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O processo de

inventário: Etapas e
Documentação
Prof.a Lili de Souza

Indaial – 2021
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2021

Elaboração:
Prof.a Lili de Souza

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

S729o

Souza, Lili de

O processo de inventário: etapas e documentação. / Lili de Souza –


Indaial: UNIASSELVI, 2021.

215 p.; il.

ISBN 978-65-5663-897-3
ISBN Digital 978-65-5663-892-8

1. Partilha de bens. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci.

CDD 342

Impresso por:
Apresentação
Caro acadêmico, este livro inaugura uma etapa importante, senão a
mais importante do seu Curso, pois visa trazer informações diretamente sobre
o processo de inventário extrajudicial em si, com suas etapas e exigências,
adicionadas de informações sobre os documentos necessários.

Nas três unidades que formam o conteúdo deste livro didático,


estruturado para que estude e conheça a formação do processo de inventário
extrajudicial, você encontrará disposições teóricas que servirão para dar
sustentação ao seu conhecimento, mas também será desafiado a evoluir com
um olhar em modelos e minutas da prática.

Quando se fala em conhecimento teórico, é necessário lembrar da


importância e relevância que isso tem no seu aprendizado, porque aqui, na
UNIASSELVI, você conhece o nosso lema “não basta saber, é preciso saber
fazer”. Então, é preciso SABER FAZER. E esse “saber fazer” deve estar
estruturado em conhecimentos basilares, sob pena de fazer errado ou não
saber fazer. E isso nem você, nem a Instituição deseja.

Em um exemplo desse “saber fazer”, você é questionado se qualquer


inventário pode ser feito extrajudicialmente, você sabe responder? Você
também pode ser questionado, se a pessoa pode optar por fazer o inventário
judicial ou extrajudicial, e você responderá o quê? Essas são questões
simples, mas existem outras mais complicadas, como: no caso da morte de
uma pessoa casada, deixando a outra viúva, sendo o casamento pelo regime
da separação de bens, e o imóvel onde moravam pertencia à pessoa falecida,
o cônjuge sobrevivente precisa desocupar o imóvel?

Parece que começa a ficar interessante? Então, na Unidade 1, vamos


estudar o Processo de Inventário Extrajudicial, desdobrando seu estudo no
conceito de sucessões, de herança. Vamos analisar quando se dá a abertura
e a transmissão da sucessão. Analisaremos o direito do nascituro e a
questão da comoriência. Também verificaremos como fica o levantamento
de valores pelos dependentes, no inventário extrajudicial. Seguimos com
a sucessão legítima e a ordem da vocação hereditária. Vamos descobrir o
que é parentesco e as linhas e graus de parentesco. E, ainda estudaremos o
recebimento da herança, com a petição de herança ao tabelião, o direito de
representação, os descendentes, os ascendentes e o cônjuge com o regime
de bens do casamento. E, por fim, a união estável, os colaterais e os casos
de quando não há herdeiros que os bens ficam para o Município, Distrito
Federal e União.
Em seguida, na Unidade 2, estudaremos as etapas para a realização
de um inventário. Aqui, obrigatoriamente iremos apresentar a fiscalização e
participação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e das Corregedorias de
Justiça. algumas breves linhas sobre as modificações do Código de Processo
Civil. Vamos falar dos prazos para o inventário. Ainda abordaremos
a distinção entre meação e herança. Nessa mesma unidade, também
analisaremos a competência funcional do tabelião e a necessária assistência
do advogado.

Por fim, na Unidade 3, aprenderemos quais são os documentos


necessários para a realização de um inventário extrajudicial. Iniciando
pela documentação das partes e das pessoas envolvidas no inventário
extrajudicial. Também os documentos dos bens que serão inventariados
e partilhados, com a declaração dos valores. Estudaremos a questão dos
impostos: o imposto sobre transmissão causa mortis e doação (ITCM-D)
e, quando for o caso, o imposto sobre transmissão de bens imóveis (ITBI)
“inter vivos”. Também abordaremos as formalidades da escritura pública de
inventário e partilha, a cessão de direitos hereditários, a renúncia da herança,
procurações, certidões negativas de débitos obrigatórias, por fim, vamos
conhecer a figura da sobrepartilha extrajudicial, a escritura de retificação da
partilha, a existência da central de inventários e testamentos. Também será
abordada a temática dos emolumentos da escritura, que são as despesas do
Cartório e a figura da gratuidade.

Acadêmico, este material foi especialmente produzido para que você


esteja muito bem preparado para os desafios do mercado de trabalho, nesta
área tão importante e que merece toda sua atenção.

Aproveite a leitura, retenha o conhecimento, e tenha muito sucesso!

Prof.a Lili de Souza
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro


que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares,
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


Sumário
UNIDADE 1 — O PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL......................................... 1

TÓPICO 1 — NOÇÕES INTRODUTÓRIAS..................................................................................... 3


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 3
2 CONCEITO DE SUCESSÃO.............................................................................................................. 4
2.1 DIREITO DAS SUCESSÕES........................................................................................................... 5
2.2 HERANÇA........................................................................................................................................ 6
2.2.1 Natureza jurídica do direito à herança................................................................................ 8
2.3 SUCESSÃO INTER VIVOS E CAUSA MORTIS.......................................................................... 9
3 ABERTURA DA SUCESSÃO E TRANSMISSÃO DA HERANÇA.......................................... 10
3.1 DIREITO DO NASCITURO.......................................................................................................... 11
3.2 COMORIÊNCIA ........................................................................................................................... 13
4 DOS QUE NÃO PODEM SUCEDER, INDIGNIDADE, DESERDAÇÃO.............................. 14
4.1 INDIGNIDADE.............................................................................................................................. 14
4.2 DESERDAÇÃO.............................................................................................................................. 16
5 ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DA HERANÇA............................................................................... 16
5.1 ACEITAÇÃO DA HERANÇA..................................................................................................... 16
5.1.1 Efeitos da aceitação da herança.......................................................................................... 17
5.2 RENÚNCIA DA HERANÇA....................................................................................................... 18
5.2.1 Renúncia translativa............................................................................................................. 21
6 CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS .................................................................................. 22
6.1 CONCEITO . .................................................................................................................................. 22
6.2 NATUREZA JURÍDICA................................................................................................................ 23
6.3 REGISTRO DA CESSÃO DA HERANÇA.................................................................................. 23
7 RENÚNCIA À MEAÇÃO ................................................................................................................. 23
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 25
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 27

TÓPICO 2 — SUCESSÃO LEGÍTIMA.............................................................................................. 29


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 29
2 NOÇÃO DE SUCESSÃO LEGÍTIMA............................................................................................ 30
2.1 HERDEIROS LEGÍTIMOS............................................................................................................ 30
2.2 HERDEIROS NECESSÁRIOS....................................................................................................... 31
3 ORDEM DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA.................................................................................... 32
4 PARENTESCO..................................................................................................................................... 34
4.1 CONCEITO DE PARENTESCO................................................................................................... 35
4.2 LINHAS E GRAUS DE PARENTESCO...................................................................................... 37
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 46
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 48

TÓPICO 3 — RECEBIMENTO DA HERANÇA.............................................................................. 51


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 51
2 PETIÇÃO DE HERANÇA E HERDEIRO APARENTE................................................................ 52
3 DIREITO DE REPRESENTAÇÃO................................................................................................... 54
3.1 CONCEITO..................................................................................................................................... 55
3.2 FUNDAMENTO JURÍDICO........................................................................................................ 56
3.3 REQUISITOS DO DIREITO DE REPRESENTAÇÃO............................................................... 56
3.4 LINHAS EM QUE SE DÁ O DIREITO DE REPRESENTAÇÃO............................................. 58
3.5 EFEITOS DA REPRESENTAÇÃO............................................................................................... 59
4 DESCENDENTES............................................................................................................................... 60
5 ASCENDENTES.................................................................................................................................. 60
6 CÔNJUGE............................................................................................................................................ 63
6.1 MEAÇÃO E HERANÇA............................................................................................................... 64
7 COMPANHEIRO – UNIÃO ESTÁVEL.......................................................................................... 65
8 COLATERAIS...................................................................................................................................... 65
9 O MUNICÍPIO, O DISTRITO FEDERAL E A UNIÃO............................................................... 67
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 70
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 75
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 78
REFERÊNCIAS....................................................................................................................................... 80

UNIDADE 2 — AS ETAPAS PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO


EXTRAJUDICIAL..................................................................................................... 83

TÓPICO 1 — VISÃO GERAL SOBRE A LEGITIMIDADE DO INVENTÁRIO


EXTRAJUDICIAL......................................................................................................... 85
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 85
2 PODER JUDICIÁRIO........................................................................................................................ 86
2.1 ORIGEM DOS ÓRGÃOS JUDICIÁRIOS NO BRASIL............................................................. 86
2.2 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ)......................................................................... 88
2.2.1 Gestão do Conselho Nacional de Justiça........................................................................... 89
3 CORREGEDORIA NACIONAL DE JUSTIÇA............................................................................. 92
4 CORREGEDORIA GERAL DE JUSTIÇA...................................................................................... 94
5 RESOLUÇÃO N° 35 DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ)............................... 95
5.1 ALTERAÇÕES NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 1973............................................. 102
5.2 PARTILHA OU ADJUDICAÇÃO.............................................................................................. 103
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 104
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 106

TÓPICO 2 — CARÁTER OPCIONAL DO INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL....................... 109


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 109
2 ABERTURA DA SUCESSÃO E INVENTÁRIO.......................................................................... 110
2.1 CARÁTER OPCIONAL.............................................................................................................. 110
2.2 ABERTURA DO INVENTÁRIO................................................................................................ 111
3 PRAZOS PARA O INVENTÁRIO................................................................................................. 112
4 DO INVENTÁRIO ........................................................................................................................... 113
4.1 CONCEITO DE INVENTÁRIO................................................................................................. 113
4.1.1 Formas de procedimento do inventário.......................................................................... 115
5 INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL OU ADMINISTRATIVO.................................................. 115
5.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS ..................................................................................................... 115
5.2 REQUISITOS................................................................................................................................. 117
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 118
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 120
TÓPICO 3 — A COMPETÊNCIA FUNCIONAL DO TRABELIÃO E A
ASSISTÊNCIA DO ADVOGADO.......................................................................... 123
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 123
2 EFEITOS DO INVENTÁRIO E PARTILHA EXTRAJUDICIAL ............................................ 124
3 COMPETÊNCIA FUNCIONAL DO TABELIÃO ...................................................................... 124
4 RESPONSABILIDADE DO TABELIÃO     ................................................................................. 128
5 ASSISTÊNCIA DO ADVOGADO ............................................................................................... 128
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 130
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 135
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 137
REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 139

UNIDADE 3 — DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA PARA A REALIZAÇÃO


DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL........................................................ 143

TÓPICO 1 — DOCUMENTAÇÃO DAS PARTES E DAS PESSOAS ENVOLVIDAS


NO INVENTÁRIO..................................................................................................... 145
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 145
2 PARTES NO INVENTÁRIO........................................................................................................... 146
2.1 DOCUMENTOS NECESSÁRIOS.............................................................................................. 147
3 CREDORES DO ESPÓLIO............................................................................................................. 154
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 156
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 158

TÓPICO 2 — BENS, DESCRIÇÃO, VALORES E OS IMPOSTOS CAUSA


MORTIS ITCM-D E OUTROS................................................................................ 161
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 161
2 DESCRIÇÃO DOS BENS................................................................................................................ 162
2.1 BENS LOCALIZADOS NO ESTRANGEIRO.......................................................................... 167
3 DECLARAÇÃO DOS VALORES................................................................................................... 168
4 IMPOSTO DE TRANSMISSÃO CAUSA MORTIS E DOAÇÃO (ITCM-D)......................... 168
4.1 FATO GERADOR......................................................................................................................... 171
4.2 BASE DA CÁLCULO.................................................................................................................. 171
4.3 ALÍQUOTA DO IMPOSTO DE TRANSMISSÃO.................................................................... 171
4.4 ÓRGÃO FAZENDÁRIO RESPONSÁVEL PELO RECOLHIMENTO................................. 177
4.5 NOÇÕES PRÁTICAS SOBRE A DECLARAÇÃO DE INFORMAÇÕES (DIEF) E
O DOCUMENTO DE ARRECAÇÃO ESTADUAL (DARE).................................................. 177
4.5.1 Declaração de Informações Econômicas Fiscais - DIEF................................................ 178
4.5.2 Documento de Arrecadação de Receitas Estadual – DARE......................................... 181
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 182
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 185

TÓPICO 3 — FORMALIDADES DA ESCRITURA DE INVENTÁRIO E PARTILHA......... 187


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 187
2 CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS................................................................................. 188
3 RENÚNCIA DA HERANÇA.......................................................................................................... 189
4 PROCURADORES DAS PARTES................................................................................................. 190
5 APRESENTAÇÃO DAS CERTIDÕES NEGATIVAS DE DÉBITOS...................................... 190
5.1 CERTIDÃO NEGATIVA DE DÉBITO EMITIDA PELA RECEITA FEDERAL................... 192
5.2 CERTIDÃO NEGATIVA DE DÉBITO DA FAZENDA ESTADUAL (UNIDADE
DA FEDERAÇÃO)....................................................................................................................... 192
5.3 CERTIDÃO NEGATIVA DE DÉBITO DO MUNICÍPIO........................................................ 194
5.4 DECLARAÇÃO DE QUITAÇÃO DO CONDOMÍNIO ........................................................ 196
6 SOBREPARTILHA EXTRAJUDICIAL......................................................................................... 198
7 ESCRITURA DE RETIFICAÇÃO DA PARTILHA..................................................................... 200
8 CENTRAL DE INVENTÁRIOS E DE TESTAMENTOS........................................................... 201
9 EMOLUMENTOS DA ESCRITURA............................................................................................. 202
10 GRATUIDADE................................................................................................................................ 203
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 204
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 209
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 211
REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 213
UNIDADE 1 —

O PROCESSO DE INVENTÁRIO
EXTRAJUDICIAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• analisar o processo de inventário extrajudicial;


• conhecer a competência do processo de inventário extrajudicial;
• analisar a cessão de direitos hereditários no processo de inventário
extrajudicial;
• conceituar a sucessão legítima e seus fundamentos;
• conhecer o grau de parentesco e fins sucessórios;
• conhecer os efeitos da representação;
• analisar o recebimento da herança pelo cônjuge/companheiro.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

TÓPICO 2 – SUCESSÃO LEGÍTIMA

TÓPICO 3 – RECEBIMENTO DA HERANÇA

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

1
2
TÓPICO 1 —
UNIDADE 1

NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 1, abordaremos, inicialmente, questões
conceituais sobre sucessões e herança. Isso será feito para melhor engajá-lo na
temática, pois, à medida que você vai apreendendo o conteúdo, o conhecimento
igualmente segue fluindo, tornando sua percepção mais lógica e sequenciada.
Por exemplo, você primeiramente irá compreender o que é, quando e por que
ocorre a sucessão, entendeu?

Ainda, seguindo na esteira desse aporte teórico, você está sendo


convidado a conhecer a questão do nascituro, seu direito a uma sucessão. E
nesse caso, na hipótese de um casal, casado pelo regime da separação de bens –
convencionada entre as partes – em que a esposa está grávida do primeiro filho;
por uma fatalidade o marido vem a óbito; este não tem outros filhos, porém tem
os pais vivos. Como fica a questão da herança? Rapidamente deduz-se que os
pais são os herdeiros do falecido, certo? E o direito do nascituro? Mesmo não
havendo conflito, esse inventário poderá tramitar na esfera extrajudicial? Essa é
uma resposta que você saberá responder depois de concluir esta etapa, portanto,
vamos seguir nossos estudos!

E, sobre a figura da “comoriência” você já ouviu falar? Se já ouviu, ótimo,


mas, se ainda não, está tudo bem também! Aqui é o lugar onde vamos tratar dessa
questão entre outras, para que você consiga entender o direito que garante às
pessoas receberem a herança.

Neste tópico, nós analisaremos também os aspectos da cessão e renúncia


da herança, suas distinções e quando é ou não possível lançar mão desses
institutos no processo de inventário, com segurança jurídica. O que já é possível
adiantar, mesmo em sede de introdução deste livro, é que o tema não é pacífico
na doutrina, de modo que se exigirá de você muita atenção e até, se possível,
um estudo extra, tudo bem? Sempre que há divergências de entendimentos na
doutrina o melhor a fazer é estudar o máximo possível para melhor fundamentar
o “nosso” posicionamento. Fique bem atento!

E agora, vamos iniciar nossos estudos, prestando atenção para, ao final,
compreender o PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL, e você poder
dizer que já sabe um pouco mais.

Vamos lá?
3
UNIDADE 1 — O PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

2 CONCEITO DE SUCESSÃO
Podemos iniciar com a pergunta: O que é “sucessão”? Partindo da pesquisa
em alguns dicionários, jurídicos ou não, encontramos no Dicionário on-line:

Sucessão: Substantivo feminino. Ato ou efeito de suceder, de vir depois;


continuação. Sequência de pessoas, de eventos, de circunstâncias que
ocorrem sem pausas ou com pequeno intervalo: sucessão de reis, de
ideias. Ação de quem assume o lugar ou trabalho de outra pessoa;
substituição (SUCESSÃO, 2021a, s.p).

No dicionário Michaelis on-line (SUCESSÃO, 2021b, s.p.), colhemos o


seguinte:

sucessão
su·ces·são
sf
1 Ato ou efeito de suceder(-se); sucedimento.
2 Sequência ou série de pessoas, de acontecimentos ou de coisas que se
sucedem sem interrupção ou com pequeno intervalo.
3 Ato ou efeito de prosseguir; continuação, prosseguimento.
4 Transmissão de direito ou de patrimônio deixado por uma pessoa
falecida a uma ou diversas pessoas vivas; herança.
5 Transmissão de direitos ou de poder, especialmente poder político,
conforme determinadas regras ou leis.
6 Grupo de herdeiros ou de descendentes; prole.
7 MAT V sequência, acepção 8.
8 ECOL Mudança gradual entre tipos de comunidades ou ecossistemas
transitórios que envolve modificações na composição das espécies
vegetais e animais. Dados um período de tempo suficiente e uma
falta de interrupções repetidas, a sucessão conduz finalmente a uma
comunidade estável, uma comunidade clímax.
EXPRESSÕES
Sucessão hereditária, JUR: transmissão de patrimônio e de direitos de
pessoa falecida para seus herdeiros; sucessão universal.
Sucessão legítima,  JUR: sucessão que ocorre por disposição da lei;
sucessão por força da lei.
Sucessão mista, JUR: sucessão em que existem herdeiros legítimos e
herdeiros testamentários.
Sucessão por força da lei, JUR: V sucessão legítima.
Sucessão primária,  ECOL: desenvolvimento sequencial de
comunidades numa área que não foi previamente ocupada por
organismos, como a superfície de um vulcão recente ou de um terreno
descongelado.
Sucessão provisória, JUR: sucessão que é aberta em consequência de
sentença que declara a ausência da pessoa, cujo patrimônio e direitos
são, em geral, transmitidos aos herdeiros necessários.
Sucessão secundária, ECOL: sucessão ecológica numa área onde uma
comunidade terrestre clímax (ou outra vegetação) existia previamente
e foi removida, sem remover ou destruir completamente o solo
subjacente. Esse tipo de sucessão ocorre após a derrubada de madeira
e o abandono de terras agrícolas.
Sucessão testamentária, JUR: a) sucessão que por meio de testamento,
procede de disposição de última vontade; b) conjunto de normas de
direito civil que regulam cada forma de sucessão.
Sucessão universal, JUR: V sucessão hereditária.
ETIMOLOGIAl
lat successĭo, -ionis.

4
TÓPICO 1 — NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

Dessa maneira podemos compreender que “sucessão” é dar sequência


a alguma coisa ou situação, transmissão de algo, ou na nossa temática, mais
especificamente, quando se opera a transmissão do patrimônio de alguém
que vem a falecer para os seus sucessores ou herdeiros. E, para que isso fique
mais elucidado, vamos buscar também amparo na doutrina mais atualizada,
acadêmico, dando sequência com o Direito das Sucessões.

2.1 DIREITO DAS SUCESSÕES


Na mais recente obra de Gagliano e Pamplona Filho (2021), os autores
iniciam fazendo uma reflexão sobre “a morte como um fato jurídico”, e até
sustentam que o “o direito brasileiro não costuma falar na morte”, indo mais
além, quando afirmam que falar sobre a morte para “muitos dizem que traz mau
agouro ...”. Fato é que o que mais nos interessa é compreender o que realmente é
“sucessão”, e daí avançar nossos estudos.

Após uma breve visão histórica do Direito das Sucessões e de noções
basilares sobre a herança – esta categoria, veremos na sequência – Gagliano e
Pamplona Filho (2021, s.p.), apresentam umas rápidas linhas, apontando “o exato
sentido da palavra “sucessão”, as quais transcrevemos:

Considerando-se que um patrimônio jamais poderá remanescer sem


titular, segundo a própria perspectiva da função social, observamos
que os atos de disposição inter vivos, como uma venda ou uma doação,
implicam a transmissibilidade de determinado bem, operando uma
consequente sucessão (substituição de pessoas) em sua titularidade.
Assim, é correto dizer que, em uma primeira acepção, pode a
sucessão se dar no âmbito das relações negociais inter vivos, quando
determinado bem é transferido de uma pessoa a outra, operando-se
uma substituição entre elas.
Ocorre que a morte também determina essa substituição de pessoas, na
medida que, como dito, patrimônio algum poderá permanecer acéfalo.
Dá-se, pois, a sucessão hereditária “mortis causa”, quando, em
virtude do falecimento de alguém (sucedido ou autor da herança), o
seu patrimônio é transferido a determinadas pessoas, legitimadas a
recebê-lo (sucessores), as quais, assim, substituem-no na titularidade
desses bens ou direitos (grifo nosso).

Amorim e Oliveira (2016) também contribuem quando apontam


“sucessão é o ato ou efeito de suceder. Tem o sentido de substituição de pessoas
ou de coisas, transmissão de direitos, encargos ou bens, numa relação jurídica de
continuidade. Implica a existência de um adquirente que sucede ao antigo titular
de determinados valores”. Continuam os autores, inclusive ensinando sobre a
expressão “de cujo”:

Assim é que o comprador sucede ao vendedor na propriedade


do bem negociado, o donatário sucede ao doador, adquirindo,
conforme a disposição contratual, todos os direitos e obrigações
inerentes à transmissão de determinado bem.

5
UNIDADE 1 — O PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

O mesmo ocorre quando uma pessoa falece deixando bens: opera-se a


sucessão, pela transmissão da herança ao herdeiro, que, assim, sucede
ao morto nos direitos e obrigações relacionados ao seu patrimônio.
Ao falecido, de cuja herança se trata, aplica-se a expressão latina de
cujus. Tem origem na frase: is de cujus hereditate agitur, ou seja, aquele
de cuja herança se trata. Na verdade, refere-se à herança e não à pessoa
falecida. Por isso, não varia em gênero ou número, permanecendo
igual nos casos de ser falecida mulher, assim como em inventário
conjunto abrangendo os bens de mais de um morto.
Seu aportuguesamento se dá pela forma “de cujo”. Foi adotado por
Pontes de Miranda o termo unificado “decujo”, mas sem muitos
seguidores. O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (Ed. Objetiva.
1. ed.) registra esse termo, mas a evitar, por de cujus. Na mesma
linha, já se viu usar decuja no caso de mulher falecida, assim como
se escreve de cujos para referir os bens em sucessão (OLIVEIRA;
AMORIM, 2016, s.p.).

Acadêmico, você irá se deparar muito com essa expressão “de cujus”,
então é importante que se familiarize com o termo, mas que também saiba
aplicá-lo corretamente. Veja que, mesmo com boa dose de humor nossos autores
visitados, nos trazem um grande exemplo de como a falta do conhecimento nos
submete a situações risíveis: “... grassa uma história engraçada, de petição de
inventário feita por advogado bisonho. Apreciador do latinório, informou ao
juiz que o de cujus havia deixado “uma de cuja e dois de cujinhos” (OLIVEIRA;
AMORIM, 2016, s.p.).

Parece-nos que essa questão sobre o conceito de sucessão ficou bem
compreendido, então passaremos à HERANÇA, e, igualmente o objetivo é que
você, acadêmico, se aproprie desse conhecimento, com a finalidade única de
capacitado, poder colocar em prática seu aprendizado de maneira eficaz.

2.2 HERANÇA
Para Carvalho (2018, s.p.), “a herança, que às vezes é confundida com
espólio ou monte, abrange a totalidade dos bens, direitos e obrigações que se
transmite aos herdeiros e legatários com a morte, sendo considerada bem imóvel
(Art. 80, II, e 1.793 do CC), obedecendo a todas as normas e peculiares desses bens”.
[...] “A herança possui duração temporária, permanecendo da morte do de cujus
até a partilha dos bens, momento em que se extingue o espólio”. Explica o autor
que “Tecnicamente, o legado, que é um bem certo e específico, individualizado,
deixado pelo autor da herança ao legatário, não integra a herança em sentido
estrito, mas compõe o espólio”.

Nessa senda, Carvalho (2018, s.p.) também explica que:

A herança transmite-se imediatamente aos herdeiros com a morte


do titular, passando a integrar seu patrimônio. Assim, transmite-se a
herança no momento da abertura da sucessão, mesmo que o herdeiro
não tenha ciência da morte do titular do patrimônio, e não com a
abertura de inventário ou a partilha.

6
TÓPICO 1 — NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

Oliveira e Amorim (2016, s.p.) ensinam que “Aos bens que se transferem
ao sucessor em virtude da morte de alguém, dá-se o nome de herança, isto
é, patrimônio que se herda, acervo hereditário ou, no aspecto formal e de
representação, espólio”. Obtemperam ainda que: “A transmissão da herança
preserva a continuidade do próprio ente familiar, sendo elencada entre
os direitos e garantias individuais, conforme o Artigo 5°, inciso XXX, da
Constituição Federal de 1988”.

Gagliano e Pamplona Filho (2021, s.p.) conceituam herança, de maneira
“simples e precisa”, como chamam: “a herança nada mais é do que o patrimônio
deixado pelo falecido.

Mais direto impossível, não é verdade? Todavia, os autores enfatizam,
que é necessário passar pelo entendimento do que é patrimônio, e obtemperam:

[...] o patrimônio é “a representação econômica da pessoa”, vinculando-o


à personalidade do indivíduo, em uma concepção abstrata que
se conserva durante toda a vida da pessoa, independentemente
da substituição, aumento ou decréscimo de bens (GAGLIANO;
PAMPLONA FILHO, 2021, s.p.).

Advertem os autores Gagliano e Pamplona Filho (2021, s.p.) que “a noção


de patrimônio não se confunde com o mero conjunto de bens corpóreos, mas sim
com toda a gama de relações jurídicas (direitos e obrigações de crédito e débito)
valoráveis economicamente de uma pessoa, natural ou jurídica”. Asseveram, ainda,
a importância de compreendermos esse conceito exemplificando com a apresentação
do Direito Penal, quanto aos crimes contra o patrimônio (Art. 155 a 183).

Gagliano e Pamplona Filho (2021, s.p.), embora apresentam como “A título
de informação terminológica”, dispõem, com relevância que:

[...] o patrimônio pode ser líquido (conjunto de bens e créditos,


deduzidos os débitos) quanto bruto (conjunto de relações jurídicas sem
esta dedução) – compreendendo-se nesse último o ativo (conjunto de
direitos) e o passivo (conjunto de obrigações) – não se descaracterizando
a noção se os débitos forem superiores aos créditos, pois o patrimônio
exprimirá sempre um valor pecuniário, seja positivo ou negativo.

Seguindo para a conclusão do conceito de herança, os autores, também


invocam a doutrina, quando: “[...] temos que, com a morte do seu titular, fato este
que é denominado, em doutrina “abertura da sucessão”, o patrimônio passa a ser
designado de herança, submetendo-se às regras sucessórias que lhe são próprias”
(GAGLIANAO; PAMPLONA FILHO, 2021, s.p.).

Apontando exemplos práticos, continuam os autores: “[...] pouco
importa se o patrimônio deixado pelo indivíduo inclui carros, mansões, lanchas,
investimentos ou uma única carroça; será considerado, após a sua morte,
juntamente com os débitos porventura existentes, a sua herança” (GAGLIANAO;
PAMPLONA FILHO, 2021, s.p.).

7
UNIDADE 1 — O PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Por outro lado, Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2021,
s.p.), com precisão, confirmam que:

Não integra, todavia, o conceito de herança, aquilo que autores mais


modernos costumam, com precisão denominar “patrimônio moral”, o
conjunto de direitos personalíssimos atinentes ao indivíduo (o direito
à vida, à honra, à privacidade, à vida privada etc.), uma vez que tais
interesses jurídicos não são, obviamente, passíveis de transmissão.

Acadêmico, na sequência, abordaremos um tema, aparentemente teórico,


porém, na prática faz toda a diferença que você tenha conhecimento, visto as
implicações, inclusive tributárias. De modo que fique atento para a natureza
jurídica da herança.

2.2.1 Natureza jurídica do direito à herança


Para bem compreender a natureza jurídica do direito à herança, os autores
Gagliano e Pamplona Filho, já de partida, sugerem, sabiamente, uma incursão
na Teoria Geral do Direito Civil, o que admitimos, acadêmico, muito salutar;
pois, nos leva, antes de avançar de qualquer maneira, nos apropriar de conceitos
básicos sobre BENS. Vamos ficar atentos ao que nos propõem os autores:

Dentre as categorias de bens jurídicos, disciplinadas pelo Código
Civil, como se sabe, temos ao lado dos denominados “bens móveis –
passíveis de serem deslocados de um lugar para outro sem fratura ou
dano –, os “bens imóveis”.
Pois bem.
Dentre esses bens de natureza imobiliária, temos uma peculiar espécie,
os bens imóveis por força de lei.
Nessa categoria, não prevalece o aspecto naturalístico do bem, senão a
vontade do legislador.
Principalmente por imperativo de segurança jurídica, a lei civil optou
por considerar tais bens de natureza imobiliária.
[...]
o direito à herança (ou direito à sucessão aberta), por expressa dicção
legal, tem natureza imobiliária.
A atribuição desta natureza a este direito tem o principal escopo de
imprimir formalismo a sua eventual cessão, pois, como se sabe, a
circulação dos bens imóveis dá-se de forma muito mais criteriosa e
solene (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2021, s.p.).

Com as ponderações dos autores, nos levando à contextualização do


Código Civil, infere-se que o direito à herança tem natureza imobiliária.

8
TÓPICO 1 — NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

NTE
INTERESSA

A natureza imobiliária da herança.


O Artigo 80, inciso II do Código Civil/2002, dispõe que:
Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais:
[...]
II- o direito à sucessão aberta.

2.3 SUCESSÃO INTER VIVOS E CAUSA MORTIS

Vamos passar brevemente por essas duas categorias, porque a que mais
nos importa é realmente a sucessão “causa mortis”. Todavia, importante que se
traga ambas, acadêmico, para melhor permitir a você aprofundar o conhecimento.
Para isso invocamos a doutrina de Gonçalves (2021, s.p.), que expressa:

A palavra “sucessão”, em sentido amplo, significa o ato pelo qual


uma pessoa assume o lugar de outra, substituindo-a na titularidade
de determinados bens. Numa compra e venda, por exemplo, o
comprador sucede ao vendedor, adquirindo todos os direitos que a
este pertenciam. De forma idêntica ao cedente sucede o cessionário,
o mesmo acontecendo em todos os modos derivados de adquirir o
domínio ou o direito.
A ideia de sucessão, que se revela na permanência de uma relação de
direito que perdura e subsiste a despeito da mudança dos respectivos
titulares não ocorre somente no direito das obrigações, encontrando-
se frequente ao direito das coisas, em que a tradição a opera e, no
direito de família, quando os pais decaem do poder familiar e são
substituídos pelo tutor, nomeado pelo juiz quanto ao exercício dos
deveres elencados nos Arts. 1.740 e 1.741 do Código Civil.
Nas hipóteses mencionadas ocorre a sucessão inter vivos.
No direito das sucessões, entretanto, o vocábulo é empregado em
sentido estrito, para designar tão somente a decorrente da morte de
alguém, ou seja, a sucessão causa mortis. O referido ramo do direito
disciplina a transmissão do patrimônio, ou seja, do ativo e do passivo
do de cujus ou autor da herança a seus sucessores.

9
UNIDADE 1 — O PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Assim, podemos concluir que a sucessão “inter vivos” é proveniente de


negócios jurídicos como a compra e venda, doação entre tantos outros, sempre
que há uma sucessão na titularidade dos bens, seja no direito das coisas ou no
direito de família, conforme frisou Carlos Roberto Gonçalves (2021), nos fazendo
lembrar das hipóteses da perda do poder familiar.

E, a sucessão “causa mortis”, ocorre pelo falecimento de alguém que deixa
um patrimônio que será sucedido pelos sucessores. Novamente, bem esclarecido
por Gonçalves (2021), essa sucessão pode implicar em ativo e passivo do falecido,
também chamado de de cujus, conforme já vimos na autoria de Amorim e Oliveira
quando analisamos a expressão, anteriormente no subtópico 2.1.

3 ABERTURA DA SUCESSÃO E TRANSMISSÃO DA HERANÇA


O Artigo 1.784 do Código Civil, dispõe: “Aberta a sucessão, a herança
transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários” (BRASIL, 2002).

O artigo mencionado é o primeiro artigo do Livro das Sucessões do
Código Civil, é o dispositivo que inaugura a matéria do Direito das Sucessões no
Código Civil brasileiro, o que significa dizer que já de início aprouve ao legislador
informar a transmissão da herança. Então, acadêmico, é importante que você
fique atento a essas informações.

Importante já informar que em razão de todo nosso trabalho estar focado
no INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL, e, por conta do disposto no Artigo 610 do
Código de Processo Civil (CPC), vamos desprezar, para nossos estudos a expressão
“e testamentários” do Artigo 1.784 do Código Civil, transcrito anteriormente.

ATENCAO

Artigo 610 do Código de Processo Civil –


Art. 610. Havendo testamento ou interessado incapaz, proceder-se-á ao inventário judicial.
§1° Se todos forem capazes e concordes, o inventário e a partilha poderão ser feitos por
escritura pública, a qual constituirá documento hábil para qualquer ato de registro, bem
como para levantamento de importância depositada em instituições financeiras.
[...]
FONTE: <https://www.jusbrasil.com.br/topicos/28891134/artigo-610-da-lei-n-13105-de-16-
de-marco-de-2015>.

10
TÓPICO 1 — NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

Na doutrina de Carvalho (2018, s.p.) encontramos:

A abertura da sucessão ocorre com a morte da pessoa física, transmitindo-


se de imediato a herança aos herdeiros. Assim, morte, abertura da
sucessão e transmissão da herança ocorrem em um só momento.
Antes da morte existe apenas uma expectativa de direito dos eventuais
herdeiros, denominada de designação sucessória, com a indicação
dos sucessores em razão da disposição da lei (sucessão legítima)
ou pela vontade do autor da herança (sucessão testamentária). A
designação sucessória indica os potenciais herdeiros, mas somente se
aperfeiçoarão se sobreviverem ao falecido, ocorrendo o princípio da
coexistência previsto no Art. 1.798 do Código Civil. Em vida do autor
do patrimônio não existem direitos hereditários, tanto que não pode
ser objeto de contrato a herança de pessoa viva (Art. 426 do CC).
Não basta, porém, a morte. É necessário também a aceitação da
herança. Herdeiro é o aceitante. O renunciante não é herdeiro, pois a
sucessão hereditária não se operou plenamente. Por sucessão também
se entende, no sentido subjetivo, o direito do sucessor de exigir os
bens do sucedido, bem como o direito deste de aceitar ou renunciar
à herança.

Fica claro que a morte, abertura da sucessão e a transmissão da herança


ocorrem em um só momento, como explicou o autor, certo? Agora, lembrando
que não iremos avançar nas questões testamentárias, seguimos uma incursão
com o Direito do Nascituro.

E
IMPORTANT

Art. 1.784 do Código Civil.


Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e
testamentários (BRASIL, 2002).

3.1 DIREITO DO NASCITURO


Na introdução deste tópico, deixamos um questionamento, você
percebeu? Se não percebeu ou se não se lembra, antes de prosseguir, volte e leia
rapidamente, depois avance, ok? Lá foi deixado um caso para você refletir e com
o estudo que você irá desenvolver neste subtópico, ao final, será capaz de concluir
pela resposta. Então vamos avançar!

O que é “nascituro”?

Para responder a essa pergunta, vamos colocar os óculos de Oliveira
(2019, s.p.) para quem:

11
UNIDADE 1 — O PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Nascituro é “o que vai nascer”, o ente humano já concebido, cujos direitos


são assegurados como pessoa, desde que venha a nascer com vida.
Reza o Artigo 2° do Código Civil: “A personalidade civil da pessoa
começa do nascimento com vida, mas a lei põe a salvo, desde a
concepção, os direitos do nascituro”.
Em outras disposições, o Código Civil explicita alguns desses direitos
do nascituro:
- Artigo 1.609, reconhecimento do filho, precedente ao seu nascimento
(no mesmo sentido Art. 26, par. ún. da Lei n. 8.079/90 – Estatuto da
Criança de do Adolescente).
- Artigo 1.779, curatela ao nascituro, se o pai falecer, estando a mulher
grávida e não tendo o poder familiar;
- Artigo 542, validade de doação feita ao nascituro, sendo aceita pelo
representante legal;
- Artigos 1.798 e 1.799, 1: capacidade para adquirir, por testamento,
das pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da
sucessão, bem como os filhos, ainda não concebidos, de pessoas
indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão.

O Código de Processo Civil, dispõe: “Art. 650. Se um dos interessados for


nascituro, o quinhão que lhe caberá será reservado em poder do inventariante até o
seu nascimento” (BRASIL, 2015).

Nosso convidado a discorrer a temática, Oliveira (2019, s.p.) sustenta que
“a capacidade sucessória, [...], regula-se pela data da abertura da sucessão, que se
dá pelo óbito do autor da herança”. Obtempera que “essa é a regra geral extraída
dos Artigos 1.784 e 1.787 do Código Civil, embora se ressalvem os direitos do
nascituro, pois ele pode se alinhar na ordem da vocação hereditária, se concebido
antes da data da abertura da sucessão”. Arremata o autor que “Não se trata de
mera expectativa, mas sim de direito do presumível herdeiro a ser exercitado a
partir do nascimento com vida. Deixada de ser aplicável, evidentemente, com
relação ao natimorto”.

E, conclui, Oliveira (2019, s.p.): assim, na sucessão legítima, o nascituro
terá o seu direito resguardado, como descendente do de cujus, até que se verifique
o nascimento.

Por conta disso, pode-se concluir que do caso hipotético apresentado
na introdução, poder-se-ia aplicar a seguinte conduta: dentro do prazo de até
dois meses, abrir o inventário JUDICIAL e aguardar o nascimento com vida do
nascituro, que será o herdeiro. E não será possível fazer o inventário extrajudicial,
pela vedação do Artigo 610 do CPC, pois, nascendo com vida, nasce a figura
de uma pessoa natural absolutamente incapaz, logo, obrigatório o processo de
inventário judicial. Quanto aos pais do de cujus, vamos verificar na ordem da
vocação hereditária, mais à frente?

12
TÓPICO 1 — NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

3.2 COMORIÊNCIA
Acadêmico, você já ouviu falar em comoriência? Sim, no meio jurídico
tem muitos termos diferentes. Por isso fique atento, e aproveite para cada vez
mais enriquecer seu aprendizado e aumentar seu vocabulário também!

A comoriência se dá na presunção de morte simultânea, quando ocorre
a morte de duas ou mais pessoas e não existe meios de apurar quem faleceu
primeiro (Art. 8° do Código Civil).

Essa presunção de simultaneamente mortos, em regra, ocorre nos casos
de acidentes envolvendo pessoas de uma família que se encontravam em um
mesmo local, todavia, nada impede que não possa acontecer em locais diversos,
aplicando-se comoriência se não puder identificar quem faleceu primeiro.

Na dúvida, a presunção legal é de morte simultânea, não existindo
qualquer indício de que o mais velho faleceu primeiro, conforme Carvalho (2018,
s.p.) “a presunção é relativa, podendo ser afastada por perícia médica ou até
mesmo por testemunhas idôneas que presenciaram o óbito”.

Carvalho (2018, s.p.) apresenta exemplo: [...] "em um acidente envolvendo
veículos, as pessoas, ao prestarem socorro, comprovam que o motorista faleceu e
um dos passageiros ainda estava respirando, mas falece logo depois”.

Isso acontece para garantir o efeito da comoriência que irá resguardar o
sucessor, conforme avança o autor: “o efeito da comoriência no direito sucessório
é de que não existe transmissão de herança entre os comorientes, por não saber
quem morreu primeiro para transmitir os bens ao seu herdeiro que faleceu
depois” (CARVALHO, 2018, s.p.).

E conclui: desse modo, se o marido e a mulher, sem descendentes e
ascendentes, faleceram em comoriência, os bens de cada um serão herdados
por seus respectivos colaterais. Se, entretanto, um deles falecer primeiro e o
outro logo após, o último herdará todos os bens do cônjuge falecido primeiro,
ocorrendo transmissão entre eles. Esses bens, em seguida, serão herdados apenas
pelos parentes colaterais do cônjuge falecido posteriormente.

Na representação a seguir, a matéria fica ainda mais bem elucidada:

13
UNIDADE 1 — O PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

FIGURA 1 – COMORIÊNCIA DE MARIDO E MULHER SEM DESCENDENTES NEM ASCENDENTES

FONTE: Amorim e Oliveira (2018, s.p.)

Interessante o estudo da comoriência, não é? Estamos sempre com espaço


para novos conhecimentos. E agora, seguimos com as pessoas que podem suceder
e as figuras da indignidade e a deserdação.

4 DOS QUE NÃO PODEM SUCEDER,


INDIGNIDADE, DESERDAÇÃO
Neste subtópico, trataremos, embora de maneira bastante sucinta, pois não
é a intenção da proposta deste livro didático, mas sim em levar o conhecimento
sobre o PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL, de temas como: dos que
não podem suceder, da indignidade e da deserdação. Todavia, lembre-se sempre,
acadêmico, de que a ideia também é deixar uma base no seu conhecimento. Vamos
iniciar com a “indignidade”.

4.1 INDIGNIDADE
Podemos ver a indignidade como a ausência de dignidade em alguém, no
dicionário encontramos a categoria “indignidade” com sinônimos desenvolvidos
para cinco sentidos:

Falta de integridade: deslealdade, desonestidade, improbidade,


inconveniência.
Falta de decência: devassidão, imoralidade, indecência, indecoro,
indecorosidade.
Desonra: descrédito, desdouro, deslustre, desonra, desonradez,
fealdade, ignomínia, labéu, mancha.
Ação vergonhosa: abjeção, aviltamento, baixeza, infâmia,
rebaixamento, vileza, afronta, desbrio, injúria, sordidez, torpeza,
ultraje, vergonha.
Maldade: atrocidade, crueldade, desumanidade, maldade
(INDIGNIDADE, 2021, grifo nosso).

Embora, a noção de “indignidade” no mundo jurídico não se afasta desse


cerne dos sinônimos, é necessário pontuar a categoria à luz da doutrina do Direito.
E, para tanto, vamos visitar Carlos Roberto Gonçalves (2020, s.p.), para quem:

A sucessão hereditária assenta em uma razão de ordem ética: a


afeição real ou presumida do defunto ao herdeiro ou legatário. Tal
afeição deve despertar e manter neste o sentimento da gratidão ou,

14
TÓPICO 1 — NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

pelo menos, do acatamento e respeito à pessoa do de cujus e às suas


vontades e disposições.
A quebra dessa afetividade, mediante a prática de atos inequívocos
de desapreço e menosprezo para com o autor da herança, e mesmo de
atos reprováveis ou delituosos contra a sua pessoa, torna o herdeiro ou
legatário indignos de receber os bens hereditários.

Acadêmico, e como saber qual é o ato de indignidade, por que não é


qualquer ato ofensivo, certo? Esta resposta você encontra no Art. 1.814 do Código
Civil, que dispõe os atos que acarretam a exclusão do herdeiro:

Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:


I- que houverem sido autores, coautores ou partícipes de homicídio
doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se
tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente;
II- que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da
herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu
cônjuge ou companheiro;
III- que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem
o autor da herança de dispor livremente de seus bens por ato de
última vontade (BRASIL, 2002).

Gonçalves (2020, s.p.) conclui “A indignidade é, portanto, uma sanção


civil que acarreta a perda do direito sucessório.

Essa “perda do direito sucessório”, contudo, atinge apenas o herdeiro,


conforme Amorim e Oliveira (2018, s.p.) “Os descendentes do herdeiro excluído
sucedem como se ele fosse morto antes da abertura da sucessão, uma vez que se
aplica a regra da representação como na secessão por estirpe”.

FIGURA 2 – SUCESSÃO POR REPRESENTAÇÃO DO INDIGNO

FONTE: Amorim e Oliveira (2018, s.p.)

Perceba, acadêmico, que a indignidade é sempre uma situação de


conflito, pois haverá uma conduta do herdeiro que terá de ser examinada,
comprovada e julgada; portando, nesse contexto, o inventário não poderá
tramitar extrajudicialmente.

15
UNIDADE 1 — O PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Embora nossa compreensão é de lhe passar o conhecimento o mais vasto


possível, mesmo que menos aprofundado, o que significa dizer, para você saber
o que pode e o que não pode tramitar extrajudicialmente, e, o que não pode, não
será matéria aqui muito explorada.

Dito isso seguimos com mais um tema desta categoria, a deserdação.

4.2 DESERDAÇÃO
Em poucas, mas necessárias linhas, se diz que “a deserdação só pode
ocorrer na sucessão testamentária, pois depende de testamento, com expressa
declaração de causa (Art. 1.964) (GONÇALVES, 2021, s.p.).

Desprezaremos para nossa análise, em razão de estarmos tratando


somente do processo de inventário extrajudicial, a expressão “testamentários”,
apresentada no Art. 1.784 do Código Civil ( BRASIL, 2002), igualmente essa
categoria “deserdação”, por fazer parte apenas da sucessão testamentária, ficamos
apenas com o simples comentário de Gonçalves e seguimos para a aceitação e
renúncia da herança.

5 ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DA HERANÇA


É importante, acadêmico, você formar o entendimento de um conjunto
de elementos, para quando juntarmos tudo a fim de norteá-lo à prática, embora
seguramente você terá muitas dúvidas (por certo que sim), porém, muito
conhecimento de cunho mais teórico, mas já estará se apropriando na caminhada.

5.1 ACEITAÇÃO DA HERANÇA


A doutrina de Gagliano e Pamplona Filho (2021, s.p.) define “A aceitação ou
adição da herança (aditio) é o ato pelo qual o herdeiro manifesta, de forma expressa,
tácita ou presumida, a sua intenção de receber a herança que lhe é transmitida”.

Já vimos que “aberta a sucessão” há a transmissão da herança aos


herdeiros, forte no “Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde
logo, aos herdeiros legítimos e testamentários, todavia, é com a “aceitação” da
herança que essa “transmissão” se torna definitiva, desde a abertura da sucessão,
e, o parágrafo único consolida o entendimento:

16
TÓPICO 1 — NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

E
IMPORTANT

Art. 1.804. Aceita a herança, torna-se definitiva a sua transmissão ao herdeiro,


desde a abertura da sucessão.
Parágrafo único. A transmissão tem-se por não verificada quando o herdeiro renuncia à
herança (BRASIL, 2002).

É importante que compreendemos os efeitos da aceitação da herança, e


para tanto seguimos.

5.1.1 Efeitos da aceitação da herança


Conforme vimos, e de acordo com Gagliano e Pamplona Filho (2021, s.p.)
a aceitação da herança, quando manifestada, em qualquer das suas modalidades
(expressa, tácita ou presumida), retroage à data da abertura da sucessão, pois
confirma a transmissibilidade abstrata operada pelo Princípio da Saisine.

NOTA

A expressão Saisine originou-se do latim sacire, significando apoderar-se


(posse de bens). Destarte, expressa a transmissão, desde logo, dos bens do de cujus aos
seus herdeiros (Art. 1.784 CC).

Acadêmicos, tem um jogo de palavras, sobre aceitar em parte (o que não é


permitido em nossa legislação), que precisa ser explicado para que você não siga
com dúvida ou com incompreensões na sua formação. Quem elucida a situação
são os autores Gagliano e Pamplona Filho (2021, s.p.):

Registre-se, ainda, que se trata de um ato puro, não admitindo


condição ou termo, nem eficácia parcial, na forma do caput do Art.
1.808 da vigente codificação civil, que estabelece expressamente que
“não se pode aceitar ou renunciar a herança em parte, sob condição
ou termo”.
Não posso, por exemplo, aceitar uma herança sob a condição de, “após
a apuração das dívidas, verificar-se que o saldo líquido é superior a
100.000 reais”, assim como não posso subordinar a minha aceitação
a uma data (termo), nem, muito menos, aceitar parte da herança e
recusar o restante que também me tocaria pelo mesmo título.
Algumas peculiaridades, entretanto, derivam da própria lei.

17
UNIDADE 1 — O PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Nada impede, nessa linha, que o herdeiro, a quem se testarem legados,


possa aceitá-los, renunciando-a, repudiá-los (Art. 1.808, §1°, do
CC/2002), pois, em tais casos, repudiando a quota ou o bem, aceitará
o outro por inteiro.
Da mesma forma, o herdeiro, chamado, na mesma sucessão, a mais
de um quinhão hereditário, sob títulos sucessórios diversos, pode
livremente deliberar quanto aos quinhões que aceita e aos que renuncia
(Art. 1.808, § 2°, do CC/2002).
Trata-se de regra que, aparentemente, conflita com a ideia de que uma
herança não possa ser aceita em parte, tornando-se, todavia, mais
compreensível, quando invocamos o exemplo dado pela doutrina:
“Não obsta, havendo dupla sucessão, a legítima e a testamentária, que
o herdeiro renuncie inteiramente a sucessão legítima, conservando a
outra ao aceitar a herança advinda de testamento, só se lhe proíbe a
aceitação parcial da herança,
ou seja, permitindo-nos um jogo de palavras, a regra deve ser
interpretada com a devida compreensão de que não se trata de
aceitação parcial da herança, mas, sim, de aceitação total de apenas
uma ou algumas das partes que lhe cabe.

Ressalta-se, que seguindo o raciocínio dos autores, e à luz do Art. 1.812
do Código Civil, a aceitação válida da herança não poderá ser revogada, todavia,
pode ser renunciada a quota hereditária que aceitou, desde que seu ato não
acarrete prejuízo aos seus credores.

Analisaremos a renúncia da herança.

5.2 RENÚNCIA DA HERANÇA


Para facilitar sua compreensão, vamos dar sequência, especificamente, nesta
temática, com a doutrina de Gagliano e Pamplona Filho (2021, s.p.) que explicam
que “Tecnicamente, a renúncia da herança consiste na prática de um ato jurídico
abdicativo do direito hereditário conferido, com efeitos retroativos, que excluem o
sujeito da cadeia sucessória como se herdeiro nunca houvesse sido”.

O que os autores querem dizer é que “ao renunciar a herança, o sucessor
é banido do panorama sucessório, por manifestação da sua própria vontade
[...] fazendo com que o bem a si transferido retorne ao monte-mor (partilhável)
(GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2021, s.p.).

Aqui, acadêmico, tem um ponto de extrema relevância: por ser a renúncia,
compreendida como um negócio jurídico unilateral, pelo qual o herdeiro declara
não aceitar a herança, resultando de expressa declaração, pois é um negócio
formal, DEVE CONSTAR, NECESSARIAMENTE, de escritura pública ou
termo nos autos – por escritura pública no caso dos nossos estudos que trata de
inventário extrajudicial –, sob pena de nulidade. O termo é lavrado nos próprios
autos do inventário.

18
TÓPICO 1 — NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

ATENCAO

A renúncia é ato SOLENE, na dicção do Art. 1.806 do Código Civil/2002, que


deverá ser sempre expressa, lavrada em instrumento público (no Tabelionato de Notas) ou
por termo nos autos do processo, não tendo, portanto, validade jurídica a renúncia feita em
mero instrumento particular.

Esse assunto da renúncia é tão sério que conforme dispõe o Art. 1.811
do Código Civil/2002 (BRASIL, 2002), “ninguém poderá suceder, representando
herdeiro renunciante”. Se, porém, ele for o único legítimo da sua classe, ou se
todos os outros da mesma classe renunciarem à herança, poderão os filhos vir à
sucessão, por direito próprio, e por cabeça.

Lembre-se das classes: imagine que uma pessoa deixa oito herdeiros e sete
renunciam. Considere que os oito são todos da mesma classe; para facilitar, eram
todos irmãos – filhos do falecido. Renunciando sete, aquele que não renunciou,
herdará 100% da herança e entre os sete e esse um, não há que se falar em imposto,
ok? Não está se falando em transmissão. Isto tem que ficar bem claro, pois, quando
há renúncia, a parte renunciada volta ao monte-mor, já vimos antes, tornando a
ser dividido. No exemplo aqui, como só tinha um, não tinha com quem dividir.

Agora, se todos os oito renunciarem, a herança vai para a próxima classe,
que seria os filhos desses oito, e netos do falecido, mas neste momento não irá
para a viúva.

Gagliano e Pamplona Filho (2021, s.p.), para melhor compreensão da


temática, citam um exemplo: no caso hipotético do inventário de José, que falece
e deixa além da esposa Joana (viúva), três filhos, Jorge, Jonatas e Jomílio. Se,
Jomílio, exercer o seu direito de renúncia, a quota hereditária a que ele faria jus
retornaria ao monte da partilha, beneficiando a todos os demais herdeiros, no
comando do Art. 1.810 do Código Civil/2002. “A rigor, então, teríamos, aqui, a
‘renúncia da herança’”.

Ainda, a doutrina de Amorim e Oliveira (2018) apresentam a temática de


modo figurativo:

19
UNIDADE 1 — O PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

FIGURA 3 – RENÚNCIA DE UM HERDEIRO FILHO, COM DESCENDENTES – ATRIBUIÇÃO DE


SUA QUOTA AO OUTRO HERDEIRO FILHO

FONTE: Amorim e Oliveira (2018, s.p.)

FIGURA 4 – RENÚNCIA DE TODOS OS HERDEIROS FILHOS – ATRIBUIÇÃO DA HERANÇA


AOS NETOS

FONTE: Amorim e Oliveira (2018, s.p.)

Sobre a renúncia salienta-se a advertência sobre a possibilidade de


existência de credores do herdeiro renunciante: “... importante aspecto a ser
enfrentado diz respeito à possibilidade jurídica de os credores do renunciante
pleitearem a suspensão judicial dos efeitos da renúncia, a fim de que se paguem,
nos limites dos seus respectivos créditos” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO,
2021, s.p.).

Art. 1.813. Quando o herdeiro prejudicar os seus credores,


renunciando à herança, poderão eles, com autorização do juiz, aceitá-
la em nome do renunciante.

20
TÓPICO 1 — NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

§ 1° A habilitação dos credores se fará no prazo de trinta das seguintes


ao conhecimento do fato.
§ 2° Pagas as dívidas do renunciante, prevalece a renúncia quanto ao
remanescente, que será devolvido aos demais herdeiros (BRASIL, 2002).

Sempre teremos o cuidado, acadêmico, de tentar alertá-lo que nosso


foco de estudo aqui é o PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL, e,
na hipótese advertida pelos autores, comentada antes, deve-se intentar medida
judicial, já que não haverá hipótese de conflito no Tabelionato. Passamos a análise
de uma figura que foi se consolidando na prática, a “renúncia translativa”.

5.2.1 Renúncia translativa


Na prática é muito comum ouvir “renunciar em favor de ...”. Gente, isso
não existe! Renúncia é renúncia, nos termos vistos anteriormente. Simplesmente,
se abre mão, não quer, renuncia, mas, expressamente; como vimos, um ato formal
e solene. E quem assim o faz, sua quota-parte na herança volta ao monte-mor, não
integra a porção de outrem determinado, mas sim o todo. Compreendeu?

E
IMPORTANT

Renúncia Translativa, embora é uma expressão que não se apresenta


revestida com aspectos do manto legal, a doutrina de Gagliano e Pamplona Filho (2021,
s.p.) comenta que “[...] a própria jurisprudência dos Tribunais Estaduais, e do próprio STJ,
acolhe o seu emprego”.

Vimos que “a renúncia da herança, tecnicamente, opera a abdicação plena


do direito hereditário, excluindo o sujeito da relação sucessória, como se herdeiro
nunca houvesse sido” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2021, s.p.).

Os autores obtemperam que o exercício desse direito tem eficácia


retroativa. Ensinam que, “por vezes, a prática forense nos indica existir ainda figura
aparentemente análoga, costumeiramente denominada ‘renúncia translativa’”.

Relembrando o caso trazido por Gagliano e Pamplona Filho, anteriormente


apresentado: você lembra que o falecido deixou uma viúva, a Joana? Imagine que
Jomílio, no curso do inventário, resolve renunciar à sua quota hereditária “em
favor da sua mãe Joana”. Teríamos, aqui, então, um direcionamento da quota
abdicada, que, no caso, favoreceria, não todos, mas apenas um dos herdeiros.
Aqui aparece a figura da “renúncia translativa”. Será?

21
UNIDADE 1 — O PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

E os próprios autores Gagliano e Pamplona Filho (2021, s.p.) é que


respondem: “não nos parece ideal a expressão ‘renúncia translativa’”. Por outro
lado, defendem que não se configura “erro o seu uso, na medida em que a própria
jurisprudência dos Tribunais Estaduais, e do próprio STJ, acolhe o seu emprego”.
Indicando como melhor técnica a cessão de direito hereditário, e para que se evite
afirmar que se trata de “doação”, pois seguramente não o é.

Conforme Galiano e Pamplona Filho (2021, s.p.) “A doação tem, por objeto,
coisas, ou seja, bens materializados, corpóreos, passíveis de alienação, ao passo
que a cessão versa sobre direitos”. E, asseveram:

Não se deve, pois, utilizar o verbo alienar para caracterizar a cessão


gratuita ou onerosa de direitos, uma vez que, para a boa técnica,
direitos não são vendidos nem doados, mas sim cedidos. Em outras
palavras, ‘reputamos mais apropriada a utilização da palavra alienação
para caracterizar a transferência de coisas de um titular para outro,
reservando a expressão cessão para os direitos em geral’” (GALIANO;
PAMPLONA FILHO, 2021, s.p.).

Na melhor técnica, ao aceitar e direcionar a sua parte da herança a


determinada pessoa, o que aconteceu não se chama renúncia, nem “renúncia
translativa”, foi uma CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS, com todas as suas
implicações, inclusive com recolhimento do tributo de competência municipal,
se a cessão for onerosa e observação da vênia conjugal, se for o caso, e vamos
analisar no próximo tópico.

6 CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS


Vencida, a priori, a discussão sobre a renúncia, e elucidada a questão da
moderna expressão “renúncia translativa”, aceita pelos tribunais, já vimos que o
correto mesmo é a cessão quando um herdeiro deseja transferir a sua quota na
herança para outro herdeiro.

6.1 CONCEITO
Após todo desdobramento da matéria, parece-nos que o conceito fica
dedutivo, porém, é na doutrina de Gagliano e Pamplona Filho (2021, s.p.) que
vamos compreender que “A cessão de direitos hereditários consiste em um ato
jurídico negocial, pelo qual o herdeiro (cedente), por escritura pública ou termo
nos autos, transfere, gratuita ou onerosamente, a sua quota hereditária a um
terceiro (cessionário)”.

22
TÓPICO 1 — NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

E
IMPORTANT

A CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS só se opera por Escritura Pública ou


Termo nos Autos (neste caso para processo judicial). Todavia, para nosso estudo, nosso
radar está voltado apenas para o PROCESSO EXTRAJUDICIAL, então vamos associar
somente à Escritura Pública.

6.2 NATUREZA JURÍDICA


Quando se busca entender a natureza da cessão, os autores em comento
enfatizam que é um ato negocial de natureza aleatória (tem a “álea” – o risco),
pois o cessionário assume o risco de nada vir a receber, caso se apure a existência
de dívidas deixadas pelo falecido, que possam vir a esgotar as forças da herança
(GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2021, s.p.).

6.3 REGISTRO DA CESSÃO DA HERANÇA


A doutrina de Amorim e Oliveira (2020, s.p.) explicita que pela
jurisprudência não se poderia executar o registro do instrumento particular de
cessão de direitos hereditários, conforme orientação firmada sob direito anterior,
pois não previa o ato, como não o prevê o Art. 167, I, da Lei de Registros Públicos
(Lei n° 6.015/1973).

Na prática forense, obtemperam os autores, não se exigia o registro da
cessão de direitos hereditários para ingresso do título no inventário. A formalização
da transmissão junto ao registro de imóveis, forte nos princípios da continuidade e
da publicidade, fazia-se “após a homologação da partilha, constando os quinhões
atribuídos aos cessionários” (AMORIM; OLIVEIRA, 2020, s.p.).

Pela atual codificação civil, todavia, por ser exigida escritura pública para a
cessão de direitos hereditários, como vimos e bem frizamos anteriormente, torna-
se viável o seu registro no álbum fundiário (registro de imóveis), para que seja
oponível erga omnes (contra todos), em vista da publicidade inerente a esse ato.

7 RENÚNCIA À MEAÇÃO
Jamais se confundindo com a renúncia da herança, a “renúncia da
meação”, é possível segundo a doutrina de Amorim e Oliveira (2020, s.p.), que
inclusive apontam decisão do TJSP, destacando:

23
UNIDADE 1 — O PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

[...] é igualmente possível efetivar por termo nos autos a renúncia à


meação. Embora seja inconfundível com a renúncia à herança, dela se
aproxima ao ponto em que implica efetiva cessão de direitos, de modo
que são utilizáveis os mesmos instrumentos para a sua formalização.
Com efeito, o direito de cada herdeiro, a título de posse ou propriedade,
sobre sua parte ideal na herança, antes da partilha, é equivalente ao
do cônjuge sobrevivo sobre a metade ideal do patrimônio a partilhar
(meação, conforme o regime de bens). Nada obsta à cessão de tais
direitos, antes de partilhado o monte. Assim decidiu a 2ª Câmara Cível
do Tribunal de Justiça de São Paulo (rel. Carlos A. Ortiz, in RJTJSP
XIV/57), embora entendendo como imprescindível a formalização da
cessão por escritura pública, com invocação de precedente julgado
nesse sentido (RT 268/284). Essa restrição, no entanto, não se aplica ao
termo judicial, que pode servir como sucedâneo da escritura para fins
de cessão de direitos hereditários.

Concluem os autores que a renúncia à meação pode ser total ou parcial,


diferindo da renúncia à herança, porém, com outra importante diferença: ao
contrário da renúncia à herança que é puramente abdicativa e sem recolhimento
de tributo, a renúncia à meação é imprópria, correspondendo a uma transmissão
de bens do meeiro e, por isso, sujeita-se ao tributo (ITCM-D, se gratuita, ou ITBI,
se onerosa). Definem, por fim que: “A hipótese mais usual é a de viúva que,
embora com direito de meação, atribui na partilha todos os bens para os filhos e
fica só com o direito de usufruto. Assim evita novo inventário ao falecer, pois o
usufruto se extinguirá com sua morte” (AMORIM; OLIVEIRA, 2020, s.p.).

Superada esta parte dos nossos estudos com essas noções introdutórias
sobre conceitos, abertura da sucessão, aceitação, renúncia e cessão da herança,
concluímos este nosso primeiro tópico, e seguimos nossos estudos, com a
sucessão legítima.

24
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• O processo de inventário extrajudicial é realizado no tabelionato de notas.

• A sucessão hereditária “mortis causa” é a transferência do patrimônio de alguém,


em virtude do seu falecimento (sucedido ou autor da herança), a determinadas
pessoas, legitimadas a recebê-lo (sucessores), as quais, substituem o falecido na
titularidade desses bens e direitos.

• A expressão “de cujus” sempre se escreve e, igualmente, se lê assim (no plural).


Segundo a doutrina é uma expressão latina “de cujus” e tem origem na frase: is
de cujus hereditate agitur, ou seja, aquele de cuja herança se trata. Na verdade,
refere-se à herança e não à pessoa falecida. Por isso, não varia em gênero ou
número, permanecendo igual nos casos de ser falecida mulher.

• Herança é o patrimônio deixado pelo falecido, podendo ser ativo ou passivo.

• Havendo testamento ou interessado incapaz, o inventário será judicial.

• A morte, a abertura da sucessão e a transmissão da herança, ocorrem em um só


momento.

• O nascituro terá o seu direito resguardado, como descendente do de cujus, até


que se verifique o nascimento.

• A comoriência se dá na presunção de morte simultânea. Seu estudo é importante


para saber se houve comoriência, a herança de divide, mas se houver alguma
prova de que houve morte sucessiva, modifica a sucessão.

• A indignidade é um ato ofensivo que exclui o herdeiro da herança e prescinde


um ato judicial.

• A deserdação só pode ocorrer na sucessão testamentária.

• Aceita a herança torna-se definitiva a sua transmissão ao herdeiro, desde a


abertura da sucessão, conforme Artigo 1.804 do Código Civil. No entanto, no
parágrafo único do mesmo dispositivo diz que a transmissão não é verificada
quando o herdeiro renuncia a herança.

• A aceitação válida da herança não pode ser revogada.

25
• A renúncia é ato solene, deve ser sempre expressa e lavrada por escritura
pública (no Tabelionato de Notas) ou por Termo nos Autos. Não tem validade
jurídica a renúncia feita em mero instrumento particular.

• A cessão de direitos hereditários só se opera por escritura pública ou por


Termos nos Autos e é a transmissão onerosa ou gratuita de quota hereditária
de um herdeiro (cedente) a terceiro (cessionário), por ato negocial.

26
AUTOATIVIDADE

1 Percebemos o avanço tecnológico em todas as dimensões. Paulatinamente


o Direito vem avançando no sentido de seguir o ritmo acelerado e frenético
da Sociedade. Exemplo disso é a desjudicialização dos processos. Nossa lei
processual civil, traz comandos no sentido de permitir que determinados
processos de inventário tramitem extrajudicialmente. Para esses casos que
a lei permite inventários extrajudiciais, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O processo de inventário extrajudicial ocorre em Tabelionato de Notas


e não pode ter menores, nem testamentos.
b) ( ) O processo de inventário extrajudicial ocorre em Tabelionato de Notas,
cabendo a presença de filhos menores, desde que representados pela
mãe ou pai ou tutor, conforme o caso; todavia, havendo testamento, o
processo é só judicial, pois não há abertura de testamento em Cartório.
c) ( ) O processo de inventário extrajudicial ocorre em Tabelionato, e a única
exigência é que não tenha conflito entre os herdeiros.
d) ( ) O processo de inventário extrajudicial ocorre em Tabelionato de Notas,
não pode ter menores, nem testamentos, todavia, só nos Tabelionatos
das Capitais dos Estados, por ficarem próximos dos Tribunais.

2 Com a morte, fato inevitável da vida, abre-se para o mundo jurídico um


novo e importante momento: a transferência dos bens da pessoa falecida,
agora chamada “de cujus”, para seus herdeiros. Diante desse contexto,
você se vê diante de uma situação sucessória conhecida por “sucessão
hereditária mortis causa”. Com base nas definições relacionadas à sucessão,
analise as sentenças a seguir:

I- O processo de inventário extrajudicial é realizado no tabelionato de notas.


II- Herança é o patrimônio deixado pelo falecido, considerando apenas os ativos.
III- A morte, a abertura da sucessão e a transmissão da herança, ocorrem em
um só momento.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 A sucessão hereditária, com o processo de inventário, é sempre um


momento solene na vida das pessoas, pois estão lidando não com o ganho
de bens materiais, mas com a perda de alguém que deixou esse patrimônio,
e, isso, na maioria das vezes, para a maioria das pessoas, é um assunto
que deve ser abordado com muito respeito, certa formalidade e rigor. Não
por acaso, a matéria traz muitas expressões distintas com um vocabulário

27
todo próprio para o Direito das Sucessões. De acordo com o conceito de
sucessão hereditária “mortis causa”, da categoria “de cujus”, bem como os
critérios de aceitação e renúncia da herança, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:

( ) A sucessão hereditária “mortis causa” é a transferência do patrimônio de


alguém, em virtude do seu falecimento (sucedido ou autor da herança),
a determinadas pessoas, legitimadas a recebê-lo (sucessores), as quais,
substituem o falecido na titularidade desses bens e direitos.
( ) A expressão “de cujus” é utilizada quando a pessoa falecida é do gênero
masculino, quando é mulher, denomina-se “de cujas”.
( ) Aceita a herança, torna-se definitiva a sua transmissão ao herdeiro,
desde a abertura da sucessão. No entanto, diz-se que a transmissão não é
verificada quando o herdeiro renuncia a herança.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 Nosso Código Civil, prevê: “Art. 8 o Se dois ou mais indivíduos falecerem
na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes
precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos” (BRASIL,
2002). Percebe-se, portanto, a disposição da COMORIÊNCIA, na nossa lei
civil. Isso, sabemos, que tem uma razão e é bastante significativa. Disserte
sobre a aplicação da comoriência na situação sucessória no Brasil.

FONTE: BRASIL. Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Diário Oficial da


União: seção 1, Brasília, DF, ano 139, n. 8, p. 1-74, 11 jan. 2002. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em: 30 abr. 2021.

5 O Código Civil de 2002, tratando da personalidade, no Art. 2°, dispõe


também que “a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”
(BRASIL, 2002). No caso de falecimento do marido que estava casado há
poucos anos, deixa viúva, sua mulher grávida de seis meses de seu único
filho; era casado pelo regime da separação convencional de bens; deixa
ascendentes e bens a inventariar. Neste contexto, disserte sobre o nascituro.
O que é nascituro? O nascituro é herdeiro? O inventário será extrajudicial,
no tabelionato? Existe algum prazo para os direitos do nascituro?

FONTE: BRASIL. Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Diário Oficial da


União: seção 1, Brasília, DF, ano 139, n. 8, p. 1-74, 11 jan. 2002. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em: 30 abr. 2021.

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TÓPICO 2 —
UNIDADE 1

SUCESSÃO LEGÍTIMA

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, iniciamos este segundo tópico, já podendo dizer que temos
uma noção de que trata um processo de inventário. Agora isso já não é mais uma
novidade. Você já sabe que é pelo processo de inventário que se dá a transferência
dos bens da sucessão, que nada mais é do que os bens de alguém que faleceu para
os seus herdeiros, sucessores ou, em algumas hipóteses, aos seus testamentários.

Conforme vimos, está expresso no Código Civil: “Art. 1.784. Aberta


a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e
testamentários” (BRASIL, 2002). E, que a expressão “aberta a sucessão” é o
momento da morte. Importante sempre registrar que nossos estudos têm o foco
nos inventários extrajudiciais, logo, não cabe a presença de testamentos, como
também já observamos.

Feitas essas observações, apenas para desafiá-lo a seguir seus estudos,


ligando o conteúdo anterior com o que veremos a seguir, vamos ter noção sobre
a sucessão legítima, ou seja, quem são os legitimados para suceder o autor da
herança, também conhecido como “de cujus”.

E, na sequência, seguiremos com a “ordem da vocação hereditária”


– quase que óbvio – pois o Código Civil quando abre o título “Da Sucessão
Legítima”, nomina o Capítulo I como “Da Ordem da Vocação Hereditária”.
Todavia, nessa temática, você encontrará muitas novidades, fique atento! Ficou
curioso? Então, só para despertá-lo: você sabe que atualmente é muito comum as
pessoas morarem juntas, como se casadas fossem – a chamada união estável. Em
uma situação hipotética, de duas pessoas estarem convivendo e uma delas vem
a óbito deixando bens, mas não deixa descendentes (filhos, por exemplo), para
quem ficam os bens?

Sei que você já está querendo as respostas, mas vamos com calma, ainda
vamos passar pelo parentesco também. O parentesco é mais um assunto de
que trataremos neste tópico. É muito importante saber o grau de parentesco.
Seguramente, você já ouviu falar em “meu primo de segundo grau ...”, mas, será
que existe esse grau de parentesco? Isso, vamos descobrir! E fará toda diferença,
porque depois de estudar a ordem da vocação hereditária, vamos perceber que
ao falecer uma pessoa solteira sem vínculo de união estável com outra, por
exemplo, que não deixa filhos/netos (descendentes), nem tem mais os pais/avós

29
UNIDADE 1 — O PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

(ascendentes), a herança ficará para os colaterais, e aí que a figura do parentesco


precisa ser muito bem estudada e compreendida, inclusive não apenas sob o
ponto de vista conceitual, mas também as linhas e graus de parentesco.

Na sequência, vamos concluir nosso Tópico 2 com as espécies de filiação,


adoção e igualdade entre filhos. Acadêmico, este é um material didático, então
pode até parecer estranho que esses temas constem ainda em nossos manuais,
mas, acredite, é necessário, mesmo em 2021! As mais modernas doutrinas
ainda tratam do assunto, e você também merece receber esse respeito com o
tema, mesmo que pareça superado na aplicação, todavia, é merecido este olhar
doutrinário guiando você.

E, agora, no subtópico seguinte, vamos estudar a sucessão legítima!

2 NOÇÃO DE SUCESSÃO LEGÍTIMA


A sucessão legítima se fundamenta na família do autor da herança.
Autor da herança aqui, significa a pessoa que faleceu, conforme já estudamos.
Tepedino, Navares e Meireles (2020, p. 62) sustenta que na sucessão legítima
“[...] o legislador determina o rol de sucessores de uma pessoa baseado em seus
vínculos mais estreitos de solidariedade, que se encontram em sua comunidade
familiar, estabelecendo a devolução da herança para aqueles mais próximos à
pessoa falecida”.

Acadêmico, aqui vamos pedir sua atenção para que compreenda bem a
questão de como se dá a secessão legítima, porque teremos duas categorias de
herdeiros: herdeiros necessários e herdeiros legítimos, além dos testamentários.
E, qual a diferença dos herdeiros?

2.1 HERDEIROS LEGÍTIMOS


Vamos iniciar pela leitura do dispositivo do Código Civil: “Art. 1.788.
Morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos herdeiros legítimos;
o mesmo ocorrerá quanto aos bens que não forem compreendidos no testamento;
e subsiste a sucessão legítima se o testamento caducar, ou for julgado nulo”
(BRASIL, 2002, grifo nosso). Aqui aparece “os herdeiros legítimos”, para nos dizer,
que “enquanto na sucessão testamentária é o sucessor o designado no testamento,
na legítima é a lei que diretamente o designa. A existência de testamento não
exclui a sucessão legítima (GONÇALVES, 2020, s.p.).

Na doutrina de Gonçalves (2020, s.p.) colhemos: “herdeiro legítimo é


a pessoa indicada na lei como sucessor nos casos de sucessão legal, a quem se
transmite a totalidade ou quota-parte da herança”. Já trazendo a distinção entre
as categorias, enfatiza o autor que os herdeiros necessários são distinguidos da
classificação dos herdeiros legítimos, que também são denominados legitimatários
ou reservatários, dos facultativos.

30
TÓPICO 2 — SUCESSÃO LEGÍTIMA

2.2 HERDEIROS NECESSÁRIOS


Para Gonçalves (2020, s.p.), “Herdeiro necessário é o parente e o cônjuge
com direito a uma quota-parte da herança, da qual não pode ser privado”.
Leciona ainda, o autor, que no atual Código Civil, os herdeiros necessários são os
descendentes, os ascendentes e o cônjuge, e “a parte que lhes é reservada pela lei
e que constitui a metade dos bens do falecido chama-se legítima”.

Conclui-se que a existência dos herdeiros necessários, impede a disposição,


por ato de última vontade, dos bens constitutivos da legítima ou reserva, a teor
do “Art. 1.789. Havendo herdeiros necessários, o testador só poderá dispor da
metade da herança” (BRASIL, 2002).

Os herdeiros facultativos, conforme Gonçalves (2020, s.p.) “herdam na


falta de herdeiros necessários e de testamento que disponha sobre o destino do
espólio. Para serem excluídos da sucessão, basta que o testador disponha por
inteiro de seu patrimônio, sem contemplá-los”.

ATENCAO

“Havendo herdeiros necessários, a liberdade de testar é restrita à metade


disponível; havendo somente herdeiros facultativos, é plena. Todo herdeiro necessário é
legítimo, mas nem todo herdeiro legítimo é necessário” (GONÇALVES, 2020, s.p.).

Para que não paire dúvida, vamos esmiuçar a questão exemplificando:


Maria, viúva, não vive em união estável, sem dívidas, com certos bens, não tem
descendentes, nem ascendentes, logo, na sua sucessão terá herdeiros legítimos,
porém NÃO TERÁ HERDEIROS NECESSÁRIOS. O que não a impedirá de deixar
por testamento TODOS OS SEUS BENS para quem quiser, certo?

Em outro exemplo: Carlos, viúvo, não vive em união estável, com certos
bens, tem um filho de 20 anos de idade. Neste exemplo, o filho representa o herdeiro
necessário (que também é legítimo, porque todo herdeiro necessário é legítimo),
significando daí, que se Carlos desejar beneficiar alguém por testamento, apenas
o poderá fazê-lo com 50% dos seus bens (Art. 1.789 do CC).

Reforçando, são herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes


e o cônjuge, conforme disposição do Artigo 1.845 do Código Civil. Segundo
Amorim e Oliveira (2018, s.p.), os herdeiros necessários também “se conhecem
por reservatários ou forçosamente herdeiros, como chamados no direito espanhol
(herdeiros forçosos)”. Assim são considerados porque não podem ser excluídos
do direito à sucessão na metade da herança (Art. 1.846 do CC), salvo nos casos de
indignidade ou deserção, conforme analisamos no item 4 do Tópico 1 anteriormente.

31
UNIDADE 1 — O PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Essa parte da herança que é atribuída aos herdeiros necessários leva o


nome de legítima. Aqui, acadêmico, vale relembrar que é a metade, certo? A parte
restante, ou seja, a porção disponível, fica de livre atribuição pelo titular dos
bens. O testador que tiver descendentes, ascendentes e cônjuge sobrevivente não
poderá dispor de mais de metade de seus bens, pois terá de resguardar a legítima,
conforme previsão do Art. 1.846 do Código Civil. Agora, desapercebendo isso, e
havendo excesso na atribuição de quinhão em testamento, será feita redução aos
limites da parte disponível, pela dicção do Art. 1.967 do Código Civil.

Curioso, acadêmico, como de toda maneira a lei civil protege essa legítima.
Perceba que lá na parte destinada aos contratos, quando o Código Civil trata do
Contrato de Doação (Art. 549 do CC), também disciplina essa vedação e chama
de “doação inoficiosa”, considerando nula a doação quanto à parte que exceder a
de que o doador, no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento. E,
como se corrige isso?

Se corrige por meio da redução da doação ao limite da parte disponível,


ou, no caso de doação a descendentes, pela colação (Art. 2.003 do CC),
que consiste em declarar nos autos do inventário as doações ou dotes
recebidos em vida do autor da herança, a fim de igualar as legítimas
dos herdeiros necessários (Art. 2.003 do CC); Art. 639 do CPC)
(AMORIM; OLIVEIRA, 2018, s.p.).

Os mesmos autores também sopesam a situação do companheiro, por esta


categoria não constar no rol dos herdeiros necessários, no Código Civil. Segundo
os quais havia um entendimento que o companheiro não seria herdeiro necessário,
em razão da impossibilidade de se interpretar extensivamente o Artigo 1.845
do Código Civil. Todavia, esclarecem que essa interpretação foi alargada pelo
julgamento do Supremo Tribunal Federal (STJ) no RE 878.694-MG, que declarou
inconstitucional o Artigo 1.790 do CC e mandou aplicar ao companheiro as mesmas
regras de sucessão do cônjuge, previstas no Artigo 1.829 do CC. Amorim e Oliveira
(2018, s.p.) concluem com isso que “é de se estender ao companheiro a qualificação
de herdeiro necessário, assim com direito ao recebimento da legítima”.

Entendida a sucessão legítima com seu caráter supletivo, que se


fundamenta nos laços de família, a lei estabelece a ordem da vocação hereditária,
que é o nosso próximo tema a ser analisado.

3 ORDEM DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA


Acadêmico, a ordem da vocação hereditária, nada mais é do que a ordem
que a lei (Art. 1.829 do Código Civil) estabelece pela qual os herdeiros são chamados
a suceder quando alguém morre deixando bens a inventariar. Essa ordem diz
respeito à sucessão legítima, como vimos antes; isto significa dizer, quando não
há testamentos, ou, pelo menos, quando o testamento não compreende todos os
bens. Leia o Artigo 1.829 do Código Civil:

32
TÓPICO 2 — SUCESSÃO LEGÍTIMA

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: (Vide


Recurso Extraordinário n° 646.721)  (Vide Recurso Extraordinário
n° 878.694)
I- aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente,
salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão
universal, ou no da separação obrigatória de bens (Art. 1.640,
parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor
da herança não houver deixado bens particulares;
II- aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III- ao cônjuge sobrevivente;
IV- aos colaterais (BRASIL, 2002).

A doutrina de Amorim e Oliveira (2018, s.p.) nos faz lembrar que “ao
companheiro sobrevivente assegura-se o direito de herança análogo ao do
cônjuge, nos termos das Leis nos 8.971/94 e 9.278/96. O Código Civil não incluiu o
companheiro na ordem da vocação hereditária, mas lhe garante participação na
herança nas condições previstas no Artigo 1.790”.

Igualmente os autores, ao mencionar a ordem da vocação hereditária,


inserem que os colaterais são “até o 4° grau”, o que ficará mais compreensível
depois do estudo do grau de parentesco, na sequência.

Amorim e Oliveira (2018, s.p.) ressaltam que o Código Civil de 2002


“trouxe mudanças, assegurando o direito de herança a pessoas vinculadas ao
falecido por laços de parentesco próximos ou por casamento (e por união estável,
conforme previsto no Art. 1.790)”.

Obtemperam os autores que “continuam havendo classes diferenciadas


de herdeiros, entre si excludentes, em face da prioridade de chamamento
estabelecida na lei, exceto com relação ao cônjuge e ao companheiro”, e, “com
essa ressalva”, citam ainda decisão unânime da 6ª Câmara Civil do Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo, tendo como relator o Desembargador Ernani de
Paiva, julgado em 16-2-89, publicado na RJTJSP 119/381: “a ordem na vocação
hereditária consagrada no direito brasileiro é de caráter excludente, de modo que,
chamados a suceder herdeiros de determinada classe, ficam automaticamente
afastados os das classes subsequentes” (AMORIM; OLIVEIRA, 2018, s.p.).

Acadêmico, importante que você observe que o cônjuge para concorrer com
descendentes, depende do regime de bens no casamento, conforme análise do inciso
I do artigo retro transcrito. Agora, com o ascendente, o cônjuge concorre em qualquer
regime, porém, continua a figurar como terceiro na ordem da vocação hereditária,
recebendo a totalidade da herança se não houver descendentes ou ascendentes.

O que se deve observar é que esse direito sucessório ao cônjuge


sobrevivente é reconhecido desde que, ao tempo da morte do outro, não estavam
separados nem de fato há mais de dois anos, salvo prova, neste caso, de que essa
convivência se tornara impossível sem culpa do sobrevivente, com base no Artigo
1.830 do Código Civil, conforme lecionam Amorim e Oliveira (2018).

33
UNIDADE 1 — O PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Outra novidade do Código Civil de 2002 foi assegurar ao cônjuge


sobrevivente, independente do regime de bens, o direito de habitação, ou seja, de
permanecer no imóvel, que morava com a pessoa falecida, se este for o único imóvel.

Uma situação interessante, acadêmico, e que seguramente você encontrará


na sua atividade laboral, ou seja, quando exercer sua atividade prática de trabalho
em Cartório Extrajudicial é a experiência de um estrangeiro com propriedade imóvel
no Brasil e seu último domicílio no seu país. Vamos colher da obra de Amorim e
Oliveira (2018, s.p.) um exemplo e a solução que os autores apresentam para o caso
hipotético, com o objetivo de melhor encaminhá-lo, nesses tempos globalizados:

À guisa de exemplo, em caso de bens situados no Brasil, sendo o


autor da herança português e tendo na sua terra o último domicílio, o
inventário compete à Justiça brasileira, mas a sucessão regula-se pela
lei vigente em Portugal, que determina a concorrência do cônjuge com
os descendentes em cotas iguais (Art. 2.133 do Código Civil desse
país). No Brasil a regra é diferente, nos termos do Art. 1.829 do Código
Civil, que estabelece um sistema de concorrência parcial do cônjuge
com os descendentes, dependendo do regime de bens do casamento.
Ressalva-se a aplicação da lei local quando seja mais favorável ao
cônjuge ou aos filhos brasileiros, de conformidade com o parágrafo
primeiro do citado Artigo 10 da Lei de Introdução.

O Artigo 10 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB)


assim dispõe:

Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em
que era domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a
natureza e a situação dos bens.
§ 1° A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada
pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou
de quem os represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei
pessoal do de cujus.  
§ 2° A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade
para suceder (BRASIL, 1942).

Encerramos a temática “ordem da vocação hereditária”, em que conhecemos


quem é chamado a suceder na determinada ordem legal, sequencialmente ou
concorrentemente, conforme o caso. Agora, passaremos ao estudo do parentesco.

4 PARENTESCO
É senso comum que o Direito de Família e o Direito das Sucessões guardam
entre si fortes laços e importantes interações. Tartuce (2020, p. 162) leciona que “o
direito parental ou as relações de parentesco trazem, como conteúdo, as relações
jurídicas estabelecidas entre pessoas que mantém entre si um vínculo familiar,
sobretudo de afetividade”.

34
TÓPICO 2 — SUCESSÃO LEGÍTIMA

4.1 CONCEITO DE PARENTESCO


Para definir o que vem a ser “parentesco” colhemos a doutrina de
Limongi França (1999, p. 291) apud Tartuce (2020, p. 162) para quem parentesco “é
o liame que vincula as pessoas oriundas de uma ascendência comum (parentesco
consanguíneo), ou jungidas quer pela transmissão do pátrio poder (parentesco
civil) quer pelos efeitos do matrimônio (parentesco afim)”.

Das lições de Tartuce (2020, p. 162) colhemos, como o próprio autor
denomina, “três formas ou modalidades de parentesco”, considerando a sua origem:

a) Parentesco consanguíneo ou natural – aquele existente entre pessoas


que mantêm entre si um vínculo biológico ou de sangue, ou seja, que
descendem de um ancestral comum, de forma direta ou indireta. O
termo natural é criticado por alguns, com razão, pois traria a ideia
de que as outras modalidades de parentesco seriam artificiais.
b) Parentesco por afinidade – existente entre um cônjuge ou companheiro
e os parentes do outro cônjuge ou companheiro. Lembre-se que
marido e mulher e companheiros não são parentes entre si, havendo
vínculo de outra natureza, decorrente da conjugalidade ou da
convivência. A grande inovação do Código Civil de 2002 é reconhecer
o parentesco de afinidade decorrente da união estável (Art. 1.595
do CC). O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos
descendentes e aos irmãos do cônjuge ou companheiro (Art. 1.595,
§ 1.°). Na linha reta, até o infinito, a afinidade não se extingue com
a dissolução do casamento ou da união estável. Por isso, repise-se, é
que se afirma que sogra é para a vida inteira.
c) Parentesco civil  – decorrente de outra origem, que não seja a
consanguinidade ou a afinidade, conforme estabelece o Art. 1.593
do Código Civil.

O parentesco civil, conforme observado pelo autor, sempre foi relacionado


com a adoção, porém, hodiernamente com a valorização dos vínculos afetivos,
reconhecidas na obra de Tartuce (2020, p. 162) como duas outras formas de
parentesco civil:

A primeira é concernente à  técnica de reprodução assistida heteróloga,


efetivada com material genético de terceiro, sêmen ou óvulo captado
em clínica especializada, presente o vínculo parental quanto às
pessoas que planejaram a técnica. A segunda forma de parentesco civil
é a parentalidade socioafetiva, fundada na posse de estado de filhos.

Com essa ampliação, o autor apresenta alguns enunciados aprovados


em  Jornadas de Direito Civil. A exemplo da I Jornada de Direito Civil  (2002), a
qual apresentou:

[...] o Código Civil reconhece, no Art. 1.593, outras espécies de


parentesco civil além daquele decorrente da adoção, acolhendo,
assim, a noção de que há também parentesco civil no vínculo parental
proveniente quer das técnicas de reprodução assistida heteróloga
relativamente ao pai (ou mãe) que não contribuiu com seu material
fecundante, quer da paternidade socioafetiva, fundada na posse do
estado de filho (TARTUCE, 2020, p. 162).

35
UNIDADE 1 — O PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Segue o autor com o segundo enunciado, da  III Jornada  (2004), é o de


número 256,  in verbis:  “a posse do estado de filho (parentalidade socioafetiva)
constitui modalidade de parentesco civil” (TARTUCE, 2020, p. 162).

Foi, segundo Tartuce (2020, p. 162), confirmada a valorização da


parentalidade socioafetiva, “na IV Jornada de Direito Civil, realizada em outubro
de 2006, com a aprovação do Enunciado n° 339 do CJF/STJ, estabelecendo que
‘a paternidade socioafetiva, calcada na vontade livre, não pode ser rompida em
detrimento do melhor interesse do filho’”. O autor ainda enfatiza que aconteceu a
mesma situação na V Jornada de Direito Civil, de 2011, com o enunciado de autoria
da Professora Heloísa Helena Barboza: “o reconhecimento judicial do vínculo de
parentesco em virtude de socioafetividade deve ocorrer a partir da relação entre
pai(s) e filho(s), com base na posse do estado de filho, para que produza efeitos
pessoais e patrimoniais” (Enunciado n° 519 do CJF/STJ).

Segue o autor (Tartuce, 2020, p. 162), confirmando esse raciocínio de que a


parentalidade socioafetiva é forma de parentesco civil, inclusive se apoiando em
decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) do ano de 2016, em que se analisou
repercussão geral sobre o tema. Conforme a tese ali firmada, “a paternidade
socioafetiva, declarada ou não em registro, não impede o reconhecimento do
vínculo de filiação concomitante, baseada na origem biológica, com os efeitos
jurídicos próprios” (Recurso Extraordinário 898.060/SC, com repercussão geral,
Rel. Min. Luiz Fux, j. 21.09.2016, publicado no Informativo n. 840 da Corte).

Dando sequência da apresentação dos Enunciados, na proposta de Tartuce,


tem-se que o Enunciado n° 632 da  VIII Jornada de Direito Civil, do Conselho
da Justiça Federal em 2018, estabelece que, “nos casos de reconhecimento de
multiparentalidade paterna ou materna, o filho terá direito à participação na herança
de todos os ascendentes reconhecidos”. Também nesse sentido, o Enunciado n°
33 do IBDFAM, aprovado no seu  XII Congresso Brasileiro, em outubro de 2019:
“o reconhecimento da filiação socioafetiva ou da multiparentalidade gera efeitos
jurídicos sucessórios, sendo certo que o filho faz jus  às heranças, assim como os
genitores, de forma recíproca, bem como dos respectivos ascendentes e parentes,
tanto por direito próprio como por representação” (TARTUCE, 2020, p. 163).

Também se referindo à multiparentalidade, Tartuce (2020, p. 163) aduz que


“pode ser reconhecida diretamente no Cartório de Registro Civil, outra consequência
do decisum do STF, nos termos do Provimento 63 do Conselho Nacional de Justiça,
de novembro de 2017”. O autor aponta o Art. 14, “o reconhecimento da paternidade
ou maternidade socioafetiva somente poderá ser realizado de forma unilateral e
não implicará o registro de mais de dois pais e de duas mães no campo FILIAÇÃO
no assento de nascimento”. E, finaliza: “A menção aos dois pais e duas mães já
trazia a admissão da multiparentalidade extrajudicial”.

36
TÓPICO 2 — SUCESSÃO LEGÍTIMA

Fazendo destaque ao Provimento n° 83 do Conselho Nacional de Justiça


(CNJ), de 15 de agosto de 2019, o autor salienta que “essa norma administrativa
foi aperfeiçoada pelo Provimento n° 83 do próprio CNJ, de 15 de agosto. Foi
mantido o caput do Art. 14, [...]” E, continua ... “Na dicção do novo § 1.° do Art. 14
do Provimento n° 63 do CNJ, “somente é permitida a inclusão de um ascendente
socioafetivo, seja do lado paterno ou do materno”.

ATENCAO

Elucidando a questão de ascendente socioafetivo, com a possibilidade jurídica


de constar do registro civil a pluralidade de ascendentes, destaca Tartuce (2020, p. 163, grifo
nosso) “[...] se o caso envolver a inclusão de mais de um ascendente socioafetivo, deverá
tramitar pela via judicial. [...], porém, tal reconhecimento fica limitado a apenas um pai ou
mãe que tenha a posse de estado de filho”.

Partindo dessas linhas, e entendendo que parentesco, em resumo, é o


vínculo que une duas ou mais pessoas, por laços consanguíneos, matrimoniais e
de pátrio poder, vamos compreender na sequência as linhas e graus de parentesco.

4.2 LINHAS E GRAUS DE PARENTESCO


O Código Civil, a partir do Artigo 1.591 apresenta “Das Relações de
Parentesco”. E, já em seu primeiro artigo dispõe quem são os parentes em linha
reta: “Art. 1.591. São parentes em linha reta as pessoas que estão umas para com
as outras na relação de ascendentes e descendentes”. (BRASIL, 2002).

Imagine, acadêmico, uma escada. Isso mesmo, para subir e descer. Assim
você pode inserir no seu imaginário como pode contar o parentesco em linha reta,
porque ele pode ser:

• Linha reta ascendente – quando sobe (os ascendentes – pais, avós etc.).
• Linha reta descendente – quando desce (os descendentes – filhos, netos etc.).

Para melhorar sua compreensão, leia o Artigo 1.594 do Código Civil:


“Art. 1.594. Contam-se, na linha reta, os graus de parentesco pelo número de
gerações, e, na colateral, também pelo número delas, subindo de um dos parentes
até ao ascendente comum, e descendo até encontrar o outro parente” (BRASIL,
2002, grifo nosso).

37
UNIDADE 1 — O PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Tartuce (2020, p. 166) considera que “é interessante sempre levar em conta


você mesmo (o “eu” dos esquemas a seguir, termos utilizados para facilitar a
compreensão da matéria...)”. Continua o autor, antes de reproduzir os esquemas,
que também vamos esboçar aqui:

[...] o grau de parentesco entre eu e meu pai é primeiro grau na linha reta
ascendente. O parentesco entre eu e meu avô é de segundo grau na linha
reta ascendente. O parentesco entre eu e meu bisavô é de terceiro grau
na linha reta ascendente, e assim de forma sucessiva. Esquematizando:

FIGURA 5 – PARENTESCO EM LINHA RETA ASCENDENTE

FONTE: Tartuce (2020, p. 166)

No contraponto, que o autor chama de “por outra via, o parentesco entre


mim e meu filho é de primeiro grau na linha reta descendente. O parentesco
entre mim e meu neto é de segundo grau na linha reta descendente; entre mim
e meu bisneto o parentesco é de terceiro grau na linha reta descendente, e assim
sucessivamente” (TARTUCE, 2020, p. 166).

38
TÓPICO 2 — SUCESSÃO LEGÍTIMA

FIGURA 6 – PARENTESCO EM LINHA RETA DESCENDENTE

FONTE: Tartuce (2020, p. 166)

E
IMPORTANT

Embora possa parecer óbvio, mas é muito importante registrar que, conforme
também sublinha Tartuce (2020, p. 167), “[...] para vários fins sucessórios, o grau de parentesco
mais próximo exclui o mais remoto: o filho exclui o neto, que exclui o bisneto, que exclui o
trineto. O pai exclui o avô, que exclui o bisavô e assim na sequência lógica”.

Com certo grau de zelo, o autor contemporiza as duas linhas do parentesco,


quando expõe e exemplifica:

[...] o parentesco pode ser dividido em duas linhas: a masculina e a


feminina. Nos exemplos esquematizados apenas se considerou a
linha masculina. Entretanto, na linha reta ascendente e linha feminina
estão a mãe (1° grau), a avó (2° grau), a bisavó (3° grau) e assim
sucessivamente. Na linha reta descendente e linha feminina estão
a filha (1° grau), a neta (2° grau), a bisneta (3° grau) e as demais na
sequência (TARTUCE, 2020, p. 167).

Na sequência, acadêmico, vamos pedir que você preste bastante atenção


porque doutrinadores experientes, conforme observa Tartuce (2020, p. 168),
ressaltam a dificuldade que há na contagem de grau de parentesco colateral ou
transversal, dentro do Direito de Família.

39
UNIDADE 1 — O PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

E o que diz o Código Civil a respeito desse parentesco? “Art. 1.592.


São parentes em linha colateral ou transversal, até o quarto grau, as pessoas
provenientes de um só tronco, sem descenderem uma da outra” (BRASIL, 2002).
Perceba que o limite é o quarto grau!

Se você está acompanhando seus estudos com o Código Civil, acadêmico,


percebe que o artigo citado (Art. 1.592) está disciplinado no Direito de Família
e nossa matéria é Direito de Sucessões, certo? Todavia, importa ressaltar que
essa regra, transcrita anteriormente, “repercute diretamente para o Direito de
Sucessões, pois somente até esse grau reconhece-se a sucessão dos transversais
ou colaterais” (TARTUCE, 2020, p. 168).

O Código Civil, também, dispõe: “Art. 1.594. Contam-se, na linha reta,


os graus de parentesco pelo número de gerações, e, na colateral, também pelo
número delas, subindo de um dos parentes até ao ascendente comum, e descendo
até encontrar o outro parente” (BRASIL, 2002). Para Tartuce (2020, p. 168) a
premissa fundamental é que se deve subir ao máximo, até o parente comum, para
depois descer e encontrar o parente procurado.

ATENCAO

A segunda parte do art. 1.594 do Código Civil, enseja que na linha colateral, os
graus de parentesco contam-se pelo número de gerações, subindo até o parente comum,
e descendo até encontrar o outro parente procurado.

Para ilustrar o grau de parentesco colateral, Tartuce (2020, p. 168) provoca


questionando: “[...] qual é o grau de parentesco entre mim e minha irmã? Deve-
se subir um grau até o pai (ancestral comum), para depois descer até a irmã. A
conclusão é que o parentesco é colateral em segundo grau” e ilustra:

FIGURA 7 – PARENTESCO COLATERAL EM SEGUNDO GRAU

FONTE: Tartuce (2020, p. 168)

40
TÓPICO 2 — SUCESSÃO LEGÍTIMA

Só existe parentesco colateral de segundo grau, pois, diante da regra de


subir de um dos parentes até ao ascendente comum e descendo até encontrar o outro
parente (Art. 1.594 do CC), logo, não há parentesco colateral de primeiro grau.

A doutrina de Tartuce (2020, p. 168) ensina que existe ainda uma


classificação com relação aos irmãos, que estes podem ser:

• bilaterais ou germanos (mesmo pai e mesma mãe) e 


• unilaterais (mesmo pai ou mesma mãe). Estes podem ser: uterinos (mesma mãe
e pais diferentes) ou consanguíneos (mesmo pai e mães diferentes).

Qual é o grau de parentesco entre mim e meu tio? Esse é o questionamento


de Tartuce (2020, p. 168) para, na sequência, demonstrar que se deve subir dois
graus até o avô, que é o ancestral comum. Assevera o autor que:

A atenção aqui deve ser redobrada, pois o erro mais comum é subir
até o pai, o que não está correto. Repita-se que é necessário subir até
o avô, que é o tronco comum, para depois descer ao tio. Portanto, o
parentesco é colateral de terceiro grau. Ato contínuo, percebe-se que o
grau de parentesco entre primos (eu e o filho do meu tio) é de quarto
grau, o máximo previsto em lei.

Para deixar o assunto bastante esmiuçado, o autor apresenta, no esquema


a seguir, duas relações de parentesco, conforme a figura:

FIGURA 8 – PARENTESCO COLATERAL EM TERCEIRO E QUARTO GRAU

FONTE: Tartuce (2020, p. 169)

E, ainda, para dirimir a dúvida: qual o grau de parentesco entre sobrinho-


neto e tio-avô? Tartuce, (2020, p. 169) salienta que “o ponto-chave está em escolher
um papel ou personagem entre os dois. Escolheremos ser o sobrinho-neto, o que
torna a análise mais fácil. A pergunta então é: qual é o grau de parentesco
entre mim e o meu tio-avô (irmão do meu avô)”.

41
UNIDADE 1 — O PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Feita a “escolha” o autor apresenta o esquema a seguir, considerando que


se deve “... subir o máximo, até o bisavô (terceiro grau) para então descer até o
tio-avô. A resposta é que o parentesco é colateral de quarto grau, mais uma vez o
máximo previsto em lei”.

FIGURA 9 – PARENTESCO COLATERAL EM QUARTO GRAU

FONTE: Tartuce (2020, p. 169)

Em linhas gerais, o autor aduzindo a doutrina clássica do Direito Civil,


ainda ressalta que o parentesco natural colateral pode ser classificado em:

a) Parentesco colateral igual  – situação em que a distância que separa


os parentes do tronco comum é a mesma quanto ao número de
gerações. É o que ocorre no parentesco entre irmãos, pois se sobe
uma geração e desce-se também uma geração (parentesco colateral
de segundo grau igual). Ocorre o mesmo no parentesco entre primos,
pois se sobem duas gerações e descem-se duas gerações (parentesco
colateral de quarto grau igual).
b) Parentesco colateral desigual – hipótese em que a distância que separa
os parentes do tronco comum não é a mesma. Em outras palavras, a
medida de subida de gerações não é igual à medida da descida. É o
que acontece no parentesco entre tio e sobrinho (parentesco colateral
de terceiro grau desigual: “subi dois e desci um”) e sobrinho-neto e
tio-avô (parentesco de quarto grau desigual: “subi três e desci um”)
(TARTUCE, 2020, p. 170).

42
TÓPICO 2 — SUCESSÃO LEGÍTIMA

Tartuce (2020, p. 170) também aponta que “o parentesco natural pode


ainda ser duplicado”. Ilustra a situação em que dois irmãos se casam com duas
irmãs, sendo que os filhos que nascerem dos dois casais serão parentes colaterais
em linha duplicada.

FIGURA 10 – RESUMO TABELA DE GRAUS DE PARENTESCO NATURAL

FONTE: Tartuce (2020, p. 170)

43
UNIDADE 1 — O PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

NOTA

A “tabela parental” reproduzida através da Figura 10, foi extraída do sexto


volume da obra Direito Civil – Direito das Sucessões – de Flávio Tartuce, que homenageou
a professora da graduação. Essa tabela foi entregue no curso de graduação na Faculdade
de Direito da Universidade de São Paulo, em 1996, pela então Professora Giselda Maria
Fernandes Novaes Hironaka. “..., a tabela inclui outras pessoas que não são parentes, além
do quarto grau. A exposição é bem didática, com o fim de demonstrar aqueles que são ou
não parentes” (TARTUCE, 2020, p. 170).

Após a análise do parentesco consanguíneo, passamos a contagem de graus


no parentesco por afinidade, aquele existente entre um cônjuge ou companheiro
e os parentes do outro. Tartuce (2020, p. 171) nos lembra que, “em regra, pela
lei, não há sucessão em relação a esses parentes, a não ser que se considere a
equiparação, como se filhos fossem, e pela socioafetividade, dos direitos relativos
ao enteado ou à enteada”.

Acadêmico, você já deve ter percebido que as matérias de Direito, nunca


são simples, pois uma decisão pode trazer uma série de consequências. Essa, por
exemplo, permitiu a Tartuce (2020, p. 171) concluir pela atribuição de direitos
sucessórios entre padrastos, madrastas e enteados.

[...] com a citada decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que,


em repercussão geral, equiparou a parentalidade socioafetiva à
biológica, a tendência é atribuir amplos direitos sucessórios entre
padrastos,  madrastas e enteados (Recurso Extraordinário 898.060/SC,
Rel. Min. Luiz Fux, j. 21.09.2016, publicado no Informativo n. 840 do STF).

E o autor segue:

[...] quanto à essência dessa modalidade parental, para cima, haverá


parentesco por afinidade na linha reta ascendente em relação à sogra,
à mãe da sogra, à avó da sogra e assim sucessivamente até o infinito.
O mesmo deve ser dito em relação ao sogro, ao pai do sogro, ao avô
do sogro, e assim de forma sucessiva. Nessa seara, não há que falar em
sucessão, definitivamente (TARTUCE, 2020, p. 171).

Obtempera Tartuce (2020, p. 171), “para baixo, na linha descendente,


haverá parentesco por afinidade na linha reta descendente em relação ao enteado,
ao filho do enteado, ao neto do enteado etc. Se o enteado for tratado como filho
consanguíneo, pode ser considerado o seu Direito Sucessório, o que ainda será
desenvolvido neste capítulo do livro”. Continua o autor se referindo ao padrasto,
a madrasta, tratando de forma equiparada como pai ou como mãe, incidindo-se
as regras relativas à sucessão dos ascendentes.

44
TÓPICO 2 — SUCESSÃO LEGÍTIMA

O esquema a seguir apresenta o parentesco por afinidade:

FIGURA 11 – PARENTESCO POR AFINIDADE

FONTE: Tartuce (2020, p. 172)

Importante esclarecer que não há qualquer Direito Sucessório ao


parentesco por afinidade colateral, aquele existente entre cunhados (irmã ou
irmão do cônjuge ou companheiro) (TARTUCE, 2020, p. 171).

Seguimos nossos estudos com o Tópico 3, nosso último tópico desta


Unidade 1, onde estudaremos o RECEBIMENTO DA HERANÇA. Fique atento!

45
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• A sucessão legítima se fundamenta na família do autor da herança.

• O autor da herança significa a pessoa que faleceu.

• Na sucessão legítima o legislador determina o rol de sucessores de uma pessoa,


baseado em seus vínculos mais estreitos.

• Temos duas categorias de herdeiros: herdeiros necessários e herdeiros


legítimos, além dos testamentários.

• Herdeiro legítimo é a pessoa indicada na lei como sucessor no caso de sucessão


legal, a quem se transmite a totalidade ou quota-parte da herança.

• Herdeiro necessário é o parente e o cônjuge com direito a uma quota-parte da


herança, da qual não pode ser privado. São os descendentes, os ascendentes e
o cônjuge. A parte que lhes é reservada pela lei, constitui a metade dos bens do
falecido e se chama legítima.

• A existência de herdeiros necessários, impede a disposição, por ato de última


vontade, dos bens constitutivos da legítima ou reserva (Art. 1.789 CC).

• Os herdeiros facultativos herdam na falta de herdeiros necessários e de testamento


que disponha sobre o destino do espólio. Para serem excluídos da sucessão, basta
que o testador disponha por inteiro de seu patrimônio, sem contemplá-los.

• Todo herdeiro necessário é legítimo, mas nem todo herdeiro legítimo é necessário.

• Conforme o Art. 1.829, a sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: I- aos


descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado
este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação
obrigatória de bens (Art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão
parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares; II- aos
ascendentes, em concorrência com o cônjuge; III- ao cônjuge sobrevivente; IV-
aos colaterais (BRASIL, 2002).

• Ao companheiro sobrevivente assegura-se o direito de herança análogo ao do


cônjuge, nos termos das Leis nos. 8.971/94 e 9.278/96.

• Parentesco é o liame que vincula as pessoas oriundas de uma ascendência


comum (parentesco consanguíneo), ou jungidas quer pela transmissão do pátrio
poder (parentesco civil) quer pelos efeitos do matrimônio (parentesco afim).

46
• O Artigo 1.591 do Código Civil apresenta quem são os parentes em linha reta:
Art. 1.591. São parentes em linha reta as pessoas que estão umas para com as
outras na relação de ascendentes e descendentes” (BRASIL, 2002).

• O parentesco em linha reta pode ser contado em: linha reta ascendente – quando
sobe (os ascendentes – pais, avós etc) e linha reta descendente – quando desce
(os descendentes – filhos, netos etc).

• Para vários fins sucessórios, o grau de parentesco mais próximo exclui o mais
remoto: o filho exclui o neto, que exclui o bisneto, que exclui o trineto. O pai
exclui o avô, que exclui o bisavô e assim na sequência lógica.

• O grau de parentesco entre mim e meu pai é primeiro grau na linha reta
ascendente. O parentesco entre mim e meu avô é de segundo grau na linha reta
ascendente. O parentesco entre mim e meu bisavô é de terceiro grau na linha
reta ascendente, e assim de forma sucessiva.

• O parentesco entre mim e meu filho é de primeiro grau na linha reta


descendente. O parentesco entre mim e meu neto é de segundo grau na linha
reta descendente; entre eu e meu bisneto o parentesco é de terceiro grau na
linha reta descendente, e assim sucessivamente.

• O grau de parentesco entre mim e minha irmã é colateral em segundo grau.

• Só existe parentesco colateral de segundo grau, pois, diante da regra de subir


de um dos parentes até ao ascendente comum e descendo até encontrar o outro
parente. (Art. 1.594 do CC), logo, não há parentesco colateral de primeiro grau.

• O grau de parentesco entre mim e meu tio é colateral de terceiro grau. Ato
contínuo, percebe-se que o grau de parentesco entre primos (eu  e o filho do
meu tio) é de quarto grau, o máximo previsto em lei.

• O grau de parentesco entre sobrinho-neto e tio-avô é colateral de quarto grau.

• O parentesco natural colateral pode ser classificado em Colateral igual e desigual.

• A segunda parte do Art. 1.594 do Código Civil, enseja que na linha colateral, os
graus de parentesco contam-se pelo número de gerações, subindo até o parente
comum, e descendo até encontrar o outro parente procurado.

47
AUTOATIVIDADE

1 Após termos entendimento do que é herança e do que é sucessão legítima,


conforme leciona Sílvio Rodrigues: “A sucessão legítima é aquela que
decorre da lei. Se o defunto, por exemplo, deixou de fazer testamento,
seu patrimônio, por força da lei, irá aos seus descendentes; inexistindo
descendentes, irá aos seus ascendentes; não havendo nem descendentes,
nem ascendentes, irá ao seu cônjuge; à falta daqueles parentes e do cônjuge,
a herança será deferida aos colaterais até o quarto grau. Note-se que a
transmissão da herança aos sucessores se efetua sem manifestação de última
vontade do falecido, mas decorre da lei. Trata-se da sucessão legítima”.
Sobre o AUTOR DA HERANÇA, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O autor da herança significa a pessoa que faleceu.


b) ( ) O autor da herança significa a pessoa do cônjuge da pessoa que faleceu.
c) ( ) O autor da herança significa a pessoa que receberá a herança.
d) ( ) O autor da herança significa a pessoa do inventariante.

2 Aberta a sucessão, a herança passa aos herdeiros. É quando conhecemos,


conforme o caso, os herdeiros legítimos e herdeiros necessários, além dos
testamentários, pois a lei estabelece que não há herança de pessoa viva.
Com base nas definições de herdeiro legítimo e necessário, analise as
sentenças a seguir:

I- Herdeiro legítimo é a pessoa indicada na lei como sucessor no caso de


sucessão legal, a quem se transmite a totalidade ou quota-parte da herança.
II- Herdeiro necessário é o parente e o cônjuge com direito a uma quota-
parte da herança, da qual não pode ser privado. São os descendentes, os
ascendentes e o cônjuge. A parte que lhes é reservada pela lei, constitui a
metade dos bens do falecido e se chama legítima.
III- Todo herdeiro necessário é legítimo, e, vice-versa, todo herdeiro legítimo
é necessário.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 A sucessão legítima se fundamenta na família do autor da herança. O Código


Civil, em seu Artigo 1.829, determina uma ordem para que a herança seja
deferida, essa ordem chama-se “ORDEM DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA”.
De acordo com essa ORDEM DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA, classifique
V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

48
(    ) Aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge.
(    ) Ao cônjuge sobrevivente.
( ) Aos companheiros(as) em concorrência com os colaterais.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) F – F – V.
b) ( ) V – V – F.
c) ( ) V – F – V.
d) ( ) F – V – F.

4 Parentesco é o liame que vincula as pessoas oriundas de uma ascendência


comum (parentesco consanguíneo), ou jungidas quer pela transmissão
do pátrio poder (parentesco civil) quer pelos efeitos do matrimônio
(parentesco afim). No parentesco temos as linhas e os graus. Disserte sobre
o PARENTESCO EM LINHA RETA, com exemplo.

5 O parentesco entre mim e meu filho é de primeiro grau na linha reta


descendente. O parentesco entre mim e meu neto é de segundo grau na linha
reta descendente; entre mim e meu bisneto o parentesco é de terceiro grau na
linha reta descendente, e assim sucessivamente. E quanto ao grau de parentesco
entre mim e minha irmã? E entre mim e meu tio? Disserte sobre esses graus de
parentesco e apresente a “regra de subir de um dos parentes até ao ascendente
comum e descendo até encontrar o outro parente” (Art. 1.594 CC).

49
50
TÓPICO 3 —
UNIDADE 1

RECEBIMENTO DA HERANÇA

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 3 abordaremos o recebimento da herança. Vamos
passar por alguns temas que precisamos, desde já, pedir muito a sua atenção,
porque o nome pode levá-lo a pensar que vai se tratar de um objetivo, quando na
verdade é outro. É o caso, por exemplo, da “petição de herança”. À primeira vista
podemos até imaginar que é a petição para o inventário, mas, não é isso! E esta é
a razão desta primeira advertência sobre sua ATENÇÃO!

Você descobrirá, neste tópico, o que verdadeiramente vem a ser a petição
de herança, quando ela ocorre, quem é o herdeiro aparente, que direitos tem ele,
onde o Código Civil disciplina essa matéria, entre outros dispositivos.

Também iremos abordar o direito de representação. Categorias como


Recebimento da herança por “direito próprio” ou “por cabeça”, “por estirpe”,
“por representação”, são algumas que abordaremos para entender o recebimento
da herança. Isso é muito especial porque a doutrina aqui selecionada traz
figuras que o auxiliam ilustrativamente a melhor perceber a sucessão, quando se
apresenta, nos exemplos propostos.

Você analisará com mais cautela os sucessores que formam a ordem de


vocação hereditária. Claro, que primeiro, você vai conhecer do que se trata. O
Código os elenca como os chamados de descendentes, ascendentes, cônjuge e,
atualmente por conta de uma decisão do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), o
companheiro e, também os colaterais.

Acadêmico, no tópico anterior, você compreendeu o parentesco e as linhas


e graus, lembra? Agora, você já começa a colocar esse ensino em prática quando
entende que os colaterais ocupam um lugar na sucessão e visualiza nos gráficos
aqui colacionados, ao longo da apresentação da temática.

E, por último você entenderá termos como “herança jacente” e “herança


vacante”.

Seja muito bem-vindo, a este último tópico e que seja uma satisfação este
aprendizado, igual está sendo o tempo dedicado à sua formação, porque você é
muito especial!

51
UNIDADE 1 — O PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

2 PETIÇÃO DE HERANÇA E HERDEIRO APARENTE


Neste subtópico, acadêmico, pode o seu imaginário levá-lo a entender que
se trata da parte prática, como o peticionamento por parte dos herdeiros. Em
parte, isso é correto, mas tecnicamente, como elucida Amorim e Oliveira (2018,
s.p., grifo nosso), “se os bens do falecido estiverem na posse de terceiro, cabe ao
herdeiro o direito de petição de herança, demandando o reconhecimento de seu
direito sucessório para que lhe sejam restituídos os bens”. Dessa forma, percebe-
se que a petição de herança é o exercício do direito do herdeiro em face de quem
estiver na posse dos bens que lhe pertence pela sucessão legítima.

Com relação à temática, o Código Civil dispõe em seus Artigos 1.824 a 1.828
a faculdade do exercício da ação a qualquer dos herdeiros, abrangendo todo o acervo
hereditário e responsabilizando o possuidor pela restituição dos bens objetos da
ação de petição de herança, sob pena de responder por má-fé e pela mora.

Art. 1.824. O herdeiro pode, em ação de petição de herança, demandar


o reconhecimento de seu direito sucessório, para obter a restituição da
herança, ou de parte dela, contra quem, na qualidade de herdeiro, ou
mesmo sem título, a possua.
Art. 1.825. A ação de petição de herança, ainda que exercida por um só
dos herdeiros, poderá compreender todos os bens hereditários.
Art. 1.826. O possuidor da herança está obrigado à restituição dos bens
do acervo, fixando-se-lhe a responsabilidade segundo a sua posse,
observado o disposto nos Arts. 1.214 a 1.222.
Parágrafo único. A partir da citação, a responsabilidade do possuidor
se há de aferir pelas regras concernentes à posse de má-fé e à mora.
Art. 1.827. O herdeiro pode demandar os bens da herança, mesmo em
poder de terceiros, sem prejuízo da responsabilidade do possuidor
originário pelo valor dos bens alienados.
Parágrafo único. São eficazes as alienações feitas, a título oneroso, pelo
herdeiro aparente a terceiro de boa-fé (BRASIL, 2002).

Conforme disposição do parágrafo único do aludido Artigo 1.827 do


Código Civil, retrotranscrito, vamos de trocadilho: aqui aparece o herdeiro aparente.
Veja acadêmico, que o legislador afirma que são válidas as alienações que esse
herdeiro aparente fizer a terceiro de boa-fé, a título oneroso. Logo, conforme
conclui Amorim e Oliveira (2018, s.p.), “quem se encontra na posse da herança
como se esta lhe pertencesse, aparentando ser herdeiro, tem seus atos protegidos
por lei em benefício de terceiros de boa-fé que venham com ele contratar”.

No entanto, como podemos saber quem é o herdeiro aparente? Para


melhor compreender essa categoria apresentada, vamos nos valer do conceito da
dissertação sobre o tema da Professora Gisela Maria Fernandes Novaes Hironaka
apud Amorim e Oliveira (2018, s.p.):

[...] aquele que, como tal, surgisse aos olhos de todos, em face de
determinadas circunstâncias, como um verdadeiro e legítimo herdeiro,
sem sê-lo realmente. É aquele que, não sendo titular dos direitos
sucessórios, é tido, entretanto, como legítimo proprietário da herança,
em consequência de erro invencível e comum.

52
TÓPICO 3 — RECEBIMENTO DA HERANÇA

ATENCAO

Amorim e Oliveira (2018, s.p.) sintetizam: “seria aquele que nunca foi herdeiro
pela essência, mas o foi pela aparência”. E trazem exemplos como a pessoa que entra na
posse de determinados bens sem saber da existência de outros herdeiros de graus mais
próximos; ou aquele que recebe bens por testamento, depois vem a perder em virtude de
nulidade ou falsidade no testamento; ou ainda, salientam os autores como hipótese mais
comum: a transmissão de bens a certos herdeiros e depois surge outro filho do falecido,
reconhecido por investigação pos mortem.

Como vimos, o herdeiro aparente pode estar na posse dos bens de boa ou
de má-fé, e daí temos que invocar os artigos sobre os estudos da POSSE (Art. 1.214
a 1.222 do CC), em razão dos efeitos em relação a terceiros. Perceba, acadêmico,
aqui vale a pena reforçar, que o Artigo 1.817 do Código Civil apenas defende as
alienações onerosas de bens hereditários a terceiros de boa-fé; e, também os atos
praticados pelo herdeiro excluído, antes da sentença de exclusão, com direito aos
coerdeiros a demandar perdas e danos, quando prejudicados. Esse excluído da
sucessão tem direito a ser indenizado das despesas que teve com a conservação
dos frutos e rendimentos, muito embora seja obrigado a restituí-los, na dicção do
parágrafo único do Art. 1.817 do Código Civil:

Art. 1.817. São válidas as alienações onerosas de bens hereditários a


terceiros de boa-fé, e os atos de administração legalmente praticados
pelo herdeiro, antes da sentença de exclusão; mas aos herdeiros subsiste,
quando prejudicados, o direito de demandar-lhe perdas e danos.
Parágrafo único. O excluído da sucessão é obrigado a restituir os
frutos e rendimentos que dos bens da herança houver percebido, mas
tem direito a ser indenizado das despesas com a conservação deles
(BRASIL, 2002).

Acadêmico, se fala em alienações a título oneroso, mas você pode se


perguntar sobre o que acontece caso for a título gratuito. Numa doação, por
exemplo. E quem nos traz a resposta é o doutrinador Orlando Gomes apud Amorim
e Oliveira (2018, s.p.), ‘são válidas as alienações de bens hereditários se efetuadas
a título oneroso’, e continua: “nulas as realizadas a título gratuito”, arrematando
que não tem validade “as doações e outras liberalidades, porque, embora haja o
donatário adquirido de boa-fé, nada perde ao restituir o que recebeu de quem
não podia dar”.

53
UNIDADE 1 — O PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

E
IMPORTANT

Desse modo, obtemperam os autores, resumindo: “são eficazes as aquisições


de boa-fé, por título oneroso, e ineficazes as de má-fé por esse mesmo título, bem como
as feitas a título gratuito” (AMORIM; OLIVEIRA, 2018, s.p.).

A temática não é pacífica, acadêmico, visto que é celeiro de demandas


judiciais. Todavia tem sido reconhecida pela Suprema Corte (RTJ 87/930 e 100/890
a validade de alienação feita por herdeiro aparente à adquirente de boa-fé e não
quando se vislumbre má-fé na aquisição (RTJ 575/279), conforme se extrai da
doutrina de Amorim e Oliveira (2018, s.p.).

Nossa incursão pelo tema é mais no sentido de, além de alargar seu
conhecimento, também deixá-lo preparado para não confundir as categorias, pois
a petição de herança não está nos procedimentos extrajudiciais, por encontrar-
se como questões que suscitam demandas judiciais, e não é a proposta nuclear
de nosso estudo neste livro, de modo que, a matéria não será aprofundada por
caracterizar no inventário como alta indagação e questões que, seguramente
levarão as partes às vias ordinárias. Então já passaremos ao novo item chamado
Direito de Interpretação sem, contudo, lhe tirar o direito, e até incentivá-lo, a
buscar mais e mais informações sobre tema que muito nos move.

3 DIREITO DE REPRESENTAÇÃO
Neste item apresentaremos novos termos jurídicos que integram o
vocabulário do Direito das Sucessões, por exemplo: “herança paga por direito
próprio ou por cabeça” e “herança paga por direito de representação”.

Já se destaca a disposição expressa do Código Civil quando aponta no


Artigo 1.835 que “os filhos sucedem por cabeça, e os outros descendentes, por
cabeça ou por estirpe, conforme se achem ou não no mesmo grau” (BRASIL, 2002,
grifo nosso).

Importante transcrever literalmente as disposições do Código Civil,


sobre o assunto, que se encontram nos Artigos 1.851 a 1.856:

Art. 1.851. Dá-se o direito de representação, quando a lei chama


certos parentes do falecido a suceder em todos os direitos, em que ele
sucederia, se vivo fosse.
Art. 1.852. O direito de representação dá-se na linha reta descendente,
mas nunca na ascendente.
Art. 1.853. Na linha transversal, somente se dá o direito de representação
em favor dos filhos de irmãos do falecido, quando com irmãos deste
concorrerem.

54
TÓPICO 3 — RECEBIMENTO DA HERANÇA

Art. 1.854. Os representantes só podem herdar, como tais, o que


herdaria o representado, se vivo fosse.
Art. 1.855. O quinhão do representado partir-se-á por igual entre os
representantes.
Art. 1.856. O renunciante à herança de uma pessoa poderá representá-
la na sucessão de outra (BRASIL, 2002).

3.1 CONCEITO
Conforme vimos, essas novas expressões também significam que “há
duas maneiras de suceder: por direito próprio (jure próprio) e por representação
(jure representationis)” (GONÇALVES, 2020, s.p.). Continua o autor, informando
que a sucessão por direito próprio se dá quando a herança é deferida ao herdeiro
mais próximo, seja em virtude de seu parentesco com o falecido, seja por força
de sua condição de cônjuge ou companheiro; e a sucessão por representação se
dá quando chamado a suceder em lugar de parente mais próximo do autor da
herança, porém pré-morto.

FIGURA 12 – SUCESSÃO POR CABEÇA – FILHOS

FONTE: Amorim e Oliveira (2018, s.p.)

ATENCAO

Se o de cujus deixa descendentes, descendentes sucedem-no, estes por


direito próprio. Todavia, se um dos filhos, já é falecido, o seu lugar é ocupado pelos filhos
que porventura tenha, que herdam por representação ou estirpe.

55
UNIDADE 1 — O PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

FIGURA 13 – SUCESSÃO POR ESTIRPE – REPRESENTAÇÃO

FONTE: Amorim e Oliveira (2018, s.p.)

3.2 FUNDAMENTO JURÍDICO


Importante destacar o que ensina Gonçalves (2020, s.p.) “A representação
é restrita à sucessão legítima, não se aplicando à testamentária”. Admitindo-
se, na dicção do Artigo 1.947 do Código Civil, a substituição vulgar no caso
de testamento. O que não é nosso foco de estudo, pois, você deve estar
lembrado, acadêmico, de que quando há testamento, o processo de inventário,
obrigatoriamente, é pelas vias judiciais.

Conforme destaca Gonçalves (2020, s.p.), “A finalidade do direito de


representação é mitigar o rigor da regra de que o grau mais próximo exclui o
mais remoto, mantendo o equilíbrio entre pessoas sucessíveis da mesma classe
pela substituição, por sua estirpe, da que faltar”.

3.3 REQUISITOS DO DIREITO DE REPRESENTAÇÃO


Na doutrina de Gonçalves (2020, s.p.), colhemos os pressupostos
necessários para que ocorra a representação: “a) Que o representado tenha falecido
antes do representante, salvo as hipóteses de ausência (desaparecimento do
domicílio sem dar notícia do paradeiro), indignidade e deserdação”.

Para os nossos estudos, ficaremos sem a ressalva do autor, em razão de


que todas prescindem de processo judicial e nosso estudo diz respeito apenas ao
processo de inventário extrajudicial.

56
TÓPICO 3 — RECEBIMENTO DA HERANÇA

O autor ainda admite a representação quando ocorre a comoriência. Traz


a lição de Orlando Gomes, apoiando-se nas lições de Galvão Teles, para dizer
“que solução diversa conduziria ao absurdo de os netos nada receberem da
herança do avô quando o pai tivesse morrido juntamente com ele e existissem
outros filhos” (GONÇALVES, 2020, s.p.)

Contudo, quanto ao herdeiro renunciante, situação que já estudamos, se
considera como se nunca tivesse sido herdeiro e, consequentemente, não pode
ser substituído pelo seu descendente, conforme Art. 1.811 do Código Civil. “b)
Que o representante seja descendente do representado. É justamente caracterizada pela
chamada do descendente para substituir o ascendente que se dá a representação
em uma sucessão” (GONÇALVES, 2020, s.p.).

c) Que o representante tenha legitimação para herdar do representado, no momento


da abertura da sucessão. Essa condição é em relação ao sucedido, e não ao
representado. “O representante ocupa a posição deixada pelo representado,
mas não herda deste, e sim do de cujus, e tem de apresentar legitimação
sucessória para essa finalidade. Desse modo, o excluído da sucessão do pai
pode representá-lo na sucessão do avô” (GONÇALVES, 2020, s.p.).
d) “Que não haja solução de continuidade no encadeamento dos graus entre representante
e representado (não pode o neto saltar sobre o pai vivo a fim de representá-lo
na herança do avô, salvo em caso de ausência, indignidade ou deserdação)”
(GONÇAVLES, 2020, s.p.).
e) “Que reste, no mínimo, um filho do de “cujus” ou, na linha colateral, um irmão do
falecido. Se todos os filhos do falecido já morreram, ou todos os irmãos deste,
os netos, no primeiro caso, e os sobrinhos, no segundo, herdam por direito
próprio” (GONÇALVES, 2020, s.p.).

DICAS

Carlos Roberto Gonçalves (2020, s.p.) nos orienta sobre o direito de


representação: “Quando é feita na linha reta, o filho substitui o pai na sucessão do avô, e
assim por diante. Quando ocorre na linha colateral, o filho substitui seu pai, na sucessão de
um tio, em concorrência com outros tios”.

57
UNIDADE 1 — O PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

3.4 LINHAS EM QUE SE DÁ O DIREITO DE REPRESENTAÇÃO


Muito embora já vimos que o direito de representação “só se verifica
na linha reta descendente, nunca na ascendente (CC, Art. 1.852). Na colateral,
ocorrerá em favor dos filhos de irmãos falecidos (dos sobrinhos) quando com
irmãos deste concorrerem (Art. 1.853)”, isso é o que nos escreve Gonçalves (2020,
s.p.). Todavia o que nos faz voltar à carga com este assunto é que o autor nos
brinda com o conceito de uma nova expressão, que, muito embora já tenha sido
citada anteriormente, não se parou para explicá-la: é a categoria “estirpe”. Inicia
o autor informando que, na linha reta descendente, os filhos herdam por cabeça,
enquanto os outros descendentes herdam por estirpe, se não estiverem no mesmo
grau. “Herdar por estirpe é o mesmo que herdar por direito de representação.
Assim, havendo descendentes de graus diversos, a herança dividir-se-á em tantas
estirpes quantos forem os vários ramos, isto é, os descendentes em grau mais
próximo” (GONÇALVES, 2020, s.p.). E, conclui o autor com suporte no Art. 1.855
do CC: “E o quinhão cabente à estirpe dividir-se-á entre os representantes.

A estirpe é chamada em conjunto (os netos do herdeiro pré-morto,
por exemplo), mas dentro de cada estirpe, o quinhão é dividido
igualmente entre os seus membros. Assim, se alguém morre deixando
dois filhos, estes herdam por cabeça, ou seja, a herança se divide em
duas partes, mas, se deixar um filho e dois netos de outro filho pré-
morto, a herança se divide em duas partes, cabendo uma à estirpe
do filho vivo, e a outra à estirpe do filho morto. Este quinhão será
dividido pelos dois netos, que representam o ascendente pré-morto
(GONÇALVES, 2020, s.p.)

E, na linha colateral, a representação ocorrerá em favor dos filhos de irmãos


do falecido (dos sobrinhos) quando irmão deste concorrerem, é o que dispõe o
Artigo 1.853 do CC. Todavia, se o finado deixa apenas sobrinhos, herdam estes por
cabeça e em partes iguais. Agora, adverte Gonçalves (2020, s.p.) “Não há direito
de representação em favor de filhos de sobrinhos. Se o de cujus deixa apenas
sobrinhos, e um deles é também falecido, os filhos deste não herdam. A herança
é deferida unicamente e por inteiro aos sobrinhos sobreviventes, excluindo-se,
assim, os sobrinhos-netos”.

Por não haver direito de representação se não se trata de sucessão de


tio; se o falecido tinha como único herdeiro um primo-irmão, só este recolhe a
herança, ainda que tenha tido outro primo-irmão, anteriormente falecido e que
tenha deixado filhos.

Os netos de irmãos também não podem pretender o direito de


representação, só concedido a filhos de irmãos, lembrando que na classe dos
colaterais os mais próximos excluem os mais remotos.

58
TÓPICO 3 — RECEBIMENTO DA HERANÇA

ATENCAO

Em nenhuma hipótese desaparece, no direito de representação, a concorrência


com cônjuge sobrevivo, salvo as exceções previstas no art. 1.829, I, do Código Civil.

3.5 EFEITOS DA REPRESENTAÇÃO


O principal efeito da repreentação é atribuir a pessoas que não sucederiam,
pela existência de herdeiros de graus mais próximo, mas que acabam substituindo
um herdeiro pré-morto. Isso é o que identifica a doutrina de Gonçalves (2020,
s.p.), e ainda retratando disposições do Código Civil, aponta:

Pelo fato de os representantes sucederem diretamente o de cujus, não


estão obrigados pelas dívidas do representado, mas somente pelas
daquele. Só podem herdar, como tais, o que herdaria o representado,
se vivo fosse (CC, Art. 1.854), ou seja, não recebem menos nem mais do
que receberia o representado. O quinhão do representado “partir-se-á
por igual entre os representantes” (Art. 1.855).

ATENCAO

Pode haver renúncia à herança do pai (para beneficiar um irmão mais


necessitado, por exemplo), sem que tal ato importe renúncia à herança do avô, para a qual
o renunciante pode ser chamado, representando seu pai, pré-morto.

Outro efeito da representação, na lição de Gonçalves (2020, s.p.), “é a


obrigação de os netos, representando seus pais, levarem à colação as doações que
estes receberam do avô, cujos bens estão sendo inventariados (CC, Art. 2.009)”.
Obtempera o autor que “se os netos herdaram por direito próprio, é irrelevante
tenham ou não seus pais recebido doações do autor da herança”. E, continua
com a advertência de que: “... se herdaram por direito de representação, devem
conferir as doações recebidas pelo ascendente que representam, ainda que os
bens objeto das doações não componham a herança”.

Com essas notas sobre o direito de representação, analisamos mais


uma importante parte dos nossos estudos, seguindo agora para o estudo dos
descendentes.

59
UNIDADE 1 — O PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

4 DESCENDENTES
Conforme podemos observar nas lições anteriores, os descendentes
situam-se na primeira classe da ordem da de vocação hereditária apresentada
pelo Código Civil, no Artigo 1.829, conforme a proximidade de parentesco por
graus: primeiro os filhos, depois os netos, e assim por diante. Colhemos ainda da
lição de Amorim e Oliveira (2018, s.p.) que “Justifica-se a colocação prioritária dos
descendentes no recebimento da herança porque, supostamente, seria vontade
do falecido proteger sua prole, mediante a transmissão do patrimônio que lhe
garanta digna sobrevivência”.

E, novamente veremos a situação dos herdeiros necessários, conforme


analisados no tópico 2, no item 2.2, que, os autores se utilizam para contextualizar
essa prioridade dos descendentes, pois explicam, novamente, a existência de
situações específicas:

Contudo, essa prioridade dos descendentes eventualmente cede passo


ao atendimento de situações específicas. Assim, havendo testamento,
a herança pode ser atribuída aos beneficiários indicados, desde que
não ultrapasse a metade disponível. Aos descendentes, por serem
herdeiros necessários, assegura-se, então, a outra parte, a título de
legítima (Art. 1.845 do CC) (AMORIM; OLIVEIRA, 2018, s.p.).

Também há de se analisar, conforme as regras dos Artigos 1.829 e 1790


do Código Civil, a situação do cônjuge ou companheiro sobrevivente, porque
dependendo do regime de bens no casamento, deverá ser analisada se há
concorrência com os descendentes, o que veremos quando discorrermos sobre os
cônjuges e companheiros.

Uma advertência de Amorim e Oliveira (2018, s.p.), que vale a pena
destacar: “Havendo cônjuge sobrevivente, aparta-se, primeiro, o valor da meação.
O que sobra é a herança atribuível aos descendentes”.

Acredita-se que já é um assunto de conhecimento geral, até por ser preceito


constitucional também; todavia, não custa enfatizar, acadêmico, conforme traz
a lição de Amorim e Oliveira (2018), que não há qualquer distinção no Código
Civil, quanto à origem dos filhos, que gozam de plena igualdade para todos os
efeitos jurídicos, de ordem pessoal, familiar e sucessório.

5 ASCENDENTES
Percebe-se, acadêmico, que pela ordem da vocação hereditária, conforme
já analisamos, os ascendentes continuam em segundo lugar, mas não isolados, em
consonância com as disposições do Artigo 1.836 do Código Civil, pois concorrem
com o cônjuge ou com o companheiro, pois tal dispositivo, agora, também se
aplica ao companheiro, por força da decisão no Recurso Extraordinário n° 878.694
do Supremo Tribunal Federal (STF) que alterou o Art. 1.790.

60
TÓPICO 3 — RECEBIMENTO DA HERANÇA

Como bem lembram Amorim e Oliveira (2018, s.p.), “não havendo


descendentes com direito à sucessão, são chamados os ascendentes do de cujus, isto é,
os seus pais, na falta destes os avós, e assim sucessivamente (Art. 1.829, II, do CC)”.

E
IMPORTANT

Não há, para os ascendentes, o direito de representação, que é exclusivo da


classe hereditária descendente, ou, na classe colateral, dos filhos de irmão pré-morto (Arts.
1.852 e 1.853 do CC).

FIGURA 13 – SUCESSÃO POR ASCENDENTES PAIS

FONTE: Amorim e Oliveira (2018, s.p)

Para melhor esclarecer, o autor adverte: “sendo sobrevivente apenas um


dos pais, o outro recebe a totalidade da herança, ainda que haja avós sobrevivos”
(AMORIM; OLIVEIRA, 2018, s.p.).

FIGURA 14 – SUCESSÃO POR APENAS UM ASCENDENTE

FONTE: Amorim e Oliveira (2018, s.p.)

61
UNIDADE 1 — O PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Amorim e Oliveira (2018, s.p.) nos fazem lembrar que “Havendo cônjuge
sobrevivente, concorre com os ascendentes recebendo um terço da herança, ou
metade se houver um só ascendente de 1° grau ou ascendentes de maior grau
(avós), conforme disposto no Artigo 1.837”.

Também acrescentam que “Pela regra do parágrafo único do Artigo 1.836


do Código Civil, o ascendente de grau mais próximo exclui o mais remoto, sem
distinção de linhas. Assim, em caso de pai sobrevivo e mãe pré-morta, receberá,
aquele, a totalidade da herança, ainda que sejam sobrevivos os avós maternos”
(AMORIM; OLIVEIRA, 2018, s.p.).

Na sequência, Amorim e Oliveira (2018, s.p., grifo nosso) apontam que


“havendo igualdade em grau e diversidade em linha (ex.: dois avós paternos e
um materno), os ascendentes da linha paterna herdam a metade, cabendo a outra
aos da linha materna, conforme disposição do § 2° do mesmo artigo. Herda-se,
nessa hipótese, por linha e não por cabeça”.

FIGURA 15 – SUCESSÃO POR ASCENDENTES AVÓS, SENDO UM PRÉ-MORTO

FONTE: Amorim e Oliveira (2018, s.p.)

Uma celeuma, que para muitos parece lógica, para outros nem tanto assim,
ainda é a temática da adoção – dos filhos adotivos. Muito embora conhecemos
a plena equiparação de direitos consagrada constitucionalmente, sempre
encontramos, na doutrina, pontos nos chamando a atenção a essas situações,
todavia, não há distinções decorrentes da filiação adotiva.

Comunga-se com Amorim e Oliveira (2018, s.p., grifo nosso) quando


advogam que “a lei equipara o tratamento legal aos adotados, atribuindo-lhes
indistintamente a situação de filhos e desligando-os de qualquer vínculo com
seus pais e parentes consanguíneos”. Dito isso acadêmico, para deixar claro
que ao falecer um filho adotado, e não deixando descendentes e nem cônjuge, a
herança deste caberá aos pais que o adotaram.

62
TÓPICO 3 — RECEBIMENTO DA HERANÇA

6 CÔNJUGE
Conforme lecionam Amorim e Oliveira (2018, s.p.), “o cônjuge
sobrevivente, na qualidade de viúvo do autor da herança, tem dupla vocação
hereditária, como herdeiro concorrente ou como herdeiro exclusivo.

Primeiramente, e novamente, transcrevemos a ordem da vocação


hereditária, ditada pelo Código Civil:

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: (Vide Recurso


Extraordinário n° 646.721) (Vide Recurso Extraordinário n° 878.694)
I- aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente,
salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão
universal, ou no da separação obrigatória de bens (Art. 1.640,
parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor
da herança não houver deixado bens particulares;
II- aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III- ao cônjuge sobrevivente;
IV- aos colaterais (BRASIL, 2002).

E, agora, frente ao teor desse dispositivo, seguimos complementando as


lições dos autores que “dependendo da existência ou não de outros herdeiros,
segundo a ordem de vocação hereditária ditada pelo Artigo 1.829 do Código
Civil, o cônjuge pode situar-se no primeiro grau, concorrendo com descendentes,
com direito a uma quota (Art. 1.832 do CC)” (AMORIM; OLIVEIRA, 2018, s.p.).

Nessa toada, Amorim e Oliveira (2018, s.p.) seguem: “não havendo


descendentes, o cônjuge concorre com os ascendentes, não importa o regime de
bens, igualmente com direito a uma quota (Art. 1.837 do CC)”. E, ainda, “será
herdeiro exclusivo o cônjuge, como terceiro na ordem sucessória, quando não houver
descendentes e nem ascendentes do falecido, qualquer que tenha sido o regime de
bens do casamento, recebendo a totalidade da herança” (Art. 1.838 do CC).

Perceba, acadêmico, que se pode concluir que o cônjuge sobrevivo passou


a ser considerado herdeiro necessário, ao lado dos descendentes, o que, em outras
palavras, quer dizer que tem direito assegurado à metade da herança, considerada
indisponível, por constituir a legítima (Arts. 1.845 do Código Civil, como bem
aponta Amorim e Oliveira (2018).

E por fim, uma situação que se via no Judiciário em tempos pretéritos,


no exemplo de um pai viúvo com filhos maiores e proprietário de bens imóveis,
inclusive o que habitava, contrai novas núpcias e não deixa descendente deste novo
casamento, vindo este a falecer; os filhos “aberta a sucessão” – agora você já sabe o
que isso significa acadêmico – exigem que a esposa viúva se retire da que era a sua
habitação com o falecido porque os bens transmitiram-se aos descendentes.

63
UNIDADE 1 — O PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Pois bem, o Artigo 1.831 do Código Civil, salvaguardou essa situação:


“Art. 1.831. Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens, será
assegurado, sem prejuízo da participação que lhe caiba na herança, o direito real
de habitação relativamente ao imóvel destinado à residência da família, desde
que seja o único daquela natureza a inventariar” (BRASIL, 2002).

Assim, o direito de habitação sobre o imóvel que servia de residência ao


casal, é uma garantia social à pessoa viúva.

6.1 MEAÇÃO E HERANÇA


Acadêmico, vamos expor aqui a questão da “meação”, que é a metade
que o cônjuge tem na propriedade dos bens, decorrente do regime de bens
adotado no casamento, porque na prática essa é uma dúvida constante. Quem,
de uma maneira bem didática, aborda a situação, inclusive traçando a distinção
entre meação e herança, são os autores Amorim e Oliveira: “dentre os direitos
patrimoniais do cônjuge, distinguem-se a meação e a herança. Uma coisa é a
meação, que decorre do regime de bens e preexiste ao óbito do outro cônjuge, devendo
ser apurada sempre que dissolvida a sociedade conjugal”. E, quanto à herança,
apontam: “diversamente, herança é a parte do patrimônio que pertencia ao cônjuge
falecido, transmitindo-se aos seus sucessores legítimos ou testamentários” (AMORIM;
OLIVEIRA, 2018, s.p., grifo nosso).

Assim, conforme vimos, apurada a meação, que corresponde a 50% dos


bens comuns, o patrimônio restante, que constitui a herança, caberá ao cônjuge
sobrevivo, na falta de descendentes ou ascendentes (Art. 1.829, III, do CC). Nesse
caso, não interessa o regime adotado, seja o de comunhão de bens ou o de separação,
uma vez que apenas o cônjuge será herdeiro, salvo se, por ocasião da abertura da
sucessão, já estivesse dissolvida a sociedade conjugal (Art. 1.838 do CC).

Em razão do dispositivo do Art. 1.830 do CC. “Somente é reconhecido


direito sucessório ao cônjuge sobrevivente se, ao tempo da morte do outro, não
estavam separados judicialmente, nem separados de fato há mais de dois anos,
salvo prova, neste caso, de que essa convivência se tornara impossível sem culpa
do sobrevivente” (BRASIL, 2002), pode se concluir que no caso de separação de
fato por até dois anos, ou por mais tempo sem culpa do cônjuge sobrevivo, resta-
lhe assegurado o seu direito de herança.

Outro tema que tem encontrado eco nas mais diversas doutrinas e
até recebeu decisão do STF para resolver a celeuma, é a questão do herdeiro
companheiro, que convivia em união estável com a pessoa falecida, e é o nosso
próximo ponto.

64
TÓPICO 3 — RECEBIMENTO DA HERANÇA

7 COMPANHEIRO – UNIÃO ESTÁVEL


Embora, já passamos pela temática, este espaço se torna oportuno,
acadêmico, em razão do foco de seu estudo estar ligado, neste momento, à
questão da sucessão ao cônjuge. Entendemos que seria melhor para você, trazer
esta sequência de informação, inclusive em um item apartado e não como um
subitem do cônjuge.

O companheiro, conforme disposição da lei civilista, não foi incluído


expressamente na ordem de vocação hereditária (Artigo 1.829 do Código Civil).
Contudo, seu direito de participar da herança constava na redação Artigo 1.790,
incisos I a IV, do Código privatista, com pressupostos diversos daqueles previstos
para a sucessão do cônjuge.

Em decorrência da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), com efeito


de repercussão geral (RE 878.694-MG), que declarou inconstitucional o Artigo
1.790 e igualou os direitos entre cônjuges e companheiros sobreviventes, afastou
a distinção de direitos na herança pela forma da constituição da família.

O Enunciado 641 da VIII Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça


Federal: “A decisão do Supremo Tribunal que declarou a inconstitucionalidade do
Art. 1.790 do Código Civil não importa equiparação absoluta entre o casamento
e a união estável. Estendem-se à união estável apenas as regras aplicáveis ao
casamento que tenham por fundamento a solidariedade familiar. Por outro lado,
é constitucional a distinção entre os regimes, quando baseada na solenidade do
ato jurídico que funda o casamento, ausente na união estável”.

Nesse mesmo raciocínio seguimos com os colaterais, que sucedem na


ordem da vocação hereditária.

8 COLATERAIS
Os colaterais estão em quarto lugar na ordem da vocação hereditária. Se
não houver cônjuge sobrevivente, nas condições estabelecidas no Art. 1.830 do
Código Civil, “serão chamados a suceder os colaterais até o quarto grau”, Art.
1.839, da Lei 10.406 de 10 janeiro de 2002 (BRASIL, 2002).

Assim, na falta de descendentes, ascendentes, cônjuge ou companheiro,


sucedem os parentes colaterais do falecido, até o 4° grau (Art. 1.839 do CC)
(BRASIL, 2002). Todavia, há uma ordem de preferência: irmãos, sobrinhos, tios,
primos, uma vez que os mais próximos excluem os mais remotos, salvo o direito
de representação dos filhos de irmãos (Art. 1.840 do CC) (BRASIL, 2002).

Amorim e Oliveira (2018, s.p.) esquematizam a sucessão dos colaterais,


conforme veremos na sequência. “Esse direito de representação, que é típico da
sucessão de descendentes, aplica-se aos colaterais, mas apenas em favor dos filhos de
irmãos do falecido, quando com irmãos concorrem” (Art. 1.853 do CC) (BRASIL, 2002).
65
UNIDADE 1 — O PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

FIGURA 16 – SUCESSÃO DE COLATERAIS E IRMÃOS, POR CABEÇA

FONTE: Amorim e Oliveira (2018, s.p.)

FIGURA 17 – SUCESSÃO DE COLATERAIS DE 3° GRAU – POR CABEÇA

FONTE: Amorim e Oliveira (2018, s.p.)

Os autores ilustram, no gráfico, a situação do quinhão da herança para


dois irmãos, sendo um bilateral e o outro unilateral. “Se houver mais de um irmão
de cada categoria, por exemplo dois bilaterais e um unilateral, somam-se em
dobro os primeiros, alcançando o total de cinco, e faz-se a divisão proporcional
das cotas: 2/5 para cada herdeiro bilateral e 1/5 para o unilateral” (AMORIM E
OLIVEIRA, 2018, s.p.).

FIGURA 18 – SUCESSÃO DE COLATERAIS POR REPRESENTAÇÃO

FONTE: Amorim e Oliveira (2018, s.p.)

Nas demonstrações que os autores apresentam nas figuras, “concorrendo


à herança irmãos bilaterais com irmãos unilaterais, a estes caberá metade do que
cada um daqueles herdar (Art. 1.841 do CC)” (AMORIM; OLIVEIRA, 2018, s.p.).

66
TÓPICO 3 — RECEBIMENTO DA HERANÇA

FIGURA 19 – SUCESSÃO DE COLATERAL BILATERAL CONCORRENDO COM UNILATERAL

FONTE: Amorim e Oliveira (2018, s.p.)

Na representação da Figura 19, os irmãos bilaterais ou germanos, filhos


do mesmo pai e da mesma mãe, apresentam vantagem na sucessão de irmão, pois
recebem quinhão dobrado em concorrência com irmãos unilaterais. A distinção
está no fato de o irmão unilateral ter a chance de haver direito hereditário
adicional, da outra origem paterna ou materna. “Havendo só irmãos bilaterais
ou só unilaterais, desaparece a diferença, pois herdarão eles em partes iguais, por
cabeça” (AMORIM; OLIVEIRA, 2018, s.p.).

Obtemperam os autores que “embora sobrinhos e tios estejam no mesmo


grau de parentesco (3°), em relação ao de cujus, aqueles têm preferência no
chamamento à sucessão, nos termos do Artigo 1.843 do Código Civil: “na falta
de irmãos, herdarão os filhos destes e, não os havendo, os tios” (AMORIM;
OLIVEIRA, 2018, s.p.).

Acadêmico, não se pode esquecer também o que preceitua o Artigo 1.790,


inciso III do Código Civil que prevê a concorrência do companheiro com os
colaterais, cabendo àquele 1/3 da herança.

E, como último tema desta unidade um rápido olhar sobre quando os


bens ficam para o Estado. É claro que você já ouviu falar em herança jacente, será
que não? Então, seguimos.

9 O MUNICÍPIO, O DISTRITO FEDERAL E A UNIÃO


Dispõe o Art. 1.844 do Código Civil: “não sobrevindo cônjuge, ou
companheiro, nem parente algum sucessível, ou tendo eles renunciado à herança,
esta se devolve ao Município ou ao Distrito Federal, se localizada nas respectivas
circunscrições, ou à União, quando situada em território federal” (BRASIL, 2002).

Gonçalves (2020, s.p.) contribui: na realidade, o dispositivo em apreço só


se aplica aos casos em que o de cujus morre ab intestato, pois tal devolução pode
ser evitada mediante disposição testamentária.

67
UNIDADE 1 — O PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

ATENCAO

ab intestato: locução usada para designar a sucessão em que não se deixou


testamento e o herdeiro que exerce os seus direitos em tal sucessão (AB INTESTATO, 2021).

Lembre-se acadêmico, conforme Gonçalves (2021, s.p.), “o Poder Público


não é herdeiro, não lhe sendo, por isso, reconhecido o direito de saisine”. Continua
o autor que o Estado “Apenas recolhe a herança na falta de herdeiros”.

Não adquire o domínio e a posse da herança no momento da abertura


da sucessão, pois, na falta de herdeiros, a herança torna-se jacente,
transforma-se posteriormente em vacante, e só então os bens passam
ao domínio público (CC, Art. 1.822; CPC/2015, Arts. 738 e s.).
Não sendo herdeiro, o Estado não aceita a herança, nem lhe é dado
repudiá-la ou renunciá-la. Torna-se, destarte, sucessor obrigatório.
O mesmo não se pode dizer do legado, especialmente quando
acompanhado de encargo. É que a sucessão ab intestato do Estado
defere-se ope legis, ao passo que a instituição testamentária, como ato de
vontade, não tem força coercitiva (GONÇALVES, 2021, s.p., grifo nosso).

A título de ampliar seus conhecimentos acadêmicos, é interessante trazer


os apontamentos de Gonçalves (2020, s.p.), quando afirma que “Divergem os
doutrinadores a respeito da natureza jurídica do direito sucessório atribuído ao
Estado”.

Gonçalves (2021, s.p.) contextualiza as correntes, quanto “uma corrente


adota a tese da ocupação, dizendo que o Estado se apossa dos bens, que se tornam
coisas sem dono. Na verdade, o falecido não abandona os bens hereditários”.
O que comungamos com Gonçalves, pois a herança não foi abandonada, ocorre
que por disposição da lei privatista, no art. 1.819: “falecendo alguém sem deixar
testamento nem herdeiro legítimo notoriamente conhecido [...]” (BRASIL, 2002).
E, continua o autor: “Se isso ocorresse, pertenceriam eles a quem praticasse em
primeiro lugar o ato de apropriação – o que não é verdadeiro” (GONÇALVES,
2021, s.p.). A segunda corrente, defende que: “[...] o direito do Estado decorre
de sua soberania (jus imperii)” (GONÇALVES, 2021, s.p.). E, a terceira corrente,
apresentada: “[...] o direito do Estado filia-se ao jus successionis: na falta de
outras pessoas sucessíveis, por lei ou por testamento, herda o Município em
reconhecimento da colaboração prestada ao indivíduo na aquisição e conservação
da riqueza” (GONÇALVES, 2021, s.p.). Esta última é a teoria a que se filia o
direito brasileiro.

Imperioso registrar a contribuição de Zeno Veloso apud Gonçalves (2021,


s.p.), até por trazer essas categorias jurídicas tão específicas, acadêmico:

68
TÓPICO 3 — RECEBIMENTO DA HERANÇA

[...] em nosso sistema, não há herança sem dono, definitivamente sem


dono. Incivil seria admitir que, pela falta de parentes sucessíveis,
de cônjuge, ou companheiro, ou porque estes renunciaram à
herança, ficasse a massa de bens deixados pelo falecido como res
nullius (coisas de ninguém ou coisas sem dono), passíveis de serem
ocupadas ou apropriadas por qualquer pessoa, ou como res derelictae
(coisas abandonadas). O chamamento do Estado às heranças vagas
obedece, sem dúvida, a poderosas razões de interesse público e social,
atendendo ponderáveis necessidades políticas, econômicas e sociais.

E, concluindo nossa primeira unidade, resumindo, o Poder Público deixou


de ser incluído no rol de herdeiros constante do Artigo 1.829 do Código Civil.
No entanto, assiste-lhe o direito de haver bens vacantes, por falta de herdeiros
habilitados (Arts. 1.819 e 1.822 do CC) (BRASIL, 2002).

Conforme disposição do Código Civil, não sobrevivendo cônjuge ou


companheiro, nem parente algum sucessível, ou tendo eles renunciado à herança,
esta se devolve ao Município ou ao Distrito Federal, se localizada nas respectivas
circunscrições, ou à União quando situada em território federal. Denomina-se
“herança jacente”, que pode transformar-se em “vacante”, passando os bens ao
domínio público, na forma procedimental constante dos Artigos 738 e seguintes
do Código de Processo Civil.

Conforme bem informado na parte preambular desta unidade, com essa


parte mais teórica e conceitual, buscou-se norteá-lo, acadêmico, ao universo do
mundo do Direito das Sucessões, e de um modo direto prepará-lo para as unidades
a seguir que terão abordagens mais práticas com procedimentos e documentações.

Agora, você está sendo convidado a seguir para a próxima Unidade,


que compreenderá as etapas para a realização de um inventário extrajudicial,
inclusive você perceberá que até as questões ligadas com as respectivas
Corregedorias dos Estados Membros, serão abordadas. Seguimos em frente!
Aguardamos você na Unidade 2!

69
UNIDADE 1 — O PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

LEITURA COMPLEMENTAR

COMORIÊNCIA AFASTA HERANÇA POR REPRESENTAÇÃO

Renata Rivelli Martins dos Santos 


Fabiane Parente Teixeira Martins

Preceitua o Artigo 6° do Código Civil, que “a existência da pessoa natural


termina com a morte”, destacando-se assim a importância da indicação do
momento da morte, já que com a morte abre-se a sucessão.

Se duas pessoas ou mais morrerem no mesmo momento sem se poder


indicar se uma morte antecedeu a outra, essas mortes serão consideradas
simultâneas.

O Código Civil, em seu Artigo 8°, assim estabeleceu “se dois ou mais
indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos
comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos”.

A comoriência é, assim, a presunção de morte simultânea, de uma ou mais


pessoas, na mesma ocasião (tempo), em razão do mesmo evento ou não, sendo
essas pessoas reciprocamente herdeiras.

Com a abertura da sucessão, portanto com a morte, a herança do “de


cujus”, composta do acervo patrimonial ativo e passivo, transmite-se aos herdeiros
legítimos e testamentários. Assim, para que haja transmissão da herança do
falecido para seus herdeiros é preciso que esses herdeiros tenham sobrevivido ao
falecido, ou seja, que no momento da morte do autor da herança os seus herdeiros
estejam vivos.

Não existe possibilidade de se transmitir a herança a mortos, haja vista que


com a morte não existe mais pessoa natural. Com efeito, somente as pessoas podem
titularizar direitos e, tendo perdido a personalidade com a morte, impossível
receber a propriedade desse acervo patrimonial deixado pelo “de cujus”.

No caso da comoriência, como não se consegue identificar quem faleceu


primeiro, sendo os indivíduos considerados simultaneamente mortos, não cabe
direito sucessório entre comorientes, vale dizer, comorientes não são herdeiros
entre si.

Ensina Maria Berenice Dias: “não havendo a possibilidade de saber quem


é herdeiro de quem, a lei presume que as mortes foram concomitantes. Desaparece
o vínculo sucessório entre ambos. Com isso, um não herda do outro e os bens de
cada um passam aos seus respectivos herdeiros”.

70
TÓPICO 3 — RECEBIMENTO DA HERANÇA

Exemplificativamente, se marido e mulher morrerem num acidente de


carro sem se conseguir demonstrar quem morreu primeiro, serão os consortes
considerados comorientes e, por via de consequência, não serão herdeiros entre
si. Se os consortes deixaram descendentes, receberão estes, com base no Artigo
1.829, C.C., lembrando que cada comoriente deixará sua herança sem contemplar
o outro comoriente, razão pela qual não se analisa o regime de bens dos consortes.

Esclarecendo: se os cônjuges, Joca e Julia foram considerados comorientes


por não terem conseguido identificar a pré-morte de um deles, não poderão
ser considerados herdeiros entre si. A herança de Joca, havendo descendentes
sucessíveis, será entregue a estes sem se cogitar o eventual direito de concorrência
com base no regime de bens, ou seja, ainda que os consortes fossem casados sob
o regime da separação convencional de bens, regime que defere o direito de
concorrência, a participação do cônjuge não se aperfeiçoaria, já que comorientes
não são considerados herdeiros entre si.

Insta consignar que herança não se confunde com meação (direito


que pertencente a cada um dos cônjuges ou companheiros, relacionado à sua
participação nos bens adquiridos na constância da união, conforme regime de
bens do casamento ou da declaração de união estável), os comorientes não serão
considerados herdeiros entre si, mas terão direito para a composição da herança
de cada um a meação que lhes competia em virtude do regime de bens.

Se marido e mulher tivessem falecido, na hipótese anterior, sem deixar


descendentes sucessíveis, tampouco ascendentes, com base na ordem de vocação
hereditária seria chamado o cônjuge sobrevivente, por estar inserido na terceira
classe da ordem, todavia como se tratam de comorientes, o cônjuge não poderia
ser contemplado, passar-se-ia à quarta classe, ou seja, seriam chamados os
colaterais para o recebimento da herança.

DIREITO DE REPRESENTAÇÃO

Direito de representação, conforme disposição do Artigo 1.851, do CC,


consiste no chamamento de parentes do falecido a suceder em seus direitos, caso
estivesse vivo:

“Dá-se o direito de representação, quando a lei chama certos parentes do


falecido a suceder em todos os direitos, em que ele sucederia, se vivo fosse”.

Instituto de origem romana criado para reparar o mal sofrido pela morte
prematura dos pais. 

Elucidando a definição legal, Maria Berenice Dias:

“Quando ocorre a morte de um herdeiro antes da abertura da sucessão, a


lei chama os descendentes do falecido a sucedê-lo em todos os direitos. Recebem
a herança no lugar dele. Daí dizer-se que não herdam por direito próprio, mas na

71
UNIDADE 1 — O PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

qualidade de representantes do herdeiro pré-morto. Pelo direito de representação


corrige-se a injustiça da rigorosa aplicação do princípio que exclui os mais remotos
em favor dos mais próximos. A finalidade do instituto é preservar a igualdade
entre os herdeiros descendentes. A lei coroa a igualdade de filiação ao estipular
que os descendentes na mesma classe têm os mesmos direitos à sucessão de seus
ascendentes. Falecido um deles não se justifica que os seus sucessores fiquem fora
da sucessão. Caso contrário se estaria excluindo o direito de herança pelo simples
fato de o herdeiro ter morrido, deixando de se atentar ao fato de ele ter prole”.

A crítica inicial que se faz é à denominação do termo “representação”,


uma vez que o representante herda, nessas situações, por si mesmo, em seu nome,
pois a lei lhe faz a vocação hereditária. Como bem explica Mauro Antonini: “nas
taxativas hipóteses legais, são chamados a suceder os parentes de um herdeiro
que morreu antes do de cujus. Esses parentes herdam tudo o que o herdeiro pré-
morto herdaria se estivesse vivo, em concorrência com os herdeiros sobreviventes
do mesmo grau”.

Os netos, descendentes de 2° grau, podem representar o pai pré-morto,


na sucessão do avô, e receberão, por direito de representar o pai, o que este
receberia se vivo fosse. Se o “de cujus” deixou dois filhos vivos e um filho pré-
morto, a herança será dividida em três partes iguais, uma cota-parte para cada
filho, e os netos receberão 1/3 da herança, para dividir de forma igualitária entre
todos os netos.

A intenção da lei civil, ao excluir os herdeiros mais remotos, nessas


hipóteses, é de cunho moral, ou seja, permite-se que a distribuição da herança
seja equilibrada entre os descendentes presumivelmente ligados por idêntica
afeição ao autor da herança.

“Assim, na linha descendente, os filhos sucedem por cabeça, e os outros


descendentes, por cabeça ou por estirpe, conforme se achem ou não no mesmo grau”.

Na hipótese apresentada os netos receberão por estirpe ou direito de


representação e os filhos do de cujus receberão por cabeça ou direito próprio.

Ensina Silvio de Salvo Venosa: “se não houver diversidade de graus, isto
é, os descendentes vivos mais próximos estiverem no mesmo grau, não haverá
representação: a herança é dividida por cabeça. Assim, se o falecido deixou só
netos, não havendo filhos vivos, a herança é dividida pelo número exato de netos,
não importando quantos tenham sido os filhos”.

Por força do Artigo 1.852, do CC, o direito de representação só ocorrerá


na linha descendente, não se admitindo a representação na linha ascendente. Os
avós, assim, não poderão representar o filho pré-morto na sucessão do neto.

O instituto da representação é admitido para as hipóteses de pré-morte do


descendente chamado em primeiro lugar a herdar, transmitindo-se a herança ao
descendente de 2° grau, o qual representará seu genitor na sucessão do avô.

72
TÓPICO 3 — RECEBIMENTO DA HERANÇA

Não se admite, com fulcro no Artigo 1.811, do Código Civil, o direito de


representação para as hipóteses de renúncia, assim o filho do herdeiro renunciante
não poderá representar seu pai. Já na exclusão por indignidade, por tratar a
restrição ao direito sucessório de pena aplicada ao herdeiro que cometeu um dos
atos atentatórios contra a vida, honra ou liberdade de disposição patrimonial do
hereditando, não será transferida aos herdeiros do excluído, cabendo o direito
de representação. Com efeito, nessas hipóteses admitida está a representação já
que a penalidade não pode passar da pessoa do infrator, ou seja, daquele que foi
considerado indigno.

REPRESENTAÇÃO E COMORIÊNCIA

A grande questão que se coloca no enfrentamento do tema comoriência


é a hipótese de pai e filho morrerem simultaneamente, sem se conseguir
demonstrar a pré-morte de um deles. Aplicando-se a comoriência, pai e filho
não serão considerados herdeiros entre si, ou seja, o pai não será aquinhoado
com a herança do filho, tampouco o filho será considerado herdeiro de seu pai.
Contudo, o neto poderá representar seu pai na herança do avô? Admite-se o
direito de representação nas hipóteses de comoriência?

No caso da comoriência, os comorientes não herdam entre si, mas e os


seus filhos também serão afastados da sucessão?

Como na comoriência os comorientes não são herdeiros entre si, não


haverá direito de representação dos descendentes de 2° grau, ou seja, os netos
não poderão representar o pai na sucessão do avô. Vale a mesma regra aplicada
à renúncia, segundo a qual, o herdeiro renunciante não é mais considerado
herdeiro, é como se ele nunca tivesse existido, razão pela qual não se aplica o
direito de representação.

Nessas situações, não há preenchimento do primeiro requisito básico


para sucessão por representação, qual seja, o representante, para herdar como
representante, só terá condição ou legitimidade de herdeiro se o seu ascendente
imediatamente anterior houver falecido antes do transmitente da herança. 

Elucidando a questão da comoriência, se pai e filho morreram num


acidente de avião, sem se conseguir, aplicando-se todas as técnicas da medicina
legal, identificar qual dos mortos faleceu primeiro, serão considerados
simultaneamente mortos, sem que um tenha direito a sucessão do outro.
Imaginemos que o filho também tivesse deixado um descendente, esse
descendente não poderia representar seu pai na sucessão do avô. Por mais
injusta que essa solução pode parecer, ela se baseia no fato do comoriente
não estabelecer nenhuma relação sucessória com o outro comoriente, o que
impossibilita a aplicação do direito de representação.

Referido raciocínio lógico é extraído do texto legal, especificamente do


Artigo 1.854 do Código Civil, que estabelece: “os representantes só podem herdar,
como tais, o que herdaria o representado, se vivo fosse”.

73
UNIDADE 1 — O PROCESSO DE INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Portanto, caracterizada a comoriência, não há que se falar em recebimento


da herança por direito de representação, constatando-se, assim, um paradoxo da
legislação civil ao fixar referida regra, uma vez que, nesse caso, não se permite que
a distribuição da herança seja equilibrada entre os descendentes presumivelmente
ligados por idêntica afeição ao autor da herança, pois o neto do falecido na
comoriência não herdará a herança deixada por seu avô.

FONTE: Adaptada de <https://www.conjur.com.br/2013-mar-27/comoriencia-afasta-


recebimento-heranca-direito-representacao?imprimir=1>. Acesso em: 29 abr. 2021.

74
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• A petição de herança é o exercício do direito do herdeiro em face de quem


estiver na posse dos bens que lhe pertence pela sucessão legítima.

• Herdeiro aparente é aquele que se encontra na posse da herança como se esta


lhe pertencesse, aparentando ser herdeiro, tem seus atos protegidos por lei em
benefício de terceiros de boa-fé que venham com ele contratar.

• O legislador afirma que são válidas as alienações que o herdeiro aparente fizer
a terceiro de boa-fé, a título oneroso.

• O Código Civil aponta no Artigo 1.835 que “os filhos sucedem por cabeça, e os
outros descendentes, por cabeça ou por estirpe, conforme se achem ou não no
mesmo grau.

• Há duas maneiras de suceder: por direito próprio (jure próprio) e por


representação (jure representationis).

• A sucessão por direito próprio se dá quando a herança é deferida ao herdeiro


mais próximo, seja em virtude de seu parentesco com o falecido, seja por força
de sua condição de cônjuge ou companheiro; e a sucessão por representação se
dá quando chamado a suceder em lugar de parente mais próximo do autor da
herança, porém pré-morto.

• Se o de cujus deixa descendentes, descendentes, sucedem-no estes por direito


próprio. Todavia, se um dos filhos, já é falecido, o seu lugar é ocupado pelos
filhos que porventura tenha, que herdam por representação ou estirpe.

• A representação é restrita à sucessão legítima, não se aplicando à testamentária.

• O direito de representação: “quando é feita na linha reta, o filho substitui o


pai na sucessão do avô, e assim por diante. Quando ocorre na linha colateral, o
filho substitui seu pai, na sucessão de um tio, em concorrência com outros tios.

• O direito de representação “só se verifica na linha reta descendente, nunca na


ascendente (CC, Art. 1.852).

• Herdar por estirpe é o mesmo que herdar por direito de representação. Assim,
havendo descendentes de graus diversos, a herança dividir-se-á em tantas estirpes
quantos forem os vários ramos, isto é, os descendentes em grau mais próximo.

75
• Na linha colateral, a representação ocorrerá em favor dos filhos de irmãos do
falecido (dos sobrinhos) quando irmão deste concorrerem, é o que dispõe o
Artigo 1.853 do CC.

• Se o finado deixa apenas sobrinhos, herdam estes por cabeça e em partes iguais.

• Não há direito de representação em favor de filhos de sobrinhos. Se o de


cujus deixa apenas sobrinhos, e um deles é também falecido, os filhos deste
não herdam. A herança é deferida unicamente e por inteiro aos sobrinhos
sobreviventes, excluindo-se, assim, os sobrinhos-netos.

• Por não haver direito de representação se não se trata de sucessão de tio; se o


falecido tinha como único herdeiro um primo-irmão, só este recolhe a herança,
ainda que tenha tido outro primo-irmão, anteriormente falecido e que tenha
deixado filhos.

• Os netos de irmãos também não podem pretender o direito de representação,


só concedido a filhos de irmãos, lembrando que na classe dos colaterais os mais
próximos excluem os mais remotos.

• Em nenhuma hipótese desaparece, no direito de representação, a concorrência com


cônjuge sobrevivo, salvo as exceções previstas no Art. 1.829, I, do Código Civil.

• O principal efeito da repreentação é atribuir a pessoas que não sucederiam, pela


existência de herdeiros de graus mais próximo, mas que acabam substituindo
um herdeiro pré-morto.

• Pode haver renúncia à herança do pai (para beneficiar um irmão mais


necessitado, por exemplo), sem que tal ato importe renúncia à herança do avô,
para a qual o renunciante pode ser chamado, representando seu pai, pré-morto.

• Outro efeito da representação é a obrigação de os netos, representando seus


pais, levarem à colação as doações que estes receberam do avô, cujos bens estão
sendo inventariados (CC, Art. 2.009).

• Se os netos herdaram por direito próprio, é irrelevante tenham ou não seus pais
recebido doações do autor da herança. Herança, todavia, se herdaram por direito
de representação, devem conferir as doações recebidas pelo ascendente que
representam, ainda que os bens objeto das doações não componham a herança.

• Não há, para os ascendentes, o direito de representação, que é exclusivo da


classe hereditária descendente, ou, na classe colateral, dos filhos de irmão pré-
morto (Arts. 1.852 e 1.853 do CC).

• Havendo cônjuge sobrevivente, concorre com os ascendentes recebendo


um terço da herança, ou metade se houver um só ascendente de 1° grau ou
ascendentes de maior grau (avós), conforme disposto no Artigo 1.837.

76
• Pela regra do parágrafo único do Artigo 1.836 do Código Civil, o ascendente
de grau mais próximo exclui o mais remoto, sem distinção de linhas. Assim,
em caso de pai sobrevivo e mãe pré-morta, receberá, aquele, a totalidade da
herança, ainda que sejam sobrevivos os avós maternos.

• Havendo igualdade em grau e diversidade em linha (ex.: dois avós paternos


e um materno), os ascendentes da linha paterna herdam a metade, cabendo
a outra aos da linha materna, conforme disposição do § 2° do mesmo artigo.
Herda-se, nessa hipótese, por linha e não por cabeça.

• Em decorrência da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), com efeito de


repercussão geral (RE 878.694-MG), que declarou inconstitucional o Artigo
1.790 e igualou os direitos entre cônjuges e companheiros sobreviventes,
afastou a distinção de direitos na herança pela forma da constituição da família.

• Os colaterais estão em quarto lugar na ordem da vocação hereditária. Se não


houver cônjuge sobrevivente, nas condições estabelecidas no Art. 1.830 do
Código Civil, “serão chamados a suceder os colaterais até o quarto grau” (CC,
Art. 1.839).

• Não sobrevivendo cônjuge ou companheiro, nem parente algum sucessível, ou


tendo eles renunciado à herança, esta se devolve ao Município ou ao Distrito
Federal, se localizada nas respectivas circunscrições, ou à União quando situada
em território federal. Denomina-se “herança jacente”, que pode transformar-se
em “vacante”, passando os bens ao domínio público, na forma procedimental
constante dos Artigos 738 e seguintes do Código de Processo Civil.

CHAMADA

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AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

77
AUTOATIVIDADE

1 O herdeiro pode demandar o reconhecimento de seu direito sucessório,


em demanda judicial, para obter a restituição da herança ou parte dela,
contra quem, na qualidade de herdeiro, ou mesmo, sem título, a possua.
Sobre esta faculdade do herdeiro de ter reconhecido seu direito sucessório,
assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Se os bens do falecido estiverem na posse de terceiro, cabe ao herdeiro


o direito de petição de herança, demandando o reconhecimento de seu
direito sucessório para que lhe sejam restituídos os bens.
b) ( ) Se os bens do falecido estiverem na posse de terceiro, cabe ao herdeiro
apenas o direito à indenização de sua parte, pois nossa legislação civil
não prevê tal hipótese.
c) ( ) Cabe ao herdeiro que se sentir prejudicado no recebimento da herança,
tomar posse forçada dos bens do falecido.
d) ( ) Conforme admite a legislação brasileiro (Art. 1.784 CC) “aberta a
sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e
testamentários”, não é necessário nenhuma petição de herança.

2 O Código Civil aponta no Artigo 1.835 que “os filhos sucedem por cabeça,
e os outros descendentes, por cabeça ou por estirpe, conforme se achem
ou não no mesmo grau". Logo, há duas maneiras de suceder: por direito
próprio e por representação. Com base nas definições dos enfoques das
modalidades de sucessão, analise as sentenças a seguir:

I- A sucessão por direito próprio se dá quando a herança é deferida ao


herdeiro mais próximo, seja em virtude de seu parentesco com o falecido,
seja por força de sua condição de cônjuge ou companheiro.
II- A sucessão por representação se dá quando chamado a suceder em lugar de
parente mais próximo do autor da herança, este apresenta uma procuração.
III- O direito de representação: “Quando é feita na linha reta, o filho substitui
o pai na sucessão do avô, e assim por diante. Quando ocorre na linha
colateral, o filho substitui seu pai, na sucessão de um tio, em concorrência
com outros tios”.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 O Direito das Sucessões é um campo muito vasto a ser estudado e cheio de


minúcias, pois do evento “morte”, todo patrimônio do falecido passa para
seus herdeiros. Assim, deve ser algo analisado com bastante critério à luz da
legislação e de boas práticas. Neste contexto citamos a questão da renúncia
78
da herança – os efeitos desse ato; também a situação do companheiro, se
atualmente está em condições de igualdade com o cônjuge – considerando
que nosso Código Civil é de 2002, na ordem da vocação hereditária não
contempla essa categoria, muito embora a união estável há muito caminha
lado a lado com o casamento; e, também a questão da representação, quando
se trata de receber a herança, ou melhor dizendo, dos próprios herdeiros.
De acordo com o estudo sobre a “renúncia” da herança, ao companheiro
como herdeiro e o efeito da representação, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:

( ) Pode haver renúncia à herança do pai (para beneficiar um irmão mais


necessitado, por exemplo), sem que tal ato importe renúncia à herança
do avô, para a qual o renunciante pode ser chamado, representando seu
pai, pré-morto.
( ) Mesmo com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), com efeito
de repercussão geral (RE 878.694-MG), que declarou inconstitucional
o Artigo 1.790 e igualou os direitos entre cônjuges e companheiros
sobreviventes, afastou a distinção de direitos na constituição da família,
todavia, para o Direito das Sucessões não houve alteração e somente o
cônjuge continua na ordem da vocação hereditária.
( ) O principal efeito da representação é atribuir a pessoas que não
sucederiam, pela existência de herdeiros de graus mais próximo, mas
que acabam substituindo um herdeiro pré-morto.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 Na abertura da sucessão pode-se encontrar herdeiro pré-morto. Neste caso,


como fica a herança? Considere que o Código Civil aponta no Artigo 1.835
que “os filhos sucedem por cabeça, e os outros descendentes, por cabeça
ou por estirpe, conforme se achem ou não no mesmo grau. Disserte sobre a
sucessão por direito próprio e a sucessão por representação.

5 Pode acontecer, e nossa legislação prevê, de alguém vir a falecer sem deixar
parente algum sucessível, ou se o tem, ainda assim renunciam à herança.
Essa herança é chamada “herança jacente”. Neste contexto, disserte sobre
como se dá essa “sucessão” dos bens desse falecido, dissertando também
sobre a herança jacente e vacante.

79
REFERÊNCIAS
AB INTESTATO. In: DICIONÁRIO Brasileiro da Língua Portuguesa. São
Paulo: Michaelis, 2021. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno-
portugues/busca/portugues-brasileiro/ab%20intestato/. Acesso em: 29 abr. 2021.

AMORIM, S.; OLIVEIRA, E. Inventário e partilha: teoria e prática. 26. ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2020

AMORIM, S.; OLIVEIRA, E. Inventário e partilha: teoria e prática, 25. ed. São
Paulo: Saraiva, 2018.

AMORIM, S.; OLIVEIRA, E. Inventário e partilha: teoria e prática, 24. ed. São
Paulo: Saraiva, 2016.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF:


Presidência da República, [2021]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 30 abr. 2021.

BRASIL. Lei n° 117 de 13 de setembro 2019. Altera o Código de Processo Civil.


Diário da República n° 176/2019, Série I, n° 117/2019, p. 36-75, 13 set. 2019.
Disponível em: https://dre.pt/home/-/dre/124680589/details/maximized. Acesso
em: 31 mar. 2021.

BRASIL. Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Diário Oficial da


União: seção 1, Brasília, DF, ano 139, n. 8, p. 1-74, 11 jan. 2002. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso
em: 30 abr. 2021.

BRASIL. Lei n° 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Diário


Oficial da União, Brasília, 16 mar. 2015. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 30 mar. 2021.

BRASIL. Decreto-Lei n° 4.657, de 4 setembro de 1942. Lei de introdução às


normas do direito brasileiro. Rio de Janeiro, 4 set. 1942. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del4657compilado.htm. Acesso em:
13 jul. 2021.

CARVALHO, D. M. Direito das sucessões: inventário e partilha. 5. ed. São


Paulo: Saraiva Educação, 2018.

SUCESSÃO. In: DICIONÁRIO On-line de Português. Porto: 7Graus, 2021a.


Disponível em: https://www.dicio.com.br/sucessao/. Acesso em: 28 mar. 2021.

80
SUCESSÃO. In: DICIONÁRIO Brasileiro da Língua Portuguesa. São Paulo:
Michaelis, 2021b. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/busca?id=XpaPo.
Acesso em: 28 mar. 2021.

GAGLIANO, P. S.; PAMPLONA FILHO, R. Novo curso de direito civil: Direito


das sucessões. v. 7. 8. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2021.

GONÇALVES, C. R. Direito civil brasileiro: direito das sucessões, vol. 7. 15. ed.
São Paulo: Saraiva Educação, 2021.

GONÇALVES, C. R. Direito civil: responsabilidade civil – direito de família –


direito das sucessões esquematizado, v. 3, 7. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020.

INDIGNIDADE. In: DICIONÁRIO de Sinônimos on-line, Porto: 7Graus, 2021.


Disponível em: https://www.sinonimos.com.br/indignidade/. Acesso em: 31
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LOBO, P. Direito civil, v. 6: sucessões. São Paulo: Saraiva, 2019.

PEREIRA, C M.S. Instituições de direito civil: direito das sucessões. v. 6. 27. ed. rev.
e atualizada por Carlos Roberto Barbosa Moreira. Rio de Janeiro: Forense, 2020.

SMANIOTTO, M. A. Procedimentos especiais e extrajudiciais. Curitiba:


Contentus, 2020.

STRECK, L. L.; NUNES, D.; CUNHA, L. C. Comentários ao Código de Processo


Civil. Alexandre Freire (coord.)., 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.

TARTUCE, F. Direito civil, [S.l.], v. 6: direito das sucessões. Rio de Janeiro:


Forense, 2020.

TEPEDINO, G.; NAVARES, A. L. M.; MEIRELES, R. M. V. Fundamentos do


direito civil, v. 7: direito das sucessões. Rio de Janeiro: Forense, 2020.

VENOSA, S. S. Direito civil: família e sucessões, v. 5, Rio de Janeiro: Atlas, 2020.

ZEGER, I. Herança – perguntas e respostas. São Paulo: Mescla, 2010.

81
82
UNIDADE 2 —

AS ETAPAS PARA A REALIZAÇÃO DE


UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer a gestão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e as atribuições


das corregedorias de Justiça para o funcionamento dos Tabelionatos;
• assimilar o conteúdo da Resolução n° 35 de 24 de abril de 2007, pertinente
ao inventário extrajudicial;
• conhecer as modificações que ocorreram no Código de Processo Civil de
1973, no tocante aos inventários extrajudiciais;
• identificar o aspecto opcional do inventário extrajudicial;
• reconhecer quando se dá a abertura da sucessão;
• compreender os prazos para abertura do inventário;
• conhecer a competência funcional do tabelião e a assistência do advogado.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – VISÃO GERAL SOBRE A LEGITIMIDADE DO INVENTÁRIO


EXTRAJUDICIAL

TÓPICO 2 – CARÁTER OPCIONAL DO INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

TÓPICO 3 – A COMPETÊNCIA FUNCIONAL DO TRABELIÃO E A


ASSISTÊNCIA DO ADVOGADO

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

83
84
TÓPICO 1 —
UNIDADE 2

VISÃO GERAL SOBRE A LEGITIMIDADE DO


INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, superada as questões de pano de fundo do Direito das
Sucessões, com relação a parte mais teórica, na Unidade 1, este primeiro tópico
da Unidade 2 tem como objetivo, como o próprio nome já diz, apresentar uma
visão geral, ou seja, ofertar um panorama macro das questões que abrangem
um inventário extrajudicial, do ponto de vista das formalidades que compõem a
atividade do serviço notarial em si.

Para atender esse propósito, levaremos você a compreender a gestão


do Conselho Nacional de Justiça, esse órgão máximo que orienta as atividades
do Poder Judiciário, e dele também sendo emanados os provimentos que dão
suporte orientativo a toda atividade notarial brasileira, bem como a todo aparato
judicial, embora, esse último, não esteja no radar dos nossos estudos. Todavia,
entendemos primordial lastrear seu aprendizado com um mínimo de aporte
histórico sobre o Poder Judiciário no Brasil – a partir do período colonial – em
poucas palavras.

Se tratando das atividades notarias exercidas pelos Tabelionatos, os mais


popularmente, conhecidos “cartórios”, essas, por sua vez, são orientadas e, por
que não dizer, fiscalizadas pelas Corregedorias Gerais de cada Estado Membro
da Federação, que em regra, situam-se nas capitais dos Estados e anexas à
administração dos Tribunais de Justiça dos Estados.

Perceba acadêmico, que é dessa maneira que pretendemos levar o


conhecimento até você: iniciando com os órgãos/instituições que fornecem
subsídios para as atividades notariais que lá no final instrumentalizarão, por
escritura pública, o inventário extrajudicial. Todavia, entende-se de extrema
importância que você seja capacitado com essas informações, formando todo o
conjunto, cujo escopo é o inventário extrajudicial.

Seguimos com as primeiras anotações com um breve aporte histórico


do Poder Judiciário no Brasil, e sobre uma noção geral da gestão do Conselho
Nacional de Justiça (CNJ) e as atribuições das Corregedorias Gerais de Justiça. Na
sequência colacionaremos, na íntegra, a Resolução n° 35, de 24 de abril de 2007
do CNJ.

85
UNIDADE 2 — AS ETAPAS PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

2 PODER JUDICIÁRIO
Acadêmico, você se incursionou por um caminho de temas jurídicos, então
nada mais natural de querer saber também um pouquinho da origem, da história
do nosso país, não é mesmo? Pensando nisso, resolvemos iniciar este tópico, e até
mesmo inaugurar esta unidade com breves linhas sobre o início do Poder Judiciário
no Brasil, antes de chegarmos no Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

2.1 ORIGEM DOS ÓRGÃOS JUDICIÁRIOS NO BRASIL


No período colonial, a organização judiciária no Brasil seguiu o mesmo
modelo existente em Portugal. Vieram de Lisboa, os tribunais e os órgãos
judiciários, juntamente com a Corte, instalando-se no Rio de Janeiro, sendo que
a Justiça era exercida pelo Rei. Esses órgãos chamavam-se “Casa da Suplicação”,
“Desembargo do Paço”, e a “Mesa da Consciência e Ordens” (TJSC, 2021a).

Remonta nossos livros de história, que o Brasil foi dividido em capitanias


hereditárias, e cada Governador tinha seu Ouvidor, que cumulava funções
judiciárias e administrativas. Essa denominação “ouvidor” era em razão de que
tomava ciência dos peidos e apelações. (www.tjsc.jus.br).

Segundo relato histórico obtido no sítio eletrônico do Tribunal de


Santa Catarina, “Os primeiros juízes, denominados Ordinários, não eram
necessariamente bacharéis em leis”. Esses juízes eram eleitos “pelos homens
qualificados da comunidade, e confirmados pelo Ouvidor”; eles usavam a “vara
vermelha como insígnia”. Nessa história extrai-se ainda:

Os Juízes de Fora, entretanto, deveriam ser bacharéis em leis, nomeados


pelo Rei, em substituição ao Juiz Ordinário, e usavam como insígnia a vara
branca, sinal da distinção régia. A Vara era um símbolo da antiga magistratura e
constituía um sinal de jurisdição. Hodiernamente esta palavra foi incorporada à
Magistratura nacional e ao Direito Pátrio (TJSC, 2021a).

E você, acadêmico, deve perceber que é exatamente assim até os dias de


hoje, no que se refere a algumas expressões. A divisão judiciária nas comarcas
denomina-se “vara” - o juiz de direito da 1ª vara cível, por exemplo.

Continua o historiador contando que “as bases do poder judiciário nas


províncias brasileiras, no período imperial, foram assentadas pela Constituição
de 25 de março de 1824”. E que “o Supremo Tribunal de Justiça instalado na
sede do Reino, em 1829, substituíra a Casa de Suplicação, nos moldes do sistema
judiciário português, em grau de recurso e conhecer originariamente de atos dos
ministros e membros do alto escalão, bem como os casos de conflito de jurisdição”
(TJSC, 2021a).

86
TÓPICO 1 — VISÃO GERAL SOBRE A LEGITIMIDADE DO INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Tem um percurso histórico dos Tribunais da Relação que foram instalados


no Brasil. O primeiro foi instalado em 1609 na Bahia, e o segundo, em 1751 no
Rio de Janeiro. Esses tribunais julgavam os embargos através de magistrados
denominados desembargadores, cuja decisão chama-se acórdão, do verbo arcaico
acordar. Até o terceiro quartel do século XIX foram criadas apenas mais duas
Relações, a de Pernambuco e a de São Luiz do Maranhão (TJSC, 2021a).

Estamos lendo dados que se passaram em 1600/1700 e atualmente as


expressões são as mesmas, acadêmico! Vamos explicar: Em uma ação judicial,
quando uma parte não se conforma com a decisão (sentença) do juiz, ela faz um
“recurso” à instância superior (ao Tribunal, na maioria dos casos), quando esse
recurso é julgado, essa decisão agora chama-se “acórdão”, igual aconteceu lá no
passado, descrito no parágrafo anterior.
 
Ainda com relação às instalações dos tribunais, órgãos da segunda
instância, informa o historiador que passaram a ser instalados “nas principais
províncias do Reino. Em agosto de 1873, através do Decreto 2.342 foram, então,
criados sete tribunais da Relação, sendo um na cidade de Porto Alegre, com
jurisdição nos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina” (TJSC, 2021a).

Nossa história, sempre nos lembra que um dia fomos súditos, pois a
Constituição de 25 de março de 1824, no seu Artigo 163, definiu que as Relações
ficariam sujeitas ao Supremo Tribunal de Justiça sediado na Capital do Império,
e era um rígido centralismo.
 
Em últimas notas históricas, até 1889 funcionou no Império uma Justiça
única, de âmbito nacional. “A administração da Justiça, até então, era confiada a
magistrados singulares, nomeados e demitidos livremente pelo Rei, e aos Tribunais
da Relação, que podiam também decidir questões administrativas” (TJSC, 2021a).

Em nossos dias, a Constituição Federal de 1988 – norma fundamental e


suprema do Estado Brasileiro – anuncia, no Artigo 2°, a existência dos poderes
Legislativo, Executivo e Judiciário, independentes e harmônicos entre si.

No sítio eletrônico do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, colhemos


a que “A função do Poder Judiciário é garantir os direitos individuais, coletivos
e sociais e resolver conflitos entre cidadãos, entidades e Estado. Para isso, tem
autonomia administrativa e financeira garantidas pela Constituição Federal”
(TJSP, 2021).

Vamos falar agora sobre o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), e, uma coisa
que lhe chamará a atenção, é que é um órgão jovem, pois tem apenas 15 anos!

87
UNIDADE 2 — AS ETAPAS PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

2.2 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ)


Conforme se extrai do sítio eletrônico do Conselho Nacional de Justiça
(CNJ) “é uma instituição pública que visa aperfeiçoar o trabalho do sistema
judiciário brasileiro, principalmente no que diz respeito ao controle e à
transparência administrativa e processual” (CNJ, 2021b, s.p.).

FIGURA 1 – CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA

FONTE: <https://bit.ly/3uy4q4U>. Acesso em: 1 mai. 2021.

O CNJ foi criado pela Emenda Constitucional n° 45, de 2004 e instalado


em 14 de junho de 2005. É considerado um órgão do Poder Judiciário, tem sede
em Brasília (DF) e sua atuação abrange todo território nacional. Dispõe nossa
Constituição da República:

Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário:


I- o Supremo Tribunal Federal;
I- A o Conselho Nacional de Justiça;(Incluído pela Emenda
Constitucional n° 45, de 2004)   
[...]
(BRASIL, 1988).

Com relação às atribuições do CNJ, vamos transcrever o que apresenta o


sítio eletrônico do CNJ, respondendo o questionamento “O que CNJ faz?”

Transparência e controle:
• Na Política Judiciária: zelar pela autonomia do Poder Judiciário e
pelo cumprimento do Estatuto da Magistratura, expedindo atos
normativos e recomendações.
• Na Gestão: definir o planejamento estratégico, os planos de metas e
os programas de avaliação institucional do Poder Judiciário.
• Na Prestação de Serviços ao Cidadão: receber reclamações,
petições eletrônicas e representações contra membros ou órgãos
do Judiciário, inclusive contra seus serviços auxiliares, serventias
e órgãos prestadores de serviços notariais e de registro que atuem
por delegação do poder público ou oficializado.
• Na Moralidade: julgar processos disciplinares, assegurada ampla
defesa, podendo determinar a remoção, a disponibilidade ou a
aposentadoria com subsídios ou proventos proporcionais ao tempo
de serviço e aplicar outras sanções administrativas.

88
TÓPICO 1 — VISÃO GERAL SOBRE A LEGITIMIDADE DO INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

• Na Eficiência dos Serviços Judiciais: realizar, fomentar e disseminar


melhores práticas que visem à modernização e à celeridade dos
serviços dos órgãos do Judiciário. Com base no relatório estatístico
sobre movimentação processual e outros indicadores pertinentes à
atividade jurisdicional em todo o País, formular e executar políticas
judiciárias, programas e projetos que visam à eficiência da justiça
brasileira (CNJ, 2021b, s.p.).

Acadêmico, a missão do CNJ, não poderia ser outra a não ser a voltada
à Sociedade. “Missão: promover o desenvolvimento do Poder Judiciário em
benefício da sociedade, por meio de políticas judiciárias e do controle da atuação
administrativa e financeira” (CNJ, 2021b, s.p.). Perceba que o controle da atividade
judiciária é a essência do CNJ, do qual estão subordinadas às Corregedorias Gerais
de Justiça dos Estados – que veremos a seguir – e, assim sendo, os Tabelionatos,
por sua vez recebem tais orientações direta e indiretamente, que é para lá que
nosso vetor está apontado.

O CNJ também deixa claro sua Visão de futuro “órgão de excelência em


governança e gestão do Poder Judiciário, a garantir eficiência, transparência e
responsabilidade social da Justiça brasileira” (CNJ, 2021b, s.p.). Com essas
garantias norteiam nossa Sociedade com segurança nos serviços públicos, e, na
ponta está o serviço prestado pelos Tabelionatos, como a lavratura de escritura
pública de inventário extrajudicial.

Registra-se que o CNJ se movimenta, se faz ser ouvido, pelos atos que
pratica, por meio dos seus Atos Normativos, quais sejam: Instruções Normativas,
Portarias, Provimentos, Resoluções, Recomendações, Notas Técnicas, Enunciados,
Orientações, entre outros atos internos. Adiante, em subtópico próprio,
apresentaremos a Resolução n° 35 de 24 de abril de 2007 do CNJ, que disciplina a
aplicação da Lei n° 11.441/07 pelos serviços notariais e de registro.

NOTA

Acadêmico, você pode explorar o sítio eletrônico do Conselho Nacional


da Magistratura (CNJ) onde você terá acesso a inúmeras informações interessantes e
importantes. Acesse em: www.cnj.jus.br.

2.2.1 Gestão do Conselho Nacional de Justiça


O Art. 103-B da Constituição da República Federativa do Brasil dispõe
que será de dois anos, admitida uma recondução, o mandato dos 15 membros do
CNJ. Estabelece nos incisos I a XIII quem são os membros, sendo que no inciso I
está o Presidente do Supremo Tribunal Federal, e atualmente ele também exerce
o cargo de Presidente do CNJ – Ministro Luiz Fux (BRASIL, 1988).

89
UNIDADE 2 — AS ETAPAS PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

A gestão do Conselho Nacional de Justiça está disposta em “Eixos


Temáticos”, sendo cada qual responsável pela respectiva área, que é encampada
pela seguinte frase: “Uma ‘boa prática’ pode ser definida como atividades
desenhadas para atingir um resultado desejado, utilizando um conjunto de ações
comprovado, recomendado e aprovado” (CNJ, 2021a, s.p.).

FIGURA 2 – EIXOS TEMÁTICOS DA GESTÃO DO CNJ

Gestão Processual Desburocratização Gestão Documental

Transparência Planejamento e Gestão Sustentabilidade e


Estratégica Acessibilidade

Gestão de Pessoas Governança de Tecnologia da Conciliação e


Informação e Comunicação Mediação

Combate à Sistema Carcerário, Execução Acesso à justiça


violência doméstica Penal e Medidas Socioeducativas e Cidadania

Gestão
Orçamentária
FONTE: <https://boaspraticas.cnj.jus.br/portal>. Acesso em: 2 maio 2021.

Exemplificativamente citamos a Gestão de Processo, em que o CNJ


estabeleceu procedimentos a serem utilizados por todo Judiciário para a
uniformização das tabelas básicas de classificação processual, movimentação e
fases processuais, assuntos e partes, fazendo com que todos os processos recebam
nomenclatura padrão.

Essa uniformização taxonômica e terminológica de classes, assuntos e


movimentação processuais devem ser empregadas nos sistemas processuais
no âmbito da Justiça Estadual, Federal, do Trabalho e do Superior Tribunal de
Justiça (STJ).
90
TÓPICO 1 — VISÃO GERAL SOBRE A LEGITIMIDADE DO INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Como não poderia deixar de ser, acadêmico, o CNJ, por essa Gestão de
Processo, visa o contínuo aperfeiçoamento das Tabelas Processuais Unificadas.
Todavia, quando se “abre” o eixo temático apontado anteriormente, temos:

Práticas referentes à eficiência na gestão processual em gabinetes e varas.


Busca identificar práticas cujo resultado impacte na celeridade processual sem
perda da qualidade na prestação jurisdicional Projetos e ações que visem a
diminuição da morosidade processual (CNJ, 2021c, s.p.).

Outro exemplo é a Sustentabilidade, onde de um lado se vê o CNJ
preocupado com a Agenda 2030, quando expõe que “O Portal tem por objetivo
reunir dados sobre o histórico da institucionalização da Agenda 2030 no Poder
Judiciário Brasileiro, que tem como marco inicial o mês de setembro de 2018 [...]”
(CNJ, 2021d, s.p.).

Sobre a Agenda 2030, o sítio eletrônico do CNJ, colabora:

A Agenda 2030 é a agenda de Direitos Humanos das Nações Unidas,


aprovada em Assembleia Geral das Nações Unidas em 2018, nos
termos da Resolução A/RES/72/279,  adotada por 193 Países, inclusive o
Brasil, que incorporou os 8 Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
(Agenda 2015 – período 2000/2015), ampliando-os para os 17 Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável (Agenda 2030 – período 2016/2030)
(CNJ, 2021d, s.p.).

É interessante também o conhecimento sobre essas questões que já nos


afetam, e saber que “a organização internacional conhecida pelo nome de Nações
Unidas é instituída por meio da Carta das Nações Unidas. A Carta das Nações
Unidas, foi assinada em São Francisco, em 26 de junho de 1945, na Conferência
de Organização Internacional das Nações Unidas” (CNJ, 2021d, s.p.). E no Brasil
é promulgada pelo Decreto Presidencial n° 19.841, de 22 de outubro de 1945,
com fundamento no Artigo 74, letra “a”, então, da Constituição da República
(BRASIL, 1988).   

O Brasil é um dos  Membros das Nações Unidas e o Poder Judiciário


Brasileiro é pioneiro, no mundo, na institucionalização da Agenda 2030 e
indexação de sua base de dados com 80 milhões de processos a cada uma dos 17
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, é o que garante o sítio eletrônico do
CNJ. E, posiciona-se:

Integrar a Agenda 2030 no Poder Judiciário é a  Meta Nacional 9 do


Poder Judiciário Brasileiro. A Constituição da República Federativa
do Brasil dispõe que a lei não excluirá do Poder Judiciário lesão ou
ameaça a direito; assegura a todos, no âmbito judicial e administrativo,
a razoável duração do processo e os meios que garantam a sua
celeridade (CNJ, 2021d, s.p.).

91
UNIDADE 2 — AS ETAPAS PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

E
IMPORTANT

A sustentabilidade é um dos temas mais importantes e está vivo em todas as


agendas políticas do planeta. De sorte, que se chama a atenção para os debates e sugere-se
um aprofundamento do tema. No sítio eletrônico do CNJ (www.cnj.jus.br) você encontra
questões como essas: “De que forma o Poder Judiciário pode agir para contribuir com os
objetivos, metas e indicadores que medem o desempenho do Brasil em relação a outros
Países?” São essas inquietações que devem nos impulsionar, acadêmico.

Nessa área de “Sustentabilidade” o CNJ adicionou a “acessibilidade” e


sob esse manto, guarda:

Sustentabilidade e Acessibilidade

Práticas que visem atender e propor melhorias nos aspectos: social.


ambiental e económico correlacionadas às atividades, dos órgãos
do Poder Judiciário. Práticas que possibilitem e promovam a pessoa
com deficiência ou com mobilidade reduzida, condição de alcance
para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários,
equipamentos urbanos, edificações, informação e Comunicação,
inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como, de outros serviços e
instalações abertos ao público (CNJ, 2021e, s.p.).

Assim, percebemos uma gestão também voltada às condições da pessoa


com deficiência ou com mobilidade reduzida, exigindo ações com um olhar
na segurança e autonomia, equipamentos urbanos e tecnológicos e, como não
poderia deixar de ser, serviços e instalações abertos ao público.

Citando mais um exemplo de gestão do CNJ temos a Valorização e a Gestão


de Pessoas, que visa a formação e capacitação; governança de gestão; saúde dos
magistrados e servidores e a segurança do Poder Judiciário (CNJ, 2021f).

Passadas algumas informações sobre o CNJ, vamos entender um pouco


sobre a Corregedoria Nacional de Justiça.

3 CORREGEDORIA NACIONAL DE JUSTIÇA


Como o próprio nome diz, a Corregedoria Nacional de Justiça “é
responsável pela orientação, coordenação e execução de políticas públicas
voltadas à atividade correicional e ao bom desempenho da atividade judiciária
dos tribunais e juízos e dos serviços extrajudiciais do País, isto é o que declara o
sítio eletrônico do CNJ” (CNJ, 2021a, s.p., grifo nosso).

92
TÓPICO 1 — VISÃO GERAL SOBRE A LEGITIMIDADE DO INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

As atribuições da Corregedoria Nacional de Justiça restam dispostas


na Constituição Federal, no § 5° do Art. 103-B, e regulamentadas no Artigo 31
do Regimento Interno do CNJ. Além dessas competências, a Lei n. 13.465/2017
incumbiu à Corregedoria Nacional de Justiça a função de agente regulador
do Operador Nacional do Sistema de Registro Eletrônico de Imóveis (ONR)
(CNJ, 2021a).

Acadêmico, no que foi supracitado, buscou-se chamar sua atenção para


a função de agente regulador de ONR da Corregedoria Nacional de Justiça, em
razão de que você receberá o grau de tecnólogo de gestor de inventário e partilha, não
sendo crível que não tenha conhecimento que a escritura pública de inventário
extrajudicial, que está sendo lavrada, contendo imóveis como objeto dos bens do
“de cujus”, está também no foco dessa Corregedoria Nacional.

Interessante a demonstração das atribuições constitucionais e regimentais


da Corregedoria Nacional de Justiça. Analise o que transportamos do sítio
eletrônico desse órgão para você:

FIGURA 3 – ATRIBUIÇÕES CONSTITUCIONAIS E REGIMENTAIS DA CORREGEDORIA


NACIONAL DE JUSTIÇA
CORREGEDORIA NACIONAL DE JUSTIÇA
ATRIBUIÇÕES CONSTITUCIONAIS E REGIMENTAIS

ATIVIDADE COORDENAÇÃO DAS


REGULATÓRIA CORREGEDORIAS

ATIVIDADE GESTÃO DE INSPEÇÕES E


CORREICIONAL DADOS CORREIÇÕES

ATIVIDADE ATIVIDADE GESTÃO DE COORDENAÇÃO INSPEÇÕES E


DAS
CORREICIONAL REGULATÓRIA DADOS CORREGEDORIAS CORREIÇÕES
Expedição de Criação de Coordenação da Verificação
Recebimento e atos mecanismos e propositura de de rotina e
processamento normativos e meios para a metas e diretrizes apuração de
de reclamações orientações coleta e nacionais das irregularidades
e destinados ao manutenção corregedorias e no
denúncias aperfeiçoamento de dados acompanhamento funcionamento
relativas a da prestação estatísticos da produtividade dos serviços
magistrados jurisdicional necessários visando o judiciais,
e serviços e dos serviços ao bom diagnóstico e a auxiliares
auxiliares, notariais desempenho das adoção de notariais e de
notariais e de e de registro atividades das providências para registro
registro Corregedorias a efetividade
fiscalizatória e
correicional

FONTE: <https://www.cnj.jus.br/corregedoriacnj/>. Acesso em: 2 mai. 2021.

93
UNIDADE 2 — AS ETAPAS PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Tendo a Corregedoria Nacional de Justiça, nessa perspectiva, perceba que,


na coluna cinco na Figura 3, fica claro que uma das atribuições nos diz respeito
diretamente: “verificação de rotina e apuração de irregularidades no funcionamento
dos serviços [...] notariais [...]” (CNJ, 2021a). Passamos a analisar a Corregedoria
Geral de Justiça, que é um órgão com competência territorial limitado.

4 CORREGEDORIA GERAL DE JUSTIÇA


A Corregedoria Geral de Justiça é um órgão permanente que, entre outras
competências, visa fiscalizar as atividades dos serviços judiciários de primeira
instância, sendo que as atividades notariais se encontram inseridas nesse escopo.
E quem assim endossa o entendimento é o Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo, quando dispõe:

A Corregedoria Geral da Justiça tem entre suas atribuições a


fiscalização, em caráter geral e permanente, das atividades dos órgãos
e serviços judiciários de primeira instância, assim como das atividades
das delegações notariais e de registros. [...].
[...]
Realiza correições e estabelece normas de serviços das unidades
judiciais e extrajudiciais, entre outras atividades [...] (CNJ, 2021a, s.p.,
grifo nosso).

“Orientar, apoiar e fiscalizar a atividade judicial e extrajudicial na busca


permanente do aprimoramento e da efetividade da prestação jurisdicional”
(TSJC, 2021b, s.p.) é a Missão da Corregedoria Geral de Justiça do Estado de Santa
Catarina, que, igual as demais no Brasil afora, tem os cartórios extrajudiciais, os
tabelionatos, sob sua vigilância.

Por certo, acadêmico, o estudo não se esgota, há muito o que se buscar


a entender, estudar sobre/nesses órgãos que são competentes para disciplinar
a atividade notarial que nosso trabalho está inserido, portanto, fica o convite/
apelo para que você, acadêmico, visite/explore os sítios eletrônicos do Conselho
Nacional de Justiça e sua Corregedoria Nacional, dos Tribunais de Justiça dos
Estados onde vocês estão localizados, sempre “lincando” a Corregedoria Geral
de Justiça do seu respectivo Estado, pois é dali que emanam diretamente as
orientações às atividades notariais.

Vamos deixar essas noções sobre os órgãos do Poder Judiciário que


controlam a atividade notarial que, embora relatados aqui de modo sucinto,
podem dar sim um norte a você, acadêmico. E com isso, seguimos com a
importante Resolução n° 35 do CNJ.

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TÓPICO 1 — VISÃO GERAL SOBRE A LEGITIMIDADE DO INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

5 RESOLUÇÃO N° 35 DO CONSELHO NACIONAL DE


JUSTIÇA (CNJ)
Destacamos um item especial para essa Resolução e não a colocamos
como subitem quando falamos do CNJ propositadamente, por duas razões. Uma
porque lá estávamos num contexto um pouco histórico, um pouco institucional; e
a outra, porque de ora em diante já tencionamos levá-lo por caminhos da prática,
acadêmico.

Feita essa observação, apresentamos a Resolução n° 35 de 24 de abril de


2007. Contudo, atenção acadêmico, o texto está compilado, ou seja, já contempla
todas as alterações que esta Resolução recebeu até agora, inclusive a última, que
foi por meio da Resolução n° 326, de 26 de junho de 2020.

RESOLUÇÃO CNJ N° 35 DE 24 DE ABRIL DE 2007

Disciplina a lavratura dos atos notariais relacionados a inventário,


partilha, separação consensual, divórcio consensual e extinção
consensual de união estável por via administrativa. (Redação dada
pela Resolução n° 326, de 26.6.2020)

A PRESIDENTE DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, no uso


de suas atribuições constitucionais e regimentais, e tendo em vista o disposto
no Art. 19, I, do Regimento Interno deste Conselho, e CONSIDERANDO que a
aplicação da Lei n° 11.441/2007 tem gerado muitas divergências;

CONSIDERANDO que a finalidade da referida lei foi tornar mais ágeis


e menos onerosos os atos a que se refere e, ao mesmo tempo, descongestionar
o Poder Judiciário;

CONSIDERANDO a necessidade de adoção de medidas uniformes


quanto à aplicação da Lei n° 11.441/2007 em todo o território nacional, com
vistas a prevenir e evitar conflitos;

CONSIDERANDO as sugestões apresentadas pelos Corregedores


Gerais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal em reunião promovida
pela Corregedoria Nacional de Justiça;

CONSIDERANDO que, sobre o tema, foram ouvidos o Conselho


Federal da Ordem dos Advogados do Brasil e a Associação dos Notários e
Registradores do Brasil,

RESOLVE:

95
UNIDADE 2 — AS ETAPAS PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

SEÇÃO I

DISPOSIÇÕES DE CARÁTER GERAL

Art. 1° Para a lavratura dos atos notariais relacionados a inventário, partilha,


separação consensual, divórcio consensual e extinção consensual de união
estável por via administrativa, é livre a escolha do tabelião de notas, não se
aplicando as regras de competência do Código de Processo Civil. (Redação
dada pela Resolução n° 326, de 26.6.2020)

Art. 2° É facultada aos interessados a opção pela via judicial ou extrajudicial;


podendo ser solicitada, a qualquer momento, a suspensão, pelo prazo de 30
dias, ou a desistência da via judicial, para promoção da via extrajudicial.

Art. 3° As escrituras públicas de inventário e partilha, separação e divórcio


consensuais não dependem de homologação judicial e são títulos hábeis para
o registro civil e o registro imobiliário, para a transferência de bens e direitos,
bem como para promoção de todos os atos necessários à materialização das
transferências de bens e levantamento de valores (DETRAN, Junta Comercial,
Registro Civil de Pessoas Jurídicas, instituições financeiras, companhias
telefônicas etc.)

Art. 4° O valor dos emolumentos deverá corresponder ao efetivo custo e


à adequada e suficiente remuneração dos serviços prestados, conforme
estabelecido no parágrafo único do Art. 1° da Lei n° 10.169/2000, observando-
se, quanto a sua fixação, as regras previstas no Art. 2° da citada lei.

Art. 5° É vedada a fixação de emolumentos em percentual incidente sobre o


valor do negócio jurídico objeto dos serviços notariais e de registro (Lei n°
10.169, de 2000, Art. 3°, inciso II).

Art. 6° A gratuidade prevista na norma adjetiva compreende as escrituras de


inventário, partilha, separação e divórcio consensuais. (Redação dada pela
Resolução n° 326, de 26.6.2020)

Art. 7° Para a obtenção da gratuidade pontuada nesta norma, basta a simples


declaração dos interessados de que não possuem condições de arcar com os
emolumentos, ainda que as partes estejam assistidas por advogado constituído.
(Redação dada pela Resolução n° 326, de 26.6.2020)

Art. 8° É necessária a presença do advogado, dispensada a procuração, ou do


defensor público, na lavratura das escrituras aqui referidas, nelas constando
seu nome e registro na OAB. (Redação dada pela Resolução n° 326, de 26.6.2020)

96
TÓPICO 1 — VISÃO GERAL SOBRE A LEGITIMIDADE DO INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Art. 9° É vedada ao tabelião a indicação de advogado às partes, que deverão


comparecer para o ato notarial acompanhadas de profissional de sua confiança.
Se as partes não dispuserem de condições econômicas para contratar advogado,
o tabelião deverá recomendar-lhes a Defensoria Pública, onde houver, ou, na
sua falta, a Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil.

Art. 10. É desnecessário o registro de escritura pública nas hipóteses aqui


abordadas no Livro "E" de Ofício de Registro Civil das Pessoas Naturais,
entretanto, o Tribunal de Justiça deverá promover, no prazo de 180 dias, medidas
adequadas para a unificação dos dados que concentrem as informações dessas
escrituras no âmbito estadual, possibilitando as buscas, preferencialmente, sem
ônus para o interessado. (Redação dada pela Resolução n° 326, de 26.6.2020)

SEÇÃO II

DISPOSIÇÕES REFERENTES AO INVENTÁRIO E À PARTILHA

Art. 11. É obrigatória a nomeação de interessado, na escritura pública de


inventário e partilha, para representar o espólio, com poderes de inventariante,
no cumprimento de obrigações ativas ou passivas pendentes, sem necessidade
de seguir a ordem prevista no Art. 617 do Código de Processo Civil. (Redação
dada pela Resolução n° 326, de 26.6.2020)

Art. 12. Admitem-se inventário e partilha extrajudiciais com viúvo(a)


ou herdeiro(s) capazes, inclusive por emancipação, representado(s) por
procuração formalizada por instrumento público com poderes especiais.
(Redação dada pela Resolução n° 179, de 03.10.13)

Art. 13. A escritura pública pode ser retificada desde que haja o consentimento
de todos os interessados. Os erros materiais poderão ser corrigidos, de ofício
ou mediante requerimento de qualquer das partes, ou de seu procurador, por
averbação à margem do ato notarial ou, não havendo espaço, por escrituração
própria lançada no livro das escrituras públicas e anotação remissiva.

Art. 14. Para as verbas previstas na Lei n° 6.858/80, é também admissível a


escritura pública de inventário e partilha.

Art. 15. O recolhimento dos tributos incidentes deve anteceder a lavratura


da escritura.

Art. 16. É possível a promoção de inventário extrajudicial por cessionário de


direitos hereditários, mesmo na hipótese de cessão de parte do acervo, desde
que todos os herdeiros estejam presentes e concordes.

97
UNIDADE 2 — AS ETAPAS PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Art. 17. Os cônjuges dos herdeiros deverão comparecer ao ato de lavratura da


escritura pública de inventário e partilha quando houver renúncia ou algum
tipo de partilha que importe em transmissão, exceto se o casamento se der sob
o regime da separação absoluta.

Art. 18. O(A) companheiro(a) que tenha direito à sucessão é parte, observada
a necessidade de ação judicial se o autor da herança não deixar outro
sucessor ou não houver consenso de todos os herdeiros, inclusive quanto ao
reconhecimento da união estável.

Art. 19. A meação de companheiro(a) pode ser reconhecida na escritura


pública, desde que todos os herdeiros e interessados na herança, absolutamente
capazes, estejam de acordo.

Art. 20. As partes e respectivos cônjuges devem estar, na escritura, nomeados


e qualificados (nacionalidade; profissão; idade; estado civil; regime de bens;
data do casamento; pacto antenupcial e seu registro imobiliário, se houver;
número do documento de identidade; número de inscrição no CPF/MF;
domicílio e residência).

Art. 21. A escritura pública de inventário e partilha conterá a qualificação


completa do autor da herança; o regime de bens do casamento; pacto
antenupcial e seu registro imobiliário, se houver; dia e lugar em que faleceu o
autor da herança; data da expedição da certidão de óbito; livro, folha, número
do termo e unidade de serviço em que consta o registro do óbito; e a menção
ou declaração dos herdeiros de que o autor da herança não deixou testamento
e outros herdeiros, sob as penas da lei.

Art. 22. Na lavratura da escritura deverão ser apresentados os seguintes


documentos: a) certidão de óbito do autor da herança; b) documento de identidade
oficial e CPF das partes e do autor da herança; c) certidão comprobatória do
vínculo de parentesco dos herdeiros; d) certidão de casamento do cônjuge
sobrevivente e dos herdeiros casados e pacto antenupcial, se houver; e) certidão
de propriedade de bens imóveis e direitos a eles relativos; f) documentos
necessários à comprovação da titularidade dos bens móveis e direitos, se houver;
g) certidão negativa de tributos; e h) Certificado de Cadastro de Imóvel Rural -
CCIR, se houver imóvel rural a ser partilhado.

Art. 23. Os documentos apresentados no ato da lavratura da escritura devem


ser originais ou em cópias autenticadas, salvo os de identidade das partes, que
sempre serão originais.

Art. 24. A escritura pública deverá fazer menção aos documentos apresentados.

98
TÓPICO 1 — VISÃO GERAL SOBRE A LEGITIMIDADE DO INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Art. 25. É admissível a sobrepartilha por escritura pública, ainda que referente
a inventário e partilha judiciais já findos, mesmo que o herdeiro, hoje maior e
capaz, fosse menor ou incapaz ao tempo do óbito ou do processo judicial.

Art. 26. Havendo um só herdeiro, maior e capaz, com direito à totalidade


da herança, não haverá partilha, lavrando-se a escritura de inventário e
adjudicação dos bens.

Art. 27. A existência de credores do espólio não impedirá a realização do


inventário e partilha, ou adjudicação, por escritura pública.

Art. 28. É admissível inventário negativo por escritura pública.

Art. 29. É vedada a lavratura de escritura pública de inventário e partilha


referente a bens localizados no exterior.

Art. 30. Aplica-se a Lei n.° 11.441/07 aos casos de óbitos ocorridos antes de sua
vigência.

Art. 31. A escritura pública de inventário e partilha pode ser lavrada a qualquer
tempo, cabendo ao tabelião fiscalizar o recolhimento de eventual multa,
conforme previsão em legislação tributária estadual e distrital específicas.

Art. 32. O tabelião poderá se negar a lavrar a escritura de inventário ou partilha


se houver fundados indícios de fraude ou em caso de dúvidas sobre a declaração
de vontade de algum dos herdeiros, fundamentando a recusa por escrito.

SEÇÃO III

DISPOSIÇÕES COMUNS À SEPARAÇÃO E DIVÓRCIO CONSENSUAIS

Art. 33. Para a lavratura da escritura pública de separação e de divórcio


consensuais, deverão ser apresentados: a) certidão de casamento; b) documento
de identidade oficial e CPF/MF; c) pacto antenupcial, se houver; d) certidão de
nascimento ou outro documento de identidade oficial dos filhos absolutamente
capazes, se houver; e) certidão de propriedade de bens imóveis e direitos a eles
relativos; e f) documentos necessários à comprovação da titularidade dos bens
móveis e direitos, se houver.

Art. 34. As partes devem declarar ao tabelião, no ato da lavratura da escritura,


que não têm filhos comuns ou, havendo, que são absolutamente capazes,
indicando seus nomes e as datas de nascimento. Parágrafo único. As partes
devem, ainda, declarar ao tabelião, na mesma ocasião, que o cônjuge virago não
se encontra em estado gravídico, ou ao menos, que não tenha conhecimento
sobre esta condição. (Incluído pela Resolução n° 220, de 26.04.2016)

99
UNIDADE 2 — AS ETAPAS PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Art. 35. Da escritura, deve constar declaração das partes de que estão cientes
das conseqüências da separação e do divórcio, firmes no propósito de pôr
fim à sociedade conjugal ou ao vínculo matrimonial, respectivamente, sem
hesitação, com recusa de reconciliação.

Art. 36. O comparecimento pessoal das partes é dispensável à lavratura de


escritura pública de separação e divórcio consensuais, sendo admissível ao(s)
separando(s) ou ao(s) divorciando(s) se fazer representar por mandatário
constituído, desde que por instrumento público com poderes especiais,
descrição das cláusulas essenciais e prazo de validade de trinta dias.

Art. 37. Havendo bens a serem partilhados na escritura, distinguir-seá o


que é do patrimônio individual de cada cônjuge, se houver, do que é do
patrimônio comum do casal, conforme o regime de bens, constando isso do
corpo da escritura.

Art. 38. Na partilha em que houver transmissão de propriedade do patrimônio


individual de um cônjuge ao outro, ou a partilha desigual do patrimônio
comum, deverá ser comprovado o recolhimento do tributo devido sobre a
fração transferida.

Art. 39. A partilha em escritura pública de separação e divórcio consensuais


far-se-á conforme as regras da partilha em inventário extrajudicial, no
que couber.

Art. 40. O traslado da escritura pública de separação e divórcio consensuais


será apresentado ao Oficial de Registro Civil do respectivo assento de
casamento, para a averbação necessária, independente de autorização judicial
e de audiência do Ministério Público.

Art. 41. Havendo alteração do nome de algum cônjuge em razão de escritura de


separação, restabelecimento da sociedade conjugal ou divórcio consensuais, o
Oficial de Registro Civil que averbar o ato no assento de casamento também
anotará a alteração no respectivo assento de nascimento, se de sua unidade,
ou, se de outra, comunicará ao Oficial competente para a necessária anotação.

Art. 42. Não há sigilo nas escrituras públicas de separação e divórcio


consensuais.

Art. 43. Na escritura pública deve constar que as partes foram orientadas sobre
a necessidade de apresentação de seu traslado no registro civil do assento de
casamento, para a averbação devida.

Art. 44. É admissível, por consenso das partes, escritura pública de


retificação das cláusulas de obrigações alimentares ajustadas na separação
e no divórcio consensuais.

100
TÓPICO 1 — VISÃO GERAL SOBRE A LEGITIMIDADE DO INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Art. 45. A escritura pública de separação ou divórcio consensuais, quanto ao


ajuste do uso do nome de casado, pode ser retificada mediante declaração
unilateral do interessado na volta ao uso do nome de solteiro, em nova escritura
pública, com assistência de advogado.
Art. 46. O tabelião poderá se negar a lavrar a escritura de separação ou divórcio
se houver fundados indícios de prejuízo a um dos cônjuges ou em caso de
dúvidas sobre a declaração de vontade, fundamentando a recusa por escrito

SEÇÃO IV

DISPOSIÇÕES REFERENTES À SEPARAÇÃO CONSENSUAL

Art. 47. São requisitos para lavratura da escritura pública de separação


consensual: a) um ano de casamento; b) manifestação de vontade espontânea
e isenta de vícios em não mais manter a sociedade conjugal e desejar a
separação conforme as cláusulas ajustadas; c) ausência de filhos menores não
emancipados ou incapazes do casal; d) inexistência de gravidez do cônjuge
virago ou desconhecimento acerca desta circunstância; e e) assistência das
partes por advogado, que poderá ser comum. (Redação dada pela Resolução
n° 220, de 26.04.2016)

Art. 48. O restabelecimento de sociedade conjugal pode ser feito por escritura
pública, ainda que a separação tenha sido judicial. Neste caso, é necessária e
suficiente a apresentação de certidão da sentença de separação ou da averbação
da separação no assento de casamento.

Art. 49. Em escritura pública de restabelecimento de sociedade conjugal,


o tabelião deve: a) fazer constar que as partes foram orientadas sobre a
necessidade de apresentação de seu traslado no registro civil do assento de
casamento, para a averbação devida; b) anotar o restabelecimento à margem da
escritura pública de separação consensual, quando esta for de sua serventia, ou,
quando de outra, comunicar o restabelecimento, para a anotação necessária na
serventia competente; e c) comunicar o restabelecimento ao juízo da separação
judicial, se for o caso.

Art. 50. A sociedade conjugal não pode ser restabelecida com modificações.

Art. 51. A averbação do restabelecimento da sociedade conjugal somente


poderá ser efetivada depois da averbação da separação no registro civil,
podendo ser simultâneas.

101
UNIDADE 2 — AS ETAPAS PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

SEÇÃO V

DISPOSIÇÕES REFERENTES AO DIVÓRCIO CONSENSUAL

Art. 52. Os cônjuges separados judicialmente, podem, mediante escritura


pública, converter a separação judicial ou extrajudicial em divórcio, mantendo
as mesmas condições ou alterando-as. Nesse caso, é dispensável a apresentação
de certidão atualizada do processo judicial, bastando a certidão da averbação
da separação no assento do casamento. (Redação dada pela Resolução n° 120,
de 30.09.2010)

Art. 53. (Revogado pela Resolução n° 120, de 30.09.2010)

Art. 54. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

Ministra Ellen Gracie Presidente

FONTE: Adaptada de < https://atos.cnj.jus.br/files/compilado172958202007015efcc816b5a16.pdf >.


Acesso em: 1 out. 2021.

Acadêmico, essa Resolução veio regulamentar a Lei nª 11.441 de 4 de


janeiro de 2007, que alterou o Código de Processo Civil da época (Lei n° 5.869, de
11 de janeiro de 1973).

5.1 ALTERAÇÕES NO CÓDIGO DE PROCESSO


CIVIL DE 1973
Importante destacar que as alterações que a Lei n° 11.441 de 4 de janeiro
de 2007 fez, foi no Código Civil de 1973, ou seja, na Lei n° 5.869, de 11 de janeiro
de 1973. Todavia, foram preservadas no Artigo 610, §§ 1° e 2° do CPC/2015 – Lei
n° 13.105 de 16 de março de 2015, que entrou em vigor em 18 de março de 2016,
sendo o atual Código de Processo Civil (BRASIL, 2015).

Os Artigos 982 e 983 do CPC (revogado) passaram a dispor que o


inventário poderá ser feito por escritura pública se todos forem capazes e não
havendo conflito.

No parágrafo único do Artigo 982 restou expresso que “O tabelião somente


lavrará a escritura pública se todas as partes interessadas estiverem assistidas por
advogado comum ou advogados de cada uma delas, cuja qualificação e assinatura
constarão do ato notarial” (BRASIL, 2009).

E no Artigo 983 estabelece o prazo de 60 (sessenta) dias a contar da


abertura da sucessão, que, como você já aprendeu, é da data do falecimento.

102
TÓPICO 1 — VISÃO GERAL SOBRE A LEGITIMIDADE DO INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Com essas alterações, o CNJ definiu os procedimentos por meio da


Resolução n° 35/2007, conforme colacionada na íntegra anteriormente.

5.2 PARTILHA OU ADJUDICAÇÃO


A disposição do Artigo 26 da Resolução n° 35/2007 do CNJ é bastante
clara, ao dispor:

Art. 26. Havendo um só herdeiro, maior e capaz, com direito à


totalidade da herança, não haverá partilha, lavrando-se a escritura de
inventário e adjudicação dos bens (BRASIL, 2007).

Assim sendo, embora redundante, não há que se falar em partilha, até
porque partilhar com quem, se tem apenas um herdeiro, é certo que a escritura
beneficiará a ele somente, conforme determina à disposição do artigo em comento.

Encerramos aqui o primeiro tópico da Unidade 2, seguindo com a mesma


atenção.

103
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• No período colonial, a organização judiciária no Brasil seguiu o mesmo modelo


que existia em Portugal. Os tribunais e os órgãos judiciários vieram de Lisboa,
juntamente com a Corte, instalando-se no Rio de Janeiro, e a Justiça era exercida
pelo Rei.

• Os juízes, na época usavam como insígnia a vara branca, sinal de distinção régia.
A Vara era símbolo da antiga magistratura e continua um sinal de jurisdição.

• No século XVII, XVIII os tribunais instalados na Bahia e Rio de Janeiro,


julgavam os embargos, pelos magistrados denominados desembargadores, e
essa decisão era chamada “acórdão”. Acórdão é o nome dado a decisão de
um recurso em de instância superior, que decidiu sobre uma sentença de uma
instância inferior (de um juiz) até nossos dias.

• Conforme dispõe o TJSP: “A função do Poder Judiciário é garantir os direitos


individuais, coletivos e sociais e resolver conflitos entre cidadãos, entidades e
Estado. Para isso, tem autonomia administrativa e financeira garantidas pela
Constituição Federal”. (TJSP, 2021)

• O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) foi instalado em 14/06/2005, portanto é


um órgão jovem, com apenas 15 anos e é definido pela Constituição Federal,
em seu Art. 92, I-A, como um dos órgãos do Poder Judiciário.

• O CNJ visa aperfeiçoar o trabalho do sistema judiciário brasileiro, principalmente


no que diz respeito ao controle e à transparência administrativa e processual.

• A gestão do CNJ é composta por 15 membros, descritos no Art. 103-B da


Constituição Federal, tendo atualmente como Presidente o Ministro Luiz Fux,
que também é presidente do STF, cujo mandato é por dois anos, admitida
uma recondução.

• A gestão do CNJ leva em conta EIXOS TEMÁTICOS, entre eles a Gestão


Processual que se ocupa de práticas que impacte na celeridade processual, sem
perda da qualidade na prestação jurisdicional.

• Outra temática é a sustentabilidade – sendo o Brasil um dos membros das


Nações Unidas, o Poder Judiciário é o pioneiro no mundo na institucionalização
da Agenda 2030, que é uma agenda de Direitos Humanos aprovada em 2018.

104
• A Corregedoria Nacional de Justiça é responsável pela orientação, coordenação
e execução de políticas públicas voltadas à atividade correicional e ao bom
desempenho da atividade judiciária dos tribunais e juízos e dos serviços
extrajudiciais do País, isso é o que declara o o CNJ.

• A Corregedoria Geral de Justiça é um órgão permanente que, entre outras


competências, visa orientar, apoiar e fiscalizar a atividade judicial e extrajudicial
na busca permanente do aprimoramento e da efetividade da prestação
jurisdicional.

• A Resolução n° 35 de 24 de abril de 2007 do CNJ, regulamentou a Lei n° 11.441,


de 4 de janeiro de 2007.

• A Lei n° 11.441/2007 alterou os Artigos 982 e 983 do CPC/1973, dispondo que o


inventário poderá ser feito por escritura pública se todos forem capazes e não
havendo conflito.

• É livre a escolha do tabelião para a lavratura dos atos notariais relacionados a


inventário e partilha.

• É facultada aos interessados a opção pela via judicial ou extrajudicial.

• As escrituras públicas de inventário NÃO dependem de homologação judicial,


sendo títulos hábeis para o registro de imóveis e para a transferência de bens e
direitos, bem como para promoção de todos os atos necessários à materialização
das transferências de bens e levantamento de valores (DETRAN, Instituições
Financeiras etc.).

• É proibida a fixação de emolumentos em percentual incidente sobre o valor do


negócio jurídico objeto dos serviços notariais.

• A gratuidade também alcança as escrituras de inventário.

• É proibido ao tabelião indicar advogado às partes.

• O tabelião somente lavrará a escritura pública se todas as partes interessadas


estiverem assistidas por advogado comum ou advogados de cada uma delas,
cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial.

• A Resolução n° 35/2007, dispõe em seu Art. 26 que havendo um só herdeiro,


maior e capaz, com direito à totalidade da herança, não haverá partilha. Será
lavrada a escritura pública de inventário e adjudicação dos bens.

105
AUTOATIVIDADE

1 O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) foi instalado em 14/6/2005, portanto


é um órgão jovem, e é definido pela Constituição Federal, em seu Art. 92,
I-A, como um dos órgãos do Poder Judiciário. A gestão do CNJ é composta
por 15 membros, descritos no Art. 103-B da Constituição Federal, tendo
atualmente como Presidente o Ministro Luiz Fux, que também é presidente
do STF, cujo mandato é por 2 anos, admitida uma recondução. Sobre a
atribuição do CNJ, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O CNJ visa aperfeiçoar o trabalho do sistema judiciário brasileiro,


principalmente no que diz respeito ao controle e à transparência
administrativa e processual.
b) ( ) O CNJ visa aperfeiçoar o trabalho do sistema judiciário brasileiro,
representando o país na Organização das Nações Unidas (ONU),
destacando as demandas judiciais.
c) ( ) O CNJ visa implementar medidas de gestão com transparência,
implantando métodos e processos, sempre considerando a prioridade
na gestão financeira.
d) ( ) O CNJ visa aprimorar as relações com a Sociedade, inclusive
desenvolvendo políticas de sustentabilidade e acessibilidade, com
uma visão voltada na pessoa deficiente e com mobilidade reduzida,
relegando as questões dos processos judiciais e extrajudiciais para
segundo plano.

2 A Resolução n° 35 de 24 de abril de 2007 do CNJ, regulamentou a Lei n°


11.441, de 4 de janeiro de 2007. Esta Lei n° 11.441/2007 alterou os Artigos
982 e 983 do CPC/2973, dispondo que o inventário poderá ser feito por
escritura pública se todos forem capazes e não havendo conflito. Com base
nas disposições da Resolução n° 35 do CNJ, analise as sentenças a seguir:

I- É facultada aos interessados a opção pela via judicial ou extrajudicial.  


II- A escolha do tabelião para a lavratura dos atos notariais relacionados a
inventário e partilha compreende o domicílio do requerente e não do “de
cujus”, sendo a escolha do tabelião o que estiver mais perto da residência
do requerente.
III- A gratuidade também alcança as escrituras de inventário.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

106
3 Os Artigos 982 e 983 do CPC/1973 foram alterados pela Lei n° 11.441/2007,
sendo que o atual CPC/2015, em seu Art. 610, §§ 1° e 2°, segue com tais
disposições. Essa Lei n° 11.441/2007 foi regulamentada pela Resolução
n° 35 do CNJ, apresentando os procedimentos para os atos notariais de
lavratura de escritura pública de inventário, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:

( ) As escrituras públicas de inventário NÃO dependem de homologação


judicial, sendo títulos hábeis para o registro de imóveis e para a
transferência de bens e direitos, bem como para promoção de todos os atos
necessários à materialização das transferências de bens e levantamento de
valores (DETRAN, Instituições Financeiras etc.).
( ) A requerimento da parte, o tabelião pode indicar advogado como
assistente do inventário.
( ) É proibida a fixação de emolumentos em percentual incidente sobre o
valor do negócio jurídico objeto dos serviços notariais.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 Atualmente temos um Poder Judiciário mais fortalecido e aparelhado; essa


conquista pode estar ligada com a atuação do Conselho Nacional de Justiça,
também mais organizado do ponto de vista dos métodos na implantação
e condução dos processos, com transparência e controle. Disserte sobre as
atribuições do Conselho Nacional de Justiça.

5 Existe um dispositivo na Resolução n° 35 de 24 de abril de 2007, do CNJ,


que dispõe sobre a situação de inventário onde o “de cujus” deixa apenas
um único herdeiro, maior e capaz, com direito a totalidade da herança.
Nesse contexto, disserte sobre como será lavrada a escritura pública e se
haverá partilha.

107
108
TÓPICO 2 —
UNIDADE 2

CARÁTER OPCIONAL DO INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 2, abordaremos o caráter opcional que tem o
inventário extrajudicial. É claro, que conforme você já aprendeu, existem alguns
critérios para essa opção. Todavia, os observando, o fato de o inventário tramitar
judicialmente ou extrajudicialmente será sempre uma opção da parte.

Neste tópico você entenderá como se dá a abertura da sucessão e do


inventário. Embora, é sempre importante lembrar que, sobre a abertura da
sucessão, você já teve a oportunidade de analisar na Unidade 1, mas aqui se mostra
importante reprisar para que você tenha essa continuidade no conhecimento, ou
melhor dizendo, você terá o ensino sequenciado, o que facilita seu aprendizado.

Outro assunto que será tratado neste tópico é com relação aos prazos. Aqui,
acadêmico, pedimos que fique bem atento, porque há uma distinção no prazo
para a abertura do inventário, entre a legislação civil e a legislação processual.

Outra temática que também trabalharemos neste tópico é a distinção


entre meação e herança. Você terá essas categorias com seus conceitos mais
aprofundados, como você merece.

Fique sempre muito atento às abordagens, e vamos iniciar com a abertura


da sucessão e inventário.

FIGURA 4 – ESCRITURA PÚBLICA

FONTE: < https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/lawyer-attorney-notary-public-office-


desk-721950193 >. Acesso em: 18 jul. 2021.

109
UNIDADE 2 — AS ETAPAS PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

2 ABERTURA DA SUCESSÃO E INVENTÁRIO


O Código de Processo Civil de 2015, contemplou no texto atual, as alterações
introduzidas na codificação processual pretérita, conforme já estudamos. Foi
com a Lei n° 11.441/2007 que houve a significativa mudança, e, atualmente a lei
adjetiva dispõe:

Art. 610. Havendo testamento ou interessado incapaz, proceder-se-á


ao inventário judicial.
§ 1° Se todos forem capazes e concordes, o inventário e a partilha
poderão ser feitos por escritura pública, a qual constituirá documento
hábil para qualquer ato de registro, bem como para levantamento de
importância depositada em instituições financeiras.
§ 2  o O tabelião somente lavrará a escritura pública se todas as partes
interessadas estiverem assistidas por advogado ou por defensor
público, cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial
(BRASIL, 2015, grifo nosso).

Seguimos nossos estudos, inicialmente conhecendo esse caráter opcional
do inventário extrajudicial.

2.1 CARÁTER OPCIONAL


Para identificar o aspecto opcional do inventário extrajudicial, Tartuce
(2020, p. 703) esquematiza com a seguinte abordagem:

FIGURA 5 – MODALIDADES DE INVENTÁRIO

FONTE: Tartuce (2020, p. 703)

110
TÓPICO 2 — CARÁTER OPCIONAL DO INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

E
IMPORTANT

Conforme o Código de Processo Civil, se todos forem capazes e concordes, ou


seja, não havendo incapazes considerados por lei, e não havendo discussão acerca da partilha
da herança, o INVENTÁRIO PODE ser feito por escritura pública, ou seja, extrajudicialmente.

Outra informação importante também, é que essa escritura pública já é


documento hábil para qualquer ato de registro, conforme o §2° do Art. 610 do
CPC, transcrito anteriormente, o que significa dizer que NÃO É NECESSÁRIA
HOMOLOGAÇÃO JUDICIAL.

Compreendendo esse CARÁTER OPCIONAL, também importa o registro


de Silva e Barros (2017, s.p.) que, com relação às disposições do CPC, acrescenta:

“[...] Exigiu requisitos específicos para utilização de tal via, mas


representou um notável avanço para a sociedade brasileira pela
celeridade, eficácia e segurança jurídica. A medida seguiu a linha
de desjudicialização adotada em outros países como França, Japão e
Bélgica, além de possibilitar maior valorização e reconhecimento das
atividades notariais e registrais na atuação de questões de interesse
privado, por deterem o atributo da fé pública conferido pelo Estado.

Com relação à capacidade, exigida para poder se optar pela esfera
administrativa, é importante esclarecer que deve ser analisada não na abertura
da sucessão, mas no momento da lavratura do inventário e da partilha, pois,
conforme Silva e Barros (2017, s.p.) “a cessação da incapacidade autoriza a
realização do inventário extrajudicial”.

Acadêmico, você levará este ensino para sempre e saberá reconhecer


quando se dá a abertura da sucessão. É fato que, previamente já lhe foi dito
que é com o evento morte que há a abertura da sucessão, agora vamos analisar
o inventário.

2.2 ABERTURA DO INVENTÁRIO


O requerimento para abertura do inventário deve ocorrer no prazo de
dois meses, a contar da morte – em consonância com o Art. 611 do Código de
Processo Civil – no último domicílio do autor da herança. Caso o falecido não
possua domicílio certo, a competência será na situação dos bens, sendo que,
possuindo bens em comarcas distintas, será qualquer uma a competente. Em não
possuindo imóveis, será em qualquer dos foros que possua bens móveis, é o que
reza o Artigo 48 do CPC.

111
UNIDADE 2 — AS ETAPAS PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

O pedido de inventário deve ser feito por quem está na posse e


administração do espólio, cônjuge sobrevivente, herdeiro, entre outros
com legitimidade concorrente, conforme Artigo 616 do CPC, e deve ser
acompanhado/instruído pela certidão de óbito, pela regra do parágrafo único
do artigo 615 do CPC.

3 PRAZOS PARA O INVENTÁRIO


Aqui você compreenderá os prazos para a abertura do inventário.
Fique atento, acadêmico, porque, na prática, você precisa ter bem presente essa
noção dos prazos, pois existe uma divergência entre nosso Código Civil e os
procedimentos adotados, com o advento da Lei n° 11.441, de 4 de janeiro de 2007,
recepcionados pelo novo Código de Processo Civil, em 2015, em especial, na
temática do inventário extrajudicial,

Enquanto o Código Civil dispõe: “Art. 1.796. No prazo de trinta dias,


a contar da abertura da sucessão, instaurar-se-á inventário do patrimônio
hereditário, perante o juízo competente no lugar da sucessão, para fins de
liquidação e, quando for o caso, de partilha da herança” (BRASIL, 2002 – destacou-
se).; destaca-se que o Código de Processo Civil, apresenta:

Art. 611. O processo de inventário e de partilha deve ser instaurado


dentro de 2 (dois) meses, a contar da abertura da sucessão, ultimando-
se nos 12 (doze) meses subsequentes, podendo o juiz prorrogar esses
prazos, de ofício ou a requerimento de parte (BRASIL, 2015).

Nas lições de Amorim e Oliveira (2020, p. 304) encontramos idêntica


disposição, quando, esclarecem as disposições do Código de Processo Civil e do
Código Civil, comentando que neste Código, “[...] com menção de 30 dias, sem a
estipulação de prazo finalizador. Nem era preciso, em vista do caráter processual
da matéria”. Obtemperam, ainda, os autores:

Mas é de ver que esses prazos não são rígidos nem fatais. É comum p
atraso na abertura do inventário. Diversas as razões, como o trauma
decorrente da perda de um ente familiar, dificuldades financeiras,
problemas na contratação de advogado ou necessidade de diligências
para localização dos bens e sua documentação (AMORIM; OLIVEIRA,
2020, p, 304).

Por outro lado, é importante saber qual a consequência da não abertura


do inventário no prazo legal. Será que há, acadêmico? Amorim e Oliveira (2020,
p. 304), respondem:

A inércia do responsável, que é a pessoa que detém a posse e a


administração dos bens do espólio pode ensejar a atuação de outro
interessado na herança, que tenha legitimidade concorrente, isto é, do
cônjuge sobrevivente (ou companheiro), qualquer herdeiro, legatário,
testamenteiro, cessionário, credor do herdeiro, síndico da falência do
herdeiro, bem como o Ministério Público, quando haja herdeiro incapaz,
e a Fazenda Pública, em vista do seu interesse fiscal (Art. 616 do CPC).

112
TÓPICO 2 — CARÁTER OPCIONAL DO INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Agora, acadêmico, e, se nenhuma dessas pessoas requerer a abertura do


inventário, o juiz poderá, de ofício, debertinar que se abra o processo? O atual
Código de Processo Civil não prevê essa situação, embora o anterior possibilitasse.
Contudo, a doutrina entende, que o atual é que está correto.

Entretanto, a abertura do inventário em atraso, ou seja, após os 60


(sessenta) dias previstos em lei, acarreta uma penalidade, que é o acréscimo e
imposição de multa sobre o valor do imposto devido, além de correção monetária
e juros de mora, conforme disponha a lei estadual do imposto sobre a trasnmissão
causa mortis – ITCMD.

Sobre essa multa o Supremo Tribunal Federal (STF, c2021, s.p.) já


destacou na súmula 542, que: “Não é inconstitucional a multa instituída pelo
Estado-membro, como sanção pelo retardamento do início ou da ultimação
do inventário”

É importante que você saiba, acadêmico, que o ITCMD – Imposto de


Tramsmissão Causa Mortis e Doação é de competência estadual, ou seja, de cada
Estado da Federação. Portanto, as tabelas são diferenciadas e cada Estado tem
suas regras e sistemas de cobrança e aplicação dessas multas quando há o atraso
na abertura do inventário.

Vamos falar agora sobre o Inventário extrajudicial em si, fique atento ao


próximo item!

4 DO INVENTÁRIO
Trataremos do inventário iniciando pelo seu conceito, buscando na
doutrina a derivação do termo propriamente dito, objetivando com isso levar
você sempre nesta proposta de unir a teoria com a praxis.

4.1 CONCEITO DE INVENTÁRIO


Nas lições de Carvalho (2020, p. 143) extraímos: “O termos inventário
deriva do latim inventarium, de invenire, que significa agenciar, diligenciar,
promover, achar, encontrar, enumerar o que for encontrado”. O autor continua
descrevendo que:

No sentido amplo, significa o processo ou a série de atos praticados


com o objetivo de ser apurada a situação econômica de uma pessoa
ou instituição, relacionando os bens e direitos, de um lado, e as
obrigações ou encargos, do outro, assemelhando-se ao balanço de uma
empresa com a verificação do ativo e do passivo. No sentifo estrito,
é o relacionamento de bens ou valores pertencentes a uma pessoa,
ou existentes em determinado lugar, anotados e arrolados com os
respectivos preços sabidos ou estimados, tratando-se, pois, de mero
arrolamento de bens (CARVALHO, 2020, p. 143).

113
UNIDADE 2 — AS ETAPAS PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Todavia, o que nos interessa, é o que complementa Carvalho (2020, p.


143), quando obtempera:

No direito das sucessões, entende-se como a ação especial intentada


para que se arrecadem todos os bens e direitos do falecido, encontrados
em seu poder quando de sua morte ou de terceiros, formando-se o
balanço com as obrigações e os encargos, a fim de serem apurados
os resultados que serão objeto da ártilha, bem como reconhecer a
qualidade dos herdeiros; desse modo, o inventário é toado no seu
sentido amplo, demonstrado não apenas mero rol de bens, mas a exata
situação econômica do falecido e a qualidade dos herdeiros.

Desse modo, conforme destaca Carvalho (2020, p. 143) “no direito das
sucessões, inventário é o processo judicial ou extrajudicial de levantamento e
apuração de bens pertencentes ao falecido, visando repartir o patrimônio entre
seus herdeiros, realizando o ativo e o pagamento do passivo”. É, por fim, uma
maneira de se oficializar instrumentalmente a transferência dos bens deixados
pelo falecido aos herdeiros e/ou legatários, apurando e descrevendo os bens,
efetuando o pagamento das dívidas, avaliando os bens, realizando o cálculo e
recolhimento dos imóstos para fins de partilha.

Com essa noção do conceito de inventário, que para o nosso estudo
nos interessa mais o inventário extrajudicial, conforme a análise exposta
anteriormente, inventário é o processo de levantamento daquilo que pertencia à
pessoa falecida, com o objetivo de pagar débitos existentes e dividir o patrimônio
entre os herdeiros.

Vale lembrar as lições de Amorim e Oliveira (2019, p. 274), que, embora o


registro consta em “Conceitos e formas de inventário judicial”, trazem: “É pelo
procedimento do inventário e partilha que se formaliza a transmissão dos bens
do de cujus aos seus sucessores, muito embora, de fato, a transmissão se dê no ato
de abertura da sucessão, com a morte do autor da herança”.

Conclui-se que o processo de inventário, em si, objetiva a transferência


formal dos bens do falecido para herdeiros e legatários – pois, de fato, a
transmissão se dá com a morte – e, ainda objetiva a apuração e descrição dos
bens, pagando as dívidas para apurar a herança líquida, com a avaliação, cálculo
e pagamento dos impostos (Imposto de Transmissão Mortis Causa e Doação –
ITCM-D) para a partilha.

Acadêmico, ficou claro que a abertura da sucessão se dá com o evento


morte, e a abertura do inventário, conforme veremos a seguir.

114
TÓPICO 2 — CARÁTER OPCIONAL DO INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

4.1.1 Formas de procedimento do inventário


Até um passado não muito distante o inventário era sempre judicial, pois
tínhamos a redação do Artigo 982 do CPC/1973 que assim dispunha, mesmo que
todas as partes fossem capazes e não houvesse discordância. Todavia, a Lei n°
11.441, de 4 de janeiro de 2007, trouxe nova redação ao comentado artigo e admitiu
o inventário extrajudicial, que é o tema central de nosso estudo. Esse é lavrado por
escritura pública em tabelionato de notas, quando todas as partes forem capazes,
estiverem em concordância com a partilha dos bens e assitidas por advogado;
sendo que o teor dessa modificação foi mantido pelo Código de Processo Civil de
2015, podendo, portanto, o inventário ser judicial ou extrajudicial.

Todavia, nosso foco de estudos é o inventário extrajudicial ou


administrativo, e, portanto, vamos esmiuçar um pouco mais sobre isso no
próximo subtópico.

5 INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL OU ADMINISTRATIVO


Para não parecer redundante, nem muito repetitivo, apresentamos breves
considerações e requisitos.

5.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS


Para Carvalho (2020, p. 155) “A Lei n. 11.441/2007 inovou tanto no direito
das sucessões quanto no direito de família ao dar nova redação ao Art. 982 e
acrescentar o Art. 1.124-A ao Código de Processo Civil”. Sustenta o autor que
essa inovação permitiu o inventário extrajudicial ou administrativo e a separação e
o divórcio consensual por escritura pública”. Logo, essa “significativa mudança
legislativa passou a autorizar atos administrativos que somente eram realizados
mediante tutela jurisdicional” (CARVALHO, 2020, p. 155), ou seja, somente com
ação judicial, mesmo sendo as partes capazes e concordes.

Ao apontar essa inovação legislativa no direito de família e das sucessões,


Carvalho (2020, p. 155) admite que ao possibilitar separação, divórcio, inventário
e partilha, sem necessidade de juiz e intervenção de promotor de justiça,
“modifica substancialmente regras e procedimentos na efetivação desses atos,
possibilitando aos cidadãos autonomia para optar pela via administrativa ou
pela judicial”, ou seja, agora é uma opção.

Rodrigo da Cunha Pereira apud Carvalho (2020, p. 155) aponta uma


preocupação com o inventário extrajudicial, pois alega que pode “deixar brechas
para fraudes e lesões a direitos, além do risco de possibilitar o surgimento de
um profissional do direito de plantão em cada cartório”, o que lamenta que tem
ocorrido, “ainda que em pequena escala”. Complementa que “a lei cumpre uma

115
UNIDADE 2 — AS ETAPAS PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

importante função de facilitar a vida de milhares de brasileiros que aguardam


inexplicavelmente longos períodos de tramitação de processos judiciais, inovando
ao primar pela menor intervenção do Estado na vida privada das pessoas”
(CARVALHO, 2020, p. 155).

Por fim, Maria Berenice Dias apud Carvalho (2020, p. 155) destaca que
“além de aliviar a atividade judicial e diminuir o volume de demandas em juízo,
a dejudicialização de questões, quando não existe conflito entre os seus titulares,
redimensiona a presença do Estado na vida do cidadão”. Interessante, acadêmico,
essa ótica da desembargadora, pois, ainda ressalta o quão importante representa
a dispensa da intervenção do Estado, pois consebe mais valor à vontade das
pessoas, não as obrigando à ações judicias, e possibilitando que elas decidam as
questões fora do âmbito do Poder Judiciário.

Dessarte, vimos o Código de Processo Civil (CPC) caminhando no sentido
de desjudicialização das demandas sem litígio, agilizando e simplificando os
procedimentos, dispondo no Art. 610:

Art. 610. Havendo testamento ou interessado incapaz, proceder-se-á


ao inventário judicial.
§ 1° Se todos forem capazes e concordes, o inventário e a partilha
poderão ser feitos por escritura pública, a qual constituirá documento
hábil para qualquer ato de registro, bem como para levantamento de
importância depositada em instituições financeiras.
§ 2  o O tabelião somente lavrará a escritura pública se todas as partes
interessadas estiverem assistidas por advogado ou por defensor
público, cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial
(BRASIL, 2015).

Como visto, o inventário administrativo possibilita mais agilidade para


partilhar a herança entre partes capazes e concordes, livrando as partes, que
assim optarem, de procedimentos judiciais, reduzindo, via de regra, as custas, e,
porque não dizer, desafogar o Poder Judiciário.

E
IMPORTANT

“Não existe vedação, a nova regra pode ser aplicada também nas sucessões
anteriores à modificação legislativa” (CARVALHO, 2020, p. 155).

O que significa dizer que mesmo que o falecimento tenha ocorrido antes de 2007,
mas todos são capazes e concordes, podem tanto fazer o processo de inventário pela via
administrativa, como converter o processo judicial para o extrajudicial.

116
TÓPICO 2 — CARÁTER OPCIONAL DO INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

5.2 REQUISITOS
São requisitos para o inventário extrajudicial:

• bens de qualquer valor;


• partes capazes;
• ausência de testamento (atualmente vem sendo permitido inventário
extrajudicial com testamento na ausência de incapazes, mas não é pacífico);
• presença de todos os interessados pessoalmente ou por procurador;
• acordo entre as partes com a partilha;
• assistência de advogado, defensor público comum ou de cada uma das partes;
• lavratura da escritura pública pelo tabelião de notas, também assinada pelo
advogado.

Feitas essas análises, passaremos para o próximo tópico, onde abordaremos


a competência funcional do tabelião e a assistência do advogado.

117
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Foi com a Lei n° 11.441/2007 que houve a mudança do Código de Processo


Civil/1973 (Artigos 982 e 983).

• O CPC/2015 contemplou o texto no artigo 610:


Art. 610. Havendo testamento ou interessado incapaz, proceder-se-á
ao inventário judicial.
§ 1° Se todos forem capazes e concordes, o inventário e a partilha
poderão ser feitos por escritura pública, a qual constituirá documento
hábil para qualquer ato de registro, bem como para levantamento de
importância depositada em instituições financeiras. (grifo nosso)
§ 2  o O tabelião somente lavrará a escritura pública se todas as partes
interessadas estiverem assistidas por advogado ou por defensor
público, cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial.
(BRASIL, 2015)

• A Resolução n° 35 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) regulamentou a Lei


n° 11.441/2007, para disciplinar a lavratura dos atos notariais.

• O caráter opcional do inventário extrajudicial significa que a pessoa pode optar


pelo processo judicial ou pelo procedimento administrativo, via tabelionato,
desde que sejam todas capazes e concordes.

• O ato notarial praticado para o inventário e partilha não necessita de


homologação judicial.

• Com relação à capacidade, exigida para poder se optar pela esfera administrativa,
deve ser analisada não na abertura da sucessão (morte), mas no momento da
lavratura do inventário e da partilha.

• A abertura do inventário seguirá os moldes do Artigo 48 e no prazo do Artigo


611, ambos do CPC. Esse prazo é de dois meses a contar da abertura da
sucessão (morte).

• A não abertura do inventário no prazo de dois meses do falecimento do


inventariado, acarreta uma penalidade, que é o acréscimo e imposição de
multa sobre o valor do imposto devido, além de correção monetária e juros de
mora, conforme disponha a lei estadual do Imposto sobre aTrasnmissão Causa
Mortis-Doação – ITCMD.

118
• O ITCMD – Imposto de Tramsmissão Causa Mortis e Doação é de competência
estadual, ou seja, de cada Estado da Federação. Portanto, as tabelas são
diferenciadas e cada Estado tem suas regras e sistemas de cobrança e aplicação
das multas quando há o atraso na abertura do inventário.

• A multa sobre o ITCM-D, pelo atraso na abertura do inventário, é matéria


sumulada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), conforme Súmula 542.

• No direito das sucessões, inventário é o processo judicial ou extrajudicial de


levantamento e apuração de bens pertencentes a uma pessoa falecida, visando
repartir o patrimônio entre seus herdeiros, realizando o ativo e o pagamento
do passivo.

• É com o inventário que se oficializa/instrumentaliza a transferência dos bens de


uma pessoa falecida aos herdeiros e/ou legatários.

• Muitos doutrinadores se manifestam sobre o inventário extrajudicial, dizendo


que a lei cumpre uma importante função de facilitar a tramitação de processos,
com a menor intervenção do Estado, diminuindo o tempo que eram longos no
judiciário; outro que alivia a atividade judicial e diminui o volume de demandas
em juízo, pois a desjudicialização quando não existe conflito redimensiona a
presença do Estado na vida do cidadão.

• Mesmo que o falecimento tenha ocorrido antes de 2007, mas todos são capazes e
concordes, podem tanto fazer o processo de inventário pela via administrativa,
como converter o processo judicial para a via extrajudicial.

• Os requisitos para o inventário extrajudicial são:


◦ bens de qualquer valor;
◦ partes capazes;
◦ ausência de testamento (atualmente vem sendo permitido inventário
extrajudicial com testamento na ausência de incapazes, mas não é pacífico);
◦ presença de todos os interessados pessoalmente ou por procurador;
◦ acordo entre as partes com a partilha;
◦ assistência de advogado, defensor público comum ou de cada uma das partes;
◦ lavratura da escritura pública pelo tabelião de notas, também assinada pelo
advogado.

119
AUTOATIVIDADE

1 A Lei n° 11.441/2007 trouxe significativa mudança ao Código de Processo


Civil na época, pois tínhamos o CPC de 1973 ainda. Em 2015, o novo
CPC recepcionou no Artigo 610, a mesma redação que aquela lei de 2007
modificara a legislação processual revogada. Essa inovação foi um avanço
sob muitos aspectos. Sobre a redação que contempla a possibilidade
de se optar pelo inventário extrajudicial ou administrativo, assinale a
alternativa CORRETA:

a) ( ) Se todos forem capazes e concordes, o inventário e a partilha poderão


ser feitos por escritura pública, a qual constituirá documento hábil para
qualquer ato de registro, bem como para levantamento de importância
depositada em instituições financeiras.
b) ( ) Se todos forem capazes e concordes, o inventário e a partilha deverão
ser feitos por escritura pública, a qual constituirá documento hábil para
qualquer ato de registro, bem como para levantamento de importância
depositada em instituições financeiras.
c) ( ) Se todos forem capazes e concordes, o inventário e a partilha poderão
ser feitos por escritura pública e ou por instrumento particular, a(o) qual
constituirá documento hábil para qualquer ato de registro, bem como para
levantamento de importância depositada em instituições financeiras.
d) ( ) Se todos forem capazes e concordes, o inventário e a partilha deverão
ser feitos por escritura pública e ou por instrumento particular, a(o) qual
constituirá documento hábil para qualquer ato de registro, bem como para
levantamento de importância depositada em instituições financeiras.

2 Além da Lei n° 11.441/2007, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) editou


a Resolução n° 35 que regulamentou essa lei, para disciplinar a lavratura
dos atos notarias, ou seja, para orientar os atos praticados nos tabelionatos
de notas. Compreendendo a possibilidade de se optar pelo inventário
extrajudicial, analise as sentenças a seguir:

I- O caráter opcional do inventário extrajudicial significa que a pessoa pode


optar pelo processo judicial ou pelo procedimento administrativo, via
tabelionato, desde que sejam todas capazes e concordes.
II- O ato notarial praticado para o inventário e partilha necessita de
homologação judicial.
III- Com relação à capacidade exigida para poder se optar pela esfera
administrativa, ela deve ser analisada não na abertura da sucessão (morte),
mas no momento da lavratura do inventário e da partilha.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

120
3 Sabemos que a abertura da sucessão é diferente que a abertura do inventário,
pois, compreende-se que a abertura da sucessão é quando ocorre o evento
morte, já a abertura do inventário, é quando se dá início ao procedimento
de formalizar e instrumentalizar a transferência dos bens da pessoa falecida
para os seus herdeiros e/ou legatários. De acordo com as regras para
abertura do inventário, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para
as falsas:

( ) A abertura do inventário seguirá os moldes do Artigo 48 e no prazo


do Artigo 611, ambos do CPC. Esse prazo é de dois meses a contar da
abertura da sucessão (morte).
( ) O prazo para a abertura do inventário é de 30 (trinta) dias a contar da
abertura da sucessão, ou seja, do evento morte.
( ) A não abertura do inventário no prazo de dois meses do falecimento do
inventariado, acarreta uma penalidade, que é o acréscimo e imposição
de multa sobre o valor do imposto devido, além de correção monetária
e juros de mora, conforme disponha a lei estadual do Imposto sobre
aTrasnmissão Causa Mortis-Doação – ITCMD.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 O Direito das Sucessões se ocupa de disciplinar a matéria referente a tudo


o que diz respeito ao “de cujus”, sejam os bens, sejam as dívidas. Assim,
com a morte de uma pessoa com bens a inventariar, será procedido o
inventário. Disserte sobre o inventário no Direito das Sucessões e apresente
os requisitos para o inventário extrajudicial.

5 Com as alterações na lei processual, advindas da Lei n° 11.441/2007, a qual


interveio nos Artigos 982 e 983 do CPC/1973 e o novo CPC, igualmente
recepcionou a mesma redação em seu Artigo 610, possibilitando o
inventário e a partilha por escritura pública, ou seja, um ato notarial,
portanto extrajudicial. Sobre essas mudanças, muitos doutrinadores se
manifestaram a respeito. Nesse contexto, disserte apontando sobre essas
manifestações da doutrina.

121
122
TÓPICO 3 —
UNIDADE 2

A COMPETÊNCIA FUNCIONAL DO TRABELIÃO E A


ASSISTÊNCIA DO ADVOGADO

1 INTRODUÇÃO
Este tópico encerra mais uma unidade dos nossos estudos. Aqui vamos
compreender os efeitos do inventário e partilha extrajudicial.

Não é muito complicado concluir que para a transferência de um imóvel,


basta levar a escritura pública ao Registro de Imóveis competente, pagar os
emolumentos e aguardar os prazos. Em não havendo exigências a serem
cumpridas, apontadas pelo oficial registrador, a escritura será registrada e o
imóvel será transferido ao(s) herdeiro(s) e/ou (legatário(s).

Agora, como é o comportamento da escritura pública frente às instituições


financeiras, para movimentação de recursos financeiros do falecido, e junto ao
DETRAN para transferência de veículos? Isso é o que estudaremos na sequência.

Será tratado também da competência funcional do tabelião. Afinal, quem


é o tabelião? É um servidor público? Como ele alcança esse cargo? Transmite-
se aos herdeiros dele? O tabelião emite alguma declaração para algum órgão
público, das operações que são realizadas no Tabelionato de sua competência?

O tabelião agrega em suas funções a obrigação de orientar as partes, pois


pode perceber se algo está deixando alguém em desvantagem em detrimento
de outro; e, também é da responsabilidade do tabelião zelar pelo correto
recolhimento dos tributos.

Ainda neste tópico, acadêmico, abordaremos sobre a assistência do


advogado. Você entende que é necessária? Sendo que é uma escritura pública no
Tabelionato, será que precisa ter a presença de um advogado? Vamos saber?

Com os efeitos do inventário extrajudicial, daremos início ao estudo deste


último tópico da Unidade 2, seguimos:

123
UNIDADE 2 — AS ETAPAS PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

2 EFEITOS DO INVENTÁRIO E PARTILHA EXTRAJUDICIAL


Na introdução deste tópico, já fizemos menção sobre a escritura pública,
e, com relação aos efeitos do inventário e partilha, Amorim e Oliveira (2020, p.
446) ensinam que:

Além do efeito principal, que é valer como título para registro


imobiliário, a escritura de partilha amigável serve também para
outros fins correlatos à transmissão dos bens, em especial para o
levantamento de importância depositada em instituições financeiras
(Art. 610, § 1°, do CPC), transferência de bens, alterações contratuais e
outras medidas de cumprimento das disposições da partilha.

Dessa forma, quando há partilha em dinheiro, “o simples traslado da


escritura vale para autorizar o levantamento das importâncias inventariadas que
se achem sob depósito” (AMORIM; OLIVEIRA, 2020, p. 446).

Quando a partilha se refere à transmissão da propriedade de veículos,


Amorim e Oliveira (2020, p. 446), também reforçam que “a exibição da escritura
bastará para instruir o pedido no órgão público competente (DETRAN)”.

E, por fim, os autores Amorim e Oliveira (2020, p. 446), comentam que


as mesmas providências com relação à partilha serão tomadas junto à Junta
Comercial, no Registro de Pessoas Jurídicas, em companhias telefônicas etc.

Outra temática que abordaremos, ainda neste tópico, é a competência


funcional do tabelião – este é um tema muito importante – porque temos na nossa
história muito recente que esse cargo público passava de pai para filho. Foi só
com a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 que essa situação
mudou, vamos analisar no próximo tópico.

3 COMPETÊNCIA FUNCIONAL DO TABELIÃO


Você pode perguntar: — Como se inicia as atividades notariais? Então,
acadêmico, essa é uma excelente pergunta! Porque a atividade notarial, exercida
pelo tabelião, é própria do Poder Público, que é exercida obrigatoriamente em
caráter privado, após aprovação em concurso público, mediante delegação do
Estado. Todavia, até a Constituição de 1988 não era assim! Foi a partir do texto
constitucional, disposto a seguir, que os concursos públicos se tornaram obrigatórios:

Art.236. Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter


privado, por delegação do Poder Público. (Regulamento)
§ 1° Lei regulará as atividades, disciplinará a responsabilidade civil
e criminal dos notários, dos oficiais de registro e de seus prepostos, e
definirá a fiscalização de seus atos pelo Poder Judiciário.
§ 2° Lei federal estabelecerá normas gerais para fixação de emolumentos
relativos aos atos praticados pelos serviços notariais e de registro.
(Regulamento)

124
TÓPICO 3 — A COMPETÊNCIA FUNCIONAL DO TRABELIÃO E A ASSISTÊNCIA DO ADVOGADO

§ 3° O ingresso na atividade notarial e de registro depende de concurso


público de provas e títulos, não se permitindo que qualquer serventia
fique vaga, sem abertura de concurso de provimento ou de remoção,
por mais de seis meses (BRASIL, 1988).

Cada Estado da Federação brasileira, promove seus concursos para o


preenchimento das vagas nesses Tabelionatos de Notas – os cartórios extrajudiciais
-, que devem cumprir a Lei n° 8.935/1994, cujos serviços, conforme o “Art. 1°
Serviços notariais e de registro são os de organização técnica e administrativa
destinados a garantir a publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos
jurídicos” (BRASIL, 1994).

Com relação à incidência dos princípios da Administração Pública na


Atividade Notarial, a leitura do artigo publicado pelo Colégio Notarial, por
Gonçalves (2014, s.p.), aponta:

Em que pese às respeitáveis opiniões em contrário, a atividade


notarial não pode ser considerada serviço público, uma vez que não é
destinada ao fornecimento de prestações ou comodidades materiais.
Deve sim ser tida como uma função pública destinada à realização
de atos jurídicos.
Nos dizeres de Pedro Gonçalves, trata-se de um caso de “exercício
de poderes públicos de autoridade por entidades privadas com função
administrativa”.
Tanto que a jurisprudência é tranquila no sentido de que o notário
pode cometer os crimes próprios de funcionários públicos (Art. 327
do Código Penal), bem como pode figurar como sujeito passivo em
Mandado de Segurança.
Dessa feita, a doutrina maciça assevera a aplicação dos princípios
inerentes à administração pública para a atividade notarial com
importância ainda mais evidente, haja vista a parca legislação que
regulamenta o agir dos Tabeliães (GONÇALVES, 2014, s.p., grifo nosso).

Com segurança, obtempera Gonçalves (2014, s.p.) sobre a não aplicação
do Código de Defesa do Consumidor sobre as atividades notariais:

Inclusive, há doutrina que sustenta a não incidência do Código de


Defesa do Consumidor aos notários e registradores, sob o fundamento
de que os princípios da administração pública que regem a atividade
são muito mais exigentes e imperativos dos que as normas constantes
do diploma civilista.
Os princípios são fixados de forma expressa pelo Artigo 37 da
Constituição Federal de 1988, quando dispõe que “A administração
pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (…)”.

Acadêmico, um importante princípio a ser analisado é o princípio da


Publicidade. E no artigo publicado pelo Colégio Notarial, Gonçalves (2014, s.p.)
faz a seguinte explanação:

125
UNIDADE 2 — AS ETAPAS PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

O Princípio da Publicidade encontra fundamento no Artigo 37 da


Constituição Federal, que estabelece que os atos administrativos
devem ter ampla divulgação. Com relação à atividade notarial a
publicidade passa a ter ainda mais relevância, pois além de ser um
princípio informador, também é a finalidade da própria atividade. Isso,
porque o Artigo 1° da Lei 8.935/94 estabelece que "serviços notariais e de
registro são os de organização técnica e administrativa destinados a garantir a
publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos".
A publicidade notarial é chamada de indireta, uma vez que, em regra,
não se permite a consulta dos interessados diretamente aos livros da
serventia, sendo as informações prestadas por meio de certidões e
informações, conforme previsto no Artigo 16 da Lei 6.015/73. (grifo nosso)
Outro viés do princípio da publicidade está ligado ao acervo da
serventia. Todo o acervo é do Estado e está somente sob a guarda
do Oficial. Aqui se incluem os livros oficiais, documentos acessórios
e, principalmente o acervo digital. Tais documentos são tidos como
documentos públicos e, numa eventual troca de titularidade da
serventia devem ser repassados sem qualquer ônus ao novo Oficial. 

ATENCAO

No parágrafo supracitado, o autor quando explica o princípio da publicidade,


comenta que “Todo o acervo é do Estado e está somente a guarda do Oficial” (grifo
nosso). Aqui acadêmico, para que não paire dúvida, e você não fique confuso, ficaria
melhor a expressão ... “guarda do Tabelião”. Isso porque a expressão “Oficial” é utilizada, em
especial, para os registradores dos Cartórios de Registros e não para os representantes dos
Tabelionatos de Notas.

E, por fim, Gonçalves (2014, s.p.) conclui seu artigo: “de todo o exposto,
nota-se a importância de o notário estar sempre atento na observação dos princípios
da administração pública durante a sua atuação, de modo a exercer seu mister com
a qualidade e segurança esperada pelo Estado delegante e os usuários”.

A Lei n° 8.935 de 18 de novembro de 1994 regulamenta o citado Artigo 236


da Constituição Federal, e traz já em seu Artigo 1° os princípios anteriormente
mencionados, também destaca no Art. 3° que “Notário, ou tabelião, e oficial de
registro, ou registrador, são profissionais do direito, dotados de fé pública, a
quem é delegado o exercício da atividade notarial e de registro” (BRASIL, 1994).

  Enquanto o Art. 4° da Lei n° 8.935/1994, define como e quando são


prestados os serviços notariais, o Art. 5° apresenta as atribuições e competência
dos Notários:

126
TÓPICO 3 — A COMPETÊNCIA FUNCIONAL DO TRABELIÃO E A ASSISTÊNCIA DO ADVOGADO

Art. 6° Aos notários compete:


I- formalizar juridicamente a vontade das partes;
II- intervir nos atos e negócios jurídicos a que as partes devam ou
queiram dar forma legal ou autenticidade, autorizando a redação
ou redigindo os instrumentos adequados, conservando os
originais e expedindo cópias fidedignas de seu conteúdo;
III - autenticar fatos.
Art. 7° Aos tabeliães de notas compete com exclusividade:
I- lavrar escrituras e procurações, públicas;
II- lavrar testamentos públicos e aprovar os cerrados;
III- lavrar atas notariais;
IV- reconhecer firmas;
V- autenticar cópias.
Parágrafo único. É facultado aos tabeliães de notas realizar todas
as gestões e diligências necessárias ou convenientes ao preparo dos
atos notariais, requerendo o que couber, sem ônus maiores que os
emolumentos devidos pelo ato (BRASIL, 1994).

A competência funcional do Tabelião é estabelecida, no que tange à


questão territorial, reza o “Art. 9° O tabelião de notas não poderá praticar atos
de seu ofício fora do Município para o qual recebeu delegação” (BRASIL, 1994).

Partindo para a escritura pública de inventário e partilha, Amorim e
Oliveira (2020, p. 446) sustentam que “ao mencionar que a escritura pública de
inventário e partilha é lavrada por ‘tabelião’, a lei dá a impressão de que seria
ato privativo do titular do Tabelionato”. E, assim advertem os autores de que,
como acontece com outras escrituras, admite-se que o serviço seja praticado
por escrevente habilitado, “embora sob a necessária orientação e integral
responsabilidade do tabelião, conforme dispõe a Lei n. 8.835, de 18 de novembro
de 1994, que regula as atividades notariais” (AMORIM; OLIVEIRA, 2020, p. 446).

Mais uma vantagem da escritura de inventário e partilha é também


levantada por Amorim e Oliveira (2020, p. 446) quando apontam “pela facilidade
de celebração do ato quando as partes residam em local distante daquele em que
situado o antigo domicílio do autor da herança”. E advogam que “haveria certo
risco para os interesses de terceiros, especialmente credores, por não disporem de
meios para uma pronta apuração de escrituras celebradas em outras localidades”,
embora admitam que os cartórios são “aparelhados para pesquisas dos atos
precedentes mediante a interligação de dados via eletrônica”.

Acadêmico, há o Registro Central de Inventários, que concentra dados e


informações dos atos notariais lavrados, servindo para prevenir duplicidade de
escrituras e facilitar as buscas.

Também da competência funcional do tabelião é que quando há


transmissão de bens imóveis ou de direitos relativos a imóveis, cabe a ele
efetuar a devida comunicação à Receita Federal, por meio da Declaração sobre
Operações Imobiliárias (DOI), conforme a Instrução Normativa (IN) n° 473, de 23
de novembro de 2004.  

127
UNIDADE 2 — AS ETAPAS PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Embora já comentamos sobre algumas responsabilidades do tabelião,


passamos a tratar especificamente desse tema no subtópico a seguir.

4 RESPONSABILIDADE DO TABELIÃO     
Mesmo que as escrituras de partilha amigável sejam celebradas por pessoas
capazes, com a obrigatória assistência de advogado, o tabelião é responsável por
eventuais desvios e atos que sejam praticados contra expressa disposição legal.

A atividade do Tabelionato não é passiva ou meramente executiva do


ato de partilha que pode lhe chegar por meio de minuta elaborada pelas partes
ou pelo advogado, podendo, o tabelião ou seu escrevente habilitado, negar-se a
lavrar a escritura de inventário e partilha “se houver fundados indícios de fraude
ou em caso de dúvidas sobre a declaração de vontade de algum dos herdeiros,
fundamentando a recusa por escrito” (AMORIM; OLIVEIRA, 2020, p. 447).

Cabe ao tabelião orientar as partes sobre seus direitos sobre os bens


havidos por transmissão causa mortis, bem como sobre os encargos fiscais que
terão de suportar, tanto o ITCM-D, como o ITBI ou ITCM-D, no caso de partilha
desigual, onerosa ou gratuita, respectivamente, além da apresentação de certidões
negativas sobre os bens e rendas do espólio.

Amorim e Oliveira (2020, p. 447) contextualizam que em São Paulo


existe a Lei n° 10.705/2000, com as alterações da Lei n° 10.992/2001 que atribui
responsabilidade solidária ao tabelião pela “falta de pagamento dos tributos
exigidos no inventário dos bens do autor da herança”.

Com essas breves, mas necessárias notas sobre a responsabilidade do


tabelião, dentro das etapas do inventário, veremos nosso último item que se
refere a assistência do advogado no inventário extrajudicial.

5 ASSISTÊNCIA DO ADVOGADO
Conforme dispõe o parágrafo segundo do Artigo 610 do Código de
Processo Civil: “§ 2  o  O tabelião somente lavrará a escritura pública se todas as
partes interessadas estiverem assistidas por advogado ou por defensor público,
cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial” (BRASIL, 2015, grifo nosso).

Com isso, a escritura pública de inventário e partilha somente pode


ser lavrada com a presença de um advogado legalmente habilitado, cuja
comprovação é a apresentação da Carteira da Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB), expedida pela seccional respectiva (Estado membro da Federação).
Pode ser um advogado comum para todas as partes ou para cada interessado,
ou o defensor público em casos de assistência judiciária gratuita, que, também
é inscrito na OAB, obrigatoriamente.

128
TÓPICO 3 — A COMPETÊNCIA FUNCIONAL DO TRABELIÃO E A ASSISTÊNCIA DO ADVOGADO

Com relação à representação das partes pelo advogado, a procuração pode


ser apresentada no ato da escritura, ou tomada por termo nesse instrumento, com
a qualificação do advogado e o seu número de inscrição na OAB.

O advogado pode apresentar minuta da escritura, que será examinada e


seguida pelo tabelião, se estiver nos termos da lei e for confirmada pelas partes
interessadas. Contudo, na prática, acadêmico, o comum é enviar um requerimento
ao Tabelionato, que efetua uma minuta e envia para o advogado analisar se está
condizente com os interesses dos herdeiros.

Logo, a participação do advogado tem que ser efetiva, dando realmente


assistência às partes, conferindo e assinando a escritura juntamente com os
interessados.

E
IMPORTANT

Não cabe ao tabelião indicar advogado às partes, e muito menos, ter no


cartório um advogado de plantão.

São os interessados que devem apresentar o profissional de sua confiança,


e, no caso de solicitarem algum auxílio, devem ser encaminhados à OAB ou à
Defensoria Pública, conforme o caso.

A Resolução n° 35/2007 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), com


redação alterada pela Resolução n° 179/2013, admite, no Artigo 12, inclusive a
atuação do advogado assistente cumular sua assistência com a representação
legal do herdeiro, como seu procurador/mandatário com poderes especiais para
assinar a referida escritura.

Acadêmico, esta unidade se encerra considerando que foi trilhado mais


uma parte do caminho para seu conhecimento com as etapas do inventário
extrajudicial, que se iniciaram com a compreensão dos órgãos que fiscalizam as
atividades notariais, passando pela competência funcional do tabelião e findando
com a assistência do advogado.

129
UNIDADE 2 — AS ETAPAS PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

LEITURA COMPLEMENTAR

O NOVO CPC E O INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Lahiz Florêncio Delgado

Estudo sobre o inventário judicial e extrajudicial, apresentando algumas


peculiaridades incluídas no Código de Processo Civil de 2015.

1 INTRODUÇÃO

O inventário se inicia a partir da morte de um ente. A partir daí declara-se


aberta à sucessão, transmitindo aos herdeiros, o direito de posse e administração
dos bens. O processo judicial era e continua sendo burocrático, tramita por longos
anos, envolvendo em alguns casos, altos custos judiciais até a partilha dos bens. 

Assim, o inventário extrajudicial mostra-se como uma via vantajosa,


que surgiu com o advento da Lei n° 11.441/07, que delegou aos Cartórios
de Notas, o poder de lavrar escrituras públicas de separação, divórcio e
inventário. Com a chegada dessa lei, esse procedimento tornou-se mais célere
para as partes interessadas.

2 REQUISITOS

São três os requisitos necessários para que o inventário seja feito no


Cartório de Notas, dentre eles: 

• que não exista testamento; 


• que as partes sejam capazes – o menor emancipado é capaz; 
• que as partes estejam assessoradas por um advogado.

Ainda como requisito, tanto o inventário judicial como o extrajudicial,


possuem um prazo de 60 dias para sua abertura, prazo previsto também, para o
recolhimento do imposto ITCMD. 

No Estado de São Paulo, o inventário que não for requerido nesse prazo,
o imposto será calculado com acréscimo de multa equivalente a 10% do valor do
imposto e, se o atraso exceder a 180 dias, a multa será de 20%, conforme a Lei n°
10.705/2000. A súmula 542 do Supremo Tribunal Federal prevê que os Estados
podem impor multa aos herdeiros, por retardar o prazo da abertura do inventário. 

Assim proclama: “não é inconstitucional a multa instituída pelo Estado-


membro, como sanção pelo retardamento do início ou da ultimação do inventário”.

130
TÓPICO 3 — A COMPETÊNCIA FUNCIONAL DO TRABELIÃO E A ASSISTÊNCIA DO ADVOGADO

3 INVENTÁRIO JUDICIAL

Esse inventário é aquele que busca o órgão do Poder Judiciário, através de


um advogado constituído por procuração, para descrever os bens deixados pelo
falecido e assim, distribuí-los aos seus herdeiros. 

O Artigo 611 do Código de Processo Civil menciona: “o processo de


inventário e partilha deve ser instaurado dentro de dois meses, a contar da
abertura da sucessão, ultimando-se nos 12 (doze) meses subsequentes, podendo
o juiz prorrogar esses prazos, de ofício ou a requerimento de parte”. 

O foro competente para a abertura do inventário é o último domicílio que


o falecido possuía, conforme determina os Artigos 1785 e 1796 do Código Civil e
o Artigo 48 do Código de Processo Civil. 

Tal modalidade apresenta as seguintes etapas: 1) abertura do inventário,


2) a nomeação do inventariante, 3) o oferecimento das primeiras declarações,
4) a citação dos interessados, 5) a avaliação dos bens, 6) o cálculo e pagamento
de impostos devidos, 7) as últimas declarações, e por fim, 8) a partilha e sua
homologação.

3.1 ESPÉCIES DE INVENTÁRIO JUDICIAL

O Código de Processo Civil prevê nos Artigos 610 a 667, espécies de


inventário judicial, de ritos diferentes. São eles:

a) Inventário negativo:

Não está previsto na legislação, todavia, surge quando o falecido não


deixa bens para serem inventariados. 

Essa modalidade torna-se necessária em duas hipóteses: a primeira


delas está prevista no Artigo 1.523, I, do Código Civil, que exige que o cônjuge
sobrevivente faça o inventário e a partilha, caso tenha intenção de se casar
novamente, sob pena de torna-se obrigatório o regime da separação de bens. 

A outra hipótese é se o falecido não deixar bens, mas, deixar dívidas.


Nesse caso, os herdeiros deverão fazer o inventário para demonstrar aos credores
que não existem bens para a satisfação do seu crédito. 

b) Inventário pelo rito tradicional ou solene

Regulado nos Artigos 610 a 658 do Código de Processo Civil. 

131
UNIDADE 2 — AS ETAPAS PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

c) Inventário pelo rito de arrolamento sumário

Regulado pelo Artigo 659 ao 663, do Código de Processo Civil, abrangendo


bens de qualquer valor, devendo os interessados serem capazes e, concordarem
com a partilha, que será homologada de plano pelo juiz mediante a prova de
quitação dos tributos. 

d) Inventário pelo rito comum

Previsto no Artigo 664 ao 666, do Código de Processo Civil, para quando


os bens do espólio sejam de valor igual ou superior a 1.000 salários mínimos. 

Esse inventário tem um procedimento mais longo, contendo várias fases


como a petição de abertura, nomeação do inventariante apresentando primeiras
declarações, citação dos herdeiros e por fim, as últimas declarações.

4 POSSIBILIDADE DE CONVERSÃO DO INVENTÁRIO JUDICIAL EM


EXTRAJUDICIAL

A resolução do Conselho Nacional de Justiça n° 35/2007 de 24 de abril de


2017, em seu Artigo 2°, disciplina o seguinte: 

“Art. 2° É facultada aos interessados a opção pela via judicial ou extrajudicial;


podendo ser solicitada, a qualquer momento, a suspensão, pelo prazo de 30 dias,
ou a desistência da via judicial, para promoção da via extrajudicial.” 

Portando, ainda que o processo de inventário tenha sido iniciado


judicialmente, é possível sua conversão em extrajudicial, desde que preenchidos
todos os requisitos para seu processamento administrativo.

5 INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Para que exista o procedimento extrajudicial de inventário em um cartório,


é necessário que todos os herdeiros sejam maiores e capazes, vale lembrar também,
que caso haja filhos emancipados, o inventário poderá ser feito normalmente. 

Outra exigência importante consiste no consenso entre os herdeiros


quanto à partilha dos bens, bem como, com relação ao falecido, que ele não
tenha deixado testamento, valendo-se da participação de um advogado, cuja
qualificação e assinatura constarão no ato notarial.

Depois de recolhida a guia do imposto ITCMD, com todos os documentos


em mãos, se processará o inventário. 

132
TÓPICO 3 — A COMPETÊNCIA FUNCIONAL DO TRABELIÃO E A ASSISTÊNCIA DO ADVOGADO

Os documentos necessários para o procedimento do inventário por ato


notarial são: 

• Documentos do falecido: RG, CPF, certidão de óbito, certidão de casamento,


certidão comprobatória de inexistência de testamento expedida pelo Colégio
Notarial do Brasil, certidão Negativa da Receita Federal e Procuradoria Geral
da Fazenda Nacional. 
• Documentos do cônjuge, herdeiros e respectivos cônjuges. 
• Documentação do advogado: carteira da OAB, informação sobre estado civil e
seu endereço.
• Imóveis rurais: certidão de ônus expedida pelo Cartório de Registro de Imóveis
(atualizada até 30 dias), cópia autenticada da declaração de ITR dos últimos
cinco anos ou Certidão Negativa de Débitos de Imóvel Rural emitida pela
Secretaria da Receita Federal – Ministério da Fazenda, Certificado de Cadastro
de Imóvel Rural (CCIR) expedido pelo INCRA. 
• Bens móveis: documento de veículos, extratos bancários, certidão da junta
comercial ou do cartório de registro civil de pessoas jurídicas e, notas fiscais
de bens.

O procedimento de inventário extrajudicial encerra-se com a lavratura


da Escritura de Inventário e Partilha pelo tabelião, que determinará a partilha
de bens. 

O Artigo 25 da Resolução n° 35/2007 do CNJ, admite a sobrepartilha, caso


os herdeiros descubram algum outro bem que não foi inventariado. 

É possível a sobrepartilha por meio da escritura pública, observando


os mesmos requisitos para a lavratura de inventário, além da apresentação do
formal de partilha, carta de adjudicação ou do processo de inventário.

6 INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL COM TESTAMENTO

O provimento da Corregedoria Geral da Justiça do Estado de São Paulo,


n° 37/2016 de 28 de junho de 2018, permitiu a lavratura de escritura de inventário
e partilha com testamento, diante da expressa autorização do juízo sucessório
competente, nos autos do procedimento de abertura e cumprimento de testamento
sendo todos os interessados capazes e concordes. 

Tal questão também foi autorizada nos casos de testamento revogado ou


caduco ou quando houver decisão judicial, com trânsito em julgado, declarando
a invalidade do testamento. 

Algumas decisões judiciais admitiram a facilidade da via extrajudicial


para a realização da partilha de bens com testamento. Nos autos n° 00052432-
70.2012.8.26.0100 da Sétima Vara da Família e Sucessões do Foro Central Cível
do Tribunal de Justiça de São Paulo, o juiz entendeu que, “desde que todos

133
UNIDADE 2 — AS ETAPAS PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

os herdeiros sejam maiores e capazes, não haja fundações entre os herdeiros


testamentários e estejam todos de acordo acerca da partilha, o inventário poderá
ser feito de forma extrajudicial, nos termos do Artigo 2015 do Código Civil, não
sendo necessário ajuizamento de ação de inventário”.

Outra decisão semelhante foi tomada pela 10ª Vara de Família e Sucessões,
do Fórum João Mendes Júnior, em São Paulo, o magistrado decidiu que, “na
hipótese de todos os herdeiros serem maiores e capazes, poderão proceder ao
inventário extrajudicial, de maior celeridade em benefício das partes, em vista de
que apenas esta ação de abertura, registro e cumprimento de testamento requer a
intervenção do Poder Judiciário”.

Logo, se o testamento estiver revogado, caduco ou inválido, todos os


herdeiros sejam maiores e capazes, de acordo com a partilha, o inventário poderá
ser feito de forma extrajudicial por escritura pública no correspondente Cartório
de Notas, o que trará mais agilidade aos inventários com testamento.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não restam dúvidas que com o advento da Lei n° 11.441/2007, o inventário


extrajudicial facilitou a resolução dos conflitos de forma célere, com menos custas,
comparado com o inventário judicial. 

Assim, para sua concretização é necessário que não existam incapazes


envolvidos e nem testamento.  Contudo, não havendo alternativa, deverá ser
utilizado o inventário judicial para a abertura do inventário e transferência dos
bens deixados pelo falecido aos seus herdeiros.

FONTE: Adaptada de <https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/10904/O-Novo-CPC-e-o-


inventario-extrajudicial>. Acesso em: 4 out. 2021.

CHAMADA

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134
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• O principal efeito do inventário e partilha extrajudicial é que a escritura pública


vale como título para registro imobiliário, a fim de formalizar a transferência
da propriedade.

• A escritura pública do inventário e partilha extrajudicial vale para autorizar o


levantamento das importâncias inventariadas que se achem sob depósito.

• Outro efeito da escritura pública do inventário e partilha extrajudicial é que


serve para a transmissão da propriedade de veículos no DETRAN.

• A escritura pública pode ser apresentada para providências junto a alguns


órgãos públicos, como por exemplo: Junta Comercial, Registro de Pessoas
Jurídicas, Companhias Telefônicas etc.

• A atividade notarial é exercida por um tabelião. Esse cargo até a Constituição


de 1988, passava de pai para filho. O Artigo 236 da CRFB/1988 é que dispõe
sobre essa prestação de serviço, por delegação do Poder Público.

• Atualmente para ser tabelião precisa passar em concurso público, e cada Estado
da Federação brasileira se ocupa de editar esses concursos para o preenchimento
das vagas para os Tabelionatos de Notas – os cartórios extrajudiciais.

• Os princípios da atividade notarial, também se sujeitam aos princípios do


Direito Administrativo, que visam garantir a publicidade, segurança e eficácia
aos atos jurídicos.

• Os atos notariais não estão sujeitos ao Código de Defesa do Consumidor.

• Conforme artigo publicado pelo Colégio Notarial, escrito por Luis Flavio
Fidelis Gonçalves, em 2014, o tabelião “pode figurar como sujeito passivo em
Mandado de Segurança”, na dicção do Art. 327 do Código Penal.

• Um dos princípios da atividade notarial é a publicidade. A publicidade notarial


é chamada de indireta, pois não permite consulta diretamente aos livros da
serventia, sendo as informações prestadas por certidões.

• A atividade funcional do tabelião é exercida, conforme preceito legal (Art. 3°


da lei dos Cartórios – Lei n° 8.935/1994) por profissionais do direito, dotados de
fé pública.

135
• Há o Registro Central de Inventários, que concentra dados e informações dos
atos notariais lavrados, servindo para prevenir duplicidade de escrituras e
facilitar as buscas.

• É exigido do tabelião a emissão da Declaração de Operações Imobiliárias (DOI)


à Receita Federal para comunicar os atos praticados que tenham por objeto a
transmissão de bens imóveis ou de direitos relativos a imóveis.

• Uma das reponsabilidades do tabelião é orientar as partes. O tabelião não


exerce função passiva, pode até se negar a lavrar ato que há fundado indício de
fraude, fundamentando por escrito, logo, não é por receber em minuta, que é
obrigado a lavrar determinado ato.

• A assistência do advogado no inventário extrajudicial é obrigatória.

• O advogado deve identificar-se com a apresentação da Carteira da OAB, que é


expedida pela Seccional do Estado, respectivo.

• A procuração do advogado pode ser apresentada no ato da lavratura da


escritura ou até tomada por termos no instrumento público, com a qualificação
do advogado e o seu número de inscrição na OAB.

• O advogado pode ser também procurador do herdeiro, cumulando a


assistência no inventário com a representação legal na qualidade de
mandatário, conforme a Resolução n° 179/2013 que alterou o Artigo 12 da
Resolução n° 25/2007, ambas do CNJ.

• Não cabe ao tabelião indicar advogado às partes, e muito menos, ter no cartório
um advogado de plantão.

136
AUTOATIVIDADE

1 O inventário extrajudicial é uma maneira de se oficializar instrumentalmente


a transferência dos bens deixados pelo falecido aos herdeiros e/ou legatários,
apurando e descrevendo os bens, efetuando o pagamento das dívidas,
avaliando os bens, realizando o cálculo e recolhimento dos imóstos para fins
de partilha. Sobre o principal efeito do inventário e partilha extrajudicial,
assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O principal efeito do inventário e partilha extrajudicial é que a escritura


pública vale como título para registro imobiliário, a fim de formalizar a
transferência da propriedade.
b) ( ) O principal efeito do inventário e partilha extrajudicial é poder transferir
a propriedade dos veículos no DETRAN.
c) ( ) O principal efeito do inventário e partilha extrajudicial é poder realizar
as movimentações financeiras em entidades bancárias.
d) ( ) O principal efeito do inventário e partilha extrajudicial é apresentar
a escritura pública para providências junto a alguns órgãos públicos,
como por exemplo: Junta Comercial, Registro de Pessoas Jurídicas,
Companhias Telefônicas, etc.

2 No Brasil o inventário extrajudicial é realizado/instrumentalizado por


Escritura Pública, em Tabelionato de Notas, perante o Tabelião ou
Escrevente habilitado, obrigatoriamente com a assistência de advogado. O
Tabelião exerce função pública. Com relação à atividade notarial, analise as
sentenças a seguir:

I- A atividade notarial é exercida por um tabelião.


II- Atualmente para ser tabelião precisa passar em concurso público, e cada
Estado da Federação brasileira se ocupa de editar esses concursos para
o preenchimento das vagas para os Tabelionatos de Notas – os cartórios
extrajudiciais, podendo participar qualquer pessoa, desde que tenha 18
anos completos, sem exigência de escolaridade específica.
III- O cargo de Tabelião, até a Constituição de 1988, passava de pai para filho.
O Artigo 236 da CRFB/1988 é que dispõe sobre essa prestação de serviço,
por delegação do Poder Público.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

137
3 Em regra os atos notariais não estão sujeitos ao Código de Defesa do
Consumidor. Todavia, os princípios da atividade notarial, também se
sujeitam aos princípios do Direito Administrativo, que visam garantir
a publicidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos. Com relação aos
princípios da atividade notarial, classifique V para as sentenças verdadeiras
e F para as falsas:

( ) Um dos princípios da atividade notarial é a publicidade.


( ) A publicidade notarial é chamada de direta, pois, mesmo não permitindo
consulta diretamente aos livros do Tabelionato, as informações são prestadas
por certidões, sempre acompanhadas de cópia dos livros do cartório.
( ) A publicidade notarial é chamada de indireta, pois não permite consulta
diretamente aos livros da serventia, sendo as informações prestadas por
certidões.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 A atividade do Tabelionato de Notas vai muito além de lavrar a escritura


e pegar as assinaturas das partes e do advogado. Existe uma atividade
funcional do tabelião, disposta em lei, com sua competência, mas também
há imposições advindas de Instruções Normativas da Receita Federal.
Disserte sobre esta atividade funcional do tabelião e a exigência de emissão
de Declaração à Receita Federal.

5 Foi com a Lei n° 11.441/2007 que se iniciou no Brasil essa nova modalidade
de instrumentalização do Inventário – Inventário extrajudicial. É feito
em Tabelionato de Notas, por escritura pública, cumprindo algumas
exigências legais, uma delas, é não ter entre as partes nenhum incapaz;
outra exigência é a ausência de testamento e, também a assistência de
advogado. Nesse contexto, disserte sobre a assistência do advogado no
inventário extrajudicial.

138
REFERÊNCIAS
AMORIM, S.; OLIVEIRA, E. Inventário e Partilha: teoria e prática. 26. ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2020.

SILVA; B.; BARROS, G. T. R. RKL, 2017. O novo CPC e o Inventário Extrajudicial –


Uma análise crítica. Disponível em: https://www.rkladvocacia.com/o-novo-cpc-e-o-
inventario-extrajudicial-uma-analise-critica/#_ftn2. Acesso em: 7 mai. 2021.

BRASIL. Lei n° 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil.


Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 16 mar. 2015.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/
l13105.htm. Acesso em: 18 jul. 2021.

BRASIL. Lei 11.965, de 3 de julho de 2009. Dá nova redação aos Arts. 982 e


1.124-A da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973, que institui o Código de
Processo Civil. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil,3
jul. 2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2009/lei/L11965.htm. Acesso em: 5 out. 2021.

BRASIL. Resolução n° 35, de 24 de abril de 2007. Disciplina a lavratura dos atos


notariais relacionados a inventário, partilha, separação consensual, divórcio
consensual e extinção consensual de união estável por via administrativa.
(Redação dada pela Resolução n° 326, de 26.6.2020). Brasília, DF: Diário Oficial
[da] República Federativa do Brasil, 26 jun. 2020. Disponível em: https://atos.cnj.
jus.br/files/compilado172958202007015efcc816b5a16.pdf. Acesso em: 1 out. 2021.

BRASIL. Lei n° 11.441, de 4 de janeiro de 2007. Altera dispositivos da Lei


no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Código de Processo Civil, possibilitando a
realização de inventário, partilha, separação consensual e divórcio consensual
por via administrativa. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa
do Brasil, 4 jan. 2007. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2007-2010/2007/lei/l11441.htm. Acesso em: 2 mai. 2021.

BRASIL. Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília,


DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 10 jan. 2002. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm.
Acesso em: 18 jul. 2021.

BRASIL. Lei n° 8.935, de 18 de novembro de 1994.Regulamenta o art. 236 da


Constituição Federal, dispondo sobre serviços notariais e de registro. (Lei dos
cartórios). Brasília, DF Presidência da República, 18 dez. 1994. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8935.htm. Acesso em: 18 jul. 2021.

139
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF:
Presidência da República, [2016]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 1 mai. 2021.

BRASIL. Lei n° 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo


Civil. Brasília, DF: Presidência da República, 11 jan. 1973. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5869impressao.htm. Acesso em: 18 jul. 2021.

BRASIL. Lei n° 6.015, de 31 de dezembro de 1973. Dispõe sobre os registros


públicos, e dá outras providências. Brasília, DF Presidência da República,
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GONÇALVES, L. F. F. Colégio Notarial do Brasil, 2014. A incidência dos


princípios da administração pública na atividade notarial. Disponível
em: https://www.notariado.org.br/artigo-a-incidencia-dos-principios-da-
administracao-publica-na-atividade-notarial-luis-flavio-fidelis-goncalves/
Acesso em: 18 jul. 2021.

140
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF). Súmula 542. Brasília, DF,
2021. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/
menuSumarioSumulas.asp?sumula=3345. Acesso em: 17 jul. 2021.

TARTUCE, F. Direito Civil: direito das sucessões. 13. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2020, v. 6.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA (TJSC). Florianópolis, SC,


c2021a. História do Poder Judiciário de Santa Catarina. Disponível em: https://
www.tjsc.jus.br/web/memoria/historia-do-tribunal. Acesso em: 1 mai. 2021.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA (TJSC). Florianópolis, SC,


c2021b. Orientações estratégicas da CGJ/SC. Disponível em: https://www.tjsc.
jus.br/web/corregedoria-geral-da-justica/missao-visao-e-objetivos. Acesso em: 1
mai. 2021.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO (TJSP). Órgãos da Justiça. São Paulo,


c2021. Disponível em: https://www.tjsp.jus.br/PoderJudiciario/PoderJudiciario/
OrgaosDaJustica. Acesso em: 2 mai. 2021.

141
142
UNIDADE 3 —

DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA PARA


A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO
EXTRAJUDICIAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• identificar as partes no inventário extrajudicial;


• conhecer a documentação necessária das partes e das pessoas envolvidas
para o inventário extrajudicial;
• identificar os documentos apresentados pelas partes e pelas pessoas
envolvidas para o inventário extrajudicial;
• analisar situações que envolvam credores do espólio;
• descrever os bens que fazem parte do inventário, com seus valores, sejam
eles móveis e/ou imóveis;
• analisar a hipótese de inventário com bens localizados no estrangeiro;
• conhecer como é feita a declaração dos valores dos bens e as plantas de
cálculos fazendárias;
• entender a incidência do Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação
(ITCM-D));
• analisar quando incide o Imposto de Transmissão de Bens Imóveis “Inter
Vivos” (ITBI);
• compreender a possibilidade de cessão de direitos hereditários na própria
escritura do inventário, quando for o caso;
• analisar a renúncia da herança, sob o aspecto prático, na escritura do
inventário, quando for o caso;
• identificar a formalidade para a atuação dos procuradores das partes,
atuando como advogado na assistência, e como mandatário dos direitos
dos herdeiros e de outras partes;
• conhecer a nomeação de inventariante;
• analisar a situação do administrador provisório;
• identificar as certidões negativas de débitos fazendárias com relação ao
falecido; declaração de quitação do condomínio, quando for o caso; e as
certidões dos imóveis, também quando for o caso;
• entender o que é a sobrepartilha extrajudicial;
• conhecer a Central de Inventários e de Testamentos;
• identificar a regra geral para a cobrança dos emolumentos notariais
(cobrança para lavratura da escritura);
• analisar a possibilidade de aplicação da gratuidade no inventário
extrajudicial.

143
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – DOCUMENTAÇÃO DAS PARTES E DAS PESSOAS


ENVOLVIDAS NO INVENTÁRIO

TÓPICO 2 – BENS, DESCRIÇÃO, VALORES E OS IMPOSTOS CAUSA


MORTIS ITCM-D E OUTROS

TÓPICO 3 – FORMALIDADES DA ESCRITURA DE INVENTÁRIO E


PARTILHA

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

144
TÓPICO 1 —
UNIDADE 3

DOCUMENTAÇÃO DAS PARTES E DAS PESSOAS


ENVOLVIDAS NO INVENTÁRIO

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 1, abordaremos as partes no inventário. Desde o
início deste livro você tem recebido conteúdos que já o fazem imaginar a existência
do inventariado – que é o autor da herança, o “de cujus” (falecido). Todavia,
aqui não o trataremos como parte, não estamos em um processo judicial, nosso
assunto, vale lembrar, é o inventário extrajudicial.

As partes que serão apresentadas neste tópico referem-se às que a lei


impõe no parágrafo primeiro do Artigo 610 do Código de Processo Civil (CPC).
“§ 1° Se todos forem capazes e concordes, o inventário e a partilha poderão ser
feitos por escritura pública, a qual constituirá documento hábil para qualquer
ato de registro, bem como para levantamento de importância depositada em
instituições financeiras” (BRASIL, 2015).

Além de identificar as partes no inventário extrajudicial, você conhecerá a


documentação necessária das partes e das pessoas envolvidas, identificando cada
documento apresentado.

Ainda nesta unidade você analisará situações que envolvam credores do


espólio, pois o Art. 27 da Resolução n° 35 de 24 de abril de 2007 do Conselho
Nacional de Justiça (CNJ, 2007), estabelece que “a existência de credores do
espólio não impedirá a realização do inventário e partilha, ou adjudicação, por
escritura pública”.

NOTA

A Resolução n° 35/2007 do CNJ está na íntegra na Unidade 2. Todavia, sugere-


se que quando você precisar fazer a leitura desse Ato, busque pelo https://atos.cnj.jus.br, em
razão das constantes alterações e inclusões com novas redações, a exemplo da Resolução
n° 326 de 26.6.2020.

145
UNIDADE 3 — DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Para dar sequência, apresentaremos com maiores detalhes uma análise


sobre as “partes” no inventário. Lembrando, acadêmico, que nesta última
Unidade você perceberá que foi necessário todo o escopo teórico recebido até
aqui, pois, a seguir teremos sempre questões de ordem prática, levando você ao
inventário extrajudicial.

2 PARTES NO INVENTÁRIO
Diferentemente do inventário judicial, que tem as partes inventariado (de
cujus) e inventariante, no nosso estudo – o inventário extrajudicial – partiremos
do texto legal: parágrafo primeiro do Artigo 610 do CPC: “§ 1° Se todos forem
capazes e concordes, o inventário e a partilha poderão ser feitos por escritura
pública, a qual constituirá documento hábil para qualquer ato de registro, bem
como para levantamento de importância depositada em instituições financeiras”
(BRASIL, 2015, grifo nosso).

Quanto à referência “todos forem capazes”, Amorim e Oliveira (2020, p.


449) sustentam que “As partes maiores e capazes (incluindo-se os emancipados)
devem comparecer a cartório, por si ou por procurador com poderes especiais,
assistidas por advogado ...” Mencionam que “deve haver expressa menção ao grau
de parentesco, tanto do cônjuge sobrevivente quanto dos herdeiros”. (AMORIM;
OLIVIERA, 2020, p. 449).

Consideram-se partes interessadas:

• o cônjuge ou o companheiro sobrevivente;


• os herdeiros legítimos;
• eventuais cessionários;
• eventuais credores.

Na escritura pública, a qualificação das partes, deve apresentar (Art. 20 da


Resolução n° 35/2007 (CNJ, 2007):

• nacionalidade;
• profissão;
• idade;
• estado civil;
• regime de bens;
• data do casamento;
• pacto antenupcial e seu registro imobiliário, se houver;
• número do documento de identidade;
• número de inscrição no CPF/MF;
• domicílio e residência.

146
TÓPICO 1 — DOCUMENTAÇÃO DAS PARTES E DAS PESSOAS ENVOLVIDAS NO INVENTÁRIO

Note que, conforme o Art. 21 da Resolução n° 35/2007 (CNJ, 2007), a


escritura pública de inventário e partilha conterá a qualificação completa do autor
da herança; o regime de bens do casamento; pacto antenupcial e seu registro
imobiliário, se houver; dia e lugar em que faleceu o autor da herança; data da
expedição da certidão de óbito; livro, folha, número do termo e Registro Civil em
que consta o registro do óbito; e a menção ou declaração dos herdeiros de que o
autor da herança não deixou testamento e outros herdeiros.

Na qualificação das partes, a escritura deverá conter o regime de bens do


casamento, quando for o caso; pacto antenupcial e seu registro imobiliário, se
houver. Ainda, advertem Amorim e Oliveira (2020, p. 450) que “os cônjuges dos
herdeiros deverão comparecer ao ato quando houver renúncia ou algum tipo de
partilha que importe em transmissão, exceto se o casamento se der sob o regime
da separação absoluta”.

Pacificada a situação da união estável, Amorim e Oliveira (2020, p.


450), obtemperam que “se o falecido mantinha união estável, o companheiro
sobrevivente será parte interessada, por ter direito à meação (Art. 1.725 do CC) e
à herança (Art. 1.829 do CC, vez que declarado inconstitucional o Artigo 1.790 –
RE 878.694-MG, v. cap. 3, item 8.1)”.

Para tanto, “o reconhecimento dos direitos do companheiro depende da


anuência dos demais interessados ou de prévio reconhecimento em ação própria”
(AMORIM; OLIVEIRA, 2020, p. 450).

Se houver, no inventário extrajudicial, um só interessado com direito à


totalidade da herança, a escritura será lavrada de inventário e adjudicação dos
bens a esse beneficiário.

2.1 DOCUMENTOS NECESSÁRIOS


O Artigo 22 da Resolução n° 35/2007 (CNJ, 2007) informa quais os
documentos que deverão ser apresentados na lavratura da escritura do inventário
extrajudicial:

a) certidão de óbito do autor da herança;


b) documento de identidade oficial e CPF das partes e do autor da
herança;
c) certidão comprobatória do vínculo de parentesco dos herdeiros;
d) certidão de casamento do cônjuge sobrevivente e dos herdeiros
casados e pacto antenupcial, se houver;
e) certidão de propriedade de bens imóveis e direitos a eles relativos;
f) documentos necessários à comprovação da titularidade dos bens
móveis e direitos, se houver;
g) certidão negativa de tributos; e
h) Certificado de Cadastro de Imóvel Rural – CCIR, se houver imóvel
rural a ser partilhado.

147
UNIDADE 3 — DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Com relação aos documentos, o Provimento n° 63, de 14 de novembro de


2017 (CNJ, 2017) determinou novos modelos que são utilizados nacionalmente,
para as certidões de nascimento, casamento, óbito e outra, bem como o Termo de
Reconhecimento de Filiação Socioafetiva.

As Corregedorias Gerais dos Estados, por meio de Provimentos e/ou de


Código de Normas, editam o posicionamento que os Tabelionatos devem adotar
com relação a apresentação dos documentos que, via de regra, as certidões de
registro civil (nascimento/casamento) devem ser apresentadas com data não
superior a 90 (noventa) dias da lavratura da escritura.

Por certo, esse prazo de 90 (noventa) dias está salvaguardando as


hipóteses em que as pessoas possam estar ou se casando ou se divorciando, ou
seja, alterando o estado civil, e, consequentemente, influenciando na partilha.

Com relação aos documentos do “de cujus”, não se tem muito que examinar,
como vimos é a Certidão de óbito e os documentos pessoais, acompanhados
da qualificação completa. O que você precisa atentar, acadêmico, é que pode
acontecer de chegar até você um caso de alguém que tenha falecido, cujo óbito
não tenha sido registrado.

Para o caso de o óbito ainda não ter sido registrado e o prazo legal já
houver transcorrido, será necessário a ação judicial de registro tardio de óbito.

E
IMPORTANT

O prazo normal para o registro do óbito é de 24 horas após o falecimento (Art.


78, primeira parte da Lei n° 6.015/73), e de 15 dias (Art. 78, segunda parte c/c Art. 50 da lei
6.015/73), estendido até três meses para os lugares distantes mais de 30 (trinta) quilômetros
da sede do cartório ou por qualquer outro motivo relevante.

Perceba, acadêmico, que temos o prazo máximo de três meses para registrar
o óbito no Registro Civil das Pessoas Naturais, sob pena de recorrer ao Judiciário
e suportar as formalidades de uma ação judicial, embora de jurisdição voluntária.

Como estamos falando em DOCUMENTOS e informamos que o CNJ em


2017 trouxe novos modelos das certidões, entendemos por bem, demonstrá-las a
você. Iniciamos pela certidão de óbito, primeiro item do Artigo 22 da Resolução n°
35/2007 do CNJ, disposto anteriormente.

148
TÓPICO 1 — DOCUMENTAÇÃO DAS PARTES E DAS PESSOAS ENVOLVIDAS NO INVENTÁRIO

FIGURA 1 – CERTIDÃO DE ÓBITO

FONTE: < https://www.26notas.com.br/blog/wp-content/uploads/2017/11/Ato_63_


anexoprov63.pdf >. Acesso em: 19 jul. 2021.

149
UNIDADE 3 — DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Na sequência, deve ser apresentado documentos de identidade oficial e


CPF das partes e do autor da herança.

A Carteira de Identidade é o principal documento de identificação da


pessoa no Brasil. Ela não possui vencimento legal, devendo ser aceita em todo
território nacional sempre em perfeito estado de conservação.

Reza o Artigo 1° da Lei n° 7.116 de 29 de agosto de 1983: “Art 1° - A


Carteira de Identidade emitida por órgãos de Identificação dos Estados, do
Distrito Federal e dos Territórios tem fé pública e validade em todo o território
nacional” (BRASIL, 1983). O Decreto n° 9.278 de 5 de fevereiro de 2018, também
dispõe: “Art. 2° A Carteira de Identidade tem fé pública e validade em todo o
território nacional” (BRASIL, 2018).

FIGURA 2 – CARTEIRA DE IDENTIDADE EXPEDIDA PELA SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA


ESTADUAL (NOVO MODELO PARA O ESTADO DE GOIÁS DESDE 2019)

FONTE: <https://www.policiacivil.go.gov.br/noticias-da-policia-civil/instituto-de-identificacao-ja-
emite-novo-modelo-de-carteira-de-identidade.html>. Acesso em: 18 jul. 2021.

FIGURA 3 – CADASTRO DE PESSOAS FÍSICAS (CPF) – MINISTÉRIO DA FAZENDA (MF)

FONTE: <https://bit.ly/3Be3dT5>. Acesso em: 19 jul. 2021.

150
TÓPICO 1 — DOCUMENTAÇÃO DAS PARTES E DAS PESSOAS ENVOLVIDAS NO INVENTÁRIO

Em regra, a certidão comprobatória do vínculo de parentesco dos


herdeiros é a própria carteira de identidade ou a certidão de nascimento, no caso
de comprovar a filiação. Contudo, não sendo o herdeiro em linha reta, terá de
apresentar certidão que confirme esse vínculo.

Quanto à exigência da apresentação da certidão de casamento do Cônjuge


sobrevivente e dos herdeiros casados e pacto antenupcial, se houver, temos que
esclarecer alguns pormenores, acadêmico.

Embora você já tenha analisado essa matéria em outra disciplina, aqui


vamos tratar de transmissão de bens causa mortis, sendo, portanto, obrigatório
obedecer a essa prescrição legal conforme o regime de bens.

No Brasil, o regime de bens oficial para o casamento é o da comunhão


parcial de bens, conforme o Código Civil:

Art. 1.536. Do casamento, logo depois de celebrado, lavrar-se-á o


assento no livro de registro. No assento, assinado pelo presidente
do ato, pelos cônjuges, as testemunhas, e o oficial do registro, serão
exarados:
[...]
VII - o regime do casamento, com a declaração da data e do cartório
em cujas notas foi lavrada a escritura antenupcial, quando o regime
não for o da comunhão parcial, ou o obrigatoriamente estabelecido
(BRASIL, 2002, grifo nosso).

Isso significa dizer que se o falecido era casado pelo regime da comunhão
universal de bens, na vigência da Lei 6.515/77, deverá ser apresentado o pacto
antenupcial pelo cônjuge sobrevivente, que também é meeiro. A mesma situação
serve para os herdeiros, se casados em regime diverso do legal, devem apresentar
o pacto antenupcial.

Blasius (2018, s.p.) define: “O pacto antenupcial, também chamado de


pacto nupcial, é um contrato pré-nupcial ou convenção matrimonial firmado
pelos casais antes da celebração do casamento”.

O Código Civil exige que o pacto antenupcial lavrado por meio de


escritura pública, devendo ser realizado durante o processo de habilitação
(Art.1.653, do CC/02). Ademais, resta explícito que é nulo, o pacto nupcial, se não
for por escritura pública. De outra maneira, será ineficaz o pacto nupcial se não
lhe seguir o casamento.

O pacto antenupcial deve ser registrado no Registo de Imóveis do


domicílio dos cônjuges para que venha surtir efeitos perante terceiros – Art.1657,
CC/02 (BRASIL, 2002).

151
UNIDADE 3 — DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

FIGURA 4 – CERTIDÃO DE NASCIMENTO

FONTE: <https://www.26notas.com.br/blog/wp-content/uploads/2017/11/Ato_63_anexoprov63.pdf>.
Acesso em: 19 jul. 2021.

152
TÓPICO 1 — DOCUMENTAÇÃO DAS PARTES E DAS PESSOAS ENVOLVIDAS NO INVENTÁRIO

FIGURA 5 – CERTIDÃO DE CASAMENTO

FONTE: <https://www.26notas.com.br/blog/wp-content/uploads/2017/11/Ato_63_
anexoprov63.pdf>. Acesso em: 19 jul. 2021.

Os documentos apresentados para a lavratura da escritura devem ser


originais ou cópias autenticadas, salvo os de identidade das partes, que serão
sempre originais e a escritura deve fazer menção aos documentos apresentados.

Os documentos referentes aos bens, direitos, as certidões negativas


e o CCIR, serão objeto de análise do próximo tópico. A seguir trataremos do
inventário quando há credores do espólio, ou seja, quando quem falece deixa
algum débito ou compromisso a saldar.
153
UNIDADE 3 — DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

3 CREDORES DO ESPÓLIO
“A existência de credores do espólio não impedirá a realização do
inventário e partilha, ou adjudicação, por escritura pública”. Isso é o que reza o
Artigo 27 da Resolução n° 35/2007 do CNJ.

Amorim e Oliveira (2020, p. 450) sustentam que:

A existência de credores do espólio não impedirá a realização do


inventário e partilha por escritura pública, pois o credor do espólio
poderá haver diretamente os seus direitos, mediante acordo com os
herdeiros, ou constar da escritura pública para oportuno recebimento
do crédito reconhecido pelos demais interessados.

É certo que, conforme afirmam os autores: “cabe aos herdeiros indicar não
só o ativo, mas também o passivo do espólio, nesse caso discriminando as dívidas,
os respectivos credores, bem como a forma de seu pagamento” (AMORIM;
OLIVEIRA, 2020, p. 450).

Mesmo que não sejam indicados credores do espólio, seus direitos serão
sempre ressalvados, podendo agir por ação própria contra os herdeiros, na
medida dos quinhões da herança atribuídos na partilha.

Concluímos este tópico colacionando um exemplo de qualificação das


partes em uma escritura pública de inventário extrajudicial. Lembrando que os
nomes das pessoas foram omitidos, mesmo tratando-se de minuta:

S A I B A M quantos esta pública escritura de inventário e partilha


virem que, æData_lav1>, nesta cidade de xxxxxxxxxxxxxxxx, Estado de
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, neste serviço notarial, compareceram partes entre si,
justas e contratadas a saber: como OUTORGANTES E RECIPROCAMENTE
OUTORGADOS: A HERDEIRA FILHA: xxxxxxxxxxxxxxxxx, brasileira, do lar,
nascida em 10/07/1969, solteira, maior, conforme assento feito no Registro Civil
desta Comarca, livro n° xx, à folha xxx, sob termo n° xxxxx, matrícula n° xxxxxx
xx xx xxxx x xxxxx xxx xxxxxxx xx e selo digital de fiscalização n° DNOxxxxx-
OUTA, portadora da cédula de identidade n° xxxxxxx xxxxxx/xx, expedida em
xx/xx/xxxx e inscrita no CPF/MF sob n° xxx.xxx.xxx.xx, residente e domiciliada
nesta cidade de xxxxx, na Rua Pará n° xxx, Bairro xxxxxxxxxxxx; HERDEIROS
NETOS (FILHOS DO HERDEIRO FILHO xxxxxxxxxxxxxx, FALECIDO EM
.........................): xxxxxxxxxxxxxxxxxx, brasileira, xxxxxxxxxxxxx, nascida em
xx/xx/xxxx, xxxx, conforme assento feito no Registro Civil desta Comarca,
livro n° xxx, à folha xx, sob termo n° xxxxx, matrícula n° xxxxxx xx xx xxxx
x xxxxx xxx xxxxxxx xx e selo digital de fiscalização n° DNOxxxxx-SQxV,
portadora da cédula de identidade n° xxxx xxxxxx/xx, expedida em xx/xx/
xxxx e inscrita no CPF/MF sob n° xxx.xxx.xxx.xx, residente e domiciliada
nesta cidade de Blumenau/SC, na Rua xxxx, Bairro xxx; xxxxxxxxxxxxxx,

154
TÓPICO 1 — DOCUMENTAÇÃO DAS PARTES E DAS PESSOAS ENVOLVIDAS NO INVENTÁRIO

brasileiro, xxxxx, nascido em xx/xx/xxxx, solteiro, maior, conforme assento


feito no Registro Civil desta Comarca, livro n° xxx, à folha xx, sob termo n°
xxxxx, matrícula n° xxxxxx xx xx xxxx x xxxxx xxx xxxxxxx xx e selo digital de
fiscalização n° DNOxxxxx-SQxV, portador da carteira nacional de habilitação
n° xxxxxx DETRAN/xx, expedida em xx/xx/xxxx e inscrito no CPF/MF sob
n° xxx.xxx.xxx.xx, residente e domiciliado nesta cidade de Blumenau/SC, na
Rua xxxx, Apto xx, Bairro xxxxxx; e compareceu ainda como ADVOGADA
ASSISTENTE: xxx

FONTE: Arquivo da autora.

155
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Identifica-se as partes no inventário extrajudicial, levando-se em conta a


expressão “se todos forem capazes”, que está no §1° do Art. 610 do CPC.

• Consideram-se partes interessadas:


◦ o cônjuge ou o companheiro sobrevivente;
◦ os herdeiros legítimos;
◦ eventuais cessionários;
◦ eventuais credores.

• Na escritura pública, a qualificação das partes, deve apresentar:


◦ nacionalidade;
◦ profissão;
◦ idade;
◦ estado civil;
◦ regime de bens;
◦ data do casamento;
◦ pacto antenupcial e seu registro imobiliário, se houver;
◦ número do documento de identidade;
◦ número de inscrição no CPF/MF;
◦ domicílio e residência.

• A escritura pública de inventário e partilha conterá a qualificação completa


do autor da herança; o regime de bens do casamento; pacto antenupcial e seu
registro imobiliário, se houver; dia e lugar em que faleceu o autor da herança;
data da expedição da certidão de óbito; livro, folha, número do termo e Registro
Civil em que consta o registro do óbito; e a menção ou declaração dos herdeiros
de que o autor da herança não deixou testamento e outros herdeiros.

• Na qualificação das partes, a escritura deverá conter o regime de bens do


casamento, quando for o caso; pacto antenupcial e seu registro imobiliário, se
houver.

• No caso de união estável, o reconhecimento dos direitos do companheiro


depende da anuência dos demais interessados ou de prévio reconhecimento
em ação própria.

• Se houver, no inventário extrajudicial, um só interessado com direito à


totalidade da herança, a escritura será lavrada de inventário e adjudicação dos
bens a esse beneficiário.

156
• Os documentos que deverão ser apresentados na lavratura da escritura do
inventário extrajudicial são:
◦ certidão de óbito do autor da herança;
◦ documento de identidade oficial e CPF das partes e do autor da herança;
◦ certidão comprobatória do vínculo de parentesco dos herdeiros;
◦ certidão de casamento do cônjuge sobrevivente e dos herdeiros casados e
pacto antenupcial, se houver;
◦ certidão de propriedade de bens imóveis e direitos a eles relativos;
◦ direitos, se houver;
◦ certidão negativa de tributos; e
◦ Certificado de Cadastro de Imóvel Rural – CCIR, se houver imóvel rural a
ser partilhado.

• Existe um prazo para o registro do óbito: 24 horas após o falecimento; 15 dias


estendido até três meses para os lugares distantes mais de 30 quilômetros da
sede do cartório ou por qualquer outro motivo relevante.

• Para o caso de o óbito ainda não ter sido registrado e o prazo legal já houver
transcorrido, será necessário a ação judicial de registro tardio de óbito.

• A existência de credores do espólio não impedirá a realização do inventário e


partilha, ou adjudicação, por escritura pública.

• Mesmo que não sejam indicados credores do espólio, seus direitos serão sempre
ressalvados, podendo agir por ação própria contra os herdeiros, na medida dos
quinhões da herança atribuídos na partilha.

157
AUTOATIVIDADE

1 A identificação das partes no Inventário Extrajudicial é diferente do


Inventário Judicial, pois leva-se em conta a expressão “se todos forem
capazes”, que está no §1° do Art. 610 do CPC. “§ 1° Se todos forem capazes e
concordes, o inventário e a partilha poderão ser feitos por escritura pública,
a qual constituirá documento hábil para qualquer ato de registro, bem como
para levantamento de importância depositada em instituições financeiras”.
Partindo dessa premissa, analise as assertivas a seguir quanto as que são
consideradas partes interessadas, assinale a alternativa CORRETA:

FONTE: BRASIL. Lei n° 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília,
DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 16 mar. 2015. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 2 ago. 2021.

a) ( ) O cônjuge ou o companheiro sobrevivente, os herdeiros legítimos,


eventuais cessionários e eventuais credores.
b) ( ) Somente os herdeiros legítimos.
c) ( ) Somente o cônjuge ou o companheiro sobrevivente e os herdeiros
legítimos.
d) ( ) Somente o cônjuge ou companheiro sobrevivente.

2 A escritura pública de inventário e partilha deverá conter dados do falecido


e do falecimento. Considerando que o falecido é o autor da herança, a
escritura conterá sua qualificação completa. Sobre o que precisa ficar bem
descrito nessa qualificação, analise as sentenças a seguir:

I- O regime de bens do casamento; pacto antenupcial e seu registro


imobiliário, se houver.
II- O nome dos pais e avós.
III- Dia e lugar que faleceu o autor da herança; data da expedição da certidão
de óbito; livro, folha, número do termo e Registro Civil em que consta o
registro do óbito.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 A escritura pública de inventário e partilha conterá a qualificação completa


do autor da herança e a qualificação das partes. Sobre a qualificação das
partes, a escritura deverá conter, classifique V para as sentenças verdadeiras
e F para as falsas:

158
( ) Na qualificação das partes, a escritura deverá conter o regime de bens do
casamento, quando for o caso; pacto antenupcial e seu registro imobiliário,
se houver.
( ) No caso de união estável, o reconhecimento dos direitos do companheiro
depende de prévio reconhecimento em ação própria.
( ) No caso de união estável, o reconhecimento dos direitos do companheiro
depende da anuência dos demais interessados ou de prévio reconhecimento
em ação própria.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 Na escritura pública de inventário e partilha, a qualificação das partes,


deve apresentar: nacionalidade; profissão; idade; estado civil; regime de
bens; data do casamento; pacto antenupcial e seu registro imobiliário, se
houver; número do documento de identidade; número de inscrição no CPF/
MF; domicílio e residência. Para tanto, deve ser apresentados uma série
documentos na lavratura da escritura do inventário extrajudicial. Disserte
sobre quais os documentos que deverão ser apresentados na lavratura
dessa escritura.

5 Quando identificamos as partes no inventário extrajudicial, entre elas


encontramos os “eventuais credores”. Disserte sobre essa possibilidade de,
mesmo havendo credores do espólio, isso não gerar impedimento para a
realização do inventário e partilha extrajudicial.

159
160
TÓPICO 2 —
UNIDADE 3

BENS, DESCRIÇÃO, VALORES E OS IMPOSTOS CAUSA


MORTIS ITCM-D E OUTROS

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 2, abordaremos os bens que fazem parte
do inventário. Os bens podem ser móveis e/ou imóveis. Cada um tem sua
particularidade, tanto na sua descrição, forma, registro, entrega e transferência.

Já podemos adiantar que, com relação à transmissão de bens causa mortis, o


Artigo 1.784 do Código Civil dispõe: “Aberta a sucessão, a herança transmite-se,
desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários” (BRASIL, 2002).

Você já aprendeu, acadêmico, o que é “aberta a sucessão”, não é mesmo?


É o momento da morte. Então, é ali que a herança é transmitida aos herdeiros
legítimos e testamentários, por disposição legal.

Depois decorre o processo de inventário e partilha para que a propriedade


dos bens se perfectibilize formalmente a quem de direito, seja com a tradição, se
for coisa móvel, seja com o registro da escritura, se for imóvel.

Assim, os bens são transmitidos aos herdeiros no momento da morte,


todavia, é com a formalidade do processo de inventário e partilha, com sua
finalização no registro da escritura no Registro de Imóveis – para os bens imóveis
– que se transmite a propriedade que se diz, até então, em nome do espólio.

Neste tópico você também entenderá como se atribui os valores aos bens.
Como se chega a esses valores e as consequências que esses valores representam.

Na maioria dos Estados existe uma planta de valores que norteiam as


informações dos valores atribuídos pelo contribuinte. Os valores dos bens
informados pelas partes influenciam diretamente nos impostos a recolher e nos
emolumentos, sejam notarias ou registrais.

O imposto sobre transmissão causa mortis e doação (ITCM-D) – é


um imposto estadual, conforme determinação constitucional (Art. 155).
Logo, cada Estado membro da Federação, tem suas normas e sistemas para
esse recolhimento. Entretanto, o imposto de transmissão de bens imóveis
“intervivos” (ITBI) – é de competência municipal, conforme Art. 156, II da
Constituição Federal (BRASIL, 1988).

161
UNIDADE 3 — DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Após esta parte introdutória do que iremos tratar neste Tópico, vamos
iniciar com os Bens.

2 DESCRIÇÃO DOS BENS


Antes de tratar diretamente dos bens em si, importante trazer o ensino de
Pacheco (apud (RIZZARDO, 2019, p. 553), “Morto o de cujus, seus bens constituem
a massa indivisa, a herança, a universitas juris, até que venha a se dar a partilha.
Nesse estado, permanece durante o período que vai desde a abertura da sucessão,
antes, pois, da abertura do inventário até a adjudicação dos bens”.

O inventariante que, geralmente, é o cônjuge sobrevivente ou o herdeiro


que detiver a herança, é o responsável pela herança, em princípio. Todavia,
exclui-se essa responsabilidade se alguns bens se encontram com os herdeiros,
em sua posse, e havendo conivência a respeito, a responsabilidade não recairá na
pessoa do inventariante, e sim do herdeiro que obtiver o bem (RIZZARDO, 2019).

Para falar sobre os bens, vamos utilizar a mesma orientação do Código de
Processo Civil, e não apresentaremos subtópicos para classificar os bens. Embora
fazendo expressa referência ao inventário judicial, o Código de Processo Civil,
dispõe no inciso IV do Art. 620:

IV- a relação completa e individualizada de todos os bens do espólio,


inclusive aqueles que devem ser conferidos à colação, e dos bens
alheios que nele forem encontrados, descrevendo-se:
a) os imóveis, com as suas especificações, nomeadamente local em que
se encontram, extensão da área, limites, confrontações, benfeitorias,
origem dos títulos, números das matrículas e ônus que os gravam;
b) os móveis, com os sinais característicos;
c) os semoventes, seu número, suas espécies, suas marcas e seus sinais
distintivos;
d) o dinheiro, as joias, os objetos de ouro e prata e as pedras preciosas,
declarando-se-lhes especificadamente a qualidade, o peso e a
importância;
e) os títulos da dívida pública, bem como as ações, as quotas e os
títulos de sociedade, mencionando-se-lhes o número, o valor e a
data;
f) as dívidas ativas e passivas, indicando-se-lhes as datas, os títulos, a
origem da obrigação e os nomes dos credores e dos devedores;
g) direitos e ações;
h) o valor corrente de cada um dos bens do espólio (BRASIL, 2015).

A prática tem revelado duas situações. A primeira é quando o inventário


não tem muitos bens, e tampouco há documentação a regularizar de algum
dos herdeiros (casamento, divórcio, por exemplo) ou dos bens (regularizar um
imóvel para fins de partilha, por exemplo – nesse caso o advogado já entrega
no Tabelionato, até por mídia eletrônica, o pedido de abertura do inventário,

162
TÓPICO 2 — BENS, DESCRIÇÃO, VALORES E OS IMPOSTOS CAUSA MORTIS ITCM-D E OUTROS

via requerimento instruído dos respectivos documentos, mas contemplando


todas as informações, seja quanto ao “de cujus”, aos herdeiros e aos bens. A
segunda situação, quando o levantamento dos bens é mais complexo: a existência
de uma fazenda com cabeças de gado, por exemplo – o advogado igualmente
envia requerimento ao Tabelionato, instruído com os documentos que possui,
em especial do “de cujus”, e segue aguardando os documentos dos bens para
prosseguir com o inventário.

Conforme Rizzardo (2019, p. 579) “A descrição dos bens constitui o


levantamento do patrimônio que ficou após a morte do de cujus, ou o inventário
propriamente dito daquilo que for encontrado, tanto na residência, como em
outros locais, com a análise de registros, anotações, inscrições e lançamentos em
repartições públicas”.

Não é suficiente a simples relação dos bens, é necessária a individualização,


com a descrição e referência de marcas caracterizadoras. A descrição deve ser
completa, mesmo que em comunhão com o cônjuge, e não apenas da parte ideal.

Vimos acima que o Código de Processo Civil, evidencia os parâmetros


quanto aos imóveis: “Os imóveis, com as suas especificações, nomeadamente
local em que se encontram, extensão da área, limites, confrontações, benfeitorias,
origem dos títulos, números das matrículas e ônus que os gravam” (BRASIL,
2015).

Acadêmico, para que você não tenha dúvida de como descrever um


imóvel, recomenda-se copiar o que está na matrícula do Registro de Imóveis.
Quanto a essa descrição detalhada dos imóveis, esse também é o comando da Lei
n° 6.015 de 31 de dezembro de 1973 (Lei de Registros Públicos):

Art. 225 - Os tabeliães, escrivães e juízes farão com que, nas escrituras e
nos autos judiciais, as partes indiquem, com precisão, os característicos,
as confrontações e as localizações dos imóveis, mencionando os nomes
dos confrontantes e, ainda, quando se tratar só de terreno, se esse fica
do lado par ou do lado ímpar do logradouro, em que quadra e a que
distância métrica da edificação ou da esquina mais próxima, exigindo
dos interessados certidão do registro imobiliário (BRASIL, 1973).

Será anexado ao processo extrajudicial de inventário e partilha as


matrículas dos imóveis em nome do falecido, que são as certidões do Registro de
Imóveis competente, as quais têm prazo de validade por 30 (trinta) dias.

Perceba, acadêmico, que na primeira parte da matrícula, é apresentada a


descrição do imóvel, detalhadamente, depois o proprietário e na sequência, os
atos praticados pelo registrador.

Colacionamos uma parte de uma certidão da matrícula de um imóvel


para servir de exemplo para seus estudos:

163
UNIDADE 3 — DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

FIGURA 6 – MATRÍCULA DE IMÓVEL

FONTE: Arquivo pessoal da autora

Quanto aos bens móveis, a letra “b” do inciso IV, do comentado artigo do
CPC (BRASIL, 2015) dispõe: “Os móveis, com os sinais característicos”. Portanto,
para descrever um veículo, é necessário apontar, além da marca, o número
do chassi e o das placas, com outros dados como a cor, o ano de fabricação, à
capacidade e até ao seu estado de conservação.

Como visto, os bens móveis devem ser descritos com os sinais característicos,
com apresentação de documento comprobatório de domínio e valor. “Os direitos
de compromisso de compra e venda e mesmo os direitos de posse são igualmente
suscetíveis de inventário e partilha, com a precisa indicação de sua natureza,
origem e os documentos comprobatórios” (AMORIM; OLIVEIRA, 2020. p. 454).

164
TÓPICO 2 — BENS, DESCRIÇÃO, VALORES E OS IMPOSTOS CAUSA MORTIS ITCM-D E OUTROS

FIGURA 7 – CERTIFICADO DE REGISTRO DE VEÍCULO

FONTE: <https://www.noticiasautomotivas.com.br/como-bloquear-um-veiculo-que-nao-foi-
transferido/>. Acesso em: 25 jul. 2021.

Na letra “c”, Rizzardo (2019, p. 583) obtempera: “ordena-se o mesmo


relativamente aos semoventes, com a referência ao seu número, as suas espécies,
às marcas e aos sinais distintivos, inclusive a raça, se for o caso. E conclui:
[...] “Indica-se o número de reses, mas por raça, ou peso aproximado, pois
naturalmente estas diferenças importam em estimativas econômicas diferentes”
(RIZZARDO, 2019, p. 580).

FIGURA 8 – SEMOVENTES

FONTE: <https://bit.ly/3DiheQ3>. Acesso em: 25 jul. 2021.

165
UNIDADE 3 — DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Na letra “d”, enumeram-se o dinheiro encontrado ou depositado em


bancos, as joias, os objetos de ouro e prata e as pedras preciosas, declarando-se-
lhes especificadamente a qualidade, o peso e a importância.

FIGURA 9 – DINHEIRO, JÓIAS, OURO

FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/jewelry-buyer-pawn-shop-buy-
sell-1465050167>. Acesso: 25 jul. 2021.

Nessa categoria, Rizzardo (2019, p. 581) aponta que “quanto às joias, v.g.,


constarão o tipo, os quilates em ouro, e a destinação”.

Pela letra “e”, arrolam-se também os títulos da dívida pública, bem como
as ações, as quotas e os títulos de sociedades, mencionando-se-lhes o número, o
valor e a data.

FIGURA 10 – MODELO DE AÇÕES PREFERENCIAIS

FONTE: <https://www.acoesdobesc.com.br/wp-content/uploads/2020/02/cartula-destak.jpg>.
Acesso em: 27 jul. 2021.

166
TÓPICO 2 — BENS, DESCRIÇÃO, VALORES E OS IMPOSTOS CAUSA MORTIS ITCM-D E OUTROS

A letra “f” trata das dívidas ativas e passivas, indicando-se-lhes as datas,


os títulos, a origem da obrigação e os nomes dos credores e dos devedores.

Já a letra “g” cuida dos direitos e ações, como as dívidas ativas, o usufruto,
o uso, a habitação, as servidões, os foros, as pensões, os direitos à linha telefônica,
as posses em imóveis, e os créditos em bens. Aqui deve ser analisada a questão
dos direitos reais sobre coisas alheias (usufruto, habitação, por exemplo). E, a
atenção se deve ao fato de que, tem direitos que passam para os herdeiros – como
as servidões – conforme foi instituída; porém, o usufruto, já não, é um direito que
não se transmite, ou seja, acaba junto com a morte do de cujus.

Na letra “h”, dará o inventariante o valor corrente de cada um dos bens


do espólio, ou seja, o valor que estiver mais próximo da realidade, o qual será
conferido posteriormente pela Fazenda Pública.

2.1 BENS LOCALIZADOS NO ESTRANGEIRO


Com relação aos bens do falecido, que se encontram em outro país, existe
uma proibição expressa para que o inventário seja realizado extrajudicialmente.
O Artigo 29 da Resolução 35/2007 do CNJ dispõe: “É vedada a lavratura de
escritura pública de inventário e partilha referente a bens localizados no
exterior” (BRASIL, 2007).

Rizzardo (2019, p. 543) salienta:

O estrangeiro e o brasileiro, domiciliados no Brasil, e com patrimônio


no exterior, ficam jungidos à lei do país onde se encontram os bens.
Não cabe o inventário aqui, juntamente com o espólio sito no Brasil.
A menos que a lei externa permita o contrário. De modo geral, porém,
domina o princípio universal pelo qual a sucessão por morte ou
ausência obedece à lei do país em que se encontra o patrimônio.

O autor, respalda suas notas na Lei de Introdução às Normas do Direito


Brasileiro: “Esta conclusão é a mais real, apesar de dispor o contrário o art. 10
da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro: ‘A sucessão por morte
ou por ausência obedece à lei do país em que era domiciliado o defunto ou o
desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens’” (BRASIL,
1942). E, ainda, confirma com decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) “O
inventário e a partilha devem ser processados no lugar da situação dos bens
deixados pelo falecido, não podendo o juízo brasileiro determinar a liberação de
quantia depositada em instituição financeira estrangeira” (RIZZARDO, p. 543).

Com relação aos bens no estrangeiro, ficamos por aqui, repetindo que não
será possível o inventário extrajudicial nesses casos. Agora, vamos seguir com a
declaração dos valores dos bens.

167
UNIDADE 3 — DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

3 DECLARAÇÃO DOS VALORES


Na prática, na maioria das vezes, não existe uma fase de avaliação para
se declarar o valor dos bens. O que se considera, conforme Carvalho, (2020, p.
166) “que a Fazenda Pública Estadual procede à avaliação ao serem declarados os
bens e direitos ao Fisco antecipadamente, para o recolhimento do imposto causa
mortis [...]”.

O valor dos bens, contudo, poderá divergir da estimativa exigida pela


Fazenda Pública. O imposto será recolhido, e se não concordar o fisco, com a
estimativa dos valores dos bens oferecida pelos herdeiros, a Fazenda notificará
o contribuinte responsável pela Declaração de Informações Econômico-Fiscais
do Imposto sobre Transmissão “Causa Mortis” e Doação de Quaisquer Bens ou
Direitos - DIEF-ITCMD, além de se utilizar procedimento judicial próprio, com o
fim de receber aquilo que entenda valerem os bens.

Vamos ver o que é esse Imposto de Transmissão “Causa Mortis”? Na


sequência faremos uma abordagem sobre esse imposto, seu surgimento,
competência pelo recolhimento, alíquotas e demais informações.

4 IMPOSTO DE TRANSMISSÃO CAUSA MORTIS E


DOAÇÃO (ITCM-D)
Você deve imaginar, acadêmico, que impostos sempre surgiram,
não é mesmo? Até na Bíblia Sagrada encontramos referência sobre o
cobrador de impostos. No Novo Testamento, no Evangelho de Lucas,
Capítulo 19, versículos 1 e 2; “E, tendo Jesus entrado em Jericó, ia passando.
E eis que havia ali um homem chamado Zaqueu; e era este um chefe dos
publicanos, e era rico” (Lc 19, 1-2, grifo nosso).

NOTA

“Publicano é o nome dado aos coletores de impostos nas províncias do


Império Romano. Eram detestados pelos judeus e muitas das vezes envolviam-se em
corrupção cobrando das pessoas além do que deveriam. E sofriam um grande repúdio
da casta religiosa dos fariseus. Mateus, o evangelista, foi publicano e Zaqueu (publicano
bastante conhecido por sua corrupção) também chegou a se converter”.

FONTE: <https://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-geral/publicano>.
Acesso em: 5 out. 2021.

168
TÓPICO 2 — BENS, DESCRIÇÃO, VALORES E OS IMPOSTOS CAUSA MORTIS ITCM-D E OUTROS

Amorim e Oliveira (2020, p. 358) sustentam que:

Desde a Emenda Constitucional n. 18, de 1965, os impostos de


transmissão da propriedade imobiliária foram fundidos num só,
embora com distinção das duas espécies tradicionais: o inter vivos
(incidente sobre compra e venda, doação, cessão de direitos etc.) e o
causa mortis (relativo à herança e legados). A competência para sua
instituição era dos Estados e do Distrito Federal, nos termos do Artigo
23, inciso I, da Constituição Federal de 1967.

A partir da Constituição Federal de 1988 essa dualidade entre as duas
espécies de tributos (transmissão inter vivos e transmissão causa mortis), teve sua
competência definida entre os Municípios e os Estados, respectivamente.

E o que vem a ser Imposto de Transmissão?



É um imposto instituído para incidir em todas as transações que visam a
transmissão de bens e/ou direitos de uma pessoa para outra, seja pessoa física ou
jurídica.

Nossa Constituição Federal, determina a competência dos entre-


fazendários, para o recolhimento desse imposto:

Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos


sobre:         
I- transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos;
(grifo nosso)         
[...]
§ 1° O imposto previsto no inciso I:         
I- relativamente a bens imóveis e respectivos direitos, compete ao
Estado da situação do bem, ou ao Distrito Federal (grifo nosso)
II- relativamente a bens móveis, títulos e créditos, compete ao Estado
onde se processar o inventário ou arrolamento, ou tiver domicílio
o doador, ou ao Distrito Federal; (grifo nosso)
III- terá competência para sua instituição regulada por lei
complementar:
[...]
b) se o de cujus possuía bens, era residente ou domiciliado ou teve o
seu inventário processado no exterior;
[...] (BRASIL, 1988)

Dessa leitura, percebe-se que são os Estados membros da Federação


ou o Distrito Federal, os entes fazendários, por meio das suas Secretarias
da Fazenda de Estado, competentes para regular e recolher o Imposto de
Transmissão Causa Mortis.

O Artigo 662 do Código de Processo Civil dispõe que:

Art. 662. No arrolamento, não serão conhecidas ou apreciadas


questões relativas ao lançamento, ao pagamento ou à quitação de taxas
judiciárias e de tributos incidentes sobre a transmissão da propriedade
dos bens do espólio.
[...]

169
UNIDADE 3 — DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

§ 2° O imposto de transmissão será objeto de lançamento administrativo,


conforme dispuser a legislação tributária, não ficando as autoridades
fazendárias adstritas aos valores dos bens do espólio atribuídos pelos
herdeiros (BRASIL, 2015).

No processo de inventário não se discute o valor do imposto, é isso que
estabelece o citado artigo. Contudo, o próprio Código Tributário Nacional (CTN),
em seu Artigo 150, já estabelecia a regra:

Art. 150. O lançamento por homologação, que ocorre quanto aos


tributos cuja legislação atribua ao sujeito passivo o dever de antecipar
o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa, opera-
se pelo ato em que a referida autoridade, tomando conhecimento da
atividade assim exercida pelo obrigado, expressamente a homologa.
§ 1° O pagamento antecipado pelo obrigado nos termos deste artigo
extingue o crédito, sob condição resolutória da ulterior homologação
ao lançamento.
§ 2° Não influem sobre a obrigação tributária quaisquer atos
anteriores à homologação, praticados pelo sujeito passivo ou por
terceiro, visando à extinção total ou parcial do crédito.
§ 3° Os atos a que se refere o parágrafo anterior serão, porém,
considerados na apuração do saldo porventura devido e, sendo o caso,
na imposição de penalidade, ou sua graduação.
§ 4° Se a lei não fixar prazo a homologação, será ele de cinco anos,
a contar da ocorrência do fato gerador; expirado esse prazo sem que
a Fazenda Pública se tenha pronunciado, considera-se homologado o
lançamento e definitivamente extinto o crédito, salvo se comprovada a
ocorrência de dolo, fraude ou simulação (BRASIL, 1966).

O ITCM-D é um dos impostos que segue essa regra, ou seja, é considerado


o lançamento por homologação, podendo ser apurada a existência de saldo pelo
prazo de cinco anos, pois como regra, pode ser efetuado e revisto de ofício pela
autoridade administrativa, conforme o caput do Artigo 149 do CTB.

O recolhimento do imposto de transmissão causa mortis deve ser feito no


momento que antecede a partilha e a lavratura da escritura, conforme Art. 192 do
Código Tributário Nacional.

Os Estados da Federação não apresentam a mesma sigla para o Imposto


sobre Transmissão  Causa Mortis  e Doação de Quaisquer Bens ou Direitos. As
siglas são diferentes, a exemplo de ITCD nos Estados de Minas Gerais (Lei n.
14.941/2003) e Rio Grande do Sul (Lei n. 8.821/1989), ITCMD no Estado de São
Paulo (Lei n. 10.705/2000) e ITD no Estado do Rio de Janeiro (Lei n. 1.427/1989 e
Secretaria do Estado da Fazenda) (CARVALHO, 2020).

170
TÓPICO 2 — BENS, DESCRIÇÃO, VALORES E OS IMPOSTOS CAUSA MORTIS ITCM-D E OUTROS

4.1 FATO GERADOR


Muito embora o advento da nossa Constituição já se vai a longo tempo, vale
lembrar, acadêmico, que houve, uma mudança nesse contexto tributário, só depois
de 1° de março de 1989 que o fato gerador do ITCM-D passou a ser da data do óbito,
antes, se entendia que era do negócio jurídico, ou seja, na partilha dos bens.

A orientação do STJ não destoa do que é aplicado na prática, citada por


Rizzardo (2020, p. 604) “O fato gerador do imposto  causa mortis  dá-se com a
transmissão da propriedade ou de quaisquer bens e direitos e ocorre no momento
do óbito. Aplicação da lei vigente à época da sucessão”. Continua o autor: “Em
outro julgamento: ‘O fato gerador do imposto causa mortis dá-se com a transmissão
da propriedade ou de quaisquer bens e direitos e ocorre no momento do óbito.
Aplicação da lei vigente à época da sucessão’” (RIZZARDO, 2020, p. 604).

Esclarece-se que o fato gerador do ITCM-D segue sempre a legislação


estadual, que não diverge da orientação do STJ.

4.2 BASE DA CÁLCULO


A base de cálculo, que também obedece à legislação de cada Estado da
Federação, para se apurar o quantum devido para o recolhimento do tributo, é a
herança líquida, e não o total do patrimônio, ou seja, conforme leciona Rizzardo
(2020, p. 604) “A parte utilizada para o pagamento do imposto não pode acarretar
o imposto, eis que não é transmitida”.

Ressalta-se que se houver renúncia, sobre essa não há incidência de


imposto. Também há de se observar se o de cujus era casado e qual o regime
de bens, em razão da meação, pois, sobre a meação do cônjuge supérstite ou
companheiro sobrevivente, também não recairá o imposto, por certo.

4.3 ALÍQUOTA DO IMPOSTO DE TRANSMISSÃO


Já foi esclarecido que esse imposto de transmissão é de competência de
cada Estado da Federação, não é mesmo? A doutrina de Carvalho (2020, p. 168)
traz um elenco de Estados com alíquotas e isenções:

No Estado de Minas Gerais, além das hipóteses de não incidência do


imposto, são isentos do ITCD, nos termos do Art. 3°, I, da Lei n. 14.941/2003:

a) o imóvel residencial com valor total de até 40.000 UFEMGs


(quarenta mil Unidades Fiscais do Estado de Minas Gerais), desde
que seja o único bem imóvel do monte partilhável cujo valor total
não exceda 48.000 (quarenta e oito mil) UFEMGs, excetuando-se os
bens descritos na alínea c desse inciso;

171
UNIDADE 3 — DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

b) fração ideal de um único imóvel residencial, desde que o valor


total desse imóvel seja de até 40.000 (quarenta mil) UFEMGs e o
monte partilhável não contenha outro imóvel nem exceda 48.000
(quarenta e oito mil) UFEMGs, excetuando-se os bens descritos na
alínea c desse inciso;
c) roupa e utensílio agrícola de uso manual, bem como de móvel
e aparelho de uso doméstico que guarneçam as residências
familiares.
Considerando-se que a UFEMG, no ano de 2020, possui o valor de
R$ 3,7116, são isentos os imóveis residenciais avaliados em até R$
148.464,00.

O Art. 10 da Lei Estadual Mineira n. 14.941/2003, com as alterações


introduzidas pela Lei n. 17.272/2007, estabelece as seguintes alíquotas
do ITCD:

Art. 10. O imposto será calculado aplicando-se a alíquota de 5% (cinco


por cento) sobre o valor total fixado para a base de cálculo dos bens e
direitos recebidos em doação ou em face de transmissão causa mortis.
Parágrafo único. O Poder Executivo poderá conceder desconto, nos
termos do regulamento:
I- na hipótese de transmissão  causa mortis, de até 20% (vinte por
cento) do valor do imposto devido, desde que recolhido no prazo
de até noventa dias contados da abertura da sucessão;

O Decreto n. 43.981, de 3 de março de 2005, de Minas Gerais, com


suas atualizações, estabelece no Art. 22352, com a redação dada pelo
Decreto n. 46.441, de 13 de fevereiro de 2014, a alíquota única de 5%
de ITCD sobre o valor da herança líquida, alterando as alíquotas
escalonadas da redação original de acordo com o valor dos bens. O
Art. 23353 do referido Decreto, com as alterações dadas pelo Decreto n.
45.115, de 18 de junho de 2009, prevê a concessão de desconto de 15%
se o contribuinte apresentar à Administração fazendária a Declaração
de Bens e Direitos e efetuar o pagamento do imposto no prazo de
noventa dias a contar da abertura da sucessão. Transcorrido o prazo, o
contribuinte perde o desconto e terá que recolher o imposto no prazo
de cento e oitenta dias da transmissão da herança (Art. 26), aplicando-
se, a partir dessa data, multa de mora (Art. 36). (MINAS GERAIS, 2003)

A alíquota aplicada no Estado mineiro é de 5% (cinco por cento) sobre o


valor da herança líquida.

O autor segue apresentando a aplicação do imposto no Estado do Rio


Grande do Sul, que também apresenta isenções, e fixa alíquotas variáveis de 0
a 6%, de acordo com o valor da totalidade dos bens na transmissão causa mortis.
Conforme Carvalho (2020, p. 168):

O Estado do Rio Grande do Sul isenta do ITCD o imóvel urbano,


desde que o recebedor seja descendente, ascendente, cônjuge ou a ele
equiparado, do transmitente, não seja proprietário de outro imóvel
e não receba mais do que um imóvel na herança, desde que o valor
não ultrapasse o equivalente a 4.379 UPF-RS, ou seja, até R$ 82.366,36,
bem como, nas mesmas condições, o imóvel rural de até vinte e cinco
hectares de terras, desde que o valor não ultrapasse o equivalente a 6.131
UPF-RS, até o valor de R$ 115.320,43 (art. 7°, I e IV, da Lei Estadual n.

172
TÓPICO 2 — BENS, DESCRIÇÃO, VALORES E OS IMPOSTOS CAUSA MORTIS ITCM-D E OUTROS

8.821/1989, com as atualizações introduzidas pela Lei n. 14.741/2015).


O Estado gaúcho fixou alíquotas de 4% na transmissão causa mortis e
de 3% na transmissão por doação, de acordo com a nova redação dada
pela Lei n. 13.337/2009.
A Lei n. 14.741/2015-RS deu nova redação ao Art. 18 da Lei n.
8.821/1989, alterando a alíquota fixa de 4% na transmissão  causa
mortis, estabelecendo alíquotas variáveis de 0 a 6%, de acordo com o
valor da totalidade dos bens. O valor da alíquota passou a obedecer à
seguinte tabela:
Art. 18. Na transmissão “causa mortis”, a alíquota do imposto é definida
com base no resultado da soma dos valores venais da totalidade dos
bens imóveis situados neste Estado, bens móveis, títulos, créditos,
ações, quotas e valores, de qualquer natureza, bem como dos direitos a
eles relativos, compreendidos em cada quinhão, avaliados nos termos
do Art. 12, aplicando-se a seguinte tabela: (Redação dada pelo Art.
1° da Lei n. 14.741, de 24-9-2015 (DOE 25-9-2015) – Efeitos a partir

A UPF-RS para o ano de 2020 é de R$ 20,2994.


Dispõe, ainda, o inciso I do Art. 18 que, ocorrendo sobrepartilha,
com efeitos a partir de 1° de janeiro de 2016, “o valor a sobrepartilhar
relativo a cada quinhão será somado ao valor partilhado, tornando-
se devida a complementação do imposto sobre o valor partilhado
se houver mudança de faixa em função do referido acréscimo”.
Considera-se o valor da UPF-RS na data da avaliação (inciso III).

Transcrevemos as informações de Carvalho (2020, p. 169) ipsis litteris, pela


importância da pesquisa e até para homenagear o autor:

No Estado de São Paulo, a Lei n. 10.705/2000, atualizada até a Lei


n. 16.050/2015, dispõe em seu Art. 6°, I, que fica isenta do imposto a
transmissão causa mortis:
a) de imóvel de residência, urbano ou rural, cujo valor não ultrapassar
5.000 (cinco mil) Unidades Fiscais do Estado de São Paulo –
UFESPs e os familiares beneficiados nele residam e não tenham
outro imóvel;
b) de imóvel cujo valor não ultrapassar 2.500 (duas mil e quinhentas)
UFESPs, desde que seja o único transmitido;
c) de ferramenta e equipamento agrícola de uso manual, roupas,
aparelho de uso doméstico e demais bens móveis de pequeno valor
que guarneçam os imóveis referidos nas alíneas anteriores, cujo
valor total não ultrapassar 1.500 (mil e quinhentas) UFESPs;
d) de depósitos bancários e aplicações financeiras, cujo valor total não
ultrapassar 1.000 (mil) UFESPs;

173
UNIDADE 3 — DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

e) de quantia devida pelo empregador ao empregado, por Institutos


de Seguro Social e Previdência, oficiais ou privados, verbas e
prestações de caráter alimentar decorrentes de decisão judicial em
processo próprio e o montante de contas individuais do Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço e do Fundo de Participações PIS-
PASEP, não recebido em vida pelo respectivo titular;
f) na extinção do usufruto, quando o nu-proprietário tiver sido o
instituidor.
A UFESP possui o valor de R$ 27,61 no ano de 2020, isentando o imóvel
residencial na parte tributável até o valor de R$ 128.500,00.
A Lei Paulista n. 10.705/2000, em seu art. 35, revogou a Lei Estadual
n. 9.591/66, entrando em vigor no dia 1° de janeiro de 2001, e inovou
ao introduzir o ITCMD de forma progressiva, com isenção até 2.500
UFESPs, alíquota de 2,5%, até o montante dos bens tributáveis
correspondente a 12.000 UFESPs e aplicação da alíquota de 4% acima
desse limite (Arts. 6°  e 16), calculando-se o imposto devido com a
soma total da quantia, apurada na operação de aplicação sobre cada
uma das parcelas em que vier a ser decomposta a base de cálculo (Art.
16, parágrafo único).
A Lei Estadual n. 10.992/2001, publicada no dia 21 de dezembro de
2001, produzindo efeitos a partir do dia 1°  de janeiro de 2002 (art.
4°), entretanto, deu nova redação ao Art. 16 da Lei n. 10.705/2000,
retornando à alíquota única da legislação anterior, ao dispor que: “O
imposto é calculado aplicando-se a alíquota de 4% (quatro por cento)
sobre o valor fixado para a base de cálculo”.
Assim, no Estado de São Paulo, a alíquota do ITCMD é única de 4%,
exceto no período de 1° de janeiro a 31 de dezembro de 2001, em que
vigorou o imposto progressivo, mantidas as isenções do Art. 6°.

Nesse caso, a lei paulista estabelece alíquota única de 4% (quatro por


cento), atualmente, na transmissão causa mortis.

Para o Estado do Rio de Janeiro, o autor também apresenta isenção,


caducidade e as hipóteses de incidência do imposto sobre Transmissão Causa
Mortis e Doação – ITD, com suas alíquotas, que, para o Estado fluminense, a
legislação também aplica uma tabela progressiva de 4% a 8%:

No Estado do Rio de Janeiro, o Imposto sobre Transmissão  Causa


Mortis e Doação – ITD é regulado atualmente pela Lei n. 7.174, de 28
de dezembro de 2015, que revogou a Lei Estadual n. 1.427/89. O Art.
8° trata das isenções, incluindo as doações e transmissão causa mortis,
dispondo nos incisos IV, VI, VII, XI, XII, XIII e XIV que são isentos de
recolhimento do imposto causa mortis:
Art. 8° (...)
IV- a caducidade ou extinção do fideicomisso, com a consolidação da
propriedade na pessoa do fiduciário ou do fideicomissário;
(...)
VI- a transmissão causa mortis de valores não recebidos em vida pelo
falecido, correspondentes a salário, remuneração, rendimentos
de aposentadoria e pensão, honorários e saldos das contas
individuais do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS e
do Fundo de Participação PIS-PASEP, excluídos os casos de que
trata o Art. 23;
VII- a transmissão  causa mortis  de bens e direitos integrantes de
monte-mor cujo valor total não ultrapasse a quantia equivalente
a 13.000 (treze mil) Unidades Fiscais de Referência do Estado do
Rio de Janeiro (UFIRs-RJ);
(...)
XI- a transmissão  causa mortis  de imóveis residenciais a pessoas
físicas, desde que a soma do valor dos mesmos não ultrapasse
174
TÓPICO 2 — BENS, DESCRIÇÃO, VALORES E OS IMPOSTOS CAUSA MORTIS ITCM-D E OUTROS

o valor equivalente a 60.000 (sessenta mil) UFIRs-RJ (redação


dada pela Lei n. 7.786/2017);
XII- a transmissão causa mortis de um único imóvel para residência
própria, por única vez, quando feita a herdeiros necessários
de policiais militares e civis, e agentes penitenciários mortos
comprovadamente em decorrência do desempenho da atividade
profissional;
XIII- a transmissão  causa mortis  de imóveis residenciais dos
Programas de Arrendamento Residencial (PAR) e Minha Casa
Minha Vida, observados os valores dos respectivos programas;
XIV- a transmissão causa mortis de imóveis localizados em Unidades
de Conservação da Natureza onde os residentes pertençam
a comunidades tradicionais e quilombolas, devidamente
comprovados, na forma da legislação;
(...)
A base de cálculo é progressiva, adotando-se as alíquotas de 4 a 8%,
de acordo com os valores dos bens, conforme dispõe o Art. 26 da Lei
n. 7.174/2015, com as alterações promovidas pela Lei n. 7.786, de 16 de
novembro de 2017:
Art. 26. O imposto é calculado aplicando-se, sobre o valor fixado para
a base de cálculo, considerando-se a totalidade dos bens e direitos
transmitidos, a alíquota de:
I- 4,0% (quatro e meio por cento), para valores até 70.000 UFIR-RJ;
II- 4,5% (quatro e meio por cento), para valores acima de 70.000
UFIR-RJ e até 100.000 UFIR-RJ;
III- 5,0% (cinco por cento), para valores acima de 100.000 UFIR-RJ e
até 200.000 UFIR-RJ;
IV- 6% (seis por cento), para valores acima de 200.000 UFIR-RJ até
300.000 UFIR-RJ;
V- 7% (sete por cento), para valores acima de 300.000 UFIR-RJ e até
400.000 UFIR-RJ;
VI- 8% (oito por cento) para valores acima de 400.000 UFIR-RJ.
§ 1°  Em caso de sobrepartilha que implique a mudança de faixa de
alíquotas, será cobrada a diferença do imposto, com os acréscimos
legais, sem prejuízo da aplicação das penalidades previstas no Art. 37,
caso não comprovados os requisitos previstos no Código de Processo
Civil.
§ 2°  Aplica-se a alíquota vigente ao tempo da ocorrência do fato
gerador.
A UFIR/RJ possui em 2020 o valor de R$ 3,5550, conforme Resolução
SEFAZ n. 101/2019. Assim, são isentos de imposto de transmissão os
imóveis residenciais que não ultrapassem o valor de R$ 213.300,00
(Art. 8°, XI, da Lei n. 7.786/2017) (CARVALHO, 2020, p. 170).

O Estado de Goiás, conforme Carvalho (2020, p. 170), tem o ITCD instituído


“pela Lei Estadual n. 10.721/1988 e atualmente é regulado pela Lei Estadual n.
11.651/1991 (Código Tributário Estadual), fixando alíquotas progressivas. As
alíquotas foram alteradas pela Lei n. 19.021/2015, aumentando [...] os valores a
partir de 1° de janeiro de 2016, dispondo o Art. 78”:

Art. 78. As alíquotas progressivas do ITCD são:


I- de 2% (dois por cento), quando o valor da base de cálculo for até
R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais);
II- de 4% (quatro por cento), sobre o valor da base de cálculo que
exceder a R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais) até R$ 200.000,00
(duzentos mil reais);

175
UNIDADE 3 — DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

III- de 6% (seis por cento), sobre o valor da base de cálculo que exceder
a R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) até R$ 600.000,00 (seiscentos
mil reais);
IV- de 8% (oito por cento), sobre o valor da base de cálculo que
exceder a R$ 600.000,00 (seiscentos mil reais).
São isentos de pagamento de imposto de transmissão  causa mortis  o
herdeiro ou legatário que fora aquinhoado com um bem imóvel (Art. 79):
a) urbano, edificado, destinado à moradia própria ou de sua família,
desde que, cumulativamente:
1. o beneficiário não possua outro imóvel residencial;
2. a doação, a legação ou a participação na herança limite-se a esse
bem;
3. o valor do bem seja igual ou inferior a R$ 25.000,00 (vinte e cinco
mil reais);
b) rural, cuja área não ultrapasse o módulo da região;

E, por último, o Estado sede de nossa Instituição de Ensino, Santa Catarina,


que, conforme a pesquisa de Carvalho (2020, p. 170):

O Estado de Santa Catarina também fixou alíquotas progressivas


para cobrança do imposto sobre transmissão causa mortis – ITCMD,
dispondo no Art. 9°  da Lei n. 13.136/2004 que as alíquotas para a
cobrança são de:
I- um por cento sobre a parcela da base de cálculo igual ou inferior
a R$ 20.000,00 (vinte mil reais);
II- três por cento sobre a parcela da base de cálculo que exceder a
R$ 20.000,00 (vinte mil reais) e for igual ou inferior a R$ 50.000,00
(cinquenta mil reais);
III- cinco por cento sobre a parcela da base de cálculo que exceder
a R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) e for igual ou inferior a R$
150.000,00 (cento e cinquenta mil reais);
IV- sete por cento sobre a parcela da base de cálculo que exceder a R$
150.000,00 (cento e cinquenta mil reais); e
V- oito por cento sobre a base de cálculo, quando o sucessor for
parente colateral ou herdeiro testamentário ou legatário, que não
tiver relação de parentesco com o de cujus; e quando o donatário
ou cessionário for parente colateral ou não tiver relação de
parentesco com o doador ou cedente.
O Estado catarinense isenta do ITCMD, conforme disposto no Art. 10
da Lei n. 13.136/2004:
a) o testamenteiro, com relação ao prêmio instituído pelo testador,
desde que o valor deste não exceda à vintena testamentária;
b) o beneficiário de seguros de vida, pecúlio por morte e
vencimentos, salários, remunerações, honorários profissionais e
demais vantagens pecuniárias decorrentes de relação de trabalho,
inclusive benefícios da previdência, oficial ou privada, não
recebidos pelo de cujus;
c) o herdeiro, o legatário ou o donatário que houver sido aquinhoado
com um único bem imóvel, que se destine à moradia própria do
beneficiário; não possua qualquer outro bem imóvel; e o valor
total do imóvel não seja superior a R$ 20.000,00 (vinte mil reais);
d) o herdeiro, o legatário ou o donatário, quando o valor dos bens ou
direitos recebidos não exceder ao equivalente a R$ 2.000,00 (dois
mil reais).

176
TÓPICO 2 — BENS, DESCRIÇÃO, VALORES E OS IMPOSTOS CAUSA MORTIS ITCM-D E OUTROS

Essa legislação catarinense inicia com a alíquota de 1%, todavia vai até
8%. As isenções não são consideradas como grandes benefícios, pois, realmente o
seguro de vida deixado pelo falecido, não faz parte do seu espólio, logo, não cabe
a incidência do imposto. E, quanto a isenção de quem receber o único bem imóvel
que lhe sirva de moradia, de valor não superior a R$ 20.000,00 (vinte mil reais), é
bem difícil nos dias atuais encontrar tal imóvel nesse valor.

4.4 ÓRGÃO FAZENDÁRIO RESPONSÁVEL PELO


RECOLHIMENTO
Na maioria dos Estados da Federação, o Órgão Fazendário responsável
pelo recolhimento do Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação – ITCM-D
é a Secretaria de Estado da Fazenda – SEFAZ.

FIGURA 11 – SÍTIO ELETRONICO SEFAZ SC

FONTE: <https://www.sef.sc.gov.br/servicos/assunto/45/ITCMD>. Acesso em: 26 jul. 2021.

4.5 NOÇÕES PRÁTICAS SOBRE A DECLARAÇÃO


DE INFORMAÇÕES (DIEF) E O DOCUMENTO DE
ARRECAÇÃO ESTADUAL (DARE)
Acadêmico, por se tratar de noções práticas, vamos anexar uma
Declaração de Informações Econômicas Fiscais – DIEF, que nesSe caso, é um
modelo apresentado no Estado de Santa Catarina. Para o preenchimento desse
formulário, é necessário entrar no sistema da SEFAZ/SC e após preencher um
PROTOCOLO com uma SENHA, você inicia a DIEF.

O formulário é intuitivo, à medida que você vai preenchendo, novos


campos serão abertos, e, se alguma informação não está correta, ou está incompleta,
o sistema acusa e você precisa resolver essa inconformidade, para seguir adiante.

Importante ressaltar que essa situação é aplicada no Estado de Santa


Catarina, conforme frisamos no decorrer dos apontamentos, trata-se de um imposto
Estadual, sendo que cada Estado membro da Federação tem suas normativas.
177
UNIDADE 3 — DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

4.5.1 Declaração de Informações Econômicas Fiscais - DIEF


Segue o modelo de uma DIEF. Trata-se de um caso real, onde os dados
foram ocultados.

FIGURA 12 – DIEF/ITCM-D

178
TÓPICO 2 — BENS, DESCRIÇÃO, VALORES E OS IMPOSTOS CAUSA MORTIS ITCM-D E OUTROS

179
UNIDADE 3 — DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

FONTE: Adaptada do arquivo da autora

180
TÓPICO 2 — BENS, DESCRIÇÃO, VALORES E OS IMPOSTOS CAUSA MORTIS ITCM-D E OUTROS

4.5.2 Documento de Arrecadação de Receitas


Estadual – DARE
Esse é o nome do documento no Estado de Santa Catarina, e esta é a guia
com que se recolhe o tributo.

Segue o modelo do DARE, que é respectivo à DIEF mostrada na figura


anterior.

FIGURA 13 – DARE/ITCMD

FONTE: Arquivo pessoal autora

181
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os bens são transmitidos do falecido aos herdeiros no momento da morte,


todavia, é com a formalidade do processo de inventário e partilha, com sua
finalização no registro da escritura no Registro de Imóveis – para os bens imóveis
– que se transmite a propriedade, que até então, estava em nome do espólio.

• Os valores informados nos bens do inventário, influenciam diretamente nos


impostos a recolher e nos emolumentos notariais e registrais.

• O imposto de transmissão causa mortis e doação (ITCM-D) é um imposto


estadual, conforme disposição na Constituição Federal, Art. 155.

• O inventariante que, via de regra, é o cônjuge sobrevivente ou o herdeiro que


detiver a herança, é o responsável pela herança, em princípio.

• A responsabilidade do inventariante é excluída se alguns bens se encontram com


os herdeiros, em sua posse, e havendo conivência a respeito, a responsabilidade
não recairá na pessoa do inventariante, e sim do herdeiro que obtiver o bem.

• O inciso IV do Artigo 620 do Código de Processo Civil dispõe sobre a relação


dos bens do inventário, que deve ser completa e individualizada de todos os
bens do espólio.

• Não é suficiente a simples relação dos bens no inventário, é necessária a


individualização, com a descrição e referência de marcas caracterizadoras. A
descrição deve ser completa, mesmo que em comunhão com o cônjuge, e não
apenas da parte ideal.

• O Código de Processo Civil evidencia os parâmetros para a descrição dos


imóveis no inventário, com as suas especificações, nomeadamente local em que
se encontram, extensão da área, limites, confrontações, benfeitorias, origem
dos títulos, números das matrículas e ônus que os gravam.

• Quanto aos bens móveis, devem ser descritos no inventário com os sinais
característicos, com apresentação de documento comprobatório e valor. Por
exemplo, ao descrever um veículo, é necessário apontar, além da marca,
o número do chassi e o das placas, com outros dados como a cor, o ano de
fabricação, à capacidade e até ao seu estado de conservação.

182
• Quanto aos semoventes, no processo de inventário, devem ser descritos com a
referência ao seu número, às suas espécies, às marcas e aos sinais distintivos,
inclusive a raça, se for o caso. O número de reses, mas por raça, ou peso
aproximado, pois naturalmente essas diferenças importam em estimativas
econômicas diferentes.

• Na descrição dos bens, também se enumeram o dinheiro encontrado ou


depositado em bancos, as joias, os objetos de ouro e prata e as pedras preciosas,
declarando-se-lhes especificadamente a qualidade, o peso e a importância. As
joias, constarão o tipo, os quilates em ouro e a destinação.

• No inventário arrolam-se também os títulos da dívida pública, bem como as ações,


as quotas e os títulos de sociedades, mencionando o número, o valor e a data.

• Também deve ser informado no inventário as dívidas, indicando as datas, os


títulos, a origem da obrigação e os credores/devedores.

• Há direitos reais que se transmite aos herdeiros, outros não. As servidões, por
exemplo, podem ser transmitidas aos herdeiros, dependendo como foram
constituídas. Todavia, o usufruto, a habitação, são direitos reais sobre coisas
alheias que não se transmite aos herdeiros.

• Se no rol de bens do falecido constar alguma propriedade no estrangeiro, há


uma proibição de o inventário ser processado extrajudicialmente.

• O valor dos bens é declarado pelos herdeiros, que poderá divergir da estimativa
exigida pela Fazenda Pública.

• A Constituição Federal determina a competência dos Estados Membros da


Federação para instituir impostos sobre a transmissão causa mortis e doação,
de quaisquer bens ou direito.

• Não cabe discutir no curso do processo de inventário, se o imposto foi recolhido


corretamente. Como o imposto tem seu lançamento por homologação, cabe a
Fazenda Estadual se pronunciar se houver discordância no recolhimento.

• A Fazenda Estadual tem prazo de cinco anos a contar do fato gerador, que é a
morte, para se pronunciar, a partir daí considera-se homologado o lançamento
e definitivamente extinto o crédito fazendário.

• O recolhimento do imposto de transmissão causa mortis deve ser feito no


momento que antecede a partilha e a lavratura da escritura, conforme Art. 192
do Código Tributário Nacional.

• Os Estados da Federação apresentam siglas distintas para tratar do mesmo


tributo: ITCD/MG; ITCMD/SP; ITD/RJ.

183
• A base de cálculo, que também obedece a legislação de cada Estado da
Federação, para se apurar o quantum devido para o recolhimento do tributo,
é a herança líquida, e não o total do patrimônio. Havendo renúncia, sobre ela
não há incidência de imposto.

• Por ser de competência dos Estados Membros o imposto de transmissão causa


mortis, a legislação estadual tratará das alíquotas aplicadas em cada Estado,
com suas isenções, quando for o caso.

• Em alguns Estados da Federação, o órgão que se ocupa do recolhimento do Imposto


de Transmissão Causa Mortis é a SEFAZ – Secretaria de Estado da Fazenda.

• O documento que especifica detalhadamente o imposto a recolher chama-se


Declaração de Informações Econômico-Fiscais – DIEF e a guia para o recolhimento
se chama Documento de Arrecadação de Receita Estadual – DARE.

184
AUTOATIVIDADE

1 Os bens são transmitidos do falecido aos herdeiros no momento da morte,


todavia, é com a formalidade do processo de inventário e partilha, com sua
finalização no registro da escritura no Registro de Imóveis – para os bens
imóveis – que se transmite a propriedade. Sobre a propriedade dos imóveis
antes do registro da escritura de inventário no Registro de Imóveis, assinale
a alternativa CORRETA:

a) ( ) A propriedade dos bens imóveis, antes do registro da escritura de


inventário e partilha pertencia ao espólio.
b) ( ) A propriedade dos bens imóveis, antes do registro da escritura de
inventário e partilha pertencia ao autor da herança.
c) ( ) A propriedade dos bens imóveis, antes do registro da escritura de
inventário e partilha pertencia ao de cujus.
d) ( ) A propriedade dos bens imóveis, antes do registro da escritura de
inventário e partilha pertencia ao falecido.

2 O Código de Processo Civil, em especial o inciso IV do Artigo 620, dispõe


sobre a relação dos bens do inventário, informando que deve ser completa
e individualizada de todos os bens do espólio, pois, não é suficiente a
simples relação dos bens no inventário, é necessária a individualização,
com a descrição e referência de marcas caracterizadoras. A descrição deve
ser completa, mesmo que em comunhão com o cônjuge, e não apenas da
parte ideal. Com base no CPC, analise as sentenças a seguir:

I- O Código de Processo Civil evidencia os parâmetros para a descrição dos


imóveis no inventário, com as suas especificações, nomeadamente local em
que se encontram, extensão da área, limites, confrontações, benfeitorias,
origem dos títulos, números das matrículas e ônus que os gravam.
II- Quanto aos bens móveis, devem ser descritos no inventário com os sinais
característicos. Todavia, basta declarar determinado valor, nãos sendo
necessária a apresentação de documento comprobatório.
III- Quanto aos semoventes, no processo de inventário, devem ser descritos
com a referência ao seu número, as suas espécies, às marcas e aos sinais
distintivos, inclusive a raça, se for o caso. O número de reses, mas por
raça, ou peso aproximado, pois naturalmente essas diferenças importam
em estimativas econômicas diferentes.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

185
3 Com relação ao Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação, que é o
imposto devido e deve ser recolhido antes da partilha dos bens do falecido.
Esse imposto é devido nos casos em que há transferência de bens de uma
pessoa falecida a seus herdeiros/sucessores. De acordo com o que reza a
Constituição Federal e a legislação tributária, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:

( ) A Constituição Federal determina a competência dos Estados Membros


da Federação para instituir impostos sobre a transmissão causa mortis e
doação, de quaisquer bens ou direito.
( ) O fato gerador do imposto é o negócio jurídico, ou seja o momento da
lavratura da escritura pública de inventário e partilha.
( ) O recolhimento do imposto de transmissão causa mortis deve ser feito
no momento que antecede a partilha e a lavratura da escritura, conforme
Art. 192 do Código Tributário Nacional.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 Em regra, é a Secretaria de Estado da Fazenda (SEFAZ) que é o órgão


do Estado da Federação responsável pelo recolhimento do ITCM-D.
Esse imposto é recolhido no processo de inventário, sem, contudo, nesse
momento, a Fazenda Estadual arguir, dentro do processo, qualquer
inobservância com relação aos valores recolhidos. Disserte sobre o Imposto
de Transmissão de Bens Causa Mortis e Doação, seu lançamento e o que
acontece se a Fazenda não concordar com o valor recolhido.

5 A Constituição Federal atribuiu competência para os Estados Membros


da Federação para instituir o Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis
e Doação. Os Estados não seguem a mesma regra, apresentam inclusive
siglas distintas para tratar o mesmo tributo: ITCD/MG; ITCMD/SP; ITD/RJ,
por exemplo. Nesse contexto, disserte sobre como se comporta a base de
cálculo e as alíquotas desse imposto nos Estados da Federação.

186
TÓPICO 3 —
UNIDADE 3

FORMALIDADES DA ESCRITURA DE INVENTÁRIO E PARTILHA

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, chegamos ao Tópico 3 da Unidade 3, o que significa que
chegamos ao último tópico da última Unidade do nosso Livro de Estudos! Aqui
merece uma reflexão: sempre que percorremos um longo caminho, seja ele em
linha reta, ou subindo um monte, vamos deixando algo passar em nossas vidas,
vamos aprendendo nessa caminhada ... Com o avanço em nossos estudos acontece
a mesma coisa. Você lembra que foi advertido que a Unidade 1 teria um aporte
teórico? Então, você foi desafiado à construção de uma abordagem teórica, para,
agora compreender o que teremos nesta última Unidade, que é a chegada ao topo
da caminhada.

Repassaremos pela questão da Cessão e da Renúncia da herança. Claro


que você já analisou essas temáticas na Unidade 1. Aqui chamaremos mais sua
atenção para aspectos práticos.

Abordaremos temas como os procuradores das partes, lembrando que


na Unidade 2, Subtópico 5 do Tópico 3, analisamos a assistência do advogado,
todavia, essas figuras não se confundem, em que pese o CNJ tenha admitido,
conforme já vimos, pela Resolução n° 179/2013, que o advogado cumule as duas
funções, sendo, ao mesmo tempo, procurador da parte e assistente, na condição
de advogado.

Nesse último tópico, ainda traremos a nomeação do inventariante e o


administrador provisório da herança, que deverá constar da escritura pública de
inventário e partilha.

Apresentaremos, acadêmico, as certidões negativas de débitos, em


especial quanto aos débitos fazendários em nome do “de cujus”. Inicialmente
a Certidão Negativa de Débitos com a União, expedida pela Receita Federal;
Certidão Negativa de Débitos com Fazenda Estadual, expedida, em regra, pela
Secretaria de Estado da Fazenda; Certidão Negativa de Débitos Municipais do
“de cujus” e dos bens imóveis cadastrados em seu nome; além da Declaração de
Inexistência de Débitos Condominiais, em caso de propriedade em condomínio.

Em subtópico que tratará especialmente da matéria, apresentaremos o


tema “sobrepartilha”, que também é admitida no inventário extrajudicial, também
procedida por escritura pública. Em seguida, também em subtópico próprio, será
analisada a Escritura de Retificação da Partilha.
187
UNIDADE 3 — DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Ainda trataremos de um termo atual e muito importante, uma inovação


do Conselho Nacional de Justiça, é a Central de Inventários e de Testamentos,
que se trata de um controle em âmbito estadual. Atualmente administrado
nacionalmente pelo Colégio Notarial do Brasil.

E, para concluir nossos estudos trataremos dos emolumentos da escritura


e da gratuidade. Aqui é importante lembrar que são valores cobrados pelos atos
notarias, cujos tabelionatos devem seguir a orientação da Corregedoria Geral de
Justiça do respectivo Estado Membro da Federação.

Com esse panorama seguimos com nossos passos ao término de nossa


caminhada.

2 CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS


A questão da Cessão de Direitos Hereditários foi analisada no Tópico 6
da Unidade 1. Nessa fase dos nossos estudos, você foi orientado a conhecer o
conceito, a natureza jurídica e o registro da cessão.

Vale a pena destacar novamente:

E
IMPORTANT

A CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS só se opera por Escritura Pública ou


Termo nos Autos (nesse caso para processo judicial). Todavia, para nosso estudo, nosso
radar está voltado apenas para o PROCESSO EXTRAJUDICIAL, então vamos associar
somente à Escritura Pública.

Entre os herdeiros é comum haver essa cessão de direitos hereditários, seja


gratuita ou onerosa. Qual a diferença? A diferença básica é a incidência do imposto.

Quando a cessão é onerosa, não há nenhum conflito em compreender que


é um negócio jurídico “inter vivos”, logo deve ser recolhido o imposto ITBI, para o
fisco municipal. Isso mesmo, recolhe-se o imposto: Imposto de transmissão sobre
bens Imóveis – “Inter Vivos”, cuja competência é do Município (Art. 156, II CF).

A dificuldade surge quando a cessão é gratuita, pois, confunde-se com a


doação, que é uma modalidade de contrato gratuito, admitido no ordenamento
civil brasileiro: “Art. 538. Considera-se doação o contrato em que uma pessoa,
por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra”
(BRASIL, 2002).

188
TÓPICO 3 — FORMALIDADES DA ESCRITURA DE INVENTÁRIO E PARTILHA

A doação é contrato, em regra, gratuito, unilateral e formal ou solene.


Gratuito, porque constitui uma liberalidade, não sendo imposto
qualquer ônus ou encargo ao beneficiário. Será, no entanto, oneroso, se
houver tal imposição. Unilateral, porque cria obrigação para somente
uma das partes. Contudo, será bilateral, quando modal ou com encargo.
Formal, porque se aperfeiçoa com o acordo de vontades entre doador
e donatário e a observância da forma escrita, independentemente da
entrega da coisa (GONÇALVES, 2019, p. 298).

E qual a consequência? A tributação! No caso de transferência gratuita


de bens, a incidência do imposto é de competência do Estado, e aqui é o Estado
Membro da Federação, conforme Art. 155 da Constituição Federal.

Compreendido esse aspecto prático da Cessão de Direitos Hereditários,


vamos passar para a Renúncia.

3 RENÚNCIA DA HERANÇA
Na Unidade 1, subtópico 5, mais precisamente no subtópico 5.2 tratamos
da RENÚNCIA DA HERANÇA com seu conceito, nas palavras de Gagliano e
Pamplona Filho, bem como o que acontece com o sucessor, e ainda a forma que
deve ser feita a renúncia, pois se trata de um negócio jurídico, logo, gerando
efeitos no mundo jurídico, porque sua finalidade é a aquisição, modificação ou
extinção de direito. 

Naquele subtópico dedicado à RENÚNCIA, também se tratou da renúncia


translativa, sustentada por uma parte da doutrina, todavia, em desacordo com a
melhor técnica, para esta autora.

Observe, acadêmico, as figuras jurídicas e seus efeitos para não se


confundir:

• DOAÇÃO – é uma espécie de contrato civil, gratuito e gera imposto estadual


ITCM-D.
• CESSÃO DE DIREITOS GRATUITA – É cessão de direitos entre herdeiros e
gera imposto estadual (trata-se de doação).
• CESSÃO DE DIREITOS ONEROSA – É cessão de direitos entre herdeiros e
gera imposto municipal “inter vivos”.
• RENÚNCIA – o herdeiro renuncia e os efeitos é como se não houvesse “herdeiro”
nesse lugar, tanto que o seu quinhão é repartido aos demais da mesma classe,
ou seja, se a pessoa falecida deixar um bem e três herdeiros, e um dos herdeiros
renunciar, a parte desse irá acrescer aos outros dois, que receberão partes iguais.
NÃO HAVERÁ IMPOSTOS, pois entende-se que não houve transmissão da
herança, haverá para os que aproveitarão a parte renunciada.

Outra parte importante nessa formalidade do processo de inventário diz


respeito aos procuradores das partes, quando existem. Vamos analisar a seguir.

189
UNIDADE 3 — DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

4 PROCURADORES DAS PARTES


E o que é o mandato? É uma espécie de contrato. Reza o Código Civil: “Art.
653. Opera-se o mandato quando alguém recebe de outrem poderes para, em seu
nome, praticar atos ou administrar interesses. A procuração é o instrumento do
mandato” (BRASIL, 2002).

Restando compreendido que estamos diante de mais uma das espécies de


contrato no Direito Civil brasileiro, é necessário saber se existe alguma formalidade
para essa procuração. E, o Código Civil dispõe no Art. 657 que “A outorga do
mandato está sujeita à forma exigida por lei para o ato a ser praticado. Não se
admite mandato verbal quando o ato deva ser celebrado por escrito” (BRASIL,
2002, grifo nosso).

A forma referida pelo legislador, no Artigo 657 do Código Civil, está


em consonância com a disposição da lei processual no Art. 610 [...] § 1° Se
todos forem capazes e concordes, o inventário e a partilha poderão ser feitos
por escritura pública, a qual constituirá documento hábil para qualquer ato
de registro, bem como para levantamento de importância depositada em
instituições financeiras (BRASIL, 2015, grifo nosso). Logo, o ato a ser praticado
é o Inventário extrajudicial – que exige escritura pública – também a procuração
deve ser por instrumento público.

5 APRESENTAÇÃO DAS CERTIDÕES NEGATIVAS DE DÉBITOS


É recomendável que com a petição ao juiz ou o requerimento ao
Tabelionato, juntem-se as certidões negativas de débitos dos tributos federais,
estaduais e municipais, em nome do falecido e as certidões negativas municipais
dos imóveis respectivos.

FIGURA 14 – CERTIDÃO NEGATIVA

FONTE: < http://www.sefaz.feiradesantana.ba.gov.br/?pg=servicosonline>. Acesso em: 26 jul. 2021.

190
TÓPICO 3 — FORMALIDADES DA ESCRITURA DE INVENTÁRIO E PARTILHA

Com a análise e apresentação dos bens do de cujus também se apresentará o


comprovante do pagamento do ITCM-D.

Rizzardo (2019, p. 711) sustenta que “não mais se exige a comprovação,


verificada pela Fazenda Pública, do pagamento de todos os tributos”. Fundamenta
sua alegação na redação do §2° do Art. 659 do Código de Processo Civil:

“Transitada em julgado a sentença de homologação de partilha ou de


adjudicação, será lavrado o formal de partilha ou elaborada a carta
de adjudicação e, em seguida, serão expedidos os alvarás referentes
aos bens e às rendas por ele abrangidos, intimando-se o fisco para
lançamento administrativo do imposto de transmissão e de outros
tributos porventura incidentes, conforme dispuser a legislação
tributária, nos termos do § 2° do Art. 662” (BRASIL, 2015).

O § 2° do Art. 662 dispõe: “O imposto de transmissão será objeto de


lançamento administrativo, conforme dispuser a legislação tributária, não ficando
as autoridades fazendárias adstritas aos valores dos bens do espólio atribuídos
pelos herdeiros” (BRASIL, 2015).

Com tais apontamentos, conclui Rizzardo (2019, 711), “não se inseriu


a condição do prévio pagamento para a expedição dos formais, da carta de
adjudicação ou de certidões e alvarás de pagamentos de quinhões, o que não
significa a dispensa ou que seja possível o registro sem o pagamento dos tributos”.

Ressalvando que no citado §2° do Art. 659 do CPC, “a intimação do fisco


para o lançamento administrativo do imposto de transmissão, o que importa
tão somente que não haverá celeuma na esfera judicial sobre tal matéria. Cabe
à parte acertar-se com o fisco quanto ao tributo, mesmo que se instaure um
procedimento administrativo ou judicial” (RIZZARDO, 2019, p. 711). Todavia, é
importante esclarecer acadêmico, que é somente depois da satisfação do tributo,
que o título poderá ser levado à registro nos competentes Álbuns Fundiários
(Registros de Imóveis).

Amorim e Oliveira (2020, p. 344) concluem que “a exigência das certidões
negativas fiscais é específica para o processo de inventário (Art. 654 do CPC)”.
Com relação à prova do pagamento dos tributos no arrolamento sumário,
apontam: “no arrolamento sumário, a prova de pagamento dos tributos é feita
após a homologação de partilha ou adjudicação, como condição para expedição
do respectivo formal, ou de eventuais alvarás por ele abrangidos” (AMORIM;
OLIVEIRA, 2020, p. 344).

Conforme informamos no início desta temática, é recomendável dar início ao


processo de inventário com todas as certidões, porém, nem sempre isso é possível.
Amorim; Oliveira (2020, p. 344) lembram que “A obtenção das certidões negativas
nem sempre é fácil, como no caso da existência de bens imóveis em diversos
municípios, fazendo ultrapassar o prazo legal de abertura e de encerramento do
processo”. Por essa razão muitas vezes, as certidões são anexadas posteriormente,
sem prejuízo ao inventário, até porque há um prazo para essa abertura, e, não o
sendo cumprido, há a multa sobre o recolhimento do ITCM-D.
191
UNIDADE 3 — DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

5.1 CERTIDÃO NEGATIVA DE DÉBITO EMITIDA PELA


RECEITA FEDERAL
Essa CND é referente aos tributos devidos à União, como o Imposto de
Renda, por exemplo. Segue um modelo dessa Certidão:

FIGURA 15 – CERTIDÃO NEGATIVA DA RECEITA FEDERAL

xxxxx
xxxxxxxx

FONTE: daptada de <https://bit.ly/3oD18N0>. Acesso em: 28 ago. 2021.

5.2 CERTIDÃO NEGATIVA DE DÉBITO DA FAZENDA


ESTADUAL (UNIDADE DA FEDERAÇÃO)
Essa certidão serve para informar que o de cujus não possuía débitos com a
fazenda estadual. Não é exagero lembrar, acadêmico, que esses eventuais débitos
com a fazenda estadual são oriundos de licenciamentos de veículos entre outros
documentos e multas relacionadas com veículos, por exemplo.

Colacionamos aqui um modelo de uma CND estadual:

192
TÓPICO 3 — FORMALIDADES DA ESCRITURA DE INVENTÁRIO E PARTILHA

FIGURA 16 – CERTIDÃO NEGATIVA DE DÉBITOS – CND - ESTADUAL

xxxxx
xxxxxxxxx

FONTE: A autora

193
UNIDADE 3 — DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Outra certidão exigida no processo de inventário é a que se refere a débitos


municipais, vamos ver a seguir.

5.3 CERTIDÃO NEGATIVA DE DÉBITO DO MUNICÍPIO


A Certidão Negativa de Débitos Municipais, como o próprio nome já
sugere, serve para certificar que a pessoa falecida não deixou pendências com a
municipalidade.

Apresentamos um exemplo de CND Municipal, para melhor compreensão:

194
TÓPICO 3 — FORMALIDADES DA ESCRITURA DE INVENTÁRIO E PARTILHA

FIGURA 17 – CERTIDÃO NEGATIVA DE DÉBITOS – CND – MUNICIPAL

xxxxxxxxx
xxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxx
xxxxxxxxx xxxxxxxxx

FONTE: <https://brusque.atende.net/autoatendimento/servicos/ficha-de-lancamento-
do-imovel/detalhar/1>. Acesso em: 5 maio 2021.

195
UNIDADE 3 — DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

5.4 DECLARAÇÃO DE QUITAÇÃO DO CONDOMÍNIO


Acadêmico, quando um imóvel é situado em Condomínio Edilício, ou
seja, quando comungam no mesmo imóvel, partes que são propriedade exclusiva
e parte de propriedade comum de todos os demais condôminos, nosso Código
Civil estabelece que esse Condomínio será administrado por um síndico.

Na parte da propriedade que é comum a todos os condôminos, é certo que


haverá rateio das despesas para suprir tais gastos, sejam de que natureza for. E, para
tanto, falecendo uma pessoa que tinha em seu patrimônio alguma propriedade
em condomínio, também é necessária a apresentação da DECLARAÇÃO DE
QUITAÇÃO DO CONDOMÍNIO.

Essas obrigações de pagar o rateio das despesas da propriedade comum,


chamam-se obrigações “propter rem” – obrigações próprias da coisa. Aqui, embora
seja necessária a declaração de quitação do condomínio, a dívida é da coisa/do
imóvel, ou seja, segue o imóvel.

196
TÓPICO 3 — FORMALIDADES DA ESCRITURA DE INVENTÁRIO E PARTILHA

FIGURA 18 – CERTIDÃO NEGATIVA DE DÉBITOS – CND – CONDOMINIAIS

xxxxxx

xxxx xxxxxxxx
xxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxx
xxx xxxxxxxxx xxxxxxxxxxxx

xxxxxxx xxxxxx xxxxxx xxxxxxxx xxxxxxxx


xxxx xxx

xxxxxxx xxxxxx xxxx xxxxx xxxxxxxx


xxxxxx xxxxxx xxxxx xxxxxxxx xxxxxxxx
xxxxx xxxxxx xxxxxx xxxxxxx xxxxxxx

FONTE: Arquivo pessoal da autora

Passadas essas informações sobre a apresentação das CERTIDÕES


NEGATIVAS para o Inventário, vamos entender um pouco o que é a “sobrepartilha
extrajudicial”.

197
UNIDADE 3 — DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

6 SOBREPARTILHA EXTRAJUDICIAL
Havendo bens que ficaram fora do inventário, serão sobrepartilhados, em
procedimento semelhante ao da partilha, em uma nova escritura, especialmente
lavrada para tal. Logo, podemos entender que a sobrepartilha é a repartição de
bens posteriormente à partilha, por terem ficado fora do inventário.

Orlando Fida e Carlos A. M. Guimarães apud Rizzardo (2019, p. 695)


caracterizam a sobrepartilha, “[...] em termos mais completos a espécie:”

A sobrepartilha é o procedimento via do qual, encerrado o inventário e


julgada ou homologada a partilha, bens ou direitos outros, pertencentes
ao  de cujus, não conhecidos ou identificados, ou, ainda, sendo
conhecidos, por motivos indicados como prejudiciais à celeridade do
feito, não se incluíram nos quinhões dos interessados. É mesmo uma
outra partilha. Tem curso nos próprios autos do inventário, em apenso.

Amorim e Oliveira (2020, p. 786) simplificam a noção de sobrepartilha


quando expõem que “a sobrepartilha nada mais é que um complemento da
partilha anteriormente feita, em virtude de terem sido omitidos bens que deveriam
ser atribuídos aos sucessores”. Todavia, Rizzardo (2019, p. 695), ressalta que “...
alguns problemas ou questões complexas podem surgir. Em primeiro lugar, a
rigor tem-se uma nova ação, ou um novo inventário. E assim deve ser tratada
a sobrepartilha. Em consequência, seguem-se os trâmites do inventário, com a
nomeação de inventariante, ...” E, Rizzardo (2019, p. 695), invoca o Art. 670 do
Código Processual Civil: “Na sobrepartilha dos bens, observar-se-á o processo de
inventário e de partilha” (BRASIL, 2015).

O que é necessário na sobrepartilha, conforme Rizzardo (2019), é a


necessidade de novo instrumento procuratório aos advogados, se já findo o
inventário, eis que cessados os poderes de representação concedidos no inventário.

Nessa senda, Rizzardo (2019, p. 693) também nos lembra que o


parágrafo único do Art. 670 do CPC, indica que “a sobrepartilha correrá nos
autos do inventário do autor da herança”. E traz o entendimento adotado pela
jurisprudência: “findo o inventário, pode ocorrer prorrogação de atribuições ao
inventariante para dar cumprimento às obrigações do espólio ou retificações nos
moldes estabelecidos no Art. 1.028 do CPC”. O mencionado Art. 1.028 corresponde
ao Art. 656 do vigente CPC, nos lembra Rizzardo (2019, p. 693).

O Art. 669 do Código de Processo Civil apresenta os bens sujeitos à


sobrepartilha:

Art. 669. São sujeitos à sobrepartilha os bens:

I- sonegados;
II- da herança que se descobrirem após a partilha;
III- litigiosos, assim como os de liquidação difícil ou morosa;
IV- situados em lugar remoto da sede do juízo onde se processa o
inventário (BRASIL, 2015).
198
TÓPICO 3 — FORMALIDADES DA ESCRITURA DE INVENTÁRIO E PARTILHA

Os bens sonegados podem ser entendidos como “aqueles ocultos ou não


revelados pelo inventariante ou herdeiro, e que pertencem ao espólio, sendo
descobertos e mesmo arrecadados no curso ou depois do inventário” (RIZZARDO,
2019, p. 695).

Interessante, acadêmico, que Aldyr Dias Vianna apud Rizzardo elucida


a questão dos “sonegados” com a seguinte definição: “A sonegação consiste em
ato negativo, omissão, no tocante ao bem que devia ter sido descrito e entrado no
inventário e partilha. Basta que o herdeiro ou o inventariante saiba que o bem não
foi declarado, inventariado, arrolado e partilhado” (RIZZARDO, 2019, p. 695).

Na classificação dos “litigiosos” entende-se “o patrimônio que está


sendo discutido em juízo, ou se encontra não definido quanto à posse, ou à sua
titularidade. Nessa classe estão os bens objeto de usucapião, de ações possessórias
e reivindicatórias, e mesmo aqueles onerados, em via de execução, ou ainda em
discussão judicial” (RIZZARDO, 2019, p. 695).

Seguindo o inciso III do Artigo 669 do CPC também encontramos “os de


liquidação difícil ou morosa”. Esses, para Rizzardo (2019, p. 695) são aqueles que
“ficam para uma posterior divisão pelo fato de não se conhecer, ainda, o seu valor
definitivo, ou o equivalente em expressão econômica”. O que pode acontecer nos
casos de dissolução de uma sociedade comercial, na ação de prestação de contas,
e mesmo em uma ação indenizatória, cujo valor está na dependência de uma
liquidação por artigos; são exemplos citados por Rizzardo (2019).

Os bens situados em lugar remoto, distante da comarca onde se processa


o inventário, também entram na sobrepartilha, dadas as dificuldades para estimá-
los economicamente.

Rizzardo (2019, p. 695) também nos apresenta a categoria dos bens

Advindos da anulação de uma venda de ascendente a descendente,


na orientação do Superior Tribunal de Justiça: “A ação de anulação
de venda realizada pelo ascendente a descendente pode ser proposta
por qualquer dos lesados, independentemente do consentimento dos
demais; se procedente à demanda, os efeitos da sentença aproveitarão
ao espólio, refletindo-se, pela sobrepartilha, nos outros interessados,
embora inertes, por se tratar de litisconsórcio unitário.

O Art. 2.021 da lei civil possibilita a partilha posterior:

Quando parte da herança consistir em bens remotos do lugar do


inventário, litigiosos, ou de liquidação morosa ou difícil, poderá
proceder-se, no prazo legal, à partilha dos outros, reservando-se
aqueles para uma ou mais sobrepartilhas, sob a guarda e administração
do mesmo, ou diverso inventariante, e consentimento da maioria dos
herdeiros (BRASIL, 2002).

199
UNIDADE 3 — DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Em continuação, o Art. 2.022: “Ficam sujeitos à sobrepartilha os bens


sonegados e quaisquer outros bens da herança de que se tiver ciência após a partilha”.

Assim, aparecendo mais patrimônio depois da partilha, leva-se à


sobrepartilha, com o recolhimento do competente imposto de transmissão.

E
IMPORTANT

Conforme orientação da Corregedoria Geral de Justiça do Estado de São


Paulo, é possível a sobrepartilha por escritura pública, mesmo que o inventário e partilha já
findo, foi judicialmente; mesmo em que o herdeiro, hoje maior e capaz, fosse incapaz ao
tempo do óbito ou do processo judicial (item 120 do Provimento n. 33/2007 da CGJ-SP).

Outro assunto que é importante é a retificação da partilha, vamos seguir.

7 ESCRITURA DE RETIFICAÇÃO DA PARTILHA


A escritura de retificação da partilha é um ato do tabelião que visa
alterar/retificar alguma anormalidade no contexto partilhado. Para isso é
necessário lavrar uma nova escritura pública chamada “escritura púbica de re-
ratificação”. Porque alguns atos serão retificados e os demais serão ratificados,
pois permanecerão sem alteração.

Amorim e Oliveira (2020, p. 870), lecionam que: “Verificada a existência


de erros na partilha, pode ser feita a retificação por meio de escritura pública,
com as mesmas formalidades do ato original, desde que compareçam todos os
interessados”.

Na ocorrência de erros materiais, como nas retificações na descrição


dos bens e na menção a nomes e a documentação das partes (como RG, CPF),
segundo Amorim e Oliveira (2020, p. 870) “a retificação faz-se por ata notarial,
pelo próprio tabelião, em procedimento de ofício ou a requerimento de qualquer
das partes ou de seu procurador”.

Se já houve registro da escritura de partilha, será necessário que a


escritura de re-ratificação da partilha seja averbada à margem do ato registral,
para que surta os efeitos legais seguindo os princípios da continuidade dos
registros públicos.

Trataremos no subtópico seguinte sobre a novidade que é a Central de


inventários e de testamentos.

200
TÓPICO 3 — FORMALIDADES DA ESCRITURA DE INVENTÁRIO E PARTILHA

8 CENTRAL DE INVENTÁRIOS E DE TESTAMENTOS


Amorim e Oliveira (2020, p. 869), esclarecem que:

Por determinação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), os Tribunais


estaduais se obrigaram a criar um órgão de controle das escrituras de
inventário e partilha no âmbito estadual, possibilitando as buscas por
qualquer interessado em obter acesso e cópia do ato notarial. Em São
Paulo, criou-se a Central de Inventários, a cargo do Colégio Notarial,
com acesso pelo site www.notarialnet.org.br.

ATENCAO

A autora manteve o endereço eletrônico informado pelos autores. Todavia,


a Central de Inventários do Estado de São Paulo, está a cargo do Colégio Notarial no sítio
eletrônico www.canp.org.br.

Entendem os autores que “mostra-se de grande utilidade esse órgão


centralizador de informações, para conhecimento das escrituras pelos interessados
e eventuais credores do espólio, em vista da possibilidade de serem os atos
realizados em qualquer tabelionato do país” (AMORIM; OLIVEIRA, 2020, p. 870).

Também com relação aos testamentos, os órgãos estaduais da justiça


fizeram criar uma Central de Testamentos, que veio a ser administrada em
âmbito nacional pelo Colégio Notarial do Brasil. Possibilitando rápida pesquisa e
o fornecimento de certidão de escrituras de testamento público.

Registra-se que mesmo nos processos judiciais, os magistrados têm


solicitado a apresentação, nos Autos do Processo, da respectiva certidão de
testamento. Veja o exemplo:

7. Documentos necessários2

Confiro à inventariante ora nomeada o prazo de 20 (vinte) dias para juntar


aos autos os seguintes documentos:

7. a) certidões de óbito da autora da herança e do herdeiro xxxxxxx atualizadas


(com data de expedição não superior a 60 dias):
7. b) certidão de casamento da autora da herança atualizada (com data de
expedição não superior a 60 dias):
7. c) certidão acerca da (in)existência de testamentos públicos ou de instrumentos
de aprovação de testamentos cerrados3.

201
UNIDADE 3 — DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

NOTA

O exemplo, supracitado, foi extraído de processo judicial patrocinado pela


autora, de modo que as informações sobre as partes e referência sobre o processo, será
mantida sob sigilo, por preceitos éticos da advocacia. Todavia, entendeu-se a importância
de oportunizar essa ciência a você, acadêmico.

Nesse pedido, o magistrado, em nota de rodapé, esclarece a existência do


Enunciado Administrativo n. 50, que aquela Vara Cível (2ª Vara Cível da Comarca
de Joinville/SC) editou:

3.2a Vara Cível da comarca de Joinville, Enunciado Administrativo n.


50. A certidão acerca da (in)existência de testamentos públicos ou de
instrumentos de aprovação de testamentos cerrados deve ser obtida
pelas próprias partes por meio do acesso ao endereço eletrônico
"www.censec.org.br", opção "Busca de Testamento". Se deferido o
beneficio da gratuidade da Justiça a todos os interessados, o Servidor
Judiciário poderá requisitar as informações diretamente à Central
Notarial de Serviços Eletrônicos Compartilhados (CENSEC), via
portal. (Aprovado em 5/8/2019] (TJSC, 2021, s.p.)

Assim, a matéria sobre a central de inventários e testamentos foi


apresentada, para levar o conhecimento a você, acadêmico, que essas centrais
existem e estão servindo para facilitar o nosso dia a dia. Agora, vamos seguir com
a análise dos emolumentos para a lavratura da escritura.

9 EMOLUMENTOS DA ESCRITURA
“Cabe aos Estados fixar por lei os emolumentos cartorários para a
celebração de escrituras públicas de inventário e partilha”. Isso é o que afirmam
Amorim e Oliveira (2020, p. 870).

O valor desses emolumentos “deve corresponder ao efetivo custo e à


adequada e conforme a legislação local, evitando que haja excessiva oneração
das partes interessadas, em confronto com o que teriam de suportar no caso de
preferência por inventário judicial” (AMORIM; OLIVEIRA, 2020, p. 871).

Em situações que não houver regulamentação específica, a orientação de


Amorim e Oliveira (2020, p. 871), é que “cabe aos tabeliães fazer uso das normas
relativas às escrituras em geral, utilizando os emolumentos referentes a escrituras
sem valor declarado, ou segundo o valor da transmissão de bens imóveis,
conforme o caso”.

202
TÓPICO 3 — FORMALIDADES DA ESCRITURA DE INVENTÁRIO E PARTILHA

Vista a questão dos emolumentos, que são as despesas com os atos


notariais, passamos à análise da possibilidade da gratuidade desses atos.

10 GRATUIDADE
Para Tartuce (2020, p. 635), “[...] infelizmente, não há mais menção à
possibilidade de gratuidade para o inventário, como estava no antigo § 2° do Art.
982 do CPC/1973”. Entretanto, Tartuce (2020) reafirma a validade dessa aplicação
pelos procedimentos adotados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em
decisão de 2018.

Amorim e Oliveira (2020, p. 458) obtemperam que “o Código de Processo


Civil atual não prevê a gratuidade da escritura de inventário e de outros atos
notariais, que constava de dispositivo do Código revogado, mas menciona no § 2°
do Artigo 610, que a parte necessitada de recursos deve ser assistida por defensor
público, pressupondo sua carência de recursos”. Na continuidade, os autores
registram que o Artigo 98 do nosso Código Processual Civil também contém
regras específicas sobre a gratuidade da Justiça, mencionando que “abrange
emolumentos a notários ou registradores pela prática de atos de efetivação de
decisão judicial” (AMORIM; OLIVIERA, 2020, p. 458).

Ensinam Amorim e Oliveira (2020, p. 458):

Para obter a gratuidade, o interessado deve subscrever declaração de que


não possui condições de arcar com os emolumentos e apresentar comprovantes.
Cabe ao tabelião verificar, caso a caso, pela natureza e pelo valor dos bens
declarados e submetidos a partilha, se procede o pedido de justiça gratuita,
podendo recusar justificadamente a execução do serviço ou, se houver insistência
da parte, levar o reclamo à decisão do correspondente órgão judicial corregedor.

E
IMPORTANT

Importante, acadêmico, a ressalva feita por Amorim e Oliveira que “a gratuidade


se restringe aos atos notariais, mas não abrange a dispensa do recolhimento do imposto
de transmissão causa mortis (devido pela sucessão hereditária) ou do eventual imposto
de transmissão inter vivos (no caso de partilha desigual ou de renúncia translativa), que tem
legislação própria de âmbito estadual (ITCMD) ou municipal (ITBI) (AMORIM; OLIVEIRA,
2020, p. 458, grifo nosso).

Com essas linhas concluímos nossos apontamentos sobre a gratuidade no


processo de inventário extrajudicial, e nossos estudos neste livro, mas, desafiamos
você, acadêmico, a estar sempre se capacitando, se atualizando, pois, as questões
jurídicas estão sempre em movimento, assim como nossa Sociedade.

203
UNIDADE 3 — DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

LEITURA COMPLEMENTAR

INVENTÁRIO: QUANTO CUSTA FAZER UM INVENTÁRIO EM 2021?

Kainã Pillon Ragozzino

Quais os valores que o herdeiro irá se deparar ao realizar o inventário,


incluindo as custas e tributos no ano de 2021?

Além de todo o gasto emocional que o falecimento de um parente causa,


existem também responsabilidades que nascem com a morte.

É o caso do inventário

Quando alguém falece e deixa bens, é necessário que se faça o inventário


para que se possa transmitir esses bens para os herdeiros. Infelizmente é comum
que as pessoas deixem de realizar o inventário pelo seu custo, fazendo com que
os bens fiquem em nome do falecido e resultem em problemas sérios no futuro.
Principalmente caso tenham interesse na venda dos bens, pois sem o inventário
teriam que realizar uma venda irregular. Isso gera uma desvalorização substancial
no valor do patrimônio, chegando a até 60%.

E não só isso, o maior problema ocorre quando, ao passar dos anos, os


herdeiros também vão falecendo. Isso porque enquanto não houve o primeiro
inventário, os filhos e sucessores de um dos herdeiros falecidos não terão acesso
à  partilha destes bens. A situação dificulta  muito a realização do primeiro
inventário, pois, conforme o tempo vai passando, os herdeiros vão falecendo e
tornando necessária  a realização de seus respectivos inventários para a devida
regularização dos bens.

204
TÓPICO 3 — FORMALIDADES DA ESCRITURA DE INVENTÁRIO E PARTILHA

EIS QUE SURGE A QUESTÃO: QUANTO CUSTA PARA FAZER UM


INVENTÁRIO?

Existem dois gastos substanciais para se fazer um inventário. O de custas e


de imposto. As custas variam entre o procedimento escolhido e o valor dos bens
a ser inventariado. Isso porque o inventário pode ser feito de duas maneiras,
judicial ou extrajudicialmente.

Extrajudicial:

O inventário extrajudicial é aquele feito diretamente em cartório, não


sendo necessário ajuizar uma ação judicial para a devida regularização dos bens.
Obviamente por não ser necessária uma ação judicial, acaba por ser o procedimento
mais rápido. Entretanto, é necessário que se preencha alguns requisitos para que
o inventário possa ser feito diretamente no cartório, sendo:

• Não pode haver herdeiros incapazes (menores de idade, por exemplo).


• Não pode haver discordância entre os herdeiros sobre a forma como será
divido os bens.

OBS: É dito por alguns que o inventário não pode ser feito no cartório
quando existe testamento. Ocorre que isso é um engano. O próprio STJ já se
manifestou sobre o assunto e desde que o testamento seja homologado por um
juiz (em uma ação de abertura, registro e cumprimento de testamento — e não a
ação de inventário) o inventário poderá ser realizado em cartório.

E QUAIS SÃO ÀS CUSTAS DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL?

Como mencionado anteriormente, o valor das custas será determinado


pela quantidade de bens sendo:

205
UNIDADE 3 — DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

Esse é apenas um recorte dos valores em comparação com as custas


judiciais, já que existe muita especificidade na tabela dos cartórios. Importante
ressaltar que esses valores variam de estado para estado, e os valores apresentados
na figura são do estado de São Paulo no ano de 2021.

Judicial:

O inventário judicial é aquele feito por meio do poder judiciário, e por isso
evidentemente é o mais demorado. Entretanto é o caminho a se tomar quando há
herdeiros incapazes ou discordância entre eles sobre a partilha dos bens.

Diferentemente do inventário extrajudicial, não existe tanta especificidade


na variação do valor das custas quando calculado sobre os bens a serem
inventariados, mas existe a mesma variação de estado para estado, e a tabela a
seguir é baseada no estado de São Paulo, considerando o ano de 2021 e o valor
das UFESPs em R$ 29,09.

E QUAIS SÃO ÀS CUSTAS DE UM INVENTÁRIO JUDICIAL?

QUAL O PROCEDIMENTO MAIS EM CONTA?

Levando em consideração as tabelas apresentadas, o inventário extrajudicial


acaba saindo mais barato na maioria dos casos. Entretanto, é importante lembrarmos
que na hipótese de os herdeiros não tiverem condições financeiras de arcar com as
custas, o procedimento judicial poderá ser o mais apropriado.

Isso, porque é possível que durante o processo de inventário se realize


o pedido de um alvará judicial, que permitirá a realização da venda de um dos
bens antes de ocorrer a partilha. Possibilitando, assim, que os herdeiros utilizem
o valor adquirido da venda de um dos bens da herança para pagarem as custas
judiciais do inventário.

206
TÓPICO 3 — FORMALIDADES DA ESCRITURA DE INVENTÁRIO E PARTILHA

Mas ainda não acabou! Lembra que mencionamos que existem dois gastos


substanciais? Além das custas, existe também o pagamento de um  tributo  no
momento do inventário.

Além de se pagar as custas (judiciais ou do cartório) é necessário pagar


um imposto estadual para realizar o inventário. No estado de São Paulo o
imposto é chamado de Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação,
o famoso ITCMD, e tem o valor de 4% sobre os bens a serem inventariados.
Todavia, é muito comum que esse valor seja um pouco maior.

A razão disso é que no estado de São Paulo existe uma multa caso
o inventário não seja feito em determinado tempo após o falecimento. Caso o
inventário não seja feito em até 60 dias após a morte, ocorrerá uma multa de 10%
sobre o valor a ser pago a título de ITCMD. E, caso não seja feito em até 180 dias,
a multa será de 20%. Sendo muito recorrente que essa multa seja aplicada, já que
a maioria das pessoas acabam deixando o inventário para depois.

Vale mencionar que é possível parcelar o imposto em até 12x, contanto


que o valor da parcela não fique menor do que 30 UFESPs (R$ 872,70 em 2021).
Mas atenção, caso haja importância em dinheiro, título ou ações negociáveis entre
os bens do falecido e essas importâncias sejam o suficiente para a quitação do
imposto, não poderá ser feito o parcelamento.

Da mesma forma que nas custas, existem casos em que os herdeiros não
têm condições de arcar com a custa do referido imposto. Nessas hipóteses pode
ser que o inventário judicial faça sentido novamente, já que será possível pedir
um alvará judicial para se realizar a venda de um dos bens do inventário para
arcar com o tributo.

Esses são os gastos substanciais que se tem ao realizar um inventário, mas


vale destacar que não são os únicos.

207
UNIDADE 3 — DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA PARA A REALIZAÇÃO DE UM INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

O processo de inventário costuma ser burocrático e demanda bastante


documentação. Por isso existe também os gastos com um advogado (tanto no
procedimento judicial, como no extrajudicial), assim como os gastos para levantar
toda a documentação necessária para a sua devida realização.

FONTE: Adaptada de RAGOZZINO, K. P. Inventário: Quanto custa fazer um inventário em 2021?


Revista Jus Navegandi, Teresina, ano 26, n. 6417, 25 jan. 2021. Disponível em: https://jus.com.
br/artigos/88155. Acesso em: 30 ago. 2021.

208
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• A Cessão de Direitos Hereditários é comum entre os herdeiros, seja gratuita ou


onerosa. A diferença básica é a incidência do imposto.

• Quando a Cessão de Direitos Hereditários é onerosa, é também um negócio


jurídico “inter vivos” e recolhe-se o imposto sobre a transmissão de bens ao fisco
municipal – Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis (ITBI). A competência
do recolhimento do tributo é do Município conforme Art. 156, II da CF.

• Na renúncia da herança, o herdeiro renuncia e o efeito é como se não houvesse


“herdeiro” nesse lugar, tanto que o seu quinhão é repartido aos demais da
mesma classe, ou seja, se a pessoa falecida deixar um bem e três herdeiros, e um
dos herdeiros renunciar, a parte dele irá acrescer aos outros dois, que receberão
partes iguais. NÃO HAVERÁ IMPOSTOS, pois entende-se que não houve
transmissão da herança, haverá para os que aproveitarão a parte renunciada.

• Mandato é o ato que é exercido por quem tem uma procuração. E, procuração,
tecnicamente falando é o instrumento do mandato.

• A forma do mandato segue o que é determinado em lei, ou seja, para determinados


atos, a lei exige forma específica. No caso de procuração para as escrituras de
inventário extrajudicial, as procurações deverão ser por instrumento público,
seguindo a forma do ato principal que é a escritura pública.

• Para a lavratura do inventário extrajudicial é necessária a apresentação de uma


série de certidões negativas de débitos, em nome do falecido, a exemplo da
CND federal, expedida pela Receita Federal; da CND estadual, expedia, via
de regra, pela Secretaria de Estado da Fazenda (SEFAZ) dos Estados; CND
municipal, também expedido pelo respectivo município do domicílio do “de
cujus”; certidão que apresente negativa de débitos condominiais, entre outras
que se fizerem necessárias.

• Sobrepartilha extrajudicial é o procedimento, em nova escritura, dos bens


que ficaram fora da partilha. Segue a mesma formalidade, com a assistência
de advogado, pagamento do imposto e demais exigências para o inventário
extrajudicial. O interessante é que mesmo que o inventário tenha sido processado
judicialmente e nele havia menores, agora, ao tempo da sobrepartilha, já não
há menores, essa sobrepartilha pode ser extrajudicialmente.

209
• A escritura de retificação da partilha, é o ato notarial que visa retificar alguma
inconformidade na escritura da partilha lavrada; e a escritura de retificação se
chama Escritura Pública de Re-ratificação, porque retifica e ratifica os atos que
permanecem inalterados.

• Atualmente existe as centrais de inventários e de testamentos. A Central de


inventários, por obrigação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) é criada nos
Estados pelos Tribunais, para possibilitar a busca, por qualquer interessado,
em obter cópia do ato notarial. Em São Paulo essa Central, está a cargo do
Colégio Notarial.

• A Central de testamentos é administrada pelo Colégio Notarial do Brasil. Possibilita


a pesquisa e fornecimento de certidão de testamento público, se houver.

• A fixação dos emolumentos da escritura, que são as despesas com os atos


notariais, s]ao fixados por lei, em cada Estado.

• Existe, mesmo para as Escrituras Públicas nos processos de inventários


extrajudiciais, a figura da gratuidade. Esse procedimento foi adotado pelo CNJ,
em decisão de 2018, e é necessária a nomeação de defensor público. Todavia,
não há dispensa do recolhimento dos tributos, em especial do ITCM-D.

CHAMADA

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210
AUTOATIVIDADE

1 A Cessão de Direitos Hereditários é o ato pelo qual se transfere um quinhão


hereditário recebido a outrem; quer seja herdeiro ou não. Isso implica,
consequentemente, sendo essa cessão para outro herdeiro, por exemplo, em
aumentar o quinhão hereditário desse último. Independentemente se essa
Cessão de Direitos Hereditários for gratuita ou onerosa, para um elemento
não há distinção. Sobre essa diferença básica, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A diferença básica é a incidência do imposto.


b) ( ) A diferença é que na Cessão de Direitos não há incidência de imposto.
c) ( ) A diferença é que só na Cessão de Direitos há incidência de imposto, e
na aceitação da herança não há. .
d) ( ) A diferença é que na Renúncia há incidência de imposto e na Cessão de
Direitos Hereditários, não há incidência.

2 Mesmo para o Inventário extrajudicial é necessário a presença de advogado


devidamente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Por
outro lado, também há a possibilidade de as partes estarem representadas
por procurador no inventário, podendo ser o próprio advogado ou não.
Com relação à procuração para representar um herdeiro no processo de
inventário extrajudicial, analise as sentenças a seguir:

I- Mandato é o ato que é exercido por quem tem uma procuração. E,


procuração, tecnicamente falando é o instrumento do mandato.
II- Se o processo estava tramitando judicialmente e depois passa para
inventário extrajudicial, não é necessário a procuração pública, pois,
havia um procedimento judicial anterior à partilha.
III- A forma do mandato segue o que é determinado em lei, ou seja, para
determinados atos, a lei exige forma específica. No caso de procuração
para as escrituras de inventário extrajudicial, as procurações deverão
ser por instrumento público, seguindo a forma do ato principal que é a
escritura pública.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 Para a lavratura do inventário extrajudicial é necessária a apresentação de


uma série de certidões negativas de débitos, em nome do falecido, a exemplo
da CND federal; da CND estadual; CND municipal, também expedido pelo
respectivo município do domicílio do “de cujus”; certidão que apresente
negativa de débitos condominiais, entre outras que se fizerem necessárias,
classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
211
( ) A Certidão Negativa de Débitos (CND) Federal, visa demonstrar a
inexistência de débitos com a União ou à Fazenda Nacional, e é expedida
pela Receita Federal do Brasil. 
( ) A Certidão Negativa de Débitos (CND) Condominiais é sempre exigida
em todos os inventários extrajudiciais.
( ) A Certidão Negativa de Débitos (CND) Estadual, visa comprovar a
inexistência de débitos com a fazenda Estadual, ou seja, com o Estado
Membro da Federação; via de regra, expedida pela Secretaria de Estado
da Fazenda (SEFAZ).

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 Embora na maioria das vezes os inventários se iniciam com todos os bens


arrolados, existem casos em que os herdeiros e/ou o inventariante não
conseguem, ou não podem, descrever todos os bens deixados pelo falecido.
Logo, fica determinado bem ou bens para ser partilhado posteriormente,
e isso é possivelmente aceito pela nossa legislação. Esse procedimento de
partilhar os bens que ficaram fora da partilha, se chama Sobrepartilha.
Disserte sobre a Sobrepartilha.

5 Uma Escritura Pública de Inventário e Partilha, como qualquer ato, também


pode apresentar alguma inconformidade ou algum erro no documento
de alguém na descrição da partilha, por exemplo. Tal equívoco pode ser
sanado por meio de uma Escritura de Retificação da Partilha. Como se
processa essa Escritura Pública de retificação? Disserte a respeito.

212
REFERÊNCIAS
AMORIM, S.; OLIVEIRA, E. Inventário e Partilha: teoria e prática. 26. ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2020.

BÍBLIA. N.T. Lucas. In: Bíblia On-line. 2021.Disponível em: https://www.


bibliaonline.com.br/acf/lc/19. Acesso em: 26 jul. 2021.

BLASIUS, A. IBDFAM – Instituto brasileiro de direito de família, 2018. Direto


de Família na Mídia. 2018. Disponível em: https://ibdfam.org.br/noticias/na-
midia/16650/Advogada+explica+como+funciona+o+pacto+antenupcial. Acesso
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BRASIL. Decreto n° 9.278, de 5 de fevereiro de 2018. Regulamenta a Lei n°


7.116, de 29 de agosto de 1983, que assegura validade nacional às Carteiras de
Identidade e regula sua expedição. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, 5 fev. 2018. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2015-2018/2018/decreto/D9278.htm Acesso em: 19 jul. 2021.

BRASIL. Lei n° 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil.


Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 16 mar. 2015.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/
l13105.htm. Acesso em: 2 ago. 2021.

BRASIL. Resolução n° 35, de 24 de abril de 2007. Disciplina a lavratura dos atos


notariais relacionados a inventário, partilha, separação consensual, divórcio
consensual e extinção consensual de união estável por via administrativa.
(Redação dada pela Resolução n° 326, de 26.6.2020). Brasília, DF: Diário Oficial
[da] República Federativa do Brasil, 26 jun. 2020. Disponível em: https://atos.cnj.
jus.br/files/compilado172958202007015efcc816b5a16.pdf. Acesso em: 1 out. 2021. 

BRASIL. Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília,


DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 10 jan. 2002. Disponível
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BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF:


Presidência da República, [2016]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
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BRASIL. Lei n° 7.116, de 29 de agosto de 1983. Assegura validade nacional das


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DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 29 ago. 1983. Disponível
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19 jul. 2021.

213
BRASIL. Lei n° 6.015, de 31 de dezembro de 1973 – Lei de Registros Públicos.
Brasília, DF: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, 31 dez. 1973.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6015compilada.htm.
Acesso em 19 jul. 2021.;

BRASIL. Lei n° 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema


Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis
à União, Estados e Municípios. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, 25 out. 1966. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
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BRASIL. Decreto n° 4.657, de 4 de setembro de 1942. Lei de Introdução


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CARVALHO, D. M. Direito das sucessões. 6. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020.

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RIZZARDO, A. Direito das Sucessões. 11. ed. Rio de Janeiro. Forense, 2019.

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SECRETARIA DE ESTADO DA FAZENDA DE SANTA CATARINA (SEFAZ).
Imposto sobre Transmissões Causa Mortis e Doações, Florianópolis, SC, 2021.
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https://www.tjsc.jus.br/web/processo-eletronico-eproc. Acesso em: 26 jul. 2021.

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