Você está na página 1de 66

editorial

O que é a inclusão? Se é verdade que este sensibilizando os leitores para todas estas vos, divergem dos standards que nos habi-
conceito surgiu inicialmente associado à in- questões e para a importância de que se tuámos a considerar «normais».
tegração das pessoas portadoras de defi- reveste o sucesso na concretização de um Poderia terminar citando a célebre frase:
ciência e que se tornou depois mais abran- modelo de sociedade justa, coesa e iguali- «Todos diferentes e todos iguais!»
gente abarcando outros grupos sociais tária. Mas não resisto a deixar um repto aos nos-
prioritários, nos últimos anos evoluiu no Conseguir uma sociedade que garanta que sos leitores: vamos todos contribuir para
sentido de que a sociedade deve estar pre- os seres humanos sejam aceites indepen- uma sociedade mais justa, socialmente mais
parada e estruturada para responder às ne- dentemente das suas capacidades, garan- coesa, com um desenvolvimento mais sus-
cessidades de todos os cidadãos, valori- tindo-lhes o direito à dignidade, não é e não tentável e – sobretudo – mais inclusiva.
zando e respeitando as diferenças e dando será nunca uma tarefa fácil. Os direitos so-
a todos as mesmas oportunidades, cami- ciais e individuais das minorias não são pas-
nhando-se no sentido de uma «sociedade síveis de serem garantidos por decreto. Tem
para todos». de haver primeiro uma mudança de menta-
Ou seja, quando falamos de inclusão esta- lidades, no sentido da assumpção de que a
mos a falar de combater a pobreza, de refor- sociedade é plural e de que as diferenças e
çar a integração das pessoas com deficiên- a diversidade devem ser respeitadas, com-
cia e dos imigrantes, de ultrapassar as preendidas e enquadradas.
discriminações e fomentar a igualdade de Esta mudança de mentalidades é algo que Francisco Caneira
oportunidades, de tornar a educação e for- se realiza no quotidiano e por cada um de nós Madelino
mação/qualificação acessível para todos. com atitudes de respeito, solidariedade e Director da Revista,
Presidente
Nesta edição da revista procurámos que os tolerância para com todos os outros seres do Conselho
artigos focassem estas várias vertentes, humanos que, pelos mais variados moti- Directivo do IEFP, IP
sumário

Por um mercado de trabalho


sem discriminações > 33
Ana Vale

Actuais
Comunicar em formação > 38
O papel da escola face à inclusão > 17 Ana Penim
Luís Manuel Fialho Correia
Criatividade das mulheres em meio
Querer é poder > 21 rural – Prémio Internacional
Margarida Gil Marques atribuído às Capuchinhas > 42
Luísa Falcão
Editorial
Empreendedorismo como veículo
de inclusão > 24
Filomena Faustino Instrumentos de Formação
Dossier
Creative Commons – licença
Apoio à inclusão
para utilizar! > 46
das pessoas com deficiência
César Teixeira
– Mudanças em curso > 04
Análise Crítica
Acácio Duarte
Os trabalhadores seniores face
ao mercado de trabalho > 28 Conhecer Europa
Construindo bom viver! > 12 Marta Sousa Ribeiro, Joaquim Luís Luxemburgo > 50
Maria Viegas Coimbra Ana Rita Lopes
Um Olhar Sobre...
A sociedade de consumo
e os seus actores > 53
Carlos Barbosa de Oliveira
Propriedade > Instituto do Emprego e Formação Profissional, IP

Director > Francisco Caneira Madelino


Esp@ço Internet Coordenadora do Núcleo das Revistas Dirigir e Formar > Maria Fernanda Gonçalves
www.pnai.pt > 58
Conselho editorial > Acácio Ferreira Duarte, Ana Cláudia Valente, António Oliveira das Neves,
Cristina Paulo, Fernando Moreira da Silva, Francisco Caneira Madelino, José Alberto Leitão, José
Manuel Henriques, Luís Imaginário, Maria de Fátima Cerqueira, Maria Fernanda Gonçalves
Debaixo d'Olho
Colaboraram neste número > Acácio Duarte, Ana Penim, Ana Rita Lopes, Ana Vale, Carlos Bar-
Artigos publicados na revista bosa de Oliveira, César Teixeira, Filomena Faustino, Joaquim Luís Coimbra, Luís Manuel Fialho
Formar em 2007 > 59 Correia, Luísa Falcão, Margarida Marques, Maria Fernanda Gonçalves, Maria Viegas, Marta
Sousa Ribeiro

Livros > 62 Apoio administrativo > Ana Maria Varela

Concepção gráfica > Dupladesign

Divulçação Capa > Jorge Barros


Qualific@2008 > 64
Ilustração > Paulo Cintra

Revisão > Laurinda Brandão

Montagem e impressão > SOCTIP – Sociedade Tipográfica, S. A.

Redacção > Departamento de Formação Profissional, Núcleo das Revistas Dirigir e Formar
Rua de Xabregas, 52 – 1949-003 LISBOA
Tel.: > 218 614 100 Fax: > 218 614 621

Registo > Instituto de Comunicação Social

Data de publicação > Março de 2008

Periodicidade > 4 números por ano

Tiragem > 11 000 exemplares


revista Depósito legal > 636959190

Formar ISSN > 0872-4989

n.º 62 Os artigos assinados são da exclusiva responsabilidade dos autores, não coincidindo necessariamente com as opiniões
do Conselho Directivo do lEFP. É permitida a reprodução dos artigos publicados, para fins não comerciais, desde que in-
primeiro dicada a fonte e informada a Revista.

trimestre Condições de assinatura > Enviar carta com nome, morada e função desempenhada. Toda a correspondência deverá ser
endereçada para: Revista Formar, Rua de Xabregas, 52 – 1949-003 LISBOA

de 2008 formar@iefp.pt
dossier
4

Apoios à inclusão
das pessoas com
deficiência
-Mudanças
em curso

Introdução pessoas com deficiência encontra-se em rar um novo futuro para o funcionamento
Documentos importantes, como a Convenção profunda transformação, no contexto geral dos seus serviços e para a estabilidade dos
dos Direitos das Pessoas com Deficiência das tendências de evolução das sociedades seus empregos.
(Nações Unidas), a Estratégia Europeia para actuais nesta matéria e no contexto especí- Na verdade, a actividade de prestação de
a Deficiência e o correspondente Plano de fico das opções tomadas no Programa de serviços às pessoas com deficiência está a
Acção da Comissão Europeia para a Deficiên- Reestruturação da Administração Central do passar por uma fase de profundas transfor-
cia (Europa) e o Plano Nacional para a Inte- Estado (PRACE), no Plano Nacional de Acção mações. São vários os vectores que estão a
gração das Pessoas com Deficiência ou In- (PAIPDI) e certamente também na programa- influenciar as mudanças em curso. As notas
capacidade (Portugal), colocam a questão ção e regulamentação do novo Quadro de seguintes destinam-se a concitar a atenção
dos direitos dos cidadãos portadores de de- Referência Estratégico Nacional (QREN). para alguns deles.
ficiência, assim como os planos de acção Neste contexto, as pessoas com deficiên-
necessários à satisfação desses direitos, cia e suas famílias, assim como as institui-
na ordem do dia da agenda política nacio- ções e os profissionais que nelas trabalham,
nal, europeia e mundial. interrogam-se, procuram perceber o que se
O quadro geral de articulação dos papéis do está a passar e o que lhes poderá acontecer.
Estado (sector público), das Organizações Do meu ponto de vista, vários factores apon-
não Governamentais (ONG), Cooperativas e tam para a necessidade de repensarem o
Associações (sector social) e das empresas seu posicionamento e reestruturarem as Acácio Duarte
Psicólogo, Consultor
(sector privado) na prestação de serviços às suas organizações para poderem assegu-
revista FORMAR
número 62 5

A prestação de serviços às pessoas com deficiência, Uma delas tem a ver com o posicionamento
das pessoas com deficiência e das suas fa-
que começou por ser, num passado mais ou menos mílias, que deverá passar a ser, por um lado,
mais exigente, mais reivindicativo junto dos
longínquo, uma questão de «caridade» e que foi poderes públicos e junto dos prestadores
de serviços, mas também, por outro lado,
sendo, nas últimas décadas, sobretudo uma ques- passar a assumir maiores obrigações de par-
tão de «solidariedade», precisa agora de passar a ser, ticipação activa na busca e implementação
das soluções para os seus problemas (em-
cada vez mais, uma questão de «cidadania». powerment). Outra das consequências
é o princípio da «universalidade» de aces-
A lógica é agora a da activação dos direitos das so aos serviços; ou seja, tem de passar a
pessoas com deficiência; já não é, sobretudo, uma haver serviços suficientes para que todos
os que dele têm necessidade possam ser
questão de boa-vontade de alguns; passa a ser, so- atendidos.
Sendo assim, do princípio da universalidade
bretudo, uma questão de obrigação de todos, da de acesso decorrem outras consequências
não menos importantes. Desde logo, a neces-
sociedade no seu conjunto sidade de expansão da rede de serviços.
Note-se que, de acordo com o estudo «Mais
Vectores de transformação da já não é, sobretudo, uma questão de boa- qualidade de vida para as pessoas com de-
actividade de prestação de serviços -vontade de alguns; passa a ser, sobretudo, ficiências e incapacidades» recentemente
às pessoas com deficiência uma questão de obrigação de todos, da socie- apresentado pelo Centro de Reabilitação Pro-
dade no seu conjunto. fissional de Gaia (CRPG) e Instituto Superior
Pessoas com direitos, universalidade Da passagem para a lógica dos «direitos» de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE),
de acesso aos serviços, cidadania decorrem importantes consequências. «do total das pessoas com deficiências e
Um primeiro grande vector de mudança para
que os documentos políticos apontam parece
ser mesmo uma mudança de paradigma do
lado da «procura» dos serviços; a ideia é que
se passe do anterior paradigma (pessoas
com necessidades especiais – assistência
– solidariedade) para um novo paradigma
(pessoas com direitos – acesso de todos
aos serviços – cidadania).
Na verdade, a prestação de serviços às pes-
soas com deficiência, que começou por ser,
num passado mais ou menos longínquo,
uma questão de «caridade» e que foi sendo,
nas últimas décadas, sobretudo uma ques-
tão de «solidariedade», precisa agora de pas-
sar a ser, cada vez mais, uma questão de
«cidadania». A lógica é agora a da activação
dos direitos das pessoas com deficiência;
dossier
6

incapacidades, cerca de 32% experien- one-stop-shops, espécie de «balcão família, será sempre uma falácia quando
ciam (ou já experienciaram) apoios e ser- único» ou de «loja do cidadão» para as se arranja dinheiro para o supérfluo ou
viços disponibilizados pelo sistema de questões da deficiência; os «centros para o não indispensável e não se ar-
reabilitação». Ficamos assim a saber que regionais de competências», a avaliação ranja dinheiro para o essencial (mal com-
a taxa global de cobertura dos serviços de holística das necessidades das pessoas parado, é como haver dinheiro para o pai,
apoio às pessoas com deficiência, em com deficiência, os planos individuais, o «chefe», comprar um carro topo de
Portugal, tem andado à volta de um terço a aplicação da CIF – Classificação Inter- gama e não haver dinheiro para cuidar
das necessidades reais. nacional da Funcionalidade, Incapacidade do filho, do cidadão deficiente). Acresce
Depois, para que todos possam ter aces- e Saúde – e a elegibilidade para atendi- que os recursos alocados à valorização,
so aos serviços de que necessitam é mentos e apoios financeiros específi- à qualificação dos cidadãos com deficiên-
de grande relevância que haja pontos cos). cia, mais que despesa é investimento já
de informação, orientação e advocacy Quando se fala em universalidade de que trará o correspondente retorno para
capazes de promoverem uma adequada acesso há quem esgrima logo o argu- a sociedade.
relação entre a «procura»/as necessi- mento «escassez de recursos». Trata-se Outro aspecto importante a ter em conta é o
dades das pessoas com deficiência quase sempre de uma desculpa, delibe- potencial de expansão do campo de presta-
e a «oferta»/serviços disponíveis nos rada ou inadvertidamente utilizada, para ção de serviços às pessoas com deficiência
sectores público, social e privado. (A esta justificar que não se active o direito para decorrente da progressiva especificação e di-
ideia ligam-se vários assuntos da actual uma parte das pessoas. Na verdade, a versificação dos direitos sociais nas socie-
agenda técnica nestas matérias: as escassez de recursos, num país ou numa dades modernas: não apenas os direitos à
revista FORMAR
número 62 7

saúde, à educação, ao trabalho, mas também


os direitos à família, à habitação, à participa-
ção na comunidade, ao desporto, à cultura, ao
lazer, ao turismo, a uma velhice digna...
Este primeiro vector de mudança, apontando
para a expansão quantitativa da rede de ser-
viços, para a activação de outros direitos além
dos direitos à saúde, à educação e ao traba-
lho, para uma diversificação maior dos servi-
ços a prestar, configura uma janela de opor-
tunidade, quer para as pessoas com deficiência
e para a melhoria da sua qualidade de vida, quer
para o futuro das instituições e do emprego
das pessoas que nelas trabalham.

De um «Estado-providência» para uma


«Sociedade-providência»
Um segundo grande vector de mudança, in-
duzido pela evolução das sociedades mo-
dernas no que se refere ao papel do Estado
na prestação de serviços à população, tam-
bém parece conduzir a uma profunda alte-
ração de paradigma, desta vez do lado da
«oferta» dos serviços. favorecidos por forma a evitar situações de > especial vocação do sector privado para
Não está ainda rodada uma expressão lin- exclusão; movimento que parece apontar a venda de serviços a quem os possa com-
guística para formular esta mudança, mas no para a necessidade de o Estado providen- prar, numa lógica comercial de oferta-pro-
essencial a ideia é a seguinte: precisamos de ciar mais e melhores serviços; cura em que o preço assegura, não apenas
passar do anterior paradigma «Estado-pro- > por outro lado, parece desejável menor a cobertura das despesas de investimento
vidência» para um novo paradigma «Socie- despesa pública, menos funcionários e, e de funcionamento, mas também a re-
dade-providência» não nos deixando cair consequentemente, redução de prestação muneração do capital, o lucro;
na tentação de um falso, de um irrealista de serviços por parte do Estado. > especial vocação do sector social para a
«Mercado-providência». Na verdade, actual- prestação de serviços dirigida às pessoas
mente assistimos, no que aos direitos sociais A conciliação destes dois movimentos aponta com insuficiente capacidade de pagamento,
e às correspondentes prestações de servi- para a necessidade de fazer corresponder, a numa lógica de actividade sem fins lucra-
ços diz respeito, a dois movimentos que pa- uma retracção da prestação de serviços do tivos, numa ambiência de solidariedade
recem ir em sentido contrário: sector público, uma expansão da interven- social, de mobilização de recursos da co-
ção da sociedade civil (sector social, 3.º sec- munidade e de parceria com o sector pú-
> por um lado, com o desenvolvimento das tor) e uma abertura à intervenção do sector blico;
nossas sociedades ocorre uma maior es- privado neste campo. > especial vocação do sector público para a
pecificação e diversificação dos direitos Do meu ponto de vista, para uma adequada prestação de serviços de satisfação dos di-
sociais dos cidadãos, uma maior preocupa- complementaridade entre os três sectores – reitos sociais dos cidadãos, numa lógica de
ção com a universalidade de acesso aos di- privado, social e público – será de grande serviço público, quando esteja em causa
reitos e uma mais nítida obrigação de prio- relevância que cada um se concentre na sua a universalidade do acesso (como é caso,
rizar o apoio aos cidadãos mais des- vocação própria: por exemplo, da educação/escolaridade
dossier
8

obrigatória) ou o acesso por parte de cer- mente, cada vez mais desumanos. A his- acesso (ex.: educação), fosse pela questão
tas faixas da população em especial difi- tória prova à evidência que o funciona- do apoio aos candidatos em grande dificul-
culdade (como tem sido o caso, por exem- mento espontâneo do mercado tende a pro- dade no mercado de trabalho (ex.: formação
plo, da formação profissional e emprego). mover a exclusão: os ricos tornam-se cada e emprego).
vez mais ricos, os pobres tornam-se cada Não obstante, se e enquanto o Estado não
A ser assim, este contexto será favorável ao vez mais pobres, num quadro de uma lógica estivesse em condições de o fazer, as
desenvolvimento das instituições do sec- que em linguagem popular se diria: «Quem instituições (cooperativas e associações)
tor social. pode, pode, quem não pode, pudesse!...» fá-lo-iam, na medida em que tal lhes fosse
Contudo, a existência, no mundo actual, de Mesmo sendo conseguida a adequada com- possível, numa lógica supletiva (em vez do
uma dinâmica de globalização económica plementaridade entre os três sectores que Estado), reivindicando junto deste regula-
e financeira de cariz ultraliberal constitui atrás apontei, o quadro geral de referência ção e financiamento.
uma enorme, funda, vasta e disfarçada do presente e do próximo futuro será bas- Na ausência de resposta pública, até as or-
ameaça, já que tende a produzir uma socie- tante diferente daquele em que as institui- ganizações privadas, lucrativas (colégios de
dade em que o Estado e a sociedade civil ções prestadoras de serviços à população educação especial, nomeadamente), se
têm um papel cada vez mais restrito e são deficiente funcionavam ao longo dos últimos sentiam também no direito de reivindicar fi-
cada vez mais fracos e em que o mercado 30 ou 40 anos. nanciamento público e o Estado na obriga-
e os actores multinacionais anónimos são Na verdade, considerava-se que era ao Es- ção de atribuir subsídios às famílias para pa-
cada vez mais poderosos, mais obcecados tado que deveria competir prestar às pes- gamento das mensalidades (as mais das
pela maximização do lucro, mais fervorosos soas deficientes os serviços necessários, vezes superiores aos concedidos às insti-
escravos do deus dinheiro e, consequente- fosse pela questão da universalidade de tuições sem fins lucrativos).
revista FORMAR
número 62 9

No novo contexto, a lógica será de complemen- atendimento integrado das pessoas com de- ria efectiva; terão uns e outros de encontra-
taridade, de cooperação, de parceria, em que ficiência, seja em matéria de activação do di- rem e implementarem as alterações neces-
uns e outros terão de aprender e de construir. reito à educação (intervenção precoce, sárias.
Este segundo vector de mudança, que aponta educação infantil, ensino básico, ensino se- Há que evitar modalidades de integração
para a restrição do papel do sector público cundário), seja em matéria de activação do «selvagens», como os casos em que as es-
na prestação de serviços à população, tam- direito ao trabalho (orientação, formação truturas comuns mal tenham competências
bém pode constituir uma janela de oportu- profissional e emprego), acaba por aconte- e condições de trabalho sequer para atender
nidade para a expansão do sector social e das cer numa conjuntura de contraciclo (am- os utentes sem necessidades especiais –
suas instituições desde que estas tenham ini- biência geral de restrição do papel do Estado, situação em que as pessoas com deficiên-
ciativa, capacidade, competência para con- constrangimentos orçamentais, redução de cia, estando fisicamente na estrutura comum,
quistarem, marcarem e diferenciarem o seu pessoal...). Este contexto favorece a busca sofrerão muito maior exclusão; ou os casos
espaço face às iniciativas e às dinâmicas de soluções em que o sector público mobi- em que o acréscimo de trabalho, as novas ne-
do sector privado. lize recursos da sociedade civil, do sector cessidades e novas dificuldades inerentes ao
social (conhecimento, know-how, meios téc- atendimento destes novos utentes vem pro-
Atendimento das pessoas com nicos, meios humanos), partilhe o seu es- vocar a desestruturação dos serviços, com
deficiência em escolas e centros paço de intervenção, trabalhe em parceria. elevados prejuízos para todos. Há que evitar
de formação comuns Trata-se de uma boa oportunidade de cami- também que o sector público tenda a perce-
Um terceiro grande vector de mudança nhar numa boa direcção. ber a identidade das instituições do sector so-
ocorre nos campos de prestação de serviços Contudo, haverá que prestar grande aten- cial (cooperativas e associações) como (ape-
relativos aos direitos das pessoas com de- ção e mobilizar, num lado e noutro, enormes nas) «centros de recursos» de apoio ao seu
ficiência à educação e ao trabalho. Trata-se, doses de humildade e de vontade de coope- trabalho; trata-se de uma nova função das
também, de uma alteração profunda e com- ração já que se terão de enfrentar e vencer instituições do sector social que terá de ser
plexa. Pretende-se passar do anterior mo- grandes dificuldades. Nem os profissionais organizada e desenvolvida em conjunto com
delo de atendimento das pessoas com defi- dos serviços comuns nem os profissionais as suas outras múltiplas funções; não faz
ciência em escolas e centros de formação dos serviços especiais estão suficiente- sentido (como tive oportunidade de ver num
especiais, operados, sobretudo, pelo sector mente preparados para prestar os seus ser- documento recente) que seja o Estado a pro-
social (cooperativas e associações), para viços às pessoas com deficiência em am- curar determinar o que seja e como se deva
um novo modelo de atendimento das pes- biente inclusivo (salas de aula, oficinas...); organizar essa vertente do trabalho das ins-
soas com deficiência em escolas e centros terão de aprender juntos e de se apoiarem tituições.
de formação comuns, operados, sobretudo, mutuamente nessa aprendizagem. Este terceiro vector de mudança, que aponta
pelo sector público (ministérios da Educação Nem os modelos de organização pedagó- claramente para uma direcção correcta, pre-
e do Trabalho), com recurso a colaboração gica vigentes nas estruturas comuns estão cisa de ser concretizado com cuidado já que
técnica do sector social. Isto implica passar suficientemente preparados para o atendi- implica profundas transformações nas estru-
de uma antiga relação de supletividade entre mento integrado (capacidade de individua- turas comuns para que a verdadeira inclusão
o sector social e o sector público para uma lização, equipas multidisciplinares, etc.), ocorra; e que ocorra com benefícios para
relação de complementaridade e de parceria. nem os modelos de organização pedagógica todos os utentes, como se pretende, e não
É a questão que na agenda actual dá pelo das estruturas especiais podem ser impor- com prejuízo para todos, como se corre o
nome de mainstreaming; é a questão da in- tados para as estruturas comuns; terão de risco que aconteça. Acresce que as diferen-
clusão, do atendimento integrado das pes- ser encontrados e implementados os ajusta- tes tipologias de deficiência (motoras, vi-
soas com deficiência; é a questão das insti- mentos necessários. suais, auditivas, relacionais, intelectuais,
tuições do sector social passarem a «centros As organizações, os sistemas de gestão e os multideficiências...) e os respectivos graus
de recursos». modelos administrativo-financeiros, seja do de severidade tendem a contribuir forte-
A consolidação e desenvolvimento desta sector público seja do sector social, não mente para diferentes perfis individuais de
opção do sector público de chamar a si o estão preparados para trabalhar em parce- necessidades e de potencialidades, face aos
dossier
10

perfis de saída dos curricula escolares e dos Neste contexto, as instituições passam a que precisam de apoio para a activação dos
curricula de formação profissional e face precisar de um agudo sentido de mercado e seus direitos (mesmo que de não-clientes ou
aos perfis das profissões e dos empregos vi- de ter maiores capacidades de iniciativa, de de maus clientes se trate).
sados; assim como, naturalmente também, empreendedorismo, de concepção e de ino- No seu caso, a relação com o Estado não é
face às diversas condições materiais, técni- vação de produtos-serviços, de trabalhar de «fornecedor» (como é o caso das em-
cas e pedagógicas dos contextos concretos com carteiras de projectos, de marketing da presas, quando exista), mas de parceiro na
de aprendizagem. sua imagem e dos seus produtos. Precisam activação de direitos dos cidadãos portado-
Há aqui, de facto, um enorme caminho a per- de ter produtos-serviços de qualidade e uma res de deficiência.
correr, em verdadeiro trabalho de parceria imagem de elevada competência técnica. Neste quadro, a questão da qualidade e da
entre o sector público e o sector social, por- Precisam de uma gestão eficiente e rigo- certificação da qualidade não se coloca do
ventura em velocidades diferentes, de acordo rosa, com grande enfoque na relação custo- mesmo modo que para as empresas; tem
com os subconjuntos de problemas que di- -benefício. Contudo, precisam também de de ser equacionada no triângulo qualidade,
ferentes segmentos da população a servir ve- construir e de mostrar um enorme sentido de universalidade, sustentabilidade. Conse-
nham a colocar. diferença. quentemente, o que faz sentido é que a cer-
Na verdade, julgo que é um grande dispa- tificação da qualidade esteja sujeita a um
Novos modelos de organização rate pensar que as instituições do sector so- sistema próprio do sector social. Inclusive,
e de gestão das instituições cial serão tanto melhores quanto mais se julgo que mais tarde ou mais cedo o próprio
do sector social parecerem com as empresas, com o sector Código das Sociedades e o Código do Traba-
Um quarto grande vector de mudança tem privado. As instituições do sector social lho terão de ser levados a contemplar as es-
a ver com os modelos de organização e de podem e devem ser diferentes, quer dos ser- pecificidades do sector social.
gestão das instituições do sector social. Tem viços públicos quer das empresas. As suas Mais tarde ou mais cedo, deixaremos de
a ver com os temas recorrentes na actual diferenças, os traços essenciais da sua estar na antiga referência de composição
agenda deste sector: as questões da quali- marca, podem e devem ser transformados dos sectores – público, privado e cooperativo
dade, da certificação da qualidade e da sus- nas suas vantagens competitivas. –, para passar para a referência sectores
tentabilidade. No seu caso, os modelos de gestão empre- público, privado, social e cooperativo.
Julgo que a transformação que precisa de ser sarial têm de ser compatibilizados com uma
feita se estrutura na confluência de dois vec- grande participação dos utentes (pessoas Novos modelos de financiamento
tores igualmente importantes: o sentido de com deficiência e suas famílias), dos colabo- Um quinto grande vector de mudança terá a
mercado e o sentido da diferença. De facto, radores (profissionais) e de instâncias da ver com os modelos de financiamento das
vários factores apontam para que as institui- comunidade, não só na busca, concepção e prestações de serviços às pessoas com de-
ções do sector social passem a funcionar num implementação das respostas às necessida- ficiência realizadas pelas instituições do
contexto de forte concorrência. É o caso da des mas também em diferentes patamares sector social.
abertura deste espaço ao sector privado, na se- do sistema de gestão. Vários indícios parecem apontar para a pro-
quência da constrição do papel do sector pú- No seu caso, a política de gestão de recursos gressiva emergência de um novo modelo de
blico. É o caso da europeização do mercado, humanos tem de ser compatibilizada com financiamento com importantes diferenças
conduzindo à possibilidade de oferta de servi- as noções de voluntariado, militância pela em relação àquele com que se tem traba-
ços, prestada em Portugal ou em outros países, causa das pessoas com deficiência e dedi- lhado nas últimas décadas, nomeadamente
com qualidade e preços mais competitivos. cação pessoal ao projecto colectivo. após o acesso aos fundos europeus; mo-
É o caso da concorrência entre as próprias ins- No seu caso, as opções de escala e de dimen- delo este fundamentalmente de financia-
tituições nacionais, competindo entre si pela são têm de ser compatibilizadas com a natu- mento público, centrado nas actividades rea-
«procura» e pelo acesso aos escassos meios reza e os requisitos de serviço de proximidade. lizadas pelas instituições, com frequência
disponíveis (sejam meios financeiros, meios No seu caso, a orientação para o cliente tem candidatadas a co-financiamento dos fun-
técnicos de trabalho de qualidade ou meios hu- de ser compatibilizada com o princípio da dos europeus, com critérios de avaliação so-
manos de elevada competência...). universalidade de atendimento de todos os bretudo burocrático-administrativos.
revista FORMAR
número 62 11

Algumas das ideias que, aqui e ali, tenho ou-


vido relativamente a este novo modelo pare-
cem apontar para:

> a necessidade de cumprir simultanea-


mente a obrigação de assegurar a univer-
salidade de acesso aos serviços, a garan-
tia de um standard europeu de qualidade
e a sustentabilidade da rede;
> a necessidade de juntar ao financiamento
público um maior esforço das famílias e
uma maior mobilização de outros recur-
sos da sociedade;
> a opção pela lógica de condicionar a ava-
liação e a concessão dos financiamentos
aos resultados alcançados e aos seus
impactos na qualidade de vida dos cida-
dãos (mais do que na verificação das
actividades realizadas e das conformidades
documentais);
> a opção por relacionar a elegibilidade dos
financiamentos com referenciais e critérios
de qualidade;
> a utilização progressiva da modalidade or-
çamentos personalizados, directamente
geridos pelos próprias pessoas com defi-
ciência e suas famílias, mobilizando uma
maior co-responsabilização dos cidadãos
e permitindo uma maior liberdade de deci-
são e de escolha de diferentes prestadores
de serviços.

Claro está que muitos outros vectores de


transformação, além dos cinco acima referi-
dos, irão influenciar o devir desta área de
prestação de serviços nos próximos anos.
As instituições do sector social que intervêm
neste campo, grande parte das quais arran-
cou a seguir ao 25 de Abril de 1974, vão ter de
estar atentas a todos esses vectores e a pas-
sar por uma espécie de um novo nascimento
para se poderem colocar neste novo pata-
mar de trabalho ao serviço da activação dos
direitos das pessoas com deficiência.
dossier
12

Construindo
bom viver!

O início... Associando-se ao Ano Europeu para o Diálogo Intercultural, a Formar


Tudo começou em 1998. Olga Mariano, agora
presidente da Associação para Desenvol-
foi conhecer o trabalho da Associação para Desenvolvimento de Mu-
vimento de Mulheres e Crianças Ciganas lheres e Crianças Ciganas Portuguesas – AMUCIP – e das cinco mu-
Portuguesas (AMUCIP), recebeu uma con-
lheres que, há cerca de oito anos, decidiram lutar pela melhoria das
vocatória da técnica de Serviço Social da Se-
gurança Social responsável pela gestão e condições de vida das crianças e das mulheres ciganas portuguesas.
atribuição do então rendimento mínimo ga- Para realizar este artigo compilámos alguma informação sobre o Pro-
rantido: «Se quer continuar a receber o RMG
vai ter que frequentar um curso de mediadora jecto Equal «P’lo Sonho é que Vamos», em que a AMUCIP é uma das
sociocultural.» Olga Mariano, viúva recente, entidades parceiras 1 e marcámos um encontro com as dirigentes da
no seu luto pesado, com três filhos em casa
para criar, as contas para pagar, nem hesitou
Associação. As horas em que estivemos à conversa passaram rapi-
em responder: «Eu faço o que for preciso, se- damente; é sempre um prazer estar no meio de pessoas que conti-
nhora assistente.» Hoje conta-nos que nem
nuam, apesar das dificuldades da vida, a ter sonhos e sobretudo força
sabia o que era exactamente o curso que lhe
propunham, apenas conhecia de nome para lutar por eles!
os mediadores imobiliários. Sempre tinha
trabalhado na venda ambulante e ir para a seleccionadas cinco mulheres ciganas e onze junto, nomeadamente, da administração cen-
«escola» não lhe agradava mesmo nada. africanas. Hoje, sabem que foi a primeira vez tral e local, no final da formação muitos deles
«O que me fazia falta era o dinheiro», diz-nos que se «apostou» nas mulheres ciganas não conseguiram arranjar colocação e aca-
com um sorriso matreiro. para trabalharem como mediadoras. Diz-nos baram por ser obrigados a voltar à venda
O curso de mediação sociocultural foi organi- a Sónia Matos, uma das actuais dirigentes
zado pelo CEFEM (Centro Europeu de Forma- da AMUCIP: «Até ali as instituições não acre-
ção e Estudos sobre Migrações), no Seixal, no ditavam que as mulheres tivessem poder e
âmbito de um Programa de Inserção. Foram voz na comunidade cigana.» Maria Viegas
A nível nacional já se tinham desenvolvido vá- Técnica Superior
1 Parceria de Desenvolvimento constituída com Centro de Estudos para a In- Consultora, Centro
tervenção Social (CESIS) e a Direcção–Geral dos Assuntos Consulares e rios cursos de mediadores só frequentados Nacional de
das Comunidades Portuguesas (DGACCP).
Para além da Parceria de Desenvolvimento o projecto contou ainda com a par- por homens ciganos mas, dadas as dificulda- Qualificação de
ticipação e o contributo de um conjunto alargado de diferentes entidades Formadores/IEFP
que se constituíram como rede de acompanhamento. des de afirmação deste perfil profissional
revista FORMAR
número 62 13

não há dinheiro compra-se fiado e paga-se como foi complicado todo o processo de le-
depois.» «Falar para o cigano de 13.º mês ou galização; a quantidade de formulários que
subsídio de Natal... é pura abstracção!», diz- era preciso preencher, o difícil que foi pôr
-nos a Sónia. Todos estes exemplos mostram no papel o que lhes ia na alma porque a lin-
à evidência como as duas comunidades, ciga- guagem dos estatutos não tinha o colorido
nas e não ciganas, apesar de ocuparem o da sua oralidade... Foi difícil, mas foi possí-
mesmo território há mais de cinco séculos vel. Em 2000 cria-se a primeira, e ainda hoje
têm vivido de costas voltadas e quando as única, Associação de Mulheres Ciganas (se-
duas culturas desejam criar laços de coope- gundo o Alto Comissariado para a Integração
ração que levem a um bom viver... sentem e Diálogo Intercultural, IP – ACIDI – existirão,
imensas dificuldades porque percorrem um ca- em todo o país, cerca de quinze associações
minho ainda muito pouco explorado. lideradas por homens ciganos).
Mas apesar de tudo, hoje não têm dúvida de No final do estágio do curso fizeram uma
que a frequência da acção de formação de megafesta em duas escolas do Seixal, para
Mediadoras lhes deu para «abrir os olhos», a qual foram convidadas várias individualida-
como nos diz a Anabela Carvalho, hoje vice-pre- des, que levaram à presença de vários órgãos
sidente da AMUCIP: «Foi um ano de aprendi- de comunicação social. No decorrer da festa
zagem intensa, gerou-se um grande clima de apresentaram a todos os convidados a Asso-
cooperação entre todo o grupo e a equipa de ciação recém-criada. No dia seguinte, os
ambulante, o que lhes causou grande frus- formadores/as que também foi fantástica.» jornais faziam manchete: «Cinco Mulheres
tração. Não foi o que aconteceu às cinco mu- Foi no final do curso que começou a crescer Ciganas vão Revolucionar as Mulheres Ciga-
lheres seleccionadas pelo CEFEM, hoje todas a ideia de criar uma Associação. «Começá- nas» ou ainda «Já Nasceu a Emancipação
dirigentes da AMUCIP. mos a dar importância à ideia de fazer al- das Mulheres Ciganas». Contam-nos que
Ao longo desta entrevista contam-nos vários guma coisa pelas crianças e pelas mulheres estas notícias tiveram um eco negativo
casos passados durante a formação que são ciganas.» Contam-nos que algumas figuras enorme na comunidade...
emblemáticos dos choques culturais entre ci- ligadas à Igreja Católica foram, naquele mo- Decidiram então que era demasiado cedo...
ganos e não ciganos e da melhor ou pior forma mento, essenciais para conseguirem levar o que elas próprias precisavam de ter mais ex-
como os iam conseguindo superar: projecto para a frente. A Sónia relata-nos periência. Tinham que ir trabalhar para o meio

> Como conciliar os modos distintos de or-


ganização cultural do tempo, em que a or-
ganização temporal dos ciganos tem muito
pouco ver com a rigidez de horários da co-
munidade não cigana?
> Como planear a prazo quando, por exem-
plo, se queria trabalhar a gestão familiar,
numa lógica «mensal», quando na lógica
da cultura cigana se vive sempre o dia-a-
-dia, sem grande investimento no futuro?

A Olga comenta-nos: «Quando a venda corre


bem, compra-se o necessário, toma-se o pe-
queno-almoço no café, as crianças têm di-
reito aos doces que quiserem... se no outro dia
dossier
14

dos não ciganos e afirmarem-se enquanto P’lo sonho é que vamos


profissionais. E foram. A Sónia conta-nos o – novo desafio
que lhe aconteceu no primeiro dia de trabalho, Terem participado desde 2004 no Projecto
quando a coordenadora lhe disse: «Esta é a sua Equal «P’lo Sonho é Que Vamos» foi outro
secretária, pode ir buscar àquele móvel tudo passo que consideram fundamental no seu
o que precisar.» «Eu morri! Porque eu nunca percurso. Como refere a Anabela, «com o
tinha estado sentada a uma secretária e não projecto foi possível dizer à comunidade:
tinha nenhuma ideia do que era necessário... agora é com vocês que a associação vai tra-
depois calmamente fui olhando para as secre- balhar». Falam da dificuldade das primeiras
tárias das minhas colegas e lá fui buscar um reuniões, em que sentiam que as parceiras
agrafador, um furador, lápis, borracha, cane- do projecto eram fantásticas e criavam um
tas. E eu até já tinha frequentado um curso de clima de grande à vontade, mas elas não
formação... ora quem sempre só andou na conseguiam abarcar tanta informação e tanto
venda não tem a bagagem necessária para ir papel. Diz-nos a Sónia: «Mas o meu coração
trabalhar, é um choque muito grande.» dizia: deste projecto vai sair muita coisa boa
Esse período recordam-no como um tempo de para nós, temos que agarrar esta oportuni-
amadurecimento, no qual se afirmaram como dade com as duas mãos.» Sempre cum-
profissionais competentes, umas a trabalhar prindo o lema do Equal «De igual para Igual»
como mediadoras e outras como auxiliares e não querendo «trabalhar para» mas «tra-
de Acção Educativa, em que os ciganos e os balhar com», foi possível evoluírem da ideia Noel Gouveia, também dirigente da AMUCIP.
não ciganos as respeitavam pelas suas com- inicial, em que apenas queriam ter um espaço Hoje desenvolvem actividades de tempos li-
petências e pela sua dedicação. Também mos- para trabalhar com as crianças, para uma vres para cerca de trinta crianças, o «es-
traram aos seus que é possível exercer outras visão mais alargada dos objectivos do pro- paço de apoio à conciliação» funciona de
actividades além da venda ambulante. Que jecto: «porta aberta». Procuram que os pais e as
se pode aparecer na televisão, nos jornais, crianças, de ambos os sexos, valorizem mais
mas continuar a ser cigana. Como nos refere > Ensaiar respostas para a conciliação da o percurso escolar. Como nos refere a Olga:
a Olga: «Queremos avançar mas sem romper vida profissional, pessoal e familiar e o per- «A escola não tem valor nenhum para a
os laços, queremos que as mulheres avancem curso escolar de pessoas ciganas. maioria dos ciganos, a não ser para os ho-
connosco.» É esta cultura de compromisso > Promover o diálogo intercultural entre co- mens tirarem a carta de condução e as rapa-
que sentem que estão a construir. munidades ciganas e não ciganas. rigas aprenderem só a ler e a escrever. Ora,
nos tempos que correm é indispensável
Hoje, e graças ao apoio de várias entidades, no- haver uma alteração de mentalidades e nin-
meadamente a Câmara Municipal do Seixal e guém melhor que nós pode ajudar a fazê-la.
a Fundação Montepio, foi possível reabilitar Nós conhecemos a tradição. Os ciganos não
uma vivenda há muito abandonada, situada no entregam o cuidado dos filhos pequenos nas
meio do Bairro da Cucena – um bairro de rea- mãos de quem não conhecem, mas neste
lojamento social onde vivem muitas famílias momento têm confiança em nós. Temos que
ciganas e africanas. «Bendita Vivenda», foi dar muita atenção às crianças em idade pré-
assim que lhe chamaram, em plena festa de -escolar. As nossas crianças andam à von-
inauguração, em Março de 2006, no decorrer tade, sem regras e sem horários até aos 6
do projecto. A AMUCIP tinha finalmente uma anos porque acompanham os pais na
sede e esse facto deu-lhe um enorme au- venda.» Quando vão para a escola são logo
mento de credibilidade porque «os ciganos «enfiados» num horário rígido, dentro de
para acreditarem têm que apalpar», refere uma sala fechada, ouvindo uma linguagem
revista FORMAR
número 62 15

distante, onde não há música nem dança, sempre com «casa cheia». Uma delas foi
onde parece que tudo o que lhe era impor- sobre a situação do mercado de emprego e
tante até ali ficou à porta da escola. Claro formação e foi animada pelo director do Cen-
que nesta situação muitas vezes se pode tro de Emprego do Seixal. Falou-se muito da
dizer que o insucesso começa logo no pri- crise da venda ambulante, da concorrência
meiro dia... das lojas chinesas e da preferência das pes-
No âmbito do projecto houve um cuidado soas pelas grandes superfícies. Estas mudan-
particular em não fechar o espaço às crian- ças provocam grandes dificuldades às comu-
ças não ciganas do bairro e de realizar um tra- nidades ciganas. Mais uma vez, a Olga faz-nos
balho de parceria com as escolas e as outras um reparo: «Olhar para esta situação com
entidades da comunidade que desenvolvem cuidado e dar apoio a estas pessoas pode pre-
as mesmas valências. Este trabalho de arti- venir situações futuras muito complicadas.»
culação permite que a AMUCIP vá desenvol- Sentem que a grave crise da venda ambulante
vendo, cada vez mais, o seu projecto de in- pode estar a levar a uma alteração de men-
tervenção social e comunitária. Para percorrer talidades nas comunidades ciganas no que
este caminho dizem que foi essencial todo concerne ao trabalho por conta de outrem,
o apoio e a «formação em exercício» que as que sempre foi aceite com grande relutância
entidades parceiras, nomeadamente o CESIS, e, muitas vezes, apenas com carácter de sa-
realizaram. Confessam que ao princípio nem zonalidade na agricultura.
percebiam bem a sua utilidade e hoje reco- Para a AMUCIP era muito importante que as cioeconómicas? Como pode a formação pro-
nhecem que teve um papel essencial no seu oitenta pessoas que na altura da tertúlia se fissional combater a subsídio-dependência
processo de empoderamento. É a passagem mostraram disponíveis para frequentar cur- e ser um verdadeiro instrumento para com-
do aqui e agora para uma intervenção pla- sos de formação, porque reconheceram que bater a exclusão?
neada, com os objectivos definidos, que per- estão muito mal preparadas para competir Este é o repto que a AMUCIP lança às várias
mite depois a avaliação do trabalho execu- no actual mercado de trabalho, tivessem instituições, nomeadamente ao IEFP e à Se-
tado. essa oportunidade. A concretização deste gurança Social e a todas as entidades que
projecto levanta várias questões a que é pre- queiram responder ao desafio.
O trabalho com as famílias ciso dar resposta. Sabemos que a oferta for-
A porta da sede também está sempre aberta mativa «regular» e o nível de exigência dos Promover o diálogo intercultural
para as famílias. Hoje dizem que é normal pré-requisitos muitas vezes não se adequa Promover o diálogo intercultural entre as co-
virem à Associação pedir informações ou a estes grupos. Por outro lado, também não munidades ciganas e não ciganas é, como
outro tipo de ajuda e ficam tristes quando as será desejável que se pulverizem cursos vimos, outro dos objectivos primordiais do
mulheres, mesmo as viúvas, dizem que tam- para ciganos e não ciganos. Mas também é projecto «P’lo Sonho é Que Vamos». Como
bém querem trabalhar e elas não têm qual- certo que não se pode tratar como igual fazer? A interculturalidade constrói-se,
quer resposta. aquilo que é diferente... criando espaços de partilha de igual para
Para as raparigas dos 13 aos 16 anos criaram A dupla certificação e os percursos formati- igual; foi nesse sentido que os elementos
um atelier de dança que tem tido uma grande vos qualificantes completos são longos e é da AMUCIP, com o apoio da equipa do pro-
participação. Através desta actividade, além preciso sobreviver enquanto se frequenta a jecto (CESIS e DGACCP), conceberam um mó-
da fruição da música pretende-se também formação. dulo sobre a cultura cigana. A Sónia explica-
cativar as jovens para a continuação dos es- Como conseguir arranjar respostas formati- -nos: «Para a construção deste módulo foi
tudos, tendo-se já conseguido alguns resul- vas diversificadas e adequadas ao seu nível essencial termos frequentado um curso de
tados, como nos conta a Noel Gouveia. da escolaridade e das suas condições so- formação pedagógica inicial de formação de
No âmbito do «P’lo Sonho é que Vamos»
também organizaram várias tertúlias, quase Os governos deveriam incorporar uma perspectiva de género nas suas estratégias diri-
gidas às pessoas ciganas, com base em investigação rigorosa que identifique adequa-
damente os interesses e as questões que afectam as mulheres, para além do seu papel
tradicional de prestação de cuidados maternais.
(Comissão Europeia, 2004)
dossier
16

todos e todas melhor preparados/as para


Tomar a Palavra combater os preconceitos que existem de
Olhares e falas de mulheres ciganas portuguesas sobre a família e o trabalho parte a parte.
Livro editado pela AMUCIP, 2006, obra subsidiada pela então Comissão para a Igualdade A Anabela refere: «Aqui também, de certeza,
e para os Direitos das Mulheres (CIDM) que fomos pioneiras, fomos as primeiras for-
madoras ciganas a ter o Certificado de Apti-
dão Profissional (CAP), o que nos permitiu de-
senvolver esta formação para vários grupos
de técnicos no Alentejo e no Seixal. Durante
a acção 3 do Projecto vamos disseminá-lo.
Esta formação pode desempenhar um papel
muito importante na criação do bom viver
entre as duas comunidades. Quem melhor do
que nós próprias para falar da nossa cultura
e ajudar a prevenir situações de discrimina-
ção e a lutar contra os preconceitos e os es-
tereótipos que existem? É importante dizer
que estamos disponíveis para desenvolver
esta formação para os serviços que contac-
tam com as comunidades ciganas e que mui-
tas vezes não conseguem trabalhar em con-
junto sem haver tensões e crispações.»
A terminar, pergunto-lhes como vêem o fu-
turo, sobretudo quando terminar o projecto
«P’lo Sonho é que Vamos». É a Anabela quem
responde primeiro: «O meu receio é que se
depois do projecto não tivéssemos verbas
para continuar com as portas abertas, as
pessoas do bairro iam dizer “realmente não
há lugar para nós!” porque este sonho agora
já não é só destas cinco mulheres, é de toda
aquela comunidade.»
A Olga termina: «Ninguém pode pensar em fe-
char portas, esta Associação já mostrou que
pode desenvolver trabalho muito útil, tanto no
formadores, organizado pelo Centro Nacional formação, o trabalho e as responsabilidades apoio à sua comunidade como no diálogo com
de Formação de Formadores e também com familiares (sempre a cargo das mulheres). a comunidade não cigana, promovendo a cida-
o apoio logístico do Centro de Formação Pro- Mas mais uma vez, valeu a pena. Adquiri- dania a que todos e todas temos direito.»
fissional do Seixal do IEFP. mos novas competências que agora nos são Depois da entrevista, na viagem de regresso,
Voltámos a estar presentes as cinco mulhe- indispensáveis para conseguirmos desenvol- na solidão do carro, perguntava-me como é
res que iniciámos este sonho, conseguimos ver este módulo de formação para técnicos possível falarmos tão facilmente em direitos
trazer outras mulheres ciganas e também e profissionais não ciganos que queiram, humanos e em sociedades democráticas
técnicos de várias instituições. Mais uma que estejam disponíveis, para compreender quando continuamos com tantas situações
vez foi difícil, durante semanas, conciliar a melhor a nossa cultura e podermos ficar de exclusão secular no nosso seio...
dossier revista FORMAR
número 62 17

O papel da escola
face à inclusão

Uma história igual a muitas


Zeca era um menino como muitos outros
ções dignas do ser humano. Escusado será
dizer que Gisela apenas fez a escola primá-
«Não sabendo que era
que existem por aí, filho de pais cabo-verdia- ria, com muito custo, pois tinha que dividir- impossível foi lá e fez»
nos que vieram para Portugal à procura de -se entre a escola e a tarefa diária de cuidar
uma vida mais desafogada, mais compensa- do irmão e da casa. Ainda tentou continuar – Jean Cacteau
dora das árduas e mal pagas horas de traba- mas as faltas eram muitas, a desmotivação
lho diário. instalou-se por não conseguir acompanhar
Os pais trabalhavam, não de sol a sol mas as matérias e, por fim, desistiu. Foi doloroso, disciplinada, fruto dos exemplos que lhe ti-
desde antes de o sol nascer até depois de o primeiro porque a escola tinha-lhe mostrado nham sido dados por aqueles que lhe de-
sol se pôr, o pai numa obra ou outra que ia possibilidades que ela nem sequer imagi- viam ter mostrado exactamente o contrário.
aparecendo, a mãe em «casa de senhores», nava, depois porque já tinha feito amigos e O 1.º ciclo foi terrível: Zeca era hábil e rápido
fazendo limpezas. Nenhum deles detinha custou-lhe deixá-los. Impossibilitada de con- no raciocínio, mas também violento e desa-
qualquer qualificação profissional, qualquer tinuar a estudar, ambicionava arranjar um fiador das regras. Depressa foi marginali-
habilitação académica relevante; o pai tinha emprego que a tirasse dali, que lhe possibi- zado por professores e colegas, o que o tor-
aprendido com o pai dele o que sabia do ofí- litasse viver como viviam as outras raparigas nou ainda mais distante daquele mundo.
cio, a mãe nunca tinha tido sequer um ofício, da sua idade. A custo conseguiu passar para o 2.º ciclo
aliás, mal sabiam escrever os seus nomes ou O irmão tornou-se para ela o seu filho prema- onde encontrou outros que faziam da mar-
entender as palavras escritas, mesmo aque- turo, pois aos 10 anos já tinha uma prática ginalidade a atitude perante a vida. Zeca es-
las que por vezes vinham nos jornais e fala- imensa de todas essas tarefas que são pró- tava cercado: em casa a revolta era cons-
vam da sua terra. prias de quem trata de bebés. Foi perdendo tante com a mãe e a irmã em confronto diário
Zeca, agora com cerca de 15 anos, nasceu a curiosidade pelo estudo. Tudo se agravou com as dificuldades, na escola depressa ar-
pouco tempo depois da chegada a Lisboa. ainda mais quando o pai, atormentado pela ranjou fama de inadaptado e na rua... bem,
A irmã, Gisela, já tinha 5 anos quando veio falta de trabalho, se entregou à bebida e, per-
com os pais e foi ela quem, apesar de ainda dido o «norte», reagia com violência às agru-
muito criança, tomou conta do irmão pas- ras da vida e, como de costume, quem pagava
sados poucos meses de este nascer porque eram os menos culpados, a mulher e os fi- Luís Manuel Fialho
a mãe tinha de trabalhar. lhos. Não aguentou muito tempo, um dia Correia
Presidente do Conselho
Viviam num bairro onde habitavam outros saiu de casa e nunca mais apareceu. Executivo da Escola
da sua condição, degradado socialmente, Zeca depressa chegou à idade de ingressar Secundária D. Pedro V,
Lisboa
marginalizado pela vida, castrador de ambi- na escola. Era uma criança turbulenta, in-
dossier
18

na rua as coisas eram bem mais feias: aos 14 Após três repetências chegou o 3.º ciclo desviá-lo da marginalidade. A escola tudo
anos já tinha ficha na polícia por roubo de te- numa escola secundária e Zeca, já com um tem feito, no sentido não de excluir o Zeca
lemóveis e assalto a viaturas. longo historial policial, pensou que as pers- mas de o integrar na comunidade escolar. Ao
Encontrou um ponto de fuga, o futebol. Na- pectivas de «negócio» se tinham alargado. mesmo tempo, a Gisela sabe, porque já falou
quele clube pequeno num bairro longe do Quando se matriculou veio com a irmã, sem- com os responsáveis, que a mesma escola
seu, Zeca afirmou-se pela positiva. Era tão pre convinha dar uma imagem inicial de ino- tudo fará para integrar todas as «Giselas»
bom quanto os melhores e nem precisava de cência, ela reparou que a escola oferecia que por lá aparecerem. O futuro torna-se
ameaçar ninguém, bastava que o deixas- uma maneira de continuar a estudar, mais mais risonho, há uma luz que brilha com
sem jogar à sua maneira. Sonhou um dia ser acessível, de acordo com a formação inicial mais intensidade no fundo deste túnel...
famoso, ganhar muito dinheiro, ter tudo o de cada um. Parecia interessante esta opor- Esta história, apesar de se terem mudado
que lhe havia sido negado. Um estúpido aci- tunidade de voltar a entrar num meio que os nomes e omitido alguns pormenores que
dente numa fuga após um roubo de uma via- lhe possibilitava outras ambições. identificavam os personagens, infelizmente
tura deixou-o coxo para o resto da vida. O Nesse ano não se matriculou, tinha de mudar é uma história verídica. Infelizmente, também
sonho esfumou-se em menos de nada. De- algumas coisas da sua vida e nesse mo- chegam às escolas todos os anos poten-
sorientado, ainda mais revoltado com tudo e mento não o conseguia fazer. Mas percebeu ciais alunos como os da história aqui contada.
com todos, Zeca achou que o dinheiro que que a escola tinha mudado, que dava mais Digo potenciais porque ainda não são alunos,
podia ser ganho no futebol também podia ser oportunidades a quem tinha interrompido o possivelmente nunca o foram e não sabemos
ganho como dealer e a escola era um mer- percurso escolar e se preocupava com os se algum dia o serão. São fundamentalmente
cado de possibilidades infindáveis. que tinham ficado pelo caminho. Uma es- jovens com problemas de integração na so-
Afundados neste abismo, Zeca e a irmã olha- cola que procurava integrar, não excluir, não ciedade e que encaram a escola como a ex-
vam para a escola com a mágoa e a revolta atirar para a rua os jovens desadaptados e tensão do sistema que os tem marginali-
de nunca terem podido fazer realmente parte «lavar daí as mãos». zado, ou porque os obrigam a cumprir regras
dela. Invejavam, desprezando, os que nela Não tem sido fácil incutir estes pensamen- ou simplesmente porque os ignoram e tudo
tinham sucesso e reconhecimento. tos na cabeça do irmão. Não tem sido fácil fazem para os excluir, expurgando a comu-
revista FORMAR
número 62 19

nidade escolar de um elemento indesejável. Neste contexto, a questão da inclusão esco- obrigados a regras de responsabilização e de
A conclusão que deste caso poderemos desde lar pode, na minha opinião, ser abordada em integração na sociedade até, por assim dizer,
já retirar é que, sem dúvida, há um caminho quatro grandes vertentes. se «curarem dos males» que a vida lhes
a percorrer pelo próprio. Tem de haver um de- proporcionou. Existem as casas abrigo para
sejo e um entusiasmo intrínsecos ao aluno, Jovens em risco escolar jovens em risco familiar mas não existem
mas a escola tem aqui um papel decisivo: A escola pública não consegue dar resposta «casas» para jovens em risco escolar ou
cabe aos professores e aos profissionais da a muitos destes casos, a meu ver porque em risco de desenvolvimento de cidadania ou
educação proporcionarem os meios para a muitas vezes não tem meios para recuperar de conhecimentos e saberes.
concretização desse caminho, têm de preo- a pessoa até esta se «tornar aluno». Que in-
cupar-se, orientar, insistir, exigir, compreen- clusão, então? A possível, a dos casos mais Aprender ao longo da vida
der e, quando for preciso, castigar. leves (acho que ainda fomos a tempo com o Uma outra área social onde a política de in-
Zeca e a irmã), aqueles casos em que ainda clusão tem funcionado é a dos alunos adul-
Que inclusão? é possível inverter o rumo através do estrei- tos com baixa escolaridade e, por conse-
A escola, enquanto espaço privilegiado de tamento das regras ou da responsabiliza- quência, com precariedade de emprego. São
apropriação e consolidação de conhecimen- ção social. pessoas que, apesar de há algum tempo já
tos, enfrenta actualmente novos desafios. Mas não sejamos idealistas ao ponto de pen- terem tomado consciência de que as habili-
Para os conseguir enfrentar e resolver com sarmos que todos podem ser integrados na tações académicas são determinantes no
êxito tem de se tornar mais flexível e aberta escola pública. Actualmente existe em Por- progresso da carreira profissional, só agora
a novas atitudes. O paradigma da escola de tugal uma franja larga de jovens que vêm de voltaram à escola, uns porque vinham trazer
preparação de elites está a ser substituído famílias completamente desestruturadas e os filhos e aperceberam-se que a escola ofe-
pelo paradigma da escola universal, da escola elas próprias já marginalizadas e socialmente recia novas oportunidades de prossegui-
«para todos». Neste sentido, cabe à escola excluídas e que não conseguem ter uma ati- mento e conclusão de estudos, outros por-
e à administração escolar prepararem e tude positiva perante a escola e aquilo que que viram a possibilidade de obterem uma
darem condições aos professores para con- ela tem para lhes oferecer. Para resolver certificação para o ofício que sempre exerce-
seguirem responder aos novos desafios de estes casos de exclusão mais acentuados de- ram e que foi aprendido no trabalho com os
forma criativa e assertiva, viabilizando o en- viam, na minha opinião, ser criadas institui- que dele sabiam (vêm da época dos apren-
sino e criando novas respostas e possibilida- ções intermédias entre a escola pública e a dizes), outros ainda pelo prazer de saber
des. «casa de correcção», onde os jovens fossem mais, por uma questão de autoformação, de
dossier
20

poder perspectivar as coisas à luz da sabedo- penhamento e existem vários casos de su- capacidades intelectuais superiores e con-
ria e não somente pelo empirismo. Estes são cesso por esse país fora de jovens em difi- seguir também motivá-los e incentivar o de-
exemplos mais felizes ao nível da actuação culdades que conseguem conquistar a sua senvolvimento das suas aptidões e talen-
da escola. Para mim, enquanto profissional autonomia. tos.
da educação, é muito gratificante ver ho- Apesar de actualmente os poderes públicos Para os professores, saber motivar os alunos
mens e mulheres mais realizados e empe- e políticos estarem suficientemente sensi- e ajudá-los a desenvolverem capacidades
nhados – são na generalidade bons alunos bilizados para esta realidade, esta é, de facto, que se situam na área da excelência e que
e servem de exemplo aos que ainda sentem uma área em que ainda há muito por fazer, são o espelho das tão em voga boas práticas,
a escola e o ensino como uma obrigação. é necessário um grande investimento. é o reverso da medalha da primeira história
que aqui contei mas que, enquanto desafio,
Necessidades educativas especiais Motivar os alunos excelentes é igualmente importante e motivador.
Existe uma terceira área onde a necessi- Com o grau de exigência das aprendizagens
dade de inclusão é premente, é a dos alunos nivelado por baixo, surgiu um fenómeno Conclusão
com necessidades educativas especiais. São novo, a desmotivação dos alunos excelen- É consensual que o acesso à educação e a
jovens com deficiências motoras, cogniti- tes, sendo esta a última grande área onde qualidade das aprendizagens no ensino bá-
vas ou sensoriais, com necessidade de acom- a inclusão escolar requer especial atenção sico são condições essenciais ao desenvol-
panhamento individualizado de acordo com – a área da excelência. Esta desmotivação vimento social e económico de qualquer so-
as suas características e que na maioria dos não é tão notória no ensino particular ou ciedade actual. Muito embora o sucesso do
casos conseguem ter um progresso acadé- nas escolas públicas que, sem qualquer tipo processo educativo dependa de todos nós,
mico normal, o que lhes confere uma maior de ética, seleccionam os seus alunos com sociedade em geral e poderes políticos, o
integração na comunidade e mais oportu- base no estrato social ou nas médias alcan- professor enquanto agente de mudança as-
nidades de escolha do emprego. Estou a falar çadas. Nas outras, nas escolas que prati- sume aqui um papel-chave. Cabe a este des-
de jovens com perturbações da personalidade cam uma política de inclusão, a heterogenei- pertar a curiosidade nos alunos, ajudá-los a
ou da conduta, com problemas de comunica- dade de nível de conhecimentos entre os descobrir objectivos, estimular o conheci-
ção ao nível da fala ou da surdez e com pro- alunos é muitas vezes extremada, colocando mento e a aprendizagem e promover as con-
blemas de visão. Não é fácil levar este barco aos profissionais da educação dois desa- dições para o sucesso do processo de ensino-
a bom porto, porque em muitos casos a es- fios: por um lado, o adoptar de estratégias -aprendizagem e, depois, avaliar, repensar e
cola não tem capacidade de se apetrechar em que permitam recuperar os alunos mais fra- recomeçar... Profissionalismo, entusiasmo e
termos dos recursos humanos e materiais cos e, por outro, terem a capacidade, a sen- resistência são conceitos fundamentais de
para lidar com estas situações. Mas o que nos sibilidade, a preocupação de identificar os jo- sucesso, quer para alunos quer, principal-
falta em recursos sobeja em engenho e em- vens que se destacam pelas suas mente, para professores.
dossier
dossier revista FORMAR
número 62 21

Querer é poder

Do Norte de Portugal, de Macêda (Ovar),


O propósito inicial era mostrar que podia realizar o pro-
chega-nos o resultado de uma feliz IDEIA
que se operacionalizou num caso emble- jecto sem qualquer apoio do Estado, transformando as di-
mático de sucesso: um exemplo eficaz de in-
clusão social. ficuldades em desafios e deixando à porta do local o «coi-
Há doze anos atrás, o Sr. Aristides Santos era
dono de uma empresa de contabilidade. Um
tadinho» que há em cada um de nós e tantas vezes impede
dia, após o falecimento do pai, descobriu a expansão criativa.
que os números que o realizariam profis-
sionalmente eram outros (trabalhava por Sejam deficientes ou não, o trabalho é mesmo trabalho
conta própria na área da contabilidade) e
colocou em forma a ideia de constituir, em e veste-se a camisola deste team na Deficiprodut
nome individual, com a colaboração de mais
três pessoas, uma nova empresa onde a Sejam deficientes ou não, o trabalho é mesmo Sendo uma escola de exemplos de bem que-
matéria-prima era constituída por peles sor- trabalho e veste-se a camisola deste team na rer ou querer tecnicamente bem, o resultado
tidas, compradas a monte, com as quais co- Deficiprodut. está à vista. Diz o nosso entrevistado, que «é
meçaram por fazer manualmente chavei- «Comprar e vender a dinheiro» foi um prin- preciso apenas saber crescer e acreditar no
ros, porta-notas e outros pequenos objectos cípio a respeitar; mais a polivalência e o in- poder das ideias». A Deficiprodut é o exem-
do uso quotidiano. Eu vi: são uma obra- centivo de colocar a pessoa certa no lugar plo. Um exemplo a seguir, creio eu.
-prima! certo. Abrem-se à comunidade, aceitando vi-
Durante a entrevista, a vivacidade do olhar do sitas de escolas de todo o País, e acreditam Formar > Como surgiu a ideia de avançar
Sr. Aristides dava-nos a certeza de estarmos que o trabalho bem feito (as crianças que com este projecto?
na presença de uma pessoa fortemente mo- os visitam devem fazer elas próprias um
tivada e persistente, que afinal se definiu a porta-chaves – neste momento um golfinho Aristides Santos > Julgo que o meu pai é
ele próprio como «responsável e ditador» – em pele) é melhor que toda e qualquer publi- em parte responsável, quer por este projecto
mas que, na verdade, se revela um huma- cidade. quer pela minha forma de encarar a vida.
nista de um nível social de mérito. Esta empresa assume aos nossos olhos o Sempre me recusei a aceitar que a minha
O propósito inicial do seu projecto era mos- papel de uma Escola de Vida, pragmática, deficiência fosse obstáculo para o que qui-
trar que podia realizá-lo sem qualquer apoio que ajusta condições externas e capacidades
do Estado, transformando as dificuldades ou habilidades internas para pessoas que,
em desafios e deixando à porta do local o sós, à partida talvez não tivessem a coragem
«coitadinho» que há em cada um de nós e ou a atitude mais conveniente à realização Margarida Gil Marques
Psicóloga e Formadora
tantas vezes impede a expansão criativa. pessoal e social.
dossier
22

Conforme fomos tendo mais solicitações,


fomos empregando mais pessoas e o negó-
cio foi crescendo, começando a ser necessá-
rio um espaço maior e mais máquinas e mais
sofisticadas. Assim, com a ajuda do Crédito
Agrícola de Ovar comprámos umas instala-
ções novas para instalar a empresa e a fá-
brica e criámos uma linha comercial própria
que vende ao consumidor final, actualmente
com 9 viaturas na estrada. O contacto com
os clientes é feito pessoalmente. Os apoios
que recebemos do Centro de Emprego de
Aveiro (IEFP) também foram importantes
no sentido de aumentarmos os nossos pos-
tos de trabalho e, por conseguinte, a nossa
capacidade produtiva. Posteriormente con-
seguimos expandir o negócio para a Madeira,
Açores e, mais recentemente, para Espanha
onde temos uma firma nossa.

sesse fazer na vida. Podia demorar mais ou F. > Quais as dificuldades que sentiu na im- F. > Quantas pessoas trabalham actual-
menos tempo mas tinha que mostrar que plementação do projecto? mente na empresa?
era tão capaz como qualquer outro.
Um dia, numa ida ao supermercado com o A. S. > As dificuldades iniciais não foram A. S. > Directa ou indirectamente, trabalham
meu pai, encontrámos umas pessoas por- muitas porque éramos só quatro pessoas e na empresa cerca de 70 pessoas, das quais
tadoras de deficiência a pedir esmola. O daí que não tínhamos necessidade de gran- 44 são funcionários efectivos. Do total, 70%
meu pai comentou: «Que falta de inicia- des espaço ou máquinas. «Comprar e ven- são portadores de deficiências (umas físicas
tiva... se vendessem qualquer coisa toda a der a dinheiro» foi um princípio a respeitar. e outras mentais).
gente comprava!» Esta frase ficou-me... e
mais tarde, já após o falecimento do meu pai,
recordei-me deste episódio e, um pouco
cansado de trabalhar na área da contabili-
dade, sendo dono de uma firma, resolvi
transformar a ideia em projecto e constitui
uma empresa com mais três pessoas. O
projecto consistia em fazer manualmente
chaveiros, porta-notas e outros pequenos
objectos do uso quotidiano, sendo a maté-
ria-prima constituída por peles sortidas,
compradas a monte. Depois de feitos os ob-
jectos, íamos vendê-los, realizávamos di-
nheiro, comprávamos mais peles e voltáva-
mos a fazer mais e vendíamos de novo. Era
este o processo!
revista FORMAR
número 62 23

lho idêntico ao nosso e actualmente tem já


já três pessoas a trabalhar com ela. Penso que
poderemos servir de exemplo e alavanca
para muitas mais iniciativas.

F. > Sabemos que recentemente passou


uma reportagem sobre a sua empresa na te-
levisão e que recebeu 500 pedidos de em-
prego nos quatro dias seguintes...

A. S. > A Deficiprodut não é um asilo mas


um lugar onde o mérito profissional é dirigido
e compensado...

F. > Quais as principais dificuldades ac-


tuais?

A. S. > Penso que são as mesmas de qualquer


outra empresa. Há algum tempo foi o Centro
de Emprego de Aveiro que nos abriu portas
F. > Como olha para os empregados, Sr. Aris- Aliás, na Deficiprodut temos um horário dife- e apontou direcções. Agora teremos que di-
tides? rente... Trabalhamos de segunda a quinta- versificar mais destinos, novos mercados,
-feira para que às sextas-feiras todos pos- com o mesmo entusiasmo e paciência.
A. S. > Diminuídos no corpo ou na mente, sam gozar de um dia útil para tratar de assun-
mas não no trabalho. Juntando a produtivi- tos pessoais. (Inteligentemente, o Sr. Aristi- F. > Então quais os projectos para o futuro?
dade à realização pessoal, tudo se consegue. des descobriu que os funcionários felizes
A filosofia da empresa é oferecer a cada tra- são mais rentáveis e não há absentismo.) A. S. > Vamos investir nos Açores para onde
balhador as estruturas físicas e condições ne- já temos 14 pessoas contratadas e em Espa-
cessárias para que cada um faça o melhor do F. > Já contagiou alguém com o seu opti- nha, como já referi. O futuro dirá quais as
que sabe – uma realização da motivação de mismo? resistências que o Humor e o Dever irão ven-
competência que só pode trazer sucesso a cer! 80% dos nossos empregados mudaram
quaisquer tarefas. Trata-se de assumir uma A. S. > Julgo que sim. Incentivei uma se- as suas vidas e das suas famílias. Agora,
postura positiva de vida em que o espírito de nhora de Torres Novas que iniciou um traba- para nós, é CONTINUAR.
equipa e a vontade de fazer cada vez me-
lhor é a argamassa da coesão entre todos.

F. > Há um certo orgulho bom nessa posição


de vida. Crê que isso ajuda a inserção so-
cial?

A. S. > Claro. Juntamos a entreajuda a refor-


ços positivos e temos também tempo de
lazer. As famílias ficam mais felizes. Todos
somos cúmplices: no trabalho e fora dele.
dossier
24

Empreendedorismo
como veículo de
inclusão

Que perfil de competências para o em- O empreendedorismo é assumido como instrumento para
preendedor?
a transição de jovens para a vida activa, para a inclusão de
A > A aposta no empreendedorismo no grupos desfavorecidos (empreendedorismo social), para a
actual quadro de financiamento como
medida activa de emprego e de inclusão fixação de quadros altamente qualificados (empreendedo-
de públicos específicos
rismo qualificado) e para a mudança de estereótipos de
Num contexto económico actual, nacional
e mundial, em que aumenta o risco de ex- género ao nível do exercício profissional (empreendedo-
clusão duradoura do mercado de trabalho
e de maior precariedade do emprego, as
rismo feminino)
políticas e, consequentemente, os instru- zada apesar da existência de uma cultura (C&T), isto é, para o empreendedorismo qua-
mentos de apoio ao empreendedorismo ga- nacional avessa ao risco. lificado. O modelo de governação deste PO re-
nham maior relevo no quadro do actual ciclo No âmbito do QREN, aparecem sobretudo força ainda a intervenção neste domínio ao
de financiamentos (QREN1 2007-2013) e dois Programas Operacionais (PO) que apos- nível da «Igualdade de oportunidades entre
das políticas activas de emprego. O em- tam na exploração do potencial em matéria homens e mulheres» assumindo, no qua-
preendedorismo é assumido como instru- de espírito empresarial: o Programa Opera- dro da sua concepção e execução, alguns
mento para a transição de jovens para a cional Temático Factores de Competitivi-
vida activa, para a inclusão de grupos des- dade e o Programa Operacional Temático
favorecidos (empreendedorismo social), Potencial Humano (POPH).
para a fixação de quadros altamente qua- O primeiro integra o empreendedorismo nos
lificados (empreendedorismo qualificado) domínios transversais, nomeadamente no
e para a mudança de estereótipos de género que concerne ao «Tecido Empresarial, Inter- Filomena Faustino
Consultora
ao nível do exercício profissional (empreen- nacionalização e Empreendedorismo», que Coordenadora
dedorismo feminino). Esta aposta é sinali- aponta para o desenvolvimento de empresas da Quarternaire
Portugal, S.A.
1 Quadro de Referência Estratégico Nacional fortemente ligadas à Ciência e Tecnologia
revista FORMAR
número 62 25

princípios gerais: (i) «assegurar a não dis- a) Referencial de competências técnicas do empreendedor
criminação da participação feminina em do-
Pré-arranque da Empresa/Negócio
mínios relevantes para a competitividade
nacional (C&T, TIC e empreendedorismo qua- Domínios de Competência Competências técnicas
lificado)» e (ii) «divulgar informação e ac- Análise de contexto Seleccionar e interpretar a informação disponível
ções de sensibilização sobre os apoios dis- necessária à caracterização do contexto do negócio
(mercados, concorrentes, processos, recursos...)
poníveis, direccionados para públicos-alvo de
Identificar e seleccionar as instituições/prestadores de
discriminação, para a criação de empresas serviço relevantes na consolidação da ideia de negócio
Entidades de apoio técnico à formalização do «pro-
qualificadas». e formalização do «projecto»
jecto»
O POPH integra nos eixos prioritários três Transmitir objectivamente aos técnicos que encontra
nas instituições prestadoras de serviços o seu
que incluem o empreendedorismo como área «projecto»
de intervenção: Fontes/programas de financiamento Identificar, seleccionar e interpretar as várias fontes
de financiamento existentes
> o Eixo Prioritário 5 – Apoio ao Empreende- Estabelecimento de parcerias/alianças Identificar, seleccionar e estabelecer alianças
estratégicas
dorismo e à Transição para a Vida Activa,
Comunicar/dialogar de forma verbal e não verbal
contempla o apoio às iniciativas empresa- com os parceiros/potenciais parceiros
riais de base local orientadas sobretudo Negociar e obter consensos com parceiros/potenciais
para pessoas desempregadas, jovens à parceiros
procura do primeiro emprego, activos em Formulação/formalização do plano de negócios Formalizar o plano de negócios
risco de desemprego e mulheres; Legislação/procedimentos legais Identificar e compreender a legislação que contextua-
liza a área de negócio e a empresa que pretende criar
> o Eixo Prioritário 6 – Cidadania, Inclusão e
Identificar e compreender as formalidades do processo
Desenvolvimento Social, numa das suas de constituição de empresas
tipologias de intervenção – «Contratos lo-
cais de desenvolvimento social» – inte- A promoção do espírito empresarial fez-se es- B > características do empreendedor
gra a criação do próprio negócio como tipo- sencialmente através: e seu perfil de competências
logia de acção; Neste contexto de fomento do empreendedo-
> o Eixo Prioritário 7 – Igualdade de Género, (i) da desburocratização do processo de rismo importa trazer novamente à discus-
inclui o apoio ao empreendedorismo femi- constituição de novas empresas e da são alguns aspectos úteis, quer aos potenciais
nino como uma das suas tipologias de in- simplificação de vários procedimentos empreendedores quer aos facilitadores de
tervenção. administrativos; processos de empreendedorismo, parti-
(ii) da promoção do desenvolvimento do cularmente:
O enfoque no empreendedorismo no quadro espírito empresarial, facilitando o arran-
das políticas activas de emprego não é novo. que e a gestão das empresas e explo- Como se define um empreendedor? Como se
O anterior Quadro Comunitário de Apoio tinha, rando novas oportunidades de emprego. distingue um empreendedor de um não em-
comparativamente aos anteriores, uma abor- preendedor?
dagem consolidada e alargada do ponto de Neste encadeamento, o actual quadro re- > «O empreendedorismo é um comporta-
vista das políticas, orientações e instrumen- presenta uma continuidade de aposta no mento e não um traço da personalidade»,
tos de promoção do emprego, e particular- empreendedorismo como veículo de fomento (Drucker) porque o indivíduo empreende-
mente das formas de financiamento para a do emprego e da inclusão de grupos especí- dor manifesta-se através do que faz acon-
criação de novas empresas e para a promo- ficos (jovens à procura do primeiro emprego, tecer, pela combinação de competências,
ção da inovação e modernização empresa- activos em risco de desemprego, mulheres, técnicas e sociais/relacionais, transfor-
rial. Estas políticas e instrumentos encontra- quadros altamente qualificados, etc.), orien- mando-as em capacidades (conceito não
vam-se, a partir de 1998, formalizadas nos tado principalmente para a promoção de restritivo, porque integra o intra-empreen-
Planos Nacionais de Emprego. novas iniciativas empresariais. dedorismo).
dossier
26

Pós-arranque e desenvolvimento da Empresa/Negócio > O acto de empreender está associado à


inovação (Schumpeter e Drucker). A ino-
Domínios de Competência Competências técnicas
vação é a ferramenta específica dos em-
Compras Definir necessidades de compras e elaborar o plano de compras
preendedores e o meio através do qual eles
Seleccionar e identificar as matérias-primas e equipamentos/ferramentas
exploram a mudança como oportunidade
Identificar e seleccionar fornecedores
Negociar com os fornecedores (prazos de entrega, as condições para um negócio ou serviço diferente (Druc-
de compra, preços, quantidades...) ker). O que distingue um empreendedor de
Avaliar as capacidades de desempenho dos fornecedores um empresário.
Aprovisionamento/gestão de Definir o plano de armazenamento em função da natureza dos produtos > O empreendedor é um «indivíduo com ca-
stocks/gestão de armazém (matérias-primas e semiacabados e acabados)
Controlar a implantação dos produtos (organização, disposição,
pacidade de aprender, de combinar novas
conservação dos produtos e equipamentos/ferramentas) formas de conhecimento e materializá-lo em
Definir os níveis de stocks de matérias-primas e outros produtos (em inovações, que vai garantir a sobrevivência
função das previsões da procura ou das necessidades de produção)
e o desenvolvimento das organizações e
Gestão Gestão (geral e estratégica)
Definir orientações estratégicas para o negócio/empresa (estratégia glo- dos países» (Veloso e Felizardo).
bal, segmento-alvo, mercados/clientes) > Empreender é «uma espécie de roleta
Analisar e identificar os pontos fortes, pontos fracos (análise interna),
as oportunidades e as ameaças (análise externa) à empresa/negócio russa, um jogo no qual o jogador pode sair
Definir o plano estratégico e o plano de actividades a curto e médio seriamente ferido. No bolso e nos brios»
prazo (Wollheim e Marcondes).
Financeira
Analisar a situação financeira da empresa/analisar custos relativos
ao desenvolvimento da actividade Que motivos ou razões levam um indivíduo
Avaliação e controlo a accionar a sua capacidade empreende-
Analisar a evolução/comportamento de um conjunto de indicadores
(estatísticas das vendas, perfil dos clientes, perfil das encomendas...)
dora?
Identificar e analisar os desvios face às estratégias definidas, > Na maioria dos casos a componente prin-
identificando e implementando medidas de correcção
cipal que move um indivíduo a empreender
Desenvolvimento pessoal
Diagnosticar necessidades de informação (pessoais e colaboradores) é a ideia/oportunidade e a vontade de a
Gestão da informação Identificar as necessidades de informação para a gestão concretizar.
e desenvolvimento da empresa/negócio > A vontade de concretizar a oportunidade
Sistematizar e integrar a informação relacionada com as actividades
identificada (a ideia), através da observação
desenvolvidas
Marketing Definir um conceito para a imagem e posicionamento da empresa/negócio do meio que o rodeia, pode ser impulsio-
Conceber e implementar o plano de marketing da empresa/negócio nada por uma situação de insatisfação (in-
Organização, planeamento Planear e programar trabalho satisfação em relação ao emprego que tem
e programação do trabalho ou em relação à situação de desemprego).
Negociação comercial/negociação Comunicar/dialogar de forma verbal e não verbal > Quando os indivíduos abandonam o em-
institucional Adaptar o comportamento e os argumentos em função do perfil dos prego que têm para empreender um negó-
clientes e de outros interlocutores
Negociar e obter consensos com clientes e outros interlocutores
cio rompem com um certo status quo de se-
gurança psicológica que detêm face ao
Novas tecnologias de informação Utilizar diferentes recursos tecnológicos/informáticos
e comunicação empregador.
Controlo de qualidade Detectar anomalias no produto/serviço e processos associados
Identificar as suas causas e os factores de risco para a actividade/negócio Em que período da vida o indivíduo resolve
Definir, implementar e avaliar soluções para os problemas identificados empreender/criar um negócio?
Legislação/procedimentos legais Identificar e compreender a legislação que contextualiza a área > Alguns estudos apontam que a maioria
de negócio dos empreendedores nasce entre o fim da
vida universitária (22/23 anos) e os 30
anos. Dos 30 aos 40 anos, altura em
revista FORMAR
número 62 27

que as pessoas assumem compromissos > «O empreendedor é o indivíduo capaz de Fase de arranque e desenvolvimento do negócio
familiares, sobrepõe-se o bem-estar fami- actuar segundo esta dinâmica, assimi- Ser imaginativo/criativo
liar e a boa relação com a banca, através do lando a informação, integrando os conhe- Ser um sonhador/»ter um sonho»
cumprimento dos pagamentos das presta- cimentos e transformando as competên- Ser inovador e manter o ritmo de inovação constante-
mente no contexto do negócio/empresa
ções mensais, em detrimento do risco. cias em capacidades.» Gostar do risco/gostar de «jogar»
Ter coragem/tomar atitudes ou decisões quando elas
Como se desenvolve a atitude empreende- têm que ser tomadas/reagir de forma rápida e eficaz
dora? Ter autonomia
Ser ousado/»atrevido»
Ter/ser perseverante/ «teimoso»
Ser optimista
Acreditar naquilo que quer fazer e no que está a fazer
Criar uma identidade/uma imagem da empresa
(através da sua pessoa)
Focar-se no essencial e não dispersar
Observar/estar atento ao meio que o rodeia
Pensar a longo prazo (prospectivo)
Agir por antecipação (proactivo)
Demonstrar apetência por desafios
Lidar com situações não rígidas (salários, férias,
horários...)
Aprender > transformação da informação em conhe- Lidar com situações de stress
cimento (educação formal).
Apreender > aquisição de competências através da in- Lidar com as situações de fracasso/insucesso
tegração dos conhecimentos adquiridos – aplicação Fazer das situações experienciadas uma
dos conhecimentos em novas situações que permite aprendizagem
estabelecer um «saber-fazer». Ter vontade de aprender e aprofundar informações
Empreender > transformação das competências em e conhecimentos relevantes para a actividade que
capacidades: «fazer-com-saber». O indivíduo empreen- desenvolve
dedor possui combinações únicas de competências, > Os projectos nascem do cruzamento (A)
que se manifestam através daquilo que ele «faz acon- entre as aspirações do empreendedor (B),
tecer».
(Veloso & Felizardo, 1998)
da percepção das suas competências e Bibliografia
recursos (C) e da sua percepção das opor- Boterf, G., L’ingénierie des competences, Paris, Éditions d’Or-
ganisation, 1998.
Que perfil de competências deve ter um em- tunidades ou possibilidades que oferece o Bruyat, C., «Créer ou ne pas créer? Une modélisation du
preendedor? ambiente (D). processus d’engagement dans un projet de creation d’en-
treprise», in Revue de l’Entrepreneuriat, vol. 1, n.º 1, 2001,
pp. 25-42.
Fases de mobilização Domínios de competências
Faustino, Filomena (coord.), «Carta de Competências do
de competências Empreendedor», desenvolvido no âmbito do projecto De-
senvolvimento Empresarial de Loures, PIC-EQUAL, polico-
Funcionamento

> Pós-arranque do negócio > Gestão corrente e estratégica (Comercial, Recursos Huma-
nos, Financeira e Organizacional
piado, 2004.
Competências Técnicas/Instrumentais

Drucker, P., Inovação e Gestão, Lisboa, Biblioteca de Ges-


> Utilização de ferramentas informáticas tão Moderna, 1986.
Componente variável Observatório da Criação de Empresas, «Resultados do
> Competências técnicas/instrumentais associadas a um
Competências Técnicas/instrumentais associadsa a um negócio

de empreendedor para inquérito de 2001», IAPMEI.


dado negócio, resultantes de processos de formação for-
empreendedor Pinto, Avelino (coord.), «Empreendedorismo e inovação tec-
mal e da experiência
Implementação

nológica – plataformas para o desenvolvimento regional»,


> Pré-arranque do negócio > Análise de contexto
tecminho – Departamento de Empreendedorismo, Maio de
> Identificação de unidades informativas e de apoio técnico 2003.
> Identificação de fontes de financiamento Nyan, Barry, «Desenvolver a capacidade de aprendizagem
das pessoas – perspectivas europeias sobre a competên-
Competências sociais e relacionais

> Estabelecimento de parcerias cia de auto-aprendizagem e mudança tecnológica», DG


> Formalização de plano de negócio XXII.
Educação, Formação, Juventude – Comissão Europeia,
Pré-arranque

> Competências sociais e relacionais > Estruturante no perfil do empreendedor 1996.


> Pessoal Wollheim, Bob e Marcondes, Pyer, Empreender não é Brin-
> Relacional cadeira, Negócio Editora, 2003.

> Liderança
> Inovação/criatividade
Ideia

> (...)
análise crítica
28

Os trabalhadores
seniores face
ao mercado
de trabalho

Introdução Em Portugal, segundo dados do EUROSTAT Défices nos níveis de qualificação


No contexto actual de rápidas mudanças, in- relativos a 20051, a idade média de saída Entre os factores que dificultam a relação dos
certeza e instabilidade, os países ocidentais do mercado de trabalho (63,1) era a ter- trabalhadores mais velhos com o mercado de
industrializados e, em particular, os membros ceira mais elevada da Europa, estando pró- trabalho salientam-se as baixas qualifica-
da União Europeia, enfrentam uma série de xima do estabelecido pela meta de Barce- ções escolares e profissionais de que a maio-
desafios acrescidos que decorrem do rápido lona, e em 2006 a taxa de emprego dos ria destes indivíduos é detentora2, a conse-
envelhecimento da população e que têm portugueses entre os 55 e os 64 anos quente inadequação e obsolescência de
conduzido à crescente centralidade do tema (50,1) correspondia à definida pela meta competências (acompanhados pelo desa-
«promoção do envelhecimento activo» na de Estocolmo. No entanto, os dados rela- parecimento de inúmeros perfis profissionais
sua agenda política. Em 2000, o Conselho Eu- tivos aos níveis de actividade dos trabalha-
2 Segundo dados do EUROSTAT relativos a 2002, 85,4% dos portugueses entre
ropeu de Lisboa definiu a Estratégia Europeia dores seniores colocam Portugal numa os 45 e os 54 anos e 92% dos portugueses entre 55 e os 64 anos possuíam
habilitações iguais ou inferiores ao 9º ano de escolaridade, enquanto no con-
para o Emprego (ou Estratégia de Lisboa) no posição só aparentemente favorável, na junto dos 25 países da União Europeia as percentagens eram de 39,1 e de
50,4, respectivamente.
quadro da qual foram mais tarde formula- medida em que parece ser claro que estes
das duas metas principais relacionadas com trabalhadores apresentam especiais difi-
o envelhecimento activo: até 2010, aumen- culdades no que respeita a sustentabili-
tar em cerca de cinco anos a idade média dade do emprego, que se distinguem das Marta Sousa Ribeiro
Conselheira de Orientação
efectiva de saída do mercado de trabalho da de outros grupos etários e que poderão Profissional no Instituto do Emprego e
União Europeia (meta de Barcelona) e elevar tornar, a curto prazo, estas estatísticas Formação Profissional, IP
para 50% a taxa média de emprego de ho- menos positivas. Joaquim Luís Coimbra
Professor associado na Faculdade de
mens e mulheres entre os 55 e os 64 anos Psicologia e de Ciências da Educação
(meta de Estocolmo). 1 http://ec.europa.eu/eurostat da Universidade do Porto
revista FORMAR
número 62 29

O estímulo sustentado ao envelhecimento activo Acções de Formação Profissional (DGEEP,


2003)4, os trabalhadores com idade igual ou
implica a implementação de estratégias que tenham superior a 55 anos representavam apenas
5% do total dos activos que frequentaram ac-
como princípio orientador a adopção de uma abor- ções promovidas pelas empresas.
Diversos estudos têm demonstrado que o
dagem preventiva e promotora do acesso, manuten- nível de qualificação influencia a manuten-
ção e progressão no emprego e que contrariem os ção e acesso ao emprego pelos mais velhos.
O estudo desenvolvido pelo Centro Interdis-
factores que ameaçam a continuidade dos trabalha- ciplinar de Estudos Económicos (CIDEC)5 re-
velou que os limites de idade nos recrutamen-
dores mais velhos no mercado de trabalho tos são mais comuns ao nível da metade
inferior da tabela de qualificações (profis-
nos quais iniciaram e desenvolveram a sua do Instituto do Emprego e Formação Profis- sionais qualificados ou mais baixo) e mais
actividade profissional) e, não menos im- sional (IEFP, IP) relativos a 20063, cerca de raros na metade superior (sobretudo ao nível
portante, a não valorização, reconhecimento 14% do total de indivíduos integrados em ac- dos dirigentes).
e certificação de um conjunto de saberes ções de formação profissional promovidas A substituição dos trabalhadores de meia
adquiridos ao longo da vida. por este organismo tinham 45 ou mais anos idade parece também ser função directa dos
Apesar disso, mas não menos relevante, os e, de acordo com o Inquérito à Execução das
trabalhadores mais velhos (em situação ou 4 http://www.dgeep.mtss.gov.pt/estatistica/formacao/fpexec2003pub.pdf

não de desemprego) estão sub-representa- 3 Instituto do Emprego e Formação Profissional (2006) Síntese dos Progra- 5 Centeno, L. (Coord.) (2000). Os trabalhadores de meia-idade face às rees-
mas e Medidas de Emprego e Formação Profissional (Dezembro 2006). truturações e políticas de gestão de recursos humanos. Observatório do Em-
dos na população aprendente: segundo dados Disponível em www.iefp.pt (estatísticas e publicações). prego e Formação Profissional, Colecção «Estudos e Análises», n.º 30.
análise crítica
30

níveis de qualificação dos mesmos, i.e., os der a forte taxa de abandono do mercado de Saliente-se que a promoção do envelheci-
trabalhadores de meia idade e mais idosos trabalho por parte dos trabalhadores mais ve- mento activo não é (ou não tem de ser) si-
posicionados no topo da tabela das qualifica- lhos, que se estima que seja de cerca de nónimo de uma obrigatoriedade de perma-
ções são mais dificilmente substituíveis6. O 20% 11 e estão associados a maiores níveis de nência na vida activa após a idade legalmente
Relatório Employment in Europe (2004)7 re- perturbação psicológica nos desemprega- estabelecida para a reforma actualmente.
vela uma redução de 14% e um aumento de dos com mais de 40 anos12. Mais do que aumentar a idade mínima de
36% na probabilidade de encontrar emprego elegibilidade a este mecanismo, reforçamos
para os trabalhadores com baixos e elevados Promover o envelhecimento activo que o desafio deverá consistir em criar con-
níveis de qualificação, respectivamente. O estímulo sustentado ao envelhecimento dições para que uma proporção mais ele-
activo implica, pois, a implementação de es- vada de pessoas actualmente no grupo
Discriminação baseada na idade tratégias que tenham como princípio orien- etário dos 40-64 anos que, como vimos,
Com forte impacto na relação entre os traba- tador a adopção de uma abordagem preven- apresenta dificuldades de sustentabilidade
lhadores seniores e o mercado de trabalho tiva e promotora do acesso, manutenção e do emprego, se mantenha activa.
destaca-se, ainda, a discriminação baseada progressão no emprego e que contrariem os
na idade8 de que estes trabalhadores são factores que ameaçam a continuidade dos tra- Aprender ao Longo da Vida
frequentemente vítimas e cujo reconheci- balhadores mais velhos no mercado de tra- Tomando na devida conta os já referidos gra-
mento e combate efectivos parecem ser balho. ves défices de qualificação escolar e profis-
constantemente ignorados pelas políticas Consideram-se, assim, positivas as medidas sional (certificada) da população activa por-
que visam o envelhecimento activo (ou, pelo presentes na nova Estratégia Nacional de tuguesa, em particular os dos trabalhadores
menos, nelas não constam de forma explí- Envelhecimento Activo13 que visam aumen- mais velhos, além das novas exigências do
cita)9. tar o emprego e combater o desemprego dos mercado de trabalho, a sequência rígida
Os estereótipos que estão na base da discri- trabalhadores idosos, como a isenção da «educação-trabalho-reforma»15 deve ser de-
minação pela idade resultam muitas vezes Taxa Social Única na contratação de trabalha- finitivamente quebrada, pois no contexto ac-
de generalizações super-simplificadas que dores idosos e os apoios à contratação de tra- tual a aquisição de novos conhecimentos, o
geram crenças erradas relativas ao desem- balhadores idosos. No entanto, sem uma mu- desenvolvimento de novas competências,
penho profissional, capacidades de aprendi- dança radical na atitude dos empregadores a actualização, o aperfeiçoamento ou a recon-
zagem e motivação para a formação da po- relativamente às supostas desvantagens da versão profissional são determinantes nas
pulação em questão e que estão presentes contratação dos trabalhadores seniores14 diversas, e crescentemente mais frequentes,
mesmo em situações em que a competên- pensamos que estas medidas não terão a descontinuidades da carreira e do desenvol-
cia e qualificações dos mais velhos são com- repercussão esperada. Do mesmo modo se vimento vocacional dos indivíduos.
paráveis às dos trabalhadores mais novos10. reconhecem como positivas todas as medi- A promoção do envelhecimento activo não
A percepção de discriminação, e o conse- das que promovam a qualidade do emprego, pode, assim, ser desligada da promoção de
quente desencorajamento face à perspectiva definida pela presença de boas condições uma cultura de aprendizagem ao longo da
de encontrar um novo emprego, parecem de saúde e segurança no trabalho, flexibilidade vida que inclua os trabalhadores seniores. As
ser os principais motivos para compreen- na organização do trabalho e acesso à forma- pessoas só planearão e concretizarão acti-
6 c.f. n.º 5
ção, e que tornem financeiramente vanta- vidades coerentes de aprendizagem ao longo
7 http://ec.europa.eu/employment_social/news/2004/sep/eie2004_en.html joso permanecer no mercado de trabalho. das suas vidas se quiserem aprender 16, i.e.,
8 A discriminação baseada na idade consiste em decisões tomadas por um se estiverem motivadas para tal, e a motiva-
empregador relativamente a um determinado indivíduo, em qualquer fase 11 c.f. n.º 5
de um contrato de trabalho (desde o processo de selecção até ao termo do ção e atitudes face à aprendizagem são fac-
contrato), que são apenas baseadas na sua idade cronológica [Sargeant, M. 12 Sousa Ribeiro e Coimbra (2006) Os desempregados seniores e a procura
(2001). «Lifelong learning and age discrimination in employment.» Educa- de emprego: Estudo exploratório. Comunicação apresentada na III Conferên- tores de grande plasticidade, susceptíveis de
tion and the Law, 13, 2, 141-153]. cia «Desenvolvimento Vocacional: Carreira e Longevidade», organizado
pelo Instituto de Educação e Psicologia da Universidade do Minho.
9 Apesar de esta forma de discriminação ser proibida na directiva sobre igual-
dade no emprego (2000/78/CE), transposta para a legislação portuguesa 13 Consultar a «Proposta de Reforma das Políticas Activas de Emprego» dis- 15 Jones, H. (2005). «Lifelong learning in the European Union: Whither the Lis-
com a Lei do Código do Trabalho 99/2003 e com a Lei 35/2004 que o regu- ponível em http://www.mtss.gov.pt/preview_documentos.asp?r=989&m=PDF bon Strategy?» European Journal of Education, 40, 3, 247-260
lamenta. 14 Consultar a campanha «Pela diversidade. Contra a discriminação», uma ini- 16 Comissão Europeia (2000). Memorando sobre Aprendizagem ao Longo da
10 Warr, P. (1998) «Age, Work and Mental Health.» In K. Schaie & C. Schooler ciativa da União Europeia que está disponível em http://www.stop-discri- Vida. Documento de trabalho dos serviços da comissão. Bruxelas: SEC
(Eds), Impact of Work on Older Workers. New York: Springer mination.info (2000) 1832.
revista FORMAR
número 62 31

desempenharem um papel central no su- ridas pela participação em acções de apren- dependentes dos níveis de qualificação e de
cesso na confrontação com tais oportuni- dizagem, por que razão quererá aprender? competências dos cidadãos, logo dos res-
dades17, superando o papel da capacidade Desnecessário será assinalar o risco envol- pectivos investimentos que estes neles rea-
cognitiva dos aprendentes18. Quando fala- vido na ligação directa entre aprendizagem lizem.
mos da promoção de uma orientação para a ao longo da vida e empregabilidade em socie- Parece da maior pertinência perceber qual o
aprendizagem ao longo da vida a palavra- dades, como a nossa, em que os empregos significado que a aprendizagem tem para
-chave deverá ser, assim, antes de mais, a disponíveis são insuficientes e, portanto, in- os indivíduos e tornar a aprendizagem ali-
promoção da motivação para aprender, para
que se torne viável o desenvolvimento do
equipamento psicológico que optimize a
qualidade das aquisições19.
Apesar de muito próxima da noção de promo-
ção da empregabilidade, a valorização so-
cial e profissional do investimento em edu-
cação e formação ao longo da vida não
deverá, no entanto, ser exclusivamente as-
sociada a esta. Tal como é referido no «Me-
morando sobre Aprendizagem ao Longo da
Vida», publicado em 2000: «[...] a emprega-
bilidade é, sem dúvida, um resultado funda-
mental de uma aprendizagem bem suce-
dida, mas a inclusão social assenta em outros
aspectos que não apenas a garantia de um
trabalho remunerado. A aprendizagem abre
as portas à construção de uma vida produ-
tiva e satisfatória, muito para além das pers-
pectivas e situação de emprego de um indi-
víduo» (p. 10). Dada a conjuntura actual,
não favorável à continuidade dos trabalhado-
res seniores no mercado de trabalho, como
motivar os indivíduos para a aprendizagem
ao longo da vida se esta estiver excessiva-
mente ligada ao emprego (e se, simultanea-
mente, a pessoa se perceber como pouco
valorizada por um mercado que a considera
«velha»)? Por outras palavras, se a pessoa
não sentir no contexto laboral uma recepti-
vidade para as novas competências adqui-

17 Noe, R. (1986). «Trainees’ attributes, neglected influences on training ef-


fectiveness.» Academy of Management Review, 11, 4, 736-49.
18 Colquitt, J., De Pine, J. & Noe, R. (2000). «Towards an integrative theory of
training motivation: A meta-analytic path analysis of 20 years of research.»
Journal of Applied Psychology, 85, 678-701.
19 Capacidade do indivíduo para obter, manter e progredir no emprego dese-
jado [Sargeant, M. (2001). «Lifelong learning and age discrimination in
employment» Education and the Law, 13, 2, 141-153].
análise crítica
32

ciante, salientando-se o seu papel na pro- de auto-eficácia para a aprendizagem (grau A promoção da auto-eficácia para a apren-
moção da realização pessoal, do bem-estar, em que o indivíduo está confiante de que dizagem poderá ser facilitada pela parti-
da auto-estima, de uma cidadania mais ac- será bem sucedido numa situação de apren- cipação dos trabalhadores seniores em
tiva, da motivação para continuar a aprender dizagem22), maior a orientação do indivíduo processos de Reconhecimento, Validação
e/ou da empregabilidade, considerando-se para a aprendizagem ao longo da vida (defi- e Certificação de Competências (RVCC),
todos estes possíveis atractivos em con- nida como um desejo e disponibilidade para nos quais se assume que a aprendiza-
junto. compreender novos conceitos e desenvolver gem ocorre ao longo da vida, com a vida e
Um dos estudos desenvolvidos no âmbito ou aperfeiçoar competências) e, consequen- em todos os domínios da vida, permitindo-
da investigação de Sousa Ribeiro e Coim- temente, mais intensa a sua intenção de fre- -se, assim, o reconhecimento, valoriza-
bra20 sugere que a participação em acções quentar formação profissional no curto prazo. ção, validação e certificação de todo
de formação profissional pode ser promo- A promoção da auto-eficácia para a apren- o capital que o indivíduo possui e que,
tora do bem-estar psicológico (os partici- dizagem – um objectivo ainda infrequente muitas vezes, é desconhecido e/ou des-
pantes desempregados que se encontra- nas intervenções formativas junto de adul- valorizado pelo mercado e pelo próprio.
vam a frequentar formação profissional tos – é, assim, fundamental quando se pre-
apresentavam níveis mais elevados de satis- tende motivar as pessoas para a construção Reflexões finais
fação com a vida e inferiores níveis de de projectos de vida que contemplem o in- Apesar de os trabalhadores seniores
desânimo e perda de confiança do que os vestimento pessoal em oportunidades de serem considerados um grupo estraté-
participantes desempregados que não se aprendizagem, pois baixos níveis de auto-efi- gico para o desenvolvimento sustentável
encontravam a frequentar formação profis- cácia para a aprendizagem podem bloquear da União Europeia nos próximos anos, por
sional), e que a frequência de um curso de o envolvimento dos indivíduos no acto de razões que se prendem com o rápido en-
formação proporcionou o acesso a, pelo aprender pelo receio de fracassarem ou de velhecimento demográfico, apresentam
menos, duas das funções latentes do traba- não serem capazes de aprender e pela maior actualmente dificuldades de sustentabi-
lho (estruturação do tempo e propósito co- vulnerabilidade à intolerância ao fracasso lidade no emprego sobre as quais importa
lectivo), propostas por Jahoda21 como corres- (um elemento indispensável para apren- reflectir. Para que a equação «longevi-
pondendo a necessidades sociopsicológicas der), além da correlativa mais elevada pro- dade pessoal = longevidade profissional»
intrínsecas à relação do indivíduo com o tra- babilidade para a desistência e desinvesti- seja uma realidade, as políticas activas
balho salientando, assim, a importância da mento face a obstáculos ou desafios de emprego deverão contemplar medidas
sua privação em situação de desemprego. (tendencialmente percebidos como intrans- que impulsionem efectivamente o enve-
Os resultados de uma outra investigação de poníveis). lhecimento pessoal e profissionalmente
Sousa Ribeiro e Coimbra sugere que a percep- Estes aspectos são particularmente impor- enriquecido através da promoção da qua-
ção da utilidade de frequência de formação tantes quando se trata de trabalhadores se- lidade do emprego, do combate a todos os
profissional é a variável que melhor prediz a niores formalmente pouco escolarizados, factores que ameaçam a continuidade dos
intenção de frequência de formação profis- que abandonaram precocemente o ensino trabalhadores mais velhos no mercado
sional a curto prazo. Para que as pessoas formal obrigatório, tendo vivido uma experiên- de trabalho (principalmente os seus dé-
se sintam motivadas para aprender é funda- cia escolar pouco gratificante na esmaga- fices nos níveis de qualificação escolar
mental, por isso, que percebam vantagens no dora maioria dos casos, conducente ao de- e profissional formalmente reconhecidos
investimento pessoal em acções de apren- senvolvimento de uma atitude de hostilidade, e a discriminação baseada na idade) e do
dizagem. O mesmo estudo evidencia tam- desconfiança e até de defesa relativamente estímulo à disponibilidade, motivação e
bém que, quanto mais forte o sentimento à educação/formação23. capacidade para aprender, no quadro de
um processo de desenvolvimento pes-
20«A Vivência do Desemprego na Meia-idade e suas Consequências Psicos- 22Lim, G. & Chan, A. (2003). «Individual and situational correlates of moti-
sociais», que integra três estudos desenvolvidos junto de indivíduos em- vation for skills upgrading: An empirical study.» Human Resource Develop- soal e vocacional, que cada sénior dese-
pregados e desempregados com idade igual ou superior a 40 anos. Centro ment International 6, 2, 219–242.
de Desenvolvimento Vocacional e Aprendizagem ao Longo da Vida da Facul- 23Crossan, B., Field, J., Gallacher, J. & Merrill, B. (2003). «Understanding par-
javelmente deve protagonizar tomando
dade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto.
ticipation in learning for non-traditional adult learners: Learning careers «nas suas mãos» as rédeas da tarefa de
Jahoda, M. (1982) Employment and unemployment. A socio-psychological
21 and the construction of learning identities.» British Journal of Sociology of
analysis. Cambridge: Cambridge University Press. Education, 24, 1, 55-67. fazer a sua história.
análise crítica revista FORMAR
número 62 33

Por um mercado
de trabalho sem
discriminações

Uma etapa num percurso europeu A EQUAL é um programa que visa promover a expe-
A EQUAL constitui a terceira geração de pro-
gramas de iniciativa comunitária, financiados rimentação de abordagens inovadoras na resolução
pelo Fundo Social Europeu, e inscreve-se
num percurso realizado pela Comissão Eu- de problemas relacionados com o combate à discri-
ropeia e pelos Estados-membros com o ob-
jectivo de perceber como podemos melhorar
minação no acesso e no mercado de trabalho, para
as intervenções destinadas a promover a que os seus resultados possam, posteriormente, ser
inserção no mercado de trabalho dos gru-
pos mais desfavorecidos. integrados nas práticas e políticas nacionais e repro-
A necessidade de inovar as práticas e as
políticas sociais radica na constatação de duzidos em maior escala
que um número crescente de pessoas fica
à margem dos sistemas de educação, forma- Quando chegamos à EQUAL estamos perante que asseguram respostas integradas aos
ção e emprego ou, quando neles participa, uma abordagem fundada numa experimen- problemas dos públicos-alvo, numa base ter-
dificilmente se insere num mercado de tra- tação que envolveu muitos milhares de pes- ritorial, que envolvem e responsabilizam os
balho de forma duradoura e num emprego soas e de entidades além de recursos finan- públicos-alvo na concepção e implementa-
sem discriminações, constatação esta feita ceiros importantes, a nível europeu e ao
não só no plano nacional como no plano eu- longo de muitos anos, e não perante uma
ropeu. «ideia» de alguém ou de alguma entidade,
Neste percurso feito pela Comissão Euro- por mais qualificada que seja. É por todas
peia em conjunto com os Estados-mem- estas razões que as intervenções da EQUAL
bros, com quase duas décadas, o enfoque e assentam em parcerias, envolvendo entida-
os objectivos foram evoluindo à luz da expe- des de natureza diversa e complementar
rimentação que foi sendo feita e das apren- (organismos públicos, entidades formadoras, Ana Vale
Gestora do PIC EQUAL
dizagens dela resultantes. parceiros sociais, ONG, IPSS, empresas, etc.)
análise crítica
34

ção dessas intervenções (empowerment), balho e na nossa vida profissional, social e


Atendimento Integrado no Concelho de Mato-
que beneficiam da cooperação com outras sinhos foi uma metodologia criada e testada pessoal, corresponde uma «muldimensiona-
parcerias de outros Estados-membros (coo- no âmbito do projecto IRVA – Inserção Real lidade» dos problemas, sendo impossível
peração transnacional) e que integram a na Vida Activa, que promove novas modali- manter uma abordagem isolada dos problemas
noção de igualdade de género em todas as dades de trabalho interinstitucional que apos- sem que se corra o risco da ineficácia das
tam na flexibilidade e combatem a fragmen-
dimensões das intervenções. tação das respostas. Através da atribuição de
respostas.
um gestor de caso, o indivíduo é alvo de uma A inovação social exige uma mudança nas
A EQUAL e a inovação social avaliação pormenorizada, numa abordagem práticas e nos processos subjacentes às nos-
A EQUAL define-se como um laboratório onde multidimensional. O trabalho em parceria, a sas relações sociais e às nossas políticas so-
abordagem territorializada que procura incen-
são testadas novas intervenções cujos re- ciais e implica mudanças de comportamentos
tivar os recursos locais e o posicionamento das
sultados são consubstanciados em produtos pessoas no centro da actuação dos serviços e de atitudes no plano pessoal e social difíceis
tangíveis susceptíveis de serem apropriados conferem eficácia à resposta. de operar. A compreensão da dificuldade da ta-
por outros e replicados. Enquanto laboratório, refa é indispensável, sob pena de se criarem
a EQUAL tem uma dimensão experimental, de A inovação social surge como uma necessi- frustrações e, sobretudo, sob pena de não se
construção de «protótipos», mas a experi- dade de alterar práticas e melhorar políticas ter em consideração o tempo e o investimento
mentação que lhe está associada e o reconhe- de forma a responder melhor às necessidades que exige para que a mudança ocorra em be-
cimento do seu valor através da validação das pessoas e, sobretudo, das que sofrem nefício das pessoas.
dos seus produtos (por outros que não os in- algum tipo de discriminação como as mulhe-
tervenientes na sua concepção) conferem-lhe res, os imigrantes, as pessoas com deficiên- O modelo de intervenção EQUAL
um real potencial de mudança em muito maior cia, os trabalhadores mais velhos. Por outro O modelo de intervenção preconizado pela
escala. A inovação produzida no contexto da lado, à complexidade crescente da nossa so- EQUAL pressupõe o desenvolvimento dos pro-
EQUAL está associada e repercute-se nas prá- ciedade, decorrente em grande parte da glo- jectos inovadores em três etapas distintas: a
ticas sociais em matéria de mercado de traba- balização, da evolução permanente e acelerada Acção 1, consagrada à elaboração do diag-
lho, o que a coloca no domínio da inovação so- das tecnologias da informação e da comuni- nóstico de necessidades de inovação e con-
cial. cação, com impacto directo no mercado de tra- sequente delimitação rigorosa do perímetro do
problema que se pretende resolver, a escolha
dos parceiros que constituirão a parceria em
função dos respectivos contributos para a
resolução do problema, a formalização do
acordo de parceria que inclui a definição das
regras de organização e funcionamento da
parceria, as tarefas e responsabilidades de
cada parceiro e respectivo orçamento, a con-
solidação do projecto; a Acção 2, consagrada
ao desenvolvimento do projecto e conse-
quente elaboração dos produtos que materia-
lizam a solução testada e sua validação; a

O projecto b.sapiens desenvolveu metodolo-


gias de formação on-job, flexíveis e interacti-
vas, centradas na dinâmica pessoal e profis-
sional de cada indivíduo. Porque a inovação era
o grande desafio, o projecto centrou-se na
criação de modelos inovadores como forma de
melhorar a performance on-job, procurando va-
lorizar as competências dos trabalhadores
mais velhos e a sua transferência para os
mais novos.
revista FORMAR
número 62 35

Etapas Objectivos
Constituindo-se como uma resposta inova-
dora aos problemas crescentes de delinquên-
1 > Definir prioridades Identificar necessidades de inovação nas soluções e respostas con-
cia juvenil e abandono escolar precoce, o
vencionais com o contributo de sectores diversificados da sociedade.
projecto «GPS - Gerar Percursos Sociais» de-
senvolveu um programa de Competências
2 > Conceber e testar Experimentar novas abordagens e novas práticas e conceber novas
Pessoais e Sociais, cujos bons resultados se
soluções, recorrendo à partilha de ideias e recursos e ao envolvimento
devem, em grande parte, ao modelo teórico do
e contribuição activa de parceiros e beneficiários.
programa que identificou, de uma forma muito
clara, as diferentes variáveis foco de uma in-
3 > Validar Promover a melhoria e o reconhecimento social das novas soluções
tervenção desta natureza e ao empowerment
tendo por base várias dimensões da qualidade, com recurso ao
dos jovens participantes.
feedback e análise crítica de peritos, de pares e dos próprios bene-
ficiários.
Acção 3, consagrada à disseminação e trans-
4 > Disseminar e transferir Proceder à difusão de novas soluções e à sua transferência para as
ferência dos produtos e resultados. políticas e práticas de outras organizações interessadas na sua
A experiência mostrou que o percurso des- apropriação e incorporação.
tas três etapas é fundamental ao processo
de inovação. A cada uma delas está associado 5 > Avaliar (on-going) Medir o impacto das novas soluções nas competências das pessoas
(beneficiários e agentes), nos processos de trabalho e nos «servi-
tempo e recursos financeiros próprios e a sua
ços» das organizações envolvidas e no grau de satisfação dos be-
individualização ajuda, por um lado, os ope- neficiários, numa óptica de melhoria contínua e da consolidação e
radores a organizarem-se e, por outro lado, sustentação de resultados.
no final de cada etapa permite fazer um ba-
lanço sobre o trabalho realizado e a justifica-
ção ou não de se passar à etapa seguinte. Factores dinamizadores do ciclo jectivo. Se estas condições não estiverem
A cada uma destas etapas está também as- da inovação reunidas dificilmente haverá inovação.
sociado um processo inovador, na medida em Quando afirmamos que a inovação produ-
que por todas elas perpassam os princípios zida na EQUAL é induzida pelo grau de incor- O papel dos programas experimentais
EQUAL, indutores eles mesmos de inovação. poração dos princípios EQUAL, o que estamos Se no contexto da inovação tecnológica ou
a dizer é que a inovação emerge da criação nos processos produtivos ninguém põe em
O ciclo da inovação de um contexto favorável para esse efeito, da causa a necessidade de se passar por uma
O modelo de intervenção EQUAL encontra sua valorização e da alocação de tempo e de fase inicial de concepção do produto, da sua
tradução no ciclo da inovação expresso no recursos humanos e financeiros a esse ob- experimentação e prototipagem, o mesmo
diagrama a seguir. não acontece quando estamos a falar de
inovação social. Neste domínio, o carácter ex-
O projecto «e-Change» propôs-se testar duas
figuras de organização do trabalho num quadro
perimental é muitas vezes assumido como
de gestão das transições. Estas duas figuras, marginal, sem impacto e desvalorizado.
complementaridade entre actividades e agru- Uma das observações que é usual ouvir-se
pamento de empregadores, propõem funda- a propósito desta temática é a de que os
mentalmente uma reorganização dos tem-
projectos experimentais, de pequena dimen-
pos de trabalho, bem como uma diferente
afectação destes em actividades comple-
mentares – no caso da primeira figura. Visam A Metodologia ENE – Empreender na Escola,
contribuir para responder ao aumento da pre- desenvolvida pelo projecto ENE nasceu para
carização do mercado de trabalho e para uma promover o espírito empreendedor através
tendência crescente de trajectórias profis- do ensino e da aprendizagem nas escolas, re-
sionais progressivamente mais instáveis e velando-se um importante recurso na «edu-
segmentadas. cação para a cidadania» dos jovens do en-
sino secundário e escolas profissionais.
análise crítica
36

Factores que dinamizam o ciclo da inovação O «Kit Pedagógico de Formação na Pre-


venção e Combate ao Tráfico de Mulheres
1 > Aprendizagem permanente para Fins de Exploração Sexual» foi con-
Criar uma cultura e ambiente indutores de aprendizagem contínua; desenvolver competên-
cebido e validado no âmbito da Parceria
cias e novas capacidades operacionais através da formação, da partilha de ideias e experiên-
cias e do trabalho colaborativo de diferentes actores.
de Desenvolvimento do projecto CAIM –
Cooperação, Acção, Investigação, Mundi-
2 > Parceria visão –, constituída pela Comissão para
Conjunto de entidades interessadas e comprometidas em contribuir com as suas competên- a Igualdade e para os Direitos das Mu-
cias e capacidades distintas para um objectivo comum. É esta diversidade de perfis dos par- lheres (CIDM), o Ministério da Adminis-
ceiros que é inspiradora de inovação. tração Interna, o Ministério da Justiça, o
Alto Comissariado para a Imigração e as
3 > Empowerment Minorias Étnicas (ACIME), a Organização
Processo de envolvimento e participação activa de beneficiários na construção das soluções Internacional para as Migrações e a As-
para os seus próprios problemas, implicando nova postura dos agentes intervenientes.
sociação para o Planeamento da Família
4 > Cooperação transnacional (APF), para responder à necessidade de
Processo de colaboração entre entidades de países distintos que acordam partilhar e desen- criar um modelo de acolhimento, suporte
volver actividades para alcançar objectivos comuns. e integração das vítimas de tráfico, mas
O envolvimento dos beneficiários nos intercâmbios transnacionais reforça o empowerment também à necessidade de formação dos
e fortalece a procura de novas soluções. profissionais que trabalham, ou possam
vir a trabalhar, com vítimas de tráfico.
5 > Redes e comunidades de prática
Grupos de pessoas e organizações com afinidades temáticas que voluntariamente decidem Outra das dificuldades com que os processos
partilhar as suas experiências e conhecimento e colaborar entre si para encontrar novas so- de inovação se confrontam é o chamado
luções para os seus problemas; quanto mais este processo é interactivo e dinâmico, maior
«síndroma do não produzido por mim», mas
é a aprendizagem contínua, a descoberta e a inovação.
mais uma vez estamos perante a resistência
6 > Igualdade de oportunidades à mudança que a inovação implica. O pro-
A adopção de uma cultura e atitude «inclusiva», multicultural e de igualdade de género é ins- cesso de validação dos produtos resultan-
piradora de soluções novas e mais adequadas aos públicos-alvo e aos contextos de interven- tes da experimentação foi a forma encon-
ção.
trada pela EQUAL para ultrapassar a síndroma
7 > Empresas do não produzido aqui e obter o reconheci-
A participação das empresas nos processos de inovação social, ao trazer a óptica da «oferta», mento social do valor desses produtos. A me-
dá às novas soluções de inserção no mercado de trabalho maior realismo e eficácia. todologia de validação desenvolvida em Por-
tugal não é, porém, um processo fechado,
são, à margem dos sistemas não têm escala organizações as mais inovadoras. Aproveitar admitindo-se grandes possibilidades de pro-
para promover mudanças efectivas. No en- o potencial inovador das organizações menos gresso. Aliás, o facto de ter sido utilizada e re-
tanto, as avaliações feitas a nível europeu pesadas, menos burocratizadas e mais aber- construída por outros Estados-membros mos-
mostraram que são, sobretudo, as pequenas tas à mudança e trabalhar em parceria com tra bem o seu valor e interesse.
elas é uma forma de promover a inovação. A recontextualização, a adaptação e melho-
A ausência de respostas sociais flexíveis
adaptadas às necessidades das pessoas e A experiência da EQUAL mostrou, também, ria permanentes são inerentes a qualquer
famílias ciganas foi o ponto de partida do que a resistência à mudança não está na es- processo de inovação social. Isto porque a
projecto «Pelo Sonho é que Vamos». O re- cala dos projectos inovadores mas no com- inovação social está necessariamente as-
conhecimento das mulheres da AMUCIP como portamento das organizações e das pessoas. sociada à adequação e utilidade das interven-
mediadoras, a sua capacitação para o rela-
cionamento com os serviços, o interesse O empowerment das pessoas e das organi- ções e para isso é indispensável ter em con-
crescente na organização de «tertúlias» por zações mostrou ser um factor determinante sideração o contexto individual e local das
parte de instituições, assim como a aber- da mudança e facilitador do processo de in- pessoas abrangidas. Não significa isto que
tura de novas vias de aproximação ao diálogo corporação de novas práticas. as soluções não são exportáveis, mas sim
intercultural são algumas das mais-valias
que resultaram de todo o processo de for-
mação e empowerment «Trabalhar com» e
não «trabalhar para» foi a filosofia subja-
cente a todas as actividades do projecto.
revista FORMAR
número 62 37

que tem de haver margem para a sua recon-


textualização e adaptação a novos contextos.
Face a uma realidade complexa e em cons-
tante mutação, a possibilidade de adapta-
ção permanente é indispensável. Esta é a
razão por que, no decurso da etapa de trans-
ferência dos produtos para novos contex-
tos, a EQUAL permite e financia essa adap-
tação.

O papel das políticas públicas


Um dos objectivos da inovação produzida
na EQUAL é contribuir para melhorar as po-
líticas públicas. No entanto, dar o passo de
transformar uma intervenção numa política
não dispensa a necessidade de se proceder
à sua transferência e apropriação por quem
tem a responsabilidade da implementação
dessa política, rentabilizando-se assim todos
os recursos concebidos ao longo da experi-
mentação. Com efeito, o reconhecimento
que significa a tradução numa política de
uma modalidade de intervenção é do mais
alto valor, mas não é por si só suficiente pois
é sempre necessário percorrer um processo
de apropriação do sentido e objectivos pre-
tendidos pela medida de política, da metodo-
logia proposta, de formação dos recursos ciamento público, fácil é compreender como por razões de sobrevivência como ocorre
humanos que terão a responsabilidade da o financiamento pode constituir uma ala- nas empresas. Por isso é tão importante o
sua aplicação, de um acompanhamento e vanca poderosa para a disseminação e con- «modelo» de inovação criado na EQUAL. Há
avaliação on-going. solidação da inovação social. Para tanto, bas- que conferir à inovação social o relevo de
As políticas públicas têm um papel indis- tará orientar o financiamento público para um grande objectivo, de uma missão a pros-
pensável no estímulo à inovação e ao fo- apoiar a generalização das práticas inovado- seguir em permanência, capitalizando os
mento da cultura de aprendizagem contí- ras, promovendo uma mudança significa- inúmeros recursos criados na EQUAL (for-
nua. A assunção, ao mais alto nível, de tiva nas práticas sociais. Mas, mais uma vez, mação de agentes, metodologias de trabalho
compromissos com o objectivo da inovação não basta apenas o financiamento. Como em rede e em comunidades de prática, vali-
constitui o mais forte sinal e estímulo de atrás se referiu, é indispensável, por um dação, de produtos, balanço de competên-
apoio aos processos de mudança, em parti- lado, criar um ambiente propício a essa ge- cias, etc.) e dando sentido ao investimento
cular para os organismos públicos com res- neralização, designadamente ao nível das feito.
ponsabilidades na definição e execução das regras de aplicação, do acompanhamento e
políticas. apoio ao processo de generalização e da Nota final > Para conhecer mais sobre a EQUAL pode
consultar o site www.equl.pt, através do qual poderá en-
Tendo em consideração que as políticas so- possibilidade de introdução das necessá-
contrar informação pormenorizada «sobre os projec-
ciais são executadas ou por organismos pú- rias adaptações. A inovação não acontece tos» (directório de projectos) e sobre os produtos de-
blicos ou por organismos privados com finan- na área social por geração espontânea nem senvolvidos (directório de produtos).
actuais
38

Comunicar em
formação

Mitos, preconceitos e estratégias A comunicação é, definitivamente, a principal ferra-


para uma comunicação eficaz em
sala menta ao serviço do desenvolvimento pessoal e
A minha experiência no terreno, tanto como
formadora como formadora de formadores, profissional. Assim sendo, a capacidade de comuni-
tem-me mostrado que muitos são os mitos
em relação à comunicação em contexto de
car com eficácia assume-se como uma competên-
formação. Vamos começar por ver alguns: cia determinante no desempenho do formador. Não,
1.º mito: O formador é quem sabe mais do as- esta afirmação não é um lugar comum! Efectiva-
sunto, logo acaba por ser natural que seja ele
quem tem que falar mais. mente, é essencial conseguir estabelecer uma inte-
Está certo! O formador deve saber muito do racção formativa que favoreça a aprendizagem
assunto. Até se costuma dizer que não há
nada que se aprenda tão bem como quando
se tem que o ensinar. Nós vamos mais longe, curados por pessoas com dificuldade em muito bem a «formação que vai ter que dar»
sabemos que só se o formador dominar muito obter emprego (por vezes o primeiro em- (normalmente apoiada num «fantástico»
bem a área em que está a intervir possuirá prego!), levou a que muitos jovens, embora Powerpoint).
a capacidade fundamental de se centrar na possuindo formação académica superior mas Conclusão: Concentremo-nos na aprendiza-
aprendizagem e na dinamização do grupo, e com nenhuma ou pouca experiência profis- gem e no estabelecimento de uma comuni-
não no ensino! Um formador que domina a sua sional, tenham sido aliciados a enveredar cação pedagógica que a favoreça. Como nin-
área de intervenção não está cheio de stress pela carreira de formador. Nessas circuns-
ou de receio sobre a «prova pública» que tâncias é muito fácil perceber que o formador
em sala terá que prestar sobre o seu know- esteja em sala cheio de stress e que, para se
-how. Ele sabe que a formação não tem como defender, estruture a formação centrando-se
objectivo uma prova aos seus conhecimen- no discurso e não na aprendizagem dos par-
tos mas sim à sua capacidade de «fazer» ticipantes. Ou seja, que acabe por sentir a Ana Teresa Penim
Administradora
aprender. Efectivamente, a massificação da necessidade de «controlar a situação» fa- Delegada do INV –
formação e do acesso aos Certificados de lando muito. É também vulgar considerar que Instituto de
Negociação e Vendas
Aptidão Profissional (CAP), muitas vezes pro- a melhor maneira de o fazer é preparando
revista FORMAR
número 62 39

cultura formativa nas autoscopias iniciais logo no início da sessão. Argumentam que
dos cursos de Formação Pedagógica de For- isso os obriga a escrever tudo o que está
madores. A principal preocupação da maio- em cada slide e que assim não têm capaci-
ria pessoas nessa situação é preparem muito dade de participar! E o mais inacreditável é
bem um tema, apoiado por um «fantástico» que muitos formadores cedem a este tipo de
Powerpoint que lhes possa servir de muleta «reivindicação», tornando-se reféns da sua
«à matéria que têm que leccionar». Tra- suposta estratégia de estimulação senso-
tando-se de pessoas que a maioria das vezes rial. Também sabemos que muitos formado-
ainda não são formadores, esta atitude é re- res o fazem porque acham que ao forne-
veladora não só do estereótipo que possuem cerem cópia do Powerpoint ficarão «dispen-
relativamente à função do formador em sala sados» de escrever textos de apoio, guias de
guém aprende se não quiser aprender, a so- mas também da experiência que acumula- aprendizagem interactivos ou outros supor-
lução é mesmo começar por conseguir que ram ao longo dos anos nos contextos for- tes cuja elaboração está, efectivamente,
as pessoas exprimam as motivações que mativos que frequentaram (ensino secundá- muitas vezes para além das suas reais com-
as levaram a estar ali, as suas expectativas, rio, ensino superior e, eventualmente, petências pedagógicas.
aquilo que já sabem, as experiências pes- formação profissional). É um facto que A reforçar a ditadura do Powerpoint e a fa-
soais e profissionais que já viveram e as quando o Powerpoint assume demasiado vorecer ainda mais o total fracasso de co-
conclusões que daí tiraram. Com base nisso, protagonismo em sala capta de tal maneira municação/interacção pedagógica em sala
o formador terá criado um terreno profícuo a atenção dos participantes e ocupa-os de estão os Powerpoint cheios de texto, es-
e indispensável para conseguir avançar e tal forma a observá-lo e a tirar as notas que quemas complicados, efeitos de animações
promover aprendizagens com significado. os mesmos deixam, naturalmente, de ser personalizadas cansativas ou ridículas e
estimulados a interagir quer com o formador, outras aberrações comunicacionais que
2.º mito: A formação é mais efectiva quando quer com o resto do grupo. Vou até mais infelizmente muitos formadores ainda acre-
faz apelo aos sentidos, logo o formador não longe! A afirmação do Powerpoint na nossa ditam que lhes permitirão brilhar face ao
pode dispensar os meios audiovisuais para cultura formativa é de tal ordem que muitos grupo.
comunicar com eficácia. participantes exigem que o formador lhes Coitado do Powerpoint, coitados dos nossos
Está certo! Captamos o mundo através dos forneça cópia do mesmo. Efectivamente, sentidos, coitada da interacção pedagógica
sentidos e por isso aprendemos melhor muitos participantes ficam chocados se não mas, pior que tudo, coitada da aprendiza-
quando somos estimulados pelos meios ade- lhes for fornecida uma cópia do Powerpoint gem!
quados, diversificados e com significado.
Pois é! Só que o problema é que já não há
(quase) nenhum formador que consiga dis-
pensar a ditadura do Powerpoint. É impres-
sionante como, em poucos anos, a comuni-
dade formativa conseguiu reduzir, por
excesso de uso, a eficácia de um meio que
deveria ser tão poderoso como o da comuni-
cação visual. O Powerpoint, esse suposto
poderoso auxiliar à comunicação, assume
hoje, a maior parte das vezes, um protago-
nismo excessivo na interacção em sala. Um
protagonismo que lhe é conferido não só
pelo formador mas também pelos partici-
pantes. Podemos facilmente verificar esta
actuais
40

Apesar de tudo o que se aprende na forma-


ção pedagógica ser importante, é ainda
mais importante criarmos o nosso próprio
estilo e, ao longo do tempo, mantermo-nos
atentos sobre se ele continua a favorecer a
aprendizagem. Há formadores tão insegu-
ros ou desastrados que não conseguem
ganhar credibilidade, mas também há for-
madores tão arrogantes e convencidos que
se acomodam, «viciam» e deitam a perder
toda a credibilidade que foram angariando
ao longo do tempo. Procurar e obter feed-
back é fundamental. Conseguir interiorizá-
-lo e reinventar-se é condição de sucesso!
Conclusão: Seja genuíno e procure melhorar
Conclusão: Tenha coragem de acreditar 3.º mito: O formador é um especialista que as suas competências comunicacionais con-
que as suas competências técnicas e pe- tem que se dar ao respeito, devendo adop- tinuamente. Esteja atento aos vícios de lin-
dagógicas lhe permitem dinamizar o grupo tar uma postura formal. guagens que nos invadem ciclicamente! Por
a partir da interacção com o próprio grupo Está certo! O formador é um especialista. No mais experiência e currículo que possua,
e não refugiando-se na ditadura do Po- INV – Instituto de Negociação e Vendas – até lembre-se que a sua imagem tem que ser
werpoint. Use e abuse da técnica das per- já abolimos o termo formador, substituindo- reforçada e confirmada todos os dias, no
guntas com perícia, de modo a que todos -o por especialista. No entanto, não é atra- «terreno», não à secretária. Tenha conti-
os participantes se sintam motivados a vés de uma postura formal que o mesmo se nuamente cuidado com a sua apresentação
participar ou que o façam por sua esti- faz respeitar. Também não é com uma pos- pessoal. Em contexto formativo um vestuá-
mulação directa (não violenta). Vá escre- tura informal. É com uma postura de co- rio simples e discreto traduz-se em eficácia
vendo as contribuições do grupo no municação credível e consistente, o que porque não interfere na comunicação. Não se
quadro à medida que o debate se for de- está muito para além de se ser simples- deixe trair pela moda! Se as pessoas lhe atri-
senrolando. Tire partido das diferentes mente formal ou informal. Por postura en- buírem credibilidade sentir-se-ão mais mo-
cores das canetas para estruturar a in- tendemos apresentação pessoal, comuni- tivadas para aprender, mas lembre-se que o
formação, «desenhar» raciocínios que o cação verbal e não verbal, gestão das objectivo não é que o formador seja o centro
levam onde quer chegar, criar registos emoções, gestão de conflitos, suportes das atenções, mas sim a aprendizagem dos
que mais tarde utilizará de forma provei- multimédia que criamos, etc. A credibili- participantes.
tosa para fazer deduções, tirar conclu- dade de um formador decorre não só do
sões e consolidar as aprendizagens. Es- histórico que ele consegue acumular ao
colha os métodos e técnicas adequados longo da sua carreira, mas também das ca-
aos níveis de aprendizagem em causa e pacidades e competências que possui e
explore-os com eficácia. Não se deixe ficar da forma como o consegue demonstrar em
pela atraente dinâmica e comunicação cada momento. Isto significa que cada for-
dos exercícios, dos jogos ou dos estudos mador é único e que deve saber tirar partido
de caso. Foque a sua acção para que as das suas características individuais para
pessoas tenham a oportunidade de ex- comunicar com eficácia. É um erro tentar-
plorarem convenientemente a transferên- mos imitar modelos ou receitas, uma vez
cia dessas situações para o seu dia-a-dia que isso nos fará perder naturalidade, inter-
profissional. ferindo negativamente na comunicação.
revista FORMAR
número 62 41

4.º mito: A comunicação com humor pode


fazer o formador perder o controlo do grupo!
No INV costumamos dizer: «O humor é o Dicas práticas para comunicar com eficácia em sala
caminho mais curto entre duas pessoas.»
O humor tem, de facto, a grande capacidade > Assegure-se de que cada pessoa é tratada exactamente pelo nome que gosta que a
de aproximar as pessoas. Um ambiente tratem. Muitas vezes as entidades formadoras querem primar por uma boa organiza-
bem humorado não é sinónimo de ineficá- ção burocrática e preenchem antecipadamente não só as folhas de presença mas tam-
cia pedagógica. Muito pelo contrário. bém os name tags (placas identificadoras) com os nomes que constam do Bilhete de
O humor alerta os sentidos, criando nas Identidade. Vá cumprimentando as pessoas à medida que elas forem chegando à sala
pessoas um estado fisiológico e uma e aproveite para clarificar esta questão. Reforçará também a sua capacidade de me-
disposição positiva para comunicarem e morizar rapidamente o nome de cada um dos participantes. Dirija-se às pessoas pelo
interagirem. Por sua vez, uma comunica- nome com frequência. Quanto mais o fizer, mais proximidade criará e mais depressa
ção demasiado séria pode criar tédio e fazer os memorizará.
o formador perder efectivamente o controlo
do grupo. Muitos terão facilmente «a ca- > Certifique-se de que os name tags têm o nome de cada pessoa escrito dos dois lados.
beça noutro lugar» ou estarão a contar os Não há nada mais desagradável do que estar numa sala e toda a gente conseguir ver
minutos que faltam para sair dali. Saber uti- e saber o nome dos nossos vizinhos da esquerda e da direita, menos nós!
lizar o humor não significa tornar-se pa-
lhaço! Significa ser-se capaz de criar boa > Consiga que a comunicação flua com naturalidade, desde o primeiro momento, sem
disposição nos outros. Uma boa disposi- criar quebras artificiais na comunicação entre «o antes e o depois», do tipo: «Então
ção que aproxima e favorece a comunicação. agora vamos finalmente começar, o meu nome é...»
No INV até já criámos a Risodinâmica®. Um
conceito que assenta no paradigma cientí- > Comunique pela positiva. Faça os participantes brilharem (não você). Foque-se na pro-
fico da Psicologia Positiva de que as pessoas cura de tudo o que puder aproveitar das suas intervenções. Elogie de forma genuína
que possuem uma abordagem positiva ou, e despretensiosa. Construa «soluções»e conclusões de grupo aproveitando o máximo
se quisermos, uma abordagem optimista de todas as contribuições.
da vida pensam com facilidade, aprendem
com facilidade e vivem com maior bem- > Por vezes pode ter que mostrar que sabe para ganhar credibilidade. Faça-o sem he-
-estar. Fisiologicamente, o riso tem a capa- sitações, mas lembre-se do propósito porque que o fez para não ser tentado a domi-
cidade de fazer o nosso corpo gerar subs- nar a situação durante o resto do dia desmobilizando o grupo.
tâncias químicas que favorecem a boa dis-
posição psicológica e o bem-estar físico, > A melhor comunicação pedagógica é aquela em que os participantes não estão sem-
condições que facilitam a comunicação pre a ser informados sobre os métodos e técnicas a que o formador recorre. Isto sig-
efectiva. Lembre-se também que o humor nifica que a acção flui sem que o formador diga, por exemplo: «Agora que já acabámos
está directamente dependente da criativi- o ice-breaker, vou fazer o exercício X (...) e agora que já não tenho tempo para o role-
dade. Recuse-se a cair na rotina e verá a sua play Y vamos debater este assunto Z (....)», etc. A metodologia é «coisa» própria do
inspiração crescer! Utilize-o com sabedoria, formador, não tem que estar sempre a ser partilhada com os participantes. Mante-
em sintonia com o seu estilo pessoal e com nha algum suspense que lhe permita surpreender o grupo.
o objecto de aprendizagem, e ganhará em
eficácia pedagógica. > Esteja sempre, mas mesmo sempre, atento à comunicação verbal e não verbal de cada
um dos participantes. Elas revelarão o seu envolvimento, o seu estado fisiológico e
Bom trabalho. Se precisar já sabe, não he- as suas necessidades. Faça a gestão da sua comunicação em função do feedback que
site e contacte-me. Estou à sua disposição a todo o momento for recebendo do grupo em geral e de cada participante em parti-
em www.inv.pt ou apenim@inv.pt. cular.
actuais
42

Criatividade
das mulheres
em meio rural
Prémio Internacional
atribuído às Capuchinhas

As Capuchinhas, CRL são uma empresa de máquinas e material e possibilitou uma curta Começaram, desde logo, a participar em fei-
produção e venda de vestuário artesanal, formação em gestão de negócio, tendo a Câ- ras de artesanato. Foi assim que se foram
feito de linho, lã e burel (que é também lã mas mara de Castro Daire cedido a antiga Escola dando a conhecer e que começaram a rece-
tratada de forma especial) tradicionais da Primária de Campo Benfeito, que já não fun- ber encomendas, o que as levou a ampliar o
região. Estão localizadas em Campo Ben- cionava havia anos, e até hoje serve de ins- tipo de trabalhos que faziam, iniciando a te-
feito, a cerca de 20 km de Castro Daire, numa talações às Capuchinhas. Antes, em 1985 e celagem em teares manuais, que compraram,
pequena aldeia de 50 habitantes. Estão or- 1986, tinham frequentado formação profis- bem como outras máquinas.
ganizadas em cooperativa – seis sócias –, sional em corte e costura, no âmbito de pro- É aqui, com a «pressão do mercado», que se
exercendo a actividade a tempo inteiro ape- gramas especialmente dirigidos a mulheres profissionalizam. Aprendem as antigas téc-
nas quatro delas. São mulheres que quiseram de zonas rurais. nicas de tecelagem com pessoas mais velhas
preservar as tradições da sua região e, ao Inicialmente confeccionavam, a partir de an- da aldeia e associam ao seu trabalho um ele-
mesmo tempo, desenvolver uma actividade tigos lençóis de linho e de mantas de farrapo, mento fundamental – o estilismo. A D. Maria
rentável que lhes permitisse continuar a coletes e capuchas tradicionais usadas na re-
viver na sua aldeia. gião desde há muito, especialmente por
quem trabalhava os campos ou guardava
Como nasceu o projecto... gado. A capucha, capa tradicional castanha,
O projecto nasceu em 1987. Receberam um feita de burel (lã de ovelha especialmente
apoio para criar a sua empresa, no âmbito das prensada), é praticamente impermeável.
medidas activas de emprego do IEFP, IP, con- Quem as usava ficava bem protegido da Luísa Falcão
cretamente a medida Iniciativa Local de Em- chuva e do frio intenso que se faz sentir, no Técnica Superior
Consultora do IEFP, IP
prego. Esse apoio permitiu a aquisição de Inverno, por estas paragens.
revista FORMAR
número 62 43

As Capuchinhas, uma pequena empresa familiar que confecciona ves-


tuário artesanal em linho e lã, foram distinguidas, em 2007, com o pré-
mio internacional Criatividade das Mulheres em Meio Rural, atribuído
pela Organização não Governamental suíça Women’s World Summit
Foundation.
O projecto que desenvolvem, desde 1987, foi considerado exemplar,
porquanto faz uso da criatividade para valorizar o património cultural, di-
namizando a comunidade em que se insere e conseguindo ser comple-
tamente auto-sustentado.
Quisemos, in loco, conhecer melhor este projecto, na perspectiva de di-
Helena Cardoso, estilista, conheceram-na
vulgar, através da Formar, um caso de sucesso que ocorre numa zona do
no Porto, como formadora de uma das acções país marcada pela interioridade e pelo despovoamento.
de formação que frequentaram, no âmbito de De Lisboa a Campo Benfeito, concelho de Castro Daire, em plena Serra
um programa de inserção profissional e so- de Montemuro, é um salto: A1, A25, A24. Sai-se em direcção a Bigorne,
cial especialmente dirigidos a mulheres, da passa-se por uma rotunda e, já em estrada secundária, é só prestar
iniciativa da ONG sueca Siv Follin, que tam- atenção à placa que indica: Capuchinhas. Junto a esta, outra placa onde
bém lhes proporcionou apoio financeiro para se lê: Grupo de Teatro Regional da Serra de Montemuro, também em Campo
o pagamento dos honorários da estilista. Por Benfeito.
outro lado, esta mesma ONG mediava a co- Agora, já em pleno ambiente rural, numa estreita via, podemos encan-
locação de parte da produção em algumas tar-nos com os vastos campos denunciando a Primavera chegada pre-
lojas na Suécia de produtos como casacos e maturamente. Andamos uns dois quilómetros e descobre-se com faci-
coletes de lã ou burel, alguns com borda- lidade o edifício da velha Escola Primária de Campo Benfeito. Chegámos!
dos. «Fazíamos a gosto», como diz a Hen- Esperam-nos a Henriqueta, a Engrácia e a Isabel. Falta a Ester, que foi tra-
riqueta, «mas isso teve o seu tempo». tar de assuntos a Castro Daire e que voltará mais tarde. São mulheres jo-
vens, entre os trinta e os quarenta e poucos anos, com um sorriso de uma
O amadurecimento do projecto
simpatia genuína e evidente entusiasmo e alegria
O que verdadeiramente permitiu o lança-
mento para aquilo que são hoje foram as fei-
ras de artesanato em que participaram e,
em especial, a que aconteceu em 1992, em
Vila do Conde. Através do IEFP, IP, realizou-se,
nessa feira, «uma passagem de modelos,
muito bem organizada» e em que as Capu-
chinhas se destacaram com os modelos que
mostraram e que confeccionavam na altura.
Passaram, então, a ter muita procura, lojas
a encomendar e a vender os seus produtos
em vários sítios do País. Continuam, ainda
hoje, a fornecer lojas de Lisboa, Nazaré, Cas-
telo Branco e Fundão.
A colaboração da D. Maria Helena Cardoso,
que concebeu os modelos de vestuário
para as Capuchinhas durante dez anos,
actuais
44

pelo País e fora dele. Tem a sua sede em


Campo Benfeito. Cinco dos seus elementos
permanentes são filhos da aldeia e têm liga-
ção familiar com as Capuchinhas. Não será
só por isso, mas são as Capuchinhas que
fazem o guarda-roupa para as peças que o
grupo leva à cena.
Não se sentem isoladas. Têm uma série de
contactos que alimentam. Agora, de forma
ainda mais fácil, via Internet. Têm até um
blog, que o grupo de teatro ajuda a manter ac-
tualizado.
Deslocam-se facilmente, em carro próprio,
para qualquer lado. Estão a par da oferta
de formação que possa ajudar a melhorar
as suas técnicas e a forma de trabalhar.
Estão a par dos eventos que ocorrem por
todo o País relacionados com artesanato
e com a área específica em que trabalham.
teve continuidade numa jovem estilista, Todo o trabalho é planeado e distribuído por Fazem parte da Associação Nacional de
também do Porto, a Paula Caria. Já a conhe- elas, por peças e por objectivos. A contabilidade Artesãos.
ciam de há muito. Ela tinha uma loja no é assegurada por um contabilista mas as re- Têm pena de não poderem participar em fei-
Porto que também vendia peças das Ca- lações públicas são da sua competência. ras internacionais porque gostavam de alar-
puchinhas. gar o mercado a países estrangeiros. Os cus-
Actualmente, em cada ano é renovada uma Da pequena comunidade para tos para participarem são demasiado elevados
colecção – um ano a de Verão, no outro a de o mundo e não é seguro se terá retorno que compense.
Inverno. O desafio é fazer modelos de ves- A comunidade em que se inserem é pequena Acreditam que a sua actividade tem futuro.
tuário ao gosto actual, que possam adaptar- mas muito dinâmica. O Grupo de Teatro Re- «O que é preciso é trabalhar bem, com muita
se e valorizar-se com o uso de matérias-pri- gional da Serra de Montemuro, formado em qualidade, com um bom compromisso entre
mas e técnicas tradicionais. Inclusivamente, 1991, criou e apresentou, até hoje, muitas pro- a tradição e a inovação», como referem. Gos-
os tecidos são tingidos usando os proces- duções e tem realizado digressões várias tariam de ter uma carteira de encomendas
sos da tinturaria natural, que aprenderam
com a formadora e artista têxtil Guida Fon-
seca em cursos de formação no CEARTE,
Centro de Formação Profissional do Artesa-
nato, na Pedrulha, Coimbra, que frequenta-
ram nos últimos anos – com a amora fazem
o cor-de-rosa, com a urtiga ou o feto o verde,
o castanho obtém-se da folha da nogueira
e o amarelo, dos musgos ou dos líquenes dos
carvalhos.
Todas fazem tudo, embora a Henriqueta e a
Ester tendam mais para a costura e a Isabel
e a Engrácia para a tecelagem.
revista FORMAR
número 62 45

estão próximas de casa, na sua terra. Gostam


do que fazem e isso é, para elas, a grande
razão do sucesso do seu projecto.
Terminámos a nossa conversa. São tam-
bém horas de dar por terminado o dia de
trabalho – arrumam-se os materiais, tapam-
-se os teares. Entretanto, chegam as crian-
ças, filhos das nossas anfitriãs, vindas de
Mezio, aldeia onde frequentam a escola. De
repente, uma agitação. Vozes e risos contras-
tam com a calmaria do campo à nossa volta,
onde o sol já desce, num colorido radioso.

Capuchinhas Produção e Venda


de Vestuário Artesanal, CRL
Campo Benfeito
Gosende – Castro Daire
capuchinhas@gmail.com
maior, que assegurasse os meses de Janeiro Os pais e restante família começaram por ser
www.capuchinhas.blogspot.com
a Abril, que actualmente são fracos. cépticos em relação a este projecto. Depois,
O prémio internacional que ganharam, além à medida que o negócio se foi desenvolvendo
de ajuda pecuniária significa reconhecimento e o reconhecimento se fez sentir, começaram Women’s World Summit Foundation
e maior divulgação dos seus trabalhos – isso a acreditar e agora acreditam mesmo. Têm info@wwsf.ch
pode constituir uma enorme vantagem. orgulho e apoiam-no incondicionalmente, www.woman.ch
A candidatura das Capuchinhas ao Prémio muitas vezes ajudando nos teares ou em
Criatividade das Mulheres em Meio Rural foi outra actividade que seja necessária. Clube Soroptimista Internacional
proposta pelo Clube Soroptimista Internacio- Por ora, as Capuchinhas consideram que ga- das Caldas da Rainha
nal das Caldas da Rainha (Organização Inter- nham o suficiente para se sentirem com- www.soroptimistportugal.org
nacional de Mulheres Profissionais), por ini- pensadas. São autónomas, independentes e
ciativa da Professora Teresa Perdigão que,
acompanhando desde há muito a evolução do
projecto, considerou que este reunia plena-
mente as condições requeridas: projecto auto-
-sustentável, da responsabilidade de mulhe-
res, em meio rural, que foram capazes de
utilizar a sua criatividade para orientar as
suas vidas e fazer mudar o meio em que se
inserem, preservando-o e melhorando-o. Este
prémio internacional é atribuído pela Wo-
men’s World Summit Foundation desde 1996
e foi criado na sequência da Conferência de
Pequim – IV Conferência Mundial sobre as
Mulheres, das Nações Unidas (1995).
instrumentos de formação 46

Creative Commons
-licença para
utilizar!

Origem histórica
Com este artigo pretende-se alertar para a neces-
Em 2001, Lawrence Lessig, professor da
Universidade de Stanford, nos Estados Uni- sidade de partilha de conteúdos entre os formado-
dos, formalizou a primeira versão da li-
cença Creative Commons. Na sua opinião, res. Esses conteúdos podem já ser suportados por
as leis de protecção dos direitos de autor,
definidas pelas entidades competentes,
uma licença que identifica claramente o seu âmbito
eram (são) tão limitativas que qualquer de utilização, garantido assim a sua correcta aplica-
uso que se possa dar a parte de uma obra,
independentemente da sua natureza, pode ção bem como os direitos do autor e do utilizador
ser passível de processo. Além disso, o
próprio autor fica limitado pelo contrato a necessidade de desenvolver uma acção que detém os direitos sobre os mesmos.
celebrado com as entidades, não podendo de formação prende-se com a parca dispo- Os formadores têm simultaneamente difi-
ceder autorização para o uso de uma das nibilidade dos conteúdos de suporte à culdade em partilhar os seus documen-
suas obras parcialmente ou na totalidade acção de formação. Não só existem poucos tos, o que na minha opinião acontece de-
para outros fins, mesmo que seja para uti- recursos disponíveis, como estão centra- vido a vários factores, nomeadamente não
lizar em trabalhos escolares! lizados em instituições de difícil acesso. estarem tecnicamente seguros do con-
Foi no sentido de diminuir estas limitações Normalmente o formador prefere compilar
e flexibilizar a utilização, a execução e a dis- informação da Internet e transformá-la em
tribuição dos mais diversos tipos de obras conteúdos em função dos objectivos das
que Lawrence Lessig criou a licença Crea- unidades de formação. Esta informação,
tive Commons. pela sua facilidade de obtenção na Internet,
dá uma falsa ilusão de ser gratuita e livre
César Teixeira
A partilha de conteúdos de direitos de autor, o que é falso. Qual- Centro Nacional de
Uma das grandes dificuldades dos forma- quer tipo de conteúdo escrito, áudio, vídeo Qualificação de
Formadores
dores quando se vêem confrontados com e multimédia, foi desenvolvido por um autor
revista FORMAR
número 62 47

teúdo do documento, não terem sido pagos Conhecimento UMIC, pela Faculdade de Atribuição – Uso Não Co-
pelos conteúdos que tiveram que desenvol- Ciências Económicas e Empresariais da mercial – Partilha nos Ter-
ver, terem consciência de que parte dos Universidade Católica Portuguesa e pela mos da Mesma Licença (by-sa)
elementos não são da sua autoria e recea- INTELI, Inteligência em Inovação, sendo a Quando um autor opte pela concessão de
rem ser penalizados por infringirem os di- sua utilização gratuita. tal licença pretenderá, não só que lhe seja
reitos de autor. dado crédito pela criação da sua obra, como
Ao contrário de outros países, em que as co- Tipos de licenças – fonte UMIC também que as obras derivadas desta
munidades de práticas existem desde o sejam licenciadas nos mesmos termos em
início do corporativismo, em Portugal as Atribuição (by) que o foi a sua própria obra. Esta licença é
comunidades de práticas são praticamente Esta é a licença mais permissiva do leque muitas vezes comparada com as licenças
inexistentes. de opções. Nos termos desta licença a uti- de software livre.
Ultimamente, com a massificação da Inter- lização da obra é livre, podendo os utiliza-
net, têm surgido muitas comunidades de dores fazer dela uso comercial ou criar Atribuição – Uso Não Co-
práticas virtuais subordinadas aos mais va- obras derivadas a partir da obra original. É mercial – Proibição de Realização de Obras
riadíssimos temas. No âmbito da educação- apenas essencial que seja dado o devido Derivadas (by-nc-nd)
-formação existem já algumas que para crédito ao seu autor. Esta é a licença menos permissiva do leque
além do objectivo de desenvolverem o co- de opções que se oferece ao autor, permi-
nhecimento dentro da comunidade tam- Atribuição – Partilha nos Termos tindo apenas a redistribuição. Mediante a
bém possuem uma área de partilha de da Mesma Licença (by-sa) adopção desta licença, não só não é per-
conteúdos. Em Portugal, como exemplo Quando um autor opte pela concessão de mitida a realização de um uso comercial
de algumas destas comunidades temos o tal licença pretenderá, não só que lhe seja como é inviabilizada a realização de obras
portal dos formadores Forma-te, o pro- dado crédito pela criação da sua obra, como derivadas. Dada a sua natureza, esta li-
jecto Ciência na Escola da Faculdade de também que as obras derivadas desta cença é muitas vezes chamada de licença
Ciências e Tecnologia da Universidade Nova sejam licenciadas nos mesmos termos em de «publicidade livre».
de Lisboa, Escola Superior de Educação que o foi a sua própria obra. Esta licença é
de Viseu, do Instituto Politécnico de Viseu, muitas vezes comparada com as licenças
o Portal de Tecnologias Educativas UDUCA- de software livre. Tutoriais
TIC. O portal Edu2.0 e o portal Institucional
Nacional Training Information Services Atribuição – Proibição de realiza- Atribuir uma licença Creative Commons para
NTIS, são alguns dos exemplos de portais ção de obras derivadas (by-nd) um site ou blog.
disponíveis no estrangeiro. O site interna- Esta licença permite a redistribuição comer-
cional da Creative Commons possui um cial ou não comercial, desde que a sua obra Neste tutorial vamos criar o código html
motor de busca específico dos mais di- seja utilizada e não seja alterada na sua ín- de uma licença Creative Commons para
versos tipos de conteúdos partilhados sob tegra. É essencial que seja dado o devido colocar num site, blog, wiki, em qualquer
a sua licença. crédito ao autor da obra original. documento que suporte linguagem html.
Ainda que a versão portuguesa da licença
Creative Commons esteja disponível desde Atribuição – Uso não comercial
2006, a sua utilização continua a ser re- (by-nc)
duzida e incipiente, apesar de haver já De acordo com esta licença o autor per-
contributos de utilizações válidas da mite uma utilização ampla da sua obra,
mesma. contudo limitada pela impossibilidade de se Aceder ao site Creative Commons no re-
A licença Creative Commons foi traduzida obter através dessa utilização uma van- gisto de licenças em português.
e adaptada para o quadro jurídico portu- tagem comercial. É essencial que seja dado 1 > Aceda através do endereço http://crea-
guês pela Agência para a Sociedade de o devido crédito ao autor da obra original. tivecommons.org/licence/?lang=pt.
instrumentos de formação
48

Atribuir uma licença Creative Commons


a um documento Microsoft Office

Neste tutorial vamos criar uma apresenta-


ção PowerPoint com uma licença «Uso Não
Comercial – Partilha nos Termos da Mesma
Licença» usando um add-on, ver links.
Existe também um add-on para Open Office,
ver links.
A atribuição da licença será colocada no
Configurar as opções para definir o tipo de «Modelo global de diapositivos» para que
licença pretendida. seja comum a todos os slides. 1 > Seleccione o tipo de licença Creative
1 > Defina se o conteúdo pode ser usado Commons.
para fins comerciais. 2 > Clique no botão Next>.
2 > Seleccione qual o tipo de permissão
de alteração dos conteúdos.
3 > Defina qual o país para o qual está a
definir a licença.
4 > Confirme, clicando em Escolha uma Li-
cença.

Depois de fazer o download e de instalar o


add-on da Creative Commons do site da
Microsoft:
1 > Aceda ao menu Ficheiro. 1 > Defina se permite o uso comercial do
2 > Seleccione a opção Creative Com- seu conteúdo.
mons. 2 > Defina se permite modificações.
3 > Na jurisdição, seleccione Generic, esta
versão ainda não contempla Portugal.
Seleccionar o ícone e copiar o código html. 4 > Clique no botão Finish.
1 > Defina o ícone que quer que apareça
no site.
2 > Copie o código que vai colar no site.
3 > Envie o código html para si por correio
electrónico.
4 > Coloque o código no seu site ou blog,
ver Formar n.º 56.
revista FORMAR
número 62 49

Glossário (fonte wikipédia)


Add-on > Extra ou complemento, pequeno pro-
grama que se instala para aumentar as funciona-
lidades de outro.
Blog > Página da Internet cujos conteúdos são or-
ganizados cronologicamente.
Download > Transferência de dados de um com-
putador remoto para um computador local.
Html > Linguagem de programação de páginas da
Internet.
Link ou Hiperlink > Referência num documento
a outro documento.
Os elementos da licença foram adicionados Colar o elemento que está em memória e
On-line > Estar ligado a um conteúdo disponível
no último slide da apresentação, criado au- sair do modelo global de diapositivos. na Internet.
tomaticamente para o efeito. 1 > Expanda o menu Editar.
Tutorial > Programas ou textos que ensinam
1 > Configure e posicione os elementos no 2 > Seleccione a opção Colar. passo a passo como executar determinada ta-
local pretendido. 3 > Feche o modo Modelo Global, clicando refa.
2 > Aceda ao menu Editar. em Fechar a vista do modelo global. Wiki > Rápido em havaiano, site de Internet com
3 > Seleccione a opção Cortar. 4 > Elimine o último slide. característica de grande facilidade de utilização
que permite o desenvolvimento de trabalho co-
laborativo.

Links úteis
Forma-te >
http://www.formate.com/index.php?option=co
m_docman&Itemid=90
Faculdade de Ciências e Tecnologia, UNL >
http://ruby.dcsa.fct.unl.pt/moodle/course/vie
w.php?id=24
Escola Superior de Educação de Viseu, IPV >
http://www.esev.ipv.pt/tear/Recursos/recur-
sos.ASP
Portal de Tecnologias Educativas UDUCATIC >
Aceder ao Modelo global de diapositivos http://educatic.info/index.php?option=com_re-
para colocar os elementos em todos os sli- mository&Itemid=143
des de uma só vez. Edu2.0: http://www.edu20.org/resources
Institucional Nacional Training Information
1 > Expanda o menu Ver.
Services NTIS > http://www.ntis.gov.au/De-
2 > Aceda à opção Modelos globais.
fault.aspx?/trainingpackage/all
3 > Seleccione a opção Modelos globais Motor de busca CC > http://search.creativecom-
de diapositivos. mons.org/
Licenciar no site da Creative Commons >
http://creativecommons.org/licence/?lang=pt
Add-on para o Microsoft Office > http://www.
microsoft. com/downloads/details.aspx?Fami-
lyID=113b53dd-1cc0-4fbe-9e1d-
b91d07c76504&displaylang=en
Add-on para o Open Office > http://wiki.creati-
vecommons.org/OpenOfficeOrg_Addin
conhecer Europa
50

Luxemburgo

Nome Oficial > Grão-Ducado do Luxemburgo forte que define e delimita um espaço que para os Habsburgos da Áustria. Em 1715 for-
Nome Comum Local > Grand-Duché de Lu- com a história foi crescendo e alargando. mam uma confederação chamada Países
xembourg Em redor das muralhas foi-se desenvolvendo Baixos, da qual o Luxemburgo fará parte até
Sistema Político > Monarquia Constitucional uma vila de grande importância estratégica 1839.
Entrada na União Europeia > 7 de Fevereiro para países os vizinhos, como a França, a Ale- Já no século XIX, o Luxemburgo permaneceu
de 1992 manha e a Holanda. O Luxemburgo permane- sob o controlo francês até à derrota de Na-
Língua Oficial > Francês, alemão e luxembur- ceu como um condado independente do Im- poleão, em 1815, quando o Congresso de
guês pério Romano até 1354, quando o imperador Viena lhe deu autonomia. Foi elevado a grão-
Situação Geográfica > Europa Central Carlos IV o elevou a ducado. -ducado como estado independente da Con-
Superfície Total > 2586 km2 Em 1437, a dinastia dos condes do Luxem- federação Germânica, mas colocado sob o do-
População > 478 571 milhões de habitantes burgo chegou ao fim, passando a reinar os mínio do rei da Holanda. O Luxemburgo
Densidade Populacional > 181 hab./km2 Habsburgos de Espanha. Em 1443, a con- participou na Revolução Belga contra os Ho-
Capital > Luxemburgo quista do Luxemburgo por Filipe, o Bom, da landeses e em 1839 foi proclamado inde-
Fronteiras > Bélgica, França e Alemanha Borgonha será determinante para o seu des- pendente (pelo Tratado dos XXIV Artigos).
Divisão Administrativa > Dividido em três tino: integrado no Estado da Borgonha, depois Após longos períodos de perturbação, em
distritos (Diekirch, Grevenmacher, Luxem- nos Países Baixos, o Luxemburgo será um in- 11 de Maio de 1867, pelo Tratado de Londres,
burgo), os quais estão subdivididos em 12 termediário entre o reino de França e o Im- foi proclamada a neutralidade do Luxem-
cantões pério Alemão. A morte do filho de Filipe, o burgo, tendo sido as muralhas derrubadas
Clima > Moderado Bom, Carlos, o Temerário, põe fim ao reino da e «aberto» o ducado à Europa. Contudo,
Religiões > Católica e protestante Borgonha e os principados do Norte passam durante a Segunda Guerra Mundial o Luxem-
Moeda > Euro

História
O grão-ducado do Luxemburgo é um pequeno
país situado no coração da Europa que faz
fronteira com a Bélgica, a França e a Alema-
nha, sendo por isso a sua história indissociá-
vel da influência destes países.
A história do Luxemburgo reporta-se à Idade
Média, época em que terá sido mandado edi-
ficar por Sigfrido, o conde de Ardenas, um
Ana Rita Lopes
Coordenadora do Núcleo de Planeamento do
CFP de Alverca, IEFP, IP
revista FORMAR
número 62 51

2.2 > Ensino Primário


> Idade: 6 aos 12 anos
> 6 anos escolares
> Turmas constituídas entre 17 e 26 alunos
> Principais disciplinas: três línguas nacio-
nais, matemática, ciência, história, geo-
grafia, educação moral ou social, trabalhos
manuais, música e educação física.

2.3 > Ensino Secundário


> idade: 12 aos 14-15 anos
> 3 anos escolares
> Tem como objectivo preparar os alunos
para o ensino secundário superior.
> O currículo inclui o ramo clássico e mo-
derno, cuja diferença reside na componente
linguística, sendo ensinado no ramo clás-
burgo foi ocupado pelos Alemães e após estimular as capacidades individuais e sico, para além das três línguas obrigatórias,
anos de sofrimento e muitas vidas perdidas desenvolver a formação linguística ini- o latim e no ramo moderno o inglês.
só foi possível expulsá-los definitivamente cial. > No final do ensino obrigatório é emitido
em Janeiro de 1945. um certificado ao aluno.
O grão-ducado do Luxemburgo foi membro 2 > Ensino Obrigatório
fundador da Nato (1949) e um dos seis mem- 2.1 > Educação Pré-Escolar (Spillschoul) Ensino Secundário Superior
bros fundadores da União Europeia (1957). > Idade: 4 aos 6 anos Após o período de escolaridade obrigatória os
> Objectivo: promover a integração social, alunos poderão prosseguir os seus estudos
O Sistema de Educação e Formação estimular as capacidades individuais e de- via ensino secundário superior. Este é minis-
Profissional senvolver a formação linguística inicial. trado em liceus, o liceu geral e o liceu técnico.
O Sistema de Educação e Formação Profissio-
nal é tutelado pelo Ministério da Educação Na-
cional, da Formação Profissional e dos Des-
portos.
Tendo o Luxemburgo, como línguas oficiais,
o alemão, o francês e o luxemburguês, a lín-
gua de ensino depende do nível de educação.
Na escola pré-primária e nos dois anos de es-
cola primária o luxemburguês é a língua vei-
cular. O alemão é introduzido como língua de
ensino no primeiro ano da escola primária e
o francês no início do segundo ano.

1 > Ensino não Obrigatório


Educação Pré-Escolar (Spillschoul)
> Idade: 3 aos 4 anos
> Objectivo: promover a integração social,
conhecer Europa
52

> Nalguns destes liceus os alunos também


podem frequentar o ensino pós-secundá-
rio, que lhes permitirá a obtenção de um Di-
ploma de Técnico Superior.
> A conclusão com êxito do ensino secundá-
rio, pela via geral ou técnica, permitirá aos
alunos o acesso ao ensino superior ou a in-
serção no mercado de trabalho.

3 > Ensino Superior


O ensino superior é tutelado pelo Ministério
do Ensino Superior e da Investigação e é de-
senvolvido na Universidade de Luxemburgo.

4 > Formação Contínua para Adultos


No Luxemburgo, todos os cidadãos adul-
tos, especialmente quando não tiveram
oportunidade de concluir os seus estudos
em idade escolar, têm a possibilidade de

Liceu Geral (Ensino Secundário Geral)


> Idade: 14-15 aos 18-19 anos
> 4 anos escolares
> O ensino secundário geral está dividido
em dois momentos. Assim, os dois primei-
ros anos (4.º e 5.º anos) correspondem a
um currículo de carácter geral cujos alunos
que o frequentam têm entre 15 e 17 anos.
Os dois períodos seguintes (6.º e 7.º anos)
são designados como de especialização
e os alunos têm idade compreendida entre
17 e 19 anos, optando por um conjunto de
disciplinas mais específicas, nomeada-
mente do ramo científico.

Liceu Técnico (Ensino Secundário Técnico)


O ensino secundário técnico é ministrado três anos do ensino técnico ser-lhes-á emi- aceder a qualquer grau de ensino e assim
nos liceus técnicos e compreende dois ciclos, tido um Certificado de Aptidão Técnica e Pro- progredir em termos escolares e profissio-
o ciclo médio e o ciclo superior. Grande parte fissional. nais (pela via da formação profissional e téc-
destes liceus têm, também, oferta no âmbito > Os alunos que realizem com êxito o exame nica).
da Formação Profissional. nacional de final do ciclo superior dos liceus Fontes >
Embaixada do grão-ducado do Luxemburgo em Portugal
> 3 anos escolares técnicos receberão um Diploma de Con- Sítio Ploteus: http//europa.eu.int/ploteus/portal
Portal da União Europeia: http://europa.eu/index_pt.htm
> Aos alunos que concluírem com êxito os clusão do Ensino Secundário Técnico. Sitio Wikipédia: http://wikipédia.org
um olhar sobre... revista FORMAR
número 62 53
dossier

A sociedade
de consumo
e os seus actores

Um dia, em passeio pela velha Atenas,


Todas as histórias começam por «era uma vez» e a
Sócrates deteve-se diante de uma banca
cheia de mercadorias e exclamou: «Olhem história da sociedade de consumo não é excepção.
só o que os Atenienses precisam para
viver!» Por isso, não fujamos à regra
Com esta frase cheia de ironia, Sócrates pre-
tendia alertar os seus discípulos para o facto Homem ter sido desde sempre cativado pelos uma colher de sopa bem cheia de publici-
de os Atenienses consumirem muito mais coi- bens materiais e sempre ter tido tendência dade, misturou-se tudo com técnicas de ven-
sas do que aquelas de que efectivamente para consumir mais do que precisa. Não é das e colocou-se no forno (a televisão), en-
precisavam. O seu alerta não caiu em saco isso, porém, que caracteriza a sociedade de volta em folhas de jornal. Pouco tempo depois
roto. Anos mais tarde um seu discípulo, Arís- consumo, pois consumir sempre foi próprio estava pronta a servir a um público sedento
tenes, fundava a escola cínica, cujos mem- do ser humano. de entrar na aventura do «faz de conta».
bros defendiam a ideia de que a felicidade não É preciso chegar ao século XX para se poder O marketing cria o sonho, a publicidade (com
dependia de coisas exteriores como o luxo falar deste novo modelo social que, tendo a preciosa ajuda da televisão) mostra que ele
material, mas sim da sabedoria em se liber- nascido nos Estados Unidos nos anos 20, se pode tornar realidade e a técnica de ven-
tar delas. Em desacordo com esta teoria es- em época de plena euforia, atravessará o das materializa-o. Esta foi a receita tradicio-
tavam outros discípulos de Sócrates que, li- Atlântico no final da década de 50, quando nal, mas com a evolução do tempo surgiram
derados por Epicuro, fundaram a escola a Europa ainda não acabara de lamber as fe-
epicurista, defensora da teoria de que a fina- ridas de uma guerra mas dava sinais claros
lidade da vida era atingir o máximo prazer, de recuperação económica.
fruindo cada momento. A sociedade de consumo funcionou, inicial-
Obviamente que não se pode inferir desta po- mente, como um conto de fadas que se conta
lémica que a sociedade de consumo nasceu a uma criança acabada de acordar estremu-
na antiga Grécia, mas se recuo até ao sé- nhada vítima de um pesadelo. A receita foi Carlos Barbosa
culo IV antes de Cristo é apenas com o intuito simples. Juntou-se a um produto ou serviço de Oliveira
Jornalista
de chamar a atenção para o facto de o uma boa pitada de marketing, adicionou-se
um olhar sobre...
54

receitas mais aprimoradas destinadas a sa- Na segunda metade da década de 80, a so- daí, se a receita era boa porque não exportá-
ciar gostos mais distintos. ciedade de consumo criou uma receita mais -la? Era preciso levar a outras paragens os
Aproveitando o facto de as pessoas terem picante. Adicionou à receita tradicional uma produtos supérfluos que ela criara, acopla-
mais dinheiro na mão e uma grande ape- boa dose de novas tecnologias, juntou ven- dos de sonhos e histórias de encantar que
tência para mudar de ares uma vez por ano, das agressivas, a que misturou uma pitada a publicidade, com seu canto de sereia, eri-
o turismo dá os primeiros passos como in- de publicidade enganosa, e encheu-nos de ca- gira a símbolos do sucesso. Nada melhor do
dústria de futuro e as viagens organizadas, lorias com o fast-food. Quando todos come- que derrubar o muro de Berlim – pensaram
tendo como destino privilegiado as praias çávamos a apreciar a iguaria, acusou-nos os cozinheiros. Para lá da «Cortina de Ferro»
francesas, espanholas e italianas, levam à (sádica) de estar a ficar velhos e gordos. Re- havia milhões de consumidores sequiosos
criação de uma moda de praia onde os ócu- sultado: começámos a fazer jogging. Mas de provar, com a mesma volúpia de Adão
los escuros são indispensáveis e o bikini como essa actividade só dava lucro às indús- quando trincou a maçã que Eva lhe estendia,
aviva as formas. O culto do corpo fortalece trias de calçado e de vestuário, criou uma in- não só esses produtos mas também automó-
a indústria da moda e gera o boom dos clu- dústria para o corpo que vai da cosmética aos veis, electrodomésticos, vestuário, quinqui-
bes de fitness. As contas começam a poder produtos para emagrecimento e dos ginásios lharias e toda a parafernália de produtos
ser pagas com o cartão de crédito e, para às body shops. que, embora exercendo as mesmas funções
quem não tem dinheiro, a banca irá dar mais No final dos anos 80, a sociedade de con- daqueles de que já dispunham, tinham um
tarde um jeito facilitando o acesso ao crédito. sumo precisava de alargar o seu mercado. Vai design mais atraente e, além do mais, pro-
metiam sucesso. E já agora, pediram, porque
não nos trazem também essa «varinha má-
gica» do cartão de crédito, que nos permite
comprar tudo sem dinheiro?
Nasceu então, com a queda do Muro de Ber-
lim, uma Internacional Consumista, com largo
terreno para se expandir. De McDonalds em
riste, aterra em Moscovo, depõe Lenine e
atribui a Gorbatchov o Nobel da Paz. Reconhe-
cido, o líder da Perestroika dá o seu nome a
uma pizza.
Caídas as barreiras a leste, a sociedade de
consumo entra na sua derradeira fase: a glo-
balização. Do Atlântico aos Urales, de São
Francisco a Tóquio, de Sidney a Buenos Aires,
todos passamos a poder confraternizar nos
espaços standardizados das Pizza Hut ou
dos McDonalds, seguindo os ditames da in-
ternacional da moda que nos moldou o corpo
e uniformizou a maneira de vestir.
Como cereja no topo do bolo, a sociedade de
consumo colocou a Internet. No mundo vir-
tual foi mais fácil adormecer os consumido-
res com os automatismos dos telecomandos,
os telemóveis, os electrodomésticos, a faci-
lidade de comunicações, os i-pods e os ipho-
nes, os MP3 ou as PlayStation.
revista FORMAR
número 62 55

Quando percebeu que o dinheiro não che-


gava para tudo, a sociedade de consumo
criou a contrafacção, popularizou a Bolsa e
o jogo das acções e inventou o Euromilhões...
mas como nem todos podem sair vencedo-
res neste «andar à roda» das ilusões e há
gente mesmo azarada ao jogo ou que quando
toca em papéis da Bolsa vê logo descer as co-
tações, decidiu emprestar-lhes dinheiro e
fazer acreditar que os juros não custam nada.
De telemóvel em riste, ou diante de um com-
putador, navegando na Internet, os consumi-
dores de todo o mundo procuram a forma de
tirar melhor partido das ofertas da socie-
dade de consumo. Endividando-se, mas pa-
recendo felizes. E, afinal, quem lhes pode
levar a mal por isso?

O reverso da medalha
Mas a sociedade de consumo não se faz só
destes ingredientes que aguçam o prazer
de consumir. Faz-se também de horrores. zeres. De fugas massivas de africanos esfai- mos. Contudo, não podemos ignorar as con-
De guerras, bombas atómicas, terrorismo e mados que procuram a salvação na Europa. dições em que os produtos são feitos, o im-
ameaças nucleares. De epidemias como a Perceber isto demorou algum tempo. Só pacto ambiental e as condições de traba-
pneumónica, a tuberculose ou a Sida. De an- quando alguns países do Terceiro Mundo co- lho.»
gústias com o que se pode ou não deve meçaram a colocar questões sobre o valor Trinta anos volvidos, o alerta de Anwar Fazal
comer, com a doença das vacas loucas, a das pessoas na sociedade de consumo e a continua a ser pertinente mas poucos pare-
gripe das aves, o excesso de metais pesados alertar para o facto de não ser possível aos cem interessados em dar-lhe resposta. De
no peixe ou os alimentos transgénicos. De te- consumidores exercerem o tão proclamado qualquer modo, há sinais que indiciam que
mores provocados pelo crescimento demo- direito à escolha quando vivem em países a sociedade de consumo massificado en-
gráfico e ameaças de fome. De preocupa- onde nem sequer as necessidades básicas trou numa nova fase que a poderá levar ao
ções com o ambiente, com o trabalho infantil da maioria da população estão satisfeitas, é extertor. É notório que vivemos já numa so-
e as novas formas de escravatura adoptadas que o movimento dos consumidores começa ciedade da hiperescolha, onde a individuali-
pelas multinacionais como forma de garan- a pensar à escala global e a colocar uma dade do consumo começa a impor-se. Mas
tir produção a custos reduzidos. De secas e questão: que preço teremos de pagar para sa- isso é outra história...
cheias, de alterações climáticas, ameaças tisfazer os nossos caprichos consumistas?
de desertificação e marés negras. De pedo- Estávamos no final da década de 70 e Anwar Como nasceram os direitos dos
filia, escravatura, tráfico e turismo sexual. De Fazal, presidente da IOCU (Organização Inter- consumidores
meninos soldados a morrer e meninos rou- nacional das Associações de Consumido- Quando alguns consumidores começaram a
bados à escola para trabalhar em grandes res), afirmava: «O acto de compra é um voto perceber que a receita da sociedade de con-
multinacionais contribuindo, em troca de sa- num determinado modelo económico e so- sumo estava envenenada e que se não
lários de miséria, para encher as montras cial, num modo particular de produção de reagissem seriam consumidos por ela, deci-
de produtos que ajudam a construir as nos- bens. Preocupamo-nos com a qualidade dos diram organizar-se (inicialmente em coope-
sas vaidades ou a satisfazer os nossos pra- bens e com a satisfação que deles extraí- rativas e mais tarde em associações). Está-
um olhar sobre...
56

vamos nos anos 30 quando aparece nos Es- merciante. Agora, é uma figura sem rosto que Mas é também o caso dos detergentes, elec-
tados Unidos a primeira associação de con- tanto se pode esconder por detrás de uma trodomésticos e uma parafernália de pro-
sumidores. Nasce a revista Consumer Re- multinacional como no espaço virtual, num site dutos destinados a facilitar a vida doméstica
ports que publica testes comparativos a da Internet. Se bem que um pouco esmorecida, que têm também como alvo preferencial as
produtos. Nos anos 50 as associações de esbatida pelo fulgor da sociedade de consumo mulheres.
consumidores começam a surgir um pouco e com os seus movimentos coarctados com A mulher do século XXI já não tem o exclusivo
por todo o mundo ocidental e em 1957, com a abertura dos mercados, a luta dos consumi- das tarefas domésticas. Já não lhe está re-
o apoio da União de Consumidores ameri- dores pela defesa dos seus direitos continua. servada preferencialmente a tarefa de des-
cana, é criada em Inglaterra a British Consu- Mas não é difícil imaginar quem sairá vito- cascar as cebolas e as cenouras ou picar a
mers Association. Segue-se a associação de rioso se as regras do mercado permanece- carne, e quando o faz recorre à 1, 2, 3. En-
consumidores belga e em 1960 realiza-se, em rem intangíveis e intocáveis. quanto cozinha tem junto a si o telemóvel ou
Haia, o primeiro Congresso da IOCU (actual- o telefone sem fios, porque já não pode dar
mente Consumers International) que con- Os actores da sociedade de consumo reprimendas à criada. A mulher do século XXI
grega associações de consumidores de todo Durante muitos anos, a mulher foi o princi- já não espera que lhe bata à porta o padeiro,
o Mundo. pal actor da sociedade de consumo. Era ela a peixeira anunciando «carapau fresquiiii-
Nessa época, porém, ainda não se podia a «fada do lar» a quem cabia fazer, diaria- nho» ou que o talho lhe venha trazer a carne...
falar de defesa do consumidor organizada. Só mente, um conjunto alargado de escolhas. Daí vai às compras de jeep. A mulher deste sé-
em 1962, quando o presidente Kennedy que a publicidade lhe prestasse a maior aten- culo faz aeróbica, vai ao cabeleireiro, à depi-
enuncia ao Congresso os direitos dos consu- ção, quer dirigindo-lhe mensagens específi- lação e à massagem e, enquanto espera, já
midores, a expressão ganha raízes. Nessa cas, quer incluindo-a como protagonista das não se revê nas leituras da Crónica Femi-
época já a sociedade de consumo estava suas mensagens, quando dirigidas aos ho- nina. E já não se atrasa porque ficou a com-
florescente. No entanto, não só pela impor- mens. À medida que o século XX foi cami- por a maquilhagem, mas sim porque teve
tância de que se revestiu a proclamação de nhando para o fim, a imagem da mulher como que escrever mais um ofício, enviar dois
Kennedy, mas também pelo facto de terem actor principal da sociedade de consumo co- faxes e um e-mail ou atender um cliente re-
sido os Americanos a financiar as primeiras meçou a alterar-se. Neste final de século, a tardatário.
associações de consumidores europeias, imagem de «supermulher» com que é enca- A sociedade de consumo não tardou a perce-
consagrou-se a data de 15 de Março como o rada dá ao marketing sobejas razões para ber as alterações do papel da mulher e foi
Dia Mundial dos direitos dos consumidores. estar satisfeito. Além de mãe e dona de casa, lesta a adaptar-se à nova realidade mas com-
É justo considerar essa data como um marco a mulher tem uma profissão, tem que cuidar preendeu, também, que os jovens deixaram
histórico na luta dos consumidores, uma da imagem – recorrendo à cosmética e pres- de ser «catraios» e «fedelhos». Passaram
vez que foi a partir de então que os consu- tando redobrada atenção à moda – e ainda a ser «putos», deixaram de ser malcriados
midores adquiriram uma maior consciencia- tem que cuidar da linha em clínicas espe- e passaram a ser irreverentes e, acima de
lização, a maioria dos países criou um orde- cializadas ou praticando um desporto. Um tudo, começaram a ter poder de compra e a
namento jurídico para a sua protecção, foram verdadeiro manancial que a sociedade de ser autónomos nas suas opções de con-
facilitados os mecanismos de acesso à jus- consumo explora de forma arguta. sumo. Percebeu que os velhos evoluíram
tiça, deu-se mais atenção aos problemas de Quando promove produtos cujos destinatá- para idosos ou seniores com dinheiro no
saúde e segurança, levou-se a educação do rios são as mulheres, as suas qualidades bolso para gastar. Entendeu que cada um
consumidor à escola e desencadearam-se são realçadas pelo facto de a poderem tornar dos elementos que constitui o género hu-
campanhas de informação. mais atraente ou contribuírem para facilitar mano tem agora o seu papel bem definido na
Ao virar do século, a luta dos consumidores as tarefas. É o caso dos cosméticos, de pro- sociedade de consumo em que vivemos.
centra-se também na defesa do ambiente, dutos de emagrecimento, perfumes e peças Aconselhou-se com o marketing e classificou-
na exigência de um consumo ético e social- de vestuário que a publicidade promove como -os como target groups, arranjou para cada
mente responsável e na luta contra o trabalho sendo capazes de permitir a todas as mulhe- um uma oferta apropriada e pediu à publici-
infantil. O inimigo público deixou de ser o co- res encontrarem o seu príncipe encantado. dade que as promovesse.
revista FORMAR
número 62 57

Ao virar o ano 2000, o homem já faz – ou do jantar ele, em vez de lhe oferecer uma seja na cosmética ou mesmo nas clínicas
pelo menos ajuda – as lidas da casa, não dis- flor, pergunta: «Trouxeste o preservativo?» especializadas para manter a forma, o mar-
cute com a família o programa de televisão Nos aniversários e no Natal é sempre a keting orientado para os consumidores ido-
que vão ver nessa noite porque há pelo mesma seca: «Vou passá-los com a mãe e sos desenvolveu-se nos últimos anos de
menos dois televisores lá em casa e vai o tio, ou com o pai e a tia?» forma a garantir o aproveitamento das poten-
com a mulher ao hipermercado, ajudando- A sociedade de consumo sorri com tanta in- cialidades deste «segmento de mercado».
-a a empurrar o carrinho de compras. O definição porque percebeu que o fim da fa- (Diga-se, a talhe de foice, que nem sempre
homem do século XXI chega a casa de fato mília monoparental é um filão explorar. Jo- o tem feito com lhaneza. Basta olhar para o
de treino depois de fazer jogging ou dar vens a terem pais e mães a dobrar não mercado das vendas por correspondência e
duas braçadas na piscina e não se senta significa apenas consumo a duplicar... signi- a forma como vem usando e abusando de
diante do televisor a ler o jornal porque fica autonomização consumista de um grupo «ofertas promocionais» onde se garantem
todos os dias há um jogo de futebol à hora etário. Por outro lado, começa a vulgarizar- prémios inexistentes para o constatar.)
de jantar. O homem do fim do século não -se a prática de os jovens trabalharem du- Quando chegam a casa, depois do passeio
dorme sentado no sofá a seguir ao jantar rante o período de férias como forma de ga- diário, abrem a caixa do correio, de onde
porque vai navegar na Internet, mandar rantir um pecúlio para satisfazer alguns de- tiram cartas com a fotografia de uma se-
e-mails para os amigos, encomendar um sejos que as mesadas paternas não são nhora que jura, a pés juntos, terem ganho um
CD ou um livro. Já não critica a mulher por suficientes para garantir. Começa também a prémio num concurso a que nunca concor-
gastar demasiado dinheiro em cosméticos verificar-se uma tendência crescente para os reram. Correm a telefonar ao filho a dar a
porque ele também os usa. jovens começarem a usufruir rendimentos do grande novidade, mas do lado de lá do fio
Os jovens foram, porém, a grande desco- trabalho a partir dos 18 ou 20 anos, quando vem a decepção quando este responde com
berta da sociedade de consumo. Os rebentos entram para as universidades. Assim, quando voz arguta: «Oh! mãe, tenha cuidado! Não
deste século podem ter sido concebidos o Cartão Jovem faz a sua aparição já os jo- acredite! Olhe que estes tipos agora são uma
pelos métodos naturais ou ser bebés proveta. vens são encarados como um segmento au- cambada de aldrabões.»
Pouco importa. Quando chegam a casa vão tónomo do mercado, a quem a sociedade de
para os seus quartos ver televisão ou brin- consumo dá cada vez mais atenção, nomea-
car no computador e à hora de jantar já não damente quando se trata de vestuário, bebi-
falam com os pais de História ou Geografia, das, música e produtos e espaços de lazer.
das dificuldades que sentem na Matemática O envelhecimento da população e uma nova
ou no Português, mas sim do último pro- forma de encarar a velhice, aliados ao facto
grama da Microsoft, da descoberta de um de uma cada vez mais significativa percen-
site na Net ou do automóvel que querem tagem de idosos usufruir de rendimentos
quando entrarem para a faculdade. Os jo- que não são muito inferiores ao da popula-
vens do final do século já não são malcria- ção activa (graças à generalização do di-
dos. São irreverentes. Já não gastam a me- reito à reforma e à segurança social), desper-
sada ou a semanada. Esgotam o crédito do tou o apetite da publicidade e do marketing.
multibanco. Já não usam cabelos compri- Por outro lado, o consumidor sénior encara
dos, calças à boca de sino ou mini-saia. Usam actualmente a idade da reforma numa pers-
brincos, fazem tatuagens e pircingues. À pectiva completamente diferente do que
noite já não vão ao café da esquina conver- acontecia há uns anos. O reformado deixou
sar com os amigos. Pedem o carro empres- de ser visto como um velho que constitui
tado a um dos pais ou vão em carro próprio um fardo, para emergir como consumidor
«curtir» para uma discoteca. Já não vão autónomo que tem os seus gostos e praze-
jantar com o(a) namorado(a) à luz da vela. res próprios. Seja na área dos lazeres (com
Vão ao McDonalds ou à pizzaria e no final especial incidência no turismo) ou na cultura,
esp@ço internet
58

www.pnai.pt

A luta contra a pobreza e a exclusão social que estimulem o crescimento e o emprego, plícito com objectivos de coesão e justiça
inscreve-se na estratégia de desenvolvi- de modo a permitir que a protecção social social, mas também no que possibilita de
mento da União Europeia e de cada um dos seja encarada como um factor produtivo. articulação com outros instrumentos, no-
Estados-membros. A estratégia de Inclusão Social integrou-se meadamente o Plano Nacional de Emprego
Durante a Presidência portuguesa da UE, em numa estratégia mais ampla e num processo e o Programa Integrado de Apoio à Inovação,
2000, Portugal desempenhou um papel de racionalizado, que coloca em articulação as constituindo com eles a expressão do cha-
importância decisiva e inquestionável, fi- medidas de políticas em matéria de inclusão mado «triângulo estratégico de Lisboa», de
cando a Estratégia de Lisboa como a marca social, pensões e cuidados de saúde e cui- que é uma peça fundamental.
que distingue e reafirma o carácter social dados continuados, consubstancializados O processo de promoção e desenvolvimento
da União e do seu modelo de crescimento. no Relatório de Estratégia Nacional para a Pro- do Plano impõe uma estratégia concertada
A adopção de um conjunto de medidas vi- tecção Social e Inclusão Social. Foi neste e com responsabilização partilhada por parte
sando o reforço desta dimensão à escala novo contexto que a 15 de Setembro de 2006 do Estado e dos Parceiros Sociais.
nacional e europeia representa, assim, a von- cada Estado-membro apresentou o seu ter- O PNAI encontra-se estruturado em torno de
tade comum no combate firme por políticas ceiro Plano de Acção para a Inclusão, que três prioridades:
inclusivas, sustentáculo de uma Europa dos durante dois anos marcará as diferentes po- > Combater a pobreza das crianças e idosos
cidadãos. A elaboração de Planos Nacionais líticas e medidas neste domínio. através de medidas que assegurem os
de Acção para a Inclusão, assentes num Mé- No caso português, o Plano Nacional de Acção seus direitos básicos de cidadania.
todo Aberto de Coordenação (MAC), vem dar para a Inclusão (PNAI), para o período de > Corrigir as desvantagens na educação e for-
resposta a esse compromisso assumido 2006-2008, é um documento, multi-secto- mação/qualificação.
pelos Estados-membros e fixar metas quan- rial e multidimensional, de coordenação es- > Ultrapassar as discriminações e reforçar a
tificadas nos vários domínios sectoriais e tratégica e operacional das políticas de com- integração das pessoas com deficiência e
frentes em que se desenvolve este combate. bate à pobreza e à exclusão social, em dos imigrantes.
Em 2005, a revisão da estratégia de Lisboa observância da Estratégia de Lisboa e fun- Pretende-se que este Plano constitua um
veio enfatizar a ne- dado em objectivos comuns aplicados a todos instrumento capaz de contribuir para que a
cessidade de os Estados da União Europeia. O PNAI portu- pobreza e a exclusão social, fenómenos do
políticas guês assume-se assim como o instrumento passado e ainda do presente, possam, com
de construção de uma estratégia europeia maior eficácia, reverter-se no futuro, a ca-
no plano social mas radica, fundamen- minho de uma sociedade portuguesa mais
talmente, no seu valor específico en- justa, socialmente mais coesa e com maior
quanto instrumento nacional de con- desenvolvimento sustentável.
solidação das políticas portuguesas Para uma melhor percepção desta problemá-
de reforço da coesão nacional. tica e do alcance do PNAI, convidamos os
O Plano Nacional deve ser lido não ape- nossos leitores a lerem a versão do PNAI
nas no que representa de compromisso ex- 2006-2008, disponível neste site.
debaixo d’olho revista FORMAR
número 62 59

Artigos publicados
na revista Formar
em 2007

Dossier
• Potencial humano: a abordagem do projecto • Qualificações baseadas em competências>> • Dupla certificação: uma nova equação
de programa para o período 2007/2013 Elsa Caramujo >> 59 (Abr./Mai./Jun.) >> 8 qualificante >> José Manuel Castro >> 60
>> A. Oliveira das Neves >> (Jan./Fev./Mar.) • Nova vida para as «Novas Oportunida- (Jul./ /Ago./Set.) >> 4
>> página 4 des». Entrevista CITEFORMA >> Nuno Es- • Centro Novas Oportunidades do Seixal –
• Impacto do QREN na formação das PME. En- tevens >> 59 (Abr./Mai./Jun.) >> 11 Aposta na dupla certificação. Entrevista >>
trevista a Norma Rodrigues >> Maria Vie- • Centro Novas Oportunidades do NERGA – M. Fernanda Gonçalves. Nuno Estevens >>
gas >> 58 (Jan./Fev./Mar.) >> 11 servir a comunidade, investir no futuro: 60 (Jul./Ago./Set.) >> 12
• O futuro das qualificações em Portugal e Entrevista >> Nuno Estevens >> 59 (Abr./ • Certificados de 2005, onde estão agora?
a importância do CNQ >> Ana Claúdia Va- /Mai./Jun.) >> 17 >> Patrícia Matias, Patrícia Pereira >> 60
lente >> 58 (Jan./Fev./Mar.) >> 16 • Futurália – Feira da juventude, qualifica- (Jul./Ago./Set.) >> 20
• Catálogo Nacional de Qualificações >> Ana ção e emprego. Notícia >> M. Fernanda • CNO – Em jeito de balanço >> M. Fernanda
Paula Filipe >> 59 (Abr./Mai./Jun.) >> 4 Gonçalves >> 59 (Abr./Mai./Jun.) >> 22 Gonçalves >> 60 (Jul./Ago./Set.) >> 25
debaixo d’olho
60

• A formação em alternância e o papel das • Cooptécnica – Escola Profissional Gus- • Projecto TEVAL – Modelo de avaliação para
empresas na qualificação profissional >> tave Eiffel. Entrevista >> Maria Viegas >> professores e formadores >> Vítor Carioca.
Acácio Duarte >> 61 (Out./Nov./Dez.) >> 4 60 (Jul./Ago./Set.) >> 27 Clara Rodrigues, Sandra Saúde >> 60 (Jul./
• Sistema de formação em alternância – • O sistema de aprendizagem em Portugal /Ago./Set.) >> 40
oportunidade e actualidade de uma ini- >> Francisco Caneira Madelino >> 61 • Comunicar em público >> Ana Penim >> 60
ciativa >> Maria Márcia Trigo >> 61 (Out./Nov./ /Dez.) >> 30 (Jul./Ago./Set.) >> 43
(Out./Nov./Dez.) >> 10 • Conferência EU e-Learning Lisboa 2007
• Avaliação do sistema de aprendizagem – Actuais >> Maria Antonieta Romão >> 60 (Jul./
notas de um exercício em curso de execu- • A dimensão territorial no âmbito de inter- /Ago./Set.) >> 47
ção >> A. Oliveira das Neves >> 61 venção do RVCC >> Maria Francisca Mon- • Casa do S@der + - RVCC da ESDIME >> Fi-
(Out./Nov./ /Dez.) >> 14 teiro Simões >> 58 (Jan./Fev./Mar.) >> 25 lipa Lourenço e Susana Graça >> 61 (Out./
• Sistema de aprendizagem: alguns aponta- • REFER – A formação a alta velocidade. En- /Nov./ Dez.) >> 33
mentos (entrevista) >> Carlos Barbosa de trevista a Fernando Moreira da Silva >> M. • Estratégias Formativas >> Manuela Nave
Oliveira >> 61 (Out./Nov./Dez.) >> 19 Fernanda Gonçalves >> 58 (Jan./Fev./Mar.) >> 61 (Out./Nov./Dez.) >> 39
• Seminário «Formação em alternância – >> 28 • Conferência «Do ensino à aprendizagem
sistema de aprendizagem» >> Patrícia • Presidência Portuguesa da União Euro- para uma validação e reconhecimento de
Trigo >> 61 (Out./Nov./Dez.) >> 26 peia. Notícia >> M. Fernanda Gonçalves >> competências – Ideais e realidade» >>
• Promover e aumentar o acesso à qualifi- 58 (Jan./Fev./Mar.) >> 33 Sandra Sousa Bernardo >> 61 (Out./Nov./
cação numa perspectiva de aprendiza- • Modelo para a avaliação de competências /Dez.) >> 44
gem ao longo da vida – RCM n.º 173/2007 para o ensino e formação em contexto eu-
>> 61 (Out./Nov./Dez.) >> 29 ropeu. Projecto TEVAL >> Vítor Carioca, Clara Instrumentos de Formação
Rodrigues. Sandra Saúde >> 59 (Abr./Mai./ • Podcasting no contexto formativo >> César
Análise Crítica /Jun.) >> 26 Teixeira >> 58 (Jan./Fev./Mar.) >> 34
• Repensar a educação/formação de adul- • Como desenvolver uma cultura de forma- WIKIS >> César Teixeira >> 59 (Abr./Mai./Jun.)
tos >> Ana Luísa Oliveira Pires >> 58 (Jan./ ção nas empresas? Entrevista Eugénio >> 45
/Fev./Mar.) >> 20 Rosa >> Maria Viegas >> 59 (Abr./Mai./Jun.) • WEB 2.0 >> César Teixeira >> 60 (Jul./Ago./
• Objectivo da reforma da formação profis- >> 33 /Set.) >> 49
sional: reforçar e renovar a centralidade da • Inovar nas estratégias formativas. Entrevista • O levantamento das necessidades de for-
qualificação >> Francisco Caneira Madelino >> CFP Chaves >> 59 (Abr./Mai./Jun.) >> 38 mação – O questionário >> José Casqueiro
>> 59 (Abr./Mai./Jun.) >> 23 • Créditos europeus para a educação e for- Cardim >> 61 (Out./Nov./Dez.) >> 46
mação profissional – Quo vadis, ECVET? >>
Luís Imaginário >> 60 (Jul./Ago./Set.) >> 35
revista FORMAR
número 62 61

Conhecer a Europa Debaixo d’Olho


• Eslováquia >> Ana Rita Lopes >> 58 >> • A qualidade nos RVCC – dimensão europeia, • Qualifications with a dual orientation to-
(Jan./Fev./Mar.) >> 40 condições de sucesso e factores críticos. wards employment and higher education.
• Malta >> Ana Rita Lopes >> 59 >> (Abr./ Notícia >> Ana Cristina Pinto >> 58 (Jan./ INTEQUAL Repport II >> Sabine Manning, Ed.
/Mai./Jun.) >> 49 /Fev./Mar.) >> 51 >> 60 (Jul./Ago./Set.) >> 64
• Grécia >> Ana Rita Lopes >> 60 (Jul./Ago./ • Quiosques electrónicos >> M. Fernanda • Revista Europeia de Formação Profissional
/Set.) >> 53 Gonçalves >> 59 (Abr./Mai./Jun.) >> 58 n.º 40, 2007/01 >> CEDEFOP >> 61 (Out./
• Lituânia >> Ana Rita Lopes >> 61 (Out./Nov./ • As idades do brinquedo – FIA 2007 >> 60 /Nov./Dez.) >> 61
/Dez.) >> 53 (Jul./Ago./Set.) >> 61 • O impacto da certificação na vida das pes-
• 39.º Campeonato Internacional das profis- soas – A experiência da ESDIME >> ESDIME
Um Olhar Sobre... sões – o bom stress >> António Caldeira >> >> 61 (Out./Nov./Dez.) >> 61
• O primeiro comboio. Carris para o pro- 61 (Out./Nov./Dez.) >> 59 • O universo das profissões >> José Cas-
gresso >> Albano Pereira >> 58 (Jan./ queiro Cardim e Rosaria Ramos Miranda
/Fev./Mar.) >> 43 Livros >> 61 (Out./ /Nov./Dez.) >> 62
• Comércio Electrónico >> Carlos Barbosa de • Guia do animador na formação de adultos • A incorporação da igualdade de género na
Oliveira >> 59 (Abr./Mai./Jun.) >> 52 >> Paulo da Trindade Ferreira >> 58 formação pedagógica de formadores/as
• A publicidade >> Carlos Barbosa de Oli- (Jan./Fev./ /Mar.) >> 56 >> IEFP, IP >> 61 (Out./Nov./Dez.) >> 62
veira >> 60 (Jul./Ago./Set.) >> 56 • Assegurar a visibilidade das competências
• As doenças dos edifícios >> Carlos Bar- >>Jens Bjornavold >>58 (Jan./Fev./Mar.) >> Divulgação
bosa de Oliveira >> 61 (Out./Nov./Dez.) >> 57 • Que qualificações para um modelo de de-
56 • A regulação das políticas públicas de edu- senvolvimento sustentável na região norte.
cação: espaços, dinâmicas e actores >> Vá- Seminário >> Catarina Cristino Pereira >>
Espaço Internet rios. Organização de João Barroso >> 59 59 (Abr./Mai./Jun.) >> 58
• Blogformação. www.qren.pt >> M. Fer- (Abr./ /Mai./Jun.) >> 59 • Campeonato Nacional das Profissões >> An-
nanda Gonçalves >> 58 (Jan./Fev./Mar.) • Socialização escolar e profissional de jo- tónio Caldeira >> 59 (Abr./Mai./Jun.) >> 60
>> 49 vens: projectos, estratégias e representa- Conferência EU e-Learning Lisboa 2007 >>
• CNQ – As experiências internacionais >> ções >> Natália Alves >> 59 (Abr./ Mai./ Etelberto Costa >> 61 (Out./Nov./Dez.) >> 63
Ana Claúdia Valente >> 59 (Abr./Mai./Jun.) /Jun.) >> 59
>> 56 • Actualização e aprofundamento do estudo • Artigos publicados na revista Formar ano
• Novas Oportunidades >> M. Fernanda Gon- sobre RVCC >> CIDEC >> 60 (Jul./Ago./Set.) 2006 >> 58 (Jan./Fev./Mar.) >> 61
çalves >> 60 (Jul./Ago./Set.) >> 60 >> 64 • Estatuto Editorial >> 58 (Jan./Fev./Mar.) >>
• www.catálogo. anq.gov.pt >> M. Fernanda 63
Gonçalves >> 61 (Out./Nov./Dez.) >> 58
debaixo d’olho
62

Livros

O fim da pobreza Enfim, após lermos este livro é impossível Ficha Técnica
O autor desta obra, Jeffrey Sachs, conse- ficar indiferente a oito milhões de pes- Título > O Fim da Pobreza
lheiro especial do então secretário-geral das soas que morrem todos os anos porque Autor > Jeffrey Sachs
Nações Unidas, Kofi Annan, tem aconselhado são demasiado pobres para sobreviver, é Colecção > Actualidade Política
os líderes de mais de 100 países sobre de- uma responsabilidade que é de todos nós Editor > Casa das Letras
senvolvimento económico e redução da po- e à qual cada um de nós não pode ser N.º de páginas > 542
breza. alheio. Edição > Fevereiro de 2006
Neste livro procura explicar como a pobreza
tem sido combatida e como, por meio de
passos exequíveis, é possível fazer pro-
gressos reais junto daquela fatia enorme
da Humanidade que continua a viver na mi-
séria.
Bono refere no prefácio deste livro: «A fome,
as doenças, o desperdício de vidas que cons-
titui a pobreza extrema são uma afronta a
todos nós. Para Jeff, trata-se de uma equa-
ção difícil mas com uma solução. Uma equa-
ção que cruza capital humano com capital fi-
nanceiro, os objectivos estratégicos do
mundo rico com um novo tipo de planea-
mento no mundo pobre.»
Não posso deixar ainda de transcrever um
outro parágrafo deste prefácio de Bono: «Sou
um cantor com um ouvido melódico. As gran-
des ideias têm muito em comum com uma
grande melodia. Uma certa clareza, inevita-
bilidade, capacidade de ficar no ouvido... não
as conseguimos tirar da cabeça, elas não
nos deixam em paz... As ideias deste livro não
ficam exactamente no ouvido, mas têm um
magnetismo que ninguém esquecerá: o fim
da pobreza.»
revista FORMAR
número 62 63

Modelização das políticas e das práticas de à prossecução de uma sociedade digna,


inclusão social das pessoas com deficiên- aberta e inclusiva.
cias em Portugal Os principais resultados deste estudo foram
Portugal registou, nas últimas décadas, pro- apresentados na Conferência «Mais Quali-
gressos significativos ao nível das políticas dade de Vida para as Pessoas com Deficiên-
e das práticas no âmbito inclusão social das cias e Incapacidades: Uma Estratégia para
pessoas com deficiências e incapacidades. Portugal», que decorreu de 13 a 14 de Dezem-
Em particular, a adesão à União Europeia bro, no ISCTE, em Lisboa.
trouxe novos recursos e um novo impulso Dada a importância deste tema convidamos
que constituíram uma oportunidade que o os leitores a obterem mais informação sobre
país aproveitou, quer ao nível das políticas pú- o referido estudo em www.crpg.pt, onde o
blicas, quer ao nível dos dinamismos da so- mesmo se encontra disponível.
ciedade civil. Há, todavia, ainda a necessidade
de investir em aspectos que constituem Ficha Técnica
áreas de fragilidade e de desenvolvimento, Título > Modelização das Políticas e das Prá-
numa perspectiva de adequação das políti- ticas de Inclusão Social das Pessoas com
Consolidação, visibilidade e reconheci- cas e das práticas às necessidades e expec- Deficiências em Portugal
mento – para uma economia social organi- tativas dos cidadãos, das famílias e da socie- Autor > CRPG – Centro de Reabilitação Profis-
zada, eficaz e sustentável dade, bem como ao nível da optimização dos sional de Gaia, ISCTE – Instituto Superior das
Trata-se de uma brochura que divulga o «do- recursos. Ciências do Trabalho e da Empresa
cumento síntese» resultado do Grupo Te- Com esse objectivo, o CRPG – Centro de Rea- Coordenador geral do estudo > Jerónimo
mático EQUAL que reuniu os projectos da bilitação Profissional de Gaia, em parceria Sousa
área da Economia Social da 1.ª fase. com o ISCTE – Instituto Superior das Ciências Editor > CRPG – Centro de Reabilitação Pro-
Nesta síntese, o Professor Alberto de Melo do Trabalho e da Empresa, promoveu a rea- fissional de Gaia
produz uma reflexão sobre as soluções con- lização do Estudo «Modelização das Políticas N.º de páginas > 288
cebidas e testadas pelos vários projectos, e das Práticas de Inclusão Social das Pessoas Edição > Dezembro de 2007
relata um importante conjunto de boas prá- com Deficiências em Portugal». De acordo
ticas em diferentes países, alargando a base com os resultados apurados, a população
de partida para a formulação de pertinen- portuguesa com deficiências e incapacida-
tes recomendações relativas à melhoria do des representa 8,2% do todo nacional e é
enquadramento institucional e regulamen- predominantemente feminina, adulta e idosa,
tar da Economia Social e do reforço e susten- com níveis de qualificação escolar muito bai-
tação do 3.º sector na sociedade actual, bem xos, globalmente excluída do mundo do tra-
como sobre complementaridade e formas balho e com rendimentos familiares próximos
de cooperação entre o sector público e o 3.º do salário mínimo nacional.
sector. Tendo em conta a caracterização social refe-
Ficha Técnica rida, a evolução percorrida em Portugal e as
Título > Consolidação, Visibilidade e Reco- tendências de evolução das políticas no do-
nhecimento – para Uma Economia Social Or- mínio, o estudo pretende dar um contributo
ganizada, Eficaz e Sustentável para a definição de uma nova estratégia na-
Autor > Alberto Melo cional a favor das pessoas com deficiências
Colecção > DISSEMINAR , n.º 3, Novembro e incapacidades. Nesse sentido, apresenta
de 2005 um novo modelo de política e de governação,
Publicação > Gabinete de Gestão EQUAL orientado para a qualidade de vida, com vista
divulgação
64

Qualific@2008

O Instituto de Emprego e Formação Profis- de Formação Profissional de Gestão Di-


sional, I P (IEFP), através da sua Delegação recta e de Gestão Participada do IEFP, I P,
Regional do Norte (DN), esteve presente na onde jovens e adultos puderam explorar
Qualific@ 2008, de 14 a 17 de Fevereiro. as actividades profissionais aí representa-
O IEFP/DN organizou espaços onde jovens e das, contactar com os formandos/forma-
adultos exploraram livremente ou com o apoio dores e identificar as vias de acesso às
de técnicos devidamente habilitados as dife- formações.
rentes oportunidades formativas e do mundo
do trabalho e puderam, assim, avaliar a im-
portância de cada uma delas para a concre-
tização dos seus projectos profissionais.
Tendo em conta os objectivos desta feira e os
públicos-alvo a que se destinavam, foram de-
finidos os seguintes espaços, animados por
profissionais do IEFP, I P:
> Uma Mostra de Formação ao vivo, represen-
tativa da oferta qualificante dos Centros
reconhecimento, validação e certificação
de competências, quer através de acções
de Educação e Formação de Adultos.

Procurou-se com estas iniciativas realizar


uma apresentação intencional de vários per-
cursos possíveis, que puderam ser explora-
dos e experimentados visando o desenvol-
> Um Centro de Emprego facilitador do ajus- vimento de atitudes e comportamentos
tamento da oferta e da procura que contem- activos tendo em vista as exigências do mer-
plava o Atendimento Personalizado, o Ser- cado de trabalho.
viço Eures, o Livre Serviço de Emprego , o Neste espaço foi também possível aos pais,
NetEmprego e um Centro de Documenta- profissionais de formação e educação e aos
ção. educadores em geral, a recolha de informa-
> Um Centro Novas Oportunidades como ção sobre as diversas áreas de formação e
«porta de entrada» para os percursos qua- qualificação, bem como as diferentes opor-
lificantes, quer através de processos de tunidades de inserção profissional.

Você também pode gostar