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Fundamentos de

Hidráulica e Hidrometria
Prof.a Alessandra Giordani

Indaial – 2019
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2019

Elaboração:
Prof.a Alessandra Giordani

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

G497f

Giordani, Alessandra

Fundamentos de hidráulica e hidrometria. / Alessandra Giordani. –


Indaial: UNIASSELVI, 2019.

214 p.; il.

ISBN 978-85-515-0386-7

1. Hidráulica e hidrometria. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo


Da Vinci.

CDD 624
Impresso por:
Apresentação
Caro acadêmico! Bem-vindo ao Livro Didático para os estudos da
disciplina de Fundamentos de Hidráulica e Hidrometria. Nesta caminhada
de estudos, iremos compreender o escoamento em condutos forçados e livres,
bem como fornecer alguns fundamentos de Hidrometria. Iremos também
aprofundar um pouco nosso conhecimento em instalações elevatórias.

Iniciaremos nossos estudos com a Unidade 1, que trata de condutos


forçados. Primeiramente, no Tópico 1, faremos uma revisão de alguns
conceitos básicos importantes da Hidráulica, como a Lei de Pascal, a Lei de
Stevin e a Equação da Continuidade. Em seguida, trataremos dos tipos de
escoamento, entenderemos a equação da energia, definiremos a fórmula
universal para o cálculo da perda de carga e falaremos brevemente sobre
bombas e turbinas. No Tópico 2, abordaremos o escoamento uniforme em
tubulações, entendendo os regimes de escoamento laminar e turbulento,
bem como o escoamento em tubos lisos, rugosos e comerciais. Definiremos
também a equação de Hazzen-Willians para o cálculo da perda de carga em
condutos forçados. Por fim, no Tópico 3, abordaremos as perdas de carga
localizadas e a forma de calculá-las.

A Unidade 2 nos fornecerá conhecimentos importantes sobre o


escoamento em condutos livres, sendo abordados os escoamentos em superfícies
livres (Tópico 1), o regime permanente uniforme (Tópico 2), o regime permanente
gradualmente variado (Tópico 3) e o regime permanente bruscamente variado,
utilizando como exemplo prático o ressalto hidráulico (Tópico 4).

Na Unidade 3, estudaremos os sistemas elevatórios (Tópico 1) e


os processos de medidas hidráulicas (Tópico 2). Veremos os componentes
dos sistemas elevatórios, abordaremos de forma mais ampla as bombas,
entendendo como obter seu ponto de operação. Entenderemos a cavitação
e como evitá-la. Por fim, aprenderemos a calcular o diâmetro econômico da
tubulação de recalque, bem como o diâmetro da tubulação de sucção. Por
fim, trataremos alguns métodos de medição de vazão, como Tubo Venturi,
Calha Parshall, medidores ultrassônicos, orifícios concêntricos, entre outros.

Como futuros Engenheiros Civis, esta disciplina será um passo importante


para a sua formação profissional. Entender os fundamentos aqui abordados será
de grande importância para sua formação acadêmica e será aproveitada em
outras disciplinas que ainda virão. Portanto, aproveite e bons estudos!

Prof.a Alessandra Giordani

III
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

UNI

Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos


materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais
que possuem o código QR Code, que é um código
que permite que você acesse um conteúdo interativo
relacionado ao tema que você está estudando. Para
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!

IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – CONDUTOS FORÇADOS............................................................................................ 1

TÓPICO 1 – CONCEITOS BÁSICOS..................................................................................................... 3


1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................................ 3
2 REGIMES DE ESCOAMENTO............................................................................................................. 7
3 EQUAÇÃO DA ENERGIA..................................................................................................................... 8
4 FÓRMULA UNIVERSAL DA PERDA DE CARGA....................................................................... 13
5 VELOCIDADE DE ATRITO................................................................................................................ 14
6 POTÊNCIA HIDRÁULICA PARA BOMBAS E TURBINAS........................................................ 17
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 20
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 21

TÓPICO 2 – ESCOAMENTO UNIFORME EM TUBULAÇÕES..................................................... 23


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 23
2 TENSÃO TANGENCIAL..................................................................................................................... 24
3 ESCOAMENTO LAMINAR................................................................................................................ 24
4 ESCOAMENTO TURBULENTO........................................................................................................ 27
5 DISTRIBUIÇÃO DE VELOCIDADE ................................................................................................ 29
6 EXPERIÊNCIA DE NIKURASE.......................................................................................................... 30
7 TUBOS LISOS........................................................................................................................................ 32
8 TUBOS RUGOSOS............................................................................................................................... 33
9 TUBOS DE RUGOSIDADE COMERCIAL...................................................................................... 36
10 FÓRMULAS EMPÍRICAS PARA O ESCOAMENTO TURBULENTO..................................... 39
11 CONDUTOS DE SEÇÃO NÃO CIRCULAR.................................................................................. 43
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 44
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 45

TÓPICO 3 – PERDAS DE CARGA LOCALIZADA........................................................................... 47


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 47
2 EQUAÇÃO DAS PERDAS LOCALIZADAS................................................................................... 48
3 COEFICIENTE K.................................................................................................................................... 48
4 LINHA DE TUBULAÇÕES.................................................................................................................. 57
5 MÉTODO DOS COMPRIMENTOS EQUIVALENTES................................................................. 59
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 65
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 70
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 71

UNIDADE 2 – CONDUTOS LIVRES................................................................................................... 73

TÓPICO 1 – ESCOAMENTO EM SUPERFÍCIES LIVRES............................................................... 75


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 75
2 TIPOS DE ESCOAMENTO................................................................................................................. 81
3 DISTRIBUIÇÃO DE VELOCIDADES.............................................................................................. 86
4 DISTRIBUIÇÃO DE PRESSÃO.......................................................................................................... 87

VII
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 88
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 89

TÓPICO 2 – REGIME PERMANENTE UNIFORME ........................................................................ 91


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 91
2 EQUAÇÕES DE RESISTÊNCIA......................................................................................................... 92
3 FÓRMULA DE MANNING................................................................................................................. 93
4 CANAIS EM REGIME UNIFORME.................................................................................................. 96
5 SEÇÕES DE MÍNIMO PERÍMETRO MOLHADO OU MÁXIMA VAZÃO............................ 102
6 ELEMENTOS HIDRÁULICOS DA SEÇÃO CIRCULAR............................................................ 105
7 CANAIS FECHADOS ........................................................................................................................ 107
RESUMO DO TÓPICO 2...................................................................................................................... 108
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 109

TÓPICO 3 – REGIME PERMANENTE GRADUALMENTE VARIADO..................................... 111


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 111
2 EQUAÇÃO DIFERENCIAL DO ESCOAMENTO GRADUALMENTE VARIADO.............. 112
3 CLASSIFICAÇÃO DOS PERFIS DE ESCOAMENTO................................................................. 113
4 SINGULARIDADES........................................................................................................................... 117
5 DETERMINAÇÃO DO PERFIL DE ÁGUA EM CANAIS REGULARES................................. 117
6 FORMAS DA SUPERFÍCIE DA ÁGUA.......................................................................................... 120
RESUMO DO TÓPICO 3...................................................................................................................... 122
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 123

TÓPICO 4 – REGIME PERMANENTE BRUSCAMENTE VARIADO


– RESSALTO HIDRÁULICO........................................................................................ 125
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 125
2 DESCRIÇÃO DO RESSALTO........................................................................................................... 126
3 FORÇA ESPECÍFICA.......................................................................................................................... 127
4 CANAIS RETANGULARES.............................................................................................................. 128
5 CANAIS NÃO RETANGULARES................................................................................................... 130
6 PERDA DE CARGA NO RESSALTO.............................................................................................. 131
LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................. 135
RESUMO DO TÓPICO 4...................................................................................................................... 139
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 140

UNIDADE 3 – SISTEMAS ELEVATÓRIOS E PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS....... 141

TÓPICO 1 – SISTEMAS ELEVATÓRIOS.......................................................................................... 143


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 143
2 ALTURA MANOMÉTRICA.............................................................................................................. 145
3 POTÊNCIA DO CONJUNTO ELEVATÓRIO................................................................................ 147
4 POTÊNCIA INSTALADA.................................................................................................................. 149
5 RENDIMENTO DE MÁQUINAS..................................................................................................... 150
6 BOMBAS............................................................................................................................................... 151
7 VELOCIDADE ESPECÍFICA............................................................................................................. 152
8 CURVAS CARACTERÍSTICAS DE UMA BOMBA..................................................................... 153
8.1 INFLUÊNCIA DA ROTAÇÃO NA CURVA CARACTERÍSTICA DA BOMBA................... 157
8.2 PONTO DE OPERAÇÃO ............................................................................................................. 157
8.3 BOMBAS EM PARALELO............................................................................................................. 160
8.4 BOMBAS EM SÉRIE....................................................................................................................... 162
9 ESCOLHA DO CONJUNTO MOTOR-BOMBA........................................................................... 165

VIII
10 ESTAÇÕES ELEVATÓRIAS............................................................................................................ 166
11 POÇOS DE SUCÇÃO........................................................................................................................ 167
12 PEÇAS ESPECIAIS............................................................................................................................ 168
13 CANALIZAÇÃO DE SUCÇÃO...................................................................................................... 171
14 VELOCIDADE MÁXIMA NAS TUBULAÇÕES......................................................................... 172
15 CAVITAÇÃO...................................................................................................................................... 173
16 DIMENSIONAMENTO ECONÔMICO E FÓRMULA DE BRESSE....................................... 177
17 EQUIPAMENTOS ELÉTRICOS DAS INSTALAÇÕES............................................................. 179
18 INSTALAÇÃO, OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO DE BOMBAS............................................. 179
RESUMO DO TÓPICO 1...................................................................................................................... 181
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 182

TÓPICO 2 – PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS.......................................................... 183


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 183
2 HIDROMETRIA.................................................................................................................................. 183
3 PROCESSOS DE MEDIÇÃO DE VAZÃO...................................................................................... 184
3.1 MÉTODO DIRETO......................................................................................................................... 184
3.1.1 Orifícios................................................................................................................................... 185
3.1.2 Bocais....................................................................................................................................... 185
3.1.3 Vertedores .............................................................................................................................. 186
3.1.4 Medidores de regime crítico................................................................................................ 188
3.1.5 Medidores diferenciais para tubulações............................................................................. 188
4 ORIFÍCIOS CONCÊNTRICOS OU DIAFRAGMAS................................................................... 189
5 TUBO VENTURI.................................................................................................................................. 191
6 TUBO DALL......................................................................................................................................... 193
7 MEDIDOR INSERIDO....................................................................................................................... 193
8 MEDIDORES PROPORCIONAIS DO TIPO DERIVAÇÃO...................................................... 194
9 MEDIDORES MAGNÉTICOS.......................................................................................................... 194
10 MEDIDORES ULTRASSÔNICOS................................................................................................. 195
11 FLUXÔMETROS E ROTÂMETROS.............................................................................................. 196
12 HIDRÔMETROS............................................................................................................................... 198
13 DETERMINAÇÃO DA VELOCIDADE........................................................................................ 198
13.1 MOLINETES.................................................................................................................................. 198
13.2 TUBOS DE PITOT......................................................................................................................... 199
13.3 FLUTUADORES........................................................................................................................... 200
14 INSTRUÇÕES PARA MEDIÇÃO DE VAZÃO EM CURSOS DE ÁGUA.............................. 200
15 MEDIDORES PARSHALL .............................................................................................................. 202
LEITURA COMPLEMENTAR.............................................................................................................. 205
RESUMO DO TÓPICO 2...................................................................................................................... 210
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................ 211

REFERÊNCIAS........................................................................................................................................ 213

IX
X
UNIDADE 1

CONDUTOS FORÇADOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• utilizar a equação da energia em escoamentos e identificar a linha


piezométrica e de carga;

• determinar a perda de carga em condutos forçados;

• calcular a potência hidráulica de bombas e turbinas;

• diferenciar os regimes de escoamento em laminar ou turbulento, uniforme ou


variado, permanente ou variável, rotacional ou irrotacional, forçado ou livre;

• identificar as cinco regiões formadas em escoamentos de acordo com o


número de Reynolds;

• calcular o fator de atrito e a distribuição de velocidade em regime laminar


e turbulento, bem como em tubos lisos, rugosos e comerciais;

• utilizar o Diagrama de Moody para calcular o fator de atrito;

• calcular a perda de carga localizada em tubulações com acessórios;

• aplicar o método dos comprimentos equivalentes.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – CONCEITOS BÁSICOS

TÓPICO 2 – ESCOAMENTO UNIFORME EM TUBULAÇÕES

TÓPICO 3 – PERDAS DE CARGA LOCALIZADA

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

CONCEITOS BÁSICOS

1 INTRODUÇÃO
Para iniciarmos o estudo desta disciplina, relembramos alguns princípios
básicos, importantes para a disciplina de Fundamentos de Hidráulica e
Hidrometria. Entende-se por hidráulica a ciência que estuda o comportamento
da água e fluidos em repouso ou em movimento. O estudo de fluidos em repouso
é abordado pela hidrostática, enquanto que a hidrodinâmica se refere aos fluidos
em movimento. Mas afinal, o que são fluidos?

Fluidos são substâncias líquidas ou gasosas com capacidade de deformação


contínua, adquirindo a forma do recipiente que os contêm, quando sob ação de
uma tensão de cisalhamento, ou seja, uma força inicial mínima.

É importante também relembrarmos a Lei de Pascal, enunciada da seguinte


forma: “Em qualquer ponto no interior de um líquido em repouso, a pressão
é a mesma em todas as direções” (NETTO et al., 1998, p. 23). Esse enunciado
apresenta como importante aplicação prática a prensa hidráulica apresentada
na Figura 1, bem como servomecanismos, dispositivos de controle e freios de
carro. Assim, esse princípio nos permite obter a seguinte equação, sabendo que a
pressão consiste na razão entre a força aplicada (F) e área de contato (A):

F1 F2
= (1)
A1 A 2

Em que: F1 é a força aplicada, F2 é a força obtida, A1 é a seção do êmbolo


menor e, A2 é a seção do êmbolo maior.

FIGURA 1 – PRENSA HIDRÁULICA, CUJO FUNCIONAMENTO SE BASEIA


NO PRINCÍPIO DE PASCAL

(2) F2 (1) F1

P2 P1

FONTE: Brunetti (2008, p. 22)

3
UNIDADE 1 | CONDUTOS FORÇADOS

A Figura 1 representa, portanto, o funcionamento de uma prensa


hidráulica, que é baseado no Princípio de Pascal. Assim, quando uma força F1
é aplicada em um êmbolo menor com área A1, a pressão gerada é transmitida
pelo fluido para o êmbolo maior, resultando em uma força F2 de intensidade
proporcional à área do êmbolo maior. Portanto, a prensa hidráulica permite não
somente a transmissão da força, mas também a sua ampliação.

Exemplo 1:
Uma força F1 de intensidade 100 N é aplicada em um êmbolo 1 de 5 m²
de área da seção transversal. Sabendo que o êmbolo 2 apresenta 3 m² de área da
seção transversal, determine a intensidade da força F2.

Resposta: Esse exemplo é facilmente resolvido pelo Princípio de Pascal, já que:

F1 F2
=
A1 A2
F1 A2 100 x3
F2
= = = 60 N
A1 5

Exemplo 2:
Um objeto de 500 N é colocado sobre um êmbolo maior de área 2,5 A em
uma prensa de hidráulica. Determine a força que deve ser aplicada no êmbolo
menor de área A, para elevar esse objeto.

Resposta: Vamos empregar o Princípio de Pascal para resolver esse exemplo:

F1 F2
=
A1 A2
500 A
F2
= = 200 N
2,5 A

Deve-se, portanto, aplicar uma força de 200 N no êmbolo menor para


elevar objeto colocado no êmbolo maior.

Em uma coluna líquida, a pressão resultante pode ser representada


pela Lei de Stevin: “A diferença de pressões entre dois pontos da massa de um
líquido em equilíbrio é igual à diferença de profundidade multiplicada pelo peso
específico do líquido” (NETTO et al., 1998, p. 25). Portanto, tem-se o seguinte
equacionamento:

p2 – p1 = p g h (2)

4
TÓPICO 1 | CONCEITOS BÁSICOS

Em que: p2 é a pressão no ponto 2, p1 é a pressão no ponto 1, p é a


massa específica do líquido, g é a aceleração da gravidade e h é a diferença de
profundidade.

FIGURA 2 – LEI DE STEVIN PARA UM LÍQUIDO EM REPOUSO


p1A

A
h

pghA

p2A
FONTE: Adaptado de Netto et al. (1998)

Por fim, definiremos uma equação muito importante para a hidrodinâmica,


a Equação da Continuidade, que nos mostra a conservação da massa de um fluido
incompressível em escoamento permanente, dada por:

Q = A1 V1 = A2 V2 = constante (3)

Em que: Q é a vazão, A é área da seção de escoamento, e V é a velocidade


média na seção.

A Equação 3 nos mostra que a vazão medida em qualquer ponto do


escoamento do fluido será constante, apesar da área e da velocidade da seção
transversal do tubo se modificarem.

NOTA

Vamos relembrar o conceito de fluido incompressível? É o fluido que


apresenta densidade constante ao longo do escoamento, ou seja, seu volume não varia
com a pressão. Os líquidos apresentam um comportamento muito semelhante a um fluido
incompressível, e na prática são considerados incompressíveis.

5
UNIDADE 1 | CONDUTOS FORÇADOS

Exemplo 3:
Água escoa a uma vazão de 50 L/s em uma tubulação de 200 mm de
diâmetro. Sabendo que essa tubulação sofre uma redução de seu diâmetro para
100 mm, calcule as velocidades nos trechos de maior e menor diâmetro.

Resposta: Primeiramente, devemos calcular a área da tubulação maior


(A1) e da tubulação menor (A2). Lembrando que a tubulação apresenta área
circular temos:

π D2
π 0, 22
A1
= = = 0, 03 m²
4 4
π D π 0,12
2
A2 =
= = 0, 00785 m²
4 4

Para uma vazão de 50 L/s, ou seja, 0,05 m³/s, as velocidades no trecho


maior (V1) e menor (V2) serão, portanto:

Q = A ⋅ V = constante
Q 0, 05
V
=1 = = 1, 67 m / s
A1 0, 03
Q 0, 05
V
=2 = = 6,37 m / s
A 2 0, 00785

Exemplo 4:
Determine o diâmetro de uma tubulação por onde escoa água com uma
velocidade de 1 m/s com uma vazão de 5 m³/s.

Resposta: Primeiramente, precisamos calcular a área dessa tubulação,


lembrando que, segundo a equação da continuidade:

Q = A ⋅ V = constante
Q 5
A= = = 5 m²
V 1

Portanto, o diâmetro será dado por:

π D2
A=
4
D2
5 =π
4

6
TÓPICO 1 | CONCEITOS BÁSICOS

D ² = 6,37
=D 6,37 2,52 m
=

Pronto, terminamos a revisão de alguns conceitos importantes e que


usaremos ao longo desta unidade. Agora vamos falar de regimes de escoamento?

DICAS

Caro acadêmico, para aprofundar seus conhecimentos, sugerimos a leitura


dos Capítulos 1 e 2 do livro Engenharia hidráulica, com a seguinte referência bibliográfica:
HOUGHTALEN, Robert J.; HWANG, Ned H. C.; AKAN, Osman, A. Engenharia hidráulica.
São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2012.

Como complementação, sugerimos também o estudo dos Capítulos 1 e 2 do livro Manual


de hidráulica, com a seguinte referência bibliográfica:
NETTO, Azevedo; FERNADEZ, Miguel F.; ARAÚJO, Roberto de; ITO, Acácio E. Manual de
hidráulica. São Paulo: Blücher, 1998.

2 REGIMES DE ESCOAMENTO
Os regimes de escoamento são conceituados em função de suas
características, podendo ser definidos quanto à direção da trajetória (laminar ou
turbulento), quanto à variação no tempo (permanente ou variável), quanto à variação
na trajetória (uniforme ou variado) e quanto à rotação (rotacional ou irrotacional).
Vamos agora definir cada tipo de escoamento para um melhor entendimento.

No escoamento laminar as partículas de um fluido movimentam-se em


lâminas ou camadas, ou seja, em trajetórias bem definidas e não se cruzam,
mantendo sua identidade no meio. A viscosidade do fluido em escoamento atua
amortecendo a tendência do surgimento de turbulências. Portanto, o escoamento
laminar é observado em baixas velocidades ou para fluidos com alta viscosidade.
Já no escoamento turbulento, situação mais comum nos problemas de Engenharia
que iremos estudar nesta disciplina, as partículas movimentam-se em trajetórias
irregulares, ou seja, em movimento desordenado. Esse escoamento é comum na
água, que apresenta uma viscosidade relativamente baixa.

O escoamento permanente é observado quando as propriedades e
características hidráulicas do fluido não variam com o tempo, por exemplo, em
canais revestidos. Caso isso não seja constatado, o regime de escoamento é dito
variável ou não permanente, tendo como exemplo uma onda de cheia em um rio.

7
UNIDADE 1 | CONDUTOS FORÇADOS

O escoamento uniforme é aquele em que todos os pontos de uma mesma


trajetória apresentam a mesma velocidade, ou seja, o vetor velocidade, em
módulo, direção e sentido é igual em todos os pontos em determinado instante.
Já, se para um determinado intervalo de tempo, o vetor velocidade variar nos
pontos de uma mesma trajetória, o escoamento é denominado variado.

O escoamento rotacional ocorre quando as partículas do fluido apresentam


rotação em relação a um eixo, em determinada região. Entretanto, se não houver
movimento de rotação, o regime é dito irrotacional

Por fim, é importante definir também os escoamentos livre e forçado.


Quando o líquido se encontra em contato contínuo com a atmosfera em qualquer
seção transversal, o escoamento é dito livre, e é observado em rios, córregos e
canais, tendo sua ocorrência devido à ação da gravidade. No interior de tubulações,
em contrapartida, ocorre o escoamento forçado, que pode se dar tanto pela ação
da gravidade quanto por meio de bombeamento. Nesse regime, já que não há
contato do fluido com o meio externo, a pressão exercida pelo líquido sobre a
tubulação difere da pressão atmosférica.

Trataremos, neste tópico, os condutos forçados, ou seja, aqueles nos quais


o fluido em escoamento preenche completamente as seções transversais.

Vistos os tipos de escoamento, podemos prosseguir para o entendimento


da Equação de Energia, essencial para resolução de problemas em hidráulica.

3 EQUAÇÃO DA ENERGIA
Falaremos agora sobre o teorema de Bernoulli, empregado para líquidos
perfeitos e regime permanente, que pode ser enunciado como: “Ao longo de
qualquer linha de corrente é constante a soma das alturas cinéticas (V2/2g),
piezométrica ( ρ /γ ) e geométrica (z)” (NETTO et al., 1998, p. 25). As hipóteses
consideradas nesse teorema são: movimento permanente, o fluido não apresenta
viscosidade (fluido ideal) e é incompressível, e o escoamento ocorre ao longo de
um tubo de dimensões infinitesimais.

Portanto, a carga total (H) é constante e tem-se a seguinte equação:

ρ V2
H= +z+ = constante (4)
γ 2g

Em que: p é a pressão, γ é o peso específico, z é a cota topográfica ou


geométrica relativa a um plano horizontal de referência, v é a velocidade e g é a
aceleração da gravidade.

8
TÓPICO 1 | CONCEITOS BÁSICOS

NOTA

Você percebeu que cada um dos termos do teorema de Bernoulli representa


uma forma de energia? O primeiro termo ( ρ /γ ) corresponde à energia de pressão ou
piezométrica, o segundo, (z), a energia de posição ou potencial e o terceiro, (V2/2g), a
energia cinética, adequando-se, portanto, ao princípio da conservação da energia. Lembre-
se, entretanto, de que esses termos são expressos em metros, já que representam a carga
de pressão, geométrica ou de posição e de velocidade, respectivamente.

Os fluidos reais, entretanto, se afastam do teorema de Bernoulli,


principalmente devido à viscosidade e atrito externos. Em situações práticas, as
forças de atrito acarretam uma perda de energia durante o escoamento, que se
dissipa sob a forma de calor, o que denominamos perda de carga, e introduz-se o
termo ΔH à Equação 5, o que denominamos de equação da energia:

p1 V2 p V2
+ z1 + 1= 2 + z2 + 2 + ∆H (5)
γ 2g γ 2g

Portanto, o enunciado geral do teorema de Bernoulli torna-se: “Para um


escoamento contínuo e permanente, a carga total de energia, em qualquer ponto de
uma linha corrente é igual à carga total em qualquer ponto a jusante da mesma linha
corrente, mais a perda de carga entre os dois pontos” (NETTO et al., 1998, p. 25).

Com base na Figura 3, vamos aprender a identificar as linhas de carga e


piezométrica em um escoamento permanente. A linha piezométrica (LP) une as
extremidades das colunas piezométricas, sendo representada pela soma dos termos
p/y + z, expressando, assim, a altura do fluido nas canalizações. Acrescentando-se os
valores da altura de carga cinética (V2/2g), obtém-se a linha de carga ou de energia,
dada por H = p/y + z + (V2/2g). Portanto, a linha de carga representa a energia
total do fluido, ou seja, as três cargas (velocidade, pressão e posição). As cargas
de pressão, posição e cinética devem sempre ser representadas perpendiculares
ao plano horizontal de referência, independentemente da curvatura da trajetória.
Para fluidos reais, em escoamento permanente, o trabalho realizado por forças
resistentes acarreta a diminuição da carga total ao longo do escoamento.

9
UNIDADE 1 | CONDUTOS FORÇADOS

FIGURA 3 – LINHA DE CARGA E PIEZOMÉTRICA PARA UM FLUIDO EM ESCOAMENTO

2
V1 Linha de carga ΔH
2g
P2
Linha piezométrica
γ V 22
2g
v1

P2
γ

z1 v2

z2

FONTE: Adaptado de Houghtalen, Hwang e Akan (2012)

E
IMPORTANT

Caro acadêmico, a linha piezométrica pode estar abaixo da trajetória quando


houver pressões efetivas negativas ou pode coincidir com a trajetória, como ocorre em
escoamentos livres. Lembre-se de que a linha de carga diminui sempre no sentido do
escoamento, e isso apenas será modificado se houver introdução de energia externa,
como através da instalação de uma bomba.

Exemplo 5:
Um fluido escoa por um tubo reto com uma velocidade de escoamento
de 3 m/s. O trecho 1 encontra-se em uma cota topográfica de 7 m e pressão de
100.000 N/m². No trecho 2, a cota topográfica é de 3 m e a pressão é de 50.000 N/
m². Determine a distância que separa a linha de carga e a linha piezométrica nos
trechos e a perda de carga. Desenhe também as representações das linhas de
energia e piezométrica.

Resposta: Para resolvermos esse exercício é necessário lembrarmos de


alguns conceitos:

• A distância entre a linha de carga ou energia e a linha piezométrica é a altura


da carga cinética dada por V²/2g. Uma vez que a velocidade é a mesma em
ambos os trechos, teremos:

10
TÓPICO 1 | CONCEITOS BÁSICOS

V2 32
= = 0, 46 m
2 g 2 × 9,8

Traçaremos, portanto, a linha de energia a 0,46 m da linha piezométrica.

• A linha piezométrica é dada pela soma de p/y + z e, portanto, será traçado


nesse ponto. Temos z, vamos calcular p/y:

No trecho 1: p/y = 100.000/9.800 = 10,20.


No trecho 2: p/y = 50.000/9.800 = 5,10.

• A perda de carga será, portanto:

p1 V12 p2 V22
+ z1 + = + z2 + + ∆H
γ 2g γ 2g
H 10, 20 + 7 + 0, 46 - (5,10 + 3 + 0, 46)
∆= = 9,10 m

Desenhando, teremos:

FIGURA 4 – DESENHO DAS LINHAS DE ENERGIA A E PIEZOMÉTRICA

0,46 m Linha de carga


9,10 m

Linha piezométrica
10,20 m
0,46 m
3 m/s

5,10 m

7m
3 m/s

3m

FONTE: Adaptado de Houghtalen, Hwang e Akan (2012, p. 34)

Exemplo 6:
A Figura 5 seguinte apresenta um sifão, que apresenta a tubulação
completamente cheia. Ao abrir o ponto C, estabeleceu-se um escoamento do
ponto A para o ponto C. Sabendo que a tubulação apresenta diâmetro de 300 mm
(0,3 m), e que a perda de carga no trecho AB é de 1 m e no trecho BC é de 1,5 m,
calcule a vazão e a carga de pressão no ponto B. Considere g = 9,8 m/s².
11
UNIDADE 1 | CONDUTOS FORÇADOS

FIGURA 5 – ESQUEMA DE UM SIFÃO COM TUBULAÇÃO COMPLETAMENTE CHEIA


B
NA
2m

5m

FONTE: Adaptado de Netto et al. (1998, p. 25)

Resposta: Utilizando a Equação 5 (Teorema de Bernoulli) pode-se calcular


a velocidade no ponto C:

pA VA2 pC V2
+ zA + = + zC + C + ∆H AC
γ 2g γ 2g
V2
0 + 5 + 0 = 0 + 0 + C +1+1,5
2×9,8
2
VC = 2,5 × 2 ×9,8 = 49
Vc = 7 m/s

Note que a pA é igual a zero, pois o ponto A está exposto à atmosfera, e pC


é igual a zero pois há descarga na atmosfera.

Como o diâmetro ao longo do trecho A até C é constante, a velocidade terá


o mesmo valor no ponto B, e assim pode-se calcular a vazão nesse ponto:

π ( 0,3)
2
π D2
Q=
B V=
A V = 7 = 0, 49 m3 / s
4 4

Para determinar a carga de pressão no ponto B, pode-se aplicar novamente


a Equação 5 entre os trechos A-B:

pA VA2 pB V2
+ zA + = + z B + B + ∆H AB
γ 2g γ 2g
p 7²
0 + 0 + 0= B + 2 + +1
γ 19, 6
pB
= -5,5 m
γ

12
TÓPICO 1 | CONCEITOS BÁSICOS

Mas como podemos calcular a perda de carga que elucidamos na equação


da energia? Veremos no próximo subtópico a fórmula universal da perda de
carga, uma das equações empregadas para esse fim.

4 FÓRMULA UNIVERSAL DA PERDA DE CARGA


A fórmula universal de perda de carga nos permite obter a perda de carga
em escoamentos em uma tubulação, também denominada de equação de Darcy-
Weisbach, dada por:

L V2
∆H =f (6)
D 2g

Em que: f é o fator de atrito que é adimensional, L é comprimento, V é a


velocidade e D é o diâmetro da tubulação.

A fórmula universal é válida aos problemas de escoamentos de qualquer


líquido, incluindo água, óleos, gasolina, entre outros, em tubulações.

Exemplo 7:
Água escoa a uma vazão de 0,1 m³/s por uma tubulação de PVC com
diâmetro de 0,5 m e comprimento de 1000 m. Calcule o fator de atrito, sabendo
que a perda de carga no sistema é de 20 m.

Resposta: Utilizaremos a fórmula universal da perda de carga para resolvermos


esse exemplo. Entretanto, primeiramente precisamos calcular a velocidade de
escoamento da água na tubulação, utilizando a equação da continuidade:

Q= V ⋅ A
Q Q 4 Q 4 × 0,1
V= = = = = 0,51 m / s
A πD 2
π D ² π 0,5²
4

Rearranjando a Equação 6, podemos calcular o fator de atrito, dado por:

L V2
∆H =f
D 2g
∆H D 2 g 20 × 0,5 × 2 × 9,8
=f = = 0, 75
LV ² 1000 × 0,51²

13
UNIDADE 1 | CONDUTOS FORÇADOS

TUROS
ESTUDOS FU

Caro acadêmico, veremos melhor a aplicação da fórmula universal no Tópico


2 desta unidade.

Vamos entender um pouco sobre a velocidade de atrito, como podemos


calculá-la e relacioná-la à fórmula universal da perda de carga?

5 VELOCIDADE DE ATRITO
Se um fluido real, incompressível, escoa através de uma tubulação que
apresenta diâmetro constante em regime permanente, considerando equilíbrio
dinâmico, tem-se na direção do eixo x:

= - p2 A -σ o P L -W senθ 0
∑ Fx p1 A = (7)

Em que: Fx é a força atuante no escoamento, A é a área da seção ocupada


pelo fluido, τo é a tensão média de cisalhamento, P é perímetro da seção em
contato com o fluido, e W é o peso do fluido.

NOTA

Note pela Equação 7 que as forças atuantes em um fluido em escoamento


são as forças de pressão, gravidade e cisalhamento que ocorrem devido ao atrito com a
parede da tubulação.

z2 - z1
Assim, sabendo que senθ = e W = γ.A.L, a Equação 7 torna-se:
L

 p1   p2  σo P
 + z1  -  + z2  = L (8)
γ   γ  γ A

14
TÓPICO 1 | CONCEITOS BÁSICOS

Como o regime é permanente e uniforme, a carga cinética em qualquer


seção será constante, podendo, portanto, calcular-se a perda de carga (ΔH) pela
diferença entre as cotas piezométricas. Sabendo que a relação entre a área A e o
perímetro P consiste no Raio Hidráulico (Rh), tem-se que:

σ L
∆H =o (9)
γ Rh

Vale ressaltar que a relação entre a perda de carga (ΔH) e o comprimento


do trecho L consiste na perda de carga unitária (J = ΔH/L) e, assim, podemos
reescrever a Equação 9, obtendo uma equação para a tensão de cisalhamento:

σ o = γ Rh J (10)

E
IMPORTANT

Em situações práticas, como transporte de sedimentos e projetos de seções


estáveis em canais, a Equação 10 pode ser aplicada tanto em condutos forçados quanto
em condutos livres, desde que estejam em escoamento uniforme.

Considerando que em escoamento forçado para uma seção circular de


diâmetro D, o raio hidráulico é dado por D/4, uma vez que a área ocupada pelo
escoamento é dada pela área da seção, a perda de carga pode ser obtida por:

4σ L
∆H = o (11)
γ D

Ao comparar a Equação 11 com a fórmula universal da perda de carga


(Equação 6), obtém-se que a tensão média de cisalhamento pode ser dada por:

4σ o L L V2
∆H
= = f
γ D D 2g
(12)
ρ f V2
σo =
8

Em que: ρ é a massa específica do fluido, f é o fator de atrito e V é a


velocidade.

15
UNIDADE 1 | CONDUTOS FORÇADOS

Reescrevendo a Equação 11, podemos definir a velocidade de atrito ou


velocidade de cisalhamento ( µ* = σ o / ρ ):

σo f
=V (13)
ρ 8

NOTA

Perceba que somente a tensão de cisalhamento e a massa específica do fluido


englobam a velocidade de atrito, e o cálculo desta não depende do regime de escoamento
ou da rugosidade da parede da tubulação.

Exemplo 8:
Calcule a perda de carga, a tensão de cisalhamento, o fator de atrito e
a velocidade de atrito quando a água escoa em regime permanente por uma
tubulação de 0,20 m de diâmetro, por uma extensão de 200 m, de um ponto A na
cota topográfica de 100 m, cuja pressão interna é de 250.000 N/m², para um ponto
B na cota topográfica de 80 m e pressão interna de 300.000 N/m². Considere uma
velocidade de 2m/s, aceleração da gravidade de 9,8 m/s², densidade da água de
1000 kg/m³ e peso específico da água de 9.800 N/m³.

Resposta: Utilizaremos a Equação 5 para obtermos a perda de carga no


escoamento. Como o diâmetro da tubulação é constante e o regime é permanente,
a carga cinética não se modificará, e a perda de carga pode ser calculada por meio
da diferença entre as cotas piezométricas dos pontos A e B:

p  p   250.000   300.000 
∆H =  1 + z1  -  2 + z2 =  +100  -  + 80 = 125,51-110, 61= 14,9 m
γ   γ   9.800   9.800 

A tensão de cisalhamento pode ser calculada por meio da Equação 10:

∆H γ D 14,9 × 9.800 × 0, 2
=σo = = 36,51 N / m²
4.L 4 × 200

O fator de atrito pode ser obtido por meio da Equação 12:

16
TÓPICO 1 | CONCEITOS BÁSICOS

ρ f V2
σo =
8
8σ o 8 × 36,51
=f = = 0, 073
ρV ² 1000 × 2²

Por fim, pode-se calcular a velocidade de atrito:

τ 36,51
µ*
= =o
= 0,19 m / s
ρ 1000

6 POTÊNCIA HIDRÁULICA PARA BOMBAS E TURBINAS


“Bombas e turbinas são máquinas hidráulicas que apresentam a função
de extrair ou fornecer energia ao escoamento”, respectivamente (PORTO, 2006, p.
17). Enquanto as bombas transformam a energia mecânica em energia hidráulica,
conferindo um acréscimo de energia ao fluido, as turbinas transformam a energia
hidráulica do escoamento em energia mecânica, podendo utilizar essa forma de
energia para realização de trabalho.

A potência hidráulica nessas máquinas pode ser calculada utilizando as
seguintes equações 14 e 15:

γ QH
Bombas: P = (14)
η
Turbinas: P =η γ Q H u (15)

Em que: η é o rendimento da transformação, Q é a vazão através da máquina,


H é a altura total de elevação da bomba, calculado pela diferença entre as cargas
da saída (Hs) e da entrada (He), dada por H = Hs - He, e Hu é a queda útil da turbina,
calculada pela subtração entre a cargas de entrada e de saída (Hu = He – Hs).

ATENCAO

As cargas nas seções de entrada e saída são dadas por H = ρ/γ + z + V²/2g.

17
UNIDADE 1 | CONDUTOS FORÇADOS

Se houver uma bomba ou turbina instalada entre dois reservatórios


abertos para a atmosfera, ou seja, a carga de pressão será nula e a carga cinética
também, será possível calcular H e Hu por meio das Equações 16 e 17. A Figura 6
apresenta o traçado das linhas de energia nessas condições:

Bombas:
= H Z j - Z m + ∆H j +=
∆H m Z j - Z m + ∆H (16)
Turbinas:=
H u Z m - Z j - ∆H j - ∆H
= m Z m - Z j - ∆H (17)

Em que: Zj é a cota piezométrica a jusante, Zm é a cota piezométrica a


montante, ΔHj é a perda de carga na tubulação a jusante, ΔHm é a perda de carga
na tubulação a montante.

FIGURA 6 – TURBINA (T) E BOMBA (B) INSTALADAS EM UMA TUBULAÇÃO, COM AS


RESPECTIVAS COTAS PIEZOMÉTRICAS E PERDAS DE CARGA A JUSANTE E A MONTANTE
Zj
Zm ΔHj
ΔHm

Hu
H
Zj
ΔHj

Zm B
T ΔHm

FONTE: Porto (2006, p. 18)

ATENCAO

O cavalo-vapor é a unidade de potência normalmente empregada para


bombas e turbinas e a equivalência entre o quilowatt (kW) e o cavalo-vapor (cv) é dada
por: 1kW = 1,36 cv.

Exemplo 9:
Uma bomba com rendimento de 70% recalca uma vazão de 0,02 m³/s de
um reservatório a montante, cujo nível de água é de 160 m, para um reservatório a
jusante, com nível de água de 180 m, conforme demonstrado na Figura 7. A perda
de carga na tubulação a montante é de 0,52 m e a jusante é de 18 m. Os diâmetros
das tubulações a montante e a jusante são de 0,20 m e 0,15 m, respectivamente.
Calcule a potência fornecida pela bomba. Adote γ = 9800 N/m3.
18
TÓPICO 1 | CONCEITOS BÁSICOS

FIGURA 7 – BOMBA HIDRÁULICA EM UMA TUBULAÇÃO


180
18

160 B
0,52

FONTE: Adaptado de Porto (2006, p. 18)

Resposta: Vamos calcular inicialmente as cargas nas seções de entrada


(He) e saída (Hs) da bomba. Pela Figura 7 percebemos:

H e = Z m - ∆H m = 160 - 0,52 = 159, 48 m


H=s Z j + ∆H=j 180 +1= 8 198 m

Podemos então calcular a altura total da elevação da bomba H:

H = He - Hs = 198 – 159,48 = 38,52 m

Perceba que a Equação 16 também poderia ter sido utilizada para calcular
H e nos levaria ao mesmo resultado:

=H Z j - Z m + ∆H j +=
∆H m 180 -160 + 0,52
= +18 38,52 m

Logo, a potência fornecida pela bomba será calculada utilizando a Equação 14:

γ Q H 9800 × 0, 02 × 38,52
=P = = 10785,
= 6W 10, 79 kW
η 0, 7

19
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A Equação da Continuidade nos mostra que a vazão medida em qualquer


ponto do escoamento do fluido será constante (Q = V A = constante).

• Os tipos de escoamento são definidos quanto: à direção da trajetória (laminar


ou turbulento), à variação no tempo (permanente ou variável), à variação na
trajetória (uniforme ou variado) e à rotação (rotacional ou irrotacional).

• Em um escoamento contínuo e permanente, a carga total de energia, em


qualquer ponto de uma linha corrente é igual à carga total em qualquer ponto
a jusante da mesma linha corrente, mais a perda de carga entre os dois pontos.

• A linha piezométrica (LP) é representada pela soma dos termos p/γ + z e a


linha de carga ou de energia corresponde a H = p/ γ + z + V2/2g.

• A velocidade de atrito é calculada utilizando a tensão de cisalhamento e a


massa específica do fluido (µ∗ = σ o / ρ ).

• A perda de carga pode ser calculada pela fórmula universal, dada por:
L V2
∆H =f
D 2g .

• Bombas e turbinas são máquinas hidráulicas que apresentam a função de


extrair ou fornecer energia ao escoamento, respectivamente.

20
AUTOATIVIDADE

1 A figura representa uma barragem de onde parte uma canalização de 300


mm de diâmetro (Ponto 1). Esse tubo apresenta uma redução de diâmetro
para 150 mm e, desse ponto, a água passa para a atmosfera sob a forma de
jato (Ponto 2). Sabendo que a vazão na tubulação é de 0,1 m³/s e que não há
perda de carga no sistema, calcule a pressão na seção inicial da tubulação
de 300 mm [p1/γ =1,57 m].

FIGURA – ESQUEMA DA TUBULAÇÃO EM UMA PEQUENA BARRAGEM

Jato

1 300 mm 150 mm

Q = 0,1 m3/s 2

FONTE: Adaptado de Netto et al. (1998)

2 Água é bombeada a uma vazão de 0,20 m³/s através de uma tubulação de


0,3 m de diâmetro, a partir de um reservatório aberto, cujo nível de água é
constante e se encontra na cota de 570 m. Em um ponto mais alto, na cota de
590 m, passa uma tubulação com pressão disponível de 150 kN/m² e perda
de carga de 8 m. Sabendo que a bomba apresenta rendimento de 75%, calcule
a potência da bomba. Adote γ = 9,8 kN/m³. [Pot = 114,22 kW].

3 Água escoa em uma tubulação horizontal de 120 mm de diâmetro, com


uma tensão de cisalhamento sobre a parede de 20 N/m². Determine a perda
de carga na tubulação e a velocidade de atrito, sabendo que a tubulação
apresenta comprimento de 100 m. Adote a densidade da água como sendo
1000 kg/m³. [ ∆H =6,80 m ; µ = 0,141 m / s ].

4 Água escoa por uma turbina (Figura) a uma vazão de 0,2 m³/s de um ponto
A a um ponto B distantes 1 m. O diâmetro no ponto A é de 250 mm, e a
pressão é de 150 kN/m² e no ponto B o diâmetro é de 500 mm e a pressão é
de 35 kN/m². Calcule a potência da turbina, se não houver perdas de carga
no sistema, e o rendimento for de 75%. Adote γ = 9,8 kN/m³. [Pot = 20 kW].

21
FIGURA – ESQUEMA DE UMA TURBINA COM ÁGUA ESCOANDO PELAS TUBULAÇÕES
250 mm

Turbina
1.00 m

500 mm
B

FONTE: Adaptado de Giles, Evett e Lui (2014)

22
UNIDADE 1
TÓPICO 2

ESCOAMENTO UNIFORME EM TUBULAÇÕES

1 INTRODUÇÃO
Quando abordamos situações práticas da Hidráulica em Engenharia,
na maioria das vezes falamos sobre a utilização de tubos. Mas afinal, o que são
tubos? Tubos são condutos com a função de transportar fluidos e, normalmente,
apresentam seção transversal circular. Temos como exemplo os tubos de ferro
fundido, PVC, concreto e polietileno. Quando temos um trecho de um aqueduto
pronto e acabado, ou seja, constituído de vários tubos, teremos uma tubulação
(NETTO et al., 1998). A tubulação é projetada com a finalidade de transportar
água de uma localização para outra.

Como já falamos anteriormente, trataremos nesta unidade de tubos


funcionando com a seção cheia, denominados condutos forçados. Nesse caso,
a pressão do fluido em escoamento será diferente da pressão atmosférica, a
canalização será sempre fechada e o conduto estará sempre cheio. As canalizações
de distribuição de água nas cidades funcionam como condutos forçados, assim
como encanamentos, canalizações ou tubulações sob pressão, canalizações ou
tubulações de recalque e sucção, sifões verdadeiros, sifões invertidos, entre outros.

Vale relembrar que, diferentemente dos condutos forçados, os condutos


livres apresentam pressão igual à atmosférica em qualquer ponto de sua superfície,
tendo como exemplos os rios e canais, coletores de esgotos, na maioria das vezes,
interceptores de esgoto, canaletas, calhas, drenos, pontes, entre outros.

TUROS
ESTUDOS FU

As equações aplicadas a condutos forçados e livres apresentam a mesma forma


geral. Entretanto, trataremos mais amplamente os condutos livres apenas na Unidade 2.

23
UNIDADE 1 | CONDUTOS FORÇADOS

2 TENSÃO TANGENCIAL
No tópico anterior, abordamos o fator de atrito entre o líquido e parede
da tubulação. Você deve ter percebido que o fator de atrito nos remete ao fato
de que parte da energia do escoamento é irreversivelmente convertida em calor.
De forma geral, esse processo de transformação de energia pode ocorrer por três
processos de escoamento (PORTO, 2006, p. 27):

• Escoamento laminar: caracterizado pelo desenvolvimento de


tensões de cisalhamento entre as camadas adjacentes do fluido,
apresentando valores pequenos do número de Reynolds;
• Escoamento turbulento: caracterizado pela geração de um processo
vorticoso turbulento, devido ao contato entre regiões de escoamento
com o líquido em movimento rápido e regiões de movimento estagnado;
• Escoamento transicional: regime instável, sem interesse prático,
resultado da combinação entre os processos laminar e turbulento.

NOTA

Caro acadêmico, o número de Reynolds é um número adimensional


descoberto por Osborne Reynolds durante uma experiência e permite caracterizar os
regimes de escoamento em laminar ou turbulento.

O diferencial de velocidade gerado pelo princípio da aderência entre


partículas adjacentes às fronteiras sólidas se propaga para toda a massa do líquido
em escoamento, criando tensões tangenciais e dissipação da energia por atrito ou
geração de turbulência (PORTO, 2006).

Independentemente de o escoamento ser laminar ou turbulento, a tensão


de cisalhamento varia linearmente com a distância da linha central ao ponto de
interesse (PORTO, 2006). Vamos entender melhor esses dois escoamentos nos
subtópicos 3 e 4 a seguir.

3 ESCOAMENTO LAMINAR
No fluxo laminar predominam os esforços viscosos, e o escoamento se dá
de maneira ordenada, de maneira similar ao encurtamento de um grande número
de tubos concêntricos finos. A velocidade de cada tubo sucessivo aumenta de
maneira gradativa, alcançando uma velocidade máxima próxima ao centro do
tubo, como representado pela Figura 8:

24
TÓPICO 2 | ESCOAMENTO UNIFORME EM TUBULAÇÕES

FIGURA 8 – PERFIL DE VELOCIDADE NO ESCOAMENTO LAMINAR E TURBULENTO

V(R)
Paraboloide em
R revolução (LAMINAR)

vmáx
D
V

Curva logarítmica
em revolução
(TURBULENTO)

FONTE: Adaptado de Houghtalen, Hwang e Akan (2012)

Como podemos observar na Figura 8, o perfil de velocidade no escoamento


laminar assume a forma de um paraboloide de raio R, sendo a velocidade máxima
na linha do centro (vmáx) equivalente a duas vezes a velocidade média (V) (vmáx
= 2 V). Essa velocidade máxima, considerando um tubo circular em escoamento
laminar, pode ser calculada através da equação seguinte:

γ ∆H
vmáx = R² (18)
4µ L

Em que: γ é o peso específico, ΔH é a perda de carga, L é o comprimento


do tubo, µ é a viscosidade dinâmica do líquido.

Comparando a perda de carga da Equação 18 com a fórmula universal,
elencada no Tópico 1, Equação 6, temos que:

8 µ LV 32 µ LV
∆H
= =
γ R² γ D²
L V 2 32 µ LV
∆H f =
=
D 2g γ D²

Sabendo que o número de Reynolds (Re) é dado por:

ρV D V D
=Re = (19)
µ ν

25
UNIDADE 1 | CONDUTOS FORÇADOS

Em que: ρ é a massa específica, V é a velocidade, D é o diâmetro, µ é a


viscosidade dinâmica, e v é viscosidade cinemática (V = µ /ρ).

Temos que:

64 µ 64
=f = (20)
ρ V D Re

NOTA

O experimento de Reynolds encontra-se descrito de maneira mais ampla


na leitura complementar ao final desta unidade e foi obtido após diversas investigações
teóricas e experimentais que culminaram com a conclusão de que para determinar o tipo
de movimento (laminar ou turbulento) em uma tubulação deve-se considerar também a
viscosidade do líquido, não apenas a velocidade.

Na prática, dificilmente observamos a ocorrência do regime laminar, tendo


como exemplo o escoamento de fluidos bastante viscosos (óleos pesados, melaços
e caldas), tubos capilares e escoamento em meios porosos. Podemos destacar aqui
também o escoamento do sangue nos tecidos do organismo, em que se aplica o
escoamento laminar (NETTO et al., 1998).

Exemplo 10:
Uma tubulação de aço nova de 210 mm de diâmetro e 5000 m de extensão
conduz 0,045 m³/s de óleo pesado. Sabendo que a densidade do óleo pesado é de
934 kg/m³ e que sua viscosidade dinâmica é de 0,164 kg/m.s, determine:

a) O regime de escoamento: laminar ou turbulento.


b) O fator de atrito f.
c) A perda de carga do escoamento.

Resposta:
a) Para determinar o regime de escoamento vamos aplicar a fórmula de Reynolds
(Equação 19):

ρV D
Re =
µ

Pela equação anterior, notamos a necessidade de calcular a velocidade do


escoamento dada por:

26
TÓPICO 2 | ESCOAMENTO UNIFORME EM TUBULAÇÕES

Q Q 4 × 0, 045
v
= = =
2
= 1,30 m / s
A D π × 0, 21²
π
4

Substituindo os dados do exercício na Equação 19:

934 ×1,3 × 0, 21
=Re = 1555
0,164

Como Re < 2000, o regime de escoamento é laminar.

b) Como o regime de escoamento é laminar, o fator de atrito pode ser calculado


pela Equação 20:

64 64
f
= = = 0, 04
Re 1555

c) Como o fluido em escoamento é o óleo pesado, vamos utilizar a fórmula


universal da perda de carga (Equação 6), aplicável a qualquer líquido em
escoamento:

L V 2 0,04×5000×1,32
DH = f = = 82m de coluna de óleo
D 2g 0,21×2×9,8

ATENCAO

Cuidado com as unidades: 1 m equivale a 1000 mm.

4 ESCOAMENTO TURBULENTO
No escoamento turbulento, as moléculas se transportam de forma
caótica para camadas adjacentes do fluido, produzindo forças tangenciais de
intensidade muito superior ao escoamento laminar. Devido a isso, não é possível
desenvolver um tratamento analítico comprovado experimentalmente como feito
para o escoamento laminar. O movimento turbulento faz com que as partículas
adjacentes à parede do tubo, mais lentas, se misturem de maneira contínua com as
partículas no meio do tubo, que se encontram em alta velocidade, resultando em
uma aceleração das partículas mais lentas. Vamos voltar à Figura 8, no subtópico
3, para entendermos melhor o fluxo turbulento?
27
UNIDADE 1 | CONDUTOS FORÇADOS

Segundo Porto (2006, p. 30), uma partícula fluida que se encontra em


contato com a parede de um tubo apresenta velocidade nula. Em uma camada
adjacente à parede, uma região denominada subcamada limite laminar é
observada, e a velocidade apresenta uma variação praticamente linear na direção
do escoamento. A partir dessa camada, surge uma pequena zona de transição,
enquanto que nas regiões mais distantes da parede, observa-se o surgimento de
um núcleo turbulento, que ocupa praticamente toda a área central da seção.

Assim, tem-se primeiramente uma camada de escoamento laminar


(camada limite), que aumenta sua espessura até um ponto crítico. O aumento
da espessura da camada limite causa uma diminuição da sua estabilidade,
originando um ponto de transição T, em que se nota o rompimento do equilíbrio
dessa camada (NETTO et al., 1998), como podemos observar na seguinte figura:

FIGURA 9 – ESCOAMENTO DE UM FLUIDO ATRAVÉS DE UMA CHAPA


Camada limite

Turbulência
T
δ
Filme Laminar
0

FONTE: Adaptado de Netto et al. (1998)

Vale salientar que a partir do ponto crítico, a espessura da camada


laminar torna-se δ, e mantém-se aproximadamente constante, sendo denominada
subcamada laminar ou filme laminar. “A partir do ponto de transição T, inicia-se
a camada turbulenta, em que se observa um rápido aumento de sua espessura”
(NETTO et al., 1998, p. 162).

A espessura da subcamada limite δ, de acordo com a teoria da camada


limite é dada por:

11, 6ν
δ= (21)
µ*

Em que: µ* é a velocidade de atrito e V é viscosidade cinemática do líquido.

28
TÓPICO 2 | ESCOAMENTO UNIFORME EM TUBULAÇÕES

E
IMPORTANT

Pela teoria da aderência, um fluido em escoamento sobre uma superfície sólida,


quando imediatamente em contato com a parede do sólido, adere a ela. Se a viscosidade
do fluido for baixa, haverá um amento da velocidade, de zero para o valor adquirido no
escoamento externo, em uma região estreita, em que a atuação da força de atrito é de
extrema importância, já que possibilita o completo repouso do fluido na parede do sólido.
E essa região estreita é o que chamamos de camada limite (FREIRE, 1990).

Por fim, é possível definir três regimes de escoamento turbulento de


acordo com a rugosidade absoluta da parede da tubulação (ε):
µ ε
• Escoamento turbulento hidraulicamente liso: ν < 5 .
*

µ ε
• Escoamento turbulento hidraulicamente rugoso: * > 70.
ν µ ε
• Escoamento turbulento hidraulicamente misto ou de transição: 5 ≤ * ≤ 70 .
ν

Em que: µ*ε / ν é o número de Reynolds de rugosidade.

ATENCAO

No escoamento de fluidos em tubulações observa-se sempre a presença de


uma camada laminar, independentemente de o regime ser laminar ou turbulento.

Estudaremos no próximo subtópico a Lei da Distribuição Universal de


Velocidade para escoamentos turbulentos, desenvolvida por meio das hipóteses
propostas por Prandtl.

5 DISTRIBUIÇÃO DE VELOCIDADE
Prandtl formulou três hipóteses para determinação dos perfis de
velocidade em escoamentos turbulentos que são, segundo Porto (2006, p. 34):

• O esforço cortante na região do núcleo turbulento é igual ao que se


desenvolve na parede da tubulação;
• O esforço cortante predominante é o turbulento;
• Há uma variação linear entre o comprimento da mistura (l) e a
distância da parede (y), denominada constante de von Kárman (k),
que é dada por l = k y.

29
UNIDADE 1 | CONDUTOS FORÇADOS

NOTA

Vamos relembrar o que é o esforço cortante? É a resultante de forças que


atuam na seção transversal de corte de uma tubulação, ou seja, perpendicularmente ao
eixo da tubulação, provocando tensões de cisalhamento.

Como resultado dessas hipóteses, tem-se a Lei Universal da Distribuição


de Velocidade, válida para tubos lisos e rugosos, dada por:

vmáx -V 1 R
= ln (22)
µ* κ y

Visto que a constante K é usualmente assumida como 0,40, temos que:

vmáx -V R
= 2,5ln (23)
µ* y

Em que: vmáx é a velocidade máxima, V é a velocidade média, µ* é a


velocidade de atrito, R é o raio tubulação, e y é a distância à parede do tubo.

6 EXPERIÊNCIA DE NIKURASE
De acordo com os experimentos feitos por Nikurase, em 1993, pode-se
definir cinco regiões que se relacionam com o número de Reynolds (PORTO,
2006; NETTO et al., 1998):

• Região I (Re < 2000): escoamento laminar, o fator de atrito não depende da
rugosidade e é dado por f = 64/Re.
• Região II (2000 < Re < 4000): região de transição, em que não é possível
caracterizar o valor do fator de atrito.
• Região III: região dos tubos hidraulicamente lisos, e o fator de atrito depende
apenas do número de Reynolds.
• Região IV: região de transição entre o escoamento turbulento hidraulicamente
liso e rugoso, e o fator de atrito torna-se dependente tanto do número de
Reynolds quanto da rugosidade relativa.
Região V: região dos tubos hidraulicamente rugosos, o fator de atrito depende
apenas da rugosidade relativa.

30
TÓPICO 2 | ESCOAMENTO UNIFORME EM TUBULAÇÕES

ATENCAO

Caro acadêmico, fique atento, pois as regiões III, IV e V representam o


escoamento turbulento.

Por fim, para Reynolds na faixa de 3000 < Re < 105 é válida a fórmula de
Blasius para tubos lisos, como o PVC:

0,316
f= (24)
Re0,25

Exemplo 11:
Um tubo de PVC apresenta 500 mm de diâmetro e conduz 20 L/s de água.
Sabendo que a viscosidade cinemática da água é de 10-6 m²/s, determine o regime
de escoamento e o fator de atrito na tubulação.

Resposta: Para determinar o regime de escoamento, vamos aplicar a


fórmula de Reynolds (Equação 19):

VD
Re
= =
ν

Pela equação apresentada, notamos a necessidade de calcular a velocidade


do escoamento – lembrando que 20 L/s equivale a 0,02 m³/s – dada por:

Q Q 4 × 0, 02
v
= = =
2
= 0,1 m / s
A D π × 0,5²
π
4

Substituindo os dados do exercício na Equação 19:

0,1× 0,5
Re= −6
= 5 ×104
10

Como Re > 4000, o regime de escoamento é turbulento.

Como o número de Reynolds encontra-se na faixa de 3000 < Re < 105, é


válida a fórmula de Blasius:

31
UNIDADE 1 | CONDUTOS FORÇADOS

0,316 0,316 0,316


=f = = = 0, 02
( )
0,25
Re0,25 5 ×104 14,95

Portanto, o fator de atrito f é igual a 0,02.

Nos subtópicos 7 e 8 aprenderemos a calcular a velocidade média e o fator


de atrito em tubos lisos e rugosos.

7 TUBOS LISOS
Na prática não é observada uma superfície perfeitamente lisa. Por
definição, segundo Netto et al. (1998, p. 163), “considera-se uma superfície
aerodinamicamente lisa quando as asperezas que caracterizam sua rugosidade
não ultrapassam a camada laminar”.

Para determinar a velocidade média (V) em tubos lisos de raio R, em


escoamento turbulento, tem-se a seguinte equação:

V  yµ 
= 2,5ln  *  +1, 75 (25)
µ*  ν 

Em que: µ* é a velocidade de atrito, y é a distância até a parede do tubo, e


V é a viscosidade cinemática do líquido.

Para o cálculo da força de atrito (f), tem-se a seguinte equação válida,


considerando que nessa região observa-se apenas a dependência ao número
de Reynolds:

1
f
( )
= 2, 035log Re f - 0,913 (26)

NOTA

Você percebeu algo de interessante na Equação 25? Pois bem, ela pode ser
representada por uma reta se considerarmos o plano 1/√f versus log (Re √f).

32
TÓPICO 2 | ESCOAMENTO UNIFORME EM TUBULAÇÕES

µ* ε
Resultados experimentais têm demonstrado que para < 5 que
Re f ν
corresponde a < 14,14 , a Equação 25 pode ser melhor descrita como:
D/ε

1
f
( )
= 2 log Re f - 0,8 (27)

Ou:

1  Re f 
= 2 log   (28)
f  2,51
 

8 TUBOS RUGOSOS
Os tubos rugosos apresentam asperezas que se projetam além da camada
laminar, ocupando, portanto, a zona turbulenta. Assim, as superfícies rugosas
provocam uma elevação da camada turbulenta, resultando em uma maior perda
de carga no escoamento.

Utilizando a Equação 23, que representa a lei da distribuição de velocidade,


e acrescentando a rugosidade absoluta da tubulação, ε, tem-se para um tubo de
parede rugosa e escoamento turbulento:

V  y
= 8, 48 + 2,5ln   (29)
µ* ε 

Em que: V é a velocidade média, µ* é a velocidade de atrito, ε é a rugosidade


absoluta, R é o raio da tubulação e y é a distância a parede.

Já o fator de atrito, que é predominantemente influenciado pela rugosidade


da parede da tubulação, pode ser calculado por meio da seguinte equação:

1 R
= 2, 04 log   +1, 67 (30)
f ε 

Entretanto, de acordo com resultados experimentais, essa equação pode


ser ajustada e recebe a denominação de lei de resistência para escoamentos
µ ε Re f
turbulentos, considerando * > 70 que corresponde a <198, adquirindo a
ν D/ε
seguinte forma:

33
UNIDADE 1 | CONDUTOS FORÇADOS

1 D
= 2 log   +1, 74 (31)
f  2ε 

Ou:

1  3, 71 D 
= 2 log   (32)
f  2ε 

NOTA

Observe que a relação entre a rugosidade absoluta ε e o diâmetro do tubo D,


nos fornece a rugosidade relativa (ε/D).

Exemplo 12:
A velocidade em uma tubulação de 0,2 m de diâmetro é de 3 m/s em um
ponto situado a 1 cm da parede. Considerando que a rugosidade absoluta na
tubulação é de 0,8 mm e a viscosidade cinemática da água é de 10-6 m²/s, determine
se o escoamento é hidraulicamente rugoso, o valor da tensão tangencial na parede
da tubulação e o fator de atrito. Qual seria o valor máximo da velocidade de atrito
se o escoamento fosse hidraulicamente liso?

Resposta: Para um escoamento hidraulicamente rugoso é válida a


seguinte relação:

µ* ε
> 70
ν

Em um escoamento rugoso, podemos calcular a velocidade de atrito µ*,


pela Equação 29:

V  y
= 8, 48 + 2,5ln  
µ* ε 
3 1
= 8, 48 + 2,5ln
µ* 0, 08
µ* = 0, 201 m / s

34
TÓPICO 2 | ESCOAMENTO UNIFORME EM TUBULAÇÕES

Podemos então determinar o número de Reynolds de rugosidade


temos que:

µ* ε 0, 201× 0,8 x10-3


= = 160,8 > 70, e portanto, o regime é rugoso.
ν 10-6

O fator de atrito então será:

 3, 71×0, 2 
1  3, 71 D   -3 
= 5,33
= 2=log   2 log  2 ×0,8 x10 
f  2ε 
2
 1 
  = 5,33²
 f 
1
= 28, 40
f
f = 0, 035

A tensão tangencial pode ser calculada considerando que:

σo
µ* =
ρ
σ o = µ*2 ρ = 0, 2012 ∆103 = 40, 4 N / m²

Se o escoamento fosse hidraulicamente liso, a seguinte relação seria válida:

µ* ε
<5
ν

Portanto, o valor máximo da velocidade de atrito seria:

µ* ×0,8 x10-3
<5
10-6
5 ×10−6
µ* < −3
< 6, 25 ×10−3
0,8 ×10

35
UNIDADE 1 | CONDUTOS FORÇADOS

9 TUBOS DE RUGOSIDADE COMERCIAL


Para uma região de transição compreendida entre o regime laminar e
Re f
turbulento, em que 14,14 < <198, Colebrook e White determinaram em 1939,
D/ε
utilizando tubos comerciais, a equação seguinte:

1 ε 2,51
= -2 log( + ) (33)
f 3, 71 D Re f

ATENCAO

A equação de Colebrook-White se reduz a Equação 27 para tubos lisos,


quando a rugosidade relativa (ε/D) tende a zero, e a equação 30, quando o número de
Reynolds (Re) tende ao infinito.

Moody, em 1994, apresentou a Equação 33 em forma de um gráfico em


escala logarítmica, para diversos valores de rugosidade relativa, tendo como eixo
das abscissas o número de Reynols e como eixo das coordenadas o fator de atrito,
como apresentado na Figura 10. Esse diagrama é de grande utilidade para solução
de problemas relacionados a escoamentos em tubo. O fator de atrito é facilmente
determinado a partir do número de Reynolds, tendo-se a rugosidade relativa para
tubulações comerciais que incluem escoamento de qualquer tipo de líquido.

E
IMPORTANT

Percebe-se que na maior parcela dos projetos de condução de água, tendo


como exemplo as redes de distribuição de água, sistemas de bombeamento e irrigação,
e instalações hidráulico sanitárias, as velocidades médias encontram-se, geralmente, em
uma faixa de 0,50 a 3,00 m/s. Tem-se nessas condições, considerando diâmetros variando
de 50 a 800 mm, que os números de Reynolds obtidos encontram-se entre 104 e 3·106.
Utilizando a Figura 10, podemos perceber que na prática, majoritariamente, os regimes
de escoamento enquadram-se como turbulentos de transição. Isso ocorre porque as
rugosidades absolutas utilizadas em tubos comerciais não são altas.

36
TÓPICO 2 | ESCOAMENTO UNIFORME EM TUBULAÇÕES

FIGURA 10 – DIAGRAMA DE MOODY

FONTE: Netto et al. (1998, p. 162)

Quando o número de Reynolds é conhecido e encontra-se na faixa de


5000 < Re < 108 e rugosidade relativa encontra-se no intervalo de 10-6 < ε/D < 10-2,
pode-se utilizar a equação de Swanne-Jain:

1 0, 25
=
f  ε 
 D + 5, 74  (34)
log( ) ²
0,9 
 3, 7 Re 
 

37
UNIDADE 1 | CONDUTOS FORÇADOS

Exemplo 12:
Água a 20 ºC escoa a uma vazão de 200 L/s por uma tubulação de aço rebitado
com diâmetro de 400 mm e comprimento de 500 m. Sabendo que a viscosidade
cinemática da água é de 1,007x10-6 e que o tubo apresenta rugosidade (ε) de 0,004
m, calcule a perda de carga utilizando a fórmula universal da perda de carga.

Resposta: Primeiramente, vamos calcular a velocidade média do


escoamento:

Q Q 4 × 0, 2
v
= = =
2
= 1,59 m / s
A D π × 0, 4²
π
4

Podemos então obter o número de Reynolds:

VD 1,59 × 0, 4
Re
= = = 6,31x105
ν -
1, 007 x10 - 6

Como esperado, o regime de escoamento da água é turbulento. Podemos


então utilizar o diagrama de Moody para encontrarmos o fator de atrito f. Para
isso, precisamos encontrar o valor de ε/D:

ε 0, 004
= = 0, 01
D 0, 4

Vamos ao diagrama de Moody encontrar o fator de atrito? Primeiro,


encontre a curva para o valor de ε/D = 0,01. Vá para o eixo das abscissas e cruze o valor
aproximado de Reynolds (6x105) com a curva de ε/D = 0,01. Pronto, encontramos
o valor do fator de atrito f no eixo das ordenadas, e é aproximadamente 0,039.

Podemos então calcular a perda de carga:

L V 2 0, 039 × 500 ×1,59²


∆H f =
= = 6, 29 m
D 2g 0, 4 × 2 × 9,8

ATENCAO

Cuidado com as unidades: 1 m³/s equivale a 1000 L/s.

38
TÓPICO 2 | ESCOAMENTO UNIFORME EM TUBULAÇÕES

10 FÓRMULAS EMPÍRICAS PARA O ESCOAMENTO


TURBULENTO
Uma das fórmulas mais utilizadas na prática para o cálculo da perda de
carga é a equação de Hazen-Williams. Esse equacionamento pode ser aplicado
em redes de distribuição de água, adutoras, sistemas de recalque, entre outros,
sendo indicada para escoamentos turbulentos de transição em tubulações com
diâmetros iguais ou maiores que 4’’ e, que escoam água como líquido a 20° C
(PORTO, 2006). A equação é dada por:

Q1,85
J =10, 65 (35)
C1,85 D 4,87

Em que: J é a perda de carga unitária (m/m), Q é a vazão (m³/s), D é o


diâmetro (m) e C é o coeficiente de rugosidade dependente da natureza (material
e estado) das paredes da tubulação (m0,367/s).

Os valores do coeficiente C para os materiais mais comuns são apresentados


no quadro seguinte:

QUADRO 1 – VALORES DO COEFICIENTE C

Tubos Coeficiente C
Aço corrugado (chapa ondulada) 60
Aço com juntas lock-bar, em serviço 90
Aço rebitado, tubos novos 110
Aço soldado, tubos novos 130
Aço soldado com revestimento especial 130
Concreto, bom acabamento 130
Ferro fundido, novos 130
Ferro fundido, usados 90
Madeiras em aduelas 120
Aço com juntas lock-bar, tubos novos 130
Aço galvanizado 125
Aço rebitado, em uso 85
Aço soldado, em uso 90
Cobre 130
Concreto, acabamento comum 120
Ferro fundido, após 15-20 anos de uso 100
Ferro fundido revestido com cimento 130
Tubos extrudados, PVC 150
FONTE: Porto (2006, p. 54)

39
UNIDADE 1 | CONDUTOS FORÇADOS

Além disso, para facilitar o uso, pode-se tabelar a Equação 33 (Tabela 1)


para vários diâmetros (D) e coeficientes de rugosidade (C), considerando que a
equação de Hazen-Williams é dada por J = β Q1,85.

TABELA 1 – VALORES DA CONSTANTE B DA EQUAÇÃO DE HAZEN-WILLIAMS

Valores da Constante β para Q (m³/s) e J (m/100m)


D D
C = 90 C = 100 C = 110 C = 120 C = 130 C = 140 C = 150
(pol) (m)
2 0,05 5,593x105 4,602x105 3,855x105 3,285x105 2,832x105 2,470x105 2,174x105
21/2 0,06 2,301x105 1,894x105 1,588x105 1,325x105 1,166x105 1,016x105 8,945x105
3 0,075 7,763x104 6,388x104 5,356x104 4,559x104 3,932x104 3,428x104 3,017x104
4 0,100 1,912x104 1,574 x104 1,319x104 1,123x104 9,686x104 8,445x104 7,433x104
5 0,125 6,451x10 3
5,308x10 3
4,451x10 3
3,789x10 3
3,267x10 3
2,849x10 3
2,507x103
6 0,150 2,655x103 2,185x103 1,831x103 1,559x103 1,345x103 1,172x103 1,032x103
8 0,200 6,540x10² 5,382x10² 4,512x10² 3,841x10² 3,312x10² 2,888x10² 2,542x10²
10 0,250 2,206x10² 1,815x10² 1,522x10² 1,296x10² 1,117x10² 97,417 85,744
12 0,300 90,785 74,407 62,630 53,318 45,980 40,089 35,285
14 0,350 42,853 35,624 29,563 25,168 21,704 18,923 16,656
16 0,400 22,365 18,404 15,429 13,135 11,327 9,876 8,692
18 0,450 12,602 10,370 8,694 7,401 6,383 5,565 4,898
20 0,500 7,544 6,208 5,204 4,431 3,821 3,331 2,932

FONTE: Porto (2006, p. 54)

Exemplo 13:
Determine a perda de carga unitária utilizando a equação de Hazen-
Williams em um conduto circular de ferro fundido novo de 0,2 m de diâmetro,
transportando água a 0,3 m³/s.

Resposta: A equação de Hazen-Williams é dada por:

Q1,85
J = 10,65
C 1,85 D 4,87

Vamos ao Quadro 1 para encontramos o valor do coeficiente C? Podemos


observar que C é dado por 130 em uma tubulação de ferro fundido novo.

Já temos os demais dados: Q = 0,3 m³/s e D = 0,2 m, substituindo na


Equação 35:

40
TÓPICO 2 | ESCOAMENTO UNIFORME EM TUBULAÇÕES

0,31,85
=J 10,
= 65 0,36 m / m
1301,85 0, 24,87

Poderíamos também ter utilizado a equação:

J = β Q1,85

Pela Tabela 1 percebemos para que para C = 130 e diâmetro de 0,2 m,


β = 3,312x10², portanto:

J = 3,31 x 102 · 0,31,85 = 36 (m/100m) = 0,36 m/m

ATENCAO

A fórmula universal da perda de carga que estudamos no Tópico 1 desta


unidade também pode ser considerada uma fórmula empírica empregada em escoamentos
forçados. Volte ao subtópico 4 deste tópico para relembrar.

Ao se tratar de instalações prediais de água fria, é usual a fórmula de Fair-


Whipple-Hsiao, válida para tubulações de pequeno diâmetro:

a) Escoamento de água fria em aço galvanizado novo:

Q1,88
J = 0, 002021 4,88 (36)
D

Em que: Q é a vazão do escoamento (m³/s), D é o diâmetro da tubulação


(m) e J é a perda de carga unitária (m/m)

b) Escoamento de água fria em PVC rígido:

Q1,75
J = 0, 0008695 (37)
D 4,75

Em que: Q é a vazão do escoamento (m³/s), D é o diâmetro da tubulação


(m) e J é a perda de carga unitária (m/m).

As equações 36 e 37 são aplicadas em instalações prediais e podem ser


tabeladas para facilitar seu uso, ficando na forma J = β Qm:
41
UNIDADE 1 | CONDUTOS FORÇADOS

TABELA 2 – VALORES DA CONSTANTE B DA FÓRMULA DE FAIR-WHIPPLE-HSIAO,


PARA Q (L/S) E J (M/M)

Diâmetro de Aço galvanizado P.V.C.


referência (pol) β Soldável Roscável
¾ 1,162 0,41668 0,5746
1 3,044 x 10-1 0,12024 0,1653
1¼ 9,125 x 10-2 0,03919 0,0431
1½ 3,945 x 10 -2
0,01358 0,0241
2 1,034 x 10 -2
0,00561 0,00719
2½ 3,346 x 10 -3
0,00190 0,00201
3 1,429 x 10 -3
0,00104 0,00089
4 0,351 x 10 -3
0,00031 0,00025
FONTE: Porto (2006, p. 57)

Exemplo 14:
Uma tubulação de aço galvanizado de 2 polegadas transporta água em
uma instalação predial a uma vazão de 50 L/s. Determine a perda de carga unitária
atuante nessa tubulação.

Resposta: Vamos utilizar a equação de Fair-Whipple-Hsiao tabelada:

J = β Qm

Para aço galvanizado, m = 1,88 e pela tabela 3, β = 1,034 x 10-2 para diâmetro
de 2 polegadas, portanto:

J = 1,034 x 10-² · 501,88 = 16,16 m/m

DICAS

Existem diversas fórmulas empíricas para o cálculo da perda de carga em


escoamentos forçados. Tratamos aqui apenas das mais utilizadas. Sugerimos a leitura do
Capítulo 8 do livro Manual de Hidráulica para complementação, com a seguinte referência
bibliográfica: NETTO, Azevedo; FERNADEZ, Miguel F.; ARAUJO, Roberto de; ITO, Acácio E.
Manual de Hidráulica. São Paulo: Editora Blücher, 1998, bem como do Capítulo 3 do livro
Engenharia Hidráulica, com a seguinte referência bibliográfica: HOUGHTALEN, Robert
J.; HWANG, Ned H. C.; AKAN, Osman, A. Engenharia Hidráulica. São Paulo: Pearson
Education do Brasil, 2012.

42
TÓPICO 2 | ESCOAMENTO UNIFORME EM TUBULAÇÕES

11 CONDUTOS DE SEÇÃO NÃO CIRCULAR


Para condutos com seção não circular, a distribuição de velocidades não
apresenta simetria e a tensão de cisalhamento tende a ser inferior nos cantos da
seção. Entretanto, para que seja possível a aplicação prática nesses casos, admite-
se que haja uma tensão tangencial média ao longo do perímetro molhado e que
existe um diâmetro equivalente a uma seção circular que apresente a mesma
perda de carga da seção a ser avaliada, denominado diâmetro hidráulico. Esse
diâmetro hidráulico (Dh) corresponde a quatro vezes o raio hidráulico (Rh), e a
fórmula universal da perda de carga pode ser reescrita como:

L V2
∆H =f (38)
DH 2 g

Em que: f é o fator de atrito e pode ser determinado pelo diagrama de


Moody, L é o comprimento do conduto, V é a velocidade média na seção original.

43
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Em condutos forçados, a pressão do fluido em escoamento é diferente da pressão


atmosférica, a tubulação encontra-se sempre fechada e o conduto sempre cheio.
Os exemplos aplicáveis são: canalizações de distribuição de água, encanamentos,
canalizações ou tubulações sob pressão, canalizações ou tubulações de recalque
e sucção, sifões verdadeiros, sifões invertidos, entre outros.

• No fluxo laminar (Re < 2000) predominam os esforços viscosos, e o escoamento


se dá de maneira ordenada, o fator de atrito f independe da rugosidade e é
dado por f =64/Re.

• No fluxo turbulento (Re > 4000) ocorre a geração de um processo vorticoso


turbulento, resultante do contato entre regiões de escoamento com o líquido em
movimento rápido e regiões de movimento estagnado, na camada limite laminar.
µ ε
• No escoamento turbulento em um tubo liso para ν < 5, o fator de atrito depende
*

1
apenas do número de Reynolds e é dado por: f
( )
= 2 log Re f - 0,8.

µ ε
• No escoamento turbulento em tubo rugoso para ν > 70, o fator de atrito
*

1 D
depende apenas da rugosidade relativa e é dado por:
=
f
2 log   +1, 74
 2ε  .

• Para tubos comerciais, em uma região de transição entre o regime laminar e


µ* ε 1  ε 2,51 
turbulento, com 5 ≤ ν ≤ 70, é válida a equação: f  3, 71 D Re f . O diagrama de
= -2 log 

+

Moody pode ser empregado para determinar o valor do fator de atrito f, tendo-
se o número de Reynolds e a rugosidade relativa.

• As fórmulas empíricas mais comumente empregadas em condutos forçados


são a fórmula Universal da Perda de Carga e a fórmula de Hazen-Williams.

• Em condutos de seção não circular é válida a fórmula universal da perda de


carga, entretanto, é necessário considerar um diâmetro hidráulico similar a
uma seção circular.

44
AUTOATIVIDADE

1 O sistema de abastecimento de São Lourenço retira água da Represa de


Cachoeira de França, localizada no limite entre Jequitiba e Ibiúna, e envia
para a Estação de Tratamento de Vargem Grande Paulista, abastecendo
dois milhões de pessoas na Grande São Paulo em oito municípios: Barueri,
Carapicuíba, Cotia, Itapevi, Osasco, Jandira, Santana de Parnaíba e Vargem
Grande Paulista (G1, 2018). Considere que para a adução de água da Represa
de Cachoeira de França construiu-se diversas linhas paralelas, constituídas
de ferro fundido com 1,5 m de diâmetro nominal e 6000 m de comprimento
em cada linha. Cada linha terá capacidade para conduzir 400 L/s sob
bombeamento e as cotas dos níveis de água na retirada e na chegada da
estação de tratamento são aproximadamente iguais. Calcule as perdas de
carga no início da operação (C = 130), após 10 anos de operação (C = 113) e
após 30 anos de operação (C = 91) utilizando a fórmula de Hazzen-Williams.

2 Uma tubulação de ferro com 30 cm de diâmetro e 1000 m de comprimento


conduz 800 m³/dia de óleo combustível. Determine o regime de escoamento
do óleo combustível (turbulento ou laminar) e calcule a perda de carga no
sistema. Adote uma viscosidade cinemática de 0,00008 m²/s.

45
46
UNIDADE 1
TÓPICO 3

PERDAS DE CARGA LOCALIZADA

1 INTRODUÇÃO
A presença de acessórios nas tubulações de transporte de água sob
pressão, como válvulas, curvas, derivações, registros, conexões e bombas, acarreta
alteração da velocidade média em módulo e direção, e, portanto, localmente,
alteram a perda de carga. A essas perdas dá-se o nome de perdas de carga
localizadas ou singulares, uma vez que decorrem especificamente de pontos ou
partes bem determinadas da tubulação (NETTO et al., 1998).

A avaliação das perdas localizadas depende de diversos fatores, o que


dificulta sua quantificação e torna este campo experimental. Portanto, na maioria
dos acessórios ou conexões empregadas em instalações hidráulicas, não há
um tratamento analítico para o cálculo da perda de carga. A influência que os
acessórios exercem na linha de energia ocorre a montante e a jusante da sua
localização, e provoca uma alteração uniforme no escoamento (PORTO, 2006).

Vale salientar que as perdas de carga localizadas podem ser desprezíveis em


tubulações longas, em situações em que o comprimento exceda 4000 vezes o diâmetro,
bem como em canalizações que apresentam baixa velocidade e baixo número de
peças especiais. Portanto, nos cálculos das linhas adutoras e redes de distribuição, por
exemplo, as perdas de carga podem não ser levadas em consideração, dependendo
das condições estabelecidas (NETTO et al., 1998). A influência secundária das perdas
de carga localizadas pode ser adotada quando a linha de tubulações apresentar
comprimento retilíneo entre os acessórios igual a 1000 vezes o diâmetro. Em geral,
em sistemas hidráulicos em que as perdas localizadas constituem menos que 5% das
perdas distribuídas, estas podem ser desprezadas (PORTO, 2006).

Por fim, em se tratando de instalações hidráulico-sanitárias prediais e


industriais, escoamentos de recalque e condutos forçados de usinas hidrelétricas,
em que se observa além de canalizações curtas, a presença de um alto número de
acessórios, as perdas localizadas são preponderantes e não podem ser desprezadas
sem prejuízo aos cálculos.

Vamos aprender a calcular as perdas localizadas?

47
UNIDADE 1 | CONDUTOS FORÇADOS

2 EQUAÇÃO DAS PERDAS LOCALIZADAS


As perdas de carga localizadas podem ser calculadas, de modo geral, pela
equação seguinte:

V2
∆h =K (39)
2g

Em que: K é um coeficiente adimensional, que pode ser obtido


experimentalmente para cada caso de aplicação, dependente do número de Reynolds,
da rugosidade da parede, da geometria da conexão e das condições de escoamento,
V é a velocidade de escoamento na tubulação e g é a aceleração da gravidade.

Veremos nos próximos itens valores práticos do coeficiente K, e aplicações
da equação das perdas localizadas.

3 COEFICIENTE K
Para valores do número de Reynolds elevados (Re > 105), desde que o
escoamento seja turbulento, o coeficiente K torna-se independente desse número,
e pode-se então assumir, na prática, um valor constante para cada peça, sendo
entendidos como valores médios, já que sua determinação experimental é
dependente de diversos outros fatores (PORTO, 2006).

O quadro seguinte apresenta valores do coeficiente K para diversos


acessórios:

QUADRO 2 – VALORES DO COEFICIENTE K PARA ACESSÓRIOS

Acessório K Acessório K
Cotovelo de 90° raio curto 0,9 Válvula de gaveta aberta 0,2
Cotovelo de 90° raio longo 0,6 Válvula de ângulo aberta 5
Cotovelo de 45° 0,4 Válvula de globo aberta 10
Curva 90° 0,4 Válvula de pé com crivo 10
Curva de 45° 0,2 Válvula de retenção 3
Tê, passagem direta 0,9 Curva de retorno 2,2
Tê, saída lateral 2,0 Válvula de boia 6
FONTE: Porto (2006, p. 77)

48
TÓPICO 3 | PERDAS DE CARGA LOCALIZADA

Veremos a seguir os valores do coeficiente K para algumas singulares:

a) Alargamentos e estreitamentos

Pode-se alterar o diâmetro de uma linha de tubulações por alargamento


(aumento) ou estreitamento (diminuição) da seção transversal, de forma brusca
ou gradual.

Se houver um alargamento brusco, a perda localizada será causada


pela desaceleração que o fluido sofre no trecho mais curto da tubulação, como
demonstrado pela Figura 11:

FIGURA 11 – ALARGAMENTO BRUSCO DA SEÇÃO

Δh I.F.
2
V1 /2g 2
V2 /2g
I.P.

v1 v2 x

A
1 2
FONTE: Porto (2006, p. 71)

Nota-se pela Figura 11, que as partículas de velocidade mais rápida (v1)
no trecho menor se chocam com as partículas mais lentas no trecho maior, com
velocidade v2, originando um anel de turbilhões no início da seção alargada.
Experimentalmente, constata-se que a pressão na área AB é aproximadamente
igual à pressão na seção 1, e com isso pode-se determinar a perda localizada
partindo-se do teorema de Bernoulli e considerando a variação da quantidade de
movimento, resultando na equação de Borda-Carnot seguinte:

2
 V 2 -V22  V12   A1   V12
∆h =  1 = 1-    = K ⋅ (40)
 2 g  2 g   A2   2g

Em que: Δh é a perda localizada, v1 é a velocidade na seção de área A1, v2 é


a velocidade na seção de área A2, g é a aceleração da gravidade, e K é o coeficiente
adimensional de perda de carga localizada.

49
UNIDADE 1 | CONDUTOS FORÇADOS

NOTA

Caro acadêmico, você percebeu pela Figura 11. que há uma recuperação da
pressão na seção 2 e uma elevação da linha piezométrica no sentido do escoamento? Isso
ocorre porque há uma diminuição da carga cinética na seção 2, sendo válida a seguinte
2 2
situação: V1 > ∆h + V2 .
2g 2g

Se houver, em contrapartida, uma contração brusca, o fluido se afastará


da fronteira sólida, adquirindo uma forma de contração do jato e, então, se
expandindo de forma a preencher totalmente a seção de menor diâmetro
localizada a jusante (PORTO, 2006), como se pode observar pela Figura 12:

FIGURA 12 – CONTRAÇÃO BRUSCA DA SEÇÃO

1
V1 /2g
Δh

1
V2 /2g L.E.

L.P.
V1 V2

1 0 2
FONTE: Porto (2006, p. 73)

Assim, no caso de uma redução brusca de diâmetro, de uma seção de área


A1 para uma seção de área A2, a perda localizada (Δh) dependerá da velocidade
no trecho de menor diâmetro (v2), sendo válida a seguinte equação:

V22
∆h = K ⋅ (41)
2g

A Tabela 3 apresenta os valores do coeficiente K em reduções bruscas


de diâmetro:

50
TÓPICO 3 | PERDAS DE CARGA LOCALIZADA

TABELA 3 – VALORES DO COEFICIENTE K EM CONTRAÇÕES BRUSCAS

A2/ 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0
A1
K 0,5 0,46 0,41 0,36 0,3 0,24 0,18 0,12 0,06 0,02 0,0
FONTE: Porto (2006, p. 73)

ATENCAO

A relação A2/ A1 se aproxima de zero em casos de transição de um reservatório


para uma tubulação, demonstrando que a área a montante é significantemente maior que
a área a jusante.

No caso de um alargamento gradual de seção nota-se, experimentalmente,


que os valores de K são dependentes da geometria da peça, e, portanto, da relação
entre os diâmetros inicial e final e do comprimento da peça, sendo válida a
seguinte relação para peças usuais:

(V - V )
2

∆h =K 1 2 (42)
2g

Exemplo 15:
Água escoa a 0,5 m³/s por uma tubulação de PVC de diâmetro D1 igual
a 300 mm, em que sofre um alargamento e passa a apresentar um diâmetro D2
igual a 500 mm. Calcule a perda de carga localizada, adotando que o valor do
coeficiente K é de 0,5. Se essa perda de carga fosse mantida, porém houvesse
um estreitamento para um diâmetro de 250 mm, o valor do coeficiente K seria
alterado? Explique.

Resposta: Utilizando a Equação 40 podemos resolver facilmente a primeira


questão proposta no exemplo:

V12
∆h = K ⋅
2g

Entretanto, notamos a necessidade de calcular a velocidade V1 dada por:

51
UNIDADE 1 | CONDUTOS FORÇADOS

Q Q 4 × 0,5
V=
1 = =
2
= 2,5 m / s
A D1 π × 0,5²
π⋅
4

Substituindo na Equação 40:

0,5 × 2,5²
=∆h = 0,16 m
2 × 9,8

Se houvesse um estreitamento, a Equação 41 seria válida e a velocidade


seria alterada:

Q Q 4 × 0,5
V=
2 = =
2
= 10,19 m / s
A D1 π × 0, 25²
π⋅
4

Portanto, K seria dado por:

V22
∆h = K ⋅
2g
0,16 × 2 × 9,8
=K = 0, 03
10,19²

Ou seja, o valor de K alterou-se com a ocorrência do estreitamento. Isso é


observado, pois esse coeficiente adimensional é dependente de diversos fatores,
que incluem o número de Reynolds, a rugosidade da parede, a geometria da
conexão, as condições de escoamento, entre outras.

b) Cotovelos e curvas

Os cotovelos e curvas são amplamente empregados nas instalações


de transporte de água, e a perda de carga localizada, nesse caso, é gerada pela
mudança de direção causada no escoamento. Segundo Porto (2006, p. 75):

Pelo movimento da inércia, os filetes tendem a conservar seu


movimento retilíneo e são impedidos pela fronteira sólida da conexão.
Esta mudança de direção provoca uma modificação substancial no
perfil de velocidade e, consequentemente, na distribuição da pressão,
de modo que ocorre um aumento de pressão na parte externa da curva
com diminuição da velocidade, e o inverso na parte interna da curva,
o que gera um movimento espiralado das partículas, que persiste por
uma considerável distância a jusante da curva.

52
TÓPICO 3 | PERDAS DE CARGA LOCALIZADA

Vale salientar aqui que a perda de carga localizada, nesses casos, é


dependente de diversos fatores, dentre eles: o número de Reynolds, a rugosidade
da parede, a relação entre o raio da curvatura médio (r) e o diâmetro (D), e do
ângulo da curvatura (α). Entretanto, há uma certa disparidade de resultados
experimentais para o valor do coeficiente K.

Há, em contrapartida, duas relações válidas, dependente do ângulo α em
graus, dada pelas Equações 43 e 44:

 r   α
-3,5

=K 0,13 + 0,16    (43)


  D   180°
K = 67, 6 ×10-6 × α 2,17 (44)

Exemplo 16:
Calcule o coeficiente de perda de carga localizada K para um cotovelo que
apresenta um ângulo de curvatura de 45°:

K = 67,6 x 10-6 x α2,17 = 67,6 x 10-6 x 452,17 = 0,26

c) Registro de Gaveta

As válvulas são equipamentos utilizados para regular a vazão transportada


em tubulações ou promover o fechamento total destas, podendo ser de diversos tipos,
tamanho e geometrias (PORTO, 2006), tendo com exemplos: válvula de borboleta,
registro de gaveta, registro de globo, dentre outros (Figura 13). Estas produzem uma
perda de carga localizada substancial apenas quando parcialmente fechadas. Se estão
totalmente abertas não são constatadas alterações significativas no escoamento.

FIGURA 13 – VÁLVULAS HIDRÁULICAS COMUNS ABERTAS OU FECHADAS E OS VALORES DO


COEFICIENTE DE PERDA LOCALIZADA PARA VÁLVULAS (KV) QUANDO TOTALMENTE ABERTAS

A. Válvulas de gaveta

Fechada

Kv = 0,15 (totalmente aberta)

Aberta

53
UNIDADE 1 | CONDUTOS FORÇADOS

B. Válvulas globo

Fechada

Kv = 10,0 (totalmente aberta)

Aberta

C. Válvulas de retenção

Fechada
Dobradiça (antirretorno) Antirretorno: K = 2,5 (totalmente aberta)
v

Esfera: Kv = 70,0 (totalmente aberta)


Elevação: Kv = 12,0 (totalmente aberta)
Aberta

D. Válvulas rotativas

Fechada

Kv = 10,0 (totalmente aberta)

Aberta

FONTE: Houghtalen, Hwang e Akan (2012, p. 47)

O registro de gaveta apresenta ampla aplicação em tubulações e pode ser


representado pela Figura 14:

FIGURA 14 – ESQUEMA DE UM REGISTRO DE GAVETA

Q a D

FONTE: Porto (2006, p. 76)

Assim, no registro de gaveta, o coeficiente K é dependente do grau de


fechamento da válvula (a) e do diâmetro D, já que o fechamento é realizado por
uma lâmina vertical, como observado na Figura 14, e assim tem-se a seguinte tabela:

54
TÓPICO 3 | PERDAS DE CARGA LOCALIZADA

TABELA 4 – VALORES DO COEFICIENTE K PARA REGISTRO


DE GAVETA PARCIALMENTE FECHADO

a/ D 0 1/4 3/8 1/2 5/8 3/4 7/8


K 0,15 0,26 0,81 2,06 5,52 17,0 97,8
FONTE: Porto (2006, p. 76)

ATENCAO

Caro acadêmico, fique atento à Tabela 4 e veja como o coeficiente de perda


de carga é elevado rapidamente com o grau de fechamento da válvula.

Por fim, a perda localizada em um registro de gaveta pode ser calculada


pela Equação 39. Vamos voltar ao subtópico 2 deste tópico para rever essa equação?

Exemplo 17:
Um registro de gaveta é instalado em uma casa para controlar o fluxo de
água da caixa d’água para toda a casa. O que acontecerá com a perda de carga se
elevarmos o grau de fechamento desse registro?

Resposta: Quando parcialmente fechados, os registros de gaveta causam


uma interferência considerável no escoamento. À medida que se aumenta o grau de
fechamento de uma válvula, o valor do coeficiente K é elevado. Como o coeficiente
K é diretamente proporcional à perda de carga, haverá, consequentemente, uma
elevação da perda de carga nesse sistema.

d) Válvula de borboleta

As válvulas de borboleta, que são instrumentos usados para controlar a


vazão em instalações hidráulicas, apresentam coeficientes K dependentes do ângulo
de abertura α, conforme Figura 15, e seus valores são apresentados na Tabela 5.

FIGURA 15 – ESQUEMA DE UMA VÁLVULA DE BORBOLETA

α
Q
D

FONTE: Porto (2006, p. 76)

55
UNIDADE 1 | CONDUTOS FORÇADOS

TABELA 5 – VALORES DO COEFICIENTE K EM VÁLVULAS DE BORBOLETA

α° 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
K 0,15 0,24 0,52 0,90 1,54 2,51 3,91 6,22 10,8 18,7 32,6
FONTE: Porto (2006, p. 73)

Exemplo 18:
Uma válvula de borboleta encontra-se instalada em uma tubulação por
onde escoa água a 2 m/s. Determinar a perda de carga localizada se a válvula de
borboleta apresenta ângulo de abertura α de 50 °C.

Resposta: Utilizando a Equação 39 e a Tabela 5 podemos facilmente


resolver esse problema.

V2
∆h =K
2g

Pela Tabela 5, K = 32,6:

22
=∆h 32,=
6 6, 65 m
2 × 9,8

e) Saída e entrada de reservatórios

A perda de carga localizada na saída de reservatórios, tanques, caixas,


entre outros é dependente do tipo de entrada empregado na canalização. Assim,
na situação mais comum, em que a canalização constituiu um ângulo de 90º
com as paredes ou o fundo do reservatório, o valor do coeficiente K pode ser
considerado igual a 0,5 (NETTO et al., 1998).

Na entrada de reservatórios, ou seja, o ponto de descarga das tubulações,


duas situações são observadas (NETTO et al., 1998):

• Descarga ao ar livre: K apresenta valor igual a 1.


• Tubulação entrando em um reservatório, caixa ou tanque: K encontra-se no
intervalo de 0,9 e 1.

Exemplo 19:
Uma tubulação descarrega água em uma caixa d’água de uma casa a
uma velocidade de 4 m/s. Escolha um valor de K que considere adequado a essa
situação e determine a perda de carga localizada na entrada da caixa d’água.

56
TÓPICO 3 | PERDAS DE CARGA LOCALIZADA

Resposta: Como o exemplo sugere uma tubulação entrando em uma caixa,


o valor de K se encontrará no intervalo de 0,9 e 1. Você pode escolher qualquer
valor neste intervalo, nós adotaremos um valor médio de 0,95.

Utilizando a Equação 39:

V2
∆h =K
2g
42
=∆h 0,95
= 0, 77 m
2 × 9,8

4 LINHA DE TUBULAÇÕES
O cálculo das perdas de carga durante o transporte de água sob pressão
em uma linha de tubulações deve levar em consideração as perdas de carga
distribuídas em cada trecho, bem como as perdas de carga localizada devido à
presença de acessórios. Isso é feito somando-se esses dois tipos de perda de carga
e realizando o balanço energético do sistema.

Observe a Figura 16, que representa dois reservatórios abertos para a


atmosfera e mantidos em níveis constantes. Conhecendo-se todos os elementos do
sistema, pode-se traçar a linha de energia como uma linha contínua, representando
as perdas de carga distribuídas. Devido à presença de acessórios nas seções A,
B, C, D, E e F, há nessa linha descontinuidades causadas pelas perdas de cargas
localizadas. Abaixo dessa linha pode-se traçar a linha piezométrica, a uma distância
que corresponde à carga cinética de cada trecho. A adutora é constituída por vários
trechos cilíndricos com diâmetros variados e comprimentos, Li (PORTO, 2006).

FIGURA 16 – LIGAÇÃO ENTRE DOIS RESERVATÓRIOS ABERTOS PARA A ATMOSFERA


Z1
L1 L2 L3 L4 L5 L6

ΔZ

Z2

A B C D E ΔE F
FONTE: Porto (2006, p. 78)

57
UNIDADE 1 | CONDUTOS FORÇADOS

Com base na Figura 16, pode-se estabelecer o balanço energético global


do sistema:

Z
∆= ∑J L + ∑∆h ± ∑∆E
i
i i
j
j
k
k (45)

Em que: ΔZ é cota topográfica total, representando a energia total do


sistema, Ji corresponde à perda de carga unitária, JiLi corresponde à perda de
carga distribuída de cada trecho retilíneo, Ek corresponde a elementos (bombas
ou turbinas) que acarretam troca de energia como o fluido, ΔEk consiste na energia
retirada ou fornecida em metros de coluna d’água e Δhj corresponde às perdas de
carga localizada devido à presença de acessórios. O sinal negativo corresponde
às bombas, e positivo, às turbinas.

ATENCAO

Observe que o balanço energético entre dois reservatórios ligados por um


sistema de adução é constituído pelas perdas de carga distribuídas, localizadas e pela
energia fornecida ou retirada do sistema, se houver a presença de máquinas hidráulicas.

Por fim, caso não haja presença de máquinas hidráulicas, a Equação 46


resume-se a:

Li Vi ² V²
=∆Z ∑f i
i
Di 2 g j
+ ∑K j i
2g
(46)

Em que: fi é o fator de atrito em cada trecho, Li é o comprimento de cada


trecho, Di é o diâmetro de cada trecho, g é a aceleração da gravida, Kj é a constante
da perda de carga em cada acessório, Vi é a velocidade em cada trecho.

Exemplo 20:
Dois reservatórios encontram-se ligados por uma instalação de transporte
de água em um único trecho de 100 m de comprimento. A velocidade no trecho
é de 5 m/s, o diâmetro da tubulação é de 200 mm e o fator de atrito pode ser
considerado 0,5. Essa instalação apresenta uma curva de 45º, com valor de K de
0,3 e uma curva de 90°, com K de 0,5. Determine a cota topográfica total.

58
TÓPICO 3 | PERDAS DE CARGA LOCALIZADA

Resposta: A cota topográfica total pode ser determinada pela Equação


46. Como temos apenas um trecho, haverá apenas um elemento representando
a perda de carga distribuída. Para localizada, em contrapartida, haverá dois
(curva de 45° e de 90°):

Li Vi ² V²
=∆Z ∑f
i
i
Di 2 g j
+ ∑K j i
2g
0,5 ×100 × 52  52   52 
∆Z (
= ) +  0,3 ×  +  0,5 × =  318,88 + 0,38 + 0,=
64 319,9 m
0, 2 × 2 × 9,8  2 × 9,8   2 × 9,8 

5 MÉTODO DOS COMPRIMENTOS EQUIVALENTES


O método dos comprimentos equivalentes baseia-se no fato de que uma
tubulação que apresente diversas singularidades, pode apresentar perda de carga
similar à de uma tubulação retilínea de comprimento maior. Assim, cada acessório
apresenta um comprimento fictício e adicional. De acordo com Porto (2006, p. 84):

O método dos comprimentos equivalentes consiste em substituir, para


simples efeito de cálculo, cada acessório da instalação por comprimentos
de tubos retilíneos, de igual diâmetro, nos quais a perda de carga seja
igual à provocada pelos acessórios, quando a vazão em ambos é a mesma.
Assim, cada comprimento equivalente é adicionado ao comprimento
real da tubulação, a fim de simplificar o cálculo, transformando o
problema em um problema simples de perda distribuída.

Assim, obtém-se um comprimento virtual de canalização (Le), dado por:

Le K
= (47)
D f

Em que: Le é o comprimento equivalente correspondente a cada


singularidade, D é o diâmetro da tubulação, f é o fator de atrito e K é o coeficiente
de perda de carga localizada.

Para peças de PVC rígido ou cobre, têm-se os seguintes valores para os


comprimentos equivalentes (m):

59
QUADRO 3 – COMPRIMENTOS EQUIVALENTES (M) EM PEÇAS DE PVC RÍGIDO OU COBRE
Válvula
Diâmetro Saída Válvula Registro Registro
Joelho Joelho Curva Curva Tê 90° Tê 90° Entrada Entrada de
Externo de de pé e de globo de gaveta
90° 45° 90° 45° Direto lateral normal de borda retenção
mm - pol canalização crivo aberto aberto
leve
25 – 3/4 1,2 0,5 0,5 0,3 0,8 2,4 0,4 1,0 0,9 9,5 2,7 11,4 0,2
32 - 1 1,5 0,7 0,6 0,4 0,9 3,1 0,5 1,2 1,3 13,3 3,8 15 0,3
40 – 11/4 2,0 1,0 0,7 0,5 1,5 4,6 0,6 1,8 1,4 15,5 4,9 22 0,4

60
50 – 11/2 3,2 1,3 1,2 0,6 2,2 7,3 1,0 2,3 3,2 18,3 6,8 35,8 0,7
60 -2 3,4 1,5 1,3 0,7 2,3 7,6 1,5 2,8 3,3 23,7 7,1 37,9 0,8
75 – 21/2 3,7 1,7 1,4 0,8 2,4 7,8 1,6 3,3 3,5 25,0 8,2 38,0 0,9
85 – 3 3,9 1,8 1,5 0,9 2,5 8,0 2,0 3,7 3,7 26,8 9,3 40,0 0,9
110 – 4 4,3 1,9 1,6 1,0 2,6 8,3 2,2 4,0 3,9 28,6 10,4 42,3 1,0
140 – 5 4,9 2,4 1,9 1,1 3,3 10,0 2,5 5,0 4,9 37,4 12,5 50,9 1,1
UNIDADE 1 | CONDUTOS FORÇADOS

160 - 6 5,4 2,6 2,1 1,2 3,8 11,1 2,8 5,6 5,5 43,4 13,9 56,7 1,2
FONTE: Porto (2006, p. 87)
TÓPICO 3 | PERDAS DE CARGA LOCALIZADA

Para peças metalizadas, ferro galvanizado e ferro fundido tem-se as


seguintes equações válidas para diversos acessórios:

QUADRO 4 – COMPRIMENTOS EQUIVALENTES PARA PEÇAS METÁLICAS, FERRO


GALVANIZADO E FERRO FUNDIDO

Acessório Equação
Cotovelo 90º
Le = 0,068 + 20,96 D
Raio longo
Cotovelo 90º
Le = 0,114 + 26,56 D
Raio médio
Cotovelo 90º
Le = 0,189 + 30,53 D
Raio curto
Cotovelo 45° Le = 0,013 + 15,14 D
Curva 90°
Le = 0,036 + 12,15 D
R/D = 1,5
Curva 90°
Le = 0,115 + 15,53 D
R/D = 1,0
Curva 45° Le = 0,045 + 7,08 D
Entrada normal Le = -0,23 + 18,63 D
Entrada de Borda Le = -0,05 + 30,98 D
Registro de gaveta aberto Le = 0,010 + 6,89 D
Registro de globo aberto Le = 0,01 + 340,27 D
Registro de ângulo aberto Le = 0,05 + 170,69 D
Tê 90°
Le = 0,054 + 20,90 D
Passagem direta
Tê 90°
Le = 0,396 + 62,32 D
Saída lateral
Tê 90°
Le = 0,396 + 62,32 D
Saída bilateral
Válvula de pé com crivo Le = 0,56 + 255,48 D
Saída de canalização Le = -0,05 + 30,98 D
Válvula de retenção, leve Le = 0,247 + 79,43 D
FONTE: Porto (2006, p. 86)

Pode-se também considerar o quadro seguinte, que apresenta valores


mais frequentes de comprimentos equivalentes para acessórios em tubulações:

61
UNIDADE 1 | CONDUTOS FORÇADOS

QUADRO 5 – COMPRIMENTOS EQUIVALENTES PARA DIVERSOS


ACESSÓRIOS EXPRESSOS EM METROS
mm 13 19 25 32 38 50 65 75 100 125 150 200 250 300 350
Diâmetro
pol ½ ¾ 1 11/4
11/2
2 21/2
3 4 5 6 8 10 12 14

Cotovelo 90º
0,3 0,4 0,5 0,7 0,9 1,1 1,3 1,6 2,1 2,7 3,4 4,3 5,5 6,1 7,3
Raio longo

Cotovelo 90º
0,4 0,6 0,7 0,9 1,1 1,4 1,7 2,1 2,8 3,7 4,3 5,5 6,7 7,9 9,5
Raio médio

Cotovelo 90º
0,5 0,7 0,8 1,1 1,3 1,7 2,0 2,5 3,4 4,2 4,9 6,4 7,9 9,5 10,5
Raio curto

Cotovelo 45° 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,8 0,9 1,2 1,5 1,9 2,3 3,0 3,8 4,6 5,3

Curva 90°
0,2 0,3 0,3 0,4 0,5 0,6 0,8 1,0 1,3 1,6 1,9 2,4 3,0 3,6 4,4
R/D = 1,5

Curva 90°
0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,9 1,0 1,3 1,6 2,1 2,5 3,3 4,1 4,8 5,4
R/D = 1,0

Curva 45° 0,2 0,2 0,2 0,3 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,9 1,1 1,5 1,8 2,2 2,5
Entrada normal 0,2 0,2 0,3 0,4 0,5 0,7 0,9 1,1 1,6 2,0 2,5 3,5 4,5 5,5 6,2
Entrada de
Borda 0,4 0,5 0,7 0,9 1,0 1,5 1,9 2,2 3,2 4,0 5,0 6,0 7,5 9,0 11,0

Registro de
gaveta aberto 0,1 0,1 0,2 0,2 0,3 0,4 0,4 0,5 0,7 0,9 1,1 1,4 1,7 2,1 2,4

Tê passagem
0,3 0,4 0,5 0,7 0,9 1,1 1,3 1,6 2,1 2,7 3,4 4,3 5,5 6,1 7,3
direta

Tê saída de lado
1,0 1,4 1,7 2,3 2,8 3,5 4,3 5,2 6,7 8,4 10,0 13,0 16,0 19,0 22,0
e lateral

Válvula de pé e
3,6 5,6 7,3 10,0 11,6 14,0 17,0 20,0 23,0 30,0 39,0 52,0 65,0 78,0 90,0
crivo

Saída da
0,4 0,5 0,7 0,9 1,0 1,5 1,9 2,2 3,2 4,0 5,0 6,0 7,5 9,0 11,0
canalização

Válvula de
1,1 1,6 2,1 2,7 3,2 4,2 5,2 6,3 6,4 10,4 12,5 16,0 20,0 24,0 28,0
retenção, leve

FONTE: Adaptado de Netto et al. (1998)

Exemplo 6:
Uma instalação predial apresenta tubulação de PVC rígido soldável com
2’’ de diâmetro, com vazão de 0,4 L/s, 3 joelhos de 90°, 2 registros de gaveta
abertos, um Tê de passagem direta e um Tê lateral, ambos fechados. O ponto A,
que se localiza 2,3 m abaixo do chuveiro, apresenta carga de pressão de 3 mca.
Calcule a carga de pressão disponível imediatamente antes do chuveiro.

62
TÓPICO 3 | PERDAS DE CARGA LOCALIZADA

FIGURA 17 – ESQUEMA DE UMA INSTALAÇÃO PREDIAL

1m
4m

1,3 m
0,4 L/s A

2,5 m

FONTE: Adaptado de Porto (2006, p. 85)

Primeiramente, vamos utilizar o Quadro 6 para encontrarmos o


comprimento equivalente entre os acessórios e o chuveiro:

QUADRO 6 – CÁLCULO DO COMPRIMENTO TOTAL

Acessório Comprimento Equivalente (m)


3 joelhos 90° 3 x 3,4 = 10,2
2 registros de gaveta 2 x 0,8 = 1,6
Tê passagem direta 2,3
Tê lateral 7,6
Comprimento real da linha 8,8
Comprimento total 30,5
FONTE: A autora

Considerando a equação da energia, temos que a cota piezométrica


imediatamente antes do chuveiro (C.Pch) pode ser calculada por:

C · Pch = C · PA – ΔHt

Em que: C.PA é a carga piezométrica no ponto A e ΔHt é a perda de carga


total distribuída e localizada entre o chuveiro e o ponto A.

Podemos utilizar a equação de Fair-Whipple-Hsiao estudada no Tópico 2,
com auxílio da Tabela 2, para calcular a perda de carga unitária do sistema:

63
UNIDADE 1 | CONDUTOS FORÇADOS

J = 0,0561 Q1,75 = 0,561 x 0,41,75 = 0,0113 m/m

A perda de carga total será então:

ΔHt = J x Lt = 0,0113 x 30,5 = 0,344 m



Assim:

C · Pch = 3 – 0,344 = 2,656 m

A carga de pressão antes do chuveiro será, então, a diferença entre a cota


piezométrica e a cota geométrica:

pch
= 2,=
656 - 2,3 0,356 mca
γ

64
TÓPICO 3 | PERDAS DE CARGA LOCALIZADA

LEITURA COMPLEMENTAR

O PANORAMA E ESCOPO ATUAL DA ENGENHARIA HIDRÁULICA

No contexto atual, pode-se definir Engenharia Hidráulica como sendo a


área da engenharia correspondente à aplicação dos conceitos de Mecânica dos
Fluidos na resolução de problemas ligados à captação, armazenamento, controle,
transporte e uso de água. Desta forma, percebe-se que a Engenharia Hidráulica
desempenha um papel significativo em diversas modalidades de engenharia,
integrando-se também a diversos campos profissionais.

No campo do trabalho específico da Engenharia de Recursos Hídricos, a


Engenharia Hidráulica encontra-se presente em praticamente todos os tipos de
empreendimentos, como sistemas hidráulicos de geração de energia, obras de
infraestrutura, tais como canais, portos, hidrovias, eclusas etc., como pode ser
visto na figura a seguir:

ALGUNS USOS ATUAIS DA ÁGUA

Reservatórios
de usos múltiplos Controle
Recreação de enchentes
Usina
de geração
de energia

Derivação

Água para Irrigação


uso residencial
Eclusa
e industrial Canal de drenagem
Estação de
Tratamento de
Navegação Barragem
Esgotos
Tratamento das águas servidas

FONTE: Adaptado de Baptista e Lara (2010)

Apenas para citar um exemplo brasileiro de grande empreendimento de


geração de energia elétrica, a Usina Hidrelétrica de Itaipu, no rio Paraná, com
vazão média diária de cerca de 2000 m³/s e altura máxima de queda de 128 m, é
equipada com 18 turbinas com capacidade nominal de 12.870 MW, gerou 93.428
GWh no ano de 2000.

65
UNIDADE 1 | CONDUTOS FORÇADOS

A análise dos problemas ligados ao projeto e gestão de reservatórios, a


propagação das cheias e a delimitação de áreas inundáveis, entre outros, utilizam
a Hidráulica como importante ferramenta de trabalho.

Em Saneamento Básico, a Engenharia Hidráulica desempenha também
um papel importante em grande parte dos empreendimentos. Com efeito, a
Hidráulica encontra-se presente desde a captação, adução e distribuição de águas de
abastecimento urbano e industrial, até os sistemas de coleta e esgotamento sanitário
e de drenagem pluvial, passando pelas estações de tratamento de água e esgoto.

Diversas são também as inter-relações da Hidráulica com a Engenharia
Ambiental, cada vez mais importante no contexto atual. De fato, as questões ligadas
à preservação dos habitats em meios aquáticos, a dispersão e difusão de poluentes,
os problemas de erosão e assoreamento, entre outros, fazem intervir a Hidráulica.

Na Engenharia de Transportes e Hidráulica, também se fazem presentes,
sobretudo no tocante às obras de infraestrutura de transporte, como: bueiros e
pontes, além dos portos, hidrovias, eclusas, já citados anteriormente.

A engenharia hidráulica encontra ainda importantes aplicações em
domínios tais como a irrigação e drenagem de áreas agrícolas, processos industriais
diversos, sistemas e máquinas hidráulicas etc. Pode-se citar o exemplo do Projeto
Jaíba, localizado às margens do rio São Francisco, no norte do Estado de Minas
Gerais que, com vazão nominal de 80 m³/s, foi projetado para a irrigação de cerca
de 100.000 ha, através de uma rede de mais de 247 km de canais.

DESAFIOS E PERSPECTIVAS

A Engenharia Hidráulica apresenta um amplo espectro de atuação na


sociedade atual, experimentando hoje uma fase de intenso desenvolvimento
científico e tecnológico, em resposta ao uso cada vez mais intenso dos recursos
naturais, com projetos cada vez mais complexos e de maior envergadura.

O crescimento da população mundial e o desenvolvimento econômico,
com as demandas correspondentes em água, tanto para consumo direto, como
também para insumo industrial e agrícola, ensejam uma utilização e valorização
crescente dos recursos hídricos. Por outro lado, as questões ambientais
concernentes à água implicam a necessidade de que a utilização do recurso seja feita
mais racionalmente, de forma compatível com os conceitos de desenvolvimento
sustentável. Pode-se discernir, portanto, uma tendência de crescimento do papel
da Engenharia Hidráulica, no contexto socioeconômico e ambiental em que se
insere a Engenharia dos Recursos Hídricos.

Os aspectos de pressão de demanda, em quantidade e qualidade,
vêm certamente condicionar o desenvolvimento tecnológico da Engenharia
Hidráulica. Este desenvolvimento implica, necessariamente, contínuos avanços
científicos, centrados no melhor conhecimento do comportamento dos sistemas e
dos processos hidráulicos de medição.

66
TÓPICO 3 | PERDAS DE CARGA LOCALIZADA

Do ponto de vista experimental, importantes avanços em equipamentos


de medição em laboratório e em escala real, com avançados sistemas de aquisição
e tratamento de dados, tornam possível uma abordagem mais fina dos fenômenos
hidráulicos, incrementando as possibilidades e reduzindo prazos e custos da
modelagem física.

Os recursos computacionais atuais, com a redução de tempos de


processamento e incremento das possibilidades de cálculo, tornam possível
a simulação matemática de sistemas hidráulicos complexos, fazendo intervir
possantes e refinados modelos numéricos. Por outro lado, tornou-se possível
a abordagem de alguns processos hidráulicos através de novos conceitos e
teorias. Como exemplo, pode-se fazer a utilização de conceitos de turbulência,
anteriormente com uso limitado ao campo de fenômenos de transporte mais
refinado e que vêm sendo adotados na área de Engenharia Hidráulica.

Uma tendência que é possível discernir corresponde ao incremento da
complementaridade entre modelagem física e a modelagem matemática. Técnicas
cada vez mais avançadas e sofisticadas para medição e aquisição de dados suprem
a necessidades crescentes de informações dos modelos de simulação matemáticas,
capazes de representar os fenômenos físicos envolvidos em complexidade
crescente e com condições de contorno mais diversificadas e realistas.

Assim, face ao significativo papel da Hidráulica na sociedade atual


e face à crescente complexidade no tratamento das questões envolvidas,
visualizam-se importantes desafios científicos e tecnológicos para a Engenharia
Hidráulica no futuro.

FONTE: BAPTISTA, Márcio; LARA, Márcia. Fundamentos de engenharia hidráulica. Belo Horizonte:
UFMG, 2014.

REGIMES DE ESCOAMENTO

Os hidráulicos do século XVIII já observavam que, dependendo das


condições de escoamento, a turbulência era maior ou menor, e consequentemente
a perda de carga também o era. Osborne Reynolds fez uma experiência para tentar
caracterizar o regime de escoamento, que a princípio ele imaginava depender da
velocidade de escoamento. A experiência, bastante simples, consistia em fazer o
fluido escoar com diferentes velocidades, para que se pudesse distinguir a velocidade
de mudança de comportamento dos fluidos em escoamento e caracterizar estes
regimes. Para visualizar mudanças, incluiu-se um líquido de contraste (corante).

Inicialmente, usando pequenas velocidades, ele observou que o líquido


se escoava ordenadamente, como se lamínulas do líquido se deslizassem uma
em relação às outras, e a este estado de movimento ele denominou laminar.
Logo que a velocidade foi sendo aumentada gradativamente, ele observou que o
líquido passou a escoar de forma desordenada, com as trajetórias das partículas
se cruzando, sem uma direção definida. A este estado de movimento, ele chamou
de turbulento ou desordenado.
67
UNIDADE 1 | CONDUTOS FORÇADOS

Tentando repetir a sua experiência, em sentido contrário, começando


de uma velocidade maior (regime turbulento) e, gradativamente reduzindo a
velocidade, ele observou que o fluido passou do regime turbulento para o laminar,
porém a velocidade que ocorreu nesta passagem era menor que aquela em que
o regime passou laminar a turbulento. Ficou, portanto, uma faixa de velocidade
onde não se pôde definir com exatidão qual o regime de escoamento. A esta faixa,
chamou de zona de transição.

Ele distinguiu inicialmente também duas velocidades:

• Velocidade crítica superior: é aquela onde ocorre a passagem do regime laminar


para o turbulento.
• Velocidade crítica inferior: é aquela onde ocorre a passagem do regime
turbulento para o laminar.

Repetiu-se a experiência de Reynolds fazendo-a para várias combinações


de diâmetros e fluidos e concluiu-se que não só a velocidade é importante para
caracterizar o regime de escoamento, mas também o diâmetro da canalização e o
fluido escoante. Chegou-se a uma expressão que caracteriza o regime de escoamento:

Em que:

vD
Re =
ν

Re = é conhecido como número de Reynolds, adimensional;


v = a velocidade média de escoamento, m.s-1;
D = o diâmetro da canalização, m;
V = a viscosidade cinética do fluido, m2.s-1 (Vágua = 1,02 x 10-6 m2.s-1)

Para definir o regime basta calcular o número de Reynolds e caracterizá-lo


pelos limites.

Se R < 2.000 – regime laminar e


Se R > 4.000 – regime turbulento e
Se 2.000 < R < 4.000 – zona de transição

Na zona de transição não se pode determinar com precisão a perda nas


canalizações.

68
TÓPICO 3 | PERDAS DE CARGA LOCALIZADA

No dia a dia, pode-se facilmente distinguir estes escoamentos. Basta observar


o comportamento da fumaça de um cigarro descansando em um cinzeiro, em um
ambiente sem ventilação. Próximo à brasa, a fumaça escoa em uma trajetória retilínea
e definida, sem perturbações. É o escoamento laminar. Na medida em que este filete
de fumaça se ascende na atmosfera, ele vai se acelerando e se turbilhonando, e sua
trajetória não tem definição. A cada instante o vetor velocidade de cada partícula
muda de direção. É o que caracteriza um regime turbulento.

De modo geral, por causa da pequena viscosidade da água e pelo fato de


a velocidade de escoamento ser sempre superior a 0,4 ou 0,5 m.s-1, o regime dos
escoamentos, na prática, é turbulento.

FONTE: CARVALHO, Daniel Fonseca; SILVA, Leonardo Duarte Batista. Escoamento em condutos
forçados. 2011. Disponível em: http://www.ufrrj.br/institutos/it/deng/leonardo/downloads/
IT503%20cap%207%20-%202011p.pdf. Acesso em: 30 jun. 2019.

69
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• A presença de acessórios nas tubulações de instalações de transporte de água


sob pressão, como válvulas, curvas, derivações, registros, conexões e bombas
altera a perda de carga, gerando perdas de carga localizadas.

• As perdas localizadas quando constituem menos que 5% das perdas distribuídas


em sistemas hidráulicos podem ser desprezadas.

V2
• As perdas de carga localizadas podem ser calculadas pela equação: ∆h =K .
2g
• Para valores do número de Reynolds Re > 105, pode-se assumir que o coeficiente
K apresenta um valor constante para cada peça, dado por valores médios.

• No método dos comprimentos equivalentes substitui-se cada acessório da


instalação por comprimentos de tubos retilíneos, que apresentam igual
diâmetro, e com perda de carga igual à provocada pelos acessórios.

70
AUTOATIVIDADE

1 Um ramal de 1’’ abastece o chuveiro de uma instalação predial, conforme a


figura. No ponto 1 localiza-se um Tê de saída do lado, nos pontos 2, 4, 6, 8 e
9, um cotovelo de 90° de raio longo, nos pontos 3 e 7, um registro de gaveta
aberto e, no ponto 5, um Tê de passagem direta. Calcule as perdas localizadas
pelo método dos comprimentos equivalentes e identifique a porcentagem que
essas perdas representam da perda por atrito ao longo do ramal.

FIGURA – ESQUEMA DO RAMAL QUE ABASTECE O CHUVEIRO


EM UMA INSTALAÇÃO PREDIAL

Reservatório

9 0,6 8

0,25
1,3

1 0,40 2

R 7
R R 3

4
1,5

5 6
B
FONTE: Adaptado de Netto et al. (1998)

2 Escoa por uma tubulação de aço galvanizado uma vazão de 0,1 L/s em uma
instalação predial. A tubulação apresenta 1’’ de diâmetro e tem os seguintes
acessórios ao longo desta: 5 joelhos de 90°, 3 registros de gaveta abertos,
um Tê de passagem direta e um Tê lateral, ambos fechados. Determine o
comprimento total dessa tubulação, sabendo que o comprimento real da linha
é de 9 m. Utilize a equação de Fair-Whipple-Hsiao para determinar a perda
de carga total no sistema.

71
72
UNIDADE 2

CONDUTOS LIVRES

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• identificar e calcular os parâmetros hidráulicos em canais;

• diferenciar os tipos de escoamentos em condutos livres;

• classificar os escoamentos em canais utilizando o número de Reynolds e


de Froude;

• executar processos de cálculo para dimensionamento de canais


prismáticos em regime uniforme;

• classificar os perfis de escoamento no movimento gradualmente variado;

• utilizar o Método da Integração por Passos;

• compreender o funcionamento de um ressalto hidráulico, bem como os


cálculos atrelados a esse fenômeno.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – ESCOAMENTOS EM SUPERFÍCIES LIVRES

TÓPICO 2 – REGIME PERMANENTE UNIFORME

TÓPICO 3 – REGIME PERMANENTE GRADUALMENTE VARIADO

TÓPICO 4 – REGIME PERMANENTE BRUSCAMENTE


VARIADO – RESSALTO HIDRÁULICO

73
74
UNIDADE 2
TÓPICO 1

ESCOAMENTO EM SUPERFÍCIES LIVRES

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, vamos estudar os condutos livres, também denominados
canais. Relembraremos aqui que nos condutos livres o escoamento ocorre por
meio da ação da gravidade, uma vez que nesses canais a pressão atmosférica atua
em ao menos um ponto ao longo do escoamento do líquido. Esse escoamento
pode se dar pela condução de água em uma seção aberta, como em canais de
irrigação e drenagem, ou em uma seção fechada, como nas redes coletoras de
esgoto e galerias de águas pluviais.

A Figura 1 contém representações de dois casos típicos de canais (a e b),


um caso limite para um conduto livre (c): o conduto encontra-se completamente
cheio, porém em sua geratriz interna superior atua uma pressão igual à
atmosférica e um conduto forçado (d) que apresenta pressão maior que a
atmosférica (p > pa) (NETTO et al. 1998).

FIGURA 1 – REPRESENTAÇÃO DE DIFERENTES TIPOS DE CONDUTOS


pa pa p > pa
pa

a) b) c) d)
FONTE: Netto et al. (1998, p. 361)

Os condutos livres podem ser classificados em dois tipos, de acordo com


Porto (2006):

• Naturais: cursos de água existentes na natureza, tais como córregos, rios e


estuários, entre outros.
• Artificiais: canais construídos pelo homem, que podem ser de seção aberta
ou fechada, tais como canais de irrigação, de navegação, aquedutos, galerias,
entre outros.

75
UNIDADE 2 | CONDUTOS LIVRES

Se os canais apresentarem declividade de fundo e área da seção


transversal constantes ao longo do comprimento da seção, podem ser chamados
de prismáticos, e caso isso não seja observado, são denominados não prismáticos
(HOUGHTALEN; HWANG; AKAN, 2012; PORTO, 2006). Ambos os tipos de
canais necessitam ser descritos por diversos elementos geométricos, os quais
constam no Quadro 1 e na Figura 2, e, são descritos de acordo com Porto (2006).

QUADRO 1 – PRINCIPAIS ELEMENTOS GEOMÉTRICOS DOS CANAIS

Elementos Geométricos Descrição


Área molhada (A) Área da seção reta do escoamento
Comprimento da parcela sólida da seção do canal
Perímetro molhado (P) em contato com o líquido, que inclui fundo e
paredes
Relação entre a área molhada e o perímetro
Raio Hidráulico (Rh)
molhado
Altura d’água ou tirante Distância vertical entre o ponto mais baixo da seção
d’água (y) do canal e a superfície livre
Altura de escoamento Altura do escoamento perpendicular ao fundo do
de seção (h) canal
Largura de topo (B) Largura da seção do canal na superfície livre
Altura ou profundidade Relação entre a área molhada e a largura da seção
hidráulica (Hm) do canal na superfície (Hm = A/B)
Declividade de fundo
Declividade longitudinal do canal (Io = tg α ≅ sen α)
(Io)
Declividade
Declividade da linha d’água
piezométrica (Ia)
Declividade da linha de Representa a variação da energia no sentido do
energia (If) escoamento
FONTE: Adaptado de Porto (2006)

76
TÓPICO 1 | ESCOAMENTO EM SUPERFÍCIES LIVRES

FIGURA 2 – ESQUEMA DOS ELEMENTOS GEOMÉTRICOS DE UMA SEÇÃO


If
B
Ia

Q
Hm y
y h
A

P
I0

FONTE: Porto (2006, p. 222)

ATENCAO

Caro acadêmico, volte à Figura 2 e observe que o perímetro molhado não


inclui a superfície livre dos canais! Fique atento!

Exemplo 1:
Calcule os parâmetros hidráulicos característicos da seção indicada na
figura seguinte, que apresenta medições de velocidade feitas em um curso d’água.

FIGURA 3 – MEDIÇÕES DE VELOCIDADE EM UM CURSO D’ÁGUA


1,2 m/s 1,1 m/s

1,9 m/s 1,7 m/s


2m 3m

2,2 m/s

7m 22m 11m 31m 9m

FONTE: Soares (2013, p. 5)

Resposta:
1) Primeiramente, vamos calcular a área molhada, que é a área da seção reta do
escoamento. Relembraremos primeiro alguns conceitos:

• A área do triângulo (A) é calculada pela sua base (b) e altura (h):

77
UNIDADE 2 | CONDUTOS LIVRES

b ×h
A=
2

• Área do retângulo é obtida pela multiplicação da sua base (b) pela sua altura (h): A = b
x h. Dividindo a figura em partes temos:

1,2 m/s 1,1 m/s

1 1,9 m/s 2 3 1,7 m/s 5 6

2m 3m
a 2,2 m/s c
4
b b

7m 22m 11m 31m 9m

7×3
A1
= = 10,5
2
A2 = 22 × 3 = 66
A3 = 11× 3 = 33
11× 2
A4 = 11
=
2
A5 = 31× 3 = 93
9×3
A6 = 13,5
=
2

Somando tudo temos a área molhada (A):

A = 10,5 + 66 + 33 + 11 + 93 + 13,5 = 227 m

2) Calcularemos agora o perímetro molhado P. Para isso, precisamos calcular


os lados dos triângulos que constituem o escoamento. Observe que todos são
triângulos retângulos, assim:

hip2 = cat2 + cat2

Para o primeiro triângulo de lado a:


a2 = 72 + 32
a = √58 = 7,62 m

78
TÓPICO 1 | ESCOAMENTO EM SUPERFÍCIES LIVRES

Para o segundo triângulo, que apresenta dois lados iguais, b:

b2 = 5,52 +22
b = √34,25 = 5,85 m

Para o terceiro triângulo, de lado c:

c2 = 92 + 32
b = √90 = 9,49 m

Portanto, somando-se os lados da seção, que não incluem a superfície


livre, temos:

P = 7,62 +22 + 5,85 + 5,85 + 31 + 9,49 = 81,81 m

3) Podemos agora calcular o raio hidráulico dado por:

A 227
R=
h = = 2, 77 m
P 81,81

4) A altura d’água y será de 5 m, como podemos ver pela Figura 3, já que consiste da
distância vertical entre o ponto mais baixo da seção do canal e a superfície livre.
5) A largura de topo B será de: B = 7 + 11 + 22 + 31 + 9 = 80 m.
6) A altura hidráulica será de:

A 227
H m= = = 2,84 m
B 80

7) A vazão será obtida calculando a vazão em cada área individual obtida no item 1:

Q=V·A
Q = 1,2 x 10,5 + 1,9 x 66 + 2,2 x 33 + 2,2 x 11 + 1,7 x 93 + 1,1 x 13,5 = 407,75 m3/s

Para facilitar os cálculos, podemos utilizar a Figura 4, que apresenta as


características da seção transversal de diversos tipos de seções de canais e suas
respectivas relações geométricas, sabendo que Z corresponde à declividade das
margens do canal, e b corresponde à largura de fundo.

79
UNIDADE 2 | CONDUTOS LIVRES

FIGURA 4 – PARÂMETROS CARACTERÍSTICOS DE ALGUMAS SEÇÕES USUAIS

Perímetro Raio Largura Profundidade


Área Molhado HIdráulico Superficial Hidráulica

B
by
y by b + 2y b y
b + 2y

B
(b + zy)y (b + zy)y
y z (b + zy)y b + 2y √1+z2 b + 2zy
b + 2y √1+z 2 b + 2zy
b

B
1 zy
zy2 2y√1+z2 2zy 0,5y
z y 2y√1+z2

θ-sen θ θ-sen θ
D 0,125 (θ-sen θ) D2 0,5 θ D 0,25 θ D 2√y(D - y) 0,125 sen 1 θ D
2

y
B
8y2 2B2y 3A 2
2
By B+ y
y 3 3B 3B2 + 8y2 2y
3

Parábola
FONTE: Baptista e Lara (2010, p. 191)

Você sabia que quando falamos de sistemas de esgoto sanitário, temos


exemplos tanto de condutos forçados, que vimos na unidade anterior, como de
condutos livres, que veremos mais amplamente nesta unidade? Pois bem, as
canalizações dos coletores e interceptores de esgoto devem sempre ser projetadas
como condutos livres. Os sifões e linhas de recalque das estações elevatórias, em
contrapartida, compartam-se como condutos fechados, ou seja, são tubulações
fechadas, em que temos a atuação de uma pressão diferente da atmosférica, e
o escoamento ocorre por gravidade ou bombeamento. Os emissários podem se
comportar tanto como condutos livres como forçados (SOBRINHO; TSUTIYA, 2000).

80
TÓPICO 1 | ESCOAMENTO EM SUPERFÍCIES LIVRES

Cabe salientar que o tratamento analítico dos condutos livres e forçados


é muito semelhante. Entretanto, há uma maior dificuldade em dimensionar os
condutos livres, uma vez que esses canais exibem diversas formas geométricas,
diferentemente dos condutos forçados, em sua maioria de forma circular. Lembre-
se, futuro engenheiro, de que os projetos de canais requerem um maior cuidado,
já que pequenos erros no dimensionamento de um projeto de coletores de esgoto
ou sistemas de distribuição de águas pluviais podem causar danos enormes!

2 TIPOS DE ESCOAMENTO
O escoamento em condutos livres pode ser de diferentes tipos, como
apresentados no esquema a seguir:

FIGURA 5 – REGIMES DE ESCOAMENTO EM CONDUTOS LIVRES

Uniforme
PERMANENTE
(Vazão constante em
Gradualmente
uma determinada
seção)
Variado

Bruscamente
ESCOAMENTO

Uniforme
NÃO
PERMANENTE Gradualmente
(Vazão Variável)
Variado

Bruscamente

FONTE: A autora

Vamos relembrar a diferença entre o regime permanente e não permanente


que vimos na Unidade 1? Assim, se estamos usando como critério comparativo o
tempo, os condutos livres podem ter escoamento permanente ou não permanente.
Dessa forma, o escoamento será dito permanente se o vetor velocidade, em um
ponto qualquer de um líquido em movimento, não se modificar com o decorrer
do tempo em módulo e direção. Ou seja, as características hidráulicas em uma
mesma seção transversal apresentam valor constante, como por exemplo,
profundidade, vazão, área molhada, entre outras (NETTO et al., 1998).

81
UNIDADE 2 | CONDUTOS LIVRES

Ainda, de acordo com Porto (2006, p. 223):

Ao contrário, o escoamento ou regime é não permanente se a


velocidade em um certo ponto varia com o passar do tempo. Neste
caso, não existe uma continuidade de vazão e as características do
escoamento dependem, por sua vez, das coordenadas do ponto
considerado e do tempo. Este tipo de escoamento ocorre, por exemplo,
quando da passagem de uma onda cheia através de um canal. Deve-
se, entretanto, observar que o fato de escoamento ser permanente ou
não depende da posição do observador em relação à corrente, assim o
escoamento de um rio em volta do pilar de uma ponte é permanente
para o observador postado sobre a ponte e não permanente para o
observador em um barco impelido pela corrente.

Se adotarmos como critério comparativo o espaço, teremos duas


possibilidades de escoamento: uniformes ou variados. Se as características
hidráulicas não variarem de seção para seção ao longo do canal, o movimento é
dito uniforme (NETTO et al., 1998). Ou seja, as trajetórias são paralelas entre si e
retilíneas, as velocidades locais são paralelas entre si e constantes para uma mesma
trajetória, a altura d’água é constante (Io = Ia = If) e, consequentemente, temos que a
linha d’água é paralela ao fundo. Caso isso não seja observado, o escoamento é dito
variado, e a declividade do fundo será diferente da declividade da linha d’água (Io
≠ Ia). Portanto, no escoamento variado as características hidráulicas variam de uma
seção para outra e as trajetórias não são paralelas entre si (PORTO, 2006).

Quanto ao escoamento variado, este é subdivido em duas classes:
gradualmente variado e bruscamente variado. A principal diferença entre eles está
no tempo de variação das características hidráulicas: no primeiro, os elementos
característicos do escoamento variam de forma lenta e gradual, de seção para
seção, e, no segundo, em uma pequena distância, observa-se uma brusca variação
nos parâmetros da corrente, como por exemplo, a altura d’água (PORTO, 2006).

Por fim, observemos a Figura 6, que contém exemplos de escoamentos


permanentes em um canal uniforme e que apresenta declividade constante:

FIGURA 6 – TIPOS DE ESCOAMENTO


Queda
brusca
Remanso Ressalto

Uniform
e
Gradualm
ente
variado M.P.B.V.
Gradualm
ente M.P
variado .B.V.
Uniform
e

FONTE: Porto (2006, p. 224)

82
TÓPICO 1 | ESCOAMENTO EM SUPERFÍCIES LIVRES

NOTA

Caro acadêmico, você sabe o que é um canal uniforme? Segundo Netto


et al. (1998, p. 362), “um canal uniforme é aquele em que a natureza de suas paredes
é sempre a mesma”.

Em condutos livres também temos os regimes de escoamento laminar


ou turbulento. Entretanto, para o estudo de canais, a fórmula para o cálculo do
número de Reynolds (Re) se torna:

V Rh
Re = (1)
ν

Em que: V é a velocidade média na seção considerada, Rh é o raio hidráulico


da seção, e v é a viscosidade cinemática da água.

Assim, de acordo com Porto (2006), os escoamentos em condutos livres
podem ser classificados, de acordo com o número de Reynolds, em:

• Escoamento laminar: Re < 500.


• Escoamento de transição: 500 < Re < 2000.
• Escoamento turbulento: Re > 2000.

NOTA

Não confunda o regime laminar para condutos forçados, que ocorre para
Re < 2000, que estudamos na Unidade 1, com o de condutos livres, cujo Re < 500.
Com relação às aplicações práticas, assim como em condutos forçados, a maioria dos
escoamentos livres ocorre no regime turbulento.

O número de Froude (Fr) também é utilizado para caracterizar


escoamentos em canais, dado por:

V
Fr = (2)
g Hm

83
UNIDADE 2 | CONDUTOS LIVRES

Em que: V é a velocidade média na seção, g é a aceleração da gravidade, e


Hm é a altura hidráulica da seção.

Temos, portanto, a partir do número adimensional de Froude, três
possíveis classificações para os escoamentos livres (PORTO, 2006):

• Escoamento subcrítico ou fluvial: Fr <1.


• Escoamento crítico: Fr = 1.
• Escoamento supercrítico ou torrencial, Fr > 1.

A condição crítica de escoamento corresponde ao limite entre os regimes


fluvial e torrencial, ou seja, para que ocorra mudança do regime de escoamento, a
profundidade d’água (y) deve passar por um valor crítico (yc) (PORTO, 2006). A
profundidade crítica pode ser calculada pela seguinte equação:

1
 Q2 3 (3)
yc =  2 
B g

Exemplo 2:
Em um canal de seção retangular de declividade constante, com largura
de fundo igual 2 m, a altura d’água é de 0,5 m e, a velocidade média é de 0,6 m/s.
Determine se o regime é laminar ou turbulento e se o escoamento é fluvial ou
torrencial. Adote a viscosidade cinemática da água como sendo 106 m²/s.

Resposta: Primeiramente, veremos os dados fornecidos no exercício:


b = B = 2 m (em uma seção retangular a largura do fundo é igual à largura do topo)
y = 0,5 m
V = 0,6 m/s
v = 10-6 m²/s

Agora, vamos determinar se o regime é laminar ou turbulento, utilizando


para isso o número de Reynolds, dado por:

V Rh
Re =
ν

O raio hidráulico, Rh, pode ser calculado por:

A
Rh =
P

Como o canal é retangular, a área molhada A será: A = b x y = 2 x 0,5 = 1 m².

84
TÓPICO 1 | ESCOAMENTO EM SUPERFÍCIES LIVRES

O perímetro molhado consistirá na soma de todos os lados do retângulo,


com exceção da superfície livre, resultando em: P = b + 2 y = 2 + 2 x 0,5 = 3 m².

Assim:

1
Rh= = 0,33 m
3

O raio hidráulico poderia ser facilmente calculado utilizando a fórmula


fornecida na Figura 4:

by 2 × 0,5 1
Rh= = = = 0,33 m
b + 2 y 2 + 2 × 0,5 3

Portanto:

0, 6 × 0,33
Re
= = 1,98 ×105
10-6

Como Re > 2000, o escoamento é turbulento.



Para determinar se o escoamento é fluvial ou torrencial, é necessário
empregarmos o número de Froude:

V
Fr =
g Hm

Precisamos calcular a altura hidráulica Hm:

A 1
H m= = = 0,5 m
B 2

NOTA

Caro acadêmico, perceba que para um canal retangular, a altura manométrica


(Hm) é a própria altura d’água (y). Podemos facilmente observar isso pela Figura 4.

85
UNIDADE 2 | CONDUTOS LIVRES

Podemos então calcular Fr:

0, 6
=Fr = 0, 27
9,8 × 0,5

Como Fr <1, o escoamento é fluvial.

3 DISTRIBUIÇÃO DE VELOCIDADES
Na aplicação prática em condutos livres e o que veremos nos próximos
tópicos, utilizaremos a velocidade média em uma seção. Entretanto, devido
à atuação de tensões de cisalhamento no fundo e nas paredes de canais livres,
assim como devido à presença de uma superfície livre, vale a pena relembrarmos
que as velocidades não se encontram uniformemente distribuídas na seção reta
dos canais, sendo dependentes da forma geométrica da seção. De maneira geral,
estas variam de maneira acentuada de um ponto ao outro (PORTO, 2006).

Para canais prismáticos, temos uma distribuição de velocidade


aproximadamente parabólica, alcançando seu valor máximo pouco abaixo da
superfície e tendo valores decrescentes com o aumento da profundidade (PORTO,
2006), como podemos observar pela Figura 7, em que temos primeiramente uma
distribuição de velocidades na seção transversal e, em seguida, na seção longitudinal:

FIGURA 7 – DISTRIBUIÇÃO DE VELOCIDADES EM UMA SEÇÃO EM ESCOAMENTO LIVRE

y
0,8

0,7 l Vmáx.
0,6 m Vmed

v
FONTE: Porto (2006, p. 226)

Em situações práticas calculamos a velocidade média em uma seção


longitudinal (V) como:

=V 0,5 ( v0,2 h + v0,8 h ) (4)

Ou:

V = v0,4 h (5)

86
TÓPICO 1 | ESCOAMENTO EM SUPERFÍCIES LIVRES

Em que: v0,2h v0,4h e v0,8h são as velocidades pontuais a 0,2h, 0,4h e 0,8
respectivamente, com h sendo a altura de escoamento da seção.

4 DISTRIBUIÇÃO DE PRESSÃO
Segundo Porto (2006), a distribuição de pressão é representada pelo efeito
hidrostático, resultante da carga de pressão (γy) e pelo efeito centrífugo, causado
pela aceleração normal do escoamento. Portanto, a distribuição de pressão em um
escoamento livre sobre o fundo côncavo de um canal, denominado escoamento
curvilíneo, é dada por:

V2
p=
f γ y+ρ h (6)
r

Em que pf é a distribuição de pressão entre a superfície livre e o fundo


do canal, γ é o peso específico da água, y é a altura d’água, ρ é a densidade da
água, V é a velocidade média na seção, r é o raio da curvatura e h é altura do
escoamento perpendicular ao fundo do canal.

Ainda, se as linhas de corrente forem paralelas ao fundo do canal, não
existindo curvaturas, e não havendo atuação da aceleração normal, escoamento
denominado paralelo, a distribuição de pressão será dada por:

p f =γ y (7)

Por fim, podemos assumir que, para canais de fraca declividade, sejam
estes abertos ou fechados, haverá distribuição hidrostática de pressão, ou seja, a
linha piezométrica irá coincidir com a linha d’água (FIGURA). Assim, teremos,
adotando uma distribuição de velocidade uniforme, que a carga total será de:

V2
H =z+ y+ (8)
2g

FIGURA 8 – CARGA TOTAL EM UMA SEÇÃO COM DISTRIBUIÇÃO HIDROSTÁTICA

V2/2g

Q If
y
Ia

z P.H.R.
I0

FONTE: Porto (2006, p. 233)

87
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• O escoamento em condutos livres se dá por meio da ação da gravidade e a pressão


atmosférica atua em ao menos um ponto ao longo do escoamento do líquido.

• O escoamento em condutos livres pode ocorrer em uma seção aberta, como


em canais de irrigação e drenagem, ou em uma seção fechada, como nas redes
coletoras de esgoto e galerias de águas pluviais.

• O escoamento em condutos livres pode ser de diferentes tipos, entre eles:


escoamento permanente uniforme, escoamento permanente gradualmente
variado, escoamento permanente bruscamente variado, escoamento não
permanente uniforme, escoamento não permanente gradualmente variado e
escoamento não permanente bruscamente variado.

• Os escoamentos em condutos livres podem ser classificados, de acordo com o


número de Reynolds, em: escoamento laminar, com Re < 500 ou escoamento
turbulento, com Re > 2000.

• Os escoamentos em condutos livres podem ser classificados, de acordo


com número de Froude em: escoamento fluvial, com Fr <1 ou escoamento
torrencial, com Fr > 1.

88
AUTOATIVIDADE

1 Oito em cada dez brasileiros têm água tratada em casa, ainda são 35 milhões
sem esse direito básico. E menos da metade da população, 100 milhões de
pessoas não têm coleta de esgoto. Um problema do tamanho do país. Na
região Norte só 10% têm coleta de esgoto; no Nordeste, 26%; no Sul, menos
de 44%; Centro-Oeste, 53%; e Sudeste, 78%.

FONTE: G1. Investimento em saneamento básico no Brasil cai pelo terceiro ano seguido.
2019. Disponível em: https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2019/07/23/investimento-
em-saneamento-basico-no-brasil-cai-pelo-terceiro-ano-seguido.ghtml. Acesso em: 27 jul. 2019.

As canalizações de coleta de esgotos e as linhas de recalque de estações


elevatórias são exemplos de, respectivamente:

a) ( ) Condutos livres e condutos forçados.


b) ( ) Condutos forçados.
c) ( ) Canais livres.
d) ( ) Condutos forçados e condutos livres.
e) ( ) Condutos com atuação de pressão diferente da pressão atmosférica.

2 Os condutos livres e os condutos forçados, embora tenham pontos em


comum, diferem em importante aspecto: os condutos livres apresentam
superfície livre onde atua a pressão atmosférica, enquanto que, nos condutos
forçados, o fluído enche totalmente a secção e escoa com pressão diferente
da atmosférica.

FONTE: COSTA, Raimundo N. T. Condutos Livres. [s.d.]. Disponível em: http://www.gpeas.ufc.


br/disc/hidr/aula01.pdf. Acesso em: 27 jul. 2019.

Com base no texto apresentado, discorra sobre os diferentes tipos de


escoamento em condutos livres.

3 Determine o tipo de escoamento em um canal retangular de seção


trapezoidal, cuja largura de fundo é de 4 m, a declividade das margens
é de 1, altura da coluna d’água é de 2 m, e a velocidade média é de 1 m/s,
utilizando o número de Reynolds e de Froude. Calcule também a área
molhada e o perímetro molhado.

89
90
UNIDADE 2 TÓPICO 2

REGIME PERMANENTE UNIFORME

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, estudaremos o regime permanente uniforme em canais.
Relembramos, aqui, que no escoamento uniforme os parâmetros hidráulicos
são constantes nas diversas seções do canal. Entretanto, só observaremos
esse escoamento em situações em que haja equilíbrio dinâmico, ou seja, um
balanceamento entre a força que move o líquido (força aceleradora) e a resistência
oferecida pelos atritos internos e externos (força de resistência) atuantes no
movimento (NETTO et al., 1998; PORTO, 2006). Para tanto, segundo Porto
(2006), é imprescindível que o canal prismático tenha declividade e rugosidade
constantes, bem como um comprimento razoável, já que esse escoamento não é
observado em canais curtos.

Assim, de acordo com Porto (2006), o desenvolvimento do regime de


escoamento permanente uniforme em um canal prismático suficientemente longo
alimentado por um reservatório que apresenta nível constante, de declividade e
rugosidade constantes, que termina com uma queda brusca, como apresentado
na Figura 9, pode ser descrito assim:

A força resistiva originada por uma tensão de cisalhamento entre água


e o perímetro molhado, que depende da viscosidade do fluido e da
rugosidade do canal, é função da velocidade média. A força aceleradora
é a componente da força da gravidade na direção do escoamento.
No trecho inicial do canal, haverá uma aceleração do escoamento
necessária para a velocidade passar de um valor praticamente zero no
reservatório finito. Neste trecho, há um desbalanceamento das forças, já
que a componente da força de gravidade supera a força resistiva. Com
o aumento da velocidade, cresce a força de resistência até que se torna,
em módulo, igual e oposta à componente da gravidade. Ao se atingir
o equilíbrio, chega-se a um movimento com velocidade constante,
que é caracterizado pela constância da vazão através da seção reta e
constância da altura d’água, identificando o escoamento uniforme.
Próximo à extremidade de jusante, o escoamento é influenciado pela
presença da queda livre e existe novamente o desbalanceamento
das forças, caracterizando um escoamento acelerado no qual a
altura d’água varia gradualmente, o que é chamado de escoamento
permanente graduado variado (PORTO, 2006, p. 237-238).

91
UNIDADE 2 | CONDUTOS LIVRES

FIGURA 9 – ESCOAMENTO UNIFORME E NÃO UNIFORME EM CANAIS

Escoamento Escoamento Escoamento


variado uniforme variado

L.E.

FONTE: Porto (2006, p. 237)

Lembre-se de que o escoamento uniforme dificilmente ocorre na prática,


entretanto, a utilização desse modelo é base para os cálculos realizados em
escoamentos em canais (PORTO, 2006). Vale ressaltar que falaremos, neste tópico,
principalmente de canais prismáticos que apresentem baixa declividade e altura
d’água constante, também denominada altura normal (yo).

2 EQUAÇÕES DE RESISTÊNCIA
Considerando um canal prismático com declividade de fundo baixa, em
escoamento permanente e uniforme, temos a seguinte relação válida para a tensão
média de cisalhamento sob o perímetro molhado σo:

σ o = γ Rh I o (9)

Em que: γ é o peso específico da água, Rh é o raio hidráulico e Io é a


declividade de fundo.

Para escoamentos turbulentos rugosos em condutos livres, pode-se definir
a fórmula de Chézy, dada por:

V = C Rh I o (10)

Em que: C é o coeficiente de resistência ou o coeficiente de rugosidade de


Chézy, dado por C = 8 g .
f

Se utilizamos a equação da continuidade, vista na Unidade 1, podemos obter
a equação fundamental do escoamento permanente uniforme, que resulta em:

92
TÓPICO 2 | REGIME PERMANENTE UNIFORME

Q = C A Rh I o (11)

Por fim, a velocidade de atrito (µ *) em canais poderá ser calculada por:

µ * = gRh I f (12)

Em que: If representa a declividade da linha de energia.

NOTA

Caro acadêmico, lembre-se de que se o escoamento é uniforme, a linha de


fundo é paralela à linha d’água e à linha de energia, portanto, Io = Ia = If.

3 FÓRMULA DE MANNING
Por meio de resultados experimentais, Manning determinou a seguinte
relação para o cálculo do coeficiente C:

Rh1/6 (13)
C=
n

Em que: n é o coeficiente de rugosidade não adimensional e seus valores


para vários tipos de revestimentos em canais artificiais e em cursos d’água
encontram-se no seguinte quadro:

QUADRO 2 – VALORES DO COEFICIENTE DE RUGOSIDADE DA FÓRMULA DE MANNING

Condições
Natureza das paredes Muito
Boas Regulares Más
boas
Tubos de ferro fundido sem revestimento 0,012 0,013 0,014 0,015
Idem, com revestimento de alcatrão 0,011 0,012* 0,013* -
Tubos de ferro galvanizado 0,013 0,014 0,015 0,017
Tubos de bronze ou vidro 0,009 0,010 0,011 0,013
Condutos de barro vitrificado, de esgotos 0,011 0,013* 0,015 0,017
Condutos de barro, de drenagem 0,011 0,012* 0,014* 0,017

93
UNIDADE 2 | CONDUTOS LIVRES

Alvenaria de tijolos com argamassa de cimento:


0,012 0,013 0,015* 0,017
condutos de esgotos, de tijolos
Superfícies de cimento alisado 0,010 0,011 0,012 0,013
Superfícies de argamassa de cimento 0,011 0,012 0,013* 0,015
Tubos de concreto 0,012 0,013 0,015 0,016
Condutos e aduelas de madeira 0,010 0,011 0,012 0,013
Calhas de prancha de madeira aplainada 0,010 0,012* 0,013 0,014
Idem, não aplainada 0,011 0,013* 0,014 0,015
Idem, com pranchões 0,012 0,015* 0,016 -
Canais com revestimento de concreto 0,012 0,014* 0,016 0,018
Alvenaria de pedra argamassa 0,017 0,020 0,025 0,030
Alvenaria de pedra seca 0,025 0,033 0,033 0,035
Alvenaria de pedra aparelhada 0,013 0,014 0,015 0,017
Calhas metálicas lisas (semicirculares) 0,011 0,012 0,013 0,015
Idem, corrugadas 0,023 0,025 0,028 0,030
Canais de terra, retilíneos e uniformes 0,017 0,020 0,023 0,025
Canais abertos em rocha, lisos e uniformes 0,025 0,030 0,033* 0,035
Canais abertos em rocha, irregulares ou de
0,035 0,040 0,045 -
paredes de pedra irregulares e mal arrumadas
Canais dragados 0,025 0,028 0,030 0,033
Canais curvilíneos e lamosos 0,023 0,025* 0,028 0,030
Canais com leito pedregoso e vegetação aos
0,025 0,030 0,035* 0,040
taludes
Canais com fundo de terra e taludes
0,028 0,030 0,033 0,035
empedrados
ARROIOS E RIOS
Limpos, retilíneos e uniformes 0,025 0,028 0,030 0,033
Como em 1, porém com vegetação e pedras 0,030 0,033 0,035 0,040
Com meandros, bancos e poços pouco
0,035 0,040 0,045 0,050
profundos, limpos
Como em 3, águas baixas, declividade fraca 0,040 0,045 0,050 0,055
Como em 3, com vegetação e pedras 0,033 0,035 0,040 0,045
Como em 4, com pedras 0,045 0,050 0,055 0,060
Com margens espraiadas, pouca vegetação 0,050 0,060 0,070 0,080
Com margens espraiadas, muita vegetação 0,075 0,100 0,125 0,150
* Valores aconselhados para projetos
FONTE: Porto (2006, p. 273)

94
TÓPICO 2 | REGIME PERMANENTE UNIFORME

Substituindo a Equação 13 na Equação 10, obtemos a fórmula de Manning,


empregada para altos números de Reynolds e escoamentos permanentes,
uniformes e turbulentos rugosos:

1 2/3 1/2
V= Rh I o (14)
n

Por fim, podemos determinar a equação que utilizaremos como base de


cálculo em escoamentos livres:

nQ
= A Rh2/3 (15)
Io

Exemplo 3:
Calcular a vazão de um canal retangular em escoamento uniforme com
largura de fundo de 1,5 m, altura d’água de 0,8 m, declividade de fundo de
0,0003 m/m e coeficiente de Manning n de 0,014. Determine também a tensão de
cisalhamento e a velocidade de atrito.

Resposta: Lembremos antes de iniciar a resolução do problema que em


um escoamento uniforme Io = Ia = If = 0,0003 m/m. Primeiramente, vamos calcular
o raio hidráulico, Rh, dado em canal retangular (Figura 4):

by 1,5 ×0,8
=Rh = = 0,39 m
b + 2 y 1,5 + 2 × 0,8

A área A será: A = b x y = 1,5 x 0,8 = 1,2.

Utilizando a equação de Manning:

2
I o A Rh2/3 0, 0003 ×1, 2 × 0,39 3
=Q = = 0, 792 m3 / s
n 0, 014

A tensão de cisalhamento será:

N
σ o = γ Rh I o = 9800 × 0,39 × 0, 0003 = 1,15
m2

95
UNIDADE 2 | CONDUTOS LIVRES

A velocidade de atrito será:

µ * = gRh I f = 9,8 × 0,39 × 0, 0003 = 0, 034 m / s

4 CANAIS EM REGIME UNIFORME


Segundo Porto (2006), o cálculo de canais em escoamento uniforme
consiste basicamente de um problema geométrico. Se considerarmos uma seção
transversal de forma definida, e λ como sendo uma dimensão característica dessa
seção, poderemos estabelecer a seguinte relação:

A = αλ ² (16)
Rh = βλ (17)

Em que: A é a área molhada, Rh é o raio hidráulico, α e β são parâmetros


de forma da seção.

Substituindo essas equações na fórmula de Manning obtemos:

2 8
nQ
=α β 3 λ 3 (18)
Io

2
nQ
Denominando, R = α β 3 e L = , temos que:
Io

3
 L 8 M (19)
=λ = 
R K

A partir Equação 19, podemos definir dois coeficientes:

• Coeficiente dinâmico: M = L3/8


• Coeficiente de forma: K = R3/8, cujo valor será calculado de acordo com as
formas geométricas dos canais.

Existem duas possibilidades de cálculo do coeficiente K em canais em


regime uniforme, que veremos separadamente nos itens (a) e (b):

a) Seção trapezoidal, retangular e triangular

96
TÓPICO 2 | REGIME PERMANENTE UNIFORME

M
yo = (20)
K
nQ 83
M =( )
Io (21)

Em que: y é a altura da lâmina d’água, K é o coeficiente de forma para


seção trapezoidal, retangular ou triangular, e M é o coeficiente dinâmico.

Nestes casos, podemos utilizar Tabela 1 como auxiliar para obtenção dos
valores de K, sabendo que m é a razão de aspecto, dependendo da largura de fundo e
da altura da lâmina d’água (m = b/yo). Vale salientar que, quando Z, que corresponde
à inclinação do talude, é igual a zero e m é igual a zero, encontramos na Tabela 1 os
valores do coeficiente K para a seção retangular e triangular (PORTO, 2006).

TABELA 1 – VALORES DO COEFICIENTE K PARA CÁLCULO EM CANAIS DE SEÇÃO


TRAPEZOIDAL, RETANGULAR E TRIANGULAR

m = b/yo Z = 0,0 Z = 0,50 Z = 1,0 Z = 1,25 Z = 1,5 Z = 1,75 Z = 2,0


0 0 0,53 0,771 0,859 0,935 1,001 1,061
0,2 0,3 0,64 0,85 0,929 0,998 1,058 1,113
0,4 0,453 0,735 0,921 0,993 1,056 1,112 1,163
0,6 0,572 0,818 0,986 1,052 1,11 1,163 1,211
0,8 0,672 0,893 1,046 1,107 1,162 1,211 1,256
1 0,76 0,961 1,103 1,159 1,21 1,257 1,299
1,2 0,838 1,023 1,155 1,209 1,257 1,3 1,341
1,4 0,909 1,082 1,205 1,255 1,301 1,342 1,38
1,6 0,974 1,136 1,253 1,3 1,343 1,382 1,419
1,8 1,034 1,187 1,298 1,342 1,383 1,421 1,455
2 1,091 1,236 1,34 1,383 1,422 1,458 1,491
2,2 1,143 1,282 1,382 1,422 1,459 1,494 1,526
2,4 1,193 1,326 1,421 1,46 1,495 1,528 1,559
2,6 1,241 1,368 1,459 1,496 1,53 1,562 1,592
2,8 1,286 1,408 1,495 1,531 1,564 1,595 1,632
3 1,329 1,446 1,531 1,565 1,597 1,626 1,654
3,2 1,37 1,484 1,565 1,598 1,629 1,657 1,684
3,4 1,41 1,519 1,598 1,63 1,66 1,687 1,713
3,6 1,448 1,554 1,63 1,661 1,69 1,716 1,741
3,8 1,484 1,588 1,661 1,691 1,719 1,745 1,769
4 1,52 1,62 1,692 1,721 1,748 1,773 1,796
4,2 1,554 1,652 1,721 1,75 1,776 1,800 1,823

97
UNIDADE 2 | CONDUTOS LIVRES

4,4 1,587 1,682 1,75 1,777 1,803 1,826 1,849


4,6 1,619 1,712 1,778 1,805 1,829 1,852 1,874
4,8 1,651 1,741 1,805 1,831 1,855 1,878 1,899
5 1,681 1,77 1,832 1,858 1,881 1,903 1,923
5,2 1,711 1,797 1,858 1,883 1,906 1,927 1,947
5,4 1,74 1,824 1,884 1,908 1,93 1,951 1,971
5,6 1,768 1,851 1,909 1,933 1,954 1,975 1,994
5,8 1,795 1,876 1,933 1,957 1,978 1,998 2,017
6 1,822 1,902 1,958 1,98 2,001 2,021 2,039
6,2 1,848 1,926 1,981 2,004 2,024 2,043 2,061
6,4 1,874 1,951 2,004 2,026 2,046 2,065 2,083
6,6 1,899 1,975 2,027 2,049 2,068 2,086 2,104
6,8 1,924 1,998 2,05 2,071 2,09 2,108 2,125
7 1,948 2,021 2,072 2,092 2,111 2,129 2,145
7,2 1,972 2,043 2,093 2,114 2,132 2,149 2,166
7,4 1,995 2,066 2,115 2,134 2,153 2,17 2,186
7,6 2,018 2,087 2,136 2,155 2,173 2,19 2,205
7,8 2,041 2,109 2,156 2,175 2,193 2,209 2,225
8 2,063 2,13 2,177 2,195 2,213 2,229 2,244
8,2 2,084 2,151 2,197 2,215 2,232 2,248 2,263
8,4 2,106 2,171 2,216 2,235 2,251 2,267 2,282
8,6 2,127 2,191 2,236 2,254 2,27 2,285 2,3
8,8 2,148 2,211 2,255 2,273 2,289 2,304 2,318
9 2,168 2,231 2,274 2,291 2,307 2,322 2,336
9,2 2,188 2,25 2,293 2,31 2,325 2,34 2,354
9,4 2,208 2,269 2,311 2,328 2,343 2,358 2,372
9,6 2,227 2,288 2,329 2,346 2,361 2,375 2,389
9,8 2,247 2,306 2,347 2,364 2,379 2,393 2,406
10 2,266 2,325 2,365 2,381 2,396 2,41 2,423
10,2 2,284 2,343 2,383 2,399 2,413 2,427 2,44
10,4 2,303 2,36 2,4 2,416 2,43 2,444 2,456
10,6 2,321 2,378 2,417 2,433 2,447 2,46 2,473
10,8 2,339 2,395 2,434 2,449 2,464 2,477 2,489
11 2,357 2,413 2,451 2,466 2,48 2,493 2,505
11,2 2,375 2,43 2,467 2,482 2,496 2,509 2,521
11,4 2,392 2,446 2,484 2,499 2,512 2,525 2,537
11,6 2,409 2,463 2,5 2,515 2,528 2,541 2,552
11,8 2,426 2,48 2,516 2,531 2,544 2,556 2,568

98
TÓPICO 2 | REGIME PERMANENTE UNIFORME

12 2,443 2,496 2,532 2,546 2,559 2,572 2,583


12,2 2,46 2,512 2,548 2,562 2,575 2,587 2,598
12,4 2,476 2,528 2,563 2,577 2,59 2,602 2,613
FONTE: Porto (2006, p. 268)

(CONTINUAÇÃO)

m = b/yo Z = 2,25 Z = 2,50 Z = 2,75 Z = 3,00 Z = 3,25 Z = 3,50 Z = 4,0


0 1,114 1,164 1,21 1,253 1,294 1,332 1,404
0,2 1,164 1,21 1,254 1,294 1,333 1,37 1,438
0,4 1,21 1,254 1,295 1,334 1,371 1,406 1,472
0,6 1,255 1,297 1,336 1,373 1,408 1,442 1,505
0,8 1,298 1,337 1,375 1,41 1,444 1,476 1,537
1 1,339 1,376 1,412 1,446 1,478 1,509 1,568
1,2 1,378 1,414 1,448 1,481 1,512 1,542 1,598
1,4 1,416 1,451 1,483 1,514 1,544 1,573 1,628
1,6 1,453 1,486 1,517 1,547 1,576 1,604 1,657
1,8 1,488 1,520 1,550 1,579 1,607 1,634 1,685
2 1,523 1,553 1,582 1,610 1,637 1,663 1,713
2,2 1,556 1,585 1,613 1,640 1,666 1,691 1,74
2,4 1,588 1,616 1,643 1,669 1,694 1,719 1,766
2,6 1,620 1,647 1,673 1,698 1,723 1,746 1,792
2,8 1,650 1,677 1,702 1,726 1,750 1,773 1,818
3 1,680 1,705 1,730 1,754 1,777 1,799 1,843
3,2 1,708 1,734 1,757 1,780 1,803 1,825 1,867
3,4 1,737 1,761 1,784 1,807 1,829 1,850 1,891
3,6 1,764 1,788 1,811 1,832 1,854 1,874 1,915
3,8 1,792 1,815 1,837 1,858 1,878 1,899 1,938
4 1,819 1,841 1,862 1,882 1,903 1,922 1,983
4,2 1,845 1,866 1,887 1,907 1,926 1,946 2,005
4,4 1,870 1,891 1,911 1,931 1,950 1,969 2,027
4,6 1,895 1,915 1,935 1,954 1,973 1,991 2,048
4,8 1,919 1,939 1,958 1,977 1,995 2,013 2,048
5 1,943 1,963 1,981 2,000 2,017 2,035 2,07
5,2 1,967 1,986 2,004 2,022 2,039 2,057 2,09
5,4 1,990 2,008 2,026 2,044 2,061 2,078 2,111
5,6 2,013 2,030 2,048 2,065 2,082 2,099 2,131
5,8 2,035 2,052 2,069 2,086 2,103 2,119 2,151

99
UNIDADE 2 | CONDUTOS LIVRES

6 2,057 2,074 2,091 2,107 2,123 2,139 2,171


6,2 2,078 2,095 2,112 2,128 2,144 2,159 2,19
6,4 2,100 2,116 2,132 2,148 2,164 2,179 2,209
6,6 2,120 2,137 2,153 2,168 2,183 2,198 2,228
6,8 2,141 2,157 2,172 2,188 2,203 2,218 2,247
7 2,161 2,177 2,192 2,207 2,222 2,236 2,265
7,2 2,181 2,197 2,212 2,226 2,241 2,255 2,283
7,4 2,201 2,216 2,231 2,245 2,260 2,274 2,301
7,6 2,221 2,235 2,250 2,264 2,278 2,292 2,319
7,8 2,240 2,254 2,268 2,282 2,296 2,310 2,337
8 2,259 2,273 2,287 2,301 2,314 2,328 2,354
8,2 2,277 2,291 2,305 2,319 2,332 2,345 2,371
8,4 2,296 2,310 2,323 2,336 2,350 2,363 2,388
8,6 2,314 2,328 2,341 2,354 2,367 2,380 2,405
8,8 2,332 2,345 2,359 2,371 2,384 2,397 2,422
9 2,350 2,363 2,376 2,389 2,401 2,414 2,438
9,2 2,367 2,380 2,393 2,406 2,418 2,430 2,454
9,4 2,385 2,398 2,410 2,422 2,435 2,447 2,47
9,6 2,402 2,414 2,427 2,439 2,451 2,463 2,486
9,8 2,419 2,431 2,443 2,455 2,467 2,479 2,502
10 2,436 2,448 2,460 2,472 2,483 2,495 2,518
10,2 2,452 2,464 2,476 2,488 2,499 2,511 2,533
10,4 2,469 2,481 2,492 2,504 2,515 2,526 2,549
10,6 2,485 2,497 2,508 2,520 2,531 2,542 2,564
10,8 2,501 2,513 2,524 2,535 2,546 2,557 2,579
11 2,517 2,528 2,540 2,551 2,562 2,573 2,594
11,2 2,533 2,544 2,555 2,566 2,577 2,588 2,609
11,4 2,548 2,559 2,570 2,581 2,592 2,603 2,623
11,6 2,564 2,575 2,586 2,596 2,607 2,617 2,638
11,8 2,579 2,590 2,601 2,611 2,622 2,632 2,652
12 2,595 2,605 2,616 2,616 2,636 2,647 2,667
12,2 2,609 2,620 2,630 2,630 2,651 2,661 2,681
12,4 2,624 2,635 2,645 2,645 2,665 2,675 2,695
FONTE: Porto (2006, p. 269)

100
TÓPICO 2 | REGIME PERMANENTE UNIFORME

b) Seção circular

M
D= (22)
K1

Em que: D é o diâmetro da seção, K1 é o coeficiente de forma da seção


circular, e M o coeficiente dinâmico, que pode ser calculado pela Equação 21.

Para resolvermos os problemas em seções circulares, podemos utilizar a
Tabela 2, sabendo que yo/D corresponde à lâmina d’água relativa.

TABELA 2 – VALORES DO COEFICIENTE DE FORMA K1 PARA CANAIS CIRCULARES

yo/D K1 yo/D K1 yo/D K1


0,01 0,024 0,34 0,383 0,67 0,591
0,02 0,042 0,35 0,391 0,68 0,596
0,03 0,058 0,36 0,399 0,69 0,600
0,04 0,073 0,37 0,407 0,7 0,604
0,05 0,087 0,38 0,415 0,71 0,608
0,06 0,101 0,39 0,422 0,72 0,612
0,07 0,114 0,4 0,430 0,73 0,616
0,08 0,127 0,41 0,437 0,74 0,620
0,09 0,139 0,42 0,444 0,75 0,624
0,1 0,151 0,43 0,451 0,76 0,627
0,11 0,163 0,44 0,458 0,77 0,631
0,12 0,175 0,45 0,465 0,78 0,634
0,13 0,186 0,46 0,472 0,79 0,637
0,14 0,197 0,47 0,479 0,8 0,640
0,15 0,208 0,48 0,485 0,81 0,643
0,16 0,218 0,49 0,492 0,82 0,646
0,17 0,229 0,5 0,498 0,83 0,649
0,18 0,239 0,51 0,504 0,84 0,651
0,19 0,249 0,52 0,511 0,85 0,653
0,2 0,259 0,53 0,517 0,86 0,655
0,21 0,269 0,54 0,523 0,87 0,657
0,22 0,279 0,55 0,528 0,88 0,659
0,23 0,288 0,56 0,534 0,89 0,660
0,24 0,297 0,57 0,540 0,9 0,661
0,25 0,306 0,58 0,546 0,91 0,662

101
UNIDADE 2 | CONDUTOS LIVRES

0,26 0,316 0,59 0,551 0,92 0,663


0,27 0,324 0,6 0,556 0,93 0,664
0,28 0,333 0,61 0,562 0,94 0,664
0,29 0,342 0,62 0,567 0,95 0,664
0,3 0,350 0,63 0,572 0,96 0,663
0,31 0,359 0,64 0,577 0,97 0,661
0,32 0,367 0,65 0,582 0,98 0,659
0,33 0,375 0,66 0,586 0,99 0,656
FONTE: Porto (2006, p. 253)

Exemplo 4:
Uma galeria de águas pluviais, de concreto, com n = 0,013, transporta água
a uma vazão de 1 m³/s. Considerando que esta galeria apresente diâmetro de 0,80
m e declividade de fundo de 0,006 m/m, calcule a altura d’água neste canal.

Resposta: Vamos iniciar calculando o coeficiente dinâmico M:

nQ  0, 013 ×1  8
3
=M (= )  8
=  0,512 m
Io  0, 006 

Pela Equação 20, podemos determinar o valor de K1:

M
D=
K1
0,512
K1 = 0, 64
=
0,8

Pela Tabela 2, para K1 = 0,64, tem-se yo/D de 0,8 e, portanto:

yo = 0,8 × D = 0, 64 m

5 SEÇÕES DE MÍNIMO PERÍMETRO MOLHADO OU MÁXIMA


VAZÃO
Caro acadêmico, observe a fórmula de Manning (Equação 15). O que você
consegue perceber com relação à máxima vazão? Podemos notar claramente
que se a declividade de fundo e a rugosidade forem constantes, obteremos uma
máxima vazão, quando o raio hidráulico apresentar seu valor máximo. Isso é

102
TÓPICO 2 | REGIME PERMANENTE UNIFORME

observado apenas quando o perímetro molhado apresenta valor mínimo em


compatibilidade com a área do canal. Portanto, ao projetar canais devemos estar
atentos a esta propriedade, que nos fornece eficiência hidráulica e econômica, já
que o revestimento é uma das partes mais custosas de uma obra, e, assim trabalhar
com o mínimo perímetro molhado nos permite obter a mínima superfície de
revestimento necessária (PORTO, 2006).

Entretanto, segundo Porto (2006):

Na prática, entretanto, nem sempre é possível projetar uma seção na


condição de mínimo perímetro molhado, pois a seção pode resultar
profunda, com o custo de escavação, rebaixamento do lenço freático
etc. superando o custo do revestimento. Outras vezes a seção resultante
é tal que a largura de fundo é pequena em relação à altura, o que pode
dificultar a construção. Ainda pode acontecer de a velocidade média
resultante para a vazão de projeto não ser compatível com o tipo de
revestimento empregado, podendo provocar erosão nos taludes e no
fundo. Para uma determinada área, a figura que apresenta menor
perímetro molhado é o círculo, porém sua construção é inexequível,
a não ser que seja pré-fabricada como as tubulações para sistemas de
esgotos ou drenagem de águas pluviais (PORTO, 2006, p. 255).

Visto isso, como podemos obter o mínimo perímetro molhado nas diversas
geometrias possíveis para os canais? Veremos a seguir:

1 Trapézio

Sabendo que a área molhada (A) e o perímetro molhado (P) de uma seção
trapezoidal são dados por:

A
= ( m + Z ) yo² (23)
P =(m + 2 1 + Z 2 ) yo (24)

Em que: m é a razão de aspecto da seção (b/yo) e Z é a inclinação do talude.



Assim, teremos que a condição que deve haver entre m e Z de uma seção
trapezoidal para que se tenha máxima vazão será:

m= 2 ( 1+ Z 2 − Z ) (25)

2 Retângulo

Para o retângulo, a inclinação do talude Z = 0, portanto, pela Equação 24,


m = 2. Assim:

103
UNIDADE 2 | CONDUTOS LIVRES

b
m=
yo
b = 2 yo

Teremos um mínimo perímetro quando a largura da seção retangular


equivaler a duas vezes a altura d’água.

Exemplo 5:
Um canal trapezoidal apresenta taludes com inclinação Z = 1, declividade
de fundo Io = 0,005 m/m, revestimentos em alvenaria de pedra seca em condições
muito boas. A vazão neste canal é de 8 m³/s, e a razão de aspecto m = 3. Dimensione
este canal e verifique se a seção encontrada é de mínimo perímetro molhado.

Resposta: Pelo Quadro 2 é possível determinarmos que o coeficiente de


rugosidade n = 0,025.

Pela Tabela 1 é possível determinar o valor de K, para m = 3 e Z = 1, K = 1,531.

O coeficiente dinâmico será de:

nQ 83  0, 025 × 8  8
=M (= )  =  1, 477
Io  0, 005 

Pela Equação 19:

M 1, 477
yo
= = = 0,964 m
K 1,531

Portanto, a largura de fundo b será:

b
m=
yo
3 × 0,964 =
b= 2,892 m

A área molhada será de:

A = ( m + Z ) yo ² = ( 3 + 1) × 0,9642 = 3, 72 m²

104
TÓPICO 2 | REGIME PERMANENTE UNIFORME

A relação entre m e Z será:

= 2
m ( ) (
1 + Z 2 − Z= 2 )
1 + 12 − 1= 0,82 ≠ 4

Portanto, a seção não é de mínimo perímetro molhado.

6 ELEMENTOS HIDRÁULICOS DA SEÇÃO CIRCULAR


Temos as seguintes relações válidas para os elementos hidráulicos de uma
seção circular:

V  Rh 3
(26)
= 
V p  Rhp 
2

Q A  Rh 3
(27)
=  
Q p Ap  Rhp 
2
V  senθ  3
= 1 − (28)
Vp  θ 
2
Q 1  senθ  3
= (θ − senθ ) 1 − (29)
Q p 2π  θ 

Em que: Rhp, Vp e Qp são, respectivamente, o raio hidráulico, a velocidade


e a vazão na seção plena.

Esses elementos hidráulicos podem ser fornecidos por gráficos (Gráfico 1)


ou tabelas (Tabela 3).

105
UNIDADE 2 | CONDUTOS LIVRES

GRÁFICO 1 – ELEMENTOS HIDRÁULICOS DA SEÇÃO CIRCULAR


1

0,9

0,8
Vazão
0,7

0,6
Yo/D

0,5

0,4

0,3
Velocidade
0,2
Raio hidráulico
0,1

0
0 0,5 1 1,5

Q/Qp V/Vp Rh/Rhp


FONTE: Porto (2006, p. 257)

TABELA 3 – CARACTERÍSTICAS DOS CONDUTOS CIRCULARES PARCIALMENTE CHEIOS


Qx/ Ux/ Qx/ Ux/ Qx/ Ux/ Qx/ Ux/
y/D y/D y/D y/D
Qp Up Qp Up Qp Up Qp Up
0,07 0,01 0,32 0,36 0,26 0,82 0,51 0,51 1,00 0,66 0,76 1,10
0,10 0,02 0,41 0,37 0,27 0,83 0,51 0,52 1,01 0,66 0,77 1,10
0,12 0,03 0,46 0,38 0,28 0,85 0,52 0,53 1,01 0,67 0,78 1,11
0,14 0,04 0,47 0,39 0,29 0,87 0,52 0,54 1,02 0,68 0,79 1,11
0,15 0,05 0,49 0,39 0,30 0,87 0,54 0,55 1,02 0,68 0,80 1,12
0,16 0,06 0,51 0,39 0,31 0,88 0,55 0,56 1,02 0,69 0,81 1,12
0,18 0,07 0,53 0,40 0,32 0,89 0,55 0,57 1,03 0,69 0,82 1,13
0,19 0,08 0,54 0,41 0,33 0,90 0,56 0,58 1,03 0,70 0,83 1,13
0,20 0,09 0,59 0,41 0,34 0,90 0,56 0,59 1,04 0,70 0,84 1,13
0,22 0,10 0,62 0,42 0,35 0,91 0,57 0,60 1,04 0,71 0,85 1,13
0,22 0,11 0,63 0,42 0,36 0,92 0,58 0,61 1,05 0,72 0,86 1,13
0,25 0,12 0,65 0,43 0,37 0,93 0,58 0,62 1,06 0,73 0,87 1,13
0,26 0,13 0,67 0,44 0,38 0,93 0,58 0,63 1,06 0,74 0,88 1,13
0,27 0,14 0,68 0,45 0,39 0,93 0,58 0,64 1,06 0,74 0,89 1,13
0,28 0,15 0,69 0,46 0,40 0,94 0,59 0,65 1,07 0,75 0,90 1,14
0,28 0,16 0,71 0,47 0,41 0,95 0,60 0,66 1,08 0,76 0,91 1,14
0,28 0,17 0,71 0,47 0,42 0,96 0,60 0,67 1,08 0,77 0,92 1,14
0,29 0,18 0,72 0,48 0,43 0,97 0,61 0,68 1,08 0,78 0,93 1,14
0,30 0,19 0,73 0,48 0,44 0,97 0,62 0,69 1,08 0,78 0,94 1,14
0,31 0,20 0,77 0,48 0,45 0,98 0,62 0,70 1,08 0,78 0,95 1,15
0,32 0,21 0,78 0,49 0,46 0,99 0,62 0,71 1,09 0,78 0,96 1,15
0,33 0,22 0,79 0,49 0,47 0,99 0,63 0,72 1,09 0,79 0,97 1,15

106
TÓPICO 2 | REGIME PERMANENTE UNIFORME

0,34 0,23 0,80 0,50 0,48 0,99 0,63 0,73 1,09 0,80 0,98 1,15
0,35 0,24 0,81 0,50 0,49 0,99 0,64 0,74 1,09 0,81 0,99 1,15
0,36 0,25 0,82 0,50 0,50 1,00 0,65 0,75 1,10 0,82 1,00 1,15

FONTE: Baptista e Lara (2010, p. 236)

Vale salientar que conhecer os elementos hidráulicos para várias alturas


d’água é imprescindível em projetos como em sistemas de esgoto, em que os canais
atuam parcialmente cheios. Além disso, podemos determinar conhecendo esses
parâmetros, qual a relação entre a vazão que está escoando e aquela que obteríamos
se a seção fosse plena (PORTO, 2006). Além disso, conhecendo-se a vazão e
velocidade na condição de seção plena, pode-se determinar a vazão e a velocidade
nas condições de trabalho (BAPTISTA; LARA, 2010), dadas pelas equações:

8 1
0,1
Qp = π D3 I 2 (30)
n
0, 4 23 12
Vp = D I (31)
n

7 CANAIS FECHADOS
Os canais fechados são utilizados em coletores de esgoto, canais de
drenagem de águas pluviais e subterrâneas, tendo como principal forma, as
seções circulares. Tem-se as seguintes expressões válidas para estes canais:

2
2 1
1  senθ  3 (32)
=V D 3 I o2 1 −
2,52 n  θ 
5

Q=
1 8 1
D 3 I o2
(θ − senθ ) 3 (33)
2
20, 2 n 3
θ

Assim, de acordo com Porto (2006), tem-se que:

• V = Vmáx, quando θ = 257° e, portanto, yo = 0,81 D.


• Q = Qmáx, quando θ = 302,5° e, portanto, yo = 0,94 D.

Para projetos, em contrapartida, adota-se o limite da lâmina líquida como


sendo yo= 0,75 D.

107
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• No regime permanente uniforme, os parâmetros hidráulicos são constantes


nas diversas seções do canal.

• O escoamento uniforme não é observado em canais curtos e dificilmente


ocorre na prática. Entretanto, a utilização desse modelo é base para os cálculos
realizados em escoamentos em canais.

• A fórmula de Manning é utilizada como base de cálculo em escoamentos livres,


nQ
dada por: = A Rh2/3.
Io

• O cálculo de canais em escoamento uniforme consiste basicamente de um


problema geométrico, temos como importantes parâmetros, portanto, o
coeficiente dinâmico (M) e o coeficiente de forma (K).

• Seções de mínimo perímetro molhado fornecem máxima vazão e, por isso,


ao projetar canais devemos estar atentos a esta propriedade, que nos fornece
eficiência hidráulica e econômica.

• Para uma determinada área, a figura que apresenta menor perímetro molhado
é o círculo.

108
AUTOATIVIDADE

1 Quais são as condições necessárias para que o regime permanente uniforme


aconteça? Qual é a fórmula básica para o cálculo desses canais?

2 Por que utilizar o mínimo perímetro molhado é importante em projetos


hidráulicos? Sua utilização é sempre vantajosa? Qual é a figura geométrica
com menor perímetro molhado?

3 Dimensione o escoamento em um canal trapezoidal que apresenta inclinação de


taludes Z = 1 e razão de aspecto m = 6, transportando uma vazão de 4 m³/s. A
seção encontrada é mínimo perímetro molhado? Dados: n = 0,018, I = 0,004 m/m.

109
110
UNIDADE 2 TÓPICO 3

REGIME PERMANENTE GRADUALMENTE


VARIADO

1 INTRODUÇÃO
Como já vimos nos tópicos anteriores, o regime gradualmente variado
consiste no escoamento em que os parâmetros hidráulicos variam de maneira lenta
e gradual ao longo do espaço (PORTO, 2006; BAPTISTA; LARA, 2010). Assim,
tem-se que enquanto o regime bruscamente variado se manifesta em um trecho
curto do canal, o regime gradualmente variado se estende consideravelmente a
distâncias da singularidade que o causou, como por exemplo, a construção de uma
barragem em um canal de fraca declividade, comum em obras de aproveitamento
hidrelétrico (PORTO, 2006).

Tem-se que no escoamento gradualmente variado, a declividade do fundo


(Io), declividade piezométrica (Ia) não mais coincidem ao fundo do canal. Além
disso, a declividade da linha de energia (If), não é mais paralela à declividade
piezométrica (BAPTISTA; LARA, 2010), como observamos na Figura 10. Desta
forma, as trajetórias das partículas de líquido que se movimentam não são
paralelas, entretanto, pode-se considerar que as trajetórias são sensivelmente
paralelas ao fundo do canal, admitindo-se, portanto, que haja distribuição das
pressões hidrostática (BAPTISTA; LARA, 2010).

FIGURA 10 – ESCOAMENTO GRADUALMENTE VARIADO

V1 ≠
V2 If

y1

y2 Ia

Io

FONTE: Adaptada de Baptista e Lara (2010)

111
UNIDADE 2 | CONDUTOS LIVRES

Segundo Baptista e Lara (2010, p. 250-251):

A ocorrência do escoamento gradualmente variado está associada a


trechos iniciais e finais de canais prismáticos, às transições verticais
e horizontais graduais e aos canais com declividade variável. Uma
situação prática notável refere-se à ocorrência do escoamento
gradualmente variado em regime subcrítico nos trechos a montante
de um controle hidráulico artificial. Este caso corresponde ao remanso,
bastante presente nas situações práticas da Engenharia Hidráulica.

Como observamos essa variabilidade espacial no regime gradualmente


variado, a análise desse tipo de escoamento mostra-se mais complexa do que
para escoamentos uniformes (BAPTISTA; LARA, 2010). Veremos, portanto, neste
tópico, as curvas de remanso nesses canais em várias declividades, bem como
alguns aspectos teóricos, para finalizar demonstrando algumas metodologias
para o cálculo da linha d’água.

2 EQUAÇÃO DIFERENCIAL DO ESCOAMENTO


GRADUALMENTE VARIADO
A equação diferencial do escoamento gradualmente variado pode ser
determinada utilizando as seguintes hipóteses (PORTO, 2006):

• O canal apresenta uma baixa declividade.


• O canal é prismático, apresentando forma e dimensões constantes em qualquer
seção.
• A distribuição de velocidade em uma seção é considerada fixa.
• A distribuição de pressão em uma seção é hidrostática.

Por meio dessas considerações, e empregando a FIGURA 5, encontra-se a


seguinte equação:

dy I o − I f
= (34)
dx 1 − Fr ²

Em que: dy/dx é a declividade da superfície livre do líquido, em relação


ao fundo do canal, Io é declividade de fundo, If é a declividade da linha de energia,
e Fr é o número de Froude.

Portanto, se Io = If, dy/dx = 0, temos a ocorrência do regime o uniforme.

112
TÓPICO 3 | REGIME PERMANENTE GRADUALMENTE

FIGURA 11 – ELEMENTOS DO ESCOAMENTO VARIADO


y

θ
V2/2g
L.E.
Q
y L.P.
0
θ
z x
P.H.R.
Seção S
FONTE: Porto (2006, p. 415)

3 CLASSIFICAÇÃO DOS PERFIS DE ESCOAMENTO


Para classificar os perfis de escoamento, deve-se incialmente relatar as
seguintes relações fundamentais, que permitem estudar o sinal da derivada dy/
dx e as propriedades da curva de remanso (PORTO, 2006):

• se y = yo, então Io = If (escoamento é uniforme);


• se y > yo, então Io > If;
• se y < yo, então If > Io;
• se y > yc, então Fr² < 1;
• se y < yc, então Fr² > 1;
• se y = yc, então Fr² = 1 (condição crítica).

Assim teremos cinco classificações das curvas de remanso em função da


declividade de fundo, Io (PORTO, 2006):

• Se Io > 0:
◦ Classe M: canais de declividade fraca ou moderada, com Io < Ic.
◦ Classe S: canais de declividade forte ou severa, com Io > Ic.
◦ Classe C: canais de declividade crítica, com Io = Ic.
• Se Io = 0, Classe H: canais horizontais.
• Se Io > 0, Classe A: canais em aclive.

Veremos agora cada um dos tipos de curvas de remanso por classificação.

1 Canais com declividade fraca

Nesses canais observamos três regiões: A, B e C (Figura 12), das quais,


segundo Baptista e Lara (2010) e Porto (2006):

113
UNIDADE 2 | CONDUTOS LIVRES

• Região A, curva M1:


◦ y > yo > yc, Io > If e Fr < 1 e, portanto, dy/dx > 0. Assim, há crescimento da
profundidade com a abscissa, e a curva M1 é assíntota à profundidade
normal a montante e a uma horizontal a jusante. Esse nível de curva ocorre a
montante de uma barragem.
• Região B, curva M2:
◦ yo > y > yc, If > Io e Fr < 1 e, portanto, dy/dx < 0. Assim, a profundidade nesse
nível de curva diminui com a abscissa, e a curva M2 tende assintoticamente
para a profundidade normal e perpendicularmente para a profundidade
crítica. Esse tipo de curva ocorre em uma queda brusca, a montante.
• Região C, curva M3:
◦ yo > yc > y, If > Io e Fr > 1 e, portanto, dy/dx > 0. Assim, a profundidade nesse nível
de curva aumenta com a abscissa, e a curva M3 tende perpendicularmente
para a profundidade crítica e o fundo do canal. Esse tipo de curva ocorre em
certas mudanças de inclinação e a jusante de comportas.

FIGURA 12 – CURVAS M PARA CANAIS COM DECLIVIDADE FRACA


dy
y > yo > yc dx
A M1
Horiz.
B N.N
M2 dy
yo > y > yc
dx
C N.C
yo > yc > y
yc dy
M3
dx

Declividade fraca
FONTE: Porto (2006, p. 419)

2 Canais com declividade forte

Nesses canais também observamos três regiões A, B e C (Figura 13), das


quais, segundo Baptista e Lara (2010) e Porto (2006):

• Região A, curva S1:


◦ Curva convexa e crescente (dy/dx > 0). Esse tipo de curva ocorre a
montante de barragem descarregadora, certas mudanças de declividades e
estreitamentos.
• Região B, curva S2:
◦ Curva côncava e decrescente (dy/dx < 0). Esse tipo de curva ocorre em canais
de declividade forte alimentados por um reservatório.

114
TÓPICO 3 | REGIME PERMANENTE GRADUALMENTE

• Região C, curva S3:


◦ Curva convexa e crescente (dy/dx > 0). Esse tipo de curva ocorre a jusante de
comportas e barragens descarregadoras.

FIGURA 13 – CURVAS S PARA CANAIS COM DECLIVIDADE FORTE

S1 Horiz.
A y > yc > yo
dy
B dx
yc N.C
yc > y > yo dy
S2
dx
C
yo
yc > yo > y N.N
S3 dy
dx
Declividade
forte

FONTE: Porto (2006, p. 420)

3 Canais com declividade crítica

Nesses canais, que apresentam curvas intermediárias a M e S, observamos


duas regiões A e C (Figura 14), das quais, para Porto (2006):

• Região A, curva C1:


◦ Curva crescente com desenvolvimento praticamente horizontal.
• Região C, curva C3:
◦ Curva crescente, partindo de uma altura d’água finita.

FIGURA 14 – CURVAS C PARA CANAIS COM DECLIVIDADE CRÍTICA


Horiz.
A y > (yo – yc)
C1 dy
C dx
y < (yo = yc) N.C
yo = yc C3 dy
dx

Declividade critica
FONTE: Porto (2006, p. 420)

115
UNIDADE 2 | CONDUTOS LIVRES

4 Canais com declividade nula

De acordo com Baptista e Lara (2010) e Porto (2006), nesses canais, como
não há declividade, não observamos a presença do regime uniforme, assim, duas
regiões A e C (Figura 15), das quais:

• Região A, curva H2:


◦ Curva decrescente (dy/dx < 0).
• Região C, curva H3:
◦ Curva crescente (dy/dx > 0).

FIGURA 15 – CURVAS H PARA CANAIS COM DECLIVIDADE NULA

H2
yo = ∞ y > yc dy
dx
A
N.C
C
dy
y < yc
yc dx
H3

Canal horizontal
FONTE: Porto (2006, p. 421)

5 Canais em aclive

Nesses canais, de maneira similar aos de declividade nula, não há


declividade normal, temos assim duas regiões A e C (Figura 16), das quais nos
apresentam Baptista e Lara (2010) e Porto (2006):

• Região A, curva A2:


◦ Curva decrescente (dy/dx < 0).
• Região C, curva A3:
◦ Curva crescente (dy/dx > 0).

116
TÓPICO 3 | REGIME PERMANENTE GRADUALMENTE

FIGURA 16 – CURVAS A PARA CANAIS COM DECLIVIDADE NULA

A2
dy
yo = ∞ y > yc
dx
N.C
A
dy
C
y < yc dx
yc A3

Canal em aclive
FONTE: Porto (2006, p. 421)

4 SINGULARIDADES
Diversos tipos de singularidades podem ocorrer em canais em regime
gradualmente variado, entre estes, conforme Porto (2006):

• mudança de declividade;
• mudança de seção;
• alteração da cota de fundo.

Assim, as transições que ocorrem devido à presença dessas singulares,


darão origem às curvas de remanso que estudamos no tópico anterior.

5 DETERMINAÇÃO DO PERFIL DE ÁGUA EM CANAIS


REGULARES
Para calcular a linha d’água no escoamento gradualmente variado, temos
que, segundo Baptista e Lara (2010, 261, grifo do original):

Para a utilização de qualquer técnica de cálculo, o procedimento básico


repousa na análise hidráulica do sistema, através da identificação das
seções de controle e da determinação das profundidades normais e
críticas associadas a cada trecho. A partir da definição dos tipos de linhas
d’água pertinentes, e portanto, da evolução qualitativa do nível d’água,
podem ser identificados os regimes de escoamento em cada trecho,
permitindo estabelecer o sentido da marcha dos cálculos a seguir, ou
seja, de jusante para montante em regime fluvial e de montante para
jusante em regime torrencial. O cálculo dos escoamentos gradualmente
variados pode ser efetuado de diversas formas distintas, indo desde
procedimentos gráficos até processos analíticos de integração direta,
passando por métodos de integração numérica. Com a disponibilidade
atual de meios computacionais possantes, adotam-se principalmente
estes últimos, sendo que o processo mais utilizado atualmente consiste
no que pode ser denominado como Método de Integração por Passos,
correspondente ao Direct Step Method e ao Standard Step Method.

117
UNIDADE 2 | CONDUTOS LIVRES

Assim, a utilização do Método de integração por passos resulta na seguinte


equação:

E − E1
∆x = 2 (35)
Io − I f

Em que: Δx corresponde à distância que separa as seções 1 e 2 do remanso,


e E corresponde à energia específica.

A energia específica pode ser obtida pela seguinte expressão:

V2
E= y + (36)
2g

Por fim, If pode ser calculado pela seguinte equação:

n 2Q ²
If = 4 (37)
Rh 3 A²

ou

n 2V ²
If = 4 (38)
Rh 3

Em que: Q é a vazão, V é a velocidade, n é o coeficiente de rugosidade de


Manning, e Rh é o raio hidráulico.

Exemplo 1:
Determine o remanso provocado por uma barragem de 0,9 m de altura em
um canal retangular de concreto (n = 0,015), que apresenta declividade de fundo
de 0,001 m/m, largura de 4 m. Adote que na profundidade normal, yo, de 1,25 m
esse canal funciona em regime uniforme.

118
TÓPICO 3 | REGIME PERMANENTE GRADUALMENTE

FIGURA 17 – REMANSO EM UM CANAL RETANGULAR DE CONCRETO

yo
yc
Io = 0,001
0,9 m

Δx
FONTE: Adaptado de Baptista e Lara (2010)

Resposta: Primeiramente, precisamos calcular a vazão nesse sistema


utilizando a fórmula de Manning:

1
1
Q= A Rh2/3 I o2
n

Para isso, precisamos determinar os parâmetros hidráulicos desse canal


retangular:

A = b × y = 4 ×1, 25 = 5 m²
P = b + 2 y = 4 + 2 ×1, 25 = 6,5 m
A 5
R=h = = 0, 77 m
P 6,5
B= b= 4 m

Portanto:

2 1
1
Q= 5 × 0, 77 3 ×0, 0012 = 8,86 m3 / s
0, 015

A profundidade crítica será:

1 1
 Q 2  3  8,862  3
=yc = 2   2=  0, 79 m
 B g   4 × 9,8 

Assim, a montante desta profundidade teremos: y1 = 0,9 + 0,79 = 1,69 m.

119
UNIDADE 2 | CONDUTOS LIVRES

Calculando os valores a montante:

Q 8,86
V=
1 = = 1,31 m / s
A1 1, 69 × 4
V12 1,312
E1 =y1 + =1, 69 + =1, 78 m
2g 2 × 9,8
A b × y1 4 ×1, 69
Rh=
1 = = = 0,92 m
P b + 2 y1 4 + 2 ×1, 69

Para seção em que ocorre a profundidade normal (yo):

Q 8,86
V=
2 = = 1, 77 m / s
A2 1, 25 × 4
V2 2 1, 77 2
E2 =y2 + =1, 25 + =1, 41 m
2g 2 × 9,8

Podemos então determinar If:

1, 77 + 1,31
=V = 1,54 m / s
2
0, 77 + 0,92
= Rh = 0,845 m
2
2
0, 015 1,54²
=If = 4
0, 0007 m / m
0,845 3

Por fim, podemos obter a distância que o remanso atingirá:

1, 41 −1, 78
∆x = =−1233 m
0, 001 − 0, 0007

O sinal negativo demonstra que o valor calculado se encontra no sentido


contrário ao escoamento.

6 FORMAS DA SUPERFÍCIE DA ÁGUA


De acordo com Porto (2006), as curvas do escoamento gradualmente
variado apresentam as seguintes características:

120
TÓPICO 3 | REGIME PERMANENTE GRADUALMENTE

• y ≅ yo, uma vez que as curvas consistem em tangentes assintóticas à linha de


profundidade normal.
• y ≅ yc, uma vez que as curvas são ortogonais à linha de profundidade crítica.
• As curvas tendem assintoticamente a uma linha horizontal se a profundidade
dy
cresce continuamente, y →∞; dx → I .
o

• As curvas determinadas no Tópico 3 são mais teóricas do que reais, uma vez que o
escoamento observado no regime gradualmente variado não é retilíneo e paralelo.

Para finalizarmos o estudo desta unidade, vamos observar a Figura 18, a


qual apresenta alguns exemplos de ocorrência das curvas de remanso em diversas
situações práticas.

FIGURA 18 – EXEMPLOS DE CURVAS DE REMANSO

FONTE: Porto (2006, p. 445)

121
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• O regime gradualmente variado consiste no escoamento em que os parâmetros


hidráulicos variam de maneira lenta e gradual ao longo do espaço.

• Cinco classificações das curvas de remanso em função da declividade de fundo


podem ser observadas:
◦ Se Io > 0:
◦ Classe M: canais de declividade fraca ou moderada, com Io < Ic.
◦ Classe S: canais de declividade forte ou severa, com Io > Ic.
◦ Classe C: canais de declividade crítica, com Io = Ic.
◦ Se Io = 0, Classe H: canais horizontais.
◦ Se Io > 0, Classe A: canais em aclive.

• O perfil de água em canais regulares pode ser determinando pelo Método de


Integração por Partes.

• O cálculo dos escoamentos gradualmente variados é realizado de diversas


maneiras que envolvem desde procedimentos gráficos até processos analíticos
de integração direta, passando por métodos de integração numérica.

122
AUTOATIVIDADE

1 Quais são os perfis de escoamento encontrados no regime gradualmente


variado? Dê três exemplos práticos de ocorrência destas curvas.

2 Determine a distância que será atingida por um remanso causado por uma
barragem de 1 m de altura em um canal retangular de concreto (n = 0,015),
que apresenta declividade de fundo de 0,0008 m/m, largura de 2 m. Na
profundidade de 1,5 m este canal encontra-se em regime uniforme.

123
124
UNIDADE 2
TÓPICO 4

REGIME PERMANENTE BRUSCAMENTE


VARIADO – RESSALTO HIDRÁULICO

1 INTRODUÇÃO
Iniciemos este tópico relembrando o que é um regime bruscamente
variado, que consiste basicamente em uma mudança rápida e localizada dos
parâmetros hidráulicos ao longo do escoamento. Dentre as características deste
regime podemos destacar, de acordo com Baptista e Lara (2010):

• A distribuição hidrostática das pressões não pode ser admitida, uma vez que
temos uma curvatura bastante pronunciada neste fluxo.
• O atrito com as paredes dos canais nessas condições apresenta papel secundário,
podendo ser até mesmo desprezado.
• Os coeficientes α e β podem apresentar variações significativas nesse
escoamento, devido às bruscas mudanças de velocidades.
• Há dificuldade significativa de definição das condições de fluxo nesse
escoamento, uma vez que correntes secundárias podem ser formadas, assim
como vórtices e zonas de estagnação, entre outras.

O principal exemplo do regime bruscamente variado consiste no ressalto


hidráulico, que consiste em uma sobre-elevação brusca da superfície líquida
(NETTO et al., 1998), e que estudaremos mais claramente neste tópico com uma
abordagem teórica e experimental. De acordo com Porto (2006, p. 335):

O ressalto hidráulico ou salto hidráulico é o fenômeno que ocorre
na transição de um escoamento torrencial ou supercrítico para um
escoamento fluvial ou subcrítico. O escoamento é caracterizado por
uma elevação brusca no nível d’água, sobre uma distância curta,
acompanhada de uma instabilidade na superfície com ondulações e
entrada de ar do ambiente e por uma consequente perda de energia
em forma de grande turbulência. O ressalto ocupa uma posição fixa
em um leito uniforme, desde que o regime seja permanente, e pode ser
considerado como uma onda estacionária. Este fenômeno local ocorre
frequentemente nas proximidades de uma comporta de regularização
ou ao pé de um vertedor de barragem. O ressalto é, principalmente,
utilizado como dissipador de energia cinética de uma lâmina líquida
que desce pelo paramento de um vertedor, evitando o aparecimento
de um processo erosivo no leito do canal de restituição. O ressalto
também pode ser encontrado na entrada de uma estação de tratamento
de água, na calha Parshall, e é usado para promover uma boa mistura
dos produtos químicos utilizados no processo de purificação da água.

125
UNIDADE 2 | CONDUTOS LIVRES

Vale salientar que o estudo do regime bruscamente variado é bastante


complexo, não havendo formas genéricas a serem aplicadas, uma vez que as
expressões definidas nos escoamentos uniforme e gradualmente variável
não são válidas devido à descontinuidade do fluxo observada neste regime
(BAPTISTA; LARA, 2010).

2 DESCRIÇÃO DO RESSALTO
Para descrevermos o ressalto, utilizaremos a Figura 19. Com base nela,
podemos observar que uma diminuição da velocidade de escoamento, à medida
que o líquido escoa, ocorre o ressalto hidráulico, sendo gerada uma turbulência
acentuada no interior do ressalto. Rolos d’água podem ser formados sobre
a superfície da parte ascensional do ressalto, se a elevação da linha d’água
é pronunciada. A turbulência criada, junto ao movimento dos rolos d’água
acarretam uma dissipação de energia (PORTO, 2006).

Assim, o ressalto estacionário ocorre entre duas seções: uma a montante,


quando se tem um escoamento torrencial, e outra a jusante, que apresenta
escoamento fluvial. As alturas d’água nessas seções são denominadas alturas ou
profundidades conjugadas do ressalto, y1 e y2, sendo respectivamente as alturas
a montante e a jusante do ressalto. A diferença entre y2 e y1 (y2 - y1) consiste na
altura do ressalto. Na fronteira entre y2 e y1, observamos a profundidade crítica,
yc, correspondente ao ponto de energia mínima no sistema. Por fim, observamos
uma perda de carga no ressalto (∆E), consistida pela diferença de cotas na linha
de energia (PORTO, 2006).

FIGURA 19 – ASPECTO DO RESSALTO HIDRÁULICO

Linh
a de Perda de
ener ΔE
gia carga
V12/2g
V22/2g
los
Ro Ne
Nível
crítico

Yc Y2 V2

V1 Y1

Torrencial Ressalto Fluvial


FONTE: Porto (2006, p. 335)

126
TÓPICO 4 | REGIME PERMANENTE BRUSCAMENTE VARIADO – RESSALTO HIDRÁULICO

O ressalto pode ser classificado de acordo com o número de Froude


na seção a montante (Fr1), conforme podemos observar na Figura 20 a seguir.
Assim, no ressalto ondulado com 1 < Fr1 < 1,7 (a) temos uma transição gradual
entre o escoamento torrencial e fluvial, sendo as perdas de carga causadas
principalmente pelo atrito entre as paredes e o fundo. No ressalto fraco, com
1,7 < Fr1 < 2,5 (b), observamos ainda um aspecto ondular, apresentando zonas
de separação na superfície líquida, e baixas perdas de carga. A partir de Fr1 >
2,5, o ressalto começa a apresentar seu aspecto típico. Assim, para 2,5 < Fr1 < 4,5
temos o ressalto oscilante, que apresenta tendência de se deslocar para jusante,
não mantendo sua posição próxima à fonte geradora. Por fim, para 4,5 < Fr1 <
9,0 temos o ressalto estacionário (d), aplicado em obras hidráulicas como forma
de dissipação de energia. Caso Fr1 > 9,0, teremos o ressalto forte, não descrito na
Figura 20, que não é empregado em construções hidráulicas, já que pode acarretar
processos abrasivos e até mesmo cavitação (PORTO, 2006).

FIGURA 20 – TIPOS DE RESSALTO DE ACORDO COM O NÚMERO DE FROUDE A MONTANTE

FONTE: Porto (2006, p. 336)

3 FORÇA ESPECÍFICA
A força específica em um ressalto hidráulico pode ser definida de acordo
com Baptista e Lara (2010), como sendo a soma entre o fluxo da quantidade de
movimento na seção (Q²/gA), com a força resultante da pressão hidrostática ( y A):

Q2
F (=
y) +yA (39)
gA

Em que: y é a distância vertical desde a superfície livre até o centro de


gravidade da superfície molhada, Q é a vazão, g é a aceleração da gravidade
e A é a área.

127
UNIDADE 2 | CONDUTOS LIVRES

Assim, o ressalto hidráulico corresponderá à igualdade entre as forças


específicas a montante e a jusante:

F ( y1 ) = F ( y2 ) (40)

Segundo Porto (2006), plotando-se um gráfico da altura d’água em função


da força específica (Figura 21), tem-se a curva de força específica que apresenta as
seguintes propriedades:

• Se a altura y tende a zero, a força específica tende ao infinito, resultando em


uma curva assintótica ao eixo das abscissas.
• Se a altura y tende ao infinito, o mesmo ocorre com a força específica que é
também crescente, resultando em uma curva que se estende indefinidamente
para a direita.
• Se a profundidade y corresponde à profundidade crítica (yc), a força específica
é mínima para qualquer forma de canal.

FIGURA 21 – CURVA DA FORÇA ESPECÍFICA

Y
B
dA

c.g. Y2 Y C
Yc.g.

Y1 YC

F1 F
FONTE: Porto (2006, p. 338)

4 CANAIS RETANGULARES
Para uma seção retangular temos que as seguintes expressões análogas
são válidas, e relacionam as alturas conjugadas (y2 e y1):

• Conhecidas as condições a montante:

y2 1 
= 1 + 8 Fr12 − 1 (41)
y1 2  

128
TÓPICO 4 | REGIME PERMANENTE BRUSCAMENTE VARIADO – RESSALTO HIDRÁULICO

Em que: Fr1 corresponde ao número de Froude a montante, e pode ser


V
calculado pela expressão Fr1 = 1 .
g y1

• Conhecidas as condições a jusante:

y1 1 
= 1 + 8 Fr22 − 1 (42)
y2 2  

Em que: Fr2 corresponde ao número de Froude a jusante, e pode ser


V
calculado pela expressão, Fr2 = 2 .
g y2

NOTA

Apenas haverá ressalto se Fr1 > 1, ou seja, se escoamento a montante for


torrencial. Entretanto, de forma complementar, é necessário que a altura requerida y2 no
regime fluvial seja produzida, senão o escoamento permanece torrencial, sem formação
do ressalto (PORTO, 2006).

Exemplo 1:
Um canal retangular de 4 m de largura apresenta um ressalto hidráulico
com profundidade a montante de 0,25 m. Sabendo que a vazão no canal é de 3
m³/s, determine a profundidade a jusante desse ressalto.

Resposta: Primeiramente, vamos calcular a velocidade V neste ressalto,


dada por:

Q 3
V= = = 3m / s
A 4 x 0, 25

O número de Froude poderá ser calculado pela Equação 2, que vimos


no Tópico 1:

V1 3
Fr1
= = = 1,92
g y1 9,8 x0, 25

129
UNIDADE 2 | CONDUTOS LIVRES

Podemos então obter a altura a jusante dada por:

y2 1   1  1 + 8 ×1,922 − 1=
 2, 26
= 1 + 8 Fr12 − 1=
y1 2   2 
y2 = 2, 26 ×0, 25 = 0,57 m

5 CANAIS NÃO RETANGULARES


Em canais não retangulares podemos estabelecer a seguinte expressão:

2 (1 + M )
1 M  2
  (1 + M ) 
=1 − Y  + 1 − Y  Fr1 
2 3
 − 1 (43)
2 3  1 + 2 M   Y (1 + MY ) 

Em que: Y corresponde à relação entre as alturas conjugas (Y = y2/y1),


M é uma espécie de razão de aspecto de seção (M = Zy1/b) e Fr1 é o número de
Froude a montante.

Por fim, pode-se utilizar a Figura 22 para facilitar os cálculos em canais


não retangulares, já que relaciona Y com Fr1 e M:

FIGURA 22 – RELAÇÃO DAS ALTURAS CONJUGADAS PARA CANAIS


TRAPEZOIDAIS, EM FUNÇÃO DE FR1 E M
10
0
9
0,1
8
0,2
7
y2
Y= 0,4
y1 6 0,6
0,8
5
3

4
M
3

1
1 2 3 4 5 6 7 8 9
V1
Fr1 =
gHm1
FONTE: Porto (2006, p. 342)

130
TÓPICO 4 | REGIME PERMANENTE BRUSCAMENTE VARIADO – RESSALTO HIDRÁULICO

Exemplo 2:
Determine a altura conjugada no regime fluvial, em um canal trapezoidal
com largura de fundo de 4 m, inclinação dos taludes Z de 1,0, vazão de 21 m³/s e
uma altura no regime torrencial y1 de 0,5 m.

Resposta: Na seção 1, os parâmetros geométricos são dados por:

 4 
Área: A1 = ( m1 + Z ) y1 =  0,5 + 1 × 0,5 = 2, 25 m².
2 2

• Largura na superfície B1 = b + 2Zy1 = 4 + 2 ×1× 0,5 = 5 m .
A 2, 25
• Altura hidráulica: H = B= 5= 0, 45 m.
m1
1

Velocidade: V= QA= 2,2125= 9,33 m / s.


1

• 1
1

O número de Froude será então de:

V1 9,33
=Fr1 = = 4, 44
g Hm 9,8 × 0, 45

O valor de M será:

Zy 0,5
M =1 =1× 0,1
=
b1 5

Pelo gráfico temos que, para Fr1 = 4,44 e M = 0,1, Y = 5 e, portanto, a


profundidade a jusante é:

y2
Y=
y1
5 0,5 =
y2 =× 2,5 m

6 PERDA DE CARGA NO RESSALTO


Para um ressalto, a perda de carga (∆E) pode ser calculada pela diferença
de energia antes (E1) e após o salto (E2) (PORTO, 2006):

V12 V2
∆E = E1 − E2 = ( y1 + ) − ( y2 + 2 ) (44)
2g 2g

Em que: y1 e y2 são as alturas conjugadas e V1 e V2 são as velocidades a


montante e a jusante do ressalto.

131
UNIDADE 2 | CONDUTOS LIVRES

Se o canal for retangular, a Equação 44 se torna:

( y − y )³
∆E = 2 1 (45)
4 y2 y1

E
IMPORTANT

Caro acadêmico, observe a Equação 45! O que você percebe? A perda de


carga é elevada de maneira significativa com o aumento da altura do ressalto.

O comprimento de um ressalto hidráulico (Lj), em contrapartida, não é


possível de ser determinando através de expressões teóricas. De acordo com
Porto (2006, p. 345):

Se a perda de carga no ressalto pode ser calculada a partir de uma


expressão deduzida analiticamente, o mesmo não ocorre com o
comprimento do ressalto, distância entre as seções em que ocorrem
as alturas conjugadas. A experiência tem mostrado que, para canais
retangulares, o comprimento Lj de um ressalto hidráulico é bem
definido e se situa normalmente entre 5 e 7 vezes o valor de sua altura
(y2 – y1), ou, segundo certos autores, o comprimento é da ordem de 6y2.

Assim, a equação mais comum no meio técnico, segundo Baptista e Lara
(2010), para o cálculo do ressalto hidráulico é:

=L j 6,9 ( y2 − y1 ) (46)

O comprimento Lj pode também ser definido através da Figura 23, que


apresenta o gráfico adimensional do comprimento do ressalto, de acordo com o
número de Froude na entrada do ressalto (Fr1):

132
TÓPICO 4 | REGIME PERMANENTE BRUSCAMENTE VARIADO – RESSALTO HIDRÁULICO

FIGURA 23 – COMPRIMENTO E TIPOS DE RESSALTO HIDRÁULICO EM FUNÇÃO DO NÚMERO


DE FROUDE, PARA UMA SEÇÃO RETANGULAR
7

Lj 6
y2
Lj
5
y2
y1
4
Ondular Oscilante Ressalto estável Ressalto forte
Melhor Desempenho Bacia de dissipação
Fraco desempenho aceitável dispendiosa

3
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Fr1 = V1(gy1)0,5
FONTE: Porto (2006, p. 345)

Exemplo 3:
Um vertedor apresenta um ressalto hidráulico em um canal retangular
de largura de 50 m. A vazão nesse vertedor é de 400 m³/s e a altura a montante
do ressalto é de 0,80 m. Calcule a altura a jusante, o comprimento e a energia
dissipada nesse ressalto.

Resposta: Primeiramente, vamos calcular a velocidade V nesse ressalto,


dada por:

Q 400
V= = = 10 m / s
A 50 x 0,8

O número de Froude poderá ser calculado pela Equação 2, que vimos no


Tópico 1:

V 10
Fr1
= = = 3,57
g y1 9,8 x0,8

Podemos então obter a altura a jusante dada por:

y2 1   1  1 + 8 × 3,57 2 − 1=
 4,57
= 1 + 8 Fr12 − 1=
y1 2   2 
y2 = 4,57 ×0,8 = 3, 66 m

133
UNIDADE 2 | CONDUTOS LIVRES

O comprimento do ressalto será:

L=
j 6,9 ( y2 − y=
1) 6,9 ( 3, 66 − 0,8=
) 19, 734 m

Já que tratamos de um canal retangular, a energia dissipada será de:

( y2 − y1 )³ ( 3, 66 − 0,8 )
3

∆E
= = = 2m
4 y2 y1 4 × 3, 66 × 0,8

134
TÓPICO 4 | REGIME PERMANENTE BRUSCAMENTE VARIADO – RESSALTO HIDRÁULICO

LEITURA COMPLEMENTAR

FLUXO DE ÁGUA EM CANAIS ABERTOS

Existe um aspecto importante que faz o fluxo em canais abertos ser


diferente do fluxo em tubos. O fluxo em tubulações preenche o canal inteiro, e,
portanto, suas fronteiras são definidas pela geometria do tubo. Além disso, possui
uma pressão hidráulica que varia de uma seção à outra ao longo da tubulação.
O fluxo em canais abertos possui uma superfície livre que se ajusta dependendo
das condições de fluxo. Essa superfície está sujeita à pressão atmosférica, que
permanece relativamente constante ao longo de toda a extensão do canal. Assim,
o fluxo em canais abertos é direcionado pelo componente de força gravitacional
ao longo da declividade do canal. Observe que essa declividade aparecerá em
todas as equações de fluxo em canais abertos, enquanto as equações de fluxo em
tubos incluem somente a declividade da linha de grade.

Na figura a seguir, o fluxo de canais abertos está esquematicamente
comparado ao de tubos. A Figura (a) apresenta o segmento de um fluxo de tubo
com duas extremidades verticais abertas (piezômetros) instaladas em uma parede
de tubos na seção superior, 1, e na seção inferior, 2. O nível de água em cada tubo
representa a altura de pressão (p/γ) no tubo da seção. A linha conectando os níveis
de água nos dois tubos representa a linha de energia hidráulica (HGL) entre essas
seções. A altura de velocidade em cada seção é representada na forma familiar
(V²/2g), em que V é a velocidade média, V = Q/A, na seção. A altura de energia total
em qualquer seção é igual à soma entre a altura (potencial) de elevação (h), a altura
de pressão (p/γ) e a altura de velocidade (V²/2g). A linha conectando a altura total
de energia nas duas seções é denominada linha de energia (EGL). O montante de
energia perdida quando a água escoa da seção 1 para a seção 2 é indicado por hL.

A figura (b) apresenta o segmento de um fluxo em canal aberto. A superfícies de


água livre está sujeita somente à pressão atmosférica, que é normalmente referenciada
como referência de pressão zero na prática de engenharia hidráulica. A distribuição
de pressão em qualquer seção é diretamente proporcional à profundidade medida a
partir da superfície da água. Nesse caso, a linha da superfície da água corresponde à
linha de energia hidráulica nos fluxos em tubos.

135
UNIDADE 2 | CONDUTOS LIVRES

FIGURA – COMPARAÇÃO DE (A) FLUXO EM TUBOS E (B) FLUXO EM CANAIS ABERTOS


1 2

V12 hL
EGL V22
2g
2g
HGL
P1
y P2
y

h1
h2

Linha de referência
(a)

V12 1 2
2g EGL hL
WSL
P
y V22
y1
V y 2g
y2
y'

z1 z2
Linha de referência
(b)
FONTE: Houghtalen, Hwang e Akan (2012, p. 118)

Para resolver os problemas de fluxo em canais abertos, precisamos buscar


as relações interdependentes entre a declividade do fundo do canal, a descarga, a
profundidade da água e outras características do canal.

FONTE: HOUGHTALEN, Robert J.; HWANG, Ned, H. C.; AKAN, Osman, A. Engenharia Hidráulica.
São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2012.

CONDUTOS LIVRES

O escoamento em condutos livres é caracterizado por apresentar uma


superfície livre na qual reina a pressão atmosférica. Estes escoamentos têm um
grande número de aplicações práticas na engenharia, estando presentes em áreas
como o saneamento, a drenagem urbana, irrigação, hidroeletricidade, navegação
e conservação do meio ambiente.

136
TÓPICO 4 | REGIME PERMANENTE BRUSCAMENTE VARIADO – RESSALTO HIDRÁULICO

Os problemas apresentados pelos escoamentos livres são mais complexos


de serem resolvidos, uma vez que a superfície livre pode variar no espaço e no
tempo e, como consequência, a profundidade do escoamento, a declividade do
fundo e a do espelho do líquido são grandezas interdependentes. Desta forma,
dados experimentais sobre condutos livres são, usualmente, de difícil apropriação.

De modo geral, a seção transversal dos condutos livres pode assumir


qualquer forma e a rugosidade das paredes internas tem grande variabilidade,
podendo ser lisas ou irregulares, como a de canais naturais. Além disto, a
rugosidade das paredes pode variar com a profundidade do escoamento e,
consequentemente, a seleção do coeficiente de atrito é cercada de maiores
incertezas em relação à condutos forçados.

FONTE: CTEC. Aula prática 9 a 12: Condutos Livres. [20--]. Disponível em: http://www.ctec.ufal.
br/professor/mgn/AulaPratica09A12.pdf. Acesso em: 19 jul. 2019.

COLETA DE ESGOTOS

Depois do uso da água, seja no banho, na limpeza de roupas, de louças


ou na descarga do vaso sanitário, o esgoto começa a ser formado. Os que vêm das
residências formam os esgotos domésticos, e os formados em fábricas recebem
o nome de esgotos industriais. Esta diferenciação é importante, porque cada
tipo possui substâncias diferentes, e são necessários sistemas específicos para o
tratamento dos resíduos.

Geralmente, o esgoto não tratado contém muitos transmissores de doenças,


micro-organismos, resíduos tóxicos e nutrientes que provocam o crescimento de
outros tipos de bactérias, vírus ou fungos. Os sistemas de coleta e tratamento de
esgotos são importantes para a saúde pública, porque evitam a contaminação e
transmissão de doenças, além de preservar o meio ambiente.

É preciso, contudo, ficar atento ao descarte de resíduos à rede de esgoto.


Óleo de fritura usado deve ser separado pelo dono do imóvel em garrafas pet
para entregar nos pontos de coleta. O material quando jogado na tubulação forma
placas de gordura que se juntam com outros dejetos que também não deveriam
estar no esgoto, como fios de cabelo e papéis, causando entupimentos e refluxo

137
UNIDADE 2 | CONDUTOS LIVRES

de esgoto. Outro ponto de atenção são as águas pluviais. A água de chuva nunca
dever ser direcionada à rede coletora de esgoto. A ação sobrecarrega a tubulação
provocando seu rompimento.

Como funciona a coleta de esgotos

Nas casas, comércios ou indústrias, ligações com diâmetro pequeno formam


as redes coletoras. Estas redes são conectadas aos coletores-tronco (tubulações
instaladas ao lado dos córregos), que recebem os esgotos de diversas redes.

Dos coletores-tronco, os esgotos vão para os interceptores, que são


tubulações maiores, normalmente próximas aos rios. De lá, o destino será uma
Estação de Tratamento, que tem a missão de devolver a água, em boas condições,
ao meio ambiente, ou reutilizá-la para fins não potáveis.

FONTE: SABESP. Coleta de esgotos. 2019. Disponível em: http://site.sabesp.com.br/site/interna/


Default.aspx?secaoId=50. Acesso em: 27 jul. 2019.

138
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:

• O ressalto hidráulico é uma importante aplicação do regime bruscamente


variado e consiste em um fenômeno que ocorre na transição de um escoamento
torrencial para um escoamento fluvial.

• O ressalto estacionário, para 4,5 < Fr1 < 9,0 é aplicado em obras hidráulicas
como forma de dissipação de energia.
( y − y1 )³
• A perda de carga de um ressalto em canais retangulares é dada por:∆E = 42 y .
2 y1

=
• O comprimento do ressalto pode ser obtido pela equação Lj 6,9 ( y2 − y1 ) .

• Em canais retangulares, podem-se obter as alturas conjugadas pelas seguintes


expressões, dependendo se são conhecidos os dados a montante ou a jusante,
y 1 y1 1
respectivamente: 2 = [ 1 + 8Fr12 − 1] e, =  1 + 8 Fr2 − 1 .
2

y1 2 y2 2

139
AUTOATIVIDADE

1 O que é um ressalto hidráulico? Em qual tipo de regime observamos sua


ocorrência? Qual tipo de ressalto apresenta aplicação nas construções
hidráulicas?

2 Um canal retangular apresenta um ressalto hidráulico de profundidade a


jusante de 4 m. Sabendo que a vazão é de 200 m³/s, e a largura do canal é
de 15 m, determine a profundidade inicial do ressalto, seu comprimento e a
energia dissipada.

140
UNIDADE 3

SISTEMAS ELEVATÓRIOS E
PROCESSOS DE MEDIDAS
HIDRÁULICAS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender os componentes de um sistema elevatório;

• calcular a potência do conjunto motor-bomba;

• obter o ponto de operação de uma bomba;

• comparar o NPSH disponível e requerido para que não haja cavitação em


um sistema elevatório;

• utilizar o critério econômico e a fórmula de Bresse para determinação do


diâmetro em sistemas de recalque;

• diferenciar os métodos de medição: método direto, orifícios, bocais,


vertedores, medidores diferenciais e medidores de regime crítico;

• compreender como é feita a medição de vazão em diversos medidores;

• conhecer o funcionamento e equacionamento de um medidor Parshall.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em dois tópicos. No decorrer da unidade, você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – SISTEMAS ELEVATÓRIOS

TÓPICO 2 – PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

141
142
UNIDADE 3
TÓPICO 1

SISTEMAS ELEVATÓRIOS

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, nós estudaremos os sistemas elevatórios utilizados quando
não há disponibilidade de cotas topográficas, ou seja, quando não é possível
o aproveitamento da energia potencial para o transporte de água. Assim, a
transferência de energia para elevação do líquido será feita por meio de um
sistema eletromecânico (PORTO, 2006).

De acordo com Porto (2006, p. 123):

Um sistema de recalque ou elevatório é o conjunto de tubulações ou


acessórios, bombas e motores necessário para transportar uma certa
vazão de água ou qualquer outro líquido de um reservatório inferior
R1 na cota Z1, para outro reservatório R2 na cota Z2 > Z1. Nos casos mais
comuns de sistemas de abastecimento de água, ambos os reservatórios
estão abertos para a atmosfera e com níveis constantes, o que permite
tratar o escoamento como permanente.

Os sistemas elevatórios são constituídos, segundo Porto (2006), por:

a) Tubulação de sucção: tubulação que liga o reservatório inferior à bomba, bem


como os acessórios necessários nessa tubulação, por exemplo, válvula de pé
com crivo, registro, curvas, entre outros.
b) Conjunto elevatório: conjunto motor-bomba necessário à elevação e transporte
do líquido.
c) Tubulação de recalque: tubulação que liga a bomba ao reservatório superior,
incluindo os acessórios, como registros, válvulas de retenção, manômetros,
entre outros.

NOTA

Caro acadêmico, note que os sistemas elevatórios são compostos por


equipamentos eletromecânicos (motor e bomba), tubulações (sucção e recalque), assim
como obras de construção civil, como o poço de sucção.

143
UNIDADE 3 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS E PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

A Figura 1 apresenta os principais componentes de um sistema elevatório:

FIGURA 1 – COMPONENTES PRINCIPAIS DE UM SISTEMA ELEVATÓRIO

FONTE: Jones e Sanks (1998 apud TSUTIYA, 2006, p. 226)

144
TÓPICO 1 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS

Veremos nos tópicos seguintes de forma mais ampla os componentes dos


sistemas elevatórios.

2 ALTURA MANOMÉTRICA
A altura manométrica (Hm) corresponde à energia absorvida pelo líquido
ao atravessar a bomba, sendo, portanto, dada pela diferença entre a energia na
saída e na entrada da bomba (BAPTISTA; LARA, 2010).

Assim, se houver uma tubulação que interliga dois reservatórios, como


demonstrado na Figura 2, teremos a seguinte relação válida (BAPTISTA; LARA, 2010):

H=
m H g + ∆H1− 2 (1)

Em que: Hg corresponde à altura geométrica ou desnível geométrico entre


os pontos 1 e 2 (Hg = Z2 – Z1), ΔH1-2 corresponde à perda de carga total (distribuídas
e localizadas) que ocorre nas tubulações entre os pontos 1 e 2.

Podemos dividir os termos da Equação 1 em duas parcelas, relativas à


sucção e ao recalque (BAPTISTA; LARA, 2010):

H=m Hs + Hr (2)
H g= hs + hr (3)
∆H1− 2 = ∆H s + ∆H r (4)

O que resulta em:

H s= hs + ∆H s (5)
H r= hr + ∆H r (6)
H=
m H g + ∆H s + ∆H r (7)

Em que:

Hs é a altura manométrica de sucção;


hs é a altura geométrica de sucção;
ΔHs é a perda de carga de sucção;
Hr é a altura manométrica de recalque;
hr é a altura geométrica de recalque;
ΔHr é a perda de carga de recalque.

145
UNIDADE 3 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS E PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

FIGURA 2 – PARÂMETROS HIDRÁULICOS DE UMA INSTALAÇÃO DE RECALQUE

Linha Piezométrica (2) Δhr

Hg hr Hr Hm

hs Hs
(1)
Δhs

Linha Piezométrica

FONTE: Baptista e Lara (2010, p. 136)

Exemplo 1:
Considere o sistema de recalque apresentado na figura a seguir:

FIGURA 3 – ESQUEMA DE UM SISTEMA DE RECALQUE

B
20 m

BOMBA

2m

FONTE: Adaptada de Duarte et al. (1996)

146
TÓPICO 1 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS

Calcule as alturas manométricas de recalque, sucção e a altura manométrica


total para uma perda de carga na sucção é de 1,5 m e para uma perda de carga no
recalque é de 11,4 m.

Resposta:
Dados:
ΔHs= 1,5 m
ΔHr = 11,4 m
hs = 2 m
hr = 20 m
Hg = 22 m

Como vimos no Subtópico 2, as seguintes equações são válidas:

H s= hs + ∆H s
H r= hr + ∆H r
H=
m H g + ∆H s + ∆H r

Assim, a altura manométrica de sucção será de:

H s =2 + 1,5 =3, 5 m

Já a altura manométrica de recalque será:

H r =20 + 11, 4 =31, 4 m

Por fim, a altura manométrica total será de:

H m = 22 + 1,5 + 11, 4 = 34,9 m

3 POTÊNCIA DO CONJUNTO ELEVATÓRIO


A potência hidráulica de um conjunto elevatório (bomba-motor) consiste
no trabalho que é realizado sobre o líquido quando este passa pela bomba
(BAPTISTA; LARA, 2010). Assim, o conjunto elevatório precisa superar a diferença
de nível que há entre os dois pontos do escoamento mais as perdas de carga que
ocorrem em todo o percurso do líquido (NETTO et al., 1998). Assim a potência
hidráulica será expressa pela seguinte equação:

PH = γ Q H m (8)

147
UNIDADE 3 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS E PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

Em que:
PH é a potência hidráulica (W)
γ é o peso específico da água (γ = 9800 N/m³)
Q é a vazão bombeada (m³/s)
Hm é a altura manométrica (m)

No sistema técnico, para a escolha de bombas é mais comumente


utilizado o cavalo vapor (cv) como unidade de medida para potência. Assim,
a Equação 8 torna-se:

γ Q Hm
PH = (9)
75

Em que:
PH é a potência hidráulica (cv)
γ é o peso específico da água (γ = 1000 kgf/m³)
Q é a vazão bombeada (m³/s)
Hm é a altura manométrica (m)

Entretanto, é necessário fornecer à bomba uma potência superior à
potência hidráulica, já que há perdas no interior da bomba que devem ser levadas
em consideração, que de acordo com Baptista e Lara (2010), são decorrentes de:

• aspereza presente na superfície interna das paredes da bomba;


• recirculação do líquido que ocorre no interior da bomba;
• vazamentos que podem ocorrer através das junções;
• energia dissipada no atrito tanto entre as partes da bomba, quanto entre o
líquido e a bomba.

Assim, é importante definirmos aqui o conceito de rendimento ou eficiência


da bomba (ηB), que consiste na relação entre a potência hidráulica (PH) e a potência
absorvida pela bomba (PB). Segundo Baptista e Lara (2010), os rendimentos das
bombas dependem da vazão (Q), da altura manométrica (Hm) e do tipo de bomba
escolhida, ou seja, do porte e das características do equipamento (PORTO, 2006),
variando, normalmente, entre os valores de 30% a 90%. Dessa forma, pode-se
obter a potência da bomba (PB), modificando-se a Equação 9 que resulta em:

γ Q Hm
PB = (10)
75η B

Com: PB (cv), Q (m³/s), Hm (m) e, γ = 1000 kgf/m³.

148
TÓPICO 1 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS

Por fim, para avaliarmos a potência do conjunto elevatório (motor e


bomba), temos que definir também o rendimento do motor ηM, que consiste na
razão entre a potência transmitida pelo motor e a potência recebida pela fonte de
energia, que resulta em (BAPTISTA; LARA, 2010):

PB γ Q H m γ Q Hm
P
= = =
η M 75η Bη M 75η
γ QH (11)
P= m
75η

Em que:
P é a potência absorvida pelo conjunto motor-bomba (cv);
η é o rendimento do conjunto motor-bomba.

4 POTÊNCIA INSTALADA
Em situações práticas, devemos admitir uma certa folga para os motores
elétricos, como recomendado por Netto et al. (1998):

TABELA 1 – POTÊNCIA INSTALADA RECOMENDADA

Classe de potência Acréscimo (%)


≤ 2CV 50 %
2 a 5 CV 30 %
5 a 10 CV 20 %
10 a 20 CV 15 % 15 %
> 20 CV 10 %
FONTE: Adaptada de Netto et al. (1998, p. 271)

Exemplo 2:
Um conjunto motor-bomba apresenta rendimento de 75%. A vazão a ser
recalcada é de 10 L/s de um reservatório inferior até um reservatório superior,
conforme a figura seguinte (Figura 4). A perda de carga na sucção é de 1 m,
enquanto que a perda de carga para o recalque é de 2,5 m. Determine a potência,
em cv, do conjunto elevatório para essas condições.

149
UNIDADE 3 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS E PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

FIGURA 4 – ESQUEMA DO CONJUNTO ELEVATÓRIO

50 m

B VR RG

3m

FONTE: Adaptada de Baptista e Lara (2010)

Resposta:
Dados do exercício:
η = 75% = 0,75
Q = 10 L/s = 0,01 m³/s
∆Hs = 1 m
∆Hr = 2,5
Hg = 50 + 3 = 53 m

Pela Equação 11, observamos a necessidade de determinarmos a altura
manométrica (Hm), previamente ao cálculo da potência, dada por:

H=
m H g + ∆H s + ∆H r
H m = 53 + 1 + 2,5 = 56, 5 m

Podemos então calcular a potência do conjunto motor-bomba:

γ Q H m 1000 × 0, 01×56,5
=P = =
75η 75 × 0, 75

5 RENDIMENTO DE MÁQUINAS
Segundo Netto et al. (1998), o rendimento das máquinas depende da
potência até um determinado ponto, devido a motivos construtivos, tendo-se,
portanto, o rendimento mais elevado em grandes máquinas. Assim, podemos
utilizar como exemplo alguns rendimentos médios de motores elétricos de acordo
com a potência:

150
TÓPICO 1 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS

TABELA 2 – EXEMPLO DE RENDIMENTOS DE MOTORES ELÉTRICOS


Potência (cv) ½ ¾ 1 1½ 2 3 5 10 20 30 50 100
Rendimento
64% 67% 72% 73% 75% 77% 81% 84% 86% 87% 88% 90%
do Motor (ηM)

FONTE: Adaptada de Netto et al. (1998)

No caso de bombas que apresentam a mesma potência, o rendimento será


variável de acordo com a vazão de bombeamento. Como exemplo, observaremos
o rendimento de bombas centrífugas de 1 cv e 750 rpm:

TABELA 3 – EXEMPLO DE RENDIMENTOS DE BOMBAS CENTRÍFUGAS

Vazão (L/s) 5 7,5 10 15 20 25 30 40 50 100 200


Rendimento
52% 61% 66% 68% 71% 75% 80% 84% 85% 87% 88%
do Motor (ηM)

FONTE: Adaptada de Netto et al. (1998)

6 BOMBAS
O princípio de funcionamento de bombas pode ser definido, de acordo
com Porto (2006, p. 132):

O princípio básico de transferência da energia recebida pela bomba,


de uma fonte externa, ao fluido é a existência, no corpo ou na caixa
da máquina, de uma roda ou rotor que, ao girar comunica ao fluido
aceleração centrífuga e consequente aumento de pressão. A ação do
rotor orienta a trajetória das partículas dentro do corpo da bomba,
desde a seção de entrada até a saída.

As bombas podem ser classificadas de acordo com a trajetória do líquido


em seu interior (PORTO, 2006):

• Bombas centrífugas ou de escoamento radial: a entrada do fluido ocorre


axialmente pelo centro e sua saída ocorre de maneira radial pela periferia,
como podemos observar na Figura 5a. A utilização dessas bombas é indicada
para cargas elevadas e vazões baixas, e a elevação da pressão é decorrente
especialmente da ação da força centrífuga.
• Bombas de escoamento misto ou diagonal: a entrada do líquido ocorre
axialmente e sua saída ocorre de maneira diagonal, ou seja, uma média entre a
direção axial e radial (Figura 5b). A utilização dessas bombas é indicada para
cargas médias, e a elevação da pressão é decorrente tanto da força centrífuga
quanto da ação de sucção das pás.
• Bombas de escoamento axial: a entrada do fluido ocorre axialmente e a sua saída
ocorre em trajetória helicoidal, em direção majoritariamente axial (Figura 5c). A
utilização dessas bombas é indicada para cargas baixas e vazões altas.

151
UNIDADE 3 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS E PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

FIGURA 5 – TIPOS DE ROTORES DE BOMBAS

a) b) c)
FONTE: Porto (2006, p. 132)

Com relação ao rotor, em bombas mistas e centrífugas, este pode ser:

a) fechado, quando o rotor se encontra confinado por duas placas paralelas,


originando no local de escoamento do líquido dutos com as pás do rotor
(Figura 5a);
b) aberto, em que as pás, que apresentam forma recurvada, encontram-se fixadas
em apenas um disco, originando canais (Figura 5b).

Os rotores fechados são utilizados para bombeamento de líquidos limpos,


que não apresentam material particulado (PORTO, 2006).

Por fim, as bombas podem ser classificadas de acordo com o número
de rotores em estágio simples, quando estas apresentam apenas um rotor e,
estágios múltiplos, quando a bomba apresenta dois ou mais rotores. A utilização
de múltiplos rotores ocorre quando a altura de elevação do líquido é grande,
impossibilitando um bom rendimento com a utilização de apenas um rotor, como
por exemplo, na captação de águas em poços profundos (PORTO, 2006).

7 VELOCIDADE ESPECÍFICA
A velocidade específica é um parâmetro de fundamental importância na
escolha do tipo de bomba. Segundo Netto et al. (1998, p. 278), a velocidade específica
é “o número de rotações por minuto de uma bomba ideal, geometricamente
semelhante à bomba em consideração”. Assim temos que:

1
nQ 2
Ns = 3 (12)
Hm 4

152
TÓPICO 1 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS

Em que:
Ns é a velocidade específica (rpm)
n é a rotação (rpm)
Q é a vazão bombeada (m³/s)
Hm á a altura manométrica da bomba (m)

A Figura 6 apresenta a classificação dos tipos de bombas e da forma


do rotor em função da velocidade específica. Analisando essa figura podemos
perceber que menores valores de Ns representam as bombas centrífugas, valores
intermediários de Ns, as bombas de escoamento misto e, maiores valores de Ns, as
bombas de escoamento axial.

FIGURA 6 – FORMA DO ROTOR E TIPOS DE BOMBAS DE ACORDO


COM A VELOCIDADE ESPECÍFICA (NS)

Ns<90 90 a 130 130 a 220 220 a 440 440 a 500 Ns>500 NS

Radial centrífuga Mista Semi Axial


Lenta Normal Rápida Axial

FONTE: Porto (2006, p. 135)

8 CURVAS CARACTERÍSTICAS DE UMA BOMBA


De acordo com Porto (2006, p. 136), denomina-se curva característica “a
representação gráfica ou em forma de tabela das funções que relacionam os diversos
parâmetros envolvidos em seu funcionamento”. Alguns exemplos de curvas
características de bombas centrífugas (Figura 7) e de bombas axiais (Figura 8) são
apresentados a seguir:

153
UNIDADE 3 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS E PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

FIGURA 7 – CURVAS CARACTERÍSTICAS DE BOMBAS CENTRÍFUGAS

FONTE: Baptista e Lara (2010, p. 152)

NOTA

Caro aluno, trataremos mais amplamente do NPSH no Subtópico 15, entretanto,


de forma resumida, este consiste na energia disponível para o líquido na entrada da bomba
(Netto et al. 1998).

154
TÓPICO 1 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS

FIGURA 8 – CURVAS CARACTERÍSTICAS DE BOMBAS AXIAIS

FONTE: Baptista e Lara (2010, p. 152)

Em se tratando dos catálogos disponibilizados por fabricantes, de forma


geral, três gráficos são apresentados para uma família de bombas: o gráfico das
curvas da altura de elevação em função da vazão, indicando as linhas de pontos
de igual rendimento (isorrendimento), o gráfico do NPSH requerido em função da
vazão (veremos mais amplamente no Subtópico 15), e o gráfico contendo a curva de
potência necessária a bomba em função da vazão (PORTO, 2006). A Figura 9 apresenta
um exemplo de família de curvas características da bomba KSB-MEGANORM, com
rotação de 1750 rpm, para diâmetros de rotor na faixa de 148 a 176 mm.

155
UNIDADE 3 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS E PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

E
IMPORTANT

O diâmetro do rotor influencia a curva característica de uma bomba. Observe a


FIGURA 99 e constate você mesmo! Para uma determinada vazão, notamos que o diâmetro
apresenta influência tanto na altura de elevação quanto na potência necessária à bomba.

FIGURA 9 – CURVAS CARACTERÍSTICAS DA BOMBA KSB-MEGANORM

FONTE: Porto (2006, p. 139)

156
TÓPICO 1 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS

8.1 INFLUÊNCIA DA ROTAÇÃO NA CURVA CARACTERÍSTICA


DA BOMBA
A elevação ou diminuição da rotação provoca alterações significativas nas
curvas características da bomba, alterando seu intervalo de aplicação (NETTO et
al. 1998), como podemos observar na Figura 10. Dessa forma, se as características
do líquido e as demais grandezas geométricas permanecerem constantes, será
possível obter para cada ponto da curva característica em uma rotação n1, outro
ponto da curva característica em uma rotação n2, assim teremos as seguintes
relações (BAPTISTA; LARA, 2010):

n2
Q2 = Q1 (13)
n1
2
n 
H m2 =  2  H m1 (14)
 n1 
3
n 
PB 2 =  1  PB1 (15)
 n2 

Em que: Q é a vazão em m³/s, n é a rotação em rpm, Hm é altura manométrica


e PB é potência da bomba.

FIGURA 10 – INFLUÊNCIA DA ROTAÇÃO NA CURVA CARACTERÍSTICA DE UMA BOMBA

FONTE: Baptista e Lara (2010, p. 154)

8.2 PONTO DE OPERAÇÃO


O ponto de operação de uma bomba corresponde ao ponto ótimo de
rendimento daquela bomba, e ao custo mínimo da tubulação empregada (PORTO,
2006). Segundo Baptista e Lara (2010, p. 158):

157
UNIDADE 3 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS E PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

Uma determinada bomba, embora possa trabalhar dentro de uma


ampla faixa de valores determinados pela sua curva característica, tem
sua operação definida, num dado sistema, em função das condições
deste sistema em termos de altura geométrica e perda de carga total.
Assim, o ponto de operação de uma bomba num dado sistema é a
intersecção da curva característica da bomba com a curva do sistema
de tubulação (BAPTISTA; LARA, 2010, p. 158).

A Figura 11 demonstra como podemos identificar o ponto de operação,


dado pelo ponto em que ocorre o cruzamento entre a curva característica da bomba
(CB), obtida nos catálogos de fabricantes, e a curva do sistema de tubulação (CS):

FIGURA 11 – PONTO DE OPERAÇÃO DE UMA BOMBA

FONTE: Baptista e Lara (2010, p. 158)

A curva do sistema de operação, considerando que a pressão atmosférica


nos pontos 1 e 2 é a mesma, pode ser obtida pela Equação 1, que já discutimos
no Tópico 1:

Hm = Hg + ΔH1-2

Em que: Hm é a altura manométrica, Hg é a altura geométrica, e ΔH1-2 é a


perda de carga total na tubulação, englobando as perdas de carga localizadas e
distribuídas.

Por fim, observaremos as figuras seguintes que apresentam exemplos de


sistemas e as curvas características correspondentes a eles:

158
TÓPICO 1 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS

FIGURA 12 – DETERMINAÇÃO DO PONTO DE OPERAÇÃO DE UMA


BOMBA (P) PARA DIFERENTES SISTEMAS

FONTE: Baptista e Lara (2010, p. 160)

159
UNIDADE 3 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS E PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

FIGURA 13 – DETERMINAÇÃO DO PONTO DE OPERAÇÃO


DE UMA BOMBA (P) PARA DIFERENTES SISTEMAS

FONTE: Baptista e Lara (2010, p. 154)

8.3 BOMBAS EM PARALELO


O emprego da associação de bombas em paralelo, como representado na
Figura 14, é observado quando a utilização de apenas uma bomba não atende
à vazão objetivada, ou caso tenha-se como objetivo aumentar a capacidade do
sistema em parcelas (BAPTISTA; LARA, 2010).

160
TÓPICO 1 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS

FIGURA 14 – ASSOCIAÇÃO DE BOMBAS EM PARALELO

Recalque

B1
B2

Sucção

FONTE: Baptista e Lara (2010, p. 170)

A curva característica resultante dessa associação pode ser obtida, de


acordo com Baptista e Lara (2010, p. 170), somando “as abscissas (Q) das curvas
características de cada bomba, para uma mesma altura manométrica (AD = AB +
AC)”, como podemos observar na seguinte figura:

FIGURA 15 – CURVA CARACTERÍSTICA DO SISTEMA RESULTANTE


DA ASSOCIAÇÃO DE BOMBAS B1 E B2 EM PARALELO

FONTE: Baptista e Lara (2010, p. 170)

161
UNIDADE 3 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS E PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

8.4 BOMBAS EM SÉRIE


A associação de bombas em série, representada na Figura 16, é empregada
quando objetiva-se vencer uma altura manométrica muito elevada (BAPTISTA;
LARA, 2010). A curva característica resultante dessa associação deriva, segundo
Baptista e Lara (2010, p. 171), da soma das “ordenadas (Hm) das curvas
características de cada bomba, para uma mesma vazão Q (AD = AB + AC)”,
conforme pode-se constatar na Figura 17.

FIGURA 16 – ASSOCIAÇÃO DE BOMBAS EM SÉRIE

B1 B2

Sucção Recalque Recalque


de B1 de B1 de B2
sucção de B2
FONTE: Baptista e Lara (2010, p. 170)

FIGURA 17 – CURVA CARACTERÍSTICA DO SISTEMA RESULTANTE DA


ASSOCIAÇÃO DE BOMBAS B1 E B2 EM SÉRIE

FONTE: Baptista e Lara (2010, p. 171)

162
TÓPICO 1 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS

Exemplo 3:
Uma bomba apresenta os pontos de sua curva característica conforme
dados do Quadro 1, enquanto que os pontos da curva característica da tubulação
são dados pelo Quadro 2.

QUADRO 1 – PONTOS DA CURVA CARACTERÍSTICA DA BOMBA

Hm (m) 58,0 57,5 56,0 54,0 52,0 48,5 43,0


Q (L/s) 0 35 56 70 84 97 120
FONTE: A autora

QUADRO 2 – PONTOS DA CURVA CARACTERÍSTICA DA TUBULAÇÃO

Hm (m) 30 31 33 42 48 55 65
Q (L/s) 0 20 40 80 100 120 140
FONTE: A autora

Pede-se:

a) Qual é o ponto de operação dessa bomba?


b) Qual seria a vazão de operação se fosse adicionada uma bomba idêntica em
paralelo?

Resposta: Para solucionar esse exercício vamos traçar as curvas da bomba


e da tubulação em um gráfico:

GRÁFICO 1 – TRAÇADO DAS CURVAS DA BOMBA E DA TUBULAÇÃO

FONTE: A autora

163
UNIDADE 3 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS E PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

a) O ponto de operação será dado pelo ponto onde ocorre o cruzamento entre a
curva característica da bomba (CB), a curva do sistema de tubulação (CS):

Q = 100 L/s e Hm = 48 m.

b) Se uma bomba em paralelo for adicionada, a nova curva característica da


bomba poderá ser obtida somando as vazões Q e mantendo a mesma altura
manométrica Hm. Como no presente exercício as bombas são idênticas, a nova
vazão será o dobro:

Hm (m) 58,0 57,5 56,0 54,0 52,0 48,5 43,0


Q (L/s) 0 70 112 140 168 194 240

O gráfico com a nova curva da bomba será:

GRÁFICO 2 – TRAÇADO DA NOVA CURVA CARACTERÍSTICA


COM DUAS BOMBAS EM PARALELO

FONTE: A autora

O novo ponto de operação então será:


Q = 120 L/s e Hm = 55 m

164
TÓPICO 1 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS

9 ESCOLHA DO CONJUNTO MOTOR-BOMBA


A escolha de uma bomba depende, sobretudo, das condições de operação,
manutenção e econômicas, levando em consideração a vazão necessária para a
elevação do líquido (NETTO et al., 1998). Assim, de acordo com Porto (2006, p. 149):

A especificação de uma bomba para atender a uma certa condição


de projeto é um dos principais problemas práticos que se aprendem
em vários campos da Engenharia. O domínio de aplicação dos vários
tipos de bombas, centrífugas, mistas e axiais, é muito abrangente,
uma vez que as variações de vazão e altura total de elevação nos
diversos tipos de projetos são muito amplas. Em grandes unidades,
recorre-se a velocidade específica como um dos parâmetros para a
escolha da bomba, enquanto nos casos mais frequentes utilizam-se
catálogos dos fabricantes. Para os principais tipos de bombas, fixada
uma determinada rotação, os catálogos apresentam os mosaicos de
utilização, que são gráficos de altura total de elevação contra vazão,
em uma determinada unidade (m³/h, L/s, m³/s), em que é mostrada a
faixa de utilização (H e Q) de cada tipo de bomba.

Assim, as diversas bombas são referenciadas no mosaico empregando


um código com dois números: o primeiro corresponde ao diâmetro nominal da
boca de recalque (mm) e, o segundo, à família do diâmetro de rotor (mm), como
podemos observar na figura seguinte (PORTO, 2006):

FIGURA 18 – MOSAICO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, KSB-MEGANORM,


PARA UMA ROTAÇÃO DE 1750 RPM

FONTE: Porto (2006, p. 149)

165
UNIDADE 3 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS E PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

Exemplo 4:
Encontrar um modelo de bomba centrífuga adequado para bombeamento
de 25 m³/h de água a uma altura de elevação de 50 m para uma rotação de 1750 rpm.

Resposta: Podemos utilizar os mosaicos de utilização fornecidos pelos


fabricantes de bombas para resolução desse exercício. Vamos empregar o
fornecido no nosso material didático, já que este é aplicável para rotação constante
no exercício de 1750 rpm. Entretanto, você pode facilmente obter outros mosaicos
consultando os catálogos das bombas disponíveis no mercado.

Assim, utilizando a Figura 18, para uma vazão de 25 m³/h e uma altura
de elevação de 50 m, encontramos que o modelo selecionado será 40-315, ou seja,
a bomba terá diâmetro nominal da boca de recalque de 40 mm e a família do
diâmetro do rotor será de 315 mm. É bem simples a utilização dos mosaicos,
entretanto, devemos sempre estar atentos à rotação que será utilizada.

FIGURA 19 – RESPOSTA: MOSAICO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS, KSB-MEGANORM,


PARA UMA ROTAÇÃO DE 1750 RPM

FONTE: Porto (2006, p. 149)

10 ESTAÇÕES ELEVATÓRIAS
Alguns itens importantes sobre as estações elevatórias devem ser frisados
neste tópico (Netto et al., 1998; Porto, 2006):

• Edificações próprias devem ser utilizadas para abrigar as bombas, como salas
de bombas ou casas de bombas.
• Deve-se prever espaço adequado nas casas de bombas, assim como iluminação
e ventilação, para instalação e movimentação de grupos elevatórios.

166
TÓPICO 1 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS

• Deve-se sempre empregar uma bomba reserva, ou seja, no mínimo duas


bombas devem ser previstas no projeto.
• A instalação de uma bomba pode ser feita em cota superior ao nível d’água a
ser recalcada, denominada bomba não afogada, ou em cota inferior ao nível
d’água, com denominação de bomba afogada.

11 POÇOS DE SUCÇÃO
Tsutiya (2006, p. 274) define poço de sucção como “uma estrutura de
transição que recebe a água afluente e a coloca à disposição das unidades de
recalque”. A dimensão e a forma do poço de sucção devem ser calculadas para
que não haja problemas no desempenho das bombas e nas condições operacionais
do sistema de recalque, assim como devem evitar a formação de vórtices.

E
IMPORTANT

Caro aluno, projetar adequadamente o poço de sucção é de extrema


importância para controlar a formação de vórtices e, assim, evitar ou minimizar em níveis
toleráveis a entrada de ar nas bombas.

O volume do poço de sucção pode ser calculado pela Equação 16. Observe
a FIGURA 20, que apresenta um poço de sucção, para melhor entendimento de
como calcular esse volume.

QT
V= (16)
4

Em que: V é o volume útil do poço de sucção, compreendido entre o nível


de partida (Nível 1) e o nível de parada da bomba (Nível 0), dado em m³; Q é a
vazão de recalque da bomba; T é o tempo de ciclo, ou seja, o intervalo entre duas
partidas sucessivas de uma bomba.

167
UNIDADE 3 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS E PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

FIGURA 20 – POÇO DE SUCÇÃO EM UM SISTEMA PARA DUAS BOMBAS


Q Q

Qa
Nível 1 -Liga

Nível 0 - Desliga

B B

FONTE: Tsutiya (2006, p. 248)

12 PEÇAS ESPECIAIS
Os principais órgãos acessórios de uma instalação elevatória são, de
acordo com Tsutiya (2006):

• Válvulas de bloqueio (Figura 20);


• Válvulas de retenção (Figura 21);
• Válvula de pé (Figura 22);
• Manômetros e vacuômetros (Figura 23);
• Sistemas de escorva de bombas (Figura 24).

As válvulas de bloqueio são utilizadas para interromper o fluxo em uma


canalização, devendo estar somente em duas posições possíveis: aberta ou fechada.
Já as válvulas de retenção são utilizadas nas saídas das bombas, para proteger as
tubulações de recalque do refluxo de água. O manômetro deve ser empregado
no recalque, enquanto que na sucção, conforme o caso, pode ser empregado
tanto o manômetro como o vacuômetro. As válvulas de pé são empregadas nas
extremidades de tubulações de sucção e em instalações de bombas não afogadas.
Os sistemas de escorva de bombas são utilizados apenas em bombas não afogadas,
e podem ser dados por válvulas de pé, ejetor ou bomba a vácuo (TSUTIYA, 2006).

168
TÓPICO 1 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS

FIGURA 21 – VÁLVULAS DE BLOQUEIO: (A) VÁLVULA DE GAVETA; (B) VÁLVULA BORBOLETA

FONTE: Adaptada de Netto et al. (1998 apud TSUTIYA, 2006)

FIGURA 22 – VÁLVULA DE RETENÇÃO DE FECHAMENTO RÁPIDO

FONTE: Tsutiya (2006, p. 296)

169
UNIDADE 3 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS E PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

FIGURA 23 – VÁLVULA DE PÉ COM CRIVO

FONTE: Tsutiya (2006, p. 297)

FIGURA 24 – MANÔMETRO

FONTE: Tsutiya (2006, p. 296)

170
TÓPICO 1 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS

FIGURA 25 – SISTEMA DE ESCORVA DE BOMBAS COM: (A) BOMBA DE VÁCUO; (B) EJETOR

FONTE: Tsutiya (2006, p. 298)

13 CANALIZAÇÃO DE SUCÇÃO
As seguintes recomendações para as canalizações se sucção devem ser
consideras (BAPTISTA; LARA, 2010; NETTO et al., 1998; TSUTIYA, 2006):

• A tubulação de sucção deve ser a mais curta possível.


• A canalização de sucção deve sempre ser ascendente até atingir a bomba,
podendo haver trechos perfeitamente horizontais.

171
UNIDADE 3 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS E PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

• Deve-se evitar ao máximo peças especiais, como cotovelos e curvas, nas


tubulações de sucção.
• Para cada tipo de bomba deve ser verificada a altura máxima de sucção com os
fabricantes.
• O diâmetro da tubulação de sucção deve consistir no diâmetro comercial
imediatamente superior ao diâmetro da tubulação de recalque.

NOTA

Caro acadêmico, veremos como dimensionar o diâmetro da tubulação de


recalque no Subtópico 16.

14 VELOCIDADE MÁXIMA NAS TUBULAÇÕES


Na tubulação de sucção, as velocidades máximas e mínimas são
determinadas de acordo com o estabelecido na NBR 12214/1992 da ABNT
(TSUTIYA, 2006) e seguem nas tabelas 4 e 5.

TABELA 4 – VELOCIDADE MÁXIMA DE SUCÇÃO

Diâmetro Nominal (mm) Velocidade (m/s)


50 0,70
75 0,80
100 0,90
150 1,00
200 1,10
250 1,20
300 1,40
≥ 400 1,50
FONTE: Tsutiya (2006, p. 290)

172
TÓPICO 1 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS

TABELA 5 – VELOCIDADE MÍNIMA DE SUCÇÃO

Tipo de material transportado Velocidade (m/s)


Matéria orgânica 0,30
Suspensões siltosas 0,30
Suspensões arenosas 0,45
FONTE: Tsutiya (2006, p. 248)

Para as tubulações de recalque, devemos utilizar o critério econômico


para dimensionamento, como veremos no Subtópico 16, que resulta no diâmetro
comercial mais vantajoso. Dessa forma, as velocidades nessas tubulações
apresentam valores relativamente baixos, em torno de 0,75 a 1,5 m/s (NETTO et al.
1998), entretanto, valores nas faixas de 0,6 a 3 m/s são admissíveis (TSUTIYA, 2006).

15 CAVITAÇÃO
A cavitação é um fenômeno que pode ocorrer tanto em estruturas fixas
(válvulas, oríficios, bocais, entre outros), como em máquinas hidráulicas (bombas
e turbinas). É um dos mais sérios problemas que pode ocorrer durante a operação
de bombas, já que acarreta queda do rendimento da bomba, ruídos, vibrações e
erosão (PORTO, 2006; TSUTIYA, 2006), podendo até mesmo implicar a quebra
do equipamento. Porto (2006, p. 153-154) explica o fenômeno de cavitação como:

Quando um líquido em escoamento, em uma determinada temperatura,


passa por uma região de baixa pressão, chegando a atingir o nível
correspondente a sua pressão de vapor, naquela temperatura, formam-
se bolhas de vapor que provocam de imediato uma diminuição da massa
específica do líquido. Estas bolhas ou cavidades sendo arrastadas no
seio do escoamento atingem regiões em que a pressão reinante é maior
que a pressão existente na região onde elas se formaram. Esta brusca
variação de pressão provoca o colapso das bolhas por um processo
de implosão. Este processo de criação e colapso das bolhas, chamado
cavitação é extremamente rápido, chegando a ordem de centésimos de
segundo, conforme constatações efetuadas com auxílio de fotografia
estroboscópica. O desaparecimento destas bolhas ocorrendo junto a
uma fronteira sólida, como paredes das tubulações ou partes rodantes
das bombas, provoca um processo destrutivo de erosão do material.

Portanto, a cavitação é um fenômeno de formação e destruição de bolsas


de vapor, ou o que podemos denominar também de cavidades preenchidas com
vapor, que originam-se nas correntes de condutos ou peças devido ao abaixamento
da pressão ao nível da pressão de vapor, iniciando assim um processo de fervura
do líquido a ser recalcado (BAPTISTA; LARA, 2010; NETTO et al., 1998). A Figura
26 apresenta o efeito do fenônemo de cavitação em um rotor de uma bomba:

173
UNIDADE 3 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS E PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

FIGURA 26 – EFEITO DA CAVITAÇÃO EM UMA BOMBA

FONTE: Porto (2006, p. 153)

E
IMPORTANT

Você sabia que o rotor é o componente mais importante de uma bomba? Sua
função consiste em converter a energia mecânica em cinética, transferindo o movimento
de rotação ao líquido (TSUTIYA, 2006).

Para sanar os efeitos causados pela cavitação, o projetista pode tomar


algumas medidas, uma vez que o ponto mais crítico, ao analisar a pressão baixa,
ocorre na entrada do rotor, ou seja, na sucção. Assim, precisamos determinar o
NPSH para verificarmos se haverá ou não ocorrência de cavitação (TSUTIYA,
2006). Vamos entender o que é NPSH?

O NPSH consiste na energia disponível no líquido na entrada da bomba
(NETTO et al., 1998), e há dois valores deste que devemos considerar:

• NPSH requerido (NPSHr): é uma característica da bomba, podendo ser obtido


por meio de uma curva fornecida pelo fabricante (NETTO et al., 2006). Ainda,
Porto (2006, p. 156) define o NPSH requerido como “a energia requerida pelo
líquido, para chegar, a partir do flange de sucção e vencendo as perdas de
carga dentro da bomba, ao ponto onde ganhará energia e será recalcado”.
• NPSH disponível: é uma característica da instalação de sucção, sendo definida
por Porto (2006, p. 155) como “a energia que o líquido possui em um ponto
imediatamente antes do flange de sucção da bomba, acima de sua pressão de
vapor”. Ou seja, é a energia disponível ao líquido que permite que este atinja
as pás do rotor (PORTO, 2006).

O NPSH disponível pode ser calculado por meio da seguinte equação, se


a bomba não estiver afogada:

174
TÓPICO 1 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS

pa pv
NPSH=
d − − hs − ∆H s (17)
γ γ

Em que: Pα é a pressão atmosférica no local, Pv é a pressão a de vapor, γ é


o peso específico da água, hs é a altura geométrica de sucção, e ΔHs é a perda de
carga na sucção.

Caso a bomba esteja afogada, a Equação 16 torna-se:

pa pv
NPSH=
d − + hs − ∆H s (18)
γ γ

Assim, para que haja um bom funcionamento do sistema elevatório, é


necessário que (NETTO et al., 1998; PORTO, 2006):

NPSH d > NPSH r

A Figura 27 apresenta a representação gráfica do NPSHd e NPSHr. A


condição A representa uma condição limite, em que o NPSH disponível se iguala
ao NPSH requerido, devendo ser evitada. Portanto, devemos trabalhar na região
à esquerda do ponto A, que apresenta uma folga, já que a disponibilidade de
energia que temos na instalação é maior que a energia requerida pela bomba.
Segundo Tsutiya (2006, p. 248), “uma folga de pelo menos 1,5 m ou a diferença de
pelo menos 35%” deve ser considerada.

FIGURA 27 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO NPSHD E NPSHR

NPSHr

A
NPSH

Folga

NPSHd

Q Qmax Vazão
FONTE: Tsutiya (2006, p. 248)

175
UNIDADE 3 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS E PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

Exemplo 4:
Um sistema elevatório apresenta as seguintes características:

• Cota no poço de sucção: 600 m.


• Cota do eixo das bombas: 603 m.
• pvapor/γ no local é de 0,50 m e patm/γ igual a 10 m.
• Perda de carga na sucção de 0,30 m.

Utilizando a curva NPSH fornecida a seguir, para uma vazão de 300 m³/h
determine se haverá cavitação nesse sistema.

FIGURA 28 – NPSH EM FUNÇÃO DA VAZÃO EM M³/H

FONTE: Adaptada de Tsutiya (2006)

Resposta:
Dados:
pa
= 10 m
γ
pv
= 0,5 m
γ
0,30 m
∆H s =
hs = 603 − 600 = 3 m

Utilizando a Figura 28 é possível determinar o NPSH requerido para a


vazão de 300 m³/h:

NPSH r = 3 m

O NPSH disponível pode ser calculado pela equação, como temos uma
bomba não afogada:

pa pv
NPSH d= − − hs − ∆H =
s 10 − 0,5 − 3 − 0,3= 6, 2 m
γ γ

176
TÓPICO 1 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS

Portanto, NPSHd > NPSHr, não haverá cavitação.

16 DIMENSIONAMENTO ECONÔMICO E FÓRMULA DE


BRESSE
O recalque em um sistema elevatório consiste no conjunto de condutos e
conexões que elevam o fluido da bomba até o reservatório superior (MARTINS;
GUKOVAS, 2010). O critério econômico geralmente é utilizado para o
dimensionamento da tubulação de recalque, pois as seguintes decorrências
podem ser elucidadas, segundo Baptista e Lara (2010):

• A utilização de um diâmetro de tubulação pequeno resulta em uma maior perda


de carga e, consequentemente, em uma altura manométrica e uma potência do
conjunto motor-bomba mais alta. Embora o custo com a tubulação de recalque
seja menor nesse caso, teremos um custo mais elevado do conjunto elevatório
e também com energia.
• A utilização de um diâmetro de tubulação maior resulta em um maior custo com
a tubulação de recalque, em contrapartida, a perda de carga é menor. Isso resulta
em um menor custo para implantação e operação dos conjuntos elevatórios.

Define-se diâmetro econômico, de acordo com Baptista e Lara (2010, p.


138), “aquele que resulta em menor custo total das instalações”. A Figura 29 mostra
como encontramos o diâmetro econômico em uma instalação elevatória, sendo
representada pelas seguintes curvas: a curva I apresenta como os custos da tubulação
variam de acordo com o diâmetro da tubulação (material mais assentamento); a
curva II apresenta como os custos com implantação do conjunto motor-bomba, dos
equipamentos e gastos com energia variam com o diâmetro da tubulação; a curva
III representa o custo total da instalação elevatória, sendo a soma dos custos das
curvas I e II (AB + AC = AD). Assim, o ponto da curva III que apresenta custo
mínimo corresponde ao diâmetro econômico (BAPTISTA; LARA, 2010).

FIGURA 29 – DIÂMETRO ECONÔMICO EM UMA INSTALAÇÃO ELEVATÓRIA

FONTE: Baptista e Lara (2010, p. 138)

177
UNIDADE 3 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS E PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

A determinação do diâmetro de recalque pode ser feita por meio da


fórmula de Bresse:

D=K Q (19)

Em que:
D é o diâmetro de recalque (m)
K é o constante da fórmula de Bresse
Q é a vazão recalcada (m³/s)

Segundo Baptista e Lara (2010, p. 139):

O valor da constante K depende de alguns fatores econômicos envolvidos


na implantação e na manutenção da elevatória, tais como a tarifa de energia
elétrica ou do combustível e dos preços de tubulação e equipamentos
adotados. O valor de K oscila conforme a época e a região, variando de 0,6
a 1,6, sendo o valor mais frequente em torno de 1,0; entretanto, por medida
de segurança, adota-se K = 1,2, quando as informações econômicas são
insuficientes para uma análise mais detalhada.

E
IMPORTANT

Caro acadêmico, calcularemos um diâmetro, entretanto, temos que considerar


as opções disponíveis comercialmente, e devido a isso iremos sempre selecionar o
diâmetro comercial mais próximo ao que calcularmos quando formos realizar os projetos
de sistemas elevatórios.

Exemplo 5:
Um sistema elevatório recalca 100 L/s durante 24 horas por dia. Determine
o diâmetro da tubulação de recalque e sucção (considere como opções de
diâmetros comerciais para tubulação de ferro fundido: (150, 200, 250, 300, 350,
400, 450, 500, 600, 700, 800, 900, 1000 e 1200) mm. Adote K = 1,2.

Resposta:
Dados:
K = 1,2
Q = 100 L/s = 0,1 m³/s

Vamos utilizar a fórmula de Bresse para determinar o diâmetro de


recalque, dado por:

178
TÓPICO 1 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS

D=K Q
D=1, 2 × 0,1 =0,38 m =380 mm

O diâmetro comercial mais próximo será, portanto, 400 mm para a


tubulação de recalque.

A tubulação de sucção deve consistir no diâmetro comercial imediatamente


superior ao diâmetro da tubulação de recalque. Portanto, o diâmetro da tubulação
de sucção será de 450 mm.

17 EQUIPAMENTOS ELÉTRICOS DAS INSTALAÇÕES


Os motores elétricos são os equipamentos mais utilizados para acionamento
de bombas, já que apresentam simplicidade, confiabilidade, flexibilidade e baixo
custo. Estes realizam a transformação da energia elétrica em mecânica. Os tipos
de motores mais comumente utilizados são (NETTO et al., 1998; TSUTIYA, 2006):

• Motores de corrente contínua: empregados quando se necessita de precisão


no controle da velocidade e ajuste fino, apresentando um alto custo, sendo por
isso empregado apenas em casos especiais. A distribuição de energia é feita por
uma corrente contínua.
• Motores de corrente alternada: A distribuição de energia ocorre por meio
de corrente alternada, sendo por isso os tipos mais utilizados. Existem dois
tipos principais:
◦ o motor síncrono, que apresenta rotação constante e é utilizado em grandes
instalações, já que apresenta um melhor rendimento, porém necessita de
uma operação mais cuidadosa;
◦ motor de indução, que é o mais comum, já que apresenta uma operação
mais fácil (NETTO et al., 1998).

18 INSTALAÇÃO, OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO DE BOMBAS


Durante a instalação, operação e manutenção do sistema elevatório, alguns
cuidados devem ser tomados, conforme relatado por Porto (2006, p. 151-152):

a) A instalação do conjunto motor-bomba deve ser feita em local seco, espaçoso,


iluminado, arejado e de fácil acesso.
b) As tubulações de sucção e recalque devem ser convenientemente apoiadas,
evitando que transmitam esforços para a bomba.
c) A bomba deve estar tão próxima como possível do líquido a ser recalcado,
a fim de evitar grandes alturas manométricas de sucção. A tubulação de
sucção deve ser a mais curta e direta possível, evitando-se estrangulamentos
e pontos altos. Se for necessário instalar na sucção uma curva, esta deve ser

179
UNIDADE 3 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS E PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

de raio longo para diminuir a perda localizada. O conjunto motor-bomba


deve ser instalado em cota fora do alcance de inundações.
d) A extremidade de montante da tubulação de sucção deve estar localizada
abaixo do nível mínimo de água no reservatório inferior, garantindo uma
altura d’água sobre a entrada (submergência) que evite a formação de
vórtices e consequente entrada de ar na bomba. Em geral, uma altura d’água,
maior que três vezes o diâmetro da canalização de sucção é suficiente.
e) Na tubulação de recalque, deve haver um registro de manobra para as
operações de partida e desligamento do sistema.
f) Entre o registro de manobra e a bomba, deve-se instalar uma válvula de retenção
ou outro dispositivo que proteja a bomba em caso de parada brusca do motor.
g) Deve-se garantir que a bomba esteja escorvada, cheia de água, antes de ser
posta em funcionamento.
h) O conjunto motor-bomba deve estar bem nivelado e alinhado, garantindo um
bom chumbamento das bases na fundação, a fim de evitar ruídos e vibrações.
i) É conveniente, principalmente em bombas não afogadas, a instalação na
tubulação de sucção de uma válvula de pé com crivo, para evitar a entrada
de materiais estranhos e manter a tubulação de sucção sempre cheia de água.
j) Havendo válvula de pé com crivo, a área útil de passagem no crivo não deve
ser inferior a três vezes a área da tubulação de sucção, e também a velocidade
através no crivo não pode exceder 0,60 m/s. Deve-se ser prevista manutenção
periódica da válvula de pé com crivo.
k) Havendo necessidade de fazer a concordância do diâmetro da tubulação
de sucção para o diâmetro do flange de aspiração da bomba, a peça a ser
utilizada será uma redução excêntrica, a fim de evitar a formação de bolsas
de ar na parte superior do tubo.
l) O reservatório inferior deve ser desenhado de modo a evitar a agitação do
líquido com formação de bolhas ou vórtices, a fim de que não haja entrada
de ar na tubulação de sucção.
m) Em instalações com bombas em paralelo e um único reservatório inferior,
deve-se empregar tubulações de sucção independentes.
n) Recomenda-se manter sempre uma unidade de reserva para qualquer
eventualidade de parada da bomba e para manutenção do sistema.
o) É conveniente que a partida e a parada do grupo motor-bomba sejam feitas
com o registro da tubulação de recalque fechado.
p) É importante que se tenha um programa de manutenção eletromecânica, de
modo a garantir que o sistema tenha vida longa e livre de avarias.

180
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• Os sistemas elevatórios são compostos por equipamentos eletromecânicos


(motor e bomba), tubulações (sucção e recalque), assim como obras de
construção civil, como o poço de sucção.

• O ponto de operação de uma bomba corresponde ao ponto ótimo de


rendimento daquela bomba, e ao custo mínimo da tubulação empregada,
sendo obtido determinando-se o ponto em que ocorre o cruzamento entre a
curva característica da bomba (CB), obtida nos catálogos de fabricantes, e a
curva do sistema de tubulação (CS).

• A curva característica resultante da associação de bombas em paralelo é obtida


somando-se as vazões das curvas características de cada bomba, para uma
mesma altura manométrica (Hm).

• A curva característica resultante da associação de bombas em série é obtida


da soma das alturas manométricas (Hm) das curvas características de cada
bomba, para uma mesma vazão Q.

• Para que haja um bom funcionamento do sistema elevatório, evitando a cavitação


é essencial que o NPSH disponível seja maior do que o NPSH requerido.

• O diâmetro econômico é aquele que fornece um menor custo total das


instalações.

• A determinação do diâmetro de recalque pode ser feita por meio da fórmula de


Bresse: D=K√Q.

• O diâmetro da tubulação de sucção deve ser o diâmetro comercial imediatamente


superior ao diâmetro da tubulação de recalque.

181
AUTOATIVIDADE

1 Quais são os componentes de uma estação elevatória? Explique a função de


cada um deles.

2 Um sistema elevatório necessita de uma bomba afogada recalcando 160 L/s.


A altura de sucção é de 2 m, e a perda de carga de sucção nesse sistema é
de 0,5 m. Sabendo que pvapor/γ no local é de 0,8 m e patm/γ igual a 9,5 m,
determine se haverá cavitação nesse sistema.

FIGURA – NPSH VERSUS A VAZÃO


6.0

5.0

4.0
NPSH (m)

3.0

2.0

1.0

0.0
0.00 0.04 0.08 0.12 0.16 0.20 0.24 0.28

Q (m3/s)
FONTE: Baptista e Lara (2010, p. 177)

182
UNIDADE 3
TÓPICO 2

PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

1 INTRODUÇÃO
Os medidores de vazão apresentam uma elevada importância comercial.
Nesse contexto, a vazão consiste em uma das grandezas mais empregadas na
indústria, tendo como importantes aplicações a medição de vazão de água
em estações de tratamento e residências, de gases industriais e combustíveis,
bem como medições mais complexas, tal como a vazão de sangue no sistema
circulatório (PUC, 20--).

Assim, define-se vazão, segundo Almeida (2017, p. 2), como “a


quantidade volumétrica ou gravimétrica de determinado fluido que passa por
uma determinada seção de um conduto que pode ser livre ou forçado por uma
unidade de tempo”. Portanto, vazão consiste na rapidez em que um fluido escoa
(ALMEIDA, 2017).

Alguns critérios são importantes para a escolha dos medidores vazão


operacional que veremos a seguir, de acordo com Almeida (2017):

• características do fluido;
• características de instalação;
• características de operação;
• exatidão;
• facilidades de comunicação;
• custo;
• facilidade de instalação e manutenção;
• confiabilidade.

Estudaremos neste tópico os processos de medidas hidráulicas. Entretanto,


antes de detalharmos alguns tipos de medidores de vazão é necessário falarmos
um pouco sobre a Hidrometria.

2 HIDROMETRIA
A hidrometria consiste em uma parte da hidráulica que trata do estudo
dos métodos de medidas de vazão e velocidade (MARQUES, [20--]). Segundo
Netto et al. (1998, p. 423):

183
UNIDADE 3 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS E PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

A hidrometria é uma das partes mais importantes da Hidráulica,


justamente porque ela cuida de questões tais como medidas de
profundidade, de variação do nível da água, das seções de escoamento,
das pressões, das velocidades, das vazões ou descargas, e trata,
também, de ensaios de bombas, turbinas etc.

Dentre os usos da hidrometria podemos citar, segundo Netto et al. (1998)


e Marques [20--]:

• abastecimento de água urbano;


• estudos de lançamentos de esgotos;
• tarifação urbana, industrial e agrícola;
• instalações hidrelétricas;
• obras de irrigação;
• disponibilidade hídrica;
• estudo ambiental;
• defesa civil contra inundações.

Veremos nos subtópicos a seguir alguns métodos de medição de vazão.

3 PROCESSOS DE MEDIÇÃO DE VAZÃO


Estudaremos a seguir, de forma detalhada, alguns métodos que podem ser
empregados para medição de vazão em diversas instalações, dentre eles: método
direto, orifícios, bocais, vertedores, medidores de regime crítico e medidores
diferenciais para tubulações.

3.1 MÉTODO DIRETO


O método direto consiste em realizar a medição de vazão diretamente em
um recipiente de volume conhecido. Determinando-se o tempo de enchimento
do recipiente utilizado, tem-se que (NETTO et al., 1998):

V
Q= (20)
t

Em que Q é a vazão, V é o volume do recipiente, t é o tempo de


enchimento deste.

Esse método apresenta maior precisão quando se utiliza um maior tempo


para determinação da vazão, e pode ser aplicado para pequenas descargas, como
em fontes, riachos, bicas e pequenas canalizações (NETTO et al., 1998).

184
TÓPICO 2 | PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

A medição direta, segundo Netto et al. (1998), pode ser feita em um “tanque
ou reservatório de dimensões conhecidas (tanque volumétrico)”, ou “pode-se,
ainda, empregar uma balança”. Para o primeiro caso, diz-se que o método direto
é volumétrico, e para o segundo caso, gravimétrico.

3.1.1 Orifícios
Netto et al. (1998, p. 425) afirmam que “os orifícios são aplicados para
o controle e medida de vazão em recipientes, tanques e canalizações”. Ainda,
segundo Porto (2006, p. 352):

Define-se como orifício uma abertura de perímetro fechado, de forma


geométrica definida (circular, retangular ou triangular etc.), realizada
na parede ou fundo de um reservatório ou na parede de um canal ou
conduto em pressão, pela qual o líquido em repouso ou movimento
escoa em virtude da energia potencial e/ou cinética que possui. O
escoamento pelo orifício pode se dar para um ambiente sob pressão
atmosférica ou para região ocupada pelo mesmo líquido. No primeiro
caso, a saída do líquido é dita ser descarga livre e, no segundo caso, é
chamada descarga afogada ou orifício submerso.

A Figura 30 apresenta o esquema de um orifício:

FIGURA 30 – REPRESENTAÇÃO DE UM ORIFÍCIO

FONTE: Adaptada de Porto (2006, p. 352)

3.1.2 Bocais
Os bocais são “pequenos tubos adaptados a orifícios” (PAIVA, 2012, p.
4) com o intuito de “dirigir o jato e alterar o coeficiente de vazão de um orifício”
(PORTO, 2006, p. 365), como representado na Figura 31. Estes podem ser
classificados, de acordo com Porto (2006), quanto a sua geometria (cilíndricos ou
cônicos) e sua posição (internos ou externos).

185
UNIDADE 3 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS E PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

FIGURA 31 – REPRESENTAÇÃO DE UM BOCAL

FONTE: Adaptada de Porto (2006, p. 365)

3.1.3 Vertedores
Vertedor consiste em um dispositivo empregado com a finalidade de
realizar a medição ou o controle da vazão em um escoamento em um canal livre
(PORTO, 2006). Ainda, segundo Porto (2006, p. 381-382), um vertedor:

Trata-se, basicamente, de um orifício de grandes dimensões no qual


foi suprimida a aresta do topo, portanto a parte superior da veia
líquida, na passagem pela estrutura, se faz em contato com a pressão
atmosférica. A presença do vertedor, que é essencialmente uma parede
com abertura de determinada forma geométrica, colocada, na maioria
dos casos, perpendicularmente à corrente, eleva o nível d’água à
montante até que este nível atinja uma cota suficiente para produzir
uma lâmina sobre o obstáculo, compatível com a vazão descarregada.
A lâmina líquida descarregada, adquirindo velocidade, provoca um
processo de convergência vertical dos filetes, situando-se, portanto,
abaixo da superfície livre da região não perturbada de montante.

Apesar de os vertedores serem dispositivos simples, estes apresentam


grande aplicação prática, de maneira generalizada em hidrometria, sendo
aplicado em diversas obras hidráulicas, entre elas: sistema de irrigação, estação
de tratamento de esgoto e água, barragens etc. (PORTO, 2006; NETTO et al., 1998).

A Figura 32 apresenta um esquema de um vertedor. Note que a crista ou
soleira consiste na “parte superior da parede em que há contato com a lâmina
vertente (PORTO, 2006, p. 382), enquanto que a carga sobre a soleira (h) consiste
na diferença entre a cota do nível d’água e a cota do nível da soleira e deve ser
medida a montante (NETTO et al., 1998; PORTO, 2006).

186
TÓPICO 2 | PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

FIGURA 32 – REPRESENTAÇÃO DE UM VERTEDOR

C E

FONTE: Netto et al. (1998, p. 424)

A Tabela 6 apresenta as dimensões sugeridas e limites de aplicação para


vertedores retangulares:

TABELA 6 – DIMENSÕES SUGERIDAS E LIMITES DE APLICAÇÃO


PARA VERTEDORES RETANGULARES

Limites de vazão hmáx


L (cm) B (cm) E (cm) C (cm) D (cm)
(L/s) (cm)
2,0 - 85 30,5 30,5 122,0 91,5 45,5 45,5
5,7 -160 38,0 45,5 152,0 99,0 53,0 45,5
7,0 - 225 38,0 61,0 183,0 106,5 61,0 53,0
9,4 - 480 45,5 91,5 213,5 122,0 61,0 61,0
14,2 – 650 45,5 122,0 274,5 122,0 76,0 61,0
21,2 - 990 45,5 183,0 350,0 137,0 84,0 76,0
FONTE: Netto et al. (1998, p. 424)

DICAS

Para aprofundar seus conhecimentos em orifícios, bocais e vertedores, sugerimos


a leitura do Capítulo 12 do livro Hidráulica básica, com a seguinte referência bibliográfica:

PORTO, Rodrigo M. Hidráulica básica. São Carlos: EESC/USP, 2006.


Como complementação, sugerimos também o estudo do Capítulo 5 do livro Manual de
hidráulica, com a seguinte referência bibliográfica:
NETTO, Azevedo; FERNADEZ, Miguel F.; DE ARAÚJO, Roberto; ITO, Acácio E. Manual de
hidráulica. São Paulo: Editora Blücher, 1998.

187
UNIDADE 3 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS E PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

3.1.4 Medidores de regime crítico


Os medidores de regime crítico apresentam capacidade de ocasionar
o escoamento livre por meio de “um simples estrangulamento adequado de
seção, no rebaixo ou no alteamento de fundo, ou ainda numa combinação dessas
singularidades” (NETTO et al. 1998, p. 424). Os principais exemplos de medidores
desse tipo são o medidor Parshall e os vertedores, como o Canal Venturi. Os
medidores Parshall apresentam ampla aplicação para medidas de vazão em
estações de tratamento de esgotos sanitários (NETTO et al., 1998). Trataremos
mais amplamente dos medidores Parshall no subtópico 15.

3.1.5 Medidores diferenciais para tubulações


Segundo Netto et al. (1998, p. 425), “os medidores diferenciais são
dispositivos que consistem numa redução na seção de escoamento de uma
tubulação, de modo a produzir uma diferença de pressão, em consequência do
aumento da velocidade”.

O equacionamento utilizado para medidores diferenciais, que incluem


orifícios, diafragmas, bocais internos, Venturi curtos e longos, entre outros é:

Cd D ² h
Q = 3, 48
4
D (21)
  −1
d

Em que:
Q é a vazão (m³/s)
Cd é o coeficiente de descarga
D é o diâmetro da tubulação (m)
d é o diâmetro da seção reduzida (m)
h é a diferença de pressão

188
TÓPICO 2 | PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

FIGURA 33 – PERDA DE CARGA NOS MEDIDORES DIFERENCIAIS, EXPRESSA EM


PORCENTAGEM DA DIFERENÇA DE PRESSÃO

FONTE: Netto et al. (1998, p. 425)

4 ORIFÍCIOS CONCÊNTRICOS OU DIAFRAGMAS


A utilização de orifícios concêntricos para medição de vazão é muito
vantajosa devido a sua simplicidade. Segundo Netto et al. (1998, p. 427), “ o orifício
de diâmetro conveniente é executado em uma chapa metálica instalada entre
flanges do encanamento”, como podemos observar pela Figura 34. O princípio
de medição da vazão consiste na redução da seção transversal da corrente, de
forma que, quando o líquido passar pelo orifício, um aumento de velocidade é
observado, e pode-se medir por meio de um manômetro a diferença de pressão
resultante nesses dois pontos (TSUTIYA, 2006).

FIGURA 34 – ORIFÍCIO CONCÊNTRICO OU DIAFRAGMA

FONTE: Netto et al. (1998, p. 428)

189
UNIDADE 3 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS E PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

Algumas recomendações, segundo Netto et al. (1998) são:

• Chapa: pode ser de bronze, aço inoxidável ou monel, com as seguintes


dimensões recomendadas: para tubulações de até 150 mm, espessura de 2,4
mm; para tubulações de 200 mm ou 250 mm, espessura de 3 mm; par tubulações
de até 550 mm, espessura de 4,8 mm.
• Tamanho do orifício: a relação entre o diâmetro do orifício (d) e o diâmetro
da tubulação (D) deve estar entre 30% a 80%, uma vez que valores menores de
30% acarretam altas perdas de carga, e acima de 80% implicam baixa precisão.
De maneira geral, utiliza-se d entre 50% a 70% de D.
• Instalação do orifício: trechos retilíneos ou verticais devem ser utilizados,
sem perturbações próximas (derivações, curvas, registros, entre outros), com
distâncias mínimas recomendadas na Tabela 7.
• Derivações: as derivações empregadas para medida da pressão devem
localizar-se horizontalmente na lateral do tubo. A montante, a derivação deve
ser inserida a uma distância correspondente a um diâmetro D do orifício,
enquanto que a jusante, a uma distância D/2 é suficiente.

TABELA 7 – DISTÂNCIAS LIVRES MÍNIMAS NOS TRECHOS RETILÍNEOS


OU VERTICAIS DO ORIFÍCIO CONCÊNTRICO

D/d A montante A jusante


1,25 20 D 5D
1,5 12 D 4D
2 7D 3,5 D
3 3D 3D
FONTE: Netto et al. (1998, p. 428)

Por fim, pode-se calcular a diferença de pressão utilizando a Equação


21, discutida no Subtópico 3.1.5. Essa pressão não deve ser superior a 2,5 m por
motivos econômicos (NETTO et al., 1998).

NOTA

Caro aluno, para orifícios, normalmente adota-se o valor médio do coeficiente


Cd da Equação 21 de 0,61 (NETTO et al., 1998; TSUTIYA, 2006).

190
TÓPICO 2 | PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

Exemplo 1:
Um orifício apresenta 20 cm de diâmetro e encontra-se instalado em uma
tubulação de ferro fundido de 300 mm, produzindo uma diferença de pressão de
0,5 m. Calcule a vazão da tubulação e a perda de carga do medidor de pressão.

Resposta:
Dados:
D = 300 mm = 0,3 m
d = 20 cm = 0,20 m
h = 0,5 m
Cd = 061 (valor médio empregado para orifícios)

Utilizando a Equação 21, podemos encontrar a vazão medida:

Cd D ² h 0, 61× 0,32 × 0,5 0,135


=Q 3, 48 = 3, 48 = = 0, 067 m³ / s
D
 
4
0,3 4 2, 01
− 1 ( ) −1
  0, 2
d

A perda de carga pode ser obtida pela Figura 33, sabendo que D/d = 1,5, a perda
de carga corresponde a 54% a diferença de pressão, portanto: ΔH = 0,54x0,5 = 0,27 m.

5 TUBO VENTURI
A Figura 35 apresenta um medidor Venturi que consiste em um dispositivo
com “três seções principais: uma peça convergente, outra divergente (difusor) e
uma seção intermediária, que constitui a garganta ou estrangulamento” (NETTO
et al., 1998, p. 430). A medição é feita mantendo-se constante a carga na seção
de controle, de forma que quando o fluido escoa do tubo para garganta ocorre
um aumento de velocidade, devido à diminuição da área da seção, causando, de
maneira análoga, a diminuição da pressão (TSUTIYA, 2006).

A determinação da vazão é feita pela equação:

 p − p2 
2g  1 
Q = Cd A2  γ  (22)
4
D 
1−  2 
 D1 

191
UNIDADE 3 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS E PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

FIGURA 35 – MEDIDOR VENTURI

FONTE: Netto et al. (1998, p. 429)

Exemplo 2:
Um tubo Venturi apresenta diâmetro da seção 1 de 40 mm e diâmetro da
seção 2 de 20 mm. Sabendo que a diferença de pressão entre os pontos 1 e 2 é de 20000
Pa, e que o coeficiente de descarga é de 0,9, determine a vazão medida pelo Venturi.

Resposta:
Dados:
D1 = 40 mm = 4 cm = 0,04 m
D2 = 20 mm = 2 cm = 0,02 m
p1 – p2 = 20000 Pa
Cd = 0,9

Primeiramente, vamos calcular a área na seção 2:

π D2 ²
A2
= = 0, 000314 m²
4

Substituindo na Equação 22:

p -p   20000 
2g  1 2  2 × 9,8 ×  
 γ   9800  = 40 m3
Q=
Cd A2 4
0,9 × 0, 00314
= 4
0, 002826 × 0, 018
=
D   0, 02  0,9375 s
1-  2  1-  
 D1   0, 04 

192
TÓPICO 2 | PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

6 TUBO DALL
O tubo DALL consiste em um medidor diferencial e pode ser representado
pela Figura 36. Segundo Netto et al. (1998), este apresenta as seguintes vantagens:

• baixa perda de carga;


• baixo custo;
• dimensões e pesos pequenos.

FIGURA 36 – MEDIDOR DALL

FONTE: Netto et al. (1998, p. 431)

7 MEDIDOR INSERIDO
O medidor inserido, também denominado medidor “Permutube”, pode
ser representado pela Figura 37, tendo diâmetros nominais que variam de 150
a 600 mm. A perda de carga nesses medidores é caracterizada de 2% a 5% da
pressão medida (NETTO et al., 1998).

FIGURA 37 – MEDIDOR INSERIDO

FONTE: Netto et al. (1998, p. 432)

193
UNIDADE 3 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS E PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

8 MEDIDORES PROPORCIONAIS DO TIPO DERIVAÇÃO


Os medidores proporcionais do tipo derivação podem ser representados
pela Figura 38 e, segundo Netto et al. (1998, p. 432), “esses medidores aproveitam
uma singularidade na tubulação e constam de uma derivação em pequeno
diâmetro, onde se instala um hidrômetro de pequenas dimensões. As leituras no
hidrômetro pequeno permitem avaliar as vazões da tubulação”.

FIGURA 38 – MEDIDOR PROPORCIONAL DO TIPO DERIVAÇÃO

FONTE: Netto et al. (1998, p. 432)

9 MEDIDORES MAGNÉTICOS
Segundo Netto et al. (1998, p. 432), os medidores magnéticos:

Baseiam-se no seguinte princípio: quando um condutor elétrico se


desloca através de um campo eletromagnético, a força eletromotiva
induzida no condutor é proporcional à sua velocidade. No caso, o
condutor é a própria água e o campo eletromagnético é formado por
espirras em volta do tubo. A força eletromotiva é medida por meio de
eletrodos que devem ter contato com o líquido.

A Figura 39 exemplifica o funcionamento de um medidor eletromagnético:

194
TÓPICO 2 | PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

FIGURA 39 – ESQUEMA DE UMA INSTALAÇÃO DE UM MEDIDOR ELETROMAGNÉTICO

FONTE: Tsutiya (2006, p. 215)

Os medidores magnéticos não são indicados para isolantes elétricos,


como fluidos com elevadas quantidades de óleos, gorduras ou graxas, havendo
imprecisão nas medidas realizadas por esse equipamento. A instalação desses
medidores em pontos altos, onde possa ocorrer acúmulo de bolhas de ar, também
não é indicada (TSUTIYA, 2006). Por fim, Tsutiya (2006, p. 215) recomenda “a
instalação do equipamento em trechos horizontais retos da tubulação, com no
mínimo 5 diâmetros nominais a montante e 2 a jusante”.

10 MEDIDORES ULTRASSÔNICOS
Os medidores ultrassônicos, representados na Figura 40, apresentam
alta precisão e podem ser aplicados tanto em tubulações como em canais
prismáticos (NETTO et al., 1998). Estes podem ser utilizados para fluidos que
sejam condutores ultrassônicos, como exemplificado por Tsutiya (2006, p. 214),
em “medições em água, esgoto, hidrocarbonetos líquidos, compostos químicos
orgânicos e inorgânicos, leite, cerveja, óleos e muitos outros”.

O funcionamento de um medidor ultrassônico se dá, segundo Netto et


al. (1998, p. 433), por meio da medição da “diferença de propagação de ondas
ultrassônicas encaminhadas nos dois sentidos (montante e jusante)”. As vantagens
desse medidor de vazão consistem na facilidade de instalação e na ausência de
perda de carga durante sua utilização (NETTO et al., 1998). Entretanto, para
escoamentos que possuem elevadas quantidades de ar ou sólidos, alterações
na medida podem ser observadas, sendo, portanto, desvantajosa sua utilização
nessas condições (TSUTIYA, 2006).

195
UNIDADE 3 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS E PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

Ainda, segundo Tsutiya (2006, p. 215):

Para que o medidor ultrassônico de tempo de trânsito seja eficiente é


necessário que sua instalação seja feita em uma posição tal que encontre
um perfil de velocidade totalmente desenvolvido, o que significa
evitar curvas e tentar instalá-los em trechos retos de tubulação. Uma
regra prática é a instalação a pelo menos 10 diâmetros a jusante e 5
diâmetros a montante de curvas e outras singularidades.

FIGURA 40 – ESQUEMA DE UM MEDIDOR ULTRASSÔNICO

FONTE: Tsutiya (2006, p. 214)

11 FLUXÔMETROS E ROTÂMETROS
O fluxômetro é um medidor de área variável, sendo constituído por “um
tubo cônico transparente, com seção maior voltada para cima” (NETTO et al., 1998,
p. 437), conforme demonstrado na figura a seguir. O líquido passa por esse tubo
cônico, onde se encontra um flutuador, que é deslocado com o movimento do líquido
(NETTO et al., 1998). De maneira semelhante, temos o rotâmetro, apresentado na
Figura 42. A leitura, nesses dispositivos, portanto, é feita diretamente, já que a parte
externa destes é graduada, e “para cada vazão existe uma posição correspondente
do flutuador, uma vez que varia a área de passagem existente entre o flutuador e as
paredes do tubo (NETTO et al., 1998, p. 437).

196
TÓPICO 2 | PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

FIGURA 41 – ESQUEMA DE UM FLUXÔMETRO

FONTE: Netto et al. (1998, p. 438)

FIGURA 42 – ROTÂMETRO
saída

flutuante
ranhurado

leitura
da vazão

entrada

FONTE: Brunetti (2008, p. 218)

197
UNIDADE 3 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS E PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

12 HIDRÔMETROS
Os hidrômetros são amplamente empregados para medição do consumo
de água em residências, instalações prediais, comerciais e industriais, realizando
“a medição da quantidade de água que escoa em intervalos de tempo relativamente
longos” (NETTO et al., 1998, p. 441). Estes podem ser de dois tipos, segundo
NETTO et al. (1998):

• Hidrômetros de velocidade: apresentam reparo mais fácil, são mais baratos,


simples e não são sensíveis às impurezas presentes na água; em contrapartida,
apresentam menor precisão.
• Hidrômetros de volume: apresentam maior sensibilidade e precisão; em
contrapartida, apresentam custo mais elevado e a reparação é mais complexa,
de maneira análoga, são muito sensíveis às impurezas presentes na água.

13 DETERMINAÇÃO DA VELOCIDADE
A determinação da velocidade pode ser feita empregando-se instrumentos
adequados para esse fim, que permitem a identificação da velocidade média em
uma pequena área ou volume. Para isso, pode-se medir o tempo que um objeto
leva para percorrer uma determinada distância (flutuador), a rotação de uma
hélice quando esta é introduzida em um escoamento (molinete) e a diferença
entre as pressões total e estática (Tubo de Pitot), como afirmado por PME (20--).
Veremos a seguir alguns desses instrumentos.

13.1 MOLINETES
Os molinetes são, segundo Netto et al.(1998, p. 445), “aparelhos constituídos
de palhetas, hélices ou conchas móveis, as quais impulsionadas pelo líquido,
dão um número de rotações proporcional à velocidade da corrente”, conforme
podemos observar na Figura 43.

FIGURA 43 – MOLINETE

FONTE: Adaptada de Arantes [19--]

198
TÓPICO 2 | PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

Veremos como efetuar a medição da velocidade de cursos d’água mais


amplamente no Subtópico 14.

13.2 TUBOS DE PITOT


O tubo Pitot, como apresentado na Figura 44, consiste em “um tubo de
material transparente, com uma extremidade recurvada em direção à corrente da
água” (NETTO et al., 1998, p. 444). Este apresenta aplicação principal em aviões e
canalizações, uma vez que apenas é adequada sua utilização em correntes de alta
velocidade (NETTO et al., 1998).

FIGURA 44 – TUBO PITOT


piezômetro

p1

h
tubo de Pitot

(1) (2)

FONTE: Brunetti (2008, p. 209)

A determinação da velocidade (V1) nesse dispositivo é feita pela equação


seguinte:

p2 − p1
V1 = 2 g ( ) (23)
γ

Exemplo 3:
Um piezômetro instalado em um tubo Pitot indica uma pressão de 30 kPa,
enquanto que o monômetro instalado nas proximidades do piezômetro indica
20 kPa. Sabendo que o fluido utilizado é a água, com γ = 9800 N/m3, determine
a velocidade no tubo Pitot. Qual seria a vazão medida para uma área de 1 cm²?

Resposta:
Dados:
p1 = 20 kPa = 20000 Pa
p2 = 30 kPa = 30000 Pa
γ = 9800 N/m3
A = 1 cm² = 0,01 m²
g = 9,8 m/s²

199
UNIDADE 3 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS E PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

Podemos obter a velocidade pela equação seguinte:

p − p1 30000 − 20000
2g( 2
V1 = )=
2 × 9,8( )=
4, 47 m / s
γ 9800

A vazão será dada por:

m3
Q = V ⋅ A = 4, 47 × 0, 01 = 0, 0447 = 44, 7 L / s
s

13.3 FLUTUADORES
Os flutuadores, segundo Netto et al. (1998, p. 443), “consistem em objetos
flutuantes que adquirem a velocidade das águas que os circundam”, podendo ser:
simples ou de superfície (a), duplos ou subsuperficiais (b), e bastões flutuantes
(c), representados na Figura 45.

Esses dispositivos são pouco empregados, pois são imprecisos devido às


diversas causas de erros existentes nesse método de medição de velocidade, como
ventos, ondas, irregularidades do curso d’água, entre outros (NETTO et al., 1998).
Ainda, segundo Netto et al. (1998, p. 444), os flutuadores “apenas são empregados
para determinações expeditas e na falta de recursos”.

FIGURA 45 – FLUTUADORES: (A) SIMPLES, (B) DUPLOS, (C) BASTÕES FLUTUANTES

a) b) c)

H L
H

FONTE: Netto et al. (1998, p. 443)

14 INSTRUÇÕES PARA MEDIÇÃO DE VAZÃO EM CURSOS


DE ÁGUA
A medição de velocidade permite obter, de maneira indireta, a vazão em cursos
d’água. Os principais instrumentos utilizados para essa medição são os molinetes.
Entretanto, pode-se utilizar também os flutuadores, que fornecem, em contrapartida,
uma medida de menor precisão do que os molinetes (ARANTES, [19--]).

200
TÓPICO 2 | PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

Para que se consiga uma boa estimativa da velocidade média em um curso


d’água, é imprescindível que diversas medidas verticais sejam efetuadas, além
de diversos pontos na direção horizontal. Isso deve ser feito, pois a velocidade
da água varia vertical e horizontalmente, tendo-se, portanto, uma velocidade
superior no centro de um rio do que às margens, assim como uma velocidade
inferior no fundo do rio do que na superfície (ARANTES, [19--]).

O número de medições na vertical que devem ser feitas são apresentadas na


Tabela 8, assim como a distância recomendada entre as verticais na Tabela 9.

TABELA 8 – NÚMERO DE PONTOS DE MEDIÇÃO NA VERTICAL RECOMENDADOS


DE ACORDO COM A PROFUNDIDADE DO RIO

Profundidade, p (m) Número de pontos Posição dos pontos


0,15 a 0,60 1 0,6 p
0,60 a 1,20 2 0,2 p e 0,8 p
1,20 a 2,00 3 0,2 p; 0,6 p e 0,8 p
2,00 a 4,00 4 0,2 p; 0,4 p; 0,6 p e 0,8 p
> 4,00 6 Superfície; 0,2 p; 0,4 p; 0,6 p; 0,8 p e Fundo

FONTE: Gomes e Santos (2003 apud CARVALHO, 2008, p. 79)

TABELA 9 – DISTÂNCIA RECOMENDADA ENTRE VERTICAIS, DE ACORDO


COM A LARGURA DO RIO

Largura do rio (m) Distância entre verticais (m)


<3 0,3
3a6 0,5
6 a 15 1,0
15 a 30 2,0
30 a 50 3,0
50 a 80 4,0
80 a 150 6,0
150 a 250 8,0
> 250 12,0
FONTE: Gomes e Santos (2003 apud CARVALHO, 2008, p. 80)

Exemplo 4:
Um molinete será utilizado para medição de velocidade em um rio de
profundidade 1 m e largura 40 m. Quantas medições de velocidade devem ser
realizadas na vertical e na horizontal?

Resposta: Pela Tabela 8 podemos notar que serão necessárias duas


medidas na vertical:

201
UNIDADE 3 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS E PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

• 0,2p = 0,2x1 = 0,2 m


• 0,8 p = 0,8x1 = 0,8 m

Na horizontal, pela Tabela 9 temos que a distância mínima para uma


largura do rio de 30 m a 50 m é de 3,0 m. Como o rio apresenta 40 m de largura,
teremos: 40/3 = 13,33 pontos, aproximando, 13 medidas horizontais.

15 MEDIDORES PARSHALL
O medidor Parshall é um medidor de regime crítico amplamente utilizado nos
dias atuais em “medições de vazão em sistemas de esgotos domésticos, industriais e
em unidades de estações de tratamento de esgotos” (SOBRINHO; TSUTIYA, 2011, p.
254). Estes têm sido utilizados também para controle da velocidade em desarenadores
nas estações de tratamento de esgotos (NETTO et al., 1998).

Dentre as vantagens da calha Parshall podemos citar, segundo Netto et al.


(1998, p. 459):

a) grande facilidade de realização;


b) baixo custo de execução;
c) não há sobrelevação de fundo;
d) não há perigo de formação de depósitos devidos à matéria em
suspensão, sendo por isso de grande utilidade no caso de esgotos ou
águas que carreiam sólidos em suspensão;
e) podem funcionar como um dispositivo em que uma só medição de H
é suficiente;
f) grande habilidade em suportar submergências elevadas, sem
alteração de vazão;
g) medidores Parshall, de tamanhos os mais variados, já foram
ensaiados hidraulicamente, o que permite seu emprego em condições
semelhantes, sem necessidade de novos ensaios e aferições;
h) na sua execução, podem ser empregados materiais diversos,
selecionando-se o mais conveniente para as condições locais. Já
foram empregados: concreto, alvenarias, madeira, metal (medidores
portáteis de tamanho até 10 pés), cimento-amianto, fibra de vidro etc.

202
TÓPICO 2 | PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

FIGURA 46 – MEDIDOR PARSHALL

FONTE: Netto et al. (1998, p. 455)

O seguinte equacionamento é válido o dimensionamento de medidores


Parshall, com o auxílio das tabelas 10 e 11:

Q =λ H n (24)

Em que: Q é a vazão (m³/s), H é a carga a montante da seção contraída e λ


e n podem ser obtidos pela Tabela 11.

TABELA 10 – DIMENSÕES PADRONIZADAS EM CM DO MEDIDOR PARSHALL


Largura Nominal
A B C D E F G K N
W
1” 2,5 36,3 35,6 9,3 16,8 22,9 7,6 20,3 1,9 2,9
3” 7,6 46,6 45,7 17,8 25,9 38,1 15,2 30,5 2,5 5,7
6” 15,2 62,3 61,0 39,4 40,3 61,0 30,5 61,0 7,6 11,4
9” 22,9 88,1 86,4 38,1 57,5 76,2 30,5 45,7 7,6 11,4
1’ 30,5 137,1 134,4 61,0 84,5 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9
1½’ 45,7 144,8 142,0 76,2 102,6 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9
2’ 61,0 152,3 149,3 91,5 120,7 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9
3’ 91,5 167,5 164,2 122,0 157,2 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9
4’ 122,0 182,8 179,2 152,5 193,8 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9
5’ 152,5 198,0 194,1 183,0 230,3 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9
6’ 183,0 213,3 209,1 213,5 266,7 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9

203
UNIDADE 3 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS E PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

7’ 213,5 228,6 224,0 244,0 303,0 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9
8’ 244,0 244,0 239,0 274,5 340,0 91,5 61,0 91,5 7,6 22,9
10’ 305,0 274,5 260,8 366,0 475,9 122,0 91,5 183,0 15,3 34,3

FONTE: Netto et al. (1998, p. 455)

TABELA 11 – LIMITES DE APLICAÇÃO DE MEDIDORES PARSHALL,


BEM COMO OS VALORES DE λ E n
Largura Nominal Capacidade
λ N
W (L/s)
1” 2,5 - - Mínima Máxima
3” 7,6 0,176 1,547 0,85 53,8
6” 15,2 0,381 1,580 1,42 110,4
9” 22,9 0,535 1,530 2,55 251,9
1’ 30,5 0,690 1,522 3,11 455,9
1½’ 45,7 1,054 1,538 4,25 696,2
2’ 61,0 1,426 1,550 11,89 936,7
3’ 91,5 2,182 1,566 17,26 1426,3
4’ 122,0 2,935 1,578 36,79 1921,5
5’ 152,5 3,728 1,587 45,30 2422,0
6’ 183,0 4,515 1,595 73,60 2929,0
7’ 213,5 5,306 1,601 84,95 3440,0
8’ 244,0 6,101 1,606 99,10 3950,0
10’ 305,0 - - 200,0 5660,0

FONTE: Adaptada de Netto et al. (1998)

Exemplo 5:
Uma estação de tratamento de esgotos apresentará uma vazão mínima de 50
L/s e uma vazão máxima de 180 L/s. Escolha a Calha Parshall mais adequada para
atender a esta estação de tratamento de esgotos e defina a fórmula para o cálculo da
vazão. Para uma altura de 30 cm, qual será a vazão medida pela calha Parshall?

Resposta: Pela Tabela 11 notamos que a Calha Parshall mais adequada


para essa faixa de vazão é a de 9”, já que atende tanto à vazão mínima quanto à
vazão máxima de esgoto a ser tratada. Para essa calha Parshall, temos λ = 0,535 e
n = 1,530. Com isso, a seguinte a fórmula para cálculo da vazão é obtida:

Q = 0,535 H1,53

A vazão para uma altura de 30 cm ou 0,3 m será:

m3
=Q 0,53
= 0,31,53 0,=
084 84 L / s
s

204
TÓPICO 2 | PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

LEITURA COMPLEMENTAR

ESTAÇÃO ELEVATÓRIA

Hudson Tiago dos Santos Pedrosa

Para as empresas de saneamento abastecerem uma determinada área,


normalmente é necessária a elevação das pressões nas redes ou adutoras. Para
isso utilizam-se equipamentos eletromecânicos desde as captações até o sistema
de distribuição para os consumidores finais.

Portanto, as estações elevatórias são indispensáveis para um sistema de


abastecimento de água em todas as etapas do sistema. Existem elevatórias nas
captações, aduções, nas estações de tratamento e na distribuição aos consumidores.
As estações elevatórias são compostas basicamente por três partes: tubulação de
sucção, motores, bombas, tubulações e conexões de recalque.

As tubulações de sucção ligam o reservatório inferior ou poço de sucção


aos conjuntos motor-bomba. Estes podem estar dispostos em paralelos ou
associados em série. A associação em paralelo aparece com mais frequência no
abastecimento de água, sempre com a finalidade de aumentar a vazão de recalque
e dar ao sistema maior flexibilidade em atender à demanda, ajustando o número
de conjuntos motor-bomba em funcionamento. A associação em série resolve o
problema de sistemas com elevadas alturas manométricas, proporcionando o
aumento de pressões no recalque.

FIGURA – A) ASSOCIAÇÃO EM PARALELO; B) ASSOCIAÇÃO EM SÉRIE

FONTE: Pedrosa (2015, p. 25)

A figura a seguir ilustra um sistema de elevatória genérico, com poço de


sucção, elevatória, reservatório superior e tubulações.

205
UNIDADE 3 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS E PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

FIGURA – ESQUEMA DE SISTEMA DE BOMBEAMENTO

FONTE: Pedrosa (2015, p. 26)

FONTE: PEDROSA, Hudson Tiago dos Santos. Otimização em estação elevatória de sistemas
de abastecimento de água buscando a eficiência energética. 2015. Dissertação (Mestrado
em Engenharia Civil) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife. Disponível em: https://
repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/17991/1/Disseta%C3%A7%C3%A3o-Hudson-
OTIMIZA%C3%87%C3%83O%20EM%20ESTA%C3%87%C3%83O%20ELEVAT%C3%93RIA%20DE%20
SISTEM.pdf. Acesso em: 21 ago. 2019.

MEDIÇÃO DE VAZÃO

Daniel Fonseca Carvalho


Leonardo Duarte Batista Silva

1. Medição Direta

Consiste na determinação do tempo necessário para encher um


determinado recipiente de volume conhecido. Este método é aplicável a pequenas
vazões (Q ≤ 10 L s-1); devem ser feitas pelo menos três medições do tempo e
trabalhar com a média.

Para que toda a água aflua para o recipiente, às vezes torna-se necessária
a construção de um pequeno dique de terra a fim de que o recipiente possa entrar
livremente a jusante do dique; neste caso a água é conduzida ao recipiente através
de uma calha qualquer (telha, pedaço de tubo, bambu etc.).

A figura a seguir ilustra a medição direta da vazão.

206
TÓPICO 2 | PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

FIGURA – ILUSTRAÇÃO DO MÉTODO DIRETO

FONTE: Carvalho e Silva (2008, p. 21)

2. Método do Vertedor

a) Conceito: é uma passagem feita no alto de uma parede por onde a água escoa
livremente (apresentando, portanto, a superfície sujeita à pressão atmosférica).

FIGURA – ILUSTRAÇÃO DO MÉTODO DO VERTEDOR

FONTE: Carvalho e Silva (2008, p. 22)

b) Emprego: são utilizados na medição de vazão de pequenos cursos d’água,


canais, nascentes (Q ≤ 300 L s-1).
c) Partes componentes:

FIGURA – PARTES CONSTITUINTES DE UM VERTEDOR

FONTE: Carvalho e Silva (2008, p. 23)

207
UNIDADE 3 | SISTEMAS ELEVATÓRIOS E PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

3. Método do Flutuador

De pouca precisão, sendo usado normalmente em cursos d'água onde é


impraticável a medição pelos métodos vistos anteriormente. Consiste em medir
a velocidade média de escoamento da água em um trecho do curso d'água
previamente escolhido, com o auxílio de um flutuador e determinar a seção
média do referido trecho. A vazão é dada por Q = A v

FIGURA – ESQUEMA DE UM FLUTUADOR

FONTE: Carvalho e Silva (2008, p. 30)

4. Medidor Venturi

O medidor Venturi ou venturímetro é uma peça especial, colocado em


linha na canalização, utilizado para medir vazão em condutos forçados. É uma
aplicação prática da equação de Bernoulli. Divide em três partes: uma parte
convergente, a outra, divergente e outra intermediária, denominada garganta.
No venturi, a parte convergente é constituída por um bocal. A porção divergente
tem a finalidade de trazer progressivamente o diâmetro ao seu valor inicial, e
diminuir a perda de carga no aparelho.

FIGURA – MEDIDOR VENTURI

FONTE: Carvalho e Silva (2008, p. 30)

208
TÓPICO 2 | PROCESSOS DE MEDIDAS HIDRÁULICAS

5. Calha Medidora: Medidor WSC

É um tipo de medidor que se adapta muito bem para a medição d’água em


sulcos ou canais. Podem ser construídos de folhas de metal e também de cimento
ou madeira. A figura seguinte apresenta as partes componentes do WSC Flume.
Consiste basicamente em quatro seções: seção de entrada, seção convergente,
seção contraída e seção divergente.

Este tipo de medidor deverá ser instalado dentro do sulco, de modo


que o seu fundo permaneça na horizontal, quer longitudinalmente, quer
transversalmente. Seu fundo deve ficar no mesmo nível do fundo do sulco.
Estará corretamente instalado quando a altura d’água na saída for menor que na
entrada, o que normalmente acontece.

Para a medição de vazão, somente uma leitura na régua graduada em


milímetro é necessária. Esta régua deve estar encostada na parede lateral de
entrada. Mediante calibração prévia, os valores de carga hidráulica (cm) são
convertidos em vazão (L.s-1).

FIGURA – PLANTA E CORTE DE UM MEDIDOR WSC

FONTE: Carvalho e Silva (2008, p. 30)

FONTE: CARVALHO, Daniel Fonseca; SILVA, Leonardo Duarte Batista. Fundamentos de hidráulica.
2008. Disponível em: http://www.ufrrj.br/institutos/it/deng/leonardo/downloads/APOSTILA/
Apostila%20IT%20503/IT503%20cap%201,%202,%203,%204,%205%20e%206%20-%202008.pdf.
Acesso em: 2 set. 2019.

209
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• Os processos de medição de vazão podem ser: método direto, orifícios, bocais,


vertedores, medidores diferenciais e medidores de regime crítico.

• Os medidores ultrassônicos apresentam alta precisão e podem ser utilizados


para fluidos que sejam condutores ultrassônicos, como medições em água,
esgoto, hidrocarbonetos líquidos, compostos químicos orgânicos e inorgânicos,
leite, cerveja, óleos e muitos outros.

• O tubo Pitot é adequado para medição de velocidade em aviões e canalizações,


ou seja, em correntes de alta velocidade.

• Os principais instrumentos utilizados para medição de vazão em cursos d’água


são os molinetes. Para que se consiga uma boa estimativa da velocidade média
em um curso d’água é imprescindível que diversas medidas verticais sejam
efetuadas, além de diversos pontos na direção horizontal.

• O medidor Parshall é um medidor de regime crítico amplamente utilizado nos


dias atuais em sistemas de esgotos domésticos, industriais e em unidades de
estações de tratamento de esgotos. O seguinte equacionamento é válido neste
medidor de vazão: Q = λHn.

210
AUTOATIVIDADE

1 Qual é a perda de carga resultante da instalação de um orifício concêntrico


em uma linha de recalque de ferro fundido de 600 mm de diâmetro, para
determinação de uma vazão de 300 L/s?
Dados:

D = 600 mm = 0,6 m
Q = 300 L/s = 0,3 m³/s
Cd = 061 (valor médio empregado para orifícios. Volte ao Subtópico 4 se
houver dúvidas).
d = 300 mm = 0,3 m (estimando d 50% de D. Volte ao Subtópico 4 se tiver
dúvidas para observar as recomendações de diâmetro do orifício em relação
ao diâmetro da tubulação: 50% a 70%)

2 Cite um instrumento utilizado para medição de velocidade em um curso


d’água. Para um rio de profundidade 2 m e largura 70 m, quantas medições
de velocidade devem ser realizadas na vertical e na horizontal?

3 Com relação aos métodos de medição de vazão, assinale a alternativa


CORRETA:

a) ( ) Os flutuadores são os equipamentos mais utilizados para determinação


de vazão em cursos d’água devido a sua alta precisão.
b) ( ) A utilização do Tubo Pitot em correntes de baixa velocidade é adequada,
sendo por isso muito empregado em estações de tratamento de esgoto.
c) ( ) O medidor Parshall é um medidor de regime crítico com ampla
utilização atualmente. Uma de suas aplicações está nas estações de
tratamento de esgoto, tanto como medidor de vazão quanto para
controle da velocidade nas caixas de areia.
d) ( ) Os medidores ultrassônicos são muito precisos para medição de vazão
em escoamentos que possuem alta quantidade de sólidos.
e) ( ) A aplicação do orifício concêntrico é pouco notada atualmente devido
à complexidade desse dispositivo de medição de pressão.

211
212
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214

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