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Indaial – 2019
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2019
Elaboração:
Prof.ª Cláudia Fernanda Souza de Carvalho Becker Silva
SI586d
ISBN 978-85-515-0387-4
CDD 341.5
Impresso por:
Apresentação
Olá, acadêmico! A teoria da pena do Direito Penal nos apresentará os
tipos de pena e seus regimes, além de como deve ser realizada o seu cálculo
de aplicação. Por isso, é indispensável o seu estudo.
III
NOTA
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.
IV
V
LEMBRETE
Acesse o QR Code, que te levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para teu estudo.
VI
Sumário
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO ÀS PENAS NO BRASIL................................................................. 1
VII
UNIDADE 2 – ESPÉCIEIS DE PENA E DOSIMETRIA.................................................................... 55
VIII
2 REINCIDÊNCIA.................................................................................................................................... 121
3 CONCURSO DE CRIMES................................................................................................................... 124
3.1 CONCURSO MATERIAL................................................................................................................ 124
3.2 CONCURSO FORMAL OU IDEAL............................................................................................... 125
3.3 CRIME CONTINUADO.................................................................................................................. 126
3.3.1 Crime continuado na aplicação da pena.............................................................................. 128
3.4 CONCURSO DE CRIMES CONDENADOS À PENA DE MULTA ........................................ 128
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 130
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 132
IX
X
UNIDADE 1
INTRODUÇÃO ÀS PENAS NO
BRASIL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
Nesta unidade, iniciaremos o estudo das penas no Brasil, começando pela
sua historicidade, caminhando pelas escolas penais e finalizando com os tipos de
pena. Assim, torna-se imprescindível conceituar o que é pena:
Contudo, nem sempre foi este o conceito de pena, uma vez que a história
do Direito Penal e da pena evoluíram com o passar do tempo, sendo até mesmo
criado escolas para tentar moldar os objetivos do Direito Penal e suas funções.
Masson (2017, p. 73) afirma que “as diversas fases da evolução da vingança
penal deixam evidente que não se trata de uma progressão sistemática, com
princípios, períodos e épocas capazes de distinguir cada um em seus estágios,
mas algo que foi se desenvolvendo para atender às necessidades de seu tempo”.
3
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO ÀS PENAS NO BRASIL
FONTE: <https://www.pragmatismopolitico.com.br/wp-content/uploads/2016/04/a-historia-da-
ultima-pena-de-morte-registrada-no-brasil.jpg>. Acesso em: 11 jun. 2019.
“Para esses povos a lei tinha origem divina e, como tal, sua violação
consistia numa ofensa aos deuses, punia-se o infrator para desagravar a divindade,
bem como para purgar seu grupo das impurezas trazidas pelo crime” (MASSON,
2017, p. 74).
Por ser uma ofensa ao grupo, este poderá exercer sua vingança buscando
a aplicação da justiça contra o grupo ao qual pertence o criminoso.
4
TÓPICO 1 | HISTÓRIA DAS PENAS E DAS ESCOLAS PENAIS
É neste período que surge a Lei do Talião, que vai tentar colocar uma
certa proporcionalidade entre os delitos, determinando o olho por olho, dente
por dente.
5
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO ÀS PENAS NO BRASIL
DICAS
Também, em 1890, foi publicado um novo Código Criminal, que era muito
deficiente e com muitas falhas apontadas pelos juristas da época. Assim, em 1932,
foi promulgado a Consolidação das Lei Penais.
6
TÓPICO 1 | HISTÓRIA DAS PENAS E DAS ESCOLAS PENAIS
FONTE: <https://canalcienciascriminais.com.br/wp-content/uploads/2015/09/Cesare_
Beccaria_1.jpg>. Acesso em: 25 jun. 2019.
7
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO ÀS PENAS NO BRASIL
E foi neste contexto histórico que Beccaria escreveu Dos Delitos e das Penas,
livro que até hoje se mostra atual, em que o autor defende os ideais iluministas.
Pela primeira vez é defendido a ideia da proporcionalidade entre o delito
cometido e a pena, a legalidade, defendendo que a lei deveria prever os delitos
anteriormente do cometimento dos mesmos e que essa lei deveria ser clara para
poder ser compreendida pelo povo, entre outras.
Para Carrara, o crime era um ente jurídico; o delinquente era movido pelo
livre-arbítrio e optava por praticar o delito; a pena serve para retornar a ordem para a
sociedade, e que deve ser utilizada apenas para a tutela do direito; que era necessária
a lei anterior prescrevendo o crime. Nota-se que os autores da escola clássica:
Contudo, esses autores não se reconheciam como uma mesma escola. Essa
terminologia foi imputada a eles pelos autores da escola positiva como forma de
ridicularizá-los.
8
TÓPICO 1 | HISTÓRIA DAS PENAS E DAS ESCOLAS PENAIS
E
IMPORTANT
Com isso, Lombroso desenvolve uma teoria que afirma que os delinquentes
não evoluíram com o restante da espécie humana, havendo neles características
atávicas que eram as responsáveis pelo cometimento do crime. Lombroso
publicou como marco de seus estudos o livro O Homem Delinquente, em 1876.
10
TÓPICO 1 | HISTÓRIA DAS PENAS E DAS ESCOLAS PENAIS
E
IMPORTANT
As falhas vistas e apontadas por Rocco eram decorrentes das escolas que
lhe antecederam, a clássica e a positivista. Eram os métodos anteriores que eram
criticados por ele como não sendo o mais apropriado para o estudo do Direito
Penal. “Rocco insurgia-se também contra o direito natural diante da premissa de
que o direito positivo era a única fonte do direito penal. Igualmente a antropologia
era considerada como disciplina de ilícita intrusão” (DOTTI, 2014, p. 159).
11
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO ÀS PENAS NO BRASIL
Rocco sustenta que a crise da Ciência Penal pode ser resolvida com
uma fixação do objeto de cada uma das matérias, porém, sem que elas fiquem
estanques uma das outras. Contudo, cada uma das matérias da Ciência Penal
teria um objeto de análise delimitado, podendo influenciar umas nas outras, mas
sem invadir o campo de estudo propriamente dito. O Direito Penal deveria se
preocupar com o delito e as penas como fato jurídico.
12
RESUMO DO TÓPICO 1
• A história da pena não é linear com uma fase se sucedendo a outra, e sim, de
forma evolutiva em que as fases convivem e evoluem com o desenvolvimento
da sociedade.
• A história da pena pode ser dividida em três fases, sendo de vingança divina,
vingança privada e vingança pública.
• O Brasil, após o descobrimento, adotou o direito português uma vez que era
uma colônia e não possui poder legislador.
• Garofalo publica uma obra chamada criminologia, mas quem cunhou o termo
foi Paul Topinard.
• Rocco sustenta que o Direito Penal deve ter um conteúdo dogmático e que este
deve seguir o método técnico-jurídico.
14
AUTOATIVIDADE
15
5 O primeiro Código Criminal a prever garantias para o acusado era o de
Código Criminal do Império de 1830, como decorrência das ideias iluministas
adotadas pela Constituição de 1824.
a) ( ) Verdadeiro.
b) ( ) Falso.
a) ( ) Escola Clássica.
b) ( ) Escola Positiva.
c) ( ) Escola Correcionalista.
d) ( ) Escola Técnica Jurídica – penal.
a) ( ) “O homem delinquente”.
b) ( ) “Comentatio na poena malum esse debeat”.
c) ( ) “Dos delitos e das penas”.
d) ( ) “Criminologia”.
16
UNIDADE 1
TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
No sistema mundial existem diversos tipos de penas que podem ser
aplicadas aos condenados em uma sentença penal condenatória. No Brasil, os
tipos de penas possíveis são previstos na Constituição Federal que nos elenca um
rol exemplificativo de penas, traçando os moldes do que é admitido a ser adotado
no sistema penal brasileiro.
Neste tópico, iremos nos dedicar ao estudo dos tipos de penas existentes
e daquelas que são vedadas no nosso ordenamento jurídico, sendo que as penas
admitidas em nosso ordenamento serão estudadas mais a fundo na Unidade 2
deste livro.
Bons estudos!
2 TIPOS DE PENA
Segundo Masson (2017, p. 612): “pena é a reação que uma comunidade
politicamente organizada opõe a um fato que viola uma das normas fundamentais
da sua estrutura e, assim, é definido como crime”. O autor complementa que “o
bem jurídico de que o condenado pode ser privado ou sofrer limitação varia:
liberdade (pena privativa de liberdade), patrimônio (multa, prestação pecuniária
e perda de bens e valores), vida (pena de morte) [...]”.
17
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO ÀS PENAS NO BRASIL
Embora exista todas essas espécies de pena, nem todas são admitidas
no Brasil, sendo algumas vedadas expressamente pela Constituição Federal no
artigo 5º, inciso XLVII.
E
IMPORTANT
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...]
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos.
XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis (BRASIL, 1988, s. p.).
FONTE: <https://www.colegioweb.com.br/curiosidades/historia-da-pena-de-morte.html>.
Acesso em: 11 jun. 2019.
18
TÓPICO 2 | DOS TIPOS DE PENAS
E
IMPORTANT
Lei de Contravenção Penal, Lei n° 3688, artigo 10 - A duração da pena de prisão simples não
pode, em caso algum, ser superior a cinco anos, nem a importância de as multas ultrapassar
cinquenta contos (BRASIL, 1941, s. p.).
19
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO ÀS PENAS NO BRASIL
E
IMPORTANT
Essa espécie de pena limita algum direito do condenado, que não seja a
liberdade de locomoção do condenado por tempo determinado. A sua aplicação
é subsidiária, ou seja, ela vem substituir uma possível privação da liberdade de
locomoção pela restrição de algum outro direito.
20
TÓPICO 2 | DOS TIPOS DE PENAS
FONTE: <https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-e-produtos/direito-facil/
edicao-semanal/medida-cautelar-diversa-da-prisao-x-penas-alternativas/@@images/eeb93027-
459c-4632-8011-6d47934bfcca.jpeg>. Acesso em: 2 jul. 2019.
21
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO ÀS PENAS NO BRASIL
FONTE: <https://thumbs.jusbr.com/filters:format(webp)/imgs.jusbr.com/publications/artigos/
images/indenizacao-cobranca-indevida1484216036.jpg>. Acesso em: 2 jul. 2019.
A pena de multa é adotada no Brasil por força do artigo 5º, XLVI, “c” da
Constituição Federal, e sua previsão legal se encontra no artigo 32, III, do Código
Penal.
E
IMPORTANT
22
TÓPICO 2 | DOS TIPOS DE PENAS
E
IMPORTANT
A pena de perdimento dos bens é uma pena autônoma que incide sobre
os bens lícitos do condenado, e não mero efeito da condenação de perdimento de
bens ilícitos.
23
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO ÀS PENAS NO BRASIL
FONTE: <https://canalcienciascriminais.com.br/wp-content/uploads/2015/11/torture-121.jpg>.
Acesso em: 2 jul. 2019.
24
TÓPICO 2 | DOS TIPOS DE PENAS
FONTE: <https://thumbs.jusbr.com/filters:format(webp)/imgs.jusbr.com/publications/images/
f88834c310d1fb796d4d59770148a09d>. Acesso em: 2 jul. 2019.
25
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO ÀS PENAS NO BRASIL
E
IMPORTANT
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis (BRASIL, 1988, s. p.).
E
IMPORTANT
Para que consigamos ter uma ideia da aplicação da pena de morte no Código
Penal Militar, devemos ler os artigos colacionados a seguir, todos retirados do CPM.
Art. 15. O tempo de guerra, para os efeitos da aplicação da lei penal militar, começa com a
declaração ou o reconhecimento do estado de guerra, ou com o decreto de mobilização se
nele estiver compreendido aquele reconhecimento; e termina quando ordenada a cessação
das hostilidades.
26
TÓPICO 2 | DOS TIPOS DE PENAS
Pena de morte
Art. 56. A pena de morte é executada por fuzilamento.
Comunicação
Art. 57. A sentença definitiva de condenação à morte é comunicada, logo que passe em
julgado, ao Presidente da República, e não pode ser executada senão depois de sete dias
após a comunicação.
Parágrafo único. Se a pena é imposta em zona de operações de guerra, pode ser imediatamente
executada, quando o exigir o interesse da ordem e da disciplina militares (BRASIL, 1969, s. p.).
Os crimes que têm a pena de morte como sua pena estão previstos a partir do artigo 355
do CPM.
Contudo, temos que ter em mente que esse prazo máximo será utilizado
apenas para o real cerceamento de liberdade, não sendo utilizado para a concessão
de nenhum benefício, como a progressão de regime. Ou seja, para a contagem
do prazo para a concessão de qualquer benefício será utilizado o tempo real da
condenação; mas se o condenado ficar encarcerado por 30 anos, ele será colocado
em liberdade, por força do artigo 75 do CP.
E
IMPORTANT
No Brasil, como dito, não é permitida a pena de caráter perpétuo. Nos Estados
Unidos existe uma norma que determina que na terceira condenação definitiva o condenado
reincidente será preso perpetuamente para que não retorne ao convívio da sociedade. Essa
norma é chamada de three strikes and you’re out, baseado em uma regra do basebol.
27
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO ÀS PENAS NO BRASIL
28
RESUMO DO TÓPICO 2
a) ( ) Pena de morte.
b) ( ) Pena de caráter perpétuo.
c) ( ) Pena cruel.
d) ( ) Pena de banimento.
e) ( ) Todas as anteriores.
a) ( ) Certo.
b) ( ) Errado.
30
5 A Constituição Federal veda a pena de trabalho forçado, contudo, a Lei
de Execução Penal prevê como um dever do preso o exercício de trabalho
enquanto estiver encarcerado. Porém, a forma de trabalho regulamentada
pela LEP não se encaixa no conceito de trabalho forçado e por isso não é
vedada pela Constituição.
a) ( ) Certo.
b) ( ) Errado.
31
32
UNIDADE 1
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
Nesta unidade, estamos estudando sobre as penas. Iniciamos com a
história das penas e das escolas penais. Passamos para os tipos de penas que
existem, bem como para as que são vedadas para aplicação no Brasil.
• Princípio da legalidade.
• Princípio da anterioridade.
• Princípio da humanização da pena.
• Princípio da pessoalidade.
• Princípio da proporcionalidade.
• Princípio da individualização da pena.
• Princípio da inderrogabilidade.
• Princípio da intervenção mínima.
33
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO ÀS PENAS NO BRASIL
• Princípio da legalidade;
• Princípio da anterioridade;
• Princípio da humanização da pena;
• Princípio da pessoalidade;
• Princípio da proporcionalidade;
• Princípio da individualização da pena;
• Princípio da inderrogabilidade;
• Princípio da intervenção mínima.
3 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
Também chamado de princípio da reserva legal ou da estrita legalidade,
tem previsão expressa na Constituição Federal no art. 5º, XXXIX, e no artigo 1º do
Código Penal.
E
IMPORTANT
Constituição Federal, artigo 5º, XXXIX - não há crime sem lei anterior que o
defina, nem pena sem prévia cominação legal;
(BRASIL, 1988, on-line)
Código Penal, artigo 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem
prévia cominação legal.
(BRASIL, 1940, on-line)
Masson (2017, p. 613) afirma que esse princípio deriva do brocado nulla
poena sine lege, quer dizer que não há pena sem lei.
Assim, este princípio determina que para que seja considerada uma
infração, a ação tem que estar tipificada em lei, ou seja, para que alguém possa
34
TÓPICO 3 | VISÃO CONSTITUCIONAL DOS PRINCÍPIOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS CONCERNENTES À APLICAÇÃO DA PENA
ser processado e condenado pela prática de uma infração esta ação ou omissão
tem que estar previamente tipificada. Estefam e Gonçalves (2017, p. 486) definem
esse princípio como aquele:
que exige a tipificação das infrações penais em uma lei aprovada pelo
Congresso Nacional, de acordo com as formalidades constitucionais,
e sancionada pelo Presidente da república. Um ilícito penal não pode
ser criado por meio de decreto, resolução, medida provisória etc.
E
IMPORTANT
JUGADO DO STJ
Agravo Regimental No Agravo Em Recurso Especial. Penal. Suposta Afronta À Súmula N.º 7
Do Superior Tribunal De Justiça. Inexistente. Furto Qualificado. Réu Primário. Res Furtiva De
Valor Inferior A Um Salário Mínimo. Montante Do Prejuízo Suportado Pela Vítima Em Razão
Do Rompimento De Obstáculo. Fundamento Não Previsto Na Lei De Regência. Princípios
Da Legalidade Estrita E Proibição De Analogia Na Lei Penal. Reconhecimento Da Figura
Privilegiada. Possibilidade. Súmula n.º 511/Stj. Agravo Regimental Desprovido.
[...] De acordo com o consignado no aresto proferido quando da apreciação dos embargos
de declaração, embora o prejuízo imposto à vítima – levando-se em conta a quebra do
vidro do respectivo automóvel – seja, em tese, maior que um salário mínimo, o que deve
ser considerado para a aplicação da causa especial de diminuição de pena, prevista no art.
155, § 2.º, do Código Penal, é o valor das res furtiva, que, in casu, foi avaliado em R$ 475,00.
Entendimento diverso contrariaria o princípio da estrita legalidade e da proibição de analogia
na lei penal.
FONTE: STJ, Sexta Turma, Relatora Ministra Laurita Vaz, AgRg no AREsp
1478374 / SP, Data do Julgamento: 04/06/2019; Data da Publicação/Fonte:
DJe 14/06/2019. Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/
documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=96422959&num_
registro=201901011135&data=20190614&tipo=91&formato=PDF. Acesso em: 2 jul. 2019.
35
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO ÀS PENAS NO BRASIL
Isto é, não basta que exista uma lei prevendo a tipificação daquela ação
ou omissão como infração penal, mas ainda, que esta lei tem que ser anterior ao
cometimento do delito. Vejamos um exemplo: se hoje for promulgada e entrar
em vigor imediatamente, respeitando todo o processo legislativo, uma lei que
tipifique como crime beber refrigerante com pena de seis meses até cinco anos
de reclusão. Apenas poderá ser processado penalmente pelo delito de beber
refrigerante quem o fizer de hoje em diante, mas não poderá sê-lo aquele que
bebeu refrigerante até então por falta de previsão legal anterior. Com isso em
mente, fica fácil entender o conceito trazido por Estefam e Gonçalves (2017, p.
487):
36
TÓPICO 3 | VISÃO CONSTITUCIONAL DOS PRINCÍPIOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS CONCERNENTES À APLICAÇÃO DA PENA
E
IMPORTANT
DICAS
Tem-se claro que na realidade brasileira, com o estado atual de nossos presídios,
nem sempre este princípio é respeitado. Em razão disso já há diversas ações judiciais
discutindo este assunto, como por exemplo, a Ação de Arguição de Preceito Fundamental
n° 347. Para saber mais sobre essa ação, acesse: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.
jsp?docTP=TP&docID=10300665.
37
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO ÀS PENAS NO BRASIL
E
IMPORTANT
JUGADO DO STF
Agravo regimental em habeas corpus. 2. Tráfico de drogas (artigo 33, caput, da Lei 11.343/2006).
Condenação. 3. Aumento da pena-base. Maus antecedentes não caracterizados. Decorridos
mais de 5 anos desde a extinção da pena da condenação anterior (CP, artigo 64, inciso
I), não é possível alargar a interpretação de modo a permitir o reconhecimento dos maus
antecedentes. Aplicação do princípio da razoabilidade, proporcionalidade e dignidade
da pessoa humana. 4. Ordem concedida. 5. Ausência de argumentos capazes de infirmar a
decisão agravada. 6. Agravo regimental a que se nega provimento.
FONTE: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=749609958>.
Acesso em: 3 jul. 2019.
39
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO ÀS PENAS NO BRASIL
E
IMPORTANT
JUGADO DO STJ
FONTE: <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/
mediado/?componente=ATC&sequencial=90802730&num_
registro=201801780823&data=20190311&tipo=91&formato=PDF>. Acesso em: 3 jul. 2019.
40
TÓPICO 3 | VISÃO CONSTITUCIONAL DOS PRINCÍPIOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS CONCERNENTES À APLICAÇÃO DA PENA
FONTE: <http://1.bp.blogspot.com/-65lasQXWLOU/UK0olt2lVqI/AAAAAAAAAIA/lHPhFgr0O1M/
s640/Princ%C3%ADpio+Da+Individualiza%C3%A7%C3%A3o+Da+Pena.jpg>. Acesso em: 2 jul.
2019.
Contudo, devemos lembrar que nem sempre foi assim, sendo que na
época da vingança privada era comum que a desforra se desse em outras pessoas
da família ou mesmo do grupo ao qual o agredido fizesse parte.
41
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO ÀS PENAS NO BRASIL
E
IMPORTANT
Uma ressalva importe a ser feita é que o artigo não fala da multa, assim,
no caso da multa, bem como da privativa de liberdade ou restritiva de direito,
não poderá ser transmitida aos sucessores.
E
IMPORTANT
42
TÓPICO 3 | VISÃO CONSTITUCIONAL DOS PRINCÍPIOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS CONCERNENTES À APLICAÇÃO DA PENA
Assim, este princípio determina que é dever do juiz aplicar a lei correta ao
caso concreto sob seu julgamento, não podendo escusar-se de fazê-lo.
43
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO ÀS PENAS NO BRASIL
44
TÓPICO 3 | VISÃO CONSTITUCIONAL DOS PRINCÍPIOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS CONCERNENTES À APLICAÇÃO DA PENA
E
IMPORTANT
JUGADO DO STJ
FONTE: <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/
mediado/?componente=ATC&sequencial=94861668&num_
registro=201802469741&data=20190524&tipo=51&formato=PDF>. Acesso em: 2 jul. 2019.
45
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO ÀS PENAS NO BRASIL
LEITURA COMPLEMENTAR
RESUMO
As teorias dos fins da pena buscam demonstrar os fundamentos e justificativas
das consequências jurídicas impostas para quem pratica uma infração penal. Este
artigo propõe analisar as teorias existentes, bem como fazer um estudo sobre a
evolução histórica e os aspectos contemporâneos relativos aos fins da pena.
1 INTRODUÇÃO
46
TÓPICO 3 | VISÃO CONSTITUCIONAL DOS PRINCÍPIOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS CONCERNENTES À APLICAÇÃO DA PENA
47
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO ÀS PENAS NO BRASIL
48
TÓPICO 3 | VISÃO CONSTITUCIONAL DOS PRINCÍPIOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS CONCERNENTES À APLICAÇÃO DA PENA
[...]
3 CONCLUSÃO
49
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO ÀS PENAS NO BRASIL
FONTE: LOPES, C. R.; BORGHI, M. B.; OLIVEIRA, R. M. de. BREVE ESTUDO SOBRE AS TEORIAS
DOS FINS DA PENA: um olhar histórico contemplativo sobre a realidade contemporânea. 2011.
Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,breve-estudo-sobre-as-teorias-dos-
fins-da-pena-um-olhar-historico-contemplativo-sobre-a-realidade-contemporane,31289.html.
Acesso em: 25 jun. 2019.
50
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
51
ᵒ O princípio da inderrogabilidade estipula que presentes os requisitos legais
(comprovada materialidade e provas de autoria), o juiz deve condenar o
acusado, e, da mesma maneira, em havendo uma condenação, o juiz deve
aplicar a pena imposta ao condenado integralmente.
ᵒ O princípio da intervenção mínima determina que o Direito Penal somente
deve incidir na esfera dos direitos que não podem ser tutelados pelos outros
ramos do direto.
CHAMADA
52
AUTOATIVIDADE
53
5 Sobre o princípio da individualização da pena assinale a alternativa
INCORRETA:
a) ( ) Certo.
b) ( ) Errado.
54
UNIDADE 2
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Esta unidade tem por objetivos:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.
CHAMADA
55
56
UNIDADE 2
TÓPICO 1
ESPÉCIES DE PENA
1 INTRODUÇÃO
Nesta unidade, aprofundaremos o estudo das penas no Brasil. Como já
mencionado na unidade anterior, as penas podem ser privativas de liberdade,
restritivas de direito e multa. Estudaremos cada tipo dessas penas, ingressando
em suas espécies e peculiaridades detalhadamente.
Bons estudos!
2 ESPÉCIES DE PENA
Estudamos que nem todos os tipos de pena são permitidos no Brasil,
sendo vedadas expressamente pela Constituição Federal, qualquer tipo de pena
que não respeite a dignidade da pessoa humana, como as penas cruéis, perpétuas
e de morte, por exemplo. Assim, as penas previstas em nossa legislação penal,
embora de diversas espécies, tem que respeitar essa premissa.
57
UNIDADE 2 | ESPÉCIEIS DE PENA E DOSIMETRIA
E
IMPORTANT
Embora seja retirado do condenado o seu direito de ir e vir, a ele deve ser
preservado todos os outros direitos inerentes a pessoa humana, ou seja, o cárcere não pode
ter por objetivo despersonificar a pessoa condenada, não pode infligir ao condenado pena
degradante ou cruel.
a) Reclusão.
b) Detenção.
c) Prisão simples.
NOTA
Art. 53, Código Penal. As penas privativas de liberdade têm seus limites
estabelecidos na sanção correspondente a cada tipo legal de crime (BRASIL, 1940, s. p.).
E
IMPORTANT
58
TÓPICO 1 | ESPÉCIES DE PENA
FONTE: <https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-e-produtos/direito-facil/
edicao-semanal/pena-privativa-de-liberdade-x-pena-restritiva-de-direitos/@@images/6f7cc681-
8018-401b-9779-a988a665c896.jpeg>. Acesso em: 29 jul. 2019.
59
UNIDADE 2 | ESPÉCIEIS DE PENA E DOSIMETRIA
TUROS
ESTUDOS FU
NOTA
Art. 33, Código Penal – A pena de reclusão deve ser cumprida em regime
fechado, semiaberto ou aberto [...] (BRASIL, 1940).
Veja que o artigo em questão deixa claro que essa possibilidade somente
se dará se a condenação for por crime doloso que seja atribuída uma pena de
reclusão. Assim, torna-se claro que esse efeito não pode ser aplicado para a pena
de detenção ou prisão simples.
E
IMPORTANT
60
TÓPICO 1 | ESPÉCIES DE PENA
Caso o condenado seja punido por dois crimes diversos, sendo atribuída,
a um deles, pena de reclusão e a outro atribuída pena de detenção; por ser mais
grave a pena de reclusão, esta deverá ser cumprida primeiro, e em seguida deve
ser cumprida a pena de detenção, conforme previsão expressa do artigo 69,
segunda parte, do Código Penal.
NOTA
Art. 69, do Código Penal – Quando o agente, mediante mais de uma ação ou
omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as
penas privativas de liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de
penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela (BRASIL, 1940).
61
UNIDADE 2 | ESPÉCIEIS DE PENA E DOSIMETRIA
NOTA
E
IMPORTANT
62
TÓPICO 1 | ESPÉCIES DE PENA
63
UNIDADE 2 | ESPÉCIEIS DE PENA E DOSIMETRIA
FONTE: <https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-e-produtos/direito-facil/
edicao-semanal/reclusao-x-detencao-x-prisao-simples/@@images/45968aa0-49b7-4923-8ddf-
7059f292777e.jpeg>. Acesso em: 29 jul. 2019.
E
IMPORTANT
64
TÓPICO 1 | ESPÉCIES DE PENA
NOTA
Contudo, temos que lembrar que a lei de drogas é uma exceção e prevê
diretamente para o usuário uma pena alternativa, não fixando a pena de prisão.
Outro ponto relevante para o estudo das penas restritivas de direito diz
respeito a sua duração. O artigo 55, CP determina: “Art. 55, Código Penal – As
penas restritivas de direitos referidas nos incisos III, IV, V e VI do art. 43 terão a
mesma duração da pena privativa de liberdade substituída, ressalvado o disposto
no § 4o do art. 46”.
NOTA
Art. 46, § 4º, Código Penal – Se a pena substituída for superior a um ano, é
facultado ao condenado cumprir a pena substitutiva em menor tempo (art. 55), nunca
inferior à metade da pena privativa de liberdade fixada (BRASIL, 1940).
65
UNIDADE 2 | ESPÉCIEIS DE PENA E DOSIMETRIA
Se a pena aplicada for por tempo superior a um ano, ela poderá ser
cumprida em tempo menor, porém, esse tempo de cumprimento não poderá ser
menor que a metade da pena fixada na sentença.
Masson (2017, p. 796) explica que: “essa regra não se aplica às penas de
prestação pecuniária e perda de bens e valores, pois em nada se relacionam com
o limite temporal da pena privativa de liberdade substituída”.
66
TÓPICO 1 | ESPÉCIES DE PENA
condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde que, em face
de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a reincidência
não se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime” (BRASIL, 1940, s.
p.).
E
IMPORTANT
Tráfico de Drogas: embora a lei diga expressamente que é vedada a conversão em pena
restritiva de direitos, o STF já julgou inconstitucional este dispositivo por contrariar o princípio
da individualização da pena.
67
UNIDADE 2 | ESPÉCIEIS DE PENA E DOSIMETRIA
68
TÓPICO 1 | ESPÉCIES DE PENA
Masson (2017) faz uma ressalva que, por se tratar de pena restritiva de
direito de prestação pecuniária, esta não se confunde com a multa, e em caso de
descumprimento, por força do artigo 44, §4º do CP, pode haver a conversão em
pena privativa de liberdade.
Essa pena somente pode ser aplicada para o cometimento de crime, uma
vez que o dispositivo legal menciona “em consequência da prática de crime”
(BRASIL, 1940, s. p.), ou seja, não pode ser aplicado para quem praticar uma
contravenção penal.
Sobre o quantum da pena a ser aplicada pelo juiz, a lei não traz nenhum valor
mínimo, estabelecendo apenas o valor máximo, ou seja, “o montante do prejuízo
causado ou do provento obtido pelo agente ou por terceiro” (BRASIL, 1940, s.
p.), o que for maior. Souza e Japiassú (2018, 319) afirmam que “evidentemente,
este limite máximo há de ser especificado na sentença condenatória, para que a
presente modalidade de pena se revista de legalidade. Do contrário, importaria
em mero confisco”.
70
TÓPICO 1 | ESPÉCIES DE PENA
71
UNIDADE 2 | ESPÉCIEIS DE PENA E DOSIMETRIA
Por fim, Nucci (2019, p. 733) soluciona o problema de não haver lugar
para o cumprimento da pena de prestação de serviço à comunidade:
72
TÓPICO 1 | ESPÉCIES DE PENA
“A”, condenado pelo delito de injúria contra a mulher “B”, pode ter a
pena de detenção imposta na sentença substituída pela proibição de
frequentar o local de residência, de trabalho ou de estudo da vítima,
tornando, assim, definitiva, a providência cautelar contida no art.
22, inc. III, “c”, da Lei nº 11.340/2006 (violência doméstica e familiar)
(SOUZA; JAPIASSÚ, 2018, p. 322).
73
RESUMO DO TÓPICO 1
• A pena de reclusão é considerada a espécie com regime mais severo e, por isso,
é imposta para os crimes considerados mais graves pelo legislador.
• Como efeito da condenação com pena de reclusão por crime doloso, o juiz
poderá determinar a incapacidade para o exercício do poder familiar do
condenado, da tutela ou curatela, se ele foi condenado por qualquer crime
doloso contra descendente ou tutelado ou curatelado.
• Se o condenado for punido por dois crimes diversos, sendo um punido com
pena de reclusão e o outro com pena de detenção, deverá ser cumprida primeiro
a pena de reclusão, e, em seguida, a pena de detenção.
74
• Na prisão simples é vedada a regressão ao regime fechado sob qualquer
fundamento, devendo cumprir pena separado dos condenados por crime, e o
trabalho é facultativo quando a pena não superar 15 dias.
75
• A pena de prestação de serviço à comunidade é uma pena que determina a
prestação gratuita de serviço do condenado junto a uma entidade pública ou
assistencial como hospitais, escolas, orfanatos, bibliotecas, entre outras.
76
AUTOATIVIDADE
a) ( ) Certo.
b) ( ) Errado.
77
5 Sobre o prazo de cumprimento da pena restritiva de direito assinale a
alternativa CORRETA:
78
UNIDADE 2 TÓPICO 2
ESPÉCIES DE PENAS E REGIMES DE CUMPRIMENTO
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, daremos continuidade ao estudo das penas no Brasil,
abordando as penas de multa e a medida de segurança. A pena de multa, como
mencionado é uma pena pecuniária paga ao Estado; já a medida de segurança não
é classificada como pena, uma vez que ela é a medida aplicada para o inimputável
ou semi-imputável que cometerem um crime objetivando o restabelecimento de
sua sanidade. Por isso, devemos estudar suas características, requisitos etc.
2 PENA DE MULTA
Conforme vimos na Unidade 1, a pena de multa é uma pena pecuniária
que pode ser aplicada de forma autônoma ou cominada com a pena privativa de
liberdade, de valor em dinheiro, em favor ao Fundo Penitenciário Nacional.
FIGURA 3 – MULTA
79
UNIDADE 2 | ESPÉCIEIS DE PENA E DOSIMETRIA
NOTA
80
TÓPICO 2 | ESPÉCIES DE PENAS E REGIMES DE CUMPRIMENTO
NOTA
NOTA
Da mesma forma, o artigo 76, §1º da Lei n° 9.099/95, permite a redução até
a metade da pena de multa aplicada quando a situação econômica do condenado
demonstrar a sua excessividade punitiva (BRASIL, 1995).
NOTA
“Art. 50 do Código Penal – A multa deve ser paga dentro de dez dias depois de
transitada em julgado a sentença. A requerimento do condenado e conforme as circunstâncias,
o juiz pode permitir que o pagamento se realize em parcelas mensais” (BRASIL, 1940, s. p.).
81
UNIDADE 2 | ESPÉCIEIS DE PENA E DOSIMETRIA
Art. 169, Lei n° 7210 – Até o término do prazo a que se refere o artigo
164 desta Lei, poderá o condenado requerer ao juiz o pagamento da
multa em prestações mensais, iguais e sucessivas.
§ 1° O juiz, antes de decidir, poderá determinar diligências para
verificar a real situação econômica do condenado e, ouvido o
Ministério Público, fixará o número de prestações.
§ 2º Se o condenado for impontual ou se melhorar de situação
econômica, o Juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público,
revogará o benefício executando-se a multa, na forma prevista neste
Capítulo, ou prosseguindo-se na execução já iniciada (BRASIL, 1984,
s. p.).
NOTA
82
TÓPICO 2 | ESPÉCIES DE PENAS E REGIMES DE CUMPRIMENTO
NOTA
83
UNIDADE 2 | ESPÉCIEIS DE PENA E DOSIMETRIA
3 MEDIDAS DE SEGURANÇA
Medida de segurança é uma espécie de sanção penal, com objetivo
curativo e preventivo, aplicável ao inimputável ou semi-imputável, que mostre
periculosidade e tenha praticado um ilícito penal.
FONTE: <https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-e-produtos/direito-facil/
edicao-semanal/medidas-de-seguranca/@@images/035961f5-8f21-4724-9fb6-24e2c26cf40f.
jpeg>. Acesso em: 6 ago. 2019.
84
TÓPICO 2 | ESPÉCIES DE PENAS E REGIMES DE CUMPRIMENTO
FIGURA 5 – INIMPUTÁVEL
FONTE: <https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-e-produtos/direito-facil/
edicao-semanal/imputabilidade-penal/@@images/84396549-3fc5-47cd-9cb8-8a312b6147ec.
jpeg>. Acesso em: 6 ago. 2019.
NOTA
85
UNIDADE 2 | ESPÉCIEIS DE PENA E DOSIMETRIA
Assim, no caso concreto, deverá ser realizada toda a ação penal, como
todos os direitos garantidos de defesa e contraditório para o acusado, e, apenas
no momento da prolação da sentença é que deverá ser aplicada a medida de
segurança, não podendo o juiz aplicá-la de imediato sem oportunizar ao réu
exercer seu direito de defesa. Sobre a periculosidade Nucci (2019, p. 947) esclarece
que:
NOTA
“Art. 96, Parágrafo único, Código Penal – Extinta a punibilidade, não se impõe
medida de segurança nem subsiste a que tenha sido imposta” (BRASIL, 1940, s. p.).
86
TÓPICO 2 | ESPÉCIES DE PENAS E REGIMES DE CUMPRIMENTO
Art. 26, Código Penal – É isento de pena o agente que, por doença
mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era,
ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender
o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento (BRASIL, 1940, s. p.).
Art. 26, Parágrafo único, Código Penal – A pena pode ser reduzida
de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde
mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado
não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento (BRASIL, 1940, s. p.).
NOTA
87
UNIDADE 2 | ESPÉCIEIS DE PENA E DOSIMETRIA
Porém, hoje, o STJ entende que deve ser pelo tempo que resta para o
cumprimento da pena privativa de liberdade imposta na sentença penal
condenatória. Todavia, se a enfermidade for transitória, não deve ser realizada
a substituição, transferindo-se o condenado para o hospital de custódia e uma
vez reestabelecida a saúde mental, retorna ao estabelecimento prisional para o
cumprimento do restante da pena. Passemos agora ao estudo dos regimes de
cumprimento de penas
88
TÓPICO 2 | ESPÉCIES DE PENAS E REGIMES DE CUMPRIMENTO
4 SISTEMAS PENITENCIÁRIOS
Tal qual as penas, os sistemas penitenciários também sofreram um
desenvolvimento histórico com o passar dos anos, sendo que foram evoluindo
paulatinamente até chegar o que temos hoje com as penitenciárias, colônias
agrícolas ou industriais, casa do albergado, entre outras.
89
UNIDADE 2 | ESPÉCIEIS DE PENA E DOSIMETRIA
FONTE: <https://evinistalon.com/wp-content/uploads/elementor/thumbs/alcatraz-
2161655_1280-occqji3dlibiok9vr4bnig10n5gucxuez8m0l1t3u4.jpg>. Acesso em: 6 ago. 2019.
FONTE: <http://www.fiquemsabendo.com.br/wp-content/uploads/2015/07/presos_horta_
minas_gerais-1024x720.jpg>. Acesso em: 25 ago. 2019.
91
UNIDADE 2 | ESPÉCIEIS DE PENA E DOSIMETRIA
92
FIGURA 8 – TABELA DOS REGIMES PRISIONAIS
TÓPICO 2 | ESPÉCIES DE PENAS E REGIMES DE CUMPRIMENTO
93
FONTE: Avena (2019, p. 183)
UNIDADE 2 | ESPÉCIEIS DE PENA E DOSIMETRIA
6 PROGRESSÃO E REGRESSÃO
Agora que já estudamos os regimes de penas e vimos que esses regimes
devem ser cumpridos de maneira progressiva até a liberdade total do condenado,
vamos estudar como se dá essa progressão de regime dentro de nosso ordenamento
jurídico.
• Requisito objetivo: cumprimento de 1/6 da pena imposta (se ele foi condenado
a mais de um crime, deve ter cumprido 1/6 do total imposto). Quando a
condenação for a pena superior a 30 anos, o cálculo deverá recair sobre o
montante da pena:
94
TÓPICO 2 | ESPÉCIES DE PENAS E REGIMES DE CUMPRIMENTO
Contudo, a Súmula 491 do STJ prevê que não é admitida a progressão per
saltum, ou seja, que a progressão seja deferida diretamente do regime fechado
para o aberto.
NOTA
E
IMPORTANT
95
UNIDADE 2 | ESPÉCIEIS DE PENA E DOSIMETRIA
FONTE: <http://1.bp.blogspot.com/-eJSa9xq5V6o/Tz5k7z10TDI/AAAAAAAAAIE/U4yTeVyCbjc/
s320/12047809.gif>. Acesso em: 25 set. 2019.
Ao ser praticada a falta grave, para que ocorra a regressão, deverá ser
instaurado o procedimento disciplinar para que o condenado possa exercer seu
direito de defesa. Para melhor compreensão do tema, observe:
97
RESUMO DO TÓPICO 2
• A pena de multa é uma pena pecuniária que deve ser paga em dinheiro em
favor do Fundo Penitenciário Nacional e que pode ser aplicada isolada ou
cumulativamente com outra pena.
• O pagamento deverá ser voluntário e se não for, caberá execução de seu valor,
mas nunca sua conversão em pena privativa de liberdade.
• O regime fechado deverá ser fixado para o início do cumprimento das penas
aplicadas aos reincidentes, e das penas de reclusão superiores a oito anos.
Para as penas superiores a quatro anos e não superiores a oito anos o regime
inicial, em regra, será o semiaberto, porém, se as circunstâncias judiciais
forem desfavoráveis, o regime poderá ser o fechado. Deverá ser cumprido em
penitenciária com vigilância
98
• O regime semiaberto é o aplicado para os casos de condenados por pena de
reclusão superior a quatro anos e não superior a oito anos, e aos condenados
por pena de detenção superiores a quatro anos, bem como aos com penas
iguais ou inferiores a quatro anos quando as circunstâncias judiciais forem
desfavoráveis, e nas penas de prisão simples para os reincidentes e para as
penas superiores a quatro anos ou se iguais ou inferiores a quatro anos quando
as circunstâncias judiciais forem desfavoráveis. Deverá ser cumprido em
colônias agrícolas, industrial ou estabelecimento similar.
• O regime aberto destina-se para o preso não reincidente que teve fixada uma
pena igual ou inferior a quatro anos, exceto se as circunstâncias judiciais forem
desfavoráveis. Deste modo, deverá ser cumprido em casa de albergado.
99
AUTOATIVIDADE
a) ( ) Verdadeiro.
b) ( ) Falso.
4 A progressão de regime não pode ser operada por saltos, contudo, no caso da
regressão do regime a regra é outra, sendo, nesse caso, admitida a regressão
do regime menos severo diretamente para o mais severo.
a) ( ) Certo.
b) ( ) Errado
a) ( ) Certo.
b) ( ) Errado.
100
UNIDADE 2 TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
Superado o estudo dos tipos de penas aplicadas no Brasil, bem como os
regimes de cumprimento das penas privativas de liberdade, é necessário o estudo
de como o magistrado faz para encontrar e aplicar a pena correta ao caso concreto.
2 DA APLICAÇÃO DA PENA
A determinação da pena se inicia no momento da análise do mérito,
quando o juiz determinará qual o tipo penal que deverá ser aplicado. É também
neste momento que o juiz decidirá se as qualificadoras serão reconhecidas ou não,
partindo, assim, à pena base dos patamares indicados nos preceitos secundários.
Por exemplo, se alguém estiver sendo processado e ficar comprovado que é o
culpado de um crime de lesão corporal grave, a pena a ser trabalhada deverá ser
a prevista para o artigo 129, § 2º do CP (pena de dois a oito anos) e não a pena
prevista para lesão corporal do caput (pena de três meses a um ano).
101
UNIDADE 2 | ESPÉCIEIS DE PENA E DOSIMETRIA
3 DA DOSIMETRIA DA PENA
Com a dosimetria da pena, o magistrado determinará qual o montante de
pena que deverá ser cumprido pelo réu. Sendo que o artigo 68 do Código Penal
adotou a teoria trifásica de fixação da pena, ou seja, ele determina que o juiz siga
três etapas para chegar à pena correta:
E
IMPORTANT
102
TÓPICO 3 | COMINAÇÃO E APLICAÇÃO DA PENA
• culpabilidade;
• antecedentes;
• conduta social;
• personalidade do agente;
• motivos, às circunstâncias e às consequências do crime;
• comportamento da vítima.
E
IMPORTANT
Contudo, a pena-base deverá ser fixada dentro dos limites fixados no tipo
penal, respeitando os patamares mínimo e máximo previsto (art. 59, II). Dessa
maneira, após a análise dessas circunstâncias que o magistrado estará apto para
escolher a pena que será aplicada (se houver a possibilidade de privativa de
liberdade ou multa), fixar o montante da pena-base, determinar o regime inicial
de cumprimento de pena (aberto, semiaberto, fechado), bem como decidir se há
a possibilidade de substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de
direito ou por multa.
103
UNIDADE 2 | ESPÉCIEIS DE PENA E DOSIMETRIA
NOTA
104
TÓPICO 3 | COMINAÇÃO E APLICAÇÃO DA PENA
As agravantes previstas nas alíneas “a”, “b”, “c”, e “d” possuem a redação
idêntica a das qualificadoras do homicídio e, por isso, não poderão ser aplicadas
duas vezes para majorar a pena. A exceção é quando os jurados reconhecem mais
de uma das circunstâncias e, nesse caso, uma será utilizada para qualificar o
homicídio e a outra para agravar a pena.
105
UNIDADE 2 | ESPÉCIEIS DE PENA E DOSIMETRIA
o crime que se deseja e, depois, para não ser punido, é praticado outro crime
para garantir a impunidade ou a manutenção da vantagem obtida.
• À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso
que dificultou ou tornou impossível a defesa do ofendido: nesse inciso, as
agravantes se referem ao modo de execução do crime. Todas as formas trazidas
no inciso dificultam ou impossibilitam a defesa da vítima e por isso devem ser
mais severamente punidas.
• Com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou
cruel, ou de que podia resultar perigo comum: as agravantes previstas nesse
inciso dizem respeito ao meio empregado para a concretização do delito. Tem-
se que esclarecer que meio insidioso é o que utiliza fraude para que a vítima
não perceba o crime. Perigo comum é aquele que expõe a perigo um número
elevado de pessoas ou patrimônio.
• Contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge: note que o legislador
esqueceu de mencionar os companheiros, e, por não caber analogia in malam
partem no direito penal, se o delito for cometido contra companheiro ou
companheira, não pode incidir a agravante.
106
TÓPICO 3 | COMINAÇÃO E APLICAÇÃO DA PENA
as atenuantes não fazem parte do tipo penal, de modo que não têm
o condão de promover a redução da pena abaixo do mínimo legal. O
mesmo se dá com as agravantes. Quando o legislador fixou, em abstrato,
o mínimo e o máximo para o crime, obrigou o juiz a movimentar-
se dentro desses parâmetros, sem possibilidade de ultrapassá-los,
salvo quando a própria lei estabelecer causas de aumento ou de
diminuição. Estas, por sua vez, fazem parte da estrutura típica do
delito, de modo que o juiz nada mais faz do que seguir orientação
do próprio legislador. Ex.: um homicídio tentado, cuja pena tenha
sido fixada no mínimo legal (6 anos), pode ter uma redução de 1/3
a 2/3 porque a própria lei assim o dita (art. 14, parágrafo único, CP),
tratando-se de uma tipicidade por extensão.
NOTA
Se o agente não sabia que era ilícito, nem tinha condições de saber, há o
erro de proibição escusável (absolvição); se o agente não sabia que era ilícito, mas
tinha condições de saber, bastando que se informasse um pouco mais, há o erro
de proibição inescusável (causa de diminuição da pena); se o agente não sabia
que era ilícito, mas tinha condições de saber, embora a informação não lhe fosse
fácil, por se tratar de crime em desuso (atenuante).
• Ter o agente cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral:
valor social é o delito cometido ao bem da sociedade e valor moral é o delito
cometido por algum motivo particular que justifique moralmente a infração.
• Procurado por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime,
evitar-lhe ou minorar-lhe as consequências, ou ter, antes do julgamento,
reparado o dano: – o autor da infração, após a consumação do delito, deve
tentar reparar seu erro. Para a atenuante incidir, é necessária a total reparação.
• Cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de
ordem de autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção,
provocada por ato injusto da vítima: a coação infringida deve ser possível
de ser resistida, senão o for, o delito é isento de pena por conta da coação
irresistível. A autoridade superior diz respeito ao funcionário público, a ordem
deve ser manifestamente ilegal, e mesmo ciente disso, o funcionário cumpre-a.
Por fim, o delito praticado em violenta emoção, após provocação da vítima,
essa provocação não pode ser violenta, porque se o for, incide a legítima defesa.
• Confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime: a
confissão tem que se dar na fase do processo para poder ser utilizada como
atenuante, ou se for feita na delegacia, tem que ser confirmada em juízo. A
confissão qualificada, aquele em que o agente confessa o cometimento do
crime, mas alega que o fez sob alguma excludente de ilicitude, não atenua a
pena.
108
TÓPICO 3 | COMINAÇÃO E APLICAÇÃO DA PENA
E
IMPORTANT
109
UNIDADE 2 | ESPÉCIEIS DE PENA E DOSIMETRIA
O artigo 68, parágrafo único, traz regra específica para essa fase da
aplicação da pena: “Art. 68, Código Penal, Parágrafo único: no concurso de causas
de aumento ou de diminuição previstas na parte especial, pode o juiz limitar-se a
um só aumento ou a uma só diminuição, prevalecendo, todavia, a causa que mais
aumente ou diminua” (BRASIL, 1940, s. p.).
• Se houver uma causa prevista na parte especial e outra na parte geral, ambas
serão aplicadas, sendo que a da parte especial incide primeiro.
• Se houver uma causa de aumento de pena e uma de diminuição, ambas irão
incidir, sendo que a da parte especial incide primeiro, sem importar se é a de
aumento ou de diminuição de pena.
• Duas ou mais causas de aumento ou de diminuição na parte especial: somente
será aplicada a que maior causa, e a outra como circunstância judicial.
110
TÓPICO 3 | COMINAÇÃO E APLICAÇÃO DA PENA
111
UNIDADE 2 | ESPÉCIEIS DE PENA E DOSIMETRIA
LEITURA COMPLEMENTAR
Resumo: Este trabalho procurou discutir o Enunciado 231 do STJ, a partir de uma
análise constitucional e infraconstitucional, sempre tendo em vista os princípios
da individualização da pena, da proporcionalidade, da isonomia, da legalidade
e do in dúbio pro reo, todos violados quando da aplicação da referida súmula.
Dessa forma, pretendeu-se demonstrar a inconstitucionalidade e a ilegalidade da
Súmula 231, de forma a se permitir a incidência de atenuantes, ainda que a pena-
base se encontrasse no mínimo legal, por ser esta a medida que melhor atende às
determinações do ordenamento jurídico pátrio.
[...]
1 INTRODUÇÃO
É sobre ela que versará o presente artigo, cujo principal objetivo 220 é
demonstrar a inconstitucionalidade e a ilegalidade da súmula supracitada, e a
necessidade de a mesma ser inaplicável no processo de dosimetria da pena, em
respeito às garantias fundamentais do acusado [...].
112
TÓPICO 3 | COMINAÇÃO E APLICAÇÃO DA PENA
Em razão da Súmula 231, nota-se que o acusado recebe uma pena mais
gravosa do que a efetivamente merecida, sendo desproporcional à lesão causada
ao bem jurídico, uma vez que a pena não foi individualizada de acordo com a
gravidade do fato e a culpabilidade do agente.
Em sua obra intitulada Dos Delitos e das Penas, Cesare Beccaria já afirmava
que:
113
UNIDADE 2 | ESPÉCIEIS DE PENA E DOSIMETRIA
114
TÓPICO 3 | COMINAÇÃO E APLICAÇÃO DA PENA
Dessa forma, tem-se que qualquer ato, seja ele normativo (leis
complementares, leis ordinárias, medidas provisórias etc.), administrativo ou
judicial (incluindo as súmulas), que violar o determinado em lei, será tido como
ilegal, e, portanto, não merece permanecer no mundo jurídico.
115
UNIDADE 2 | ESPÉCIEIS DE PENA E DOSIMETRIA
116
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
CHAMADA
117
AUTOATIVIDADE
a) ( ) Menoridade.
b) ( ) Confissão.
c) ( ) Reincidência.
d) ( ) Relevante valor social.
a) ( ) Culpabilidade.
b) ( ) Antecedentes.
c) ( ) Confissão.
d) ( ) Conduta social.
e) ( ) Personalidade do agente.
a) ( ) Certo.
b) ( ) Errado.
a) ( ) Certo.
b) ( ) Errado.
a) ( ) Certo.
b) ( ) Errado.
118
UNIDADE 3
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Esta unidade tem por objetivos:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.
CHAMADA
119
120
UNIDADE 3
TÓPICO 1
REINCIDÊNCIA E CONCURSO DE CRIMES
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, aprofundaremos o estudo da reincidência, além disso,
veremos que o delinquente poderá cometer mais de um crime ou contravenção
penal e como isso afetará a aplicação de sua pena. Veremos que o crime pode
ser cometido de maneira que suas penas sejam somadas, ou que apenas incida a
pena do mais grave com um aumento determinado, isso é o que chamamos de
concurso de crimes, e estudaremos cada uma de suas modalidades.
Bons estudos!
2 REINCIDÊNCIA
Já estudamos na unidade anterior que a reincidência é uma agravante
genérica no momento da dosimetria da pena, contudo, resta-nos estudar o que é
a reincidência.
E
IMPORTANT
“Art. 63, Código Penal – Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo
crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha
condenado por crime anterior” (BRASIL, 1940, s. p.).
121
UNIDADE 3 | TEORIA GERAL DA PENAL – PARTE FINAL
Note que não existe bis in idem com o agravamento da pena pela
reincidência. Apenas existe uma maior reprovabilidade no caso daquele que já foi
condenado com trânsito em julgado por um crime e não se intimidou tornando a
praticar novos delitos.
QUADRO 1 – REINCIDÊNCIA
122
TÓPICO 1 | REINCIDÊNCIA E CONCURSO DE CRIMES
123
UNIDADE 3 | TEORIA GERAL DA PENAL – PARTE FINAL
3 CONCURSO DE CRIMES
Concurso de crimes se dá quando o agente, mediante uma ou mais
condutas, pratica mais de um crime. Veja que pode ser uma ou mais condutas;
contudo, sempre haverá mais de um crime praticado. Esse concurso poderá
ser material, formal, ou crime continuado. Todos eles são regulamentados pelo
Código Penal e passaremos a analisar cada um deles separadamente:
124
TÓPICO 1 | REINCIDÊNCIA E CONCURSO DE CRIMES
125
UNIDADE 3 | TEORIA GERAL DA PENAL – PARTE FINAL
O que se leva em consideração é o dolo do agente, isso foi feito para não
incentivar o agente a cometer delitos em concurso formal imperfeito com a certeza
da impunidade.
126
TÓPICO 1 | REINCIDÊNCIA E CONCURSO DE CRIMES
E
IMPORTANT
Com a análise do artigo 71, vemos que temos que cumprir três requisitos
para que o crime possa ser considerado continuado:
Também é requisito que a maneira de execução tem que ser similar, não
existe continuidade delitiva em um furto em um dia, um roubo com violência em
outro.
127
UNIDADE 3 | TEORIA GERAL DA PENAL – PARTE FINAL
O artigo determina que, para a pena de multa, não tem distinção entre
qual o tipo de concurso que o réu praticou o delito, sendo que as penas de multa
devem ser aplicadas integralmente. Sobre a aplicação deste dispositivo para o
crime continuado, existem duas correntes:
128
TÓPICO 1 | REINCIDÊNCIA E CONCURSO DE CRIMES
129
RESUMO DO TÓPICO 1
• Existem duas hipóteses que não geram reincidência, são os crimes militares
próprios e os políticos.
• Concurso formal é quando agente mediante uma conduta, pratica dois ou mais
crimes.
130
• O concurso formal imperfeito é quando o agente quer provocar os dois
resultados com a sua conduta única. Neste caso, as penas serão somadas como
no concurso material.
131
AUTOATIVIDADE
a) ( ) Certo.
b) ( ) Errado.
3 O concurso de crimes material é melhor para o réu sempre e por isso existe
a expressão concurso material benéfico.
c) ( ) Certo.
d) ( ) Errado.
132
UNIDADE 3
TÓPICO 2
SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA E LIVRAMENTO
CONDICIONAL
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, estudaremos a suspensão condicional da pena e o livramento
condicional. Dois institutos que beneficiam os condenados a pena privativa, mas
que possuem requisitos bem distintos entre si.
133
UNIDADE 3 | TEORIA GERAL DA PENAL – PARTE FINAL
FONTE: <https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-e-produtos/direito-facil/
edicao-semanal/suspensao-condicional-da-pena-sursis/@@images/22384e59-dca8-429f-a902-
7bcf0b7bebe7.jpeg>. Acesso em: 10 out. 2019.
134
TÓPICO 2 | SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA E LIVRAMENTO CONDICIONAL
Requisitos Objetivos:
E
IMPORTANT
O Código Penal, no artigo 77, §2º determina que “a execução da pena privativa
de liberdade, não superior a quatro anos, poderá ser suspensa, por quatro a seis anos, desde
que o condenado seja maior de setenta anos de idade, ou razões de saúde justifiquem a
suspensão” (BRASIL, 1940, s. p.). Note que há uma prorrogação do prazo da pena a que o réu
foi condenado para não superior a quatro anos, se o condenado for maior de 70 anos ou
estiver doente.
135
UNIDADE 3 | TEORIA GERAL DA PENAL – PARTE FINAL
Requisitos Subjetivos:
E
IMPORTANT
Perceba que o sursis simples é para ser mais rigoroso do que o sursis
especial. Há autores que ainda trazem a espécie de sursis etário, para o maior de
70 anos e o humanitário, para o doente. Contudo, Nucci (2019, p. 898) esclarece
que “em verdade, há somente dois tipos, embora o chamado sursis etário seja
apenas uma suspensão condicional da pena mais flexível. As condições a que se
submete são as mesmas”.
136
TÓPICO 2 | SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA E LIVRAMENTO CONDICIONAL
137
UNIDADE 3 | TEORIA GERAL DA PENAL – PARTE FINAL
3 LIVRAMENTO CONDICIONAL
Livramento condicional é um benefício de cumprir o restante de sua
pena em liberdade, que pode ser concedido ao condenado a uma pena igual
ou superior a dois anos que preencher determinados requisitos estipulados no
Código. A previsão legal do livramento condicional se encontra no artigo 83 e
seguintes do Código Penal.
FONTE: <https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-e-produtos/direito-facil/
edicao-semanal/livramento-condicional/@@images/6dc9e5d9-bf6b-4cd5-8654-36dcb57dde9d.
jpeg>. Acesso em: 9 set. 2019.
139
UNIDADE 3 | TEORIA GERAL DA PENAL – PARTE FINAL
NOTA
140
TÓPICO 2 | SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA E LIVRAMENTO CONDICIONAL
Os requisitos subjetivos, por sua vez, estão previstos no artigo 83, III e
parágrafo único do CP, são eles:
141
UNIDADE 3 | TEORIA GERAL DA PENAL – PARTE FINAL
142
TÓPICO 2 | SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA E LIVRAMENTO CONDICIONAL
• Obter ocupação lícita, dentro de prazo razoável se for apto para o trabalho – o
prazo deve ser determinado pelo juiz que concede a liberdade condicional.
Se, por qualquer motivo, a pessoa for impossibilitada de trabalhar, o juiz deve
deixar de impor esta condição.
• Comunicar periodicamente ao Juiz sua ocupação – o juiz deve determinar o
prazo desta comunicação que se dará no cartório.
• Não mudar do território da comarca do Juízo da execução, sem prévia
autorização deste.
143
UNIDADE 3 | TEORIA GERAL DA PENAL – PARTE FINAL
d) Ter sido condenado a pena privativa de liberdade por sentença penal irrecorrível
por ter cometido crime durante a vigência do benefício: demonstra que o
liberado não está apto para retomar seu convívio em sociedade, não fazendo
jus ao benefício.
e) Ter sido condenado a pena privativa de liberdade por sentença penal irrecorrível
por crime anterior, observado o disposto no art. 84 deste Código, ou seja,
somente é obrigatório quando o somatório das penas impossibilita a concessão
do benefício. Como o crime foi cometido antes do livramento condicional, as
consequências desta revogação serão menos trágicas para o apenado: o tempo
do livramento será computado como cumprimento de pena; as penas poderão
ser somadas para nova concessão; permite-se novo livramento desta mesma
condenação, deste que cumprido os requisitos. Masson exemplifica:
144
TÓPICO 2 | SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA E LIVRAMENTO CONDICIONAL
Nos casos que o apenado praticar novo crime, o benefício deverá ser
suspenso, ordenando o magistrado o recolhimento ao cárcere do liberado.
Diferente da revogação, aqui ocorre apenas uma suspensão enquanto ocorre o
processamento do feito, para garantir que o período de provas não se finde antes
da decisão definitiva do outro crime praticado.
145
UNIDADE 3 | TEORIA GERAL DA PENAL – PARTE FINAL
FONTE: <http://1.bp.blogspot.com/-Y4lERCup95Q/T5DZOEnT83I/
AAAAAAAAA50/0B3ZKmQROHE/s400/Livramento+Condicional.jpg>. Acesso em: 9 set. 2019.
146
RESUMO DO TÓPICO 2
• O sursis pode ser simples ou especial, sendo que o sursis simples é para ser
mais rigoroso do que o sursis especial.
147
• São causas de revogação facultativa do sursis o descumprimento de qualquer
outra condição imposta; e ser irrecorrivelmente condenado, por crime culposo
ou por contravenção, a pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos.
148
AUTOATIVIDADE
a) ( ) Ela se dá no início do processo, sendo que este fica suspenso pelo período
de provas.
b) ( ) Não pode ser concedido para o réu reincidente em hipótese alguma.
c) ( ) O sursis simples é menos gravoso para o condenado.
d) ( ) O período de provas é o momento em que o juiz irá provar se poderá
conceder o sursis para o condenado.
e) ( ) Independe da aceitação do condenado.
149
5 Embora o artigo 89 do Código Penal preveja a possibilidade de uma
prorrogação do período de provas do liberado enquanto não transitar em
julgado a sentença do outro processo que o apenado responde, o STF e o
STJ já se posicionaram que não é possível esta prorrogação, sendo que o
tempo do período de provas, que não for suspenso ou revogado, se escoará
sem interrupção, e seu termo implica extinção da pena.
a) ( ) Certo.
b) ( ) Errado.
150
UNIDADE 3
TÓPICO 3
EFEITOS DA CONDENAÇÃO E EXTINÇÃO DE
PUNIBILIDADE
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, último da nossa apostila de teoria da pena, estudaremos
quais são os efeitos de uma decisão condenatória, o que ela acarretará para a vida
do condenado e por quanto tempo ela ainda poderá gerar efeitos.
2 EFEITOS DA CONDENAÇÃO
O primeiro efeito, mais estudado, de toda condenação, é a pena que será
aplicada. Contudo, este não é o único efeito que uma condenação gera para o
condenado. Neste subtópico, estudaremos os efeitos principais e secundários de
uma condenação.
Primeiramente, temos que relembrar que para que uma decisão gere esses
efeitos, há a necessidade de que ela seja uma sentença penal condenatória com
trânsito em julgado, ou seja, que dela não caiba mais recursos.
Assim, a sentença que aplica a medida de segurança não irá trazer para
o inimputável essa gama de efeitos, porque, recordem, a sentença que aplica a
medida de segurança é uma sentença penal absolutória imprópria.
151
UNIDADE 3 | TEORIA GERAL DA PENAL – PARTE FINAL
FONTE: <https://1.bp.blogspot.com/-8ishPYTMAkA/UoYaU_xi3qI/AAAAAAAAA5o/5cIUDHuagZs/
s400/Efeitos_da_condena%C3%A7%C3%A3o.png>. Acesso em: 9 set. 2019.
152
TÓPICO 3 | EFEITOS DA CONDENAÇÃO E EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE
153
UNIDADE 3 | TEORIA GERAL DA PENAL – PARTE FINAL
Perceba que no caso da alínea “a”, não basta que o agente seja funcionário
público, é necessário que ele tenha praticado o delito com abuso de poder ou
violação de dever para com a Administração Pública. Assim, o juiz, ao fundamentar
o efeito, deve analisar esta condição específica.
Esse efeito pode ser estendido contra outro filho, tutelado, curatelado
que não a vítima do delito. Contra esses outros, após a reabilitação criminal, o
condenado poderá voltar a exercer o seu poder familiar; contudo, em relação à
vítima, esse poder não será retomado.
3 REABILITAÇÃO
Após o pagamento de sua dívida com a sociedade por meio do
cumprimento da pena, o condenado tem o direito de requerer ao juízo a sua
reabilitação. Reabilitação, no conceito de Nucci (2019, p. 936) é “a declaração
judicial de reinserção do sentenciado ao gozo de determinados direitos que foram
atingidos pela condenação”. Nesta esteira de pensamento, para Japiassú e Souza
(2018, p. 429):
154
TÓPICO 3 | EFEITOS DA CONDENAÇÃO E EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE
155
UNIDADE 3 | TEORIA GERAL DA PENAL – PARTE FINAL
Exemplo:
“A”, condenado a seis anos de reclusão, obtém livramento condicional
depois de cumprida a metade da pena. Considerando que o período
de prova do livramento é de três anos, após o seu término, sem
revogação, “A” poderá pleitear, junto com a extinção da punibilidade,
a sua reabilitação.
156
TÓPICO 3 | EFEITOS DA CONDENAÇÃO E EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE
FONTE: <https://www.entendeudireito.com.br/reabilitacao?lightbox=dataItem-jsh4mkmw>.
Acesso em: 9 set. 2019.
157
UNIDADE 3 | TEORIA GERAL DA PENAL – PARTE FINAL
4 EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE
A extinção da punibilidade é a perda para o Estado do direito de punir
determinada infração penal. Ela pode se dar por diversas formas, algumas
previstas em lei, outras em causas supralegais. Estudaremos, neste subtópico, as
causas legais de extinção de punibilidade. Nucci (2019, p. 454, grifo do original)
explica o que são as causas extintivas de punibilidade:
158
TÓPICO 3 | EFEITOS DA CONDENAÇÃO E EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE
• Morte do agente: como vimos no Tópico 1, a pena não pode ultrapassar a pessoa
do condenado, assim, com a morte do agente, extingue-se a pretensão punitiva
e executória do Estado. Contudo, permanece o dever de reparar o dano dentro
dos limites da herança. Ou seja, os bens do falecido ainda serão atingidos para
se efetivar o pagamento da reparação do dano. A prova da morte se faz com a
juntada da certidão de óbito do agente.
• Anistia, graça ou indulto: em realidade são três institutos diferentes:
ᵒ Anistia: “é a exclusão, por lei ordinária com efeitos retroativos, de um ou
mais fatos criminosos do campo de incidência do Direito Penal” (MASSON,
2017, p. 1011). Note que a anistia não precisa ser aceita pelo agente, isso quer
dizer que o agente somente poderá recusar se a anistia for condicionada a
alguma exigência. Neste viés, temos que a anistia pode ser:
159
UNIDADE 3 | TEORIA GERAL DA PENAL – PARTE FINAL
FONTE: <https://direitodompedro20122.files.wordpress.com/2014/06/gia.gif?w=300&h=194>.
Acesso em: 10 out. 2019.
160
TÓPICO 3 | EFEITOS DA CONDENAÇÃO E EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE
• Abolition Criminis: pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como
criminoso – quando uma lei deixa de considerar algum fato como típico, como
crime, essa lei retroage e deve ser aplicada para todos aqueles condenados
ou processados por aquele fato. Desta maneira, ocorre a extinção de todos
os efeitos da condenação, com exceção da reparação de danos, que pode ser
pleiteada no cível.
• Prescrição, decadência ou perempção:
ᵒ Prescrição: é a perda de punir do Estado, seja porque seu titular (o MP)
não propôs a ação penal no prazo determinado, seja porque o Estado não
conseguiu efetivar a pretensão executória da pena. Segundo Estefam e
Gonçalves (2017, p. 731), “a prescrição é a perda do direto do direito de punir
decorrente do decurso de determinado prazo sem que a ação penal tenha
sido proposta por seu titular ou sem que se consiga concluí-la (prescrição da
pretensão punitiva), ou ainda, a perda do direto de executar a pena por não
conseguir o Estado dar início ou prosseguimento a seu cumprimento dentro
do prazo legalmente estabelecido (prescrição da pretensão executória)”.
161
UNIDADE 3 | TEORIA GERAL DA PENAL – PARTE FINAL
162
TÓPICO 3 | EFEITOS DA CONDENAÇÃO E EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE
Art. 112, Código Penal - No caso do art. 110 deste Código, a prescrição
começa a correr:
I- do dia em que transita em julgado a sentença condenatória, para
a acusação, ou a que revoga a suspensão condicional da pena ou o
livramento condicional;
II- do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o tempo da
interrupção deva computar-se na pena (BRASIL, 1940, s. p.).
163
UNIDADE 3 | TEORIA GERAL DA PENAL – PARTE FINAL
DICAS
Por ser uma matéria tão complexa, recomenda-se a leitura do artigo Não
tenha mais dúvida sobre prescrição penal do autor Pedro Magalhães Ganem, que pode
ser acessado no site: https://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br/artigos/567496024/nao-
tenha-mais-duvida-sobre-prescricao-penal.
164
TÓPICO 3 | EFEITOS DA CONDENAÇÃO E EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE
FONTE: <https://www.passeidireto.com/arquivo/50369494/prescricao-e-decadencia-2-mapa-
mental>. Acesso em: 21 out. 2019.
• Pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação
privada: a renúncia ao direito de queixa é quando o querelante não exerce
seu direito de queixa. Desta afirmação, podemos deduzir que somente pode
ser efetivada em ação penal privada, e que somente antes do oferecimento
da queixa. Pode ser feita expressamente, por declaração do ofendido, seu
representante legal, ou seu procurador com poderes especiais; ou pode se dar
pela prática de atos incompatíveis, por exemplo, o convite para o agente ser
padrinho do filho da vítima.
165
UNIDADE 3 | TEORIA GERAL DA PENAL – PARTE FINAL
• Perdão judicial, nos casos previstos em lei: o perdão judicial é concedido pelo
Poder Judiciário, na sentença, que deixa de aplicar a pena aos réus que preencha
determinados requisitos da lei.
Note que, como o perdão judicial é concedido para aquele que preenche
os requisitos trazidos na lei, ele não se estende aos demais coautores do crime. Por
exemplo, a lei de proteção as vítimas prevê a possibilidade de aplicação do perdão
judicial para o acusado que sendo primário tenha colaborado com as investigação
e que tenha a identificado os demais coautores ou partícipes da ação criminosa,
auxiliado a localizar a vítima com a sua integridade física preservada e levado
a recuperação total ou parcial do produto do crime. Neste exemplo, se João dos
Céus colaborar com as investigações, preenchendo os requisitos legais, poderá ter
aplicado para si o perdão judicial. Contudo, para os demais réus, coautores do
mesmo delito, não será aplicado o benefício.
166
TÓPICO 3 | EFEITOS DA CONDENAÇÃO E EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE
167
UNIDADE 3 | TEORIA GERAL DA PENAL – PARTE FINAL
LEITURA COMPLEMENTAR
168
TÓPICO 3 | EFEITOS DA CONDENAÇÃO E EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE
A regra, no entanto, não é absoluta. O próprio STJ admite que o juiz analise
as circunstâncias do caso concreto e, se o caso, reconheça a continuidade mesmo
diante de intervalos maiores do que trinta dias: “Embora para reconhecimento
da continuidade delitiva se exija o não distanciamento temporal das condutas,
em regra no período não superior a trinta dias, conforme precedentes da
Corte, excepcional vinculação entre as condutas permite maior elastério no
tempo” (AgRg no REsp 1.345.274/SC, DJe 12/04/2018).
169
UNIDADE 3 | TEORIA GERAL DA PENAL – PARTE FINAL
170
TÓPICO 3 | EFEITOS DA CONDENAÇÃO E EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE
Sabe-se que, em regra, a nova lei que, de qualquer modo, prejudica o réu
(lex gravior) é irretroativa, devendo ser aplicada a lei vigente quando do tempo do
crime. Trata-se, como na hipótese da novatio legis incriminadora, de observância
da lei ao princípio da anterioridade, corolário do princípio da legalidade. A título
de exemplo, devemos lembrar que, no ano de 2010, a Lei nº 12.234 aumentou de
2 (dois) para 3 (três) anos o prazo da prescrição (causa extintiva da punibilidade)
para crimes com pena máxima inferior a 1 (um) ano. Como esta alteração
171
UNIDADE 3 | TEORIA GERAL DA PENAL – PARTE FINAL
legislativa é prejudicial ao réu, a lei não poderá ser aplicada aos crimes praticados
antes da sua entrada em vigor. A lei anterior, apesar de revogada, será ultra-ativa,
aplicada em detrimento da lei nova (vigente na data do julgamento).
Surge, no entanto, uma dúvida a respeito da lei que deve ser aplicada
quando, no decorrer da prática de um crime permanente ou continuado, sobrevém
lei mais grave.
De acordo com a súmula nº 711 do STF, nessas situações “A lei penal mais
grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é
anterior à cessação da continuidade ou da permanência”.
FONTE: CUNHA, R. S. Teses do STJ sobre o crime continuado. 2019. Disponível em: https://
meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2019/02/15/teses-stj-sobre-o-crime-continuado/.
Acesso em: 10 out. 2019.
172
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• Os efeitos genéricos, que são aplicados a todos os condenados e não precisam ser
expressos na sentença são dois: a necessidade de reparar o dano causado e o confisco.
173
Contudo, quando ocorre apenas a extinção da pretensão executória, já há
uma sentença condenatória, e por isso, em regra, os efeitos secundários da
condenação podem permanecer, como a reincidência.
• Prescrição é a perda de punir do Estado, seja porque seu titular (o MP) não
propôs a ação penal no prazo determinado, seja porque o Estado não conseguiu
efetivar a pretensão executória da pena.
CHAMADA
174
AUTOATIVIDADE
a) ( ) Com a morte do agente, que deverá ser comprovada com a juntada aos
autos da certidão de óbito dele.
b) ( ) Pelo perdão da vítima ao réu, independentemente de sua aceitação; já a
renúncia, para produzir seus efeitos, precisa da aceitação do réu.
c) ( ) Pelo perdão judicial, que será concedido pelo juiz, sempre que vislumbrar
que o réu se arrependeu do crime cometido.
d) ( ) Pela irretroatividade da lei.
175
5 Sobre a prescrição, podemos afirmar que existem causas interruptivas
previstas no Código Penal, previstas no artigo 111, e que delas o prazo
deverá voltar a correr de onde foi interrompido.
a) ( ) Certo.
b) ( ) Errado.
176
REFERÊNCIAS
ANDRADE, V. R. P. de. Dogmática e Sistema Penal: em busca da segurança
jurídica prometida. Tese (Doutorado em Direito). Universidade Federal de
Santa Catarina. Florianópolis. 1994. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/
handle/123456789/106397?show=full. Acesso em: 26 nov. 2018.
BITENCOURT, C. R. Tratado de direito penal: parte geral. 20. ed. São Paulo:
Saravia, 2014.
177
BRASIL. Supremo Tribunal da Justiça. Súmula n° 491. É inadmissível a
chamada progressão per saltum de regime prisional. Brasília: Supremo Tribunal
da Justiça, 2012. Disponível em: https://scon.stj.jus.br/SCON/pesquisar.jsp.
Acesso em: 2 out. 2019.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula n° 693. Não cabe habeas corpus
contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a processo em curso
por infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada. Brasília:
Supremo Tribunal Federal, 2003. Disponível em: http://twixar.me/jgk1. Acesso
em: 2 out. 2019.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula n° 711. A lei penal mais grave
aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é
anterior à cessação da continuidade ou da permanência. Brasília: Supremo
Tribunal Federal, 2003. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/
jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=711.NUME.%20NAO%20S.
FLSV.&base=baseSumulas. Acesso em: 26 ago. 2019.
178
BRASIL. Lei n° 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui a Lei de Execução Penal.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7210.htm. Acesso
em: 22 ago. 2019.
179
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula n° 715. A pena unificada para
atender ao limite de trinta anos de cumprimento, determinado pelo art. 75 do
Código Penal, não é considerada para a concessão de outros benefícios, como
o livramento condicional ou regime mais favorável de execução. Brasília:
Supremo Tribunal Federal, 2003. Disponível em: http://twixar.me/Bgk1. Acesso
em: 2 out. 2019.
DOTTI, R. A. Curso de Direito Penal: parte geral. Rio de Janeiro: Forense. 2001.
GRECO, R. Curso de Direito Penal. 14. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2012.
MASSON, C. Direito Penal esquematizado: parte geral. 11. ed. Rio de Janeiro:
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NUCCI, G. S. de. Curso de Direito Penal: parte geral: arts. 1º a 120 do Código
Penal. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019.
180