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de Surdos no Brasil
2017
Copyright © UNIASSELVI 2017
Elaboração:
Prof. Anderson Luchese
371.912
L936p Luchese, Anderson
Políticas e a educação de surdos no Brasil / Anderson Luchese.
Indaial: UNIASSELVI, 2017.
179 p. : il.
ISBN 978-85-515-0116-0
1.Surdos - Educação.
I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
Apresentação
Prezado acadêmico!
Bons estudos!
III
NOTA
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.
IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E
SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO..................................................................... 1
VII
2.5 ALEXANDER GRAHAM BELL (1818 – 1905)................................................................... 34
2.6 EDUARD HUET – 1822-1882................................................................................................... 36
3 CONGRESSO DE MILÃO (1880) – RETROCESSO HISTÓRICO PARA O ENSINO
DA LIBRAS ......................................................................................................................................... 39
4 HELLEN ADAMS KELLER............................................................................................................... 43
5 OUTROS DESTAQUES NA COMUNIDADE SURDA EM GERAL....................................... 45
5.1 WILLIAN STOKOE (1960)...................................................................................................... 47
5.2 EUGÊNIO OATES (1969).......................................................................................................... 49
6 FEDERAÇÃO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E INTEGRAÇÃO DOS
SURDOS – FENEIS............................................................................................................................ 49
7 CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE DESPORTOS DE SURDOS (CBDS).......................... 51
8 MARLEE BETH MATLIN (1986)...................................................................................................... 52
9 EMMANUELLE LABORIT............................................................................................................... 53
10 CLOSED CAPTION (1997)............................................................................................................... 54
11 PRIMEIROS INSTRUTORES/AGENTE MULTIPLICADORES DE LIBRAS
NO BRASIL........................................................................................................................................ 55
12 LEI Nº 10.436, DE 24 DE ABRIL DE 2002...................................................................................... 55
13 GLADIS TERESINHA TASCHETTO PERLIN (2003)............................................................... 57
14 LETRAS LIBRAS – UFSC (2006).................................................................................................... 57
15 A FAMÍLIA BÉLIER (2014).............................................................................................................. 59
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 60
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 62
VIII
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 97
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 98
IX
X
UNIDADE 1
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Objetivos de aprendizagem:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade contém três tópicos que trazem recortes do contexto histórico
e filosófico, da origem da educação de surdos do mundo até os dias atuais,
mencionando algumas versões históricas oficiais de surdos registradas em
muitos livros. Os fatos listados no cronograma abaixo seguem na sequência
em quatro grandes períodos: Idade Antiga ou Antiguidade, Idade Média,
Idade Moderna e Idade Contemporânea. No final de cada tópico existem
autoatividades sobre os temas que contribuirão para aprofundar seus
estudos.
1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
Nascimento (2006) afirma que um cronograma histórico é extração de
várias partes de muitas publicações sobre a história dos surdos, isto não quer
dizer que toda a história é verídica ou não. Para chegar a esta conclusão, há
a necessidade de pesquisar de forma mais aprofundada cada fato histórico
registrado, para assim poder comprová-lo. O próprio Berthier traz esta reflexão
quanto aos recortes históricos:
3
UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO
FIGURA 2 – PAPIROS
FIGURA 3 – MOISÉS
Strobel (2009) afirma que os surdos não podiam ouvir e nem compreender
o que acontecia a sua volta, pois a língua de sinais naquela época era desconhecida
pela maioria das pessoas, ou somente usada pelos surdos, por isso Deus lhe deu a
ordem para não amaldiçoar o surdo.
5
UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO
FIGURA 5 – HERÓDOTO
4 GRÉCIA
Veloso & Filho, 2009, (p. 27) evidenciam que na Grécia os surdos eram
considerados inválidos e muito incômodos para a sociedade, por isso eram
“condenados à morte – lançados abaixo do topo dos rochedos de Taygéte, nas
águas de Barathere – e os sobreviventes viviam miseravelmente como escravos
ou abandonados”.
FIGURA 6 – GRÉCIA
6
TÓPICO 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO
5 EGITO E PÉRSIA
Strobel (2009), destaca que no Egito e na Pérsia, os surdos eram
considerados criaturas privilegiadas, enviados dos deuses, porque acreditavam
que eles se comunicavam em segredo com os Deuses. Havia um forte sentimento
humanitário e respeito, protegiam e tributavam aos surdos à adoração, no entanto,
os surdos tinham vida inativa e não eram educados.
7
UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO
FIGURA 9 – SÓCRATES
FIGURA 10 – HIPÓCRATES
8
TÓPICO 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO
FIGURA 11 – ARISTÓTELES
9
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você viu que:
10
AUTOATIVIDADE
(1) Heródoto.
(2) Sócrates.
(3) Hipócrates.
(4) Aristóteles.
11
12
UNIDADE 1
TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
Na Idade Média encontramos poucos recortes históricos. Apesar de algum
relato ainda de atrocidade, estes recortes trazem um avanço significativo na
situação em relação ao período antiguidade, os surdos não são mais eliminados,
porém ainda são muito castigados e vivem sem dignidade. Apenas na Itália surge
uma pequena experiência de comunicação entre os surdos.
13
UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO
Este pensamento seria novo para época, já que até o século XV, as concepções
sobre os surdos e a surdez tinham significados diversos e bastante negativos.
Segundo Guarinello (2007), os surdos eram considerados seres castigados pelos
Deuses. Acreditava-se que pessoas que nasciam surdas eram também mudas, ou
seja, não poderiam falar nem expressar seus pensamentos, tanto que até hoje a
expressão surdo-mudo faz referência às pessoas surdas. A autora menciona que a
crença era de que, para atingir a consciência humana, tudo deveria penetrar por
um dos órgãos dos sentidos e a audição era considerada o canal mais importante
de aprendizado.
14
TÓPICO 2 | IDADE MÉDIA E IDADE MODERNA
15
UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO
No século XVII (1620), “[...] Juan Martin Pablo Bonet publicou, na Espanha,
o livro Reduccion de las letras y artes para enseñar a hablar a los mudos, que trata da
invenção do alfabeto manual de Ponce de Leon” (GOLDFELD, 2001, p. 28).
16
TÓPICO 2 | IDADE MÉDIA E IDADE MODERNA
Sacks (2010) situa que os educadores ouvintes, como Pedro Ponce de Léon,
da Espanha; os Braidwoods, da Grã-Bretanha; Amman, da Holanda; e Pereire e
Deschamps, da França, ensinaram alguns surdos a falar. Afirma também que,
assim, as condições de sobrevivência dos surdos, naquela época, despertaram
interesse em alguns filósofos, que levantaram algumas questões:
17
UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO
Juan Pablo Bonet publicou o primeiro livro (Figura 18) sobre a educação
de surdos em que expunha o seu método oral, “Reduccion de las letras y arte para
enseñar a hablar a los mudos” no ano de 1620, em Madrid, Espanha. Bonet defendia
também o ensino precoce de alfabeto manual aos surdos (Figura 19).
18
TÓPICO 2 | IDADE MÉDIA E IDADE MODERNA
19
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TÓPICO 2 | IDADE MÉDIA E IDADE MODERNA
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UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO
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TÓPICO 2 | IDADE MÉDIA E IDADE MODERNA
Sacks (2010) afirma que era revolucionário, no século XVI, acreditar que
para compreender algo não era necessário ouvir as palavras. Para o autor, L’Épée,
com sua humildade, contribuiu para a mudança na história, visto que desejava
dar a todas as pessoas surdas a oportunidade de aprenderem a palavra de Deus.
Assim, ele dedicou-se a aprender a língua dos pupilos “surdos-mudos”, termo
usado naquela época. Associando sinais a figuras e palavras escritas, o Abade
De L’Épée (Figura 27) ensinou os surdos a ler, proporcionando-lhes acesso ao
conhecimento e à cultura do mundo. Esse método, que era a união da língua
nativa de sinais com a gramática francesa, proporcionava aos alunos surdos a
possibilidade de escrever o que lhes era dito, através de um intérprete que se
comunicava por sinais. Com isso, De L’Épée fundou a primeira escola que teve
auxílio público em 1755, e treinou diversos professores, sendo que em poucos
anos já haviam sido criadas mais de vinte e uma escolas para surdos na Europa.
Dois anos após a morte de L’Épée, que ocorreu em 1789, sua escola transformou-
se na Nacional Institution for Deaf-Mutes.
23
UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO
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TÓPICO 2 | IDADE MÉDIA E IDADE MODERNA
25
UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO
26
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• Surgem mais de vinte e uma escolas de Língua de sinais por toda Europa,
influenciadas pelas experiências de L’Épée.
27
AUTOATIVIDADE
3 Quem foi o “Pai do Método Alemão”, que iniciou a base da filosofia oralista,
onde um grande valor era atribuído somente à fala?
a) ( ) Thomas Braidwood.
b) ( ) Abade Charles Michel de L’Épée.
c) ( ) Samuel Heinicke.
d) ( ) Johan Conrad Amman.
a) ( ) Samuel Heinicke.
b) ( ) Abade Charles Michel de L’Épée.
c) ( ) Pedro Ponce de Leon.
d) ( ) Girolamo Cardano.
28
UNIDADE 1
TÓPICO 3
IDADE CONTEMPORÂNEA
1 INTRODUÇÃO
As experiências de ensino em Língua de Sinais continuam se disseminando
neste período, assim como o método do Oralismo Puro, até que, no Congresso de
Milão, em 1880, se opta pelo método do Oralismo Puro para o ensino dos Surdos,
o que é definido pela comunidade surda como um retrocesso para a Língua de
Sinais. Entretanto, muitos surdos já instruídos e que se instruíram na época,
passam a defender a comunidade surda e a Língua de Sinais, ganhando espaço e
credibilidade na sociedade.
29
UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO
DICAS
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TÓPICO 3 | IDADE CONTEMPORÂNEA
31
UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO
32
TÓPICO 3 | IDADE CONTEMPORÂNEA
33
UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO
DICAS
34
TÓPICO 3 | IDADE CONTEMPORÂNEA
35
UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO
Entre os anos 1870 e 1890, Strobel (2009) relata que Alexander Grahan
Bell publicou vários artigos criticando casamentos entre pessoas surdas, a cultura
surda e as escolas residenciais para surdos, alegando que são fatores do isolamento
dos surdos com a sociedade. Ele era contra a língua de sinais argumentando que
ela não propiciava o desenvolvimento intelectual dos surdos.
Segundo Rocha (2008), a primeira escola criada no Brasil teve como objetivo
ensinar a ler, escrever e contar. Era uma escola para pobres, brancos e livres.
Naquela época, a sociedade, ainda escravocrata, organizava-se politicamente de
forma distinta da atualidade. “Não guardava uma intenção de continuidade com
os níveis de instrução secundária e superior, que eram destinados à aristocracia”
(ROCHA, 2008, p. 23). Foi nesse cenário, conhecido como “das primeiras letras”,
conforme Rocha, que em junho de 1855 E. Huet apresenta ao imperador D. Pedro
II um projeto para criação de um estabelecimento para surdos.
FIGURA 41 – E. HUET
36
TÓPICO 3 | IDADE CONTEMPORÂNEA
Rocha (2008) destaca que Huet nasceu em Paris em 1822 e ficou surdo aos
12 anos de idade, em consequência de ter contraído sarampo. Em junho de 1855,
Huet apresentou ao imperador D. Pedro II um relatório em Língua Francesa,
contendo o plano de criação de uma escola para surdos, denominado “Imperial
Instituto dos Surdos-Mudos”, hoje: “Instituto Nacional de Educação de Surdos”
(INES).
37
UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO
Strobel (2009) relata que o Instituto foi criado pela Lei nº 939, no dia 26
de setembro de 1857, data em que é comemorado o “Dia Nacional dos Surdos”
no Brasil. A primeira escola apresentou uma proposta que mesclava a língua de
sinais francesa com os sistemas já usados pelos surdos de várias regiões do Brasil.
38
TÓPICO 3 | IDADE CONTEMPORÂNEA
39
UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO
Os autores afirmam que o domínio da língua oral pelo surdo passou a ser
condição de aceitação dentro de uma comunidade majoritária. E relatam ainda
que Edward Gallaudet, presente no congresso, defendeu o sistema combinado
(oralidade e língua de sinais), porém não foi ouvido.
40
TÓPICO 3 | IDADE CONTEMPORÂNEA
41
UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO
Strobel (2009), salienta que Alexander Graham Bell teve grande influência
neste congresso. O congresso foi organizado, patrocinado e conduzido por muitos
especialistas ouvintes na área de surdez, todos defensores do oralismo puro (a
maioria já havia empenhado muito antes do congresso em fazer prevalecer o
método oral puro no ensino de surdos).
Lane (1982) relata que na França isso também foi notado. Os surdos
educados no oralismo tinham uma fala ininteligível. Dois psicólogos, Alfred Binet
e Theodoro Simon (1910), realizaram a primeira avaliação sistemática da educação
de surdos em duas instituições francesas, concluindo que a educação oralista
não permitia que eles conseguissem trabalho, trocassem ideias com estranhos e
“tivessem uma conversa real com aqueles pertencentes as suas relações pessoais.
42
TÓPICO 3 | IDADE CONTEMPORÂNEA
DICAS
O filme conta a história de um menino surdo (Jonas) que foi internado em um hospital
psiquiátrico, como deficiente mental, por um erro do médico. Quando os pais de Jonas
realmente descobrem que ele é surdo e não deficiente mental, eles o tiram da clínica onde
ele estava por 3 anos.
Devido ao erro médico, Jonas já havia perdido parte de
sua vida, pois ele e sua família não sabiam nada sobre
o mundo dos surdos. A mãe de Jonas vai em busca de
recuperar o tempo perdido, levando-o para uma escola
“apropriada” para ele. Porém, Jonas não consegue
acompanhar seus colegas de sala, pois nessa escola o
uso de sinais era proibido. Os responsáveis pela escola
acreditavam que o uso dos sinais poderia deixar o surdo
preguiçoso, ou seja, o surdo não seria oralizado, o que
faria com que ele se comunicasse apenas com quem
também é surdo. Ensinar Jonas a ler os lábios e a falar
foi uma tarefa muito difícil, Jonas se sentia frustrado
em ter que tentar pronunciar palavras que nunca havia
ouvido o som. A mãe de Jonas se desespera, pois ela
vê os dias passando e nada de Jonas evoluir na escola
e muito menos no convívio familiar. O pai de Jonas não
consegue lidar mais com essa situação e até sugere que
Jonas seja internado novamente, pois assim o convívio
da família seria mais fácil. A mãe de Jonas não aceita a
ideia de seu pai, o qual vai embora, deixando toda sua
família para trás.
Ao tentar buscar outros métodos para ajudar seu filho, a mãe de Jonas encontra uma família
de surdos e vê que eles se comunicam por meio de sinais. Finalmente, a mãe de Jonas entra
no mundo dos surdos, ela vai a um clube onde os surdos se encontram e conhece muitos
deles, começa a aprender como funciona a língua de sinais e a cultura surda. A partir de
então, alguns surdos começam a ensinar a língua de sinais para Jonas, que passa a ter uma
nova descoberta do mundo.
43
UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO
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TÓPICO 3 | IDADE CONTEMPORÂNEA
45
UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO
1 http://portalgualandi.com.br/site/?p=2119
46
TÓPICO 3 | IDADE CONTEMPORÂNEA
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UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO
DICAS
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TÓPICO 3 | IDADE CONTEMPORÂNEA
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UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO
FIGURA 56 – FENEIS
50
TÓPICO 3 | IDADE CONTEMPORÂNEA
DICAS
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UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO
Campello e Quadros (2010), lembram que Marlee foi a única atriz surda a
ganhar um Óscar para melhor atriz num papel principal. Ela ganhou esse Oscar
pelo filme Childrenof a Lesser God, traduzido no Brasil com o nome ‘Filhos do
Silêncio’. Com o seu trabalho no cinema e na televisão ganhou um Globo de
Ouro, teve duas nomeações e teve quatro nomeações para um Emmy.
9 EMMANUELLE LABORIT
Strobel (2009), salienta que a atriz surda nasceu em 18 de outubro de
1971, é francesa e diretora do Teatro Visual Internacional, neta do cientista Henri
Laborit (1914-1995). Só conheceu a língua gestual aos sete anos, ensinando-a
rapidamente a sua irmã, que assim se tornou sua confidente. Antes de aprender
a Língua Gestual Francesa, ela apenas se comunicava com sua mãe: tinham uma
comunicação "umbilical".
53
UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO
DICAS
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TÓPICO 3 | IDADE CONTEMPORÂNEA
55
UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO
Art. 2º Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas
concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso
e difusão da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, como meio de comunicação
objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil.
56
TÓPICO 3 | IDADE CONTEMPORÂNEA
57
UNIDADE 1 | A EDUCAÇÃO DOS SURDOS NOS ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO-HISTÓRICOS DO MUNDO
58
TÓPICO 3 | IDADE CONTEMPORÂNEA
DICAS
59
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você viu que:
• Padre Eugenio, também Norte Americano, que cria um livro com 1.258 sinais
fotografados, considerado o primeiro dicionário da Língua de Sinais.
60
• Outros movimentos a favor da Libras vão surgindo, e depois de muitas lutas,
em 2002, cria-se a Lei de Libras, Lei nº 10.436. A partir da qual a inclusão vem
acontecendo e desencadeou inúmeras ações que serão estudas na Unidade 3
deste livro de estudos.
61
AUTOATIVIDADE
4 Após assistir ao filme “Seu Nome é Jonas”, faça tópicos do que lhe chamou
a atenção, incluindo o que sentiu do tempo que ele estava internado em um
hospital psiquiátrico, quando estava na escola oralista, e quando estava no
ensino da Libras.
62
( ) Surdo ordenado como padre no dia 22 de setembro de 1951. Precisou
esperar durante três anos uma liberação do Papa da Lei Direito Canônico,
pois na época havia a proibição de surdo se tornar padre.
( ) Nascida nos Estados Unidos, ficou cega e surda aos dois anos de idade.
Aos sete anos foi confiada à professora Anne Mansfield Sullivan, que lhe
ensinou o alfabeto manual tátil (método empregado pelos surdos-cegos).
Primeira pessoa surda e cega a conquistar um bacharelado, foi escritora,
conferencista e ativista social norte-americana.
( ) Surdo, brasileiro, que em 1961 publicou no Rio de Janeiro o livro “Até onde
vai o surdo”, no qual ele relata suas experiências como surdo, em forma de
crônicas.
63
64
UNIDADE 2
SURDEZ E AS LEGISLAÇÕES
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Objetivos de aprendizagem:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está organizada em três tópicos. Ao final de cada um deles,
você encontrará o resumo e as autoatividades, que darão maior compreensão
dos temas abordados.
65
66
UNIDADE 2
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
Este primeiro tópico da Unidade 2 abordará a parte mais ligada à área da
medicina, iniciando pela parte física do ouvido, que é algo complexo, pois estamos
nos referindo ao aparelho responsável pelo sentido da audição, detalhando as
partes e as suas funções. Depois serão levantadas as causas da surdez, que podem
ser congênitas ou adquiridas, mas que podem aparecer em diferentes etapas da
vida. Na sequência veremos como se classificam as perdas auditivas, como é
medida esta perda e qual é a prótese auditiva sugerida para cada caso.
67
UNIDADE 2 | SURDEZ E AS LEGISLAÇÕES
dinâmica, quer pelo efeito de convergência das ondas no meato auditivo externo,
realizada pela configuração do pavilhão auricular, quer pelas angulações
do próprio canal auditivo externo”. O pavilhão auditivo é recoberto por uma
estrutura cartilaginosa, à exceção do extremo inferior do lóbulo, que se apresenta
carnoso e pendular. O rebordo externo, ou hélice da orelha, circunda uma
segunda dobra interna, ou antélice, que delimita a concha do canal auditivo. O
canal auditivo, delimitado por uma estrutura fibrocartilaginosa, apresenta pelos e
glândulas ceruminosas, que produzem o cerume ou cera, substância que protege
o acesso ao ouvido médio. Quanto ao ouvido médio, este é constituído por várias
cavidades ligadas entre si, que constituem a denominada caixa do tímpano.
68
TÓPICO 1 | MORFOLOGIA E FISIOLOGIA DO OUVIDO HUMANO E PRÓTESE AUDITIVA
69
UNIDADE 2 | SURDEZ E AS LEGISLAÇÕES
Surdez adquirida é aquela que é provocada por algum fator, como otite ou
ruído muito alto, por exemplo, e pode surgir em qualquer idade.
ᵒ Hereditárias.
ᵒ Malformações congênitas, adquiridas pelo embrião devido a infecções virais
ou bacterianas intrauterinas (ex.: rubéola, sarampo, sífilis, citomegalovírus,
herpes simplex, toxoplasmose).
ᵒ Intoxicações intrauterinas (ex.: quinino, álcool, drogas).
ᵒ Alterações endócrinas (ex.: patologias da tireoide, diabetes).
ᵒ Carências alimentares (ex.: vitamínicas).
ᵒ Agentes físicos (ex.: raios X).
ᵒ Doenças infecciosas.
ᵒ Bacterianas (ex.: meningites, otites, inflamações agudas ou crônicas das fossas
nasais e da nasofaringe).
ᵒ Virais (ex.: encefalites, varicela).
ᵒ Intoxicações (ex.: alguns antibióticos, ácido acetilsalicílico, excesso de vitamina
D que pode provocar lesão com hemorragia ou infiltração calcária nas artérias
auditivas).
ᵒ Trauma acústico (ex.: exposição prolongada a ruídos nos locais de trabalho
ou em recintos de diversão; sons de elevada intensidade e de curta duração,
tais como: nas explosões e na caça; diferenças de pressão, como no caso dos
mergulhadores).
70
TÓPICO 1 | MORFOLOGIA E FISIOLOGIA DO OUVIDO HUMANO E PRÓTESE AUDITIVA
4 TIPOS DE SURDEZ
O ouvido pode apresentar alterações, e de acordo com tais alterações há
diferentes tipos de perda auditiva, as quais segundo Brasil (2008), podem ser:
5 PERDA AUDITIVA
Cada pessoa pode ter diferentes formas de escutar os sons, na área de
saúde classificam-se os surdos através de exames de audiometria. Os graus de
surdez mais conhecidos são: leve/ moderada/ severa/ profunda. Audiometria é o
exame da audição realizado por meio de instrumentos e avaliação da capacidade
para apreender os diferentes sons da fala e de classificação de surdez em vários
graus.
71
UNIDADE 2 | SURDEZ E AS LEGISLAÇÕES
• não conseguem perceber a fala através da audição, mas podem perceber sons
altos através das vibrações;
• apresentam muitas limitações para a aquisição da linguagem oral;
• nenhuma sensação auditiva verbal pode ser captada pela criança
espontaneamente.
73
UNIDADE 2 | SURDEZ E AS LEGISLAÇÕES
74
TÓPICO 1 | MORFOLOGIA E FISIOLOGIA DO OUVIDO HUMANO E PRÓTESE AUDITIVA
75
UNIDADE 2 | SURDEZ E AS LEGISLAÇÕES
7 IMPLANTE COCLEAR
Encontrado comumente com a sigla IC e conhecido na área médica também
por ouvido biônico (Figura 78), é uma descoberta recente, portanto ainda há
polêmica na área da surdez. É um aparelho eletrônico computadorizado de alta
complexidade, considerado uma das maiores conquistas da engenharia ligada
à medicina. A pretensão da medicina seria de que este aparelho substituísse o
sentido da audição.
76
TÓPICO 1 | MORFOLOGIA E FISIOLOGIA DO OUVIDO HUMANO E PRÓTESE AUDITIVA
DICAS
77
UNIDADE 2 | SURDEZ E AS LEGISLAÇÕES
DICAS
Acesse o Blog “Crônicas da Surdez”. Conheça o blog e o livro e tire suas próprias
conclusões. Disponível em: <http://cronicasdasurdez.com/>.
DICAS
No site Surdo Cult, por exemplo, Germano Dutra Jr., surdo, que além do site
mantém um canal no Youtube, declara publicamente sua indignação, assim como muitos
outros surdos que usam as redes sociais para propagarem seu posicionamento contrário
ao implante coclear. A maioria das indignações está ligada à falta de respeito à comunidade
surda e suas características, pois muitos profissionais pedem para as famílias afastarem os
filhos da Língua de Sinais, priorizando apenas a oralização, privando, desta forma, o sujeito
do convívio com os demais surdos e com as demais formas de comunicação. Acesse:
<http://www.surdocult.com.br/index.php/2009/06/27/comunidade-surda-vs-implante-
coclear-2/>.
78
TÓPICO 1 | MORFOLOGIA E FISIOLOGIA DO OUVIDO HUMANO E PRÓTESE AUDITIVA
79
UNIDADE 2 | SURDEZ E AS LEGISLAÇÕES
DICAS
80
RESUMO DO TÓPICO 1
• A condição auditiva, ou seja, a funcionalidade da audição de cada sujeito surdo
se dá pelas características morfológicas e fisiológicas de seu órgão auditivo,
que é dividido em três partes: ouvido externo, ouvido médio e ouvido interno.
Podendo variar conforme o grau de perda de audição do sujeito, que é
classificado em perda auditiva leve, moderada, severa ou profunda.
81
AUTOATIVIDADE
(A) IC.
(B) AASI.
(C) Audiometria.
(D) Grau leve de perda auditiva.
(E) Grau moderado de perda auditiva.
(F) Grau severo de perda auditiva.
(G) Grau profundo de perda auditiva.
5 Qual é o fator que mais deixa a comunidade surda indignada com a questão
dos Implantes Cocleares – IC?
82
UNIDADE 2 TÓPICO 2
CONCEITOS OU CARACTERIZAÇÃO DE SURDEZ
1 INTRODUÇÃO
Neste segundo tópico abordaremos as terminologias mais usadas
no decorrer da história, bem como suas conceituações e análise. A principal
discussão, hoje, gira em torno do termo Deficiência Auditiva – DA – e Pessoa
Surda – PS. Os dois termos são aceitos, apesar das divergências entre autores
e comunidades surdas. Também traremos a discussão de cultura, identidade e
comunidade surda, além da diferenciação entre os surdos considerados híbridos,
flutuantes, incompletos e em transição. Ao caracterizar o sujeito Surdo, fica
evidenciado que o surdo é usuário de uma língua diferenciada, que lhe propicia
o acesso aos conhecimentos, como qualquer outra língua a seus usuários. Assim,
o último item deste tópico trará algumas reflexões sobre o processo de aquisição
desta língua.
2 DEFICIÊNCIAS E TERMINOLOGIAS
Dúvidas cruéis perseguem muitas pessoas no que se refere ao uso
de determinadas terminologias em relação às pessoas com qualquer tipo
de deficiência. Muitos termos considerados incorretos já foram usados no
passado, na forma que se tinha a discussão e a visão da época, tais como:
doentes, mongoloide, surdo-mudo, ceguinho, surdinho e tantos outros termos.
Infelizmente, ainda ouvimos estas denominações em nossos dias, por pessoas
que ainda estão arraigadas à cultura passada, ou por não possuírem informação.
83
UNIDADE 2 | SURDEZ E AS LEGISLAÇÕES
Para não errar nesta questão, é necessário não usar termos ultrapassados,
com conotações negativas, bem como não tentar explorar ao máximo as variações
linguísticas, usando palavras com conotações genéricas para grupos específicos.
Pode até parecer politicamente correto, mas ofende as pessoas em questão. Assim
entendemos que o uso do termo pessoa com deficiência é o correto, haja vista
retratar sem ofensas tal realidade.
3 DEFICIÊNCIA E EFICIÊNCIA
Muitos não usam a terminologia correta, pessoa com deficiência,
por acreditarem que o contrário de deficiência é eficiência. Entretanto, esse
entendimento é equivocado. O contrário de eficiência não é a deficiência. O
contrário de eficiência é ineficiência. Assim, ineficiente (entendido como aquele
que não produz, e, portanto, não é eficaz), pode ser tanto uma pessoa com
deficiência como uma pessoa sem deficiência, haja vista ser esta característica
existente independentemente desta situação (a deficiência).
84
TÓPICO 2 | CONCEITOS OU CARACTERIZAÇÃO DE SURDEZ
Neste sentido, a Dra. Fávero (2004) afirma que a pessoa com deficiência
não é uma pessoa incapaz, pois caso assim fosse, isto representaria, no mínimo,
um retrocesso a todo esforço de décadas para que a deficiência seja vista de forma
dissociada da ausência de potencialidade, ou seja, a pessoa com deficiência possui
sim suas potencialidades, precisamos apenas desenvolvê-las.
DICAS
85
UNIDADE 2 | SURDEZ E AS LEGISLAÇÕES
Este discurso não é homogêneo, nem dentro nem fora das comunidades
surdas. Recentemente, o termo surdo-mudo tem sido objeto de polêmicos debates
entre surdos/as, mas tem prevalecido o não uso desse termo, posição com a qual
concordamos. A não utilização se sons se dá porque não ouvem. O surdo, quando
oralizado, pode se comunicar por meio da fala, é óbvio que isto demanda um
acompanhamento fonoaudiólogo demasiado.
NOTA
86
TÓPICO 2 | CONCEITOS OU CARACTERIZAÇÃO DE SURDEZ
Para Campos (2014, p. 14), é “[...] aquele que apreende o mundo por meio
de contatos visuais, que é capaz de se apropriar da língua de sinais e da língua
escrita e de outras, de modo a propiciar seu pleno desenvolvimento cognitivo,
cultural e social”.
87
UNIDADE 2 | SURDEZ E AS LEGISLAÇÕES
88
TÓPICO 2 | CONCEITOS OU CARACTERIZAÇÃO DE SURDEZ
89
UNIDADE 2 | SURDEZ E AS LEGISLAÇÕES
NOTA
90
TÓPICO 2 | CONCEITOS OU CARACTERIZAÇÃO DE SURDEZ
das pessoas surdas entre si e com outras pessoas que não são surdas. Ser uma
pessoa surda não equivale a dizer que esta faça parte de uma cultura e de uma
comunidade surda, porque sendo a maioria dos surdos, aproximadamente 95%
filhos de pais ouvintes, muitos destes não aprendem a Libras e não conhecem
as associações de surdos, que são as comunidades surdas, podendo se tornar
somente pessoas com deficiência auditiva.
Ser surdo é saber que pode falar com mãos e aprender uma língua oral-
auditiva, através dela conviver com pessoas que em um universo de barulhos
deparam-se com pessoas que estão percebendo o mundo, principalmente pela
visão, e isso faz com que elas sejam diferentes e não necessariamente deficientes.
Perlin (2012, p. 64) afirma que "[...] no momento em que esses surdos
conseguem contato com a comunidade surda, a situação muda e eles passam
pela ‛desouvintização’ da representação da identidade”. É um momento em
que ocorre a passagem da comunicação visual/oral para a comunicação visual/
sinalizada.
[...] não pelo viés das identidades, mas pelos diferentes entornos
linguísticos, pelas diferentes experiências linguísticas nas quais os
surdos estão imersos. Essas experiências, esses entornos, também não
são fixos, porque as pessoas mudam de ambientes, de relações sociais,
de escolas, entre outros (MADEIRA, 2015, p. 29).
93
UNIDADE 2 | SURDEZ E AS LEGISLAÇÕES
Mesa Casa (2016), em seu artigo sobre “os surdos na aquisição da segunda
Língua de Sinais”, faz uma análise teórica de como ensinar a língua de sinais para
aquisição e desenvolvimento da linguagem pelos surdos. Para Mesa Casa (2016,
p. 34), “o processo de comunicação torna-se importantíssimo para conseguir a
capacidade do desenvolvimento cognitivo”, o que ocorre através da aquisição de
um sistema simbólico dado através da própria língua.
Neste sentido, fica evidente que quanto mais cedo propiciar o contato
com a língua, melhor é o desenvolvimento da pessoa surda. Muitos autores
reafirmam esta premissa, assim como Mesa Casa (2016, p. 43), para ela “uma
língua adquirida em sua totalidade e fluência é a base do processo de comunicação
e desenvolvimento cognitivo”.
Sacks (2010, p. 58) afirma ainda que há um “perigo especial que ameaça o
desenvolvimento humano, tanto intelectual como emocional, se deixar de ocorrer
a aquisição apropriada de uma língua”. É uma constatação óbvia a capacidade
que a criança tem no início da aquisição da linguagem, pois o sujeito desenvolve
a potencialidade e há um processo de maturação da língua de forma natural, cada
modalidade do seu jeito, com suas características diferentes, no caso da educação
de surdos, com o estímulo espaço-visual.
94
TÓPICO 2 | CONCEITOS OU CARACTERIZAÇÃO DE SURDEZ
DICAS
Sabemos muito bem como um bebê ouve, passa a balbuciar e vai evoluindo até
falar frases complexas. E como se dá a evolução da aquisição da Língua de sinais?
FICOU CURIOSO?
Leia a primeira Unidade do trabalho de Aline Lemos Pizzio e Ronice Müller de Quadros
sobre “AQUISIÇÃO DA LINGUA DE SINAIS” (páginas 3 a 8). Você irá encontrar o
texto em: <http://www.libras.ufsc.br/colecaoLetrasLibras/eixoFormacaoEspecifica/
aquisicaoDeLinguaDeSinais/assets/748/Texto_Base_Aquisi_o_de_l_nguas_de_sinais_.pdf>
ou em PDF com seu professor.
95
UNIDADE 2 | SURDEZ E AS LEGISLAÇÕES
DICAS
96
RESUMO DO TÓPICO 2
• A terminologia aceita atualmente ao referir-se às pessoas que não ouvem é:
Pessoa Surda – PS –, caso sua surdez seja profunda, ou deficiente auditiva –
DA –, caso a pessoa ainda ouça, mesmo que de forma parcial. A terminologia
surdocego também é correta. Trata-se da pessoa que apresenta deficiência
visual e auditiva, concomitantemente. Também vale ressaltar que textos legais
escritos com termos ultrapassados, não necessitam de revisão, subentendendo
que o termo era válido na época, ou seja, traduz pelas terminologias utilizadas
atualmente.
97
AUTOATIVIDADE
( ) São sujeitos que não têm condições de usar a língua de sinais por falta de
contato com ela, em geral, estes sujeitos já são adultos e vivem isolados da
sociedade em geral.
( ) Refere-se aos surdos que não tinham contato com a comunidade surda, e ao
conhecê-la, passam a incorporá-la.
( ) Representa as pessoas que nascem ouvintes e acabam por perder a audição
depois de um tempo. Assim acabam tendo o contato com as duas línguas.
( ) Sujeitos surdos que não têm contato com outros surdos sentem-se
pertencentes à comunidade ouvinte e rejeitam a língua de sinais.
98
UNIDADE 2 TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
Ao pensarmos sobre a questão legislativa da Língua Brasileira de
Sinais – LIBRAS, precisamos considerar o modo como esta língua se constitui,
que discussões foram necessárias para chegarmos à materialidade destas leis e
decretos que, de alguma forma, se referem à Libras.
99
UNIDADE 2 | SURDEZ E AS LEGISLAÇÕES
havia menção alguma aos direitos dos surdos, sob qualquer nomenclatura.
Portanto, para Costa (2010), o início do deslocamento legislativo em relação ao
sujeito surdo está representado no documento de 1988. A seguir observaremos
outras materialidades que representam o deslocar da linguagem até que
chegássemos à língua de sinais, reconhecidamente considerada através da
legislação brasileira.
ATENCAO
Lembrando o que foi dito no Tópico 2: Textos legais escritos com termos
ultrapassados não necessitam de revisão, subtendendo que o termo era válido na época, ou
seja, traduz pelas terminologias utilizadas atualmente.
100
TÓPICO 3 | O DISCURSO LEGISLATIVO ACERCA DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
101
UNIDADE 2 | SURDEZ E AS LEGISLAÇÕES
DICAS
102
TÓPICO 3 | O DISCURSO LEGISLATIVO ACERCA DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
103
UNIDADE 2 | SURDEZ E AS LEGISLAÇÕES
Costa (2010) faz outro apontamento nesta questão, para ela está sim,
legalmente legitimada a existência da linguagem de sinais, porém ainda não a
existência de uma língua como parte da vivência do surdo. Neste contexto, a
presença do intérprete passa a ser parte indispensável na comunicação do surdo
com o ouvinte, e este contexto ajuda a legitimar a Libras enquanto língua de
sinais, isto representa o início de reconhecimento do status de língua.
104
TÓPICO 3 | O DISCURSO LEGISLATIVO ACERCA DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
Costa (2010) amplia esta discussão, se o surdo possui uma linguagem, ela
passa a ser língua brasileira do surdo, ela é sua língua nacional e, como tal, tem
uma história constituída, ligada à forma histórica do sujeito sociopolítico, que se
define na formação do país em relação a esta língua. Se referir neste momento a
uma língua e não linguagem, é tratar de outros sentidos que garantem o status
linguístico da Libras, é dar um lugar sociopolítico à linguagem de sinais e ao
sujeito surdo.
105
UNIDADE 2 | SURDEZ E AS LEGISLAÇÕES
Costa (2010) reitera que agora, como língua permitida, legal(izada), este
reconhecimento desloca a posição do sujeito surdo brasileiro, lhe traz um novo
espaço social. Tendo língua própria, ele agora é reconhecidamente marcado por
uma distinta brasilidade, e recebe a condição de pertencimento, de patriotização.
Os surdso são agora possuidores de uma língua do Brasil.
106
TÓPICO 3 | O DISCURSO LEGISLATIVO ACERCA DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
DICAS
De forma geral, o decreto discorre sobre vários itens, entre eles: a definição
de pessoa surda; a colocação de Libras como disciplina curricular obrigatória e a
ampliação dos cursos que a ensinem, e em alguns casos a opção nos cursos; a
formação do professor e do instrutor de Libras; exames de proficiência e outras
avaliações; medidas para difusão e uso de Libras e Língua Portuguesa como forma
de dar ao surdo acesso à educação; a formação do tradutor/intérprete de Libras/
Português; a garantia dos direitos dos surdos à educação e à saúde; o papel do
poder público no apoio à difusão da Libras; o controle do orçamento público e o
controle do uso e difusão das medidas legisladas.
107
UNIDADE 2 | SURDEZ E AS LEGISLAÇÕES
Podemos afirmar que este grupo minoritário tomou posse da lei e lutou
pela sua efetivação. Costa (2010) cita Orlandi (2006) em seu livro, e esta afirma
que a metáfora do grupo-corpo acalma a angústia da cisão do sujeito.
DICAS
Leia na íntegra o que Costa (2010 p. 49-50) versa sobre os termos: ANORMAL
e DIFERENTE. Vale a pena se deliciar com esta leitura.
108
TÓPICO 3 | O DISCURSO LEGISLATIVO ACERCA DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
DICAS
109
RESUMO DO TÓPICO 3
• As Leis realmente não são criadas a ‘toque de mágica’, são resultado de muitas
discussões e lutas que COSTA (2010) trata neste texto como deslocamentos
históricos. A Constituição de 1988 é a primeira legislação brasileira a
contemplar os direitos das pessoas com deficiência, citando as áreas da saúde,
cidadania, educação e assistência social. Porém a primeira Lei que reconhece
a necessidade de uma comunicação para os Surdos só aparece em 2000, foram
12 anos de caminhada em busca do reconhecimento.
110
AUTOATIVIDADE
4 Finalmente foi aprovada a Lei mais esperada pela comunidade surda, a Lei
nº 10.436 de 2002. A que se refere esta Lei?
111
112
UNIDADE 3
POLÍTICAS DE ATENDIMENTO ÀS
PESSOAS SURDAS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está organizada em três tópicos. Ao final de cada um deles, você
encontrará o resumo e a autoatividade, que darão maior compreensão aos
temas abordados.
113
114
UNIDADE 3
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
Não temos como falar da educação de surdos sem associá-la a história
no geral e vice-versa. Portanto, você encontrará citado aqui, muitos dos fatos já
estudados em outras unidades. Na dúvida, reveja-os!
A Língua de Sinais iniciou ainda no tempo do Império do Brasil, porém
a educação de surdos seguiu os ideais do Congresso de Milão em 1880 e acabou
por dizimá-la por 100 anos, voltando a discuti-la recentemente, sendo que a lei
que aprovou a volta da língua de sinais e uso do bilinguismo como metodologia
oficial é de 2002.
115
UNIDADE 3 | POLÍTICAS DE ATENDIMENTO ÀS PESSOAS SURDAS
Segundo Rocha (2008), a primeira escola criada no Brasil teve como objetivo
ensinar a ler, escrever e contar. Era uma escola para pobres, brancos e livres.
Naquela época, a sociedade, ainda escravocrata, organizava-se politicamente de
forma distinta da atualidade. “Não guardava uma intenção de continuidade com
os níveis de instrução secundária e superior, que eram destinados à aristocracia”
(ROCHA, 2008, p. 23). Foi, nesse cenário, conhecido como “das primeiras letras”,
conforme Rocha, que em junho de 1855 E. Huet apresentou ao imperador D.
Pedro II um projeto para criação de um estabelecimento para surdos.
UNI
O Instituto foi criado pela Lei nº 939, em 26 de setembro 1856, data em que é
comemorado hoje o Dia Nacional dos Surdos no Brasil.
Conheça mais sobre esta antiga lei no site do MAPA – Memória da Administração Pública
Brasileira do Arquivo Nacional, em: <http://linux.an.gov.br/mapa/?p=8229>.
116
TÓPICO 1 | A EDUCAÇÃO DE SURDOS NO CONTEXTO BRASILEIRO E ESPECIFICIDADES DA LÍNGUA DE SINAIS
Lembramos que tudo estava muito bem até o Congresso de Milão, na Itália,
quando houve a decisão de proibir a língua de sinais. Assim, o legado cultural
e o processo educacional de surdos tiveram impactos definitivos, afetando o
processo em si e a vida das pessoas surdas nos próximos cem anos. Para entender
o significado social dessa mudança ocorrida em 1880, Fernandes e Moreira (2014
p. 53) lembram que na “Europa e na América, vivia-se o auge da controvérsia
envolvendo metodologias de comunicação nas escolas de surdos. Ensino que
contrapunha fala e língua de sinais como meios de instrução”.
No Brasil, até este congresso, era uma época que tinha ampla valorização
e aceitação da língua de sinais, porém a partir do Congresso de Milão de 1880,
a língua de sinais foi banida completamente na educação de surdos, impondo
ao povo surdo o oralismo em que buscavam a personalidade ouvinte no surdo,
tentando através de metodologias o ensino da fala.
Lane (1984) comenta sobre minorias linguísticas, que neste caso, os surdos
viram sua língua sucumbir no meio educacional:
117
UNIDADE 3 | POLÍTICAS DE ATENDIMENTO ÀS PESSOAS SURDAS
Fernandes (2012) afirma que depois desse cenário que amordaçou a língua
de sinais por um século, a comunidade surda buscou a importância da estratégia
política, ou seja, o reconhecimento da identidade cultural como processo
permanente da “representação e construção do eu como sujeito único e igual a si
mesmo e o uso desta como referência de liberdade, felicidade e cidadania, tanto
nas relações interpessoais como intergrupais e internacionais” (SAWAIA, 2001
apud FERNANDES, 2012, p. 22).
118
TÓPICO 1 | A EDUCAÇÃO DE SURDOS NO CONTEXTO BRASILEIRO E ESPECIFICIDADES DA LÍNGUA DE SINAIS
119
UNIDADE 3 | POLÍTICAS DE ATENDIMENTO ÀS PESSOAS SURDAS
120
RESUMO DO TÓPICO 1
• A Língua de Sinais retornou a pauta dos espaços escolares apenas 100 anos
depois, quando a comunidade surda consegue levantar a discussão. E logo
depois se estabelece então a Lei de Libras, pensando uma educação voltada ao
Bilinguismo, uso da Libras e da Língua Portuguesa escrita.
121
AUTOATIVIDADE
a) ( ) 30 de setembro.
b) ( ) 26 de setembro.
c) ( ) 24 de abril.
d) ( ) 26 de julho.
122
UNIDADE 3
TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
Já estudamos na Unidade 1 que no princípio não havia o que ensinar,
pois nem a vida lhes era poupada. Em seguida, veio a concepção de que os
sujeitos surdos eram intelectualmente ‘inferiores’, por isso eram trancados em
asilos. E depois, inicia-se a educação de surdos, quando se percebe que os sujeitos
surdos tinham a capacidade de aprender, com isto surgiram também pesquisas
e experimentos das diferentes filosofias, metodologias e formas adaptadas de
ensino.
123
UNIDADE 3 | POLÍTICAS DE ATENDIMENTO ÀS PESSOAS SURDAS
A surdez vem sendo narrada, nos últimos anos, no campo dos estudos
surdos, que evidencia a história dos surdos contada na perspectiva dos próprios
surdos, “uma história que se constitui de forma tensionada e entrelaçada a
determinadas épocas e contextos sociais, políticos, econômicos, culturais etc.”
(LOPES, 2011, p. 10). Segundo a autora, essa história apresenta fortes marcas de
resistência de movimentos surdos.
A seguir serão destacadas três abordagens distintas adotadas, ao longo
dos tempos, na escolarização de pessoas com surdez: a oralista, a comunicação
total e o bilinguismo.
3 ORALISMO
O oralismo surgiu por volta do século XVIII, a partir das resoluções do
Congresso Internacional de Educadores Surdos que ocorreu em 1880, em Milão,
Itália, perdurando até a década de 1970. Segundo Sacks (2010, p. 35), no referido
congresso “no qual os próprios professores surdos foram excluídos da votação,
o oralismo saiu vencedor e o uso da língua de sinais nas escolas foi oficialmente
abolido”.
124
TÓPICO 2 | CONCEPÇÕES FILOSÓFICAS DA EDUCAÇÃO DE SURDOS
DICAS
125
UNIDADE 3 | POLÍTICAS DE ATENDIMENTO ÀS PESSOAS SURDAS
126
TÓPICO 2 | CONCEPÇÕES FILOSÓFICAS DA EDUCAÇÃO DE SURDOS
DICAS
A técnica de leitura labial, ”ler” a posição dos lábios e captar os movimentos dos
lábios de alguém que está falando é útil apenas quando o interlocutor formula as palavras
de frente, com clareza e devagar.
A maioria dos surdos só consegue ler 20% da mensagem através da leitura labial, perdendo
a maioria das informações. Geralmente os surdos ‘deduzem’ as mensagens de leitura labial
através do contexto dito.
4 COMUNICAÇÃO TOTAL
Na década de 1960 brotou a língua dos sinais associada à oralização,
surgindo o modelo misto denominado de Comunicação Total, que trouxe o
reconhecimento e valorização de língua de sinais que foi muito oprimida e
marginalizada por mais de 100 anos.
127
UNIDADE 3 | POLÍTICAS DE ATENDIMENTO ÀS PESSOAS SURDAS
128
TÓPICO 2 | CONCEPÇÕES FILOSÓFICAS DA EDUCAÇÃO DE SURDOS
DICAS
Para ver os vídeos com imagens sobre a Comunicação Total acesse: <https://
www.youtube.com/watch?v=XwjdvvYWqTg>.
Perlin e Strobel (2008) refletem sobre esta modalidade mista, para elas e
outros autores da área, o maior problema é a mistura das duas línguas, a língua
portuguesa e a língua de sinais, resultando numa terceira modalidade que é o
‘português sinalizado’, essa prática recebe também o nome de ‘bimodalismo’ que
encoraja o uso inadequado da língua de sinais, já que tem a gramática diferente
da língua portuguesa.
129
UNIDADE 3 | POLÍTICAS DE ATENDIMENTO ÀS PESSOAS SURDAS
5 BILINGUISMO
A partir da década de 1970 percebeu-se que a língua de sinais poderia ser
utilizada independentemente da língua oral. Surgiu, assim, a filosofia bilíngue,
que desde a década de 1980 vem se disseminando por todos os países do mundo.
130
TÓPICO 2 | CONCEPÇÕES FILOSÓFICAS DA EDUCAÇÃO DE SURDOS
131
UNIDADE 3 | POLÍTICAS DE ATENDIMENTO ÀS PESSOAS SURDAS
c) O bilinguismo progressista
133
UNIDADE 3 | POLÍTICAS DE ATENDIMENTO ÀS PESSOAS SURDAS
134
TÓPICO 2 | CONCEPÇÕES FILOSÓFICAS DA EDUCAÇÃO DE SURDOS
das identidades. Nesse caso, surdos estão defendendo que não há mais
surdez, deficiência, mas a educação deve ser constituída de uma outra
modalidade metodológica, com base na cultura surda. E também neste caso
os ouvintes estão olhando para o surdo como sendo diferentes, isto é, aqueles
que são portadores de outra cultura.
1
Para Perlin e Strobel (2008) referem-se às diferenças culturais nos diversos
grupos sociais. Por diferença entende-se a diferença mesma não contendo
aspectos da mesma idade que posições iluministas pregam para atingir a
perfeição.
2
Para Fleuri (2000) o que é inovador em educação é o iniciar a focalizar
momentos e processos produzidos, face às diferenças culturais. Nesta direção,
a perspectiva intercultural pode estimular os surdos a enfatizar os aspectos
de identidade/alteridade com estímulos para desenvolver a capacidade de
reflexão sobre a diferença cultural, ao lado da possibilidade solidária de
interação com outros grupos culturais.
3
Identidade Cultural: é uma forma de distinguir os diferentes grupos sociais
e culturais entre si. A identidade cultural pode ser melhor entendida se
considerarmos a produção da política da identidade, que também dá origem
a esta metodologia da educação do surdo.
DICAS
135
UNIDADE 3 | POLÍTICAS DE ATENDIMENTO ÀS PESSOAS SURDAS
UNI
SKLIAR, Carlos (Org.). Atualidade da educação bilíngue para surdos. Processos e projetos
pedagógicos. Volume I. Porto Alegre: Editora Mediação, 1999.
FERNANDES, Eulália (Org.). Surdez e bilinguismo. Porto Alegre: Editora Mediação, 2005.
DICAS
Veja de uma forma divertida o resumo das três metodologias que discutimos
neste tópico. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=XwjdvvYWqTg>.
136
RESUMO DO TÓPICO 2
137
AUTOATIVIDADE
1 INTRODUÇÃO
Reportar-nos-emos a duas políticas públicas implementadas na educação
bilíngue de surdos no estado de Santa Catarina. Uma é a proposta do MEC, que
é incorporada a partir da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva
da Educação Inclusiva de 2008, em que o documento ‘A educação especial na
perspectiva da inclusão escolar: abordagem bilíngue na escolarização de pessoas
surdas’ norteia a discussão teórica e metodológica da prática cotidiana no
Atendimento Educacional Especializado – AEE. A outra é a proposta da Política
de Educação Especial do Estado de Santa Catarina, que hoje é organizada pela
Fundação Catarinense de Educação Especial – FCEE –, que busca consolidar
a articulação entre o ensino regular e o especial. Para efetivação desta política
de integração da pessoa com deficiência, o Estado implementou as salas de
multimeios para atender às necessidades dos alunos com deficiência através do
Serviço de Atendimento Educacional Especializado – SAEDE.
140
TÓPICO 3 | AS POLÍTICAS DE ATENDIMENTO À SURDEZ
141
UNIDADE 3 | POLÍTICAS DE ATENDIMENTO ÀS PESSOAS SURDAS
Aluno com surdez e o ato de escrever: para Martins (1982), o texto é uma
tessitura de palavras, ideias e concepções articuladas de forma coerente e coesa.
Ensinar aos alunos com surdez, assim como aos demais alunos, a produzir textos
em português, objetiva torná-los competentes em seus discursos, oferecendo-lhes
oportunidades de interagir nas práticas da língua oficial e de transformar-se em
sujeitos de saber e poder com criatividade e arte. Para que essa aprendizagem
ocorra, a educação escolar deve apresentar aos alunos com surdez a diversidade
textual circulante em nossas práticas sociais. Essa apropriação dos gêneros e
discursos é essencial para que os alunos façam uso da língua portuguesa.
142
TÓPICO 3 | AS POLÍTICAS DE ATENDIMENTO À SURDEZ
Observe que os números referentes aos graus da surdez citados pelo estado de
Santa Catarina se assemelham aos do MEC, a proposta de Santa Catarina apenas
junta algumas modalidades.
144
TÓPICO 3 | AS POLÍTICAS DE ATENDIMENTO À SURDEZ
Este grupo observou, que até 2012, quando realizado o último Censo, que
até o último Censo, os surdos e a surdez foram inscritos na ordem da dificuldade
em escutar e ouvir, e lembram que as conquistas dos movimentos surdos
deslocaram a questão da diferença de ser surdo, não seria apenas a dificuldade de
ouvir, mas sim uma condição de grupo, de comunidade; um grupo minoritário,
com cultura própria e que se diferenciam pelo uso da Libras.
145
UNIDADE 3 | POLÍTICAS DE ATENDIMENTO ÀS PESSOAS SURDAS
146
TÓPICO 3 | AS POLÍTICAS DE ATENDIMENTO À SURDEZ
147
UNIDADE 3 | POLÍTICAS DE ATENDIMENTO ÀS PESSOAS SURDAS
148
TÓPICO 3 | AS POLÍTICAS DE ATENDIMENTO À SURDEZ
comunidade. Ela vai determinar decisões quanto ao uso das línguas nestes locais,
e a partir disso instaura-se um planejamento linguístico que objetiva e implementa
a política linguística traçada.
150
TÓPICO 3 | AS POLÍTICAS DE ATENDIMENTO À SURDEZ
151
UNIDADE 3 | POLÍTICAS DE ATENDIMENTO ÀS PESSOAS SURDAS
LEITURA COMPLEMENTAR
152
TÓPICO 3 | AS POLÍTICAS DE ATENDIMENTO À SURDEZ
153
UNIDADE 3 | POLÍTICAS DE ATENDIMENTO ÀS PESSOAS SURDAS
“As pessoas com deficiência deverão fazer jus, em base de igualdade com
as demais pessoas, a terem reconhecida e apoiada sua identidade cultural e
linguística específica, inclusive as línguas de sinais e a cultura dos deficientes
auditivos”.
(Artigo 30, sobre a participação na vida cultural)
154
TÓPICO 3 | AS POLÍTICAS DE ATENDIMENTO À SURDEZ
Bilinguismo mascarado
155
UNIDADE 3 | POLÍTICAS DE ATENDIMENTO ÀS PESSOAS SURDAS
Inclusão excludente
156
TÓPICO 3 | AS POLÍTICAS DE ATENDIMENTO À SURDEZ
Ela acredita que a escola inclusiva segue um caminho sem volta, fazendo
com que os surdos sejam cada vez mais excluídos do processo de aprendizagem.
“As nossas pesquisas são resultados negativos sobre o triste fim dos surdos
incluídos sem condições para isso”, demonstra a pesquisadora. “Temos certeza
de que a inclusão excludente veio para ficar. Se não há volta, precisamos nos
filiar a algum conceito de inclusão, de maneira a pensar a diferença surda com
dignidade ética”, propõe a pesquisadora.
O politicamente correto
157
UNIDADE 3 | POLÍTICAS DE ATENDIMENTO ÀS PESSOAS SURDAS
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TÓPICO 3 | AS POLÍTICAS DE ATENDIMENTO À SURDEZ
“Antes ele era agressivo e nada prendia a atenção dele. Agora ele tem um
objetivo, ele copia, é interessado, está mais calmo e sabe esperar. Aprendeu
os sinais e está sabendo se comunicar melhor, coisa que ele não sabia antes.
Na escola inclusiva ele copiava sem compreender. Hoje ele sabe o que
escreve. Antes ele não sabia nem o que era certo ou errado, o que pode e o
que não pode”. Com essas palavras, Cléa Machado descreve as mudanças na
educação do seu filho Alisson. Aos dez anos ele retornou à Escola Especial
Professor Alfredo Dub, da cidade gaúcha de Pelotas, onde já havia estudado
até os quatro anos. Cléa explica que na escola de ouvintes o filho passou por
muitas dificuldades de alfabetização. Foi quando ela decidiu retornar à escola
de surdos.
A escola possui atualmente 88 anos. Fundada em 1949, a instituição
filantrópica não trabalhava com a filosofia bilíngue até 1995. A diretora
Marli Schulz explica que a instituição ainda está no processo de transição
para o bilinguismo, mas que todas as aulas são em Libras. Dos 23
professores, seis são surdos e a escola ainda conta com um funcionário surdo
também. “As vantagens no aprendizado são claras. O aluno aprende bem mais
rápido com a Libras”, explica Marli. Quando os alunos terminam os estudos
na escola bilíngue, na 8ª série, vão para a escola pública inclusiva de Pelotas.
A professora Elisabeth Castro, quem tem dois filhos surdos, comenta que os
resultados da escola bilíngue são louváveis. Ela é a favor da inclusão social,
já que os surdos precisam transitar no mundo, serem consumidores e terem
independência. Para ela, o papel dos pais também é de extrema relevância.
Elisabeth explica que uma vantagem da escola bilíngue é a presença de
currículos, conteúdos e avaliações específicos, que respeitam a singularidade
da língua de sinais.
Além disso, na escola bilíngue os alunos têm a liberdade que de serem
diferentes. “Percebemos que os alunos têm a liberdade de se exporem e
admitirem algum desconhecimento na frente dos colegas. Sabemos que as
crianças ouvintes, pelo fato de ouvirem, têm acesso a inúmeras informações que
os surdos não têm. Diante desses colegas, os surdos se sentem constrangidos”,
aponta Elisabeth.
Entretanto, a professora adverte que também a escola bilíngue precisa mudar,
de modo a acompanhar o novo aluno surdo, que tem acesso à internet e apreende
o mundo com um outro olhar. “É preciso aproveitar essa potencialidade da
tecnologia e adaptar o ensino a essa nova realidade do surdo”, explica.
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UNIDADE 3 | POLÍTICAS DE ATENDIMENTO ÀS PESSOAS SURDAS
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RESUMO DO TÓPICO 3
• A revista da FENEIS nos dá este suporte, trazendo o retrato do que tem sido
discutido e do vem acontecendo na prática, para ela precisamos evoluir da
escola inclusiva para uma escola verdadeiramente bilíngue.
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AUTOATIVIDADE
a) AEE em LIBRAS.
b) AEE de Libras.
c) AEE de Língua Portuguesa.
Avalie item a item comparando-os com a escola onde você atua ou uma escola
que você conheça. Assim as respostas estarão relacionadas à inclusão em sua
região.
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- Conteúdos acessíveis visualmente;
- Língua Portuguesa ensinada e avaliada como segunda língua;
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