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Filosóficos do Direito
Profª Ivone Fernandes Morcilo Lixa
2016
Copyright © UNIASSELVI 2016
Elaboração:
Profª Ivone Fernandes Morcilo Lixa
340.1
Lixa; Ivone Fernandes Morcilo
Fundamentos filosóficos do direito/ Ivone Fernandes
Morcilo Lixa: UNIASSELVI, 2016.
158 p. : il.
ISBN 978-85-515-0003-3
1.Teoria e filosofia.
I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
L693f
Impresso por:
Apresentação
Vivemos um tempo alucinado e alucinante! As distâncias são cada
vez menores, a comunicação nos une em escala planetária em tempo real,
mas paradoxalmente nunca estivemos tão sem esperanças e com medo.
Bons Estudos!
III
NOTA
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.
IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – DIREITO E FILOSOFIA............................................................................................. 1
VII
TÓPICO 2 – O PENSAMENTO MEDIEVAL ................................................................................... 91
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 91
2 A PATRÍSTICA E O PENSAMENTO DE SANTO AGOSTINHO............................................. 93
3 A CULTURA JURÍDICA MEDIEVAL.............................................................................................. 99
4 A HERANÇA CULTURAL PARA A MODERNIDADE............................................................... 101
LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................. 102
RESUMO DO TÓPICO 2...................................................................................................................... 104
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 105
REFERÊNCIAS........................................................................................................................................ 153
VIII
UNIDADE 1
DIREITO E FILOSOFIA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Os objetivos desta unidade são:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. Ao final de cada um deles
você encontrará atividades que auxiliarão no seu aprendizado.
1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
Às vezes temos a sensação de que vivemos em um mundo que precisamos
e queremos compreender, e é por isso que iniciamos nosso estudo com um convite.
DICAS
3
UNIDADE 1 | DIREITO E FILOSOFIA
Você deve estar se perguntando por que e para que estudar Filosofia, se
seu interesse é Direito? Filosofia não é perda de tempo ou coisa de gente que
“viaja” e vive nas nuvens?
É natural que você pense assim, aliás, muitos perguntam para que
serve a Filosofia. Estamos habituados a nos preocuparmos com o que nos traga
recompensas materiais ou financeiras, afinal, temos apelos todos os dias pela
mídia, por exemplo, a sermos utilitaristas e colocarmos nossa felicidade, bem
como o sentido de nossa existência, na quantidade de coisas e bens que podemos
comprar e acumular. Através da Filosofia aprendemos a conquistar uma felicidade
muito particular: descobrir o sentido das coisas e de nossa própria existência para
sermos donos de nosso próprio destino.
Iniciamos um estudo particular que nos vai ajudar a compreender que não
existe nada “natural” no mundo jurídico. Vamos aprender que, embora sendo
difícil, devemos conhecer a origem e a finalidade dos valores que regem o mundo
do Direito, para nos tornar menos ingênuos e com mais certezas.
4
TÓPICO 1 | FILOSOFIA: UM ESTUDO INICIAL
Frases como “isso é uma verdade” já não são ditas com tanta facilidade. As
verdades parecem provisórias. É um tempo em que tudo parece se transformar com
rapidez alucinante. Mal temos tempo de compreender conceitos, valores, ideias ou
comportamentos que repentinamente já são ultrapassados. Como nós, que pensamos
o Direito, podemos lidar com esse aparente “pós tudo” sem cairmos na cilada do
senso comum, dos dogmas ou das verdades midiáticas criadas todos os dias?
NOTA
ATENCAO
6
TÓPICO 1 | FILOSOFIA: UM ESTUDO INICIAL
FONTE: <https://artelocalizada.wordpress.com/tag/o-pensador/>.
Acesso em: 15 ago. 2016.
• “Filosofia” é uma palavra grega que resulta da união de dois termos: filos (o que
ama, o que gosta) e sofia (saber, sabedoria), portanto, Filosofia é o “amor pela
sabedoria”, e o filósofo é o que tem paixão pela verdade que se quer conhecer.
• Filosofia é um saber racional, rigoroso e sistemático que se diferencia de
religião, ou seja, de convicção pela fé.
7
UNIDADE 1 | DIREITO E FILOSOFIA
FONTE: A autora
DICAS
8
TÓPICO 1 | FILOSOFIA: UM ESTUDO INICIAL
9
UNIDADE 1 | DIREITO E FILOSOFIA
10
TÓPICO 1 | FILOSOFIA: UM ESTUDO INICIAL
E
IMPORTANT
Embora não se possa afirmar que foram os gregos os únicos “filósofos” do mundo
antigo, os primeiros nomes históricos da Ciência e da Filosofia são: Tales de Mileto (623 a.C. ou
624 a.C.-546 a.C. ou 548 a.C.), Heráclito de Éfeso (535-475 a.C.), Anaximandro de Mileto (610-
546 a.C.), Xenófanes de Colofon (570-475 a.C.) e Parmênides de Eleia (530-460 a.C.).
11
UNIDADE 1 | DIREITO E FILOSOFIA
FONTE: <https://filosofiaefilosofiasnorenascimento.wordpress.com/2013/08/17/delimitando-o-
campo-i/>. Acesso em: 15 ago. 2016.
12
TÓPICO 1 | FILOSOFIA: UM ESTUDO INICIAL
Neste cenário é que surge uma figura que será imortalizada como a
encarnação de todas as virtudes ideais de um cidadão: Sócrates (469-399 a.C.).
Um homem atormentado pela consciência do saber, que carregava o insuportável
fardo de conhecer a redenção de uma sociedade decadente e criminosa, não
poderia fugir da missão política que deveria cumprir.
Seu julgamento e morte é antes de mais nada uma atitude humana diante
da esfera política. A partir de então, os filósofos se sentiram mais responsáveis
pela cidade, seus seguidores – destacadamente Platão e Aristóteles – definiram
conceitos éticos a fim de conferir validade à ação política.
13
UNIDADE 1 | DIREITO E FILOSOFIA
DICAS
JAEGER, Werner. Paideia – A Formação do Homem Grego. Tradução de Artur M. Lima. São
Paulo: Martins Fontes, 1989.
Etapa histórica em que a Filosofia se torna “serva da Teologia”, uma vez que
ocorre uma indissociável relação entre Filosofia e Teologia, mais especificamente,
a Teologia Cristã, que nasce e se consolida associada à cultura greco-romana,
porém, com forte influência do pensamento aristotélico, sobretudo em Tomás de
Aquino, após uma breve aproximação inicial com o platonismo, particularmente
em Santo Agostinho.
15
UNIDADE 1 | DIREITO E FILOSOFIA
DICAS
A popular expressão “discutir sexo dos anjos” tem sua origem em um curioso
episódio ocorrido no ano de 1453, durante a tomada de Constantinopla pelos turcos. Narra a
história que enquanto o imperador, que acabou morto, resistia junto com os cristãos contra
a queda da cidade de Istambul (na época chamada Bizâncio), que estava sendo queimada
e incendiada e sua população morta, as autoridades da Igreja mantinham uma acalorada
discussão sobre qual seria o sexo dos anjos e se Adão tinha ou não umbigo.
16
TÓPICO 1 | FILOSOFIA: UM ESTUDO INICIAL
FONTE: <http://www.sitedecuriosidades.com/curiosidade/o-que-e-o-homem-vitruviano-de-da-
vinci.html>. Acesso em: 15 ago. 2016.
ATENCAO
17
UNIDADE 1 | DIREITO E FILOSOFIA
FONTE: <http://noticias.universia.com.br/destaque/noticia/2012/01/06/903132/conheca-
liberdade-guiando-povo-eugne-delacroix.html>. Acesso em: 15 ago. 2016.
É muito difícil definir com clareza o período histórico em que se vive. São
muitas as correntes filosóficas com variadas percepções de mundo, entretanto,
algo têm em comum: o desencanto com a razão e a descrença na ciência. Estamos
em uma etapa em que “tudo parece desmanchar-se no ar”. Tempos líquidos, no
entender de Bauman (2008, p. 38), ao que parece “[...] não podemos mais tolerar o
que dura. Não sabemos mais fazer com que o tédio dê frutos [...]”.
18
TÓPICO 1 | FILOSOFIA: UM ESTUDO INICIAL
DICAS
19
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você viu:
20
AUTOATIVIDADE
21
podem ser consideradas mutuamente complementares. O fato de filósofos
distintos necessitarem dessa mútua complementação torna evidente que o
ato de filosofar não é unicamente um processo individual, mas também um
processo que possui uma contrapartida social. Um dos casos em que a divisão
do trabalho filosófico se torna bastante proveitosa consiste na circunstância de
que pessoas distintas usualmente enfatizam aspectos diferentes de uma mesma
questão. Contudo, boa parte da filosofia volta-se mais para o modo pelo qual
conhecemos as coisas do que propriamente para as coisas que conhecemos,
sendo essa uma segunda razão pela qual a filosofia parece carecer de conteúdo.
No entanto, discussões a respeito de um critério definitivo de verdade podem
determinar, na medida em que recomendam a aplicação de um dado critério,
quais as proposições que na prática deliberamos serem verdadeiras. As
discussões filosóficas da teoria do conhecimento têm exercido, ainda que de
modo indireto, importante efeito sobre as ciências.
FONTE: <http://filosofia.paginas.ufsc.br/files/2013/04/O-que-%C3%A9-Filosofia-e-por-que-vale-
a-pena-estud%C3%A1-la.pdf>. Acesso em: 15 ago. 2016.
22
UNIDADE 1
TÓPICO 2
FILOSOFIA DO DIREITO
1 INTRODUÇÃO
Vamos retomar o mesmo questionamento inicial: por que e para que o
estudo da Filosofia para quem deseja ser um jurista? Qual a relação entre Direito
e Filosofia?
23
UNIDADE 1 | DIREITO E FILOSOFIA
NOTA
FONTE: <http://www.mcescher.com/gallery/italian-period/hand-with-reflecting-sphere/>.
Acesso em: 15 ago. 2016.
24
TÓPICO 2 | FILOSOFIA DO DIREITO
TUROS
ESTUDOS FU
25
UNIDADE 1 | DIREITO E FILOSOFIA
Ótimo!!!
27
UNIDADE 1 | DIREITO E FILOSOFIA
Como você pôde perceber, não é possível usar a palavra “Direito” sem
que se dê a ela uma atribuição, uma vez que há uma autêntica constelação de
visões – que mais adiante chamaremos de “cosmovisões” – acerca do Direito,
porém, apesar de se poder reconhecer a imprecisão do termo Direito, tanto na
linguagem comum como na diversidade dos pensadores jurídicos, devemos
nos esforçar para diminuirmos essa vagueza, uma vez que nos cabe determinar
pressupostos e fundamentos que nos afastem do senso comum e das imprecisões.
28
TÓPICO 2 | FILOSOFIA DO DIREITO
TUROS
ESTUDOS FU
29
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você viu que:
30
AUTOATIVIDADE
31
32
UNIDADE 1
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
O conhecimento jurídico, como qualquer outro conhecimento, é uma
construção elaborada desde a articulação de elementos que dão origem à
compreensão ou solução de um problema ou questionamento que nos permite
adquirir determinadas competências. Tendo essa perspectiva, o contexto existencial
– histórico, político, social e cultural – do pensador e a “escolha” metodológica
dos elementos a serem utilizados permitem identificar as características e
objetivos das teorias científicas, portanto, saber científico não é um privilégio,
mas produto de uma dinâmica relação com a realidade circundante. Ciência não
é feita independente do mundo, não opera de forma autônoma, mas depende de
um conjunto de condições para sua elaboração e desenvolvimento e, uma vez
elaborada e com condições institucionais, o saber se prolifera e se reproduz.
NOTA
33
UNIDADE 1 | DIREITO E FILOSOFIA
FONTE: <http://seminariosemsaude.blogspot.com.br/2010/10/thomas-kuhn-e-ciencia-como-pra-
tica.html>. Acesso em: 20 jul. 2016.
34
TÓPICO 3 | O PARADIGMA DOMINANTE DE DIREITO MODERNO E SEUS ELEMENTOS EDIFICADORES
35
UNIDADE 1 | DIREITO E FILOSOFIA
36
TÓPICO 3 | O PARADIGMA DOMINANTE DE DIREITO MODERNO E SEUS ELEMENTOS EDIFICADORES
37
UNIDADE 1 | DIREITO E FILOSOFIA
E
IMPORTANT
38
TÓPICO 3 | O PARADIGMA DOMINANTE DE DIREITO MODERNO E SEUS ELEMENTOS EDIFICADORES
39
UNIDADE 1 | DIREITO E FILOSOFIA
40
TÓPICO 3 | O PARADIGMA DOMINANTE DE DIREITO MODERNO E SEUS ELEMENTOS EDIFICADORES
Norberto Bobbio (1999, p. 15) sobre a primeira distinção que deve ser feita entre
Positivismo Jurídico e Positivismo Filosófico, já estudada:
41
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você viu que:
42
AUTOATIVIDADE
43
44
UNIDADE 1
TÓPICO 4
1 INTRODUÇÃO
O estudo a seguir faz parte da obra “Hermenêutica e Direito: uma
possibilidade crítica”, publicada pela Editora Juruá (Curitiba) em 2003, de autoria
de Ivone Fernandes Morcilo Lixa.
45
UNIDADE 1 | DIREITO E FILOSOFIA
ATENCAO
46
TÓPICO 4 | ANTECEDENTES HISTÓRICOS DO POSITIVISMO JURÍDICO CONTEMPORÂNEO E DA SUPREMACIA DO PRINCÍ-
PIO DA LEGALIDADE
Defende que:
47
UNIDADE 1 | DIREITO E FILOSOFIA
NOTA
48
TÓPICO 4 | ANTECEDENTES HISTÓRICOS DO POSITIVISMO JURÍDICO CONTEMPORÂNEO E DA SUPREMACIA DO PRINCÍ-
PIO DA LEGALIDADE
FONTE: <http://jhessycruzoliver.blogspot.com.br/2013/06/o-codigo-civil-napoleonico.html>.
Acesso em: 15 ago. 2016.
49
UNIDADE 1 | DIREITO E FILOSOFIA
50
TÓPICO 4 | ANTECEDENTES HISTÓRICOS DO POSITIVISMO JURÍDICO CONTEMPORÂNEO E DA SUPREMACIA DO PRINCÍ-
PIO DA LEGALIDADE
51
UNIDADE 1 | DIREITO E FILOSOFIA
TUROS
ESTUDOS FU
52
TÓPICO 4 | ANTECEDENTES HISTÓRICOS DO POSITIVISMO JURÍDICO CONTEMPORÂNEO E DA SUPREMACIA DO PRINCÍ-
PIO DA LEGALIDADE
FONTE: <https://global.britannica.com/biography/Friedrich-Karl-von-Savigny>.
Acesso em: 15 ago. 2016.
53
UNIDADE 1 | DIREITO E FILOSOFIA
LEITURA COMPLEMENTAR
UTILIZAÇÃO DA FILOSOFIA
Há uma questão que muita gente formula de imediato quando ouve falar
de filosofia: qual a utilidade da filosofia? Não há certamente expectativa alguma
de que ela contribua para a produção de riqueza material. Contudo, a menos que
suponhamos que a riqueza material seja a única coisa de valor, a incapacidade da
filosofia de promover esse tipo de riqueza não implica que não haja sentido prático
em filosofar. Não valorizamos a riqueza material por si própria - aquela pilha de
papel que chamamos de dinheiro não é boa por si mesma -, mas por contribuir para
nossa felicidade. Não resta dúvida de que uma das mais importantes fontes de
felicidade, ao menos para os que podem apreciá-la, consiste na busca da verdade
e na contemplação da realidade; eis aí o objetivo do filósofo. Ademais, aqueles
que, em nome de um ideal, não classificaram todos os prazeres como idênticos
em seu valor, tendo chegado a experimentar o prazer de filosofar, consideraram
essa experiência como superior em qualidade a qualquer outra. Visto que a
maior parte dos bens que a indústria produz, excetuando os que suprem nossas
necessidades básicas, valem apenas como fontes de prazer, torna-se a filosofia
perfeitamente apta, no que se refere à utilidade, para competir com a maioria dos
produtos industriais, quando poucos são os que podem dedicar-se, em tempo
integral à tarefa de filosofar. Mesmo que entendêssemos a filosofia como fonte
de um inocente prazer particularmente válido por si próprio (obviamente, não
apenas para os filósofos, mas também para todos aqueles a quem eles ensinam
e influenciam), não haveria razão para invejar tão pequeno desperdício da força
humana dedicada ao filosofar.
Não esgotamos, porém, tudo o que pode ser dito em favor da filosofia,
pois, à parte qualquer valor que lhe pertença intrinsecamente acima de seus
efeitos, a filosofia tem exercido, por mais que ignoremos isso, uma admirável
influência indireta até mesmo sobre a vida de gente que nunca ouviu falar nela.
Indiretamente, tem sido destilada através de sermões, da literatura, dos jornais e
da tradição oral, afetando assim toda a perspectiva geral do mundo. Em grande
parte, foi através de sua influência que se fez da religião cristã o que ela é hoje.
Devemos originalmente a filósofos ideias que desempenharam papel fundamental
para o pensamento em geral, mesmo em seu aspecto popular, como, por exemplo, a
concepção de que nenhum homem pode ser tratado apenas como um meio ou a de
que o estabelecimento de um governo depende do consentimento dos governados.
No âmbito da política, a influência das concepções filosóficas tem sido expressiva.
Nesse sentido, a Constituição norte-americana é, em grande parte, uma aplicação
das ideias do filósofo John Locke; ela apenas substitui o monarca hereditário
por um presidente. Similarmente, admite-se que as ideias de Rousseau tenham
sido decisivas para a Revolução Francesa de 1789. É inegável que a influência
da filosofia sobre a política pode às vezes ser nefasta: os filósofos alemães do
54
TÓPICO 4 | ANTECEDENTES HISTÓRICOS DO POSITIVISMO JURÍDICO CONTEMPORÂNEO E DA SUPREMACIA DO PRINCÍ-
PIO DA LEGALIDADE
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UNIDADE 1 | DIREITO E FILOSOFIA
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TÓPICO 4 | ANTECEDENTES HISTÓRICOS DO POSITIVISMO JURÍDICO CONTEMPORÂNEO E DA SUPREMACIA DO PRINCÍ-
PIO DA LEGALIDADE
FONTE: <http://filosofia.paginas.ufsc.br/files/2013/04/O-que-%C3%A9-Filosofia-e-por-que-vale-a-
pena-estud%C3%A1-la.pdf>. Acesso em: 22 ago. 2016.
57
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você viu que:
58
AUTOATIVIDADE
59
60
UNIDADE 2
A CONSTRUÇÃO FILOSÓFICA DO
DIREITO MODERNO NO MARCO
DA TRADIÇÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Os objetivos desta unidade são:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em dois tópicos e ao final de cada um deles você
encontrará atividades que o auxiliarão no aprendizado.
61
62
UNIDADE 2
TÓPICO 1
O LEGADO GRECO-ROMANO
1 INTRODUÇÃO
A partir dos estudos realizados na unidade anterior já é possível
aprofundarmos melhor nossos estudos, especificamente na Filosofia do Direito,
indo às raízes das questões centrais para as quais os pensadores do Direito
buscaram soluções a fim de estabelecer fundamentos éticos, políticos e morais
adequados para o agir jurídico.
NOTA
A expressão “Miséria da Filosofia” foi usada pelo pensador Karl Marx como
título de sua importante obra em 1847. Este livro, considerado por alguns como a base do
marxismo, é uma resposta ao economista Pierre-Joseph Proudhon que havia escrito acerca
das contradições do sistema econômico de sua época. A crítica de Marx à obra é porque sua
obra era essencialmente acadêmica, uma vez que analisava e compreendia a realidade a partir
de abstrações. Marx critica o método: compreender a realidade desde o “mundo das ideias”.
63
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO FILOSÓFICA DO DIREITO MODERNO NO MARCO DA TRADIÇÃO
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TÓPICO 1 | O LEGADO GRECO-ROMANO
TEMAS PARA ESTUDO: Verdades, Conhecimento, Ética e Moral, Política, Liberdade, Cultura,
Violência, Ideologia, Bioética e outros.
FONTE: <http://amorsaudeevida.blogspot.com.br/2014/04/linha-do-tempo-da-filosofia.html>.
Acesso em: 20 jul. 2016.
65
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO FILOSÓFICA DO DIREITO MODERNO NO MARCO DA TRADIÇÃO
2 DO MITO AO LOGOS
Uma das problemáticas que se deve ter presente é acerca das fontes de
estudo do direito e da filosofia grega e romana. Como boa parte da literatura
jurídica e filosófica foi perdida, sobretudo a dos pré-socráticos, dos sofistas, de
Demócrito, e tantos outros autores, nosso estudo deve ser completado por outras
fontes. Também se perderam escritos de Platão e Aristóteles, restando fragmentos
e partes incompletas de importantes obras.
FONTE: <https://jrodrigorodriguez.wordpress.com/2010/02/07/berlim-e-hamburgo-aos-
pedacos-xix-homero-ausente/>. Acesso em: 16 ago. 2016.
O que aconteceu foi que categorias com que teve que encarar o mundo
natural foram tiradas da experiência da vida humana, intuitivamente
expressa na mitologia, e deste modo se deve reconhecer, [...] que essas
categorias (e em especial a noção de ‘lei’, aplicada aos fenômenos da
realidade física) têm origem social. A passagem do mito para o logos,
como se denominou o processo mental que deu lugar à filosofia
enquanto conhecimento racional rigoroso, não se deu de uma só vez,
e por longo tempo coexistiram as duas modalidades de enfrentar o
mistério do Ser (TRUYOL Y SERRA, 1982, p. 86, grifos nossos).
FIGURA 15 - ATLAS
Atlas ou Atlante é um dos titãs gregos –
figuras de poderes desproporcionais de força e
violência, desordem e caos –, condenado por Zeus
a sustentar os céus para sempre. O castigo lhe foi
imposto após tentar tomar o Olimpo.
FONTE: <http://eventosmitologiagrega.blogspot.com.br/2010/10/atlas.html>.
Acesso em: 16 ago. 2016.
67
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO FILOSÓFICA DO DIREITO MODERNO NO MARCO DA TRADIÇÃO
Protegida pelos deuses, a pólis era regida por normas tradicionais – themistes
(regulamentações) – que codificadas constituíam o nomos – ordem da pólis. Como você
deve saber, as pólis constituíam formas diversas de organização que concretizava a
convivência desde os valores de todos por todos. Graças à vida na pólis era possível
a liberdade individual assegurada pela justiça, inicialmente compreendida como
reparação a tudo que feria a ordem estabelecida e, posteriormente, vai se identificar
como harmonia e equilíbrio nas relações entre os homens.
A íntima relação dos termos “política” e “pólis” não decorre tão somente
do vínculo semântico. A multifacetada experiência ocorrida em Atenas entre
os séculos IV a VI a.C. evidenciou contradições capazes de gerar um ambiente
decisivo para o surgimento da reflexão política.
68
TÓPICO 1 | O LEGADO GRECO-ROMANO
69
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO FILOSÓFICA DO DIREITO MODERNO NO MARCO DA TRADIÇÃO
A liberdade, conceito aliado à ideia de lei, era uma condição que os gregos
sempre exaltaram. Viver livre era, fundamentalmente, além de não ser escravo de
ninguém e de nenhuma coisa, também o poder de participar politicamente. Tal
condição resultou de paulatina conquista jurídica: a liberdade civil, conquistada
com as reformas de Sólon (594 a.C.), e o avanço democrático com a participação
nos órgãos de decisão política. Assim, liberdade e democracia eram inseparáveis.
70
TÓPICO 1 | O LEGADO GRECO-ROMANO
71
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO FILOSÓFICA DO DIREITO MODERNO NO MARCO DA TRADIÇÃO
ATENCAO
72
TÓPICO 1 | O LEGADO GRECO-ROMANO
definição de homem usada mais tarde por Aristóteles, muda de eixo. Tratava-
se agora de unir, de maneira convincente, duas atividades políticas: “a ação
(práxis) e o discurso (léxis), dos quais surge a esfera dos negócios humanos (taton
anthropon pragmata, como chamava Platão), que exclui estritamente tudo o que
seja apenas útil e necessário” (ARENDT, 1983, p. 34). A experiência crescente do
exercício político vai acentuando o discurso como meio de persuasão, meio de
comunicação específico que alia o pensamento filosófico ao político.
Sob este “pano de fundo” surge uma figura que será imortalizada como a
encarnação de todas as virtudes ideais de um cidadão: Sócrates.
FONTE: <http://faunosmitos.blogspot.com.br/2008/11/scrates-era-um-fauno_8005.html>.
Acesso em: 16 ago. 2016.
73
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO FILOSÓFICA DO DIREITO MODERNO NO MARCO DA TRADIÇÃO
Entretanto, o grande golpe que mais o abalou, com então 29 anos, foi a
condenação e morte de Sócrates. Devido a esse episódio Platão já não crê mais nos
74
TÓPICO 1 | O LEGADO GRECO-ROMANO
regimes políticos de sua época, sobretudo na democracia, por entender ser o pior dos
regimes que tornava possível a política ser dominada por mercenários dominados
por paixões e meras opiniões. Platão, seguindo os ensinamentos de Sócrates, se
convence definitivamente que apenas o filósofo poderia ser governante pois apenas
ele, conhecendo a verdadeira justiça, seria capaz de melhor conduzir a política.
FONTE: <http://www.filosofia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.
php?foto=437&evento=6>. Acesso em: 16 ago. 2016.
75
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO FILOSÓFICA DO DIREITO MODERNO NO MARCO DA TRADIÇÃO
Com a morte de Sócrates, Platão sabe que Atenas não era um lugar seguro
e decide partir para a Itália e Secília Meridional, tornando-se próximo de Díon
– cunhado do tirano de Siracusa Dionísio I, o Velho, sucedido por seu filho
Dionísio, o Jovem – o que lhe permitiu visitar a corte muitas vezes e, movido
por sua crença, tenta convencer o monarca de que o verdadeiro rei deveria ser
um filósofo. Mais uma vez passa por uma experiência dramática: é embarcado
à força num navio de Égina, cidade então em guerra com Atenas, vendido como
escravo, retornando apenas para Atenas graças ao resgate feito por Anníceris.
Após sua primeira viagem àquelas terras, em 387 a.C., volta para Atenas e funda a
Academia, próximo ao santuário do herói ático Academos, que perdurou até 529,
quando é desativada por Justiniano.
76
TÓPICO 1 | O LEGADO GRECO-ROMANO
77
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO FILOSÓFICA DO DIREITO MODERNO NO MARCO DA TRADIÇÃO
Platão, assim como Sócrates, sabia, por sua própria experiência, que a ação
política é, dentre as capacidades e possibilidades humanas, uma das mais perigosas.
As condições históricas que foram sendo criadas ao longo do desenvolvimento
político ocidental evidenciaram que refletir acerca da política é assumir o risco
do fracasso, que apenas pode ser compensado pela oportunidade de construção
de uma sociedade melhor. Platão percebeu que Sócrates não havia fracassado ao
mostrar que os assuntos da pólis não são seguros para os filósofos, reconhecendo
que sua morte serviu para dar sentido à reflexão política. Compreendeu que
seu mestre sabia que apenas seria imortalizado se a solidariedade dos filósofos
pudesse competir com a cidade, sem serem ridicularizados ao falarem nas praças
públicas. Afinal, Sócrates triunfou, mostrando à pólis que não era um inútil, que
realmente tinha muito a ensinar a seus concidadãos. Esta é uma das lições que se
pode extrair da invenção da política: buscar sentido na experiência do conflito.
78
TÓPICO 1 | O LEGADO GRECO-ROMANO
FONTE: <http://www.leitura.org/aristteles-busto-de-aristteles-no-museu-do-louvre-nascimento.
html>. Acesso em: 16 ago. 2016.
79
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO FILOSÓFICA DO DIREITO MODERNO NO MARCO DA TRADIÇÃO
É evidente, pois, que a cidade faz parte das coisas da natureza, que
o homem é naturalmente um animal político, destinado a viver em
sociedade, e que aquele que, por instinto, e não porque qualquer
circunstância o inibe, deixa de fazer parte de qualquer cidade, é um ser
vil ou superior ao homem. Tal indivíduo merece, como disse Homero,
a censura cruel de ser um sem família, sem leis, sem lar. Porque ele é
ávido de combates, e, como as aves de rapina, incapaz de se submeter
a qualquer obediência.
80
TÓPICO 1 | O LEGADO GRECO-ROMANO
81
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO FILOSÓFICA DO DIREITO MODERNO NO MARCO DA TRADIÇÃO
82
TÓPICO 1 | O LEGADO GRECO-ROMANO
83
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO FILOSÓFICA DO DIREITO MODERNO NO MARCO DA TRADIÇÃO
humano não estariam, como para Platão, num plano ideal, mas seriam o
resultado de um complexo ajuste político, sendo a arte de governar a correta
adequação entre os meios disponíveis e os fins desejados.
DICAS
Como virtude, justiça é uma ciência da prática e ramo especial do saber humano, a ética.
• Justiça Universal: é a virtude que está em todas as demais, como, por exemplo,
na paciência ou caridade. O paciente é aquele que reconhece o que é necessário
despender de tempo ou conhecimento com outro. O professor impaciente com
84
TÓPICO 1 | O LEGADO GRECO-ROMANO
FONTE: <http://antiguidade1anomedio.blogspot.com.br/2015/06/escravidao-no-mundo-greco-
romano.html>. Acesso em: 16 ago. 2016.
5 O HELENISMO ROMANO
Ao final da era de Péricles (495/492-429 a.C.), considerada a Era de Ouro de
Atenas, a civilização grega entrava em decadência. A democracia ateniense, maior
orgulho daquele povo, ruía e as guerras, já no século IV a.C., pouco a pouco iam
minando as bases daquela extraordinária civilização. Desde o episódio da morte
de Sócrates, os ideais éticos e políticos daquela sociedade foram se esvaindo.
Apesar dos filósofos terem abandonado as praças, o espírito helênico sobreviveu
e ecoou pela história!
NOTA
86
TÓPICO 1 | O LEGADO GRECO-ROMANO
• Epicurismo: escola que permaneceu durante séculos tanto no mundo grego como
no romano, tem sua origem no pensamento de Epicuro de Samos (341-270 a.C.).
87
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO FILOSÓFICA DO DIREITO MODERNO NO MARCO DA TRADIÇÃO
• Estoicismo: corrente que influenciou mais que o epicurismo, cujo fundador foi
Zenão de Citium.
Nos estoicos há uma tendência ao uso prático da razão, e esta razão deve
orientar as ações humanas para a harmonia tal qual há na natureza. Diferencia-se
do epicurismo porque não entendem a razão como convenção e a justiça não nasce
de um acordo, mas é uma virtude que orienta a razão anterior às leis escritas.
Saber guiar-se pela razão é conhecer a natureza e seus desígnios, consolidando o
dever como hábitos que geram virtudes e afastando-se das paixões e futilidades
que desviam a alma do dever.
TUROS
ESTUDOS FU
88
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, vimos que:
• O rico legado da cultura grega, em suas distintas etapas, dos pré-socráticos aos
socráticos, construiu o sentido ético e moral da justiça e do Direito.
89
AUTOATIVIDADE
Glauco: Ele não poderá vê-los, pelo menos nos primeiros momentos.
Sócrates: É preciso que ele se habitue, para que possa ver as coisas do
alto. Primeiro, ele distinguirá mais facilmente as sombras, depois, as imagens
dos homens e dos outros objetos refletidos na água, depois os próprios objetos.
Em segundo lugar, durante a noite, ele poderá contemplar as constelações e o
próprio céu, e voltar o olhar para a luz dos astros e da lua mais facilmente que
durante o dia para o sol e para a luz do sol.
Sócrates: Finalmente, ele poderá contemplar o sol, não o seu reflexo nas águas
ou em outra superfície lisa, mas o próprio sol, no lugar do sol, o sol tal como é.
Glauco: Certamente.
90
UNIDADE 2 TÓPICO 2
O PENSAMENTO MEDIEVAL
1 INTRODUÇÃO
A verdadeira desintegração do Império Romano, longo processo que
se inicia em torno do século V, marcado pela divisão do império em Oriente e
Ocidente em 476, a expansão dos reinos bárbaros e a ascensão do cristianismo
são fatores que marcam a entrada do mundo ocidental em um novo estágio
civilizatório. A Idade Média será um longo período histórico marcado pela
hegemonia do poder da Igreja, herdeira do legado filosófico da antiguidade, e
relações socioeconômicas feudais. Será uma etapa em que os valores culturais,
ideológicos, políticos e filosóficos se assentarão nos valores cristãos e pela
centralização do poder eclesiástico.
91
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO FILOSÓFICA DO DIREITO MODERNO NO MARCO DA TRADIÇÃO
A doutrina cristã vai se definir como o eixo central da moral, ética, leis
e fundamento das instituições políticas e jurídicas desta etapa. É das lições do
cristianismo e dos fundamentos bíblicos aliados à releitura da tradição grega e
romana que serão elaborados os preceitos de direito e justiça.
Aliar fé (pístis) e razão (logos) será o grande esforço desta etapa, que pode
ser sintetizada pelos seguintes elementos caracterizadores:
92
TÓPICO 2 | O PENSAMENTO MEDIEVAL
para o Direito são Confissões e Cidade de Deus. Na primeira narra sua trajetória
de vida, que até sua conversão passa por inúmeras experiências, dentre as quais
o maniqueísmo, que estará presente em seu pensamento. Sua conversão em
386 representa a absoluta adesão à filosofia enquanto instrumento de reflexão e
compreensão racional da fé.
• A razão deve ser aliada à fé a fim de que seja possível a iluminação interior.
• Redefine o platonismo – é forte em sua obra o dualismo platônico como corpo/
alma; terreno/divino; imperfeito/perfeito; mutável/imutável etc. – encontrando
na transcendência divina cristã a essência da verdade.
• Desenvolve os grandes dogmas da Igreja, tais como o da Santíssima Trindade,
além da tese do criacionismo.
• Conceito de “mal” como mero resultado degradante do afastamento de Deus
pelo próprio homem.
• Existência concomitante de dois poderes: o Divino – que governa a Cidade
Celeste cujos cidadãos participam e comungam do amor de Deus – e o Humano
– onde vivem os que se afastaram do verdadeiro amor e serão julgados no
Juízo Final.
TUROS
ESTUDOS FU
DICAS
Verá como o pensamento deste importante filósofo reflete suas inquietações pessoais e trajetória
de vida que o levaram à conversão e a assumir a tarefa de edificar o fundamento do cristianismo.
95
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO FILOSÓFICA DO DIREITO MODERNO NO MARCO DA TRADIÇÃO
DICAS
96
TÓPICO 2 | O PENSAMENTO MEDIEVAL
• O homem tem o dever moral de proteger sua vida e sua saúde, razão
pela qual o suicídio e a negligência constituem um erro.
• A necessidade natural de propagar a espécie resulta na necessidade
fundamental de união de um homem e uma mulher.
• Tendo em vista que o homem busca a verdade, seu melhor
meio de consegui-lo consiste em viver em harmonia social com
seus concidadãos, que também estão engajados em tal busca.
Para assegurar uma sociedade ordenada e harmoniosa, as leis
humanas são moldadas de modo que sirvam de diretrizes para o
comportamento da comunidade (MORRISON, 2006, p. 78-79).
Aquino (2001 apud MORRISON, 2006) define a lei na lógica tomista como:
• Lei Eterna: a lei é um ditame da razão prática que emana do governo que rege
uma comunidade perfeita. Portanto, a ideia mesma do governo das coisas em
Deus, o senhor do Universo, tem a natureza de uma lei. E, como a concepção
das coisas da razão divina não está sujeita ao tempo, mas é eterna, conclui-se
que essa espécie de lei deve ser chamada de eterna (pergunta 91, r. 1).
• Lei Natural: a lei natural é a parte da lei eterna que diz respeito especificamente
ao ser humano. Se o homem não pode conhecer a totalidade de Deus, a
racionalidade humana garante sua participação na razão eterna, através da
qual ele identifica uma tendência natural (normativa) à prática de atos e a fins
adequados. A lei natural nada mais é que a participação da criatura racional na
lei eterna (pergunta 91, r. 2).
• Lei Humana: as leis escritas – leis humanas – devem derivar de preceitos
gerais da lei natural. Sendo, portanto, o direito um “ditame da razão prática”.
A forma de se extrair as conclusões da lei é semelhante ao que ocorre com a
“razão especulativa”. Da mesma forma que chegamos a conclusões distintas nas
ciências, do mesmo modo, a partir dos preceitos da lei natural, a razão humana
deve atingir determinações mais particulares de certas questões. O que confere à
lei sua legitimidade é sua dimensão moral originada do Direito Natural.
98
TÓPICO 2 | O PENSAMENTO MEDIEVAL
• Lei Divina: sua função é dirigir o homem a seu devido fim, que é revelado
nas Escrituras Sagradas como forma de graça divina para que o homem possa
atingir seus fins espirituais e naturais. A lei divina provém diretamente de
Deus e é conhecida pela fé, esperança e amor.
Diante disso, a Idade Média sentiu a cultura antiga como uma forma
modelar e intemporal da sua própria vida. Os textos da antiguidade eram, por isso,
intocáveis no seu valor, se bem que a sua utilização (aplicação) na vida medieval
continuava a constituir um problema que exigia um enorme e continuado esforço da
razão cognitiva. Neste contexto, a expressão máxima de valor textual era a Sagrada
Escritura e os demais de cunho teológico a ela relacionados. De forma correlata, na
esfera jurídica, o texto que gozava do mesmo status era o Corpus Iuris, que exercia
sobre o pensamento jurídico medieval a força de uma revelação do direito.
O avanço urbano e mercantil europeu dos séculos XIII e XIV exigia maior
valorização do direito local em relação ao direito comum cultivado pelos letrados.
Estes pós-glosadores, “arquitetos da modernidade” ao lado de Dante, Giotto e
Petrarca, foram os responsáveis em estabelecer a relação entre o jus commune com
o jus speciale local.
Este processo acabou por conduzir a uma unidade racional e lógica das
distintas concepções, mas com uma finalidade prática, o que vai ultrapassando
os glosadores por constituir-se numa interpretação menos comprometida com a
“sacralidade” dos textos de Justiniano, além de também fundada numa atitude
mais racionalista no sentido de guiar o pensamento por critérios lógicos tal como
haviam sido herdados por Aristóteles.
100
TÓPICO 2 | O PENSAMENTO MEDIEVAL
101
UNIDADE 2 | A CONSTRUÇÃO FILOSÓFICA DO DIREITO MODERNO NO MARCO DA TRADIÇÃO
LEITURA COMPLEMENTAR
FILOSOFIA MEDIEVAL
Não por acaso, os mais proeminentes filósofos que surgiram nessa época tiveram
grande preocupação em discutir assuntos diretamente ligados ao desenvolvimento e à
compreensão das doutrinas cristãs. Já durante o século III, Tertuliano apontava que o
conhecimento não poderia ser válido se não estivesse atrelado aos valores cristãos. Logo
em seguida, outros clérigos defenderam que as verdades do pensamento dogmático
cristão não poderiam estar subordinadas à razão.
102
TÓPICO 2 | O PENSAMENTO MEDIEVAL
103
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, vimos que:
104
AUTOATIVIDADE
105
106
UNIDADE 3
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Esta última unidade tem por objetivos:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em dois tópicos. Ao final de cada um deles você
encontrará atividades que o auxiliarão no aprendizado.
107
108
UNIDADE 3
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
Por meio do estudo das Unidades 1 e 2 já compreendemos conceitos
fundamentais de filosofia e da filosofia do Direito; e a trajetória histórica do pensamento
filosófico pré-moderno. Este é o momento de nos aproximarmos da atualidade e
refletirmos acerca dos elementos, características e fundamentos da Filosofia Moderna
do Direito com vistas a compreendermos a legitimidade do Direito contemporâneo,
discutindo os desafios que se colocam ao jurista e visualizarmos formas de superação
de problemáticas que dificultam a efetividade da justiça.
109
UNIDADE 3 | FILOSOFIA MODERNA DO DIREITO E DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
110
TÓPICO 1 | OS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO PENSAMENTO JUSFILOSÓFICO MODERNO
NOTA
Conclui-se que:
111
UNIDADE 3 | FILOSOFIA MODERNA DO DIREITO E DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
Observe que a base e justificativa dessa ideia é que o direito posto (direito
positivo) tem a capacidade de resolver todos os casos concretos e a atividade
jurídica é um ato neutro (independente de valores morais e éticos) e imparcial.
Resume-se na famosa frase: “Dê-me o fato que te darei o direito”!
FONTE: <http://revistavisaojuridica.uol.com.br/advogados-leis-jurisprudencia/42/paginas-da-
historia-hans-kelsen-158859-1.asp>. Acesso em: 20 ago. 2016.
112
TÓPICO 1 | OS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO PENSAMENTO JUSFILOSÓFICO MODERNO
E
IMPORTANT
ATENCAO
Alguém pode exigir que outro faça ou deixe de fazer algo por entender
moralmente justo (prescrever uma ação ou omissão), mas não pode obrigar ao
sujeito fazer ou deixar de fazer o que quer. Por quê? Exatamente porque não
possui legitimidade política para tal exigência. E a ciência do Direito permite a
abstração do direito do mundo dos fatos sociais.
114
TÓPICO 1 | OS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO PENSAMENTO JUSFILOSÓFICO MODERNO
ATENCAO
Validade não significa que a norma é certa ou errada, justa ou injusta; mas elaborada
de acordo com os pressupostos estabelecidos de maneira formal pelo sistema normativo.
115
UNIDADE 3 | FILOSOFIA MODERNA DO DIREITO E DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
Claro que esse conceito é um dos grandes problemas da teoria de Kelsen! Qual
o pressuposto de validade, norma hipotética fundamental, justo? Qualquer sistema
que a define é justo? Para Kelsen essa não é uma questão jurídica e sim política.
Isso significa que o objeto do Direito nessa concepção pode e deve ser
estudado como algo diverso/separado dos fenômenos sociais e estudar a ciência
jurídica é independente da realidade social. Esta é uma das grandes problemáticas
116
TÓPICO 1 | OS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO PENSAMENTO JUSFILOSÓFICO MODERNO
117
UNIDADE 3 | FILOSOFIA MODERNA DO DIREITO E DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
Entretanto, como pondera David Harvey (1993, p. 23), “há uma suspeita
de que o projeto iluminista estava condenado a voltar-se contra si mesmo e
transformar a busca de emancipação num sistema universal de opressão em nome
da liberdade humana, e esta espécie de tragédia anunciada tornou-se realidade
no início do século XX”.
NOTA
[...] a defesa propõe a tese de que estes indivíduos cometeram atos que,
independentemente do valor ou desvalor moral, foram perfeitamente
legítimos de acordo com a ordem jurídica do tempo e local em que
foram realizados. Os acusados, segundo essa tese, eram funcionários
públicos estatais que agiram em plena conformidade com as normas
jurídicas vigentes, determinadas por órgãos legítimos do Estado
nacional socialista. Não só estavam autorizados a fazer o que fizeram,
como também, em alguns casos, eram legalmente obrigados a fazê-
lo. A defesa nos relembra um princípio elementar de justiça, que a
civilização que nós representamos aceitou há muito tempo e que o
próprio regime nazista ignorou: esse princípio, usualmente enunciado
com a expressão latina ‘nullun crimen, nulla poena sine lege pravia’,
proíbe impor uma pena por um ato que não era proibido pelo direito
vigente no momento de seu cometimento (SANTIAGO NINO, 2010,
p. 20-21, grifos nosso).
DICAS
Sobre a discussão acerca dos atos de extermínio cometidos pelo regime nazista
serem ou não legítimos há dois filmes excelentes que recomendamos:
“Hannah Arendt” - filme de drama teuto-francês de 2012, uma obra biográfica sobre a
filósofa política alemã de origem judaica, Hannah Arendt, envolvida em um dos grandes
julgamentos de nazistas da história e sobre o qual ela posicionou-se de maneira inesperada,
mas própria de um filósofo e cientista político.
120
TÓPICO 1 | OS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO PENSAMENTO JUSFILOSÓFICO MODERNO
ATENCAO
A Teoria Crítica é uma concepção teórica que não perde de vista seu contexto
social de origem e sua possibilidade de aplicação prática, pretendendo cumprir a tarefa de
transformação radical da ordem social existente.
122
TÓPICO 1 | OS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO PENSAMENTO JUSFILOSÓFICO MODERNO
123
UNIDADE 3 | FILOSOFIA MODERNA DO DIREITO E DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
124
TÓPICO 1 | OS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO PENSAMENTO JUSFILOSÓFICO MODERNO
O saber jurídico moderno, até então uma sólida ciência que sustentava a
racionalidade e autonomia do direito, viu-se esgotado.
125
UNIDADE 3 | FILOSOFIA MODERNA DO DIREITO E DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
126
TÓPICO 1 | OS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO PENSAMENTO JUSFILOSÓFICO MODERNO
127
UNIDADE 3 | FILOSOFIA MODERNA DO DIREITO E DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
FONTE: <http://mestresdahistoria.blogspot.com.br/2014/11/confira-correcao-das-questoes-de.
html>. Acesso em: 20 ago. 2016.
128
TÓPICO 1 | OS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO PENSAMENTO JUSFILOSÓFICO MODERNO
Em fins da década de 70, parte da classe média, que havia apoiado o golpe
de 64, graças ao medo produzido pela propaganda anticomunista por setores
conservadores da Igreja Católica, diante das frequentes denúncias de tortura e
morte de estudantes, cassações de políticos, ausência de liberdade de expressão e
perseguições a sindicatos, acaba por afastar-se do governo militar.
129
UNIDADE 3 | FILOSOFIA MODERNA DO DIREITO E DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
FONTE: <http://www.educacional.com.br/reportagens/20AnosConstituicao/constituinte.asp>.
Acesso em: 20 ago. 2016.
130
TÓPICO 1 | OS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO PENSAMENTO JUSFILOSÓFICO MODERNO
Por outro lado, a nova fórmula política é obrigada a conviver com o velho
positivismo jurídico que povoa o imaginário dos juristas através da dogmática
e seus instrumentos técnico-operacionais, o que coloca em risco e fragiliza o
modelo democrático duramente conquistado. Este é um desafio que vem sendo
enfrentado pela via hermenêutica enquanto condição de possibilidade de
compreender a disfuncionalidade entre o direito, que pelo novo constitucionalismo
é um instrumento de garantia e transformação social, as instituições políticas
encarregadas de conferir eficácia ao modelo democrático de Estado e a crescente
complexidade das demandas sociais. Indo nesta direção, vai-se construindo um
novo paradigma no pensamento jurídico brasileiro, autodenominado crítico, cuja
gigantesca tarefa é servir de condição de possibilidade da ordem democrática e
resistência ao estrito formalismo legalista.
131
RESUMO DO TÓPICO 1
132
AUTOATIVIDADE
133
134
UNIDADE 3
TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
Na entrada para o século XXI anuncia-se o esgotamento da modernidade.
A “liquificação” da modernidade, pergunta Zygmunt Bauman (2001, p. 9), “não
foi um processo que esteve desde o início presente no discurso moderno? Não foi
o “derretimento dos sólidos” seu maior passatempo e principal realização? Não
foi a modernidade “líquida” desde sua concepção?” Os “sólidos” destruídos pela
modernidade, no final do século XX, para Bauman, passaram a apresentar sinais
de maior liquidez.
FONTE: <https://mestresdapintura.com.br/blog/os-relogio-derretidos-de-dali/>.
Acesso em: 20 ago. 2016.
135
UNIDADE 3 | FILOSOFIA MODERNA DO DIREITO E DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
136
TÓPICO 2 | DIREITO CONTEMPORÂNEO – DESAFIOS E DILEMAS
3 PALEOPOSITIVISMOS, JUSCONSTITUCIONALISMOS
E RENOVAÇÃO CRÍTICA NO BRASIL
137
UNIDADE 3 | FILOSOFIA MODERNA DO DIREITO E DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
138
TÓPICO 2 | DIREITO CONTEMPORÂNEO – DESAFIOS E DILEMAS
E
IMPORTANT
139
UNIDADE 3 | FILOSOFIA MODERNA DO DIREITO E DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
nova etapa, ou quadra da história, como prefere Lenio L. Streck nominar este
inédito momento de redefinição, é acentuada a natureza valorativa do Direito e
dos princípios constitucionais (LIXA, 2015).
Nesse contexto, lembra Daniel Sarmento (2010, p. 249), “há uma verdadeira
febre de trabalhos sobre teoria dos princípios, ponderação de interesses, teorias
da argumentação, proporcionalidade, razoabilidade etc. e se incorpora no
pensamento jurídico crítico brasileiro o neoconstitucionalismo”. Tratava-se de
um momento de conquistas e necessidades de que fossem garantidas.
140
TÓPICO 2 | DIREITO CONTEMPORÂNEO – DESAFIOS E DILEMAS
Os juízes não serão nunca, porque não poderão nunca sê-lo, simples
bocas da lei, como desejavam os iluministas. Nem poderão jamais
alcançar verdades absolutas, mesmo que seja na forma da verdadeira
resposta correta. O reconhecimento desta imperfeição, ou se quiser,
aporia, repito, é um fato de saúde institucional: gera o hábito da
dúvida, a consciência do erro sempre possível, a disponibilidade
para escutar todas as razões opostas que se confrontam no juízo, a
prudência – a partir da qual advém o belo nome “juris-prudência”
– como estilo moral e intelectual da prática jurídica e, em geral, das
nossas disciplinas (2012, p. 254).
141
UNIDADE 3 | FILOSOFIA MODERNA DO DIREITO E DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
142
TÓPICO 2 | DIREITO CONTEMPORÂNEO – DESAFIOS E DILEMAS
NOTA
“Isso ocorre quando atuam para atender demandas sociais que não foram
satisfeitas a tempo e a hora pelo Poder Legislativo, bem como para integrar (completar) a
ordem jurídica em situações de omissão inconstitucional do legislador”. Justificativa para a
prática do ativismo judicial segundo o Min. Luís Roberto Barroso. Disponível em: <http://
www.conjur.com.br/2015-dez-07/judicializacao-nao-confunde-ativismo-judicial-barroso>.
144
TÓPICO 2 | DIREITO CONTEMPORÂNEO – DESAFIOS E DILEMAS
No mesmo texto, Ellacuria lembra que Kant afirmava que não se pode
ensinar filosofia, mas o máximo que se pode fazer é ensinar a filosofar. O que
realmente Kant nos diz? Que a filosofia não é somente um privilégio de seres
sábios e isolados do mundo, mas que o conhecimento filosófico nos permite
adquirir uma habilidade revolucionária: para descobrir que, mais que conhecer
a realidade, precisamos transformá-la! Que esta transformação deve ter um
propósito orientado por nós e para nós.
ATENCAO
145
UNIDADE 3 | FILOSOFIA MODERNA DO DIREITO E DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
Neste sentido, para Leopoldo Zea (2005), um ser humano é definido pela
história, e o que este humano pode ou não ser depende da tríplice dimensão
histórica: ao que dá sentido ao fato, ao que se faz e ao que se pode continuar
fazendo. “Segundo a dimensão vital adotada por este ser histórico e hermenêutico,
a compreensão da história define escolhas: a afirmação e conservação do passado,
a esperança no presente ou a mudança permanente no futuro” (p. 85).
146
TÓPICO 2 | DIREITO CONTEMPORÂNEO – DESAFIOS E DILEMAS
• Limites epistemológicos:
o a maneira como aprendemos e nos acostumamos a compreender o que é
Direito é assentada no paradigma da simplicidade. Isto é, considera o Direito
em si mesmo, sem diálogo, vínculo e relações com demais campos do saber;
o a redução do Direito ao Direito Estatal ignorando outras formas de expressão
jurídica (pluralismo jurídico), acreditando que Direito é somente norma ou
instituição, a pesada herança do positivismo jurídico;
o a separação entre Direito e prática, somente se preocupando com as categorias
teóricas, e os conceitos dogmáticos que devem ser “decorados” e reproduzidos;
o abstração do mundo jurídico do mundo da vida, e com isso abstraindo as
ideias, conceitos e teorias da realidade que nos leva a confundir ideia com a
própria realidade.
• Limites axiológicos:
o os valores e princípios éticos que norteiam o agir jurídico apenas são os
produzidos pelo Judiciário e/ou instrumentos estatais, sendo apenas uma
questão definida por “especialistas”. Vida, liberdade, dignidade, solidariedade
etc. são valoradas a partir de abstrações estranhas ao tempo e espaço real dos
seres humanos a que estão relacionados;
o separação entre saber científico e saber moral e ético. Com a pretensão de
eximir a ciência do Direito de responsabilidade social, se reduz o campo do
político negando e/ou ocultando que toda ação humana é uma ação política e
uma forma de exercício de poder, o que acaba por retirar dos seres humanos
sua capacidade de criação de valores.
o o mundo contemporâneo com sua cultura consumista e neoliberal acaba por
mercantilizar a própria vida e os seres humanos, fragmentando e reduzindo
as relações fraternas e solidárias.
• Limites culturais:
o juntamente com esse modo de vida contemporâneo e seu Direito regulador –
liberal e individualista – é imposta a homogeneização de todas as instâncias
da vida sob um único modo de vida e como se compreende essa vida.
147
UNIDADE 3 | FILOSOFIA MODERNA DO DIREITO E DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
Para encerrar, vamos lembrar uma estória contada pelo sociólogo Herbert
José de Sousa, o Betinho, que usava para explicar a tenacidade que tinha para levar
adiante seu trabalho quando ele mesmo já estava condenado, por enfermidade
incurável, à morte:
Diz a lenda que havia uma imensa floresta onde viviam milhares de
animais, aves e insetos. Certo dia uma enorme coluna de fumaça foi avistada ao
longe e, em pouco tempo, embaladas pelo vento, as chamas já eram visíveis por
uma das copas das árvores. Os animais, assustados diante da terrível ameaça de
morrerem queimados, fugiam o mais rápido que podiam, exceto um pequeno
beija-flor. Este passava zunindo como uma flecha indo veloz em direção ao
foco do incêndio e dava um voo quase rasante por uma das labaredas, em
seguida voltava ligeiro em direção a um pequeno lago que ficava no centro
da floresta. Incansável em sua tarefa e bastante ligeiro, ele chamou a atenção
de um elefante, que com suas orelhas imensas ouviu suas idas e vindas pelo
caminho, e curioso para saber por que o pequenino não procurava também
afastar-se do perigo como todos os outros animais, pediu-lhe gentilmente que o
escutasse, ao que ele prontamente atendeu, pairando no ar a pequena distância
do gigantesco curioso.
– Meu amiguinho, notei que tem voado várias vezes ao local do incêndio, não
percebe o perigo que está correndo? Se retardar a sua fuga talvez não haja
mais tempo de salvar a si próprio! O que você está fazendo de tão importante?
148
TÓPICO 2 | DIREITO CONTEMPORÂNEO – DESAFIOS E DILEMAS
Notando o esforço dos dois, em meio ao vapor que subia vitorioso dentre
alguns troncos carbonizados, outros animais lançaram-se ao lago formando
um imenso exército de combate ao fogo.
LEITURA COMPLEMENTAR
Marcado pelo meu local de fala (daí porque suspeito), entendo que o papel
do juiz é muito forte como agente criador da jurisprudência, evidente que sem
descaracterizar a importância do provocador, detonador, balizador, de todo o
processo de onde emerge o ato decisório: o advogado e o promotor de justiça. Daí
porque pretendo demonstrar como vislumbro este pequeno burguês com sede de
poder que em determinado momento de sua vida ingressa na “casta da magistratura”.
149
UNIDADE 3 | FILOSOFIA MODERNA DO DIREITO E DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
Tenho que para que o Juiz possa se completar tanto no plano individual,
quanto como agente social, há requisitos que me parecem indispensáveis e que
têm sido omitidos tanto por aqueles que olham a magistratura de fora, quanto por
aqueles que pretendem ver a magistratura a partir de seu próprio local de fala.
Os que miram desde fora – como regra – dão menor importância ao juiz.
É tido como mero aplicador da lei, ou instrumento do poder dos doutrinadores
que necessitam, para provar suas “verdades”, que os magistrados as cumpram,
ou, finalmente (e agora dentro do Poder Judiciário), como cumpridores de
ordens do Tribunal, via jurisprudência. Enfim, instrumento de ponta do dono da
lei ou do dono do saber ou da hierarquia do Poder. Por outro lado, os próprios
críticos não têm dado real importância à atividade específica do julgador: o juiz
é conservador, não crítico, alienado.
150
RESUMO DO TÓPICO 2
151
AUTOATIVIDADE
FONTE: <https://blogdotarso.com/2013/04/03/charge-igualdade-no-liberalismo-versus-
constituicao-social-e-democratica-de-direito/>. Acesso em: 20 ago. 2016.
152
REFERÊNCIAS
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