1. Representação pelo sequestro de bens 1.1. Finalidade a) Resguardar o interesse da vítima em relação a uma futura reparação civil decorrente da prática do crime; b) Resguardar o interesse do Estado em relação a um futuro perdimento dos bens oriundos do crime, como efeito da condenação. 1.2. Objeto a) Bens móveis adquiridos com os proventos do crime; b) Bens imóveis adquiridos com os proventos do crime. 1.3. Legitimidade Código de Processo Penal – Art. 127 - O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou do ofendido, ou mediante representação da autoridade policial, poderá ordenar o sequestro, em qualquer fase do processo ou ainda antes de oferecida a denúncia ou queixa. 1.4. Cabimento Art. 125 - Caberá o sequestro dos bens imóveis, adquiridos pelo indiciado com os proventos da infração, ainda que já tenham sido transferidos a terceiro. Art. 132 - Proceder-se-á ao sequestro dos bens móveis se, verificadas as condições previstas no art. 126, não for cabível a medida regulada no Capítulo Xl do Título Vll deste Livro. Código Penal – Art. 91 – São efeitos da condenação: II- a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé: b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato Atenção! Para o cabimento da medida, os bens, móveis ou imóveis, devem ser produtos indiretos do crime, pois se forem diretos, a medida adequada será a busca domiciliar. Atenção! Art. 133-A. O juiz poderá autorizar, constatado o interesse público, a utilização de bem sequestrado, apreendido ou sujeito a qualquer medida assecuratória pelos órgãos de segurança pública previstos no art. 144 da Constituição Federal, do sistema prisional, do sistema socioeducativo, da Força Nacional de Segurança Pública e do Instituto Geral de Perícia, para o desempenho de suas atividades § 1º O órgão de segurança pública participante das ações de investigação ou repressão da infração penal que ensejou a constrição do bem terá prioridade na sua utilização. 1.5. Requisitos cautelares 1.5.1. “Fumus comissi delicti” Art. 126 - Para a decretação do sequestro, bastará a existência de indícios veementes da proveniência ilícita dos bens. 1.5.2. “Periculum in mora” Deve ser demonstrado que a mora na sua decretação propiciará a dilapidação dos bens, a sua venda, etc. Deve ficar claro que se a medida não for deferida antecipadamente, não será possível ressarcir o prejuízo causado à vítima, ou ao erário público, ou a qualquer um que tenha sido prejudicado pela prática do crime investigado 1.6. Caso proposto (Fundação Aroeira / delegado de polícia do Tocantins/2014 – ADAPTADO) João Gabriel, primário e de bons antecedentes, responde em liberdade a inquérito policial na cidade de Palmas – TO, por suposta prática do crime de estelionato (artigo 171, do Código Penal), contra a vítima Izabel Cristina, pelo fato de ter falsificado uma escritura pública de um imóvel que não existia (artigo 297, do Código Penal) e, aproveitando da boa-fé da vítima, que o comprou no valor de R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais), recebeu o montante à vista. No inquérito, além da vítima, já foram inquiridas algumas testemunhas, onde duas delas afirmaram ter conhecimento que João Gabriel costuma aplicar golpes e para não ser punido costuma ameaçar as vítimas. As investigações encontram-se em curso, restando inquirir outras pessoas, bem como realizar outras diligências imprescindíveis, porém, chegou ao conhecimento da autoridade policial que João Gabriel utilizou o dinheiro do crime para comprar um carro zero quilômetro no valor de R$ 120.000,00 (cento e vinte mil reais), de marca BMW, modelo 320i, de cor branca, e com o restante comprou um flat em uma cidade litorânea. Também chegou ao conhecimento do delegado, que João Gabriel estaria rondando o bairro onde moram a vítima e algumas testemunhas, em atitude claramente ameaçadora, visando não ser punido pelo fato. Na condição de delegado de polícia responsável pelo caso, represente à autoridade competente acerca das medidas cautelares cabíveis nesse momento da investigação, com a correta tipificação do(s) crime(s). 1.7. Resolução do caso proposto EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CRIMINAL DA COMARCA DE PALMAS – TOCANTIS.
Inquérito policial n° .
O delegado de polícia infrassignatário, representando a Polícia Civil de
Tocantins, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, conferidas pelos artigo 144, § 4º, da Constituição da República, artigo 2º, § 1º, da Lei nº 12.830/13 e artigos 4º, “caput”, 13, inciso IV, 282, § 2º, 311 e 127, todos do Código de Processo Penal, vem a Vossa Excelência, representar pela decretação da prisão preventiva em face do investigado João Gabriel, bem como pelo sequestro dos bens adquiridos pelo investigado com os proventos do crime, pelas razões fáticas e jurídicas a seguir expostas: Os presentes autos de inquérito policial foi instaurado para apurar o crime de estelionato, tipificado no artigo 171, do Código Penal, praticado na cidade de Palmas – TO, pela pessoa de João Gabriel contra a vítima Izabel Cristina, por meio da falsificação de uma escritura pública de um imóvel que não existia, aproveitando-se da boa-fé da vítima, a qual adquiriu o mencionado imóvel pelo valor de R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais), valor este, que foi pago à vista ao investigado. Além da vítima, já foram inquiridas algumas testemunhas, sendo que duas delas afirmaram ter conhecimento de que João Gabriel costuma aplicar golpes e para não ser punido ameaça suas vítimas. No curso das investigações, chegou ao conhecimento da autoridade policial subscritora, que o investigado utilizou uma parte do dinheiro do crime para comprar um carro zero quilômetro no valor de R$ 120.000,00 (cento e vinte mil reais), de marca BMW, modelo 320i, de cor branca, e com o restante do montante comprou um flat em uma cidade litorânea. Ademais, também foi dado conhecimento de que o investigado estaria rondando o bairro onde moram a vítima e algumas testemunhas, em atitude claramente ameaçadora, visando não ser punido pelo fato. Considerando os fatos narrados, observa-se o cabimento para a decretação da prisão preventiva, pois o crime investigado possui pena máxima cominada em abstrato superior a 4 anos, atendendo as exigências do artigo 313, inciso I, do Código de Processo Penal. Além disso, encontramos a irrefutável necessidade da medida ante a presença coexistente dos pressupostos prova da existência do crime e indícios suficientes de autoria, restando evidente o “fumus comissi delicti”, aliados à condição da garantia da ordem pública e a conveniência da instrução criminal, exigências do artigo 312, do Código de Processo Penal, já que no presente caso restou demonstrado que o investigado é contumaz na prática delitiva e vêm realizando rondas no bairro onde moram a vítima e algumas testemunhas, em atitude claramente ameaçadora, restando demonstrado o perigo da sua liberdade, o que justifica a aplicação da medida, vez que atende um dos seus requisitos, qual seja, o “periculum libertatis”. Ainda, importante reafirmar que, com os proventos do crime, o investigado adquiriu um imóvel e um veículo, ensejando a possibilidade da representação pelo sequestro de tais bens, nos termos dos artigos 125, 126 e 132, do Código de Processo Penal, vez que presentes os requisitos cautelares do “fumus comissi delicti”, ou seja, existência de fortes indícios da proveniência ilícita dos bens, bem como do “periculum in mora”, pois os bens podem ser dilapidados ou negociados, o que poderá frustrar um dos efeitos da condenação, previsto no artigo 91, do Código Penal. Diante do exposto, presentes os requisitos legais autorizadores das medidas, com amparo nos artigos 312, 313, inciso I, 125, 126 e 132, todos do Código de Processo Penal, represento pela decretação da prisão preventiva do investigado João Gabriel, bem como pelo sequestro dos bens adquiridos por ele com os proventos do crime, expedindo-se os respectivos mandados. Requeiro ainda, que seja oficiado o competente cartório de registro de imóveis e o órgão executivo de trânsito – DETRAN, para fins de averbação da supracitada medida representada, a fim de tornar pública a restrição judicial, evitando a disposição dos bens. Nestes termos, pede e espera deferimento.