2015)
Art. 15, inciso III: suspensão dos direitos políticos.
CF, Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos
casos de:
(...)
III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos.
Arts. 91-A e 92 do Código Penal: efeitos específicos da condenação.
Art. 91-A. Na hipótese de condenação por infrações às quais a lei comine pena máxima superior
a 6 (seis) anos de reclusão, poderá ser decretada a perda, como produto ou proveito do crime,
dos bens correspondentes à diferença entre o valor do patrimônio do condenado e aquele que
seja compatível com o seu rendimento lícito.
§ 1º Para efeito da perda prevista no caput deste artigo, entende-se por patrimônio do
condenado todos os bens:
I - de sua titularidade, ou em relação aos quais ele tenha o domínio e o benefício direto ou
indireto, na data da infração penal ou recebidos posteriormente; e
II - transferidos a terceiros a título gratuito ou mediante contraprestação irrisória, a partir do
início da atividade criminal.
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(HC 393.748/RS, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 22/08/2017, DJe
30/08/2017)
EDcl na APn 422/RR: o STJ tem admitido a aplicação da perda de cargo público mesmo se tratando
de agente vitalício.
PROCESSUAL PENAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA.
DESEMBARGADOR DO TJ/RR. CONDENAÇÃO PELA PRÁTICA DO CRIME DE CONCUSSÃO. PERDA
DO CARGO. OFENSA AO CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA. INOCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DOS
VÍCIOS PREVISTOS NO ART. 619, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. INCONFORMISMO COM O
ACÓRDÃO RECORRIDO. ACLARATÓRIOS REJEITADOS.
1. Nos termos do art. 619, do Código de Processo Penal, "aos acórdãos proferidos pelos
Tribunais de Apelação, câmaras ou turmas, poderão ser opostos embargos de declaração, no
prazo de dois dias contados da sua publicação, quando houver na sentença ambiguidade,
obscuridade, contradição ou omissão".
2. DOS ACLARATÓRIOS OPOSTOS POR MAURO JOSÉ DO NASCIMENTO CAMPELLO EM FACE DO
ACÓRDÃO PENAL CONDENATÓRIO 2.1 - Omissão quanto à credibilidade das provas a sustentar
o decreto condenatório: houve expressa manifestação no acórdão ora embargado sobre a
alegada nulidade das investigações, visto que teriam sido motivadas por inimizade entre Mauro
Campello e o Juiz Federal Helder Girão Barreto. Ademais, a suficiência das provas a sustentar o
decreto condenatório do réu Mauro José do Nascimento Campello foi afirmada, de forma
fundamentada, pelo acórdão recorrido.
2.2 - A conclusão quanto à efetiva prática de concussão levou em conta todo o conjunto fático
e probatório constante dos autos e não somente os depoimentos prestados por Célia
Bombonati. Constou do acórdão embargado que "o envio de envelopes por Célia à residência
comum (à época) de Larissa e de Mauro Campello foi confirmada pelos depoimentos de
motoristas colhidos durante a investigação e a instrução processual. Por fim, a empregada
doméstica que trabalhava na residência do Desembargador Mauro Campello também
confirmou o recebimento, por ela, de vários envelopes que conteriam supostamente
documentos do TRE" (fl. 2996).
2.3 - Omissão quanto à fixação da pena e à determinação de perda do cargo: houve
fundamentação clara e suficiente a sustentar a majoração da pena-base e do valor da multa
cominada, bem como a determinação da perda do cargo de Desembargador do Tribunal de
Justiça de Roraima. Essas circunstâncias foram valoradas com base em circunstâncias presentes
nos autos e que escapam às elementares do tipo penal descrito no art. 316, do Código Penal.
2.3.1 - O Supremo Tribunal Federal já decidiu que "no crime de concussão, previsto no art. 316
do Código Penal, embora a condição de funcionário público integre o tipo penal, não configura
bis in idem a elevação da pena na primeira fase da dosimetria quando, em razão da qualidade
funcional ocupada pelo agente, exigir-se -ia dele maior grau de observância dos deveres e
obrigações relacionados ao cargo que ocupa" (HC 132990, Relator p/ Acórdão: Min. EDSON
FACHIN, Primeira Turma, DJe 23/6/17). Precedentes.
2.3.2 - A presença de circunstância judicial desfavorável (no caso, a culpabilidade) é fundamento
suficiente para a fixação do regime inicial semiaberto de cumprimento da pena. Precedentes.
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2.3.3 - Esta Corte Especial tem entendido pela possibilidade da determinação da perda do cargo
em decorrência da prolação de acórdão penal condenatório, ainda que o réu seja ocupante de
cargo vitalício. Senão vejamos: APn 675/GO, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, CORTE ESPECIAL,
julgado em 18/11/2015, DJe 02/02/2016; APn 300/ES, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL
MARQUES, CORTE ESPECIAL, julgado em 21/09/2016, DJe 07/10/2016.
2.3.4 - A discussão quanto à necessidade de ação autônoma para decretar a perda do cargo
escapa aos limites dos aclaratórios sub examine. O trânsito em julgado do acórdão penal
condenatório ainda não ocorreu. A alegação deve ser, portanto, reiterada no momento da
eventual execução da reprimenda, caso os fundamentos condenatórios sejam mantidos após a
análise dos recursos pendentes.
2.4 - Conclusão: embargos de declaração rejeitados.
3. DOS ACLARATÓRIOS OPOSTOS POR LARISSA DE PAULA MENDES CAMPELLO EM FACE DO
ACÓRDÃO PENAL CONDENATÓRIO 3.1 - Da omissão quanto à necessidade de desmembramento
do feito: a alegação não foi suscitada pela ora Embargante durante a instrução processual
(especialmente na sua defesa prévia ou em alegações finais). Inovação recursal a desautorizar
o seu acolhimento em sede de aclaratórios. Mesmo assim, o acórdão embargado
expressamente consignou que as condutas criminosas ocorreram de forma evidentemente
imbricadas, circunstância que, de fato, reforçou a necessidade de análise conjunta de ambas.
3.2 - Omissão quanto à credibilidade das provas a sustentar o decreto condenatório: reitera-se
a observação de que "a conclusão quanto à efetiva prática de concussão levou em conta todo
o conjunto fático e probatório constante dos autos e não somente os depoimentos prestados
por Célia Bombonati. Constou do acórdão embargado que "o envio de envelopes por Célia à
residência comum (à época) de Larissa e de Mauro Campello foi confirmada pelos depoimentos
de motoristas colhidos durante a investigação e a instrução processual. Por fim, a empregada
doméstica que trabalhava na residência do Desembargador Mauro Campello também
confirmou o recebimento, por ela, de vários envelopes que conteriam supostamente
documentos do TRE" (fl. 2996).
3.3 - Omissão quanto à dosimetria da pena: a fixação do quantum da multa levou em conta a
culpabilidade como circunstância judicial desfavorável, bem como a necessidade de serem
obedecidas a razoabilidade e a proporcionalidade da reprimenda para a necessária e suficiente
reprovação e prevenção do crime. Por sua vez, o Exmo.
Ministro Revisor, ao manter a multa fixada por este Relator, explicitou que foram levados em
conta os critérios estabelecidos no art. 68, do Código Penal, para manter o quantum em 40 dias-
multa, bem como a condição econômica da ré para a fixação do valor de cada dia-multa.
3.3.1 - Conforme bem ressaltado pelo Ministério Público Federal, "tendo em vista que a vítima
repassou à ré RS 1500,00 durante 18 meses, temos um total nominal de RS 27.000,00, os quais,
em virtude dos acréscimos de correção monetária e juros (notando-se que os fatos datam de
fevereiro de 2003 a outubro de 2004), motivam a imposição do valor pelo qual foi condenada a
ré" (fl. 4200).
3.4 - Embargos de declaração rejeitados.
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Art. 10. A duração da pena de prisão simples não pode, em caso algum, ser superior a cinco
anos, nem a importância das multas ultrapassar cinquenta contos.
Súmula 527 do STJ: entendimento do STJ a respeito do limite de duração das medidas de segurança
O tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar o limite máximo da pena
abstratamente cominada ao delito praticado.
RHC 100.383 STF: o Supremo Tribunal Federal tem entendimento diferente sobre o limite máximo
de duração da medida de segurança
Ementa: PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. MEDIDA DE SEGURANÇA.
CUMPRIMENTO DA MEDIDA EM PRAZO SUPERIOR AO DA PENA MÁXIMA COMINADA AO
DELITO. PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA. INÍCIO DO CUMPRIMENTO. MARCO INTERRUPTIVO.
PERICULOSIDADE DO AGENTE. CONTINUIDADE. PRAZO MÁXIMO DA MEDIDA. 30 (TRINTA)
ANOS. PRECEDENTES DO STF. DESINTERNAÇÃO PROGRESSIVA. ART. 5º DA LEI 10.216/2001.
APLICABILIDADE. ALTA PROGRESSIVA DA MEDIDA DE SEGURANÇA. PRAZO DE 6 (SEIS) MESES.
RECURSO PROVIDO EM PARTE. 1. A prescrição da medida de segurança deve ser calculada pelo
máximo da pena cominada ao delito cometido pelo agente, ocorrendo o marco interruptivo do
prazo pelo início do cumprimento daquela, sendo certo que deve perdurar enquanto não haja
cessado a periculosidade do agente, limitada, contudo, ao período máximo de 30 (trinta) anos,
conforme a jurisprudência pacificada do STF. Precedentes: HC 107.432/RS, Relator Min. Ricardo
Lewandowski, Primeira Turma, Julgamento em 24/5/2011; HC 97.621/RS, Relator Min. Cezar
Peluso, Julgamento em 2/6/2009. 2. In casu: a) o recorrente, em 6/4/1988, quando contava com
26 (vinte e seis) anos de idade, incidiu na conduta tipificada pelo art. 129, § 1º, incisos I e II, do
Código Penal (lesões corporais com incapacidade para o trabalho por mais de 30 dias), sendo
reconhecida a sua inimputabilidade, nos termos do caput do artigo 26 do CP. b) processada a
ação penal, ao recorrente foi aplicada a medida de segurança de internação hospitalar em
hospital de custódia e tratamento psiquiátrico, pelo prazo mínimo de 3 (três) anos, sendo certo
que o recorrente foi internado no Instituto Psiquiátrico Forense, onde permanece até a presente
data, decorridos mais de 23 (vinte e três) anos desde a sua segregação; c) o recorrente tem
apresentado melhoras, tanto que não está mais em regime de internação, mas de alta
progressiva, conforme laudo psiquiátrico que atesta seu retorno gradativo ao convívio social. 3.
A desinternação progressiva é medida que se impõe, provendo-se em parte o recurso para o
restabelecimento da decisão de primeiro grau, que aplicou o art. 5º da Lei 10.216/2001,
determinando-se ao Instituto Psiquiátrico Forense que apresente plano de desligamento, em 60
(sessenta) dias, para que as autoridades competentes procedam à “política específica de alta
planejada e reabilitação psicossocial assistida” fora do âmbito do IPF. 4. Recurso provido em
parte.
(RHC 100383, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 18/10/2011, DJe-210
DIVULG 03-11-2011 PUBLIC 04-11-2011 EMENT VOL-02619-01 PP-00001)
Art. 42 do Código Penal: detração
Detração
Art. 42 - Computam-se, na pena privativa de liberdade e na medida de segurança, o tempo de
prisão provisória, no Brasil ou no estrangeiro, o de prisão administrativa e o de internação em
qualquer dos estabelecimentos referidos no artigo anterior.
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Art. 387 do Código de Processo Penal: possibilita a detração pelo juiz do conhecimento
Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória:
(...)
§ 2o O tempo de prisão provisória, de prisão administrativa ou de internação, no Brasil ou no
estrangeiro, será computado para fins de determinação do regime inicial de pena privativa de
liberdade.
Art. 37 do Código Penal: regime especial de cumprimento de pena
Regime especial
Art. 37 - As mulheres cumprem pena em estabelecimento próprio, observando-se os deveres e
direitos inerentes à sua condição pessoal, bem como, no que couber, o disposto neste Capítulo.
Art. 38 do Código Penal: direitos do preso
Direitos do preso
Art. 38 - O preso conserva todos os direitos não atingidos pela perda da liberdade, impondo-se
a todas as autoridades o respeito à sua integridade física e moral.
Art. 3º da Lei de Execução Penal: direitos do condenado
Art. 3º Ao condenado e ao internado serão assegurados todos os direitos não atingidos pela
sentença ou pela lei.
Parágrafo único. Não haverá qualquer distinção de natureza racial, social, religiosa ou política.
Art. 40, 41, 42 e 43 da Lei de Execução Penal: direitos dos condenados
Art. 40 - Impõe-se a todas as autoridades o respeito à integridade física e moral dos condenados
e dos presos provisórios.
Art. 41 - Constituem direitos do preso:
I - alimentação suficiente e vestuário;
II - atribuição de trabalho e sua remuneração;
III - Previdência Social;
IV - constituição de pecúlio;
V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a recreação;
VI - exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas anteriores, desde
que compatíveis com a execução da pena;
VII - assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa;
VIII - proteção contra qualquer forma de sensacionalismo;
IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado;
X - visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados;
XI - chamamento nominal;
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a) à indenização dos danos causados pelo crime, desde que determinados judicialmente e não
reparados por outros meios;
b) à assistência à família;
c) a pequenas despesas pessoais;
d) ao ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a manutenção do condenado, em
proporção a ser fixada e sem prejuízo da destinação prevista nas letras anteriores.
§ 2º Ressalvadas outras aplicações legais, será depositada a parte restante para constituição
do pecúlio, em Caderneta de Poupança, que será entregue ao condenado quando posto em
liberdade.
Art. 30. As tarefas executadas como prestação de serviço à comunidade não serão
remuneradas.
SEÇÃO II
Do Trabalho Interno
Art. 31. O condenado à pena privativa de liberdade está obrigado ao trabalho na medida de
suas aptidões e capacidade.
Parágrafo único. Para o preso provisório, o trabalho não é obrigatório e só poderá ser executado
no interior do estabelecimento.
Art. 32. Na atribuição do trabalho deverão ser levadas em conta a habilitação, a condição
pessoal e as necessidades futuras do preso, bem como as oportunidades oferecidas pelo
mercado.
§ 1º Deverá ser limitado, tanto quanto possível, o artesanato sem expressão econômica, salvo
nas regiões de turismo.
§ 2º Os maiores de 60 (sessenta) anos poderão solicitar ocupação adequada à sua idade.
§ 3º Os doentes ou deficientes físicos somente exercerão atividades apropriadas ao seu estado.
Art. 33. A jornada normal de trabalho não será inferior a 6 (seis) nem superior a 8 (oito) horas,
com descanso nos domingos e feriados.
Parágrafo único. Poderá ser atribuído horário especial de trabalho aos presos designados para
os serviços de conservação e manutenção do estabelecimento penal.
Art. 34. O trabalho poderá ser gerenciado por fundação, ou empresa pública, com autonomia
administrativa, e terá por objetivo a formação profissional do condenado.
§ 1o. Nessa hipótese, incumbirá à entidade gerenciadora promover e supervisionar a produção,
com critérios e métodos empresariais, encarregar-se de sua comercialização, bem como
suportar despesas, inclusive pagamento de remuneração adequada.
§ 2o Os governos federal, estadual e municipal poderão celebrar convênio com a iniciativa
privada, para implantação de oficinas de trabalho referentes a setores de apoio dos presídios.
Art. 35. Os órgãos da Administração Direta ou Indireta da União, Estados, Territórios, Distrito
Federal e dos Municípios adquirirão, com dispensa de concorrência pública, os bens ou produtos
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do trabalho prisional, sempre que não for possível ou recomendável realizar-se a venda a
particulares.
Parágrafo único. Todas as importâncias arrecadadas com as vendas reverterão em favor da
fundação ou empresa pública a que alude o artigo anterior ou, na sua falta, do estabelecimento
penal.
SEÇÃO III
Do Trabalho Externo
Art. 36. O trabalho externo será admissível para os presos em regime fechado somente em
serviço ou obras públicas realizadas por órgãos da Administração Direta ou Indireta, ou
entidades privadas, desde que tomadas as cautelas contra a fuga e em favor da disciplina.
§ 1º O limite máximo do número de presos será de 10% (dez por cento) do total de empregados
na obra.
§ 2º Caberá ao órgão da administração, à entidade ou à empresa empreiteira a remuneração
desse trabalho.
§ 3º A prestação de trabalho à entidade privada depende do consentimento expresso do preso.
Art. 37. A prestação de trabalho externo, a ser autorizada pela direção do estabelecimento,
dependerá de aptidão, disciplina e responsabilidade, além do cumprimento mínimo de 1/6 (um
sexto) da pena.
Parágrafo único. Revogar-se-á a autorização de trabalho externo ao preso que vier a praticar
fato definido como crime, for punido por falta grave, ou tiver comportamento contrário aos
requisitos estabelecidos neste artigo.
Art. 69 do Código Penal: ordem de execução das penas
Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes,
idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja
incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se
primeiro aquela.
§ 1º - Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena privativa de
liberdade, não suspensa, por um dos crimes, para os demais será incabível a substituição de que
trata o art. 44 deste Código.
§ 2º - Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado cumprirá
simultaneamente as que forem compatíveis entre si e sucessivamente as demais.
Art.76 do Código Penal: sequência de cumprimento das penas
Concurso de infrações
Art. 76 - No concurso de infrações, executar-se-á primeiramente a pena mais grave.
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RESUMO
Para finalizar o estudo da matéria, trazemos um resumo dos principais aspectos estudados ao longo
da aula. Sugerimos que esse resumo seja estudado sempre previamente ao início da aula seguinte,
como forma de “refrescar” a memória. Além disso, segundo a organização de estudos de vocês, a
cada ciclo de estudos é fundamental retomar esses resumos. Caso encontrem dificuldade em
compreender alguma informação, não deixem de retornar à aula.
Efeitos da Condenação
o Efeitos penais da condenação: o principal efeito é a imposição de sanção penal e sua posterior
execução. No caso da sentença condenatória, há a imposição de pena, em regra. Entretanto, é
possível a imposição de medida de segurança ao semi-imputável, em substituição à pena, como
já estudamos. Há, entretanto, efeitos penais e extrapenais da sentença condenatória.
Efeitos penais principais: são, portanto, a imposição da sanção penal (pena ou medida
de segurança) e sua posterior execução.
Efeitos penais secundários: são os efeitos na órbita penal que não consistem na
imposição da sanção penal, como a reincidência e os maus antecedentes, interrupção do
prazo prescricional, revogação da suspensão condicional da pena, etc.
o Efeitos extrapenais da condenação: são os efeitos que transcendem o Direito Penal, afetando
o condenado além da seara penal.
Efeitos extrapenais genéricos: são os efeitos penais de incidência automática, que são
cabíveis, em princípio, a todos os crimes. É o caso, por exemplo, de se tornar certa a
obrigação de reparar o dano.
Efeitos extrapenais específicos: são efeitos que devem ser impostos de forma
fundamentada na sentença condenatória, cabíveis para determinados casos.
Efeitos genéricos da condenação: são efeitos que podem ser impostos, via de regra, a todas as
infrações penais, possuem incidência automática, prescindindo de manifestação judicial a respeito.
São tratados no artigo 91 do Código Penal.
o Tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime: a sentença penal
condenatória torna certa a obrigação de indenizar (na debeatur), devendo haver liquidação,
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no juízo cível, para se apurar o valor (quantum debeatur). A sentença penal condenatória
transitada em julgado possui, portanto, a natureza jurídica de título executivo judicial,
possibilitando a execução para a cobrança dos valores devidos. É o que prevê o artigo 515,
inciso VI do Código de Processo Civil.
Entretanto, com o advento da Lei 11.719/2008, que modificou o artigo 387 do Código de
Processo Penal, tornou-se possível que o juiz criminal já estipule um valor mínimo de
reparação do dano. É o que prevê o artigo 387, inciso IV, do Código de Processo Penal. Por
conseguinte, ficam certos a obrigação de reparar o dano e o valor mínimo devido, sendo que
se o interessando entender o valor suficiente, sequer é necessária a discussão sobre o
montante devido para a reparação do dano. Estipulam-se o na debeatur e o quantum
debeatur, sendo este último no valor mínimo. Como toda privação de bens, é necessário que
a estipulação do valor indenizatório mínimo obedeça ao devido processo legal, isto é, é
necessário que o condenado tenha direito à ampla defesa e ao contraditório. Ele deve ser
informado sobre o pedido de reparação mínima, poder produzir provas a respeito, ser ouvido
e ter suas alegações devidamente consideradas pelo juiz no momento da decisão. É o que
tem entendido o Superior Tribunal de Justiça. O ofendido, portanto, já poderá executar a
sentença penal condenatória pelo valor mínimo, só necessitando de discussão sobre o valor
devido se entender que ele supera o fixado pelo juiz criminal. O artigo 63 do Código de
Processo Penal também trata sobre o tema, regulando a legitimidade para a execução e a
possibilidade de execução imediata pelo mínimo fixado. São legitimados, portanto, para a
execução da sentença penal condenatória, que é título executivo judicial, a vítima, seu
representante legal ou seus herdeiros. Ademais, como já registrado, ao ofendido é facultado
promover a liquidação para se apurar o valor do dano sofrido, caso entenda que o mínimo
fixado pelo juiz não é suficiente.
Neste ponto, importante ressaltar que o Brasil não adotou o sistema de cumulação ou união
de instâncias. O juiz criminal apenas fixará o valor mínimo da indenização, sendo que o tema
não será exaurido. Portanto, o sistema brasileiro é o da separação mitigada das instâncias. O
STJ já entendeu que a reparação civil pode abranger os danos morais decorrentes da conduta
delitiva, com estipulação do valor mínimo. A possibilidade de condenação, pelo juiz criminal,
a um valor mínimo de reparação pelos danos causados, foi considerada, pelo STJ, norma penal
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mais gravosa. Por isso, não pode ser aplicada a delitos praticados antes da vigência da Lei
11.719/2008.
Proveito do crime, por sua vez, é a vantagem que decorre do produto do crime.
O artigo 91, § 1º, do Código Penal, possibilita a perda de bens equivalentes, se o produto ou
proveito estiverem no exterior. Assim, se o produto ou o proveito do crime não forem
localizados, ou estiverem no exterior, impossibilitando sua efetiva perda em favor da União,
o Código Penal autoriza a perda de bens ou valores equivalentes. Não se deve confundir o
efeito extrapenal da condenação com a perda de bens e valores. Esta é espécie de pena, sendo
uma das chamadas penas restritivas de direitos, cujo valor se destina ao Fundo Penitenciário
Nacional. Ademais, possui como teto o montante do prejuízo causado ou do proveito obtido
pelo agente, o que for maior. Atinge o patrimônio do condenado, mesmo os bens licitamente
obtidos por ele. No caso da perda do produto do crime, a doutrina observa que ele deve ser
restituído à vítima, salvo se desconhecida. Apesar de se tratar de legislação penal
extravagante, o que transcende os objetivos desta disciplina, é importante estabelecer
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relação entre os efeitos extrapenais previstos no Código Penal e aqueles trazidos por outras
leis penais. É o caso do artigo 60 da Lei 11.343/2006, o qual trata das medidas assecuratórias
em relação aos produtos dos crimes tratados pela lei. A Constituição da República, em seu
artigo 243, também trata do confisco de bens utilizados para culturas de plantas psicotrópicas
e exploração de trabalho escravo, bem como os valores econômicos apreendidos em
decorrência de tais crimes. O Supremo Tribunal Federal já fixou a tese segundo a qual todo e
qualquer bem que possua valor econômico, apreendido em razão da prática do crime de
tráfico ilícito de entorpecentes, pode ser confiscado. O Estatuto da Criança e do Adolescente
prevê, em seu artigo 244-A, alterado pela Lei 13.440/2017, a sanção de perda dos bens e
valores utilizados na prática do crime de submeter criança ou adolescente à prostituição ou à
exploração sexual, em favor do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente, ressalvando
o direito do terceiro de boa-fé. Cumpre registrar, por fim, que o Supremo Tribunal Federal já
decidiu que não é cabível o confisco de bens, com base no artigo 91, II, do Código Penal, em
caso de transação penal.
o Suspensão dos direitos políticos: não está previsto no Código Penal, mas decorre da
Constituição, que o prevê em seu artigo 15, inciso III. Deste modo, enquanto o condenado
estiver cumprindo pena, não terá direitos políticos, o que significa que não poderá votar nem
ser votado. A suspensão de direitos políticos decorrente de condenação criminal transitada
em julgado cessa com o cumprimento ou a extinção da pena, independendo de reabilitação
ou de prova de reparação dos danos. Deve-se atentar para o seguinte: não há suspensão dos
direitos políticos antes de transitar em julgado a sentença penal condenatória. Por isso, os
presos provisórios possuem direito ao voto.
Confisco alargado: O art. 91-A foi inserido pelo Pacote Anticrime. Prevê uma hipótese maior de perda
de bens em razão de condenação, por isso o nome de confisco alargado, por infrações às quais a lei
comine pena máxima superior a 6 (seis) anos de reclusão. Como não cabe para todos os crimes, essa
forma do caput, a nosso ver, é uma hipótese de aplicação específica, e não genérica. Nos delitos
referidos, o juiz pode decretar a perda, como produto ou proveito do crime, dos bens
correspondentes à diferença entre o valor do patrimônio do condenado e aquele que seja compatível
com o seu rendimento lícito.
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O parágrafo primeiro prevê que o patrimônio do condenado envolve os bens: de sua titularidade, ou
em relação aos quais ele tenha o domínio e o benefício direto ou indireto, na data da infração penal
ou recebidos posteriormente; e os II - transferidos a terceiros a título gratuito ou mediante
contraprestação irrisória, a partir do início da atividade criminal. Apesar de uma presunção de
ilicitude do patrimônio incompatível com a sua renda, o condenado poderá demonstrar a inexistência
da incompatibilidade ou a procedência lícita do patrimônio, como no caso de uma herança.
Na sentença condenatória, o juiz deve declarar o valor da diferença apurada e especificar os bens
cuja perda for decretada, conforme determina o parágrafo quarto.
Instrumentos dos crimes, milícias e organizações criminosas: Por fim, o parágrafo quinto traz uma
previsão não quanto ao produto ou proveito do crime, mas quanto aos instrumentos utilizados para
a prática de crimes por organizações criminosas e milícias. Referido instrumentos deverão ser
declarados perdidos em favor da União ou do Estado, dependendo da Justiça onde tramita a ação
penal (Justiça Federal, Eleitoral e Militar da União ou Justiça Estadual), ainda que não ponham em
perigo a segurança das pessoas, a moral ou a ordem pública, nem ofereçam sério risco de ser
utilizados para o cometimento de novos crimes.
o A perda de cargo, função pública ou mandato eletivo: ocorre no caso de o agente ter sido
condenado e lhe for aplicada:
pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes
praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública;
pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos, nos demais casos.
Para a imposição da perda de cargo, função pública ou mandato eletivo, deve haver adequada
fundamentação pelo juiz, ainda que os requisitos sejam de ordem objetiva. É o entendimento
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do Superior Tribunal de Justiça. O STJ também tem admitido a aplicação da perda de cargo
público mesmo se tratando de agente vitalício.
o A incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela: é cabível quando houver
a condenação por crimes dolosos, sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra o filho, o
tutelado ou o curatelado. A expressão “pátrio poder” do Código Penal, ligado à figura paterna,
deve ser lida hoje conforme os ditames constitucionais, que influenciam o atual Direito Civil.
Deste modo, usamos a denominação “poder familiar”, aplicável tanto ao pai quanto à mãe.
Há uma notável limitação na aplicação de referido efeito da condenação, só é cabível em caso
de crime doloso e que seja punido com reclusão, além de o crime ter como vítima o filho, o
tutelado ou o curatelado.
o A inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime
doloso. Se o veículo for utilizado para a prática de crime doloso, haverá a imposição da
inabilitação para dirigir veículo, ao condenado, como efeito extrapenal da sentença
condenatória. Não se deve confundir referida previsão com os crimes culposos praticados na
direção de veículo automotor, como o homicídio culposo e a lesão corporal culposas previstos
no Código de Trânsito Brasileiro. Referido Código, em seu artigo 292, prevê a possibilidade de
imposição da suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir
veículo automotor, de forma isolada ou cumulativa com outras penas.
Reabilitação
É um instituto de Direito Penal, de natureza declaratória, que concede o sigilo dos registros sobre o
seu processo e condenação. Também pode neutralizar os efeitos extrapenais específicos da
condenação. Possui o escopo de, atendidos determinados requisitos, permitir que o acusado obtenha
a reinserção social, sem que fique para sempre tachado pela condenação passada. A reabilitação é
tratada nos artigos 93 a 95 do Código Penal. Portanto, a reabilitação alcança todas as penas impostas
em condenação transitada em julgada. Assegura que tais registros serão sigilosos. Entretanto,
referido sigilo não é absoluto, nos termos do que prevê o artigo 748 do Código de Processo Penal,
situado em capítulo que trata da reabilitação. O sigilo é relativizado apenas em relação a requisições
efetuadas por juízes criminais. Ou seja, apenas os juízos criminais, sejam da Justiça Federal, Justiça
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Militar, Justiça Eleitoral ou Justiça Estadual, poderão ter acesso às informações atingidas pela
reabilitação. O artigo 94 do Código Penal trata dos requisitos para a reabilitação criminal. Portanto,
os requisitos são os seguintes:
o decurso do prazo de dois danos desde a extinção ou o cumprimento da pena. Neste período,
serão computados o de livramento condicional e de suspensão condicional da pena, desde
que não haja a revogação deles;
o domicílio no país no prazo acima mencionado. Há doutrinadores, como Guilherme Nucci, que
entendem que este requisito é inconstitucional, por limitar o direito de ir e vir de quem já
cumpriu a sanção penal pela qual foi condenado;
o demonstração efetiva e constante, também no período acima definido, de bom
comportamento público e privado;
o ressarcimento do dano ou demonstração de absoluta impossibilidade de fazê-lo, comprovada
à época do requerimento. Pode haver, ainda, prova da renúncia da vítima ou de novação da
dívida.
O pedido de reabilitação, nos termos do parágrafo único do artigo 94 do CP, pode ser refeito, acaso
negado, com novos elementos que comprovem o preenchimento dos pressupostos exigidos pela lei.
Há a possibilidade de revogação da reabilitação, de ofício pelo juiz ou a requerimento do Ministério
Público, caso o reabilitado seja novamente condenado, com trânsito em julgado, como reincidente,
a pena que não seja de multa. Portanto, não cabe revogação se a nova condenação lhe impuser
apenas a pena de multa. É o que prevê o artigo 95 do Código Penal. Os artigos 743 a 750 do Código
de Processo Penal regulam também a reabilitação criminal, com a previsão do procedimento a ser
adotado para o pedido feito pelo condenado.
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Um importante aspecto do estudo do Direito Penal é a função deste ramo do Direito para a
sociedade. Como sabemos o Direito é essencial para a vida da sociedade, o que foi mencionado por
Ulpiano com a expressão Ubi homo ibi societas; ubi societas, ibi jus, que significa que, onde está o
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homem, está a sociedade; onde está a sociedade, está o Direito. Logo, cumpre entender qual a
relevância do Direito Penal para a sociedade. De início, podemos imaginar sua função preventiva. O
Direito Penal serve para coibir e reprimir os comportamentos mais danosos para a sociedade,
utilizando a ameaça de suas sanções, que são graves. Entretanto, a função do Direito Penal é mais
ampla que seu aspecto repressivo.
o Função ético-social: Segundo Welzel, o Direito Penal possui, além da função preventiva, um
caráter ético-social. Essa função ético-social se concretiza na seleção de bens jurídicos a serem
tutelados pela norma penal, com atenção aos valores da ética e da sociedade que estão
presentes do Direito Positivo, ou seja, nas leis. O valor de cada bem jurídico é analisado em
conjunto com os demais, o que forma a ordem social. Essa função do Direito Penal busca
manter o vínculo ético-social, garantindo os valores e a segurança da sociedade, reagindo
contra aqueles que os violam.
o Ademais, há a corrente de pensamento denominada Funcionalismo, que também se debruça
sobre a função efetivamente desempenhada pelo Direito Penal na atualidade. Há duas
subdivisões do funcionalismo:
Funcionalismo Sistêmico ou Radical: possui base na teoria de Niklas Luhmann, que trata
dos sistemas. Segundo Luhmann, de forma bastante resumida, o Direito é um sistema
autopoiético, ou seja, possui suas próprias unidades de reprodução. Isto quer dizer que o
Direito produz e reproduz cada um dos seus elementos. Deste modo, o Direito resolve os
conflitos, mas também os produz, ao ser base para reclamação de um direito quando há sua
violação. Prosseguindo, o sistema possui um código, o qual define o que é lícito e o que é
ilícito (infração penal), o que implica em um fechamento operacional. Por outro lado, existe
uma abertura, que é cognitiva (de conhecimento), pois o sistema define o lícito e o ilícito de
acordo com a realidade social, que está fora. Feita esta breve introdução sobre as bases do
funcionalismo sistêmico, devemos ter em mente que, para ele, a função precípua do Direito
Penal é a proteção da norma por si mesma, e não a proteção dos bens jurídicos. O crime
representa um desvalor para a sociedade, por ser um comportamento contrário à identidade
normativa do grupo social. Cuida-se de uma falta de fidelidade com o direito. O Direito Penal,
portanto, aplica suas sanções para manter a confiança em sua efetividade. A partir daí, é
possível visualizar os indivíduos que reiteradamente descumprem a norma penal, desviando-
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se dela. Devem ser vistos como inimigos e como tais combatidos, não sendo mais tratados
como cidadãos. Daí a denominação Direito Penal do Inimigo. Os criminosos de alta
periculosidade devem ser tratados, deste modo, como inimigos do Estado. Só se reserva a
efetiva observância das garantias penais e, portanto, um Direito Penal do Cidadão, aos
indivíduos que praticam infrações penais com menor ofensividade, aqueles que não possuem
alta periculosidade. Como exemplos de criminosos de alta periculosidade, podem ser citados
os que praticam terrorismo, crimes econômicos, delitos sexuais e os que integram
organização criminosa, dentre outros. O Direito Penal do Inimigo se relaciona com a terceira
velocidade do Direito Penal, matéria que será tratada mais adiante, nesta mesma aula. A
doutrina aponta como decorrência desta teoria um expansionismo da disciplina, tendente a
um “Direito Penal máximo”. Seu grande defensor é o jurista Günther Jakobs.
Funcionalismo teleológico ou moderado: preconiza que só há crime quando há a criação
de um risco proibido, do qual decorra o resultado criminoso. Entende que a função do Direito
Penal é proteger os bens fundamentais da sociedade, considerados assim os que representam
os valores essenciais à convivência do grupo social. Deve-se atenção ao princípio da
intervenção mínima, considerando-se como delituosos apenas os fatos que causem lesão ou
perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. Ademais, não se deve considerar delito a conduta
apenas formalmente típica, sendo necessário se analisar se houve também tipicidade
material, ou seja, significativa lesão ou ameaça de lesão ao bem jurídico. A imputação do
resultado ao agente não deve ser analisada de forma puramente causal, mas também de um
ponto de vista jurídico, segundo a teoria da imputação objetiva. Na falta de significativa lesão
ou ameaça de lesão, incide o princípio da insignificância, afastando a tipicidade. Essa corrente
também defende a leitura das normas penais de acordo com valores advindos da política
criminal, bem como com a observância das garantias e dos direitos fundamentais dos
indivíduos. Reduz-se, portanto, o alcance da tipicidade, com a visão de que as sanções penais
não devem ser a solução para todo comportamento indesejado pela sociedade.
Com fundamento nessas considerações, fica questionável a admissão dos crimes de perigo
abstrato, ou seja, aqueles cujo perigo apresentado ao bem jurídico é presumido, não
necessitando de provas de sua existência para a configuração do delito. Grande expoente
deste segmento é o jurista Claus Roxin.
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o Ordem de execução das penas: a ordem de execução das penas é tratada pelo artigo 69,
que regula o chamado concurso material de crimes. Deste modo, executa-se primeiro a pena de
reclusão e, na sequência, a de detenção. É possível o cumprimento simultâneo das penas restritivas
de direitos, se forem compatíveis entre si. Com relação à sequência de cumprimento das penas, há
também previsão específica do artigo 76 do Código Penal. Portanto, as penas mais graves devem
ser executadas em primeiro lugar. As penas de reclusão são consideradas mais graves, sendo que
sua execução deve preceder à execução da pena de detenção.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este é o fim de mais uma aula nossa. Espero que tenham compreendido bem os efeitos da
condenação, o instituto da reabilitação e quais os limites das penas no ordenamento jurídico
brasileiro. Vimos também, retomando a teoria do crime, o funcionalismo e suas vertentes sobre as
funções do Direito Penal, além de voltarmos ao tema das penas para analisarmos o trabalho do preso,
o regime especial, os direitos do preso e o relevante tema da detração.
Relembro que não esgotamos, neste curso, a questão da execução das penas, considerando que,
aqui, não tomamos como base a legislação extravagante, no caso da Lei de Execução Penal, que é
parte do Direito Penal Especial. Nossa base de estudos, nesta disciplina, é o Código Penal, sendo ele
nossa referência para o conteúdo das aulas.
Estudem de forma contínua, com foco, dedicação e persistência. Estudar pode e deve ser prazeroso,
é uma forma de mudar nossa concepção sobre nós mesmos e o mundo. Além disso, somos nós que
podemos nos levar até os nossos objetivos. O que lhe separa dos seus sonhos é sua decisão diária de
se dedicar e de trabalhar em prol do seu futuro.
Até a próxima aula. Forte abraço e meus desejos de sempre de sucesso!
Prof. Michael Procopio.
procopioavelar@gmail.com
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