Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O que é a inclusão? Se é verdade que este sensibilizando os leitores para todas estas vos, divergem dos standards que nos habi-
conceito surgiu inicialmente associado à in- questões e para a importância de que se tuámos a considerar «normais».
tegração das pessoas portadoras de defi- reveste o sucesso na concretização de um Poderia terminar citando a célebre frase:
ciência e que se tornou depois mais abran- modelo de sociedade justa, coesa e iguali- «Todos diferentes e todos iguais!»
gente abarcando outros grupos sociais tária. Mas não resisto a deixar um repto aos nos-
prioritários, nos últimos anos evoluiu no Conseguir uma sociedade que garanta que sos leitores: vamos todos contribuir para
sentido de que a sociedade deve estar pre- os seres humanos sejam aceites indepen- uma sociedade mais justa, socialmente mais
parada e estruturada para responder às ne- dentemente das suas capacidades, garan- coesa, com um desenvolvimento mais sus-
cessidades de todos os cidadãos, valori- tindo-lhes o direito à dignidade, não é e não tentável e – sobretudo – mais inclusiva.
zando e respeitando as diferenças e dando será nunca uma tarefa fácil. Os direitos so-
a todos as mesmas oportunidades, cami- ciais e individuais das minorias não são pas-
nhando-se no sentido de uma «sociedade síveis de serem garantidos por decreto. Tem
para todos». de haver primeiro uma mudança de menta-
Ou seja, quando falamos de inclusão esta- lidades, no sentido da assumpção de que a
mos a falar de combater a pobreza, de refor- sociedade é plural e de que as diferenças e
çar a integração das pessoas com deficiên- a diversidade devem ser respeitadas, com-
cia e dos imigrantes, de ultrapassar as preendidas e enquadradas.
discriminações e fomentar a igualdade de Esta mudança de mentalidades é algo que Francisco Caneira
oportunidades, de tornar a educação e for- se realiza no quotidiano e por cada um de nós Madelino
mação/qualificação acessível para todos. com atitudes de respeito, solidariedade e Director da Revista,
Presidente
Nesta edição da revista procurámos que os tolerância para com todos os outros seres do Conselho
artigos focassem estas várias vertentes, humanos que, pelos mais variados moti- Directivo do IEFP, IP
sumário
Actuais
Comunicar em formação > 38
O papel da escola face à inclusão > 17 Ana Penim
Luís Manuel Fialho Correia
Criatividade das mulheres em meio
Querer é poder > 21 rural – Prémio Internacional
Margarida Gil Marques atribuído às Capuchinhas > 42
Luísa Falcão
Editorial
Empreendedorismo como veículo
de inclusão > 24
Filomena Faustino Instrumentos de Formação
Dossier
Creative Commons – licença
Apoio à inclusão
para utilizar! > 46
das pessoas com deficiência
César Teixeira
– Mudanças em curso > 04
Análise Crítica
Acácio Duarte
Os trabalhadores seniores face
ao mercado de trabalho > 28 Conhecer Europa
Construindo bom viver! > 12 Marta Sousa Ribeiro, Joaquim Luís Luxemburgo > 50
Maria Viegas Coimbra Ana Rita Lopes
Um Olhar Sobre...
A sociedade de consumo
e os seus actores > 53
Carlos Barbosa de Oliveira
Propriedade > Instituto do Emprego e Formação Profissional, IP
Redacção > Departamento de Formação Profissional, Núcleo das Revistas Dirigir e Formar
Rua de Xabregas, 52 – 1949-003 LISBOA
Tel.: > 218 614 100 Fax: > 218 614 621
n.º 62 Os artigos assinados são da exclusiva responsabilidade dos autores, não coincidindo necessariamente com as opiniões
do Conselho Directivo do lEFP. É permitida a reprodução dos artigos publicados, para fins não comerciais, desde que in-
primeiro dicada a fonte e informada a Revista.
trimestre Condições de assinatura > Enviar carta com nome, morada e função desempenhada. Toda a correspondência deverá ser
endereçada para: Revista Formar, Rua de Xabregas, 52 – 1949-003 LISBOA
de 2008 formar@iefp.pt
dossier
4
Apoios à inclusão
das pessoas com
deficiência
-Mudanças
em curso
Introdução pessoas com deficiência encontra-se em rar um novo futuro para o funcionamento
Documentos importantes, como a Convenção profunda transformação, no contexto geral dos seus serviços e para a estabilidade dos
dos Direitos das Pessoas com Deficiência das tendências de evolução das sociedades seus empregos.
(Nações Unidas), a Estratégia Europeia para actuais nesta matéria e no contexto especí- Na verdade, a actividade de prestação de
a Deficiência e o correspondente Plano de fico das opções tomadas no Programa de serviços às pessoas com deficiência está a
Acção da Comissão Europeia para a Deficiên- Reestruturação da Administração Central do passar por uma fase de profundas transfor-
cia (Europa) e o Plano Nacional para a Inte- Estado (PRACE), no Plano Nacional de Acção mações. São vários os vectores que estão a
gração das Pessoas com Deficiência ou In- (PAIPDI) e certamente também na programa- influenciar as mudanças em curso. As notas
capacidade (Portugal), colocam a questão ção e regulamentação do novo Quadro de seguintes destinam-se a concitar a atenção
dos direitos dos cidadãos portadores de de- Referência Estratégico Nacional (QREN). para alguns deles.
ficiência, assim como os planos de acção Neste contexto, as pessoas com deficiên-
necessários à satisfação desses direitos, cia e suas famílias, assim como as institui-
na ordem do dia da agenda política nacio- ções e os profissionais que nelas trabalham,
nal, europeia e mundial. interrogam-se, procuram perceber o que se
O quadro geral de articulação dos papéis do está a passar e o que lhes poderá acontecer.
Estado (sector público), das Organizações Do meu ponto de vista, vários factores apon-
não Governamentais (ONG), Cooperativas e tam para a necessidade de repensarem o
Associações (sector social) e das empresas seu posicionamento e reestruturarem as Acácio Duarte
Psicólogo, Consultor
(sector privado) na prestação de serviços às suas organizações para poderem assegu-
revista FORMAR
número 62 5
A prestação de serviços às pessoas com deficiência, Uma delas tem a ver com o posicionamento
das pessoas com deficiência e das suas fa-
que começou por ser, num passado mais ou menos mílias, que deverá passar a ser, por um lado,
mais exigente, mais reivindicativo junto dos
longínquo, uma questão de «caridade» e que foi poderes públicos e junto dos prestadores
de serviços, mas também, por outro lado,
sendo, nas últimas décadas, sobretudo uma ques- passar a assumir maiores obrigações de par-
tão de «solidariedade», precisa agora de passar a ser, ticipação activa na busca e implementação
das soluções para os seus problemas (em-
cada vez mais, uma questão de «cidadania». powerment). Outra das consequências
é o princípio da «universalidade» de aces-
A lógica é agora a da activação dos direitos das so aos serviços; ou seja, tem de passar a
pessoas com deficiência; já não é, sobretudo, uma haver serviços suficientes para que todos
os que dele têm necessidade possam ser
questão de boa-vontade de alguns; passa a ser, so- atendidos.
Sendo assim, do princípio da universalidade
bretudo, uma questão de obrigação de todos, da de acesso decorrem outras consequências
não menos importantes. Desde logo, a neces-
sociedade no seu conjunto sidade de expansão da rede de serviços.
Note-se que, de acordo com o estudo «Mais
Vectores de transformação da já não é, sobretudo, uma questão de boa- qualidade de vida para as pessoas com de-
actividade de prestação de serviços -vontade de alguns; passa a ser, sobretudo, ficiências e incapacidades» recentemente
às pessoas com deficiência uma questão de obrigação de todos, da socie- apresentado pelo Centro de Reabilitação Pro-
dade no seu conjunto. fissional de Gaia (CRPG) e Instituto Superior
Pessoas com direitos, universalidade Da passagem para a lógica dos «direitos» de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE),
de acesso aos serviços, cidadania decorrem importantes consequências. «do total das pessoas com deficiências e
Um primeiro grande vector de mudança para
que os documentos políticos apontam parece
ser mesmo uma mudança de paradigma do
lado da «procura» dos serviços; a ideia é que
se passe do anterior paradigma (pessoas
com necessidades especiais – assistência
– solidariedade) para um novo paradigma
(pessoas com direitos – acesso de todos
aos serviços – cidadania).
Na verdade, a prestação de serviços às pes-
soas com deficiência, que começou por ser,
num passado mais ou menos longínquo,
uma questão de «caridade» e que foi sendo,
nas últimas décadas, sobretudo uma ques-
tão de «solidariedade», precisa agora de pas-
sar a ser, cada vez mais, uma questão de
«cidadania». A lógica é agora a da activação
dos direitos das pessoas com deficiência;
dossier
6
incapacidades, cerca de 32% experien- one-stop-shops, espécie de «balcão família, será sempre uma falácia quando
ciam (ou já experienciaram) apoios e ser- único» ou de «loja do cidadão» para as se arranja dinheiro para o supérfluo ou
viços disponibilizados pelo sistema de questões da deficiência; os «centros para o não indispensável e não se ar-
reabilitação». Ficamos assim a saber que regionais de competências», a avaliação ranja dinheiro para o essencial (mal com-
a taxa global de cobertura dos serviços de holística das necessidades das pessoas parado, é como haver dinheiro para o pai,
apoio às pessoas com deficiência, em com deficiência, os planos individuais, o «chefe», comprar um carro topo de
Portugal, tem andado à volta de um terço a aplicação da CIF – Classificação Inter- gama e não haver dinheiro para cuidar
das necessidades reais. nacional da Funcionalidade, Incapacidade do filho, do cidadão deficiente). Acresce
Depois, para que todos possam ter aces- e Saúde – e a elegibilidade para atendi- que os recursos alocados à valorização,
so aos serviços de que necessitam é mentos e apoios financeiros específi- à qualificação dos cidadãos com deficiên-
de grande relevância que haja pontos cos). cia, mais que despesa é investimento já
de informação, orientação e advocacy Quando se fala em universalidade de que trará o correspondente retorno para
capazes de promoverem uma adequada acesso há quem esgrima logo o argu- a sociedade.
relação entre a «procura»/as necessi- mento «escassez de recursos». Trata-se Outro aspecto importante a ter em conta é o
dades das pessoas com deficiência quase sempre de uma desculpa, delibe- potencial de expansão do campo de presta-
e a «oferta»/serviços disponíveis nos rada ou inadvertidamente utilizada, para ção de serviços às pessoas com deficiência
sectores público, social e privado. (A esta justificar que não se active o direito para decorrente da progressiva especificação e di-
ideia ligam-se vários assuntos da actual uma parte das pessoas. Na verdade, a versificação dos direitos sociais nas socie-
agenda técnica nestas matérias: as escassez de recursos, num país ou numa dades modernas: não apenas os direitos à
revista FORMAR
número 62 7
obrigatória) ou o acesso por parte de cer- mente, cada vez mais desumanos. A his- acesso (ex.: educação), fosse pela questão
tas faixas da população em especial difi- tória prova à evidência que o funciona- do apoio aos candidatos em grande dificul-
culdade (como tem sido o caso, por exem- mento espontâneo do mercado tende a pro- dade no mercado de trabalho (ex.: formação
plo, da formação profissional e emprego). mover a exclusão: os ricos tornam-se cada e emprego).
vez mais ricos, os pobres tornam-se cada Não obstante, se e enquanto o Estado não
A ser assim, este contexto será favorável ao vez mais pobres, num quadro de uma lógica estivesse em condições de o fazer, as
desenvolvimento das instituições do sec- que em linguagem popular se diria: «Quem instituições (cooperativas e associações)
tor social. pode, pode, quem não pode, pudesse!...» fá-lo-iam, na medida em que tal lhes fosse
Contudo, a existência, no mundo actual, de Mesmo sendo conseguida a adequada com- possível, numa lógica supletiva (em vez do
uma dinâmica de globalização económica plementaridade entre os três sectores que Estado), reivindicando junto deste regula-
e financeira de cariz ultraliberal constitui atrás apontei, o quadro geral de referência ção e financiamento.
uma enorme, funda, vasta e disfarçada do presente e do próximo futuro será bas- Na ausência de resposta pública, até as or-
ameaça, já que tende a produzir uma socie- tante diferente daquele em que as institui- ganizações privadas, lucrativas (colégios de
dade em que o Estado e a sociedade civil ções prestadoras de serviços à população educação especial, nomeadamente), se
têm um papel cada vez mais restrito e são deficiente funcionavam ao longo dos últimos sentiam também no direito de reivindicar fi-
cada vez mais fracos e em que o mercado 30 ou 40 anos. nanciamento público e o Estado na obriga-
e os actores multinacionais anónimos são Na verdade, considerava-se que era ao Es- ção de atribuir subsídios às famílias para pa-
cada vez mais poderosos, mais obcecados tado que deveria competir prestar às pes- gamento das mensalidades (as mais das
pela maximização do lucro, mais fervorosos soas deficientes os serviços necessários, vezes superiores aos concedidos às insti-
escravos do deus dinheiro e, consequente- fosse pela questão da universalidade de tuições sem fins lucrativos).
revista FORMAR
número 62 9
No novo contexto, a lógica será de complemen- atendimento integrado das pessoas com de- ria efectiva; terão uns e outros de encontra-
taridade, de cooperação, de parceria, em que ficiência, seja em matéria de activação do di- rem e implementarem as alterações neces-
uns e outros terão de aprender e de construir. reito à educação (intervenção precoce, sárias.
Este segundo vector de mudança, que aponta educação infantil, ensino básico, ensino se- Há que evitar modalidades de integração
para a restrição do papel do sector público cundário), seja em matéria de activação do «selvagens», como os casos em que as es-
na prestação de serviços à população, tam- direito ao trabalho (orientação, formação truturas comuns mal tenham competências
bém pode constituir uma janela de oportu- profissional e emprego), acaba por aconte- e condições de trabalho sequer para atender
nidade para a expansão do sector social e das cer numa conjuntura de contraciclo (am- os utentes sem necessidades especiais –
suas instituições desde que estas tenham ini- biência geral de restrição do papel do Estado, situação em que as pessoas com deficiên-
ciativa, capacidade, competência para con- constrangimentos orçamentais, redução de cia, estando fisicamente na estrutura comum,
quistarem, marcarem e diferenciarem o seu pessoal...). Este contexto favorece a busca sofrerão muito maior exclusão; ou os casos
espaço face às iniciativas e às dinâmicas de soluções em que o sector público mobi- em que o acréscimo de trabalho, as novas ne-
do sector privado. lize recursos da sociedade civil, do sector cessidades e novas dificuldades inerentes ao
social (conhecimento, know-how, meios téc- atendimento destes novos utentes vem pro-
Atendimento das pessoas com nicos, meios humanos), partilhe o seu es- vocar a desestruturação dos serviços, com
deficiência em escolas e centros paço de intervenção, trabalhe em parceria. elevados prejuízos para todos. Há que evitar
de formação comuns Trata-se de uma boa oportunidade de cami- também que o sector público tenda a perce-
Um terceiro grande vector de mudança nhar numa boa direcção. ber a identidade das instituições do sector so-
ocorre nos campos de prestação de serviços Contudo, haverá que prestar grande aten- cial (cooperativas e associações) como (ape-
relativos aos direitos das pessoas com de- ção e mobilizar, num lado e noutro, enormes nas) «centros de recursos» de apoio ao seu
ficiência à educação e ao trabalho. Trata-se, doses de humildade e de vontade de coope- trabalho; trata-se de uma nova função das
também, de uma alteração profunda e com- ração já que se terão de enfrentar e vencer instituições do sector social que terá de ser
plexa. Pretende-se passar do anterior mo- grandes dificuldades. Nem os profissionais organizada e desenvolvida em conjunto com
delo de atendimento das pessoas com defi- dos serviços comuns nem os profissionais as suas outras múltiplas funções; não faz
ciência em escolas e centros de formação dos serviços especiais estão suficiente- sentido (como tive oportunidade de ver num
especiais, operados, sobretudo, pelo sector mente preparados para prestar os seus ser- documento recente) que seja o Estado a pro-
social (cooperativas e associações), para viços às pessoas com deficiência em am- curar determinar o que seja e como se deva
um novo modelo de atendimento das pes- biente inclusivo (salas de aula, oficinas...); organizar essa vertente do trabalho das ins-
soas com deficiência em escolas e centros terão de aprender juntos e de se apoiarem tituições.
de formação comuns, operados, sobretudo, mutuamente nessa aprendizagem. Este terceiro vector de mudança, que aponta
pelo sector público (ministérios da Educação Nem os modelos de organização pedagó- claramente para uma direcção correcta, pre-
e do Trabalho), com recurso a colaboração gica vigentes nas estruturas comuns estão cisa de ser concretizado com cuidado já que
técnica do sector social. Isto implica passar suficientemente preparados para o atendi- implica profundas transformações nas estru-
de uma antiga relação de supletividade entre mento integrado (capacidade de individua- turas comuns para que a verdadeira inclusão
o sector social e o sector público para uma lização, equipas multidisciplinares, etc.), ocorra; e que ocorra com benefícios para
relação de complementaridade e de parceria. nem os modelos de organização pedagógica todos os utentes, como se pretende, e não
É a questão que na agenda actual dá pelo das estruturas especiais podem ser impor- com prejuízo para todos, como se corre o
nome de mainstreaming; é a questão da in- tados para as estruturas comuns; terão de risco que aconteça. Acresce que as diferen-
clusão, do atendimento integrado das pes- ser encontrados e implementados os ajusta- tes tipologias de deficiência (motoras, vi-
soas com deficiência; é a questão das insti- mentos necessários. suais, auditivas, relacionais, intelectuais,
tuições do sector social passarem a «centros As organizações, os sistemas de gestão e os multideficiências...) e os respectivos graus
de recursos». modelos administrativo-financeiros, seja do de severidade tendem a contribuir forte-
A consolidação e desenvolvimento desta sector público seja do sector social, não mente para diferentes perfis individuais de
opção do sector público de chamar a si o estão preparados para trabalhar em parce- necessidades e de potencialidades, face aos
dossier
10
perfis de saída dos curricula escolares e dos Neste contexto, as instituições passam a que precisam de apoio para a activação dos
curricula de formação profissional e face precisar de um agudo sentido de mercado e seus direitos (mesmo que de não-clientes ou
aos perfis das profissões e dos empregos vi- de ter maiores capacidades de iniciativa, de de maus clientes se trate).
sados; assim como, naturalmente também, empreendedorismo, de concepção e de ino- No seu caso, a relação com o Estado não é
face às diversas condições materiais, técni- vação de produtos-serviços, de trabalhar de «fornecedor» (como é o caso das em-
cas e pedagógicas dos contextos concretos com carteiras de projectos, de marketing da presas, quando exista), mas de parceiro na
de aprendizagem. sua imagem e dos seus produtos. Precisam activação de direitos dos cidadãos portado-
Há aqui, de facto, um enorme caminho a per- de ter produtos-serviços de qualidade e uma res de deficiência.
correr, em verdadeiro trabalho de parceria imagem de elevada competência técnica. Neste quadro, a questão da qualidade e da
entre o sector público e o sector social, por- Precisam de uma gestão eficiente e rigo- certificação da qualidade não se coloca do
ventura em velocidades diferentes, de acordo rosa, com grande enfoque na relação custo- mesmo modo que para as empresas; tem
com os subconjuntos de problemas que di- -benefício. Contudo, precisam também de de ser equacionada no triângulo qualidade,
ferentes segmentos da população a servir ve- construir e de mostrar um enorme sentido de universalidade, sustentabilidade. Conse-
nham a colocar. diferença. quentemente, o que faz sentido é que a cer-
Na verdade, julgo que é um grande dispa- tificação da qualidade esteja sujeita a um
Novos modelos de organização rate pensar que as instituições do sector so- sistema próprio do sector social. Inclusive,
e de gestão das instituições cial serão tanto melhores quanto mais se julgo que mais tarde ou mais cedo o próprio
do sector social parecerem com as empresas, com o sector Código das Sociedades e o Código do Traba-
Um quarto grande vector de mudança tem privado. As instituições do sector social lho terão de ser levados a contemplar as es-
a ver com os modelos de organização e de podem e devem ser diferentes, quer dos ser- pecificidades do sector social.
gestão das instituições do sector social. Tem viços públicos quer das empresas. As suas Mais tarde ou mais cedo, deixaremos de
a ver com os temas recorrentes na actual diferenças, os traços essenciais da sua estar na antiga referência de composição
agenda deste sector: as questões da quali- marca, podem e devem ser transformados dos sectores – público, privado e cooperativo
dade, da certificação da qualidade e da sus- nas suas vantagens competitivas. –, para passar para a referência sectores
tentabilidade. No seu caso, os modelos de gestão empre- público, privado, social e cooperativo.
Julgo que a transformação que precisa de ser sarial têm de ser compatibilizados com uma
feita se estrutura na confluência de dois vec- grande participação dos utentes (pessoas Novos modelos de financiamento
tores igualmente importantes: o sentido de com deficiência e suas famílias), dos colabo- Um quinto grande vector de mudança terá a
mercado e o sentido da diferença. De facto, radores (profissionais) e de instâncias da ver com os modelos de financiamento das
vários factores apontam para que as institui- comunidade, não só na busca, concepção e prestações de serviços às pessoas com de-
ções do sector social passem a funcionar num implementação das respostas às necessida- ficiência realizadas pelas instituições do
contexto de forte concorrência. É o caso da des mas também em diferentes patamares sector social.
abertura deste espaço ao sector privado, na se- do sistema de gestão. Vários indícios parecem apontar para a pro-
quência da constrição do papel do sector pú- No seu caso, a política de gestão de recursos gressiva emergência de um novo modelo de
blico. É o caso da europeização do mercado, humanos tem de ser compatibilizada com financiamento com importantes diferenças
conduzindo à possibilidade de oferta de servi- as noções de voluntariado, militância pela em relação àquele com que se tem traba-
ços, prestada em Portugal ou em outros países, causa das pessoas com deficiência e dedi- lhado nas últimas décadas, nomeadamente
com qualidade e preços mais competitivos. cação pessoal ao projecto colectivo. após o acesso aos fundos europeus; mo-
É o caso da concorrência entre as próprias ins- No seu caso, as opções de escala e de dimen- delo este fundamentalmente de financia-
tituições nacionais, competindo entre si pela são têm de ser compatibilizadas com a natu- mento público, centrado nas actividades rea-
«procura» e pelo acesso aos escassos meios reza e os requisitos de serviço de proximidade. lizadas pelas instituições, com frequência
disponíveis (sejam meios financeiros, meios No seu caso, a orientação para o cliente tem candidatadas a co-financiamento dos fun-
técnicos de trabalho de qualidade ou meios hu- de ser compatibilizada com o princípio da dos europeus, com critérios de avaliação so-
manos de elevada competência...). universalidade de atendimento de todos os bretudo burocrático-administrativos.
revista FORMAR
número 62 11
Construindo
bom viver!
não há dinheiro compra-se fiado e paga-se como foi complicado todo o processo de le-
depois.» «Falar para o cigano de 13.º mês ou galização; a quantidade de formulários que
subsídio de Natal... é pura abstracção!», diz- era preciso preencher, o difícil que foi pôr
-nos a Sónia. Todos estes exemplos mostram no papel o que lhes ia na alma porque a lin-
à evidência como as duas comunidades, ciga- guagem dos estatutos não tinha o colorido
nas e não ciganas, apesar de ocuparem o da sua oralidade... Foi difícil, mas foi possí-
mesmo território há mais de cinco séculos vel. Em 2000 cria-se a primeira, e ainda hoje
têm vivido de costas voltadas e quando as única, Associação de Mulheres Ciganas (se-
duas culturas desejam criar laços de coope- gundo o Alto Comissariado para a Integração
ração que levem a um bom viver... sentem e Diálogo Intercultural, IP – ACIDI – existirão,
imensas dificuldades porque percorrem um ca- em todo o país, cerca de quinze associações
minho ainda muito pouco explorado. lideradas por homens ciganos).
Mas apesar de tudo, hoje não têm dúvida de No final do estágio do curso fizeram uma
que a frequência da acção de formação de megafesta em duas escolas do Seixal, para
Mediadoras lhes deu para «abrir os olhos», a qual foram convidadas várias individualida-
como nos diz a Anabela Carvalho, hoje vice-pre- des, que levaram à presença de vários órgãos
sidente da AMUCIP: «Foi um ano de aprendi- de comunicação social. No decorrer da festa
zagem intensa, gerou-se um grande clima de apresentaram a todos os convidados a Asso-
cooperação entre todo o grupo e a equipa de ciação recém-criada. No dia seguinte, os
ambulante, o que lhes causou grande frus- formadores/as que também foi fantástica.» jornais faziam manchete: «Cinco Mulheres
tração. Não foi o que aconteceu às cinco mu- Foi no final do curso que começou a crescer Ciganas vão Revolucionar as Mulheres Ciga-
lheres seleccionadas pelo CEFEM, hoje todas a ideia de criar uma Associação. «Começá- nas» ou ainda «Já Nasceu a Emancipação
dirigentes da AMUCIP. mos a dar importância à ideia de fazer al- das Mulheres Ciganas». Contam-nos que
Ao longo desta entrevista contam-nos vários guma coisa pelas crianças e pelas mulheres estas notícias tiveram um eco negativo
casos passados durante a formação que são ciganas.» Contam-nos que algumas figuras enorme na comunidade...
emblemáticos dos choques culturais entre ci- ligadas à Igreja Católica foram, naquele mo- Decidiram então que era demasiado cedo...
ganos e não ciganos e da melhor ou pior forma mento, essenciais para conseguirem levar o que elas próprias precisavam de ter mais ex-
como os iam conseguindo superar: projecto para a frente. A Sónia relata-nos periência. Tinham que ir trabalhar para o meio
distante, onde não há música nem dança, sempre com «casa cheia». Uma delas foi
onde parece que tudo o que lhe era impor- sobre a situação do mercado de emprego e
tante até ali ficou à porta da escola. Claro formação e foi animada pelo director do Cen-
que nesta situação muitas vezes se pode tro de Emprego do Seixal. Falou-se muito da
dizer que o insucesso começa logo no pri- crise da venda ambulante, da concorrência
meiro dia... das lojas chinesas e da preferência das pes-
No âmbito do projecto houve um cuidado soas pelas grandes superfícies. Estas mudan-
particular em não fechar o espaço às crian- ças provocam grandes dificuldades às comu-
ças não ciganas do bairro e de realizar um tra- nidades ciganas. Mais uma vez, a Olga faz-nos
balho de parceria com as escolas e as outras um reparo: «Olhar para esta situação com
entidades da comunidade que desenvolvem cuidado e dar apoio a estas pessoas pode pre-
as mesmas valências. Este trabalho de arti- venir situações futuras muito complicadas.»
culação permite que a AMUCIP vá desenvol- Sentem que a grave crise da venda ambulante
vendo, cada vez mais, o seu projecto de in- pode estar a levar a uma alteração de men-
tervenção social e comunitária. Para percorrer talidades nas comunidades ciganas no que
este caminho dizem que foi essencial todo concerne ao trabalho por conta de outrem,
o apoio e a «formação em exercício» que as que sempre foi aceite com grande relutância
entidades parceiras, nomeadamente o CESIS, e, muitas vezes, apenas com carácter de sa-
realizaram. Confessam que ao princípio nem zonalidade na agricultura.
percebiam bem a sua utilidade e hoje reco- Para a AMUCIP era muito importante que as cioeconómicas? Como pode a formação pro-
nhecem que teve um papel essencial no seu oitenta pessoas que na altura da tertúlia se fissional combater a subsídio-dependência
processo de empoderamento. É a passagem mostraram disponíveis para frequentar cur- e ser um verdadeiro instrumento para com-
do aqui e agora para uma intervenção pla- sos de formação, porque reconheceram que bater a exclusão?
neada, com os objectivos definidos, que per- estão muito mal preparadas para competir Este é o repto que a AMUCIP lança às várias
mite depois a avaliação do trabalho execu- no actual mercado de trabalho, tivessem instituições, nomeadamente ao IEFP e à Se-
tado. essa oportunidade. A concretização deste gurança Social e a todas as entidades que
projecto levanta várias questões a que é pre- queiram responder ao desafio.
O trabalho com as famílias ciso dar resposta. Sabemos que a oferta for-
A porta da sede também está sempre aberta mativa «regular» e o nível de exigência dos Promover o diálogo intercultural
para as famílias. Hoje dizem que é normal pré-requisitos muitas vezes não se adequa Promover o diálogo intercultural entre as co-
virem à Associação pedir informações ou a estes grupos. Por outro lado, também não munidades ciganas e não ciganas é, como
outro tipo de ajuda e ficam tristes quando as será desejável que se pulverizem cursos vimos, outro dos objectivos primordiais do
mulheres, mesmo as viúvas, dizem que tam- para ciganos e não ciganos. Mas também é projecto «P’lo Sonho é Que Vamos». Como
bém querem trabalhar e elas não têm qual- certo que não se pode tratar como igual fazer? A interculturalidade constrói-se,
quer resposta. aquilo que é diferente... criando espaços de partilha de igual para
Para as raparigas dos 13 aos 16 anos criaram A dupla certificação e os percursos formati- igual; foi nesse sentido que os elementos
um atelier de dança que tem tido uma grande vos qualificantes completos são longos e é da AMUCIP, com o apoio da equipa do pro-
participação. Através desta actividade, além preciso sobreviver enquanto se frequenta a jecto (CESIS e DGACCP), conceberam um mó-
da fruição da música pretende-se também formação. dulo sobre a cultura cigana. A Sónia explica-
cativar as jovens para a continuação dos es- Como conseguir arranjar respostas formati- -nos: «Para a construção deste módulo foi
tudos, tendo-se já conseguido alguns resul- vas diversificadas e adequadas ao seu nível essencial termos frequentado um curso de
tados, como nos conta a Noel Gouveia. da escolaridade e das suas condições so- formação pedagógica inicial de formação de
No âmbito do «P’lo Sonho é que Vamos»
também organizaram várias tertúlias, quase Os governos deveriam incorporar uma perspectiva de género nas suas estratégias diri-
gidas às pessoas ciganas, com base em investigação rigorosa que identifique adequa-
damente os interesses e as questões que afectam as mulheres, para além do seu papel
tradicional de prestação de cuidados maternais.
(Comissão Europeia, 2004)
dossier
16
O papel da escola
face à inclusão
na rua as coisas eram bem mais feias: aos 14 Após três repetências chegou o 3.º ciclo desviá-lo da marginalidade. A escola tudo
anos já tinha ficha na polícia por roubo de te- numa escola secundária e Zeca, já com um tem feito, no sentido não de excluir o Zeca
lemóveis e assalto a viaturas. longo historial policial, pensou que as pers- mas de o integrar na comunidade escolar. Ao
Encontrou um ponto de fuga, o futebol. Na- pectivas de «negócio» se tinham alargado. mesmo tempo, a Gisela sabe, porque já falou
quele clube pequeno num bairro longe do Quando se matriculou veio com a irmã, sem- com os responsáveis, que a mesma escola
seu, Zeca afirmou-se pela positiva. Era tão pre convinha dar uma imagem inicial de ino- tudo fará para integrar todas as «Giselas»
bom quanto os melhores e nem precisava de cência, ela reparou que a escola oferecia que por lá aparecerem. O futuro torna-se
ameaçar ninguém, bastava que o deixas- uma maneira de continuar a estudar, mais mais risonho, há uma luz que brilha com
sem jogar à sua maneira. Sonhou um dia ser acessível, de acordo com a formação inicial mais intensidade no fundo deste túnel...
famoso, ganhar muito dinheiro, ter tudo o de cada um. Parecia interessante esta opor- Esta história, apesar de se terem mudado
que lhe havia sido negado. Um estúpido aci- tunidade de voltar a entrar num meio que os nomes e omitido alguns pormenores que
dente numa fuga após um roubo de uma via- lhe possibilitava outras ambições. identificavam os personagens, infelizmente
tura deixou-o coxo para o resto da vida. O Nesse ano não se matriculou, tinha de mudar é uma história verídica. Infelizmente, também
sonho esfumou-se em menos de nada. De- algumas coisas da sua vida e nesse mo- chegam às escolas todos os anos poten-
sorientado, ainda mais revoltado com tudo e mento não o conseguia fazer. Mas percebeu ciais alunos como os da história aqui contada.
com todos, Zeca achou que o dinheiro que que a escola tinha mudado, que dava mais Digo potenciais porque ainda não são alunos,
podia ser ganho no futebol também podia ser oportunidades a quem tinha interrompido o possivelmente nunca o foram e não sabemos
ganho como dealer e a escola era um mer- percurso escolar e se preocupava com os se algum dia o serão. São fundamentalmente
cado de possibilidades infindáveis. que tinham ficado pelo caminho. Uma es- jovens com problemas de integração na so-
Afundados neste abismo, Zeca e a irmã olha- cola que procurava integrar, não excluir, não ciedade e que encaram a escola como a ex-
vam para a escola com a mágoa e a revolta atirar para a rua os jovens desadaptados e tensão do sistema que os tem marginali-
de nunca terem podido fazer realmente parte «lavar daí as mãos». zado, ou porque os obrigam a cumprir regras
dela. Invejavam, desprezando, os que nela Não tem sido fácil incutir estes pensamen- ou simplesmente porque os ignoram e tudo
tinham sucesso e reconhecimento. tos na cabeça do irmão. Não tem sido fácil fazem para os excluir, expurgando a comu-
revista FORMAR
número 62 19
nidade escolar de um elemento indesejável. Neste contexto, a questão da inclusão esco- obrigados a regras de responsabilização e de
A conclusão que deste caso poderemos desde lar pode, na minha opinião, ser abordada em integração na sociedade até, por assim dizer,
já retirar é que, sem dúvida, há um caminho quatro grandes vertentes. se «curarem dos males» que a vida lhes
a percorrer pelo próprio. Tem de haver um de- proporcionou. Existem as casas abrigo para
sejo e um entusiasmo intrínsecos ao aluno, Jovens em risco escolar jovens em risco familiar mas não existem
mas a escola tem aqui um papel decisivo: A escola pública não consegue dar resposta «casas» para jovens em risco escolar ou
cabe aos professores e aos profissionais da a muitos destes casos, a meu ver porque em risco de desenvolvimento de cidadania ou
educação proporcionarem os meios para a muitas vezes não tem meios para recuperar de conhecimentos e saberes.
concretização desse caminho, têm de preo- a pessoa até esta se «tornar aluno». Que in-
cupar-se, orientar, insistir, exigir, compreen- clusão, então? A possível, a dos casos mais Aprender ao longo da vida
der e, quando for preciso, castigar. leves (acho que ainda fomos a tempo com o Uma outra área social onde a política de in-
Zeca e a irmã), aqueles casos em que ainda clusão tem funcionado é a dos alunos adul-
Que inclusão? é possível inverter o rumo através do estrei- tos com baixa escolaridade e, por conse-
A escola, enquanto espaço privilegiado de tamento das regras ou da responsabiliza- quência, com precariedade de emprego. São
apropriação e consolidação de conhecimen- ção social. pessoas que, apesar de há algum tempo já
tos, enfrenta actualmente novos desafios. Mas não sejamos idealistas ao ponto de pen- terem tomado consciência de que as habili-
Para os conseguir enfrentar e resolver com sarmos que todos podem ser integrados na tações académicas são determinantes no
êxito tem de se tornar mais flexível e aberta escola pública. Actualmente existe em Por- progresso da carreira profissional, só agora
a novas atitudes. O paradigma da escola de tugal uma franja larga de jovens que vêm de voltaram à escola, uns porque vinham trazer
preparação de elites está a ser substituído famílias completamente desestruturadas e os filhos e aperceberam-se que a escola ofe-
pelo paradigma da escola universal, da escola elas próprias já marginalizadas e socialmente recia novas oportunidades de prossegui-
«para todos». Neste sentido, cabe à escola excluídas e que não conseguem ter uma ati- mento e conclusão de estudos, outros por-
e à administração escolar prepararem e tude positiva perante a escola e aquilo que que viram a possibilidade de obterem uma
darem condições aos professores para con- ela tem para lhes oferecer. Para resolver certificação para o ofício que sempre exerce-
seguirem responder aos novos desafios de estes casos de exclusão mais acentuados de- ram e que foi aprendido no trabalho com os
forma criativa e assertiva, viabilizando o en- viam, na minha opinião, ser criadas institui- que dele sabiam (vêm da época dos apren-
sino e criando novas respostas e possibilida- ções intermédias entre a escola pública e a dizes), outros ainda pelo prazer de saber
des. «casa de correcção», onde os jovens fossem mais, por uma questão de autoformação, de
dossier
20
poder perspectivar as coisas à luz da sabedo- penhamento e existem vários casos de su- capacidades intelectuais superiores e con-
ria e não somente pelo empirismo. Estes são cesso por esse país fora de jovens em difi- seguir também motivá-los e incentivar o de-
exemplos mais felizes ao nível da actuação culdades que conseguem conquistar a sua senvolvimento das suas aptidões e talen-
da escola. Para mim, enquanto profissional autonomia. tos.
da educação, é muito gratificante ver ho- Apesar de actualmente os poderes públicos Para os professores, saber motivar os alunos
mens e mulheres mais realizados e empe- e políticos estarem suficientemente sensi- e ajudá-los a desenvolverem capacidades
nhados – são na generalidade bons alunos bilizados para esta realidade, esta é, de facto, que se situam na área da excelência e que
e servem de exemplo aos que ainda sentem uma área em que ainda há muito por fazer, são o espelho das tão em voga boas práticas,
a escola e o ensino como uma obrigação. é necessário um grande investimento. é o reverso da medalha da primeira história
que aqui contei mas que, enquanto desafio,
Necessidades educativas especiais Motivar os alunos excelentes é igualmente importante e motivador.
Existe uma terceira área onde a necessi- Com o grau de exigência das aprendizagens
dade de inclusão é premente, é a dos alunos nivelado por baixo, surgiu um fenómeno Conclusão
com necessidades educativas especiais. São novo, a desmotivação dos alunos excelen- É consensual que o acesso à educação e a
jovens com deficiências motoras, cogniti- tes, sendo esta a última grande área onde qualidade das aprendizagens no ensino bá-
vas ou sensoriais, com necessidade de acom- a inclusão escolar requer especial atenção sico são condições essenciais ao desenvol-
panhamento individualizado de acordo com – a área da excelência. Esta desmotivação vimento social e económico de qualquer so-
as suas características e que na maioria dos não é tão notória no ensino particular ou ciedade actual. Muito embora o sucesso do
casos conseguem ter um progresso acadé- nas escolas públicas que, sem qualquer tipo processo educativo dependa de todos nós,
mico normal, o que lhes confere uma maior de ética, seleccionam os seus alunos com sociedade em geral e poderes políticos, o
integração na comunidade e mais oportu- base no estrato social ou nas médias alcan- professor enquanto agente de mudança as-
nidades de escolha do emprego. Estou a falar çadas. Nas outras, nas escolas que prati- sume aqui um papel-chave. Cabe a este des-
de jovens com perturbações da personalidade cam uma política de inclusão, a heterogenei- pertar a curiosidade nos alunos, ajudá-los a
ou da conduta, com problemas de comunica- dade de nível de conhecimentos entre os descobrir objectivos, estimular o conheci-
ção ao nível da fala ou da surdez e com pro- alunos é muitas vezes extremada, colocando mento e a aprendizagem e promover as con-
blemas de visão. Não é fácil levar este barco aos profissionais da educação dois desa- dições para o sucesso do processo de ensino-
a bom porto, porque em muitos casos a es- fios: por um lado, o adoptar de estratégias -aprendizagem e, depois, avaliar, repensar e
cola não tem capacidade de se apetrechar em que permitam recuperar os alunos mais fra- recomeçar... Profissionalismo, entusiasmo e
termos dos recursos humanos e materiais cos e, por outro, terem a capacidade, a sen- resistência são conceitos fundamentais de
para lidar com estas situações. Mas o que nos sibilidade, a preocupação de identificar os jo- sucesso, quer para alunos quer, principal-
falta em recursos sobeja em engenho e em- vens que se destacam pelas suas mente, para professores.
dossier
dossier revista FORMAR
número 62 21
Querer é poder
sesse fazer na vida. Podia demorar mais ou F. > Quais as dificuldades que sentiu na im- F. > Quantas pessoas trabalham actual-
menos tempo mas tinha que mostrar que plementação do projecto? mente na empresa?
era tão capaz como qualquer outro.
Um dia, numa ida ao supermercado com o A. S. > As dificuldades iniciais não foram A. S. > Directa ou indirectamente, trabalham
meu pai, encontrámos umas pessoas por- muitas porque éramos só quatro pessoas e na empresa cerca de 70 pessoas, das quais
tadoras de deficiência a pedir esmola. O daí que não tínhamos necessidade de gran- 44 são funcionários efectivos. Do total, 70%
meu pai comentou: «Que falta de inicia- des espaço ou máquinas. «Comprar e ven- são portadores de deficiências (umas físicas
tiva... se vendessem qualquer coisa toda a der a dinheiro» foi um princípio a respeitar. e outras mentais).
gente comprava!» Esta frase ficou-me... e
mais tarde, já após o falecimento do meu pai,
recordei-me deste episódio e, um pouco
cansado de trabalhar na área da contabili-
dade, sendo dono de uma firma, resolvi
transformar a ideia em projecto e constitui
uma empresa com mais três pessoas. O
projecto consistia em fazer manualmente
chaveiros, porta-notas e outros pequenos
objectos do uso quotidiano, sendo a maté-
ria-prima constituída por peles sortidas,
compradas a monte. Depois de feitos os ob-
jectos, íamos vendê-los, realizávamos di-
nheiro, comprávamos mais peles e voltáva-
mos a fazer mais e vendíamos de novo. Era
este o processo!
revista FORMAR
número 62 23
Empreendedorismo
como veículo de
inclusão
Que perfil de competências para o em- O empreendedorismo é assumido como instrumento para
preendedor?
a transição de jovens para a vida activa, para a inclusão de
A > A aposta no empreendedorismo no grupos desfavorecidos (empreendedorismo social), para a
actual quadro de financiamento como
medida activa de emprego e de inclusão fixação de quadros altamente qualificados (empreendedo-
de públicos específicos
rismo qualificado) e para a mudança de estereótipos de
Num contexto económico actual, nacional
e mundial, em que aumenta o risco de ex- género ao nível do exercício profissional (empreendedo-
clusão duradoura do mercado de trabalho
e de maior precariedade do emprego, as
rismo feminino)
políticas e, consequentemente, os instru- zada apesar da existência de uma cultura (C&T), isto é, para o empreendedorismo qua-
mentos de apoio ao empreendedorismo ga- nacional avessa ao risco. lificado. O modelo de governação deste PO re-
nham maior relevo no quadro do actual ciclo No âmbito do QREN, aparecem sobretudo força ainda a intervenção neste domínio ao
de financiamentos (QREN1 2007-2013) e dois Programas Operacionais (PO) que apos- nível da «Igualdade de oportunidades entre
das políticas activas de emprego. O em- tam na exploração do potencial em matéria homens e mulheres» assumindo, no qua-
preendedorismo é assumido como instru- de espírito empresarial: o Programa Opera- dro da sua concepção e execução, alguns
mento para a transição de jovens para a cional Temático Factores de Competitivi-
vida activa, para a inclusão de grupos des- dade e o Programa Operacional Temático
favorecidos (empreendedorismo social), Potencial Humano (POPH).
para a fixação de quadros altamente qua- O primeiro integra o empreendedorismo nos
lificados (empreendedorismo qualificado) domínios transversais, nomeadamente no
e para a mudança de estereótipos de género que concerne ao «Tecido Empresarial, Inter- Filomena Faustino
Consultora
ao nível do exercício profissional (empreen- nacionalização e Empreendedorismo», que Coordenadora
dedorismo feminino). Esta aposta é sinali- aponta para o desenvolvimento de empresas da Quarternaire
Portugal, S.A.
1 Quadro de Referência Estratégico Nacional fortemente ligadas à Ciência e Tecnologia
revista FORMAR
número 62 25
princípios gerais: (i) «assegurar a não dis- a) Referencial de competências técnicas do empreendedor
criminação da participação feminina em do-
Pré-arranque da Empresa/Negócio
mínios relevantes para a competitividade
nacional (C&T, TIC e empreendedorismo qua- Domínios de Competência Competências técnicas
lificado)» e (ii) «divulgar informação e ac- Análise de contexto Seleccionar e interpretar a informação disponível
ções de sensibilização sobre os apoios dis- necessária à caracterização do contexto do negócio
(mercados, concorrentes, processos, recursos...)
poníveis, direccionados para públicos-alvo de
Identificar e seleccionar as instituições/prestadores de
discriminação, para a criação de empresas serviço relevantes na consolidação da ideia de negócio
Entidades de apoio técnico à formalização do «pro-
qualificadas». e formalização do «projecto»
jecto»
O POPH integra nos eixos prioritários três Transmitir objectivamente aos técnicos que encontra
nas instituições prestadoras de serviços o seu
que incluem o empreendedorismo como área «projecto»
de intervenção: Fontes/programas de financiamento Identificar, seleccionar e interpretar as várias fontes
de financiamento existentes
> o Eixo Prioritário 5 – Apoio ao Empreende- Estabelecimento de parcerias/alianças Identificar, seleccionar e estabelecer alianças
estratégicas
dorismo e à Transição para a Vida Activa,
Comunicar/dialogar de forma verbal e não verbal
contempla o apoio às iniciativas empresa- com os parceiros/potenciais parceiros
riais de base local orientadas sobretudo Negociar e obter consensos com parceiros/potenciais
para pessoas desempregadas, jovens à parceiros
procura do primeiro emprego, activos em Formulação/formalização do plano de negócios Formalizar o plano de negócios
risco de desemprego e mulheres; Legislação/procedimentos legais Identificar e compreender a legislação que contextua-
liza a área de negócio e a empresa que pretende criar
> o Eixo Prioritário 6 – Cidadania, Inclusão e
Identificar e compreender as formalidades do processo
Desenvolvimento Social, numa das suas de constituição de empresas
tipologias de intervenção – «Contratos lo-
cais de desenvolvimento social» – inte- A promoção do espírito empresarial fez-se es- B > características do empreendedor
gra a criação do próprio negócio como tipo- sencialmente através: e seu perfil de competências
logia de acção; Neste contexto de fomento do empreendedo-
> o Eixo Prioritário 7 – Igualdade de Género, (i) da desburocratização do processo de rismo importa trazer novamente à discus-
inclui o apoio ao empreendedorismo femi- constituição de novas empresas e da são alguns aspectos úteis, quer aos potenciais
nino como uma das suas tipologias de in- simplificação de vários procedimentos empreendedores quer aos facilitadores de
tervenção. administrativos; processos de empreendedorismo, parti-
(ii) da promoção do desenvolvimento do cularmente:
O enfoque no empreendedorismo no quadro espírito empresarial, facilitando o arran-
das políticas activas de emprego não é novo. que e a gestão das empresas e explo- Como se define um empreendedor? Como se
O anterior Quadro Comunitário de Apoio tinha, rando novas oportunidades de emprego. distingue um empreendedor de um não em-
comparativamente aos anteriores, uma abor- preendedor?
dagem consolidada e alargada do ponto de Neste encadeamento, o actual quadro re- > «O empreendedorismo é um comporta-
vista das políticas, orientações e instrumen- presenta uma continuidade de aposta no mento e não um traço da personalidade»,
tos de promoção do emprego, e particular- empreendedorismo como veículo de fomento (Drucker) porque o indivíduo empreende-
mente das formas de financiamento para a do emprego e da inclusão de grupos especí- dor manifesta-se através do que faz acon-
criação de novas empresas e para a promo- ficos (jovens à procura do primeiro emprego, tecer, pela combinação de competências,
ção da inovação e modernização empresa- activos em risco de desemprego, mulheres, técnicas e sociais/relacionais, transfor-
rial. Estas políticas e instrumentos encontra- quadros altamente qualificados, etc.), orien- mando-as em capacidades (conceito não
vam-se, a partir de 1998, formalizadas nos tado principalmente para a promoção de restritivo, porque integra o intra-empreen-
Planos Nacionais de Emprego. novas iniciativas empresariais. dedorismo).
dossier
26
que as pessoas assumem compromissos > «O empreendedor é o indivíduo capaz de Fase de arranque e desenvolvimento do negócio
familiares, sobrepõe-se o bem-estar fami- actuar segundo esta dinâmica, assimi- Ser imaginativo/criativo
liar e a boa relação com a banca, através do lando a informação, integrando os conhe- Ser um sonhador/»ter um sonho»
cumprimento dos pagamentos das presta- cimentos e transformando as competên- Ser inovador e manter o ritmo de inovação constante-
mente no contexto do negócio/empresa
ções mensais, em detrimento do risco. cias em capacidades.» Gostar do risco/gostar de «jogar»
Ter coragem/tomar atitudes ou decisões quando elas
Como se desenvolve a atitude empreende- têm que ser tomadas/reagir de forma rápida e eficaz
dora? Ter autonomia
Ser ousado/»atrevido»
Ter/ser perseverante/ «teimoso»
Ser optimista
Acreditar naquilo que quer fazer e no que está a fazer
Criar uma identidade/uma imagem da empresa
(através da sua pessoa)
Focar-se no essencial e não dispersar
Observar/estar atento ao meio que o rodeia
Pensar a longo prazo (prospectivo)
Agir por antecipação (proactivo)
Demonstrar apetência por desafios
Lidar com situações não rígidas (salários, férias,
horários...)
Aprender > transformação da informação em conhe- Lidar com situações de stress
cimento (educação formal).
Apreender > aquisição de competências através da in- Lidar com as situações de fracasso/insucesso
tegração dos conhecimentos adquiridos – aplicação Fazer das situações experienciadas uma
dos conhecimentos em novas situações que permite aprendizagem
estabelecer um «saber-fazer». Ter vontade de aprender e aprofundar informações
Empreender > transformação das competências em e conhecimentos relevantes para a actividade que
capacidades: «fazer-com-saber». O indivíduo empreen- desenvolve
dedor possui combinações únicas de competências, > Os projectos nascem do cruzamento (A)
que se manifestam através daquilo que ele «faz acon- entre as aspirações do empreendedor (B),
tecer».
(Veloso & Felizardo, 1998)
da percepção das suas competências e Bibliografia
recursos (C) e da sua percepção das opor- Boterf, G., L’ingénierie des competences, Paris, Éditions d’Or-
ganisation, 1998.
Que perfil de competências deve ter um em- tunidades ou possibilidades que oferece o Bruyat, C., «Créer ou ne pas créer? Une modélisation du
preendedor? ambiente (D). processus d’engagement dans un projet de creation d’en-
treprise», in Revue de l’Entrepreneuriat, vol. 1, n.º 1, 2001,
pp. 25-42.
Fases de mobilização Domínios de competências
Faustino, Filomena (coord.), «Carta de Competências do
de competências Empreendedor», desenvolvido no âmbito do projecto De-
senvolvimento Empresarial de Loures, PIC-EQUAL, polico-
Funcionamento
> Pós-arranque do negócio > Gestão corrente e estratégica (Comercial, Recursos Huma-
nos, Financeira e Organizacional
piado, 2004.
Competências Técnicas/Instrumentais
> Liderança
> Inovação/criatividade
Ideia
> (...)
análise crítica
28
Os trabalhadores
seniores face
ao mercado
de trabalho
não de desemprego) estão sub-representa- 3 Instituto do Emprego e Formação Profissional (2006) Síntese dos Progra- 5 Centeno, L. (Coord.) (2000). Os trabalhadores de meia-idade face às rees-
mas e Medidas de Emprego e Formação Profissional (Dezembro 2006). truturações e políticas de gestão de recursos humanos. Observatório do Em-
dos na população aprendente: segundo dados Disponível em www.iefp.pt (estatísticas e publicações). prego e Formação Profissional, Colecção «Estudos e Análises», n.º 30.
análise crítica
30
níveis de qualificação dos mesmos, i.e., os der a forte taxa de abandono do mercado de Saliente-se que a promoção do envelheci-
trabalhadores de meia idade e mais idosos trabalho por parte dos trabalhadores mais ve- mento activo não é (ou não tem de ser) si-
posicionados no topo da tabela das qualifica- lhos, que se estima que seja de cerca de nónimo de uma obrigatoriedade de perma-
ções são mais dificilmente substituíveis6. O 20% 11 e estão associados a maiores níveis de nência na vida activa após a idade legalmente
Relatório Employment in Europe (2004)7 re- perturbação psicológica nos desemprega- estabelecida para a reforma actualmente.
vela uma redução de 14% e um aumento de dos com mais de 40 anos12. Mais do que aumentar a idade mínima de
36% na probabilidade de encontrar emprego elegibilidade a este mecanismo, reforçamos
para os trabalhadores com baixos e elevados Promover o envelhecimento activo que o desafio deverá consistir em criar con-
níveis de qualificação, respectivamente. O estímulo sustentado ao envelhecimento dições para que uma proporção mais ele-
activo implica, pois, a implementação de es- vada de pessoas actualmente no grupo
Discriminação baseada na idade tratégias que tenham como princípio orien- etário dos 40-64 anos que, como vimos,
Com forte impacto na relação entre os traba- tador a adopção de uma abordagem preven- apresenta dificuldades de sustentabilidade
lhadores seniores e o mercado de trabalho tiva e promotora do acesso, manutenção e do emprego, se mantenha activa.
destaca-se, ainda, a discriminação baseada progressão no emprego e que contrariem os
na idade8 de que estes trabalhadores são factores que ameaçam a continuidade dos tra- Aprender ao Longo da Vida
frequentemente vítimas e cujo reconheci- balhadores mais velhos no mercado de tra- Tomando na devida conta os já referidos gra-
mento e combate efectivos parecem ser balho. ves défices de qualificação escolar e profis-
constantemente ignorados pelas políticas Consideram-se, assim, positivas as medidas sional (certificada) da população activa por-
que visam o envelhecimento activo (ou, pelo presentes na nova Estratégia Nacional de tuguesa, em particular os dos trabalhadores
menos, nelas não constam de forma explí- Envelhecimento Activo13 que visam aumen- mais velhos, além das novas exigências do
cita)9. tar o emprego e combater o desemprego dos mercado de trabalho, a sequência rígida
Os estereótipos que estão na base da discri- trabalhadores idosos, como a isenção da «educação-trabalho-reforma»15 deve ser de-
minação pela idade resultam muitas vezes Taxa Social Única na contratação de trabalha- finitivamente quebrada, pois no contexto ac-
de generalizações super-simplificadas que dores idosos e os apoios à contratação de tra- tual a aquisição de novos conhecimentos, o
geram crenças erradas relativas ao desem- balhadores idosos. No entanto, sem uma mu- desenvolvimento de novas competências,
penho profissional, capacidades de aprendi- dança radical na atitude dos empregadores a actualização, o aperfeiçoamento ou a recon-
zagem e motivação para a formação da po- relativamente às supostas desvantagens da versão profissional são determinantes nas
pulação em questão e que estão presentes contratação dos trabalhadores seniores14 diversas, e crescentemente mais frequentes,
mesmo em situações em que a competên- pensamos que estas medidas não terão a descontinuidades da carreira e do desenvol-
cia e qualificações dos mais velhos são com- repercussão esperada. Do mesmo modo se vimento vocacional dos indivíduos.
paráveis às dos trabalhadores mais novos10. reconhecem como positivas todas as medi- A promoção do envelhecimento activo não
A percepção de discriminação, e o conse- das que promovam a qualidade do emprego, pode, assim, ser desligada da promoção de
quente desencorajamento face à perspectiva definida pela presença de boas condições uma cultura de aprendizagem ao longo da
de encontrar um novo emprego, parecem de saúde e segurança no trabalho, flexibilidade vida que inclua os trabalhadores seniores. As
ser os principais motivos para compreen- na organização do trabalho e acesso à forma- pessoas só planearão e concretizarão acti-
6 c.f. n.º 5
ção, e que tornem financeiramente vanta- vidades coerentes de aprendizagem ao longo
7 http://ec.europa.eu/employment_social/news/2004/sep/eie2004_en.html joso permanecer no mercado de trabalho. das suas vidas se quiserem aprender 16, i.e.,
8 A discriminação baseada na idade consiste em decisões tomadas por um se estiverem motivadas para tal, e a motiva-
empregador relativamente a um determinado indivíduo, em qualquer fase 11 c.f. n.º 5
de um contrato de trabalho (desde o processo de selecção até ao termo do ção e atitudes face à aprendizagem são fac-
contrato), que são apenas baseadas na sua idade cronológica [Sargeant, M. 12 Sousa Ribeiro e Coimbra (2006) Os desempregados seniores e a procura
(2001). «Lifelong learning and age discrimination in employment.» Educa- de emprego: Estudo exploratório. Comunicação apresentada na III Conferên- tores de grande plasticidade, susceptíveis de
tion and the Law, 13, 2, 141-153]. cia «Desenvolvimento Vocacional: Carreira e Longevidade», organizado
pelo Instituto de Educação e Psicologia da Universidade do Minho.
9 Apesar de esta forma de discriminação ser proibida na directiva sobre igual-
dade no emprego (2000/78/CE), transposta para a legislação portuguesa 13 Consultar a «Proposta de Reforma das Políticas Activas de Emprego» dis- 15 Jones, H. (2005). «Lifelong learning in the European Union: Whither the Lis-
com a Lei do Código do Trabalho 99/2003 e com a Lei 35/2004 que o regu- ponível em http://www.mtss.gov.pt/preview_documentos.asp?r=989&m=PDF bon Strategy?» European Journal of Education, 40, 3, 247-260
lamenta. 14 Consultar a campanha «Pela diversidade. Contra a discriminação», uma ini- 16 Comissão Europeia (2000). Memorando sobre Aprendizagem ao Longo da
10 Warr, P. (1998) «Age, Work and Mental Health.» In K. Schaie & C. Schooler ciativa da União Europeia que está disponível em http://www.stop-discri- Vida. Documento de trabalho dos serviços da comissão. Bruxelas: SEC
(Eds), Impact of Work on Older Workers. New York: Springer mination.info (2000) 1832.
revista FORMAR
número 62 31
desempenharem um papel central no su- ridas pela participação em acções de apren- dependentes dos níveis de qualificação e de
cesso na confrontação com tais oportuni- dizagem, por que razão quererá aprender? competências dos cidadãos, logo dos res-
dades17, superando o papel da capacidade Desnecessário será assinalar o risco envol- pectivos investimentos que estes neles rea-
cognitiva dos aprendentes18. Quando fala- vido na ligação directa entre aprendizagem lizem.
mos da promoção de uma orientação para a ao longo da vida e empregabilidade em socie- Parece da maior pertinência perceber qual o
aprendizagem ao longo da vida a palavra- dades, como a nossa, em que os empregos significado que a aprendizagem tem para
-chave deverá ser, assim, antes de mais, a disponíveis são insuficientes e, portanto, in- os indivíduos e tornar a aprendizagem ali-
promoção da motivação para aprender, para
que se torne viável o desenvolvimento do
equipamento psicológico que optimize a
qualidade das aquisições19.
Apesar de muito próxima da noção de promo-
ção da empregabilidade, a valorização so-
cial e profissional do investimento em edu-
cação e formação ao longo da vida não
deverá, no entanto, ser exclusivamente as-
sociada a esta. Tal como é referido no «Me-
morando sobre Aprendizagem ao Longo da
Vida», publicado em 2000: «[...] a emprega-
bilidade é, sem dúvida, um resultado funda-
mental de uma aprendizagem bem suce-
dida, mas a inclusão social assenta em outros
aspectos que não apenas a garantia de um
trabalho remunerado. A aprendizagem abre
as portas à construção de uma vida produ-
tiva e satisfatória, muito para além das pers-
pectivas e situação de emprego de um indi-
víduo» (p. 10). Dada a conjuntura actual,
não favorável à continuidade dos trabalhado-
res seniores no mercado de trabalho, como
motivar os indivíduos para a aprendizagem
ao longo da vida se esta estiver excessiva-
mente ligada ao emprego (e se, simultanea-
mente, a pessoa se perceber como pouco
valorizada por um mercado que a considera
«velha»)? Por outras palavras, se a pessoa
não sentir no contexto laboral uma recepti-
vidade para as novas competências adqui-
ciante, salientando-se o seu papel na pro- de auto-eficácia para a aprendizagem (grau A promoção da auto-eficácia para a apren-
moção da realização pessoal, do bem-estar, em que o indivíduo está confiante de que dizagem poderá ser facilitada pela parti-
da auto-estima, de uma cidadania mais ac- será bem sucedido numa situação de apren- cipação dos trabalhadores seniores em
tiva, da motivação para continuar a aprender dizagem22), maior a orientação do indivíduo processos de Reconhecimento, Validação
e/ou da empregabilidade, considerando-se para a aprendizagem ao longo da vida (defi- e Certificação de Competências (RVCC),
todos estes possíveis atractivos em con- nida como um desejo e disponibilidade para nos quais se assume que a aprendiza-
junto. compreender novos conceitos e desenvolver gem ocorre ao longo da vida, com a vida e
Um dos estudos desenvolvidos no âmbito ou aperfeiçoar competências) e, consequen- em todos os domínios da vida, permitindo-
da investigação de Sousa Ribeiro e Coim- temente, mais intensa a sua intenção de fre- -se, assim, o reconhecimento, valoriza-
bra20 sugere que a participação em acções quentar formação profissional no curto prazo. ção, validação e certificação de todo
de formação profissional pode ser promo- A promoção da auto-eficácia para a apren- o capital que o indivíduo possui e que,
tora do bem-estar psicológico (os partici- dizagem – um objectivo ainda infrequente muitas vezes, é desconhecido e/ou des-
pantes desempregados que se encontra- nas intervenções formativas junto de adul- valorizado pelo mercado e pelo próprio.
vam a frequentar formação profissional tos – é, assim, fundamental quando se pre-
apresentavam níveis mais elevados de satis- tende motivar as pessoas para a construção Reflexões finais
fação com a vida e inferiores níveis de de projectos de vida que contemplem o in- Apesar de os trabalhadores seniores
desânimo e perda de confiança do que os vestimento pessoal em oportunidades de serem considerados um grupo estraté-
participantes desempregados que não se aprendizagem, pois baixos níveis de auto-efi- gico para o desenvolvimento sustentável
encontravam a frequentar formação profis- cácia para a aprendizagem podem bloquear da União Europeia nos próximos anos, por
sional), e que a frequência de um curso de o envolvimento dos indivíduos no acto de razões que se prendem com o rápido en-
formação proporcionou o acesso a, pelo aprender pelo receio de fracassarem ou de velhecimento demográfico, apresentam
menos, duas das funções latentes do traba- não serem capazes de aprender e pela maior actualmente dificuldades de sustentabi-
lho (estruturação do tempo e propósito co- vulnerabilidade à intolerância ao fracasso lidade no emprego sobre as quais importa
lectivo), propostas por Jahoda21 como corres- (um elemento indispensável para apren- reflectir. Para que a equação «longevi-
pondendo a necessidades sociopsicológicas der), além da correlativa mais elevada pro- dade pessoal = longevidade profissional»
intrínsecas à relação do indivíduo com o tra- babilidade para a desistência e desinvesti- seja uma realidade, as políticas activas
balho salientando, assim, a importância da mento face a obstáculos ou desafios de emprego deverão contemplar medidas
sua privação em situação de desemprego. (tendencialmente percebidos como intrans- que impulsionem efectivamente o enve-
Os resultados de uma outra investigação de poníveis). lhecimento pessoal e profissionalmente
Sousa Ribeiro e Coimbra sugere que a percep- Estes aspectos são particularmente impor- enriquecido através da promoção da qua-
ção da utilidade de frequência de formação tantes quando se trata de trabalhadores se- lidade do emprego, do combate a todos os
profissional é a variável que melhor prediz a niores formalmente pouco escolarizados, factores que ameaçam a continuidade dos
intenção de frequência de formação profis- que abandonaram precocemente o ensino trabalhadores mais velhos no mercado
sional a curto prazo. Para que as pessoas formal obrigatório, tendo vivido uma experiên- de trabalho (principalmente os seus dé-
se sintam motivadas para aprender é funda- cia escolar pouco gratificante na esmaga- fices nos níveis de qualificação escolar
mental, por isso, que percebam vantagens no dora maioria dos casos, conducente ao de- e profissional formalmente reconhecidos
investimento pessoal em acções de apren- senvolvimento de uma atitude de hostilidade, e a discriminação baseada na idade) e do
dizagem. O mesmo estudo evidencia tam- desconfiança e até de defesa relativamente estímulo à disponibilidade, motivação e
bém que, quanto mais forte o sentimento à educação/formação23. capacidade para aprender, no quadro de
um processo de desenvolvimento pes-
20«A Vivência do Desemprego na Meia-idade e suas Consequências Psicos- 22Lim, G. & Chan, A. (2003). «Individual and situational correlates of moti-
sociais», que integra três estudos desenvolvidos junto de indivíduos em- vation for skills upgrading: An empirical study.» Human Resource Develop- soal e vocacional, que cada sénior dese-
pregados e desempregados com idade igual ou superior a 40 anos. Centro ment International 6, 2, 219–242.
de Desenvolvimento Vocacional e Aprendizagem ao Longo da Vida da Facul- 23Crossan, B., Field, J., Gallacher, J. & Merrill, B. (2003). «Understanding par-
javelmente deve protagonizar tomando
dade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto.
ticipation in learning for non-traditional adult learners: Learning careers «nas suas mãos» as rédeas da tarefa de
Jahoda, M. (1982) Employment and unemployment. A socio-psychological
21 and the construction of learning identities.» British Journal of Sociology of
analysis. Cambridge: Cambridge University Press. Education, 24, 1, 55-67. fazer a sua história.
análise crítica revista FORMAR
número 62 33
Por um mercado
de trabalho sem
discriminações
Uma etapa num percurso europeu A EQUAL é um programa que visa promover a expe-
A EQUAL constitui a terceira geração de pro-
gramas de iniciativa comunitária, financiados rimentação de abordagens inovadoras na resolução
pelo Fundo Social Europeu, e inscreve-se
num percurso realizado pela Comissão Eu- de problemas relacionados com o combate à discri-
ropeia e pelos Estados-membros com o ob-
jectivo de perceber como podemos melhorar
minação no acesso e no mercado de trabalho, para
as intervenções destinadas a promover a que os seus resultados possam, posteriormente, ser
inserção no mercado de trabalho dos gru-
pos mais desfavorecidos. integrados nas práticas e políticas nacionais e repro-
A necessidade de inovar as práticas e as
políticas sociais radica na constatação de duzidos em maior escala
que um número crescente de pessoas fica
à margem dos sistemas de educação, forma- Quando chegamos à EQUAL estamos perante que asseguram respostas integradas aos
ção e emprego ou, quando neles participa, uma abordagem fundada numa experimen- problemas dos públicos-alvo, numa base ter-
dificilmente se insere num mercado de tra- tação que envolveu muitos milhares de pes- ritorial, que envolvem e responsabilizam os
balho de forma duradoura e num emprego soas e de entidades além de recursos finan- públicos-alvo na concepção e implementa-
sem discriminações, constatação esta feita ceiros importantes, a nível europeu e ao
não só no plano nacional como no plano eu- longo de muitos anos, e não perante uma
ropeu. «ideia» de alguém ou de alguma entidade,
Neste percurso feito pela Comissão Euro- por mais qualificada que seja. É por todas
peia em conjunto com os Estados-mem- estas razões que as intervenções da EQUAL
bros, com quase duas décadas, o enfoque e assentam em parcerias, envolvendo entida-
os objectivos foram evoluindo à luz da expe- des de natureza diversa e complementar
rimentação que foi sendo feita e das apren- (organismos públicos, entidades formadoras, Ana Vale
Gestora do PIC EQUAL
dizagens dela resultantes. parceiros sociais, ONG, IPSS, empresas, etc.)
análise crítica
34
Etapas Objectivos
Constituindo-se como uma resposta inova-
dora aos problemas crescentes de delinquên-
1 > Definir prioridades Identificar necessidades de inovação nas soluções e respostas con-
cia juvenil e abandono escolar precoce, o
vencionais com o contributo de sectores diversificados da sociedade.
projecto «GPS - Gerar Percursos Sociais» de-
senvolveu um programa de Competências
2 > Conceber e testar Experimentar novas abordagens e novas práticas e conceber novas
Pessoais e Sociais, cujos bons resultados se
soluções, recorrendo à partilha de ideias e recursos e ao envolvimento
devem, em grande parte, ao modelo teórico do
e contribuição activa de parceiros e beneficiários.
programa que identificou, de uma forma muito
clara, as diferentes variáveis foco de uma in-
3 > Validar Promover a melhoria e o reconhecimento social das novas soluções
tervenção desta natureza e ao empowerment
tendo por base várias dimensões da qualidade, com recurso ao
dos jovens participantes.
feedback e análise crítica de peritos, de pares e dos próprios bene-
ficiários.
Acção 3, consagrada à disseminação e trans-
4 > Disseminar e transferir Proceder à difusão de novas soluções e à sua transferência para as
ferência dos produtos e resultados. políticas e práticas de outras organizações interessadas na sua
A experiência mostrou que o percurso des- apropriação e incorporação.
tas três etapas é fundamental ao processo
de inovação. A cada uma delas está associado 5 > Avaliar (on-going) Medir o impacto das novas soluções nas competências das pessoas
(beneficiários e agentes), nos processos de trabalho e nos «servi-
tempo e recursos financeiros próprios e a sua
ços» das organizações envolvidas e no grau de satisfação dos be-
individualização ajuda, por um lado, os ope- neficiários, numa óptica de melhoria contínua e da consolidação e
radores a organizarem-se e, por outro lado, sustentação de resultados.
no final de cada etapa permite fazer um ba-
lanço sobre o trabalho realizado e a justifica-
ção ou não de se passar à etapa seguinte. Factores dinamizadores do ciclo jectivo. Se estas condições não estiverem
A cada uma destas etapas está também as- da inovação reunidas dificilmente haverá inovação.
sociado um processo inovador, na medida em Quando afirmamos que a inovação produ-
que por todas elas perpassam os princípios zida na EQUAL é induzida pelo grau de incor- O papel dos programas experimentais
EQUAL, indutores eles mesmos de inovação. poração dos princípios EQUAL, o que estamos Se no contexto da inovação tecnológica ou
a dizer é que a inovação emerge da criação nos processos produtivos ninguém põe em
O ciclo da inovação de um contexto favorável para esse efeito, da causa a necessidade de se passar por uma
O modelo de intervenção EQUAL encontra sua valorização e da alocação de tempo e de fase inicial de concepção do produto, da sua
tradução no ciclo da inovação expresso no recursos humanos e financeiros a esse ob- experimentação e prototipagem, o mesmo
diagrama a seguir. não acontece quando estamos a falar de
inovação social. Neste domínio, o carácter ex-
O projecto «e-Change» propôs-se testar duas
figuras de organização do trabalho num quadro
perimental é muitas vezes assumido como
de gestão das transições. Estas duas figuras, marginal, sem impacto e desvalorizado.
complementaridade entre actividades e agru- Uma das observações que é usual ouvir-se
pamento de empregadores, propõem funda- a propósito desta temática é a de que os
mentalmente uma reorganização dos tem-
projectos experimentais, de pequena dimen-
pos de trabalho, bem como uma diferente
afectação destes em actividades comple-
mentares – no caso da primeira figura. Visam A Metodologia ENE – Empreender na Escola,
contribuir para responder ao aumento da pre- desenvolvida pelo projecto ENE nasceu para
carização do mercado de trabalho e para uma promover o espírito empreendedor através
tendência crescente de trajectórias profis- do ensino e da aprendizagem nas escolas, re-
sionais progressivamente mais instáveis e velando-se um importante recurso na «edu-
segmentadas. cação para a cidadania» dos jovens do en-
sino secundário e escolas profissionais.
análise crítica
36
Comunicar em
formação
cultura formativa nas autoscopias iniciais logo no início da sessão. Argumentam que
dos cursos de Formação Pedagógica de For- isso os obriga a escrever tudo o que está
madores. A principal preocupação da maio- em cada slide e que assim não têm capaci-
ria pessoas nessa situação é preparem muito dade de participar! E o mais inacreditável é
bem um tema, apoiado por um «fantástico» que muitos formadores cedem a este tipo de
Powerpoint que lhes possa servir de muleta «reivindicação», tornando-se reféns da sua
«à matéria que têm que leccionar». Tra- suposta estratégia de estimulação senso-
tando-se de pessoas que a maioria das vezes rial. Também sabemos que muitos formado-
ainda não são formadores, esta atitude é re- res o fazem porque acham que ao forne-
veladora não só do estereótipo que possuem cerem cópia do Powerpoint ficarão «dispen-
relativamente à função do formador em sala sados» de escrever textos de apoio, guias de
guém aprende se não quiser aprender, a so- mas também da experiência que acumula- aprendizagem interactivos ou outros supor-
lução é mesmo começar por conseguir que ram ao longo dos anos nos contextos for- tes cuja elaboração está, efectivamente,
as pessoas exprimam as motivações que mativos que frequentaram (ensino secundá- muitas vezes para além das suas reais com-
as levaram a estar ali, as suas expectativas, rio, ensino superior e, eventualmente, petências pedagógicas.
aquilo que já sabem, as experiências pes- formação profissional). É um facto que A reforçar a ditadura do Powerpoint e a fa-
soais e profissionais que já viveram e as quando o Powerpoint assume demasiado vorecer ainda mais o total fracasso de co-
conclusões que daí tiraram. Com base nisso, protagonismo em sala capta de tal maneira municação/interacção pedagógica em sala
o formador terá criado um terreno profícuo a atenção dos participantes e ocupa-os de estão os Powerpoint cheios de texto, es-
e indispensável para conseguir avançar e tal forma a observá-lo e a tirar as notas que quemas complicados, efeitos de animações
promover aprendizagens com significado. os mesmos deixam, naturalmente, de ser personalizadas cansativas ou ridículas e
estimulados a interagir quer com o formador, outras aberrações comunicacionais que
2.º mito: A formação é mais efectiva quando quer com o resto do grupo. Vou até mais infelizmente muitos formadores ainda acre-
faz apelo aos sentidos, logo o formador não longe! A afirmação do Powerpoint na nossa ditam que lhes permitirão brilhar face ao
pode dispensar os meios audiovisuais para cultura formativa é de tal ordem que muitos grupo.
comunicar com eficácia. participantes exigem que o formador lhes Coitado do Powerpoint, coitados dos nossos
Está certo! Captamos o mundo através dos forneça cópia do mesmo. Efectivamente, sentidos, coitada da interacção pedagógica
sentidos e por isso aprendemos melhor muitos participantes ficam chocados se não mas, pior que tudo, coitada da aprendiza-
quando somos estimulados pelos meios ade- lhes for fornecida uma cópia do Powerpoint gem!
quados, diversificados e com significado.
Pois é! Só que o problema é que já não há
(quase) nenhum formador que consiga dis-
pensar a ditadura do Powerpoint. É impres-
sionante como, em poucos anos, a comuni-
dade formativa conseguiu reduzir, por
excesso de uso, a eficácia de um meio que
deveria ser tão poderoso como o da comuni-
cação visual. O Powerpoint, esse suposto
poderoso auxiliar à comunicação, assume
hoje, a maior parte das vezes, um protago-
nismo excessivo na interacção em sala. Um
protagonismo que lhe é conferido não só
pelo formador mas também pelos partici-
pantes. Podemos facilmente verificar esta
actuais
40
Criatividade
das mulheres
em meio rural
Prémio Internacional
atribuído às Capuchinhas
As Capuchinhas, CRL são uma empresa de máquinas e material e possibilitou uma curta Começaram, desde logo, a participar em fei-
produção e venda de vestuário artesanal, formação em gestão de negócio, tendo a Câ- ras de artesanato. Foi assim que se foram
feito de linho, lã e burel (que é também lã mas mara de Castro Daire cedido a antiga Escola dando a conhecer e que começaram a rece-
tratada de forma especial) tradicionais da Primária de Campo Benfeito, que já não fun- ber encomendas, o que as levou a ampliar o
região. Estão localizadas em Campo Ben- cionava havia anos, e até hoje serve de ins- tipo de trabalhos que faziam, iniciando a te-
feito, a cerca de 20 km de Castro Daire, numa talações às Capuchinhas. Antes, em 1985 e celagem em teares manuais, que compraram,
pequena aldeia de 50 habitantes. Estão or- 1986, tinham frequentado formação profis- bem como outras máquinas.
ganizadas em cooperativa – seis sócias –, sional em corte e costura, no âmbito de pro- É aqui, com a «pressão do mercado», que se
exercendo a actividade a tempo inteiro ape- gramas especialmente dirigidos a mulheres profissionalizam. Aprendem as antigas téc-
nas quatro delas. São mulheres que quiseram de zonas rurais. nicas de tecelagem com pessoas mais velhas
preservar as tradições da sua região e, ao Inicialmente confeccionavam, a partir de an- da aldeia e associam ao seu trabalho um ele-
mesmo tempo, desenvolver uma actividade tigos lençóis de linho e de mantas de farrapo, mento fundamental – o estilismo. A D. Maria
rentável que lhes permitisse continuar a coletes e capuchas tradicionais usadas na re-
viver na sua aldeia. gião desde há muito, especialmente por
quem trabalhava os campos ou guardava
Como nasceu o projecto... gado. A capucha, capa tradicional castanha,
O projecto nasceu em 1987. Receberam um feita de burel (lã de ovelha especialmente
apoio para criar a sua empresa, no âmbito das prensada), é praticamente impermeável.
medidas activas de emprego do IEFP, IP, con- Quem as usava ficava bem protegido da Luísa Falcão
cretamente a medida Iniciativa Local de Em- chuva e do frio intenso que se faz sentir, no Técnica Superior
Consultora do IEFP, IP
prego. Esse apoio permitiu a aquisição de Inverno, por estas paragens.
revista FORMAR
número 62 43
Creative Commons
-licença para
utilizar!
Origem histórica
Com este artigo pretende-se alertar para a neces-
Em 2001, Lawrence Lessig, professor da
Universidade de Stanford, nos Estados Uni- sidade de partilha de conteúdos entre os formado-
dos, formalizou a primeira versão da li-
cença Creative Commons. Na sua opinião, res. Esses conteúdos podem já ser suportados por
as leis de protecção dos direitos de autor,
definidas pelas entidades competentes,
uma licença que identifica claramente o seu âmbito
eram (são) tão limitativas que qualquer de utilização, garantido assim a sua correcta aplica-
uso que se possa dar a parte de uma obra,
independentemente da sua natureza, pode ção bem como os direitos do autor e do utilizador
ser passível de processo. Além disso, o
próprio autor fica limitado pelo contrato a necessidade de desenvolver uma acção que detém os direitos sobre os mesmos.
celebrado com as entidades, não podendo de formação prende-se com a parca dispo- Os formadores têm simultaneamente difi-
ceder autorização para o uso de uma das nibilidade dos conteúdos de suporte à culdade em partilhar os seus documen-
suas obras parcialmente ou na totalidade acção de formação. Não só existem poucos tos, o que na minha opinião acontece de-
para outros fins, mesmo que seja para uti- recursos disponíveis, como estão centra- vido a vários factores, nomeadamente não
lizar em trabalhos escolares! lizados em instituições de difícil acesso. estarem tecnicamente seguros do con-
Foi no sentido de diminuir estas limitações Normalmente o formador prefere compilar
e flexibilizar a utilização, a execução e a dis- informação da Internet e transformá-la em
tribuição dos mais diversos tipos de obras conteúdos em função dos objectivos das
que Lawrence Lessig criou a licença Crea- unidades de formação. Esta informação,
tive Commons. pela sua facilidade de obtenção na Internet,
dá uma falsa ilusão de ser gratuita e livre
César Teixeira
A partilha de conteúdos de direitos de autor, o que é falso. Qual- Centro Nacional de
Uma das grandes dificuldades dos forma- quer tipo de conteúdo escrito, áudio, vídeo Qualificação de
Formadores
dores quando se vêem confrontados com e multimédia, foi desenvolvido por um autor
revista FORMAR
número 62 47
teúdo do documento, não terem sido pagos Conhecimento UMIC, pela Faculdade de Atribuição – Uso Não Co-
pelos conteúdos que tiveram que desenvol- Ciências Económicas e Empresariais da mercial – Partilha nos Ter-
ver, terem consciência de que parte dos Universidade Católica Portuguesa e pela mos da Mesma Licença (by-sa)
elementos não são da sua autoria e recea- INTELI, Inteligência em Inovação, sendo a Quando um autor opte pela concessão de
rem ser penalizados por infringirem os di- sua utilização gratuita. tal licença pretenderá, não só que lhe seja
reitos de autor. dado crédito pela criação da sua obra, como
Ao contrário de outros países, em que as co- Tipos de licenças – fonte UMIC também que as obras derivadas desta
munidades de práticas existem desde o sejam licenciadas nos mesmos termos em
início do corporativismo, em Portugal as Atribuição (by) que o foi a sua própria obra. Esta licença é
comunidades de práticas são praticamente Esta é a licença mais permissiva do leque muitas vezes comparada com as licenças
inexistentes. de opções. Nos termos desta licença a uti- de software livre.
Ultimamente, com a massificação da Inter- lização da obra é livre, podendo os utiliza-
net, têm surgido muitas comunidades de dores fazer dela uso comercial ou criar Atribuição – Uso Não Co-
práticas virtuais subordinadas aos mais va- obras derivadas a partir da obra original. É mercial – Proibição de Realização de Obras
riadíssimos temas. No âmbito da educação- apenas essencial que seja dado o devido Derivadas (by-nc-nd)
-formação existem já algumas que para crédito ao seu autor. Esta é a licença menos permissiva do leque
além do objectivo de desenvolverem o co- de opções que se oferece ao autor, permi-
nhecimento dentro da comunidade tam- Atribuição – Partilha nos Termos tindo apenas a redistribuição. Mediante a
bém possuem uma área de partilha de da Mesma Licença (by-sa) adopção desta licença, não só não é per-
conteúdos. Em Portugal, como exemplo Quando um autor opte pela concessão de mitida a realização de um uso comercial
de algumas destas comunidades temos o tal licença pretenderá, não só que lhe seja como é inviabilizada a realização de obras
portal dos formadores Forma-te, o pro- dado crédito pela criação da sua obra, como derivadas. Dada a sua natureza, esta li-
jecto Ciência na Escola da Faculdade de também que as obras derivadas desta cença é muitas vezes chamada de licença
Ciências e Tecnologia da Universidade Nova sejam licenciadas nos mesmos termos em de «publicidade livre».
de Lisboa, Escola Superior de Educação que o foi a sua própria obra. Esta licença é
de Viseu, do Instituto Politécnico de Viseu, muitas vezes comparada com as licenças
o Portal de Tecnologias Educativas UDUCA- de software livre. Tutoriais
TIC. O portal Edu2.0 e o portal Institucional
Nacional Training Information Services Atribuição – Proibição de realiza- Atribuir uma licença Creative Commons para
NTIS, são alguns dos exemplos de portais ção de obras derivadas (by-nd) um site ou blog.
disponíveis no estrangeiro. O site interna- Esta licença permite a redistribuição comer-
cional da Creative Commons possui um cial ou não comercial, desde que a sua obra Neste tutorial vamos criar o código html
motor de busca específico dos mais di- seja utilizada e não seja alterada na sua ín- de uma licença Creative Commons para
versos tipos de conteúdos partilhados sob tegra. É essencial que seja dado o devido colocar num site, blog, wiki, em qualquer
a sua licença. crédito ao autor da obra original. documento que suporte linguagem html.
Ainda que a versão portuguesa da licença
Creative Commons esteja disponível desde Atribuição – Uso não comercial
2006, a sua utilização continua a ser re- (by-nc)
duzida e incipiente, apesar de haver já De acordo com esta licença o autor per-
contributos de utilizações válidas da mite uma utilização ampla da sua obra,
mesma. contudo limitada pela impossibilidade de se Aceder ao site Creative Commons no re-
A licença Creative Commons foi traduzida obter através dessa utilização uma van- gisto de licenças em português.
e adaptada para o quadro jurídico portu- tagem comercial. É essencial que seja dado 1 > Aceda através do endereço http://crea-
guês pela Agência para a Sociedade de o devido crédito ao autor da obra original. tivecommons.org/licence/?lang=pt.
instrumentos de formação
48
Links úteis
Forma-te >
http://www.formate.com/index.php?option=co
m_docman&Itemid=90
Faculdade de Ciências e Tecnologia, UNL >
http://ruby.dcsa.fct.unl.pt/moodle/course/vie
w.php?id=24
Escola Superior de Educação de Viseu, IPV >
http://www.esev.ipv.pt/tear/Recursos/recur-
sos.ASP
Portal de Tecnologias Educativas UDUCATIC >
Aceder ao Modelo global de diapositivos http://educatic.info/index.php?option=com_re-
para colocar os elementos em todos os sli- mository&Itemid=143
des de uma só vez. Edu2.0: http://www.edu20.org/resources
Institucional Nacional Training Information
1 > Expanda o menu Ver.
Services NTIS > http://www.ntis.gov.au/De-
2 > Aceda à opção Modelos globais.
fault.aspx?/trainingpackage/all
3 > Seleccione a opção Modelos globais Motor de busca CC > http://search.creativecom-
de diapositivos. mons.org/
Licenciar no site da Creative Commons >
http://creativecommons.org/licence/?lang=pt
Add-on para o Microsoft Office > http://www.
microsoft. com/downloads/details.aspx?Fami-
lyID=113b53dd-1cc0-4fbe-9e1d-
b91d07c76504&displaylang=en
Add-on para o Open Office > http://wiki.creati-
vecommons.org/OpenOfficeOrg_Addin
conhecer Europa
50
Luxemburgo
Nome Oficial > Grão-Ducado do Luxemburgo forte que define e delimita um espaço que para os Habsburgos da Áustria. Em 1715 for-
Nome Comum Local > Grand-Duché de Lu- com a história foi crescendo e alargando. mam uma confederação chamada Países
xembourg Em redor das muralhas foi-se desenvolvendo Baixos, da qual o Luxemburgo fará parte até
Sistema Político > Monarquia Constitucional uma vila de grande importância estratégica 1839.
Entrada na União Europeia > 7 de Fevereiro para países os vizinhos, como a França, a Ale- Já no século XIX, o Luxemburgo permaneceu
de 1992 manha e a Holanda. O Luxemburgo permane- sob o controlo francês até à derrota de Na-
Língua Oficial > Francês, alemão e luxembur- ceu como um condado independente do Im- poleão, em 1815, quando o Congresso de
guês pério Romano até 1354, quando o imperador Viena lhe deu autonomia. Foi elevado a grão-
Situação Geográfica > Europa Central Carlos IV o elevou a ducado. -ducado como estado independente da Con-
Superfície Total > 2586 km2 Em 1437, a dinastia dos condes do Luxem- federação Germânica, mas colocado sob o do-
População > 478 571 milhões de habitantes burgo chegou ao fim, passando a reinar os mínio do rei da Holanda. O Luxemburgo
Densidade Populacional > 181 hab./km2 Habsburgos de Espanha. Em 1443, a con- participou na Revolução Belga contra os Ho-
Capital > Luxemburgo quista do Luxemburgo por Filipe, o Bom, da landeses e em 1839 foi proclamado inde-
Fronteiras > Bélgica, França e Alemanha Borgonha será determinante para o seu des- pendente (pelo Tratado dos XXIV Artigos).
Divisão Administrativa > Dividido em três tino: integrado no Estado da Borgonha, depois Após longos períodos de perturbação, em
distritos (Diekirch, Grevenmacher, Luxem- nos Países Baixos, o Luxemburgo será um in- 11 de Maio de 1867, pelo Tratado de Londres,
burgo), os quais estão subdivididos em 12 termediário entre o reino de França e o Im- foi proclamada a neutralidade do Luxem-
cantões pério Alemão. A morte do filho de Filipe, o burgo, tendo sido as muralhas derrubadas
Clima > Moderado Bom, Carlos, o Temerário, põe fim ao reino da e «aberto» o ducado à Europa. Contudo,
Religiões > Católica e protestante Borgonha e os principados do Norte passam durante a Segunda Guerra Mundial o Luxem-
Moeda > Euro
História
O grão-ducado do Luxemburgo é um pequeno
país situado no coração da Europa que faz
fronteira com a Bélgica, a França e a Alema-
nha, sendo por isso a sua história indissociá-
vel da influência destes países.
A história do Luxemburgo reporta-se à Idade
Média, época em que terá sido mandado edi-
ficar por Sigfrido, o conde de Ardenas, um
Ana Rita Lopes
Coordenadora do Núcleo de Planeamento do
CFP de Alverca, IEFP, IP
revista FORMAR
número 62 51
A sociedade
de consumo
e os seus actores
receitas mais aprimoradas destinadas a sa- Na segunda metade da década de 80, a so- daí, se a receita era boa porque não exportá-
ciar gostos mais distintos. ciedade de consumo criou uma receita mais -la? Era preciso levar a outras paragens os
Aproveitando o facto de as pessoas terem picante. Adicionou à receita tradicional uma produtos supérfluos que ela criara, acopla-
mais dinheiro na mão e uma grande ape- boa dose de novas tecnologias, juntou ven- dos de sonhos e histórias de encantar que
tência para mudar de ares uma vez por ano, das agressivas, a que misturou uma pitada a publicidade, com seu canto de sereia, eri-
o turismo dá os primeiros passos como in- de publicidade enganosa, e encheu-nos de ca- gira a símbolos do sucesso. Nada melhor do
dústria de futuro e as viagens organizadas, lorias com o fast-food. Quando todos come- que derrubar o muro de Berlim – pensaram
tendo como destino privilegiado as praias çávamos a apreciar a iguaria, acusou-nos os cozinheiros. Para lá da «Cortina de Ferro»
francesas, espanholas e italianas, levam à (sádica) de estar a ficar velhos e gordos. Re- havia milhões de consumidores sequiosos
criação de uma moda de praia onde os ócu- sultado: começámos a fazer jogging. Mas de provar, com a mesma volúpia de Adão
los escuros são indispensáveis e o bikini como essa actividade só dava lucro às indús- quando trincou a maçã que Eva lhe estendia,
aviva as formas. O culto do corpo fortalece trias de calçado e de vestuário, criou uma in- não só esses produtos mas também automó-
a indústria da moda e gera o boom dos clu- dústria para o corpo que vai da cosmética aos veis, electrodomésticos, vestuário, quinqui-
bes de fitness. As contas começam a poder produtos para emagrecimento e dos ginásios lharias e toda a parafernália de produtos
ser pagas com o cartão de crédito e, para às body shops. que, embora exercendo as mesmas funções
quem não tem dinheiro, a banca irá dar mais No final dos anos 80, a sociedade de con- daqueles de que já dispunham, tinham um
tarde um jeito facilitando o acesso ao crédito. sumo precisava de alargar o seu mercado. Vai design mais atraente e, além do mais, pro-
metiam sucesso. E já agora, pediram, porque
não nos trazem também essa «varinha má-
gica» do cartão de crédito, que nos permite
comprar tudo sem dinheiro?
Nasceu então, com a queda do Muro de Ber-
lim, uma Internacional Consumista, com largo
terreno para se expandir. De McDonalds em
riste, aterra em Moscovo, depõe Lenine e
atribui a Gorbatchov o Nobel da Paz. Reconhe-
cido, o líder da Perestroika dá o seu nome a
uma pizza.
Caídas as barreiras a leste, a sociedade de
consumo entra na sua derradeira fase: a glo-
balização. Do Atlântico aos Urales, de São
Francisco a Tóquio, de Sidney a Buenos Aires,
todos passamos a poder confraternizar nos
espaços standardizados das Pizza Hut ou
dos McDonalds, seguindo os ditames da in-
ternacional da moda que nos moldou o corpo
e uniformizou a maneira de vestir.
Como cereja no topo do bolo, a sociedade de
consumo colocou a Internet. No mundo vir-
tual foi mais fácil adormecer os consumido-
res com os automatismos dos telecomandos,
os telemóveis, os electrodomésticos, a faci-
lidade de comunicações, os i-pods e os ipho-
nes, os MP3 ou as PlayStation.
revista FORMAR
número 62 55
O reverso da medalha
Mas a sociedade de consumo não se faz só
destes ingredientes que aguçam o prazer
de consumir. Faz-se também de horrores. zeres. De fugas massivas de africanos esfai- mos. Contudo, não podemos ignorar as con-
De guerras, bombas atómicas, terrorismo e mados que procuram a salvação na Europa. dições em que os produtos são feitos, o im-
ameaças nucleares. De epidemias como a Perceber isto demorou algum tempo. Só pacto ambiental e as condições de traba-
pneumónica, a tuberculose ou a Sida. De an- quando alguns países do Terceiro Mundo co- lho.»
gústias com o que se pode ou não deve meçaram a colocar questões sobre o valor Trinta anos volvidos, o alerta de Anwar Fazal
comer, com a doença das vacas loucas, a das pessoas na sociedade de consumo e a continua a ser pertinente mas poucos pare-
gripe das aves, o excesso de metais pesados alertar para o facto de não ser possível aos cem interessados em dar-lhe resposta. De
no peixe ou os alimentos transgénicos. De te- consumidores exercerem o tão proclamado qualquer modo, há sinais que indiciam que
mores provocados pelo crescimento demo- direito à escolha quando vivem em países a sociedade de consumo massificado en-
gráfico e ameaças de fome. De preocupa- onde nem sequer as necessidades básicas trou numa nova fase que a poderá levar ao
ções com o ambiente, com o trabalho infantil da maioria da população estão satisfeitas, é extertor. É notório que vivemos já numa so-
e as novas formas de escravatura adoptadas que o movimento dos consumidores começa ciedade da hiperescolha, onde a individuali-
pelas multinacionais como forma de garan- a pensar à escala global e a colocar uma dade do consumo começa a impor-se. Mas
tir produção a custos reduzidos. De secas e questão: que preço teremos de pagar para sa- isso é outra história...
cheias, de alterações climáticas, ameaças tisfazer os nossos caprichos consumistas?
de desertificação e marés negras. De pedo- Estávamos no final da década de 70 e Anwar Como nasceram os direitos dos
filia, escravatura, tráfico e turismo sexual. De Fazal, presidente da IOCU (Organização Inter- consumidores
meninos soldados a morrer e meninos rou- nacional das Associações de Consumido- Quando alguns consumidores começaram a
bados à escola para trabalhar em grandes res), afirmava: «O acto de compra é um voto perceber que a receita da sociedade de con-
multinacionais contribuindo, em troca de sa- num determinado modelo económico e so- sumo estava envenenada e que se não
lários de miséria, para encher as montras cial, num modo particular de produção de reagissem seriam consumidos por ela, deci-
de produtos que ajudam a construir as nos- bens. Preocupamo-nos com a qualidade dos diram organizar-se (inicialmente em coope-
sas vaidades ou a satisfazer os nossos pra- bens e com a satisfação que deles extraí- rativas e mais tarde em associações). Está-
um olhar sobre...
56
vamos nos anos 30 quando aparece nos Es- merciante. Agora, é uma figura sem rosto que Mas é também o caso dos detergentes, elec-
tados Unidos a primeira associação de con- tanto se pode esconder por detrás de uma trodomésticos e uma parafernália de pro-
sumidores. Nasce a revista Consumer Re- multinacional como no espaço virtual, num site dutos destinados a facilitar a vida doméstica
ports que publica testes comparativos a da Internet. Se bem que um pouco esmorecida, que têm também como alvo preferencial as
produtos. Nos anos 50 as associações de esbatida pelo fulgor da sociedade de consumo mulheres.
consumidores começam a surgir um pouco e com os seus movimentos coarctados com A mulher do século XXI já não tem o exclusivo
por todo o mundo ocidental e em 1957, com a abertura dos mercados, a luta dos consumi- das tarefas domésticas. Já não lhe está re-
o apoio da União de Consumidores ameri- dores pela defesa dos seus direitos continua. servada preferencialmente a tarefa de des-
cana, é criada em Inglaterra a British Consu- Mas não é difícil imaginar quem sairá vito- cascar as cebolas e as cenouras ou picar a
mers Association. Segue-se a associação de rioso se as regras do mercado permanece- carne, e quando o faz recorre à 1, 2, 3. En-
consumidores belga e em 1960 realiza-se, em rem intangíveis e intocáveis. quanto cozinha tem junto a si o telemóvel ou
Haia, o primeiro Congresso da IOCU (actual- o telefone sem fios, porque já não pode dar
mente Consumers International) que con- Os actores da sociedade de consumo reprimendas à criada. A mulher do século XXI
grega associações de consumidores de todo Durante muitos anos, a mulher foi o princi- já não espera que lhe bata à porta o padeiro,
o Mundo. pal actor da sociedade de consumo. Era ela a peixeira anunciando «carapau fresquiiii-
Nessa época, porém, ainda não se podia a «fada do lar» a quem cabia fazer, diaria- nho» ou que o talho lhe venha trazer a carne...
falar de defesa do consumidor organizada. Só mente, um conjunto alargado de escolhas. Daí vai às compras de jeep. A mulher deste sé-
em 1962, quando o presidente Kennedy que a publicidade lhe prestasse a maior aten- culo faz aeróbica, vai ao cabeleireiro, à depi-
enuncia ao Congresso os direitos dos consu- ção, quer dirigindo-lhe mensagens específi- lação e à massagem e, enquanto espera, já
midores, a expressão ganha raízes. Nessa cas, quer incluindo-a como protagonista das não se revê nas leituras da Crónica Femi-
época já a sociedade de consumo estava suas mensagens, quando dirigidas aos ho- nina. E já não se atrasa porque ficou a com-
florescente. No entanto, não só pela impor- mens. À medida que o século XX foi cami- por a maquilhagem, mas sim porque teve
tância de que se revestiu a proclamação de nhando para o fim, a imagem da mulher como que escrever mais um ofício, enviar dois
Kennedy, mas também pelo facto de terem actor principal da sociedade de consumo co- faxes e um e-mail ou atender um cliente re-
sido os Americanos a financiar as primeiras meçou a alterar-se. Neste final de século, a tardatário.
associações de consumidores europeias, imagem de «supermulher» com que é enca- A sociedade de consumo não tardou a perce-
consagrou-se a data de 15 de Março como o rada dá ao marketing sobejas razões para ber as alterações do papel da mulher e foi
Dia Mundial dos direitos dos consumidores. estar satisfeito. Além de mãe e dona de casa, lesta a adaptar-se à nova realidade mas com-
É justo considerar essa data como um marco a mulher tem uma profissão, tem que cuidar preendeu, também, que os jovens deixaram
histórico na luta dos consumidores, uma da imagem – recorrendo à cosmética e pres- de ser «catraios» e «fedelhos». Passaram
vez que foi a partir de então que os consu- tando redobrada atenção à moda – e ainda a ser «putos», deixaram de ser malcriados
midores adquiriram uma maior consciencia- tem que cuidar da linha em clínicas espe- e passaram a ser irreverentes e, acima de
lização, a maioria dos países criou um orde- cializadas ou praticando um desporto. Um tudo, começaram a ter poder de compra e a
namento jurídico para a sua protecção, foram verdadeiro manancial que a sociedade de ser autónomos nas suas opções de con-
facilitados os mecanismos de acesso à jus- consumo explora de forma arguta. sumo. Percebeu que os velhos evoluíram
tiça, deu-se mais atenção aos problemas de Quando promove produtos cujos destinatá- para idosos ou seniores com dinheiro no
saúde e segurança, levou-se a educação do rios são as mulheres, as suas qualidades bolso para gastar. Entendeu que cada um
consumidor à escola e desencadearam-se são realçadas pelo facto de a poderem tornar dos elementos que constitui o género hu-
campanhas de informação. mais atraente ou contribuírem para facilitar mano tem agora o seu papel bem definido na
Ao virar do século, a luta dos consumidores as tarefas. É o caso dos cosméticos, de pro- sociedade de consumo em que vivemos.
centra-se também na defesa do ambiente, dutos de emagrecimento, perfumes e peças Aconselhou-se com o marketing e classificou-
na exigência de um consumo ético e social- de vestuário que a publicidade promove como -os como target groups, arranjou para cada
mente responsável e na luta contra o trabalho sendo capazes de permitir a todas as mulhe- um uma oferta apropriada e pediu à publici-
infantil. O inimigo público deixou de ser o co- res encontrarem o seu príncipe encantado. dade que as promovesse.
revista FORMAR
número 62 57
Ao virar o ano 2000, o homem já faz – ou do jantar ele, em vez de lhe oferecer uma seja na cosmética ou mesmo nas clínicas
pelo menos ajuda – as lidas da casa, não dis- flor, pergunta: «Trouxeste o preservativo?» especializadas para manter a forma, o mar-
cute com a família o programa de televisão Nos aniversários e no Natal é sempre a keting orientado para os consumidores ido-
que vão ver nessa noite porque há pelo mesma seca: «Vou passá-los com a mãe e sos desenvolveu-se nos últimos anos de
menos dois televisores lá em casa e vai o tio, ou com o pai e a tia?» forma a garantir o aproveitamento das poten-
com a mulher ao hipermercado, ajudando- A sociedade de consumo sorri com tanta in- cialidades deste «segmento de mercado».
-a a empurrar o carrinho de compras. O definição porque percebeu que o fim da fa- (Diga-se, a talhe de foice, que nem sempre
homem do século XXI chega a casa de fato mília monoparental é um filão explorar. Jo- o tem feito com lhaneza. Basta olhar para o
de treino depois de fazer jogging ou dar vens a terem pais e mães a dobrar não mercado das vendas por correspondência e
duas braçadas na piscina e não se senta significa apenas consumo a duplicar... signi- a forma como vem usando e abusando de
diante do televisor a ler o jornal porque fica autonomização consumista de um grupo «ofertas promocionais» onde se garantem
todos os dias há um jogo de futebol à hora etário. Por outro lado, começa a vulgarizar- prémios inexistentes para o constatar.)
de jantar. O homem do fim do século não -se a prática de os jovens trabalharem du- Quando chegam a casa, depois do passeio
dorme sentado no sofá a seguir ao jantar rante o período de férias como forma de ga- diário, abrem a caixa do correio, de onde
porque vai navegar na Internet, mandar rantir um pecúlio para satisfazer alguns de- tiram cartas com a fotografia de uma se-
e-mails para os amigos, encomendar um sejos que as mesadas paternas não são nhora que jura, a pés juntos, terem ganho um
CD ou um livro. Já não critica a mulher por suficientes para garantir. Começa também a prémio num concurso a que nunca concor-
gastar demasiado dinheiro em cosméticos verificar-se uma tendência crescente para os reram. Correm a telefonar ao filho a dar a
porque ele também os usa. jovens começarem a usufruir rendimentos do grande novidade, mas do lado de lá do fio
Os jovens foram, porém, a grande desco- trabalho a partir dos 18 ou 20 anos, quando vem a decepção quando este responde com
berta da sociedade de consumo. Os rebentos entram para as universidades. Assim, quando voz arguta: «Oh! mãe, tenha cuidado! Não
deste século podem ter sido concebidos o Cartão Jovem faz a sua aparição já os jo- acredite! Olhe que estes tipos agora são uma
pelos métodos naturais ou ser bebés proveta. vens são encarados como um segmento au- cambada de aldrabões.»
Pouco importa. Quando chegam a casa vão tónomo do mercado, a quem a sociedade de
para os seus quartos ver televisão ou brin- consumo dá cada vez mais atenção, nomea-
car no computador e à hora de jantar já não damente quando se trata de vestuário, bebi-
falam com os pais de História ou Geografia, das, música e produtos e espaços de lazer.
das dificuldades que sentem na Matemática O envelhecimento da população e uma nova
ou no Português, mas sim do último pro- forma de encarar a velhice, aliados ao facto
grama da Microsoft, da descoberta de um de uma cada vez mais significativa percen-
site na Net ou do automóvel que querem tagem de idosos usufruir de rendimentos
quando entrarem para a faculdade. Os jo- que não são muito inferiores ao da popula-
vens do final do século já não são malcria- ção activa (graças à generalização do di-
dos. São irreverentes. Já não gastam a me- reito à reforma e à segurança social), desper-
sada ou a semanada. Esgotam o crédito do tou o apetite da publicidade e do marketing.
multibanco. Já não usam cabelos compri- Por outro lado, o consumidor sénior encara
dos, calças à boca de sino ou mini-saia. Usam actualmente a idade da reforma numa pers-
brincos, fazem tatuagens e pircingues. À pectiva completamente diferente do que
noite já não vão ao café da esquina conver- acontecia há uns anos. O reformado deixou
sar com os amigos. Pedem o carro empres- de ser visto como um velho que constitui
tado a um dos pais ou vão em carro próprio um fardo, para emergir como consumidor
«curtir» para uma discoteca. Já não vão autónomo que tem os seus gostos e praze-
jantar com o(a) namorado(a) à luz da vela. res próprios. Seja na área dos lazeres (com
Vão ao McDonalds ou à pizzaria e no final especial incidência no turismo) ou na cultura,
esp@ço internet
58
www.pnai.pt
A luta contra a pobreza e a exclusão social que estimulem o crescimento e o emprego, plícito com objectivos de coesão e justiça
inscreve-se na estratégia de desenvolvi- de modo a permitir que a protecção social social, mas também no que possibilita de
mento da União Europeia e de cada um dos seja encarada como um factor produtivo. articulação com outros instrumentos, no-
Estados-membros. A estratégia de Inclusão Social integrou-se meadamente o Plano Nacional de Emprego
Durante a Presidência portuguesa da UE, em numa estratégia mais ampla e num processo e o Programa Integrado de Apoio à Inovação,
2000, Portugal desempenhou um papel de racionalizado, que coloca em articulação as constituindo com eles a expressão do cha-
importância decisiva e inquestionável, fi- medidas de políticas em matéria de inclusão mado «triângulo estratégico de Lisboa», de
cando a Estratégia de Lisboa como a marca social, pensões e cuidados de saúde e cui- que é uma peça fundamental.
que distingue e reafirma o carácter social dados continuados, consubstancializados O processo de promoção e desenvolvimento
da União e do seu modelo de crescimento. no Relatório de Estratégia Nacional para a Pro- do Plano impõe uma estratégia concertada
A adopção de um conjunto de medidas vi- tecção Social e Inclusão Social. Foi neste e com responsabilização partilhada por parte
sando o reforço desta dimensão à escala novo contexto que a 15 de Setembro de 2006 do Estado e dos Parceiros Sociais.
nacional e europeia representa, assim, a von- cada Estado-membro apresentou o seu ter- O PNAI encontra-se estruturado em torno de
tade comum no combate firme por políticas ceiro Plano de Acção para a Inclusão, que três prioridades:
inclusivas, sustentáculo de uma Europa dos durante dois anos marcará as diferentes po- > Combater a pobreza das crianças e idosos
cidadãos. A elaboração de Planos Nacionais líticas e medidas neste domínio. através de medidas que assegurem os
de Acção para a Inclusão, assentes num Mé- No caso português, o Plano Nacional de Acção seus direitos básicos de cidadania.
todo Aberto de Coordenação (MAC), vem dar para a Inclusão (PNAI), para o período de > Corrigir as desvantagens na educação e for-
resposta a esse compromisso assumido 2006-2008, é um documento, multi-secto- mação/qualificação.
pelos Estados-membros e fixar metas quan- rial e multidimensional, de coordenação es- > Ultrapassar as discriminações e reforçar a
tificadas nos vários domínios sectoriais e tratégica e operacional das políticas de com- integração das pessoas com deficiência e
frentes em que se desenvolve este combate. bate à pobreza e à exclusão social, em dos imigrantes.
Em 2005, a revisão da estratégia de Lisboa observância da Estratégia de Lisboa e fun- Pretende-se que este Plano constitua um
veio enfatizar a ne- dado em objectivos comuns aplicados a todos instrumento capaz de contribuir para que a
cessidade de os Estados da União Europeia. O PNAI portu- pobreza e a exclusão social, fenómenos do
políticas guês assume-se assim como o instrumento passado e ainda do presente, possam, com
de construção de uma estratégia europeia maior eficácia, reverter-se no futuro, a ca-
no plano social mas radica, fundamen- minho de uma sociedade portuguesa mais
talmente, no seu valor específico en- justa, socialmente mais coesa e com maior
quanto instrumento nacional de con- desenvolvimento sustentável.
solidação das políticas portuguesas Para uma melhor percepção desta problemá-
de reforço da coesão nacional. tica e do alcance do PNAI, convidamos os
O Plano Nacional deve ser lido não ape- nossos leitores a lerem a versão do PNAI
nas no que representa de compromisso ex- 2006-2008, disponível neste site.
debaixo d’olho revista FORMAR
número 62 59
Artigos publicados
na revista Formar
em 2007
Dossier
• Potencial humano: a abordagem do projecto • Qualificações baseadas em competências>> • Dupla certificação: uma nova equação
de programa para o período 2007/2013 Elsa Caramujo >> 59 (Abr./Mai./Jun.) >> 8 qualificante >> José Manuel Castro >> 60
>> A. Oliveira das Neves >> (Jan./Fev./Mar.) • Nova vida para as «Novas Oportunida- (Jul./ /Ago./Set.) >> 4
>> página 4 des». Entrevista CITEFORMA >> Nuno Es- • Centro Novas Oportunidades do Seixal –
• Impacto do QREN na formação das PME. En- tevens >> 59 (Abr./Mai./Jun.) >> 11 Aposta na dupla certificação. Entrevista >>
trevista a Norma Rodrigues >> Maria Vie- • Centro Novas Oportunidades do NERGA – M. Fernanda Gonçalves. Nuno Estevens >>
gas >> 58 (Jan./Fev./Mar.) >> 11 servir a comunidade, investir no futuro: 60 (Jul./Ago./Set.) >> 12
• O futuro das qualificações em Portugal e Entrevista >> Nuno Estevens >> 59 (Abr./ • Certificados de 2005, onde estão agora?
a importância do CNQ >> Ana Claúdia Va- /Mai./Jun.) >> 17 >> Patrícia Matias, Patrícia Pereira >> 60
lente >> 58 (Jan./Fev./Mar.) >> 16 • Futurália – Feira da juventude, qualifica- (Jul./Ago./Set.) >> 20
• Catálogo Nacional de Qualificações >> Ana ção e emprego. Notícia >> M. Fernanda • CNO – Em jeito de balanço >> M. Fernanda
Paula Filipe >> 59 (Abr./Mai./Jun.) >> 4 Gonçalves >> 59 (Abr./Mai./Jun.) >> 22 Gonçalves >> 60 (Jul./Ago./Set.) >> 25
debaixo d’olho
60
• A formação em alternância e o papel das • Cooptécnica – Escola Profissional Gus- • Projecto TEVAL – Modelo de avaliação para
empresas na qualificação profissional >> tave Eiffel. Entrevista >> Maria Viegas >> professores e formadores >> Vítor Carioca.
Acácio Duarte >> 61 (Out./Nov./Dez.) >> 4 60 (Jul./Ago./Set.) >> 27 Clara Rodrigues, Sandra Saúde >> 60 (Jul./
• Sistema de formação em alternância – • O sistema de aprendizagem em Portugal /Ago./Set.) >> 40
oportunidade e actualidade de uma ini- >> Francisco Caneira Madelino >> 61 • Comunicar em público >> Ana Penim >> 60
ciativa >> Maria Márcia Trigo >> 61 (Out./Nov./ /Dez.) >> 30 (Jul./Ago./Set.) >> 43
(Out./Nov./Dez.) >> 10 • Conferência EU e-Learning Lisboa 2007
• Avaliação do sistema de aprendizagem – Actuais >> Maria Antonieta Romão >> 60 (Jul./
notas de um exercício em curso de execu- • A dimensão territorial no âmbito de inter- /Ago./Set.) >> 47
ção >> A. Oliveira das Neves >> 61 venção do RVCC >> Maria Francisca Mon- • Casa do S@der + - RVCC da ESDIME >> Fi-
(Out./Nov./ /Dez.) >> 14 teiro Simões >> 58 (Jan./Fev./Mar.) >> 25 lipa Lourenço e Susana Graça >> 61 (Out./
• Sistema de aprendizagem: alguns aponta- • REFER – A formação a alta velocidade. En- /Nov./ Dez.) >> 33
mentos (entrevista) >> Carlos Barbosa de trevista a Fernando Moreira da Silva >> M. • Estratégias Formativas >> Manuela Nave
Oliveira >> 61 (Out./Nov./Dez.) >> 19 Fernanda Gonçalves >> 58 (Jan./Fev./Mar.) >> 61 (Out./Nov./Dez.) >> 39
• Seminário «Formação em alternância – >> 28 • Conferência «Do ensino à aprendizagem
sistema de aprendizagem» >> Patrícia • Presidência Portuguesa da União Euro- para uma validação e reconhecimento de
Trigo >> 61 (Out./Nov./Dez.) >> 26 peia. Notícia >> M. Fernanda Gonçalves >> competências – Ideais e realidade» >>
• Promover e aumentar o acesso à qualifi- 58 (Jan./Fev./Mar.) >> 33 Sandra Sousa Bernardo >> 61 (Out./Nov./
cação numa perspectiva de aprendiza- • Modelo para a avaliação de competências /Dez.) >> 44
gem ao longo da vida – RCM n.º 173/2007 para o ensino e formação em contexto eu-
>> 61 (Out./Nov./Dez.) >> 29 ropeu. Projecto TEVAL >> Vítor Carioca, Clara Instrumentos de Formação
Rodrigues. Sandra Saúde >> 59 (Abr./Mai./ • Podcasting no contexto formativo >> César
Análise Crítica /Jun.) >> 26 Teixeira >> 58 (Jan./Fev./Mar.) >> 34
• Repensar a educação/formação de adul- • Como desenvolver uma cultura de forma- WIKIS >> César Teixeira >> 59 (Abr./Mai./Jun.)
tos >> Ana Luísa Oliveira Pires >> 58 (Jan./ ção nas empresas? Entrevista Eugénio >> 45
/Fev./Mar.) >> 20 Rosa >> Maria Viegas >> 59 (Abr./Mai./Jun.) • WEB 2.0 >> César Teixeira >> 60 (Jul./Ago./
• Objectivo da reforma da formação profis- >> 33 /Set.) >> 49
sional: reforçar e renovar a centralidade da • Inovar nas estratégias formativas. Entrevista • O levantamento das necessidades de for-
qualificação >> Francisco Caneira Madelino >> CFP Chaves >> 59 (Abr./Mai./Jun.) >> 38 mação – O questionário >> José Casqueiro
>> 59 (Abr./Mai./Jun.) >> 23 • Créditos europeus para a educação e for- Cardim >> 61 (Out./Nov./Dez.) >> 46
mação profissional – Quo vadis, ECVET? >>
Luís Imaginário >> 60 (Jul./Ago./Set.) >> 35
revista FORMAR
número 62 61
Livros
O fim da pobreza Enfim, após lermos este livro é impossível Ficha Técnica
O autor desta obra, Jeffrey Sachs, conse- ficar indiferente a oito milhões de pes- Título > O Fim da Pobreza
lheiro especial do então secretário-geral das soas que morrem todos os anos porque Autor > Jeffrey Sachs
Nações Unidas, Kofi Annan, tem aconselhado são demasiado pobres para sobreviver, é Colecção > Actualidade Política
os líderes de mais de 100 países sobre de- uma responsabilidade que é de todos nós Editor > Casa das Letras
senvolvimento económico e redução da po- e à qual cada um de nós não pode ser N.º de páginas > 542
breza. alheio. Edição > Fevereiro de 2006
Neste livro procura explicar como a pobreza
tem sido combatida e como, por meio de
passos exequíveis, é possível fazer pro-
gressos reais junto daquela fatia enorme
da Humanidade que continua a viver na mi-
séria.
Bono refere no prefácio deste livro: «A fome,
as doenças, o desperdício de vidas que cons-
titui a pobreza extrema são uma afronta a
todos nós. Para Jeff, trata-se de uma equa-
ção difícil mas com uma solução. Uma equa-
ção que cruza capital humano com capital fi-
nanceiro, os objectivos estratégicos do
mundo rico com um novo tipo de planea-
mento no mundo pobre.»
Não posso deixar ainda de transcrever um
outro parágrafo deste prefácio de Bono: «Sou
um cantor com um ouvido melódico. As gran-
des ideias têm muito em comum com uma
grande melodia. Uma certa clareza, inevita-
bilidade, capacidade de ficar no ouvido... não
as conseguimos tirar da cabeça, elas não
nos deixam em paz... As ideias deste livro não
ficam exactamente no ouvido, mas têm um
magnetismo que ninguém esquecerá: o fim
da pobreza.»
revista FORMAR
número 62 63
Qualific@2008