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EDITORIAL

FRANCISCO CANEIRA MADELINO


Director da Revista,
Presidente do Conselho Directivo do IEFP, I.P.

Porque é nossa convicção que com a globalização a internacionalização empresarial Mas se no contexto empresarial a dinâ-
portuguesa deixou de ser uma opção para se tornar uma questão de sobrevivência, e mica da internacionalização conduziu à
porque todo este processo é muito complexo e suscita toda uma série de questões, re- alteração de estratégias e de práticas em-
solvemos dedicar este número da Formar aos desafios da internacionalização para as presariais, também ao nível individual se
empresas portuguesas. registaram mudanças relativamente às
Como sabemos, a internacionalização deixou de ser apenas a tradicional exportação para condições de acesso a uma carreira in-
um mercado distante e mais ou menos desconhecido ou a abertura de uma filial num ternacional; disso nos dá conta o autor do
determinado país para beneficiar de vantagens comparativas e passou a assumir outras artigo «Carreira internacional num mundo
formas mais ou menos complexas, envolvendo parcerias, investimentos cruzados en- global».
tre empresas de diversos países, acordos de cooperação industrial ou comercial em que
participam empresas de diversas dimensões, instituições financeiras internacionais e Porque se pretende que esta revista seja,
outras entidades privadas e públicas. Neste sentido, seleccionámos para esta edição al- além de um instrumento de trabalho, um
guns artigos que se nos afiguram de interesse para os nossos leitores, que neles encon- meio de valorização pessoal de quem a lê,
trarão informações e pistas de reflexão sobre os seguintes pontos: incluímos, entre outros, o artigo «Como
• Os novos contextos da internacionalização empresarial: novas estratégias, novas criar uma galeria de fotos na Web com o
mentalidades, novas práticas empresariais. Photoshop».
• O papel da AICEP e o conjunto de medidas disponíveis de apoio à internacionalização
das empresas portuguesas. Por último, salientam-se as reportagens
• Como criar as condições de sucesso para um processo de internacionalização. realizadas nas empresas Iberomoldes e
• Qual o contributo da formação e qualificação dos RH para o sucesso da internacio- BA, que investiram desde cedo no desafio
nalização das empresas? Que competências são determinantes nesse processo? da internacionalização, através das quais
• A negociação multicultural: fundamentos essenciais para uma negociação efectiva. podemos conhecer os respectivos percur-
• A influência dos mercados nos métodos e nas áreas de formação. sos empresariais, os princípios por que se
• A evolução das práticas de formação para os próximos tempos: as tendências High pautam e como vêem o futuro.
Tech e High Touch.
FICHA TÉCNICA

FORMAR N.º 71
ABRIL/MAIO/JUNHO DE 2010

Propriedade: Instituto do Emprego e Formação Profissional, I.P.

Director: Francisco Caneira Madelino

Responsável do Núcleo das Revistas Dirigir e Formar:


Maria Fernanda Gonçalves

Conselho Editorial: Acácio Ferreira Duarte, Ana Cláudia Valente, António Oliveira das
Neves, Fernando Moreira da Silva, Francisco Caneira Madelino, José Alberto Leitão,
José Manuel Henriques, Luís Imaginário, Maria de Fátima Cerqueira, Maria Fernanda
Gonçalves

Colaboraram neste número: Ana Maria Nogueira, Ana Rita Lopes, Basílio Horta, Carlos
Barbosa de Oliveira, Fernando Ferreira, Filomena Faustino, Glória Rebelo, Isabel Lima,
João Amaral, João Alberto Catalão, José Vicente Ferreira, Manuel R. Ortigão, Maria
Fernanda Gonçalves, Mário Ceitil, Paulo Buchinho, Paulo Cintra, Ruben Eiras, Teresa R.
Ortigão, Vanda Vieira

Apoio administrativo: Ana Maria Varela

Concepção gráfica: Scatti Design (www.scattidesign.com)


Capa: Paulo Buchinho

Revisão: Laurinda Brandão

Montagem e impressão: SOCTIP – Sociedade Tipográfica, S. A.

Redacção: Departamento de Formação Profissional, Núcleo das Revistas Dirigir


e Formar
Rua de Xabregas, 52 – 1949-003 LISBOA
Tel.: 218 614 100 Fax: 218 614 621

Registo: Instituto de Comunicação Social


Data de publicação: Junho de 2010
Periodicidade: 4 números por ano
Tiragem: 11 000 exemplares
Depósito legal: 636959190
ISSN: 0872-4989

Os artigos assinados são da exclusiva responsabilidade dos autores, não coincidindo neces-
sariamente com as opiniões do Conselho Directivo do lEFP. É permitida a reprodução dos ar-
tigos publicados, para fins não comerciais, desde que indicada a fonte e informada a Revista.

Condições de assinatura: Enviar carta ou e-mail com nome, morada e função desempenhada.
Toda a correspondência deverá ser endereçada para: Revista Formar, Rua de Xabregas, 52 –
1949-003 LISBOA, ou formar@iefp.pt
ÍNDICE

1 EDITORIAL 43 Políticas de
envelhecimento activo
4 DOSSIER e formação para seniores
Glória Rebelo
4 Os desafios da internacionalização para as empresas
portuguesas
47 INSTRUMENTOS
Basílio Horta
DE FORMAÇÃO
8 Formação e qualificação nas empresas exportadoras
54 Como criar uma galeria
Isabel Lima
de fotos na web com o
11 Grupo Iberomoldes: sucesso no mercado externo também  Photoshop
se deve à formação Fernando Ferreira
Carlos Barbosa de Oliveira

14 Empresas globais 50 CONHECER A EUROPA


José Vicente Ferreira 50 Alemanha
17 Humildade, ambição, rigor e transparência Ana Rita Lopes
– o compromisso da BA 53 Mercado interno: SOLVIT
Carlos Barbosa de Oliveira e serviço de orientação
20 Carreira internacional num mundo global dos cidadãos
Manuel Ortigão e Teresa Ortigão Ana Maria Nogueira

23 Negociação multicultural 55 ERASMUS para jovens


João Alberto Catalão empreendedores
Ana Maria Nogueira
29 ACTUAIS
57 LEARNING MONITOR
29 Trabalhar as competências de internacionalização
das empresas nacionais 57 Tendências
Ruben Eiras e Vanda Vieira 59 Web y@ur learning
32 O desenvolvimento de competências de empregabilidade 59 Biblioteca digital – 
Filomena Faustino – papers e estudos
37 Marinha: adaptar a formação profissional à sociedade civil  Ruben Eiras e Vanda Vieira
e às novas realidades 
Carlos Barbosa de Oliveira 60 DEBAIXO D'OLHO
60 Livros
41 ANÁLISE CRÍTICA
41 Tendências de evolução da formação profissional
62 DIVULGAÇÃO
Mário Ceitil 62 Artigos publicados 
em 2009
DOSSIER

OS DESAFIOS
BASÍLIO HORTA
DA INTERNACIONALIZAÇÃO
Presidente da AICEP
PARA AS EMPRESAS
Ilustrações de:
PAULO BUCHINHO PORTUGUESAS
REVISTAFORMARN.º71

Neménecessáriodeambularporumcentrocomercialmo-
dernoecosmopolita,poisbastaentrarnumapequenalojade
provínciaparaseperceberqueomundoestálápresentee
queaglobalizaçãoéumarealidade.Dopequenomerceeiro
à grande central de compras, do consumidor mais contido
aocompradormaissofisticado,todospodemverificarquea
internacionalizaçãodaeconomiafazpartedonossodia-a-
-dia.Benseserviçosoriundosdasmaisdiferenteslongitudes
elatitudesmisturam-seecompetememtodososmercados:
aquieláfora.Nestecontexto–eagoramaisdoquenunca
–,ainternacionalizaçãoconstituiuumamarcainelutáveldo
mundononossotempo

OS NOVOS CONTEXTOS dora maioria das empresas, mesmo que queiram resignar-se a permanecer no mercado
DA INTERNACIONALIZAÇÃO caseiro, pois mesmo aqui são forçadas a competir sob pena de desaparecerem como su-
EMPRESARIAL jeitos económicos.
A internacionalização das economias e
das empresas apresenta-se actualmente
como uma questão essencial, originando
profundas alterações no posicionamen-
to dos países e das condições em que as
empresas, grandes e pequenas, têm de
exercer a sua actividade, num processo
adaptativo que implica novas mentalida-
des e novas estratégias e práticas empre-
sariais.
É neste quadro civilizacional exaustiva-
mente demonstrado que as empresas
têm que se situar. Mesmo quando ope-
ram no mercado interno, confrontam-se Esta dinâmica, decorrente da necessidade de se criarem vantagens competitivas no mer-
com este imperativo de competição inter- cado interno face à concorrência internacional, acaba por funcionar como alavanca para
nacional. A internacionalização empresa- o processo mais substantivo da internacionalização empresarial. Existem muitos casos
rial, decorrente da globalização enquan- notáveis de empresas de pequena e média dimensão que sobrevivem e prosperam por
to fenómeno mais amplo e abrangente, é terem reagido convenientemente à pressão da concorrência internacional, ganhando
uma razão para a existência da esmaga- assim dimensão e posição de destaque nos mercados internacionais. Acontece nos sec-

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tores tecnológicos mais recentes, como fundamental: de país
as TIC ou as biomédicas, mas também nos tecnologicamente de-
sectores ditos tradicionais, como os têx- ficitário, passámos a
teis e o calçado ou os agro-alimentares. ter uma balança tec-
É que, embora seja determinante para a nológica positiva.
sua sobrevivência, não basta a uma em- Seguindo uma estra-
presa reunir factores competitivos para tégia de desenvolvi-

DOSSIER
resistir à concorrência internacional no mento baseada no
cenário restrito do mercado interno. O pro- conhecimento, na ino-
cesso de internacionalização de uma em- vação tecnológica e
presa implica que esta expanda as suas na organização, Por-
actividades no exterior, quer através dos tugal acumulou capa-

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processos tradicionais de exportação, quer cidades importantes
por meio de operações de joint-ventures em sectores emble-
com empresas sedeadas no país onde gal tem de ser cada vez mais um país de máticos como o das novas tecnologias de
desenvolve a sua actividade ou investin- exportadores. Para compensar as suas de- informação e comunicação, da biotecnolo-
do em unidades produtivas nos países de bilidades estruturais, que se manifestam gia, do automóvel, da aeronáutica, da de-
destino. num défice comercial histórico e sistemá- fesa e das energias renováveis. Ao mesmo
Na verdade, a internacionalização deixou tico, o País tem de criar uma dinâmica sus- tempo, renovou os sectores ditos tradi-
de ser apenas a exportação tradicional tentada de internacionalização crescente cionais – nomeadamente do calçado, do
para mercados mais ou menos distantes da sua economia, nomeadamente aumen- vestuário e do têxtil – para competir nos
e passou a assumir outras modalidades tando as exportações. Num contexto de mercados internacionais onde reconquis-
mais ou menos complexas, envolvendo in- crescente abertura das economias nacio- tou notoriedade e prestígio pela qualidade,
vestimentos, parcerias, acordos de coope- nais, a internacionalização de uma indús- inovação, design e marketing.
ração industrial ou comercial em que par- tria ou de uma empresa moderna deixou O espaço europeu – com a evolução da
ticipam empresas de diversas dimensões, de ser uma questão de opção para se tor- sua política económica pioneira que anu-
instituições financeiras internacionais e nar uma questão de sobrevivência. lou fronteiras e estimulou a livre circula-
outras entidades privadas e públicas. Felizmente, a tendência observada nos ção de pessoas e bens – transformou-se
últimos anos – interrom- num verdadeiro mer-
PORTUGAL pida agora pela crise in- cado interno alargado,
E A INTERNACIONALIZAÇÃO ternacional – aponta no numa plataforma in-
EMPRESARIAL sentido da afirmação dissociável da nossa
Da posição competitiva e da vitalidade crescente de Portugal economia.
inovadora das empresas na economia mo- como um país exporta-
derna depende o êxito da economia nacio- dor, competitivo e inova-
nal. Efectivamente, a procura do equilíbrio dor, capaz de responder
da balança comercial é um objectivo cen- às exigências de merca-
tral da política económica do País. dos sofisticados e de se
É neste quadro que a AICEP (Agência para adaptar com êxito a no-
o Investimento e Comércio Externo de vas realidades de merca-
Portugal) se posiciona como agência res- do em diferentes espaços
ponsável pela promoção da imagem e da geográficos.
economia de Portugal nos mercados inter- A dinâmica dos últimos
nacionais e na captação de investimen- anos, graças às apos-
to estrangeiro de qualidade que estimule tas que as empresas
o desenvolvimento económico do nosso têm feito na inovação,
País. Em última análise, trata-se de pro- na gestão, no marketing,
mover a nossa integração económica no no conhecimento e na dife-
mundo globalizado, apoiando as empre- renciação de produtos e serviços,
sas nacionais no seu esforço de conquista melhorou os factores de competitivida-
de mercados internacionais. de das nossas empresas e tem colocado
Condicionado pela geografia e pelas carac- Portugal entre os bons países exportado-
terísticas dominantes da sua economia e res com reconhecimento internacional,
assumindo a sua vocação histórica, Portu- tendo permitido inverter uma tendência

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Esta proximidade geográfica e as afinida- Angola – que é já um dos maiores parcei- veis de relacionamento entre as diferen-
des políticas determinaram que os parcei- ros comerciais de Portugal –, os países tes economias nacionais e empresariais
ros europeus de Portugal sejam o principal africanos do espaço mediterrânico, como e gerando novas dinâmicas de concorrên-
grupo destinatário das nossas exportações. Marrocos e Argélia, e os países do Leste cia e de cooperação. Esta complexidade e
No entanto, a tendência tem vindo a ser al- europeu e da América Latina, apresentam- a interdependência das trocas comerciais
terada graças à adopção de uma estratégia -se como opções de forte expansão. Nes- internacionais têm vindo a aumentar com
determinada que tem apostado, com êxito te sentido, a AICEP tem reforçado a acção o processo de globalização e com a cres-
crescente, numa diversificação de merca- promocional nestes mercados, participan- cente liberalização do comércio de bens e
dos de destino das exportações e no inves- do e organizando missões empresariais, serviços.
timento das empresas portuguesas. ao mesmo tempo que agiliza a pesquisa, A crise económica e financeira mundial
Embora seja desejável que as exporta- selecção e divulgação de oportunidades tem vindo a reflectir-se negativamente na
ções para o espaço europeu continuem de negócios. dinâmica das trocas comerciais à escala
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a aumentar em volume e valor, impõe-se, O progresso nas tecnologias de informa- universal e têm-se ouvido apelos ao pro-
no entanto, que continuemos o esforço ção e das telecomunicações e as práticas teccionismo. Neste contexto, com os mer-
de procura de novos económicas e financeiras de carác- cados tradicionais de destino das nossas
ter internacional transforma- exportações em crise, assiste-se a uma
ram as relações econó- retracção nas compras a Portugal. Várias
micas e alteraram medidas foram adoptadas para enfrentar
substancialmente a situação difícil gerada pela anemia dos
os cânones do mercados internacionais. Uma das me-
protagonismo didas mais importantes foi o reforço do
empresarial, apoio às empresas na exploração merca-
criando ní- dos alternativos onde haja poder de com-
pra. Ao mesmo tempo e dentro do possí-
vel, procurou-se reforçar as vantagens
competitivas das nossas empresas e en-
contrar formas de diminuir o mais possí-
vel as perdas. Neste sentido, a AICEP tem
adoptado um conjunto de medidas de
apoio à internacionalização das empre-
sas, quer reforçando a nossa estrutura em
mercados prioritários, quer intensificando
as acções de formação e de outros recur-
sos na área do conhecimento que disponi-
bilizamos às empresas.
mercados. Como parceiro das empresas no seu pro-
Felizmente, à custa cesso de internacionalização, proporcio-
desta expansão para mercados extraco- namos condições para a criação de um
munitários, as exportações para o mer- ambiente de negócios competitivo que
cado europeu correspondem a uma per- contribua para a inserção internacional
centagem menos elevada das nossas das empresas portuguesas, colocando
exportações totais. Ou seja, sem perder ao seu serviço meios técnicos e delega-
terreno na Europa, ganhámos posição ções no exterior capazes de complemen-
mais expressiva em novos mercados. tar a estrutura das empresas em fases ini-
ciais de internacionalização, promover os
O PAPEL DA AICEP seus bens e serviços e dotá-las do conhe-
Por apresentarem vantagens de natureza cimento necessário à internacionalização.
económica, políticas, históricas e cultu- Sentimos orgulho ao verificar que já é bas-
rais, há mercados e espaços geoeconómi- tante elevado o número destas empresas
cos com grandes oportunidades de negó- que têm concretizado projectos de ex-
cios que podem e devem ser encarados pansão internacional das suas activida-
como opções estratégicas para as empre- des e negócios com o acompanhamento
sas portuguesas. Os países de economia dos técnicos da Agência. Em acções des-
emergente, os PALOP, com destaque para centralizadas, frequentemente em parce-

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ria com associações empresariais, desen-
volvemos acções de carácter prático que
visam desbloquear constrangimentos,
vencer inércias para alargar a base expor-
tadora nacional, procurando motivar no-
vas empresas para a internacionalização.
Numa conjuntura internacional desfavo-

DOSSIER
rável, temos que insistir no aumento da
qualidade e inovação dos nossos produ-
tos, no aperfeiçoamento das técnicas de
gestão, no conhecimento e num esforço
ainda maior no sentido do reforço da com-

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petitividade com uma aposta determinan-
te na diversificação dos países de destino
das nossas exportações.
Como pequena economia aberta, Portugal
é muito vulnerável mas também ágil e ca-
paz de encontrar mecanismos de respos-
ta criativamente reactivos à intensa cri-
se internacional que está a condicionar o
nosso crescimento económico. Estamos
certos de que recuperaremos a dinâmica de globalização da economia, competindo curando conquistar novos mercados fora
de internacionalização que estava a ser para garantir e reforçar a posição adqui- do espaço europeu onde existem oportu-
conseguida com sucesso, num contexto rida nos mercados de proximidade e pro- nidades.

AICEP PORTUGAL GLOBAL

Resultado da fusão, em 2007, entre a API Portugal (investimento estruturan-


(Agência Portuguesa para o Investimen- te). Para um acesso mais fácil essas
to) e o ICEP (Instituto do Comércio Externo respostas estão agrupadas de acordo
de Portugal), a AICEP tem como principais com os seguintes temas: internacio-
atribuições promover a internacionaliza- nalizar, incentivos financeiros, guia
ção das empresas portuguesas e apoiar a do investidor, PIN e PIN +
sua actividade exportadora, captar investi- Salienta-se ainda o Guia Prático de
mento estruturante e promover a imagem Apoios Financeiros à Internacionali-
de Portugal com iniciativas criadoras de zação disponibilizado para consulta
valor para o nosso País. no site da Agência, com actualização
No seu site (www.portugalglobal.pt) pode- regular. Nesta publicação os interes-
rá encontrar informações relevantes e de sados encontrarão toda a informação
aconselhamento sobre a melhor forma de relativa aos sistemas de incentivos
abordar os mercados externos, como iden- no âmbito do QREN, as linhas de crédi-
tificar oportunidades de negócios interna- to criadas para vários mercados, pro-
cionais e sobre os apoios disponíveis ao tocolos de colaboração com bancos,
desenvolvimento de processos de inter- os benefícios fiscais à internacionali-
A AICEP Portugal Global, E.P.E., Agência nacionalização das empresas portugue- zação e os apoios no âmbito do capi-
para o Investimento e Comércio Exter- sas, nomeadamente PME. Ainda neste es- tal de risco. Este instrumento de con-
no de Portugal, é uma entidade pública paço, encontra-se disponível um vasto sulta reveste-se da maior importância
de natureza empresarial vocacionada conjunto de respostas a perguntas que especialmente para as PME, que nele
para o desenvolvimento de um am- são colocadas com maior frequência. In- encontrarão uma visão panorâmica
biente de negócios competitivo que teressam, sobretudo, a empresas que se e actualizada com toda a informação
contribua para a globalização da eco- encontram em processo de internaciona- sobre os apoios disponíveis, condi-
nomia portuguesa. lização ou a investidores no exterior ou em ções de acesso e elegibilidades.

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FORMAÇÃO E
ISABEL LIMA
QUALIFICAÇÃO
Directora de Recursos Humanos
NAS EMPRESAS
Ilustrações de:
JOÃO AMARAL EXPORTADORAS
REVISTA FORMAR N.º 71

«Sem trabalho, não há predestinados nem sucesso possível!


Só o talento não é suficiente! Urge mais transpirar do que
acreditar que tudo se resolve por via de uma inspiração mo-
mentânea!»
Jorge Araújo

O
 CONTRIBUTO DA FORMAÇÃO países alvo da internacionalização focam-se em
E QUALIFICAÇÃO DOS RECURSOS critérios económicos descurando a pers-
HUMANOS PARA O SUCESSO pectiva do comportamento organizacio-
DA INTERNACIONALIZAÇÃO nal, onde se inserem processos cumu-
DAS EMPRESAS lativos de aprendizagem e a complexa
A internacionalização das empresas como estrutura de percursos, com-
estratégia de sobrevivência e adaptação petências e influên-
ao mercado global exige que se reflicta re- cias». É neste con-
lativamente às condições e aos constran- texto que esta
gimentos impostos por essa necessi- reflexão se
dade. orienta. En-
Uma estratégia eficiente de tão, qual a
internacionalização deve- importân-
rá estar suportada numa cia da for-
análise/avaliação das condições sub- mação pro-
jacentes e absolutamente necessárias fissional e do
para o seu sucesso. Entendo crucial refe- desenvolvimen-
rir que uma internacionalização sem esta to de competências
preparação comprometerá o resultado e no processo de interna-
poderá colocar em causa a sobrevivência cionalização das empresas?
da empresa que se pretendeu internacio- Entenda-se que esta reflexão decorre por um lado da experiência vivida desde há alguns
nalizar, tendo em conta que os custos do anos na Direcção de Recursos Humanos de empresas cuja orientação estratégica de mé-
fracasso podem assumir consequências dio-longo prazo é a internacionalização e que se situam na indústria da construção civil
verdadeiramente desastrosas. Como refe- e obras públicas e, por outro lado, pela experiência também vivida, na primeira pessoa,
re Carlson (1975), «o processo de interna- como expatriada. Assim, ao debatermos sobre esta temática urge reflectir sobre os dois
cionalização assemelha-se a andar caute- tipos de competências1 necessárias a uma contribuição positiva e determinante nestes
losamente em terreno desconhecido» e, processos de internacionalização. A saber:
nessa perspectiva, uma cuidadosa prepa-
ração do caminho a percorrer reduzirá sig-
nificativamente o risco do fracasso.
Regra geral, como referem Hemais e Hilal 1
C ompetências: «Conjunto de conhecimentos, habilidades, comportamentos e aptidões que possibilitam maior probabilidade
(2002), «as decisões relativamente aos de obtenção de sucesso na execução de determinadas actividades.»

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COMPETÊNCIAS TÉCNICAS imperativo prever que dentro de X tempo
(HARD SKILLS) necessitaremos de determinado número
Nos processos de internacionalização de- de profissionais, com um leque de compe-
vemos ter sempre em conta que a dimen- tências para expatriar para o projecto Z,
são das empresas nos países em pre- no país L, e devemos estar a desen-
sença são, regra geral, constituídas por volver as competências ne-
estruturas mais diminutas do que na ca- cessárias a esses colabo-

DOSSIER
sa-mãe, quer nas áreas de suporte, quer radores. E este trabalho é
nas próprias equipas operacionais. Assim sempre necessário uma
sendo, é necessária uma maior polivalên- vez que dificilmente e, por
cia de funções e um leque mais alarga-
do de competências e conhecimentos de

REVISTA FORMAR N.º 71


cada colaborador.
Por outro lado, a oferta na área da forma-
ção e desenvolvimento de competên-
cias é muito menor uma vez que em mui-
tos dos países para onde enviamos estas tal ajustado a determinada função
equipas o acesso à formação em compe- ou já demonstra maior capacidade
tências técnicas é escasso por causa da técnica ou rapidamente a adqui-
inexistência de oferta interna (outros téc- re. Porque a aprendizagem é tan- mais que invistamos em for-
nicos que sejam detentores desses co- to melhor sucedida quando maior mação contínua, dificilmente
nhecimentos no país) e de oferta exter- for o sentimento de necessida- teremos uma equipa comple-
na devido ao facto de os projectos que se de desse conhecimento por parte tamente preparada para expa-
encontram a desenvolver se localizarem do formando. Estes profissionais triar.
fora dos grandes centros urbanos. Além são aqueles que, mesmo não ten- Contudo, na realidade, e por
disso, e mesmo quando existe oferta, é di- do todo o conhecimento téc- uma ordem variada de ra-
fícil ultrapassar a existência de barreiras nico necessário, são pro- zões, este planeamen-
linguísticas ou de insuficiente proficiência activos e vão no seu to nem sempre é
na língua do país, o que condiciona à parti- encalço, de- com a antece-
da o processo de aprendizagem. senvolven- dência dese-
do inclusive jável, e por via
C OMPETÊNCIAS DE estratégias dessa razão obri-
COMPORTAMENTO (SOFT SKILLS) de formação e de desenvolvimento gamo-nos a trabalhar num
É recorrente cometer-se o erro de expa- para além daquelas que a empresa lhes sentido mais amplo! Como já temos co-
triar colaboradores apenas pela sua com- proporciona! nhecimento de quais são as áreas e per-
petência técnica. Atrever-me-ia a dizer fis de competências que habitualmen-
que o insucesso da expatriação de técni- A SSIM, COMO PODEMOS te compõem essas equipas, trabalhamos
cos para outros países/mercados assen- CONTRIBUIR ENQUANTO PARCEIROS essas competências transversalmente.
ta/explica-se maioritariamente por se co- E PATROCINADORES O desenvolvimento da proficiência nas lín-
meter este erro. Tradicionalmente ainda DO DESENVOLVIMENTO guas mais utilizadas nos mercados onde
valorizamos como competências funda- DE COMPETÊNCIAS NESTE DESAFIO nos posicionamos, designadamente em
mentais o saber-fazer, até porque resulta DA INTERNACIONALIZAÇÃO? Francês e Inglês, para todos os quadros e
de uma avaliação mais objectiva. Defen- Preparar uma empresa para se interna- para chefias intermédias, ao nível opera-
do, com maior certeza a cada dia que pas- cionalizar ou estar alinhado com a estra- cional, com potencial de expatriação. A for-
sa, que o que faz a diferença no sucesso tégia já em desenvolvimento de interna- mação em normas internacionais, em acor-
de qualquer estratégia de internacionali- cionalização requer essencialmente que dos fiscais existentes, por exemplo, para as
zação e mesmo de selecção é muito mais planeemos no médio-longo prazo e iden- áreas financeiras.
o «saber-ser» do que o «saber-fazer». Ex- tifiquemos necessidades formativas pro- Contudo, genericamente ainda é descurada
plico melhor sob pena de não ser enten- jectivas (que serão necessárias num futu- uma estratégia concertada de preparação
dida pelos leitores! Ao longo de quase 17 ro próximo) e não apenas de resolução de para a expatriação de colaboradores, que
anos de experiência profissional e muitas gaps existentes, porque estamos apenas passa por estarmos cientes das razões
horas de avaliação de profissionais de to- a olhar para o que falta e a internaciona- fundamentais do insucesso na expatriação
das as áreas e níveis funcionais, concluo lização exige que nos direccionemos para e do contributo que podemos dar para a re-
que quem tem um perfil comportamen- o que será necessário! Portanto, torna-se dução de custos com este insucesso por-

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que, embora a maior parte das empresas e a preparar o cônjuge e a família para para perceberem a importância de pensa-
ainda não consiga medir este custo, conse- os futuros problemas de adaptação e/ rem num mercado de trabalho global e, por
gue claramente percebê-lo! ou separação prolongada. consequência, na adaptação dos quadros
Assim, explicaria sucintamente o que é ab- mentais para que o choque cultural seja
solutamente vital no que toca ao desenvol- Além destes aspectos, ao nível dos conteú- «amortecido» aquando da expatriação.
vimento de competências para o sucesso dos e temáticas que devem ser transmiti- Portanto, a formação e desenvolvimento
da internacionalização das empresas. Além dos aos futuros expatriados (e à família) de competências deve ser considerado, se
das competências técnicas já referidas e destacam-se: bem definido, um investimento com alto
da necessidade contínua de investirmos • Orientação social do país hospedeiro índice de rentabilidade! Nos processos
na formação técnica dos colaboradores, (inclui factores legais, económicos, de internacionalização este investimento
mesmo que as funções que desempe- sociais, demográficos e políticos). é absolutamente fundamental e descurar
nham actualmente não requeiram essas esta preparação compromete,
REVISTA FORMAR N.º 71

competências devemos concentrar-nos e sem qualquer dúvida, o sucesso


apostar em duas áreas fundamentais. dessa internacionalização, quer
no custo com regressos ante-
A PREPARAÇÃO PARA cipados que, além de consti-
A EXPATRIAÇÃO E A FORMAÇÃO tuírem um prejuízo em si só
PARA A INTERCULTURALIDADE devido aos gastos já efectua-
É consensual que as causas de fracasso dos com a logística da ex-
nos processos de expatriação de colabo- patriação (vistos, viagens,
radores são semelhantes na larga maioria etc.), quer pela ausência
das empresas multinacionais. São, nomea- do profissional no posto de
damente: trabalho enquanto se pre-
• Dificuldades familiares: problemas para a sua substituição,
conjugais e escolaridade dos filhos. quer nos custos asso-
• Problemas de adaptação: nova po- ciados a essa substi-
sição social, língua, dificuldade de tuição; além disso e
adaptação à nova cultura. ainda mais crítico,
Portanto: causar prejuízos no
• a formação no domínio das diferen- exercício da função no país
ças culturais deve ser considerada dá origem a dificuldades de relacio-
uma necessidade e não um luxo. Os namento com parceiros de negócio, com
custos da formação são incompara- autoridades locais, podendo inclusive
velmente mais baixos do que os cus- • Estilos cognitivos e aspectos psico- comprometer a permanência da empresa
tos da não formação traduzidos em -sociológicos do novo país. no país!
concreto nos custos potenciais dos • Sistema de valores e crenças domi-
regressos antecipados ou nos negó- nantes.
cios falhados por falta de competên- • Padrões de comunicação dominante,
cias e sensibilidade multicultural; língua e dialectos, comunicação verbal
•  os cursos devem assentar numa pe- e não verbal.
dagogia activa, cognitiva e compor- • Locus de controlo e de decisão nos ne-
BIBLIOGRAFIA
tamental, fortemente participativa e gócios e na gestão.
CARLSON, S., How foreign is foreign
usando métodos que apelem à vivên- • Atitudes face à Natureza, ao tempo, ao trade: a problem in international busi-
cia de situações utilizando jogos de poder e à autoridade, às regras, ao tra- ness research, Uppsala, Uppsala Uni-
papéis, simulando práticas e, ainda, balho, ao risco, aos conflitos e ao des- versity Press, 1975.
transmitir ferramentas de análise que conhecido. FINURAS, P., Gestão Intercultural: Pes-
permitam uma abordagem das outras soas e Carreiras na Era da Globaliza-
ção, Lisboa, Edições Sílabo, 2007.
culturas de forma moral e culturalmen- Em suma, os processos de globalização
HEMAIS, C. A., HILAL, A., «O processo
te neutra; exigem cada vez mais investimento nos de internacionalização da firma se-
• a expatriação ou missão internacional processos formativos e de desenvolvimen- gundo a Escola nórdica», in ROCHA,
deve ser encarada como um assunto to de competências dos recursos humanos A. da (Org.), A Internacionalização
doméstico (ou seja, de família e entre das empresas. Num mercado global conse- das Empresas Brasileiras: Estudos de
Gestão Internacional, Rio de Janeiro,
a família discutido, analisado, ponde- guir-se-á afirmar quem for capaz de inves-
Mauad, 2002.
rado e decidido) de forma a envolver tir na preparação dos seus colaboradores

10
GRUPO IBEROMOLDES:
CARLOS BARBOSA DE OLIVEIRA
SUCESSO NO MERCADO
Jornalista
EXTERNO TAMBÉM SE DEVE
Fotos de:
CARLOS BARBOSA DE OLIVEIRA À FORMAÇÃO

REVISTA FORMAR N.º 71


Desde a sua criação, em 1975, o Grupo Iberomoldes apostou
no desafio da internacionalização. O elevado grau de exigên-
cia, que sempre pautou a sua conduta, granjeou-lhe reco-
nhecimento internacional. O seu prestígio a nível nacional
resulta, em boa parte, do sucesso além-fronteiras, sendo
hoje em dia um dos mais importantes empregadores da re-
gião de Leiria cujo prestígio também se deve à aposta na for-
mação qualificante

O DESAFIO DA INTERNACIONALIZAÇÃO des protótipos, equipamentos especiais de apoio à industrialização, injecção, montagem
Em 1975, quando a maioria dos empresá- e decoração de componentes para o sector automóvel, construção civil e aeronáutica,
rios evitava correr riscos com receio da si- actualmente a Iberomoldes tem participação em 16 empresas das áreas de engenharia,
tuação política que se vivia em Portugal, prototipagem rápida e produção de moldes.
dois ex-directores de uma fábrica pioneira Assumindo desde o início uma vocação para os mercados externos, o Grupo Iberomoldes
na indústria dos moldes (Aníbal Abrantes, exporta mais de 90% do que produz. O segredo deste sucesso além-fronteiras consiste,
SA) criaram a fundação Iberomoldes, Lda na opinião de Arlindo Duarte, numa cultura de exigência que o trabalho com produtos de
que rapidamente se afirmaria no mercado elevada complexidade – destinados a empresas líderes de mercado – requer. Não é difí-
como a maior empresa do sector. Em 1978 cil perceber o significado das palavras do gestor de recursos humanos da Iberomoldes
os fundadores iniciam uma nova filosofia quando verificamos que os principais mercados são países com um elevado grau de exi-
na produção de moldes, criando uma ca- gência como a Alemanha, Suécia, França, Holanda, Bélgica, Espanha, Israel ou Estados
deia de empresas especializadas e com- Unidos.
plementares entre si cujos nomes mais vi-
síveis eram a Portumolde e a Iberonorma.
Apostando desde o início nos mercados
externos, a Iberomoldes cria, em 1981,
uma empresa de moldes na Tunísia em as-
sociação com parceiros locais, cujo objec-
tivo é satisfazer as necessidades do mer-
cado dos países árabes. O negócio corre
de feição e, em associação com o maior
produtor mundial de brinquedos (a Has-
bro), os fundadores da Iberomoldes ad-
quirem a empresa de que haviam sido
directores. Estávamos em 1986 e o Gru-
po Iberomoldes continuou a crescer até
atingir a dimensão actual. Começando por
alargar a sua actividade ao fabrico de mol- Fachada do edifício da Iberomoldes

11
São conhecidas as dificuldades de pe- qualidade. Já em 1983, a Iberomoldes era I&D não poderia alcançar o êxito desejado
netração das empresas portuguesas no pioneira em Portugal na utilização dos no- sem um forte investimento na componente
mercado externo, pelo que era importan- vos sistemas de CAD/CAM, aplicando-os à formativa. Como salienta Arlindo Duarte, «a
te saber se essas dificuldades também indústria de moldes. Como explica Arlindo necessidade de investir na formação dos
tinham sido sentidas pela Iberomoldes. Duarte, «era um sistema criado para o sec- colaboradores remonta à década de 80 do
Sem rodeios, Arlindo Duarte admite que as tor aeronáutico e foi o primeiro desse tipo século passado, altura em que começaram
principais dificuldades que a empresa foi instalado numa empresa portuguesa (e a surgir fortes constrangimentos na oferta
obrigada a contornar no concernente aos provavelmente europeia) de moldes com o de recursos humanos qualificados que ti-
moldes estavam relacionadas com «a au- objectivo de ganhar capacidade de respos- vessem os conhecimentos mínimos para
sência de experiência, de rigor técnico e ta no projecto a 3 dimensões e na maqui- poderem abraçar uma profissão na indús-
de disciplina metodológica». Também a nação de geometrias complexas e viabili- tria caracterizada por um grande rigor».
exigência perante a qualidade, o respeito zar a exploração do crescente parque de Na região apenas existiam duas esco-
REVISTA FORMAR N.º 71

pelos prazos de entrega ou a necessidade máquinas e ferramentas com controlado- las no distrito de Leiria com os «antigos
de ultrapassar dificuldades que permitis- res programáveis NC e a vários eixos». cursos profissionais de mecânica», o que
sem a adopção de métodos e processos No final dessa década (1989) a Iberomol- era claramente insuficiente como fonte de
mais eficazes foram obstáculos que tive- des passou a dispor de softwares CAE que recrutamento para o sector dos moldes.
ram de ser torneados ao longo do tempo. permitiam simular e analisar o fluxo do ma- Assim, em 1985, «com uma visão extraor-
terial plástico no interior do molde ainda na dinária, porque quase todos os profissio-
fase de projecto, conferindo a possibilida- nais das empresas dos moldes passaram
de de definir com maior rigor os pontos de por aqui», é criado o IBEROMOLDES, ACE
injecção, as linhas de união e a previsão – Instituto de Tecnologia de Moldes, uma
de possíveis empenos da peça. Com a cria- empresa sem fins lucrativos certificada
ção, nesse ano, da empresa SET – voca- pela DGERT, desde 85, com três objectivos:
cionada para um modelo de negócio novo, • Admissão de jovens com perspectivas
voltado para o desenvolvimento de produ- de melhorarem as habilitações.
tos em «engenharia simultânea» em co- • Melhorar as qualificações médias/
operação com os clientes mais sofistica- competências dos colaboradores.
dos, capaz de trabalhar cooperativamente • Fazer face às necessidades formativas
com o cliente no desenvolvimento do pro- dos colaboradores do grupo.
duto e de produzir protótipos, ao mesmo
tempo que tinha em consideração o pro- Dotado de um corpo formativo consti-
jecto de moldes associado – a Iberomol- tuído por formadores internos – a maio-
des pôde alargar a oferta de serviços para ria dos quais formados no grupo e possui-
além da concepção e fabrico do molde, es- dores de um grande conhecimento técni-
tendendo-a às fases iniciais da concepção co –, o grupo almejou desenvolver as com-
Arlindo Duarte
do produto, o que lhe assegurou a subida petências dos seus colaboradores fazendo
na cadeia de valor. Iniciava-se assim, com incidir a sua acção em duas tipologias de
O facto de a Iberomoldes ter conseguido a criação desta empresa, um novo percur- formação:
penetrar num mercado tão difícil como o so que permitia a exploração das áreas de
chinês, onde abriu escritórios especial- Engenharia e Desenvolvimento de Produ-
mente vocacionados para apoiar empre- to, Prototipagem Rápida, fabrico de moldes
sas multinacionais suas clientes com fi- protótipos e de equipamentos especiais
liais naquele país, parece demonstrar o de apoio à industrialização.
sucesso da empreitada. Hoje em dia, colabora com algumas das me-
lhores empresas, universidades e centros
A POSTA NA INOVAÇÃO tecnológicos (por exemplo, MIT, CENTIMFE,
E DESENVOLVIMENTO IST e Universidade do Minho, entre outros),
Nos anos 80, a aposta na Inovação e De- o que lhe tem granjeado reconhecimento e
senvolvimento (I&D) ainda não era maté- uma posição de destaque no mercado.
ria de preocupação para a maioria das em-
presas portuguesas. No entanto, o Grupo I NVESTIMENTO NA FORMAÇÃO
Iberomoldes sempre deu uma grande im- DOS COLABORADORES
portância à investigação e desenvolvimen- O Grupo Iberomoldes tem, actualmente,
to, tendo como objectivos a inovação e a mais de 1000 colaboradores e a aposta na Laboratório

12
Formação Qualificante Inicial (Curso de
formação básica de moldes para jovens
que queriam agarrar uma profissão, ti-
nham entre o 10.º e 12.º ano e não preten-
diam seguir um curso superior).
Como não podiam integrar a empresa por
lhes faltarem conhecimentos, a criação

DOSSIER
deste curso básico de moldes – no qual
era incorporada uma forte componente de
comportamento organizacional – tornou-
-se fundamental para assegurar o recru-
tamento de recursos humanos qualifica-

REVISTA FORMAR N.º 71


dos, capazes de responder às exigências
de qualidade da empresa e do mercado em
geral. Na opinião de Arlindo Duarte, a cre-
dibilidade da formação é facilmente com-
provável pelo facto de hoje em dia, mui- Laboratório
tos anos volvidos, haver muitas pessoas
que vêm pedir certificados da frequência Com a actual recessão foi diminuindo a definidas vão desde as mais simples até
e aproveitamento desses cursos, tendo necessidade de recrutar novos colabo- às mais técnicas, sempre focadas nas ver-
como intuito frequentar o Programa Novas radores, pelo que os cursos de Forma- dadeiras necessidades dos colaboradores
Oportunidades. ção Qualificante Inicial foram suspensos. e da empresa e também centradas na pre-
Os cursos tinham duração de um ano e em «Não fazia qualquer sentido estar a for- ocupação de aumentar as qualificações
média eram frequentados por 10 forman- mar pessoas a quem não podemos garan- académicas dos colaboradores.
dos que, terminada a formação, eram ab- tir emprego», justifica Arlindo Duarte. Desde a sua criação, o Instituto de Tecnolo-
gia de Moldes – a funcionar junto às insta-
lações da empresa, na Marinha Grande – já
deu perto de 1 milhão de horas de forma-
ção, contribuindo de forma decisiva para
o sucesso da empresa, nomeadamente no
que concerne na resposta dada às exigên-
cias resultantes da vocação da empresa
para a internacionalização. Porém, a for-
mação dos colaboradores do grupo não
se esgota com os cursos ministrados pelo
Instituto. Sempre que necessário, recor-
rem a formadores externos para ministrar
alguma formação específica ou mandam
os colaboradores ao estrangeiro para rece-
berem a formação adequada às exigências
e necessidades do grupo.
Laboratório
A formação do pessoal dos escritórios no
sorvidos pelas empresas do grupo. Com a Formação Qualificante Contínua estrangeiro também merece atenção es-
experiência entretanto adquirida, em con- A formação qualificante contínua tem por pecial. No caso da China, por exemplo, te-
texto laboral, alguns desses jovens torna- base um estudo que foi feito a partir das mos um colaborador português a dirigir
ram-se empresários do ramo o que, para profissões existentes nas empresas do o escritório que, antes de ir para lá, teve
a Iberomoldes, constitui motivo de orgulho grupo. Em cada uma delas foi definido um uma formação específica sobre a forma
e não de lamentação por ver fugir quadros conjunto de acções que do ponto de vista de actuar nesse mercado. Os colaborado-
em cuja formação o grupo investiu. «Temos do grupo são as fundamentais para que os res – na sua esmagadora maioria – são
dado um contributo importantíssimo para colaboradores adquiram as competências chineses, pelo que se torna necessário
o desenvolvimento desta actividade que necessárias para o correcto desempenho enviar à China pessoas habilitadas para
tem um peso muito expressivo em toda a das suas funções ao longo da sua carreira. lhes ministrar formação técnica, que inci-
região e essa é uma razão para nos sentir- As profissões estudadas atravessam to- de também numa vertente de cultura em-
mos orgulhosos», salienta Arlindo Duarte. dos os sectores da empresa, e as acções presarial.

13
JOSÉ VICENTE FERREIRA
Gestor e Docente Universitário

Ilustrações de:
PAULO CINTRA EMPRESAS GLOBAIS
REVISTA FORMAR N.º 71

Pascal falava da «Paixão de Convencer» como a capacidade


de liderança de uma empresa para envolver as pessoas nos
diversos projectos coordenando esforços, recursos e inicia-
tivas, visando a apresentação de resultados nos prazos ade-
quados. Em matéria de mercados externos a única resposta é
capacidade para aprender sempre

 A COMPLEXIDADE À CRIAÇÃO
D
DE VALOR
O mundo está cada vez mais complexo,
imprevisível e perigoso. Como consequên-
cia, as empresas tornam-se também sis-
temas cada vez mais complexos sujeitos a
Pressões Competitivas bem conhecidas,
com impactos nas pessoas, nos proces-
sos, nas tecnologias e nas estruturas de
negócios. Na realidade, assuntos como a
Globalização, as Desregulamentações, as
Privatizações, as Deslocalizações, as su-
cessivas Inovações Tecnológicas e as No-
vas Formas de Competição transportam
para os ambientes nacionais e internacio-
nais uma noção sempre acrescida de ris-
co. As palavras-chave neste contexto pas- MERCADOS, INVESTIMENTOS e INOVAÇÃO, que coexistem de forma multidimensional e im-
sam a ser: previsível.

» REDES/CADEIAS DE PROCURA ESTRATÉGIA – O DNA DA GESTÃO


» VANTAGENS COMPETITIVAS É neste contexto de LIDERANÇA, VISÃO PARTILHADA E ESPÍRITO DE GRUPO, sustentados
» MAXIMIZAÇÃO DO VALOR por um PROJECTO COMUM/PLANO DE NEGÓCIOS, que o DNA/DESENVOLVIMENTO DE NO-
» INOVAÇÃO VAS ATITUDES vai criar as condições para o sucesso empresarial (ver quadros «Estraté-
gia – o DNA da gestão» e «Gestão e Plano de Mudança»). A realidade competitiva impõe
Significa esta realidade que quando obser- que as organizações criem de forma dinâmica «Mecanismos e Atitudes de Gestão» que
vamos uma organização temos que olhar permitam compreender a «complexidade, a flexibilidade, a produtividade e a competitivi-
com particular atenção um conjunto de dade» num tempo que tem a sua janela de oportunidade.
«indicadores», nomeadamente ESTRATÉ- Tudo nesta trama de ideias mais do que complicada é altamente complexo. De facto, nes-
GIAS, ESTRUTURAS, PESSOAS, ACTIVIDADES, tes contextos abertos as organizações são sistemas muito informados com numerosas
NORMAS, PROCESSOS, VALORES, COMPORTA- interligações, do qual não se conhecem todas as lógicas de funcionamento internas. Um
MENTOS, ATITUDES, DECISÕES, RESULTADOS, tal sistema reage ao contexto e transforma-se constantemente, para bem ou para mal.

14
enrolar no garfo. Existe incerteza, logo há
complexidade.
A complexidade das situações reais sur-
ge da multiplicidade e interdependência
das variáveis envolvidas que dificultam os
processos de decisão e acção. É, afinal,
na forma como se «ataca» a complexida-

DOSSIER
de que vamos encontrar a base de com-
preensão dos fenómenos organizacionais
tendo presente os seguintes vectores de
alinhamento:
• As pessoas acolhem melhor as ideias

REVISTA FORMAR N.º 71


portadoras de mudança quando lhes
explicam as causas e os efeitos.
• É importante que as pessoas compre-
endam as implicações da mudança a
nível organizacional, pessoal e profis-
sional.
• Colocar as pessoas perante «Golpes
de Magia» de forma brusca e agressi-
va conduz ao alheamento e à rejeição
de todos os fenómenos de mudança.
• Para lidar com organizações dinâmi-
cas que procuram sempre a sobrevi-
vência e o sucesso é necessário um
conhecimento profundo dos seus ele-
mentos por forma a dotá-las de capa-
O resultado de uma acção nunca é, na prá- peças diferentes que, todavia, são redu- cidade de resposta adequada às so-
tica, o que estava previsto, e quando se tíveis à análise, pois pode ser desmonta- licitações do meio envolvente, tendo
alargam os horizontes e se internaciona- do peça por peça e de seguida remontado. sempre presente:
liza, os mercados globais apresentam-se Não existem factores de incerteza, logo • a globalização;
imprevisíveis e perigosos. Pode ser muito não é complexo. Um prato de esparguete • a mudança turbulenta;
bom, mais fraco ou até o contrário do que com queijo e molho de tomate não é com- • a existência de concorrência;
se esperava. Os mercados, as organiza- plicado. Mas, como os fios de esparguete • a capacidade de escolha dos
ções e as pessoas tornam-se, face às no- estão entrelaçados, escorregam e retroa- clientes;
vas circunstâncias que permanentemen- gem uns nos outros e como a repartição • a inovação.
te se desenvolvem, difíceis de entender e do queijo e do molho de tomate é aleató-
de prever. Os sinais dos tempos apontam ria, não se pode prognosticar a quantidade Quando uma empresa pensa num Plano de
para rupturas profundas nos mercados, de esparguete e condimentos que se vão Desenvolvimento e Internacionalização
nas estruturas empresariais, e para mu-
danças profundas no mundo do trabalho e
na vida pessoas.

O
 «MUNDO DO COMPLICADO»
E O «MUNDO DO COMPLEXO»
Vale a pena aprofundar este tema com
Hervé Sérieyx, que no seu livro Le Big
Bang de l’Entreprise (1993) refere uma
interessante comparação para distin-
guir a diferença entre o «mundo do com-
plicado» e o «mundo do complexo». Um
Boeing é complicado. Um prato de espar-
guete é complexo. Um Boing é complicado
porque comporta milhares e milhares de

15
tem que estar preparada para a complexi-
dade e para decidir tendo por referência:
• uma Estratégia que saiba de «onde
parte», «para onde quer ir», «como
quer lá chegar» e «que riscos quer
correr»;
• definição dos alinhamentos estrutu-
rais, tecnológicos e dos investimentos
indispensáveis;
• saber fazer as escolhas dos parceiros
e das formas como quer chegar aos
mercados-alvo previamente escolhi-
REVISTA FORMAR N.º 71

dos.

Em matéria de mercados externos, a úni-


ca resposta é a capacidade para aprender
sempre.
Koichiro Matsuura, director-geral da
UNESCO, refere no prefácio do livro As
Chaves do Século XXI: «Temos de apren-
der a distinguir, no tecido sonoro da evo-
lução, os ruídos parasitas que vão desa-
parecer no esquecimento e a música das
novas vagas que trazem consigo as ver-
dadeiras sementes da mudança.» E ter-
mina esta sua reflexão convidando as
pessoas a «aprender a decifrar concreta-
mente os sinais do futuro e a traduzi-los
em entendimentos partilhados e em pro-
jectos comuns».
O segredo está na Óptica de Marketing,
na Gestão do Valor (ver quadro «Gestão
do Valor») e na Forma de Envolvimento
dos colaboradores e dos clientes.

Claro que a liderança é sempre estratégi-


ca, o que implica saber conduzir os projec-
tos, as ideias, as pessoas, a inovação e os
objectivos definidos para resultados em
prazos certos, tudo isto fazendo avaliar
a performance de forma sistemática, no
tempo e no espaço, e sabendo convencer
toda a comunidade empresarial com fac-
tos e indicadores.
Pascal falava da «Paixão de Conven-
cer» como a capacidade de liderança de
uma empresa para envolver as pessoas
nos diversos projectos coordenando es-
forços, recursos e iniciativas, visando a
apresentação de resultados nos prazos
adequados. Nestas situações vale a pena
recordar o poeta brasileiro quando refere:
«Quem sabe faz a hora, não espera acon-
tecer.»

16
CARLOS BARBOSA DE OLIVEIRA
Jornalista HUMILDADE, AMBIÇÃO,
Fotos de:
CARLOS BARBOSA DE OLIVEIRA
RIGOR E TRANSPARÊNCIA
e cedidas
PELO GRUPO BARBOSA & ALMEIDA – O COMPROMISSO DA BA

REVISTA FORMAR N.º 71


Humildade para desfrutar das oportunidades. Ambição na fi-
xação de objectivos e metas. Rigor nas operações e tarefas.
Transparência nas relações internas e externas. São estes os
valores (temperados com alguma dose de emoção) que sim-
bolizam o grupo Barbosa & Almeida, uma empresa voltada
para a exportação que ocupa um lugar de destaque na pro-
dução de vidro de embalagem

 S PILARES DA ESTRATÉGIA
O objectivo que sempre esteve no seu hori-
DE GESTÃO DA BA zonte desde a fundação. Assim, na pers-
Criada em 1912, a Barbosa & Almeida tem pectiva de solidificação deste objectivo,
um rico historial, com sucessivas e impor- em 1993 a BA adquiriu a empresa vidreira
tantes remodelações a nível de estruturas CIVE, na Marinha Grande, em 1998 cons-
e equipamentos. truiu um novo pólo industrial em Villafran-
ca de los Barros (Espanha) e em 1999
comprou uma empresa vidreira instalada
em Leon (Espanha). Já no século xxi, em
2008, adquiriu a Sotancro.
Estes investimentos avultados – a par de
uma forte aposta na inovação dos produ-
tos e na qualificação dos colaboradores
– desencadearam um gradual processo
de evolução, o que tornou possível a soli-
dificação da posição da empresa quer no
mercado nacional, quer no internacional,
assumindo-se actualmente como a se-
gunda maior empresa produtora de vidro
de embalagem no mercado ibérico. O mer-
Jorge Alexandre
cado de vendas da BA é por excelência a
Península Ibérica (54% para Espanha e 32% para Portugal no ano de 2009), tendo como
BARBOSA & ALMEIDA
mercado de exportação para fora da Península Ibérica cerca de 14%, sendo os principais
Como fases mais relevantes do seu cres- países de destino a França, a Bélgica e a Itália.
cimento recente destaca-se a década de Jorge Alexandre, CEO da BA, destaca igualmente o facto de, ao longo da sua existência, a
90 do século passado, quando a empresa empresa ter sido uma importante fonte empregadora, mantendo um esforço constante
fez diversos investimentos tendo em vis- no sentido de acompanhar a evolução tecnológica mundial. Este acompanhamento faz
ta concretizar a perspectiva de internacio- parte da estratégia empresarial e implica não só um investimento em recursos técnicos
nalização e a procura de novos mercados, mas também na formação dos recursos humanos, para que estes sejam capazes de ma-

17
ção de valor. É com este objectivo último
que nos empenhamos na busca e prosse-
cução da inovação de produtos, de pro-
cessos e de serviços. A BA é parceira de
negócio de algumas das maiores e mais
conhecidas marcas internacionais, sendo
igualmente parceira de pequenas e mé-
dias empresas em Portugal e Espanha»,
enfatiza o CEO da Barbosa & Almeida.

FORMAÇÃO DOS RECURSOS


HUMANOS
REVISTA FORMAR N.º 71

A BA tem actualmente cerca de 1350 co-


laboradores, dos quais 70% trabalham em
Portugal (Avintes, Marinha Grande e Ama-
Linha de produção
dora) e os restantes nas fábricas de Espa-
nusear correctamente os equipamentos competitividade com as empresas con- nha (Léon e Villafranca de los Barros). Em-
existentes, rentabilizando o investimen- correntes são as principais dificuldades, bora a escolaridade média seja de 10 anos,
to realizado e optimizando a produtivida- mas não se pode escamotear que o pro- ultimamente a empresa tem procurado
de do trabalho. «A nossa visão estraté- cesso de internacionalização tem sem- que todos os novos colaboradores contra-
gica é posicionarmo-nos como “O Melhor pre associadas importantes diferenças tados tenham pelo menos o 12.º ano.
entre os Maiores”, assentando essa vi- a nível fiscal, legal e económico, e neste Tendo também presente a importância
são em três pilares: criação de valor para sentido existem sempre riscos associa- da formação no desenvolvimento pes-
o accionista, satisfação e fidelização dos dos.» soal e profissional dos colaboradores,
clientes, motivação e satisfação dos co-
laboradores. O cumprimento desta visão,
bem como dos seus princípios de desen-
volvimento sustentável, a criação de valor,
a orientação para o cliente, a gestão do ca-
pital humano, a responsabilidade social, a
protecção do ambiente e as boas práticas
governativas são um compromisso da BA
e o seu êxito só tem sido possível com o
envolvimento de colaboradores qualifica-
dos, rigorosos e ambiciosos. É com base
nestes princípios de gestão e respeitando
os valores do grupo – a humildade, a ambi-
ção, o rigor e a transparência – que orien-
tamos a nossa actuação dentro da empre-
sa, tanto nas grandes decisões como nas Acção de formação contínua
pequenas atitudes do dia-a-dia.»
A BA tem, no entanto, potencialidades para existe na BA uma preocupação constante
INVESTIR NA INOVAÇÃO crescer mais no mercado externo, apre- em definir as correctas necessidades de
Neste período particularmente delicado sentando algumas mais-valias, como é o formação de todos. Jorge Alexandre aler-
que está a afectar as economias mun- caso de uma aposta na proximidade com ta, porém, que não é um processo fácil.
diais, é natural que se coloquem algu- os clientes e consumidores de forma a po- «Estamos a falar de colaboradores com
mas dificuldades à penetração no merca- der antecipar a evolução das tendências perfis completamente díspares, mas acre-
do externo. Jorge Alexandre não esconde de mercado. «As embalagens sempre as- ditamos que este é também um processo
essa dificuldade, quer no âmbito do pro- sumiram um importante papel no posi- de motivação não só profissional, mas
cesso de internacionalização, quer a ní- cionamento estratégico das marcas, aju- também pessoal. Por exemplo, actual-
vel interno: «No âmbito do mercado de dando os consumidores a construírem a mente temos desenvolvido parcerias com
exportação, a falta de competitividade de experiência do uso. É aqui que a BA quer Centros de Novas Oportunidades que es-
factores produtivos em Portugal, o desco- jogar as suas competências distintivas: a tão a dar apoio na BA no processo de RVCC.
nhecimento do mercado local e a própria aposta na inovação e a paixão pela cria- O processo aqui na BA teve início em 2009

18
presa de referência no mercado do vidro de cerca de 34 000 horas de formação.
da embalagem quer a nível nacional, quer «Cerca de 90% dessa formação foi reali-
no estrangeiro.» zada em áreas técnicas muito específi-
Em todas as áreas de actividade do gru- cas da nossa indústria. No entanto, damos
po existe, igualmente, uma necessidade sempre destaque a formações na área da
de promover a formação contínua dos co- Qualidade, Ambiente e Segurança e traba-
laboradores. Alterações de processos, im- lhamos também a área comportamental»,

DOSSIER
plementação de novas tecnologias e mu- sublinha Jorge Alexandre.
danças na legislação em vigor são alguns A necessidade de actualização dos colabo-
exemplos de mudança que implicam um radores implica que, com alguma frequên-
acompanhamento profundo por parte dos cia, a BA aposte igualmente na formação
colaboradores, o que é facilitado, precisa- de quadros superiores em instituições in-

REVISTA FORMAR N.º 71


mente, pela aposta em formação contínua. ternacionais, assegurando a aquisição de
Estando acreditada como entidade forma- know how dos colaboradores mais qualifi-
dora pela DGERT e contando com uma bol- cados de modo a garantir à empresa a com-
sa de formadores devidamente certifica- petitividade externa e a manter o lugar de
BARBOSA & ALMEIDA
dos nas mais diversas áreas de formação, empresa de referência no mercado do vidro
e só nesse ano foram certificadas cerca a BA promoveu, só em 2009, a realização da embalagem no panorama internacional.
de 40 pessoas com o 9.º e 12.º ano de es-
colaridade. Actualmente, cerca de 30 pes-
soas estão em fase de conclusão do 12.º
ano.»
Neste sector de actividade não é muito
complicado encontrar, no mercado de tra-
balho, profissionais com os perfis ade-
quados às necessidades da empresa.
A excepção, por vezes, são as funções
técnicas que, pelas suas características,
requerem perfis mais exigentes e forma-
ção técnica e profissional mais específi-
ca. Por outro lado, o potencial criativo e a
capacidade de inovação dos colaborado-
res são aspectos extremamente valoriza-
dos no recrutamento, especialmente nas
áreas mais técnicas. Grupo de colaboradores da BA envolvidos no processo de RVCC
No desenvolvimento da sua estratégia, a
BA não deixa de conferir especial atenção
à formação profissional dos seus colabo-
radores de molde a responder às exigên-
cias resultantes das mudanças contínuas
que a economia globalizada acelerou e se
tornam ainda mais vincadas numa área da
indústria na qual a importância do saber-
-fazer e saber inovar para atrair são facto-
res determinantes para o sucesso. No en-
tanto, como salienta Jorge Alexandre, há
ainda outro aspecto que merece especial
atenção. «Devido às especificidades da
indústria do vidro de embalagem, em que
nos inserimos, a formação interna é fun-
damental para garantir que todos os cola-
boradores sejam capazes de dar resposta
às exigências da evolução tecnológica. Só
desta forma nos é possível ser uma em- Grupo de colaboradores da BA envolvidos no processo de RVCC

19
TERESA R. ORTIGÃO
Licenciada em Relações Internacionais
MANUEL R. ORTIGÃO
Licenciado em Psicologia
CARREIRA INTERNACIONAL
Ilustrações de:
JOÃO AMARAL NUM MUNDO GLOBAL
REVISTA FORMAR N.º 71

O fenómeno da globalização que marca de forma tão inten-


sa o mundo contemporâneo permite-nos hoje equacionar a
perspectiva de uma carreira internacional com uma facilida-
de que não era possível há, por exemplo, 20 anos

A globalização veio facilitar as condições mento», tipicamente um documento com dezenas de páginas que cobre exaustivamen-
de acesso a uma carreira internacional à te os vários aspectos sobre a transferência de profissionais de um país para outro. Tra-
generalidade dos profissionais. Actual- tando-se de políticas de patrocínio à mobilidade internacional, estas contemplam as
mente são diversos os canais através dos diferentes condições e incentivos para que um indivíduo se sinta apoiado e protegido no
quais podemos explorar uma perspectiva passo que vai dar. Uma transferência destas implica normalmente a manutenção do vín-
de vir a trabalhar noutros países, e desde culo laboral com a entidade do país de origem, home country, e o estabelecimento de um
logo os programas Erasmus, Sócrates ou vínculo temporário com a entidade do país receptor, host country. Com uma situação de
Inov Contacto vão deixando as sementes splitted salary, i.e., uma remuneração dividida entre os dois países, a gestão deste esta-
em muitos jovens universitários e recém- tuto reveste-se de alguma complexidade nos contactos com as entidades legais (Fisco e
-licenciados, que os levam depois a querer Segurança Social) no âmbito dos acordos bilaterais de dupla tributação existentes entre
partir para outras paragens sem um re- a maioria dos Estados do chamado mundo desenvolvido. As firmas de auditoria possuem
gresso necessariamente definido. serviços especializados de apoio à gestão destas situações.
Nós, que já partimos e regressámos várias
vezes, só podemos realçar os benefícios
que advêm de uma carreira internacional,
tanto a nível puramente pessoal como a ní-
vel profissional. E, além do mais, Portugal
é um país lindo e riquíssimo que também
merece ser visto à distância. Distância
essa que nos permite ter uma percepção
diferente sobre a realidade nacional, com
contornos e quadros de referência neces-
sariamente mais alargados.

AS POLÍTICAS DE EXPATRIAÇÃO


No passado não muito longínquo, no cha-
mado «tempo das vacas gordas», as gran-
des organizações multinacionais usavam
as suas políticas de expatriamento para
incentivarem os colaboradores a deslo-
caram-se internacionalmente. Por regra,
toda a grande corporação multinacional
tem a sua própria «Política de Expatria-

20
A transferência dentro de uma corporação tes, deve então produzir mais e melhor, esse, passa a vigorar entre o colaborador e
mediante a política de expatriação da mes- erguendo-se a fasquia das expectativas de a entidade legal do país receptor, perdendo-
ma implica um custo elevado para a em- desempenho que lhe são colocadas. -se o vínculo ao país de origem. Nesta situa-
presa pois, além do salário, sempre mais Como tal, este caminho vai estando cada ção, as obrigações fiscais e de tributação
vantajoso, há custos adicionais com sub- vez menos acessível pelos custos dema- social são transferidas para o host coun-
sídios (de instalação e compensação de siado elevados para a entidade empregado- try, não havendo necessidade de recorrer
diferença de nível de vida, por exemplo), ra. Então, a alternativa que as organizações aos acordos interestatais acima referidos.

DOSSIER
viagens, habitação, escolas internacionais internacionais vão colocando é a de os seus Neste sentido, é frequente existir uma polí-
para filhos, aulas de línguas para o pró- colaboradores poderem ter acesso, a todo tica ou prática em organizações internacio-
prio e cônjuge, etc. Um empregado com o momento, às oportunidades que existem nais que implica que, inicialmente e por um
este estatuto fica extremamente dispen- nos vários pontos do Mundo candidatando- período definido de por exemplo 15 dias, as
dioso, estimando-se que o seu custo pos- -se às mesmas e, no caso de serem escolhi- oportunidades existentes sejam divulga-

REVISTA FORMAR N.º 71


sa facilmente duplicar o valor inicial. Esta dos, beneficiarem de uma transferência de das a nível internacional apenas dentro da-
situação, de uma forma geral, é apreendi- um país para o outro apenas com a garan- quela organização, período após o qual se
da por todos dentro da empresa receptora tia da antiguidade já adquirida e de outros abrem essas mesmas vagas ao exterior.
e, como tal, não raro o «expatriado» torna- eventuais vested interests como os rela- Os portais que as organizações internacio-
-se alvo da inveja dos que o rodeiam. Con- cionados com planos de pensões ou pro- nais possuem, exclusivamente em língua
siderado um privilegiado face aos restan- gramas de acções. O contrato de trabalho, inglesa ou muitas vezes em diferentes lín-
guas, funcionam como a verdadeira por-
ta de acesso às oportunidades nos vários
pontos do Mundo. Mas é também a Inter-
net, através das centenas de motores de
busca específicos disponíveis, os chama-
dos Job boards ou Job search engines,
que oferece a oportunidade a qualquer
um de pesquisar trabalho, virtual-
mente, em qualquer ponto do
Mundo. Podemos falar de
um site generalista e glo-
bal como o monster.com
com entradas específicas
em mais de 50 países e
20 línguas diferentes, ou
de muitos outros sites re-
gionais ou nacionais e es-
pecíficos por indústria, que
estão naturalmente acessíveis
a todos e em todo o lado.

C OMPETÊNCIAS
PARA O SUCESSO
NUMA CARREIRA
INTERNACIONAL
Além das contrapartidas interessan-
tes que uma carreira internacional sem-
pre oferece, importa analisar os contornos
da experiência propriamente dita e o que esta
implica e pode significar para o próprio em
termos do seu desenvolvimento profissional.
Em termos de competências básicas ne-
cessárias para uma carreira internacional,
desde logo se coloca o domínio de outras
línguas como condição sine qua non. Se o
Inglês é de longe a principal língua em que

21
se exige fluência, existem outros idiomas
que poderão ser particularmente úteis em
diferentes contextos, alguns mais acessí-
veis para nós como o Espanhol ou Fran-
cês, ou outros que por nos serem mais
distantes implicarão um maior esforço e
tempo de aprendizagem – pensamos, por
exemplo, no Russo, Chinês ou Alemão.
A nível de competências comportamen-
tais, trabalhar num outro país exige natu-
ralmente um esforço de adaptação a uma
cultura e circunstâncias novas e muitas
REVISTA FORMAR N.º 71

vezes a uma forma de funcionar diferen-


te com outros hábitos, métodos ou horá-
rios. O colaborador recém-chegado a um
país novo cedo se apercebe das diferen-
ças com a sua situação de origem, sen-
do inevitáveis as comparações. E se a sua
missão até pode incluir a introdução de al-
gumas mudanças na organização do país
receptor, haverá com certeza outras variá-
veis a que ele terá que se habituar e com
as quais deve aprender a viver. A capaci-
dade de adaptação à mudança e a flexi-
bilidade comportamental necessária para
lidar com pessoas de origem e cultura di-
ferentes são competências que o expa- E OS RISCOS... sozinho sentirá naturalmente os efeitos
triado necessitará de desenvolver e pôr A nível dos riscos que uma carreira inter- da distância e solidão com que se verá
à prova. Por outro lado, a aceitação da di- nacional pode acarretar é de referir, des- confrontado, mas se for acompanhado
ferença e da diversidade deverá ser uma de logo, aquele que se relaciona com o re- passará a ter uma preocupação adicio-
atitude subjacente ao seu comportamen- gresso ao país de origem. Regressar mais nal que é a integração da família no novo
to, não havendo lugar a quaisquer precon- tarde à função que se ocupava antes de país. São múltiplos os casos em que o en-
ceitos neste domínio. partir ou à organização onde se estava in- volvimento com a adaptação da família é
A comparação entre as duas realidades serido, é na maior parte dos casos uma hi- tal que a disponibilidade para o trabalho
pode ser um processo enriquecedor, so- pótese remota e de concretização difícil, se torna diminuta, gerando-se os conse-
bretudo se efectuada com uma mente porque essa função foi normalmente pre- quentes problemas de desempenho. Mas
aberta, visando encontrar pontos posi- enchida por outra pessoa e também por- uma vez ultrapassada essa fase todos
tivos e de melhoria em cada uma delas. que a saída foi encarada como uma pro- têm a ganhar com isso, nomeadamente
O distanciamento que se ganha em rela- moção e voltar ao ponto anterior seria os filhos.
ção à situação que se abandonou e o me- uma despromoção. Assim, para regressar
nor envolvimento com a nova realidade ao mesmo país e organização deverá exis- PARA QUANDO UM CONTRATO
proporciona uma visão diferente dos fac- tir uma oportunidade à medida das quali- DE TRABALHO EUROPEU?
tos, conferindo a possibilidade de ter uma ficações da pessoa em causa, agora mais Nos últimos anos a transferência de tra-
percepção global dos problemas, em que enriquecidas por esta nova experiência in- balhadores dentro do espaço europeu fi-
se vê a floresta e não apenas as árvores. ternacional. E este é também um desafio cou mais facilitada devido ao processo de
A resistência à frustração e a resiliência que se coloca às empresas: como utilizar construção da União Europeia. No entan-
são outras competências que serão pos- um colaborador com competências mais to, existem várias etapas a percorrer rela-
tas à prova num assignement internacio- alargadas como é o caso daquele que cum- cionadas com a aproximação da carga fis-
nal. Viver noutro local implica a perca de priu um assignement internacional. cal e dos regimes de Segurança Social que
algumas das coisas agradáveis a que nos O segundo risco que se coloca é a nível da deverá ocorrer entre os vários Estados-
habituámos na terra de origem. Mas com estrutura familiar. A transferência para ou- -membros para permitir em última análi-
uma atitude inteligente e aberta, outros tro país pode ser feita com ou sem a famí- se a celebração de um «Contrato de Traba-
motivos de encanto poderão ser desco- lia e, em qualquer dos casos, haverá difi- lho Europeu» que substitua os diferentes
bertos no país de acolhimento. culdades a enfrentar. Se o colaborador for contratos de trabalho locais.

22
JOÃO ALBERTO CATALÃO
Especialista em Negociação e Vendas
Nacionais e Internacionais
Formador em Negociação Multicultural
Fundador do INV – Instituto de Negociação
e Vendas e da SalesUp-Assessoria e
Consultoria Comercial
NEGOCIAÇÃO
Ilustrações de:
PAULO BUCHINHO MULTICULTURAL

REVISTAFORMARN.º71
Avidanãoéjusta.Háumatendênciahumananaturalpara
comparar.Existesemprehipótesedenãoseconcordarcom
ospontosdevistadosoutros.Reagimosdeformadistintaàs
mesmascoisas.Somosnaturalmentediferentes…

A NEGOCIAÇÃO E AS DIFERENÇAS Elementos que favorecem o conflito intercultural


CULTURAIS
Devido às diferenças culturais, as nego-
ciações internacionais têm o potencial de
se tornarem mais complexas, confusas e
frustrantes do que as negociações intra-
culturais. A experiência prática mostra-
-me, também, que elas têm o dom de nos
surpreender e, se nos envolvermos com
entusiasmo, de aprender enormemente.
No entanto, quando algo não está de acor- A negociação é um repertório de comportamentos que inclui, nomeadamente: comu-
do com as nossas expectativas, pode sur- nicação, vendas, marketing, psicologia, sociologia e gestão de conflitos. A negociação é
gir o conflito. E isso pode acontecer com um processo de persuasão e, para tal, é preciso conhecer exactamente as necessida-
maior frequência numa negociação inter- des e desejos da outra parte.
nacional. As mudanças na economia mundial, ocorridas nas últimas décadas, a abertura comercial
e o aumento do fluxo de capital estrangeiro exigem aos empresários portugueses estraté-
gias diferenciadas e mais agressivas no tocante ao comércio exterior e à forma de actua-
ção nesses mercados. Aos profissionais que actuam nessas áreas fortemente afectadas

Quanto mais um negociador conseguir


aprender sobre os estilos de negociação
e estrutura de crenças de outras cultu-
ras, mais efectivas e eficientes serão as
negociações com negociadores delas pro-
venientes.

23
pela globalização, o mercado exige maior O ESSENCIAL DA NEGOCIAÇÃO • Estabeleça metas optimistas – mas
sensibilidade, preparação e formação. «Na vida comercial não se obtém o que realistas.
As gafes culturais nos negócios interna- se merece, mas sim o resultado da qua- • Seja específico.
cionais são, actualmente, pouco aceitá- lidade daquilo que sabemos negociar», • Escreva as suas metas num papel e
veis. Ignorar os aspectos culturais numa João Alberto Catalão comprometa-se com elas.
interacção negocial sai muito caro, seja No quotidiano, as pessoas relacionam-se, • Leve o registo das suas metas consi-
a curto ou a longo prazo, podendo causar profissionalmente ou não, e enfrentam di- go para a negociação.
o fracasso das transacções comerciais e ferenças de ideias, sentimentos, medos,
até o rompimento das relações, às vezes atitudes, princípios e necessidades. Lidar 3. Padrões e normas dominantes:
de forma irreversível. com essas diferenças não é fácil. Há pes- • Pesquise os padrões e normas apli-
Não nos podemos enclausurar cultural- soas que têm, naturalmente, maior habilida- cáveis.
mente: o negociador actual deve ser cos- de para entender o outro e assim obterem • Identifique aqueles que a outra parte
REVISTAFORMARN.º71

mopolita, ou seja, além de conhecer a sua melhores resultados nos seus relaciona- considera legítimos.
cultura e seus valores pessoais, deve co- mentos. Tratar as diferenças entre os seres • Prepare uma base de dados e argu-
humanos requer, principalmente nos confli- mentos.
tos, uma aprendizagem especializada. • Preveja os argumentos que a outra
A negociação é relacionamen- parte poderá usar.
to e não um acto isolado. • Prepare um tema de posicionamento
É sempre algo que se faz e preveja o do seu interlocutor.
em conjunto. Em todos • Considere, se necessário, a possibi-
os relacionamentos estão lidade de expor os seus argumentos
sempre presentes dois perante aliados.
factores: emoção e
comunicação. Não 4. Relacionamento:
há relacionamen- • Ganhe acesso e credibilidade através
to humano sem da sua rede de relações.
a presença des- • Estabeleça relações de trabalho à mesa
nhecer e respeitar a cultura e tes dois compo- de negociação, com pequenas atitudes
os valores pessoais do nentes. A maneira como presentes, favores, revelações ou
outro. O bom nego- como são conside- concessões (ex: utilize tácticas como
ciador deve adquirir, rados reflecte-se di- «pé na porta» e «ficar a dever»).
além das tradicionais com- rectamente no êxito ou no • Evite as armadilhas da reciprocida-
petências de gestão e liderança, fracasso da negociação. de e de relacionamento, não deven-
sensibilidade e competência multicultu- do confiar com demasiada rapidez,
ral. Dentro desse contexto, o conhecimen- SEIS FUNDAMENTOS ESSENCIAIS não permitindo que os outros o ma-
to dos aspectos culturais (por exemplo, PARA UMA NEGOCIAÇÃO EFECTIVA nipulem pela culpa e não misturan-
crenças, valores, atitudes e comporta- do grandes negócios com amizades
mentos) pode não só viabilizar uma me- 1. O seu estilo de negociação: pessoais.
lhor compreensão do comportamento • Determine as suas preferências bási- • Siga sempre a Norma da Reciprocida-
humano em negociações comerciais inter- cas de estilo negocial. de: seja confiável e íntegro.
nacionais, mas também propiciar diferen- • Mobilize-se para se preparar para a • Seja justo e estimule os outros a se-
tes percepções acerca da realidade num negociação. rem justos consigo.
mundo que procura a integração sob a for- • Estabeleça expectativas elevadas.
ma de acordos, alianças e parcerias para • Estabeleça parâmetros de fecho da 5. Os interesses da outra parte:
vencer desafios futuros. negociação. • Identifique quem tem poder de deci-
• Quais as características negociais • Tenha a paciência para ouvir. são.
dos diferentes negociadores? • Prepare o seu «plano» de flexibilida- • Descubra como é que os interesses
• Quais as características culturais de (Plano B). da outra parte o podem ajudar a con-
dos negociadores multiculturais? • Assuma um compromisso com a inte- quistar as suas metas.
• Quais os valores pessoais mais im- gridade pessoal. • Analise o que pode levar a outra parte
portantes para os negociadores mul- a dizer não.
ticulturais? 2. Metas e expectativas: • Identifique como é que opções de bai-
• Quais as características éticas dos • Pense cuidadosamente sobre o que xo custo podem eliminar as objec-
negociadores multiculturais? realmente deseja. ções da outra parte.

24
6. Poder de influência: • S aiba se pode ter o controlo sobre
• Identifique qual das duas partes perderá algo que a outra parte deseja.
mais caso o acordo não se concretize. •D  escubra como comprometer a outra
•D  etermine para quem o tempo é um parte com normas que favorecem o FONTES
factor muito importante. seu resultado. Experiência Profissional em Negocia-
•Q  uestione-se sobre se pode aumentar •D  ecida se pode estabelecer uma ções Multiculturais
Publicações de Diversos Especialistas
as suas alternativas ou limitar as do aliança para elevar a sua posição.

DOSSIER
seu interlocutor.

PLANEAR NEGOCIAÇÕES MULTICULTURAIS

Lembre-se de que há quatro factores-base que afectam de forma determinante as TENHA AINDA EM ATENÇÃO O SEGUINTE...

REVISTA FORMAR N.º 71


negociações multiculturais:
•O  ambiente, o lugar: a envolvente
1. Uso do tempo: o uso do tempo varia segundo as culturas. Algumas culturas são de uma negociação está determi-
normalmente muito exigentes e exactas na administração do tempo. As vidas profis- nada, em grande parte, pela deci-
sionais e pessoais costumam estar bem ajustadas. As funções da máquina, as inter- são que os negociadores tomam
relações e outras questões combinam-se para fazer do tempo um factor essencial. sobre o lugar no qual se realizarão
as conversações. As partes têm
2. Individualismo e orientação colectiva: o individualismo existe quando as pes- três opções: o lugar próprio, o lu-
soas se consideram, em primeiro plano, a si mesmas como indivíduos e, em segun- gar do outro ou um lugar neutro.
do plano, como membros de um grupo. O colectivismo é exactamente o contrário. • A cultura: o risco de um fracasso
está presente em qualquer nego-
3. Estabilidade de funções e conformidade: algumas culturas caracterizam-se pela ciação. Quando os negociadores
forte necessidade de ter estabilidade e conformidade nas funções, ou seja, como as vêm de diferentes culturas, os ris-
coisas são feitas tem uma importância fundamental. Conhecer a outra pessoa ajuda cos de incompreensão aumentam.
a estabilidade e a previsibilidade do processo de negociação. As diferenças culturais dividem as
pessoas e constituem uma barrei-
4. Padrões de comunicação: o efeito das diferenças de comunicação entre o emis- ra a ser ultrapassada.
sor e o receptor de uma mensagem é muito comum nas negociações internacionais • A burocracia de organizações es-
e requer de ambos muita sensibilidade e esforço para assegurar clareza na comuni- trangeiras: as organizações re-
cação. lacionam-se através das transac-
ções internacionais. Por detrás de
Em negociações internacionais é fundamental ter em conta o ambiente e a cultura qualquer negociação internacional
do país com o qual está a negociar. Isto pode significar não apenas uma adaptação estão empresas, escritórios go-
de perspectiva às realidades diferentes, mas até mesmo uma adaptação completa vernamentais e instituições do Es-
às mesmas. tado cujos interesses se discutem
Um dos maiores erros que se pode cometer em relação às variáveis culturais é na mesa de negociação. Os nego-
confiar mais em estereótipos do que em dados extraídos directamente da fonte ciadores que participam represen-
que a sua intuição lhe fornece quando observa o seu interlocutor à mesa de nego- tam-nas, mobilizando-se para que
ciação. elas cheguem a um acordo. Um
O importante é ter presente que negociar num outro país gera grande pressão sobre negociador tem que se preocupar
os objectivos, mesmo quando o negociador possui grande experiência. Nada é imu- não somente com as pessoas que
ne ao choque cultural e se isto não for gerido com eficácia, as negociações podem se sentam à sua frente, mas tam-
fracassar. Também se deve considerar que, além dos factores socioculturais, é im- bém com as organizações e as bu-
portante analisar as características pessoais dos executivos (sexo, idade, expe- rocracias.
riência profissional, cultura de referência, etc.) para verificar a possível influência • As leis e os governos estrangei-
no processo de negociação comercial. Um país com uma estrutura familiar homogé- ros: ao efectuar negociações in-
nea tende a ser culturalmente mais homogéneo do que um país com estruturas fa- ternacionais, o negociador fica ex-
miliares múltiplas. Por exemplo, o Japão é culturalmente mais homogéneo do que posto às leis, nem sempre bem
os Estados Unidos ou muitos países africanos, que têm inúmeros tipos de estru- conhecidas, dos países com os
tura familiar. quais está a negociar.

25
DICAS PARA NEGOCIAR COM DIFERENTES CULTURAS
Sabe-se que a origem étnica, cultural e nacional do negociador tem influência no seu posicionamento psicológico em relação à ne-
gociação. Deixo-lhe algumas dicas para negociar com diferentes nacionalidades:

CHINESES
Atribuem especial significado para a amizade e o Quanxi, precisão nas palavras. A chave do
sucesso é a persistência no objectivo.
Amizade, confiança e ajuda estão acima de tudo. Amizade significa ajudar o amigo a crescer para
se tornar independente e ter prosperidade. Significa revelar os segredos do negócio, ajudar com
dinheiro e tecnologia para resolver os problemas inesperados e não orçamentados. A lei do Quan-
xi é sempre usada, ou seja, quando duas pessoas são amigas e surge um problema, o amigo
REVISTAFORMARN.º71

mais bem situado ajudará sempre o mais fraco. Seguem o ensinamento de Confúcio que pregou
a precisão nas palavras, isto é, quando as palavras não correspondem aos factos, é impossível
atingir a perfeição das coisas. O segredo do sucesso é a consistência no propósito. Os seus ar-
gumentos são repetidos, palavra a palavra, durante longo tempo. Quando pedem algo, não acei-
tarão o «não» como resposta. Irão insistir com persistência até conseguirem o que querem.

AMERICANOS
Têm dificuldades em manter-se em silêncio. Argumentam menos que outros povos. Sentem-
-se pouco confortáveis para fazerem uma oferta baixa quando estão para comprar algo. Não
gostam do dar e tirar numa negociação. Não gostam de conversas extensivas e repetições
que fazem parte do processo de argumentar.
Desenvolvem objectivos e posições para cada problema e gostam de os resolver um a um.
Adiar ou anular uma negociação é considerado um trauma.

BRASILEIROS
Os Brasileiros gostam de «pechinchas». Con- MÉDIO ORIENTE (IRÃO, IRAQUE, ETC.)
verse com eles sobre assuntos gerais antes Costumam escrever um memorando de
de entrar no tema. Estabeleça uma relação acordo para cada negociação.
pessoal. Faça acordos por escrito.
É fundamental obter ajuda de um brasileiro
que conheça os meandros da burocracia go-
vernamental, já que existem diversificadas
leis e impostos interestaduais.

ÁRABES
Desfrutam da negociação discutindo e argumentando com intensidade, são corteses e edu-
cados com o oponente; chás, bebidas e doces são servidos em abundância. Trocam prendas
nas reuniões preliminares. Procuram servir bem os seus convidados, fazendo-os sentirem-
-se como um convidado especial numa festa e não participando numa negociação. Não há
pressa para negociar. As interrupções são normais durante a negociação, estão habituados
ao deadlock. Relaxar para argumentar e desfrutar da negociação. Divertem-se negociando.

26
JAPONESES
Quando a outra parte faz uma oferta, sendo aceitável ou não, não respondem imediatamente
com um sim ou um não. Costumam ficar em silêncio e pensar sobre o assunto durante algum
tempo. Por isso, deve-se considerar a resposta antes de expressá-la. Ainda melhor, escrever
algo num papel e, se possível, fazer alguns cálculos, mas onde os outros não possam ver. So-
mente depois responder sim ou não, ou qualquer outra coisa que se queira dizer. Os Japoneses
procuram a aprovação divina; procuram construir relações harmoniosas, longas e duradouras

DOSSIER
com aqueles que conhecem. Dão prioridade ao relacionamento de longo prazo.
Preferem negociar com as pessoas com quem podem trabalhar em harmonia no futuro, inclusi-
ve se custar mais no presente. Tempo significa dinheiro; dar tempo numa negociação significa
ganhar mais benefícios e satisfação.
São rápidos a planear e a colocarem-se de acordo com o nosso cronograma, porém resistem à pressão para terminar rapidamente uma ne-

REVISTAFORMARN.º71
gociação. São incrivelmente persistentes repetindo as suas necessidades e a lógica da sua posição; são pacientes para descobrir e testar
as necessidades de seu interlocutor. Acreditam que, quanto mais tempo investirem numa negociação, mais dinheiro ganharão.
São especialistas em dizer um «não» polido, como: «sim, mas talvez...»; «isto vai necessitar de uma futura consideração...». Costumam
trabalhar em conjunto com o seu interlocutor antes da negociação começar, de maneira a que quando a negociação realmente se inicia a
mesma acontece de forma ordenada e funcional.

RUSSOS
Não se intimidam em testar os seus oponentes repetindo os seus argumentos várias vezes.
Sabem dizer «não», que também pode significar um «sim» ou um «talvez». O dizer «não»
várias vezes deve reduzir a expectativa do oponente durante a negociação e pode aumentar
a sua satisfação no final da negociação.

ITALIANOS
São os campeões da argumentação e da gestão
das emoções, acostumados a negociar desde o
século xv com Árabes, Persas, Gregos, povos do
Médio Oriente e da África do Norte. Muito preocu-
pados com o seu estatuto e a sua imagem. Gos-
tam de impressionar.

FRANCESES
Preferem acertar os princípios básicos do negócio e só mais tarde definir seus por-
menores. Quid-pro-quo, não faça concessões sem conseguir algo em troca, caso
contrário poderão não se sentir agradecidos. Não costumam fazer concessões uni-
laterais dando algo por nada.

EM CONCLUSÃO:
A experiência como negociador internacional e como docente de Negociação Multicultural em diversos MBA internacionais tem-me
mostrado que existem sempre motivos numa negociação internacional capazes de nos surpreender. Por isso, só há uma solução:
viajar com frequência, estar atento e estudar todos os sinais. Em suma: aprender continuamente!

27
TESTEMUNHOS DE EMPRESÁRIOS SOBRE A IMPORTÂNCIA DAS ESTRATÉGIAS DE FORMAÇÃO QUE ADOPTARAM TENDO EM VISTA
A NEGOCIAÇÃO INTERNACIONAL NAS RESPECTIVAS EMPRESAS

a todos factores para que exista entendimen- na corrida internacional por falta de informa-
César Silva
to mútuo. ção e conhecimentos técnicos. Apostar na for-
Director
de Operações Para percorrer este caminho é obrigatório mação é apostar num futuro promissor para
Internacionais manter um elevado nível técnico e de qualida- negociar em Portugal e com o estrangeiro.   
de, não só no produto final mas também no re- Gostaria de contar uma história a alertar
lacionamento pessoal com diferentes culturas, para os diversos perigos e cuidados a ter
adoptando uma abordagem adequada a cada nas negociações internacionais: «Um dia,
factor e sensibilidade. através de uns conhecimentos que tenho
Sentimos necessidade de nos mantermos ac- numa embaixada do continente africano,
tualizados e preparados para novos desafios. recebi no meu escritório a visita de uma
EUROSTAND – Projectando o Futuro
Este sentimento levou-nos a uma forte aposta ilustre individualidade desse país com a
REVISTA FORMAR N.º 71

Na EUROSTAND, a exportação funcionou


na formação dos nossos quadros. Nos últimos promessa de negócios de milhões e com
como alavanca para a internacionalização,
anos, a aposta centrou-se nas áreas do marke- um potencial de diversidade de negócios
tornando-se uma estratégia determinante
ting e da distribuição (MCIM – Master em Co- enorme. Assim, perante todo esse potencial
na sua competitividade.
mércio Internacional e Marketing) e na área de negocial desloquei-me ao país em causa
Direcção Administrativa (MBA Executive). com o intuito de pôr em prática uma opera-
Estas aulas, ministradas por docentes de ori- ção idêntica a outras já em funcionamento
gem espanhola, argentina, peruana e portu- noutros países. A verdade é que fui recebi-
guesa, com experiência comprovada em re- do com quase todas as honras de protoco-
lacionamento e comércio internacional, têm lo diplomático. Tudo me era apresentado
demonstrado ser uma grande mais-valia no como não havendo quaisquer obstáculos
dia-a-dia da nossa empresa. ou dificuldades, tendo em conta que haveria
sempre alguém que solucionaria os proble-
mas (embora todos esses serviços tives-
sem custos consideravelmente elevados).
Assim, tendo em conta a minha experiência
negocial em países africanos iniciei um es-
tudo de mercado em paralelo com o intuito
de analisar custos e possibilidades de mer-
As primeiras relações em que participá- cado, pelo que verifiquei que todos os cus-
mos, com empresas do Brasil, Itália, Grã- tos apresentados eram mera intenção de
-Bretanha, Moçambique e Angola, foram Paulo David extorquir dinheiro. A empresa minha inter-
Director-Geral locutora ainda não estava constituída e já
de tal forma frutuosas que dinamizaram
a empresa para um projecto de interna- havia interesse na abertura de uma conta
cionalização. Estas parcerias complemen- Provimar bancária. Perante estes factos estava cla-
taram a nossa contínua participação em Enquanto empresário e director tenho desde ro que os possíveis futuros parceiros não
eventos internacionais – Europa e África sempre apostado na minha formação. Iniciei tinham interesse em manter uma postura
– com clientes portugueses (privados ou a minha área de estudos académicos no Mar- de seriedade negocial. Como tal, e com o in-
estatais), concedendo-nos mais-valias na keting (Instituto Politécnico, visto que procu- tuito de não criar inimigos (o que em certos
nossa progressão. A focalização nestes rava cursos que me dessem uma perspectiva países poderá ser um problema operacional
mercados, a médio-longo prazo, terá de mais prática e objectiva para o mundo dos ne- para futuros negócios), fui preparando toda
ser muito persistente nos investimentos. gócios) e sempre pautei por me manter actua- a operação administrativa com um outro
Potenciando e consolidando todos os fac- lizado através de outros cursos que pudessem parceiro, esperando que os parceiros que
tores positivos, preparamos o futuro crian- contribuir para o aumento dos meus conheci- me tinham prometido «O mundo» dessem
do novos projectos, envolvendo países tão mentos teórico e práticos. Sempre que possí- seguimento às suas responsabilidades. No
díspares culturalmente como os do Magre- vel frequentei cursos em áreas diversas, como entanto, nunca adiantei as verbas absur-
be ou os dos PALOP. E as diferenças cultu- informática (óptica de utilizador) e outros com das por eles solicitadas (comentado sem-
rais não se exprimem, apenas e só, pela maior exigência técnica, um Master em Comér- pre que uma vez que iríamos ser parceiros,
diferença de língua. Num dos projectos cio Internacional e Marketing e um Master em eles que avançassem com as verbas e logo
que partilhámos com empresas brasilei- Direcção Geral de Empresas, que tenciono ter- que a empresa estivesse a funcionar se-
ras passou-se algo que, a um jovem fun- minar durante o presente ano.    riam acertados todos os valores pendentes,
cionário da EUROSTAND, pareceu ser um Sem formação como se poderá acompanhar o rit- o que nunca veio a suceder visto que a em-
up-grade nas relações interculturais Por- mo elevado deste mundo louco em que vivemos?... presa nunca foi constituída). Assim, acabei
tugal-Brasil: Quer nacional como internacional, o mundo dos por montar a operação nesse país com mui-
Joana (jovem quadro de empresa de mar- negócios corre a grande velocidade, sendo fun- to sucesso, mas com outro parceiro e após
keting brasileira) damental apostar na formação. Num mundo em ter feito um estudo de mercado credível.»
– Você tem Durex? que todos os dias sai para o mercado imensa in- Tudo isto para dizer que: exportar sim, cres-
No Brasil Durex é fita-cola, mas para um jo- formação, novos estudos e técnicas de actua- cer para além das nossas fronteiras sim,
vem português é algo diferente... ção, se os empresários e directivos (além de mas fazê-lo com todo o cuidado, formação e
Observamos que, mesmo falando a mes- todos os outros quadros) não apostarem na atenção porque não se ganha mercado facil-
ma língua, teremos de ter sempre atenção formação, muito rapidamente ficarão para trás mente, mas sim com inteligência e trabalho.

28
ACTUAIS
TRABALHAR AS
RUBEN EIRAS
Investigador em capital intelectual
COMPETÊNCIAS DE
e inovação no ISCSP-UTL
VANDA VIEIRA
Técnica de formação do CECOA, autora do
INTERNACIONALIZAÇÃO
blog elearningportugal.wordpress.com
DAS EMPRESAS
Ilustrações de:
JOÃO AMARAL NACIONAIS

REVISTA FORMAR N.º 71


O desenvolvimento de competências para a internacionali-
zação dos negócios das empresas portuguesas é o principal
objectivo do Curso de Especialização Tecnológica (CET) em
Comércio Internacional promovido pelo CECOA (Centro de
Formação Profissional para o Comércio e Afins). A vantagem
desta modalidade de formação é o «mix» de ensino profis-
sional numa área do saber específica, com a prática profis-
sional qualificada e a inserção dos formandos nas empresas

O comércio internacional esteve, desde estar informado sobre os direitos aduaneiros dos diferentes países e outras taxas de im-
sempre, presente na essência do progres- portação de produtos.
so humano. E com o recente processo de Saber como exportar para mercados externos, dominar ao pormenor os aspectos a
globalização, a sua importância económi- considerar na celebração de um contrato de compra e venda interna-
ca, social e política tornou-se determinan- cional e estar a par da informação sobre os meios de pagamen-
te para a competitividade sustentável das to utilizados no comércio internacional são outros aspectos
nações. importantes do pacote de conhecimentos, aptidões e compe-
Para que as empresas nacionais pos- tências necessário para se conseguirem aproveitar os benefí-
sam ser competitivas e abraçar os desa- cios comerciais da globalização.
fios e as oportunidades de sucesso, quer
das importações, quer das exportações, é O CURSO DE COMÉRCIO INTERNACIONAL DO CECOA
primordial aceder a todo um conjunto de O curso de Comércio Internacional do CECOA tem como ob-
conhecimentos que envolvem áreas es- jectivo contribuir para aumentar as aptidões e as qua-
tratégicas e operacionais. Com efeito, o lificações dos recursos humanos das empresas
portefólio de conhecimentos a dominar
para conduzir um processo de internacio-
nalização bem sucedido é vasto e diverso.
Por exemplo, é necessário estar sempre
actualizado sobre a evolução dos merca-
dos mais importantes e conhecer os do-
cumentos a ter em conta nas trocas co-
merciais, em situação de importação ou
exportação e as suas restrições (licenças,
declarações, certificados, etc.). É preciso
também possuir informação sobre as en-
tidades competentes para emissão dos
documentos mencionados, nomeadamen-
te pela emissão de certificados de origem,

29
nacionais que pretendam abraçar a inter-
TESTEMUNHOS DE DUAS EMPRESAS PORTUGUESAS nacionalização. Na génese da sua concep-
Com o objectivo de explicar a importância que estes futuros profissionais po- ção esteve um projecto de cooperação en-
dem assumir numa empresa, inquirimos os administradores de duas empre- tre o CECOA e mais seis países europeus,
sas que pretendem receber futuros formandos oriundos do CET de Comércio no âmbito do projecto Leonardo da Vinci
Internacional com o objectivo de perceber as motivações que acompanham – COMINTER/Implementação de um Perfil
esta decisão. Europeu de Qualificação em Comércio In-
ternacional, cuja informação o leitor pode
não há desculpas aceitáveis. Em Portu- consultar no seguinte endereço electró-
José Bigio
Gerente Junaman gal sabemos isso, mas temos a tendência nico www.cecoa.pt/projectos/transncio/
para achar que se houver uma boa des-
Cominter.htm.
culpa o cliente tem de perceber e aceitar.
Foi neste contexto e a pensar nas empre-
REVISTA FORMAR N.º 71

C.: Em que medida a cooperação com o


sas interessadas nos mercados interna-
CECOA será benéfica com a alocação de cionais, com necessidades específicas de
um formando vocacionado para a inter- expansão do negócio, que o CECOA desen-
JUNAMAN nacionalização da vossa actividade? volveu e propôs a criação, a nível nacio-
O CECOA entrevistou José Bigio, sócio ge- J. B.: Dispor de uma pessoa com formação nal, de um CET – Curso de Especialização
rente da Junaman. Esta empresa é um em Comércio Internacional ajuda sempre Tecnológica em Comércio Internacional,
agente de compras e trabalha os principais na nossa batalha constante de pôr cultu- proposta formativa pioneira em Portugal.
mercados de exportação como os EUA, a ras diferentes a trabalharem bem em con- Conferindo aos formandos um diploma de
Austrália, o Reino Unido e a Alemanha. Na junto. Novas maneiras de ver as coisas e nível pós-secundário não superior, esta
opinião de José Bigio, os principais desa- novas maneiras de lidar com essas dife-
formação visa formar profissionais que,
fios à exportação são os preços, cada vez renças, aumentando a compreensão mú-
de forma autónoma ou integrado numa
mais competitivos, e os prazos de entrega. tua e a satisfação do cliente e fornecedor.
equipa, no domínio das normas e das téc-
Quanto melhor as partes envolvidas num
negócio se compreenderem, melhor con- nicas adequadas, contribuam para o de-
CECOA: Quais os objectivos de internacio-
nalização do vosso negócio? seguem cumprir com as expectativas que senvolvimento internacional sustentável
José Bigio: Trabalhamos 100% para a ex- cada uma tem do acordo. Num negócio, a da empresa a que pertencem. E como?
portação. existência de uma pessoa que tem sensi- Através da pesquisa e monitorização dos
bilidade às formas de ser de cada interve- mercados internacionais nos quais a em-
C.: Quais as principais barreiras a vencer niente, que está atenta à forma de nego- presa se movimenta, da prospecção e
para o sucesso do vosso processo de in- ciar com cada um e que compreenda as promoção, da negociação, da realização
ternacionalização? expectativas criadas pode ajudar a chegar e acompanhamento das vendas dos seus
J. B.: A nossa principal função consiste na a um bom acordo para ambas as partes, produtos e serviços nos mercados es-
prestação de apoio a empresas estrangei- conseguindo que nenhuma fique poste-
trangeiros e, finalmente, da optimização
ras na compra de produtos (cerâmica de- riormente decepcionada. Isso ajuda não só
de processos de importação.
corativa e têxteis lar) fabricados em Por- com esse negócio, mas com a criação de
O/a técnico/a especialista em comércio
tugal. As principais barreiras com que nos condições que fomentem, em todos os en-
volvidos, o desejo de fazerem mais negó- internacional responde à necessidade
deparamos são:
• Os preços – a concorrência vinda da cios em conjunto porque funcionou bem! das empresas de «import-export» atra-
Europa de Leste e da Ásia com preços vés de quadros técnicos médios com co-
muito baixos. C.: Que outras modalidade de cooperação nhecimentos, aptidões e competências
•  Os prazos de entrega e o seu cumpri- para a formação de capital humano espe- específicos na área, treinados com rigor
mento – os clientes querem cada vez me- cializada em internacionalização acharia e que possam ajudar as empresas, sobre-
nos produtos em stock, e portanto preci- benéficas para o seu negócio? tudo as PME, a vencerem os desafios do
sam de fábricas que aceitem quantidades J. B.: A possibilidade de colocação de for- mercado global.
pequenas e que ofereçam prazos de en- mandos nas empresas produtoras com as
trega muito curtos. Mais importante ain- quais trabalhamos. Uma das maneiras mais
F ORMAÇÃO EM CONTEXTO
da é o cumprimento dos prazos dados. importantes para as empresas portugue-
DE TRABALHO E MECANISMOS
• As diferenças de mentalidade entre as sas se manterem no mercado internacional
é através da diferenciação, não só dos pro-
DE EQUIVALÊNCIA
diferentes culturas. Há muitos exemplos
dutos mas do serviço ao cliente. Capacidade Sendo um curso com uma componente
que poderia dar mas vou cingir-me a um
relacionado com os prazos de entrega: criativa, flexibilidade e satisfação do cliente. de formação em contexto de trabalho/es-
quando se diz a um cliente americano que Quantos mais apoios as empresas tiverem tágio (504 horas para um total de 1504
se vai entregar no dia 15, ele conta com a nestas áreas e na gestão das expectativas horas de duração total), esta componen-
entrega no dia 15 e não 16, 17, 18, etc., e dos clientes, mais sucesso terão. te é bastante valorizada pelas empresas
como fonte de recrutamento de profissio-

30
nais com uma qualificação específica na mércio Internacional no CECOA têm acesso
área do Comércio Internacional. a condições especiais fixadas por mecanis- MAIS INFORMAÇÃO SOBRE
Outro aspecto importante, do ponto de vista mos de equivalência da formação. O CURSO DE COMÉRCIO
dos formandos, é a possibilidade que este O leitor pode acompanhar as novidades no INTERNACIONAL
curso lhes oferece de prosseguirem os es- site do CECOA www.cecoa.pt. Se é empre-
tudos académicos. Na verdade, graças aos sário e estiver interessado em acolher um Esta formação visa preparar profissio-
protocolos celebrados entre o CECOA e o formando na sua empresa para o seu pe- nais capazes de realizarem as seguin-

ACTUAIS
Instituto Politécnico de Leiria, por um lado, ríodo de estágio, enviar e-mail para ana. tes actividades:
e entre o CECOA e a Universidade Autónoma egidio@cecoa.pt. Actividade 1: Estudos de mercado e
de Lisboa, por outro, os formandos que ter- Esteja atento! O curso começa em Setem- monitorização comercial internacio-
minem com aproveitamento o CET de Co- bro de 2010. nal:
1.1 – Realizar uma monitorização co-

REVISTA FORMAR N.º 71


mercial internacional permanen-
TESTEMUNHOS DE DUAS EMPRESAS PORTUGUESAS te (pesquisa documental).
Continuação... 1.2 – Recolher dados e informações
no estrangeiro (pesquisa no ter-
Ana Veiga um formando vocacionado para a inter- reno).
Administradora nacionalização da vossa actividade? 1.3 – Preparar a tomada de decisão.
Arestel Ana Veiga: O CECOA é um centro de forma-
ção especializado para o sector do comér- Actividade 2: Vendas em contexto in-
cio, logo o formando virá munido de um ternacional (exportação):
capital técnico já mais avançado e certi- 2.1 – Prospectar para definir uma
ficado. Além de auxiliar no Departamen- oferta comercial ajustada.
to Comercial com as funções específicas 2.2 – Vender para mercados estran-
ARESTEL destes cargos, o formando decerto trará geiros (exportar).
O CECOA entrevistou Ana Veiga, Adminis- uma abordagem nova a um trabalho que, 2.3 – Assegurar o acompanhamento
tradora da Arestel. A Arestel é uma empre- por vezes, se torna rotineiro. das vendas.
sa que em 2010 comemorou 22 anos de
existência, comercializadora de compo- C.: Que outras modalidades de coope- Actividade 3: Compras em contexto
nentes e equipamentos para o mercado ração para a formação de capital hu- internacional (importação):
das Telecomunicações, Áudio e Vídeo. Ope- mano especializada em internaciona- 3.1 – Elaborar uma base de dados dos
ra nos principais mercados de importação lização acharia benéficas para o seu potenciais fornecedores.
como Espanha, Alemanha e Suíça. negócio? 3.2 – Participar no processo de nego-
Segundo Ana Veiga, «o principal objectivo A. V.: Além de um formando/estagiário que ciação das compras.
para 2010 será o de iniciarmos a produção muito contribuiria para o desenvolvimen- 3.3 – Assegurar o acompanhamento
de produtos para Telecomunicações, área to da empresa, promover formação aos das compras.
que ao contrário do mercado em geral está empresários, fomentar encontros e deba-
em franco crescimento, em parte devido à tes, tanto com o CECOA como com outros Actividade 4: Coordenação dos ser-
Fibra Óptica até casa do cliente». parceiros e empresários nas mesmas si- viços de apoio à importação e à ex-
tuações, seriam iniciativas importantes e portação:
CECOA: Em que medida a cooperação com facilitadoras de um desenvolvimento sus- 4.1 – Montar as operações de import-
o CECOA será benéfica com a alocação de tentado. -export.
4.2 – Assegurar o acompanhamento
administrativo, processual e do-
cumental das operações de im-
port-export.
4.3 – Coordenar o controlo da qualida-
de e garantir a utilização de prá-
ticas leais e éticas.

Actividade 5: Gestão das relações


em contexto multicultural:
5.1 – Criar mensagens integrando ele-
mentos multiculturais.
5.2 – Constituir e dinamizar uma rede
de contactos multicultural.
Foto da empresa no 22.º aniversário da Arestel, comemorado em 25 Março de 2010.

31
O DESENVOLVIMENTO
FILOMENA FAUSTINO
DE COMPETÊNCIAS DE
Consultora-Coordenadora
da Quaternaire Portugal, S.A EMPREGABILIDADE
UMA ORIENTAÇÃO METODOLÓGICA PARA
Ilustrações de:
PAULO CINTRA FORMADORES E AVALIADORES
REVISTA FORMAR N.º 71

Este artigo dirige-se aos indivíduos que trabalham com mo-


delos de formação baseados em competências, mas também
a todos os profissionais que se preocupam com o desenvol-
vimento de competências e, consequentemente, com a sua
avaliação, em particular no que respeita a competências de
empregabilidade

O DESENVOLVIMENTO DE
COMPETÊNCIAS
DE EMPREGABILIDADE – A SUA
«DESCOBERTA» A PARTIR DOS
REFERENCIAIS DE COMPETÊNCIAS
Este texto tem como referência o docu-
mento Employability Skills – from fra-
mework to pratice, publicado pelo go-
verno australiano, nomeadamente pelo
Departamento de Educação Ciência e For-
mação (2006), que se consubstancia
num guia dirigido a formadores e avaliado-
res que desenvolvem formação segundo o
modelo de ensino-aprendizagem baseado
em competências e aos profissionais que
se dedicam à avaliação no sector de edu-
cação-formação vocacional.
Este documento traduz um entendimen-
to inovador, pelo menos para Portugal,
sobre as competências e o seu lugar no
sector da educação-formação vocacio-
nal, em particular sobre as competências
de empregabilidade no contexto dos refe-
renciais de competências específicos de competências de empregabilidade, transversais a qualquer sector e qualificação-profis-
cada qualificação e sobre o seu desenvol- são, no quadro dos processos de aprendizagem das competências específicas. Para o
vimento e avaliação, responsabilizando os efeito é preciso, antes de mais, iniciar um processo de «descompactação» das compe-
formadores e os avaliadores na sua «de- tências de empregabilidade realizado a partir dos referenciais de competências especí-
socultação» através de um processo me- ficas de cada qualificação. Em vez de se produzir um currículo autónomo apenas para
todológico particular. Este posicionamen- o desenvolvimento deste tipo de competências, como vai acontecendo um pouco por
to inovador valoriza a aprendizagem das todo lado, inclusive no ensino superior, estas sobressaem dos referenciais de compe-

32
tências já existentes. Deste modo, entida- petências, o que é novo não é a preocupa-
des formadoras e formadores, além de se ção com o desenvolvimento de competên-
centrarem no desenvolvimento de compe- cias, mas o facto de que as competências
tências específicas deverão, transversal- e as capacidades não podem ser atribu-
mente, também focar o desenvolvimento tos apenas de alguns, tendo em vista
deste tipo de competências. uma maior competitividade da economia
Presentemente é quase impossível ficar e uma maior equidade na educação e no

ACTUAIS
alienado do «movimento» das compe- emprego.
tências. Este atravessa transversalmen- O desafio actual cabe às escolas e às en-
te a educação, do pré-escolar ao superior, tidades formadoras, em geral, e aos pro-
e a formação. Curiosamente, é no quadro fessores e formadores, em particular, que
dos sistemas educativos que esta dinâmi- têm que ser mais consequentes no de-

REVISTA FORMAR N.º 71


ca tem sido mais activa, contribuindo para senvolvimento de competências nos seus
a atenuação da barreira entre a educação aprendentes, tendo para o efeito que mu-
e a formação do ponto de vista não só do dar estratégias e metodologias de ensino-
perfil dos dinamizadores dos processos de -aprendizagem e de avaliação, bem como
aprendizagem (professores e formadores), os papéis a desempenhar pelos principais
com um perfil cada vez mais de facilitador intervenientes neste processo.
de aprendizagem, mas também do per-
fil dos aprendentes (alunos e formandos), C OMPETÊNCIAS-CHAVE
exigindo-se mais autonomia e responsabi- VERSUS COMPETÊNCIAS
lização na condução dos seus processos DE EMPREGABILIDADE
de aprendizagem e ainda nas metodologias Competência de empregabilidade não é
de ensino-aprendizagem, em que se valori- um conceito novo. Esta integra o conjun- O relatório Employability Skills for the Fu-
zam as metodologias activas. to de competências não técnicas que con- ture (ACCI/BCA 2002) identifica oito com-
Apesar de haver quem olhe para as com- tribuem para uma participação eficaz no petências de empregabilidade.
petências como uma «mania» (fad) e local de trabalho mas também em outros A passagem das competências-chave
não como uma tendência (trend), as ini- contextos que o indivíduo actua. O que é para as competências de empregabilida-
ciativas não deixam de brotar um pouco novo é a ênfase que lhe é dada. As com- de deve-se ao facto, segundo os autores,
por todo o lado. Refira-se, a título de exem- petências de empregabilidade são já uma de as primeiras serem demasiado gené-
plo, as orientações do Processo de Bolo- parte dos «pacotes de formação» e dos ricas e não reflectirem as necessidades
nha que aponta para um ensino orientado referenciais de competências específicos, das empresas e de outros empregado-
para o desenvolvimento de competên- embora estejam «ocultas». res actualmente. O referencial de compe-
cias, a 21st-Century Skills, uma iniciativa
dos EUA e muitas outras na Europa, das
quais destacamos a iniciativa New skills COMPETÊNCIAS-CHAVE COMPETÊNCIAS/CAPACIDADES
for News Jobs, com carácter político, de- DE EMPREGABILIDADE
senvolvida com o objectivo de construir
pontes entre o mundo da educação, da for- Comunicar ideias e informação Comunicação
mação e do trabalho e com preocupações
Trabalhar com outros e em equipa Trabalho em equipa
de antecipação das necessidades futuras
de competências e capacidades através Resolver problemas Resolução de problemas
da melhoria, adaptação e alargamento do
Utilizar tecnologias Tecnologia
portefólio de competências para criar e
preencher os empregos de amanhã. Recolher, analisar e organizar informação Planeamento e organização
Estas iniciativas, a que se associam, entre
– Iniciativa e empreendedorismo
outros, educadores, líderes empresariais
e governantes, têm subjacente a ideia de Planear e organizar actividades Autogestão
que existem novas competências e capa-
– Aprendizagem
cidades que os alunos devem que possuir
para poderem ter sucesso no mercado de Utilizar técnicas matemáticas e ideias Estão contidas nas várias competências
emprego de hoje. de empregabilidade
Apesar da multiplicidade de iniciativas e
de um enfoque cada vez maior nas com- Fonte: Employability Skills – From Framework to Pratice – An Introductory Guide for Trainers and Assessors

33
tências de empregabilidade apresentado,
mais complexo do que se indica na tabe-
la anterior, explicitando para cada «bloco»
de competência de empregabilidade o que
pormenorizadamente cada uma significa,
foi identificado após uma extensa consul-
ta às empresas da Austrália. Este explica
como as competências de empregabilida-
de podem ser contextualizadas e especi-
ficadas para as necessidades de determi-
nada empresas ou profissões.
A análise das competências de empregabili-
REVISTA FORMAR N.º 71

dade deverá ainda considerar a forma como


estas se relacionam entre si e a forma como
estas se sobrepõem (p.e., a utilização de
tecnologias envolve capacidades de comu-
nicação e a combinação e compreensão
de conceitos matemáticos). A formalização
deste novo referencial implicou um proces-
so de revisão e actualização sistemática
para incluir nos referenciais de formação as
competências de empregabilidade.

O
 S PRESSUPOSTOS DE PARTIDA
Descompactar (ou desocultar), segundo
a fonte, é um termo comummente usa-
do na área da educação-formação voca-
cional para descrever o processo de se
relacionar a informação descrita na(s)
Unidade(s) de Competência(s) (UC) com
um determinado contexto que se preten-
de analisar. Uma boa prática de descom-
pactação permite uma descontextualiza-
ção da informação contida nas UC:
• o tipo de competências/conhecimen-
tos e a sua aplicação às actividades no
local de trabalho;
• os indicadores mostram como os indi-
víduos desempenham correctamente
essas actividades;
• as competências de trabalho exigidas
por empregadores e trabalhadores;
• os critérios usados para a avaliação de
competências.

A prática de descompactação das compe-


tências de empregabilidade implica partir
do pressuposto que estas estão ocultas
ou implícitas. Como é que as competên-
cias de empregabilidade estão ocultas ou
implícitas nos referenciais de competên-
cias de uma profissão ou qualificação?
Estas estão especificamente expressas
no contexto dos resultados do trabalho

34
descrito nas UC, aparecendo nos elemen- referenciais foram incluídos nos referen- Por último, salienta-se que a descom-
tos de competências (realizações profis- ciais de formação, descrevendo o contex- pactação envolve ainda a compreensão
sionais), critérios de desempenho, evi- to empresarial/industrial para a aplicação das inter-relações entre as competên-
dências de desempenho, etc. das competências de empregabilidade ao cias de empregabilidade. Os autores do
Para estruturar um processo de aprendi- nível da qualificação. Assim, os formado- documento em referência consideram
zagem e de avaliação de competências de res e os avaliadores devem usar os re- que existe uma forte inter-relação entre
empregabilidade é preciso analisar cada ferenciais síntese para confirmar se as as oito competências de empregabilida-

ACTUAIS
UC. As competências de empregabilidade abordagens de aprendizagem e de avalia- de e, nesse sentido, compreender essa
devem ser bem definidas e formalizadas ção integram e consideram o conjunto de inter-relação é uma ajuda para o proces-
nas UC para assegurar que elas podem ser competências ponderadas para a qualifi- so de descompactação. Para demonstrar
desenvolvidas e avaliadas como uma com- cação em causa. essa relação, os autores sinalizam o se-
ponente das competências específicas. Outro factor a ter em conta é «dimensões guinte exemplo: «utilizar recursos de

REVISTA FORMAR N.º 71


Contudo, para que o exercício de descom- de competências». Estas são úteis para uma forma eficaz, eficiente e segura»,
pactação seja coerente com as necessida- identificar que competências de emprega- dependendo do contexto, pode ser ana-
des de determinada qualificação é neces- bilidade devem ser desocultadas para de- lisado tendo por referência a competên-
sário, numa situação ideal, que exista um senvolver no processo de aprendizagem e cia de empregabilidade «resolução de
Employability Skills Summary (referencial de avaliação. O documento de referência problemas» ou «planeamento e organi-
de competências de empregabilidade) que identifica quatro dimensões. zação». A estas competências poderão,
descreva as exigências/requisitos gerais Neste quadro procura-se evidenciar como todavia, associar-se outras competên-
relativamente às competências de empre- as dimensões de competências se relacio- cias de empregabilidade. Contudo, o que
gabilidade formalizados em termos de cri- nam com as competências de empregabi- determina a análise das inter-relações é
térios de desempenho para cada qualifica- lidade, demonstrando como estas são par- o contexto (da exigência da qualificação
em análise).
DIMENSÕES COMPETÊNCIAS DE EMPREGABILIDADE
DE COMPETÊNCIAS RELACIONADAS (EXEMPLOS) O processo de desocultação das compe-
tências de empregabilidade
Task Skills • C omunicação, que contribui para efectivar as relações entre Como podem as competências de empre-
(capacidade para colaboradores e clientes.
desenvolver as tarefas • Tecnologia, que contribui directamente para realizar as tarefas.
gabilidade ser identificadas/descompacta-
requeridas)
PROCEDIMENTO BASE PARA
Task Management Skills • P laneamento e organização, que reflecte uma habilidade indi-
O PROCESSO DE «DESCOMPACTAÇÃO»
(capacidade para gerir vidual para gerir tarefas e tempos para atingir objectivos pes-
diferentes tarefas) soais e organizacionais.

Contingency •R  esolução de problemas, que contribui para os resultados de 1. Seleccione uma Unidade de Competên-
cia (UC).
Management Skills produtividade e encaminhamento de situações de contingência.
2. Leia o conteúdo da UC e destaque (usan-
(capacidade para • Iniciativa e empreendedorismo, que está relacionada com a do diferentes cores para cada compe-
responder às maneira «ideal» para resolver problemas e com a capacidade tência de empregabilidade) as ocorrên-
irregularidades e de adaptar-se a situações de mudança. cias relacionadas com as competências
quebras de rotina) de empregabilidade, tendo em atenção
as suas diferentes facetas.
Job/role Environment • A utogestão, relacionada com o desenvolvimento de estratégias 3. Se qualquer uma das competências de
Skills e com a aprendizagem de novas capacidades para se adaptar às empregabilidade é identificada na UC,
(capacidades para lidar mudanças do local de trabalho e do ambiente. considere o seguinte:
com responsabilidades • Comunicação, relacionada com a obtenção e ajustamento da in- • as inter-relações entre as competên-
e expectativas do nosso formação para manter-se consciencializado sobre as condições cias de empregabilidade identificadas e
ambiente de trabalho de trabalho. as ausentes, questionando o seguinte
«Será que a(s) competência(s) não
e de trabalho com os • Trabalho em equipa, que contribui para apoiar-se e apoiar outros
identificada(s) partilha(m) uma relação
outros) na adaptação à mudança, estabelecendo responsabilidades. forte com as outras?»
• Aprendizagem, que contribui para a melhoria contínua em..., ex- • Haverá algum contexto em que a(s)
pansão da..., operações e resultados. competência(s) não identificadas po-
dem ser requeridas?
4. Considere as actividades de aprendiza-
gem e de avaliação que são normalmen-
Fonte: «Dimensions of competency in relation to Employability Skills» (Rumsey 2005), citado por Employability Skills – From
te usadas na realização da UC e respon-
Framework to Pratice – An Introductory Guide for Trainers and Assessors
da à seguinte questão:
• Tenho considerado adequadamente as
ção. Assim, o exercício de descompactação te integrante das competências. Uma boa capacidades de comunicação nas mi-
deve levar em linha de conta esse exercício compreensão da relação entre as dimen- nhas práticas formativa e de avaliação?
para cada qualificação. sões de competência e as competências
Na Austrália, para facilitar o trabalho dos de empregabilidade favorece o resultado Fonte: Employability Skills – From Framework to Pratice –
formadores e dos avaliadores, aqueles do processo de descompactação das UC. An Introductory Guide for Trainers and Assessors

35
das tendo como ponto de partida referen- O guia dirigido a formadores e avaliadores de problemas, iniciativa e empreende-
ciais de competências específicos? faz referência a alguns princípios no qua- dorismo e auto-aprendizagem).
O exemplo seguinte, pegando numa UC dro da formação de adultos que devem ser
de um referencial específico, demonstra levados em linha de conta, nomeadamente: Termino deixando o desafio, sobretudo às
a forma como realizar o processo de des- entidades formadoras e em particular aos
compactação através da formulação de •U  ma aprendizagem responsável que formadores, a integrarem estes princípios
um conjunto de questões básicas para encoraja os aprendentes a liderarem o estratégicos e metodológicos nas suas
contextualizar a competência de empre- seu processo de aprendizagem (auto- estratégias formativas.
gabilidade COMUNICAÇÃO. gestão, iniciativa e empreendedorismo
Embora, como se verifica no exemplo em nos processos de aprendizagem, p.e).
baixo, o processo de desocultação seja re-  ma aprendizagem através da experiên-
• U BIBLIOGRAFIA
lativamente simples com vista à definição cia que enfatiza o learning to do (apren- Australian Government, Department
REVISTA FORMAR N.º 71

of Education, Science and Training,


de estratégias e processos de processos de der para fazer) e o learning from doing
2006, Employability Skills – From
aprendizagem e de avaliação, é necessário (aprender fazendo) (resolução de proble-
Framework to Pratice – An Introduc-
assegurar que as competências de empre- mas e planeamento e organização, p.e).
tory Guide for Trainers and Assessors,
gabilidade foram cobertas apropriadamente. • Uma aprendizagem cooperativa que Camberra, Austrália.
Descompactadas as competências de em- encoraja os aprendentes a aprenderem European Commission, New Skills for
pregabilidade directamente das UC de cada uns com os outros através do desenvol- New Jobs: Action Now – A report by
qualificação, tendo em conta, preferencial- vimento de tarefas e na interacção com the expert group on new skills for new
mente o referencial de competências de em- um conjunto alargado de pessoas (tra- jobs prepared for the European Com-
pregabilidade considerado, há que desenvol- balho em equipa e comunicação, p.e.). mission, Fevereiro de 2010.
ver no quadro da execução da formação as • Uma aprendizagem reflexiva em que os Cogan-Drew, Making Student Achie-
competências de empregabilidade descom- aprendentes tomam consciência e ava- vement Public in the Digital Age, 21st
pactadas através de exercícios que favore- liam sistematicamente as suas expe- Century Skills, Fevereiro de 2010.
cem a sua aprendizagem ou consolidação. riências de aprendizagem (resolução

Fonte: Employability Skills – From Framework to Pratice – An Introductory Guide for Trainers and Assessors

36
CARLOS BARBOSA DE OLIVEIRA
MARINHA: ADAPTAR A
Jornalista
FORMAÇÃO PROFISSIONAL
Fotos de:
CARLOS BARBOSA DE OLIVEIRA
e cedidas
À SOCIEDADE CIVIL
PELA DIRECÇÃO DOS SERVIÇOS DE
FORMAÇÃO DA MARINHA E ÀS NOVAS REALIDADES

REVISTA FORMAR N.º 71


A Marinha é, hoje em dia, uma profissão e uma oportunidade
para os jovens que faculta uma valorização pessoal e profis-
sional que noutros tempos não favorecia.
Essa formação é planeada na Direcção dos Serviços de For-
mação cujo director, Almirante Rocha Carrilho, explicou em
entrevista à Formar como a Marinha se soube adaptar às no-
vas realidades

A vertente de formação mais preponde- temente actualizada nas componentes militar, sociocultural e técnica. Sendo o acesso
rante para quem entra na Marinha é, ob- à formação técnico-militar e profissional um direito dos militares que prestam serviço
viamente, a formação militar básica, que (fundamentalmente em regime de contrato), a Marinha tem vindo a desenvolver um tra-
se estende ao longo de nove meses. No balho profícuo com vista à certificação, homologação e reconhecimento dos cursos de
entanto, a formação profissional assume formação inicial e contínua que ministra.
um papel cada vez mais relevante, abran- Como salienta o Almirante Rocha Carrilho, «a grande virtude do sistema de formação
gendo áreas tão variadas como a electro- profissional da Marinha é a abordagem sistémica, que permite não só ir ao encontro das
mecânica, as comunicações, a electricida- necessidades de formação da própria Marinha mas também proporcionar uma formação
de ou a hotelaria. útil e adequada ao exercício de actividades profissionais na sociedade civil». Com efei-
Quando um indivíduo é incorporado faz de to, ao consciencializar a sua inserção num
imediato uma escolha profissional, poden- sistema aberto e extremamente competi-
do optar por grandes áreas como as ope- tivo, a Marinha adaptou a formação de sar-
rações navais, o abastecimento, a logísti- gentos e praças a esse modelo. A principal
ca ou a informática. A partir daí, e ao longo consequência desta perspectiva foi uma
de toda a sua carreira, irá frequentar uma nova concepção dos cursos ministrados
série de cursos que lhe permitirão aumen- de forma a assegurar aos cidadãos que
tar os conhecimentos, actualizar a sua for- assumiram a condição militar uma forma-
mação e progredir. No entanto, ao contrá- ção que lhes permita uma fácil integração
rio do que aconteceu noutros tempos, os no tecido económico e social se um dia op-
Almirante Rocha Carrilho
cursos de formação inicial já não são ape- tarem por sair da Marinha. Esta transfor-
nas centrados na vertente específica da mação do sistema de formação profissional contribuiu de forma significativa para me-
marinharia. lhor ajustar a formação ministrada aos incentivos inerentes ao regime de voluntariado e
Adaptando-se às novas realidades, a Ma- de contrato mas, como salienta Rocha Carrilho, «conferiu também mais qualidade, quali-
rinha portuguesa tem vindo, desde 2004, ficação e eficiência aos recursos humanos e elevou os níveis de exigência».
a implantar um novo Sistema de Forma-
ção Profissional que engloba a formação ÁREAS DE EXCELÊNCIA
inicial e contínua de sargentos e praças À Direcção dos Serviços de Formação compete fazer todo o planeamento da formação.
de molde a conferir-lhes uma adequada e Para o efeito existe um Observatório da Qualidade da Formação que valida os cursos, fa-
sólida formação profissional, permanen- zendo uma avaliação constante e adaptando-os às novas necessidades. «Esta é uma

37
rança e Higiene do Trabalho, reforçando a
credibilidade desta formação junto de en-
tidades exteriores à Marinha e as vanta-
gens mútuas desta cooperação institucio-
nal», salienta o Almirante Rocha Carrilho.
Neste Departamento de Limitação de Ava-
rias da ETNA existe – além de um Parque
de Incêndios e uma área florestal destina-
da a treinos específicos – um Parque de
Treinos de Assistência Humanitária e Me-
dicina de Catástrofe, que é uma referência
por ser único em todo o país. Constituído
REVISTA FORMAR N.º 71

por um conjunto de infra-estruturas e si-


muladores, onde foi «criada» uma peque-
na vila assolada por uma catástrofe, é feita
aqui a formação prática e o treino ade-
quado às guarnições de navios para que,
Acção de formação
sempre que necessário, possam prestar
área onde a inovação é quase constante», LIMITAÇÃO DE AVARIAS assistência humanitária a populações ví-
frisa o director dos Serviços de Formação. O Departamento de Limitação de Avarias, timas de uma calamidade.
«Se, por exemplo, um equipamento en- inserido na escola de Tecnologias Navais
tra em obsolescência logística e há que (ETNA), faz a formação técnica e de treino EMERGÊNCIA MÉDICA
substituí-lo por um novo, a Direcção Téc- dos oficiais, sargentos e praças no âmbito O Centro de Simulação Médica da Marinha
nica toma conhecimento, informa a DSF e da limitação de avarias e na defesa, minis- (CSMM) – único centro de simulação mé-
os utilizadores (os navios) informam-nos trando formação complementar em Higie- dica das Forças Armadas Portuguesas –
que o equipamento está descontinuado.
Tornando-se necessário proceder à forma-
ção das pessoas que vão operar o equi-
pamento que virá substitui-lo, ou as ma-
térias são adaptadas ou é criado um novo
curso, ou mesmo vários, de modo a tirar a
melhor rentabilidade do novo equipamen-
to. Por vezes essa formação é feita por um
ou dois elementos junto do fabricante que,
quando regressa, vai transmitir esses co-
nhecimentos a todos os que vão trabalhar
com esse equipamento. Com o apoio do
Observatório de Qualidade da Formação, é
então montado um curso “à medida” para
aquele equipamento e para as pessoas
que o vão utilizar.» Simulador Action Speed Tactical Training – Treino de decisão táctica
Não dependentes da Direcção de Servi-
ços de Formação existem várias escolas ne e Segurança no Trabalho, Socorrismo foi inaugurado em 2009 com o objectivo de
e centros de formação, sendo a Escola de Elementar, Salvamento e Sobrevivência treinar médicos, enfermeiros e socorristas
Tecnologias Navais (considerada a maior no Mar e Protecção Ambiental. e elevar os níveis de desempenho da Mari-
escola de formação profissional do país), «Esta formação tem vindo a ser alargada nha na área da emergência médica.
a Escola de Fuzileiros e a Escola de Mer- aos militares dos outros ramos das For- O Centro é formado por uma sala de aula e
gulhadores as entidades nucleares do ac- ças Armadas Portuguesas, Marinhas dos duas de simulação, com seis manequins
tual Sistema de Formação Profissional da PALOP, organismos e entidades civis, no- para Suporte Básico de Vida e três simu-
Marinha. Entre a panóplia de cursos mi- meadamente à Marinha Mercante e em- ladores de alta tecnologia para Suporte
nistrados destacam-se, «pelo reconheci- presas das áreas dos transportes marí- Avançado de Vida, o que permite a prática
mento exterior e pelo valor acrescentado timos e fluviais, às indústrias química, de inúmeras técnicas de trauma e suporte
que acarretam», quatro áreas de excelên- petrolífera e mineira, corporações de bom- de vida e lhe confere um lugar de grande
cia na formação da Marinha: beiros, alunos de pós-graduação de Segu- destaque na área da emergência médica,

38
com competências reforçadas para pres-
tar apoio às guarnições médicas dos na-
vios em caso de qualquer emergência na
área da saúde.

FORMAÇÃO EM LIDERANÇA
Ministrada pela Escola de Fuzileiros, a for-

ACTUAIS
mação em liderança tem por objectivo po-
tenciar as capacidades de liderança dos
formandos e mudar as suas atitudes e
comportamentos ao nível do grupo. Com
uma vertente prática muito acentuada,

REVISTA FORMAR N.º 71


onde a animação desportiva, a criativida-
de pessoal e a capacidade de motivação
e coordenação de um grupo têm grande
peso, estes cursos destinam-se essen- Formação em abandono de aeronave em imersão
cialmente a quadros da Marinha mas são
também frequentados por quadros mé- FORMAÇÃO DE FORMADORES rinha o facto de os formandos «poderem
dios e superiores da Administração Públi- Ao longo da entrevista o Almirante Rocha tornar-se executores, aprendendo tecno-
ca e dirigentes de organizações do sector Carrilho destacou como um dos grandes logias de formação, adaptando os seus co-
privado e associativo. sucessos da formação profissional na Ma- nhecimentos à actualização de novos cur-
sos e exercendo um efeito multiplicador da
formação».
Este aspecto é especialmente relevante
nas áreas em que, não havendo oferta for-
mativa no mercado nacional, a formação
é feita no estrangeiro, seja junto do fabri-
cante de um equipamento, seja em insti-
tuições congéneres de países amigos ou
mesmo em universidades. Quando regres-
sam a Portugal, os formandos normalmen-
te vão transmitir os seus conhecimentos,
tornando-se formadores que não só fazem
formação como também organizam ou ac-
tualizam cursos nas suas áreas em estreita
colaboração com o Observatório de Quali-
Formação de formadores em língua inglêsa
dade dos Serviços de Formação. As compe-
tências pedagógicas dos formadores que
exercem a sua actividade profissional nas
entidades formadoras afectas ao Servi-
ço de Formação Profissional revestem-se
assim de grande importância, constituindo
uma preocupação constante da Marinha o
seu reconhecimento junto do IEFP.
A formação de formadores é feita pelo De-
partamento de Formação em Tecnologias de
Educação da ETNA, que desenvolve também
cursos no âmbito da gestão da formação.

N
 OVAS TECNOLOGIAS :
UM EXEMPLO PRÁTICO
Toda a formação de sargentos e praças é
feita na ETNA, tal como a formação contí-
Acção de formação pedagógica de formadores nua dos oficiais.

39
NAVIO ESCOLA SAGRES

Comandante do Navio Escola Sagres no seio da sociedade civil, de que o


entre 2001 e 2005, Rocha Carrilho fa- grande sonho de qualquer pessoa que
lou-nos um pouco do papel formativo está na Marinha é fazer parte da guar-
desempenhado por esta unidade em- nição da Sagres, afirmando: «Todas as
blemática da Marinha. pessoas têm, sobretudo, uma grande
A formação ministrada a bordo é com- vontade de andar no mar. O navio em
plementar à da Escola Naval. Nela em- que estamos é sempre o melhor.»
barcam, todos os anos, os cadetes Não sendo requerida qualquer forma-
REVISTA FORMAR N.º 71

(futuros oficiais) que vão pôr em prá- ção específica para entrar para a Sa-
tica os conhecimentos adquiridos en- gres («não há uma escola de navios
quanto estiveram na Escola. à vela»), qualquer oficial, sargento
As viagens têm objectivos muito bem ou praça pode integrar a sua guarni-
definidos, sendo ministrada forma- ção. De qualquer modo, todos os futu-
ção específica ao nível da vela, da ma- ros oficiais passam por lá pelo menos
rinharia prática e da manobra especí- uma vez na vida como cadetes, numa
Acção de formação em novas tecnologias
fica de um navio com características espécie de viagem de fim de curso
Sendo a tecnologia e a inovação quase peculiares. «Não há melhor do que que funciona, especialmente, como
constantes na Marinha, é dada uma gran- um navio à vela para as pessoas senti- aplicação prática dos conhecimentos
de importância à formação nesta área. rem os elementos e se familiarizarem adquiridos na Escola Naval. «É a sua
A formação na área das novas tecnologias com eles. Como costumo dizer, o mar primeira grande viagem em que vão
de informação e comunicação (ex: opera- não perdoa e não tem memória», en- estar vários meses sem ver terra, o
ção de equipamentos e de sistemas de co- fatiza o Almirante Rocha Carrilho que que ajuda a fortalecer a destreza e o
municação e informação, sistemas tácticos desmistifica a ideia, muito corrente espírito de camaradagem.»
de comunicações ou gestão e operação de
sistemas de informação e comunicação au-
tomatizados) é desenvolvida no Departa-
mento de Comunicações e Sistemas de In-
formação da Escola de Tecnologias Navais.
No âmbito dos Cursos de Formação de Sar-
gentos das classes de Electrotécnicos e
de Maquinistas Navais, os formandos têm
de desenvolver um projecto final transdis-
ciplinar. Trata-se de uma prova de Aptidão
Profissional na qual são integrados todos
os conhecimentos e capacidades adquiri-
dos ao longo dos cursos, mantendo uma
estreita relação com os contextos de tra-
balho. Finalizado esse curso, os forman-
dos obtêm a qualificação profissional de
nível 3 e a equivalência ao 12.º ano.
No decorrer de uma dessas provas, um
grupo de formandos do curso de formação
de Sargentos Maquinistas Navais projec-
tou e construiu uma bancada hidráulica
móvel para responder a uma necessidade
da esquadrilha de helicópteros. O objecti-
vo era testar todos os circuitos hidráulicos
existentes no helicóptero Lynx MK95 sem
que seja necessário colocar os seus moto- Navio Escola Sagres

res em funcionamento.

40
ANÁLISE CRÍTICA

MÁRIO CEITIL
Director Associado da Cegoc/
FranklinCovey
Professor Auxiliar Convidado e Director
da Licenciatura de GRH da Universidade
Lusófona
TENDÊNCIAS DE
Docente Convidado da FCEE da
Universidade Católica EVOLUÇÃO DA FORMAÇÃO
Ilustrações:
PAULO BUCHINHO PROFISSIONAL

REVISTA FORMAR N.º 71


O grande desafio que se coloca à gestão dos processos for-
mativos e, por extensão, à Gestão do Capital Humano, é o de
fazer prevalecer a ideia de que sem aposta nas pessoas, nas
suas competências e nos seus talentos a «crise» é, no míni-
mo… muito mais difícil de superar com sucesso

TENDÊNCIAS DE EVOLUÇÃO mais importante promover o desenvolvimento


DA FORMAÇÃO NA EUROPA dos talentos das pessoas como um factor de
Contrariamente a algumas perspectivas alavancagem para a sua competitividade nos
muito pessimistas sobre a evolução do actuais cenários de imprevisibili-
mercado da formação no biénio 2009- dade. Neste sentido, consideram
-2010, um survey realizado pelo grupo Ce- os inquiridos que as empresas
gos, na Europa, demonstra que a maior que, nestes tempos de transi-
parte das organizações pretende manter ção, investirem no desenvolvi-
e/ou incrementar os seus investimentos mento de competências críticas
em desenvolvimento de competências, para os seus negócios, como
justamente como forma de combater a re- «Liderar a Mudança», «Proac-
cessão económica generalizada e as con- tividade», «Centrar-se em Prio-
sequentes quedas dos mercados. ridades» e «Vendas e Negocia-
Com base numa amostra de 254 profissio- ção», estarão claramente em
nais seniores em Formação e Desenvol- vantagem quando a economia
vimento de Recursos Humanos (F&D), o entrar em retoma.
estudo revela que 44% dos inquiridos assi- A maior parte das organiza-
nalam que os seus orçamentos anuais de ções da amostra afirma que
F&D se vão manter nos próximos 12 me- os seus planos de forma-
ses, 24% esperam mesmo um ligeiro au- ção para 2009/2010 vão
mento e só 17% afirmam ter orientações dar prioridade ao desenvol-
no sentido de cortar os orçamentos. vimento de competências
Segundo a opinião veiculada por alguns profissionais para os quadros intermédios. Assim, 44% dos respondentes revelam que
dos responsáveis inquiridos, as duras con- parte significativa do seu orçamento vai ser mobilizada para programas de Desenvolvi-
dições de mercado que as empresas vão mento da Eficácia Pessoal e Profissional dos Quadros Intermédios, enquanto 33% afir-
(estão) enfrentar forçam-nas a rever os mam que a formação dos quadros técnicos e das equipas vai constituir também uma
investimentos que querem fazer em for- área importante nos seus planos de formação.
mação e desenvolvimento. É interessante
observar que, apesar dos cortes orçamen- A INFLUÊNCIA DOS MERCADOS NOS MÉTODOS E ÁREAS DE FORMAÇÃO
tais poderem constituir, aparentemente, Um outro aspecto importante do estudo realizado diz respeito aos métodos e às áreas
uma solução lógica para a redução de cus- de formação que vão ser mais directamente influenciados pelas alterações das condi-
tos, muitas empresas consideram ainda ções dos mercados.

41
Relativamente a este aspecto, o survey dos, por outro, através, por exemplo, da
revela que a área de maior crescimento aplicação de metodologias do coaching,
em 2009/2010 será o e-Learning, com configuram a segunda das linhas domi-
cerca de três quartos (73%) das organi- nantes de evolução das práticas de for-
zações a referirem que planeiam usar mação para os próximos tempos: a li-
o e-Learning para o desenvolvimento nha de evolução High Touch.
profissional em 2010 e 36% a assina- Por último, as tendências High Tech e
larem que planeiam incrementar este High Touch aqui referidas fazem senti-
tipo de práticas de formação. do e encontram o seu significado e a sua
As dificuldades económicas acen- substância última nas necessidades que
tuarão a tendência para uma as empresas sentem de se dotarem de
maior selectividade na processos, cada vez mais fiáveis, para ga-
REVISTAFORMARN.º71

procura de formação, A maior inovação é, to- rantir o efectivo retorno dos investimen-
levando as empresas a davia, exigida para os tos que vierem a realizar em Formação e
exigirem cada vez mais tipos de formação presencial Desenvolvimento: ou seja, investirem em
e melhores resultados genericamente designados por processos formativos que tragam, cada
dos seus investimen- «formação comportamental», onde vez mais, High Value.
tos em formação. Para os objectivos de obter maior eficácia As competências das pessoas, mobiliza-
responder a estas preo- dos processos formativos devem passar das para acções orientadas por um claro
cupações, as soluções de Formação e De- por se garantir uma acentuada componen- sentido de propósito e caldeadas no plas-
senvolvimento deverão ser cada vez mais te experiencial que seja susceptível de ge- ma emocional de paixões investidas em
focalizadas no alcance dos resultados rar, nos participantes, um «choque de pa- finalidades organizacionalmente produti-
efectivamente pretendidos pelos seus radigmas» suficientemente incentivador vas, constituem o factor decisivo que vai
clientes e deverão igualmente apresen- de um efectivo reequacionamento de prá- diferenciar as empresas e organizações
tar uma melhor relação custo-benefício, ticas, de hábitos e de atitudes. ganhadoras daquelas que se vão deixar
além de possibilitarem uma melhor op- A procura de dispositivos pedagógicos arrastar no esteio inelutável das lamen-
timização na relação tempo/aprendiza- que visem a produção de um efeito de vi- tações inconsequentes. Por isso, o gran-
gem. vência experiencial intensa, por um lado, e de desafio que se coloca à gestão dos
As soluções e-Learning, de aplicação a utilização de métodos de acompanha- processos formativos e, por extensão, à
crescente, tornar-se-ão cada vez mais mento mais personalizados dos forman- Gestão do Capital Humano, é o de fazer
apelativas para as empresas na medida prevalecer a ideia de que, sem aposta nas
em que possibilitam alcançar padrões de pessoas, nas suas competências e nos
maior produtividade pedagógica com me- seus talentos, a «crise» é, no mínimo...
nos tempo dispendido fora do local de tra- muito mais difícil de superar com suces-
balho. Neste sentido, o e-Learning respon- so. Se, todavia, soubermos e tivermos a
de a uma das linhas de desenvolvimento coragem de nos focalizarmos nas opor-
inequívocas da formação profissional: a li- tunidades e não nas ameaças e se
nha de evolução High Tech. tivermos a imaginação sufi-
Relativamente às formações presenciais, ciente para reinventarmos
as empresas vão exigir que o tempo gas- novas e mais ousadas
to pelos seus quadros seja «bem aprovei- formas de libertar o
tado», ou seja, que possibilitem aprendi- potencial das pes-
zagens efectivamente transferíveis para soas, consegui-
o seu contexto profissional e, por outro remos trans-
lado, que sejam «marcantes» pelo efei- formar uma
to surpresa e pelo «encantamento» que «coisa má»
possam gerar nos participantes. Nesta numa «coi-
linha, as formações presenciais, de pen- sa boa» e
dor dominantemente técnico, deverão reforçare-
apostar cada vez mais no rigor e numa mos a cren-
pedagogia adequada, onde o papel do ça positiva
formador será, naturalmente, de grande de que está nas
relevância para criar no formando a per- nossas mãos a cria-
cepção do efeito diferenciador. ção do futuro.

42
GLÓRIA REBELO
POLÍTICAS
Jurista, Professora Universitária (ULHT)
e Investigadora (Dinâmia/ISCTE).
Licenciada e Mestre pela FDL e Doutora
DE ENVELHECIMENTO
pelo ISEG/UTL
ACTIVO E FORMAÇÃO
Ilustrações:
JOÃO AMARAL PARA SENIORES

REVISTA FORMAR N.º 71


A temática do envelhecimento activo é uma realidade social
para a qual urge encontrar respostas eficazes e é preciso que
a sociedade, em geral, seja sensibilizada para este problema
e desafio

1
 . PROBLEMAS DE UMA SOCIEDADE 2001; Rebelo, 2002; Rebelo, 2006 ; Rebe-
ENVELHECIDA lo, 2006b; Rebelo, 2006c) – definir polí-
Como tem sido reconhecido nos países ticas públicas de emprego que tenham
europeus, a acentuada diminuição da taxa em consideração estas mutações de-
de natalidade e o aumento da esperança mográficas, em especial o envelhe-
média de vida têm reconfigurado a evolu- cimento da população. De facto,
ção demográfica da generalidade das so- ao nível do mercado de trabalho,
ciedades. quer a evolução demográfica das
Segundo estudos da Comissão Europeia sociedades europeias quer a orien-
(designadamente o Confronting demogra- tação imprimida a algumas políti-
phic change: a new solidarity between the cas de emprego, nomeadamente as
generations, apresentado em Março de que permitem flexibilizar a idade de
2005), a taxa de natalidade média nos paí- reforma, antecipando-a, têm contri-
ses da União Europeia está a decrescer, buído para o desequilíbrio financeiro
situando-se abaixo do valor mínimo para dos sistemas públicos de segurança
a renovação da população – cerca de 2,1 social (Rebelo, 2002a e, ainda, Rebelo,
filhos por casal, nomeadamente em Portu- 2005b).
gal (European Commission, 2005). Além Nas últimas duas décadas do século xx, na generali-
do mais, e ainda segundo as estimativas dade dos países europeus foram incentivadas políticas de
da Comissão Europeia, mesmo conside- redução da procura de emprego que se relacionam quer
rando os fluxos migratórios, «na Europa com o retardar do acesso ao trabalho e consequente en-
a população em idade laboral deverá re- trada na vida activa – através do alongamento da es-
duzir-se em cerca de 20,8 milhões de pes- colaridade obrigatória e da elevação da idade mínima
soas em 2030», sendo expectável que a legal de acesso ao trabalho – quer com a antecipa-
partir de 2050 países como Portugal re- ção da idade de reforma. Mas, na verdade, se a
gistem as percentagens mais elevadas da antecipação da idade de reforma permitiu con-
União Europeia de pessoas com mais de trolar o desemprego jovem, os fluxos de saída
65 anos e as mais baixas de trabalhado- na «meia-idade» aumentaram significativa-
res com idades compreendidas entre os mente, elevando o número de beneficiários
15 e os 64 anos (European Commission, de reformas ou de subsídios de desempre-
2005). go e comprometendo financeiramen-
Perante este cenário, torna-se premen- te os sistemas públicos de Segu-
te – como vimos defendendo (Rebelo, rança Social.

43
De facto, o paradoxo surge quando a ces- público de Segurança Social, desde 2005
sação da actividade se torna, em si, cada que se vem adoptando um conjunto de
vez mais precoce ao mesmo tempo que medidas essenciais ao equilíbrio finan-
a esperança de vida aumenta (Rebelo, ceiro da Segurança Social e à promoção
2001). do envelhecimento activo. Assim – e a par
Ora, desde o dealbar deste século que – das medidas já adoptadas no âmbito da le-
confrontados com o envelhecimento da gislação sobre Segurança Social e da Le-
gislação laboral, adaptando as políticas de
emprego relativamente a certos grupos de
trabalhadores (como, por exemplo, para
trabalhadores com 55 ou mais anos, isen-
tando até 3 anos as contribuições do em-
REVISTA FORMAR N.º 71

pregador para a Segurança Social na con-


tratação sem termo daqueles que estejam
há mais de 6 meses desempregados ou
sem registo de remunerações e reduzir
em 50% as contribuições durante igual pe-
sua população ríodo na contratação a termo) – importa
e gerindo com di- que seja repensada a oferta formativa di-
ficuldade crescente o fi- rigida a este grupo da população. Com efei-
nanciamento das prestações sociais, em to, se muitos dos trabalhadores nas faixas
especial das cada vez mais numerosas etárias dos 50 ou mais anos pretendem
pensões de velhice – alguns países euro- continuar a trabalhar, será importante con-
peus anunciaram a revisão dos seus sis- trariar uma «cultura de saída precoce» do
temas públicos de protecção social. Do mercado de trabalho. Estes, além de pos-
Reino Unido, passando pela Alemanha – suírem uma enorme experiência adquirida
país que, em 2004, tinha 18,6% da popu- ao longo de anos de actividade, podem ad-
lação total com 65 ou mais anos e onde, quirir muitos outros conhecimentos além
a essa data, somente 39% das pessoas desses e, se as empresas se predispuse-
com idades entre os 55 e os 64 anos ain- rem a facultar-lhes acções de formações
da trabalhavam, sobrecarregando o e/ou reciclagem profissional, certamente
sistema público e terminando que estarão em condições de se manter
na vizinha Espanha – onde se ou regressar ao mercado de trabalho para
prevê que, até 2040, o número res» registam paradoxalmente, porque em realizar qualquer tipo de actividade.
de reformados aumente 66% –, as propos- contexto de envelhecimento da população, A ideia é a de permitir a cada trabalhador
tas de revisão dos sistemas de protecção uma tendência para o abandono precoce sénior a oportunidade de investir numa
social e de emprego sucederam-se. da vida activa, o impacto será certamente formação que lhe permita assegurar uma
negativo para a sociedade e para o sistema inserção ou reinserção no mercado de tra-
2
 . ENVELHECIMENTO ACTIVO de Segurança Social (vide Quadro 1). balho. Ora, para isso é preciso conhecer e
E FORMAÇÃO Procurando responder às questões pre- avaliar, especificamente, as dificuldades
Perante o evidente envelhecimento da so- mentes da sustentabilidade do sistema de inserção deste grupo de trabalhadores,
ciedade portuguesa parece-nos impres-
cindível que – observando as regras de
respeito e salvaguarda dos princípios e
valores específicos constitucionalmente
consagrados – também as ofertas de for-
mação profissional se adaptem às evolu-
ções do mercado de trabalho, induzidas
por mudanças demográficas, respondendo
assim a importantes desafios socioeconó-
micos da actualidade e possibilitando um
essencial aumento da capacidade de adap-
tação da sociedade. De facto, e se os tam-
bém designados «trabalhadores senio- Quadro 1 ›› Fonte: MTSS (2008), Reforma das Relações Laborais, Lisboa, Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social

44
oriundos de diversas formações ao nível Dada a situação actual do emprego, mui- redutora pois as empresas não necessi-
nacional. Assim, o papel da aprendizagem tas empresas tenderão a optar pela solu- tam de pessoas mais novas, mas sim de
passará, necessariamente, por compreen- ção de fazer partir os seniores. Por isso, colaboradores mais competentes (Rebelo,
der, além da qualificação já detida por cada hoje são, mais do nunca, necessárias me- 2005b).
trabalhador, que tipo de formação influirá didas que permitam manter o emprego Paralelamente, não deixará de ser impor-

ANÁLISE CRÍTICA
sobre a inserção profissional. Em particu- dos seniores nas empresas. E consideran- tante reflectir sobre as condições de tra-
lar, a formação profissional ministrada a do o aumento do desemprego existe, em balho e a satisfação global que os traba-
estes trabalhadores deve procurar estar nosso entender, uma solução: a formação. lhadores seniores sentem no trabalho. Por
adaptada à sua situação de «seniores», De facto, as empresas empregam de pre- exemplo, segundo um estudo sobre a Saú-
pois o retorno ao ensino pode não ser fá- ferência os desempregados que detêm de, o Envelhecimento e as Reformas na Eu-
cil e implicar acções específicas tomando um bom nível de qualificação preterindo ropa – coordenado pelo Instituto de Inves-
em conta essa situação e, ainda, exigirá os menos qualificados, o que pode tradu- tigação em Economia do Envelhecimento

REVISTA FORMAR N.º 71


que seja adaptada ao seu perfil de com- zir uma vantagem para os trabalhadores da Universidade de Man-
petências. Porque Portugal é um país de- seniores. Daí que, em situa- nheim (Alemanha), rea-
ficitário em recursos humanos qualifi- ções de reestruturação or-
cados, maxime, junto

da força de
trabalho mais
idosa, é cada vez
mais necessário
o acesso à forma-
ção assente no
desenvolvimen-
to de novos siste-
mas produtivos,
de novas tecno-
logias e de novas
formas de organi- ganizacional, seja fundamental lizado entre 2002 e 2004 – a proporção
zação de trabalho, que o critério «detenção de competên- de pessoas que expressam o desejo de
ultrapassando assim certos estereótipos cias» seja considerado o critério central e se reformarem a partir dos 50 anos está
sobre os trabalhadores mais idosos (que não o mero factor «idade». A atitude de in- a crescer do Norte ao Sul da Europa (Blan-
estarão «desmotivados», «pouco eficien- diferença face ao papel potencial das com- chet, et al., 2005). Dos cerca de 22 000
tes» ou «ultrapassados pela evolução petências dos trabalhadores seniores na inquiridos, trabalhadores por conta de ou-
tecnológica»). criação de riqueza revela-se retrógrada e trem com 50 ou mais anos, são os medi-

45
terrânicos (embora Portugal não tenha mento essenciais a longo prazo: a forma- inicial, entre as quais a capacidade para
sido incluído neste estudo) os que mais ção profissional. trabalhar em equipa ou o domínio de apli-
desejam a reforma antecipada: 67% dos A maioria das pessoas com 55 anos de cações informáticas, será fundamen-
espanhóis, 60% dos italianos, 57% dos idade ou mais permanecem vitais e, se tal para a prossecução de uma política
franceses e dos gregos contra, por exem- pretenderem continuar a trabalhar, é pre- social sustentável e capaz de promover
plo, apenas 33% dos suíços ou 31% dos ho- ciso que os empregadores olhem de for- uma efectiva transferência de saberes
landeses (idem). ma positiva, e sem preconceitos, a sua qualificados.
A explicação para esta visão diferenciada manutenção e/ou o seu regresso à vida A verdade é que as empresas e organi-
por parte dos trabalhadores seniores eu- activa. Por tudo isto, o desenvolvimento zações não necessitam de «pessoas jo-
ropeus poderá ser ainda mais complexa de uma política de formação profissional vens» mas sim de «pessoas competen-
mas, na realidade, o estudo faz presumir especialmente dirigida a este grupo da tes», pelo que devem estar cientes de
que esteja relacionada com as diferentes população portuguesa, designadamen- que, quando confrontadas com a escolha
REVISTA FORMAR N.º 71

condições de trabalho em cada país. O in- te através da criação de medidas para os do recurso humano, pode ser vantajoso
quérito que serve de base ao estudo con- seniores – maxime pouco qualificados e/ valorizar a experiência e as competências
templa uma série de questões relaciona- ou desempregados – que permitam iden- dos trabalhadores seniores, devendo pro-
das com o trabalho, e o principal motivo tificar um portefólio de competências porcionar-lhes boas condições de trabalho
avançado pelos inquiridos que expressam que possam ser adquiridas na formação que viabilizem a sua permanência.
«desejar» uma reforma antecipada é a in-
satisfação global que sentem no trabalho.
Assim, a adopção de um conjunto de po- BIBLIOGRAFIA
Blanchet, D., et al., Share Survey 2004 – Survey of Health, Ageing and Retirement in Euro-
líticas públicas que permitam responder
pe, final report, n.° 1615, Mannheim, Universidade de Mannheim, 2005.
aos problemas de envelhecimento da po- CEDEFOP, Citizens’ views on lifelong learning in the 10 new member States, Report based
pulação exige, paralelamente, que se sen- on the special Eurobarometer 231, Cedefop Panorama series, 150, Office for Official Publi-
sibilize os empregadores para o exercício cations of the European Communities, Luxemburgo, 2008.
da actividade laboral em boas e atractivas CLBRL, Livro Branco das Relações Laborais, Comissão do Livro Branco das Relações Labo-
ral, Lisboa, Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social, 2007.
condições de trabalho. Em contexto de
Esping-Andersen, G.,«Um Estado-Providência para o Século XXI», in Boyer, R., et al., Para
globalização, enveredar por modelos de uma Europa da Inovação e do Conhecimento, Oeiras, Celta, 2000.
gestão de recursos humanos assentes na Eurofound, Emprego Precário e Condições de Trabalho na UE, Dublin, Fundação Europeia
procura de produtividade exige um conco- para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho, 1997.
mitante recurso à qualificação e a recur- European Commission, Confronting demographic change: a new solidarity between the
sos humanos junto dos quais se promova generations, Bruxelas, European Commission Green Paper, 2005.
Eurostat, Population and social conditions, Luxemburgo, European Communities, 2005.
a detenção do saber, a capacidade de ino-
Eurostat, «Labour Market Latest Trends 2007», in Eurostat – Data in focus 14/2008, Lu-
var e de criar bens materiais e imateriais. xemburgo, European Communities, 2008.
Em suma, a recursos humanos bem re- Felstead, A. e Jewson, N., Global trends in flexible labour, Macmillan, Basingstoke, 1999.
munerados e estáveis, motivados a per-
manecer activos. MTSS, Reforma das Relações Laborais, Lisboa, Ministério do Trabalho e da Solidariedade
Social, 2008.
Rebelo, G., «As qualificações dos mais idosos no mercado de trabalho», in Sociedade e
3
 . CONSIDERAÇÕES FINAIS Trabalho, n.º 14/15, pp. 69-78, 2001.
A actual situação de envelhecimento da Rebelo, G., «Segurança Social: o difícil equilíbrio financeiro», in Economia Pura, n.º 53, pp.
população portuguesa – e da tendencial 82-86, 2002.
diminuição da população activa – é de Rebelo, G., Emprego e Formas de Precariedade da Actividade Laboral – o Caso de Portugal
tal forma premente que convoca a socie- no Contexto da UE, Tese de Doutoramento, ISEG/Universidade Técnica de Lisboa, 2002.
Rebelo, G., «Emprego e Segurança Social: actualidade e tendências», in Sociedade e Tra-
dade portuguesa a uma saber adaptar-se
balho, n.º 26, pp. 81-92, 2005.
ao envelhecimento da sua população para Rebelo, G., «Pré-reformas, reformas antecipadas e Segurança Social», in Pessoal, n.º 35,
poder beneficiar de um crescimento sus- pp. 26-27, 2005b.
tentável nos próximos anos. Assim, e uma Rebelo, G., «O indispensável envelhecimento activo», in Jornal de Negócios, 23 de Outu-
vez que um grandes factores a tomar em bro de 2006.
Rebelo, G., «Desafios para uma revisão do Código do Trabalho», in Jornal de Negócios, 4
conta a médio prazo é o envelhecimento
de Dezembro de 2006b.
da população e a forma como pesará so- Rebelo, G., «Por um envelhecimento activo», in Jornal de Negócios, 9 de Janeiro de 2006.
bre o crescimento económico e a reparti- Spyropoulos, G., «Le droit du travail à la recherche de nouveaux objectifs», in Droit Social,
ção dos rendimentos entre população ac- n.º 4, pp. 391-403, 2002.
tiva e população inactiva, é urgente que, Supiot, A. (org.), Au-delà de l’Emploi. Transformations du Travail et Devenir du Droit du Tra-
aproveitando as oportunidades tecnológi- vail en Europe, Paris, Flammarion, 1999.
cas, se aposte num dos factores de cresci-

46
INSTRUMENTOS
DE FORMAÇÃO

COMO CRIAR UMA GALERIA


FERNANDO FERREIRA
Engº Informático
Autor do livro Photoshop CS4 – curso
DE FOTOS NA WEB
completo (FCA/LIDEL)
ftfern@gmail.com COM O PHOTOSHOP

REVISTA FORMAR N.º 71


O Photoshop continua a ser o padrão profissional para edi-
ção de imagens digitais, permitindo obter excelentes resul-
tados com as dezenas de ferramentas disponíveis. As ferra-
mentas da Web no Photoshop CS4 podem ajudar o utilizador
a desenhar e optimizar imagens da Web individuais, layouts
de página completos e galerias de fotos (álbuns digitais)

INTRODUÇÃO leria. Depois, basta usar o comando Web Gallery (Galeria de Fotos na Web) para gerar au-
As ferramentas da Web do Photoshop faci- tomaticamente uma galeria de fotos na Web a partir desse conjunto de imagens.
litam a criação de componentes para pá- O Photoshop fornece vários estilos para criar uma galeria, que podem ser seleccionados
ginas da Web ou a produção de páginas com o comando Web Gallery. Se for um utilizador avançado que conhece a linguagem
da Web completas em formatos predefini- HTML, poderá mesmo criar um novo estilo ou personalizar um estilo editando um con-
dos ou personalizados. É possível usar o junto de ficheiros de modelo HTML.
Adobe Bridge para criar uma galeria de fo- Cada modelo de estilos de galeria tem diferentes opções. Se estiver a usar um estilo pre-
tos na Web para transformar rapidamente definido, algumas opções podem estar desactivadas ou indisponíveis nesse estilo.
um conjunto de imagens num site interac-
tivo, usando uma variedade de modelos
com aparência profissional. PASSOS A SEGUIR
Para criar uma galeria de fotos na Web deve seguir os seguintes passos:
C RIAR UMA GALERIA DE FOTOS
NA WEB 1. Seleccionar os ficheiros ou a pasta que deseja usar no Adobe Bridge. As ima-
Para criar galerias na Web mais eficien- gens serão apresentadas na galeria na ordem por que são exibidas no Bridge.
tes pode usar o Adobe Output Module do Se preferir usar uma ordem diferente, mude a ordem das imagens no Bridge.
Adobe Bridge.
Uma galeria de fotos na Web é um site da 2.No Adobe Bridge, fazer clique no botão Output. Depois, na opção Web Gallery:
Web (que pode ser visualizado on-line,
num determinado web site, ou off-line, por
exemplo num DVD) que apresenta uma
página inicial com imagens em miniatura
e páginas de galeria com imagens em ta-
manho normal. Cada página contém links
que permitem aos visitantes navegar pelo
site. Por exemplo, quando o visitante faz
clique numa imagem em miniatura na pá-
gina inicial, a imagem em tamanho normal
associada é carregada numa página da ga-

47
3. Escolher um modelo (em Template) e um estilo
(em Style).

4. Fazer clique em Refresh Preview, de forma a visualizar o


aspecto da galeria.
REVISTA FORMAR N.º 71

PERSONALIZAR A GALERIA
Para personalizar a galeria, ou seja, a forma de apresenta-
ção das fotografias e o tipo de navegação, poderá:

5. Inserir, no separador Site Info, algumas informações so-


bre a galeria, como endereço de e-mail, nome, resumo.

6. Definir cores para a galeria, no separador Color Palette,


para as várias secções, como o fundo (background), os
menus (menu), etc.

7. Personalizar a aparência da galeria no separador Appe-


arance.

8. Definir o local de gravação no separador Create Gallery.

9. Fazer clique no botão Save. Os seguintes ficheiros HTML


e JPEG serão inseridos na pasta de destino:

•U  ma página inicial para a galeria chamada index.htm


(ou index.html, dependendo das opções no campo Ex-
tensão). Bastará abrir esse ficheiro em qualquer nave-
gador da Web (browser) para visualizar a galeria.
• Imagens JPEG dentro de uma subpasta de imagens.
• Páginas HTML dentro de uma subpasta de páginas.
• Imagens JPEG em miniatura dentro de uma subpasta
de miniaturas.

48
INSTRUMENTOS DE FORMAÇÃO
EXEMPLOS DE APLICAÇÃO
10. Segue-se um exemplo de aplicação com modelo Films-
trip e estilo Darkroom, aplicado a três imagens:

11. Segue-se um outro exemplo, com aplicação do modelo


Left Filmstrip (miniaturas à esquerda), aplicado a duas
imagens:

CRIAR UM ÁLBUM ON-LINE


Neste momento, seguindo os passos anteriores, já possui
um álbum digital, o qual pode visualizar em modo off-line.

REVISTA FORMAR N.º 71


Se desejar disponibilizar esse álbum na Internet, tornando-
-o on-line, existem diversas possibilidades. Uma delas é dis-
ponibilizar esses ficheiros numa página Web.
Suponha que possui uma página Web e que pretende aí in-
serir este álbum digital, ou seja, fazer upload dos ficheiros
criados no Photoshop. Os passos a seguir são:

12. Recorrer a um software de FTP, por exemplo o FileZilla


(pode fazer o download deste programa na Internet).

13. Digitar a identificação do servidor (anfitrião), o nome de


utilizador e a palavra-passe, para assim ter acesso ao
servidor.

14. Transferir os ficheiros do computador para o servidor


web (chamado de upload). Para isso basta seleccionar
os ficheiros a transferir, usando o rato, e arrastar essa
selecção, da esquerda para a direita.

E pronto! Se aceder à Internet, ao seu web site, já terá aces-


so ao novo álbum digital on-line.

FINAL
A utilização do Photoshop para criação de galerias de foto-
grafias é uma das formas mais rápidas e com várias hipóte-
ses de personalização do tipo de apresentação. Pode, após
descarregar as suas fotografias da sua câmara digital, criar,
com alguns passos, um elegante álbum digital, o qual pode
ser visualizado off-line ou mesmo on-line, acessível assim
ao ciberespaço!

GLOSSÁRIO
FTP: Significa File Transfer Protocol (Protocolo de Transferência de Ficheiros), uma forma bastante rápida e versátil de transferir ficheiros, ou
seja, permite copiar ficheiros do computador para a rede ou vice-versa.
On-line: Ou online, significa em linha, ligado, conectado, em rede.
Off-line: Ou offline, significa que o computador não está conectado à Internet.
Servidor: É um sistema de computação que fornece serviços a uma rede de computadores, que podem ser de natureza diversa, por exemplo,
ficheiros e correio electrónico.

LINKS
www.baixaki.com.br • www.filezilla-project.org • http://pt.wikipedia.org • www.fca.pt

49
CONHECER
A EUROPA

ANA RITA LOPES


Coordenadora do Núcleo de Planeamento
do CT/FP de Alverca – IEFP, I.P. ALEMANHA
REVISTAFORMARN.º71

› NOME OFICIAL › POPULAÇÃO


Alemanha 82milhõesdehabitantes
› SISTEMA POLÍTICO › DENSIDADE POPULACIONAL
RepúblicaFederaldaAlemanha 230,9hab./km2
(16Estados) › CAPITAL
› ENTRADA NA UNIÃO EUROPEIA Berlim
Membrofundador › FRONTEIRAS
25deMarçode1957 França,Bélgica,Luxemburgo,
› LÍNGUA OFICIAL PaísesBaixos,Dinamarca,
Alemão Polónia,RepúblicaCheca,
› SITUAÇÃO GEOGRÁFICA ÁustriaeSuíça
NortedaEuropa › MOEDA
› SUPERFÍCIE TOTAL Euro
356854km2

HISTÓRIA Guerra Mundial (1914-1918). Em 1917 os Estados Unidos entram na guerra ao lado dos
O Império Alemão, definido geografica- Aliados, o que acelerou a derrota da Alemanha em 1918 e levou à abdicação do kaiser
mente pelo actual território da Alemanha, Guilherme II.
foi governado pela Casa von Hohenzollern
(uma importante família nobre do Norte
da Europa, responsável pela governação
da Prússia e do Império Alemão até ao fi-
nal da Primeira Guerra Mundial), desde
a sua consolidação como Estado-nação,
em 1871, até 1918 com o fim da Primei-
ra Guerra Mundial e a abdicação de kaiser
Guilherme II após a derrota alemã.
Em 1879 a Alemanha, aliada da Áustria-
-Hungria, também declarou guerra à Sér-
via. Em Julho de 1914 o herdeiro do tro-
no austríaco, Francisco Fernando, foi as-
sassinado em Sarajevo. O Império Alemão
continuou a apoiar o seu aliado e a Sérvia
obteve apoio da Rússia e da França. Na se-
quência da decisão russa, o Império Ale-
mão declarou guerra à Rússia e à França
em 1914, tendo assim início a Primeira Porta de Brandemburgo ›› Berlim

50
Em 1919 foi assinado um tratado de Paz – o Segunda Guerra Mundial (1939-1945). regimes democráticos aos da esfera so-
Tratado de Versalhes – que pôs termo à Pri- Esta guerra opôs os Aliados (Grã-Bre- viética, o território alemão foi dividido ao
meira Guerra Mundial e obrigou a Alemanha tanha, França, União Soviética, Estados meio, nascendo duas Alemanhas: a Repú-
a reconhecer a responsabilidade nos confli- Unidos e China, entre outros) às potên- blica Federal da Alemanha, a ocidente, e

CONHECER A EUROPA
tos e a ceder territórios à França, Bélgica e cias do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). a República Democrática Alemã, a leste.
Polónia (tanto na Europa como em África). O conflito terminou em 1945 com a der- Desta cisão acabaria por resultar a cons-
trução do Muro de Berlim que dividiu a an-
tiga capital ao meio.
Na RFA estabeleceu-se uma República Fe-
deral Parlamentar e o país prosperou a ní-
vel económico e social, tendo sido admi-
tido na NATO em 1955 e, dois anos mais

REVISTA FORMAR N.º 71


tarde, foi membro fundador da Comunida-
de Económica Europeia, actual União Eu-
ropeia.
A RDA ficou sob a esfera da União Sovié-
tica, tanto a nível político como militar.
O crescimento económico e a satisfação
social eram diminutos, pelo que muitos
cidadãos tentaram fugir para o Ocidente
mesmo correndo perigo de vida ao atra-
vessarem o Muro de Berlim.
Na sequência do desmoronamento do
bloco soviético e da perestroika de Gor-
batchev a agitação civil também alastrou
Rua da cidade de Rothenburg ob der Tauber, no estado da Baviera à RDA, de tal forma que a 9 de Novem-

Logo após o final da Primeira Guerra Mun-


dial foi instaurada a República de Weimar,
que estabeleceu um sistema de governo
parlamentar e democrático. No entanto,
o descontentamento político e social da
década de 1920, agravado pela recessão
económica mundial de 1929, fomentou
uma agitação social e política que levou
a alta burguesia alemã, muitos empresá-
rios e o clero a apoiarem os nacionalistas
radicais, nomeadamente o Partido Nacio-
nal Socialista dos Trabalhadores Alemães
liderado por Adolf Hitler. Este venceu as
eleições em 1932 e, no ano seguinte, foi
nomeado chanceler do Reich, governan-
do a Alemanha nazi até 1945.
Entre 1933 e 1939 a Alemanha reforçou-
-se como potência europeia, com uma
Cidade de Heidelberg, situada no vale do rio Neckar, no noroeste do Baden-Württemberg
economia sólida e estável. Era um país
em franca expansão mas as fronteiras rota das potências do Eixo e a vitória bro de 1989 o governo de Erich Honecker
continuavam a ser as definidas pelo Tra- dos Aliados. autorizou os cidadãos de Leste a visita-
tado de Versalhes de 1919. Para Hitler, o Na sequência da Segunda Guerra Mundial rem a RFA. Deste modo, a queda do Muro
Reich teria que se expandir e recuperar e do novo mapa geopolítico internacional, deu origem à reunificação do país, for-
os territórios perdidos. Assim, em 1939, a Alemanha foi ocupada pelas principais malmente consagrada a 3 de Outubro de
na sequência da invasão da Polónia pela potências aliadas: Grã-Bretanha, França, 1990.
Alemanha e da declaração de guerra à Estados Unidos e União Soviética. Em Maio A Alemanha reunificada continua a inte-
Grã-Bretanha e à França, tem início a de 1949, devido à Guerra Fria que opôs os grar a NATO e a União Europeia.

51
 SISTEMA DE EDUCAÇÃO
O
E FORMAÇÃO PROFISSIONAL
O Sistema de Educação é tutelado pelo Mi-
nistério da Educação, embora haja dife-
renças de Estado para Estado. De acordo
com o art.º 7 da Lei Fundamental (Grund-
gesetzt), a organização e parte da estru-
tura do sistema de ensino é regulada pe-
los Estados.

ENSINO NÃO OBRIGATÓRIO


Educação Pré-Escolar
REVISTA FORMAR N.º 71

• Idade: 3 aos 5 anos


• Todas as crianças podem frequentar
creches ou jardins-de-infância até à
entrada na escola obrigatória.

ENSINO OBRIGATÓRIO
Ilha dos Museus ›› Museu Bode ›› Berlim
Ensino Primário
• Idade: 6 aos 10 anos •O  currículo inclui disciplinas de âm- de âmbito geral, como nas escolas profis-
• 4 anos escolares bito geral sionais.
• Formação geral de aprendizagem que • Após conclusão com aproveitamen-
permite aos alunos a passagem para to, os alunos obtêm um certificado de ENSINO SUPERIOR
o ensino secundário. conclusão do ensino secundário e po- O ensino superior também é tutelado pelo
• Após a conclusão do ensino primário derão integrar o mercado de trabalho Ministério da Educação. Além do ensino
os alunos realizam um pequeno diag- ou ingressar no ensino superior. nas faculdades e universidades, existem
nóstico por forma a direccioná-los escolas superiores de belas-artes e músi-
para o tipo de escola mais adequado Hauptschule ca e institutos técnicos especializados em
ao seu perfil de estudante. • Idade: 10 aos 15 anos Engenharia, Economia, Ciências Sociais,
• 4 ou 5 anos escolares Pedagogia, Informática, Administração,
Ensino Secundário • Designada por escola elementar, tem Agricultura, etc. Também existem institu-
O ensino secundário inclui quatro tipos de como objectivo preparar os alunos tos de formação pedagógica com o objec-
escolas: Gymnasium, Realschule, Haupts- para percursos de âmbito mais práti- tivo de formar educadores e professores.
chule e Gesamtschule. co/profissional.
• A estrutura curricular integra um per-
Gymnasium curso escolar e profissional, o chama- FONTES
European Commission
• Idade: 10 aos 18 anos do sistema Duale Ausbildung.
• 9 anos escolares A preparação dos alunos realiza-se em al- SÍTIOS:
• O currículo inclui disciplinas de ca- ternância entre a escola e uma empresa. Portal da União Europeia:
rácter geral: língua materna, matemá- • Após a conclusão com aproveitamen- http://europa.eu/index_pt.htm
tica, física, química, biologia, artes, to, os alunos são encaminhados para
Enciclopédia Wikipédia:
música, educação física, religião e a Escola Técnica – Berufschule –,
http://pt.wikipedia.org
ciências sociais. onde aprendem uma profissão e são www.universia.com.br
• É obrigatória a aprendizagem a duas integrados no mercado de trabalho. www.germanculture.com.ua/library/
línguas estrangeiras, sendo o inglês facts/bl_vocational_education.htm
obrigatório e o francês, russo, espa- Gesamtschule www.euroeducation.net/prof/
nhol ou latim opcional. • Idade: 10 aos 18 anos germanco.htm
www.inwent.org/portal/eine_welt/
• O 12.º e 13.º ano visam a preparação • Escola integrada que compreende os
index.php.de
do aluno para o exame obrigatório de três percursos escolares definidos
acesso ao ensino superior – Abitur. anteriormente. www.kmk.org/information-in-english.
html
Realschule EDUCAÇÃO PARA ADULTOS
Embaixada da Alemanha em Portugal
• Idade: 10 aos 17 anos Na Alemanha, os adultos têm acesso ao
• 6 anos escolares ensino tanto nas escolas cujo currículo é

52
MERCADO INTERNO:
SOLVIT E SERVIÇO
DE ORIENTAÇÃO AJUDAM
UM NÚMERO CRESCENTE
DE EUROPEUS A VIVEREM,
TRABALHAREM

REVISTA FORMAR N.º 71


ANA MARIA NOGUEIRA
Técnica Superior do IEFP destacada no
E A FAZEREM NEGÓCIOS
Parlamento Europeu
ana.nogueira@europarl.europa.eu ALÉM-FRONTEIRAS
Continua a crescer número de europeus que recorrem aos
serviços de aconselhamento e assistência da União Euro-
peia (UE) para obterem respostas concretas e soluções ex-
peditas para questões e problemas com que se deparam no
mercado interno. É esta a conclusão comum dos relatórios
anuais divulgados no passado 1 de Março do corrente ano pela
Comissão Europeia sobre o SOLVIT e o Serviço de Orientação,
dois serviços de assistência disponibilizados gratuitamente
aos cidadãos e empresas da UE para os ajudar a usufruir ao
máximo os seus direitos no âmbito do mercado interno.
Segundo Michel Barnier, Comissário do Mercado Interno e
SOLVIT dos Serviços: «O Mercado Interno não é uma construção bu-
O mercado interno oferece muitas oportu-
rocrática. Destina-se a facilitar o quotidiano dos cidadãos e
nidades aos cidadãos e às empresas. Uma
pessoa pode desejar mudar-se para outro a ajudar as empresas nas suas actividades em toda a Europa.
país da União Europeia para estudar, tra- Todavia, para verdadeiramente aproveitarem o mercado
balhar, juntar-se a um(a) companheiro(a)
ou gozar a reforma. Poderá também que-
interno, os cidadãos e as empresas devem conseguir exercer
rer constituir uma empresa ou vender os os seus direitos na prática. O SOLVIT e o Serviço de Orienta-
seus produtos ou serviços noutro Estado- ção são dois instrumentos indispensáveis para que os Euro-
-membro da UE.
Embora o mercado interno funcione ge- peus possam compreender, usufruir e defender mais eficaz-
ralmente bem, é quase inevitável que, por mente os seus direitos na UE.»
vezes, se cometam erros ou ocorram pro-
blemas de interpretação dos direitos dos
cidadãos ou das empresas. Por exemplo,
podem levantar-se questões relativamen- sionais, a problemas com a troca da matrícula de um veículo, aos direitos em matéria
te à obtenção de uma autorização de re- de emprego, Segurança Social, imposto sobre o rendimento ou direito de voto. Uma em-
sidência, à recusa de reconhecimento de presa pode enfrentar obstáculos administrativos, exigências nacionais adicionais relati-
um diploma ou de qualificações profis- vas a produtos que já são comercializados noutro Estado-membro da UE ou problemas

53
com o reembolso do IVA. Às vezes, trata-
-se simplesmente de falta de informação
acerca dos direitos existentes na EU e
dos procedimentos a adoptar nos vários
Estados-membros. Foi com este pano de
fundo que, em Julho de 2002, foi criada a
Rede SOLVIT. Há um centro SOLVIT em to-
dos os Estados-membros (bem como na
Noruega, na Islândia e no Liechtenstein).
Trata-se de um serviço gratuito e de fácil
utilização. As queixas ou questões devem
ser apresentadas através de um formulá-
REVISTA FORMAR N.º 71

rio em linha, em qualquer uma das línguas


oficiais da União Europeia.
A Comissão Europeia faz a gestão da base
de dados e, sempre que necessário, pres-
ta assistência para acelerar a resolução
dos problemas.
Os curtos prazos com que o SOLVIT traba-
lha e a sua elevada taxa de sucesso tor-
nam este serviço um mecanismo alterna-
tivo para a resolução informal de litígios.
Funciona muito mais depressa do que a
apresentação de uma queixa formal, o que
é evidentemente uma boa notícia para ci-
dadãos e empresas que necessitem de lução proposta, pode sempre recorrer à PARA SABER MAIS VISITE:
uma resolução rápida dos seus proble- justiça através de um tribunal nacional ou http://ec.europa.eu/solvit/site/index_
mas. Contudo, se um problema não for re- apresentar uma queixa formal à Comissão pt.htm e o portal A vossa Europa: http://
solvido ou se considerar inaceitável a so- Europeia. ec.europa.eu/youreurope/index.htm

O Serviço de Orientação dos Cidadãos é


um serviço de aconselhamento destina-
do ao público. É actualmente prestado por
juristas do European Citizen Action Servi-
ce (ECAS) com o qual a Comissão Europeia
celebrou um contrato.
Este serviço presta aconselhamento gra-
tuito e personalizado aos cidadãos da UE
sobre questões e problemas que enfren-
tem aquando do exercício dos seus direi-
tos noutros Estados-membros – como a
obtenção de autorizações de residência,
a inscrição nos regimes de Segurança So-
cial ou o reconhecimento de qualificações.
O cidadão pode fazer as perguntas na sua
própria língua. No prazo de três dias úteis,
recebe de um perito em questões jurídi-
cas uma resposta na mesma língua e uma
«orientação» para ajuda suplementar.

PARA SABER MAIS VISITE:


Serviço de Orientação:
http://ec.europa.eu/citizensrights/front_
end/index_pt.htm

54
ANA MARIA NOGUEIRA
Técnica Superior do IEFP destacada no
ERASMUS PARA JOVENS
Parlamento Europeu
ana.nogueira@europarl.europa.eu EMPREENDEDORES

REVISTAFORMARN.º71
A iniciativa ERASMUS para jovens empreendedores é uma
resposta inovadora ao duplo desafio de simultaneamente
estimularoespíritoempreendedoreencorajaracooperação
económicaentrefronteirasnaEuropa

ERASMUS PARA JOVENS


51% dos jovens europeus estão interessa- O nível de internacionalização das PME euro-
EMPREENDEDORES
dos em seguir a vida de empresário, mas peias é insuficiente, com somente 8% a ex-
As pequenas e médias empresas (PME) muito poucos põem em prática essa ambi- portar os seus bens e serviços na UE.
são o pilar da economia europeia. A sua ção.
prosperidade é um elemento fundamental
no reforço do crescimento e da criação de A estratégia Europa 2020, sucessora da Estratégia de Lisboa, visa marcar um novo reco-
mais e melhores empregos na União Eu- meço para a UE com um desejo antigo: criar mais empregos e criar melhores condições
ropeia (UE). No entanto, estudos revelam de vida. As PME são fundamentais na realização desse desejo, daí que o seu fomento seja
que a Europa não tem aproveitado ao má- um dos temas prioritários da nova estratégia: «Uma política industrial para a globaliza-
ximo o seu potencial «empreendedoris- ção» para melhorar o ambiente empresarial, especialmente para as PME, e para apoiar
mo» e que precisa de encorajar mais pes- o desenvolvimento de
soas a tornarem-se empreendedores e a uma base industrial for-
criarem o seu próprio negócio. te e sustentável, suscep-
O possível balanço desfavorável entre o tível de enfrentar a con-
risco e o sucesso é a razão pela qual mui- corrência mundial.
tos cidadãos europeus não se aventuram Dos vários instrumentos
na abertura da sua própria empresa. Aque- para ajudar na concre-
les que o fazem têm tendência a operar tização deste objectivo,
exclusivamente no mercado nacional em salientamos a iniciativa
vez de explorarem oportunidades de ne- ERASMUS para jovens
gócio algures na UE ou mesmo fora dela. empreendedores, lan-
Para ter êxito, a Europa precisa de uma es- çada em Fevereiro de
tratégia que nos ajude a sair fortalecidos 2009, destinada a jo-
da crise e que a transforme numa econo- vens que queiram criar a
mia inteligente, sustentável e inclusiva, sua própria empresa ou
que proporcione níveis elevados de empre- que já sejam empresá-
go, de produtividade e de coesão social. rios e que permite a no-

55
petências e perspectivas indispensáveis
à fase inicial de criação da sua própria em-
presa, além de ampliarem as possibilida-
des de internacionalizar o seu novo negó-
cio, aumentando assim as possibilidades
de sucesso.
ERASMUS para jovens empreendedores
é uma relação de negócio para negócio.
Os novos empreendedores estão em pro-
cesso de aprendizagem «no posto de tra-
balho» com um empreendedor experien-
te noutro país da UE entre 1 a 6 meses.
REVISTA FORMAR N.º 71

O processo de juntar as duas partes é de-


senvolvido com a ajuda de organizações
intermediárias activas em 22 países eu-
ropeus.
A garantia de qualidade do processo é as-
segurada através do desenvolvimento e
assinatura de um acordo sobre as condi-
ções para a estadia no estrangeiro – pla-
no de trabalho, tarefas, responsabilidades,

vos empreendedores trabalharem por um


período máximo de 6 meses junto de um
empreendedor experiente, inseridos na
sua PME, noutro país da UE.

Principais objectivos da iniciativa:


• oferecer aos novos empreendedores
a oportunidade de adquirirem conheci-
mentos junto de um empreendedor ex-
periente, que seja responsável por uma
pequena ou média empresa noutro país
da UE;
• possibilitar a troca de experiências en-
tre novos empreendedores e empreen-
dedores experientes;
• facilitar o acesso a novos mercados e a
procura de potenciais parceiros econó-
micos;
• promover a criação de redes entre em-
presários e PME;
• permitir a empreendedores experientes
desenvolverem novas relações comer- Os empreendedores experientes devem resultados, condições financeiras, impli-
ciais e conhecerem melhor as oportu- ser proprietários ou gerir uma PME na UE. cações legais, etc.
nidades oferecidas pelos outros países Esta iniciativa europeia é uma resposta
da UE. inovadora ao duplo desafio de simultanea- PARA MAIS INFORMAÇÃO, VISITE:
mente estimular o espírito empreendedor www.erasmus-entrepreneurs.eu/index.
Podem participar tanto novos empreende- e encorajar a cooperação económica entre php?lan=pt
dores como empreendedores experientes. fronteiras na Europa. Através da presença
Entende-se por «novos empreendedo- junto de um empreendedor já com expe- SOBRE A ESTRATÉGIA EUROPA 2020, VISITE:
res» os que planeiam efectivamente criar riência e do processo de formação «no http://ec.europa.eu/portugal/comis-
a sua própria empresa ou que já iniciaram posto de trabalho» noutro país da UE, os sao/destaques/20100303_europa_2020_
a sua actividade nos últimos três anos. jovens empreendedores adquirem com- pt.htm

56
LEARNING
MONITOR AS ÚLTIMAS TENDÊNCIAS
EM TECNOLOGIAS,
RUBEN EIRAS
Investigador em capital intelectual
e inovação, autor do blogue

MODELOS DE NEGÓCIO
capitalintelectual.tv
VANDA VIEIRA
Técnica de formação do CECOA, autora do
blogue elearningportugal.wordpress.com/
E METODOLOGIAS DE
Ilustrações de:
PAULO BUCHINHO FORMAÇÃO/E-LEARNING

REVISTAFORMARN.º71
TENDÊNCIAS

TENDÊNCIA 1
SMARTPHONES, NETBOOKS
E LAPTOPS
O sétimo Relatório da Horizon, What Lear-
ners Look to Us to Learn, publicado em co-
laboração com o Consórcio New Media e
com a Iniciativa EDUCAUSE Learning, apre-
senta um conjunto de ferramentas tecno-
lógicas «susceptíveis de terem um gran-
de impacto no ensino, na aprendizagem
ou na construção de inquéritos criativos
dinamizados pela academia, faculdades e
universidades nos próximos cinco anos».
A computação móvel e as tecnologias de
conteúdo aberto estão entre as tecno-
logias mais prováveis e lançam o desa-
fio de conceber informação tão aberta e
acessível quanto possível, além de des-
crever o impacto da rápida evolução da
computação móvel – os smartphones, os
netbooks, os laptops e uma vasta gama
de outros dispositivos (como o recente
iPad) – que fornecem acesso à Internet
usando os telemóveis baseados em hots-
pots móveis e portáteis, placas de banda
larga que permitem abrir conteúdo como

57
«uma alternativa rentável para os livros Caso pretenda partici-
didácticos e outros materiais». par nos testes realiza-
Os livros electrónicos e os mecanismos dos e contribuir com a
que permitem aceder a realidades aumen- sua perspectiva e expe-
tadas simples surgem num horizonte de riência, inscreva-se no
dois ou três anos e a computação basea- MASIE Center LAB atra-
da em gestos e na análise de dados vi- vés do endereço: www.
suais parece estar pronta para uso difun- ipadlearninglab.com
dido dentro de quatro ou cinco anos, se-
gundo os autores deste relatório Horizon. TENDÊNCIA 3
UMA
LINK: No endereço www.learningsolu- DESMONSTRAÇÃO
REVISTAFORMARN.º71

tionsmag.com/articles/431/ encontra um DO TWITTER


resumo do documento. NA SALA
DE FORMAÇÃO,
TENDÊNCIA 2 EXPERIMENTE!
IPAD LEARNING LAB É possível a utilização
Elliot Masie, um dos gurus do e-Learning, do Twitter com propósi-
já criou o laboratório de aprendizagem do tos pedagógicos em contexto de sala de • A partir desse momento, acaba de
iPad, desenvolvendo um conjunto de ex- formação. Siga o processo sugerido por adicionar um termo de pesquisa,
periências com o objectivo de adaptar e Back Channel que obedece à seguinte se- por exemplo, L2009 #. O SPY irá exi-
aplicar esta tecnologia à aprendizagem. quência: bir, no modo de tela completo e com
As linhas de investigação são as seguin- • Escolha um Tag # para promover a sua uma monitorização em tempo real, as
tes: iniciativa. Por exemplo, o L2009 #. mensagens relacionadas.
• O mercado emergente das Learning Peça aos participantes que têm aces- • O impacto é muito diferente para ora-
Apps: qual o potencial das Apps (apli- so ao Twitter, na sala de formação ou dores e participantes: aos oradores
cações) como experiências de apren- na sala de conferências, para usarem é permitido visualizarem o visor (na
dizagem (Learning frente de todos) e usarem este re-
App)? curso para orientar questões ou co-
• Media Shifts: como mentários que foram colocadas pelos
desenvolver um mó- participantes; para o público permi-
dulo de aprendiza- te receber as notícias, através de um
gem que utilize a cabo de alimentação, e assistir às
abordagem multi- apresentações.
-touch? • Para os facilitadores da aprendiza-
• As expectativas dos gem, esta experiência permite condu-
formandos: como é zir a discussão a partir de novas pers-
que estes disposi- pectivas.
tivos podem contri- • Para fazer esta experiência é neces-
buir para integrar sário um laptop perto do formador/
as expectativas dos orador – com opção para exibir men-
formandos no que sagens ao longo do tempo.
concerne aos con-
teúdos e à interac- Muitas destas experiências permitem,
ção? ainda, tirar o melhor partido de um canal
de resposta em eventos dinamizados em
• Disrupções no Mercado: qual é o equi- também esse Tag em todas as suas tempo real. Estas experiências podem ser
valente ao modelo de negócio do iTu- mensagens. usadas em paralelo durante webinars que
nes (0,99€ por cada música) no mer- • Utilize uma aplicação baseada na muitas vezes constituem um fluxo enri-
cado da formação? Web chamada SPY para exibir a visua- quecido de contexto para as pessoas que
• Lacunas: como explorar e integrar a lização, em tempo real destas Twe- assistem a um seminário a partir de vá-
videoconferência, os ficheiros em for- ets, com sistema áudio e num grande rios pontos do globo e inclusive permitem
mato flash e outros elementos actual- ecrã, por exemplo um plasma ou um «traduzir» calão e termos regionais ou
mente ausentes no iPad? LCD ( http://spy.appspot.com). termos técnicos.

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aprendizagem no local de trabalho e à me- como os formadores na promoção e na
lhoria contínua e eficiência das empresas. adopção de práticas inovadoras no ensi-
Disponibiliza-se um conjunto diverso de no das ciências.
estudos de caso comparados numa ma- O STELLA é um portal multilingue destina-

LEARNINGMONITOR
triz de 8 temas: do a todos os envolvidos no processo de
• O tempo disponível para aprender. ensino da Ciência e que pretendem parti-
• Os ganhos de produtividade. lhar experiências, ideias, reflexões e me-
• Os benefícios para os trabalhadores. todologias de ensino. Trata-se de uma
• O impacto nas vendas. excelente oportunidade para divulgar pro-
• As melhorias tangíveis da aprendiza- jectos e consultar o catálogo europeu de
gem de cariz qualitativo. iniciativas criado directamente pelos pro-
• O impacto social da aprendizagem; os fessores/formadores através do preen-

REVISTAFORMARN.º71
temas «verdes» e a redução de custos. chimento de um questionário on-line.

WEBY@UR LINK: http://feandskills.becta.org.uk/


É, ainda, um excelente meio para conhe-
cer e reflectir sobre as políticas europeias
LEARNING display.cfm?resID=41788> e os projectos existentes quer para o ensi-
no das Ciências quer para a igualdade de
oportunidades na Ciência.

LINK:
INSEAD ELAB STUDY: www.stella-science.eu/pool_good_practi-
E-COMPETÊNCIAS DE INOVAÇÃO ces.php
PARA A EUROPA e também em
Este estudo apresenta os conceitos base www.elearningeuropa.info/directory/in-
de competências electrónicas aplicadas à dex.php?page=home&dt=12
área da Inovação na Europa e oferece, ain-
da, orientações úteis para melhorar a qua- LEARNING WITH DIGITAL GAMES:
lidade, a relevância e a atractividade do A PRACTICAL GUIDE TO ENGAGING
ensino e da formação em TIC. STUDENTS IN HIGHER EDUCATION
A primeira grande conclusão deste estu- Aprender com os Jogos Digitais: Um Guia
do é que a Europa já deu passos impor- Prático para envolver os alunos do En-
tantes no sentido de reforçar a oferta de sino Superior – este livro foi escrito para
formação junto dos líderes e dos gestores o ensino superior e para os profissio-
reforçando, desta forma, a sua plataforma
de inovação. A segunda grande conclusão BIBLIOTECA nais da educação e da formação. Apren-
der com os Jogos Digitais oferece uma
é que os líderes podem trabalhar juntos
para reforçarem as competências funda-
DIGITAL introdução acessível e directa para o
campo da aprendizagem baseada nos jo-
mentais para a inovação, como por exem- gos de computador. Com as actuais ten-
plo as e-competências, a comunicação e dências e com a evolução das necessi-
as competências de colaboração. dades de aprendizagem dos alunos, este
CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO NAS texto oferece uma orientação amigável
LINK: o documento pode ser acedido ESCOLAS EUROPEIAS – PRÁTICAS e é único em seu foco na educação pós-
através do portal www.elearningeuro- SELECCIONADAS A PARTIR DO -escolar e na sua visão pragmática do
pa.info/main/index.php?page=home CATÁLOGO STELLA uso de jogos de computador com adultos.
ou www.elearningeuropa.info/out/?doc_ Este eBook apresenta uma selecção de
id=21986&rsr_id=22184 boas práticas recolhidas no âmbito do
Programa Europeu da Aprendizagem ao SAIBA MAIS EM:
RELATÓRIO Longo da Vida, mais concretamente no www.elearningeuropa.
Os resultados da aprendizagem no local Projecto STELLA (Ensino de Ciências se- info/directory/index.
de trabalho: evidências para a eficiência gundo a abordagem da Aprendizagem ao php?page=home&dt=12
do empregador e os benefícios comer- Longo da Vida), a fim de apoiar as autori- e em
ciais tangíveis dades competentes em matéria de edu- www.routledgeeducation.com/books/
Este relatório ilustra as possibilidades cação e formação, os dirigentes e os pro- Learning-with-Digital-
oferecidas pelas tecnologias no apoio à fessores/formadores de ciências, bem Games-isbn9780415997751

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DEBAIXO D’OLHO

LIVROS
REVISTAFORMARN.º71

VOLTAAOMUNDOEM80NEGÓCIOS
Era uma vez... um economista que decidiu tos áridos do Sudão? E será que o mundo
pôr à prova as suas capacidades de nego- financeiro londrino o deixou minimamen-
ciação, charme e olho para o negócio pe- te preparado para lidar com os comercian-
rante as mais antigas culturas de comér- tes de cavalos das planícies da Ásia Central
cio do Mundo. Vendeu a casa para financiar cuja base de alimentação é a vodca?
a viagem, mas se o seu palpite estiver cor- É uma viagem surpreendente pela história
recto – e conseguir trocar camelos suda- humana e pela origem do dinheiro que hoje
neses por café zambiano, o café por vinho temos nos bolsos, que nos lembra que ga-
sul-africano e depois pegar nos lucros e ir nhar a vida é exactamente isso – é a vida!
à China comprar jade – ele acredita que re-
gressará com muito dinheiro, alguns ami- FICHA TÉCNICA
gos e muitas peripécias para contar. Título: Volta ao Mundo em 80 Negócios
Quer seja a negociar madeira ou chá, pran- Autor: Conor Woodman
chas de surf ou marisco, Conor vai estar Editora: Publicações Europa-América
frente-a-frente com os melhores negocian- Colecção: Aventura&Viagens
tes dos mercados mais competitivos do N.º de pág.: 211
Mundo. Será a sua experiência como ana- Edição: 2010
lista de mercado uma mais-valia nos deser-

MARKETINGVENCEDOR
Um livro de marketing pouco convencio- da crise empresas, sectores, regiões e na-
nal. Um texto elaborado por um conjunto ções. Mais do que a «invenção», a verdade
de profissionais da gestão e do marketing inovação empresarial saída do marketing
que conta, ilustra e tira ilações a partir de é um dos melhores antídotos para a crise.
um conjunto improvável de países, regiões Esta obra é organizada por Paulo Gonçalves
e empresas vencedoras. Como que a de- Marcos com a colaboração de vários autores.
monstrar que com engenho, trabalho mi-
nucioso e estudo dos problemas é possível FICHA TÉCNICA
vencer em contextos adversos, sejam eles Título: Marketing Vencedor
de crise económica, concorrentes podero- Autor: Organizado por Paulo Gonçalves Marcos
sos ou clientes indiferentes. Editora: Gestãoplus Edições
O livro ilustra como as estratégias e as tác- N.º de pág.: 272
ticas inovadoras de marketing fizeram sair Edição: 2009

60
FERRAMENTASDECOACHING
Explorando um tema da maior actualida- Response). Através desta tecnologia, os
de e com uma configuração única a nível leitores poderão consultar informações
mundial, este livro, constituído por ferra- relacionadas com os temas e a obra em si,

DEBAIXOD’OLHO
mentas práticas, diferencia-se pelo seu num formato único, especialmente desen-
pragmatismo e espírito de partilha em tor- volvido para a utilização de telemóveis e
no do coaching. outros dispositivos portáteis de pequenas
Com o testemunho de reputados deci- dimensões. Ao fazer a leitura do código
sores e profissionais de contextos em- impresso no livro utilizando uma câmara
presariais altamente competitivos, são fotográfica, o leitor é automaticamente en-
apresentadas 50 ferramentas práticas caminhado para a versão mobile do livro –

REVISTAFORMARN.º71
de sucesso comprovado e de diferentes www.ferramentasdecoaching.com .
orientações internacionais. Mais uma inovação neste livro é o posicio-
Escrita de profissionais para profissio- namento que a obra assume ao prever in-
nais, esta obra tem como missão fomen- cluir nas suas próximas edições contribui-
tar a partilha de práticas de coaching e ções dos leitores que visem enriquecer as
estimular tanto a iniciação como o apro- ferramentas já existentes ou desenvolver
fundamento de competências nesta ma- novas ferramentas práticas de coaching.
téria. Dirige-se sobretudo a profissionais
de coaching, especialistas em gestão de FICHA TÉCNICA
talentos, docentes e alunos das áreas de Título: Ferramentas de Coaching
recursos humanos e da psicologia, e a to- Autor: João Alberto Catalão,
dos os interessados no desenvolvimento Ana Teresa Penim
da performance. Editora: LIDEL – Edições Técnicas Lda
Ferramentas de Coaching é o primeiro li- N.º de pág: 251
vro em Portugal a utilizar o QR Code (Quick Edição: 2010

ADULTOSPOUCOESCOLARIZADOS
–POLÍTICASEPRÁTICASDEFORMAÇÃO

A presente obra centra-se na evolução das FICHA TÉCNICA


políticas de educação e formação de adul- Título: Adultos pouco Escolarizados –
tos de âmbito internacional, europeu e na- Políticas e Práticas de Formação
cional, no sentido de compreender como Autor: Carmen Cavaco
estas se reflectem nas lógicas de forma- Editora: EDUCA – Unidade de I&D de Ciências
ção desenvolvida pelos actores locais e na da educação – Faculdade de Psico-
adesão dos adultos pouco escolarizados. logia e de Ciências da Educação
A investigação, baseada num estudo de N.º de pág.: 834
caso territorial, fundamentou-se numa Edição: 2009
perspectiva interdisciplinar e de análise
crítica por se considerar essencial para
compreender a complexidade dos fenó-
menos educativos e formativos.

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DIVULGAÇÃO

ARTIGOS PUBLICADOS NA
REVISTA FORMAR
AO LONGO DE 2009
REVISTAFORMARN.º71

ISSN: 0872-4989 ISSN: 0872-4989

N.º 67 N.º 68
ABR. MAI. JUN. DE 2009 JUL. AGO. SET. DE 2009

›› TRIMESTRAL, 2,50 € ›› TRIMESTRAL, 2,50 €

FORMAR REVISTA DOS FORMADORES


FORMAR REVISTA DOS FORMADORES

›› OS (NOVOS) PROFISSIONAIS ›› MUDANÇA ORGANIZACIONAL


DA EDUCAÇÃO/FORMAÇÃO E FORMAÇÃO

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63
REVISTA FORMAR N.º 71 DIVULGAÇÃO
REVISTA FORMAR N.º 71

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