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inovação
NO COOPERA_
TIVISMO
Um guia descomplicado
para quem deseja
inovar mais e melhor
no universo coop
inovação
NO COOPERA_
TIVISMO
Um guia descomplicado
para quem deseja
inovar mais e melhor
no universo coop
3 inovação NO COOPERATIVISMO
s
m
Coordenação
Samara Caroline de Araujo
Apoio técnico
Ana Tereza Libânio
Presidente Gustavo Farias
Márcio Lopes de Freitas Hellen Beck
r
Projeto editorial e produção de conteúdo
Gerente Geral da OCB Farol Conteúdo Inteligente
Fabíola Nader Motta
Textos
Gerente Geral do Sescoop Alessandro Mendes;
Karla Tadeu Duarte de Oliveira Amanda Cienglisnky
Guaíra Flor
Lilian Beraldo
Luana Lourenço
Tchérena Guimarães
Sistema OCB
Revisão
Setor de Autarquias Sul
Luciana Pereira
SAUS Qd. 4 Bl. “I” - CEP 70070-936
Brasília-DF (Brasil) Realidade Aumentada
Telefone: +55 (61) 3217-2119 Roteiro: Farol Conteúdo Inteligente
https://www.somoscooperativismo.coop.br/ Animações: Duo Design
I58
Inovação no cooperativismo: um guia descomplicado para quem deseja
inovar mais e melhor no universo coop. – Brasília: Inovacoop; Sistema
OCB, 2022.
278 p. il. Color. ; 21x25cm.
CDD – 602
su inovação NO COOPERATIVISMO 4
má
sumário
Prefácio
O Cooperativismo já nasceu inovador 7
rio
1
Artigo 29
Inovação: combustível
da Era Digital
2
Por que as
Artigo
A importância da inovação
no planejamento estratégico
de uma cooperativa
63
má 3
Por onde
71
Artigo
Inovação se aprende
na prática
113
rio
começar? por Jacson Fressatto
Desafios e oportunidades 74
O papel do líder 75
Construindo uma cultura de Inovação 79
Equilíbrio entre resultados e aprendizado 80
Processo sustentável e contínuo 81
Montando times inovadores 84
Novas configurações de times
A genialidade coletiva
87
88
CASE 117
Competências para inovar 89 Intercooperação
Aprendizado contínuo para inovar 92 inovadora no Paraná
Alie-se a quem inova 94
Investimento em inovação 97 Cooperativa:
Incubadoras para pequenas cooperativas 101 Castrolanda Cooperativa
Plano de ação 101 Agroindustrial, Capal Cooperativa
Encontre matéria-prima 104 Agroindustrial e Frísia
Funil de inovação 106
Artigo 161
Pesquisa e investigação:
4
a ginástica da inovação
Metodologias
e ferramentas
para inovar 121 CASE 165
Metodologias 124
Marketplace cooperativista
Ferramentas de inovação 139
Ferramentas de teste 153 Cooperativa:
Federação das Cooperativas
Agropecuárias do Estado do RS
(Fecoagro/RS)
inovação NO COOPERATIVISMO 6
5 Artigo 199
Configurações Facilitadoras
da Inovação em Cooperativas:
um ensaio teórico
Planejando a inovação
e medindo resultados 169 por Eduardo Damião
E as cooperativas? 172
Governança da Inovação 174
Programas de inovação
Priorização das iniciativas de inovação
175
179 CASE 209
Por que medir a inovação 180 Inovar Juntos
Como medir a inovação 180
Metas e indicadores 182 Cooperativa:
A importância de lidar com riscos e aceitar erros 190 Sistema de Crédito
Prêmios de inovação e reconhecimentos 194 Cooperativo (Sicredi)
Artigo 241
6
O cooperativismo de plataforma
pode ser a verdadeira economia
do compartilhamento?
Apêndice
Pequeno dicionário da inovação 249
Referencial teórico
FONTES DE PESQUISA 277
pre
7 inovação NO COOPERATIVISMO
fá
Prefácio
cio
o cooperativismo
já nasceu
inovador
inovação NO COOPERATIVISMO 8
Eu parei para ouvi-lo na hora, porque aquele nome chamou demais minha
atenção: economia compartilhada. Para mim, que vivo da cooperação, a pa-
lavra compartilhar fazia muito sentido. O que será que as pessoas estavam
criando de novo, com um nome tão bonito?
Todos os dias, as cooperativas mostram, na prática, ser realmente possível unir desenvol-
vimento econômico e social, produtividade e sustentabilidade, o individual e o coletivo.
Nossa proposta tem como base a colaboração e o compartilhamento, um jeito de pensar
totalmente alinhado ao que os papas da inovação defendem ao redor do mundo: que as
pessoas e as organizações precisam atuar em rede, criando conexões entre pessoas,
ideias e negócios.
Está claro para mim que o cooperativismo carrega muitos conceitos que se conectam com
o espírito desta nova época: o pensamento sustentável, a disposição para colaborar, o de-
sejo de oferecer a melhor experiência para o cliente/cooperado.
Foi então que me bateu uma dúvida: se o coop já nasceu inovador e moderno, o que deve-
mos fazer para continuar assim? Como podemos nos manter no mercado como um mode-
lo de negócios competitivo? A resposta pronta, ainda não temos, mas uma coisa é certa: o
caminho passa pelo estímulo a práticas inovadoras e pelo fortalecimento de uma cultura
da inovação dentro das nossas cooperativas.
DE VOLTA AO COMEÇO
O cooperativismo surgiu como uma alternativa para corrigir o social a partir do econômi-
co. Em 1844, a Europa enfrentava uma forte onda de desemprego motivada pela primeira
Revolução Industrial. Foi então que um grupo de 28 trabalhadores (27 homens e 1 mulher)
decidiu encontrar uma forma de melhorar de vida. Juntos, eles criaram um pequeno arma-
zém cooperativo de consumo: a Sociedade dos Equitativos Pioneiros de Rochdale.
Eles logo perceberam que, juntos, eram mais fortes, e começaram a se profissionalizar,
desenvolvendo estratégias — como a formação de um capital social para a emancipação
dos trabalhadores, adquirindo casas para os cooperados e criando estabelecimentos
industriais e agrícolas voltados para a produção de bens indispensáveis à classe trabalha-
dora, de modo direto e a preços acessíveis. Doze anos após sua criação, em 1856, já so-
mavam 3.450 associados, com um capital social de 152 mil libras. Nada mal para um grupo
de pessoas que se uniu para superar a pobreza.
Hoje, quase dois séculos depois, o cooperativismo reúne mais de 1 bilhão de pessoas, es-
palhadas por mais de 100 países pelo mundo, gerando mais de 280 milhões de empregos.
Somente no Brasil, são 4,8 mil cooperativas, divididas em sete ramos de atuação. Juntas,
elas beneficiam mais de 17 milhões de associados e geram mais de 455 mil empregos dire-
tos. Os dados são do Anuário do Cooperativismo Brasileiro 2021.
Explicado o conceito de inovação, partimos para uma importante reflexão: afinal, por que
as cooperativas brasileiras precisam inovar? Neste capítulo, apresentamos os motivos
que impelem não apenas o cooperativismo, mas todas as empresas e organizações —
sejam elas públicas ou privadas, comerciais ou sociais — a buscarem a inovação em seus
processos, produtos, marketing ou estrutura organizacional.
Nesse capítulo, você encontrará explicações didáticas sobre aquelas palavrinhas em in-
glês que todo mundo usa, mas nem sempre sabe direito o que quer dizer: design thinking
(pensamento de design), hackathons (maratonas de programação), business model can-
vas (quadro de modelo de negócios) e muito mais.
Para completar, no fim de cada capítulo, trazemos um case de sucesso realizado por co-
operativas brasileiras no âmbito da inovação. São iniciativas inspiradoras, lideradas por
pessoas como eu e você. Pessoas que talvez não sejam especialistas em inovação, mas
que são PhD em cooperativismo e, por isso, sabem o potencial que nossas coops têm para
construir um futuro melhor para todos.
E, para facilitar a vida de todos nós, encerramos este livro com um dicionário completo de
inovação, com os principais verbetes e conceitos relacionados ao tema.
Espero que, ao terminar esta obra, você tenha certeza — assim como eu — de que a inova-
ção tem tudo a ver com o cooperativismo.
Boa leitura!
Tom Freston,
cofundador da MTV
Todas as inovações eficazes são
surpreendentemente simples. Na
verdade, maior elogio que uma inovação
pode receber é haver quem diga: Isto é
óbvio! Por que não pensei nisso antes?
Peter Drucker,
um dos papas da administração moderna
inovação NO COOPERATIVISMO 14
Inovação é o ato
de atribuir novas
capacidades aos
recursos (pessoas e
processos) existentes
na empresa para
gerar riqueza.
Peter Drucker
No caso específico do iFood — uma empresa 100% brasileira — a ideia original era simples:
criar um cardápio impresso que reunisse todos os serviços de delivery de uma região em
um mesmo lugar. Conforme cadastravam esses estabelecimentos, os idealizadores do
serviço foram percebendo que ali havia uma baita oportunidade de negócios. Foi então
que decidiram conectar quem queria receber uma refeição pronta em casa aos restauran-
tes e às lanchonetes interessados em oferecer o serviço, sem arcar com os custos de um
delivery próprio. Para fazer isso, eles tiveram de sair do universo off-line (fora da internet) e
entrar no digital, criando um dos aplicativos mais populares e lucrativos da América Latina.
Outro erro comum é pensar que a inovação surge como fruto do acaso ou em um lapso
de genialidade de algum membro do time ou líder engenhoso. A verdade é que inovar
dá trabalho, exige método e afinco, como veremos mais adiante neste livro. Habilidades
como a criatividade e o pensamento disruptivo são relevantes, mas é fundamental ter em
mente que a inovação é um processo sistemático — portanto, passível de organização e
de gestão.
Ernest Gundling, autor do livro The 3M way to inovation, que conta a história da companhia
norte-americana criadora dos famosos post-its, defende que inovação é “uma nova ideia
implementada com sucesso, que produz resultados econômicos”. Perceba o destaque
que se dá à questão econômica: uma boa ideia só pode ser considerada uma inovação, no
contexto de uma organização, se gerar algum ganho econômico, direta ou indiretamente.
De forma simples e objetiva, inovar é pensar novos caminhos para resolver problemas e
oportunidades que se colocam a cada dia na rotina de uma organização. A gestão de uma
organização — incluindo cooperativas — lida com desafios que surgem quase diariamen-
te. O erro está em tentar resolver novas questões com fórmulas antigas que podem ter
sido muito eficientes em outros momentos, mas não se aplicam aos contextos atuais.
E já que todo cooperativista gosta de uma boa história, vale compartilhar uma anedota
muito comum nas conversas sobre inovação. Ela fala sobre uma dupla de moscas que
caiu em um copo de leite. Uma delas optou por ficar inerte, afogou-se e morreu; a outra se
debateu desesperadamente e, com o movimento de suas asas, o líquido talhou, transfor-
mou-se em manteiga; ela conseguiu voar e se salvou. Após algum tempo, a mesma mosca
sobrevivente caiu com outra no refrigerante. Sua colega viu o canudo e sugeriu que esca-
passem subindo por ali. Mas ela se lembrou de sua experiência passada e disse: “não, eu já
sei como sair. É só bater as asas, insistentemente”. O líquido não mudou sua consistência e
ela morreu de cansaço, após tanto se debater. A outra saiu pelo canudo, sem dificuldades.
A moral da história é: não adianta tentar resolver novos problemas com soluções antigas. É
preciso estar atento ao contexto para inovar, sempre.
17 inovação NO COOPERATIVISMO
INVENÇÃO
x
INOVAÇÃO
Sem dúvida, o automóvel foi uma grande revolução para a nossa sociedade. Mas o pro-
tótipo de Benz, em princípio, não impactou a vida da população alemã. Era uma invenção
engenhosa, mas só se tornou uma grande inovação quando conseguiu gerar valor para as
pessoas, organizações, ou mesmo para a sociedade. Em outras palavras: a invenção é fru-
to de um processo criativo, mas se transforma em uma inovação apenas se chegar até as
pessoas e produzir algum efeito, ou seja: é percebido por alguém e gera valor.
Invenção envolve
a concepção
de uma ideia,
enquanto que
inovação é o uso,
de onde a ideia
ou invenção é
direcionada para
a economia.
Roman e Fuett Júnior
Voltando ao exemplo do tópico anterior, sobre os serviços de delivery por aplicativo, ve-
rifica-se a mesma aplicação dessa lógica. O iFood não inventou a moto e as bicicletas,
tampouco o próprio serviço de entrega. Ele criou, no entanto, uma nova forma de oferecer
essa mesma facilidade, com resultados que impactaram o comportamento dos consu-
midores, transformaram o trabalho dos motoboys, trouxeram mudanças para o mercado
alimentício e, é claro, geraram valor para a plataforma.
Podemos concluir, portanto, que invenção e inovação não são sinônimos. Ambas per-
tencem ao mesmo campo semântico e são conceitos importantes a serem considerados
na gestão de uma organização. Ao pensar novas possibilidades de atuação para um negó-
cio, muitos vão dizer que tudo já foi inventado. Entretanto, o caminho pode ser observar,
analisar e propor novos usos e melhorias para aquilo que já existe, respondendo a deman-
das recentes ou problemas que surgem diariamente na sociedade, impactando positiva-
mente as pessoas e gerando valor para elas.
19 inovação NO COOPERATIVISMO
MUDANÇAS
x
INOVAÇÃO
Como este livro trata de inovação dentro do cooperativismo, nada melhor do que explicar
a diferença entre mudança e inovação na lógica cooperativista.
A mudança pode ser definida como a transição de uma situação para outra diferente, em
relação a diferentes intervalos de tempo. Em uma cooperativa, por exemplo, o quadro de
cooperados pode aumentar ou diminuir, os gestores podem ser trocados se não trouxe-
rem resultados, e o portfólio de produtos pode mudar sempre que houver demanda ou
necessidade. O importante é medir o impacto de cada uma dessas mudanças, acompa-
nhando duas variáveis: a situação que havia antes da mudança, e o novo estágio em que a
organização se encontra (após a mudança). Somente quando o antes e o depois são dife-
rentes, podemos dizer que houve, de fato, uma modificação. E é também na comparação
do antes com o depois que é possível verificar se essa transformação foi positiva ou nega-
tiva para a instituição, planejada ou imposta, de maior ou menor grau. Como bem explica
Cleide Roselei Blat em sua tese de mestrado sobre intraempreendedorismo, “o importante
é compreendê-la e tirar o melhor proveito para o desenvolvimento da organização”.
A mudança das assembleias presenciais para virtuais, sem dúvida, foi importante para o
cooperativismo e tende a continuar a ser adotada por diversas cooperativas, mesmo após
inovação NO COOPERATIVISMO 20
a pandemia. O processo em si foi uma mudança e não uma inovação, mas as tecnologias
desenvolvidas para permitir a realização dessas AGO a distância, sim.
TIPOS DE INOVAÇÃO
Quando falamos em tipos de inovação, costumamos nos lembrar com mais frequência de
um produto ou serviço. O famoso post-it, desenvolvido pela 3M na década de 1970, é um
exemplo de produto inovador que conquistou todo o mundo pela sua simplicidade e fun-
cionalidade. O cheque especial, serviço bancário que funciona como uma espécie de cré-
dito pré-aprovado, lançado pelo Banco do Brasil na década de 1980, também é um exem-
plo de inovação. Ele atendia às necessidades urgentes de clientes considerados especiais
da instituição, em um período de grande instabilidade econômica no país. Foi adotado por
todos os bancos e persiste até hoje.
Contudo, há vários outros tipos de inovação que podem ser aplicados em diferentes áre-
as. Antes de conhecermos mais sobre essas possibilidades, cabe salientar que não há um
consenso na literatura sobre o número exato de tipos de inovação. Mesmo porque, com a
evolução das tecnologias e dos processos, esses campos se expandem constantemente.
GRAUS DE INOVAÇÃO
Além dos diferentes tipos de inovação, é importante destacar, ainda, que alguns autores a
classificam em diferentes graus, a depender do nível de transformação ou impacto.
O modelo mais tradicional é o da inovação fechada, utilizado há muitos anos por organi-
zações mais tradicionais. Nele, as transformações são resultados de agentes internos,
isto é, a empresa aposta nos talentos da casa para pensar e desenvolver novas soluções.
O processo inovador se limita a conhecimentos e conexões de dentro da instituição, sem
a participação de instituições externas à organização. Esse era o modelo dominante em
todo o mundo até o fim do século passado.
A imagem abaixo representa as diferenças entre os modelos aberto e fechado, por meio
do funil da inovação, ferramenta utilizada para avaliar a viabilidade de ideias dentro de
uma organização.
MODELOS DE INOVAÇÃO
INOVAÇÃO INOVAÇÃO
FECHADA ABERTA
Ideias Ideias
Fronteiras
da empresa
Mercado
alternativo Tecnologias
Fronteiras externas
da empresa
Outros
mercados
da indústria
Mercado Mercado
PILARES DA INOVAÇÃO
Para se tornar realidade em uma cooperativa, a inovação precisa estar relacionada a prá-
ticas, valores e estruturas organizacionais, como veremos ao longo deste livro. Não basta
que a inovação seja apenas uma palavra repetida em discursos ou treinamentos: é preciso
que todos conheçam os conceitos básicos, e que eles estejam conectados com proces-
sos, diretrizes e a cultura profissional.
Neste tópico, vamos abordar sete pilares importantes da inovação. São aspectos que de-
vem ser considerados para potencializar o fomento a ideias, projetos e atitudes inovado-
ras dentro de uma organização cooperativa.
Inovação aberta
como estratégia
da organização
ESTRATÉGIA
Fontes de
Disseminação
financiamento e
da inovação aberta
investimento em
na organização
INVESTIMENTO inovação aberta CULTURA
Flexibilidade Infraestrutura
e processos e recursos
PROCESSOS
diferentes
para startups
PILARES DA ESTRUTURA
adequados
a inovação
INOVAÇÃO
Mindset empreendedor, Incentivo a
participação no inovação aberta e
ecossistema e fomento a cultura de
PESSOAS sponsors das startups LIDERANÇA empreendedorismo
Fonte: Boas Práticas de Conexão Startup-Indústria - Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).
Para os processos de inovação dentro de uma organização gerarem frutos, uma das vari-
áveis fundamentais dessa equação é a liderança. Além de definir as diretrizes que a orga-
nização deve seguir no que diz respeito ao fomento da inovação, é muito importante que
os mais altos cargos da organização — no caso das cooperativas, em especial o Conselho
de Administração e a Diretoria — estejam genuinamente engajados com esses valores. A
liderança deve, além de orientar as linhas estratégicas, incentivar a cultura da inovação
em todo o contexto organizacional, tornando-se exemplo para o corpo de funcionários a
partir da sua própria postura diante do tema.
Outro pilar importante a ser considerado é a conexão entre estratégia e inovação. Para
que ela se materialize na prática, é indispensável que esteja no DNA da cooperativa, e isso
passa pela inserção dessa diretriz no planejamento estratégico da instituição. É desejável
que as diretrizes estratégicas incluam, de forma clara, os objetivos e as metas a serem
atingidos por meio da inovação. Os investimentos e planos orçamentais devem ser defini-
dos em sintonia com as metas que se deseja alcançar.
É indispensável lembrar que uma organização é feita de pessoas, pilar ainda mais forte no
cooperativismo. São as pessoas — sejam funcionários, colaboradores ou cooperados —
os principais ativos de uma empresa; portanto, peças-chave no processo de inovação.
Um primeiro passo é sensibilizar o time sobre o que é a inovação e sobre os benefícios de
incluí-la nos processos da cooperativa. Isso passa por capacitação dos colaboradores e
disseminação da cultura de inovação, para que todos na coop estejam inspirados com o
propósito da melhoria constante e inovação.
Em termos de estrutura, seja ela física ou não, é preciso garantir que seja adequada aos
processos e às atividades necessários para que se atinjam os objetivos estratégicos defi-
nidos para a inovação. Do ponto de vista físico, é fundamental oferecer acesso a internet,
laboratórios e outros tipos de estrutura que tenham sido previamente apontadas como
condições necessárias às atividades definidas, a partir dos objetivos traçados, conside-
rando a especificidade de cada negócio. É importante avaliar a necessidade de mesclar a
atuação de times que trabalhem de forma remota ou presencial. Outra recomendação é
criar equipes multidisciplinares de colaboradores que detenham conhecimento sobre os
processos e a estrutura da coop a partir de diferentes áreas de atuação, diversificando os
pontos de vista.
Valores, crenças e normas, ou seja, a cultura da cooperativa, precisam estar bem disse-
minados e internalizados por todos para que o novo seja criado. Nesse caminho, deve-se
inovação NO COOPERATIVISMO 26
Para sobreviver
e ter sucesso,
cada organização
tem de se tornar
um agente da
mudança. A forma
mais eficaz de
gerenciar a
mudança é criá-la.
Peter Drucker
27 inovação NO COOPERATIVISMO
A partir dessa reflexão, podemos perceber que a inovação é fator estratégico fundamental
dentro de uma organização cooperativa. A intensidade e a velocidade com que as transforma-
ções ocorrem em nosso tempo — sejam elas econômicas, sociais ou tecnológicas — pressio-
nam as organizações a acompanhar essas mudanças para se manterem vivas. Nesse sentido,
a inovação precisa estar presente não como diferencial, mas como fator de sobrevivência.
John Chambers, ex-CEO da Cisco e consultor de riscos de grandes empresas nos Estados
Unidos, resume em seu livro Connecting the dots a relevância da inovação para a sobre-
vivência das organizações em um mundo atual. Segundo ele, “empresas morrem porque
fazem a mesma coisa durante tempo demais”.
Nesse sentido, a partir de tudo que já aprendemos até aqui, fica evidente que a inova-
ção não pode ser vista como algo acessório à administração da organização. Ela é
parte vital da estratégia de uma cooperativa e é indispensável para a sustentabilida-
de dos negócios.
Os autores Sandro Magaldi e José Salibi Neto, na mais recente obra, Estratégia Adaptativa
(2020), destacam que a pandemia do novo coronavírus veio para ressaltar o senso de ur-
gência desse desafio que já estava posto.
REFERÊNCIAS
ABDI, Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial. Manual de boas práticas de
Conexão Startup Indústria, 2018 (E-book disponível em: http://www.ipdeletron.org.br/
wwwroot/pdf-publicacoes/45/ManualBoasPrticas_V8semgoverno.pdf
CHESBROUGH, Henry. Open Innovation: The New Imperative for Creating and Profiting
from Technology, 1. ed, Boston: Harvard Business School Press, 2006.
GUNDLING, E. F. The 3M Way to Innovation: Balancing people and profit. 2nd ed. New
York: Vintage Books, 1999.
MAGALDI, Sandro; SALIBI NETO, José. Estratégia Adaptativa: O novo tratado do pensa-
mento estratégico. São Paulo: Editora Gente, 2020.
OCDE. Manual de Oslo: Diretrizes para coleta e interpretação de dados sobre inova-
ção tecnológica. Publicado pela Finep, 3a edição, 2006. Disponível em: http://download.
finep.gov.br/imprensa/manual_de_oslo.pdf. Acesso em: 21 jul. 2021.
ROMAN, Daniel Derek; PUETT JUNIOR, Joseph Fallow. International Business and Tech-
nological Innovation.1. ed. New York: Elsevier Science Publishing Co., 1983.
SALERMO, Mário. Gestão da Inovação Mais Radical. 1. ed. São Paulo: GEN Atlas, 2018
artigo
artigo
artigoMartha Gabriel
Se você tivesse que resumir o momento que vivemos hoje em apenas uma palavra, qual
seria? Indubitavelmente, existe uma infinidade de características que definem o nosso
tempo: mudança, tecnologia, digital, complexidade, transformações sociais, diversidade,
incerteza, volatilidade, sobrecarga informacional etc. Por isso, muitas vezes, torna-se di-
fícil enxergar o denominador comum que perpassa todas elas. No entanto, se analisarmos
a força motriz que as alavanca, podemos observar que velocidade é a sua essência. Quase
tudo que experimentamos atualmente existia também no passado: desde o início da nossa
história, as novas descobertas tecnológicas de cada tempo têm reconfigurado o mundo
de então, reestruturando as suas sociedades, criando e extinguindo civilizações.
Uma das primeiras pessoas a perceber que a velocidade de mudança no mundo esta-
va acelerando foi o brilhante arquiteto visionário Buckminster Fuller, nos anos 1980. Em
seu livro Caminho Crítico, ele descreve a curva de crescimento do conhecimento da
humanidade a partir do ano 1d.C. Para o conhecimento dobrar pela primeira vez, foram
necessários 1.500 anos. A segunda vez que o conhecimento dobrou foi em 1750, levando,
portanto, 250 anos para isso (seis vezes menos tempo do que na primeira vez). O ritmo foi
acelerando de forma que, em 1900, o conhecimento humano dobrava aproximadamente
a cada 100 anos e, no final da 2a Guerra Mundial, passou a dobrar já a cada 25 anos. Hoje,
estima-se1 que o conhecimento humano esteja dobrando a cada 12 horas e, de acordo
com o cientista e futurista Ray Kurzweil, estamos dobrando a velocidade de mudança a
cada 10 anos2.
O que isso significa? Basicamente, a aceleração acentuada de mudança causa também aumento no
ritmo de obsolescência do conhecimento, ou seja, aquilo que aprendemos no passado está perdendo
cada vez mais rápido a sua utilidade, fazendo com que tudo o que sabemos e estamos acostumados a
fazer tenda a não dar mais resultados. Nesse ritmo, “no século XXI não experimentaremos 100 anos de
avanço tecnológico, e sim o equivalente a 20 mil anos de progresso (medido pelo ritmo de mudança
atual), na ordem de mil vezes maior do que tivemos no século XX”3, como aponta Kurzweil.
Essa elevação da velocidade da mudança ao longo da nossa existência está intimamente associada
aos avanços tecnológicos durante a nossa evolução e desenvolvimento. Tecnologia, informação e
inovação são os elementos fundamentais do círculo virtuoso que provoca a evolução e a sua acele-
ração. Vejamos: novas tecnologias criam melhores fluxos de comunicação na humanidade, que, por
sua vez, fomentam os processos de colaboração para inovação; que, por sua vez, permitem a cria-
ção de tecnologias mais poderosas, que mais rapidamente melhoram os fluxos de comunicação,
reiniciando o círculo de forma mais acelerada.
DA INFORMAÇÃO À INOVAÇÃO
Até o final do século XX, a informação era cara, escassa, de difícil acesso e demorava algumas déca-
das para mudar; assim, permanecia útil e valiosa por toda a vida profissional de um indivíduo. Quem
tinha informação, tinha poder. Business Intelligence (Inteligência dos Negócios) tinha a ver com obter
informações estratégicas, pois elas duravam longos períodos e eram o combustível do diferencial
competitivo das organizações. A sociedade e o mercado giravam em torno disso e, consequentemen-
te, vivíamos a Era da Informação. Até então, apesar de a aceleração da mudança já estar acontecen-
do, ela ainda era lenta e menos perceptível durante o ciclo de vida das pessoas e empresas, causando
pouco impacto sobre elas.
No entanto, a partir do início do século XXI, a velocidade da mudança acentua-se mais rapidamente,
associando-se com a disseminação da internet (e, principalmente, com a popularização da banda
larga), inaugurando a Era Digital. Isso fez com que a informação se tornasse gradativamente mais
Existem inúmeros métodos para gerar inovação, como os mais populares atualmente na área de ne-
gócios: Design Thinking, Lean e Metodologias Ágeis. Cada um deles tem o seu âmbito de aplicação no
processo de inovação. Enquanto o Design Thinking é excelente para a exploração de problemas com-
plexos e identificação de novas oportunidades em contextos incertos (como o atual), o Lean se aplica à
inovação nos processos de gestão; ao passo que as Metodologias Ágeis, por sua vez, focam na imple-
mentação e adequação às mudanças. Portanto, podemos dizer que o Design Thinking se ocupa com a
visão da inovação; o Lean, com a sua gestão; e as Metodologias Ágeis, com a sua implementação.
É da combinação desses, entre outros possíveis métodos, que se consegue sistematizar a inova-
ção para que se torne contínua, replicável e adaptável em qualquer tipo de situação, negócio ou
públicos, em contextos de mudança acelerada, como o atual. A inovação sem método é um aci-
dente isolado virtuoso; a inovação com método é um sistema replicável valoroso. Enquanto a pri-
meira é obra do acaso, a segunda é estratégica; se a primeira é loteria, a segunda é investimento;
a primeira acontece com a gente, a segunda, fazemos acontecer.
ca
se
para inspirar
sua coop
Cultura da Inovação
Cooperativa
Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de
São Paulo (Coplacana)
Projeto de inovação
Avance Hub
Investimento
1% da receita anual da cooperativa, o que representa
cerca de R$ 1 milhão
inovação NO COOPERATIVISMO 34
D
esenvolvimento de uma cultura da inovação na cooperativa, com a criação
de uma área específica para tratar do tema
M
entoria e aceleração de mais de 10 startups de agronegócios, algumas
dentre estas tiveram a oportunidade de ter seus produtos e serviços
colocados à disposição dos cooperados da Coplacana
M
ontagem de uma equipe de agricultura de precisão, que leva serviço aos
cooperados e teve faturamento de R$ 4 milhões em dois anos
C
apacitação de mais de 600 cooperados com palestras técnicas
C
onquista do Prêmio SomosCoop Melhores do Ano de 2020, na categoria
Inovação
O
rganização de eventos, feiras e dias de campo sobre a conexão entre
inovação e agricultura
Com mais de 70 anos no mercado, a Coope- Hoje com 15 mil cooperados, a Coplacana
rativa dos Plantadores de Cana do Estado tem sua matriz em Piracicaba (SP) e está
de São Paulo (Coplacana), é uma referência presente em mais quatro estados, com
em inovação no agronegócio. Primeira co- 29 filiais, três lojas de tratores e máquinas
operativa dedicada à cultura da cana-de- agrícolas, fábrica de ração, uma central de
-açúcar no estado de São Paulo e a segun- recebimento de embalagens de agrotóxi-
da do Brasil, fundada em 1948, ela nasceu cos, além de duas unidades produtivas —
com o objetivo de oferecer assistência uma de confinamento de gado e duas de
técnica e fornecer insumos aos produtores. recebimento e processamento de grãos.
Nesse cenário, por ser uma das referências da região, a Coplacana vinha atraindo a aten-
ção de startups que desejavam oferecer produtos e serviços tecnológicos à cooperativa.
No entanto, apesar da oferta qualificada e do ambiente propício, antes de 2017, a Copla-
cana não tinha um processo de diagnóstico e seleção sobre quais propostas poderiam
de fato beneficiar seus cooperados, nem tinha uma equipe técnica focada em inovação e
oportunidades tecnológicas.
Batizado de Avance hub, o projeto da Coplacana atua na conexão entre startups, uni-
versidades e instituições de pesquisa que desenvolvam tecnologias para o agronegócio
e outros setores, para chegar a produtos e serviços que atendam às necessidades de
seus cooperados.
Um dos diferenciais do Avance é possibilitar que as ideias propostas pelas empresas se-
jam testadas na prática e em diversas culturas, isto é devido ao projeto “ Fazenda Digital”
da Coplacana, em Piracicaba.
IMPLANTAÇÃO
Após a inclusão da criação do Avance Hub no planejamento estratégico da Coplacana, a
iniciativa foi aprovada pelo conselho administrativo em março de 2018.
Como em todo processo inovador, a Coplacana precisou encarar alguns desafios. Pri-
meiro, foi necessário formar uma equipe focada em inovação aberta, que se dedicasse
exclusivamente à elaboração de um plano de negócios para o hub. Uma consultoria espe-
inovação NO COOPERATIVISMO 36
Para fazer um levantamento das demandas dos cooperados e avaliar que necessidades
os produtores rurais tinham em relação a novas tecnologias, a Coplacana montou equipes
de campo para fazer um diagnóstico e definir as prioridades do hub. A coop também desti-
nou um espaço físico para a instalação do Avance.
Em abril de 2018, a startup @Tech foi a primeira selecionada para integrar o Avance. Após
receber o aporte financeiro da cooperativa, ela se transformou em uma das mais conheci-
das agrotechs do Vale do Piracicaba, desenvolvendo ferramentas que monitoram grandes
criações de gado e fornecem ao produtor dados para avaliar se o boi está dando prejuízo.
Assim, os criadores têm dados concretos para decidir se devem investir mais no animal ou
vendê-lo.
Antes do lançamento oficial, que ocorreu em setembro de 2018, o Avance já havia fechado
parcerias com a Esalq, a Esalqtec, o Parque Tecnológico e com o Brain — hub de inovação
da Algar Telecom.
Em 2019, o Avance fechou convênio com a Embrapa Informática Agropecuária para a reali-
zação de experimentos e também teve como prioridades os testes de produtos na Fazen-
da Digital e a expansão da oferta de produtos e serviços em agricultura de precisão.
ção
2 por que as
cooperativas
brasileiras
precisam
inovar?
Quando os ventos da mudança
começam a soprar, algumas
pessoas constroem muros e
outras, moinhos de vento.
Provérbio chinês
A arrogância de quem
tem sucesso é pensar
que o que você fez ontem
será suficiente amanhã.
William Pollard,
físico norte-americano
inovação NO COOPERATIVISMO 38
Agora que você já sabe o que é inovação e a importância dela para os negó-
cios, é hora de entender como o sistema cooperativo pode se apropriar desse
movimento. Em primeiro lugar, vale a pergunta: por que as cooperativas bra-
sileiras precisam inovar?
Inovar é uma das principais formas de agregar valor ao seu negócio. Para a
cooperativa crescer, evoluir e sobreviver, é necessário enfrentar os desafios
da concorrência e de um mundo globalizado e em constante mudança. Ficar
parado no tempo não é alternativa.
Bill Gates, por exemplo, costumava dizer que a Microsoft estava sempre a dois
anos de sua extinção. Andy Grove, um dos fundadores da Intel, gostava de
dizer que “só os paranoicos sobrevivem”.
INOVAR
É O CAMINHO
Vamos a um exemplo: a Netflix. A empresa foi fundada em 1997, nos Estados Unidos, por
Reed Hastings e pelo executivo de software Marc Randolph, com o objetivo de oferecer alu-
guel e venda de DVDs pelo correio — à época, uma forma diferenciada de chamar a atenção
do cliente.
A principal vantagem competitiva da Netflix foi apostar no mercado de streaming, o que deu
certo por muito tempo, mas acabou sendo copiado pela concorrência, ou seja, a vantagem
competitiva não é estanque e pode se perder com o tempo. Por isso, o olhar para a inovação
é fundamental na medida em que cria, constantemente, possibilidades para a organização.
Mas a Netflix não parou e resolveu inovar mais uma vez. No lugar de apenas oferecer filmes
e séries criados por grandes corporações do entretenimento, a empresa passou a criar
conteúdo original e de qualidade, o que diferencia a marca de seus concorrentes. Hoje, a gi-
gante do streaming é o maior provedor de mídia de transmissão no mundo e conta com 208
milhões de assinantes em 190 países e um lugar garantido na história da inovação.
Conclui-se, portanto, que a capacidade de uma cooperativa inovar é fator-chave para o de-
senvolvimento de uma vantagem competitiva sustentável. Em qualquer negócio, as inova-
ções podem e devem ser incentivadas para acontecer não só em produtos, mas também em
serviços, comunicação, processos internos e modelos de negócio. Por isso, costumamos
dizer que a inovação é um mundo de infinitas possibilidades no qual as cooperativas preci-
sam estar inseridas.
FOCO NA EXPERIÊNCIA
Foi-se o tempo em que o cliente buscava apenas a qualidade em um produto ou serviço.
Embora nenhuma cooperativa sobreviva sem ela, em tempos de novas tecnologias da
informação, as expectativas do consumidor ficaram mais altas. É preciso estar cada vez
mais atento aos sinais dos clientes e às tendências do mercado para entregar não apenas
qualidade, mas boas experiências, normalmente potencializadas pela inovação. Afinal, se
a ideia é ter um serviço ou produto melhor, é fundamental focar nas pessoas.
INOVAÇÃO NO
COOPERATIVISMO
Via de regra, cooperativas deveriam ter mais facilidade para inovar do que outras institui-
ções, porque já nascem num modelo de negócio inovador. Desde a sua criação, isto é, da
união de pessoas em prol de um bem comum, uma cooperativa já está fazendo diferente.
Sair do lugar-comum e surpreender são verbetes que sempre estiveram no vocabulário
cooperativista; basta colocá-los em prática. E o primeiro passo para isso é restabelecer,
no nosso movimento, uma cultura da inovação. O que isso significa? Que a inovação deve
ser um valor buscado por todos dentro de uma cooperativa.
Foram realizadas 474 entrevistas, pela internet, de novembro de 2020 a fevereiro de 2021.
Participaram da pesquisa cooperativas de todos os Ramos, com destaque para o Agrope-
cuário (103) e o Crédito (144). Desse total: 88% eram singulares; 5%, centrais; 4%, federa-
ções; e 3%, confederações.
Além de trazer diversos insights para novas políticas e direcionamentos, o estudo apre-
sentou um panorama bem atual da inovação no cooperativismo brasileiro.
A pesquisa revelou, ainda, que as cooperativas que investem em inovação têm melhores
resultados financeiros do que aquelas sem projetos na área. Basta dizer que 71% das co-
operativas com faturamento superior a R$ 300 milhões tinham projetos de inovação
consolidados mesmo antes da pandemia. Já entre as cooperativas com faturamento
menor ou igual a R$ 360 mil, esse percentual era de 18%, como podemos verificar no gráfi-
co a seguir.
inovação NO COOPERATIVISMO 42
IMPACTO DA COVID-19
já tinha projetos de
inovação, que foram 37% 71%
paralisados por causa da 59%
pandemia (2)
40%
base 73 94 128 59
Os números acima nos levam a fazer uma pergunta muito popular da década de 1990: As
cooperativas faturam mais porque investem em inovação, ou investem em inovação por-
que faturam mais? Embora a pesquisa não responda diretamente a essa pergunta, pode-
mos afirmar que a inovação aumenta o faturamento e que organizações financeiramente
mais robustas tendem a querer investir mais nessa área.
Empresas que inovam mais faturam mais, pagam melhor e apresentam vantagens compe-
titivas. Essa é a conclusão do estudo Inovações, padrões tecnológicos e desempenho das
firmas industriais brasileiras, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), de 2005.
A pesquisa traçou o perfil da indústria brasileira em relação à inovação tecnológica e foi
organizado pelos pesquisadores José Alberto De Negri e Mário Sérgio Salerno. Da mesma
forma que a indústria, as cooperativas que investem em inovação também apresentam
melhores resultados.
Maior agilidade e maior competitividade são outros impactos positivos da inovação nas
cooperativas percebidos, respectivamente, por 52% e 25% dos entrevistados. Apenas 5%
dos cooperados disseram não ter identificado impactos positivos ao investir em projetos
de inovação.
43 inovação NO COOPERATIVISMO
Outro dado bastante positivo diz respeito ao tempo reduzido de obtenção de resultados.
Em praticamente 9 de cada 10 cooperativas (88%), o tempo médio de retorno — após
lançar produtos ou serviços e implementar as inovações — foi inferior a 12 meses.
Imediatamente 11%
38%
De 1 a 3 meses 27% 63%
88%
De 3 a 6 meses 25%
De 6 meses a 1 ano 25%
De 1 a 2 anos 7%
Mais de 2 anos 5% base: 230
Além disso, 7 em cada 10 entrevistados declaram ter alcançado os resultados dos proje-
tos de inovação no prazo esperado.
Mais um ponto importante revelado pelo estudo do Sistema OCB: as cooperativas são
bastante democráticas quando o assunto é inovação, implementando projetos em dife-
rentes setores da organização, como mostra o gráfico a seguir. As áreas onde mais se ino-
va são: atendimento aos clientes (64%); Marketing e comunicação externa (60%) — o que
reforça a importância do foco no cliente —; e Tecnologia (53%).
inovação NO COOPERATIVISMO 44
PONTOS DE MELHORIA
Neste primeiro estudo sobre inovação no cooperativismo, o Sistema OCB pediu às coope-
rativas entrevistadas que fizessem uma autoavaliação sobre o grau de inovação de suas
práticas. A média autodeclarada foi de 6,1 pontos, mantendo-se uma pontuação bastante
homogênea entre os sete ramos do cooperativismo — sinal de que as próprias cooperati-
vas reconhecem ser possível avançar ainda mais na implantação de uma cultura da inova-
ção dentro do nosso movimento.
6,6
6,3 6,2 6,2 6,1
5,8 5,8
*amostras reduzidas
O estudo também revelou que somente três em cada dez cooperativas (33%) tinham or-
çamento previsto para projetos na área, o que deve ser encarado como um ponto de me-
lhoria dentro do cooperativismo. Afinal, para inovar, também é preciso investir.
Além disso, quando perguntados sobre o volume de recursos que a cooperativa pretende
investir nos próximos cinco anos em inovação, os resultados apresentam um quadro bas-
tante complexo.
VOLUME DE RECURSOS
que pretendem destinar nos próximos 5 anos
entre 1% e 2% 6,5%
entre 3% e 5% 9,5%
mais de 5% 8,9%
nada 4,1%
não há planejamento específico 25,1% 71%
Para o futuro, o estudo indica forte concentração da inovação em setores como ‘marke-
ting e comunicação externa’, no ‘atendimento aos clientes’ e em ‘tecnologia’.
A pesquisa tornou mais tangível e apresentou em números o que já era percepção: a ino-
vação é um caminho sem volta para quem quer se manter em um mercado cada vez mais
competitivo. Deixando sua marca e DNA próprios, as cooperativas também precisam
apostar na inovação. Diferentemente das empresas mercantis, que têm foco no lucro, as
coops têm na valorização das pessoas (clientes e cooperados) seu grande diferencial. E é
valorizando esse tesouro que as cooperativas precisam pensar no momento de planejar
suas ações. Há diversas iniciativas de inovação em curso — que precisam ser fortalecidas
e aprimoradas, mas é preciso ter em mente a necessidade de investimentos robustos para
ir cada vez mais e mais longe.
Afinal, a adoção de boas práticas de gestão e um olhar atento para medir constantemente
os resultados são estratégias importantes para garantir uma performance de qualidade
nas cooperativas brasileiras. Por isso, o Serviço Nacional de Aprendizagem do Coopera-
tivismo (Sescoop) lançou o Programa de Desenvolvimento de Gestão das Cooperativas
(PDGC), que se apoia em quatro pilares: planejar, fazer, verificar e aprender.
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO
DE GESTÃO DAS COOPERATIVAS (PDGC)
Planejar
Plan
P D
Fazer
Do
Verificar
Check
L C
Aprender
Learn
Após essa etapa, de forma automática, a cooperativa recebe uma devolutiva, por meio
da qual será possível definir e implementar ações a partir das oportunidades de melhoria
apresentadas. O diagnóstico inclui índices para o acompanhamento e monitoramento da
melhoria dos processos.
49 inovação NO COOPERATIVISMO
O que grandes empresas como Apple, Google, Amazon e Microsoft têm em co-
mum? Além de serem gigantes da tecnologia, elas investiram pesado em inova-
ção e, por isso mesmo, cresceram (e crescem) acima de outras corporações.
“Houve pouca mudança nas classificações das dez maiores inovadoras. Apple e
Google mantêm as duas primeiras posições. No entanto, é importante destacar
os elementos compromisso e prontidão. Comece com Pfizer (10º). O compro-
misso e a prontidão ajudaram a Pfizer, em parceria com a BioNTech, não apenas
a reduzir o tempo de inovação de uma vacina Covid-19 de uma década ou mais
para menos de um ano, mas também a aumentar a capacidade de produção para
entregar as vacinas tão necessárias para o mundo. Isso vale para as outras far-
macêuticas que estão no ranking”, afirma o BCG.
Para inovar, não basta querer. É preciso que essa intenção saia do papel e que sejam cria-
dos mecanismos de indução de políticas e iniciativas.
O primeiro passo, aqui, é incluir a inovação como um ideal a ser perseguido; por isso, é fun-
damental inseri-la formalmente no planejamento estratégico. É esse documento que traça
o rumo e direciona as nossas organizações. É ele também que prevê os recursos a serem
utilizados nos anos seguintes.
Ainda de acordo com o autor, via de regra, uma organização voltada para inovar desdobra
suas ações em quatro etapas:
Somente seguindo essa metodologia, que será melhor descrita no próximo capítulo, uma
cooperativa conseguirá inovar de forma organizada, sendo capaz de repetir o feito de for-
ma contínua e sistemática.
inovação NO COOPERATIVISMO 52
ESTRATÉGIA
ADAPTATIVA
Segundo Salibi e Magaldi (2020), as empresas não estão se tornando irrelevantes por tes-
tar coisas novas, mas sim por fazer com excelência a mesma coisa durante muito tempo.
“A imobilidade, e não a mudança, é o estado mais perigoso em ambientes competiti-
vos altamente dinâmicos”, dizem os pesquisadores.
Diante desse cenário, os autores propõem uma filosofia mais flexível para a gestão das
corporações, principalmente no campo da estratégia das empresas. Segundo eles, o
modelo vigente na maioria das organizações está centrado em práticas que foram bem-
-sucedidas décadas atrás. Hoje, entretanto, é preciso pensar novas formas de se adaptar
ao mercado; por isso, os pesquisadores propõem a implantação do que eles chamam de
“estratégia adaptativa”.
O novo tratado estratégico surge com uma visão menos determinista dos vetores que in-
fluenciam a gestão. A perspectiva clássica, de grande controle sobre todos os elementos
corporativos, estava relacionada a um ambiente de escassez de recursos, com níveis de
concorrência em índices muito menores que os atuais. “Nesse contexto, o controle da ca-
deia de valor em busca de um posicionamento superior tornava-se uma estratégia absolu-
tamente exequível e recomendada para as grandes empresas”, defendem.
A dupla defende, ainda, que elevar o indivíduo a protagonista desse contexto não deve se
restringir ao colaborador e deve chegar ao cliente/cooperado. “Não há hipótese de uma
formulação estratégica em um cenário de alta competitividade e volatilidade que não co-
loque esse agente no centro da jornada de criação de valor da empresa.”
Os gestores das cooperativas também devem ficar atentos para não terem a tendência de
manutenção do status quo que leve a inércia e dificuldade de refletir sobre as mudanças
nos modelos de negócios ou que provoque a resistência ao novo. A reflexão, dentro das
cooperativas, deve ser constante e contar com o apoio de todos. Como destacamos an-
teriormente, a inovação deve fazer parte da cultura cooperativista. A estabilidade inibe a
inovação, pois encoraja a diminuição da predisposição por tomar riscos na organização.
“A pandemia gerada pelo novo coronavírus veio para mostrar que a estabilidade é uma
abstração. O novo pensamento estratégico é forjado em um mundo no qual a imprevi-
sibilidade é a constante, e a incerteza faz parte de todas as reflexões organizacionais”,
concluem os autores. Portanto, a cooperativa que deseje conquistar resultados diferentes
deve pensar e fazer as coisas de forma diferente — e inovar pode ser um bom começo. É
preciso ter consciência, no entanto, de que a inovação é um jogo dinâmico, movido por
mudanças, cenários imprevisíveis e pela constante busca por melhorias.
Isso significa que os líderes do atual ambiente empresarial precisam estar atentos ao pre-
sente, sem tirar o olhar do futuro. Além disso, o ecossistema de uma organização deve estar
preparado para integrar o motor 1 (foco na operação atual) com o motor 2 (foco no futuro).
Ainda de acordo com Salibi e Magaldi, os dois motores demandam abordagens distintas
e muito específicas. No primeiro, são necessários muita disciplina, melhoria contínua nos
processos e monitoramento constante na redução de riscos para a operação, sobretudo
os financeiros. No motor 2, são requeridos uma gestão baseada na agilidade, maior pro-
pensão ao risco, originalidade e uma estrutura financeira específica, visto que o retorno
sobre o investimento sempre será em longo prazo, e existe a clara perspectiva de perda
de recursos em apostas que não darão certo e deverão ser descontinuadas. É importante,
entretanto, que os gestores estejam preparados para mudanças disruptivas.
55 inovação NO COOPERATIVISMO
FATOR
HUMANO
Para muitas organizações, a inovação ainda é um grande desafio, mas, para as cooperati-
vas, que têm em suas bases a valorização das pessoas, o processo deveria acontecer de
forma mais natural. Pessoas criativas são a matéria-prima básica do processo de geração
de inovações, e o cooperativismo costuma ser um terreno fértil para a descoberta e po-
tencialização de novos talentos.
Entretanto, antes que você ache que a sua cooperativa está pronta para inovar só por-
que está repleta de profissionais criativos, é preciso fazer um alerta: um time criativo
com foco no operacional não garante a implementação de um produto ou serviço ino-
vador. É preciso criar um ambiente que estimule pessoas criativas a terem ideias ao
longo do tempo, de forma contínua e sistemática, transformando-as em realidade na
medida em que for necessário.
inovação NO COOPERATIVISMO 56
Para David, Carvalho e Penteado (2011), as organizações devem estar sempre atentas ao
poder das ideias e devem saber gerenciar, aprender e ganhar com elas. Os estudiosos acre-
ditam na gestão de ideias como um processo essencial na administração de uma empresa.
Segundo os autores, “para ampliar seu potencial inovador, a organização precisa aprimo-
rar uma série de ações, em especial, a Gestão de Ideias. Ela é essencial no processo de
inovação, pois gerar ideias é pensar criativamente, é ver algo por ângulos diferentes; no
entanto, as ideias precisam ser aceitáveis, executáveis e proporcionar multiplicidade de
perspectivas, alternativas e variações.”
Cabe aos dirigentes das cooperativas brasileiras perceber a importância estratégica das
ideias e saber utilizá-las como vantagem competitiva. O desafio é aproveitar o potencial
criativo das várias fontes disponíveis para gerar, coletar, transformar e implantar ideias de
forma a torná-las inovações de sucesso.
Os autores citam alguns exemplos de instituições que venceram esse desafio de ter um
espaço para reunião de ideias e para transformá-las em inovações. A Brasilata, empresa
fabricante de embalagens metálicas, disponibilizava espaço para que seus funcionários
registrassem, diariamente, sugestões. A ideia era facilitar o trânsito de ideias e, para isso,
os colaboradores podiam usar a intranet ou formulários de papel. Em 2008, o projeto cha-
mado Simplificação coletou mais de 130 mil ideias – uma média de 145 contribuições por
funcionário/ano. Implantado há 25 anos, o projeto de administração participativa já gerou
patentes registradas na Europa e nos Estados Unidos, levando a empresa ao ranking das
25 mais inovadoras do Brasil.
Outro exemplo interessante pode ser visto na 3M — multinacional que contabiliza mais de
55 mil produtos, incluindo adesivos, máscaras de proteção e post-its. Lá, 15% do tempo
dos colaboradores devem ser investidos em inovação.
O foco no futuro acompanha a empresa há muitos anos. Em 1937, ela investiu na monta-
gem do Laboratório Central de Pesquisa. Três anos depois, criou um departamento de
novos produtos e, atualmente, tem à disposição mais de 7 mil cientistas no mundo todo,
alocados em laboratórios corporativos, representando um investimento médio anual de
6% das vendas.
57 inovação NO COOPERATIVISMO
No Google, os funcionários podem destinar 20% do seu tempo para desenvolver novas
ideias — o Gmail, por exemplo, serviço gratuito de webmail do Google que entrou no mer-
cado em 2004 oferecendo 1GB de espaço de armazenamento (uma revolução para a épo-
ca), é resultado do esforço de criação de um funcionário da gigante das buscas.
A primeira edição do Mais 360o, realizada em 2019, coletou 155 ideias e engajou 25% dos
colaboradores da instituição. Um dos benefícios imediatos da iniciativa foi a mudança de
mentalidade das 379 pessoas que participaram do programa. Todas elas foram sensibili-
zadas sobre a importância da inovação para a sustentabilidade dos negócios e levaram as
metodologias aprendidas para suas áreas de origem, tornando-se agentes de inovação.
Eles também aprenderam, na prática, que nem todas as ideias nascem com potencial para
serem patenteadas ou para virarem inovações. A maioria delas objetiva pequenas me-
lhorias ou aprimoramentos, mas nem por isso são menos importantes. Essas ideias têm a
capacidade de agregar valor a produtos, serviços e processos. São melhorias que podem
ser rapidamente implementadas, gerando benefícios de curto prazo para os cooperados
ou para a própria cooperativa.
Outro aprendizado importante: cabe aos gestores criar um grupo responsável por liderar o
processo de inovação dentro da cooperativa, mas esses conhecimentos não devem ficar
restritos a esse núcleo. É necessário facilitar e estimular a comunicação, ou seja, a troca
de informações e conhecimento — uma vez que esse conhecimento, quando utilizado da
maneira correta, transforma-se em inovação de produtos e processos.
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time para inovar
inovação NO COOPERATIVISMO 58
REPLICANDO EXPERIÊNCIAS
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59 inovação NO COOPERATIVISMO
Um ambiente cooperativo, em que todos trabalham para alcançar um objetivo maior, tem
maiores chances de prosperar do que um ambiente competitivo, onde todos estão empe-
nhados em se sobressair individualmente sobre os outros.
Prova disso é que, segundo o relatório O Futuro do Trabalho 2020, do Fórum Econômico
Mundial, as principais habilidades profissionais destacadas pelos empregadores, que de-
vem crescer em importância até 2025, incluem habilidades ligadas ao trabalho em equipe,
como aprendizagem ativa, resiliência, tolerância ao estresse e flexibilidade. Confira:
VANTAGENS E DESAFIOS
DO COOPERATIVISMO
Como vimos ao longo do capítulo, além de trazer resultados financeiros, a inovação con-
tribui para a criação de valores relacionados à colaboração, sustentabilidade, igualdade e
ao compartilhamento — princípios que balizam o próprio cooperativismo.
Por fim, é sempre importante destacar que reduzir a inovação ao simples uso da tec-
nologia é um erro grave. Não basta projetar telas, desenvolver soluções mirabolantes e
esquecer que todo esse aparato será usado por um ser humano, ou seja, o foco não pode
estar apenas na tecnologia: é fundamental ouvir o cooperado e o cliente, entender suas
necessidades, seus desejos e o que faz sentido para eles no dia a dia.
A inovação — qualquer que ela seja — precisa ser percebida como valor por quem a utiliza.
Pouco adianta uma ideia brilhante apenas aos olhos da equipe de desenvolvimento ou da
presidência de uma cooperativa. As pessoas para as quais aquela ideia foi projetada pre-
cisam vê-la como incrível, ou não há motivo para desenvolvê-la.
O conceito parece simples, mas pode se perder na prática diária das cooperativas. “Ino-
var” não é “correr atrás do prejuízo”. Ir atrás de novidades só porque um concorrente fez
é perder completamente o cooperado de foco. Fazer uma “cópia” do que as empresas
privadas fizeram também é um grande risco já que o “norte” dessas organizações é muito
diferente do que pregam os valores cooperativistas — nesses locais, há pressão de inves-
tidores por lucro — o que pode se sobrepor aos interesses do cliente. No caso do coope-
rativismo, isso não existe. As pessoas são o nosso motivo de existir. Clientes e cooperados
devem estar sempre no centro das nossas decisões.
inovação NO COOPERATIVISMO 62
REFERÊNCIAS
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Strategic Initiative to Value Creation. 2010.
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utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/2057/1/gestaoinovacao.pdf>. Acesso em: 7 jul. 2021.
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www3.weforum.org/docs/WEF_Future_of_Jobs_2020.pdf>. Acesso em: 2 ago. 2021.
artigo
artigo
artigo
artigo
artigo
artigoArthur Igreja
Inovação e transformação digital. Por que esses temas se tornaram objeto de tamanha
atenção nos últimos anos? Em razão de dois movimentos que se complementam: a evolu-
ção tecnológica, e a consequente mudança nos hábitos dos cooperados.
Vivemos a aceleração da aceleração. Até os anos 1980, grande parte desse impacto era
notado apenas dentro das empresas que possuíam os recursos suficientes para incor-
porar computadores, utilizados por poucos e que dependiam de muito conhecimento
específico. Em 1990, os computadores chegam à casa das pessoas e, na metade da dé-
cada, a capacidade de conexão, mesmo que precária, permite o acesso remoto. Foram
criados, então, os alicerces que nos permitiram, 25 anos depois, superar grande parte
das restrições impostas pela pandemia com trabalho remoto e negócios sendo feitos
por meios digitais.
Quanto mais a tecnologia progride, mais ela possibilita a criação de ainda mais tecnologia.
E esse progresso leva ao barateamento e ao acesso. Mais pessoas desfrutam — em me-
nor espaço de tempo — dos recursos que antes estavam restritos às grandes organiza-
ções. Entre 1960 e 1990, a mudança aconteceu dentro das empresas, de forma silenciosa.
De 1990 a 2020, ela se deu na vida das pessoas e de maneira dramática. E foi exatamente
nesse período que muitas companhias continuaram a se adaptar de forma incremental
com ritmo insuficiente para acompanhar o que acontecia fora de seus domínios. Antes, as
corporações propunham novidades que as pessoas assimilavam. Agora, as pessoas mu-
dam e algumas organizações são capazes de endereçar essa transformação, outras não.
Isso chama-se inovação.
65 inovação NO COOPERATIVISMO
O que esperar para as próximas três décadas? Lembre-se de que esse era o horizonte de
tempo dos tradicionais planejamentos estratégicos de outrora. É impossível saber o que
vai acontecer, o que não serve como argumento para deixar de lado o planejamento tático.
Ele precisa apenas ser diferente, adaptável, vivo, ágil e, principalmente, humano.
Inovação não deve ser sinônimo de mudanças radicais ou disrupção completa do merca-
do. Isso só é necessário para quem ficar parado por tempo demais. É como perder o tiro de
largada e tentar compensar o atraso.
A inovação torna-se mais assertiva quando tem como ponto de partida a proximidade com
os cooperados. Em um arranjo tradicional, temos os consumidores buscando maximizar o
retorno sobre sua experiência de consumo, a empresa buscando a manutenção do status
quo e acionistas atrás da maximização dos retornos financeiros. O cooperativismo per-
mite a harmonia, pois os objetivos são comuns. O planejamento estratégico serve para
alinhar expectativas e estabelecer direcionamentos.
A inovação precisa ser vista como perene, como parte inseparável da cultura de uma co-
operativa. Se os contextos tecnológico e comportamental mudam, apenas com evolução
constante é possível ter sustentabilidade. Com grande capacidade de adaptação no curto
prazo é que se constrói prosperidade no longo prazo.
É fundamental aprender com o que aconteceu durante toda a pandemia. Pessoas e orga-
nizações foram capazes de adotar em curtíssimo espaço de tempo muitas novas rotinas
que permitiram a continuidade dos negócios e de suas vidas. Contudo, a maior parte não
foi inventada durante a pandemia. A tecnologia já estava disponível, nós é que ainda não
estávamos utilizando. Por que conseguimos nos adaptar tanto em tempos difíceis? A boa
notícia: a mudança não precisa vir pela dor; pode vir pela consciência, pelo planejamento.
Precisamos ter uma estratégia proativa. A melhor forma de evitar a concorrência é estar à
frente dela.
inovação NO COOPERATIVISMO 66
Ficou evidente que tecnologia não é sinônimo de futuro. Essa falsa impressão causa lenti-
dão, parece que, se algo acontecer amanhã, teremos tempo para fazer diferente. Colocar
as mudanças no futuro também causa incredulidade, e alguns dirão que ainda é incerto.
Foi isso que levou vários negócios ao seu fim: o somatório de incredulidade e lentidão.
Nos últimos anos, o mundo passou a descobrir temas como economia circular, economia
compartilhada e ESG. Tudo isso sempre foi o DNA do cooperativismo. O mais moderno
arranjo que preserva localmente o valor e vai além, multiplica. O cooperativismo tem po-
tencial único no Brasil. Para tal, é fundamental que a inovação faça parte do planejamento
estratégico, não como um ciclo de mudanças, mas como estratégia em si.
ca
se
para inspirar
sua coop
MARKETPLACE
cooperativista
Cooperativa
Centro Cooperativo Sicoob (CCS)
Projeto de inovação
Coopera
inovação NO COOPERATIVISMO 68
A
mpliar, de forma consistente, a atuação do Sicoob nas áreas de fidelidade
e comércio digital
P
or ser uma plataforma de compras aberta ao público, o Coopera traz
visibilidade para a marca Sicoob. O CCS acredita que muitas pessoas
conhecerão o Sicoob por causa do marketplace
P
or também ser um programa de pontos, o Coopera ajuda a fidelizar os
cooperados, sejam eles pessoa física ou jurídica
P
ara os vendedores, o marketplace abre portas e cria vitrines para um
número de consumidores que, sozinho, eles não conseguiriam alcançar, e
com o selo de confiabilidade e o alcance nacional do Sicoob.
O
Coopera atraiu grandes varejistas e marcas reconhecidas do país, como
Magazine Luiza, CiaToy, Britânia e Philco, para oferecer mais de 50 mil
produtos no marketplace. Agora, a meta é trazer as pequenas e médias em-
presas para o e-commerce cooperativo, com a abertura da plataforma para
empreendedores de todo o país — cooperados ou não.
Para os vendedores que expõem seus produtos no Coopera, a plataforma abre portas e
cria vitrines para um número de consumidores que, sozinho, ele não conseguiria alcançar.
Com o selo de confiabilidade e o alcance nacional do Sicoob, o Coopera já tinha — em
maio de 2021 — uma base de 2,2 milhões de participantes, movimentando R$ 25 milhões
durante a etapa de operação piloto. A perspectiva é chegar a três milhões de participantes
e R$ 75 milhões em transações até o fim de 2021.
VANTAGENS SICOOB
A oferta de taxas competitivas é um dos diferenciais do Coopera para os parceiros de ven-
das, com condições especiais para cooperados. Outro diferencial em relação à concorrên-
cia tradicional é que o Coopera aceita pagamentos em cartão de crédito, pontos e cartão
de crédito + pontos.
PROGRAMA DE PONTOS
Além de shopping virtual, o Coopera funciona como plataforma do programa de fidelidade
do Sicoob, em que os cooperados acumulam pontos ao fazer compras, com os cartões de
crédito do Sicoob, e pelo relacionamento com as cooperativas.
As singulares Sicoob também têm muito a ganhar com a nova plataforma de pontos, já
que a possibilidade de oferecer recompensas de fácil utilização vai ajudar a atrair novos
cooperados e a aumentar o engajamento dos atuais, com a oferta de mais produtos e
serviços financeiros.
Para os cooperados Pessoa Jurídica — que hoje são 1 milhão entre os 5,6 milhões de
associados do Sicoob —, o Coopera também pode funcionar como um programa de fide-
lização. Por exemplo, um cooperado dono de um restaurante poderá oferecer aos seus
clientes pontos do Coopera como forma de recompensa.
Outra inovação nos planos do Coopera é a possibilidade de doação de pontos, que serão
revertidos em repasses para instituições sociais indicadas por cooperativas. A iniciativa
deve ser implementada ainda em 2021.
inova
ção
3 por onde
começar?
O homem que remove
montanhas sempre começa
retirando pequenas pedras
do caminho.
Provérbio chinês
Ideias são como coelhos.
Você tem algumas, aprende
a lidar com elas e, muito em
breve, terá dúzias delas.
John Steinbeck,
ganhador do prêmio Nobel
inovação NO COOPERATIVISMO 72
Em uma cooperativa de trabalho, por exemplo, em que pessoas ou grupos que realizam a
mesma atividade econômica se juntam para buscar melhores condições profissionais e
aumento de renda, o sentimento de pertencimento pode estimular o cooperado a buscar e
apresentar soluções e diferenciais competitivos que levem ao progresso coletivo.
Reconhecer esse território criativo é o primeiro passo para a inovação cooperativa. O pró-
ximo degrau é conhecer as ferramentas e o processo para que as ideias não se percam
pelo caminho e se tornem de fato projetos bem-sucedidos ou soluções concretas. Essa é
justamente uma das características da inovação: o processo também é parte do resultado
e precisa de estratégias para ser percorrido com mais chances de sucesso.
Não existem receitas prontas ou manual de instruções para inovar que possam ser apli-
cadas a todas as empresas do mundo, sejam elas comerciais ou cooperativas. Mas a ob-
servação de experiências bem-sucedidas, o uso de ferramentas adequadas e a visão da
inovação como um processo contínuo podem auxiliar no passo inicial desse caminho.
Para organizar seu ranking das 500 empresas de maior crescimento dos Estados Unidos,
a Revista Inc. perguntou a executivos o que faz com que suas organizações sejam inova-
doras. As respostas levaram a três grandes recomendações que valem para negócios de
todos os tamanhos e setores, incluindo as cooperativas: contratar talentos, ouvir o cliente
e ter uma cultura de tolerância ao erro.
A sugestão de investir em pessoal para dar um passo para a inovação pode ser literal,
com a contratação de pessoas especificamente para implantar um novo projeto, ou de
uma consultoria para indicar que melhoras a empresa pode implementar nos proces-
sos para chegar a resultados inovadores. Mas também pode se traduzir em um olhar
mais observador para dentro da equipe, para identificar colaboradores com potencial
de contribuir com novas ideias e que, às vezes, não têm espaço ou estímulo para atuar
nessa frente. Além disso, esse investimento em pessoal para inovar se refere direta-
mente à capacitação.
Ouvir o cliente. Parece ser uma orientação óbvia, mas é preciso estar atento a esse elemen-
to. Seja um cliente externo ou um setor da empresa que demanda inovação em algum pro-
cesso, a necessidade final precisa ser bem identificada para que o resultado atenda às ex-
pectativas, ou corre-se o risco de se desenvolver uma solução nova e transformadora, mas
que não se aplique à realidade para a qual foi pensada, desperdiçando tempo e recursos.
Para ser eficiente, a inovação deve ser vista como um processo contínuo e não apenas
ligado a projetos individuais. Nesse contexto, saber aprender com os erros é fundamen-
tal para que a roda continue girando, apesar de imprevistos, e que eventuais falhas não
interrompam o ciclo de novas ideias. Mesmo que as primeiras tentativas deem errado,
é preciso conduzir o roteiro até o acerto, tendo em conta que é melhor errar pequeno,
barato e no começo.
inovação NO COOPERATIVISMO 74
DESAFIOS
E OPORTUNIDADES
Toda inovação resolve um problema ou melhora algo existente. A partir desse pressuposto,
inovar deve ser sempre uma iniciativa com propósito e foco, ou seja, não basta que as ideias
sejam boas, elas precisam servir aos interesses e desafios da cooperativa. Identificar cená-
rios, problemas, demandas e oportunidades é uma tarefa-chave para começar a inovar.
É preciso destacar que nem sempre uma resposta inovadora a um problema tem a ver com
lançar um produto; a ação pode estar relacionada a movimentos que tragam melhorias
como aumento de produtividade, de vendas, redução de desperdícios, comunicação mais
eficaz, entre outras possibilidades.
Nesta etapa, a cooperativa interessada em inovar também deve buscar saber quem são
os atores desse processo, os chamados stakeholders, que podem ser pessoas ou orga-
nizações que serão impactadas no decorrer do projeto que pretende ser implementado.
Conhecer bem o cliente e o que ele quer está no rol de tarefas dessa fase de prospecção
da atividade inovadora. É igualmente importante estar atento às transformações do mer-
cado, aos novos produtos e serviços, às mudanças de comportamento e às tendências.
Todos esses fatores trazem novos desafios, e oportunidades que precisam ser mapeadas
e tratadas pela coop.
Há várias ferramentas que contribuem para esse mergulho inicial e ajudam na definição
de um plano a ser trilhado para inovar. É possível fazer uma análise do negócio da coope-
rativa com o Business Model Canvas ou com a Análise Swot, e aplicar a ferramenta Mapa
de Stakeholders para entender melhor todos os seus públicos e o Mapa de Empatia e
Jornada do Usuário para mapear possibilidades de entregar produtos e serviços que seus
públicos desejam. Uma vez mapeados os desafios e as oportunidades, o time da coop
pode fazer brainstormings para pensar soluções, ou uma Matriz CSD para mapear e dividir
o que já sabe sobre o desafio e traçar um plano de ação. Vamos conhecer melhor essas
ferramentas no próximo capítulo.
75 inovação NO COOPERATIVISMO
Para dar o primeiro passo, conseguir visualizar os objetivos e traçar que caminho co-
meçar a seguir, uma possibilidade é o método 5W2H, que se baseia em sete perguntas
para montar um roteiro completo e de fácil interpretação. O nome da técnica está re-
lacionado a perguntas que levarão ao objetivo do plano de ação, todas derivadas de
palavras em inglês.
Os 5Ws se referem a:
W
hat? (O que será feito?)
W
hy? (Por que será feito?)
W
ho? (Quem fará?)
W
hen? (Quando será feito?)
W
here? (Onde será feito?)
H
ow? (Como será feito?)
H
ow much? (Quanto custará?)
A resposta a essas perguntas resultará em um roteiro direto e prático sobre o que precisa
ser feito para atingir o objetivo definido. Além da fácil utilização, a ferramenta não requer
conhecimentos técnicos especializados para o preenchimento e pode ser aplicada em or-
ganizações de todos os tamanhos.
O PAPEL
DO LÍDER
projetos apenas de cima para baixo. É importante o que o líder faz, e não apenas o que o
líder diz.
No livro A arte de dirigir uma empresa, o professor e pesquisador Francisco Mochón des-
creve a liderança como uma atividade muito mais abrangente que saber dar ordens, e que
envolve orientar e formar, saber escutar e deixar que todos se escutem.
Esse olhar amplo sobre o líder e seu papel vai ao encontro do conceito de gestão sob o
ponto de vista da abordagem sistêmica, em que todos os processos dentro de uma orga-
nização são interdependentes e sempre há relação entre estratégias, processos e pes-
soas. Na perspectiva sistêmica, o conjunto da organização é considerado um organismo
vivo, em que qualquer mudança em alguma parte afeta as demais.
Dentro dessa perspectiva, o papel do líder é central e deve ser desempenhado com estra-
tégia e clareza para criar um ecossistema em que os liderados se sintam relevantes para a
organização e o seu funcionamento.
Para cada uma dessas habilidades, o autor sugere recomendações práticas para alcançá-
-las. A primeira característica se refere à disponibilidade do líder em adotar a inovação como
77 inovação NO COOPERATIVISMO
método e encarar esse processo como algo que ocorre em toda a empresa, e não apenas em
departamentos ou grupos específicos. Com essa concepção, é mais fácil visualizar ideias,
oportunidades e potencial, inclusive por trás de eventuais obstáculos. O exercício prático
para essa habilidade é mudar o ponto de vista sobre um desafio e questionar a si mesmo e a
outros integrantes do time cinco possibilidades de resolver o problema em questão.
Sobre a capacidade de combater premissas, o autor destaca que muitas vezes elas aju-
dam a economizar tempo e energia, porque o cérebro se baseia em conceitos preestabe-
lecidos para tomar decisões. No entanto, muitas vezes essas lógicas são limitantes e, no
contexto da inovação, impedem o desenvolvimento de novas maneiras de pensar e agir.
Neste tópico, a sugestão é desafiar de maneira sistemática as premissas pessoais, profis-
sionais e do setor em que está inserido, perguntando-se sempre sobre maneiras diferen-
tes de resolver um desafio.
A terceira habilidade trata do foco no cliente final, que não pode ser perdido ao longo do
processo de inovação. Neste caso, o exercício é procurar entender profundamente o
negócio em que a organização atua para identificar como ajudar o cliente final, seja ele
interno ou externo.
CAPITAL DE INOVAÇÃO
Na mesma linha, Javier González Sabater elencou uma série de atributos desejáveis nos
líderes para a inovação: autoridade executiva e operativa em diferentes níveis hierárqui-
cos; materialização da estratégia na prática, sendo o elo entre a direção e os empregados;
ser capaz de assegurar o bom funcionamento de equipe e recursos, exercendo o papel de
facilitador; atributos pessoais, como credibilidade, compromisso e capacidade de motivar
para chegar aos máximos resultados.
inovação NO COOPERATIVISMO 78
Os professores Jeff Dyer, da Universidade Brigham Young, e Nathan Furr, do Instituto Eu-
ropeu de Administração de Empresas, identificaram que a capacidade de um líder condu-
zir com sucesso a inovação está ligada a atributos que dão a um dirigente a competência
de organizar e utilizar os recursos humanos e financeiros disponíveis para assumir uma
ideia de risco e transformá-la em uma mudança de impacto. De acordo com os autores,
essa capacidade está vinculada à habilidade de conduzir a inovação, a conexões con-
sistentes com outros líderes e à construção de uma trajetória de grandes e importantes
feitos, que, juntos, compõem seu “capital de inovação”.
Para finalizar, vale destacar novamente que a inovação depende do apoio do líder, por seu
papel de unir e motivar o time em torno de metas. Como o processo pode envolver prazos
longos, projetos algumas vezes complexos, detalhes técnicos e orçamentos significati-
vos, a condução da liderança com engajamento e planejamento estratégico será deter-
minante para garantir a execução das ideias, superar obstáculos, promover conexões e,
como resultado, fortalecer a cultura de inovação.
79 inovação NO COOPERATIVISMO
CONSTRUINDO
UMA CULTURA DE INOVAÇÃO
Grandes empresas inovadoras, como o Google, a Amazon e a Netflix, têm em comum ini-
ciativas de motivação para gerar novas ideias, ambientes que favorecem a criatividade e o
envolvimento de todos os colaboradores em busca de resultados transformadores. Esses
elementos são parte do que chamamos de cultura de inovação, que pode — e deve — ser
estabelecida na empresa ou cooperativa que deseja inovar de forma sistemática.
A criação de uma cultura inovadora é um fator decisivo para configurar uma cooperativa
com bons resultados nesse caminho, com capacidade de gerar produtos, serviços e solu-
ções inovadoras de maneira continuada, ou seja, a cultura de inovação é como uma visão
de mundo aplicada a uma organização — o que também vale para uma cooperativa.
A incorporação desse conceito envolve uma série de fatores, como a atitude da alta dire-
ção em relação à inovação, a estrutura organizacional, o capital humano disponível e, prin-
cipalmente, a maneira como se dá a gestão do processo inovador.
Separamos aqui cases de algumas cooperativas que estão fomentando a cultura de inovação:
Unimed BH:
Mais 360º:
Criação de cultura
O programa de
de inovação SAIBA SAIBA
inovação do Sicoob
cooperativa MAIS! MAIS!
EQUILÍBRIO ENTRE
RESULTADOS E APRENDIZADOS
Dentro da perspectiva da estratégia adaptativa, proposta por Sandro Magaldi e José Sa-
libi Neto para que a inovação possa ser um fluxo contínuo e frequente em uma empresa —
o que também vale para cooperativas —, os autores conceberam um novo modelo de
cultura organizacional em que o cliente é o foco, envolvido pelos conceitos de cultura de
resultados e cultura do aprendizado, e todos estão sob o farol do propósito da instituição,
que joga luz sobre todos os processos.
Ó
PROP SITO
C
DO
UL
A
IZ
TU
DE APREND
RA DE RESULT
CLIENTE
A
UR
AD
T
O
L
CU
Esse equilíbrio é necessário para que aspectos da cultura de resultados, como a busca
por retorno no curto prazo e o atingimento de metas, não se tornem conceitos rígidos que
levem à rejeição de novas ideias, o oposto do que requer a inovação. A cultura de aprendi-
zado exerce o papel de valorizar a flexibilidade e interação com o meio na busca de refe-
rências e novas perspectivas.
A nova cultura organizacional proposta por Magaldi e Salibi considera que, se de um lado a
cultura de resultados orienta a organização para a disciplina e a geração de performance
que tende a concentrar esforços no curto prazo; do outro lado, a cultura de aprendizado
tensiona o processo para o futuro, preparando as bases para a instituição inovar e cons-
truir novas proposições para o negócio.
PROCESSO SUSTENTÁVEL
E CONTÍNUO
Para criar uma cultura inovadora, é imprescindível contar ou desenvolver pessoas proati-
vas, abertas ao novo, flexíveis para adaptar-se às mudanças contínuas, e com caracterís-
ticas pessoais ligadas a perseverança e persistência.
É importante destacar que a cultura de inovação não se instaura de uma hora para a outra
nas organizações. É preciso investir tempo, esforços e recursos para criar esse contexto
inovação NO COOPERATIVISMO 82
propício para as novas ideias. Luiz Serafim, autor do livro “O Poder da Inovação — Como
alavancar a inovação na sua empresa”, considera que essa implementação pode começar
com uma estratégia simples, explicando para os colaboradores o que é inovação antes de
começar de fato a formar times ou avaliar projetos.
Sempre com foco na inovação como um conceito de criação de valor, é preciso identificar
as demandas dos clientes finais e da cooperativa, e as oportunidades dentro das diversas
áreas de trabalho. O passo seguinte rumo a uma cultura de inovação é garantir que o alto-
comando da organização esteja engajado na tarefa.
A cultura de inovação também requer visão de longo prazo. Inovação é aplicação de conheci-
mento, de estudo, não é esperar que ideias geniais surjam do nada. Os gestores precisam de-
senhar uma espécie de mapa do futuro para planejar esforços mais longos, entre eles, os liga-
dos à assimilação de novas tecnologias e à mudança de comportamento dos colaboradores.
Uma das formas de implantar a cultura inovadora em uma cooperativa é criar um progra-
ma de inovação. Essa ferramenta permite que a organização desenvolva e estruture os
processos de trabalho e, em geral, funciona de maneira simultânea, mas independente da
operação normal, evitando interferências no negócio.
Além disso, esse tipo de iniciativa valoriza o potencial de evolução com os eventuais er-
ros, porque o aprendizado é compartilhado e a falha em um projeto pode ajudar a identifi-
car necessidades de ajustes em outros.
83 inovação NO COOPERATIVISMO
Os programas de inovação podem ser criados para preparar a organização para a adesão
a uma nova tecnologia, para melhorar processos internos, para aumentar resultados de
marketing e vendas, entre outras possibilidades. Há diferentes configurações desse tipo
de programa, mas há alguns pilares que são fundamentais para que tenham êxito: o papel
dos líderes; a gestão da inovação; o compartilhamento das ideias (oposto da noção de
propriedade), e o fluxo da inovação dentro da entidade.
Como se trata de uma filosofia permanente e que envolve todas as áreas de uma organiza-
ção, uma vez estabelecida a cultura de inovação, o processo se renova e se retroalimenta,
ou seja, um ambiente inovador favorece a inovação, num ciclo virtuoso e de ganhos asso-
ciados à geração de valor a partir de novas ideias.
Algumas atitudes podem ajudar a consolidar esse processo e a manter o terreno fértil e prepa-
rado para a inovação. É preciso garantir a abertura às novas ideias, com a criação de espaços e
momentos para que os colaboradores possam se sentir livres e motivados a contribuir.
Em outra frente, deve-se abrir espaço para a tecnologia, buscando entre as diversas fer-
ramentas existentes as que mais se adequem aos objetivos de inovação da cooperativa.
Nessa mesma direção, é preciso estar atento às tendências, com olhar sobre o mercado,
seja o de empresas afins ou de outro setor.
Para começar essa transformação, sugerimos dois cursos gratuitos que você pode
fazer no InovaCoop:
Resolução de
Gestão da
Problemas
SAIBA Mudança SAIBA
Complexos
MAIS! MAIS!
Acima de tudo, inovar e seguir inovando de maneira contínua exige coragem. Mesmo que
os processos nem sempre deem os resultados esperados na primeira tentativa, os erros
também farão parte da aprendizagem. Como já foi dito, é melhor cometer erros “pequenos
e baratos” e tirar deles lições para corrigir rumos e melhorar a rota.
inovação NO COOPERATIVISMO 84
MONTANDO
TIMES INOVADORES
Como vimos até agora, inovar é um processo feito por pessoas, é essencialmente colabo-
rativo. O conhecido ditado de que a união faz a força aqui pode ser adaptado para a união
faz a inovação. Nessa matemática, é preciso levar em conta que as pessoas têm habili-
dades e competências distintas, e que a soma dessas características leva a times mais
capazes de inovar.
Logo, o primeiro passo para desenvolver equipes inovadoras é pensar um ambiente favo-
rável ao desenvolvimento das transformações que serão pensadas, avaliadas e executa-
das por esses grupos. Estudos sobre práticas de gestão de recursos humanos sugerem
que quando há altos níveis de identificação e comprometimento dos empregados com
suas equipes de trabalho: eles tendem a ser mais dispostos a compartilhar conhecimento,
o que tem efeitos positivos na aprendizagem e no desempenho.
Além dos postos de trabalho, a composição dos grupos deve levar em conta habilidades e
competências, personalidade, formação, nível de experiência, cultura, idade, gênero, cor,
entre outras possibilidades.
Com base em dados de 366 organizações de vários países, a pesquisa Diversity Matters
(A diversidade é importante) concluiu que as empresas no quartil superior (entre os 25%
mais altos) em diversidade racial e étnica são 35% mais propensas a obter retornos finan-
ceiros acima da média nacional de seu setor. Em relação à diversidade de gênero, as em-
presas no quartil superior nesse quesito têm 15% mais chances de obter retornos financei-
ros acima da média nacional de seu setor que as demais. Nos Estados Unidos, por exemplo,
essa relação é direta: para cada 10% de aumento na diversidade racial e étnica dos executi-
vos seniores, o lucro antes dos juros e impostos aumenta 0,8%.
Além da diversidade de gênero, raça e etnia — que foram objetos do estudo —, a pesquisa
sugere que outros tipos de diversidade, como idade, orientação sexual, mentalidade glo-
bal e vivência de outras culturas, também podem ter impactos na vantagem competitiva
das organizações.
É comum, por exemplo, que algumas pessoas sejam muito criativas, mas não tenham mui-
ta desenvoltura na execução dos projetos. Do outro lado, há as que se destacam na hora
de concretizar as propostas, mas não costumam contribuir na criação.
Os refinadores, segundo o autor, podem não ter muita habilidade em partir do zero, mas
são ótimos em melhorar as ideias, perceber falhas, identificar riscos, ou seja, lapidar
as propostas.
Os experimentadores são descritos como prototipadores, com muita habilidade para co-
locar em funcionamento e testar as ideias em fases como projetos-piloto, com flexibilida-
de para incorporar mudanças a partir do aprendizado com a experimentação.
NOVAS CONFIGURAÇÕES
DE TIMES
Nesse modelo, uma tendência são os squads (esquadrão, em inglês), um modelo organi-
zacional de divisão dos colaboradores em pequenas equipes multidisciplinares com foco
em um projeto em comum, para cumprir uma missão ou atingir um objetivo específico.
O formato de squads é muito comum em startups, que em geral já têm equipes pequenas
e que trabalham em busca de resultados ágeis. Essa configuração de times também está
presente em grandes companhias inovadoras, como Spotify e Nubank. No cooperativis-
mo, o modelo é usado pela Confederação das Cooperativas do Sicredi em algumas de
suas iniciativas de inovação.
A GENIALIDADE
COLETIVA
A partir dessa observação, a autora criou uma ferramenta prática para orientar o trabalho de ti-
mes de inovação. Batizada de Collective Genius (Genialidade Coletiva), a estratégia é baseada
em seu livro de mesmo nome e busca responder à questão “Como criar o contexto para que a
inovação aconteça?”.
Após a leitura, cada integrante deve responder individualmente a perguntas sobre os tópicos,
com a ajuda do líder, que agrupará as respostas por afinidade. Essas respostas serão nova-
mente repassadas ao grupo completo. Na sequência, o mesmo roteiro de discussão, respostas
e compartilhamento deve ser seguido com os temas ligados às habilidades de inovação pro-
postas pelo modelo: agilidade, abrasividade e resolução criativas. Ao final, o grupo terá acor-
dos gerais sobre cada tópico.
Com a fase de questionários finalizada, o próximo passo da ferramenta é assegurar que os acor-
dos sejam cumpridos e as definições, relembradas constantemente para o bom desenvolvimen-
to do trabalho. Esse monitoramento deve ser feito a partir de uma síntese enviada a todo o time,
por colaboradores designados como embaixadores, que serão responsáveis por garantir que as
regras de engajamento sejam cumpridas e as habilidades de inovação, desenvolvidas.
COMPETÊNCIAS
PARA INOVAR
Todas as cooperativas podem inovar. Algumas habilidades são necessárias nesse proces-
so e conhecê-las, aplicá-las e gerenciá-las da forma correta pode garantir os resultados
esperados de forma mais eficiente.
Para construir uma casa, você contrata um engenheiro, porque sabe que as atribuições
desse profissional são adequadas ao projeto. Para executar a obra, serão contratados pe-
dreiros capacitados para essa função. Para planejar os espaços e decorar os ambientes,
será a vez do arquiteto, que está preparado e habilitado para essa etapa, e assim sucessi-
vamente, até tudo estar pronto para os novos moradores.
Em um estudo que se tornou referência no assunto e deu origem ao livro O DNA do Ino-
vador, os professores Clayton Christensen, Jeff Dyer e Hal Gregersen concluíram que
profissionais inovadores possuem um conjunto específico de competências. Apesar de
nem todos terem naturalmente essas características, segundo os autores, é possível de-
senvolvê-las para pensar de forma inovadora.
Após mais de oito anos de pesquisas e de entrevistar líderes de gigantes inovadoras como
Apple, Amazon, Google e Skype, Christensen e seus colegas traçaram o que consideram
as cinco competências que diferenciam os profissionais inovadores dos demais: observar,
associar, questionar, experimentar e trabalhar em rede.
Ainda segundo os autores, todas essas habilidades podem ser desenvolvidas, e a prática
constante aumenta a capacidade de gerar ideias e executá-las.
inovação NO COOPERATIVISMO 90
Em outra perspectiva, com base na teoria proposta por Nonaka e Takeuchi (1995) — um
reconhecido modelo de criação de conhecimento organizacional — diversos estudos
sobre inovação classificam as competências em três grupos: técnicas, organizacionais
e relacionais.
Fonte: A Operacionalização do Design Thinking: proposição de uma abordagem apoiada nas competências para inovar. KLOECKNER,
Ana Paula (2018)
inovação NO COOPERATIVISMO 92
Em uma abordagem mais prática e com base na observação durante o apoio a instituições
para construir seus projetos de inovação, Maximiliano Selistre também lista uma série de
atributos essenciais às organizações que querem começar a inovar. A base, segundo ele,
é compreender o processo para além da fase criativa, de ideias; e entender que as habili-
dades necessárias nas etapas de teste, avaliação e monetização também são fundamen-
tais para caracterizar uma atividade inovadora.
Sob esse ponto de vista, foram listadas sete competências consideradas essenciais para
o processo de inovação: identificação de oportunidades; motivação para a mudança;
comportamento com relação a desafios; adaptação durante os projetos; tolerância às in-
certezas; foco em resultados, e gestão de projetos.
De acordo com o autor, se uma só pessoa tivesse todas as competências da lista, seria
um super-homem. Na vida real, a inovação não é um processo individual, pois também
depende das dimensões social e organizacional. Neste contexto, as competências para
a etapa de criação são diferentes das necessárias para o desenvolvimento e a execução
das ideias, o que reforça a necessidade de times diversos e heterogêneos no desenvolvi-
mento dos projetos.
APRENDIZADO CONTÍNUO
PARA INOVAR
O conceito de formação continuada também pressupõe que nunca é tarde para começar
a aprender algo novo e que a jornada do desenvolvimento é constante e diversa, de acor-
do com as complexidades que surgem com as demandas do mercado ou do dia a dia dos
profissionais, isto é, o conhecimento para inovar pode ser sim construído e adquirido, in-
dependentemente da formação principal dos envolvidos. A abertura ao novo e a busca por
esse aprendizado devem fazer parte da cultura de inovação da cooperativa e serem vistas
como uma vantagem competitiva de seus colaboradores.
93 inovação NO COOPERATIVISMO
Para começar essa transformação, que tal fazer dois cursos gratuitos disponíveis no site
do InovaCoop?
Transformação Neurociência
digital SAIBA do consumo SAIBA
MAIS! MAIS!
inovação NO COOPERATIVISMO 94
ALIE-SE
A QUEM INOVA
Entre as possibilidades de dar o primeiro passo para inovar também está a conexão com
as chamadas startups, as novíssimas empresas de base tecnológica com potencial para
escalar seus negócios em curto prazo. Esse tipo de relacionamento é, inclusive, um dos
pilares do conceito de inovação aberta (veja os capítulos 1 e 7), que envolve atores de fora
da organização.
Para as cooperativas, esse modelo tem a vantagem de ajudar a acelerar algumas etapas
para inovar, uma vez que as startups e suas estruturas flexíveis já nascem com algumas
características fundamentais nesse caminho. Entre esses atributos, estão o uso sistemá-
tico de novas tecnologias e a receptividade a novidades nessa área, ambientes criativos,
times diversos e capazes de ousar, errar e corrigir falhas com rapidez etc.
No caso das cooperativas, ao associar-se a uma dessas empresas para inovar, entre
outros benefícios, as coops podem aumentar a eficiência de projetos, acelerar sua
expansão no mercado, reduzir custos e riscos e estimular a geração de ideias em sua
equipe interna.
No programa do Sistema Sicredi, criado em 2018, o objetivo também era buscar junto a
startups soluções para desafios tecnológicos pontuais das cooperativas, como criação de
marketplace, coleta e segurança de dados, processos internos de controle, entre outros.
Realizado anualmente, a partir de novos desafios, o Inovar Juntos já atraiu cerca de 390
startups e resultou em inovações como o Sicredi Conecta, plataforma criada com apoio da
startup Hallo.
95 inovação NO COOPERATIVISMO
Em outra experiência de sucesso na relação entre coops e startups, a Unimed VTPR, que
atua em 59 municípios do Rio Grande do Sul, criou, em 2019, o InnovatiON, um programa
de conexão que levou à contratação de cinco startups como fornecedoras de produtos ou
serviços para as cooperativas do grupo.
Por causa dos bons resultados nessa iniciativa — entre eles, a implementação de uma pla-
taforma de telemedicina —, a Unimed VTRP decidiu se conectar também com startups em
fases iniciais de desenvolvimento, e criou o Vibee, um programa para identificar oportuni-
dades na área da saúde com foco no relacionamento com novas startups. O projeto, que
conta com um espaço físico cedido pela Unimed, conecta fundadores de startups com
profissionais e empresas da saúde, universidades da região, mentores e potenciais inves-
tidores. As startups passam por mentorias e capacitação que visam acelerar sua entrada
no mercado. Na primeira edição, o Vibee recebeu 123 inscrições e selecionou 12 startups,
com representantes de todas as regiões do país.
A cooperação com startups pode ser feita de forma direta ou mediada por outros agentes,
como o próprio Sistema OCB, que tem um programa de conexão em que as coops inscre-
vem seus desafios; os mais abrangentes e que podem servir para outras entidades do
ramo são selecionados, e as startups são convidadas a oferecer soluções
Outro caminho para começar a inovar está no sexto princípio do cooperativismo: a inter-
cooperação, que estabelece que a cooperação entre as coops fortalece o movimento
como um todo. A partir da análise do mercado de atuação, da possibilidade de crescimen-
to e de oportunidades conjuntas, cooperativas de um mesmo ramo ou de setores distintos
podem se unir para implementar ideias inovadoras.
A ideia da união surgiu quando a Frísia se preparava para expandir suas operações para
a mesma região em que já atuavam a Castrolanda e a Capal. Para evitar interferências e
prejuízos mútuos no mercado de leite, onde as três seriam concorrentes, as diretorias das
coops se reuniram para avaliar o cenário. Ao contrário de soluções clássicas de mercado,
como a compra de uma organização pela concorrente maior, as três optaram pela parceria
e criaram a Unium.
A inovação pela união deu às três cooperativas uma estrutura robusta, que representa 5
mil famílias cooperadas, destaque no mercado nacional e um faturamento anual de mais
de R$ 7 bilhões. Os ganhos vieram não apenas da soma de lucros, mas também da redu-
ção de custos que tinham na atuação independente e da possibilidade de realizar inves-
timentos que sozinhas não podiam levar a cabo. Com produtos que chegam atualmente a
25 países, o faturamento da Unium tem registrado crescimento de cerca de 20% ao ano.
Seja qual for a estratégia adotada para dar o pontapé inicial, é preciso encarar a inovação
como um processo contínuo e sustentável. Mais que tarefas imediatas, inovar demanda
pensar no longo prazo, investir tempo e recursos de qualidade e promover a transforma-
ção de ambientes e comportamentos, em um projeto que deve ser compartilhado por to-
das as áreas da organização e etapas do processo produtivo.
97 inovação NO COOPERATIVISMO
Para conhecer mais dos cases que citamos aqui e de outros onde são feitas parcerias com
agentes externos para inovar:
INVESTIMENTO
EM INOVAÇÃO
A inovação precisa estar nos planos e no orçamento das cooperativas. Sem investimento, as
boas ideias não saem do papel. De acordo com pesquisa do Sistema OCB, 71% das coopera-
tivas brasileiras ainda não têm orçamento especificamente dedicado à inovação. Decidir de
onde virão os recursos e como serão alocados é fundamental para começar a inovar.
Há uma falsa premissa de que inovar é caro e apenas instituições muito grandes podem
arcar com essas iniciativas. Na verdade, cooperativas de todos os tamanhos e capitais
podem inovar, dentro de suas realidades financeiras. A inovação não deve ser encarada
como custo ou despesa, mas com uma estratégia, um investimento para manter e ampliar
a existência da cooperativa e sua atuação no mercado.
inovação NO COOPERATIVISMO 98
Em linhas gerais, os recursos para inovar podem vir de receitas próprias ou externas, por meio
de apoio financeiro direto (investimentos, financiamentos, linhas de crédito específicas para
inovação, capital de risco etc.) e indireto (como leis de incentivo, isenções fiscais).
Neste ponto, é fundamental que os líderes da coop estejam engajados no processo. Segundo
77% dos entrevistados ouvidos na pesquisa Inovação no Cooperativismo Brasileiro, as deci-
sões estratégicas para inovação dentro das cooperativas são tomadas pela presidência ou
diretoria da entidade.
A intercooperação é uma das maneiras de viabilizar recursos para inovação e pode criar con-
dições para desenvolver projetos com ganhos para todas as coops envolvidas na iniciativa. Em
geral, os principais atores nessa modalidade são as cooperativas de crédito, como o Sicredi e o
Sicoob, que podem atuar diretamente na concessão de recursos ou como agentes de captação
de fontes externas para direcionar o dinheiro para as coops que executarão os projetos.
Também nessa perspectiva de ajuda mútua, os benefícios da intercooperação podem ser dar por
meio de apoio operacional e de recursos humanos, como em casos em que novas cooperativas
ou plataformas surgem a partir da união de entidades consolidadas, que colaboram com a cessão
de pessoal, recursos técnicos e de espaço físico para a implementação dos novos projetos.
APOIO EXTERNO
Para recorrer a apoio externo, é preciso conhecer o cenário de financiamento da inovação no Bra-
sil. Os recursos destinados para pesquisa e desenvolvimento no país correspondem a cerca de
1,2% do Produto Interno Bruto (PIB), abaixo da média de 2% dos países que compõem a Organiza-
ção para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Países com tradição inovadora,
como Japão e Israel, investem 4,3% e 4,2% de seus PIBs nesse setor, respectivamente.
Essas instituições, principalmente as de atuação nacional, têm uma ampla carteira de pro-
jetos ligados à inovação, com taxas e condições mais favoráveis que o crédito para outros
fins. O dinheiro dessas fontes pode ser usado, entre outras possibilidades, para pesquisa,
compra de máquinas, investimentos em tecnologia, contratação de consultoria especiali-
zada, obras e capacitação.
Nesse tipo de aporte, os recursos podem ser reembolsáveis, ou seja, precisam ser devolvi-
dos, como em um empréstimo convencional, mesmo que obtido com condições vantajosas,
como juros baixos e prazo longo de amortização; ou não reembolsáveis, em que o dinheiro
não precisa ser devolvido, mas é disponibilizado por meio de editais que definem uma série
de regras sobre condições para recebimento, investimento e prestação de contas.
O BNDES tem uma política consistente de apoio a projetos inovadores e oferece linhas
específicas, das quais as cooperativas podem se beneficiar, entre elas a BNDES Finem —
Crédito Inovação Direto e o Prodecoop, que financia a modernização de sistemas produ-
tivos e de comercialização do complexo agroindustrial das cooperativas brasileiras. Cada
produto do banco tem critérios e condições próprios, mas, de maneira geral, para pedir um
financiamento à instituição, é preciso cumprir alguns requisitos mínimos, como: estar em
dia com as obrigações fiscais, tributárias e sociais; ter capacidade de pagamento; dispor
de garantias suficientes para a cobertura do risco da operação, e não estar em regime de
recuperação de crédito. O financiamento pode ser requerido diretamente ao BNDES ou
por meio de outros agentes financeiros, dependendo do porte da cooperativa e do mon-
tante de recursos.
A Finep tem um perfil de apoio mais ligado a melhorias tecnológicas. Em geral, sua car-
teira de crédito se destina a etapas como desenvolvimento e pesquisa. A financiadora
estatal tem uma linha de crédito específica para impulsionar a inovação em cooperati-
vas, associações e fundações.
Chamada de Apoio direto à Inovação para Instituições sem fins lucrativos, em seu lança-
mento, a linha disponibilizou R$ 170 milhões e condições de taxa e garantias exclusivas
para esse público-alvo. Segundo a Finep, a intenção é auxiliar instituições que muitas ve-
zes estão no ápice de sua capacidade inovadora, mas não têm recursos para levar os pro-
jetos adiante. Para acessar os recursos da Finep, é preciso ter um cadastro e apresentar
formalmente as propostas, o que deve ser feito no site da instituição (www.finep.gov.br).
Esse trabalho de prospecção das consultorias também pode ser útil na busca por apoio fi-
nanceiro indireto para a inovação, com o enquadramento de projetos de cooperativas em
leis de incentivo e isenções fiscais.
inovação NO COOPERATIVISMO 100
Nessa modalidade, enquadram-se mecanismos como a Lei do Bem, que concede incen-
tivos fiscais para a realização de pesquisa e desenvolvimento de inovação tecnológica; a
Rota 2030, ligada ao fomento do setor automotivo; e a Lei da Informática, que estimula a
inovação no setor de bens de informática, automação e telecomunicações. De maneira
geral, esses instrumentos visam facilitar o aporte de capital em inovação por meio de
renúncias fiscais e isenção de tributos ligados ao desenvolvimento de atividades conside-
radas estratégicas por cada um deles. É preciso atender às condições previstas em cada
lei para acessar esses benefícios, e a cooperativa deve estar preparada para apresentar
prestação de contas detalhada aos órgãos responsáveis pela fiscalização da aplicação
dos recursos e à Receita Federal.
NOVAS POSSIBILIDADES
Uma nova modalidade de financiamento para inovação que deve entrar no radar das coo-
perativas é o venture capital. Também conhecida como capital de risco, essa modalidade
consiste na aplicação de recursos em empresas com expectativas de crescimento rápido
e rentabilidade alta, e geralmente envolve participação acionária. Por essas caracterís-
ticas, o principal destino desses investimentos costumam ser as startups, empresas ini-
ciantes ligadas à tecnologia. Em 2020, as startups brasileiras captaram US$ 3,5 bilhões de
venture capital, num crescimento de 17% em relação a 2019.
A legislação brasileira ainda não permite que o capital das cooperativas seja acessado por
terceiros. No entanto, é preciso estar atento a mudanças regulatórias que podem viabili-
zar as conexões com novos investidores. Por exemplo, em 2021, a Lei Complementar 182,
que institui o Marco Legal das Startups e do Empreendedorismo Inovador, incluiu as coo-
perativas entre as organizações elegíveis para serem enquadradas como startups, o que
pode abrir portas para alternativas de financiamento não tradicionais.
Segundo ela, as coops atendem a várias das características que os investidores de ven-
ture capital buscam em uma instituição quando selecionam potenciais aportes: geren-
ciamento eficaz, desempenho e capacidade de criação de valor. No entanto, algumas
particularidades do modelo de negócio cooperativista ainda são vistas como entraves
para esses investidores, principalmente a estrutura de tomada de decisão, que, em geral,
requer mais tempo que em uma empresa tradicional.
Na prática, algumas coops mundo afora já estão recebendo financiamento por meio de
fundos de venture capital. Um exemplo é a Savvy Cooperative, dos Estados Unidos, que
atua no setor de saúde. Em abril de 2020, a entidade se tornou a primeira cooperativa de
plataforma a receber investimento de capital de risco, numa operação de valor não revela-
do, mas que foi utilizado para expandir a atuação da entidade.
101 inovação NO COOPERATIVISMO
INCUBADORAS PARA
PEQUENAS COOPERATIVAS
PLANO
DE AÇÃO
“Quando não se sabe para onde ir, qualquer caminho serve.” A famosa frase do livro Ali-
ce no País de Maravilhas, de Lewis Carroll, publicado em 1865, é mais atual do que nunca
para descrever a necessidade de planejamento quando se quer implantar ações em uma
instituição, no nosso caso, a inovação em uma cooperativa.
inovação NO COOPERATIVISMO 102
Como em outros processos, para inovar, é preciso saber onde se quer chegar, definir os
objetivos, conhecê-los bem e estruturar o caminho e as medidas necessárias para alcan-
çá-los. Uma boa ferramenta para essa tarefa é um plano de ação.
O plano de ação deve ter alguns componentes básicos: objetivo claro e definido; lista de
ações e atividades a serem executadas e designação dos responsáveis por elas; data de
começo e fim, e orçamento. O roteiro precisa ser bem divulgado e deve ser acessível a
todos que fazem parte da organização. Em geral, o plano é elaborado no formato de plani-
lhas, para que todos os itens sejam facilmente visualizados. Esse esquema pode ser feito
no papel ou em um quadro na parede, mas há diversos modelos de planilhas eletrônicas
disponíveis para facilitar o preenchimento e acompanhamento da execução das tarefas.
PASSOS E FERRAMENTAS
O primeiro passo para um plano de ação para inovar é começar do começo: definir o obje-
tivo. A meta tem que ser clara, factível e precisa estar alinhada com a visão da organização
e com as orientações de seu planejamento estratégico. Nessa etapa, ferramentas de
diagnóstico como o modelo 5W2H, que vimos no começo de capítulo, e o Business Model
Canvas (ver Capítulo 4) podem ser aplicadas para essa definição.
A fase seguinte é listar as tarefas do plano, das mais amplas às mais específicas. Cada uma
deve ser acompanhada pelos responsáveis por sua execução e pelos prazos de cumpri-
mento. Uma tarefa complexa pode ter subcategorias, que também serão enumeradas e
designadas aos responsáveis por realizá-las.
A evolução geral do plano de ação deve ser monitorada constantemente e pode haver
avaliações mais criteriosas definidas no cronograma, com a previsão de envio de relató-
rios, por exemplo. O objetivo é não deixar que o processo se dissolva, e tarefas e prazos
deixem de ser cumpridos.
Se o plano de ação não estiver sendo implementado como deveria, ou se for deixado de
lado por algum motivo, é preciso rever o roteiro e fazer as adaptações necessárias para
retomar o rumo das tarefas e chegar ao objetivo definido no começo.
Quando o processo ocorre conforme o esperado — com a execução correta das tarefas,
dentro do prazo combinado, respeitando orçamento e sob supervisão adequada —, o re-
103 inovação NO COOPERATIVISMO
É importante destacar que o plano de ação não deve ser visto como um entrave burocrá-
tico para a inovação. As etapas e os processos envolvidos nesse instrumento podem ser
executados de forma fluida, e o plano deve ser permeável a transformações e mudanças
de rumo ao longo do projeto, sem que o roteiro engesse o desenvolvimento dinâmico da
inovação. Essa flexibilidade pode ser garantida por meio de metodologias ágeis de traba-
lho, como Kanban, Design Sprint, Scrum, entre outras, como veremos no Capítulo 4.
PLANEJAMENTO DA INOVAÇÃO
Todo plano de ação precisa ter metas e objetivos, orçamento disponível e fon-
tes de financiamento, áreas e tecnologias prioritárias e indicadores e métricas
que permitirão mensurar os resultados da inovação. Outro passo importante
é identificar demandas e oportunidades para o produto ou serviço em que se
deseja investir. Segundo o Manual de Boas Práticas para Conexão com Startups
e Indústria, produzido pela ABDI e a Softex, uma das formas para isso é a partici-
pação em eventos e em outras atividades ligadas ao ecossistema da inovação. A
publicação também recomenda as seguintes práticas no processo de definição
das estratégias para a inovação:
D
efinir processos de negócio, tendo a inovação como forma para alcançar re-
sultados mais eficientes, contribuindo para uma cultura mais empreendedora
dentro da empresa;
I ncluir nas diretrizes estratégicas uma definição clara dos objetivos e metas
a serem atingidas pela inovação desde o início do planejamento estratégico
da empresa.
O
s objetivos e as metas a serem alcançados devem estar focados em áreas-
chave da indústria e ter ênfase na obtenção de resultados, na busca de au-
mento das margens e na consecução de metas específicas;
D
efinir volume de investimentos e orçamento, conforme objetivos desejados e
metas a serem alcançadas.
inovação NO COOPERATIVISMO 104
ENCONTRE
MATÉRIA-PRIMA
Apesar de não estar necessariamente atrelado a novidades, inovar tem, sim, ligação direta
com a geração de ideias. Segundo o professor e consultor espanhol Javier González Sa-
bater, as ideias são a matéria-prima para conseguir inovações, resolver problemas e tomar
decisões acertadas, e podem vir de fontes internas e externas.
As fontes de ideias externas para inovar se referem a clientes, concorrentes, sócios, star-
tups, centros de conhecimento (como universidades e instituições de pesquisa), além do
entorno econômico e social em que a cooperativa está inserida; as fontes internas são os
colaboradores e as oportunidades criadas para esse fim, como o estímulo à criatividade
previsto nos planos estratégicos e nas indicações gerenciais.
Ainda segundo Sabater, uma pesquisa feita pela multinacional IBM com centenas de di-
rigentes de empresas de várias partes do mundo revelou que as principais fontes para
desenvolver inovações eram os próprios empregados, as organizações parceiras e os
clientes, seguidos de longe por respostas que apontavam a concorrência, consultorias,
universidades e centros de pesquisa. Esse resultado mostra a importância de estimular a
geração de ideias internamente nas cooperativas.
Em outra abordagem sobre a busca de ideias para começar a inovar, o professor titular
da Escola Politécnica da USP, Mario Sérgio Salerno, ressalta um aspecto relevante: em
geral, a discussão de modelo de inovação é baseada em instituições que já inovam, mas
não há debate sobre quem parte do zero. Para esses casos, a estratégia pode vir de um
método muito utilizado historicamente, o de partir de um produto ou processo existente
como referência. Grandes corporações inovadoras começaram utilizando esse recurso.
No setor automobilístico, por exemplo, em que as empresas norte-americanas copiaram
as britânicas no século XIX; depois, as japonesas copiaram as norte-americanas nos
anos 1950; em seguida, as coreanas passaram a copiar as norte-americanas e as japo-
nesas na década de 1980, e, a partir dos anos 1990, os chineses copiaram todo mundo
(SALERNO, 2014).
Essa lógica também pode ser aplicada à inovação nas cooperativas: uma nova ideia que
responda a um desafio pode surgir da observação de como organizações ou coops do
mesmo ramo atuam diante do mesmo problema. Uma solução utilizada por uma coope-
rativa pode servir de inspiração e base para a inovação em outra, e pode, inclusive, dar
origem a uma iniciativa de intercooperação, com ajuda mútua e compartilhamento de
resultados. Na seção “Radar da Inovação”, da plataforma InovaCoop, é possível conhecer
detalhes de projetos de inovação de sucesso em cooperativas de diversos ramos espa-
lhadas por todo o país e que podem servir de inspiração para novas ideias.
Os programas de ideias são bons exemplos de como ter matéria-prima é importante para
inovar. Conheça alguns cases:
Lar Cooperativa:
Unimed Maringá
Programa de Ideias
testa programa
SAIBA gera economia de SAIBA
de ideias
MAIS! R$ 34,7 milhões MAIS!
inovação NO COOPERATIVISMO 106
FUNIL
DE INOVAÇÃO
Um dos métodos para essa triagem vem de um objeto que você provavelmente conhece:
um funil. Segundo definição do Dicionário Houaiss, trata-se de “utensílio em forma de
cone terminado por um tubo que é usado para despejar líquidos em recipientes de boca
estreita”. Com essa imagem em mente, troque o líquido por ideias e o recipiente pelo resul-
tado que você deseja alcançar com uma inovação, ou seja, no nosso modelo imaginário,
na parte mais larga do funil entra um caldo de ideias e do outro lado saem pequenas gotas,
com as propostas que, após avaliação, se tornarão efetivamente projetos a implementar.
Por ser de fácil compreensão visual, a figura de um funil se tornou uma ferramenta de ges-
tão da inovação. Como no objeto que dá nome ao esquema, a ideia é ter um mecanismo
em que um grande volume inicial de ideias passe por etapas até chegar a poucas e viáveis.
O modelo clássico de funil para projetos foi elaborado por Clark e Wheelwright (1993) e,
pela simplicidade visual, comunica de maneira fácil que, entre várias possibilidades de de-
senvolvimento no começo de um processo, poucas de fato se tornarão parte do portfólio
de produtos ou serviços de uma empresa ou de uma cooperativa, no nosso caso.
De acordo com os teóricos que propuseram a ideia do funil de inovação, o melhor cenário
tem funis com bocas largas e gargalos estreitos, ou seja, envolvem um processo abran-
gente de ideias para selecionar as poucas que poderão ser viabilizadas.
do processo inovador das empresas. Nesse contexto, o mecanismo incorpora ideias ex-
ternas e as propostas internas também saem do funil para ser aproveitadas pelos outros
atores do processo em outras organizações e cenários.
ETAPAS DO FUNIL
Segundo representação do funil elaborada por Ganguly (1999) a partir do modelo clássico
de Clark e Wheelwright, o mecanismo tem cinco elementos: boca/entrada; três portões/
filtros, e saída/gargalo. No começo do funil, entram as propostas ou ideias a serem avalia-
das, que são filtradas a partir de avaliações ao longo do corpo; e, no final, estão os produ-
tos, serviços ou processos que serão lançados ou implementados.
L
A
N
Ç
O que
Como A
poderíamos/ Podemos Vamos Foi um Recomendamos
faremos
deveríamos fazer? fazer? M sucesso? para outros?
isso?
fazer?
E
N
T
O
LAUNCH ROLL-OUT
CONTRACT (revisão final
Na prateleira (monitoramento
CHARTER (elaboração para decidir pelo
do mercado
do desempenho)
(detalhamento e aprovação lançamento ou
das informações do contrato) interrupção
do projeto) do projeto)
Fonte: https://www.scielo.br/j/ram/a/sCpPRnd5Dt5YhPRd3ThFgRc/abstract/?lang=pt
inovação NO COOPERATIVISMO 108
Em alguns casos, quando há muitas ideias em jogo, pode haver uma pré-seleção das
que passarão pelo funil, dando mais objetividade ao processo e priorizando propostas
já classificadas como mais viáveis a partir de critérios amplos, como prazo de execução
factível e originalidade.
Na primeira etapa do funil, as ideias são refinadas a partir do reconhecimento das necessi-
dades do mercado em que se pretende inserir a inovação e da disponibilidade de recursos
financeiros da empresa. Dessa etapa, as propostas passam pelo primeiro filtro e chegam
à segunda fase, em que as informações sobre os consumidores em potencial e as possibi-
lidades da área comercial são detalhadas, e é feita uma análise da tecnologia disponível e
da viabilidade técnica das ideias. Em seguida, as sugestões passam pelo segundo portão
ou filtro, e chegam à terceira fase: aqui, o plano comercial e o de marketing são prepara-
dos, e as áreas responsáveis avaliam o plano de lançamento.
Ao longo desse processo, as ideias podem ser testadas na forma de protótipos — modelos
iniciais de algum produto ou serviço que possam ser testados e só depois levados para
o mercado. De maneira geral, os protótipos são versões básicas e de custo reduzido que
permitem testar e validar uma ideia e indicar aperfeiçoamentos necessários para o produto
real. Há uma série de ferramentas para executar protótipos, como veremos no Capítulo 4.
A quarta fase ocorre justamente após as ideias passarem pelo chamado filtro do lança-
mento. Nessa etapa, os gestores decidem se dão continuidade ao projeto ou se a ideia
será engavetada. Para as ideias que chegam até aqui, são preparadas as propostas de
operação, com a consolidação dos documentos e processos necessários.
Finalmente, as ideias chegam à quinta fase, em que, após o lançamento, são monitorados
o desempenho do projeto e a resposta dos consumidores e do mercado. Vale destacar:
dentro do ecossistema da inovação, o objetivo é trabalhar pela melhoria contínua de pro-
dutos, processos e serviços. Por isso, mesmo depois de lançadas, essas inovações estão
sujeitas a novas avaliações e ao desenvolvimento de melhorias.
MODELO ADAPTÁVEL
Com essa fórmula em mente, é possível começar bem os processos de seleção das ideias
que irão avançar no caminho da inovação. Mas os modelos não são fechados ou imóveis.
Os próprios teóricos do funil apontam pontos críticos no esquema, entre eles, a definição
das regras de gestão.
Outro item de descolamento entre a teoria e a prática é que, na realidade das cooperativas
e outras organizações, muitas vezes há vários funis em andamento, e não apenas um de
cada vez, o que pode levar à confusão de decisões e ao isolamento de alguns projetos.
Por outro lado, quando a empresa decide por um único funil, corre o risco de concentrar as
decisões sobre as ideias, limitando as possibilidades, o que pode resultar em poucos pro-
dutos de fato implementados.
109 inovação NO COOPERATIVISMO
CAPACITAÇÃO EM INOVAÇÃO
D
iagnóstico: identificação das habilidades dos participantes, por meio de
ferramentas digitais. Esse diagnóstico analisa os perfis dos colaboradores a
partir de competências ligadas a liderança, espírito de urgência, espírito em-
preendedor, empatia e colaboração.
F
ormação dos Agentes na Trilha Comum: os colaboradores aprendem jun-
tos as bases teóricas e conceituais do processo inovador. Segundo Thiago
Martins, esta etapa inclui conteúdos como liderança, inovação aberta, busca
de investimentos para inovação e empreendedorismo sustentável.
F
ormação dos Agentes em Trilhas Específicas de Inovação ou Transfor-
mação: os participantes do programa são divididos em dois grupos e passam
a trilhas do conhecimento específicas. A separação é feita por meio de uma
inovação NO COOPERATIVISMO 110
gamificação (processo que usa técnicas de jogos) que vai indicar se os cola-
boradores têm perfil de agente de transformação ou de agente de inovação.
N
a trilha para os agentes de inovação, os conteúdos abordam competências
técnicas ligadas a criatividade, ideação, necessidade do mercado e visão no
olhar do cliente; no caminho seguido pelos participantes com perfil de agen-
tes de transformação, as disciplinas técnicas abrangem gestão de projetos,
plano de negócios, precificação, storytelling (técnica para criar narrativas en-
volventes), marketing e vendas.
A
plicação e Multiplicação: na última etapa, todos os integrantes da turma
voltam a cursar juntos a mesma trilha, a de aplicação e de multiplicação do
que foi aprendido. Nesta fase, os professores também atuam como mentores
e os participantes são estimulados a colocar em prática o conhecimento acu-
mulado nas trilhas anteriores, utilizando suas competências para transformar
ideias inovadoras em projeto e criar soluções para os desafios lançados.
REFERÊNCIAS
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HILL, Linda. Collective Genius: The art and practice of leading innovation. Harvard Bu-
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ta de Castro; CÂNDIDO, João Carlos; MOURÃO, Claudia de Oliveira. O Impacto de Equi-
pes Multiculturais na Inovação: o caso de uma multinacional situada no Brasil. Niterói:
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SALERNO, Mário Sérgio. O Que é Inovação: Como começar a inovar. Série do Projeto Nú-
cleo de Apoio à Gestão da Inovação/USP. YouTube, 13/10/2015. Disponível em: <https://
www.youtube.com/watch?v=hYc73_ovJ6E>.
SALERNO, Mário Sérgio; SILVA, Débora Oliveira; BAGNO, Raoni Barros. Modelos para ges-
tão da inovação. São Paulo: USP, 2014.
SERAFIM, Luiz. 10 Passos para Desenvolver Cultura de Inovação em seu negócio – Pas-
so a passo prático. Série Sebrae Trends. YouTube. 30/04/2018. Disponível em: https://
www.youtube.com/watch?v=hJurECZpbcA.
artigo
artigo
artigo
artigo
artigo
artigoJacson Fressatto
Melhor do que começar este artigo dando uma definição gramatical ou semântica para o
que seja inovação, eu prefiro contar para vocês porque eu entrei no mercado da inovação
e o que eu aprendi nesse ecossistema. Afinal, minha opinião sobre o assunto é influencia-
da pelo o que eu criei e para o que criei.
Minha história começa pouco antes do nascimento da minha primeira filha. Laura sobre-
viveu a uma gestação de risco. Na 21ª semana em que ela estava na barriga, descobrimos
uma restrição de crescimento. Isso promoveu um cuidado especial para garantir a segu-
rança das duas (mãe e bebê). Laura nasceu prematura, na 29ª semana, com 440 gramas e
medindo 28 centímetros: uma maravilhosa e gigantesca guerreira.
As semanas que antecederam o seu nascimento foram tensas e pareceram ter sido supe-
radas com o seu nascimento, mas uma nova e crítica fase se iniciava. A sua prematuridade
extrema era desafiadora por muitos motivos, uma vez que estava fora do seguro compar-
timento materno e sem condições de ser nutrida de forma natural e sem restrição. Foram
18 dias de severo aprendizado, paciência e esperança.
Ao final, tudo se esgotou. Cansei de aprender, de esperar e a esperança findou. Laura fale-
ceu vítima de sepse (infecção generalizada).
“Pai, lamento, perdemos a Laurinha”, me disse em prantos a Dra. Carol, pediatra que cui-
dou amorosamente de nossa pequena jóia. Eu, sem saber de onde vinha a força, respondi:
“Não Dra., nós a conhecemos e a amamos, nunca vamos perdê-la.”
Escrevo este depoimento para o livro que você tem mãos exatamente 11 anos depois
disso. O Robô Laura, tecnologia que criei e batizei com o nome da minha filha, já ajudou
até este momento, a salvar mais de 50 mil vidas em mais de 60 instituições hospitalares,
incluindo as Unimeds. Ele se tornou uma valiosa ferramenta de suporte à decisão clínica,
usando inteligência artificial para alertar as equipes médicas assistenciais sobre quais pa-
cientes estão em quadro de risco, apresentando piora clínica não observada e não óbvia
à leitura regular e limitada do ser humano. Com isso, aceleramos a tomada de decisão dos
especialistas e, assim, promovemos uma melhor conduta para cada caso, evitando atua-
ção de emergência e carregada de fatores críticos e de risco a vida do paciente internado.
115 inovação NO COOPERATIVISMO
Essa mesma tecnologia que criei, serviu de base para o desenvolvimento de uma plata-
forma de serviço inteligente, nomeada como Laura.care, que usa a inteligência artificial
(aprendizado de máquinas) para ajudar no monitoramento e suporte inteligente dos pa-
cientes fora do ambiente hospitalar. Neste momento, na pior pandemia que a humanidade
já enfrentou, minha criação tem ajudado a desafogar o sistema de saúde do nosso país,
acelerando e promovendo a gestão do cuidado onde está implantada.
Eu podia ter focado na minha dor, na minha perda, no meu luto. Chorar e esperar passar.
Sim, sempre soube que o tempo confortaria meu coração. Mas eu me conscientizei de
uma clara realidade: O que aconteceu comigo e minha filha, era imutável. Ninguém neste
mudo poderia fazer mais nada por mim e por ela. Nada.
Então decidi que eu faria pelos outros, o que não fizeram por mim: mudaria histórias de
perdas para histórias de mais vida. Seja por horas ou por anos. Mais vidas, para melhores
despedidas e cuidados para quem definitivamente partirá.
Decidi ajudar a salvar vidas, usando tecnologia de ponta, acessível e eficiente para toda a
saúde no mundo. Mas criar uma tecnologia inédita e garantir que fosse eficiente, não era o
suficiente. Eu precisava ter certeza de que ela fosse acessível para todos.
Construí o primeiro robô cognitivo com inteligência artificial do mundo, capaz de notificar
para equipes médicas hospitalares, qual o paciente que precisa de mais atenção especia-
lista e com isso promover a melhor prática em tempo de contenção de danos severos, ou
seja, um robô virtual para gestão de risco clínico para pacientes conectados na base do
hospital com a solução implantada.
Para ser eficiente, não bastava criar e vender o projeto. Desenvolvi um modelo de negó-
cio com base em uma ideia: faça algo tão bom e eficiente para a saúde (uma das áreas de
necessidade básica humana) que os demais segmentos secundários vão te chamar para
melhorar os seus serviços e produtos, ou seja, comprarão sua solução, sua ideia.
Funcionou.
Em 2019, fundei o Instituto Laura Fressatto (ILF) de apoio à saúde. Uma organização sem
fins lucrativos, que detém o direito irrestrito e vitalício de utilizar as tecnologias desenvol-
vidas pelas empresas do negócio Laura para levar a mesma à saúde pública de todo o país.
Funcionou.
inovação NO COOPERATIVISMO 116
Eu poderia discorrer em vários exemplos sobre como o robô Laura e suas características
foram eficientes na ajuda para salvar vidas. Ou mostrar com orgulho como consegui ca-
pitanear o processo de funding para captação de investimento no negócio para fazê-lo
crescer e gerar mais oportunidade de sucesso. Ou simplesmente poderia gastar várias
laudas falando de todas as lições aprendidas como empreendedor e construtor de tec-
nologia. Mas não preciso. Sugiro que veja o que já foi publicado, o que falam e como falam
sobre mim e sobre o que criei.
Prefiro, com toda a humildade do mundo, contar para você, gentil leitor, que para mim —
um pai sem sua filha primogênita — inovação foi ter mudado a minha interface de memória
e amor por ela, fazendo com que o seu nome nunca mais seja esquecido. Inovação foi
despertar o espírito de colaboração de tantas pessoas, que, assim como eu, querem e vão
sempre fazer o seu máximo para salvar vidas. Inovação é usar a tecnologia para compen-
sar o que o ser humano não tem (ainda) de eficiente: processar milhões de dados de infor-
mações e ajudá-lo a isolar e fazer a gestão do risco.
Eu inovei por melhorar a jornada do paciente, levando-o mais rápido ao melhor atendi-
mento que precisa, por meio da tecnologia de inteligência artificial. Esse é meu entendi-
mento sobre inovação: melhorar a jornada de quem precisa desta inovação.
ca
se
para inspirar
sua coop
Intercooperação
inovadora no Paraná
Cooperativas
Castrolanda Cooperativa Agroindustrial, Capal
Cooperativa Agroindustrial e Frísia
Projeto de inovação
Unium
Investimento
Cerca de R$ 150 milhões em projetos de inovação
e melhorias de processos
inovação NO COOPERATIVISMO 118
A
Unium é um dos maiores cases de intercooperação do país, mostrando
que, no cooperativismo, é muito melhor unir esforços do que competir;
3
,5 milhões de litros de leite processado/dia.
8
6,4 mil toneladas de carne processada em 2020.
C
rescimento anual de mais 20% no faturamento. Em 2020, somando
as três cooperativas da marca, chegou-se a um faturamento bruto de
R$ 10,25 bilhões.
A
Unium compartilha custos administrativos com Castrolanda, Capal e
Frísia, o que reduz substancialmente seus custos de operação.
Seguindo o sexto princípio cooperativista, que trata da intercooperação, três grandes co-
operativas agrícolas paranaenses se uniram para criar a segunda maior fabricante de leite
nacional: a Unium, marca que nasceu em 2017 e já é considerada o projeto de intercoope-
ração com melhor eficiência por produtor do país, de acordo com a Associação Brasileira
dos Produtores de Leite (Abraleite).
119 inovação NO COOPERATIVISMO
A ideia da união surgiu quando a Frísia se preparava para expandir suas operações para
a mesma região em que já atuavam a Castrolanda e a Capal. Para evitar interferências e
prejuízos mútuos no mercado de leite, onde as três seriam concorrentes, as diretorias das
coops se reuniram para avaliar o cenário. Ao contrário de soluções clássicas de mercado,
como a compra de uma empresa pela concorrente maior, as três optaram pela parceria e
criaram a Unium.
Cada frente de atuação tem uma equipe de executivos contratada para cuidar exclusiva-
mente dos interesses da Unium. Um conselho administrativo formado por diretores das três
cooperativas se reúne mensalmente e é responsável por tomar as decisões estratégicas.
A inovação pela união deu às três cooperativas uma estrutura robusta que representa 5 mil
famílias cooperadas, destaque no mercado nacional e um faturamento anual de mais de
R$ 7 bilhões. Os ganhos vieram não apenas da soma de lucros, mas também da redução
de custos que tinham na atuação independente e da possibilidade de realizar investimen-
tos que sozinhas não podiam levar a cabo.
inovação NO COOPERATIVISMO 120
Em relação ao marketing, por exemplo, os custos que cada uma das três cooperativas ti-
nha em sua operação isolada gerava impacto significativo nos ganhos. Com a criação da
Unium, os esforços nessa área foram concentrados e ampliados, e a marca já nasceu forte,
com o aval da confiabilidade das cooperativas de origem. Na mesma direção, os gastos
com logística e demandas administrativas foram reduzidos com a intercooperação.
Com produtos que chegam atualmente a 25 países, o faturamento da Unium tem registra-
do crescimento de cerca de 20% ao ano. Para se ter uma ideia do tamanho da operação,
em 2020, a marca processou mais de 3,5 milhões de litros de leite por dia; produziu cerca
de 113 toneladas de carne suína e colheu 145 mil toneladas de trigo.
METODOLOGIAS DE INOVAÇÃO
Design Thinking (pensamento de design)
Design Sprint (corrida de design)
Métodos Ágeis (Scrum e Kanban)
Lean Startup
Smart
Hackathon (maratonas de programação)
FERRAMENTAS DE INOVAÇÃO
Análise Swot
Business Model Canvas
Matriz CSD
Mapa de Stakeholders
Mapa da empatia
Jornada do usuário
Brainstorming (tempestade de ideias)
Radar da Inovação
FERRAMENTAS DE TESTE
POC — Prova de Conceito
Projeto-Piloto
Protótipo
MVP — Mínimo Produto Viável
Para além de métodos e técnicas, é preciso destacar que nenhuma ferramenta ou meto-
dologia fará sozinha o trabalho rumo à inovação, e que essa jornada está diretamente liga-
da ao engajamento de lideranças e colaboradores e à abrangência de todos os setores de
uma organização, com o estabelecimento de uma cultura inovadora.
inovação NO COOPERATIVISMO 124
METODOLOGIAS
DESIGN THINKING
Metodologia para inovação que parte de uma abordagem focada nas pessoas para re-
solver problemas complexos. Foi desenvolvida na década de 1990, na Universidade de
Stanford, nos Estados Unidos, e popularizada por Tim Brown e Tom Kelley, na IDEO — uma
empresa voltada para a solução de problemas. Na prática, é um método que permite gerar
soluções inovadoras baseadas nas necessidades dos usuários.
Com ênfase na empatia e em colocar o ser humano no centro das questões, o Design
Thinking propõe meios para o entendimento profundo dos consumidores, buscando
atender requisitos emocionais, dar confiabilidade ao processo analítico e criatividade ao
pensamento intuitivo.
A abordagem tem três pilares, que são a estrutura do método: empatia, colaboração e experi-
mentação. O primeiro pilar está relacionado à capacidade de abandonar preconceitos e con-
vicções pessoais para se colocar no lugar do outro, enxergando os problemas pelos olhos de
quem os vivencia. Essa habilidade faz toda a diferença na etapa de entender as necessida-
des do público ou do cliente, para que as soluções desenvolvidas atendam aos anseios deles
e não sejam apenas uma projeção do que outras pessoas achavam que seria o melhor.
A B C D E
descobrir definir desenvolver entregar melhorar
Para colocar o Design Thinking em prática, uma das fórmulas é o modelo Double Diamond
(Duplo Diamante), que tem esse nome por causa da forma que o diagrama da ferramenta
tem — como se fossem dois diamantes ligados, como se vê na figura.
O modelo tem quatro etapas: Descobrir e Definir, que estão no primeiro diamante; e De-
senvolver e Entregar, que formam o segundo.
No segundo diamante, está a fase Desenvolver, ou seja, criar a solução para o desafio
identificado e definido. É o momento da ideação, processo de geração e desenvolvimen-
to de ideias, considerando a viabilidade, relevância e reprodução em escala da solução,
sempre a partir de uma perspectiva multidisciplinar.
inovação NO COOPERATIVISMO 126
Fora dos dois diamantes, também há continuidade desses processos, com a etapa de
evoluir, ou seja, produzir em escala, definir parcerias, planejar novos passos etc.
DESIGN SPRINT
Metodologia de trabalho para inovação desenvolvida pelo Google, que vai da ideia ao
resultado em cinco dias. É uma abordagem super-rápida, em que todo o processo é feito
em cinco etapas — uma por dia —, com o engajamento da equipe e uso eficiente de tem-
po e recursos.
Uma premissa básica para a aplicação do Design Sprint é que o problema a ser resolvido
esteja bem delimitado, de forma clara e objetiva. O passo seguinte é montar uma equipe
diversa, em geral de cinco a nove pessoas, que deve ter pelo menos um integrante de al-
gum posto de liderança, um especialista em produto, um desenvolvedor e um mediador
127 inovação NO COOPERATIVISMO
Também é preciso definir e preparar o espaço de trabalho: um ambiente neutro e com dispo-
nibilidade de materiais como folhas de papel, canetas e post-its para todos os participantes.
Comece Ajuste e
pelo problema aperfeiçoe
A terça-feira é o dia das ideias no Design Sprint, do foco nas soluções. Cada participante
deve elaborar sua sugestão e apresentá-la em um papel, em um esquema de fácil compre-
ensão. As propostas são apresentadas e discutidas pelo grupo, e é aberta uma votação
para selecionar as ideias mais relevantes e levá-las à etapa seguinte.
Na quarta-feira, a tarefa é selecionar, filtrar e refinar apenas uma das ideias apresenta-
das para começar a pensar sua execução. O terceiro dia deve terminar com um pequeno
storyboard (um esboço com imagens) do protótipo que será desenvolvido no dia seguinte.
Na quinta-feira, o time coloca a mão na massa para criar um protótipo da solução que se
aproxime ao máximo do produto real, dentro das possibilidades de realização em um dia
de trabalho. Também é o momento de preparar a apresentação do protótipo para o cliente
e escrever o roteiro da avaliação que será feita no dia seguinte.
inovação NO COOPERATIVISMO 128
Por sua característica acelerada de validação de ideias por meios de testes, o Design
Sprint permite visualizar como será o futuro da inovação, por meio dos feedbacks rápidos.
No entanto, essa vocação para a velocidade e ousadia também pode trazer efeitos colate-
rais ao processo, como respostas rasas aos testes e frustração do time quando os protóti-
pos não são bem aceitos. É preciso aceitar essas eventuais falhas como uma economia de
tempo e de dinheiro no futuro. Uma solução aparentemente fracassada no Design Sprint
é, na verdade, um indicativo de sucesso da metodologia, porque conseguiu antecipar pro-
blemas que só seriam verificados quando o produto ou serviço inovador fosse lançado ao
público em geral.
MÉTODOS ÁGEIS
A metodologia Agile, que significa Ágil, foi concebida para a indústria de software como
uma abordagem para acelerar o desenvolvimento de projetos por meio de trabalho em
times e entregas em ciclo, com foco nas demandas do cliente.
A abordagem Ágil está baseada em quatro valores que norteiam o modo de trabalho den-
tro dessa perspectiva:
MÉTODO ÁGIL
Avaliação Elaboração
e monitoramento da solução
dos resultados com o cliente
Construção e
implementação
da solução
inovação NO COOPERATIVISMO 130
Essa metodologia de trabalho tem vantagens como a redução de riscos e de gastos, uma
vez que os projetos podem ser alterados ao longo de seu desenvolvimento, e não apenas
no final. Essa característica também permite a aprendizagem com erros e a melhora da
capacidade de resposta rápida a imprevistos. Além disso, a abordagem Ágil aumenta a co-
municação entre times e clientes, e também internamente, dando mais fluidez ao trabalho.
A implementação prática do pensamento Ágil em uma empresa se dá por meio dos mé-
todos ágeis. Os mais conhecidos e utilizados são o Scrum e o Kanban, que serão deta-
lhados a seguir.
SCRUM
A mais conhecida das metodologias ágeis, o Scrum, foi criado na década de 1990, por Jeff
Sutherland, para ser utilizado, inicialmente, em projetos de desenvolvimento de software.
No entanto, sua configuração, baseada no trabalho adaptável ao contexto e às demandas
do cliente, faz com que seja um método indicado para diversos projetos com entornos
complexos e que precisem de resultados rápidos e flexíveis. Isso porque, diferentemente
de outras metodologias, o Scrum prevê entregas parciais e regulares, que vão sendo ava-
liadas pelo cliente e guiando o processo de criação.
O conjunto de tarefas que precisam ser desenvolvidas para atingir o resultado final com-
põe a carteira do produto, ou Product Backlog, no termo original em inglês. Essa carteira
de objetivos é validada e acompanhada pelo cliente, o Product Owner (dono do produto).
S
print Planning Meeting (reunião para planejamento da sprint): encontro no começo
de cada ciclo de trabalho, para planejar e priorizar itens a serem desenvolvidos.
D
aily Scrum (reunião diária): encontro de até 15 minutos, feito diariamente, para acom-
panhar o andamento do projeto, compartilhar conhecimento, identificar problemas etc.
S
print Review Meeting (reunião de revisão da sprint): reunião que ocorre no fim de
cada sprint, para a apresentação do que foi realizado e dos resultados do ciclo.
SCRUM
Daily
Profissionais Scrum
do Scrum
1 - 4 semanas
Sprint
Sprint Sprint
Product Sprint Sprint
Planning Review
Backlog Backlog Retrospective
Meeting Meeting
inovação NO COOPERATIVISMO 132
As sprints ocorrem sequencialmente, ou seja, quando uma termina, outra começa sem
seguida. As entregas parciais ao cliente ocorrem no fim de cada ciclo, momento em que
a equipe também define se as prioridades do projeto serão mantidas ou redefinidas.
Nessas entregas parciais, o cliente se manifesta e seu feedback pode alterar os rumos
do trabalho, evitando o gasto de tempo e recursos em uma estratégia que não o atende
mais. A partir desse retorno, novas tarefas são retiradas do Product Backlog para serem
executadas em uma nova sprint, e assim sucessivamente, até a conclusão dos objetivos
definidos no começo.
KANBAN
De origem japonesa, a palavra kanban significa “cartão visual”, e o nome já dá pistas
do que trata o sistema: uma ferramenta visual de gestão de atividades em que cartões
sinalizam o status de cada uma e formam um quadro geral que permite conhecer o anda-
mento dos projetos.
O conceito foi criado na década de 1960, pela Toyota, para controlar melhor o fluxo de ma-
teriais e promover o equilíbrio entre o estoque e a linha de produção. Nos anos 2000, a me-
todologia foi aplicada por David J. Anderson em projetos de desenvolvimento de software
e se popularizou no livro Kanban: Mudança evolucionária de sucesso para seu negócio de
tecnologia, escrito por ele, que se tornou uma referência para a utilização do sistema em
diversas áreas e tipos de organização.
O Kanban é um sistema ágil e visual, para controle de produção ou gestão de tarefas. Sua
estrutura tem três elementos básicos: quadro, colunas e cartões.
Os cartões representam as tarefas ou ações que precisam ser executadas para se alcan-
çar um resultado ou produto. Como os famosos papéis adesivos post-its, em geral, os
cartões são diferenciados por cores, que podem indicar nível de prioridade, tipo de tarefa,
responsável pela tarefa, entre outras possibilidades.
As colunas representam o andamento das tarefas. Um kanban básico, em geral, tem três
colunas: a fazer/em execução/feito, mas esse desenho pode mudar, dependendo das ne-
cessidades do projeto, com a inclusão de outras etapas no diagrama.
133 inovação NO COOPERATIVISMO
O quadro é o espaço geral do kanban, que pode ser físico (inclusive desenhado em uma
parede) ou virtual. Há vários modelos on-line disponíveis, como os aplicativos Trello e
Asana, que usam o Kanban como conceito central e permitem criar listas de tarefas, defi-
nir calendários, adicionar e notificar equipes, compartilhar dados, entre outras ações. Os
dois aplicativos têm versões gratuitas.
KANBAN
Teste o chat
e verificar 2560- 26-NC-Uni
2679-IPGN 2659- 2647-
os erros NC-SC Urgente /
Alta IPGN NC-SC
apontados Paulinha Luiz
2247-IPGN 2678-IPGN
2557-IPGN 2644 2656- 2646-
Alta bem
Hélio Hélio IPGN NC-SC
alta
2674-NC
2075-
2670-IPGN 2591- 2584- Uni Junior
NC-SC
P/13-03 IPGN NC-Uni
Luiz
2677-NC-
SC Alta
2035-
2581- 2502- 17/03
NC-RO
IPGN NC-Uni SBQS
Hélio
2470-
Com Tutores
- Hélio
2627-
2648-
IPGN
JF-SC
Junior
Cada quadro é um kanban e uma mesma equipe pode trabalhar com mais de um simulta-
neamente, pois cada conjunto de tarefas deve ser visualizado separadamente.
Em resumo, o sistema Kanban prevê a organização das tarefas em quadro dividido em três
colunas, que representam estágios, e serão preenchidas com cartões que simbolizam ta-
refas, de acordo com seu status. Conforme as tarefas são desenvolvidas, mudam de lugar
entre as colunas, permitindo a rápida visualização do andamento de um processo, com um
panorama do que já foi feito, do que está em execução e do que está pendente.
O Kanban tem três principais funções: gerenciar o fluxo de trabalho e permitir que os
gestores avaliem o que está sendo feito e em que ritmo; equilibrar os processos que vêm
antes e depois, evitando, por exemplo, que uma tarefa não possa ser realizada pela falta
de uma anterior que não foi entregue; e limitar a quantidade de trabalho da equipe, com
respeito à capacidade produtiva do time.
inovação NO COOPERATIVISMO 134
Com essa forma de organizar o processo, o sistema Kanban pode ajudar a aumentar a
eficiência, otimizar sistemas de movimentação e de produção, melhorar a realização de
tarefas e a conclusão de demandas.
A implementação do Kanban pode ser feita em quatro etapas simples: preparar a equipe
para explicar o método e tirar dúvidas; mapear os processos para identificar que colunas
serão criadas, de acordo com a quantidade de etapas por que cada tarefa pode passar;
definir esquemas de cores e priorização para atribuir características ou hierarquia entre as
tarefas; e, por fim, avaliar a utilização do método para corrigir eventuais distorções duran-
te sua utilização.
Saiba mais
sobre o Kanban
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STARTUP ENXUTA
O Lean Startup pode ser traduzido para o português como “startup enxuta,” e essa é uma
das características da metodologia: enxugar desperdícios em um projeto ou processos
dentro de uma organização, por meio da redução de custos e de complexidade das tare-
fas, do compartilhamento de informações, feedbacks rápidos, entre outras estratégias.
Segundo seu criador, Eric Ries, o Lean Startup “não é sobre ser barato, mas sim sobre des-
perdiçar menos e seguir fazendo coisas grandes”. Essa metodologia para inovação busca
eliminar o desperdício de tempo e de recursos gastos com o esforço de tentar compreender
o que os clientes querem e chegar a esse diagnóstico por meio de testes com produtos e
respostas ágeis.
A abordagem tem cinco princípios: empreendedores estão por toda parte; empreender
é administrar; o aprendizado deve ser validado; construir-medir-aprender (transformar
ideias em produtos, medir como os clientes reagem e aprender com eles); e contabilidade
para inovação (que se refere a medir o progresso para priorizar trabalhos).
processos mais lentos; garantir clareza no fluxo de trabalho para eliminar ruídos na comu-
nicação; indicar demandas e entregas prioritárias; e fornecer suporte para que a equipe
efetue entregas contínuas e de qualidade.
LEAN STARTUP
Ideia
APRENDER CONSTRUIR
Ciclo do
Lean Startup
Dados Produto
MEDIR
SMART
Criada por Peter Drucker, um dos principais pensadores da administração moderna, a
SMART é uma metodologia prática para definição de metas claras, objetivas e viáveis. O
nome é um acrônimo — uma palavra formada por partes de outra — e reúne as letras das
características que definem o método: S de specific (específico); M de measurable (men-
surável); A de attainable (atingível); R de relevant (relevante); e T Time-based (temporal).
Cada uma dessas características representa atributos que as metas devem ter para que
sejam realistas e factíveis, ou seja, para que possam, de fato, ser cumpridas e levar aos
resultados esperados.
Seguindo as palavras-chave, a meta deve ser específica para que qualquer pessoa envol-
vida no processo possa entender a questão, sem margem de interpretação. Por exemplo:
uma meta não pode ser apenas “aumentar vendas”; ela deve especificar quanto se preten-
de aumentar.
Para ser mensurável, a meta tem que ter parâmetros que possam ser medidos, para que
seja possível avaliar concretamente se o objetivo foi alcançado. Nesse quesito, os indica-
dores têm papel de destaque.
A meta deve ser atingível, ou seja, é preciso ser realista e pensar objetivos de acordo com
tamanho da organização, capacidade de produção, orçamento etc. Estabelecer uma meta
impossível é contraprodutivo, porque gera frustração e desmotivação.
137 inovação NO COOPERATIVISMO
Para ser considerada relevante, uma meta deve ter um impacto visível no desenvolvimen-
to de um projeto, ou no time, e na empresa como um todo.
Por fim, a meta deve ser temporal, com um prazo de cumprimento definido. Se ficar em
aberto, tende a ser esquecida e não atingida.
D
efinição do problema: nesta etapa, são especificadas as características, questões-
chave, contexto, histórico, potenciais soluções e atores envolvidos no processo.
A
nálise: as soluções levantadas são avaliadas para determinar sua viabilidade.
D
esenvolvimento: nesta etapa, é desenvolvido um pacote de soluções, e as ideias são
colocadas em um plano de ação, para serem executadas.
SMART
S M A R T
specific mensurable achievable relevant timed
HACKATHON
Combinação das palavras hack (no sentido de programar com propósito) e marathon
(maratona), o hackathon é uma metodologia de inovação aberta que, por meio de
jornadas de conhecimento, promove a busca de soluções para projetos e engajamento de
colaboradores em torno de ideias inovadoras.
A prática surgiu nos Estados Unidos, em 1999, quando a Sun Microsystems realizou uma com-
petição entre programadores, desafiados a criar um software com linguagem criptografada
em um dia. A partir desse evento, a estratégia passou a ser utilizada por empresas de outros
setores, além da indústria de tecnologia, e se consolidou como um método de inovação.
Em resumo, um hackathon é uma maratona que dura, em geral, de um dia a uma semana,
em que os participantes são desafiados a desenvolver soluções inovadoras, ou seja,
oportunidade de concentrar talentos e desafiá-los a trabalhar para um objetivo predefini-
do com respostas no curtíssimo prazo.
Para organizar uma maratona de inovação em sua cooperativa, é preciso seguir alguns
passos: o primeiro requisito é determinar qual será o desafio para os participantes, a que
problema devem responder durante a imersão.
FERRAMENTAS
DE INOVAÇÃO
ANÁLISE SWOT
A Análise SWOT é uma ferramenta de planejamento estratégico que combina a avaliação
de fatores internos e externos para identificar a posição de uma empresa em um ramo de
atuação, seja ela uma startup, uma cooperativa ou uma multinacional.
A sigla que dá nome à ferramenta é formada pelas palavras em inglês Strengths (Forças),
Weaknesses (Fraquezas), Opportunities (Oportunidades) e Threats (Ameaças). Com a
tradução para o português, também é conhecida como Análise FOFA (Forças, Fraquezas,
Oportunidades, Ameaças).
ANÁLISE SWOT
Fatores Fatores
Positivos Negativos
S W
Internos
Fatores
Strengths Weaknesses
(forças) (fraquezas)
O T
Externos
Fatores
Oportunities Threats
(oportunidades) (ameaças)
inovação NO COOPERATIVISMO 140
A ideia central da SWOT é avaliar as forças e as fraquezas — que são fatores internos — e
as oportunidades e as ameaças — que são elementos externos —, e combiná-las para
uma análise ampla do negócio.
O modelo foi desenvolvido por dois professores da Harvard Business School, Kenneth
Andrews e Roland Christensen, na década de 1960, e até hoje é largamente utilizado na
gestão estratégica de empresas de diversos tamanhos.
O método costuma ser usado em momentos de mudanças importantes para uma empre-
sa, como o lançamento de um produto, a entrada em um novo mercado ou mesmo altera-
ções em processos internos, como novas abordagens para o marketing ou para a gestão
de processos, ou seja, é uma ferramenta que subsidia a tomada de decisões e, por isso,
pode ser aplicada também a projetos individuais.
A análise de fatores internos, guiada pelas palavras Forças e Fraquezas, diz respeito a
pontos positivos e negativos da empresa ou do projeto que se quer implementar. Os pon-
tos positivos são fatos, recursos ou outras características internas que diferenciam uma
empresa e dão a ela vantagens competitivas, como tamanho, base de clientes e colabo-
radores engajados. Os negativos se referem a limitações internas que podem restringir o
desempenho da organização, como falta de recursos técnicos, de pessoal capacitado, de
lideranças etc.
Todos esses fatores são rastreados e analisados — de preferência, por toda a equipe —,
e dão origem a uma matriz com quatro quadrantes (duas colunas e duas linhas) em que o
primeiro quadrante contém os aspectos ligados à força; o segundo se refere às fraquezas; o
terceiro, às oportunidades; e o quarto quadrante reúne os fatores relacionados às ameaças.
A leitura da matriz pode ser feita a partir de combinações (força com oportunidade/ fra-
queza com ameaça etc.) para analisar a posição e as possibilidades de ação em diferentes
cenários. Por meio dessa configuração, o modelo SWOT permite visualizar as potenciali-
dades e vulnerabilidades de uma organização e, a partir delas, organizar um planejamento
estratégico com foco e ações mais eficientes e direcionadas.
141 inovação NO COOPERATIVISMO
Além de servir para empresas e projetos em fase inicial, o modelo Canvas pode ser utili-
zado em organizações já consolidadas quando estão diante de processos de inovação,
modernização ou mudanças.
Recursos-
chave Canais
Estrutura Fontes
de custos de receitas
Esses grupos cobrem as quatro áreas principais de um negócio: clientes, oferta, infraes-
trutura e viabilidade financeira.
Cada um dos nove blocos do Canvas reúne diversos aspectos a serem analisados para o
preenchimento do gráfico que dará origem ao modelo de negócio simplificado:
Proposta de valor: esse campo se refere ao que a empresa vai propor e levar de
interessante ao mercado, seu objetivo principal como negócio e seus diferenciais
em relação à concorrência.
Canais: este campo aborda como a empresa comunica e leva sua proposta
de valor. O conceito abrange todas as formas de interação, incluindo vendas
e distribuição.
Com todos esses elementos, o Canvas permite uma abordagem detalhada da relação en-
tre os componentes organizacionais internos e externos, e como esses aspectos podem
ser combinados para criar valor.
O Canvas é uma ferramenta mais bem aplicada de forma colaborativa, ou seja, com a par-
ticipação dos gestores e das equipes durante o preenchimento.
MATRIZ CSD
A Matriz CSD — sigla de Certezas, Suposições e Dúvidas — é uma ferramenta para alinha-
mento de visões muito útil para o começo de um projeto, momento em que é comum haver
informações difusas e pontos de vista diferentes sobre o que precisa ser feito.
A partir de três perguntas, a matriz organiza pontos de atenção do projeto antes do início
do seu desenvolvimento:
Criada pelo especialista em Design Thinking Luis Alt, a ferramenta é utilizada como ponto
de partida para projetos, numa representação gráfica de uma reunião inicial para discutir
que caminhos tomar. Além do alinhamento de visões da equipe e com o cliente, a Matriz
CSD facilita a gestão do conhecimento sobre a iniciativa que será desenvolvida e a centra-
lização de informações.
O processo de debater as informações que serão inseridas em cada categoria permite que
a equipe concilie visões, desfaça certezas equivocadas e defina prioridades.
inovação NO COOPERATIVISMO 144
A matriz, em geral, é montada em folha de papel grande, dividida em três colunas, ali-
mentadas com post-its com as contribuições que surgem a partir das perguntas ini-
ciais. O modelo também pode ser montado em uma lousa ou parede. O uso de post-its é
recomendável porque as informações podem mudar de lugar ao longo do projeto — por
exemplo, uma dúvida que se converte em certeza. Também há diversas plataformas que
oferecem versões digitais da Matriz CSD para utilização on-line.
O primeiro passo para o preenchimento da matriz é reunir a equipe, que deve ser diversa
para incluir diferentes perspectivas e visões sobre o projeto.
Em seguida, as notas são debatidas pela equipe e poderão ser redistribuídas entre as co-
lunas, dependendo de acordo entre os participantes.
A coluna Certezas recebe o que o grupo considera verdades absolutas. Na coluna Dúvi-
das, são afixados aspectos ainda não conhecidos sobre o projeto, mas que precisam ser
pesquisados. O campo Suposições acaba recebendo pontos em que não houve consenso
entre a equipe e que por isso não se encaixam na categoria de certezas. Essa solução
evita que uma discussão demorada sobre um aspecto do projeto atrase o andamento do
trabalho, mas mantém o assunto em questão no mapa.
A Matriz CSD deve ser aplicada na fase inicial do projeto e pode ser consultada e altera-
da ao longo de seu desenvolvimento, fornecendo um panorama sempre atualizado. Ao
centralizar as informações em um quadro simples, a ferramenta deixa o processo mais
claro para os envolvidos, com um compartilhamento de informações que facilita o traba-
lho em equipe.
Além disso, quando se trata de projetos que atendem a um cliente, a matriz ajuda a reduzir
as reuniões de alinhamento, uma vez que as informações sobre o que se espera no pro-
cesso estarão sempre disponíveis de forma objetiva.
O InovaCoop
tem uma ferramenta
para começar a usar
a Matriz CSD, SAIBA
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145 inovação NO COOPERATIVISMO
MAPA DE STAKEHOLDERS
O Mapa de Stakeholders (partes interessadas, em tradução livre) é uma ferramenta para
identificar todos os atores envolvidos com a cooperativa e a influência deles sobre os pro-
cessos da organização, inclusive os que estão relacionados à inovação.
Como inovar tem a ver com gerar valor para um grupo de pessoas, conhecer todas as par-
tes interessadas é fundamental para guiar esse processo, sem restringir a atenção apenas
para o público-alvo.
Em uma visão estratégica, o Mapa de Stakeholders permite visualizar todos esses atores,
seus papéis e sua influência na cooperativa e no processo de inovação que a organização
pretende empreender. Pode ser utilizado no diagnóstico, antes da inovação; e para avaliar
os impactos alcançados com uma nova solução.
listar todos os atores envolvidos com o contexto do desafio ao qual a cooperativa pre-
tende responder com a inovação e escrever cada um em post-it;
posicionar o ator principal no centro do mapa e os demais ao seu redor, de acordo com a
influência de cada um sobre o desafio; e
analisar as relações entre os atores representados no mapa e indicar com flechas o tipo
e os graus de conexões que há entre, eles para facilitar a compreensão visual dos im-
pactos sobre toda a cadeia.
Com o mapa preenchido, será possível ter uma visão integral dos atores, as inter-rela-
ções e o contexto em que estão inseridos. Essa visualização permitirá que a cooperativa
enxergue eventuais lacunas de relacionamento que podem ser aperfeiçoadas e, princi-
palmente, o potencial de conexões que podem levar a oportunidades de novos desafios e
soluções inovadoras.
O InovaCoop tem um
guia completo para
utilizar a ferramenta SAIBA
Mapa de Stakeholders MAIS!
inovação NO COOPERATIVISMO 146
MAPA DE EMPATIA
Empatia é a capacidade de se colocar no lugar de outra pessoa, buscando sentir, pensar
ou agir como ela faria. Esse conceito é a base de uma ferramenta criada para entender o
cliente em todas as suas dimensões para traduzir suas demandas em um produto que seja
exatamente o que ele esperava.
Chamada de Mapa de Empatia, essa ferramenta foi desenvolvida por Dave Gray e sua
equipe da Xplane, uma consultoria especializada em Design Thinking. A técnica se tornou
fundamental para os processos de inovação por permitir a visualização de detalhes sobre o
público-alvo, elemento essencial para a tomada de decisões e o investimento de recursos.
MAPA DE EMPATIA
Pensa
e sente
Ouve Vê
Diz
e faz
Dores Ganhos
O primeiro passo para o Mapa de Empatia é definir a persona, um perfil fictício que terá
suas características e demandas investigadas. A persona pode ser um cliente ou potencial
cliente, um parceiro ou outro indivíduo do qual seja necessário ter informações detalhadas
para a elaboração de um produto, serviço ou processo.
147 inovação NO COOPERATIVISMO
Definida a persona, é hora de usar as técnicas do mapa para entender como ela pensa e
age, e partir de quatro perguntas fundamentais: O que ela pensa e sente? O que ela vê? O
que ela fala e faz? e O que ela ouve?
O preenchimento requer atenção e deve ser feito seguindo a ordem sugerida pela ferra-
menta, que tem graus de conhecimento que aumentam a cada quadrante. O ponto de vis-
ta das respostas deve ser sempre o do cliente, ou seja, como a persona criada responderia
às questões de acordo com seu perfil, características, experiências etc. (com exceção das
duas primeiras perguntas, que partem da perspectiva do entrevistador).
que ela pensa e sente: Como essa pessoa se sente nesse contexto específico? Quais
O
pensamentos devem passar pela sua cabeça? Quais dúvidas e receios ela tem e prova-
velmente não compartilha com ninguém?
que ela diz e faz: O que essa pessoa fala desse contexto? Como ela se comporta na
O
frente de outras pessoas?
que ela ouve: Quais são as frases que essa pessoa ouve de outras pessoas nesse
O
contexto que contribui para ela se sentir da maneira como se sente?
Entre as vantagens de utilizar o Mapa de Empatia como ferramenta, está a melhora da co-
municação e interação com o cliente. O diagrama pode ser consultado em todas as etapas
do processo de geração da inovação, pois sempre terá a função de mapa e ajudará a equi-
pe a manter o foco nas demandas do público.
JORNADA DO USUÁRIO
Para que uma inovação faça sentido, ela precisa estar conectada às demandas dos clien-
tes; para isso, a cooperativa deve conhecer suas expectativas, entender como se relacio-
nam com o produto ou serviço. Sob esse ponto de vista, a ferramenta Jornada do Usuário
ajuda a mapear esses elementos e a identificar os problemas e as oportunidades de me-
lhoria, trazendo as pessoas para o centro da inovação.
Para elaborar uma Jornada do Usuário, comece anotando em post-its todas as ações do
usuário em relação ao produto ou serviço (inovação que a cooperativa pretende lançar).
Coloque os post-its em um quadro ou parede. Em seguida, as ações devem ser ordenadas
em sequência lógica ou cronológica e agrupadas por afinidades. Também é possível se-
pará-las de acordo com a fase da experiência do usuário com o produto (antes/durante/
depois). Com essa organização será possível visualizar o que levou o usuário ao produto e
os pontos altos e baixos dessa experiência para ele.
Com esse roteiro em mãos, a cooperativa terá uma ferramenta para saber o quanto co-
nhece seus potenciais clientes, identificar falhas e oportunidades de melhoria nos produ-
tos e serviços prestados, e se colocar no lugar do usuário na hora de investir em soluções
inovadoras. A Jornada do Usuário pode ser combinada com outras ferramentas, como o
Mapa da Empatia e o Mapa de Stakeholders.
Aprenda mais
sobre a ferramenta
Jornada do Usuário SAIBA
no InovaCoop MAIS!
BRAINSTORMING
O brainstorming, conceito em inglês que pode ser traduzido como “tempestade de ideias”,
é uma ferramenta criativa em que um grupo de pessoas tenta encontrar uma solução para
um problema, responder a uma questão pontual ou criar oportunidade de novos produtos,
serviços e negócios a partir da geração espontânea de ideias.
A técnica pode ser usada para gerar ideias em diferentes estágios do desenvolvimento de
um produto ou serviço, bem como na concepção de novos modelos de negócio e no pla-
nejamento de novas estratégias.
Para que o brainstorming leve a bons resultados, é preciso seguir algumas regras: deve
haver um coordenador para organizar temas a serem discutidos; todas as ideias devem
ser registradas; não deve haver críticas, censuras ou julgamentos.
efinir os papéis do grupo: além do coordenador, pode haver um responsável por con-
D
trolar o tempo e outro por anotar as ideias.
inovação NO COOPERATIVISMO 150
linhar o objetivo do brainstorming com todos os participantes, para que o trabalho te-
A
nha foco.
omeçar a sessão com a exposição individual das ideias, que podem ser escritas ou de-
C
senhadas em post-its e separadas por afinidade; quanto mais ideias, melhor.
egistrar as ideias, para que possam ser analisadas e combinadas entre si para chegar a
R
novas possibilidades.
A técnica também tem uma variante silenciosa, chamada de Brainwriting, em que a inte-
ração se dá por escrito. Nesse modelo, o tema é definido pelo líder e os participantes es-
crevem ideias por cerca de cinco minutos. O papel é passado para quem está ao lado, que
acrescenta suas ideias, e assim sucessivamente, por três rodadas. No fim, o líder repassa
ideias para um quadro e todos visualizam. O grupo avalia conjuntamente as ideias, elimina
as impraticáveis e mantém as mais adequadas.
RADAR DA INOVAÇÃO
A inovação não é um evento ou projeto isolado, é parte do processo de gestão e um motor
que deve mover todos os setores de uma empresa ou cooperativa. Partindo desse princí-
pio, avaliar o grau de inovação requer uma visão ampla e abrangente dos processos, o que
é pode ser feito com a ferramenta Radar da Inovação.
GRAU DE INOVAÇÃO
A - Dimensão Oferta
M - Dimensão Ambiência 5
B - Dimensão
Inovadora (peso 2) Plataforma
4
I - Dimensão F - Dimensão
Organização Relacionamento
Com essas 13 dimensões, a ferramenta tem sido utilizada por diversas organizações,
principalmente as pequenas e médias, para medir seu grau de inovação e avaliar a im-
plementação de projetos, numa comparação entre os dados do radar antes e depois
das alterações.
Além de viabilizar a medição dos efeitos das ações tomadas para tornar uma empresa
mais inovadora, o radar é relevante por permitir avaliar cada dimensão separadamente e
identificar oportunidades de inovação que passariam despercebidas sem essa análise.
A elaboração do radar é feita por meio de questionários que incluem perguntas sobre
todas as dimensões. As respostas atribuem notas para cada quesito — correspondentes
a pouca inovação (1 ponto), inovação ocasional (3 pontos) e inovação sistemática (5 pon-
tos) — e a média aritmética delas resulta no grau de inovação. Em geral, os resultados são
analisados em um gráfico do tipo radar, que se parece com uma teia de aranha, e contém
todas as dimensões avaliadas e os patamares que indicam o grau.
Novos mercados
Novos produtos
Ousadia
Oferta
Resposta ao meio ambiente
Design
Inovações Tecnológicas
Sistema de produção
Plataforma
Versões dos produtos
Proteção da marca
Marca
Alavancagem da marca
Identificação de necessidades
Clientes Identificação de mercados
Uso das manifestações dos clientes
Soluções complementares
Soluções
Integração de recursos
Facilidade e amenidades
Relacionamento
Informatização
Reorganização
Parcerias
Organização
Visão externa
Estratégia competitiva
Pontos de venda
Presença
Intermediação
Fonte: FREIRE Aline e D’ANJOUR Miler, publicado em Mensurando a Inovação (Sebrae, 2016)
153 inovação NO COOPERATIVISMO
Medir a inovação não torna a empresa mais inovadora, mas ajuda a direcionar esse pro-
cesso. A partir da avaliação de como anda cada um desses aspectos, o Radar de Inovação
pode ser utilizado como ferramenta para alcançar vantagem competitiva à medida que
aponta as dimensões que têm sido pouco exploradas e que podem vir a ser um diferencial.
FERRAMENTAS
DE TESTES
Com origem na indústria de softwares, a ferramenta foi transposta para o mundo dos ne-
gócios e é utilizada por organizações de diversos setores antes de iniciar novos projetos,
seja para avaliar o valor comercial de uma ideia, apresentar o projeto, identificar eventuais
dificuldades de produção etc. É focada para um cenário específico, para provar o que
o cliente precisa saber para tomar uma decisão técnica. É usada apenas como uma de-
monstração e não entra em produção.
A elaboração de uma prova de conceito deve considerar alguns pontos: definição clara da
ideia e a que problema ela pretende responder; identificação e organização da equipe e
partes interessadas na tomada de decisão e desenvolvimento; estabelecimento de crité-
rios para medir os resultados esperados; avaliação da ideia em um ambiente operacional
para testar sua funcionalidade; avaliação de cenários positivos e negativos de execução
da ideia; e análise conjunta dos resultados pelas partes envolvidas.
inovação NO COOPERATIVISMO 154
PROJETO-PILOTO
Um projeto-piloto é uma ferramenta de teste utilizada com frequência dentro da inovação
aberta, principalmente no relacionamento com startups. Ele serve para testar uma hipó-
tese de criação de valor de uma solução criada para resolver um problema identificado
por uma cooperativa ou empresa. Costuma durar mais que uma PoC e cria um ambiente
de pré-produção e avaliação que levará à decisão se a solução proposta entra ou não em
produção. De forma resumida, um projeto-piloto ajuda a cooperativa a testar sua relação
com uma startup antes de decidir consolidar essa conexão, colocando a solução proposta
em produção.
Ele deve ser elaborado a partir de orientações bem definidas, com alinhamento de ex-
pectativas entre as partes e com clareza sobre o que será testado e como será medido. A
partir dessa premissa, um guia da consultoria Innoscience lista nove tópicos para elaborar
um projeto-piloto que tenha boas chances de levar a iniciativas duradouras entre empre-
sas consolidadas e startups. Cada item tem perguntas que devem ser respondidas para
orientar o projeto-piloto:
Incertezas: Quais são as incertezas que queremos testar com esse piloto? O que preci-
samos saber para validar que funcionaria em maior escala?
xperimentação: Onde ocorre o piloto? Como ocorre? Envolve quais áreas, e quantas
E
pessoas serão diretamente envolvidas?
Despesas: Quais são as despesas durante o piloto? Quais são os valores dessas despesas?
PROTÓTIPO
Testar as ideias é uma etapa fundamental do processo de inovação. Um dos instrumentos
utilizados para este fim é um protótipo, que, em uma definição básica, é um modelo inicial de
algum produto ou serviço que possa ser testado e depois convertido em padrão.
Um protótipo é um mecanismo eficaz para testar e validar uma ideia porque tem custo in-
ferior ao do produto real e é passível de aprimoramentos, que podem ser feitos de acordo
com a demanda dos usuários, agregando valor ao resultado final.
Um protótipo pode ser um objeto físico, como uma versão beta de um produto, ou um vídeo, um
software, uma simulação, dependendo do projeto que visa materializar. O atributo fundamental
é que ele reproduza, de maneira simplificada, algo tangível e que possa ser testado e avaliado.
Um projeto pode, inclusive, ter mais de um protótipo, justamente porque durante o pro-
cesso as características e conceito podem ser alterados, e será necessário construir uma
variante que contenha os novos atributos.
Além de evitar desperdício de tempo e recursos, o uso de protótipos para validar uma
ideia permite testar a usabilidade e a funcionalidade das propostas, e reduzir riscos.
dicionais. Por exemplo, uma bolsa de couro pode ter um protótipo feito com matéria-prima
menos nobre, mas que exige uma habilidade de execução diferente para quem a elabora.
1 2 3 4
1 2 3 4 5
O conceito é simples: o MVP é uma versão básica, mas funcional, da solução que se pre-
tende apresentar, com características que possam ser testadas e avaliadas por uma pe-
quena amostra do público-alvo.
É uma ferramenta valiosa para obter informações sobre o mercado e validar premissas,
que permite testar hipóteses, antecipar problemas, receber feedbacks dos clientes, corri-
gir erros e aperfeiçoar o produto antes de apresentá-lo de maneira ampla.
157 inovação NO COOPERATIVISMO
A técnica nasceu no ambiente das startups (novas empresas ligadas a tecnologia), por sua
tendência a lidar com inovação disruptiva, com a criação de produtos e serviços nunca
antes vistos. Nesses casos, a possibilidade de testar uma versão beta é fundamental para
reduzir custos — que no MVP são bem menores que no produto real — e acelerar o pro-
cesso em um mercado em que a velocidade é a regra.
O MVP está diretamente relacionado à metodologia Lean Startup, criada por Eric Ries, e
a seu conceito de “enxugar” qualquer forma de desperdício no processo de inovar. Nessa
perspectiva, o MVP reduz muito o tempo e os recursos gastos na versão que será testada,
na comparação com o processo tradicional, em que um produto só é levado à avaliação do
público quando está finalizado.
Apesar de sua origem ligada às startups, o conceito de MVP vai muito além desse ambien-
te e pode ser utilizado para diferentes finalidades, em negócios de todos os tamanhos
e setores. O método vale para produtos físicos, digitais, serviços ou processos, sempre
que seja possível construir uma versão simplificada, mas que contenha todas as suas
funcionalidades para submetê-la a testes, ou seja, não se pode confundir o MVP com uma
variante do produto que tenha falhas ou menos funcionalidades que o item real. A ideia é
que o protótipo seja o mais parecido possível com o resultado final em relação a suas ca-
racterísticas, recursos e à utilização para que os testes possam indicar se a ideia servirá
ao propósito para o qual foi pensada. Como o método parte do princípio de que o feedback
do público-alvo irá nortear o aperfeiçoamento do produto, é essencial que a versão do
teste seja a mais funcional possível.
A construção de um MVP depende da ideia que precisa ser validada e pode envolver téc-
nicas parecidas com as utilizadas para o produto real. Por exemplo, para se testar um novo
aplicativo, é possível utilizar softwares de sobreposição de imagem que simulam a nave-
gação em um aplicativo.
Forme uma equipe plural: é importante ter diversas visões sobre a ideia, de preferência,
com três perfis — uma pessoa com visão de negócios, uma que pense como produto será
utilizado e alguém com conhecimento técnico necessário para o desenvolvimento do MVP.
rie perfis de clientes ideais: o público-alvo deve ter uma persona, ou seja, reunir ca-
C
racterísticas de um perfil fictício que representa o cliente ideal. As pessoas que testarão
o MVP poderão ser selecionadas a partir dessa definição.
race metas: é preciso definir que desempenho se espera do MVP e como esse resulta-
T
do será dimensionado, com a escolha das métricas adequadas.
Com o MVP pronto e testado pelo público-alvo, será possível avaliar como a ideia inovadora se
sairá e decidir se vale a pena investir na solução. É o momento de analisar os feedbacks para
incrementar funções, corrigir eventuais falhas ou até fazer grandes mudanças no projeto. Se
os testes mostrarem que a proposta é inviável, o prejuízo terá sido relativamente pequeno, na
comparação com um processo tradicional, e o aprendizado servirá para outros projetos.
FERRAMENTAS DE TESTE
Testar a funcionalidade
Coloca em prática em
do projeto e a relação
pequena escala um projeto,
Projeto-piloto com uma startup
permite experimentar
para decidir sobre a
uma solução
continuidade da conexão
REFERÊNCIAS
BARTOSIAKI, Bruna. Qual a diferença entre POC, Protótipo e MVP?. Dezembro, 2020.
Disponível em: <https://www.bartosiaki.com.br/post/qual-a-diferença-entre-poc-protó-
tipo-e-mvp>. Acesso em: 27 ago. 2021.
BONAZZI, Fábio Luiz Zandoval; ZILBER, Moises Ari. Canvas — Inovação e Modelo de Ne-
gócio: Um estudo de caso sobre a integração do Funil de Inovação e o Modelo Canvas.
Revista Brasileira de Gestão de Negócios. São Paulo, 2014.
BROWN, Tim. Design Thinking: Uma metodologia poderosa para decretar o fim das ve-
lhas ideias. Alta Books, 2017.
CAROLI, Paulo. 5 passos para fazer um produto mínimo viável (MVP). In: Revista Pe-
quenas Empresas, Grandes Negócios. 27/06/2016. Disponível em: <https://revistapegn.
globo.com/Como-comecar/noticia/2016/06/5-passos-para-fazer-um-produto-minimo-
-viavel-mvp.html>.
CARVALHO, Gustavo Dambiski Gomes de; VIEIRA DA SILVA, Wesley; SANTOS POVOA, An-
gela Cristiane; GOMES DE CARVALHO, Hélio. Radar da Inovação como ferramenta para
o alcance de vantagem competitiva para micro e pequenas empresas. INMR — Innova-
tion & Management Review. 2015.
FREIRE Aline; D’ANJOUR, Miler. A influência das práticas gerenciais na capacidade ino-
vadora das pequenas empresas: Uma análise em uma empresa do setor de telecomu-
nicação em Natal. Sebrae RN: Natal, 2016.
KNAPP, Jake. Sprint: How to solve big problems and test new ideas in just five days.
Simon & Schuster: 2016.
OLIVEIRA, Carlos Alberto Arruda de; ALVES, Luana Lott. Hackathon como instrumento
de inovação aberta. In: Revista Fundação Dom Cabral. Volume 12, Número 37. Jan. 2019.
RIES, Eric. A Startup Enxuta: Como usar a inovação contínua para criar negócios radi-
calmente bem-sucedidos. Editora Sextante. 2019.
inovação NO COOPERATIVISMO 160
SILVA, Sandra Elizabeth. Aplicação da metodologia Lean Startup. In: Revista de Empre-
endedorismo, Negócios e Inovação. Volume 1, Número 2. São Paulo. Dez. 2016.
artigo
artigo
artigoSamyra Ribeiro
JP detesta ginástica. Nem mesmo uma caminhadinha. Sedentário. Tem péssimos hábitos
alimentares. Só come congelados, comidas processadas e fast food.
Agora imagine que JP e RC são cooperativas, que alimentos são recursos e que ginástica
é pesquisa. Nesta nova configuração da história, estamos falando de duas organizações
com disposições muito diferentes para a inovação.
JP não pesquisa sobre o seu mercado, sobre os hábitos e comportamento do seu público
e não sabe como anda a satisfação dos seus clientes. Para completar, ele anda completa-
mente desatualizado e não se alimenta das novidades e dos novos recursos disponíveis
do seu setor.
Já a RC não para de se exercitar. Fala constantemente com seus clientes e conhece o nível
de satisfação deles ao usar seus produtos. Além disso, está atento a tudo. Se informa e
experimenta novas matérias primas, tecnologias e motiva as pessoas da sua equipe a me-
lhorarem os processos de trabalho internos.
Inovar trata-se de conceber novas alternativas, novos caminhos para solucionar proble-
mas de pessoas. Pois bem, de pessoas. Problemas de pessoas. Não é do negócio. Um
produto só existe para servir a ‘alguém’. Então, é baseado nas soluções que ele trás para as
necessidades desse ‘alguém’ que ele será ou não um sucesso. E criar algo que sirva para
‘alguém’ é resultado de observação, investigação e muita atenção às dinâmicas da vida
dessas pessoas.
163 inovação NO COOPERATIVISMO
É aí que entra a Pesquisa, uma disciplina científica, um processo de trabalho incorporado
à rotina de empresas que já perceberam que inovar não é talento de quem é criativo ou
de quem tem um dom especial. Inovar é uma prática de negócio estimulada por ouvidos
e olhos bem abertos para os seus clientes. Pois é na observação atenta a quem são estas
pessoas, quais são seus hábitos, desejos e como seu produto entra na rotina delas que
você pode perceber como melhorá-lo, ou melhor, como você pode melhorar a vida das
pessoas melhorando e inovando seu produto, serviço ou o seu processo.
Por isso, pesquisa com clientes é como a prática da ginástica. Tem que fazer sempre. Deve
pertencer à rotina. Quando você se exercita, você pensa nos benefícios: seu corpo saudá-
vel e sua musculatura mais firme. A empresa, quando faz pesquisa, pensa nos seus objeti-
vos de negócio e no sucesso da sua estratégia.
Mas voltando à nossa ginástica básica, existem vários tipos de pesquisa: de comunica-
ção, de marketing, de experiência de uso e outras. O tipo mais usado nos processos de
inovação são as pesquisas de experiência de uso. Elas se baseiam muito no conceito
da usabilidade que mapeia o comportamento e o feedback do usuário quando este vive
uma experiência de uso real com um produto. Esse uso pode ser simulado numa situação
artificial para que o consumidor teste o produto ou ele pode ser real. Neste último caso, o
consumidor é abordado para participar da pesquisa quando este, no seu cotidiano, estiver
naturalmente usando o produto. Daí, o pesquisador pode conversar e entrevistar o consu-
midor enquanto o uso acontece.
Ele também pode optar por se restringir apenas à observação para não interromper o fluxo
natural do usuário com o produto. O importante é observar e captar como as pessoas se
comportam, o que elas fazem, o que elas não conseguem fazer, o que sabem e o que não
sabem sobre o seu produto ao usá-lo. Além disso, entender como ele se sente e o que ele
espera ao final da jornada de uso também é fundamental para mensurar o grau de satisfa-
ção do seu cliente.
inovação NO COOPERATIVISMO 164
INOVE. MEXA-SE!
Com base em informações provenientes de pesquisas como estas que se identificam
oportunidades de mudar e de melhorar um produto. Saber o que frustra seu cliente, quais
são os seus desejos, expectativas e quais são os pontos que seu produto não está conse-
guindo suprir, estimula o surgimento de ideias que podem melhorar ou mesmo transformar
um negócio.
Grande mudança, transformação ou pequena melhoria; não importa. Inovar significa evo-
luir e, mais precisamente, se diferenciar dos seus concorrentes no mercado.
ca
se
para inspirar
sua coop
Plataforma inteligente
do agronegócio
Cooperativa
Federação das Cooperativas Agropecuárias
do Estado do RS (Fecoagro/RS) e 30 singulares
a ela vinculadas
Projeto de inovação
SmartCoop
Investimento
R$ 4,5 milhões
inovação NO COOPERATIVISMO 166
A
umento da eficiência, produtividade e lucratividade no campo, causando
um impacto positivo nas cooperativas
C
onstrução de uma inteligência coletiva a favor das cooperativas e dos
seus produtores, o que traz competitividade ao cooperativismo nacional
A
proximação dos agricultores mais jovens ao cooperativismo, ajudando a
renovar e a perpetuar o setor
No primeiro módulo, o produtor tem acesso a um leque de tecnologias digitais para geren-
ciar sua propriedade. É possível cadastrar toda a área — dividida por talhões (porções de
terreno separadas por cultivo) — obtendo informações específicas para cada um incluindo
monitoramento usando imagens de satélites. Assim, consegue-se levantar dados como
calendário de aplicações, condições de cultivo, ocorrência de pragas e previsão do tempo
detalhada — esta última pode ser cruzada com outros dados para definir datas e técnicas
de manejo mais adequadas. Por exemplo, quando as condições climáticas não são favorá-
veis para a aplicação de um defensivo, o produtor recebe um alerta a partir do cruzamento
de dados feito pela ferramenta.
No segundo módulo do sistema, o produtor pode negociar sua safra junto à cooperativa,
além de ter acesso a saldo de produtos e de insumos disponíveis. Para a comercialização,
a ferramenta oferece a possibilidade de venda à vista, pelo preço do dia; de venda futura,
em lotes da cooperativa; ou pelo sistema de gatilho, em que o produtor define preço e
quantidade, e a SmartCoop monitora o mercado verificando se esses parâmetros encon-
tram uma oferta adequada, caso positivo a plataforma fecha negócio automaticamente.
Esse ambiente da SmartCoop também viabiliza a troca de produção por insumos, modali-
dade conhecida como barter. Todos os processos são executados com uso de assinatura
eletrônica e verificação em várias etapas para garantir a segurança das transações.
O terceiro módulo da plataforma é uma versão digital de uma central de compras coopera-
tiva. Na prática, a ferramenta conecta cooperativas e fornecedores para garantir melhores
preços de insumos. A partir de um catálogo de produtos, várias cooperativas se reúnem
em uma única demanda de compra enviada aos fornecedores, que, por sua vez, respon-
dem com ofertas. A plataforma faz um cruzamento de dados, seleciona a melhor proposta
e as cooperativas decidem se a compra será realizada.
O COMEÇO
A ideia da SmartCoop partiu do projeto de tese de doutorado do diretor superintendente
da Cooperativa Central Gaúcha Ltda., Guillermo Dawson, que hoje coordena o projeto. O
sistema levou dois anos para ser desenvolvido, em um processo que reuniu dirigentes,
técnicos e associados de diversas cooperativas. Foram seguidos quatro ciclos com base
na metodologia de pesquisa-ação: desenvolvimento da estratégia, construção da estru-
tura, construção do artefato e difusão do produto.
O primeiro passo foi ir, literalmente, a campo para mapear as necessidades tecnológicas
dos produtores rurais e qual seria o papel da plataforma para atender essas demandas. Por
unanimidade, as cooperativas aprovaram a proposta de trabalhar em conjunto e começa-
ram a planejar a ferramenta.
A primeira versão da SmartCoop passou por uma fase piloto, com 90 produtores, e, desde
abril de 2021, está aberta a todos os associados das 30 cooperativas da federação gaúcha.
CONEXÃO
Tendo em vista as dificuldades de conexão à internet em algumas áreas rurais, a plata-
forma foi desenhada com uma tecnologia conhecida como offline first (primeiro fora da
internet), que parte da busca de dados no dispositivo móvel ou computador de onde está
sendo acessado e só depois usa a internet para atualizá-los. Nessa modalidade, não é
necessário ter acesso à rede de alta velocidade nem conexão constante, o que viabiliza
seu uso, inclusive em locais nos quais só há internet por satélite. O produtor pode entrar no
site ou conectar o sistema na sede de sua propriedade, atualizar os dados de que necessi-
ta — como previsão do tempo e saldo de insumos — e seguir para o meio da lavoura com a
ferramenta em funcionamento.
Vale destacar: as cooperativas vinculadas à FecoAgro são responsáveis por 50% da pro-
dução de soja, 60% do trigo e 45% de todo o leite do estado do Rio Grande do Sul.
inova
ção
5 planejando
a inovação
e medindo
resultados
Se quiser derrubar uma
árvore na metade do tempo,
passe o dobro do tempo
amolando o machado.
Provérbio chinês
Boa sorte é o que
acontece quando a
oportunidade encontra
o planejamento.
Thomas Edison
inovação NO COOPERATIVISMO 170
Mas, uma coisa é saber a importância e outra, conseguir de fato inovar. Nem
sempre é fácil dar o primeiro passo ou manter o processo de inovação fun-
cionando a contento para chegar aos resultados desejados. As variáveis são
muitas e o ideal é tentar tê-las, na medida do possível, dentro do controle. E,
para que isso ocorra, existe um pré-requisito fundamental: planejar.
Decisões tomadas por impulso, muitas vezes, não trazem os resultados es-
perados — na verdade, pode ser exatamente o contrário. Quem nunca ouviu
que é melhor agir com a cabeça fria, após refletir sobre os possíveis caminhos
a seguir e as possíveis consequências que cada um pode trazer? Ou seja, é
preciso planejar.
É importante ter em mente que, por mais que haja um planejamento qualificado e deta-
lhado, o processo de inovação depende de muitos outros fatores. Um deles é a capaci-
dade de se ajustar às mudanças e necessidades que vão surgindo durante o processo,
que não pode ser engessado nunca. “Tenho que cumprir à risca o que foi planejado.” Na
teoria, é excelente, mas a prática exige adaptações — a velha história de trocar a roda
com o carro andando.
O início da inovação também exige que as empresas estejam dispostas a correr riscos.
Nem tudo vai dar certo, por mais que haja um planejamento adequado, sobretudo pela
velocidade exigida pelo processo. O importante é que os erros sejam rapidamente detec-
tados e corrigidos, isto é, as empresas precisam ter metodologias que permitam essa che-
cagem frequente de desempenho e, consequentemente, os ajustes de rumo necessários.
A própria Netflix passou e continua passando por isso. Apesar de todo o sucesso comer-
cial, a empresa produziu filmes e séries que não caíram no gosto dos assinantes. Um dos
exemplos é a série Marco Polo, cancelada na segunda temporada, após prejuízo de quase
200 milhões de euros. Os planos para mais episódios acabaram revistos e cancelados de-
pois dos percalços enfrentados no processo.
inovação NO COOPERATIVISMO 172
E AS COOPERATIVAS?
Infraestrutura* 90% 10
Transporte 90% 30
Saúde 85% 79
Agropecuário 79% 92
Consumo* 71% 23
base: 474
*amostras reduzidas
As cooperativas que se consideram muito inovadoras são as que mais têm a inovação
como parte do planejamento estratégico. E a maior parte delas recebeu ajuda externa du-
rante o processo de inovação. O percentual também varia, de acordo com a quantidade de
cooperados e a região do Brasil onde a cooperativa está localizada.
173 inovação NO COOPERATIVISMO
• Receberam 96%
Ajuda externa
• Não receberam 68%
• Sul 83%
• Sudeste 85%
Região • Centro-Oeste 87%
• Nordeste 81%
• Norte 88%
Apesar de ser alto o número de cooperativas que têm a inovação no planejamento estra-
tégico, o percentual das que de fato destinaram recursos para esse objetivo foi de 29%
dos respondentes da pesquisa. Em 42% dos casos, alguma ação vai depender da dispo-
nibilidade de recursos; 25% não têm um planejamento específico para inovação, e 4% não
pretendem fazer nenhuma inovação.
E para essas cooperativas, quais são os maiores desafios para inovar? A principal é a indis-
ponibilidade de recursos financeiros, seguida pela falta de organização, de ideias e proje-
tos, e de equipes capacitadas.
GOVERNANÇA
DA INOVAÇÃO
A cultura da cooperativa precisa estar voltada para isso e os colaboradores precisam ser
estimulados e orientados para um trabalho sistemático e contínuo. A cultura da inovação
deve permear todos os processos. Estratégias, recursos, metas e responsabilidades têm
que ser bem definidas para que o processo aconteça de fato, as tomadas de decisão se-
jam feitas e os resultados possam ser medidos, como veremos ao longo deste capítulo.
PROGRAMAS
DE INOVAÇÃO
Para que uma cooperativa possa, de fato, desenvolver regularmente produtos ou serviços
inovadores, a melhor estratégia é manter um programa de geração de ideias que esteja
alinhado ao planejamento estratégico da instituição. Isso pode ser feito tanto internamen-
te quanto com o apoio de parceiros como consultorias, universidades ou startups. Inicia-
tivas pontuais, por si só, não tornam uma empresa inovadora. Para isso, é necessário que
haja investimento e atuação contínua.
No livro Gestão de Ideias, os professores Hélio Gomes de Carvalho, Denise Elizabeth Hey
David e Rosângela Stankowitz Penteado destacam que a função de um programa de su-
gestões é coletar, selecionar e administrar ideias que possam ser aproveitadas no proces-
so de inovação, avaliando sistematicamente o potencial de cada uma delas.
Descrição e registro
Classificação
F
eedback aos autores
Reconhecimento e premiação
Descrição e registro: quanto mais bem feita e detalhada for a descrição das ideias para
produtos e serviços inovadores, maiores são as chances de aprovação. Afinal, a avaliação
inicial será feita com base nesse conteúdo.
Condição anterior
Condição proposta
Benefícios esperados
Custos
Vantagens competitivas
Prazos
O funil de inovação é um método que pode ser utilizado para organizar o processo de classi-
ficação e evitar que boas ideias fiquem pelo caminho por estar em meio a um volume gran-
de, heterogêneo e muitas vezes desorganizado de propostas. Falamos dele no capítulo 3.
A ideia é ter um mecanismo em que um grande volume inicial de ideias passe por etapas
até chegar a poucas e viáveis. De acordo com os teóricos que propuseram o método, o
melhor cenário tem funis com bocas largas e gargalos estreitos, isto é, envolvem um pro-
cesso abrangente de ideias para selecionar as poucas que poderão ser viabilizadas.
Definição de critérios para a seleção: é importante que os critérios utilizados para a aná-
lise das sugestões sejam claros e estejam alinhados ao tipo de negócio e aos propósitos
da empresa, a fim de minimizar erros no processo de seleção. Entre os critérios de aprova-
ção, podem ser utilizados:
Agregação de valor
Aumento de competitividade
Feedback aos autores: segundo os autores, o retorno aos criadores das ideias é essen-
cial para que o programa tenha continuidade. É preciso sempre justificar as reprovações,
visando encorajar outras sugestões. Se o funcionário não tem retorno sobre suas propos-
tas, possivelmente se sentirá desestimulado a apresentar novas ideias.
Além do retorno oral, umas das possibilidades para esse feedback é o uso de ferramentas
on-line, por meio das quais o funcionário pode conferir o status de sua proposta: se está
sob avaliação, se foi aprovada ou rejeitada, e se está pronta para ser implantada.
A premiação pode ser feita de diversas maneiras. Carvalho, David e Penteado citam os
seguintes exemplos: pagamento em dinheiro ou percentual sobre o retorno econômico
obtido; premiações em produtos; promoções de cargo; aumento de salário; viagens; e
dias de descanso.
inovação NO COOPERATIVISMO 178
No caso de premiações sobre retorno econômico obtido, alguns métodos podem ser
utilizados para que haja total transparência do processo: computar a economia obtida,
definir um esquema de arbitragem para solucionar divergências a respeito dos cálculos e
estabelecer uma auditoria para assegurar a exatidão das avaliações (ROBINSON; SCHRO-
EDER 2005 citado por PENTEADO 2010).
Outra publicação sobre o tema é o Manual de Boas Práticas para Conexão com
Startups Indústria, produzido pela Agência Brasileira de Desenvolvimento In-
dustrial (ABDI) e a Associação para Promoção da Excelência do Software Brasi-
leiro (Softex).
PRIORIZAÇÃO DAS
INICIATIVAS DE INOVAÇÃO
Com a criação de um programa de inovação, é natural que as áreas defendam suas ideias
como sendo as prioritárias para receber investimentos e soluções desenvolvidas. Como sepa-
rar o que é mais importante com base nas diretrizes estratégicas da empresa ou cooperativa?
Um dos modelos de priorização mais difundidos atualmente é o chamado 3H, que remete
a três horizontes de inovação, concebido pela McKinsey Consultoria. Como o nome diz,
o modelo sugere avaliar as propostas de inovação a partir de três horizontes diferentes,
levando em consideração o tempo e o impacto.
O Horizonte 3 tem como foco negócios completamente novos e, por isso, com uma carga
de experimentação bastante considerável. É o local adequado para listar ideias realmente
inspiradoras e disruptivas, com potencial elevado de conectar a cooperativa ao ecossis-
tema de inovação.
Com base nesse modelo, 70% dos recursos devem ser alocados em projetos do Horizonte
1; 20%, no 2; e 10%, no 3.
inovação NO COOPERATIVISMO 180
Em 1990, a OCDE lançou o Manual de Oslo — Proposta de diretrizes para coleta e interpre-
tação de dados sobre inovação tecnológica. O documento pretende orientar e padronizar
181 inovação NO COOPERATIVISMO
No Brasil, a primeira tradução do Manual de Oslo para a Língua Portuguesa foi feita em
2004, pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), agência pública responsável pelo
financiamento à inovação. Atualmente, a publicação está na quarta edição, de 2018. A últi-
ma versão traduzida é a terceira, de 2005.
O Manual Frascati — também produzido pela OCDE — tem como foco principal empresas
com pelo menos um profissional integralmente dedicado a pesquisa e desenvolvimento,
enquanto o Manual de Oslo inclui quem realiza essa atividade de forma irregular, o que se
adequa melhor à realidade brasileira, em que a maior parte das empresas e cooperativas
não têm áreas específicas de pesquisa e desenvolvimento.
Atualmente, o Índice Global de Inovação (IGI), que está na 13ª edição, é a principal ferramen-
ta internacional voltada para avaliar como a inovação é encarada nos mais diversos países
do mundo. Na edição mais recente, de 2020, a publicação apresenta tendências globais no
terreno da inovação e analisa o desempenho de 131 economias em relação ao tema.
Além do desempenho de cada país, o IGI mostra o que as organizações vêm fazendo para
fomentar a inovação. O índice traz ainda indicadores relacionados à inovação, como estí-
mulos em capital e políticas para imigração, educação e propriedade intelectual.
METAS E INDICADORES
A definição de metas e indicadores para os projetos de inovação é muito importante para
que as iniciativas possam ser bem-sucedidas e gerar os resultados esperados pelas em-
presas ou cooperativas. Artigo publicado pelo Sebrae de Santa Catarina destaca que as
metas e os indicadores fornecem uma base objetiva para a identificação de problemas, a
definição de prioridades e para que seja possível verificar como andam os esforços para
inovar e aprimorar os negócios e os processos de gestão.
E o que são essas metas e indicadores? No planejamento estratégico, o ideal é que se-
jam definidos objetivos de curto, médio e longo prazos. Esses objetivos, em geral, têm um
caráter mais amplo. Vamos pegar como exemplo uma pequena cooperativa do ramo de
transporte. Um objetivo para médio prazo pode ser se tornar a maior do setor na cidade;
de longo prazo, a maior da região. E onde entram as metas nesses planos?
Para que esse objetivo seja atingido, é importante que as várias áreas da cooperativa te-
nham metas a serem alcançadas. Vejam alguns exemplos: aumentar em 5% o faturamento
por mês, dobrar o número de veículos em um ano, ampliar em 50% o acesso às redes so-
ciais nos próximos três meses… O ideal é que as metas sejam específicas, realistas, bem
embasadas e conversem diretamente com os objetivos predefinidos.
E os indicadores? São eles que irão medir se a cooperativa está de fato cumprindo as
metas definidas. Para saber se as metas de ampliar o acesso às redes sociais foram cum-
pridas, o indicador pode ser o número de novos seguidores por mês. No caso do aumento
do faturamento, é preciso ter um indicador, uma ferramenta que meça mês a mês se ele de
fato está sendo alcançado.
Como medir a inovação? Apesar dos diversos documentos publicados sobre o tema, não
há unanimidade sobre as melhores formas de medir a inovação. Por isso, cada coopera-
tiva ou empresa tem liberdade para estabelecer métodos que se adequem melhor à sua
realidade. Mesmo que alguns indicadores sejam padrões para todos os tipos de inovação,
como custo, tempo e qualidade, o tipo de inovação é determinante na construção dos
critérios a serem usados na mensuração. A seguir, apresentaremos algumas maneiras de
acompanhar e avaliar o seu processo de inovação:
183 inovação NO COOPERATIVISMO
Identifica oito tipos de atividades principais em que as empresas podem buscar a inovação:
A
tividades de pesquisa e desenvolvimento experimental: trabalho criativo e sistemático
realizado para ampliar conhecimento e conceber novas aplicações.
E
ngenharia e design de produtos e outras atividades de trabalho criativas: atividades
experimentais e criativas ligadas a essas áreas e não obrigatoriamente relacionadas a pes-
quisa e desenvolvimento.
A
tividades de marketing e valorização de marca: inclui estratégias de marketing, coloca-
ção e promoção de produtos, posicionamento de marca e atividades de relações públicas
que contribuam para a reputação e o valor da marca.
A
tividades relacionadas à propriedade intelectual: inclui formas de solicitar direitos de
propriedade intelectual para uma inovação ou para uma invenção ou um licenciamento do
direito de usar uma invenção ou inovação.
A
tividades de treinamento de funcionários: buscar formas inovadoras de capacitar a força
de trabalho, inclusive no uso de tecnologias inovadoras.
A
tividades relacionadas com a aquisição ou o arrendamento de ativos tangíveis: busca
por infraestrutura física, máquina e equipamentos que possibilitem inovar o processo produ-
tivo e aprimorar o negócio.
G
estão da inovação: inclui todas as atividades sistemáticas para planejar, governar e con-
trolar os recursos internos e externos para a inovação.
Marketing e
Gestão da inovação
PRINCIPAIS valorização de marca
ATIVIDADES QUE
PODEM RECEBER
Aquisição ou arrendamento INOVAÇÕES Propriedade
de ativos tangíveis intelectual
2 METODOLOGIA NUGIN
Elaborada pelo Instituto Euvaldo Lodi, de Santa Catarina (IEL/SC), em parceria com a Universidade
Federal de Santa Catarina (CORAL; OGLIARI; ABREU, 2008), traz três conjuntos de indicadores —
entradas, processos e saídas — que permitem medir a inovação em empresas de pequeno e médio
portes, e podem servir de ponto de partida para cooperativas dos mais diversos segmentos.
Investimento realizado na
execução do projeto menos o
Taxa de extrapolação no investimento planejado para
Por projeto
orçamento de projetos a execução do projeto x 100/
investimento planejado para a
execução do projeto
Número de patentes
Percentual de patentes
concedidas x 100/número de Anual
concedidas à empresa
patentes solicitadas
Outra metodologia para mensurar a inovação, criada em 2010 pela consultoria de inova-
ção corporativa Innoscience. A ferramenta permite que a empresa analise seu desem-
penho com relação a oito dimensões da inovação: liderança, estratégia, relacionamento,
cultura, pessoas, estrutura, processo e financiamento (SCHERER; CARLOMAGNO, 2009).
O método prevê que as empresas avaliem de 1 a 9 suas ações em relação a 24 tópicos re-
lacionados a essas dimensões:
Liderança
Estratégia
Relacionamento
Cultura
Permitimos que todos corram riscos e cometam erros na busca por novas
soluções;
Pessoas
Estrutura
Processo
Financiamento
4 DIAGNÓSTICO GIT
A Indicadores de esforços
B Indicadores de resultados
Outro indicador que pode ser usado para medir resultados é o retorno sobre o investimen-
to (ROI). Na prática, é a relação entre o faturamento obtido como resultado de um investi-
mento e a quantidade de dinheiro investido. Se uma cooperativa investe R$ 10 mil e ganha
R$ 50 mil, o ROI é igual a quatro, porque o retorno foi de quatro vezes o valor investido; se o
ganho fosse de apenas R$ 10 mil, o ROI seria zero, pois não houve lucro.
O ROI é um método que permite verificar se, do ponto de vista financeiro, o investimento
valeu a pena. O ganho para a cooperativa com essa economia foi maior do que o investi-
mento? Ou investi mais do que ganhei? E no médio e longo prazo, vai compensar? O ROI
permite uma análise objetiva. Porque, às vezes, os números impressionam, mas uma
avaliação mais detalhada pode deixar claro que o resultado pode não ser tão bom quanto
parece. No caso do Sicredi, o investimento foi bem-sucedido.
COLHENDO RESULTADOS
“O sucesso que a gente teve é muito por conta da atenção exclusiva à inovação.
Porque aí a gente só pensa nisso e traça metas, planeja e acompanha. E, claro, isso
tudo precisa, no final, dar um retorno financeiro para a cooperativa. Tudo no Avan-
ce Hub é definido como se fosse uma unidade estratégica dentro da Coplacana”,
destaca o superintendente da cooperativa, Klever Coral José.
O autor destaca que, para mudar essa tradicional orientação em relação aos riscos, é fun-
damental que o conselho de empresas e cooperativas reavalie os critérios que definem o
seu apetite para o risco, “ponderando os potenciais ganhos associados às oportunidades,
os riscos de manutenção do status quo e sua capacidade em reduzir, transferir e compar-
tilhar os riscos da inovação”.
Também pode contribuir para o processo uma interação da empresa ou cooperativa com
agentes externos, como clientes, fornecedores, parceiros e academia. Assim, é possível
estabelecer práticas e políticas em que os riscos da inovação sejam compartilhados com
esses agentes externos.
Segundo Ienaga, três novos elementos devem ser incorporados ao modelo de governan-
ça: inclusão de agentes externos à organização; cooperação e competição (“coopetição”)
entre os diversos atores externos; e compartilhamento de recursos e dos riscos associa-
dos à inovação.
A PwC sugere cinco ações imediatas que as empresas e cooperativas podem tomar para
tornar a gestão de risco mais eficaz na busca de produtos e serviços inovadores. São elas:
191 inovação NO COOPERATIVISMO
Saber aceitar e lidar com erros — por mais que haja um processo eficiente de gerenciamen-
to de riscos, erros sempre podem ocorrer nos processos de inovação. O que fazer quando
isso acontece? Por mais que seja desconfortável, é preciso saber assumir e aceitar os erros
como parte do processo, reavaliar o caminho e buscar novos direcionamentos. Mas é pre-
ciso ter em mente algo importante: o erro tolerável é o que surge na busca por melhorias,
como uma oportunidade de aprendizado, e nunca por negligência ou descuido.
Tess Robinson, fundadora da agência britânica Smack Bang Designs, destaca que toda
atividade fracassada gera aprendizado. Robinson comenta que, ao fazer uma mudança de
negócios arriscada, o empreendedor pode se ver “caindo de cara no chão”. “Você pode de-
dicar-se de coração e alma a uma ideia apenas para descobrir que não há mercado para ela.
Ou, talvez, seu negócio de investimento que parecia tão promissor pode azedar e morrer. O
cliente odeia seu trabalho. Mas o que não mata você realmente o tornará mais forte, porque,
quando você tenta o seu melhor e aprende com o resto, você nunca falha de fato.”
O consultor observa que o medo de falhar é o fantasma de toda cultura corporativa orientada
para a inovação. “Por causa desse medo, as pessoas não se arriscam a experimentar coisas
novas, inventar novos processos ou experimentar novos procedimentos. Eles continuam se-
guindo o mesmo padrão, regras e processos, não importa se eles ainda fazem sentido ou não.”
Nos processos de inovação, é importante que a cooperativa tenha em mente que erros
fazem parte do processo. E saber lidar com eles de forma positiva é um importante dife-
rencial para dar continuidade a projetos inovadores.
Foi o que fez a In Loco, startup criada em 2011 com foco em tecnologias de localização. Em
2016, o erro de um funcionário no desenvolvimento de um sistema causou um prejuízo de
mais de R$ 1 milhão para a empresa. Em vez de ser demitido, o profissional foi elogiado por
ter tido a coragem de buscar novas ideias e tentar implantá-las.
PRÊMIOS DE INOVAÇÃO
E RECONHECIMENTOS
HACK AWARD
O Hack Award é um concurso que coloca em disputa ideias e modelos de negócios de em-
preendedores de todo o mundo. Na edição de 2021, os temas escolhidos foram Cidades
Inteligentes, Tecnologias Alimentares e Assistência Médica. Três companhias são premia-
das com base em critérios como originalidade e aplicabilidade da ideia, possibilidade de
reprodução em outros locais e impacto na sociedade.
Outras informações
podem ser obtidas
SAIBA
clicando aqui MAIS!
inovação NO COOPERATIVISMO 196
A categoria busca premiar iniciativas inovadoras que promoveram mudanças no dia a dia
das cooperativas, em seus processos, produtos e serviços, com resultados efetivos.
REFERÊNCIAS
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Startup Indústria. 2018
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s-robinson. Acesso em: 21 jul. 2021.
artigo
artigo
artigoEduardo Damião
FACILITADORES CONFIGURACIONAIS
PARA INOVAÇÃO EM COOPERATIVAS
LIDERANÇA
COOPERATIVA
Traços da cooperativa e
motivação para a inovação
L1: Stewardship
L2: Agência
INOVAÇÃO EM
COOPERATIVAS
ORGANIZAÇÃO PROCESSOS
DA COOPERATIVA DA COOPERATIVA
Estratégias de cooperativa e Ações da cooperativa
cultura para a inovação e decisões para a inovação
O1: Competência da força de trabalho P1: Diversificação de mercado
O2: Foco competitivo P2: Orientação para a inovação
No primeiro, acredita-se que os líderes operem em uma figura ou visão de homem mais
individualista, oportunista e de acordo com objetivos e ambições pessoais, ou seja, em
que prevalece a propensão ao comportamento baseado no interesse pessoal. O oportu-
nismo pode ser visto como a forma por meio da qual os líderes reagem à parte planejada
da organização. Nesse contexto, os líderes não são, necessariamente, impulsionados por
interesses financeiros (Wiseman et al., 2012), mas provavelmente introduziriam mecanis-
mos de governança (por exemplo, gestão de desempenho, monitoramento) que vinculem
ambições pessoais a resultados organizacionais. Esses interesses se apresentariam nas
várias relações de principal e agente encontradas numa cooperativa, como na relação do
papel do cooperado como proprietário, como cliente ou como fornecedor da cooperativa.
Segundo Govindarajan (2016), esse processo de oportunismo planejado pode criar três
coisas importantes para a instituição: (1) um sistema circulatório de novas ideias; (2) capaci-
dade, com base nas novas ideias, de priorizar, investigar e agir; (3) e uma cultura adaptativa
que abraça a mudança contínua. Isso favorece à empresa assumir uma postura proativa e
não reativa. Dessa forma, o oportunismo planejado, dentro da visão de agência, pode pro-
porcionar às cooperativas um processo de conciliação entre o planejamento estratégico ou
de cenários e diversas ferramentas tradicionais (matriz SWOT, análise de portfólio, Business
Model Canvas, Mapa de Stakeholders, entre outras) e aspirações culturais, com as chama-
das novas ferramentas e métodos ágeis (como o Design Thinking), sem cair na armadilha do
modismo gerencial superficial e ineficaz, contribuindo para uma organização mais plana e
uma força de trabalho mais capacitada. Pesquisas anteriores demonstram que tal mentali-
dade de agência pode levar as organizações a processos mais inovadores, mas mantendo o
foco em um objetivo central, ou seja, social ou financeiro (Bacq et al., 2016).
Em contraste, a teoria da stewardship sugere que os líderes não são motivados por obje-
tivos individuais, mas seus objetivos estão alinhados com seus “diretores” ou membros
organizacionais (Davis et al., 1997). Esse tipo de liderança envolve forte afinidade e identi-
dade com a organização. Sklaveniti (2017) sugere que a liderança envolve “ação conjunta”
inovação NO COOPERATIVISMO 204
Garnevska et al. (2014) identificam os danos que a falta de confiança nos líderes pode ter
nas cooperativas, mas como isso se relaciona com a inovação entre as abordagens de
agência e stewardship ainda não está claro. Em suma, a liderança cooperativa repre-
senta um importante determinante da inovação, com stewardship e agência como dois
subcomponentes importantes das abordagens de liderança. Poderíamos relacionar a
visão de agência e stewardship como extremos de um mesmo continuum, onde num ex-
tremo teríamos uma liderança totalmente orientada por uma visão de agência e, no outro
extremo desse mesmo continuum, uma liderança totalmente orientada por uma visão
de stewardship. Talvez esses extremos puros não existam ou nem sejam desejáveis. No
entanto, o que se possa encontrar nas possíveis configurações organizacionais nas coo-
perativas, seja o predomínio de uma dessas visões e/ou uma infinidade de combinações
de intensidades diferentes que seriam explicadas por contextos e momentos diferentes
vivenciados pela cooperativa e por seus líderes.
Em resumo, Muñoz, Kimmitt e Dimov (2020) descrevem que a estrutura na Figura 1 se ba-
seia na abordagem holística de Crossan e Apaydin (2010) para a inovação e a compreen-
são contextual das cooperativas. Permite-nos traçar distinções entre cooperativas com
base em combinações de liderança cooperativa, organização e processos. Por exemplo,
vários estilos de liderança de gestores podem estimular ou dissuadir a força de trabalho
de apoiar e possibilitar a inovação. Da mesma forma, as estruturas de governança podem
envolver uma interação entre a orientação inovadora da cooperativa, o papel da força de
trabalho e seus respectivos líderes.
As cooperativas possuem uma vocação natural para a inovação, em função do seu contexto
de atuação, das estruturas de governança, característica de sua força de trabalho, e de pro-
cessos internos de decisão. No entanto, no contexto de crise e de pós-pandemia, a inovação
se transforma num imperativo para a sobrevivência e o desenvolvimento das cooperativas.
Por isso, a inovação deve estar no foco de atenção dos gestores e membros da governança
das cooperativas, para que a considerem como opção fundamental nos processos de plane-
jamento estratégico, lançando mão das diversas ferramentas de diagnóstico estratégico para
detectar, avaliar e planejar a execução da inovação, que somente se confirmará dessa forma a
partir do resultado alcançado. Seja qual for a configuração adotada ou que emerja na coope-
rativa, o centro ou foco de atenção deve ser a inovação. Algumas configurações podem ser
mais facilitadoras do processo de inovação. Por isso, a importância da visão acerca das pos-
sibilidades de arranjos que o modelo auxilia a ficarem nítidas para os gestores, devendo estar
cada vez mais na consciência desses gestores para aumentar a probabilidade de serem exe-
cutadas efetivamente. Dessa forma, a inovação poderá cumprir o seu papel de continuar sen-
do uma alavanca fundamental para a sustentabilidade das cooperativas no pós-pandemia.
REFERÊNCIAS
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Inovar juntos
Cooperativa
Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi)
Projeto de inovação
Inovar Juntos
Investimento
mais de R$ 1 milhão, desde 2019
inovação NO COOPERATIVISMO 210
R
econhecimento do Sicredi como uma das 100 organizações mais
inovadoras do Brasil no Ranking 100 Open Startups 2019, 2020 e 2021
M
udança do mindset (pensamento) das equipes do Sicredi a partir da
relação com os empreendedores, o que acelera ainda mais o processo de
transformação digital
C
riação, desenvolvimento e lançamento do Conecta, marketplace que
oferece aos associados do Sicredi uma forma mais moderna de interação
para compra e venda de produtos e serviços. A solução está disponível
para 94 cooperativas e conta com cerca de 48 mil usuários
L
ançamento da solução Cosmobot, que já́ permitiu ao Sicredi captar mais
de R$ 100 milhões em investimentos realizados por seus associados, de
maneira prática e fluida, em poucos cliques
Rodrigo informa que foram três as razões que motivaram o Sicredi a optar por um progra-
ma de inovação nesse formato. Em primeiro lugar, a conexão com as startups possibilitaria
à instituição desenvolver projetos de maneira rápida e com menos recursos. A segunda foi
rejuvenescer a imagem do sistema, uma instituição com 118 anos de existência. E a tercei-
ra foi contribuir para a transformação cultural da própria equipe da cooperativa, por meio
do contato com novas formas de gerar inovação.
“Conseguimos, por meio do Inovar Juntos, resolver dores que não conseguiríamos resol-
ver sozinhos, ou, se possível, em muito mais tempo e com muito mais recursos investidos”,
afirma Rodrigo.
INOVAÇÃO ABERTA
Para implantar o programa, o Sicredi contou com o apoio de duas consultorias espe-
cializadas: a Innoscience e a Startse. O primeiro passo foi buscar desafios internos que
precisassem ser solucionados. Foi realizada uma ampla divulgação em todas as áreas da
cooperativa, para que elas apresentassem propostas, que precisavam, obrigatoriamente,
estar relacionadas ao desafio estratégico da instituição.
O programa foi um sucesso, logo de cara. Nessa seleção inicial, 211 startups se inscreve-
ram, das quais 12 foram escolhidas e tiveram a oportunidade de fazer uma apresentação
oral de seus projetos às equipes de negócios do Sicredi.
Em 2019, a cooperativa realizou outra seleção, nos mesmos moldes da primeira. De 178 star-
tups inscritas, oito foram selecionadas para o período de experimento e duas foram escaladas.
A partir de 2020, com mais experiência, o Sicredi resolveu coordenar sozinho o programa
de startups, sem a participação de consultorias. O primeiro passo foi transformá-lo em um
programa com inscrições abertas a todo momento, sem iniciação de processo seletivo.
“Como já estávamos mais maduros, vimos que era possível respeitar o tempo dos times
de negócio. Se temos uma demanda pontual, por que não buscar logo a solução para o
problema?”, questiona Rodrigo. Desde a implantação do novo modelo, 30 startups foram
mapeadas; nove, selecionadas, e duas foram escaladas. Buscamos startups mais estabe-
lecidas, com produtos/soluções validadas.
inovação NO COOPERATIVISMO 212
Rodrigo conta que os experimentos executados com as startups passam por encontros
de lições aprendidas, na qual os aprendizados dos experimentos são discutidos e retroali-
mentado o programa Inovar Juntos. As lições aprendidas geram oportunidades de melho-
ria para o Sicredi e Startups.
“Sabemos da frustração quando um experimento não é escalado, mas isso faz parte do
processo. Por isso é importante discutir com cada um as lições aprendidas, e buscar opor-
tunidades de evolução”, aponta Rodrigo. “Um processo como esse é sujeito a erros, e é
importante aprender com eles e buscar caminhos diferentes”, avalia.
PROJETOS CONTRATADOS
Uma das primeiras soluções contratadas pelo Sicredi é a plataforma de marketplace
Conecta. A ferramenta, usada por cerca de 150 mil pessoas em quase 100 cooperativas,
oferece aos usuários uma forma mais moderna de interação para a compra e venda de
produtos e serviços.
cooperado cria seus anúncios com os produtos e serviços, e divulga para outros as-
O
sociados das cooperativas do Sicredi;
Ele realiza a venda e recebe o pagamento na sua conta Sicredi. Os associados pagam
pelo próprio aplicativo e o dinheiro entra direto na conta do vendedor.
Desde 2019, mais de R$ 190 mil em transações foram realizadas por meio do Sicredi Co-
necta. “Durante o isolamento social, o aplicativo se tornou de suma importância para a in-
clusão de pequenos empreendedores no mundo digital”, conta a analista digital do Sicredi
Priscila Bibiana Viegas.
Outra solução contratada pelo Sicredi foi o aplicativo PayTrack, que resolveu uma das ne-
cessidades internas da cooperativa: facilitar os processos de ressarcimento de despesas
com viagens. O trabalho era demorado, feito manualmente, via e-mail, e não atendia mais
as necessidades do sistema.
“Agora, com esse aplicativo, tudo é feito de forma digital, com mais rapidez, oferecendo
uma nova experiência para o usuário. Além disso, conseguimos economizar, em um ano,
cerca de R$ 1 milhão com a implementação da ferramenta”, conta Rodrigo.
Uma terceira solução contratada foi o aplicativo Ludus Pro, voltado para treinos e capaci-
tações. A plataforma funciona como se fosse um jogo de videogame, de maneira mais in-
terativa e divertida. “O usuário brinca na frente do computador ou do celular. Não tivemos
ganho financeiro, mas ampliamos bastante a capacidade de aprendizado da empresa”,
destaca Rodrigo.
213 inovação NO COOPERATIVISMO
Também foi escalado a solução da Cosmobot, que permite aos cooperados fazer inves-
timentos em fundos escolhidos com base em seus perfis. Desde fevereiro, quando foi
implantada, a ferramenta viabilizou mais de R$ 150 milhões em transações. “É um sistema
que funciona de maneira prática, interativa e focada nas necessidades do usuário”, obser-
va Rodrigo.
É importante destacar que o Inovar Juntos é totalmente gratuito, sem nenhuma cessão de
participação (equity do negócio), ou seja, a propriedade intelectual da solução apresenta-
da continua sendo da startup.
MEDIR RESULTADOS
Rodrigo destaca que uma das preocupações do Sicredi com o programa de inovação foi
buscar formas de medir o resultado dos projetos. Ele conta que os métodos variamm de
acordo com as características l da iniciativa. “Nosso foco principal foi a perspectiva da ge-
ração de valor”, conta.
“Desde o lançamento do programa, nós contratamos nove projetos inovadores, nos co-
nectamos com mais de 500 startups e criamos uma nova cultura na instituição. Estamos
muito satisfeitos com o resultado dessa nossa iniciativa. Inclusive, agora fazemos parte
das 100 empresas mais inovadoras do Brasil no Ranking 100 Open Startups, onde tivemos
o reconhecimento do ecossistema nos anos de 2019, 2020 e 2021, premiação que avalia o
engajamento de grandes empresas com o universo de inovação aberta brasileiro”, finaliza.
inovação NO COOPERATIVISMO 214
2020/2021
2018 2019
(FORMATO CONTÍNUO)
Walt Disney
A melhor maneira
de prever o
futuro é criá-lo.
Peter Drucker
inovação NO COOPERATIVISMO 216
Antes de lançar um novo produto, a maioria das organizações desenvolve uma série de
protótipos físicos para a realização de testes de resistência, durabilidade e eficiência.
Eles vão sendo aprimorados até alcançarem todos os padrões de qualidade exigidos em
seu respectivo mercado. Um alto investimento de tempo e dinheiro que pode, no fim das
contas, provar que o produto é inviável. Com a chegada das tecnologias 4.0, esses testes
podem ser realizados apenas virtualmente, por meio dos chamados gêmeos digitais —
modelos virtuais que reproduzem as mesmas características que esses produtos teriam
no mundo real.
Mais do que os aspectos técnicos, os testes são fundamentais também para entender as
necessidades do público. Ao inserir um novo produto ou serviço no mercado, é importante
avaliar, antes do investimento, se ele atende às necessidades do usuário que está buscan-
do — caso contrário, pode ser um grande risco. Estratégias como o UX — User Experien-
ce, ou Experiência do Usuário — usam metodologias para desenvolvimento de produtos
que mantêm o usuário no centro durante todo o desenvolvimento do projeto, ampliando
as chances de sucesso daquela solução. Na indústria automobilística, por exemplo, pro-
tótipos de automóveis são colocados à prova em túneis de vento e pistas reais, com água,
curvas e colisões, para testar requisitos como segurança, velocidade, estabilidade e
economia. Se essa fábrica optasse por um gêmeo digital, haveria uma simulação dessas
situações com condições reais de uso do carro. E os testes em ambiente digital são mais
rápidos e eficientes. Otimização dos processos: check! Economia na linha de produção:
check! Possibilidade de oferecer um produto melhor e de menor custo final para o cliente:
check! Para trazer o usuário para dentro do processo produtivo, a Fiat criou, recentemen-
te, o protótipo de um novo carro conceito a partir de uma plataforma colaborativa, em que
os clientes opinavam sobre suas reais necessidades em um automóvel.
FUTURISMO
E PREDIÇÃO
Mas antes, precisamos refletir: o que é tendência? Pode parecer coisa de desenho anima-
do, com carros voadores e robôs que falam, mas há quem se dedique a pesquisar, analisar
e antever o que será realidade daqui a cinco ou dez anos. São os chamados futuristas,
pesquisadores que utilizam dados e um olhar apurado para prever tendências que irão
impactar o desenvolvimento de novas tecnologias, comportamentos da sociedade e, é
claro, os negócios.
Não à toa, a “alfabetização em futuros” é considerada pela Organização das Nações Uni-
das para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) uma habilidade para o século XXI.
Trata-se da capacidade de compreender melhor o papel que o futuro vai desempenhar
naquilo que as pessoas veem e fazem no presente.
Não se trata de palpite ou especulação: o trabalho de predição é uma tarefa estruturada que
nos permite antever tendências e estar um passo à frente para não sermos engolidos por mu-
danças que já estão logo ali na esquina, mas a maioria dos negócios não consegue enxergar.
Uma tendência é uma mudança que desbloqueia novos valores e necessidades humanas.
Elas podem ser consideradas micro, macro ou megatendências. A diferença é justamente
o impacto que elas têm na sociedade como um todo e a duração do seu ciclo de vida. As
microtendências duram, em média, de dois a cinco anos, e podem envolver uma mudança
comportamental, mas bem específica, como uma tecnologia nova. Houve um período em
que todos os serviços de atendimento ao cliente passaram a usar assistentes digitais —
inclusive aqueles que ligavam para o consumidor com uma oferta, a partir de uma grava-
ção. Essa tecnologia foi febre, e plantou a semente para o uso futuro dos chatbots.
Mais do que um novo produto, serviço ou mercado, as megatendências são aquelas que
marcam uma geração. A maioria dos jovens de hoje sequer sabe como se procurava um
telefone ou endereço antes da internet, porque todo o seu comportamento já foi moldado
em um mundo pós-digital.
219 inovação NO COOPERATIVISMO
DE OLHO NO FUTURO
Aumento e declínio A
umento pela demanda
populacional de alimentos
S
mart Cities Fim do excesso
Antirracismo Criptomoedas
Omni-acessibilidade
Crise psicológica
inovação NO COOPERATIVISMO 220
ONDA TECH
Existem “techs” nos mais diversos segmentos, como o agronegócio (agrotechs), finanças
(fintechs), recursos humanos (HR techs), saúde (heathtechs), marketing (martechs), en-
tre outras. Neste livro, abordaremos algumas delas e suas principais especificidades. O
objetivo? Mostrar como as coops podem surfar nessa onda “tech”, seja desenvolvendo
novos arranjos tecnológicos, seja dando suporte para a inovação ou se aproximando de
startups e ecossistemas de inovação e tecnologia.
AGROTECHS
A revolução digital também chegou ao campo. E as startups que vêm possibilitando essa
revolução do agronegócio, a partir do desenvolvimento de novas tecnologias direciona-
das ao campo, são chamadas de agrotechs ou agtechs.
Quer um exemplo prático? Sensores instalados no solo são capazes de mensurar a quan-
tidade de água nas plantações e, automaticamente, acionar a irrigação nos momentos de
umidade abaixo do ideal.
Esses são apenas alguns dos vastos exemplos de inovação no setor. E os ganhos — so-
ciais e econômicos — com a utilização dessas novas tecnologias são promissores. Basta
lembrar que o setor do agronegócio brasileiro é um importante motor de desenvolvimento
do país e ainda tem grande potencial de crescimento. Ele representa, atualmente, 24,31%
do Produto Interno Bruto (PIB) e é responsável pelo abastecimento de mais de 200 mi-
lhões de pessoas. O agro também foi responsável pela metade das exportações do país
em 2020, com participação recorde de 48%. Além disso, mesmo com a pandemia do novo
coronavírus, houve recorde na safra de grãos.
Até dezembro de 2020, existiam no Brasil 1.574 agrotechs, sendo que a maior parte delas
estão concentradas nas regiões Sudeste (62,5%) e Sul (25,2%) do país. As informações
são do Radar Agtech Brasil 2020/2021, um mapeamento das startups do Setor Agro Bra-
sileiro, elaborado conjuntamente pela SP Ventures, pela Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa) e pela Homo Ludens Research and Consulting.
inovação NO COOPERATIVISMO 222
SUDESTE (983) RR
AP
SP 757
MG 143
RJ 63
20 AM PA
ES MA CE
RN
SUL (397) PI PB
PR 151 PE
AC TO AL
RS 124 RO
SC 122 SE
MT BA
CENTRO-OESTE (94) DF
GO 30 GO
MT 30
MS 17 MG
DF 17 MS ES
SP
RJ
NORDESTE (72)
PR
BA 25
PE 11 SC
SE 13 SUDESTE 62%
PB 7 RS SUL 25%
RN 9 CENTRO-OESTE 6%
AL 2 5%
NORDESTE
PI 4
SE 2 NORTE 2%
Fonte: Radar Agtech Brasil 2020/2021, p. 56.
A
ntes da fazenda — startups que comercializem e/ou desenvolvam métodos, processos e
tecnologias disruptivas na variedade de sementes e mudas, bem como nos métodos de mul-
tiplicação, germinação e distribuição delas. Estão incluídas também as que comercializem e/
ou desenvolvam melhoramento genético de plantas, desenvolvem tecnologia para a produ-
ção escalável de substâncias biológicas e definem novas utilizações para essas substâncias
biológicas. Segundo o Radar Agtech 2020/2021, o Brasil possuía 199 startups do agronegó-
cio nesta categoria.
D
entro da fazenda — engloba as agrotechs que desenvolvam sistema de gestão de proprie-
dade rural e plataformas integradoras de sistemas. Também entram nesta classificação as
que comercializem e/ou desenvolvam variantes bioquímicas e biológicas (macroscópicas ou
microscópicas) voltadas para o combate de pragas e doenças, bem como startups que desen-
volvam tecnologias para o controle populacional e a otimização da utilização de insumos, por
meio de inteligência agronômica, para um controle efetivo e eficiente de pragas e doenças. Ao
todo, no Brasil, existem 657 neste segmento.
223 inovação NO COOPERATIVISMO
D
epois da fazenda — Pelo estudo, é possível notar que a maioria — ou seja, 718 agrotechs — é
relacionada ao estágio chamado “depois da fazenda”, que envolve, por exemplo: marketplaces e
plataformas de negociação e venda de produtos agropecuários; alimentos inovadores e novas
tendências alimentares; armazenamento, infraestrutura e logística.
Ainda segundo esse estudo, as agrotechs brasileiras reúnem soluções baseadas em robótica,
edição de genes, inteligência artificial, blockchain, nanotecnologia, proteína sintética, agricul-
tura celular e machine learning (aprendizado de máquina).
Fertilizantes, Inoculantes e Nutrientes Crédito, Permuta, Seguro, Créditos de Carbono e Análise Fiduciária Análise Laboratorial
Sementes, Mudas e Genômica Vegetal Nutrição e Saúde Animal Genômica e Reprodução Animal Marketplace de Insumos para o Agronegócio
Sistema de Gestão de Propriedade Rural Plataforma Integradora de Sistemas, Soluções e Dados Drones, Máquinas e Equipamentos
Sensoriamento Remoto, Diagnóstico e Monitoramento por Imagens Conteúdo, Educação, Mídia Social
Internet das Coisas para o Agro: Detecção de Pragas, Solo, Clima e Irrigação Telemetria e Automação
Meteorologia e Irrigação e Gestão de Água Controle Biológico e Manejo Integrado de Pragas Gestão de Resíduos Agrícolas
Alimentos Inovadores e Novas Tendências Alimentares Marketplaces e Plataformas de Negociação e Venda de Produtos Agropecuários
Armazenamento, Infraestrutura e Logística Mercearia online e Monitoramento por Imagens Restaurantes Online e Kit de Refeições
Sistema Autônomo de Gerenciamento de Lojas e Serviços de Alimentação Biodiversidade e Sustentabilidade Indústria e Processamento de Alimentos 4.0
Sistemas de embalagem, Meio Ambiente e Reciclagem Bioenergia e Energia Renovável Plantio Urbano: Fábrica de Plantas e Novas Formas de Plantio
FINTECHS
O termo — uma abreviação das palavras em inglês financial technology (em português, tec-
nologia financeira) — é utilizado para designar as startups que oferecem produtos e serviços
financeiros à população por meio de aplicativos e/ou plataformas digitais. A ideia é usar a ino-
vação e a tecnologia para melhorar a experiência dos usuários, simplificando processos, redu-
zindo burocracias e enxugando custos.
Não se sabe exatamente quando o termo fintech surgiu, mas um dos primeiros registros de
utilização da palavra foi em um jornal britânico de 1980, para se referir à tecnologia aplicada ao
mercado financeiro. Em 1998, surgiu uma das primeiras fintechs mundiais: o Paypal, site de paga-
mentos e movimentações de recursos on-line sem intermediação de bancos.
No entanto, essas startups ganharam força de fato depois da crise econômica de 2008. Na-
quele ano, após um banco americano decretar falência, outros tantos começaram a ser atingi-
dos e a passar por dificuldades financeiras. Clientes e investidores, então, começaram a bus-
car novas formas de investir, menos burocráticas e com mais transparência.
O autor Bruno Diniz, no livro O Fenômeno Fintech: Tudo sobre o movimento que está transfor-
mando o mercado financeiro no Brasil e no mundo, lembra que a aplicação de tecnologias no
mercado financeiro não é um fenômeno novo e que há décadas o setor vem se modernizando.
“As fintechs surgem para preencher algumas lacunas do sistema financeiro, mas não apenas as
tecnológicas. Assim, como a maioria das inovações, o uso da tecnologia, sem dúvida, permitiu
às fintechs oferecer novos produtos e serviços”. O que possibilitou que elas se desenvolvessem
foram as “lacunas que foram sendo criadas lentamente pelos bancos, por outras instituições
financeiras e pelos órgãos reguladores, que demoraram para perceber que seus clientes deman-
davam e ansiavam por serviços mais simples e baratos”.
Não resta dúvida, então, que as fintechs têm uma caraterística básica e essencial: o que pauta
esse modelo de negócio são a satisfação e a boa experiência do cliente com os produtos e ser-
viços. Como os atendimentos são realizados pela internet, elas conseguem operar em espaços
físicos reduzidos e com menos profissionais. A evolução de tecnologias como smartphones, big
data (análise de grandes bancos de dados), machine learning (uma das categorias da inteligência
artificial) e computação em nuvem também colaboram para a consolidação desse movimento.
As fintechs podem ser classificadas de acordo com as experiências financeiras que oferecem.
Existem, por exemplo, as que atuam nos segmentos de pagamentos, empréstimos digitais,
gestão financeira, investimento, crowdfunding (plataformas de financiamento coletivo); neo-
banks (novos bancos digitais), entre outras.
225 inovação NO COOPERATIVISMO
Pesquisadores afirmam que a tendência mundial é que fintechs se especializem não ape-
nas em um subsegmento, mas em vários. Esse processo é conhecido como rebundling, ou
seja, reagrupamento dos serviços financeiros. Para oferecer esses serviços complemen-
tares, muitas fintechs acabam se integrando ou fazendo parcerias com outras instituições
financeiras, como os bancos comerciais e as cooperativas financeiras.
A todo momento nascem novas fintechs e novas soluções financeiras. Em cinco anos, o
número de fintechs no Brasil quintuplicou, segundo dados do Fintech Lab. Em 2015, eram
cerca de 100 negócios e, em agosto de 2020, já somavam 771. Ao comparar os números
com junho de 2019, é possível perceber um crescimento de 28%.
Vale destacar: o mercado das fintechs é regulado pelo Sistema Financeiro Nacional (SFN),
que opera regras estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), pelo Banco
Central do Brasil (BCB) e pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
HR TECHS
A área de Recursos Humanos também está mais moderna e eficiente. O termo HR Tech
(redução das palavras Human Resources Technology — Tecnologia para Recursos Hu-
manos) é utilizado para se referir às startups que desenvolvem soluções tecnológicas e
inovadoras para a gestão de pessoas.
As HR Techs utilizam ferramentas como big data (grandes bases de dados), inteligência
artificial, people analytics (análise de pessoas) e softwares de gestão para inovar, otimi-
zar processos, qualificar profissionais, reduzir custos e aumentar a produtividade das
inovação NO COOPERATIVISMO 226
equipes. As soluções criadas por elas envolvem diferentes etapas do processo de gestão,
desde o recrutamento até o desligamento de profissionais.
Atualmente, a maior parte das HR Techs brasileiras (73,7%) estão localizadas na Região
Sudeste, como podemos ver na imagem abaixo:
Norte
0,8%
Nordeste
2,1%
Centro-Oeste
3,2%
Sudeste
73,7%
Sul
20,1%
FEMTECHS
O mercado feminino é uma das grandes apostas do ecossistema da inovação. Tanto que
existe um nicho de startups voltado especialmente para elas: as femtechs, que trabalham
para desenvolver soluções tecnológicas para a saúde feminina. Incluem-se aí aplicativos
de controle de fertilidade, redes de atendimento virtual às vítimas de violência doméstica,
serviços de monitoramento remoto de gestação e muito mais.
O segmento movimentou US$ 18,75 bilhões em 2019 e deve atingir US$ 60 bilhões até
2027 no mundo, crescendo a uma taxa de 15,6% ao ano. Os dados são da consultoria
Emergent Research. E o interesse pelo assunto só tem crescido. Basta dizer que, de acor-
do com o jornal britânico The Guardian, femtech foi uma das principais palavras pesquisa-
das em todo o mundo no ano de 2019.
Ainda de acordo com a pesquisa, das 23 femtechs brasileiras, a maioria se encaixa na cate-
goria Fitness & Bem-Estar (34,7%), seguida por Acesso à Saúde (26%) e por Engajamento do
Paciente (15,3%), que engloba soluções que aumentam a aderência do tratamento por meio
de aplicativos, SMS e chatbots — especialmente para doenças crônicas e cirurgias.
A
dtech ou Martech: star tups focadas em marketing, publicidade e
comunicação;
A
grotech ou Agtech: voltadas para o desenvolvimento do agronegócio;
B
iotech: startups do setor de biotecnologia;
C
leantech: são as chamadas “startups verdes”, desenvolvendo soluções rela-
cionadas ao setor ambiental;
E
dtech: oferecem soluções tecnológicas para os problemas e desafios
na área de educação;
inovação NO COOPERATIVISMO 228
E
nergytech: como o próprio nome mostra, são startups do setor de energia;
F
intech: oferecem serviços e produtos financeiros inovadores e menos bu-
rocráticos;
F
oodtech: startups do setor alimentício, que visam otimizar toda a cadeia
produtiva dos alimentos. Uma das mais conhecidas é o Ifood;
G
ovtech: desenvolvem soluções para os desafios da administração pública;
H
ealthtech ou Medtech: startups que utilizam a tecnologia para desenvolver
soluções no setor de saúde e bem-estar;
H
R Techs: focadas em soluções para o setor de recursos humanos;
L
awtech ou Legaltech: oferecem serviços e produtos tecnológicos na área
jurídica;
P
roptech ou Imobtech: focadas no setor imobiliário, criam produtos e servi-
ços para desburocratizar e facilitar o processo de compra, venda e aluguel
de imóveis;
R
egtech: startups do setor de compliance;
R
etailtech: focadas em novas tecnologias para o varejo (retail, em inglês);
S
porttech: desenvolvem novas tecnologias para potencializar o desempenho
esportivo; e
N
anotech: trabalham diretamente com nanotecnologia.
229 inovação NO COOPERATIVISMO
COOPTECHS
Sim, as cooperativas também têm uma “tech” para chamar de sua. As cooptechs (coo-
perativas de base tecnológica) têm ajudado nosso movimento no que sempre soubemos
fazer bem: inovar e, ao mesmo tempo, oferecer o melhor aos cooperados.
Outro diferencial: as startups costumam contar com o apoio de investidores para poderem
desenvolver seus negócios. Então, em troca de aporte financeiro, os fundadores muitas
vezes vão cedendo as suas quotas de participação nos negócios até, muitas vezes, dei-
xarem de ser proprietários dessas empresas. Com isso, a gestão do negócio é dificultada,
assim como a tomada de decisões, e até a distribuição de riquezas.
Nascida dentro do Sicoob Central Espírito Santo, ela atende à demanda de seus asso-
ciados na intermediação de serviços que não tenham natureza financeira. Portanto, não
surgiu dentro de um contexto de correção de distorções de desigualdades, como o que
costuma dar origem às cooperativas de plataforma. Ao contrário, a Ciclos é fruto do dese-
jo de uma cooperativa de continuar melhorando a vida de seus cooperados, em áreas de
atuação que não são a sua.
inovação NO COOPERATIVISMO 230
COOPERATIVISMO
DE PLATAFORMA
Mas, antes de falarmos sobre o papel que as cooperativas de plataforma podem desem-
penhar em nossa sociedade, é preciso explicar o que é uma plataforma.
Plataformas são organizações que viabilizam — por meio de sites e aplicativos — intera-
ções entre produtores externos e consumidores, oferecendo regras e uma infraestrutura
para que elas ocorram de forma eficiente e segura. É o caso do IFood, da Amazon, da AirB-
nB e de diversas outras gigantes da tecnologia.
231 inovação NO COOPERATIVISMO
O problema é que essas plataformas não oferecem aos prestadores de serviço nenhuma
garantia ou segurança. De acordo com Trebor Scholz, primeiro autor a utilizar o termo co-
operativismo de plataforma no mundo, “as relações estabelecidas entre algumas platafor-
mas de serviço e as pessoas são uma nova forma de exploração da mão de obra do traba-
lhador ainda mais perversa que a tradicional, pois lhes tira todos os direitos e benefícios,
maximizando ao extremo o enriquecimento dos donos dessas plataformas”.
Uma alternativa ao modelo de trabalho gerado pelas plataformas comerciais seria o que
Scholz chamou de cooperativismo de plataforma. Nele, as plataformas também conectam
prestadores de serviços e consumidores por meio de novas tecnologias, porém seguindo
princípios e valores cooperativistas.
“As primeiras cooperativas foram uma resposta à Revolução Industrial. Hoje, vivemos
uma encruzilhada similar: a transformação digital está mudando nosso futuro, nossas
vidas. As cooperativas precisam mostrar que há uma nova forma de construir essa
economia digital com raízes a serviço das pessoas. Precisamos construir plataformas
cooperativas”, afirmou Ariel Guarco, presidente da Aliança Cooperativa Internacional (ACI),
no 14º Congresso Brasileiro de Cooperativismo (CBC), realizado em Brasília, em 2019.
Outro exemplo é a Open Group Cooperativa, de Nova York, que pertence a trabalhadoras
de limpeza e cuidadores de crianças. A iniciativa conseguiu eliminar completamente o mo-
delo de intermediação entre prestadores de serviço e clientes, garantindo maior retorno
financeiro para os trabalhadores, além de promover uma governança democrática.
1 P
ropriedade coletiva — plataformas cooperativas resgatam a ideia inicial
de que a internet é pública e existe para facilitar a vida das pessoas. Por per-
tencerem aos seus usuários, elas geram resultados financeiros que serão
revertidos em benefício dos próprios cooperados. Uma oportunidade única
de fazer as pessoas repensarem suas relações na internet.
2 P
agamento justo e segurança — por colocar as pessoas em primeiro lugar,
as cooperativas de plataforma devem assegurar que os cooperados rece-
bam uma remuneração justa pelos serviços prestados. Por não terem fins lu-
crativos, essas organizações jamais devem explorar a mão de obra, mesmo
sabendo que muitos trabalhadores se sujeitam a remunerações baixíssimas
para se manterem na ativa.
3 T
ransparência e portabilidade de dados — as cooperativas de plataforma
devem ser transparentes não apenas em relação aos seus resultados e às
suas políticas internas. Elas devem zelar pela transparência no modo como os
dados são coletados, analisados, estudados e para quem eles são vendidos.
4 R
econhecimento e apreciação dos colaboradores — essas instituições
têm um bom clima organizacional, fazendo com que os cooperados sejam
reconhecidos e valorizados por seu trabalho.
5 T
rabalho colaborativo e cocriado — plataformas de trabalho deveriam
envolver os trabalhadores desde o momento da programação, para melhor
atender às suas necessidades. Desde o primeiro dia, é preciso envolver es-
sas pessoas para que elas queiram permanecer na plataforma.
6 M
oldura jurídica — plataformas cooperativas demandam ajuda jurídica por
serem consideradas incomuns. A ajuda é também necessária quando se tra-
ta de defender cooperativas contra ações legais adversas.
7 P
roteção e benefícios aos colaboradores — todos os trabalhadores asso-
ciados à plataforma devem ter acesso a condições seguras e adequadas de
trabalho e às proteções sociais.
8 P
roteção para condutas inaceitáveis — uma das principais críticas
feitas aos donos dos aplicativos de mobilidade urbana são suas políticas
arbitrárias e suas práticas de demissão. Por isso, as cooperativas de
inovação NO COOPERATIVISMO 234
9 R
ejeição do controle e monitoramento excessivo do trabalho — pla-
taformas cooperativas não devem utilizar sistemas de avaliação, manter
vigilância constante e excessiva ou adotar quaisquer práticas que violem a
dignidade do trabalhador.
10 R
espeito ao direito de se desconectar — o trabalho digital decente deve
ter limites claros, dando aos colaboradores tempo para relaxamento,
aprendizado e outras atividades. É preciso deixar claro: trabalhadores
merecem descanso.
Nos últimos anos, várias coops, no Brasil e no mundo, para além daquelas que
atuam no ramo da tecnologia, investiram em plataformas digitais para fortalecer
seus negócios e oferecer facilidades ao consumidor. Algumas são cooperativas
de plataforma e se apoiam em um modelo totalmente digital; outras são coo-
perativas tradicionais que têm apostado nas plataformas para impulsionar seu
modelo de negócios atual. Elas apostam na tecnologia e nas facilidades do di-
gital para fazer a venda e distribuição de produtos, ou mesmo oferecer um novo
serviço para seus cooperados — o que não significa, necessariamente, adotar o
modelo de negócio das plataformas.
Conheça alguns exemplos inspiradores pelo mundo que estão usando o melhor das
características das plataformas para impulsionar os negócios em rede, conectar
seus negócios aos consumidores e levar o cooperativismo muito mais longe:
NO MUNDO
Up&Go: A cooperativa foi criada em 2017, nos EUA, para apoiar a oferta de serviços
de trabalhadoras domésticas, em sua maioria imigrantes. Por meio de um app, a
cooperativa oferece os serviços de faxina de suas cooperadas — elas recebem 95%
do valor pago pelos clientes, eliminando comissões antes pagas a intermediadores.
235 inovação NO COOPERATIVISMO
Drivers Seat: Criada nos EUA, a ideia é dar mais poder aos motoristas de aplicati-
vo. O app roda em paralelo a plataformas como Uber e gera dados para duas finali-
dades: apoio ao motorista, com informações sobre trânsito, quilômetros rodados,
áreas com melhores corridas etc.; e a venda de dados a órgãos públicos, consulto-
rias ou entidades de pesquisa. O valor é revertido para os próprios motoristas.
NO BRASIL
Sicoob Coopera: Criado em 2019, o app conta com um marketplace para que os
cooperados possam disponibilizar e vender produtos e serviços. Também por
meio dele o cooperado acessa e resgata os benefícios do programa de pontos
da instituição financeira.
PARCERIAS DE
COOPS E STARTUPS
Essa interconexão pode acontecer de quatro formas principais, de acordo com as prin-
cipais empresas de inovação. A plataforma InovaCoop exemplificou cada uma delas da
seguinte maneira:
1 S
tartup como fornecedora de solução: Após identificar um problema específico, a
cooperativa vai ao mercado para contratar a solução de uma startup. Dessa forma, a
cooperativa pode encontrar soluções inovadoras prontas para gerar melhorias ope-
racionais de forma imediata, sem, necessariamente, desenvolver uma prova de con-
ceito. Esse modelo pode ser indicado para cooperativas que ainda não têm afinidade
com o ecossistema de inovação ou têm urgência para resolver um problema.
2 P
rova de conceito ou projeto-piloto: Nesta modalidade, a conexão parte de uma
prova de conceito (também chamada de PoC, do inglês Proof of Concept) com metas
específicas atreladas a sucesso no curto prazo. Neste caso, pode envolver uma ou
mais startups concorrendo ou cooperando para gerar a prova de conceito. Se a meta
for cumprida dentro do prazo, a startup pode ser contratada ou o serviço pode ser
oferecido aos clientes e/ou cooperados, ou seja, a parceria só ocorre após o resulta-
do da PoC.
3 L
aboratório para aceleração: Esta etapa já demanda mais recursos porque, em
geral, a organização disponibiliza às startups atributos como capital, espaço físico,
networking, ferramentas profissionais, recursos humanos e mentorias. Para a coo-
perativa, que traz a startup para “dentro de casa”, é uma forma de adquirir a cultura de
inovação e liderar a possível criação de soluções inovadoras que, no futuro, possam
ser incorporadas. Requer mais tempo que as opções anteriores.
4 C
orporate Venture: É a forma mais complexa de conexão com startups. Porque é
neste modelo que a organização pode realizar investimentos no empreendedor, ad-
quirindo participação minoritária, controle parcial ou até total. Ao investir ou adquirir
uma startup, a organização precisa avaliar o mercado, colocar os riscos na balança e
ter uma boa relação com os empreendedores para que o negócio possa crescer de
maneira saudável.
Como saber se é a hora de aliar a uma startup? Elencamos aqui alguns passos para orien-
tar as cooperativas nessa análise sobre a necessidade de buscar o auxílio de startups.
Eles foram elaborados a partir do “Framework de Inovação Aberta” do Manual de Boas
Práticas de Conexão Startup Indústria, da Agência Brasileira de Desenvolvimento Indus-
trial (ABDI). Os sete passos são:
inovação NO COOPERATIVISMO 238
1 E
stratégia: O primeiro passo é definir as diretrizes para a inovação aberta; por isso,
demanda a participação da alta liderança da cooperativa. É o momento de identificar os
desafios e as oportunidades que a cooperativa tem para buscar a parceria de uma star-
tup, além de definir o investimento disponível, metas, indicadores, requisitos técnicos,
responsáveis, patrocinadores etc. Também é recomendável elaborar modelos de instru-
mentos jurídicos e documentos que sejam adequados ao relacionamento com startups.
2 P
lano de ação: Todo o planejamento inicial resulta num plano de ação. Neste momento, é
recomendável o uso de design thinking e outras metodologias para identificação de pro-
blemas internos e uma participação mais ativa no ecossistema de inovação. Também é
nesta etapa que ocorre a definição do caminho da inovação com startup, a elaboração da
ficha de avaliação das startups e o modelo de suporte a ser dado à contratada.
3 P
rospecção e seleção: Com planejamento inicial e plano de ação definidos, a coopera-
tiva precisa definir os caminhos de prospecção e os critérios de seleção. Uma dica para
isso é realizar um benchmarking com outros programas e utilizar o conhecimento de
parceiros do ecossistema. Usar canais de comunicação adequados — como o programa
Conexão com Startups, do InovaCoop, e hackathons (maratonas de programação) —
também é um excelente caminho.
4 P
rova de conceito e piloto: Uma vez escolhida a startup, é preciso definir o plano de tra-
balho e assinar um termo de cooperação técnica e financeira. É nesta fase que a startup
deve comprovar, por meio de um modelo prático (prova de conceito), que a sua solução
resolve o problema da cooperativa. Segundo a ABDI, a prova de conceitos e o piloto são
etapas complementares, isto é, após demonstrar o conceito da sua solução, a startup
inicia a fase de piloto, desenvolvendo efetivamente a solução, tornando-a adequada à
necessidade da cooperativa.
5 C
ontratação: Com os resultados positivos das etapas anteriores, chega o momento da
contratação. Nesta etapa, o modelo de engajamento com a startup deve, sobretudo,
refletir os objetivos da cooperativa e sua disponibilidade de investimento. Vale lembrar
que esse tipo de contratação dispensa as “três cotações”, usando a opção de fornecedor
único. Também se trata de um processo de negociação flexível e adaptado às caracterís-
ticas das startups.
7 A
valiação do processo: Por fim, o manual recomenda uma avaliação de todo o processo
e a consolidação das lições aprendidas. Além disso, é importante disseminar cases para
a organização, fomentando a cultura de inovação, e definir modelo de suporte e investi-
mento para as startups.
239 inovação NO COOPERATIVISMO
REFERÊNCIAS
ABDI, Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial. Manual de Boas Práticas de
Conexão Startup Indústria. 2018. E-book. Disponível em: http://www.ipdeletron.org.br/
wwwroot/pdf-publicacoes/45/ManualBoasPrticas_V8semgoverno.pdf
DINIZ, Bruno. Fenômeno Fintech [recurso eletrônico]: tudo sobre o movimento finan-
ceiro que está transformando o Brasil e o mundo. Rio de Janeiro: Alta Books, 2019.
FIGUEIREDO, Shalon Silva Souza; JARDIM, Francisco; SAKUDA, Luiz Ojima (Coods.). Re-
latório do Radar Agtech Brasil 2020/2021: Mapeamento das Startups do Setor Agro
Brasileiro. Embrapa, SP Ventures e Homo Ludens: Brasília, 2021. Disponível em: <www.
radaragtech.com.br>. Acesso em: 28 jul. 2021.
FLOR, Guaíra; RODRIGUES, Karine. Plataforma para o desenvolvimento. In: Revista Sa-
ber Cooperar. Edição 26. Sistema OCB: 2019. p. 13-21.
INOVACOOP. Como fazer conexão com startups. Sistema OCB: 2021. E-book. Dispo-
nível em: <https://inova.coop.br/inovacao/como-fazer-conexao-com-startups-
-f5564038c244>. Acesso em: 24 ago. 1976.
INOVACOOP. O que são as cooptechs. Sistema OCB: 2021. Disponível em: <https://ino-
va.coop.br/blog/o-que-sao-as-cooptechs-eb0f1f791cfb>. Acesso em: 12 ago. 2021.
JORGE, Ricardo Reolon; FACÓ, Júlio Francisco Blumetti; ANDRADE, Alexandre Acácio
de Andrade. O impacto das startups do agronegócio (Agrotechs) no mercado Bra-
sileiro. In: Revista Empreendedorismo, negócios e inovação. S. B. do Campo, v.5, n.01.
UFABC, 2018.
artigo
artigo
artigoMário De Conto
Bem, pode-se argumentar que isso não é tão novo assim. Afinal, os shopping centers po-
dem ser entendidos como plataformas que aproximam lojistas de consumidores; os pró-
prios jornais são plataformas que aproximam anunciantes de consumidores.
O cooperativismo de plataforma tem suas origens nas críticas a esse modelo. Um ponto
importante é justamente a discussão da propriedade das plataformas, de seus códigos e
dos dados que são extraídos. Ao se pensar em um modelo de governança da internet em
que os usuários fossem os donos da informação e fossem consultados sobre o seu uso,
o cooperativismo surge como alternativa. Outro ponto a ser considerado é o papel que a
propriedade comum e a gestão democrática podem desempenhar no combate à precari-
zação do trabalho por meio de plataformas.
Por tudo isso, fica claro que o caminho para pensar uma verdadeira economia compar-
tilhada, em que as plataformas são geridas e controladas por seus usuários, é o modelo
cooperativo. Assim, a partir da aplicação dos princípios e valores do cooperativismo,
implementando mecanismos de governança digital e de instrumentos de financiamento
adequados ao modelo, o cooperativismo de plataforma poderá apresentar à sociedade
um modelo realmente democrático e participativo, em que as plataformas sirvam aos seus
usuários e, assim, contribuam efetivamente para um mundo melhor.
2018. Digital/Mckinsey:
Insights, winning in
Digital Ecosystems. SAIBA
MAIS!
ca
se
para inspirar
sua coop
Laboratório de inovação
Cooperativa
Unimed do Brasil - Confederação Nacional das
Cooperativas Médicas
Projeto de inovação
Unimed Lab
Investimento
Receita vinda dos mantenedores do Unimed LAB
e investimentos em startups
inovação NO COOPERATIVISMO 246
C
onexão com 19 startups, 33 pessoas residentes, mais de 300 visitantes
F
ortalecimento da cultura da inovação dentro das cooperativas da Unimed
O
Unimed Lab conectou o Sistema com parceiros como: Sistema OCB,
Sescoop, 100 Open Startups, Eretz Bio, SBIS e o Distrito HC
U
nimed conquistou o 1º lugar entre as marcas mais abertas a inovação do
setor Serviços de Saúde e a 8ª posição no ranking geral do país, por meio do
Ranking Top 100 Open Corps 2021.
M
ais de 300 startups já demonstraram interesse nos desafios de saúde
submetidos para atender as Unimeds
“Em cenários de alta complexidade e simultaneidades, não pode haver inovação sem a
perspectiva da cooperação – desde a identificação de oportunidades e problemas a se-
rem resolvidos, até o desenvolvimento das melhores soluções. A Unimed do Brasil está
na liderança desse programa no Sistema Unimed, com a missão de definir estratégias,
garantir a atuação integrada das nossas empresas nacionais com o conjunto das nossas
cooperativas, buscar meios para otimizar os investimentos em tecnologia, gerando opor-
tunidades de melhorias nos processos ou novos negócios, e assegurar espaços colabo-
rativos para acelerar a inovação e o desenvolvimento de soluções.” Dr. Omar Abujamra
Junior – Diretor Presidente
247 inovação NO COOPERATIVISMO
Grande parte das iniciativas começaram em 2018, quando a Unimed do Brasil identificou
a necessidade de conectar todas as cooperativas do Sistema e gerar convergência e es-
calabilidade de soluções. Tal entendimento ocorreu em sintonia com a inserção do tema
“Inovação” no Planejamento Estratégico, a fim de alinhar as soluções de negócio às ne-
cessidades e expectativas das cooperativas, e promover a cultura de inovação e a gestão
de conhecimento.
No início de 2020, com a conjuntura e medidas de isolamento social que surgiram em de-
corrência da pandemia da Covid-19, a Unimed do Brasil precisou planejar e conduzir no-
vas formas de interação com as cooperativas que faziam parte do espaço até então, assim
como todo o ecossistema de inovação. A partir deste momento, foi necessária a reflexão
sobre como incentivar o ecossistema de inovação aberta de forma ágil e rentável dentro
de uma estrutura robusta, plural e digital.
Para completar, a Unimed foi nomeada a organização mais atraente em inovação aberta
na OiWeek Digital — 100 Open Startups.
inovação NO COOPERATIVISMO 248
Assim, a proposição para 2022 é ser a maior plataforma de inovação em saúde, um hub
que incentive práticas escaláveis no Sistema, como fomento a Open Innovation, formação
e capacitação, desenvolvimento de novos modelos de negócios e melhorias incrementais
e uma estratégia robusta para experiências digitais mais amigáveis e centradas nos clien-
tes. Serão criados diversos programas de coalizão que visem a intercooperação e parce-
rias com o mercado, a fim de encabeçar grandes iniciativas que transformem a saúde, tais
como Open Health e Telemedicina.
di
249 inovação NO COOPERATIVISMO
cio
dicionário
ná
rio pequeno
dicionário
da inovação
inovação NO COOPERATIVISMO 250
ACELERADORAS: São empresas que aceitam investir nas startups para que te-
nham um desenvolvimento mais rápido, até atingirem seu ponto de equilíbrio ― ou
seja, conseguirem pagar as próprias contas sozinhas. Além de oferecer suporte e
benefícios, a aceleradora investe dinheiro na startup. Por isso, entra na sociedade
e segue até a fase de “desinvestimento”, que é quando vende sua participação para
outros investidores ou empresas interessadas.
AGILE: Metodologias ágeis, ou agile, são uma alternativa à gestão de projetos tradi-
cional. De maneira simplificada, elas seguem princípios como priorizar os indivíduos e
as interações mais do que os processos e as ferramentas, focando em entregas mais
do que em documentação, além de colaborar com o cliente e responder às mudan-
ças de forma rápida. As metodologias ágeis nasceram pensadas para o desenvolvi-
mento de software, mas podem ser adaptadas de diversas formas para outros tipos
de projeto e costumam aparecer com frequência na organização das startups.
AHA MOMENT: Quando o cliente diz “Aha, entendi como isso funciona” ou “Aha, então
esses são os benefícios reais desse produto”; momento em que ele passa a entender o
funcionamento do produto/serviço.
ALGORITMO: Série de instruções a serem seguidas, passo a passo, para fazer algo útil
ou resolver algum problema. São usados em todas as áreas de TI e computação, manipu-
lando, processando dados e realizando diversos cálculos ou ações. Segundo Dasgupta,
Papadimitriou e Vazirani: “Algoritmos são procedimentos precisos, não ambíguos, padro-
nizados, eficientes e corretos”. Sua implementação pode ser feita por um computador, por
outro tipo de autômato ou mesmo por um ser humano.
ALPHABET: A Alphabet é uma holding vinculada ao Google. Ela foi criada em uma fase de
reestruturação da companhia, a fim de dar autonomia a áreas que não se relacionassem
diretamente com o coração da empresa. Abriga empresas como Calico, Google Capital,
Google Fiber, Google Ventures, Google X e Nest Labs.
ANJOS: Investidores que apostam em grandes ideias que ainda não são negócios forma-
dos. Muitas vezes, elas nem foram tiradas do papel. É difícil generalizar suas intenções,
mas essa estratégia funciona como uma aplicação financeira de alto risco que, se der cer-
to, pode valer muito mais.
APP SEARCH OPTIMIZATION (ASO): Otimização para busca de aplicativos. Técnica uti-
lizada para melhorar o posicionamento de apps em lojas específicas, como Google Play e
App Store.
ASSINATURA: Modelo de receita adotado por organizações que utilizam esse tipo de co-
brança de seus usuários, dependendo do projeto, um valor fixo e recorrente (normalmente
mensal), pelo uso do produto ou serviço. É um modelo muito usado (com o Freemium).
ATIVO: É um termo básico utilizado para expressar os bens, valores, créditos, direitos e
semelhantes que, num determinado momento, formam o patrimônio de uma pessoa sin-
gular ou coletiva e são avaliados pelos respectivos custos.
BABY BOOMERS: É uma definição genérica para crianças nascidas após a Segunda Guer-
ra Mundial (de 1946 a 1964), com características distintas, como: firmes e maduras nas
decisões; possuem renda consolidada; têm padrão de vida estável; sofrem pouca influên-
cia da marca no momento da compra; preferem produtos de alta qualidade; experiências
passadas servem de exemplo para consumo futuro; não se influenciam facilmente, e não
veem o preço como obstáculo.
BACKLOG: Quadro de tarefas a serem realizadas, mas que não são a prioridade do momento.
BARREIRAS DE ENTRADA: São os fatores que representam dificuldades para que uma
empresa comece a atuar em determinado segmento ou mercado.
BIG DATA: Grande volume de dados armazenados. Baseado em 5 V’s: Velocidade, Volume,
Variedade, Veracidade e Valor. Para serem analisados, eles precisam ser organizados de
forma inteligente e sistemática, a fim de garantir sua visualização de forma centralizada —
o que vai ajudar na tomada de decisão ao fornecer ideias aos gestores.
BIG PICTURE: Visão geral, ou seja, a “pintura completa” que mostra determinado cenário.
BITCOIN: É um tipo de moeda digital (criptomoeda) que pode ser usada para pagamento.
É utilizada em diversas transações, além de ser controlada por uma rede peer-to-peer (de
pessoa para pessoa), sem depender de bancos centrais oficiais, mas com a segurança da
tecnologia Blockchain. Já é um mercado de bilhões de dólares. O termo Bitcoin muitas ve-
zes é usado erroneamente para designar qualquer criptomoeda.
BLOCKCHAIN: Tecnologia que cria uma rede interligada em blocos na qual os usuários va-
lidam as informações entre si, possibilitando maior segurança dos dados e validação das
informações autenticadas por diversos usuários.
BOUNCE RATE: Taxa de rejeição, percentual entre a taxa de usuários totais e aqueles que
interagiram com determinada comunicação, podendo ser via e-mail ou pelo acesso a de-
terminado site.
BREAK EVEN: Também conhecido como break even point, é o ponto em que os custos
e a receita total de um negócio chegam ao seu ponto de equilíbrio — ou seja, o momento
em que a organização oficialmente se “paga” exclusivamente com o que produz. Muitas
inovação NO COOPERATIVISMO 254
vezes, elas passam anos até chegarem ao ponto de break even — às vezes, inclusive, por
estratégia de negócio, para que possam crescer, investir internamente e se estabelecer
no mercado de maneira madura até começar a gerar lucro.
BUSINESS MODEL CANVAS: Método criado por Alexander Osterwalder como alternativa
para realizar e gerenciar um plano estratégico de forma mais direta e ilustrativa. O Canvas
é um quadro que pode ser desenhado em um papel apenas e resume de forma objetiva to-
das as etapas necessárias para se fechar o ciclo criativo de uma ideia de negócio.
BUY BACK: O termo se refere à recompra de uma empresa pelo seu fundador. Os motivos
são variados, como a dificuldade de se desapegar do negócio ou a percepção de que a
companhia perdeu receita e espaço; assim, o empreendedor decide recomprar.
C-LEVEL: Pessoas que atuam como líderes nas diversas verticais do negócio – ou chiefs,
de onde vem o C. Os executivos C-level participam ativamente da estratégia da empresa e
são responsáveis por tomar decisões de alto impacto.
CANAIS DE VENDAS: Canais em que empresas vendem seus produtos e serviços. Pode
ser um local, uma plataforma ou uma mídia, em que os consumidores tenham acesso ao
que é ofertado pelas empresas e realizem suas compras.
CAPITAL DE GIRO: Nada mais é do que o dinheiro necessário para que se reinicie um ciclo
de compra e venda. Toda produção precisa conseguir retorno suficiente para pagar as
despesas e reinvestir em novos produtos.
CAPITAL SOCIAL: É composto pela quantia bruta investida, ou seja, o total necessário
para um negócio começar as atividades, levando em conta o tempo em que ainda não vai
gerar lucro suficiente para se sustentar.
CASH FLOW: Refere-se ao fluxo de caixa gerado a partir de atividades operacionais, de finan-
ciamento ou de investimento, denotando tanto entrada quanto saída de recursos financeiros.
C-LEVEL — termo utilizado para se referir aos diretores de uma organização. Os cargos
mais comuns são os seguintes:
C
AcO (Chief Accounting Officer) ou controller: Diretor de contabilidade.
C
BO (Chief Business Officer): É o diretor de negócios, o principal executivo operacional
de empresas comerciais em crescimento ou de uma instituição acadêmica de pesquisa.
inovação NO COOPERATIVISMO 256
C
CO (Chief of Communication Officer): Diretor de Comunicação.
C
DO (Chief Design Officer): Diretor de Design.
C
DDO (Chief Diversity Division Officer): Diretor de Diversidade. Responsável por ações
de diversidade e inclusão social.
C
EO (Chief Executive Officer): Sigla atribuída geralmente ao fundador, idealizador de
uma organização. É a função com a maior autoridade na hierarquia operacional de uma
organização.
C
FO (Chief Financial Officer): É o Diretor Financeiro. Comanda as finanças, as metas,
objetivos e orçamentos.
C
HRO (Chief Human Resources Officer): Diretor de Recursos Humanos.
C
IO (Chief Information Officer): É o responsável pela área de informática. A diferença
entre o CTO e o CIO é que o primeiro desenvolve tecnologia para vendas, enquanto o
segundo cria recursos para uso interno.
C
LO (Chief Legal Officer): Responsável pelo setor jurídico (diretor).
C
MO (Chief Marketing Officer): Diretor de Marketing.
C
TO (Chief of Technology Officer): Diretor de Tecnologia. Comanda a área de tecnolo-
gia (TI), além de pesquisar e desenvolver novos produtos e serviços.
C
OO (Chief Operation Officer): Diretor Operacional, espécie de braço direito do CEO,
que coordena mais de perto as rotinas de uma organização. Dependendo da instituição,
pode até carregar o título de presidente.
C
PO (Chief Product Officer):É o Diretor de Produtos. Comanda as atividades relativas
aos produtos da empresa, como a concepção, o projeto e sua produção. Trabalha junto
ao CTO e ao COO.
C
SO (Chief Science Officer): Diretor Científico. Responsável pela pesquisa e criação de
novas tecnologias.
CHURN RATE: Métrica que aponta o número de clientes que deixaram de fazer negócios
com a organização em um determinado período de tempo, também chamada de taxa de
rotatividade, ou taxa de cancelamento.
CLIFF: É uma cláusula de contrato que adiciona o parâmetro tempo. Normalmente usada
para dificultar a saída de um dos sócios ou fundadores da organização antes de determi-
nado período, com risco de perder suas futuras cotas. É o período que antecede o vesting.
257 inovação NO COOPERATIVISMO
COOPERATIVISMO: Mais do que um modelo de negócios, é uma filosofia de vida que bus-
ca transformar o mundo em um lugar mais justo, feliz, equilibrado e com melhores oportu-
nidades para todos. Um caminho que mostra que é possível unir desenvolvimento econô-
mico e desenvolvimento social, produtividade e sustentabilidade, o individual e o coletivo.
Grupo de pessoas reunidas em torno de um mesmo objetivo, em uma organização na qual
todos são donos do próprio negócio. E continua com um ciclo que traz ganhos para as pes-
soas, para o país e para o planeta.
COWORKING: Espaço criado para que trabalhadores diversos possam dividir uma área
para a execução de suas tarefas, além de trocar experiências e interagir com outros em-
preendedores. Também é chamado de “escritório compartilhado”.
inovação NO COOPERATIVISMO 258
CRIPTOMOEDA: Moeda digital, que possui seu valor definido com base na oferta e de-
manda, regido pelo mercado, não possuindo um governo que execute o seu controle. Nor-
malmente criada por meio de tecnologia em Blockchain. Tipos de criptomoedas: Bitcoin,
Ethereum, Cardano, entre outros.
CROSS SELL: Técnica de vendas que utiliza a venda cruzada, ou seja, sugerindo produtos
complementares junto do desejado.
CROWDFUNDING: Esse termo pode ser traduzido como financiamento colaborativo ou fi-
nanciamento coletivo. É uma modalidade de investimento em que várias pessoas podem in-
vestir pequenas quantias de dinheiro para financiar a realização de um determinado projeto.
CUSTO POR CLIQUE (CPC): É o valor gasto, normalmente, por meio de anúncios para ob-
ter cada clique de usuários (possíveis clientes).
CUSTOMER HEALTH SCORE: Índice de saúde do cliente, métrica responsável por definir
se o cliente está sendo bem atendido, analisado por meio de uma escala de 1 a 100.
CUSTOMER LIFE VALUE (CLV): Métrica relacionada ao valor que o cliente possui dentro
da organização, fator essencial para definir se os investimentos para captação estão sen-
do positivos ou não.
DATA-DRIVEN: Gestão com base em dados, modelo em que as decisões são tomadas
com base nos dados disponíveis.
DEAL BREAKER: Fator ou problema que impede ou acaba com uma negociação em está-
gio avançado.
DESIGN SPRINT: Concebido na Google Ventures (GV), uma empresa braço do Google, o
Design Sprint foi pensado para testar ideias de negócios em pouco tempo. Em cinco dias,
essa metodologia permite reconhecer um problema, propor soluções, prototipar e testar
junto aos usuários, para descobrir se o projeto tem futuro. Nesse sentido, todos os setores
que participam do desenvolvimento colaboram em um grupo desafiador, desde pesquisa-
dores, designers, desenvolvedores, até o usuário.
DISCOVERY: Fase de descoberta, quando se está descobrindo se uma ideia faz sentido
para o mercado ou não.
DOR DO CLIENTE: Problema que o cliente não consegue resolver sozinho, que traz perdas
importantes e que pode se traduzir em uma boa oportunidade de mercado, já que ele bus-
ca produtos e serviços que mitiguem essa dor.
inovação NO COOPERATIVISMO 260
DOUBLE DIAMOND: Método do Design Thinking que possui quatro fases: Descobrir, Defi-
nir, Desenvolver e Entregar. Foca em criar solução de problemas.
DOWNGRADE OU DOWNSELL: Ação em que o cliente muda o objeto da compra para ou-
tro com menor valor, ou o altera para um plano de menor valor.
E-COMMERCE: Refere-se à compra e venda de produtos e/ou serviços por canais eletrônicos.
ECOTECHS: Startups que têm soluções voltadas para a questão ambiental, ecológica.
ELEVATOR PITCH: É uma técnica que propõe a apresentação de uma ideia de forma ob-
jetiva e direta. Ela geralmente deve durar cerca de 30 segundos, tempo suficiente para
contá-la em um elevador.
FINTECH: Junção das palavras em inglês “financial” e “technology”, as fintechs são organi-
zações que desenvolvem produtos financeiros totalmente digitais e focados em inovação.
FLUXO DE CAIXA: É um instrumento de gestão que projeta, para determinado período fu-
turo da organização, todas as entradas e saídas de recursos financeiros, indicando como
será o saldo do caixa para esse tempo. Com as informações do fluxo de caixa — que signi-
fica a saúde financeira da empresa —, o gestor pode elaborar análise, calcular a rentabili-
dade, a lucratividade, o ponto de equilíbrio e o prazo de retorno do investimento.
FREE: Geralmente atribuído para sites e aplicativos gratuitos (para download e utilização)
que contam com uma função específica. Em muitos aplicativos, porém, a presença de
janelas com anúncios em grande quantidade é constante — já que se trata de uma das for-
mas mais simples de monetizar com o conteúdo livre.
GERAÇÃO DE LEADS: Este modelo de receita é utilizado por organizações que se moneti-
zam por gerar ou vender leads qualificados, ou seja, fornece uma indicação de cliente com
intenção de compra para um prestador de serviço cadastrado na plataforma.
GERAÇÃO X: Surgida em meados de 1960, estendendo-se até o início dos anos 1980, essa
geração vivenciou o início dos computadores, impressoras, internet e presenciou as “Diretas
Já”, além do fim da ditadura. Suas principais características são a resistência em relação ao
que é novo, a busca da individualidade sem a perda da convivência em grupo, a maturidade
e a escolha de produtos de qualidade e inteligência, a ruptura com gerações anteriores, a
procura da liberdade, a preparação e uma preocupação maior com as gerações.
GIG ECONOMY: Também conhecida como “Freelance Economy“, “Economia sob de-
manda” ou “1099 Economy”, é o ambiente ou o mercado de trabalho que compreende,
de um lado, trabalhadores temporários e sem vínculo empregatício (freelancers, autô-
nomos) e, de outro, empresas que contratam esses trabalhadores independentes para
serviços pontuais e ficam isentas de regras como número de horas trabalhadas (o cha-
mado “horário comercial”).
GOLDEN CIRCLE: Metodologia focada em responder três tipos de perguntas sobre o ne-
gócio (nesta sequência): “Por quê? Como? O quê?”, descobrindo o propósito de uma ins-
tituição. O conceito do golden circle (círculo dourado) foi idealizado por Simon Sinek, um
dos principais autores e palestrantes sobre liderança corporativa do mundo.
HEALTHTECHS: Termo muito utilizado por organizações que buscam inovação e solu-
ções na área da saúde. O segmento de Healthtechs tem se desenvolvido em diversas
frentes, desde aplicações para otimização de processos de gestão da saúde até diag-
nósticos avançados, passando por soluções tecnológicas para prevenção de doenças,
melhoria da qualidade de vida, mapeamento de endemias, entre outros.
HEAVY USER: Usuário que aproveita o máximo de funções que um produto/serviço dis-
põe, ou utiliza com alta frequência.
HURDLE RATE: É a taxa mínima de retorno ou atratividade que o investidor espera para
que um empreendimento seja considerado viável. A expressão tem ligação com a ideia de
superar obstáculos (hurdles) que devem ser ultrapassados pelo empreendedor. A ideia
é que a taxa mínima de atratividade precisa superar o retorno efetivo. Suponhamos que
a hurdle rate seja de 8%, um projeto calculado com um retorno superior a 10% já pode ser
pensado ou projetado.
INCUBADORA: São espaços com infraestrutura dotada para que novas organizações
consigam desenvolver suas ideias e seus projetos. Em geral, incubadoras estão filia-
das a universidades, faculdades e órgãos públicos, porém, ultimamente, também são
ligadas a empresas de investimento. Este último, diretamente ligado ao investimento
versus lucratividade.
INITIAL COIN OFFERING (ICO): Oferta inicial de uma nova criptomoeda, é a arrecadação
de fundos por meio da venda desta espécie.
INOVAÇÃO: Exploração com sucesso de uma nova ideia, transformando-a em novo produ-
to, serviço ou negócio que, ao ser entregue ao mercado, tenha seu valor reconhecido por
ele. Também é possível inovar modificando e melhorando produtos ou processos já existen-
tes, não apenas criando uma novidade do zero. A inovação — como mostramos neste livro —
não depende do uso de novas tecnólogas, mas da geração de valor real para o usuário.
INOVAÇÃO ABERTA: Ato que combina ideias internas e externas em arquiteturas e sis-
temas cujos requisitos são definidos como um modelo de negócios. Os benefícios da
inovação aberta são redução do tempo e do custo para inovar; diminuição dos riscos para
o negócio; aumento do retorno sobre o investimento; abertura de novos mercados e opor-
tunidades, e criação de novos modelos de negócios e fontes de receita.
INOVAÇÃO DISRUPTIVA: É a inovação com foco em romper com a forma como algo é re-
alizado, seja um produto, serviço ou modelo de negócio. Visa não apenas aprimorar, mas
transformar o mercado para um novo rumo. Também conhecida como Inovação de Ruptura.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: Tecnologia que utiliza redes neurais (redes treinadas para
determinado comportamento da máquina), permitindo o aprendizado de máquinas. Pode-
mos nos referir a ela como IA ou AI (sigla do termo em inglês Artificial Intelligence).
INTERNET OF THINGS (IoT): Internet das Coisas, tecnologia associada ao uso da rede en-
tre objetos físicos, veículos e prédios, por exemplo.
INVESTIDOR ANJO: Os investidores anjos são um grupo privados que financiam startups.
Geralmente investem 5% a 10% de seu patrimônio em novas empresas. Além de oferecem
apoio financeiro, networking e aconselhamento, proporcionam experiência de mercado.
JOINT VENTURE: Aliança efetivada entre empresas com o objetivo de explorar novos
mercados ou novas soluções, resultando em ganhos das partes envolvidas.
JORNADA DO CLIENTE: Caminho que o cliente percorre desde quando conhece a solu-
ção até a última interação que tem com a empresa.
LANDING PAGE: Faz parte da estratégia de marketing digital para captar leads (potenciais
clientes) para um negócio. Uma landing page é uma página simples, com um formulário de
cadastro, que oferece algum conteúdo ou experiência em troca da captação de seus dados.
LEAN CANVAS: Ferramenta que utiliza técnicas para o auxílio no processo de criação de
um modelo de negócio. Enfatiza a necessidade de encontrar o encaixe entre o problema
de mercado e solução oferecida, em vez de se preocupar com relacionamento ou parce-
rias. É amplamente utilizada no desenvolvimento de novas ideias, produtos, serviços e
mercados, combinando desenvolvimento ágil, testes e clientela.
LIFE TIME VALUE (LTV): Valor do tempo de vida; basicamente, é o valor total referente ao
ciclo em que um cliente permanece pagando pela solução/pelo produto.
LIFESTYLE: Estilo de vida de quem trabalha fazendo o que ama, sem ter o intuito de ser
milionário ou acumular riquezas para suas próximas gerações. Esse tipo de empreende-
dor, por exemplo, é movido por um sonho de ter sucesso com o seu estilo de vida.
LITE: Termo associado a uma versão de aplicativo que pode ser baixado de graça para que
o usuário tenha uma “degustação” da experiência. Os apps lite, antes conhecidos como
demos, costumam vir com bloqueios de modos que o usuário tenha que pagar pela versão
final com mais funcionalidades.
LONG-TAIL: Estratégia que visa um retorno em longo prazo, também é utilizada para defi-
nir palavras-chave que atingem um nicho específico — normalmente composta de mais de
duas palavras.
LOVE CAPITAL: É o investimento financeiro feito por familiares e amigos. Muito seme-
lhante ao bootstrapping, mas, nesse caso, quem investe ou cede o dinheiro, normalmente,
costuma fazer uma análise subjetiva — levando em conta sentimentos — e não uma ava-
liação racional e objetiva do projeto.
LOWLIGHTS: Luzes baixas, refere-se a pontos que não foram como o esperado, de algu-
ma forma sendo negativo.
MACHINE LEARNING (ML): É uma importante área da inteligência artificial na qual é pos-
sível criar algoritmos para ensinar uma determinada máquina a desempenhar tarefas. Um
algoritmo de ML possibilita pegar um conjunto de dados de entrada e, com base em deter-
minados padrões encontrados, gerar as saídas. Cada entrada desse conjunto de dados
possui suas próprias features, e ter um conjunto delas é o ponto inicial fundamental para
qualquer algoritmo de ML.
MINERAÇÃO DE DADOS: Processo utilizado para explorar uma grande quantidade de da-
dos para busca de padrões consistentes.
MINIMAL VIABLE PRODUCT (MVP): Sigla para produto mínimo viável; é um conceito li-
gado às metodologias ágeis e de lean. É uma espécie de protótipo do produto, a primeira
versão de algo que se quer lançar para o mercado. Um MVP tem as características consi-
deradas minimamente necessárias para que seja usado pelo público. Sua finalidade é des-
cobrir como aquele produto vai se comportar, qual é a recepção do mercado e quais são as
primeiras funcionalidades que devem ser aprimoradas.
MOBILE COMMERCE (M-COMMERCE): É a opção cada vez mais utilizada nos dias atuais,
em virtude do crescimento do consumo via smartphones e tablets, Nesse caso, o ambien-
te da loja virtual é pensado para ser usado no celular com a mesma qualidade do navega-
dor — sem prejudicar a experiência.
269 inovação NO COOPERATIVISMO
MODELO DE NEGÓCIO: É a forma como o seu cliente percebe o valor que seu produto ou
serviço passa para ele, ou seja, quanto mais ele percebe a importância do seu produto ou
serviço (software ou e-commerce, por exemplo) no seu dia a dia, maior valor terá. Os prin-
cipais formatos existentes no mercado são: SaaS (software as a service), marketplace,
aplicativo, entre outros.
MUST TO HAVE: Produto que o consumidor precisa ter. É algo fundamental ou essencial
para o cliente.
MÚTUO CONVERSÍVEL: Tipo de contrato que garante direito a uma porcentagem de par-
ticipação de acordo com o cumprimento de determinadas cláusulas.
NET PROMOTER SCORE (NPS): É uma métrica utilizada para analisar o nível de satis-
fação do cliente com a solução e o quanto ele poderia recomendar a solução para ou-
tras pessoas.
NETWORKING: Rede de contatos. Ter uma networking é encurtar caminhos, pois ela aju-
da empreendedores a terem acesso a pessoas que possam colaborar para o desenvolvi-
mento de seu negócio.
NICE TO HAVE: Produto que “é legal ter”; no entanto, não é fundamental/essencial para o
usuário.
ON-LINE PARA OFF-LINE: O conceito de O2O nasceu para ilustrar diversos processos
que permeiam a jornada do consumidor quando há convergência entre ambientes on-line
e off-line. É o que acontece com os aplicativos de táxi, por exemplo, quando é possível so-
licitar o serviço num ambiente on-line e desfrutar dele fisicamente.
inovação NO COOPERATIVISMO 270
OBJECTIVES AND KEYS RESULTS (OKR): Composto por objetivos, é fundamental para
dar à organização direção e resultados-chave. Responsável por quantificar a meta neces-
sária para atingir o objetivo.
OFFICELESS: Movimento de pessoas que não possuem escritórios físicos fixos, traba-
lhando em diversos ambientes.
ON-LINE TO OFF-LINE (OSO): Adotado por organizações do mundo on-line para encon-
trar e trazer clientes para instituições do mundo off-line. Funciona por atrair usuários on-li-
ne oferecendo ofertas, reservas, descontos, recomendações e torná-los em oportunida-
des de compra (lead generation) no mundo real (atacarejo).
OPEN SOURCE: Software que vem com permissão para usar, copiar e distribuir, seja como
ou com modificações, e que pode ser oferecido gratuitamente, ou com uma cobrança. O
código-fonte deve ser disponibilizado.
OUTBOUND MARKETING: Conjunto de técnicas de marketing que visam buscar pelo usu-
ário, seja por meio de uma lista fria (sem contato anterior) ou por meio de ações que atinjam
um público que não necessariamente esteja buscando pelo produto ou solução ofertada.
PEER TO PEER (P2P): Modelo de negócio que permite a conexão direta entre os indivídu-
os para troca de produtos e serviços, sem intermédio de empresas. Esse modelo foi popu-
larizado nos anos 2000, principalmente pelo Napster, e permitiu que milhões de usuários
se conectassem “diretamente”, formando grupos e colaborando para o crescimento da
rede. Hoje em dia, podemos dizer que essa nomenclatura é o mesmo que C2C.
PIPELINE DE INOVAÇÃO: Processo pelo qual as ideias geradas percorrem nas organiza-
ções para gerenciar de forma mais eficiente os riscos e incertezas inerentes à inovação
por meio de validações com base em experimentos.
PITCH: É a apresentação de ideia para investidores e/ou mentores que podem comprá-las
ou agregar aconselhamentos. A reunião dura aproximadamente 30 minutos.
POWERTALK: Modelo de apresentação como uma conversa entre pessoas que tenham
um conhecimento/experiência sobre determinado assunto a ser apresentado.
PRECIFICAÇÃO: Definição de preço de um produto, podendo ser feita de acordo com di-
versos fatores.
PRODUCT OWNER (PO): Dono do produto, pessoa responsável por dar as diretrizes para
o desenvolvimento do produto utilizando a metodologia SCRUM.
PRODUCT QUALIFIED LEADS (PQL): Potenciais clientes qualificados pelo produto, sen-
do uma estratégia de produtos freemium e trial na qual o usuário de uma ferramenta é qua-
lificado para se tornar cliente por meio do uso do produto gratuito.
PROPOSTA DE VALOR: É o ganho que o modelo de negócio promete gerar para o cliente. É
comunicado, entregue e deve ser reconhecido.
PROTÓTIPO: Produto criado na fase de testes. Ele é inacabado e imperfeito, mas materia-
liza os principais conceitos que o diferenciam. Serve para compartilhar a visão de como o
produto pode ser, seus diferenciais, testando ideias com o cliente e treinando o time para
aprimorar seu desenvolvimento.
REGTECHS: Refere-se a startups que oferecem soluções tecnológicas para resolver pro-
blemas gerados pelas novas exigências de regulamentação e conformidade provindas
da era digital, com soluções mais fragmentadas, resolvendo problemas específicos, em
nichos bem determinados.
ROUND: É como uma organização denomina uma etapa de investimento recebido por ela.
O primeiro investimento é o “Round A”, o segundo é o “Round B”, por exemplo.
SALES DEVELOPMENT REP (SDR): Pessoa responsável por desenvolver possíveis ven-
das, sendo considerado como um pré-vendedor.
SEARCH ENGINE OPTIMIZATION (SEO): Padrão criado pelo Google para classificar a po-
sição das buscas. Ao realizar o que o buscador considera relevante, a organização conse-
guirá aparecer nas primeiras páginas — algo essencial para negócios digitais.
SEED MONEY: É o dinheiro investido no início de um negócio até que ele consiga gerar lucro.
SMART MONEY: É o investimento feito por pessoas consideradas experientes e bem informa-
das no mercado (leia-se: investidores). Esse tipo de investimento, embora não seja garantia
de sucesso, injeta uma vasta rede de networking, parceiros e habilidades que faltam à equipe,
como gerenciamento de recursos humanos, programação, gestão de recursos financeiros,
liderança, experiência em vendas, novas mídias e no processo de abertura de patentes.
SOCIAL STARTUP: Negócio que tem o objetivo de mudar o mundo, sem a pretensão de
ficar rico e famoso, mas sim de ajudar outras pessoas.
SPIN-OFF: Empresa/Startup que se originou dentro de outra e depois se tornou uma em-
presa independente.
SPRINT: Metodologia criada pelo Google, que permite uma experimentação rápida. É uma
técnica que produz em ritmo acelerado visando um objetivo específico.
SPRINT PLANNING: Planejamento de Sprint, ou seja, é uma forma de planejar uma sema-
na de experimentação.
inovação NO COOPERATIVISMO 274
STOCK OPTIONS: Forma de remunerar gestores por meio de compras de ações da pró-
pria companhia. Entende-se que dando ao gestor a opção de comprar ações da própria
empresa onde ele trabalha, ele seja estimulado a fazê-la valer mais, trabalhando com
esse objetivo.
STORYTELLING: Técnica que tem o objetivo de contar histórias de forma envolvente, fre-
quentemente utilizada em Pitchs.
TECNOLOGIA DISRUPTIVA: Uma tecnologia que muda a forma que o mercado atuava an-
teriormente, provocando uma “disrupção” (quebra de paradigmas).
TERM SHEET: Documento que contém termos combinados entre os investidores e os em-
preendedores, geralmente feito antes do investimento.
TESTES A/B: Teste A/B é um experimento no qual diferentes versões de um produto são
oferecidas aos clientes, ao mesmo tempo. O objetivo desse teste é observar as mudanças
no comportamento entre os dois grupos e medir o impacto de cada versão.
TRIAL: Modelo de testes com um período definido (semanal, quinzenal, mensal etc.) para
uso de determinado produto sem custos.
TRY AND BUY: Modelo de receitas com base no teste gratuito de determinado produto ou
serviço, com um contrato de compra, caso se comprovem as hipóteses levantadas.
USER FRIENDLY: Produto amigável ao usuário, ou seja, que o usuário entende de for-
ma fácil.
USER INTERFACE (UI): Interface do usuário, área ou profissional dedicado à interação vi-
sual que o cliente possui com determinado produto ou serviço.
VALOR DE MERCADO: Valor de uma organização, determinado, na maioria das vezes, por
investidores, independentemente de ela estar em funcionamento ou não.
VENTURE BUILDER: Organizações que criam empresas por meio de suas ideias e seus
recursos, criando uma sinergia entre elas.
VENTURE CAPITAL: Capital de risco que realiza investimento em empresas que estão em
estágio inicial, mas que têm alto potencial de crescimento. Os investidores — tradicional-
mente na forma de empresas — passam a ter participação societária no negócio. Com o
dinheiro, as organizações estruturam suas operações sem depender de fluxo de caixa,
que geralmente é inexistente ou baixo nessa fase.
VIRTUAL REALITY (VR): Realidade Virtual, tecnologia que permite, por meio de um par de
óculos, visualizar um conteúdo produzido virtualmente.
WORDPRESS: Plataforma de criação de websites que permite que pessoas sem qualquer
conhecimento de programação possam criar seus próprios sites.
YEAR OVER YEAR (YoY): Configura o cálculo para mensurar as variações de resultados
(geralmente financeiros) ao comparar anos diferentes, como 2020 e 2021.
FONTES
DE PESQUISA
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inovação NO COOPERATIVISMO 278
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