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DELEGADO CIVIL – DIREITO PENAL

Direito Penal

Capítulo 1 Introdução ao Direito Penal – Parte Geral

1.1. Conceito

O Direito Penal se conceitua como sendo um ramo de direito público, formado


por normas jurídicas, no qual o Estado protege os bens mais relevantes para a sociedade
e proíbe determinadas condutas classificadas como infrações penais e comina as
respectivas sanções.

Há a classificação do Direito Penal como objetivo e subjetivo. Vejamos:

- Direito Penal Objetivo: é o conjunto de normas produzidas pelo Estado, definindo


infrações penais que abrangem crimes e contravenções, bem como todas as demais que
tratem de questões de natureza penal, tais como: causas de exclusão do crime, isenção
de pena, etc.

- Direito Penal Subjetivo: é o próprio ius puniendi, ou seja, tem relação com a
possibilidade do Estado criar e executar suas normas, com a imposição das decisões
condenatórias prolatadas pelo Poder Judiciário.

O referido
O referido ius puniendi
ius puniendi podepode ser subdividido
ser subdividido em: positivo
em: positivo e negativo.
e negativo. O positivo
O positivo éo
é poder
o poder
dede
o oEstado
Estadocriar
criare eexecutar
executarsuas
suaspróprias
própriasdecisões
decisõesdedecunho
cunhocondenatório.
condenatório.OO
negativo
negativoé é manifestado
manifestado pela
pela possibilidade
possibilidade de extirpar do
de extirpar do ordenamento
ordenamento jurídico
jurídico
determinado
determinadopreceito
preceitopenal,
penal, tal
tal como
como ocorre no controle
ocorre no controle de
de constitucionalidade
constitucionalidade
realizado
realizadopelo
peloSupremo
SupremoTribunal
TribunalFederal.
Federal.

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1.2. Características

As principais características do Direito Penal reúnem o fato dele ser um ramo de


direito público, pois regula as relações entre o cidadão e a sociedade. De acordo com a
doutrina, podemos listar as seguintes características:

a) Normativa: tem como objeto o estudo do conteúdo da norma positivada no


ordenamento jurídico.
b) Valorativa: relaciona-se ao fato, valor e norma, isto é, a norma editada é valorada
conforme a realidade fática e em escala hierárquica.
c) Sancionadora: tem relação com a proteção da sociedade e da ordem jurídica, por
meio de estipulação de sanções penais.
d) Dogmática: o seu conteúdo é exposto por meio das normas jurídicas.

1.3. Funções

Funções do Direito Penal se dividem em:

- Controle social: no âmbito do controle social, ele é exercido por meio de mecanismos
de prevenção.
- Garantia do indivíduo em face do Estado: almeja o controle da intervenção do Estado
incidente sobre a liberdade individual de cada cidadão.

1.4. Fontes. Classificação das Fontes: Materiais e Formais.

Fontes do Direito do Trabalho são os meios pelos quais se formam ou se


estabelecem essas normas jurídicas, produzindo, de fato, material ou formalmente, o
direito.

1.4.1. Fontes materiais

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Fontes materiais são os órgãos constitucionalmente responsáveis por elaborar o


Direito penal. No ordenamento jurídico brasileiro, a Carta Constitucional preceitua que
essa atribuição é privativa da União.

1.4.2. Fontes formais

As fontes formais, por outro lado, são aquelas que têm a forma positivada do
Direito, podendo-se dizer que estas são retratadas nas normas jurídicas como
exteriorização do Direito. Subdividem-se em:

a) Fonte formal imediata: a lei, destacamos que somente ela poderá criar infrações
penais e cominar pena.
b) Fontes formais mediatas: são a Constituição Federal, os costumes e os princípios
gerais do direito.

1.5. Garantismo Penal e Direito Penal do Inimigo (ACRÉSCIMO)

Essa temática foi colocada em recente edital da Banca CESPE no Concurso para
Delegado de Polícia do Estado de Goiás de 2017.

- Garantismo Penal

O garantismo desempenha a função de estabelecer o objeto e os limites do


direito penal nas sociedades democráticas, a partir da utilização dos direitos
fundamentais. O sistema estabelece critérios de racionalidade à intervenção do direito
penal, com o objetivo de deslegitimar normas ou formas de controle social que se
sobreponham aos direitos e garantias individuais.

O seu grande expoente na doutrina penalista é LUIGI FERRAJOLI, o qual fixou o


seu sistema garantista em dez axiomas ou princípios axiológicos fundamentais:

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a) Nulla poena sine crimine: principio da retributividade ou da consequencialidade da pena
em relação ao delito;
b) Nullum crimen sine lege: principio da reserva legal;
c) Nulla lex sine necessitate: principio da necessidade ou da economia do direito penal;
d) Nulla necessitas sine injuria: principio da lesividade ou da ofensividade do resultado;
e) Nulla injuria sine actione: principio da materialidade ou da exterioridade da ação;
f) Nulla actio sine culpa: principio da culpabilidade ou da responsabilidade pessoal;
g) Nulla culpa sine judicio: principio da jurisdicionalidade;
h) Nullum judicium sine accusatione: principio acusatório ou da separação entre juiz e
acusação;
i) Nulla accusatio sine probatione: principio do ônus da prova ou da verificação;
j) Nulla probatio sine defensione: principio do contraditório ou da defesa, ou da
falseabilidade.

- Direito Penal do Inimigo

O Direito Penal do Inimigo foi desenvolvido por GUINTHER JAKOBS, segundo o


qual há a convivência de dois tipos de direito dentro do mesmo ordenamento jurídico.
O primeiro, caracterizado como um direito penal do cidadão, no qual são asseguradas
todas as garantias constitucionais típicas do Estado Democrático de Direito. Enquanto
que, o segundo, representado por grupos determinados e pela coexistência do Direito
Penal do Inimigo, no qual o seu sujeito é visto como fonte de perigo, baseando-se no
direito penal do autor. Nesse segundo grupo, há uma restrição dos direitos e das
garantias penais e processuais típicas do Estado Democrático de Direito.

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Capítulo 2 Princípios

2.1. Princípios

Os princípios orientam o intérprete na compreensão no ordenamento jurídico.


Na seara do Direito Penal, em regra, os princípios funcionam como limitadores do poder
punitivo estatal, pois servem de garantia aos indivíduos.

2.1.1. Princípio da legalidade penal

O princípio da legalidade penal foi expressamente previsto em todos os Códigos,


iniciando-se no Código Criminal do Império de 1830, até a reforma da Parte Geral do
Código de 1940, ocorrida em 1984.

Atualmente, encontra-se positivado no artigo 5º, XXXIX da CRFB/88, no artigo 9º


do Pacto de São José da Costa Rica, bem como no artigo 1º do CP.

- Concepção Formal: guarda consonância com o respeito aos trâmites procedimentais


previstos constitucionalmente para que determinada lei ingresse no nosso
ordenamento jurídico.

- Concepção Material: preceitua a adequação do seu conteúdo com as proibições e


imposições para o resguardo dos direitos fundamentais dos cidadãos.

- Funções: esse princípio exerce importantes funções, tais como: de proibir a


retroatividade da lei penal; de proibir a utilização de analogias para criar crimes e de
criar crimes através dos costumes.

Importante: é vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria de Direito


Penal, por força do previsto no artigo 62, §1º, I, b’ da CRFB/88. Porém, entende-se
que a proibição só alcançaria as leis penais de conteúdo incriminador e não as leis
penais benéficas.

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A doutrina elenca algumas características do Princípio da Legalidade:

a) lei estrita: tem relação com a competência para a criação de crimes e cominação de
penas, através de lei editada somente pelo Poder Legislativo.
b) lei escrita: a lei deve ser escrita, sendo certo que o costume não é admitido como
fonte normativa no direito penal.
c) lei certa: a lei penal deve ser precisa e determinada, não se se admitindo tipos penais
vagos e imprecisos.
d) lei prévia: a lei penal incriminadora só pode ser aplicada para os fatos cometidos após
a sua vigência.

2.1.2. Princípio da anterioridade

Este princípio é um desdobramento do princípio da legalidade penal e preceitua


que a lei penal terá aplicação aos fatos ocorridos após a sua vigência. Também é
conhecido pela expressão: “nullum crimen, nulla poena sine lege praevia”.

2.1.3. Princípio da ofensividade

De acordo com o princípio da ofensividade, a conduta deverá atingir um bem


causando uma lesão ou um perigo de lesão a determinado bem jurídico. Assim, apenas
as condutas que provoquem lesão a bem jurídico podem ser tuteladas pelo Direito
Penal.

2.1.4. Princípio da fragmentariedade

Segundo o princípio da fragmentariedade, o Direito Penal tutela somente uma


pequena parcela dos bens jurídicos mais importantes existentes na sociedade.

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2.1.5. Princípio da culpabilidade

A culpabilidade diz respeito ao juízo de reprovação social que se faz sobre a


conduta típica e ilícita do agente. A culpabilidade funciona como um princípio limitador
da aplicação da pena e impede a responsabilização penal objetiva.

2.1.6. Princípio da individualização da pena

A aplicação da pena deve observar às peculiaridades do fato e da pessoa que é


apenada, assim, a pena deve ser aplicada de maneira proporcional à ofensa produzida
pelo delito ao bem jurídico. O princípio encontra-se no artigo 5º, XLVI da CRFB/88 e no
artigo 59 do CP.

Esse princípio abrange a fase da cominação, na qual o legislador estipula os


limites mínimo e máximo na norma penal, também, a fase da aplicação da pena, em que
o julgador irá fixar a pena relevando em consideração as particularidades de cada
imputado e na determinação do regime da pena.

2.1.7. Princípio da insignificância

Fundamenta-se em valores de política criminal e objetiva a realizar uma


interpretaçao restritiva da lei penal. A sua aplicabilidade depende da presença de
determinados requisitos relacionados ao fato, e de requisitos subjetivos, relativos ao
agente e à vítima.

- Requisitos:

a) Mínima ofensividade da conduta;

b) Ausência de periculosidade social da ação;

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c) Reduzidíssimo grau de reprovação do comportamento do agente; e

d) Inexpressividade da lesão jurídica provocada.

- Observação: os requisitos subjetivos não guardam relação com o fato, mas sim com o
agente e à vítima.

Jurisprudência

Tema: Princípio da insignificância e Violência Doméstica (Informativo nº


825 do STF)

1. Para incidência do princípio da insignificância devem ser relevados o


valor do objeto do crime e os aspectos objetivos do fato, a mínima
ofensividade da conduta do agente, a ausência de periculosidade social
da ação, o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e a
inexpressividade da lesão jurídica causada.
2. Na espécie vertente, não se pode aplicar ao Recorrente o princípio pela
prática de crime com violência contra a mulher.
3. O princípio da insignificância não foi estruturado para resguardar e
legitimar condutas desvirtuadas, mas para impedir que desvios de
conduta ínfimos, isolados, sejam sancionados pelo direito penal, fazendo-
se justiça no caso concreto.
4. Comportamentos contrários à lei penal, notadamente quando
exercidos com violência contra a mulher, devido à expressiva
ofensividade, periculosidade social, reprovabilidade do comportamento
e lesão jurídica causada, perdem a característica da bagatela e devem
submeter-se ao direito penal. 5. Recurso ao qual se nega provimento.
(RHC 133043, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, Segunda Turma, julgado em
10/05/2016).

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2.1.8. Princípio da adequação social

O princípio defende que somente podem ser tipificados como infrações penais
os comportamentos que não sejam adequados no âmbito social. Restringe, assim, a
incidência do tipo penal, pois limita a sua interpretação com a exclusão das condutas
socialmente aceitáveis pela sociedade.

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Capítulo 3 Teoria da Norma

3.1. Introdução

Distinguem-se os conceitos de lei penal e norma. A lei penal prevê a conduta


proibida, conforme o que está descrito na redação legal. Já a norma que o agente
infringe é alheia ao Direito Penal.

3.2. Classificação da lei penal

As normas penais possuem a finalidade de punir determinadas condutas


previstas no Código Penal, estipulando os casos que a lei penal incrimina ou não
determinada conduta do agente. As leis penais se classificam em: leis penais
incriminadoras e leis penais não incriminadoras.

- Leis Penais Incriminadoras: são aquelas que estabelecem as condutas consideradas


criminosas e fixam a respectiva sanção penal. A sanção deve ser específica, com a
previsão do seu limite mínimo e máximo, em apreço ao princípio da legalidade.

As normas incriminadoras se classificam em primárias ou secundárias. Primárias são


aquelas que descrevem de forma detalhada a conduta, de cunho proibitivo ou
impositivo. Já as secundárias possuem como objetivo a individualização da pena em
abstrato.

- Leis Penais Não Incriminadoras: são aquelas que preveem regras de licitude ou
impunidade de determinadas situações relevantes ao Direito Penal.

Elas podem ser classificadas em:

a) leis penais permissivas: são as que autorizam a prática de determinados atos típicos.

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b) leis penais interpretativas: são as que servem de suporte para o esclarecimento de


outras leis.
c) leis penais de extensão: são utilizadas para integrar a tipicidade de determinado fato
típico.
d) leis penais exculpantes: são as que excluem a culpabilidade de determinados fatos
típicos e ilícitos.

3.3. Características

A lei penal possui as seguintes características:

a) Imperatividade: a lei penal é dotada de autoridade e quem descumprir o seu


mandamento estará sujeito à sanção penal.
b) Impessoalidade: a lei penal se aplica a qualquer indivíduo, dirigindo-se a fatos
futuros. As exceções são as leis que preveem a anistia e a abolitio criminis.
c) Generalidade: a lei penal possui eficácia erga omnes.
d) Exclusividade: a lei penal é exclusiva, pois ela é a única que define infrações e comina
sanção penal.

3.4. Lei penal em branco

Em regra, a estrutura básica da lei penal é formada pelo preceito primário, que
descreve a conduta comissiva ou omissiva ilícita e pelo preceito secundário, que
estabelece a sanção penal.

Ela se classifica em:

a) homovitelina: quando a norma e seu complemento, além de derivarem da mesma


fonte de produção, tenham sido previstas na mesma lei.

b) heterovitelina: quando a fonte de produção é a mesma, mas o seu complemento


encontra-se em uma lei diversa.

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3.5. Lei penal no tempo

A definição do tempo em que a infração penal foi cometida é importante não


apenas para sabermos qual a lei a ser aplicada no caso concreto, mas também serve
para determinar a imputabilidade do agente. Há três teorias a respeito desse tema:

a) Teoria da atividade: o crime é considerado praticado no momento da ação ou


omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. Destaca-se que essa teoria foi
adotada no artigo 4º do CP.

b) Teoria do resultado: o crime é considerado praticado no momento da produção do


resultado.

c) Teoria mista: considera-se tanto o momento da ação ou da omissão, como do


resultado.

Em regra, os fatos ocorridos na vigência de determinada lei devem ser por ela regidos,
de acordo com o brocardo jurídico tempus regit actum. Entretanto, há exceção na
extra-atividade da lei penal mais benéfica, que permite a sua aplicabilidade retroativa,
bem como permite a sua ultra-atividade. A ultra-atividade é a aplicação da lei após a
sua revogação.

O conflito das leis penais no tempo é resolvido com a aplicação dos princípios
da irretroatividade da lei penal mais gravosa e da retroatividade da lei penal mais
benéfica.

A lei nova mais severa não pode ser aplicada aos fatos anteriores à sua vigência,
em decorrência do princípio da irretroatividade da lei penal mais gravosa. Assim, os
fatos anteriores continuarão sendo disciplinados pela lei anterior, com aplicação da sua
ultra-atividade.

Por outro lado, a lei penal mais benéfica retroage aos fatos anteriores à sua
vigência.

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Atenção! Competência para aplicação da lei nova mais benéfica: A rigor cabe ao juízo
da etapa de conhecimento. Caso o processo esteja em grau de recurso, cabe ao Tribunal.
Se estiver em fase de execução, cabe ao juízo da execução penal.

Súmula 611 do STF: Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao Juízo


das execuções a aplicação da lei mais benigna.

A lei nova incriminadora de uma conduta que antes não era positivada, só terá
início de vigência a partir da sua entrada em vigor, em respeito ao princípio da
anterioridade.

Atenção: crime permanente e crime continuado: Exemplo: um agente comete três


crimes de furto, nas mesmas condições de tempo, lugar e modo de execução,
configurando-se o crime continuado (artigo 71 do CP). Caso os dois primeiros furtos
forem praticados sob a égide da Lei “X”, mais benéfica. Sobrevém a Lei “Y”, prejudicial
ao réu e, sob a égide dela, ele pratica o terceiro furto. Qual lei se aplica?

A Lei “Y” é aplicada aos três furtos cometidos em continuidade delitiva. O mesmo
raciocínio vale para o crime permanente.

Súmula 711 do STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime
permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da
permanência.

Nessa temática das leis penais no tempo, é importante nós falarmos a respeito
da lei excepcional e da lei temporária:

- Lei Excepcional: é aquela que possui vigência durante um período de emergência,


como ocorre nos casos de calamidade pública, guerra, etc. Observa-se que não há um
prazo estipulado de vigência, ou seja, ela terá a duração do estado de emergência. A lei
temporária é aquela que possui vigência estipulada desde a sua origem.

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Observação: a peculiaridade dessas leis é que elas são ultra-ativas e autorrevogáveis,


ou seja, ainda que tenha decorrido o tempo da sua duração ou cessadas as
circunstâncias que a determinaram, elas continuam sendo aplicadas aos fatos
ocorridos durante a sua vigência.

Quando houver diversos tipos penais parecendo incidir ao mesmo tempo num
fato, há o que chamamos de conflito aparente de normas.

Para não incorrer em bis in idem, devemos escolher qual o tipo penal que
incidirá sobre aquele único fato, embora haja diversos tipos penais conflitando entre si
aparentemente. Essa determinação se dará conforme alguns critérios, chamados de
princípios do conflito aparente de normas.

São requisitos do conflito aparente de normas: a unidade de fato e a


pluralidade de tipos penais que aparentemente incidem no caso concreto.

Os critérios para solucionar esse conflito aparente são:

a) Princípio da especialidade: em eventual conflito entre o tipo penal geral e o tipo penal
específico, prevalecerá este último. Os elementos específicos são denominados
especializantes, os quais podem tornar o fato mais gravoso ou benéfico ao agente.
b) Princípio da subsidiariedade: a norma subsidiária prevê um crime autônomo com
sanção penal menos grave que a prevista em outro tipo penal, concebida como norma
primária. O tipo penal menos grave está contido dentro do tipo mais grave. A
subsidiariedade pode ser expressa ou tácita. Na subsidiariedade expressa, o tipo
expressamente declara a sua subsidiariedade, o que ocorre quando o artigo diz “se não
configurar crime mais grave”. Já a subsidiariedade tácita decorre da interpretação
sistemática da ordem jurídico-penal.
c) Princípio da consunção: ocorre quando há uma absorção de um crime por outro. A
consunção possui três vertentes: o crime progressivo; a progressão criminosa e o post
factum impunível. O crime progressivo ocorre quando o agente desde o início da sua
empreitada criminosa já sabe que violará outros bens jurídicos para consumar o seu
crime mais grave. As violações anteriores ficam absorvidas pelo crime fim. Na
progressão criminosa, o agente produz o resultado pretendido desde o início, mas, em
seguida, resolve praticar um resultado mais grave que o anterior. No post factum

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impunível, os tipos protegem o mesmo bem jurídico, a primeira infração penal lesa um
bem jurídico, enquanto que a segunda não enseja uma nova lesão, porque o bem já foi
violado anteriormente.
d) Princípio da alternatividade: aplica-se aos tipos penais mistos alternativos. Desse
modo, ainda que o agente tenha praticado várias condutas descritas no mesmo tipo
penal, só se terá praticado um único crime.

3.6. Lei penal no espaço

Antes de nós analisarmos o princípio da territorialidade, que tem relação com


a aplicabilidade da lei penal no espaço, é necessário que se identifique o lugar do crime.
Nesse contexto, três teorias se formaram para determinar o lugar do crime:

a) teoria da atividade: o local onde ocorreu a conduta (ação ou omissão), ainda que
outro seja o local de ocorrência do resultado.
b) teoria do resultado: o local onde ocorreu o resultado.
c) teoria mista ou da ubiquidade: local em que ocorreu a conduta (ação ou omissão),
no todo ou em parte, bem como onde produziu ou deveria ocorrer o resultado.

- Importante! Adotou-se a teoria da ubiquidade no artigo 6º do CP.

Agora, já podemos passar para o estudo da territorialidade no Direito Penal.


Conforme previsto no artigo 5º, caput, do CP, ao crime ocorrido no território nacional
aplica-se a lei penal brasileira. A exceção se dá quando houver a incidência da lei de
outro país a um crime cometido nos limites do território nacional, desde que haja
previsão em convenções, tratados e regras de direito internacional.

A doutrina diz que em razão da referida exceção, conclui-se que o Código Penal
adotou o princípio da territorialidade, mas de forma temperada.

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A territorialidade trata da aplicação da lei penal às infrações praticadas no


território nacional.

O território nacional possui alguns sentidos:

a) sentido jurídico: é o local sujeito à soberania do Estado.


b) sentido material: o território abrange a superfície terrestre, as águas interiores, o mar
territorial e o espaço aéreo correspondente.
c) território por extensão: consideram-se extensão do território nacional as
embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço de governo
brasileiro onde quer que se encontrem e as aeronaves e embarcações brasileiras,
mercantes ou de propriedade privativa, que se achem, respectivamente, no espaço
aéreo correspondente ao alto-mar ou em alto-mar.

A extraterritorialidade é a aplicação da lei penal aos crimes cometidos fora do


território nacional. Ela poderá ser incondicionada ou condicionada.

A extraterritorialidade incondicionada significa a possibilidade de aplicar a lei


penal brasileira a fatos ocorridos fora do território nacional, independentemente de
qualquer condição. Tal regramento encontra-se previsto no artigo 7º, I do CP que traz a
relação dos crimes, a saber:

a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;


b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de
Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia
ou fundação instituída pelo Poder Público;
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil.

A extraterritorialidade condicionada também prevê a aplicação da lei brasileira


a determinados crimes ocorridos fora do território nacional, entretanto depende do
concurso de condições elencadas nos § 2º do artigo 7º do CP. O regramento da

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extraterritorialidade condicionada encontra-se previsto no artigo 7º, II do CP, que traz a


relação dos crimes, a saber:

a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;


b) praticados por brasileiros;
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercante ou de propriedade
privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.

Há, ainda, a previsão de outra hipótese de extraterritorialidade condicionada


no §3º do artigo 7º do CP, que é o crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora
do Brasil. Nesse caso, além da necessária observância das condições estipuladas no §2º
do artigo 7º do CP, devem-se preencher as seguintes:

a) não foi pedida ou foi negada a extradição;


b) houve requisição do Ministro da Justiça.

No que tange ao cumprimento de pena no estrangeiro, é preciso evitar a dupla


punição pelo cometimento da mesma infração penal, nos moldes do artigo 8º do CP.

Aplicação Prática – Questões de Concursos

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(Ano: 2014 Banca: ACAFE Órgão: PC-SC Prova: Delegado de Polícia Substituto)

Observadas as disposições do Código Penal, assinale a alternativa correta.

a) É aplicável a lei do país de procedência aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou


embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território
nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do
Brasil.

b) A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas


consequências, não pode ser homologada no Brasil para obrigar o condenado à reparação do
dano, a restituições e a outros efeitos civis.

c) Para os efeitos penais consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e


aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro, onde quer que se
encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras mercantes ou de propriedade
privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.

d) Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em


parte, exceto se em outro local produziu ou deveria produzir-se o resultado.

e) Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro, os crimes de injúria, calúnia
e difamação praticados contra o Presidente da República do Brasil.

R: Alternativa C

R: Alternativa D
3.7. Interpretação e aplicação da lei penal

Podemos subdividir a interpretação da lei penal quanto ao sujeito de que


emana e quanto aos meios que se utilizam para alcançá-la.

Em relação ao sujeito que a realiza, a interpretação pode ser:

a) autêntica: é a interpretação feita pelo próprio texto legal.


b) doutrinária: é aquela realizada pelos pesquisadores e estudiosos do direito, que
emitem valorações e opiniões pessoais.
c) judicial: é a realizada pelos que aplicam o direito, ou seja, pelos juízes.

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Em relação aos meios utilizados, a interpretação pode ser:

a) gramatical ou literal: é aquela em que o intérprete almeja descobrir o real sentido


das palavras descritas no texto legal.
b) sistemática: o intérprete analisa o texto legal em conformidade com o sistema
jurídico ao qual está inserido.
c) histórica: nesse caso, o intérprete retorna ao passado, especialmente no momento
em que foi editado o diploma normativo.
d) teleológica: o intérprete busca a finalidade da lei penal.

3.8. Lei penal em relação às pessoas

Dividiremos o estudo da lei penal em relação às pessoas em: imunidades


diplomáticas e imunidades parlamentares.

- Imunidades Diplomáticas: se referem aos agentes diplomáticos e seus familiares


credenciados que o acompanham na missão. A imunidade diplomática não quer dizer
que ele não responde por eventuais crimes que vier a praticar, mas não se aplicam as
leis do país em que cumpre sua missão e sim as leis do país que ele representa o
interesse da origem. Elas são renunciáveis pelo Estado, pela nação e não pelo agente.

- Imunidades Parlamentares: são imunidades que gozam os integrantes do Parlamento


em todas as esferas da federação. Elas são irrenunciáveis, não são estabelecidas em
favor do parlamentar, mas sim em favor do Parlamento. São prerrogativas em razão do
cargo, da função. Tanto é que hoje em dia se fala em foro especial de prerrogativa de
função, ao invés de foro privilegiado.

Podem ser absolutas ou relativas:

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- Absolutas ou substanciais ou materiais: diz respeito ao presente no artigo 53, caput


da CF (os deputados e os senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer
de suas opiniões, palavras ou votos); artigo 27, §1º da CF e artigo 29, VIII da CF.

Todos eles gozam de imunidade absoluta, ele é inviolável tanto na esfera civil,
quanto na penal, por seus votos, palavras e opiniões. Ele não responde por crime de
opinião. Ele não pode responder por uma injúria, calúnia, difamação, desacato. Para que
ele seja inviolável, esses votos, palavras e opiniões devem guardar relação com o múnus
da sua profissão. A imunidade do vereador é restrita às funções que ele tem definida
como vereador.

Observação: natureza jurídica das imunidades parlamentares é um tema bastante


Observação: natureza jurídica das imunidades parlamentares é um tema bastante
controvertido na doutrina, acompanharemos o posicionamento majoritário que
controvertido na doutrina, acompanharemos o posicionamento majoritário que
entende se tratar de causa pessoal ou funcional de exclusão da pena.
entende se tratar de causa pessoal ou funcional de exclusão da pena.

- Imunidades Relativas ou Processuais ou Adjetivas: significam que o parlamentar não


pode ser responsabilizado civilmente ou penalmente por seus votos, palavras e opiniões
em relação ao seu múnus, mas ele responde por esses crimes quando não houver
correspondência com o seu múnus, mas também por todos os crimes previstos na
legislação penal. São regras relativas a foro por prerrogativa de função, por processo,
procedimento. Essas regras se encontram no artigo 53 e seus §§ da CF e artigo 27, §1º
da CF.

Observação: O Vereador não tem imunidade relativa na CF, a não ser que tenha previsão
Observação: O Vereador não tem imunidade relativa na CF, a não ser que tenha
na Constituição Estadual, mas isso não poderá afastar a competência constitucional do
previsão na Constituição Estadual, mas isso não poderá afastar a competência
Júri.
constitucional do Júri.

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Capítulo 4 Teoria do Crime

4.1. Conceitos de Crime

De acordo com o conceito formal, crime é toda conduta que a lei prescreve
como delituosa capaz de causar lesão a um bem jurídico e que é cominada uma sanção
penal.

- Conceito material: crime é toda conduta que provoca lesão ou exponha a perigo um
determinado bem jurídico protegido. Observa-se que esse conceito se atém ao
conteúdo do ilícito penal, com a análise da conduta criminosa e a sua consequência
social.

- Conceito Analítico: duas repartições merecem destaque, quais sejam, o conceito


bipartido e o conceito tripartido de crime.

 Conceito Bipartido: o qual concebe o crime como uma conduta típica e


antijurídica. De acordo com este conceito, a culpabilidade é um pressuposto de
aplicação da pena.

 Conceito Tripartido: concebe o crime como uma conduta típica, antijurídica e


culpável. De acordo com essa posição, a culpabilidade é um elemento do crime,
sendo um requisito para aplicar a pena, da mesma forma que é o fato típico e a
ilicitude.

Observação:
Observação:importante
importanteregistrar
registrarque
queooconceito
conceito tripartido
tripartido é o majoritário
majoritário no
nonosso
nosso
ordenamento jurídico.
ordenamento jurídico.

4.2. Fato típico

Partindo-se do conceito tripartido do crime formado pelos elementos fato


típico, ilicitude e culpabilidade, passaremos a seguir a analisar cada uma dessas figuras.

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4.2.1. Conduta

A conduta conceitua-se como sendo uma ação ou omissão humana, de forma


consciente e voluntária, dirigida finalisticamente a um determinado propósito.
Importante entender que a conduta deve estar associada a um ato volitivo do agente.

Para tentar explicar a concepção da conduta, duas teorias tiveram grande


destaque no estudo do Direito Penal: a Teoria Causalista e a Teoria Finalista.

- Teoria Causalista: foi criada por Von Liszt e Beling no final do século XIX. Para essa
teoria, a ação humana consistia numa modificação no mundo exterior perceptível pelos
sentidos e por uma manifestação de vontade, ou seja, por uma ação ou omissão dotada
de voluntariedade.

 Em síntese, a ação pode ser definida com base em três elementos: a


manifestação de vontade, a relação de causalidade (movimento corporal) e o
resultado.

Essa teoria não se preocupava com a finalidade que se tinha na realização do


comportamento, ou seja, a vontade era desprovida de conteúdo finalístico. A
doutrina elenca algumas dificuldades causadas pela aplicação dessa teoria, tais como:
a impossibilidade de explicação da conduta omissiva e no crime culposo, a ausência
de análise do valor ou desvalor da ação.

- Teoria Finalista: consagrada por Hans Welzel, segundo a doutrina amplamente


majoritária é hoje adotada pelo nosso Código Penal. Ela surgiu no século XX e destaca-
se pela importância de analisarmos o conteúdo finalístico do comportamento humano.

De acordo com Hans Welzel, a conduta teria duas fases: subjetiva e objetiva:

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a) Fase subjetiva: é uma antecipação mental do resultado, com a seleção dos meios
aptos a atingir o resultado pretendido e leva em consideração os efeitos concomitantes
à utilização dos meios.
b) Fase objetiva: é a própria realização da conduta, ou seja, a conduta voluntária e
consciente e dirigida a uma finalidade é posto em prática pelo agente.

Na Teoria Finalista, o dolo e a culpa migraram da culpabilidade e passaram a


integrar o fato típico, visto que a ação humana é um exercício da atividade final. Assim,
os elementos subjetivos – dolo e culpa – encontram-se na conduta do agente.

Cabe registrarmos que a ausência de conduta ocorre quando não há voluntariedade


do agente na determinação de um fato. Assim, sequer haverá fato típico. São
hipóteses de ausência de conduta a coação física irresistível (vis absoluta), os
movimentos reflexos, os atos reflexos involuntários e estados de inconsciência.

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Aplicação Prática – Questão de Concurso

(Ano: 2017 Banca: IBADE Órgão: PC-AC Prova: Delegado de Polícia Civil)

Sobre a doutrina da ação finalista, tal qual formulada por Hans Welzel, é correto afirmar que:

a) o tipo, para Welzel, é objetivo e neutro, ao passo em que o injusto é uma criação normativa,
propiciada por juízos de valor que teriam como norte o objetivo almejado pelo legislador, seja
a proteção de bens jurídicos, seja outra situação estatal de conveniência.

b) para a teoria finalista de Welzel. ação é uma manifestação da personalidade, que abrange
todos os acontecimentos atribuíveis ao centro de ação psíquico-espiritual do homem, não
distinguindo a manifestação da personalidade da realização de um propósito.

c) a direção final de uma ação se dá em duas fases, que nas ações simples se entrecruzam, a
saber, uma que ocorre na esfera do pensamento, com a antecipação do fim a realizar, a seleção
dos meios necessários à sua realização e a consideração dos efeitos simultâneos decorrentes
dos fatores causais eleitos; e a concretização da ação no mundo real, de acordo com a projeção
mental.

d) ora a ação é apresentada como comportamento humano socialmente relevante, ora como
fenômeno social, em modelos nos quais a finalidade humana é apresentada como um fator
formador de sentido da realidade social.

e) a teoria foi desenvolvida a partir de modelos ditados pelo método científico de Descartes,
com as contribuições positivistas de pensadores como Comte, resultando em uma formulação
na qual o conteúdo da vontade é dissociado do processo causal que desencadeia a vontade no
mundo exterior.

R: Alternativa C

4.2.2. Dolo

Como já vimos, o dolo é um elemento integrante do fato típico. Ele é a


conjugação de dois elementos: o volitivo e cognitivo.

O elemento volitivo significa que a vontade está atrelada a um plano subjetivo


do agente na prática da conduta, bem como guarda relação com a capacidade de
influenciar na produção do resultado criminoso.

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O elemento cognitivo é a consciência atual pelo agente da sua conduta e


abrange todos os elementos presentes no tipo penal.

O dolo é classificado como dolo direto e dolo indireto:

- Dolo Direto: é quando o agente deseja a produção do resultado.

Esse dolo se subdivide em:

a) dolo direito de primeiro grau: ocorre quando o agente tem a consciência e a vontade
de praticar a conduta e de produzir o resultado criminoso.
b) dolo direito de segundo grau: é a representação na mente do agente do possível
efeito colateral como decorrência necessária do meio escolhido para a prática de
determinado crime.

- Dolo Indireto: é quando a vontade do agente não é dirigida a um resultado


determinado.
Esse dolo se subdivide em:

a) dolo eventual: caracteriza-se pela representação de um resultado na consecução de


uma conduta pelo agente, que não o deseja, mas assume o risco da sua possível
produção.
b) dolo alternativo: é quando a vontade do agente se dirige a um ou outro resultado.

No estudo do dolo foram desenvolvidas importantes teorias, a saber:

a) Teoria da Vontade: o dolo ocorre quando o agente realiza a representação mental do


resultado, ou seja, ele quer diretamente o resultado e se dirige a sua consecução. Essa
teoria se aplica ao dolo direto de primeiro grau.
b) Teoria do Consentimento: o dolo está presente quando o agente faz a representação
mental do resultado, não o quer diretamente, mas aceita a sua produção. Essa teoria se
aplica ao dolo indireto eventual.

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c) Teoria da Representação: o dolo restará caracterizado com a sua representação na


mente do agente.

4.2.3. Culpa

Culpa é concebida como a violação do dever objetivo de cuidado. Conforme


previsto no artigo 18, II do CP, o crime culposo ocorre quando o agente dá causa ao
resultado por imprudência, negligência ou imperícia.

Os tipos culposos devem ser expressamente previstos como tal, tendo em vista
que a modalidade dolosa é a regra.

Os elementos do tipo culposo são:

- Conduta Voluntária: significa que o agente tem vontade de praticar determinada


conduta, porém o resultado produzido é causado de forma involuntária.
- Inobservância do dever objetivo de cuidado: tem relação com as cautelas necessárias
que o homem médio deve adotar para evitar a causação de danos a terceiros.
- Previsibilidade objetiva do seu resultado: é a representação comum dos indivíduos de
possível resultado.

As modalidades de culpa são:

a) negligência: é relevada por uma abstenção do agente. O agente não faz o que deveria
ter sido realizado e, assim, provoca uma violação do seu dever objetivo de cuidado.
b) imprudência: é manifestada por um agir indevido do agente. O agente atua com
precipitação, de forma perigosa.
c) imperícia: é relacionada com a inaptidão para o desempenho de arte ou profissão.

Espécies de culpa:

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a) culpa inconsciente: é quando o agente não antecede o possível resultado da sua


conduta.
b) culpa consciente: é quando o agente prevê a possibilidade de ocorrência do
resultado, mas não assume o risco da sua produção, tendo em vista que sinceramente
acredita na sua evitação.
c) culpa própria: é a modalidade de culpa inconsciente, sendo a culpa comum por
excelência.
d) culpa imprópria: trata-se de uma conduta essencialmente dolosa, mas que o
legislador estabeleceu a imputação a título de crime culposo, em virtude do erro de
representação antes da manifestação da conduta. Ela decorre de erro evitável nas
descriminantes putativas sobre a situação fática ou do excesso na justificação,
positivada no artigo 20, §1º do CP.

Observação: diferentemente do que ocorre na esfera cível, no âmbito penal não se


admite a compensação de culpas. O que é plenamente possível é a concorrência de
crimes culposos, em que cada agente irá responder pelo seu próprio crime resultante
de culpa.

4.2.4. Resultado

O resultado é um elemento que integra o fato típico. Encontra-se previsto no


artigo 13 do CP.

- Resultado Jurídico ou Normativo: é o perigo ou lesão provocado a um bem jurídico.

- Resultado Material ou Naturalístico: é a modificação causada no mundo exterior.

Importante destacarmos que todo crime possui resultado jurídico ou normativo, pois
sempre haverá perigo ou lesão a um bem jurídico. Todavia, nem todo crime terá um
resultado
As material
infraçõesou naturalístico,
penais podem ser tal classificadas
como ocorrecomo:
nos crimes de mera conduta e nos
crimes formais.

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a) crime material: o tipo penal imprescinde para a sua consumação da ocorrência de um


resultado naturalístico.
b) crime formal: a consumação do tipo penal prescinde da ocorrência do resultado
naturalístico, embora o resultado externo esteja previsto na figura típica.
c) crime de mera conduta: basta a realização de uma determinada conduta para a sua
ocorrência. Não há previsão e nem necessidade de produção de um resultado
naturalístico no tipo penal.

4.2.5. Nexo de Causalidade

O nexo de causalidade se caracteriza por ser a relação necessária entre a


conduta do agente e o resultado criminoso, de modo a que seja descoberto se a ação
ou omissão foi a causa determinante do resultado.

O nexo de causalidade tem relevância nos crimes materiais, bem como nos
crimes omissos impróprios.

Destacam-se as seguintes teorias sobre o nexo de causalidade:

a)Teoria da equivalência dos antecedentes causais: de acordo com essa teoria, a ação
ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. É uma causa necessária para a
produção do resultado. Tudo aquilo que foi praticado que repercutiu no resultado
equivale como causa. Assim, qualquer causa antecedente que contribuiu fisicamente
para o resultado será levada em consideração. Conforme o procedimento hipotético de
eliminação de Thyrén, causa seria todo antecedente que retirado mentalmente
impediria a produção do resultado da forma que ocorreu.

b) Teoria da causalidade adequada: de acordo com essa teoria, embora haja vários atos
anteriores ao resultado, considera-se a causa mais adequada à produção do resultado.

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Segundo o disposto no artigo 13 do CP, o resultado de que depende a existência


do crime só é imputável a quem lhe deu causa.

As causas podem ser das seguintes espécies: causas absolutamente


independentes e causas relativamente independentes.

- Causas absolutamente independentes: são aquelas em que a conduta do agente não


interfere no processo causal, pois o seu resultado teria ocorrido por outra forma.
Subdividem-se em:

a) causa absolutamente independente preexistente: é aquela que tem o momento de


ocorrência anteriormente à conduta do agente. Exemplo clássico da doutrina seria o
caso em que “A”, desejando a morte de “B”, contra ele desfere um tiro, acertando-o
numa região letal. Embora atingido numa região letal, “B” falece em decorrência do
veneno que havia tomado antes com intenção suicida.
b) causa absolutamente independente concomitante: é aquela que ocorre ao mesmo
tempo com a conduta do agente. Exemplo clássico da doutrina seria a hipótese em que
“A” e “B”, com armas de calibres distintos, atiram em direção a “C”, sem coautoria. Se
restar provado que o projétil de “A” é que atingiu a região letal da vítima, enquanto o
de “B” levemente o atingiu, somente “A” que responderá pelo homicídio consumado.
c) causa absolutamente independente superveniente: é aquela que ocorreu
posteriormente à conduta do agente e que não possui nenhuma relação de
dependência. Exemplo clássico da doutrina seria o caso em que “A” e “B” brigam e “A”
atira em “B”, causando-lhe um ferimento grave, que com certeza o levará a morte.
Entretanto, após o disparo, o prédio no qual ambos se encontravam desaba e,
posteriormente, se descobre que “B” não morreria em razão do disparo, mas sim por
ter sido soterrado.

- Causas relativamente independentes: são aquelas em que há uma relação de


dependência entre a conduta do agente e a causa que também repercute no resultado.
Subdividem-se em:

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a) causa relativamente independente preexistente: é aquela que já existia antes da


conduta do agente e quando com ela interligada numa relação de complexidade, produz
o resultado. Exemplo clássico da doutrina é o caso em que “A”, desejando causar a
morte de “B” e ciente da sua condição de hemofílico, nele desfira um corte com faca. O
corte, mesmo que tenha sido dado numa região não letal, mas que conjugado com a
condição fisiológica da vítima, faz com que “B” não o suporte e falece.
b) causa relativamente independente concomitante: é a causa que interligada com a
conduta do agente e com ela conjugada, também é considerada produtora do resultado.
Exemplo clássico da doutrina é o caso em que “A” atira em “B”, no mesmo momento
em que este está sofrendo um colapso cardíaco, provando-se que a lesão contribuiu
para a morte da vítima.
c) causa relativamente independente superveniente: é a aquela que ocorreu
posteriormente à conduta do agente e que com ela tenha ligação. Exemplo clássico é
aquele em que “A” desejando a morte de “B”, efetua contra ele disparos de arma de
fogo. “B” é socorrido por uma ambulância que o conduz ao hospital. Durante o trajeto,
a ambulância se envolve num acidente de trânsito, vindo “B” a óbito em decorrência da
colisão. É a única concausa com previsão legal no artigo 13, §1º do CP. É preciso se
atentar que quando a lei penal prescreve que “a superveniência de causas relativamente
independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado”, significa que
somente aqueles resultados que se encontrarem como um desdobramento natural da
ação é que poderão ser imputados ao agente.

Nota-se que ao conceituar causa no artigo 13 do CP, não houve distinção entre a ação
ou a omissão. Pela leitura da parte final do citado artigo, concluímos que a omissão
também se demonstra
A omissão relevante
imprópria para
pode ser ser considerada
praticada causa
dolosa ou do resultado,
culposamente, bastando,
esta última a
para tanto,
depender que o omitente
de previsão tenha o dever jurídico de impedir ou tentar impedir a
legal expressa.
ocorrência do resultado.
A lei estabelece no artigo 13, §2º do CP que certas pessoas tenham um dever
jurídico especial de agir para evitar o resultado, denominados garantidores. A omissão
será penalmente relevante na hipótese em que o omitente devia e podia agir para evitar
o resultado.

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Em síntese, para restar caracterizada a configuração do crime omissivo


impróprio será necessário:

- dever jurídico específico de agir para evitar o resultado;

- a evitação do resultado pela ação do agente;

- a possibilidade de o agente agir para evitar o resultado; e

- a produção do resultado que devia ter sido evitado.

4.3. Tipicidade

A tipicidade é um elemento integrante do fato típico. Ela é classificada em


tipicidade formal e em tipicidade material.

- Tipicidade Formal: é a adequação entre o fato praticado pelo agente e o tipo penal. O
tipo penal possui elementos objetivos, que são os aspectos materiais e normativos e
elementos subjetivos, que são os dados relacionados à consciência e vontade do agente.

Esse juízo de tipicidade formal (adequação entre conduta e resultado) pode ser
feito de duas formas. Assim, são duas formas de adequação típica formal:

a) Por subordinação direta ou imediata: podemos ir da conduta diretamente para o tipo


penal, e mesmo assim acharemos a adequação perfeita.

b) Por subordinação indireta ou mediata ou por dupla via: a conduta até é


perfeitamente adequada ao tipo, mas não se consegue ir direto para o tipo penal. Se
formos direto, concluiremos pela atipicidade da conduta, porque assim não há
adequação perfeita entre conduta e tipo penal. Precisamos passar por outro dispositivo
legal (dispositivo intermediário), para de lá ir ao tipo penal. Só assim alcançaremos uma
adequação típica perfeita. Daí falarmos em adequação Indireta, mediata ou por dupla
via.

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Portanto, precisamos de dois dispositivos legais para dar adequação típica à


conduta do agente. Naturalmente, o segundo dispositivo legal será o próprio tipo penal.

Nas normas de subordinação indireta, mediata ou de dupla via, o segundo


dispositivo legal é a norma de extensão ou norma de adequação típica por subordinação
indireta ou imediata.

- Tipicidade Material: consiste na valoração da conduta e do resultado. Há uma


preocupação com o grau de lesão ao bem jurídico protegido pela norma. Nessa
temática, enquadra-se o princípio da insignificância, em que a sua incidência irá afastar
a tipicidade material, gerando a atipicidade material da conduta do agente.

4.4. Iter criminis

O iter criminis caracteriza-se por quatro fases principais: cogitação, preparação,


execução e consumação. Parcela da doutrina acrescenta uma quinta fase, que é a do
exaurimento.

Conforme o artigo 14, I do CP, crime consumado é quando nele se verificam


todos os elementos de sua definição legal.

- Tentativa: encontra-se no artigo 14, II do CP, ocorrendo quando o agente não consegue
alcançar à consumação do crime, em virtude de circunstâncias alheias à sua vontade.

A tentativa possui os seguintes elementos:

- a prática de um ato de execução;

- a presença do elemento subjetivo do agente (dolo); e

- a não consumação da infração penal por circunstâncias alheias à vontade do agente.

O Código Penal adota a teoria objetiva, na qual a punição leva em consideração


o perigo ao bem jurídico, o que apenas ocorre com o início dos atos executórios.

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- Classificações da tentativa:

 Tentativa: também é denominada conatus.


 Tentativa branca ou incruenta: ocorre quando a vítima não sofre lesões.
 Tentativa vermelha ou cruenta: ocorre quando a vítima sofre lesões.
 Tentativa perfeita ou crime falho: ocorre quando o agente faz tudo o que pode
para chegar à consumação do crime, que acaba não ocorrendo.
 Tentativa imperfeita ou inacabada: ocorre quando o agente não faz tudo o que
pode para chegar à consumação do crime, em virtude de circunstâncias alheias
à sua vontade.
 Tentativa qualificada: diz respeito às hipóteses de desistência voluntária ou
arrependimento eficaz.

- Teorias sobre a punibilidade da tentativa (ACRÉSCIMO)

 Teoria objetivo formal: só se configura no início da execução, quando o agente


inicia a realização do verbo do núcleo do tipo penal. Exemplo: no furto, subtrair.
 Teoria objetivo material: ela estende o conceito do início da execução,
entendendo que bastaria a realização de qualquer conduta por estar
diretamente relacionada à realização de qualquer conduta.
 Teoria subjetiva: segundo este teoria o agente que iniciou os atos de execução
de determinada infração penal, embora, por circunstâncias alheias à vontade,
não tenha alcançado o resultado inicialmente pretendido, responde como se
tivesse consumado. Nesta hipótese, o agente será punido por sua intenção, pois
o que importa é o desvalor da ação, sendo irrelevante o desvalor do resultado.

Este tema foi recentemente cobrado na prova da Banca IBADE no Concurso para
Delegado de Polícia Civil do Acre em 2017.

Aplicação Prática – Questões de Concursos

(Ano: 2017 Banca: IBADE Órgão: PC-AC Prova: Delegado de Polícia Substituto)
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Austregésilo, verbalizando seu animus necandi, aponta uma arma de fogo municiada para
Aristóteles. Este, todavia, consegue entrar em luta corporal com Austregésilo, apossando-se
da arma de fogo antes do acionamento do gatilho. Considerando o caso proposto, é correto
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- Desistência Voluntária: encontra-se prevista no artigo 15 do CP. A lei penal, por


questões de política criminal, preferiu punir de forma menos severa o agente que,
valendo-se desse benefício legal, desiste de continuar na execução do crime, impedindo
a sua consumação. É necessário que o agente já tenha iniciado os atos de execução. A
desistência deve ser voluntária, não necessariamente espontânea.

- Arrependimento Eficaz: ocorre quando o agente, após esgotar todos os meios de que
dispunha para consumar a infração penal, arrepende-se e atua de forma contrária,
evitando a produção do resultado inicialmente pretendido.

- Arrependimento Posterior: somente é admitido nos crimes praticados sem violência


ou grave ameaça à pessoa, exigindo-se a reparação do dano ou a restituição da coisa até
o recebimento da denúncia ou da queixa.

4.5. Ilicitude

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A ilicitude se caracteriza por ser uma relação de contrariedade entre a conduta


do agente (ilicitude formal) e o ordenamento jurídico, que cause lesão ou perigo de
lesão a determinado bem jurídico (ilicitude material).

Algumas teorias foram desenvolvidas para explicar a relação entre a tipicidade


e a ilicitude: a Teoria da Ratio Cognoscendi e a Teoria da Ratio Essendi:

- Teoria da Ratio Cognoscendi: segundo a teoria, a tipicidade é um indício de ilicitude,


ou seja, quando o fato for típico, provavelmente ele também será ilícito, mas nem
sempre isso irá ocorrer.

- Teoria da Ratio Essendi: segundo a teoria, a tipicidade e a ilicitude encontram-se


unidas, o que cria o denominado tipo total do injusto.

São causas legais de exclusão da ilicitude: estado de necessidade, legítima


defesa, estrito cumprimento do dever legal e exercício regular de direito.

- Estado de Necessidade: encontra previsão no artigo 24 do CP. Considera-se em estado


de necessidade quem (i) pratica o fato para salvar de perigo atual (ii) que não causou
por sua vontade (iii) nem pôde de outra forma evitar (iv) direito próprio ou alheio (v)
cujo sacrifício não seria razoável exigir.

- Legítima Defesa: encontra previsão no artigo 25 do CP. Considera-se em legítima


defesa quem está em (i) situação de necessidade, a qual depende de: perigo atual,
perigo não provocado voluntariamente pelo agente, ameaça a direito próprio ou alheio
e ausência do dever legal de enfrentar o perigo e (ii) fato necessitado, ou seja, fato típico
praticado pelo agente em face do perigo ao bem jurídico, que tem como requisitos:
inevitabilidade do perigo por outro modo e proporcionalidade.

- Estrito Cumprimento do Dever Legal: é a prática de atos estritamente necessários para


cumprir o dever previsto em lei.

- Exercício Regular do Direito: se relaciona a qualquer direito tutelado pela ordem


jurídica, que poderá ser de ordem pública, privada, etc. Exemplo: intervenções
cirúrgicas.

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4.6. Culpabilidade

A culpabilidade é um juízo de reprovação pessoal que recai sobre agente que


praticou fato típico e ilícito.

É formada de três elementos: imputabilidade, potencial consciência da ilicitude


e exigibilidade de conduta diversa.

A culpabilidade passou por três teorias na fase evolutiva, a primeira sendo a


Teoria Psicológica, a segunda Psicológico-Normativa e a terceira a Normativa Pura.

- Teoria Psicológica: a culpabilidade é tida como um nexo psíquico entre o agente e a


conduta. O dolo e a culpa integram a culpabilidade. A imputabilidade é vista como
pressuposto da culpabilidade.

O dolo é formado pelos elementos: consciência da conduta, o resultado e o


nexo de causalidade, a vontade de praticar a conduta e provocar o resultado e a
consciência da ilicitude do fato. Observa-se que em virtude da consciência da ilicitude
ser um elemento integrante do dolo, ele é considerado um dolo normativo.

- Teoria Psicológico-Normativa: introduziu um elemento normativo na culpabilidade,


em que se faz um juízo de censura do autor do fato e com isso, a exigibilidade de conduta
diversa. De acordo com essa teoria integram a culpabilidade: imputabilidade, dolo ou
culpa e a exigibilidade de conduta diversa.

- Teoria Normativa Pura: fundamenta-se na teoria finalista da ação. O dolo e a culpa


passam da culpabilidade para o fato típico. Retira-se do dolo o seu aspecto normativo,
passa a ser um dolo natural e a potencial consciência da ilicitude do fato passa a integrar
a culpabilidade. A culpabilidade é composta pelos elementos: imputabilidade, potencial
consciência da ilicitude do fato e exigibilidade de conduta diversa.

Elementos da culpabilidade:

a) imputabilidade: é a possibilidade de se atribuir ao agente a responsabilidade penal


pelo fato típico e ilícito que praticou.
b) potencial consciência da ilicitude do fato: é necessário que o agente tenha a
consciência da ilicitude ou possa atingi-la para saber que a sua conduta é ilícita.

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c) exigibilidade de conduta diversa: é a possibilidade de se exigir do agente uma


conduta conformada à norma jurídica.

Causas de exclusão da culpabilidade: cada elemento possui a sua causa de


exclusão. Vejamos:

- Imputabilidade: a inimputabilidade.
- Potencial consciência de conduta diversa: erro de proibição.
- Exigibilidade de conduta diversa: inexigibilidade de conduta diversa.

Na imputabilidade, o ordenamento jurídico brasileiro adotou dois critérios, o


primeiro deles foi o biológico e o segundo, o critério biopsicológico.

Pelo critério biopsicológico, quem é inimputável?


O art. 26, caput, inicia dizendo que “é isento de pena.” aquele que (i) por doença
mental ou (ii) desenvolvimento incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou
omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-
se de acordo com esse entendimento.

Na verdade, são inimputáveis pelo critério biopsicológico (i) o doente mental;


(ii) aquele que tem desenvolvimento mental incompleto; (iii) aquele que tem
desenvolvimento mental retardado.

Não excluem a imputabilidade penal a emoção e a paixão, conforme o artigo


28, I do CP.

A embriaguez possui as seguintes espécies:

a) Voluntária: é quando o indivíduo ingere bebidas alcoólicas ou substâncias de efeitos


análogos com a intenção de se embriagar.
b) Culposa: ocorre quando o agente se embriaga de forma imprudente, sem que
houvesse a intenção inicial de embriagar-se.

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c) Preordenada: é aquela em que o agente se coloca em embriaguez para adquirir


coragem e praticar o crime.
d) Patológica: constitui uma patologia (doença) do agente. Por isso, o agente será
tratado como penalmente inimputável, na forma do art. 26, caput, CP (critério
biopsicológico), como se fosse doente mental. Feita a perícia, haverá absolvição
imprópria e receberá medida de segurança.
e) Acidental (decorre de caso fortuito ou de força maior): Embriaguez causada por caso
fortuito ou força maior significa a embriaguez que foge ao controle do agente, ou então
quando este é forçado a ingerir a substância alcoólica.

A potencial consciência da ilicitude do fato pode ser excluída com base no erro
de proibição, que ocorre quando o agente atua ou se omite sem a consciência da
ilicitude do fato, no momento em que as circunstâncias não lhe permitiam ter ou atingir
essa consciência. Tem como consequência a isenção do agente de pena.

São excludentes da exigibilidade de conduta diversa: a coação moral irresistível


e obediência hierárquica.

- Coação moral irresistível: só é punível o autor da coação. Ela consiste no emprego de


grave ameaça contra alguém para que faça ou deixe de fazer alguma coisa. A pessoa
coagida irá praticar um fato típico e ilícito, porém não culpável.

Observação: a coação moral irresistível não se confunde com a coação física


irresistível. A coação física irresistível exclui a conduta, ou seja, não há ação
voluntária por parte do coagido. Ao contrário, na coação moral irresistível o coagido
atua sob voluntariedade, embora viciada.

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- Obediência Hierárquica: para ser considerada uma causa excludente da culpabilidade


não poderá ser manifestamente ilegal, de superior hierárquico e só será punível o autor
da ordem.

4.7. Teoria do Erro

Como já vimos anteriormente, o dolo é constituído pelos elementos vontade e


consciência. A consciência é uma consciência da conduta, que por sua vez vem descrita
no tipo penal. Assim, a consciência deve abranger todos os elementos do tipo penal.
Elemento do tipo é tudo aquilo que o tipo descrever.

- Erro de tipo: ocorre quando faltar consciência sobre algum dos elementos do tipo pelo
agente. O erro de tipo pode ser espontâneo (cometido pelo próprio agente) ou
provocado por terceiro (o erro é determinado por terceiro).

- Erro de tipo essencial: é aquele que recai sobre os elementos constitutivos do tipo
penal ou sobre as circunstâncias. O erro de tipo pode ser evitável ou inevitável:

a) erro de tipo evitável: é aquele que poderia ter sido evitado se o agente tivesse tido a
diligência necessária. Nesse caso, haverá a exclusão do dolo, mas haverá punição a título
de culpa, se a infração penal admitir a modalidade culposa.

b) erro de tipo inevitável: é aquele que não poderia ter sido evitado, mesmo se o agente
tivesse agido com toda a diligência necessária.

- Erro de tipo acidental: não é relevante para fins de exclusão do dolo. Subdivide-se em:

a) erro sobre a pessoa: ocorre quando o agente pratica a ação delituosa direcionada a
uma vítima, mas que por falsa representação da realidade atinge outra pessoa. Nesse
caso, conforme dispõe o artigo 20, §3º do CP, devem ser consideradas as qualidades
pessoas da vítima desejada, também chamada de vítima virtual.

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b) erro sobre o objeto: ocorre quando o agente pratica a ação delituosa sobre
determinado objeto acreditando que, na verdade, se tratava de outro.
c) erro na execução (aberratio ictus): caracteriza-se quando por acidente ou erro nos
usos do meio de execução, o agente por erro atinge pessoa diversa da pretendida. Nesse
erro, o resultado pode ocorrer por: unidade simples ou resultado único, quando o
agente só atinge a pessoa diversa, ele responderá na forma do artigo 73, caput, 1ª parte
do CP; por unidade complexa (resultado duplo): aqui, o agente além de atingir a vítima
pretendida, também acaba por erro na execução atingindo pessoa diversa, aplica-se a
regra do concurso formal.
d) resultado diverso do pretendido (aberratio criminis): quando há um erro de coisa
para pessoa ou de pessoa para coisa. Caso ocorra além do resultado não pretendido, o
resultado pretendido pelo agente aplica-se a pena mais grave das penas cabíveis ou se
idênticas, somente uma delas, mas com o aumento, em qualquer caso, de um sexto até
a metade.
e) erro sobre o curso causal (aberratio causae): essa modalidade de erro acidental não
incide na mente do agente. Esse erro sobre o curso causal provoca consequências no
nexo de causalidade, pois o resultado ocorre em virtude de outra causa diferente da
inicialmente desejada pelo agente. Observa-se que por mais que a causa seja diversa, o
agente consegue atingir o resultado da mesma forma.

- Erro de Proibição: ocorre quando falta ao agente consciência sobre a ilicitude da sua
conduta. O agente age, com plena consciência sobre a proibição, sobre a ilicitude da
conduta. Subdivide-se em três espécies:

a) erro de proibição direto: No erro de proibição direto, o agente age sem saber que
aquilo é proibido. O erro de proibição direto se subdivide em erro de proibição
invencível, inevitável, escusável e em erro de proibição vencível, evitável, inescusável.
Se o erro de proibição direto for invencível, o agente está isento de pena. Toda vez que
a lei diz “é isento de pena”, está excluindo a culpabilidade. E se culpabilidade é elemento
integrante do conceito analítico de crime, excluindo-se a culpabilidade o próprio crime
desaparece. Portanto, no erro de proibição direto invencível, não há crime. Já no erro
de proibição vencível, a consequência é a diminuição de pena de 1/6 a 1/3.

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b) erro de proibição indireto: o erro de proibição direto é quando falta ao agente


conhecimento sobre o teor de uma norma penal incriminadora, como ocorreu nos
nossos exemplos acima. O erro de proibição direto incide sobre uma incriminação. O
erro de proibição indireto se relaciona a uma norma não incriminadora permissiva.
Portanto, o erro de proibição indireto incide sobre uma permissão.

E quais são essas normas não incriminadoras permissivas? As causas excludentes de


ilicitude. Portanto, o erro de proibição indireto incide sobre uma norma permissiva,
especificamente sobre a existência ou os limites da norma permissiva. Se o erro incidir
sobre a (i) existência de exclusão de ilicitude; ou (ii) limites da causa de exclusão de
ilicitude, então falamos num erro de proibição indireto, ou seja, sobre a existência de
uma norma permissiva. O agente age em erro, pensando que existe uma norma que
lhe permite agir, mas essa norma não existe. Ele pensa que a norma o autoriza a agir
em legítima defesa, estado de necessidade, exercício regular do direito, estrito
cumprimento do dever legal, mas essa norma não existe.

c) erro mandamental: O erro mandamental é aquele que incide sobre um crime, seja a
omissão própria ou imprópria. Como os demais erros, esse erro mandamental pode ser
vencível ou invencível, com idênticas consequências: se o erro for invencível, o agente
estará isento de pena. Se for vencível, haverá diminuição de pena.

- Descriminantes Putativas: são causas excludentes da ilicitude ou causas de


justificação. O agente acredita que está agindo acobertado por alguma causa de
exclusão da ilicitude, mas não está no mundo real. É uma causa de exclusão da ilicitude
imaginária, que não existe no mundo dos fatos, mas apenas na mente do agente.
Para explicarmos qual é a natureza do erro que incide nas descriminantes
putativas, se erro de tipo ou erro de proibição, será necessário analisarmos a subdivisão
da Teoria Normativa Pura da Culpabilidade a seguir:

a) Teoria Extremada da Culpabilidade: o erro que incide nas descriminantes putativas


sempre terá natureza de erro de proibição.

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b) Teoria Limitada da Culpabilidade: é feita uma distinção sobre o erro que incide nas
descriminantes putativas, se o erro incidir sobre uma situação de fato será um erro de
tipo. Se a norma é permissiva, há um erro de tipo permissivo. Ao contrário, se o erro
incidir sobre a existência ou limites da causa de justificação será hipótese de erro de
proibição.

Observação: o item 17 da Exposição de Motivos do Código Penal adotou a Teoria


Limitada da Culpabilidade.

Assim, o erro na descriminante putativa será assim definido:

a) erro sobre os pressupostos fáticos da causa de justificação: ocorre quando o agente


acredita existir uma situação de fato que faria incidir a excludente de ilicitude. Neste
ponto, cabe lembrar a existência de duas correntes:
- Para a teoria limitada da culpabilidade, configura-se erro de tipo. Essa é a corrente
adotada pelo Código Penal.
- Para a teoria extrema da culpabilidade, configura-se erro de proibição.

b) erro sobre a existência da causa de justificação: ocorre quando o agente acredita na


existência de determinada causa de justificação, quando na verdade não existe.
Configura erro de proibição.

c) erro sobre os limites da causa de justificação: ocorre quando o agente comete um


excesso, que também configura erro de proibição.

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Capítulo 5 Concurso de Pessoas

5.1. Introdução

Há concurso de pessoas quando duas ou mais pessoas concorrem para a prática


de uma ou mais infrações penais.

Ocorre nas hipóteses em que haverá concurso eventual de pessoas, por


exemplo: um crime de homicídio pode ser praticado apenas por um agente ou por
vários. Entretanto, os crimes de concurso necessário, plurissubjetivos, exigem por
natureza a pluralidade de agentes para a sua configuração, nesses casos não se aplica o
regramento do concurso de pessoas.

5.2. Disciplina normativa

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O concurso de pessoas está disciplinado no artigo 29 até o 31 do Código Penal.

5.3. Requisitos

Os requisitos são: pluralidade de agentes e de condutas; relevância causal de


cada conduta; liame subjetivo entre os agentes e identidade de infração penal.

a) Pluralidade de agentes e de condutas: precisa-se de duas ou mais pessoas praticando


mais de uma conduta.
b) Relevância causal de cada conduta: conduta penalmente relevante sob a ótica causal
é aquela conduta que está apta a influenciar o resultado criminoso. Se a conduta do
agente não influenciar de forma alguma o resultado criminoso, não podemos dizer que
ela concorreu para o delito.
c) Liame subjetivo entre os agentes: o liame é o acerto prévio, o liame psicológico prévio
entre os concorrentes.

d) Identidade de infração penal: os agentes respondem pela mesma infração penal.

5.4. Teorias

Destacam-se três teorias: teoria monista ou unitária; teoria dualista e teoria


pluralista.

a) Teoria Monista ou Unitária: todos aqueles que praticam condutas com igual
propósito respondem pelo mesmo crime.
b) Teoria Dualista: devem-se diferenciar dois crimes, um crime para os autores e um
crime para os partícipes.
c) Teoria Pluralista: são tantos crimes quantos forem os agentes.

Observamos que, em regra, o nosso Código Penal adotou a teoria monista (unitária)
no artigo 29. Porém, a mencionada teoria é mitigada em razão das chamadas
exceções pluralísticas à teoria monista, razão pela qual dizemos que no ordenamento
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jurídico brasileiro vigora a teoria monista mitigada ou temperada.
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Aplicação Prática – Questões de Concursos

(Ano: 2015 Banca: FUNIVERSA Órgão: PC-DF Prova: Delegado de Polícia Substituto)
Assinale a alternativa correta acerca do concurso de pessoas.

a) De acordo com a teoria pluralística, há um crime para os autores, que realizam a conduta
típica emoldurada no ordenamento positivo, e outro crime para os partícipes, que desenvolvem
uma atividade secundária.

b) O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio são puníveis ainda que o crime não tenha
sido tentado.

c) O CP adotou, como regra, a teoria dualística.

d) Segundo a teoria monista ou unitária, a cada participante corresponde uma conduta própria,
um elemento psicológico próprio e um resultado igualmente particular.

e) São requisitos do concurso de pessoas a pluralidade de participantes e de condutas, a


relevância causal de cada conduta, o vínculo subjetivo entre os participantes e a identidade de
infração penal.

R: Alternativa E

R: Alternativa D

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5.5. Autoria e coautoria

Para concebermos a figura do autor, faz-se necessário verificar os conceitos


trazidos pelas teorias restritiva, extensiva e do domínio final do fato.

a) Teoria Restritiva: autor é aquele que pratica o verbo núcleo do tipo penal.
b) Teoria Extensiva: autor é aquele que de qualquer forma concorre para a prática da
infração penal.
c) Teoria do Domínio Final do Fato: autor é aquele que tem o domínio finalístico do fato
criminoso.

No âmbito da teoria do domínio final do fato existem duas espécies de autoria:


autoria direta e autoria indireta.

a) Autoria direta ou imediata: ocorre quando o agente possui o domínio final sobre o
fato e o executa diretamente.
b) Autoria indireta ou mediata: ocorre quando o agente utiliza um terceiro como
instrumento para a consecução da prática delituosa.

A coautoria ocorre quando duas ou mais pessoas participam da execução do


crime, com a realização ou não do núcleo do tipo penal.

- Autoria colateral: se caracteriza quando dois ou mais agentes atuam para a realização
do mesmo resultado, mas sem o conhecimento da conduta do outro. Não agem em
concurso de pessoas, pois não há liame subjetivo.

5.6. Participação

A participação se configura nas hipóteses em que o partícipe não realiza


pessoalmente a conduta típica e nem possui o domínio do fato, mas presta auxílio moral
e/ou material.

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De acordo com a teoria da acessoriedade limitada, adotada pelo Código Penal,


para que a participação se estabeleça basta que a conduta do autor configure fato típico
e ilícito, ainda que não seja culpável.

São duas as formas de participação: moral e material.

- A participação moral pode ser de duas formas:

a) Induzimento: é aquela em que o partícipe incute a ideia criminosa na mente do


agente.
b) Instigação: é aquela em que o partícipe reforça a ideia criminosa já existente
anteriormente na mentalidade do agente.

- A participação material ocorre quando o partícipe presta auxílio com algum bem
material ou instrumento para o cometimento da infração penal.

- A participação de menor importância encontra previsão no §1º do artigo 29 do CP, que


estabelece uma causa de diminuição de pena de um sexto a um terço.

- A cooperação dolosamente distinta, também conhecida como o desvio subjetivo de


conduta, tem previsão no §2º do artigo 29 do CP e ocorre quando dois concorrentes
ajustam a prática de um crime, porém no decorrer da execução um deles desvia a sua
conduta e comete um crime mais grave do que o incialmente planejado.

Nesse caso, se algum dos agentes quis concorrer para um crime menos grave,
ele responderá tão somente por tal crime. Entretanto, caso o crime mais grave tenha
sido previsível, o agente responderá pelo crime menos grave, mas a pena será elevada
até a metade.

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Capítulo 6 Teoria da Pena

6.1. Conceito

A pena pode ser conceituada como uma resposta do Estado ao indivíduo que
cometeu alguma infração penal. De forma clássica, entende-se que a pena é uma sanção
penal.

6.2. Funções da Pena

A pena deve ser fixada de forma suficiente e necessária à prevenção e à


reprovação de uma infração penal.

6.3. Princípios

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Em específico, podemos listar os seguintes princípios:

a) Princípio da legalidade: positivado no artigo 5º, inciso XXXIX da CRFB/88 e no artigo


1º do CP, esse princípio reza que “não há crime sem lei que o defina, nem pena sem
cominação legal”.
b) Princípio da individualização da pena: pode ser extraído do artigo 5º, inciso XLVI da
CRFB/88 e do artigo 59 do CP, esse princípio assevera que a aplicabilidade da pena deve
observar às características específicas do fato e do acusado, com respeito a sua
proporcionalidade.
c) Princípio da humanidade: segundo o princípio extraído do artigo 5º, inciso XLVII da
CRFB/88, não devem ser admitidas penas cruéis, bem como penas de morte e de
trabalhos forçados.

6.4. Teorias

Podemos dividir o estudo das teorias da pena em duas vertentes:

a) Teorias Absolutas: a pena é vista como uma forma de retribuição justa pelo
cometimento de um crime.
b) Teorias Relativas: a pena é vista como uma forma de prevenir crimes, sendo um meio
de proteção aos bens jurídicos. Essa função preventiva se subdivide em: prevenção geral
e em prevenção especial. A prevenção geral e a especial são vistas sob duas formas:
negativa ou positiva. Vejamos cada uma delas em separado:

Prevenção Geral

a) Negativa: a pena aplicada ao condenado provoca intimidação na sociedade.


b) Positiva: a pena atua como forma de integração social, tendo um importante papel
de conscientização.

Prevenção Especial

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a) Negativa: a pena busca a restrição da liberdade do condenado, com o objetivo de


promover a sua neutralização.
b) Positiva: a pena objetiva a ressocialização do condenado.

6.5. Classificação

As penas admitidas no nosso ordenamento jurídico são:

- Penas privativas de liberdade.


- Penas restritivas de direitos.
- Penas pecuniárias.

6.5.1. Penas Privativas de Liberdade

As penas privativas de liberdade podem ser de reclusão e detenção em relação


aos crimes. Tratando-se de contravenção penal, aplica-se a pena de prisão simples.

- Disciplina normativa: de acordo com o artigo 33 do CP, “A pena de reclusão deve ser
cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto. A de detenção, em regime
semiaberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado”.

No §1º do artigo 33 do CP são previstas as espécies de regimes de cumprimento


de pena: regime fechado; regime semiaberto e regime aberto. Vejamos cada uma dessas
espécies:

a) Regime fechado: prevê que a pena será cumprida em estabelecimento de segurança


máxima ou média.
b) Regime semiaberto: prevê que a pena será cumprida em colônia agrícola, industrial
ou estabelecimento similar.
c) Regime aberto: prevê que a pena será cumprida em casa de albergado ou
estabelecimento adequado.

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Fixação de regime inicial (artigo 33, §2º do CP)


Regime inicial Quantidade de pena
Fechado Superior a 8 anos
Semiaberto Superior a 4 anos e não excedente a 8 anos,
desde que condenado não reincidente

Aberto Igual ou inferior a 4 anos, desde que condenado


não reincidente

Súmula nº 269 do STJ: É admissível a adoção do regime prisional semiaberto aos


reincidentes condenados a pena igual ou inferior a quatro anos se favoráveis as
circunstâncias judiciais.

Importante! A partir da leitura do §3º do artigo 33 do CP, conclui-se que o regime inicial
de pena será fixado conforme os critérios da: quantidade e espécie da pena, reincidência
e observância das circunstâncias judiciais.

Jurisprudência

Tema: Falta de vagas nos regimes semiaberto e aberto e cumprimento


da pena (Informativo nº 825 do STF)

1. Cumprimento de pena em regime fechado, na hipótese de inexistir


vaga em estabelecimento adequado a seu regime. Violação aos princípios
da individualização da pena (art. 5º, XLVI) e da legalidade (art. 5º, XXXIX).
A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção
do condenado em regime prisional mais gravoso.
2. Os juízes da execução penal poderão avaliar os estabelecimentos
destinados aos regimes semiaberto e aberto, para qualificação como
adequados a tais regimes. São aceitáveis estabelecimentos que não se
qualifiquem como “colônia agrícola, industrial” (regime semiaberto) ou
“casa de albergado ou estabelecimento adequado” (regime aberto) (art.

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33, § 1º, alíneas “b” e “c”). No entanto, não deverá haver alojamento
conjunto de presos dos regimes semiaberto e aberto com presos do
regime fechado.
3. Havendo déficit de vagas, deverão ser determinados: (i) a saída
antecipada de sentenciado no regime com falta de vagas; (ii) a liberdade
eletronicamente monitorada ao sentenciado que sai antecipadamente ou
é posto em prisão domiciliar por falta de vagas; (iii) o cumprimento de
penas restritivas de direito e/ou estudo ao sentenciado que progride ao
regime aberto. Até que sejam estruturadas as medidas alternativas
propostas, poderá ser deferida a prisão domiciliar ao sentenciado.
4. Apelo ao legislador. A legislação sobre execução penal atende aos
direitos fundamentais dos sentenciados. No entanto, o plano legislativo
está tão distante da realidade que sua concretização é absolutamente
inviável. Apelo ao legislador para que avalie a possibilidade de reformular
a execução penal e a legislação correlata, para: (i) reformular a legislação
de execução penal, adequando-a à realidade, sem abrir mão de
parâmetros rígidos de respeito aos direitos fundamentais; (ii)
compatibilizar os estabelecimentos penais à atual realidade; (iii) impedir
o contingenciamento do FUNPEN; (iv) facilitar a construção de unidades
funcionalmente adequadas – pequenas, capilarizadas; (v) permitir o
aproveitamento da mão-de-obra dos presos nas obras de civis em
estabelecimentos penais; (vi) limitar o número máximo de presos por
habitante, em cada unidade da federação, e revisar a escala penal,
especialmente para o tráfico de pequenas quantidades de droga, para
permitir o planejamento da gestão da massa carcerária e a destinação
dos recursos necessários e suficientes para tanto, sob pena de
responsabilidade dos administradores públicos; (vii) fomentar o trabalho
e estudo do preso, mediante envolvimento de entidades que recebem
recursos públicos, notadamente os serviços sociais autônomos; (viii)
destinar as verbas decorrentes da prestação pecuniária para criação de
postos de trabalho e estudo no sistema prisional.

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5. Decisão de caráter aditivo. Determinação que o Conselho Nacional de


Justiça apresente: (i) projeto de estruturação do Cadastro Nacional de
Presos, com etapas e prazos de implementação, devendo o banco de
dados conter informações suficientes para identificar os mais próximos
da progressão ou extinção da pena; (ii) relatório sobre a implantação das
centrais de monitoração e penas alternativas, acompanhado, se for o
caso, de projeto de medidas ulteriores para desenvolvimento dessas
estruturas; (iii) projeto para reduzir ou eliminar o tempo de análise de
progressões de regime ou outros benefícios que possam levar à
liberdade; (iv) relatório deverá avaliar (a) a adoção de estabelecimentos
penais alternativos; (b) o fomento à oferta de trabalho e o estudo para os
sentenciados; (c) a facilitação da tarefa das unidades da Federação na
obtenção e acompanhamento dos financiamentos com recursos do
FUNPEN; (d) a adoção de melhorias da administração judiciária ligada à
execução penal.
6. Estabelecimento de interpretação conforme a Constituição para (a)
excluir qualquer interpretação que permita o contingenciamento do
Fundo Penitenciário Nacional (FUNPEN), criado pela Lei Complementar
79/94; b) estabelecer que a utilização de recursos do Fundo Penitenciário
Nacional (FUNPEN) para financiar centrais de monitoração eletrônica e
penas alternativas é compatível com a interpretação do art. 3º da Lei
Complementar 79/94.
7. Caso concreto: o Tribunal de Justiça reconheceu, em sede de apelação
em ação penal, a inexistência de estabelecimento adequado ao
cumprimento de pena privativa de liberdade no regime semiaberto e,
como consequência, determinou o cumprimento da pena em prisão
domiciliar, até que disponibilizada vaga. Recurso extraordinário provido
em parte, apenas para determinar que, havendo viabilidade, ao invés da
prisão domiciliar, sejam observados (i) a saída antecipada de sentenciado
no regime com falta de vagas; (ii) a liberdade eletronicamente
monitorada do recorrido, enquanto em regime semiaberto; (iii) o

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cumprimento de penas restritivas de direito e/ou estudo ao sentenciado


após progressão ao regime aberto.
(STF. Plenário. RE 641320/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
11/5/2016 - Repercussão Geral).

Conforme disciplina o §2º do artigo 33 do CP e o artigo 112 da Lei nº 7.210/1984


(LEP), a pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a
transferência para o regime menos rigoroso.

O Código Penal contemplou o modelo trifásico na aplicação da pena privativa


de liberdade, conforme dispõe o artigo 68 do CP. Veja-se cada uma das três fases:

 1ª Fase: fixação da pena-base de acordo com as circunstâncias judiciais previstas


no artigo 59 do CP:

“O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à


personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do
crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja
necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime:
I – as penas aplicáveis dentre as cominadas;
II – a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;
III – o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade;
IV – a substituição da pena privativa de liberdade aplicada, por outra espécie de
pena, se cabível.”

Súmula 269 do STJ: É admissível a adoção do regime prisional semiaberto aos


reincidentes condenados a pena igual ou inferior a quatro anos se favoráveis as
circunstâncias judiciais.
Súmula 440 do STJ: Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento
de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com
base apenas na gravidade abstrata do delito.
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Súmula 444 do STJ: É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso
para agravar a pena-base.
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 2ª Fase: serão consideradas as circunstâncias atenuantes e agravantes. As


circunstâncias agravantes estão previstas nos artigos 61 e 62 do CP. Enquanto
que as circunstâncias atenuantes estão dispostas no artigo 65 do CP. O concurso
das circunstâncias agravantes e atenuantes está previsto no artigo 67 do CP.

- Importante: Reincidência: é uma circunstância agravante genérica (artigo 61, I do CP),


que incide na 2ª fase de aplicação da pena. Ocorre quando o agente comete novo crime,
depois de transitar em julgado a sentença que, no país ou no estrangeiro, o tenha
condenado por crime anterior. Sendo certo que, para efeito da reincidência, não
prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento ou extinção da pena
e a infração posterior tiver decorrido período de tempo superior a 5 anos, computado o
período de prova da suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer revogação.

- Importante: Confissão: é uma circunstância atenuante genérica (artigo 65, III, “d” do
CP), que incide na 2ª fase de aplicação da pena.

- Espécies:
a) Espontânea: é a atenuante genérica prevista no artigo 65, III, “d” do CP.
b) Parcial: ocorre na hipótese em que o agente confessa apenas parcialmente os fatos
alegados na denúncia.
c) Qualificada: ocorre na hipótese em que o agente admite a prática do fato criminoso,
mas alega em sua defesa um motivo que excluiria o crime ou o isentaria de pena.

Súmula 231 do STJ: A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à


redução da pena abaixo do mínimo legal.
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Súmula 241 do STJ: A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância
agravante e, simultaneamente, como circunstância judicial.
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- Concurso entre agravantes e atenuantes: de acordo com o artigo 67 do CP, no


concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite indicado pelas
circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos motivos
determinantes do crime, da personalidade do agente e da reincidência.

Jurisprudência
Tema: compensação entre a agravante do artigo 61, II, “f” do CP (crime
praticado com violência contra a mulher) e a confissão espontânea
(artigo 65, III, “d” do CP)

“Esta Corte Superior tem firme entendimento de que a atenuante da


confissão espontânea, por envolver a personalidade do agente, deve ser
utilizada como circunstância preponderante quando do concurso entre
agravantes e atenuantes, nos termos consignados pelo artigo 67 do
Código Penal, razão pela qual foi pacificado neste Superior Tribunal de
Justiça, por ocasião do julgamento do Recurso Especial Repetitivo
1.341.370/MT, da relatoria do Ministro Sebastião Reis Júnior, o
entendimento de que a agravante da reincidência e a atenuante da
confissão espontânea, por serem igualmente preponderantes, devem ser
compensadas entre si, cognição que deve ser estendida, por
interpretação analógica, à hipótese em análise, dada sua similitude, por
também versar sobre a possibilidade de compensação entre
circunstâncias preponderantes.”

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(AgRg no AREsp 689.064-RJ, Rel. Min, Maria Thereza de Assis Moura, 6ª


Turma, julgado em 06/08/2015).

Jurisprudência

Tema: Compatibilidade entre a agravante do art. 62, I, do CP e a


condição de mandante do delito (Informativo nº 580 do STJ)

A incidência da agravante do art. 62, I, do Código Penal é compatível com


a autoria intelectual do delito (mandante). No entanto, o mandante do
crime somente deverá ser punido com a agravante se, no caso concreto,
houver elementos que sirvam para caracterizar a situação descrita pelo
inciso I do art. 62, ou seja, é necessário que fique demonstrado que ele
promoveu, organizou o crime ou dirigiu a atividade dos demais agentes.
Em outras palavras, o mandante poderá responder pela agravante do
inciso I do art. 62 do CP, mas isso nem sempre acontecerá, dependendo
das circunstâncias do caso concreto.

(REsp 1.563.169-DF, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, 5ª Turma


julgado em 10/3/2016).

 3ª Fase: serão aplicadas as causas de diminuição e de aumento de pena. O artigo


68, parágrafo único do CP estabelece que no concurso de causas de aumento ou
de diminuição previstas na parte especial, pode o juiz limitar-se a um só aumento
ou a uma só diminuição, prevalecendo, todavia, a causa que mais aumente ou
diminua.

6.5.2. Penas Restritivas de Direito

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De acordo com o artigo 44 do CP, as penas restritivas de direitos são autônomas


e substitutivas das penas privativas de liberdade. São penas de caráter alternativo. Elas
se encontram listadas no artigo 43 do CP.

6.5.3. Pena de multa

A pena de multa é caracterizada pelo pagamento destinado ao fundo


penitenciário de determinada importância em dinheiro. O valor é estipulado na
sentença e se calcula em dias-multa, sendo no mínimo de 10 e no máximo de 360 dias-
multa.

Caso não haja o pagamento pelo condenado, a multa será considerada dívida
de valor, com aplicação das normas relativas à dívida ativa da Fazenda Pública, nos
termos do artigo 51 do CP.

Jurisprudência

Tema: Inadimplemento da pena de multa e extinção da punibilidade


(Informativo nº 568 do STJ)

Nos casos em que haja condenação a pena privativa de liberdade e multa,


cumprida a primeira (ou a restritiva de direitos que eventualmente a
tenha substituído), o inadimplemento da sanção pecuniária não obsta o
reconhecimento da extinção da punibilidade.
(Resp 1.519.777-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção,
julgado em 26/8/2015).

6.6. Medida de Segurança

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A medida de segurança constitui uma espécie de sanção penal, de cunho


terapêutico e preventivo. A sua aplicabilidade requer a presença dos seguintes
requisitos: o cometimento de um fato típico e ilícito e a periculosidade social do
acusado. A medida de segurança pode ser de duas espécies: a) Detentiva; b) Restritiva.

a) Detentiva: é cumprida mediante internação em hospital de custódia e tratamento


psiquiátrico ou, à falta, em outro estabelecimento adequado.
b) Restritiva: é cumprida por meio de tratamento ambulatorial.

Súmula
Súmula 527527
do STJ: O tempo
do STJ: de duração
O tempo da medida
de duração da de segurança
medida não deve ultrapassar
de segurança não deve
o limite máximo
ultrapassar da pena
o limite abstratamente
máximo cominada ao delito
da pena abstratamente praticado.
cominada ao delito praticado.

Observação:
Importante:OOSTF
STF jájá se
se posicionou
posicionou em
em julgados sustentando que
julgados sustentando que aa medida
medida de
de
segurança deverá
segurança obedecer
deverá obedecer a um
a prazo máximo
um prazo de 30de
máximo anos,
30 com
anos,base
comembase
umaem
analogia
uma
com o artigo
analogia com75o do CP,75
artigo e do
considerando que a CRFB/88
CP, e considerando veda as veda
que a CRFB/88 penasas de caráter
penas de
perpétuo.
caráter perpétuo.

Jurisprudência

Tema: medida de segurança e princípio do ne bis in idem (Informativo


nº 579 do STJ)

1. Ressalvada pessoal compreensão diversa, uniformizou o Superior


Tribunal de Justiça ser inadequado o writ quando utilizado em
substituição a recursos especial e ordinário, ou de revisão criminal,
admitindo-se, de ofício, a concessão da ordem ante a constatação de
ilegalidade flagrante, abuso de poder ou teratologia.
2. O sistema vicariante afastou a imposição cumulativa ou sucessiva de
pena e medida de segurança, uma vez que a aplicação conjunta ofenderia

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o princípio do ne bis in idem, já que o mesmo indivíduo suportaria duas


consequências em razão do mesmo fato.
3. Tratando-se o reconhecimento da incapacidade de decisão incidental
no processo penal, não há obstáculo jurídico à imposição de medida de
segurança em um feito e penas privativas de liberdade em outros
processos.
4. Habeas Corpus não conhecido.
(HC 275635, Rel. Min. NEFI CORDEIRO, Sexta Turma, julgado em
08/03/2016).

6.7. Suspensão condicional da pena

A suspensão condicional da pena é denominada “sursis”, se classifica em: sursis


simples e sursis especial. Vejamos cada uma em separado:

- Sursis simples: está previsto no §1º do artigo 78 do CP. O sursis simples requer o
cumprimento de requisito objetivo e subjetivo.

a) Requisito objetivo: é a condenação de pena privativa de liberdade não superior a dois


anos.
b) Requisito subjetivo: é que o condenado não seja reincidente em crime doloso, a
culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como
os motivos e as circunstâncias. Ainda que o agente tenha sido condenado anteriormente
pela prática de crime doloso, se a ele tiver sido aplicada pena de multa, isolada ou
mesmo em substituição à PPL, tal condenação não impedirá a concessão do benefício.

Observação:
Observação:o sursis somente
o sursis será possível
somente se não for
será possível se indicada
não for ou cabível ou
indicada a substituição
cabível a
prevista no artigo
substituição 44 dono
prevista CP.
artigo 44 do CP.

- Sursis Especial: previsto no §2º do artigo 78 do CP. Classifica-se como:

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a) Sursis etário: é aquele concedido a maior de 70 anos de idade que tenha sido
condenado a uma PPL não superior a quatro anos.
b) Sursis humanitário: permite ao condenado a uma pena não superior a quatro anos,
ver concedido o sursis, desde que razões de saúde a justifiquem.

S.Súmula
499 do STF: NãoSTF:
499 do obsta à concessão
Não do "sursis"
obsta à concessão docondenação anterior àanterior
"sursis" condenação pena deàmulta.
pena
de multa.
Observação: o artigo 77, §1º do CP prevê em igual sentido ao da súmula.

Observação: o artigo 77, §1º do CP prevê em igual sentido ao da súmula.

6.8. Livramento condicional

O requerimento de livramento condicional deverá ser dirigido ao juiz da


execução, que, depois de ouvidos o Ministério Público e o Conselho Penitenciário,
poderá ser concedido caso estejam presentes os requisitos do artigo 83 do CP.

6.9. Concurso de Crimes

Na temática do concurso de crimes, podemos subdividir com base nos


sistemas: Sistema do cúmulo material; Sistema do cúmulo jurídico; Sistema de absorção
e Sistema de exasperação.

a) Sistema do cúmulo material: é aplicado como regra em nosso sistema, que consiste
no somatório simples das penas.
b) Sistema do cúmulo jurídico: a pena aplicada às infrações penas em concurso não
deve ser o seu somatório, e sim deve corresponder ao a gravidade dos delitos
envolvidos, para atingir valores inferiores ao somatório de todas, contudo, superior a de
cada infração penal singularmente.
c) Sistema de absorção: a pena do crime mais grave absorve a menos grave dos crimes
em concorrência.

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d) Sistema de exasperação: nesse haverá uma única pena, sempre a mais grave
aumentada de um quantum variável estabelecido em lei.

 Concurso Formal Próprio ou Perfeito: ocorre quando o agente mediante uma só


ação ou omissão, pratica mais de um crime, idênticos ou não. Aplica-se, em
regra, o sistema da exasperação, com a aplicabilidade da pena do crime mais
grave ou, se iguais, somente uma delas, aumentada de um sexto até a metade.
Tal regramento encontra-se no artigo 70, 1ª parte do CP.

- Importante! No concurso formal próprio, a pena não poderá exceder a pena que seria
cabível pela regra do concurso material, que aplica o sistema do cúmulo material. Se o
resultado da exasperação for mais gravoso que a soma de penas, deve-se então somá-
las, aplicando a regra do cúmulo material (concurso material benéfico). Tal regramento
encontra-se no artigo 70, parágrafo único do CP.

 Concurso Formal Impróprio ou Imperfeito: ocorre quando o agente mediante


uma só ação ou omissão, pratica mais de um crime, idênticos ou não, e os crimes
resultam de desígnios autônomos, aplica-se a regra do concurso material
(cúmulo material). Tal regramento encontra-se no artigo 70, 2ª parte do CP.

 Crime Continuado: ocorre quando o agente mediante mais de uma ação ou


omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de
tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes. Aplica-se o sistema da
exasperação, com a aplicação da pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a
mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços.
Tal regramento encontra previsão no artigo 71, caput do CP.

- Requisitos:
a) Pluralidade de condutas
b) Pluralidade de crimes da mesma espécie
c) Mesmas condições de tempo

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d) Mesmas condições de lugar


e) Mesma forma de execução
f) Outras circunstâncias semelhantes

Jurisprudência
Tema: Requisitos da continuidade delitiva (Informativo nº 457 do STJ)

A Turma denegou a ordem de habeas corpus para não reconhecer a


continuidade delitiva entre os delitos de homicídio praticados pelo
paciente. Para a caracterização do crime continuado, consignou-se que o
STJ vem adotando a teoria mista, a qual exige o preenchimento dos
requisitos objetivos - mesmas condições de tempo, lugar e maneira de
execução - e do subjetivo - unidade de desígnios. In casu, asseverou o
Min. Relator que entender de modo contrário à conclusão do tribunal a
quo de que tais requisitos não teriam sido cumpridos demandaria
revolvimento fático-probatório dos autos, o que não é possível
em habeas corpus. Salientou, ademais, que eventual modificação da
sentença condenatória, in casu, exigiria ainda mais cautela por se tratar
de julgamento proveniente do tribunal do júri, em que impera a
soberania dos veredictos. Precedentes citados do STF: HC 89.097-MS, DJe
24/4/2008; HC 85.113-SP, DJ 1º/7/2005; RHC 85.577-RJ, DJ 2/9/2005; HC
95.753-RJ, DJe 6/8/2009; HC 70.794-SP, DJ 13/12/2002; do STJ: HC
142.384-SP, DJe 13/9/2010, e HC 93.323-RS, DJe 23/8/2010.
(HC 151.012-RJ, Rel. Min. Gilson Dipp, 5ª Turma, julgado em 23/11/2010).

- Crime continuado específico: nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos
com violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade,
os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e

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as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou mais grave, se


diversas, até o triplo. Tal regramento encontra previsão no artigo 71, parágrafo único do
CP.

6.10. Da Ação Penal (ACRÉSCIMO)

- Características:
 Direito Público: o titular para processar, julgar e executar as penas é o Estado.
 Direito Subjetivo: o direito de ação pertence ao Ministério Público nas hipóteses
de ação penal pública. Também, a vítima, o seu representante legal ou
sucessores possuem o direito de ação penal privada, bem como a ação penal
privada subsidiária da pública.
 Direito Autônomo: não depende da procedência ou improcedência do pedido.

- Classificação:
A ação penal no ordenamento jurídico brasileiro se classifica em: de iniciativa
pública ou de iniciativa privada.

 Ação Penal de iniciativa pública: é promovida pelo Ministério Público, em regra,


e pode ser incondicionada ou condicionada à representação da vítima ou
requisição do Ministro da Justiça;
 Ação Penal de iniciativa privada: é subdividida em exclusivamente privada,
personalíssima e subsidiária da pública.

- Ação Penal nos crimes complexos:


O crime complexo se caracteriza pela fusão de dois ou mais crimes. De acordo com o
artigo 101 do CP: “Quando a lei considera como elemento ou circunstância do tipo legal
fatos que, por si mesmos, constituem crimes, cabe ação pública em relação àquele,
desde que, em relação a qualquer destes, se deva proceder por iniciativa do Ministério
Público”.

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6.11. Causas de extinção da punibilidade

O artigo 107 do CP estabelece as causas de extinção da punibilidade, a saber: a


morte do agente; a anistia, graça ou indulto; a retroatividade de lei que não mais
considera o fato como criminoso; a prescrição, a decadência ou perempção; a renúncia
do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação penal privada; a
retratação do agente nos casos em que a lei admite e pelo perdão judicial, nos casos
estabelecidos em lei.

- Anistia x Indulto Coletivo x Graça X Comutação:


 Anistia: é concedida pelo Congresso Nacional, por lei, volta-se ao esquecimento de
determinados fatos, fazendo desaparecer suas consequências penais, sendo uma
medida de política criminal.
 Indulto Coletivo: é concedida de ofício pelo Presidente da República, por decreto,
voltada a condenados, dirigindo-se a determinada categoria de sentenciados.
 Graça: é dirigida a um determinado condenado, condicionada à prévia solicitação,
concedida em razão de alguma especial situação ou mérito que apresente ou,
simplesmente, de forma discricionária pelo Presidente da República, podendo ter
caráter humanitário.
 Comutação: é modalidade concedida de ofício pelo Presidente da República, por
decreto, voltada a condenados e dirigida a um número indeterminado de
reeducandos, desde que preencham os requisitos do decreto concessivo, podendo
ajustar a execução, diminuindo ou substituindo a pena, devendo ser retificada a conta
de liquidação para ajustá-la à nova realidade no que tange ao quantum, nos termos
do decreto concessivo.

Trataremos, a seguir, da prescrição.

A CRFB/88 prevê a imprescritibilidade de dois grupos de crimes: racismo e a ação de


grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado
democrático.

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O CP subdivide a prescrição em dois grupos: Prescrição da Pretensão Punitiva e


Prescrição da Pretensão Executória. Analisaremos cada um deles em separado:

- Prescrição da Pretensão Punitiva: essa modalidade de prescrição repercute os


seguintes efeitos: obsta o exercício da ação penal, seja na fase do inquérito policial ou
na fase judicial; tem o condão de apagar todos os efeitos de eventual sentença
condenatória antes proferida; não servirá para fins de reincidência, nem para
caracterizar maus antecedentes e não embasará título executivo no âmbito cível.

A prescrição da pretensão punitiva é subdividida em:

a) prescrição da pretensão punitiva propriamente dita ou prescrição da ação penal: é


aquela que se verifica antes do transito em julgado da sentença penal, com observância
dos limites fixados no artigo 109 do CP.

b) prescrição intercorrente, superveniente ou subsequente: é aquela existente entre a


publicação da sentença penal condenatória recorrível e o momento do trânsito em
julgado para a defesa. Assim, observa-se que ela depende do trânsito em julgado para a
acusação no que tange à pena fixada, em decorrência da não interposição do recurso
cabível ou pelo seu improvimento.

c) prescrição retroativa: é aquela calculada com base na pena em concreto. Ela depende
do trânsito em julgado da sentença penal condenatória para a acusação no que
concerne à pena fixada, em decorrência da não interposição do recurso cabível ou pelo
seu improvimento.

As causas impeditivas da prescrição estão listadas no artigo 116 do CP e as


causas interruptivas, no artigo 117 do CP.

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b) Prescrição da Pretensão Executória: essa modalidade de prescrição repercute os


seguintes efeitos: em razão de já existir trânsito em julgado para a acusação e defesa,
competirá ao juízo da execução penal reconhecê-la e com isso, declarar a extinção da
punibilidade, após a oitiva do Ministério Público.

Ela extingue somente a aplicação da pena, com a manutenção de todos os


efeitos secundários da condenação penal, de caráter penal e extrapenal. A condenação
servirá para a caracterização da reincidência, nos moldes do artigo 64, I do CP. Ela
servirá, ainda, como título executivo a ser executado na esfera cível.

Esta modalidade de prescrição é calculada pela pena em concreto, fixada na


sentença ou no acórdão, tendo em vista que já existe trânsito em julgado para a
acusação e para a defesa. Na hipótese de reincidência antecedente, o prazo
prescricional aumenta-se na fração de 1/3.

Conforme estabelece o art. 113 do CP, no caso de evadir-se o condenado ou de


revogar-se o livramento condicional, a prescrição é regulada pelo tempo que resta da
pena.

Súmula 146 do STF: A prescrição da ação penal regula-se pela pena concretizada na
sentença, quando não há recurso da acusação.
S. 220 do STJ: A reincidência não influi no prazo da prescrição da pretensão punitiva.
Súmula 18 do STJ: A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção
S. da
438 do STJ: É inadmissível
punibilidade, a extinção
não subsistindo da efeito
qualquer punibilidade pela prescrição da pretensão
condenatório.
punitiva com fundamento em pena hipotética, independentemente da existência ou
Súmula 220 do STJ: A reincidência não influi no prazo da prescrição da pretensão
sorte do processo penal.
punitiva.

Súmula 438 do STJ: É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da


pretensão punitiva com fundamento em pena hipotética, independentemente da
Capítulo 7 Introdução ao Direito Penal – Parte Especial
existência ou sorte do processo penal.

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Jurisprudência

Tema: Redução do prazo prescricional para condenados maiores de 70


anos e momento de sua aferição (Informativo nº 822 do STF)

Para que incida a redução do prazo prescricional prevista no art. 115 do


CP, é necessário que, no momento da sentença, o condenado possua
mais de 70 anos. Se ele só completou a idade após a sentença, não terá
direito ao benefício, mesmo que isso tenha ocorrido antes do julgamento
de apelação interposta contra a sentença. Existe, no entanto, uma
situação em que o condenado será beneficiado pela redução do art. 115
do CP mesmo tendo completado 70 anos após a "sentença" (sentença ou
acórdão condenatório): isso ocorre quando o condenado opõe embargos
de declaração contra a sentença/acórdão condenatórios e esses
embargos são conhecidos. Nesse caso, o prazo prescricional será
reduzido pela metade se o réu completar 70 anos até a data do
julgamento dos embargos. Nesse sentido: STF. Plenário. AP 516 ED/DF,
rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, julgado em
5/12/2013.

(HC 129696/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, 2ª Turma, julgado em 19/4/2016).

Aplicação Prática – Questões de Concursos

(Ano: 2017 Banca: CESPE Órgão: PC-GO Prova: Delegado de Polícia Substituto)

Assinale a opção correta, acerca de extinção da punibilidade

a) Uma lei de anistia pode ser revogada por lei posterior, diante de mudança de opinião do
Congresso Nacional a respeito da extinção de punibilidade concedida.

b) Graça e indulto somente podem ser concedidos pelo presidente da República, uma vez que
tais prerrogativas são insuscetíveis de delegação.

c) A punibilidade de qualquer crime pode ser extinta por meio de graça e indulto.

d) O instituto da prescrição atinge a pretensão de punir ou de executar a pena.

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e) A anistia ou abolitio criminis é causa extintiva de punibilidade discutida no âmbito do Poder
Legislativo.

R: Alternativa D
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Capítulo 7 Introdução ao Direito Penal – Parte Especial

7.1. Crimes contra a vida

Nos crimes contra a vida tutela-se a proteção da vida humana como bem
jurídico, sendo considerado o bem mais importante do indivíduo.

7.1.1. Homicídio

- Previsão legal: artigo 121, do CP.

O tipo penal tipifica a conduta de matar alguém, que significa a retirada da vida
de outro ser humano, que estava vivo no momento do crime.

- Classificação doutrinária: crime comum, simples, de forma livre, de dano, instantâneo


de efeito permanente, material, que admite a realização dolosa ou culposa, comissivo
ou omissivo (na modalidade de omissão imprópria do artigo 13, §2º do CP).

- Modalidades:

a) Homicídio Simples (artigo 121, caput do CP): é a forma simples do tipo penal “Matar
alguém”, não exige nenhum animus especial do agente.
b) Homicídio Privilegiado (artigo 121, §1º do CP): é uma causa de diminuição especial
de pena. O agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou
moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da
vítima.

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c) Homicídio Qualificado (artigo 121, §2º do CP): são hipóteses qualificadoras do crime,
umas relacionadas aos motivos do crime (incisos I, II, V, VI e VII) e outras com o modo
que o crime foi praticado (incisos III e IV).
d) Homicídio Culposo (artigo 121, §3º do CP): essa modalidade ocorre quando o agente,
com manifestada imprudência, negligencia ou imperícia, deixa de empregar a atenção
ou diligencia de que era capaz, provocando, com a sua conduta o evento morte.
e) Homicídio Culposo Majorado (artigo 121, §4º, 1ª parte do CP): são causas de
aumento de pena no crime cometido culposamente. Ocorre quando o crime é cometido
com inobservância da regra técnica de profissão, arte ou ofício; se o agente deixa de
prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato ou
foge para evitar prisão em flagrante.

- Causas de aumento de pena: quando o crime doloso for praticado contra pessoa
menor de 14 ou maior de 60 anos aumenta-se a pena em 1/3; quando o crime for
praticado por milícia privada, sob pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por
grupo de extermínio, aumenta-se a pena de 1/3 até a metade.

Observação: na qualificadora do feminicídio, aumenta-se em 1/3 a pena até a metade


se o crime for praticado: (i) durante a gestação ou nos 3 meses posteriores ao parto;
(ii) contra pessoa menor de 14 anos, maior de 60 anos ou com deficiência e (iii) na
presença de descendente ou ascendente da vítima.

- Perdão judicial: no homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena se as


consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção
penal se torne desnecessária. É uma causa de extinção da punibilidade. A previsão está
no artigo 121, §5º do CP.

7.1.2. Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio

- Previsão legal: 122 do CP.

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O sujeito ativo e o passivo podem ser qualquer pessoa. O tipo penal descreve a
conduta do suicídio, que ocorre com a eliminação da própria vida, exigindo-se que a
vítima tenha cometido o suicídio de forma voluntária e consciente, ou seja, com
discernimento. O agente pratica o crime por meio de três formas: induzimento,
instigação ou auxílio.

- Classificação doutrinária: crime de conduta múltipla ou de conteúdo variado. O crime


só é punível a título de dolo.

- Causas especiais de aumento de pena: o parágrafo único do artigo 122 do CP prevê


que a pena será duplicada quando: (i) o crime for praticado por motivo egoístico; (ii) se
a vítima for menor ou (iii) em vítima que tenha diminuída, por qualquer causa, a
capacidade de resistência.

7.1.3. Infanticídio

- Previsão legal: artigo 123 do CP.

O sujeito ativo do crime é a mãe, sendo hipótese de crime próprio e o sujeito


passivo é o nascente, se for praticado durante o parto ou o neonato, se for logo após o
momento do parto.

Ocorre o crime quando a mãe mata o seu filho sob a influência do estado
puerperal, ou seja, o crime deve ter sido cometido em virtude da perturbação de ordem
psíquica decorrente do estado puerperal.

7.1.4. Aborto

- Previsão legal: artigos 124 ao 128 do CP.

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O crime de aborto tutela a vida humana, se o crime for provocado por terceiro
também se protege a incolumidade da gestante. O aborto caracteriza-se por ser uma
descontinuação da gravidez, que leva a morte do feto.

- O tipo penal do aborto é previsto em três artigos:

a) Provocar o aborto em si mesma ou consentir que outrem lhe provoque (artigo 124
do CP): o sujeito ativo é a própria gestante. O sujeito passivo é o feto.
b) Provocar o aborto, sem o consentimento da gestante (artigo 125 do CP): o crime pode
ser cometido por qualquer pessoa. Há uma dupla subjetividade passiva, pois são sujeitos
passivos o feto e a gestante.
c) Provocar aborto com o consentimento da gestante (artigo 126 do CP): o crime pode
ser cometido por qualquer pessoa. O sujeito passivo é o feto.

- Causas especiais de aumento de pena: conforme o artigo 127 do CP, aumenta-se de


um terço as penas dos crimes previstos nos artigos 125 e 126 do CP, se em decorrência
do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de
natureza grave; e são duplicadas se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.

Observação: o artigo 128 do CP elenca as hipóteses em que o aborto será permitido.


- Importante: o artigo 128 do CP elenca as hipóteses em que o aborto será permitido.
Trata-se de típica norma penal permissiva.
Trata-se de típica norma penal permissiva.

Jurisprudência

Tema: Crime de aborto. Interrupção da gravidez no primeiro trimestre


da gestação (Informativo nº 849 do STF)

A interrupção da gravidez no primeiro trimestre da gestação provocada


pela própria gestante (art. 124) ou com o seu consentimento (art. 126)
não é crime. É preciso conferir interpretação conforme a Constituição aos

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arts. 124 a 126 do Código Penal – que tipificam o crime de aborto – para
excluir do seu âmbito de incidência a interrupção voluntária da gestação
efetivada no primeiro trimestre. A criminalização, nessa hipótese, viola
diversos direitos fundamentais da mulher, bem como o princípio da
proporcionalidade.

(HC 124306/RJ, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto
Barroso, 1ª Turma, julgado em 29/11/2016).

7.2. Lesões Corporais

- Previsão legal: artigo 129 do CP.

O bem jurídico tutelado é a incolumidade pessoal da pessoa. O sujeito ativo


pode ser qualquer pessoa, bem com o sujeito passivo. A exceção se dá nas hipóteses
previstas no artigo 129, §1º, IV e §2º, V do CP, nas quais somente a mulher grávida será
sujeito passivo.

O tipo penal ocorre quando o agente ofende a integridade física de outrem.

- Classificação doutrinária:

a) Lesão corporal de natureza grave (artigo 129, §1º do CP).


b) Lesão corporal de natureza gravíssima (artigo 129, §2º do CP).
c) Lesão corporal seguida de morte (artigo 129, §3º).
d) Lesão corporal culposa (artigo 129, §6º do CP).
e) Lesão corporal qualificada pela violência doméstica e familiar (artigo 129, §9º do CP).

1ª Observação: A diferença do crime de lesão corporal e vias de fato é que no crime


de lesão corporal o agente atua com o dolo de lesionar, já nas vias de fato não há
esse
2ª dolo, exemplo,
Observação: dar umasempurrão
Somente em alguém.
lesões dolosas se classificam como leves, graves e
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gravíssimas. A lesão corporal culposa não se classifica, mas devem ser consideradas
para fins de aplicação da pena.
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7.3. Rixa

- Previsão legal: artigo 137 do CP.

O crime tutela os bens jurídicos saúde e a vida. Não se exige condição especial
para o sujeito ativo e nem para o sujeito passivo, ou seja, qualquer pessoa poderá
praticá-lo. Exige-se, contudo, o concurso necessário de pessoas, pois se trata de crime
de natureza plurissubjetiva.

- Classificação doutrinária: crime comum, de perigo abstrato, comissivo e de concurso


necessário.

7.4. Crimes contra a Honra

Os crimes contra a honra tutelam a honra, que ostenta natureza de direito


fundamental, positivada no artigo 5º, inciso X da CRFB/88. O Código Penal disciplinou
três crimes contra a honra: calúnia, difamação e injúria.

A honra é classificada em honra objetiva e honra subjetiva:

- Honra objetiva: é o conceito que a pessoa possui na sociedade, a sua reputação social.
- Honra subjetiva: é o conceito que a pessoa tem sobre si própria, a sua dignidade e
decoro.

7.4.1. Calúnia

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- Previsão legal: artigo 138 do CP.

O bem jurídico tutelado é a honra objetiva. O tipo penal dispõe que a calúnia é
praticada quando o agente imputa a alguém falsamente fato definido como crime.

Observação: admite-se a calúnia contra os mortos, de acordo com o artigo 138, §2º
do CP.

- Exceção da verdade: em regra, permite-se a exceção da verdade, salvo nas hipóteses


descritas no artigo 138, §3º do CP.

7.4.2. Difamação

- Previsão legal: artigo 139 do CP.

O bem jurídico tutelado é a honra objetiva. O tipo penal caracteriza-se quando


o agente atribui a alguém fato ofensivo à sua reputação.

- Classificação doutrinária: é um crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo
e passivo.

- Exceção da verdade: só poderá ser admitida se ofendido for funcionário público e a


ofensa for relativa ao exercício de suas funções.

7.4.3. Injúria

- Previsão legal: artigo 140 do CP.

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O bem jurídico tutelado é a honra subjetiva. O tipo penal ocorre quando o


agente profere qualidades negativas sobre a vítima, que lhe causa uma ofensa pessoal.

- Classificação doutrinária: é um crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo
e passivo.

- Exceção da verdade: não se admite a exceção da verdade.

Demais classificações:

- Injúria real: está prevista no artigo 140, §2º do CP.


- Injúria preconceituosa: está prevista no artigo 140, §3º do CP.

7.5. Crimes contra a Liberdade Pessoal

Os crimes contra a liberdade pessoal tutelam a liberdade pessoal do indivíduo.

7.5.1. Constrangimento ilegal

- Previsão legal: artigo 146 do CP.

O tipo legal alude ao verbo constranger, que significa o ato de forçar, compelir
alguém a fazer ou deixar de fazer algo. O sujeito ativo comete o crime por meio de
violência, grave ameaça ou de qualquer outro meio capaz de impedir a resistência da
vítima.

- Classificação doutrinária: crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo ou
passivo.

7.5.2. Ameaça

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- Previsão legal: 147 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo ou passivo.
O tipo penal prescreve o verbo ameaçar, que significa intimidar, causar medo em
alguém, mediante a promessa de causar-lhe mal injusto e grave.

7.5.3. Sequestro e Cárcere Privado

- Previsão legal: artigo 148 do CP.

O crime restará caracterizado quando houve privação da liberdade de locomoção


da vítima.

- Classificação doutrinária: é comum, não se exige qualidade pessoal do sujeito ativo ou


do passivo. É crime material e permanente.

Observação: sequestro x cárcere privado: neste último há uma limitação especial


mais restrita de locomoção da pessoa submetida à privação da liberdade.

7.5.4. Redução a condição análoga à de escravo

- Previsão legal: artigo 149 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo ou passivo.

- Classificação doutrinária: é de forma vinculada, tendo em vista que o artigo 149 do CP


listou os modos de execução. É crime permanente, sendo certo que a sua consumação

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ocorre no momento em que o sujeito ativo reduz a vítima a condição análoga à de


escravo.

7.5.5. Tráfico de Pessoas

- Previsão legal: artigo 149-A do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo ou passivo.

- Classificação doutrinária: é formal e de ação múltipla ou de conteúdo variado, por


meio dos seguintes núcleos do verbo do tipo penal do artigo 149-A do CP: agenciar,
aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa.

O crime prevê o dolo específico, pois o agente comete o crime com as seguintes
finalidades em relação à vítima:

- remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo;


- submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo;
- submetê-la a qualquer tipo de servidão;
- adoção ilegal;
- exploração sexual.

Importante! A Lei 13.344/2016 revogou os artigos 231 e 231-A do CP, que tratavam
do tráfico internacional e interno para fins de exploração sexual. Não houve abolitio
criminis, apenas a revogação formal dos tipos penais. A conduta continua sendo
criminosa no artigo 149-A do CP. Na verdade, ocorreu a incidência do princípio da
7.6. Crime contra
continuidade a Inviolabilidade do Domicílio
normativo-típica.

O bem jurídico tutelado é a liberdade pessoal por meio da proteção e


tranquilidade do seu lar.

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7.6.1. Violação de domicílio

- Previsão legal: artigo 150 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo ou passivo.
O crime ocorre quando o agente ingressa em casa alheia ou em suas dependências, sem
o consentimento do responsável, de forma dolosa. Não se admite a modalidade culposa.

- Classificação doutrinária: trata-se de um tipo misto alternativo, de forma livre.

A expressão “casa” encontra-se conceituada no artigo 150, §4º do CP, podendo ser:
qualquer compartimento habitado; aposento ocupado de habitação coletiva e
compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade.

7.7. Crimes contra o patrimônio

O bem jurídico tutelado é o patrimônio do indivíduo.

7.7.1. Furto

- Previsão legal: artigo 155 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo ou passivo,
com a ressalva do proprietário do bem móvel não poder figurar como sujeito ativo. O
tipo penal prevê a subtração de coisa alheia móvel.

A subtração ocorre quando a coisa é retirada da posse da vítima. A coisa sem


dono não é objeto do crime.

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- Furto noturno: o artigo 155, §1º do CP estabelece a causa de aumento de pena de 1/3,
se o crime for praticado durante o repouso noturno.

- Furto privilegiado: previsto no artigo 155, §2º do CP. Entende-se, majoritariamente,


que a coisa de pequeno valor pode ser aferida com base no valor do salário mínimo.

- Figura equiparada: conforme o artigo 155, §3º do CP, equipara-se a coisa móvel a
energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.

A nossa legislação penal adotou a teoria da amotio, segundo a qual a consumação


do crime ocorre com a posse da coisa pelo agente.

Súmula 511 do STJ: É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art.


- Qualificadoras: previstas no artigo 155, §4º do CP.
155 do CP nos casos de crime de furto qualificado, se estiverem presentes a
primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem
objetiva.

Súmula 567 do STJ: Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou


por existência de segurança no interior de estabelecimento comercial, por si só, não
torna impossível a configuração do crime de furto.

Jurisprudências

Tema: Momento consumativo do crime de furto (Informativo nº 572 do


STJ)

Consuma-se o crime de furto com a posse de fato da res furtiva, ainda


que por breve espaço de tempo e seguida de perseguição ao agente,
sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada. STJ.

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(REsp 1.524.450-RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, 3ª Seção, julgado em


14/10/2015 – Recurso Repetitivo).

Tema: Compatibilidade da causa de aumento de pena do repouso


noturno no caso de furto qualificado (Informativo nº 554 do STJ)

É legítima a incidência da causa de aumento de pena por crime cometido


durante o repouso noturno (art. 155, § 1º) no caso de furto praticado na
forma qualificada (art. 155, § 4º). Não existe nenhuma incompatibilidade
entre a majorante prevista no § 1º e as qualificadoras do § 4º. São
circunstâncias diversas, que incidem em momentos diferentes da
aplicação da pena. Assim, é possível que o agente seja condenado por
furto qualificado (§ 4º) e, na terceira fase da dosimetria, o juiz aumente a
pena em 1/3 se a subtração ocorreu durante o repouso noturno. A
posição topográfica do § 1º (vem antes do § 4º) não é fator que impede
a sua aplicação para as situações de furto qualificado (§ 4º). STF. 2ª
Turma. HC 130952/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 13/12/2016
(Info 851).

(HC 306.450-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, 6ª Turma,


julgado em 4/12/2014).

7.7.2. Roubo

- Previsão legal: artigo 157 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo ou passivo.

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- Classificações:

a) Roubo Próprio: se caracteriza quando o agente tem a intenção de praticar, desde o


início, a subtração violenta.
b) Roubo Impróprio: se caracteriza quando a finalidade inicial do agente era a de levar
a efeito uma subtração patrimonial não violenta, que se transformou em violenta por
algum motivo durante a execução do delito.

- O crime poderá ser praticado mediante violência ou grave ameaça à pessoa. A violência
poderá ser própria ou imprópria:

 Violência própria: é aquela de natureza física, dirigida contra a vítima.


 Violência imprópria: não existe uma conduta violenta, o agente se vale de
qualquer outro meio capaz de conduzir à redução de possibilidade de resistência
da vítima. Também se caracteriza pela grave ameaça (vis compulsiva).

- Causas especiais de aumento de pena: estão dispostas no artigo 157, §2º do CP.

- Qualificadoras: o artigo 157, §3º do CP dispõe sobre as hipóteses em que o crime de


roubo será qualificado: (i) se resultar lesão corporal grave ou (ii) morte. Esta última
qualificadora é denominada de latrocínio.

Observação: a morte poderá ser causada tanto a título de dolo quanto de culpa, sendo
certo que ela deverá decorrer da violência empregada pelo agente e em razão do
crime de 443
Súmula roubo.
do STJ: O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de
roubo circunstanciado exige fundamentação concreta, não sendo suficiente para a
sua exasperação a mera indicação do número de majorantes.

Súmula 582 do STJ: Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem
mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em
seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo
prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada.
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Súmula 610 do STF: Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda
que não realize o agente a subtração de bens da vítima.
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Jurisprudência

Tema: Grave ameaça/violência contra mais de uma pessoa e subtração

de um só patrimônio (Informativo nº 556 do STJ)

No delito de roubo, se a intenção do agente é direcionada à subtração de


um único patrimônio, estará configurado apenas um crime, ainda que, no
modus operandi (modo de execução), seja utilizada violência ou grave
ameaça contra mais de uma pessoa para a obtenção do resultado
pretendido. Ex: Maria estava saindo do banco, acompanhada de seu
segurança. João, de arma em punho, deu uma coronhada no segurança,
causando lesão leve, e subtraiu a mala que pertencia a Maria. O agente
praticou um único roubo majorado pelo emprego de arma de fogo (art.
157, § 2º, I do CP), considerando que somente um patrimônio foi atingido.

(AgRg no REsp 1.490.894-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, 6ª Turma,


julgado em 10/2/2015).

7.7.3. Extorsão

- Previsão legal: artigos 158 ao 160 do CP.

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Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo ou passivo.
O tipo penal ocorre quando o agente constrange a vítima mediante violência física ou
grave ameaça a praticar um comportamento, com o objetivo de obter indevida
vantagem de natureza econômica. É crime formal.

Súmula 96 do STJ: O crime de extorsão consuma-se independentemente da


obtenção da vantagem indevida.

Jurisprudência

Tema: Crime de extorsão mediante a ameaça de um “mal espiritual”


(Informativo nº 598 do STJ)

A extorsão pode ser praticada mediante a ameaça feita pelo agente de


causar um "mal espiritual" na vítima Configura o delito de extorsão (art.
158 do CP) a conduta do agente que submete vítima à grave ameaça
espiritual que se revelou idônea a atemorizá-la e compeli-la a realizar o
pagamento de vantagem econômica indevida.

(REsp 1.299.021-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, 6ª Turma, julgado em


14/2/2017.

- Extorsão mediante sequestro: está prevista no artigo 159 do CP. O crime ocorre
quando o agente sequestra pessoa, com o fim de obter para si ou para outrem, qualquer
vantagem, como condição ou preço do resgate.

7.8. Dano

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- Previsão legal: artigo 163 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo ou passivo.
O tipo penal é caracterizado pelo dolo de destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia
móvel ou imóvel.

7.9. Apropriação Indébita

- Previsão legal: artigo 168 do CP.

O sujeito ativo é aquele que possui a detenção ou posse da coisa e o sujeito


passivo é o proprietário ou o possuidor da coisa. O crime ocorre quando o agente,
possuidor ou detentor da coisa, inverte o título que detinha com a coisa, passando-se a
comportar como se fosse dono.

- Crime de apropriação indébita previdenciária: está descrito no artigo 168-A do CP,


somente será caracterizado após o decurso do prazo legal ou convencional concedido
para que fosse realizado o repasse à previdência.

Antes de esgotado o prazo, que se encontra previsto na lei nº 8212\91, o fato


deve ser considerado um indiferente penal. O objeto material é a contribuição que foi
recolhida do contribuinte. O sujeito passivo é a previdência social.

7.10. Estelionato e Outras Fraudes

- Previsão legal: artigos 171 ao 179 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo ou passivo.
O crime do artigo 171 do CP ocorre quando o agente obtém, para si ou para outrem,
vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante
artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento.

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A fraude deverá se dar antes ou durante a obtenção da vantagem ilícita e o


meio da execução deverá ser idôneo.

- Causa especial de aumento de pena: conforme o artigo 171, §3º do CP, a pena
aumenta-se de 1/3 se o crime for cometido em detrimento da entidade de direito
público ou de instituto de economia.

- Importante: furto mediante fraude x estelionato: No furto mediante fraude ocorre


quando a coisa é retirada sem o consentimento da vítima, em virtude da fraude
empregada pelo agente. No entanto, no estelionato, também há o emprego da fraude,
mas nesse caso a própria vítima ludibriada entrega de forma voluntária a coisa para o
agente.

Súmula 17 do STJ: Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade


lesiva, é por este absorvido.

Súmula 24 do STJ: Aplica-se ao crime de estelionato, em que figure como vítima


entidade autárquica da Previdência Social, a qualificadora do §3º do artigo 171 do
Código Penal.

Súmula 73 do STJ: A utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura,


em tese, o crime de estelionato, da competência da Justiça Estadual.

Súmula 246 do STF: Comprovado não ter havido fraude, não se configura o crime de
emissão de cheque sem fundos.

Súmula 554 do STF: O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após
7.11. Receptação
o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal.

- Previsão legal: artigos 180 e 180-A do CP.

- Classificação:

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a) Receptação simples (artigo 180, caput do CP): segundo a doutrina majoritária, só


pode ser praticada com dolo direto, o agente tem que saber que se trata de produto de
crime.
b) Receptação qualificada (artigo 180, §1º do CP): é qualificada porque foi praticado
crime no exercício de atividade comercial ou industrial. O crime pode ser praticado com
dolo meramente eventual ou direto.
c) Receptação culposa (artigo 180, § 3º do CP): ocorre quando o agente adquire ou
recebe a coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou
pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso.

7.12. Crimes contra a Propriedade Intelectual (ACRÉSCIMO)

O bem jurídico tutelado é a propriedade intelectual. O artigo 5º, XXVII da


CRFB/88 assegura: “aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou
reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar”.

A matéria encontra-se disciplinada na Lei nº 9.610/1998.

7.12.1. Crime de Violação de Direito Autoral

- Previsão legal: artigo 184 do CP.

Trata-se de crime comum, no qual qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O
sujeito passivo é o autor da obra, caso tenha sido transmitida aos herdeiros, estes irão
figurar como sujeito passivo. Da mesma forma, na hipótese em que a obra for
transmitida à pessoa jurídica, de direito público ou privado, esta será a vítima. Se a
violação recair sobre os direitos conexos do autor, os sujeitos passivos serão os
respectivos titulares.

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O artigo 184, caput do CP é classificado como uma norma penal em branco,


pois o seu conteúdo – direito de autor – deverá ser verificado na Lei nº 9.610/1998. Para
a sua configuração é desnecessário o intuito de lucro, sendo certo que se houver essa
finalidade, o crime passará a ser qualificado – artigo 184, §1º do CP.

- Qualificadoras:

a) O artigo 184, §1º do CP é um crime comum, no qual qualquer pessoa poderá ser
sujeito ativo. O sujeito passivo é o titular dos direitos violados. Nesta hipótese, além do
dolo do agente, também deverá restar caracterizada a finalidade especial de obtenção
do lucro. É um crime formal.
b) O artigo 184, §2º do CP é um crime comum, no qual qualquer pessoa poderá ser
sujeito ativo, ainda que não seja comerciante, bastando que tenha a intenção de lucro.
A tipicidade depende de o agente não ter participado, de qualquer forma, da
reprodução fraudulenta, pois, caso contrário, deverá ser responsabilizado nos termos
do §1º do artigo 184 do CP. O sujeito passivo é o detentor dos direitos autorais que
sofreu as violações. Nesta hipótese, além do dolo do agente, também deverá restar
caracterizada a finalidade especial de obtenção do lucro. É um crime formal.
c) O artigo 184, §3º do CP é um crime comum, no qual qualquer pessoa poderá ser
sujeito ativo. O sujeito passivo é o autor, o artista intérprete ou executante, como
também, o produtor da obra. Nesta hipótese, além do dolo do agente, também deverá
restar caracterizada a finalidade especial de obtenção do lucro. É um crime formal.

- Causa excludente da tipicidade:

De acordo com o artigo 184, §4º do CP: “O disposto nos §§ 1o, 2o e 3o não se
aplica quando se tratar de exceção ou limitação ao direito de autor ou os que lhe são
conexos, em conformidade com o previsto na Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998,
nem a cópia de obra intelectual ou fonograma, em um só exemplar, para uso privado do
copista, sem intuito de lucro direto ou indireto.”

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7.13. Crimes contra a dignidade sexual

O bem jurídico tutelado é a liberdade sexual da pessoa humana.

7.13.1. Estupro

- Previsão legal: artigo 213 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo ou passivo.
Trata-se de crime de ação múltipla, segundo a doutrina majoritária. O artigo 213 é um
crime contra a liberdade sexual, alguém não quis o ato sexual e foi forçado à prática
sexual, mediante violência, ameaça e então, nesse caso tem a questão da liberdade
sexual ter sido ofendida.

Observação:
Observação: não
não existe
existe mais
mais a diferença
a diferença entre
entre o estupro
o estupro e o atentado
e o atentado violento
violento ao
ao pudor,
pudor,
com a Leicom a Lei nºde12.015
nº 12.015 de 7 dedeagosto
7 de agosto 2009, de
os 2009,
crimesosdecrimes deeestupro
estupro e o de
o de atentado
atentado
violento ao violento ao pudor
pudor foram foramem
unificados unificados
uma só em
tipouma só tipo penal.
penal.

- Importante! A vítima desse estupro não pode ser um vulnerável, porque nessa
condição havendo ofensa à liberdade sexual ou não, o crime será o do artigo 217-A, que
são as pessoas que por sua própria condição não tem como se manifestar livremente de
uma forma que se considere válida com relação a sua dignidade sexual.

Jurisprudências

Tema: O crime de estupro e a Lei 12.015/2009 (Informativo nº 543 do


STJ)

O estupro (art. 213 do CP), com redação dada pela Lei 12.015/2009, é tipo
penal misto alternativo. Logo, se o agente, no mesmo contexto fático,

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pratica conjunção carnal e outro ato libidinoso contra uma só vítima,


pratica um só crime do art. 213 do CP. A Lei 12.015/2009, ao revogar o
art. 214 do CP, não promoveu a descriminalização do atentado violento
ao puder (não houve abolitio criminis). Ocorreu, no caso, a continuidade
normativo-típica, considerando que a nova Lei inseriu a mesma conduta
no art. 213. Houve, então, apenas uma mudança no local onde o delito
era previsto, mantendo-se, contudo, a previsão de que essa conduta se
trata de crime. É possível aplicar retroativamente a Lei 12.015/2009 para
o agente que praticou estupro e atentado violento ao pudor, no mesmo
contexto fático e contra a mesma vítima, e que havia sido condenado
pelos dois crimes (arts. 213 e 214) em concurso. Segundo entende o STJ,
como a Lei 12.015/2009 unificou os crimes de estupro e atentado
violento ao pudor em um mesmo tipo penal, deve ser reconhecida a
existência de crime único na conduta do agente, caso as condutas tenham
sido praticadas contra a mesma vítima e no mesmo contexto fático,
devendo-se aplicar essa orientação aos delitos cometidos antes da
vigência da Lei 12.015/2009, em face do princípio da retroatividade da lei
penal mais benéfica. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1262650/RS, Rel. Min.
Regina Helena Costa, julgado em 05/08/2014.

(HC 212.305/DF, Rel. Min. Marilza Maynard (Des. Conv. TJ/SE), 6ª Turma,
julgado em 24/04/2014).

Tema: Configuração do crime de estupro circunstanciado (Informativo


nº 592 do STJ)

1. O aresto impugnado informou que o réu abordou de forma violenta e


sorrateira a vítima – adolescente de 15 anos – com a intenção de
satisfazer sua lascívia, o que ficou demonstrado por sua declarada
intenção de "ficar" com a jovem e pela ação de lhe impingir, à força, um
beijo libidinoso, após ser derrubada ao solo e mantida subjugada pelo
agressor, que a imobilizou pressionando o joelho sobre seu abdômen. A

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agressão sexual somente não prosseguiu porque o recorrido percebeu a


aproximação de indivíduos em uma motocicleta.

2. Sem embargo, o Tribunal estadual emprega argumentação que


reproduz o que se identifica como a cultura do estupro, ou seja, a
aceitação como natural da violência sexual contra as mulheres, em odioso
processo de objetificação do corpo feminino. Reproduzindo pensamento
patriarcal e sexista, ainda muito presente em nossa sociedade, a Corte de
origem entendeu que o ato não passou de um "beijo roubado". A
propósito, deve-se ter em mente que estupro é um ato de violência (e
não de sexo). Busca-se, sim, a satisfação da lascívia por meio de
conjunção carnal ou atos diversos, como na espécie, mas com intuito de
subjugar, humilhar, submeter a vítima à força do agente, consciente de
sua superioridade física. 3. 3. Consoante já consolidado pelo STJ, o ato
libidinoso diverso da conjunção carnal, que caracteriza o crime de
estupro, ao lado da conjunção carnal, inclui "toda ação atentatória contra
o pudor praticada com o propósito lascivo, seja sucedâneo da conjunção
carnal ou não, evidenciando-se com o contato físico entre o agente e a
vítima durante o apontado ato voluptuoso" (AgRg REsp n. 1.154.806-RS,
Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior, 6ª T., DJe 21/3/2012).

4. Acrescento que toda a violência narrada foi desconsiderada para dar


lugar à revitimização da adolescente abusada, bem como ao apoio à
cultura permissiva da invasão à liberdade sexual, em regra, contra as
mulheres. Em verdade, o ato narrado nos autos não foi punido por não
ser considerado grave, o que, a meu ver, atenta contra a razão e o bom
senso. Fez-se uma avaliação da realidade na visão do agente e não na da
vítima. Se tomada a ofendida como referência, diversa seria a conclusão
acerca da efetiva satisfação da lascívia, assim como da efemeridade da
violência. Para quem sofre abusos de natureza sexual, as marcas podem
ter duração eterna. A retórica perpetrada pela Corte local desconsidera,
totalmente, a vontade da vítima e a submete, em completa passividade,
às investidas sexuais dos agentes dos crimes dessa natureza. Ou seja, para

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o tribunal de origem pouco importaram a ausência do consentimento e a


súplica da vítima para o réu cessar as violentas investidas tendentes, sim,
à satisfação da lascívia do agressor. A prevalência desse pensamento
ruboriza o Judiciário e não pode ser tolerada.

(Resp 1611910-MT, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, 6ª Turma, julgado em


11/10/2016).

7.13.2. Assédio Sexual

- Previsão legal: artigo 216-A do CP.

O tipo penal exige qualidade especial do sujeito ativo e do sujeito passivo. O


sujeito passivo desse crime é a pessoa que possui hierarquia ou ascendência inerente
ao exercício de emprego, cargo ou função. O sujeito passivo é a pessoa subordinada ao
agente. O crime é próprio.

7.13.3. Estupro de Vulnerável

- Previsão legal: artigo 217-A do CP.

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa e o sujeito passivo poderá ser homem
ou mulher na qualidade de vulnerável. O tipo penal se realiza por meio de conjunção
carnal ou pela prática de outro ato libidinoso com pessoa menor de 14 anos, bem como
com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode
oferecer resistência.

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7.13.4. Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de criança


ou adolescente vulnerável

- Previsão legal: artigo 218-B do CP.

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, porém o sujeito passivo somente
poderá ser a pessoa menor de 18 anos, bem como aquela que, por enfermidade ou
deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato. Trata-se
de crime que tutela a dignidade e a liberdade sexual, notadamente o desenvolvimento
sadio do menor de 18 anos.

7.14. Crimes contra o Casamento

O bem jurídico tutelado é a ordem jurídica matrimonial.

7.14.1. Bigamia

- Previsão legal: artigo 235 do CP.

- Classificação doutrinária: o crime é próprio, pois só pode ser cometido por pessoas
casadas. Na verdade, o tipo penal exige que ao menos um dos consortes seja casado.

Observação: a pessoa casada responde pelo crime descrito no artigo 235, caput do CP
e a pessoa solteira, consciente da condição do outro, responderá na forma privilegiada
descrita no §1º do artigo 235 do CP.

7.15. Crimes contra a Incolumidade Pública

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O bem jurídico tutelado é a incolumidade pública, por meio da tranquilidade da


vida em sociedade, com o objetivo de evitar que a integridade física e os bens dos
indivíduos sejam expostos a risco.

7.15.1. Incêndio

- Previsão legal: artigo 250 do CP.

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. O sujeito passivo é representado pelo
Estado e as demais pessoas expostas ao risco de seu patrimônio, da sua integridade
física ou até mesma da vida. No tipo penal, o agente provoca de forma intencional a
propagação de fogo, que em virtude das suas proporções, causa uma situação de risco
para a coletividade.

- Incêndio culposo: está previsto no artigo 250, §2º do CP.

7.15.2. Explosão

- Previsão legal: artigo 251 do CP.

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. O sujeito passivo é representado pelo
Estado e as demais pessoas expostas ao risco de seu patrimônio, da sua integridade
física ou até mesma da vida.

No tipo penal, são definidas as formas em que a conduta será praticada:


mediante explosão, arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de
substâncias de efeitos análogos.

- Explosão culposa: está previsto no artigo 251, §3º do CP.

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7.16. Crimes contra a Paz Pública

O bem jurídico tutelado é a paz pública.

7.16.1. Incitação ao crime

- Previsão legal: artigo 286 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo ou passivo.
O tipo penal consiste em estimular o cometimento de crime de qualquer natureza, com
previsão no Código Penal ou em outras leis. Para se caracterizar o crime é necessário
que o agente instigue grande número de pessoas a praticar determinado crime.

7.16.2. Apologia ao crime

- Previsão legal: artigo 287 do CP.

O tipo penal se caracteriza quando o agente enaltece um crime já cometido ou


o autor do delito por tê-lo cometido.

- Classificação doutrinária: crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo ou
passivo. É um crime de mera conduta e de perigo abstrato.

7.16.3. Associação criminosa

- Previsão legal: artigo 288 do CP.

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Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é a coletividade e de forma mediata o próprio Estado. O tipo penal consiste na
associação de 3 ou mais pessoas, com o objetivo específico de cometer crimes.

- Classificação doutrinária: crime formal, de perigo abstrato, permanente e de concurso


necessário.

7.17. Crimes contra a Fé Pública

O bem jurídico tutelado é a fé pública.

7.17.1. Moeda Falsa

- Previsão legal: artigo 289 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado. O tipo penal consiste em falsificar, por meio da fabricação ou
alteração de moeda ou papel-moeda nacional ou estrangeira.

7.18. Crimes de Falsidade

Os crimes de falsidade atentam contra o bem jurídico fé pública.

7.18.1. Falsidade de papéis públicos

- Previsão legal: artigo 293 do CP.

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Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado ou as pessoas físicas ou jurídicas que forem lesionadas. O tipo penal
pune a conduta de fabricar ou alterar papéis públicos elencados no artigo 293 do CP.

7.18.2. Falsificação de documento público

- Previsão legal: artigo 297 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado e as pessoas eventualmente lesadas. O documento público define-
se como sendo aquele emitido por funcionário público, no desempenho das suas
funções e em observâncias às prescrições legais.

- Causa especial de aumento de pena: caso o crime seja cometido por funcionário
público, prevalecendo-se das suas funções, a pena será acrescida de 1/6, nos termos do
artigo 297, §1º do CP.

7.18.3. Falsificação de documento particular

- Previsão legal: artigo 298 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado e as pessoas eventualmente lesadas. O documento particular define-
se como sendo aquele que não é público por natureza e nem por equiparação.

7.18.4. Falsidade ideológica

- Previsão legal: artigo 299 do CP.

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Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado e as pessoas eventualmente lesadas. O documento possui
autenticidade em seus requisitos extrínsecos e é produzido pelo autor do crime, apenas
o seu conteúdo é falso. Assim, a falsidade se encontra no conteúdo das declarações
prestadas no documento.

- Causa especial de aumento de pena: caso o crime seja cometido por funcionário
público, prevalecendo-se das suas funções, a pena será acrescida de 1/6, nos termos do
artigo 299, parágrafo único do CP.

7.19. Falsa identidade

- Previsão legal: artigo 307 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado e as pessoas eventualmente lesadas. A conduta típica consiste em
atribuir-se ou atribuir a um terceiro, falsa identidade com vistas à obtenção de
vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem.

- Caso o agente se atribua falsa identidade para afastar de si a imputação por infração
- Caso o agente se atribua falsa identidade para afastar de si a imputação por infração
penal, há o crime do artigo 307 do CP?
penal, há o crime do artigo 307 do CP?

Posição STF: O Plenário do STF no julgamento do RE 640.139 – RG (repercussão geral)


Posição STF: O Plenário do STF no julgamento do RE 640.139 – RG (repercussão geral)
reafirmou a jurisprudência do Tribunal no sentido de que “o princípio constitucional
reafirmou a jurisprudência do Tribunal no sentido de que “o princípio constitucional da
da autodefesa (artigo 5º, LXII da CRFB/88) não alcança aquele que atribui falsa
autodefesa (artigo 5º, LXII da CRFB/88) não alcança aquele que atribui falsa identidade
identidade perante a autoridade policial com o intento de ocultar maus antecedentes,
perante a autoridade policial com o intento de ocultar maus antecedentes, sendo,
sendo, portanto, típica a conduta praticada pelo agente (artigo 307 do CP)”.
portanto, típica a conduta praticada pelo agente (artigo 307 do CP)”.

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Súmula 522 do STJ: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade


policial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa.

7.20. Fraude em certame de interesse público

- Previsão legal: artigo 311-A do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é a coletividade. O crime é material, pois se exige a produção de um dos
resultados possíveis: utilização ou divulgação de conteúdo sigiloso do certame.

- Causa especial de aumento de pena: caso o crime seja cometido por funcionário
público, prevalecendo-se das suas funções, a pena será acrescida de 1/3, nos termos do
artigo 311-A, §3º do CP.

7.21. Crimes contra a Administração Pública

O bem jurídico tutelado é a administração pública. A lei penal adotou um


conceito amplo de funcionário público, nos termos do artigo 327 do CP.

- Crimes praticados por funcionário público contra a Administração em geral


(ACRÉSCIMO)

Conceito de funcionário público no âmbito do Direito Penal

O artigo 327 do CP disciplina o conceito de funcionário público, com natureza


de norma penal explicativa. Confira-se:

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“Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem,


embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou
função pública.
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função
em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço
contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração
Pública.
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes
previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função
de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de
economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público.”

O Código Penal prevê um conceito unitário de funcionário público, ou seja,


emprega a expressão com um sentido amplo. Assim, para os fins penais, considera-se
funcionário público não apenas o servidor legalmente investido em cargo público, mas
também aquele que exerce emprego público, ou, de qualquer modo, desempenha uma
função pública, ainda que transitoriamente.

7.21.1. Peculato

- Previsão legal: artigos 312 e 313 do CP.

Trata-se de crime próprio, tendo em vista que o sujeito ativo deverá ser um
funcionário público. O sujeito passivo é o Estado.

- Classificação:

a) Peculato desvio: é diferente do crime de desvio de verbas públicas (artigo 315 do CP),
é um crime próprio, pois se exige um sujeito ativo especial, o funcionário público em
razão das suas funções, ainda que não seja no exercício delas. O funcionário público que
sabe que tem que dar o destino das verbas ao que a lei determina, ele vai desviar,
aplicará para outra finalidade, que deverá ocorrer em benefício próprio ou alheio.
Peculato próprio.
b) Peculato apropriação: é como se fosse à apropriação indébita, ele tem a coisa em seu
poder na condição de funcionário público, passando a dispor da coisa como se dono
fosse. (animus rem sibi habendi). Peculato próprio.

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c) Peculato furto: o bem não está em poder do funcionário público e ele se vale dessa
condição para subtrai-la. O bem particular que a lei trata é o que está sob custódia da
administração. Não precisa ser do mesmo âmbito de poder. Trata-se de delito funcional
impróprio, o §1º do artigo 312 do CP, ao contrário do que ocorre com o artigo 155 do
CP, utiliza não somente o verbo subtrair, mas também concorrer para que seja subtraído
o objeto material.
d) Peculato culposo: é aquele em que o funcionário contribuiu, culposamente, para o
crime de outrem. Nesse caso se a pessoa repara ou restitui a coisa antes do TJ estará
extinta a punibilidade, depois se reduz à metade. A norma do §3º é especial em relação
ao artigo 16 do CP. Para que ocorra esse crime não há necessidade de que o delito
principal tenha sido praticado também por outro funcionário, podendo ser praticado
por um particular.
e) Peculato mediante erro de outrem: o tipo penal ocorre quando há apropriação de
dinheiro ou de qualquer utilidade pelo funcionário público, que recebeu o bem por erro
de outrem enquanto estava no exercício de suas funções.
f) Peculato eletrônico: é a inserção de dados falsos em sistema de informações, ele se
aplica ao funcionário que tem acessos aos bancos de dados. Para que tenha esse crime
é indispensável o especial fim de agir.

7.21.2. Concussão

- Previsão legal: artigo 316 do CP.

Trata-se de crime próprio, tendo em vista que o sujeito ativo deverá ser um
funcionário público. O sujeito passivo é o Estado. O tipo penal descreve a conduta de
exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou
antes de assumi-la, mas em virtude dela, vantagem indevida.

Observação: a exigência de vantagem indevida pode se dar pelo próprio agente, sendo
Observação: a exigência de vantagem indevida pode se dar pelo próprio agente,
direta, ou por um terceiro ou de forma implícita, sendo indireta.
sendo direta, ou por um terceiro ou de forma implícita, sendo indireta.

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- Excesso de exação (ACRÉSCIMO)

- Previsão legal: artigo 316, §1º do CP.

Esse crime pune o funcionário público que se excede na cobrança de tributo ou


contribuição social, nas hipóteses em que cobra quando sabe ou deveria saber não ser
devido, ou, mesmo quando devido, utiliza-se de meio vergonhoso (vexatório) ou que
repercute em maiores ônus ao contribuinte.

7.21.3. Corrupção Passiva

- Previsão legal: artigo 317 do CP.

Trata-se de crime próprio, tendo em vista que o sujeito ativo deverá ser um
funcionário público. O sujeito passivo é o Estado. O tipo penal descreve a conduta de
solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da
função ou antes de assumi-la, mas em virtude dela, vantagem indevida, ou aceitar
promessa de tal vantagem.

Observação:
Observação:o oterceiro
terceiro que
que oferecer
oferecer ou
ou prometer
prometer aoao funcionário
funcionário público,
público, para
para
determiná-lo
determiná-loa apraticar,
praticar,omitir
omitirou
ou retardar
retardar ato
ato de ofício, responderá
de ofício, responderá pelo
pelo crime
crimedede
corrupção
corrupçãoativa descrito
ativa nonoartigo
descrito 333
artigo dodoCP.
333 CP.
7.21.4. Prevaricação

- Previsão legal: artigo 319 do CP.

Trata-se de crime próprio, tendo em vista que o sujeito ativo deverá ser um
funcionário público. O sujeito passivo é o Estado. O tipo penal descreve a conduta de
retardar ou deixar de praticar, indevidamente ato de ofício, ou praticá-lo contra
disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal. Exige-se o
dolo específico, o especial fim de agir, de querer satisfazer interesse ou sentimento
pessoal.

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7.21.5. Condescendência Criminosa

- Previsão legal: artigo 320 do CP.

Trata-se de crime próprio, tendo em vista que o sujeito ativo deverá ser um
funcionário público. O sujeito passivo é o Estado. O tipo penal descreve a conduta de
deixar de responsabilizar o subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou
não levar o fato praticado pelo subordinado ao conhecimento da autoridade
competente.
- Classificação doutrinária: é um crime omissivo próprio, pois há uma omissão no dever
funcional de apurar a responsabilidade administrativa do funcionário público
subalterno.

7.21.6. Advocacia Administrativa

- Previsão legal: artigo 321 do CP.

Trata-se de crime próprio, tendo em vista que o sujeito ativo deverá ser um
funcionário público. O sujeito passivo é o Estado. O tipo penal descreve a conduta do
funcionário público que patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante
a Administração Pública, valendo-se dessa qualidade. É um crime formal.

7.21.7. Violência Arbitrária

- Previsão legal: artigo 322 do CP.

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Trata-se de crime próprio, tendo em vista que o sujeito ativo deverá ser um
funcionário público. O sujeito passivo é o Estado, na condição de vítima imediata e a
pessoa física que sofreu a violência, na condição de vítima mediata.

- Crimes praticados por particular contra a Administração em geral

7.21.8. Resistência

- Previsão legal: artigo 329 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado e a vítima mediata ou secundária o funcionário que expediu a ordem.
O tipo penal descreve a conduta de se opor à execução de ato legal, mediante violência
ou ameaça a funcionário competente executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio.

7.21.9. Desobediência

- Previsão legal: artigo 330 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado. O tipo penal descreve a conduta de exercer função, atividade, direito,
autoridade ou múnus, de que foi suspendo ou privado por decisão judicial.

7.21.10. Desacato

- Previsão legal: artigo 331 do CP.

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Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado. O tipo penal descreve a conduta de desacatar funcionário público no
exercício da função ou em razão dela.

7.21.11. Tráfico de Influência

- Previsão legal: artigo 332 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado. O tipo penal descreve a conduta de solicitar, exigir, cobrar ou obter,
para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em
ato praticado por funcionário público no exercício da função.

7.21.12. Corrupção ativa

- Previsão legal: artigo 333 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado. O tipo penal descreve a conduta de oferecer ou prometer vantagem
indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de
ofício.

7.21.13. Descaminho

- Previsão legal: artigo 334 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado. O tipo penal descreve a conduta de iludir, no todo ou em parte, o

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pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de
mercadoria.

7.21.14. Contrabando

- Previsão legal: artigo 334-A do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado. O tipo penal descreve a conduta de importar ou exportar mercadoria
proibida. É hipótese de norma penal em branco.

7.21.15. Sonegação de contribuição previdenciária

- Previsão legal: artigo 337-A do CP.

Trata-se de crime próprio, pois somente poderá ser cometido pelo empresário
individual ou por quem, exercendo cargo técnico-contábil na empresa, que detenha a
responsabilidade de lançar as informações relativas à Previdência Social.

7.22. Crimes contra a Administração da Justiça

O bem jurídico tutelado é a Administração da Justiça.

7.22.1. Denunciação caluniosa

- Previsão legal: artigo 339 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado. O tipo penal descreve a conduta de dar causa a instauração de

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investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação administrativa,


inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe
crime que o sabe inocente.

Aplicação Prática – Questões de Concursos

(Ano: 2016 Banca: FUNCAB Órgão: PC-PA Prova: Delegado de Polícia Substituto)

Acerca dos crimes contra a Administração pública, assinale a resposta correta.

a) O crime de denunciação caluniosa (art. 339 do CP), além de outros requisitos de configuração,
exige que a imputação sabidamente falsa recaia sobre vítima determinada, ou, ao menos,
determinável.

b) Para a configuração do crime de peculato-furto (art. 312, § 1⁰, CP) é suficiente que o sujeito
ativo, funcionário público, subtraia um bem móvel particular que esteja sob a guarda da
Administração pública.

c) Considera-se funcionário público, para efeitos penais, quem exerce múnus público, assim
entendido o ônus ou encargo para com o poder público, como no caso do curador.

d) Nos crimes de inserção de dados falsos em sistemas de informações (art. 313-A do CP) e
modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações (art. 313-B do CP) se exige
que figure, como sujeito ativo da conduta, o funcionário público autorizado.

e) Ao contrário do que ocorre na extorsão, o crime de concussão é classificado como delito


material, operando-se quando o agente aufere a vantagem indevida almejada.

R: Alternativa A

R: Alternativa D

7.22.2. Comunicação falsa de crime ou contravenção (ACRÉSCIMO)

– Previsão legal: art. 340 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado. O tipo penal descreve a conduta de provocar, ou seja, dar causa a
inútil ação estatal repressiva pela policia ou pelo Judiciário, por meio da comunicação
de infração penal inexistente ou diversa da verdadeiramente cometida.

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7.22.3. Autoacusação falsa (ACRÉSCIMO)

– Previsão legal: art. 341 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado. O tipo penal descreve a conduta de incriminar-se perante a
autoridade policial, judicial ou ministerial, de crime inexistente ou cometido por outrem.

7.22.4. Falso testemunho ou Falsa Perícia

- Previsão legal: artigo 342 do CP.

O tipo penal descreve a conduta de fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a


verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo
judicial, ou administrativo, inquérito policial ou em juízo arbitral.

- Classificação doutrinária: crime de mão própria, pois o sujeito ativo deverá ser
praticado pela testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete, quando exige a
atuação pessoal do agente.

7.22.5. Coação no curso do Processo (ACRÉSCIMO)

– Previsão legal: art. 344 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado, de forma secundária a pessoa que sofreu a coação. O tipo penal
descreve a conduta daquele que emprega violência ou grave ameaça, com
potencialidade intimidatória, contra autoridade, parte ou qualquer pessoa que funcione

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ou é chamada a intervir em processo judicial, policial ou administrativo, ou juízo arbitral,


com o objetivo de satisfazer interesse próprio ou alheio.

7.22.6. Fraude processual

- Previsão legal: artigo 347 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado. De forma mediata, também poderá figurar como vítima a pessoa que
foi lesada pela conduta do autor. O tipo penal descreve a conduta de inovar
artificiosamente, na pendencia de processo civil ou administrativo, o estado de lugar, de
coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito.

7.22.7. Favorecimento pessoal

- Previsão legal: artigo 348 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado. O tipo penal descreve a conduta de auxiliar a subtrair-se à ação de
autoridade pública autor de crime a que é cominada pena de reclusão.

7.22.8. Favorecimento real

- Previsão legal: artigo 349 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado. O tipo penal descreve a conduta de prestar auxílio a criminoso, sendo
necessário o dolo específico de querer tornar seguro o proveito do crime.

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7.22.9. Exploração de Prestígio

- Previsão legal: artigo 357 do CP.

Trata-se de crime comum, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. O sujeito
passivo é o Estado. O tipo penal descreve a conduta de solicitar ou receber dinheiro ou
qualquer outra utilidade, a pretexto de influir em juiz, jurado, órgão do Ministério
Público, funcionário de justiça, perito, tradutor, intérprete ou testemunha.

Aplicação Prática – Questões de Concursos

(Ano: 2017 Banca: IBADE Órgão: PC-AC Prova: Delegado de Polícia Substituto)

Jomar alega ser capaz de influir na decisão a ser tomada por um Juiz de Direito, solicitando
certa quantia em dinheiro a Ovídio para garantir uma sentença favorável aos interesses deste.
Jomar insinua, ainda, que parte do dinheiro será direcionada ao Juiz. Considerando que todas
as alegações são fraudulentas, majoritariamente se afirma que a conduta de Jomar:

a) é atípica.

b) configura crime de estelionato.

c) afeta a honra objetiva do magistrado, existindo calúnia.

d) caracteriza exploração de prestigio.

e) se subsome ao tipo penal que prevê o tráfico de influência.

R: Alternativa D

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