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Processo do

conhecimento penal
Prof.ª Cláudia Fernanda Souza de Carvalho Becker Silva

Indaial - 2019
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2019

Elaboração:
Prof.ª Cláudia Fernanda Souza de Carvalho Becker Silva

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

SI586p

Silva, Cláudia Fernanda Souza de Carvalho Becker

Processo do conhecimento penal. / Cláudia Fernanda Souza de


Carvalho Becker Silva. – Indaial: UNIASSELVI, 2019.

204 p.; il.

ISBN 978-85-515-0330-0

1. Processo penal. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 345.8105

Impresso por:
Apresentação
Olá, acadêmico!

O processo penal, defendido pela escola clássica da criminologia


e adotado no Brasil, surge como uma forma de defender o cidadão dos
desmandos do Estado, uma vez que com ele, sabemos como serão as regras
durante o procedimento de investigação e processamento de qualquer pessoa
que cometa um crime. Por isso é indispensável o seu estudo.

Na Unidade 1 estudaremos os princípios e regras aplicáveis ao


processo penal, a investigação das infrações penais e as ações penais. Para
que o processo exista é indispensável a presença de determinados sujeitos
processuais, como o juiz, o promotor, o advogado e até mesmo o acusado, e
é com o estudo deles que iniciaremos nossa Unidade 2.

Daremos continuidade com a Unidade 2 estudando as medidas


cautelares cabíveis no decorrer do processo penal (e até mesmo do inquérito
policial). Você sabia que as prisões provisórias, como o flagrante e a preventiva,
são espécies de medida cautelar? Porém, elas não são as únicas, por isso
estudaremos todas com muita atenção. Também analisaremos as espécies de
liberdade provisórias que podem ser concedidas ao preso provisório.

Na unidade 3, nós dedicaremos nosso estudo para entender a


competência da jurisdição penal, e os recursos cabíveis no processo penal.

Seja bem-vindo ao módulo de processo penal, será um prazer


acompanhar você nesta caminhada para o saber.

Prof.ª Cláudia Fernanda Souza de Carvalho Becker Silva

III
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – TEORIA DO CONHECIMENTO PENAL................................................................ 1

TÓPICO 1 – PROCESSO PENAL NO DIREITO BRASILEIRO...................................................... 3


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 3
2 O PROCESSO PENAL E O DIREITO DE PUNIR .......................................................................... 3
3 PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL.............................................................................................. 4
3.1 DEVIDO PROCESSO LEGAL......................................................................................................... 5
3.2 PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA........................................................................ 5
3.3 CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA....................................................................................... 6
3.4 JUIZ NATURAL ............................................................................................................................... 7
3.5 IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ..................................................................................................... 9
3.6 IGUALDADE PROCESSUAL......................................................................................................... 10
3.7 VERDADE REAL ............................................................................................................................. 10
3.8 PUBLICIDADE.................................................................................................................................. 11
3.9 DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO................................................................................................... 11
3.10 PRINCÍPIO DO “NE BIS IN IDEM”............................................................................................. 12
3.11 DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO . ............................................................................... 13
3.12 PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA .................................................................................. 13
3.13 INADMISSIBILIDADE DE PROVAS OBTIDAS POR MEIO ILÍCITO................................... 14
4 SISTEMAS DE PROCESSO PENAL.................................................................................................. 15
4.1 SISTEMA INQUISITIVO................................................................................................................. 15
4.2 SISTEMA ACUSATÓRIO................................................................................................................ 16
4.3 SISTEMA MISTO.............................................................................................................................. 17
4.4 SISTEMA ADOTADO PELO BRASIL............................................................................................ 18
5 INTERPRETAÇÃO PROCESSUAL PENAL ................................................................................... 19
5.1 INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA.................................................................................................... 19
5.2 APLICAÇÃO ANALÓGICA........................................................................................................... 19
6 A LEI PROCESSUAL NO TEMPO .................................................................................................... 20
7 A LEI PROCESSUAL NO ESPAÇO.................................................................................................... 21
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 23
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 25

TÓPICO 2 – INQUÉRITO POLICIAL.................................................................................................. 27


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 27
2 PERSECUÇÂO PENAL......................................................................................................................... 27
3 INQUÉRITO POLICIAL....................................................................................................................... 28
3.1 CONCEITO E CARACTERÍSTICAS.............................................................................................. 28
3.2 NATUREZA JURÍDICA................................................................................................................... 28
3.3 CARACTERÍSTICAS........................................................................................................................ 29
3.3.1 Inquisitivo................................................................................................................................. 29
3.3.2 Sigiloso...................................................................................................................................... 29
3.3.3 Instrumental............................................................................................................................. 30
3.3.4 Obrigatório e dispensável ..................................................................................................... 30

VII
3.3.5 Meramente informativo.......................................................................................................... 31
3.3.6 Forma escrita............................................................................................................................ 31
3.4 TITULARIDADE . ............................................................................................................................ 32
3.5 VALOR PROBATÓRIO ................................................................................................................... 33
3.6 PRAZO .............................................................................................................................................. 33
3.7 PROCEDIMENTO............................................................................................................................ 34
3.8 INDICIAMENTO . ........................................................................................................................... 36
3.9 TERMO CIRCUNSTANCIADO...................................................................................................... 37
3.10 PROVIDÊNCIAS DO MINISTÉRIO PÚBLICO.......................................................................... 37
3.11 OUTRAS FORMAS DE INVESTIGAÇÃO PRELIMINAR........................................................ 38
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 39
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 40

TÓPICO 3 – AÇÃO PENAL.................................................................................................................... 43


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 43
2 AÇÃO PENAL........................................................................................................................................ 43
3 AÇÃO PENAL PÚBLICA..................................................................................................................... 46
3.1 PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL PÚBLICA . .............................................................................. 46
3.2 AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO
OU REQUISIÇÃO DO MINISTRO DA JUSTIÇA........................................................................ 48
3.3 AÇÃO PENAL PÚBLICA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA........................................................... 51
4 AÇÃO PENAL PRIVADA.................................................................................................................... 51
4.1 PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL PRIVADA................................................................................ 53
4.2 AÇÃO PENAL PRIVADA (EXCLUSIVAMENTE PRIVADA).................................................... 53
4.3 AÇÃO PENAL PRIVADA PERSONALÍSSIMA........................................................................... 54
4.4 AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA........................................................... 54
4.5 EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE ESPECÍFICA PARA A AÇÃO PENAL PRIVADA........... 57
4.5.1 Decadência................................................................................................................................ 57
4.5.2 Renúncia.................................................................................................................................... 58
4.5.3 Perdão do ofendido................................................................................................................. 59
4.5.4 Perempção................................................................................................................................. 59
5 DENÚNCIA E QUEIXA CRIME......................................................................................................... 60
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 63
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 66
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 67

UNIDADE 2 – DOS SUJEITOS PROCESSUAIS E DAS MEDIDAS CAUTELARES................. 69

TÓPICO 1 – SUJEITOS PROCESSUAIS.............................................................................................. 71


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 71
2 JUIZ .......................................................................................................................................................... 71
3 MINISTÉRIO PÚBLICO...................................................................................................................... 75
4 ACUSADO.............................................................................................................................................. 78
4.1 DIREITOS DO ACUSADO ............................................................................................................. 81
5 DEFENSOR............................................................................................................................................. 84
6 CURADOR ............................................................................................................................................. 85
7 ASSISTÊNCIA........................................................................................................................................ 86
8 PERITOS E INTÉRPRETES................................................................................................................. 86
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 88
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 90

VIII
TÓPICO 2 – DAS MEDIDAS CAUTELARES..................................................................................... 93
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 93
2 DAS MEDIDAS CAUTELARES ........................................................................................................ 93
3 AS PRISÕES CAUTELARES EM ESPÉCIE...................................................................................... 94
3.1 A PRISÃO EM FLAGRANTE.......................................................................................................... 95
3.2 FORMALIDADES DA PRISÃO EM FLAGRANTE..................................................................... 98
3.3 PRISÃO PREVENTIVA.................................................................................................................. 100
3.4 PRISÃO TEMPORÁRIA................................................................................................................ 110
3.5 MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO................................................................. 112
RESUMO DO TÓPICO 2...................................................................................................................... 117
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 119

TÓPICO 3 – LIBERDADE PROVISÓRIA.......................................................................................... 121


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 121
2 RELAXAMENTO DA PRISÃO ........................................................................................................ 121
3 REVOGAÇÃO DA PRISÃO.............................................................................................................. 121
4 LIBERDADE PROVISÓRIA.............................................................................................................. 122
4.1 LIBERDADE PROVISÓRIA SEM FIANÇA................................................................................ 124
4.2 LIBERDADE PROVISÓRIA COM FIANÇA............................................................................... 125
LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................. 129
RESUMO DO TÓPICO 3...................................................................................................................... 134
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 135

UNIDADE 3 – DA COMPETÊNCIA E DOS RECURSOS.............................................................. 137

TÓPICO 1 – COMPETÊNCIA.............................................................................................................. 139


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 139
2 COMPETÊNCIA.................................................................................................................................. 139
2.1 COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA........................................................................... 140
2.1.1 Justiça Militar......................................................................................................................... 140
2.1.2 Justiça do trabalho................................................................................................................. 141
2.1.3 Justiça eleitoral........................................................................................................................ 142
2.1.4 Justiça federal......................................................................................................................... 142
2.1.5 Justiça estadual ..................................................................................................................... 143
2.2 FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO ............................................................................ 144
2.3 REGRAS DE COMPETÊNCIA INFRACONSTITUCIONAL................................................... 146
2.3.1 Do lugar da infração ............................................................................................................. 146
2.3.2 Do domicílio ou residência do réu...................................................................................... 148
2.3.3 Da natureza da infração e da distribuição ........................................................................ 148
2.3.4 Da conexão ou continência e da prevenção....................................................................... 149
RESUMO DO TÓPICO 1...................................................................................................................... 152
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 154

TÓPICO 2 – DOS RECURSOS I.......................................................................................................... 157


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 157
2 TEORIA GERAL DOS RECURSOS................................................................................................. 157
2.1 PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE.................................................................................. 158
2.2 FATOS IMPEDITIVOS DO RECURSO ....................................................................................... 159
2.3 EFEITOS DO RECURSO ............................................................................................................... 160

IX
3 RECURSO EM SENTIDO ESTRITO – RESE................................................................................ 161
3.1 PROCESSAMENTO DO RESE..................................................................................................... 163
3.2 EFEITOS DO RESE........................................................................................................................ 164
4 APELAÇÃO ......................................................................................................................................... 165
4.1 CLASSIFICAÇÃO.......................................................................................................................... 168
4.2 PROCESSAMENTO ..................................................................................................................... 168
4.3 REFORMATIO IN PEJUS.............................................................................................................. 170
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 171
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 173

TÓPICO 3 – DOS RECURSOS II........................................................................................................ 175


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 175
2 DOS EMBARGOS DECLARATÓRIOS ........................................................................................ 175
3 DA REVISÃO ..................................................................................................................................... 177
3.1 HIPÓTESES DE CABIMENTO.................................................................................................... 178
3.2 PROCESSAMENTO ..................................................................................................................... 180
4 DA CARTA TESTEMUNHÁVEL ................................................................................................... 182
5 HABEAS CORPUS............................................................................................................................. 183
5.1 CABIMENTO DO HABEAS CORPUS ...................................................................................... 183
5.2 COMPETÊNCIA PARA O PROCESSAMENTO DO HABEAS CORPUS............................. 185
5.3 LEGITIMIDADE PARA O HABEAS CORPUS......................................................................... 188
5.4 PROCESSAMENTO DO HABEAS CORPUS ........................................................................... 188
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 191
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 195
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 197
REFERÊNCIAS....................................................................................................................................... 199

X
UNIDADE 1

TEORIA DO CONHECIMENTO PENAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• introduzir o acadêmico às noções do Direito Processual Penal;

• identificar as diferenciações sobre os conceitos principais de Direito Pro-


cessual Penal;

• adentrar o estudante no mundo dos princípios processuais penais;

• adentrar o estudante no mundo do inquérito policial;

• constatar as ideias principais das teorias das ações penais.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – PROCESSO PENAL NO DIREITO BRASILEIRO

TÓPICO 2 – INQUÉRITO POLICIAL

TÓPICO 3 – AÇÃO PENAL

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

PROCESSO PENAL NO DIREITO BRASILEIRO

1 INTRODUÇÃO
O direito de punir, exercido pelo Estado, não pode ser absoluto, sob
pena de o Estado se tornar autoritário e retornarmos ao período dos ditadores
que exercem todo o poder sem encontrar ação resistida alguma por parte dos
cidadãos. Por isso, é importante termos um processo penal forte, com normas
bem definidas na orientação e limitação deste poder de punir.

Mas, às vezes, as leis não são suficientes porque não conseguem prever
todas as possibilidades de aplicação do direito, por isso é importante o estudo dos
princípios, que são aqueles que irão balizar o Estado na confecção da legislação
ou até mesmo na falta desta.

Além disso, é importante a compreensão de como e onde podemos aplicar


o processo penal e por isso iremos estudas as formas de interpretação, e aplicação
do processo penal no tempo e no espaço.

Então, convidamos você a começar essa empreitada na busca pelo


conhecimento!

2 O PROCESSO PENAL E O DIREITO DE PUNIR


O processo penal é uma forma de se impor regras e deter o poder punitivo
exercido pelo Estado contra os cidadãos.

Lopes Jr. (2018, p. 33) afirma que:

existe uma íntima relação e interação entre a história das penas e o


nascimento do processo penal, na medida em que o processo penal
é um caminho necessário para alcançar-se a pena e, principalmente,
um caminho que condiciona o exercício do poder de penar (essência
do poder punitivo) à estrita observância de uma série de regras que
compõe o devido processo penal.

3
UNIDADE 1 | TEORIA DO CONHECIMENTO PENAL

Nos primórdios, não se podia falar em poder punitivo do Estado, porque


esse era exercido através da vingança privada. Era a autotutela que era exercida e
que resolvia os conflitos entre os particulares. Então se um vizinho roubava uma
galinha, o vizinho prejudicado ia até sua casa e roubava uma cabra.

A Igreja assumiu o importante papel de detentora do ius puniendi, sendo


ela que aplicou a lei divina aos casos concretos, passando o mundo por um
período muito obscuro neste período.

O Estado passa a assumir o papel de detentor do poder punitivo, porém,


surge o problema de o mesmo Estado fazer a lei e a aplicar (na pessoa dos reis),
porque esse Estado não encontra limites para sua ânsia punitivista, exercendo um
poder ilimitado.

Dentro desse contexto histórico surgem as teorias de separação de Poderes.

Com base na doutrina de Montesquieu (O Espírito das Leis), o poder


estatal deveria ser exercido por três Poderes, independentes do
ponto de vista orgânico e funcional. Assim, surge a divisão que hoje
se conhece, pela qual o Estado é composto dos Poderes Legislativo,
Executivo e Judiciário (BONFIM, 2017, p. 34).

Assim, o poder punitivo do Estado começa a encontrar limites dentro


da atuação através das normas processuais e penais legisladas pelo Poder
Legislativo. “Do ponto de vista do Estado, o estabelecimento de processos,
de modo geral, é, assim, uma forma de estabelecer limitações aos seu poder”
(BONFIM, 2017, p. 34).

DICAS

O processo penal serve como uma limitação ao direito de punir exercido pelo
Estado, protegendo os cidadãos dos desmandos Estatais com a fixação antecipada das regras
pelas quais o cidadão irá responder.

3 PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL


Princípios gerais do direito são preceitos de orientação gerais e abstratos
não apenas para a comunidade, mas principalmente para os Poderes instituídos.
Assim, eles devem orientar o Poder Legislativo no momento da confecção das
leis, o Poder Executivo no momento de estruturação das políticas públicas do
País, e o Poder Judiciário no momento de aplicação da lei.

4
TÓPICO 1 | PROCESSO PENAL NO DIREITO BRASILEIRO

Os princípios gerais do direito são o eixo condutor da sociedade, as


normas que embora não escritas devem ser seguidas por todos.

Os princípios não precisam estar previstos expressamente em algum


texto legal, embora a Constituição do Brasil de 1988 mencione expressamente
alguns deles, por exemplo, a isonomia. Contudo, mesmo os não previstos podem
ser utilizados para fundamentar decisões judiciais como forma de interpretação
do direito.

Existem alguns princípios que são gerais a todo o ordenamento jurídico,


com a isonomia, que determina que todos devem ser tratados de maneira igual
na medida de sua igualdade; e outros que são aplicáveis a apenas um ramo do
direito, como o princípio da boa-fé objetiva do direito civil.

Assim, mesmo que o princípio não esteja positivado na legislação escrita


do País, ele faz parte da lógica do sistema, integrando e acrescentando coesão
ao todo.

Por isso se torna tão importante o estudo e a análise dos princípios


aplicáveis ao campo do processo penal. Assim, passemos a esse estudo
pormenorizado.

3.1 DEVIDO PROCESSO LEGAL


O princípio do devido processo legal está previsto em nossa Constituição
Federal no artigo 5º, LIV que prescreve que “ninguém será privado da liberdade
ou de seus bens sem o devido processo legal” (BRASIL, 1988), ou seja, determina
que nenhuma pessoa pode ser presa, ou ter qualquer de seus bens retido sem ter
dito a chance de se defender perante um tribunal dentro das regras estabelecidas
previamente para o processo.

Este princípio divide-se em devido processo legal material e formal, sendo


que o devido processo legal material se constitui pelas garantias que protegem os
cidadãos contra as ações abusivas cometidas pelo Estado na restrição de direitos.
Já o devido processo legal formal é a garantia dos acusados de serem processados
em conformidade com o processo.

3.2 PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA


O princípio da presunção de inocência vem previsto no artigo 5º, LVII da
Constituição Federal e determina que “ninguém será considerado culpado até o
trânsito em julgado de sentença penal condenatória”.

O professor Aury Lopes Júnior (2018, p. 96) defende uma dupla dimensão
de aplicação deste princípio, sendo que:

5
UNIDADE 1 | TEORIA DO CONHECIMENTO PENAL

na dimensão interna, é um dever de tratamento imposto – inicialmente


– ao juiz, determinando que a carga da prova seja inteiramente do
acusador (pois, se o réu é inocente, não precisa provar nada) e que
a dúvida conduza inexoravelmente à absolvição (in dúbio pro reo);
ainda na dimensão interna, implica severas restrições ao (ab)uso das
prisões cautelares (como prender alguém que não foi definitivamente
condenado?). Enfim, na dimensão interna, a presunção de inocência
impõe regras de tratamento e julgamento para o juiz. Externamente,
ao processo, a presunção de inocência exige uma proteção contra a
publicidade abusiva e a estigmatização (precoce do réu).

Princípio muito discutido recentemente por causa da decisão judicial


do Supremo Tribunal Federal no HC 126.292/SP, de relatoria do Ministro
Teori Zavascki, modificou o paradigma do que se entende por sentença penal
condenatória. Nesta decisão, o STF determinou o cabimento da prisão pena –
aquela decorrente de uma sentença penal condenatória – após a análise pelo
duplo grau de jurisdição, não havendo mais a necessidade de aguardar-se o
trânsito em julgado da decisão.

E
IMPORTANT

Ementa: CONSTITUCIONAL. HABEAS CORPUS. PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL


DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA (CF, ART. 5º, LVII). SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA
CONFIRMADA POR TRIBUNAL DE SEGUNDO GRAU DE JURISDIÇÃO. EXECUÇÃO
PROVISÓRIA. POSSIBILIDADE. 1. A execução provisória de acórdão penal condenatório
proferido em grau de apelação, ainda que sujeito a recurso especial ou extraordinário,
não compromete o princípio constitucional da presunção de inocência afirmado pelo
artigo 5º, inciso LVII da Constituição Federal. 2. Habeas corpus denegado. (STF, HC
126292, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado em 17/02/2016, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-100 DIVULG 16-05-2016 PUBLIC 17-05-2016, destacou-se).

3.3 CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA


Os princípios do contraditório e da ampla defesa vêm previstos no artigo
5º, LV, da Constituição Federal, que determina “aos litigantes, em processo judicial
ou administrativo, e aos acusados em geral serão assegurados o contraditório e a
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.

Embora se tratem de dois princípios autônomos, por serem entendidos


um como complemento do outro, é comum entre os autores tratá-los juntos e
muitas vezes são até mesmo considerados sinônimos. Veremos separadamente.
Segundo Bonfim (2017, p. 74):

6
TÓPICO 1 | PROCESSO PENAL NO DIREITO BRASILEIRO

o princípio do contraditório significa que cada ato praticado durante


o processo seja resultante da participação ativa das partes. Origina-se
no brocardo audiatur et altera pars. A aplicação do princípio, assim, não
requer meramente que cada ato seja comunicado e cientificado à parte.
Relevante é que o juiz, antes de proferir cada decisão ouça as partes,
dando-lhes igual oportunidade para que se manifestem, apresentando
argumentos e contra-argumentos. Destarte, o juiz, ao proferir a
decisão deve oferecer às partes oportunidade para que busquem, pela
via da argumentação, ou juntando elementos de prova, se for o caso,
influenciar a formação de sua convicção.

Assim, nota-se que o princípio do contraditório assegura a parte


que participe da confecção de todas as provas do processo, que possa dela se
manifestar mesmo que não tenha sido o autor da prova, e que possa haja contra-
argumentação de todos os fatos e provas produzidos e juntados ao processo.

Já o princípio da ampla defesa determina que seja possibilitada à parte a


produção de sua defesa nas duas modalidades de defesa possíveis no processo: a
defesa técnica e a autodefesa.

A defesa técnica é aquela exercida em nome da parte pelo advogado da


parte – indiferente se esse patrono é constituído pela parte, ou nomeado pelo
juiz. Essa defesa técnica é indisponível e indispensável para a concreta efetivação
da ampla defesa, assim, se o réu não tiver condições financeiras para contratar
um advogado, o juiz poderá determinar a notificação da defensoria pública ou
nomear um advogado para funcionar no caso sub judice.

Já a autodefesa é a exercida pelo réu pessoalmente, geralmente no


momento do interrogatório, quando o réu terá a oportunidade de relatar ao juiz
a sua versão pessoal dos fatos. Porém, essa modalidade de defesa exercida pelo
próprio réu pode ser por ele dispensada se ele declarar que prefere exercer seu
direito ao silêncio, sendo que o réu não é obrigado a se manifestar pessoalmente
no processo.

3.4 JUIZ NATURAL


O princípio do Juiz natural está previsto no artigo 5º, LIII, da Constituição
Federal, determinando que “ninguém será processado nem sentenciado senão
pela autoridade competente” (BRASIL, 1988), e artigo 5º, XXXVII, da Constituição
Federal que dispõe que “não haverá juízo ou tribunal de exceção” (BRASIL, 1988).

Assim, este princípio determina que o órgão jurisdicional competente


para o julgamento dos crimes deve ser previamente conhecido dentro das regras
gerais de competência e distribuição de processos firmadas no regimento interno
de cada tribunal, ou seja, a contrário sensu, ele veda os tribunais de exceção.

7
UNIDADE 1 | TEORIA DO CONHECIMENTO PENAL

Os tribunais de exceção são aqueles criados após o cometimento do crime


com o objetivo específico de julgar o crime para o qual ele foi criado, extirpando
assim o direito do acusado de ter um julgamento imparcial.

Não podemos confundir tribunal de exceção com vara especializada.


As varas especializadas são criadas pelo Regimento interno dos Tribunais com
a função pré-constituída para o julgamento de determinados crimes, antes da
ocorrência deles.

Segundo informação do site do CNJ – Conselho Nacional de Justiça –

A ideia do juiz natural tem origem na Constituição inglesa de 1215,


que previa ‘o julgamento legítimo de seus pares e pela lei da terra’.
Já a institucionalização desse princípio se deu na França. O artigo
17 do título II da Lei Francesa de 24.08.1790 determinava que ‘a
ordem constitucional das jurisdições não pode ser perturbada, nem
os jurisdicionados subtraídos de seus juízes naturais, por meio de
qualquer comissão, nem mediante outras atribuições ou evocações,
salvo nos casos determinados pela lei’ (CNJ, 2017, s.p.).

E
IMPORTANT

Ementa: AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. CRIME TIPIFICADO NO


ART. 305 DO CÓDIGO PENAL (SUPRESSÃO DE DOCUMENTO). PLEITO DE RECLASSIFICAÇÃO
DA IMPUTAÇÃO PARA O CRIME DO ART. 356 DO MESMO DIPLOMA (SONEGAÇÃO DE
PAPEL OU OBJETO DE VALOR PROBATÓRIO). INEXISTÊNCIA DE FLAGRANTE EQUÍVOCO
NA CAPITULAÇÃO POSTA NA DENÚNCIA. 1. Nos termos do Código de Processo Penal, o
momento apropriado, em regra, para o ajuste da tipificação trazida na denúncia ocorre por
ocasião da sentença, quando o magistrado pode proceder à emendatio ou à mutatio libelli
(arts. 383 e 384). Conforme dispõe o § 1º do art. 383, se, em consequência de definição
jurídica diversa, houver possibilidade de proposta de suspensão condicional do processo, o
juiz procederá de acordo com o disposto em lei; a significar, portanto, que o regular trâmite
da ação penal, no presente caso, não implica qualquer constrangimento ilegal ao direito de
locomoção do ora agravante. 2. Ademais, é da competência do juiz processante, sob o crivo
do contraditório e da ampla defesa, examinar os elementos de prova colhidos durante
a instrução criminal e conferir definição jurídica adequada para os fatos apurados. O
exame antecipado desta Corte Suprema a respeito da matéria, em rigor, implicaria clara
afronta ao juízo natural da causa penal. Precedentes. 3. Agravo Regimental a que se nega
provimento. (STF, HC 164907 AgR, Relator(a): Min. ALEXANDRE DE MORAES, Primeira Turma,
julgado em 15/02/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-039 DIVULG 25-02-2019 PUBLIC 26-
02-2019) (grifo nosso).

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TÓPICO 1 | PROCESSO PENAL NO DIREITO BRASILEIRO

3.5 IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ


O princípio da identidade física do juiz foi incluído no processo penal
apenas com a reforma processual penal de 2008. A Lei nº 11.719, que incluiu o §2º
no artigo 399 determinou que “O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a
sentença”.

Este princípio determina que a sentença penal deve ser proferida pelo juiz
que presidiu a audiência de instrução, isso porque o juiz que instruiu a audiência
e que presenciou a oitiva de todas as testemunhas, o interrogatório do réu, e
a confecção de todas as demais provas no processo, teve maior contato com o
instrumento probatório, sendo o mais qualificado para proferir essa sentença.

Esse princípio já foi aplicado até mesmo pelo STJ no julgamento a seguir
colacionado:

PENAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL


NO AGRAVO. REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL.  PRINCÍPIO DA IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ.
SENTENÇA ANULADA. SENTENÇA PROFERIDA QUANDO O
MAGISTRADO TITULAR AINDA NÃO HAVIA SIDO REDESIGNADO.
1. Apesar do entendimento de que a doutrina pátria e a jurisprudência
desta Corte Superior são firmes em assinalar que o princípio da
identidade física do juiz não pode ser interpretado de maneira
absoluta, por admitir exceções,  no presente caso, quando proferida
a sentença, o magistrado que presidiu a audiência de instrução e
julgamento, e colheu a prova testemunhal que serviu de amparo
para a sentença, não se teria afastado em razão de férias, licenças,
convocações, afastamento, remoções ou promoções. 2. Embargos de
declaração rejeitados (STJ. EDcl no AgRg no AgRg no AREsp 795932/
RJ. Rel. Min. Sebastião Reis Júnior. Sexta Turma. Julgado em 23 de
fevereiro de 2016).

Como o próprio acórdão demonstra, esse não é o princípio que pode ser
interpretado de maneira absoluta sob pena de impossibilitar o julgamento em
algumas situações como o juiz sair de licença saúde, férias, promoção etc. Porém,
sempre que possível, ele deve ser respeitado porque oportuniza um julgamento
mais próximo da busca da verdade real.

Esse princípio é ligado diretamente ao princípio anterior, o princípio do


juiz natural, sendo dele um desdobramento.

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UNIDADE 1 | TEORIA DO CONHECIMENTO PENAL

3.6 IGUALDADE PROCESSUAL


Deriva do princípio da isonomia previsto no art. 5º, caput da Constituição
Federal, que disciplina que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes” (BRASIL,1988).

Da mesma forma, dentro do processo penal, todos os atores processuais


devem ser tratados da mesma maneira, sendo-lhes oportunizadas as mesmas
oportunidades de produção de provas e de argumentações perante o juízo,
produzindo o que a doutrina chama de paridade de armas entre as partes.

Porém, Bonfim (2017, p. 82) lembra que às vezes esse princípio de


igualdade processual encontra uma certa relativização. Ele explica:

Com efeito, no âmbito do processo penal, no mais das vezes o litígio


contraporá o articular a um órgão do Estado. As partes litigantes,
portanto, serão essencialmente diferentes. Além disso, no litígio penal
estará em jogo a liberdade individual do acusado, direito fundamental,
o que justifica que o princípio da igualdade, no processo penal, seja
mitigado de forma a favorecer, em algumas situações a posição do
acusado (ex.: art. 386, VII, do CPP).

3.7 VERDADE REAL


No processo penal busca-se sempre a verdade real, pretende-se descobrir
a realidade dos fatos que estão sendo julgados naquela ação. Esse princípio se
opõe ao princípio da verdade formal, aquela que produzida dentro da realidade
provada através das provas carreadas ao fato.

No processo penal, existe a possiblidade da pena aplicada ao réu ser a


pena restritiva de sua liberdade, assim, o dever de produzir as provas necessárias
ultrapassa apenas as partes no processo, sendo que no artigo 156, CPP, está
determinado que “A prova da alegação incumbirá a quem fizer, sendo, porém,
facultado ao juiz de ofício I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a
produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando
a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida; II  –  determinar, no
curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para
dirimir dúvida sobre ponto relevante” (BRASIL, 1941).

Demonstra-se assim, que o objetivo do processo penal é a busca do que


realmente aconteceu no caso concreto, para possibilitar na sentença a aplicação
da verdade real.

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TÓPICO 1 | PROCESSO PENAL NO DIREITO BRASILEIRO

3.8 PUBLICIDADE
A regra geral dos atos processuais – e não apenas no processo penal – é
a publicidade em sua forma mais ampla, e assim encontra-se prevista no artigo
5º, LX, da Constituição Federal “a lei só poderá restringir a publicidade dos atos
processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem”
(BRASIL, 1988).

Essa regra também encontra-se prevista no Código de Processo Penal


no artigo Art. 792 “As audiências, sessões e os atos processuais serão, em regra,
públicos e se realizarão nas sedes dos juízos e tribunais, com assistência dos
escrivães, do secretário, do oficial de justiça que servir de porteiro, em dia e hora
certos, ou previamente designados” (BRASIL, 1941).

A publicidade é tida como ampla, plena, popular, absoluta, ou geral,


quando os atos processuais são praticados perante as partes, e, ainda,
abertos a todo o público. Nesse caso, além das partes, qualquer cidadão
do povo poderá acompanhar as audiências criminais de coleta de
provas e/ou julgamentos em qualquer grau de jurisdição, assim como
consultar os processos ou obter certidões. Como observa a doutrina,
a publicidade do processo implica os direitos de: a) assistência, pelo
público em geral, à realização dos atos processuais; b) narração
dos atos processuais, ou reprodução de seus termos, pelos meios
de comunicação social; c) consulta dos autos e obtenção de cópias,
extratos e certidões de quaisquer partes dele (LIMA, 2017, p. 63).

Porém, tanto a Constituição Federal como o Código de Processo Penal


preveem casos em que essa publicidade será restrita ou totalmente restringida.
Nesses casos, temos o que chamamos segredo de justiça. Esses casos estão
disciplinados no parágrafo 1º, do artigo 792, do CPP, e são casos que puderem
resultar escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem, como
é o caso, por exemplo de crimes contra a dignidade sexual, que sua publicidade
geraria grande inconveniente e vergonha para a vítima do delito.

3.9 DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO


Guilherme de Souza Nucci (2016, s.p.) assevera que:

Tem a parte o direito de buscar o reexame da causa por órgão


jurisdicional superior. O princípio é consagrado na própria
Constituição quando se tem em mira a estrutura do Poder Judiciário
em instâncias, bem como a expressa menção, feita no art. 102,II, da CF,
referente ao Supremo Tribunal Federal, cabendo-lhe julgar em recurso
ordinário : “a) o habeas corpus, o mandado de segurança, o habeas
data e o mandado de injunção decididos em única instância pelos
Tribunais Superiores, se denegatória a decisão; b) o crime político.

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UNIDADE 1 | TEORIA DO CONHECIMENTO PENAL

Outros autores entendem esse princípio como constitucional implícito


uma vez que é previsto expressamente na Convenção Americana dos Direitos
Humanos (art. 8.º, 2, h).

De toda sorte, esse princípio determina que os processos julgados


pelos juízes de primeiro grau podem ter suas decisões revistas pelos órgãos
colegiados superiores.

Há exceções que são as pessoas que possuem foro por prerrogativa de


função, porém nesse caso, não há afronta alguma ao princípio em análise porque
a decisão exarada será feita por um órgão colegiado, composto por juízes de
grau superior.

3.10 PRINCÍPIO DO “NE BIS IN IDEM”


O princípio do “ne bis in idem” veda que o acusado seja processado ou
punido duas vezes pelo mesmo fato delituoso – lembrando que o fato delituoso
é composto de data, hora, local, quem, o quê, contra quem. Bonfim (2017, p. 91)
afirma que:

No âmbito da proteção da coisa julgada, o princípio representa


uma garantia ao acusado que tenha sido absolvido por sentença
transitada em julgado. Não poderá o Estado deduzir uma pretensão
punitiva que tenha por objeto o mesmo fato, contra o mesmo
acusado, se este foi considerado inocente em decisão definitiva, não
mais sujeita a recurso.

Desta maneira, uma pessoa que foi julgada e absolvida por lesão corporal
na Rua São João, em São Paulo, no dia 3 de maio de 2016, às 16 horas, contra
Fulano, não pode ser novamente processada por lesão corporal na Rua São João,
em São Paulo, no dia 3 de maio de 2016, às 16 horas, contra Fulano.

Importante destacar apenas, que uma mesma ação pode ser processada
em diversas esferas jurídicas distintas sem ofender o princípio estudado.
Desta forma, uma mesma pessoa pode, pela prática de um determinado ato,
sofre uma sanção civil, outra penal, outra administrativa etc. Isto porque as
esferas são independentes entre si, distinguindo a natureza jurídica de cada
uma das ações.

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TÓPICO 1 | PROCESSO PENAL NO DIREITO BRASILEIRO

E
IMPORTANT

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. PENAL. TRÁFICO ILÍCITO


DE ENTORPECENTES. REINCIDÊNCIA. CONSIDERAÇÃO COMO AGRAVANTE E COMO
IMPEDITIVO DE APLICAÇÃO DA MINORANTE DO ART. 33, § 4.º, DA LEI N.º 11.343/2006. BIS IN
IDEM. INEXISTÊNCIA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. A jurisprudência da Suprema
Corte, seguida por este Superior Tribunal de Justiça, é no sentido de que a agravante genérica
da reincidência foi recepcionada pela Constituição da República, afastando-se a alegada
violação aos princípios da isonomia, da culpabilidade e do non bis in idem. 2. A reincidência,
específica ou não, não se compatibiliza com a causa especial de diminuição de pena
prevista § 4.º do art. 33 da Lei n.º 11.343/2006, dado que necessário, dentre outros
requisitos, seja o agente primário. Tal óbice e a exasperação da pena, na segunda fase,
não importam em bis in idem, mas em consequências jurídico-legais distintas de um
mesmo instituto. Precedentes. 3. Agravo regimental desprovido. (STJ, AgRg no HC 468.578/
MG, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 19/02/2019, DJe 11/03/2019,
destacou-se)

3.11 DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO


Este princípio foi incluído na Constituição Federal em 2004 com a emenda
constitucional 45, e hoje encontra-se previsto no artigo 5º, inciso LXXVIII, que
determina que “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados
a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua
tramitação”.

Assim, os réus com processo em tramitação têm o direito de ver seus


processos julgados em um tempo juridicamente razoável, isso porque se entende
que a mera acusação judicial já causa graves danos àquele que responde ao
processo, não podendo se prolongar indefinidamente.

3.12 PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA


Previsto no artigo 5º, XLV, da Constituição Federal, determina que
“nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar
o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas
aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio
transferido” (BRASIL, 1988).

Esse princípio determina que a ação penal não pode ultrapassar a pessoa
que está sendo investigada e que é o autor do fato delituoso. Assim, não se pode
processar a mãe porque ela criou o filho que se transformou em um assassino: a
ação penal deve ser somente contra o filho.

13
UNIDADE 1 | TEORIA DO CONHECIMENTO PENAL

Note que na esfera civil pode ser possível a responsabilidade decorrente de


culpa in vigilando ou in elegendo, mas isso não ocorre no direito penal e processual
penal. Na esfera criminal somente a pessoa que é a autora do fato criminoso é que
pode ser processada e condenada por ele.

3.13 INADMISSIBILIDADE DE PROVAS OBTIDAS POR MEIO


ILÍCITO
Esse princípio constitucional tem sua previsão no artigo 5º, LVI,
determinando que “são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios
ilícitos”; também previsto no Código de Processo Penal no artigo 157, incluído
pela Lei nº 11.690/2008, que disciplina que “São inadmissíveis, devendo ser
desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em
violação as normas constitucionais ou legais”.

Assim, as provas ilícitas produzidas na instrução processual penal devem


ser desentranhadas – retiradas – dos autos, para que não possam influenciar no
convencimento do magistrado. Bonfim (2017, p. 80) afirma que:

assim, conquanto o processo penal tenha por finalidade a busca pela


verdade real, esse valor encontra limites em outros valores tutelados
pelo ordenamento jurídico, principalmente nos direitos e garantias
fundamentais assegurados ao cidadão. Provas obtidas por meios
ilegítimos, portanto, não devem influir na formação do convencimento
do juiz.

E
IMPORTANT

Ementa: AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. QUADRILHA, CORRUPÇÃO


PASSIVA, VIOLAÇÃO DE SIGILO FUNCIONAL, FALSIDADE IDEOLÓGICA E LAVAGEM DE
DINHEIRO. INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS AUTORIZADAS POR DECISÃO JUDICIAL.
ALEGAÇÃO DE “QUEBRA DA CADEIA DE CUSTÓDIA”. PERDA OU SUBTRAÇÃO DE PARTE DAS
GRAVAÇÕES. CONSTRAGIMENTO ILEGAL RECONHECIDO NAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS.
AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE NA DETERMINAÇÃO DE REMESSA DOS AUTOS AO JUÍZO DE
PRIMEIRA INSTÂNCIA. 1. As provas ilícitas, bem como todas aquelas delas derivadas, são
constitucionalmente inadmissíveis, mesmo quando reconduzidas aos autos de forma
indireta, devendo, pois, serem desentranhadas do processo, não tendo, porém, o condão
de anulá-lo, permanecendo válidas as demais provas lícitas e autônomas delas não
decorrentes, ou ainda, que também decorreram de outras fontes, além da própria prova
ilícita; garantindo-se, pois, a licitude da prova derivada da ilícita, quando, conforme
salientado pelo Ministro EROS GRAU, “arrimada em elementos probatórios coligidos antes
de sua juntada aos autos”. 2. Assentou o Superior Tribunal de Justiça que, em matéria
de provas ilícitas, o art. 157, § 1º, do Código de Processo Penal, com a redação dada pela
Lei n. 11.690/2008, excepciona a adoção da teoria dos frutos da árvore envenenada na
hipótese em que os demais elementos probatórios não estiverem vinculados àquele cuja
ilicitude foi reconhecida. 3. Não há, portanto, nenhuma ilegalidade na remessa dos autos ao

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TÓPICO 1 | PROCESSO PENAL NO DIREITO BRASILEIRO

Juízo processante de primeira instância, a quem ordinariamente compete o primeiro exame


dos elementos de prova pertinentes à causa, para o fim de selecionar e expurgar as provas
contaminadas, mantendo hígida a porção lícita, delas independente. Em outras palavras, não
cabe a esta CORTE, nesta via estreita, se antecipar e proferir qualquer decisão acerca da
legalidade de provas que nem mesmo foram analisadas pelo Juízo competente. 4. Agravo
Regimental a que se nega provimento. (STF, HC 156157 AgR, Relator(a): Min. ALEXANDRE DE
MORAES, Primeira Turma, julgado em 19/11/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-251 DIVULG
23-11-2018 PUBLIC 26-11-2018) (grifou-se).

Esse tópico será aprofundado no momento do estudo das provas no


processo penal.

E
IMPORTANT

Esses são os princípios mais importantes do processo penal, porém, tem-se que
ter em mente que não são os únicos. Você consegue pensar em mais três princípios além
dos elencados aqui?

4 SISTEMAS DE PROCESSO PENAL


Sistemas de processos penais é a terminologia utilizada para denominar
a forma como se estrutura o processo penal em determinada nação, levando-se
em conta características específicas. Doutrinariamente, os sistemas se dividem
em sistema inquisitivo, sistema acusatório e sistema misto. Porém, hoje, nenhum
sistema penal no mundo pode ser classificado apenas como inquisitivo ou
acusatório, sendo que todos são mistos por causa da mistura de características,
como se verá a seguir.

4.1 SISTEMA INQUISITIVO


O sistema inquisitivo está ligado à época da Inquisição da Igreja Católica,
em que ela perseguia os hereges e utilizava o sistema inquisitivo como meio de
julgar e condená-los. Porém, esse sistema não está apenas ligado à Igreja Católica,
sendo amplamente utilizado na Idade Média para os processos criminais e até
mesmo para os processos civis.

Mas quais são as características deste sistema?

Nucci (2016, p. 75) elenca as características mais importantes apontando que:

15
UNIDADE 1 | TEORIA DO CONHECIMENTO PENAL

É caracterizado pela concentração de poder nas mãos do julgador,


que exerce, também, a função de acusador; a confissão do réu é
considerada a rainha das provas; não há debates orais, predominando
procedimentos exclusivamente escritos; os julgadores não estão sujeitos
à recusa; o procedimento é sigiloso; há ausência de contraditório e a
defesa é meramente decorativa.

Assim, através das características elencadas, chega-se à conclusão de que


esse tipo de sistema era típico do período dos reis absolutistas, em que os reis
possuíam todos os poderes. E que era totalmente incompatível com as ideias
iluministas adotadas pela Revolução Francesa, e por isso, esse tipo de sistema foi
recusado após a tomada de poder pelos revolucionários, havendo um rompimento
na ordem jurídica.

UNI

LEMBRE-SE: Julgador e acusador são funções exercidas pela mesma pessoa que
tem total poder de instruir o processo inclusive com torturas; a confissão é considerada a prova
mais importante, mesmo que obtida mediante tortura, sendo suficiente para condenação. O
procedimento é escrito e nele não é oportunizado o contraditório ou a defesa.

4.2 SISTEMA ACUSATÓRIO


O Sistema Acusatório era o utilizado na antiguidade, porém, entrou em
declínio quando passou a ser adotado o sistema inquisitivo.

Sua principal característica é a divisão de funções para pessoas diversas,


ou seja, o acusador e o julgador não podem ser a mesma pessoa, é necessário que
haja separação das funções, sendo cada uma exercida por uma pessoa diversa.
Com isso, pode-se chegar mais perto de um julgamento imparcial, já que o
julgador não estará vinculado a nenhuma das partes.

Desta forma, busca-se também uma maior paridade entre as partes, sendo
que a acusação é livre para acusar, sendo ela exercida pelo ofendido ou por
qualquer pessoa, mas o réu pode se defender, utilizando-se de todas as provas
admitidas, privilegiando-se a aplicação do contraditório e da ampla defesa. Essa
liberdade de convencer o juiz acarreta uma responsabilidade para as partes, que
é a de produzir todas as provas que eles entenderem necessárias, não cabendo ao
juiz essa produção de provas, apenas de maneira subsidiária.

Em regra, o procedimento é público e oral, mas houve momentos em que


o procedimento escrito foi utilizado, mas sem descaracterizar esse sistema. Em
regra, o réu responderá ao processo em liberdade.

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TÓPICO 1 | PROCESSO PENAL NO DIREITO BRASILEIRO

QUADRO 1 – QUADRO COMPARATIVO DOS SISTEMAS INQUISITORIAL E ACUSATÓRIO

SISTEMA INQUISITORIAL SISTEMA ACUSATORIAL

Separação das funções de acusar, defender e


julgar. Por consequência, caracteriza-se pela
Não há separação das funções de acusar,
presença de partes distintas (actum trium
defender e julgar que estão concentradas
personarum), contrapondo-se acusação e defesa
em uma única pessoa, que assume as
em igualdade de condições, sobrepondo-se a
vestes de um juiz inquisidor.
ambas um juiz, de maneira equidistante e
imparcial.

Como se admite o princípio da verdade


real, o acusado não é sujeito de direitos, O princípio da verdade real é substituído pelo
sendo tratado como mero objeto do princípio da busca da verdade, devendo a
processo, daí por que se admite inclusive prova ser produzida com fiel observância ao
a tortura como meio de se obter a contraditório e à ampla defesa.
verdade absoluta.

Gestão da prova: recai precipuamente sobre


Gestão da prova: o juiz inquisidor é as partes. Na fase investigatória, o juiz só
dotado de ampla iniciativa acusatória deve intervir quando provocado, e desde
e probatória, tendo liberdade para que haja necessidade de intervenção judicial.
determinar de ofício a colheita de Durante a instrução processual, prevalece
elementos informativos e de provas, seja o entendimento de que o juiz tem certa
no curso das investigações, seja no curso iniciativa probatória, podendo determinar
da instrução processual. a produção de provas de ofício, desde que o
faça de maneira subsidiária.

A separação das funções e a iniciativa


A concentração de poderes nas mãos probatória residual restrita à fase judicial
do juiz e a iniciativa acusatória dela preserva a equidistância que o magistrado
decorrente é incompatível com a garantia deve tomar quanto ao interesse das partes,
da imparcialidade (CADH, art. 8º, §1º) o sendo compatível com a garantia da
princípio do devido processo legal. imparcialidade e com o princípio do devido
processo legal.

FONTE: Lima (2017, p. 41)

4.3 SISTEMA MISTO


Também denominado de sistema francês, surge com o Código de Processo
Penal Francês de 1808 (Code d’Instruction Criminelle), pós-revolução Francesa.

O sistema inquisitivo, que dominava as nações em 1808, não se adequava


mais aos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade da revolução francesa. Com
o intuito de romper com a ordem jurídica anterior, o Código de Processo Penal
Francês de 1808 adotou um sistema misto, com uma fase preliminar inquisitiva e
uma fase posterior acusatória.

17
UNIDADE 1 | TEORIA DO CONHECIMENTO PENAL

Assim, esse sistema que conjuga a adoção dos dois outros sistemas é
composto de uma fase preliminar, em que vigora a sigilo, escrita e secreta, sem o
contraditório. E uma segunda fase, na qual o órgão acusador delimita a denúncia,
e o réu terá direito à defesa, assegurados o contraditório e a ampla defesa.

4.4 SISTEMA ADOTADO PELO BRASIL


Em relação ao sistema adotado pelo Brasil, os autores não são unânimes
em sua posição, havendo duas correntes doutrinárias a esse respeito. Vejamos:

• Hélio Tornaghi, Edilson Bonfim – O Brasil, pelo regramento do Código de


Processo Penal, adota o sistema misto, em que existe um inquérito policial, no
qual se objetiva a descoberta da materialidade e da autoria dos delitos, sendo
o procedimento sigiloso, escrito, sem contraditório; E uma segunda fase, a
processual, em que haverá a figura do acusador – geralmente exercida pelo
Ministério Público –, do defensor do réu, sendo o procedimento, em regra,
público e oral, em que serão aplicados os princípios do contraditório e da
ampla defesa, e será decidido por um juiz imparcial.

• Renato Brasileiro Lima – O Brasil adota o sistema acusatório, uma vez que a
Constituição de 1988 assegurou a divisão das funções de julgar, defender e
acusar, sendo que cada uma delas deve ser exercida por uma pessoa distinta;
além dos princípios do contraditório e da ampla defesa hoje figurarem no
rol dos direitos e garantias individuais fundamentais. Para ele o Código
de Processo Penal deve ser lido de uma maneira a se adaptar com os
preceitos constitucionais. Porém, o autor faz uma ressalva que mesmo sob
o entendimento de que o Brasil adota o sistema acusatório, esse sistema não
seria totalmente puro.

UNI

Lembre-se: Sistema Inquisitório – tem em uma mesma pessoa as funções de


acusar e defender, sendo sigiloso e sem a aplicação do contraditório e da ampla defesa.
Sistema Acusatório – pessoas diferentes exercem as funções de acusar, julgar e defender,
sendo o procedimento, em regra, público e oral, e sempre com a observância do contraditório
e da ampla defesa.
Sistema Misto – possui uma fase inquisitória e outra acusatória.

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TÓPICO 1 | PROCESSO PENAL NO DIREITO BRASILEIRO

5 INTERPRETAÇÃO PROCESSUAL PENAL


A interpretação das leis faz parte da atividade do operador do direito,
seja ele juiz, promotor, delegado, advogado etc. No sistema brasileiro, as leis
são redigidas pelo Legislativo, em regra, e após entrarem em vigor, passam a
valer como critério para que os cidadãos pautem suas atitudes. Por isso, as leis
deveriam ser claras e de fácil intelecção e aplicação, mas nem sempre é assim.

Por isso é tão importante conhecer as formas possíveis de interpretação da


lei processual penal.

O artigo 3º do Código de Processo Penal determina que "a lei processual


penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o
suplemento dos princípios gerais de direito" (BRASIL, 1941). Assim, a normativa
legal elenca dois tipos de interpretação: a extensiva e a analógica. Vamos a eles.

5.1 INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA


A interpretação extensiva é utilizada quando o legislador determinou
menos do que deveria (ou queria). Assim, o CPP autoriza a interpretação
extensiva para que a norma alcance todo o significado que deveria. Nucci (2016)
exemplifica como caso do artigo 254, em que determina as causas de suspeição do
juiz, mas que pode se interpretar extensivamente e aplicar essas mesmas causas
para o jurado, que é considerado um juiz leigo que funcionará perante o conselho
de sentença do júri.

O cuidado que se deve tomar ao aplicar a interpretação extensiva é para


não aplicá-la quando o legislador deixar claro que aquele não era seu intuito.

5.2 APLICAÇÃO ANALÓGICA


A analogia é um método de integração da norma e não de sua interpretação;
o que se pretende é que o intérprete consiga colocar na norma algo semelhante
– com as mesmas características – mas que não está previsto expressamente na
norma. Isso porque o legislador não consegue prever todas as hipóteses em que
se poderia aplicar o mesmo direito, deixando assim para o intérprete, no caso
concreto, verificar a possibilidade de se encaixar ali uma nova possibilidade.

No CPP existem casos expressos em que o legislador previu a aplicação


da analogia como forma de complementar a norma. Por exemplo, o artigo 254, II:

Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser
recusado por qualquer das partes:

19
UNIDADE 1 | TEORIA DO CONHECIMENTO PENAL

[...]
II- se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo
a processo por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja
controvérsia (BRASIL, 1941) (grifo nosso).

Neste caso, o legislador não pode prever todos os tipos de ação que o juiz
irá julgar, por isso prescreve que, em respondendo a alguém muito próximo dele,
por um fato semelhante àquele que será julgado, o juiz deve se declarar suspeito.

DICAS

Embora o artigo 3º do CPP preveja expressamente a utilização da interpretação


extensiva e da aplicação analógica, ele não veda outras formas de interpretação como a
gramatical e a literal.

6 A LEI PROCESSUAL NO TEMPO


As normas de processo penal, desde o momento em que entrem em vigor,
devem ser aplicadas de imediato ao processo, mesmo para aqueles que já estão
em andamento por força do disposto no artigo 2º do CPP, que determina que “a
lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos
realizados sob a vigência da lei anterior” (BRASIL, 1941).

Assim, uma regra que muda a forma de intimação dos jurados será
aplicada para todos os casos que estão em processamento perante a vara crime, e
para aqueles que intimaram os jurados pela norma antiga, esta intimação é válida
e não precisa ser refeita.

Porém, o operador do direito terá que ter o cuidado ao analisar a norma


para observar se ela se trata apenas de uma norma processual ou se ela é uma
norma que trata sobre direito material (prescrição, decadência, aquelas que
afetem a liberdade do acusado etc.), porque se ela tiver incidência sobre o direito
material, ela poderá retroagir para alcançar fatos pretéritos se benéfica; mas não
poderá retroagir para alcançar fatos pretéritos se piorar a situação do réu.

Explica-se com um exemplo:

Uma norma meramente processual entra em vigor no dia 5 de maio de


2019, neste caso, ela será aplicada para todos os processos em andamento e para
os futuros, a partir do dia 5 de maio de 2019. Porém, se essa norma atingir direito
material, ela só poderá ser aplicada para os casos futuros, aqueles cometidos a
partir de 5 de maio de 2019, não podendo ser aplicada de imediato aos processos
em andamento.
20
TÓPICO 1 | PROCESSO PENAL NO DIREITO BRASILEIRO

E
IMPORTANT

No processo penal a lei se aplica imediatamente mesmo para os processos em


curso, respeitando-se os atos já cumpridos, e também os prazos que estão em curso no
momento da entrada em vigência da nova lei.

7 A LEI PROCESSUAL NO ESPAÇO


O artigo 1º do CPP determina a aplicação da lei processual penal em
todo o território brasileiro, visando à manutenção da soberania nacional. Porém,
esse mesmo artigo prevê algumas exceções em que não serão aplicadas as regras
previstas neste Código.

Art. 1º O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por


este Código, ressalvados:
I- os tratados, as convenções e regras de direito internacional;
II-  as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos
ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da
República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes
de responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2º, e 100);
III- os processos da competência da Justiça Militar;
IV-  os processos da competência do tribunal especial (Constituição,
art. 122, nº 17);
V- os processos por crimes de imprensa.
Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos
referidos nos nºs IV e V, quando as leis especiais que os regulam não
dispuserem de modo diverso (BRASIL, 1941).

Necessário esclarecer que a ressalva dos tratados e convenções e regras de


direitos internacionais podem ser aplicadas cumulativamente ao processo penal
brasileiro, no caso, por exemplo, da necessidade de produção de provas em outro
país, momento em que deverão ser observadas as regras dispostas nos tratados
de cooperação penal internacional.

Da mesma forma, a ressalva relativa aos casos de crimes cometidos pelo


Presidente da República, Ministros de Estado, e do STF se dá por força da previsão
constitucional de procedimento e foro diferenciados a essas pessoas tendo em
vista o cargo que ocupam.

Já em relação à ressalva dos processos de competência da justiça militar


se dá em razão de que aquela possui um Código Penal e de Processo Penal
específicos de aplicação exclusiva para eles.

Os tribunais especiais foram extintos com a Constituição Federal de 1988.


Sobre os crimes de imprensa, Lima (2016, p. 92) ressalva que:

21
UNIDADE 1 | TEORIA DO CONHECIMENTO PENAL

Referidos delitos estavam previstos na Lei n° 5.250/67. Dizemos que


estavam previstos na Lei nº 5.250/67 porque no julgamento da arguição
de descumprimento de preceito fundamental n° 130, o Supremo
Tribunal Federal julgou procedente o pedido ali formulado para o
efeito de declarar como não recepcionado pela Constituição Federal
todo o conjunto de dispositivos da Lei 5.250/67.

DICAS

A lei processual penal deve ser aplicada em todos os procedimentos a serem


cumpridos no Brasil, até mesmo nas cartas rogatórias advindas de outros países.

22
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• O processo penal serve como uma limitação ao direito de punir exercido


pelo Estado, protegendo os cidadãos dos desmandos estatais com a fixação
antecipada das regras pelas quais o cidadão irá responder.

• Os princípios aplicáveis ao processo penal são:

a) princípio do devido processo legal – previsto em nossa Constituição Federal


no artigo 5º, LIV, que determina que todo procedimento deve respeitar as
regras pré-fixadas na legislação;
b) princípio da presunção de inocência – previsto no artigo 5º, LVII da Constituição
Federal e determina que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em
julgado de sentença penal condenatória”;
c) princípio do contraditório e da ampla defesa (embora sejam dois, estudamos
em conjunto porque se interligam), previstos no artigo 5º, LV, da Constituição
Federal, que determina “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo,
e aos acusados em geral serão assegurados o contraditório e a ampla defesa,
com os meios e recursos a ela inerentes”;
d) princípio do juiz natural, previsto no artigo 5º, LIII, da Constituição Federal,
determinando que “ninguém será processado nem sentenciado senão pela
autoridade competente” e artigo 5º, XXXVII, da Constituição Federal que
dispõe que “não haverá juízo ou tribunal de exceção”;
e) princípio da identidade física do juiz, previsto no artigo 399, §2º, do CPP: “O
juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença”;
f) princípio da igualdade processual, considerado um princípio implícito, deriva
do princípio da isonomia previsto no art. 5º, caput da Constituição Federal, e
determina que as partes têm que ser tratadas de maneira igual no processo;
g) princípio da verdade real, no processo penal busca descobrir o que realmente
aconteceu no caso sub judice;
h) princípio da publicidade, previsto no artigo 5º, LX, da Constituição Federal “a
lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da
intimidade ou o interesse social o exigirem”;
i) princípio do duplo grau de jurisdição, previsto no art. 8.º, 2, h, da Convenção
Americana dos Direitos Humanos, garante o direito ao réu de recorrer a um
órgão colegiado para rever sua decisão;
j) princípio da aplicação do “ne bis in idem”, veda que o acusado seja processado
ou punido duas vezes pelo mesmo fato delituoso;

23
k) princípio da duração razoável do processo, previsto no artigo 5º, inciso
LXXVIII, “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a
razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua
tramitação”;
l) princípio da intranscendência, previsto no artigo 5º, XLV, da Constituição
Federal determina que o processo nem a pena podem ultrapassar a pessoa do
réu;
m) princípio da inadmissibilidade de provas obtidas por meio ilícito. Esse
princípio constitucional tem sua previsão no artigo 5º, LVI, determinando
que “são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos”;
também previsto no Código de Processo Penal no artigo 157, incluído pela
Lei nº 11.690/2008, que disciplina que “São inadmissíveis, devendo ser
desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas
em violação a normas constitucionais ou legais”.

• Os sistemas de processo penal se dividem em sistema inquisitivo, sistema


acusatório, sistema misto. Sistema inquisitivo é aquele em que há a confusão do
julgador e acusador na mesma pessoa, sem contraditório ou direito de defesa
efetiva. O sistema acusatório é aquele em que operadores do direito distintos
exercem a função de acusação, defesa e julgamento, em regra é público e oral,
e é garantido o direito de ampla defesa com uso do contraditório. E o sistema
misto é aquele composto de duas fases, sendo uma preliminar inquisitiva e
outra posterior acusatória.

• O sistema adotado pelo Brasil temos duas correntes doutrinárias, sendo que a
majoritária informa que é misto.

• A interpretação da lei processual penal pura tem aplicação imediata.

• A lei processual penal tem aplicação em todo o território nacional com exceção
dos casos previstos nos incisos do artigo 1º do CPP.

24
AUTOATIVIDADE

Caro acadêmico! Para que possamos avaliar o conhecimento adquirido


até este momento, convido-o a realizar as atividades a seguir:

1 O princípio da identidade física do juiz é aquele que proíbe o tribunal de


exceção:

a) ( ) Falso.
b) ( ) Verdadeiro.

2 Os sistemas penais são divididos em:

a) ( ) Sistema acusatório e inquisitivo, sendo que a corrente majoritária afirma


que no Brasil se adota o sistema acusatório.
b) ( ) Sistema acusatório e inquisitivo, sendo que a corrente majoritária afirma
que no Brasil se adota o sistema inquisitivo.
c) ( ) Sistema inquisitivo, acusatório e misto, sendo que a corrente majoritária
afirma que no Brasil se adota o sistema inquisitivo.
d) ( ) Sistema inquisitivo, acusatório e misto, sendo que a corrente majoritária
afirma que no Brasil se adota o sistema acusatório.
e) ( ) Sistema inquisitivo, acusatório e misto, sendo que a corrente majoritária
afirma que no Brasil se adota o sistema misto.

3 A lei processual penal brasileira, segundo os artigos 1º e 2º do CPP se aplicam


em relação ao território e ao tempo, respectivamente:

a) ( ) Em todo território nacional e imediatamente, respeitando-se a proibição


da retrospectiva se a lei nova prejudicar o réu.
b) ( ) Em todo território nacional respeitando-se a proibição da retrospectiva
e imediatamente.
c) ( ) Em todo território nacional e imediatamente, sem exceções.
d) ( ) Em todo território nacional, ressalvado os casos previstos em os tratados,
as convenções e regras de direito internacional; as prerrogativas
constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado,
nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros
do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade, os
processos da competência da Justiça Militar, e em relação ao tempo, é
aplicado imediatamente.
e) ( ) Em todo território nacional e imediatamente, respeitando-se a proibição
da retrospectiva se a lei nova beneficiar o réu.

25
4 Com relação aos princípios processuais penais, assinale a alternativa correta:

a) ( ) O princípio da publicidade não pode nunca ser excepcionado, sendo


todas as ações devem correr com toda publicidade para garantir a
imparcialidade do julgador.
b) ( ) O princípio da publicidade pode ser excepcionado, nos casos da vítima
ser menor.
c) ( ) O princípio da publicidade pode ser excepcionado quando a defesa da
intimidade ou o interesse social o exigirem.
d) ( ) O princípio da publicidade não pode nunca ser excepcionado, sendo
que todas as ações devem correr com toda publicidade para garantir a o
duplo grau de jurisdição.

5 São princípios aplicáveis ao processo penal:

a) ( ) Princípio do juiz natural, princípio da identidade física do juiz,


princípio do tribunal de exceção, princípio da verdade real, princípio
da publicidade, princípio do duplo grau de jurisdição.
b) ( ) Princípio do juiz natural, princípio da identidade física do juiz,
princípio da igualdade processual, princípio da verdade real, princípio
da publicidade, princípio do duplo grau de jurisdição.
c) ( ) Princípio do juiz natural, princípio do sigilo, princípio da igualdade
processual, princípio da verdade real, princípio da publicidade,
princípio do duplo grau de jurisdição.
d) ( ) Princípio do juiz natural, princípio da identidade física do juiz, princípio
da igualdade processual, princípio da verdade formal, princípio da
publicidade, princípio do duplo grau de jurisdição.
e) ( ) Princípio do juiz natural, princípio da identidade física do juiz,
princípio da igualdade processual, princípio da verdade real, princípio
da publicidade, princípio do triplo grau de jurisdição.

26
UNIDADE 1
TÓPICO 2

INQUÉRITO POLICIAL

1 INTRODUÇÃO
O Código de Processo Penal regulamenta a regra geral aplicada para
todos os procedimentos penais do Brasil. Diz a regra geral porque pode haver
exceções previstas em leis esparsas.

Assim, esse dispositivo penal prevê todas as regras que devem ser seguidas
pelo magistrado ou pelo delegado no momento da confecção do inquérito policial.

E é sobre esse inquérito policial, essa peça instrutória do processo penal


que iremos dedicar nosso estudo no Tópico 2, da Unidade 1. Vamos nessa?

2 PERSECUÇÃO PENAL
No momento da ocorrência de um delito, seja ele crime ou contravenção
penal, surge para o Estado um poder-dever de punir o infrator, porém, em sua
maioria, não é fácil essa aplicação da lei ao caso concreto, demandando do Estado
um esforço para a elucidação do fato concreto em busca da verdade real.

Para essa busca, o Estado possui instrumentos que possibilitam a realização


deste seu poder-dever. Bonfim (2017, p. 130) afirma que

Essa atividade denominada “persecução penal” é o caminho que


percorre o Estado-Administração para satisfazer a pretensão punitiva,
que nasce no exato instante da perpetração da infração penal. A
persecutio criminis divide-se em três fases: investigação preliminar
(compreender a apuração da prática de infrações penais, com vistas
a fornecer elementos para que o titular da ação penal possa ajuizá-la),
ação penal (atuação junto ao Poder Judiciário, no sentido de que seja
aplicada condenação aos infratores, realizando assim a concretização
dos ditames do direito penal material diante de cada caso concreto
que se apresentar) e a execução penal (satisfação do direito de punir
estatal, reconhecido definitivamente pelo Poder Judiciário).

Passaremos ao estudo da primeira fase, qual seja, o inquérito policial.

27
UNIDADE 1 | TEORIA DO CONHECIMENTO PENAL

3 INQUÉRITO POLICIAL
O inquérito policial é o instrumento pelo qual a autoridade policial
irá documentar todas as investigações realizadas no intuito de comprovar a
materialidade a autoria do delito.

Este instrumento reveste-se de características próprias, diversas da ação


penal.

3.1 CONCEITO E CARACTERÍSTICAS


Inquérito policial pode ser conceituado, segundo Nucci (2016, s.p.), como
“O inquérito policial é um procedimento preparatório da ação penal, de caráter
administrativo, conduzido pela polícia judiciária e voltado à colheita preliminar
de provas para apurar a prática de uma infração penal e sua autoria”.

Para Aury Lopes Jr. (2018, p. 119)

constitui o conjunto de atividades concatenadamente por órgãos do


Estado, a partir de uma notícia-crime, com caráter prévio e de natureza
preparatória com relação ao processo penal, e que pretende averiguar
a autoria e as circunstâncias de um fato aparentemente delituoso, com
o fim de justificar o processo ou o não processo.

Então podemos criar juntos nosso conceito de inquérito policial, sendo


este entendido como aquele procedimento pré-processual, iniciado com base
em uma notícia de um suposto crime, que objetiva a colheita de todas as provas
possíveis para fim de instrumentalizar uma possível ação penal, ou justificar o
seu não processamento.

3.2 NATUREZA JURÍDICA


A natureza jurídica do inquérito policial é de procedimento administrativo.
Como ressalta Bonfim (2017, p. 142) “ele não pode ser considerado processo porque
ao investigado não é garantido a participação com ampla defesa e contraditório”.

UNI

Natureza jurídica é aquilo que representa no mundo jurídico. Por isso a do


inquérito policial é de procedimento pré-processual, porque ele é realizado em fase preliminar.

28
TÓPICO 2 | INQUÉRITO POLICIAL

Ele é considerado mera peça informativa, tendo que suas provas, para
terem validade em juízo, serem repetidas possibilitando a aplicação da ampla
defesa e contraditório, e é exatamente por isso que os tribunais são unânimes em
determinar que os vícios do inquérito, em regra, não contaminam a ação penal.

3.3 CARACTERÍSTICAS
Devemos lembrar do estudo no Tópico 1, quando trabalhamos com os
sistemas de processo, que o inquérito policial ainda é entendido como pertencente
ao sistema inquisitório, e assim com essa informação mais nosso conceito,
conseguimos perceber que as características deste inquérito policial serão diversas
das características da ação penal. Então, vamos a elas:

3.3.1 Inquisitivo
O inquérito policial é uma peça meramente informativa, que não irá
produzir efeitos condenatórios e por isso não precisa respeitar os princípios do
contraditório e da ampla defesa.

Assim, durante o inquérito policial, o investigado ou indiciado não


são considerados partes, e por isso são considerados como meros objetos da
investigação.

E
IMPORTANT

Inexiste nulidade do interrogatório policial por ausência do acompanhamento


do paciente por um advogado, sendo que esta Corte acumula julgados no sentido da
prescindibilidade da presença de um defensor por ocasião do interrogatório havido na esfera
policial, por se tratar o inquérito de procedimento administrativo, de cunho eminentemente
inquisitivo, distinto dos atos processuais praticados em juízo. (STJ, HC 162.149/MG, Rel.
Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, Quinta Turma, julgado em 24/4/2018, DJe 10/5/2018).

3.3.2 Sigiloso
O inquérito policial poderá ser sigiloso, desde que seja necessário essa
decretação do sigilo para a investigação do fato. Essa é a norma disciplinada no
artigo 20 do CPP, que determina que “a autoridade assegurará no inquérito o
sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade”
(BRASIL, 1941).

29
UNIDADE 1 | TEORIA DO CONHECIMENTO PENAL

Em regra, esse sigilo não pode atingir a pessoa do defensor, em respeito


ao exercício do direito de defesa, conforme a súmula vinculante nº 14 do STF:

Súmula Vinculante 14 do STF: “é direito do defensor, no interesse


do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já
documentados em procedimento investigatório realizado por órgão
com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do
direito de defesa” (BRASIL, 2009).

3.3.3 Instrumental
Ele servirá de instrumento para provar o lastro probatório da ação penal.
Reflita que o juiz não pode admitir a abertura de uma ação penal sem um mínimo
de provas de que aquele fato efetivamente aconteceu e que aquele que está
sendo processado é seu provável autor. E é para preparar esse mínimo de prova
necessário que serve o inquérito policial.

Essa característica fica muito clara na redação do artigo 12 do CPP, que


determina que “O inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa, sempre
que servir de base a uma ou outra. (BRASIL, 1941) (grifo nosso). Ou seja, ele é
pensado para que possa servir de base para a denúncia ou a queixa crime.

3.3.4 Obrigatório e dispensável


A obrigatoriedade e dispensabilidade do inquérito policial tem que ser
analisada sob dois ângulos.

O primeiro é a obrigatoriedade da instauração do inquérito policial a


partir do momento que a autoridade policial tenha ciência do cometimento de um
delito através de qualquer meio, seja uma notitia criminis, ou não. Em se tratando
de ação penal pública, é obrigatória a instauração do inquérito pela autoridade
policial.

O artigo 17, do CPP determina que “a autoridade policial não


poderá mandar arquivar autos de inquérito”, demonstrando assim a falta de
discricionariedade da autoridade policial. E isso se dá por causa do entendimento
que o destinatário do inquérito policial é o autor da ação penal e não a autoridade
policial, porque – vamos lembrar – essa peça servirá de instrumento probatório
para a peça crime inaugural.

Agora veja, o inquérito é dispensável, porque a prova pode ter sido


constituída de outra maneira, por exemplo, livros contábeis que já existem, sendo
desnecessária a instauração do inquérito para a confecção deste instrumento
probatório que neste caso já é pré-constituído.

30
TÓPICO 2 | INQUÉRITO POLICIAL

E
IMPORTANT

Agravo regimental em recurso extraordinário com agravo. 2. Jurisprudência


do Supremo Tribunal pacífica no sentido de que o inquérito policial é peça meramente
informativa e dispensável e, com efeito, não é viável a anulação do processo penal em razão
das irregularidades detectadas no inquérito, porquanto as nulidades processuais dizem
respeito, tão somente, aos defeitos de ordem jurídica que afetam os atos praticados durante
da ação penal. 4. Ausência de argumentos suficientes para infirmar a decisão recorrida. 5.
Agravo regimental a que se nega provimento STF, RELATOR MIN. GILMAR MENDES, A G.
REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 654.192 PARANÁ, Julgamento em :
22/11/2011, Disponível em: DJe 14/05/2012, Disponível em: file:///C:/Users/ferna/Downloads/
dispensavelSTF2.pdf. Acesso em: 30 mar. 2019.

3.3.5 Meramente informativo


O inquérito policial serve apenas como lastro probatório para que a
acusação possa apoiar a sua peça acusatória, seja ela uma denúncia ou queixa
crime. Assim, embora nele constem vários atos de provas, elas não serão levadas
em consideração pelo juiz no momento da prolação da sentença, mas sim, no
momento do recebimento da peça crime acusatória, para saber se há indícios de
autoria e provas da materialidade.

Bonfim (2017, p. 142) afirma que “O inquérito policial como se viu, é


procedimento meramente informativo, destinado à investigação de um fato
possivelmente criminoso e à identificação de seu autor; com vistas à obtenção de
elementos suficientes para a propositura de uma ação penal”.

Assim, qualquer vício que possa vir a ser alegado da fase de inquérito
policial não terá o condão de anular a ação penal, porque por ser peça meramente
informativa e que não deve ser considerada para a prolação da sentença, não irá
eivar de vício a respectiva ação penal.

3.3.6 Forma escrita


Por determinação expressa do artigo 9º, do CPP, “todas as peças do
inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas
e, neste caso, rubricadas pela autoridade” (BRASIL, 1941).

31
UNIDADE 1 | TEORIA DO CONHECIMENTO PENAL

UNI

As características do inquérito policial são: inquisitivo, sigiloso, instrumental,


obrigatório (sua instauração), dispensável (para a propositura da ação), meramente informativo
e escrito.

3.4 TITULARIDADE
A atribuição para o inquérito policial é dos policiais civis dos Estados e da
polícia federal. Isso porque o dispositivo 144 da CF determina que:

Art. 144 A segurança pública, dever do Estado, direito e


responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos
seguintes órgãos:
I- polícia federal;
II- polícia rodoviária federal;
III- polícia ferroviária federal;
IV- polícias civis;
V- polícias militares e corpos de bombeiros militares.
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente,
organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-
se a: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998).
I- apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em
detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades
autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja
prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija
repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;
II- prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins,
o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de
outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;
III- exercer as funções de polícia marítima, aérea e de fronteiras;
IV- exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de
fronteiras; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998).
V- exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da
União.
[...].
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira,
incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia
judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares
(BRASIL, 1988).

Em conjunto com o artigo 4º do Código de Processo Penal, que determina


que “a polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de
suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e
da sua autoria”, conseguimos determinar que a atribuição para esse inquérito
é da polícia federal e da polícia civil. Sobre essa competência Nucci (2016, s.p.)
esclarece que:
32
TÓPICO 2 | INQUÉRITO POLICIAL

Portanto, cabe aos órgãos constituídos das polícias federal e


civil conduzir as investigações necessárias, colhendo provas pré-
constituídas para formar o inquérito, que servirá de base de
sustentação a uma futura ação penal. O nome polícia judiciária tem
sentido na medida em que não se cuida de uma atividade policial
ostensiva (típica da Polícia Militar para a garantia da segurança nas
ruas), mas investigatória, cuja função se volta a colher provas para o
órgão acusatório e, na essência, para o Judiciário avaliar no futuro.
A presidência do inquérito cabe à autoridade policial, embora as
diligências realizadas possam ser acompanhadas pelo representante
do Ministério Público, que detém o controle externo da polícia.

Assim, não resta dúvida que a Constituição Federal atribui às polícias


civis e federais a competência para a instauração e confecção do inquérito policial,
com o objetivo de elucidar os fatos delituosos, comprovando sua materialidade e
buscando indícios de sua autoria.

3.5 VALOR PROBATÓRIO


Para a doutrina majoritária, o valor do inquérito policial é meramente
de início de prova, sendo que para que a prova seja recebida e utilizada para a
condenação, é necessário que essa prova seja realizada em juízo com todas as
garantias para o acusado.

Porém, a discussão se dá em torno das provas de difícil ou impossível


repetição em juízo, como é o caso de provas periciais. Neste caso, a doutrina
afirma que o contraditório deverá ser diferido. Ou seja, que em juízo deverá
ser garantido à parte o contraditório e a ampla defesa em relação àquela prova
realizada no inquérito policial. Isso seria possível, por exemplo, com a oitiva do
perito em juízo, embora a perícia tenha sido realizada na fase do inquérito policial.

3.6 PRAZO
O prazo do inquérito policial, em regra, é de 10 dias se o indiciado estiver
preso e de 30 dias se o indiciado estiver solto. Isso é o que se extrai do artigo 10,
do CPP:

Art. 10.  O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado


tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente,
contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar
a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto,
mediante fiança ou sem ela (BRASIL, 1941).

33
UNIDADE 1 | TEORIA DO CONHECIMENTO PENAL

E
IMPORTANT

Esse prazo do inquérito policial é a regra geral, porém existem prazos específicos
em leis esparsas, como é o caso da lei de drogas – Lei nº 11.343 – que no seu art. 51 determina
o prazo para a finalização do inquérito policial em 30 dias para os casos de réu preso e 90 dias
para os casos de réu solto.

O prazo do inquérito policial é muito importante e deve sempre ser


respeitado pela autoridade policial, sendo inclusive causa de nulidade da prisão
preventiva se o inquérito não for finalizado no prazo estabelecido em lei. Porém,
em caso do indiciado estar solto, e havendo mais provas a serem produzidas
pela autoridade policial, ele poderá requerer a devolução dos autos para mais
diligências (art. 10, §3º, CPP).

3.7 PROCEDIMENTO
O procedimento do inquérito policial vem previsto no Código de Processo
Penal no artigo 5º e seguintes. Sua instauração poderá se dar:

a) De ofício – a instauração se dará de ofício, no caso da autoridade policial tomar


conhecimento do cometimento de qualquer delito.
b) Por requisição – a instauração se dará mediante requisição da autoridade
judiciária ou do Ministério Público, quando a ordem para a instauração vier
do Poder Judiciário ou do membro do Ministério Público a autoridade deverá
instaurar o inquérito para apurar a suposta infração penal.
c) Por requerimento do ofendido ou de seu representante – a requerimento do
ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo, no caso do ofendido
ou de seu representante fazer a delatio criminis.
d) Por requerimento de qualquer do povo – no caso do conhecimento do
cometimento de um crime de ação penal pública por qualquer pessoa, mesmo
que não seja a vítima ou seu representante, este poderá procurar a autoridade
policial e comunicar a ocorrência. Se verificada a procedência da informação, a
autoridade policial deverá instaurar o inquérito policial.
e) Por causa da prisão em flagrante – no caso da prisão em flagrante a autoridade
policial irá instaurar um procedimento investigativo que terá início com o auto
de prisão em flagrante.

Em qualquer destes casos a autoridade policial encontra-se obrigada a


instaurar o procedimento investigatório. Em regra, a peça inaugural do inquérito
policial denomina-se portaria, a exceção será no caso de prisão em flagrante que a
peça de instauração será o próprio auto de prisão em flagrante.

34
TÓPICO 2 | INQUÉRITO POLICIAL

Lembre-se de que a autoridade judicial e o membro do Ministério Público


não são superiores hierárquicos da autoridade policial, e por isso, entendendo a
autoridade policial que não se trata de caso de instauração de inquérito policial,
como no caso de perseguição política de alguém, a autoridade policial poderá
negar a instauração deste inquérito, sendo que desta negativa cabe recurso para
o chefe de Polícia conforme o artigo 5º, §2º, CPP.

Quando se tratar de ação penal pública incondicionada, o inquérito


policial deve ser instaurado com a comunicação realizada por qualquer pessoa;
se for caso de crime apurado através de ação penal pública condicionada à
representação, o inquérito somente poderá ser iniciado com essa representação; e
nos casos de crimes apurados mediante ação privada, o inquérito somente poderá
ser instaurado mediante requerimento do ofendido ou de seu representante.

Após a instauração do inquérito policial, a autoridade policial deverá


tomar as medidas previstas no artigo 6º, do CPP:

Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade


policial deverá:
I- dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado
e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais; 
II- apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados
pelos peritos criminais;          
III- colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato
e suas circunstâncias;
IV- ouvir o ofendido;
V- ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto
no Capítulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo
ser assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura;
VI- proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;
VII- determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito
e a quaisquer outras perícias;
VIII- ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico,
se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes;
IX-  averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista
individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e
estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer
outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu
temperamento e caráter;
X- colher informações sobre a existência de filhos, respectivas
idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de
eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa
presa (BRASIL, 1941).

Podendo inclusive, se necessário para compreender o modo de realização


do delito, a autoridade policial realizar a reprodução simulada dos fatos, mas
somente se isso não contrariar a moralidade e a ordem pública, conforme
estabelecido no artigo 7º, CPP. Porém, sempre lembrando que o indiciado pode
ser forçado a acompanhar essa simulação, mas nunca poderá ser forçado a dela
participar, porque ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo (art.
5º, LXIII, CF).

35
UNIDADE 1 | TEORIA DO CONHECIMENTO PENAL

O artigo 13 prevê outras atribuições para a autoridade policial:

Art. 13.  Incumbirá ainda à autoridade policial:


I-  fornecer às autoridades judiciárias as informações necessárias à
instrução e julgamento dos processos;
II-  realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério
Público;
III-  cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autoridades
judiciárias;
IV- representar acerca da prisão preventiva (BRASIL, 1941).

Encerrada a atividade investigativa da autoridade policial, ou encerrado


o prazo para a finalização do inquérito, a autoridade policial deverá elaborar um
relatório minucioso para ser encaminhado ao juízo para ser remetido ao Ministério
Público no caso de ação penal pública, ou ficará no cartório aguardando o titular
da ação penal privada.

O relatório da autoridade policial deverá conter um relatório isento e


objetivo de todas as atividades investigativas realizadas, podendo indicar as
testemunhas que não puderam ser ouvidas. Os instrumentos do crime, e todos
aqueles objetos que interessem ao juízo deverão acompanhar os autos deste
inquérito para possibilitar melhor elucidação dos fatos. É o que vem previsto nos
parágrafos do artigo 10 e 11 do CPP.

3.8 INDICIAMENTO
O indiciamento é o momento no qual o investigado passa a figurar como
principal suspeito do crime, deixando de ser mero investigado para ser indiciado.
Bonfim (2016, p. 162) enfatiza que:

o indiciamento é ato complexo da autoridade policial, dividindo-se


em três partes (art. 6º, V, VIII, e IX): deve o delegado, inicialmente,
interrogar o suspeito, com observância, no que for cabível, do previsto
para o interrogatório judicial, devendo a leitura do respectivo
termo ser presenciada por duas testemunhas. Após será ordenada a
identificação do investigado e, finalmente, elaborada a folha de vida
pregressa deste.

Além do indiciamento do suspeito que participa das investigações, é


possível o indiciamento do foragido, sem nenhum prejuízo.

Em regra, qualquer suspeito pode ser indiciado, porém existem exceções


que não podem ser indiciados, como os menores de dezoito anos, os Membros do
MP e da Magistratura, entre outros.

O Artigo 15 dispõe que “se o indiciado for menor, ser-lhe-á nomeado


curador pela autoridade policial”, porém com a entrada em vigor do Código

36
TÓPICO 2 | INQUÉRITO POLICIAL

Civil de 2002, este dispositivo vem sendo entendido pela doutrina como tendo
perdido a razão de ser uma vez que a maioridade civil passou a ser completa aos
18 anos, diversamente do Código Civil de 1916 que previa que essa maioridade
absoluta somente seria alcançada aos 21 anos.

3.9 TERMO CIRCUNSTANCIADO


Os casos de crimes de menor potencial ofensivo, aqueles que têm pena
máxima não superior a dois anos, serão apurados perante o Juizado Especial
Criminal, de acordo com a Lei nº 9.099. Para privilegiar os princípios informadores
da lei como a celeridade, economia, informalidade, oralidade, a lei prevê que a
autoridade policial instaurará termo circunstanciado em vez de inquérito policial
para a apuração dos delitos, de acordo com o Artigo 69 da citada lei.

DICAS

Esse termo circunstanciado deverá ser um inquérito mais simplificado.

Sobre o termo circunstanciado, Nucci (2016, s.p.) afirma que:

É um substituto do inquérito policial, realizado pela polícia, nos


casos de infrações de menor potencial ofensivo (contravenções penais
e crimes a que a lei comine pena máxima não superior a dois anos,
cumulada ou não com multa). Assim, tomando conhecimento de
um fato criminoso, a autoridade policial elabora um termo contendo
todos os dados necessários para identificar a ocorrência e sua autoria,
encaminhando-o imediatamente ao Juizado Especial Criminal, sem
necessidade de maior delonga ou investigações aprofundadas.

3.10 PROVIDÊNCIAS DO MINISTÉRIO PÚBLICO


Após o relatório do inquérito policial, o caderno investigatório será
remetido a juízo em que poderá:

a) Permanecer em cartório nos casos de ação penal privada, porque o ofendido ou


seu representante legal é que tem a competência para oferecer a queixa crime
(art. 19, CPP);
b) Ser remetido ao Ministério Público que é o titular da ação penal pública. Neste
caso o membro do MP poderá:

37
UNIDADE 1 | TEORIA DO CONHECIMENTO PENAL

b.1) oferecer denúncia – se entender que existem indícios de autoria e prova da


materialidade;
b.2) requerer o arquivamento do inquérito – o Ministério Público é o titular
da ação penal, cabendo a ele requerer o arquivamento do inquérito se
entender que não há provas de materialidade ou indícios de autoria, que
não houve crime ou até mesmo por causa da extinção da punibilidade.
Note, porém, que o Ministério público deve requerer o arquivamento que
será deferido pelo Juiz. Mas, o que o juiz pode fazer se entender que não é
caso de arquivamento?

E
IMPORTANT

No caso do Ministério Público requerer o arquivamento e este não for deferido


pelo juiz, o magistrado deverá enviar o inquérito policial para o Chefe do Ministério Público
– Procurador Geral de Justiça – para que, conforme o Artigo 28 do CPP, este apresente a
denúncia se entender cabível, designe outro membro do MP para fazê-lo, ou ainda, insista
no arquivamento.

b.3) devolver o inquérito para a autoridade policial para a apuração de demais


provas imprescindíveis para a apuração do delito, conforme o artigo 16
do CPP.
b.4) requerer a remessa ao juízo competente quando aquela jurisdição não for
a competente.

3.11 OUTRAS FORMAS DE INVESTIGAÇÃO PRELIMINAR


Embora o inquérito policial seja a forma mais comum de apuração de
delito na busca de provas da materialidade e indícios de autoria, ele não é o único
que poderá ser utilizado.

Além dele existem as comissões parlamentares de inquérito (CPI), o


inquérito policial militar (para apurar infrações militares), o inquérito civil (que
é realizado pelo Ministério Público), o inquérito apurado pelo Conselho de
Controle de atividades financeiras (COAF), entre outros.

38
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• O inquérito policial há de realizar as investigações sobre a ocorrência de um


crime, buscando a prova da materialidade e os indícios de autoria.

• A natureza jurídica do inquérito policial é de procedimento de natureza


administrativa.

• As principais características do inquérito policial são: inquisitivo, sigiloso,


instrumental, obrigatório (sua instauração), dispensável (para a propositura
da ação), meramente informativo e escrito.

• A titularidade para a confecção do inquérito policial é da polícia civil dos


Estados e da polícia federal.

• O valor probatório do inquérito policial é meramente informativo, sendo


considerado como início de prova.

• O prazo do inquérito policial, em regra, é de 10 dias se o indiciado estiver preso


e de 30 dias se o indiciado estiver solto.

• Procedimento do inquérito está previsto no CPP, sendo que deverá ser


instaurado por portaria ou auto de prisão em flagrante, deverão ser feitas todas
as diligências necessárias para a apuração do crime, e por fim, será finalizado
com o relatório da autoridade policial.

• O indiciamento é o momento no qual o investigado passa a ser o principal


suspeito e deixa de ser mero investigado para ser indiciado.

• Ao receber o Inquérito Policial, o Ministério Público poderá requerer que


permaneça em cartório nos casos de ação penal privada, oferecer denúncia,
requerer a devolução para autoridade policial para mais diligências, requerer
o arquivamento, requerer a remessa ao juízo competente.

39
AUTOATIVIDADE

1 O inquérito policial

a) ( ) É um procedimento sigiloso que pode ser presidido pelo Ministério


Público, mas preferencialmente será presidido pela autoridade policial.
b) ( ) De acordo com o artigo 12 do CPP, acompanhará a denúncia ou queixa,
sempre que servir de base a uma ou outra.
c) ( ) Tem como principal característica o sigilo absoluto de suas informações,
sendo inclusive aplicado esse sigilo ao advogado do indiciado em todos
os inquéritos.
d) ( ) É um procedimento, em regra, oral, porque toma o depoimento das
testemunhas e realiza o interrogatório do indiciado.
e) ( ) É imprescindível para a propositura da ação penal pública.

2 O inquérito policial poderá:

a) ( ) Ser instaurado a requerimento do ofendido ou por requisição do


Ministério Público.
b) ( ) Ser instaurado somente com requisição do Poder Judiciário ou do
Ministério Público.
c) ( ) Ser instaurado somente com autorização do ofendido ou seu
representante legal nos casos de ação penal pública.
d) ( ) Ser instaurado de ofício pelo juiz, já que será ele quem vai julgar.
e) ( ) Ser instaurado de ofício pelo Ministério Público, já que ele é o titular da
ação penal.

3 De acordo com o artigo 10 do Código de Processo Penal, o Inquérito Policial


terá o prazo de encerramento de:

a) ( ) 30 dias para indiciado preso e 60 dias para o indiciado solto.


b) ( ) 30 dias para indiciado preso e 90 dias para o indiciado solto.
c) ( ) 10 dias para indiciado preso e 30 dias para o indiciado solto.
d) ( ) 15 dias para indiciado preso e 30 dias para o indiciado solto.
e) ( ) 15 dias para indiciado preso e 90 dias para o indiciado solto.

4 Responda certo ou errado:

O valor probatório do inquérito policial é meramente informativo,


sendo considerado como início de prova.
a) ( ) Certo.
b) ( ) Errado.

40
5 As principais características do inquérito policial são:

a) ( ) Inquisitivo, sigiloso, instrumental, meramente informativo e escrito.


b) ( ) Inquisitivo, sigiloso, instrumental, meramente informativo e oral.
c) ( ) Acusatório, sigiloso, instrumental, meramente informativo e escrito.
d) ( ) Inquisitivo, não sigiloso, instrumental, meramente informativo e escrito.

41
42
UNIDADE 1
TÓPICO 3

AÇÃO PENAL

1 INTRODUÇÃO
A persecução penal é realizada através da propositura das ações penais
com o fim da melhor aplicação do ius puniendi do Estado.

As ações penais no Brasil se dividem em públicas, que são de titularidade


do Ministério Público e são iniciadas através de uma denúncia; e privadas, que
são de titularidade do ofendido, e são iniciadas por uma queixa crime.

Nesta unidade iremos estudar de maneira pormenorizada cada uma das


espécies da ação penal.

Prontos para o estudo?

2 AÇÃO PENAL
A ação penal é o instrumento adequado para o Estado, buscar a
comprovação da materialidade e autoria de um delito praticado, e com isso
possibilitar a aplicação do poder punitivo do Estado àquele contra quem ficou
comprovada a imputação do cometimento do fato típico. Bonfim (2017, p. 175)
sintetiza afirmando que:

A aplicação da pena, como manifestação do poder jurisdicional do


Estado, é reservada aos órgãos aos quais seja atribuído o exercício
da jurisdição. Assim, aquele que promover a acusação, para obter
a guarida à sua pretensão punitiva, será obrigado a provocar a
manifestação do órgão encarregado do exercício da jurisdição (em
regra, o Poder Judiciário). Dessa forma, o direito de ação constitui o
direito (ou poder) que tem o acusador de, dirigindo um pedido ao
Poder Judiciário, provocar sua manifestação sobre esse pedido.

43
UNIDADE 1 | TEORIA DO CONHECIMENTO PENAL

Esta ação penal possui características próprias, sendo elas:

a) Caráter público: é direito público porque sempre é exercido em face do Estado,


o legitimado para a aplicação da pena ao caso concreto.
b) Direito subjetivo: direito de agir para se obter a prestação jurisdicional ao caso
concreto levado a juízo.
c) Direito autônomo: poderá ser exercido mesmo sem decorrência de relação
jurídica material, com ele não se confundindo.
d) Direito abstrato: porque não depende de um provimento jurisdicional a seu
favor (uma condenação) para poder existir, o direito de ação existe mesmo que
na sentença o acusado seja absolvido.

A ação penal é composta de condições genéricas e específicas. As condições


genéricas são as necessárias para a propositura de qualquer ação penal, elas são
a possibilidade jurídica do pedido, a legitimidade para agir, o interesse de agir.

Para que exista a possibilidade jurídica do pedido, o fato descrito na peça


acusatória tem que ser tipificado na legislação penal e a ele tem que ser prevista
a aplicação de uma sanção. Renato Brasileiro Lima (2017, p. 205) elenca um rol de
pedidos juridicamente impossíveis elencados pela doutrina:

a) oferecimento de denúncia e/ou queixa com a imputação de conduta


atípica;
b) peça acusatória oferecida a despeito da presença de um fato
impeditivo do exercício da ação (v.g., ausência de decisão final do
procedimento administrativo de lançamento nos crimes materiais
contra a ordem tributária);
c) peça acusatória oferecida sem o implemento de condição específica
da ação penal (v.g., ausência da representação do ofendido);
d) denúncia oferecida em face do menor de 18 (dezoito) anos, a ele
imputando a prática de crime e, por isso, requerendo a imposição
de pena privativa de liberdade, contrariando, assim, o quanto
disposto na Constituição Federal, que prevê que são penalmente
inimputáveis os menores de 18 (dezoito) anos (CF, art. 228).

A legitimidade para agir nada mais é do que o respeito à legitimidade


ativa e passiva para a causa. Assim, se a ação penal for pública, terá legitimidade
para a causa o Ministério Público, e se ela for privada, terá legitimidade para a
causa o ofendido, seu representante legal ou o curador especial. E será legitimado
para figurar como acusado no processo penal aquele contra quem houver indícios
de autoria do fato delituoso.

O interesse de agir, para a doutrina majoritária, é composto de quatro


elementos:

44
TÓPICO 3 | AÇÃO PENAL

a) Necessidade de agir – é presumida no direito processual penal, uma vez que


não haverá outra alternativa para a aplicação do ius puniendi do Estado.
b) Adequação – diz respeito ao pedido da ação e a sanção prevista para o fato
tipificado na lei. Será adequando o procedimento judicial se o requerido na
ação seja o previsto no dispositivo tipificado que enquadra o fato delituoso
praticado.
c) Utilidade do provimento requerido – o provimento jurisdicional requerido
tem que ser possível e útil, porque se houver qualquer causa que impeça a
aplicação do provimento jurisdicional, não há porque intentar com a ação
penal. Por exemplo, no caso de uma causa prescrita faltará utilidade para a
propositura daquela ação penal.
d) Justa causa – é a condição da ação que exige que, para que uma causa seja
aceita, é necessária a comprovação da prova da materialidade (que o delito
efetivamente ocorreu) e pelo menos indícios de autoria (para que a peça crime
acusatória possa ser intentada contra alguém específico).

O STJ é unânime na necessidade da apresentação da justa causa para o


regular prosseguimento do feito:

[...] 1. Conforme precedentes, não se faz necessária a descrição da


conduta detalhada de cada um dos denunciados em crimes de autoria
coletiva. 2. Cabível é o trancamento de ação penal por falta de justa
causa em razão da ausência de indícios de autoria. 2.1. No caso
concreto, há indícios de autoria apontados na denúncia, devendo
ser afastado o trancamento da ação penal por falta de justa causa,
notadamente para que seja realizada a competente instrução criminal.
3. A absolvição em processo administrativo não acarreta o trancamento
da ação penal, em razão da independência das instâncias. 4. Agravo
regimental desprovido. (STJ, QUINTA TURMA, Relator Ministro
JOEL ILAN PACIORNIK, AgRg nos EDcl no REsp 1601394 / RJ, Data
do Julgamento 21/02/2019, Data da Publicação/Fonte DJe 06/03/2019.
Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/
m e d i a d o / ? c o m p o n e n t e = AT C & s e q u e n c i a l = 9 1 4 1 1 4 6 7 & n u m _
registro=201601369780&data=20190306&tipo=5&formato=PDF.
Acesso em: 23 mar. 2019) (grifo nosso).

Além destas condições genéricas da ação penal, existem as condições


específicas para o processamento de determinadas ações, mas que não são
exigidas para todas. São conhecidas como condições de procedibilidade. São a
representação do ofendido ou de seu representante legal, requisição do Ministro
da Justiça e o ingresso do agente no território nacional, em crimes praticados fora
do território nacional.

As condições representação do ofendido ou de seu representante legal,


requisição do Ministro da Justiça serão oportunamente estudadas quando
estudarmos a ação penal pública condicionada.

45
UNIDADE 1 | TEORIA DO CONHECIMENTO PENAL

3 AÇÃO PENAL PÚBLICA


A ação penal pública é a regra dentro do processo penal brasileiro (art.
100, CP), é aquela em que o titular da ação é o Ministério Público, sendo dele a
titularidade para a propositura da ação penal quando entender estar comprovada
a materialidade e haver indícios suficientes da autoria. Isto porque, nestes casos,
entende-se que o delito atinge não apenas a vítima direta do crime – quando há –
como também toda a coletividade.

Note que nestes casos, retira-se da esfera de decisão do ofendido se ele


deseja ou não ver processado o autor da infração penal, sendo que se comprovada
a materialidade e havendo indícios de autoria, o Ministério Público deverá propor
a ação penal.

E
IMPORTANT

O processo judicialiforme era aquele que podia ser iniciado por iniciativa da
autoridade policial. Hoje entende-se que essa possibilidade não foi recepcionada pela
Constituição Federal.

Nas ações penais públicas, o processo terá início com o oferecimento da


denúncia, que é o nome dado à peça que inicia o procedimento criminal.

A ação penal pública se subdivide em três espécies:

a) Ação penal pública incondicionada.


b) Ação penal pública condicionada a representação do ofendido ou seu
representante legal ou à requisição do Ministro da Justiça.
c) Ação penal pública subsidiária da pública.

3.1 PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL PÚBLICA


A ação penal pública é regida por uma série de princípios especiais. São
eles:

a) Princípio da indisponibilidade: embora o Ministério Público seja o titular da


ação penal, a ele não é dado a discricionariedade de desistir da ação penal
em nenhum momento de seu processamento. A partir do oferecimento da
denúncia o membro do MP deve levá-la até a sentença. (perceba que mesmo

46
TÓPICO 3 | AÇÃO PENAL

no caso de delação premiada, a ação deverá ir até o seu deslinde, sendo que o
benefício será aplicado através da sentença penal). (Art. 42, CPP.  O Ministério
Público não poderá desistir da ação penal).
b) Princípio da obrigatoriedade: sendo comprovada a materialidade e havendo
indícios de autoria o Ministério Público DEVERÁ oferecer a denúncia. Não
há que se falar aqui em se fazer um juízo de oportunidade e conveniência,
porque ao membro do MP não se fala em discricionariedade. A Lei nº 9.099, ao
tratar da transação, trouxe uma disponibilidade temperada quando se tratar
de crime de menor potencial ofensivo.
c) Princípio da intranscendência: a ação penal não pode ultrapassar a pessoa do
acusado.
d) Princípio da divisibilidade: há discussão doutrinária sobre a aplicação ou não
deste princípio em sede de ação penal pública. Mas o STJ já se manifestou
no sentido de que o Ministério Público, como titular da ação penal, poderá
apresentar denúncia contra um ou mais envolvidos no crime, e não apresentar
em relação a outro em que ainda esteja sendo efetivada a investigação penal.
Neste caso, o Ministério Público poderá aditar posteriormente a denúncia para
incluir este outro acusado. O que é unânime é que o Ministério Público não
pode escolher contra quem oferecer denúncia, havendo provas suficientes,
deve a denúncia ser oferecida contra todos os indiciados.
e) Princípio da oficialidade: determina que a ação penal pública deve ser proposta
por um órgão oficial do Estado, seja ele o Ministério Público da União ou dos
Estados membros.

E
IMPORTANT

Em sede de ação penal pública vigora o princípio da divisibilidade, sendo admissível


que o processo seja desmembrado em tantos quantos forem os réus, não sendo exigível que a
persecução penal ocorra por meio de uma única ação. Assim, havendo uma ação penal pública
em face de um determinado réu, sempre será possível que o Ministério Público ajuíze outra ação
pelo mesmo fato em face de outro acusado, a qualquer tempo. (STJ, AgRg no REsp 1465912 / RS
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL2014/0167840-3, T6 - SEXTATURMA, Ministra
MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Data do Julgamento 08/02/2018, Data da Publicação/
Fonte DJe 19/02/2018. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.
jsp?livre=PRINC%CDPIO+DA+DIVISIBILIDADE&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p=true>.
Acesso em: 23 mar. 2019.

AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA

A ação penal pública incondicionada é a regra no ordenamento jurídico


brasileiro. Se for de qualquer outra modalidade, deverá ser expressamente
mencionada na legislação com a expressão “somente se procede mediante
queixa”, se privada, e “somente se procede mediante representação”, se pública
condicionada à representação.

47
UNIDADE 1 | TEORIA DO CONHECIMENTO PENAL

A titularidade exclusiva é do Ministério Público, que entendendo existir


prova da materialidade e indícios de autoria deve apresentar a denúncia para
possibilitar o processamento do fato criminoso.

Mas qual é o prazo para a propositura da ação?

O artigo 46 do CPP determina que:

O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será


de 5 dias, contado da data em que o órgão do Ministério Público
receber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se o réu estiver
solto ou afiançado. No último caso, se houver devolução do inquérito
à autoridade policial (art. 16), contar-se-á o prazo da data em que o
órgão do Ministério Público receber novamente os autos.

Porém esse prazo é considerado um prazo impróprio, sendo mera


indicação para o Ministério Público, sendo que se descumpri-lo o membro do
Ministério Público poderá ser responsabilizado se o excesso do prazo for por
desídia.

Mas a ação penal poderá ser intentada até seu prazo prescricional. A
consequência mais direta da perda do prazo de oferecimento da denúncia se dá
para o réu preso que deverá ser colocado em liberdade por causa do entendimento
que se não existe fundamento ainda para a propositura da ação, também não
existe para a manutenção da prisão.

3.2 AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À


REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO OU REQUISIÇÃO DO
MINISTRO DA JUSTIÇA
A ação penal será pública condicionada quando, embora a titularidade da
propositura da ação seja do Ministério Público, existe uma condição específica
de procedibilidade para essa propositura que é a representação do ofendido ou
requisição do Ministro da Justiça.

UNI

LEMBRE-SE
A regra é que os crimes sejam processados através de ação penal pública incondicionada.
Assim, se for condicionada haverá menção expressa no tipo penal ou ao final do capítulo do
Código Penal.

48
TÓPICO 3 | AÇÃO PENAL

Os crimes previstos para processamento através de ação penal pública


condicionada são aqueles em que o legislador entendeu que por qualquer motivo
a vítima poderia optar por não ver processado o crime, sendo que, esse motivo de
foro íntimo não precisa ser revelado para o juiz. Apenas, neste caso, o ofendido
ou seu representante deixa de dar ao Ministério Público a sua representação.
Neste caso, a vítima deverá realizar um juízo de oportunidade e conveniência
para deliberar se deseja ou não o processamento do feito.

Por causa disso se diz que em relação a essa espécie de ação vigora o
princípio da oportunidade ou da conveniência.

Para apresentar a representação não se exige formalidade excessiva


alguma, bastando que o ofendido ou seu representante afirme o desejo do
processamento perante a autoridade policial em fase do inquérito policial, por
exemplo.

E
IMPORTANT

Art. 39, CPP:  O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou


por procurador com poderes especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao
órgão do Ministério Público, ou à autoridade policial.

A procuração pode ser oferecida pelo ofendido ou por seu representante


legal, que pode ser seu cônjuge (leia-se aqui também o companheiro, ascendente,
descendente ou irmão. O menor de 18 anos, o incapaz, que não tenham
representante legal ou que os interesses sejam colidentes devem ter para si
nomeados um curador especial que irá averiguar a conveniência e oportunidade
de oferecer a representação.

O prazo para o oferecimento da representação é decadencial e esse direito


deve ser exercido em seis meses do conhecimento da autoria do crime.

Art.  38, CPP.   Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu


representante legal, decairá no direito de queixa ou de representação, se não
o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que vier a saber
quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar o
prazo para o oferecimento da denúncia.

Com a representação significa o direito de dispor da ação, o ofendido ou


seu representante legal pode concluir que perdeu o interesse em ver aquele feito
prosseguido. Assim, antes de oferecida a denúncia pelo Ministério Público, pode
ser exercido o direito de retratação, em que o ofendido ou seu representante legal
retiram a autorização para o procedimento daquele feito.
49
UNIDADE 1 | TEORIA DO CONHECIMENTO PENAL

Mas preste atenção, na regra geral, esse direito só pode ser exercido até o
OFERECIMENTO da denúncia. (Regra geral, porque existem exceções como é o
caso da lei Maria da Penha que prevê que essa retratação pode ser exercida até o
recebimento da denúncia (artigo 24, CP).

A representação é a autorização para o processamento de um determinado


fato criminoso, por isso, se for oferecida contra um indiciado, o Ministério Público
poderá oferecer denúncia contra todos aqueles que forem descobertos como
autores do fato delituoso.

Feita a representação contra apenas um dos coautores ou partícipes


de determinado fato delituoso, esta se estende aos demais agentes,
autorizando o Ministério Público a oferecer denúncia em relação
a todos os coautores e partícipes envolvidos na prática desse crime
(princípio da obrigatoriedade). É o que se chama de eficácia objetiva
da representação. Funcionando a representação como manifestação
do interesse da vítima na persecução penal dos autores do delito,
o Ministério Público poderá agir em relação a todos eles. Isso, no
entanto, não permite que o Ministério Público ofereça denúncia em
relação a outros fatos delituosos (LIMA, 2016, p. 256).

DICAS

Um exemplo de crime processado mediante ação penal pública condicionada à


representação é o crime do artigo 130 do Código Penal, Perigo de contágio venéreo (Expor
alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia
venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado). Neste caso, cabe ao ofendido
fazer um juízo de valor para saber se deseja o processamento ou não do feito, uma vez que
o crime atinge sua esfera privada de uma forma bastante intensa.

Sobre a Requisição do Ministro da Justiça é importante entendermos


que sua necessidade também tem que estar expressamente prevista em lei. Hoje
temos dois casos previstos no Código Penal em que são necessárias a requisição
do Ministro da Justiça para o seu processamento, um previsto no artigo 7º, §3º,
CP, que trata dos crimes cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do
Brasil, e o art. 141, I, cumulado com o artigo 145, § único do CP, que trata dos
crimes contra a honra cometidos contra o Presidente da República ou chefe de
governo estrangeiro.

50
TÓPICO 3 | AÇÃO PENAL

3.3 AÇÃO PENAL PÚBLICA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA


A existência da ação penal pública subsidiária da pública não é ponto
pacífico na doutrina, porém, existe sua previsão expressa na legislação penal
esparsa e por isso não podemos deixar de mencioná-la aqui. A ação penal pública
subsidiária da pública é aquele que é intentada por um órgão público na inércia
de outro órgão público.

E
IMPORTANT

A titularidade da ação penal continuará sendo de um órgão público, mas deixará


de ser de seu órgão originário por causa de sua inércia e será exercida por outro órgão
público.

Este tipo de ação vem previsto, no artigo 2º, § 2º, do Decreto-lei nº 201/67,
que trata dos crimes de responsabilidade de prefeitos. A lei prevê a possibilidade
de o Procurador Geral da República apresentar a denúncia no caso de inércia do
Procurador Geral de Justiça.

4 AÇÃO PENAL PRIVADA


A ação penal, como já dito, em regra, é pública, porque o Estado tem a
titularidade da ação penal para assegurar o bom exercício do Ius Puniendi. Porém,
existem alguns casos em que o legislador assegura à parte ofendida a legitimidade
para a propositura da ação penal, seja porque entende que o ofendido deve
exercer uma análise da oportunidade e conveniência para a propositura daquela
ação, seja porque lhe garante o direito de agir quando o órgão oficial se mostrar
inerte. Quando o crime fizer parte destas exceções, a lei expressamente deverá
mencioná-lo informando que “somente se processa mediante queixa”.

Nestes casos, a titularidade da ação penal passa do órgão oficial (Ministério


Público) para o particular, seja o ofendido, seu representante legal ou o curador
especial nomeado para este fim, e a ação passará a ser chamada de ação penal
privada. Brasileiro Lima (2016, p. 260) esclarece que:

Os fundamentos que levam o legislador a dispor que determinado


delito depende de queixa-crime do ofendido ou de seu representante
legal são: a) há certos crimes que afetam imediatamente o interesse da
vítima e mediatamente o interesse geral; b) a depender do caso concreto,
é possível que o escândalo causado pela instauração do processo
criminal cause maiores danos à vítima que a própria impunidade do

51
UNIDADE 1 | TEORIA DO CONHECIMENTO PENAL

criminoso – é o que se chama de escândalo do processo (strepitus judiei


i); c) geralmente, em tais crimes, a produção da prova depende quase
que exclusivamente da colaboração do ofendido, daí por que o Estado,
apesar de continuar sendo o detentor do jus puniendi, concede ao
ofendido ou ao seu representante legal a titularidade da ação penal.

Para os crimes de ação penal privada pode operar efeitos o instituto da


decadência, que é a perda do direito de agir. Assim, o oferecimento da queixa
deve respeitar o prazo de seis meses do conhecimento da autoria do delito, sob
pena de encontrar-se extinto para o ofendido o seu direito de queixa.

Uma parte da doutrina critica essa nomenclatura porque a ação continuará


sendo pública, o que será privado é a titularidade para a propositura da ação, mas
convencionou-se essa terminologia que é utilizada pelos tribunais e pela parte
majoritária da doutrina.

Neste caso, a ação será proposta por um advogado constituído, que deverá
juntar aos autos a procuração com poderes especiais para a propositura da ação.

E
IMPORTANT

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. AMEAÇA


E EXERCÍCIO ARBITRÁRIO DAS PRÓPRIAS RAZÕES. QUEIXA-CRIME. PROCURAÇÃO. ART.
44 DO CPP. DESCUMPRIMENTO. REGULARIZAÇÃO NO PRAZO DECADENCIAL. ART. 38
DO CPP. NÃO OCORRÊNCIA. INCOMPETÊNCIA. ANÁLISE PREJUDICADA. EXTINÇÃO DA
PUNIBILIDADE. NULIDADE DO PROCESSO. RECURSO PROVIDO.
1. A interpretação dada ao art. 44 do Código de Processo Penal, pelo Superior Tribunal de
Justiça, é no sentido de se exigir que a procuração outorgada – com o escopo específico que
ofertar queixa-crime – contenha, pelo menos, a indicação do respectivo dispositivo penal,
não sendo necessária a narrativa minuciosa da conduta delitiva.
2. No caso dos autos, a procuração sequer contém a indicação do dispositivo penal em que
foi dada como incursa a recorrente, de modo que o reconhecimento da irregularidade é
medida que se impõe.
3. Sendo de ação penal privada a actio penalis na espécie, operou-se a decadência do direito
do ofendido a oferecer queixa-crime, em conformidade com o disposto no art. 38 do Código
de Processo Penal, pois a irregularidade não foi sanada no prazo de seis meses. [...] (STJ,
T6 - SEXTA TURMA, Relator Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, RHC 44287 / RJ, RECURSO
ORDINARIO EM HABEAS CORPUS 2014/0006688-4, Data do Julgamento 11/11/2014, Data da
Publicação/Fonte: DJe 01/12/2014.
FONTE: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?livre=A%C7%C3O+PENAL+
PRIVADA+PRAZO+DECADENCIAL&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p=true>. Acesso em: 23
mar. 2019.

52
TÓPICO 3 | AÇÃO PENAL

A ação penal pública se subdivide em três espécies:

a) Ação penal exclusivamente privada.


b) Ação penal privada personalíssima.
c) Ação penal privada subsidiária da pública.

Vamos analisá-las em separado, começamos agora.

4.1 PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL PRIVADA


Tal qual na ação penal pública, na ação penal privada também existe
princípio específico para nortear a sua aplicação:

a) princípio da disponibilidade – para o particular vigora o princípio da


disponibilidade, sendo que cabe a ele, ofendido, determinar se a ação deverá
ou não ser proposta após uma análise de oportunidade e conveniência. Ele
poderá deixar de exercer seu direito por diversas maneiras, pode ser pela
sua inércia, gerando a decadência do seu direito de ação; seja pela renúncia
expressa, quando declara que não tem interesse no processamento do feito;
ou ainda, poderá, depois de intentada abandonar a causa (este princípio da
disponibilidade não se aplica à ação penal privada subsidiária da pública).
b) Princípio da oportunidade – mesmo sendo comprovada a materialidade e
havendo indícios de autoria o particular poderá deixar de oferecer sua queixa
crime se entender que não o deseja fazer.
c) Princípio da intranscendência – a ação penal não pode ultrapassar a pessoa do
acusado.
d) Princípio da indivisibilidade – para a ação penal privada aplica-se o princípio
da indivisibilidade, sendo que se o ofendido desejar o processamento do
fato criminoso, deverá fazê-lo contra todos aqueles os quais houver indícios
de autoria, não podendo utilizar de nenhum critério de discricionariedade.
Entende-se que o perdão concedido a um dos autores, a todos produzirá
efeitos. (Art. 49, CPP.  A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação
a um dos autores do crime, a todos se estenderá.)

4.2 AÇÃO PENAL PRIVADA (EXCLUSIVAMENTE PRIVADA)


É a regra quando falamos de ação penal privada. É aquele em que a
titularidade da ação já nasce, desde o princípio, apenas para o ofendido, seu
representante legal ou o curador especial.

Nestes casos, o Ministério Público não possui a legitimidade para a


propositura da ação, mesmo que haja provas da materialidade e da autoria,
cabendo aos legitimados exercerem a iniciativa com a análise da oportunidade e
conveniência.

53
UNIDADE 1 | TEORIA DO CONHECIMENTO PENAL

Também chamada de ação penal privada propriamente dita, ou


principal, possui esse nome para diferenciá-la das demais modalidades de ação
penal privada

DICAS

Exemplo de ação penal privada que já nasce privada são os crimes contra
a honra. Quando alguém é caluniado, cabe a este o processamento do feito através da
queixa crime.

4.3 AÇÃO PENAL PRIVADA PERSONALÍSSIMA


A ação penal privada personalíssima somente pode ser exercida pelo
ofendido, não podendo, nem no caso de sua morte, ser exercida pelo seu
representante legal. Assim, em o ofendido vindo a falecer, com ele se extingue o
direito de ação, não sendo cabível a sucessão processual.

Hoje, o único caso previsto no Código Penal que prevê a ação penal
privada personalíssima é o artigo 236 que tipifica o crime de induzimento a erro
essencial e ocultação de impedimento.

UNI

Art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente,


ou ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Parágrafo único - A ação penal depende de queixa do contraente enganado e não pode
ser intentada senão depois de transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro ou
impedimento, anule o casamento (BRASIL, 1940). (grifo nosso)

4.4 AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA


A ação penal privada subsidiária da pública é a que ocorre quando a ação
penal nasce pública e por inércia do órgão ministerial surge o direito do ofendido
em intentar a ação penal privada substituindo o legitimado originário.

54
TÓPICO 3 | AÇÃO PENAL

Preste atenção: João é vítima de um crime de roubo, e na fase de inquérito


policial fica comprovada a materialidade e indícios de autoria do crime por
José. O inquérito policial depois de finalizado é remetido à juízo e por sua vez
encaminhado para o Ministério Público. Contudo, por causa da grande carga de
trabalho, mesmo decorrido o prazo para o oferecimento da denúncia, o Ministério
Público permanece inerte, ou seja, nada faz. No momento que termina o prazo
de 15 dias (lembre do já mencionado artigo 46, CPP) nasce para João o direito de
oferecer queixa crime.

Porém, note que o surgimento deste direito do ofendido intentar com a


ação penal não subtrai do órgão ministerial o direito dele intentar com a ação penal
pública. Assim, pelo prazo de seis meses haverá titularidade concorrente para a
propositura da ação penal. No exemplo trabalhado acima, João e o Ministério
Público poderão, qualquer um deles, intentar ação penal contra José pelo crime
de roubo.

DICAS

O direito de propor a ação penal privada subsidiária da pública irá subsistir como
direito de propor a ação penal pública no mesmo lapso temporal.

O prazo para a propositura da ação penal privada subsidiária da pública


é de 6 meses do momento do término do prazo para o órgão oficial oferecer a
denúncia. Após esse prazo, o direito de ação decai para o ofendido, mas permanece
para o órgão ministerial até o prazo prescricional.

Outra questão importante é que o direito de ação somente nascerá se o


Ministério Público permanecer inerte, ou seja, se ele nada fizer em relação aquele
caso concreto. Se o órgão ministerial requerer a devolução dos autos à delegacia, o
arquivamento do inquérito policial, nestes casos, embora ele não tenha oferecido
a denúncia ele não se quedou inerte, ele tomou uma providência permitida por
lei diversa da propositura da ação penal. Nestas hipóteses, não há que se falar em
ação penal privada subsidiária da pública.

Preste atenção no acórdão de um julgado do STJ que trata especificamente


sobre esta matéria mencionando o arquivamento implícito:

55
UNIDADE 1 | TEORIA DO CONHECIMENTO PENAL

E
IMPORTANT

CRIMINAL. HC. HOMICÍDIO CULPOSO. INTERVENÇÃO CIRÚRGICA QUE


RESULTOU NA MORTE DE JOVEM DE 18 ANOS. DENÚNCIA QUE INCLUIU ALGUNS DOS
INDICIADOS E EXCLUIU OUTROS. ARQUIVAMENTO IMPLÍCITO. OFERECIMENTO DE AÇÃO
PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA
EVIDENCIADA DE PLANO. VIABILIDADE DO WRIT. ORDEM CONCEDIDA. Hipótese que trata
de ação penal privada subsidiária da pública, iniciada por queixa oferecida em função de
o Ministério Público, em crime de homicídio culposo, ter deixado de apresentar denúncia
contra alguns dos indiciados, ofertando-a contra os demais. Evidenciada a ocorrência de
arquivamento implícito, eis que o Ministério Público não teria promovido a denúncia
contra os pacientes por entender que não havia prova da prática de delito pelos mesmos,
impede-se a propositura de ação penal privada subsidiária da pública. (STJ HC 21074 / RJ
HABEAS CORPUS 2002/0025422-7, T5 - QUINTA TURMA, Relator Ministro GILSON DIPP, Data
do Julgamento 13/05/2003, Data da Publicação/Fonte DJ 23/06/2003 p. 396, RSTJ vol. 175 p.
473. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?livre=200200254227.
REG>. Acesso em: 23 mar. 2019) (grifo nosso).

Perceba, contudo, que o Ministério Público continuará participando da


ação penal privada subsidiária da pública, não como autor, mas como fiscal da
aplicação da lei, porém, o artigo 29 do CPP garante ao órgão ministerial alguns
direitos relativos à titularidade da ação:

a) Poderá aditar a queixa.


b) Repudiar a queixa e oferecer outra denúncia para substituí-la.
c) Intervir no processo em relação à confecção de provas.
d) Interpor recurso.
e) A qualquer tempo retomar a ação como parte principal em havendo desídia
por parte do autor.

ATENCAO

Art. 29, CPP.  Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta
não for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e
oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos
de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a
ação como parte principal (BRASIL, 1940).

56
TÓPICO 3 | AÇÃO PENAL

Da mesma maneira que ao Ministério Público não é dado o direito de


análise de oportunidade e conveniência, sendo a ele aplicado o princípio da
obrigatoriedade do oferecimento da denúncia em relação aos crimes em que
restar provada a materialidade e houver indícios de autoria, em relação à ação
penal privada subsidiária da pública também não é cabível o oferecimento de
perdão ou renúncia. Nucci (2016) assevera que:

Na ação penal privada subsidiária da pública é inadmissível a


ocorrência do perdão ofertado pelo querelante. Conforme art. 105
do Código Penal, somente cabe perdão nas ações exclusivamente
privadas. Se o fizer, demonstra sua indisposição a conduzir a ação
penal, devendo o Ministério Público retomar o seu lugar como
parte principal.

E
IMPORTANT

Lembrando-se dos conceitos estudados em direito penal, você se recorda do


que é decadência imprópria?

4.5 EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE ESPECÍFICA PARA A AÇÃO


PENAL PRIVADA
Para finalizar o estudo da ação penal privada, faz-se necessário recordar
alguns institutos do direito penal, previstos no Artigo 107 do Código Penal, sendo
eles a decadência, a renúncia, o perdão do ofendido e a perempção.

4.5.1 Decadência
É a perda do direito de ação, aplicável tanto a ação penal privada – inclusive
para a ação penal privada subsidiária da pública – quanto para a representação.

Ela se consolida como decurso de seis meses do conhecimento da autoria


do fato (no caso da ação penal privada subsidiária da pública é com o decurso
do tempo de 6 meses após o término do prazo do MP para o oferecimento da
denúncia, e se este se manter inerte).

Trata-se de prazo fatal e improrrogável, isto é, se o seu término se der em


um sábado, a ação somente até ele pode ser intenta, não se prorrogando o prazo
para o próximo dia útil.

57
UNIDADE 1 | TEORIA DO CONHECIMENTO PENAL

Mesmo o protocolo da ação em juízo incompetente interrompe a


decadência, assim já decidiu o STJ:

HABEAS CORPUS. INJÚRIA RACIAL (ARTIGO 140, § 3º, DO


CÓDIGO PENAL). ALEGADA DECADÊNCIA. AÇÃO PENAL
PROPOSTA PELA DEFENSORIA PÚBLICA DENTRO DO PRAZO
LEGAL. IRRELEVÂNCIA DO AJUIZAMENTO DA QUEIXA-CRIME
PERANTE JUÍZO INCOMPETENTE. INTERRUPÇÃO DO PRAZO
DECADENCIAL PELO SIMPLES PROTOCOLO DA PETIÇÃO
INICIAL. DESPROVIMENTO DO RECURSO.
1. Havendo dados seguros de que a queixa-crime foi intentada dentro
do prazo legal, e inexistindo quaisquer elementos concretos que
afastem a conclusão de que a ação penal privada foi ajuizada pela
Defensoria Pública antes da consumação do prazo decadencial, não se
pode falar em extinção da punibilidade do recorrente.
2. Mesmo que a queixa-crime tenha sido apresentada perante Juízo
incompetente, o certo é que o seu simples ajuizamento é suficiente
para obstar a decadência, interrompendo a sua Doutrina. Precedentes
do STJ e do STF.
3. Recurso desprovido. (STJ, QUINTA TURMA, Relator Ministro JORGE
MUSSI, RHC 25611 / RJ, RECURSO ORDINARIO EM HABEAS CORPUS,
2009/0039988-5, Data do Julgamento 09/08/2011, Data da Publicação/
Fonte DJe 25/08/2011. FONTE: <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/
documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=16338707&num_
registro=200900399885&data=20110825&tipo=5&formato=PDF>. Acesso
em: 23 mar. 2019.

4.5.2 Renúncia
É o meio pelo qual alguém, ao exercer a análise da conveniência e
oportunidade de propor a ação penal privada, abdica do seu direito. Este ato é
voluntário e unilateral, ou seja, não depende de aceitação por parte do réu.

Podemos falar de denúncia apenas para as ações exclusivamente


privada e para as ações privadas personalíssimas, uma vez que na ação penal
privada subsidiária da pública, mesmo que o ofendido abdique de seu direito,
o Ministério Público permanece como titular da ação penal devendo intentá-la
antes da prescrição.

Ela pode ser de duas espécies, expressa ou tácita. Será expressa quando
alguém expressamente, pode ser por declaração assinada ou nos próprios autos
do inquérito policial declina do seu direito de ação. Será tácita quando o ofendido
tomar uma atitude incompatível com a propositura da ação, por exemplo,
convidar o indiciado para um cruzeiro. Esta renúncia tácita pode ser provada por
qualquer meio de prova admitido em direito.

Lembre-se de que o artigo 49 prevê que a renúncia oferecida a um dos


coautores, a todos aproveita, e deve ser oferecida até a propositura da ação.

58
TÓPICO 3 | AÇÃO PENAL

4.5.3 Perdão do ofendido


O perdão do ofendido é concedido durante o curso do processo penal.
O ofendido que, por qualquer causa, resolver perdoar o acusado, poderá fazê-
lo, porém apenas na hipótese das ações exclusivamente privada e para as ações
privadas personalíssimas. Se a ação penal for privada subsidiária da pública,
em o ofendido oferecendo seu perdão, a titularidade retorna para o Ministério
Público que deverá dar continuidade na ação penal.

ATENCAO

O perdão judicial poderá ser concedido quando “as consequências da infração


atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária”,
como é o caso do artigo 121, §5º, CP, e nada tem a ver com o perdão do ofendido.

Se a renúncia é ato voluntário e unilateral, o perdão, ao contrário é ato


voluntário, mas é bilateral. Ou seja, tem que ser aceito pelo acusado, que poderá
negá-lo por qualquer motivo, seja porque deseja provar sua inocência, seja por
qualquer outra causa.

O perdão concedido a um dos acusados, a todos aproveita, assim, se o


ofendido oferecer o perdão no decorrer da ação penal privada para um dos réus,
todos serão arguidos para verificar a aceitação deste instituto.

O perdão é um instituto que deve ser oferecido dentro do processo, se for


antes da propositura da ação, fala-se em renúncia, se no decorrer do processo até
a sentença, fala-se em perdão.

4.5.4 Perempção
É a perda do direito de ação (de prosseguir na ação) pela negligência do
autor da ação. Novamente somente pode ser reconhecido em relação das ações
exclusivamente privada e para as ações privadas personalíssimas. Se a ação penal
for privada subsidiária da pública nestes casos, a titularidade retorna para o
Ministério Público que deverá continuar na condução da ação até seu trânsito em
julgado, esse é o entendimento esposado pelo STJ:

Encontra-se em consonância com o entendimento esposado por essa


Corte Superior de Justiça o acórdão a quo, na medida em que se revela
inaplicável a perempção em ação penal de iniciativa pública. A aplicação
do instituto é restrita às hipóteses de ação penal exclusivamente
privada e de ação penal privada personalíssima, não abrangendo

59
UNIDADE 1 | TEORIA DO CONHECIMENTO PENAL

nem as hipóteses de ação penal subsidiária da pública – que poderá se


proceder também mediante denúncia. (STJ, QUINTA TURMA, Relator
Ministro RIBEIRO DANTAS, AgRg nos EDcl no REsp 1492636 / SP, Data
do Julgamento: 19/06/2018, Data da Publicação/Fonte: DJe 28/06/2018.
Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/
m e d i a d o / ? c o m p o n e n t e = AT C & s e q u e n c i a l = 8 4 8 3 6 6 2 5 & n u m _
registro=201402878260&data=20180628&tipo=5&formato=PDF.
Acesso em: 23 mar. 2019.

O artigo 60 do CPP arrola quatro hipóteses em que serão reconhecidas a


perempção:

Art.  60.  Nos casos em que somente se procede mediante queixa,


considerar-se-á perempta a ação penal:
I- quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento
do processo durante 30 dias seguidos;
II- quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade,
não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do
prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-
lo, ressalvado o disposto no art. 36;
III- quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado,
a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de
formular o pedido de condenação nas alegações finais;
IV  -  quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se
extinguir sem deixar sucessor (BRASIL, 1941).

5 DENÚNCIA E QUEIXA CRIME


A peça inaugural da ação penal é chamada denúncia nos casos em que ela
for de ação penal pública em que seu titular é o Ministério Público.

Nos casos de ação penal privada em que a peça inaugural for oferecida
pelo ofendido ou seu representante legal, ela se chamará de queixa crime.

Os requisitos de ambas são os mesmos e estão previstos no artigo 41 do


Código de Processo Penal.

Art.  41, CPP.   A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato


criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou
esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e,
quando necessário, o rol das testemunhas (BRASIL, 1941).

No caso da queixa crime, além destes requisitos formais, a exordial deverá


vir acompanhada de uma procuração com poderes especiais, conforme o previsto
no artigo 44, CPP.

A petição inicial poderá ser rejeitada quando for manifestamente inepta,


faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal, ou
faltar justa causa para o exercício da ação penal (art. 395, CPP). 

60
TÓPICO 3 | AÇÃO PENAL

Da decisão que recebe a queixa, em regra não cabe recurso; porém como
falamos na possibilidade da restrição da liberdade de locomoção do réu, é possível
a impetração de um Habeas Corpus, porém, nele não se pode requerer a análise
do mérito.

Em relação à decisão que rejeitar a denúncia ou a queixa, em regra, caberá


recurso em sentido estrito, conforme o artigo 581, I, do CPP, na Lei nº 9.099, a
previsão é do recurso de apelação para esse caso.

Quando for interposto um recurso da rejeição da denúncia ou da queixa,


é obrigatória a intimação do acusado para se manifestar neste recurso sob pena
de nulidade.

E
IMPORTANT

Súmula 707, STF


Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contrarrazões ao recurso
interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor dativo. Disponível
em:<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=2641>.
Acesso em: 23 mar. 2019.

Em algumas hipóteses específicas pode ocorrer a necessidade de um


aditamento da petição inicial, por exemplo, para sanar omissões constantes
da denúncia ou da queixa, e ele pode ser feito somente até a sentença. Esta
possibilidade está prevista no artigo 569, CPP (“As omissões da denúncia ou da
queixa, da representação, ou, nos processos das contravenções penais, da portaria
ou do auto de prisão em flagrante, poderão ser supridas a todo o tempo, antes
da sentença final”) (BRASIL, 1941). Temos que ter em mente que o acusado se
defende do fato narrado, e esse aditamento não pode servir para incluir fatos
novos dos quais a ele não foi dado direito de defesa. Neste caso devemos utilizar
as regras do artigo 384 do CPP, conhecido pelo nome de mutatio libelli:

E
IMPORTANT

Art. 384.  Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição


jurídica do fato, em consequência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância
da infração penal não contida na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou
queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo em
crime de ação pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente.

61
UNIDADE 1 | TEORIA DO CONHECIMENTO PENAL

§ 1º Não procedendo o órgão do Ministério Público ao aditamento, aplica-se o art. 28 deste


Código.
§ 2º Ouvido o defensor do acusado no prazo de 5 (cinco) dias e admitido o aditamento, o
juiz, a requerimento de qualquer das partes, designará dia e hora para continuação da
audiência, com inquirição de testemunhas, novo interrogatório do acusado, realização
de debates e julgamento.
§ 3º Aplicam-se as disposições dos §§ 1º e 2º do art. 383 ao caput deste artigo.
§ 4º Havendo aditamento, cada parte poderá arrolar até 3 (três) testemunhas, no prazo de 5
(cinco) dias, ficando o juiz, na sentença, adstrito aos termos do aditamento.
§ 5º Não recebido o aditamento, o processo prosseguirá (BRASIL, 1941).

Assim, deverá a peça exordial ser aditada para a inclusão do novo fato
delituoso, mas tem que se preservar o direito de defesa do réu acerca desta nova
narrativa, dando-lhe o direito de defesa para ser exercido no prazo de cinco dias.
Também é facultado as partes o arrolamento de três testemunhas para serem
ouvidas pelo juízo.

62
TÓPICO 3 | AÇÃO PENAL

LEITURA COMPLEMENTAR

A CULTURA INQUISITÓRIA MANTIDA PELA ATRIBUIÇÃO


DE ESCOPOS METAJURÍDICOS AO PROCESSO PENAL

Leonardo Augusto Marinho Marques


José de Assis Santiago Neto

RESUMO: A adoção de um modelo não inquisitorial passa pela construção


de uma teoria do processo condizente com o Estado Democrático de Direito.
Assim, a adoção teórica de modelos que retirem o julgador de uma posição de
superioridade para colocá-lo em plano de igualdade em relação aos demais
sujeitos é imprescindível. A revisão da teoria da relação jurídica, principalmente
de sua vertente instrumental, que atribui ao processo escopos metajurídicos,
no processo penal dá ao julgador funções que não devem lhe pertencer e o
transformam em verdadeiro justiceiro em desconformidade com o processo
democrático e aproximando o processo do modelo inquisitório.

PALAVRAS-CHAVE: Devido Processo Legal; Estado Democrático de


Direito; Processo Penal Democrático.

Introdução

Direito e Poder sempre andaram juntos, normalmente sendo este


representado por aquele. Ronaldo Brêtas de Carvalho Dias assinala que “o poder
é a energia da ideia de direito, a força que tende a se introduzir no ordenamento
jurídico positivo e que rege a vida das pessoas em sociedade”. Contudo, consoante
lição de José Alfredo de Oliveira Baracho, lembrando Montesquieu, o poder é uma
experiência permanente e todo homem que possui poder é impulsionado a abusar
do mesmo, assim, o poder para que não tenda ao arbítrio necessita ser contido
pelo Direito. Nesse contexto, “a construção democrática do Estado assenta-se no
exercício responsável do poder, para proteger os direitos dos governados”. No
Processo Penal esse fenômeno é vislumbrado de forma ainda mais clara, eis que
o processo penal traz consigo a força máxima do poder do Estado sendo exercida
contra o indivíduo, o poder de punir através da restrição daquilo que o indivíduo
tem de mais precioso, seu tempo de vida, sua liberdade.

Ao longo de sua história o processo penal viveu fases pendulares, oscilando


entre momentos de maior liberdade e maior repressão, ora prevalecendo ideias
de segurança social e eficiência repressiva, ora sobressaindo ideias de maior
proteção ao acusado e preservação de suas garantias. Em cada uma dessas
fases o sistema processual penal adotado sempre foi a máxima representação
do momento vivido, sendo que em épocas em que o sistema assegurou maior
liberdade foram adotados sistemas de partes, já em épocas de menor liberdade o
sistema inquisitório prevaleceu.

63
UNIDADE 1 | TEORIA DO CONHECIMENTO PENAL

Assim sendo, a adoção de um modelo inquisitório, vigente na Europa


do século XI ao século XIX, fez com que o processo penal restasse concentrado
nas mãos da figura do inquisidor. Nesse contexto, Oskar von Bülow ao escrever
sua clássica obra Teoria das Exceções Processuais e Dilações Probatórias buscou
resgatar o processo como ato entre juiz autor e réu, na forma desenvolvida por
Búlgaro no século XII, originando a teoria da relação jurídica, que concebeu o
processo como instrumento da jurisdição. Contudo, ao manter o processo como
instrumento da jurisdição, a referida teoria acabou mantendo o juiz no centro da
relação processual e, consequentemente, mantendo acesa a chama da inquisição
no Processo Penal.

Por sua vez, Cândido Rangel Dinamarco, ao adotar a teoria da relação


jurídica, lançou mão da teoria instrumentalista do processo ao afirmar que o
processo teria escopos metajurídicos a serem perseguidos pelo julgador.

Dessa forma, procuramos no presente texto desvelar o caráter inquisitório


da teoria da relação jurídica, objetivando a construção de um Processo Penal
de partes onde a decisão não seja obra exclusiva do julgador, mas construção
comparticipada e dialógica entre todos os sujeitos do processo.

2 Sistemas processuais penais

Segundo a doutrina majoritária, o que diferencia o modelo inquisitório


dos demais modelos processuais penais de partes é a gestão da prova, se a prova
é gerida pelas partes teremos um modelo não inquisitorial, caso tenhamos a
prova nas mãos do juiz, estaremos diante de um modelo inquisitório. Assim, o
procedimento inquisitório é realizado centralizado na figura de um único sujeito
principal a quem compete a produção da prova e o julgamento, podendo ou não
ter outros sujeitos que terão atuação em plano secundário. Por sua vez, a marca do
processo não inquisitorial é sua realização mediante o actus trium personarum,
ou seja, a decisão é construída entre autor, réu e julgador, que atuam em plano
de igualdade na construção do provimento. Assim, a decisão penal no modelo
democrático é fruto da construção endoprocessual através da atuação conjunta e
paritária das partes e do julgador no mesmo palco e em condições de igualdade
de diálogo.

Geraldo Prado aponta que os séculos XIII e XIV marcaram a origem do


modelo inquisitório, sendo que, consoante lição de Jacinto Nelson de Miranda
Coutinho, a origem de tal sistema pode ser datada do ano de 1215 em razão
do IV Concílio de Latrão, sendo que, segundo o mesmo autor, o embrião desse
sistema havia sido lançado no ano de 1199 pela Bula Vergentis in senium do Papa
Inocêncio III pela qual a heresia ao crime de lesa majestade. Nesse procedimento,
toda a prova competiria ao inquisidor, sendo que o acusado de heresia somente
teria direito a defensor caso não confessasse, mesmo após longas sessões de
tortura, e nem houvesse qualquer prova da heresia, havendo testemunhas a

64
TÓPICO 3 | AÇÃO PENAL

favor do acusado. Nesse caso o defensor deveria ter raízes cristãs, sendo papel
do advogado fazer o acusado de heresia confessar a acusação e pedir pena para
o delito cometido. Nesse contexto, o procedimento inquisitorial acaba por afastar
a presunção de não culpabilidade, eis que a acusação, a prova e o julgamento
acabam centralizados nas mãos de um só intérprete, o inquisidor.

Nesse quadro, se o mesmo sujeito acusa, produz as provas e julga, o acusado


não tem nenhuma chance de sair vencedor, eis que a hipótese condenatória já
fora proclamada vencedora antes mesmo do início do procedimento, fomentando
o que Franco Cordero denominou de quadro mental paranoico, que se dá pelo
primado da hipótese sobre os fatos. No processo inquisitório a verdade era
perseguida a todo preço, sendo utilizados todos os meios disponíveis para tal
desiderato, inclusive a tortura.

O Brasil possui em seu ordenamento jurídico uma grande dicotomia.


Enquanto a Constituição da República adotou, ainda que de modo implícito, o
modelo constitucional-democrático de processo, ao assegurar a presunção de
não culpabilidade (art. 5º, LVII), o devido processo constitucional (art. 5º, LIV), o
contraditório e a ampla defesa (art. 5º, LV), a separação das funções de acusar (art.
129), defender (art. 133 e 134) e julgar (art. 92 e seguintes), o código de processo
penal, forjado sob a égide ditatorial do Estado Novo, possui estrutura inquisitória
que, de tão arraigada, sequer as reformas pontuais foram capazes de mudar. Assim,
o Código de Processo Penal, mesmo após as reformas promovidas nos últimos
anos, não foi capaz de excluir de seu texto sua matiz autoritária e inquisitória,
assegurando ao juiz amplo poder probatório, podendo produzir provas de ofício
(art. 156), decretar prisão preventiva sem pedido dos demais sujeitos processuais
(art. 311), discordar do pedido de arquivamento formulado pelo titular da ação
penal (art. 28), entre outros dispositivos francamente inquisitórios. Verifica-se,
pois, que a luz da Constituição deve permear a escuridão do autoritarismo através
da interpretação do código à luz constitucional, contudo, na prática forense o que
se vê é justamente o oposto, com a interpretação da constitucional sob o mais
profundo breu do código vigente.

FONTE: <http://177.129.73.3/index.php/revjuridica/article/view/4353/2675>. Acesso em: 17 maio


2019.

65
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Ação penal é o instrumento adequado para o Estado, buscar a comprovação


da materialidade e autoria de um delito praticado, e com isso possibilitar a
aplicação do poder punitivo do Estado àquele contra quem ficou comprovada
a imputação do cometimento do fato típico.

• Características da Ação Penal – caráter público, direito subjetivo, autônomo e


abstrato.

• Condições genéricas da ação são: possibilidade jurídica do pedido, legitimidade


para agir, interesse de agir que se subdivide em: necessidade, adequação
utilidade e justa causa.

• Espécies de ação penal – pública e privada.

• Ação penal pública – é a regra geral, titularidade exclusiva do Ministério


Público, oferecimento da denúncia.

• Espécies ação penal pública: incondicionada, condicionada à representação da


vítima ou do seu representante legal, ou à requisição do Ministro da Justiça e a
subsidiária da pública.

• Princípios da ação penal pública – indisponibilidade, obrigatoriedade,


intranscendência da ação, divisibilidade, oficialidade.

• Ação Penal Privada – titularidade o ofendido ou de seu representante legal, a


exordial se chama queixa crime.

• Espécies ação penal privada – exclusivamente privada, personalíssima, e


subsidiária da pública.

• Princípios da ação penal privada – disponibilidade, oportunidade,


intranscendência da ação.

• Extinção da punibilidade específica para a ação penal privada – decadência, a


renúncia, o perdão do ofendido e a perempção.

• Requisitos da Denúncia e da Queixa – “exposição do fato criminoso, com todas


as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos
quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol
das testemunhas” (BRASIL, 1941).

66
AUTOATIVIDADE

1 Analisando-se as características da ação penal responda:

A instauração de ação penal pública condicionada à requisição


do Ministro da Justiça é obrigatória, enquanto a instauração de ação penal
pública condicionada à representação do ofendido se dá conforme juízo de
oportunidade e conveniência.
a) ( ) Certo.
b) ( ) Errado.

2 Observando-se os postulados acerca da queixa crime, assinale a alternativa


correta:

a) ( ) A queixa crime pode ser a peça inaugural de um crime de ação penal


pública desde que haja a inércia do Ministério Público, surgindo esse
direito ao ofendido decorrido o prazo legal para o oferecimento da
denúncia.
b) ( ) A queixa crime nunca poderá ser a peça inaugural de um crime de ação
penal pública.
c) ( ) A queixa crime pode ser a peça inaugural de um crime de ação penal
pública desde que haja a inércia do Ministério Público, surgindo esse
direito ao ofendido no momento do conhecimento da autoria e sendo
que a partir deste momento conta-se o prazo decadencial.
d) ( ) A queixa crime pode ser a peça inaugural de um crime de ação penal
pública desde que o Ministério Público peça a remessa dos autos de
volta a delegacia para maiores investigações.
e) ( ) A queixa crime pode ser a peça inaugural de um crime de ação penal
pública desde que o Ministério Público requeira o arquivamento dos
autos por entender não ter existido fato típico, sendo que o prazo
começa a ser contado a partir do arquivamento.

3 Sobre as causas de extinção de punibilidade, analise as questões e assinale


a incorreta:

a) ( ) A renúncia é ato voluntário e unilateral, o perdão, ao contrário é ato


voluntário, mas é bilateral, necessitando do aceite do acusado para
produzir efeitos.
b) ( ) A renúncia deve ser concedida antes de iniciado o processo crime, o
perdão, ao contrário, deve ser oferecido depois de iniciado o processo
crime até a sentença penal.
c) ( ) Ocorrendo a perempção nos casos de ação penal privada subsidiária da
pública, não ocorrerá a extinção da ação porque o Ministério Público
retomará a titularidade da causa.
d) ( ) As causas de extinção da punibilidade, em especial a renúncia, e o
perdão, podem ser concedidas ao acusado nas ações penais privadas
subsidiárias da pública.
67
4 Assinale a alternativa correta:

I- Todos os tipos penais previstos no Código Penal são de ação penal pública,
e por isso ela é a regra.
II- A ação penal privada é uma exceção, somente podendo ser utilizada se o
Ministério Público queda-se inerte.
III- O Ministério Público atua como autor em qualquer ação penal.

Sobre as assertivas acima:


a) ( ) Todas estão corretas.
b) ( ) Apenas a III está correta.
c) ( ) As questões III e II estão corretas.
d) ( ) As questões III e II estão corretas.
e) ( ) Todas estão erradas.

5 São princípios da ação penal pública:

a) ( ) Princípio da disponibilidade, princípio da obrigatoriedade, princípio da


intranscendência, princípio da divisibilidade.
b) ( ) Princípio da indisponibilidade, princípio da obrigatoriedade, princípio
da intranscendência, princípio da divisibilidade.
c) ( ) Princípio da indisponibilidade, princípio da obrigatoriedade, princípio
da intranscendência, princípio da indivisibilidade.
d) ( ) Princípio da indisponibilidade, princípio da obrigatoriedade, princípio
da transcendência, princípio da divisibilidade.

68
UNIDADE 2

DOS SUJEITOS PROCESSUAIS E DAS


MEDIDAS CAUTELARES

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• introduzir o aluno às noções dos sujeitos processuais;

• identificar as diferenciações sobre os principais participantes da ação penal;

• adentrar o estudante no mundo das medidas cautelares;

• constatar as ideias principais da teoria da prisão cautelar;

• perceber a classificação das medidas cautelares.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – SUJEITOS PROCESSUAIS

TÓPICO 2 – DAS MEDIDAS CAUTELARES

TÓPICO 3 – DA LIBERDADE PROVISÓRIA

69
70
UNIDADE 2
TÓPICO 1

SUJEITOS PROCESSUAIS

1 INTRODUÇÃO
O processo penal envolve o trabalho de várias pessoas, sendo algumas
consideradas essenciais e outras secundárias. Porém, todas elas são importantes
e possuem funções bastante distintas para o regular desenvolvimento do devido
processo legal.

Neste tópico iremos nos dedicar em conhecer e estudar as funções, direitos


e obrigações de cada um dos sujeitos processuais que atuam no processo penal.

2 JUIZ
O juiz é um dos atores processuais que atuará no processo como
destinatário principal das provas – porém não único destinatário, já que elas se
dirigem a todos os que participam do processo –, e que com base nela deverá, de
forma imparcial, decidir a demanda proposta.

Perceba que o juiz pode ser um magistrado de primeiro grau, e nesse caso,
em regra, atuará sozinho na lide, ou pode ser membro de um órgão colegiado,
por exemplo, no segundo grau de jurisdição, nos Tribunais de Justiças, Tribunais
Regionais Federais etc.

O juiz – ou mais precisamente, o órgão julgador, já que nos tribunais o


julgamento poderá ser conduzido por órgãos colegiados – é o sujeito
processual imparcial, que terá como função precípua a condução do
processo e julgamento do pedido de tutela jurisdicional que lhe é
dirigido pelo autor da demanda (BONFIM, 2017, p. 414).

Para que alguém alcance a magistratura é necessário o preenchimento de


determinados requisitos como ser bacharel em direito com no mínimo três anos
de prática jurídica e que seja aprovado em concurso público para a Magistratura.

71
UNIDADE 2 | DOS SUJEITOS PROCESSUAIS E DAS MEDIDAS CAUTELARES

A função do julgador é de imensa responsabilidade e deve ser exercida


de forma imparcial para garantir a todos os litigantes as mesmas oportunidades
para o convencimento. Por esse motivo, o juiz é cercado de deveres e poderes
(na verdade, todos os poderes do juiz são também deveres dele, porque é sua
obrigação cumpri-los).

São poderes do juiz:

• Poderes de polícia – são os poderes conferidos ao juiz para manter a ordem


dentro do processo ou dentro de seu tribunal. Por exemplo, é o caso do artigo
497, I, do CPP, que determina que nos tribunais do júri é atribuição do juiz
“regular a polícia das sessões e prender os desobedientes” (BRASIL, 1988).
Porém, diferente do que possa parecer, não é necessária a força policial para
que o juiz exerça seus poderes de polícia, cabendo a ele requisitar o auxílio
quando necessário.

• Poderes jurisdicionais – os poderes jurisdicionais dizem respeito ao trâmite


do processo propriamente dito e podem ser elencados em instrutórios, de
disciplina e de impulso do processo. Os poderes de disciplina são aqueles que
o juiz deve utilizar para garantir que as partes do processo não irão ultrapassar
os limites da boa-fé dentro do processo, podendo reprimir qualquer abuso
cometido por qualquer uma das partes. Por exemplo, quando o juiz indefere a
juntada de provas irrelevantes (CPP, art. 400, §1º).

• Os poderes de impulso do processo são aqueles que o juiz possui para garantir que
o processo chegue ao seu fim de maneira regular. Por exemplo, determinando
a citação do réu, oportunizando a defesa.

• Os poderes instrutórios (elencados como instrutórios por Renato Brasileiro de


Lima) são aqueles conferidos ao juiz pela redação do artigo 156 do CPP “Art. 156.
A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao
juiz de ofício: I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção
antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a
necessidade, adequação e proporcionalidade da medida; II  –  determinar, no
curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências
para dirimir dúvida sobre ponto relevante (BRASIL, 1941).

Para que o juiz possa exercer sua função com tranquilidade e garantir a
imparcialidade no julgamento das lides, são lhe garantidas algumas prerrogativas
pela Constituição Federal em seu artigo 95, são elas:

• Vitaliciedade – a função jurisdicional será para toda a sua vida profissional,


não podendo o juiz ser exonerado a não ser por determinação judicial, com
sentença transitada em julgado, após o processo com todo o contraditório e a

72
TÓPICO 1 | SUJEITOS PROCESSUAIS

ampla defesa assegurados. A vitaliciedade é adquirida após dois anos (biênio


constitucional) para os juízes de primeiro grau que se submetem a concurso
público para o ingresso na carreira. Para os Ministros dos Tribunais superiores,
não existe esse biênio.

• Inamovibilidade – garante ao juiz que ele permanecerá no local onde exerce


sua atividade pelo tempo que deseja, salvo motivo de interesse público.

• Irredutibilidade de vencimentos – os vencimentos dos juízes não podem ser


reduzidos por qualquer motivo, com ressalva dos arts. 37, X e XI, 39, § 4°, 150,
lI, 153. III, e 153, § 2°, I, todos da CF.

Contudo, o artigo 95 da Constituição Federal, além das garantias


constitucionais, elenca também algumas vedações também com o objetivo de
conferir ao juiz a liberdade e imparcialidades necessárias para sua função:

Parágrafo único. Aos juízes é vedado:


I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo
uma de magistério;
II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em
processo;
III - dedicar-se à atividade político-partidária.
IV - receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições
de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as
exceções previstas em lei;
V - exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes
de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou
exoneração (BRASIL, 1988).

ATENCAO

A essa proibição de exercer a advocacia pelo prazo de três anos do afastamento


do cargo se dá o nome de QUARENTENA.

Com todos esses direitos, garantias e obrigações, é primordial que o


juiz se mantenha imparcial quanto à lide que será decidida. Porém, existem
ainda muitas causas do dia a dia que podem, de alguma maneira, afetar essa
desejada imparcialidade. Por este motivo o legislador ordinário elencou causas
de impedimento e suspeição.

As causas de impedimento estão elencadas no artigo 252 do CPP:

73
UNIDADE 2 | DOS SUJEITOS PROCESSUAIS E DAS MEDIDAS CAUTELARES

Art. 252. O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que:


I -  tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim, em linha
reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado,
órgão do Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou
perito;
II  -  ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido
como testemunha;
III - tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou
de direito, sobre a questão;
IV  -  ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim em linha
reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente
interessado no feito.
Art. 253. Nos juízos coletivos, não poderão servir no mesmo processo
os juízes que forem entre si parentes, consanguíneos ou afins, em linha reta ou
colateral até o terceiro grau, inclusive (BRASIL, 1941).

Perceba que as causas de impedimento são todas de caráter objetivo,


sendo de fácil demonstração no processo. Esse rol é taxativo, não permitindo
interpretação extensiva.

As causas de suspeição estão previstas no artigo 254, do CPP:

Art.  254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser
recusado por qualquer das partes:
I-  se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles;
II- se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a
processo por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia;
III-  se ele, seu cônjuge, ou parente, consanguíneo, ou afim, até o terceiro grau,
inclusive, sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser
julgado por qualquer das partes;
IV-  se tiver aconselhado qualquer das partes;
V- se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes;
Vl- se for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no
processo (BRASIL, 1941).

As causas de suspeição são, em regra, de caráter subjetivo, sendo sua


prova mais difícil no processo, contudo, elas devem ser arguidas de ofício pelo
próprio Magistrado.

ATENCAO

O artigo 256 do Código de Processo Penal alerta que não pode ser alegada
suspeição se a parte, propositadamente, ter causa a ela.

74
TÓPICO 1 | SUJEITOS PROCESSUAIS

3 MINISTÉRIO PÚBLICO
A Constituição Federal de 1988 prevê o Ministério Público como sendo
“instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-
lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e
individuais indisponíveis” (BRASIL, 1988).

E o Código de Processo Penal prevê como atribuição desta instituição


“promover, privativamente, a ação penal pública, na forma estabelecida neste
Código; e fiscalizar a execução da lei” (BRASIL, 1941).

Assim, é atribuição do Ministério Público participar de todas as ações


penais, seja como parte autora, seja como custus legis, ou seja, como órgão
fiscalizador.

NOTA

Qual é a definição de custus legis?


Custos legis significa guardião da lei, fiscal da correta aplicação da lei, verdadeiro defensor
da sociedade.
FONTE:<http://www.tse.jus.br/o-tse/acervo/eleitor-eleicoes-area-juridica/voce-e-direito/
analisar/termos-estrangeiros-1/aula-1-termos-estrangeiros-parquet-custos-legis>.Acesso
em: 22 maio 2019.

O Estado transferiu para o Ministério Público a titularidade das ações


penais, sendo legitimado para ingressar com as ações penais públicas, e no
caso “de ação privada, ocorre o fenômeno da substituição processual, em que o
ofendido, ou quem o represente, passa a deduzir em nome próprio pretensão de
titularidade do Estado” (BONFIM, 2017, p. 420).

Contudo, mesmo sendo o titular da ação penal, o Ministério Público não


está vinculado ao pedido de condenação do acusado, podendo requerer sua
absolvição se entender que restou provada a sua inocência, ou que o caso não
configure crime, por exemplo. Isso porque o Ministério Público tem a obrigação
da busca pela aplicação da justiça ao caso concreto. Perceba que a instituição
não é um órgão meramente acusador, ela é também a fiscalizadora da execução
correta da lei.

Exatamente por essa liberalidade do órgão ministerial de poder pedir a


absolvição e de sua necessária fiscalização da execução da lei que parte significativa
da doutrina entende que o Ministério Público é parte imparcial. Entretanto, a
doutrina mais moderna já aponta no sentido que essa imparcialidade não

75
UNIDADE 2 | DOS SUJEITOS PROCESSUAIS E DAS MEDIDAS CAUTELARES

seria compatível com o sistema acusatório desejado pela Constituição, porque


embora o Ministério Público não tenha interesse no deslinde da causa, ele é o
órgão que exerce a acusação na persecução penal (neste sentido ver BADARÓ,
Gustavo Henrique. Ônus da prova no processo penal. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2003). A Constituição Federal prevê a organização do Ministério
Público em:

Art. 128. O Ministério Público abrange:


I- o Ministério Público da União, que compreende:
a) o Ministério Público Federal;
b) o Ministério Público do Trabalho;
c) o Ministério Público Militar;
d) o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios;
II- os Ministérios Públicos dos Estados (BRASIL, 1988).

Da mesma maneira que aos magistrados são previstas algumas


prerrogativas, objetivando a segurança para o exercício de sua profissão, também
aos membros do Ministério Público elas são asseguradas. São elas:

• Vitaliciedade – não pode o membro do Ministério Público ser exonerado


a não ser por determinação judicial, com sentença transitada em julgado,
após o processo com todo o contraditório e a ampla defesa assegurados. A
vitaliciedade é adquirida após dois anos do efetivo exercício da função (biênio
constitucional).

• Inamovibilidade – garante ao membro do Ministério Público que o mesmo


permanecerá no local em que exerce sua atividade pelo tempo que deseja,
salvo motivo de interesse público.

• Irredutibilidade de vencimentos – os vencimentos dos membros do Ministério


Público não podem ser reduzidos por qualquer motivo, com ressalva dos arts.
37, X e XI, 39, § 4°, 150, II, 153. III, e 153, § 2°, I, todos da CF.

Além disso, também a Constituição Federal prevê diversos princípios


institucionais do Ministério Público, sendo eles:

• a  unidade – os membros do Ministério Público atuam dentro de uma única


instituição. Porém, existe uma divisão entre Ministério Público Estadual e
Federal.

76
TÓPICO 1 | SUJEITOS PROCESSUAIS

Compreende-se, assim, por unidade, a integralidade do órgão


ministerial, impedindo seu fracionamento enquanto instituição
pública, o que, evidentemente, não prejudica a distribuição operacional
de suas atribuições (LIMA, p. 1229).

• a indivisibilidade – a instituição é indivisível, e sendo ela a titular da ação


penal, a ocorrência da substituição entre seus membros é possível. Note que
é por força da indivisibilidade que qualquer membro do Ministério Público
pode ser substituído por outro, sem causa nulidade ao processo. Veja a decisão
do STF que reconhece essa indivisibilidade.

SABER DO STF
HABEAS CORPUS. DENÚNCIA OFERECIDA POR MEMBRO
DO  MINISTÉRIO PÚBLICO  ATUANTE EM VARA CRIMINAL COMUM
E RECEBIDA PELO JUÍZO DO TRIBUNAL DO JÚRI. VIOLAÇÃO
AO PRINCÍPIO DO PROMOTOR NATURAL. INOCORRÊNCIA.
PRINCÍPIOS UNIDADE E INDIVISIBILIDADE DO MINISTÉRIO
PÚBLICO. PRECEDENTES. 1. O Plenário do Supremo Tribunal Federal, no
julgamento do HC 67.759/RJ, de relatoria do Ministro CELSO DE MELLO,
reconheceu, por maioria de votos, a existência do princípio do promotor
natural, no sentido de proibirem-se designações casuísticas efetuadas
pela chefia da Instituição, que criariam a figura do promotor de exceção,
incompatível com a determinação constitucional de que somente o promotor
natural deve atuar no processo. Hipótese não configurada no caso. 2. Habeas
corpus denegado. (STF, Primeira Turma, Relator Min. MARCO AURÉLIO,
Relator p/ Acórdão Min. ALEXANDRE DE MORAES, HABEAS CORPUS,
HC 114093 / PR – PARANÁ, Julgamento: 03/10/2017, DIVULG 20-02-2018,
PUBLIC 21-02-2018.) Disponível em: http://portal.stf.jus.br/processos/
detalhe.asp?incidente=4262598. Acesso em: 2 abr. 2019. (grifo nosso) 

Nesse caso concreto, o STF julgou admissível que a acusação oferecida


por um membro do Ministério Público seja recebida em vara diversa da qual o
promotor atua com base no princípio da indivisibilidade, considerando que o
Ministério Público é um só.

• a independência funcional – é garantido a cada um dos membros do


Ministério Público a independência de pensamento, devendo respeitar apenas
a Constituição e as leis, mas se pautando com discricionariedade nos casos
concretos, não sendo subordinado a seus superiores hierárquicos.

Aos membros do Ministério Público, a Constituição Federal também


prevê algumas vedações:

77
UNIDADE 2 | DOS SUJEITOS PROCESSUAIS E DAS MEDIDAS CAUTELARES

Artigo 128, II- as seguintes vedações:


a) receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários, percentagens
ou custas processuais;
b) exercer a advocacia;
c) participar de sociedade comercial, na forma da lei;
d) exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública,
salvo uma de magistério;
e) exercer atividade político-partidária, salvo exceções previstas na lei.
e) exercer atividade político-partidária;
f) receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas
físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas
em lei (BRASIL, 1988).

Perceba que a Constituição não exige a quarentena dos membros do


Ministério Público.

Em relação às suspeições e impedimentos aplicados aos membros do


Ministério Público, o artigo 258 do CPP determina que

Art.  258. Os órgãos do Ministério Público não funcionarão nos


processos em que o juiz ou qualquer das partes for seu cônjuge,
ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o
terceiro grau, inclusive, e a eles se estendem, no que Ihes for aplicável,
as prescrições relativas à suspeição e aos impedimentos dos juízes
(BRASIL, 1941).

Assim, remetemos o acadêmico à leitura do ponto de impedimento e


suspeição dos juízes.

4 ACUSADO
O acusado é aquele contra quem é deflagrada a ação penal, imputando-
lhe a prática de algum fato delituoso. No processo penal há uma diferença de
terminologia utilizada em cada fase procedimental:

• Suspeito – é aquele que figura como suspeito da prática do delito na fase do


inquérito policial, mas ainda não existem indícios suficientes contra ele.
• Indiciado – o suspeito se tornará indiciado após o indiciamento na fase do
inquérito policial, que deverá ocorrer dentro do inquérito policial.
• Acusado – após o oferecimento da denúncia o indiciado passa a ser tratado
como acusado ou imputado.
• Querelado – é o nome que se dá para o sujeito imputado em uma ação penal
privada.
• Condenado – após a sentença penal condenatória passará a se nomear de
condenado.

78
TÓPICO 1 | SUJEITOS PROCESSUAIS

ATENCAO

Na ação penal privada a peça inaugural se chama queixa crime, por isso não se
utiliza o termo denunciado, e sim querelado.

Contudo, nem todo mundo pode ser acusado no processo penal, sendo
necessário que já tenha atingido a maioridade penal, ou seja, que já tenha
completado 18 anos. Em caso de o acusado ser menor de 18 anos, ele não
responderá por um processo crime, e sim por um ato infracional que deverá ser
processado na vara da infância e juventude.

Nada obstante, em relação aos inimputáveis previstos no artigo 26 do


Código Penal (acusado que possua “doença mental ou desenvolvimento mental
incompleto ou retardado” (BRASIL, 1940)) o processo crime correrá normalmente,
sendo requerido ao final da absolvição com a aplicação da medida de segurança.

E
IMPORTANT

A aplicação da medida de segurança é considerada uma absolvição imprópria,


uma vez que ela só pode ser aplicada depois do regular processamento do feito, com respeito
ao devido processo legal, contraditório e ampla defesa.

Segundo o artigo 225, §3º, da Constituição Federal, a pessoa jurídica


também pode figurar como acusada em um processo crime, sendo que a Lei nº
9.605/98, que trata dos crimes contra o meio ambiente, já prevê expressamente
essa possibilidade. Veja a jurisprudência do STF que reconhece a possibilidade:

79
UNIDADE 2 | DOS SUJEITOS PROCESSUAIS E DAS MEDIDAS CAUTELARES

SABER DO STF
Agravo regimental em recurso extraordinário com agravo. 2. Direito Penal.
3. Prescrição. Alegação de aplicação às pessoas jurídicas do lapso previsto
no inciso I do art. 114 do CP (prescrição da pena de multa). 4. Incidência das
súmulas 282 e 356. 5. Ofensa indireta ao texto constitucional. 5. Súmula 279. 6.
Não configurada a ocorrência de prescrição em relação ao crime imputado. 7.
Nos crimes ambientais, às pessoas jurídicas aplicam-se as sanções penais
isolada, cumulativa ou alternativamente, somente as penas de multa,
restritivas de direitos e prestação de serviços à comunidade (art. 21 da Lei
nº 9.605/98). No caso, os parâmetros de aferição de prazos prescricionais são
disciplinados pelo Código Penal. Nos termos do art. 109, caput e parágrafo
único, do Código Penal, antes de transitar em julgado a sentença final, aplica-
se, às penas restritivas de direito, o mesmo prazo previsto para as privativas
de liberdade, regulada pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada
ao  crime.  O  crime  do art. 54, § 1º, da Lei nº 9.605/98 – o qual estabelece
pena de detenção de seis meses a um ano, e multa – prescreve em 4 anos
(CP, art. 109, V). Não ocorrência do prazo de 4 anos entre a data dos fatos
e o recebimento da denúncia. Prescrição não caracterizada. Não se afasta
o lapso prescricional de 2 anos, se a pena cominada à pessoa  jurídica  for,
isoladamente, de multa (inciso I, art. 114, do CP). 8. Ausência de argumentos
capazes de infirmar a decisão agravada. 9. Agravo regimental a que se nega
provimento. (STF, Segunda Turma, Relator
Min. GILMAR MENDES, AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO
COM AGRAVO 944034, Julgamento: 30/09/2016, DJe-223 DIVULG 19-10-2016
PUBLIC 20-10-2016). Disponível em:http://stf.jus.br/portal/jurisprudencia/
listarJurisprudencia.asp?s1=%28CRIME+AMBIENTAL+JUR%CDDICA%
29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/y2an8bl6. Acesso em: 2 abr.
2019. (grifo nosso).

No julgado acima, o STF reconhece a possibilidade da pessoa jurídica ser


acusada de crime ambiental.

Requisito essencial da peça crime acusatória – seja denúncia ou queixa


– é a identificação do réu, conforme determina o artigo 41 do CPP, sendo que a
ausência deste requisito gera a inépcia da inicial (art. 395, I, CPP).

Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas


as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos
quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol
das testemunhas (BRASIL, 1941) (grifo nosso).

80
TÓPICO 1 | SUJEITOS PROCESSUAIS

Entretanto, o artigo art. 259 do CPP admite a propositura da ação quando


a identidade física do acusado possibilitar a sua individualização, sendo que
neste caso, a qualquer tempo poderá ser aditada a peça acusatória para a inclusão
da qualificação civil do acusado.

Art. 259. A impossibilidade de identificação do acusado com o seu verdadeiro


nome ou outros qualificativos não retardará a ação penal, quando certa a
identidade física. A qualquer tempo, no curso do processo, do julgamento
ou da execução da sentença, se for descoberta a sua qualificação, far-se-á a
retificação, por termo, nos autos, sem prejuízo da validade dos atos precedentes
(BRASIL, 1941) (grifo nosso).

Ao acusado deverá ser possibilitado o exercício de sua defesa pessoal


(lembre que a defesa é constituída da autodefesa e da defesa técnica), porém,
existem casos em que mesmo regularmente citado o acusado não comparece em
juízo para se defender e nem tampouco constitui advogado para fazê-lo. O que
deve acontecer neste caso?

Neste caso é declarada a contumácia do acusado. O processo crime


continuará, porém com a nomeação de um defensor para representar o acusado
em juízo, apresentando a defesa técnica necessária. Todavia, o acusado deixará de
realizar sua autodefesa porque não comparecerá durante a instrução probatória.

DICAS

Não confunda contumácia com revelia. Contumácia é essa falta de


comparecimento em juízo.
Revelia é o efeito da contumácia. No caso do processo penal, o processo irá continuar com
a nomeação de um defensor para realizar a defesa técnica.

4.1 DIREITOS DO ACUSADO


A Constituição Federal, em seu artigo 5º, que trata dos direitos e garantias
fundamentais, elencou diversos direitos para o acusado:

81
UNIDADE 2 | DOS SUJEITOS PROCESSUAIS E DAS MEDIDAS CAUTELARES

III- ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou


degradante;
VIII- ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de
convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação
legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em
lei;
XI- a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou
para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;
XII- é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas,
de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem
judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação
criminal ou instrução processual penal;
XXXV- a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a
direito;
XXXVI- a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a
coisa julgada;
 XXXVII- não haverá juízo ou tribunal de exceção;
 XXXVIII- é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a
lei, assegurados:
 a) a plenitude de defesa;
 b) o sigilo das votações;
 c) a soberania dos veredictos;
 d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;
XXXIX- não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal;
XL- a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
XLI- a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades
fundamentais;
XLV- nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação
de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da
lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do
patrimônio transferido;
XLVI- a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as
seguintes:
 a) privação ou restrição da liberdade;
 b) perda de bens;
 c) multa;
 d) prestação social alternativa;
 e) suspensão ou interdição de direitos;
 XLVII- não haverá penas:
 a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
 b) de caráter perpétuo;
 c) de trabalhos forçados;
 d) de banimento;
e) cruéis;

82
TÓPICO 1 | SUJEITOS PROCESSUAIS

XLVIII- a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a


natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;
XLIX- é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;
L- às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer
com seus filhos durante o período de amamentação;
LI- nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime
comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento
em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;
LII- não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de
opinião;
LIII- ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
competente;
 LIV- ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo
legal;
LV- aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em
geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos
a ela inerentes;
LVI- são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;
LVII- ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença
penal condenatória;
LVIII- o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal,
salvo nas hipóteses previstas em lei;
LIX- será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for
intentada no prazo legal;
LX- a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a
defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;
LXI- ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita
e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de
transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;
 LXII- a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados
imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele
indicada;
LXIII- o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer
calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;
LXIV- o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou
por seu interrogatório policial;
LXV- a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária;
LXVI- ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a
liberdade provisória, com ou sem fiança;
LXVII- não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo
inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do
depositário infiel;
LXVIII- conceder-se-á  habeas corpus  sempre que alguém sofrer ou se achar
ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por
ilegalidade ou abuso de poder;

83
UNIDADE 2 | DOS SUJEITOS PROCESSUAIS E DAS MEDIDAS CAUTELARES

LXXIV- o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que


comprovarem insuficiência de recursos;
LXXV- o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que
ficar preso além do tempo fixado na sentença;
LXXVII- são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas data, e, na forma da
lei, os atos necessários ao exercício da cidadania.
LXXVIII- a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a
razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua
tramitação (BRASIL, 1988).

5 DEFENSOR
O defensor é o advogado incumbido de defender o acusado em juízo.

Segundo a Constituição Federal, o advogado é “indispensável à


administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no
exercício da profissão, nos limites da lei”. (BRASIL, 1988). Assim, no processo
penal, cabe ao advogado a função de defender os interesses do acusado em juízo.

O advogado não precisa litigar buscando apenas a absolvição do acusado,


devendo sempre buscar a situação que melhor irá beneficiar o acusado na causa,
podendo pedir o reconhecimento de uma excludente, uma desclassificação etc. O
advogado pode ser constituído ou nomeado.

Será constituído quando contratado pelo próprio acusado para oferecer


sua defesa, podendo este ato ser documentado por uma procuração outorgando
poderes para o advogado litigar na causa, ou até mesmo em audiência (o art. 266,
do CPP fala em interrogatório).

Será nomeado quando o acusado deixar de constituir um defensor no


processo. Isso é o que determina o artigo 263 do CPP.

Art. 263. Se o acusado não o tiver, ser-lhe-á nomeado defensor pelo


juiz, ressalvado o seu direito de, a todo tempo, nomear outro de
sua confiança, ou a si mesmo defender-se, caso tenha habilitação
(BRASIL, 1941).

Existem, para esses casos, tantos os defensores públicos como os dativos.


Os defensores públicos são aqueles que fazem parte dos quadros da Defensoria
Pública do Estado. São profissionais concursados remunerados pelo Estado,
cuja atividade se desenvolve em atender àqueles que não possuem condições
financeiras de arcar com os custos de um defensor constituído. Entretanto, em
alguns lugares ainda não existe a defensoria pública constituída ou ocorre o
excesso de trabalho, nessas situações, recorrem-se aos defensores dativos, que
são profissionais inscritos nos quadros da OAB, que exercem a advocacia para

84
TÓPICO 1 | SUJEITOS PROCESSUAIS

aqueles que não possuem condições de contratar um advogado constituído, mas,


neste caso, os profissionais são pagos pelo Estado por cada causa em que atuam
(perceba que se o acusado não for pobre, ele deverá arcar com os honorários do
defensor, mesmo que ele tenha sido nomeado pelo juiz).

Contudo, em qualquer momento após essa nomeação é dado o direito


do acusado de constituir outro defensor. Isso porque a sua defesa precisa ser
realizada pelo profissional no qual o imputado tenha confiança.

ATENCAO

O defensor não é parte do processo. A parte é o acusado, o defensor é apenas


o seu advogado.

Em relação a essa natureza jurídica do defensor que não se encaixa no


papel de parte, Brasileiro assevera que:

Quanto à natureza jurídica da função do Defensor no processo penal,


não há dúvidas de que este não é parte, visto que parte é apenas a
pessoa que deduz em juízo uma pretensão, assim como aquela contra
quem a pretensão é deduzida. De mais a mais, o defensor não tem
interesses próprios para fazer valer no processo. O Defensor também
não pode ser considerado um substituto processual, porquanto não
defende em juízo, em nome próprio, interesse alheio. Na verdade,
o defensor atua em nome do acusado, assistindo-o tecnicamente.
Cuida-se, porém, de representação processual sui generis, visto
que o Defensor zela pelos interesses do representado mesmo contra
a vontade deste. Como a função do defensor vai além da defesa de
eventual interesse subjetivo do acusado para cumprir uma tarefa que
atende ao interesse de toda a coletividade, prevalece o entendimento
de que se trata de urna injunção legal, porquanto tutela e resguarda
a liberdade e os direitos individuais ameaçados pelo processo penal
(LIMA, 2017, p. 1255).

6 CURADOR
Embora o artigo 262 do CPP ainda mencione que ao acusado menor será
nomeado curador, essa figura não mais persiste. Ele era nomeado nos casos de
acusados maiores de 18 anos e menores de 21 anos, quando o antigo Código Civil
(de 1916) previa que a maioridade absoluta só era alcançada aos 21 anos de idade.
Porém com a vigência do novo Código Civil (de 2002), prevendo a maioridade
absoluta aos 18 anos, esse artigo ficou sem aplicação.

85
UNIDADE 2 | DOS SUJEITOS PROCESSUAIS E DAS MEDIDAS CAUTELARES

7 ASSISTÊNCIA
A assistência poderá ser prestada pelo ofendido ou por seu representante
legal em todos os casos de ação penal pública (não se podendo admitir a assistência
em ação penal privada porque ela já é intentada pelo ofendido). Interessante
analogia é feita por Brasileiro de Lima (2017, p. 1240):

O assistente da acusação assemelha-se, portanto, à figura do


querelante, com a diferença de que o primeiro existe apenas na ação
penal pública, atuando corno interveniente e não como autor da
demanda. O querelante, por sua vez, é o titular da ação penal privada,
ocupando o polo ativo da relação processual.

Aceitação do ofendido como assistente no processo deverá ser admitida


pelo juiz apenas após a oitiva do Ministério Público. Desta decisão não caberá
recurso.

Essa assistência poderá ser efetivada em qualquer fase do processo, sendo


aceita enquanto não transitar em julgado a sentença, com a ressalva de que o um
corréu não pode se habilitar como assistente no processo do outro corréu.

A assistência servirá para auxiliar o Ministério Público durante o


processamento do feito, sendo permitido ao assistente “propor meios de prova,
requerer perguntas às testemunhas, aditar o libelo e os articulados, participar do
debate oral e arrazoar os recursos interpostos pelo Ministério Público, ou por ele
próprio, nos casos dos arts. 584, § 1º, e 598” (artigo 271, CPP) (BRASIL, 1941).

8 PERITOS E INTÉRPRETES
Os peritos são pessoas técnicas especializadas que auxiliam o juízo
quando existe a necessidade de um conhecimento específico que fuja do direito.
Por exemplo, em um incêndio pode-se contratar um engenheiro eletricista para
auxiliar o juízo para saber se foi criminoso ou não. No caso de drogas, pode-se
contratar um químico etc.

O artigo 275 do CPP determina que o perito não oficial deve sujeitar-se à
disciplina judiciária (BRASIL, 1941).

86
TÓPICO 1 | SUJEITOS PROCESSUAIS

E
IMPORTANT

O perito pode ser oficial ou particular. Será oficial quando fizer parte dos quadros
do Estado (concursado), e será particular quando não fazem parte dos quadros do Estado,
mas são chamados para trabalharem naquele caso.

Segundo o artigo 279 do CPP, os analfabetos e os menores de 21 anos não


podem ser peritos. Também não podem os que já tiverem opinado sobre o objeto
da perícia, ou tiverem participado do processo, nem aqueles que figuram no rol
do artigo 47 do Código Penal.

O perito que for intimado deverá aceitar o encargo, sob pena de multa,
salvo justificativa plausível. Em não comparecendo a juízo, o perito poderá ser
conduzido coercitivamente (ou seja, pela polícia).

O artigo 280 do CPP determina que “é extensivo aos peritos, no que Ihes
for aplicável, o disposto sobre suspeição dos juízes” (BRASIL, 1941). Assim,
remetemos o acadêmico à leitura da suspeição do juiz anteriormente trabalhado.

Intérpretes são auxiliares do juízo para a comunicação com aqueles que


não conseguem se expressar na língua portuguesa, seja porque são estrangeiros
e não falam português, ou porque possuem alguma deficiência de fala ou
compreensão.

Para esses auxiliares, é aplicável as mesmas regras aplicadas aos peritos.

87
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• O juiz é o ator processual que deverá decidir a lide, o destinatário principal das
provas (porém não é o único).

• Requisitos para magistratura são ser bacharel em direito com no mínimo


três anos de prática jurídica e que seja aprovado em concurso público para a
Magistratura.

• Os poderes do juiz são divididos em poderes de polícia e jurisdicionais.

• Os juízes possuem prerrogativas constitucionais, que são a vitaliciedade,


inamovibilidade, irredutibilidade de vencimentos.

• Aos juízes é vedado exercer outro cargo ou função (salvo de magistério),


receber qualquer valor pelo processo, dedicar-se a atividade político partidária,
receber auxílios, exercer advocacia antes de decorrido três anos do afastamento
do cargo ou aposentadoria.

• Aos juízes são aplicadas causas de impedimento e de suspeição. As de


impedimento são de caráter objetivo e de fácil constatação. As de suspeição,
em sua maioria são de caráter subjetivo.

• Sobre o Ministério Público, vimos que ele é o titular da ação penal pública.
Porém que ele não é mero órgão de acusação, sendo que deve funcionar em
todos os processos penais, podendo exercer a função de custus legis.

• A Constituição Federal prevê a organização do Ministério Público no artigo 128.

• São princípios institucionais do Ministério Público a unidade, a indivisibilidade,


a independência funcional.

• Os membros do Ministério Público possuem prerrogativas constitucionais, que


são a vitaliciedade, inamovibilidade, irredutibilidade de vencimentos.

• Aos membros do Ministério Público é vedado exercer outro cargo ou função


(salvo de magistério), receber qualquer valor pelo processo, dedicar-se à
atividade político-partidária, receber auxílios.

88
• O acusado só recebe esse nome após a deflagração da ação penal. Ele será
nomeado de suspeito durante o inquérito, porém, antes do indiciamento. Será
indiciado no inquérito policial, mas após o indiciamento, será acusado ou
imputado no decorrer da ação penal, e por fim, será condenado após a sentença
condenatória.

• Ao acusado tem que ser possibilitada a ampla defesa, que é constituída de


defesa técnica e autodefesa.

• A autodefesa, em regra, é melhor exercida no momento do interrogatório,


quando o acusado terá oportunidade de expor ao juiz a sua versão dos fatos
sem nenhum intermediário (advogado).

• O defensor é o advogado incumbido de defender o acusado em juízo.

• Pode ser constituído ou nomeado.

• Será constituído se for nomeado pelo próprio acusado. Será nomeado se for
dado ao acusado pelo juízo. Podendo ser, o defensor nomeado dativo ou da
defensoria pública.

• A figura do curador deixou de ser necessária com a entrada em vigor do Código


Civil que modificou a maioridade civil.

• A assistência é exercida pelo ofendido ou seu representante legal nos casos de


ação penal pública.

• A assistência poderá ser efetivada em qualquer fase do processo, sendo aceita


enquanto não transitar em julgado a sentença.

• Peritos são pessoas técnicas especializadas que auxiliam o juízo quando existe
a necessidade de um conhecimento específico que fuja do direito.

• Intérpretes são auxiliares do juízo para a comunicação com aqueles que não
conseguem se expressar na língua portuguesa, seja porque são estrangeiros
e não falam português, ou porque possuem alguma deficiência de fala ou
compreensão.

89
AUTOATIVIDADE

Caro acadêmico! Com base no estudado neste tópico, responda:

1 Aos juízes é garantida pela Constituição Federal algumas medidas objetivando


assegurar a imparcialidade. São elas:

a) ( ) Inamovibilidade, vencimentos proporcionais, vitaliciedade.


b) ( ) Inamovibilidade, irredutibilidade de vencimentos, vitaliciedade.
c) ( ) Movibilidade, vencimentos proporcionais, vitaliciedade.
d) ( ) Movibilidade, vencimentos irredutíveis, manutenção do cargo enquanto
ele for vivo.

2 Os peritos devem:

a) ( ) Ser nomeados pelas partes, e exercer seu encargo com imparcialidade,


não podendo dele se escusar.
b) ( ) Ser nomeados pelo juízo, e exercer seu encargo com parcialidade, não
podendo dele se escusar.
c) ( ) Ser nomeados pelo juízo, e exercer seu encargo com imparcialidade, não
podendo dele se escusar.
d) ( ) Ser nomeados pelo juízo, e exercer seu encargo com imparcialidade,
podendo dele se escusar por qualquer motivo.

3 Sobre os defensores:

I – Se nomeados pelo juízo deverão exercer seu encargo de defesa do acusado,


não podendo ser substituído por outro, mesmo que o acusado deseje
constituir um particular.
II – Podem ser nomeados pelo juízo através da defensoria pública ou dativos,
e ambos os termos se referem a mesma coisa.
III – Os defensores públicos são concursados e seu encargo, na esfera criminal,
é a defesa dos acusados hipossuficientes ou daqueles que não constituíram
advogados particular.

Estão corretas as questões:


a) ( ) Todas estão corretas.
b) ( ) Apenas a questão III está correta.
c) ( ) Apenas a questão II está correta.
d) ( ) Apenas a questão I e III estão corretas.
e) ( ) Todas estão erradas.

90
4 Na ação penal privada o Ministério Público:

a) ( ) Não deverá participar, porque a titularidade é do querelante.


b) ( ) Deverá participar como autor da ação.
c) ( ) Deverá participar como custus legis, podendo retomar a ação a qualquer
momento, se houver desídia do querelante.
d) ( ) Deverá participar como custus legis para fiscalizar a aplicação da lei
penal.

5 Ao acusado é garantido o direito da ampla defesa no processo penal pela


Constituição Federal. Com base nessa afirmativa, responda:

a) ( ) A ampla defesa é constituída da defesa técnica e da autodefesa.


b) ( ) A ampla defesa somente é exercida no momento do interrogatório.
c) ( ) Por causa da ampla defesa, não é direito do acusado se manter em
silêncio, sendo ele obrigado a se manifestar no processo.
d) ( ) A ampla defesa é constituída da defesa técnica e da litis defesa.

91
92
UNIDADE 2 TÓPICO 2

DAS MEDIDAS CAUTELARES

1 INTRODUÇÃO
O processo penal é composto pelo processo de conhecimento, aquele em
que se busca saber quem foi o autor do ato criminoso; o processo cautelar, que
visa resguardar o processo e sua efetividade; e o processo de execução, em que se
pretende executar a pena imposta no processo de conhecimento.

Neste tópico iremos nos dedicar em conhecer e estudar as diversas


espécies de medidas cautelares pessoais.

2 DAS MEDIDAS CAUTELARES


No processo penal as medidas cautelares servem para garantir a eficácia
do provimento jurisdicional ao final da lide. Elas podem ser relativas à provas,
para garantir a possibilidade da confecção da prova no processo, por exemplo, no
caso da oitiva antecipada de uma testemunha que se encontre muito doente e com
risco de morte. Pode ser relativa às pessoas, com as prisões provisórias e outras
medidas que visam a liberdade de locomoção do indiciado ou acusado. Por fim,
podem ainda ser relativas ao caráter patrimonial, para garantir a possibilidade de
uma futura indenização ao final do processo.

Renato Brasileiro de Lima (2017) elenca oito características das medidas


cautelares do processo penal, sendo elas:

• acessoriedade (não é autônoma, só pode ocorrer em um processo ou em um


inquérito);
• preventividade (toda cautelar visa proteger a efetividade do processo ao seu
final);
• instrumentalidade (é um instrumento que visa a efetividade do processo);
• provisoriedade (ela é provisória);
• revogabilidade (pode ser revogada a qualquer tempo);
• referibilidade (direito referido é o que deve ser protegido);
• jurisdicionalidade (somente pode ser decretada pela autoridade competente);
• sumariedade (a cognição é meramente sumária).

93
UNIDADE 2 | DOS SUJEITOS PROCESSUAIS E DAS MEDIDAS CAUTELARES

Neste tópico iremos nos deter ao estudo das medidas cautelares pessoais
e patrimoniais.

Animados para conhecerem um pouco mais sobre as possibilidades de


prisões cautelares? Então comecemos com elas.

3 AS PRISÕES CAUTELARES EM ESPÉCIE


Prisão no Brasil é entendida como a privação da liberdade de locomoção
de alguém, sendo somente admitida a prisão penal, sendo vedada a prisão civil,
com exceção da prisão do devedor de alimentos que é autorizada pela própria
Constituição Federal no artigo 5º.

Porém, mesmo no processo penal, existem critérios que precisam ser


seguidos, existindo limites para as prisões. A regra constitucional (artigo 5º,
LXI, CF) é que “ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem
escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos
de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei”
(BRASIL, 1988).

Então, podemos entender que a prisão com pena, aquela que deriva de
uma sentença penal condenatória é admitida pela Constituição Federal, porém,
além dela, é admitida a prisão em flagrante e aquela que derive de ordem escrita
e fundamentada de autoridade judiciária competente (prisões provisórias).

Nucci (2016, s.p.) alerta que:

Enquanto o Código Penal regula a prisão proveniente de condenação,


estabelecendo as suas espécies, formas de cumprimento e regimes de
abrigo do condenado, o Código de Processo Penal cuida da prisão
cautelar e provisória, destinada unicamente a vigorar, quando
necessário, até o trânsito em julgado da decisão condenatória.

Porém, todas as prisões estão sob a fiscalização e controle do juiz, que


deve, de imediato, segundo a norma constitucional, determinar a soltura do preso
indevidamente (art. 5º, LXV, CF – “a prisão ilegal será imediatamente relaxada
pela autoridade judiciária”) (BRASIL, 1988).

Vamos iniciar nosso estudo vendo quais são as espécies de prisões


provisórias e depois continuaremos com as medidas cautelares diversas da prisão.

94
TÓPICO 2 | DAS MEDIDAS CAUTELARES

E
IMPORTANT

As Prisões cautelares se dividem em: flagrante, preventiva e temporária.

3.1 A PRISÃO EM FLAGRANTE


Uma das modalidades da prisão cautelar é a prisão em flagrante. Flagrante
significa no momento ou logo após o cometimento do crime, em flagra.

UNI

Flagrante significa tanto o que é manifesto ou evidente, quanto o ato que se


pode observar no exato momento em que ocorre. Neste sentido, pois, prisão em flagrante
é a modalidade de prisão cautelar, de natureza administrativa, realizada no instante em que
se desenvolve ou termina de se concluir a infração penal (crime ou contravenção penal)
(NUCCI, 2016).

Tem natureza jurídica de cautelar provisória. Tem que estar previsto,


como em toda cautelar, o binômio de fumus boni iuris e periculum in mora, que no
processo penal se converte em tipicidade e perigo da demora no agir, sendo este
presumido pela violação da lei.

A prisão em flagrante tem um caráter administrativo, enquanto é


efetuada e depois convertida em um auto de prisão em flagrante pela autoridade
policial. Porém, ela deverá ser homologada pelo juiz que poderá: relaxar se ilegal,
converter em preventiva se necessário, conceder a liberdade com ou sem fiança,
como veremos a seguir.

O flagrante pode ser efetivado por qualquer pessoa do povo, até mesmo
ofendido, não precisando ser feito pela autoridade policial. Isto está disciplinado
no artigo 301 do CPP:

Artigo 301, CPP. Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus


agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito
(BRASIL, 1941).

95
UNIDADE 2 | DOS SUJEITOS PROCESSUAIS E DAS MEDIDAS CAUTELARES

Nota-se assim que existem duas espécies de flagrante previstos no Código


de Processo Penal:

• Flagrante facultativo – qualquer do povo poderá realizar a prisão em flagrante;


• Flagrante obrigatório – a autoridade policial ou seus agentes deverão realizar a
prisão em flagrante.

Isto porque não haveria como a lei obrigar o cidadão comum a se incumbir
de prender qualquer tipo de criminoso, porém, não poderia também lhe tolher
esse direito.

E
IMPORTANT

Existem pessoas que em razão do cargo que ocupam não podem ser presas em
flagrante:
a) diplomatas;
b) parlamentares federais e estaduais, (artigo 53, § 2º, CF – “Desde a expedição do diploma,
os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime
inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa
respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão”);
c) Presidente da República, (artigo 86, § 3º, CF “enquanto não sobrevier sentença condenatória,
nas infrações comuns, o Presidente da República não estará sujeito a prisão”);
d) magistrados e membros do Ministério Público.

O artigo 302, do CPP determina quem pode ser preso em flagrante:

Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:


I-  está cometendo a infração penal;
II-  acaba de cometê-la;
III-  é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por
qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração;
IV-  é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou
papéis que façam presumir ser ele autor da infração (BRASIL, 1941).

Com isso, além da classificação em flagrante facultativo ou obrigatório,


existem outras que merecem nossa atenção:

• Flagrante próprio ou perfeito – é o previsto no artigo 302, I, quando ocorre a


prisão no momento em que o agente está praticando o ato delituoso; ou ainda
na hipótese do inciso II, quando o agente já praticou o crime, mas ainda não
deixou a cena, podendo ser preso antes mesmo de conseguir deixar o local.
• Flagrante impróprio ou imperfeito – o inciso III determina a prisão daquele
que é perseguido assim que se evade do local do crime. Necessário que haja

96
TÓPICO 2 | DAS MEDIDAS CAUTELARES

essa perseguição ininterrupta, mesmo que leve dias até que se concretize a
prisão.
• Flagrante presumido – existem autores que afirmam ser um tipo de flagrante
impróprio, porém, entendemos que com ele não se confunde. No inciso IV a
lei prevê a hipótese da prisão daquele que mesmo que consiga sair do local do
crime sem ser perseguido, mas é encontrado logo depois (note que houve uma
mudança do termo de logo após para logo depois, desejando demonstrar uma
maior passagem de tempo), com quaisquer objetos do crime (arma, papéis,
objetos) que se possa presumir que aquele é o autor do crime.

UNI

Se Euzébio é preso apontando uma arma para Maristela – Flagrante próprio ou


perfeito.
Se Euzébio é preso dentro da casa de Mário após ter desferido um tiro nele – Flagrante
próprio ou perfeito.
Se Euzébio é preso depois de furtar a bolsa de Maristela, sendo que logo após conseguir
pegar a bolsa foi perseguido pelo namorado da mesma – Flagrante impróprio ou imperfeito.
Se Euzébio é preso depois de duas horas que foi efetuado um furto na casa de Maristela,
porém, levando consigo todas as mercadorias furtadas – Flagrante presumido.

• Flagrante preparado ou provocado – é aquele em que o agente produz um


aparato para que o criminoso possa praticar o crime, mas ao mesmo tempo, toma
todas as medidas para prendê-lo. Por exemplo, um policial fica em um lugar
inóspito com um relógio de ouro, sozinho e tarde da noite, quando o criminoso
chega para assaltar, outros policiais saem da tocaia e prendem o criminoso.
Trata-se de hipótese de crime impossível, e é proibido pela Súmula 145, STF:
“Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível
a sua consumação” (BRASIL, Súmula 145). Disponível em: <http://www.stf.jus.
br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=2119>.Acesso
em: 16 abr. 2019.
• Flagrante forjado – também hipótese de flagrante não aceito. Ocorre quando
o agente cria provas de um crime que não aconteceu, para possibilitar a prisão
de outro que é inocente. Por exemplo, o caso de policiais que colocam a droga
no jardim da casa de alguém para poder prendê-lo em flagrante, sendo que a
droga jamais pertenceu àquele que está sendo preso.
• Flagrante esperado – este por sua vez é um flagrante válido. Ocorre quando
a autoridade policial, tendo a notícia que um crime irá ocorrer, sem a certeza
de horário, local, prepara um a estrutura para aguardar o início da possível
execução, possibilitando a prisão em flagrante de todos os envolvidos na ação.
Note que dependendo da preparação da polícia na defesa do bem que será
atingido, poderá incidir no caso da súmula 145, STF, pois será caso de crime
impossível.

97
UNIDADE 2 | DOS SUJEITOS PROCESSUAIS E DAS MEDIDAS CAUTELARES

• Flagrante diferido ou retardado – é o que é autorizado, por exemplo, pela


lei de crimes de organização criminosa (Lei nº 12.850), quando seu artigo 8º
autoriza a ação controlada. Nada mais é do que o agente policial esperar o
melhor retardar a prisão para que se efetive no melhor momento esperando
que se prenda o maior número de envolvidos no contexto criminoso, bem
como objetivando a busca pelos chefes da operação, busca de provas e de
informações.
• Flagrante nos crimes permanentes – os crimes permanentes são aqueles que se
consumam quando praticados, mas que se prolongam durante todo o período.
Por exemplo, no caso do sequestro, é no momento da privação da liberdade que
o delito se consuma, mas entende-se que existe crime durante todo o período
da privação, independentemente de quanto tempo dure. Nesses casos, estará
em flagrante durante todo o período em que a pessoa estiver sequestrada.

DICAS

Artigo 303, CPP. “Nas infrações permanentes, entende-se o agente em flagrante


delito enquanto não cessar a permanência” (BRASIL, 1941).

3.2 FORMALIDADES DA PRISÃO EM FLAGRANTE


As formalidades necessárias para a lavratura do auto de prisão em
flagrante estão previstas no artigo 304 do CPP que determina:

Art. 304. Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta


o condutor e colherá, desde logo, sua assinatura, entregando a este
cópia do termo e recibo de entrega do preso. Em seguida, procederá
à oitiva das testemunhas que o acompanharem e ao interrogatório do
acusado sobre a imputação que lhe é feita, colhendo, após cada oitiva
suas respectivas assinaturas, lavrando, a autoridade, afinal, o auto.
§ 1o Resultando das respostas fundada a suspeita contra o conduzido,
a autoridade mandará recolhê-lo à prisão, exceto no caso de livrar-
se solto ou de prestar fiança, e prosseguirá nos atos do inquérito ou
processo, se para isso for competente; se não o for, enviará os autos à
autoridade que o seja.
§ 2o A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto de prisão
em flagrante; mas, nesse caso, com o condutor, deverão assiná-lo pelo
menos duas pessoas que hajam testemunhado a apresentação do
preso à autoridade.
§ 3o  Quando o acusado se recusar a assinar, não souber ou não
puder fazê-lo, o auto de prisão em flagrante será assinado por duas
testemunhas, que tenham ouvido sua leitura na presença deste.
§ 4o Da lavratura do auto de prisão em flagrante deverá constar a
informação sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem
alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos
cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa (BRASIL, 1941).  

98
TÓPICO 2 | DAS MEDIDAS CAUTELARES

É determinado que o condutor – aquele que efetuou a prisão em flagrante


e conduziu o preso até a delegacia – após a entrega do preso à autoridade
policial, deverá ser ouvido e suas declarações reduzidas a termo, para que o
mesmo as assine, e após, ser-lhe-á entregue um recibo de entrega do preso (para
que ele garanta que o preso permaneceu com a autoridade policial) e cópia
deste termo assinado.

Após a liberação do condutor, será feita a oitiva das testemunhas, ou seja,


serão ouvidas pelo escrivão todas as testemunhas que se encontrarem, pode ser
do fato delituoso ou da prisão. Após será feito o interrogatório do preso.

UNI

Estudamos na unidade passada que o inquérito policial é um ato administrativo


e inquisitivo, assim, não possui contraditório.

Havendo fundadas suspeitas que realmente se trate o preso do autor do


fato delituoso, será efetivada a prisão e o mesmo será recolhido ao cárcere (a lei
ressalta que nos casos em que se livrar solto, como na Lei nº 9.099, e nos casos de
fiança, ele não irá ser levado ao cárcere).

Ainda, a prisão deverá ser imediatamente comunicada ao juiz, ao


Ministério Público, e a família do preso (ou pessoa por ele indicada). Sendo que
os autos deverão ser remetidos em um prazo de até 24 horas após a realização
da prisão.

ATENCAO

O prazo de 24 horas é da realização da prisão e não da lavratura do auto. Porque


o auto de prisão pode demorar para ser finalizado.

Se o preso não informar quem deseja que seja seu procurador, deverá
ser remetida cópia integral dos autos para a defensoria pública, para que possa
efetivar a defesa. No prazo de 24 horas da prisão, ainda será entregue ao preso a
nota de culpa (documento que contém o motivo da prisão, o nome do condutor e
das testemunhas), sob pena de tornar a prisão ilegal.

99
UNIDADE 2 | DOS SUJEITOS PROCESSUAIS E DAS MEDIDAS CAUTELARES

UNI

VAMOS REFLETIR?
E no caso de ação penal privada, é possível a prisão em flagrante?
Sim, mas deverá haver a manifestação do ofendido no sentido de desejar a efetivação daquela
prisão, porque é dele a legitimidade para a ação penal.

Após a lavratura do auto, ele será remetido à autoridade competente para


que a converta em preventiva, ou coloque o preso em liberdade provisória com
fiança ou sem ela, ou ainda relaxe a prisão quando ilegal.

O §1º do artigo 304 do CPP determina que se a autoridade não for a


competente, deverá remeter os autos para aquele que seja. Isso porque, como
já vimos, o flagrante pode resultar de uma perseguição que atravesse algumas
comarcas e até mesmo Estados. Assim, na localidade que o “foragido” for preso,
será lavrado o auto de prisão, e remetido para autoridade competente.

3.3 PRISÃO PREVENTIVA


A prisão preventiva vem prevista a partir do artigo 311 do Código
de Processo Penal, podendo ser decretada a qualquer momento no decorrer
do processo penal, sendo possível até mesmo na fase do inquérito policial
(mesma hipótese, deverá o juiz optar entre a preventiva e a temporária, como
se verá adiante).

Desaparecendo os motivos ensejadores da prisão, a mesma deverá ser


revogada, sem prejuízo de nova decretação se houver necessidade no decorrer
do processo.

Como toda decisão judicial, a decretação da prisão preventiva deverá ser


fundamentada e seus motivos devidamente aclarados, não basta a mera repetição
do dispositivo legal, devendo ser explicitados o porquê do preenchimento dos
requisitos.

100
TÓPICO 2 | DAS MEDIDAS CAUTELARES

SABER DO STF:
EMENTA HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. SÚMULA 691/
STF. AFASTAMENTO. ROUBO QUALIFICADO. PRISÃO  PREVENTIVA.
FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA. MOTIVAÇÃO GENÉRICA E
ABSTRATA. MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO.
CONCESSÃO DA ORDEM. EXTENSÃO DO BENEFÍCIO AO CORRÉU. 1.
Em casos excepcionais, viável a superação do óbice da Súmula 691 desta
Suprema Corte. Precedentes. 2. O decreto de prisão cautelar há de se apoiar
nas circunstâncias fáticas do caso concreto, evidenciando que a soltura ou
a manutenção em liberdade do agente implicará risco à ordem pública, à
ordem econômica, à instrução criminal ou à aplicação da lei penal (CPP, art.
312). 3. A motivação genérica e abstrata, sem elementos concretos ou base
empírica idônea a amparar o decreto prisional, esbarra na jurisprudência
consolidada deste Supremo Tribunal Federal, que não lhe reconhece
validade. Precedentes. 4. Substituição da prisão  preventiva por medidas
cautelares previstas no art. 319 do Código de Processo Penal, a serem fixadas
pelo juízo de primeiro grau. 5. Identidade de situações entre o paciente e o
corréu enseja, na hipótese, a aplicação do art. 580 do Código de Processo
Penal - “No concurso de agentes (Código Penal, art. 25), a decisão do recurso
interposto por um dos réus, se fundado em motivos que não sejam de caráter
exclusivamente pessoal, aproveitará outros”. 6. Ordem de habeas corpus
concedida para revogar a prisão  preventiva  do paciente, sem prejuízo da
imposição, pelo magistrado de primeiro grau, se assim o entender, das
medidas cautelares ao feitio legal, estendendo os efeitos desta decisão ao
corréu.
(STF, HC 136296 / SP - SÃO PAULO, Primeira Turma, Relator Min. ROSA
WEBER, Julgamento 13/09/2016, Publicação DJe-226, Divulg 21-10-2016,
Public 24-10-2016). Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/
paginador.jsp?docTP=TP&docID=11899790>. Acesso em: 23 abr. 2019)
(grifo nosso).

Neste julgado acima, o STF reconhece que a motivação tem que ser
concreta, analisando-se o caso que está sendo julgado, não podendo ser genérica
com a mera repetição do dispositivo legal.

O artigo 312 do Código de Processo Penal traz as hipóteses de autorização


da prisão preventiva:

Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da


ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução
criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver
prova da existência do crime e indício suficiente de autoria.
Parágrafo único. A prisão preventiva também poderá ser decretada
em caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por
força de outras medidas cautelares (art. 282, § 4o) (BRASIL, 1941).

101
UNIDADE 2 | DOS SUJEITOS PROCESSUAIS E DAS MEDIDAS CAUTELARES

O primeiro requisito para a decretação da prisão preventiva é a “prova


da existência do crime e indício suficiente de autoria” (BRASIL, 1941). Assim,
é necessário que tenha provas concretas da existência do delito e ao menos
indícios de que aquela pessoa que irá sofrer a privação de sua liberdade seja o
autor do delito.

Além disso, é necessário que haja um dos cinco motivos elencados no


artigo 312 para autorizar a prisão.

E
IMPORTANT

São motivos autorizadores da decretação da preventiva:


a) garantia da ordem pública,
b) garantia da ordem econômica,
c) por conveniência da instrução criminal,
d) assegurar a aplicação da lei penal,
e) descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas
cautelares.

A garantia da ordem pública é um conceito aberto que abarca uma


interpretação extensiva, servindo como escopo para a decretação de prisões
preventivas que visem, por exemplo, a prisão de alguém com alto grau de
periculosidade. Veja que deverá estar demonstrada a necessidade da prisão para
a instrução processual, a periculosidade do agente etc.

SABER DO STF:

AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. PRÁTICA DOS


CRIMES PREVISTOS NOS ARTS. 33, CAPUT, 34 E 35, CAPUT, TODOS DA
LEI Nº 11.343/2006, E NOS ARTS. 14 E 16 DA LEI Nº 10.826/2003.  PRISÃO
PREVENTIVA  PARA GARANTIA DA  ORDEM PÚBLICA. MOTIVAÇÃO
ADEQUADA. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE. PRECEDENTES. 1. A decisão
que determinou as prisões preventivas está apoiada em elementos concretos para
resguardar a ordem pública, em especial a periculosidade social dos agravantes,
evidenciada sobretudo pela apreensão de expressiva quantidade de drogas
(crack, maconha e cocaína), assim como de petrechos ligados à produção e
ao comércio dos entorpecentes, além de dois revólveres calibre 38, simulacro
de fuzil e munições. 2. Agravo regimental a que se nega provimento (STF,
Primeira Turma, AG.REG. NO HABEAS CORPUS, HC 168324 AgR / SP - SÃO
PAULO , Relator Min. ALEXANDRE DE MORAES. Julgamento em 05/04/2019.
Data da Publicação/Fonte DJe-076 DIVULG 11-04-2019 PUBLIC 12-04-2019).
Disponível em: <http://stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.
asp?s1=%28PRIS%C3O+PREVENTIVA+ORDEM+P%DABLICA%29&base=base
Acordaos&url=http://tinyurl.com/yy49abew>. Acesso em: 16 abr. 2019.

102
TÓPICO 2 | DAS MEDIDAS CAUTELARES

O STF elenca neste julgado acima uma das hipóteses que se enquadram
dentro do conceito de ordem pública, como regular a ordem por causa da
periculosidade social dos réus.

A garantia da ordem econômica é a hipótese que autoriza a prisão


preventiva daqueles que reiteradamente geram danos econômicos ao Estado.
É uma espécie de garantia da ordem pública, sendo que em geral, acaba sendo
abarcada por aquela.

Nucci (2016, s.p.) explica que:

Nesse caso, visa-se, com a decretação da prisão preventiva, impedir


que o agente, causador de seríssimo abalo à situação econômico-
financeira de uma instituição financeira ou mesmo de órgão do Estado,
permaneça em liberdade, demonstrando à sociedade a impunidade
reinante nessa área. Equipara-se o criminoso do colarinho branco
aos demais delinquentes comuns, na medida em que o desfalque em
uma instituição financeira pode gerar maior repercussão na vida das
pessoas, do que um simples roubo contra um indivíduo qualquer.
Assim, continua-se contando com os elementos já descritos: gravidade
do delito; repercussão social; periculosidade do agente; particular
modo de execução; envolvimento com organização criminosa, de
maneira a garantir que a sociedade fique tranquila pela atuação do
Judiciário no combate à criminalidade invisível de muitos empresários
e administradores de valores, especialmente os do setor público. Não é
possível permitir a liberdade de quem retirou e desviou enorme quantia
dos cofres públicos, para a satisfação de suas necessidades pessoais, em
detrimento de muitos, pois o abalo à credibilidade da Justiça é evidente.

SABER DO STJ:

PROCESSUAL PENAL - LAVAGEM DE DINHEIRO - CRIMES CONTRA


O SISTEMA FINANCEIRO - PRISÃO PREVENTIVA - NECESSIDADE.
- O direito de ir e vir, na fase processual, somente pode ser coarctado
mediante decisão judicial fundamentada, em que se demonstre, concretamente,
a necessidade da medida. No caso vertente, se de um lado, alega que a paciente
não detinha poder de gerência sobre as empresas de Arcanjo Ribeiro, do
outro, observo que a mesma mudou-se para os Estados Unidos para gerenciar
uma dessas empresas. Tal circunstância é confirmada pelas informações da
Inteligência da Polícia Federal. Destarte, ao meu sentir, restou evidenciada na
decisão constritiva a necessidade de garantia da ordem pública e econômica,
uma vez que a paciente, com esse fato, teria demonstrado condições de
continuar a operar os negócios ilícitos pelos quais tivera sido denunciada,
aferindo vantagens para a organização criminosa, ainda que os contratos
sociais da empresa lhe estabelecessem apenas 5% de participação.
- De outro lado, como bem ressaltado pelo v. acórdão, a vedação à
liberdade provisória, que reforça a necessidade de manutenção da prisão
preventiva da paciente, contida na Lei nº 9.034/95, constitui importante
instrumento de que dispõe o Estado para desarticular organizações criminosas.

103
UNIDADE 2 | DOS SUJEITOS PROCESSUAIS E DAS MEDIDAS CAUTELARES

- Ordem denegada. (STJ, QUINTA TURMA, HC 28671 / MT, Relator


Ministro JORGE SCARTEZZINI, Data do Julgamento 04/12/2003, Data da
Publicação/Fonte DJ 05/04/2004 p. 287). Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/
processo/revista/documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=103086
2&num_registro=200300926963&data=20040405&tipo=5&formato=PDF.
Acesso em: 23 abr. 2019 (grifo nosso).

Já em relação à conveniência da instrução criminal, o que se protege é o


próprio devido processo legal, não mais a ordem pública. A prisão será efetivada
para garantir que o procedimento siga seu rito de maneira mais escorreita possível.

Não se pode admitir, por exemplo, que um acusado ameace as testemunhas


de seu processo, coagindo-as. Neste caso, a prisão será um remédio para garantir
a conveniência da instrução criminal.

Se as atitudes temerárias ocorrem ainda no inquérito policial, será possível


a prisão através da prisão temporária, como veremos mais adiante, mas também
o será da prisão preventiva.

SABER DO STJ:

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE


RECURSO PRÓPRIO. HOMICÍDIO QUALIFICADO. EXCESSO DE PRAZO
PARA FORMAÇÃO DA CULPA. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. PRISÃO
PREVENTIVA. FUNDAMENTADA. ORDEM PÚBLICA. MODUS OPERANDI.
CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL. INTIMIDAÇÃO
DE TESTEMUNHA. POLICIAL MILITAR. COBERTURA A PESSOAS
ENVOLVIDAS COM TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS. CONDIÇÕES
PESSOAIS FAVORÁVEIS. INSUFICIÊNCIA PARA REVOGAÇÃO DA
SEGREGAÇÃO PROVISÓRIA. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO.
1. Esta Corte e o Supremo Tribunal Federal pacificaram orientação no sentido de
que não cabe habeas corpus substitutivo do recurso legalmente previsto para
a hipótese, impondo-se o não conhecimento da impetração, salvo quando
constatada a existência de flagrante ilegalidade no ato judicial impugnado.
2. Excesso de prazo para formação da culpa. Constata-se a impossibilidade
de análise da pretensão do impetrante, considerando que a questão de
excesso de prazo não foi apreciada pelo Tribunal de origem, circunstância
que impede qualquer manifestação deste Superior Tribunal sobre o tema,
sob pena de atuar em indevida supressão de instância, com a consequente
ampliação inconstitucional da competência recursal ordinária desta Corte
(CF, art., 105, II).
3. Com efeito, se houver prova da existência do crime e de indícios suficientes
de autoria, a prisão preventiva, nos termos do art. 312 do CPP, poderá
ser decretada para garantia da ordem pública, da ordem econômica, por
conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal.

104
TÓPICO 2 | DAS MEDIDAS CAUTELARES

4. Na hipótese em foco, a prisão preventiva foi justificada para garantir a ordem


pública, em razão do modus operandi do crime: homicídio praticado em via
pública, por onde passavam várias pessoas, sendo a vítima atingida por mais
de 20 (vinte) disparos de arma de fogo.
5. Desta feita, não há que se falar em ausência de fundamentação concreta, uma
vez que, "se a conduta do agente - seja pela gravidade concreta da ação, seja
pelo próprio modo de execução do crime - revelar inequívoca periculosidade,
imperiosa a manutenção da prisão para a garantia da ordem pública, sendo
despiciendo qualquer outro elemento ou fator externo àquela atividade"
(RHC 47.871/RJ, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA
TURMA, julgado em 21/08/2014, DJe 28/08/2014). Precedentes.
6. Além disso, a prisão preventiva está calcada no fato de o réu ter intimidado
uma testemunha. Desse modo, a conveniência da instrução criminal
ressai como fundamento idôneo a justificar o encarceramento provisório.
Precedentes.
7. De outro lado, ainda que a condição de policial militar, por si só, não
caracterize motivo hábil para sustentar a custódia cautelar, como já decido
no HC 390.345/RJ, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,
QUINTA TURMA, DJe 25/05/2017, observa-se que a Corte de origem também
fundamentou a custódia cautelar no fato de o acusado ter se aproveitado de
sua condição de agente do Estado para dar cobertura a pessoas envolvidas
com o tráfico de drogas.
8. O fato de o paciente possuir condições pessoais favoráveis, por si só, não
impede ou revoga a sua prisão preventiva, consoante pacífico entendimento
desta Corte. Precedentes.
9. Habeas corpus não conhecido. (STJ, HC 475148 / PE, Relator Ministro
RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, Data do Julgamento 02/04/2019,
Data da Publicação/Fonte DJe 08/04/2019.) Disponível em: https://ww2.stj.
jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=
94335802&num_registro=201802775809&data=20190408&tipo=5&formato=PDF.
Acesso em: 23 abr. 2019) (grifo nosso).

Neste caso em concreto descrito acima, o STJ reconhece a necessidade


da preventiva para o réu que intimida as testemunhas, fazendo-o com base na
conveniência da instrução criminal.

A hipótese de prisão preventiva para assegurar a efetiva aplicação da lei


penal visa proteger a finalidade do processo penal, ou seja, a prisão ao final de
todo o procedimento acusatório. Não haveria sentido todo o gasto público com o
procedimento se ao final o mesmo se restar frustrado em sua execução porque o
acusado, por exemplo, deixou o país. Assim havendo fundadas suspeitas de que
o acusado pretende evadir-se para evitar a aplicação da sanção penal que lhe foi
imposta, poderá haver a prisão preventiva.

105
UNIDADE 2 | DOS SUJEITOS PROCESSUAIS E DAS MEDIDAS CAUTELARES

Porém, como já mencionado, o Código de Processo Penal elenca outras


medidas alternativas à prisão, sendo esta a última alternativa que deverá ser
escolhida. Assim, em sendo possível a aplicação de outra medida e esta sendo
efetiva, a prisão não deverá ser decretada, por exemplo, em sendo suficiente a
recolhida do passaporte do acusado, pode ficar demonstrada a desnecessidade
da prisão.

SABER DO STJ:

AGRAVO REGIMENTAL CONTRA A PREJUDICIALIDADE DO


HABEAS CORPUS. CRIMES DESCRITOS NOS ARTS. 213, § 1º, E 147 (ESSE
ÚLTIMO EM CONCURSO
FORMAL), AMBOS DO CP, C/C A LEI N. 11.340/2016 (LEI MARIA DA
PENHA) E ART. 12 DA LEI N. 10.826/2003. PRISÃO PREVENTIVA. EXCESSO DE
PRAZO NA FORMAÇÃO DA CULPA E AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO.
SUPERVENIÊNCIA DE SENTENÇA CONDENATÓRIA. SÚMULA 52/
STJ. FUNDAMENTO NOVO. NECESSIDADE DA EFETIVA APLICAÇÃO
DA LEI PENAL. EFEITO DA CONDENAÇÃO. NOVO TÍTULO JUDICIAL
LEGITIMADOR DA CONSTRIÇÃO CAUTELAR, QUE DEVE SER ANTES
SUBMETIDO AO TRIBUNAL A QUO. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA.
1. O agravante não apresentou argumentos novos capazes de infirmar os
fundamentos que alicerçaram a decisão agravada, razão que enseja a negativa
de provimento ao agravo regimental.
2. Encerrada a instrução criminal, fica superada a alegação de constrangimento
por excesso de prazo (Súmula 52/STJ).
3. A superveniência de decisão de pronúncia não implica a prejudicialidade do
habeas corpus voltado contra prisão preventiva nos casos em que não há a
indicação, pelo decisum, de fundamentos para manutenção da constrição.
Entretanto, é de se reconhecer, contrario sensu, que uma vez elencada nova
motivação, o habeas corpus fica prejudicado (AgRg no HC n. 327.622/SP,
Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, DJe 30/10/2018).
4. O Magistrado de primeiro grau ao levar em conta, para a manutenção da
constrição do réu na sentença condenatória, a necessidade de assegurar a
efetiva aplicação da lei penal, acabou por indicar fato novo não considerado
no decreto de prisão preventiva, a justificar, portanto, a prejudicialidade do
habeas corpus.
5. Agravo regimental improvido. (STJ, AgRg no HC 412653 / PE, Relator
Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, Data do Julgamento
28/03/2019, Data da Publicação/Fonte DJe09/04/2019.) Disponível em:
https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente
=ATC&sequencial=92452761&num_registro=201702048168&data=20190409&
tipo=5&formato=PDF. Acesso em: 23 abr. 2019.

Por fim, a última hipótese de prisão preventiva prevista no artigo 312 do


Código de Processo Penal é o descumprimento de medidas cautelares alternativas.

106
TÓPICO 2 | DAS MEDIDAS CAUTELARES

Neste caso, o juiz, antes de determinar a prisão do acusado, lhe aplicou


medidas alternativas à prisão como cautelar para assegurar o bom andamento do
processo e garantir a sua aplicação ao final. Porém, o acusado deixou de cumprir
com esta medida imposta, gerando assim, para ele o mesmo ônus de ser decretado
contra si a prisão preventiva.

SABER DO STJ:

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. NÃO


CABIMENTO.
TRÁFICO. ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. ADULTERAÇÃO DE
SINAL IDENTIFICADOR DE VEÍCULO AUTOMOTOR. AUSÊNCIA
DE INTIMAÇÃO DO REQUERIMENTO DA PRISÃO PREVENTIVA.
AUSÊNCIA DE AUDIÊNCIA DE JUSTIFICAÇÃO. EXTENSÃO DE
BENEFÍCIOS DE CORRÉUS. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. PRISÃO
PREVENTIVA. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. DESCUMPRIMENTO DE
MEDIDAS CAUTELARES ALTERNATIVAS. NÃO FOI ENCONTRADO
EM SUA RESIDÊNCIA NOS DIAS DE FOLGA. OCORRÊNCIA DE PRÉVIA
AUDIÊNCIA ADMONITÓRIA. RECORRENTE FORAGIDO. GARANTIA
DE APLICAÇÃO DA LEI PENAL. CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS.
IRRELEVÂNCIA. INSUFICIÊNCIA DE OUTRAS MEDIDAS CAUTELARES.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. HABEAS CORPUS
NÃO CONHECIDO.
1. Diante da hipótese de habeas corpus substitutivo de recurso próprio, a
impetração não deve ser conhecida, segundo orientação jurisprudencial do
Supremo Tribunal Federal – STF e do próprio Superior Tribunal de Justiça
– STJ. Contudo, considerando as alegações expostas na inicial, razoável
a análise do feito para verificar a existência de eventual constrangimento
ilegal.
2. As alegações concernentes à ausência de intimação da defesa do requerimento
de prisão preventiva, ausência de audiência de justificação e extensão de
benefícios concedidos a corréus, aos quais foi deferida liberdade sem a fixação
de medidas cautelares, não foram objeto de exame no acórdão impugnado, o
que obsta o seu exame por este Tribunal Superior, sob pena de supressão de
instância. Precedentes.
3. O Superior Tribunal de Justiça firmou posicionamento segundo o qual,
considerando a natureza excepcional da prisão preventiva, somente se
verifica a possibilidade da sua imposição e manutenção quando evidenciado,
de forma fundamentada em dados concretos, o preenchimento dos
pressupostos e requisitos previstos no art. 312 do Código de Processo Penal
- CPP.
4. No caso dos autos, verifico que a prisão preventiva foi adequadamente
motivada pelas instâncias ordinárias, tendo sido demonstrado, com base
em elementos concretos, o incontroverso descumprimento das medidas
cautelares alternativas anteriormente impostas, consubstanciado no
não recolhimento do paciente à sua residência nos dias de folga, o que

107
UNIDADE 2 | DOS SUJEITOS PROCESSUAIS E DAS MEDIDAS CAUTELARES

demonstra a inclinação em furtar-se da aplicação da lei penal, bem como o


real risco de reiteração delitiva.
5. O art. 312, parágrafo único, do CPP é expresso a autorizar a prisão preventiva
"em caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por
força de outras medidas cautelares (art. 282, § 4º)". A jurisprudência desta
Corte Superior orienta no sentido de que a incidência da presente hipótese
demonstra, por si só, a adequação da prisão preventiva.
6. Não há falar em ausência de audiência admonitória para que o paciente
tomasse ciência de todas as condições estabelecidas nas medidas cautelares,
uma vez que as instâncias ordinárias afirmaram que houve a citada audiência,
oportunidade em que todos foram alertados de suas obrigações.
7. O paciente permanece na condição de foragido, elemento a demonstrar
nítida intenção de se furtar a responder pelas acusações, recomendando-
se a custódia cautelar especialmente para a garantia da ordem pública e da
aplicação da lei penal.
8. Esta Corte Superior possui entendimento firme no sentido de que a presença
de condições pessoais favoráveis do agente, como primariedade e domicílio
certo, não representa óbice, por si só, à decretação da prisão preventiva,
quando identificados os requisitos legais da cautela.
9. Não se mostra suficiente a aplicação de medidas cautelares alternativas,
especialmente diante da hipótese dos autos, considerando o
descumprimento das medidas fixadas em momento anterior. 10. Habeas
corpus não conhecido.
(STJ, QUINTA TURMA, HC 487203 / MG, Relator Ministro JOEL
ILAN PACIORNIK, Data do Julgamento 02/04/2019, Data da Publicação/
Fonte DJe 11/04/2019.) Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/
documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=93816973&num_
registro=201803469897&data=20190411&tipo=5&formato=PDF. Acesso em: 23
abr. 2019) (grifo nosso).

Como estipula o CPP, o STJ reconhece no julgado acima que o


descumprimento de medida cautelar diversa da prisão é motivo suficiente para
demonstrar que a prisão preventiva é necessária para resguardar até mesmo a
confiança na justiça.

Além destes requisitos elencados no artigo 312, o artigo 313 do Código


Penal traz um rol de circunstâncias que admitem a prisão preventiva. Desta
forma, entende-se que ela somente poderá ser decretada neste contexto.

Art. 313. Nos termos do  art. 312 deste Código, será admitida a
decretação da prisão preventiva: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de
2011).
I- nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima
superior a 4 (quatro) anos; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
II- se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença
transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do

108
TÓPICO 2 | DAS MEDIDAS CAUTELARES

art. 64 do Decreto-Lei nº  2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código


Penal; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
III- se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher,
criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para
garantir a execução das medidas protetivas de urgência;  (Redação
dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
IV- (revogado). (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011).
Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva quando
houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não
fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser
colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se
outra hipótese recomendar a manutenção da medida (Incluído pela
Lei nº 12.403, de 2011) (BRASIL, 1941).

Assim, além da prova de materialidade e indícios de autoria, somente


será decretada a prisão preventiva se estiver sendo imputado ao acusado o
cometimento de um crime doloso punido com pena privativa de liberdade
máxima superior a 4 anos, sendo que nos crimes culposos e aqueles punidos com
pena inferior a quatro anos, tampouco para as contravenções penais, não será
admitida a aplicação de prisão preventiva.

Será admitida a preventiva no caso de acusado reincidente em crime


doloso. Vale mencionar que tanto o crime anterior como o novo crime deve ser
doloso, não sendo considerado o culposo em nenhum dos dois casos.

UNI

Reincidente é o condenado por outro crime com sentença já transitada em


julgado. O prazo da reincidência é de 5 anos do trânsito em julgado. Após este prazo, ela para
de ser considerada.

A doutrina é crítica em relação a este inciso, afirmando que apenas a


reincidência não deve ser fundamentação idônea para a preventiva. Porque neste
caso estaríamos à frente de um caso de direito penal do autor onde se estaria
punindo o autor por ser quem é, o que não é admitido no direito brasileiro.

O terceiro inciso acrescentado à lei apenas em 2011 admite a prisão


preventiva nos crimes envolverem “violência doméstica e familiar contra a
mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para
garantir a execução das medidas protetivas de urgência”. Leva em consideração
a vítima que é considerada vulnerável em relação ao seu agressor. Note que neste
caso, mesmo que o crime seja punido com reclusão inferior a 4 anos, ainda assim
é cabível a prisão preventiva por ser um inciso especial em relação à regra geral
do inciso I.

109
UNIDADE 2 | DOS SUJEITOS PROCESSUAIS E DAS MEDIDAS CAUTELARES

Por exemplo, se o crime envolver violência doméstica, mesmo que seja


uma lesão corporal leve que a pena é de três meses a um ano, pode ser decretada
a prisão preventiva do agressor, desde que seja para garantir a execução a
medida protetiva.

Contudo, a prisão preventiva não pode ser decretada se o crime foi


cometido sob qualquer das excludentes de ilicitudes do artigo 23 do Código Penal
(legítima defesa, em estado de necessidade e em estrito cumprimento de dever
legal ou no exercício regular de direito).

E
IMPORTANT

Depois de tudo que estudamos, vamos refletir: a apresentação espontânea do


acusado para a autoridade policial, um dia depois do cometimento do crime, sendo que não
houve perseguição, impede a prisão em flagrante, certo? Porém, a dúvida que surge é, e a
prisão preventiva? Esta pode ser decretada ou a apresentação espontânea também ilide sua
aplicação?
Não. Apenas não é mais possível o flagrante. No entanto a prisão preventiva continua sendo
possível de ser decretada, deste que demonstrada a sua necessidade com base nos requisitos
da lei e fundamentada a sua decisão.

3.4 PRISÃO TEMPORÁRIA


Espécie de prisão que vem prevista fora do Código de Processo Penal,
tendo sua previsão na Lei nº 7.960/89. (Acesse a lei no site <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/L7960.htm>.)

Até a Constituição de 1988 existia a espécie de prisão para averiguação


que era determinada pela própria autoridade policial para garantir a instrução no
momento do inquérito policial. A CF, expressamente, determinou que as prisões
somente poderiam ser efetivadas com autorização escrita e fundamentada da
autoridade judiciária, deixando de recepcionar a possibilidade da prisão para
averiguação.

Foi para ser sua substitutiva (da prisão para averiguação) que a Lei nº
7.960 (que prevê a prisão temporária) entra em vigor, objetivando ser uma prisão
que garanta a efetividade das investigações durante o inquérito policial que
investiguem um delito considerado grave.

O artigo 1º da lei elenca duas hipóteses de decretação de prisão temporária:

110
TÓPICO 2 | DAS MEDIDAS CAUTELARES

Art. 1° Caberá prisão temporária:


I- quando imprescindível para as investigações do inquérito policial;
II- quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer
elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade;
III- quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova
admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado
nos seguintes crimes:
a) homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2°);
b) sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§ 1° e 2°);
c) roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);
d) extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°);
e) extorsão mediante sequestro (art. 159, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);
f) estupro (art. 213, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e
parágrafo único); (Vide Decreto-Lei nº 2.848, de 1940)
g) atentado violento ao pudor (art. 214, caput, e sua combinação com
o  art. 223, caput, e parágrafo único);  (Vide Decreto-Lei nº 2.848, de
1940)
h) rapto violento (art. 219, e sua combinação com o art. 223 caput, e
parágrafo único); (Vide Decreto-Lei nº 2.848, de 1940)
i) epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1°);
j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou
medicinal qualificado pela morte (art. 270, caput, combinado com art.
285);
l) quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Penal;
m) genocídio (arts. 1°, 2° e 3° da Lei n° 2.889, de 1° de outubro de 1956),
em qualquer de suas formas típicas;
n) tráfico de drogas (art. 12 da Lei n° 6.368, de 21 de outubro de 1976);
o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de 16 de junho de
1986).
p) crimes previstos na Lei de Terrorismo (Incluído pela Lei nº 13.260,
de 2016) (BRASIL, 1989).

Embora tenhamos três incisos autorizadores, a doutrina afirma que


existem apenas duas hipóteses, sendo que todos os dois primeiros incisos devem
ser sempre combinados com o inciso III: a primeira quando houver o requisito do
inciso I e III e a segunda quando houver o requisito do inciso II e III. Analisaremos
separadamente cada uma delas.

A primeira hipótese se dará quando for imprescindível para a investigação


policial, por exemplo, quando alguém está tentando modificar provas para
confundir a polícia; juntamente com fundadas suspeitas da autoria ou participação
do investigado em qualquer dos crimes elencados na lei.

A segunda hipótese se dará quando o indiciado não tiver residência


fixa (porque isso impede que o mesmo seja encontrado quando necessário) ou
quando o mesmo não for identificado civilmente, porque neste caso é necessário
a preservação da pessoa para que o processo não recaia sobre pessoa diversa;
juntamente com fundadas suspeitas da autoria ou participação do investigado
em qualquer dos crimes elencados na lei.

111
UNIDADE 2 | DOS SUJEITOS PROCESSUAIS E DAS MEDIDAS CAUTELARES

A doutrina afirma que essa coligação de requisitos é necessária porque a


temporária somente deve ser decretada para esses casos de extrema gravidade,
evitando-se vulgarizar a medida cautelar, e para manter-se a proporcionalidade,
eludindo que seja decretada, por exemplo nos casos de menor potencial ofensivo.

Além destes casos, a temporária também pode ser decretada nos casos
dos crimes hediondos por autorização legal da Lei nº 8.072/90.

A prisão temporária não pode ser decretada de ofício pelo juiz da comarca,
necessitando de representação da autoridade policial ou de requerimento do
Ministério Público.

O prazo da temporária é de cinco dias, prorrogáveis por mais cinco em


caso de extrema e comprovada necessidade (lembre que a prorrogação é deferida
pelo juiz, e não pela autoridade policial). No caso dos crimes hediondos o prazo
é de 30 dias prorrogáveis por igual período.

O artigo 2º, § 7° determina que “decorrido o prazo de cinco dias de


detenção, o preso deverá ser posto imediatamente em liberdade, salvo se já tiver
sido decretada sua prisão preventiva” (BRASIL, 1989). Deste modo, é possível que
mesmo superado o prazo de 5 dias de prisão temporária o indiciado permaneça
preso, porém, não mais por causa da temporária, agora pela decretação de sua
preventiva.

DICAS

O prazo da prisão temporária, regra geral, é de cinco dias prorrogáveis por mais
cinco.
O prazo da prisão temporária nos crimes hediondos, é de 30 dias prorrogáveis por mais 30.
A prisão preventiva NÃO tem prazo, devendo ser preservada enquanto se mantiverem os
motivos ensejadores da prisão.

3.5 MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO


O artigo 349 do Código de Processo Penal prevê 9 medidas cautelares
diversas da prisão que, em regra deverão ser aplicadas prioritariamente, sendo
que a prisão deverá ser a última alternativa.

Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: (Redação dada


pela Lei nº 12.403, de 2011).
I- comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições
fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades; (Redação dada
pela Lei nº 12.403, de 2011).

112
TÓPICO 2 | DAS MEDIDAS CAUTELARES

II- proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando,


por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado
permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas
infrações; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
III- proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por
circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela
permanecer distante; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
IV- proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja
conveniente ou necessária para a investigação ou instrução; (Incluído
pela Lei nº 12.403, de 2011).
V- recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga
quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho
fixos; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
VI- suspensão do exercício de função pública ou de atividade de
natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua
utilização para a prática de infrações penais;  (Incluído pela Lei nº
12.403, de 2011).
VII- internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados
com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser
inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco
de reiteração; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
VIII- fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o
comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu
andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem
judicial; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
IX- monitoração eletrônica. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
(BRASIL, 1941).

Perceba que embora sejam medidas alternativas ao encarceramento, todas


elas restringem a liberdade daquele que foi submetido a uma delas.

FIGURA 1 – MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO

FONTE: <https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/noticias/imagens-2016/23medidascaut
elaresdiversasdaprisao.jpg/@@images/0c9d2453-1dca-445b-bb9c-d093a89b2ab4.jpeg>. Acesso
em: 3 maio 2019.

113
UNIDADE 2 | DOS SUJEITOS PROCESSUAIS E DAS MEDIDAS CAUTELARES

A intenção do legislador é que, havendo a possibilidade de ser aplicada


uma medida cautelar diversa da prisão, e ainda assim, assegurar o necessário
para o bom andamento do processo e sua efetividade ao final do processo, não
haverá a necessidade de segregação da liberdade do indiciado ou denunciado.
Resta clara assim o caráter subsidiário da prisão em relação às demais medidas
alternativas.

SABER DO STJ:

HABEAS CORPUS. CORRUPÇÃO PASSIVA. VIOLAÇÃO DE SIGILO


FUNCIONAL.
ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. LAVAGEM DE DINHEIRO. MEDIDAS
CAUTELARES
ALTERNATIVAS. PROPORCIONALIDADE. ORDEM CONCEDIDA.
1. A decretação tanto da custódia cautelar quanto de qualquer outra medida
cautelar prevista no art. 319 do CPP é decisão tomada rebus sic stantibus,
pois está sempre sujeita à nova verificação de seu cabimento, quer para
eventual revogação, quando cessada a causa ou motivo que a justificou,
quer para sua substituição por medida menos gravosa, na hipótese em que
seja esta última igualmente idônea para alcançar o mesmo objetivo daquela,
nos termos do art. 316 do CPP: "o juiz poderá revogar a prisão preventiva
se, no correr do processo, verificar a falta de motivo para que subsista, bem
como de novo decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem".
2. Tanto a prisão preventiva (stricto sensu) quanto as demais medidas
cautelares pessoais introduzidas pela Lei n. 12.403/2011 destinam-se a
proteger os meios (a atividade probatória) e os fins do processo penal (a
realização da justiça, com a restauração da ordem jurídica e da paz pública
e, eventualmente, a imposição de pena a quem for comprovadamente
culpado), ou, ainda, a própria comunidade social, ameaçada ante a
perspectiva de abalo à ordem pública pela provável prática de novas
infrações penais. O que varia, portanto, não é a justificativa ou a razão
final das diversas cautelas (inclusive a mais extrema, a prisão preventiva),
mas a dose de sacrifício pessoal decorrente de cada uma delas. Vale dizer, a
imposição de medidas cautelares diversas da prisão preventiva pressupõe
a existência de fundamentos, devidamente explicitados, para a imposição
da cautela máxima, mas que, em juízo de proporcionalidade, tornam-se
excessivos diante da constatação de que essas outras medidas, igualmente
fincadas no periculum libertatis, podem ser idôneas e suficientes para, em
grau menor de intervenção na liberdade humana, atender à situação concreta.
3. O juízo competente, a partir dessas premissas, terá em conta que, na miríade
de providências cautelares previstas nos arts. 319, 320 e 321, todos do CPP,
a decretação ou a manutenção da prisão preventiva se legitima, como
densificação do princípio da proibição de excesso, somente para aquelas
situações em que as alternativas legais à prisão não se mostrarem idôneas

114
TÓPICO 2 | DAS MEDIDAS CAUTELARES

e suficientes a proteger o bem ameaçado pela irrestrita e plena liberdade


do indiciado ou acusado. É essa, precisamente, a ideia da subsidiariedade
processual penal, que permeia o princípio da proporcionalidade, em sua
máxima parcial (ou subprincípio) da necessidade (proibição do excesso): o
juiz somente poderá decretar (ou manter) a medida mais radical – a prisão
preventiva - quando não existirem outras medidas menos gravosas ao
direito de liberdade do acusado por meio das quais seja possível alcançar
os mesmos fins colimados pela prisão cautelar.
4. A decisão judicial que aplicou as medidas cautelares diversas da prisão foi
acertada, no momento em que proferida. Ademais, ainda estão presentes
motivos que autorizam intervenção cautelar em desfavor do paciente.
Porém, passados já quase 1 ano e 8 meses da decisão que substituiu a prisão
preventiva pelas medidas previstas no art. 319 do CPP - ocasião em que a 2ª
Turma do STF concedeu a ordem de ofício em favor do paciente, em 1º/8/2017
-, o risco da reiteração delitiva e de interferência na instrução criminal se
enfraqueceu, não a ponto de desaparecer totalmente, mas em grau bastante
para justificar a manutenção de uma pequena parte das medidas cautelares,
as quais, em juízo de proporcionalidade e à luz do que dispõem os arts. 282 e
319 do Código de Processo Penal, se mostram adequadas e suficientes para,
com menor carga coativa, proteger o processo e a sociedade de possíveis e
futuros danos que a plena liberdade do paciente poderia causar.
5. Como os fatos novos noticiados pela defesa não foram submetidos à
consideração da Desembargadora relatora do IP n. 0045948-04.2017.4. 01.000,
em trâmite no TRF/1ª Região, evidencia-se a necessidade de remessa dos
autos para a relatoria do inquérito policial, para que decida sobre o pedido.
6. Habeas corpus concedido para afastar as medidas cautelares, salvo a de
suspensão do exercício da função de Procurador da República, bem como
para remeter os autos à Desembargadora Federal relatora do Inquérito
Policial n. 0045948-04.2017.4.01.000, em trâmite no Tribunal Regional Federal
da 1ª Região, para que decida sobre os pedidos de fls. 415-421, no prazo de 10
dias.
(STJ, HC 451696 / DF, Relator Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Órgão
Julgador SEXTA TURMA, Data do Julgamento 11/04/2019, Data da Publicação/
Fonte DJe 23/04/2019.) Disponível em : https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/
documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=94724673&num_
registro=201801245760&data=20190423&tipo=5&formato=PDF. Acesso em: 23
abr. 2019. (grifo nosso)

Estas medidas diversas da prisão podem ser determinadas de ofício pelo


magistrado, bem como requeridas pelas partes.

115
UNIDADE 2 | DOS SUJEITOS PROCESSUAIS E DAS MEDIDAS CAUTELARES

E
IMPORTANT

Para as prisões cautelares existe a possibilidade da detração (instituto estudado


no direito penal – o tempo da prisão cautelar é considerado na pena aplicada como já
efetivamente cumprido).
Quando a aplicação for de uma medida cautelar diversa da prisão, sendo que embora ela não
seja um encarceramento, ela se configura em uma real restrição à liberdade da pessoa de ir
e vir, poderá ser feita a detração?
Em regra não, por falta de previsão legal. Porém, pode o juiz levar em conta no caso concreto
por causa da analogia in bonan partem.

FIGURA 2 – MEDIDAS CAUTELARES APLICADAS EM ALTERNATIVA À PRISÃO

FONTE: <https://www.opovo.com.br/jornalimages/app/noticia_
147507931171/2017/06/06/23825/Medidas-cautelares-aplicadas.jpg >. Acesso em: 3 maio 2019.

116
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• O processo penal é composto pelo processo de conhecimento, aquele em que


se busca saber quem foi o autor do ato criminoso; o processo cautelar, que visa
resguardar o processo e sua efetividade; e o processo de execução, em que se
pretende executar a pena imposta no processo de conhecimento.

• Características das medidas cautelares do processo penal: acessoriedade;


preventividade; instrumentalidade; provisoriedade; revogabilidade;
referibilidade; jurisdicionalidade; sumariedade.

• As prisões cautelares se dividem em: flagrante, preventiva e temporária.

• O flagrante é a prisão que ocorre quando o crime está sendo cometido, acaba
de ser cometido ou logo após é cometido.

• Flagrante facultativo é quando qualquer do povo poderá realizar a prisão em


flagrante.

• Flagrante obrigatório é quando a autoridade policial ou seus agentes deverão


realizar a prisão em flagrante.

• Flagrante próprio ou perfeito é o previsto no artigo 302, I, quando ocorre a


prisão no momento em que o agente está praticando o ato delituoso; ou ainda
na hipótese do inciso II, quando o agente já praticou o crime, mas ainda não
deixou a cena, podendo ser preso antes mesmo de conseguir deixar o local.

• Flagrante impróprio ou imperfeito é o inciso III do artigo 302 e determina a


prisão daquele que é perseguido assim que se evade do local do crime.

• Flagrante presumido previsto no artigo 302, IV, é a hipótese da prisão daquele


que mesmo que consiga sair do local do crime sem ser perseguido, mas é
encontrado logo depois (note que houve uma mudança do termo de logo após
para logo depois, desejando demonstrar uma maior passagem de tempo), com
quaisquer objetos do crime (arma, papéis, objetos) que se possa presumir que
aquele é o autor do crime.

• Flagrante preparado ou provocado é aquele em que o agente produz um


aparato para que o criminoso possa praticar o crime, mas ao mesmo tempo,
toma todas as medidas para prendê-lo.

117
• Flagrante forjado é também uma hipótese de flagrante não aceito. Ocorre
quando o agente cria provas de um crime que não aconteceu, para possibilitar
a prisão de outro que é inocente.

• Flagrante esperado, por sua vez é um flagrante válido. Ocorre quando a


autoridade policial, tendo a notícia que um crime irá ocorrer, sem a certeza
de horário, local, prepara um a estrutura para aguardar o início da possível
execução, possibilitando a prisão em flagrante de todos os envolvidos na ação.

• Flagrante diferido ou retardado, é o que é autorizado, por exemplo, pela lei de


crimes de organização criminosa (Lei nº 12.850), quando seu artigo 8º autoriza a
ação controlada. Nada mais é do que o agente policial esperar o melhor retardar
a prisão para que se efetive no melhor momento esperando que se prenda o
maior número de envolvidos no contexto criminoso, bem como objetivando a
busca pelos chefes da operação, busca de provas e de informações.

• A prisão preventiva é a prisão que será efetivada para possibilitar o bom


andamento do inquérito ou do processo.

• O requisito para a decretação da prisão preventiva consistente em “prova da


existência do crime e indício suficiente de autoria” deve ser conjugado com
algum dos motivos autorizadores da decretação: São motivos autorizadores
da decretação da preventiva: garantia da ordem pública, garantia da ordem
econômica, por conveniência da instrução criminal, assegurar a aplicação da
lei penal, descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de
outras medidas cautelares.

• Não existe prazo para a duração da prisão preventiva, devendo ser mantida
enquanto durarem os motivos ensejadores da prisão, e ser revogada assim que
se tornar desnecessária.

• A prisão temporária vem prevista na Lei nº 7.960/89, e prevê a prisão para


garantir o bom andamento das investigações policiais, somente podendo ser
decretada no inquérito policial, com prazo de cinco dias, prorrogáveis por
mais cinco em caso de extrema e comprovada necessidade. No caso dos crimes
hediondos o prazo é de 30 dias prorrogáveis por igual período.

• O artigo 349 do Código de Processo Penal prevê nove medidas cautelares


diversas da prisão que, em regra deverão ser aplicadas prioritariamente, sendo
que a prisão deverá ser a última alternativa.

118
AUTOATIVIDADE

Caro acadêmico! Com base no estudado neste tópico, responda:

1 São motivos autorizadores da decretação da preventiva:

a) ( ) Gravidade do delito, garantia da ordem econômica.


b) ( ) Garantia da ordem pública, gravidade do delito.
c) ( ) Garantia da ordem econômica, reincidência.
d) ( ) Garantia da ordem pública, garantia da ordem econômica.

2 Sobre o prazo das prisões, assinale as alternativas corretas:

a) ( ) O prazo da prisão temporária, em regra, é de 5 dias.


b) ( ) O prazo da prisão preventiva, em regra, é de 5 dias.
c) ( ) A prisão temporária deve ser mantida enquanto perdurarem os motivos
de sua concessão.
d) ( ) A prisão preventiva não pode ser novamente concedida após sua
revogação.

3 A prisão em flagrante não pode ser efetivada por qualquer pessoa, sendo
necessário que ela ocorra através do agente policial, único habilitado para
essa função.

a) ( ) Verdadeiro.
b) ( ) Falso.

4 Sabemos que embora a prisão em flagrante seja constitucional, determinadas


pessoas não podem ser detidas por esse meio cautelar. Assinale a resposta
correta sobre quem NÃO pode ser preso em flagrante:

a) ( ) Diplomatas, parlamentares federais e estaduais, em qualquer situação.


b) ( ) Presidente da República, nas infrações comuns e os magistrados.
c) ( ) Qualquer funcionário do Poder Judiciário ou do Ministério Público.
d) ( ) Diplomatas, parlamentares federais, estaduais e municipais.

5 Qual prisão provisória pode ser realizada em qualquer fase do inquérito


policial ou processo judicial?

a) ( ) Prisão em flagrante.
b) ( ) Prisão temporária.
c) ( ) Prisão preventiva.
d) ( ) Prisão especial.
e) ( ) Prisão civil.

119
120
UNIDADE 2 TÓPICO 3

LIBERDADE PROVISÓRIA

1 INTRODUÇÃO
No Brasil, a liberdade de ir e vir é a regra dentro do ordenamento jurídico,
assim considerada em virtude de nossa Constituição Federal. Por isso, mesmo
nos casos de prisão em flagrante, a lei prevê uma possibilidade do acusado poder
responder ao processo em liberdade.

Neste tópico iremos estudar o relaxamento da prisão, a revogação da


prisão e o que é a liberdade provisória e quais suas modalidades.

Bons estudos!

2 RELAXAMENTO DA PRISÃO
O relaxamento da prisão é a medida cabível para os casos de alguém
sofrer alguma prisão ilegal. Sua previsão está disposta no artigo 5º, LXV, CF e
artigo 310 do CPP.

Artigo 5º, LXV, CF – a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela
autoridade judiciária (BRASIL, 1988).

3 REVOGAÇÃO DA PRISÃO
A revogação da prisão, por sua vez, se dará quando a prisão preventiva
for legalmente decretada, mas que tenha perdido seu objeto, ou seja, quando se
verificar que não subsiste razão para sua manutenção.

Por exemplo, alguém foi preso preventivamente por estar intimidando


as testemunhas do processo (preventiva com base na conveniência da instrução
criminal), no momento que se findar a instrução processual com a oitiva das
testemunhas, essa preventiva não precisará mais ser mantida, devendo ser
revogada pelo juiz.

121
UNIDADE 2 | DOS SUJEITOS PROCESSUAIS E DAS MEDIDAS CAUTELARES

FIGURA 3 – DIFERENÇAS ENTRE AS FORMAS DE EXTINÇÃO DA PRISÃO PROVISÓRIA

FONTE: <https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-e-produtos/direito-facil/
edicao-semanal/liberdade-provisoria-relaxamento-da-prisao-e-revogacao-da-prisao/image_
mini>. Acesso em: 14 maio 2019.

4 LIBERDADE PROVISÓRIA
A liberdade provisória poderá ser concedida àquele que preso em
flagrante preencher determinados requisitos legais, podendo ser concedida com
fiança ou sem fiança, de acordo com o determinado na Constituição Federal no
artigo 5º, LXVI (“ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei
admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança”) (BRASIL, 1988).

Perceba que no nosso ordenamento jurídico a liberdade é a regra, sendo


que a restrição ao direito de ir e vir do indivíduo é a exceção a esta regra. Por
isso, mesmo em caso de flagrância, existem determinadas circunstâncias que
permitem que o agente se livre solto.

Contudo, hoje, a liberdade provisória é mais que apenas a liberdade


concedida àqueles presos em flagrante, sendo também uma espécie de cautelar
autônoma diversa da prisão, como visto anteriormente. Renato Brasileiro de Lima
(2017, p. 1054) assevera que:

Com a entrada em vigor da Lei n° 12.403/11, a liberdade provisória deixa


de funcionar tão somente como medida de contracautela substitutiva
da prisão em flagrante. Isso porque, apesar de o legislador não se
valer dessa expressão no art. 319 do CPP, fica evidente que a liberdade
provisória agora também pode ser adotada como providência cautelar
autônoma, com a imposição de uma ou mais das medidas cautelares
diversas da prisão ali elencadas.

122
TÓPICO 3 | LIBERDADE PROVISÓRIA

Em regra, a liberdade provisória será concedida com a vinculação de


algumas obrigações a serem impostas ao sujeito – além da fiança –, como por
exemplo, o caso previsto no artigo 327 e 328, do CPP que determina que:

Art. 327. A fiança tomada por termo obrigará o afiançado a comparecer


perante a autoridade, todas as vezes que for intimado para atos do
inquérito e da instrução criminal e para o julgamento. Quando o réu
não comparecer, a fiança será havida como quebrada.
Art.  328. O réu afiançado não poderá, sob pena de quebramento da
fiança, mudar de residência, sem prévia permissão da autoridade
processante, ou ausentar-se por mais de 8 (oito) dias de sua residência,
sem comunicar àquela autoridade o lugar onde será encontrado
(BRASIL, 1941).

A doutrina majoritária afirma que a liberdade somente será provisória se


houver a vinculação com obrigações para o sujeito, sendo que se for uma liberdade
sem qualquer contraprestação, esta não será provisória, e sim definitiva.

Contudo a maior discussão referente a este instituto se resume à fiança,


desta forma, vejamos em separado as hipóteses de liberdade provisória com ou
sem fiança.

FIGURA 4 – LIBERDADE PROVISÓRIA


Regra

Liberdade Liberdade
Aguarda
provisória sem provisória com
julgamento
pagamento de pagamento de
preso
fiança fiança

Exceções

FONTE: <http://lh3.googleusercontent.com/-NZe3xlN3wiE/VVAHHcPihzI/AAAAAAAAPog/_
W6yqxVmhhs/s640/2015-05-10%25252020.21.40.png>. Acesso em: 14 maio 2019.

123
UNIDADE 2 | DOS SUJEITOS PROCESSUAIS E DAS MEDIDAS CAUTELARES

4.1 LIBERDADE PROVISÓRIA SEM FIANÇA


As hipóteses de liberdade provisória sem fiança vêm previstas nos artigos
310, parágrafo único, e 350, ambos do Código de Processo Penal.

Artigo 310. Parágrafo único.  Se o juiz verificar, pelo auto de prisão


em flagrante, que o agente praticou o fato nas condições constantes
dos  incisos I a III do  caput  do art. 23 do Decreto-Lei no  2.848, de 7
de dezembro de 1940 – Código Penal, poderá, fundamentadamente,
conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo de
comparecimento a todos os atos processuais, sob pena de revogação. 
Art. 350. Nos casos em que couber fiança, o juiz, verificando a situação
econômica do preso, poderá conceder-lhe liberdade provisória,
sujeitando-o às obrigações constantes dos arts. 327 e 328 deste Código e
a outras medidas cautelares, se for o caso. (Redação dada pela Lei nº
12.403, de 2011).
Parágrafo único. Se o beneficiado descumprir, sem motivo justo,
qualquer das obrigações ou medidas impostas, aplicar-se-á o disposto
no § 4o do art. 282 deste Código (BRASIL, 1941).

Destarte, a primeira hipótese de liberdade provisória sem fiança é


o indiciado ter praticado o delito sob alguma excludente de ilicitude prevista
no artigo 23, do Código Penal (estado de necessidade, legítima defesa, estrito
cumprimento de dever legal ou exercício regular de direito), desde que o indiciado
se comprometa a comparecer a todos os atos do processo penal.

E
IMPORTANT

Embora a lei fale em poder o juiz conceder a liberdade provisória sem flagrante
nesta hipótese do artigo 310, parágrafo único, trata-se, em verdade, de um poder dever. Sendo
assim, é obrigação do juiz conceder o benefício ao réu.

Brasileiro Lima (2017) defende que embora a lei somente tenha elencado
as causas de excludente de ilicitude, nelas também estariam abarcadas as causas
excludentes de culpabilidade (obediência hierárquica, coação moral irresistível,
inexigibilidade de conduta diversa) por analogia in bonan partem.

A segunda hipótese da liberdade provisória sem fiança vem prevista no


artigo 350, e determina a sua concessão para aqueles que demonstrarem a falta de
possibilidade econômica de arcar com os custos da fiança.

O ônus desta demonstração é da parte que requerer o benefício, e para que


o mesmo seja concedido, deve-se levar em consideração o estipulado no artigo 32,
§ 1º, do CPP: “Considerar-se-á pobre a pessoa que não puder prover às despesas

124
TÓPICO 3 | LIBERDADE PROVISÓRIA

do processo, sem privar-se dos recursos indispensáveis ao próprio sustento ou da


família” (BRASIL, 1941).

Neste caso, o réu fica sujeito a todas as condições da fiança, como veremos
a seguir.

4.2 LIBERDADE PROVISÓRIA COM FIANÇA


Fiança é uma garantia real dada pelo réu para garantir que o mesmo não
irá evadir-se durante o processo. Tem que sempre ter por valor determinado de
acordo com o artigo 330 do CPP.

DICAS

Leia a lei:

Art. 330. A fiança, que será sempre definitiva, consistirá em depósito de dinheiro, pedras,
objetos ou metais preciosos, títulos da dívida pública, federal, estadual ou municipal, ou em
hipoteca inscrita em primeiro lugar (BRASIL, 1941).

A fixação da fiança tem diversas finalidades durante o inquérito policial ou


a ação penal, são elas: a primeira delas é assegurar que o réu poderá permanecer
em liberdade, porém vinculado ao compromisso de comparecer a todos os atos
aos quais for intimado no IP ou no processo; além disso, ela servirá para sustentar
o pagamento das custas processuais, da indenização do dano etc.

ATENCAO

Quem pode fixar a fiança?

Para os delitos mais leves a própria autoridade policial poderá fixar a fiança, e para os mais
graves, apenas a autoridade judiciária (juiz).
Art. 322, CPP: A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos casos de infração
cuja pena privativa de liberdade máxima não seja superior a 4 (quatro) anos.
Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será requerida ao juiz, que decidirá em 48
(quarenta e oito) horas (BRASIL, 1941).

125
UNIDADE 2 | DOS SUJEITOS PROCESSUAIS E DAS MEDIDAS CAUTELARES

A fiança pode até mesmo ser concedida sem manifestação prévia do


Ministério Público, mas tendo que ser dado vista a ele, obrigatoriamente, para
que se manifeste e requeira o que entender de direito (artigo 333, CPP).

A fiança é vedada em alguns casos taxativamente trazidos pelo Código


de Processo Penal, não cabendo ao intérprete trazer outras hipóteses além das
previstas em lei.

Desta forma, a Constituição Federal, no seu artigo art. 5º elenca um rol de


hipóteses em que são vedadas a concessão da fiança, são elas: para os crimes de
racismo, de tortura, tráfico ilícito de drogas, terrorismo, crimes hediondos, aqueles
cometidos por grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional
e o Estado Democrático.

Perceba que nos casos em que há vedação constitucional, a vedação se


refere expressamente à concessão da fiança, assim, o Supremo Tribunal Federal
entende que não há óbice para a concessão da liberdade provisória sem fiança,
trazendo assim, uma incongruência para a legislação nacional.

Além desse rol taxativo, ainda não será concedida a fiança para os casos em
que o acusado já quebrou a fiança no mesmo processo (O quebramento da fiança
se dá quando o réu não comparecer depois de intimado a qualquer ato perante
a autoridade) ou deixado de cumprir qualquer das obrigações impostas a ele, no
caso de prisão civil (hoje no Brasil se efetiva apenas ao devedor de alimentos),
prisão militar (porque tem um regramento próprio com o Código de Processo
Penal Militar), e nos casos que são autorizados a decretação da prisão preventiva.

O artigo 325 fixa parâmetros de valores para a fixação da fiança pela


autoridade policial ou judicial. Esses parâmetros foram atualizados em 2011 pela
Lei nº 12.403, para adequá-los à realidade atual do nosso país:

Art. 325. O valor da fiança será fixado pela autoridade que a conceder
nos seguintes limites: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).
I- de 1 (um) a 100 (cem) salários mínimos, quando se tratar de infração
cuja pena privativa de liberdade, no grau máximo, não for superior a
4 (quatro) anos;
II- de 10 (dez) a 200 (duzentos) salários mínimos, quando o máximo da
pena privativa de liberdade cominada for superior a 4 (quatro) anos.
§ 1o Se assim recomendar a situação econômica do preso, a fiança
poderá ser:
I- dispensada, na forma do art. 350 deste Código,
II- reduzida até o máximo de 2/3 (dois terços); ou
III- aumentada em até 1.000 (mil) vezes (BRASIL, 1941).

Temos que ressaltar que a condição econômica do réu é considerada como


fundamental no momento da fixação da fiança para o réu, porque dependendo
da situação econômica a fiança poderá até mesmo ser dispensada, conforme já
mencionado. Porém, essa não é a única causa que deve ser levado para determinar

126
TÓPICO 3 | LIBERDADE PROVISÓRIA

o valor da sentença. Além desse, existem outros elencados no artigo 326, como
“a natureza da infração, as condições pessoais de fortuna e vida pregressa do
acusado, as circunstâncias indicativas de sua periculosidade, bem como a
importância provável das custas do processo, até final julgamento”.

Além do pagamento da fiança, o afiançado terá outras obrigações a


cumprir, como ficar obrigado a comparecer perante a autoridade toda vez que for
intimado, não pode mudar de residência sem autorização, não poder ausentar-se
de sua residência (viajar) por mais de 8 dias sem comunicar no processo.

Ademais, o artigo 341 elenca as causas do que será considerada quebra a


fiança, e nesse caso, importará na perda de metade do seu valor, e o juiz analisar
a possibilidade de aplicação de medidas cautelares diversas ou até mesmo da
prisão preventiva:

Art. 341. Julgar-se-á quebrada a fiança quando o acusado:


I- regularmente intimado para ato do processo, deixar de comparecer,
sem motivo justo;
II- deliberadamente praticar ato de obstrução ao andamento do
processo;
III- descumprir medida cautelar imposta cumulativamente com a
fiança;
IV- resistir injustificadamente a ordem judicial;
V- praticar nova infração penal dolosa (BRASIL, 1941).

Existem alguns conceitos que devemos conhecer quando tratamos de


fiança, são eles:

• Fiança sem efeito – prevista no artigo 337, CPP – ocorre quando o réu não
reforça a fiança após a intimação para fazê-lo, ou seja, quando intimado
para complementar o valor, se omite e não o faz. Nesta hipótese o valor será
restituído e o acusado será recolhido ao cárcere.

• Fiança inidônea – prevista no artigo 338, CPP – quando a fiança é concedida


indevidamente por falta do preenchimento de algum requisito legal ou por não
caber nas hipóteses de concessão.

• Cassação da fiança – prevista no artigo 338, CPP – é o nome para o cancelamento


da fiança inidônea. A fiança inidônea deve ser cassada pela autoridade
judiciária. Ela poderá ser feita de ofício ou a requerimento do MP ou da
autoridade policial, mas será sempre judicial.

• Reforço da fiança – previsto no artigo 340 – quando o ficar comprovado que


o valor recolhido é insuficiente, “quando a autoridade tomar, por engano,
fiança insuficiente; quando houver depreciação material ou perecimento
dos bens hipotecados ou caucionados, ou depreciação dos metais ou pedras
preciosas; quando for inovada a classificação do delito” (BRASIL, 1941).

127
UNIDADE 2 | DOS SUJEITOS PROCESSUAIS E DAS MEDIDAS CAUTELARES

• Restauração da fiança – quando a fiança for cassada, poderá a decisão ser revista
em sede de retratação do juízo, ou em grau de recurso como deferimento de
um recurso em sentido estrito.

• Perda da fiança – prevista no artigo 344, CPP – ocorre a perda total do valor da
fiança se o condenado não se apresentar para iniciar o cumprimento da pena.

• Restituição da fiança – previsto no artigo 347, CPP – quando o acusado é


condenado e não existe a quebra da fiança nem seu perdimento, ou seja,
durante todo o procedimento ele cumpriu com suas obrigações e também se
apresentou para o cumprimento da reprimenda, o valor da fiança deverá ser
integralmente restituído a ele, contudo, deste valor será resguardado o valor
para o pagamento das custas e indenização da vítima.

128
TÓPICO 3 | LIBERDADE PROVISÓRIA

LEITURA COMPLEMENTAR

A INICIATIVA INSTRUTÓRIA DO JUIZ NO PROCESSO PENAL


ACUSATÓRIO

Ada Pellegrini Grinover


Professora Titular de Processo Penal
da Universidade de São Paulo

1 Justificativa do tema

A propagação do modelo acusatório na América Latina, indubitavelmente


promovida pelo Código Modelo de Processo Penal para Ibero-América, acarretou
em diversos países e está trazendo, em outros, profundas modificações no sistema
inquisitório antes difuso na América espanhola, com evidentes vantagens no
tocante a um processo aderente às garantias constitucionais e fiel às normas da
Convenção Americana dos Direitos Humanos.

No entanto, alguns equívocos têm surgido aqui e acolá, a partir da


errônea concepção do que se deve entender por “processo acusatório e processo
inquisitivo”, assim como pelo significado da expressão “processo de partes”,
ligada ao primeiro modelo.

Esses mal-entendidos têm induzido alguns teóricos e certos sistemas


a confundir o sistema acusatório moderno com o “adversarial system” dos
países anglo-saxônicos, com profundas repercussões sobre o papel do juiz no
processo penal.

Desfazer esses equívocos, ou ao menos esclarecer alguns conceitos é o


objetivo desse trabalho.

2 Significado e alcance da expressão “sistema acusatório”

A ambiguidade e indeterminação do binômio acusatório-inquisitório


são conhecidas, sendo polivalente seu sentido. Por isso nos preocupamos, em
diversos escritos, em salientar aquilo que distingue, sinteticamente, o modelo
acusatório do inquisitório. No primeiro, as funções de acusar, defender e julgar
são atribuídas a órgãos distintos, enquanto, no segundo, as funções estão reunidas
e o inquisidor deve proceder espontaneamente. É só no processo acusatório
que o juízo penal é o actum trium personarum, de que falava Búlgaro, enquanto
no processo inquisitório a investigação unilateral a tudo se antepõe, tanto que
dele disse Alcalá-Zamora não se tratar de processo genuíno, mas sim de forma
autodefensiva da administração da justiça. Onde aparece o sistema inquisitório
poderá haver investigação policial, ainda que dirigida por alguém chamado juiz,
mas nunca verdadeiro processo.

129
UNIDADE 2 | DOS SUJEITOS PROCESSUAIS E DAS MEDIDAS CAUTELARES

Decorrem desse conceito sintético, diversos corolários: a – os elementos


probatórios colhidos na fase investigatória, prévia ao processo, servem
exclusivamente para a formação do convencimento do acusador, não podendo
ingressar no processo e ser valorados como provas (salvo se se tratar de prova
antecipada, submetida ao contraditório judicial, ou de prova cautelar, de urgência,
sujeita a contraditório posterior); b - o exercício da jurisdição depende de acusação
formulada por órgão diverso do juiz (o que corresponde ao aforisma latino nemo
in iudicio tradetur sine accusatione); c - todo o processo deve desenvolver-se em
contraditório pleno, perante o juiz natural.

Essas ideias, expostas e publicadas em diversas oportunidades no Brasil e


no exterior – incluindo diversas jornadas do Instituto Ibero-americano de Direito
Processual – jamais mereceram qualquer contestação. Vê-se, daí, que o conceito
de processo acusatório e de processo de partes (no sentido de a acusação e a
defesa serem sujeitos da relação jurídica processual, juntamente com o juiz) nada
tem a ver com a iniciativa instrutória do juiz no processo penal.

3 Sistema acusatório e “adversarial system”


[...]

4 A concepção publicista do processo e sua função social: o papel do juiz

Mas a escolha entre o “adversarial system” e o do desenvolvimento oficial


não deve ser determinada apenas pela maior ou menor eficiência de um em relação
ao outro. À raiz do modelo que confia ao juiz a condução do processo, inclusive no
que diz respeito à iniciativa instrutória, está uma escolha política que diz respeito à
concepção publicista do processo e à percepção de sua função social.

O direito processual é ramo autônomo do direito, regido por princípios


publicistas. Tem ele fins distintos de seu conteúdo e esses fins se confundem
com os objetivos do próprio Estado, na medida em que a jurisdição é uma de
suas funções. Os objetivos da jurisdição e do seu instrumento, o processo, não se
colocam com vistas à parte, a seus interesses e a seus direitos subjetivos, mas em
função do Estado e dos objetivos deste.

A observância das normas jurídicas postas pelo direito material


interessa à sociedade. Por via de consequência, o Estado tem que zelar por seu
cumprimento, uma vez que a paz social somente se alcança pela correta atuação
das regras imprescindíveis à convivência das pessoas. Quanto mais o provimento
jurisdicional se aproximar da vontade do direito substancial, mais perto se estará
da verdadeira paz social.

Trata-se da função social do processo, que depende de sua efetividade.


Nesse quadro, não é possível imaginar um juiz inerte, passivo, refém das partes.
Não pode ele ser visto como mero espectador de um duelo judicial de interesse

130
TÓPICO 3 | LIBERDADE PROVISÓRIA

exclusivo dos contendores. Se o objetivo da atividade jurisdicional é a manutenção


da integridade do ordenamento jurídico, para o atingimento da paz social, o juiz
deve desenvolver todos os esforços para alcançá-lo. Somente assim a jurisdição
atingirá seu escopo social.

O papel do juiz, num processo publicista, coerente com sua função social,
é necessariamente ativo. Deve ele estimular o contraditório, para que se torne
efetivo e concreto. Deve suprir as deficiências dos litigantes, para superar as
desigualdades e favorecer a par condicio. E não pode satisfazer-se com a plena
disponibilidade das partes em matéria de prova.

5 A iniciativa instrutória do juiz no processo moderno

Nessa visão, que é eminentemente política, é inaceitável que o juiz aplique


normas de direito substancial sobre fatos não suficientemente demonstrados.
O resultado da prova é, na grande maioria dos casos, fator decisivo para a
conclusão última do processo. Por isso, deve o juiz assumir posição ativa na fase
instrutória, não se limitando a analisar os elementos fornecidos pelas partes, mas
determinando sua produção, sempre que necessário.

Ninguém melhor do que o juiz, a quem o julgamento está afeto, para


decidir se as provas trazidas pelas partes são suficientes para a formação de
seu convencimento. Isto não significa que a busca da verdade seja o fim do
processo e que o juiz só deva decidir quando a tiver encontrado. Verdade e
certeza são conceitos absolutos, dificilmente atingíveis, no processo ou fora dele.
Mas é imprescindível que o juiz diligencie a fim de alcançar o maior grau de
probabilidade possível. Quanto maior sua iniciativa na atividade instrutória,
mais perto da certeza ele chegará.

O juiz deve tentar descobrir a verdade e, por isso, a atuação dos litigantes
não pode servir de empecilho à iniciativa instrutória oficial. Diante da omissão
da parte, o juiz em regra se vale dos demais elementos dos autos para formar seu
convencimento. Mas se os entender insuficientes, deverá determinar a produção
de outras provas, como, por exemplo, ouvindo testemunhas não arroladas no
momento adequado. Até as regras processuais sobre a preclusão, que se destinam
apenas ao regular desenvolvimento do processo, não podem obstar ao poder
dever do juiz de esclarecer os fatos, aproximando-se do maior grau possível de
certeza, pois sua missão é pacificar com justiça. E isso somente acontecerá se
o provimento jurisdicional for o resultado da incidência da norma sobre fatos
efetivamente ocorridos.

Nada disso é garantido pelo “adversarial system”, em que a plena


disponibilidade das provas pelas partes é reflexo de um superado liberal-
individualismo, que não mais satisfaz à sociedade. Além do mais, a omissão
da parte na instrução do feito é frequentemente devida a uma situação de

131
UNIDADE 2 | DOS SUJEITOS PROCESSUAIS E DAS MEDIDAS CAUTELARES

desequilíbrio material, em que preponderam fatores institucionais, econômicos


ou culturais. O reforço dos poderes instrutórios do juiz desponta, nesse panorama,
como instrumento para atingir a igualdade real entre as partes.

A visão do estado social não admite a posição passiva e conformista do


juiz, pautada por princípios essencialmente individualistas. O processo não é
um jogo, em que pode vencer o mais poderoso ou o mais astucioso, mas um
instrumento de justiça, pelo qual se pretende encontrar o verdadeiro titular do
direito. A pacificação social almejada pela jurisdição sofre sério risco quando o
juiz permanece inerte, aguardando passivamente a iniciativa instrutória da parte.

A iniciativa oficial no campo da prova, por outro lado, não embaça a


imparcialidade do juiz. Quando este determina que se produza uma prova
não requerida pelas partes, ou quando entende oportuno voltar a inquirir uma
testemunha ou solicitar esclarecimentos do perito, ainda não conhece o resultado
que essa prova trará ao processo, nem sabe qual a parte que será favorecida por
sua produção. Longe de afetar sua imparcialidade, a iniciativa oficial assegura
o verdadeiro equilíbrio e proporciona uma apuração mais completa dos fatos.
Ao juiz não importa que vença o autor ou o réu, mas interessa que saia vencedor
aquele que tem razão. Ainda que não atinja a verdade completa, a atuação ativa
do juiz lhe facilitará inegavelmente o encontro de uma parcela desta.

6 Os limites da atividade instrutória oficial: contraditório, motivação das


decisões judiciárias, licitude (material) e legitimidade (processual) das
provas

Mas a atuação do juiz na atividade instrutória não é ilimitada. Existem


balizas intransponíveis à iniciativa oficial, que se desdobram em três parâmetros:
a rigorosa observância do contraditório, a obrigatoriedade de motivação, os
limites impostos pela licitude (material) e legitimidade (processual) das provas.

O contraditório, entendido como participação das partes e do juiz na


colheita da prova, constitui o primeiro parâmetro para a atividade instrutória
oficial. Por isso mesmo prefere-se o termo “iniciativa do juiz” ao de “atividade
do juiz”, porquanto o primeiro melhor representa a necessidade de as partes
participarem, com o magistrado, da colheita da prova. A participação das partes
e do juiz na atividade instrutória é condição de validade das provas e não podem
ser consideradas provas aquelas que não forem produzidas com a concomitante
presença do juiz e das partes. A melhor maneira de preservar a imparcialidade do
juiz não é alijá-lo da iniciativa instrutória, mas sim submeter todas as provas - as
produzidas pelas partes e as determinadas ex officio pelo juiz – ao contraditório.

132
TÓPICO 3 | LIBERDADE PROVISÓRIA

A segunda baliza em que deve conter-se a iniciativa instrutória oficial


é a obrigação de motivação das decisões judiciárias. Seja no momento de
determinar a produção de uma prova, seja no momento de valorá-la, a decisão
do juiz há de ser fundamentada. A ausência ou carência de motivação acarreta
a invalidade da prova.

Por último, o juiz, tanto quanto as partes, encontra outro limite à


atividade instrutória na licitude e legitimidade das provas. Há uma regra moral
intransponível que rege toda a atividade processual, recepcionada de forma
explícita pelas constituições de diversos países. Não são provas as colhidas com
infringência a normas ou valores constitucionais, nem pode o juiz determinar a
produção de provas que vulnerem regras processuais. Trata-se do tema das provas
ilícitas e ilegítimas, que não podem ingressar no processo nem, evidentemente,
ser determinadas de ofício pelo juiz.

Assim, a utilização de poderes instrutórios pelo juiz encontra seus limites


na observância do contraditório, na obrigação de motivação das decisões e na
exclusão das provas ilícitas e ilegítimas.

FONTE: <http://depen.gov.br/DEPEN/depen/espen/RevistadoConselhoNacionaldePoltica
CriminalePenitenciria2005.pdf#page=15>. Acesso em: 27 maio 2019.

133
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• O relaxamento da prisão se dará sempre que a prisão for ilegal.

• A revogação da prisão se dará sempre que a prisão legal perder seu objeto.

• A liberdade provisória poderá ser concedida àquele que preso em flagrante


preencher determinados requisitos legais, podendo ser concedida com fiança
ou sem fiança.

• Liberdade provisória sem fiança pode ser concedida quando o indiciado tiver
praticado o delito sob alguma excludente de ilicitude prevista no artigo 23, do
Código Penal, ou quando demonstrar a falta de possibilidade econômica de
arcar com os custos da fiança.

• Liberdade provisória com fiança assegurará a liberdade do réu, desde que


mesmo arque com o custo do pagamento de um valor determinado.

• Para os delitos mais leves a própria autoridade policial poderá fixar a fiança, e
para os mais graves, apenas a autoridade judiciária (juiz).

• São vedadas a concessão da fiança: para os crimes de racismo, de tortura,


tráfico ilícito de drogas, terrorismo, crimes hediondos, aqueles cometidos por
grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado
Democrático. Para o acusado que já quebrou a fiança no mesmo processo ou
deixado de cumprir qualquer das obrigações impostas a ele, no caso de prisão
civil, prisão militar, e nos casos que são autorizados a decretação da prisão
preventiva.

134
AUTOATIVIDADE

Caro acadêmicos! Com base no estudado neste tópico, responda:

1 É vedada a concessão de fiança para os crimes:

a) Para os crimes de racismo, de tortura, corrupção passiva, terrorismo, crimes


hediondos, aqueles cometidos por grupos armados, civis ou militares,
contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.
b) Para os crimes de racismo, de tortura, tráfico ilícito de drogas, terrorismo,
crimes hediondos, aqueles cometidos por grupos políticos civis ou militares,
contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.
c) Para os crimes de racismo, de tortura, tráfico ilícito de drogas, terrorismo,
crimes hediondos, aqueles cometidos por grupos armados, civis ou
militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.
d) Para os crimes de racismo, de tortura, tráfico ilícito de drogas, terrorismo,
crimes contra a dignidade sexual, aqueles cometidos por grupos armados,
civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.
e) Para os crimes de racismo, de tortura, tráfico ilícito de drogas, terrorismo,
crimes contra a incolumidade pública, aqueles cometidos por grupos
armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado
Democrático.

2 A liberdade provisória nunca pode ser revogada.

a) Certo.
b) Errado.

3 A liberdade provisória com fiança é a regra para todos os delitos, sendo um


direito subjetivo do réu.

a) Certo.
b) Errado.

4 A liberdade provisória poderá ser concedida àquele que preso em flagrante


preencher determinados requisitos legais, podendo ser concedida com
fiança ou sem fiança.

a) Certo.
b) Errado.

5 Quem pode fixar o valor da fiança na liberdade provisória.

a) O juiz e o delegado em todos os casos.


b) Apenas o juiz.
c) Apenas o delegado.
d) O juiz em todos os casos, e o delegado apenas nos delitos mais leves.
135
136
UNIDADE 3

DA COMPETÊNCIA E DOS RECURSOS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• introduzir o aluno às noções da competência processual penal;

• adentrar o estudante no mundo das diversas competências;

• identificar as diferenciações sobre os recursos previstos no Código de


Processo Penal;

• constatar as ideias principais da teoria dos recursos.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – COMPETÊNCIAS

TÓPICO 2 – DOS RECURSOS I

TÓPICO 3 – DOS RECURSOS II

137
138
UNIDADE 3
TÓPICO 1

COMPETÊNCIA

1 INTRODUÇÃO
Em respeito aos princípios constitucionais estudados no Tópico 1,
da Unidade 1, deste livro didático, os casos processuais penais não podem
ser julgados em qualquer lugar e por qualquer juiz. Para garantir a lisura do
procedimento, é necessário que se sigam as regras constitucionais e processuais
de fixação da competência.

A competência é a delimitação do poder do juiz de aplicar o direito, sendo


que esta delimitação legal deve ser sempre observada e respeitada. Neste tópico,
iremos estudar as regras de fixação da competência.

2 COMPETÊNCIA
Competência é o poder que os juízes têm de exercer a jurisdição ao
caso concreto. Contudo, a competência jurisdicional dos juízes não é integral,
encontrando alguns limites legais que devem ser respeitados.

Bonfim (2017, p. 246) define competência como a “medida ou limite em


que poderá o julgador exercer o poder de jurisdição. Representa a porção do
poder jurisdicional que é conferido a cada órgão investido de jurisdição”.

Uma divisão de competência é entre a absoluta ou a relativa, sendo que:

• competência absoluta – é aquela que não pode ser prorrogada, sendo que se o
processo for interposto no juízo incompetente deve ser remetido para o juízo
correto sob pena de nulidade, é o caso da competência por matéria e do foro
por prerrogativa de função;

• competência relativa – é aquela que admite prorrogação, sendo que se o


processo for interposto perante juízo que não seja competente, pode haver a
prorrogação da competência, tornando-se aquele juiz competente, é o caso da
competência por causa do local da infração.

139
UNIDADE 3 | DA COMPETÊNCIA E DOS RECURSOS

Para que se encontre a competência correta, o operador do direito deve


percorrer um caminho, visualizando se sua causa se encaixa em algumas dessas
hipóteses, passando pela matéria a ser discutida, pelo foro competente etc. Assim,
começaremos nosso estudo vendo as justiças especializadas em razão da matéria
para cada caso.

2.1 COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA


No Brasil existem justiças especializadas para o julgamento de
determinadas matérias, como é o caso da Justiça Federal, do Trabalho, Eleitoral
etc. Em havendo uma justiça especializada, é ela a competente para o julgamento
de todos os feitos relacionados com sua competência fixada pela Constituição.

2.1.1 Justiça Militar


Assim, cometido algum delito militar, em regra, cabe à justiça militar o
julgamento daqueles delitos.

E
IMPORTANT

A justiça militar tem um código penal e um código de processo penal próprios,


que somente são aplicados aos casos competentes daquela justiça.

Nós destacamos que a regra geral é que os crimes militares sejam julgados
pela justiça militar, contudo nem todos os crimes praticados por militares serão
julgados pela justiça militar.

DICAS

Em 13 de outubro de 2017, a Lei nº 13.491/2017 alterou a competência da


justiça militar.

Vejamos:
1) A justiça militar estadual jamais julga civis. Mesmo que o civil pratique um
ato contra um militar ou contra uma instituição militar, este será julgado pela
justiça comum.

140
TÓPICO 1 | COMPETÊNCIA

DICAS

Súmula 53, STJ – Compete à justiça comum estadual processar e julgar civil
acusado de prática de crime contra instituições militares estaduais.
FONTE: STJ. Súmula 53. Disponível em: http://www.stj.jus.br/SCON/sumulas/enunciados.
jsp?&b=SUMU&p=true&l=10&i=51. Acesso em: 10 maio 2019.

Contudo, se o crime for praticado por um civil contra um militar federal


ou contra uma instituição militar federal, neste caso poderá ser julgado pela
justiça militar federal.

2) Os crimes de homicídio praticados por militares serão julgados pelo Tribunal


do Júri. Se o militar for federal, este será julgado pelo Tribunal do Júri Federal.

3) Compete à Justiça comum estadual o julgamento de acidente de trânsito que


envolva viatura de polícia militar. A exceção se trata de quando no acidente
estiverem envolvidos apenas militares em serviço, caso que será julgado pela
Justiça Militar.

DICAS

Súmula 06, STJ – Compete à justiça comum estadual processar e julgar delito
decorrente de acidente de trânsito envolvendo viatura de polícia militar, salvo se autor e
vítima forem policiais militares em situação de atividade.
FONTE: STJ. Súmula 53. Disponível em: http://www.stj.jus.br/SCON/sumulas/enunciados.
jsp?&b=SUMU&p=true&l=10&i=1. Acesso em: 10 maio 2019.

2.1.2 Justiça do trabalho


A Justiça do Trabalho não possui competência para o julgamento de crimes,
por isso, todo crime praticado perante a Justiça do Trabalho é remetido à Justiça
Federal para lá ser processado e julgado. Inclusive este assunto já foi objeto de
questionamento perante o Supremo Tribunal Federal que no julgamento da ADI
3.684 consignou que “a Justiça do Trabalho não tem competência para julgar
ações criminais, ainda que sejam decorrentes de relações de trabalho” (CONJUR,
2007, s.p.).

141
UNIDADE 3 | DA COMPETÊNCIA E DOS RECURSOS

2.1.3 Justiça eleitoral


A Justiça Eleitoral é competente para julgar todos os crimes eleitorais e os
conexos àqueles. Em 14 de março de 2019, o STF decidiu que a competência para
o julgamentos dos crimes conexos aos eleitorais também é da justiça eleitoral, o
que causou grande repercussão na mídia e no meio jurídico, uma vez que essa
interpretação da competência da justiça eleitoral poderá esvaziar a conhecida
operação lava jato.

2.1.4 Justiça federal


A competência da Justiça Federal vem elencada no artigo 109 da CF.
Vejamos:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


I- as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal
forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes,
exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça
Eleitoral e à Justiça do Trabalho;
II- as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município
ou pessoa domiciliada ou residente no País;
III- as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado
estrangeiro ou organismo internacional;
IV- os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de
bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou
empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência
da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;
V- os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando,
iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no
estrangeiro, ou reciprocamente;
V- A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste
artigo; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
VI- os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por
lei, contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;
VII- os habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o
constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente
sujeitos a outra jurisdição;
VIII- os mandados de segurança e os  habeas data  contra ato de autoridade
federal, excetuados os casos de competência dos tribunais federais;
IX- os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a
competência da Justiça Militar;
X- os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução
de carta rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira, após a
homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva
opção, e à naturalização;
XI- a disputa sobre direitos indígenas (BRASIL, 1988).

142
TÓPICO 1 | COMPETÊNCIA

O Supremo Tribunal Federal assim também vem decidindo:

SABER DO STF:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL


RECONHECIDA. CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL. CRIME
AMBIENTAL TRANSNACIONAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.
INTERESSE DA UNIÃO RECONHECIDO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO
A QUE SE DÁ PROVIMENTO. 1. As florestas, a fauna e a flora restam
protegidas, no ordenamento jurídico inaugurado pela Constituição de 1988,
como poder-dever comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios (art. 23, VII, da Constituição da República). (...) 4. A competência
da Justiça Federal aplica-se aos crimes ambientais que também se enquadrem
nas hipóteses previstas na Constituição, (...) 8. A ratio essendi das normas
consagradas no direito interno e no direito convencional conduz à conclusão
de que a transnacionalidade do crime ambiental, voltado à exportação de
animais silvestres, atinge interesse direto, específico e imediato da União,
voltado à garantia da segurança ambiental no plano internacional, (...) 9. (a)
Atrai a competência da Justiça Federal a natureza transnacional do delito
ambiental de exportação de animais silvestres, nos termos do art. 109, IV, da
CF/88; (...) 10. Recurso extraordinário a que se dá provimento, com a fixação da
seguinte tese: “Compete à Justiça Federal processar e julgar o crime ambiental
de caráter transnacional que envolva animais silvestres, ameaçados de extinção
e espécimes exóticas ou protegidas por Tratados e Convenções internacionais”.

FONTE: BRASIL, STJ, Tribunal Pleno, RE 835558 / SP - SÃO PAULO, Relator Min. LUIZ
FUX, Julgamento:  09/02/2017 (grifo nosso). Disponível em: http://redir.stf.jus.br/
paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=13307968. Acesso em: 18 maio 2019.

Neste caso, o STF reconheceu a competência da Justiça Federal para os


crimes de tráfico internacional de animais silvestres porque afetam a fauna da
qual o poder público da União tem interesse e obrigação de preservação.

2.1.5 Justiça estadual


É comum a afirmação que a justiça estadual é uma justiça residual, ou
seja, quando não houver uma justiça especializada, neste caso, a competente é
a justiça estadual. Sendo certo que toda a competência que sobrar das justiças
especializadas deverá ser processada e julgada pela justiça estadual.

143
UNIDADE 3 | DA COMPETÊNCIA E DOS RECURSOS

SABER DO STF

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL


RECONHECIDA. CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL. CRIME
AMBIENTAL TRANSNACIONAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.
INTERESSE DA UNIÃO RECONHECIDO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO
A QUE SE DÁ PROVIMENTO. (...) 3. A competência de Justiça Estadual é
residual, em confronto com a Justiça Federal, à luz da Constituição Federal e
da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. (...)

FONTE: BRASIL, STJ, Tribunal Pleno, RE 835558 / SP - SÃO PAULO, Relator Min. LUIZ
FUX, Julgamento:  09/02/2017 (grifo nosso). Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/
paginador.jsp?docTP=TP&docID=13307968. Acesso em: 18 maio 2019.

2.2 FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO


Superada a fase da verificação da justiça competente para o processamento
do feito, deve-se perquirir se o investigado/acusado faz jus ao foro por
prerrogativa de função. Este foro por prerrogativa de função é uma disposição
constitucional que visa assegurar a determinadas funções (preste atenção que não
é a determinadas pessoas, e sim as funções por elas ocupadas) o direito de serem
processadas perante algum tribunal. Esta prerrogativa visa garantir que a ação
será processada e julgada por um Tribunal Colegiado que, em tese, ficará menos
suscetível a pressões externas para o julgamento. Esta prerrogativa é bastante
condenada pelos doutrinadores que vislumbram uma forma de tratamento
especial a determinados ocupantes de cargos públicos.

Os foros especiais por prerrogativa de função vêm estabelecidos na


Constituição Federal.

O artigo 102 prevê a competência do STF:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a


guarda da Constituição, cabendo-lhe:

I - processar e julgar, originariamente:


b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente,
os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-
Geral da República;
c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros
de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica,
ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os
do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter
permanente; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999).

144
TÓPICO 1 | COMPETÊNCIA

d) o habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas
anteriores; o mandado de segurança e o habeas data contra atos do Presidente
da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal,
do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do
próprio Supremo Tribunal Federal (BRASIL, 1988).

Para facilitar o entendimento, veja:

FIGURA 1 – FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO

FONTE: http://www.bastidoresdopoder.com.br/juridico/relator-remete-ao-plenario-discussao-
sobre-alcance-do-foro-por-prerrogativa-de-funcao/. Acesso em: 14 maio 2019.

O artigo 105 da CF prescreve o foro por prerrogativa de função do Superior


Tribunal de Justiça:

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:


I - processar e julgar, originariamente:
nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e,
nestes e nos de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de
Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas
dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos
Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou
Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que
oficiem perante tribunais (BRASIL, 1988).

145
UNIDADE 3 | DA COMPETÊNCIA E DOS RECURSOS

O artigo 108 elenca o foro por prerrogativa de função daqueles que serão
julgados perante o Tribunal Regional Federal:

Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais:


I - processar e julgar, originariamente:
a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar
e da Justiça do Trabalho, nos crimes comuns e de responsabilidade, e os
membros do Ministério Público da União, ressalvada a competência da
Justiça Eleitoral (BRASIL, 1988).

Ou seja, serão processados perante o TRF apenas os juízes federais, da


Justiça Militar e do Trabalho e os Membros do Ministério Público da União. E, no
Tribunal de Justiça dos Estados, serão processados o Prefeito Municipal (artigo
29, X, CF), Juízes Estaduais e membros do MP estadual (artigo 96, III, CF).

2.3 REGRAS DE COMPETÊNCIA INFRACONSTITUCIONAL


Agora que já chegamos a qual foro e a qual justiça que devemos
trabalhar, podemos continuar nosso estudo de competência analisando as
regras infraconstitucionais aplicáveis, aqui, ou seja, aquelas que estão fora da
Constituição.

O artigo 69 do Código de Processo Penal (BRASIL, 1941) disciplina que a


competência deverá ser fixada em razão do território com base:

I- no lugar da infração:


II- no domicílio ou residência do réu;
III- na natureza da infração;
IV- na distribuição;
V- na conexão ou continência;
VI- na prevenção;
VII- na prerrogativa de função.

2.3.1 Do lugar da infração


O lugar da infração é a comarca competente para o processamento do
feito sempre que for possível a sua determinação. Isso porque a justiça deve ser
aplicada no mesmo local do cometimento do crime até mesmo para poder se dar
à população uma resposta jurisdicional adequada.

146
TÓPICO 1 | COMPETÊNCIA

Quando se tratar de crime tentado, a competência se fixará no lugar em que


for praticado o último ato executório. Quando o último ato da execução do crime
for praticado fora do território nacional, será o local interno que foi praticado o
último ato de execução dentro do território nacional. Contudo, quando o crime
se iniciar no exterior, mas se consumar no Brasil, será competente o lugar em que
se produziu o resultado delitivo.

Note que o Brasil, para o direito processual penal adotou a teoria do


resultado.

ATENCAO

O Brasil adotou para o processo penal a teoria do resultado. Desta forma, é


competente o local em que o crime se consumou.

Nucci, em seu Manual de Processo Penal, faz a ressalva importantíssima


do crime de homicídio:

Deve-se respeitar uma ressalva corretamente feita pela jurisprudência.


O homicídio, embora seja crime material, cuja conduta de lesionar a
integridade física pode ocorrer em determinada cidade e o resultado
morte, em outra, deve ser apurado e o agente processado no lugar da
ação ou omissão. Se a regra do art. 70 do CPP fosse fielmente seguida,
o correto seria a ocorrência do trâmite processual no local onde se deu
a morte da vítima; entretanto, seguindo-se o princípio da busca da
verdade real, torna-se mais segura a colheita da prova no lugar da
conduta (NUCCI, 2017, s.p.).

Em relação à competência territorial, a discussão jurisprudencial deu


origem a algumas súmulas:

SABER DO STF e STJ

Súmula 521, Supremo Tribunal Federal: “O foro competente para


o processo e julgamento dos crimes de estelionato, sob a modalidade da
emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos, é o do local onde se deu a
recusa do pagamento pelo sacado”. (STF, disponível em: http://www.stf.jus.
br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=2725. Acesso
em: 14 maio 2019).

Súmula 48, Superior Tribunal de Justiça: “Compete ao juízo do local da


obtenção da vantagem ilícita processar e julgar crime de estelionato cometido

147
UNIDADE 3 | DA COMPETÊNCIA E DOS RECURSOS

mediante falsificação de cheque” (STJ, disponível em: http://www.stj.jus.br/


SCON/sumulas/enunciados.jsp?&b=SUMU&p=true&l=10&i=41. Acesso em: 14
maio 2019).

Súmula 244, Superior Tribunal de Justiça: “Compete ao foro do local


da recusa processar e julgar o crime de estelionato mediante cheque sem
provisão de fundos”.

FONTE: STJ. Jurisprudência do STJ. Disponível em: http://www.stj.jus.br/SCON/sumulas/


enunciados.jsp?&b=SUMU&p=true&l=10&i=241. Acesso em: 14 maio 2019.

2.3.2 Do domicílio ou residência do réu


O artigo 72 do Código de Processo Penal prevê a hipótese de um foro
supletivo para o caso de não ser conhecido o local da infração. Neste caso, a
competência territorial será fixada no local do domicílio ou residência do réu.
Sendo que, se a ação for de ação penal privada, o querelante poderá optar por este
foro, mesmo que conhecido o local da infração.

Contudo, se o réu tiver mais de um domicílio ou residência, a competência


será fixada pela prevenção. E se não tiver residência ou domicílio fixo, a
competência será do primeiro juiz a tomar conhecimento do fato.

2.3.3 Da natureza da infração e da distribuição


Após a determinação do foro competente para o julgamento, deverá ser
fixado qual o juízo competente para o julgamento. A depender da natureza da
infração penal poderá haver alguma vara privativa que trate daqueles crimes.
É o caso do Tribunal do Júri que é competente para o julgamento dos crimes
previstos nos artigos 121, §§ 1º e 2º, 122, parágrafo único, 123, 124, 125, 126 e
127 todos do Código Penal, em suas formas consumadas ou tentadas, bem como
todos os crimes conexos a eles. Também é assim com as varas do Juizado Especial,
que possui competência para o julgamento de todos os crimes de menor potencial
ofensivo previstos na Lei nº 9.099.

Além destes, outros casos poderão ser regulamentados pelas leis de


organização judiciária. Em não havendo vara especializada para o julgamento do
crime do caso concreto e havendo mais de um juiz com idêntica competência para
o julgamento, a fixação da competência será realizada através da distribuição dos
processos.

Bonfim (2017, p. 269) define a distribuição como “o ato de repartição dos


feitos entre os juízes que possuem idêntica competência. Sua existência tem por

148
TÓPICO 1 | COMPETÊNCIA

finalidade permitir o equilíbrio quantitativo entre os juízes das ações ajuizadas,


evitando, ainda, o direcionamento das causas conforme os posicionamentos
conhecidos de cada julgador acerca de uma ou outra tese jurídica”.

2.3.4 Da conexão ou continência e da prevenção


A prevenção vem prevista no artigo 83 do CPP e trata de uma forma
de fixação de competência para os casos em que havendo dois ou mais juízes
igualmente competentes, determinando que aquele que tiver praticado qualquer
ato no processo ou relativo a ele, será o juízo prevento.

SABER DO STF

SÚMULA 706 – É relativa a nulidade decorrente da inobservância da


competência penal por prevenção. 
FONTE: STF. Súmula 706. Disponível em: http://portal.stf.jus.br/textos/
verTexto.asp?servico=jurisprudenciaSumula&pagina=sumula_701_800.
Acesso em: 18 maio 2019.

SABER DO STJ
Súmula 151 – A competência para o processo e julgamento por crime
de contrabando ou descaminho define-se pela prevenção do juízo federal do
lugar da apreensão dos bens.
FONTE: STJ. Súmula 151. Disponível em: http://www.stj.jus.br/SCON/sumulas/
enunciados.jsp?&b=SUMU&p=true&l=10&i=151. Acesso em: 18 maio 2019.

Contudo, existem situações em que as regras de fixação de competência


devem ser elastecidas para possibilitar a facilitação do deslinde do feito,
objetivando a facilidade da confecção de provas e a apuração da responsabilidade
delitiva. Nestes casos, ocorre o que o CPP denomina de conexão ou continência.

Haverá a conexão nos casos elencados no artigo 76 do CPP, que traz casos
em que haja identidade de pessoas (I), de objetivo delitivo (II) ou de provas (III).
Vejamos:

Art. 76.  A competência será determinada pela conexão:


I - se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas,
ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas, ou por várias pessoas
em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por várias
pessoas, umas contra as outras;
II - se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar
ou ocultar as outras, ou para conseguir impunidade ou vantagem em
relação a qualquer delas;
III  -  quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas
circunstâncias elementares influir na prova de outra infração
(BRASIL, 1941).

149
UNIDADE 3 | DA COMPETÊNCIA E DOS RECURSOS

Assim, por exemplo, no caso da rixa, em que um determinado grupo de


pessoas agride outro determinado grupo de pessoas, haverá conexão entre os
processos com base no inciso III. Ou, por exemplo, se alguém esconde o cadáver
para se livrar solto de um caso de homicídio praticado por si, será o caso do
inciso II.

A continência, por sua vez, vem prevista no artigo 77 do CPP, e ocorre no


caso de haver a imputação de um crime a duas ou mais pessoas, e nos casos de
erro de execução, resultado diverso do pretendido, e concurso formal de crimes.

Art. 77.  A competência será determinada pela continência quando:


I - duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração;
II - no caso de infração cometida nas condições previstas nos arts. 51,
§ 1o, 53, segunda parte, e 54 do Código Penal (BRASIL, 1941).

Para tentar clarear e fixar, vejamos o esquema a seguir:

FIGURA 2 – FIXAÇÃO DE COMPETÊNCIA POR CONEXÃO OU CONTINÊNCIA

FIXAÇÃO DE COMPETÊNCIA POR


CONEXÃO OU CONTINÊNCIA

CONTINÊNCIA CONEXÃO

Fundamental para
a avaliação unificada Material ou Processual ou
dos fatos criminosos Substância Instrumental
gerados por um
ou mais autores
(ART. 76, CPP) Várias infrações Não há nexo entre as
ligadas por laços infrações, mas a prova
circunstancias, de uma infração ou de
havendo conexão qualquer circunstância
entre os próprios elementar influi
delitos na outra

Subjetiva Objetiva Mista

Infrações Uma infração


Praticadas por Uma infração praticada para
várias pessoas praticada para ocultar outra
em concurso ocultar outra realizada por
várias pessoas
em concurso

FONTE: <https://www.passeidireto.com/arquivo/56322846/processo-penal---fixacao-de-
competencia-por-conexao-ou-continencia>. Acesso em: 18 maio 2019.

No entanto, ainda que haja conexão ou continência, existem algumas


regras que deverão ser respeitadas para determinar qual é a comarca ou juízo
competente para a apreciação da causa. Assim, nos casos em que houver concurso
entre o Júri e outro órgão da justiça, prevalecerá o júri.

150
TÓPICO 1 | COMPETÊNCIA

Nos casos que estiverem concorrendo crimes sem vara especializada,


deverá ser seguido o critério previsto no artigo 78, II, CPP, que determina que
deve ser fixada a competência no lugar da infração que tiver pena mais grave; se
forem de igual gravidade, o lugar que tiver ocorrido o maior número de infrações;
por fim, deve ser fixado pela prevenção.

Lembrando que sempre que houver jurisdição especial, esta deverá ser
respeitada, bem como se houver, por qualquer motivo, a competência de qualquer
dos tribunais. Além disto, em caso entre concurso entre jurisdição comum e militar,
ou comum e da vara da infância e juventude, os processos devem ser cindidos,
isto é, divididos, não sendo julgados em conjunto, e sim, separadamente. Também
haverá a cisão dos processos no caso de sobrevier doença mental a algum dos
corréus ou se o corréu que estiver foragido não puder ser julgado à revelia.

Ademais, também poderá ser cindido o processo quando “as infrações


tiverem sido praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou,
quando pelo excessivo número de acusados e para não Ihes prolongar a prisão
provisória, ou por outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente a separação”
(BRASIL, 1941, s.p.). Agora apenas para relembrar o estudado até aqui veja o
esquema apresentado na figura a seguir.

FIGURA 3 – PROCESSO PENAL: PRERROGATIVA DA FUNÇÃO, CONEXÃO OU CONTINÊNCIA,


DISTRIBUIÇÃO E NATUREZA DA INFRAÇÃO

FONTE: <https://i.pinimg.com/originals/44/a5/2b/44a52b96a396558bf04aa63864ca06e9.jpg>.
Acesso em: 13 jun. 2019.
151
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• Competência é a “medida ou limite em que poderá o julgador exercer o poder


de jurisdição. Representa a porção do poder jurisdicional que é conferido a
cada órgão investido de jurisdição”.

• A competência pode ser absoluta ou relativa. A absoluta é improrrogável e seu


desrespeito gera nulidade e a relativa pode ser prorrogada sem prejudicar o
processo.

• A competência pode ser fixada em razão da matéria nas justiças: Militar,


Trabalho, Eleitoral, Federal, Estadual.

• O Foro por prerrogativa de função é estabelecido na Constituição Federal e


resguarda a função ocupada e não a pessoa.

• A competência do foro por prerrogativa da função do STF está previsto no


artigo 102, CF.

• A competência do foro por prerrogativa da função do STJ está previsto no


artigo 105, CF.

• A competência do foro por prerrogativa da função do TRF está previsto no


artigo 108, CF.

• A competência em razão do território deve ser fixada no lugar da infração, ou,


não sendo possível no domicílio ou residência do réu.

• A depender da natureza da infração penal poderá haver alguma vara privativa


que trate daqueles crimes.

• A competência será determinada pela conexão: se, ocorrendo duas ou mais


infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas
reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar,
ou por várias pessoas, umas contra as outras; se, no mesmo caso, houverem
sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou para conseguir
impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas; quando a prova de
uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na
prova de outra infração (BRASIL, 1941).

152
• A competência será determinada pela continência quando: duas ou mais
pessoas forem acusadas pela mesma infração; no caso de infração cometida nas
condições previstas nos arts. 51, § 1o, 53, segunda parte, e 54 do Código Penal
(BRASIL, 1941).

• Nos casos em que houver concurso entre o júri e outro órgão da justiça,
prevalecerá o júri.

• A competência ser fixada no lugar da infração que tiver pena mais grave;
se forem de igual gravidade, o lugar que tiver ocorrido o maior número de
infrações; por fim, deve ser fixado pela prevenção.

153
AUTOATIVIDADE

Caro acadêmicos! Com base no estudado neste tópico, responda:

1 Observando-se as regras do Código de Processo Penal, responda sobre a


competência:

a) ( ) Será determinada pelo lugar que deu início ao crime.


b) ( ) Será sempre do domicílio da vítima para dar uma resposta à população.
c) ( ) Será sempre no domicílio do réu para facilitar a sua defesa.
d) ( ) Será determinada pela continência quando duas ou mais pessoas forem
acusadas pela mesma infração.
e) ( ) Será determinada pela conexão quando duas ou mais pessoas forem
acusadas pela mesma infração.

2 Competência é sinônimo de jurisdição.

a) ( ) Certo.
b) ( ) Errado.

3 Sobre competência assinale a alternativa errada:

a) ( ) Compete ao STF o julgamento das infrações penais comuns, o Presidente


da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional,
seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República.
b) ( ) Compete ao STJ o julgamento dos crimes nos crimes comuns, os
Governadores dos Estados e do Distrito Federal.
c) ( ) Compete à justiça federal o julgamento dos crimes, os desembargadores
dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros
dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos
Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e
do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos
Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante
tribunais.
d) ( ) Compete à justiça estadual o julgamento dos crimes residuais.

4 A justiça militar não é competente para julgar civis em nenhuma hipótese,


sendo responsável apenas pelo julgamento dos militares. Contudo, em
relação aos militares, ela tem competência absoluta, devendo julgá-los em
qualquer delito cometido por eles.

a) ( ) Certo.
b) ( ) Errado.

154
5 Existem circunstâncias que permitem a cisão dos processos. É o caso, por
exemplo, do concurso entre jurisdição comum e militar, ou comum e da
vara da infância e juventude, quando os processos devem ser julgados
separadamente.

a) ( ) Certo.
b) ( ) Errado.

155
156
UNIDADE 3
TÓPICO 2

DOS RECURSOS I

1 INTRODUÇÃO
O processo de conhecimento penal é composto também da parte
dos recursos. Já estudamos que o duplo grau de jurisdição é uma garantia
reconhecida pela Constituição e também pelos tratados internacionais dos
quais o Brasil faz parte.

Contudo, por haver várias espécies de recursos, iremos dividir nosso


estudo em dois tópicos. Assim, neste tópico, iremos abordar os recursos do
processo penal, iniciando pela sua teoria geral, e depois analisando o recurso em
sentido estrito e a apelação.

Bons estudos!

2 TEORIA GERAL DOS RECURSOS


Em todas as ações judiciais, ao final, chega-se a uma sentença. Esta, por
sua vez, sempre contemplará uma das partes com sua vitória (condenação,
absolvição, ...) e a outra com a perda. Para a parte que perder, surge o direito
de recorrer. Assim, recurso, segundo Nucci, “É o direito que possui a parte, na
relação processual, de se insurgir contra as decisões judiciais, requerendo a sua
revisão, total ou parcial, em instância superior” (NUCCI, 2017, s.p.).

Estes recursos, que podem ser interpostos contra sentença, ou contra


outras decisões – chamadas de interlocutórias –, possuem algumas características
em comum, são elas:

• Voluntariedade – o recurso é um ato voluntário da parte, sendo que ela


somente irá recorrer se assim o desejar.

Contudo, você, aluno, pode se perguntar sobre o recurso de ofício, que


é aquele caso previsto no artigo 574 do Código de Processo Penal. Ocorre que
nestes casos, na verdade, não se trata de recurso e sim de condição de eficácia da
sentença, exatamente porque não preenchem os requisitos legais para os recursos.

157
UNIDADE 3 | DA COMPETÊNCIA E DOS RECURSOS

• Tempestividade – tem que ser interposto dentro do prazo estabelecido em lei.


• Anteriores ao trânsito em julgado da decisão – todos os recursos possuem
prazo para sua interposição. Após o transcurso do prazo, ocorre a preclusão e
o trânsito em julgado da decisão, tornando-a, em regra, imutável.
• Não ser uma nova relação processual – o recurso serve para se impugnar algo
com o qual não se concorda na decisão atacada, não podendo configurar uma
nova relação processual diversa daquela que está sendo examinada nos autos.

Os recursos também são regidos por alguns princípios próprios e comuns


a todos:

• Taxatividade – todos os recursos são expressamente previstos na legislação.


• Fungibilidade – é a possibilidade de um recurso errôneo ser aceito como se
tivesse sido interposto o recurso correto. Porém, apenas nas hipóteses de haver
dúvida sobre o cabimento de qual recurso era cabível, e que não haja má-fé ou
erro grosseiro.

Um exemplo de má-fé é o caso da parte que perde o prazo para a


interposição do recurso correto e interpõe um recurso que possui um prazo
maior, porém, se ficar demonstrada a má-fé, o recurso não será aceito.

• Variabilidade – é a possibilidade da desistência do recurso interposto e a


interposição de outro no lugar. Existe grande discussão se é realmente possível
ou se ocorreria a consumação do ato e com isso a preclusão.
• Unirrecorribilidade – em regra, existe apenas um recurso cabível para cada
decisão, sendo obrigação da parte conhecê-lo, porém, existem algumas
hipóteses legais em que é possível a propositura de mais de um recurso ao
mesmo tempo, como por exemplo, no caso do Recurso Especial para o STJ e o
Recurso Extraordinário para o STF.

2.1 PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE


O órgão julgador, ao analisar o recurso, fará dois juízos de análise, sendo
que primeiro ele irá conferir o juízo de admissibilidade, para constatar se o recurso
interposto preenche os requisitos para ser admitido (a expressão usado nos
tribunais é o conhecimento do recurso), somente após o preenchimento é que será
realizado o segundo juízo de análise, quando se analisará o mérito (provimento).
Para que o recurso seja admitido, ele precisa preencher certos requisitos, que são:

• Sucumbência total ou parcial – a parte legitimada para recorrer é somente


aquela que obtém algum prejuízo com a decisão prolatada. Se a decisão lhe é
favorável, não ocorreu a sucumbência, não havendo direito de recorrer.
• Cabimento – o recurso escolhido pela parte deve ser o recurso previsto em lei
para aquela situação específica.

158
TÓPICO 2 | DOS RECURSOS I

• Tempestividade – o recurso tem que ter sido protocolado dentro do prazo


legal previsto. O tema da tempestividade é de tão grande importância que
os tribunais superiores já emitiram várias súmulas a respeito, como as
apresentadas a seguir.

SABER DO STF

Súmula 320 – A apelação despachada pelo juiz no prazo legal não fica
prejudicada pela demora da juntada, por culpa do cartório.

FONTE: STF. Aplicação das Súmulas do STF. Disponível em:http://www.stf.jus.br/portal/jurispru


dencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=2769. Acesso em: 18 maio 2019.

Súmula 428 – Não fica prejudicada a apelação entregue em cartório no


prazo legal, embora despachada tardiamente.

FONTE: STF. Aplicação das Súmulas do STF. Disponível em:http://www.stf.jus.br/portal/jurispru


dencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=2765. Acesso em: 18 maio 2019.

Súmula 448 – O prazo para o assistente recorrer, supletivamente, começa


a correr imediatamente após o transcurso do prazo do Ministério Público.

FONTE: STF. Súmula 448. Disponível em:http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSuma


rioSumulas.asp?sumula=1600. Acesso em: 18 maio 2019.

SABER DO STJ
Súmula 216 – A tempestividade de recurso interposto no Superior
Tribunal de Justiça é aferida pelo registro no protocolo da secretaria e não pela
data da entrega na agência do correio.

FONTE: STJ. Súmula 216. Disponível em:http://www.stj.jus.br/SCON/sumulas/enunciados.jsp?


&b=SUMU&p=true&l=10&i=211. Acesso em: 18 maio 2019.

• Regularidade formal – deve observar o disposto no artigo 578 do CPP que


dispõe que “O recurso será interposto por petição ou por termo nos autos,
assinado pelo recorrente ou por seu representante” (BRASIL, 1941, s.p.).

2.2 FATOS IMPEDITIVOS DO RECURSO


São fatos impeditivos dos recursos:

• A renúncia ao direito de recorrer – quando antes de recorrer a parte declara que


não tem interesse recursal.

159
UNIDADE 3 | DA COMPETÊNCIA E DOS RECURSOS

• A deserção – a deserção é caracterizada pela falta de preparo recursal, ou seja,


quando a parte não paga as custas do recurso.
• Desistência – quando a parte, no meio do recurso interposto, desiste de
prosseguir com ele.

2.3 EFEITOS DO RECURSO


Os recursos no processo penal podem possuir dois tipos de efeitos
principais, o devolutivo e o suspensivo. O devolutivo é encontrado em todos os
recursos, é por causa deste efeito que se devolve a matéria a nova apreciação pelo
órgão ad quem, ou seja, aquele a quem é endereçado seu recurso.

O efeito suspensivo, ao contrário, só se encontra presente naqueles


recursos que tem previsão expressa. Assim, não se encontra em todos os recursos.
Ele impede a produção de efeitos imediatos da decisão atacada. Além destes,
alguns recursos ainda possuem o efeito regressivo, pois eles devolvem ao órgão
prolator da decisão atacada a matéria para nova apreciação. Para fixar a matéria,
vejamos o quadro esquemático a seguir.

FIGURA 4 – RECURSOS NO PROCESSO PENAL

FONTE: Everson (2017, s.p.)

160
TÓPICO 2 | DOS RECURSOS I

3 RECURSO EM SENTIDO ESTRITO – RESE


O primeiro recurso que iremos estudar é o recurso em sentido estrito,
chamado pelos doutrinadores de RESE.

Este recurso cabe para desafiar as decisões interlocutórias proferidas nos


processos. As suas hipóteses de cabimento vêm previstas no artigo 581 do Código
de Processo Penal. Contudo, além destas, existem previsões em leis esparsas para
seu cabimento, como é o caso do Código de Trânsito Brasileiro. Vamos analisar
as hipóteses previstas no 581:

I- que não receber a denúncia ou a queixa;

Note que a lei determina o RESE apenas para aqueles casos em que NÃO
for recebida, ou seja, se for recebida, não cabe recurso em sentido estrido.

Se o RESE for provido, o acórdão valerá como instrumento de recebimento


da denúncia, salvo se a decisão de primeiro grau for declarada nula.

UNI

SABER DO STF
Súmula 709
Salvo quando nula a decisão de primeiro grau, o acórdão que provê o recurso contra a
rejeição da denúncia vale, desde logo, pelo recebimento dela.
FONTE: STF. Súmula 709. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/
menuSumarioSumulas.asp?sumula=2637. Acesso em: 18 maio 2019.

II- que concluir pela incompetência do juízo;

Da mesma forma que o inciso anterior, se concluir pela competência do


juízo, não cabe recurso.

III- que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição;

As exceções são matérias de defesa que podem extinguir o processo ou


apenas protelá-los. Se julgadas improcedentes, não cabe recurso.

IV- que pronunciar o réu (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008);

A pronúncia é a decisão do juiz de mandar o processo do acusado de


algum crime contra a vida para o julgamento no plenário do júri.

161
UNIDADE 3 | DA COMPETÊNCIA E DOS RECURSOS

Até 2008 era cabível o RESE da impronúncia também, hoje, por causa da
alteração legislativa, não é mais.

V- que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir


requerimento de prisão preventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisória
ou relaxar a prisão em flagrante;
VI- (Revogado pela Lei nº 11.689, de 2008).
VII- que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor.

O artigo 584, § 3º, do CPP, determina que “O recurso do despacho que


julgar quebrada a fiança suspenderá unicamente o efeito de perda da metade
do seu valor” (BRASIL, 1941, s.p.).

VIII- que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a punibilidade;

Se a decisão for no juízo de execução, o recurso cabível será o agravo em


execução e não mais o RESE.

IX- que indeferir o pedido de reconhecimento da prescrição ou de outra causa


extintiva da punibilidade;
X- que conceder ou negar a ordem de habeas corpus.

Em regra, quando conceder ou negar a ordem do HC será cabível o RESE, porém,


existem casos, como já vimos no tópico anterior, que possuem foro por prerrogativa de
função.

Assim, no caso de HC decidido em única ou última instância pelos


Tribunais Superiores, caberá recurso ordinário para o STF; e no caso de HC
decidido em única ou última instância pelos Tribunais Regionais Federais ou
pelos Tribunais dos Estados, caberá recurso ordinário para o STJ.

XI- que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena;


Dispositivo sem aplicação.
XII- que conceder, negar ou revogar livramento condicional;

Com a lei de execução penal, o recurso cabível é o agravo em execução.

XIII- que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte;


XIV- que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir;
XV- que denegar a apelação ou a julgar deserta;
XVI- que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial;
XVII- que decidir sobre a unificação de penas.

A doutrina majoritária entende que o recurso cabível é o agravo em


execução.

162
TÓPICO 2 | DOS RECURSOS I

XVIII- que decidir o incidente de falsidade;


XIX- que decretar medida de segurança, depois de transitar a sentença em julgado;
XX- que impuser medida de segurança por transgressão de outra;
XXI- que mantiver ou substituir a medida de segurança, nos casos do art. 774;
XXII- que revogar a medida de segurança;
XXIII-  que deixar de revogar a medida de segurança, nos casos em que a lei
admita a revogação.

As hipóteses que tratam da medida de segurança são todas cabíveis de


agravo em execução, e não são mais caso de RESE.

XXIV- que converter a multa em detenção ou em prisão simples.


Não existe mais esta hipótese na lei penal.

3.1 PROCESSAMENTO DO RESE


O RESE será interposto no juízo que proferiu a decisão atacada, sendo
instruído na primeira instância, possibilitando o juízo de retratação. Contudo,
mesmo assim, ele será endereçado ao Tribunal para o qual ele é dirigido, seja o
Tribunal de Justiça, ou o Tribunal Regional Federal.

A única exceção é o caso previsto no inciso XIV (que incluir jurado na


lista geral ou desta o excluir), neste caso, deverá ser endereçado diretamente ao
Presidente do Tribunal competente.

O prazo de interposição é de 5 dias, sendo que no caso do inciso XIV


(que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir), o prazo será de 20 dias da
publicação da lista definitiva. Sendo que o prazo para a apresentação das razões
será de dois dias “contados da interposição do recurso, ou do dia em que o
escrivão, extraído o traslado, o fizer com vista ao recorrente” (BRASIL, 1941, s.p.).

ATENCAO

No processo penal existem dois prazos para o recurso: um para a interposição e


outro para a apresentação das razões.

Após este prazo de dois dias, serão abertas vistas para o recorrido
apresentar suas contrarrazões em prazo igual de dois dias. Outra peculiaridade
é que o RESE poderá subir nos próprios autos, quando isto não for atrapalhar o
processamento do feito, ou em translado com cópia de todas as peças necessárias
para o exame da causa. É o próprio código que determina como se deve proceder
em cada um dos incisos estudados.

163
UNIDADE 3 | DA COMPETÊNCIA E DOS RECURSOS

Art. 583.  Subirão nos próprios autos os recursos:


I- quando interpostos de ofício;
II- nos casos do art. 581, I, III, IV, VI, VIII e X;
III-  quando o recurso não prejudicar o andamento do processo
(BRASIL, 1941).

Assim, subirão nos autos os casos de ofício que não receber a denúncia ou a
queixa; que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição; que pronunciar o
réu; que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor; que decretar a prescrição
ou julgar, por outro modo, extinta a punibilidade; que conceder ou negar a ordem
de habeas corpus. Nos demais casos, deverá ser feito o translado dos autos.

Embora a peça será feita pelo escrivão, caberá à parte recorrente indicar
quais as peças que deseja que sejam transladadas, contudo, no artigo 587, parágrafo
único, a lei determina que “constarão sempre a decisão recorrida, a certidão de
sua intimação, se por outra forma não for possível verificar-se a oportunidade do
recurso, e o termo de interposição” (BRASIL, 1941, s.p.).

Após todas estas formalidades, o recurso será concluso ao juiz para o que
ele, querendo, exercer seu juízo de retratação. Em o fazendo deverá proferir nova
decisão que poderá ser impugnada por RESE.

Em mantendo sua decisão, os autos serão remetidos para o Tribunal. Serão


imediatamente encaminhados para a Procuradoria de Justiça ou da República,
e deverá ser emitido parecer no prazo de cinco dias. Em seguida deverá ser
encaminhado para o relator, que no prazo de cinco dias deverá pedir dia para
julgamento.

No dia do Julgamento pela Câmara “apregoadas as partes, com a


presença destas ou a sua revelia, o relator fará a exposição do feito e, em seguida,
o presidente concederá, pelo prazo de 10 (dez) minutos, a palavra aos advogados
ou às partes que a solicitarem e ao procurador-geral, quando o requerer, por igual
prazo” (BRASIL, 1941, s.p.).

3.2 EFEITOS DO RESE


Como é regra de todos os recursos, em todas as hipóteses, o Recurso em
Sentido Estrito terá efeito devolutivo da matéria. Porém, apenas nas hipóteses
elencadas no artigo 584 do CPP, ele terá efeito suspensivo, ou seja, a decisão ficará
suspensa até o final do julgamento do recurso. São elas:

a) perda da fiança;
b) que denegar a apelação ou a julgar deserta.

Nos demais casos previstos no artigo, não tem mais aplicação, conforme
já mencionado nos comentários anteriores.

164
TÓPICO 2 | DOS RECURSOS I

4 APELAÇÃO
Segundo Nucci (2017, s.p.), apelação é “recurso contra decisões definitivas,
que julgam extinto o processo, apreciando ou não o mérito, devolvendo ao
tribunal amplo conhecimento da matéria”.

Já para Bonfim (2017, p. 712), trata-se do “pedido dirigida ao juízo ad


quem para que uma decisão emanada do juízo ad quo seja objeto do reexame pelo
respectivo órgão superior, devolvendo-lhe a apreciação da causa na medida da
matéria impugnada, com o objetivo da reforma total ou parcial da decisão, ou
ainda, a anulação desta”.

A apelação é um recurso residual, que deverá ser utilizado nas hipóteses


previstas em lei, desde que não caiba RESE. Suas hipóteses vêm elencadas no
artigo 593, do Código de Processo Penal.

Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias:


I-  das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas
por juiz singular;              
II- das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por
juiz singular nos casos não previstos no Capítulo anterior;
III- das decisões do Tribunal do Júri, quando:                
a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia;
b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão
dos jurados;        
c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da
medida de segurança;          
d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos
autos (BRASIL, 1941, s.p.).

Assim, a apelação tem fundamentação livre nos casos que for impugnada
decisão do juiz singular, contudo, nos casos que forem impugnadas as decisões
do júri, a fundamentação é vinculada a uma das quatro alíneas do inciso III, do
artigo 593, ou seja, só será cabível se ocorrer: nulidade posterior à pronúncia;
for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos
jurados; houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de
segurança; for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos.

Vamos analisar cada uma delas em suas especificidades:

I- Das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz


singular.

As decisões definitivas são aquelas que findam a causa, decidindo a sorte


do acusado, seja absolvendo-o ou condenando-o. Assim, a parte sucumbente, ou
seja, aquele que viu seu direito não ser aceito, mesmo que em parte, poderá apelar
ao Tribunal competente, devolvendo-lhe a matéria para novo exame.

165
UNIDADE 3 | DA COMPETÊNCIA E DOS RECURSOS

Note que apenas a parte sucumbente poderá fazer uso do recurso,


contudo, mesmo que o acusado tenha sido absolvido, ele poderá recorrer para
alterar a fundamentação de sua absolvição. Vejamos o ensinamento de Nucci
sobre este assunto:

Nesse contexto, é válido salientar que o réu pode apresentar apelação


contra decisão absolutória, desde que busque a alteração do dispositivo
da sentença. Ilustrando, se o juiz absolve o acusado, por insuficiência de
provas, nada impede que a vítima ingresse com ação civil, pleiteando
indenização pelo cometimento do pretenso crime e reinaugurando a
fase probatória. Entretanto, se o juiz absolve o acusado por ter agido
em legítima defesa, a vítima nada mais pode requerer na esfera civil.
Ou seja, a troca de inciso do art. 386, relacionada à absolvição, tem
repercussão direta na ação civil para reparar o dano causado pela
conduta penal (NUCCI, 2017, s.p.).

II-  Das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz
singular nos casos não previstos no capítulo anterior.

As decisões definitivas são aquelas que julgam o mérito, porém sem


condenar ou absolver o acusado. Elas podem ser terminativas, quando põe
fim ao processo; ou não terminativas, quando colocam fim apenas a uma etapa
processual.

Perceba que este inciso é residual, porque somente será cabível a apelação
por este inciso se não for cabível o RESE.

III- Das decisões do Tribunal do Júri, quando.

a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia;


b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos
jurados;
c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de
segurança; 
d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos.

Nos casos da apelação sobre decisões proferidas pelo Tribunal o Júri, a


fundamentação é vinculada, ou seja, para que o recurso seja cabível, é necessário
que haja uma das quatro causas elencadas no artigo 593, III do CPP. Sendo,
inclusive, necessário que no momento da interposição do recurso já seja apontada
qual das alíneas foi ofendida, ficando sua apelação subordinada a esta causa.

Quando a parte pretender recorrer de decisão proferida no Tribunal


do Júri deve apresentar, logo na petição de interposição, qual o motivo
que o leva a apelar, deixando expressa a alínea eleita do inciso III do
art. 593 do Código de Processo Penal. Posteriormente, no momento de
apresentação das razões, fica vinculado ao motivo declinado. A única

166
TÓPICO 2 | DOS RECURSOS I

possibilidade de alterar o fundamento da apelação ou ampliar o seu


inconformismo, abrangendo outras hipóteses do inciso III, é fazê-lo
ainda no prazo para apresentar a apelação, oferecendo outra petição
nesse sentido. Assim sendo, o tribunal somente pode julgar nos limites
da interposição (NUCCI, 2017, s.p.).

A hipótese da alínea “a” é se a nulidade ocorrer após a pronúncia, se for


anterior, deve ser discutida na própria decisão de pronúncia. A segunda hipótese
se refere à contrariedade da sentença à lei ou decisão dos jurados, ou seja, se
refere ao momento que o juiz singular irá aplicar o direito com base na decisão
tomada pelos jurados, e o faz contra lei ou contra a decisão dos jurados. Neste
caso, como será mero erro do juiz singular, o Tribunal pode e deve corrigir o
erro. Nucci exemplifica: “Ex.: o juiz deixa de aplicar a causa de diminuição de
pena prevista no § 1º do art. 121 do Código Penal, embora tenha o Conselho
de Sentença reconhecido a ocorrência do domínio de violenta emoção, logo
após injusta provocação da vítima. O tribunal, nesse caso, aplica diretamente a
diminuição” (NUCCI, 2017, s.p.).

A terceira hipótese trata-se de erro ou injustiça no tocante à aplicação


da pena ou da medida de segurança. A aplicação da pena também é feita
exclusivamente pelo juiz singular, por isso, em havendo a apelação, o Tribunal
poderá corrigir o erro ou a injustiça.

A quarta hipótese é quando a decisão dos jurados for manifestamente


contrária à prova dos autos. Neste caso, por causa da soberania do júri, o Tribunal
apenas poderá anular o julgamento e remetê-lo a novo júri, não cabendo ao
Tribunal a correção do erro apontado.

A simples existência do recurso de apelação voltando ao


questionamento da decisão dos jurados não constitui, por si só, ofensa
ao princípio constitucional da soberania dos veredictos; ao contrário,
harmonizam-se os princípios, consagrando-se na hipótese o duplo
grau de jurisdição. Além do mais, a Constituição menciona haver
soberania dos veredictos, não querendo dizer que exista um só. A isso,
devemos acrescentar que os jurados, como seres humanos que são,
podem errar e nada impede que o tribunal reveja a decisão, impondo
a necessidade de se fazer um novo julgamento. Isto não significa que
o juiz togado substituirá o jurado na tarefa de dar a última palavra
quanto ao crime doloso contra a vida que lhe for apresentado para
julgamento. Por isso, dando provimento ao recurso, por ter o júri
decidido contra a prova dos autos, cabe ao Tribunal Popular proferir
uma outra decisão. Esta, sim, torna-se soberana, porque essa hipótese
de apelação só pode ser utilizada pela defesa uma única vez (art. 593,
§ 3º in fine) (NUCCI, 2017, s. p.)

Contudo, deve-se destacar que somente é cabível uma apelação com base
neste inciso III, alínea “d”. Entende-se que o Tribunal é popular e soberano, e
assim, ao errar a segunda vez, consolida-se a sua vontade. Este é o preceituado
pelo artigo 593, “§ 3o. Se a apelação se fundar no no III, d, deste artigo e o tribunal ad

167
UNIDADE 3 | DA COMPETÊNCIA E DOS RECURSOS

quem  se convencer de que a decisão dos jurados é manifestamente contrária à


prova dos autos, dar-lhe-á provimento para sujeitar o réu a novo julgamento; não
se admite, porém, pelo mesmo motivo, segunda apelação”.

4.1 CLASSIFICAÇÃO
A apelação pode ser classificada em:

• Ampla ou integral – quando se impugna toda a matéria da decisão.


• Parcial – quando se impugna apenas algum item da decisão, delimitando a
matéria que será apreciada pelo Tribunal.
• Sumária – interposta contra decisão em processo que apurou contravenção ou
crime com pena de detenção.
• Ordinária – interposta contra decisão em processo que apurou crime com pena
de reclusão.
• Voluntária – quando interposta pela parte.
• Necessária – quando for condição de eficácia da sentença.

4.2 PROCESSAMENTO
Na apelação o prazo para a interposição do recurso é de cinco dias e o prazo
para a apresentação das razões é de oito dias, com ressalva que nos processos de
contravenção este prazo se reduz para três dias.

O prazo para a interposição do recurso de cinco dias é fatal, ou seja, se


não for interposto neste prazo preclui o direito de recorrer. Porém, o prazo para
as razões não, sendo que o recurso pode subir para o Tribunal e apenas lá ser
arrazoado pela parte, por força do disposto no artigo 600, §  4o   “Se o apelante
declarar, na petição ou no termo, ao interpor a apelação, que deseja arrazoar na
superior instância serão os autos remetidos ao tribunal ad quem onde será aberta
vista às partes, observados os prazos legais, notificadas as partes pela publicação
oficial” (BRASIL, 1941, s.p.). Sendo inclusive possível o conhecimento do recurso
sem as razões (artigo 601, CPP).

Ao assistente de acusação, o prazo será de três dias do término do prazo


do MP. Se houver dois ou mais réus, o prazo para eles será comum. Lembre-se do
já mencionado quando do estudo do RESE, é necessário o pagamento das custas,
do preparo e das despesas com o translado das peças (quando houver) sob pena
de deserção (uma das causas de extinção do recurso).

O recurso de apelação, como todos os recursos, possui o efeito devolutivo,


sendo que o efeito suspensivo somente existirá nos casos de condenação, em que
o condenado somente se recolherá a prisão após a decisão do segundo grau de
jurisdição. Com efeito, nos casos em que o réu já se encontra preso em prisão
preventiva, o juiz, na decisão condenatória, deverá justificar a sua manutenção
na prisão.
168
TÓPICO 2 | DOS RECURSOS I

O artigo 599, CPP elenca a possibilidade de se recorrer a todo o julgado ou


apenas de parte dele, trazendo em si o princípio da voluntariedade dos recursos,
porque a parte recorrente não irá desejar recorrer daquela parte em que não foi
sucumbente (que não perdeu).

A petição de interposição do recurso deve ser dirigida ao juiz prolator


da decisão impugnada, para que ele a receba e a encaminhe para o tribunal.
As razões do recurso devem ser dirigidas ao tribunal competente para julgar
o recurso. Após os autos chegarem à segunda instância, haverá diferença no
procedimento se tratar de crime com pena de detenção ou contravenção e se for
pena de reclusão. Iniciaremos o estudo com o rito para os crimes punidos com
detenção ou contravenção.

Para os processos que tratem de crimes punidos com detenção ou


contravenção, o artigo 610 do CPP determina que os autos serão imediatamente
encaminhados ao MP de segundo grau para que ele, no prazo de cinco dias, dê
seu parecer, que deve ser imparcial, sobre o caso. Depois, será encaminhado ao
relator, que deverá, no mesmo prazo, pedir data para julgamento. No dia do
julgamento, após o pregão das partes, o relator expõe seu relatório, concede a
palavra para o advogado ou membro do MP que deseje fazer sustentação oral
pelo prazo de 10 minutos, em seguida, será aberta a votação.

Para os processos que tratem de crimes punidos com pena de reclusão,


os autos serão imediatamente encaminhados ao MP de segundo grau para que
ele, no prazo de 10 dias, de seu parecer, que deve ser imparcial, sobre o caso.
Depois, será encaminhado ao relator, que deverá, no mesmo prazo, emitir seu
relatório e encaminhar o recurso para o revisor, que terá o mesmo prazo para
o exame do feito. Depois disso, o revisor pedirá data para o julgamento. No dia
do julgamento, após o pregão das partes, o relator expõe seu relatório, concede
a palavra para o advogado ou membro do MP que deseje fazer sustentação oral
pelo prazo de 15 minutos, em seguida, será aberta a votação.

A decisão do tribunal será tomada por maioria de votos, sendo que se


houver empate, o presidente do tribunal, câmara ou turma dará o voto para o
desempate. Se o presidente já tiver tomado parte na decisão que empatou, deverá
prevalecer a decisão mais favorável ao réu. O juiz incumbido de realizar o acórdão
(geralmente o relator, a não ser que ele perca a votação) deverá apresentá-lo para
a conferência na sessão seguinte ou em duas sessões para a conferência.

Embora o artigo 616 do CPP determine a possibilidade de “No julgamento


das apelações poderá o tribunal, câmara ou turma proceder a novo interrogatório
do acusado, reinquirir testemunhas ou determinar outras diligências” (BRASIL,
1941, s.p.). Esta deverá ser feita com muito cuidado. Este dispositivo pretende
estabelecer a possibilidade de novas diligências apenas para clarear as dúvidas
dos julgadores de segundo grau e não de produzir novas provas. Porque senão se
feriria o duplo grau de jurisdição, porque haveria inovação probatória.

169
UNIDADE 3 | DA COMPETÊNCIA E DOS RECURSOS

É possível que o Tribunal, no momento da decisão, dê nova designação


jurídica ao fato, desde que isto seja possível pela denúncia. Veja o exemplo trazido
por Nucci (2017, s.p.):

Ilustrando: pode o tribunal considerar determinado motivo,


explicitamente constante da peça inicial e sobre o qual pôde
manifestar-se o réu convenientemente, torpe em lugar de fútil. Não
pode, no entanto, o tribunal aplicar pena mais grave, se somente o réu
recorreu, nem tampouco pode fazer uso do art. 384 do CPP (mutatio
libelli), que seria o caminho viável para, aditando a denúncia, agravar
a pena. Nessa linha, confira-se a Súmula 453 do STF: “Não se aplicam
à segunda instância o art. 384 e parágrafo único do Código de Processo
Penal, que possibilitam dar nova definição jurídica ao fato delituoso,
em virtude de circunstância elementar não contida, explícita ou
implicitamente, na denúncia ou queixa”.

4.3 REFORMATIO IN PEJUS


O artigo 617 do CPP traz a vedação da reformatio in pejus, ou seja, a reforma
para piorar a situação do réu se apenas ele recorreu da decisão. Assim, se apenas
o órgão de acusação recorrer ao Tribunal, poderá agravar ou melhorar a situação
do réu. Contudo, se apenas o réu recorrer, não será possível agravar sua situação
processual, sendo que a matéria devolvida deverá ser apreciada apenas para lhe
melhorar a situação.

A exceção é quando houver recurso de ofício, porque nestes casos, a


matéria é toda devolvida ao Tribunal por força de previsão legal. Esta regra de não
reforma para não prejudicar o réu quando apenas ele recorrer atinge até mesmo
os casos de anulação de sentença apenas por recurso do réu, neste caso, chama-se
de reformatio in pejus indireta. Assim, a nova decisão proferida não poderá ser pior
do que aquela anulada em recurso exclusivo do réu.

170
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Recurso é “o direito que possui a parte, na relação processual, de se insurgir


contra as decisões judiciais, requerendo a sua revisão, total ou parcial, em
instância superior” (NUCCI, 2017, s.d.).

• Características do recurso – voluntariedade, tempestividade, anterior ao


trânsito em julgado da decisão, não será uma nova relação processual.

• Os princípios dos recursos são a taxatividade, fungibilidade, variabilidade,


unirrecorribilidade.

• Os pressupostos de admissibilidade são a sucumbência total ou parcial,


cabimento, tempestividade, regularidade formal.

• Os fatos impeditivos do recurso são a renúncia, desistência e deserção.

• Efeitos do recurso podem ser devolutivo, suspensivo e regressivo.

• As hipóteses do cabimento do Recurso em Sentido Estrito – RESE – estão


previstas no artigo 581 do CPP. Cuidado para as hipóteses que já foram
revogadas tacitamente.

• O prazo de interposição do RESE, na regra geral, é de cinco dias e o prazo para


as razões é de dois dias.

• O prazo de interposição do RESE, no caso de incluir jurado na lista geral ou


desta o excluir, será de 20 dias da publicação da lista definitiva.

• O RESE poderá subir nos próprios autos, quando isto não atrapalhar o
processamento do feito, ou em translado com cópia de todas as peças necessárias
para o exame da causa.

• O RESE sempre tem o efeito regressivo, o devolutivo. Contudo, o efeito


suspensivo só haverá nos casos em que houver perda da fiança; que denegar a
apelação ou a julgar deserta.

• Apelação é um recurso com “pedido dirigida ao juízo ad quem para que uma
decisão emanada do juízo ad quo seja objeto do reexame pelo respectivo
órgão superior, devolvendo-lhe a apreciação da causa na medida da matéria
impugnada, com o objetivo da reforma total ou parcial da decisão, ou ainda, a
anulação desta” (BONFIM, 2017, p. 712).

171
• As hipóteses de cabimento da apelação estão previstas no artigo 593 do CPP.

• A apelação é um recurso residual, somente podendo ser aceito quando não


couber o RESE.

• A apelação tem fundamentação livre nos casos que for impugnada decisão
do juiz singular, contudo, nos casos que for impugnado as decisões do júri, a
fundamentação é vinculada a uma das quatro alíneas do inciso III, do artigo
593, ou seja, só será cabível se ocorrer: nulidade posterior à pronúncia; for a
sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados;
houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de
segurança; for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos
autos.

• A apelação pode ser ampla ou parcial.

• A apelação pode ser sumária ou ordinária.

• A apelação pode ser voluntária ou necessária.

• Na apelação, o prazo para a interposição do recurso é de cinco dias e o prazo


para a apresentação das razões é de oito dias, com ressalva que nos processos
de contravenção este prazo se reduz para três dias.

• Apenas o prazo para a interposição da apelação é fatal, ou seja, não pode ser
prorrogado. Isto porque para as razões é possível a escolha para que elas sejam
apresentadas diretamente no segundo grau.

• A apelação não possui o efeito regressivo.

• A petição de interposição do recurso deve ser dirigida ao juiz prolator da


decisão impugnada, para que ele a receba e a encaminhe para o Tribunal; as
razões do recurso devem ser dirigidas ao Tribunal competente para julgar o
recurso.

• Após os autos chegarem à segunda instância, haverá diferença no procedimento


se tratar de crime com pena de detenção ou contravenção e se for pena de
reclusão. Iniciaremos o estudo com o rito para os crimes punidos com detenção
ou contravenção.

• Não cabe reformatio in pejus quando houver recurso exclusivo da defesa na


apelação.

172
AUTOATIVIDADE

Caro acadêmico! Com base no estudado neste tópico, responda:

1 Acerca dos prazos dos recursos responda com base na regra geral para eles:

a) ( ) O prazo para a interposição do RESE é de 8 dias e o da apelação é de 8 dias.


b) ( ) O prazo para a interposição do RESE é de 2 dias e o da apelação é de 5 dias.
c) ( ) O prazo para a interposição do RESE é de 5 dias e o da apelação é de 8 dias.
d) ( ) O prazo para a interposição do RESE é de 5 dias e o da apelação é de 5 dias.
e) ( ) O prazo para a interposição do RESE é de 3 dias e o da apelação é de 5 dias.

2 Sobre o RESE assinale a alternativa correta:

a) ( ) Sua abreviação significa recurso em sentido específico.


b) ( ) Sempre deverão ser transladadas as peças para a confecção do
translado para o recurso poder subir ao Tribunal.
c) ( ) O prazo de interposição do RESE é de 8 dias e o prazo para as razões é
de 2 dias.
d) ( ) Este recurso possui o efeito regressivo que possibilita ao juiz rever sua
decisão que está sendo impugnada.

3 A apelação tem sempre prevalência sobre qualquer outro recurso.

a) ( ) Certo.
b) ( ) Errado.

4 Sobre a apelação assinale a alternativa correta:

a) ( ) Apenas o prazo para a interposição da apelação é fatal, ou seja, não


pode ser prorrogado.
b) ( ) Apenas o prazo para a razão recursal da apelação é fatal, ou seja, não
pode ser prorrogado.
c) ( ) Ambos os prazos – para a interposição e para as razões recursais da
apelação – são fatais, ou seja, não podem ser prorrogados.
d) ( ) Nenhum prazo da apelação é fatal, ou seja, todos podem ser
prorrogados.

5 Não cabe reformatio in pejus quando houver recurso exclusivo da defesa na


apelação.

a) ( ) Certo.
b) ( ) Errado.

173
174
UNIDADE 3
TÓPICO 3

DOS RECURSOS II

1 INTRODUÇÃO
No tópico anterior começamos nosso estudo sobre os recursos do
processo penal, analisando as características, princípios, pressupostos, ou seja,
estudamos uma teoria geral dos recursos. Neste tópico iremos finalizar o estudo
dos recursos previstos dentro do Código de Processo Penal propriamente dito.
Assim, iremos nos ater ao estudo dos embargos declaratórios, revisão criminal,
carta testemunhável e habeas corpus.

Contudo, fica a ressalva que existem outros recursos cabíveis nos


procedimentos penais, mas estes estão previstos em leis esparsas e na Constituição
Federal, como é exemplo do mandado de segurança, que é um recurso previsto
na constituição que pode ser usado em matéria penal, mas que não é específico
sobre matéria penal, e por isso não nos cabe aqui tratar dele.

Bons estudos!

2 DOS EMBARGOS DECLARATÓRIOS


Os embargos estão previstos no artigo 619 do CPP, que possibilita sua
interposição em caso do acordão ser ambíguo, obscuro, contraditório ou omisso.
Embora a lei fale em acórdão, é possível os embargos de declaração também de
sentenças, mas não de decisões interlocutórias.

175
UNIDADE 3 | DA COMPETÊNCIA E DOS RECURSOS

FIGURA 5 – EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, QUAL SUA FINALIDADE?

FONTE: <https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-e-produtos/direito-
facil/edicao-semanal/embargos-de-declaracao/@@images/7a115501-fa65-4584-a846-
d901c4660ca2.jpeg>. Acesso em: 19 maio 2019.

Ambíguo é quando o acórdão é dúbio, não deixa transparente o que


deseja determinar, criando uma dúvida sobre a decisão. Obscuro é quando ele
não é claro sobre o que deseja determinar e contraditório é quando a decisão, por
exemplo, fundamenta em um sentido e coloca em seu dispositivo a determinação
contrária à fundamentação. É Omisso quando deixa de apreciar alguma das teses
trazidas pelo recorrente.

a) ambiguidade (estado daquilo que possui duplo sentido, gerando


equivocidade e incerteza, capaz de comprometer a segurança do
afirmado); b) obscuridade (estado daquilo que é difícil de entender,
gerando confusão e ininteligência, no receptor da mensagem); c)
contradição (trata-se de uma incoerência entre uma afirmação anterior
e outra posterior, referentes ao mesmo tema e no mesmo contexto,
gerando a impossibilidade de compreensão do julgado); d) omissão
(é a lacuna ou o esquecimento, isto é, o juiz ou tribunal esquece-se de
abordar algum tema levantado pela parte nas alegações finais ou no
recurso) (NUCCI, 2017, s.p.):

O prazo para o oferecimento dos embargos (que já devem vir com suas
razões) é de dois dias da publicação do acórdão. Os embargos de declaração
devem ser feitos em requerimento, no qual aponte claramente quais são os
pontos ambíguos, obscuros, contraditórios ou omissos. Devendo ser apreciado
pelo relator e levado a julgamento na primeira sessão.

176
TÓPICO 3 | DOS RECURSOS II

O relator pode indeferir os embargos se este for inepto por falta de


qualquer das condições do recurso. Além disso, é admitido os embargos de
declaração para fins de prequestionamento. As matérias, para serem aceitas para
o Recurso Especial do STJ ou para o Recurso Extraordinário do STF, precisam ter
sido ventiladas na instância inferior, sob pena de não conhecimento dos recursos
nos Tribunais Superiores. Desta forma, se o Tribunal não tratou sobre a matéria
que se deseja recorrer, é admitido os embargos para constranger o Tribunal para
sua apreciação. Até mesmo os STF e STJ já publicaram súmulas a este respeito
como as apresentadas a seguir.

SABER DO STF

Súmula 356 – O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram


opostos embargos declaratórios, não pode ser objeto de recurso extraordinário,
por faltar o requisito do prequestionamento.

FONTE: STF. Súmula 356. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/


menuSumarioSumulas.asp?sumula=2648. Acesso em: 19 maio 2019.

SABER DO STJ
Súmula 211 – Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a
despeito da oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo tribunal
a quo.

FONTE: STJ. Súmula 211. Disponível em: http://www.stj.jus.br/SCON/sumulas/enunciados.


jsp?&b=SUMU&p=true&l=10&i=211. Acesso em: 19 maio 2019.

Em regra, não é necessária a intimação da parte contrária para se


manifestar nos embargos declaratórios porque eles apenas visam clarear as
dúvidas que restaram do acórdão recorrido. Porém, existem casos, como na
omissão, que a decisão dos embargos pode modificar a decisão prolatada. Nestes
casos, chamados de embargos de declaração com efeito infringente, é necessária
a intimação da parte contrária para que se manifeste no feito.

A interposição dos embargos interrompe o prazo prescricional. Note que


existe uma interrupção de prazo e não a mera suspensão dele. Desta forma, o
prazo dos recursos contra a decisão reiniciam-se do zero a partir da decisão dos
embargos.

3 DA REVISÃO
A revisão criminal, assim como o Habeas Corpus, não são propriamente
recursos, são ações de impugnações criminais. Esta diferença é importante porque
perceberemos que elas não respeitam algumas das características e pressupostos

177
UNIDADE 3 | DA COMPETÊNCIA E DOS RECURSOS

dos recursos. A revisão está prevista no artigo 621 do CPP e se presta a rever as
decisões já transitadas em julgado que cometeram algum erro judiciário.

Segundo o artigo 623, a revisão criminal pode ser “pedida pelo próprio
réu ou por procurador legalmente habilitado ou, no caso de morte do réu,
pelo cônjuge, ascendente, descendente ou irmão” (BRASIL, 1941, s.p.). Os
doutrinadores acrescentam a este rol o companheiro, uma vez que o ordenamento
jurídico reconhece a igualdade de tratamento entre o cônjuge e o companheiro. A
Súmula 393 do STF garante ao condenado a revisão criminal mesmo sem este ter
se recolhido ao cárcere.

UNI

SABER DO STF:
Súmula 393 – Para requerer revisão criminal, o condenado não é obrigado a recolher-se à
prisão.
FONTE: STF. Súmula 393. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/
menuSumarioSumulas.asp?sumula=2741. Acesso em: 19 maio 2019.

Não existe parte passiva no procedimento da revisão criminal, isso porque


ela não é contrária a parte alguma, apenas se deseja demonstrar o erro cometido
anteriormente no julgamento do caso concreto.

3.1 HIPÓTESES DE CABIMENTO


O artigo 621 elenca as hipóteses de cabimento da revisão criminal:

a) quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal ou


à evidência dos autos;
b) quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou
documentos comprovadamente falsos;
c) quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do
condenado ou de circunstância que determine ou autorize diminuição especial
da pena.

Quando a lei fala em sentença contrária ao texto da lei, também engloba


se o procedimento não foi devidamente respeitado, sendo assim nulo o processo.
Contudo, não caberá revisão criminal se a decisão se basear em interpretação
controvertida dos tribunais, ou seja, se ela se basear em uma análise não pacífica
do texto da lei.

178
TÓPICO 3 | DOS RECURSOS II

UNI

SABER DO STF:
Súmula 343 – Não cabe ação rescisória por ofensa a literal disposição de lei quando a decisão
rescindenda tiver se baseado em texto legal de interpretação controvertida nos tribunais.
FONTE: STF. Súmula 343. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/
menuSumarioSumulas.asp?sumula=1472. Acesso em: 19 maio 2019.

No segundo caso do primeiro inciso, é tratado da decisão que afronta a


evidência dos autos, aqui tem que ser uma decisão que afronta veemente. É o caso
de todas as provas levarem a absolvição e o juiz condenar o réu. É difícil pensar
em sua viabilidade, uma vez que se o erro é grotesco, o réu irá recorrer e a decisão
será reformada em segunda instância.

O segundo inciso trata dos casos em que a decisão se funda em provas


falsas, é necessária a prova desta falsidade. Assim, alguns doutrinadores
recomendam que estas falsidades sejam apuradas em procedimentos próprios,
e só depois seja interposta a revisão criminal, porém a lei não faz esta exigência.
Desta forma, a apuração das falsidades pode se dar dentro do próprio processo
de revisão.

O inciso terceiro trata do caso de surgimento de novas provas de inocência


do condenado ou de circunstância que determine ou autorize diminuição especial
da pena. Neste caso, as provas têm que ser substancialmente novas, não cabendo
a revisão para nova apreciação das provas já juntadas nos autos. O ônus destas
provas é do sentenciado, sendo dele o encargo de produzir as provas que serão
apreciadas pelo Tribunal. Existem alguns casos específicos que merecem nossa
atenção especial:

• extinção da punibilidade antes da sentença condenatória – não cabe revisão


criminal porque o acusado não terá uma sentença penal condenatória;
• extinção da punibilidade após a sentença penal condenatória, mas antes de
iniciado o cumprimento de pena – cabe revisão criminal, porque embora o
condenado não seja punido, ele tem uma sentença condenatória contra si que
pode gerar outros prejuízos, como antecedentes criminais e indenização para a
vítima no civil;
• contra sentença concessiva de perdão judicial – não cabe a revisão criminal. A
Súmula 18 do STJ determina que não subsiste nenhum efeito da condenação,
não existindo motivos justificadores da revisão criminal.

O artigo 622, parágrafo único do CPP determina que “Não será admissível
a reiteração do pedido, salvo se fundado em novas provas” (BRASIL, 1941, s.p.).
Desta forma, somente será cabível reiteração do pedido de revisão criminal se
fundada em novas provas.
179
UNIDADE 3 | DA COMPETÊNCIA E DOS RECURSOS

3.2 PROCESSAMENTO
O artigo 624 determina que o processamento do feito da revisão criminal
seja sempre pelos Tribunais, não sendo possível o processamento na primeira
instância. Se a decisão impugnada for de um juiz de primeiro grau, irá para o
Tribunal superior imediato; se a decisão for de um Tribunal, será processada no
mesmo Tribunal, mas não poderá ser julgada pela mesma Câmara, e sim pelo
Grupo Reunido de Câmaras.

A revisão será distribuída a um relator e um revisor, sendo que o relator


não pode ter participado do julgamento original. O requerimento “será instruído
com a certidão de haver passado em julgado a sentença condenatória e com as
peças necessárias à comprovação dos fatos arguidos” (BRASIL, 1941, s.p.). Se
necessário, o relator pode requerer o apensamento dos autos originais, e esta
medida não prejudicará o cumprimento de pena porque hoje os autos da execução
são apartados.

O pedido insuficiente será indeferido pelo relator, “dando recurso para as


câmaras reunidas ou para o tribunal, conforme o caso” (BRASIL, 1941, s.p.). Em
sendo rejeitado o pedido liminarmente, também caberá agravo regimental para
o grupo de câmaras do Tribunal interposto pelo condenado. Além da rejeição
liminar da revisão, o relator também poderá indeferir o pedido de apensamento
dos autos originais feito pelo condenado. Note que não é o indeferimento da
revisão, e sim, de apenas um de seus pedidos.

Sendo o recurso recebido pelo relator, abrem-se vistas ao MP de segundo


grau, para parecer no prazo de dez dias. Após o encaminhamento do feito com o
parecer ministerial, os autos voltam ao relator para no prazo de dez dias proferir
seu voto; após este prazo, será encaminhado ao revisor, que deve pedir pauta de
julgamento no prazo de dez dias.

Nucci esclarece que o “O relator pode, ainda, nomear advogado ao


condenado peticionário, se for necessário, solicitar informações ao juiz da execução
e determinar a juntada de qualquer elemento probatório que entenda conveniente”
(NUCCI, 2017, s.p.). A decisão do Tribunal poderá alterar a classificação do fato,
absolver o réu, alterar a pena, ou ainda anular o procedimento. Contudo, em
nenhum caso, a pena poderá ser agravada. A revisão criminal não pode prejudicar
o condenado que a interpôs. Contra essa decisão do Tribunal proferida na revisão
criminal cabem apenas os embargos de declaração, o recurso especial ao STJ ou o
recurso extraordinário ao STF.

O artigo 627 do CPP determina que se procedente a revisão criminal,


deixarão de existir todos os efeitos da condenação, sendo reestabelecidos os
direitos do condenado que foram atingidos pela condenação.

O artigo 630 do CPP reconhece o direito do Tribunal fixar uma indenização


decorrente do erro judiciário, para reparar os danos causados ao condenado, desde
que o tenha requerido. Se não houver o requerimento, para que a indenização seja
180
TÓPICO 3 | DOS RECURSOS II

concedida, será necessário o ingresso com ação de indenização na vara da Fazenda


Pública para a comprovação do dano e a fixação do quanto será indenizado.

O § 2º do artigo 630 estabelece as hipótese em que essa indenização não


será possível, mesmo que a revisional tenha tido êxito: “se o erro ou a injustiça
da condenação proceder de ato ou falta imputável ao próprio impetrante, como
a confissão ou a ocultação de prova em seu poder; ou se a acusação houver sido
meramente privada” (BRASIL, 1941, s.p.).

Em relação a hipótese da acusação ter sido privada, os autores a reputam


não recepcionada pela Constituição Federal, uma vez que o ius punitendi continua
sendo privativo do Estado, não importando quem deflagrou a ação penal, e dele
é a responsabilidade pela condenação equivocada. Para fixar a matéria, vejamos
o mapa conceitual a seguir.

FIGURA 6 – REVISÃO CRIMINAL: ADMISSÃO, PEDIDO E COMPETÊNCIA

FONTE: <https://studymaps.com.br/wp-content/uploads/2018/11/REVIS%C3%83O-CRIMINAL-1.
jpg>. Acesso em: 19 maio 2019.

181
UNIDADE 3 | DA COMPETÊNCIA E DOS RECURSOS

4 DA CARTA TESTEMUNHÁVEL
A carta testemunhável prevista no artigo 639 do Código de Processo Penal
é um recurso que visa dar andamento a um outro recurso que foi obstaculizado
pelo juiz de primeira instância. Ela é possível em duas hipóteses:

a) da decisão que denegar o recurso;


b) da decisão que embora admitindo o recurso, obstar a sua expedição e
seguimento para o juízo de segundo grau.

A carta testemunhável tem caráter subsidiário, assim, se houver previsão


para a interposição de outro recurso, ele terá prioridade. É o caso da decisão que
não recebe o recurso de apelação, porque existe previsão expressa, como já vimos
no tópico anterior, que o recurso cabível é o RESE.

O prazo previsto em lei é de 48 horas seguintes ao despacho que denegar


o recurso, indicando ao requerente as peças do processo que deverão ser
trasladadas, porém, existe entendimento que o prazo será de dois dias.

A carta testemunhável deverá ser requerida ao escrivão da vara que


denegou o recurso ou obstou seu seguimento. Nela deverá conter quais peças do
processo deseja ser transladada para o recurso.

O prazo para o escrivão é de cinco dias no caso do RESE para que o


escrivão entregue a carta devidamente conferida (Não cabe carta testemunhável
no caso do Recurso Extraordinário em virtude do agravo dirigido diretamente
aos Tribunais Superiores). No caso da negativa do escrivão de entregar a carta,
deverá ser aberto procedimento administrativo para apurar a falta, e sendo caso
de condenação, deverá ser suspenso pelo prazo de 30 dias. Nesse caso, o Tribunal
mandará que seja extraído o instrumento pelo substituto do escrivão, e se mesmo
assim a ordem for inócua, ele avocará os autos para o julgamento do recurso.

Após a formação do instrumento, intimará o testemunhante (recorrente)


para apresentar suas razões no prazo de dois dias, e após, no mesmo prazo de
dois dias para o testemunhado (recorrido) apresentar suas contrarrazões.

Abre-se vista para o juiz retratar a decisão que obstaculizou o andamento


do processo, utilizando o efeito regressivo do recurso, ou mantê-la e encaminhar
o recurso da carta testemunhável ao Tribunal.

O Tribunal poderá não conhecer por ser inepta; conhecer e dar


provimento determinando a subida do recurso; conhecer e julgar o recurso que
foi obstaculizado se este estiver pronto para julgamento; conhecer a carta e negar
provimento uma vez que o juiz havia negado seguimento correto ao recurso.
O efeito da carta testemunhável é meramente devolutivo, não impedindo o
prosseguimento normal do feito enquanto ocorre o seu processamento.

182
TÓPICO 3 | DOS RECURSOS II

5 HABEAS CORPUS
Como já mencionamos quando tratamos da revisão criminal, o Habeas
Corpus não é um recurso, é uma ação constitucional de impugnação. Isto porque
ele não obedece aos pressupostos, características e princípios que regem os
recursos. Esse instrumento está previsto no artigo art. 5º, LXVIII, da Constituição
Federal visando proteger a liberdade de locomoção. E regulamentado no artigo
647 e seguintes do CPP.

A natureza jurídica da ação de habeas corpus é de ação de impugnação


constitucional, sendo inclusive gratuito de acordo com o 5º, LXXVII, da
Constituição Federal. Essa gratuidade é decorrente da lógica do sistema,
uma vez que se objetiva que o remédio jurídico constitucional para garantir
a liberdade de locomoção seja alcançável a todos, independentemente de sua
hipossuficiência econômica.

O habeas corpus pode ser:

a) liberatório – quando o objetivo for a liberação de quem já se encontra com a


liberdade de locomoção atingida;
b) preventivo – para quem se encontre ameaçado de sofrer qualquer tipo de
restrição a sua liberdade de locomoção.

5.1 CABIMENTO DO HABEAS CORPUS


O artigo 647 do CPP determina que caberá HC “sempre que alguém sofrer
ou se achar na iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua liberdade de
ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar” (BRASIL, 1941, s.p.).

O artigo 648, por sua vez, determina o que pode ser entendido como
coação ilegal, contudo, o rol trazido por ele é meramente exemplificativo, não se
restringindo a hipóteses apenas arroladas. Vejamos o rol trazido:

I- quando não houver justa causa;


II- quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a
lei;
III- quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo;
IV- quando houver cessado o motivo que autorizou a coação;
V- quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que
a lei a autoriza;
VI- quando o processo for manifestamente nulo;
VII- quando extinta a punibilidade (BRASIL, 1941, s.p.).

Pode haver falta de justa causa tanto para a prisão e neste caso ela deverá
ser revogada, quando para a propositura da ação ou do inquérito policial, e neste
caso ambos deverão ser trancados.

183
UNIDADE 3 | DA COMPETÊNCIA E DOS RECURSOS

Quando alguém estiver preso por mais tempo que a lei determina, poderá
ser aplicado tanto nos casos em que exista uma previsão expressa para o tempo
da prisão, por exemplo, sentença penal condenatória, ou prisão temporária;
quando nos casos em que não exista esta previsão, mas que extrapole o desejado
pelo ordenamento jurídico, por exemplo, alguém preso em prisão preventiva
pelo prazo de dois anos esperando sua sentença. Mesmo que a prisão preventiva
não possua prazo determinado pela lei, não é cabível uma demora tão excessiva
para a prisão provisória.

Quando quem determinar a prisão não tiver competência para fazê-lo,


porque a lei determina que a prisão seja a exceção do ordenamento jurídico,
somente podendo ser decretada pela autoridade competente.

Quando houver cessado o motivo, já vimos no tópico das prisões


provisórias que a pessoa deve ser posta em liberdade. Da mesma forma, vimos
que quando admitida a prestação da fiança esta é um direito do preso, e que
aquele que prestou fiança deve ser colocado em liberdade.

Quando o processo for manifestamente nulo, ele não é possível de trazer


consequências para o réu. Importante mencionar aqui a revisão criminal, que em
algumas vezes, como estudado, será o recurso cabível.

Quando extinta a punibilidade finda para o estado o ius puniendi, sendo


assim, a pessoa deve ser colocada em liberdade, ou até mesmo, poderá ser usado
o HC para trancamento do inquérito policial ou da ação penal.

Existem algumas hipóteses que não cabem ação de HC mesmo que esteja
em risco a liberdade de locomoção, são elas:

a) não caberá habeas corpus em relação a punições disciplinares militares (art.


142, § 2º, CF); (esta regra geral comporta exceção em que é cabível o HC, quando
a ordem for emanada de autoridade incompetente; houver falta de previsão
legal para a punição, em que ela será visivelmente ilegal; inobservância das
formalidades legais pela autoridade competente; excesso de prazo de duração
da restrição da liberdade).

b) durante o estado de defesa ou estado de sítio.

c) quando já estiver extinta a pena privativa de liberdade.

184
TÓPICO 3 | DOS RECURSOS II

UNI

SABER DO STF
Súmula 695 – Não cabe habeas corpus quando já extinta a pena privativa de liberdade.
FONTE: STF. Súmula 695. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/
menuSumarioSumulas.asp?sumula=2717. Acesso em: 19 maio 2019.

Contudo, neste caso, mesmo que a pena privativa de liberdade estiver


extinta, se o réu continuar preso por qualquer motivo, neste caso, caberá o HC,
sendo uma exceção da exceção.

5.2 COMPETÊNCIA PARA O PROCESSAMENTO DO HABEAS


CORPUS
O habeas corpus poderá ser impetrado, dependendo da autoridade coatora,
em qualquer instância, sendo que o que determinará qual o foro competente será
a pessoa paciente (terminologia utilizada para identificar aquele que sofre ou está
na iminência de sofrer a coação a seu direito de liberdade e a autoridade coatora).
Nucci exemplifica brilhantemente, vejamos:

Como exemplos: a) se alguém é detido para averiguação por delegado


da Comarca X, deve ser impetrado habeas corpus ao magistrado da
Vara Criminal competente da Comarca X. Havendo mais de um,
distribui-se o pedido. Se já houver investigação ou processo em
andamento, cabe a distribuição por prevenção ao juiz que fiscaliza
o feito, competente para analisar o abuso ocorrido – até porque ele
poderia conceder a ordem de ofício; b) se um indivíduo é detido por
ordem de juiz da Comarca X, conforme o crime imputado ao paciente,
elege-se o tribunal competente (NUCCI, 2017, s.p.).

A competência para o processamento e julgamento do HC está prevista


tanto na Constituição Federal quanto no CPP.

Assim, segundo o artigo 102 da Constituição Federal, compete ao STF


o julgamento do habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas referidas
nas alíneas anteriores (os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do
Exército e da Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos
Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão
diplomática de caráter permanente); o habeas data contra atos do Presidente da

185
UNIDADE 3 | DA COMPETÊNCIA E DOS RECURSOS

República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal


de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo
Tribunal Federal; o  habeas corpus,  quando o coator for Tribunal Superior ou
quando o coator ou o paciente for autoridade ou funcionário cujos atos estejam
sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de
crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância (BRASIL, 1988);

Da mesma maneira, segundo o artigo 105 da Constituição Federal,


compete ao STJ o julgamento do  habeas corpus quando o coator ou paciente
for os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e nos de
responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do
Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito
Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e
do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios
e os do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais, ou quando o
coator for tribunal sujeito à sua jurisdição, Ministro de Estado ou Comandante
da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da Justiça
Eleitoral (BRASIL, 1988).

Desta forma, segundo o artigo 108 da Constituição Federal, compete


ao TRF o julgamento do  habeas corpus quando a autoridade coatora for juiz
federal. E segundo o artigo 109 da Constituição Federal, compete ao juiz federal o
julgamento do habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando
o constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente
sujeitos a outra jurisdição (BRASIL, 1988).

Caberá ao TJ o julgamento dos HC em que for autoridade coatora ou


paciente os juízes de 1 grau e os membros do MP estadual. Caberá ao juiz de
primeira instância o julgamento dos habeas corpus de particulares e de delegados
de polícia civil que não estejam sujeitos a foro algum por prerrogativa de função.
Para ficar mais clara esta visualização, observemos o quadro a seguir.

186
TÓPICO 3 | DOS RECURSOS II

FIGURA 7 – COMPETÊNCIA PARA HABEAS CORPUS

FONTE: <http://3.bp.blogspot.com/-gKUVhXpb6ok/T5SNiCD5XjI/AAAAAAAAA64/W0p_v7_Htcs/
s640/Habeas+Corpus+-+COMPET%C3%8ANCIA+4.jpg>. Acesso em: 19 maio 2019.

187
UNIDADE 3 | DA COMPETÊNCIA E DOS RECURSOS

5.3 LEGITIMIDADE PARA O HABEAS CORPUS


Denomina-se impetrante aquele que interpõe o HC seja em benefício
próprio ou alheio, e paciente aquele que é favorecido com a impetração, ou
seja, aquele está sofrendo ou na iminência de sofrer a coação ao seu direito de
locomoção.

Pode ser impetrante de um habeas corpus qualquer pessoa, física ou


jurídica, nacional ou estrangeira. Porém, somente poderá ser paciente aquele que
pode ter sua liberdade de locomoção restringida, não cabendo sua impetração
a favor de pessoas jurídicas. Não é necessária capacidade postulatória para
impetrar um habeas corpus, por isso, não há necessidade de representação por
um advogado.

Não é autorizado ao juiz de direito que funcione no processo que


impetre um habeas corpus para favorecer o réu, até porque, em regra, ele possui
competência para reparar a coação sem a necessidade da ação de impugnação.

5.4 PROCESSAMENTO DO HABEAS CORPUS


O artigo 654, § 1º determina que a petição do habeas corpus contenha

o nome da pessoa que sofre ou está ameaçada de sofrer violência ou


coação e o de quem exercer a violência, coação ou ameaça; a declaração
da espécie de constrangimento ou, em caso de simples ameaça de
coação, as razões em que funda o seu temor; bem como a assinatura
do impetrante, ou de alguém a seu rogo, quando não souber ou não
puder escrever, e a designação das respectivas residências.

Nota-se que o artigo determina o conteúdo mínimo para que uma petição
seja recebida, não impedindo que a parte traga mais informações ou provas do
que as elencadas. De todo modo, a petição inicial do habeas corpus deverá vir
instrumentalizada com todas as provas necessárias para o seu processamento.
Embora a lei não mencione a necessidade da prova pré-constituída demonstrando
o direito líquido e certo do paciente, esta é a melhor interpretação.

Em virtude desta necessidade em que não cabe habeas corpus em casos


que necessitem do exame mais aprofundado da prova é necessária a interposição
de outros recursos, quando previstos em lei. Assim vem decidindo os tribunais:

188
TÓPICO 3 | DOS RECURSOS II

SABER DO STJ

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. AUTORIA E


MATERIALIDADE. TESE DE INOCÊNCIA. REVOLVIMENTO FÁTICO-
PROBATÓRIO. CONDENAÇÃO CONFIRMADA EM APELAÇÃO.
EXECUÇÃO PROVISÓRIA EM CURSO. AUSÊNCIA DE RECURSO COM
EFEITO SUSPENSIVO. REGIME DOMICILIAR. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA.
AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO.
1. O habeas corpus não permite a dilação probatória, destinando-se a sanar
ilegalidades verificáveis de plano, assim não sendo possível valorar teses
de insuficiência de provas da materialidade e da autoria, assim como de
suficiência da justa causa para a prisão preventiva.
2. Não cabe a análise, por esta Corte, de questão não submetida à apreciação
do Tribunal de origem, sob pena de supressão de instância.
3. A execução provisória é da pena definitiva, não mais cabendo perquirir
fundamentos do art. 312 do CPP para seu cabimento.
4. Agravo regimental improvido.

FONTE: STJ. Revista eletrônica da jurisprudência. Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/processo/


revista/inteiroteor/?num_registro=201900461495&dt_publicacao=15/05/2019. Acesso em: 19
maio 2019.

Neste caso concreto, o STJ confirma que as provas devem estar pré-
constituídas para possibilitar o HC. Quando o processamento se der em primeiro
grau, o juiz poderá requerer a apresentação do paciente, após isso, deverá decidir
em 24 horas sobre o pedido impetrado.

O artigo 657 traz as únicas hipóteses em que se permitirá a negativa da


apresentação do paciente perante a autoridade judicial. São elas:

I- grave enfermidade do paciente;


Il- não estar ele sob a guarda da pessoa a quem se atribui a detenção;
III- se o comparecimento não tiver sido determinado pelo juiz ou pelo
tribunal (BRASIL, 1941, s.p.).

E se tratar de caso de doença, o juiz poderá optar por dirigir-se ao local


onde o paciente se encontra. Se a decisão for a favor do paciente, ele deve ser
colocado em liberdade em até 24 horas, se não houver outro motivo para a prisão
além do analisado no HC.

Se o juiz entender desnecessária a apresentação do preso, poderá


decidir liminarmente pela liberação do paciente. Deverá colher informações
da autoridade coatora, e, em primeiro grau, desnecessária a oitiva do MP. Para
com as informações, decidir se deferirá ou não a ordem da ação de impugnação
interposta.

189
UNIDADE 3 | DA COMPETÊNCIA E DOS RECURSOS

Se o HC for impetrado em qualquer dos tribunais, o relator poderá


denegar a ordem liminarmente; neste caso, deverá remeter o procedimento para a
câmara ou turma para que se delibere a respeito. Em sendo dado prosseguimento
ao feito, deverá requerer as informações a autoridade coatora e depois deve ser
ouvido o MP que deverá se manifestar através de parecer fundamentado.

A decisão nos tribunais será tomada por maioria dos votos, sendo que em
caso de empate, será decidido com o voto do presidente. Contudo, se o presidente
tiver participado da votação empatada, será decidido a favor do réu. Se a hipótese
em análise for de fiança que, mesmo sendo cabível, não foi arbitrada, o próprio
juiz ou tribunal deverá arbitrar o valor, podendo ser paga no próprio tribunal.

Após a decisão, o HC será remetido para ser apensado ao inquérito


conforme preceitua o artigo 660, §3º, CPP, o paciente preso deverá ser libertado
com um alvará de soltura; para o paciente solto, será entregue o salvo conduto,
que lhe garante o direito de locomoção (caso de HC preventivo). Se se tratar
de ação penal privada, ao querelante, deve ser dada ciência da decisão do
habeas corpus.

190
TÓPICO 3 | DOS RECURSOS II

LEITURA COMPLEMENTAR

SUPREMO MANTÉM JULGAMENTO DE CRIMES COMUNS


COM A JUSTIÇA ELEITORAL

Por Ana Pompeu

Por seis votos a cinco, o Plenário Supremo Tribunal Federal manteve


com a Justiça Eleitoral a competência para julgar crimes conexos aos eleitorais.
Venceu o voto do relator, ministro Marco Aurélio, segundo o qual a competência
da Justiça especializada se sobrepõe à da comum. No caso da Eleitoral, é ela quem
deve decidir se os inquéritos e processos devem ser desmembrados ou não.

O ministro definiu a ementa de pronto, do Plenário: "Compete à justiça


eleitoral julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhe forem conexos". E avisou
que, como redator do acórdão, não faria "uma ementa quilométrica".

Marco Aurélio foi acompanhado pelos ministros Alexandre de Moraes,


Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, Celso de Mello e Dias Toffoli, último a
votar. Para eles, a questão é bastante clara, sem margem para dúvidas: o artigo
109, inciso IV, da Constituição diz que a Justiça Federal julga causas de interesse
da União, "ressalvada a competência da Justiça Eleitoral e da Justiça Militar". E o
Código Eleitoral diz, no inciso II do artigo 35, que o juiz eleitoral deve julgar os
crimes eleitorais e os "comuns que lhe são conexos".

Contradizer o texto claro da Constituição e do Código Eleitoral era


uma demanda da "lava jato". Para os procuradores da operação, apoiados pela
procuradora-geral da República, Raquel Dodge, "transferir" a competência para
a Justiça Eleitoral prejudicaria o combate à corrupção no Brasil — embora a
Constituição já diga que o sistema funciona assim desde que foi promulgada.

Divergiram do relator os ministros Luiz Edson Fachin, Luís Roberto


Barroso, Rosa Weber, Luiz Fux e Cármen Lúcia. O julgamento começou na quarta-
feira (13/3), com os votos do relator e dos ministros Alexandre e Fachin.

Democracia

Para o ministro Ricardo Lewandowski, a tendência dos últimos anos, até


da jurisprudência do STF, é ampliar as competências da Justiça Eleitoral. "O que
está se verificando é uma tendência de atribuir a essa Justiça, que é extremamente
ágil e aperfeiçoada no cumprimento de seu mister, uma competência cada vez
mais alargada, sobretudo no que diz respeito a matéria criminal e naqueles crimes
conexos com a matéria de natureza eleitoral", disse, citando a Lei nº 13.488, de
2017, que incluiu artigo na legislação eleitoral que trata do caixa dois.

191
UNIDADE 3 | DA COMPETÊNCIA E DOS RECURSOS

Ao votar, o ministro Gilmar Mendes criticou de forma veemente a postura


dos integrantes da "lava jato".  "Se estudaram em Harvard, não sabem nada.
São uns cretinos. Não sabem o que é processo civilizatório. Não sabem o que é
processo. Até porque quem trabalha em processo não se apaixona pelo processo",
disse. "Oxalá tivessem estudado em Pouso Alegre".

Gilmar também lembrou que a competência da Justiça Eleitoral foi


mantida intacta em todas as constituições brasileiras. Quando votou, Celso de
Mello lembrou que a Constituição de 1937, a do Estado Novo, foi a única a
mudar o sistema. "E por motivos óbvios: ditaduras não convivem com a Justiça
Eleitoral", disse.

"É essa a linha que nunca foi questionada", votou Gilmar. "Mas quando se
descobre que pode haver um inconveniente… Vamos traduzir às pessoas: pode-
se dizer que o ideal é outro modelo. Mas não é isso que está em jogo. Temos um
sistema de direito positivo, que nunca foi controvertido."

"Mudança de entendimento"

As decisões mais recentes do Supremo sobre o assunto foram da 2ª Turma


– que manteve a competência com a Justiça Eleitoral, conforme manda o Código
Eleitoral. Segundo o ministro Luís Roberto Barroso, foi a turma quem mudou a
jurisprudência do tribunal.

Gilmar chamou a afirmação de mentirosa: "O tribunal sempre assim o


decidiu". Lewandowski completou: "Para mim, essa matéria está tão clara, que se
não o fosse não haveria necessidade de um projeto de lei do Ministério da Justiça,
justamente com o objetivo de cindir esta linha".

A transferência da competência dos crimes comuns conexos aos eleitorais


à Justiça Federal foi proposta por Sergio Moro no seu "pacote anticrime". O projeto
pretendia mudar justamente o inciso II do artigo 35 do Código Eleitoral.

Clamor das ruas

O ministro Celso de Mello, decano, deixou claro que seu voto seria a
reiteração da posição que sempre defendeu, de manter a competência da Justiça
Eleitoral como está.  "Traduz e revela posição que tenho adotado nesta corte
sobre as relações entre os poderes do Estado e os direitos de qualquer pessoa,
como ao juiz natural e ao devido processo legal, qualquer pessoa que venha a ser
submetida aos órgãos de ação punitiva em persecução penal", disse Celso. Tais
julgamentos, afirmou, não podem expor-se a pressões externas, clamor das ruas.

"É na Constituição e na lei, e não na busca pragmática de resultados,


independente de meios, que se deve promover o justo e o equilíbrio na tensão

192
TÓPICO 3 | DOS RECURSOS II

entre o princípio da autoridade de um lado e o valor de outro. O que se revela


intolerável e não tem sentido é por divorciar-se do rule of law de que o respeito
pela autoridade da Constituição e das leis possa traduzir frustração do processo
penal", continuou o decano.

Ele classificou como "panfletagens insultuosas e atrevidas" as que têm


sido veiculadas em nome de decisão diversa da que foi tomada. Tal postura,
segundo o ministro, põe em risco de subversão do regime de direitos e garantias
individuais que a ordem jurídica assegura a qualquer pessoa.

Quanto às votações da 2ª Turma, assim quanto como à própria decisão


vitoriosa, ele endossou os colegas: "Não há nada de novo sob o Sol nesta matéria".
Para ele, compete à Justiça Eleitoral viabilizar a necessária unidade de julgamento
dos casos de delitos comuns conexos com os eleitorais, que deverão ser decididos
simultâneos processos por esse ramo especializado da União.

Estrutura e preparo

Barroso votou com base no argumento da estrutura. Segundo ele, a Justiça


Eleitoral não pode ser comparada à Federal. "Dizer que a Justiça Eleitoral não
é vocacionada para julgamentos criminais não significa desmerecê-la. Significa
identificar uma vocação", disse. Barroso argumentou ainda que, na maior parte
do país, a Justiça Eleitoral, na primeira instância, tem estrutura escassa: apenas
um técnico judiciário e um analista judiciário, enquanto as varas federais têm
quadro mais amplo de funcionários.

O ministro Luiz Fux, que presidiu a primeira parte da sessão desta quinta,
defendeu que a Justiça Eleitoral normalmente não lida com corrupção, lavagem
de dinheiro, organização criminosa. Os crimes eleitorais não abarcam "os mega
delitos de organizações criminosas que temos apurado em inquéritos", analisou
o ministro. 

O ministro apontou ainda que a Ação Penal 470, do mensalão, consagrou


o entendimento de que caixa dois é delito de corrupção. "E ela é apreciável no
juízo federal", concluiu.

Diante da repercussão que o caso tomou, com a publicação de artigos


e editoriais sobre o tema, além de ataques à Justiça Eleitoral movidos por
procuradores da "lava jato" — o que se tornou motivo para uma representação do
presidente Dias Toffoli contra o procurador da Diogo Castor de Mattos —, alguns
ministros ressaltaram que a divergência não significa uma visão menor deste ramo
da justiça. "Qualquer que seja a decisão, não se está colocando qualquer tipo de
deficiência quanto à Justiça Eleitoral. O que se está em julgamento não é eficiência
da Justiça Eleitoral, mas uma questão jurídica", enfatizou Cármen Lúcia.

193
UNIDADE 3 | DA COMPETÊNCIA E DOS RECURSOS

Inq 4.435 Leia o resultado proclamado

Por maioria, o Supremo Tribunal Federal manteve a sua jurisprudência


ao dar, na forma do voto do relator, no que foi acompanhado pelos ministros
Alexandre de Moraes, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, Celso de Mello e
Dias Toffoli, parcial provimento ao agravo interposto pelos investigados para,
no tocante ao fato ocorrido em 2014, reconsiderar a decisão recorrida e assentar
a competência do Supremo Tribunal Federal. Quanto aos delitos supostamente
cometidos 2010 e 2012, declinar da competência para a justiça eleitoral do
Estado do Rio de Janeiro, prejudicado o agravo regimental interposto pela PGR
no que voltado à fixação da competência, relativamente ao delito de evasão de
divisas, da justiça federal. Vencidos os ministros Edson Fachin, Luís Roberto
Barroso, Rosa Weber, Luiz Fux e Cármen Lúcia que davam parcial provimento
aos agravos regimentais interpostos pela PGR e pelos investigados para cindir
os fatos apurados neste inquérito, determinando a remessa de cópia dos autos
à justiça eleitoral do Estado Rio de Janeiro para apuração, mediante livre
distribuição, dos supostos crimes de falsidade ideológica eleitoral ocorridos nos
anos de 2010, 2012 e 2014 e o encaminhamento dos autos à Seção Judiciária do
Rio de Janeiro para apuração, mediante livre distribuição, dos supostos crimes
de corrupção ativa, corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas
ocorridos no ano de 2012.

Quanto à proclamação, a ministra Rosa Weber disse que, com relação


aos fatos de 2014 (falsidade ideológica eleitoral), a divergência reconhece a
competência da justiça eleitoral. 
14 de março de 2019

FONTE: POMPEU, Ana. Supremo mantém julgamento de crimes comuns com a justiça eleitoral.
2019. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2019-mar-14/supremo-mantem-julgamento-
crimes-comuns-justica-eleitoral. Acesso em: 18 maio 2019.

194
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• Os embargos declaratórios são os recursos cabíveis para aclarar as decisões que


contêm ambiguidade, obscuridade, contrariedade ou omissão.

• O prazo para o oferecimento dos embargos é de dois dias da publicação do


acórdão e este deve vir acompanhado de suas razões.

• É admitido os embargos de declaração para fins de prequestionamento.

• Nos embargos de declaração com efeito infringente, é necessária a intimação


da parte contrária para que se manifeste no feito.

• A interposição dos embargos interrompe o prazo prescricional.

• A revisão criminal, assim como o habeas corpus, não são propriamente


recursos, são ações de impugnações criminais.

• A revisão criminal se presta a rever as decisões já transitadas em julgado que


cometeram algum erro judiciário.

• O ônus das provas na revisão criminal é do sentenciado, sendo dele o encargo


de produzir as provas que serão apreciadas pelo Tribunal.

• Não existe prazo para a propositura da revisão criminal.

• A carta testemunhável é um recurso que visa dar andamento a um outro


recurso que foi obstaculizado pelo juiz de 1ª instância.

• A carta testemunhável é possível quando a decisão denegar o recurso; e a


decisão que admitindo embora o recurso, obstar a sua expedição e seguimento
para o juízo ad quem.

• O prazo previsto em lei é de 48 horas seguintes ao despacho que denegar


o recurso, indicando o requerente as peças do processo que deverão ser
trasladadas, porém, existe entendimento que o prazo será de dois dias.

• O habeas corpus não é um recurso, é uma ação constitucional de impugnação.

195
• Habeas corpus pode ser liberatório ou preventivo.

• Caberá o habeas corpus “sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência


de sofrer violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos
de punição disciplinar” (BRASIL, 1941, s.p.).

• Existem algumas hipóteses que não cabem ação de HC, são elas: relação a
punições disciplinares militares, durante o estado de defesa ou estado de sítio,
quando já estiver extinta a pena privativa de liberdade.

• A competência para o processamento e julgamento do HC está prevista tanto


na Constituição Federal quanto no CPP.

• Denomina-se impetrante aquele que interpõe o HC seja em benefício próprio


ou alheio, e paciente aquele que é favorecido com a impetração, ou seja, aquele
está sofrendo ou na iminência de sofrer a coação ao seu direito de locomoção.

• Não é necessária capacidade postulatória para impetrar um habeas corpus, por


isso, não há necessidade de representação por um advogado.

• Não existe prazo para a impetração do habeas corpus.

196
AUTOATIVIDADE

Caro acadêmico! Com base no estudado neste tópico, responda:

1 Sobre o prazo dos recursos assinale a alternativa correta.

a) ( ) O recurso nunca poderá ser interposto antes do trânsito em julgado da


decisão.
b) ( ) O recurso deverá ser interposto antes do trânsito em julgado da decisão.
c) ( ) O habeas corpus nunca poderá ser interposto antes do trânsito em
julgado da decisão.
d) ( ) O habeas corpus somente poderá ser interposto antes do trânsito em
julgado da decisão.

2 Sobre a revisão criminal assinale a alternativa correta.

a) ( ) O prazo para a revisão criminal é de cinco dias da publicação da decisão


atacada.
b) ( ) O ônus da prova é da acusação.
c) ( ) A revisão criminal, embora não seja um recurso, é a medida cabível
para rever as decisões já transitadas em julgado que cometeram algum
erro judiciário.
d) ( ) A interposição da revisão criminal interrompe o prazo da prescrição.

3 A carta testemunhável é um recurso que visa dar andamento a um outro


recurso que foi obstaculizado pelo juiz de 1ª instância.

a) ( ) Certo.
b) ( ) Errado.

4 O recurso de embargos declaratórios:

a) ( ) Somente pode ser interposto no segundo grau de jurisdição, uma vez


que o artigo fala em acórdão.
b) ( ) Pode ser interposto contra decisão de qualquer grau de jurisdição,
sendo o termo utilizado pelo Código atécnico.
c) ( ) Os embargos declaratórios são os recursos cabíveis para aclarar as
decisões que contém compreensibilidade, obscuridade, contrariedade
ou omissão.
d) ( ) O prazo para o oferecimento é de 24 horas da publicação do acórdão e
este deve vir acompanhado de suas razões.
e) ( ) O prazo para a interposição é de 48 horas da publicação do acórdão e o
prazo para as razões é de dois dias.

197
5 Denomina-se impetrante aquele que interpõe o HC seja em benefício próprio
ou alheio, paciente aquele que é favorecido com a impetração, ou seja, aquele
está sofrendo ou na iminência de sofrer a coação ao seu direito de locomoção,
e autoridade coatora aquela que proferiu o ato atacado.

a) ( ) Certo.
b) ( ) Errado.

198
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