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Recursos no Processo Penal


Universidade do Sul de Santa Catarina
Os conteúdos reunidos neste livro apresentam o
estudo de temas fundamentais do Direito
Processual Penal: nulidades, recursos, ações
autônomas de impugnação, as relações
jurisdicionais com autoridades estrangeiras e as

Recursos no
disposições gerais. Com uma linguagem objetiva
e direta, apresenta os conceitos e requisitos

Recursos no Processo Penal


fundamentais de cada categoria processual, com
ênfase à sua principiologia e ao encadeamento

Processo Penal
lógico para sua aplicação. Além de uma doutrina
moderna, o livro permitirá o contato com a
jurisprudência atual do Tribunal de
Justiça e, em especial, do Superior
Tribunal de Justiça.

ISBN 978-85-7817-917-5
w w w. u n i s u l . b r

9 788578 179175
Universidade do Sul de Santa Catarina

Recursos
no Processo
Penal

UnisulVirtual
Palhoça, 2016
Créditos

Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul


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Sidney Eloy Dalabrida

Recursos
no Processo
Penal

Livro didático

Designer instrucional
Elizete Aparecida De Marco Coimbra

UnisulVirtual
Palhoça, 2016
Copyright © Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por
UnisulVirtual 2016 qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.

Livro Didático

Professor conteudista Revisor(a)


Sidney Eloy Dalabrida Contextuar

Designer instrucional ISBN


Elizete Aparecida De Marco Coimbra 978-85-7817-917-5

Projeto gráfico e capa


e-ISBN
Equipe UnisulVirtual
978-85-7817-918-2
Diagramador(a)
Edison Valim

D14
Dalabrida, Sidney Eloy
Recursos no processo penal: livro didático / Sidney Eloy Dalabrida;
design instrucional Elizete Aparecida De Marco Coimbra. – Palhoça:
UnisulVirtual, 2016.
112 p.: il. ; 28 cm.

Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7817-917-5
e-ISBN 978-85-7817-918-2

1. Processo penal. 2. Recursos (Direito) I. Coimbra, Elizete Aparecida


De Marco. II. Título.
CDD (21. ed.) 341.43

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul


Sumário

Introdução | 7

Capítulo 1
Nulidades no Processo Penal1 | 9

Capítulo 2
Recursos no Processo Penal1 | 25

Capítulo 3
Dos Recursos em Espécie I1 | 35

Capítulo 4
Recursos em Espécie II1 | 57

Capítulo 5
Ações Autônomas de Impugnação1 | 75

Capítulo 6
Relações Jurisdicionais e Disposições Gerais do
Processo Penal 1 | 97

Considerações Finais | 105

Referências | 107

Sobre o Professor Conteudista | 111


Introdução

Estimados alunos,

Este livro reúne, em 6 capítulos, o estudo de temas fundamentais do Direito


Processual Penal: nulidades, recursos, ações autônomas de impugnação, as
relações jurisdicionais com autoridades estrangeiras e as disposições gerais.

Numa linguagem objetiva e direta, apresenta os conceitos e requisitos


fundamentais de cada categoria processual enfocada, com ênfase à sua
principiologia e ao encadeamento lógico para sua aplicação. Além de uma
doutrina moderna, o livro permitirá o contato com a jurisprudência atual do nosso
Tribunal de Justiça e, em especial, do Superior Tribunal de Justiça.

Assim, de partida, você terá oportunidade de conhecer todo o esquema legal


sobre as nulidades no processo penal, suas hipóteses legais e o momento
procedimental oportuno para sua arguição.

Na sequência, a estrutura recursal no direito processual penal brasileiro


será inteiramente exposta, com identificação dos recursos cabíveis, seus
pressupostos, efeitos e procedimentos.

Para facilitar a sua compreensão, a revisão criminal, o mandado de segurança e


o habeas corpus, ações autônomas de impugnação foram tratadas em capítulo
específico com abordagem ampla dos referenciais temáticos que compõem sua
construção jurídica.

Por fim, estudaremos as relações jurisdicionais com autoridades estrangeiras,


com os temas relacionados à homologação das sentenças estrangeiras e as
cartas rogatórias, bem como as disposições gerais do Código de Processo Penal.

Caríssimo aluno, aqui você encontrará o aporte teórico e prático indispensável


para compreender o sistema processual penal brasileiro, razão pela qual te
convido a participar deste desafio.

Profº Sidney Eloy Dalabrida


Capítulo 1

Nulidades no Processo Penal1

Seção 1

Nulidades processuais
Diversos atos jurídicos são realizados ao longo da ação penal. Cada um deles
deve ser praticado de acordo com o que estabelece a lei, ou seja, precisam
obedecer a uma forma legal específica, de modo que o processo tenha um
desenvolvimento normal e regular, para que possa ser capaz de apurar a verdade
e realizar a justiça.

A inobservância das exigências legais, com a realização de atos


processuais em desacordo com o modelo legal, geram a imperfeição
jurídica do ato processual, podendo afetar a sua validade.

Portanto, para que o ato processual possa ser juridicamente perfeito, produzindo
seus efeitos jurídicos, é preciso que se amolde ao modelo descrito na lei. Em
outros termos, é preciso que seja típico.

1 DALABRIDA, Sidney Eloy. Recursos no processo penal. Palhoça: Unisul Virtual, 2016.

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Capítulo 1

Logo, tipicidade haverá quando o ato praticado estiver em conformidade


com o referente legal. Ao contrário, não havendo essa correspondência,
diz-se que o ato será atípico, isto é, imperfeito.

Para os atos processuais que não atendem ao correspondente legal, o legislador


estabeleceu sanções que variam de acordo com sua importância e intensidade.
Acompanhe a seguir.

1.1 Espécies de vícios processuais

a) Irregularidade

Assim são definidos os atos processuais que, apesar de praticados em


desconformidade com a lei, não ocasionam prejuízo às partes e não impedem
que a finalidade do ato seja alcançada. Eles simplesmente desatendem
exigências formais sem relevância. Por essa razão, a irregularidade não invalida o
ato praticado ou traz consequência para o processo.

Apresentação intempestiva das razões de apelação; oferecimento de


denúncia fora do prazo.

b) Nulidade relativa

Verifica-se quando houver uma violação a uma exigência legal que foi
estabelecida no interesse das partes. Como o objetivo da proteção está ligado
diretamente a interesse privado, a invalidação está condicionada à demonstração
de efetivo prejuízo, bem como à arguição do vício no momento adequado,
necessitando de pronunciamento judicial para seu reconhecimento.

Falta de intimação da parte sobre a expedição de carta precatória


destinada a intimação de testemunhas.

c) Nulidade absoluta

Ocorre quando há violação de regra prevista em norma constitucional ou


legal, cujo prejuízo ultrapassa a esfera de conveniência das partes, atingindo o
interesse público. Geralmente está relacionada a princípios constitucionais.

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Recursos no Processo Penal

Nesta espécie de nulidade, o prejuízo é evidente (presumido), não sendo possível


a convalidação do ato, como ocorre com a nulidade relativa. Em razão da sua
gravidade, pode ser decretada de ofício pelo juiz ou tribunal, ou ser arguida pelas
partes a qualquer tempo e grau de jurisdição, mesmo após o trânsito em julgado
do processo. No entanto, só deixa de produzir efeitos quando reconhecida
judicialmente.

Tramitação do processo em juízo incompetente em razão da matéria.

d) Ato inexistente

É o chamado “não ato”, pois tamanha é a sua desconformidade com a forma


tipicamente estabelecida, que ele sequer pode ser considerado para efeitos
legais. Como não reúne os elementos primordiais para se configurar como ato
jurídico, jamais se convalida e o direito de argui-lo não preclui.

Desse modo, não exige pronunciamento judicial para ser desfeito, bastando,
tão somente, ser desconsiderado, até porque nenhum efeito produz. Possui
existência material, mas não possui qualquer significado jurídico.

Sentença assinada por escrivão.

1.2 Princípios fundamentais das nulidades

a) Princípio da instrumentalidade das formas

Não se declara a nulidade de ato processual que não houver influído na apuração
da verdade real ou na decisão da causa (art. 566 do CPP). Isso significa que
a forma não é um fim em si mesma, sendo injustificável o excessivo apego ao
formalismo para a declaração de determinada nulidade.

A forma tipicamente estabelecida para o ato judicial nada mais é do que um


instrumento para alcançar a finalidade instituída para aquele ato. Sendo assim,
somente será reconhecido o vício quando não alcançado o fim pretendido (art.
572, inc. II, CPP).

11
Capítulo 1

b) Princípio da inexistência de nulidade sem prejuízo (pas de nullité sans grief)

Não há nulidade sem prejuízo. Se, apesar de irregular, o ato atingiu o seu fim, não
havendo prejuízo, não há falar-se em nulidade. De acordo com o artigo 563 do
CPP, “Nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para
a acusação ou para a defesa”.

Sem prova da ocorrência de prejuízo para a acusação ou para a defesa não se


anula ato processual. Esse prejuízo deve ser provado pelas partes na nulidade
relativa, ao passo que é presumido na nulidade absoluta.

c) Princípio do interesse

Dispõe o artigo 565 do CPP: “Nenhuma das partes poderá arguir nulidade a que
haja dado causa, ou para que tenha concorrido, ou referente a formalidade cuja
observância só à parte contrária interesse”.

Este princípio se relaciona às nulidades relativas, pois só nestas o


reconhecimento depende de arguição do interessado. Nas nulidades absolutas, o
vício atinge o próprio interesse público, razão pela qual deve ser reconhecido pelo
juiz, independentemente de provocação.

Assim, se a irregularidade resulta da preterição de formalidade instituída para


garantia de uma determinada parte, somente esta poderá invocar a nulidade e
não a outra. Porém, note-se que, quanto ao Ministério Público, a regra é limitada,
pois seu objetivo é a obtenção de título executivo válido, razão pela qual não se
lhe pode negar interesse na observância das formalidades legais, em face de
irregularidades que impliquem ofensa ao direito de defesa.

A lei também não reconhece o interesse de quem tenha dado causa à


irregularidade (não se exige dolo ou culpa). Nesse sentido, dispõe o artigo 565,
primeira parte, do CPP: “Nenhuma das partes poderá arguir nulidade a que haja
dado causa ou para que tenha concorrido”.

d) Princípio da causalidade ou sequencialidade

A nulidade de um ato, uma vez declarada, causará a dos atos que dele
diretamente dependam ou sejam consequência. É o que prescreve o artigo 573,
§ 1º, do CPP. Em outras palavras, somente os atos dependentes ou que sejam
consequência daquele viciado poderão ser afetados.

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Recursos no Processo Penal

e) Princípio da convalidação

Por razões de economia processual, a lei prevê hipóteses de saneamento das


irregularidades. A forma mais comum se dá com a preclusão da faculdade de
alegar a nulidade. Claro, só diz respeito às relativas, pois somente nestas a
nulidade depende de provocação do interessado.

O artigo 572 do CPP admite que certas irregularidades estarão sanadas


se não arguidas em tempo oportuno, ou seja, quando a parte, ainda que
tacitamente, tiver aceitado os seus efeitos.

Os diferentes momentos adequados para a arguição das nulidades foram


previstos no artigo 571 do CPP. Vencidas essas oportunidades, a irregularidade
estará sanada em razão da preclusão.

A prolação da sentença também constitui causa de convalidação de certas


irregularidades. Idem, a coisa julgada. No entanto, sana exclusivamente os vícios
que poderiam ser reconhecidos em favor da acusação, visto que há remédios
para reconhecimento de nulidades em favor da defesa, mesmo após o trânsito
em julgado.

A lei processual prevê hipóteses particulares em que é possível reparar a


imperfeição do ato, não se declarando a nulidade. São casos especiais de
convalidação, a saber:

a) Artigo 568 do CPP – a nulidade por ilegitimidade do representante da parte


poderá ser a todo tempo sanada, mediante retificação dos atos processuais.
Não se trata de ilegitimidade ad causam (atos são completamente nulos), mas
hipótese em que, embora seja a parte legítima, irregular foi a constituição de seu
procurador nos autos (pressuposto processual).

b) Artigo 569 do CPP – possibilidade de suprimento antes da sentença das


omissões da denúncia, queixa e da representação. Trata-se aqui do suprimento
de formalidades não essenciais daquelas peças, pois, do contrário, haveria a
própria inexistência ou invalidade do ato por falta de formalidade essencial.

c) Artigo 570 CPP – o comparecimento do interessado, ainda que somente com


o fim de arguir a irregularidade, sana a falta ou nulidade da citação, intimação
ou notificação. Não há nulidade porque se atingiu a finalidade do ato, com o
comparecimento do interessado. Note-se que, com exceção a determinados
procedimentos especiais, o interrogatório deixou de ser o ato inaugural da
instrução (Leis 11.689/2008 e 11.719/2008).

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Capítulo 1

1.3 Hipóteses legais de nulidade


O Código de Processo Penal, no artigo 564, lista as hipóteses em que poderá
ser decretada a nulidade. Todavia, é pacífico que o rol apresentado no referido
dispositivo não é taxativo, havendo a possibilidade de, no caso concreto,
decretar-se outras nulidades que não estejam expressamente enumeradas.

A propósito, o inciso IV, do artigo 564, do Código de Processo Penal, prevê


uma norma genérica, aplicável a qualquer ato que viole a forma tipicamente
determinada para sua execução.

Conforme estabelece o artigo 564 do CPP, os casos de nulidade são os


seguintes:

a) Incompetência, suspeição e suborno do juiz

Na incompetência absoluta, a nulidade poderá ser alegada em qualquer fase do


procedimento, ainda quando preclusas as vias impugnativas. Sendo condenatória,
será rescindível ou atacável por habeas corpus. É o caso da incompetência
ratione personae e ratione materiae.

Em se tratando de incompetência relativa, o réu deverá suscitá-la na fase


da defesa preliminar (art. 396-A do CPP). Não alegada oportunamente, a
competência ficará prorrogada. No caso de incompetência relativa, serão
anulados somente os atos decisórios, ou seja, aqueles em que há decisão de
mérito, aproveitando-se os atos instrutórios (art. 567 do CPP).

A suspeição e o suborno do juiz acarretam a nulidade absoluta do processo.

b) Ilegitimidade de parte

Cuida-se da ilegitimidade ad causam – passiva ou ativa, onde não há


sanabilidade. Reconhecida, em qualquer fase, deve o processo ser anulado ab
initio. Observe-se que, em se tratando de ilegitimidade do representante da parte,
a sanabilidade poderá ocorrer com a ratificação dos atos processuais (art. 568 do
CPP).

Estabelece o Código de Processo Penal que a nulidade também poderá ocorrer


por falta das fórmulas ou dos termos seguintes.

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Recursos no Processo Penal

a) Denúncia ou queixa-crime e representação

A denúncia e a queixa são peças imprescindíveis para o nascimento da relação


jurídica processual. Logo, a sua ausência é causa de nulidade absoluta.

Importante notar que somente a ausência de elementos integrativos


essenciais geram a nulidade da peça acusatória.

A representação constitui condição específica de procedibilidade. Sem ela não se


pode dar início à persecução criminal nos crimes que dela dependam.

b) Exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios

É causa de nulidade absoluta a ausência de exame de corpo de delito nos crimes não
transeuntes, não podendo ser suprido sequer pela confissão do acusado. No caso de
terem desaparecidos os vestígios do crime, imprescindível será o exame indireto.

c) Nomeação de defensor ao réu

De acordo com a Súmula 523 do STF, “No processo penal, a falta da defesa
constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova
de prejuízo para o réu”.

d) Intervenção do Ministério Público em todos os termos da ação penal pública,


privada subsidiária da pública ou privada

O Ministério Público não pode desistir da ação penal, bem como deixar de oficiar
em todos os seus termos, o que implicaria em abandono da ação. Importante
registrar que não se admite a figura do promotor ad hoc.

e) Citação do réu, seu interrogatório e concessão de prazos à acusação e à defesa

A falta de citação acarreta a nulidade absoluta do processo, assim também


aquela realizada sem as formalidades essenciais ao ato, que comprometem o
atendimento de sua finalidade. O interrogatório, a seu turno, é um ato essencial
do processo e, como não está sujeito à preclusão, poderá o juiz interrogar o réu
mais de uma vez (art. 196 do CPP). Já a falta de concessão dos prazos às partes
constitui causa de nulidade relativa.

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Capítulo 1

f) Sentença

Os requisitos da sentença estão previstos no artigo 381 do CPP. Em havendo a


ausência de requisito essencial, a nulidade será absoluta.

Especificamente em relação ao procedimento do júri, estabeleceu a lei processual


que constitui causa de nulidade:

a) Falta de sentença de pronúncia

A pronúncia julga admissível a acusação em plenário, de modo que sua falta


acarreta a nulidade do processo. Não existe mais a figura do libelo e da
contrariedade no nosso ordenamento processual.

b) Falta de intimação do réu para julgamento no júri

c) Ausência do número mínimo de quinze jurados para a constituição do júri

O juiz não poderá instalar a sessão sem a presença do quórum mínimo. Trata-se
de nulidade insanável.

d) Falta ou irregularidade no sorteio dos jurados

e) Quebra da incomunicabilidade dos jurados

A incomunicabilidade exigida se refere ao mérito do julgamento, tendo por


objetivo impedir que o jurado exteriorize sua opção, influindo na decisão dos
demais jurados.

f) Erro na elaboração dos quesitos ou incompatibilidade nas respostas

Os quesitos deverão ser elaborados de forma simples, em proposições


afirmativas, com clareza e precisão. Tem como fontes a pronúncia e decisões
posteriores que julgaram admissível a acusação, o interrogatório e as alegações
das partes.

16
Recursos no Processo Penal

Devem obedecer a ordem prevista no artigo 483 do Código de Processo Penal.

A falta de quesito obrigatório gera a nulidade absoluta do julgamento (Súmula 156


do STF). Ademais, os quesitos da defesa não poderão preceder aos da acusação
(Súmula 162 do STF).

1.4 Oportunidade para arguição das nulidades

Importante ter presente que, em sendo a nulidade de natureza relativa, uma


vez não levantada no momento adequado, serão consideradas sanadas.

De acordo com os incisos do artigo 571, as nulidades dessa natureza deverão ser
alegadas:

a) no processo ordinário, na fase das alegações finais orais ou, sendo o caso,
quando da apresentação de memoriais, de acordo com o artigo 403, caput e § 3º,
do Código de Processo Penal;

b) no processo sumário, no prazo da defesa inicial (art. 396 CPP). As que


ocorrerem após o seu oferecimento deverão ser arguidas após a abertura da
audiência de instrução e julgamento, assim que apregoadas as partes;

c) aquelas surgidas após a sentença definitiva, em preliminar, nas razões de


recurso, ou logo em seguida ao anúncio do julgamento do recurso e o pregão das
partes;

d) as do julgamento em plenário, em audiência ou em sessão do tribunal, logo


após ocorrerem;

e) aquelas do procedimento do júri, neste caso será preciso distinguir o momento de


sua verificação, pois que, ocorrendo durante a primeira fase, deverão ser levantadas
nas alegações do artigo 406 do CPP. Agora, caso sejam posteriores à pronúncia,
logo depois de anunciado o julgamento e apregoadas as partes. E, por fim, quando
verificadas em plenário, deverão ser levantadas logo depois de ocorrerem.

Importante salientar que, verificando o tribunal a existência de vício processual


capaz de levar ao reconhecimento de nulidade absoluta, deverá distinguir as
seguintes hipóteses:

a. Caso a invalidação favoreça o réu, deverá proclamar a nulidade e


ordenar a renovação do feito.
b. Tratando-se de nulidade não arguida pela acusação, cujo
reconhecimento prejudique a defesa, caberá ao tribunal apenas
confirmar a absolvição.

17
Capítulo 1

Ocorre que as nulidades que prejudiquem a defesa, ainda que absolutas, só


podem ser reconhecidas se forem invocadas pelo Ministério Público. É o que se
depreende da Súmula 160 do STF, que prevê: “É nula a decisão do tribunal que
acolhe, contra o réu, nulidade não arguida no recurso da acusação, ressalvados
os casos de recurso de ofício”.

1.5 Jurisprudência
APELAÇÃO CRIMINAL. TRÁFICO DE DROGAS. APREENSÃO DE 1.009,9G DE
CRACK. SENTENÇA ABSOLUTÓRIA. RECURSO DEFENSIVO. PRELIMINARES.
IRREGULARIDADES NA COLHEITA DE DEPOIMENTOS EXTRAJUDICIAIS.
IMPROPRIEDADE. EVENTUAIS VÍCIOS OCORRIDOS NO INQUÉRITO QUE NÃO
ALCANÇAM A AÇÃO PENAL. “O direito processual brasileiro, no tocante às
nulidades, edificou seu alicerce, dentre outros, no princípio da instrumentalidade
das formas, traduzido pelo brocardo pas de nullité sans grief, em conformidade
com o qual não se decreta nulidade sem prejuízo. Por isso, eventuais vícios
existentes no inquérito não maculam a ação penal que nele se funda, em face
da sua natureza informativa, pois destina-se a fornecer ao representante do
Ministério Público elementos que lhe permitam oferecer a denúncia”. (TJSC,
Desembargador Sérgio Paladino, j. em 04/09/2007)

(Apelação Criminal n. 2014.022473-7, de Itajaí; Relator: Des. Moacyr de Moraes


Lima Filho).

APELAÇÃO CRIMINAL. ROUBO CIRCUNSTANCIADO PELO CONCURSO


DE PESSOAS. SENTENÇA CONDENATÓRIA. RECURSO DO ACUSADO.
PRELIMINAR DE NULIDADE. CERCEAMENTO DE DEFESA. 1.
RECONHECIMENTO DE NULIDADE. NECESSIDADE DE PREJUÍZO (CPP, ART.
563). 2. COLIDÊNCIA DE DEFESAS. VERSÕES NÃO CONFLITANTES DOS
ACUSADOS. 3. ALEGAÇÕES FINAIS DEFICIENTES. PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO
GENÉRICO. ALEGAÇÃO DE CONFISSÃO SEM CORRESPONDÊNCIA COM A
AUTODEFESA. PREJUÍZO. NULIDADE (STF, SÚMULA 523). 1. O princípio do
prejuízo, ilustrado pelo brocardo francês pas de nullité sans grief e positivado no
artigo 563 do Código de Processo Penal, é orientador do sistema de nulidades,
de sorte que o reconhecimento destas, sejam de natureza absoluta ou relativa,
depende da demonstração de que do ato inquinado resultou prejuízo para a parte.
2. Se os acusados não apresentam versões conflitantes em seus interrogatórios,
limitando-se um a eximir-se da responsabilidade que lhe é imputada sem atribui-
la ao outro, e contradizendo-se eles somente acerca de aspectos acidentais
dos fatos, inexiste colidência de defesa decorrente da representação pelo
mesmo defensor, a qual, de todo modo, para reconhecimento, dependeria de

18
Recursos no Processo Penal

demonstração concreta de prejuízo. 3. A apresentação de alegações finais


compostas de pedido de absolvição desprovido de qualquer fundamentação e,
especialmente, que atribui aos acusados confissão que não empreenderam em
seus interrogatórios, causa prejuízo a estes, a ponto de a deficiência acarretar a
nulidade do ato. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.

(Apelação Criminal n. 2014.043761-9, de Balneário Camboriú; Relator: Des.


Sérgio Rizelo).

PRELIMINARES. OFENSA AO PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL. SUPOSTA


INCOMPETÊNCIA TERRITORIAL NÃO ALEGADA NO MOMENTO OPORTUNO.
PRECLUSÃO. NULIDADE DA SENTENÇA. AVENTADA OMISSÃO DE TESE.
INOCORRÊNCIA. MATÉRIAS DEVIDAMENTE ANALISADAS. PREFACIAIS
AFASTADAS. “É relativa a nulidade decorrente da inobservância da competência
penal por prevenção” (Súmula 706 do Supremo Tribunal Federal). Assim, deve o
vício ser alegado no momento oportuno (art. 108 do Código de Processo Penal)
e demonstrado o efetivo prejuízo, o que não ocorreu na hipótese. Não há que
se falar que a sentença é omissa quando afasta, ainda que sucintamente, tese
postulada nas derradeiras alegações

(Apelação Criminal – Réu Preso – n. 2014.007298-7, de Palhoça; Relator: Des.


Moacyr de Moraes Lima Filho)

PENAL. PROCESSUAL PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME DE TRÂNSITO.


LESÃO CORPORAL CULPOSA. MÁ DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR
(ART. 303 E 302, PARÁGRAFO ÚNICO, III, DA LEI 9.503/1997). SENTENÇA
CONDENATÓRIA. RECURSO DA DEFESA. PRELIMINAR, PRECLUSÃO.
NULIDADE NÃO ARGUIDA NO MOMENTO PROCESSUAL OPORTUNO.
INTIMAÇÃO PARA COMPARECIMENTO EM AUDIÊNCIA. RÉU QUE SE MUDOU
DO ANTIGO ENDEREÇO SEM COMUNICAR AO JUÍZO. MÉRITO. MANOBRA
DE INGRESSO EM VIA PREFERENCIAL. ABALROAMENTO DE CICLISTAS.
DECLARAÇÃO DA VÍTIMA E CONFISSÃO EXTRAJUDICIAL. RÉU QUE SE EVADE
DO LOCAL SEM PRESTAR AUXÍLIO. PROVA SUFICIENTE A DEMONSTRAR A
PRÁTICA DELITUOSA. SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA. INVIABILIDADE
POIS FOI EFETIVADA NA SENTENÇA A SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA
DE LIBERDADE POR RESTRITIVA DE DIREITO. SENTENÇA MANTIDA.
Encontra-se preclusa a nulidade não arguída no momento processual oportuno,
conforme disposto no artigo 571 do CPP. Constatada a intimação e presença
do defensor constituído na audiência de instrução e julgamento, bem como
certificada a mudança do réu do endereço fornecido ao juízo, inexiste óbice ao
reconhecimento da revelia, consoante previsão do artigo 367 do CPP. (Apelação
Criminal n. 2015.003896-4, de Joinville; Relator: Des. Carlos Alberto Civinski)

19
Capítulo 1

APELAÇÃO CRIMINAL. PRELIMINAR. CRIME MILITAR. FATOS PROCESSADOS


EM FEITO ANTERIOR COM TRÂMITE JUNTO À JUSTIÇA COMUM. DECISÃO
IRRECORRÍVEL QUE EXTINGUIU A PUNIBILIDADE DO AGENTE. PRINCÍPIO DE
NE BIS IN IDEM. COISA JULGADA MATERIAL. INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA
DO JUÍZO. DECISÃO QUE APROVEITA AO RÉU. DIREITO À LIBERDADE QUE
PREVALECE SOBRE O JUS PUNIENDI ESTATAL. “Ninguém pode ser punido ou
processado duas vezes pelo mesmo fato, razão pela qual, havendo nova ação,
tendo por base idêntica imputação de anterior, já decidida, cabe a arguição de
exceção de coisa julgada” (NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo
penal e execução penal. 4. ed., São Paulo: RT, 2008. p. 332). RECURSO
DEFENSIVO PROVIDO.

(Apelação Criminal n. 2010.016329-3, da Capital; Relator: Des. Alexandre


D’Ivanenko).

“O tribunal, ao julgar apelação do Ministério Público contra sentença absolutória,


não pode acolher nulidade, ainda que absoluta, não veiculada no recurso
de acusação. Interpretação da Súmula 160 do STF, que não faz distinção
entre nulidade absoluta e relativa [...] Por isso, estando o tribunal, quando do
julgamento da apelação, adstrito ao exame da matéria impugnada pelo recorrente,
não pode invocar questão prejudicial ao réu não veiculada no referido recurso,
ainda que se trate de nulidade absoluta, decorrente da incompetência do juízo.
Habeas corpus deferido em parte para que, afastada a incompetência, seja
julgada a apelação em seu mérito”. (STJ; HC 80263/SP; Rel. Min. Ilmar Galvão; 1ª
T; DJ 27.06.2003).

(Apelação Criminal n. 04.009062-5, de Biguaçu; Relator: Des. Torres Marques)

APELAÇÃO CRIMINAL. TRIBUNAL DO JÚRI. HOMICÍDIO QUALIFICADO.


PRELIMINAR DE NULIDADE SUSCITADA EM RAZÃO DA NÃO OBSERVÂNCIA
DOS ART. 426, § 4º, E 433, § 1º, AMBOS DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.
QUESTÕES NÃO SUSCITADAS NO MOMENTO OPORTUNO. PRECLUSÃO.
EXEGESE DO ART. 571, V E VIII, DO CPP. PREJUÍZO, ADEMAIS, NÃO
DEMONSTRADO. EIVA AFASTADA. 1. “Tratando-se de processo de competência
do tribunal do júri, as nulidades posteriores à pronúncia devem ser arguidas
depois de anunciado o julgamento e apregoadas as partes, e as do julgamento
em plenário, em audiência, ou sessão do tribunal, logo após sua ocorrência,
sob pena de preclusão, consoante determina o artigo 571, V e VIII, do Código
de Processo Penal” (STJ, Habeas Corpus n. 149.007/MT, j. em 05/05/2015). 2.
Ademais, inexistindo demonstração de prejuízo concreto, não há que se falar em
nulidade, nos termos do artigo 563 do Código de Processo Penal.

(Apelação Criminal – Réu Preso – n. 2015.017272-3, de Palmitos; Relator: Des.


Moacyr de Moraes Lima Filho)

20
Recursos no Processo Penal

APELAÇÃO CRIMINAL. TRIBUNAL DO JÚRI. HOMICÍDIO QUALIFICADO PELO


MOTIVO FÚTIL (ART. 121, § 2º, INC. II, DO CÓDIGO PENAL). SENTENÇA
CONDENATÓRIA. RECURSO DA DEFESA. PRELIMINAR DE NULIDADE DO
JULGAMENTO AO ARGUMENTO DE QUE REDAÇÃO DE QUESITO SERIA
CONFUSA E TERIA INDUZIDO OS JURADOS EM ERRO. NÃO CONHECIMENTO.
QUESTÃO NÃO SUSCITADA EM PLENÁRIO. EXEGESE DO ART. 571, VIII, DO
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. PRECLUSÃO CONSUMATIVA OPERADA.
O Superior Tribunal de Justiça “sufragou entendimento de que as nulidades
eventualmente ocorridas durante o julgamento em plenário devem ser arguidas
logo depois de ocorrerem (art. 571, VIII, do Cód. de Processo Penal), sob pena de
preclusão (HC 121.280/ES, Rel. Min. Celso Limongi – Desembargador Convocado
do TJ/SP, Sexta Turma, DJe 16/11/2010). Incidência do enunciado 83 da Súmula
deste STJ” (AgRg no AREsp 473.821/GO, relª Min. Maria Thereza de Assis Moura,
j. 20.11.2014).

(Apelação Criminal n. 2015.012494-2, de Rio Negrinho; Relator: Des. Rodrigo


Collaço)

HABEAS CORPUS. PRÁTICA, EM TESE, DOS DELITOS DE TRÁFICO DE


DROGAS E DE ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO (ARTIGOS 33 E 35 DA
LEI N. 11.343/06). ALEGAÇÃO DE NULIDADE DA HOMOLOGAÇÃO DA
PRISÃO EM FLAGRANTE E DE SUA CONVERSÃO EM PREVENTIVA POR
TEREM SIDO AS DECISÕES PROFERIDAS POR JUÍZO INCOMPETENTE.
POSSIBILIDADE DE CONVALIDAÇÃO PELO JUÍZO A QUE FORAM REMETIDOS
OS AUTOS. EXEGESE DO ARTIGO 567 DO CÓDIGO PROCESSO PENAL.
JUÍZO COMPETENTE QUE RECEBE O AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE E
DETERMINA A REALIZAÇÃO DE DILIGÊNCIAS REQUERIDAS PELO MINISTÉRIO
PÚBLICO. RATIFICAÇÃO TÁCITA DOS ATOS ATÉ ENTÃO PRATICADOS.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL INEXISTENTE. ORDEM DENEGADA. “A teor do
artigo 567 do CPP, a incompetência de juízo – ratione loci – anula, tão somente,
os atos decisórios, entre os quais não se arrola o decreto de prisão preventiva,
que não passa de mera medida cautelar provisória, facultativa, de caráter
meramente processual, que se justifica, apenas, para assegurar a aplicação
da lei penal, por conveniência da instrução criminal ou para garantia da ordem
pública. Declarada a incompetência do juízo, cumpre remeter o processo ao juízo
competente a quem cabe ratificar ou não os atos praticados, inclusive o decreto
de prisão preventiva” (HC n. 7.917, rel. Des. Ernani Ribeiro, JC, 53/369). (TJSC
– Habeas Corpus n. 1996.002760-2, de Xaxim; Rel. Des. Álvaro Wandelli, j. em
11/06/1996)

(Habeas Corpus n. 2013.046944-8, de Imbituba; Relator: Des. Paulo Roberto


Sartorato)

21
Capítulo 1

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. HOMICÍDIO TENTADO DUPLAMENTE


QUALIFICADO. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO E
DISPARO DE ARMA DE FOGO. ARTIGOS 121, § 2º, II E IV C/C 14, II, AMBOS
DO CÓDIGO PENAL. ARTIGOS 14 E 15 DA LEI 10.826/2003. PRONÚNCIA.
RECURSO DA DEFESA. PRELIMINAR. CERCEAMENTO DE DEFESA.
AUSÊNCIA DE DEFESA TÉCNICA. INOCORRÊNCIA. ADVOGADO DATIVO.
ATUAÇÃO RESPONSÁVEL. DEFESA REALIZADA COM ESMERO. SÚMULA
523 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. VÍCIO INEXISTENTE. ALEGAÇÃO
NÃO ACOLHIDA. MÉRITO. MATERIALIDADE E AUTORIA DEMONSTRADAS.
ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA. CRIME IMPOSSÍVEL. NÃO CONFIGURAÇÃO. ADOÇÃO
DA TEORIA OBJETIVA TEMPERADA (OU MODERADA) PELO DIREITO PENAL
PÁTRIO. CONSEQUÊNCIA. NECESSIDADE DE ABSOLUTA IMPROPRIEDADE DO
MEIO OU DO OBJETO PARA CARACTERIZAÇÃO DO CRIME IMPOSSÍVEL. NÃO
OCORRÊNCIA NO CASO CONCRETO. LAUDO PERICIAL DEMONSTRANDO
A EFICIÊNCIA DA ARMA DE FOGO APREENDIDA. NÃO DEFLAGRAÇÃO POR
CIRCUNSTÂNCIAS ALHEIAS À VONTADE DO AGENTE. MUNIÇÃO “PICOTADA”.
MEIO UTILIZADO APENAS RELATIVAMENTE INCAPAZ DE CONSUMAR O
DELITO. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO. PRINCÍPIO
DA CONSUNÇÃO. INAPLICABILIDADE. CONDUTA TÍPICA NARRADA DE FORMA
AUTÔNOMA. RECURSO NEGADO. 1. “No processo penal, a falta da defesa
constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova
de prejuízo para o réu”. (Súmula 523 do Supremo Tribunal Federal)

(Recurso Criminal n. 2015.016173-7, de Brusque; Relator: Des. Jorge Schaefer


Martins).

APELAÇÃO CRIMINAL – CRIME DE ROUBO DUPLAMENTE CIRCUNSTANCIADO


(CP, ART. 157, § 2º, I E II) – SENTENÇA CONDENATÓRIA – RECURSOS
DEFENSIVOS. PRELIMINARES. NULIDADE DO RECONHECIMENTO DE
VOZ – NÃO OCORRÊNCIA – JUIZ DESTINATÁRIO DA PROVA – BUSCA DA
VERDADE REAL DOS FATOS – FACULDADE PREVISTA NO ART. 156, I, DO
CPP – AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO ÀS NORMAS CONSTITUCIONAIS LEGAIS. “[...]
a inobservância das formalidades do reconhecimento pessoal não configura
nulidade, notadamente quando realizado com segurança pelas vítimas em juízo,
sob o crivo do contraditório, e a sentença vem amparada em outros elementos
de prova. (STJ, HC n. 182.344/RS, rel. Min. Og Fernandes, j. em 28-5-2013) [...]”
(TJSC, Des. Salete Silva Sommariva).

NULIDADE DO FEITO POR AUSÊNCIA DE PERÍCIA NAS IMAGENS DE


MONITORAMENTO DA CÂMERA DE SEGURANÇA – PRESCINDIBILIDADE
– AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO NO MOMENTO PROCESSUAL OPORTUNO
– PRELIMINAR AFASTADA. “[...] 1. É prescindível a realização de perícia em
imagens captadas por sistema de segurança quando não há razões para se
duvidar do seu conteúdo e inexistir impugnação, oportuno tempore, das partes”

22
Recursos no Processo Penal

(TJSC, Des. Sérgio Rizelo). NULIDADE DOS REGISTROS FOTOGRÁFICOS POIS


AUSENTES OS ORIGINAIS – INACOLHIMENTO – FOTOGRAFIA COM PLENA
EFICÁCIA PROBATÓRIA MESMO QUE DESACOMPANHADA DE NEGATIVO –
TESE RECHAÇADA. “A simples falta da juntada dos negativos das fotografias
apresentadas pela parte não é motivo para o seu desentranhamento, e seu valor
probante deverá ser estabelecido no momento adequado” (STJ, Min. Ruy Rosado
de Aguiar). NULIDADE DA SENTENÇA POR AUSÊNCIA DE ANÁLISE DAS
TESES DEFENSIVAS – INOCORRÊNCIA – DECISÃO QUE, DE FORMA INDIRETA,
AFASTA AS QUESTÕES EXPOSTAS DOS ACUSADOS – DESNECESSIDADE DE
REBATER, EXPLICITAMENTE, OS ARGUMENTOS DA DEFESA – EIVA AFASTADA.
“Se a decisão demonstra, com clareza, a materialidade e autoria delitivas, bem
como a exposição dos motivos que levaram à condenação do acusado, ficando
refutada, mesmo que de forma implícita, as teses alegadas com o objetivo de
comprovação da negativa de autoria, não há falar em nulidade da sentença por
falta de análise de tese defensiva. [...]” (TJSC, Des. Roberto Lucas Pacheco).

(Apelação Criminal – Réu Preso – n. 2015.030454-0, de Chapecó; Relator: Des.


Getúlio Corrêa).

23
Capítulo 2

Recursos no Processo Penal1

Seção 1

Recursos em geral

1.1 Conceito
A palavra “recurso”, segundo a etimologia, tem origem no vocábulo recursus,
do latim, que significa “caminho para voltar, recaminhada, repetição, corrida
de volta”. Sob o ponto de vista jurídico, recurso é um meio processual de
impugnação capaz de propiciar um resultado mais vantajoso na mesma relação
jurídica processual, decorrente de reforma, invalidação, esclarecimento ou
confirmação. Em poucas palavras, são remédios jurídico-processuais através dos
quais se provoca o reexame de uma decisão.

Pela teoria geral dos recursos, há um órgão jurisdicional contra o qual se recorre,
chamado de juízo a quo, e outro para o qual se recorre, denominado juízo ad quem,
havendo ainda um prejuízo de admissibilidade, que se projeta sobre os pressupostos
recursais, bem como um juízo de mérito, relacionado ao conteúdo do decisum.

1 DALABRIDA, Sidney Eloy. Recursos no processo penal. Palhoça: Unisul Virtual, 2016.

25
Capítulo 2

1.2 Fundamentos
Os recursos têm por base jurídica o princípio constitucional do duplo grau de
jurisdição, decorrente do esquema formulado no corpo da Constituição Federal,
que disciplina a competência dos tribunais e que, segundo a doutrina, assim se
desenvolve, em razão do inconformismo natural gerado nas partes pela decisão
proferida, da falibilidade humana, da necessidade de controle de soluções
arbitrárias e de uma maior segurança jurídica advinda do reexame da matéria
por um órgão colegiado e com maior experiência de atuação. Também está
positivado no Pacto de São José da Costa Rica (art. 8º, n. 2, h).

Observação: Devido ao princípio do duplo grau de jurisdição, é vedado aos tribunais


apreciar matéria sobre a qual não tenha se pronunciado o juízo a quo, sob pena de
supressão de instância.

1.3 Fontes
As fontes normativas dos recursos são:

•• a Constituição Federal, que estabelece: “Aos litigantes em processo


judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados
o contraditório e ampla defesa com os meios e recursos a ela
inerentes” (art. 5º, inc. LV), e a previsão, no inciso LXVIII, do habeas
corpus, recurso constitucional;
•• a lei e, neste caso, como fonte que mais trata dos recursos no
processo penal, tem-se o Livro III, Título II, além de dez capítulos
do Cód. de Proc. Penal. Temos, ainda, diversas leis esparsas que
cuidam dos recursos;
•• regimentos internos, podendo eles estabelecerem pressupostos
de admissibilidade, gerar recursos ou limitá-los. Como exemplo,
podemos citar o artigo 243 do Tribunal de Justiça do Estado de
Santa Catarina, que prevê: “Caberá reclamação de decisão que
contenha erro ou abuso, que importe na inversão da ordem legal do
processo, quando para o caso não haja recurso específico”.

26
Recursos no Processo Penal

1.4 Pressupostos fundantes


a) Lógico – existência de despacho ou decisão de órgão jurisdicional.

b) Fundamental – sucumbência, que se traduz em lesividade de interesse,


gravame, prejuízo. Sucumbência nada mais é senão a desconformidade entre o
que foi pedido e o que foi concedido ou decidido.

1.5 Classificação da sucumbência


A sucumbência pode ser classificada em:

a) Simples ou única – quando o gravame atinge uma só parte.

b) Múltipla – quando são atingidos vários interesses.

c) Paralela – quando a lesividade atingir interesses idênticos. Exemplo: quando o


Ministério Público oferece denúncia contra dois réus e o juiz julga procedente a
denúncia.

d) Recíproca – quando o gravame atinge interesses opostos. Exemplo: juiz julga


parcialmente procedente a denúncia, desclassificando o delito.

e) Direta – quando atinge uma das partes da relação (acusador ou acusado, o


sucumbente).

f) Reflexa – quando a lesividade alcançar pessoas fora da relação processual.

g) Total – quando o pedido for integralmente desatendido.

h) Parcial – na hipótese de apenas parte do pleito não ser acolhido.

1.6 Princípios
•• Duplo grau de jurisdição – permite ao recorrente a revisão do julgado
penal por outro órgão julgador, hierarquicamente superior. Nele
também está compreendida a proibição de que o tribunal de segundo
grau conheça além daquilo que foi discutido pelo tribunal a quo.
Sustenta-se que o princípio do duplo grau de jurisdição encontra
sua principal barreira no “foro privilegiado”, isto se dá em face da
prerrogativa concedida a certas autoridades de serem julgadas em
órgãos colegiados, o que acaba por eliminar a revisão da matéria
por órgão superior, posto que não há instância superior a recorrer.

27
Capítulo 2

Tomando como exemplo um promotor de justiça julgado pelo Tribunal de


Justiça, inexistirá acesso ao duplo grau de jurisdição. Somente poderá
recorrer ao STJ e/ou ao STF, sem possibilidade, no entanto, de reanálise
da matéria de fato, mas tão somente de direito, uma vez preenchidos os
pressupostos legais.

•• Unirrecorribilidade – relaciona-se à ideia de que apenas um recurso


será cabível, sendo vedado interpor dois recursos de uma decisão
judicial. Este princípio tem sua base no art. 593, § 4º, do CPP.
•• Taxatividade – o princípio da taxatividade está intimamente ligado
ao princípio da legalidade. Os recursos devem estar previstos em lei.
Sem base legal não há como ascender à instância superior. Ademais,
havendo previsão legal, deverá ser manejado o recurso próprio,
definido para o caso específico.

Como exemplo, podemos citar o recurso em sentido estrito, que só poderá


ser utilizado nas hipóteses previstas no rol taxativo do artigo 581 do CPP.

•• Fungibilidade – expressa que, em havendo a interposição de um


recurso por outro, desde que não haja erro grosseiro ou má-fé,
poderá ser conhecido como se fosse o recurso adequado. Consta
do artigo 579 do CPP, que positiva: “Salvo a hipótese de má-fé, a
parte não será prejudicada pela interposição de um recurso por
outro”.
Porém, note-se que, segundo a jurisprudência, só se conhece do
recurso uma vez obedecido o prazo legal do recurso adequado. Não
é possível, portanto, que se pretenda o conhecimento de embargos
infringentes como sendo apelação, quando opostos após o prazo
de 5 (cinco) dias, sob a invocação do princípio da fungibilidade.
•• Voluntariedade – somente poderão ser interpostos recursos por
vontade das partes, sendo uma extensão do princípio segundo o
qual o juiz não poderá agir de ofício. Está disposto no artigo 574 do
CPP: “Os recursos serão voluntários, excetuando-se os seguintes
casos, em que deverão ser interpostos, de ofício, pelo juiz”.
•• Conversão – quando um recurso for encaminhado a um tribunal que
não é competente, deverá ser endereçado ao órgão jurisdicional
competente para conhecê-lo.

Exemplo: um recurso extraordinário remetido ao Superior Tribunal de


Justiça. Nesse caso, o STJ encaminha o recurso ao STF.

28
Recursos no Processo Penal

•• Proibição do reformatio in pejus – é vedada pelo ordenamento


jurídico a reforma para pior, conforme prevê o artigo 617 do CPP.
Poderá ela ocorrer de forma direta ou indireta, conforme segue.
a. Reformatio in pejus direta: ocorre quando somente a defesa
apresenta recurso e, apesar disso, o tribunal reforma a decisão
em prejuízo do réu, agravando, por exemplo, a sua pena.
b. Reformatio in pejus indireta: diz respeito às situações em que,
apresentado recurso exclusivo da defesa e anulada a decisão
recorrida, em novo julgamento, o juiz a quo profere decisão
ainda mais gravosa que a primeira, em desfavor do acusado.

Observação: Ainda que só a defesa tenha apresentado recurso, quando for


acolhida pelo tribunal a nulidade de incompetência absoluta do juízo, o juiz a quem
for atribuída competência não estará vinculado à decisão anulada, já que esta é
considerada inexistente, restando aberta, então, a possibilidade de um julgamento
mais gravoso para o réu.

A reformatio in mellius se caracteriza quando há interposição de recurso somente


por parte da acusação e, a despeito disso, o tribunal reconhece e aplica benefício
em favor do acusado. É tema de discussão e divergência na doutrina e na
jurisprudência, sendo adotada sob o argumento de que o ordenamento jurídico
proíbe apenas a reformatio in pejus (art. 617 do CPP).

1.7 Classificação dos recursos


a) Quanto à fonte normativa dos recursos:

•• Constitucionais – são aqueles que têm origem no texto da própria


Constituição Federal. Exemplo: recurso ordinário.
•• Legais – são os recursos cuja existência emana do Código de
Processo Penal ou de leis extravagantes. Exemplo: apelação (art.
593, CPP).
•• Regimentais – previstos nos regimentos internos dos tribunais.
Exemplo: agravo regimental (art. 300, RISTF).

29
Capítulo 2

b) Com relação aos motivos, podem ser divididos em dois grupos:

•• Recursos ordinários – aqueles que têm como escopo um novo


exame do que já foi decidido pelo juiz singular, dentro de uma
mesma relação processual, sendo a matéria de fato ou de direito.
Exemplo: apelação (art. 593, CPP).
•• Recursos extraordinários – limitam-se ao exame da aplicação da
norma jurídica, de modo que não projeta sobre matéria de fato.
Exemplos: recurso especial e extraordinário.

c) Quanto à iniciativa:

•• Voluntários – constituem a regra no processo penal brasileiro,


correspondendo àqueles em que a interposição do recurso depende
da vontade das partes.
•• Necessários ou obrigatórios – também denominados recursos de
ofício ou anômalos, são aqueles em que o próprio juiz, nas situações
determinadas no artigo 574 do CPP, deve recorrer da sua própria
decisão.

d) Quanto aos motivos:

•• Ordinários – são aqueles em que a simples insatisfação da


parte propicia a interposição do recurso, sendo desnecessário o
preenchimento de qualquer requisito específico. Exemplo: recurso
em sentido estrito.
•• Extraordinários – são os recursos cujo cabimento está vinculado ao
preenchimento de requisitos específicos. Exemplo: recurso especial.

e) Quanto à extensão da matéria impugnada, classificam-se em:

•• Recursos totais – a faculdade de impugnação da parte é utilizada


em relação ao conteúdo total da decisão.
•• Recursos parciais – reporta-se à faculdade de impugnação apenas
parcial da decisão.

30
Recursos no Processo Penal

f) Quanto às restrições na fundamentação:

•• Fundamentação livre – permite-se a impugnação de todas as


questões, sejam fáticas ou de direito.
•• Fundamentação vinculada – o próprio diploma legal delimita o
campo da motivação recursal.

g) Quanto ao grau hierárquico:

•• Verticais – cabe a um tribunal superior àquele que proferiu a decisão


objurgada proferir nova decisão. Exemplos: recursos especial e
extraordinário.
•• Horizontais – aqueles onde o próprio órgão jurisdicional que proferiu
a decisão poderá resolvê-lo. Exemplo: embargos de declaração.

1.8 Pressupostos recursais


Os pressupostos recursais são os requisitos indispensáveis para a admissão de
um recurso. Classificam-se em objetivos e subjetivos.

a) Pressupostos objetivos

•• Previsão legal (cabimento) – um recurso só pode ser interposto se


previsto em lei.
•• Adequação – ao interpor o recurso, a parte deve observar aquele
que melhor se amolde ao caso concreto. Muitas vezes, apesar de
previsto em lei, o recurso interposto não é adequado.

Observação: Princípio da fungibilidade recursal (art. 579 do CPP).

•• Regularidade – na interposição do recurso, todas as formalidades


tipicamente estabelecidas devem ser observadas.
•• Tempestividade – a interposição do recurso deve ser dentro do
prazo estabelecido em lei, observadas as regras de contagem
previstas no artigo 798 do CPP, sob pena de perda da oportunidade
do reexame. Os prazos são peremptórios. Nos casos em que,
apesar de intempestivo, tenha sido admitido na primeira instância,
o relator do recurso no tribunal ad quem não conhecerá do recurso
(decisão monocrática).

31
Capítulo 2

•• Fatos impeditivos – são os que impedem a interposição do recurso


ou seu recebimento e, portanto, surgem antes de o recurso ser
interposto. É o caso da renúncia.
•• Fatos extintivos – são aqueles posteriores à interposição do recurso,
que impedem o seu conhecimento. Exemplos: desistência e
deserção.
••
b) Pressupostos subjetivos

•• Legitimidade – diz respeito àqueles que podem interpor o recurso


no caso concreto. São exemplos: art. 577; art. 584, §1º; e art. 598,
todos do CPP, dentre outros.
•• Interesse recursal – segundo dispõe o artigo 577, parágrafo único,
do CPP, somente se admite recurso interposto por quem tenha
interesse na reforma ou modificação da decisão impugnada. Exige-
se, portanto, sucumbência, que se verifica quando a decisão não
atende a expectativa juridicamente possível.

1.9 Juízo de admissibilidade


É o ato através do qual o juízo a quo e, posteriormente, em uma segunda análise,
o juízo ad quem, verificam se estão presentes todos os pressupostos recursais
necessários para a admissão do recurso.

Ao realizar o juízo de admissibilidade, o juiz prolator da decisão poderá receber


o recurso, se entender preenchidos os requisitos de interposição, determinando,
então, o seu processamento e remessa ao tribunal, ou, caso ausente algum dos
pressupostos recursos, não recebê-lo.

No tribunal, antes mesmo da apreciação do mérito causal, será realizado um


segundo juízo de admissibilidade, onde o recurso poderá ser ou não conhecido,
dependendo, mais uma vez, do cumprimento de todos os seus pressupostos.

1.10 Efeitos
a) Devolutivo: presente em todos os recursos, o efeito devolutivo diz respeito a
uma nova possibilidade de apreciação da lide, por intermédio da devolução da
matéria ao órgão jurisdicional.

b) Suspensivo: é o efeito que impede a execução da decisão impugnada até


o julgamento do recurso. Constitui exceção no processo penal, devendo ser
aplicado apenas quando previsto em lei.

32
Recursos no Processo Penal

c) Regressivo: é aquele em que o recurso interposto faz o processo retornar


para reapreciação do juiz prolator da decisão recorrida. Exemplo: embargos de
declaração.

d) Extensivo: regulado pelo artigo 580 do CPP, permite que, no caso de haver
mais de um réu, o recurso por um interposto e provido seja aproveitado
aos demais que não apresentaram impugnação, salvo quando se tratar de
circunstância de caráter pessoal.

1.11 Reformatio in pejus


Vedada pelo ordenamento jurídico (art. 617 do CPP), a reformatio in pejus pode
ocorrer de forma direta ou indireta.

a) Reformatio in pejus direta: ocorre quando somente a defesa apresenta recurso


e, apesar disso, o tribunal reforma a decisão em prejuízo do réu, agravando, por
exemplo, a sua pena.

b) Reformatio in pejus indireta: diz respeito às situações em que, apresentado


recurso exclusivo da defesa e anulada a decisão recorrida, em novo julgamento,
o juiz a quo profere decisão ainda mais gravosa que a primeira, em desfavor do
acusado.

Observação: Ainda que só a defesa tenha apresentado recurso, quando for acolhida
pelo tribunal nulidade de incompetência absoluta do juízo, o juiz a quem for atribuída
competência não estará vinculado à decisão anulada, já que esta é considerada
inexistente, restando aberta, então, a possibilidade de um julgamento mais gravoso
para o réu.

1.12 Reformatio in melius


A reformatio in mellius se caracteriza quando há interposição de recurso somente
por parte da acusação e, a despeito disso, o tribunal reconhece e aplica benefício
em favor do acusado. É tema de discussão e divergência na doutrina e na
jurisprudência, sendo adotada sob o argumento de que o ordenamento jurídico
proíbe apenas a reformatio in pejus (art. 617 do CPP).

33
Capítulo 3

Dos Recursos em Espécie I1

Seção 1

Recurso em sentido estrito


Em que pese a regra no direito processual penal brasileiro ser a irrecorribilidade
das decisões interlocutórias, o legislador processual tratou de estabelecer
algumas exceções no artigo 581 do CPP, formando, então, um rol taxativo de
decisões de caráter não terminativo impugnáveis por intermédio de recurso em
sentido estrito. O recurso em sentido estrito corresponde ao agravo do processo
civil, tendo aí sua origem, com a previsão do juízo de retratação pelo prolator,
sendo sua essência a reparação de uma lesividade ocorrida através de uma
decisão interlocutória.

1 DALABRIDA, Sidney Eloy. Recursos no processo penal. Palhoça: Unisul Virtual, 2016.

35
Capítulo 3

1.1 Hipóteses de cabimento


O artigo 581 do Código de Processo Penal apresenta um rol com hipóteses
em que será permitido manejar o recurso strictu sensu. A palavra “despacho”,
contida no referido dispositivo legal, foi inadequada na medida em que os atos
jurisdicionais elencados são decisões. Note-se que não se admite a ampliação
para casos excluídos pelos dispositivos, sendo possível a interposição para
hipóteses assemelhadas, quando evidente o intuito do legislador em abrangê-las.

São passíveis de impugnação por recurso em sentido estrito as seguintes decisões:

I – Que não receber a denúncia ou a queixa

A peça acusatória pode ser recusada nos termos do artigo 395 do CPP quando:
a) for manifestamente inepta; b) faltar pressuposto processual ou condição para o
exercício da ação penal; c) faltar justa causa para o exercício da ação penal. Contra
a decisão é cabível recurso em sentido estrito. Em se tratando, porém, de decisão
proferida no âmbito do juizado especial criminal, o recurso cabível será a apelação
(art. 82 da Lei n. 9.099/95).

Destaque para a Súmula 707 do STF: “Constitui nulidade a falta de intimação


do denunciado para oferecer contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da
denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor dativo”.

No que se refere à rejeição de um aditamento realizado no decorrer do processo,


sendo ele real, pessoal ou próprio, também é cabível o recurso em sentido estrito,
posto que o aditamento equipara-se a uma nova acusação. Aos aditamentos
impróprios, isto é, aqueles que apenas corrigem algum erro, não apresentando fato
ou novo sujeito, o recurso em sentido estrito não é cabível.

II – Que concluir pela incompetência do juízo

Cuida-se aqui da decisão do juiz que reconhece de ofício a incompetência,


determinando a remessa dos autos ao juiz competente. Por outro lado, quando o
juiz se declara competente, não há possibilidade de interposição do recurso em
sentido estrito, sendo possível, porém, quando flagrante a ilegalidade, a impetração
de habeas corpus.

Ainda que se trate de decisão terminativa que, de regra, desafia recurso de


apelação, neste caso, o recurso cabível será recurso em sentido estrito, diante da
expressa previsão legal.

III – Que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição

Em sendo julgadas procedentes as exceções de litispendência, coisa julgada,


ilegitimidade da parte, incompetência, será cabível o recurso em sentido estrito.

36
Recursos no Processo Penal

Quando forem rejeitas, no entanto, a decisão será irrecorrível. Contra a decisão que
acolhe a exceção de suspeição também não cabe recurso algum, até porque não
se pode forçar o juiz que se declara suspeito a julgar o feito.

IV – Que pronunciar o réu

A decisão de pronúncia é uma decisão interlocutória mista, que não encerra


o processo, mas apenas uma etapa do procedimento relativo aos crimes de
competência do tribunal do júri. O juiz pronunciará o réu quando se convencer
da autoria e materialidade dos fatos, não se tratando de decisão condenatória
ou absolutória, limitando-se apenas a julgar admissível a acusação para efeito de
submeter o réu a julgamento popular.

V – Que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança,


indeferir requerimento de prisão preventiva ou revogá-la, conceder
liberdade provisória ou relaxar a prisão em flagrante

O inciso cuida das hipóteses de fiança e prisão provisória. Importante perceber que
não cabe recurso da decisão que decretar a prisão preventiva ou indeferir o pedido
de liberdade provisória ou relaxamento da prisão.

VII – Que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor

As hipóteses estão previstas nos artigos 328, 341 e 344 do Código de Processo
Penal.

VIII – Que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a


punibilidade

Na fase de conhecimento, o recurso cabível será o recurso em sentido estrito. No


entanto, em se tratando da extinção da punibilidade na fase executória, o recurso a
ser manejado será o agravo (art. 197 da LEP).

IX – Que indeferir o pedido de reconhecimento da prescrição ou de outra


causa extintiva da punibilidade

Trata-se de hipótese inversa a do inciso anterior.

X – Que conceder ou negar a ordem de habeas corpus

Cuida-se, neste dispositivo, das hipóteses em que foi impetrado habeas corpus na
primeira instância. Havendo a denegação da ordem, pode o interressado interpor
o recurso em sentido estrito ou, alternativamente, impetrar novo habeas corpus,
porém, agora para a superior instância. No caso de concessão da ordem, o
Ministério Público também poderá interpor recurso em sentido estrito.

37
Capítulo 3

XI – Que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena

Avulta esclarecer que, estando a decisão embutida na sentença condenatória, o


recurso a ser aviado será a apelação e não o recurso em sentido estrito. Sendo a
decisão proferida na fase executória, o recurso será o agravo (art. 197 da LEP), seja
ela concessiva, denegatória ou de revogação da suspensão condicional da pena.

XII – Que conceder, negar ou revogar livramento condicional

Como a decisão é proferida no processo de execução penal, o assunto é tratado no


artigo 197 da Lei de Execução Penal. Assim, ao invés de recurso em sentido estrito,
a decisão deverá ser atacada com o recurso de agravo.

XIII – Que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte

O processo deve tramitar sem qualquer tipo de nulidade. Uma vez verificada,
deverá o juiz anular o processo, no todo ou em parte, conforme o causa da eiva.
Fazendo-o, a parte lesada pode recorrer via sentido.

XIV – Que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir

O alistamento dos jurados está previsto nos artigos 425 e 426 do Código de
Processo Penal. A inclusão ou exclusão do jurado da lista geral desafia recurso em
sentido estrito, hipótese em que o prazo para a interposição é de 20 (vinte) dias e
não 5 (cinco) dias, devendo ser contado da data da publicação definitiva da lista de
jurados (art. 586, parágrafo único, CPP).

XV – Que denegar a apelação ou a julgar deserta

Concluindo pela ausência de pressupostos recursais, por ocasião do juízo de


prelibação, o juiz poderá denegar a apelação, decisão impugnável via recurso em
sentido estrito. Neste caso, o tribunal analisará apenas a admissibilidade do apelo
que foi negado em primeira instância e, verificando a existência de todos os seus
pressupostos, fará a apelação ascender ao tribunal para análise de mérito.

Caso, além de não ter recebido a apelação, o juiz ainda não admita o recurso em
sentido estrito, será cabível carta testemunhável (art. 639, I, CPP).

Quanto à deserção, cuida-se de uma forma anômala de extinção do recurso, que


ocorre devido à falta de pagamento das despesas recursais.

XVI – Que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial

As questões prejudiciais estão previstas nos artigos 92 e 93 do Código de


Processo Penal. Uma vez determinada a suspensão do processo em razão da sua
existência, poderá ser interposto recurso em sentido estrito. A decisão que denega
a suspensão, no entanto, é irrecorrível.

38
Recursos no Processo Penal

XVII – Que decidir sobre a unificação de penas

Como é questão relacionada à fase penal executória, o assunto é tratado na Lei de


Execução Penal (art. 197), sendo a decisão impugnável via agravo.

XVIII – Que decidir o incidente de falsidade

Julgando procedente ou improcedente o incidente de falsidade, a parte prejudicada


poderá interpor recurso em sentido estrito. Só cabe recurso da decisão que
enfrenta o mérito e não a que denega liminarmente a instauração do incidente.

XIX – Que decretar medida de segurança, depois de transitar a sentença em


julgado

A medida de segurança é uma forma de absolvição imprópria quando imposta


no processo de conhecimento, de modo que a forma correta de impugnação
será através da apelação, de acordo com o artigo 593, I, do CPP. Porém, quando
imposta no curso da execução penal, aplica-se o artigo 197 c/c artigos 183 e 66, V,
d, todos da LEP, devendo ser atacada através do agravo. Sendo assim, este inciso
está revogado pela LEP.

XX – Que impuser medida de segurança por transgressão de outra

Este inciso encontra-se também revogado pela Lei de Execução Penal. Será o juiz
da execução o responsável por proferir qualquer decisão a respeito da internação
em hospital de custódia e do tratamento ambulatorial depois de transitada em
julgado a sentença que a impuser, de sorte que o recurso cabível será o agravo (art.
197, LEP).

XXI – Que mantiver ou substituir a medida de segurança, nos casos do


artigo 774

As hipóteses deste inciso serão impugnáveis por meio do agravo (art. 197, LEP).

XXII – Que revogar a medida de segurança

O juiz competente para revogar a medida de segurança é o juiz da fase executória


(art. 66, V, e, da LEP), portanto, o agravo é a forma de impugnação correta, e não o
recurso em sentido estrito.

XXIII – Que deixar de revogar a medida de segurança, nos casos em que a


lei admita a revogação

A única forma de atacar a decisão com tal conteúdo é através do recurso de agravo
em execução (art. 197, LEP).

39
Capítulo 3

XXIV – Que converter a multa em detenção ou em prisão simples

Em razão da redação dada pela Lei n. 9.268/96 ao artigo 51 do Código Penal, não
é mais possível a conversão da multa em pena privativa de liberdade, de modo que
este dispositivo está revogado. Se, de alguma forma, houver decisão de conversão
de pena de multa em detenção, dever-se-á impetrar habeas corpus, por flagrante
ilegalidade à liberdade de locomoção.

1.2 Prazo para interposição


Conforme se depreende do artigo 586, caput, do CPP, o prazo para interposição
do recurso em sentido estrito é de 5 (cinco) dias, a contar da data de intimação
da decisão, sendo que, quando se tratar de inclusão ou exclusão de jurado da
lista geral, o prazo será de 20 (vinte) dias, contados da publicação definitiva da
referida lista.

Estando o assistente de acusação habilitado nos autos, isto é, sendo intimado


devidamente de todos os atos processuais, o prazo será de cinco dias, caso o
Parquet não recorra. Para o ofendido não habilitado como assistente, o prazo
para interposição do recurso é de 15 (quinze) dias, na forma do artigo 584, §1º,
do CPP, a partir da data que terminar o prazo ministerial.

O prazo para interposição do recurso em sentido estrito, de cinco dias, a


contar da data em que se tomou ciência da decisão, é um requisito objetivo
para sua admissibilidade, ou seja, interposto fora deste quinquídio legal, o
recurso não é conhecido.

1.3 Procedimento
O recurso, em sentido estrito, poderá ser interposto por petição ou termo nos
autos (art. 578 do CPP) e o seu processamento poderá ocorrer nos próprios autos
ou mediante a formação de instrumento, nos termos do artigo 583 do CPP.

Poderá haver a formação de instrumento à parte, que será encaminhado ao


tribunal, a fim de não prejudicar o andamento do processo, mas também se prevê
a subida nos próprios autos.

Subirão nos próprios autos: a) quando interpostos de oficio; b) nos casos do


artigo 581, I, III, IV, VI, VIII e X; c) quando o recurso não prejudicar o andamento
do processo.

40
Recursos no Processo Penal

Recebido o recurso, o juiz prolator da decisão mandará intimar o recorrente


para oferecer razões em 2 (dois) dias, intimando, em seguida, o recorrido para
apresentar contrarrazões no mesmo prazo.

Independentemente da apresentação de contrarrazões, vencido o prazo, o


recurso deverá ser remetido ao juiz a quo, para que este reaprecie a matéria,
mantendo ou reformando a decisão recorrida através do juízo de retratação.

Mantida a decisão ou reformada apenas em parte, o recurso subirá ao tribunal


que, nesta última hipótese, apreciará tão somente a matéria que não houver
sofrido alteração.

Caso o juiz de primeiro grau entenda pela reforma total da decisão impugnada,
a parte contrária poderá recorrer por simples petição nos autos, quando cabível
recurso, não se admitindo, na hipótese, que haja novo juízo de retratação.

1.4 Efeitos
O recurso, em sentido estrito, sempre produzirá o efeito regressivo e, caso seja
mantida a decisão ou, em sendo reformada, houver impugnação pela parte
contrária, também sobrevirá o efeito devolutivo.

Quanto ao efeito suspensivo, este só será aplicado nas hipóteses taxativamente


definidas no artigo 584, caput, do CPP.

1.5 Jurisprudência
PENAL. PROCESSO PENAL. INAPLICABILIDADE DO DISPOSTO NO ART. 191, DO
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL – CPC. DECISÃO DO TRIBUNAL DE ORIGEM QUE
NEGA SEGUIMENTO AO RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.
NÃO CABIMENTO. AGRAVO DE INSTRUMENTO INTEMPESTIVO. AGRAVO
REGIMENTAL DESPROVIDO. No processo penal não se aplica a norma do artigo
191 do Código de Processo Civil que prevê prazo em dobro para recorrentes com
procuradores diversos. Precedentes.

(STJ – AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL


2014/0067515-0. Relator Ministro ERICSON MARANHO).

PROCESSUAL PENAL. MANDADO DE SEGURANÇA. AFASTAMENTO CAUTELAR


DO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. ART. 581, DO
CPP. ROL TAXATIVO. CABIMENTO DO WRIT. O artigo 581, do Código de Processo
Penal, apresenta rol taxativo, não comportando interpretação analógica de modo
a permitir a utilização de recurso em sentido estrito quando a lei não o prevê para
dada situação concreta.

41
Capítulo 3

(STJ – RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA 2014/0176176-9.


Relator Ministro GURGEL DE FARIA).

EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL.


NÃO CABIMENTO. AGRAVO EM EXECUÇÃO. RITO DO RECURSO EM SENTIDO
ESTRITO. AUSÊNCIA DE TRASLADO DAS PEÇAS INDICADAS PELO AGRAVANTE.
NULIDADE. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE
OFÍCIO. A teor da iterativa orientação jurisprudencial desta corte, aplicam-se ao
recurso de agravo em execução, previsto no artigo 197 da Lei de Execução Penal,
as disposições acerca do rito do recurso em sentido estrito, previstas nos artigos
581 e seguintes do Código de Processo Penal.

(STJ – HABEAS CORPUS 2014/0293674-2. Relator Ministro FELIX FISCHER).

PENAL. HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO. TENTATIVA. RECURSO EM SENTIDO


ESTRITO. TEMPESTIVIDADE. PRISÃO PREVENTIVA. MOTIVAÇÃO INIDÔNEA.
FALTA DE INDICAÇÃO DE ELEMENTOS CONCRETOS SUFICIENTES A JUSTIFICAR
A MEDIDA. FLAGRANTE ILEGALIDADE. EXISTÊNCIA. ORDEM CONCEDIDA. O
entendimento exarado pela corte de origem está alinhado ao posicionamento deste
Superior Tribunal de Justiça, no sentido de que inicia-se a contagem do prazo
recursal para o Ministério Público a partir da entrada dos autos nas dependências
do órgão.

(STJ – HC 270591/PB HABEAS CORPUS 2013/0152094-3. Relator(a) Ministra


MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA).

42
Recursos no Processo Penal

Seção 2

Apelação
Trata-se de recurso contra decisões definitivas ou com força de definitiva, que
julgam extinto o processo, apreciando ou não o mérito, mas que devolvem ao
tribunal o conhecimento da matéria.

A apelação tem caráter residual, já que só pode ser interposta se não houver
previsão expressa de cabimento de recurso em sentido estrito para a situação.
Goza de primazia em relação ao recurso em sentido estrito, uma vez que,
prevendo a lei expressamente o cabimento do recurso em sentido estrito em
relação a uma parte da decisão e a apelação da parte restante, prevalecerá a
apelação. Em outros termos, em função do princípio da unirrecorribilidade, a
apelação, mesmo que residual, tem preferência sobre o recurso em sentido
estrito, ainda que se recorra só de parte da decisão e esta admita esse segundo
recurso.

2.1 Hipóteses de cabimento


De acordo com o artigo 593 do CPP, caberá apelação:

a) Das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por


juiz singular

São as decisões que põem cobro à relação processual, julgando o mérito, seja
absolvendo, seja condenando o acusado. As condenatórias julgam procedente,
no todo ou em parte, a acusação, ao passo que as absolutórias são as que
inacolhem a pretensão punitiva.

b) Das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz


singular, quando não cabível recurso em sentido estrito

Também é cabível apelação das decisões que, julgando o mérito, dão fim à
relação processual sem, no entanto, condenar ou absolver, como, por exemplo, a
decisão que resolve incidente de restituição de coisas apreendidas.

As decisões com força de definitivas são as que põem fim a uma etapa
procedimental, sem julgar o mérito (exemplo: pronúncia). A decisão de
impronúncia comporta recurso de apelação, assim como a decisão que rejeita a
denúncia no caso da Lei n. 9.099/95.

De todas as decisões definitivas ou com força de definitivas, desde que a lei não
preveja recurso em sentido estrito, será cabível a apelação.

43
Capítulo 3

c) Das decisões do tribunal do júri

a. Quando ocorrer nulidade posterior à pronúncia: caso a nulidade


seja anterior à pronúncia, a matéria já foi apreciada na própria
decisão ou no recurso contra ela interposto.
b. Quando for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa
ou à decisão dos jurados: é o caso de error in procedendo e não
meritual.
c. Quando houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou
da medida de segurança: caso o tribunal dê provimento ao apelo, a
pena ou medida de segurança será corrigida aos termos legais.
d. Quando for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova
dos autos: assim deve ser considerada a decisão que se aparta
totalmente da prova produzida. Com base neste fundamento, só é
possível utilizar a apelação uma única vez e não importa qual das
partes tenha recorrido.

2.2 Prazo para interposição


Em regra, o prazo para interposição do recurso de apelação é de 5 (cinco) dias,
a contar da data de intimação da decisão a ser impugnada. Todavia, há algumas
particularidades em relação a esse prazo.

Para a defesa, o lapso temporal estabelecido somente passa a ser contado a partir
da última intimação realizada, independentemente de o intimado ser o defensor ou
o próprio réu. No âmbito da defesa, devem ser intimados o réu e seu defensor.

Quando se tratar do Ministério Público, a tempestividade será analisada,


partindo-se do dia em que os autos foram entregues com vista àquele órgão,
ressalvando-se os casos em que a decisão for proferida em audiência ou sessão
de julgamento, onde o Parquet, tendo interesse em recorrer, deverá se insurgir de
imediato contra a decisão.

A defensoria pública faz jus ao prazo em dobro, regra que não se aplica ao
Ministério Público.

Em se tratando de intimação ficta, somente se inicia a contagem do prazo para


interposição do recurso após o término do prazo de publicação do edital.

Seguindo orientação do STF, o prazo para o assistente de acusação habilitado


apelar é de 5 (cinco) dias, contados do encerramento do prazo para o Ministério
Público ou a partir da intimação, se esta ocorrer após o trânsito em julgado para

44
Recursos no Processo Penal

o Parquet. De outro lado, consoante o disposto no artigo 598, parágrafo único, do


CPP, o prazo para o assistente ou ofendido não habilitado apelar é de 15 (quinze)
dias, transcorridos depois de encerrar-se o prazo para o órgão ministerial.

2.3 Procedimento
Interposta a apelação perante o juízo recorrido, este examinará o preenchimento
dos requisitos objetivos e subjetivos do recurso (juízo de admissibilidade),
dispondo, em seguida, acerca do seu recebimento. Negado seguimento à
apelação, o apelante poderá interpor recurso em sentido estrito. Recebido o
reclamo, o recorrente será intimado para apresentar suas razões, no prazo de 8
(oito) dias, seguindo-se com a intimação do apelado para oferecer contrarrazões
no mesmo prazo legal. O assistente de acusação, passado o prazo para
manifestação do Parquet, terá 3 (três) dias para apresentar sua peça.

Segundo se observa do artigo 600, § 4º, do CPP, o apelante pode optar por
arrazoar apenas em segunda instância, prerrogativa que não se aplica ao
assistente da acusação.

Note-se que a falta das razões, ou mesmo das contrarrazões, se comprovada


a intimação, não impede o regular processamento do recurso, já que seu
oferecimento intempestivo constitui mera irregularidade, não ocasionando,
portanto, a sua exclusão dos autos.

No caso de interposição de apelação pela acusação e defesa, o Ministério


Público ou querelante (quando for caso de ação penal privada) arrazoarão
primeiro, sendo seguidos pela defesa. Após manifestação do defensor do réu, os
autos voltarão ao órgão ministerial para responder ao recurso defensivo.

Apresentadas as peças recursais, a apelação será remetida ao tribunal nos


próprios autos ou por traslado, se presente mais de um réu e nem todos tiverem
sido julgados ou nem todos apelarem.

2.4 Efeitos
São efeitos da apelação:

a. Devolutivo – devolve-se o conhecimento da matéria à superior


instância.
b. Suspensivo (art. 597 do CPP), ressalvadas as exceções (art. 596 do
CPP e Súmula 716 do STF).
c. Extensivo – quando processado mais de um acusado nos mesmos
autos (art. 580 do CPP), o corréu que não apelou beneficia-se do
recurso interposto.

45
Capítulo 3

2.5 Reformatio in pejus indireta


Uma vez anulada a sentença condenatória em virtude de recurso exclusivo da
defesa, não será permitida a prolação de nova decisão mais gravosa do que a
que foi anulada. Essa regra não tem aplicação para limitar a soberania do júri,
posto que a regra que veda a reformatio in pejus não pode se sobrepor à garantia
constitucional da soberania dos veredictos.

Observe-se, ainda, que no caso de a sentença condenatória ter sido anulada em


virtude de incompetência absoluta, ainda que por recurso exclusivo da defesa,
não se aceita a aplicação da regra da proibição da reforma para pior. É esse o
entendimento predominante.

2.6 Jurisprudência
CRIMINAL. HC. ROUBO QUALIFICADO. CONDENAÇÃO PERANTE A JUSTIÇA
COMUM ESTADUAL. DESCLASSIFICAÇÃO PERANTE O TRIBUNAL DE JUSTIÇA.
ANULAÇÃO DO PROCESSO DETERMINADA POR ESTA CORTE. INCOMPETÊNCIA
ABSOLUTA. NOVA CONDENAÇÃO PERANTE A JUSTIÇA FEDERAL. VIOLAÇÃO
AO PRINCÍPIO NE REFORMATIO IN PEJUS INDIRETA. NÃO OCORRÊNCIA.
PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA RETROATIVA NÃO VERIFICADA.
ORDEM DENEGADA.

Segundo o entendimento já consolidado nesta corte, sendo decretada a nulidade


do processo por incompetência absoluta do juízo, que pode ser reconhecida em
qualquer tempo e grau de jurisdição, o novo decisum a ser proferido pelo órgão
judicante competente não está adstrito ao entendimento firmado no julgado anterior

(STJ – HC 54254/SP HABEAS CORPUS 2006/0029317-0. Relator Ministro GILSON


DIPP).

HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSUAL PENAL. CRIMES DE ESTELIONATO


E ALICIAMENTO DE TRABALHADORES DE UM LOCAL PARA OUTRO DO
TERRITÓRIO NACIONAL (ARTS. 171 E 207, § 1º, NA FORMA DO ART. 29, § 1º,
TODOS DO CÓDIGO PENAL. SENTENÇA CONDENATÓRIA PROFERIDA PELA
JUSTIÇA FEDERAL. DECLARAÇÃO DE INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA DO JUÍZO,
NOS AUTOS DE APELAÇÃO CRIMINAL EXCLUSIVA DA DEFESA. REPERCUSSÃO
DA DECISÃO ANULADA NO JUÍZO COMPETENTE. REFORMATIO IN PEJUS
INDIRETA. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA. OCORRÊNCIA. 1. O
juiz absolutamente incompetente para decidir determinada causa, até que sua
incompetência seja declarada, não profere sentença inexistente, mas nula, que

46
Recursos no Processo Penal

depende de pronunciamento judicial para ser desconstituída. E se essa declaração


de nulidade foi alcançada por meio de recurso exclusivo da defesa, como no caso
dos autos, ou por impetração de habeas corpus, não há como o juiz competente
impor ao réu uma nova sentença mais gravosa do que a anteriormente anulada, sob
pena de reformatio in pejus indireta. 2. Hipótese em que a paciente foi condenada,
perante a Justiça Federal, com posterior anulação do processo pelo Tribunal
Regional Federal da 2ª Região, em razão da incompetência absoluta do Juízo,
sendo novamente denunciada pelos mesmos crimes perante a Justiça Estadual.

(STJ – HC 124149/RJ HABEAS CORPUS 2008/0279307-0. Relator(a) Ministra


LAURITA VAZ).

PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE


RECURSO ESPECIAL. NÃO CONHECIMENTO DO WRIT. CRIMES DE HOMICÍDIO
QUALIFICADOS. PROTESTO POR NOVO JÚRI (ART. 607 DO CPP EM SUA
ANTIGA REDAÇÃO, VIGENTE À ÉPOCA). SEGUNDO JULGAMENTO. IMPOSIÇÃO
DE PENA SUPERIOR À FIXADA NO PRIMEIRO JULGAMENTO. INOBSERVÂNCIA
DO LIMITE DA CONDENAÇÃO IMPOSTA NO PRIMEIRO JULGAMENTO.
REFORMATIO IN PEJUS INDIRETA CONFIGURADA. ILEGALIDADE FLAGRANTE
EVIDENCIADA. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE
OFÍCIO. Nos termos da jurisprudência desta corte superior e do Supremo Tribunal
Federal, o entendimento segundo o qual o direito ao duplo grau de jurisdição
prevalece sobre o princípio da soberania dos vereditos, prevista no artigo 5º,
XXXVIII, “c”, da Constituição Federal, pelo que importa em inegável reformatio in
pejus indireta o agravamento da pena resultante de novo julgamento realizado em
face Jurisprudência/STJ.

(STJ – HC 149025/SP HABEAS CORPUS 2009/0190922-7. Relator Ministro NEFI


CORDEIRO).

RECURSO ESPECIAL. DIREITO PROCESSUAL PENAL. APELAÇÃO INTERPOSTA


POR ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO HABILITADO NOS AUTOS. INTEMPESTIVIDADE.
PRAZO DE 5 DIAS. RECURSO NÃO CONHECIDO. A jurisprudência dos tribunais
superiores há muito é pacífica no entendimento de que o prazo de interposição
do recurso de apelação para o assistente de acusação habilitado nos autos é de
5 (cinco) dias, a contar da sua intimação. Inteligência do artigo 598 do Código de
Processo Penal.

(STJ – REsp 235268/SC RECURSO ESPECIAL 1999/0095152-2. Relator Ministro


VICENTE LEAL).

47
Capítulo 3

APELAÇÃO CRIMINAL. RÉUS CONDENADOS POR DOIS HOMICÍDIOS


QUALIFICADOS (ARTS. 121, § 2º, INC. II, C/C 69, DO CP). RECURSOS
DEFENSÓRIOS. AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DOS DISPOSITIVOS LEGAIS
NOS TERMOS APELATÓRIOS. IRRELEVÂNCIA. RAZÕES RECURSAIS QUE
POSSIBILITAM A COMPREENSÃO DO INCONFORMISMO. Nas instâncias
ordinárias é irrelevante a falta de indicação dos dispositivos legais em que se apoia o
termo da apelação interposta pela defesa contra decisão do tribunal do júri, quando,
por esforço hermenêutico, seja possível extrair das razões que ensejaram o apelo
os fundamentos e as pretensões da parte, perfeitamente delineadas ao julgamento
pelo órgão revisor (TJSC – Apelação Criminal – Réu Preso – n. 2014.049555-6, de
Chapecó; Relator: Des. Sérgio Rizelo).

O pedido expresso de desistência, ratificado por advogado que detém poderes


especiais, revela o conformismo com a sentença condenatória, impondo-se sua
homologação e, por consequência, a decretação da perda superveniente do objeto
recursal

(TJSC – Apelação Criminal – Réu Preso – n. 2014.059599-7, de Rio do Oeste; rel.


Des. Carlos Alberto Civinski)

RECURSO DEFENSIVO. MANIFESTAÇÃO DO RÉU DE NÃO PRETENDER


RECORRER DA SENTENÇA. INSURGÊNCIA APRESENTADA POR SEU DEFENSOR
DATIVO. PREVALÊNCIA DA DEFESA TÉCNICA. APELAÇÃO CONHECIDA. SÚMULA
705 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Em que pese o réu tenha manifestado o
desejo de não recorrer, dispõe a Súmula 705 do Supremo Tribunal Federal que: “A
renúncia do réu ao direito de apelação, manifestada sem a assistência do defensor,
não impede o conhecimento da apelação por este interposta”. Logo, em havendo
conflito de interesses entre o réu e o seu defensor, a apelação deve ser conhecida.

(TJSC – Apelação Criminal n. 2014.072878-5, de Mafra; Relator: Des. Jorge


Schaefer Martins).

48
Recursos no Processo Penal

Seção 3

Dos embargos

3.1 Embargos de declaração


Trata-se de uma espécie sui generis de recurso à disposição de qualquer das
partes, voltado ao esclarecimento de dúvidas nos casos de ambiguidade,
obscuridade, contradição ou omissão. Estão previstos no sistema processual
penal brasileiro para as decisões proferidas pelos tribunais (art. 619 e 620 do
CPP), sendo cabível também em face das sentenças de primeiro grau em razão
do artigo 382 do Código de Processo Penal (embarguinhos).

Apesar da divergência doutrinária quanto à sua natureza jurídica (com ou sem


caráter de recurso), é certo que estão subordinados aos mesmos requisitos de
admissibilidade dos recursos em geral, além dos seus específicos.

3.1.1 Hipóteses de cabimento


De acordo com os artigos 382 e 619, ambos do CPP, caberá embargos de
declaração de sentença ou acórdão que contiver ambiguidade, obscuridade,
contradição ou omissão.

As decisões judiciais devem ser claras e precisas. A falta de clareza é um


defeito grave da decisão e deve ser corrigido.

A ambiguidade pode ser resultado do emprego de termos de dupla acepção, de


modo que não seja possível depreender o seu real sentido no caso concreto.
A obscuridade gera confusão. Quando a decisão não for clara, será cabível
embargos de declaração.

Já a contradição se refere a existência de proposições inconciliáveis, enquanto


a omissão se configura pela falta de apreciação de questões relevantes para o
julgamento.

3.1.2 Prazo para interposição


Os embargos de declaração, nos procedimentos em geral, serão opostos no
prazo de 2 (dois) dias, a contar da data de intimação.

Já nos procedimentos do Juizado Especial Criminal, conforme artigo 83, §1º, da


Lei 9.099/95, o prazo será de 5 (cinco) dias.

49
Capítulo 3

3.1.3 Procedimento
Podendo ser opostos pelo acusado, Ministério Público, querelante e assistente,
os embargos de declaração serão endereçados ao juiz ou relator, dependendo da
decisão impugnada, e, na petição que opor o recurso, terão de ser apresentados,
fundamentadamente, os pontos em que a sentença ou acórdão foi ambíguo,
obscuro, contraditório ou omisso.

Esse recurso dispensa a manifestação da parte contrária (inaudita altera pars),


já que, em princípio, não se destina a modificação da decisão, mas apenas
a promover o seu esclarecimento ou integração. Caso, porém, vislumbre-
se a possibilidade de a nova decisão ter efeito infringente, deverá ser dada
oportunidade para o recorrido apresentar contrarrazões.

Na petição dirigida ao juiz ou relator, conforme o caso, deverão ser indicados os


pontos em que a decisão é ambígua, obscura, contraditória ou omissa, podendo
ser liminarmente indeferido. Dependendo do preenchimento dos pressupostos
legais, os embargos serão recebidos ou indeferidos liminarmente.

Em primeiro grau, decidindo pelo recebimento da impugnação, o juiz já decidirá


de plano. No tribunal, recebidos os embargos, o relator os submeterá ao exame
do órgão responsável pela decisão.

3.1.4 Efeitos
Quanto aos efeitos dos embargos de declaração, não há no Código de Processo
Penal nenhuma disposição a respeito. Desse modo, por analogia, utiliza-se a
previsão expressa no artigo 538 do Código de Processo Civil, que determina a
interrupção dos prazos para interposição de qualquer outro recurso.

Portanto, o prazo para outros recursos fica interrompido, recomeçando a partir da


intimação da decisão que julgar os embargos. O prazo recomeçará a ser contado
a partir do primeiro dia, desprezando o tempo decorrido.

Em se tratando, no entanto, de embargos manifestamente protelatórios, o prazo


para a interposição de outro recurso não se interrompe ou suspende.

3.1.5 Jurisprudência
AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO
EXECUTÓRIA. OCORRÊNCIA. HIPÓTESES DE SUSPENSÃO OU INTERRUPÇÃO DO
PRAZO PRESCRICIONAL ENCONTRAM-SE TAXATIVAMENTE PREVISTAS EM LEI.
AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AUSÊNCIA
DE OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE. MERO INCONFORMISMO.
PRETENSÃO DE REJULGAMENTO DA AÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE

50
Recursos no Processo Penal

PREQUESTIONAMENTO DE DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS NA VIA ELEITA.


EMBARGOS DECLARATÓRIOS REJEITADOS. Não existindo e não demonstrando
o assiste da acusação a presença de nenhum dos vícios previstos no artigo 619 do
Código de Processo Penal, não há que se acolher os aclaratórios. Os embargos
de declaração não servem para sanar o inconformismo da parte com o resultado
desfavorável no julgamento ou para rediscutir matéria já decidida.

(AgRg no HC 274954/SC AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS


2013/0253755-1. Relator Ministro MOURA RIBEIRO).

PROCESSUAL E ADMINISTRATIVO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.


CONTRADIÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. OMISSÃO CONFIGURADA. ACOLHIMENTO
PARCIAL. PARA SANAR O VÍCIO INDICADO. SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL.
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. COMISSÃO PROCESSANTE.
SUSPEIÇÃO DA PRESIDENTE NÃO COMPROVADA. NOMEAÇÃO DE DEFENSOR
DATIVO. AUSÊNCIA DE IRREGULARIDADE. AMPLA DEFESA ASSEGURADA.
PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA. NÃO OCORRÊNCIA. PAD SUSPENSO
POR FORÇA DE DECISÃO JUDICIAL. Os embargos de declaração constituem
instrumento processual com o escopo de eliminar do julgamento obscuridade,
contradição ou omissão sobre tema cujo pronunciamento se impunha pelo
acórdão ou, ainda, de corrigir evidente erro material, servindo, dessa forma, como
instrumento de aperfeiçoamento do julgado (art. 535, CPC).

(EDcl no MS 17873/DF EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO MANDADO DE


SEGURANÇA 2011/0286621-7. Relator Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES).

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE


DECLARAÇÃO EM RECURSO ESPECIAL. ART. 2º DA LEI N. 8.176/1991. OMISSÃO,
AMBIGUIDADE, CONTRADIÇÃO OU ERRO MATERIAL. NÃO OCORRÊNCIA.
MERO INCONFORMISMO. ALEGAÇÃO DE QUE A MULTA FOI A ÚNICA PENA
APLICADA PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. PRETENDIDA PRESCRIÇÃO. ABUSO
DO DIREITO DE RECORRER. PROPÓSITO PROCRASTINATÓRIO. FALTA DE
COMPROMISSO COM A VERDADE. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NÃO
CONHECIDOS. COMUNICAÇÃO À OAB. 1. Consoante o disposto no artigo 619
do Código de Processo Penal, a oposição de embargos de declaração almeja, em
síntese, o aprimoramento da prestação jurisdicional, por meio da retificação do
julgado que se apresenta omisso, ambíguo, contraditório ou com erro material. 2. O
mero inconformismo da parte com o resultado do julgamento não se coaduna com
a via do recurso integrativo, sobretudo porque a concessão de efeitos infringentes
aos embargos de declaração somente pode ocorrer em hipóteses excepcionais,
em casos de erro evidente, não se prestando, pois, para revisar a lide.

51
Capítulo 3

(EDcl no AgRg nos EDcl no REsp 1263951/SP EMBARGOS DE DECLARAÇÃO


NO AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO
ESPECIAL 2011/0156775-2. Relato Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ).

PENAL E PROCESSO PENAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS


ACLARATÓRIOS NO AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. AUSÊNCIA DE OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE NO
ACÓRDÃO EMBARGADO. EFEITO INFRINGENTE. INVIABILIDADE. AFRONTA AOS
ARTS. 105, “A” E “C”, 5º, LIV, E 1º, TODOS DA CF. MATÉRIA CONSTITUCIONAL.
NÃO CABIMENTO. EMBARGOS REJEITADOS. 1. O cabimento dos embargos
de declaração em matéria criminal está disciplinado no artigo 619 do Código de
Processo Penal, sendo que a inexistência dos vícios ali consagrados importam no
desacolhimento da pretensão aclaratória. 2. “O vício da contradição que autoriza
os embargos é do julgado com ele mesmo, entre suas premissas e conclusões,
jamais com a lei, com o entendimento da parte, com os fatos e provas dos autos
ou com entendimento exarado em outros julgados. A contradição, portanto,
consuma-se entre as premissas adotadas ou entre estas e a conclusão do acórdão
hostilizado, o que não é o caso dos autos” (EDcl no AgRg no REsp 1280006/RJ,
Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 27/11/2012, DJe
06/12/2012). 3. Inviável a concessão do excepcional efeito modificativo quando,
sob o pretexto de ocorrência de contradição na decisão embargada, é nítida a
pretensão de rediscutir matéria já suficientemente apreciada e decidida.

(EDcl nos EDcl no AgRg no AREsp 500358/DF EMBARGOS DE DECLARAÇÃO


NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL 2014/0076144-7. Relator(a) Ministra MARIA THEREZA DE
ASSIS MOURA).

3.2 Embargos infringentes e de nulidade


Com o objetivo de combater decisões não unânimes, desfavoráveis ao réu e
proferidas por tribunal, os embargos infringentes destinam-se à impugnação de
questões de mérito, enquanto os embargos de nulidade visam ao reconhecimento
de irregularidade processual favorável ao acusado, possuindo ambos os mesmos
pressupostos e forma de processamento.

São recursos exclusivos do réu.

3.2.1 Hipóteses de cabimento


Os embargos infringentes e de nulidade são cabíveis quando o tribunal, em
prejuízo do réu, decidir, por maioria de votos, matéria impugnada por intermédio
de recurso em sentido estrito ou apelação.

52
Recursos no Processo Penal

O objeto desta espécie recursal deve ser, exclusivamente, a parte controversa


do acórdão embargado, isto é, se somente parte da decisão for tomada por
maioria de votos, apenas esta estará sujeita à impugnação por meio de embargos
infringentes e de nulidade. Entretanto, se a divergência for, simplesmente, no
tocante à fundamentação dos votos em decisão unânime, não será cabível este
recurso.

Podem ser opostos no caso de recurso em sentido estrito e apelação. Não


cabem nos casos de revisão criminal e habeas corpus.

3.2.2 Prazo para interposição


O prazo para oposição dos embargos infringentes e de nulidade é de 10 (dez)
dias, contados da publicação do acórdão.

3.2.3 Procedimento
Os embargos infringentes e de nulidade devem ser opostos mediante a
apresentação de petição, acompanhada das razões, ao relator da decisão
embargada que, recebendo a peça, analisará se preenchidos todos os
pressupostos recursais. O relator do acórdão poderá indeferir in limine os
embargos.

Determinado o processamento do recurso, será nomeado novo relator e


novo revisor, que não poderão ter participado do julgamento anterior.

A fim de propiciar a impugnação dos embargos, abrir-se-á vista dos autos ao


querelante do recurso que gerou a decisão embargada, bem como ao assistente
de acusação, se houver.

Passada a etapa anterior, colhe-se parecer do Ministério Público de segunda


instância, seguindo depois os autos conclusos ao relator para elaboração de
relatório que, posteriormente, deve ser encaminhado ao revisor.

Considerando que o objetivo deste recurso é submeter a matéria questionada


a uma nova apreciação, seu julgamento é realizado pela reunião de um número
maior de julgadores, sem dispensar, no entanto, aqueles que participaram da
decisão embargada, os quais poderão mudar seu primeiro posicionamento,
proferindo novo voto (retratação).

Ainda que não haja unanimidade na nova decisão, dela não poderão ser opostos
novos embargos infringentes ou de nulidade.

53
Capítulo 3

Havendo empate na votação, concede-se a decisão mais favorável ao réu.

Não há previsão de embargos infringentes no Superior Tribunal de Justiça.

No âmbito do Supremo Tribunal Federal, de acordo com seu regimento interno


(art. 333, I, II e V), são cabíveis embargos infringentes da decisão não unânime
do plenário ou turma que julgar procedente a ação penal; improcedente a revisão
criminal; for desfavorável ao réu, em recurso criminal ordinário.

3.2.4 Jurisprudência
EMBARGOS INFRINGENTES, DE NULIDADE “E DE DIVERGÊNCIA ENTRE
DECISÕES DE CÂMARAS ISOLADAS”. CRIMES DE HOMICÍDIO TRIPLAMENTE
QUALIFICADOS, PERPETRADOS POR TRÊS VEZES, E DE COAÇÃO NO CURSO
DO PROCESSO. ACÓRDÃO CONFIRMATÓRIO DA CONDENAÇÃO IMPOSTA AOS
EMBARGANTES PROFERIDO EM APELAÇÃO CRIMINAL. DISSENSO APENAS
QUANTO AO RECONHECIMENTO DO CONCURSO MATERIAL DE CRIMES.
INSURGÊNCIA DOS EMBARGANTES RELATIVAMENTE A NULIDADES AFASTADAS
POR UNANIMIDADE NO JULGAMENTO DO APELO. NÃO CONHECIMENTO
DA MATÉRIA, UMA VEZ QUE, SENDO OS EMBARGOS INFRINGENTES, E DE
NULIDADE, UM SÓ RECURSO, SUJEITAM-SE AOS REQUISITOS DELINEADOS
NO ART. 609, PAR. ÚN., DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, MORMENTE
A IMPRESCINDIBILIDADE DE DIVERGÊNCIA. Os embargos de nulidade, por
integrarem os infringentes, apenas com roupagem processual, não devem ser
conhecidos quando não preenchidos os requisitos estampados no artigo 609,
parágrafo único, do Código de Processo Penal, notadamente quando não existe
divergência entre os desembargadores sobre questões processuais.

(Embargos Infringentes n. 2013.010588-1, da Capital; Relator: Des. Sérgio Rizelo).

PROCESSUAL PENAL – EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM REVISÃO CRIMINAL


– AVENTADA OBSCURIDADE POR AUSÊNCIA DE DECLARAÇÃO DO PONTO
ACOLHIDO PELOS DESEMBARGADORES PARCIALMENTE VENCIDOS –
NÃO OCORRÊNCIA – VOTO VENCIDO DECLARADO POR UM DOS PARES
ACOMPANHADO PELOS DEMAIS – OMISSÃO NO ACÓRDÃO DIANTE DA FALTA
DE LAVRATURA DOS VOTOS VENCIDOS, COM FUNDAMENTO NO ART. 151,
§ 2º, DO REGIMENTO INTERNO DESTA CORTE – PRESCINDIBILIDADE DAS
DECLARAÇÕES DE VOTO DIANTE DA IMPOSSIBILIDADE DE INTERPOSIÇÃO DE
EMBARGOS INFRINGENTES EM REVISÃO CRIMINAL – ALEGAÇÃO RECHAÇADA
– RECURSO DESPROVIDO. Ainda que conste de forma genérica da certidão
de julgamento a procedência parcial do pleito por três dos desembargadores
divergentes, declarada a motivação por um deles em seu voto vencido, não há

54
Recursos no Processo Penal

falar em obscuridade no aresto. “Sendo a revisão criminal uma ação e não um


recurso, é amplamente majoritário o entendimento de que não cabem embargos
infringentes na revisão criminal (RT, 534/346)” (STJ, Min. Vasco Della Giustina).
Assim, é prescindível a declaração de voto vencido, nos termos do § 2º do art. 151
do regimento interno desta corte.

(Embargos de Declaração em Revisão Criminal n. 2014.069934-3/0001.00, de São


José; Relator: Des. Getúlio Corrêa).

EMBARGOS INFRINGENTES – FURTO QUALIFICADO PELO ARROMBAMENTO E


CONCURSO DE AGENTES (CP, ART. 155, § 4º, I E IV) – SENTENÇA CONDENATÓRIA
MANTIDA, POR MAIORIA DE VOTOS, EM APELAÇÃO CRIMINAL – APLICAÇÃO
DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA PELO VOTO DIVERGENTE – SUBTRAÇÃO
DE PRODUTOS AVALIADOS EM R$ 15,00 (QUINZE REAIS) – ARROMBAMENTO
DA PORTA E VIDRO DO EXPOSITOR DOS PRODUTOS DANIFICADO – PREJUÍZOS
DA VÍTIMA QUE PERFAZEM CERCA DE 85% DO SALÁRIO MÍNIMO VIGENTE AO
TEMPO DOS FATOS – REINCIDÊNCIA ESPECÍFICA – MAIOR REPROVABILIDADE
DA CONDUTA – PREVALÊNCIA DO ENTENDIMENTO MAJORITÁRIO – RECURSO
DESPROVIDO.

(Embargos Infringentes n. 2014.089715-2, da Capital; Relator: Des. Getúlio Corrêa).

EMBARGOS INFRINGENTES. CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. PLEITO


ABSOLUTÓRIO CALCADO NOS FUNDAMENTOS DO VOTO VENCIDO PROFERIDO
NO JULGAMENTO DA APELAÇÃO CRIMINAL. MATERIALIDADE COMPROVADA.
CONSTITUIÇÃO DEFINITIVA DO CRÉDITO EXTRAÍDA DOS ELEMENTOS
CONSTANTES NOS AUTOS. CONDENAÇÃO PRESERVADA. RECURSO NÃO
PROVIDO.

(Embargos Infringentes n. 2014.044292-6, de Brusque; Relator Designado: Des.


Moacyr de Moraes Lima Filho).

55
Capítulo 4

Recursos em Espécie II1

Seção 1

Carta testemunhável
É um recurso residual, que visa modificar decisão do juízo a quo que tenha
negado seguimento a outro recurso, a fim de fazê-lo ser conhecido e examinado
pelo tribunal ad quem. Tem por finalidade propiciar à instância superior a
reparação de um gravame provocado pelo juiz que não recebeu o recurso, ou, se
recebeu, obstou seu seguimento.

Testemunhante é o recorrente, enquanto testemunhado é o juiz que denega


o recurso.

1 DALABRIDA, Sidney Eloy. Recursos no processo penal. Palhoça: Unisul Virtual, 2016.

57
Capítulo 4

1.1 Hipóteses de cabimento


Consoante artigo 639 do Código de Processo Penal, caberá carta testemunhável:

a. da decisão que denegar o recurso;


b. da que, embora admitindo o recurso, obstar a sua expedição e
seguimento para o juízo ad quem.
Utiliza-se a carta testemunhável quando não houver outro recurso para impugnar
a decisão judicial que impediu o trâmite normal de algum recurso. Daí porque,
quando houver denegação da apelação, não há falar-se em carta testemunhável,
uma vez que o recurso cabível é em sentido estrito, conforme previsto no artigo
581, inciso XV, do Código de Processo Penal.

1.2 Prazo para interposição


O prazo para interpor carta testemunhável é de 48 (quarenta e oito) horas,
contadas do despacho que denegar o recurso. Apesar de não prevista, há
necessidade de intimação da parte.

1.3 Procedimento
A carta testemunhável será interposta mediante petição ao escrivão do cartório
judicial, e deverá indicar as peças necessárias à formação da carta. O escrivão
ou funcionário do tribunal a quem for dirigida deverá dar recibo e, no prazo de
5 (cinco) dias, fará a sua extração e autuação. Caso se negue a dar recebido ou
deixe de entregar o instrumento, será suspenso.

Uma vez formado o instrumento, intima-se o testemunhante a apresentar suas


razões, em 2 (dois) dias e, em seguida, em igual prazo, intima-se o testemunhado
a oferecer suas contrarrazões. Com as razões e contrarrazões, o escrivão deverá
fazer conclusão ao juiz, que poderá manter ou reformar a decisão. Havendo
retratação, não há recurso para a parte contrária. Caso mantenha a decisão, os
autos da carta testemunhável serão encaminhados ao tribunal competente.

Em suma, em primeiro grau, a carta testemunhável seguirá o procedimento


previsto para o recurso em sentido estrito, inclusive no tocante à possibilidade
de retratação pelo juiz. Na segunda instância, o rito a ser seguido é aquele que
seria adotado para o recurso denegado. Se conhecida a carta, o órgão que a tiver
julgado poderá mandar processar o recurso que dela foi objeto ou, desde logo,
decidi-lo no mérito.

58
Recursos no Processo Penal

1.4 Efeitos
O Código de Processo Penal é enfático ao prever, no artigo 646, a impossibilidade
de se atribuir efeito suspensivo à decisão, mediante a interposição de carta
testemunhável. Portanto, possui efeito meramente devolutivo.

Em face de sua finalidade, a devolução ao tribunal é limitada, ficando circunscrita


aos mesmos aspectos, ou seja, recebimento do recurso que o juiz não admitiu ou
ordem para que o juiz confira seguimento ao recurso que já recebeu.

1.5 Jurisprudência
RECURSO DE AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL. INSURGÊNCIA DEFENSIVA
CONTRA DECISÃO QUE DEIXOU DE RECEBER AGRAVO DE EXECUÇÃO
ANTERIOR. VIA INADEQUADA. CARTA TESTEMUNHÁVEL COMO RECURSO
CABÍVEL, NOS TERMOS DO ART. 639, INCISO I, DO CÓDIGO DE PROCESSO
PENAL. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE RECURSAL. INAPLICABILIDADE. ERRO
GROSSEIRO. ADEMAIS, AGRAVO QUE NÃO FOI INTERPOSTO DENTRO DO
PRAZO LEGAL DA CARTA TESTEMUNHÁVEL. RECURSO NÃO CONHECIDO. 1.
“Decisão que denega o recurso: é a decisão que julga inadmissível a interposição
de determinado recurso, por qualquer motivo. Tal situação pode ocorrer nas
seguintes hipóteses: recurso em sentido estrito, agravo em execução e correição
parcial. Não havendo recurso específico para impugnar esse julgado (como há
para combater a denegação de apelação, que é o recurso em sentido estrito),
resta à parte a interposição de carta testemunhável” (NUCCI, Guilherme de Souza.
Código de Processo Penal Comentado. 11ª ed., São Paulo: Revista dos Tribunais,
2012, p. 1099). 2. “Incabível a interposição de agravo em execução contra decisão
que negou seguimento a agravo anteriormente interposto, na medida em que a
via adequada para insurgir-se contra tal decisão é a carta testemunhável, nos
exatos termos do artigo 639, I, do CPP. De outra parte, impossível receber o agravo
como carta testemunhável, pois interposto fora do prazo desta última. Ainda de
destacar que a decisão agravada está correta, pois não há como aquele que não
está se submetendo à pena, recorrer para pleitear alguma alteração relativa a esta.
AGRAVO EM EXECUÇÃO NÃO CONHECIDO” (TJRS – Agravo n. 70057616369,
Rela. Desa. Isabel de Borba Lucas, j. em 19/02/2014).

(Recurso de Agravo n. 2015.004239-6, de Blumenau; Relator: Des. Paulo Roberto


Sartorato).

59
Capítulo 4

CARTA TESTEMUNHÁVEL. IRRESIGNAÇÃO CONTRA O NÃO RECEBIMENTO


DO RECURSO DE APELAÇÃO. VIA INADEQUADA. PREVISÃO DE RECURSO
ESPECÍFICO (ARTIGO 581, INCISO XV, DO CPP). PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE
RECURSAL (ARTIGO 579, DO CPP). INAPLICABILIDADE. INEXISTÊNCIA DE
DIVERGÊNCIA DOUTRINÁRIA OU JURISPRUDENCIAL QUANTO AO RECURSO
A SER AFORADO ANTE O DECISUM PROLATADO. NÃO CONHECIMENTO. Não
obstante a existência de autorização legal à aplicação do princípio da fungibilidade
recursal (art. 579 do Código de Processo Penal), a sua incidência, in casu, resta
prejudicada por existir previsão legal de recurso específico da decisão judicial que
denega a apelação ou a julga deserta, qual seja, recurso em sentido estrito (art. 581,
inciso XV, do CPP). Deste modo, em face à ausência de qualquer dúvida sobre o
recurso correspondente à decisão proferida, a interposição de carta testemunhável,
no caso concreto, caracteriza a figura do “erro grosseiro”, que por si só afasta a
incidência do princípio da fungibilidade.

(Carta Testemunhável n. 2013.061466-5, de Xanxerê; Relator: Des. Substituto José


Everaldo Silva).

Seção 2

Correição parcial
A correição parcial nada mais é do que um meio de impugnação de decisões
que importem em inversão tumultuária do processo, nas situações em que não
haja recurso específico, podendo ser interposta pelo acusado, Ministério Público,
querelante e assistente de acusação.

No nosso estado, o recurso leva o nome de “reclamação”, tendo previsão


no artigo 243 do regimento interno do Tribunal de Justiça de Santa
Catarina, que estabelece: “Caberá reclamação de decisão que contenha
erro ou abuso, que importe na inversão da ordem legal do processo,
quando para o caso não haja recurso específico”.

60
Recursos no Processo Penal

2.1 Hipóteses de cabimento


Caberá correição parcial das decisões não impugnáveis por intermédio de
recurso próprio, que gerem tumulto processual em razão de erro de procedimento
(error in procedendo), não sendo jamais aplicável aos casos em que o erro seja
em relação ao mérito (error in judicando).

Seu objetivo é corrigir o erro cometido pelo juiz, promovendo a anulação da


decisão que gerou tumulto processual, permitindo seu reexame pelo tribunal.

2.2 Prazo para interposição


Conforme majoritariamente entende a doutrina, o procedimento aplicado à
correição parcial é o mesmo previsto para o agravo de instrumento no processo
civil. Dessa forma, pode-se dizer que o prazo para interposição do recurso será
de 10 (dez) dias, a contar da ciência do despacho impugnado.

2.3 Procedimento
Como já mencionado, à correção parcial aplica-se o rito do agravo de
instrumento, conforme as regras estabelecidas no Código de Processo Civil.

Assim, interposta mediante petição dirigida ao tribunal competente para


processar e julgar o feito, a correição parcial deverá ser instruída com cópia
da decisão impugnada, certidão de intimação do corrigente (recorrente),
instrumentos de procuração do advogado deste e do corrigido (recorrido), bem
como outras peças reputadas úteis.

Ao ser recebida pelo relator, este analisará a possibilidade de aplicação de efeito


suspensivo à correição, podendo, ainda, requerer informações ao juiz a quo,
mas determinando, em seguida, a intimação da parte contrária para apresentar
contrarrazões.

Posteriormente, dar-se-á vista dos autos ao Ministério Público de segundo grau,


se não for este o próprio corrigente, passando-se, em seguida, ao julgamento
do feito, no caso de já não ter sido reformada a decisão pelo juiz em juízo de
retratação.

2.4 Efeitos
Regra geral, a correição parcial não possui efeito suspensivo. Todavia, analisando
os autos, faculta-se ao relator aplicar o mencionado efeito.

61
Capítulo 4

2.5 Jurisprudência
RECLAMAÇÃO (CORREIÇÃO PARCIAL) – PROCEDIMENTO AFETO À APURAÇÃO
DE CRIME MILITAR – ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR (CPM, ARTS. 233 C/C 236,
III) – VÍTIMA NÃO ENCONTRADA PARA PRESTAR DEPOIMENTO – DESISTÊNCIA
DA OITIVA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO – ADITAMENTO DA DENÚNCIA PARA
EXCLUIR IMPUTAÇÃO INICIAL E LIMITAR-SE À DESCRIÇÃO DO CRIME DE
PREVARICAÇÃO (CPM, ART. 319) – DECISÃO QUE SUSPENDE APRECIAÇÃO
DO ADITAMENTO E INSISTE NO DEPOIMENTO PESSOAL DA VÍTIMA –
DETERMINAÇÃO DE CONDUÇÃO COERCITIVA – ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO AO
SISTEMA ACUSATÓRIO E AOS PRINCÍPIOS DA IMPARCIALIDADE E INÉRCIA DO
JUIZ – INOCORRÊNCIA – INTELIGÊNCIA DO ART. 356 DO CPPM – INTIMAÇÃO,
CONTUDO, LIMITADA A APENAS UMA NOVA OPORTUNIDADE – CELERIDADE
PROCESSUAL E PRESERVAÇÃO DA INTIMIDADE DA VÍTIMA – RECLAMAÇÃO
PARCIALMENTE PROVIDA

(Reclamação n. 2015.013627-7, da Capital; Relatora: Des.ª Salete Silva Sommariva).

CORREIÇÃO PARCIAL (RECLAMAÇÃO) – INDEFERIMENTO DO ROL


DE TESTEMUNHAS – CERCEAMENTO DE DEFESA – INOCORRÊNCIA –
APRESENTAÇÃO EXTEMPORÂNEA – ALEGADA INEXPERIÊNCIA DO CAUSÍDICO
ANTERIOR QUANTO AO TRANSCURSO DO PRAZO IN ALBIS – SUPOSTA DESÍDIA
INSUFICIENTE A FLEXIBILIZAR PRAZOS PEREMPTÓRIOS – PRECLUSÃO
CONSUMATIVA VERIFICADA – RECURSO DESPROVIDO.

(Reclamação n. 2015.013439-0, de São Domingos; Relatora: Des.ª Salete Silva


Sommariva).

RECLAMAÇÃO (CORREIÇÃO PARCIAL). DECISÃO QUE SUSPENDEU O


PROCESSO POR IMPOSSIBILIDADE PRÁTICA DE CUMPRIMENTO DE MANDADO
DE INTIMAÇÃO PARA AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO. AUSÊNCIA
DE PREVISÃO LEGAL PARA SUSPENSÃO DO PROCESSO PELO FUNDAMENTO
APONTADO. INVERSÃO TUMULTUÁRIA DA ORDEM LEGAL DO PROCESSO
EVIDENCIADA. RECLAMAÇÃO PROCEDENTE. DECISÃO CASSADA.

(Reclamação n. 2012.082239-3, de Otacílio Costa; Relator: Des. Alexandre


d’Ivanenko).

RECLAMAÇÃO – DESPACHO DO MAGISTRADO QUE INDEFERE O


REQUERIMENTO DE CÓPIAS DE OUTROS AUTOS À VARA DA INFÂNCIA E DA

62
Recursos no Processo Penal

JUVENTUDE – DOCUMENTOS QUE PODEM SER SUPRIDOS COM CERTIDÃO


CARTORÁRIA – INEXISTÊNCIA, NA HIPÓTESE, DE TUMULTO PROCESSUAL,
INSEGURANÇA JURÍDICA, ERRO OU ABUSO QUE POSSA IMPORTAR NA
INVERSÃO DA ORDEM LEGAL DO PROCESSO – APLICABILIDADE DO ART. 243
DO RITJSC – PRECEDENTES – RECURSO DESPROVIDO. “A inversão tumultuária
do processo, passível de correição parcial, somente se caracteriza nas hipóteses
em que o representante do Parquet demonstra, de pronto, a incapacidade de
realização da diligência requerida por meios próprios, o que não se verifica na
hipótese vertente (STJ, Min. Arnaldo Esteves Lima).

(Reclamação n. 2007.032603-9, de São José; Relator: Des. Moacyr de Moraes


Lima Filho).

Seção 3

Reclamação
Prevista no artigo 102, I, L, e artigo 105, I, f, ambos da Constituição Federal
Brasileira de 1988, a reclamação é instrumento destinado a preservar a
competência ou garantir a autoridade das decisões do Supremo Tribunal Federal
e Superior Tribunal de Justiça.

3.1 Hipóteses de cabimento


Segundo disposto no artigo 103-A, § 3º, da CF/88, sempre que houver ato
administrativo ou decisão judicial que contrarie súmula do Supremo Tribunal
Federal ou a aplique indevidamente, caberá reclamação para o próprio STF.

Além disso, consoante Resolução n. 12/2009/STJ, caberá reclamação para o


Superior Tribunal de Justiça, contra as decisões proferidas pelas turmas recursais
dos juizados especiais criminais dos estados, que contrariem a jurisprudência do
STJ, suas súmulas ou orientações decorrentes do julgamento de recurso especial.

3.2 Prazo para interposição


Não há na lei nenhuma disposição quanto ao prazo para interposição de
reclamação.

Todavia, o STF, ao editar a Súmula 734, definiu que caberá reclamação até o
trânsito em julgado do ato judicial combatido.

63
Capítulo 4

Já o STJ, através do artigo 1º da Resolução n. 12/2009, determinou que a


reclamação poderá ser oferecida no prazo de 15 (quinze) dias, contados da
intimação da parte.

3.3 Procedimento
De acordo com a Lei n. 8.038/90, a reclamação, que deverá estar instruída
com prova documental, será dirigida ao presidente do tribunal respectivo, que
distribuirá o feito a um relator, o qual requisitará informações à autoridade
responsável pelo ato impugnado, apreciará a possibilidade de aplicação de
efeito suspensivo, dará vista ao procurador-geral, se não for este o reclamante,
passando, em seguida, ao julgamento.

Procedente a reclamação, o tribunal ordenará a cassação da decisão


impugnada ou, ainda, determinará a adoção de medida adequada à
preservação de sua competência.

3.4 Efeitos
A fim de evitar dano irreparável, o relator poderá conceder efeito suspensivo ao
processo ou ato impugnado.

3.5 Jurisprudência
RECLAMAÇÃO. ALEGAÇÃO DE AFRONTA À AUTORIDADE DE DECISÃO DESTA
CORTE. OCORRÊNCIA. AFASTAMENTO DA VEDAÇÃO INSCRITA NO § 1º DO
ART. 2º DA LEI N. 8.072/1990, NA REDAÇÃO DADA PELA LEI N. 11.464/2007.
POSSIBILIDADE DE CUMPRIMENTO DA PENA EM REGIME DIVERSO DO
FECHADO, À LUZ DAS BALIZAS DELINEADAS PELO ART. 33, § 2º E 3º, DO
CP. INOBSERVÂNCIA DA DIRETRIZ PELO JUÍZO DA EXECUÇÃO. PARECER
ACOLHIDO. 1. Nos termos do artigo 105, I, f, da Constituição Federal, cabe
reclamação para preservar a competência do Superior Tribunal de Justiça e garantir
a autoridade de suas decisões.

(STJ – Rcl 23434/SP RECLAMAÇÃO 2015/0032236-7. Relator Ministro SEBASTIÃO


REIS JÚNIOR).

CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL.


RECLAMAÇÃO. USURPAÇÃO DA COMPETÊNCIA DO STJ. AÇÃO PENAL.
INEXISTÊNCIA DE RÉU COM PRERROGATIVA DE FORO. FORMAÇÃO DA OPPINIO
DELICTI. ATRIBUIÇÃO EXCLUSIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO. PRECEDENTES
DO STF E DO STJ. RECLAMAÇÃO NÃO CABÍVEL 1. A reclamação é instrumento

64
Recursos no Processo Penal

processual de caráter específico e de aplicação restrita, somente sendo cabível


quando outro órgão julgador estiver exercendo competência privativa ou exclusiva
deste tribunal

(STJ – AgRg na Rcl 23671/MT AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO


2015/0042466-2. Relator Ministro HUMBERTO MARTINS).

RECLAMAÇÃO. PRESSUPOSTOS CONSTITUCIONAIS. PRESERVAÇÃO DA


COMPETÊNCIA E GARANTIA DA AUTORIDADE DAS DECISÕES DESTA CORTE EM
FACE DE OUTRO TRIBUNAL. FINALIDADE DE SUBSTITUIR RECURSO PRÓPRIO.
O procedimento de reclamação previsto no artigo 105, I, f, da CR, não pode ser
admitido como sucedâneo de recurso, notadamente se a discussão nele trazida
reclama a conclusão de pedido jurisdicional deduzido na instância de origem.

(Rcl 17359/BA RECLAMAÇÃO 2014/0068236-6. Relatora Ministra MARIA THEREZA


DE ASSIS MOURA).

Seção 4

Recurso especial
Visando a assegurar o cumprimento de leis federais e uniformizar a sua aplicação
no país, o recurso especial é instrumento de impugnação de decisões que
envolvam questão federal de natureza infraconstitucional, proferidas em única
ou última instância pelos tribunais regionais federais ou tribunais de justiça dos
estados e Distrito Federal. É pela via do recurso especial que o Superior Tribunal
de Justiça faz o controle difuso da legislação infraconstitucional.

4.1 Hipóteses de cabimento


Nos termos do artigo 105, III, da CF/88, caberá recurso especial da decisão que:

a. contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;


b. julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face de lei
federal;
c. der à lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído
outro tribunal.

65
Capítulo 4

4.2 Condições de admissibilidade


Além das condições de admissibilidade previstas para os recursos em geral, para
que o recurso especial e também para o extraordinário sejam conhecidos, há
requisitos específicos, a saber:

a. Causa decidida em única ou última instância

O recurso busca a impugnação de uma decisão final, sendo assim considerada


aquela proferida após esgotadas todas as vias recursais ordinárias. Portanto,
caso a decisão ainda comporte impugnação, não será conhecido o recurso
especial. Desse modo, exige-se preclusão das vias impugnativas ordinárias
e, mais do que isso, que a parte tenha se aproveitado de todos os recursos
previstos em lei.

b. Pré-questionamento

A questão de direito controvertida deve ter sido debatida anteriormente. Para isso,
admite-se até o manejo dos embargos declaratórios. A matéria objeto do recurso
deve ter sido apreciada na decisão recorrida.

É inadmissível o reexame de matéria de fato nos recursos especial e


extraordinário.

4.3 Prazo para interposição


É de 15 (quinze) dias o prazo para interposição de recurso especial, sendo
iniciada a contagem após a publicação do acórdão ou, no caso do Ministério
Público, a partir da ciência pessoal de seu representante.

4.4 Procedimento
Interposto mediante petição dirigida ao presidente do tribunal a quo, o recurso
especial será recebido pela secretaria do tribunal, que intimará o recorrido para
apresentar contrarrazões no prazo de 15 dias.

Posteriormente, irão os autos para o presidente do tribunal, que realizará o


primeiro juízo de admissibilidade, passando, após isso, a proferir decisão de
recebimento ou denegação do recurso.

Denegado o recurso especial, poderá o recorrente interpor agravo de instrumento


para o STJ, na forma do artigo 28 da Lei n. 8.038/90.

Por outro lado, recebido o recurso, os autos subirão ao STJ, onde deverão

66
Recursos no Processo Penal

ser distribuídos, encaminhados à procuradoria-geral da República e, por fim,


incluídos na pauta para julgamento, ocasião em que será realizado um novo juízo
de admissibilidade e decidida a lide.

Poderá haver a interposição simultânea dos recursos especial e


extraordinário. Nesse caso, deverá ser feito em petições distintas. Uma
vez admitidos, os autos do processo serão remetidos, em primeiro lugar,
ao Superior Tribunal de Justiça, para a realização do juízo de prelibação
e julgamento do recurso especial. Logo após julgado o recurso especial,
os autos deverão ser remetidos ao Supremo Tribunal Federal para o
julgamento do recurso extraordinário, caso este já estiver prejudicado.

4.5 Efeitos
Conforme se denota do artigo 27, § 2º, da Lei n. 8.038/90, o recurso especial
será recebido apenas no efeito devolutivo. Entretanto, há na doutrina grande
discussão acerca da incompatibilidade entre o princípio da presunção de
inocência e a impossibilidade de concessão de efeito suspensivo à decisão
condenatória recorrida.

A propósito, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal foi alterada no


julgamento do habeas corpus n. 84.078/MG, tendo o plenário afastado a
possibilidade de execução de pena antes do seu trânsito em julgado, sendo
ressalvada a hipótese de prisão cautelar.

4.6 Jurisprudência
PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
ESPECIAL. ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR PRATICADO CONTRA MENOR
DE 14 ANOS. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. NÃO COMPROVAÇÃO NOS
MOLDES REGIMENTAIS. DELITO ANTERIOR. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO
EXECUTÓRIA. EFEITOS. MAUS ANTECEDENTES. ART. 226, II, DO CÓDIGO
PENAL. COMPROVADA AUTORIDADE DO RÉU SOBRE A VÍTIMA. INFORMAÇÃO
CONTEXTUALIZADA NA DENÚNCIA. VIOLAÇÃO DO ART. 157 DO CPP. AUSÊNCIA
DE PREQUESTIONAMENTO. AGRAVO IMPROVIDO. 1. O dissídio jurisprudencial
não foi comprovado nos termos exigidos pelo artigo 255, § 1º e 2º, do regimento
interno do Superior Tribunal de Justiça, notadamente pela ausência de transcrição
dos trechos dos acórdãos em confronto e do necessário cotejo analítico das teses
divergentes

(STJ – AgRg no REsp 1296080/SP AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL


2011/0291613-0. Relator Ministro NEFI CORDEIRO).

67
Capítulo 4

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL E PENAL. VIOLAÇÃO DE


DISPOSITIVO DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. VIA INADEQUADA.
NULIDADE. IMPARCIALIDADE DOS JULGADORES. CERCEAMENTO DE
DEFESA. JULGAMENTO ULTRA PETITA. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO.
PRETENSAS VIOLAÇÕES SURGIDAS NA PROLAÇÃO DO JULGADO RECORRIDO.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AUSÊNCIA. DEFESA. CARTA PRECATÓRIA.
OITIVA DAS TESTEMUNHAS. INTIMAÇÃO. EXPEDIÇÃO. SUFICIÊNCIA. DATA
DA AUDIÊNCIA NO JUÍZO DEPRECADO. DESNECESSIDADE. SÚMULA 273/STJ.
DENÚNCIA. INÉPCIA OU CARÁTER GENÉRICO. INEXISTÊNCIA. PREVARICAÇÃO.
ELEMENTOS TÍPICOS. DISCUSSÃO. AUSÊNCIA DE INTERESSE. DELITO
COM PUNIBILIDADE EXTINTA. ESTELIONATO. ATIPICIDADE DA CONDUTA.
IMPOSSIBILIDADE DE BAIXA DOS GRAVAMES. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO.
SÚMULAS 282 E 356/STF. INOCUIDADE NO CASO CONCRETO. FALSIFICAÇÃO
DAS PRECATÓRIAS. DEBATE. IRRELEVÂNCIA. RAZÕES DA FALSIFICAÇÃO.
DISCUSSÃO. INVIABILIDADE. SÚMULA 7/STJ. DECISÕES JUDICIAIS.
AUTENTICIDADE NÃO QUESTIONADA. ESTELIONATO. VANTAGEM ILÍCITA PARA
TERCEIROS. OBTENÇÃO. MEIO FRAUDULENTO. CARACTERIZAÇÃO. TIPO
PENAL CONFIGURADO. PENA-BASE. CULPABILIDADE. FUNDAMENTAÇÃO
IDÔNEA. EXERCÍCIO DO CARGO. MAIOR REPROVABILIDADE SOCIAL.
CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME. NEGATIVAÇÃO. FUNDAMENTAÇÃO IDÊNTICA.
BIS IN IDEM. CONDUTA SOCIAL E PERSONALIDADE. PROCESSOS PENAIS
E ADMINISTRATIVOS DISCIPLINARES EM CURSO. ILEGALIDADE. SÚMULA
444/STJ. MOTIVOS DO CRIME. DESEJO DE OBTER VANTAGEM. ELEMENTAR
DO CRIME. CONSEQUÊNCIAS. FUNDAMENTO GENÉRICO E ABSTRATO.
REDUÇÃO DA PENA. PRAZO PRESCRICIONAL. CONSUMAÇÃO. Jurisprudência/
STJ – Acórdãos página 1 de 5 EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. 1. A via especial
não se destina à análise da alegação de ofensa a dispositivo da Constituição da
República. Inviabilidade da apreciação da tese de nulidade decorrente da falta de
acesso aos autos do processo, durante boa parte da instrução processual, porque
trazida apenas sob esse argumento. 2. Carecem de pré-questionamento as teses
de nulidade do julgamento pela imparcialidade dos desembargadores (art. 35, I,
da Loman e art. 112 e 254, I, do CPP) e pelo cerceamento de defesa, porque
teriam sido concedidos apenas quinze minutos para que o advogado fizesse
sua sustentação oral (art. 12, I, da Lei n. 8.038/1990), bem assim a de decisão
ultra petita em relação à decretação de perda do cargo, porque não requerida na
denúncia (art. 92, a e b, do CP). As violações arguidas teriam ocorrido quando da
prolação do julgado recorrido e não houve a oposição de embargos de declaração
para que o tribunal a quo sobre elas se manifestasse. 3. Segundo entendimento
pacífico desta corte, ainda que a pretensa violação de lei federal tenha surgido
na prolação do acórdão recorrido, é indispensável a oposição de embargos de
declaração para que o tribunal de origem se manifeste sobre a questão. Se assim
não se fez, está ausente o necessário pré-questionamento.

68
Recursos no Processo Penal

(STJ – REsp 1384899/PE RECURSO ESPECIAL 2013/0162712-6. Relator Ministro


SEBASTIÃO REIS JÚNIOR).

PENAL. PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM


RECURSO ESPECIAL. APROPRIAÇÃO INDÉBITA. ABSOLVIÇÃO. NECESSIDADE
DE REVOLVIMENTO DO ACERVO FÁTICO-PROBATÓRIO. INCIDÊNCIA DA
SÚMULA N. 7 DO STJ. INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
IMPOSSIBILIDADE. VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DO PROMOTOR NATURAL.
AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS N. 282 E
356 DO STF. ABSOLVIÇÃO NA ESFERA ADMINISTRATIVA. INDEPENDÊNCIA DA
ESFERA PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. O reconhecimento
da alegada violação de dispositivo infraconstitucional aduzida pelo recorrente,
para decidir pela sua absolvição, demanda imprescindível revolvimento do acervo
fático-probatório delineado nos autos, procedimento vedado em recurso especial,
a teor do enunciado sumular n. 7 do STJ.

(STJ – AgRg no AREsp 148587/RS AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM


RECURSO ESPECIAL 2012/0056137-1. Relator Ministro ROGERIO SCHIETTI
CRUZ).

Seção 5

Recurso extraordinário
Tendo por premissa a proteção e correta aplicação das normas de natureza
constitucional, o recurso extraordinário destina-se a combater as decisões
judiciais que tenham violado dispositivo da Constituição Federal e não sejam
recorríveis por intermédio de outro recurso.

Assim como ocorre no recurso especial, o recurso extraordinário também possui


como requisito específico o pré-questionamento, sendo inadmissível o seu
manejo para revolvimento de matéria fática.

Além disso, é pressuposto básico de admissibilidade e processamento do recurso


extraordinário a repercussão geral, que, por analogia, é regulada pelas regras
estabelecidas no Código de Processo Civil e se caracteriza como uma exigência
de efetiva demonstração dos reflexos da matéria debatida sobre a sociedade. É
requisito de apreciação exclusiva do STF.

69
Capítulo 4

O instituto é regulamentado pela Lei n. 11.418/2006 e pelo regimento interno do


STF. Pela sistemática da repercussão geral, os processos que tratem sobre tema
com repercussão geral reconhecida ficam sobrestados nas demais instâncias
do poder judiciário até que o Supremo Tribunal Federal decida sobre a matéria.
Fixada a tese no STF, as instâncias inferiores aplicam o entendimento aos demais
casos sobrestados.

5.1 Hipóteses de cabimento


De acordo com o artigo 102, III, CF/88, caberá recurso extraordinário da decisão
que:

a. contrariar dispositivo desta Constituição;


b. declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
c. julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta
Constituição;
d. julgar válida lei local contestada em face de lei federal.

5.2 Prazo para interposição


É de 15 (quinze) dias o prazo para interpor recurso extraordinário, sendo iniciada
a contagem após a publicação do acórdão ou, no caso do Ministério Público, a
partir da ciência pessoal de seu representante.

5.3 Procedimento
O procedimento do recurso extraordinário está previsto na Lei n. 8.038/90 e é
idêntico ao do recurso especial.

5.4 Súmula vinculante


A súmula vinculante foi instituída a partir da inclusão do artigo 103-A na
Constituição Federal, por meio da Emenda Constitucional 45/2004, que
confere ao Supremo Tribunal Federal, após reiteradas decisões sobre matéria
constitucional, a possibilidade de editar verbetes com efeito vinculante que
contêm, de forma concisa, a jurisprudência consolidada da corte sobre
determinada matéria. O objetivo desse instrumento processual é impedir que
juízes de outras instâncias decidam de forma diferente da jurisprudência da
suprema corte. 

70
Recursos no Processo Penal

A súmula vinculante tem poder normativo, conforme estabelece a lei que a


regulamentou (Lei 11.417/2006), razão pela qual vincula ainda a administração
pública em todas suas esferas a adotar entendimento pacificado do STF sobre o
enunciado.

Importante não confundi-la com “súmula”, que representa a jurisprudência


consolidada do tribunal sobre determinada matéria, e que não possui caráter
cogente, servindo apenas de orientação para futuras decisões. Claro que uma
súmula, com poder meramente consultivo, pode vir a ter poder vinculante, desde
que obedecido o procedimento previsto na Lei n. 11.417/2006.

Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula vinculante,


negar-lhe vigência ou aplicá-la indevidamente, caberá reclamação ao Supremo
Tribunal Federal. Julgada procedente a reclamação, o STF anulará o ato
administrativo ou cassará a decisão judicial impugnada, determinando que outra
seja proferida com ou sem aplicação da súmula, conforme o caso.

5.5 Efeitos
Também se aplicam ao recurso extraordinário os mesmos efeitos gerados pelo
recurso especial.

5.6 Jurisprudência
RECURSO EXTRAORDINÁRIO EM MATÉRIA CRIMINAL E A EXIGÊNCIA
CONSTITUCIONAL DA REPERCUSSÃO GERAL. 1. O requisito constitucional da
repercussão geral (CF, art. 102, § 3º, red. EC 45/2004), com a regulamentação
da Lei 11.418/06 e as normas regimentais necessárias à sua execução, aplica-se
aos recursos extraordinários em geral, e, em consequência, às causas criminais.
2. Os recursos ordinários criminais de um modo geral, e, em particular, o recurso
extraordinário criminal e o agravo de instrumento da decisão que obsta o seu
processamento, possuem um regime jurídico dotado de certas peculiaridades –
referentes a requisitos formais ligados a prazos, formas de intimação e outros –
que, no entanto, não afetam substancialmente a disciplina constitucional reservada
a todos os recursos extraordinários (CF, art. 102, III). 3. A partir da EC 45, de 30 de
dezembro de 2004 – que incluiu o § 3º no artigo 102 da Constituição –, passou a
integrar o núcleo comum da disciplina constitucional do recurso extraordinário a
exigência da repercussão geral da questão constitucional. 4. Não tem maior relevo
a circunstância da Lei 11.418/06, que regulamentou esse dispositivo, ter alterado
apenas texto do Código de Processo Civil, tendo em vista o caráter geral das

71
Capítulo 4

normas nele inseridas. 5. Cuida-se de situação substancialmente diversa entre


a Lei 11.418/06 e a Lei 8.950/94 que, quando editada, estava em vigor norma
anterior que cuidava dos recursos extraordinários em geral, qual seja a Lei 8.038/90,
donde não haver óbice, na espécie, à aplicação subsidiária ou por analogia do
Código de Processo Civil. 6. Nem há falar em uma imanente repercussão geral
de todo recurso extraordinário em matéria criminal, porque em jogo, de regra, a
liberdade de locomoção: o RE busca preservar a autoridade e a uniformidade da
inteligência da Constituição, o que se reforça com a necessidade de repercussão
geral das questões constitucionais nele versadas, assim entendidas aquelas que
“ultrapassem os interesses subjetivos da causa” (Código de Processo Civil, art. 543-
A, § 1º, incluído pela Lei 11.418/06). 7. Para obviar a ameaça ou lesão à liberdade
de locomoção – por remotas que sejam –, há sempre a garantia constitucional do
habeas corpus (CF, art. 5º, LXVIII). II. Recurso extraordinário: repercussão geral: juízo
de admissibilidade: competência. 1 . Inclui-se no âmbito do juízo de admissibilidade
– seja na origem, seja no Supremo Tribunal – verificar se o recorrente, em preliminar
do recurso extraordinário, desenvolveu fundamentação especificamente voltada
para a demonstração, no caso concreto, da existência de repercussão geral (Código
de Processo Civil, art. 543-A, § 2º; RISTF, art. 327). 2. Cuida-se de requisito formal,
ônus do recorrente, que, se dele não se desincumbir, impede a análise da efetiva
existência da repercussão geral, esta, sim, sujeita “à apreciação exclusiva do
Supremo Tribunal Federal” (art. 543-A, § 2º). III. Recurso extraordinário: exigência de
demonstração, na petição do RE, da repercussão geral da questão constitucional:
termo inicial. 1. A determinação expressa de aplicação da Lei 11.418/06 (art. 4º)
aos recursos interpostos a partir do primeiro dia de sua vigência não significa a
sua plena eficácia. Tanto que ficou a cargo do Supremo Tribunal Federal a tarefa
de estabelecer, em seu regimento interno, as normas necessárias à execução da
mesma lei (art. 3º). 2. As alterações regimentais, imprescindíveis à execução da Lei
11.418/06, somente entraram em vigor no dia 03.05.07 – data da publicação da
Emenda Regimental nº 21, de 30.04.2007. 3. No artigo 327 do RISTF, foi inserida
norma específica tratando da necessidade da preliminar sobre a repercussão geral,
ficando estabelecida a possibilidade de, no Supremo Tribunal, a presidência ou o
relator sorteado negarem seguimento aos recursos que não apresentem aquela
preliminar, que deve ser “formal e fundamentada”. 4. Assim sendo, a exigência da
demonstração formal e fundamentada, no recurso extraordinário, da repercussão
geral das questões constitucionais discutidas só incide quando a intimação do
acórdão recorrido tenha ocorrido a partir de 03 de maio de 2007, data da publicação
da Emenda Regimental n. 21, de 30 de abril de 2007.

(STF – AI n. 664567 QO/RS – QUESTÃO DE ORDEM NO AGRAVO DE INSTRUMENTO.


Relator Min. Sepúlveda Pertence. Órgão Julgador: Tribunal Pleno, j. em 18/06/2007).

72
Recursos no Processo Penal

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO.


MATÉRIA CRIMINAL. AUSÊNCIA DE PRÉ-QUESTIONAMENTO. OFENSA REFLEXA.
REVALORAÇÃO DE PROVAS TESTEMUNHAIS. INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 279/
STF. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO ART. 93, IX, DA CONSTITUIÇÃO. AGRAVO
REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. Os dispositivos constitucionais tidos como
violados carecem do necessário pré-questionamento. Incidência das Súmulas
282 e 365 da corte. 2. A corte já se pronunciou reiteradamente a respeito da não
admissão da tese do chamado pré-questionamento implícito. Precedentes. 3. A
jurisprudência do Supremo Tribunal é pacífica no sentido de que questões relativas
à individualização da pena configuram ofensa reflexa ao texto constitucional,
por demandar exame prévio da legislação infraconstitucional. 4. A pretensão do
agravante de rediscutir a prova testemunhal esbarra no óbice da Súmula 279/
STF. 5. Ausência de violação ao artigo 93, inciso IX, sendo desnecessário que
o órgão judicante se manifeste minudentemente sobre todos os argumentos de
defesa apresentados, devendo ele, no entanto, explicitar as razões que entendeu
suficientes à formação de seu convencimento. 6. Recurso não provido.

(STF – ARE 825060 AgR/PR – PARANÁ. AG. REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO


COM AGRAVO. Relator Min. Dias Toffoli. Órgão Julgador: Segunda Turma, j. em
01/09/2015).

73
Capítulo 5

Ações Autônomas de
Impugnação1

Seção 1

Revisão criminal

1.1 Conceito
Foi erroneamente elencada entre os recursos pelo Código de Processo Penal,
mas, na verdade, trata-se de uma ação autônoma de impugnação da sentença
penal condenatória passada em julgado.

A relação processual da ação condenatória já se findou e, através desta


verdadeira ação, é instaurada uma nova relação processual, com o objetivo de
desconstituir a sentença, substituindo-a por outra.

Em poucas palavras, a revisão criminal é uma ação penal rescisória,


promovida perante o tribunal competente para que, nos casos previstos
em lei, seja efetuado o reexame de um processo encerrado por decisão
transitada em julgado.

1 DALABRIDA, Sidney Eloy. Recursos no processo penal. Palhoça: Unisul Virtual, 2016.

75
Capítulo 5

Com ela se permite que a decisão condenatória passada em julgado possa ser
novamente questionada em decorrência de novas provas, da atualização da
interpretação do direito ou da possibilidade de não ter sido prestada a jurisdição
adequada no julgamento anterior.

Evidentemente, não é permitida em favor da acusação, em razão do princípio da


vedação da revisão pro societate.

1.2 Legitimidade
A revisão criminal poderá ser proposta pelo réu ou procurador legalmente
habilitado. Não há necessidade de poderes especiais. Em caso de morte do
réu, a revisão poderá ser promovida pelo cônjuge, descendente, ascendente
ou irmão (art. 623 do CPP). Claro que, no conceito de cônjuge, incluem-se os
companheiros (art. 226, § 3º, CF). O Ministério Público não é parte legítima, mas
poderá impetrar habeas corpus.

No caso de falecimento do réu após a interposição da revisão, o presidente


do tribunal deverá nomear curador para dar prosseguimento à ação.

1.3 Prazo
A revisão criminal poderá ser proposta após o trânsito em julgado da decisão, e
pouco importa se o réu está cumprindo a pena ou se já a cumpriu, visto que a
finalidade da ação não é só evitar o cumprimento da pena imposta, mas corrigir
uma injustiça. Por isso, mesmo que haja falecido antes, durante ou após o
cumprimento da pena, poderá ser promovida a ação de revisão criminal.

1.4 Cabimento
De acordo com o artigo 621 do CPP, caberá revisão criminal dos processos
condenatórios:

I. Quando a sentença condenatória for contrária a texto expresso da


lei ou à evidência dos autos.

A contrariedade aqui se refere tanto à lei substantiva como


processual. São exemplos o réu condenado por fato que não
constitui crime ou condenação a pena superior ao limite máximo
previsto na lei penal. Não se trata aqui de questionar a boa ou má
interpretação da lei, e sim a afronta ao mandamento legal. Note-
se que, no caso de lei posterior que deixa de considerar o fato

76
Recursos no Processo Penal

como crime, ou seja, abolitio criminis, a revisão não será o meio


adequado, já que a competência é do juiz da execução penal
(Súmula 611 do STF).

Deverá ser frontal a contrariedade, detectada, no caso da última


parte (à evidência dos autos), a partir do seu evidente divórcio
dos elementos probatórios existentes nos autos. Cuida-se da
condenação que não tem amparo em provas, mas apenas em
indícios inconsistentes.
II. Quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos,
exames ou documentos comprovadamente falsos.

É imprescindível que a prova falsa tenha sido relevante para a


sentença condenatória. Inegável o cabimento da revisão quando a
sentença se apoiou na prova falsa. É preciso perceber, porém, que
a prova da falsidade não pode ser feita no juízo revidendo. Ela deve
ser apresentada para que o juízo revidendo possa simplesmente
constatá-la. Assim, poderá ser colhida em processo de justificação,
sentença declaratória, processo criminal por falso testemunho ou
falsa perícia etc.
III. Q
uando, após a sentença, se descobrirem novas provas de
inocência do condenado ou de circunstância que determine ou
autorize diminuição especial de pena.

Deve-se entender por prova nova capaz de autorizar o manejo da


revisão criminal, seja para inocentar o réu ou diminuir a pena, não
apenas aquelas surgidas posteriormente, mas todas aquelas que
não tiverem sido objeto de apreciação judicial anterior.

Porém, é importante ressaltar que a revisão não é uma segunda apelação,


não sendo válida para a mera reapreciação da prova já examinada. Para ser
considerada como prova nova, as que surgirem posteriormente deverão ser
produzidas sob o crivo do contraditório, não sendo aptas a esse efeito as
declarações extrajudiciais, por exemplo.

1.5 Competência
Compete ao próprio tribunal julgar as revisões criminais de seus julgados, assim
como aquelas proferidas pelos juízes a ele vinculados. É claro que aquele que
participou do primeiro julgamento não poderá julgar a ação de revisão.

77
Capítulo 5

Assim, competirá ao STF julgar/rever as decisões criminais quando a condenação


for por ele proferida ou então mantida, sendo do STJ quando dele tiver emanado
a decisão condenatória atacada.

A competência para o julgamento da revisão criminal quando a decisão for


proferida pelos juizados especiais criminais é da própria turma recursal e
não do tribunal de justiça.

1.6 Competência e tribunal do júri


Atualmente, doutrina e jurisprudência são pacíficas no sentido de que o princípio
da soberania dos veredictos não impede a revisão criminal das decisões
proferidas no âmbito do tribunal do júri, visto que aquela garantia foi estabelecida
no texto constitucional em favor do acusado, de modo que deverá ceder diante
de norma que busca justamente assegurar os direitos de defesa e a própria
liberdade.

Nesse caso, uma vez julgada procedente a revisão criminal, o próprio tribunal
competente julga o mérito, podendo absolver o réu, se for o caso. Não se trata,
portanto, de apenas anular a decisão para submeter o réu a novo julgamento.

1.7 Processamento
A ação deverá ser dirigida ao presidente do tribunal competente, que poderá
rejeitá-la liminarmente, caso o requerimento não esteja instruído adequadamente,
tratar-se de mera repetição ou o pedido não se ajustar às hipóteses do artigo 621
do CPP.

Em seguida, será distribuída ao relator, que não poderá ser quem já se


pronunciou anteriormente no processo. O relator, caso não a rejeite liminarmente,
poderá determinar o apensamento do processo condenatório à revisão.

Logo depois, os autos são encaminhados ao procurador-geral de justiça ou


procurador-geral da República, conforme o caso, para parecer em 10 (dez) dias,
retornando então ao relator, que deverá elaborar um relatório.

Os autos são então encaminhados ao revisor que, após exame, designará data
para o julgamento.

Os regimentos internos dos tribunais estabelecem a qual órgão competirá o


julgamento (plenário, grupo de câmaras, grupo de turmas, seção criminal). Em
Santa Catarina, por exemplo, compete à seção criminal o julgamento das revisões
criminais.

78
Recursos no Processo Penal

1.8 Jurisprudência
REVISÃO CRIMINAL. 1. CABIMENTO. PROGRESSÃO DE REGIME. JUÍZO DA
EXECUÇÃO (LEI 7.210/84 (LEP), ART. 66, INC. III, “B”). 2. CONTRARIEDADE À
PROVA DOS AUTOS. RÉU NÃO IDENTIFICADO PELAS VÍTIMAS. RETRATAÇÃO
DE IDENTIFICAÇÃO POR CORRÉU. AUSÊNCIA DE ELEMENTOS EM JUÍZO. 1.
Não se admite o manejo de revisão criminal que objetiva a progressão do regime
de cumprimento de pena imposto a apenado, pois tal matéria é de competência
do juízo da execução. 2. É contrária à prova dos autos a sentença que condena
o acusado da prática de roubo se ele não é preso em flagrante, se nenhuma
vítima o identifica na etapa judicializada, se dois corréus dizem não o conhecer,
se o codenunciado que, na fase administrativa, o apontara como participante do
delito, retrata-se em juízo, e se nenhum outro elemento probatório produzido sob
contraditório judicial imputa a autoria ao apenado. REVISÃO PARCIALMENTE
CONHECIDA E DEFERIDA

(TJSC – Revisão Criminal n. 2015.029958-6, de Itajaí; Relator: Des. Sérgio Rizelo).

REVISÃO CRIMINAL. HOMICÍDIO TRIPLAMENTE QUALIFICADO. MOTIVO TORPE.


MEIO CRUEL. UTILIZAÇÃO DE RECURSO QUE DIFICULTOU OU TORNOU
IMPOSSÍVEL A DEFESA DA VÍTIMA. ARTIGO 121, § 2°, I, III E IV, DO CÓDIGO
PENAL. DOSIMETRIA. REVISÃO. VIABILIDADE EM TESE. ACOLHIMENTO
CONDICIONADO A ERRO TÉCNICO OU EXPLÍCITA INJUSTIÇA. PECULIARIDADES.
INFRAÇÃO PENAL. COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI. ARTIGO 5°, XXXVIII,
“C”, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. SOBERANIA DOS VEREDICTOS. PENA-
BASE. REQUERIMENTO DE REVISÃO. COMPORTAMENTO DA VÍTIMA. SUPOSTA
COLABORAÇÃO PARA O ILÍCITO. HIPOTÉTICA INJUSTA PROVOCAÇÃO.
SUBMISSÃO DESSA QUESTÃO À QUESITAÇÃO. HOMICÍDIO PRIVILEGIADO.
ARTIGO 121, § 1°, DE REFERIDO CÓDIGO. AFASTAMENTO PELO CONSELHO
DE SENTENÇA. INJUSTA PROVOCAÇÃO NÃO RECONHECIDA. SITUAÇÃO,
ADEMAIS, SOPESADA PELO CORPO DE JURADOS PARA ADMISSÃO DO
MOTIVO TORPE. COLABORAÇÃO DA VÍTIMA PARA O CRIME. INVIABILIDADE
DE RECONHECIMENTO PARA REDUÇÃO DA PENA-BASE. PRINCÍPIO DA
SOBERANIA DOS VEREDICTOS. PRESERVAÇÃO. Em sede de revisão criminal,
admite-se modificação da dosimetria, desde que evidenciado erro técnico ou
injustiça explícita na decisão transitada em julgado. Igualmente, quando se tratar
de sentença originária de tribunal do júri, impõe-se a observância da soberania dos
veredictos, conforme artigo 5°, XXXVIII, “c”, da Constituição Federal. Quando o
Conselho de Sentença, ao avaliar o comportamento da vítima, não somente deixa
de acolher o homicídio privilegiado, mas igualmente reconhece a qualificadora
do motivo torpe, não há como admitir seja tal comportamento valorado para
diminuição da pena-base. Na realidade, se os senhores jurados compreenderam

79
Capítulo 5

não haver injusta provocação, não há possibilidade de realização de juízo


diverso sem que, para tanto, haja violação do sobredito princípio constitucional.
APLICAÇÃO DA PENA. SEGUNDA FASE. ATENUANTE. ARTIGO 65, III, “C”, DO
ESTATUTO REPRESSIVO. PRETENSÃO DE INCIDÊNCIA. VIOLENTA EMOÇÃO.
INJUSTA PROVOCAÇÃO DA VÍTIMA. QUESITOS SOBRE ESSAS QUESTÕES.
NÃO RECONHECIMENTO PELO TRIBUNAL DO JÚRI. AFASTAMENTO EXPRESSO
DO HOMICÍDIO PRIVILEGIADO. SOBERANIA DOS VEREDICTOS. ADMISSÃO
DA ALUDIDA ATENUANTE. IMPOSSIBILIDADE. Como dito, quando determinada
situação fática foi submetida à quesitação ao tribunal do júri, não pode o réu, no
âmbito da revisão, buscar atribuir a tais fatos consequências incompatíveis com
a decisão do Conselho de Sentença. Tal qual frisado, o comportamento da vítima,
o qual teria feito com que o requerente agisse sob violenta emoção, foi analisado
pelos senhores jurados. Na ocasião, optaram expressamente pela não ocorrência
de homicídio privilegiado. Logo, não pode o requerente valer-se de atenuante cuja
redação equipara-se, praticamente de forma literal, ao conteúdo do artigo 121, §
1°, do Código Penal, quando a incidência desse dispositivo, conforme mencionado,
foi afastada pelo Conselho de Sentença.

(TJSC – Revisão Criminal n. 2014.044116-8, de Joinville; Relator: Des. Jorge


Schaefer Martins).

PROCESSUAL PENAL. CONTRAVENÇÃO. INFRAÇÃO DE MENOR POTENCIAL


OFENSIVO. JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL. RITO DA LEI 9.099/95. COMPETÊNCIA
DA TURMA DE RECURSOS. PEDIDO NÃO CONHECIDO. “É manifesta a
incompetência do Tribunal de Justiça para tomar conhecimento de revisão criminal
ajuizada contra decisum oriundo dos juizados especiais” (CC n. 47718-RS, rel. Min.
Jane Silva, j. em 13.8.08, disponível em acesso em 27 abr. 2011).

(TJSC – Revisão Criminal n. 2010.073630-2, de Balneário Camboriú; Relator: Des.


Sérgio Paladino).

REVISÃO CRIMINAL. 1. AUSÊNCIA DE DEFESA. ALEGAÇÕES FINAIS. PEDIDO


DE ABSOLVIÇÃO. 2. DEFICIÊNCIA DE DEFESA. PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO.
PROCESSO DE COMPETÊNCIA DE JUIZ SINGULAR. 1. O fato de o advogado
ter-se limitado, em alegações finais, a tecer considerações sobre a aplicação
da pena, sem formular pedido expresso de absolvição, não configura, in re ipsa,
ausência de defesa. 2. Não configura deficiência de defesa o fato de o defensor
do acusado não ter feito digressão a respeito do conjunto probatório e postulado
a absolvição do réu. Tratando-se de processo a ser examinado por juiz singular, a
atuação jurisdicional em favor do denunciado independe de provocação específica,
pois mesmo que inexista insurgência defensiva quanto a autoria e materialidade

80
Recursos no Processo Penal

o julgador deve analisá-las, e pode se convencer da insuficiência de prova ainda


que o acusado não tenha tecido uma linha a esse respeito. REVISÃO INDEFERIDA.

(TJSC – Revisão Criminal n. 2015.013596-9, de Forquilhinha; Relator: Des. Sérgio


Rizelo).

REVISÃO CRIMINAL. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. CONTINUIDADE DELITIVA.


ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR DE VULNERÁVEL. CRIME CONTINUADO.
CONCURSO MATERIAL ENTRE AQUELAS INFRAÇÕES E ESSAS. ARTIGO 213,
CAPUT, COMBINADO COM OS ARTIGOS 224, “A”, E 71; ARTIGO 214, CAPUT,
COMBINADO COM OS ARTIGOS 224, “A”, E 71; AMBOS NA FORMA DO ARTIGO
69, CAPUT, TODOS DO CÓDIGO PENAL, COM REDAÇÃO ANTERIOR À LEI
N. 12.015/2009. ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR DE VULNERÁVEL. ÉDITO
CONDENATÓRIO. SUPOSTA CONTRARIEDADE À EVIDÊNCIA DOS AUTOS.
ARTIGO 621, I, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. CONJUNTO PROBATÓRIO.
MERA REAVALIAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. DECISÕES DE PRIMEIRA E SEGUNDA
INSTÂNCIAS. INTERPRETAÇÃO PONDERADA DAS PROVAS. CONDENAÇÃO
CONFIRMADA. O objetivo da revisão não é permitir uma “terceira instância” de
julgamento, garantindo ao acusado mais uma oportunidade de ser absolvido ou
ter reduzida sua pena, mas, sim, assegurar-lhe a correção de um erro judiciário.
Ora, este não ocorre quando um juiz dá a uma prova uma interpretação aceitável
e ponderada. Pode não ser a melhor tese ou não estar de acordo com a turma
julgadora da revisão, mas daí a aceitar a ação rescisória somente para que
prevaleça peculiar interpretação é desvirtuar a natureza do instituto (NUCCI,
Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado. 10. ed. rev., atual. e
ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. p. 1066). ESTUPRO DE VULNERÁVEL.
VULNERABILIDADE DA VÍTIMA. RELATIVIZAÇÃO. RECURSO ESPECIAL. MATÉRIA
SUBMETIDA AO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. VULNERABILIDADE
MANTIDA. DESCONSTITUIÇÃO DESSE JULGADO. COMPETÊNCIA DA REFERIDA
CORTE SUPERIOR. ARTIGO 105, I, “E”, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. MATÉRIA
NÃO CONHECIDA. Conforme o artigo 105, I, “e”, da Constituição Federal, compete
ao Superior Tribunal de Justiça processar e julgar originariamente “as revisões
criminais e as ações rescisórias de seus julgados”. Assim, ao julgar revisão
criminal, o tribunal estadual não tem competência para desconstituir coisa julgada
formada a partir de decisão expressa da referida corte superior sobre determinada
matéria, a qual foi por ela enfrentada em razão de recurso especial. ESTUPRO
DE VULNERÁVEL. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. ARTIGO 107, VIII, DO CÓDIGO
PENAL. UNIÃO ESTÁVEL. CONSTITUIÇÃO PELA OFENDIDA COM TERCEIRO
APÓS OS CRIMES. MANIFESTAÇÃO PELO PROSSEGUIMENTO DA AÇÃO PENAL.
AUSÊNCIA. INÍCIO DO REFERIDO RELACIONAMENTO. DÚVIDAS ACERCA DESSA
DATA. POSSÍVEL CONSTITUIÇÃO APÓS REVOGAÇÃO DA CITADA NORMA. ÔNUS
DA PROVA. ATRIBUIÇÃO AO REQUERENTE. ULTRATIVIDADE DA LEI PENAL MAIS

81
Capítulo 5

BENÉFICA. INAPLICABILIDADE NO CASO. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. NÃO


CABIMENTO. Não demonstrada a constituição da causa extintiva da punibilidade
antes da revogação do dispositivo que a previa, inviabiliza-se seja ela decretada
em sede de revisão criminal. DOSIMETRIA. PENA-BASE. CONDUTA SOCIAL.
PERSONALIDADE. AVALIAÇÃO NEGATIVA. FUNDAMENTAÇÃO. CERTIDÃO
DE ANTECEDENTES. AÇÕES PENAIS. EXTINÇÃO PELA PRESCRIÇÃO DA
PRETENSÃO PUNIBILIDADE. TERMOS CIRCUNSTANCIADOS. CONCESSÃO DE
INSTITUTOS DESPENALIZADORES DA LEI N. 9.099/1995 – LEI DOS JUIZADOS
ESPECIAIS. FUNDAMENTOS INIDÔNEOS. ERRO TÉCNICO. INJUSTIÇA NA
DECISÃO. CARACTERIZAÇÃO. PEDIDO REVISIONAL CONHECIDO, EM PARTE, E
PARCIALMENTE DEFERIDO. As hipóteses que admitem a propositura da revisão
criminal estão expressamente previstas nos incisos do artigo 621 do Código de
Processo Penal, entre as quais não se prevê a possibilidade de reavaliação da
dosimetria. Porém, a jurisprudência passou a admiti-la excepcionalmente se
ocorrer erro técnico ou explícita injustiça da decisão, o que se verifica quando,
na primeira fase dosimétrica, houver avaliação negativa da conduta social e da
personalidade com base em ações penais extintas pela prescrição da pretensão
punitiva e, ainda, em termos circunstanciados, nos quais foram concedidos
institutos despenalizadores da Lei n. 9.099/1995 – Lei dos Juizados Especiais.

(TJSC – Revisão Criminal n. 2014.027661-9, de Ascurra; Relator: Des. Jorge


Schaefer Martins).

Seção 2

Mandado de segurança criminal

2.1 Conceito
Ação de natureza constitucional e de rito sumaríssimo, destinada a tutelar direito
líquido e certo não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o
responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente
de pessoa jurídica no exercício de atribuições do poder público.

2.2 Admissibilidade
Somente se pode cogitar do manejo do mandado de segurança quando for
possível comprovar de plano a ilegalidade ou abuso de poder, porquanto direito

82
Recursos no Processo Penal

líquido e certo apto a ser tutelado pelo mandamus é aquele manifesto em sua
existência e que pode ser comprovado com a impetração.

Não há dilação probatória no mandado de segurança, nem se constitui em meio


processual hábil para a tutela quando sua existência for duvidosa.

2.3 Legitimidade
Para que se reconheça a legitimidade ativa, o impetrante deve ser o titular do
direito líquido e certo atingido.

O Ministério Público também tem legitimidade para a impetração de mandado de


segurança, em face do disposto na Lei Orgânica Nacional do Ministério Público
(Lei n. 8.625/93).

2.4 Competência
A competência para o julgamento é definida pela categoria da autoridade coatora
e sua sede funcional. No caso de decisão judicial, a competência será do tribunal
incumbido de julgar a questão em grau de recurso.

2.5 Procedimento
O prazo para que o mandado de segurança seja impretrado é de 120 (cento e
vinte) dias, a partir da ciência oficial do ato impugnado. Superado o prazo, opera-
se a decadência do direito de impetrar o mandamus.

A Lei n. 12.016/2009 estabelece o procedimento a ser adotado.

A petição inicial, que deverá preencher os requisitos estabelecidos pela lei


processual, será apresentada em 2 (duas) vias com os documentos que
instruírem a primeira reproduzidos na segunda e indicará, além da autoridade
coatora, a pessoa jurídica que esta integra, à qual se acha vinculada ou da qual
exerce atribuições.

No caso em que o documento necessário à prova do alegado se ache em


repartição ou estabelecimento público ou em poder de autoridade que se recuse
a fornecê-lo por certidão ou de terceiro, o juiz ordenará, preliminarmente, por
ofício, a exibição desse documento em original ou em cópia autêntica e marcará,
para o cumprimento da ordem, o prazo de 10 (dez) dias. 

A inicial será desde logo indeferida, por decisão motivada, quando não for o caso
de mandado de segurança ou lhe faltar algum dos requisitos legais ou quando
decorrido o prazo legal para a impetração. 

83
Capítulo 5

Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:  

a. que se notifique o coator do conteúdo da petição inicial, enviando-


lhe a segunda via apresentada com as cópias dos documentos, a
fim de que, no prazo de 10 (dez) dias, preste as informações; 
b. que se dê ciência do feito ao órgão de representação judicial da
pessoa jurídica interessada, enviando-lhe cópia da inicial sem
documentos, para que, querendo, ingresse no feito; 
c. que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando
houver fundamento relevante e do ato impugnado puder resultar
a ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida, sendo
facultado exigir do impetrante caução, fiança ou depósito, com o
objetivo de assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica. 
Findo o prazo para apresentação das informações, o juiz ouvirá o representante
do Ministério Público, que opinará, dentro do prazo improrrogável de 10 (dez)
dias. Com ou sem o parecer do Ministério Público, os autos serão conclusos ao
juiz, para a decisão, a qual deverá ser necessariamente proferida em 30 (trinta)
dias. 

2.6 Hipóteses frequentes no juízo criminal


Dentre o vasto elenco de situações que justificam a impetração do mandado de
segurança no juízo criminal, como mais frequentes, podem ser indicadas:

a. direito de vista do inquérito policial ao advogado;


b. direito do advogado entrevistar-se com seu cliente;
c. direito de obter certidões;
d. decisão de indeferimento de vista dos autos fora de cartório;
e. nos procedimentos de arresto e sequestro;
f. visando assegurar direito de terceiro de boa-fé na restituição de
bens apreendidos;
g. para garantir que a correição parcial seja processada em caso de
denegação;
h. contra decisão que não admite o assistente da acusação.

84
Recursos no Processo Penal

2.7 Jurisprudência
MANDADO DE SEGURANÇA CRIMINAL – BUSCA E APREENSÃO – DESPACHO
FUNDAMENTADO QUE COMPROVA SUA NECESSIDADE – REDUÇÃO DE SUA
ABRANGÊNCIA AOS EQUIPAMENTOS E DOCUMENTAÇÃO INTERESSANTES À
INVESTIGAÇÃO – ALCANCE IRRESTRITO – VIOLAÇÃO A DIREITO LÍQUIDO E
CERTO. ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA.

(TJSC – Mandado de Segurança n. 2003.011733-4, de Joinville; Relator: Juiz José


Carlos Carstens Köhler).

MANDADO DE SEGURANÇA CRIMINAL – EFEITO SUSPENSIVO A RECURSO


EM SENTIDO ESTRITO – INTERPOSIÇÃO DO RECURSO NÃO COMPROVADA –
PRESSUPOSTOS NÃO DEMONSTRADOS PRETENSÃO, ADEMAIS, INCABÍVEL
EM DIREITO PROCESSUAL PENAL PRINCÍPIO GARANTISTA – ORDEM
DENEGADA. O mandado de segurança comum, quando impetrado com o objetivo
de atribuir efeito suspensivo a recurso dele desprovido, condiciona sua concessão
à comprovação do fumus boni juris e periculum in mora; deve-se demonstrar a
plausibilidade do direito invocado e vislumbrar perigo de dano irreparável a ser
resguardado até o julgamento do recurso. Não evidenciado um desses requisitos,
denega-se a ordem. Em sede de ação mandamental é imprescindível a prova pré-
constituída, porquanto inadmissível instrução probatória, visando provar o direito
invocado. Se a lei processual penal não confere efeito suspensivo ao recurso em
sentido estrito contra decisão que concede liberdade provisória ao réu, não cabe
ao juiz concedê-lo, porquanto em direito processual penal as medidas cautelares
são expressamente enumeradas, não se admitindo o “poder geral de cautela”
contra o acusado; assim, não pode decretar medidas processuais restritivas da
liberdade individual em caráter preventivo sem que elas estejam contempladas
expressamente na lei e resguardadas na Constituição.

(TJSC – Mandado de segurança n. 97.011018-9, da Capital; Relator: Des. Nilton


Macedo Machado).

MANDADO DE SEGURANÇA CRIMINAL. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA.


SONEGAÇÃO FISCAL (ART. 1º, II, C/C ART. 11, AMBOS DA LEI N. 8.137/90,
C/C ARTS. 29 E 71, AMBOS DO CP). IMPETRAÇÃO CONTRA DECISÃO QUE
NOMEOU PERITOS CONTÁBEIS E AVALIADORA DE BENS IMÓVEIS AD HOC.

85
Capítulo 5

PROFISSIONAIS COM IDONEIDADE, CONHECIMENTO TÉCNICO E EXPERIÊNCIA


SUFICIENTE PARA A FUNÇÃO. AUSÊNCIA DE SUSPEIÇÃO OU IMPEDIMENTO
DOS EXPERTS. DECISÃO EXCLUSIVA DE MAGISTRADO QUE NÃO ALCANÇA
INTERVENÇÃO DAS PARTES. INTELIGÊNCIA DO ART. 276, DO CPP. WRIT
DENEGADO.

(TJSC – Mandado de segurança n. 96.003866-3, de Itajaí; Relator: Des. Jorge


Mussi).

EXECUÇÃO PENAL. MANDADO DE SEGURANÇA IMPETRADO PELO


MINISTÉRIO PÚBLICO. PLEITO DE CONCESSÃO DE EFEITO SUSPENSIVO A
RECURSO DE AGRAVO. INTERPOSIÇÃO CONTRA DECISÃO QUE DEFERIU
PRISÃO DOMICILIAR AO APENADO (CONDENADO PELO CRIME DE TENTATIVA
DE LATROCÍNIO), ANTE A AUSÊNCIA DE VAGA COMPATÍVEL COM O REGIME
SEMIABERTO, PARA O QUAL PROGREDIU. SITUAÇÃO EXTRAORDINÁRIA
A RECOMENDAR A SUSPENSÃO DOS EFEITOS DA DECISÃO IMPUGNADA.
DECISUM MANIFESTAMENTE ILEGAL. APENADO QUE NÃO SE ENQUADRA EM
NENHUMA DAS HIPÓTESES PREVISTAS NO ART. 117 DA LEP. PRECEDENTES.
REEDUCANDO QUE DEVE PERMANECER SEGREGADO ATÉ O JULGAMENTO
DO RECURSO DE AGRAVO. SEGURANÇA CONCEDIDA.

(TJSC – Mandado de Segurança n. 2014.070473-0, de Rio do Sul; Relator: Des. Rui


Fortes).

MANDADO DE SEGURANÇA. INQUÉRITO POLICIAL. PRÁTICA DO CRIME DE


FURTO SEM A PRESENÇA DE TESTEMUNHAS. AUTORIA DESCONHECIDA.
SUBTRAÇÃO DE UM APARELHO CELULAR, DENTRE OUTROS ELETRÔNICOS.
PLEITO DE IDENTIFICAÇÃO DA LINHA REGISTRADA NO RESPECTIVO IMEI
PARA AUXILIAR NA APURAÇÃO DO DELITO. AUSÊNCIA DE OUTRA LINHA DE
INVESTIGAÇÃO. MEDIDA RAZOÁVEL E NECESSÁRIA PARA A INVESTIGAÇÃO
CRIMINAL. ORDEM CONCEDIDA.

(TJSC – Mandado de Segurança n. 2015.025371-7, de Araranguá; Relator: Des.


Rodrigo Collaço).

MANDADO DE SEGURANÇA. CERCEAMENTO DE DEFESA. 1. INDEFERIMENTO


DE OITIVA DA VÍTIMA E DE PARECER PSICOLÓGICO. CRIME SEXUAL PRATICADO
CONTRA MENOR. DEPOIMENTO SEM DANO. 2. INDEFERIMENTO DA OITIVA DE
TESTEMUNHA DE ACUSAÇÃO (CPP, ART. 565). 1. Não configura cerceamento

86
Recursos no Processo Penal

de defesa o indeferimento da oitiva de criança, vítima de crime sexual, ou de


realização de parecer psicológico da ofendida, se tal laudo já foi confeccionado na
etapa inquisitiva, na modalidade “depoimento sem dano”. 2. É defeso ao acusado
sustentar a ocorrência de cerceamento de defesa consistente no indeferimento da
oitiva de testemunha arrolada apenas pela acusação. ORDEM DENEGADA.

(TJSC – Mandado de Segurança n. 2014.065552-3, da Capital; Relator: Des. Sérgio


Rizelo).

Seção 3

Habeas corpus

3.1 Conceito
É remédio constitucional destinado à proteção do direito de liberdade de
locomoção contra toda a espécie de ilegalidade. Trata-se, em poucas palavras,
de uma ação que tem por objetivo restabelecer a liberdade de ir, vir e ficar, ou,
ainda, em arrostar ameaça que possa recair sobre esse direito fundamental do
cidadão.

3.2 Espécies
Tendo em vista a amplitude da proteção judicial concedida ao cidadão através
desta ação, fala-se em habeas corpus liberatório e preventivo.

Habeas corpus liberatório é aquele que pretende restituir a liberdade de alguém


que se encontra dela privado, ou seja, busca afastar um constrangimento ilegal já
consumado.

No habeas corpus preventivo, o que se pede é uma tutela antecipada, que tem
por objetivo evitar que a ameaça de uma prisão se concretize.

3.3 Legitimidade
Qualquer pessoa pode impetrá-lo, independentemente de representação de
advogado. O artigo 654 do CPP afirma textualmente que o habeas corpus poderá
ser impetrado por qualquer pessoa, em seu favor ou de outrem. O analfabeto
pode impetrar, desde que alguém assine a seu rogo.

87
Capítulo 5

O promotor de justiça também pode impetrar o habeas corpus em favor do


cidadão cuja liberdade de locomoção esteja sendo ameaçada ou violada por
ilegalidade ou abuso de poder.

No habeas corpus distinguem-se as figuras do impetrante (aquele que postula


a concessão da ordem) e do paciente (aquele em favor de quem é impetrada a
ordem). Ao legitimado passivo da ação dá-se o nome de coator, isto é, a pessoa
responsável pela restrição ou ameaça ao direito de liberdade de locomoção.

3.4 Hipóteses de cabimento


Em primeiro lugar, cumpre registrar que, por força de disposição constitucional,
é inadmissível a impetração em estado de sítio (art. 138, caput, 139, I e II, CF).
Na hipótese de punição disciplinar militar também é incabível (art. 142, § 2º, CF).
Contudo, observe-se que o que se veda aqui é a análise do mérito, sendo cabível,
por exemplo, quando houver ofensa ao devido processo legal.

As hipóteses de cabimento estão alinhadas no artigo 648 do CPP, a saber:

a. Quando não houver justa causa: refere-se a lei tanto à prisão


quanto ao processo, e até mesmo ao inquérito policial. Justa
causa constitui a existência de uma base jurídica que autorize
o constrangimento ao direito de locomoção. É o caso, por
exemplo, da denúncia oferecida sem estar acompanhada de um
substrato probatório mínimo indicativo da autoria ou materialidade,
evidenciando abuso do poder de denunciar.
b. Quando alguém estiver preso por mais tempo do que a lei
determine: é o excesso de prazo na prisão. Até em virtude do
princípio da proporcionalidade, a prisão provisória deverá perdurar
pelo menor tempo possível, de modo que, uma vez demonstrada
que não mais se justifica, caso é de constrangimento ilegal, sanável
via habeas corpus.
c. Quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-
lo: salvo a prisão em flagrante, somente poderá haver prisão por
ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente.
A violação à regra justifica a utilização do habeas corpus.
d. Quando houver cessado o motivo que autorizou a prisão: é o caso
do apenado que já cumpriu toda a pena e continua preso.
e. Quando não se admitir a fiança nos casos em que a lei a permite:
a Constituição Federal estabelece que não se admitirá a prisão
quando a lei permitir a liberdade provisória com ou sem fiança.
Vulnerada a regra constitucional, impedindo-se o agente de

88
Recursos no Processo Penal

responder processo em liberdade através da fiança legalmente


admitida, cabível será o habeas corpus.
f. Quando o processo for manifestamente nulo: a hipótese está
geralmente relacionada às condições da ação penal ou a
pressupostos processuais. No entanto, pode ser derivada de
qualquer causa que implique em nulidade absoluta.
g. Quando já estiver extinta a punibilidade do agente: ocorrendo a
perda do direito de punir o agente, por qualquer das hipóteses
legalmente previstas, restará configurado o constrangimento ilegal,
de modo que poderá ser corrigido através do writ.

3.5 Competência
São dois os critérios básicos para a definição da competência no processo de
habeas corpus: territorialidade e hierarquia.

A competência será do juiz em cuja comarca estiver ocorrendo a coação


ou ameaça de coação. Claro que, em se cuidando de competência
originária de tribunal, os limites territoriais serão os do respectivo estado.

O artigo 650, § 1º, do CPP, consagra o segundo critério, que é o da hierarquia, ao


estabelecer que a competência do juiz cessará sempre que a violência ou coação
provier de autoridade judiciária de igual ou superior jurisdição. É corolário natural
desta normativa que nenhum juiz ou tribunal pode conhecer de habeas corpus
contra ato que praticou ou confirmou.

De acordo com o artigo 102, I, c, da Constituição Federal, compete ao Superior


Tribunal de Justiça conhecer o habeas corpus quando o coator ou paciente forem
governadores dos estados e do Distrito Federal, desembargadores, membros dos
tribunais de contas dos estados e do Distrito Federal ou dos tribunais regionais
federais, tribunais regionais eleitorais e do trabalho, membros dos conselhos
ou tribunais de contas dos municípios e os do Ministério Público da União que
oficiem perante tribunais. Também quando o coator for tribunal sujeito à sua
jurisdição, ministro de Estado ou comandante da Marinha, do Exército ou da
Aeronáutica, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral.

Ao Supremo Tribunal Federal, à luz do disposto no artigo 102, I, i, da Constituição


Federal, compete julgar o habeas corpus quando o coator for tribunal superior ou
quando o coator ou o paciente for autoridade ou funcionário cujos atos estejam
sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de
crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância.

89
Capítulo 5

Aos tribunais regionais federais, por sua vez, compete processar e julgar os
habeas corpus, quando a autoridade coatora for juiz federal (art. 108, I, d, CF).

3.6 Processamento
Tendo em vista a sua natureza, o processamento do habeas corpus deve ser
célere, razão pela qual a simplicidade e sumariedade são suas características
principais.

As regras procedimentais da ação estão previstas no Código de Processo Penal,


sendo complementada pelos regimentos internos dos tribunais (art. 654/667 do
CPP).

O pedido de habeas corpus deve ser formulado por escrito, devendo a petição
inicial indicar o nome da pessoa que sofre ou está ameaçada de sofrer violência
ou coação e o de quem exercer a violência, coação ou ameaça; a declaração
da espécie de constrangimento ou, em caso de simples ameaça de coação, as
razões em que funda o seu temor; a assinatura do impetrante, ou de alguém
a seu rogo, quando não souber ou não puder escrever, e a designação das
respectivas residências (art. 654, § 1º, CPP).

Deverá a petição inicial, ainda, ser acompanhada dos documentos capazes de


demonstrar de plano a ilegalidade ou abuso de poder.

Há possibilidade de concessão de liminar, segundo construção doutrinária e


jurisprudencial, uma vez presentes os pressupostos das medidas cautelares em
geral.

O juiz poderá determinar a apresentação do preso, estabelecendo o CPP,


inclusive, que, estando o paciente preso, nenhum motivo escusará a sua
apresentação, salvo grave enfermidade do paciente; não estar ele sob a guarda
da pessoa a quem se atribui a detenção; se o comparecimento não tiver sido
determinado pelo juiz ou pelo tribunal. Prevê, inclusive, que o juiz poderá ir ao
local em que o paciente se encontrar, se este não puder ser apresentado por
motivo de doença.

Não é, porém, o que geralmente acontece. Na prática, uma vez recebida a


petição, o juiz requisita informações da autoridade apontada como coatora
e, logo depois, decide. Interessante notar que o Ministério Público não se
manifesta no procedimento de habeas corpus impetrado perante o juiz de
direito, mas somente quando a impetração se der no tribunal.

90
Recursos no Processo Penal

Como já observamos, o procedimento de habeas corpus não contempla uma fase


de instrução probatória, uma vez que a prova deve vir acompanhando a inicial, ou
seja, deve ser pré-constituída. Nada obsta que sejam requisitados documentos
para melhor instruir a ação, quase sempre, convertendo-se o julgamento em
diligência nesses casos.

3.7 Decisão e seus efeitos


A decisão proferida em sede de habeas corpus deve respeitar às exigências
referidas no artigo 381 do Código de Processo Penal.

Sendo a decisão favorável ao paciente, será desde logo posto em liberdade,


salvo se por outro motivo dever ser mantido na prisão.

Caso os documentos que instruírem a petição evidenciarem a ilegalidade da


coação, o juiz ou o tribunal ordenará que cesse imediatamente o constrangimento.

Decorrendo a ilegalidade do fato de não ter sido o paciente admitido a prestar


fiança, o juiz arbitrará o valor desta, que poderá ser prestada perante ele,
remetendo, neste caso, à autoridade os respectivos autos, para serem anexados
aos do inquérito policial ou aos do processo judicial.

Em sendo a ordem de habeas corpus concedida para evitar ameaça de violência


ou coação ilegal, dar-se-á ao paciente salvo-conduto assinado pelo juiz.

Ainda, na hipótese de concessão da ordem em razão de nulidade do processo,


este deverá ser renovado.

Resumidamente:

a. Concessão em habeas corpus liberatório: alvará de soltura.


b. Concessão para evitar ameaça de violência ou coação ilegal: salvo-
conduto.
c. Sendo a ordem para anular o processo: renovação do feito.
Importante notar que a decisão favorável pode ser estendida a outros
interessados que se encontrem em situação idêntica, na forma do artigo 580 do
CPP que, nesse caso, aplica-se por analogia.

91
Capítulo 5

3.8 Jurisprudência
HABEAS CORPUS. PACIENTE DENUNCIADO PELA SUPOSTA PRÁTICA DO DELITO
DE VIAS DE FATO CONTRA SUA EX-COMPANHEIRA (ART. 21 DO DECRETO-
LEI N. 3.688/41, C/C ART. 61, II, “F”, DO CÓDIGO PENAL). TRANCAMENTO DA
AÇÃO PENAL. ALEGADA AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA PARA DEFLAGRAÇÃO DA
AÇÃO PENAL, ANTE A FALTA DE EMBASAMENTO PROBATÓRIO. INVIABILIDADE.
PALAVRAS DA VÍTIMA CORROBORADAS PELO DEPOIMENTO DE INFORMANTE
DANDO CONTA DA PRÁTICA DO ILÍCITO. INDÍCIOS SUFICIENTES DA
MATERIALIDADE E DA AUTORIA. PRESENÇA DOS REQUISITOS DO ART. 41 DO
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. IMPOSSIBILIDADE DE PROFUNDA ANÁLISE DE
PROVAS PELA VIA ELEITA. ORDEM CONHECIDA E DENEGADA. O trancamento
da ação é medida excepcional, só admitida quando a mera exposição dos fatos
evidencia a ilegalidade, ou quando se imputa ao paciente fato atípico, ou, ainda,
quando ausente qualquer fundamento no inquérito para embasar a acusação. Não
havendo qualquer irregularidade na peça acusatória, bem assim elementos que
revelem, de plano, a insubsistência dos fatos narrados na denúncia enquanto
ilícitos penais, não há como se obstar o curso da ação penal proposta contra o
paciente.

(TJSC – HABEAS CORPUS N. 2015.058733-3, DE MAFRA; RELATORA: DES.ª


MARLI MOSIMANN VARGAS).

PENAL. HOMICÍDIO. TENTATIVA. PROCESSO PENAL. PRISÃO PREVENTIVA.


FUNDAMENTAÇÃO. INIDONEIDADE. TRÂMITE PROCESSUAL. PRAZO. EXCESSO.
1. O caráter hediondo do homicídio qualificado, conforme previsto na Lei n. 8.072/90
(art. 1º, I), não é causa suficiente para a prisão preventiva, que deve estar amparada
nas hipóteses previstas nos artigos 310, 311 e 312, do Código de Processo Penal.
Precedentes. 2. A existência de processos em andamento não autoriza, per se,
a custódia cautelar. 3. A prisão ilegal deverá ser imediatamente relaxada pela
autoridade judiciária (art. 5º, LXV, da Constituição Federal); há constrangimento
ilegal quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei (art. 648,
II, do Código de Processo Penal). 4. Ordem concedida para que o réu responda ao
processo em liberdade.

(STJ – HABEAS CORPUS Nº 164.874 – SP (2010/0042417-1). RELATOR: MINISTRO


CELSO LIMONGI (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP).

92
Recursos no Processo Penal

HABEAS CORPUS. ROUBO CIRCUNSTANCIADO. DENÚNCIA. UTILIZAÇÃO DA


TITULAÇÃO AÇÃO PENAL CONDENATÓRIA E INSERÇÃO DA FOTOGRAFIA DO
ACUSADO. INEXISTÊNCIA DE LESÃO OU AMEAÇA DE LESÃO À LIBERDADE DE
IR, VIR E PERMANECER DO PACIENTE. INADMISSIBILIDADE DA VIA ELEITA. 1.
Para ser cabível o habeas corpus, é necessário que haja fundado receio de que
o paciente esteja sofrendo ou se ache ameaçado de sofrer violência ou coação à
sua liberdade de ir, vir e permanecer. 2. Nesse passo, não se pode considerar, por
si e desde logo, como cerceamento à liberdade de locomoção, a ser corrigido por
meio de habeas corpus, a inserção da fotografia do paciente na peça acusatória
bem como a inclusão da expressão “condenatória” para nomear a ação penal,
sendo incapaz até mesmo de gerar o receio de eventual prisão ilegal. 3. Além
disso, a peça acusatória apenas delimita a qual espécie de ação penal responde
o paciente, valendo-se de uma das classificações existentes na doutrina, que
comumente subdivide as ações penais de conhecimento em declaratórias,
constitutivas e condenatórias. 4. Não obstante essas ponderações, não há
constrangimento na utilização da nomenclatura “ação penal condenatória”. Isso
porque essa é a classificação dada à ação penal instaurada pelo Estado contra
o acusado. 5. “Dentre as ações penais de conhecimento, temos a declaratória,
que visa à declaração de um direito (ex.: habeas corpus preventivo e pedido de
extradição passiva); constitutiva, que procura a criação, extinção ou modificação
de uma situação jurídica (ex.: revisão criminal e homologação de sentença
estrangeira); e a ação penal condenatória, que é dirigida para o reconhecimento
da pretensão punitiva” (LIMA, Marcellus Polastri. Manual de Processo Penal. 2ª
ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 161). 4. Diz o artigo 5º, inciso LVIII, da
CF, que o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo
nas hipóteses previstas em lei. 5. A Lei n. 10.054/00, vigente à época dos fatos,
previa, em seu artigo 3º, I, que o civilmente identificado por documento original
poderia ser submetido à identificação criminal, quando estivesse indiciado ou
acusado pela prática de homicídio doloso, crimes contra o patrimônio praticados
mediante violência ou grave ameaça, crime de receptação qualificada, crimes
contra a liberdade sexual ou crime de falsificação de documento público. 6. E,
entre as formas de identificação criminal consta expressamente a utilização de
materiais datiloscópico e fotográfico, como feito na hipótese. 7. A inserção da
fotografia do acusado na vestibular viola diferentes normas constitucionais, dentre
as quais o direito à honra, à imagem e também o princípio matriz de toda a ordem
constitucional: o da dignidade da pessoa humana. 8. Mesmo nos termos da lei
vigente à época dos fatos, era permitida a identificação criminal do acusado (por se
tratar de crime contra o patrimônio praticado mediante violência ou grame ameaça)

93
Capítulo 5

na fase de investigação. Esses dados, colhidos na fase policial, podem ser usados
– como de fato o foram – na fase judicial. 9. É desnecessária a digitalização de
foto já constante nos autos da ação penal para, novamente, colocá-la na peça
acusatória. Isso porque se efetivou, num momento anterior, a devida identificação
– civil e criminal – do investigado. 10. Ordem parcialmente concedida, com o intuito
de determinar ao juiz do processo que tome providências no sentido de riscar da
denúncia a parte em que consta a fotografia do ora paciente.

(STJ – HABEAS CORPUS Nº 88.448 – DF (2007/0183303-6). RELATOR: MINISTRO


OG FERNANDES).

Prisão (preventiva). Cumprimento (em contêiner). Ilegalidade (manifesta). Princípios


e normas (constitucionais e infraconstitucionais). 1. Se se usa contêiner como cela,
trata-se de uso inadequado, inadequado e ilegítimo, inadequado e ilegal. Caso de
manifesta ilegalidade. 2. Não se admitem, entre outras penas, penas cruéis – a
prisão cautelar mais não é do que a execução antecipada de pena (Cód. Penal,
art. 42). 3. Entre as normas e os princípios do ordenamento jurídico brasileiro,
estão: dignidade da pessoa humana, prisão somente com previsão legal, respeito
à integridade física e moral dos presos, presunção de inocência, relaxamento de
prisão ilegal, execução visando à harmônica integração social do condenado e do
internado. 4. Caso, pois, de prisão inadequada e desonrante; desumana também. 5.
Não se combate a violência do crime com a violência da prisão. 6. Habeas corpus
deferido, substituindo-se a prisão em contêiner por prisão domiciliar, com extensão
a tantos quantos – homens e mulheres – estejam presos nas mesmas condições.

(STJ – HABEAS CORPUS Nº 142.513 – ES (2009/0141063-4). RELATOR: MINISTRO


NILSON NAVES).

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. TENTATIVA DE FURTO. PRISÃO


EM FLAGRANTE. ARBITRAMENTO DE FIANÇA. RÉU JURIDICAMENTE POBRE.
CONDICIONAMENTO DA LIBERDADE AO PAGAMENTO DA FIANÇA ARBITRADA.
IMPOSSIBILIDADE. ART. 350 DO CPP. AUSÊNCIA DOS REQUISITOS DA PRISÃO
PREVENTIVA. HABEAS CORPUS CONCEDIDO. I – “A imposição da fiança,
dissociada de qualquer dos pressupostos legais para a manutenção da custódia
cautelar, não tem o condão, por si só, de justificar a prisão cautelar do réu, a
teor do disposto no artigo 350, do Código de Processo Penal” (HC n. 247.271/
DF, Quinta Turma, Rel. Min. Laurita Vaz, DJe de 2/10/2012). II – Na hipótese,
configura constrangimento ilegal o condicionamento da liberdade provisória ao
pagamento de fiança arbitrada no valor de R$ 400,00 (quatrocentos reais), por
se tratar de paciente hipossuficiente e assistido pela Defensoria Pública. Ordem
concedida para, confirmando a liminar deferida, garantir a liberdade ao paciente,

94
Recursos no Processo Penal

independentemente do pagamento de fiança, salvo se por outro motivo estiver


preso, e sem prejuízo da decretação de outras medidas cautelares diversas da
prisão previstas no artigo 319 do Código de Processo Penal.

(STJ – HABEAS CORPUS Nº 327.586 – SP (2015/0145233-5). RELATOR: MINISTRO


FELIX FISCHER).

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO. EXTORSÃO MAJORADA.


PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA. MATÉRIA DE PROVA. CAUSA
ESPECIAL DE AUMENTO DA PENA. AFASTAMENTO. SUPRESSÃO DE
INSTÂNCIA. REGIME PRISIONAL. SÚMULA 440 DO STJ. HABEAS CORPUS NÃO
CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. 1. O Supremo Tribunal Federal,
por sua primeira turma, e a terceira seção deste Superior Tribunal de Justiça, diante
da utilização crescente e sucessiva do habeas corpus, passaram a restringir a sua
admissibilidade quando o ato ilegal for passível de impugnação pela via recursal
própria, sem olvidar a possibilidade de concessão da ordem, de ofício, nos casos
de flagrante ilegalidade. Esse entendimento objetivou preservar a utilidade e a
eficácia do mandamus, que é o instrumento constitucional mais importante de
proteção à liberdade individual do cidadão ameaçada por ato ilegal ou abuso de
poder, garantindo a celeridade que o seu julgamento requer. 2. O habeas corpus,
ação constitucional de rito célere e de cognição sumária, não é o meio processual
adequado para analisar alegações que demandem uma incursão no conteúdo
fático-probatório.

(STJ – HABEAS CORPUS Nº 293.211 – SP (2014/0093398-6). RELATOR: MINISTRO


REYNALDO SOARES DA FONSECA).

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. HABEAS CORPUS IMPETRADO


EM SUBSTITUIÇÃO A RECURSO PRÓPRIO. ATO INFRACIONAL EQUIPARADO AO
CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS. MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO.
GRAVIDADE ABSTRATA DO DELITO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. HABEAS
CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. 01. Prescreve
a Constituição da República que o habeas corpus será concedido “sempre que
alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade
de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder” (art. 5º, inc. LXVIII). O Código de
Processo Penal impõe aos juízes e aos tribunais que expeçam, “de ofício, ordem
de habeas corpus, quando, no curso de processo, verificarem que alguém sofre
ou está na iminência de sofrer coação ilegal” (art. 654, § 2º). Desses preceptivos,
infere-se que no habeas corpus devem ser conhecidas quaisquer questões de
fato e de direito relacionadas a constrangimento ou ameaça de constrangimento
à liberdade individual de locomoção. Por isso, ainda que substitutivo do recurso

95
Capítulo 5

expressamente previsto para a hipótese, é imprescindível que seja processado


para perquirir a existência de “ilegalidade ou abuso de poder” no ato judicial
impugnado (STF, HC 121.537, Rel. p/ acórdão Ministro Roberto Barroso, Primeira
Turma; HC 111.670, Rel. Ministra Cármen Lúcia, Segunda Turma; STJ, HC 277.152,
Rel. Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma; HC 275.352, Rel. Ministra Maria Thereza
de Assis Moura, Sexta Turma). 02. “O ato infracional análogo ao tráfico de drogas,
por si só, não conduz obrigatoriamente à imposição de medida socioeducativa de
internação do adolescente” (Súmula 492/STJ). 03. Habeas corpus não conhecido.
Ordem concedida, de ofício, para restabelecer a sentença proferida pelo Juízo da
Vara do Júri, Execuções e Infância e Juventude da Comarca de Rio Claro/SP.

(STJ – HABEAS CORPUS Nº 299.234 – SP (2014/0174074-2). RELATOR: MINISTRO


NEWTON TRISOTTO).

96
Capítulo 6

Relações Jurisdicionais
e Disposições Gerais do
Processo Penal 1

Seção 1

Relações jurisdicionais com autoridades


estrangeiras

1.1 Homologação da sentença estrangeira


De acordo com a Constituição Federal, compete Superior Tribunal de Justiça
processar e julgar originariamente a homologação de sentenças estrangeiras e
A lei processual penal a concessão do exequatur às cartas rogatórias (art. 105,
é aplicável a todas I, i). Conforme a Resolução n. 9/2005, a homologação
as infrações penais compete ao presidente da corte. Uma vez decidido pelo
cometidas no território
STJ, o cumprimento é feito pela justiça federal de primeiro
nacional, ressalvadas
as convenções e os grau do lugar onde a diligência deve ser realizada (art. 109,
tratados internacionais. X, CF).

1 DALABRIDA, Sidney Eloy. Recursos no processo penal. Palhoça: Unisul Virtual, 2016.

97
Capítulo 6

Conforme prevê o artigo 781 do Código de Processo Penal, as sentenças


estrangeiras e as cartas rogatórias não serão homologadas quando forem
contrárias à ordem pública e aos bons costumes.

Para eliminação da burocracia em torno da questão, o CPP expressamente


estabeleceu que a autenticidade dos documentos estrangeiros será atestada
pelos órgãos de diplomacia, com o que se evita entraves inúteis.

Os requisitos para homologação da sentença penal estrangeira estão previstos no


artigo 788 do CPP.

1.2 Carta rogatória


As cartas rogatórias devem, em regra, ser encaminhadas ao Ministério da Justiça
que, por sua vez, as enviará ao Ministério das Relações Estrangeiras, que é o
órgão diplomático encarregado para tratar com a diplomacia estrangeira. Em
outras palavras, o Ministério da Justiça é o receptor, enquanto o Ministério das
Relações Estrangeiras é quem a encaminha ao exterior. Ao retornar, a carta chega
ao Brasil através do Ministério das Relações Exteriores, que a envia ao Ministério
da Justiça para remessa ao juízo rogante.

Permite-se, além da citação, também outras diligências como intimação para


comparecimento a audiência designada no Brasil. Porém, muitas medidas
não são cumpridas, especialmente as de ordem coercitiva, tais como busca e
apreensão e prisão cautelar. Deve-se verificar sempre as normas previstas no
tratado celebrado com o Brasil. Para fazer valer uma prisão ou outra medida
coercitiva decretada no Brasil, somente através da via da extradição ou da
homologação da sentença brasileira no exterior, caso haja esta possibilidade.

Note-se que as cartas rogatórias vindas do exterior vão para o Ministério


das Relações Exteriores, que as encaminha diretamente ao presidente do
Superior Tribunal de Justiça para fins de exaquatur, que significa ordem de
execução.

1.3 Jurisprudência
PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO
DE DROGAS. RECORRENTE ESTRANGEIRA EM CUMPRIMENTO DE MEDIDAS
CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO. REQUERIMENTO PARA CUMPRIR AS
MEDIDAS NO PAÍS DE ORIGEM. TRATADOS INTERNACIONAIS. IMPOSSIBILIDADE.
IMINÊNCIA DA PROLAÇÃO DE SENTENÇA. RECURSO ORDINÁRIO DESPROVIDO.
I – A recorrente está sendo processada pela suposta prática de conduta prevista no

98
Recursos no Processo Penal

artigo 33, caput, da Lei n. 11.343/06 e requer seja concedida autorização para que
responda à ação penal em seu país de origem, haja vista a existência de um tratado
e uma convenção internalizados no ordenamento jurídico pátrio pelos Decretos
n. 6.974/2009 e 154/1991, respectivamente, que autorizariam essa possibilidade.
II – Contudo, tenho que, não obstante sejam normas a serem observadas, não
se impõe a sua aplicação para o caso, haja vista que é iminente a prolação de
sentença na ação penal a que responde a recorrente. III – Por outro lado, o Tratado
de Cooperação Internacional firmado entre a República Federativa do Brasil e
a Confederação Suíça, embora autorize a execução de medidas cautelares nos
territórios respectivos, submete à avaliação do Estado requerido a imposição ou
não das medidas. IV – Quanto à convenção contra o tráfico ilícito de entorpecentes,
embora preveja a possibilidade de extradição, é cediço que esse procedimento
está sujeito aos regramentos internos da parte requerida, que pode recusá-la, por
exemplo, por se tratar, o extraditando, de nacional do Estado requerido, não se
podendo afirmar, indene de dúvidas, que a recorrente submeter-se-á à lei penal
brasileira estando na Suíça. Recurso ordinário desprovido.

(STJ – RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 41.650 – SP (2013/0339841-8).


RELATOR: MINISTRO FELIX FISCHER).

HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA PENAL ESTRANGEIRA. AGRAVO REGIMENTAL.


PRESCRIÇÃO DA PENA. APLICAÇÃO AO CASO DO ART. 9º DO CÓDIGO PENAL
BRASILEIRO. Nos termos do artigo 9º do Código Penal Brasileiro, a sentença
estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas
consequências, pode ser homologada para obrigar o condenado à reparação do
dano e a outros efeitos civis. A prescrição da pena não é causa suficiente para fins
de homologação de sentença penal estrangeira. Agravo regimental improvido.

(STJ – AgRg na SENTENÇA ESTRANGEIRA Nº 3.395 – EX (2008/0028489-9).


RELATOR: MINISTRO PRESIDENTE DO STJ).

HABEAS CORPUS. EXPULSÃO DE ESTRANGEIRA. RETORNO ILEGAL.


DETERMINAÇÃO JUDICIAL DE SAÍDA DO TERRITÓRIO. FILHO NO BRASIL, DE
UNIÃO COM OUTRO ESTRANGEIRO, APÓS O FATO QUE ENSEJOU A EXPULSÃO.
DEPENDÊNCIA ECONÔMICA OU AFETIVA. INEXISTÊNCIA. AUSÊNCIA DE
PROVAS SOBRE OS REQUISITOS MÍNIMOS PARA CONCESSÃO. PRECEDENTES.
1. Cuida-se de habeas corpus impetrado com o fito de obstar a efetivação de
nova expulsão de cidadã estrangeira, que retornou ao território brasileiro, sendo
processada pelo crime de reingresso ilegal (art. 338 do Código Penal), do qual
foi absolvida, porém, por sentença que determinou judicialmente a sua saída do
território (e-STJ, fls. 44-45). 2. No caso, não estão demonstradas as hipóteses de

99
Capítulo 6

exclusão da incidência de expulsão, consignados na Lei n. 6.815/80, em especial


porque o filho nascido no Brasil é fruto da união com outro estrangeiro (afastado
o art. 75, inciso II, “a”), com nascimento posterior ao cometimento do fato que
ocasionou a expulsão (determinando a aplicação do art. 75, § 1º); por fim, também,
não se comprovou a existência de dependência econômica ou afetiva (afastando
o art. 75, inciso II, “b”). 3. A não comprovação dos requisitos mínimos para a não
expulsão do estrangeiro acarreta a denegação da ordem, por ausência de prova
pré-constituída. Precedentes: HC 218.011/SP, Rel. Min. Humberto Martins, Primeira
Seção, DJe 19.12.2011; HC 184.415/DF, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, Primeira
Seção, DJe 5.8.2011; HC 201.510/DF, Rel. Min. Humberto Martins, Primeira Seção,
DJe 21.6.2011; e HC 166.496/DF, Rel. Min. Herman Benjamin, Primeira Seção, DJe
1º.2.2011. Ordem denegada.

(STJ – HABEAS CORPUS Nº 210.212 – DF (2011/0139769-8). RELATOR: MINISTRO


HUMBERTO MARTINS).

Seção 2

Disposições gerais do processo penal

2.1 Publicidade dos atos processuais


Não se utiliza mais a nomenclatura de ordinárias e extraordinárias para as
audiências, como previsto no artigo 791 do Código de Processo Penal. Elas
obedecem a sequência prevista no procedimento respectivo (comum ou especial).

O CPP estabelece que, como regra geral, as audiências, sessões e atos


processuais serão públicos, o que na verdade se ajusta ao comando
constitucional constante do artigo 5º, LX, da Constituição Federal.

Importante notar que a publicidade poderá ser limitada, desde que haja
interesse público, como para preservação da intimidade, inconveniente ou
perigo de perturbação da ordem, conforme prevê o artigo 792, § 2º, do
Código de Processo Penal.

Ademais, o sigilo poderá ser decretado no próprio processo, restringindo seu


acesso somente às partes. Oportuna a lembrança do artigo 201, § 6º, do Código
de Proceso Penal, segundo qual o juiz tomará as providências necessárias à

100
Recursos no Processo Penal

preservação da intimidade, vida privada, honra e imagem do ofendido, podendo,


inclusive, determinar o segredo de justiça em relação aos dados, depoimentos
e outras informações constantes dos autos a seu respeito para evitar sua
exposição aos meios de comunicação.

Naturalmente, as audiências e sessões devem ser realizadas nas dependências


forenses, muito embora seja possível a sua realização em outros locais, como,
por exemplo, no presídio ou hospital.

Para manutenção da ordem, o juiz poderá requisitar força policial e o que for
conveniente para garantir a regularidade dos atos processuais, como a retirada
de pessoa inconveniente, já que dispõe de poder de polícia. Também é permitida
a retirada do próprio réu da audiência ou sessão, quando se comportar de modo
a prejudicar o andamento normal da atividade.

Os atos processuais devem ser realizados em dias úteis, mas, excepcionalmente,


poderão acontecer durante o fim de semana ou feriado. É comum que ocorra
durante os julgamentos pelo tribunal do júri, que são contínuos e não se
suspendem, salvo para repouso.

2.2 Prazos e contagem


Os prazos processuais são divididos em contínuos e peremptórios. Diz-se
contínuo aquele que corre sem qualquer interrupção, ao passo que peremptórios
os que não admitem dilatação. Denominam-se próprios aqueles sujeitos à
preclusão e impróprios os fixados ao juiz, promotor ou funcionários da justiça e
que, quando não cumpridos, geram sanções administrativas, apesar do ato poder
ser realizado. Fala-se também em prazos legais, como aqueles previstos em lei,
e prazos judiciais, como sendo aqueles fixados pelo juiz. O prazo ainda pode ser
comum, quando corre, ao mesmo tempo, para as duas partes, ou individual e
sucessivo, quando corre para uma parte e, em seguida, para a outra.

Os prazos só começam a fluir a partir do primeiro dia útil após a intimação.


Importante observar o teor da Súmula 310 do Supremo Tribunal Federal,
que esclarece: “Quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a
publicação com efeito de intimação for feita nesse dia, o prazo judicial terá
início na segunda-feira imediata, salvo se não houver expediente, caso em
que começará no primeiro dia útil que se seguir”.

A Lei n. 11.419/2006, que cuida da informatização do processo, determina que


deve ser considerado “como data da publicação o primeiro dia útil seguinte ao da
disponibilização da informação no Diário da Justiça eletrônico”.

101
Capítulo 6

O início da contagem dos prazos deve ser, em regra, da intimação da parte. No


entanto, nada impede que se inicie a partir da audiência ou sessão do tribunal em
que foi proferida a decisão, conforme prescreve o artigo 798, § 5º, a, do CPP.

O CPP, em seu artigo 800, prevê uma série de prazos impróprios dirigidos ao juiz
de direito, a saber: 10 (dez) dias para proferir sentenças e decisões interlocutórias
mistas; 5 (cinco) dias para as decisões interlocutórias simples; 1 (um) dia para
despachos ordinatórios. Dada sua natureza imprópria, uma vez ultrapassados,
não impedem a prática do ato, não obstante possa o magistrado responder
administrativamente pela falta quando se verificar atraso injustificável.

Vale ressaltar que a previsão legal de sanção ao juiz e ao membro do Ministério


Público com a redução dos vencimentos e prejuízo para a promoção ou
aposentadoria, contida no artigo 801 do CPP, é inaplicável, haja vista as
disposições constitucionais relacionadas às garantias da carreira, bem como às
normas previstas nas respectivas Leis Orgânicas da Magistratura e do Ministério
Público. Entretanto, observe-se que, à luz do artigo 93, inciso II, da Emenda
Constitucional 45/2004, não será promovido o juiz que, de modo injustificado,
retiver autos em seu poder além do prazo legal, não podendo devolvê-los ao
cartório sem despacho ou decisão.

2.3 Retirada dos autos e custas nos processos criminais


A retirada de autos do cartório, salvo os casos expressos em lei, é proibida,
tratando-se de medida que deve ser controlada, de modo que a parte interessada
somente possa levar os autos quando tiver vista aberta para manifestar-se ou
estiver correndo prazo para tanto, uma vez registrada a carga em livro próprio,
disposto no artigo 803 CPP.

Inexiste possibilidade de retirada do autos por mera confiança, cautela que tem
mira a necessidade de preservação dos autos a fim de evitar-se a sua supressão
ou mesmo de documentos nele contidos. Aplicável por analogia, vale lembrar,
o disposto no artigo 40, § 2º, do CPP, de acordo com o qual, sendo comum
às partes o prazo, só em conjunto ou mediante prévio ajuste por petição nos
autos, poderão os seus procuradores retirar os autos, ressalvada a obtenção de
cópias para a qual cada procurador poderá retirá-los pelo prazo de 1 (uma) hora,
independentemente de ajuste.

Alusivamente às custas do processo, observe-se que não existem em relação ao


Ministério Público, já que a acusação é realizada por órgão do Estado. Em sendo
vencido o réu, no entanto, tem-se como regra que as custas são devidas. O
pagamento de custas na ação penal privada deve ser efetuado, à luz do artigo 806
do Código de Processo Penal, salvo quando o acusado for pobre. Em relação à
ação penal subsidiária da pública, não haverá pagamento de despesas processuais.

102
Recursos no Processo Penal

2.4 Jurisprudência
HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO E INCÊNDIO. OMISSÃO NO
ACÓRDÃO IMPUGNADO. VÍCIO NÃO CONFIGURADO. REQUISIÇÃO DO PRESO
PARA INTERROGATÓRIO. NULIDADE DA CITAÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA DE
PREJUÍZO. ABERTURA DE PRAZO PARA APRESENTAÇÃO DAS RAZÕES DE
RECURSO NÃO INADMITIDO POR INTEMPESTIVIDADE. DESNECESSIDADE.
CONTAGEM DE PRAZO. SÚMULA 710/STF. CONSTRANGIMENTO ILEGAL
NÃO CONFIGURADO. PRISÃO CAUTELAR. FUGA. APLICAÇÃO DA LEI PENAL.
EXCESSO DE PRAZO DA PRISÃO CAUTELAR. SUPERVENIÊNCIA DA SENTENÇA
CONDENATÓRIA. PEDIDO PREJUDICADO. ORDEM PARCIALMENTE CONHECIDA
E, NESSA EXTENSÃO, DENEGADA. “No processo penal, contam-se os prazos da
data da intimação, e não da juntada aos autos do mandado ou da carta precatória
ou de ordem” (Súmula 710/STF).

(STJ – HC 52858/PE. Relator: Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA).

HABEAS CORPUS ORIGINÁRIO. PEDIDO DE SEGREDO DE JUSTIÇA NOS AUTOS


DO HC. PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE DOS ATOS JURISDICIONAIS. AUSÊNCIA DE
EXCEPCIONALIDADE. INDEFERIMENTO. SUPOSTA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA
E DESVIO DE VERBAS FEDERAIS. PRISÃO PREVENTIVA DECRETADA NO
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL, PARA DESARTICULAR A ORCRIM E PARA
GARANTIR A INSTRUÇÃO CRIMINAL (PROVAS). BUSCA E APREENSÃO
IMPLEMENTADA. LÍDER PRESO. DESNECESSIDADE DE MANUTENÇÃO NO
CÁRCERE PROVISÓRIO DE INTERMEDIÁRIO. POSSIBILIDADE DE SUBSTITUIÇÃO
DA PRISÃO POR OUTRAS MEDIDAS CAUTELARES. ART. 319 DO CÓDIGO DE
PROCESSO PENAL. PRECEDENTES DO STF E DO STJ. ORDEM CONCEDIDA
AO PACIENTE (INTERMEDIÁRIO), MEDIANTE OUTRAS CAUTELARES. 1. No
ordenamento jurídico brasileiro, a regra é a publicidade dos atos jurisdicionais,
excepcionada quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem, a
teor dos artigos 5º, LX, e 93, IX, da Constituição Federal, o que não ocorre na
espécie.

(STJ – HC 329825/BA. Relator: Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA).

RECURSO CRIMINAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO PRATICADO CONTRA QUATRO


VÍTIMAS (ART. 121, § 2º, II, IV E V, DO CÓDIGO PENAL). SENTENÇA DE PRONÚNCIA.
PRELIMINAR. PEDIDO DE TRAMITAÇÃO DO PROCESSO EM SEGREDO DE
JUSTIÇA. INDEFERIMENTO. AUSÊNCIA DE ELEMENTOS QUE INDIQUEM A
NECESSIDADE DE SIGILO. PRETENDIDA ABSOLVIÇÃO, AO ARGUMENTO DE
AUSÊNCIA DE VOLUNTARIEDADE E CONSCIÊNCIA DA PRÁTICA DELITIVA.

103
Capítulo 6

INVIABILIDADE. MATERIALIDADE INCONTROVERSA E INDÍCIOS DE AUTORIA


EXISTENTES. RECURSO QUE IMPOSSIBILITOU A DEFESA DAS VÍTIMAS.
ELEMENTOS INDICIÁRIOS SUFICIENTES, A TEOR DO QUE APREGOA O ART.
413 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. PLEITO DE APLICAÇÃO DE MEDIDA
DE INTERNAÇÃO, DIANTE DE LAUDO DE SANIDADE MENTAL COMPROVANDO
A DEPENDÊNCIA TOXICOLÓGICA. INVIABILIDADE. PERÍCIA QUE NÃO CONCLUI
PELA INIMPUTABILIDADE DO ACUSADO. CONTINUIDADE DELITIVA. MATÉRIA
AFETA À APLICAÇÃO DA PENA. NÃO CONHECIMENTO. MANUTENÇÃO DA
PRISÃO E DA SENTENÇA DE PRONÚNCIA. RECURSO CONHECIDO EM PARTE,
E DESPROVIDO.

(TJSC – Recurso Criminal n. 2013.050821-4, de Balneário Piçarras; Relator:


Desembargador Ricardo Roesler).

APELAÇÃO CRIMINAL – TRIBUNAL DO JÚRI – HOMICÍDIO TENTADO – NULIDADE


POSTERIOR À PRONÚNCIA – INTERVENÇÕES DO JUIZ PRESIDENTE – EXERCÍCIO
DO PODER DE POLÍCIA – MANUTENÇÃO DA ORDEM DOS TRABALHOS –
EXCESSO NÃO CARACTERIZADO – NÃO OCORRÊNCIA.

DECISÃO MANIFESTAMENTE CONTRÁRIA À PROVA DOS AUTOS – VEREDICTO


COM SUPORTE NO CONJUNTO PROBATÓRIO – PRINCÍPIO DA SOBERANIA DO
JÚRI POPULAR – EIVA AFASTADA.

ERRO E INJUSTIÇA NA APLICAÇÃO DA PENA – PENA-BASE – MOTIVO


TORPE – QUALIFICADORA NÃO APRECIADA PELO TRIBUNAL DO JÚRI –
CONSIDERAÇÃO COMO CIRCUNSTÂNCIA JUDICIAL NA DOSIMETRIA DA PENA
– IMPOSSIBILIDADE – ADEQUAÇÃO DEVIDA.

“Em crimes dolosos contra a vida, não é admissível, na fixação da pena-base (art. 59,
CP), a consideração de circunstância que constituiria qualificadora ou agravante
do crime, sob pena de usurpação da competência do tribunal do júri” (STJ, Min.
Arnaldo Esteves Lima).

(TJSC – Apelação Criminal n. 2009.049402-2, de Itajaí; Relator: Des. Moacyr de


Moraes Lima Filho).

104
Considerações Finais

Do vasto campo de aplicação do Direito Processual Penal, foram aqui abordados


temas essenciais à compreensão de sua estrutura, bem como a compreensão da
sua dinâmica e engrenagem.

De partida, apresentamos todo o sistema de nulidades no processo penal


brasileiro, destacando os aspectos fundamentais de cada uma de suas
modalidades, conhecimento que permitirá ao aluno discernir as várias espécies
de vícios processuais e sua repercussão sobre a validez do processo. Alertamos
para a necessidade de atenção para os princípios fundamentais que atuam
nesse contexto, com ênfase para o princípio da instrumentalidade das formas e o
consagrado pas de nullité sans grief.

Na sequência, ingressamos no extenso mundo dos recursos no processo penal.


Aqui, obrigatoriamente, expusemos os princípios que fundam o controle sobre
a entrega da prestação jurisdicional, seja em razão de soluções arbitrárias
ou mesmo em decorrência da falibilidade humana. Avançando sobre os
pressupostos recursais, destacamos o controle sobre sua regularidade através
do juízo de admissibilidade, para então incursionar sobre os efeitos da sua
interposição.

Já exibidos os temas do grupo estruturante, passamos a explorar os recursos em


espécie.

Destacamos, inicialmente, o recurso em sentido estrito e a apelação,


seguramente os mais manejados no campo processual penal. Em cada um
deles, foram indicadas as hipóteses de cabimento, os prazos de interposição, o
procedimento e os efeitos. Além disso, analisamos carta testemunhável, correição
parcial, reclamação, recurso especial e extraordinário.

No decorrer do conteúdo, explicitamos as ações autônomas de impugnação,


como a revisão criminal, o mandado de segurança criminal e o habeas corpus,
destacando as suas características principais.

Logo depois, esclarecemos como ocorrem as relações jurisdicionais com


autoridades estrangeiras para fins de homologação da sentença estrangeira e o
processamento da carta rogatória e, por fim, apresentamos as disposições gerais
do processo penal, com destaque para a publicidade dos atos processuais.

Em suma, firmamos um sólido fundamento em torno de temas fundamentais para


a compreensão do sistema processual penal brasileiro.

105
Referências

BADARÓ, Gustavo Henrique. Direito processual penal. 2. ed. Rio de Janeiro:


Elsevier, 2009.

BARROS, Romeu Pires de Campos. Processo penal cautelar. Rio de Janeiro:


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Saraiva, 2015.

BORGES DE MENDONÇA, Andrey. Nova reforma do código de processo penal.


São Paulo: Método, 2009.

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BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil


de 1988. Brasília, DF. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
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BRASIL. Lei n. 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão


da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm>.
Acesso em: 28 jul. 2015.

BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.


Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.
htm>. Acesso em: 28 jul. 2015.

CAPEZ, Fernando. Curso de processo Ppenal. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.

CAPEZ, Fernando; COLNAGO, Rodrigo. Código de processo penal comentado.


8. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

CHOUKR, Fauzi Hassan. Código de processo penal: comentários consolidados


e crítica jurisprudencial. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2014.

DALABRIDA, Sidney Eloy. Prisão preventiva: uma análise à luz do garantismo


Penal. Curitiba: Juruá, 2004.

DALABRIDA, Sidney Eloy. Direito processual penal. Florianópolis: Editora OAB/


SC, 2006. v. 1.

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Universidade do Sul de Santa Catarina

DELMANTO JÚNIOR, Roberto. As modalidades de prisão provisória e seu


prazo de duração. Rio de Janeiro: Renovar, 2001.

FERNANDES, Antônio Scarance. Processo penal constitucional. 7. ed. São


Paulo: Revista dos Tribunais, 2012

FRANCO, Alberto Silva et al. Código de processo penal e sua interpretação


jurisprudencial. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, xxxx.

GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal. 9. ed. São Paulo: Saraiva,
2012

GRINOVER, Ada Pellegrini; FERNANDES, Antonio Scarance; FILHO, Antônio


Magalhães Gomes. As nulidades no processo penal. 12. ed. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2011.

GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Recursos no processo penal. 7. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2011.

GRINOVER, Ada Pellegrini et al. Juizados especiais criminais. 5ª edição São


Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.

JESUS, Damásio Evangelista de. Código de processo penal anotado. 27. ed.
São Paulo: Saraiva, 2015.

LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal. 4. ed. Bahia:


JusPODIVM, 2016.

MESSA, Ana Flávia. Curso de direito processual penal. 2. ed. São Paulo:
Saraiva, 2014.

MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de processo penal interpretado. 9. ed. São


Paulo: Atlas, 2015.

MIRABETE, Júlio Fabbrini. Processo penal. 18. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado. Rio de


Janeiro: Forense, 2015.

NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. 13.


ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.

NUCCI, Guilherme de Souza. Tribunal do júri. Rio de Janeiro: Forense, 2016.

OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de processo penal. 19. ed. São Paulo:
Atlas, 2015.

108
Recursos no Processo Penal

PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: ideias e ferramentas úteis


para o pesquisador do direito. 8. ed. Florianópolis: OAB/SC, 2003.

PORTO, Hermínio Alberto Marques. Júri. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2013.

TOURILHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de processo penal. 16. ed. São
Paulo: Saraiva, 2013.

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 35. ed. São Paulo:
Saraiva, 2013. v. 4.

109
Sobre o Professor Conteudista

Sidney Eloy Dalabrida


Graduação em Direito pela Faculdade de Direito de Joinville. Mestrado em Ciência
Jurídica pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). Doutorado em Direito pela
Universidade de Navarra. (Espanha). Atualmente é professor de Direito Processual
Penal da UNISUL/SC, Promotor de Justiça/MPSC, Coordenador de Inteligência
e Segurança Institucional do MPSC. É membro do corpo editorial da revista da
UNISUL/SC e autor das obras: Prisão preventiva: uma análise à luz do garantismo
penal e Direito Processual Penal.

111
capa_vermelha.pdf 1 14/03/16 14:58

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autônomas de impugnação, as relações
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Justiça e, em especial, do Superior
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