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Teoria Geral do

Direito Digital
Prof.ª Clarice Klann

Indaial – 2020
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020

Elaboração:
Prof.ª Clarice Klann

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

K63t

Klann, Clarice

Teoria geral do direito digital. / Clarice Klann. – Indaial:


UNIASSELVI, 2020.

167 p.; il.

ISBN 978-65-5663-309-1
ISBN Digital 978-65-5663-304-6
1. Direito digital. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da
Vinci.

CDD 340

Impresso por:
Apresentação
Prezado acadêmico! Tudo bem com você? Espero que sim. Meu nome
é Clarice Klann. Eu sou professora universitária e fico feliz em fazer parte da
sua história. O presente livro didático foi escrito para que você possa apro-
fundar e aprimorar seus conhecimentos com relação à disciplina de Teoria
geral do direito digital.

Vivemos em uma era de excesso de informação e, muitas vezes, rode-


ados de uma sensação de desatualização a cada clique, pois a velocidade da
informação está sempre mais célere.

É preciso estabelecer um equilíbrio entre o direito à informação e a se-


gurança da informação, respeitando a privacidade. Muito se fala em liberdade
de expressão nas redes virtuais, todavia, o mundo cibernético não pode ser
compreendido como “terra sem lei’. Assim, houve a necessidade de regula-
mentação por meio do direito digital, pois estamos envoltos em contratos ele-
trônicos, sistemas computacionais, comércio eletrônico e crimes cibernéticos.

Não há como afastar a regulação do direito, e o operador do direito deve


estar preparado para as mudanças no campo digital. Quando a sociedade muda,
o direito também deve acompanhar essa mudança, analisando e interpretando
com base nos princípios fundamentais vigentes e acompanhando a chegada de
novos institutos. O arquivo original não se encontra mais no papel.

Prezado acadêmico, nesta disciplina, trabalharemos as questões per-


tinentes à teoria geral do direito digital, em que, na Unidade 1, estudaremos
o que é o direito digital, suas características e como são aplicados no Brasil,
os sistemas computacionais e os direitos sobre os bens informáticos.

Na Unidade 2 serão apresentadas as questões dos tipos de contratos


eletrônicos, a questão política da segurança de informação, a aplicação do
direito civil, do direito do consumidor e demais ramos do direito no contrato
eletrônico, bem como o comércio eletrônico e o marco civil da internet.

Na Unidade 3, nós estudaremos a responsabilidade e o direito digital.


Estudaremos as questões jurídicas no ambiente eletrônico, como os direitos
autorais e a questão dos conteúdos da internet, o e-mail como instrumento
de comunicação e ferramenta de trabalho e a possibilidade de monitoramen-
to pela empresa, a questão do teletrabalho e os crimes cibernéticos.

Você está pronto para começar a compreender Teoria Geral do Di-


reito Digital? Então vamos à luta! Desejo muito sucesso a você em sua vida
profissional! Bons estudos!

Profª Clarice Klann


NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi-
dades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra-
mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui
para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida-
de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun-
to em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro


que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você
terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen-
tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


Sumário
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO DIREITO DIGITAL.............................................................. 1

TÓPICO 1 — O QUE É DIREITO DIGITAL?.................................................................................... 3


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 3
2 NOÇÕES ACERCA DO DIREITO DIGITAL.................................................................................. 3
2.1 CONCEITO DE DIREITO DIGITAL............................................................................................. 3
3 CARACTERÍSTICAS E DESAFIOS DO DIREITO DIGITAL..................................................... 5
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 13
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 14

TÓPICO 2 — O DIREITO DIGITAL NO BRASIL.......................................................................... 17


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 17
2 OS PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AO DIREITO DIGITAL NO BRASIL................................... 17
2.1 PRINCÍPIO DA EXISTÊNCIA CONCRETA.............................................................................. 18
2.2 PRINCÍPIO DA RACIONALIDADE.......................................................................................... 18
2.3 PRINCÍPIO DA LEALDADE....................................................................................................... 19
2.4 PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO ESTATAL............................................................................. 19
2.5 PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE........................................................................................ 19
3 O DIREITO DIGITAL NO BRASIL E SUAS TRANSFORMAÇÕES...................................... 21
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 30
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 31

TÓPICO 3 — SISTEMAS COMPUTACIONAIS E OS DIREITOS SOBRE


OS BENS INFORMÁTICOS...................................................................................... 33
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 33
2 SISTEMAS COMPUTACIONAIS E OS BENS INFORMÁTICOS........................................... 33
3 PROGRAMAS DE COMPUTADOR E SEUS REGISTROS ..................................................... 34
3.1 O SOFTWARE X O HARDWARE E OS DIREITOS DO TITULAR......................................... 35
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 39
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 48
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 49
REFERÊNCIAS....................................................................................................................................... 51

UNIDADE 2 — CONTRATOS ELETRÔNICOS............................................................................. 53

TÓPICO 1 — CONTRATOS ELETRÔNICOS NO DIREITO CIVIL BRASILEIRO


E A QUESTÃO DA POLÍTICA DE SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO –
PSI COM A MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2.200-2/01.............................................. 55
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 55
2 CONTRATOS ELETRÔNICOS....................................................................................................... 55
3 ASSINATURAS E VALIDAÇÕES DIGITAIS............................................................................... 60
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 68
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 69
TÓPICO 2 — O DIREITO DO CONSUMIDOR NO CONTRATO E
COMÉRCIO ELETRÔNICO....................................................................................... 71
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 71
2 O COMERCIO ELETRÔNICO E O CDC....................................................................................... 71
3 GARANTIA DE ATENDIMENTO FACILITADO AO CONSUMIDOR................................. 74
4 DESISTÊNCIA DO NEGÓCIO: PRAZO DE SETE DIAS.......................................................... 75
5 DEVOLUÇÃO DO QUE FOI PAGO............................................................................................... 76
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 81
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 82

TÓPICO 3 — O MARCO CIVIL DA INTERNET – LEI Nº 12.965,


DE 23 DE ABRIL DE 2014........................................................................................... 85
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 85
2 MARCO CIVIL DA INTERNET...................................................................................................... 85
3 O DIREITO À PRIVACIDADE........................................................................................................ 87
4 PRIVACIDADE E O MARCO CIVIL DA INTERNET................................................................ 89
5 A NEUTRALIDADE DA REDE E O MARCO CIVIL DA INTERNET.................................... 93
6 A IMPUNIDADE NA INTERNET E O MARCO CIVIL DA INTERNET............................... 95
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 98
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 102
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 103
REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 105

UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE E O DIREITO DIGITAL:


QUESTÕES JURÍDICAS NO AMBIENTE ELETRÔNICO............................ 107

TÓPICO 1 — OS DIREITOS AUTORAIS E A QUESTÃO DOS CONTEÚDOS


DA INTERNET........................................................................................................... 109
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 109
2 BREVE HISTÓRICO DA LEI DE DIREITOS AUTORAIS...................................................... 109
3 O CONCEITO JURÍDICO DE DIREITOS AUTORAIS............................................................ 111
4 A QUESTÃO DO CONTEÚDO NA INTERNET....................................................................... 114
5 A LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO DE PENSAMENTO NA INTERNET...................... 118
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 123
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 124

TÓPICO 2 — O E-MAIL COMO INSTRUMENTO DE COMUNICAÇÃO


E FERRAMENTA DE TRABALHO E A POSSIBILIDADE DE
MONITORAMENTO PELA EMPRESA................................................................ 125
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 125
2 O E-MAIL COMO INSTRUMENTO DE COMUNICAÇÃO E FERRAMENTA
DE TRABALHO................................................................................................................................ 125
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 133
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 134

TÓPICO 3 — O TELETRABALHO COMO FERRAMENTA DE TRABALHO....................... 135


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 135
2 O TELETRABALHO COMO FERRAMENTA ÚTIL NA RELAÇÃO DE TRABALHO ..... 135
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 143
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 144
TÓPICO 4 — CRIMES CIBERNÉTICOS........................................................................................ 147
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 147
2 CONCEITO DE CRIME CIBERNÉTICO..................................................................................... 147
3 CRIMES CIBERNÉTICOS PRÓPRIOS E IMPRÓPRIOS......................................................... 149
4 CRIMES CIBERNÉTICOS: QUAL É O LUGAR DO CRIME PARA FINS DE
APLICAÇÃO DA PENA E DETERMINAÇÃO DA COMPETÊNCIA
JURISDICIONAL?............................................................................................................................ 150
5 LEGISLAÇÃO ATINENTE AOS CRIMES CIBERNÉTICOS.................................................. 153
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 160
RESUMO DO TÓPICO 4................................................................................................................... 162
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 163
REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 165
UNIDADE 1 —

INTRODUÇÃO AO DIREITO DIGITAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender o conceito de teoria geral do direito digital;

• identificar e reconhecer as características do direito digital;

• reconhecer a atuação do direito digital no Brasil;

• conhecer os bens informáticos.

1
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – O QUE É DIREITO DIGITAL?

TÓPICO 2 – O DIREITO DIGITAL NO BRASIL

TÓPICO 3 – SISTEMAS COMPUTACIONAIS E OS DIREITOS


SOBRE OS BENS INFORMÁTICOS

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

2
TÓPICO 1 —
UNIDADE 1

O QUE É DIREITO DIGITAL?

1 INTRODUÇÃO

O tema do direito digital é algo atual e que merece a nossa atenção, uma
vez que a virtualidade é uma realidade. Somos levados a refletir no campo jurídi-
co acerca das relações jurídicas que podem surgir no campo digital.

O direito digital é um desafio e exige atualização constante do estudante,


pois a tecnologia muda rapidamente, surgindo a cada dia novas ferramentas e
novas situações que temos com que nos deparar.

Inicialmente, vamos percorrer o campo conceitual do direito digital, suas


características, a atuação do direito digital no Brasil, os sistemas computacionais
e os direitos sobre os bens informáticos.

Vamos lá!

2 NOÇÕES ACERCA DO DIREITO DIGITAL


O direito digital começou a se tornar indispensável no campo jurídico a partir
do momento em que as relações passaram a utilizar o meio virtual. Hoje, não é mais
possível pensar a atividade humana sem o uso da tecnologia digital e, para tanto,
situações jurídicas no campo digital necessitam de reflexões e previsões legais.

2.1 CONCEITO DE DIREITO DIGITAL

Há quase meio século, a internet não passava de um projeto ousado. O ter-


mo conhecido como “globalização” não havia sido talhado e falar de fibra óptica,
conexão e internet ainda não era algo a ser comentado ou até mesmo pensado.

A internet ganhou força desde o final da década de 1980. O seu uso esteve
atrelado ao de outras tecnologias e vem transformando substancialmente as rela-
ções sociais e jurídicas.

3
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO DIREITO DIGITAL

FIGURA 1 – O DIREITO DIGITAL

FONTE: <https://bit.ly/3jsAccE>. Acesso em: 1º set. 2020.

O direito digital é um campo de conhecimento multifacetado e multidisci-


plinar e diz respeito ao conjunto de regras e princípios que envolvem as relações
sociais no campo digital. O direito digital busca estabelecer uma compreensão
do direito tradicional dentro do campo relacional entre homem e a tecnologia,
abarcando tanto aspectos da vida individual quanto coletiva. É multidisciplinar
porque trabalha vários campos, como a esfera penal, civil, consumidora etc.

No entanto, é uma área de conhecimento que conta com poucas leis que
regulamentam a questão digital. Se no passado, o dia a dia jurídico estava perme-
ado de papéis, livros e prazos, nos dando a impressão de que o mundo girava um
pouco mais lento, com o passar do tempo, tem-se a impressão de que se vive na
era da instantaneidade e do aglomerado de informações.

Com isso, uma nova era de transformações chegou! Transformações que pas-
saram por diversos eixos da nossa sociedade, instalando mudanças, desde a comuni-
cação, os meios de prova, os métodos de trabalho. Enfim, nas mais variadas esferas,
ocorreram significativas alterações, e isso requereu uma nova especialidade do ope-
rador do direito: conhecer o direito na computação, ou, ainda, o direito digital.

O direito, portanto, sofreu influência da nova realidade em que se vive


atualmente. É preciso que o operador do Direito esteja conectado e ciente dessas
transformações, pois é peça fundamental para auxiliar na compreensão de possí-
veis conflitos ou até mesmo auxiliar na prevenção destes.

O surgimento da internet é um dos grandes responsáveis pelo momento


em que se vive atualmente. É importante compreender que a internet é muito
mais que um meio de comunicação digital, ou até mesmo uma conexão de uma
rede mundial de computadores.

A internet é encontrada e acessada de outros dispositivos como smartpho-


nes, tablets, ipads, notebooks etc. Ao falar de internet, pode-se falar de pessoas,
sejam elas naturais, jurídicas ou de valores, sejam eles de pequeno ou grande
valor. Com ela, há inúmeras possibilidades e, com isso, a informação tem sido
considerada algo de valor inestimável. Além disso, quando um dado ingressa na
rede, pode-se dizer como impossível a sua exclusão da rede.

4
TÓPICO 1 — O QUE É DIREITO DIGITAL?

A internet nos traz o conceito multidimensional, em que é possível pensá-la em


diversas vertentes e facetas e, isso, claro, indica a profunda mudança pela qual o direito
digital passa a ser pensado, ou seja, como importante na relação entre os indivíduos.

O profissional, com o seu conhecimento, possui uma importância tremen-


da, como a de garantir a segurança nacional, mantendo dados sigilosos criptogra-
fados e com segurança, para que nenhum terceiro não autorizado tenha acesso e
use indevidamente, seja para uso próprio ou para terceiros.

O constante estudo e dedicação de profissionais da era de tecnologia fez


com que o avanço tecnológico tomasse proporções tremendas, pois, em questões
de poucos segundos, é possível saber o que aconteceu do outro lado do mundo,
ter acesso a museus virtuais, exames de saúde, prova eletrônica e até mesmo con-
ferências e audiências judiciais por meio da web.

A era digital é uma realidade e “segundo um relatório sobre economia di-


gital, divulgado em outubro de 2017 pela Conferência das Nações Unidas sobre
Comércio e Desenvolvimento, o Brasil ocupa o 4º lugar de um ranking mundial de
usuários de internet, com 120 milhões de pessoas conectadas” (IPOG, 2018, s.p.).

DICAS

A era digital já é uma realidade. Recursos como a inteligência artificial, certifi-


cação digital e internet das coisas são apenas alguns exemplos de como a tecnologia vem
transformando o dia a dia de pessoas e empresas. Vamos saber mais sobre o direito digital
e áreas de atuação? Confira: https://www.aurum.com.br/blog/direito-digital/.

3 CARACTERÍSTICAS E DESAFIOS DO DIREITO DIGITAL

Você sabe quais são as principais características e desafios do direito digital?

O direito digital possui como característica ser dinâmico, ou seja, ele


muda constantemente e, busca adaptar-se à realidade; possui poucas leis e base
em costumes; e é acelerado.

Podemos caracterizar o direito digital a partir de dois contextos: legisla-


tivo e interpretativo. O legislativo é utilizado em uma criação de lei, para regu-
lamentar as condutas no meio digital e estabelecer novos tipos penais no campo
cibernético, ao passo que o interpretativo abarca a aplicação das leis atuais nas
situações já previstas a cada caso concreto.

5
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO DIREITO DIGITAL

A regulamentação de conduta no ramo tecnológico e digital encontra uma


barreira de desafio, tanto para os nossos legisladores quanto para aqueles que re-
ceberão a legislação. Tanto os indivíduos quanto as empresas terão de se adaptar
às mudanças e buscar orientações no sentido de aplicar o direito positivo.

Um dos desafios encontrados é justamente a adaptação das mais variadas


normas, ou seja, de várias áreas do Direito, que devem se adequar às diferentes
áreas do direito digital.

Um exemplo seria a questão do teletrabalho. Ora, quem poderia imaginar


que poderíamos trabalhar em uma empresa e desempenhar o nosso horário de
trabalho e atividades no aconchego do lar? Não somente a CLT (Consolidação
das Leis do Trabalho) disciplinará as relações de trabalho, mas também é neces-
sário compreender as tecnologias como ferramentas de trabalho e, a partir daí,
regular as relações trabalhistas na era digital do home office ou teletrabalho.

FIGURA 2 – TIPOS DE TELETRABALHO

FONTE: <https://bit.ly/2HJaZ0w>. Acesso em: 31 ago. 2020.

As características do contrato de teletrabalho foram reguladas no art. 75-


B, da CLT (BRASIL, 2017) que disciplina:

Art. 75-B. Considera-se teletrabalho a prestação de serviços preponde-


rantemente fora das dependências do empregador, com a utilização
de tecnologias de informação e de comunicação que, por sua natureza,
não se constituam como trabalho externo.
Parágrafo único. O comparecimento às dependências do empregador
para a realização de atividades específicas que exijam a presença do
empregado no estabelecimento não descaracteriza o regime de teletra-
balho (BRASIL, 2017, s.p.).

6
TÓPICO 1 — O QUE É DIREITO DIGITAL?

Assim, o teletrabalho pode ser exercido fora da empresa de forma integral


ou não, mas o que prepondera é o trabalho a distância, utilizando-se da tecnologia
da informação e de comunicação em atividades que não sejam tipicamente externas.

DICAS

Para saber mais sobre o teletrabalho, acesse: https://bit.ly/35DF7CL.

Outro exemplo é o das compras on-line, em que com apenas alguns cliques po-
demos adquirir produtos ou até mesmo solicitar a prestação de serviços. No entanto, os
sites de compras on-line, além de receberem a regulamentação das lojas físicas, devem
respeitar o direito de desistência, bem como ter todas as informações de contato no site
acerca da loja que disponibiliza em plataforma on-line os produtos ou serviços.

O Decreto Federal nº 7962/13, junto ao Código de Defesa do Consumidor,


Lei 8078/90, passaram a disciplinar as regras de compras feitas pela internet de
forma um pouco mais específica.

Exemplo: é imprescindível que a loja virtual tenha o nome empresarial,


número de inscrição – sendo o CNPJ ou CPF para os casos de venda por pessoa
física – e, endereço de onde está localizada a loja ou escritório da empresa. No
entanto, muitos ignoram essa regulamentação e a descumprem, tornando, poste-
riormente, difícil localizar o endereço da loja, caso haja alguma situação que exija
o ingresso no Procon ou até mesmo na via judicial por algum motivo de descum-
primento de contrato, por exemplo.

Como podemos ver, é necessário articular os conceitos de tecnologia da


informação com o conhecimento do conjunto de leis no campo digital.

No direito, em seus mais variados ramos, encontramos um grande volume


de normas, todavia, no direito digital, existe o baixo número de regulamentações
específicas. No Brasil, até agora, os exemplos são o Marco Civil da Internet, a Lei de
Crimes Informáticos, a Lei da Transparência e a recente Lei de Proteção de Dados.

Em muitos casos, a ausência de normas regulamentadoras faz com que as


condutas passem a ser julgadas pelas decisões dos tribunais, a fim de adequar os
comportamentos humanos nas atividades virtuais.

Encontra-se uma dificuldade na aplicação da lei digital, pois os crimes di-


gitais são cometidos por meio da internet. Um japonês pode invadir computadores
estadunidenses utilizando a conexão com um servidor argentino, por exemplo. En-
tretanto, qual lei seria aplicada: a do Japão, dos Estados Unidos ou da Argentina?

7
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO DIREITO DIGITAL

Outra dificuldade apontada no campo do direito digital é que muitas in-


frações são cometidas sem a possibilidade de apurar a identidade do infrator e de
se tomarem as medidas cabíveis e efetivas para sua punição.

A burocracia pode ainda ser outro desafio a ser trabalhado na fronteira


digital, em que o cumprimento da lei pode vir a necessitar de cooperação entre os
órgãos de mais de um país do globo.

A tecnologia é uma realidade na nossa vida cotidiana, no entanto, preci-


samos estar atentos e buscar o conhecimento necessário para nos adequarmos às
regras deste novo cenário global e virtual. É preciso entender que há a proteção
intelectual e autoral de fotos, vídeos e da divulgação de produtos on-line, bem
como pode haver responsabilização civil e criminal por ofensas na internet etc.

Nesse sentido, as preocupações podem ser resumidas em dois aspectos: a


conformidade com a lei e a busca de instrumentos para assegurar os direitos dos
indivíduos no meio digital. Somente com a preparação e a criação de uma base
de conhecimento sobre o conjunto de regras no campo digital é que será possível
combater os crimes digitais e resguardar os direitos dos cidadãos.

Os crimes digitais são outro ponto de bastante preocupação para as empresas.


Para se ter uma ideia, em 2017, em pesquisa da Norton Cyber Security, o Brasil passou
a ocupar a segunda colocação no ranking dos países com mais delitos informáticos,
tendo prejuízo estimado em 22 bilhões de dólares (SECURITY REPORT, 2018).

O Direito Digital é um desafio e ainda merece a nossa atenção devido à


importância que possui no nosso dia a dia, portanto, ainda não foi integralmente
explorado pelos profissionais jurídicos e merece a nossa atenção e estudo, pois a
sociedade pede por profissionais habilitados na área.

A tendência cada vez maior é que as pessoas e empresas pratiquem seus


atos on-line, a própria advocacia se adaptará e migrará com mais força para esse
meio. Um exemplo é a realização de audiência por meio de videoconferência.

NTE
INTERESSA

Confira a entrevista com Fabrício Mota: “O presente e o futuro do direito digi-


tal”. Acesse: https://bit.ly/2TrEmqy.

8
TÓPICO 1 — O QUE É DIREITO DIGITAL?

DIREITO INFORMÁTICO

Benigno Núñez Novo

1 INTRODUÇÃO

O direito digital é o resultado da relação entre a ciência do direito e a ciência


da computação sempre empregando novas tecnologias. Trata-se do conjunto de nor-
mas, aplicações, conhecimentos e relações jurídicas, oriundas do universo digital.

Essa nova ramificação jurídica corresponde ao conjunto de normas


que visam tutelar as relações humanas e as violações comportamentais em
ambientes digitais. Isto é, se com o uso da tecnologia, as pessoas enviam e
recebem informações, realizam negócios, emitem opiniões etc., devem existir
regras e princípios que orientem a conduta nesse meio.

Tais diretrizes, em grande parte, são adaptações de leis antigas a uma


realidade que não foi pensada por seus idealizadores. Por exemplo, o Código
Penal de 1940 prevê o crime de estelionato que, atualmente, pode ser praticado
por uma pessoa que nem sequer está no território nacional, graças à internet.

Em um mundo cada vez mais conectado, problematizar o direito digi-


tal é uma necessidade não apenas para advogados, mas também para empre-
endedores e gestores, especialmente em grandes empresas.

Os Estados Unidos e a Europa estão alguns passos à frente do Brasil


quando o assunto é direito digital, no sentido de que eles já discutiram ou dis-
cutem questões que aqui ainda não foram problematizadas pelo poder público.

Um exemplo é o regulamento GDPR, uma lei cibernética europeia sobre


proteção de dados pessoais que certamente terá influência na legislação brasileira.

Com a crescente digitalização dos processos de gestão e comunicação tanto


em empresas privadas e repartições públicas quanto em operações pessoais, novas
questões legais envolvendo o mundo digital continuarão surgindo no Brasil.

2 DESENVOLVIMENTO

No Brasil, além da adaptação das leis do mundo analógico, as princi-


pais normas criadas pelo Congresso Nacional são as seguintes:

Lei dos crimes informáticos: estabelece que certas condutas surgidas


com a tecnologia serão consideradas crimes, como invadir o dispositivo de in-
formática (PC, notebook, celular etc.) alheio e interromper fraudulentamente
o serviço telefônico, telegráfico ou de internet.

9
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO DIREITO DIGITAL

Marco civil da internet: fixa as diretrizes básicas do uso da internet no


Brasil, bem como determina que esse ambiente é regulamentado pelas regras
de direito civil, do consumidor, comercial, entre outros.

Código de Processo Civil de 2015: em proporção menor, cria normas


para o desenvolvimento do processo judicial eletrônico.

Lei de acesso à informação: define a disponibilização das prestações de


contas dos entes públicos com o uso da tecnologia da informação.

Não há no Brasil, por exemplo, um tribunal específico destinado a jul-


gar delitos e outras questões que acontecem no ambiente virtual, por exemplo.

Na Polícia Civil, por outro lado, já há núcleos especializados no com-


bate ao cibercrime espalhados pelo Brasil. Um exemplo de aplicação do direito
legal no viés legislativo é a criação da Lei nº 12.737/2012, que ficou conhecida
como Lei Carolina Dieckmann.

A lei acrescenta o artigo 154-A ao Código Penal, criando um tipo penal que
criminaliza a invasão de dispositivo informático alheio a fim de obter, adulterar
ou destruir dados ou informações sem autorização do titular. O nome da famosa
atriz se deve porque foi um drama pessoal seu que motivou a aprovação da lei.

Em 2012, ela teve fotos íntimas roubadas por hackers, que exigiram
determinada quantia em dinheiro para não as divulgar na rede. A atriz não
cedeu à tentativa de extorsão e as fotos se tornaram públicas.

Note que esse é um caso diferente de roubo ou furto convencional,


em que o criminoso se faz presente para roubar um pertence físico da vítima.
Imagens de um computador ou celular não podem ser pegas na mão, mas os
dispositivos podem ser invadidos a distância.

Por conta dessas peculiaridades, os legisladores acharam por bem criar uma
descrição específica de delito no qual condutas desse tipo pudessem ser enquadradas.

A pena para o crime de invasão de dispositivo informático é de três


meses a um ano de detenção e multa (com agravantes) ou seis meses a dois
anos de reclusão e multa em situações mais graves (também com possíveis
agravantes que aumentam a pena). Outro exemplo ainda mais significativo
de lei criada para uma maior adequação da legislação brasileira à realidade de
um mundo cada vez mais conectado é o Marco Civil da Internet.

Não faltam exemplos também de aplicação do direito digital pelo ou-


tro viés, da aplicação de normas já consolidadas nas leis do país. Talvez os
exemplos mais comuns sejam crimes de calúnia, difamação, injúria ou ameaça,
praticados em e-mails, redes sociais e aplicativos como o WhatsApp.

10
Há também questões no direito do consumidor (compras feitas on-li-
ne), direito do trabalho (verificação de e-mails fora do horário de trabalho),
direito de família (infidelidade via sites de aplicativos de relacionamento) e
outros. E há também várias situações em que se fica no meio disso, quando a
ausência de uma lei específica suscita dúvidas sobre qual o enquadramento
legal adequado que motiva a discussão sobre a necessidade de regulamentar
a questão.

O exemplo mais clássico é a briga dos taxistas, que precisam de licença


especial e obedecem a uma série de regras municipais para operarem, contra o
Uber. Em várias cidades do país, o impasse motivou a aprovação de leis para
regulamentar o funcionamento do aplicativo, incluindo dispositivo federal, com
a Lei 13.640/2018.

Várias vezes, impasses envolvendo o direito digital chegaram a um dos ór-


gãos máximos do sistema judiciário brasileiro: o Superior Tribunal de Justiça (STJ).

E-mails

O STJ já decidiu sobre a responsabilidade de um provedor de correio


eletrônico que não revela dados de usuários que transmitem mensagens ofen-
sivas por e-mail, inocentando a empresa de tecnologia.

Em outro caso, decidiu que o conteúdo de e-mails pode ser usado como
prova para fundamentar uma ação de cobrança de dívida.

Em fevereiro de 2018, o STJ decidiu também que a quebra de sigilo de


informações da conta de um e-mail armazenadas em outro país passa por um
acordo de cooperação internacional.

Segurança na internet

Em investigações que apuravam o envolvimento de organizações cri-


minosas voltadas ao tráfico de anabolizantes, a 5ª Vara Federal de Guarulhos
ordenou o fornecimento de dados de usuários do Facebook.

Em decisão de fevereiro de 2018, o STJ determinou multa de R$ 3,96


milhões à empresa por descumprir a ordem.

Liberdade de expressão vs. censura

Em 2010, o jornal Folha de São Paulo conseguiu uma liminar contra o site
Falha de São Paulo, que faz uma paródia do periódico. O caso chegou à 4ª turma
do STJ, que decidiu que se tratava de uma tentativa de censura do jornal paulista.

11
Monitoramento de informações

A 3ª turma do STJ decidiu contra determinação do Tribunal de Justiça


de São Paulo, que obrigava o Facebook a monitorar previamente o conteúdo
publicado por seus usuários.

Por ser um ramo novo, o direito digital ainda não foi integralmente
explorado pelos profissionais jurídicos e tampouco seu conhecimento é difun-
dido na população. Logo, há um grande espaço a ser preenchido em futuro
próximo.

Entretanto, como a tendência é que, cada vez mais, as pessoas e em-


presas pratiquem seus atos on-line, a própria advocacia se adaptará e migrará
com mais força para esse meio.

É possível notar uma preocupação dos juristas em conhecer os recursos


e conceitos da tecnologia da informação. Igualmente, aos poucos, as ativida-
des dos advogados passam por sua própria transformação digital, com o sur-
gimento da chamada lawtech. A advocacia gradualmente se transforma para
atender às características do direito digital.

CONCLUSÃO

O direito digital é bastante complexo. São inúmeros os impasses legais


que envolvem tecnologias on-line. Com a necessidade de digitalizar os proces-
sos e trabalhar em rede para ter mais eficiência e produtividade, as empresas
não vão escapar desse tipo de questão.

Por isso, precisam se preparar para ter proteção jurídica contra possí-
veis casos de vazamento de informações, roubo de propriedade intelectual e
outras situações. O Marco Civil da Internet veio para estabelecer algumas re-
gras, embora ainda não seja o ideal. De forma geral, o direito digital foi criado
para adequar os fundamentos do direito à realidade da sociedade.

FONTE: <https://bit.ly/37MIrOk>. Acesso em: 10 ago. 2020.

12
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• O direito digital é um desafio e exige atualização constante do estudante, pois


a tecnologia muda rapidamente, em que a cada dia surgem novas ferramen-
tas e novas situações na qual temos com que nos deparar.

• O direito digital é um campo de conhecimento multifacetado e multidiscipli-


nar e, diz respeito ao conjunto de regras e princípios que envolvem as rela-
ções sociais no campo digital.

• O direito digital é uma área de conhecimento que conta com poucas leis que
regulamentam a questão digital.

• O direito digital é dinâmico, ou seja, ele muda constantemente e busca adap-


tar-se à realidade; possui poucas leis; base em costumes; e é célere.

• Um dos desafios encontrados é justamente a adaptação das mais variadas


normas, ou seja, várias áreas do direito ainda devem adequar-se às diferentes
áreas do direito digital. Um exemplo seria a questão do teletrabalho.

• O Decreto Federal nº 7962/13, com o Código de Defesa do Consumidor (Lei


8078/90) passou a disciplinar as regras de compras feitas pela internet de for-
ma um pouco mais específica.

• É necessário articular os conceitos de tecnologia da informação com o conhe-


cimento do conjunto de leis no campo digital.

13
AUTOATIVIDADE

1 O direito digital é o ramo do direito que pretende regulamentar as relações


entre o usuário que navega na internet, pois muitos crimes podem ser co-
metidos no campo virtual. Com relação ao “direito digital” e a definição de
suas características, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Estático, dinâmico e baseado tão somente na lei.


b) ( ) Dinâmico, célere e possui poucas leis.
c) ( ) Apenas baseado tão somente na lei.
d) ( ) Estático e célere.

2 O direito digital passa a ser visto no nosso cotidiano e, torna-se inevitável em


uma sociedade voltada para a tecnologia. As relações sociais mudaram e as
relações de trabalho também. A respeito disso, como se chama a atividade de
trabalho por meio digital que não necessita da presença integral do trabalha-
dor na empresa, podendo o este realizar por meio da tecnologia de casa?

3 O Direito Digital contempla o campo cibernético e as relações de interação


no meio virtual buscando equilibrar as mais variadas situações cotidianas,
que repercutam no âmbito jurídico. A respeito da relação consumerista na
internet, veio o Decreto 7.962/2013. Portanto, acerca dos aspectos que de-
vem ser considerados na contratação de comércio eletrônico, classifique V
para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas:

( ) informações claras a respeito do produto, serviço e do fornecedor.


( ) atendimento facilitado ao consumidor.
( ) respeito ao direito de arrependimento.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) F – V – V.
b) ( ) V – V – V.
c) ( ) F – F – V.
d) ( ) V – F – F.

4 O Código de Defesa do Consumidor estabelece o direito de arrependimento ao


comprar algum produto em lojas físicas. Com a regulação do comércio eletrô-
nico, o direito de arrependimento também é possível para as compras feitas por
meio da internet. Acerca do exposto, assinale a alternativa CORRETA quanto
ao prazo, para que o consumidor exerça o seu direito ao arrependimento:

a) ( ) 5 dias.
b) ( ) 7 dias.
c) ( ) 10 dias.
d) ( ) 15 dias.
14
5 Não são raros os casos em que pessoas tem celulares ou redes sociais hacke-
ados vazando informações, vídeos ou fotos, que possam vir a comprometer
a imagem e a honra subjetiva da pessoa. Quem invade esses dispositivos
está cometendo um ilícito penal. Qual seria ele?

15
16
TÓPICO 2 —
UNIDADE 1

O DIREITO DIGITAL NO BRASIL

1 INTRODUÇÃO

Neste tópico, trabalharemos a atuação do direito digital no Brasil, e como se


dá a aplicação de leis e princípios aos casos concretos que envolvam a tecnologia.

Para dirimir tais questões, vamos verificar os princípios e sua importân-


cia, bem como conhecer o Marco Civil na Internet – Lei nº 12.965/2014, que esta-
belece os princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil.

Ainda abordaremos o Decreto Federal nº 7.963/2013 que regulamenta o


Código de Defesa do Consumidor para o comércio eletrônico.

É certo que o direito positivado surgiu da necessidade de limitar o poder


do Estado, criando normas impessoais. São normas voltadas para o equilíbrio
e harmonia da sociedade. Cumpre ao Poder Legislativo perceber os anseios da
sociedade e normatizar os comportamentos da sociedade para que o magistrado
diante de um conflito judicial consiga dizer o direito.

E quando não houver legislação prevendo ou regulamentando determi-


nada situação atinente ao Direito Digital?

Ora, nesses casos vamos analisar a aplicabilidade dos princípios no di-


reito digital.

2 OS PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AO DIREITO DIGITAL NO


BRASIL

Os princípios são grandes aliados do direito digital, uma vez que não é
possível uma legislação atual que contemple de forma integral e célere as relações
sociais que permeiam o direito digital.

Nesse sentido, a autora e advogada renomada em direito digital, Patrícia


Peck Pinheiro, fala sobre a importância de norma e realidade:

17
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO DIREITO DIGITAL

A capacidade da norma de refletir a realidade social determina o grau de


eficácia jurídica de um ordenamento. Eficaz é aquilo que é capaz de efeti-
vamente produzir efeitos, ou seja, o conceito de eficácia envolve aceitação
e obediência. Norma eficaz é aquela que é observada e cumprida pelos
diversos grupos sociais. Implica o chamado “hábito geral de obediência”,
sendo a garantia de cumprimento da norma (PINHEIRO, 2013, p. 56).

Segundo Mario Antônio Lobato de Paiva, são “princípios somente aplicados


ao direito eletrônico: o princípio da existência concreta, o princípio da racionalidade,
o princípio da lealdade, o princípio da intervenção estatal, o princípio da subsidia-
riedade, o princípio da efetividade e o princípio da submissão” (PAIVA, 2002, p. 1).

Isso não quer dizer que não podemos usar outros princípios aplicáveis.
Com certeza podemos, basta correlacionar o princípio ao caso concreto e conectar.

No entanto, não é possível acompanhar a velocidade da informação e edi-


tar leis que contemplem o direito digital e, assim, os princípios tornam-se impor-
tantes para resolver os conflitos e questões jurídicas que o operador do Direito
encontrará diariamente.

2.1 PRINCÍPIO DA EXISTÊNCIA CONCRETA

Esse princípio é praticamente o mesmo aplicado no Direito do trabalho,


qual seja, o princípio da primazia da realidade. Com relação ao direito digital,
levam-se em conta as situações concretas que, de fato, ocorreram em relação a
documentos digitais, por exemplo.

A primazia da realidade deve ser observada devido à facilidade de ma-


nipulação das informações no campo digital. Podemos trazer como exemplo a
adulteração de uma foto digital ou até mesmo de um documento. Ora, qualquer
pessoa com conhecimento em informática ou até mesmo acessando vídeos tuto-
riais no YouTube pode aprender a manipular uma foto digital.

Cabe assim, ao magistrado a tarefa de descobrir o que de fato aconteceu


e, dependendo do caso, exigir perícia dos documentos digitais com base no prin-
cípio da existência concreta.

2.2 PRINCÍPIO DA RACIONALIDADE

Deve ser aplicado o critério da racionalidade no momento de se aplicar o


Direito ao caso concreto. Assim, ao julgar, o magistrado deve evitar decisões de
caráter puramente subjetivo, e sim utilizar o critério objetivo, isto é, ser racional.

18
TÓPICO 2 — O DIREITO DIGITAL NO BRASIL

As normas não podem ser rígidas, mas sim flexíveis para que tenham efi-
cácia, porém abre margem para várias interpretações.

Toda interpretação deve encontrar amparo na razão humana e ser pauta-


da em critérios objetivos e longe de emoções.

2.3 PRINCÍPIO DA LEALDADE

Exatamente pela carência de regras específicas, as partes interessadas po-


derão estabelecer as regras por meio de um contrato, tendo o dever de agir de
boa-fé. O contrato fará regras entre os interessados, no entanto, havendo algum
problema de interpretação e o conflito chegar ao Judiciário deve ser o contrato
interpretado no princípio da boa-fé.

2.4 PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO ESTATAL

Este princípio diz que o Estado deve atuar de forma ativa regulamentan-
do as relações sociais humanas sejam elas virtuais ou presenciais.

Quanto ao avanço da tecnologia na forma se comunicar e até mesmo de se


relacionar das pessoas, percebe-se a necessidade de regulamentação, porém, em
muitos casos, o Estado é ineficiente ou até mesmo inexistente, pois não há pre-
visão legal de todas as situações envolvendo o campo digital. Todavia, o Estado
deve se fazer presente e atuante na vida das pessoas. Contudo, de que modo?

Como o próprio nome sugere, o Estado deve se fazer presente, ou seja,


atuar dando amparo para as novas relações sociais que operam por meio do cam-
po tecnológico visando dar legalidade aos atos que são praticados no meio digital
e ainda garantir a segurança jurídica das relações humanas.

Com isso, o Estado deve dar amparo para as novas relações humanas, que
são feitas por meio do uso de tecnologias, visando à legalidade de certos atos ou,
até mesmo, manifestar-se quanto à ilegalidade de determinadas condutas, além
de garantir a segurança jurídica da interação humana no mundo digital.

2.5 PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE

Considerando que o Direito Digital não possui ainda, em muitos pontos,


uma legislação específica plena e satisfatória, faz-se necessária a aplicação subsi-
diária do direito existente no que couber.

As relações humanas foram pautadas na tradição, ou seja, em outra realidade


em modo presencial. No entanto, surgiu a internet, que criou um universo de possibi-

19
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO DIREITO DIGITAL

lidades, possibilitando não somente a interação em tempo real e a instantaneidade de


informações, mas também audiências por web, o cometimento de crimes cibernéticos
e fraudes eletrônicas etc. Um mundo de realidades diversas foram criadas com a in-
ternet, e o Direito não conseguiu acompanhar a velocidade do mundo global digital.

Como não é possível prever e regulamentar todas as condutas na sociedade, em


tempos de informação digital, é preciso que se aplique o princípio da subsidiariedade.

Aplica-se este princípio quando houver omissão, ou seja, as normas tradicionais


somente poderão ser aplicadas nas relações digitais se elas não tiverem previsão legal.

É preciso, ainda, que o princípio da subsidiariedade aplicado não seja in-


compatível com os outros princípios e leis vigentes sobre o tema.

FIGURA 3 – DIREITO DIGITAL

FONTE: <https://bit.ly/31PncHX>. Acesso em: 10 ago. 2020.

NOTA

É importante lembrar que pode haver a plena aplicabilidade de outros princí-


pios que podem ser relacionados ao direito digital, bastando adequar e interpretar o prin-
cípio ao caso concreto!

20
TÓPICO 2 — O DIREITO DIGITAL NO BRASIL

DICAS

Para saber mais vamos à leitura? Tudo o que você precisa saber sobre direito digital. 
Confira: https://blog.saraivaaprova.com.br/direito-digital/.
Como o direito digital está transformando a atuação dos advogados? Confira: https://bit.ly/3jzbBTx.

3 O DIREITO DIGITAL NO BRASIL E SUAS TRANSFORMAÇÕES

Quem ainda não ouviu falar do videocassete? Telefone fixo? Para ligações uti-
lizava-se no passado o telefone público ou telefone fixo residencial. Este último era
considerado há alguns anos um artigo de luxo. Internet, então? Era necessário conectar
ao computador um cabo que era ligado ao telefone e, então, discava-se para ter acesso
à internet. No entanto, ao utilizar a internet não era possível ao mesmo tempo o uso
do telefone fixo para efetuar ligações. Da década de 1990 para cá muita coisa mudou!

A internet que era restrita às universidades passou a ser permitida para


além dos campos de pesquisa, e todas as pessoas passaram a ter internet em seus
ambientes domésticos e, atualmente, na ponta dos dedos no seu smartphone, ta-
blet, ipad ou computador.

Como a tecnologia mudou e, hoje temos a internet em um clique, bastan-


do um aparelho com acesso a ela, é possível realizar não somente ligações de som,
mas mensagens de voz, ligações por vídeos, webconferências, contratos digitais,
audiências virtuais etc.

Diante das mudanças, o Direito precisou acelerar e se adaptar às transfor-


mações para regular as relações sociais como um todo no meio eletrônico.

E surge o Direito Digital que é “[...] o resultado da relação entre a ciência


do Direito e a Ciência da Computação, sempre empregando novas tecnologias.
Trata-se do conjunto de normas, aplicações, conhecimentos e relações jurídicas,
oriundas do universo digital” (ALVES, 2009, p. 9-10).

NOTA

Para saber mais, assista ao vídeo: Como era internet discada e como seria nos
dias atuais. Confira: https://www.youtube.com/watch?v=hMs_vw2Xboc.

21
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO DIREITO DIGITAL

Como a tecnologia mudou e hoje temos a internet na ponta dos dedos,


bastando um aparelho celular com internet para ter acesso a ligações, ligações
por vídeos, contratos digitais etc., é que o Direito passou a lidar com diversas
situações do cotidiano que tomaram o Poder Judiciário.

O direito digital consiste na evolução do próprio Direito e abrange todos


os princípios fundamentais, utilizando e percorrendo muitos institutos e áreas
do Direitos como Direito Civil, Direito Autoral, Direito Penal, Direito Tributário,
Direito Internacional etc.

Agora, temos o Internet Banking, plataformas digitais e em alta definição, con-


tratos digitais, VOIP, WAP, e o que significam tudo isso para o mundo jurídico atual?

Significa que, em tempos de informações digitais instantâneas, aplicativos


e redes sociais são os novos profissionais do Direito quem serão os responsáveis
por garantir a defesa de direitos fundamentais e constitucionais como o direito à
privacidade, a proteção do direito autoral, do direito de imagem, da propriedade
intelectual, dos royalties, da segurança da informação, dos acordos e contratos
virtuais. Diante de todas as transformações no terreno virtual, verifica-se que, no
Brasil, ainda não se tem um tribunal específico a julgar delitos nesta seara.

Para Pinheiro (2013), o direito digital não é algo novo, mas um produto deri-
vado da legislação atual, uma alternativa às mudanças da sociedade, uma forma de
a legislação não se tornar obsoleta: não devemos achar, portanto, que o direito digital
é totalmente novo. Ao contrário, tem ele sua guarida, na maioria dos princípios do
Direito atual, além de aproveitar a maior parte da legislação em vigor. Qualquer lei
que se proponha a tratar de novos institutos ou situações jurídicas deve ser genérica
o suficiente para sobreviver ao tempo, e flexível para atender às diversas situações
que podem ser englobadas por um único assunto, de forma que a velocidade das
transformações é a grande barreira à legislação sobre o direito digital.

Essa legislativa, no entanto, não é novidade, uma vez que a obsolescência


das leis sempre foi um dos fatores de discussão no meio jurídico. O Direito Digital
no Brasil acaba se caracterizando por duas vertentes legislativa e interpretativa.
A legislativa diz respeito à criação de leis para regulamentar as condutas on-line
e ter novos tipos penais no ambiente virtual. Já a linha interpretativa, refere-se à
aplicação de leis atuais no ambiente on-line, como a manifestação de pensamento
com base na Constituição Federal nas redes sociais, podendo-se aplicar ou não o
instituto da responsabilidade civil no campo on-line.

Assim, há determinadas ramificações que encontram e necessitam de certa


precedência nos estudos do direito digital, seja pela importância teórica, seja por
sua maior presença na sociedade, o que desencadeia urgência em sua aplicação.

É o caso dos direitos constitucionais fundamentais que são protegidos ou


ameaçados pela tecnologia, de onde se extrai um pretenso ‘direito constitucional

22
TÓPICO 2 — O DIREITO DIGITAL NO BRASIL

digital’, o qual está inteiramente ligado à discussão sobre o direito ao esqueci-


mento, entretanto, a territorialidade muitas vezes dificulta a aplicação do direito.

Este problema não é restrito à internet, mas está presente em toda a so-
ciedade globalizada, em que inúmeras vezes não é possível determinar de qual
território aconteceram as relações jurídicas, os fatos e seus efeitos, sendo difícil
determinar que norma aplicar utilizando os parâmetros tradicionais e, até mes-
mo, assegurando a soberania de cada nação.

Para melhor elucidação, pode-se, então, traçar um paralelo tomando como


referência o direito internacional. Por ele, quem se propôs a estabelecer e identifi-
car a norma a ser aplicada, quando ocorrer a extrapolação dos limites territoriais
dos ordenamentos, deve sempre averiguar a origem do ato e onde ocorreram
seus efeitos danosos, para que possa ser aplicado o direito do país em que teve
origem ou no qual ocorreram os efeitos do ato.

Existem fundamentos e normas jurídicas que asseguram ao direito digital


suporte teórico e científico, além de ser um constante objeto de estudo e diálogo.
Entretanto, a evolução legislativa deste assunto tem se mostrado lenta e, em mui-
tas situações sociais, até mesmo insuficiente.

Ainda assim, o direito existe e insiste em se impor, através de interpre-


tações criativas, uso de analogias e releitura de doutrinas e, em pautar os fatos
sociais sobre a realidade digital, de forma que a assimilação da Ciência Jurídica
tende a despontar no seio acadêmico e a ser cada vez mais utilizado na formação
jurisprudencial e doutrinária dos operadores de direito.

Necessário destacar que, por mais tenro que o direito digital seja, ele não
se unifica em uma codificação singular, ou seja, está e caso não esteja ainda,
provavelmente estará presente em praticamente todos os outros ramos do
Direito, ou seja, onde houver o uso de tecnologia eletrônica e digital como
instrumentos de ação ou de propagação dos pensamentos humanos, lá estará
o direito digital, mesmo que tardiamente – daí a razão pela qual não se lhe
considera um ‘ramo’ jurídico propriamente dito.

Qualquer lei que se proponha a tratar de novos institutos ou situações jurídi-


cas deve ser genérica o suficiente para sobreviver ao tempo, e flexível para atender às
diversas situações que podem ser englobadas por um único assunto, de forma que a
velocidade das transformações é a grande barreira à legislação sobre o direito digital.

Essa problemática legislativa, no entanto, não é novidade, uma vez que a


obsolescência das leis sempre foi um dos fatores de discussão no meio jurídico.

Com o desenvolvimento das sociedades, cada vez mais se discutem as li-


nhas limítrofes do estado de atuação do “Direito” (assim entendido como Ciência
Social e Jurídica).

23
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO DIREITO DIGITAL

Isso porque, gradativamente, as regras pré-estabelecidas pelos textos nor-


mativos, indicam sua compatibilidade com a realidade social, em vista das cons-
tantes mudanças impulsionadas pelas novas tecnologias. E, neste âmbito, não há
que se questionar o papel revolucionário da Internet, não apenas na órbita das
ciências jurídicas, mas também sociais, econômicas, políticas etc.

A principal lei que temos no Brasil na questão do âmbito civil é o Marco


Civil da Internet (Lei nº 12.965/2014), que passou a disciplinar sobre a regulamen-
tação do uso da web no Brasil.

O Marco Civil da Internet ainda disciplina sobre princípios e garantias


para as pessoas que se relacionam também no universo on-line, seja usuário, em-
presas, governo e setor privado, portanto, é errôneo pensar que o mundo digital
é terra sem lei, porque não é!

É certo ainda que o Marco Civil da Internet trouxe garantias aos inter-
nautas e, ainda regulamentou a responsabilidade civil de usuários e provedores,
promovendo uma nova realidade especialmente no que diz respeito aos negócios
digitais, como veremos de forma detalhada mais à frente.

Ainda temos a Lei dos Crimes Informáticos (nº 12.737/2012), que estabele-
ceu que condutas de ordem criminal surgidas com a tecnologia sejam considera-
das crimes, como invadir o dispositivo de informática alheio e interromper frau-
dulentamente o serviço telefônico ou de internet. Outro exemplo é a divulgação
de fotos sensuais sem o consentimento da pessoa.

A Lei nº 12737/2012 é conhecida como Lei Carolina Dieckmann e prevê


crimes cibernéticos como a invasão de dispositivos informáticos, roubos de dados
etc. O próprio Código de Processo Civil de 2015 faz menção ao processo judicial
eletrônico estabelecendo normas para seu funcionamento.

Merece também a nossa atenção a lei de acesso à informação: Lei nº


12.527/2011, que regulamentou a disponibilização das prestações de contas dos
entes públicos com o uso da tecnologia da informação.

Diante das inseguranças e aumento do número de fraudes no mundo da


internet, foi editada a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) – Lei nº 13.709/18,
que fala do tratamento de dados pessoais, inclusive nos meios digitais, por pes-
soa natural ou por pessoa jurídica de direito público ou privado, com o objetivo
de proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade e o livre de-
senvolvimento da personalidade da pessoa natural.

Portanto, o acesso a dados pessoais deve ter sua proteção respeitada e os


dados devem ser utilizados de forma ética e segura. A LGPD é uma lei inovadora,
que busca dar mais respaldo aos dados pessoais.

24
Aliás, não soa negativo o fato de não acompanharmos essa velocidade,
é importante termos lei de interpretação aberta em alguns momentos, pois não
é possível prever todas as hipóteses ocorridas no campo cibernético, mas, certa-
mente, o número de leis nesta área no Brasil aumentará.

As ferramentas de trabalho mudaram e hoje é possível falar em cloud com-


puting, ou seja, computação em nuvem, em que ao invés do indivíduo ter tudo
armazenado em um pendrive ou até mesmo em um CD passa a ser armazenado
em uma plataforma virtual. Assim, vídeos, fotos, livros virtuais, documentos de
qualquer tipo podem ser armazenados em um espaço virtual e não mais físico.

Hoje, as ligações ao telefone ainda acontecem, mas as pessoas se adapta-


ram tanto aos smartphones que utilizam este como ferramenta para o envio de
arquivos a outra pessoa, por exemplo. Tanto que é incomum o uso de SMS, e é
comum o uso de mensagens de voz ou de texto, pelo aplicativo WhatsApp ou Te-
legram. Parecem ser estes, na atualidade, o nosso meio de comunicação em tem-
po real, onde tudo fica registrado, desde áudios, vídeos, ligações de voz ou vídeo.

Com isso, percebemos que o operador do Direito deve estar preparado


e aceitar que a tecnologia e o mundo cibernético já é uma realidade e deve estar
atento a estas ferramentas que podem ser utilizados no âmbito pessoal, mas que
chega ao Judiciário, exigindo um estudo constante dos fatos e o amparo jurídico
que envolvem a tecnologia como um todo.

DICAS

O Código de Processo Civil e o acesso à Justiça por meio de videoconferência.


Confira: https://bit.ly/3jsGNUs.

DICAS

É possível intimação por WhatsApp? Vamos Saber?


https://alkasoft.com.br/blog/intimacao-judicial-como-funciona-intimacao-por-whatsapp/.

25
E
IMPORTANT

As leis mais importantes envolvendo a teoria geral do direito digital no Brasil


• Lei nº 12.737/2012 (conhecida como Lei Carolina Dieckmann) – contém tipos pe-
nais específicos envolvendo crimes informáticos: i) invasão de dispositivo informá-
tico alheio (artigo 154-A do Código Penal); ii) interrupção ou perturbação de serviço
telegráfico, telefônico, informático, telemático ou de informação de utilidade pública
(artigo 266, §§ 1º e 2º do Código Penal); e iii) falsificação de cartão de crédito ou débito
(artigo 298 do Código Penal);
• Decreto nº 7.962/2013 – Regulamentou o Código de Defesa do Consumidor, dispondo
sobre a contratação no comércio eletrônico, como por exemplo compras pela inter-
net, direito de arrependimento em comércio eletrônico, compras coletivas;
• Lei nº 12.965/2014 (Marco Civil da Internet) – Estabeleceu princípios, garantias, direitos
e deveres para o uso da internet no Brasil, tanto para provedores de conexão, provedo-
res de aplicação e usuários da Internet. Trata ainda de outros temas como a neutrali-
dade de rede, o que ocorrerá, após as consultas públicas do Comitê Gestor da Internet
e da Agência Nacional de Telecomunicações; e
• Lei para a Proteção de Dados Pessoais – que complementará as disposições constan-
tes do Marco Civil da Internet sobre a questão de coleta, uso, armazenamento, trata-
mento, compartilhamento e exclusão de dados pessoais e dados pessoais sensíveis.

DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS DO DIREITO DIGITAL

[...]
Como hoje em dia praticamente tudo tem algum envolvimento com a
tecnologia, a relação dela com o Direito já é – e será ainda mais – foco de cons-
tantes conflitos entre estudiosos e aplicadores da lei em todas as instâncias e
tribunais até porque, além dos aspectos técnicos e jurídicos, por vezes encon-
traremos debates repletos de choques ideológicos e paixões.

Gostaríamos, assim, de mencionar nesta coluna inaugural alguns temas


de amplo destaque e que serão tratados com mais detalhamento nas próximas.

Marco civil da internet e sua regulamentação

A lei 12.965/14 que ficou conhecida como o “marco civil da internet” al-


çou o país a um rol de poucos que regulamentaram a neutralidade da rede, tema
tormentoso e que envolve questões ideológicas e técnicas bastante interessantes.

Devido à grande dificuldade de entendimentos sobre a neutralidade,


o art. 9º – principal norma que trata do assunto – foi aprovado dependendo
de regulamentação do Poder Executivo por meio de Decreto, ouvidas as reco-
mendações da Agência Nacional de Telecomunicações – ANATEL e do Comitê
Gestor da Internet no Brasil – CGI.br (§1º do art. 9º).

26
No âmbito do CGI.br, a consulta foi encerrada no último dia 20 de feve-
reiro e, segundo informações do órgão, recebeu 139 contribuições. No âmbito
do Ministério da Justiça a consulta permanecerá aberta até o dia 31 de março.

As consultas públicas, embora entendamos que não tenham sido divulga-


das junto à comunidade técnica e acadêmica de forma adequada, são fundamentais
para discutir, por exemplo o alcance do art. 9º quanto ao conceito de isonomia dos
pacotes de dados que trafegam na internet. Isso abarca, por exemplo, a discussão
sobre a (im)possibilidade das operadoras de telefonia aplicarem o "zero-rating" para
determinados aplicativos, isto é, se podem conceder a gratuidade do tráfego de da-
dos para a utilização de rede social como o Facebook, e, ainda, casos em que a neu-
tralidade poderá ser excepcionada já que o próprio §1º do art. 9º estabelece que só
haverá exceções decorrentes apenas requisitos técnicos indispensáveis à prestação
adequada dos serviços e aplicações e da priorização de serviços de emergência.

A regulamentação é fundamental, portanto, para facilitar a fiel execu-


ção da lei afastando dúvidas quanto a sua interpretação especialmente promo-
vendo a aplicação da lei 12.965/14 com o baixo custo regulatório e segurança
jurídica, o que se fará indicando os casos em que a lei não tratou e, ainda, pre-
parando a Administração Pública para fiscalizar e aplicar a lei.

Veja-se que o debate acima mencionado reflete em casos práticos como


o recentemente noticiado "Whats na mira" (Migalhas nº 3564), caso em que um
juiz do Piauí, sob o argumento de que o WhatsApp descumpriu reiteradas deci-
sões judiciais para fornecimento de dados de usuários em investigações, deter-
minou, num inquérito policial a "suspensão do tráfego de informações de cole-
ta, armazenamento, guarda e tratamento de registros de dados pessoais ou de
comunicações entre usuários do serviço e servidores do aplicativo". Tal decisão
– por absurda que era – foi logo derrubada pelo Tribunal de Justiça. Todavia,
como os autos encontram-se protegidos pelo segredo de Justiça, não se tem ain-
da maiores informações, mas fica clara a insegurança jurídica para todos, usu-
ários do aplicativo e operadoras para as quais a decisão inicial foi direcionada.

Também temos que considerar que com a recente aprovação da neu-


tralidade da rede nos EUA, pelo "Federal Communications Commission", os
debates tendem a ficar ainda mais inflamados. Este tormentoso assunto será
tema de um artigo específico.

Crimes digitais

Muito se falou que o país não possuía legislação específica para os cri-
mes digitais. Embora a afirmação não fosse correta e já tenha sido alvo de
críticas neste sentido, o cenário parece não ter mudado muito, ao menos con-
siderando-se a percepção da sociedade quanto ao tema. É que apesar do sur-
gimento das leis 12.735/12, 12.737/12 (ficou equivocadamente conhecida como
"Lei Carolina Dieckmann") e 12.965/14 ("Marco civil da internet"), ainda muito

27
se percebe nas pessoas na mídia a insegurança sobre o tema. Possivelmente,
isso ocorre em razão da péssima redação dos tipos penais constantes da lei
12.737/12 e pela falta de regulamentação do Marco Civil.

Fato é que muito ainda se questiona sobre os crimes digitais no país (crimes
de ódio, fenômenos como compartilhamento e replicação de notícias, fotos, vídeos
e imagens de terceiros, pornografia da vingança, entre outros), de modo que trata-
remos deste assunto – como inclusive já o fizemos antes neste informativo – apon-
tando questões terminológicas e de definição, além de análise de situações práticas.

Drones

Acreditamos que teremos um ano de grandes discussões sobre os dro-


nes, que já são realidade no Brasil. Tratam-se de veículos aéreos não tripulados,
geralmente de tamanhos parecidos com os aeromodelos, mas que podem ser
maiores ou menores e que geralmente são controlados por controles remotos
ou atividades pré-programadas em seus sistemas. Podem voar a centenas de
metros de altura e, praticamente todos, são dotados de câmeras fotográficas. A
exemplo da internet, nasceu para o uso militar, mas está se tornando cada vez
mais comum, inclusive para recreação.

São muitas as preocupações com a utilização dos drones porque teme-se


que sejam utilizados em atividades criminosas, que violem a privacidade das pes-
soas, além do perigo ínsito quanto a acidentes que podem causar. Todo o imbrólio
sobre a regulamentação e uso dos drones será igualmente discutido nesta coluna.

Internet das coisas – Internet Of Things (IOT)

A internet das coisas significa a conexão à internet, de itens de uso diá-


rio, tais como os televisores, geladeiras, carros etc. É cada vez mais comum ob-
servar eletrodomésticos e roupas capazes de se conectar à internet numa ten-
tativa de que mundo físico e digital se tornem um só. Isso poderá servir para
evitar que carros sejam furtados, caso não sejam reconhecidos os verdadeiros
donos, como os condutores e que elevadores possam receber manutenção a
distância, por exemplo. No entanto, problemas que já vemos acontecer com
outros equipamentos (tablets, celulares etc.) tenderão a ocorrer com as demais
coisas, podendo expor pessoas a perigo ou a situações vexatórias, por exem-
plo, caso sejam surpreendidas por um acesso não autorizado por um hacker
a uma câmera embutida em um televisor conectado à internet. Certamente
cabem muitas questões a serem tratadas quanto a Internet das coisas...

Direito ao esquecimento

Um dos mais importantes assuntos do direito digital e certamente de


enorme relevância, é o direito ao esquecimento, isto é, as discussões sobre o

28
passado das pessoas e o direito de cada um desejar que seu histórico seja apa-
gado dos meios digitais. Há questões técnicas e jurídicas muito interessantes
sobre sua aplicação, o que demandará artigo específico.

FONTE: <https://bit.ly/35C8Z2c>. Acesso em: 17 ago. 2020.

29
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• São princípios somente aplicados ao direito eletrônico: o princípio da


existência concreta, o princípio da racionalidade, o princípio da lealdade, o
princípio da intervenção estatal, o princípio da subsidiariedade, o princípio
da efetividade e o princípio da submissão.

• Os princípios tornam-se importantes para resolver os conflitos e questões


jurídicas que o operador do direito encontrará diariamente

• O direito digital que é “[...] o resultado da relação entre a ciência do direito e


a ciência da computação sempre empregando novas tecnologias. Trata-se do
conjunto de normas, aplicações, conhecimentos e relações jurídicas, oriundas
do universo digital (ALVES, 2009, p. 9-10).

• Diante de todas as transformações no terreno virtual, verifica-se que no Brasil


ainda não se tem um tribunal específico a julgar delitos nesta seara.

• O direito digital, no Brasil, acaba se caracterizando por duas vertentes


legislativa e interpretativa.

• A principal lei que temos no Brasil na questão do âmbito civil é o Marco Civil
da Internet (Lei nº 12.965/2014), que passou a disciplinar a regulamentação do
uso da web no Brasil.

• A Lei nº 12737/2012 é conhecida como Lei Carolina Dieckmann e prevê crimes


cibernéticos como a invasão de dispositivos informáticos, roubos de dados etc.

• Diante das inseguranças e aumento do número de fraudes no mundo da


internet, foi editada a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) – Lei nº 13.709/18,
que fala sobre o tratamento de dados pessoais, inclusive nos meios digitais,
por pessoa natural ou por pessoa jurídica de direito público ou privado, com
o objetivo de proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade
e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural.

30
AUTOATIVIDADE

1 Este princípio, quando houver omissão, ou seja, as normas tradicionais somente


poderão ser aplicadas nas relações digitais se não tiverem previsão legal. Diante
disso, estamos falando de qual princípio? Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Princípio da lealdade.
b) ( ) Princípio da subsidiariedade.
c) ( ) Princípio da intervenção estatal.
d) ( ) Princípio da existência concreta.

2 Ao julgar, o magistrado deve evitar decisões de caráter puramente subjeti-


vo, e sim utilizar o critério objetivo. Quando falamos dessa hipótese, esta-
mos falando de qual princípio? Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Princípio da lealdade.
b) ( ) Princípio da racionalidade.
c) ( ) Princípio da intervenção estatal.
d) ( ) Princípio da existência concreta.

3 A partir de agosto de 2020, tem-se, no Brasil, mudanças para as organiza-


ções públicas e privadas que coletam, tratam, guardam, processam, comer-
cializam, dentre outras operações, os dados pessoais de milhões de brasilei-
ros. Estamos falando de qual lei? Assinale a CORRETA:

a) ( ) LGPD.
b) ( ) Marco Civil.
c) ( ) CDC.
d) ( ) Lei Carolina Dieckmann.

4 O mundo mudou e passamos a ficar cada vez mais conectados. Com relação
às redes sociais, é comum nos expressarmos no Facebook ou até mesmo no
Instagram, por meio de postagens. No entanto, referida postagem pode atin-
gir outra pessoa. Comente a respeite: sou responsável pelo que compartilho?

5 Um dos mais importantes assuntos do direito digital e certamente de enor-


me relevância, é o direito ao esquecimento, isto é, as discussões sobre o
passado das pessoas e o direito de cada um desejar que seu histórico seja
apagado dos meios digitais. A respeito do direito ao esquecimento, per-
gunta-se: é possível o ingresso de uma ação judicial para retirada de uma
notícia vexatória, que prejudique minha imagem? Justifique.

31
32
TÓPICO 3 —
UNIDADE 1

SISTEMAS COMPUTACIONAIS E OS
DIREITOS SOBRE OS BENS INFORMÁTICOS

1 INTRODUÇÃO

Neste tópico trabalharemos os sistemas computacionais e os direitos que


são exercidos sobre os bens informáticos. Para dirimir tais questões, precisamos
conhecer o que é programa de computador e onde se encontra a sua proteção
como bem de propriedade intelectual e fruto do pensar humano. É importante
que saibamos que o programa de computador como objeto que pertence ao direi-
to informático é bem juridicamente tutelável e que tem amparo jurídico na Lei nº
9609/98 e no Decreto nº 2556/98.

E o que se define como programa de computador? É o conjunto de ele-


mentos software, hardware e firmware. Somente aprender este conceito não nos
leva a um entendimento, correto? Tudo isso porque o sistema informático possui
uma configuração complexa composta por computadores, periféricos, software
de base, aplicativos, memórias e suportes.

E por essa razão merece o nosso estudo e atenção!

2 SISTEMAS COMPUTACIONAIS E OS BENS INFORMÁTICOS

Na área da computação, o desenvolvimento de sistemas computacionais, pos-


sui o abrigo da Lei nº 9.609/98 e do o Decreto nº 2.556/98, que abordam a proteção da
propriedade intelectual de programa de computado e sua comercialização no país.

De acordo com o art. 1º da Lei n° 9609/98, entende-se como programa de


computador:

Art. 1º Programa de computador é a expressão de um conjunto organi-


zado de instruções em linguagem natural ou codificada, contida em su-
porte físico de qualquer natureza, de emprego necessário em máquinas
automáticas de tratamento da informação, dispositivos, instrumentos ou
equipamentos periféricos, baseados em técnica digital ou análoga, para
fazê-los funcionar de modo e para fins determinados (BRASIL, 1998, s.p.).

A proteção à propriedade intelectual de programa de computador com-


preende as obras literárias pela legislação de direitos autorais e conexos vigentes
no país. Não há obrigatoriedade do registro de computador, mas caso queira o

33
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO DIREITO DIGITAL

autor do programa de computador registrar, poderá fazê-lo em órgão ou enti-


dade a ser designado por ato do Poder Executivo, por iniciativa do Ministério
responsável pela política de ciência e tecnologia (BRASIL, 1998).

No Brasil, o órgão responsável é o INPI (Instituto Nacional de Proprie-


dade Industrial), da esfera federal e que tem a atribuição de executar e garantir
as leis referentes à regulamentação de qualquer Propriedade Industrial. Possui
como competência o registro de software, bem como de desenho industrial, mar-
ca, patentes, contratos de licenciamento, franquia, e transferência de tecnologia.

O titular dos direitos do programa de computador deve apresentar todas


as informações sobre o referido software por meio de um formulário específico e
realizando o pagamento de taxas federais e caso, pertença a um empregador, deve
comprovar o vínculo empregatício e anexar a documentação técnica do programa.

O pedido será analisado após a entrega dos documentos exigidos e pode


levar até alguns meses e, quando aprovado, o INPI expedirá o Certificado de
Registro, que atestará que o titular pode explorar o programa, tanto em nível
nacional quanto internacional.

Também será o INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) que


fará o registro dos respectivos contratos nos casos de transferência de tecnologia
de programa de computador.

3 PROGRAMAS DE COMPUTADOR E SEUS REGISTROS

O Decreto 2556/98 prevê o registro do programa de computador perante o INPI


e especifica quais as informações que o pedido de registro de conter em seu art. 1º, § 1º:

Art. 1º Os programas de computador poderão, a critério do titular dos


respectivos direitos, ser registrados no Instituto Nacional da Proprie-
dade Industrial – INPI.
§ 1º O pedido de registro de que trata este artigo deverá conter, pelo
menos, as seguintes informações:
I - os dados referentes ao autor do programa de computador e ao titu-
lar, se distinto do autor, sejam pessoas físicas ou jurídicas;
II - a identificação e descrição funcional do programa de computador;
III - os trechos do programa e outros dados que se considerar suficientes
para identificá-lo e caracterizar sua originalidade (BRASIL, 1998 s.p.).

Os programas de computador que possuem por finalidade a pesquisa e o


desenvolvimento ou a criação de programas que sejam inerentes a própria ativi-
dade o que vínculo empregatício possua, pertencerão os direitos exclusivamente
ao empregador, salvo se houver outra estipulação em contrário.

34
TÓPICO 3 — SISTEMAS COMPUTACIONAIS E OS DIREITOS SOBRE OS BENS INFORMÁTICOS

3.1 O SOFTWARE X O HARDWARE E OS DIREITOS DO


TITULAR

O Software é considerado um bem jurídico incorpóreo, e é aquele que


é desprendido de todo e qualquer meio físico (hardware) que possa lhe servir
de suporte. Assim, podemos classificá-lo enquanto linguagem de programação
como um bem jurídico incorpóreo, ou seja, imaterial, pois, não possui existência
física, é abstrata. Exemplo: o programa do Windows, do Word, do Excel etc.

Desta forma, o software é classificado pela doutrina majoritária como afe-


to e tutelado pelo Direito Autoral e não pelo Direito Industrial. Assim, o pro-
grama de computador somente pode ter a cessão de direitos e não é passível de
compra e venda, conforme estatui a Lei do Software.

Para os efeitos da Lei nº 9.610/98, o artigo 3º indica que os direitos autorais


reputam-se, para os efeitos legais, bens móveis. Portanto, o software é considera-
do um bem móvel.

Outra preocupação com relação aos direitos autorais seria o que não po-
deria configurar plágio ou até mesmo pirataria. Assim, o art. 6º da Lei nº 9.609/98
estipula o que não é considerado ofensa aos direitos daquele que é titular de pro-
grama de computador.

Dessa forma, o art. 6º afirma que:

Art. 6º Não constituem ofensa aos direitos do titular de programa de


computador:
I - a reprodução, em um só exemplar, de cópia legitimamente adqui-
rida, desde que se destine à cópia de salvaguarda ou armazenamento
eletrônico, hipótese em que o exemplar original servirá de salvaguarda;
II - a citação parcial do programa, para fins didáticos, desde que iden-
tificados o programa e o titular dos direitos respectivos;
III - a ocorrência de semelhança de programa a outro, preexistente,
quando se der por força das características funcionais de sua aplica-
ção, da observância de preceitos normativos e técnicos, ou de limita-
ção de forma alternativa para a sua expressão;
IV - a integração de um programa, mantendo-se suas características
essenciais, a um sistema aplicativo ou operacional, tecnicamente indis-
pensável às necessidades do usuário, desde que para o uso exclusivo
de quem a promoveu (BRASIL, 1998, s.p.).

Todo programa de computador deve ter expresso o prazo de validade


técnica da versão comercializada, e constar de forma clara os suportes físicos e o
contrato de licença de uso do programa na sua respectiva embalagem.

Tanto a pessoa que comercializa o programa de computador quanto o ti-


tular dos direitos do programa ou dos direitos de comercialização, possui a obri-

35
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO DIREITO DIGITAL

gação de que, enquanto perdurar o prazo de validade da respectiva versão do


programa, deve ser assegurada a prestação de serviços técnicos ao usuário.

O uso do programa de computador será objeto de licença e o documento


fiscal de aquisição ou licença é que comprovará o uso dentro de uma regularida-
de, ou seja, de que não se trata de programa “pirata”.

No caso de transferência de tecnologia de programa de computador, os


contratos serão anotados e registrado no INPI, para que se tenha a garantia pe-
rante terceiros, devendo o fornecedor trazer os documentos relativos à recepção
da tecnologia, especificações técnicas, dados técnicos, memorial descritivo etc.,
conforme disposto na lei do software.

Um programa de computador desenvolvido para um usuário específico é


um bem infungível, muito embora, o programa executável que é a parte do sof-
tware licenciado ao usuário seja perfeitamente fungível (PINHEIRO, 2013).

FIGURA 4 – INFUNGÍVEL

FONTE: <https://bit.ly/3ozeJlW>. Acesso em: 20 ago. 2020.

FIGURA 5 – FUNGÍVEL

FONTE: <https://s.dicio.com.br/fungivel.jpg>. Acesso em: 20 ago. 2020.

36
TÓPICO 3 — SISTEMAS COMPUTACIONAIS E OS DIREITOS SOBRE OS BENS INFORMÁTICOS

O software é indivisível, pois se houver qualquer alteração na substância


perde-se a possibilidade de prestar as funções que exercia. Ainda tem como ca-
racterísticas ser um bem durável e singular, é um bem principal, pois tem existên-
cia própria e não é acessório.

Importante mencionar de que se configuram crime e estão sujeitas a pena-


lidades as violações dos direitos de autor de programa de computador, havendo
a possibilidade de pena de detenção de seis meses a dois anos ou multa. Pode,
inclusive, ser determinada a busca e apreensão de cópias produzidas ou comer-
cializadas, quando verificadas a violação dos direitos de autor de programa de
computador, suas versões e derivações, em poder do infrator ou de quem as este-
ja expondo, mantendo em depósito, reproduzindo ou comercializando.

O Decreto nº 2556/98 aborda não somente a questão do software, mas


também do hardware. O software possui proteção como as linhas de código, de
maneira muito similar a uma poesia, por exemplo. Não são somente os livros, as
músicas que precisam ser registrados, os softwares também!

Lembre-se de que patentes cobrem ideias. Quem patenteia é o dono dos


direitos sobre a ideia original. O hardware encontra-se nos equipamentos e má-
quinas e tem proteção por meio de patentes.

É certo que não basta somente uma lei para prevenir a pirataria e o respei-
to aos direitos do autor, mas compete a cada um agir com ética para efetivação do
respeito à criação.

Vimos, portanto, que os bens informativos, abarcam nem sempre a ques-


tão física, mas a propriedade sobre a ideia e a criação e que apesar de contarmos
com uma lei editada no ano de 1998, que ainda se apresenta na atualidade como
marco norteador dos sistemas computacionais e bens informáticos.

DICAS

Sugestão de filme: A REDE (1995).


Angela Bennett (Sandra Bullock) é uma especialista em corrigir sistemas de informática, e
se vê repentinamente envolvida em uma trama pelo fato de ter recebido um disquete que
revela graves segredos. Para destruí-la, um esquema é criado, com a finalidade de mudar
seu nome e passado. Logo, ela é conhecida na polícia como prostituta, viciada e ladra.
Assim, tem pela frente uma batalha para provar que não é uma criminosa.

37
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO DIREITO DIGITAL

FONTE: <https://bit.ly/3jwN5lN>. Acesso em: 9 ago. 2020.

Outra sugestão de filme: A REDE SOCIAL (2010).


Em uma noite de outono em 2003, Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg), analista de sistemas
graduado em Harvard, se senta em seu computador e começa a trabalhar em uma nova
ideia. Em apenas seis anos e com 500 milhões de amigos, mais tarde, Zuckerberg torna-se
o mais jovem bilionário da história com o sucesso da rede social Facebook. O sucesso, no
entanto, o leva a complicações em sua vida social e profissional.

FONTE: <https://bit.ly/3kLVnYo>. Acesso em: 9 ago. 2020.

38
TÓPICO 3 — SISTEMAS COMPUTACIONAIS E OS DIREITOS SOBRE OS BENS INFORMÁTICOS

LEITURA COMPLEMENTAR

DOSSIÊ COM TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE DIREITO


DIGITAL

Os últimos 20 anos foram marcados pela rápida expansão tecnológica,


impulsionada pelo surgimento da internet. Atualmente, é quase impossível pen-
sar em um mundo sem smartfones, computadores, tablets etc. É esse com avanço
tecnológico e com as suas consequências sociais que surge o direito digital.

Basta fazer um exercício de imaginação para ver o quanto nosso dia a dia
está – queiramos ou não – vinculado à tecnologia.

Em um único dia somos impactados por ela de diversas formas: assistir à


TV, mandar e-mails no trabalho, trocar mensagens no WhatsApp, acessar vídeos
no YouTube, realizar transferência bancária, transitar por locais com câmeras de
segurança, usar o sistema de ponto da empresa, ler notícias na internet e fazer
uma compra on-line são algumas das situações que podemos citar.

Esse contexto criou novas formas de interações sociais e tem produzido


uma gama de consequências, as quais já são objeto de estudo e regulamentação
do direito digital. Ao longo dos últimos anos, algumas das demandas relaciona-
das ao direito digital deram origem a leis específicas, enquanto outras – na falta
de lei que as orientasse – foram levadas aos tribunais brasileiros.

As transformações tecnológicas e seus possíveis impactos ainda estão sen-


do assimilados pelo direito digital. Isso faz com que os advogados atuantes nessa
área estejam diante de um desafio e tanto. Por outro lado, esse ramo jurídico
desponta como uma área promissora para aqueles que estão se formando em Di-
reito, pois ainda conta com poucos profissionais especializados, se comparado às
demais áreas jurídicas. Assim, é cada vez maior a procura de advogados recém-
-formados por cursos de especialização nesse ramo.

1 O QUE É DIREITO DIGITAL?

Inicialmente, o Direito Digital – ou Direito da Internet – era percebido sob


uma perspectiva verticalizada, sem conexão com as outras áreas do Direito.

Com o passar dos anos, começou a ficar evidente a relação transversal e


horizontal do Direito Digital com as demais áreas jurídicas, tais como: Direito
Penal, Civil, Empresarial, Trabalhista, Tributário etc.

Nessa linha, uma das mais importantes especialistas em direito digital do


país, a advogada Patrícia Peck afirma no livro direito digital (SARAIVA, 2010),
que esse ramo do direito vem abrangendo todos os princípios fundamentais e

39
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO DIREITO DIGITAL

institutos que estão vigentes e são aplicados até hoje, assim como introduzindo
novos institutos e elementos para o pensamento jurídico, em todas as suas áreas.

Isso significa que as demandas relacionadas ao direito digital costumam


perpassar outros ramos do direito.

Só para se ter uma ideia, em Direito Penal são comuns ações relacionadas
a furto ou alteração de dados, injúria ou difamação, apologia ao crime, violação
de propriedade intelectual – dividida entre direitos autorais e propriedade indus-
trial –, pedofilia, entre outros.

Para um melhor entendimento do assunto, é necessário primeiramente


conhecer o Marco Civil da Internet (Lei nº 12.965/2014), considerado um impor-
tante avanço na regulamentação do Direito Digital no Brasil.

1.1 MARCO CIVIL DA INTERNET (LEI Nº 12.965/2014)

A Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014, conhecida como Marco Civil da


Internet, é a principal legislação nacional sobre Direito Digital.

Essa Lei foi criada para regular o uso da internet no Brasil, estabelecendo
princípios, garantias, direitos e deveres para usuários, provedores de conexão e
entidades governamentais.

1.1.1 FUNDAMENTOS

De acordo com o art. 2º da Lei, a regulamentação do uso da internet no


Brasil deve ocorrer sob os seguintes fundamentos:

• a liberdade de expressão;
• o reconhecimento da escala mundial da rede;
• os direitos humanos, o desenvolvimento da personalidade e o exercício da
cidadania em meios digitais;
• a pluralidade e a diversidade;
• a abertura e a colaboração;
• a livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor; e
• a finalidade social da rede.

1.1.2 PRINCÍPIOS

Os princípios relativos à disciplina do uso da internet, definidos no art. 3º


da Lei nº 12.965, são os seguintes:

• a garantia da liberdade de expressão, comunicação e manifestação de pensamento;


• a proteção da privacidade;
• a proteção dos dados pessoais;
• a preservação e garantia da neutralidade de rede;

40
• a preservação da estabilidade, segurança e funcionalidade da rede, por meio
de medidas técnicas compatíveis com os padrões internacionais e pelo estí-
mulo ao uso de boas práticas;
• responsabilização dos agentes de acordo com suas atividades;
• preservação da natureza participativa da rede;
• liberdade dos modelos de negócios promovidos na internet, desde que não
conflitem com os demais princípios estabelecidos nesta lei.

Esses princípios são responsáveis por nortear as outras disposições da


Lei, garantindo a proteção da privacidade, diversidade, neutralidade e liberdade
de expressão dos usuários, para que o uso da internet seja acessível e seguro.

Na época da criação do Marco Civil da Internet, o princípio da neutrali-


dade foi considerado um grande avanço da lei, sendo também o que mais gerou
controvérsia, principalmente entre os provedores de internet.

Entenda o princípio da neutralidade

O princípio da neutralidade determina o tratamento igual das informa-


ções que trafegam na rede. Em outras palavras, estabelece que as informações tra-
feguem na mesma velocidade – no caso, da velocidade contratada pelo usuário.

O art. 9º da Lei define o princípio da neutralidade o ato de tratar de forma:


isonômica quaisquer pacotes de dados, sem distinção por conteúdo, origem e destino,
serviço, terminal ou aplicação. Dessa forma, a neutralidade da rede proíbe que um
provedor beneficie o fluxo de tráfego de um site ou serviço em detrimento de outro.

A Lei permite que o princípio da neutralidade seja desconsiderado em


apenas duas hipóteses: em caso de requisitos técnicos indispensáveis à prestação
adequada dos serviços e em serviços de emergência.

A intenção por trás desse princípio é garantir a liberdade de manifestação


do pensamento, a autonomia do usuário para acessar os conteúdos de seu inte-
resse e a livre concorrência.

2 QUAIS AS ÁREAS DE ATUAÇÃO NO DIREITO DIGITAL?

Você sabe quais são as habilidades necessárias ao advogado da área do


direito digital? Veja, a seguir, algumas das características imprescindíveis aos
profissionais que desejam atuar nessa área.

2.1 INTERESSE POR TECNOLOGIA

Como você viu, o direito digital perpassa vários outros ramos do direito,
mas também possui legislação específica.

41
No entanto, as especificidades do direito digital não param por aí. Além
dos saberes jurídicos – que envolvem o conhecimento de leis e decisões sobre o
tema – é necessário que o advogado tenha conhecimentos técnicos.

É isso mesmo. A obtenção de certificados e o domínio de temas relativos à


tecnologia e segurança representam um grande diferencial para o advogado que
deseja se especializar em direito digital.

Quer um exemplo? A atuação jurídica na discussão sobre privacidade e segu-


rança na rede requer o conhecimento sobre o funcionamento da criptografia e da bio-
metria, além do entendimento sobre perícia digital e provas eletrônicas. Assim, se além
do direito você também se interessa por tecnologia, esta pode ser a área certa para você!

2.2 SEDE POR INOVAÇÃO

Tecnologia e inovação são termos quase inseparáveis. Tente, por exemplo,


pensar em uma descoberta tecnológica que não seja inovadora. Difícil, não é mesmo?

Desse modo, é importante que o advogado atuante na área esteja sempre


antenado às novidades, pois a todo instante surgem informações e tecnologias e,
com elas, novos entendimentos jurídicos.

A parte boa de tudo isso é que muitas vezes o advogado se depara com
situações que, de tão novas, ainda não têm previsão jurídica ou jurisprudencial.
Isso dá a chance de inovar e fazer algo que ainda inédito.

2.3 ESTUDO CONTÍNUO

Você provavelmente já ouviu falar que o profissional do direito não para


nunca de estudar. Essa máxima é ainda mais verdadeira no caso do profissional
que trabalha com direito digital. As rápidas e constantes inovações tecnológicas de-
mandam aperfeiçoamento contínuo do advogado, em termos técnicos e jurídicos.

Um exemplo disso é a evolução do uso de bitcoins (moeda virtual descen-


tralizada) e blockchains (rede descentralizada de transferência de ativos financeiros
ou não). A novidade faz com que os advogados tenham que buscar conhecimento
sobre o assunto e a respeito das formas de regulamentação dessas transações.

É importante ressaltar que, como o direito digital ainda recebe pouca


atenção nos cursos de graduação de direito, o profissional deve buscar ampliar
seus conhecimentos por meio de especializações e pós-graduações.

3 QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS CRIMES VIRTUAIS?

Crimes virtuais – ou cibernéticos – são as condutas praticadas por meio da


internet e previstas no Código Penal Brasileiro (CPB).

42
Com o avanço tecnológico, os crimes virtuais estão cada vez mais comuns
e elaborados. Esse aumento se deve, em certa medida, à crença de que a internet
é uma “terra sem lei”.

A apuração desse tipo de crime no Brasil ainda encontra alguns entraves.


O primeiro deles é o pequeno número de delegacias especializadas em crimes
cibernéticos. O segundo é a pendência de criação de uma Lei Geral de Proteção
de Dados Pessoais.

Conheça, a seguir, alguns dos crimes virtuais mais comuns no Brasil.

3.1 INVASÃO DE COMPUTADORES, CELULARES E TABLETS

Conforme mencionado no item anterior, ainda não há no Brasil uma


lei geral de proteção de dados pessoais. Os projetos de lei sobre o tema – PL nº
4.060/2012, o PL nº 330/2013 e o PL nº 5.276/2016 – continuam sendo objeto de
estudos e discussões no Congresso Nacional.

Contudo, embora ainda não haja regulamentação legislativa do uso de


dados pessoais, foi criada em 2012 a Lei nº 12.737/2012, também conhecida como
Lei Carolina Dieckmann.

A Lei – que recebeu esse nome por ter sido criada após o vazamento de
fotos íntimas da atriz – criminalizou as invasões feitas em dispositivos eletrônicos
com o objetivo de copiar, alterar ou destruir dados. O crime, inserido no art. 154-
A do Código Penal Brasileiro, foi descrito da seguinte maneira:

“Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de compu-


tadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de
obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita
do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita”.

A pena pela prática do crime de invasão de dispositivo informático varia


de três meses a dois anos de detenção e multa, podendo até triplicar se o crime
for praticado contra o Presidente da República, Governadores e outros políticos.

De acordo com a Lei, a pena pode ser agravada nos seguintes casos:

• se houver prejuízo econômico;


• se da invasão resultar obtenção de conteúdo de comunicações eletrônicas pri-
vadas, segredos comerciais ou industriais e informações sigilosas;
• se realizada por meio de controle remoto do dispositivo invadido, sem a au-
torização do usuário.

43
3.2 FURTO DE DADOS E ESTELIONATO

O furto de dados por meio da indução do usuário a um erro será conside-


rado estelionato, nos termos do art. 171 do CPB:

“Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, indu-


zindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro
meio fraudulento”.

Assim, diferentemente do crime de invasão do tópico anterior, é necessá-


rio que ocorra tanto a vantagem por parte daquele que cometeu o crime quanto o
prejuízo da pessoa que teve seus dados furtados.

Um exemplo clássico desse tipo de crime é aquele cometido a partir de sorteios


fictícios em redes sociais ou de premiações cujos resultados são enviados por e-mail.

Primeiramente, o usuário recebe a informação de que ganhou um prêmio,


seja por meio de alguma página da internet, seja por e-mail. Na sequência, fica saben-
do que, para “receber o prêmio”, precisa inserir seus dados pessoais e até instalar dis-
positivos espiões, os quais danificam o computador ou auxiliam no furto de dados.

3.3 CALÚNIA, DIFAMAÇÃO E INJÚRIA

Os crimes de injúria, calúnia e difamação são classificados pelo Código


Penal Brasileiro como crimes contra a honra.

3.3.1 CALÚNIA

De acordo com o art. 138 do CPB, cometerá o crime de calúnia a pessoa


que imputar falsamente a outra pessoa, fato definido como crime. A pena varia
entre seis meses a dois anos de detenção, além da multa.

Enquadra-se, neste caso, por exemplo, a pessoa que acusa falsamente seu
vizinho nas redes sociais de ter praticado o crime de roubo.

3.3.2 DIFAMAÇÃO

A difamação, prevista no art. 139 do Código Penal, ocorre quando uma


pessoa imputa à outra fato ofensivo a sua reputação.

Ela apresenta duas principais diferenças em relação à calúnia: não há acusação


de crime e não há necessidade de que o fato alegado seja falso, basta que seja desonroso.

A pena para o crime de difamação é de 3 meses a 1 ano de detenção, além


do pagamento de multa.

44
É o caso, por exemplo, de uma pessoa que divulga nas redes sociais um
caso de adultério identificando os supostos envolvidos. Nesse caso, ainda que
se trate de informação verídica, o autor das mensagens pode ser condenado por
ofender a honra e reputação das vítimas.

3.3.3 INJÚRIA

O crime de injúria, por sua vez, acontece quando uma pessoa ofende a
dignidade ou o decoro de outra, conforme art. 140 do Código Penal.

Nesse caso, a ofensa é direcionada a uma pessoa de modo privado, não


havendo a exposição a outros indivíduos. A lei determina a pena de um a seis me-
ses de prisão ou o pagamento de multa. Por exemplo, se uma pessoa envia uma
mensagem privada a outra ofendendo sua dignidade, está cometendo o crime de
injúria, e pode ser responsabilizada por isso.

3.4 PEDOFILIA

O crime de pedofilia, previsto no art. 241 do Estatuto da Criança de do


Adolescente (Lei nº 8.069/1990), é praticado por aquele que: vender ou expor à
venda fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou
pornográfica envolvendo criança ou adolescente.

A pessoa que pratica esse crime está sujeita à pena 4 a 8 anos de prisão,
além da multa. O Estatuto da Criança e do Adolescente também proíbe a dispo-
nibilização de conteúdo pornográfico envolvendo crianças e adolescentes, inde-
pendente do meio, conforme art. 241-A. A pena nesse caso, varia entre três e seis
anos de prisão, além do pagamento de multa.

Até 2008, a lei punia apenas o responsável pela produção do conteúdo ou


por sua publicação. A partir de 2008, o ECA foi modificado e também passou a ser
considerado crime a aquisição, posse ou armazenamento, por qualquer meio, de
registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo crian-
ças ou adolescentes, conforme art. 241-B.

A pena para esse tipo de conduta varia entre um e quatro anos de prisão,
além de multa.

O crime de pedofilia tem gerado grande mobilização da Polícia Federal


para desmantelar quadrilhas que agem pela internet. Segundo dados oficiais, de
2012 a 2013 o número de prisões por pedofilia saltou 127%.

3.5 RACISMO

O crime de racismo, previsto na Lei nº 7.716/1989, resulta de discrimina-


ção ou preconceito em razão da raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.

45
Conforme os art. 3º e seguintes, o crime de racismo ocorre quando há, em razão
da raça, cor, etnia, religião ou origem, impedimento do acesso a órgãos da Administra-
ção Pública, empresa privada, estabelecimento comercial ou instituição de ensino.

4 TENDÊNCIAS JURISPRUDENCIAIS DO DIREITO DIGITAL

Algumas áreas do direito digital ainda carecem de regulamentação. Com


isso, ganham força as decisões dos tribunais brasileiros para a formação de prece-
dentes que sejam capazes de nortear a regulamentação dessas questões.

Por esse motivo, é importante que o profissional da área esteja sempre an-
tenado à jurisprudência dos tribunais. E foi pensando nisso que separamos para
você algumas decisões importantes sobre o tema. Vamos lá?

4.1 E-MAIL E CELULAR CORPORATIVOS

Que as ferramentas tecnológicas deixaram o dia a dia no trabalho mais


prático, não é exatamente uma novidade. Afinal, o empregado consegue acessar
seu e-mail corporativo de qualquer lugar, se tiver um celular com internet.

No entanto, além da praticidade e do aumento da mobilidade, essas mudan-


ças também trouxeram implicações legais. Por exemplo, o uso excesso do celular cor-
porativo pelo empregado fora de horário de trabalho pode caracterizar o regime de
sobreaviso, fazendo com que a empresa tenha que compensá-lo financeiramente.

Há alguns anos, bastava que o empregado tivesse celular corporativo


para haver a configuração desse regime. Contudo, essa jurisprudência foi revista.

Com a edição da Lei nº 12.551/2011, a configuração do sobreaviso passou


a depender da comprovação de que o empregado, após o término do expediente,
permanece à disposição, aguardando a chamada para o serviço durante o perío-
do de descanso.

4.2 OFENSAS FEITAS POR MEIOS ELETRÔNICOS

O mito da internet como “terra sem lei” tem sido gradualmente derruba-
do. Isso se comprova tanto pela crescente regulamentação do meio digital quanto
pelas decisões de tribunais brasileiros favoráveis à responsabilização de usuários
que praticam delitos cibernéticos.

Um exemplo disso é a possibilidade de “quebra” do anonimato em caso


de ofensas pela internet.

Isso porque, ao mesmo tempo que a Constituição Federal prevê a liber-


dade de expressão, ela também dispõe sobre a proibição do anonimato. Assim,
os tribunais têm entendido que aos meios eletrônicos serão aplicadas as mesmas
regras relativas a delitos cometidos em outros meios.

46
4.3 VIOLAÇÃO DE DIREITOS AUTORAIS E IMAGEM NA INTERNET

Ao contrário do que muita gente pensa, o conteúdo disponibilizado na


internet não é de domínio público.

Por isso, é importante que os usuários tenham atenção redobrada ao utili-


zar conteúdo de terceiros sem autorização, uma vez que podem ser responsabili-
zados por violação de direitos autorais.

Essa mesma ideia se aplica ao uso de imagens sem a devida autorização


da pessoa retratada ou do autor da foto.

Nesse sentido, em 2013, o Superior Tribunal de Justiça determinou o pa-


gamento de indenização por danos morais à pessoa que teve sua foto veiculada
sem autorização.

O STJ entendeu que, em se tratando do direito à imagem, a obrigação de


reparação decorre da violação desse direito personalíssimo, não havendo neces-
sidade de comprovação de prejuízo material ou moral.

Ademais, o direito digital desponta como uma área bastante promissora. Além
disso, tem requerido dos advogados uma atuação não apenas alinhada às novas legis-
lações e decisões sobre o tema, mas também antenada às inovações tecnológicas.

FONTE: <https://blog.saraivaaprova.com.br/direito-digital/>. Acesso em: 10 ago. 2020.

47
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Programa de computador é a expressão de um conjunto organizado de instruções


em linguagem natural ou codificada, contida em suporte físico de qualquer natu-
reza, de emprego necessário em máquinas automáticas de tratamento da informa-
ção, dispositivos, instrumentos ou equipamentos periféricos, baseados em técnica
digital ou análoga, para fazê-los funcionar de modo e para fins determinados.

• No Brasil, o órgão responsável é o INPI (Instituto Nacional de Propriedade


Industrial), da esfera federal e que tem a atribuição de executar e garantir as
leis referentes à regulamentação de qualquer Propriedade Industrial.

• No Brasil, o órgão responsável é o INPI (Instituto Nacional de Propriedade


Industrial), que é a esfera federal que tem a atribuição de executar e garantir
as leis referentes à regulamentação de qualquer Propriedade Industrial.

• O INPI possui como competência o registro de software, bem como de dese-


nho industrial, marca, patentes, contratos de licenciamento, franquia, e trans-
ferência de tecnologia.

• Também será o INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) que fará


o registro dos respectivos contratos nos casos de transferência de tecnologia
de programa de computador.

• O software é classificado pela doutrina majoritária como afeto e tutelado pelo


direito autoral e não pelo direito industrial.

• Para os efeitos da Lei nº 9.610/98, o artigo 3º indica que os direitos autorais se


reputam, para os efeitos legais, bens móveis. Portanto, o software é conside-
rado um bem móvel.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

48
AUTOATIVIDADE

1 No campo do direito digital, o software faz-se necessário, pois é uma ferramen-


ta utilizada com o intuito de facilitar o nosso acesso ao meio digital. A respeito
do software, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Há obrigatoriedade do registro de computador e dos programas de


computador.
( ) O INPI é o órgão que detém competência para o registro de software.
( ) O Software é considerado um bem jurídico corpóreo.
( ) O software é tutelado direito industrial.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) F – V – F – F.
b) ( ) V – V – F – F.
c) ( ) F – V – V – F.
d) ( ) V – F – F – V.

2 Para realizar o registo de um programa de computador e, para obter a titu-


laridade do programa de computador, tendo, com isso, inclusive, a cessão
de seus direitos, é preciso efetuar o registro em qual órgão?

3 Existe previsão no nosso ordenamento jurídico penal de crimes que firam


nossa honra. Pode-se considerar como crime a pessoa que imputar falsa-
mente a outra pessoa, fato definido como crime. Referida imputação falsa
configura qual crime? Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Injúria.
b) ( ) Difamação.
c) ( ) Calúnia.
d) ( ) Assédio.

4 O Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece medidas e garantias protecio-


nistas a crianças e adolescentes, sendo inclusive referência mundial no âmbito jurí-
dico. A respeito, verifica-se que existem condutas que são tipificadas como crime.
Com base no exposto, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que contenha


cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente.
( ) Aquisição, posse ou armazenamento, por qualquer meio, de registro que
contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo crianças ou
adolescentes.

49
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – V.
b) ( ) F – F.
c) ( ) F – V.
d) ( ) V – F.

5 No Brasil, como no mundo, cresce o número da criminalidade na área di-


gital, crimes esses que vêm se popularizando na medida em que a rede se
expande e se torna de fácil acesso para todas as pessoas, inclusive crianças
e adolescentes. Nesse sentido, nos últimos anos, a pedofilia tem avançado
junto com a internet. A pedofilia na internet e o cometimento de crimes
previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente tem sido crescente no de-
bate jurídico. A este respeito, pergunta-se: divulgar foto íntimas de crianças
por aplicativos, por exemplo, é crime? O que pode acontecer?

50
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018.  Lei Geral de Proteção de Dados Pesso-
ais (LGPD). 2018. Disponível em: https://bit.ly/3mzZ8kb.htm. Acesso em: 21 set. 2020.

BRASIL. Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017. Altera a Consolidação das Leis do


Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e as
Leis n º 6.019, de 3 de janeiro de 1974, 8.036, de 11 de maio de 1990, e 8.212, de
24 de julho de 1991, a fim de adequar a legislação às novas relações de trabalho.
2017. Disponível em: https://bit.ly/34BtdtB. Acesso em: 1º set. 2020.

BRASIL. Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014. Estabelece princípios, garantias,


direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil. 2014. Disponível em: https://
bit.ly/34ypZHp. Acesso em: 21 set. 2020.

BRASIL. Decreto nº 7.963, de 15 de março de 2013.  Regulamenta a Lei nº 8.078,


de 11 de setembro de 1990, para dispor sobre a contratação no comércio eletrôni-
co. 2013. Disponível em: https://bit.ly/3mwSTOd. Acesso em: 21 set. 2020.

BRASIL. Lei nº 12.737, de 30 de novembro de 2012.  Dispõe sobre a tipificação


criminal de delitos informáticos; altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro
de 1940 - Código Penal; e dá outras providências. 2012. Disponível em: https://bit.
ly/35Kz9zZ. Acesso em: 21 set. 2020.

BRASIL. Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011.  Regula o acesso a informações pre-


visto no inciso XXXIII do art. 5º, no inciso II do § 3º do art. 37 e no § 2º do art. 216 da Cons-
tituição Federal; altera a Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990; revoga a Lei nº 11.111,
de 5 de maio de 2005, e dispositivos da Lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991; e dá outras
providências. 2011. Disponível em: https://bit.ly/3oIh5iL. Acesso em: 21 set. 2020.

BRASIL. Lei nº 9.609, de 19 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre a proteção da proprie-


dade intelectual de programa de computador, sua comercialização no País, e dá ou-
tras providências.1998. Disponível em: https://bit.ly/3e2JISN. Acesso em: 21 set 2020.

BRASIL. Decreto nº 2.556, de 20 de abril de 1998. Regulamenta o registro previsto no


art. 3º da Lei nº 9.609, de 19 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre a proteção da pro-
priedade intelectual de programa de computador, sua comercialização no País, e dá
outras providências. 1998. Disponível em: https://bit.ly/3jDby9l. Acesso em: 21 set. 2020.

BRASIL. Decreto nº 8.078, de 11 de setembro de 1990.  Dispõe sobre a proteção


do consumidor e dá outras providências. 1990. Disponível em: https://bit.ly/3e-
728Bz. Acesso em: 21 set. 2020.

51
IPOG. Direito digital: um campo em expansão e de muitos desafios. 2018. Dispo-
nível em: https://bit.ly/3kAQeTe. Acesso em: 1º set. 2020.

PAIVA, M. A. L. de. Primeiras linhas em direito eletrônico. 2003. Disponível em:


https://bit.ly/3ozrVXX. Acesso em: 9 ago. 2020.

PINHEIRO, P. P. Direito digital. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

SECURITY REPORT. Brasil é o 2º país que mais perdeu dinheiro com cibercri-
mes em 2017. 2018. Disponível em: https://bit.ly/37QcPr5. Acesso em: 1º set. 2020.

52
UNIDADE 2 —

CONTRATOS ELETRÔNICOS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender e conhecer os contratos eletrônicos no Direito Civil bra-


sileiro e a questão da Política de Segurança da Informação – PSI com a
Medida Provisória 2.200-2/01;

• analisar a aplicação do direito do consumidor no contrato eletrônico e


no comércio eletrônico;

• conhecer o marco civil da internet – Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014


e sua aplicabilidade;

• identificar os crimes cibernéticos existentes no ordenamento jurídico.

53
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – CONTRATOS ELETRÔNICOS NO DIREITO CIVIL


BRASILEIRO E A QUESTÃO DA POLÍTICA DE
SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO – PSI COM A
MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2.200-2/01

TÓPICO 2 – O DIREITO DO CONSUMIDOR NO CONTRATO E


COMÉRCIO ELETRÔNICO

TÓPICO 3 – O MARCO CIVIL DA INTERNET – LEI Nº 12.965, DE


23 DE ABRIL DE 2014

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

54
TÓPICO 1 —
UNIDADE 2

CONTRATOS ELETRÔNICOS NO DIREITO CIVIL


BRASILEIRO E A QUESTÃO DA POLÍTICA DE
SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO – PSI COM A MEDIDA
PROVISÓRIA Nº 2.200-2/01

1 INTRODUÇÃO

Atualmente, vive-se a informatização global, em que tudo tem ou terá uma


versão digital e, em alguns pontos, uma substituição por completo de sua versão
física pela digital. Afinal, você não precisa mais ir até uma livraria ou biblioteca
para se emprestar ou comprar um livro, você pode adquiri-lo em versão digital.

Outro exemplo é a superação de muitas locadoras de vídeos que padece-


ram com o avanço da tecnologia de streaming, em conjunto com a alta velocidade
de internet que é ofertada. Um grande exemplo de streaming é o site YouTube, Ne-
tflix, Globo Play etc. Ademais, no dia a dia, estamos o tempo todo, seja no click do
celular ou do nosso computador, firmando contratos eletrônicos. Vamos a eles?

2 CONTRATOS ELETRÔNICOS

FIGURA 1 – CONTRATOS ELETRÔNICOS

FONTE: <https://bit.ly/35FsDdL>. Acesso em: 3 set. 2020.

Com a evolução dos meios de comunicação, é cada vez mais comum os


negócios jurídicos se realizarem de forma virtual, tais como: a compra e venda
de bens móveis, o aluguel de imóveis por meio de uma plataforma na internet,
o aceite de propostas comerciais por e-mail, o aceite de contratos de adesão por

55
UNIDADE 2 — CONTRATOS ELETRÔNICOS

meio de login e senha em sites, ou, ainda, a obtenção de um empréstimo bancário


por meio da internet banking.

O contrato eletrônico é o negócio jurídico realizado pelas partes contra-


tantes, cuja manifestação de vontade é expressada por meio eletrônico, tais como:
assinatura digital, certificado digital, proposta e aceite por e-mail, teleconferência,
videoconferência, plataforma de e-commerce, sistema de mensagem instantânea,
redes sociais ou Skype, dentre outros.

Primeiramente, é válido destacar a seguir os requisitos e as condições para


que um negócio jurídico seja válido entre as partes contratantes e produza efeitos
perante terceiros. De acordo com o artigo 104, do Código Civil de 2002, para que
os contratos sejam considerados válidos, devem se fazer presentes os seguintes
requisitos: (i) partes capazes; (ii) objeto lícito, possível e determinado (ou deter-
minável); e (iii) forma prescrita ou não defesa em lei (BRASIL, 2002).

A maior parte dos contratos eletrônicos são do tipo “adesão” (Art. 54 do


CDC), ou seja, contratos de adesão são aqueles que não resultam do livre debate
entre as partes, mas provêm do fato de uma delas aceitar tacitamente cláusulas e
condições previamente estabelecidas”.

Ainda, pode se definir que:

Os contratos por adesão constituem uma oposição a ideia de contra-


to paritário, por inexistir a liberdade de convenção, visto que excluem
a possibilidade de qualquer debate e transigência entre as partes, ima
vez que um dos contratantes se limita a aceitar as cláusulas e condições
previamente redigidas e empresas pelo outro, aderindo a uma situação
contratual já definida em todos os seus termos (DINIZ, 2002, p. 104).

Com tais conceitos podemos entender que os contratos de adesão são previa-
mente definidos por uma instituição para que se tenha agilidade em atingir o objetivo fi-
nal do contratante e contratado, sem que estejam desamparados por um contrato entre si.

Logo, é fundamental que esses contratos sejam objetivos, claros, tenham


descrito claramente todas as condições essenciais do produto/serviço, com detalha-
mento técnico quando necessário, bem como também apresentem regras claras so-
bre cancelamento, troca, devolução, desistência (Art. 49, caput e parágrafo único).

Cabe à empresa prestar as informações de forma certeira, com guarda de


ciência (ex.: guardar o log da tela com barreira de navegação, fazer envio auto-
mático do contrato para o e-mail cadastrado do cliente), e, do outro lado, cabe
ao cliente atentar-se às informações prestadas. Não caberá ao consumidor alegar
que “viu, mas não leu”. Deve-se ter muito cuidado com o uso de cláusulas que
eximem responsabilidades (Arts. 25, 28, 50, 51 do CDC).

Esses contratos demonstram a agilidade que o meio digital necessita, ao


clicar em “Aceito as Políticas de Privacidade e os Termos e Condições e Uso”,
56
TÓPICO 1 - CONTRATOS ELETRÔNICOS NO DIREITO CIVIL BRASILEIRO E A QUESTÃO DA POLÍTICA DE SEGURANÇA DA
INFORMAÇÃO – PSI COM A MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2.200-2/01

mesmo sem ler, o contratado está acordando com os termos estipulados previa-
mente pelo contratante, colocando-o em igualdade com todos os outros que rea-
lizaram o mesmo cadastro e aceitaram o mesmo contrato.

É imprescindível reconhecer que os contratos celebrados eletronicamente, fatal-


mente, devem utilizar a rede mundial de computadores. Dessa forma, veremos que a de-
claração de vontades pode ser realizada a distância, utilizando-se da internet para tal fim.

A formação dos contratos eletrônicos subdivide-se se em três fases, sendo


elas as tratativas ou negociação preliminar, oferta e aceitação.

Nas tratativas ou negociação preliminar, temos somente a possibilidade


de realização de um negócio jurídico, todavia, ainda sem qualquer oferta concre-
ta, bem como nenhum tipo de obrigação entre as partes contratantes.

A segunda fase é caracterizada pela oferta, quando um dos contratantes manifes-


ta à outra parte a vontade de contratar, conforme inteligência do Art. 427 do Código Civil,
senão vejamos: “A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar
dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso” (BRASIL, 2002).

A última fase na formação contratual, quando o contratante aceita as con-


dições definidas na oferta, resultando a obrigação das partes em dar cumprimen-
to ao instrumento pactuado.

Vamos exemplificar?

Uma página de e-commerce é destinada à venda de produtos eletrônicos.


O simples acesso de qualquer pessoa ao referido site, hospedado na internet, ca-
racteriza a primeira fase, ou seja, as tratativas. Quando você realiza uma pesquisa
sobre os produtos de interesse, o interessado acaba por ter contato com a oferta,
após análise das condições técnicas e características do produto oferecido. Por
fim, a aceitação subentende-se como a conclusão do contrato e necessidade de
cumprimento das obrigações impostas, dentre elas o pagamento e a entrega do
produto conforme o combinado.

Assim, qualquer contrato firmado pelo meio eletrônico, pode e deve ser
correlacionado a qualquer outro contrato firmado pelo meio físico, o que difere é
somente o instrumento.

Nos contratos eletrônicos devem também ser respeitados os princípios con-


tratuais, como é o caso da autonomia da vontade, que garante a qualquer indivíduo
com capacidade jurídica o direito de praticar atos e assumir obrigações no campo
jurídico, portanto, temos a ideia que as pessoas têm o direito de contratarem o que
quiserem, quando quiserem, da forma que quiserem, desde que a lei não vede tal
prática, conforme preconiza o Art. 104 do Código Civil Brasileiro de 2002.

57
UNIDADE 2 — CONTRATOS ELETRÔNICOS

O princípio da obrigatoriedade da convenção dita que, independentemente da


forma de celebração, o que foi celebrado deve ser cumprido, pois faz lei entre as Partes.

Os contratos digitais também são consensuais, ou seja, devem seguir tão so-
mente à vontade e o que for estipulado pelas partes. O princípio da Boa-fé Objetiva
está previsto em lei, mais precisamente no Art. 422 do Código Civil Brasileiro de 2002,
da seguinte forma: “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do
contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé” (BRASIL, 2002).

Visa garantir que as partes contratantes se comportem de maneira corre-


ta, visando garantir o adimplemento da prestação dentro do pactuado entre as
partes. Já o equilíbrio contratual é com certeza um dos pilares mais importantes
a serem discutidos e analisados em contratos eletrônicos e que visa tornar equili-
brada a relação entre consumidor e vendedor pela internet.

Podemos elencar diversos artigos na norma citada para demonstrar a pre-


ocupação do legislador em preservar a relação jurídica de consumo e torná-la
mais equilibrada. Dentre eles: o direito de escolha do consumidor (Art. 6°, II do
CDC); o direito de modificação das cláusulas contratuais (Art. 6°, V do CDC); o
direito à inversão do ônus da prova a seu favor (Art. 6°, VIII do CDC); a vedação
de obtenção de vantagem no que tange à condição de hipossuficiência do consu-
midor, proibindo qualquer prática abusiva (Art. 39, IV e V do CDC).

Existem contratos eletrônicos interativos que são a utilização da tecnologia in-


formacional na celebração dos acordos comerciais que permitem ao consumidor adqui-
rir um produto através de um computador convencional ou aparelhos de smartphone
conectados à rede mundial de computadores de modo ágil, seguro e confortável.

O fornecedor expõe seu produto sem saber se há alguém interessado na


aquisição. A interatividade é realizada por meio de sites ou aplicativos que tenham
exclusivamente este propósito, e as intenções não necessitam ser simultâneas.

A maioria destes sítios eletrônicos exige cadastro para os usuários, a fim


de evitar fraudes e desprestígio do mecanismo. Une-se, então, a vontade do for-
necedor em disponibilizar seu produto ou serviço com a vontade do consumidor
em adquiri-lo. Permite, ainda, que o produto a ser adquirido esteja dentro das ex-
pectativas do cliente, pois os estabelecimentos virtuais podem fornecer múltiplas
opções de escolha, do tipo cor, modelo, tamanho, marca etc.

Em razão do direito à informação, a empresa contratada deve permitir


que o consumidor tenha acesso aos seus dados gerenciais, por exemplo: nome da
empresa, CNPJ, telefone para contato, dentre outros, bem como ao integral conte-
údo das cláusulas contratuais. A vontade da parte contratada resta caracterizada
pela disponibilização do produto ou serviço e, em contrapartida, a da contratante
é consumada após a leitura das condições do que foi ofertado pela parte contra-
tada e, por fim, “clicando” no famoso “Eu li e concordo com os termos de uso”.

58
TÓPICO 1 - CONTRATOS ELETRÔNICOS NO DIREITO CIVIL BRASILEIRO E A QUESTÃO DA POLÍTICA DE SEGURANÇA DA
INFORMAÇÃO – PSI COM A MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2.200-2/01

Naquele momento a contratante manifesta o desejo do produto ou do ser-


viço e acolhe, in totum, todas as condições estabelecidas naquele instrumento. Ao
decidir pelo “sim”, a bilateralidade do contrato passa a vigorar na esfera jurídica,
conforme as normas consumeristas no que tange à contratação a distância, em
que, nesse caso, temos a presença da adesividade na aceitação.

O contrato eletrônico intersistêmico tem por base o acordo tradicional,


porém, concretiza-se através de um sistema eletrônico fechado previamente ins-
talado para este objetivo, o que permite a interação entre empresas. No ato da so-
licitação do produto ou serviço, inexiste a ação humana, sua participação se limi-
ta em inserir o aplicativo e na aceitação do acordo pré-estabelecido para tal fim.

Esta modalidade de contrato é frequentemente encontrada em atividades


atacadistas, como empresas que fabricam determinado produto em grande escala
e, no momento em que sua matéria-prima se esgota, o sistema interativo emite
pedido para outra empresa restabelecer o estoque.

Nota-se que não há a interferência de qualquer gestor, já que existe um acor-


do contratual prévio, e os produtos são solicitados automaticamente pela empresa
contratante. Rege-se pelo diálogo eletrônico existente entre os terminais e, sem a
intervenção humana, as aquisições em larga escala ocorrem conforme a vontade
das partes envolvidas, as quais foram previamente manifestadas e acordadas.

A partir daí a manipulação das transações comerciais são incumbidas a


um dispositivo virtual que passa a controlar o estoque e garantir o cumprimento
contratual em sua essência.

O contrato eletrônico interpessoal, a relação comercial entre pessoas físi-


cas ou jurídicas através de um computador ou um sistema eletrônico habilitado.
Todas as fases do acordo são feitas pela via eletrônica, ou seja, inicia-se na mani-
festação da vontade das partes até a instrumentalização do contrato.

Cabe destacar que há dois tipos de contratos eletrônicos interpessoais: direto e


indireto. Os contratos diretos caracterizam-se pela comunicação em real time, quando
as partes se interagem simultaneamente, exemplos são: chat, sistema de mensagens
instantâneas, entre outros. Já as celebrações indiretas evidenciam-se pelo caminho que
o contrato percorre até chegar às partes, geralmente através de correio eletrônico.

Uma das partes encaminha a proposta e, até chegar ao destinatário, passa


por um servidor. A aceitação, ou não, da proposta não é instantânea, pois depen-
derá de um intervalo de tempo até que a outra parte tenha acesso ao conteúdo.

A ação humana é imprescindível nesse caso, há integração das partes na


formalização e instrumentalização do contrato. É impossível que o acordo de von-
tades seja concretizado sem que haja concordância de ambas as partes contratantes.

59
UNIDADE 2 — CONTRATOS ELETRÔNICOS

3 ASSINATURAS E VALIDAÇÕES DIGITAIS

FIGURA 2 – ASSINATURAS DIGITAIS

FONTE: <https://bit.ly/2TzBvvI>. Acesso em: 3 set. 2020.

Não há o que se falar em contratação digital ou contratos eletrônicos sem


discorrer sobre certificação digital. A certificação digital é o procedimento, pre-
visto em lei, que traz segurança jurídica às transações realizadas e transporta ao
mundo virtual a veracidade da pactuação realizada no campo jurídico.

A segurança dos contratos eletrônicos, solidificada pela certificação digital, evi-


ta a “falsidade ideológica virtual” por má-fé dos usuários ou até mesmo para se evitar
que pessoas incapazes façam uso de equipamentos e gerem prejuízos indesejados.

Após o cadastro em órgão de registro, o consumidor recebe sua chave priva-


da e pode realizar suas atividades consumistas com segurança e eficácia. A certifica-
ção digital, estabelecida e regida pela Medida Provisória nº 2.200-2, de 24 de agosto
de 2001, depreende-se de toda a legalidade e integralidade da assinatura manuscrita.

Com uma maior demanda de encontrar novos meios de segurança em


realizar negócios ou quaisquer tipos de identificação real da pessoa em meio ele-
trônico, e buscando dar validade jurídica aos documentos eletrônicos, podendo
ser utilizados como meios de prova, as empresas de certificação on-line se especia-
lizam em entregar um produto cada vez mais seguro aos seus usuários.

A segurança é primordial, uma vez que carregam seus dados e assinatura


sendo sua identidade no meio virtual, seus dados são criptografados para a me-
lhor proteção, como nos conhecidos chips, implantados em cartão de crédito e
carteira da OAB, ou até mesmo nos dispositivos chamados Token.

O token gera senhas periodicamente ou quando acionado, senhas estas


que liberam a sua utilização ou a utilização de outras identificações, se tornando
assim uma configuração de liberação de dois passos, onde primeiramente o Token

60
TÓPICO 1 - CONTRATOS ELETRÔNICOS NO DIREITO CIVIL BRASILEIRO E A QUESTÃO DA POLÍTICA DE SEGURANÇA DA
INFORMAÇÃO – PSI COM A MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2.200-2/01

gera uma senha única que dá acesso à identificação virtual, senhas estas geradas
de modo aleatório e que duram apenas alguns segundos, que visam única e ex-
clusivamente a proteção dos dados contidos na identificação e assinatura digital.

FIGURA 3 – TOKEN

FONTE: <https://bit.ly/2G5Aqsr>. Acesso em: 3 set. 2020.

DICAS

Token é um dispositivo eletrônico gerador de senhas, geralmente sem cone-


xão física com o computador, podendo também, em algumas versões, ser conectado a
uma porta USB.

No Brasil, foi instituída em 2001 a Medida Provisória 2.200-2 criando a


ICP-Brasil, Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira, que garante a autentici-
dade, integridade e validade jurídica de documentos na forma eletrônica.

A Medida Provisória 2.200-2 estabeleceu normas que instituiu as hierar-


quias e os tipos de certificados que seriam oferecidos no país. A Medida Pro-
visória nº 2.200/01 garante a autenticidade, integridade e validade jurídica dos
documentos em formato eletrônico. Garante ainda a realização de, dentre outras
aplicações, as transações eletrônicas seguras.

A principal autoridade da ICP-Brasil é o Instituto Nacional de Tecnologia


da Informação (ITI), uma autarquia federal vinculada à Casa Civil da Presidên-
cia da República, cuja missão é manter e executar as políticas da ICP-Brasil. O
ICP-Brasil viabiliza a emissão de certificados digitais com o intuito de identificar
virtualmente pessoas físicas ou jurídicas.

61
UNIDADE 2 — CONTRATOS ELETRÔNICOS

No Brasil, o termo técnico utilizado é o mesmo que nomeia o órgão: in-


fraestrutura de chaves públicas, conhecida também como certificação com raiz
única. Assim, uma Autoridade Certificadora Raiz é o ponto mais alto e respon-
sável por executar as Políticas de Certificados, normas técnicas e operacionais
aprovadas pelo Comitê Gestor da ICP-Brasil.

Seguindo a hierarquia, surgem as Autoridades Certificadoras (AC), que


são entidades públicas ou privadas responsáveis por distribuir, emitir, renovar,
revogar e gerenciar todos os certificados vinculados a elas. Além disso, checam
se o titular do certificado possui a chave privada correspondente à chave pública.

Esse sistema é conhecido como criptografia assimétrica, onde cada pes-


soa ou entidade recebe dois códigos ao criar o certificado: certificado público,
para ser compartilhado; certificado privado, para manter-se em segurança. Logo,
quando um documento é codificado com a chave pública, ele só pode ser decodi-
ficado com a chave privada correspondente.

Dando continuidade à hierarquia, temos a Autoridade de Registro (AR)


vinculada às Autoridades Certificadoras – cuja função é criar a interface e facilitar
o contato entre usuários e ACs – e a Autoridade Certificadora do Tempo, cuja
função é atestar a questão temporal da transação, efetivando a validação jurídica
do conteúdo, portanto, percebe-se todo um trabalho regulamentador em torno do
contrato digital com o intuito de se obter meios para garantir a segurança jurídica
e o combate à fraude no campo digital.

Assim, sob a denominação assinatura eletrônica encontram-se os variados


métodos de comprovação de autoria e integridade empregados no meio virtual
para garantir a celebração contratual, dentre elas, além da certificação digital,
temos a criptografia digital, a assinatura digital e assinatura digitalizada.

Todas possuem suas próprias características e especificações. Podemos en-


tender a criptografia como sendo uma maneira de codificar as mensagens entre os in-
terlocutores, fazendo com que a mensagem, caso seja plotada por pessoa não inserida
no contexto (hacker), esta não poderá codificar o significado e o teor da comunicação

A assinatura digital, desta feita, consiste em espécie do gênero assinatura


eletrônica, e representa um dos meios, entre os diversos existentes, que associam
a identidade de um indivíduo a uma declaração de vontade veiculada eletronica-
mente. Há, pois, uma diferença entre as nomenclaturas “assinatura eletrônica” e
“assinatura digital”, que não poderão ser utilizadas como sinônimas.

Enquanto o termo “assinatura eletrônica” abrange o leque de métodos de


comprovação de autoria mencionados e, até mesmo outros que possam vir a ser
criados, a palavra “assinatura digital” refere-se exclusivamente ao procedimen-
to de comprovação de autoria e integridade baseado na criptografia assimétrica,
conforme descrito a seguir.

62
CONTRATOS ELETRÔNICOS

O contrato eletrônico é o negócio jurídico realizado pelas partes contra-


tantes, cuja manifestação de vontade é expressada por meio eletrônico.

A realidade atual dos meios de comunicação evolui e se modifica em


decorrência do fenômeno denominado internet, de modo que impõe à socie-
dade adequação para acompanhar tal evolução. Especificamente com relação
à modificação do ordenamento jurídico, vamos tratar sobre os impactos dos
negócios jurídicos que envolvem o uso do computador, ou qualquer outro
meio de comunicação eletrônica, como instrumento para a exteriorização de
manifestação de vontade das partes, avaliando os requisitos necessários para a
sua celebração, a fim de conferir-lhe validade jurídica e eficácia entre as partes.

Embora o ordenamento jurídico brasileiro não disponha de regulamenta-


ção específica a respeito da negociação, da estruturação e da celebração de contra-
tos por meios eletrônicos, nossos Tribunais têm conseguido suprir essa carência
legislativa, mediante aplicação do Código Civil e da teoria geral dos contratos.

Desde que os contratos eletrônicos estejam revestidos dos princípios e


pressupostos contratuais previstos no Código Civil, não há argumentos que
possam invalidar essa forma de se pactuar, sendo necessário apenas se as-
segurar de que o contrato pretendido não requer formalidade ou solenidade
específica não suprida pelo meio eletrônico escolhido para se pactuar.

As decisões dos Tribunais têm sido favoráveis às contratações eletrônicas


e sido muito bem colocadas em defesa da validade e eficácia destas. Adiciona-se
a isso, o valor probatório que tem sido conferido aos contratos eletrônicos, dado
que o uso de e-mails e aplicativos contribuem com evidências e rastros materiais.

Considerando que a discussão repousa, principalmente, na autenticida-


de, confiabilidade e integridade dos documentos eletrônicos, entendemos que,
a depender do risco do negócio jurídico a ser pactuado, o uso da assinatura
certificada digitalmente é o meio mais confiável e seguro para ser empregado.

Contratos eletrônicos

O contrato eletrônico é o negócio jurídico realizado pelas partes con-


tratantes, cuja manifestação de vontade é expressada por meio eletrônico, tais
como: assinatura digital, certificado digital, proposta e aceite por e-mail, tele-
conferência, videoconferência, plataforma de e-commerce, sistema de mensa-
gem instantânea, redes sociais ou Skype, dentre outros.

Com efeito, a manifestação de vontade por meio eletrônico sobrepõe-se


a sua instrumentalização, não sendo o contrato eletrônico uma nova espécie
de contrato, mas sim um novo meio de formação contratual, podendo ser cele-

63
brado digitalmente total ou parcialmente pelas partes (ou seja, uma das partes
pode assinar de forma manuscrita e a outra parte de maneira digital).

Com a evolução dos meios de comunicação, é cada vez mais comum os


negócios jurídicos se realizarem de forma virtual, tais como: a compra e venda
de bens móveis, o aluguel de imóveis por meio de uma plataforma na inter-
net, o aceite de propostas comerciais por e-mail, aceite de contratos de adesão
por meio de lo gin e senha em sites, ou, ainda, a obtenção de um empréstimo
bancário através da internet banking. Em outras palavras, as relações jurídicas
mantidas hoje em papel estão sendo aos poucos transportadas e adaptadas à
nova realidade, possibilitando a simplificação e agilização de diversos proce-
dimentos, incluindo a celebração de negócios jurídicos por meio digital.

Nesse sentido, surgiram novas formas de exteriorização da vontade, constitu-


tivas de direitos e obrigações, além da convencional assinatura manuscrita de contra-
tos em papel físico. Considerando tratar-se de um assunto que permanece em cons-
tante crescimento no Brasil e no mundo, os Tribunais Pátrios estão recepcionando em
suas decisões os negócios jurídicos celebrados por meios eletrônicos, com base na teo-
ria geral dos contratos prevista na lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002 ("Código Civil").

Validade Jurídica dos Contratos Eletrônicos

Primeiramente, é válido destacar a seguir os requisitos e as condições


para que um negócio jurídico seja válido entre as partes contratantes e produ-
za efeitos perante terceiros.

De acordo com o artigo 104, do Código Civil, para que os contratos


sejam considerados válidos, devem se fazer presentes os seguintes requisitos:
(i) partes capazes; (ii) objeto lícito, possível e determinado (ou determinável); e
(iii) forma prescrita ou não defesa em lei. Adicionalmente, o Código Civil, em
seu artigo 107, é cristalino ao admitir toda e qualquer forma de declaração de
vontade, salvo se a lei dispor de maneira diversa:

Isto posto, a manifestação de vontade por meio digital é plenamente


permitida em nosso ordenamento jurídico brasileiro, uma vez que a regra ge-
ral do Código Civil para a formação de contratos é a forma livre, sem a exigên-
cia de solenidades especiais para a sua formação (assim como é exigido para
contrato de compra e venda de bens imóveis).

Nesse contexto, o entendimento do Tribunal de Justiça do Distrito Fe-


deral acerca do processo em que se discutiu a validade de contrato celebrado
entre as partes de maneira eletrônica, no qual a ré aceitou os termos e con-
dições ao clicar no botão "Eu aceito". No caso em tela, as partes contratantes
celebraram um contrato de prestação de serviços para um curso de graduação
que, embora frequentado pela ré, por ela não foi pago.

64
No julgamento citado acima, o entendimento do des. Sérgio Rocha foi a
de que "Embora a forma de contratação eletrônica tenha produzido documen-
to assinado apenas pelo autor, a forma como o contrato foi realizado é váli-
da e prova a existência de obrigações assumidas entre as partes, sobretudo
quando corroborado por outros elementos de prova". 

Dessa forma, podemos depreender que, uma vez respeitados os prin-


cípios contratuais e preenchidos os requisitos previstos nos artigos 104 e 107,
combinados com os artigos 113, 187, 421 e 422, todos do Código Civil, os negó-
cios jurídicos cuja manifestação de vontades é feita por meios eletrônicos são
válidos, trazendo para a seara dos contratos uma maior segurança jurídica.

Neste sentido, ainda, Antônio Junqueira de Azevedo, em sua obra Existên-


cia, Validade e Eficácia (4ª edição. São Paulo: Saraiva, 2002) sustenta que o negócio
jurídico constitui o "principal exercício da autonomia privada da liberdade negocial",
competindo às partes contratantes estabelecer a maneira em que desejam pactuar.

No âmbito jurisprudencial, os negócios jurídicos sem forma especial exi-


gida por lei têm plena existência, validade e eficácia reconhecidas, de maneira
que não há argumentos jurídicos tampouco argumentos lógicos para que as con-
tratações, por correio eletrônico (e-mail), sites de internet ou qualquer outro meio
digital, sejam invalidadas, como corrobora o seguinte entendimento trazido pelo
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios: "(...) não resta dúvida quanto
à existência, validade e eficácia do contrato, em todas as suas cláusulas, por se
tratar de uma questão de segurança jurídica e boa-fé contratual. É, portanto, in-
controversa a existência de relação jurídica contratual entre as partes, consisten-
te em prestação de serviços de informática. Os e-mails trocados entre as partes
e os comprovantes de pagamento pela prestação de serviço trazidos pelo autor,
ora recorrido, comprovam o aceite e a celebração do contrato, especialmente o
e-mail que comunica a resilição unilateral do contrato por parte da recorrente".

Diante de tais considerações, concluímos que, se o Código Civil ex-


pressamente dispõe a liberdade de pactuar e manifestar, desde que não exista
formalidade específica requerida em lei, não há óbice para que os contratos
eletrônicos sejam considerados válidos.

Assinatura Digital e Certificado Digital

Muito embora a forma de manifestação de vontade seja livre e os contratos


eletrônicos sejam considerados válidos em nosso ordenamento jurídico, é recomen-
dado optar por métodos que tragam maior segurança jurídica para as partes contra-
tantes, de modo a viabilizar a conferência da autoria e a veracidade de seus dados.

Além do mais, os contratos eletrônicos, exatamente por se desenvolve-


rem em ambiente virtual, não estão livres de serem alterados por uma parte
sem a anuência da outra parte, ou, inclusive, de terem as assinaturas fraudadas.

65
Como forma de coibir tais práticas e garantir a integridade e veracidade dos da-
dos, termos e condições contratados inicialmente, recomenda-se o uso de ferra-
mentas como a assinatura digital na celebração de negócios jurídicos eletrônicos.

Inicialmente, vale ressaltar a existência da distinção entre a assinatura


digitalizada e a assinatura digital, conforme disposto a seguir.

A assinatura digitalizada é o resultado da reprodução eletrônica de uma


assinatura manuscrita do sujeito de direito inserida manualmente em um con-
trato. Em tal caso, não é considerada um dos tipos de assinatura digital uma vez
que não traz elementos suficientes para provar que as partes signatárias são re-
almente as pessoas às quais as imagens das assinaturas estão vinculadas, sendo
necessária, portanto, a apresentação de outros elementos probatórios.

Por outro lado, a assinatura digital consiste em uma ferramenta tecnológi-


ca capaz de garantir a integridade de determinado contrato eletrônico, mediante
emprego de criptografia, que combina elementos do texto com a identidade do au-
tor, resultando em uma fórmula matemática que garantirá a autoria e a veracida-
de do documento. Assim sendo, a ferramenta em questão deve possuir variações,
na medida em que só é possível ter uma assinatura digital para cada documento.

A assinatura digital, portanto, não só permite conferir quem é o signa-


tário do documento, como garante a inalterabilidade de seu conteúdo, dado
que qualquer alteração deste invalida a assinatura. A assinatura digital pode
ser realizada, por exemplo, mediante a utilização de biometria, cadastro de lo-
gin e senha ou certificado digital.

Especificamente com relação à assinatura digital, por meio de certifica-


do digital, esta tem como finalidade a comprovação da identidade do detentor
do certificado e de seus dados, bem como a sua legitimidade para agir.

O certificado digital é emitido por um terceiro denominado autoridade


certificadora, cujas funções são verificar a identidade do proprietário do certi-
ficado, se o mesmo está autorizado para utilizá-lo, e divulgar a chave pública
certificadora em um diretório, de modo que qualquer interessado possa confe-
rir, a qualquer tempo, a autoria da assinatura e a validade do contrato. Ainda,
a depender do tipo de certificado digital, este poderá conferir data e hora ao
documento ou criptografar todo seu conteúdo.

O uso de tais ferramentas – assinatura digital, inclusive certificado di-


gital – apresentam admissibilidade e validade legal garantidas, além do ar-
tigo 441, da lei 13.105, de 16 de março de 2015 ("Código de Processo Civil"),
pela MP 2.200-2, de 24 de agosto de 2001, que instituiu a Infraestrutura de
Chaves Públicas Brasileiras ("ICP-Brasil").

66
Ademais, em virtude da mencionada medida provisória, o contrato eletrô-
nico, quando da aposição da assinatura digital, ganha foros de autenticidade e ve-
racidade. O artigo 10, da MP 2.200-2, admite documentos eletrônicos tanto para os
documentos privados quanto para os públicos, para todos os fins legais, e, ainda, sa-
lienta a veracidade das declarações neles contidas quando assinados digitalmente.

É imprescindível mencionar que a MP 2.200-2, em seu artigo 10, §2º,


confere validade para outros meios de comprovação da autoria e de integri-
dade do documento, ainda que não certificados pela ICP-Brasil, desde que
acordado pelas partes contratantes. Logo, é possível apreender que as partes
contratantes não estão restritas ao uso da assinatura digital como forma de
comprovação de autoria, podendo, inclusive, escolher qualquer outro meio
eletrônico, conforme livremente desejarem.

Diante disso, o Superior Tribunal de Justiça reconheceu a executivida-


de de um contrato eletrônico de mútuo assinado digitalmente, uma vez que "A
assinatura digital de contrato eletrônico tem a vocação de certificar, através
de terceiro desinteressado (autoridade certificadora), que determinado usu-
ário de certa assinatura a utilizara e, assim, está efetivamente a firmar o do-
cumento eletrônico e a garantir serem os mesmos os dados do documento
assinado que estão a ser sigilosamente enviados [...]. Em face destes novos
instrumentos de verificação de autenticidade e presencialidade do contratan-
te, é possível o reconhecimento da executividade dos contratos eletrônicos".

Ainda, o ministro Paulo de Tarso Sanseverino, inovou ao dizer que o


uso da assinatura digital, certificada pela ICP – Brasil, e os serviços do comprova.
com, suprem a necessidade de assinatura das testemunhas, na medida em que
confirmam que o contrato foi celebrado pelo réu. Na prática, o entendimento
da Corte Superior conferiu às autoridades certificadoras um grau de confiança
maior que o dos cartórios oficiais. Isso porque um contrato físico, mesmo com
reconhecimento cartorial, só pode se tornar título executivo com a assinatura
das duas testemunhas. Embora seja um posicionamento que acolhe a inovação
tecnológica, a referida interpretação não é vinculante, visto que a decisão não foi
proferida em sede de recurso repetitivo, razão pela qual as instâncias inferiores
ainda poderão empregar entraves formalistas à constituição de um título execu-
tivo extrajudicial desta forma. Entretanto, foi dado um primeiro passo para uma
nova interpretação a ser dada aos formalismos previstos na legislação pátria
que, por vezes, são incompatíveis com a nova realidade tecnológica.

FONTE: <https://bit.ly/3kDMPmq>. Acesso em: 15 ago. 2020.

67
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• O contrato eletrônico é o negócio jurídico realizado pelas partes contratantes,


cuja manifestação de vontade é expressada por meio eletrônico, tais como:
assinatura digital, certificado digital, proposta e aceite por e-mail, teleconfe-
rência, videoconferência, plataforma de e-commerce, sistema de mensagem
instantânea, redes sociais ou Skype, entre outros.

• Para que os contratos sejam considerados válidos devem se fazer presentes os


seguintes requisitos: (i) partes capazes; (ii) objeto lícito, possível e determina-
do (ou determinável); e (iii) forma prescrita ou não defesa em lei.

• A formação dos contratos eletrônicos subdivide-se se em três fases, sendo elas


as tratativas ou negociação preliminar, oferta e aceitação.

• Nos contratos eletrônicos devem também ser respeitados os princípios con-


tratuais, como é o caso da autonomia da vontade, que garante a qualquer
indivíduo com capacidade jurídica o direito de praticar atos e assumir obri-
gações no campo jurídico.

• O princípio da obrigatoriedade da convenção dita que independentemente


da forma de celebração, o que foi celebrado deve ser cumprido, pois faz lei
entre as partes.

• Os contratos digitais também são consensuais, ou seja, devem seguir tão so-
mente à vontade e o que for estipulado pelas partes.

• O princípio da Boa-fé Objetiva está previsto em lei, mais precisamente no Art.


422 do Código Civil Brasileiro de 2002.

• Existem contratos eletrônicos interativos, contrato eletrônico intersistêmico e


contrato eletrônico interpessoal.

68
AUTOATIVIDADE

1 É certo que os contratos eletrônicos estão sujeitos ao respeito e à aplicabili-


dade de princípio, pois estão sujeitos às regras dos contratos escritos e tra-
dicionais. Acerca dos princípios relativos aos contratos eletrônicos, assinale
a alternativa CORRETA:

a) ( ) Boa-fé subjetiva.
b) ( ) Autonomia da vontade.
c) ( ) Não consensual.
d) ( ) Obrigatoriedade irretratável.

2 Contratos possuem características peculiares atinentes a cada tipo. Não é dife-


rente nos contratos eletrônicos que também possuem características. Quais são
as características dos contratos eletrônicos, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Unilaterais.
b) ( ) De adesão.
c) ( ) Impessoal.
d) ( ) Compulsório.

3 Contratos estão sujeitos a princípios, além de normas, que devem ser obe-
decidas quando somos participantes em um contrato. Verifica-se que o Có-
digo Civil de 2002, em seu art. 422 do Código Civil, possui a previsão de
dois princípios. Quais são estes dois princípios?

a) ( ) Probidade e boa-fé.
b) ( ) Improbidade e deslealdade.
c) ( ) Lealdade e literalidade.
d) ( ) Probidade e moralidade.

4 O processo de formação de contrato envolve fases e nos contratos eletrôni-


cos não é diferente, devendo estas serem cumpridas etapa a etapa. Assim,
sobre os contratos eletrônicos e suas fases, discorra quais são as fases na
formação dos contratos eletrônicos:

5 Os contratos precisam do aceite e a assinatura das partes contratantes em


contrato impresso, podendo ou não ter sua assinatura autenticada em car-
tório. No entanto, para contratos eletrônicos tem-se a assinatura digital. A
respeito da assinatura digital, qual é a sua funcionalidade?

69
70
TÓPICO 2 —
UNIDADE 2

O DIREITO DO CONSUMIDOR NO CONTRATO


E COMÉRCIO ELETRÔNICO

1 INTRODUÇÃO

Com relação às relações de consumo, por meio da internet, é necessário


antes, apresentar algumas linhas gerais sobre o Código de Defesa do Consumi-
dor, vide o fato de que esse ordenamento de artigos é a principal base legal para
se tratar da presente temática.

O Código de Defesa do Consumidor nasceu com o finco de unir as disposi-


ções legais já existentes no que diz respeito aos direitos dos consumidores, regendo as
relações consumeristas em todo território brasileiro, buscando reequilibrar o relacio-
namento entre consumidor e fornecedor, dando mais força ao consumidor, propondo
limites precisos e certos a determinadas práticas abusivas propostas pelo fornecedor.

2 O COMERCIO ELETRÔNICO E O CDC

FIGURA 4 – COMÉRCIO ELETRÔNICO

FONTE: <https://bit.ly/3kDOKaC>. Acesso em: 3 set. 2020.

No artigo 1° do Código de Defesa do Consumidor está explícito a proteção


estatal, que preconiza que suas normas são de “proteção e defesa do consumidor”.

E as relações de consumo mesmo em meio aos avanços tecnológicos tre-


mendos com a globalização e a unificação dos sistemas de trabalho, deve prote-
ger os contratos virtuais.

71
UNIDADE 2 — CONTRATOS ELETRÔNICOS

É grande o número de indivíduos que formalizam negócios por meio de


contratos virtuais. Assim, “a contratação eletrônica paulatinamente se incorpora
aos costumes da sociedade atual, de modo que já é possível celebrar contratos
através de meio eletrônico para adquirir qualquer produto ou serviço, por exem-
plo” (LEAL, 2007, p. 1). No entendimento de Gonçalves (2008, p. 61), “contrato
eletrônico deve ser entendido como aquele celebrado com a utilização de progra-
mas de computador ou aparelhos com tais programas”.

Tanto o Código de Defesa do Consumidor quanto o Código Civil não re-


gulam especificamente o contrato eletrônico, pois no tempo em que foram edita-
dos, o comércio eletrônico não era tão forte quanto atualmente.

De qualquer forma, a depender do caso concreto, usa-se o Código de Defesa


do Consumidor, na relação de consumo, onde há consumidor e o fornecedor, pois:

[…] é possível adequar de forma satisfatória as relações virtuais às


atuais leis brasileiras, eis que os contratos pela internet se formam da
mesma forma que os contratos tradicionais (negociações preliminares,
proposta, aceite), sendo que a única diferença entre ambos é o meio
por onde se desenvolvem. Por esta mesma razão o comércio eletrônico
também se submete às disposições do Código de Defesa do Consumi-
dor, sem maior esforço hermenêutico, o que é ponto pacífico na dou-
trina brasileira (BITTAR, 2013, p. 20).

Seja por um produto danificado, pela demora ou por qualquer outro prejuízo
causado pelo fornecedor, nasce para o Direito o direito à reparação. Vários são os ar-
tigos do CDC que invocam a responsabilidade do fornecedor diante do consumidor.

Segundo informa Nunes (2015), os fornecedores se encontram sujeitos ao


cumprimento das obrigações firmadas. Tem-se, como exemplo, a obrigatoriedade
em informar todos os conteúdos e dados necessários, a não praticar abusos, a não
fazer publicidade enganosa etc.

A própria legislação é afirmativa nesse sentido, como se pode conferir pela Lei
n° 8.078/1990, nos artigos 12 a 14 e 18 a 21, em que se tem o reconhecimento da exis-
tência da responsabilidade do fornecedor em ressarcir os danos causados aos consu-
midores, independentemente da natureza defeituosa, não distinguindo aqueles que
utilizam o produto ou serviço em virtude de relação contratual (NOVAIS, 2015).

As vendas por meio on-line aumentaram e o CDC permanece como um


fiel escudeiro na proteção da relação comercial virtual. É certo que o faturamento
do comércio eletrônico aumentou nos últimos anos, pois veja:

72
TÓPICO 2 — O DIREITO DO CONSUMIDOR NO CONTRATO E COMÉRCIO ELETRÔNICO

FIGURA 5 – FATURAMENTO E-COMMERCE

FONTE: <https://bit.ly/34zuxx6>. Acesso em: 1º set. 2020.

O comércio eletrônico passou a ter regulação própria por meio do Decreto nº


7.962, de 15 de março de 2013, que fixou uma série de regras para o comércio eletrônico.

No entanto, os direitos básicos fixados no CDC continuam a valer para os


contrato eletrônicos e vendas por meio on-line.

Importante destacar que o Decreto nº 7962/13, em seu Art. 1º, deixa claro
que são direitos dos consumidores na contratação de compras via internet:

• O fornecimento de informações claras a respeito do produto, do serviço e do


fornecedor.
• O atendimento facilitado ao consumidor.
• O respeito ao direito de arrependimento.

São determinações desnecessárias, eis que tudo isso e muito mais está esta-
belecido no CDC incontestavelmente. De todo modo, ajuda a fixar as determinações.

O Art. 2º do Decreto determina que os sítios eletrônicos ou demais meios


eletrônicos utilizados para oferta ou conclusão de contrato de consumo devem dis-
ponibilizar, em local de destaque e de fácil visualização, as seguintes informações:

a) O nome empresarial e o número de inscrição do fornecedor no Cadastro Na-


cional de Pessoas Físicas (CPF) ou no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas
do Ministério da Fazenda (CNPJ).
b) O endereço físico e eletrônico e demais informações necessárias para sua loca-
lização e contato.
c) As características essenciais do produto ou do serviço, incluídos os riscos à
saúde e à segurança dos consumidores.

73
UNIDADE 2 — CONTRATOS ELETRÔNICOS

d) A discriminação, no preço, de quaisquer despesas adicionais ou acessórias,


tais como as de entrega ou seguros.
e) As condições integrais da oferta, incluídas as modalidades de pagamento, dis-
ponibilidade, forma e prazo da execução do serviço ou da entrega ou disponi-
bilização do produto.
f) Informações claras e ostensivas a respeito de quaisquer restrições à fruição da oferta.

Importante a observar quando do acesso ao site eletrônico de compras a


existência das informações acima mencionadas antes de efetivar a sua compra,
bem como buscar por reclamações nos sites dos PROCONs e Reclame Aqui.com.

3 GARANTIA DE ATENDIMENTO FACILITADO AO CONSUMIDOR

FIGURA 6 – ATENDIMENTO

FONTE: <https://bit.ly/2G54sMW>. Acesso em: 3 set. 2020.

O decreto determina que, para garantir o atendimento facilitado ao con-


sumidor, o fornecedor deverá apresentar um sumário do contrato antes da con-
tratação, com as informações necessárias ao pleno exercício do direito de escolha
do consumidor, enfatizadas as cláusulas que limitem direitos.

Devemos ficar atentos à regra do § 4º do Art. 54 do CDC, que determina


que as cláusulas que implicarem limitação do direito do consumidor devem ser
redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão.

Igualmente importante a observação do Art. 46 do CDC, que diz que os


contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores,
se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu con-
teúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a
compreensão de seu sentido e alcance.

É dever ainda do dono do site fornecer ferramentas eficazes ao consumi-


dor para identificação e correção imediata de erros ocorridos nas etapas anterio-
res à finalização da contratação; confirmar imediatamente o recebimento da acei-
74
TÓPICO 2 — O DIREITO DO CONSUMIDOR NO CONTRATO E COMÉRCIO ELETRÔNICO

tação da oferta; disponibilizar o contrato ao consumidor em meio que permita


sua conservação e reprodução, imediatamente após a contratação.

Ainda, é preciso manter serviço adequado e eficaz de atendimento em meio


eletrônico, que possibilite ao consumidor a resolução de demandas referentes à
informação, à dúvida, à reclamação, à suspensão ou ao cancelamento do contrato.

Quando efetivada, a compra deve confirmar imediatamente o recebimento das


demandas do consumidor pelo mesmo meio empregado por ele e utilizar mecanismos
de segurança eficazes para pagamento e para tratamento de dados do consumidor.

Anote-se que o fornecedor tem cinco dias para encaminhar resposta ao


consumidor sobre as demandas referentes à informação, à dúvida, à reclamação,
à suspensão ou ao cancelamento do contrato.

4 DESISTÊNCIA DO NEGÓCIO: PRAZO DE SETE DIAS

FIGURA 7 – NEGÓCIO ELETRÔNICO

FONTE: <https://bit.ly/37QppH0>. Acesso em: 3 set. 2020.

O CDC estabeleceu o direito de desistência a favor do consumidor. A in-


tenção da lei é proteger o consumidor nesse tipo de transação para evitar compras
por impulso ou efetuadas sob forte influência da publicidade ou do pessoal do
telemarketing sem que o produto esteja sendo visto de perto ou o serviço possa ser
testado. Esse prazo garantido pela lei é de sete dias e chama-se “prazo de reflexão”.

Se nestes sete dias o consumidor se arrepender da compra, pode desistir


pura e simplesmente. O arrependimento não precisa ser justificado. Não é preciso
dar qualquer satisfação. Basta desistir. A contagem do prazo dos sete dias inicia-
-se quando do recebimento do produto pelo consumidor.

75
UNIDADE 2 — CONTRATOS ELETRÔNICOS

Existem fornecedores que oferecem prazos maiores de arrependimento:


dez, quinze e até trinta dias. Nestes casos, o prazo de reflexão fica automatica-
mente ampliado, conforme for a oferta.

E, visando dar eficácia ao contido no Art. 49, o Decreto nº 7.962/13 trouxe


para o sistema uma série de outras determinações específicas. Numa delas o Art. 5º
"caput", reforça que o fornecedor deve informar, de forma clara e ostensiva, os meios
adequados e eficazes para o exercício do direito de arrependimento pelo consumidor.

Ainda o §1º do mesmo Art. 5º disciplina aquilo que já estava inserido


como garantia no CDC: que o consumidor poderá exercer seu direito de arrepen-
dimento pela mesma ferramenta utilizada para a contratação, sem prejuízo de
outros meios disponibilizados.

Uma boa novidade trazida pelo decreto é a determinação de que o forne-


cedor envie ao consumidor a confirmação do recebimento da desistência imedia-
tamente após a manifestação do arrependimento (§ 4º, Art. 5º).

De maneira alguma, a forma de pagamento tem implicação com o direito


de arrependimento. Não importa como o pagamento do preço será feito: à vista
ou parcelado com cartão de crédito; a prazo por meio de boletos ou avisos bancá-
rios; por intermédio de cheque contra a entrega da mercadoria; no caixa do posto
dos correios; após a prestação de serviço ou mensalmente etc.

Em todos esses casos ou, em qualquer outro, a desistência se operará da


mesma maneira.

5 DEVOLUÇÃO DO QUE FOI PAGO

FIGURA 8 – DEVOLUÇÃO PRODUTO

FONTE: <https://bit.ly/2HFSkm4>. Acesso em: 3 set. 2020.

76
TÓPICO 2 — O DIREITO DO CONSUMIDOR NO CONTRATO E COMÉRCIO ELETRÔNICO

Feita a desistência, qualquer importância que eventualmente já tenha sido


paga (entrada, adiantamento, desconto do cheque, pagamento com cartão etc.)
deve ser devolvida em valores atualizados.

Se, por exemplo, foi feita a autorização para débitos parcelados no cartão de
crédito e apenas o primeiro (do ato da compra) tenha sido lançado, este tem que ser
devolvido em dinheiro ou lançado como crédito no cartão e os demais têm que ser
cancelados pela vendedora junto à administradora do cartão de crédito.

Por fim, ressalta-se que a norma diz que o exercício do direito de arrepen-
dimento implica a rescisão dos contratos acessórios, sem qualquer ônus para o
consumidor (§ 2º do Art. 5º); e que, o exercício desse direito deve ser comunicado
imediatamente pelo fornecedor à administradora do cartão de crédito, banco ou
instituição financeira, para que: a transação não seja lançada na fatura ou conta
do consumidor; ou que seja efetivado o estorno do valor, caso o lançamento na
fatura ou conta já tenha sido realizado (§ 3º e incisos I e II do mesmo Art. 5º).

DICAS

Leia o artigo “A proteção ao consumidor no âmbito do comércio eletrônico:


uma análise à luz do princípio da vulnerabilidade”. Confira em: https://bit.ly/2TA5pjD.

REGULAÇÃO DO E-COMMERCE NO BRASIL

É bastante comum que empresas de outros países e também as nacio-


nais optem pela prática do comércio eletrônico, também conhecido pela sigla
em inglês como e-commerce, para atuar no mercado brasileiro. Muitos desses
atores comerciais, principalmente os estrangeiros, têm dúvidas com relação às
leis aplicáveis ao e-commerce no Brasil.

Apesar de o Brasil não ter uma lei específica sobre a matéria, existem várias
previsões e instrumentos legais que formam a regulação dessa atividade. Confira
algumas normas do sistema legal brasileiro importantes para o e-commerce!

Normas aplicáveis ao e-commerce no Brasil

Sendo o e-commerce uma atividade qualificada como relação de con-


sumo, ela deve observar uma série de garantias do sistema de defesa e pro-
teção ao consumidor. Ele compreende algumas normas, que têm como guia
principal o Código de Defesa do Consumidor (CDC).

77
UNIDADE 2 — CONTRATOS ELETRÔNICOS

– Código de Defesa do Consumidor (Law 8.078/90): o CDC fornece a


base para qualquer relação de consumo, seja pela Internet ou não, por meio de
conceitos relacionados às relações de consumo, bem como deveres e direitos.
Legalmente, o Código é aplicado às relações de consumo, que podem incluir
não apenas situações B2C (sigla em inglês para relações entre empresa e con-
sumidor), mas também B2B (sigla para relações entre empresas). O conceito
principal envolve a pessoa física ou jurídica que é o usuário final do bem ou
serviço que está sendo fornecido, ou seja, se um cliente de e-commerce é uma
empresa (e não uma pessoa natural), também pode constituir uma relação de
consumo, desde que seja o usuário final. Caso contrário, a relação é considera-
da comercial e segue o regime jurídico do Código Civil – Lei nº 10.406 (2002).

Entre os direitos mais importantes do consumidor está o direito à in-


formação (Art. 6 do CDC). Isso significa que o e-commerce deve fornecer in-
formações específicas, transparentes e precisas sobre o produto ou serviço for-
necido, a oferta, termos e condições. O código também proíbe expressamente
a ação discricionária contra os consumidores (Art. 4).

– 2013: essa é a única norma específica para o comércio eletrônico no Bra-


sil. O Decreto visava atualizar o CDC, que é de 1990, sem, no entanto, revogá-lo.
Também estabelece informações obrigatórias para os sites de comércio eletrônico:

1. Identificação do provedor (nome legal ou natural completo);


2. Endereço físico e eletrônico;
3. Como o CDC, exige informações claras e precisas sobre as ofertas, produtos,
serviços, entrega e disponibilidade;
4. Resumo dos pontos mais importantes do contrato (por exemplo, condições
de pagamento e prazos);
5. Contrato completo com informações detalhadas;
6. Confirmação da compra;
7. Informações sobre atendimento ao cliente por e-mail, chat ou telefone.

Um sistema de segurança para evitar violações de dados também é


obrigatório de acordo com o Decreto e o consumidor também tem o “direito
de se arrepender”. Isso significa que o consumidor pode dar fim ao contrato a
qualquer momento antes de receber o produto e o cancelamento deve ser con-
firmado pelo fornecedor, ou após sete dias da data de recebimento. Em ambos
os casos, o provedor deve comunicar à agência de pagamento imediatamente
após o cancelamento, a fim de reverter a cobrança.

– Marco Civil da Internet (Lei nº  12.9655/2014): define os princípios


para a regulação da internet no Brasil, que são, portanto, eles são aplicáveis
ao comércio eletrônico. O Marco Civil estabelece a privacidade, a proteção de
dados, o consentimento e a segurança da informação como direitos para os
usuários da Internet (Arts. 3, 7 e 16 da mesma lei).

78
Ainda, de acordo com o Art. 11, o sistema de leis brasileiras é aplicável
a qualquer atividade, incluindo, portanto, comércio eletrônico internacional:

Art. 11. Em qualquer operação de coleta, armazenamento, custódia e


tratamento de registros, dados pessoais ou comunicações por provedores de
conexão e aplicativos de internet em que pelo menos um desses atos ocorra em
território nacional, a legislação brasileira e os direitos à privacidade, proteção
de dados pessoais e a confidencialidade de comunicações e registros privados
devem ser obrigatoriamente respeitados.

– Lei Geral de Proteção de Dados – LGPD (Lei nº 13709/2018): A LGPD


entrará em vigor em 2020 e, destaca a relevância do consentimento, transpa-
rência e proteção de dados on-line. Portanto, o comércio eletrônico será uma
das atividades que deve estar em conformidade com as novas regras gerais.

– Código de Processo Civil – CDC (Lei 13105/2015): de acordo com o


CPC, os tribunais brasileiros são competentes para julgar casos envolvendo rela-
ções de consumo, se o consumidor estiver domiciliado ou tiver residência habi-
tual no país (artigo 22, b, II). A regra baseia-se na proteção e interesse do consu-
midor, bem como no princípio de que o consumidor é o mais frágil, estabelecido
pelo CDC. Portanto, os consumidores brasileiros têm a opção de processar uma
empresa internacional de comércio eletrônico nos tribunais nacionais, mesmo
que a empresa tenha sido constituída ou tenha sedes em diferentes países.

– Lei nº 10.962/2004: dispõe sobre as vendas e formas de exibir o preço


de bens e serviços para o consumidor. A lei foi alterada pela Lei nº 13.543/2017,
que estabelece que no e-commerce deve ser feito destacando seu preço em
dinheiro em conjunto com a descrição do produto ou imagem do serviço, em
fonte de fácil leitura e tamanho acima de doze.

Na prática, como a lei se aplica ao e-commerce?

A lei aplicável ao comércio eletrônico no Brasil baseia-se principalmen-


te na proteção ao consumidor. É por isso que as empresas devem seguir regras
relativas à informação, à transparência e à segurança. Existem regulamentos
especiais para áreas específicas de comércio eletrônico, como os que envolvem
saúde, alimentos, marketing e sistemas de crédito. Regras sobre direitos de
propriedade intelectual, principalmente marcas registradas e direitos autorais,
também devem ser observadas.

A competência para fiscalizar as relações de consumo no Brasil é do


Ministério Público, de acordo com o Art. 129, III da Constituição Brasileira.
A Procuradoria de cada estado federal no Brasil possui um programa admi-
nistrativo de defesa e defesa do consumidor, denominado PROCON. O PRO-
CON (Programa Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor) é responsável
por receber reclamações de consumidores e investigar práticas contra os direi-

79
tos dos consumidores. Se o procedimento do PROCON indicar violação da lei,
o Promotor do Estado cobra legalmente a empresa pela infração, em justiça
criminal ou civil, dependendo da natureza da regra violada.

A maioria dos litígios sobre o consumo é conferida pelos Juizados Es-


peciais de cada estado. Os Tribunais Especiais são competentes para julgar
casos cujo valor seja de até 20 salários mínimos, sem assistência de advogado,
ou até 40 salários mínimos, se as partes do processo forem assistidas por advo-
gados. O salário mínimo no Brasil atualmente é de 998,00 reais.

Considerando que, na prática, muitas empresas não cumprem as regras


de consumo, existe um grande número de casos no Judiciário brasileiro. De acor-
do com o relatório do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o consumo foi o ter-
ceiro campo que teve mais novas disputas para a Justiça no Brasil em 2018 – com
365.309 novos casos (entre um total de 2.623.354 novos casos de todos os campos
cobertos pela Justiça Estadual) em comparação com o número de casos em 2017.

FONTE: <https://bit.ly/3e5Su2r>. Acesso em: 25 set. 2020.

80
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Determinações do Decreto Federal nº 7.962/13 detalham exigências que já fa-


ziam parte do Código de Defesa do Consumidor (CDC), que inclui regras
para compras em sites.

• Nos sites de vendas on-line é dever, por parte da empresa, fornecer informa-
ções básicas, como o endereço físico da loja e ter um serviço de atendimento
ao consumidor (SAC) eficiente.

• Todo site terá que informar em sua página em local visível, o CPF do respon-
sável ou o CNPJ da empresa, além do endereço físico e eletrônico para serem
contatados pelos consumidores.

• Outras regras são as obrigações de fornecer características detalhadas, in-


cluindo os riscos à saúde e à segurança dos clientes, bem como as despesas
adicionais que interferem no valor do preço final, que é fechado no fim da
compra, como o frete e os seguros, de forma de fácil entendimento.

• A lei do comércio eletrônico vale tanto para venda de produtos quanto para
oferecimento de serviços.

• Com relação a sites de compras coletivas, as regras citadas acima também


valem, porém com algumas adicionais. Terá que ser informado a quantidade
mínima de consumidores para a efetivação da oferta, o prazo para utilização
da oferta pelo consumidor e o número de vagas para contratação de serviços.

• Direito de arrependimento: o fornecedor deverá deixar claros os meios que


o consumidor poderá utilizar para exercer esse direito, sem qualquer ônus ao
cliente. O prazo para esse direito é de sete dias após o recebimento do produto.

81
AUTOATIVIDADE

1 Ao realizar compras virtuais, posso receber o produto em minha casa, ar-


repender-me da compra efetuada e proceder com a devolução do produto.
Sobre o prazo de arrependimento nas compras virtuais, assinale a alternati-
va CORRETA:

a) ( ) 10 dias.
b) ( ) 15 dias.
c) ( ) 7 dias.
d) ( ) 30 dias.

2 Os sítios eletrônicos e os demais meios eletrônicos utilizados para oferta ou


conclusão de contrato de consumo devem disponibilizar, em local de des-
taque e de fácil visualização, algumas informações. Com base no exposto, a
respeito dos sítios eletrônicos, analise as sentenças a seguir:

I- Devem disponibilizar o nome empresarial e o número de inscrição do for-


necedor no Cadastro Nacional de Pessoas Físicas (CPF) ou no Cadastro
Nacional de Pessoas Jurídicas do Ministério da Fazenda (CNPJ).
II- Devem disponibilizar ausência de endereço físico e eletrônico e demais
informações necessárias para sua localização e contato.
III- Devem disponibilizar as características essenciais do produto ou do servi-
ço, incluídos os riscos à saúde e à segurança dos consumidores.
IV- Devem disponibilizar a indiscriminação no preço de quaisquer despesas
adicionais ou acessórias, tais como as de entrega ou seguros.
V- Devem disponibilizar as condições parciais da oferta, incluídas as mo-
dalidades de pagamento, disponibilidade, forma e prazo da execução do
serviço ou da entrega ou disponibilização do produto.
VI- Devem disponibilizar informações claras e ostensivas a respeito de quais-
quer restrições à fruição da oferta.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I, III e VI estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença IV está correta.
c) ( ) As sentenças I, II, III e V estão corretas.
d) ( ) As sentenças IV e V estão corretas.

3 Atualmente, com o intuito de obter descontos de um lado para os consumidores


e de outro lado, alcançar um número maior possível de compra de clientes in-
ventou-se a compra em sites de compra coletiva. No entanto, existem regras que
devem ser cumpridas. Acerca destas regras, assinale a alternativa CORRETA:

82
a) ( ) Quantidade mínima de consumidores para a efetivação da oferta.
b) ( ) Falta de prazo para utilização da oferta pelo consumidor .
c) ( ) Sem número de vagas para contratação de serviços.
d) ( ) Sem estipulação de qualidades e preço.

4 O mundo mudou e hoje podemos adquirir produtos por meio do comércio


eletrônico, realizamos as compras na internet e recebemos no conforto do
nosso lar. Todavia, a lei garante o direito de arrependimento. Desta forma,
pergunta-se: esse arrependimento precisa ser justificado?

5 Com o crescimento da globalização, cresceu o número de compras por in-


ternet. Assim, a lei determina que os sítios eletrônicos ou demais meios
eletrônicos utilizados para oferta ou conclusão de contrato de consumo de-
vem disponibilizar, em local de destaque e de fácil visualização. Quais são
informações que devem constar nos sítios?

83
84
TÓPICO 3 —
UNIDADE 2

O MARCO CIVIL DA INTERNET – LEI Nº


12.965, DE 23 DE ABRIL DE 2014

1 INTRODUÇÃO

A internet tornou-se uma ferramenta fundamental para os cidadãos, visto


que, por meio das informações compartilhadas por seus usuários, traça uma pro-
posta de cultura liberal e estabelece uma aproximação entre as pessoas. Inúmeros
rastros digitais são deixados por aqueles que desfrutam dos benefícios da rede
mundial de computadores.

A busca por agilidade, informações e acuracidade atraem cada vez mais institui-
ções que procuram por tecnologias digitais para o oferecimento de seus bens e serviços.

O crescimento das operações de compra e venda digital geram a cada se-


gundo incontáveis dados que são manuseados por empresas e pelo poder público.

2 MARCO CIVIL DA INTERNET

FIGURA 9 – MARCO CIVIL DA INTERNET

FONTE: <https://bit.ly/3e7eXMd>. Acesso em: 3 set. 2020.

O mundo hoje, é um mundo de transformações, visto que a todo instante,


aparecem ideias inovadoras e tecnológicas. Dentre elas, muitas são decorrentes
do uso da internet, que anseia atingir cada vez mais público e atender os objeti-
vos específicos de cada usuário. Todavia, todo este atendimento personalizado e
específico que o utilizador da internet tem, não é por acaso. Ele, usuário, é apenas
uma pequena parte em um mundo de dados, em que empresas geram perfis das
pessoas e armazenam em seus bancos de dados, com base sua utilização, assim

85
UNIDADE 2 — CONTRATOS ELETRÔNICOS

conseguindo prever ações que o usuário da internet teria, seja com a compra de
um produto ou a sugestão de algo que seja interessante para ele.

O poder que estas empresas têm, sabendo o que se quer ou propriamente


se pensa, é de extrema valia para o mundo dos negócios. Como se sabe, os legis-
ladores começaram a buscar uma forma de limitação deste ambiente e ter um
certo controle sobre o que acontece na internet, pois cada vez mais, os casos de
vazamentos de dados pessoais acontecem pelo mundo afora.

O Marco Civil da Internet no Brasil, Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014,


estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Bra-
sil. Isso se dá pela regulamentação desses direitos e deveres dos usuários da inter-
net, dos portais e sites, dos provedores e das prestadoras de serviço e do próprio
Estado, bem como pelo estabelecimento de diretrizes para a atuação estatal.

É uma das grandes evoluções em termos de legislação sobre a internet no Bra-


sil, foi a Lei nº 12.965/2014, também conhecida como o Marco Civil da Internet, pois ela
regulamentou a internet no Brasil de uma forma muito ampla, pois era algo que ainda
não existia no país. Conforme a previsão que ficou estabelecida em seu artigo 1º.

Art. 1º Esta Lei estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para


o uso da internet no Brasil e determina as diretrizes para atuação da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios em relação à
matéria (BRASIL, 2014).

Criando assim uma nova perspectiva de legislação e atuação, não apenas


para as organizações que trabalham com estas informações e atuam nestas ativi-
dades, que tratam dos assuntos que a lei veio para resguardar, mas também ao
próprio usuário que tem suas informações, sendo compartilhadas sem que tenha
algum controle ou informação sobre os seus dados e para que são utilizados.

O Marco Civil da Internet também veio para garantir que exista a liberda-
de, a garantia de neutralidade da rede, sem que ocorressem informações direcio-
nadas ou limitação da rede, apenas para atender aos objetivos da empresa, e que
as pessoas tenham a sua privacidade respeitada neste ambiente, que cresce cada
dia mais e que as pessoas se envolvem, sem ter noção dos riscos envolvidos.

O Marco Civil da Internet foi a legislação criada com este objetivo, de criar
um ambiente de maior segurança na internet no Brasil, e assim coibir possíveis
excessos que pudessem estar sendo cometidos, tanto pelas organizações, como
pelos próprios usuários.

O “Marco Civil da Internet” é um projeto de lei que visa a consolidar


direitos, deveres e princípios para a utilização e o desenvolvimento da
Internet no Brasil. A iniciativa partiu da percepção de que o processo de
expansão do uso da Internet por empresas, governos, organizações da
sociedade civil e por um crescente número de pessoas colocou novas
questões e desafios relativos à proteção dos direitos civis e políticos dos

86
TÓPICO 3 — O MARCO CIVIL DA INTERNET – LEI Nº 12.965, DE 23 DE ABRIL DE 2014

cidadãos. Nesse contexto, era crucial o estabelecimento de condições


mínimas e essenciais não só para que o futuro da Internet seguisse base-
ado em seu uso livre e aberto, mas que permitissem também a inovação
contínua, o desenvolvimento econômico e político e a emergência de
uma sociedade culturalmente vibrante (O CGI.BR, c2020, p. 16).

A lei visa ao controle do que estava sem nenhuma segurança jurídica para
seus utilizadores no Brasil, visto que as legislações anteriores só tentavam enqua-
drar as situações do mundo virtual, para regras que haviam sido escritas em uma
época que a própria internet não existia ou ainda estava nos seus primórdios,
baseada em alguns princípios balizadores do Marco Civil da Internet.

As diretrizes estabelecidas na Lei do Marco Civil da Internet proporcio-


nam a segurança para o indivíduo poder reivindicar seus direitos, para ter cer-
teza de que poderá encontrar amparo e possa usufruir do seu direito ao fazer
uso da tecnologia que as organizações empresariais proporcionam para seu en-
tretenimento e conhecimento. Sempre da forma mais segura, garantindo os seus
direitos constitucionais de liberdade e privacidade, mesmo no ambiente virtual.

3 O DIREITO À PRIVACIDADE

FIGURA 10 – DIREITO À PRIVACIDADE

FONTE: <https://bit.ly/3e7eXMd>. Acesso em: 4 set. 2020.

A internet é um mundo onde as pessoas perdem sua privacidade, por


suas escolhas ou não, devido estar sujeito à política de usuário, estabelecida para
o uso de diversas aplicações. A privacidade é um direito constitucional garantido
e de relevante papel na vida das pessoas, pois garante o desenvolvimento pes-
soal, sem que a pessoa deseje ficar expondo fatos sobre sua vida, mantendo-a de
maneira privada e discreta. Conforme cita Gilmar Mendes.

87
UNIDADE 2 — CONTRATOS ELETRÔNICOS

A reclusão periódica à vida privada é uma necessidade de todo ho-


mem, para a sua própria saúde mental. Além disso, sem privacidade,
não há condições propícias para o desenvolvimento livre da persona-
lidade. Estar submetido ao constante crivo da observação alheia difi-
culta o enfrentamento de novos desafios. A exposição diuturna dos
nossos erros, dificuldades e fracassos à crítica e à curiosidade perma-
nentes de terceiros, e ao ridículo público mesmo inibiria toda tentativa
de auto superação. Sem a tranquilidade emocional que se pode auferir
da privacidade, não há muito menos como o indivíduo se auto avaliar,
medir perspectivas e traçar metas (MENDES et al., 2009, p. 421).

Não existe um conceito explícito sobre o que seria a privacidade na legis-


lação brasileira, pois a própria Constituição Brasileira em seu artigo 5º, X, dispõe
que: “Art. 5º [...] X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a ima-
gem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação” (BRASIL, 1988).

Como o Art. 5º não fala explicitamente em privacidade, mas faz referência


aos direitos das pessoas de manter sua vida privada se assim o quiserem, sendo
assim, fica subentendido, que o direito à privacidade, é uma garantia prevista na
Constituição Federal.

Com a evolução da tecnologia, ela acabou lançando novos dilemas para a


sociedade, e a privacidade foi uma destas vertentes de problemas que se tornou
muito relevante nos tempos de conexão com a internet.

Nesta vertente, a ideia de privacidade muda de figura, pois ela não é mais só do
direito de a pessoa ficar resguardada em seu local, mantendo o controle de sua vida sem
ser incomodada, visto que com a internet esse conceito pode ser ampliado para a ideia do
usuário ter o controle de todas as informações e dados que sejam gerados por ele.

Desta maneira sua privacidade, no ambiente tecnológico e virtual, está con-


dicionada ao controle de tudo que seja referente a sua pessoa. Dessa forma as infor-
mações dos usuários da internet se tornam parte de sua privacidade, visto que elas
refletem sua personalidade e pessoa. Conforme entendimento de Leonardi.

A importância da proteção dos dados pessoais é um dos aspectos mais


relevantes para o direito à privacidade. Há tempos que se reconhece
que a informação, independentemente de sua espécie, converteu-se
em um bem jurídico de valor extraordinário e que “os Estados, as asso-
ciações, as empresas são tão ou mais poderosas conforme disponham
de grandes volumes de informação” (LEONARDI, 2011, p. 68).

A proteção de dados e informações, atualmente, ganha grande importância,


decorrente da revolução que a internet trouxe para o mundo, que cada vez mais é
globalizado e integrado, gerando uma grande quantidade de fluxo de dados de di-
versos locais do mundo, independente das informações, repassada e armazenada.

88
TÓPICO 3 — O MARCO CIVIL DA INTERNET – LEI Nº 12.965, DE 23 DE ABRIL DE 2014

Atualmente, toda informação vale dinheiro, pois a atividade econômica


está sempre baseada na informação.

Antes do computador, o mero fato de registros serem feitos à tinta, mantidos


em papel e guardados em pastas ou arquivos impunha certas limitações a
quantidade de dados que podiam ser armazenados, além de restringir quem
tinha acesso a essas informações e de delimitar por quanto tempo elas fica-
vam guardadas. Registros eletrônicos, no entanto, não tem essas limitações.
Os computadores podem coletar, armazenar, manipular, trocar e reter quan-
tidades praticamente infinitas de dados (LEONARDI, 2011, p. 72).

Assim, até que ponto os dados das pessoas estão seguros, pois a informática
e a internet mudaram de diversas formas o modo de pensar do mundo hoje. Está
cada vez mais baseado na informação que corre na rede, e não se sabe o que
acontecerá com essas informações e dados que são coletados.

Desta maneira o legislador buscou suprir essas necessidades, criando leis


que abrangessem as necessidades que se apresentam na realidade dos presentes
dias, onde as coisas mudam de uma maneira muito rápida.

4 PRIVACIDADE E O MARCO CIVIL DA INTERNET

FIGURA 11 – PRIVACIDADE

FONTE: <https://bit.ly/37NDyor>. Acesso em: 4 set. 2020.

O advento desta legislação do Marco Civil da Internet, veio para regula-


mentar e reforçar as leis já existentes que tratavam sobre este assunto da internet.
Garantiu alguns direitos, que merecem destaque, como o direito à privacidade na
internet, dedicando vários artigos para falar deste assunto de grande importância.
Dentre os artigos que fazem referência à privacidade na internet na Lei nº 12.965/14
é um dos mais importantes, sendo ele o seu Art. 7º, em que resguarda o usuário.

89
UNIDADE 2 — CONTRATOS ELETRÔNICOS

Art. 7º O acesso à internet é essencial ao exercício da cidadania, e ao


usuário são assegurados os seguintes direitos:
I - inviolabilidade da intimidade e da vida privada, sua proteção
e indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação;
II - inviolabilidade e sigilo do fluxo de suas comunicações pela in-
ternet, salvo por ordem judicial, na forma da lei;
III - inviolabilidade e sigilo de suas comunicações privadas armaze-
nadas, salvo por ordem judicial;
IV - não suspensão da conexão à internet, salvo por débito direta-
mente decorrente de sua utilização;
V - manutenção da qualidade contratada da conexão à internet;
VI - informações claras e completas constantes dos contratos de
prestação de serviços, com detalhamento sobre o regime de
proteção aos registros de conexão e aos registros de acesso a
aplicações de internet, bem como sobre práticas de gerencia-
mento da rede que possam afetar sua qualidade;
VII - não fornecimento a terceiros de seus dados pessoais, inclusive
registros de conexão, e de acesso a aplicações de internet, salvo
mediante consentimento livre, expresso e informado ou nas hi-
póteses previstas em lei;
VIII - informações claras e completas sobre coleta, uso, armazena-
mento, tratamento e proteção de seus dados pessoais, que so-
mente poderão ser utilizados para finalidades que:
a) justifiquem sua coleta;
b) não sejam vedadas pela legislação; e
c) estejam especificadas nos contratos de prestação de serviços ou
em termos de uso de aplicações de internet;
IX - consentimento expresso sobre coleta, uso, armazenamento e
tratamento de dados pessoais, que deverá ocorrer de forma
destacada das demais cláusulas contratuais;
X - exclusão definitiva dos dados pessoais que tiver fornecido
a determinada aplicação de internet, a seu requerimento, ao
término da relação entre as partes, ressalvadas as hipóteses de
guarda obrigatória de registros previstas nesta Lei;
XI - publicidade e clareza de eventuais políticas de uso dos
provedores de conexão à internet e de aplicações de internet;
XII - acessibilidade, consideradas as características físico-motoras,
perceptivas, sensoriais, intelectuais e mentais do usuário, nos
termos da lei; e
XIII - aplicação das normas de proteção e defesa do consumidor nas
relações de consumo realizadas na internet (BRASIL, 2014).

Este artigo traz diversas garantias ao usuário, pois ele está resguardando des-
de sua proteção de dados, até a forma em que o provedor da internet vai manter ou
repassar suas informações. Assim, para frear uma grande massa de informações que
estão disponíveis nas diversas ferramentas de pesquisa à disposição do utilizador, e
que geram uma infinita quantidade de possibilidades de rastrear, fazer a análise, e o
cruzamento das informações, que o usuário deixa na rede, decorrente da sua utilização.

Essa quantidade de informações, gera um aumento de violações de priva-


cidade, pois cria uma exposição da pessoa ou propriamente de instituições que se
utilizem desta ferramenta, violando assim o seu direito à privacidade.

90
TÓPICO 3 — O MARCO CIVIL DA INTERNET – LEI Nº 12.965, DE 23 DE ABRIL DE 2014

As modernas tecnologias da informação e comunicação, especialmen-


te a capacidade que têm os computadores de armazenar e processar
informações em escala e velocidade crescentes, têm proporcionado po-
derosas ferramentas que tanto trazem muitos benefícios à sociedade,
como podem ser usadas para atentar contra a privacidade. Governos e
corporações têm em suas mãos amplos meios técnicos de formar bases
de dados populacionais, em que se anote cada detalhe da vida privada
dos indivíduos, e ainda classificar e localizar rapidamente as fichas
eletrônicas segundo múltiplos critérios de escolha, conforme desejado
pelo operador de tais cadastros (MARCACINI, 2016, p. 53).

As grandes modificações que a lei trouxe geraram uma melhor empatia


entre todos os envolvidos, sejam as instituições governamentais, os próprios usu-
ários e as empresas que têm seus negócios, que de alguma forma acabam impac-
tadas pela legislação, pois assim, garantem a integridade de um sistema, garan-
tindo as devidas punições aos seus violadores.

Não só o Art. 7º trouxe referências à privacidade, como também o Art. 10º, que
acabou estabelecendo que a empresa que fizer a guarda das informações, só poderá
fazer a liberação de acesso, apenas em caso de uma autorização judicial, para que
assim, resguarde o direito das partes que tenham seus dados ali disponibilizados.

Art. 10. A guarda e a disponibilização dos registros de conexão e de


acesso a aplicações de internet de que trata esta Lei, bem como de da-
dos pessoais e do conteúdo de comunicações privadas, devem atender
à preservação da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem
das partes direta ou indiretamente envolvidas (BRASIL, 2014).

Garantindo assim, a segurança de que nenhuma pessoa sem autorização,


tenha acesso as suas informações.

O Marco Civil insere a internet no direito dos cidadãos à liberdade de


expressão e de comunicação. O usuário da rede tem garantia de que sua
vida privada não será violada, a qualidade da conexão estará em linha
com o contratado e que seus dados só serão repassados a terceiros segun-
do seu consentimento ou em casos judiciais. Nesse sentido, a lei regula o
monitoramento, filtro, análise e fiscalização de conteúdo para garantir o
direito à privacidade (MARCO CIVIL DA INTERNET, c2020, p. 9)

O usuário teve reforçada a garantia de que, aquilo que ele fizer na internet,
será mantido de forma sigilosa dentro das empresas. Marcacini (2016) diz que exis-
tem regras concretas que têm o propósito de preservar a privacidade, que também
ajudam a dar um caminho para o mercado de produtos e serviços, pois ajudam a
orientar a atuação das empresas, sobre o que elas devem fazer ou não fazer.

É nesse sentido que se compreende a privacidade como o direito de ser


deixado só, estar a salvo de interferências alheias, do segredo ou sigilo
que são direitos calibrados pela dicotomia das esferas pública e priva-
da. A pessoa tem o direito de retrair aspectos de sua vida do domínio
público (BIONI, 2019, p. 125).

91
UNIDADE 2 — CONTRATOS ELETRÔNICOS

Como o artigo 11º estabeleceu, toda empresa que presta serviço de in-
ternet e que venha a guardar o registro das conexões estabelecidas na internet,
ou pelas empresas de aplicações de internet, como o Facebook, o fato de coletar
qualquer um destes dados em território brasileiro, ficará submetida à lei em vigor
no país. Respeitando os princípios da internet que estiverem em vigência.

Art. 11. Em qualquer operação de coleta, armazenamento, guarda e tra-


tamento de registros, de dados pessoais ou de comunicações por pro-
vedores de conexão e de aplicações de internet em que pelo menos um
desses atos ocorra em território nacional, deverão ser obrigatoriamente
respeitados a legislação brasileira e os direitos à privacidade, à proteção
dos dados pessoais e ao sigilo das comunicações privadas e dos registros.
§1º O disposto no caput  aplica-se aos dados coletados em território
nacional e ao conteúdo das comunicações, desde que pelo menos um
dos terminais esteja localizado no Brasil.
§2º O disposto no caput aplica-se mesmo que as atividades sejam reali-
zadas por pessoa jurídica sediada no exterior, desde que oferte serviço
ao público brasileiro ou pelo menos uma integrante do mesmo grupo
econômico possua estabelecimento no Brasil.
§3º Os provedores de conexão e de aplicações de internet deverão
prestar, na forma da regulamentação, informações que permitam a
verificação quanto ao cumprimento da legislação brasileira referente à
coleta, à guarda, ao armazenamento ou ao tratamento de dados, bem
como quanto ao respeito à privacidade e ao sigilo de comunicações.
§ 4º [...] (BRASIL, 2014).

Junto a isso, o artigo 13, que é o artigo do Marco Civil da Internet, que fez
a proibição de que seja repassado qualquer registro de navegação pelas empresas
que prestam serviços de internet, garantindo que as empresas tenham que respei-
tar as determinações que a lei estabeleceu, mantendo um controle mais rigoroso
sobre os dados, quer seja de prestadoras de serviço, ou mesmo empresas de gran-
de porte, que trabalhem com mídias sociais, que vazem informações.

Art. 13. Na provisão de conexão à internet, cabe ao administrador de


sistema autônomo respectivo o dever de manter os registros de cone-
xão, sob sigilo, em ambiente controlado e de segurança, pelo prazo de
1 (um) ano, nos termos do regulamento.
§1º A responsabilidade pela manutenção dos registros de conexão não
poderá ser transferida a terceiros.
§2º A autoridade policial ou administrativa ou o Ministério Público
poderá requerer cautelarmente que os registros de conexão sejam
guardados por prazo superior ao previsto no caput.
§3º Na hipótese do § 2º, a autoridade requerente terá o prazo de 60 (ses-
senta) dias, contados a partir do requerimento, para ingressar com o pe-
dido de autorização judicial de acesso aos registros previstos no caput.
§4º O provedor responsável pela guarda dos registros deverá manter
sigilo em relação ao requerimento previsto no § 2º, que perderá sua
eficácia caso o pedido de autorização judicial seja indeferido ou não
tenha sido protocolado no prazo previsto no §3º.
§5º Em qualquer hipótese, a disponibilização ao requerente dos regis-
tros de que trata este artigo deverá ser precedida de autorização judi-
cial, conforme disposto na Seção IV deste Capítulo.

92
§6º Na aplicação de sanções pelo descumprimento ao disposto neste arti-
go, serão considerados a natureza e a gravidade da infração, os danos dela
resultantes, eventual vantagem auferida pelo infrator, as circunstâncias
agravantes, os antecedentes do infrator e a reincidência (BRASIL, 2014).

Desta forma, o Marco Civil da Internet, acabou gerando uma nova pers-
pectiva para a aplicação da lei no Brasil, pois agora o usuário que se sentir pre-
judicado ou tiver seu direito ferido, poderá saber o que está sendo adquirido de
informações dele, por parte das empresas que operam na internet, ou não.

5 A NEUTRALIDADE DA REDE E O MARCO CIVIL DA INTERNET

FIGURA 12 – NEUTRALIDADE DA REDE

FONTE: <https://bit.ly/3ozHM8W>. Acesso em: 4 set. 2020.

Como fala Marcacini (2016), a neutralidade da rede foi uma das regula-
mentações que a Lei nº 12.965/14 criou, sendo ela muito importante, pois a neu-
tralidade da rede é de certa forma um princípio estabelecido.

As empresas que provêm o acesso da população à rede de internet, como


comenta Marcacini (2016), não poderão diferenciar um usuário, de outro usuário
do serviço, como um utilizador que assiste mais vídeos ou baixa arquivos, e tem
um maior fluxo de dados sendo gerados e, consequentemente, acaba pesando
mais no sistema das empresas, do que o simples acesso a um site na internet.

O tráfego de dados é estruturalmente gerenciado pelos operadores da rede,


que têm o poder de filtrar, selecionar, bloquear, fiscalizar, impedir e prio-
rizar a livre circulação de dados e sinais. Os métodos de modelagem de
tráfego são, a princípio, adotados para gerir o congestionamento da rede e
conferir-lhe segurança e velocidade. No entanto, podem também ser ado-
tados, de formas obscuras, para o exercício de práticas anticompetitivas e
discriminatórias, ou para conferir tratamento preferencial a conteúdos pro-
duzidos por determinados provedores (parceiros econômicos), ou preju-
dicar sites e aplicações que oferecem serviços concorrentes, como aqueles
ofertados pelos operadores de rede, ou, ainda, bloquear, estrangular ou re-
tardar o acesso a determinado conteúdo (PEIXOTO, 2014, p. 78).

93
Assim, a lei determinou que as empresas não podem fazer a filtragem dos
dados dos usuários, para verificar a sua utilização e assim limitar os dados ou a sua
velocidade, pelo fato de estarem gerando mais tráfego na sua infraestrutura de rede.

Evitando uma discriminação, por parte das empresas com as pessoas que
usam a internet, pois ela não pode fazer esta filtragem, para apenas preservar sua
incapacidade de manter um sistema físico de infraestrutura, que possa suportar a
demanda requerida por seus clientes, visto que ela já fez um contrato para fazer
a prestação deste serviço e garantiu, que forneceria a internet.

Desta forma, não seria justo as empresas que recebem do usuário estarem li-
mitando o seu acesso pelo fato de o usuário utilizar de um serviço que ele mesmo con-
tratou, pois, conforme Peixoto, “a regulação da neutralidade de rede é desafiada pela
busca de consensos entre os principais players e contempla princípios constitucionais,
valores sociais e regras existentes no ordenamento jurídico” (PEIXOTO, 2014, p. 79).

A neutralidade da rede é necessária para que haja a liberdade do usuário


que contratou o serviço dele, para acessar o conteúdo que ele desejar, sem ter que
se preocupar por ter seus dados controlados pelas empresas que provêm seu ser-
viço de internet, por estar acessando conteúdos que para elas não são benéficos.

Art. 9º O responsável pela transmissão, comutação ou roteamento tem


o dever de tratar de forma isonômica quaisquer pacotes de dados, sem
distinção por conteúdo, origem e destino, serviço, terminal ou aplicação.
§ 1º A discriminação ou degradação do tráfego será regulamentada
nos termos das atribuições privativas do Presidente da República
previstas no inciso IV do Art. 84 da Constituição Federal, para a fiel
execução desta Lei, ouvidos o Comitê Gestor da Internet e a Agência
Nacional de Telecomunicações, e somente poderá decorrer de:
I - requisitos técnicos indispensáveis à prestação adequada dos servi-
ços e aplicações; e
II - priorização de serviços de emergência (BRASIL, 2014).

O artigo 9º da Lei nº 12.965/14 trata desta questão, prevendo em seu pará-


grafo 1º algumas hipóteses em que a degradação do tráfego de dados do usuário,
poderia ser restrito, desde que estas restrições impostas, venham a obedecer ao que
está previsto nesta lei, garantindo, assim, o acesso livre à internet, para que as pessoas
possam se utilizar dela sem receios. Assim mantém a rede competitiva para o desen-
volvimento de novos negócios, e garante a liberdade de escolha entre os usuários.

A neutralidade da rede está interligada com direitos fundamentais à


igualdade, à privacidade e à inclusão digital, pois sem este princípio
técnico inviabiliza-se o acesso igualitário dos usuários à internet e aos
usos que as empresas de telecomunicações e provedores de aplicações
de internet fazem com as informações amealhadas, monitoradas e ana-
lisadas, as quais se apropriam para obstruir caminhos, analisar conte-
údos e impedir acessos (GONÇALVES, 2017, p. 26).

94
Todavia, a grande questão da internet nos dias de hoje é que ela surge para
as pessoas, como um meio em que elas podem se manifestar e desenvolver suas ati-
vidades, seja de empreendedorismo, vendendo produtos em lojas virtuais, ou mes-
mo criando softwares que dependam da internet para seu devido funcionamento.

Decorrente disso, o princípio da neutralidade da internet que foi garantido na


Lei nº 12.965/14 é de extrema importância, pois a internet é praticamente como uma
extensão das pessoas, e a manipulação das informações por parte das empresas que
fornecem a internet, seria uma forma de controle exercido contra as pessoas.

6 A IMPUNIDADE NA INTERNET E O MARCO CIVIL DA INTERNET

FIGURA 13 – A IMPUNIDADE NA INTERNET

FONTE: <https://bit.ly/37MecHu>. Acesso em: 4 set. 2020.

A internet era até certo ponto um lugar anárquico, onde as regras não al-
cançavam o mundo cibernético, devido à falta de uma legislação mais abrangente,
suprida pelo Marco Civil da Internet. Muitas dessas situações eram decorrentes
da grande dificuldade que é o ambiente virtual, para coibir os abusos cometidos,
seja pelos usuários, ou até mesmo pelas empresas, que estão no meio da internet.

Há uma grande dificuldade ainda, atualmente, de se conseguir localizar


as pessoas ou empresas que venham a cometer algum delito no meio virtual, pois
há diversas formas de esconder e mascarar seus atos.

Por estas questões, o ambiente da internet acabou ficando cada vez mais
hostil. Com as pessoas passando dos limites, seja plantando informações falsas ou
até mesmo hackeando e roubando informações, isso sem falar dos grandes casos de
coleta de dados, que aconteceram no mundo, com grandes empresas envolvidas.

Contudo, o caso que mais chamou a atenção no mundo, muito decorrente


da grande envergadura da coleta de dados praticada, foi da empresa Cambridge
95
Analytica, que acabava pegando dados de milhões de pessoas da empresa de
mídias sociais Facebook.

Utilizando estes dados para manipular as pessoas a empresa Cambridge


Analytica, estava em posse de dados que lhe permitiam formar perfis dos usuá-
rios, e assim direcionar o conteúdo para influenciá-los, com a empresa operando
em campanhas políticas e vendendo ideias às pessoas, pois conseguiam mandar
o conteúdo que elas acessariam e se sentiriam atraídas, pelo assunto ali contido.

Para que estas situações fossem evitadas, há uma necessidade de cada vez
mais os órgãos de fiscalização estarem preparados para este ambiente, que apesar
de não ser tão novo, ainda é desconhecido para muitos.

O legislador na Lei nº 12965/14 previu algumas responsabilidades às orga-


nizações empresariais que operam na internet, mas estas punições estão atreladas
a casos de descumprimento de alguma ordem judicial. Como exemplo, pode-se
citar a jurisprudência do Tribunal de Santa Catarina a seguir:

Apelação cível. Ação de exibição de dados relacionados a perfil falso


no facebook. Medida liminar que determinou a exclusão do perfil e o
fornecimento das informações. Sentença de procedência. Inconformis-
mo da ré. Preliminar de nulidade da sentença por falta fundamentação.
Inocorrência. Prefacial rejeitada. Mérito. Alegação de inexistência de lei
obrigando o provedor de aplicação de internet a armazenar dados rela-
tivos a id's dos dispositivos utilizados pelo usuário. Data de nascimento
e endereço com localização geográfica. Provedores de aplicação de aces-
so à rede mundial de computadores têm o dever de armazenar os dados
dos usuários. Previsão do código civil, código do consumidor e na Lei
nº 12.965/2014. Princípio da legalidade salvaguardado. Inexistência de
violação da intimidade e privacidade. Princípios constitucionais relati-
vizados em proteção a bens jurídicos igualmente protegidos pela consti-
tuição federal. Impossibilidade técnica da apelante no cumprimento da
ordem para indicar os referidos dados demonstrada. Informações rela-
tivas aos provedores de conexão de internet. Distinção entre os serviços
prestados pelos provedores de aplicação de internet. Apelada que pode
buscar os dados junto aos respectivos fornecedores. Medidas coercitivas
afastadas. Necessária inversão do ônus sucumbenciais em face do prin-
cípio da causalidade. Recurso conhecido provido.
(TJ-SC – AC: 03127345920148240038 Joinville 0312734-59.2014.8.24.0038,
Relator: Saul Steil, Data de Julgamento: 15/08/2017, Terceira Câmara
de Direito Civil) (BRASIL, 2014).

Neste caso, ocorreu uma ação proposta pela empresa Scopum Ferramentaria
e Usinagem Ltda., contra Facebook Serviços on-line do Brasil Ltda., em que foi alega-
do que havia sido criado um perfil falso na rede social, com nome semelhante ao da
autora, em que este perfil falso estava causando danos à imagem da empresa autora.

Motivado pelo acontecido, entrou com uma ação, pedindo que fosse feita
a retirada do perfil do sistema, bem como fossem fornecidos os dados da pessoa

96
que estava no cadastro da empresa Facebook, que fez a criação deste perfil falso,
bem como o número de IP, e-mail, nome, localização geográfica do criador da
página, para ser localizado e identificado.

A empresa reforneceu dados suficientes para que a autora localizasse o usu-


ário, bem como o provedor de acesso, que apresentou dados, como o nome e sobre-
nome do usuário, os horários de acesso decorrentes do computador utilizado para se
conectar. Todavia, a empresa autora queria dados como o endereço, com a localização
geográfica, junto com a data de nascimento, para ser fornecidos por parte do Facebook.

O voto da relatora foi no sentido de que a empresa Facebook, não estaria


obrigada a fornecer estes dados, pois o Facebook é uma organização empresarial,
que fornece serviços na internet, não fazendo a conexão do usuário com a internet.
Devido a isso, ela é incapaz de fornecer estas informações que foram requeridas.

Mesmo que o artigo 10º da Lei nº 12.965/14, fale que deva ocorrer o armazena-
mento das informações, para que se possa localizar os usuários, a empresa não pode
ser obrigada a fornecer informações que não têm em armazenamento, pois ela não é
obrigada, por ser uma provedora de aplicações de internet, deve o autor buscar as in-
formações que lhe faltem, com as empresas que são provedores de acesso à internet.

Como visto, a responsabilidade das empresas apenas ocorreria se ela se


negasse a fornecer os dados depois de requeridos por ordem judicial, mas neste
caso a Lei nº 12.965/14, em seu artigo 10º ajudou-a, pois ficou claro que esta não
tinha responsabilidade em armazenar dados que não lhe eram necessários para o
funcionamento de sua aplicação.

Este tipo de caso se repete constantemente no Brasil, onde pessoas visam


prejudicar outras pessoas ou empresas, se utilizam da internet, pensando ser um
lugar de impunidade, onde se pode fazer tudo sem sofrer penalidade alguma.

Pensando nestas situações e pelos grandes casos de coletas de dados que


ocorreram no mundo, o legislador brasileiro buscou fazer uma nova lei, em que
o seu alcance e as punições seriam mais rigorosas para as empresas. Entretan-
to, também aumentariam a segurança na internet, complementando a Lei nº
12.965/14, mais conhecida pelo público como o Marco Civil da Internet.

Esta nova lei está baseada na mais recente e mais abrangente lei, no que
se refere ao assunto da internet, que é a Lei Geral de Proteção de Dados da Eu-
ropa, em que ela regulará toda a internet dos países da União Europeia. Sendo
esta nova lei nacional a Lei Geral de Proteção de Dados do Brasil, de nº 13.709/18,
elevando, assim, o país a um nível de legislação das mais avançadas nesta área.

97
LEITURA COMPLEMENTAR

MARCO CIVIL DA INTERNET E RESPONSABILIDADE CIVIL NO AM-


BIENTE DIGITAL

Vivemos, atualmente, na era da informação. Nesse viés, são mais de 7,5


bilhões de habitantes espalhados pelo globo terrestre. E 4 bilhões deles são usu-
ários de internet, sendo que mais de 3 bilhões são adeptos às redes sociais. No
Brasil, a proporção é ainda maior. Dos 210 milhões de habitantes, 139 milhões são
usuários da internet. Atualmente, o país figura no 3º lugar no ranking dos países
que passam mais tempo na internet, com uma média de 9 horas e 14 minutos. Isto
é, assim, motivo suficiente para haver responsabilidade civil no direito digital,
sobretudo após o advento do Marco Civil da Internet.

O modo pelo qual o brasileiro se comunica, desse modo, mudou. Se antes


assistíamos às notícias da televisão, inertes, hoje somos nós, usuários das redes
sociais, que as produzimos. Por meio disso, então, geramos um novo modo de ver
o mundo. Cria-se, dessa forma, um bombardeio de informações.

A internet é, portanto, um espaço livre, aberto e democrático de manifes-


tação de pensamentos, opiniões, ideias e informações. No entanto, em virtude
desse bombardeio, muitos direitos acabam por colidir.

O que é mais importante, então: garantir a alguém seu direito à liberdade de


expressão ou que jamais a honra de alguém seja atingida? Como garantir, dessa manei-
ra, que ninguém seja vítima de hate speech ou de fake news no ambiente da internet?

Justamente porque havia esse turbilhão de dificuldades que o legislador


criou a Lei nº 12.965/14, mais conhecida como Marco Civil da Internet. Embora
limitado, tem a finalidade de garantir os direitos fundamentais no ambiente vir-
tual e a responsabilidade civil.

Marco civil da Internet – foi disciplinada, no Marco Civil da Internet, em


seus artigos 3º, 7º e 10º:

• a garantia da liberdade de expressão;


• proteção da privacidade;
• inviolabilidade da intimidade e da vida privada, além do sigilo das informações.

Veja-se, então, a redação dos artigos:

Art. 3º A disciplina do uso da internet no Brasil tem os seguintes princípios:

98
• garantia da liberdade de expressão, comunicação e manifestação de pensa-
mento, nos termos da Constituição Federal;
• proteção da privacidade;

Art. 7º O acesso à internet é essencial ao exercício da cidadania, e ao usu-


ário são assegurados os seguintes direitos:

• inviolabilidade da intimidade e da vida privada, sua proteção e indenização


pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
• inviolabilidade e sigilo do fluxo de suas comunicações pela internet, salvo por
ordem judicial, na forma da lei;
• inviolabilidade e sigilo de suas comunicações privadas armazenadas, salvo
por ordem judicial;

Art. 10º A guarda e a disponibilização dos registros de conexão e de acesso


a aplicações de internet de que trata esta Lei, bem como de dados pessoais e do con-
teúdo de comunicações privadas, devem atender à preservação da intimidade, da
vida privada, da honra e da imagem das partes direta ou indiretamente envolvidas.

É perceptível, nos dispositivos do Marco Civil da Internet, que o legisla-


dor cuidou em garantir ao usuário da internet os mesmos direitos já assegurados
na Constituição Federal. Dessa forma, é impensável dizer que a internet é uma
terra sem lei, já que existe a responsabilidade civil. O “de acordo” em um website
diante de uma oferta, pode implicar na formação de um contrato. A alteração de
“status” do relacionamento, por exemplo, pode valer como um contrato de união
estável, ou seja, tudo o que acontece nela, é passível de ação de indenização, con-
forme ensinamentos de Cristiano Colombo e Eugênio Neto.

Responsabilidade civil dos provedores de Internet

Nesse contexto, contudo, é necessário delimitar o conceito trazido pelo


Marco Civil da Internet sobre provedor. Isso porque a norma 004/95, Portaria do
Ministério das Comunicações nº 148/95 estabelece a existência de dois tipos de
serviço: o de conexão à internet e o de informações.

Seguindo a mesma linha, então, o Marco Civil destaca que o serviço de


conexão à internet (ou provedor de acesso / provedor de conexão) é a entidade
que proporciona a conexão dos computadores que usam seus serviços à Internet.

Na referida lei, nota-se que houve amparo legislativo aos provedores de


conexão de internet, em prol da liberdade de expressão e contrário à censura
prévia. Desse modo, o provedor de internet não terá responsabilidade civil por
danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros conforme o Art. 18 do MCI.

99
Responsabilidade civil dos provedores de aplicação

Sobre os provedores de aplicação (conteúdo), o Art. 19 declara que, salvo


disposição legal em contrário, estes somente serão responsabilizados por danos
decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após ordem judicial específica,
não tomarem as providências para, no âmbito do seu serviço e dentro do prazo
assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado como infringente.

No entanto, em casos de divulgação de material contendo nudez ou cenas


de sexo, a ordem judicial é dispensável. Basta que o provedor de conteúdo seja
notificado extrajudicialmente para que, então, sua responsabilidade subsidiária
passe a valer. É o que diz, então, o Art. 21:

Art. 21. O provedor de aplicações de internet que disponibilize conteú-


do gerado por terceiros será responsabilizado subsidiariamente pela violação da
intimidade decorrente da divulgação, sem autorização de seus participantes, de
imagens, de vídeos ou de outros materiais contendo cenas de nudez ou de atos
sexuais de caráter privado quando, após o recebimento de notificação pelo par-
ticipante ou seu representante legal, deixar de promover, de forma diligente, no
âmbito e nos limites técnicos do seu serviço, a indisponibilização desse conteúdo.

Após anos de debate, o Marco Civil da Internet veio, então, para colocar fim
às discussões quanto à responsabilidade do provedor. Hoje, é sabido que a respon-
sabilidade civil subjetiva é a corrente amplamente aceita. Subdivide-se, desse modo,
entre aqueles que defendem a responsabilidade civil subjetiva decorrente da inércia
após ciência do conteúdo ilegal. Ainda assim, há aqueles que defendem a responsa-
bilização somente em caso de descumprimento de ordem judicial específica.

Jurisprudência sobre o Marco Civil da Internet e a responsabilidade civil –


esse é, enfim, o entendimento do STJ no que diz respeito à responsabilidade civil
dos provedores:

• Recurso especial.
• Obrigação de fazer e reparação civil.
• Danos morais e materiais.
• Provedor de serviços de internet.
• Rede social “orkut”.
• Responsabilidade subjetiva.
• Controle editorial.
• Inexistência.
• Apreciação e notificação judicial.
• Necessidade. Art. 19, § 1º, da Lei nº 12.965/2014 (marco civil da internet).
• Indicação da url.
• Monitoramento da rede.
• Censura prévia.

100
• Impossibilidade.
• Ressarcimento dos honorários contratuais.
• Não cabimento.

1. Cuida-se de ação de obrigação de fazer cumulada com indenização


por danos morais e materiais, decorrentes de disponibilização, em
rede social, de material considerado ofensivo à honra do autor.
2. A responsabilidade dos provedores de conteúdo de internet em ge-
ral depende da existência ou não do controle editorial do material
disponibilizado na rede. Não havendo esse controle, a responsabili-
zação somente é devida se, após notificação judicial para a retirada
do material, mantivera-se inerte. Se houver o controle, o provedor
de conteúdo torna-se responsável pelo material publicado indepen-
dentemente de notificação. […]
4. A jurisprudência do STJ, em harmonia com o Art. 19, § 1º, da Lei
nº 12.965/2014 (Marco Civil da Internet), entende necessária a no-
tificação judicial ao provedor de conteúdo ou de hospedagem para
retirada de material apontado como infringente, com a indicação
clara e específica da URL – Universal Resource Locator.
5. Não se pode impor ao provedor de internet que monitore o conte-
údo produzido pelos usuários da rede, de modo a impedir, ou cen-
surar previamente, a divulgação de futuras manifestações ofensivas
contra determinado indivíduo.
(STJ, 3ª Turma, REsp 1568935 RJ 2015/0101137-0, Rel. Min. Ricardo
Villas Bôas Cuevas, julgado em 05/04/2016, publicado em 13/04/2016)

Por fim, é inegável que o ambiente virtual é coberto de proteção jurídica, e o pro-
vedor de conteúdo poderá ser responsabilizado civilmente por eventual direito violado.

FONTE: <https://bit.ly/2TxnBdB>. Acesso em: 20 ago. 2020.

101
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• O Marco Civil da Internet, Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014, estabelece


princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil.

• O Marco Civil da Internet foi a legislação criada com o objetivo de criar um


ambiente de maior segurança com relação à internet no Brasil.

• A privacidade é um direito constitucional garantido e de relevante papel na


vida das pessoas, e deve ser respeitado no meio digital.

• Na Lei nº 12.965/14, encontram-se, no seu artigo 7º, informações com relação


à privacidade na internet.

• O artigo 10º estabelece que a empresa que fizer a guarda das informações, só
poderá fazer a liberação de acesso, apenas em caso de uma autorização judicial.

• A Lei nº 12.965/14 criou a neutralidade da rede.

• As empresas não podem fazer a filtragem dos dados dos usuários, para verifi-
car a sua utilização e assim limitar os dados ou a sua velocidade, pelo fato de
gerarem mais tráfego na sua infraestrutura de rede.

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AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

102
AUTOATIVIDADE

1 Era muito comum pensarmos que a internet não tinha qualquer regulamen-
tação e de que crimes eram cometidos sem qualquer tipo de punição ou
direito não respeitado. No marco civil são assegurados alguns direitos re-
lacionados ao acesso à internet. Com base no exposto, analise as sentenças
a seguir e classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Inviolabilidade da intimidade e da vida privada, sua proteção e indeni-


zação pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.
( ) Fornecimento a terceiros de seus dados pessoais, inclusive registros de
conexão.
( ) Suspensão da conexão à internet.
( ) Inviolabilidade e sigilo de suas comunicações privadas armazenadas,
salvo por ordem judicial.
( ) Exclusão definitiva dos dados pessoais que tiver fornecido à determina-
da aplicação de internet.
( ) Não aplicação das normas de proteção e defesa do consumidor nas rela-
ções de consumo realizadas na internet.
( ) Publicidade e clareza de eventuais políticas de uso dos provedores de
conexão à internet e de aplicações de internet

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) F – F – F – V – V – F – V.
b) ( ) F – F – V – V – F – F – F.
c) ( ) V – V – F – F – V – F – F.
d) ( ) F – F – F – V – F – V – V.

2 No mundo da tecnologia, a segurança da informação dos dados são neces-


sárias e medidas devem ser criadas para serem protegidos os direitos das
pessoas, pois internet não pode ser considerada terra sem lei. A respeito da
informação e da segurança de dados pessoais, analise aas assertivas e assi-
nale a alternativa quanto a proteção e direito dos usuários da internet:

a) ( ) Pode-se divulgar livremente os dados pessoais do cliente no site.


b) ( ) O direito à privacidade e aos dados devem ser respeitados pelo prove-
dor de internet.
c) ( ) O sigilo não tem validade alguma no mundo cibernético.
d) ( ) Os aplicativos podem vender livremente os dados pessoais de seus clientes.

3 O Marco Civil na Internet, trazido pela Lei 12.965/14, veio para regulamen-
tar e trazer regras para o mundo cibernético, resguardando direitos e pro-
tegendo usuários da internet. No que tange aos princípios protegidos pelo
Marco Civil da Internet, analise as assertivas e assinale a alternativa que
contem o princípio protegido pelo Marco Civil:
103
UNIDADE 2 — CONTRATOS ELETRÔNICOS

a) ( ) Não proteção da privacidade


b) ( ) Não preservação e garantia da neutralidade de rede.
c) ( ) Preservação da natureza participativa da rede.
d) ( ) Não proteção dos dados.

4 A Lei nº 12.965/2014, conhecida como Marco Civil da Internet, é a lei que


regula o uso da Internet no Brasil por meio da previsão de princípios, ga-
rantias, direitos e deveres para quem usa a rede, bem como da determina-
ção de diretrizes para a atuação do Estado. O Referido Marco possui alguns
objetivos e promoções de direitos. Discorra quais seriam esses objetivos.

5 A Lei nº 12965, de 23 de abril de 2014, conhecida como Marco Civil da In-


ternet, estabelece princípios e garantias, direitos e deveres para o uso da
internet no Brasil. No Capítulo II, trata dos direitos e garantias do usuário.
Em seu art. 7º define que o acesso à internet é essencial ao exercício da ci-
dadania, e ao usuário são assegurados 13 direitos. Entre esses direitos está
aquele que determina que as informações devem ser claras e completas so-
bre coleta, uso, armazenamento, tratamento e proteção de seus dados pes-
soais, os quais somente poderão ser utilizados para quais finalidades?

104


REFERÊNCIAS
BIONI, B. R. Proteção de dados pessoais: a função e os limites do consentimento.
Rio de Janeiro: Forense, 2019.

BITTAR, C. A. Direitos do consumidor: Código de Defesa do Consumidor. Rio


de Janeiro: Forense Universitária, 2013.

BRASIL. Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014. Estabelece princípios, garantias,


direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil. 2014. Disponível em: https://
bit.ly/3mzvFXV. Acesso em: 4 set. 2020.

BRASIL. Decreto nº 7.962, de 15 de março de 2013. Regulamenta a Lei nº 8.078, de


11 de setembro de 1990, para dispor sobre a contratação no comércio eletrônico.
2013. Disponível em: https://bit.ly/2TLb7zn. Acesso em: 21 set. 2020.

BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. 2002.


Disponível em: https://bit.ly/3oEhpz0. Acesso em: 4 set. 2020.

BRASIL. Medida provisória nº 2.200-2, de 24 de agosto de 2001. Institui a Infra-


estrutura de Chaves Públicas Brasileira – ICP-Brasil, transforma o Instituto Na-
cional de Tecnologia da Informação em autarquia, e dá outras providências. 2001.
Disponível em: https://bit.ly/3e5ajyi. Acesso em: 21 set. 2020.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível


em: https://bit.ly/35FRvC9. Acesso em: 16 jul. 2020.

CGI.BR. O CGI.br e o Marco Civil da Internet. c2020. Disponível em: https://bit.


ly/2Ja52Kt. Acesso em: 4 set. 2020.

DINIZ, M. H. Tratado teórico e prático dos contratos e curso de direito civil


brasileiro. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

GONÇALVES, C. R. Direito civil brasileiro – Volume III: contratos e atos unila-


terais. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

GONÇALVES, V. H. P. Marco civil da internet comentado. São Paulo: Atlas, 2017.

LEAL, S. do R. C. S. Contratos eletrônicos: validade jurídica dos contratos via


internet. São Paulo: Atlas, 2007.

LEONARDI, M. Tutela e privacidade na internet. São Paulo: Saraiva, 2011.

MARCACINI, A. T. R. Aspectos fundamentais do marco civil da internet. São


Paulo: Edição do Autor, 2016.

105
UNIDADE 2 — CONTRATOS ELETRÔNICOS

MARCO CIVIL DA INTERNET. Perspectivas gerais e apontamentos críti-


cos. c2020. Disponível em: https://bit.ly/31OYo2O. Acesso em: 4 set. 2020.

MENDES, G. F. et al. Curso de direito constitucional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.

NOVAIS, E. C. de M. Serviços públicos e relação de consumo: aplicabilidade do


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NUNES, R. A boa-fé objetiva como elemento de harmonização das relações jurídicas
de consumo. 2015. Disponível em: https://bit.ly/3mwLjD8. Acesso em: 11 mar. 2020.

PEIXOTO, A. C. F. Regulação da internet: os desafios do Estado desenvolvimen-


tista para a construção de um ambiente competitivo, inovador e democrático no
espaço digital. 2014. 194 p. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Direito Uni-
versidade de São Paulo, São Paulo.

106
UNIDADE 3 —

A RESPONSABILIDADE E O DIREITO
DIGITAL: QUESTÕES JURÍDICAS NO
AMBIENTE ELETRÔNICO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender os direitos autorais e a produção de conteúdos rea-


lizadas por meio da internet;

• analisar o e-mail como instrumento de trabalho na era da internet


e a possibilidade de monitoramento remoto pela empresa;

• conhecer e verificar o teletrabalho como ferramenta de trabalhos


nos dias atuais;

• conhecer os crimes cibernéticos.

107
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – OS DIREITOS AUTORAIS E A QUESTÃO


DOS CONTEÚDOS DA INTERNET

TÓPICO 2 – O E-MAIL COMO INSTRUMENTO


DE COMUNICAÇÃO E FERRAMENTA
DE TRABALHO E A POSSIBILIDADE
DE MONITORAMENTO PELA EMPRESA

TÓPICO 3 – O TELETRABALHO COMO FERRAMENTA


DE TRABALHO

TÓPICO 4 – CRIMES CIBERNÉTICOS

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

108
TÓPICO 1 —
UNIDADE 3

OS DIREITOS AUTORAIS E A QUESTÃO DOS


CONTEÚDOS DA INTERNET

1 INTRODUÇÃO

Em face das evoluções tecnológicas e humanas, ao observar a história em


seu contexto geral, percebe-se as transformações que impactaram as relações so-
ciais e, também, as relações jurídicas, tendo em vista que ambas se interligam
para sua sobrevivência, a fim de proteger de maneira adequada acerca das cria-
ções passíveis de acolhimento em face dos direitos autorais.

Como quase todo e qualquer ponto de vista jurídico, torna-se difícil precisar
a data exata do surgimento dos direitos autorais, tendo em vista ser resultado de mo-
vimentos variados, em face de todo contexto histórico; entretanto, por meio de uma
análise temporal, é possível delinear o progresso ao longo dos séculos, quando trata-
mos dos direitos do autor, desde quando nem se cogitava proteger o direito de cópia.

No entanto, ao buscar na história, é possível encontrar fragmentos em


tempo remotos. Vamos descobrir?

2 BREVE HISTÓRICO DA LEI DE DIREITOS AUTORAIS

FIGURA 1 – DIREITOS AUTORAIS

FONTE: <https://bit.ly/3kBXNbo>. Acesso em: 8 set. 2020.

Na Idade Antiga, do período das aparições da escrita até a queda do Im-


pério Romano do Ocidente, de 4.000 a.C. até 476 d.C., ocorreram crescentes evo-
luções quanto ao intelecto do homem. Naquela época, houve grande desenvolvi-
mento quanto à linguagem escrita, o que, consequentemente, levou às primeiras
109
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE E O DIREITO DIGITAL: QUESTÕES JURÍDICAS NO AMBIENTE ELETRÔNICO

aparições das obras bibliográficas, causando uma grande preocupação quanto


à proteção de suas autorias. Apesar da abundância das produções, à época, na
Grécia, ainda predominava a cultura oral e, em Roma, a reprodução de algumas
obras se dava por trabalhos manuais (MANSO, 1987).

As práticas de plágio ainda não eram punidas, mesmo com as reprodu-


ções manuais em face das demais sociedades, o que, para os Gregos, era total-
mente o contrário. Segundo Manso (1987, p. 9) o que se observava era a existência
de uma espécie de sanção moral, “que impunha o repúdio público ao contrafator
e sua desonra e desqualificação nos meios intelectuais”.

Na Idade Média, em decorrência do contexto social, houve influência sig-


nificativa da Igreja Católica, portanto, é difícil encontrar qualquer forma de de-
monstração de conhecimento intelectual publicado frente às produções artísticas
e científicas, bem como ao surgimento das primeiras universidades, não existindo
qualquer avanço quanto ao direito autoral (MANSO, 1987).

Nesta época, o Renascimento fora um fator primordial para conduzir


novas produções intelectuais, tendo em vista grandes movimentações nas rotas
comerciais, que permitiram a evolução das produções artísticas, culturais e tec-
nológicas, o que, consequentemente, levou ao crescimento das cidades europeias.
E, nesse contexto, houve a criação da imprensa, impulsionando o mercado da
escrita em Mainz, na Alemanha (MANSO, 1987).

A partir da evolução da escrita, o estabelecimento de uma jurisdição que


tutelasse o direito de cópia tomou destaque na França e na Inglaterra na época re-
nascentista (MANSO, 1987). Contudo, delimitaremos nossas análises à lei criada
em solo inglês, também conhecida como Copyright.

Este termo surgiu para designar a concessão, pela Coroa inglesa, do “monopó-
lio de todo o material impresso no reino” (VICENTINO, 2014, p. 286), o que se deu em
decorrência da regra de que todos os escritos deveriam ser mantidos sob a cesura prévia
de indivíduos a serviço da monarquia, a fim de omitir provocações políticas e religiosas.

Com a Idade Contemporânea, caracterizada pela consolidação da burgue-


sia, pela industrialização e o conflito entre Nações, que geraram a Primeira Guer-
ra Mundial, em 1914, percebe-se o desenvolvimento de uma disciplina chamada
de direitos autorais levando os Estados Unidos, nos anos 1980, a promulgarem
sua lei (VICENTINO, 2014).

Discutia-se sobre direitos autorais muito antes de haver uma norma po-
sitivada, ou até mesmo, discussões doutrinárias. E, a partir do século XX, a reali-
dade vislumbrada frente ao que tanto se discutia começou a sofrer influência dos
avanços tecnológicos (VICENTINO, 2014).

Diante da enorme demanda e do crescimento da indústria fonográfica,


o controle foi sendo exigindo, de forma mais rígida, tendo em vista a grande

110
TÓPICO 1 — OS DIREITOS AUTORAIS E A QUESTÃO DOS CONTEÚDOS DA INTERNET

comercialização. Isto deu ensejo à formação dos sindicatos, confederações e mo-


nopólios. De lá para cá, o mundo se transformou de maneira ampla e geral em
decorrência das grandes evoluções visualizadas, dentre elas grandes guerras, a
evolução do transporte, telefonia, tecnologia e comunicações, fazendo com que,
assim, a população, mesmo que dividida entre territórios, fosse capaz de se co-
municar com facilidade (VICENTINO, 2014). É nesse panorama que os direitos
autorais enfrentam suas objeções: comunicar-se com facilidade.

3 O CONCEITO JURÍDICO DE DIREITOS AUTORAIS

É preciso compreender os conceitos de propriedade – a fim de elencar os


direitos autorais ao conceito de propriedade intelectual.

FIGURA 2 – DIREITOS AUTORAIS LEGAIS

FONTE: <https://bit.ly/3pzb9Jb>. Acesso em: 8 set. 2020.

O dicionário Houaiss (2007, p. 254 ) tem por definição que a propriedade:


“É a coisa possuída por exclusividade; presença ou direito legal de possuir algo;
imóvel pertencente a alguém; direito de usar, gozar e dispor de um bem, e de rea-
vê-lo do poder de quem ilegalmente o possua”. E, para Pontes de Miranda (2001),
a propriedade possui como qualificação o fato de ser o direito real ‘máximo’, ou
seja, o modelo de todos os outros direitos reais.

Com o presente conceito de propriedade, nos cabe abordar o conceito de


propriedade intelectual. A propriedade intelectual traz para si o diferente con-
ceito de propriedade, não sendo como os demais, tendo em vista tratar-se de um
conceito mais amplo, servindo para abarcar uma série de bens intangíveis que,
também, apresentam algumas peculiaridades (BRANCO JÚNIOR, 2011).

De forma inevitável, não existe mais a possibilidade de existirmos sem


os bens criados intelectualmente (BRANCO JÚNIOR, 2007). Assim, as criações
que se enquadram em arte ou técnica serão consideradas como bens intelectuais,
usufruindo das normas de propriedade intelectual.

A Lei de Direitos Autorais brasileira – Lei nº 9.610/98, visa proteger a obra in-
telectual – não o seu suporte – e os negócios jurídicos a eles relacionados. O autor, que

111
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE E O DIREITO DIGITAL: QUESTÕES JURÍDICAS NO AMBIENTE ELETRÔNICO

gozará dos direitos abarcados pela lei, sempre será pessoa física; no entanto, a prote-
ção conferida a ele será aplicada às pessoas jurídicas, conforme casos previstos em lei.

À vista disso, o direito autoral abrange os direitos do autor, os direitos cone-


xos e os programas de computador (software). Quando falamos dos direitos do autor,
versamos sobre as obras intelectuais protegidas, como textos de forma geral, conforme
apontado no Art. 7º da Lei de Direitos Autorais (nº 9.610/1998). Já os direitos conexos
dão proteção aos artistas, intérpretes e executores, os produtores de fonogramas e os
organismos de radiodifusão, conforme apontado no Art. 89 da mesma lei. Entretanto,
os programas de computador possuem legislação específica como proteção, sendo a
Lei de Direitos Autorais somente um parâmetro legal, de forma geral, naquilo que não
for conflitante quanto à regulamentação trazida pela Lei nº 9.609/98.

NOTA

Lei de direitos autorais e outras providências = Lei nº 9.610/98.


Lei de proteção da propriedade intelectual de programa de computador, sua comercializa-
ção no País, e dá outras providências = Lei nº 9609/98.

Não obstante, é importante mencionar que, além da proteção conferida


por meio de lei ordinária, a propriedade intelectual, em seu aspecto geral, en-
contra amparo na Constituição Federal de 1988 em seu artigo 5º, nos incisos XX-
VII, XXVIII e XXIX, bem como nos tratados internacionais. Para tanto, a doutrina
aponta a divisão dos direitos autorais em dois campos: os patrimoniais e os mo-
rais. Os direitos patrimoniais compreendidos pela doutrina, que estão previstos
na lei de direitos autorais em seu artigo 29, e estão elencados pela legislação. São
exemplos: a adaptação, o arranjo musical e quaisquer outras transformações; a
reprodução parcial ou integral; a distribuição para oferta de obras ou produções
mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou qualquer outro sistema que permita
ao usuário realizar a seleção da obra ou produção para percebê-la em um tempo
e lugar previamente determinados por quem formula a demanda etc.

Isso se dá, pois, conforme entendimento legal, para se obter direito ao


uso da obra, é necessário obter autorização expressa do autor, ainda que se trate
de modalidade de autorização não mencionada no texto de lei. Dessa forma, uma
simples cópia de uma página de um livro violaria os direitos protegidos pela lei.

No entanto, a Lei de Direitos Autorais, em seu Art. 46, visa delimitar esta
visão, chamando-a de “limitação aos direitos autorais”, não constituindo ofensa
aos direitos do autor a reprodução, em um só exemplar, de pequenos trechos,
para o uso privado do copista, desde que feita por este sem intuito de lucro.

112
TÓPICO 1 — OS DIREITOS AUTORAIS E A QUESTÃO DOS CONTEÚDOS DA INTERNET

Nesse contexto, entende-se que o direito autoral e a propriedade indus-


trial resultam de um direito imaterial oriundo de trabalho intelectual como o de
o autor utilizar suas obras literárias, deixando claro que a propriedade intelectual
protege fielmente as criações do ser humano em todas as suas formas, principal-
mente, quando se trata dos direitos autorais (DINIZ, 2005).

Importante ressaltar que, a lei dos direitos autorais permite que os autores
cedam ou transfiram seus direitos autorais:

Art. 49. Os direitos de autor poderão ser total ou parcialmente transfe-


ridos a terceiros, por ele ou por seus sucessores, a título universal ou
singular, pessoalmente ou por meio de representantes com poderes
especiais, por meio de licenciamento, concessão, cessão ou por outros
meios admitidos em Direito, obedecidas as seguintes limitações:
I - a transmissão total compreende todos os direitos de autor, salvo
os de natureza moral e os expressamente excluídos por lei;
II - somente se admitirá transmissão total e definitiva dos direitos me-
diante estipulação contratual escrita;
III - na hipótese de não haver estipulação contratual escrita, o prazo
máximo será de cinco anos;
IV - a cessão será válida unicamente para o país em que se firmou o
contrato, salvo estipulação em contrário;
V - a cessão só se operará para modalidades de utilização já existentes
à data do contrato;
VI - não havendo especificações quanto à modalidade de utilização,
o contrato será interpretado restritivamente, entendendo-se como
limitada apenas a uma que seja aquela indispensável ao cumpri-
mento da finalidade do contrato (BRASIL, 1998a).

Ao dispor sobre esta temática, os legisladores conferiram a titularidade


dos direitos autorais para os próprios prestadores de serviços, mesmo quando
tenham sido contratados e pagos para executar tal criação, quando se tratar de
direitos autorais e conexos decorrentes da prestação de serviços profissionais.

FIGURA 3 – DIREITOS AUTORAIS

FONTE: <https://bit.ly/3kyQVvj>. Acesso em: 11 set. 2020.

113
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE E O DIREITO DIGITAL: QUESTÕES JURÍDICAS NO AMBIENTE ELETRÔNICO

DICAS

Fique por dentro e acesse a lei de Direitos Autorais – Lei nº 9610/98.


FONTE: <https://bit.ly/3f5zbH1>. Acesso em: 9 set. 2020.

4 A QUESTÃO DO CONTEÚDO NA INTERNET

FIGURA 4 – CONTEÚDOS NA INTERNET

FONTE: <https://bit.ly/2H763T7>. Acesso em: 8 set. 2020.

Uma das consequências mais claras da informatização é a possibilidade


de registro de praticamente todos atos realizados por meios informatizados.

Podemos citar, como exemplo, o perfil de uma pessoa, em que descobri-


mos do que ela gosta, o que compra, quais suas necessidades, hábitos e, em al-
guns casos, até mesmo sua localização etc., os quais valem tanto para o mercado
que o consumidor, nesse contexto, não é mais visto como somente um destinatá-
rio de informações, mas como a própria fonte delas, determinando, inclusive, a
forma como ele será abordado e tratado futuramente.

Facebook, Twitter, Instagram, LinkedIn, WhatsApp e inúmeros outros espaços


virtuais compõem hoje a principal forma de interação de milhões de pessoas ao redor
do mundo. A denominada sociedade da informação, conectou de forma totalmente
inovadora os indivíduos, transformando os paradigmas da comunicação pelo simples
fato de torná-la mais direta, ágil e ininterrupta do que há poucos anos era possível.

As redes sociais atraem multidões não só pelo fato de serem gratuitas


para o usuário, mas por representarem o principal meio de troca de informações
em escala global da contemporaneidade.

114
TÓPICO 1 — OS DIREITOS AUTORAIS E A QUESTÃO DOS CONTEÚDOS DA INTERNET

Desta forma, torna-se fundamental a adaptação do Direito para acompa-


nhar as novas formas de relações sociais e garantir em todos os espaços a adequa-
da tutela dos direitos aos cidadãos.

O Marco Civil da Internet – Lei nº 12.965 de 2014 –, indica, no artigo 3º, que
o uso da internet no Brasil tem como garantia a liberdade de expressão, comuni-
cação e manifestação de pensamento, nos termos da Constituição Federal de 1988.

Ademais, o artigo 19 tem o intuito de assegurar a liberdade de expressão


e impedir a censura, e de que provedores de aplicação só serão responsabilizados
civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após or-
dem judicial específica, não tomarem as providências indicadas.

DICAS

Para saber mais da responsabilidade de provedores de internet, acesse o con-


teúdo a seguir:

• Responsabilidade dos provedores por conteúdo de terceiros na internet. Confira: ht-


tps://bit.ly/3lDT0az.
• Provedor não responde por conteúdo de terceiros, decide TJ-DF. Confira: https://bit.ly/3lFGVBR.

O conteúdo na era digital tornou-se objeto de negociação, como se fosse


uma espécie de produto e com a velocidade da informação e da tecnologia, a todo
momento surge uma nova página na internet.

O conteúdo pode ser para um particular, mas na maioria destina-se para


milhares de pessoas situadas e conectadas no mundo inteiro.

Importante é a distinção de conteúdo de informação, pois em alguns ca-


sos, o conteúdo pode ser entendido como uma informação à qual se dá crédito
(daí o movimento de inúmeros portais em contratar jornalistas de renome, cuja
função primeira é transformar a informação disponível em conteúdo).

A maior problemática do conteúdo é a sua questão autoral, “dado o efei-


to multiplicador que caracteriza a rede e as inúmeras possibilidades comerciais
dela, assim como os novos modelos criados dentro do contexto de uma sociedade
cada vez mais convergente” (PINHEIRO, 2013, p. 160).

O conteúdo é o que faz com que a página aumente o número de acessos e,


por conseguinte, o aumento significa consumidor que podem comprar em poten-
cial. Muitas são as vezes que nos deparamos com portais que possuem conteúdo
e comercializam produtos, ou seja, tudo em um só lugar. O conteúdo passa a ter
115
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE E O DIREITO DIGITAL: QUESTÕES JURÍDICAS NO AMBIENTE ELETRÔNICO

uma finalidade econômica tanto para quem produz a página e o conteúdo quan-
to para a marca que coloca seu produto na página. No entanto, questiona-se, até
onde vai a responsabilidade daquele que publica o conteúdo na internet?

É o caso, por exemplo, de muitos blogs de moda que resenham, falam


suas opiniões acerca de um produto no mercado e por terem muitos acessos são
procuradas pelas próprias empresas para que falem sobre seus produtos, muitas
vezes, pagando um valor a título de publicidade. No entanto, quando for este úl-
timo caso deve estar ciente quem acessa a página de que se trata de um editorial
publicitário, isto é, de que o responsável está recebendo um valor pela postagem.

Muitas vezes, ao acessar determinada página, não nos damos conta de


que estamos sendo “bombardeados” de publicidade o tempo todo. No entanto,
a quantidade de acessos exige cada vez mais conteúdo com qualidade e que tem
geralmente um público alvo específico, requerendo a atuação de advogados nes-
se campo em relação aos contratos de conteúdo.

Em linhas gerais, os contratos de conteúdo devem prever não apenas


o tipo específico de conteúdo a ser produzido ou que está sendo com-
prado, como seu valor fixo e variável de acordo com seu resultado de
impacto de acesso, sua depreciação e o tempo de vigência. Além, é
claro, do responsável editorial por ele (PINHEIRO, 2013, p. 161).

Em alguns momentos, pode-se deparar com conteúdo mentiroso ou até


mesmo calunioso, e os danos podem ser os mais variados, pois em que pese o
conteúdo às vezes ter sido retirado do ar, até que este processo de apagar ocorra,
muitas pessoas podem ter replicado o conteúdo ou até mesmo baixado em seu
computador. Torna-se imensurável os limites dos danos efetuados.

Assim, toda e qualquer empresa que produz o conteúdo na internet deve ter
especial atenção com as informações que veicula. Ao contrário de um jornal impres-
so que possui um número de tiragens e que pode ser feita elaborada uma errata na
próxima edição, a internet, pelo contrário, não permite isso. Como assim? Toda vez
que a notícia for acessada em diferentes sites que replicaram a notícia será tida como
verdadeira, por mais que se altere o conteúdo do site que deu a origem da notícia.

É imprescindível que o provedor de conteúdo deixe claro no contrato


de que não é responsável pelo conteúdo que seus clientes enviam (PINHEIRO,
2013). O que é provedor de acesso? É uma empresa prestadora de serviços de
conexão à internet, que intermediam a conexão entre usuário e internet. Ainda,
podem agregar outros serviços como contas de e-mail, páginas da web, blog etc.

Já o provedor de conteúdo é aquele que produz uma notícia em um site,


por exemplo, uma foto ou até mesmo um vídeo. Em simples comparação, caso
não faça esta cláusula específica é como se o provedor desse um cheque em bran-
co ao seu cliente (PINHEIRO, 2013). Já imaginou?

116
Já no caso de empresas com conteúdos restritos:

[...] é importante atentar para o efeito multiplicador da Internet e pre-


ver, em contrato ou outro meio juridicamente legal e eficaz, que os
limites de responsabilidade pelo que é divulgado valem apenas até
o primeiro comprador de uma informação. O conteúdo vazado, além
disso, já não será de responsabilidade da empresa, por não poder ter o
controle editorial sobre ele caso venha a ser alterado por seu receptor
antes de ser passado adiante novamente (PINHEIRO, 2013, p. 162).

Uma vez copiada, a notícia espalha-se em proporções rápidas e gigantes!

O Art. 50 da Lei nº 5.250/67, lei que regula a liberdade de manifestação do


pensamento e de informação prevê uma ação contra o autor ou responsável:

Art. 50. A empresa que explora o meio de informação ou divulgação


terá ação regressiva para haver do autor do escrito, transmissão ou
notícia, ou do responsável por sua divulgação, a indenização que pa-
gar em virtude da responsabilidade prevista nesta Lei (BRASIL, 1967).

É preciso deixar claras as informações e advertir claramente o cliente em


contrato. Além disso, é importante ainda deixar claro quem é o responsável edi-
torial tal qual nas empresas tradicionais.

De outro lado, quando se fala em veículos de comunicação por meio virtual,


a abordagem deve obedecer a princípios legais e éticos, “na esfera legal, temos a Lei
de Imprensa, Lei nº 5.250/67, que é minuciosa ao tratar da responsabilidade do jor-
nalista, regulamentando o direito de resposta, caracterizando os crimes de imprensa
e estabelecendo as penalidades e indenizações cabíveis” (PINHEIRO, 2013, p. 163).

A liberdade de imprensa deve estar limitada quando ofender direitos fun-


damentais, devendo ater-se a propagar conhecimento, cultura etc. Os jornalistas
são responsáveis pelo conteúdo que produzem, mesmo que não aja previsão da
internet na lei de imprensa, o Superior Tribunal de Justiça já decidiu que cabe apli-
cação nos delitos contra a honra que são realizados na internet (PINHEIRO, 2013).

117
5 A LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO DE PENSAMENTO NA
INTERNET

FIGURA 5 – LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO DE PENSAMENTO NA INTERNET

FONTE: <https://bit.ly/38Mc1UG>. Acesso em: 8 set. 2020.

Tanto as normas quanto as decisões do Judiciário, em geral, têm adotado


a liberdade de expressão como um dos princípios essenciais para a construção de
uma sociedade igualitária, justa e plural.

Todavia, quando essa prerrogativa de comunicação é usada em excesso,


ou melhor, em relação ao fato, se é utilizada para lesionar direito alheio, como a
personalidade e a dignidade, há a necessidade de prudência, a fim de que certa
mensagem não seja instrumento de discurso de ódio que fira a personalidade e a
honra de outra pessoa, por exemplo.

Além disso, a liberdade de expressão deve ser tratada como preferencial


ao caso em análise, devido à causa histórica de restrição à imprensa no país, por
ser um dos pressupostos para os demais direitos fundamentais e por ser um ins-
trumento que favorece o progresso nacional.

Como exemplo, pode-se citar o artigo 5º, inciso XLI, da Carta Magna de 1988, na
qual se narra que “a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberda-
des fundamentais”, e também, o inciso XLII, ao expor que “a prática do racismo constitui
crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei”.

Além disso, há a Convenção Americana de Direitos Humanos, da qual o Bra-


sil é signatário, que, em seu artigo 13, item “5”, indica-se que “a lei deve proibir toda
propaganda a favor da guerra, bem como toda apologia ao ódio nacional, racial ou re-
ligioso que constitua incitação à discriminação, à hostilidade, ao crime ou à violência”.

Com a sociedade da informação, ou seja, com avanços tecnológicos que otimi-


zam as relações interpessoais em incremento e difusão da internet, a população, de modo
geral, se viu diante de uma nova realidade, onde os usuários deixaram de ser meros
agentes recebedores de notícias, para serem criadores e propagadores de conteúdo.

Essa renovada prática trouxe inúmeros bônus para a aldeia global, mas
do mesmo modo, vários ônus, pois, sendo certo que as pessoas passaram a ter

118
maior acesso às informações, fato benéfico e diretamente ligado ao preceito fun-
damental de acesso à informação, isso, simultaneamente, fez com que nem toda
informação, gerada e acessada, fosse verídica.

Tem-se, então, a gênese das famigeradas notícias falsas (Fake News). As Fake
News são notícias fundadas em inverdades, edificadas sem base real ou verificação
de fatos. Ademais, elas têm o intuito de propagar alguma mentira, ou, então, induzir
ao erro por terem aparência de verdade, seja por uma exatidão parcial ou total, visan-
do resultado financeiro ou não (ITZENDORF NETTO; PERUYERA, 2020).

Além disso, as notícias falsas estão diretamente ligadas ao preceito da


“pós-verdade” termo considerado pela Universidade de Oxford como apalavra
do ano, em 2016. Pois, pós-verdade interliga-se a uma relativização da verdade,
uma banalização da objetividade de dados e com a supremacia do discurso emo-
tivo, sendo, assim, um componente que, por meio das Fake News, se propaga
exponencialmente em meio às pessoas nas redes sociais (D'ANCONA, 2018).

Não se trata de um aspecto da conjuntura contemporânea, por estar na


internet. Uma vez que, historicamente e, ao longo da formação da humanidade,
em vários momentos, as notícias falsas estiveram diretamente vinculadas à co-
municação da população. Pode-se citar o regime nazista, como ministro da pro-
paganda, Joseph Goebbels, que usava informações tendenciosas e levianas pe-
rante os judeus e comunistas, ou então, com a DIP (Departamento de Imprensa e
Propaganda), no Estado Novo, de Getúlio Vargas, que tinha o intuito de censurar
e fazer propaganda do regime de poder em questão (D'ANCONA, 2018).

Todavia, não bastando a criação e propagação de notícias falsas, elas são usa-
das como um instrumento de propagação de discurso de ódio. Dado que, como em
alguns casos essas notícias falsas são anônimas, as opiniões descritas no texto carre-
gam expressões que tendem a violar a honra e a imagem de determinadas pessoas
ou grupos, como ocorreu, recentemente, com a vereadora Marielle Franco, no Rio de
Janeiro, em que surgiram Fake News com referências a sua vida amorosa, a sua gra-
videz e ao seu possível envolvimento com o tráfico de drogas (BAUER, 2018).

NTE
INTERESSA

Sobre Fake News e o painel de checagem de Fake News, confira: https://bit.ly/3lCv6MQ.

Guia prático para diferenciar uma Fake News, confira: https://bit.ly/2IKfJUn.

119
Nesse aspecto, as Fake News se tornaram uma verdadeira adversidade para
a liberdade de expressão na sociedade da informação, fundamento que justifica a
necessidade de discutir esse tema, principalmente pelo fato de, bienalmente, ocor-
rerem eleições no Brasil – e o certame de 2018 já demonstrou que as Fake News são
potencializadas na esfera de comunicação dos brasileiros durante referidos pleitos.

Considerando que as notícias falsas se tornaram perenes nas relações in-


terpessoais, especialmente na atualidade, com a maximização do uso da internet,
seus efeitos têm sido inúmeros, com grande repercussão na seara jurídica.

A partir do uso da Rede Mundial de Computadores, a sociedade brasilei-


ra sujeitou-se a um novo panorama, em que há verdadeiro fomento ao gozo da
liberdade de expressão, bem como à distribuição de conhecimento.

Além disso, constata-se que, atualmente, grupos marginalizados têm a fa-


culdade de usufruir de garantias antes suprimidas devido ao preconceito e à into-
lerância, ou seja, de se autoafirmarem como tais, inclusive no campo da internet.

Todavia, em meio às redes sociais e ao fato de esses sujeitos vulneráveis defende-


rem opiniões e pontos de vista próprios, conforme suas realidades, vivências e histórias,
eles se tornam vítimas de ataques de usuários que não concordam com suas convicções,
seja por meio de ofensas caluniosas diretas ou, então, por meio de notícias falsas.

Infelizmente, perante os internautas brasileiros, a intolerância é ainda


muito presente, em particular no que toca a assuntos políticos ou, então, a grupos
determinados, como as mulheres, os deficientes físicos, as pessoas negras ou a
comunidade LGBT (MATSUURA, 2016).

E quais são as consequências jurídicas do uso das Fake News como instrumen-
to de propagação de discurso de ódio? O ódio é um sentimento, e todos os seres hu-
manos têm a liberdade de, internamente, vivenciá-lo. Todavia, em situações episódicas
nas quais esse sentimento é externalizado, sobretudo de maneira desenfreada, gera-se
repercussão em diversas áreas das relações humanas e das ciências comportamentais
(MARTINS, 2018). Pode-se citar as ofensas à dignidade existencial, racial, política e se-
xual como exemplos de efeitos reais que o discurso de ódio pode acarretar.

Nesse sentido, conforme descreve Patrícia Peck Pinheiro (2013), surge a


necessidade de usar a liberdade de expressão com “responsabilidade”, isto é, de-
ve-se interpretar a proteção trazida pelo artigo 5º da CRFB/88 a esse princípio
constitucional supramencionado à luz do que prevê, de forma direta, o Código
Civil de 2002, em seus artigos 186 e 187, nos quais se indica que, face ao fato que
gera um dano, surge a obrigação de indenizar, seja por ação ou omissão, ou, en-
tão, quando o dano é “fruto do exercício legítimo de um direito no qual o indiví-
duo que o detém ultrapassou os limites da boa-fé e dos bons costumes”.

120
A liberdade de expressão não é um princípio absoluto e ilimitado. Assim
sendo, se alguma notícia falsa causar dano à imagem ou à honra de determinada
pessoa, na esfera cível, pode-se postular indenização por danos morais.

Ademais, se certa notícia inverídica caracterizar crime de racismo, con-


forme previsto no Art. 20, § 2ª, da Lei nº 7.716/89, pode-se invocar a aplicação
da pena descrita no tipo legal, tratando-se de reclusão e multa. Por fim, na seara
penal, dependendo do caso concreto, divulgar Fake News pode configurar crime
de calúnia, difamação ou injúria (GOULART; LEMOS, 2019).

As Fake News, dessa maneira, contaminam até o próprio debate políti-


co, em que a forte polarização ideológica da comunidade tupiniquim repercute,
evidentemente, na internet. Dado que, como as redes sociais e os aplicativos de
comunicação instantânea têm a capacidade de, em uma mínima quantidade de
tempo e em alta proporção, disseminar conteúdos, as pessoas acabam apenas
compartilhando desenfreadamente notícias falsas regadas a manifestações de
ódio, sem ao menos pesquisar e/ou ponderar se determinado texto ou imagem é
uma inverdade e/ou pode ferir direito alheio (AVENDAÑO, 2018).

E
IMPORTANT

A LEI DO DIREITO AUTORAL NO “TERRITÓRIO LIVRE” DA INTERNET

Clara López Toledo Corrêa

Muitos autores não se importam de ter a sua obra difundida de forma indiscriminada, uma
vez que isso poderia ser sinal de credibilidade.

Aqueles que fazem do mundo virtual uma parte considerável de sua realidade, já pararam
para pensar se alguma vez praticaram atos contra a lei ou feriram o direito de alguém? Não
falo de cyberbullying, pirataria ou pedofilia, entre outros “ias” tenebrosos e condenáveis.
Falo sobre o ato corriqueiro de compartilhar fotos, vídeos e artigos na famigerada “time line”
que não são de autoria própria. Pois bem, esse simples ato – ao pé da letra da lei de direito
autoral – por si só é condenável a uma indenização material e moral, bem como multa e
outras importâncias devidas. Assim, o inescrupuloso infrator, que muitas vezes desconhece
o ilícito ou nem faz por mal, ou melhor, até o faz em tom de elogio ou admiração, deve
ressarcir a vítima pelos seus atos contra o patrimônio e a moral desta.

Tenho certeza de que muitos estão se perguntando. Que exagero, não? Devo me confessar
ou me entregar à polícia? Nossa, é assim mesmo? E respondo: Sim. Pela lei é exatamente
assim, já que o direito do autor (e autor é o criador da foto, vídeo ou texto) se trata de di-
reito patrimonial (direito à “coisa” em si, mesmo ela não sendo exatamente palpável, e os
frutos que ela pode render) e direito moral (nesse quesito entram aspectos inalienáveis e
que podem ser reclamados a qualquer tempo, como por exemplo, nome e imagem), muito
associado à figura da paternidade, também em um sentido mais orgânico.

Entretanto, por se tratar de um direito da personalidade, os casos de compartilhamento de


fotos, vídeos ou textos sem a autorização prévia do autor e sem remuneração a este, que

121
são levados às consequências mais sérias, variam de pessoa para pessoa ou de autor para
autor, bem como a forma como a obra foi compartilhada.

Muitos autores não se importam de ter a sua obra difundida de forma indiscriminada, uma
vez que isso poderia ser sinal de credibilidade, mas há autores que não pensam assim e não
desejam essa disseminação descontrolada.

Para evitar qualquer situação indesejável, seja a chateação de ter que apagar o conteúdo
publicado no mural ou ter que pagar uma multa, aquele que deseja compartilhar qualquer
foto, vídeo ou texto, deve verificar se há identificação de autor e ao menos mencionar o
seu nome. Se não conseguir a autorização prévia, o que seria o ideal deve-se citar a fonte
daquele conteúdo (o nome do site que foi retirado), no caso de não achar nem ao menos o
nome do criador daquela obra. Dê os devidos créditos e quando se tratar de texto utilize as
“aspas”. Tome todo o cuidado necessário. Atente-se e seja ao menos delicado e gentil, além
de utilizar daquela velha máxima – “faça com os outros o que você gostaria que os outros
fizessem com você”. Não é pelo fato de estarem na internet que não pertencem a ninguém.

FONTE: <https://bit.ly/32QXHXo>. Acesso em: 8 set. 2020.

122
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os direitos autorais estão ligados ao conceito de propriedade intelectual.

• A Lei de Direitos Autorais brasileira – Lei nº 9.610/98, visa proteger a obra intelectual.

• Além da proteção conferida por meio de lei ordinária, a propriedade intelectual,


em seu aspecto geral, encontra-se amparo na Constituição Federal de 1988, em seu
artigo 5º, nos incisos XXVII, XXVIII e XXIX, bem como nos tratados internacionais.

• Assegura-se a liberdade de expressão e impede-se a censura, e provedores


de aplicação só serão responsabilizados civilmente por danos decorrentes de
conteúdo gerado por terceiros se, após ordem judicial específica, não toma-
rem as providências indicadas.

• A liberdade de imprensa deve estar limitada quando ofender direitos funda-


mentais, devendo ater-se a propagar conhecimento, cultura etc.

• Provedor de acesso: é uma empresa prestadora de serviços de conexão à in-


ternet, que intermediam a conexão entre usuário e internet. Ainda, podem
agregar outros serviços como contas de e-mail, páginas da web, blog etc.

• Os provedores de acesso não são somente prestadoras de serviço, mas são a


ponte de conexão entre os usuários na rede, tanto na pública, o usuário co-
mum por exemplo, como na privada, nos casos de acesso restrito.

• O provedor de conteúdo é aquele que produz uma notícia em um site por


exemplo, uma foto ou até mesmo um vídeo.

• Verifica-se que nem sempre os provedores de acesso terão responsabilidade e


é preciso estar atento.

• Configura-se plágio o ato que consiste em publicar como se fossem obras pró-
prias, sejam completas ou em parte, que são de autoria de outra pessoa, por-
tanto, plágio é considerado crime.

123
AUTOATIVIDADE

1 Para ter acesso à internet é necessário conter um computador ou um smar-


tphone e, com isso, realizar a navegação na rede mundial e ter acesso a
aplicativos, redes socais, sites de busca e pesquisa, mas é preciso ter um
provedor de acesso. Diante disso, do que se trata um "provedor de acesso"?

2 Quando acessamos um site que contém fotos ou até mesmo notícias – como
o site GLOBO.COM – estamos diante a um provedor de conteúdo. Estes são
responsáveis pelo conteúdo que produzem. Com base no exposto, pergun-
ta-se: em todos os casos, os provedores de acesso terão responsabilidade?

3 As formas de interagirmos mudou e as formas de contratos e negociações


também no campo cibernético. Assim, considere a definição: “é um arquivo
eletrônico que contém dados de uma pessoa ou instituição, utilizados para
comprovar sua identidade. Este arquivo pode estar armazenado em um
computador ou em outra mídia, como um token ou smart card”. Assinale a
alternativa CORRETA quanto à definição apresentada:

a) ( ) Chave pública.
b) ( ) Cookie.
c) ( ) Alias.
d) ( ) Certificado digital.
e) ( ) Hash.

4 A liberdade de expressão não é um princípio absoluto e ilimitado. Assim sendo, se


alguma notícia falsa causar dano à imagem ou à honra de determinada pessoa, na
esfera cível, pode-se postular em juízo buscando a tutela do direito sob abrigo do
Poder Judiciário. Com base no exposto, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Não é possível a reparação civil por dano morais em caso de ofensa.


b) ( ) Dependendo da situação cabe responsabilidade civil e criminal.
c) ( ) Cabe somete a responsabilidade criminal.
d) ( ) Não cabe qualquer tipo de reparação civil.

5 A liberdade de expressão é uma garantia constitucional, mas que não é ilimita-


da, ou seja, a proteção da liberdade de expressão vai até onde não fira o direito
do outro. Acerca da liberdade de expressão, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A liberdade de manifestação de pensamento é permitida em lei.


b) ( ) É permitido o anonimato.
c) ( ) A pessoa que detém rede social pode postar o que quiser.
d) ( ) Não se é responsável por ofensa que eu proferir nas redes sociais.

124
TÓPICO 2 —
UNIDADE 3

O E-MAIL COMO INSTRUMENTO DE COMUNICAÇÃO


E FERRAMENTA DE TRABALHO E A POSSIBILIDADE DE
MONITORAMENTO PELA EMPRESA

1 INTRODUÇÃO

O e-mail se constitui em uma forma de comunicação digital que tem muitos


similares com o mundo físico como a correspondência. Tanto que a expressão correio
eletrônico faz menção à comunicação por meio da rede mundial de computadores.

O intercâmbio de mensagens e arquivos acontece por meio do correio ele-


trônico. E como funciona o e-mail corporativo e o monitoramento do empregado?
Vamos descobrir?

2 O E-MAIL COMO INSTRUMENTO DE COMUNICAÇÃO E


FERRAMENTA DE TRABALHO

FIGURA 6 – E-MAIL

FONTE: <https://bit.ly/35BEsTC>. Acesso em: 8 set. 2020.

Os e-mails podem ser de caráter pessoal, corporativo, comercial oi publi-


citário. É um meio comum de comunicação virtual para a concretude inclusive de
negócios, além da questão de comunicação pessoal e que fica registrada.

Muito se discute acerca do monitoramento do e-mail do empregado pelo


empregador, ou seja, poderia o empregado exercer o controle do e-mail corpo-
rativo do empregado? A regra geral é de que é permitido o monitoramento do
e-mail do empregado desde que seja o da empresa, isto é, do corporativo com
o domínio da empresa, por exemplo: @empresa.com.br; e de que o empregador

125
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE E O DIREITO DIGITAL: QUESTÕES JURÍDICAS NO AMBIENTE ELETRÔNICO

tenha cientificado o empregado acerca do monitoramento e/ou até mesmo tenha


explicado ao seu empregado o não uso do e-mail corporativo para fins pessoais.

É importante deixar claro ao colaborador/empregado de que o uso do


e-mail corporativo deve acontecer somente para os fins das atividades empresa-
riais, ou seja, deixar claro ao empregado de que o e-mail é exclusivo para uso em
serviço, bem como de que poderá ser monitorado.

Aplica-se o critério da ponderação de interesses, pois a intimidade do em-


pregado entra em conflito com a segurança da empresa (direito de propriedade),
pois o empregado pode utilizar o e-mail corporativo para fins ilícitos.

Como exemplo, podemos citar o uso indevido da logomarca que acompa-


nha o e-mail solicitando valores que não foram pedidos na verdade. Outro exem-
plo seria a divulgação de conteúdo de pedofilia, causando danos que podem ser
irreparáveis à empresa.

Além ciência da situação ao empregado alertando-a da utilização do


e-mail corporativo para fins particulares ou para fins diversos que do profissio-
nal, podem gerar advertências, suspensões e até demissão por justa causa, depen-
dendo da gravidade do fato, conforme prevê Art. 482 da CLT, D'ANCONA, 2018):

Art. 482. Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho


pelo empregador:
a) ato de improbidade;
b) incontinência de conduta ou mau procedimento;
c) negociação habitual por conta própria ou alheia sem permissão do
empregador, e quando constituir ato de concorrência à empresa
para a qual trabalha o empregado, ou for prejudicial ao serviço;
d) condenação criminal do empregado, passada em julgado, caso não
tenha havido suspensão da execução da pena;
e) desídia no desempenho das respectivas funções;
f) embriaguez habitual ou em serviço;
g) violação de segredo da empresa;
h) ato de indisciplina ou de insubordinação;
i) abandono de emprego;
j) ato lesivo da honra ou da boa fama praticado no serviço contra
qualquer pessoa, ou ofensas físicas, nas mesmas condições, salvo
em caso de legítima defesa, própria ou de outrem;
k) ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensas físicas praticadas
contra o empregador e superiores hierárquicos, salvo em caso de
legítima defesa, própria ou de outrem;
l) prática constante de jogos de azar.
m) perda da habilitação ou dos requisitos estabelecidos em lei para o exer-
cício da profissão, em decorrência de conduta dolosa do empregado.
Parágrafo único – Constitui igualmente justa causa para dispensa de
empregado a prática, devidamente comprovada em inquérito admi-
nistrativo, de atos atentatórios à segurança nacional (BRASIL, 1943).

A violação de segredo da empresa com relação ao e-mail corporativo pode


acontecer, por exemplo, quando o funcionário repassa informações sigilosas da

126
TÓPICO 2 — O E-MAIL COMO INSTRUMENTO DE COMUNICAÇÃO E FERRAMENTA DE TRABALHO E A POSSIBILIDADE
DE MONITORAMENTO PELA EMPRESA

empresa e ainda utilizado o e-mail corporativo. Outras situações do Art. 482 da


CLT podem se enquadrar em conjunto com a situação do e-mail corporativo.

A jurisprudência tem decidido no sentido de que o monitoramento de


e-mail eletrônico da empresa, ou seja, do corporativo e não pessoal, que é dispo-
nibilizado ao empregado para fins profissionais, não caracteriza qualquer tipo de
violação ao sigilo à correspondência (Art. 5º, XII da CF/88) justamente por não se
tratar de correspondência pessoal e sim de relação profissional.

Não há que se falar em qualquer ofensa ao direito à intimidade, e muito


menos o sigilo de correspondência, podendo sim o empregador ter o amplo e
irrestrito acesso ao conteúdo das mensagens trocadas em sua máquina, celular e
atinentes ao e-mail corporativo.

Afinal, a finalidade do e-mail empresarial é potencializar a eficiência da


empresa, uma vez que se trata de ferramenta de trabalho.

Agora, imagine um funcionário utilizando de forma indevida e até mes-


mo imprópria com mensagens com conteúdo fúteis, impróprios ou até mesmo
recebendo fotos de conteúdo pornográfico, pedófilo ou preconceituoso.

O Tribunal Superior do Trabalho expressamente reconhece a possibilida-


de do monitoramento do e-mail corporativo, vamos ao seguinte julgado:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. JUSTA


CAUSA. PROVA ILÍCITA. Nenhum dos dispositivos declinados como
violados, incluindo-se o Art. 5º, XII, da CF, disciplina a matéria ineren-
te à ilicitude da prova para que se possa reputar violado. Além disso,
a ilicitude da obtenção da prova pressupõe inobservância de norma
disciplinadora, o que não sucedeu. Sob o prisma de violabilidade do
sigilo dos e-mails, tampouco há falar em violação do Art. 5º, XII, da
CF, por se tratar de e-mail corporativo e não privado, meio de comuni-
cação disponibilizado pelo empregador apenas para uso profissional
conforme normas internas de conhecimento do empregado e com ”
expressa previsão de gravação e monitoramento do correio eletrônico,
ficando alertado que o colaborador não deve ter expectativa de priva-
cidade na sua utilização (item 6.1 – fl. 176)”, conforme notícia o acór-
dão regional. […]” – AIRR-1461-48.2010.5.10.0003, 3ª Turma, Relator
Ministro Alexandre de Souza Agra Belmonte (BRASIL, 2015).

Assim, o julgado deixa clara a ciência que tinha o empregado, o qual, de-
liberadamente extrapolou a regra imposta ocasionando a justa causa.

No entanto, tratando-se de e-mail pessoal, não pode o empregador mo-


nitorar o de uso pessoal, mas tão somente estabelecer regras restringindo o uso,
por exemplo. É importante que o empregado conheça as regras expressamente da
empresa em que colabora.

127
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE E O DIREITO DIGITAL: QUESTÕES JURÍDICAS NO AMBIENTE ELETRÔNICO

Advertido o empregado da proibição de usar indevidamente o e-mail cor-


porativo e de que este somente pode ser usado para finalidades atinentes a sua
função, a empresa pode sim checar o conteúdo de seus e-mails sem qualquer
violação legal ou constitucional.

A atividade profissional deve ter uma base ética pautada pela lealdade,
pela boa-fé e pela transparência, respeitando-se as normas da empresa em conso-
nância com o princípio da razoabilidade, em que os limites fundamentais à inti-
midade e à privacidade do empregado devem estar em equilíbrio com os direitos
da propriedade privada e à livre iniciativa asseguradas ao empregador.

DICAS

Saiba mais sobre “Uso do e-mail corporativo pelo empregado”, acessando: ht-
tps://bit.ly/35Bk0SM.

Saiba mais sobre: “O sigilo do e-mail pessoal do empregado e os limites constitucionais do


poder fiscalizatório do empregador”, acessando: https://bit.ly/32L3NIP.

E
IMPORTANT

DIREITO TRABALHO

Erica Izabel da Rocha Costa

1 INTRODUÇÃO

A questão fundamental debatida no presente artigo gira em torno do equilíbrio entre a


privacidade no ambiente de trabalho em contraponto com o direito do empregador de
controle e direção da empresa.

O desenvolvimento tecnológico, especialmente com o desenvolvimento da rede mundial


de computadores, não pode ser utilizado de modo a violar os direitos de personalidades
dos empregados, sob o pretexto de direção da atividade econômica, devendo ser repudia-
da a fiscalização abusiva, desarrazoada e arbitrária.

No entanto, é inegável que tal incremento tecnológico, introduzindo a comunicação digi-


tal, é de suma importância para o aprimoramento das atividades, tendo introduzidos mu-
danças na forma de desenvolvimento das atividades laborais e sociais no mundo todo,
sendo manifesta a sua importância.

No caso sob exame, é necessário diferenciar a disciplina dada pela doutrina e jurisprudên-
cia pátria no que tange aos e-mails pessoais e os e-mails corporativos.

128
TÓPICO 2 — O E-MAIL COMO INSTRUMENTO DE COMUNICAÇÃO E FERRAMENTA DE TRABALHO E A POSSIBILIDADE
DE MONITORAMENTO PELA EMPRESA

Nesse passo, sob o prisma do Direito do Trabalho, o avanço tecnológico provocado pela Inter-
net, notadamente da correspondência eletrônica, objeto específico do presente artigo, deve vir
acompanhada também do avanço sociais em benefícios de todos, empregados e empregadores.

2 DIREITO À PRIVACIDADE DO EMPREGADO E PODER DIRETIVO DO EMPREGADOR

De início, é importante frisar que o Direito do Trabalho surgiu em razão da necessidade de


intervenção estatal no âmbito da relação contratual específica, que é a relação de emprego,
tendo por finalidade reequilibrar o desnível do poder econômico verificado entre o obreiro
e o detentor dos poderes de produção. Por essa razão, esta seara específica do Direito se
fundamenta, na origem, no princípio protetivo.

Com o mercado globalizado e potencializado com novas tecnologias, no Direito do Tra-


balho abriu-se a discussão sobre principiologia protetiva deste ramo e o poder diretivo do
empregador diante da globalização capitalista.

Por sua vez, a Constituição Federal consagra o sigilo das comunicações telemáticas. Tendo em vista
a regra constitucional, extrai-se que a violação do sigilo de dados telemáticos deve ser vista como
uma medida extrema, porquanto restringe direitos consagrados no texto constitucional. Confira-se:

“Art. 5º
(...)
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a
imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização
pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; 
(...)
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comuni-
cações telegráficas, de dados e das comunicações te-
lefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas
hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de
investigação criminal ou instrução processual penal”.

No entanto, de acordo com a Teoria Geral dos Direitos Fundamentais nenhum direito é
absoluto, devendo ser ponderados diante do caso concreto.

Isso ocorre porque os direitos fundamentais podem entrar em conflito entre si – e, nesse
caso, não se pode estabelecer, de antemão, qual direito deve preponderar. Além disso,
nenhum direito fundamental pode ser invocado para encobrir ilícitos. Advirta-se, também,
que não é possível limitar um direito fundamental além do necessário, devendo ser respei-
tados os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.

Especificamente quanto ao sigilo das comunicações, a fim de se investigar sobre a sua


limitação, deve-se diferenciar a monitoração de e-mail de cunho particular, com o moni-
toramento do e-mail corporativo, de uso exclusivamente profissional.

Como se sabe, no atual mundo globalizado, o uso da internet se tornou uma importante
ferramenta para incrementar as atividades empresariais. Atualmente, observa-se que os
empregados são simultaneamente titulares de e-mail pessoais e coorporativos.

Tratando-se de e-mail de cunho pessoal, usado em provedor próprio, mesmo que acessa-
do no local de trabalho, é firme o entendimento de que o empregador não pode exercer o
controle do conteúdo das mensagens, uma vez que a Constituição Federal assegura a todo
cidadão o direito à privacidade e à intimidade, bem como o direito ao sigilo da correspon-
dência, o que alcança a comunicação virtual via e-mail.

129
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE E O DIREITO DIGITAL: QUESTÕES JURÍDICAS NO AMBIENTE ELETRÔNICO

Quanto a esses e-mails pessoais, não se nega o direito que o empregador tem de acessar o
seu conteúdo em situações de abuso do seu uso pelo funcionário, a respeito do qual haja
indícios razoáveis de que práticas ilícitas estejam sendo praticas no ambiente de trabalho;
como é o caso do uso de e-mail pessoais para trocar imagens de pornografia infantil ou ou-
tras fraudes cometidas, pois além de se tratar de um ato de indisciplina, também se caracteri-
za como um ilícito penal. Neste caso, não há falar em indevida violação de dados telemáticos.

O próprio núcleo da proteção do direito à intimidade no ambiente de trabalho, no que tan-


ge aos e-mails pessoais, restingue-se as informações privadas, familiares, da vida pessoal,
mas jamais pode servir para encobrir ilícitos que estejam sendo praticados.

No entanto, não se pode confundir essa possibilidade de violação de e-mail pessoal na hipótese ex-
trema de cometimento de ilícitos, com a possibilidade irrestrita de monitoração. É que a privacidade
e a intimidade foram alçadas a direitos fundamentais no texto constitucional, não se admitindo a
renúncia absoluta a esses direitos, tampouco a invasão dessas esferas reservadas da personalidade
humana, como a imposição por meio de norma contratual de condições de monitoramento que
extrapolem os limites do poder de direção, disciplina e fiscalização dos serviços prestados.

Não se trata aqui de defender que o trabalhador invoque, de forma indiscriminada seu direi-
to à intimidade ou à inviolabilidade de correspondência, muito menos que o empregador
possa acessar, de forma absoluta, o conteúdo de um instrumento de trabalho, mas sim de
se harmonizar os direitos em questão.

Nesse sentido, foi firmada a jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho:

"PROVA ILÍCITA. – E-MAIL CORPORATIVO. JUSTA CAUSA. DI-


VULGAÇÃO DE MATERIAL PORNOGRÁFICO. 1. Os sacrossantos
direitos do cidadão à privacidade e ao sigilo de correspondên-
cia, constitucionalmente assegurados, concernem à comunica-
ção estritamente pessoal, ainda que virtual (e-mail- particular).
Assim, apenas o e-mail pessoal ou particular do empregado,
socorrendo-se de provedor próprio, desfruta da proteção cons-
titucional e legal de inviolabilidade. 2. Solução diversa impõe-se
em se tratando do chamado “e-mail corporativo”, instrumento
de comunicação virtual mediante o qual o empregado lou-
va-se de terminal de computador e de provedor da empresa,
bem assim do próprio endereço eletrônico que lhe é disponi-
bilizado igualmente pela empresa. Destina-se este a que nele
trafeguem mensagens de cunho estritamente profissional. Em
princípio, é de uso corporativo, salvo consentimento do em-
pregador. Ostenta, pois, natureza jurídica equivalente à de uma
ferramenta de trabalho proporcionada pelo empregador ao
empregado para a consecução do serviço. 3. A estreita e cada
vez mais intensa vinculação que passou a existir, de uns tem-
pos a esta parte, entre Internet e/ou correspondência eletrônica
e justa causa e/ou crime exige muita parcimônia dos órgãos
jurisdicionais na qualificação da ilicitude da prova referente ao
desvio de finalidade na utilização dessa tecnologia, tomando-se
em conta, inclusive, o princípio da proporcionalidade e, pois,
os diversos valores jurídicos tutelados pela lei e pela Constitui-
ção Federal. A experiência subministrada ao magistrado pela
observação do que ordinariamente acontece revela que, nota-
damente o e-mail corporativo não raro sofre acentuado desvio
de finalidade, mediante a utilização abusiva ou ilegal, de que é
exemplo o envio de fotos pornográficas. Constitui, assim, em
última análise, expediente pelo qual o empregado pode provo-

130
TÓPICO 2 — O E-MAIL COMO INSTRUMENTO DE COMUNICAÇÃO E FERRAMENTA DE TRABALHO E A POSSIBILIDADE
DE MONITORAMENTO PELA EMPRESA

car expressivo prejuízo ao empregador. 4. Se se cuida de e-mail


corporativo, declaradamente destinado somente para assuntos
e matérias afetas ao serviço, o que está em jogo, antes de tudo,
é o exercício do direito de propriedade do empregador sobre
o computador capaz de acessar à INTERNET e sobre o próprio
provedor. Insta ter presente também a responsabilidade do em-
pregador, perante terceiros, pelos atos de seus empregados em
serviço (Código Civil, Art. 932, inc. III), bem como que está em
xeque o direito à imagem do empregador, igualmente merece-
dor de tutela constitucional. Sobretudo, imperativo considerar
que o empregado, ao receber uma caixa de e-mail de seu em-
pregador para uso corporativo, mediante ciência prévia de que
nele somente podem transitar mensagens profissionais, não
tem razoável expectativa de privacidade quanto a esta, como se
vem entendendo no Direito Comparado (EUA e Reino Unido).
5. Pode o empregador monitorar e rastrear a atividade do em-
pregado no ambiente de trabalho, em e-mail, isto é, checar suas
mensagens, tanto do ponto de vista formal quanto sob o ângu-
lo material ou de conteúdo. Não é ilícita a prova assim obtida,
visando a demonstrar justa causa para a despedida decorrente
do envio de material pornográfico a colega de trabalho. Inexis-
tência de afronta ao Art. 5º, incisos X, XII e LVI, da Constituição
Federal. 6. Agravo de Instrumento do Reclamante a que se nega
provimento (Processo: RR - 613/2000-013-10-00.7 Data de Jul-
gamento: 18/05/2005, Relator Ministro: João Oreste Dalazen, 1ª
Turma, Data de Publicação: DJ 10/06/2005).

Por outro lado, no que diz respeito ao e-mail corporativo, partindo-se do pressuposto de
que esta modalidade de e-mail se caracteriza como uma ferramenta de trabalho, disponi-
bilizada com a finalidade de troca de mensagens de cunho profissional e tendo em vista o
risco de violação à imagem da empresa pelo seu uso inadequado, majoritariamente enten-
de-se que é possível a sua fiscalização.

Não se trata de defender a irresponsabilidade do empregador pelo monitoramento dos


e-mails corporativos, uma vez que este, tendo o direito de dirigir e controlar a execução
dos trabalhos, não pode violar o direito de personalidade dos seus empregados.

Como mencionado, a jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho se firmou no sentido


de que a monitoração do e-mail corporativo não corresponde à ingerência na vida privada
do empregado, ao argumento de que tal conduta está inserida no poder diretivo da em-
presa de fiscalizar o uso escorreito das ferramentas de trabalho. No entanto, há limites para
o seu controle. Não basta que a empresa alegue ser proprietária dos instrumentos de tra-
balho, a fiscalização dever ser feita com razoabilidade, sem discriminações e perseguições,
devendo ser feita de modo genérico e impessoal.

Minoritariamente, parte da doutrina, como é o caso de Emília Simeão Albino Sako entende
que não é possível, mesmo que se trate de e-mail corporativo, monitorar as comunicações
virtuais dos empregados, sob pena de violar a dignidade do trabalhador, implicando em
vulneração de sua privacidade.

Vale mencionar que, a despeito de majoritariamente entender-se ser possível o monitora-


mento do e-mail corporativo, a indevida intromissão na privacidade do empregado pode
acarretar consequências cíveis e penais para o empregador, pois o direito à privacidade não
desaparece pelo fato de a pessoa encontrar-se em seu local de trabalho.

131
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE E O DIREITO DIGITAL: QUESTÕES JURÍDICAS NO AMBIENTE ELETRÔNICO

3 CONCLUSÃO
 
Diante do exposto, entende-se que a conduta de monitorar eletronicamente a exposição e
a disponibilidade de informações nos e-mails pessoais de forma ostensiva e indiscriminada
dos obreiros ultrapassam os poderes diretivos do empregador, uma vez que viola os direitos
da personalidade esculpidos no Art. 5º, X, da Constituição Federal, que garante a inviolabili-
dade da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas.

No caso de e-mails pessoais, não se pode tolerar o enorme constrangimento que é a in-
terceptação de informações pessoais, não sendo possível invocar o poder de direção para
vulnerar os direitos da personalidade do obreiro.

Lado outro, considerando que o e-mail corporativo é uma ferreamente de trabalho e que
se cuida de mensagens não privadas, não constitui ato ilícito a sua monitoração, ressal-
vando-se, contudo, os casos de extrapolação dos limites de fiscalização, não se podendo
perder de vista a função social da empresa.

FONTE: <https://bit.ly/32Pyigu>. Acesso em: 15 out. 2020.

132
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os e-mails podem ser de caráter pessoal, corporativo, comercial ou publicitário.

• É importante deixar claro ao colaborador/empregado de que o uso do e-mail


corporativo deve acontecer somente para os fins das atividades empresariais.

• A jurisprudência tem decidido no sentido de que o monitoramento de e-mail


eletrônico da empresa, ou seja, do corporativo e não pessoal, que é disponibi-
lizado ao empregado para fins profissionais, não caracteriza qualquer tipo de
violação ao sigilo à correspondência.

• Tratando-se de e-mail pessoal, não pode o empregador monitorar o de uso


pessoal, mas tão somente estabelecer regras restringindo o uso, por exemplo.

• A atividade profissional deve ter uma base ética pautada pela lealdade, pela
boa-fé e pela transparência, respeitando-se as normas da empresa em conso-
nância com o princípio da razoabilidade.

133
AUTOATIVIDADE

1 A comunicação passou por transformações na era da internet. As corres-


pondências passaram a ser eletrônicas por meio de e-mail. A respeito da
correspondência eletrônica e do e-mail e suas características, assinale a al-
ternativa CORRETA:

a) ( ) Possui apenas caráter impessoal.


b) ( ) Possui caráter corporativo, comercial e publicitário.
c) ( ) Possui apenas caráter comercial.
d) ( ) Possui caráter publicitário e impessoal.

2 Os e-mails são uma forma de comunicação rápida, eficiente e que permite


o armazenamento de informações. E-mails são utilizados no cotidiano com
intuito de uma efetiva comunicação a todos da empresa. A respeito da ciên-
cia do monitoramento de e-mail, existe uma comunicação entre o emprega-
do e a empresa? Ela é importante?

3 No âmbito empresarial os e-mails são utilizados para comunicação e in-


tegração entre seus colaboradores, podendo haver o monitoramento pela
empregador. O monitoramento da empresa ao e-mail corporativo do em-
pregado constitui ofensa ao direito de intimidade e/ou violação ao sigilo e
correspondência do empregado? Ou ele é permitido?

4 Sob o prisma de violabilidade do sigilo dos e-mails, havendo a invasão e


monitoramento da empresa no e-mail privado, ou seja, e-mail pessoa do
colaborador e não da empresa. A respeito disso, havendo referida violação,
qual é o princípio constitucional que estará sendo violado?

a) ( ) Princípio da privacidade.
b) ( ) princípio da liberdade.
c) ( ) princípio da individualidade.
d) ( ) princípio da autonomia.

5 Empresas utilizam e-mails como forma de comunicação e muitas estabe-


lecem normas de vigilância e monitoramento em maquinário, sistemas da
empresa ou até mesmo nos e-mails corporativos. A respeito do monitora-
mento, analise as assertivas e assinale a CORRETA:

a) ( ) É necessária a ciência expressa do monitoramento pelo colaborador.


b) ( ) Não é necessária a ciência do monitoramento pelo colaborador.
c) ( ) O monitoramento em qualquer hipótese é proibido.
d) ( ) A ciência é facultativa pela empresa.

134
TÓPICO 3 —
UNIDADE 3

O TELETRABALHO COMO
FERRAMENTA DE TRABALHO

1 INTRODUÇÃO

As relações de trabalho passaram por processos de mudanças e, com isso, foram


incorporadas ao ambiente de trabalho muitas máquinas, ferramentas e tecnologias.

Estamos em um mundo cada vez mais acelerado, em que tempo é di-


nheiro, sendo que cada vez mais estamos conectados ao trabalho por meio de
ferramentas ou plataformas digitais, facilitando o acesso ao sistema corporativo
do aconchego do lar.

2 O TELETRABALHO COMO FERRAMENTA ÚTIL NA RELAÇÃO


DE TRABALHO

FIGURA 7 – TELETRABALHO (HOME OFFICE)

FONTE: <https://bit.ly/35B57Qg>. Acesso em: 8 set. 2020.

A evolução das relações de trabalho, derivada dos progressos da Tecnologia da


Informação (TI) e da mobilidade do empregado, gerou modificações na Consolidação
das Leis do Trabalho, mediante alteração do seu artigo 6º, por força da Lei nº 12.551/2011.

Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT) o teletrabalho


é "a forma de trabalho realizada em lugar distante do escritório e/ou centro de
produção, que permita a separação física e que implique o uso de uma nova tec-
nologia facilitadora da comunicação” (THIBAULT ARANDA, 2001, p. 58).

Teletrabalho é o trabalho que é exercido a distância pelo uso de tecnologias


135
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE E O DIREITO DIGITAL: QUESTÕES JURÍDICAS NO AMBIENTE ELETRÔNICO

da informação e de comunicação. O teletrabalho consiste no trabalho realizado a


distância, feito através do manejo de tecnologias da informação e de comunicação.

O objetivo desta nova legislação foi estipular que é indiferente o local


onde o trabalhador se encontre fisicamente para que ele desfrute dos direitos
contemplados na legislação trabalhista. A Lei nº 12.551, de 15 de dezembro de
2011, deu nova redação ao artigo 6º da CLT, estabelecendo o seguinte:

Art. 6º Não se distingue entre o trabalho realizado no estabelecimento do em-


pregador, o executado no domicílio do empregado e o realizado a distância,
desde que estejam caracterizados os pressupostos da relação de emprego.
Parágrafo único. Os meios telemáticos e informatizados de comando,
controle e supervisão se equiparam, para fins de subordinação jurídi-
ca, aos meios pessoais e diretos de comando, controle e supervisão do
trabalho alheio (BRASIL, 2011).

Neste sentido, o TST teve que examinar a questão à luz da nova legislação
e não mais pelos estritos ditames da Súmula 428, de 24 de maio de 2011, segundo
a qual “I – o uso de aparelho de intercomunicação, a exemplo de BIP, ‘pager’ ou
aparelho celular pelo empregado, por si só, não caracteriza o regime de sobrea-
viso”. II – Considera-se em sobreaviso o empregado que, a distância e submetido
a controle patronal por instrumentos telemáticos ou informatizados, permanecer
em regime de plantão ou equivalente, aguardando a qualquer momento o chama-
do para o serviço durante o período de descanso.

Quando a Súmula proclama que o uso de instrumentos telemáticos ou infor-


matizados, “fornecidos pela empresa ao empregado”, por si só não caracteriza sobre-
aviso, quis configurar situações nas quais foi facultada ao empregado a posse de tais
instrumentos para seu mero conforto ou até mesmo para episódicas comunicações ou
avisos entre a empresa e seu colaborador no seu período de descanso, sem que isto
configure necessariamente “controle patrimonial”, este sim requisito essencial para o
sobreaviso. O referido controle e o regime de plantão é que caracterizam o sobreaviso.

Há, portanto, que se distinguir o seguinte: se o empregado ficar à dispo-


sição do empregador, em sua residência ou não, sem prestar serviços, receberá
a remuneração das horas relativas ao sobreaviso, na proporção de 1/3 do salário
normal. Se for convocado ao trabalho, receberá o valor da hora trabalhada, acres-
cida do respectivo adicional, na hipótese de ultrapassar a jornada normal.

Considerando-se que o trabalho realizado a distância é tempo de serviço,


surgem, no teletrabalho, questões relacionadas a horas extras e sobreaviso, que
representam atividades que extrapola m a jorna da diária de trabalho.

Há um dispositivo na CLT (artigo 244, § 2º) aplicável à categoria dos fer-


roviários, segundo o qual considera-se de sobreaviso:

136
TÓPICO 3 — O TELETRABALHO COMO FERRAMENTA DE TRABALHO

O emprega do efetivo que permanece em sua própria casa aguardando, a


qualquer momento, o chamado para o serviço. Cada escala de sobreaviso
será, no máximo, de 24 hora s. As horas de sobreaviso, para todos os efeitos,
serão contadas à razão de 1/3 (u m terço) do salário normal (BRASIL, 1942).

Com o advento de processos informatizados e da moderna telefonia ce-


lular, a questão teve que ser interpreta da pela legislação moderna, expressa me-
diante nova redação conferida ao artigo 6º da CLT pela Lei nº 12.551/2011, poden-
do o empregado ficar em sobreaviso em qualquer lugar.

É evidente, no entanto, que o distanciamento do empregado tem limites, já que


o seu direito de ir e vir tem que ser compatibilizado com a urgência do seu compareci-
mento imediato à empresa. Passou-se a entender, nos tribunais da Justiça do Trabalho,
que esta regra se aplica, por analogia, a outras situações de relação de emprego.

Como exemplos de atividades típicas de teletrabalho temos: teletradução


remota ou on-line; ensino e formação a distância; edição eletrônica, telemarke-
ting, telemedicina, telediagnósticos, telecirurgias, teleradiologia etc.

Uma das várias peculiaridades do teletrabalho é com relação à jornada de


trabalho, e a possibilidade real e concreta de flexibilização do horário.

Importante mencionar que na Súmula 428, o TST se cingiu a interpretar ex-


clusivamente o instituto do sobreaviso em sua linguagem jurídica atual. Não tratou
propriamente do home office ou de qualquer trabalho efetivamente realizado em local
diferente do estabelecimento empresarial, hipóteses nas quais o empregado não está
apenas em alerta, mas sim praticando verdadeiramente sua atividade profissional.

Daí o alcance do artigo 6º da CLT, unifica o tratamento jurídico entre o


trabalho realizado no estabelecimento do empregado ou fora dele, desde que ca-
racterizada a relação de emprego, particularmente a habitualidade das tarefas
laborais e a subordinação jurídica ao empregador.

137
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE E O DIREITO DIGITAL: QUESTÕES JURÍDICAS NO AMBIENTE ELETRÔNICO

FIGURA 8 – TELETREBALHO X HOME OFFICE

FONTE: <https://bit.ly/3py8KOX>. Acesso em: 15 set. 2020.

NTE
INTERESSA

Confira o texto a seguir.

TELETRABALHO E HOME OFFICE: QUAL A DIFERENÇA?

Teletrabalho e o home office são institutos distintos. Teletrabalho é a prestação de ser-


viços preponderantemente fora das dependências do empregador, com a utilização de
tecnologias de informação e de comunicação que, por sua natureza, não se constituam
como trabalho externo. A prestação de serviços deverá constar expressamente do contrato
individual de trabalho, que especificará as atividades que serão realizadas pelo empregado.
Pode haver alteração entre o regime presencial e de teletrabalho? Sim, poderá ser reali-
zada desde que haja mútuo acordo entre as partes, registrado termo aditivo contratual,
oportunidade em que será estabelecida a responsabilidade pela aquisição, manutenção ou
fornecimento dos equipamentos tecnológicos e da infraestrutura necessária, e adequada a
prestação do trabalho remoto, bem como o reembolso de despesas arcadas pelo empre-
gado, tudo nos moldes previstos nos arts. 75-A a 75-E, da CLT.
No regime de teletrabalho, o controle de jornada é dispensável, portanto, não há paga-
mento de horas extras e adicional noturno. Isso porque o empregado possui liberdade para
desenvolver seus afazeres.
E o home office? O home office constitui modalidade de trabalho a distância, executada na
residência do empregado, de forma eventual, não possui disposição expressa na CLT, deve ser
instituído em norma interna da empresa e não exige formalização no contrato de trabalho.
Lembre-se: o empregado não cumprirá sua jornada preponderantemente fora das depen-
dências do empregador. O exercício de suas funções poderá ser realizado de casa em
determinados dias da semana ou períodos, de modo que poderá inclusive prestar o serviço
parte em sua residência, parte no estabelecimento do empregador.

138
TÓPICO 3 — O TELETRABALHO COMO FERRAMENTA DE TRABALHO

Por fim, como esclarece o Prof. Ricardo Calcini, mestre em Direito do Trabalho, no home offi-
ce, ao contrário do que ocorre no teletrabalho, os funcionários continuarão a deter idênticos
direitos trabalhistas, como se estivessem executando suas atividades nas dependências do
empregador, inclusive com o recebimento de horas extras e adicional noturno, se for o caso.

FONTE: <https://bit.ly/2UEbY4Z>. Acesso em: 14 set. 2020.

DICAS

O que é teletrabalho? Confira: https://bit.ly/38KI9Ix.

DICAS

Vamos nos atualizar e ficar por dentro das diferenças entre HOME OFFICE,
HOME BASED e TELETRABALHO/Trabalho home office? Confira em: https://bit.ly/3lDR8ij.

Quais os direitos de quem trabalha em home office? Confira em: https://bit.ly/38Uja5H.

E
IMPORTANT

ESPECIAL TELETRABALHO: O TRABALHO ONDE VOCÊ ESTIVER

Entenda o que é o teletrabalho, quais os seus direitos e algumas dicas de saúde, tecnologia
e produtividade.

O trabalho na história humana passou por diversos períodos. Na pré-história, a ocupação


principal das pessoas era prover alimentos e segurança para o lar, seja colhendo frutos
ou caçando animais. Na Idade Média, a segurança dos feudos permitiu a produção de
excedentes, que eram dados ao senhor feudal em troca de segurança. Com a primeira e
segunda revoluções industriais, as pessoas passaram a dedicar seus esforços em fábricas e
na prestação de serviços, realizados pessoalmente.

Atualmente, durante a quarta revolução industrial, a revolução tecnológica, o trabalho está


passando por transformações novamente. Uma das novidades é a popularização do tele-
trabalho – o trabalho realizado longe da empresa. 

139
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE E O DIREITO DIGITAL: QUESTÕES JURÍDICAS NO AMBIENTE ELETRÔNICO

O que é teletrabalho?

A previsão legal para o teletrabalho aparece no artigo 6º da Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT), que afasta as distinções entre o trabalho realizado no estabelecimento do
empregador, o executado no domicílio do empregado e o realizado a distância, desde
que estejam caracterizados os pressupostos da relação de emprego. O parágrafo único do
dispositivo, introduzido em 2011, estabelece que “os meios telemáticos e informatizados
de comando, controle e supervisão se equiparam, para fins de subordinação jurídica, aos
meios pessoais e diretos de comando, controle e supervisão do trabalho alheio”.

A Reforma Trabalhista (Lei nº 13.467/2017) introduziu um novo capítulo na CLT, dedicado


especialmente ao tema: é o Capítulo II-A, “Do Teletrabalho”, com os artigos 75-A a 75-E).
Os dispositivos definem o teletrabalho como “a prestação de serviços preponderantemente
fora das dependências do empregador, com a utilização de tecnologias de informação e
de comunicação que, por sua natureza, não se constituam como trabalho externo”. Assim,
operações externas, como as de vendedor, motorista, ajudante de viagem e outros que não
têm um local fixo de trabalho não são consideradas teletrabalho.

De acordo com o texto, embora o trabalho seja realizado remotamente, não há diferenças
significativas em relação à proteção ao trabalhador. “Os direitos são os mesmos de um tra-
balhador normal, ou seja, vai ter direito a carteira assinada, férias, 13º salário e depósitos de
FGTS”, explica o ministro Agra Belmonte, do Tribunal Superior do Trabalho (TST).

Vantagens do trabalho remoto

Usualmente realizado de casa, o teletrabalho também se adapta a outros lugares, como


cafés, ambientes de co-working e até restaurantes. Uma das vantagens é evitar gastos e
tempo com deslocamentos e engarrafamentos. A possibilidade de poder trabalhar de qual-
quer lugar também permite maior flexibilidade e conforto ao trabalhador. De acordo com a
SAP Consultores Associados, 77% dos profissionais que desempenham suas atividades em
home office afirmam que um dos principais objetivos é melhorar a qualidade de vida. Outro
ponto positivo para algumas atividades é a gestão do próprio tempo.

Posso aderir ao teletrabalho a qualquer momento?

Entre as disposições específicas da lei, a modalidade de teletrabalho deve constar expressa-


mente no contrato individual de trabalho, que deve trazer também as atividades que serão
realizadas pelo empregado. 

O empregado contratado para trabalhar de forma presencial pode alterar seu regime para
o teletrabalho, desde que haja acordo mútuo com o empregador e que seja registrado
aditivo contratual. O contrário também é possível: o empregador pode requerer o trabalho
presencial, garantido o prazo mínimo de transição de 15 dias. 

Essa modalidade também pode ser disposta por convenção coletiva.

No caso de uma situação de emergência eventual, no entanto, como no caso da pandemia


do coronavírus, a adoção do trabalho remoto é temporária e pode prescindir de algumas
etapas formais, desde que respeitados os limites estabelecidos na legislação trabalhista e no
contrato de trabalho. Embora o empregado esteja trabalhando de casa, o local contratual
da prestação do serviço continua sendo a empresa.

E o equipamento, quem custeia?

Com relação ao equipamento a ser utilizado e a respectiva infraestrutura, o contrato de


trabalho deve prever de quem deverá ser a responsabilidade de prover tais equipamentos. A

140
TÓPICO 3 — O TELETRABALHO COMO FERRAMENTA DE TRABALHO

única disposição específica é que, se forem fornecidos pelo empregador, os equipamentos


não podem ser considerados como remuneração do empregado. 

Como fazer o controle da jornada?

O teletrabalho também foi incluído na exceção do regime de jornada de trabalho do artigo


62 da CLT, ou seja, devido à dificuldade de controle, não há direito ao pagamento de horas
extras, adicionais noturno etc. 

Entretanto, de acordo com alguns precedentes do TST, se houver meio de controle patro-
nal da jornada, é possível reconhecer os adicionais.

Dicas de ergonomia e saúde

Em seminário realizado em 2013 pela Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos


Deputados, o médico Ricardo Corsatto, do departamento médico da Câmara, observou
que o teletrabalho oportuniza o surgimento de novos riscos, como problemas de ergo-
nomia, trabalho noturno e prática de turnos ininterruptos de trabalho. No mesmo sentido,
Christian Barbosa, especialista em produtividade, no seminário “5 Estratégias para o seu
Home Office ser mais Produtivo”, também chamou atenção para a ergonomia. Na visão
dele, preparar o ambiente é essencial para a produtividade, e isso inclui uma mesa, uma
cadeira ergonômica e boa iluminação. É importante, segundo ele, ter um espaço dedicado
para o trabalho. Outro alerta é o cuidado com os olhos. Para isso, recomendou filtros de luz
azul, prática de exercícios oculares e cuidado com horários após às 19h.

De acordo com a lei, cabe ao empregador instruir os empregados, de maneira expressa e


ostensiva, sobre as precauções a tomar a fim de evitar doenças e acidentes de trabalho, e
o empregado deve assinar termo de responsabilidade pelo qual se compromete a seguir
essas instruções. A saúde no contexto trabalhista pode ensejar indenizações e até afasta-
mentos, de modo que é um assunto a ser tratado com cuidado. 

Dicas para uma rotina produtiva

O especialista Christian Barbosa também compartilhou diversas dicas de produtividade.


Para quem tem filhos, a sugestão é definir horários para dar atenção aos pequenos – de
preferência à noite –, criar atividades para ocupá-los, definir momentos de pausa e reve-
zamento. Outra estratégia é manter horários regulares para se dedicar à casa, ao escritório
e às refeições. “Rotina é essencial para a produtividade, e é preciso ter pausas durante o
expediente”, diz. “O processo de pausar tem efeito físico e mental. Ele dá um descanso à
cognição para retomar o rendimento inicial”.

Planejamento também é fundamental. Para isso, Christian sugere o uso de post-its como pla-
nejamento visual, a criação de planos para os próximos três dias, a percepção sobre seus ho-
rários de melhor produtividade e o estabelecimento de limite do número de atividades no dia.

“E como lidar com o chefe em home office? Alinhe com ele as prioridades da semana,
reforce os prazos e gere valor para a empresa”, sugere. Com a equipe, exponha as tarefas
codependentes, ofereça ajuda extra, realize reuniões e faça até uma happy hour virtual.

Tecnologia

Diversos softwares e aplicativos podem auxiliar as mais diferentes atividades realizadas a


distância. Para fazer reuniões virtuais e videoconferências, podem ser utilizados os progra-
mas Skype, Google Hangouts, Microsoft Teams, Zoom e Whereby, entre outros.

141
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE E O DIREITO DIGITAL: QUESTÕES JURÍDICAS NO AMBIENTE ELETRÔNICO

Para gerenciar equipes, programas como Trello, Todoist, Asana, Monday e Neotriad também
oferecem interfaces práticas. Caso haja dificuldade, também é possível manter as demandas
organizadas de forma mais simples em calendários, notas de papel, e-mails ou planilhas. 

A segurança da informação também é um aspecto que deve receber atenção nas ativi-
dades desempenhadas em home office, pois muitas vezes o trabalhador manipula dados
sensíveis ou sigilosos. Para isso, é essencial manter o sistema operacional do computador
atualizado e, se possível, utilizar o software de VPN fornecido pelo empregador. Os antivírus
também devem estar sempre ativados, e é recomendável utilizar conexões wi-fi confiáveis
para transmissão de arquivos (logo, o cuidado deve ser dobrado para quem resolve traba-
lhar de cafés, aeroportos e outros ambientes públicos). 

Pioneirismo

O Tribunal Superior do Trabalho foi o primeiro órgão do Judiciário a aderir ao teletrabalho,


implementado em 2012 como projeto piloto e efetivado em 2013. O projeto foi fruto de
pesquisa em instituições privadas e públicas a fim de inovar a gestão de pessoas e acom-
panhar o ritmo do mercado de trabalho.

FONTE: <https://bit.ly/3kDYYH8>. Acesso em: 30 ago. 2020.

142
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• O teletrabalho é o trabalho que é exercido a distância pelo uso de tecnologias


da informação e de comunicação.

• O uso de instrumentos telemáticos ou informatizados, “fornecidos pela em-


presa ao empregado”, por si só não caracteriza sobreaviso.

• Como exemplos de atividades típicas de teletrabalho: teletradução remota ou


on-line; ensino e formação a distância; edição eletrônica, telemarketing, tele-
medicina, telediagnósticos, telecirurgias, teleradiologia etc.

• Uma das várias peculiaridades do teletrabalho é com relação à jornada de


trabalho, e a possibilidade real e concreta de flexibilização do horário.

• O home office constitui modalidade de trabalho a distância, executada na re-


sidência do empregado, de forma eventual, não possui disposição expressa
na CLT, deve ser instituído em norma interna da empresa e não exige forma-
lização no contrato de trabalho.

• O teletrabalho é a prestação de serviços preponderantemente fora das depen-


dências do empregador, com a utilização de tecnologias de informação e de
comunicação que, por sua natureza, não se constituam como trabalho externo.

143
AUTOATIVIDADE

1 Antes podia ser algo distante trabalhar longe da empresa ou em modo re-
moto, sendo que todos os dias nos encaminhávamos ao local físico da em-
presa onde possuíamos contrato de trabalho. A tecnologia e a internet pos-
sibilitaram junta a possibilidade do home office Acerca das características
do home office, classifique V para as opções verdadeiras e F para as falsas:

( ) Modalidade de trabalho a distância.


( ) Possui previsão na CLT.
( ) Forma eventual.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – V.
b) ( ) F – F – V.
c) ( ) V – V – V.
d) ( ) F – V – F.

2 Home Office quer dizer escritório em casa e é uma modalidade de trabalho


que permite que pessoas e empresas se conectem à distância. Acerca do
trabalho em home office, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) É uma modalidade de teletrabalho que é exercida com autonomia.


b) ( ) Pode ser exercido sob a forma de relação de emprego.
c) ( ) Pressupõe a existência da relação de emprego.
d) ( ) Não pode ser exercido sob a forma de relação de emprego.

3 O trabalho remoto ou teletrabalho é popular entre profissionais autônomos e


freelancers. O teletrabalho é "a forma de trabalho realizada em lugar distante
do escritório e/ou centro de produção, que permita a separação física e que im-
plique o uso de uma nova tecnologia facilitadora da comunicação. A respeito
do teletrabalho, analise as afirmativas a seguir e a relação proposta entre elas:

I- A prestação de serviços na modalidade de teletrabalho deverá constar ex-


pressamente do contrato individual de trabalho, que especificará as ativi-
dades que serão realizadas pelo empregado.

PORQUE

II- Teletrabalho consiste no trabalho realizado a distância, feito através do


manejo de tecnologias da informação e de comunicação.

144
Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A afirmativa I é falsa e a afirmativa II é verdadeira.


b) ( ) A afirmativa I é verdadeira e a afirmativa II é falsa.
c) ( ) A afirmativa I é verdadeira e a afirmativa II é verdadeira.
d) ( ) A afirmativa I é falsa e a afirmativa II é falsa.

4 Considera-se teletrabalho a prestação de serviços preponderantemente fora


das dependências do empregador, com a utilização de tecnologias de infor-
mação e de comunicação que, por sua natureza, não se constituam como
trabalho externo. O comparecimento às dependências do empregador para
a realização de atividades específicas que exijam a presença do empregado
no estabelecimento não descaracteriza o regime de teletrabalho. A respeito
dessa modalidade contratual, disserte: qual é a principal característica des-
ta modalidade contratual?

5 O teletrabalho não precisa necessariamente ser exercido integralmente fora


da sede da empresa, sendo que o que prevalece para fins de caracteriza-
ção do regime de teletrabalho é a preponderância do trabalho a distância.
A respeito, dessa modalidade de trabalho, é preciso alguma disposição no
contrato de trabalho? Discorra de forma direta e clara.

145
146
TÓPICO 4 —
UNIDADE 3

CRIMES CIBERNÉTICOS

1 INTRODUÇÃO

A era tecnológica, a popularização da internet e o cometimento de crimes


por meio da internet tornou necessária a intervenção do Poder Legislativo para
tipificar os crimes cibernéticos, definindo melhor as condutas no âmbito digital.

A conduta de invadir dispositivos eletrônicos até 2012 não era tipificada


como crime no Direito Penal Brasileiro, fato esse que mudou após a criação da
chamada Lei Carolina Dieckmann (Lei nº 12.737/2012).

Assim, tem-se o artigo 154-A do Código Penal, que prevê então o crime de in-
vasão de dispositivo informático. Vamos conhecer mais sobre os crimes cibernéticos?

2 CONCEITO DE CRIME CIBERNÉTICO

FIGURA 9 – CRIMES CIBERNÉTICOS

FONTE: <https://bit.ly/3nveuqR>. Acesso em: 8 set. 2020.

Utiliza-se “crimes cibernéticos”, a qual é utilizada na Convenção sobre o


Cibercrime, também conhecida como Convenção de Budapeste, tratado interna-
cional firmado no âmbito do Conselho da Europa.

O que é um crime cibernético? Primeiramente, vamos conceituar crime


cibernético que podem ser puros, comuns ou mistos.

Crimes cibernéticos puros são aqueles em que a conduta ilícita tem por
finalidade exclusiva o sistema de computador como ferramenta acessando in-

147
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE E O DIREITO DIGITAL: QUESTÕES JURÍDICAS NO AMBIENTE ELETRÔNICO

clusive dados e sistemas. Os crimes cibernéticos comuns são a condutas ilícitas


em que o agente se utiliza do sistema de informática como mera ferramenta, não
essencial à consumação do delito. Já os crimes cibernéticos mistos para a conduta
ilícita necessitam do uso da internet ou do sistema informático, sendo uma condi-
ção indispensável, mas o bem jurídico visado é diferente do informático.

DICAS

Prezado acadêmico!

Convidamos você a fazer uma leitura mais aprofundada do tema dos crimes cibernéticos
no livro a seguir:

NETTO, A. P.; PIERITZ, V. L. H. Crimes cibernéticos. Indaial: UNIASSELVI, 2020.

Este livro está disponível na Biblioteca Virtual da UNIASSELVI. Acesse pelo Link: https://
bit.ly/2IFwdwQ.

148
TÓPICO 4 — CRIMES CIBERNÉTICOS

3 CRIMES CIBERNÉTICOS PRÓPRIOS E IMPRÓPRIOS

FIGURA 10 – CRIMES CIBERNÉTICOS PRÓPRIOS E IMPRÓPRIOS

FONTE: <https://bit.ly/35DFFK5>. Acesso em: 8 set. 2020.

Nos crimes cibernéticos próprios o meio do crime e o objeto é o sistema


informático do sujeito passivo. O bem jurídico objeto de proteção pela lei penal é
justamente a inviolabilidade das informações de dados.

Já os crimes cibernéticos impróprios são aqueles que afetam o bem ju-


rídico comum, ou seja, o patrimônio e para operar a conduta ilícita se utilizam
dos sistemas informáticos. O dispositivo informático é mero instrumento eleito
pelo agente criminoso, que, inclusive, poderia executá-lo e consumá-lo de outra
forma, sem o dispositivo.

Crimes como estelionato, furto, falsificação de documentos, racismo etc., ou seja,


todos esses delitos já existiam antes da chegada “ciberespaço”, praticados sem o disposi-
tivo informático, agora podem ser praticados tanto por um quanto por outro meio.

Já os crimes cibernéticos próprios, segundo Ivette Senise Ferreira (2005,


p. 261), são:

[...] atos dirigidos contra um sistema de informática, tendo como su-


bespécies atos contra o computador e atos contra os dados ou progra-
mas de computador. Atos cometidos por intermédio de um sistema
de informática e dentro deles incluídos infrações contra o patrimônio;
as infrações contra a liberdade individual e as infrações contra a pro-
priedade imaterial pressupõem o computador como instrumento do
crime, pois impossível realizarem-se sem o meio informático.

O dispositivo informático é condição essencial para a realização da con-


duta, que não poderia ser praticada fora do ambiente virtual.

Como exemplos de crimes cibernéticos próprios temos: pornografia infantil


por meio de sistema de informática (Art. 241-B do Estatuto da Criança e do Adoles-
cente – ECA), inserção de dados falsos em sistema de informações (Art. 313-A do

149
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE E O DIREITO DIGITAL: QUESTÕES JURÍDICAS NO AMBIENTE ELETRÔNICO

Código Penal), corrupção de menores em salas de bate-papo da internet (Art. 244-B,


§1º, do ECA), invasão de dispositivo informático (Art. 154-A do Código Penal) etc.

4 CRIMES CIBERNÉTICOS: QUAL É O LUGAR DO CRIME


PARA FINS DE APLICAÇÃO DA PENA E DETERMINAÇÃO DA
COMPETÊNCIA JURISDICIONAL?

FIGURA 11 – LUGAR DOS CRIMES CIBERNÉTICOS

FONTE: <https://bit.ly/2HcQWaQ>. Acesso em: 8 set. 2020.

Crimes cibernéticos podem ser plurilocais ou a distância, mas é preciso


examinar se punição da conduta criminosa é se ela é ou não atingida pela lei
penal brasileira. Outra reflexão: é o crime punível pela lei brasileira? O que é
considerado lugar do crime nos crimes cibernéticos, segundo o Código Penal e o
Código de Processo Penal Brasileiro?

O local do crime e o da infração penal são definidos a partir de um terri-


tório, ou seja, a lei penal brasileira é aplicável sempre, via de regra, nos limites do
território jurídico nacional, portanto, a jurisdição brasileira a determinado crime
cibernético está vinculada a esse crime ter sido praticado no território brasileiro.

O território em que se considera praticado o crime é definido por norma de


direito material trazida no Art. 6º do Código Penal, que considera por local do crime
tanto o local da ação ou omissão típica quanto o local do resultado obtido ou esperado.

De outra forma, o legislador determinou indiretamente para os crimes


cibernéticos praticados contra particulares diversas condicionantes. Isso ocorreu
porque, atendendo ao disposto no inciso II, o Brasil se obrigou internacionalmente
a reprimir a delinquência cibernética, satisfazendo o requisito exigido, bem como
é absolutamente possível a hipótese de que o autor do crime cibernético seja bra-
sileiro. Em um e em outro caso, a jurisdição nacional alcançará a conduta quando
cumprirem os requisitos do §2º do dispositivo legal: 1. Entrar o agente no território
nacional; 2. Ser o fato punível também no país em que foi praticado; 3. Estar o cri-
me incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; 4. Não
ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; 5. Não
150
TÓPICO 4 — CRIMES CIBERNÉTICOS

ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a
punibilidade, segundo a lei mais favorável (BECHARA; FLORES, 2019).

Caso a conduta seja praticada em território nacional e o resultado se dê


exclusivamente no exterior, o Estado brasileiro reservar-se-á o direito de punir a
referida conduta (Art. 6º do Código Penal) e terá por juiz natural o magistrado
brasileiro com jurisdição sobre o território em que se localizava o dispositivo in-
formático utilizado na infração penal (Art. 70, § 1º, do Código de Processo Penal)
(BECHARA; FLORES, 2019).

Se houver resultado correspondente a uma ou mais vítimas no interior do


território nacional, haverá multiplicidade de juízes competentes, já que haverá
configuração de um ou mais resultados em diferentes territórios internos e mais o
juiz competente para o resultado externo, sendo cada um deles igualmente com-
petente (BECHARA; FLORES, 2019).

É importante lembrar que como documento internacional tem-se Conven-


ção de Cibercrimes, firmadas no âmbito do Conselho da Europa, e da qual o Bra-
sil optou por não ser signatário.

Considerada a Convenção a maior norma de direito internacional sobre o


assunto e que determina quais condutas devem ser adotadas pelos Estados-parte,
incluindo soluções sobre os conflitos de jurisdição.

O Art. 22 da Convenção adota o princípio da territorialidade como base


legitimadora para que cada Estado puna as condutas cometidas em seu território
e determina que o Estado abdique do princípio da nacionalidade, segundo o qual
o Estado poderá punir o seu nacional que praticar crime no exterior, em favor do
Estado em que houver sido cometido o crime (BECHARA; FLORES, 2019).

A respeito do local do crime de furto virtual, a jurisprudência nacional


tem entendido que o local de consumação é o local em que o bem foi subtraído da
vítima, exatamente como ocorre com o estelionato, que diverge do furto apenas
em relação à forma de alienação da coisa alheia (BECHARA; FLORES, 2019).

Assim, a legislação aplicável é a legislação nacional, que apresenta os en-


traves das condições de extraterritorialidade e falta de adaptabilidade quando
testada em crimes cibernéticos, pois se prende a conceitos extremamente territo-
rialistas, enquanto o ciberespaço, local em que se desenvolvem conduta e resulta-
do dos crimes cibernéticos, não possui delimitação física.

Importante frisar de que nem todos os crimes praticados na internet são


de competência da Justiça Federal. Para que haja a competência da União, é mis-
ter a adequação formal em alguma das hipóteses previstas no artigo 109, incisos
IV e V, da Constituição Federal de 1988.

Veja-se:

151
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE E O DIREITO DIGITAL: QUESTÕES JURÍDICAS NO AMBIENTE ELETRÔNICO

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento
de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e
ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;
V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional,
quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse
ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente (BRASIL, 1988).

Portanto, tão somente o fato da conduta ter se concretizado pela Rede


Mundial de Computadores não determina a competência Federal. É necessário
que o delito tenha sido cometido no território nacional para a aplicação da le-
gislação brasileira, bem como a adesão pelo Brasil a um tratado ou convenção
internacional de combate à conduta então praticada e, ainda, uma relação de in-
ternacionalidade (iniciada a execução no Brasil, o resultado ocorre no estrangeiro;
ou iniciada a execução no estrangeiro, o resultado ocorre no Brasil).

Destaca-se, a título de exemplos, os crimes de tráfico internacional de dro-


gas, arma de fogo, pessoas para exploração sexual, envio ilegal de crianças ou
adolescentes para o exterior e racismo, como modalidades em que a competência
é da Justiça Federal, já que previstos em tratados internacionais e legislações pá-
trias. Com relação ao crime de racismo, especificamente, o Superior Tribunal de
Justiça definiu que a competência territorial será determinada conforme o local
de onde partiram as ofensas tidas como racistas.

A divulgação de imagens pornográficas de crianças e adolescentes em pá-


gina da internet também é delito de competência da Justiça Federal. Isso porque,
além de estar previsto no artigo 241-A do Estatuto da Criança e do Adolescente,
o Brasil comprometeu-se, por meio da Convenção sobre Direitos da Criança, ado-
tada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, a combater a violência de cunho
sexual contra crianças e adolescentes.

Verifica-se, ainda, a transnacionalidade do delito, já que as imagens po-


dem ser visualizadas em qualquer computador e em qualquer local do mundo.
Ademais, a competência territorial será da Seção Judiciária do local onde o réu
publicou as fotos ou, quando a publicação ocorrer no exterior, deverá ser obser-
vado o artigo 7°, §2°, do Código Penal.

Diferentemente ocorre nos crimes praticados contra a honra por meio da


utilização das redes sociais, já que terão a competência da Justiça Estadual, deter-
minada pelo local do domicílio do acusado.

Os delitos de calúnia, injúria ou difamação, ainda que praticados em pá-


ginas de acesso internacionais, ultrapassando os limites das fronteiras, em regra,
são de competência do ente da Federação, pois normalmente não preenchem os
requisitos para configuração da competência Federal.

152
TÓPICO 4 — CRIMES CIBERNÉTICOS

No mesmo sentido, é o caso da troca de e-mails com conteúdo pornográ-


fico de crianças e adolescentes entre duas pessoas residentes no Brasil. A compe-
tência será estadual, haja vista que o fato permaneceu restrito entre duas pessoas,
não subsistindo a internacionalidade.

Com relação ao estelionato praticado pela internet com a vítima residente


no exterior, por exemplo, a competência é da Justiça Estadual, porque além do
artigo 69 do Código de Processo Penal dispor que o local de residência da vítima
não é determinante para competência jurisdicional, por outro lado, o local de exe-
cução, consumação e obtenção da vantagem pelo beneficiário da fraude é o que
de fato definem o local de processamento e julgamento da ação penal.

Logo, na hipótese de uma compra pela internet e o pagamento efetuado por


transação eletrônica em território nacional, a competência será definida conforme a
cidade onde ocorreram os fatos, sendo, portanto, de Competência Estadual.

Lado outro, no que concerne ao furto mediante fraude, perpetrado por


meio do sistema informático, a competência será Federal.

5 LEGISLAÇÃO ATINENTE AOS CRIMES CIBERNÉTICOS

FIGURA 12 – LEI DOS CRIMES CIBERNÉTICOS

FONTE: <https://bit.ly/2Uv1fKn>. Acesso em: 8 set. 2020.

Apelidada de “Lei Carolina Dieckmann”, a Lei nº 12.737, de 30 de novem-


bro de 2012, entrou em pleno vigor no último dia 3 de abril de 2013, alterando o
Código Penal para tipificar os crimes cibernéticos propriamente ditos (invasão de
dispositivo telemático e ataque de denegação de serviço telemático ou de infor-
mação), ou seja, aqueles voltados contra dispositivos ou sistemas de informação
e não os crimes comuns praticados por meio do computador.

Assim, dispõe o Art. 154-A do Código Penal a tipificação do crime de in-


vasão de dispositivo informático:

Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não


à rede de computadores, mediante violação indevida de mecanismo
de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou

153
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE E O DIREITO DIGITAL: QUESTÕES JURÍDICAS NO AMBIENTE ELETRÔNICO

informações sem autorização expressa ou tácita do titular do disposi-


tivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita: (Incluído
pela Lei nº 12.737, de 2012) Vigência Pena - detenção, de 3 (três) meses
a 1 (um) ano, e multa (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012) – Vigência.

A lei incrimina como condutas de invasão de dispositivo informático:

• Invadir dispositivo informático alheio de qualquer espécie, conectados ou não em


rede, desde que violado mecanismo de segurança (senha, firewall etc.), desde que
a finalidade do criminoso seja obter, adulterar ou destruir dados ou informações.
• Instalar no dispositivo informático qualquer vulnerabilidade com o fim de
obter uma vantagem ilícita (patrimonial ou não).
• Produzir, oferecer, distribuir, vender ou difundir dispositivo ou programa de
computador com o intuito de permitir a invasão de dispositivo informático
ou a instalação de vulnerabilidades.

O objeto jurídico tutelado pela norma é a liberdade individual do usuário


do dispositivo informático.

Como dispõe o Art. 154-A do Código Penal, as penas para esses delitos
são de reclusão de 3 (três) meses a 1 (um) ano de detenção, e multa. No entanto,
as penas aumentam de 1/6 a 1/3 se a invasão resulta prejuízo econômico.

O crime será qualificado com penas que vão de seis meses a dois anos de
reclusão e multa, caso a conduta não configure outro crime mais grave, quando
a invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunicações eletrônicas privadas,
segredos comerciais ou industriais, informações definidas em lei como sigilosas.

Se houver divulgação, comercialização ou transmissão a terceiro, a qual-


quer título, dos dados ou informações obtidas, a pena do crime qualificado será
também aumentada de 1/3 a 2/3.

As penas, conforme o caso (tipo simples ou qualificado) serão aumentadas


de 1/3 até a metade, se o crime for praticado contra Presidente da República, Go-
vernadores e Prefeitos, Presidente do Supremo Tribunal Federal, da Câmara dos
Deputados, do Senado Federal, de Assembleia Legislativa de Estado, da Câmara
Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara Municipal, ou dirigente máximo da
administração direta e indireta federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal.

Importante: se a conduta for mais grave que a simples invasão com a fi-
nalidade de obtenção, adulteração ou destruição dos dados ou informações, ou
a instalação de vulnerabilidades, por exemplo, fraudes em netbanking (furto
qualificado), estelionato ou extorsão, interceptação de comunicação telemática, o
crime de invasão de dispositivo informático será desconsiderado, porque consti-
tuirá somente um meio para o cometimento daquelas condutas.

154
Para que o criminoso possa ser investigado pela Polícia e processado pelo
Ministério Público, é preciso que a vítima autorize, oferecendo a representação.
O Ministério Público pode processar diretamente o criminoso somente quando o
crime é praticado contra a administração pública direta ou indireta de qualquer
dos Poderes da União, Estados, Distrito Federal ou Municípios ou contra empre-
sas concessionárias de serviços públicos.

A finalidade do crime de invasão de dispositivo informático é de proteção


à privacidade e, consequentemente, à intimidade e à vida privada do indivíduo.
Lembrando que é, pois, de competência Estadual o crime em análise, que será
processado mediante a representação do ofendido no local onde ocorreu a inva-
são (por ser um delito formal, não se exige o resultado), o que será excepcionado
na hipótese de cometimento contra algum ente da União.

O artigo 266 do Código Penal pune a conduta de interromper ou pertur-


bar serviço telegráfico, radiotelegráfico ou telefônico, impedir ou dificultar-lhe o
restabelecimento, estabelecendo penas que variam de um a três anos de reclusão
e multa, que são aplicadas em dobro em caso de calamidade pública.

Essa interrupção ou impedimento pode ser realizada de várias formas (cri-


me de forma livre), por exemplo, a destruição física de uma determinada rede.
Todavia, também pode ser feita mediante um ataque virtual, o qual também está
contemplado pela alteração legislativa. Portanto, hoje, no Brasil, é crime a conduta
denominada ataque de denegação de serviço (DOS/DDOS). O DOS (denial of servi-
ce) não constitui geralmente uma invasão de sistema alvo, mas uma sobrecarga de
acessos que fazem com que o fluxo de dados da rede seja interrompido. É chamado
de ataque de denegação de serviço difundido ou DDOS (distributed denial of service)
quando o criminoso infunde por meio de seu computador (mestre) vulnerabili-
dades ou programas maliciosos em vários computadores (zumbis), fazendo com
que contra a vontade ou mesmo sem que os usuários afetados percebam, acessem
simultaneamente ou sequencialmente o serviço que pretende ser travado.

Como visto, a Lei nº 12.737/2012, embora represente certo avanço ao tipificar cri-
mes cibernéticos propriamente ditos, contém inúmeras deficiências e confrontos com o
sistema penal e processual penal vigente, o que deve merecer a atenção dos aplicadores.

Os crimes cibernéticos propriamente ditos são a porta de entrada para


outras condutas criminosas, facilitando a utilização do computador como instru-
mento para cometer delitos.

O legislador não contemplou a invasão de sistemas, como os de clouding


computing, optando por restringir o objeto material àquilo que denominou disposi-
tivo informático, sem, contudo, defini-lo. Atividades de comercialização de cracking
codes e de engenharia reversa de software também não foram objeto da norma.

155
FIGURA 13 – CRIMES MAIS PRATICADOS NO BRASIL

FONTE: <https://bit.ly/2IJtjH0>. Acesso em: 26 set. 2020.

Quando se trata de crimes contra a infância, o que existe de mais especí-


fico é o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Dentro dele, a Lei nº 11.829,
de 2008, tem o fim de “aprimorar o combate à produção, venda e distribuição de
pornografia infantil, bem como criminalizar a aquisição e a posse de tal material
e outras condutas relacionadas à pedofilia na internet”. Cada artigo desta Lei traz
especificações de crimes e suas respectivas penas.

O artigo Art. 241-A. dispõe que:

Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou di-


vulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informáti-
ca ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena
de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
§1º Nas mesmas penas incorre quem:
I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento das fotogra-
fias, cenas ou imagens de que trata o caput deste artigo;
II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de computadores
às fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste artigo
(BRASIL, 2008).

156
Da mesma forma incorre em crime quem armazenar em seu celular ou compu-
tador fotos ou vídeos que contenham conteúdo pornográfico ou cenas de sexo explícito
com crianças ou adolescentes ou até mesmo a simulação ou montagem de cena:

Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, foto-


grafia, vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de sexo
explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Art. 241-C. Simular a participação de criança ou adolescente em cena
de sexo explícito ou pornográfica por meio de adulteração, montagem
ou modificação de fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de repre-
sentação visual:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

Não raros são os casos de aliciamento de menores por meio virtual seja
por meio de chats no Facebook, WhatsApp ou até mesmo em jogos on-line.

Art. 241-D.  Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qualquer meio


de comunicação, criança, com o fim de com ela praticar ato libidinoso:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

Uma legislação sobre crimes virtuais recente buscando prever outros crimes
é a Lei nº 13.718, sancionada em 2018. Ela tipifica os crimes de importunação sexual
e de divulgação de cena de estupro, torna pública incondicionada a natureza da ação
penal dos crimes contra a liberdade sexual e dos crimes sexuais contra vulnerável.

O Art. 215-A introduz em nosso ordenamento jurídico o crime de impor-


tunação sexual, consistente em: "Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato
libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro". A pena
é de reclusão de um a cinco anos, se o ato não constitui crime mais grave.

Consiste em praticar (levar a efeito, fazer, realizar) ato libidinoso, isto é,


ação atentatória ao pudor, praticada com propósito lascivo ou luxurioso. O tipo
exige que o ato libidinoso seja praticado contra alguém, ou seja, pressupõe uma
pessoa específica a quem deve se dirigir o ato de autossatisfação.

O Art. 218-C do Código Penal introduz a punição de quem promove a


divulgação de cena de sexo, nudez ou pornografia sem o consentimento dos en-
volvidos, bem como de quem possibilita a publicação de cenas reais de estupro
ou de estupro de vulnerável:

Art. 218-C. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor


à venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio, inclusive,
por meio de comunicação de massa ou sistema de informática ou te-
lemática, fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que contenha
cena de estupro ou de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou
induza a sua prática, ou, sem o consentimento da vítima, cena de sexo,
nudez ou pornografia – Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se
o fato não constitui crime mais grave.

157
Portanto, percebe-se que o Brasil avançou com algumas previsões legais no que
tange aos crimes cibernéticos, ou seja, por meio virtual com o intuito de dar uma resposta
mais efetiva àqueles que têm seus direitos violados, porém tem-se muito que caminhar.

FIGURA 14 – LEGISLAÇÃO CRIMES VIRTUAIS

FONTE: <https://bit.ly/3lG8aMD>. Acesso em: 25 ago. 2020.

FIGURA 15 – CRIMES MAIS COMUNS

FONTE: <https://bit.ly/3lBShqp>. Acesso em: 15 ago. 2020.

158
FIGURA 16 – ESTUPRO VIRTUAL

FONTE: <https://bit.ly/3kFqzI2>. Acesso em: 25 ago. 2020.

159
LEITURA COMPLEMENTAR

CRIMES DIGITAIS: O QUE SÃO, COMO DENUNCIAR E QUAIS LEIS TI-


PIFICAM COMO CRIME?

Publicar ofensas em redes sociais não se confunde com o direito à liberdade


de expressão. A falsa sensação de anonimato tem levedo centenas de internautas pu-
blicarem conteúdos ofensivos de todo tipo para milhares de pessoas, famosas ou não. 

Sem contar os casos de roubos de senhas, de sequestro de servidores, invasão


de páginas e outros cybercrimes. Todas as pessoas que são atingidas podem recorrer
à Justiça para garantir o seu direito de reparação. Apesar de ser um assunto relativa-
mente novo, a legislação tem avançado com textos específicos para cada propósito.

Legislação

Duas leis que tipificam os crimes na internet foram sancionadas em 2012,


alterando o Código Penal e instituindo penas para crimes como invasão de com-
putadores, disseminação de vírus ou códigos para roubo de senhas, o uso de
dados de cartões de crédito e de débito sem autorização do titular. 

A primeira delas é a Lei dos Crimes Cibernéticos (12.737/2012), conheci-


da como Lei Carolina Dieckmann, que tipifica atos como invadir computadores,
violar dados de usuários ou “derrubar” sites. Apesar de ganhar espaço na mídia
com o caso da atriz, o texto já era reivindicado pelo sistema financeiro diante do
grande volume de golpes e roubos de senhas pela internet.

Os crimes menos graves, como “invasão de dispositivo informático”, po-


dem ser punidos com prisão de três meses a um ano e multa. Condutas mais
danosas, como obter, pela invasão, conteúdo de “comunicações eletrônicas priva-
das, segredos comerciais ou industriais, informações sigilosas” podem ter pena
de seis meses a dois anos de prisão, além de multa.

O mesmo ocorre se o delito envolver a divulgação, comercialização ou


transmissão a terceiros, por meio de venda ou repasse gratuito, do material obtido
com a invasão da privacidade. Nesse caso, a pena poderá ser aumentada em um a
dois terços. Já a Lei nº 12.735/12 tipifica condutas realizadas mediante uso de siste-
ma eletrônico, digitais ou similares que sejam praticadas contra sistemas informati-
zados. Essa é a lei que determina a instalação de delegacias especializadas. 

Marco Civil

O Marco Civil da Internet (Lei n º 12.965/2014) foi sancionado em 2014 e


regula os direitos e deveres dos internautas. Ele protege os dados pessoais e a pri-

160
vacidade dos usuários. Dessa forma, somente mediante ordem judicial pode haver
quebra de dados e informações particulares existentes em sites ou redes sociais. 

  Uma das grandes inovações diz respeito a retirada de conteúdo do ar.


Antes de sua entrada em vigor, não havia uma regra clara sobre este procedimen-
to. A partir de então, a retirada de conteúdo do ar só será feita mediante ordem
judicial, com exceção dos casos de “pornografia de vingança”.

Pessoas vítimas de violações da intimidade podem solicitar a retirada de


conteúdo, de forma direta, aos sites ou serviços que hospedem este conteúdo.

Competência jurídica

O Marco Civil da Internet também determinou que os Juizados Especiais


são os responsáveis pela decisão sobre a ilegalidade ou não dos conteúdos. Isto se
aplica aos casos de ofensa à honra ou injúria, que serão tratados da mesma forma
como ocorre fora da rede mundial de computadores.

 A fixação da competência independe do local do provedor de acesso ao


mundo virtual, sendo considerado o lugar da consumação do delito, nos termos
do artigo 70 do Código de Processo Penal. Já nos casos de crimes como violação de
privacidade ou atos que atinjam bens, interesse ou serviço da União ou de suas em-
presas autárquicas ou públicas, a competência é da Justiça Federal, assim como cri-
mes previstos em convenções internacionais (tráfico, tortura, moeda falsa e outros).

Denuncie

Em casos de publicações homofóbicas, xenofóbicas, discriminação racial,


apologia ao nazismo e pornografia infantil é possível realizar uma denúncia anô-
nima e acompanhar o andamento da investigação. Para fazer a denúncia, acesse o
site Safernet (http://new.safernet.org.br/denuncie), identifique o tipo de conteúdo
ofensivo e informe o link para a publicação. 

O Safernet é uma associação civil de direito privado, sem fins lucrativos,


com foco na promoção dos Direito Humanos. Eles têm parceria com diversos
órgãos como a Polícia Federal, o Ministério Público Federal (MPF) e a Procurado-
ria-Geral Federal, além de empresas como o Google, Facebook e o Twitter.

FONTE: <https://bit.ly/3f7szaM>. Acesso em: 15 ago. 2020.

161
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:

• Crimes cibernéticos puros são aqueles em que a conduta ilícita tem por fina-
lidade exclusiva o sistema de computador como ferramenta acessando inclu-
sive dados e sistemas.

• Os crimes cibernéticos comuns são as condutas ilícitas em que o agente se


utiliza do sistema de informática como mera ferramenta, não essencial à con-
sumação do delito.

• Já os crimes cibernéticos mistos para a conduta ilícita necessitam do uso da


internet ou do sistema informático, sendo uma condição indispensável, mas o
bem jurídico visado é diferente do informático.

• Crimes cibernéticos impróprios são aqueles que afetam o bem jurídico co-
mum, ou seja, o patrimônio e para operar a conduta ilícita se utilizam dos
sistemas informáticos.

• Crimes cibernéticos próprios são os atos dirigidos contra um sistema de in-


formática, tendo como subespécies atos contra o computador e atos contra os
dados ou programas de computador.

• O fato da conduta ter se concretizado pela Rede Mundial de Computadores


não determina a competência Federal. É necessário que o delito tenha sido
cometido no território nacional para a aplicação da legislação brasileira.

• Crime de invasão de dispositivo informático: Invadir dispositivo informático


alheio de qualquer espécie, conectados ou não em rede, desde que violado
mecanismo de segurança (senha, firewall etc.), desde que a finalidade do cri-
minoso seja obter, adulterar ou destruir dados ou informações.

CHAMADA

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162
AUTOATIVIDADE

1 Crime cibernético é uma atividade criminosa que tem como alvo ou faz uso
de um computador, uma rede de computadores ou um dispositivo conecta-
do em rede. Invadir dispositivo alheio é crime. Portanto, invadir o dispositivo
informático alheio de qualquer espécie, conectados ou não em rede, violando
os mecanismos de segurança (senha, firewall etc.), objetivando, de forma cri-
minosa, obter, adulterar ou destruir dados ou informações é considerado um
crime. Sobre o nome dado a este crime, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Pedofilia.
b) ( ) Perturbação sexual.
c) ( ) Fraude por internet.
d) ( ) Invasão de dispositivo informático.

2 Apelidada de "Lei Carolina Dieckmann", ela altera o Código Penal para


tipificar como infrações uma série de condutas no ambiente digital, prin-
cipalmente com relação à invasão de computadores, além de estabelecer
punições específicas, algo inédito até então. Portanto, a lei dos crimes ciber-
néticos, conhecida como lei Carolina Dieckmann, diz respeito a qual lei?

a) ( ) Lei nº 12.737/2012.
b) ( ) Lei nº 8069/1990.
c) ( ) Lei nº 12.965/2014.
d) ( ) Lei nº 12868/2008.

3 Crimes cibernéticos, ou cibercrimes, são atividades ilegais praticadas em am-


biente virtual que vão além do roubo de informações financeiras. Utilizam-se
de computadores e internet para atingir os mais variados objetivos, seja por
meio de uma rede pública, privada ou doméstica. No entanto, existem clas-
sificações quanto aos crimes cibernéticos. ____________________ são aqueles
em que a conduta ilícita tem por finalidade exclusiva o sistema de compu-
tador como ferramenta, acessando, inclusive, dados e sistemas. Acerca do
exposto, assinale a alternativa CORRETA que completa a sentença:

a) ( ) Crimes cibernéticos puros.


b) ( ) Crimes cibernéticos impuros.
c) ( ) Crimes cibernéticos mistos.
d) ( ) Crimes cibernéticos impróprios.

163
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE E O DIREITO DIGITAL: QUESTÕES JURÍDICAS NO AMBIENTE ELETRÔNICO

4 O Marco Civil da Internet é uma legislação que inovou diversos aspectos


da regulamentação das atividades das empresas relacionadas ao ambiente
digital. O Marco Civil apresenta princípios, dentre eles está um princípio da
neutralidade da rede. A que se refere este princípio?

5 A Lei do Marco Civil atribui o dever de sigilo de suas informações ao prove-


dor do recurso de internet. A quebra de tal garantia somente pode acontecer
por meio de ordem judicial, quando forem imprescindíveis para a elucidação
de ações ilícitas, bem como na tentativa de identificação dos seus responsá-
veis. A este respeito, do que se trata o princípio da privacidade na web?

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REFERÊNCIAS
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7 de dezembro de 1940 (Código Penal), para tipificar os crimes de importunação se-
xual e de divulgação de cena de estupro, tornar pública incondicionada a natureza
da ação penal dos crimes contra a liberdade sexual e dos crimes sexuais contra vul-
nerável, estabelecer causas de aumento de pena para esses crimes e definir como
causas de aumento de pena o estupro coletivo e o estupro corretivo; e revoga dis-
positivo do Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941 (Lei das Contravenções
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165
UNIDADE 3 — A RESPONSABILIDADE E O DIREITO DIGITAL: QUESTÕES JURÍDICAS NO AMBIENTE ELETRÔNICO

BRASIL. Lei nº 11.829, de 25 de novembro de 2008. Altera a Lei no 8.069, de 13 de


julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente, para aprimorar o combate
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