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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA xxxxxxxxx

xª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE xxxxxxxxxxxx

PROCESSO N° xxxxxxxxxxxxxxxxxx
CLASSE JUDICIAL: AÇÃO PENAL – PROCEDIMENTO ORDINÁRIO
ASSUNTO: Roubo Majorado
RÉU: xxxxxxxxxxxxxxxxx

CRIME CONTRA O PATRIMÔNIO. ROUBO


MAJORADO. USO DE ARMA BRANCA. CONCURSO
FORMAL. MATERIALIDADE E AUTORIA
INCONTESTES. MAJORANTE PRESENTE.
CONJUNTO PROBATÓRIO NÃO DISCREPANTE.
PROCEDÊNCIA DA DENÚNCIA. CONDENAÇÃO.
Quando o conjunto probatório se mostra suficiente para
imputar a conduta criminosa descrita na acusação, a
condenação desse, é medida que se impõe.

SENTENÇA

Vistos, etc.
I. RELATÓRIO
Trata-se de denúncia formulada pelo Ministério Público em desfavor de
XXXXXXXXXXXXXXXXXX, qualificado nos autos, em razão da suposta prática do crime
tipificado no art. 157, §2º, inciso VII, do Código Penal, cumulado com o art. 70 do mesmo
diploma legal.

Narra a peça acusatória que no dia 09/05/2023, por volta das 21h, o réu subtraiu, mediante
violência e grave ameaça, com emprego de arma branca, três aparelhos celulares das vítimas
Samya França de Aguiar Cruz, Carolina Ramos de Almeida Silva e Higyna Josita de Almeida
Bandeira, fato ocorrido na orla de Manaíra, nesta Capital.
Segundo relatos, o acusado abordou as três vítimas na praia de Manaíra em frente ao Mag
Shopping, e utilizando de uma faca do tipo peixeira anunciou o roubo, determinando que estas
entregassem seus celulares. Após a subtração dos bens, empreendeu fuga. As vítimas, após o
acusado ter se distanciado um pouco, solicitaram ajuda de transeuntes para frustrar a fuga do
acusado. O réu foi então perseguido e, quando percebeu que seria capturado, arremessou os
celulares subtraídos e a faca utilizada. Nesse intervalo, as vítimas buscaram auxílio de uma
guarnição da guarda municipal que passava pelo lugar, responsáveis pela prisão do réu e
recuperação dos bens.

Denúncia recebida em 02/06/2023 (id 74221312).

Auto de apresentação e apreensão (id 73619483) – uma faca peixeira, uma bicicleta verde tipo
Monark, um celular iPhone branco, um celular iPhone branco/prata, um celular iPhone chumbo.

Citado, apresentou defesa prévia pela Defensoria Pública (id 75482207), sem preliminares.

Audiência de instrução realizada no dia 26/07/2023 (id 76635389), onde foram ouvidas as
testemunhas Carolina Ramos e Almeida Silva, Higyna Josita de Almeida Bandeira, Samya França
de Aguiar, Martinelly Rodrigues Teixeira, Juciano Gomes da Silva, bem como foi realizado o
interrogatório do acusado. Alegações finais orais pelo Ministério Público e pela Defensoria
Pública.

Antecedentes atualizados.

Vieram os autos conclusos para sentença.

É o relato. DECIDO.

II. FUNDAMENTAÇÃO
Trata-se de ação penal pública incondicionada em que se busca apurar a responsabilidade penal de
BRUNO RAFAEL LOPES DE AGUIAR, qualificado nos autos, pela prática dos crimes
constantes no art. 157, §2º, inciso VII do CP, em concurso formal, art. 70 CP.
Dispõe o tipo:
Roubo
Art. 157, CP – Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem,
mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la,
por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§2º. A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade:
VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de
arma branca;

O roubo foi devidamente consumado. Isso porque, vejamos o entendimento firmado pela 3a
Seção do STJ:
“Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem,
mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por
breve tempo e em seguida a perseguição imediata ao agente e
recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e
pacífica ou desvigiada.”

A materialidade do crime de roubo majorado pelo emprego de arma branca resta demonstrada
pelo auto de prisão em flagrante, auto de apreensão e apresentação, além dos relatos das vítimas e
dos policiais. A utilização da arma foi comprovada nos depoimentos.

No tocante a autoria da infração, também se encontra devidamente comprovada, tendo em vista


que os dados do encarte processual, notadamente os relatos das vítimas, sem nenhum tipo de
contradição, além dos testemunhos policiais, acusam o cometimento do crime de roubo narrado da
peça acusatória.

A vítima, XXXXXXXXXXXXXXXXXXXX, ouvida em juízo, relatou estavam sentadas,


momento em que o réu chegou pelo lado de sua amiga, se agachou, apontou a faca e anunciou o
assalto; que ele primeiramente subtraiu o celular da Higyna e em ato contínuo o da Samya e
depois o seu; que ele correu em direção a orla e quando já visualizaram uma distância segura do
acusado, correram atrás dele para pedir ajuda; que ele fugou na bicicleta, mas um transeunte o
derrubou em seguida; que comunicou aos guardas municipais o que havia ocorrido e eles
efetuaram a prisão do acusado; que o seu celular é um iPhone XR de cor branca; que se sentiu
temerosa; que quando tentou negar a entrega do celular, ele chegou mais perto como se fosse lhe
esfaquear; que ele também subtraiu os celulares das suas amigas; que não vai mais ao Mag
Shopping devido ao fato acontecido; que recuperou seu celular, mas o visor estava danificado,
pois o réu jogou os três celulares no chão no momento em que caiu.

A vítima, XXXXXXXXXXXXXXXXXXX, ouvida em juízo, disse que no dia dos fatos se


encontrava em frente do Mag shopping; que estava com mais duas amigas na ocasião em que o
réu chegou mostrando uma faca peixeira e anunciou o assalto; que o seu celular é um iphone de
cor preta; que visualizou que ele estava com uma faca; que ficaram receosas; que ele puxou os
celulares à força de suas mãos e subtraiu; que quando constatou que dava para correr em uma
distância segura, correram pedindo ajuda e gritando; que em seguida ele caiu da bicicleta, jogou
os celulares no chão e fugou à pé; que as telas foram danificadas; que pediram ajuda e a polícia o
deteve; que ficou traumatizada e muito receosa; que ele jogou a faca na praia e que foi encontrada
posteriormente; que reconheceu o réu como sendo o autor do fato.

A vítima, XXXXXXXXXXXXXXXXXXX, ouvida em juízo, informou que no dia dos fatos


estava com as amigas Carolina e Higyna; que decidiram ficar pela praia conversando quando
foram abordadas pelo réu; que ele estava com uma faca e pediu os três celulares; que esperou ele
correr e de imediato correu atrás dele pedindo socorro e gritando; que em ato contínuo ele jogou
os celulares no chão e fugou; que o visor das telas foram quebrados; que o seu celular é um
iPhone 11 de cor branca; que ficou receosa e com medo que ele fizesse algo, por isso esperou ele
correr para depois ir atrás; que ficou traumatizada e não voltou mais aquele lugar devido ao
acontecido; que reconheceu o réu como sendo o autor do fato.

O guarda municipal, XXXXXXXXXXXXXXXXXX, ouvido em juízo, disse que no dia dos fatos
estava com o guarda Juciano Gomes; que se encontravam em deslocamento pelas imediações do
bairro de Manaíra no momento em que as ofendidas entraram na frente da guarnição pedindo
apoio e relatando que haviam sido roubadas; que efetuou a prisão do acusado próximo ao local e
que ele estava de bicicleta; que ele não se encontrava com a arma do roubo e nem com os objetos
que havia subtraído; que lhe indagou onde havia jogado os celulares e ele demonstrou o local; que
não observou se as telas foram danificadas; que a faca era peixeira e foi encontrada no local; que
os celulares foram devolvidos as vítimas e em seguida foram conduzidos a delegacia; que não o
conhece; que ele efetuou o assalto com a arma.
O guarda municipal XXXXXXXXXXXXXXXXXX, ouvido em juízo, relatou que no dia do
delito estava com o guarda municipal Martinelly Rodrigues; que estavam se deslocando para o
bairro Oceania no momento em que se depararam com algumas pessoas pedindo ajuda
informando que haviam sido vitimas de roubo; que saíram em diligência e em torno de 100 (cem)
metros encontraram o acusado sentado com um motociclista que acredita ser segurança do Mag
Shopping que o deteve; que o abordou e ele confirmou que havia roubado as jovens e havia
jogado os celulares na via durante a fuga; que ele relatou que havia soltado a faca durante o
momento em que se evadiu e que posteriormente foi encontrada na praia; que os celulares estavam
com as vitimas e em seguida foram para delegacia; que o acusado utilizou a bicicleta para fugar;
que o reconhece como sendo autor do crime.

Por fim, interrogado o réu, XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX, em juízo, sobre o crivo do


contraditório e ampla defesa, informou que é verdade o fato em que está sendo acusado; que
estava desempregado e sem dinheiro e o fato ocorreu em seu momento de fraqueza; que as vitimas
estavam na areia da praia; que levantou a camisa mostrando a faca e pediu que passassem os
celulares; que após subtrair os aparelhos telefônicos fugou na bicicleta; que em seguida estava
entrando na rua lateral do Mag Shopping, na ocasião em que veio um segurança e a guarnição dos
guardas civis; que o seu short era jeans e derrubou os aparelhos no ato da fuga; que não colocou
medo nas vítimas; que soltou a faca no momento de sua evasão.

Por fim, a conjugação de todas as provas, indícios e elementos de informação constantes dos autos
tornam inequívoca a conclusão de que o acusado, praticou o roubo circunstanciado pelo uso de
arma branca, do tipo faca peixeira, narrado na Inicial. Isso posto, a condenação é medida que se
impõe.

DO CONCURSO FORMAL:

Dispõe o tipo:

Concurso formal
Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão,
pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais
grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas
aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas
aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é
dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos,
consoante o disposto no artigo anterior.
Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível
pela regra do art. 69 deste Código.

O reconhecimento do crime formal tende a se tornar ainda mais consolidado, pois, o réu, a um só
tempo, lesou patrimônios distintos, subtraindo, no curso de uma única ação, os aparelhos
celulares das vítimas.

Sabe-se que, em razão das subtrações contra vítimas diferentes, numa única ação (em um
mesmo ambiente e no mesmo contexto temporal e espacial), impõe-se o reconhecimento do
concurso formal de crimes (art. 70 do CP), situação perfeitamente descrita na denúncia.

Vejamos entendimento do STJ:


[...]O entendimento desta Corte é o de que a prática do crime de
roubo mediante uma só ação, mas contra vítimas distintas, enseja
o reconhecimento do concurso formal, e não de crime único.
Precedentes do STJ (HC 366.078/SC, Rel. Ministro JORGE
MUSSI, QUINTA TURMA, DJe 21/2/2017).[...] -AgRg no AREsp
968423 / SP. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL 2016/0215868-6. QUINTA TURMA. DJe
13/02/2019.

III. DISPOSITIVO
Ante o exposto, julgo PROCEDENTE a pretensão punitiva estatal veiculada na denúncia para
CONDENAR o acusado XXXXXXXXXXXXXXXXXX, qualificado nos autos, nas penas do
artigo 157, §2º, inciso VII, cominado com o artigo 70 ambos do CP.

Passo, pois, à dosimetria da pena a ser imposta ao condenado (art.68, do CP), analisando as
circunstâncias judiciais do art. 59 do referido diploma, a existência de circunstâncias agravantes e
atenuantes, de causas de aumento e diminuição de pena, bem como, ao final, a possibilidade de
substituição da pena privativa de liberdade aplicada por pena(s) restritiva(s) de direito ou de
suspensão condicional da pena.
Circunstâncias judiciais:
Culpabilidade – a reprovabilidade da conduta não merece maiores dilações, porquanto inerente
ao próprio tipo penal;
Antecedentes – O condenado é reincidente, posto que há condenação com trânsito em julgado,
todavia, deixo para valorar quando da agravante, a fim de não ocorrer bis in idem;
Conduta social – Não há elementos que permitam a valoração de forma negativa;
Personalidade – não há dados conclusivos acerca da personalidade do réu;
Motivos do crime – A motivação da prática delitiva, neste caso, não deve ser valorada de forma
negativa, porquanto, em sendo o objetivo pelo lucro fácil, já é punida de acordo com a objetiva
jurídica dos crimes contra o patrimônio.
Circunstâncias do crime – Foram relatadas. O crime foi exercido com uso de arma branca.
Contudo, em se tratando de situação que constitui causa de aumento de pena, será valorada
oportunamente, a fim de não caracterizar bis in idem;
Consequências do crime – A despeito da posterior recuperação dos valores subtraídos, durante a
empreitada criminosa os agentes deterioraram os celulares das vítimas, de maneira a lhes trazer
prejuízos não ressarcidos, além de causar temor suficiente a ponto de não conseguirem voltar a
frequentar o local dos fatos. Assim, valoro essa circunstância negativamente;
Comportamento da Vítima – não concorreu para a prática delitiva.
Valoradas as circunstancias judiciais, fixo a pena-base em 4 (quatro) anos e 09 (nove) meses de
reclusão, e 50 (cinquenta) dias-multa, cada um equivalente a 1/30 (um trigésimo) do salário-
mínimo vigente ao tempo do fato criminoso.

Agravantes e Atenuantes (2ª fase):


Na segunda fase da dosimetria, reconheço a atenuante da confissão espontânea, nos termos do
art. 65, inciso III, alínea “d”, do Código penal. Todavia, em razão da reincidência reconheço a
agravante do art. 61, I, do Código Penal, e realizo a compensação, mantendo a pena-base aplicada
em mesmo patamar.

Das causas de aumento e diminuição de pena (3ª fase)


Diante da presença da causa de aumento previsto no inciso VII, § 2°, do artigo 157 do CP (uso de
arma branca), majoro as penas em 1/3 (um terço), obtendo o montante de 06 (seis) anos e 04
(quatro) meses, e 66 dias-multa.
Por fim, em razão do concurso formal de infrações (art. 70 do CP), ante a evidência de que
os três crimes de roubo se deram em uma única ação, aumento a pena em 1/3, resultando em
uma pena de 08 (oito) anos, 05 (cinco) meses e 10 (dez) dias, e 88 dias-multa.

Inadequada a substituição da pena aplicada por restritivas de direito e incabível a aplicação


do sursis, em razão de não preencher os requisitos determinados pelo art. 77 do CP.

DA DETRAÇÃO
Considerando que o réu está recolhido preventivamente desde sua prisão em flagrante, que
ocorreu em 10 de maio de 2020, até a data de hoje, deve ser detraído de sua pena o período de 2
(dois) meses e 21 (vinte e um) dias, restando 8 (oito) anos, 02 (dois) meses e 19 (dezenove) dias
de pena.

DO REGIME DE CUMPRIMENTO DA REPRIMENDA


Na forma do art. 33, § 2º, “a”, do Código Penal, deverá o sentenciado cumprir a pena,
inicialmente, em regime fechado.

DA (IM)POSSIBILIDADE DE RECORRER EM LIBERDADE


Considerando a manutenção dos motivos que outrora subsidiaram o decreto preventivo,
mantenho a custódia por seus próprios fundamentos e nego ao sentenciado o direito de recorrer
em liberdade, o fazendo na forma do art. 387, § 1º, do CPP.

REPARAÇÃO CIVIL MÍNIMA


Em observância ao disposto no novo art. 387, IV, do CPP (com redação dada pela Lei nº
11.719/2008, que alterou os procedimentos penais), deixo de fixar valor mínimo de indenização,
pois não houve pedido neste sentido.

CUSTAS
Deixo de condenar o réu ao pagamento das custas.

EXPEÇA-SE GUIA DE RECOLHIMENTO PROVISÓRIA, IMEDIATAMENTE, Com a


finalidade de evitar que permaneça preso em regime mais rigoroso do que o fixado na sentença.
Decreto o perdimento da Faca Peixeira apreendida neste processo em favor da União, bem como
determino sua imediata destruição, por se tratar de instrumento de crime, nos termos do 124 do
CPP.

IV. DISPOSIÇÕES FINAIS


Após o trânsito em julgado do decreto condenatório, adotem-se as seguintes medidas:
a) Remeta-se o boletim individual à SSP-PB (art. 809 do CPP);
b) Anote-se o nome do condenado no rol dos culpados;
c) Expeça-se guia de execução da pena privativa de liberdade para fins de execução
penal, com cópia da denúncia, da sentença e da certidão do trânsito em julgado, onde
será realizada a unificação do sentenciado que já possui guia ativa na VEP;
d) Comunique-se a condenação ao juízo Eleitoral, para os efeitos do art. 15, III, da
CF;
e) Gere a guia para pagamento da pena de multa.

Publicado e registrado eletronicamente. Intimem-se.

De tudo cumprido, arquivem-se os autos com as cautelas de praxe.

João Pessoa, data e assinatura eletrônicas.

Geraldo Emílio Porto


Juiz de Direito

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