Você está na página 1de 8

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DO TRIBUNAL DO JÚRI DA

CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DE TAGUATINGA/DF

Autos no. 2013.07.1.033959-7

OVIDIO DA ANUNCIAÇÃO BARRETO, devidamente qualificado nos autos do


processo em epígrafe, vem perante Vossa Excelência, por meio de seus advogados
infra-assinados, com fundamento no artigo 588 do Código de Processo Penal,
apresentar suas

CONTRARRAZÕES AO RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

Interposto pelo acusado NIVALDO AYRES DA SILVA, pelas razões de fato e de direito a
seguir aduzidas:
Trata-se de Recurso interposto pelo acusado supramencionado, contra
sentença do Juízo da Vara do Tribunal do Júri que entendeu por bem pronunciá-lo,
conforme decisão proferida em audiência (fls. 560/560v), como incurso nas penas do
artigo 121, caput do CP.

Inconformado com a decisão de pronúncia, inicialmente esse Assistente de


Acusação interpôs recurso para que fosse reinserida a qualificadora da motivação
fútil.

Já o autor dos fatos interpôs Recurso em Sentido Estrito alegando,


exclusivamente, que aquele teria agido sob a égide da excludente de ilicitude da
Legítima Defesa, requerendo sua absolvição sumária, nos moldes do que determina o
artigo 415 do CPP.

É o relato necessário dos fatos.

Analisando aprofundadamente os autos, verifica-se que nenhuma razão assiste


ao recorrente, conforme já exaustivamente exposto pelo Ministério Público, em suas
contrarrazões de fls. 604/609.

Conforme consta da inicial acusatória o recorrente Nivaldo Ayres da Silva foi


denunciado tendo em vista a prática do crime de homicídio qualificado, por motivo
fútil, vez que no dia 09 de outubro de outubro de 2013, efetuou disparos de arma de
fogo contra a vítima OVIDIO DA ANUNCIAÇÃO BARRETO JÚNIOR, dentro do
estabelecimento “SNOOKER” (Bar dos Amigos), situado na CBS 02, Taguatinga sul, os
quais foram causa de sua morte.
De acordo com a inicial acusatória de fls. 02/04, o crime se deu por motivo
fútil, em razão de uma discussão entre acusado e vítima já no fim da noite e após o
uso de bebida alcoólica e em razão de discussão banal.

O processo correu regularmente, tendo o acusado sido citado, apresentado


resposta à acusação e ouvidas as testemunhas arroladas pelas partes, conforme
consta dos autos do processo.

Ao final da primeira fase do rito, apresentadas as alegações finais orais em


que o Ministério Público e a Assistência de Acusação requereram a pronúncia do
acusado nos termos da denúncia, pelo crime descrito no artigo 121, §2°, inciso II, CP,
o M. M. Juiz da causa entendeu por pronunciar o acusado, mas excluir de sua decisão
a motivação fútil, conforme sentença:

"Trata-se de ação penal pública incondicionada, segundo a qual o Ministério Público


imputa ao acusado a prática do crime previsto no art. 121, § 2º, inciso II, do Código
Penal, consoante denúncia de fls. 2-4. O réu foi devidamente citado, fls. 125. A Defesa
apresentou resposta à acusação, fls. 217. Foi realizado audiência de instrução e
julgamento na data de hoje. O Ministério Público e a Assistente de Acusação ofereceram
alegações finais orais pleiteando a pronúncia nos termos da denúncia e a Defesa
requereu absolvição sumária do acusado diante da legítima defesa, e subsidiariamente, o
decote da qualificadora. É o relatório. Decido. A materialidade do crime de homicídio
encontra-se devidamente provada consoante inquérito policial 702/2013 (fls. 6-46),
laudo de perícia necropapiloscópico (fls. 81-84), laudo de exame cadavérico (fls. 180-
182), laudo de exame de arma de fogo e munição (fls. 188-190), laudo de confronto
balístico (fls. 240-250) e laudo de exame de local (fls. 347-400) e também pelos
depoimentos colhidos nesta assentada. Em relação à autoria, entendo quye há indícios
suficientes, já que o próprio acusado afirmou nessa aduiência ter efetuado 3 ou 4
disparos em direção da vítima, o que foi confirmado também pelas testemunhas Paulo
José Barbosa de Abreu, sendo que esse apontou que o acusado teria sido alvejado por
um projétil e o acusado por 4 ou 5. A testemunha Wemerson Junio Soares Gomes
afirmou em seu depoimento que apesar de não ter visto o momento dos disparos, logo
após viu o acusado e a vítima cada um com uma arma de fogo na mão. Por fim, José
Tiago Almeida Lima também relatou que após os fatos ficou sabendo de troca de tiros
entre o acusado e a vítima. Quanto a alegação de legítima defesa, nesta fase do
procedimento do tribunal do júri, seria necessário sua efetiva comprovação, sem sombra
de dúvida, para que pudéssemos excluir do Juiz natural, no caso o conselho de sentença,
o julgamento do feito. Quanto à qualificadora, entendo que a mesma não foi
devidamente comprovada nos autos, não havendo indícios suficientes da existência de
motivo fútil para a prática do possível delito. Isso porque nenhuma das testemunhas
ouvidas em Juízo efetivamente relataram terem ouvido a conversa antes dos fatos, sendo
que eventual discussão ou aumento do tom de voz não leva a conclusão que houve
discussão por motivo fútil. Ante o exposto, julgo parcialmente procedente a pretensão
punitiva estatal e PRONUNCIO o acusado Nivaldo Ayres da Silva como incurso nas penas
do art. 121, caput, do Código Penal. O acusado respondeu ao processo em liberdade, não
existindo alteração na situação fática que justifique a decretação de sua prisão, por isso
deixo de decretá-la nesse momento.

Não restam dúvidas de que a autoria e a materialidade do delito estão


comprovadas nos autos. Todas as testemunhas ouvidas, confirmam os disparos
efetuados pelo recorrente contra a vítima.

Mais do que isso, as testemunhas ouvidas, apesar de claramente estarem


tentando se furtar à informar ao Juízo o que de fato ocorreu no dia 09 de outubro de
2013, sem querer informar o teor da discussão que ocorreu entre recorrente e vítima,
conformaram em suas declarações a ocorrência da referida discussão e de exaltação
de ânimo, apenas não mencionando o teor da discussão.

É o que inquestionavelmente se depreende dos depoimentos prestados


pelas testemunhas de acusação: Paulo José Barbosa de Abreu, José Tiago Almeida
Lima, Diego Gaspar do Nascimento e Wemerson Junio Soares Gomes. É certo,
inclusive que as testemunhas José Tiago, Diego e Wemerson informaram que Paulo
José chegou a tentar acalmar os ânimos de apelante e vítima.

O próprio recorrente, ainda na fase inquisitorial, mas em declarações que


foram gravadas em vídeo, na presença de representantes da Corregedoria da PMDF, e
que cuja mídia consta dos autos, caso Vossas Excelências desejem ver, explicou a
existência efetiva da discussão banal que gerou as agressões.
Já durante seu interrogatório em fase judicial, fls. 566/567, o recorrente traz
versão nova e isolada de que teria agido em legítima defesa, chegando, inclusive a
alegar que teria realizado apenas um disparo de arma de fogo contra a vítima.

Pois bem, as provas dos autos não sustentam a versão do recorrente.

Em primeiro lugar porque os próprios Laudos de Exame de Local (fls.


347/400) e de Confronto Balístico (fls. 240/250) demonstram, sem qualquer tipo de
dúvida, que foram encontrados no local dos fatos, 05 (cinco) estojos percutidos
oriundos da pistola TAURUS modelo PT 24/7, calibre .40, numeração SZC91255,
arma esta apreendida com o recorrente e de propriedade deste.

Em segundo, a prova testemunhal, como mencionado acima não sustenta a


versão apresentada pelo Recorrente. Na verdade, seguem em sentido oposto, de
forma a caracterizar a ocorrência de crime de homicídio qualificado pela futilidade.
Todas as testemunhas ouvidas informam ter ouvido discussão entre ambos e que essa
sim teria dado origem aos fatos descritos na inicial acusatória.

De tudo que se tem, portanto, verifica-se que o acusado, ora recorrente,


não agiu em Legítima Defesa, uma vez que os requisitos elencados no artigo 25 do
Código Penal não se fazem presentes, vejamos.

Estabelece o artigo 25 do CP que:

Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos


meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de
outrem.

Para que se caracterize a referida causa excludente de ilicitude, é


necessário que estejam presentes seus elementos constitutivos, quais sejam: a)
repulsa a agressão atual e injusta; b) defesa de direito próprio; c) emprego moderado
dos meios necessário; d) orientação de ânimo do agente no sentido de praticar atos
defensivos.

Não houve qualquer agressão por parte da vítima que possibilitasse uma
“reação”do recorrente, ademais, conforme se verifica das provas colhidas nos autos,
há filmagens realizadas que comprovam ter o recorrente saído do bar onde se
encontrava com a vítima, ido até sua residência para pegar uma arm de fogo e depois
retornado ao estabelecimento comercial, quando efetuou os disparos que causaram a
morte de Ovídio. Da mesma forma, não se pode falar em moderação, pois como visto
anteriormente, ao menos cinco dsparos foram efetuados pelo acusado. Por fim, caso
o réu desejasse se defender, teria ido embora do local dos fatos após a discussão e
não retornado, como fez, agora armado.

Ademais, para que seja possível a absolvição sumária prevista no artigo 415
do CPP, conforme requerido pela aguerrida defesa do acusado, ora recorrente,
necessária seria a absoluta certeza da ocorrência de um de seus motivos ensejadores,
com um conjunto probatório sólido e harmônico. Não é o que ocorre nos presentes
autos. As alegações de Legítima Defesa são trazidas isoladamente pela versao
apresentada pelo acusado em suas declarações em Juízo.

No momento da sentença de pronúncia vigora o princípio do in dubio pro


societatis, de forma que no caso de existência de dúvida deverá o acusado ser
pronunciado e somente apreciadas as teses levadas à análise do Conselho de
Sentença.

Pelo exposto, requer o CONHECIMENTO do recurso interposto pela defesa


do recorrente, posto que presentes os pressupostos de admissibilidade, todavia que
lhe seja NEGADO PROVIMENTO quanto ao mérito, mantendo-se a r. sentença de
pronúncia para que se veja julgado pelo Conselho de Sentença.

Nestes termos, requer deferimento.

Brasília/DF, 29 de maio de 2015.

Cristina Alves Tubino Andréia Limeira Lima Rego


OAB/DF 16.307 OAB/DF 45.090

Você também pode gostar