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ECOSSISTEMAS DE

EMPREENDEDORISMO
INOVADORES E
INSPIRADORES
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

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S443
S443 SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas.
SEBRAE – Serviço Brasileiro
Ecossistemas de Apoio às Micro
de empreendedorismo e Pequenas
inovadores Empresas. SEBRAE – Brasília:
e inspiradores/
Sebrae, 2020.
Ecossistemas de empreendedorismo inovadores e inspiradores/ SEBRAE – Brasília:
Sebrae,
1802020.
p. il., color.
180 p. il., color.

1. Empreendedorismo. 2. Inovação. 3. Ecossistemas de empreendedorismo. I.


SEBRAE II. Associação Nacional de En�dades Promotoras de Empreendimentos
1. Empreendedorismo. 2. Inovação. 3. Ecossistemas de empreendedorismo. I.
Inovadores – ANPPROTEC III. Título
SEBRAE II. Associação Nacional de En�dades Promotoras de Empreendimentos
Inovadores – ANPPROTEC III. Título

CDU – 658
2 2 CDU – 658
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

ECOSSISTEMAS DE
EMPREENDEDORISMO
INOVADORES E
INSPIRADORES

3 3
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

SUMÁRIO

1. Revisão da literatura..................................................................................................6

1.1 Ecossistema de Empreendedorismo............................................................ 10

1.2 Ambientes de Inovação.................................................................................. 14

1.2.1 Áreas de Inovação..................................................................................16

1.2.2 Mecanismos de Geração de Empreendimentos Inovadores..................23

2. Consulta com especialistas...................................................................................38

3. Estudo dos ambientes selecionados.....................................................................42

3.1 Berlim..............................................................................................................42

3.1.1 Políticas e Sistema de Inovação na Alemanha.......................................42

3.1.2 Startups e Mittelstand na Alemanha.......................................................46

3.1.3. Berlim – Startup Capital..........................................................................47

3.1.4. Berlin-Adlershof......................................................................................53

3.2 Manchester.....................................................................................................60

3.2.1 Políticas e Sistemas de Inovação no Reino Unido..................................60

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Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

3.2.2 Região de Manchester............................................................................64

3.2.3 Manchester Science Partnerships..........................................................70

3.3 Haifa................................................................................................................ 76

3.3.1 Políticas de Israel nas Áreas de Inovação e Startups.............................76

3.3.2 Sobre Haifa..............................................................................................82

3.3.3 Haifa Economic Corporation...................................................................85

3.4 Toronto............................................................................................................89

3.4.1 Políticas e Sistema de Inovação no Canadá...........................................89

3.4.2 Toronto.....................................................................................................93

3.5 Ecossistema brasileiro de inovação e três cidades cases: Santa Rita do


Sapucaí-MG, Campina Grande-PB e Porto Alegre-RS........................................ 101

3.5.1 Santa Rita do Sapucaí - Minas Gerais...................................................111

3.5.2 Campina Grande – Paraíba...................................................................125

3.5.3 Porto Alegre – Rio Grande do Sul.........................................................135

4 Conclusão.............................................................................................................. 151

5 REFERÊNCIAS........................................................................................................ 169

5 5
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

1. REVISÃO DA LITERATURA dedorismo (MIT iEcosystem) (BUDDEN;


MURRAY, 2018; BUDDEN; MURRAY; TUR-
O conceito de ecossistema de inova- SKAYA, 2019) é adequada para o propó-
ção não é novo: ambientes onde a inova- sito do presente estudo. A abordagem en-
ção consegue florescer existem há muitos fatiza uma compreensão mais abrangente
anos. O que talvez tenha mudado, e muito do sistema que sustenta o empreendedo-
recentemente, é a compreensão de como rismo voltado à inovação (innovation-dri-
esses ecossistemas podem ser construí- ven entrepreneurship) nesses ecossis-
dos e alimentados, bem como emergir temas. O sistema foi dividido em quatro
de forma inesperada (serendipitously), principais elementos que, em conjunto,
e a compreensão de como os gestores levam à vantagem comparativa e, em últi-
desses ambientes podem desenvolvê-los ma análise, ao impacto (em maior ou me-
(JOHNS, 2016). nor grau) em um ecossistema. A figura a
seguir apresenta essa abordagem e seus
Uma proposta elaborada recente-
elementos, os quais serão detalhados em
mente pelo Massachusetts Institute of
seguida.
Technology (MIT) para compreensão de
ecossistemas de inovação e empreen-

Figura 1. Modelo iEcosystems do MIT

Fonte: Budden e Murray (2018); Budden, Murray e Turskaya (2019)

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Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

Na base dessa abordagem encon- de, região ou nação – abrigar o desen-


tram-se as instituições alicerce, ou seja, volvimento de ideias novas para o mundo
aquelas instituições, regras, práticas e e de levá-las da concepção ao impacto
normas que permitem que investimentos (seja econômico, social, ambiental ou ou-
em uma ampla variedade de capacida- tro). Portanto, a capacidade de inovação
des e ativos possam ser efetivamente pro- abrange não apenas o desenvolvimento
tegidos e alavancados em benefício da de ciência básica e pesquisa, mas tam-
economia. Em seu cerne incluem-se leis, bém a atividade de fazer com que essas
mecanismos para proteção dos direitos soluções gerem produtos, serviços e tec-
de propriedade (especialmente a proprie- nologias úteis, que realmente colaborem
dade intelectual), instituições financeiras, para a solução de problemas.
abertura para novas ideias (incluindo em
âmbito científico) e facilidade para fazer A capacidade de empreendedoris-
negócios. mo (E-CAP) enfatiza a capacidade em-
preendedora e o ambiente de negócios
No centro da abordagem estão en- para a formação de novas empresas, des-
fatizadas duas capacidades que atuam de os primeiros estágios de startup, pas-
em conjunto como motores do sistema e sando pelo ganho de escala (scale-up),
que precisam ser desenvolvidas para que até a formação de grandes empresas.
o ecossistema possa prosperar. Esses Embora essa capacidade apoie todos os
motores são a capacidade de inovação tipos de empreendedorismo, levando na
(I-CAP) e a capacidade de empreendedo- maioria das vezes à formação de PMEs,
rismo (E-CAP), as quais, apoiando-se nas os aspectos do E-CAP que são de maior
instituições alicerces, combinam insumos interesse são aqueles que estimulam o
diferenciados para impulsionar o impacto. lado da capacidade de empreendedoris-
Diversos empreendimentos não se mobi- mo que é voltado à inovação (innovation-
lizam para inovação (harness innovation), -driven), concebido para apoiar o cres-
o que limita o seu potencial de impacto ou cimento de IDEs em um lugar específico
crescimento. Dessa forma, esse quadro – uma cidade, região ou nação.
referencial concentra-se especificamente
no subgrupo de empreendimentos orien- A combinação das capacidades de
tados para a inovação (innovation-driven inovação e de empreendedorismo dentro
enterprises - IDEs) e não nas pequenas de uma determinada cidade, região ou
e médias empresas “tradicionais” (PMEs). nação produz as IDEs (negócios orienta-
dos para a inovação) de alto impacto, que
A capacidade de inovação (I-CAP) são um motor crítico para a geração de
é a capacidade de um lugar – uma cida- novas soluções para problemas impor-

7 7
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

tantes, para a criação de postos de traba- A vantagem comparativa da eco-


lho de longo prazo e, em última instância, nomia de qualquer região é baseada em
para alavancar a prosperidade econômi- pontos fortes específicos que a diferen-
ca e social. ciam de outras ao redor dela, cada vez
mais em um contexto global. Para ecos-
Tanto a I-CAP quanto a E-CAP são sistemas de empreendedorismo voltados
consideradas nesse modelo em relação para a inovação (iEcosystems), a vanta-
a cinco dimensões críticas de insumos gem comparativa é moldada por forças
(inputs), quais sejam: capital humano subjacentes presentes nas capacidades
(talentos); financiamento; infraestrutura; de inovação e de empreendedorismo e
demanda; e cultura & incentivos. Para a é caracterizada por sua singularidade e
capacidade de empreendedorismo, foco diferenciação (distinctive), ou seja, por
deste estudo, algumas questões impor- aquilo que é característico do ecossis-
tantes em cada um deles são: capital hu- tema que o diferencia dos demais. A
mano: habilidades empreendedoras e co- vantagem comparativa de uma região
nhecimento; financiamento: políticas de frequentemente encontra expressão em
tributação e de investimento adequadas aglomerados (clusters) geográficos ou
e disponibilidade de capital de risco; in- setores industriais.
fraestrutura: espaços baratos, modulares
e com aluguel por curto período, munidos O impacto resulta da combina-
de equipamentos adequados e internet ção entre as capacidades de inovação
de qualidade; demanda: encomendas (I-CAP) e de empreendedorismo (E-CAP)
públicas (public procurement), prêmios e conectadas com a vantagem comparativa
linhas de financiamento oferecidas pelo central. As principais métricas de impac-
setor público; cultura & incentivos: re- to são, em parte, uma questão de esco-
gulamentação de propriedade intelectual, lha e priorização por parte dos tomado-
intenção de empreender e empreendedo- res de decisão e das partes interessadas
rismo como escolha de carreira. (stakeholders) do ecossistema. Deve-se
reconhecer que mesmo as intervenções
As capacidades de inovação e de mais profundas no sistema apenas impul-
empreendedorismo nem sempre são ati- sionarão mudanças mensuráveis em ter-
vos gerais desenvolvidos em um contex- mos de impacto no longo prazo.
to regional, estando mais propensas a se
especializarem em torno de determina- No nível mais alto, o impacto pode
das áreas. Essa característica é conside- ser capturado na forma de indicadores
rada nesse modelo como uma forma mais de progresso econômico ou social. Para
ampla de vantagem comparativa. o progresso econômico, a métrica mais

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Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

utilizada é o PIB per capita: trata-se de in- as tradicionais pequenas e médias


dicador que não é isento de problemas, empresas).
mas é amplamente utilizado. Para o pro-
gresso social, indicadores como os que FOCO DO ESTUDO
constam do Índice de Progresso Social
(SPI) ou nos Objetivos de Desenvolvimen- Considerando essa abordagem do
to Sustentável (ODS) da ONU podem ser MIT como base, este estudo concentra-se
mais apropriados. em abordar o lado do sistema que envolve
a capacidade de empreendedorismo de
Outros tomadores de decisão defi- regiões, especificamente de determinadas
nem impacto conforme as alterações qua- cidades no Brasil e no exterior: Porto Ale-
litativas. Por exemplo: em atitudes locais gre, Santa Rita do Sapucaí, Campina Gran-
em relação ao empreendedorismo. Em de, Berlim, Toronto, Manchester e Haifa. A
decorrência, tendem a avalia-lo usando combinação de quatro critérios norteou a
métricas diferentes, por vezes baseadas escolha dessas cidades, sendo os dois
em pesquisas e adaptadas às estratégias primeiros qualificadores e os demais dife-
e aspirações das principais partes inte- renciadores: (i) constituírem ecossistemas
ressadas (stakeholders). de alto impacto, como detalhado no pará-
grafo seguinte; (ii) terem histórico de evo-
Em um nível mais granular, o impacto
lução e características capazes de inspirar
pode ser capturado em termos dos tipos
outras cidades e regiões; (iii) serem me-
de startups que estão sendo criadas e
nos notórias nas narrativas de “casos de
que crescem dentro do ecossistema – por
sucesso” – por exemplo, em comparação
exemplo, o nível de criação de empregos
com o Vale do Silício e a região de Bos-
e os níveis de valoração (valuation).
ton, nos Estados Unidos, ou com Florianó-
Uma métrica inovadora de parti- polis e Recife, no Brasil; e (iv) permitirem
cular interesse é o aumento do núme- diversidade, quer geográfica (continentes
ro e da qualidade de empreendimen- diferentes no exterior, regiões diferentes no
tos orientados para a inovação (IDEs), Brasil), quer relativa ao porte das cidades
empreendimentos que combinam ino- (de metrópoles a cidades pequenas).
vação e empreendedorismo e, por
As cidades selecionadas para este
esse motivo, apresentam grande po-
estudo são consideradas Ecossistemas
tencial para a criação de empregos e
de Alto Impacto. Como foi abordado an-
potencial para desenvolver soluções
teriormente na proposta do MIT, um ecos-
para problemas importantes (em uma
sistema de alto impacto é aquele que
escala que é mais significativa do que
consegue combinar as capacidades de

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Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

empreendedorismo (E-CAP) e de inova- Em síntese, a partir do modelo do MIT,


ção (I-CAP) com uma vantagem compa- em conjunto com as opiniões dos especia-
rativa da região/cidade para impulsionar listas, entende-se que um Ecossistema de
o impacto. Conforme também abordado Alto Impacto, além de combinar uma alta
anteriormente, o impacto pode ser medi- capacidade de empreendedorismo e de
do de diversas formas (e não foi o objetivo inovação, consegue articular os principais
deste estudo medir ou comparar o impac- atores ou partes interessadas (stakehol-
to dessas cidades). Algumas medidas ders) para dinamizar a cidade/região e fa-
fornecem indicações de que determinada zer com que as capacidades de fato gerem
região/cidade está conseguindo impactar impactos e benefícios econômicos e so-
em termos econômicos e sociais a sua re- ciais.
gião ou mesmo seu país.
Nesse sentido, as cidades selecio-
Para os especialistas consultados nadas foram estudadas considerando o
nesta pesquisa, um ecossistema de alto ecossistema empreendedor da região, as
impacto envolve: políticas de CT&I que sustentam esse ecos-
sistema, suas vantagens comparativas e os
• Articular, fomentar e desafiar ins- principais ambientes de inovação que mo-
titucionalidades (academia, em- vimentam e impulsionam esse ecossistema.
presas e governo), gerando valor Espera-se que essas experiências possam
tanto com foco no mercado quan- servir de inspiração para a geração e me-
to nas demandas sociais. lhoria de ecossistemas similares no Brasil.
• Um conjunto de atores sociais e
econômicos, públicos e privados, Os temas tratados a seguir foram a
ambientes de inovação e políticas base teórica principal utilizada no estudo
que viabilizam e dinamizam espa- para subsidiar as pesquisas e análises rea-
ços e territórios inovadores e em- lizadas em cada cidade selecionada. Os
preendedores. temas chave dessa base teórica são ecos-
• Atores (fontes de conhecimento sistema de empreendedorismo e ambien-
[universidades, centros de pes- tes de inovação.
quisa e outros entes], pessoas,
capital, governo) em um ambiente 1.1 ECOSSISTEMA DE
econômico favorável, isto é, que EMPREENDEDORISMO
oferece facilidade para fazer ne-
gócios, além de dotado de cultura Uma definição amplamente utilizada
propícia à inovação e incentivador de ecossistema de empreendedorismo é a
da tomada de risco. de um conjunto de atores e fatores interde-

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Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

pendentes, coordenados de forma a pos- no ambiente externo de negócios. O que di-


sibilitar o empreendedorismo produtivo. fere a abordagem desses conceitos é que o
Nesse contexto, a atividade empreende- ponto focal é o empreendedor ou empreen-
dora é considerada o processo por meio dedora, e não a empresa (STAM, 2015).
do qual indivíduos criam oportunidades de
inovação. Essa inovação irá eventualmen- Os ecossistemas buscam garantir a
te agregar valor à sociedade, sendo esse, união de elementos em torno de uma rede,
portanto, o resultado final (ultimate outco- de modo a possibilitar a atuação e o desen-
me) de um ecossistema empreendedor volvimento de seus participantes. Mesmo
(STAM, 2015). que os determinantes do empreendedoris-
mo possam variar entre regiões e países,
A abordagem do ecossistema de em- dentro desse ecossistema é necessário
preendedorismo muitas vezes se restringe que haja condições propícias para a for-
às startups de alto crescimento, acreditan- mação de um sistema dinâmico, que possa
do que esse tipo de empreendedorismo é apoiar seus integrantes desde a formação
uma importante fonte de inovação, cres- de seus negócios até o ganho de escala e
cimento da produtividade e do emprego. crescimento sustentável (ITS, 2016).
Apesar de existirem outras formas de em-
preendedorismo produtivo, essa aborda- Para o bom funcionamento do ecossis-
gem não inclui, por definição, os trabalha- tema, é necessária a presença de múltiplos
dores autônomos e as pequenas empresas atores, que são de primordial importância
(STAM, 2015). para o seu fortalecimento e expansão. De
acordo com Van Weele et al. (2018), diver-
A literatura sobre ecossistema em- sos atores podem fortalecer o ecossistema
preendedor enfatiza de maneira clara o pa- empreendedor por meio do fornecimento
pel do contexto social, ou seja, em como dos recursos necessários para que as star-
esse contexto pode possibilitar ou restringir tups possam prosperar, e por meio da for-
o empreendedorismo. Nesse sentido, essa mação (shaping) das instituições do ecos-
literatura está em sintonia com outras recen- sistema:
tes abordagens, que buscam conectar a
abordagem de sistema de inovação e estu- 1) Um pool de talentos com indi-
dos de empreendedorismo. O que o ecos- víduos com alto nível de capital
sistema de empreendedorismo possui em humano, o que inclui tanto habili-
comum com os demais conceitos estabe- dades técnicas quanto empreen-
lecidos – tais como clusters, distritos indus- dedoras. Esses indivíduos atuam
triais, sistemas de inovação e “regiões de como fundadores ou profissionais
aprendizagem” (learning regions) – é o foco nas startups;

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Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

2) Mercado interno e externo, com- te, também são importantes na


posto por consumidores e em- promoção de uma cultura de ino-
presas que atuam como clientes. vação e empreendedorismo;
Devem ser acessíveis e grandes 6) Infraestrutura física do ecossis-
o suficiente para que as startups tema (para a qual tanto atores
possam vender seus produtos e públicos quanto privados podem
serviços; contribuir), que fornece às empre-
3) Capital financeiro, fornecido por sas iniciantes os recursos tangí-
investidores privados ou agências veis necessários, incluindo espa-
públicas de fomento, permitindo ço para escritórios, instalações de
que as startups obtenham os re- telecomunicações e infraestrutura
cursos necessários para sua for- de transporte.
mação e crescimento;
4) Serviços de suporte que ajudem Entretanto, apenas a presença des-
as startups a obter conhecimen- ses atores é insuficiente para que o ecos-
to especializado. Esses serviços sistema de empreendedorismo seja bem-
são fornecidos principalmente por -sucedido. Esses atores precisam estar
mentores (empreendedores ex- conectados por meio de redes formais
perientes que aconselham jovens e informais que permitam facilitar o fluxo
fundadores), prestadores de ser- de recursos e informações entre eles.
viços profissionais (advogados, Os ativos de rede aumentam o nú-
contadores, consultores etc.), in- mero de contatos no ecossistema, mul-
cubadoras e aceleradoras; tiplicando o efeito proporcionado pela
5) Universidades, que desempe- aglomeração. Os principais ativos de
nham um papel catalisador. Con- rede incluem encontros, eventos da co-
tribuem com o capital humano do munidade, bootcamps e programas de
ecossistema, provendo empreen- treinamento de habilidades, espaços de
dedores e profissionais com boa colaboração e rede de mentores. Acele-
formação, além dos professores radores, incubadoras, investidores-anjo
do corpo docente que também e venture capital são ativos híbridos com
podem atuar como consultores ativos econômicos, mas o impacto de sua
para empresas iniciantes. Além rede de mentores e empreendedores os
disso, sua expertise pode levar a torna mais valiosos para o crescimento e
oportunidades tecnológicas, com a sustentabilidade do ecossistema (MU-
base nas quais as startups podem LAS; MINGES; APPLEBAUM, 2015).
construir seus produtos. Finalmen-

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Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

Essas redes de atores no ecossiste- sistema educacional de alta qualidade e


ma de empreendedorismo operam sob proteção adequada da propriedade inte-
um ambiente institucional que pode lectual. Além disso, os governos também
tanto apoiar quanto limitar o desenvolvi- podem criar regulações que visem espe-
mento das startups, conforme também cificamente estimular novas empresas,
abordado por Stam (2015) ao ressaltar a incluindo subsídios iniciais ou incentivos
importância do contexto para o ecossiste- para apoiar a colaboração de P&D entre
ma. As instituições são as regras do jogo startups e universidades. A cultura do
socialmente construídas, que estruturam ecossistema deve encorajar o empreen-
as ações dos atores no ecossistema. As dedorismo como uma opção de carreira,
duas instituições mais importantes que garantir que empreendedores nascentes
influenciam a atividade de startups no pensem em termos do mercado onde
contexto desse tipo de ecossistema são a querem vender seus produtos, tornar so-
regulação e a cultura. cialmente aceita a tomada de riscos e ce-
lebrar as startups locais de sucesso.
Os governos podem atuar na cria-
ção de boas condições para que inova- A figura a seguir resume esses com-
ção e empreendedorismo ocorram com, ponentes de um ecossistema empreen-
por exemplo, baixos níveis de corrupção, dedor:

Figura 2. Componentes de um ecossistema de empreendedorismo

Fonte: Lawrence, Hogan e Brown (2019)

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Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

Em resumo, um ecossistema em- tes para atividades inovativas, des-


preendedor saudável conecta pessoas tacam-se os ambientes de inovação.
que têm boas ideias ao treinamento, fi- Esses ambientes são um elemento
nanciamento, espaços, serviços de su- importante dos sistemas de inovação
porte e funcionários de que precisam e caracterizam-se por fornecer con-
para transformar essas ideias em reali- dições favoráveis ao desenvolvimento
dade. Esse ecossistema é mais do que a de produtos e processos inovadores,
junção dos componentes individuais de minimizando riscos associados às ati-
um sistema: sustenta-se em uma base vidades inovadoras e maximizando
sólida de capital humano, cultura, infraes- os resultados desses processos (DA-
trutura de tecnologia da informação e nas MIÃO; ZOUAIN; PLONSKI, 2014).
relações entre todos esses componentes
(LAWRENCE; HOGAN; BROWN, 2019). De acordo com Audy e Piqué
(2016), os ambientes de inovação en-
Parques científicos e tecnológicos, volvem duas dimensões: as áreas de
incubadoras, aceleradores e outros es- inovação e os mecanismos de ge-
paços de inovação ajudam a incentivar ração de empreendimentos inova-
as startups, atuando como mentores dores. Cada uma dessas dimensões
e guias, fornecendo conselhos sobre apresenta diferentes subtipos ou di-
preços, marketing e outros aspectos do ferentes espécies que as compõem e
negócio (HARTHMORE; NIKINA, 2016). que atuam em alto grau de integra-
Os espaços ou ambientes de inovação ção. Por exemplo, os parques científi-
são essenciais como atores e integra- cos e tecnológicos (PCT) são um dos
dores dos elementos que compõem possíveis tipos de áreas de inovação
esse ecossistema de empreendedoris- e as incubadoras e aceleradoras são
mo. Esses ambientes e suas caracterís- também exemplos de tipos de meca-
ticas serão tratados a seguir. nismos de geração de empreendimen-
tos. A figura a seguir ilustra ambas as
1.2 AMBIENTES DE INOVAÇÃO dimensões e alguns dos diferentes ti-
pos associados.
Dentre as diversas estruturas e
instrumentos considerados relevan-

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Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

Figura 3. Ambientes de inovação

Fonte: Audy e Piqué (2016)

Especificamente em relação às so, nas cidades, interagindo com a ma-


áreas de inovação, essas são espaços lha urbana em todas as suas instâncias,
que agregam instalações (físicas, de usando a tecnologia e a inovação para a
infraestrutura, tecnológicas, institucio- melhoria da qualidade de vida dos cida-
nais e culturais) que permitem atrair dãos” (AUDY; PIQUÉ, 2016, p. 16).
empreendedores com novas ideias
e capital, com foco na inovação e no Os mecanismos de geração de
desenvolvimento da sociedade do co- empreendimentos inovadores possuem
nhecimento. Essas áreas de inovação, como objetivo estimular o surgimento de
conceito no qual se incluem os PCT, en- empresas inovadoras, bem como pre-
volvem múltiplas possibilidades, “[...] parar as empresas nascentes (startups)
estando inseridas em um espaço difu- para sua consolidação e crescimento

15 15
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

no mercado. Esses mecanismos, por- des para alcançar um modelo de cres-


tanto, auxiliam no processo de migrar cimento empreendedor (entrepreneurial
do conhecimento ou ideia para a práti- growth model) sustentável e competiti-
ca, alcançar clientes e crescer de forma vo. O termo área de inovação (AOI) im-
sustentável. Alguns exemplos de meca- plica em um lugar (cidade, região, dis-
nismos são: escritórios compartilhados; trito, área metropolitana entre outros) e
coworking; incubadoras; aceleradoras; outros elementos (recursos humanos,
venture builder ou fábrica de startups; programas, serviços, fundos, infraes-
centros empresariais; hubs de inova- trutura etc.) orientados para fomentar a
ção; living labs; capital empreendedor; inovação no referido local, a fim de ge-
investidor anjo; crowdfunding; corpora- rar desenvolvimento econômico e social
te venture capital (ARANHA, 2016). (SANZ, 2016).

Uma característica em comum As AOI concentram pessoas alta-


em todas as variantes dos ambientes mente qualificadas com mentalidade
de inovação é a necessidade de criar empreendedora, serviços e recursos
uma ecologia de inovação incluindo os em ambientes urbanos que oferecem
agentes dos ecossistemas (universida- excelentes oportunidades de comu-
des, empresas, governos e pessoas). nicação e troca. A proximidade entre
A visão desses ambientes é a de “[...] atores impulsionados para inovação
buscar o desenvolvimento econômico e (innovation-driven) e a cidade intensi-
social, sustentável, por meio da tecno- fica as relações sociais e o intercâmbio
logia e da inovação, visando a melhoria de ideias, criando um modelo enraiza-
da qualidade de vida da comunidade” do no paradigma da inovação aberta,
(AUDY; PIQUÉ, 2016, p. 23). nos espaços de trabalho colaborativo
e nas estruturas horizontais (ENGEL;
A seguir trataremos em mais deta- BERBEGAL-MIRABENT; PIQUÉ, 2016,
lhes sobre as áreas de inovação e os 2018). Esses espaços urbanos atraem
mecanismos de geração de empreen- pessoas e geram novas oportunidades
dimentos inovadores, bem como suas que, consequentemente, permitem
diferentes espécies e as mudanças que promover o desenvolvimento socioe-
vêm ocorrendo em seu desenvolvimento conômico da população e a melhoria
de sua qualidade de vida (AUDY; PI-
1.2.1 ÁREAS DE INOVAÇÃO QUÉ, 2016).
As áreas de inovação representam Em relação à geografia desses
o próximo passo na evolução das cida- ambientes, as AOI podem ser desenvol-

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Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

vidas tanto em espaços pré-existentes espaços para inovação, mas na gestão


(brownfield) quanto em espaços novos de uma comunidade de pessoas traba-
(greenfield). No primeiro caso, podem lhando em inovações (SANZ, 2016; VAN
colaborar na recuperação de espaços DINTEREN; TAIT; WERNER, 2017).
degradados ou que precisam ser pro-
jetados para uma nova função, como Nas AOI de hoje são essenciais o
ocorre em muitos clusters e distritos de desenvolvimento de uma rede de co-
inovação que ocupam antigos bairros nhecimento de empresas e instituições
industriais das cidades. No segundo e a construção de uma comunidade.
caso, como ocorre em muitos parques Evidentemente, também é preciso ter
científicos e tecnológicos (PCT) novos, uma área atraente e espaços que aten-
são instalados em espaços que preci- dam às necessidades de empresas
sam ser projetados, construídos e ocu- e instituições focadas em inovações.
pados (AUDY; PIQUÉ, 2016). Mas é crucial ter serviços que permitam
construir essa comunidade e fortalecer
O conceito chave por trás das AOI as redes (matchmaking, organização de
é o de um lugar para trabalhar e viver na seminários etc.) (VAN DINTEREN; TAIT;
economia e na sociedade baseadas em WERNER, 2017).
conhecimento (PAREJA-EASTAWAY; PI-
QUÉ, 2016). Ou seja, permite esse uso Um novo elemento na gestão des-
híbrido dos espaços, envolvendo um sas redes no contexto de uma AOI é a
ambiente que ofereça a possibilidade de criação da serendipidade, ou do acaso.
viver, trabalhar e se divertir e que propi- Essencialmente, a gestão da serendi-
cie a coexistência de empreendimentos pidade se resume em: como pessoas
e pessoas (AUDY; PIQUÉ, 2016). com diferentes backgrounds podem se
conectar e colaborar para permitir que
AOI é um conceito mais genérico novos insights e novos produtos sejam
que abarca diversos tipos ou espécies, desenvolvidos por meio de “pura coin-
tais como PCTs, distritos de inovação, cidência” (serendipidade)? Isso pode
comunidades de inovação, clusters e se manifestar em um edifício cujo con-
cidades inteligentes. Apesar de alguns ceito se assemelhe ao tipo de local de
desses tipos já serem consolidados, trabalho criativo, no qual espaços flexí-
como PCTs e clusters, algo que mudou veis, divertidos e projetados com toda a
com o conceito de AOI é que o foco infraestrutura necessária estão disponí-
não é mais em desenvolvimento e ges- veis para pessoas criativas e empreen-
tão de empreendimentos imobiliários ou dedores.

17 17
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

Figura 4. Áreas de inovação

Fonte: Audy e Piqué (2016)

A seguir, trataremos de alguns tipos desenvolvimento científico e tecnológico


específicos de áreas de inovação que e no surgimento de empresas inovadoras.
são de interesse para este estudo: par- Estão presentes desde a década de 1950,
ques científicos e tecnológicos, distritos quando da criação, em 1951, do primeiro
de inovação e clusters. parque, o Stanford Research Park. Ape-
sar das diferentes terminologias utilizadas
1.2.1.1 PARQUES CIENTÍFICOS pelo mundo (Research Park - EUA e Ca-
E TECNOLÓGICOS nadá; Science Park - Europa; Technology
Park - América do Sul e Ásia), os parques
Parques científicos e tecnológicos continuam sendo importantes agentes in-
(PCT) são plataformas que auxiliam no dutores de inovação, gerando um fluxo de

18 18
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

conhecimento e tecnologia entre universi- mica de seus resultados. O modo típico


dades, instituições de pesquisa e demais de governança de um parque de primeira
atores sociais, institucionais e econômi- geração é o de controle universitário por
cos (TEIXEIRA; EHLERS; TEIXEIRA, 2017; meio de uma fundação ou empresa limita-
HENRIQUES; SOBREIRO; KIMURA, 2018; da, criada pela universidade ou por uma
TONELLI; COSTA; SANT’ANNA, 2018). associação relacionada. A filosofia de
inovação desses parques é caracterizada
Na literatura, os PCT são usualmente por uma abordagem linear de inovação
divididos em três gerações, havendo al- (science-push), que considera os resul-
gumas variações em termos do que seria tados de pesquisas científicas como “in-
definidor de cada uma delas. Há traba- sumo” para atividades inovadoras (MAR-
lhos que tratam das gerações em termos TÍNEZ-CAÑAS; RUÍZ-PALOMINO, 2011;
cronológicos e de maturidade (UNI- GYURKOVICS; LUKOVICS, 2014).
VERSITY OF LINCOLN, 2013; HUNJET;
´
IVETIC; KOZINA, 2018), bem como utili- Segunda Geração
zando diferentes conceitos para caracte-
rizar essas três gerações (FIATES, 2008; Os PCT de segunda geração são
MARTÍNEZ-CAÑAS; RUÍZ-PALOMINO, considerados como uma extensão da
2011; GYURKOVICS; LUKOVICS, 2014; universidade (ou de outros grandes esta-
TEIXEIRA; EHLERS; TEIXEIRA, 2017). A belecimentos de P&D). A principal força
seguir, apresentamos um breve resumo motriz de sua operação é a criação de
do conceito e das principais característi- negócios orientados para a inovação e o
cas de cada geração. apoio de seu crescimento, em vez da utili-
zação econômica dos resultados de pes-
Primeira Geração quisa da universidade. Nos PCT de se-
gunda geração, os gestores prestam mais
Os PCTs de primeira geração são atenção às necessidades e exigências
inspirados pelo sucesso alcançado pela das empresas instaladas e, como resul-
Universidade de Stanford. Localizados tado, esses parques oferecem um amplo
em uma área dedicada para esse fim nas portfólio de serviços de alta qualidade. O
proximidades de uma universidade, in- modo típico de governança de um par-
cluem instalações para incubação para que de segunda geração é o de uma or-
startups, serviços de suporte aos negó- ganização privada que o administra, mas
cios e acesso a fontes externas de finan- com o envolvimento de representantes do
ciamento. O objetivo dessa geração de setor acadêmico e do governo local para
parques é criar oportunidades para no- assuntos relacionados ao funcionamento
vos negócios e para a utilização econô- e à regulamentação do parque. A filosofia

19 19
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

de inovação dessa geração de parques é ou serviço e levá-lo ao mercado (EURO-


mais voltada para a demanda do merca- PEAN COMISSION, 2014).
do, ou seja, demand-pull ou market-pull
(MARTÍNEZ-CAÑAS; RUÍZ-PALOMINO, A terceira geração de parques tem
2011; GYURKOVICS; LUKOVICS, 2014). como objetivo melhorar o bem-estar e a
riqueza da comunidade local onde o par-
Terceira Geração que está instalado, por meio do apoio a
diversas formas eficientes de cooperação
O conceito de PCT de terceira ge- entre ciência, indústria (setor produtivo) e
ração é usualmente atribuído às con- governo. A abordagem inicial do “scien-
clusões derivadas de um workshop ce-push” foi substituída pela organização
realizado pelo professor John Allen em de parques ao longo do modelo interati-
Manchester, no ano de 2006. Dele par- vo. Com esse modelo interativo em vigor,
ticiparam os principais diretores de par- o foco agora recai nas atividades de ino-
ques, pesquisadores e consultores que vação que são baseadas em um fluxo bi-
trabalham com essa temática. As con- direcional de informação e conhecimento
clusões mais relevantes deste workshop entre os atores que participam do proces-
(ALLEN, 2006) foram publicadas em so. Com essa filosofia de inovação focada
2007 pelo professor John Allen. na inovação interativa, esses parques são
ao mesmo tempo “science-push” e “mar-
Em resumo, concluiu-se que a ter-
ket-pull” (MARTÍNEZ-CAÑAS; RUÍZ-PALO-
ceira geração de PCT possui todas as
MINO, 2011; GYURKOVICS; LUKOVICS,
características de um bom parque cien-
2014; HOFFMANN; MAIS; AMAL, 2010).
tífico de segunda geração, mas os par-
ques são fisicamente construídos de Nos anos 1980, época em que os
modo a criar espaços e ambientes que parques começaram a se multiplicar, ha-
favoreçam altos níveis de criatividade e via um grande debate buscando distin-
inovação, tanto formal quanto informal- guir diferentes centros/ambientes para
mente organizados. Esses espaços de inovação (business parks, office parks,
colaboração são disponibilizados aos science parks, technology parks, techno-
ocupantes do PCT, mas também atraem poles, research parks, incubators, innova-
outras empresas e fornecedores de ser- tion centers etc.). Essa abordagem frag-
viços para criar um rico mix de organi- mentada correspondia ao processo linear
zações e pessoas que se juntam para de inovação, ou seja, de que os diferentes
melhorar a produtividade dos processos tipos de “produtos” deveriam se estabele-
altamente complexos envolvidos para cer nesses centros/ambientes de acordo
transformar conhecimento em produto com o estágio em que se encontrassem

20 20
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

no processo empreendedor/inovador: in- pamentos de laboratório. Trata-se de um


cubadoras e parques de pesquisa nos ambiente fisicamente compacto, tecnolo-
estágio iniciais até business e office parks gicamente conectado (technically-wired)
para negócios bem estabelecidos (HOF- e de fácil acessibilidade (walkable de-
FMANN; MAIS; AMAL, 2010). sign e transit-accessible) (AUDY; PIQUÉ,
2016; BIRCH; NUSSDORF, 2015; KATZ;
Atualmente, espera-se que os par- WAGNER, 2014).
ques de terceira geração atendam, ao mes-
mo tempo, empresas inovadoras baseadas Além disso, essas áreas oferecem a
em tecnologia e conhecimento, laborató- possibilidade de uso misto, ou seja, po-
rios de pesquisa e empresas tradicionais. dem combinar atividades universitárias,
Diversos tipos de serviços são ofertados às espaços de pesquisa, escritórios, mo-
empresas estabelecidas nos parques, por radia e outras comodidades adicionais,
meio de várias organizações integradas em tais como restaurantes e lojas de varejo.
rede. Desse modo, o objetivo de promo- Criam-se então bairros de pesquisa e
ver o desenvolvimento por meio da inova- inovação onde se pode viver e trabalhar,
ção nesses parques inclui: a) geração de propiciando oportunidades de interação
empresas intensivas em conhecimento; b) e colaboração para os profissionais que
implantação de estratégias de suporte ao ali circulam (BIRCH; NUSSDORF, 2015).
desenvolvimento contínuo de empresas de
base tecnológica consolidadas; c) apoio à Ao combinar ativos econômicos, físi-
transferência de tecnologia de universida- cos e de capital social (networking) em lo-
des e centros de pesquisa para empresas cais urbanos, não em áreas suburbanas,
(HOFFMANN; MAIS; AMAL, 2010). os distritos de inovação concentram-se
amplamente na criação de um campo físi-
co dinâmico que fortaleça a proximidade
1.2.1.2 DISTRITOS DE
e os transbordamentos de conhecimento
INOVAÇÃO (knowledge spillovers). Em vez de ficarem
Os distritos de inovação são áreas concentrados em indústrias específicas,
geográficas dentro das cidades, integra- os distritos de inovação representam um
dos às áreas urbanas, em que instituições esforço intencional para criar novos pro-
âncoras de vanguarda e clusters de em- dutos, tecnologias e soluções de mercado
presas conectam-se com startups, acele- por meio da convergência de diferentes
radoras e incubadoras. Nesses espaços setores e especializações (por exemplo,
colaborativos, empreendedores podem tecnologia da informação, biociência,
ter acesso a vários recursos, desde as- energia, educação) (BIRCH; NUSSDORF,
sessoria jurídica até sofisticados equi- 2015; KATZ; WAGNER, 2014).

21 21
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

Em 2018 iniciou-se o desenvolvi- de insumos e produtos complementares,


mento, pela Fundação Instituto de Pes- além de oferecer uma base de conheci-
quisas Econômicas (FIPE), de um estudo mento e habilidades que estão ligadas a
multidisciplinar para a Fundação de Am- taxas mais altas de empreendedorismo.
paro à Pesquisa do Estado de São Pau- A co-localização de empresas, clientes,
lo (Fapesp) voltado à transformação das fornecedores e outras instituições tam-
áreas do Ceagesp em São Paulo (SP) e bém aumenta a percepção de oportuni-
da Fazenda Argentina em Campinas (SP) dades de inovação, ampliando a pressão
em “Distritos de Inovação”. para inovar. Como os empreendedores
são agentes essenciais de inovação, um
1.2.1.3 CLUSTERS ambiente de cluster forte deve permitir fo-
mentar a atividade empreendedora (LÄM-
Clusters são entendidos como con- MER-GAMP et al., 2016).
centrações geográficas de empresas,
instituições de ensino superior e pesqui- Um cluster de inovação (COI) é
sa e outras organizações públicas e pri- semelhante, mas diferente, do entendi-
vadas (de vários portes e características) mento bem estabelecido de um cluster
em segmentos ou áreas de negócio simi- de negócios. Em um COI, o processo
lares. O objetivo e a função do cluster é empreendedor é um mecanismo para
facilitar a colaboração entre atividades inovação contínua e rápida, comerciali-
econômicas complementares das organi- zação de tecnologia, experimentação de
zações nele envolvidas. Nesse ambiente, modelos de negócios e desenvolvimen-
os atores se relacionam e interagem, por to de novos mercados. Esse processo
meio de elementos comuns e comple- é incentivado por um denso cluster de
mentares, visando a ganhos de eficiência capital de risco (venture capital) e pelas
e maior competitividade (HALME; SALMI- instalações necessárias para a criação
NEN, 2016; AUDY; PIQUÉ, 2016). de startups bem estruturadas, financia-
das e conectadas. Nesses ambientes, as
São múltiplos os motivos que expli- startups se beneficiam por estarem loca-
cam por que o empreendedorismo e a lizadas em conjunto com outros prove-
inovação tendem a se concentrar em lo- dores, incluindo advogados, banqueiros,
cais específicos. Por exemplo, os clusters capitalistas de risco (venture capitalists)
estão reduzindo os custos para se iniciar e uma infinidade de consultores que
um negócio, aumentando as oportunida- são bem versados nas necessidades de
des de inovações, permitindo um melhor startups e pequenas empresas de tecno-
acesso a uma gama mais diversificada logia (PIQUÉ, 2018).

22 22
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

1.2.2 MECANISMOS para abrigar esses novos empreendi-


DE GERAÇÃO DE mentos. No entanto, para além de uma
EMPREENDIMENTOS seleção estanque, hoje busca-se um di-
namismo e integração desses diversos
INOVADORES mecanismos para apoiar os empreendi-
Cerca de 25% das startups criadas mentos nascentes.
no Brasil acabam perecendo em um ano
Nas seções a seguir falaremos dos
ou menos. No entanto, uma pesquisa rea-
principais mecanismos para geração e
lizada pela Fundação Dom Cabral apon-
apoio a empreendimentos inovadores:
ta que startups instaladas em incubado-
incubadoras, aceleradoras, coworking,
ras, aceleradoras ou PCTs apresentam
venture builder, hubs de inovação, living
3,45 menos chance de serem desconti-
labs, fab labs (que são um tipo de “labo-
nuadas do que as startups instaladas em
ratórios abertos”) e capital empreende-
escritório próprio, sala ou loja alugada
dor.
(NOGUEIRA; ARRUDA, 2015).

Essa constatação, convergente 1.2.2.1 INCUBADORAS


com outros estudos, reforça a recomen-
dação de fortalecimento de mecanismos Acompanhar um negócio desde seu
que auxiliem no desenvolvimento desses início, auxiliando no desenvolvimento do
empreendimentos, de modo a fornecer o empreendimento e visando sua abertura
apoio necessário a essas empresas nas- para atuação no mercado, é a base do
centes. A dinâmica desses mecanismos processo de incubação de empresas.
vem mudando e inovando ao longo do Desde as suas origens em 1959 (Batavia,
tempo, incorporando as necessidades NY, EUA), os programas de incubação
emergentes dos atores que buscam fa- têm se tornado um importante mecanis-
zer a inovação acontecer. Esses em- mo para a geração de novos negócios e
preendedores estão demandando um vêm colaborando para o desenvolvimen-
atendimento que envolva mais de um to e fortalecimento de um ecossistema
mecanismo ou espaço de apoio, com empreendedor (ANPROTEC, 2016; VAN
mais opções e dinâmicas diversas de in- WEELE et al., 2018).
teração. Os programas de incubação têm
Diversos fatores (segmento, estágio como objetivo auxiliar os empreende-
de desenvolvimento etc.) irão determinar dores na maturação de seus negócios
os melhores mecanismos de apoio, bem a partir de ações que permitam gerar
como as melhores áreas de inovação, competitividade ao empreendimento,

23 23
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

bem como permitir que os empreende- Primeira Geração: o foco principal


dores adquiram conhecimentos e habi- era a provisão de espaço físico, de boa
lidades necessárias à gestão empresa- qualidade e baixo custo, além de ofere-
rial (ANPROTEC, 2016). De acordo com cer recursos compartilhados como audi-
Bone, Allen e Haley (2017), incubação é tórios, salas de reunião, equipamentos
uma combinação única e altamente fle- de uso comum, entre outros. Outra ca-
xível de processos de desenvolvimento racterística importante dessa geração é
de negócios, infraestrutura e pessoas, o papel da incubadora como ambiente
projetada para nutrir e desenvolver no- para transformar as tecnologias geradas
vos empreendimentos, apoiando-os nos nas universidades e nos centros de pes-
estágios iniciais de desenvolvimento e quisa em negócios, numa estratégia que
mudança. pode ser entendida como “technology
push” (GARCIA et al., 2015; ANPROTEC,
O consenso entre os especialistas 2016).
do setor é que não há um conceito de in-
cubadora de empresas aceita por todos. Segunda geração: o foco dessa
Isto se deve principalmente por duas ra- geração não é mais apenas no espaço
zões: a) Evolução: as incubadoras es- físico e nos recursos compartilhados,
tão evoluindo rapidamente em termos mas também no aprimoramento de servi-
de serviços oferecidos, bem como em ços para apoiar os desenvolvimentos de
termos de sua posição no ecossistema negócios, como treinamento, mentoring,
regional de inovação; b) Regionalidade: coaching e outros. Esse pacote de ser-
cada região / país tem uma compreen- viços oferecido por uma incubadora de
são diferente do que é uma incubadora empresas é projetado para aumentar as
de empresas (GARCIA et al., 2015). taxas de sucesso e crescimento de no-
vas empresas, maximizando assim seu
Apesar dessa falta de consenso so- impacto sobre o desenvolvimento econô-
bre o conceito de incubadoras de em- mico. Portanto, essa geração apresenta
presas, desde a sua difusão generaliza- um claro conceito de “market pull” (GAR-
da na década de 1980 a oferta de valor CIA et al., 2015; ANPROTEC, 2016).
da incubadora se desenvolveu conside-
ravelmente, o que reflete a mudança de Terceira geração: além dos concei-
seu papel no ecossistema empreende- tos adotados para as incubadoras das
dor (VAN WEELE et al., 2018). Dessa for- duas gerações anteriores, as incubado-
ma, é possível identificar três diferentes ras de terceira geração enfocam na cria-
gerações de incubadoras de empresas: ção e operação de redes de acesso a
recursos e conhecimento, ligando a in-

24 24
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

cubadora ao ecossistema de inovação As incubadoras de terceira geração


no qual o negócio está inserido (GARCIA surgiram no final da década de 1990 com
et al., 2015; ANPROTEC, 2016). a ideia de facilitar o acesso a recursos
e redes externas. A ideia, nesse caso, é
Nessa linha da terceira geração de que as incubadoras atuem como “cura-
incubadoras, o conceito típico seria: uma doras” da relação entre empreendedores
incubadora de empresas é uma organiza- e seus pares, bem como entre empreen-
ção que acelera e sistematiza o processo dedores e outros atores do ecossistema.
de criação de empresas bem-sucedidas, Cria-se então uma rede interna de cola-
fornecendo-lhes uma gama abrangente e boração entre as startups e uma conexão
integrada de suporte, incluindo: espaço destas com outros atores externos. As
de incubação, serviços de suporte aos incubadoras podem facilitar o acesso a
negócios e oportunidades de networking redes externas por meio da organização
e clustering (INFODEV, 2010). de eventos, do estabelecimento de par-
cerias – com, por exemplo, investidores
A figura a seguir resume as premis-
ou universidades –e pelo aproveitamento
sas dessas três gerações de incubadoras.

Figura 5. Gerações de incubadoras de empresas

Fonte: Anprotec (2016).

25 25
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

das redes pessoais de gerentes e men- hoje dependem também, para além da
tores de incubadoras (VAN WEELE et al., própria qualidade do programa, de uma
2018). sintonia com os demais ambientes e o en-
tendimento das estratégias de inovação
Dessa forma, as incubadoras dessa da região onde se insere, buscando tor-
geração, além de possuírem uma varieda- nar-se parte do ecossistema de inovação
de completa de serviços direcionados ao local (ANPROTEC, 2016).
desenvolvimento dos empreendimentos,
também apoiam a construção de redes Um último processo que vale a pena
que proporcionem às empresas incuba- mencionar na evolução das incubadoras,
das acesso a potenciais clientes, fornece- mas que não chega a se tornar uma nova
dores, parceiros e investidores. As redes geração, são as incubadoras virtuais, as
permitem superar a escassez de recursos quais se concentram exclusivamente na
dos empreendimentos, por meio do aces- prestação de serviços, como a orientação
so a recursos especializados, expertise e (mentoring e coaching) e o acesso a in-
oportunidades de aprendizagem, favore- vestidores, sem espaço físico ou infraes-
cendo um desenvolvimento mais rápido trutura própria (BONE; ALLEN; HALEY,
da legitimidade das empresas envolvidas 2017; CARVALHO; GALINA, 2015).
(CARVALHO; GALINA, 2015).
Buscando ajudar as incubadoras
O alinhamento das incubadoras com brasileiras a se alinharem com a terceira
a terceira geração é essencial para que geração de incubadoras (conceito expli-
possam atender às demandas dos novos cado anteriormente), a ANPROTEC e o
empreendimentos. No entanto, mais que SEBRAE propuseram o modelo CERNE
isso, é fundamental que esses mecanis- (Centro de Referência para Apoio a Novos
mos implementem as melhores práticas Empreendimentos). Esse modelo foi ba-
para atrair, gerar e desenvolver empreen- seado em um benchmarking internacio-
dimentos inovadores de forma sistemáti- nal das melhores práticas de incubação
ca. Nessa linha, percebe-se o crescimen- de empresas e foi discutido e melhorado
to da articulação entre as incubadoras juntamente com cerca de 400 gestores de
e outros mecanismos para geração de incubadoras do Brasil. Trata-se de uma
empreendimentos inovadores, tais como plataforma que visa promover melhorias
ambientes de coworking (espaços de significativas nos resultados das incuba-
trabalho compartilhados) e aceleradoras doras de diferentes áreas, quantitativa e
(ANPROTEC, 2016). qualitativamente, por meio da criação de
um modelo e padrão de operação, a fim
Os resultados de uma incubadora de aumentar a capacidade da incubado-

26 26
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

ra de gerar sistematicamente empresas e a avaliação de resultados e impacto


inovadoras de sucesso (GARCIA et al., (ANPROTEC, 2018).
2015).
CERNE 3 - Rede de parceiros: o ob-
Para tanto, o modelo CERNE deter- jetivo deste nível é a implantação de prá-
mina quatro níveis de maturidade (CER- ticas que formalizem uma rede de parcei-
NE 1, CERNE 2, CERNE 3 e CERNE 4). ros, com o objetivo de ampliar a atuação
Cada nível contém uma série de boas da incubadora, criando instrumentos para
práticas a serem adotadas em diversos realizar incubação a distância. Desse
processos-chave e constitui um passo da modo, a incubadora reforça sua atuação
incubadora para se posicionar como um como um dos nós da rede de atores que
ambiente de inovação que atua profissio- buscam promover a inovação por meio da
nalmente e gera resultados significativos geração de empreendimentos inovadores
para o desenvolvimento de sua região e (ANPROTEC, 2018).
país (ANPROTEC, 2019a).
CERNE 4 – Posicionamento global:
CERNE 1 - Empreendimento: nes- o objetivo neste nível é a implantação de
te primeiro nível, todos os processos e práticas que tenham como foco a globa-
práticas relacionam-se diretamente ao lização, tanto da incubadora quanto dos
desenvolvimento dos empreendimentos. empreendimentos que apoia, de forma
Incluem-se aqui práticas relacionadas à que possam atuar de modo efetivo no
sensibilização, prospecção e seleção de mercado global (ANPROTEC, 2018).
empreendimentos, desenvolvimento em-
presarial, graduação e relacionamento 1.2.2.2 ACELERADORAS
com as graduadas. Aspectos relaciona-
dos à gestão da incubadora (como ges- Aceleradoras são mecanismos, ge-
tão financeira e gestão de infraestrutura ralmente privados, que têm por objetivo
física e tecnológica) também são consi- apoiar e investir no desenvolvimento e
deradas (ANPROTEC, 2018). rápido crescimento de empreendimen-
tos, auxiliando-os no alcance do ponto
CERNE 2 - Incubadora: neste nível, de equilíbrio, ou seja, quando a empresa
o foco é na implantação de práticas vol- consegue pagar as contas com a recei-
tadas à estruturação da governança da ta do próprio negócio (ABREU; CAMPOS,
incubadora, com a implantação de pro- 2016; ARANHA, 2016).
cessos que viabilizem sua gestão estra-
tégica, bem como a ampliação de seu Em geral, as aceleradoras não es-
público-alvo e dos serviços prestados tão vinculadas a centros acadêmicos e

27 27
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

são mais orientadas a apoiar negócios do produto ao mercado com o mí-


altamente escaláveis, isto é: que podem nimo possível de recursos – tem-
crescer rapidamente e obter investimento po, dinheiro, esforço) (ABREU;
(ARANHA, 2016). CAMPOS, 2016; ARANHA, 2016;
EIBNER, 2016; NESTA, 2014).
As aceleradoras auxiliam as startups • Oferece espaço de trabalho, opor-
com o processo do novo empreendimen- tunidades de networking e mento-
to, ajudando “[...] os empreendedores a ria com empresários, advogados,
definir e construir os seus produtos ini- pessoal técnico, investidores anjo,
ciais, identificar segmentos de clientes e capital de risco, fundos de inves-
obter recursos, incluindo capital e funcio- timento ou mesmo executivos de
nários” (ABREU; CAMPOS, 2016). Dessa empresas (ABREU; CAMPOS,
forma, as aceleradoras focam em levar 2016; ARANHA, 2016).
empreendimentos para um patamar que • Provisão de investimento, geral-
permita a atração de investimentos por mente em troca por parte do ca-
meio do capital de risco (ARANHA, 2016). pital da empresa (equity). Em
comparação com a maioria das
As principais características das
incubadoras, em uma aceleradora
aceleradoras e de seus programas são:
você abre mão de parte do capital
• O processo de candidatura ao da empresa em troca de uma pe-
programa de aceleração é aberto quena injeção de caixa (survival
a todos, mas altamente competiti- money ou seed money). O dinhei-
vo (EIBNER, 2016; NESTA, 2014). ro destina-se a dar aquele fôlego
Foco em pequenas equipes e não inicial para que empreendedores
em empreendedores individuais possam se concentrar no em-
(NESTA, 2014). preendimento durante o progra-
• Programa estruturado, com dura- ma de aceleração. A aceleradora,
ção que varia normalmente de três dessa forma, se torna sócia dos
a seis meses, que possui como empreendimentos em que inves-
foco ensinar aos participantes te até a etapa de desinvestimen-
(cohort) habilidades de negócio to, ou seja, quando a sua partici-
e de gerenciamento de produtos, pação correspondente é vendida
incluindo eventos programados para investidores ou outras em-
e orientação/mentoria intensiva. presas (ABREU; CAMPOS, 2016;
Normalmente há um foco na Lean ARANHA, 2016; EIBNER, 2016;
Validation (validar a adequação NESTA, 2014).

28 28
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

• A maioria dos programas termina são empreendimentos que já possuem


com um grande evento, denomina- uma base sólida e que buscam maior tra-
do Demo Day, onde os empreen- ção nos negócios, bem como um investi-
dimentos são apresentados para mento inicial. As aceleradoras oferecem
um público normalmente compos- uma orientação personalizada que ajuda
to por investidores, como um pit- os empreendimentos a crescer (BRIDGE
ch (ABREU; CAMPOS, 2016; EIB- FOR BILLIONS, 2016).
NER, 2016).
As aceleradoras normalmente são li-
É importante ressaltar que acelera- deradas e geridas por empreendedores e
doras não são incubadoras e vice-versa. empresários com experiência, capacida-
Enquanto os aceleradores trazem suas de de investimento próprio ou financiadas
startups em grupos por alguns meses por capital de risco.
(o elemento cohort), as incubadoras tipi-
camente oferecem espaços de trabalho As aceleradoras são criadas por di-
compartilhados, com entradas e saídas ferentes razões e, portanto, possuem di-
de empreendedores ao longo do tem- ferentes missões, por exemplo (NESTA,
po (ou seja, sem uma duração específi- 2014):
ca), resultando em rotatividade contínua.
• Venture-backed (apoiadas por ca-
Muitas incubadoras oferecem programas
pital de risco): normalmente exis-
de educação, serviços e mentoria, mas
tem para proporcionar um melhor
na maioria das vezes são ad hoc (HO-
fluxo de negócios para os investi-
CHBERG; COHEN; FEHDER, 2017).
dores;
Outra característica muitas vezes • Government-backed (apoiadas
apontada como diferença entre acelera- pelo governo): podem ser estabe-
doras e incubadoras é a questão da ma- lecidas com o objetivo de desen-
turidade do projeto. As incubadoras são volvimento econômico local;
destinadas a estimular startups nas fases • Corporate-sponsored (acelerado-
iniciais de seu projeto, auxiliando a en- ras corporativas): podem ser cria-
contrar clientes, planejar o negócio e na das para ajudar a abordar ques-
prototipagem e desenvolvimento dos pro- tões específicas, ou então (como
dutos. Dessa forma, auxiliam os empreen- no caso do Nike+ Accelerator)
dedores a fortalecer seu Produto Mínimo para ajudar a desenvolver um
Viável (MVP). As aceleradoras, por outro ecossistema em torno de uma tec-
lado, se concentram em orientar empre- nologia central.
sas visando ganhos de escala, ou seja,
A abordagem mais comum é que os

29 29
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

programas sejam estabelecidos como um trabalhar ao lado de outras pessoas em


fundo de capital de risco, tomando par- vez de isoladamente. Ou seja, trata-se da
te do capital das empresas aceleradas união de pessoas, startups e outros tipos
na esperança de que isso possa even- de organizações que trabalham de forma
tualmente pagar os custos do programa independente, mas compartilham o mes-
(NESTA, 2014). mo espaço (ARANHA, 2016; BELUSHI,
2018).
Existem também aceleradoras sem
fins lucrativos, que focam em negócios de Embora as vantagens e ofertas es-
alto impacto social, como educação, saú- pecíficas do espaço de coworking pos-
de, habitação e serviços financeiros. As sam variar, a conveniência e a economia
aceleradoras de impacto operam basica- de custos estão no centro do modelo de
mente nos mesmos moldes das acelera- negócios. O coworking pode fornecer um
doras convencionais, mas os empreendi- espaço de escritório econômico (com
mentos que aceleram atuam em uma área wifi e normalmente água e café incluídos,
de benefício social ou ambiental e seus além de outras regalias que variam de
objetivos não se limitam, portanto, ao re- acordo com o espaço escolhido) e a op-
torno financeiro. No Brasil, a Artemisia, por ção de terceirizar tarefas administrativas
exemplo, apoia negócios escaláveis que básicas, além da oportunidade de estar
apresentam soluções para problemas so- junto a uma comunidade de empreende-
ciais da população de baixa renda. Fun- dores (alguns coworkings fazem eventos
dada em 2004 e parceira da Anprotec, a e confraternizações para que os mem-
aceleradora já apoiou 130 negócios de bros tenham a oportunidade de interagir),
impacto social (ARANHA, 2016; ARTEMI- criando sinergias e oportunidades de
SIA, 2019; NESTA, 2014). networking e aprendizado, bem como de
desenvolvimento de parcerias de negó-
1.2.2.3 OUTROS cios. Os membros geralmente podem an-
MECANISMOS DE GERAÇÃO tecipar alguma flexibilidade no espaço de
trabalho, que se ajuste ao seu orçamento,
DE EMPREENDIMENTOS
e contar com a conveniência do acesso
INOVADORES 24 horas por dia, sete dias por semana
Coworking (ARANHA, 2016; BELUSHI, 2018).

Espaços de coworking (espaços de Há uma expressiva variação nos ti-


trabalho compartilhado) surgem em to- pos de coworking, havendo uma tendên-
das as formas e tamanhos. O modelo de cia predominante para espaços que aten-
coworking é definido como a escolha de dam a nichos, ou seja, projetados para

30 30
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

um propósito específico. Por exemplo: continuará a impulsionar a deman-


existem espaços de coworking dedica- da por espaços desse tipo.
dos a arquitetos, a profissionais da área 3. As startups continuarão a migrar
jurídica, à indústria criativa, a startups da para espaços de coworking: as
área alimentar, a startups de tecnologia startups entendem as vantagens
etc. de custo, flexibilidade e atração
de talentos proporcionadas pelos
Em 2017, havia 14.111 coworkings espaços de coworking. Devido a
no mundo. Estima-se que, em 2022, essas vantagens, esses espaços
esse número terá passado para mais de continuarão sendo o local escolhi-
30.000. Os principais motivos para esse do pela maioria das startups.
aumento são (MCBRIDE, 2017): 4. Os espaços de nicho estão ex-
pandindo o mercado de co-
1. Adoção do coworking pelas em-
working: enquanto espaços de
presas: a busca por maior flexibi-
coworking muito grandes - e es-
lidade e agilidade no local de tra-
pecialmente WeWork - recebem
balho está levando mais empresas
a maior parte da atenção, o nú-
a usar espaços de coworking para
mero de espaços orientados a
algumas de suas atividades. Essa
nichos menores continua a cres-
tendência se acelerará nos pró-
cer rapidamente. Esses espaços
ximos cinco anos, especialmente
atraem membros com interesses
devido a empresas que desejam
ou necessidades especializadas
reduzir contratos de aluguel de
(biolabs compartilhados, espaços
longo prazo e atender a funcioná-
voltados para mulheres, espa-
rios que pedem mais opções de
ços para escritores, espaços de
local de trabalho.
indústrias específicas, cozinhas
2. Crescimento do número global
comerciais compartilhadas, etc.)
de trabalhadores autônomos
e atraem pessoas que provavel-
em áreas do conhecimento: em-
mente não participariam de um
bora não haja estimativas sólidas
espaço tradicional de coworking.
do número total de trabalhadores
do conhecimento autônomos no Existem coworkings com regras de
mundo, está claro que os números seleção de candidatos, tempo de perma-
são grandes e crescentes. Esse nência, ambientes de negócios, espaços
crescimento, aliado à crescente comuns, programas de capacitação, foco
percepção do valor do coworking no tipo de empresa e sinergia com as ou-
por trabalhadores independentes, tras empresas do gênero.

31 31
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

De acordo com o censo de cowor- aumentar o aprendizado e reduzir custos


kings de 2018, existem 1.194 desses es- desnecessários desde cedo. Busca-se va-
paços espalhados pelo Brasil, um cresci- lidar uma ideia o mais rápido possível e,
mento de 48% em relação a 2017, quando mesmo que essa ideia seja descartada,
foram identificados 810 coworkings no quando o empreendedor demonstra po-
País. Esses espaços estão localizados tencial, ele permanece e um novo ciclo se
principalmente nas cidades de São Paulo inicia (LORETO, 2018).
(273), Rio de Janeiro (102), Belo Horizonte
(62), Curitiba (42) e Brasília (35) (COWOR- Outro modelo de VB tem como obje-
KING BRASIL, 2019). tivo ser uma alternativa para investidores-
-anjo que podem investir coletivamente
Venture Builder em uma holding que gerencia um portfólio
com diversas startups (dessa forma diluin-
Venture builder são organizações que do o risco do investimento). Ou seja, em
constroem empresas e negócios utilizando vez de fundar suas próprias startups, esse
suas próprias ideias e recursos. Também modelo de VB seleciona de forma conti-
são conhecidas como “estúdios de star- nuada startups e se torna cofundador, as-
tups” ou “fábricas de startups” e estão sumindo as áreas de retaguarda (marke-
cada vez mais ganhando espaço no mer- ting, contabilidade, jurídico, administrativo,
cado. As venture builders (VB) mapeiam o financeiro, infraestrutura) e possibilitando
mercado e elaboram projetos com o obje- que empreendedores se concentrem no
tivo de construir empresas separadas que processo de inovação (DINO, 2018).
não competem entre si e que possuem po-
tencial próprio de mercado. Fica a cargo Hubs de Inovação
das VBs o levantamento de capital, recur-
sos humanos, design do modelo de negó- São espaços físicos criados para pro-
cio e MVPs (minimum viable product), bem piciar o encontro de pessoas e, por meio
como a parte jurídica, a definição de ges- dessa interação, gerar oportunidades para
tores e o planejamento das campanhas de que essas pessoas criem, empreendam,
marketing dos empreendimentos (ARA- trabalhem juntas e inovem. Reúnem star-
NHA, 2016; STARTUPI, 2018). tups, médias e grandes empresas e tam-
bém potenciais investidores, tudo voltado
Nesse conceito, em vez de buscar para a geração de negócios. Oferecem
startups específicas, a VB busca encontrar um ecossistema com uma infraestrutu-
empreendedores e formar uma equipe. O ra propícia (auditórios, salas de reunião,
compartilhamento de recursos e a possi- cafés etc.) para diversas atividades que
bilidade de troca de experiências pode propiciem a integração das pessoas. Ou

32 32
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

seja, fazem o papel de peça central para Living Lab


conectar e articular as interações e trocas
entre os diversos atores que participam do Living Lab, ou Laboratório Vivo, é
ecossistema de inovação (ARANHA, 2016; uma metodologia de inovação que bus-
RODRIGUES, 2018). ca enfatizar a co-criação de projetos ino-
vadores envolvendo tanto os desenvol-
Os Hubs podem não apenas conec- vedores quanto as partes interessadas
tar startups com empresas e investidores, (usuários, por exemplo) e a realização de
gerando negócios e facilitando o acesso testes em ambientes reais de uso. Cha-
a recursos, mas também podem ajudar ma-se laboratório vivo porque é formado
a conectar startups com especialistas e mais por pessoas do que por tecnolo-
mentores de diversas áreas, facilitando a gias, sendo que os indivíduos podem fa-
estruturação do empreendimento (RODRI- zer parte do governo, de empresas, uni-
GUES, 2018). versidades e outros atores da sociedade
(ARANHA, 2016; MENA, 2015).
Diversos bancos e empresas estão
criando e participando desses Hubs, pois,
Figura 6. Living Labs
ao fazerem isso, conseguem ter um bom
posicionamento no ecossistema. Ou seja,
ficam mais antenadas e por dentro de diver-
sas possibilidades de negócios para finan-
ciar, estabelecer parcerias, investir
ou fornecer serviços. Além de am-
pliar as oportunidades de negócio,
essa proximidade com um ambien-
te de inovação e com a mentalidade
empreendedora pode trazer como
benefício a renovação da cultura
da empresa e de seus empregados
(RODRIGUES, 2018).

Exemplos de Hubs no Brasil são:

• Cubo Itaú
• Google Campus
• Estação Hack Facebook
• Habitat Bradesco
Fonte: Steen e Van Bueren (2017)

33 33
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

É um mecanismo que atua como in- 2018a; INSPER, 2019; SANTANA, 2018).
termediário em uma rede de inovação e,
nessa rede, os interessados formam par- No Brasil, o primeiro Fab Lab surgiu
cerias-pessoais-público-privadas (4Ps) em 2010 e a partir desta década ganhou
para o desenvolvimento de inovações mais força, com o surgimento de labora-
que contem com a participação ativa dos tórios de fabricação digital com distintas
usuários finais. Nesse sentido, o Living finalidades e públicos-alvo (escolas, IES,
Lab permite o envolvimento de pessoas empresas, prestadores de serviço públi-
que costumam ficar mais distantes do cos e privados) (ANPROTEC, 2019b). Em
desenvolvimento de produtos, serviços e julho de 2019, 95 espaços desse tipo es-
tecnologias, os stakeholders e usuários. tavam cadastrados na rede, sendo São
Por meio das experimentações realiza- Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre as ci-
das no Laboratório Vivo, essas pessoas dades com maior número de Fab Labs ca-
podem contribuir, co-criar e testar ideias dastrados. Originalmente projetados para
para novos projetos (ARANHA, 2016; comunidades como plataformas de pro-
MENA, 2015). totipagem para empreendedores locais,
os Fab Labs estão cada vez mais sendo
Fab Lab adotados pelas escolas como plataforma
para educação com base em projetos
Trata-se de uma rede mundial de práticos. Em vez de focar unicamente em
laboratórios de fabricação digital criada um currículo fixo, o aprendizado aconte-
pelo Centro de Bits e Átomos (Center for ce em um contexto autêntico, envolven-
Bits and Atoms) do MIT (Massachusetts te e pessoal, no qual os alunos passam
Institute of Technology), sendo formada por um ciclo de imaginação, design, pro-
por mais de 1.200 laboratórios em 120 totipagem, reflexão e iteração à medida
países. Um dos principais objetivos des- que encontram soluções para desafios ou
ses laboratórios abertos é “[...] prover conseguem dar vida às suas ideias (FAB
acesso do seu público-alvo aos recursos FOUNDATION, 2018b).
de fabricação digital, antes restritos para
especialistas” (ANPROTEC, 2019b). Os Para que um Fab Lab possa ser
Fab Labs apresentam uma forte cone- considerado como tal e ser credencia-
xão com a cultura maker, que propõe o do na rede mundial de laboratórios des-
aprendizado prático usando a tecnologia. se tipo, é preciso seguir alguns princí-
É um espaço em que pessoas de diver- pios: 1) abrir para a comunidade, sem
sas áreas se reúnem para realizar proje- cobrar nada, pelo menos uma vez por
tos de fabricação digital de forma colabo- semana; 2) compartilhar ferramentas e
rativa (GINESI, 2015; FAB FOUNDATION, processos com outros Fab Labs; e 3)

34 34
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

participar ativamente da rede por meio um empreendimento. Para os objetivos


de encontros presenciais e videoconfe- deste relatório, trataremos dos três pri-
rências (GINESI, 2015). meiros estágios e algumas formas de in-
vestimento para esses estágios.
Os Fab Labs possuem os mesmos
equipamentos e processos, sendo neces- Pré-semente
sário possuir cinco máquinas específicas:
1) impressora 3D; 2) cortadora a laser; 3) O primeiro estágio do capital em-
cortadora de vinil; 4) fresadora de peque- preendedor é chamado de pré-semente
no formato; 5) fresadora de grande forma- (pre-seed) e se concentra em empresas
to (GINESI, 2015). que estão desenvolvendo seus produtos,
validando o modelo de negócio e, em
Capital Empreendedor geral, ainda com pouca ou nenhuma re-
ceita. Os recursos investidos nessa fase
O capital empreendedor, também variam entre R$ 50 mil e R$ 500 mil e são
chamado de capital de risco ou inves- utilizados para financiar os fundadores e
timento de risco, é uma das formas de a equipe, finalizar o desenvolvimento do
captação de recursos para a realização produto, conseguir os primeiros clientes e
de planos e projetos de longo prazo. Nes- custear a entrada do negócio no mercado
se modelo de financiamento, um investi- (SEBRAE NACIONAL, 2019a).
dor (investidor de risco) efetua o aporte
de recursos no empreendimento em troca De modo geral, os investidores que
de uma participação societária na empre- atuam nesse estágio são as aceleradoras
sa, em geral uma participação minoritária (já tratadas em seção anterior), os inves-
(SEBRAE NACIONAL, 2019b). tidores anjo e plataformas de Equity Cro-
wdfunding.
Diferentemente de um empréstimo,
em que a empresa consegue recursos que Investidor Anjo
deverão ser devolvidos ao longo do tem-
po com juros, no capital empreendedor o Investidores anjo são pessoas físi-
investidor aportará recursos em troca de cas que fazem investimentos utilizando
uma participação societária com o objetivo seu próprio capital em empresas nascen-
de vender essa participação no futuro por tes com alto potencial de crescimento.
um valor superior ao que pagou (ARANHA, Em geral são profissionais, executivos e
2016; SEBRAE NACIONAL, 2019b). empreendedores com experiência, que
investem tanto recursos quanto conheci-
Esse tipo de aporte por ocorrer em mento em novos empreendimentos, bus-
diferentes momentos de maturidade de cando retornos financeiros significativos.

35 35
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

Além do aporte de capital, os investido- pectativa do investidor é obter um retorno


res anjo também oferecem apoio e capi- financeiro que seja igual ou superior ao
tal intelectual ao negócio, dedicando-se praticado no mercado, seja por meio de
a discussões estratégicas, abrindo novas um fluxo de dividendos, seja por meio de
redes e contatos, oferecendo conheci- ganhos de capital (venda, com lucro, da
mento de gestão de negócios, de mer- participação em momento futuro) (PERO-
cado e também agregando habilidades NI; OLIVEIRA, 2015a). A primeira plata-
específicas (ARANHA, 2016; PERONI; forma desse tipo no Brasil foi criada em
OLIVEIRA, 2015b). 2014, mas ganhou força somente três
anos depois, quando da regulamentação
Para os investidores, além do poten- da modalidade pela Comissão de Valores
cial de ganho financeiro expressivo, es- Mobiliários (CVM)1.
ses também possuem outros interesses,
tais como: 1) auxiliar outros empreende- Capital Semente
dores com sua experiência pessoal; 2)
aproximar-se de negócios inovadores; e O Capital Semente (Seed Capital) é
3) interagir com negócios nascentes que um estágio focado em negócios que estão
apresentem sinergia com sua área de em processo de validação de seu modelo
atuação. de crescimento, ou seja: empreendimen-
tos que estão operando, possuem receita
Esses investidores possuem uma recorrente, mas apresentam dificuldade
participação minoritária nos negócios em para crescer e para construir uma es-
que investem, entre 4% e 40%, com ex- tratégia para atingir escala. Os recursos
pectativa de venda de sua participação investidos nesse estágio variam entre R$
por um valor superior após um período de 500 mil e R$ 5 milhões e são utilizados
cinco a dez anos (ARANHA, 2016; PERO- principalmente para: aumento da equipe
NI; OLIVEIRA, 2015b). de desenvolvimento do produto/serviço;
aumento da equipe de vendas; abertura
Equity Crowdfunding de canais de venda e distribuição; expan-
são da base de clientes (SEBRAE NACIO-
O Equity Crowdfunding é um tipo
NAL, 2019a).
de financiamento coletivo para startups
e pequenas empresas em que o investi- Os principais tipos de investidores
dor pode aportar a partir de R$1 mil por
empresa (no caso das plataformas brasi-
leiras) e receber como contrapartida uma 1 https://g1.globo.com/economia/pme/peque-
nas-empresas-grandes-negocios/noticia/2019/03/31/
participação acionária ou um título de dí- conheca-o-equity-crowdfunding-um-tipo-de-financia-
vida do empreendimento apoiado. A ex- mento-coletivo-de-investimento.ghtml

36 36
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

que atuam nesse estágio são investidores De modo geral, os recursos inves-
anjo e equity crowdfunding (já explicados tidos nessa etapa variam entre R$ 5 mi-
anteriormente) e fundos de investimento lhões e R$ 30 milhões e são utilizados
de Capital Semente. especialmente para: expansão geográfi-
ca ou da linha de produtos; abertura de
Os fundos de investimento que novos mercados; aquisição de empre-
apoiam empresas nesse estágio normal- sas concorrentes (SEBRAE NACIONAL,
mente congregam atores institucionais e 2019a).
também governamentais com a intenção
de fomentar a inovação no seu território Os investidores atuantes nesse es-
de atuação. Esses fundos exigem compe- tágio são os Fundos de Investimento
tências técnicas sólidas entre os sócios- de Venture Capital. Normalmente, eles
-fundadores, em especial capacidade de exigem uma estratégia de crescimento
inovar, e dão especial atenção ao valor da mais robusta e coerente com os merca-
inovação oferecida pelo empreendimento dos que constituem o alvo da empresa.
(SEBRAE NACIONAL, 2019a). Um fator crucial para que um fundo de
VC possa investir é a escalabilidade do
Venture Capital negócio.
Venture Capital (VC) é o estágio fo- Um tipo especial de VC é o Corpo-
cado em negócios em etapa de conso- rate Venture Capital, ou Capital de Risco
lidação, ou seja, é voltado às empresas Corporativo: trata-se de um modelo de
que já possuem um modelo de negócio programas liderados por grandes com-
validado e receita recorrente, mas preci- panhias para investimento em empresas
sam alocar mais recursos de modo a ex- e startups. Essas companhias podem es-
pandir seu negócio. Nessa modalidade, timular um novo negócio que esteja nas-
investidores de risco aplicam recursos cendo dentro da própria organização ou
em empresas com expectativas de rápi- buscar no mercado uma startup que se
do crescimento e elevada rentabilidade. relacione com o negócio da empresa-mãe
Esse investimento ocorre por meio da (ARANHA, 2016).
aquisição de participação acionária nas
empresas. Mas, além da entrada de re- Para mais informações sobre Corpora-
cursos financeiros, esse investimento im- te Venture Capital, veja o estudo realizado
plica em compartilhamento de gestão do pelo SEBRAE em conjunto com a Anprotec
investidor com o empreendedor (CODE- relativo ao tema: http://anprotec.org.br/site/
MEC, 2014; SEBRAE NACIONAL, 2019a). wp-content/uploads/2019/06/Corporate-
-Venturing-Anprotec-e-Sebrae.pdf

37 37
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

2. CONSULTA COM • O conjunto dos atores sociais e


ESPECIALISTAS econômicos, públicos e privados,
os ambientes de inovação (tan-
A seguir detalharemos a opinião de to as áreas de inovação como os
três especialistas consultados sobre os mecanismos de geração de em-
temas tratados neste estudo: ecossiste- preendimentos) e as políticas que
ma de inovação de alto impacto; áreas viabilizam e dinamizam espaços e
de inovação; e mecanismos de geração territórios inovadores e empreen-
de empreendimentos inovadores. Para dedores (Jorge Audy).
balizar o entendimento de ambientes de • Um dos componentes, partidário
inovação (áreas e mecanismos), foi apre- de que o processo de inovação
sentado aos especialistas o esquema da é fruto de ambiente, pressupõe
Figura 3 deste estudo. Os especialistas a existência de atores (Maurício
consultados foram os seguintes: Guedes):
o Fontes de conhecimento -
• Francilene Procópio Garcia (Uni- centros de pesquisa, IES;
versidade Federal de Campina o Pessoas - talento, cultura da-
Grande) quela região;
• Jorge Audy (Parque Científico e o Capital - sem capital não tem
Tecnológico da Pontifícia Universi- negócios de impacto;
dade Católica do Rio Grande do o Ambiente econômico - facili-
Sul - Tecnopuc) dade de fazer negócios;
• Maurício Guedes (Fundação de o Participação do governo - re-
Amparo à Pesquisa do Estado do levante, mas não como prota-
Rio de Janeiro - FAPERJ) gonista desse processo, mas
sim como coadjuvante.
Na sua opinião, o que constituí • Ao longo do tempo é necessário
um ecossistema de inovação de alto criar uma cultura favorável à ino-
impacto? vação, que motive as pessoas a
tomarem riscos (Maurício Gue-
• Ambientes que articulam, fomen- des).
tam e desafiam institucionalida-
des (acadêmicos, empresariais e
governamentais) a gerarem valor, O que você percebe de mudanças
com um olhar no mercado e outro que estão ocorrendo nas áreas de ino-
nas demandas de impacto (Fran- vação e mecanismos de geração de em-
cilene Procópio Garcia). preendimentos inovadores?

38 38
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

• Nas áreas de inovação, aprimo- • Diversas mudanças nas últimas


ra-se, crescentemente, o foco em duas décadas (Maurício Guedes):
áreas cujas demandas de merca- o Diversidade de conceitos:
do se alinham às potencialidades até 20 anos atrás, estávamos
dos entes presentes no ecossiste- muito concentrados nos par-
ma - alinhado ao conceito de cres- ques tecnológicos, mas hoje
cimento sustentável. (Francilene há uma maior diversidade de
Procópio Garcia) conceitos, formatos e deno-
• Nos mecanismos, aprimoram-se minações. A IASP acrescen-
os modelos de governança (novas tou “Areas of innovation” (Dis-
institucionalidades e atribuições) tritos, Polos) em seu escopo.
e de financiamento (menor depen- o Percepção de que a coisa soft
dência de fomento público, flexibi- (pessoas, talentos e cultura,
lização e complementariedade de conexões) é tão ou mais im-
instrumentos). (Francilene Procó- portante quanto o hard (espa-
pio Garcia) O quadro da Figura 3 ço, laboratórios, instalações).
representa bem estas mudanças,
que eu chamaria de evolução,
Para você, quais são as principais
com o surgimento de novos tipos
formas de integração dos mecanismos
e modelos de áreas e mecanismos
de geração de empreendimentos ino-
de geração de empreendimentos.
vadores?
E os novos tipos vão continuar sur-
gindo, nas duas esferas, seja por • Um modelo de integração que ani-
novos modelos ou simplesmente me e impulsione a geração de em-
pelo uso de palavras mais moder- preendimentos inovadores deve
nas ou na “moda”. Entendo que monitorar e comunicar bem: 1) as
a tendência é os espaços serem demandas de mercado (local ou
cada vez mais híbridos, reunindo global); 2) as redes de compe-
características de diversos tipos e tências associadas à geração de
modelos simultaneamente. Como valor, em diferentes escalas; 3) as
usei no conceito da questão ante- possibilidades de parcerias entre
rior de ecossistema de inovação, as institucionalidades com base
somente ampliei seu escopo, dei- no modelo de governança e sua
xando de usar somente como si- dinâmica; 4) as alternativas de via-
nônimo de área de inovação. (Jor- bilização (funding) e suas comple-
ge Audy). mentariedades; e 5) os indicadores

39 39
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

de progresso para metas e avan- te das áreas e serem percebidos


ços pretendidos num dado territó- desse modo; eles são um elemen-
rio. (Francilene Procópio Garcia) to. Outra forma é um mecanismo
• São os espaços híbridos, que in- existir sem uma área de inovação.
corporam diversas características Outra maneira é que, a partir des-
e ações de diferentes tipos e mo- sas plataformas, isso se desdobre
delos de mecanismos de gera- em áreas de inovação. Em Stan-
ção de empreendimentos. (Jorge ford, por exemplo, começou com
Audy) O ecossistema de inovação a criação de empresas e depois
pressupõe um ambiente virtuoso, perceberam que aquilo pode-
fértil. No resto do mundo, os par- ria gerar uma área de inovações.
ques tecnológicos surgiram antes (Maurício Guedes)
das incubadoras de empresas. Foi
na década de 80 que os parques
Na sua opinião, quais são as prin-
perceberam que era importante ter
cipais tendências para o futuro em rela-
incubadoras. Existem coisas que
ção às áreas e mecanismos e na forma
não ficam claramente identificadas
como se integram?
(por exemplo, os coworkings: eles
podem ser ou não ser ambientes • Especialização inteligente, redes
promotores de inovação; e existem de colaboração, governança au-
coworkings para negócios tradi- torregulada e modelos dinâmicos
cionais e já estabelecidos). Cone- de viabilização. (Francilene Procó-
xões: a forma de fazer isso seria fir- pio Garcia) Espaços híbridos, que
mar pactos para inovação, ou seja, no seu conjunto constituem o que
uma comunicação entre os atores defini como conceito de ecossiste-
relevantes para a promoção da ino- ma de inovação algumas questões
vação. (Maurício Guedes) atrás. (Jorge Audy)Acho que da
mesma maneira que o mundo está
Para você, quais são as principais experimentando o impacto das re-
formas de integração dos mecanismos des sociais na democracia, have-
de geração de empreendimentos inova- rá um impacto também nas áreas
dores com as áreas de inovação? de inovação dessas tecnologias.
O que vai delimitar uma área de
• Da mesma forma, cada vez espa- inovação? Vamos continuar preci-
ços mais híbridos. (Jorge Audy) sando do mundo real, o encontro
Os mecanismos devem fazer par- ocasional ainda é importante para

40 40
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

a espécie humana, mas as cone- neira imperfeite, verificar patentes e


xões virtuais vão impactar bastante artigos científicos. Indicadores de
essas redes. É importante que se cada projeto que dependerão dos
crie uma equivalência no mundo objetivos de cada iniciativa (saúde,
virtual desses atores. Outras ten- energia). (Maurício Guedes)
dências são (Maurício Guedes):
o Digitalização dos mecanis-
Em um ambiente em constante mu-
mos e áreas de inovação;
dança e competitividade, como sugere
o Maior importância entre a co-
uma governança que permita a susten-
nectividade e redes sociais;
tabilidade e a perenidade dos ambien-
o Transbordamento das áreas
tes de inovação?
de inovação (parques, distri-
tos) quando tem sucesso ten- • Dinâmica, com segurança jurí-
dem a ir além das suas fron- dica, soberana e autorregulada.
teiras físicas. (Francilene Procópio Garcia).Pro-
fissionais capacitados e prepara-
Quais indicadores você acredita dos para a gestão dos ambientes,
que devam ser mensurados para o en- com modelos de governança de
tendimento e estímulo dos ambientes alto nível e padrões internacio-
de inovação? nais. (Jorge Audy) A principal su-
gestão para governança é que de
• Os indicadores de qualidade de fato represente a voz dos atores.
vida e bem-estar da OCDE. (Fran- Deve haver uma liderança, pú-
cilene Procópio Garcia)Múltiplos, blica ou privada. Não é uma boa
em especial aqueles relacionados ideia que seja mantida por um
às empresas, startups, número de governo. Pode até ter uma lide-
empregos gerados e colaborado- rança no processo inicial de for-
res atuando, faturamento, patentes, mação. Essa liderança deve ter
licenciamentos, spinoffs etc. (Jorge legitimidade e representar os ato-
Audy) O conceito é relativamente res relevantes. (Maurício Guedes)
largo. Quais são os propósitos da-
quele ambiente específico? Você Em sua opinião, quais seriam as
pode ter um indicador voltado para boas práticas de incubação e/
a atividade. Medir o que se espera ou aceleração a fim de gerar em-
desse ambiente: emprego e renda preendimentos inovadores?
(mais relevantes); ainda que de ma- • Todas as que gerem retorno. (Fran-

41 41
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

cilene Procópio Garcia)Foco no 3. ESTUDO DOS AMBIENTES


resultado, na geração de startups e SELECIONADOS
de emprego e renda. (Jorge Audy)
Projeto CERNE da Anprotec. Mar-
3.1 BERLIM
keting, bons processos de seleção
de empresas, mentorias adequa-
das, acesso aos meios de comuni- 3.1.1 POLÍTICAS E SISTEMA DE
cação, ambientes físicos adequa- INOVAÇÃO NA ALEMANHA
dos, transparência e capacidade
O sistema de inovação alemão é
de atração de capital. (Maurício
constituído por várias organizações que,
Guedes)Espaço aberto para con-
combinando cooperação e concorrên-
siderações ou sugestões:
cia, são capazes de estimular a inovação
• Olhar para as dimensões territoriais
tanto no contexto de pequenas e médias
diversas, suas ocupações e poten-
empresas (conhecidas como Mittelstand)
cialidades, de forma a construir
quanto no contexto de grandes empresas
rotas de crescimento sustentável
e multinacionais com sede naquele país.
em diferentes escalas. (Francilene
Destacam-se nesse sistema a interação e
Procópio Garcia)No Brasil, falta
a sinergia existentes entre o governo fe-
uma política verdadeira de apoio
deral e os 16 estados (Länder) que for-
às áreas de inovação. Temos, já
mam a federação, os quais apresentam
há muitos anos, o Programa Na-
uma importante autonomia em relação ao
cional de Incubadoras e Parques
governo central (RAUEN, 2017).
Tecnológicos (PNI), do Ministério
da Ciência, Tecnologia e Inovação O governo federal alemão é um dos
(MCTI), mas o fato é que os valores principais investidores individuais em
feitos são ínfimos como iniciativa Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) no
do executivo. A maioria dos recur- País. Em 2017, o Governo investiu um to-
sos vieram de emendas parlamen- tal de € 16,62 bilhões, sendo os principais
tares. Precisamos da EC 85/2015 investidores o Ministério de Educação e
como obrigação do Estado, uma Pesquisa (BMBF) (€ 9,98 bilhões) e o Mi-
ação mais efetiva do governo fe- nistério de Assuntos Econômicos e Ener-
deral (não no sentido de estatizar, gia (BMWi) (€ 3,5 bilhões) (BMBF, 2019a).
mas por meio de políticas de insu-
mo [investimento, etapas iniciais Esses investimentos financiam um
para operação desses ambien- complexo sistema de inovação, que tem
tes]). (Maurício Guedes) nas sociedades privadas sem fins lucra-

42 42
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

tivos os seus principais articuladores. Fraunhofer (1787-1826). Conta com 72


Essas sociedades (que incluem institui- institutos na Alemanha e mais de 25 mil
ções de pesquisa como Fraunhofer, Max empregados, a grande maioria cientis-
Planck, Leibniz e Helmholtz) receberam tas e engenheiros. A Fraunhofer sempre
em 2017 mais da metade (55,4% ou € 9,2 está entre as principais instituições na
bilhões) dos repasses do governo alemão classificação de solicitação de patentes,
para ciência, pesquisa e desenvolvimen- sendo que, em 2017, foram 602 (FRAU-
to. O setor empresarial e as instituições NHOFER-GESELLSCHAFT, 2019). A ins-
dos governos estaduais ficam em segun- tituição cumpre um papel essencial no
do e terceiro lugares, com respectiva- sistema de inovação alemão, “[...] seja
mente 15,7% e 12,4% dos investimentos na promoção da difusão da tecnologia
(BMBF, 2019b). entre pesquisadores e o setor privado,
seja na própria estruturação de proje-
Esse investimento do governo ale- tos de pesquisa cofinanciados pelo or-
mão destina-se principalmente ao apoio çamento público e pelo setor produtivo”
às pequenas e médias empresas (Mit- (VARGAS; CID; BESSA, 2013).
telstand), que de modo geral não pos-
suem departamentos próprios de Pes- O modelo econômico dos projetos
quisa e Desenvolvimento (P&D) e, por desenvolvidos pela Fraunhofer envolve ti-
essa razão, dependem das sociedades picamente uma combinação virtuosa de
sem fins lucrativos para “[...] gerarem recursos públicos e privados. Esse mo-
inovações incrementais capazes de fa- delo inspirou, no Brasil, a modelagem da
zer frente à concorrência internacional” Empresa Brasileira de Pesquisa e Inova-
(RAUEN, 2017). Das sociedades sem ção Industrial (Embrapii).
fins lucrativos citadas anteriormente, as
duas mais importantes são a Fraunhofer Ao lado da Fraunhofer, a sociedade
e a Max Planck. Max Planck é uma das mais respeitadas e
tradicionais instituições científicas da Ale-
A sociedade Fraunhofer se concen- manha. Complementando a Fraunhofer,
tra em pesquisas aplicadas que impul- que desenvolve pesquisa aplicada, a Max
sionam o desenvolvimento econômico e Planck dedica-se à pesquisa básica, tra-
buscam o benefício mais amplo da so- balhando em áreas “forward-looking” de
ciedade. Atua em estreita cooperação particular relevância para a ciência, abor-
com a indústria e setor produtivo. Ela foi dando áreas de pesquisa recém-estabe-
criada em 1949 (há 70 anos portanto) e lecidas e temas na fronteira do conheci-
seu nome é uma homenagem ao cientis- mento entre disciplinas. A Max Planck foi
ta e empreendedor alemão Joseph von fundada em 1948 e possui 84 institutos e

43 43
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

mais de 23 mil empregados na Alemanha inovações e busca utilizar novos instru-


(MAX PLANCK SOCIETY, 2019). mentos para acelerar a transferência para
aplicações, dando origem a uma indústria
Conforme abordado anteriormente, dinâmica e inovadora e criando um am-
o estímulo à inovação é, em nível gover- biente propício à inovação (BMBF, 2018).
namental, uma tarefa assumida por diver-
sos ministérios, dentre os quais se desta- Nos últimos anos, a HTS ajudou a
cam o Ministério de Educação e Pesquisa melhorar significativamente a posição da
(BMBF) e o Ministério de Assuntos Econô- Alemanha na competição global em ter-
micos e Energia (BMWi). O BMBF possui mos de P&I. Embora essa estratégia te-
um papel primordial, cumprindo também nha sido originalmente direcionada, em
a tarefa de periodicamente divulgar mar- primeiro lugar, ao potencial de mercado
cos conceituais – estratégias de longo de campos tecnológicos específicos, a
prazo –, estimulando dessa forma o de- partir de 2010, passou a considerar espe-
bate sobre o tema da inovação e do de- cialmente a demanda da sociedade por
senvolvimento econômico (VARGAS; CID; soluções inovadoras e a colocá-las em
BESSA, 2013). prática (BMBF, 2018).

A estratégia mais recente que guia A mais recente atualização da HTS,


a política de Pesquisa e Inovação (P&I) realizada em 2018, gerou uma nova es-
levada a cabo tanto pelo BMBF quanto tratégia chamada HTS 2025, que está es-
pelo BMWi é a High-Tech Strategy (HTS). truturada em três campos de ação (DIE
Desde 2006, o governo alemão tem fo- BUNDESREGIERUNG, 2019):
cado as atividades de P&I nessa estraté-
gia. A HTS propõe uma visão sistemática 1) Promoção da pesquisa e inovação
de toda a cadeia de inovação, desde a focada em aspectos particular-
ideia até sua implementação na forma de mente relevantes para a socieda-
novos produtos e serviços, combinando de e nas necessidades das pes-
todos os aspectos e partes interessadas soas, tais como: saúde e cuidado;
envolvidos no processo de inovação. As sustentabilidade, proteção do cli-
principais tarefas prioritárias são: 1) eco- ma e energia; mobilidade; zonas
nomia digital e sociedade digital; 2) eco- urbanas e rurais; segurança; eco-
nomia e energia sustentáveis; 3) inovação nomia e trabalho 4.0.
no ambiente de trabalho; 4) vida saudá- 2) Ajudar a colocar a Alemanha na
vel; 5) mobilidade inteligente; e 6) segu- vanguarda das próximas revolu-
rança civil. Para tanto, a HTS conta com a ções tecnológicas, a fim de man-
participação dos cidadãos na geração de ter os empregos no país e asse-

44 44
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

gurar a prosperidade. A promoção cio (BMWI, 2019b), estando os nomes em


de novas tecnologias anda de inglês (ao invés do original alemão):
mãos dadas com o investimento
em educação e treinamento e o • EXIST – financiamento para as
envolvimento da sociedade para equipes de startups de institui-
preparar as pessoas para mudan- ções de ensino superior;
ças futuras. • INVEST – venture capital;
3) Construir pontes entre ciência, in- • Fundo de Fundos ERP / EIF e
dústria e sociedade, criando uma Fundo Europeu de Anjos;
cultura aberta de inovação e em- • Cutting red tape – várias medidas
preendedorismo, fortalecendo a para reduzir a quantidade de bu-
transferência de resultados de rocracia que afeta as PMEs;
pesquisa para a prática. • Iniciativa de apoio às Indústrias
Culturais e Criativas;
Alinhado à estratégia HTS, as ações • The WOMEN Entrepreneurs ini-
do Ministério de Assuntos Econômicos e tiative – empreendedoras em toda
Energia (BMWi) visam fortalecer a capa- a Alemanha incentivam meninas e
cidade de inovação, particularmente de mulheres a começarem seus pró-
pequenas e médias empresas (PMEs) e prios negócios;
startups, criando um ambiente propício • The “Entrepreneurial Spirit in
ao investimento e fornecendo programas Schools” initiative – oferece aos
de financiamento direcionados às neces- alunos uma experiência prática
sidades do mercado. O BMWi fornece às inicial em projetos de novos em-
PMEs subsídios e empréstimos a juros bai- preendimentos e permite que as-
xos, para que possam financiar as suas sumam responsabilidades em
atividades de pesquisa e inovação com suas próprias empresas estudan-
mais facilidade. Estimula-se que novas tis;
descobertas científicas sejam traduzidas • JUNIOR federal competition –
em produtos comercializáveis com maior em uma competição nacional, o
celeridade e, para tanto, incentiva-se for- BMWi seleciona a melhor empresa
temente a cooperação das PMEs com os organizada por alunos e oferece a
institutos de pesquisa (BMWI, 2019a). possibilidade de desenvolver uma
ideia de negócio e testá-la duran-
O BMWi tem uma série de medidas te um ano letivo em uma empresa
para fortalecer o espírito de empreende- em sua escola;
dorismo na Alemanha e apoiar pessoas • Digital Innovations Competition
interessadas em iniciar seu próprio negó- for Start-ups – o concurso conce-

45 45
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

de prêmios de até € 32 mil para nhecidas dessa forma em todo o mundo


startups com ideias de negócios (BMWI, 2019c).
inovadoras baseadas em produ-
tos e serviços no setor de tecnolo- O setor de PMEs da Alemanha é ex-
gia da informação e comunicação; tremamente diversificado. Dele, fazem
• German Start-up Prize – principal parte empresas familiares que foram es-
prêmio para startups de sucesso e tabelecidas há gerações, startups mo-
empreendedores de destaque na dernas, empresas de trabalhos manuais,
Alemanha; autônomos e prestadores de serviços, va-
• Deutsche Börse Venture Network rejistas e freelancers, empresas pioneiras
– o programa consiste em uma de alta tecnologia, fornecedores regionais
plataforma on-line não pública e atores globais (BMWI, 2019c).
para o início de rodadas de finan-
As PMEs são um motor de inovação
ciamento e oferece vários eventos
e tecnologia. Entre as europeias, as em-
de treinamento e networking;
presas alemãs da Mittelstand foram con-
• German Entrepreneurship Week
sideradas muito fortes em inovação: mais
(Semana de Empreendedorismo);
de 42% das PMEs alemãs trouxeram uma
• Start-Up Your Future – empreen-
inovação de produto ou processo para o
dedores experientes se volunta-
mercado em 2014, em comparação com
riam para ajudar os refugiados na
uma média da União Europeia de pouco
região de Berlim-Brandenburgo a
mais de 30% (BMWI, 2019c).
estabelecerem seus negócios.
Para ajudar pessoas que querem
3.1.2 STARTUPS E iniciar suas empresas e startups, o
MITTELSTAND NA ALEMANHA BMWi oferece alguns recursos acessí-
veis virtualmente. O sítio do BMWi di-
O sucesso dos negócios alemães é recionado para startups (www.existen-
impulsionado por pequenas e médias em- zgruender.de) disponibiliza uma série
presas (PMEs). A esse conjunto perten- de informações, cursos de treinamento
cem mais de 99% de todas as empresas virtuais, visão geral de setores e listas
da Alemanha. As PMEs, também conhe- de verificação. Também fornece uma
cidas como Mittelstand, respondem por lista de pessoas com quem conversar
mais da metade da produção econômica para começar um novo negócio. Ques-
daquele país, geram quase 60% dos em- tões sobre como colocar uma ideia de
pregos e são o mais forte impulsionador negócio em prática, como elaborar um
de inovação e tecnologia do país, reco- plano de negócio e como conseguir ca-

46 46
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

pital podem ser encontradas nesse sítio dos Auto1 Group. De acordo com a pes-
virtual (BMWI, 2019c). quisa KfW Start-up Monitor 2018 (Metzger,
2018b) no ranking estadual de atividades
Além disso, o BMWi e o KfW lança- de startups, Berlim está no topo da classi-
ram a fase piloto de uma nova platafor- ficação, com 207 em cada 10 mil pessoas
ma digital para startups em dezembro que começaram seu próprio negócio (mé-
de 2017, que começou a funcionar ofi- dia anual entre 2015 e 2017). De fato, Ber-
cialmente em 2018. Com isso, os futuros lim pode ser considerada na Alemanha a
empreendedores podem obter uma am- “Startup Capital”, como veremos a seguir.
pla variedade de atividades interativas,
personalizadas e gratuitas para ajudar no
3.1.3. BERLIN – STARTUP
seu negócio em www.gruenderplattform.
de (BMWI, 2019c). CAPITAL

A ideia é que as pessoas que quei- Com cerca de 40 mil novas empresas
ram iniciar um negócio sejam capazes e mais de 500 startups de tecnologia fun-
de lidar com todos os preparativos re- dadas a cada ano, Berlim é não apenas
lacionados ao lançamento em uma pla- o ponto central para empresas nascentes
taforma central e obter aconselhamen- alemãs, mas também uma das principais
to individual - desde a ideia inicial, por capitais europeias nesse aspecto (star-
meio do desenvolvimento do modelo de tup capital). Ocupando o sétimo lugar
negócios e do plano de negócios, até a no ranking do Startup Genome de 2017,
assistência e financiamento adequados. Berlim está se tornando um dos ecossis-
A plataforma oferece uma variedade de temas de startups mais dinâmicos e em-
ferramentas digitais e inclui todos os polgantes do mundo (BERLIN PARTNER
principais agentes da Alemanha que ofe- FUR WIRTSCHAFT UND TECHNOLOGIE,
recem consultoria e financiamento para 2019; STARTUP GENOME, 2018).
startups (BMWI, 2019c). Com uma cultura empreendedora
Segundo estudo de startups KfW saudável, senso de comunidade, talentos
(Metzger, 2018a), em 2017 existiam 108 internacionais de alto nível, oportunidades
mil fundadores de startups e 60 mil star- de capital (investidores), conferências
tups na Alemanha, mais do que o ano an- tecnológicas, concursos de startups e ou-
terior, que registrou 93 mil fundadores e 54 tros elementos, Berlim tem um cenário de
mil startups. Ainda de acordo com o es- startups que atrai talentosos fundadores
tudo, o principal unicórnio da Alemanha é de todo o mundo, ano após ano. Berlim
atualmente a plataforma de veículos usa- recebe cerca de 50 mil novos habitantes
por ano, sendo que aproximadamente

47 47
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

um quinto das startups locais foram rea- dade Livre de Berlim e a Universidade
locadas de fora da cidade, a maior taxa Técnica de Berlim - estão entre as 100
do mundo (TRAJKOVSKA, 2018; BMWI, melhores do mundo. A alta qualidade do
2019d; STARTUP GENOME, 2019). ensino superior na cidade ajudou a ca-
talisar o rápido crescimento de startups
Berlim é frequentemente consi- em Berlim (STARTUP GENOME, 2018).
derada o “padrão-ouro” (Golden Stan- A capital alemão é uma das cidades lí-
dard) dos ecossistemas de startups na deres na Europa em termos de investi-
Europa, apesar da concorrência acirra- mentos em startups: em 2018, cerca de
da de Londres e Estocolmo, bem como
€ 2,6 bilhões em capital de risco (ventu-
de centros tecnológicos emergentes
re capital) foram investidos em Berlim.
em outros países. O ecossistema ale-
Startups promissoras e bem estabele-
mão tem muitos sucessos e nomes de
cidas surgiram nos últimos anos, tais
alto nível e a cidade continua atraindo
como Soundcloud, Gameduell, Mister
fundadores que querem dar à sua star-
Spex, Zalando, Helpling, Delivery Hero,
tup a melhor oportunidade possível.
Home24, HelloFresh, ZipJet, Movinga,
A capital alemã fornece um constante
Auto1, FoodPanda, Raisin, GetYourGui-
fluxo de talentos locais das universida-
de e N26. Berlim é popular entre inves-
des, bem como de pessoas que se di-
tidores estrangeiros de capital de risco,
rigem à cidade em busca de trabalho
que representaram quase 40% do total
na cena de startups. Com numerosas
de investimentos em 2017. A participa-
incubadoras, aceleradoras e espaços
ção de startups financiadas por capital
de coworking, a cidade oferece as con-
de risco na força de trabalho de Berlim
dições ideais para empreendedores de
também está aumentando significativa-
todo o mundo (KEANE, 2018; BERLIN
mente (BERLIN PARTNER FUR WIRTS-
PARTNER FUR WIRTSCHAFT UND TE-
CHAFT UND TECHNOLOGIE, 2019).
CHNOLOGIE, 2019).

A forte posição global de Berlim 3.1.3.1 ÁREAS DE


como um ecossistema de startups ba- ESPECIALIDADE
seia-se em uma sólida base doméstica.
A cidade possui uma alta qualidade de Como é comum a todo hub de star-
vida, uma mentalidade progressiva, bai- tups, também em Berlim estas acabam se
xo custo de vida e forte concentração concentrando em segmentos específicos.
local de talentos alimentados por suas Nesse caso, três áreas se destacam: Fin-
universidades. Três universidades locais Tech, Internet of Things (IoT) e Saúde e
- a Universidade Humboldt, a Universi- Ciências da Vida.

48 48
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

Fintech re builder Next Big Thing. A IOTA é uma


startup baseada em Berlim que atualmen-
Enquanto a maior parte do valor te recebe muita atenção por ter construí-
da indústria de serviços financeiros da do uma camada inovadora de transação
Alemanha é criada em Frankfurt, Berlim descentralizada para interações máqui-
continua no topo no que diz respeito às na-máquina (STARTUP GENOME, 2019).
fintechs. O subsetor também está lide-
rando localmente, com aproximadamente Saúde e Ciências da Vida
10% de todos os investimentos em capi-
A relevância de Berlim como centro
tal de risco entre 2012 e 2017 aplicados
de medicina e ciências da vida era es-
em fintechs - 4% à frente de Inteligência
perada. Três universidades classificam-
Artificial, Big Data e Analytics. Fontes lo-
-se entre as 50 melhores do mundo em
cais projetam cerca de 40 mil novos em-
várias disciplinas de Medicina e Ciências
pregos na área de fintech pelos próximos
da Vida, enquanto gigantes da área de
dez anos. A startup de serviços bancários
saúde, como a Bayer ou a Pfizer, operam
ao consumidor N26 arrecadou U$ 212 mi-
programas de aceleração. A Ada Health é
lhões até 2019 e conta com meio milhão
uma startup emergente de saúde que vale
de clientes, enquanto a promissora plata-
a pena mencionar: utiliza inteligência arti-
forma de B2B banking, a SolarisBank, já
ficial para construir um aplicativo médico
garantiu U$ 95 milhões em apenas dois inovador com quase U$ 70 milhões em fi-
anos (STARTUP GENOME, 2019). nanciamento (STARTUP GENOME, 2019).
Internet of Things (IoT)
3.1.3.2 PRINCIPAIS
Cerca de metade das organizações MECANISMOS DE APOIO
com foco em IoT em Berlim foi fundada A EMPREENDIMENTOS
em 2012 ou posteriormente, contando
INOVADORES
também com renomados centros de pes-
quisa e grandes empresas dentre essas Com o crescente reconhecimento in-
organizações. A gigante da indústria ale- ternacional como um grande hub de star-
mã Bosch abriu recentemente um gran- tups, as principais organizações de su-
de campus de IoT, com 250 funcionários, porte também estão crescendo. A seguir,
com o objetivo de se conectar com o ecos- trataremos dos principais mecanismos de
sistema de inovação de Berlim. Um ramo apoio a empreendimentos inovadores e
interessante atividade de startups é en- focaremos na seção seguinte da área de
contrado na intersecção das tecnologias inovação selecionada, o parque tecnoló-
IoT e Blockchain, que é o foco do ventu- gico Berlin Adlershof.

49 49
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

3.1.3.2.1 HUBS E ESPAÇOS DE Mindspace


COWORKING Este provedor global de espaços de
Betahaus coworking abriu sua filial em Berlim na
valorizada área central (Mitte) em 2016,
O Betahaus é um dos espaços de oferecendo espaço de escritórios priva-
coworking mais conhecidos da cidade, dos e espaços de trabalho abertos para
com duas unidades em funcionamento empreendedores e startups. É conheci-
em Berlim. Sua vibrante comunidade de do por fornecer uma excelente atmosfera
mais de 500 membros desfruta de um colaborativa, apoiada por uma excelente
excelente ambiente de coworking, mais equipe, juntamente com eventos de alta
de 1.000 eventos para a comunidade qualidade, infraestrutura de ponta, design
por ano e um café-bar em estilo de Viena de interiores elegantes, cozinhas total-
(Betahaus Café). As características adi- mente equipadas, etc. Opções de afilia-
cionais incluem Betapitch (competição ção personalizáveis estão disponíveis de
internacional de startups), Hardware.co acordo com a necessidade.
(aceleradora para empresas de hardwa-
re e de IoT) e betahausX (programa que Silicon Allee
conecta startups e investidores).
O que começou como um encontro
Factory mensal para startups em 2011 se trans-
formou em um complexo de startups de
Factory Berlin é uma grande mistura 7.500 m2, consistindo em escritórios priva-
de personalidades, habilidades e recur- dos e abertos, apartamentos para aluguel
sos, reunindo startups, investidores e cor- de curto prazo para empreendedores, um
porações sob seu teto. De café com um café, um bar de cervejas artesanais, um
investidor na parte da manhã para a com- terraço, espaço para eventos e um super-
petição de pingue-pongue entre funda- mercado orgânico. O Silicon Allee é o lar
dores à noite, na Factory Berlin tudo gira da comunidade internacional de tecnolo-
em torno de sua comunidade (a comuni- gia de Berlim, fornecendo-lhes recursos,
dade é um valor importante). Os eventos redes e conhecimento para mergulhar na
são a parte central do espaço, oferecen- cidade.
do oportunidades de conexão sem pre-
cedentes entre os atores do ecossistema
local de Berlin.

50 50
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

3.1.3.2.2 IMPORTANTES a startups em estágio inicial acesso a pro-


ACELERADORAS E gramas de co-inovação, espaço de cowor-
INCUBADORAS king, campus de prototipagem, investimen-
tos seed (até € 300 mil), ativos tecnológicos
Acelerador Plug & Play Axel Springer e clientes. Com processo de aplicação
continuamente aberto, é especialmente in-
Fundada pela gigante da mídia na teressante para startups nas áreas de 5G,
Alemanha (Axel Springer) juntamente Internet of Things e Inteligência Artificial.
com o fundo de venture capital do Vale
do Silício (Plug & Play), é uma acelerado- The Family
ra de startups pre-seed, que executa um
programa de três meses de duração três Abrangendo três locais (Paris, Berlim
vezes por ano. As startups participantes e Londres), The Family é uma combina-
contam com espaço de escritório, treina- ção de aceleradora de startups, escola
mento, workshops, networking, € 25 mil, de empreendedorismo e estúdio de star-
eventos e acesso a uma ampla rede de tups para clientes corporativos. Seu ma-
mentores e parceiros na Europa e no Vale nifesto afirma que sua missão é “apoiar e
do Silício. inspirar seus membros, a fim de utilizar e
ajustar seus melhores ativos, crescimento
Beyond 1435 e potencial, proporcionando-lhes espaço
para reuniões, eventos e orientação.”
Descrita como uma intersecção úni-
ca entre “corporate game changers”, Microsoft Ventures Accelerator
startups de alto nível e investidores, a
Beyond 1435 é uma plataforma de inova- Focado em startups promissoras em
ção aberta impulsionada pela Plug & Play, estágio inicial (early-stage) e empreen-
onde startups disruptivas são combina- dedores “de primeira viagem”, o Micro-
das com corporações interessadas em soft Accelerator oferece um programa
lançar projetos piloto. Startups recebem imersivo verdadeiramente internacional.
investimento e orientação especializada Startups ganham acesso a oportunida-
de empresas como Deutsche Bahn (em- des para colocar seus conhecimentos de
presa nacional de transporte ferroviário), negócios na prática (hands-on business),
Siemens, Bombardier, Alba e SBB. coaching técnico de mentores da Micro-
soft, espaço de coworking com todas as
Hub:raum Apoiada pela Deutsche Te- comodidades e todos os serviços da Mi-
lekom e com espaços localizados em Ber- crosoft. Berlim é um dos seis locais em
lim, Cracóvia e Tel-Aviv, a Hub:raum oferece todo o mundo onde este programa está
sendo implementado.

51 51
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

Hitfox Group séries A e B, com foco em empresas de


tecnologia europeias. Investimentos no-
O HitFox Group é uma empresa de táveis incluem Movinga, N26, Ubitricity,
investimento empreendedor sediada em Freight Hub, Myriad, Smava e UiPath.
Berlim que desenvolve plataformas de
empresas sinérgicas com foco nos mer- Point Nine
cados digitais emergentes. A Heartbeat
Labs constrói empresas de tecnologia da A Point Nine Capital é um anjo-VC
saúde, a FinLeap se especializa em tec- que se concentra exclusivamente em in-
nologias financeiras e uma terceira pla- vestimentos iniciais na Internet em áreas
taforma se concentra em tecnologias de como Software como Serviço (SaaS), mar-
publicidade e empresas de big data. ketplace e tecnologia móvel. Conhecida
por ser orientado por modelos de negó-
Rheingau Founders cios, é focada em produtos e em números.
Investimentos notáveis incluem Helping,
Co-fundadores profissionais com
Typeform, Brainly, Infogram, Delivery Hero,
ênfase em negócios digitais, concedem
Clio, Shiftplanning, Vend e Zendesk.
suporte nos estágios iniciais usando a ex-
periência de várias startups de sucesso Project A
e adotando-a para novos projetos. Forne-
cem às startups espaço para escritório, Apoiada por uma empresa alemã
financiamento inicial de € 250 mil para líder em comércio eletrônico, a Otto, a
comprovar o conceito e suporte 360° nas Project A investe em startups em estágio
áreas jurídica, RH, tecnologia, vendas, inicial nas áreas de publicidade, comér-
business intelligence e finanças. cio eletrônico, marketplace, infraestrutu-
ra e SaaS. Com € 260 milhões em ativos
2.1.3.2.3. VENTURE CAPITALS sob sua administração (dados de 2019)
(VC) MAIS ATIVOS DA CIDADE e um escritório adicional em São Paulo, a
Project A é um ator estabelecido no cená-
Earlybird rio de capital de risco da Europa. Inves-
timentos notáveis: Catawiki, WorldRemit,
Empresa internacional de capital de
Uberall, Tictail, Spryker, KRY e Wonderbly.
risco com escritórios em Berlim, Munique
e Istambul, é um dos investidores de risco Rocket Internet
mais experientes da Europa, tendo sob
sua administração mais de € 1 bilhão, A Rocket Internet é uma venture
sete IPOs e 22 vendas comerciais (dados builder fundada em 2007. Ele atua com
de 2019). A VC faz investimentos seed, incubação e investimento em empresas

52 52
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

em todo o mudo que sejam baseadas símbolos da última geração de parques


em internet e tecnologia, oferecendo su- científicos e tecnológicos. Está cada
porte operacional aos empreendedores vez mais ativo nas políticas econômi-
e os auxiliam a criar empresas líderes de cas da cidade de Berlim e criou uma
mercado. A Rocket Internet segue a es- expressiva rede de colaboração entre
tratégia de construir empresas com base institutos universitários, instituições de
em modelos de negócios comprovados pesquisa não universitárias e empre-
baseados na Internet. Concentram-se es- sas, muitas das quais são empresas
pecialmente em Alimentação & Mercea- de alta tecnologia. Berlin Adlershof
ria, Moda, Casa & Lar e Viagens. Possui também tem claras prioridades em ter-
participações em empresas em diferentes mos de setores tecnológicos, e está se
estágios de maturidade, desde modelos tornando um centro de excelência em
lançados recentemente até empresas que alguns dos campos mais promissores,
estão estabelecendo posição de lideran- como óptica e fotônica, energias reno-
ça ou expandindo seu alcance geográfi- váveis, biotecnologia, meio ambiente
co. Alguns de seus negócios de sucesso entre outros (SANZ, 2018).
são: HelloFresh, Delivery Hero, Westwing,
Home24 (Mobly no Brasil) e Zalando. O núcleo das operações de Berlin
Adlershof consiste, como para a maioria
Holtzbrinck Ventures dos PCTs do mundo, em aumentar a coo-
peração entre empresas e produtores de
Fundada em 2000 como o braço de ciência. Como resultado de uma estraté-
capital de risco corporativo do Holtzbrinck gia bem projetada, 78% das empresas
Publishing Group, a Holtzbrick Ventures do parque cooperam com pelo menos
concentra-se em investimentos em está- uma outra empresa do local e 25% co-
gio inicial e focados em crescimento nas laboram com institutos universitários.
indústrias focadas no consumidor, educa- Esses números são expressivos e cons-
ção, saúde, tecnologia financeira, mobili- tituem um exemplo que muitos PCTs em
dade e varejo. Os investimentos notáveis todo o mundo estão dispostos a replicar
incluem Zalando, Delivery Hero, HelloFre- (SANZ, 2018).
sh, Flixbus, SumUp, Scalable Capital e
muitos outros. A seguir, apresentaremos um pouco
da história do parque Berlin Adlershof,
3.1.4. BERLIN-ADLERSHOF suas principais características e servi-
ços que são oferecidos para as startups
Berlin Adlershof consolidou uma e empreendedores que estão instalados
reputação internacional como um dos no local.

53 53
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

3.1.4.1 HISTÓRICO e também ficaram localizadas no PCT de


Adlershof (BRINKHOFF, 2017; WISTA MA-
O Parque Científico e Tecnológico NAGEMENT, 2019a).
(PCT) de Adlershof foi fundado em 1991.
Até 1990, o local do PCT Adlershof era Após a reunificação alemã, o estado
ocupado pela antiga instituição de pes- de Berlim buscou primordialmente uma
quisa da República Democrática Alemã estratégia de desenvolvimento econô-
(RDA – Alemanha Oriental), a Academy of mico orientada para a inovação (innova-
Science (AdW). Compreendia 15 centros tion-oriented) e conduzida pela ciência
de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) (science-led) para compensar a grave
associados, predominantemente em ciên- perda de emprego no setor manufaturei-
cias naturais (física e química) e chegou ro. Como consequência, vários parques
a ter 5.600 funcionários em seu pico, em tecnológicos e incubadoras, dos quais o
1989, ano da queda do muro de Berlim. parque científico Adlershof era o maior e
Durante a reunificação alemã, a Academia mais proeminente projeto, foram estabe-
de Ciências foi liquidada, enquanto seus lecidos na região. A decisão de desenvol-
recursos de pesquisa foram parcialmente ver um ambiente integrado que combina
transferidos para instituições de pesquisa comércio e ciência foi tomada em 12 de
novas ou integradas a instituições exis- março de 1991, quando foi fundada a
tentes. Oito das antigas instituições da Entidade de Desenvolvimento de Adler-
Academia de Ciências que se concentra- shof, que foi integrada na atual empresa
vam predominantemente na pesquisa bá- de gestão do parque tecnológico, a WIS-
sica em ciências naturais foram integra- TA-Management, em 1994. Também em
das às instituições públicas de pesquisa 1991 a primeira incubadora IGZ iniciou as
não universitárias Max Planck, Fraunhofer operações acomodando cinco startups
e Leibniz. Como resultado, essas institui- com 14 funcionários (BRINKHOFF, 2017;
ções de P&D absorveram cerca de 30% WISTA MANAGEMENT, 2019a).
dos funcionários anteriormente emprega-
Com uma forte ligação aos concei-
dos na Academia de Ciências. Em con-
tos de aglomerações espaciais de ativi-
traste, os institutos de P&D voltados para
dades econômicas e redes de inovação,
a indústria da Academia de Ciências fo-
como clusters industriais e entorno inova-
ram predominantemente dissolvidos. Os
dor (innovative milieu), o conceito do PCT
cientistas restantes tiveram que encontrar
buscava a colocalização geográfica es-
novos empregos ou iniciar suas próprias
tratégica de entidades complementares
empresas. Como resultado, mais de 100
de universidades, instituições de P&D e
novas empresas foram fundadas por ex-
empresas. Além da colocalização geo-
-funcionários da Academia de Ciências

54 54
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

gráfica dos elementos complementares Tecnologia da Informação e Mídia, Bio-


das universidades, instituições de pes- tecnologia e Meio Ambiente. Somam-se a
quisa não universitárias e empresas, o isso seis institutos científicos da Humboldt-
PCT Adlershof compreende vários locais -Universität zu Berlin (Química, Geografia,
de encontro informais (os chamados third Ciências da Computação, Matemática, Fí-
places), como vários restaurantes e ca- sica e Psicologia) oferecendo instalações
fés, instalações esportivas e um parque educacionais e de pesquisa de primeira
público (BRINKHOFF, 2017). classe para os 6.330 alunos que estudam
no local (WISTA MANAGEMENT, 2019b;
3.1.4.2 O PARQUE E SEUS BERLIN PARTNER FÜR WIRTSCHAFT
SERVIÇOS UND TECHNOLOGIE, 2017).

O Berlin Adlershof Science City en- As startups estabelecidas no parque


globa o maior parque científico e tecno- são capazes de se beneficiar diretamente
lógico da Alemanha, bem como a locali- da transferência de conhecimento facilita-
zação mais importante de Berlim para a da pelo cluster de pesquisa ali localizado.
produção de mídia. Ambos estão cerca- As startups nos centros de tecnologia do
dos por um conjunto de empresas comer- parque Adlershof mostraram um cresci-
ciais, lojas, hotéis e restaurantes. Todo o mento positivo nos últimos anos. Em 2019
local, que inclui duas áreas residenciais empregavam 7.400 pessoas e, em 2018,
e um parque ecológico, ocupando uma tiveram um faturamento de pouco mais
área de 4,2 km2 (STRUNK, 2018). É o lar de € 970 milhões (WISTA MANAGEMENT,
de 1.128 empresas e 16 instituições cien- 2019b; KRITIKOS, 2016).
tíficas (dados de dezembro de 2018) com Com um total de 170 empresas de
cerca de 19.400 pessoas trabalhando no mídia (dados de 2019), a Media City, o
local, incorporadas em um conceito de Adlershof é o local de mídia mais impor-
planejamento urbano integrado (WISTA tante da região. As produções de filmes e
MANAGEMENT, 2019b). TV de Adlershof são conhecidas em todo
O Parque Científico e Tecnológico si- o mundo - muitos filmes internacionais são
tua-se no coração da Adlershof Science filmados no local, assim como programas
City. Engloba 527 empresas e 10 institutos de televisão como “The Voice of Germany”
de pesquisa não universitários (dados de (BERLIN PARTNER FÜR WIRTSCHAFT
2019), por exemplo, das Associações Lei- UND TECHNOLOGIE, 2017).
bniz e Helmholtz. Eles se concentram em: Nos últimos anos, 360 residências
Fotônica e Óptica, Energias Renováveis e foram desenvolvidas a oeste do parque
Fotovoltaicas, Microssistemas e Materiais,

55 55
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

natural e paisagístico de 66 hectares. serviços para empresas estabelecidas


Os próximos anos verão a conclusão de com metas de inovação de curto prazo
1.400 unidades habitacionais nas imedia- (WISTA MANAGEMENT, 2019c).
ções do campus da Humboldt University.
No final de 2018, cerca de 3.800 pessoas IGZ e OWZ – incubadoras de Adler-
já viviam na área de desenvolvimento de shof
Adlershof (WISTA MANAGEMENT, 2019b).
IGZ, Innovations- und GründerZen-
O Adlershof já oferece o que é ne- trum (Centro de Inovação e Incubação de
cessário para trabalhar e viver em um am- Empresas): oferece um serviço de apoio
biente urbano moderno: acesso a trens especial para empreendedores de star-
urbanos (S-Bahn), bondes e ônibus, qua- tups e jovens empresas inovadoras com
tro creches, dois centros médicos, bistrôs, orientação científica. A OWZ, Incubadora
restaurantes, lojas, hotéis, instalações es- Internacional de Empresas, disponibiliza
portivas e serviços sociais próximos. A al- uma gama abrangente de serviços para
gumas paradas de bonde encontram-se startups e jovens empresas inovadoras
também escolas, um cinema e muitas ou- com orientação internacional (WISTA MA-
tras oportunidades culturais (WISTA MA- NAGEMENT, 2019c).
NAGEMENT, 2019b).
“Gründerhaus” para Humboldtia-
nos
3.1.4.3 SERVIÇOS PARA
STARTUPS EM ADLERSHOF Os humboldtianos interessados em
estabelecer sua própria empresa – in-
Incubadoras dependentemente de serem estudan-
tes ou pesquisadores da Universidade
Para startups e spin-offs científicas, Humboldt (HU) – podem contar com o
os centros de incubação e tecnologia em apoio do Venture Service, tanto com in-
Adlershof oferecem instalações de primeira formações quanto com assistência prá-
classe e condições favoráveis. São cerca tica sobre o caminho para se tornarem
de 18.000 m2 de espaços multifuncionais empreendedores. No centro do traba-
disponíveis para aluguel em condições fle- lho do Venture Service estão as “Grün-
xíveis em relação ao tamanho, duração da derhäuser” (venture zones, ou zonas de
locação e custo. Juntamente com uma am- empreendedorismo) em Adlershof e na
pla gama de serviços para startups rela- Mitte, que fornecem espaço de trabalho
cionadas ao desenvolvimento de tecnolo- para os empreendedores da HU. Conec-
gia, cooperação, controle e financiamento, tar-se a outros empreendedores e de-
marketing e distribuição, também oferece senvolver ideias inovadoras é muito mais

56 56
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

fácil nesses ambientes criativos (WISTA te dentro do campus (WISTA MANAGE-


MANAGEMENT, 2019d). MENT, 2019e).

Além disso, a equipe do Venture Ser- Espaço de Coworking IM.PULS


vice oferece suporte a projetos de star-
tups com a identificação e solicitação de Os espaços de trabalho abertos são
oportunidades de financiamento, como uma nova tendência em ascensão. O PCT
os programas EXIST Business Start-up em Adlershof também oferece um espaço
Grant e EXIST Transfer of Research. Após de 550m2 para fundadores, estudantes,
a criação de uma startup, a Humboldt-In- grupos de projetos de pesquisa e jovens
novation apoia os fundadores de várias empreendedores. A proximidade com a
maneiras, provendo, por exemplo, opor- rede de ciência, pesquisa e empresas em
tunidades de treinamento, contato com Adlershof cria um clima único para a ino-
ex-alunos e pacotes de serviços que au- vação (WISTA MANAGEMENT, 2019f).
xiliam os jovens empreendedores em seu
Em 9 de novembro de 2017, a WIS-
trabalho diário (WISTA MANAGEMENT,
TA celebrou a abertura do espaço de co-
2019d).
working IM.PULS. O espaço de trabalho
Adlershof Founder’s Lab e reunião tem como objetivo unir as pes-
soas para fomentar a cultura de coope-
A WISTA Management GmbH criou o ração para inovação. Possui 54 estações
Adlershof Founder’s Lab como uma nova de trabalho equipadas, incluindo Wi-Fi e
ferramenta para permitir que jovens fun- impressoras, além de lounges, think tanks
dadores de empresas trabalhem em sua fechados para chamadas telefônicas,
ideia de negócio. Apoiam de dois a três sala de conferências e uma cozinha to-
fundadores por equipe por um período de talmente equipada. Móveis de cor clara,
um ano com 1.500 euros / mês. Além de pisos de madeira, paredes transparentes,
apoio financeiro, o programa inclui ofici- cadeiras coloridas e mesas modernas,
nas e coaching sobre tópicos relaciona- que criam um ambiente agradável e pro-
dos a negócios. Os fundadores de negó- dutivo (STRUNK, 2018; WISTA MANAGE-
cios se beneficiam da larga experiência MENT, 2019f).
da equipe nas áreas de competência do
PCT como parte do programa de mento- Aceleradora A²
ria. Cada participante recebe um espa-
O programa A² Adlershof Accelerator
ço dedicado gratuito no espaço interno
estabeleceu-se com sucesso em 2017. A
de coworking IM.PULS, que fornece aos
aceleradora concentra-se em inovações
fundadores toda a infraestrutura relevan-
em algumas indústrias específicas, como

57 57
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

energia, edifícios inteligentes, comunica- de Pesquisa não Universitários em Adler-


ção, tecnologia da informação e seguran- shof). A IGAFA promove a cooperação
ça. Em programas de cinco meses de du- entre organizações e com universidades
ração, oferece às startups a oportunidade e empresas, e gera sinergias por meio
única de desenvolver suas aplicações em de eventos científicos, recebimento em
conjunto com os parceiros industriais do conjunto de convidados internacionais, a
programa (de três a seis parceiros são se- gestão do centro de reuniões e a divulga-
lecionados). Projetos-piloto com empresas ção de literatura (WISTA MANAGEMENT,
estabelecidas ajudam as startups a impul- 2019h).
sionarem suas ideias de negócio (STRUNK,
2018; (WISTA MANAGEMENT, 2019g). Em 2019, cerca de 1.700 funcioná-
rios trabalhavam nas dez organizações
O que a Aceleradora A² oferece de pesquisa não universitárias nas áreas
(WISTA Management, 2019g): de energia, materiais e modelagem: BAM
(química analítica, materiais de referên-
• Know-how da indústria, permitin- cia); BTU (química do ar); DLR (pesquisa
do que as startups se beneficiem planetária, sistemas de transporte); FBH
da experiência de Adlershof nos (tecnologia de alta frequência); FOKUS
setores específicos de atuação; (arquitetura de computadores, engenha-
• Contatos, permitindo obter acesso ria de software); HZB (materiais, energia);
a empresas estabelecidas; IKZ (crescimento de cristais); ISAS (ciên-
• Coaching e treinamento; cias analíticas); MBI (óptica não linear,
• Suporte, apoio durante todo o pro- espectroscopia de pulso curto); PTB (ra-
grama; diometria de fótons). Muitas dessas orga-
• Coworking, local de trabalho gra- nizações já fizeram parte da antiga Aca-
tuito no espaço de trabalho cola- demia de Ciências da Alemanha Oriental
borativo IM.PULS; (WISTA MANAGEMENT, 2019h).
• Condições, reembolso de até €
5 mil dos custos do projeto, sem Projetos de cooperação
transferência de ações da em-
presa. Networking de empresas e institui-
ções científicas que desempenha um pa-
Pesquisa não universitária em pel importante em um local de alta tecno-
Adlershof logia (high tech) como o Berlin Adlershof.
Por exemplo, o WISTA Business Support
Em 1992, os institutos de pesquisa organiza eventos de pitching onde as
não universitários formaram a rede regio- empresas podem iniciar projetos de coo-
nal IGAFA (Iniciativa Conjunta de Institutos

58 58
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

peração. O programa de cooperação préstimos em condições favoráveis, além


Aceleradora A² combina até seis par- de realizar competições e oferecer pre-
ceiros industriais com startups. Ao co- miações no contexto de empreendedoris-
laborar com empresas industriais expe- mo e startups.
rientes em projetos pilotos conjuntos, as
startups podem colocar em prática suas O ambiente de inovação analisado
ideias de negócios, enquanto empresas na cidade de Berlim, o Berlin Adlershof,
estabelecidas ganham acesso a novas consegue se destacar internacionalmente
ideias, produtos e soluções inovadoras como modelo de PCT de terceira geração,
(LÖWER, 2018). criando uma expressiva rede de colabo-
ração entre institutos universitários, insti-
O portal de cooperação na Internet tuições de pesquisa não universitárias e
da WISTA é uma espécie de blackboard empresas. O conceito do PCT baseia-se
para startups, empresas, universidades na co-localização geográfica estratégica
e institutos de pesquisa. Ele propicia que de entidades complementares de univer-
tanto empresas novas quanto estabeleci- sidades, instituições de P&D e empresas.
das busquem parceiros correspondentes, O Adlershof oferece o que é necessário
oferecendo seus conhecimentos, investi- para trabalhar e viver em um ambiente
mentos ou equipamentos (LÖWER, 2018). urbano moderno, com diversos serviços
para startups e locais de encontro infor-
Considerações finais mais (os chamados third places). O PCT
possui duas incubadoras, uma acelera-
A Alemanha conta com um importan-
dora, um laboratório para jovens funda-
te protagonismo dos Ministérios de Edu-
dores, um programa de venture services
cação e Pesquisa (BMBF) e de Assuntos
e um espaço de coworking. É no espaço
Econômicos e Energia (BMWi), que finan-
de coworking IM.PLUS que a maioria das
ciam e suportam um complexo sistema
startups que participam dos programas
de inovação juntamente com outras en-
gerenciados pelo PCT ficam localizadas,
tidades, destacando-se as sociedades
fomentando a cultura de cooperação para
privadas sem fins lucrativos, em especial
inovação por meio da proximidade das
a Fraunhofer e a Max Planck. O protago-
startups entre si e com a rede de ciência
nismo e o papel articulador dessas enti-
e pesquisa do PCT.
dades permitem a criação de uma indús-
tria dinâmica e inovadora, bem como um Berlim pode ser caracterizada como
ambiente propício ao empreendedorismo um Ecossistema de Alto Impacto de acor-
e à inovação. O BMWi fornece às PMEs do com o modelo de referência utilizado
e startups uma série de subsídios e em- neste estudo. Isso porque, além de sólidas

59 59
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

instituições que funcionam como alicerces 3.2 MANCHESTER


desse ecossistema (vide as políticas de
estímulo a CT&I abordadas anteriormen- 3.2.1 POLÍTICAS E SISTEMA DE
te), possui: um constante fluxo de talentos
INOVAÇÃO NO REINO UNIDO
locais das universidades alemãs, em es-
pecial Universidade Humboldt, a Univer- O sistema de inovação do Reino Unido
sidade Livre de Berlim e a Universidade é composto por diversas organizações go-
Técnica de Berlim; diversos mecanismos vernamentais e não-governamentais atuan-
e áreas de inovação (incubadoras, acele- do em pesquisa e inovação. No centro des-
radoras, espaços de coworking, parques se sistema encontra-se o Departamento de
científicos e tecnológicos) que atuam es- Negócios, Energia e Estratégia Industrial
timulando a capacidade empreendedora, (Department for Business, Energy & Indus-
com destaque para o Berlin Adlershof; trial Strategy – BEIS), responsável pela rela-
diversidade de oportunidades de investi- ção do setor de Ciência e Tecnologia (C&T)
mento (capital de risco, anjos etc.) e sub- com o setor produtivo britânico (SANTOS,
sídios e incentivos por parte do governo 2013). O BEIS substituiu o Departamento de
(competições de startups, por exemplo); Negócios, Inovação e Competências (BIS)
cultura empreendedora que estimula a e o Departamento de Energia e Mudanças
criação de novas startups, atraindo não Climáticas (DECC) em julho de 2016. Os
apenas talentos da Alemanha, mas de principais objetivos do BEIS são: entregar
todo o mundo; focos específicos (Fintech, uma estratégia industrial ambiciosa; maxi-
IoT e Saúde) para o qual convergem uma mizar as oportunidades de investimento e
boa parte das iniciativas de empreen- reforçar os interesses do Reino Unido; pro-
dedorismo. Além disso, percebe-se que mover mercados competitivos e práticas
houve um papel importante de articulação empresariais responsáveis; garantir que o
desse ecossistema exercido pelo Gover- Reino Unido tenha um sistema de energia
no e pelas universidades, que possibilita- confiável, de baixo custo e limpo.
ram o estímulo inicial e continuam sendo
ativos na promoção desse ecossistema, As demais organizações que atuam
que hoje conta com maior protagonismo com pesquisa e inovação no Reino Unido
dos demais atores desse ecossistema, podem ser divididas em quatro campos
tornando-o mais sustentável. (NESTA, 2015):

• Criação de conhecimento: uni-


versidades, setor público, Institui-
ções de Pesquisa, Organismos de
Fomento à Pesquisa.

60 60
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

• Exploração de Conhecimen- influência em políticas públicas.


to: Organizações intermediárias, • Apoiar a inovação: Subsídios /
escritórios de transferência de subvenções / contratos para ino-
tecnologia, incubadoras de em- vação, Serviços de consultoria,
presas, parques científicos e tec- Apoio financeiro indireto (e.g., cré-
nológicos. ditos fiscais de P&D), Redes de
• Possibilitar a inovação (boas relacionamento (networking).
condições para inovação): Stan-
dards Measurement Accreditation A figura a seguir apresenta as princi-
(similar ao INMETRO no Brasil), pais instituições em cada um desses qua-
propriedade Intelectual, lobby e tro campos.

Figura 7. Instituições que atuam no sistema de pesquisa e inovação no Reino Unido

Fonte: Nesta (2015)

61 61
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

No contexto de Parques Científicos do. Em 2012, o governo britânico trans-


e Tecnológicos (PCTs) e Áreas de Inova- formou-a em uma charitable company
ção, uma instituição importante ressalta- (organização sem fins lucrativos cujos ob-
da na figura no campo de exploração de jetivos primários são a filantropia e o bem-
conhecimento é a UKSPA - United King- -estar social), tornando-a independente.
dom Science Park Association. A missão Nesta é um dos principais think tanks de
da UKSPA é ser o órgão oficial no plane- inovação no Reino Unido, sendo também
jamento, desenvolvimento e criação de um investidor em empreendimentos ino-
PCTs e outros locais de inovação que fa- vadores e um laboratório de inovação que
cilitem o desenvolvimento e a gestão de testa novas abordagens de apoio à inova-
organizações inovadoras, de alto cresci- ção. A organização atua por meio de uma
mento e baseadas em conhecimento. A combinação de programas, investimen-
UKSPA foi criada em 1984 e hoje possui to, políticas e pesquisas e formação de
134 membros ativos em todo Reino Unido. parcerias para promover a inovação em
A associação oferece aos seus membros uma ampla gama de setores, focando em
a oportunidade de interagir e trocar ideias cinco áreas principais: saúde, inovação
com os demais integrantes em eventos, governamental, educação, artes e econo-
encontros e oficinas realizadas pela as- mia criativa e política de inovação3.
sociação, bem como acesso a diversos
materiais de interesse (restrito aos asso- Um ator importante no apoio às de-
ciados), tais como: relatórios sobre temas cisões relacionadas aos temas de C&T e
específicos de relevância, informações Inovação que vale a pena mencionar é o
de benchmarking com outros parques, UK Government Chief Scientific Adviser
revista da associação, boas práticas de (GCSA). O GSCA é responsável por: pres-
incubação e outros recursos voltados à tar assessoria científica ao Primeiro Minis-
incubação2. tro e aos membros do gabinete; aconse-
lhar o governo sobre aspectos da política
Outra entidade importante que está de ciência e tecnologia; garantir e melho-
localizada na figura anterior entre possibi- rar a qualidade e o uso de evidências e
litar e apoiar a inovação é o Nesta. Ante- assessoria científica no governo4. Des-
riormente intitulada National Endowment de 2011, quase todos os departamentos
for Science, Technology and the Arts, a or- (ministérios) do governo do Reino Unido
ganização foi fundada em 1998 com uma contam com seus próprios Chief Scienti-
doação da Loteria Nacional do Reino Uni-
3 https://www.nesta.org.uk/blog/the-nesta-story/
2 http://www.ukspa.org.uk/our-association/abou- 4 https://www.gov.uk/government/people/patri-
t-us ck-vallance

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Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

fic Advisers. Todos fazem parte do Chief co. Como incentivo fiscal para inovação,
Scientific Adviser’s Committee (CSAC), o governo britânico reduz em 30% os im-
uma entidade interministerial presidida postos (tax break) para startups e 50%
pelo GCSA que é responsável por discutir para capital semente (seed capital) (San-
a política nacional de C&T e Inovação e tos, 2013). O Seed Enterprise Investment
apresentar recomendações ao gabinete Scheme (SEIS), oferece incentivos fiscais
sobre temas e mecanismos para aprimo- para investidores individuais que com-
rar a implementação da política do gover- pram participação em uma empresa. Os
no para a área (SANTOS, 2013). créditos fiscais de P&D permitem que as
empresas recuperem os custos de P&D
Uma mudança recente na estrutura até dois anos após o final do período con-
do sistema de inovação e pesquisa do tabilístico a que os custos se referem5.
Reino Unido, ainda não incorporada na
figura apresentada anteriormente, foi a O governo do Reino Unido vem in-
criação do UK Research and Innovation centivando o empreendedorismo por
(UKRI). Sua criação foi aprovada por lei meio de prêmios há bastante tempo.
em abril de 2017 e as operações inicia- Os Queen’s Awards for Enterprise, por
ram oficialmente em março de 2018. A exemplo, são os prêmios mais prestigia-
agência de pesquisa e inovação nasceu dos para empresas e indivíduos no Rei-
para atuar como centro estratégico do no Unido. Premiação concedida desde
sistema de financiamento de pesquisa e 1965 para excelência industrial, novas
inovação do Reino Unido. O UKRI incor- categorias foram recentemente adicio-
porou os sete conselhos de pesquisa (Re- nadas para também sinalizar valorização
search Councils UK), o Innovate UK e as por empreendimentos empreendedores e
funções de financiamento de pesquisa do inovadores. Os prêmios são concedidos
HEFCE (Higher Education Funding Coun- nas categorias de inovação, comércio
cil for England) (BEIS, 2018). inovador, desenvolvimento sustentável e
promoção de oportunidades por meio da
O marco regulatório de inovação no mobilidade social (SANDERS et al., 2018).
Reino Unido inclui incentivos fiscais na
forma de créditos para pesquisa e de- O governo britânico oferece várias
senvolvimento tecnológico. Esses crédi- rotas de financiamento para startups. As
tos são disponibilizados de duas formas: startups podem candidatar-se a um dos
por meio da dedução de impostos para diversos subsídios governamentais admi-
recursos alocados em P&D; ou pela com- nistrados pelo BEIS ou tentar o esquema
pensação por PMEs de seus prejuízos em
troca de pagamento em dinheiro pelo fis- 5 https://www.techworld.com/startups/5-ways-
-uk-government-supports-tech-startups-3652774/

63 63
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

StartUp Loans, que oferece empréstimos mento e suporte aos negócios, com possi-
entre £500 e £25 mil a uma taxa de ju- bilidades tanto para startups quanto para
ros fixa de 6% ao ano para novas ideias empresas já estabelecidas (https://www.
de negócios. Os aprovados também re- gov.uk/business-finance-support) (SAN-
cebem orientação sobre como escrever DERS et al., 2018). Ainda no site do BEIS,
um plano de negócios e até 12 meses de o empreendedor/empresário pode encon-
mentoring gratuito. Há também uma série trar diversas informações de interesse em
de competições de financiamento ofereci- vários temas relevantes para negócio) (ht-
das pelo Innovate UK, que financia e co- tps://www.gov.uk/browse/business).
necta empresas britânicas para o desen-
volvimento de novos produtos, processos Mais orientações podem ser encon-
e serviços6. tradas no Tech Nation (https://technation.
io/), um órgão financiado pelo governo
Além de prêmios, apoio e eventos, o que fornece uma gama de opções de su-
governo do Reino Unido incentiva o em- porte para empresas de tecnologia. Seus
preendedorismo por meio de Enterprise projetos incluem o Future Fifty, o qual per-
Zones, estabelecidas desde 2012. Essas mite que empresas de tecnologia bem-
Enterprise Zones são áreas designadas -sucedidas do Reino Unido (tais como
em toda a Inglaterra que oferecem incen- Just Eat, Shazam e Skyscanner) se unam,
tivos fiscais (tax breaks) e apoio gover- construam uma rede poderosa de apoio
namental. Desde seu início, essas Zonas e resolvam problemas com seus pares.
geraram 635 empresas e atraíram mais Outra iniciativa é a Digital Business Aca-
de £2,4 bilhões em investimentos do setor demy, uma plataforma gratuita de apren-
privado (SANDERS et al., 2018). dizado on-line para empreendedores de
tecnologia aprenderem as habilidades
O passado recente está repleto de necessárias para começar, crescer ou in-
iniciativas que buscam melhorar o aces- gressar em um negócio digital6.
so à informação e orientação às startups.
Todas essas iniciativas fazem parte da
3.2.2 REGIÃO DE
grande campanha denominada Business
is Great (http://www.greatbusiness.gov. MANCHESTER
uk/), cujo site fornece informações sobre A grande Manchester é hoje a região
assuntos que vão desde como proteger que mais cresce no Reino Unido fora de
sua propriedade intelectual até assesso- Londres. A região tem uma longa história
ria com assuntos fiscais. Além disso, o de inovação e uso de ciência e tecnologia
site do BEIS mantém um banco de dados para o sucesso comercial, desde a divi-
com diversas oportunidades de financia- são do átomo (a base da energia atômi-

64 64
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

ca) até o primeiro computador moderno. inteiros em toda a região da cidade, de


É amplamente reconhecida como uma maneiras que a cidade ainda luta para
ótima cidade para se fazer negócios, gra- reverter (DAVIES, 2015).
ças à sua clareza de governança e com-
provada experiência na entrega de solu- Após o declínio das indústrias tra-
ções (GREATER MANCHESTER, 2013). dicionais na cidade, Manchester buscou
se reinventar com base em suas caracte-
Famosa por suas raízes industriais, rísticas mais diferenciadas. Dessa forma,
rica herança musical e futebol (entre a cidade buscou explorar seus ativos de
muitas outras coisas), Manchester é uma C&T e inovação (como os talentos asso-
das principais cidades do Reino Unido ciado às suas cinco instituições de ensino
para inovação e startups. A cidade pos- superior), colocando a ciência e a inova-
sui todos os ingredientes necessários ção como foco para aumentar a produ-
para startups - infraestrutura, um pool de tividade e garantir a competitividade no
talentos, habilidades digitais e suporte longo prazo. Agora, Manchester é a se-
comercial. Com uma força de trabalha- gunda cidade do Reino Unido em termos
dores digitais de mais de 62 mil pessoas de atividade econômica, apresentando
(dados de 2019), Manchester abriga o ainda uma cultura de inclusão e uma re-
maior número de profissionais digitais putação como cidade urbana e criativa
fora de Londres6,8. (MANCHESTER CITY COUNCIL, 2016;
GREATER MANCHESTER AND CHESHI-
A grande Manchester, a terceira RE EAST, 2016).
maior área metropolitana do Reino Uni-
do, já foi o epicentro da revolução in- As principais oportunidades de dife-
dustrial, especialmente em termos da renciação da região de Manchester para
indústria têxtil. Assim como no Vale do crescimento, comparadas com outras
Silício, locais e produtos foram rotula- localidades do Reino Unido, são a pro-
dos como “Manchester” devido à difu- ximidade de grandes ativos em outros
são mundial dos produtos de algodão setores (por exemplo, indústrias digitais
da cidade (PFEILSTETTER, 2017). Na e a concentração densa de serviços pro-
década de 1980, Manchester tornou-se fissionais) e a concentração de ativos de
um exemplo clássico do impacto do de- pesquisa e inovação no Corridor Man-
clínio industrial quando as consequen- chester e no Alderley Park do Manches-
tes perdas de emprego afetaram bairros ter Science Partnerships (iniciativa que
será abordada na próxima seção). Essa
6 https://meanwhilecreative.co.uk/coworking-o- inter-relação entre os setores é um grande
ffice-space/manchester/northern-powerhouse-the-sta- impulsionador do crescimento e da inova-
te-of-manchesters-startup-scene/

65 65
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

ção (GREATER MANCHESTER AND CHE- Ofertas de suporte a negócios e


SHIRE EAST, 2016). clusters de negócios em Manchester tam-
bém fornecem um ambiente rico para em-
Com sua nova infraestrutura digital presas e empreendedores. O Business
(aparentemente a melhor do Reino Unido), Growth Hub fornece uma oferta coorde-
custo de vida acessível, muitos espaços nada de diversos programas de apoio às
de coworking, programas de aceleração empresas, juntamente com a Câmara de
e acesso a financiamento, Manchester se Comércio. É um exemplo nacional para
reinventou como “cidade digital” do Rei- a prestação de serviços de apoio às em-
no Unido, no topo da lista de startups que presas, tendo apoiado a criação de 3.200
exploram tecnologias como Blockchain, novos postos de trabalho que acrescen-
Cybersecurity, Inteligência Artificial, Inter- taram £130 milhões de GVA (Gross Value
net of Things (IoT) e Machine Learning7. Added) anual à economia entre 2015 e
2016 (OUR PEOPLE OUR PLACE, 2017).
Com quase 900 startups criadas por
A agência de investimentos internos de
ano (dados de 2019), Manchester consta
Manchester (MIDAS) presta apoio às
no European Digital City Index (que des-
empresas que desejam se instalar em
creve como diferentes cidades da Europa
Manchester e atrai investimentos para a
apoiam empreendedores digitais) tanto
região. As universidades locais também
para startups quanto para scale-ups, ocu-
oferecem suas próprias formas de apoio
pando a 16ª e a 17ªoposições, respecti-
às empresas. Desde 2000, o Center for
vamente. Em 2019, alguns dos principais
Enterprise da Manchester Metropolitan
indicadores nessa área digital para a ci-
University (MMU) tem apoiado mais de
dade são7:
500 pequenas e médias empresas e em-
• 62.653 empregos digitais na cida- presas sociais. Outro exemplo é a Escola
de; de Negócios da Universidade de Man-
• O salário médio na área digital é chester, líder mundial que oferece uma
de £47.349, o oitavo mais alto do ampla gama de suporte comercial (GREA-
Reino Unido; TER MANCHESTER, 2013).
• 85% das startups locais são posi-
A cidade está empenhada em fo-
tivas em relação ao potencial de
mentar novos negócios de todas as ma-
crescimento do setor digital.
neiras possíveis. Isso inclui apoio finan-
ceiro por meio de investimento direto e
empréstimos flexíveis. Essas oportunida-
7 https://inc42.com/features/is-manchester-e- des de assistência financeira incluem o
merging-as-the-new-london-for-indian-startups-lookin-
g-west/ Greater Manchester Investment Fund e

66 66
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

o North West Fund. Manchester também maiores concentrações de ativos


está ganhando mais atenção de capita- de conhecimento na Europa, for-
listas de risco (venture capitalists), que necendo emprego para mais de
reconhecem que investir em novos negó- 60 mil pessoas e com cerca de 72
cios na região norte da Inglaterra pode mil alunos na época de aulas (da-
gerar resultados significativos a curto e dos de 2019);
longo prazos7. • A Enterprise Zone perto do aero-
porto de Manchester, que inclui
Entre 2002 e 2016, a Innovate UK for- o MediPark - cuja missão é apro-
neceu £80,8 milhões em subsídios para veitar a oportunidade do enorme
770 projetos na grande Manchester. Além crescimento da demanda inter-
do financiamento tradicional, a Innova- nacional por tecnologia médica e
te UK também apoiou 769 Parcerias de científica;
Transferência de Conhecimento (Know- • O MediaCityUK, um empreendi-
ledge Transfer Partnerships - KTPs) com mento de £700 milhões em Sal-
empresas no Noroeste (North West, re- ford Quays, o maior local de mídia
gião de Manchester) em um valor de £8,2 construído para esse propósito na
milhões (2010-16). Os KTPs cobrem uma Europa.
gama de áreas de pesquisa predominan-
temente dentro dos principais setores de
3.2.2.1 PRINCIPAIS
materiais avançados, biociência, medici-
na e saúde, e eletrônica (GREATER MAN- MECANISMOS DE APOIO
CHESTER AND CHESHIRE EAST, 2016). A EMPREENDIMENTOS
INOVADORES
A grande Manchester abriga alguns
importantes clusters de empresas inova- Coworkings
doras, incluindo (GREATER MANCHES-
The Sharp Project (https://www.
TER, 2013):
thesharpproject.co.uk/). Hub com espa-
• Manchester Corridor (Oxford ços de escritório criados especialmente
Road Corridor) - uma população para a conveniência de empresas que
densa de negócios em ciência e produzem conteúdo digital, mídia digital,
tecnologia, cobrindo 243 hectares TV e cinema, oferece espaços de traba-
e gerando cerca de £3 bilhões de lho de vários tamanhos, bem como estú-
GVA anualmente, representando dios, palcos e salas de eventos. O Projeto
cerca de 20% da produção eco- Sharp é o lar de mais de 60 empreende-
nômica de Manchester. É uma das dores e empresas e está baseado em um

67 67
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

armazém reformado que anteriormente com UX Labs, instalações para conferên-


era ocupado pela empresa de produtos cias, apoio por meio da rede de parceiros,
eletrônicos Sharp. workshops financiados pelo European
Regional Development Fund e programas
SpaceportX (https://spaceportx. internos de aceleração e incubação.
com/). O Spaceportx é um espaço de co-
working no coração do Northern Quarter The Federation (https://www.thefe-
em Manchester que se propõe a ser um deration.coop/). Parcialmente financia-
ponto de contato entre startups de tecno- da pela Omidyar Network, a Federação
logia, os interessados na comunidade de fornece o espaço de coworking a taxas
tecnologia e a comunidade de tecnologia subsidiadas para startups que comparti-
em geral. Local bem conhecido por star- lham um espírito e uma promessa seme-
tups de tecnologia, uma casa para mui- lhantes à da comunidade da Federação,
tos impulsionadores da comunidade local no sentido de causar impacto na socie-
de startups, este espaço também ofere- dade por meio de sua inovação digital.
ce sessões de orientação, workshops e Localizada em um edifício histórico no
eventos regulares, incluindo ocasional- centro de Manchester, além do espaço
mente Silicon Drinkabouts8. de coworking, possui salas de reunião,
espaço para eventos, uma suíte de pod-
The Landing (https://www.thelan- casting e um café.
ding.org.uk/). O popular espaço de co-
working abrigava em 2019 cerca de 118 Outros espaços de coworking:
startups e empresas em diversas áreas OGSWorks, The Assembly, The Hive,
(jogos e realidade virtual, análise de da- Biz Space, XYZ Building, Barclays Eagle
dos, tecnologia em saúde, manufatura, Labs, Ziferblat
internet das coisas, cidades inteligentes
etc.). O Landing oferece às startups um Incubadoras
lugar para trabalhar junto a grandes orga-
Innospace (http://www.innospace.
nizações de mídia e tecnologia, permitin-
co.uk/). Incubadora de empresas basea-
do que elas façam parte e se beneficiem
da na Manchester Metropolitan University
da comunidade da MediaCityUK. Além de
com suporte que se estende muito além
coworking e espaço para escritório, conta
da oferta de um espaço de coworking,
que inclui orientação (mentoring), auxílio
8 O Silicon Drinkabout é um programa global com plano e estratégia de negócio, su-
e voluntário para networking entre empreendedores e porte especializados em vendas, marke-
startups que está presente em 50 cidades do mundo.
Veja mais informações em: https://silicondrinkabout.
ting, recursos humanos, consultoria jurídi-
com/ ca, contabilidade e outras facilidades.

68 68
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

MedTECH Centre Incubator (http:// rateme.co/). A Universidade de Manches-


www.medtechcentre.co.uk/general/what. ter lidera essa aceleradora que apoia es-
php). Joint venture entre o NHS (Central tudantes e graduados da universidade
Manchester University Hospitals NHS (bem como de outras universidades da
Foundation Trust & TRUSTECH) e o setor região: MMU, Salford e Royal Northern
privado (Manchester Science Parks) com College of Music) que buscam entrar na
o objetivo de estimular o crescimento de arena de negócios. As empresas podem
empresas de sucesso em tecnologia de ser baseadas em qualquer setor e os can-
saúde. O MedTECH Centre é uma incu- didatos selecionados recebem até £2 mil
badora especializada para inovadores de financiamento equity-free. O programa
que estão desenvolvendo tecnologias- tem duração de 12 semanas, em que os
mcapazes de ajudar o NHS a fornecer membros são apoiados com orientação,
cuidados eficientes e de alta qualidade a acompanhamento de progresso e assis-
seus pacientes. tência profissional de seus parceiros. O
espaço do escritório também é gratuito
University of Manchester Innova- durante a duração do programa de ace-
tion Centre (https://www.umic.co.uk/). O leração.
Centro de Inovação da Universidade de
Manchester fornece instalações de ponta Ignite (https://www.ignite.io/ignite-
e de alta qualidade para empreendimen- -accelerator). O programa de aceleração
tos de biotecnologia e hi-tech. Apresenta projetado para ajudar empresas de tec-
um portfólio misto de laboratórios de alta nologia que tenham criado um MVP (ou
especificação e espaço de escritório ade- versão 1.0) a oferecer seu produto aos
quado para uma variedade de finalida- clientes e garantir que estes possam re-
des, possuindo espaço para conferência solver um problema real da melhor manei-
e eventos, juntamente com um restauran- ra possível. Fornecem coaching, mentoria
te local. O centro conta com três incuba- com fundadores de sucesso, workshops
doras que, além da infraestrutura física e com empreendedores experientes, con-
de atendimento, oferecem acesso a uma sultoria com as startups de seu portfólio e
ampla gama de serviços de apoio às em- assessoria para conseguir investimentos
presas (legal, propriedade intelectual, in- (anjo e VC). O programa de aceleração
vestidores, treinamento especializado e tem duração de seis meses e inclui um
seminários). investimento inicial de £40 mil com 6% de
equity. O programa é remoto por três se-
Aceleradoras manas ao mês, com a quarta semana rea-
lizada em cidades ao redor do Nordeste
Accelerate ME (https://www.accele-
do Reino Unido (e uma em Londres). Nes-

69 69
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

sa semana presencial, as empresas têm a foram levantados em investimento para


oportunidade de se conectarem a outras mais de 250 empresas. Fornece investi-
startups, empresas do portfólio e várias mentos entre £20 mil e £500 mil, com a
oportunidades de negócios. tomada de parte do capital (equity).

Elevate (aceleração e investimento, Co Angel Investment (http://www.


https://elevatefund.co.uk/). Cada empre- coangelinvestment.co.uk/). A Co Angel
sa dentro da aceleradora faz parte de uma Investment Service, fundado e apoiado
pequena coorte quatro 6 seis empresas) pela Greater Manchester Combined Au-
e o programa de aceleração tem duração thority, foi lançado em novembro de 2014
de seis a 12 meses. A primeira fase de e é um serviço inovador de gestão de in-
aceleração fornece suporte para definir vestimentos projetado para ajudar empre-
claramente uma estrutura e processos só- sas estimulantes e de alto crescimento a
lidos para as estratégias de Planejamen- obter financiamento. Formada por profis-
to de Negócios, Jurídico, Contabilidade, sionais de capital de risco e de gestão de
Vendas e Marketing e Operações. A se- fundos, a Co Angel entende os problemas
gunda fase fornece suporte personalizado e dificuldades enfrentados por empresas
individual para garantir que a empresa te- jovens e em crescimento à medida que
nha todas as funções prioritárias cobertas buscam as soluções de financiamento
para atender às metas de crescimento. O que precisam e também as exigências
financiamento oferecido é personalizado e expectativas dos investidores privados
para cada empresa no programa, fican- ao avaliar oportunidades. Suporta roda-
do entre 5% e 25% do capital (equity) por das de financiamento de £250 mil a £2
£50 mil a £250 mil de investimento. milhões e, após o investimento, a equipe
da Co Angel permanece engajada com
Investidores as empresas investidas e fornece servi-
ços de orientação e suporte estratégico
Northwest Business Angels (http://
para garantir que as oportunidades de
www.nwbusinessangels.com/home). A
crescimento sejam aproveitadas e capita-
Northwest Business Angels conecta em-
lizadas.
presas jovens e em crescimento que bus-
cam investimentos com investidores que
buscam ativamente oportunidades de in- 3.2.3 MANCHESTER SCIENCE
vestimento no noroeste do Reino Unido. PARTNERSHIPS
Uma das redes de Business Angels mais
antigas e bem-sucedidas do Reino Unido, O Manchester Science Partnerships
desde sua criação mais de £22 milhões (MSP) é um dos maiores operadores de
parques científicos e tecnológicos do Rei-

70 70
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

no Unido, fornecendo infraestrutura apro- te demanda por espaço e desenvolveu


priada e um ecossistema de inovação um novo prédio em Birley Fields quando
para apoiar a comercialização de P&D e o local existente atingiu sua capacidade.
ajudar as empresas em sua jornada para O MSP comprou o Greenheys Centre em
o sucesso dos negócios. São mais de 300 2005 para fornecer espaço para startups
empresas de ciência e tecnologia em seu e no mesmo ano abriu sua terceira lo-
portfólio (dados de 2019), sendo a maioria calização em Manchester, o Technology
das áreas de ciências da vida e indústrias Center (MANCHESTER CITY COUNCIL,
digitais e criativas (GREATER MANCHES- 2014). Sua mais recente aquisição, em
TER AND CHESHIRE EAST, 2016). O MSP 2014, foi o Alderley Park da Astra Zeneca,
está localizado no coração do quarteirão ampliando sua oferta para incluir um par-
do conhecimento de Manchester, o Man- que de ciências da vida de classe mun-
chester Corridor, em um campus que dial (SALFORD CITY COUNCIL, 2018).
também inclui a maior concentração de
instituições de ensino superior e grandes O MSP é uma empresa de parceria
hospitais de ensino da Europa (SALFORD criada para aumentar a economia do co-
CITY COUNCIL, 2018). nhecimento da cidade com participação
acionária (shareholding) dividida entre
O MSP foi formado pelo Conselho da as universidades de Manchester, as au-
Cidade (City Council) e a Victoria Univer- toridades locais, o NHS e o setor priva-
sity of Manchester em 1978, para captar do (GREATER MANCHESTER AND CHE-
benefícios que poderiam ser obtidos por SHIRE EAST, 2016). Em abril de 2012,
meio da criatividade e do conhecimento buscando mais capital para atender às
disponíveis nas universidades. O primei- aspirações dos parceiros do Manchester
ro edifício foi concluído em 1984, seguido Corridor, a Bruntwood juntou-se aos par-
de um segundo em 1989 (MANCHESTER ceiros existentes à época (Manchester
CITY COUNCIL, 2014). O MSP começou City Council, Universidade de Manches-
fornecendo ambientes especializados ter, Manchester Metropolitan University e
e serviços de suporte para empresas Salford City Council) e adquiriu uma par-
de ciência e tecnologia no Manchester ticipação acionária majoritária no MSP. O
Science Park (primeira instalação), incen- objetivo foi impulsionar o crescimento do
tivando as empresas a se agruparem e negócio do MSP, buscando dobrar seu ta-
se conectarem com organizações afins9. manho original em dez anos e maximizar
O MSP continuou a se expandir ao lon- a contribuição oferecida aos parceiros no
go dos anos 90 para atender à crescen- Manchester Corridor e em toda a região
da cidade (MANCHESTER CITY COUN-
9 https://mspl.co.uk/about-us/ CIL, 2014).

71 71
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

Em 2018, as participações de cada três dos campi do MSP são designados


parceiro no MSP eram: Bruntwood (63,8%), como Enterprise Zones. As empresas qua-
Universidade de Manchester (12,2%), lificadas que se mudarem para o Citylabs,
Manchester City Council (12,2%), Man- o Manchester Science Park ou o Alderley
chester Metropolitan University (4,5%), Park antes de 31 de março de 2021 po-
Cheshire East (3%), Central Manchester dem ser elegíveis para receber 100% de
University Hospitals NHS Foundation Trust dedução de impostos (business rate relief)
(3%), Salford City Council (1,2%) (SAL- por até cinco anos10. Os empreendimentos
FORD CITY COUNCIL, 2018). gerenciados pelo MSP são os seguintes:

O MSP oferece acesso a suporte - Alderley Park


especializado em todos os estágios de - Citylabs
crescimento de negócios, abrangendo - Manchester Science Park
finanças, marketing, mercados, recursos - Manchester Technology Centre
de P&D, aquisição de talentos, liderança - Salford Innovation Park
não executiva e serviços profissionais10.
O MSP fornece predominantemente es- A seguir, trataremos em mais deta-
paços de escritórios, incubação, labora- lhes sobre o Manchester Science Park.
tórios e espaços para reuniões e oficinas
aos seus diversos ocupantes nos setores 3.2.3.1 MANCHESTER SCIENCE
de ciência e tecnologia, incluindo Tec- PARK
nologias da Informação e Comunicação,
Biotecnologia, Tecnologias Industriais e Uma pequena organização em com-
Mídia Digital. Acomoda uma série de ou- paração com as universidades e hospitais,
tras funções, incluindo uma public house, o Science Park foi criado em 1983/1984
café e área para estacionamento (MAN- em um local abandonado próximo ao
CHESTER CITY COUNCIL, 2014). campus da universidade. Sua criação foi
uma resposta aos altos níveis de desem-
O MSP também facilita a coopera- prego na cidade na época, como uma
ção e colaboração eficaz entre empresas tentativa de criar empregos por meio da
e governo, universidades e organizações exploração do conhecimento e talento
clínicas, proporcionando simultaneamente gerado pela universidade. Um fator sub-
acesso a iniciativas e programas estraté- jacente ao seu sucesso foi a estrutura de
gicos de economia do conhecimento a ní- governança: uma empresa privada limita-
vel local, regional e nacional. Além disso, da por ações que pertenciam à prefeitura,
à universidade e ao setor privado em par-
tes iguais (DAVIES, 2015).
10 https://mspl.co.uk/campuses/

72 72
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

O Manchester Science Park está si- presas podem receber apoio para cres-
tuado no coração do Oxford Road Corri- cimento usufruindo de uma variedade de
dor, o bairro da inovação da cidade. Sua serviços especializados, incluindo acesso
proximidade com a Universidade de Man- a finanças, talentos, mercados e recursos
chester, a Manchester Metropolitan Uni- universitários e clínicos. O parque tam-
versity e a Manchester NHS Foundation bém oferece um abrangente programa
Trust, bem como seu status como digital de eventos, tanto focados em apoio para
hotspot, fazem do Manchester Science negócios quanto sociais11.
Park uma das comunidades mais vibran-
tes e prósperas de cientistas, inovadores Os edifícios baseados no Manches-
e empreendedores11. Local ideal para ter Science Park são os seguintes (COR-
empresas de ciência e tecnologia digital RIDOR MANCHESTER ENTERPRISE
de crescimento rápido de todos os tama- ZONE, 2017):
nhos, o Manchester Science Park oferece
BASE
uma variedade de acomodações, desde
mesas compartilhadas e individuais, es- O edifício BASE abriga um grupo de
critórios e espaços de laboratório para empresas criativas de ciência e tecnolo-
startups, até sedes para empresas glo- gia em rápido crescimento, oferecendo
bais (CORRIDOR MANCHESTER ENTER- uma gama de pequenos espaços de tra-
PRISE ZONE, 2017). balho para alugar. Com espaços compar-
tilhados e salas de reunião compartilha-
Desde startups de uma única pes-
das, o BASE possui espaços de escritório
soa até empresas globais e centros inter-
flexíveis, ideais para pequenas empresas
nacionais de excelência em P&D, mais de
se prepararem para expandir seus negó-
150 empresas estão baseadas no Man-
cios.
chester Science Park (dados de 2019).
As instalações do campus incluem várias Bright Building
salas de reunião e espaços para eventos
de última geração (indoor e outdoor), co- Inaugurado em setembro de 2017, o
nectividade ultrarrápida, café, pub, aca- Bright Building tem espaço de escritório
demia de ginástica, chuveiros e armários, flexível disponível em todos os andares,
armazenamento seguro para bicicletas e ideal para empresas globais de tecnolo-
Amazon Locker. gia que querem estar junto à (co-locate)
startups pioneiras, criando um ambiente
Ao se localizar neste campus, as em- colaborativo para o desenvolvimento de
ideias inovadoras e propiciando a forma-
11 https://mspl.co.uk/campuses/manchester-s-
cience-park/
ção de parcerias valiosas.

73 73
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

O layout do edifício foi intencional- Greenheys


mente concebido para maximizar a co-
laboração, com o piso térreo dedicado A Greenheys é ideal para empresas
para um grande espaço de trabalho co- que desejam se unir a uma incubadora de
mum e um espaço para eventos reser- biotecnologia ou tecnologia médica ou que
vado para até 200 pessoas. Há também estão prontas para dar os primeiros passos
um café, uma academia, chuveiros e ar- em um pequeno espaço próprio, dentro de
mários, local para guardar bicicletas e um cluster de empresas de rápido cresci-
área de trabalho ao ar livre. mento. Possui pequenos escritórios para
locação, espaço flexível de laboratório para
As empresas que trabalham com as locação e um laboratório de acesso aberto.
tecnologias da Internet das Coisas (IoT),
Cidades Inteligentes e Saúde Digital (di- Kilburn House e Williams House
gital health) podem concorrer a uma vaga
Os espaços de escritório na Kilburn
no programa de pós-aceleração Mi-IDEA
House e na Williams House são muito fle-
(Manchester Inspired - Innovation Digital
xíveis e podem ser adaptados para empre-
Enterprise Alliance) realizado em parceria
sas de ciência e tecnologia de pequeno e
da Cisco, hospedado em um espaço de
médio portes. Empresas também recebem
trabalho colaborativo dedicado no Bright
acesso a novos espaços compartilhados e
Building. O Mi-IDEA fornece espaço de
pequenos espaços para reuniões na entra-
co-inovação e dá suporte para startups di-
da do térreo.
gitais escalarem, gerando acesso a redes
especializadas e suporte ao crescimento. MedTech Centre
O Bright Building também é a sede do O centro da MedTech é uma incuba-
CityVerve, um projeto de demonstração de dora especializada em negócios de saúde
cidade inteligente com Internet of Things digital para empresas novas ou em está-
(IoT) de £17 milhões do Reino Unido - re- gio inicial. Uma joint venture entre a MSP,
unindo um consórcio de 21 organizações. a NHS Foundation Trust e a TRUSTECH, o
centro da MedTech apoia empresas que
Enterprise House e Rutherford House
desenvolvem tecnologias de saúde digital.
Espaços de trabalho flexíveis que po-
Skelton House
dem ser adaptados para pequenas e mé-
dias empresas de ciência e tecnologia. Ter Skelton House é o local ideal para ne-
seu próprio espaço privativo é uma opção gócios de ciência ou tecnologia de tamanho
possível nesses edifícios. médio que querem ocupação individual de

74 74
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

um edifício, com sua própria entrada e re- preendedoras/inovativas e disponibilidade


cepção. A Skelton House tem espaços fle- de empréstimo a juros baixos entre outros
xíveis para acomodar o aluguel de espaço incentivos formam o pacote do governo bri-
de escritório e o espaço de laboratório tânico para estimular o empreendedorismo
e a inovação no país.
Synergy House e Turing House
A região de Manchester escolhida
Com espaços de trabalho flexíveis e para análise apresenta uma história interes-
escritórios disponíveis para locação, a Sy- sante de recuperação após o declínio in-
nergy House e a Turing House abrigam al- dustrial utilizando seus ativos intelectuais e
gumas das maiores empresas de tecnolo- investindo fortemente em ciência, inovação
gia da MSP, que formam coletivamente um e empreendedorismo. O Manchester Scien-
dos digital hotspots Deloitte TMT da região, ce Park, ambiente escolhido para análise,
com mais de 1.500 trabalhadores digitais foi criado com essa intenção de aproveitar
e técnicos no campus. Ideal para empre- o capital intelectual da cidade para apoiar
sas trabalhando com big data, tecnologia o ecossistema de inovação e empreende-
digital, e-health, software de computador e dorismo da região. Gerenciada por meio
cibersegurança. de uma parceria Triple Helix, o parque ofe-
rece suporte especializado às startups ali
Considerações finais
localizadas, um ambiente vibrante e opor-
O sistema de inovação do Reino Unido tunidades de colaboração entre empresas,
conta com diversas instituições que atuam universidades da região e governo.
na criação e compartilhamento de conheci-
De acordo com o modelo de refe-
mento e outras que oferecem boas condi-
rência utilizado neste estudo, Manchester
ções e apoio às atividades de inovação. No
pode ser caracterizada como um Ecossis-
centro desse sistema encontra-se o Depar-
tema de Alto Impacto. Como foi possível ver
tamento de Negócios, Energia e Estratégia
anteriormente, o país possui fortes institui-
Industrial (BEIS), responsável pela relação
ções que atuam no sistema de pesquisa e
do setor de Ciência e Tecnologia (C&T) com
inovação, formando parte das instituições
o setor produtivo britânico.
alicerce que sustentam o ecossistema em-
A presença de um Chief Scientific Ad- preendedor. Na cidade de Manchester
viser na maioria dos ministérios do governo percebe-se um grande protagonismo das
britânico mostra como C&T estão inseridos universidades da região, que além de pro-
em todos os âmbitos da atividade gover- verem talentos também atuam fortemente
namental. Incentivos e créditos fiscais, prê- na promoção do empreendedorismo (com
mios e competições para atividades em- seus parques tecnológicos, incubadoras,

75 75
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

aceleradoras, coworkings e outros meca- naturais limitados. Embora possua reser-


nismos, com destaque para aqueles loca- vas de gás natural, a substancial vantagem
lizados o Corridor Manchester) e no apoio competitiva da economia israelense baseia-
aos negócios da região. Além do apoio -se em outro fator de produção: o capital
dos mecanismos e áreas de inovação, as humano. Hoje, Israel tem a maior densida-
startups podem contar com diversas opor- de de engenheiros do mundo e, atualmen-
tunidades de capital privado e apoio go- te, sua matriz econômica se baseia em um
vernamental. dinâmico setor de serviços, aliado a uma
indústria de elevado valor agregado e a um
3.3 HAIFA setor primário com técnicas de cultivo en-
tre as mais intensivas do planeta. Mas isso
nem sempre foi assim (BERENGUER; SAN-
3.3.1 POLÍTICAS DE ISRAEL
TOS, 2013; BENNER et al., 2016).
NAS ÁREAS DE INOVAÇÃO E
STARTUPS Há cerca de cinco décadas, a econo-
mia israelense era essencialmente agrária,
Israel é reconhecido como um caso com uma indústria de baixo valor agregado
de êxito em termos de inovação tecnológi- (BERENGUER; SANTOS, 2013). Nos anos
ca. Esta teve um impacto notável no desen- 1960-70, a economia israelense não estava
volvimento da economia nacional e nos ín- fortemente integrada às cadeias globais de
dices de bem-estar da população (IDH em valor e tinha uma estrutura industrial obso-
2018 foi de 0,903 – 22ª posição). Em termos leta (BENNER et al., 2016). Desde então,
de empreendedorismo, o Global Entrepre- quatro fatores principais levaram o país a
neurship Monitor destaca seis principais fa- um desenvolvimento dinâmico, fazendo-o
tores que propiciam o empreendedorismo migrar para um modelo econômico de alto
em Israel: (i) excelente infraestrutura física e valor agregado.
digital; (ii) alto nível de investimento no ensi-
no primário e secundário; (iii) universidades 1. Recursos naturais: a própria falta
e escolas de engenharia de classe mundial de recursos naturais no país cons-
(world class); (iv) alto nível de aspirações titui-se como fator de estímulo à
empreendedoras; (v) redes sociais fortes inovação. A escassez de recursos
em combinação com (vi) uma cultura que minerais e de água potável no solo
valoriza o empreendedorismo (BENNER et e subsolo de seu território têm ser-
al., 2016). vido como elementos catalisadores
na busca de uma matriz energética
Israel é um país pequeno, menor que confiável e na adoção de uma agri-
o Estado de Sergipe, árido e com recursos cultura e pecuária apoiadas em so-

76 76
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

luções tecnológicas de ponta (BE- fundação, algumas delas anteriores


RENGUER; SANTOS, 2013). à criação do Estado, como será
2. Questão imigratória: a questão imi- mostrado adiante.
gratória foi também decisiva no fa- 4. Condições geopolíticas: as condi-
vorecimento da inovação em Israel. ções geopolíticas do país levaram
Após o colapso da União Soviética, a altos investimentos nas áreas de
nos princípios da década de 1990, defesa, que se reverteram em es-
houve uma grande onda de imigra- tímulo à inovação tecnológica. O
ção e o Estado de Israel acolheu programa “Lavi” para desenvolver
cerca de um milhão de imigrantes, um caça a jato de primeira classe
sobretudo russos e ucranianos com levou a uma educação intensiva e
raízes judaicas. Esse processo for- ao treinamento de muitos cientistas,
neceu à indústria de alta tecnolo- engenheiros e técnicos altamente
gia israelense em desenvolvimento qualificados. No final desse progra-
uma onda de trabalhadores em sua ma, bem como de outras iniciativas
maioria bem-educados, qualifica- semelhantes na década de 1980,
dos e altamente motivados a ajudar uma grande força de trabalho alta-
a revitalizar a economia nacional, mente qualificada estava disponí-
iniciando novos negócios ou usan- vel, impulsionando fortemente o sur-
do seus conhecimentos de outras gimento subsequente de indústrias
maneiras (BERENGUER; SANTOS, de alta tecnologia (BERENGUER;
2013; BENNER et al., 2016). SANTOS, 2013; BENNER et al.,
3. Acesso ao ensino superior: ou- 2016). A persistência dessas condi-
tro fator importante no fomento ao ções estimulou ao aperfeiçoamento
espírito inovador é o elevado nível da prática sistemática da tecnolo-
de acesso ao ensino superior. Is- gia dual, ou seja, o desenvolvimen-
rael apresenta os maiores índices to tecnológico com dois alvos con-
de cidadãos com nível universitá- comitantes – o uso em defesa e as
rio entre as nações da OCDE, gra- aplicações civis. Um caso exemplar
ças a programas de financiamento é o das tecnologias voltadas à se-
acadêmico, bolsas de estudos e gurança cibernética.
empréstimos estudantis (BEREN-
GUER; SANTOS, 2013). Merece A partir dos quatro fatores descritos
menção adicional o senso de mis- anteriormente, percebe-se que o Estado
são nacional que as oito universi- exerceu um papel crítico no aproveitamen-
dades israelenses têm desde a sua to desses fatores, sabendo percebê-los e
organizá-los em prol da transição econômi-

77 77
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

ca do país por meio da adoção de medi- dou a trajetória da economia israelense, [...]
das tempestivas e eficazes (BERENGUER; “levantado um dos pilares de Israel – ou o
SANTOS, 2013). ‘toque final’ para que sua economia ingres-
sasse no século 21’ (VITURINO, 2011). Em
Em 1984, foi criada a Lei de Encora- 1993 o governo israelense decidiu assumir
jamento da Pesquisa e Desenvolvimento um papel ativo na atração de capital es-
Industrial (Encouragement of Industrial Re- trangeiro para as empresas nascentes em
search and Development) que deu um forte Israel. O governo lançou então o programa
impulso à canalização de recursos em P&D. Yozma e investiu US$ 100 milhões em em-
Essa lei propiciou o arcabouço institucional presas de tecnologia. A ideia por trás dessa
necessário para a execução da política go- injeção de recursos inicial era que os inves-
vernamental de apoio à P&D com o forta- tidores (tanto locais como estrangeiros) se
lecimento do papel de estímulo à inovação sentissem mais seguros com essa partici-
do então Escritório do Cientista-Chefe (Offi- pação direta do Estado (assumindo parte
ce of the Chief Scientist – OCS), vinculado dos riscos também) e, assim, fossem aos
ao Ministério da Indústria, Comércio e Tra- poucos começando a investir nas empre-
balho (BERENGUER; SANTOS, 2013). sas israelenses (VITURINO, 2011).
Inicialmente, o OCS começou com Na prática, o Yozma oferecia incen-
um professor universitário que ia ao escri- tivos fiscais significativos e combinava
tório apenas duas vezes por semana, tendo compromissos de investimento com inves-
como objetivo simplificar o fornecimento de tidores estrangeiros de capital de risco.
capital de pesquisa e desenvolvimento em Embora os primeiros fundos de capital de
Israel. Ao longo dos anos e com os primei- risco tenham sido estabelecidos nos anos
ros resultados visíveis, o OCS recebeu seu 80, foi a iniciativa Yozma que realmente es-
primeiro diretor em tempo integral em 1974 timulou o crescimento do cenário de capital
e, desde então, ampliou continuamente sua de risco em Israel. Entre 1991 e 2000, os
importância dentro da estrutura político-e- investimentos anuais em capital de risco
conômica do País. O sistema nacional de de Israel aumentaram de US$ 58 milhões
inovação israelense evoluiu fortemente em para US$ 3,3 bilhões12. Em 2018, as star-
torno do papel central de formulação de tups de alta tecnologia (high-tech) de Israel
políticas do OCS (BENNER et al., 2016). receberam um total de US$ 6,47 bilhões em
investimento13 Em 2016, o OCS foi trans-
Um dos principais feitos do OCS na
década de 1990, o programa Yozma (que
significa “iniciativa” em hebraico) liderado 12 https://www.clearviewp.com/history-of-ventu-
re-capital-in-israel/
pelo então cientista-chefe Yigal Erlich, mu-
13 https://www.forbes.com/sites/gilpres-

78 78
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

formado em Israel Innovation Authority (IIA), inovação em Israel e, além disso, monitora
ou Agência de Inovação de Israel. A IIA e analisa as mudanças dinâmicas que ocor-
é o principal ator no sistema de inovação rem nos ambientes de inovação em Israel
daquele país, sendo responsável pelo pla- e no exterior. A IIA estabelece cooperação
nejamento e pela execução da política de com agências equivalentes para promover
inovação. Trata-se de uma entidade públi- a inovação tecnológica na indústria e eco-
ca independente e imparcial, que opera em nomia de Israel (IIA, 2018).
benefício do ecossistema de inovação is-
raelense e da economia nacional como um A área de Ciências da Vida (Life Scien-
todo. Seu papel é nutrir e desenvolver os ces) é o setor que recebe a maior parcela
recursos de inovação israelenses, criando de recursos da IIA pelo sexto ano conse-
e fortalecendo a infraestrutura e o arcabou- cutivo. Embora haja um pequeno declínio
ço necessários para apoiar toda a indústria no apoio aos campos clássicos das Ciên-
do conhecimento (IATI, 2019; IIA, 2018). cias da Vida, há um aumento nos campos
multidisciplinares (outros - other) que in-
A IIA assessora o governo e os Comi- cluem tecnologias da saúde (healthtech)
tês do Parlamento (Knesset) em relação à (IATI, 2019). O gráfico a seguir apresenta a
distribuição de recursos da IIA por setores
s/2019/01/14/2018-was-a-record-breaking-year-for-is- de 2012 a 2018.
raeli-startup-funding-whats-next/amp/

Figura 8. Distribuição dos recursos do IIA (2012-2018)

Fonte: IATI (2019)

79 79
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

O fortalecimento do ecossistema de preendedorismo internacional (IIA, 2018;


inovação é a missão da Agência de Ino- IIA, 2019). Os principais programas de in-
vação de Israel, que busca desenvolver centivo da divisão são:
e apoiar a inovação tecnológica em Is-
rael por meio de vários programas. A IIA Ideation (Tnufa) Incentive Program.
oferece uma variedade de ferramentas O programa é projetado para empreende-
práticas e plataformas de financiamento dores iniciantes para ajudá-los a desen-
destinadas a atender às necessidades di- volver e validar conceitos tecnológicos
nâmicas e variáveis dos ecossistemas de inovadores.
inovação locais e internacionais. Com co-
Innovation Labs Program. Incenti-
nhecimento e compreensão dos desafios
va a inovação aberta e oferece aos em-
únicos enfrentados pelas empresas e em-
preendedores a oportunidade de acessar
preendedores israelenses, tais ferramen-
uma infraestrutura tecnológica exclusiva
tas e programas baseiam-se no estágio
e expertise de indústria para obter provas
específico de desenvolvimento e nas ne-
de conceito (proof of concept). O suporte
cessidades de cada empresa (IIA, 2018).
é fornecido por meio de laboratórios de
A seguir, trataremos brevemente so- inovação, abrangendo vários setores e
bre duas das divisões do IIA e seus pro- operados pelas empresas líderes.
gramas associados, a Startup Division e a
Incubators Incentive Program / Te-
Growth Division.
chnological Incubators Program. O prin-
Startup Division cipal objetivo do programa é transformar
ideias tecnológicas inovadoras desde o
A divisão de startups (Startup Divi- estágio inicial de P&D até a criação de
sion) oferece ferramentas exclusivas para startups viáveis e ajudar as empresas a
apoiar os primeiros estágios de desenvol- conseguirem financiamento. O programa
vimento de iniciativas tecnológicas. Essas de incubadoras, lançado inicialmente em
ferramentas auxiliam os empreendedores 1991, posicionou-se como o principal pro-
e as empresas iniciantes no desenvolvi- motor de startups em Israel, apoiando de
mento de seus conceitos tecnológicos 60 a 70 novas startups a cada ano. As in-
inovadores nas etapas de pre-seed ou nas cubadoras são selecionadas por meio de
etapas iniciais de P&D, a fim de alcançar processos competitivos por um período
um marco significativo de financiamento de licença de oito anos e estão espalha-
(levantar capital) e avançar nas vendas. das em todo o país (IATI, 2019; IIA, 2018).
A Divisão, portanto, fortalece a posição Os dados mais recentes (2019) apontam
de Israel como um vibrante centro de em- a existência de 20 incubadoras tecnoló-

80 80
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

gicas e biotecnológicas, todas privadas bricação avançada, transporte,


e gerenciadas por grupos experientes, construção, tecnologia de alimen-
como fundos de capital de risco, corpora- tos e materiais avançados.
ções multinacionais e investidores priva-
dos. A maioria das empresas incubadas, Growth Division
segundo dados de 2018, se concentra-
A Divisão de Crescimento opera uma
ram em Ciências da Vida (53%) e Tecno-
ampla gama de programas de incentivo
logia da Informação/Software (25%) (IATI,
que promovem a inovação tecnológica
2019).
de empresas maduras e em crescimento.
Early Stage Incentive Program. Esta divisão contribui para a promoção e
Esse programa é projetado para startups preservação da competitividade e lideran-
que buscam desenvolver e promover um ça tecnológica das empresas, bem como
projeto tecnológico inovador, além de pe- o aumento de suas taxas de crescimento
netrar no mercado por meio da captação e potencial (IIA, 2018). Os principais pro-
de investimentos do setor privado. O pro- gramas de incentive dessa divisão são:
grama de incentivo oferece três subpro-
R&D Fund – Support of R&D and
gramas: padrão, minorias e ultra ortodo-
Encouragement of Technological Inno-
xos.
vation. Este é o principal programa de in-
Em 2018, a Divisão de Startups centivo projetado para o apoio industrial
apresentou os seguintes destaques (IIA, de P&D para o desenvolvimento de produ-
2019): tos competitivos e processos inovadores.
O Fundo de P&D, que oferece os maiores
• 213 startups receberam supor- incentivos financeiros para atividades de
te total de aproximadamente 400 P&D em nome do governo israelense, for-
milhões de NIS (Novo Shekel Is- nece às empresas comerciais em todas
raelense, valor equivalente a R$ as áreas o suporte necessário para os
440 milhões); processos de desenvolvimento de novos
• O financiamento (grant) médio produtos ou para a atualização da tecno-
concedido a startups foi de 1,9 logia existente. O apoio é oferecido a to-
milhões de NIS; das as empresas de Israel, em todos os
• 73 empreendedores receberam setores e em todas as etapas de P&D (IIA,
apoio como parte do Programa 2018).
Tnufa;
• 5 laboratórios de inovação come- Generic R&D Incentive Program for
çaram a operar nas áreas de fa- Large Companies. Este programa de in-
centivo permite que as grandes empresas

81 81
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

se concentrem na criação de novos co- • 60 empresas receberam 70 mi-


nhecimentos e infraestrutura tecnológica lhões de NIS para conduzir pilo-
a longo prazo, utilizados para o desenvol- tos de tecnologias inovadoras em
vimento ou produção de futuros produtos uma série de locais de teste em
inovadores (IIA, 2018). Israel, com a cooperação de dife-
rentes ministérios do governo;
Incentive Programs for Innovation • 30 milhões de NIS foram investidos
with Government Entities. A colaboração no estabelecimento de centros de
entre a IIA e os vários ministérios gover- P&D de empresas multinacionais
namentais permite concentrar esforços nos campos de dispositivos médi-
do governo em campos selecionados, cos de saúde digital.
incluindo: apoio financeiro para iniciati-
vas de alto risco, apoio suplementar de
3.3.2 SOBRE HAIFA
entidades reguladoras com os requisitos
regulamentares para testes-piloto, acesso Haifa está situada em uma ampla
a instalações e salas de teste controladas baía natural no noroeste de Israel, entre o
pelo governo e instalações, criação de Monte Carmelo e o Mar Mediterrâneo e a
influência de mercado a partir da aplica- menos de 50 quilômetros da fronteira com
ção tecnológica em níveis adicionais do o Líbano. É a terceira maior cidade de Is-
ecossistema de inovação local impacto rael (depois de Jerusalém e Tel Aviv), com
significativo no crescimento das empre- cerca de 280 mil habitantes na cidade e
sas israelenses e a criação de influência mais de 1 milhão na área metropolitana.
de mercado da aplicação tecnológica em A cidade está se tornando um novo polo
níveis adicionais do ecossistema local de científico-tecnológico global, onde nume-
inovação (IIA, 2018). rosos inovadores apostam para desenvol-
ver seus empreendimentos com ajuda de
Em 2018, a Divisão de Crescimento
entes privados e estatais, buscando se
apresentou os seguintes destaques (IIA,
tornarem novos negócios de sucesso (IN-
2019):
GRASSIA, 2018).
• 177 empresas receberam finan-
A origem da cidade vem de antes da
ciamento (grant) total de aproxi-
fundação do Estado de Israel: hebreus,
madamente 430 milhões de NIS
persas, egípcios, romanos, bizantinos,
do Fundo de P&D;
árabes, cruzados e otomanos viajaram por
• 22 grandes empresas receberam
suas ruas. Hoje Haifa é considerada pelos
apoio total de 85 milhões de NIS
israelenses como um exemplo de coexis-
no Generic R&D Program;
tência e tolerância, dado que na cidade

82 82
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

judeus, muçulmanos e cristãos convivem, exclusivo para tratamento de traumas, on-


entre quase dez religiões, de forma pa- cologia, neurocirurgia e imagens molecu-
cífica e harmoniosa (INGRASSIA, 2018). lares no norte de Israel.
Haifa possui fortes clusters industriais
(em especial nas áreas de petroquímica, Bnai Zion Medical Center (http://
informática, eletrônica, aeroespacial e www.b-zion.org.il/default_e.aspx): hos-
defesa e saúde), assim como respeitadas pital municipal que oferece assistência
instituições acadêmicas e voltadas para a médica, educação, pesquisa e outros
inovação. Merecem destaque o Technion serviços, e colabora estreitamente com o
e o pioneiro parque tecnológico MATAM, Instituto da Família Rappaport para Pes-
que serão descritos adiante. Além disso quisa em Ciências Médicas e com o Te-
na cidade abriga o maior porto de Israel, chnion.
que é uma área de acesso atrativa graças
Technion – Israel Institute of Te-
às conexões rodoviárias/ferroviárias con-
chnology (https://www.technion.ac.il/en/
venientes (BENNER et al., 2016).
home-2/): universidade de pesquisa pú-
blica de renome mundial. É a mais antiga
3.3.2.1 MECANISMOS DE universidade do país, tendo sido conce-
APOIO A EMPREENDIMENTOS bida em 1912 com a missão de formar
INOVADORES E AGENTES engenheiros para o futuro Estado de Is-
DE EDUCAÇÃO E PESQUISA rael, que então era apenas um sonho.
IMPORTANTES NO A motivação dessa iniciativa, aparente-
mente prematura (o Estado seria criado
ECOSSISTEMA DE HAIFA
apenas em 1948), era a necessidade de
Rambam Health Care Campus (ht- contornar a prática comum nas univer-
tps://www.rambam.org.il/en/): grande sidades europeias e de outros países à
complexo hospitalar universitário, que época de estabelecimento de limites ín-
desempenha importante papel no setor fimos para estudantes judeus, denomina-
de Ciências da Vida em Haifa, juntamen- da numerus clausus. O Technion oferece
te com a Faculdade de Medicina Ruth e cursos em várias disciplinas, incluindo
Bruce Rappaport do Technion, localizada ciência, engenharia e áreas afins, como
próxima à área de Rambam. É um cen- arquitetura, medicina, gestão industrial e
tro de inovação médica e promove cola- educação. Cerca de 75% dos engenhei-
borações entre cientistas do Rambam, a ros e engenheiras israelenses estudaram
Faculdade de Medicina do Technion, a no Technion. Essa universidade é respon-
Universidade de Haifa e empresas do se- sável pela criação do setor aeroespacial
tor biomédico. O Rambam é o provedor israelense e pela transformação de Israel

83 83
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

em nação de tecnologia avançada (hi-te- empreendedores baseados em Haifa.


ch), particularmente nos campos da infor- Os parceiros da IN-VENT incluem a Biz-
mática e eletrônica. A experiência de pro- TEC do Technion, a HEC e empresas. A
pulsor do desenvolvimento de Haifa levou IN-VENT oferece serviços de networking
o Technion a ser escolhido como parceiro entre empreendedores e com outros pro-
essencial em dois empreendimentos fora fissionais e líderes industriais, além de
do país: (i) da Universidade Cornell dos espaço de trabalho como espaço aberto,
EUA, no projeto que venceu concorrência escritório e salas de reunião.
internacional da Prefeitura de Nova Iorque
para implantar um centro de pós-gradua- MATI (https://www.mati.co.il/en-
ção na Ilha Roosevelt, capaz de criar lide- glish/): centro de desenvolvimento de
ranças pioneiras para a era digital; e (ii) negócios (MATI) em Haifa. Ajuda no pro-
na criação do Guangdong Technion-Is- cesso de estabelecimento de pequenas e
rael Institute of Technology na China, junto médias empresas (PMEs) com serviços,
com a Li Ka Shing Foundation, o governo tais como assistência para planejamento
da Província de Guangdong e a Prefeitura de negócios, e estimula as PMEs existen-
Municipal de Shantou. tes a crescerem. MATI é uma organização
sem fins lucrativos criada em 1991 por
University of Haifa (https://www. vários agentes dos setores público e pri-
haifa.ac.il/index.php/en/): tal como a Te- vado, incluindo o município de Haifa e o
chnion, a Universidade de Haifa é uma Ministério da Indústria e Comércio.
universidade de pesquisa pública, mas
coloca foco particular nas ciências so- HaifaUp (https://www.haifaup.co.il/):
ciais, humanidades, direito e educação. o site HaifaUp foi concebido e construí-
Inclui vários institutos de pesquisa, como do com a cooperação de vários órgãos
o Evolution Institute, o Tourism Research municipais, empresariais e acadêmicos,
Center e o Center for the Study of National com o objetivo de promover e intensificar
Security. Sua característica é incrementar o campo do empreendedorismo em Hai-
o acesso da comunidade árabe-israelen- fa. Oferece informações sobre o ecossis-
se, que corresponde a 20% da população tema empreendedor em Haifa, tais como:
do País, aos estudos superiores de qua- centros de empreendedorismo, progra-
lidade. mas de suporte, espaços de trabalho,
comunidades e prestadores de serviços.
IN-VENT (http://www3.haifa.muni. HaifaUp tem um grupo no Facebook des-
il/inventuipub/): projeto organizado pelo tinado a fornecer aos empreendedores,
Departamento de Juventude da Prefeitu- startups, profissionais de tecnologia, es-
ra de Haifa oferece um coworking para tudantes e cientistas um lugar para levan-

84 84
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

tar ideias, perguntar, consultar e trocar indústria israelense de capital de risco.


opiniões sobre uma variedade de tópicos Investe em várias áreas de alta tecnolo-
relacionados à comunidade de empreen- gia, incluindo saúde, biotecnologia, tele-
dedorismo em Haifa. comunicações, semicondutores e softwa-
re. A Teuza busca tecnologias de ponta e
MindUp (http://www.mindup.co.il/): empreendedores ambiciosos que tenham
incubadora de saúde digital (digital uma chance real de se tornarem líderes
heath). Criada no início de 2016 e apoia- mundiais em seus campos, investindo em
da pelo IIA, a MindUp é uma joint venture todas as etapas, desde a semente até o
entre a Medtronic (empresa multinacional crescimento posterior.
de dispositivos médicos), a IBM, a Pitango
Venture Capital (líder em Israel) e o Ram-
3.3.3 HAIFA ECONOMIC
bam Medical Center. Seus investimentos
concentram-se nas áreas de big data, CORPORATION
análise preditiva, telemedicina, compu- A Haifa Economic Corporation (HEC)
tação em nuvem, sensores implantáveis é o principal agente no desenvolvimento
e vestíveis, diagnósticos avançados no econômico e de inovação da cidade de
ponto de atendimento, medicina persona- Haifa. A companhia é o braço de desen-
lizada, análise genômica e sistemas de TI volvimento da cidade, iniciando e desen-
hospitalares. volvendo projetos de grande escala e
Technion Drive (https://www.tech- criando âncoras econômicas, e comer-
niondrive.com/): programa de aceleração ciais, que servem como plataformas para
de nove meses para projetos de pré-se- a criação de emprego, comércio, cultura
mente e semente. O Technion Drive Acce- e atividades recreativas na cidade (HEC,
lerator aproveita o ecossistema exclusivo 2019b). Criada em 1972, portanto com
do Technion, seus recursos inovadores e mais de 40 anos de atuação, é uma en-
seu capital humano (pesquisadores, alu- tidade 100% pertencente ao Município
nos e ex-alunos). Oferece financiamento de Haifa. A HEC conta com um diretor
inicial, orientação de negócios, espaço geral e é supervisionada por um conse-
para escritórios, bem como acesso aos lho de administração (board of directors)
recursos, instalações de pesquisa, in- composto por 13 membros, incluindo re-
fraestrutura e equipamentos do Technion. presentantes do conselho da cidade (city
council), do município de Haifa e do Tech-
Teuza Venture Capital Fund (http:// nion (BENNER et al., 2016).
www.teuzafund.com/): fundada em 1992,
foi um dos primeiros fundos pioneiros na A HEC promove a economia regional
de Haifa por meio da implementação de

85 85
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

projetos de desenvolvimento econômico rias, cada uma delas especializada em


em larga escala. Concentra-se em áreas um campo específico, concentrando co-
como indústrias de alta tecnologia e bio- nhecimento e experiência em sua área de
tecnologia, energia renovável, turismo, atuação. A seguir trataremos dos princi-
recreação e esportes, e trabalha junto às pais empreendimentos gerenciados pelo
instituições municipais e governamentais. HEC com foco em empreendedorismo e
Um dos objetivos centrais da HEC é de- inovação.
senvolver a indústria de alta tecnologia
na cidade e estabelecer Haifa como um Parques Tecnológicos
dos principais centros de P&D interna-
Haifa Life Sciences Park (http://
cionalmente. Para isso, a HEC se engaja
www.haifalsp.com/)
no desenvolvimento de áreas industriais
(BENNER et al., 2016; HEC, 2019a). Com Iniciado, estabelecido e desenvolvi-
amplo conhecimento a experiência em do pela HEC como parque de biotecno-
reconhecer e iniciar oportunidades de logia, é um complexo exclusivo para em-
negócios, ao mesmo tempo em que esta- presas de P&D nas áreas de Ciências da
beleceu parcerias estratégicas de longo Vida. O Haifa Life Sciences Park é fruto
prazo com empresas públicas e privadas, de uma parceria da HEC com o MIVNE
a HEC apoia a comunidade empreen- Real Estate Group. É destinado a empre-
dedora da cidade e conduz atividades sas com uma clara afinidade nas áreas
extensas no ecossistema de Haifa, que de Ciências da Vida, iniciando e desen-
combina entidades acadêmicas, institui- volvendo soluções e plataformas tecnoló-
ções médicas, institutos de pesquisa e a gicas para avanços científicos. Empresas
indústria de alta tecnologia (HEC, 2019a; líderes, desde desenvolvedores de dis-
HEC, 2019f). positivos médicos e empresas de desen-
volvimento de serviços de saúde digital
A HEC é financeiramente estável e
(digital healthcare) até incubadoras tec-
está em um caminho de contínuo cres-
nológicas, estão localizadas no Haifa Life
cimento. A empresa continua a expandir
Sciences Park, colocando Haifa na van-
suas atividades como uma plataforma de
guarda da pesquisa e desenvolvimento
negócios líder, planejando e implemen-
de um amplo espectro de campos (HEC,
tando com sucesso novas iniciativas para
2019d).
impulsionar o desenvolvimento econômi-
co da cidade (HEC, 2019a). A administração do parque investe
muito na criação de oportunidades únicas
A HEC alcança seu sucesso operan-
para a indústria, promovendo a integração
do por meio de várias empresas subsidiá-
das indústrias de biotecnologia e equipa-

86 86
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

mentos médicos em Haifa, para permitir a Yam Property & Building Corp (50,1%). A
cooperação estratégica entre instituições subsidiária da MATAM opera duas subsi-
acadêmicas, centros médicos, institutos diárias adicionais: Shatam, a qual fornece
de pesquisa e entidades comerciais em a todos os residentes do parque servi-
Israel e no exterior (HEC, 2019d). ços de manutenção de propriedades; e o
Centro Internacional de Convenções, es-
MATAM tabelecido pela HEC, com teatros e salas
de conferências para convenções e ex-
O desenvolvimento de alta tecnolo-
posições (HEC, 2019e; MATAM, 2019a).
gia (high-tech) é um dos principais obje-
tivos da HEC, com a proposta de impul- A singularidade do parque é a gran-
sionar o avanço de Haifa como centro de de variedade de serviços disponibilizados
pesquisa e desenvolvimento de Israel e aos ocupantes, tais como: ar-condiciona-
sede de importantes empresas interna- do central, lanchonetes, day-care para
cionais de tecnologia. Em seu caminho crianças, uma clínica médica, facilidades
para cumprir sua visão de Haifa, a em- de transporte (estação de trem de Carmel
presa planejou e desenvolveu o MATAM Beach), correios, posto de gasolina, áreas
Business Park, nos arredores do sul da de estacionamento etc. Especial ênfase é
cidade. Parque tecnológico pioneiro de colocada nos sistemas de redundância
Israel, iniciou sua operação em 1972 (o de infraestrutura, como os dois transfor-
nome do parque corresponde à sigla, em madores instalados de modo a assegurar
hebraico, de Centro de Indústrias Científi- o fluxo contínuo em caso de falha elétrica
cas). Complexo de 270 mil m2 de espaço (MATAM, 2019b, 2019c).
construído e com mais de 10 mil pessoas
trabalhando em seu interior, seus edifícios O MATAM oferece também grama-
são alugados para cerca de 50 empresas dos verdes, praças, avenidas de árvores,
líderes na área de tecnologia (dados de vegetação exuberante e esculturas, que
2019), incluindo: Intel, Apple, Elbit Sys- contribuem para o panorama natural do
tems, Google, IBM, Microsoft, Yahoo, Phi- parque. As áreas de estar sombreadas
lips, Pluristem entre outras (HEC, 2019e; com bancos permitem que os trabalha-
MATAM, 2019a). dores relaxem e desfrutem da bela vista
do mar. O parque oferece ainda serviços
Conforme o modelo usual de parce- bancários, dois restaurantes, café, ser-
rias público-privadas em Israel, o parque viços para carros, salão de cabeleirei-
é administrado e desenvolvido pela MA- ro e uma agência de viagens (MATAM,
TAM Company, uma empresa de proprie- 2019b).
dade conjunta da HEC (49,9%) e da Gav

87 87
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

Outros empreendimentos do HEC uma plataforma que permite o estabele-


cimento de confiança mútua, comparti-
HiCenter lhamento de conhecimento e colabora-
ções entre os participantes no campo da
Outra iniciativa da HEC para pro-
saúde digital. A atividade funciona por
mover indústrias de alta tecnologia é o
meio da apresentação de vários atores,
HiCenter Acceleration Center, uma sub-
entendendo seus incentivos e necessi-
sidiária para administrar esse centro
dades e, em seguida, aproveitar esses
em parceria com o município de Haifa.
conhecimentos para conexões relevan-
Basicamente, o HiCenter Acceleration
tes em eventos, convenções, encontros
Center é uma incubadora tecnológica
e fóruns realizados para os membros da
cujo objetivo é auxiliar empreendedores
comunidade. A BeWell.Haifa apoia e ca-
e pequenas empresas no processo de
pacita empreendedores e startups que
desenvolvimento de tecnologia e protó-
levam ideias e produtos inovadores ao
tipos, bem como na comercialização de
mercado. A BeWell.Haifa tem como um
ideias no mercado. O centro foi apoiado
de seus objetivos, criar uma interface en-
por um financiamento de NIS 40 milhões
tre startups, HMOs e hospitais, a fim de
do governo israelense por intermédio do
promover a implementação de soluções
IIA. Os projetos precisam ser das áreas
tecnológicas no sistema de saúde, volta-
de TIC, Novas Mídias e Dispositivos Mé-
da a melhorias dos serviços de saúde de
dicos e, para receberem o apoio, devem
Israel (HEC, 2019f).
cumprir os critérios estabelecidos pelo
programa e passar por uma avaliação do Considerações finais
IIA e do comitê de admissões do HiCen-
ter. Os projetos apoiados podem receber Apesar de ser um país com escas-
um investimento de até NIS 1 milhão e, sos recursos naturais, Israel conseguiu
além disso, as empresas selecionadas superar essa limitação com investimen-
recebem um escritório sem aluguel no tos em capital humano (ensino, especial-
HiCenter e estão isentas de impostos mente em engenharias), inovação tec-
municipais (BENNER et al., 2016; HEC, nológica e empreendedorismo. Com o
2019f). sistema de inovação centrado na Israel
Innovation Authority (IIA), essa institui-
BeWell.Haifa ção busca desenvolver e apoiar a inova-
ção tecnológica e o empreendedorismo
A comunidade de inovação BeWell.
em Israel por meio de vários programas
Haifa é um projeto conjunto da HEC e
de apoio. A Startup Division do IIA, apoia
do Israel Innovation Institute (NPO). O
startups em diversos estágios, tais como
BeWell.Haifa se concentra e desenvolve

88 88
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

ideação, prova de conceito, penetração (petroquímica, informática, eletrônica, ae-


no mercado e também oferece um pro- roespacial e defesa e digital health) para
grama de incubação. o qual convergem uma boa parte das ini-
ciativas de empreendedorismo.
A cidade de Haifa escolhida para
análise é hoje a terceira maior cidade
3.4 TORONTO
de Israel, atrás apenas de Jerusalém
e Tel Aviv, e está se tornando um novo
polo científico-tecnológico global. O 3.4.1 POLÍTICAS E SISTEMA
Haifa Economic Corporation, ambiente DE INOVAÇÃO NO CANADÁ
analisado, exerce um papel chave no
Berço de empresas como a
ecossistema de empreendedorismo e
BlackBerry, Pfizer, Merck, criadores da
inovação da cidade, por meio de seus
insulina ao Corel Draw, o Canadá é um
parques tecnológicos e outras iniciativas
país que promove e colhe os frutos da
que propiciam a formação de uma forte
inovação.
comunidade empreendedora.
Comprometido com o conceito de
A cidade de Haifa hoje pode ser con-
que a inovação é um pilar essencial para
siderada um Ecossistema de Alto Impac-
o desenvolvimento econômico, prospe-
to. Na base, em suas instituições alicer-
ridade e competitividade das nações, o
ce, vimos anteriormente uma forte política
governo canadense construiu um plano14
governamental de estímulo à inovação e
para a construção de um Canadá mais
ao empreendedorismo, apoiada nas ativi-
inovador e o adotou como estratégia do
dades da IIA. Na cidade de Haifa vemos
país para a construção de uma cultura
um forte protagonismo do governo local e
de inovação e marca nacional como um
das universidades da região na promoção
dos países mais inovadores e competi-
e no apoio a esse ecossistema. Além dis-
tivos do mundo. Para tanto, em 2016,
so, a cidade possui: talentos locais (em
por meio de uma consulta pública, mais
especial das universidades da região) e
de 100 mil canadenses compartilharam
internacionais; mecanismos e áreas de
ideias para tornar o país mais inovador.
inovação, com destaque para o HEC, que
Por meio de plataformas como o twit-
promove na região diversas oportunida-
ter, reddit e quora, foram mais de 1.500
des de apoio a empreendedores e star-
ideias conduzidas por ministros de Esta-
tups, bem como uma cultura de empreen-
do e outras lideranças e referências no
dedorismo na região; oportunidades de
obtenção de recursos, seja do governo
ou do setor privado; focos específicos 14 https://www.ic.gc.ca/eic/site/062.nsf/en-
g/h_00051.html

89 89
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

país que também realizaram 28 eventos médio e grande portes, de alto


presenciais para discutir as proposições impacto, aumentando a próxima
e ouvir a população, em especial repre- geração de empresas globais
sentantes do setor privado, acadêmico, criadoras de empregos.
organizações sem fins lucrativos e líde-
res indígenas e empresas sociais. 5. Competir em um mundo digital

A partir dessa construção, foram es- Aproveitar a economia digital em


truturados seis temas chave: todos os setores – infraestrutura,
banda larga, TICs, big data e da-
1. Sociedade empreendedora e dos abertos – para incentivar a
criativa adoção digital.

Promover uma cultura de inovação e 6. Facilidade de fazer negócio


empreendedorismo; desenvolver
habilidades para abraçar mudan- Aprimorar e alinhar a legislação e os
ças globais, alavancar a diversi- padrões ágeis do mercado, per-
dade do Canadá e atrair talentos mitindo o acesso ao mercado para
globais. que as empresas canadenses
possam prosperar globalmente.
2. Excelência em ciência global
Da mesma forma, foram estrutura-
Apoiar a excelência em pesquisa de das três áreas prioritárias, quais sejam:
classe mundial, desde a ciência pessoas, tecnologias e empresas. Quan-
básica até a aplicada. to a área pessoas, o objetivo consiste em
identificar formas de desenvolver as habi-
3. Parcerias e clusters que são lí- lidades e competências que a economia
deres globais global e digital exige. Suporte a área de
STEM (Science, Technology, Engineering
Super clusters para inovação em-
and Mathematics), e habilidades digitais,
presarial alcançar o mundo, da
além de diversidade e atração de talentos
geração de ideias à criação de
globais são pontos destacados nesta área.
valor.
Quanto a tecnologias, o objetivo consiste
4. Crescer empresas e acelerar o em identificar formas para utilizar das tec-
crescimento limpo nologias emergentes a fim de criar novos
empregos e indústrias, além de revigorar
Desenvolver startups e ampliar em- setores já estabelecidos. Para tanto, de-
presas inovadoras de pequeno, senvolver redes e clusters de inovação,

90 90
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

vincular instituições de pesquisa a opor- das pesquisas em conversão de produ-


tunidades, desenvolver tecnologias lim- tos, bem como o declínio de investimento
pas, adotar a digitalização e aproveitar as em ciência básica na última década, um
tecnologias digitais são pontos que emer- envelhecimento na infraestrutura cien-
giram das discussões. Quanto às empre- tífica do país, além de barreiras enfren-
sas, os objetivos consistem em identificar tadas na carreira científica feminina e a
como mais canadenses podem começar baixa taxa de colaboração internacional
e expandir empresas de sucesso e com- seja acadêmica ou industrial do Canadá
petitivas globalmente. Para tanto, acesso em relação a outros países, foram fatores
a capital, utilizar o governo como cliente, considerados e revistos a fim de realizar
simplificar os programas governamentais melhorias.
e facilitar as regulamentações são ações
para alcançar o desenvolvimento dessa A partir desse diagnóstico, há um
área prioritária. plano para criação de parcerias com a
finalidade de desenvolver novos ecos-
A fim de pragmatizar essa constru- sistemas de inovação para cobrir a la-
ção, no ano de 2016, a título de ilustrar cuna da ciência para a comercialização.
o comprometimento, foram direcionados A iniciativa de suplerclusters está inves-
US$ 2 bilhões na renovação e expansão tindo US$ 950 milhões (dados de 2019)
de infraestrutura em universidades, mais para a criação de cinco desses aglo-
de US$ 1 bilhão para apoiar o desenvol- merados por meio do incentivo ao P&D,
vimento de tecnologias limpas e US$ 800 acesso a pesquisas de ponta e talentos
milhões ao longo de quatro anos para altamente qualificados, cooperação de
fortalecer redes e clusters de inovação. grandes empresas com médias e pe-
O objetivo desses investimentos consiste quenas empresas inovadoras, atração
em dinamizar o setor privado. de investimentos e criação de centros
de vantagem competitiva global para in-
Um dos pilares de toda essa estra- dústrias avançadas. As novidades des-
tégia consiste na construção de ecossis- sa abordagem consistem em uma ênfase
temas de inovação por meio de ciência, acentuada em ciência, bem como uma
tecnologia e superclusters a fim de ce- abordagem experimental e o desenvolvi-
lebrar parcerias e fazer a ponte entre a mento de uma melhor aplicação de pro-
ideia e a comercialização de novos pro- priedade intelectual. A expectativa é que
dutos e processos. essa iniciativa de superclusters aumente
a economia do Canadá em US$ 50 bi-
A partir de um diagnóstico de que há
lhões nos próximos 10 anos e crie 50 mil
um distanciamento do desenvolvimento
empregos qualificados.

91 91
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

Figura 9. Iniciativa superclusters

Fonte: https://www.ic.gc.ca/eic/site/062.nsf/eng/h_00051.html

Outra ação consistente do governo para empreendedores de outros países


canadense para melhorar o desenvolvi- que desejam se estabelecer no Canadá.
mento de negócios do país é a simplifi-
cação e reorganização de programas. Por fim, ressalta o plano governa-
Tendo em vista que muitos programas mental que no início de 2019 já é possí-
governamentais são desconhecidos pe- vel constatar bons resultados emergindo:
los empreendedores, criou-se um portal em 2018, o mercado de capitais cana-
centrado no usuário em que há todas as dense quebrou recordes, aumento de in-
informações necessárias. A fim de atrair vestimentos em startups de tecnologia,
mais facilmente empreendedores de ou- continua sendo um dos países mais bem
tros países, foi criado o Programa de Vis- classificados do mundo em atração de ta-
tos Startup Empreendedor, no qual há a lentos15.
concessão de residência permanente
15 https://www.canadavisa.com/the-entrepre-

92 92
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

3.4.2 TORONTO taxa global de impostos do G718. Desde


2017, Toronto acrescentou mais empre-
Com uma população de 2,8 milhões gos em tecnologia do que a Bay Area,
de habitantes, Toronto é a quarta maior Washington DC, Cidade de Nova York, e
cidade da América do Norte16, sendo a Seattle combinados19.
capital financeira de negócios do Cana-
dá. O PIB da região de Toronto represen- Uma peculiaridade dessa cidade é
ta 18% do PIB do Canadá. É competitiva que 51% dos seus residentes nasceram
em vários setores, de tecnologia e ciên- fora do Canadá20, sendo a diversidade
cias da vida a energia verde; de moda e uma força dessa região, o que a torna
design a comida e bebida; da produção dinâmica, progressiva e receptiva para
cinematográfica e televisiva à música e as qualquer pessoa de qualquer lugar do
mídias digitais, impulsionando também, a mundo21.
partir dessa diversidade, sinergias inter-
Com quatro universidades públi-
setoriais, inovação de novos setores híbri-
cas e uma universidade privada, Toronto
dos como tecnologia médica, tecnologia
possui um sistema educacional terciário
verde e tecnologia de alimentos17.
consistente e robusto. A Universidade de
Os governos do Canadá, Ontário e OCAD, fundada em 1876, dedica-se à
da cidade de Toronto oferecem diversos educação em arte e design, e seus pro-
incentivos para o estabelecimento e cres- gramas e campos de pesquisa de mídia
cimento de empresas. A taxa combina- digital e design, sustentabilidade, saúde
da de imposto de renda para empresas e bem-estar, diversidade cultural e cul-
corresponde a 26,5%, aproximadamente turas indígenas. A Universidade Ryerson
13% abaixo da média dos EUA. Foram oferece 62 programas de bacharelado
eliminadas mais de 1.500 tarifas sobre e 55 programas de mestrado e doutora-
fabricação de insumos, máquinas e equi- do (dados de 2019), e sua aceleradora,
pamentoo. O Canadá foi o primeiro país DMZ, está classificada como uma das
do G20 a se tornar uma zona livre de tari- principais incubadoras34 universitárias
fas para os fabricantes e oferece a menor
18 https://www.toronto.ca/business-economy/
invest-in-toronto/competitive-city/
neur-start-up-visa-program.html#gs.i7292d 19 https://www.fastcompany.com/90357624/
toronto-doesnt-want-to-be-silicon-valley-its-building-
16 https://www.toronto.ca/business-economy/
-something-better
invest-in-toronto/competitive-city/torontos-competitive-
-advantages/ 20 National Household Survey (NHS), 2011
17 https://www.toronto.ca/business-economy/ 21 https://www.toronto.ca/business-economy/
invest-in-toronto/strong-economy/ invest-in-toronto/global-city/

93 93
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

da América do Norte. A Universidade de -Waterloo é um centro de inovação com a


Toronto, fundada em 1827, é a principal segunda maior densidade de startups do
instituição de ensino e pesquisa do Ca- mundo, atrás apenas do Vale do Silício. O
nadá. A Universidade de York é uma das relacionamento e a distância entre Toron-
principais instituições de ensino e pesqui- to e a região de Waterloo é semelhante a
sa interdisciplinar no Canadá, oferecendo outros centros de inovação globais, como
mais de 200 cursos de graduação e pós- São Francisco e Vale do Silício, Londres e
-graduação em seus dois campi em To- Cambridge, e Tel Aviv e Haifa24.
ronto. A Universidade de Northeastern é
uma universidade americana que possui
Toronto Discovery District and MaRS
um campus regional em Toronto e oferece
programas de mestrado em gerenciamen- Toronto emergiu como uma força global -
to de projetos, garantia de informações e e o MaRS está na vanguarda25.
segurança cibernética, além de assuntos
regulatórios para medicamentos, disposi- O cluster de ciências da vida e ciên-
tivos biológicos e médicos. Além das Uni- cias da saúde de Toronto atrai mais de
versidades, Toronto possui quatro facul- US$ 1 bilhão anualmente em pesquisa e
dades comunitárias: Centennial College, emprega cerca de 40.000 profissionais
George Brown College, Humber College altamente qualificados (dados de 2019).
e Seneca College22. No centro desse diversificado ecossiste-
ma está o Toronto Discovery District. Em
Os centros de ensino e pesquisa seu coração, está o Centro MaRS26.
com outras iniciativas privadas são o ber-
ço para os principais mecanismos de ge- Fundado no ano 2000, entrou em
ração de empreendimentos inovadores operação em 2005, com serviços de
em que alguns deles serão apresentados apoio a empreendimentos e programas
a seguir. O StartUpHere23 mapeou 53 ace- educacionais. O MaRS Discovery District
leradoras, 63 incubadoras, 29 pré-incuba- em Toronto é o maior centro de inovação
doras, 72 coworkings e 216 investidores urbana da América do Norte. Em 2010,
(dados de 2019), formando um ecossiste- lança o Investment Accelerator Fund e em
ma de alto impacto na cidade de Toronto. 2018 os empreendimentos apoiados pelo

O Corredor da Região de Toronto-


24 https://www.toronto.ca/business-economy/
invest-in-toronto/start-up-here/
22 https://www.toronto.ca/business-economy/
industry-sector-support/education/ 25 http://placematters.marsdd.com/
23 https://startupheretoronto.com/why-here/ 26 https://www.toronto.ca/business-economy/
why-toronto/ invest-in-toronto/innovate-here/

94 94
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

MaRS aumentam cumulativamente mais apoiados pelo MaRS desde 2008;


de $ 4,83 bilhões em capital. Atuando em • US$ 4,83 bilhões de capital acu-
quatro grandes áreas: saúde (biotecnolo- mulado dos empreendimentos
gia, dispositivos médicos, saúde digital, apoiados pelo MaRS desde 2008;
saúde e bem-estar do consumidor), finte- • 17 milhões de vidas impactadas
ch (financiamento ao consumidor, finan- por programas do MaRS;
ças corporativas, comércio eletrônico), • 150 mil participantes em eventos;
cleantech (energia, fabricação avançada, • $ 112,4 milhões de capital sob
transporte, agritech, cidades inteligen- gestão;
tes), corporativo (soluções de business • $ 11.67 bilhões de contribuição do
intelligence, educação e treinamento, PIB pelos empreendimentos finan-
RH), o MaRS possui 1.500.000 m2 bem ciados pelo MaRS desde 2008;
no centro de Toronto27. • 188 investimentos pelos fundos fi-
liados ao MaRS;
A MaRS é uma referência global so- • 88% dos empreendimentos in-
bre a construção de clusters para ino- formam que o MaRS teve impac-
vação urbana. Constitui uma área que to positivo em seus negócios em
congrega universidades, centros de pes- 2017;
quisa, laboratórios, escritórios de trans- • +12.800 empregos criados por
ferência de tecnologia, fundos de capital empresas do MaRS em 2017.
de risco, hospitais, grandes empresas,
startups e organizações que apoiam o
desenvolvimento de negócios, dando to- Universidade de Toronto
dos os subsídios para os negócios pros-
Fundada em 1827, a Universidade
perarem. Além disso, proporciona desde
de Toronto (UT) é hoje a instituição de en-
programas educacionais até consultorias
sino e pesquisa líder no Canadá e uma
individuais, tendo apoiado mais de 1.200
das mais bem classificadas do mundo.
empresas de alto crescimento em Ontá-
Com 90.077 estudantes, US$ 1,1 bilhão
rio28. O relatório de impacto de 2018 exibe
de financiamento para pesquisa, 21.556
os seguintes resultados:
professores e funcionários e mais de 570
• US$ 3,16 bilhões de receita acu- mil alunos formados, estima-se que a
mulada dos empreendimentos contribuição para a economia canaden-
se seja de US$ 15,7 bilhões (dados de
27 https://www.marsdd.com/wp-content/up- 2019)29.
loads/2019/03/MaRS_Results_2017_2018.pdf
28 https://www.marsdd.com/wp-content/up-
loads/2019/03/MaRS_Impact_Report_2018.pdf 29 https://www.utoronto.ca/about-u-of-t

95 95
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

A comunidade de empreendedo-
rismo da Universidade de Toronto é o
principal motor do Canadá para startups
baseadas em pesquisa e líder global na
transformação de ideias em produtos e
serviços que impactam o mundo. Nos
últimos dez anos, mais de 500 startups Creative Destruction Lab (CDL)
baseadas em pesquisa foram fundadas
Foco: empresas de tecnologia prontas para
na UT, superando todas as outras univer-
entrar em mercado, produtos/ serviços esca-
sidades canadenses e gerando mais de láveis, criação de valor patrimonial.
US $ 1 bilhão em investimentos. Em 2018,
O CDL é projetado para fornecer aos em-
a UBI Global classificou o empreendedo-
preendimentos baseados em ciência a ava-
rismo da Universidade de Toronto como liação de negócios que precisam para esca-
uma das cinco melhores incubadoras ge- lar. Une a orientação baseada em objetivos
renciadas por universidades do mundo26. de empreendedores e investidores bem-su-
cedidos com acesso aos recursos da princi-
A comunidade de empreendedoris- pal escola de negócios do Canadá. Os con-
mo da Universidade de Toronto oferece sultores definem metas de desenvolvimento
orientação, conhecimento, recursos e co- específicas para cada negócio, oferecen-
nexões estratégicas para todas as etapas do consultoria e, às vezes, investimentos.
da inovação, a fim de proporcionar aos
empreendedores as habilidades e os re-
cursos necessários para iniciar, construir e
dimensionar efetivamente seus negócios30.

A Universidade de Toronto dispõe


de diversas incubadoras e aceleradoras
Department of Computer Science Innova-
para apoiar os empreendedores em seus
tion Lab (DCSIL)
mais diversos estágios e indústrias:
Foco: aprendizado de máquina, inteligência
artificial, ciência de dados, visão computa-
cional, segurança, realidade aumentada e
realidade virtual.

O DCS Innovation Lab é uma aceleradora e


incubadora de inicialização interdisciplinar.
Como uma aceleradora, trabalha com pro-
fessores, bolsistas de pós-doutorado e estu-
30 http://entrepreneurs.utoronto.ca/about/

96 96
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

dantes de pós-graduação para desenvolver


e comercializar empreendimentos emergen-
tes das equipes de pesquisa aplicada da
UT. Como uma incubadora, oferece cursos
de empreendedorismo experiencial no mun-
do real que ensinam estudantes de todas
as áreas a aplicar sua expertise no assunto
junto com metodologias de startup enxuta no ICUBE UTM
desenvolvimento de clientes e produtos para
Foco: desenvolvimento e comercialização de
criar protótipos vendáveis para validação no
negócios em estágio inicial.
mercado.
O ICUBE UTM oferece serviços de desenvol-
vimento e comercialização de negócios em
estágio inicial como parte da UT Mississauga
e do Institute for Management & Innovation.
Alguns dos serviços de aceleração e desen-
volvimento de negócios incluem: um espaço
colaborativo onde estudantes inovadores e
Health Innovation Hub (H2i) parceiros da comunidade podem se engajar,
sessões personalizadas de palestrantes, um
Foco: soluções criativas para problemas do currículo empreendedor e um programa de
setor de saúde. orientação.
O Health Innovation Hub oferece facilitação
para empreendedores em estágio inicial com
translação e comercialização de ideias em
projetos de solução de problemas em saúde.
Trabalha para alinhar, conectar e alavancar
uma massa significativa de especialistas em
pesquisa em ciências da vida, instalações,
programas e fundos da Universidade e seus Impact Centre
parceiros para iniciativas de inovação em
Foco: tecnologias físicas.
saúde eficazes e eficientes. A H2i oferece
oportunidades educacionais e de orientação O Impact Centre é um grupo diversificado de
abertas e flexíveis e serve como canal para pesquisadores e empresários dedicados ao
inovação em toda a Rede Acadêmica de uso da ciência para beneficiar a sociedade.
Ciências da Saúde de Toronto. Por meio de programas de estágio de apren-
dizado experimental e de startup, constrói-se
habilidades e atitudes empreendedoras em
centenas de alunos por ano. Trabalha-se com

97 97
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

estudantes e pós-doutorandos em ciência e Negócios, pesquisa e inovação são a base da


engenharia para criar e dimensionar startups aceleradora e plataforma vinculadas ao cam-
baseadas em tecnologia de impacto. pus da BRIDGE, UTSC Management, para o
aprendizado integrado ao trabalho. Alunos
de todas as disciplinas recebem apoio e trei-
namento de uma renomada faculdade de
negócios por meio do New Venture Program
(NVP). Parcerias setoriais e comunitárias são
desenvolvidas para fornecer experiências es-
tudantis e resolver problemas do mundo real.
Start@UTIAS A BRIDGE é onde a melhor teoria, aplicações
criativas e mentes aspirantes se cruzam.
Focus: estudantes de pós-graduação e em-
preendedores do Instituto de Estudos Ae-
roespaciais.

O Start@UTIAS incentiva os alunos de pós-


-graduação da UTIAS a utilizar o conheci-
mento e as habilidades que adquiriram por
meio de sua educação para criar startups.
Oferece as ferramentas necessárias para The Entrepreneurship Hatchery
criar startups de sucesso, incluindo oficinas
jurídicas e contábeis, oportunidades de ne- Foco: promover a mentalidade empreende-
tworking, financiamento de capital e orienta- dora nos alunos, proporcionar um processo
ção fornecidas pelo ex-aluno e empresário para criar startups, em muitas indústrias/tec-
Francis Shen. nologias (tecnologia limpa, fintech, trabalho
e aprendizagem, saúde e bem-estar e em-
preendedorismo social).

O Hatchery Entrepreneurship oferece qua-


tro processos para construir start-ups: NEST,
fomentando a criação de startups e a men-
talidade empreendedora dos estudantes da
UT, o LaunchLab, possibilitando startups vol-
The BRIDGE tadas para a pesquisa de graduação e pós-
-graduação; Start@UTIAS, startup lideradas
Foco: novo planejamento e criação de risco por estudantes do Instituto de Estudos Ae-
baseado nos mais recentes princípios aca- roespaciais da Universidade de Toronto; So-
dêmicos de negócios, pesquisa e inovação. cial, possibilitando startups de impacto social
(sem fins lucrativos, desafios críticos sociais).

98 98
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

sidade de Toronto e pela MaRS Innovation.


A UTEST oferece investimentos de até US$
100 mil por empresa, além de educação em-
preendedora intensiva, suporte de consul-
toria e espaço de incubação. Fonte: http://
entrepreneurs.utoronto.ca/accelerators/]

Universidade Ryerson
The Hub at UTSC
A Universidade Ryerson oferece 62
Foco: inovação em estágio inicial e empreen- programas de bacharelado e 55 progra-
dedorismo. mas de mestrado e doutorado, tendo mais
O Hub na UTSC é uma incubadora de ino- de 45 mil estudantes (dados de 2019).
vação e empreendedorismo em estágio ini- Dedica-se a atividades acadêmicas, de
cial que auxilia estudantes da UT e recém- pesquisa e criativas, que abordam os
-formados na criação e lançamento de novas desafios do mundo real para impulsionar
empresas. Oferece orientação, workshops, o crescimento econômico e melhorar a
coaching individual, suporte inicial a finan- qualidade de vida dos canadenses31.
ciamento e espaço de trabalho. Ajuda no
desenvolvimento de startups, desde a ideia Dentre diversos estímulos ao em-
inicial até os primeiros estágios da geração preendedorismo e inovação, destacam-
de receita, passando pelo investimento anjo. -se o Centro de Inovação em Enge-
Seu objetivo principal é apoiar iniciativas em nharia e Empreendedorismo (CEIE) e
todo o campus, de todas as disciplinas.
a aceleradora DMZ. O CEIE é um centro
para estudantes da Faculdade de Enge-
nharia e Ciência Arquitetônica (FEAS) da
Universidade de Ryerson se unirem a pro-
fessores, mentores de negócios e clientes
para empreender em negócios tecnológi-
cos. O CEIE fornece aos alunos recursos
UTEST e suportes necessários para desenvolver
e comercializar suas ideias32.
Foco: criação de empresas startups basea-
das em pesquisas desenvolvidas na Univer- DMZ33
sidade de Toronto.

A UTEST é um programa de desenvolvimen- 31 https://www.ryerson.ca/research/about/


to de startups para empresas nascentes em 32 https://www.ryerson.ca/ceie/about/
parceria com o Fundo Connaught da Univer- 33 https://dmz.ryerson.ca

99 99
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

O DMZ é uma aceleradora líder mun- preendedorismo e a inovação. O Inno-


dial para o desenvolvimento de startups vation York Entrepreneurship oferece
de tecnologia no Canadá, classificada programas, oficinas e espaço para ajudar
como a incubadora34 de empresas basea- empreendedores dentro e fora do cam-
da em universidade número 1 do mundo pus a criar startups, bem como dois es-
pela UBI Global, desde 2010. Auxiliou na paços de incubadora na região de York, o
fundação e crescimento de 412 startups, IBM Innovation Space - MCC e YSpace.
que levantaram US$ 605,6 milhões em fi- A incubadora e o Maker Space são uma
nanciamento inicial e fomentaram a cria- parte fundamental das ofertas de servi-
ção de mais de 3.779 empregos (dados ços da Innovation York Entrepreneurship.
de 2019). O programa de aceleração de O YSpace é o centro de inovação da Uni-
3,5 meses é desenhado para startups de versidade de York, auxiliando a construir
tecnologia de alto potencial, que buscam grandes empresas conectando-as com
crescer e expandir seus negócios, ofere- equipamentos de ponta, acesso a capi-
cendo acesso a mentores de nível inter- tal e uma rede de influenciadores e em-
nacional, programação orientada a resul- preendedores. Além desses, foi criado o
tados e espaço de trabalho. Innovation Space da IBM – MCC que for-
nece espaço de incubadora para startups
Universidade de York relacionadas a York. A Innovation York
também trabalha em estreita colaboração
Com 25 centros de pesquisa inter-
com todas as empresas no espaço para
disciplinares, dez faculdades que ofere-
conectá-las a pesquisadores acadêmicos
cem mais de 5 mil cursos, cerca de 300
e criar projetos de pesquisa inovadores36.
clubes e organizações estudantis, bem
como mais de 300 mil ex-alunos (dados
de 2019), a Universidade de York é a ter- Toronto Business Development
ceira maior instituição interdisciplinar de Centre37
pesquisa e ensino do Canadá, abrangen-
do de negócios a artes plásticas, de po- Criado em 1990 pela cidade de To-
líticas públicas, direito a ciência, educa- ronto com o apoio do Ministério do De-
ção e psicologia, entre outras35. senvolvimento Econômico do Comér-
cio, o TBDC tem sido reconhecido nos
A Universidade de York dispõe de últimos 28 anos por fomentar o cresci-
diversas estruturas para promover o em- mento de novos negócios, e aclamado

34 Apesar de ser uma aceleradora a UBI Global 36 http://innovationyork.ca/incubator-space/


classifica a DMZ no ranking de incubadoras
37 https://tbdc.com/home-toronto-business-de-
35 http://about.yorku.ca/history/ velopment-centre/about-tbdc/

100 100
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

como uma das principais incubadoras Toronto, como a capital financeira


de empresas do país em áreas como e principal lócus intelectual, personifi-
número de empresas clientes atendi- ca essa estratégia com uma formação
das, número de empregos criados e re- intensiva em recursos humanos alta-
ceitas geradas pelas empresas desen- mente qualificados, com quatro univer-
volvidas. O programa de incubação da sidades públicas e uma universidade
TBDC apoia o crescimento de empre- privada, crescente fluxo de capital de
sas, fornecendo suporte de consultoria risco, apoio governamental, suporte
de negócios, espaço e participação na aos empreendedores e grandes em-
comunidade de empreendedores de presas, além de diversas áreas de
sucesso. inovação com 53 aceleradoras, 63 in-
cubadoras, 29 pré-incubadoras, 72 co-
Considerações finais workings e 216 investidores, formando
um ecossistema de alto impacto na ci-
Toronto tem chamado a atenção de dade de Toronto.
grandes empresas e projetos inovadores.
Recentemente, uma divisão da Alphabet
3.5 ECOSSISTEMA
propôs investir US$ 1,3 bilhão para viabi-
lizar um bairro de alta tecnologia de cin-
BRASILEIRO DE INOVAÇÃO
co hectares em Toronto, contando com E TRÊS CIDADES CASES:
esquinas ajustáveis, vias aquecidas para SANTA RITA DO SAPUCAÍ-
bicicletas e moradias com alto cunho tec- MG, CAMPINA GRANDE-PB E
nológico38. PORTO ALEGRE-RS
A partir de uma estratégia nacional
O Brasil é um país criativo, ocu-
de desenvolvimento por meio da inova-
pando o 29º lugar no Ranking Global de
ção, conferindo segurança jurídica e in-
Criatividade39, e empreendedor, sendo
vestimentos públicos em PD&I, capital
o 19º país com maior intenção de em-
humano e infraestrutura, além de estimu-
preender, conforme os dados de pesqui-
lar o setor privado a crescer globalmente,
sa desenvolvida pelo MIT40. O Brasil é
o Canadá exibe todas as características,
um país que produz conhecimento cien-
elementos e mecanismos de um terreno
tífico. Avança-se na ciência em diversos
fértil para florescer um ecossistema de
inovação. 39 http://martinprosperity.org/content/the-glo-
bal-creativity-index-2015/
38 https://www.valor.com.br/brasil/6318253/ 40 https://innovationecosystems.mit.edu/ex-
dona-do-google-promete-us-1-bi-para-transformar-to- plore-innovation/tabular-chart?metric_ids=15&start_
ronto year=2016&end_year=2017

101 101
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

campos, da medicina à matemática, da Figura 10. O “Triângulo de Sábato”


agricultura às tecnologias da aviação. O
Brasil é o 14º em publicações na Web
of Science41. Com todas essas caracte-
rísticas, o Brasil tem se tornado um país Governo
inovador e competitivo?

Apesar da criatividade, empreende-


dorismo e ciência constituírem elemen-
tos importantes para uma nação inova-
dora e competitiva, o Brasil ocupa a 71ª Estrutura Infra-estrutura
produtiva Científico-
posição do Ranking de Competitividade tecnológica
Mundial42 e o 66º lugar no Índice Global
de Inovação43. Quais fatores explicam
essa dissintonia?
Fonte: Figueiredo (1993).
Como estamos diante de um pro-
blema complexo, não há uma solução
Ocorrem três tipos de nexos: intrar-
ou um ator que elucide essa questão.
relações, que são as que ocorrem entre
Os modelos acerca do desenvolvimen-
os componentes de cada vértice; interre-
to das sociedades contemporâneas por
lações, que são as que se estabelecem
meio de ciência e tecnologia baseiam-
deliberadamente entre pares de vérti-
-se na ação múltipla e coordenada en-
ces; e extrarrelações, que são as que se
tre o governo, a estrutura produtiva e a
criam entre uma sociedade e o exterior
infraestrutura científico-tecnológica (Fi-
(PLONSKI, 1995).
gueiredo, 1993), remontando os anos
de 1968, quando concebido o “Triângu-
Outro modelo semelhante e inter-
lo de Sábato”, no qual esses três atores
nacionalmente conhecido no tocante
estão representados.
aos estudos de inovação é a Hélice Trí-
plice. Constitui-se como um guia de po-
líticas públicas e práticas nos âmbitos
41 https://incites.clarivate.com/#/explore/0/re- local, regional, nacional e multinacional,
gion//
na medida em que provê uma metodo-
42 http://reports.weforum.org/global-competi-
tiveness-report-2019/economy-profiles/#economy=- logia para examinar pontos fortes e fra-
BRA cos, solucionar falhas e aprimorar as
43 https://www.globalinnovationindex.org/Home relações entre universidades, indústrias

102 102
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

e governos, com o objetivo de construir entanto, a dinâmica para desen-


uma estratégia de inovação (ETZKO- volver uma Hélice Tríplice regio-
WITZ; ZHOU, 2017): nal provém de “organizadores
regionais de inovação” e “ini-
ciadores regionais de inovação
Definimos a Hélice Tríplice como
(ETZKOWITZ; ZHOU, 2017).
um modelo de inovação em que
a universidade/academia, a in-
dústria e o governo, como es- O modelo hélice tríplice de interação
feras institucionais primárias, universidade, indústria e governo vem se
interagem para promover o de- transformando ao longo do tempo. O pri-
senvolvimento por meio da ino- meiro é o modelo estadista, Hélice Trípli-
vação e do empreendedorismo. ce I, em que o governo controla a acade-
No processo de interação novas mia e a indústria. O segundo modelo é o
instituições secundárias são for- laissez-faire, Hélice Tríplice II, em que a
madas conforme a demanda, indústria, a academia e o governo, sepa-
isto é, “organizações híbridas”. rados uns dos outros, interagem apenas
A dinâmica das esferas institu- modestamente através de fronteiras fir-
cionais para o desenvolvimento mes. No terceiro modelo de estrutura so-
em uma hélice tríplice sinteti- cial da Hélice Tríplice, novas inovações
zam o poder interno e o poder organizacionais surgem especialmente
externo de suas interações. No das interações entre as três hélices.

Figura 11. Evolução do modelo Hélice Tríplice

O modelo estadista O modelo Laissez-faire Estrutura social da Hélice Tríplice


Modelo Hélice Triplice I Modelo Hélice Triplice II Modelo Hélice Triplice III

Fonte: Etzkowitz e Zhou (2017). Adaptado pelos autores.

103 103
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

A hélice quádrupla tem sido acres- tratégias neste sentido. Dessa forma,
centada a esse modelo e é representada o termo “nacional” possui o sentido de
pela sociedade civil, na medida em que atuação e estratégia de um determina-
esta participa e interage para a emergên- do país (NELSON, 1993).
cia de inovações.
O governo brasileiro desenvolveu a
Outro modelo que pretende com- Estratégia Nacional de Ciência, Tecnolo-
preender o desenvolvimento dos países gia e Inovação (ENCTI) e vem reformu-
por meio da ciência, tecnologia e inova- lando-a ao longo dos anos. Consiste em
ção é o Sistema Nacional de Inovação. A um documento para a implementação de
fim de conceituar em que consistiria o Sis- políticas públicas de Ciência, Tecnologia
tema Nacional de Inovação, é necessário e Inovação (CT&I).
compreender em que consistiria em cada
um dos termos isoladamente: sistema, Conforme a ENCTI, é percebido
nacional e inovação. um papel protagonista dos governos
como um articulador dos elementos de
Os três termos são compreendi- cada sistema nacional de inovação.
dos de forma abrangente. A inovação Mas também reconhece que os investi-
consiste em envolver os processos pe- mentos privados são elementares para
los quais as empresas dominam e im- o desenvolvimento, conforme se obser-
plementam produtos e processos que va em estatísticas mundiais acerca dos
são novos para elas. Enquanto sistema aportes em PD&I (MCTIC, 2016). As
seria um conjunto de instituições cujas trajetórias de evolução dos SNCTIs são
interações determinam o desempenho aquelas que primam pela integração
inovador das firmas nacionais. Não há contínua das políticas governamentais
presunção de que o sistema tenha sido com as estratégias empresariais (MC-
conscientemente projetado, ou mesmo TIC, 2016).
de que o conjunto de instituições en-
volvidas trabalhe em sinergia, de forma O documento expõe a composição
harmoniosa e coerente. Tratando de ino- e o funcionamento do Sistema Nacional
vação, o conceito “nacional” é compli- de CT&I, em que se propõe a apresentar
cado, pois diversos setores desenvol- a complexidade do Sistema a partir dos
vem a inovação de forma global, não principais atores; as fontes de financia-
fazendo sentido a abordagem nacional. mento; os instrumentos de apoio; os re-
Entretanto, os governos nacionais atuam cursos humanos; e as infraestruturas de
como se o fizessem e desenvolvem es- pesquisa (MCTIC, 2016).

104 104
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

Figura 12. Principais atores do Sistema Nacional de Ciência,


Tecnologia e Inovação (SNCTI)

Fonte: MCTIC (2016).

Tanto o Triângulo de Sábato quan- a inovação passou a integrar a Carta


to a Hélice Tríplice ou os Sistemas Na- Magna em diversos dispositivos, con-
cionais de Inovação vislumbram na in- ferindo maior compromisso do Estado
teração entre os atores, sejam estes da com a temática, seja pelo apoio aos di-
esfera privada, governamental ou de versos arranjos territoriais que confor-
estrutura científico-tecnológica, como mam ecossistemas de inovação, seja
fundamentais para o desenvolvimento pelo incentivo às estratégias de inte-
da inovação. ração entre empresas e Instituições de
Ciência, Tecnologia e Inovação (ICTs)
No ano de 2015, inovação ganhou (MCTIC, 2016). Os artigos abaixo cola-
um status constitucional. Por meio da cionados foram introduzidos pela EC nº
Emenda Constitucional nº 85/2015, 85/2015:

105 105
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

Art. 219-A. A União, os Estados, culação entre as atividades inovadoras


o Distrito Federal e os Municí- empresariais e as infraestruturas labora-
pios poderão firmar instrumen- toriais e de recursos humanos presen-
tos de cooperação com órgãos tes nos institutos públicos de pesquisa
e entidades públicos e com en- (MCTIC, 2016). Ainda mais recentemen-
tidades privadas, inclusive para te, foi publicado o Decreto nº 9.283,
o compartilhamento de recursos de 07 de fevereiro de 2018, que regu-
humanos especializados e ca- lamenta a lei de inovação e as demais
pacidade instalada, para a exe- alteradas pela Lei nº 13.243/2016.
cução de projetos de pesquisa,
de desenvolvimento científico e No que tange a dispêndio, segundo
tecnológico e de inovação, me- os mais recentes dados do Ministério de
diante contrapartida financei- Ciência, Tecnologia, Inovação e Comuni-
ra ou não financeira assumida cações (MCTIC) ,o investimento em ino-
pelo ente beneficiário, na forma vação do Brasil gira em torno de 1,2% do
da lei. PIB brasileiro. Esse percentual está dis-
tante dos 3, 4 e até 5% do PIB em inova-
Art. 219-B. O Sistema Nacional de ção dos países mais desenvolvidos, como
Ciência, Tecnologia e Inovação Coreia do Sul, Japão e Estados Unidos,
(SNCTI) será organizado em re- bem como dos 2% estipulados na ENCTI.
gime de colaboração entre entes,
tanto públicos quanto privados, Em termos da disponibilidade de
com vistas a promover o desen- pesquisadores, o País tem cerca de 700
volvimento científico e tecnológico pesquisadores para cada um milhão de
e a inovação. habitantes. A região amarela do gráfico
ressalta um grupo de 20 países com pelo
Como consequência da alteração menos 4 mil pesquisadores/milhão de ha-
constitucional, foi necessário reformular bitantes e 1,5% do PIB em P&D, que por
o marco legal anterior, sendo publicada sua vez também são países com bons in-
a Lei nº 13.243/2016, conhecida como dicadores sociais e econômicos.
o novo marco legal de CT&I, que além
da Lei de Inovação anterior, alterou tam- Outro indicador a ser analisado para
bém outras oito legislações, reduzindo medir desenvolvimento de ecossistemas
entraves burocráticos enfrentados nas de inovação consiste no número de pa-
atividades de pesquisa científica, além tentes internacionais depositadas. Nos
de admitir novas possibilidades de arti- últimos dez anos, o Brasil quase triplicou.

106 106
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

Figura 13. Investimento em P&D (%PIB) x


Pesquisadores em P&D (por milhão de habitantes)

Figura 14. Evolução dos pedidos de patentes internacionais (1999-2013) - Brasil

107 107
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

Figura 15. evolução dos pedidos de patente internacionais (1999-2013)


EUA - JAP - CHN - ALE - COR - BRA

Figura 16. Ao longo dos anos, o déficit brasileiro em propriedade intelectual


vem se acentuando.

108 108
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

Ocorre que é necessária uma com- com vistas a estimular sua criação, for-
paração. Quando a realizamos, é possível malização, desenvolvimento e consolida-
perceber que o triplicar do Brasil é prati- ção como agentes indutores de avanços
camente indiferente quando se analisa o tecnológicos e da geração de emprego e
crescimento da China, EUA, Alemanha, renda. A Lei que instituiu o Inova Simples,
Coréia e Japão. Lei Complementar nº 167/19, também de-
finiu o termo startup como
Quando analisamos a Balança de
Pagamentos brasileira no que tange a
serviços de propriedade intelectual, o an- empresa de caráter inovador que
tigo “royalties/licenças” em que há as re- visa a aperfeiçoar sistemas, mé-
ceitas e despesas com compra ou venda todos ou modelos de negócio, de
de tecnologia, somos deficitários. produção, de serviços ou de pro-
dutos, os quais, quando já exis-
Quando analisamos somente paten- tentes, caracterizam startups de
tes de invenção, no ranking dos deposi- natureza incremental, ou, quando
tantes residentes de 2016, as instituições relacionados à criação de algo to-
de ensino e pesquisa ocupam as nove talmente novo, caracterizam star-
primeiras posições. tups de natureza disruptiva.

As recentes alterações legislativas, O Brasil possui ainda incentivos fis-


como a EC nº85/15 e a Lei 13.243/16, vie- cais e investimentos obrigatórios, como a
ram para estimular as empresas a inova- Lei da Informática e o P&D ANEEL, res-
rem em conjunto com a estrutura científi- pectivamente. Ocorre que estes são para
co-tecnológica de que o Brasil já dispõe. setores específicos, TICs e energia. O
Além dessas alterações, recentemente a principal instrumento de incentivo fiscal
figura do investidor-anjo também foi regu- à inovação no Brasil é a Lei do Bem, Lei
lamentada por meio da Lei Complemen- nº 11.196/05, beneficiando qualquer setor
tar nº 155/16 a fim de garantir maior se- industrial, que prevê a dedução integral
gurança jurídica a essa importante figura do Imposto sobre a Renda da Pessoa Ju-
do ecossistema empreendedor. Mais re- rídica (IRPJ) e da Contribuição Social So-
centemente, foi instituído o Inova Simples, bre o Lucro Líquido (CSLL) do valor inves-
um regime especial simplificado que tido em P&D para as empresas que estão
concede às iniciativas empresariais de em conformidade fiscal, sob o regime de
caráter incremental ou disruptivo que se lucro real e investiram em P&D. São con-
autodeclarem como startups ou empre- siderados como investimentos em P&D:
sas de inovação, tratamento diferenciado compra de máquina e equipamentos;

109 109
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

contratação de pesquisadores; gastos ressaltada para fins deste estudo é a Em-


com patentes; e contratação de micro e presa Brasileira de Pesquisa e Inovação
pequenas empresas e de centros de pes- Industrial (EMBRAPII). Esta credencia
quisa. Para ser contemplado com o bene- Instituições Científica, Tecnológica e de
fício fiscal da Lei do Bem, o negócio deve Inovação (ICT) que passam a receber
preencher três requisitos: estar sob o re- recursos públicos para o desenvolvimen-
gime de lucro real, não ter prejuízo fiscal to dos projetos com empresas sob seu
no ano anterior e investir em P&D. acompanhamento. Os orçamentos dos
projetos são financiados em até um ter-
O benefício da exclusão adicional ço pela EMBRAPII; as empresas devem
dos dispêndios com PDI da base investir no mínimo um terço; e o restante
de cálculo do IRPJ e da CSLL é o é responsabilidade da ICT. Os recursos
principal benefício trazido pela Lei EMBRAPII são de natureza não reembol-
do Bem, sendo responsável por sável e destinados antecipadamente às
uma recuperação fiscal que pode ICTs credenciadas. Essa característica
variar de 20,4% a 34% dos dispên- tem propiciado maior agilidade nas con-
dios com os projetos classificados tratações entre universidade e empresa.
como inovação tecnológica (grifo Atualmente, são 42 ICTs credenciadas,
nosso) de acordo com os concei- que contabilizam mais de 700 projetos de
tos apresentados pela legislação. P&D com empresas, totalizando R$ 1,2
(GARCIA, 2015). bilhão. Esses resultados demonstram que
o modelo de operação EMBRAPII tem
A renúncia fiscal total proporciona- propiciado maior cooperação entre os se-
da por essa lei foi de R$ 230 milhões em tores público e privado45.
2006 para R$ 1,71 bilhão em 2014, repre-
sentando um investimento, por parte das Interessante observar que os crité-
empresas, de R$ 2,19 bilhões para R$ rios para ser credenciada como Unida-
8,19 bilhões em 2014. O número de em- de EMBRAPII são bastante rígidos, tanto
presas beneficiadas foi de 130 para 1008 que somente os Centros de Pesquisa de
neste mesmo intervalo44. excelência brasileiros foram certificados.
Ressalta-se que os três ambientes de ino-
Outra política pública que deve ser vação que serão aqui analisados - Santa
Rita do Sapucaí (MG), Campina Grande
44 Relatório anual de atividades de P&D (reti-
ficado) 2014. Lei do Bem. Utilização dos incentivos 45 https://embrapii.org.br/embrapii-supera-mar-
fiscais à inovação tecnológica. Ministério da Ciência, ca-de-700-projetos-em-pesquisa-desenvolvimento-e-
tecnologia, Inovações e Comunicações – MCTIC -inovacao/

110 110
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

(PB) e Porto Alegre (RS) - possuem unida- de apoio a empreendimentos inovadores


des credenciadas. disponíveis.

Justifica-se a escolha dessas cida- 3.5.1 SANTA RITA DO SAPUCAÍ


des pelo fato de possuírem relevância e - MINAS GERAIS
liderança na pauta de inovação nacional
e serem menos estudadas do que Floria- Quais foram as mudanças que tor-
nópolis (SC) e Recife (PE), por exemplo. naram possível uma cidade com menos
Em cada uma dessas três cidades, serão de 40 mil habitantes deixar de ser predo-
analisadas as características que as tor- minantemente agropecuária (café e leite)
nam únicas, bem como as áreas de es- para se tornar um dos principais polos de
pecialidade e os principais mecanismos desenvolvimento tecnológico do país?

111 111
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

Santa Rita do Sapucaí está a 407km ambiente acadêmico e na interação po-


de BH, 223km de SP, 356km de RJ. Com der público/escolas/empresariado.
uma área territorial de 352,969 km² e uma
população estimada de 42.751 pessoas Sousa et al. (2015) realizaram pes-
[2018] (IBGE, 2019) quisa a fim de investigar os construtos
explicativos das relações de cooperação
Segundo Wander Wilson Chaves, entre as empresas integrantes do arranjo
ex-diretor do Inatel, diferentemente dos produtivo local (APL) localizado na cida-
demais polos industriais, onde a indús- de de Santa Rita do Sapucaí. Para tanto,
tria atrai as instituições de ensino, em coletaram informações de 82 empresas.
Santa Rita do Sapucaí aconteceu exata-
mente o contrário. Primeiro, surgiram as Os autores evidenciam a liderança
instituições de ensino que introduziram para o estímulo empresarial do poder pú-
as primeiras empresas de base tecnoló- blico, por meio da prefeitura local, e da
gica da região, fazendo com que essas participação dos empresários, por meio
organizações tivessem uma visão dife- do Sindicato das Indústrias de Apare-
renciada, de modernização, tecnologia, lhos Elétricos, Eletrônicos e Similares do
de competitividade e pensamento comu- Vale da Eletrônica (Sindvel), reunindo to-
nitário e socialmente responsável (RIBEI- dos os ingredientes na literatura de APL,
RO et al., 2005). como os componentes geográficos, seu
histórico social, a exploração de um se-
As três principais instituições de en- tor econômico, a multiplicidade de firmas
sino da cidade (ETE, Inatel e FAI), além concorrentes e complementares interre-
de especializadas nas áreas de eletrôni- lacionadas e a base educacional. Desta-
ca, estão voltadas, desde sua concep- ca-se também a ação de pessoas visio-
ção, para uma visão de forte aplicação no nárias, que ocuparam cargos diretivos
setor produtivo. Todas essas instituições nas entidades, e a dos empresários que
realizam há muitos anos feiras para ex- assumiram riscos.
por os projetos empresariais e aplicações
tecnológicas desenvolvidas por seus alu- Segundo o Sindvel, a renda per ca-
nos (RIBEIRO et al., 2005). pita média do município cresceu de R$
219, em 1999, para R$ 315 em 2000 e
Ribeiro et al. (2005) finaliza que o R$738,40 em 2010, correspondendo a
perfil inovador e tecnológico dos em- um crescimento, nas últimas duas déca-
preendedores de Santa Rita do Sapucaí das, de 79,55%. O mesmo ocorreu com
está calcado no multiculturalismo, no o Índice de Desenvolvimento Humano

112 112
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

Municipal (IDMH), que entre os anos de ciadas ao Sindivel, 31 startups em fase de


2000 a 2010, passou de 0,654 (2000) incubação (dados de 2019).
para 0,721 (2010).
Recentemente, houve um maior es-
Ainda conforme o Sindivel, o APL tímulo a programas para as empresas do
de Santa Rita do Sapucaí possui cerca Vale da Eletrônica, como é conhecida a
de 153 empresas (dados de 2019). Des- região de Santa Rita do Sapucaí, exporta-
tas, 90% são consideradas microempre- rem e os resultados foram que, em 2011,
sas e 8% são empresas de médio porte, o volume de exportações atingiu US$ 12
com um faturamento anual é de R$ 3,2 milhões; e já em 2015, o valor aumentou
bilhões de reais por ano, gerando cer- para US$ 47 milhões.
ca de 14.700 empregos, que investem, O cluster eletroeletrônico de Santa
em média, 9% do faturamento em P&D, Rita do Sapucaí compõe o já consolidado
desenvolvendo produtos em telecomuni- APL de eletroeletrônicos da cidade. Ser
cações, informática, segurança, automa- um APL significa que o município possui
ção industrial, equipamentos industriais toda a cadeia operacional, desde a pes-
e prestação de serviços. quisa, o desenvolvimento até a fabricação
do produto. Além disso, um dos grandes
Muito do protagonismo e desenvol- diferenciais é que as empresas trabalham
vimento da região se deve ao sucesso em sinergia.
da hélice tríplice em que o poder público
proporciona estímulos, como a Lei da In- Conforme o Sindivel, o município
formática na esfera federal, o tratamento agora tenta desenvolver um cluster volta-
tributário diferenciado na esfera estadual do para o setor da saúde para funcionar
e os incentivos municipais, como o alu- em paralelo com o APL de eletromédicos
guel de galpões e terrenos e a incubado- na medida em que já possui indústria (22
ra municipal. Quanto à academia, as três indústrias especializadas em produtos e
instituições principais de ensino, além em soluções eletromédicas, incubadora
de formarem capital humano qualificado, de empresas com ambientes homologa-
também produzem pesquisa e estimu- dos pela ANVISA, profissionais qualifi-
lam a criação e exploração comercial dos cados com foco na pesquisa, inovação
seus inventos, seja pelos laboratórios de e desenvolvimento), academia (cursos
P&D, cultura, eventos, apoio ou incuba- técnicos em enfermagem e equipamen-
doras. Quanto à indústria, produz 14.500 tos biomédicos, graduação em sistemas
produtos no segmento, sendo cerca de de informação, engenharia biomédica,
153 empresas, das quais 94 estão asso- administração e pedagogia, pós-gradua-

113 113
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

ção em engenharia biomédica, engenha- Casou-se muito cedo com um político e


ria clínica, psicopedagogia institucional e com ele viajou parte do mundo. Um dos
clínica, educação especial e inclusiva e países em que ela esteve foi o Japão. Era
docência do ensino superior), bem como o período pós-guerra, e a brasileira viu o
o infra estrutura hospitalar (hospital Antô- papel que as escolas técnicas estavam
nio Moreira da Costa, Hospital Centenário desempenhando na renovação econômi-
com 70 leitos/Hospital Escola e há a im- ca do país. Ela passou a acreditar que o
plantação Novo Hospital: 140 leitos para mesmo fenômeno poderia acontecer em
casos de média e alta complexidade). sua cidade natal e assumiu a liderança na
fundação da escola (ETZKOWITZ, 2011).
A seguir, serão abordados os princi-
pais mecanismos de apoio à geração de Ao voltar para o Brasil, separou-se
empreendimentos inovadores de Santa do marido e voltou para Santa Rita do Sa-
Rita do Sapucaí pucaí. Percebeu que era possível cons-
truir a escola técnica na cidade, realizou
A Escola Técnica de Eletrônica todos os procedimentos burocráticos e
(ETE) “Francisco Moreira da Costa” foi aconselhada por professores do ITA,
de São José dos Campos. Lançou assim
http://www.etefmc.com.br/ as bases da Escola Técnica de Eletrôni-
ca que leva o nome de seu pai. Contan-
Muito do desenvolvimento tecnoló- do também com o auxílio dos tradicio-
gico e empresarial de Santa Rita do Sa- nais educadores, os jesuítas, a escola foi
pucaí se deve à formação de capital hu- construída e inaugurada. Mas, antes que
mano qualificado para o Arranjo Produtivo a primeira turma formasse, a fundado-
Eletrônico. A pioneira foi a Escola Técnica ra faleceu. No seu testamento, deixou a
de Eletrônica (ETE) “Francisco Moreira da direção da escola em mãos dos padres
Costa”, criada em 1959. As duas outras jesuítas, que a dirigem até hoje. A ETE foi
instituições mais conceituadas da cidade a primeira escola de eletrônica de nível
foram constituídas em 1965, o Inatel, e em médio da América Latina, sendo também
1971, a FAI. a única escola técnica que é dirigida por
padres jesuítas46.
A ETE foi idealizada e construída por
Luzia Rennó Moreira - Sinhá Moreira, uma Atualmente, os cursos técnicos diur-
milionária que viveu na cidade, filha de nos oferecidos pela ETE FMC têm duração
senadores da região e sobrinha de Del-
fim Moreira, ex-presidente da República. 46 http://www.etefmc.com.br/institucional-his-
toria

114 114
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

de três anos e são realizados juntamente serido em um ambiente totalmente voltado


com o ensino médio, ou seja, o aluno cur- para a formação profissional e que ofere-
sa o ensino médio e o ensino técnico ao ce oportunidades de estágio e emprego,
mesmo tempo, em período integral. Os além de montar sua própria empresa.
cursos disponíveis são:
• Engenharia Biomédica
• Técnico em Desenvolvimento de • Engenharia Elétrica
Games; • Engenharia de Controle e Automação
• Curso Técnico em Eletrônica; • Engenharia de Computação
• Curso Técnico em Telecomunica- • Engenharia de Produção
ções; • Engenharia de Telecomunicações
• Curso Técnico em Equipamentos • Engenharia de Software
Biomédicos. Além dos cursos de graduação cita-
dos acima, o Inatel possui oito cursos de
Desde muito jovem, a população do pós-graduação lato sensu e stricto sensu,
município já se capacita para a entrada no um mestrado e um doutorado em Teleco-
mercado de trabalho e vocação da região. municações.

Instituto Nacional de Telecomuni- Unidade EMBRAPII INATEL


cações - INATEL

Fundado em 1965, o Instituto Nacio- O Inatel é credenciado pela EM-


nal de Telecomunicações (Inatel) é um BRAPII para atendimento à área de Co-
centro de excelência em ensino e pesqui- municações Digitais e Radiofrequência,
sa na área de Engenharia, e tem se con- como desenvolvimento de dispositivos de
solidado cada vez mais, no Brasil e no Comunicação Digital e Radiofrequência,
exterior, como um celeiro de grandes ta- Sistemas de Monitoramento Remoto e Ar-
lentos. Foi a primeira instituição de ensino quiteturas e dispositivos de redes de alta
do País a oferecer um curso superior de densidade (IoT).
Engenharia tendo as telecomunicações
como foco. É uma instituição de ensino Atua de maneira multidisciplinar en-
privada sem fins lucrativos, mantida pela globando concepção, desenvolvimento
Fundação Instituto Nacional de Telecomu- de protótipos (design, mecânica e eletrô-
nicações (Finatel). nica, hardware, firmware e software) e en-
saios e testes, com equipe dedicada ao
Estudando no Inatel, além de uma desenvolvimento de projetos com indús-
formação de alto nível, o aluno estará in- trias.

115 115
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

Destaque para dois projetos já reali-


INFRAESTRUTURA DE PESQUISA DO INATEL
zados em parceria com a EMBRAPII:
CENTROS DE PESQUISA
• Soluções de Cidades Inte-
ligentes (Smart Cities), com a em- CRR - Junto ao Governo Federal, o Centro de
presa Ericsson Referência em Radiocomunicações tem por ob-
jetivo estabelecer mecanismos que permitam ao
• Solução de Localização de país ocupar um posto importante no segmento
das telecomunicações, pesquisando, avaliando
Pessoas, com a empresa Foxconn e desenvolvendo tecnologias e soluções que
atendam às demandas da sociedade brasileira
https://embrapii.org.br/unidades/ e às especificidades (demográficas, geográficas
e econômicas) do país. Saiba mais: www.inatel.
inatel-instituto-nacional-de-telecomunica- br/crr
coes/
CDTTA - Em parceria com o governo de Minas
Com todo esse conhecimento ad- Gerais, por meio da Secretaria de Ciência, Tec-
quirido seja no ensino ou na pesquisa, o nologia e Ensino Superior, o Centro de Desenvol-
vimento e Transferência de Tecnologia Assistiva
Inatel criou o Inatel Competence Center é um ambiente destinado à pesquisa e desenvol-
- ICC a fim de atuar como uma extensão vimento de soluções tecnológicas que facilitem a
das áreas de PD&I das empresas, trans- vida das pessoas com deficiência e sejam aces-
síveis a todas as camadas da população.
ferindo o conhecimento acadêmico por
meio deste centro de serviços, atenden- Saiba mais: www.inatel.br/cdtta
do entre empresas de grande porte, na-
cionais e multinacionais, como Ericsson, CDMICRO - Apoiado pela Secretaria de Ciência,
Oi, Vivo, Benchmarck, ZTE, Huawei, entre Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais,
através da Fundação de Amparo à Pesquisa de
outras. Minas Gerais, o objetivo do CDMICRO é aproxi-
mar a microeletrônica das empresas de tecnolo-
gia instaladas no Arranjo Produtivo Local (APL)
do Vale da Eletrônica e as demandas dos demais
mercados. Essas demandas são formação de
recursos humanos especializados em microele-
trônica, geração de núcleos de propriedade inte-
lectual e desenvolvimento de circuitos integrados
para atender as demandas das empresas.

116 116
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

IoTGroup - O grupo contribui através da pesqui- Information and Communications Technolo-


sa, desenvolvimento e inovação no âmbito das gies - O objetivo deste laboratório é desenvolver
tecnologias de informação e comunicação para soluções tecnológicas para os reais problemas
Internet das coisas (IoT) e redes e aplicativos hoje da sociedade. Nele estão presentes pesqui-
de próxima geração, tópicos extremamente re- sas científicas sobre arquiteturas convergentes
levantes e atualizados em telecomunicações. As de informação, a conexão de coisas e pessoas,
pesquisas se concentram no desenvolvimento estruturas controladas por software e outras de-
de novas tecnologias, soluções e abordagens mandas importantes para o futuro tecnológico.
explorando dados de sua geração e colleting,
incluindo seu armazenamento, tratamento e aná-
Computação gráfica, Jogos e Apps Móveis -
lise. Proposta de soluções com impacto para
Este laboratório promove o intercâmbio de alu-
o avanço do conhecimento, tanto na indústria
nos e professores no intuito de desenvolver ta-
como na sociedade, visando transferência de
lentos para a área de computação gráfica, jogos
tecnologia e inovação.
e aplicativos, atendendo demandas do Inatel,
educacionais ou desenvolvendo projetos de ino-
LABORATÓRIOS vação tecnológica.

Rádio Cognitivo - Neste laboratório são desen- Robótica e Inteligência Artificial - O Laborató-
volvidas pesquisas científicas e tecnológicas rio de Robótica e Inteligência Artificial tem por
para os Rádios Cognitivos, que são rádios defi- objetivo a realização de atividades de pesquisa
nidos por software, capazes de mudar os proce- e desenvolvimento da robótica e da pesquisa
dimentos realizados durante a comunicação de de inteligência artificial. Os programas voltados
forma dinâmica e sem a necessidade de mudan- para robótica incluem o futebol de robô 2D, car-
ça do hardware. A tecnologia de rádio cognitivo ro seguidor de linha, projetos relacionados aos
possibilita o uso mais eficiente do espectro de cursos de engenharia e tecnologia e projetos de
frequências, pois explora os canais de comuni- iniciação científica.
cação destinados a outros serviços apenas en-
quanto estes estão ociosos.
Fonte: https://inatel.br/pesquisador/cen-
Woca - Wireless and Optical Convergent Ac- tros-de-pesquisa e https://inatel.br/pes-
cess - O Laboratório visa a realização de ativida-
des de pesquisas voltadas para a convergência
quisador/laboratorios-de-pesquisa
tecnológica dos sistemas de comunicações óp-
ticas e sem fio, atuando na concepção de novas Incubadora do INATEL
soluções tecnológicas e suas implementações
em redes de telecomunicações reais. Tem par-
ceria e projetos de pesquisas e desenvolvimento A Incubadora de Projetos e Empre-
(P&D), com várias empresas e universidades na- sas do Inatel foi criada em 1985, ofere-
cionais e internacionais, bem como o apoio finan-
ceiro do governo e instituições de desenvolvi- cendo um ambiente propício para a cria-
mentos como: MCTI, CNPq, FAPEMIG e CAPES. ção e desenvolvimento de empresas/
startups inovadoras de base tecnológica,
demonstrando a geração de resultados
dos empreendimentos que foram criados
na instituição.

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Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

A incubadora do Inatel fornece a Cultura do Empreendedorismo


infraestrutura, com aproximadamente Inovador do País - Anprotec em
1.000m² de salas, laboratório de prototi- 2005
pagem rápida de Placas de Circuito Im-
presso e impressão 3D; acesso a outros • Melhor Incubadora de Empresas
laboratórios do Inatel; disponibilização de Orientada para Desenvolvimen-
equipamentos laboratoriais de medição e to Local e Setorial) - Anprotec em
controle e para P&D, bem como serviços 2014
de aproximação com investidores; treina-
mentos; mentorias; consultorias; suporte Fonte: https://www.inatel.br/em-
gerencial; e mensuração constante da preendedorismo/incubadora
evolução das empresas incubadas.
Outra iniciativa semelhante e recém
Como resultados, segundo o site ins- lançada na cidade foi o CrowdVale da
titucional, a incubadora possui atualmen- Eletrônica. Essa iniciativa é uma pré-ace-
te sete empresas residentes (período de leração que conta com ações conjuntas
2015 a 2016) e mais de 58 empresas gra- do Inatel, da Telefônica Open Future e da
duadas, juntas geram cerca de 800 em- Ericsson. O objetivo consiste em capa-
pregos diretos e uma receita aproximada citar empreendedores, oferecer suporte
de R$ 220 milhões por ano. Os empresá- para estruturação e desenvolvimento de
rios incubados recebem constante apoio projetos e startups inovadoras, além de
para a gestão empresarial, focado nas fortalecer o ecossistema local47.
áreas estruturais de uma empresa/startup
nascente, fortemente marcada por uma Centro de Ensino Superior em Ges-
visão moderna do negócio. tão, Tecnologia e Educação - FAI

A Incubadora do Inatel já recebeu di- Souza (2000) conta que a ideia da


versos prêmios e reconhecimentos: criação da Faculdade de Administração
de Empresas de Santa Rita do Sapucaí
• Incubadora que mais graduou em- surgiu nos anos 60, a partir do sonho de
presas no Estado de Minas Gerais alguns professores que já percebiam as
pela Rede Mineira de Inovação evidências do desenvolvimento industrial
(RMI) do sul de Minas Gerais e gostariam de
ver a continuidade e extensão do projeto
• Certificação na norma ISO 9001
47 https://www.inatel.br/empreendedorismo/
• Melhor Projeto de Promoção da crowdworking

118 118
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

da Escola Técnica de Comércio mantido Assim, em 1971, surgiu o primeiro


pela Fundação Educandário Santa-Riten- curso de administração do sul de Minas,
se, onde havia o curso técnico de conta- com o foco, desde a sua concepção, de
bilidade. Dois desses professores foram formar administradores para as empresas
buscar ajuda do Prof. Ramón Villar Paisal, da região.
naquela época padre jesuíta, que relata o
caso da seguinte forma: Na medida em que o curso de Ad-
ministração de Empresas se desenvol-
Estava eu “posto em sossego”, via, foi começado também o processo de
quando me apareceram dois jo- autorização do curso de tecnólogo em
vens professores que, no meu processamento de dados, que iniciou as
íntimo, sonhavam angelicamente atividades em 1978 e, em 1997, foi trans-
iludidos com seu projeto - pouco formado em ciência da computação. Foi o
viável - de criar uma Faculdade de primeiro curso desse segmento no interior
Administração em Santa Rita. do País, em uma época em que, mesmo
nos grandes centros urbanos do Brasil, a
Sempre pensei que é crime matar informática ainda não era muito dissemi-
a ilusão de um jovem. Santa Rita nada (SOUZA, 2000).
contava então com 12.000 almas
e já possuía uma Escola Técnica Entretanto, o curso de Tecnólogo
de Comércio, uma bela Escola criou e disseminou a cultura e o
Normal, o parâmetro nacional em ambiente e introduziu a linguagem
Escola Técnica de Eletrônica e o da informática na região e conso-
Inatel. lidou sua posição no cenário edu-
cacional do município, posição
Caberia mais uma escola superior essa que se destacou mais nos
de Administração, em tão diminu- anos 90 com a criação da FAITEC.
ta comunidade notabilizada pela O curso passou a ser mais e me-
produção de café e leite e apenas lhor percebido através dessa feira
três indústrias: sabão, latas e cur- (SOUZA, 2000).
tume? É claro, Pouso Alegre e Ita-
jubá ficavam ali perto, mas... Atualmente a FAI conta com cinco
cursos de graduação, 11 cursos de pós-
(PAISAL, 2000, p. -graduação, 1200 alunos, 90 professores
1 apud SOUZA, 2000) e 50 colaboradores, já tendo formado
mais de três mil profissionais (dados de

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Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

2019)48. rior do Sul de Minas Gerais (com


3 ou mais cursos) a receber 4 es-
Em seus 40 anos de história, o pio- trelas do Guia do Estudante em to-
neirismo e a inovação são peças da sua dos os cursos (2014).
fundação, conforme demonstram os se-
guintes marcos: Fonte: https://www.fai-mg.br/portal/
index.php/a-fai/quem-somos
• Primeiro curso de Administração
do Sul de Minas (1971). Incubadora de Empresas de Base
Tecnológica da FAI - INTEF
• Segundo curso de Informática de
nível superior de Minas Gerais e Criada em 2009 para atender a de-
um dos doze primeiros do país manda provocada pelo ambiente em-
(1978). preendedor da instituição FAI e pelo polo
• Primeira instituição de ensino su- tecnológico de Santa Rita do Sapucaí, a
perior de Minas Gerais a incluir o FAI atua como entidade gestora e repre-
empreendedorismo no projeto pe- sentante legal da incubadora.
dagógico dos seus cursos (1997).
A Incubadora tem por finalidade
• Primeiro curso superior de Educa- apoiar as ideias inovadoras de novos pro-
ção do Sul de Minas com foco nas dutos, serviços e negócios gerados pelos
novas tecnologias educacionais e alunos, professores, ex-alunos da institui-
na educação inclusiva (2003). ção e outras instituições, incentivando a
inovação e a pesquisa científica e tecno-
• Prêmio Nacional (ABRAIC) de ino- lógica da região, do estado de Minas Ge-
vação em inteligência competitiva rais e do país. A FAI apoia a Incubadora
(2008). utilizando a expertise existente na institui-
• Única instituição de ensino supe- ção, o compartilhamento de espaços físi-
rior de Minas Gerais (com 3 ou cos e facilidades administrativas em favor
mais cursos) a receber nota máxi- aos empreendedores visando o sucesso
ma do MEC (ENADE) em todos os do projeto.
cursos (2012).
Atualmente possui quatro empresas
• Única instituição de ensino supe- residentes, duas associadas e outras três
na modalidade coworking.
48 https://www.fai-mg.br/portal/index.php/publi-
cacoes/jornal

120 120
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

Programa Municipal de Incubação Figura 17. Vídeo institucional da


Avançada de Empresas de Base Tecno- Incubadora Municipal de Empresas -
lógica – PROINTEC PROINTEC

Santa Rita do Sapucaí tem um histó-


rico protagonista com o processo de in-
cubação. A primeira empresa que surgiu
desse processo foi a Linear Equipamen-
tos Eletrônicos, fundada em 1977, que é
hoje uma importante fornecedora de equi-
pamentos de radiodifusão no Brasil e no
mercado internacional, já tendo instalado
mais de 40 mil equipamentos em mais de Fonte: https://www.youtube.com/watch?ti-
40 países nestes 40 anos de história49. me_continue=12&v=mR9pvYh_R68

A partir das experiências exitosas Como resultados desses 20 anos de


da ETE e do Inatel em incubadoras, em operação, tem-se (dados de 2019):
1998, o prefeito da época decidiu criar o
Programa Municipal de Incubação Avan-
• 49 empresas graduadas;
çada de Empresas de Base Tecnológica -
PROINTEC e também a Incubadora Muni- • 10 empresas em fase de incuba-
cipal de Empresas “Sinhá Moreira” - IME. ção;

O PROINTEC, segundo o site insti- • 14 empresas condôminas;


tucional, constitui um conjunto de ações
• Faturamento das empresas con-
para estimular o crescimento social de
dôminas: R$ 80 milhões;
Santa Rita do Sapucaí e região, fortale-
cendo os processos de geração, desen- • Faturamento das empresas in-
volvimento e atração de empreendimen- cubadas e graduadas: R$ 13 mi-
tos de base tecnológica. Em operação lhões;
desde 1999, tem a capacidade de incu-
bar até 20 empresas. • 800 postos de trabalho, sendo 580
diretos e 220 indiretos;

• 160 novos produtos;


49 https://www.hitachi-linear.com.br/corporate/
type_corporate.html
• Taxa de sucesso das empresas

121 121
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

graduadas: 81%; de negócio, bem como orientação para


acesso a crédito e gestão de negócios.
• Depósito de Patentes e Marcas de
empresas incubadas: 12. http://www.prointec.com.br/

Vinte e quatro por cento das empre- Sindicato das Indústrias de Apare-
sas de base tecnológica instaladas em lhos Elétricos, Eletrônicos e Similares
Santa Rita do Sapucaí são provenientes do Vale da Eletrônica - Sindvel
do PROINTEC.
http://sindvel.com.br
Além da incubadora municipal, a
prefeitura criou o ambiente de pós-incu-
O Sindvel foi criado para coordenar,
bação no Condomínio Municipal de Em-
proteger e representar legalmente as in-
presas “Ruy Brandão”, o CME, com o
dústrias do setor. Com 94 empresas atual-
objetivo de apoiar as pequenas e médias
mente associadas (dados de 2019), o
empresas do município. Por meio de uma
sindicato demonstra uma representação
área de 25.400 m² e área construída de
legítima das empresas de aparelhos elé-
12.500 m², há galpões industriais com
tricos, eletrônicos e similares, sendo um
áreas de 140 a 1.500 m². Das 14 empre-
ator que estimula a melhoria contínua das
sas que atualmente ocupam o condomí-
empresas, seja por meio de constantes
nio, quatro foram criadas na incubadora
capacitações, eventos, ou seja trazendo
do município. Os dados de 2010 mostram
parcerias nacionais e internacionais para
que as empresas do condomínio produ-
os empreendimentos associados.
ziram um faturamento de por volta de 70
milhões de reais, gerando 490 empregos
O Sindvel, em conjunto com a prefei-
diretos e mais de 200 empregos indiretos,
tura, tem assumido a liderança do desen-
a partir de uma interação com o APL (Ar-
volvimento local por meio das empresas
ranjo Produtivo Local) Eletroeletrônico de
de base tecnológica, criando um ambien-
Santa Rita do Sapucaí.
te saudável para a criação e crescimento
desses empreendimentos seja por meio
Outra ação do PROINTEC é a Casa
de estímulo a políticas públicas ou pelo
do Empreendedor do Vale da Eletrônica
apoio a seus associados.
(CEVE). O objetivo é reunir as informa-
ções de diversos setores econômicos e
SENAI
oferecer orientações sobre a legislação,
restrições e exigências para cada tipo
O Senai constitui uma importante ins-

122 122
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

tituição de ensino de Santa Rita do Sapu- troeletrônicos de Santa Rita do Sapucaí


caí, treinando jovens de 14 a 24 anos em para expor seus lançamentos, apresentar
aprendizagem industrial (mecânico de suas inovações tecnológicas, expandir
usinagem, eletricista de manutenção ele- sua rede de contatos, ampliar a visibilida-
troeletrônica) ou por meio do curso técni- de e fechar negócios.
co em eletrônica, sendo aceitos apenas
candidatos da Rede Pública de Ensino, http://sindvel.com.br/fivel-2019/
exceto os do EJA (Educação para Jovens
e Adultos). A FAITEC, Feira de Tecnologia é um
evento anual promovido pela FAI, com o
https://senai.club/senai-santa-rita-
objetivo de apresentar à comunidade o
-do-sapucai-2019-mg/
potencial criativo de seu corpo discente
visando despertar o interesse dos visitan-
SEBRAE
tes no sentido de viabilizar o aparecimen-
to de oportunidades de geração de novos
A região também conta com atuação
negócios, empregos e estágios, além de
do SEBRAE local que, conforme o entre-
atrair financiamentos para projetos que
vistado para esse estudo definiu essa ins-
promovam o atendimento das necessi-
tituição como um elo, reconhecido pela
dades locais, regionais e nacionais e o
comunidade, que une todos os pontos do
crescimento profissional dos alunos. São
ecossistema, academia, governo, classe
apresentados trabalhos técnico-científi-
empresarial dentre outros, acreditando
cos nas áreas de gestão, tecnologia da
que o seu principal papel seja o fortaleci-
informação e educação, divulgando no-
mento da rede, articulação e dissemina-
vas ideias e experiências nessas áreas.
ção de novos conhecimentos.
Já foram realizadas 29 edições.

Feiras Tecnológicas
https://www.fai-mg.br/portal/index.
A Feira Industrial do Vale da Eletrô- php/faitec/apresentacao
nica (FIVEL) representa uma oportunida-
de de reunir toda a rede de compradores A Feira Tecnológica do Inatel foi
e representantes das empresas para a idealizada por um grupo de alunos inte-
apresentação de produtos, lançamentos, grantes da Chapa Unidade e Luta, que
inovações e fechamento de negócios. Em liderava o Diretório Acadêmico do Inatel,
sua 15ª edição, em 2019, a FIVEL já se no início dos anos 80. Já a partir da se-
consolidou como o momento para em- gunda edição da feira, o Inatel a incorpo-
presas do Arranjo Produtivo Local de Ele- ra aos eventos institucionais. As primeiras

123 123
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

edições da FETIN tiveram caráter basi- sede do HackTown (www.hacktown.com.


camente técnico e os projetos eram ex- br), um festival de inovação, empreende-
postos em bancadas improvisadas, mas dorismo e criatividade criado em Santa
a inovação, a criatividade e o profissiona- Rita do Sapucaí e que terá sua quinta edi-
lismo sempre estiveram presentes. ção na cidade. São mais de 600 palestras,
em quatro dias, showcases e workshops
Nos dias da FETIN, o Inatel propor- acontecendo simultaneamente em diver-
ciona para os visitantes, colégios de en- sos lugares da cidade: auditórios, teatros,
sino médio, técnico e universidades, a bares, restaurantes e outros locais inusi-
oportunidade de visitar suas instalações tados.
por mais de 40 ambientes laboratoriais, e
receberem informações sobre a carreira Considerações Finais
e a profissão dos engenheiros. São reali-
zados workshops, competições, visitas e Apesar de ser uma pequena cidade
diversas outras experiências. do interior, Santa Rita do Sapucaí destaca-
-se por possuir todos os elementos de um
https://www.inatel.br/fetin/ ecossistema de inovação. Constatou-se
a presença do apoio e estímulo governa-
A FECETE é realizada pela Funda- mental com incentivos fiscais, formação
ção Dona Mindoca Rennó Moreira, man- de recursos humanos altamente qualifi-
tenedora da Escola Técnica de Eletrônica cados, destacando as três principais ins-
“Francisco Moreira da Costa” – ETE FMC. tituições de ensino e pesquisa (INATEL,
Desde 1981 a instituição realiza, anual- ETE e FAI), desenvolvimento científico,
mente, a Feira de Projetos Tecnológicos constituição de empresas estabelecidas
(PROJETE), com cerca de 5 mil visitantes. e conectadas globalmente, a produção
Na PROJETE são expostos, aproximada- de mais 14.500 produtos por meio de 153
mente, 200 projetos por edição. Os alunos empresas, além de uma forte promoção à
desenvolvem, ao longo do ano, protótipos cultura empreendedora a partir de diver-
de produtos inovadores para a feira. Es- sas feiras que mobilizam a cidade.
ses protótipos podem envolver esporte,
games, saúde, meio ambiente, acessibi- A indução do desenvolvimento eco-
lidade, entre outros. nômico por meio do conhecimento é cla-
ra no crescimento de Santa Rita do Sa-
http://www.etefmc.com.br/fecete-co- pucaí. Constitui-se como um ecossistema
nheca-a-fecete-o-que-e e de inovação de alto impacto conforme o
modelo trazido para este estudo e traduz
Santa Rita do Sapucaí também é

124 124
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

as instituições de ensino e pesquisa, in- do e 16 programas de doutorado) (CITTA,


dústrias e diversos mecanismos de apoio 2018)50.
à geração de empreendimentos. Traduz
esse desenvolvimento e dados de renda Foi por meio da Lei nº 792/52 que se
per capita média do município cresceu de instituiu a primeira instituição de ensino
R$ 219, em 1999, para R$ 315, em 2000 superior de Campina Grande, a Escola
e R$738,40 em 2010 e IDH que entre os Politécnica. Em 1954, foi criada a Facul-
anos de 2000 a 2010 passou de 0,654 dade de Filosofia de Campina Grande;
(2000) para 0,721 (2010). em 1955, a Universidade da Paraíba; em
1957, a Faculdade de Ciência Econômi-
ca; e em 1966 originou-se a Universidade
3.5.2 CAMPINA GRANDE –
Regional do Nordeste (URN), transforma-
PARAÍBA da ,em 1986, na Universidade Estadual
As universidades têm sido vistas da Paraíba (UEPB).
cada vez mais como essenciais para a Destacam Silva e Montenegro (2010)
inovação e para o crescimento econô- que, na década de 1940, Campina Gran-
mico (REYNOLDS; NEGRI, 2019). Assim de era o segundo maior importante comér-
como visto acima em Santa Rita do Sapu- cio algodoeiro do mundo, ficando atrás
caí (MG), onde a constituição das escolas apenas de Liverpool, atraindo riqueza,
técnicas e superiores estimularam a cria- comércio pujante e atraindo investidores,
ção de empresas de base tecnológica e empresários, banqueiros e outros grupos
consequentemente o desenvolvimento que passaram a se estabelecer na cida-
econômico, em Campina Grande (PB), de. Interessante observar que, já na dé-
não foi diferente. cada seguinte, diferentemente da capital
Campina Grande fica a 120 km da do Estado, João Pessoa, que tinha uma
capital do Estado da Paraíba, João Pes- elite política e uma classe média consti-
soa, e é o segundo maior centro econô- tuída de profissionais liberais, Campina
mico do Estado. A cidade se destaca por Grande era sede de grande número de
acolher 50 mil estudantes matriculados indústrias e bancos privados e possuía
nas 16 instituições de ensino superior pú- uma forte e influente elite comercial e fi-
blicas e privadas, mais de 3500 alunos nanceira, que percebia nos avanços cien-
matriculados em cursos técnico-profis- tíficos e tecnológicos uma forma de aqui-
sionalizantes, além de 2700 estudantes sição e exercício do poder. Ressaltam os
de pós-graduação, matriculados em 67 autores (2010) que essa diferença pode
programas de pós-graduação (21 progra-
mas de MBAs, 35 programas de mestra- 50 http://www.citta.org.br/campina.php

125 125
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

ter influenciado na formação de Campina Não, não nos sentimos choca-


Grande como um polo de pensamento e dos por isso, a verdade não nos
difusão da ciência e tecnologia. diminuía, ao contrário éramos os
primeiros a reconhecer que o pro-
O discurso do primeiro Diretor da Es- gresso material desta zona avan-
cola Politécnica na visita do Governador çou desproporcionalmente ao pro-
do Estado à cidade, em 1952, na criação gresso de sua cultura; finalmente
da Escola Politécnica, representa a visão comércio e indústria podem surgir
de Estado dos seus integrantes e o pro- de um dia para outro enquanto
gresso econômico que, a partir da cria- que cultura exige estudo, medi-
ção da instituição de ensino superior, pas- tação, conseqüentemente tempo.
sa a acompanhar o progresso científico: (Discurso de Antônio da Silva Mo-
rais, 06/10/1952) (SILVA; MONTE-
Exmo. Sr. Dr. José Américo de Al-
NEGRO, 2010).
meida, M.D. Governador do Esta-
do, Exmas. Autoridades.

Muito se tem falado até hoje sobre Tendo em vista as indústrias que
o quase assombroso desenvolvi- ocupavam a região, grande parte dos
mento de Campina Grande. A sua estudantes campinenses que desejavam
fama sob o ponto de vista comer- uma formação tinham que deixar a cida-
cial ultrapassou não só as frontei- de natal para seguir uma carreira univer-
ras do nosso Estado como as fron- sitária. Esse foi um dos principais motivos
teiras do nosso país. Não é nosso para a implementação do ensino superior
propósito entrar em detalhes so- na região. A Escola Politécnica de Cam-
bre as razões que levaram-na a pina Grande possui diversos desafios da
tão alto grau de expansão, mas, o sua concepção e implementação, mas
que é certo é que temos aqui uma houve diversas lideranças que se desta-
cidade como poucas cidades do caram para o crescimento da Escola e o
interior, sem preconceitos e sobre- desenvolvimento da região. Uma das que
tudo sem dono, maior sintoma de mais se destaca é o Dr. Lynaldo Caval-
democracia. canti que foi diretor da Escola Politécnica
entre 1964 até 1971, reitor da Universida-
Mas, ao par daqueles comentários
de da Paraíba e presidente do Conselho
elogiosos, havia sempre uma vela-
Nacional de Desenvolvimento Científico
da crítica ao seu desenvolvimento
e Tecnológico (CNPq), quando assumiu
intelectual.
também a liderança de trazer um dos

126 126
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

primeiros parques tecnológicos do Brasil Torres e Montenegro (2013) afirmam


para Campina Grande. Como diretor da que a Escola de Engenharia foi a porta de
Escola Politécnica se orgulha de grandes entrada para muitas transformações da
feitos durante sua gestão na década de cidade e para a construção do desenvol-
60 como: construir um centro de proces- vimento científico da região, não somen-
samento de dados com computador IBM te pela formação de pessoas de forma
1130; primeira instituição do Norte e Nor- qualificada, mas também pela aptidão de
deste a ter pós-graduação de Engenha- propor soluções para os problemas da ci-
ria. dade.

Silva e Montenegro (2010) observam Em 1973, foi agregada a Universida-


que em Campina Grande há a construção de Federal da Paraíba, que mais tarde,
de um imaginário social que liga a cidade em 2002, passaria a ser a Universidade
à ideia de progresso econômico. A che- Federal de Campina Grande. Em 2002,
gada do trem em 1907, a potência do co- a UFCG já contava com uma estrutura
mércio do algodão e o seu consequente multicampi, com unidades acadêmicas e
crescimento de serviços, inclusive a ativi- estruturas administrativas nas cidades de
dade financeira e o pioneirismo de diver- Campina Grande, Patos, Sousa e Caja-
sas instituições de ensino superior. Conti- zeiras, oferecendo 29 cursos de gradua-
nuam os autores que essa ideia constitui ção e oito programas de pós-graduação,
uma realidade objetivada, anseio e sonho com 13 mestrados e nove doutorados.
da população local. Ofertava 1.570 vagas de ingresso em seu
processo vestibular. Em 2019, possuía
Interessante destacar também o pa- sete campi universitários, 11 centros de
pel da mídia nesse processo, em especial ensino, 77 cursos de graduação, 47 pro-
do Diário da Borborema, que se identifi- gramas de pós-graduação - com 34 mes-
cava com as ideias modernistas e com o trados e 13 doutorados -, 16.971 alunos
progresso da cidade e suas expectativas. na graduação e 3.288 alunos na pós-gra-
Torres e Montenegro (2013) ressaltam a duação - 2.423 mestrandos e 865 douto-
construção de discursos com a intenção randos, ofertando 4.685 vagas de ingres-
de destacar os progressos advindos com so na graduação por meio do Sistema de
a indústria do algodão e com a Escola Po- Seleção Unificado (SiSU) (UFCG, 2019)51.
litécnica e suas inovações – dentre elas, a
iniciativa de trazer para o nordeste o com- Campina Grande também foi pio-
putador IBM 1130 –, em vez de focar nas neira na construção de parques tecno-
notícias cotidianas da cidade.
51 https://portal.ufcg.edu.br/conheca-a-ufcg.
html

127 127
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

lógicos. Criada em 1984, entre os quatro 9394/96. Desde 1975, formou aproxima-
primeiros parques tecnológicos do país, damente sete mil jovens habilitados para
a Fundação Parque Tecnológico da Paraí- ingressar no mercado de trabalho como
ba – Fundação PaqTcPB é uma instituição Técnicos em Eletrônica, Telecomunica-
sem fins lucrativos voltada para o avanço ções, Informática, Segurança do Trabalho,
científico e tecnológico do Estado. Equipamentos Biomédicos, Enfermagem,
Guia de Turismo, Logística e Reabilita-
Além das instituições públicas, como ções de Dependentes Químicos53.
a UEPB e a UFCG, há também o Institu-
to Federal da Paraíba campus Campina Há também diversas instituições
Grande, que iniciou suas atividades no particulares de ensino, como a Faculdade
ano de 2006. Seus primeiros cursos foram de Ciências Sociais Aplicadas (UNIFACI-
ofertados em 2007, tendo como pioneiro o SA); a Faculdade de Ciências Médicas de
Curso Superior de Tecnologia em Telemá- Campina Grande (FCM); a Escola Supe-
tica. Levando em consideração o poten- rior de Aviação Civil (ESAC); e a Faculda-
cial regional, o campus Campina Grande de Maurício de Nassau (UNINASSAU).
do IFPB procura adequar sua oferta de
cursos às demandas locais, atendendo Campina Grande se destaca no ce-
às necessidades da sociedade52. nário de inovação por um conjunto de
fatores e estruturas. Tanto pelo forte his-
Interessante destacar que a Escola tórico atrelado ao conhecimento, como a
Técnica Redentorista - ETER foi criada cultura local, quanto pelo apoio do poder
em 1975 e recebeu inúmeras ajudas, em público54 a esse desenvolvimento e ao
especial da atual UFCG, destacando-se crescimento industrial. Conforme ressalta
a participação do Professor Lynaldo Ca- Alexandre Moura, ex-aluno da UFCG e di-
valcanti. As orientações quanto à estrutu- retor da Light Infocon: “temos metade do
ra curricular e organizacional vieram da tamanho de Pernambuco e estamos na
Escola Técnica de Eletrônica de Santa
Rita do Sapucaí (MG). Em 1998, a Escola 53 http://www.redentorista.org.br/index.php/eter/
institucional/historia.html
firmou convênio com o MEC, através do
Programa de Expansão do Ensino Profis- 54 “A alta concentração de cérebros também foi
impulsionada por um pacote de incentivos fiscais. Pe-
sionalizante (PROEP), possibilitando-lhe sou a recente medida do governo federal que reduziu
implantar a reforma do ensino profissiona- à metade os impostos sobre exportações de TI. Antes
lizante, de acordo com as exigências da disso, a prefeitura já tinha se encarregado de baixar
uma lei reduzindo o ISS para softwares, de 5% para
Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a 2,5%. E o Estado, por fim, concedeu um desconto no
ICMS para o setor - 100% para microempresas e 50%
52 https://www.ifpb.edu.br/campinagrande/insti- para as demais”. http://www.ufcg.edu.br/prt_ufcg/as-
tucional/sobre-o-campus sessoria_imprensa/mostra_noticia.php?codigo=8190

128 128
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

pior parte do Nordeste: daqui só sai pe- da sociedade: UFPB, UFCG, SEBRAE-PB,
dra e cacto. A Paraíba só poderia andar Prefeitura Municipal de Campina Grande
com a Universidade e a tecnologia”55. (PB), Banco do Nordeste do Brasil (BNB),
UEPB, CNPq, FIEP, Governo do Estado
Em seguida serão destacadas algu- da Paraíba e Associação das Empresas
mas estruturas e mecanismos de apoio de Base Tecnológica (AEBT).
a empreendimentos inovadores que es-
timulam o ecossistema de inovação de Ressalta Gomes (1995) que na cons-
Campina Grande. tituição da Fundação PaqTc-PB havia
uma forte vertente para a transferência
Fundação Parque Tecnológico da de tecnologia a partir da universidade e
Paraíba – Fundação PaqTcPB voltada, sobretudo, ao atendimento das
necessidades do tecido industrial local e
regional, não fazendo referência à criação
de empresas. Somente em 1987, a PaqTc-
Com o propósito de “criar condições
-PB começou a direcionar esforços para o
para elevar o grau de interação, entre o
processo de incubação de empresas, no
Sistema Nacional de Desenvolvimento
início informalmente, e institucionalizando
Científico e Tecnológico (SNDCT) e o setor
o processo em 1986, com a criação da
produtivo regional” (Fundação PaqTc-PB,
incubadora.
1985), foi criada a Fundação Parque Tec-
nológico da Parafba- PaqTc-PB, em 1984, Ao longo dos anos, a instituição tem
por iniciativa do Conselho Nacional de sido uma espécie de pilar, para dar su-
Desenvolvimento Científico e Tecnológico porte a projetos e programas do setor de
(CNPq), no âmbito do programa de apoio Ciência, Tecnologia e Inovação. Grande
a polos e parques tecnológicos. Foi um parte da sua história de prestígio é fruto
dos quatro primeiros parques tecnológi- dos resultados alcançados na sua atua-
cos do país. A escolha de Campina Gran- ção e das parcerias firmadas com várias
de não foi acidental, mas fundamentada instituições como as universidades e em-
em diversos fatores, como a universidade presas locais e com o desenvolvimento
e seus cursos voltados para tecnologia de projetos como a incubadora, a Citta e
com pós-graduação nos níveis de mes- diversos eventos locais, que serão desta-
trado e doutorado, por exemplo (GOMES, cados a seguir.
1995). Em sua constituição, a Fundação
PaqTcPB conta com diversos segmentos Com a missão de promover o em-
preendedorismo inovador no Estado da
55 http://www.ufcg.edu.br/prt_ufcg/assesso- Paraíba, apoiando a criação e o cresci-
ria_imprensa/mostra_noticia.php?codigo=8190

129 129
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

mento de empresas de base tecnológica mentoria, fomento e internacionalização


e de empreendimentos sociais, através de seus negócios57.
da apropriação dos conhecimentos e tec-
nologias geradas nas Instituições de P&D A ITCG atua em sete nichos de ne-
e da inserção de produtos, serviços e pro- gócios:
cessos no mercado – inclusive no exterior
• Tecnologias da informação e
– contribuindo para o desenvolvimento do
Comunicação
país, atua nos seguintes segmentos eco-
• Eletroeletrônica
nômicos: Tecnologias da informação e
• Biotecnologia
Comunicação, Eletroeletrônica, Petróleo e
• Petróleo e Gás Natural
Gás Natural, Bicombustíveis, Agroindús-
• Biocombustíveis
tria, Tecnologias Ambientais, Design entre
• Agroindústria
outros serviços especializados, obtendo
• Tecnologias Ambientais
uma receita com projetos e serviços em
• Design
2010 de R$ 7,5 milhões56.
Além de 28 empresas incubadas
A Incubadora Tecnológica de Em- em 2017, mais de 100 empreendimen-
preendimentos Criativos e Inovadores tos já passaram pela ITCG, gerando mais
(ITCG) de 200 postos de trabalho. Hoje, a ITCG
constitui-se como um importante meca-
Concebida em 1986 e gerida pela nismo de geração de empreendimentos
Fundação Parque Tecnológico da Paraíba inovadores no ecossistema de inovação
(Fundação PaqTcPB), apoia empreendi- de Campina Grande.
mentos inovadores na identificação e de-
senvolvimento de suas ideias, visando sua
Centro de Inovação e Tecnologia
viabilidade e inserção no mercado, des-
Telmo Araújo (CITTA)
de a criação até sua consolidação, como
forma de promover o empreendedorismo O CITTA - Centro de Inovação e Tec-
inovador em nosso estado e região. O ob- nologia Telmo Araújo - foi concebido no
jetivo inicial foi fixar profissionais oriundos início de 2006, com a missão de expan-
do polo universitário de Campina Grande dir e consolidar a adoção sistemática e
a partir da promoção de suas ideias ino- cooperativa de processos e práticas com
vadoras, hoje com o apoio de parceiros ênfase na organização, priorização, viabi-
diversificados e bem articulados, vem se lização e conexão da oferta e demanda
consolidando na prospecção, formação, de serviços inteligentes e tecnológicos

56 http://www.paqtc.org.br 57 http://itcg.org.br/quemsomos/

130 130
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

para a promoção da inovação no Estado para gerar oportunidades de in-


da Paraíba e na Região Nordeste. Com o vestimento de risco para as em-
início da operação em 2013, o Estado da presas consorciadas;
Paraíba passou a contar com um ambien- • Realização de estudos, projetos e
te multiuso que sustenta a conexão dos pesquisas orientados à geração,
processos de decisão no ambiente do apropriação e compartilhamento
Parque; atrai empresas privadas e públi- de conhecimentos necessários à
cas, organismos estatais, universidades promoção de inovações tecnoló-
e institutos de pesquisa; e fortalece e in- gicas;
tensifica a captação de recursos para o • Mapeamento de tecnologias de
desenvolvimento pleno do potencial de domínio público e de baixo cus-
apropriação de conhecimentos sob a for- to para promoção de empreendi-
ma de inovações tecnológicas, de produ- mentos inovadores com orienta-
tos, processos e serviços58. ção social.

Dentre as atividades conduzidas O CITTA acolhe empreendimentos


pelo CITTA, destacam-se: e centros de PD&I que atuam na apro-
priação de TIC, Engenharia de Materiais
• Implantação de serviços inteligen- e Biotecnologia, com ênfase na geração
tes autossustentáveis às empre- de produtos e serviços para os setores de
sas da região e aos governos es- Saúde, Energia e Agronegócios. Na área
taduais e municipais para apoiar de 2,5 hectares em o CITTA está instala-
os processos de inovação; do, há lotes de terrenos para construção
• Oferta de instalações e outras fa- de espaços para empresas ou centros de
cilidades de infraestrutura, comu- PD&I, com capacidade para abrigar até
nicação e logística para as empre- 52 empreendimentos, sendo para empre-
sas consorciadas; sas âncoras 6.613,50m²; para empresas
• Organização de serviços de infor- de médio porte, 4.500 m²; para empresas
mação tecnológica às empresas, de pequeno porte, 4.500m²; estaciona-
governos e universidades da re- mento para 322 vagas; e, para área de
gião e, em particular, do Estado convivência, 250 m² 59.
da Paraíba;
• Estímulo ao surgimento de em-
preendimentos de venture capital
59 http://itcg.org.br/citta-3/
58 http://www.citta.org.br/citta.php

131 131
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

Centro de Engenharia Elétrica e In- Controle (LIEC)


formática (CEEI) da Universidade Fede- • Laboratório de Interface Homem-
ral de Campina Grande (UFCG) -Máquina (LIHM)
• Laboratório de Visão Computacio-
O Centro de Engenharia Elétrica nal (LVC)
e Informática (CEEI) da Universidade • Laboratório de Práticas de Softwa-
Federal de Campina Grande (UFCG) re (SPLab)
desenvolve, como Unidade EMBRAPII, • Laboratório de Sistemas Distribuí-
projetos na área de software e automa- dos (LSD)
ção. São softwares para dispositivos • Laboratório de Sistemas de Infor-
móveis e embarcados, software para ar- mação (LSI)
mazenamento, processamento e análise • Laboratório de Sistemas Embar-
de grandes massas de dados e desen- cados e Computação Pervasiva
volvimento de soluções de automação, (Embedded)
controle e instrumentação. Criado em Eles são responsáveis por realizar as
junho de 2005, é formado pelo Depar- seguintes atividades dentro desta área de
tamento de Engenharia Elétrica (DEE) competência:
e Departamento de Sistemas e Compu- • Identificação e análise de proble-
tação (DSC). O CEEI tem como objeti- mas
vo integrar os departamentos para que • Proposição de soluções
atuem em conjunto em ensino, pesquisa • Prototipagem
e extensão, principalmente em projetos • Desenvolvimento
de inovação com empresas no desen- • Testes
volvimento de software embarcado e • Análise de viabilidade de soluções
automação industrial. • Criação de produtos (Design Thin-
king)
Ao todo, dez laboratórios desenvol-
• Análise de alinhamento de produ-
vem projetos ligados à área de competên-
tos ao negócio da empresa
cia do CEEI como Unidade EMBRAPII:
• Otimização de processos, equipa-
• Laboratório de Arquiteturas Dedi- mentos e produtos
cadas (LAD) • Implantação de produtos
• Laboratório de Análise de Dados • Avaliação de produtos pós-im-
(Analytics) plantação
• Laboratório para Cidades Inteli- Dentre as empresas parceiras que
gentes (LCI) fazem parte do portfólio de projetos e pro-
• Laboratório de Instrumentação e dutos desenvolvidos pela equipe do Vir-

132 132
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

tus, vinculado ao CEEI/ UFCG, destacam- INOVATEC-UEPB - Agência de Ino-


-se SONY, LG, HUAWEI, ASUS, COMPAL, vação Tecnológica
ENVISION, SAMSUNG, NOKIA, HP, JFL,
DL, dentre várias outras60. A INOVATEC-UEPB surge em 2009
dentro do contexto nacional que vem le-
A Empresa Brasileira de Pesquisa e vando as instituições de ciência e tecno-
Inovação Industrial (Embrapii) divulgou logia (ICT’s) a suprir a necessidade de
a avaliação dos primeiros dois anos de comunicação entre a universidade e as
operação de suas 28 credenciadas. Dos empresas, com vistas à capacitação e
212 projetos apresentados, 58 (ou 27%) ao alcance da autonomia tecnológica e
foram executados pela unidade instalada ao desenvolvimento industrial do País e
no Centro de Engenharia Elétrica e Infor- de suas regiões, buscando incentivar a
mática da Universidade Federal de Cam- inovação e a pesquisa científica e tecno-
pina Grande - Embrapii CEEI/ UFCG. A lógica no ambiente produtivo. A Agência
CEEI/UFCG executou 84% das propostas de Inovação Tecnológica da Universida-
técnicas e ultrapassou a meta de proje- de Estadual da Paraíba tem a missão de
tos contratados, além de ter alcançado realizar a Gestão da Inovação por meio
sucesso na captação de recursos para de planejamento, coordenação e execu-
execução dos projetos61. ção de atividades voltadas à promoção
da inovação tecnológica, no âmbito da
Feira de Tecnologia de Campina UEPB. Para tanto, criou também a Incu-
Grande – FETECh badora Empresarial da UEPB63.

Em 2018, ocorreu a 14ª Feira de Tec- Núcleo de Inovação Tecnológica da


nologia de Campina Grande (FETECh). A UFCG
feira tem o papel de destacar a força do
ecossistema de Campina Grande, sendo Criado em 2008, o NITT presta as-
uma vitrine de tecnologia do estado, com sessoria e orientação nos trâmites para
cerca de 160 projetos, mais de 300 ex- a proteção da Propriedade Intelectual
positores envolvidos e programação de em todos seus aspectos, promovendo a
palestras com atores locais e nacionais62 transferência de tecnologia da Universi-
dade. Conforme pode perceber no grá-
60 https://www.virtus.ufcg.edu.br/ fico abaixo o número de proteções tem
61 http://www.ufcg.edu.br/prt_ufcg/assesso- aumentado consideravelmente ao longo
ria_imprensa/mostra_noticia.php?codigo=19511 dos anos.
62 http://www.paqtc.org.br/2018/07/05/14a-fei-
ra-de-tecnologia-de-campina-grande-se-reafirma-co-
mo-vitrine-tecnologica/ 63 http://www.uepb.edu.br/a-uepb/historico/

133 133
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

Figura 18. Registros de PI acumulado:

Fonte: http://www.nitt.ufcg.edu.br/pi-em-numeros/

Foram captados mais de R$ 56 mi- Considerações Finais


lhões a partir de parcerias e convênios
de P&D. O caso da agência de inovação A partir do quadro referencial inicial-
da UFCG foi usado com referência de su- mente utilizado de capacidade de inova-
cesso para o governo federal no recente ção e capacidade de empreendedorismo,
programa para a educação superior de- Campina Grande vem se desenvolvendo
nominado Future-se. consistentemente nesses aspectos.

A fim de facilitar o acesso e a transfe- Com mais 50 mil estudantes ma-


rência de tecnologia, além das proteções, triculados nas 16 instituições de ensino
foi criado um portal que divulga os inven- superior públicas e privadas em gradua-
tores e suas aplicações. Esse portfólio de ção, pós-graduação e cursos técnicos, a
tecnologias pode ser encontrado aqui: produção de capital humano qualificado
http://www.nitt.ufcg.edu.br/portifolio-de- nessa cidade é razão de destaque. So-
-tecnologias-ufcg/ mam-se a este fator o pioneirismo em

134 134
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

áreas de inovação, tendo um dos primei- Destaca Marcovitch (2009), em sua


ros parques tecnológicos do Brasil, com obra Pioneiros e Empreendedores ,na
a Fundação Parque Tecnológico da Paraí- qual aborda as biografias das primeiras
ba, e diversos mecanismos de geração lideranças empresariais e o desenvol-
de empreendimentos inovadores, como vimento industrial no Brasil, ao tratar da
a Incubadora Tecnológica de Empreen- família Gerdau-Johannpeter, que o setor
dimentos Criativos e Inovadores (ITCG) e industrial começava a florescer em Porto
o Centro de Inovação e Tecnologia Telmo Alegre no final do século XIX, contando
Araújo (CITTA). Essa junção de fatores com 30 empresas capazes de empre-
proporciona a estrutura necessária para gar algumas centenas de operários cada
converter o capital intelectual em resolu- uma. A Gerdau, uma das 15 maiores em-
ção de problemas da sociedade e desen- presas do Brasil, que se tornou a maior
volvimento econômico. fabricante de aços longos do continente
americano após abrir o capital na bolsa
Na medida em que a região tem de Nova Iorque em 2004 e adquirir di-
crescido na formação de capital humano versas companhias nos Estados Unidos,
cada vez mais qualificado, a geração de teve seu início com a mudança da família
ideias que tem se convertido em empre- para Porto Alegre em 1893.
sas de alto potencial tecnológico e cresci-
mento, proporcionalmente ao tamanho da Em primeiro lugar, mudar-se para
região. Porto Alegre, cidade mais condi-
zente com o nível e a ambição de
seus negócios, e onde sua espo-
sa Alvine e a filha Bertha encon-
3.5.3 PORTO ALEGRE – RIO trariam um convívio sócio cultural
GRANDE DO SUL mais elevado. Com seus setenta
mil habitantes, Porto Alegre conta-
Diferente das outras duas cidades va com boas escolas e instituições
analisadas, Santa Rita do Sapucaí (MG) e culturais, como o Teatro Apolo e a
Campina Grande (PB), Porto Alegre (RS) Sociedade Germânia, onde se re-
é uma capital de estado. Mas, da mesma uniam os membros bem-sucedi-
forma que as demais, é possível perceber dos da colônia alemã (MARCOVI-
uma conexão saudável entre os atores da CH, 2009, p. 270).
hélice tríplice (indústria, universidade e
governo) para o desenvolvimento econô- O desenvolvimento industrial e o des-
mico por meio da inovação. taque para boas escolas e instituições cul-
turais floresciam naquela época. Durante

135 135
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

o século XX, Porto Alegre se desenvolve ma Porto Alegre Tecnópole (PAT), tendo
economicamente, verticaliza-se e torna- como objetivo o desenvolvimento local
-se uma das grandes metrópoles brasilei- e regional a fim de enfrentar os desafios
ras. Tendo em vista que o objetivo deste advindos da sociedade do conhecimen-
trabalho não é fazer uma análise histórica, to. Liderados pelo poder público como
mas identificar e começar a compreender articulador, participaram diversas outras
a articulação entre os diversos mecanis- instituições, como as universidades (Uni-
mos de geração de empreendimentos sinos, PUCRS e UFRGS), poder público
inovadores, faz-se um salto histórico para (Governo do Estado e Prefeitura) e enti-
o final do século XX. dades da sociedade civil (CUT, FEDE-
RASUL, FIERGS, SEBRAE). Para tanto,
Na década de 90, destaca-se a lide- diversas ações foram realizadas, como
rança do governo para estimular a inova- ressaltam as pesquisadoras Aurora Zen e
ção na capital gaúcha. Representantes Hauser (2005):
das universidades gaúchas e empresas
da região, organizadas pela prefeitura de identificação de zonas territoriais
Porto Alegre, em 1993, visitam as tecnó- estratégicas para intervenção
poles francesas. Um technopole é uma ci- econômica visando os objetivos
dade ou sub-região onde se concentram da tecnópole, o estudo da deman-
os elementos inventivos da cadeia de ino- da e da oferta tecnológica existen-
vação, tendo como elementos principais te na RMPA, a instalação de uma
e necessários para interação: universi- rede de fibra ótica, a implantação
dades; grandes empresas de tecnologia; de escritórios de transferência de
pequenas empresas emergentes de tec- tecnologia nas Universidades par-
nologia; instituições europeias preocupa- ceiras, a criação de incubadoras
das com a inovação; governos nacionais de base tecnológica, o estabeleci-
e locais; e grupos de apoio local (SIMMIE, mento de uma rede de incubado-
1994). Hauser, supervisora de desenvolvi- ras, a elaboração de projetos e a
mento tecnológico da Prefeitura de Porto implementação de parques tecno-
Alegre, conta que as lideranças voltaram lógicos, entre outras (ZEN; HAU-
convencidas de que deveriam se unir SER, 2005).
para promover o desenvolvimento tecno-
lógico-regional64. Em 2000, o convênio foi renovado
e definiu como objetivos a promoção e o
Surgiu assim, em 1995, o Progra- desenvolvimento da inovação na região
a partir de quatro estratégias: criar as
64 http://www.pucrs.br/tecnopuc/livrotecnopuc/ condições necessárias para apoiar e es-
comeco/nasce-um-ambiente-de-inovacao/

136 136
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

timular o nascimento e consolidação de mentos, atraindo investimentos e retendo


empresas de base tecnológica, por meio talentos65. Além das três universidades, a
dos parques tecnológicos, incubadoras e prefeitura e organizações da sociedade
programas específicos para promover o civil também participaram do processo,
empreendedorismo; desenvolver um ser- em que definiram uma agenda estratégi-
viço de extensão tecnológica, a partir de ca e aprovaram 24 projetos em sete eixos
uma rede envolvendo três universidades (imagem da cidade, nova marca, moder-
(UFRGS, UNISINOS e PUC/RS), dois cen- nização da administração pública, edu-
tros de pesquisa (um pertencendo ao Go- cação e talentos, ambiente de negócios,
verno Estadual e outro ao sistema de es- transformação urbana, qualidade de vida
colas técnicas industriais) e os sindicatos e projetos estratégicos). Dentre as ações
das indústrias; estimular o processo de estão desde a realização de evento anual
inovação, articulando a malha industrial, até melhorias no serviço público, forma-
as universidades, os centros de tecnolo- ção de pessoas e construção de platafor-
gia e o poder público; e atrair empresas mas66.
e centros de pesquisas na área tecno-
lógica, visando transformar a economia O Pacto Alegre configura-se um mo-
da Região Metropolitana de Porto Alegre vimento que busca transformar Porto Ale-
(ZEN; HAUSER, 2005). gre em um ecossistema de inovação de
classe mundial para a criação de um futu-
Diversos mecanismos de promoção ro melhor para todas as pessoas, tornan-
de empreendimentos inovadores surgi- do-se reconhecida como referência em
ram a partir desse programa, gerando inovação na América Latina pelos próxi-
diversas empresas de base tecnológica mos dez anos. Seu modelo é Barcelona67.
e promovendo o desenvolvimento da re-
gião. O Pacto Alegre é entendido como o
quarto ciclo de projetos de amplo envol-
Ainda mais recentemente, no início vimento da sociedade para transformar
de 2018, a três maiores universidades da a cidade em um ecossistema de inova-
capital gaúcha, UFRGS, PUCRS e Unisi- ção de classe mundial. O primeiro foi o
nos, lançaram a Aliança pela Inovação,
uma articulação das três instituições de 65 http://www.pucrs.br/blog/universidades-
ensino a fim de potencializar ações de -criam-alianca-para-inovacao-em-porto-alegre/
impacto com o objetivo de avançar o 66 https://gauchazh.clicrbs.com.br/porto-alegre/
ecossistema de inovação e do desenvol- noticia/2019/05/pacto-alegre-conheca-os-24-projetos-
-selecionados-para-transformar-a-capital-gaucha-cjw-
vimento da cidade, transformando-a em cp1f6g01vq01qtfejwebxz.html
um polo gerador de novos empreendi-
67 https://pactoalegre.poa.br

137 137
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

PAT; o segundo ocorreu por meio do CITE novas empresas em Porto Alegre, núme-
– Comunidade, Inovação, Tecnologia e ro 27,1% superior ao mesmo mês do ano
Empreendedorismo; e o terceiro pela Ino- anterior. Para a Secretaria de Desenvolvi-
vapoa – Agência de Desenvolvimento e mento Econômico, esse resultado é fruto
Inovação para Porto Alegre. de desburocratização, reduzindo o tempo
de abertura de empresas de 41 para cin-
Tendo em vista o protagonismo e co dias e promovendo estímulos ao em-
pioneirismo de Porto Alegre em diversas preendedorismo, como o Pacto Alegre e
ações para o desenvolvimento econômi- outras ações69.
co por meio de inovação, seja do gover-
no, academia ou indústria, passamos a No site da prefeitura é destacado
analisar alguns dos mecanismos de gera- que Porto Alegre escolhe a inovação e o
ção de empreendimentos inovadores da empreendedorismo como caminho estra-
capital gaúcha. tégico prioritário para delinear seu futu-
ro. Para tanto, criou a Coordenadoria de
Poder Público – Prefeitura Inovação, vinculada à Secretaria Munici-
pal de Desenvolvimento Econômico, que
A prefeitura de Porto Alegre tem rea- tem a finalidade de articular a integração
lizado ao longo dos anos diversas ações entre os agentes públicos e a sociedade
para estimular o empreendedorismo e a civil de modo a estimular a criatividade, a
inovação na cidade. O Programa Porto inovação e o empreendedorismo para o
Alegre Tecnopole (PAT), citado na intro- desenvolvimento da cidade e de seus ci-
dução, foi realizado na década de 90 e dadãos. Assim, a Coordenadoria de Ino-
estimulou, dentre outros projetos, a cria- vação dotará os empreendimentos inova-
ção de diversos parques tecnológicos na dores de estruturas físicas – os habitats
região. de inovação.
O site do município68 tem uma aba Foi criado também o Sistema de Ino-
específica para empreendedores, em que vação e Empreendedorismo de Porto Ale-
estes podem se informar sobre os impos- gre. Uma das ações consiste em criar es-
tos, licenciamentos e alvarás, bem como paços em pontos espalhados pela cidade
consultar oportunidades e diversos outros que podem hospedar os habitats de ino-
serviços. vação, denominado Sistema de Habitats
de Inovação – poa.Hub, que é um subsis-
Em abril de 2019, foram abertas 1668
tema do Sistema de Inovação e Empreen-

68 http://www2.portoalegre.rs.gov.br/portal_ 69 https://prefeitura.poa.br/smde/noticias/aber-
pmpa_novo/ tura-de-empresas-cresce-27-em-abril-na-capital

138 138
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

dedorismo de Porto Alegre70. dade foi federalizada, passando à esfera


administrativa da União. Mas seu histórico
O primeiro Hub - poa.Hub 1 - foi inau- remonta à Escola de Farmácia e Química
gurado em 2017, na Avenida da Azenha, e e à Escola de Engenharia, fundadas em
possui três distintos habitats de inovação, 1895, bem como à Faculdade de Medici-
um coworking, um ambiente de criativida- na e à Faculdade de Direito, em em 1934
de e um laboratório para testes (provas/ foram integradas, originando a Universi-
conceitos), para realizar estudos de via- dade de Porto Alegre73.
bilidade técnica e de novas tecnologias
na cidade. Seus objetivos consistem em A UFRGS se destaca no cenário na-
incentivar a criação de novos negócios, cional em qualidade de ensino e produ-
promover discussões, eventos e forma- ção científica, posicionando-se em quinto
ção, dar visibilidade para as startups e lugar no Ranking Universitário da Folha
outros71 aspectos. (RUF).

Outra iniciativa da prefeitura para o Atualmente, possui 90 cursos de


estímulo ao desenvolvimento empresarial graduação, que contam com mais de 30
consiste na isenção do Imposto sobre a mil estudantes. Na pós-graduação, fo-
Propriedade Predial e Territorial Urbana ram mais de 2600 formados em 2018, em
(IPTU) por um período de cinco anos e mestrado acadêmico, mestrado profissio-
do Imposto sobre a Transmissão de Bens nalizante e doutorado.
Imóveis (ITBI) para aquisição de sua sede
para as empresas de base tecnológica, A UFRGS vem se destacando tam-
inovadoras e de economia criativa insta- bém quanto ao empreendedorismo. No
ladas em bairros da região do 4º Distrito a Ranking de Universidades Empreende-
fim de revitalizar essa área72. doras74 de 2017 a universidade alcançou
o quarto lugar. Foram avaliados critérios
Universidade Federal do Rio Gran- como cultura empreendedora, extensão,
de do Sul - UFRGS estrutura, inovação, internacionalização e
financiamento. Para tanto, a UFRGS conta
Em dezembro de 1950, a Universi- com diversas iniciativas e estruturas que
promovem o empreendedorismo e a ino-
70 http://www2.portoalegre.rs.gov.br/inovapoa/
vação na universidade, como parque tec-
default.php?p_secao=1368# nológico, empresas juniores, incubado-
71 https://sites.google.com/view/poahub/so-
bre?authuser=0 73 http://www.ufrgs.br/ufrgs/a-ufrgs/historico
72 http://www2.portoalegre.rs.gov.br/inovapoa/ 74 https://brasiljunior.org.br/universidades-em-
default.php?p_secao=1369 preendedoras

139 139
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

ras, laboratórios, disciplinas, núcleos de A ZENIT foi criada em 2012 com o


estudos etc. Algumas dessas iniciativas objetivo de fomentar o sistema de pes-
serão abaixo detalhadas. quisa, inovação e empreendedorismo da
universidade, por meio de novas ideias
Secretaria de Desenvolvimento que transformem o setor produtivo e le-
Tecnológico - SEDETEC vem produtos e serviços inovadores à
sociedade. Para tanto, utiliza um modelo
A Secretaria de Desenvolvimento
descentralizado, possibilitando que suas
Tecnológico (SEDETEC), criada em 2000
unidades, laboratórios e recursos huma-
e vinculada à reitoria da UFRGS, tem o
nos estejam presentes nos quatro campi
objetivo de transferir tecnologias e conhe-
da UFRGS, a fim de melhor aproveitar as
cimentos desenvolvidos no âmbito da uni-
diversas capacidades e estruturas da uni-
versidade das suas mais diversas formas:
versidade77.
parcerias com empresas, Pesquisa e De-
senvolvimento, licenciamentos, promo- Rede de Incubadoras Tecnológicas
ção da cultura de propriedade intelectual da UFRGS (REINTEC)
etc. Para tanto, a SEDETEC realiza, em si-
nergia com os outros órgãos que promo- A Rede de Incubadoras Tecnológicas
vem o empreendedorismo e a inovação da UFRGS (Reintec) acompanha e apoia
na universidade, diversas ações, desde as atividades das cinco incubadoras em
proteção intelectual das descobertas até atividade na universidade, tendo em vista
os licenciamentos e a comercialização de que estas optaram pelo formato setorial,
tecnologia, passando por eventos e pro- seguindo uma tendência em que a pro-
gramas de empreendedorismo75. ximidade das incubadoras de empresas
aos laboratórios possibilita uma maior
A SEDETEC gerencia a vitrine tec- sinergia entre a formação de pessoal, a
nológica da UFRGS76, que visa divulgar e pesquisa e as empresas. No apoio às ati-
valorizar as tecnologias geradas na uni- vidades das incubadoras, a REINTEC tem
versidade e criar novas oportunidades o suporte da Sedetec e do parque Zenit78.
para o desenvolvimento tecnológico por
meio de parcerias com empresas e outras Centro de Empreendimentos do
organizações. Instituto de Informática (CEI)

Parque Científico e Tecnológico da www.inf.ufrgs.br/cei


UFRGS - ZENIT

75 https://www.ufrgs.br/sedetec/asedetec/ 77 https://www.ufrgs.br/zenit/sobre-o-zenit/
76 https://www.ufrgs.br/vitrinetecnologica/ 78 https://www.ufrgs.br/zenit/reintec/

140 140
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

O Centro de Empreendimentos em simultaneamente. Atualmente, possui cin-


Informática (CEI) foi a primeira incubado- co empresas incubadas e quatro empre-
ra de tecnologia criada no sul do Brasil, sas já graduadas (dados de 2019).
em 1996. Integrada ao Instituto de Infor-
mática da UFRGS, já incubou mais de 40 Incubadora Tecnológica de Alimen-
novas empresas na área de Tecnologia tos e Cadeias Agroindustriais (ITACA)
da Informação (dados de 2019).
www.itaca.ufrgs.br
Incubadora Tecnológica Héstia
Idealizada em 2000, entrou em ope-
http://www.ufrgs.br/hestia ração em 2004 com a primeira seleção de
empresas para se instalarem na incuba-
Criada em 2004, a Héstia está, atual- dora. Abriga empresas do setor alimentí-
mente, direcionada para atividades ali- cio com atuação nas cadeias agroindus-
nhadas a pesquisa e desenvolvimento na triais. No apoio à formação, consolidação
Escola de Engenharia e Instituto de Físi- e modernização de micro e pequenas
ca da UFRGS, especialmente em setores empresas inovadoras e na promoção do
como metal-mecânico, eletroeletrônico, desenvolvimento regional, a ITACA iden-
petroquímica, matérias, microeletrônicas, tifica seus empreendedores nos setores
civil e design. Já pré-incubou duas em- alimentício e agroindustrial e estimula-os
presas, possui seis empresas incubadas a criarem suas empresas, proporcionan-
e dez graduadas (dados de 2019). do acesso a inovações tecnológicas, ge-
renciais e a uma rede de relacionamentos
Incubadora Empresarial do Centro capaz de promover oportunidades de ne-
de Biotecnologia (IE-CBiot) gócios para o sucesso destas empresas
incubadas. Atualmente, não possui em-
http://ie.cbiot.ufrgs.br/
presas incubadas e possui 3 empresas já
A Incubadora Empresarial do Centro graduadas (dados de 2019).
de Biotecnologia dá suporte para empre-
Incubadora Tecnológica de Coope-
sas nas áreas de saúde, agroindústria e
rativas Populares (ITCP)
meio ambiente, concedendo desde con-
sultorias em planos de negócios e capta- www.neaufrgs.wordpress.com
ção de recursos até a utilização de labo-
ratórios da infraestrutura da universidade. A Incubadora Tecnológica de Coope-
Com 500m² de área, está apta a abrigar rativas Populares (ITCP) apoia empreen-
etapas da pesquisa e desenvolvimento e dimentos da economia solidária, visando
inovação de até oito empresas incubadas difundir a autogestão e a cooperação, pro-

141 141
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

movendo a troca entre os saberes acadê- Pontifícia Universidade Católica do


mico e popular e está abrigada no Núcleo Rio Grande do Sul (PUCRS)
de Economia Alternativa (NEA), sediado
na Faculdade de Ciências Econômicas Criada sob a denominação de Facul-
da UFRGS. Já foram oito empreendimen- dade de Ciências Políticas e Econômicas
tos apoiados (dados de 2019). em 1934 e equiparada a universidade em
1948, a Pontifícia Universidade Católica
Rede de Laboratórios Tecnológi- do Rio Grande do Sul é uma instituição
cos confessional católica, sediada pelo Cam-
pus Central em Porto Alegre e por outra
https://www.ufrgs.br/zenit/rede-de- unidade do Tecnopuc, em Viamão, na Re-
-laboratorios/ gião Metropolitana.
A Rede de Laboratórios Tecnológi- Possui quase 566 mil m² de área
cos busca articular e estimular a interação construída em que funcionam oito esco-
entre laboratórios e empresas. Desenvol- las, cinco institutos, três órgãos suple-
vida em parceria com a Secretaria de De- mentares e uma biblioteca. São 55 op-
senvolvimento Tecnológico (SEDETEC), ções de cursos na graduação. O Centro
possibilita aos laboratórios associados de Educação Continuada oferece mais
maior visibilidade dos serviços ofertados de 500 opções de cursos, entre extensão
e às empresas um canal de informações e pós-graduação lato sensu (especializa-
a respeito dos serviços tecnológicos dis- ção). A pós-graduação strictu sensu tem
poníveis na Universidade. 46 cursos: 24 de mestrado e 22 de douto-
rado (dados de 2019).
Destaca-se que a UFRGS possui
uma unidade EMBRAPII credenciada, o A PUCRS mantém o Museu de Ciên-
LAMEF/UFGRS. O Laboratório de Meta- cias e Tecnologia que tem por missão ge-
lurgia Física é habilitado para desenvolver rar, preservar e difundir o conhecimento
projetos em PD&I na área de Tecnologia e por meio de seus acervos e exposições,
Integridade de Dutos, que envolve as su- contribuindo para o desenvolvimento da
báreas de Integridade Estrutural, Controle ciência, da educação e da cultura, pos-
e Monitoramento, Confiabilidade, Desen- suindo coleções científicas nas áreas de
volvimento de Novos Materiais, Desenvol- zoologia, botânica, paleontologia e ar-
vimento de Sistemas de Inspeção, Técni- queologia79.
cas não destrutivas e Homologação de
Componentes, já tendo realizado projetos No início da década de 90 foi lança-
com a Embraer, Petrobras e Technip FMC.
79 http://www.pucrs.br/mct/institucional/sobre/

142 142
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

do o desafio mil para dois mil, que con- • Gestão de Projetos e Negociação,
sistia em chegar no ano 2000 com mil mecanismo institucional que atua
professores titulados mestres e/ou dou- como agente facilitador do pro-
tores. Objetivo alcançado com sucesso. cesso de interação Universidade-
Ao entrar no novo milênio, foram revisa- -Empresa- Governo;
das as prioridades e ajustadas ao mundo • Centro de Inovação, uma parceria
contemporâneo. Quatro linhas orientam a com a Microsoft, que objetiva ace-
gestão: qualidade; empreendedorismo; lerar o uso de novas tecnologias e
integração ensino, pesquisa, extensão; e desenvolver programas de qualifi-
relacionamento com a sociedade80. cação;
• Área de Propriedade Intelectual e
Assim, a PUCRS tem sido reconheci- Transferência de Tecnologia, setor
da cada vez mais por ser uma universida- responsável dentro da Universida-
de empreendedora, tendo diversas inicia- de pela gestão do seu patrimônio
tivas e mecanismos de apoio à geração intelectual;
de negócios inovadores: • Parque Científico e Tecnológico
(Tecnopuc). O Parque Científico
• Inovapucrs – Rede de Inovação e
e Tecnológico da PUCRS (Tec-
Empreendedorismo da PUCRS;
nopuc) estimula a pesquisa e a
• Idear – Laboratório Interdisciplinar
inovação por meio de uma ação
de Empreendedorismo e Inova-
simultânea entre academia, insti-
ção, que apoia e incentiva ações
tuições privadas e governo.
inovadoras e empreendedoras;
• Ideia – Centro de Apoio ao Desen- Abaixo algumas dessas iniciativas
volvimento Científico e Tecnológi- serão melhor detalhadas.
co, que disponibiliza suporte cien-
tífico e tecnológico às diferentes Rede INOVAPUCRS
áreas do conhecimento da univer-
sidade, empresas do Tecnopuc e http://www.pucrs.br/tecnopuc/institu-
para a sociedade em geral; cional/rede-inovapucrs/
• Tecnopuc Startups – Ambiente de A INOVAPUCRS – Rede de Inovação
Desenvolvimento de Startups, que e Empreendedorismo da PUCRS con-
tem como propósito estimular e siste em uma iniciativa que congrega o
operacionalizar a visão empreen- conjunto de atores, ações e mecanismos
dedora da comunidade PUCRS; para fomento do processo de inovação e
80 http://www.pucrs.br/institucional/a-universi-
empreendedorismo da PUCRS, como o
dade/historia-da-universidade/ TECNOPUC e as unidades acadêmicas,

143 143
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

buscando soluções para as demandas Assim como a liderança da PUCRS


da sociedade a partir de esforços multi- na década de 90 lançou o desafio de for-
disciplinares. mar mil mestres e doutores, atualmente o
desafio consiste em gerar negócios em
TECNOPUC dez anos82.
http://www.pucrs.br/institucional/a-u- Algumas iniciativas da PUCRS e do
niversidade/o-campus/ TECNOPUC serão mais detalhadas abai-
xo.
O Parque Científico e Tecnológico da
PUCRS (TECNOPUC) surgiu a partir do IDEAR – Laboratório Interdiscipli-
Programa Porto Alegre Tecnópole (PAT), nar de Empreendedorismo
liderado pela prefeitura na década de
90, quando a PUCRS adquiriu um terreno O IDEAR – Laboratório Interdiscipli-
que pertencia ao exército e decidiu que nar de Empreendedorismo e Inovação
esse espaço seguiria o mesmo sentido do da PUCRS trabalha o empreendedorismo
Porto Digital de Recife (PE) e do Parque enquanto competência que envolve a mo-
Tecnológico da UFRJ, com o objetivo de bilização de conhecimentos, habilidades
atrair empresas. e atitudes, o exercício da criatividade,
do pensamento crítico e do exercício da
O TECNOPUC surgiu para estimular autonomia. Para isso, busca desenvolver
a pesquisa e a inovação através de uma a atitude empreendedora dos alunos e
ação simultânea entre academia, institui- da comunidade em geral, motivando-os
ções privadas e governo. Dessa forma, o a serem agentes de mudança e impac-
TECNOPUC realiza diversos programas to social, incentivando a reflexão sobre
que promovem a transferência de tecno- os problemas do mundo e promovendo
logia universidade-empresa, geração de o pensamento voltado à solução de pro-
spin-offs acadêmicas, espaço de cowor- blemas (o que pode culminar em proje-
king, pesquisa e desenvolvimento, entre tos, ONGs, intraempreendedorismo ou
outros. mesmo uma nova empresa). Para tanto,
realizam diversas palestras, bate-papos,
Com seus 11,5 hectares, o TECNO-
cursos, seminários, encontros, discipli-
PUC abriga mais de 130 organizações,
nas, consultorias, o Torneio Empreende-
somando mais de 6,5 mil postos de tra-
balho81.

82 https://projetodraft.com/como-o-parque-tec-
81 http://www.pucrs.br/institucional/a-universi- nologico-tecnopuc-em-porto-alegre-trabalha-para-
dade/o-campus/ -criar-mil-startups-em-dez-anos/

144 144
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

dor, dentre outras iniciativas83. no mercado de forma sustentável e com-


petitiva.
IDEIA - Centro de Apoio ao Desen-
volvimento Científico e Tecnológico Hoje denominada de Tecnopuc Star-
tups continua a apoiar projetos de ne-
O IDEIA disponibiliza suporte cientí- gócio transformando-os em empreendi-
fico e tecnológico às diferentes áreas do mentos competitivos a partir de diversos
conhecimento da universidade, empresas mecanismos, de infraestrutura a serviços
do Tecnopuc e para a sociedade em ge- especializados. A incubadora também
ral. Por meio do TECNOPUC Fablab que assume o propósito de estimular a capa-
consiste em um laboratório do IDEIA aber- cidade empreendedora da comunidade
to de criatividade e prototipagem, alunos, acadêmica, abrigando empresas nascen-
professores, pesquisadores da PUCRS e tes de base tecnológica e inovação, ge-
empresas do Tecnopuc e da Raiar podem radas a partir de projetos de pesquisa da
testar ideias e provarem conceitos de di- Universidade85.
versas formas, desde utilizando proces-
samento de alto desempenho até utilizan- Gestão de Projetos e Negociação
do recursos computacionais para tarefas
que exijam grande capacidade compu- A área de Gestão de Projetos e Ne-
tacional, entre outros. Para empresas, o gociação é um mecanismo institucional
IDEIA realiza pesquisa e desenvolvimen- da PUCRS, que atua como agente facilita-
to, bem como serviços especializados, dor do processo de interação Universida-
tendo como foco a disponibilização do de – Empresa – Governo. Estimula e via-
conhecimento técnico-científico da uni- biliza o desenvolvimento de projetos de
versidade à sociedade84. Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação
(PD&I) cooperados que aliem as neces-
TECNOPUC Startups sidades de mercado com o saber e o co-
nhecimento existentes na universidade86.
Criada em 2003, a Incubadora Multi-
setorial de Empresas de Base Tecnológi- Estruturas de Pesquisa
ca da PUCRS, denominada RAIAR, loca-
lizada no Parque Científico e Tecnológico A PUCRS e o Tecnopuc possuem
da PUCRS – TECNOPUC, tem o objetivo uma ampla estrutura de pesquisa87, des-
de dar suporte e condições necessárias 85 http://www.pucrs.br/tecnopuc/startups/
para que negócios inovadores se insiram
86 http://www.pucrs.br/tecnopuc/gestao-de-pro-
jetos-de-ped/institucional/
83 http://www.pucrs.br/idear/
87 http://www.pucrs.br/tecnopuc/estruturas-de-
84 http://www.pucrs.br/ideia/ -pesquisa/

145 145
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

tacando-se os seguintes: nologias da informação e comunicação,


o centro de pesquisa está localizado no
• CPBMF - Centro de Pesquisas em Tecnopuc e é disponível para uso da co-
Biologia Celular e Funcional; munidade do Parque Científico e Tecno-
• Crialab - Laboratório de Criativida- lógico e da Universidade para desenvol-
de; vimento de projetos. O centro se dedica
• Ideia - Instituto de Pesquisa e De- a testes e provas de conceitos que agre-
senvolvimento; guem valor a entidades interessadas em
• INCT - Inst. Nacional de Ciência e criar soluções para as áreas de gestão
Tecnologia em Tuberculose; pública, saúde e educação, assim como
• Inscer - Instituto do Cérebro do Rio ao desenvolvimento de um sistema ope-
Grande do Sul; racional para as cidades inteligentes e
• IPR - Instituto do Petróleo e dos suas aplicações88.
Recursos Naturais;
• Laboratórios de Física Aplicada - TECNA – Centro Tecnológico Au-
CB Solar, NanoPUC, Nimed; diovisual do RS
• LAIF - Laboratório de Insumos Far-
macêuticos; O TECNA – Centro Tecnológico Au-
• MicroG - Centro de Pesquisa em diovisual do RS – é um centro de referên-
Microgravidade; cia para a indústria criativa, com ênfase
• Smart City - Smart City Innovation no audiovisual e na tecnologia. Abriga
Center; completa infraestrutura de produção
• Tecna - Centro Tecnológico Audio- e pós-produção de conteúdos digitais
visual; criativos, cluster empresarial, centro de
• Ubilab - Laboratório de Pesquisa formação permanente e laboratórios de
em Mobilidade e Convergência pesquisa. Atua como um articulador de
Midiática. negócios e está comprometido com o de-
senvolvimento do setor, contribuindo para
o fortalecimento dos arranjos produtivos
regionais e nacionais, ao mesmo tempo
Smartcity Innovation Center em que estimula novos negócios. O Tec-
na parte da interação entre universida-
O SmartCity Innovation Center é um
des, empresas, poder público e socieda-
ambiente de pesquisa e desenvolvimento
de para a geração de desenvolvimento e
de soluções relacionadas a cidades in-
inovação. É uma iniciativa da PUCRS em
teligentes e internet das coisas. Fruto de
uma parceria entre a PUCRS e a Huawei, 88 http://www.pucrs.br/tecnopuc/smartcity-inno-
empresa líder global em soluções de tec- vation-center/

146 146
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

conjunto com o Governo do Estado do RS trutura de pesquisa, destacando os Ins-


e a Fundacine, situado no Tecnopuc89. titutos Tecnológicos que são preparados
para prestar serviços técnicos e dar su-
UNISINOS porte para empresas e organizações em
suas atividades de pesquisa.
http://www.unisinos.br/institucional
Os ITTs dividem-se em cinco: ITT
A Universidade do Vale do Rio dos Fuse, ITT Chip, ITT Fossil, ITT Nutrifor e
Sinos (Unisinos), criada em 1969, possui ITT Performance, amparados pelo NITT
cerca de 31 mil alunos em cursos de gra- Unisinos – Núcleo de Inovação e Transfe-
duação e pós-graduação, nas modalida- rência de Tecnologia, contribuindo com a
des presencial e EAD, conta com 1048 propriedade intelectual, cooperação com
professores, 1094 funcionários e já tendo empresas e transferência de tecnologias.
diplomado cerca de 75 mil estudantes Destaca-se também a HT Micron no Cam-
(dados de 2019). pus São Leopoldo, a maior produtora de
encapsulamento e testes de semicondu-
Além dos campi em São Leopoldo e
tores da América Latina, fazendo parte do
Porto Alegre, a Unisinos está presente em
Tecnosinos90
sete estados do país. A criação da Escola
de Design, na cidade de Porto Alegre em TECNOSINOS
2006, foi o primeiro movimento da univer-
sidade na capital gaúcha. A Unisinos se http://www.tecnosinos.com.br/sobre/
instalou de forma definitiva em 2010, mas
foi em 2013 que a Escola de Design deu Apesar de estar estabelecido em
lugar ao movimento que organiza os seus São Leopoldo, região metropolitana de
campos do conhecimento em escolas de Porto Alegre, o Parque Tecnológico fun-
Humanidades, Saúde, Indústria Criativa: ciona sob gestão da Unisinos, por meio
Comunicação, Design e Linguagens, Di- da Unitec, possui operação e influência
reito, Gestão e Negócios e Politécnica. As em Porto Alegre. Criado há mais 20 anos,
instalações do campus na região norte da o parque nasceu da ideia de empresários
cidade representam um ponto de desta- locais de fortalecer a economia da região
que, próximo ao tradicional Colégio An- que uniram o poder público e a academia
chieta e às Avenidas Nilo Peçanha e Car- para a construção do Polo da Informática
los Gomes. que em 2009 foi renomeado Parque Tec-
nológico São Leopoldo.
A Unisinos conta com uma ampla es-
90 http://www.unisinos.br/institucional/a-unisi-
89 http://www.pucrs.br/tecna/quem-somos/ nos/historia

147 147
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

São 93 empresas nacionais e inter- Instituto SENAI - unidade EMBRAPII91


nacionais sediadas no parque, das mais
diversas áreas como Tecnologia da In- Ainda sobre instituições de ensino e
formação, Automação e Engenharias, pesquisa situado na cidade de São Leo-
Comunicação e Convergência Digital, poldo, na região metropolitana de Porto
Tecnologias Para a Saúde e Energias Alegre, o Instituto foi estruturado a partir
Renováveis e Tecnologias Socioambien- do Centro Tecnológico de Mecânica de
tais gerando um faturamento de mais de Precisão (CETEMP), fundado em 1983, e
R$ 2,5 bilhões e 120 registros de pro- do Centro de Excelência em Tecnologias
priedade intelectual (dados de 2019). Avançadas SENAI (CETA). Atualmente faz
Grandes companhias globais se unem parte da rede de institutos de inovação e
a dezenas de startups incubadas e gra- tecnologia no âmbito do Programa SENAI
duadas na Unidade de Inovação e Tec- de Apoio à Competitividade da Indústria
nologia (Unitec), gerando inovação e Brasileira.
movimentando à economia. Com 35.000
O Instituto SENAI de Inovação em
m2 de espaço físico, o Tecnosinos pos-
Soluções Integradas em Metalmecânica é
sui 33 startups incubadas, 60 empresas
uma unidade credenciada pela EMBRA-
consolidadas e 6 mil empregos diretos
PII para desenvolver projetos de PD&I, na
gerados (dados de 2019).
área de sistemas de sensoriamento, com
Unindo os atores da hélice tríplice, foco em três temas: desenvolvimento e
a governança do Tecnosinos possui o integração de sensores, desenvolvimen-
governo representado pela Prefeitura to de sistemas de visão computacional e
Municipal de São Leopoldo, a indús- desenvolvimento de sistemas computa-
tria representada pela Associação Co- cionais para sensoriamento.
mercial, Industrial e de Serviços de São
Seu corpo técnico possui experiência
Leopoldo (ACIS-SL) e pelo Polo de In-
industrial e em pesquisa aplicada, desta-
formática de São Leopoldo e a univer-
cando-se em projetos de componentes e
sidade pela Unisinos, tendo responsa-
subsistemas para a indústria automotiva,
bilidades compartilhadas e atribuições
médica, máquinas-ferramentas e agricul-
individualizadas a fim de fomentar o em-
tura de precisão. Trata-se de métodos e
preendedorismo inovador. Em setembro
ferramentas de desenvolvimento integra-
de 2010, o Parque Tecnológico Tecnosi-
nos foi eleito o melhor do Brasil.
91 https://embrapii.org.br/unidades/unidade-em-
brapii-de-sistemas-de-sensoriamento-isi-sensoria-
mento-instituto-senai-de-inovacao-em-solucoes-inte-
gradas-em-metalmecanica/

148 148
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

do de produtos e engenharia de sistemas nal entre a aceleração e o investimento. O


aplicados desde o projeto conceitual até programa de aceleração é realizado pela as-
a fase de protótipos. sociação e consiste em um programa de seis
meses, durante os quais a aceleradora con-
Destacam-se as seguintes soluções: cede diversos benefícios para as empresas
aceleradas, desde mentorias de negócios
• Sensoriamento para análise de
até produtos fornecidos por outros parceiros
dados instantâneos de manufatu-
a baixo custo. O investimento é realizado por
ra;
um grupo de mais de 170 investidores, sen-
• Digitalização e sensoriamento de
do um investimento direto por empresa de
sistemas de manufatura;
até R$ 250 mil por uma participação societá-
• Sistemas de interação humana e
ria de até 12%. Já foram captados mais de
exoesqueletos;
R$ 19 milhões com fundos de venture capital
• Sistemas de visão computacional
e redes de anjos (dados de 2019).
para rastreabilidade de defeitos
de fabricação; GROW +
• Análise de fatores humanos na in-
teração de equipamentos (indus- https://www.growplus.com.br/
triais, esportivos e médicos).
A GROW+ é uma aceleradora que in-
Aceleradoras veste em startups disruptivas em estágio
scale-up, realizando uma combinação de in-
A cidade de Porto Alegre possui três vestimento financeiro, smart-money e supor-
aceleradoras: WOW, Grow+ e Ventiur. te operacional. Além de aceleração, realiza
programas corporativos para auxiliar empre-
WOW Aceleradora de Startups sas tradicionais em transformação digital92.
https://www.wow.ac/pt/ VENTIUR aceleradora
A WOW Aceleradora de Startups foi https://ventiur.net/sobre/
criada em 2013, sendo uma das pioneiras
em aceleração na região sul. Constitui-se A VENTIUR foi criada em 2013, sen-
como uma associação sem fins lucrativos do uma das pioneiras na região sul do
que está situada no Tecnopuc, mas não país. Trata-se de uma aceleradora de
está associada a nenhuma instituição de startups com os seguintes resultados (da-
ensino ou centro de pesquisa. dos de 2019):

Na WOW há uma separação institucio- 92 https://www.linkedin.com/company/growplus-


ventures/about/

149 149
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

• 160 startups pré-aceleradas; Considerações finais


• mais de 40 startups aceleradas;
• 1 exit. A liderança do governo local na dé-
cada de 90, para estimular a inovação na
Possui uma rede com mais de 80 in- capital gaúcha, gerou efeitos positivos
vestidores e captou e investiu mais de R$ com a construção de diversos parques
12 milhões. tecnológicos na região. Atualmente, o po-
der público continua a tomar iniciativas
inovadoras para o estímulo ao empreen-
Fábrica do Futuro dedorismo local, seja facilitando as infor-
https://fabricadofuturo.com.br/ mações, seja promovendo mecanismos
de geração de empreendimentos inova-
A Fábrica do Futuro, inaugurada em dores como o Sistema de Inovação e Em-
2019, consiste em um projeto que pre- preendedorismo de Porto Alegre, como o
tende transformar a zona norte da Capi- poa.hub, por exemplo.
tal em um polo tecnológico. Ocupa hoje
um espaço de 3.000 m2, que foi adaptado Recentemente, no início de 2018,
a partir de uma antiga fábrica do Quarto as três maiores universidades da capital,
Distrito para atrair startups das áreas de UFRGS, PUCRS e Unisinos, lançaram a
educação, sistemas audiovisuais, realida- Aliança pela Inovação, uma articulação
de virtual, internet das coisas e games. a fim de potencializar ações de impacto
com o objetivo de avançar o ecossistema
1ª Tech Art Festival de inovação e o desenvolvimento da ci-
dade, transformando-a em polo gerador
http://www.techartfestival.com.br/ de novos empreendimentos, atraindo in-
vestimento e retendo talentos.
No dia 23 de março de 2019, das 11
às 21 horas, ocorreu o primeiro Tech Art Berço de indústrias relevantes para
Festival. Além de inaugurar a Fábrica do o cenário nacional, com governo estimu-
Futuro, o evento trouxe experiências e con- lando o empreendedorismo e a inovação
teúdos voltados para tecnologia, arte, cultu- e com uma rede considerável de parques
ra e educação, aliando palestras com feiras tecnológicos, incubadoras, aceleradoras
maker, bike tour, culinária, vídeo mapping, e coworkings, Porto Alegre conglomera
shows e intervenções artísticas93. diversas características para se tornar um
ecossistema de inovação de alto impacto.
93 https://projetodraft.com/porto-alegre-no-ma-
pa-mundial-da-inovacao-como-foi-a-primeira-edicao-
-do-tech-art-festival/

150 150
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

CONCLUSÃO Essa pergunta com certeza não apresen-


ta uma resposta única, mas com base no
Analisadas as sete cidades sele- quadro referencial iEcossystems do MIT,
cionadas em cinco países, incluindo o busca-se sugerir caminhos e alternativas
Brasil, pergunta-se: como outras cida- para alcançar esse objetivo.
des podem se inspirar nas experiências
internacionais (bem como nas brasilei- Retomando brevemente o quadro re-
ras) para conseguir gerar ecossistemas ferencial elaborado pelo MIT, temos o se-
de empreendedorismo de alto impacto? guinte:

Impact (impacto): resulta da combi-


nação das capacidades de inova-
ção (I-CAP) e de empreendedorismo
(E-CAP), quando conectadas com a
vantagem comparativa central.

Comparative advantage: vantagem


comparativa da economia regional, ba-
seada em pontos fortes específicos que
a diferenciam de outras ao redor dela.

I-CAP (capacidade de inovação): capa-


cidade de uma região de desenvolver
ideias novas para o mundo e levá-las
da concepção ao impacto. E-CAP (ca-
pacidade de empreendedorismo): enfa-
tiza a capacidade empreendedora e o
ambiente de negócios para a formação
de novas empresas.

Foundational institutions (instituições


alicerce): leis, mecanismos para prote-
ção dos direitos de propriedade, insti-
tuições financeiras, abertura para novas
ideias e facilidade para fazer negócios.

151 151
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

Dessa forma, conforme já definido an- Importância das instituições alicerce


teriormente, um ecossistema de alto impac-
to é aquele que consegue combinar as ca- Conforme abordado na tabela re-
pacidades de empreendedorismo (E-CAP) sumo do quadro referencial, as institui-
e de inovação (I-CAP) com uma vantagem ções alicerce são basicamente leis, me-
comparativa da região/cidade para impul- canismos para proteção dos direitos de
sionar o impacto. Além de combinar uma propriedade (em especial a propriedade
alta capacidade de empreendedorismo e intelectual), instituições financeiras, abertu-
de inovação, também consegue articular ra para novas ideias e facilidade para fa-
os principais atores ou partes interessadas zer negócios. Essas instituições são para o
para dinamizar a cidade/região e fazer com ecossistema de empreendedorismo como
que as capacidades de fato gerem impac- a fundação de um edifício, ou seja, elas
tos e benefícios econômicos e sociais. sustentam e apoiam todo o desenvolvimen-
to dos demais pilares. Dessa forma, ter uma
Dados o quadro referencial e essa boa capacidade de empreendedorismo
definição de ecossistema de alto impacto e de inovação sem um bom apoio dessas
criada a partir dos conceitos e da opinião instituições alicerce gera um desequilíbrio
dos especialistas consultados, passare- nesse sistema.
mos à análise daquilo que consideramos
relevante pontuar sobre o ecossistema Para entender essas instituições ali-
das cidades selecionadas. cerce, o quadro referencial propõe o uso de
alguns indicadores, como o Ease of Doing
Análise de pontos relevantes Business94 (EDB - facilidade de fazer negó-
cios), o Corruption Perception Index95 (CPI
Analisando as cidades brasileiras e - índice de corrupção) e o International IP
estrangeiras selecionadas, identificamos Index96 (IP - índice de propriedade intelec-
três pontos importantes para reflexão, bus-
cando fornecer subsídios para que outras
cidades possam melhorar no sentido de 94 Elaborado pelo World Bank, o EDB (medido
de 0 a 100) é um indicador composto que contém
promover o empreendedorismo com alto 10 tópicos avaliando a facilidade da operação de
potencial de impacto em sua região: empresas do setor privado.
95 Elaborado pela Transparency International,
• Importância das instituições alicerce O CPI (medido de 0 a 100) é calculado usando 13
fontes de dados que capturam percepções de cor-
• Desenvolvimento da capacidade rupção nos dois anos anteriores.
empreendedora 96 Elaborado pelo Global Innovation Policy Cen-
ter U.S., o IP (medido de 0 a 45) é mensurado com
• Papel dos principais stakeholders base em 45 indicadores distribuídos em 8 categorias
do ecossistema distintas relacionadas à propriedade intelectual.

152 152
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

tual). Comparando os países analisados tos, resolver insolvência e conseguir cré-


e considerando esses três indicadores no dito. Quanto à PI, o Brasil encontra-se na
ano de 2018 (gráfico a seguir), percebe-se posição 31 de 50, sendo que seus piores
que o Brasil apresenta os piores índices. desempenhos estão nas categorias pa-
tentes, copyrights e direitos relacionados.
No CPI, o Brasil está como “Coun-
try to watch” (país a observar), pois caiu Nos ecossistemas estudados no ex-
dois pontos desde o ano anterior da aná- terior (conforme gráfico anterior), perce-
lise (2017), também recebendo a menor be-se que há um ambiente mais propício
pontuação do CPI em sete anos e ficando para abertura, manutenção e crescimento
na posição 105 de 180 países. No EDB, de empresas, um ambiente político-econô-
o Brasil encontra-se na posição 109 de mico mais estável/favorável e uma série de
190 países e os piores índices são nos mecanismos para facilitar o empreende-
seguintes tópicos: pagamento de impos- dorismo. Ou seja, esses países com suas

Gráfico 1. Comparação dos países estudados em relação ao CPI, EDB e IP

90

80

70

60

50

40

30

20

10
Brasil Alemanha Canadá Israel Reino Unido

CPI EDB IP

Fonte: World Bank (EDB), Transparency International (CPI) e Global Innovation


Policy Center U.S. (IP)

153 153
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

leis, mecanismos e instituições conseguem 11.196/2005 (Lei do Bem), quanto à de-


fornecer uma base adequada para que as dução dos dispêndios em P&D da base
capacidades de inovação e empreende- de cálculo do IRPJ e da CSLL. A Lei do
dorismo possam ser alavancadas. Bem corresponde a um dos principais
instrumentos para o incentivo a investi-
As recentes alterações legislati- mento à inovação do meio empresarial.
vas brasileiras, em especial a Emen- Ocorre que a MP caducou no senado
da Constitucional nº 85/2015 e a Lei nº e perdeu seus efeitos pelo decurso do
13.243/16, visaram conferir e possibili- prazo em março de 2016. Duas proble-
tar maior segurança jurídica para a coo- máticas emergem a partir dessa ques-
peração público privada e a criação de tão. A primeira é a suspensão em si de
mecanismos promotores da inovação. A um incentivo fiscal instaurado em 2006,
primeira inseriu o termo “inovação” 15 sobretudo por meio de medida provisó-
vezes na Constituição Federal, assim ria. A segunda consiste na insegurança
como ciência e tecnologia, consideran- proporcionada pelos meses entre janeiro
do a inovação como responsabilidade e março, em que havia dúvidas quanto à
do Estado e estabelecendo diretrizes eficácia ou não da Lei.
para a interação com o setor privado.
A Lei nº 13.243/16 trouxe instrumentos Outro fator brasileiro que deve ser le-
para uma maior cooperação entre os vado em consideração sobre instituições
setores público e privado, além de me- alicerce consiste no fato de que o Brasil
lhorar os dispositivos que previam essa possui um tempo médio de concessão de
interação para poder desburocratizar patentes significativamente superior ao
e trazer mais segurança jurídica, como praticado em outras nações. Conforme os
a encomenda tecnológica, acordos de indicadores da Organização Mundial de
parceria, participação societária de uni- Propriedade Intelectual (OMPI) de 2018,
versidades em startups, licenças e ces- o tempo necessário para obter a conces-
sões de propriedade intelectual. são de uma patente no Brasil é de 95,1
meses, enquanto no Japão esse prazo é
Entretanto, fragilidades no arcabou- de 14,6 meses, na China 22, Índia 64 e
ço político institucional brasileiro propor- México 36. Em relação aos países estu-
cionam insegurança jurídica para o inves- dados e cujos dados estão disponíveis no
timento em inovação. A título de exemplo, relatório, no Canada são 27,9 meses, e no
a Medida Provisória nº 694, de 30 de se- Reino Unido,36. No Brasil é quase três ve-
tembro de 2015, suspendeu, no ano-ca- zes mais demorado97.
lendário 2016, da fruição e da apuração
dos benefícios fiscais previstos na Lei nº
97 https://www.wipo.int/edocs/pubdocs/en/

154 154
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

Recentemente foi lançado o Plano a capacidade de empreendedorismo


de Combate ao Backlog de Patentes, (E-CAP), foco da análise deste estudo,
cujo objetivo é reduzir o número de pe- enfatiza a capacidade empreendedora
didos pendentes de decisão (backlog) e o ambiente de negócios para a forma-
em 80% até 2021 e diminuir o prazo mé- ção de novas empresas, especialmen-
dio de concessão para cerca de dois te as IDEs (negócios orientados para a
anos. A principal novidade ocorrerá nos inovação), pois apresentam maior po-
exames dos pedidos de patente de in- tencial de geração de impacto (geração
venção, nacionais ou estrangeiros, que de novas soluções para problemas im-
já foram avaliados em outro país (80% portantes, criação de empregos etc).
dos que estão na fila)98 99.
O quadro referencial ainda traz cinco
Apesar da posição brasileira nos in- pilares importantes dessa capacidade de
dicadores analisados como patentes, cor- empreendedorismo que devem ser de-
rupção e facilidade de fazer negócios ser senvolvidos para fomentá-la:
discrepante em relação aos outros países
analisados, foi percebido que especifica- • Capital Humano – habilidades
mente nas cidades brasileiras analisadas empreendedoras e conhecimento;
há um apoio constante do poder público
• Financiamento – políticas de tri-
e das instituições locais. Os três indica-
butação e de investimento ade-
dores analisados são a nível nacional e
quadas e disponibilidade de capi-
inserem-se na competência das decisões
tal de risco;
federais, sendo possível atuar no cenário
local/municipal para atenuar os efeitos • Infraestrutura – espaços bara-
destes e desenvolver um ecossistema de tos, modulares e com aluguel por
inovação de alto impacto. curto período, equipamentos ade-
quados e internet de qualidade;
Desenvolvimento da capacidade
empreendedora • Demanda – public procurement
(encomenda tecnológica), prê-
Retomando novamente o quadro
mios e linhas de financiamento
referencial de base, relembramos que
oferecidas pelo setor público;

wipo_pub_941_2018.pdf. (Página 65). • Cultura & Incentivos – regula-


98 http://www.inpi.gov.br/noticias/governo-anun- mentação de propriedade intelec-
cia-medidas-para-estimular-negocios-no-brasil tual, intenção de empreender e
99 http://www.inpi.gov.br/noticias/protocolo-de- empreendedorismo como escolha
-madri-e-plano-de-combate-ao-backlog-de-patentes
de carreira.

155 155
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

Essas categorias e seus itens es- (nas cidades brasileiras esse pon-
pecíficos nos fornecem um guia para a to ainda precisa melhorar);
análise dos ecossistemas selecionados. 8. Tendência de concentração em al-
Em todas as cidades analisadas, foi gumas áreas específicas de atua-
possível perceber algumas caracterís- ção;
ticas em comum entre os ambientes no 9. Qualidade dos ambientes de ino-
que tange à capacidade de empreen- vação em termos de infraestrutura,
dedorismo: serviços e suporte aos empreen-
dedores e startups;
1. Combinação de recursos públicos 10. Diversidade de ambientes de ino-
e privados no apoio ao empreen- vação e busca de integração en-
dedorismo; tre eles;
2. Subsídios, empréstimos e opções 11. Facilidades para trabalhar e viver
de financiamento oferecidos por no ambiente da cidade;
parte do governo em condições 12. Cooperação e colaboração eficaz
favoráveis e flexíveis para star- entre startups, empresas, governo
tups; e universidades.
3. Incentivos fiscais para Pesquisa,
Desenvolvimento Tecnológico e Especificamente sobre a integra-
Inovação; ção dos mecanismos, nos ecossistemas
4. Medidas do governo para forta- analisados percebe-se que há cada vez
lecer o espírito de empreende- menos uma separação estrita de ativi-
dorismo (cursos e informação, dades entre mecanismos de apoio a
ferramentas práticas, prêmios e empreendimentos inovadores (cowor-
competições etc.); king, incubadora, aceleradora, capital
5. Fluxo de talentos locais das uni- de risco e outros). Os principais meca-
versidades da região, bem como nismos de cada cidade em geral con-
de outros países; tam com serviços diversos que se com-
6. A alta qualidade do ensino supe- plementam e muitas vezes se misturam
rior; com outros mecanismos. Há cada vez
7. Capacidade de atração de capital mais mecanismos com mais de uma
(venture capital, anjos etc.), tanto função, por exemplo, coworking-incu-
nacional como estrangeiro, geran- badora ou aceleradora-capital de risco.
do maior disponibilidade e opções Além disso, em alguns mecanismos se
para startups e empreendedores encontram startups e empresas já es-

156 156
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

tabelecidas, gerando oportunidades de espaços de uso comum; BeWell.Haifa,


parcerias e de financiamento. comunidade na área de digital health
focada em oferecer uma plataforma
Como abordado pelos especia- que permite a colaboração entre atores
listas consultados, a tendência é que no campo da saúde digital, buscando
os espaços sejam cada vez mais híbri- promover o desenvolvimento e a inte-
dos, reunindo características de diver- gração de soluções inovadoras para os
sos tipos e modelos simultaneamente. desafios da saúde; Portal de coopera-
Os especialistas também apontaram a ção online da WISTA, blackboard para
questão de criação de redes de cola- startups, empresas, universidades e
boração e oportunidades de comunica- institutos de pesquisa que permite que
ção entre os atores, em uma tendência tanto empresas novas quanto estabe-
dos ambientes em concentrar mais na lecidas busquem parceiros. MARS, em
parte soft (pessoas, talentos e cultura, que consiste em uma área que congre-
conexões) e menos na hard (espaço, ga universidades, centros de pesquisa,
laboratórios, instalações). laboratório, escritórios de transferên-
cia de tecnologia, fundos de capital
Nos ambientes específicos ana-
de risco, hospitais, grandes empresas,
lisados nas cidades estrangeiras, em
startups e organizações que apoiam o
sua maioria distritos de inovação e
desenvolvimento de negócios, dando
PCTs, todos possuem em diferentes
todos os subsídios para os negócios
níveis ambientes de coworking, incu-
prosperarem. Além disso, proporcio-
bação e aceleração, além de oportu-
na desde programas educacionais até
nidades de investimento. Percebe-se
consultorias individuais.
também uma tentativa de conexão en-
tre os diferentes mecanismos estabele- Sobre a questão de cultura e in-
cidos e também entre as empresas e centivos (um dos tópicos de E-CAP do
startups estabelecidas nesses ambien- quadro referencial), podemos analisar
tes, buscando criar sinergias e oportu- a intenção de empreender nos países
nidades de colaboração. Exemplos se- estudados. Analisando o gráfico a se-
riam: Bright Building do Manchester guir, percebe-se que o Brasil tem uma
Science Park, espaço de colaboração boa intenção de empreender, inclusive
aberta que funciona como um Hub onde maior que a dos demais países, mas
os empreendedores estabelecidos em os empreendedores têm baixo acesso
qualquer um dos edifícios do parque a empréstimos bancários e a capital
podem se encontrar em eventos e em de risco.

157 157
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

Gráfico 2. Comparação dos países analisados em relação a intenção de empreender,


capital de risco e acesso a empréstimos

Fonte: iEcosystem (https://innovationecosystems.mit.edu) – dados de 2015 e 2016

Nota: Intenção de empreender dimentos inovadores, especialmente li-


(Global Entrepreneurship Monitor); gados às universidades, e uma geração
Acesso a Capital de Risco e Emprés- cada vez maior de empresas nascentes.
timos Bancários (Global Competitive- Ocorre que o acesso a capital constitui
ness Index). O tamanho de cada círcu- um fator de dificuldade para a geração
lo representa a nota de acesso à capital de novos negócios, em especial o capi-
de risco. tal de risco. Conforme os dados da AB-
VCAP, a indústria de venture capital tem
Como pode ser verificado nas cida- crescido nos últimos anos, tendo dobra-
des brasileiras analisadas, há diversos do o volume de capital comprometido
mecanismos de geração de empreen- de 2017 para 2018.

158 158
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

No entanto, quando comparamos o


volume de capital de risco do Brasil com
outros países, em termos de proporção
de investimentos em relação ao PIB, o
Brasil ainda tem muito a evoluir.

Em especial na comparação com ou-


tros países, nas cidades brasileiras (Porto
Alegre, Santa Rita do Sapucaí e Campi-
na Grande) faltavam estruturas de inves-
Capital Comprometido Total Capital disponível para timento, como fundos de venture capital.
no final do ano investimentos e despesas
no final do ano

Fonte: ABVCAP

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Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

Papel dos principais stakeholders em Berlim especificamente há um bom


do ecossistema fluxo de talentos alimentados por univer-
sidades de alta qualidade estabelecidas
As principais partes interessadas na região. Nesse contexto, essas duas
(stakeholders) em um ecossistema de partes interessadas são importantes para
empreendedorismo, segundo o estudo o ecossistema de Berlim. No entanto, a ci-
mais recente que dá continuidade ao iE- dade hoje já possui centenas de startups,
cosystems do MIT100, são: uma grande variedade de mecanismos
de apoio a empreendimentos inovadores
• Empreendedores
e áreas de inovação, talentos que vem de
• Universidade
outros países e boas oportunidades para
• Governo
as startups obterem capital, em especial
• Empresas / Corporações
capital de risco. Portanto, percebe-se
• Capital
que, apesar da importância do governo
e das universidades locais, há um bom
Obviamente existem outros atores
equilíbrio entre os stakeholders locais, ge-
em qualquer sistema socioeconômico /
rando um ecossistema mais sustentável.
político, mas, para o propósito de promo-
ver os ecossistemas de empreendedo- No caso de Manchester, nota-se
rismo voltados à inovação, esses cinco que historicamente as universidades da
atores são os mais relevantes. Nos ecos- região tiveram um grande protagonis-
sistemas estudados de cada cidade, foi mo na reestruturação da cidade após o
possível perceber os stakeholders que declínio industrial. O governo britânico,
lideram ou que mais colaboram na cons- assim como o alemão, também oferece
trução desse ecossistema e os demais uma série de incentivos para a criação e
que também auxiliam na sua construção o crescimento de startups. Hoje as univer-
e manutenção. sidades e o governo possuem grande im-
portância nesse ecossistema, mas o seu
Na Alemanha, o governo tem um pa-
desenvolvimento permitiu o crescimento
pel essencial no apoio às startups e pe-
no número de startups e empreendedo-
quenas empresas, estimulando a criação,
res na região, bem como de indústrias
manutenção e expansão dessas empre-
(em especial a de mídias digitais) e o au-
sas. Além desse suporte governamental,
mento nas oportunidades de investimen-
100 BUDDEN, P.; MURRAY, F. MIT’s Stakeholder to. Mesmo assim, o governo ainda possui
Framework for Building & Accelerating Innovation um importante papel como investidor no
Ecosystems. 2019. https://innovation.mit.edu/assets/ ecossistema de empreendedorismo e as
MIT-Stakeholder-Framework_Innovation-Ecosystems.
pdf universidades também se colocam como

160 160
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

essenciais nesse ecossistema, coorde- No caso de Santa Rita do Sapucaí, a


nando diversos ambientes de inovação. iniciativa partiu da sociedade civil, em es-
pecial com os esforços de Sinhá Moreira
Em Haifa, percebe-se um papel ativo a partir da construção da primeira escola
do governo nessa estruturação inicial do técnica em uma cidade do interior na dé-
ecossistema, buscando trazer primeiramen- cada de 50 do século passado. Em segui-
te grandes empresas para o principal PCT, da, com o surgimento do Inatel e da FAI,
o MATAM, e depois com a reformulação de a formação de recursos humanos qualifi-
uma zona antiga e abandonada da cidade cados nas áreas de TICs ganhou força. O
(Downtown Haifa), tornando-a hoje uma re- poder público local também possui lide-
gião pulsante com startups, incubadoras rança e atuação por meio de incentivos e
e coworkings. A principal universidade da mecanismos de geração de empreendi-
região, o Technion, tem um papel importan- mentos inovadores.
te na cidade para a formação de talentos
(engenheiros e engenheiras em especial) e Já em Campina Grande, a liderança
atua em parcerias com outros mecanismos do desenvolvimento econômico baseado
da cidade para impulsionar a região. Hoje, em inovação partiu do setor acadêmico,
esse ecossistema encontra-se mais equi- em especial por meio da escola politécni-
librado em termos dos papéis exercidos ca e da criação, na década de 1980, de
pelas diversas partes interessadas na sua um dos primeiros parques tecnológicos
manutenção, contando com uma atuação do Brasil, por iniciativa do governo fede-
importante do HEC (Haifa Economic Cor- ral, a partir do CNPq.
poration), ambiente estudado como impul-
sionador do desenvolvimento local. Nas três cidades brasileiras, é pos-
sível perceber uma forte atuação do setor
Em Porto Alegre, o poder público acadêmico, não somente como formador
local, além de promover diversas ações de mão de obra qualificada, mas como
e incentivos para a economia baseada um gerador de empreendimentos inova-
em inovação, estimulou na década de 90 dores a partir dos seus mais diversos me-
que as lideranças acadêmicas e empre- canismos. Da mesma forma, há apoio do
sariais iniciassem esforços para a criação poder público local e federal nas institui-
de ambientes de inovação no município. ções que promovem a inovação.
Atualmente, as três universidades da re-
gião – UFRGS, Unisinos e PUC RS – têm Em comum nas sete cidades es-
liderado uma aliança para inovação re- tudas no Brasil e no exterior em relação
gional, fortalecendo a cooperação entre aos stakeholders é o papel de base, para
os atores do ecossistema. formação e sustentação desse ecossiste-

161 161
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

ma, do governo e das universidades da fora do mainstream, seja no Brasil ou fora,


região. Em todos os casos, esses dois a despeito das dificuldades enfrentadas,
atores foram (e são) essenciais especial- possuem singularidades e padrões que
mente para fornecer o suporte inicial para as fizeram se destacar. São casos de su-
construção do ecossistema, bem como cesso e, principalmente, de inspiração e
para garantir seu crescimento e susten- exemplos para quaisquer outras cidades
tabilidade. No entanto, os ecossistemas e regiões que queiram espelhar-se e de-
apresentam diferentes níveis de depen- senvolver-se.
dência desses dois atores, ou seja: em al-
gumas cidades, os demais stakeholders Na análise realizada sobre a capacida-
(empreendedores, empresas e capital) de empreendedora percebe-se que o Brasil
já estão mais desenvolvidos, permitindo apresenta diversas características em co-
que o ecossistema seja cada vez mais mum com os demais países estudados. Ou
sustentável e equilibrado. seja, também temos talento e capacidade
para estimular o empreendedorismo e criar
Caminhos um ambiente adequado para que floresça
e se desenvolva. E estamos gerando re-
As cidades escolhidas estão fora do sultados e inovações que podem estimular
Circuito Elizabeth Arden101 dos ecossiste- o desenvolvimento da região e mesmo do
mas de inovação do Brasil, como Floria- país. Faltam recursos para estimular esse
nópolis ou Recife, bem como do mundo ambiente (especialmente capital de risco
como Vale do Silício e Boston, nos Estados privado) e algo importante que vimos an-
Unidos, ou Tel Aviv, em Israel, por exem- teriormente é que falta mais estrutura nas
plo. Esses casos já foram bem abordados instituições alicerce. A instabilidade econô-
na literatura e citados como exemplos de mica e política do país (bem como outros
sucesso para o desenvolvimento de uma diversos fatores apontados anteriormente
economia baseada no conhecimento. As – corrupção, propriedade intelectual, facili-
cidades escolhidas, intencionalmente dade de fazer negócios etc.) tornam essa
base mais instável e inconstante, geran-
101 Na diplomacia, um grupo de embaixadas do incertezas tanto para empreendedores
que estão em capitais de tradicional prestígio cultu-
ral, político e socioeconômico (Roma, Paris, Londres quanto para investidores.
e Washington) – e seriam, portanto, as preferidas de
embaixadores e embaixatrizes – receberam o apelido Dessa forma, no sentido de fortale-
de “Circuito Elizabeth Arden”. O termo surgiu em refe- cer essas instituições, uma recomenda-
rência ao glamour e à elegância da cosmetologista
Elizabeth Arden, cujas sacolas de compras estavam ção seria buscar cultivar no estamento
sempre repletas das mais renomadas grifes de moda profissional de gestão das cidades um
dessas cidades. <https://pt.wikipedia.org/wiki/Eli- coletivo que explore essa causa do em-
zabeth_Arden>

162 162
Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

preendedorismo inovador, permitindo tes interessadas sustentaram seu suces-


com que projetos e iniciativas nesse so. Com base nesses exemplos, aqueles
sentido possam ser continuados (pere- que buscam hoje uma abordagem mais
nização). Dessa forma, essas pessoas propositada (e acelerada) para a cons-
chave (que podem ser, por exemplo, trução desse tipo de ecossistema podem
funcionários públicos de carreira) pode- partir do princípio de que, adotando uma
rão dar continuidade aos projetos e es- abordagem mais consciente e sistemática,
tabelecer uma rede menos sensível às podem mudar as chances de sucesso de
trocas políticas. sua região com mais clareza e rapidez.

Guia / Roteiro Nesse sentido, o presente guia pre-


tende apresentar, com base nas expe-
A geração de inovação e empreen- riências estudadas, os principais pontos
dedorismo - especialmente na forma de que entendemos que são necessários
empresas orientadas para a inovação (embora não exaustivos e suficientes)
(IDEs) - emergiu como uma prioridade crí- para a construção de um ecossistema de
tica na economia global. O enigma para inovação e empreendedorismo que, futu-
os formuladores de políticas públicas, ou ramente, possa trazer benefícios econô-
outros interessados em uma cidade ou re- micos e sociais para a sua região.
gião específica, é que esse fenômeno é
altamente concentrado e parece ser ca-
4.1) INICIATIVA LOCAL
racterizado por um ciclo de crescimento
que se fortalece positivamente quando as INICIADA POR UM ATOR
IDEs atingem uma concentração especí- (STAKEHOLDER) QUE COMPRA
fica (BUDDEN; MURRAY, 2019). Ou seja, A IDEIA E COMEÇA A
a presença de mais IDEs acaba atraindo INICIATIVA
outros negócios, especialmente quando
as primeiras obtiveram sucesso na região. Conforme vimos nos casos estuda-
dos, há sempre um ator ou conjunto de
No centro da discussão realizada atores específicos que impulsionam o iní-
nesse relatório está o que chamamos de cio dessa mudança, atuando como me-
ecossistema de inovação, o qual carac- canismo de ignição desse ecossistema.
terizamos anteriormente, mas que pos- Essa ignição do ecossistema empreende-
sui como uma característica importante a dor pode vir de qualquer um dos atores do
concentração de IDEs. Estudamos alguns que chamamos de hélice quádrupla (uni-
ecossistemas icônicos e aprendemos versidades, empresas, governo e socieda-
como se deu sua evolução e como as par- de civil). Seja em virtude de uma crise pela

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Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

qual a região está passando ou por uma Como tal, muitas vezes são líderes ideais
visão estratégica, esses atores percebem do desenvolvimento de ecossistemas re-
a necessidade de transformação da eco- gionais de inovação. Esse foi o caso de
nomia e emergem como liderança para Manchester, no qual as universidades
dar o impulso inicial desse ecossistema. tiveram um papel essencial na recupe-
ração da região, e em menor grau, em
A característica mais importante de Berlim.
qualquer líder de ecossistema é que es-
ses permanecem comprometidos por um Os governos são um dos líderes
longo período com a atividade em ques- mais claros na construção de ecossiste-
tão e seguem uma abordagem de enga- mas de inovação, e muitos se esforçam
jamento das partes interessadas, fazendo para acelerar seu ecossistema como par-
com que todo o grupo de partes interes- te de seu mandato buscando estabilida-
sadas se sinta incluído e ouvido. de política, prosperidade econômica e
progresso social. A liderança do governo
Os empreendedores como líderes precisa enfatizar encontros periódicos e a
de ecossistemas geralmente empregam escuta das necessidades dos empreen-
sua riqueza pessoal e a utilizam como dedores, atentando para as atividades
base de uma visão para construir um empreendedoras já existentes.
ecossistema de inovação em lugares de
importância especial para eles. A atenção Nos três casos brasileiros estudados
concentrada e determinada de empreen- é possível perceber a liderança e a inspi-
dedores experientes e com recursos cer- ração de outros ecossistemas inovadores.
tamente pode conduzir os estágios ini-
ciais da mudança nas regiões sem um Em Porto Alegre, destacou-se a lide-
forte ecossistema de inovação. rança do governo local para estimular a
inovação na capital gaúcha, organizan-
As universidades, em especial do uma visita de gestores universitários
aquelas fundadas por governos locais e empresários nas tecnópoles francesas.
e regionais ou por uma comunidade lo- Essa iniciativa estimulou a criação de di-
cal, geralmente têm como uma de suas versos parques tecnológicos na região.
missões o desenvolvimento econômico
regional. Com sua grande presença físi- Em Santa Rita do Sapucaí, a lideran-
ca (em termos de edifícios, terras etc.) ça partiu da sociedade civil, em especial
e número significativo de funcionários e pela Sinhá Moreira, que inspirada no pa-
alunos, as universidades são uma pre- pel que as escolas técnicas japonesas
sença importante em algumas regiões. desempenhavam no pós-guerra para re-
novação econômica do país, passou a

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Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

acreditar que o mesmo fenômeno poderia cadas em seus objetivos corporativos


acontecer em sua cidade natal e assumiu imediatos, bem como nas demandas
a liderança na fundação da primeira es- dos sócios e/ou acionistas da empresa.
cola técnica da América Latina.
No entanto, após essa primeira igni-
Em Campina Grande, a liderança ção por um dos atores do ecossistema, é
partiu do ambiente acadêmico, desta- necessário o apoio do setor empresarial
cando o papel do ex-Diretor da Escola e industrial da região para que esse se
Politécnica, ex-Reitor da UFCG e pre- sustente. É importante reconhecer o im-
sidente do CNPq, Lynaldo Cavalcanti. portante papel que as empresas podem
Além de auxiliar no estabelecimento da desempenhar na construção e solidifi-
escola politécnica e da universidade em cação de ecossistemas, incluindo suas
Campina Grande, o professor Lynaldo, atividades no desenvolvimento de talen-
quando presidente do CNPq, inspirado tos no trabalho, suas contribuições para
nos ambientes de inovação que se pro- o capital de risco por meio de seu braço
liferavam ao redor do mundo, trouxe a de capital de risco corporativo (Corpora-
construção dos primeiros parques tec- te Venture Capital), suas instalações (es-
nológicos para o Brasil, um deles em paço, ambiente para P&D e laboratórios),
Campina Grande. Destaca-se também que apoiam a infraestrutura de inovação
outra iniciativa, a criação da Escola Téc- na região, e seu poder de persuasão.
nica que foi inspirada no caso brasileiro
anterior, Santa Rita do Sapucaí, e desse Nem todas as empresas participarão
recebeu diversos auxílios. de forma ativa no ecossistema, mas, de-
pendendo da vantagem comparativa que
uma região tem ou pretende construir, é in-
4.2) PARTICIPAÇÃO DO
teressante que empresas específicas (que
SETOR EMPRESARIAL atuam na área/setor em que o ecossistema
PARA SUSTENTAÇÃO está se concentrando) sejam incluídas no
DO ECOSSISTEMA desenvolvimento do ecossistema.
EMPREENDEDOR
Percebe-se que os ecossistemas
As empresas não são amplamente empreendedores mais avançados, como
reconhecidas como líderes naturais do Berlim e Toronto, ou mesmo Santa Rita
ecossistema de inovação. Geralmen- do Sapucaí com o Sindivel, possuem um
te apresentam uma missão econômica forte envolvimento do setor empresarial
mais ampla do que um ecossistema para o desenvolvimento desse ecossis-
regional ou local e, portanto, estão fo- tema, seja se adaptando para abarcar

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Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

o empreendedorismo nas suas próprias 4.4) TRABALHAR EM


ações, apoiando o desenvolvimento de PARCERIAS COM OUTROS
iniciativas empreendedoras locais e de- ATORES DA REGIÃO
senvolvendo-se para acompanhar as re-
voluções empreendedoras da região. No cerne da liderança do ecossis-
tema de inovação, independentemente
4.3) INSPIRAÇÃO DE FORA E de qual parte interessada desempenhe
DE DENTRO o papel de líder, está a ação coletiva,
permitindo, por meio da colaboração en-
Nos casos estudados vimos que tre os atores, o alcance das mudanças e
muitas das cidades, especialmente as transformações almejadas. No caso de
brasileiras, buscaram experiências do ex- ecossistemas de inovação, isso significa
terior ou no próprio país (Campina Gran- envolver todas as partes interessadas na
de inspirou-se também em Santa Rita do tarefa coletiva de construção do ecossis-
Sapucaí) para inspirar a formação desse tema.
ecossistema empreendedor na cidade/
região. Além dessa busca de uma inspi- Primeiramente, a ação coletiva exige
ração externa, em todos os casos houve que todas as partes interessadas possam
um esforço de identificação e valorização perceber que é do seu interesse de médio
dos ativos da região, em especial os ati- e longo prazo ter um ecossistema saudá-
vos intelectuais, de modo a utilizar esses vel e vibrante, ou seja, que o objetivo de
importantes ativos para alavancar o ecos- construir um ecossistema forte seja com-
sistema empreendedor da região. partilhado (embora por razões diferentes).

Manchester, por exemplo, buscou se Percebe-se nos casos estudados


reestruturar economicamente a partir dos que os atores buscaram trabalhar em
ativos intelectuais das universidades da re- parcerias para conjuntamente impulsio-
gião, o que deu o impulso inicial para que nar as atividades empreendedoras da re-
esse ecossistema pudesse ser construído e gião. Empresas, empreendedores locais,
sustentado. Santa Rita do Sapucaí inspirou- governo, universidades e sociedade civil
-se nas escolas técnicas japonesas e como devem trabalhar em conjunto. As parce-
essas estavam auxiliando a reconstrução do rias podem ser formais ou informais, mas
Japão no pós-guerra; Campina Grande nos o importante é que esses atores entendam
ambientes de inovação que estavam sendo a necessidade de cada um e a estratégia
construídos ao redor do mundo, em especial da região como ecossistema empreende-
o parque tecnológico no Vale do Silício; Por- dor, para que assim possam traçar rotas
to Alegre nas tecnopóles francesas. específicas de atuação conjunta.

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Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

4.5) CRIAR AMBIENTES DE tegração é importante, pois pode facilitar


INOVAÇÃO que novos empreendedores e empreendi-
mentos tenham uma transição mais fluida
Nas cidades estudadas, percebe- e clara entre os diferentes estágios de seu
-se que a variedade e quantidade de negócio, com o suporte adequado nas di-
ambientes de inovação (sejam mecanis- ferentes fases, independente do ambien-
mos de geração de empreendimentos te em que esteja alocado.
inovadores ou áreas de inovação) per-
mitem que os empreendedores locais 4.6) FORTALECER A CULTURA
(bem como de outras regiões) tenham EMPREENDEDORA
melhores oportunidades de alavan-
car sua ideia ou seu negócio, além de Incentivar a cultura empreendedo-
contarem com o apoio necessário para ra é um elemento crítico para estimular
fazer o negócio ir adiante (seja apoio a inovação de impacto, tanto nos ne-
financeiro, seja o apoio de outros em- gócios quanto na sociedade. A cultura
preendedores e mentores que ajudem a empreendedora não é apenas o corpo
dar ideias e direcionamento). de conhecimento e experiência, mas
também um padrão comportamental e
O balanço adequado de oportuni- atitudes da sociedade em relação, por
dades para empreendedores e startups exemplo, à tomada de riscos, ao em-
atuarem na melhoria, direcionamento, preendedorismo como opção de carrei-
crescimento e financiamento de seus ne- ra, ao estímulo do empreendedorismo
gócios ou ideias de negócio ajuda a es- nos diversos âmbitos da vida social en-
timular esses atores do ecossistema e tre outros aspectos.
facilita a criação de novas IDEs (innova-
tion-driven enterprises), que por sua vez Por exemplo, a visibilidade ofereci-
contribuirão para que o objetivo de ge- da aos empreendedores da região é um
ração de impactos positivos em termos aspecto de interesse para a valorização
econômicos e sociais para a região em da cultura empreendedora. Os empreen-
questão seja de fato alcançado. dedores existentes podem ajudar os no-
vos a identificar e adquirir as habilidades,
A criação de mecanismos que facili- relacionamentos e confiança necessários
tem a interação e interligação desses am- para a criação ou expansão de seus ne-
bientes de inovação também é um ponto gócios. Além disso, esses empreende-
importante. Percebe-se de modo geral dores estabelecidos podem colocar em
que as fronteiras entre ambientes estão contato novos empreendedores com uma
ficando cada vez mais difusas. Essa in- variedade de provedores de recursos ex-

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Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

ternos e, assim, ajudá-los a acessar os vez mais sustentável é atrair capital. E por
recursos de que precisam para crescer. capital entende-se o capital empreende-
dor nas diversas formas já abordadas na
Nas regiões estudadas percebeu- revisão da literatura, bem como o auxílio
-se uma forte cultura empreendedora, do governo. No entanto, para o ecossis-
ou seja, são localidades nas quais o em- tema funcionar de forma adequada, o ca-
preendedorismo está presente de diver- pital privado deve estar mais presente e
sas formas (seja por meio de mecanismos disponível.
de apoios e áreas de inovação, eventos
e atividades que promovem o empreen- Os fornecedores de capital em-
dedorismo e os empreendedores locais, preendedor são atores necessários, mas
cursos para auxiliar empreendedores nas não suficientes, para o ecossistema de
etapas de seu negócio etc.). Além disso, inovação. Portanto, é essencial que eles
nessas regiões, o empreendedorismo é participem das atividades de construção
valorizado como opção de carreira e for- de ecossistemas de inovação, mas é im-
malmente incentivado. portante enfatizar que seu envolvimento
deve ser mais do que simplesmente uma
Em todos os casos brasileiros estu- medida de sua presença no ecossistema
dados, percebe-se que as feiras locais como financiadores.
estimulam o empreendedorismo e a ino-
vação, bem como contribuem para divul- Nas atividades de construção de
gar os exemplos e casos de sucesso. Em ecossistemas, também vale evitar a ar-
Santa Rita do Sapucaí, por exemplo, as madilha comum de assumir que o ca-
três principais instituições de ensino reali- pital de risco (venture capital) é a única
zam feiras anuais (ETE, FAI e Inatel), bem forma de capital empreendedor para os
como o Sindivel realiza a Feira Industrial ecossistemas de inovação. A lição para
do Vale da Eletrônica (FIVEL), estando em a construção de ecossistemas é explorar
sua 15ª edição. A cidade também é sede o espectro de recursos de capital em-
do HackTown, um festival de inovação, preendedor (por exemplo, investidores
empreendedorismo e criatividade que já anjos, equity crowdfunding, fundos de
teve sua quinta edição,com mais de 600 investimento e seed capital), perguntar
palestras. aos empreendedores de IDEs sobre suas
próprias experiências de captação de
4.7) ATRAÇÃO DE CAPITAL recursos e envolver mais de perto toda
a gama de opções de provedores de ca-
Um dos pontos importantes para fa- pital empreendedor, tanto os tradicionais
zer com que o ecossistema se torne cada quanto os novos.

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Ecossistemas de Empreendedorismo Inovadores e Inspiradores

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