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A INEFICÁCIA DA SEGURANÇA PÚBLICA NO


BRASIL: ALGUMAS PROBLEMATIZAÇÕES

João Augusto Tiago da Silva


FIPAR

Marília Rulli Stefanini


UFMS

'10.37885/230312477
RESUMO

O presente trabalho traz a necessidade de um estudo pormenorizado acerca da segurança


pública no Brasil, bem como o que vem sendo realizado pelos governantes do país, nas
esferas Federais, Estaduais e Municipais. Um dos dispositivos presentes na Constituição
Federal de 1988, donde se caracteriza como um dever do Estado e um direito do cidadão, em
suas cláusulas pétreas, cabendo ao Estado prover a seus cidadãos e cidadãs a segurança
necessária. Porém, com os investimentos, levados a termo nos últimos anos, verifica-se ain-
da a necessidade de prover recursos tanto materiais quanto humanos no instituto policial, a
fim de suprir os déficits ainda existentes. Deste modo, hoje percebemos efetivos existentes,
contudo, não suprem as necessidades quando comparados à população a qual este capital
humano representa, devido à falta de efetivo e até muitas vezes sem os recursos necessá-
rios para o atendimento, como, por exemplo, ausência de viaturas e combustível, aliados
ao fator preponderante em relação à baixa remuneração. Assim sendo, ressalta-se que o
presente capítulo de livro objetiva a demonstração e problematização de algumas falhas na
segurança pública do país, donde serão utilizadas referências bibliográficas pautadas em
estudos documentais e o empenho do método dedutivo de estudo.

Palavras-chave: Segurança Pública, Constituição Federal, Ineficácia, Brasil.


INTRODUÇÃO

A questão da segurança pública no Brasil é um tema que permeia a vida de todos os


brasileiros, tanto por meio das mídias digitais, quanto no cotidiano fático. A sensação de
insegurança e o medo são frutos, por vezes, da ineficácia e omissão por parte da adminis-
tração pública, a qual é fruto das políticas públicas voltadas à área da segurança pública.
Ademais, mesmo que as forças de segurança desenvolvam suas funções da melhor
forma possível, suas ações ficam muitas vezes limitadas em razão de, por exemplo, falta de
efetivo e de equipamentos para melhor executarem suas atividades laborais, conseguindo
assim, de uma forma mais humana e digna, resguardar os direitos dos cidadãos, prevenindo
com esmero o bem maior que é a vida dos contribuintes, bem como a dos próprios policiais.
Em um levantamento realizado pelo Site UOL (2017) evidenciou-se que no Brasil exis-
tia um déficit de aproximadamente 170 (cento e setenta) mil agentes públicos, sendo que o
estudo fora baseado somente em informações fornecidas pelas Polícias Militares.
Destarte, segundo a reportagem, o número é muito maior, pois a matéria levou em
consideração somente os dados relativos a Policiais Militares, não somando o déficit das
outras forças de segurança, tais como Policiais Civis, Federais, Rodoviários Federais, dentre
outros. Assim sendo, estipula-se que a necessidade, em 2017, seria de um efetivo de em
torno de 600 (seiscentos) mil agentes públicos, conquanto estes efetivos nas unidades de
segurança não chegavam a 430 (quatrocentos e trinta) mil, em todo o país.
Se não bastasse, de acordo com os dados apresentados pelo Site Poder 360, no ano
de 2020, existia no Brasil em atuação cerca de, aproximadamente, 480.00 (quatrocentos
e oitenta mil) policiais, sendo 385,9 mil PM’s e 94,4 mil policiais civis, apresentando uma
redução de cerca de 9% (nove por cento) no quadro de policiais em relação ao efetivo
do final de 2018.
Assim sendo, os dados apresentados foram compilados e apresentados na pesquisa
“Perfil das Instituições de Segurança Pública”, onde se demonstrou que:

Corporação em 2018 em 2020


Bombeiros militares 67.045 63.644
Polícia militar 414.932 385.883
Polícia civil 112.837 94.418
Total 594.814 543.945
Fonte: pesquisa Perfil das Instituições de Segurança Pública do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

A partir disso, deve-se levar em conta que o poder público trata a questão de seguran-
ça pública com profundo descaso, levando-se em consideração que a ONU – Organização
das Nações Unidas- pauta-se pela necessidade de um servidor para cada 250 (duzentos e

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cinquenta) habitantes, sendo que o quadro no Brasil declina deste total, donde se tem um
servidor para cada 370 (trezentos quarenta) habitantes, somente no Estado de são Paulo,
o que apresenta um déficit, atual, de cerca de mais de 16 (dezesseis) mil policiais, somente
no Estado de São Paulo.
Por outro lado, devemos, como cidadão, auxiliar os órgãos de segurança, no contexto
das cobranças ao Poder Público, os quais devem prover os recursos necessários para o
bom funcionamento das Instituições.

A HISTÓRIA DA SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL

De origem grega, a palavra polícia deriva de (politeia), enquanto que para o Latim
(politica), cujo significado traduz-se em governo de uma cidade, administração, forma de
governo. Entretanto, no decorrer do tempo passou-se a deter como função a de represen-
tação das ações dos governos, no sentido de manter a “ordem e a tranquilidade pública”.
Na História brasileira, o instituto “segurança pública” surgiu em 1.500, após a invasão
do Brasil, quando, então, D. João III outorgou a Carta Régia de Martim Afonso de Souza, e,
com isso, criou o sistema das Companhias Hereditárias, em que, naquele contexto, passou
a estabelecer as normativas administrativas visando à instituição da “Justiça e da Ordem
Pública”, em todas as terras por Portugal invadidas.
Deste modo, consta dos Registros Históricos que o primeiro conceito de Polícia no
Estado Brasileiro fora datado de 20 de novembro de 1530, cujo expediente compreendia
em promover a Justiça e a Ordem Pública. Este modelo de “Polícia” baseava-se no sistema
aplicado em Portugal, contudo a prática já à época era considerada medieval, onde a Polícia
e o Sistema de Justiça se completavam.
Neste conceito baseado nos transcritos de Martin Afonso, o sistema de segurança à
Época se subdividia: [...] Alcaide-Mor (juiz ordinário com atribuições militares e policiais), pelo
Alcaide Pequeno (responsável pelas diligências noturnas visando prisões de criminosos), e
Quadrilheiro (homem que jurava cumprir os deveres de polícia). (SSP.SP- sd, online).
Com o passar dos séculos, e com a permanência da família real, no ano de 1808 criou-
-se a Intendência Geral da Polícia da Corte e do Estado do Brasil, no Rio de Janeiro onde
aponta Cruz, 2013, apud Marcineiro e Pacheco (2005, p. 21-22), que:

Delegada a desempenhar a função de polícia judiciária, estabelecia punições,


fiscalizava o cumprimento das mesmas e também era responsável pelos ser-
viços públicos como abastecimento de água, obras urbanas, iluminação e
outros serviços urbanos da cidade.

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Já em 1809, após a chegada ao Brasil de D. João VI, instituiu-se a Divisão Militar da
Guarda Real de Polícia, a qual se caracterizava em uma força policial comandada pelo
Ministério da Guerra e a Intendência de Polícia; suas atividades eram pautadas em capturar
desordeiros e criminosos, localizar e prender escravos foragidos e reprimir o contrabando.
Porém, sem ainda haver institucionalizadas as noções do contexto de segurança pública
às atividades desta força policial, estas se ligavam às definições estabelecidas pela Corte,
e as sanções eram definidas àqueles que discordassem do ora determinado.
Por conseguinte, sob os comandos do Desembargador Paulo Fernandes Vieira, promo-
veu-se uma verdadeira revolução no sistema policial, em que se criou, em maio de 1815, o
“Corpo de Comissários de Polícia”; porém, referida instituição apenas fora implementada em
novembro de 1925, quando então o intendente Geral de Polícia implantou seus regimentos,
que dispunham acerca das funções policiais e judiciárias que permaneceram unificadas até
a edição do Código de Processo Criminal do Império, fato este ocorrido 1827, separando
assim o serviço policial da prática judiciária. (SSP.SP, sd/, online).
Nesses moldes, segundo Cruz, (2013, p. 2), com a independência do Brasil em 1822, as
noções de segurança pública, como um serviço a ser prestado ao cidadão, ainda confundia-
se como um serviço que deveria ser realizado para a segurança do país, assim definindo que:

[...] durante o Período Imperial, o país entrou em conflitos internos e externos,


e a força policial, chamada de Guarda Real, atuou no espaço da defesa interna
e da segurança nacional, agindo conjugadamente com o Exército Brasileiro,
criado desde 1648. Somente poderiam fazer parte dessa Guarda os cidadãos
eleitores, ou seja, indivíduos que possuíam renda mínima, conforme definição
do art. 192 da Constituição Política do Império de 1824. Observava-se a de-
terminação do grau de direitos através dos bens e, contudo, a divisão social
entre os indivíduos.

Na mesma toada, em 1831, no período regencial, substitui-se a guarda real pelo corpo
de Guardas Municipais Voluntários Permanentes, em cada província, em que se buscava
minimizar os conflitos à época existentes, sendo que com o tempo alterou-se a nomenclatura,
e cada província a classificou conforme os interesses das Unidades Federativas, como, por
exemplo, no Rio de Janeiro e Ceará a denominação passou a ser Polícia Militar.
Conquanto, em 1841, a Intendência Geral de Polícia fora extinta, já que fora instituído
o cargo de Chefe de Polícia, que, por sua vez, promovera uma mudança drástica no sistema
policial da época, criando nas províncias e também na Corte a Chefatura de Polícia, onde o
chefe de Polícia era auxiliado pelos delegados e subdelegados de polícia.
Em razão disso, em 1842, por meio do Regulamento n. 120, definiram-se as fun-
ções da Polícia Administrativa e Judiciária, onde passaram a ser chefiadas pelo Ministro
da Justiça. Já em setembro de 1871, com a publicação da Lei n. 2033 (regulamentada

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pelo Dec. Lei n. 4824), reformou-se a Lei n. 261, donde o conceito de Justiça e Polícia dei-
xaram de ser uma única instituição, e, com isso, criou- se o instituto do Inquérito Policial.
(SSP.SP- sd/online).
Destarte, em 1866, criou-se, na provincial do Rio de Janeiro, o denominado Corpo Civil
da Polícia, uma atividade não militarizada que executava rondas, sendo que apesar de uma
instituição paramilitar tinha como suas obrigações a defesa da Constituição na proteção do
Império e na manutenção da lei e da ordem. (CRUZ, 2013, p.2).
Desta banda, CRUZ, 2013, p. 02/3 aponta que: [...] “a Corte era composta por uma
força policial militar e outra civil, sendo que a primeira se tornou força aquartelada, com
operações de grande porte, e a segunda ficou com a atribuição da vigilância contínua da
cidade, conforme art. 6º do Decreto Imperial de 1866”.
Em razão disso, no ano de 1889, antes da promulgação da Constituição Provisória
da Republica, extinguiu-se a Guarda Urbana, sendo que após a proclamação da República
definiu-se, através do Art. 5º do Decreto n. 1, que: [...] “a responsabilização dos governos
estaduais pela manutenção da ordem e segurança pública e pela defesa e garantia da li-
berdade e dos direitos dos cidadãos”. CRUZ, (2013, p. 3).
Contudo, mesmo com a promulgação da CF provisória, os direitos dos cidadãos nela
transcritos, em relação aos seus direitos e liberdade, não eram cumpridos. Senão vejamos:

As violências cometidas pelos senhores continuavam a encontrar, em certos


casos, o apoio da polícia. A polícia e a justiça não impediam as arbitrarieda-
des dos senhores; seus membros recrutados entre as categorias dominantes
ou pertencentes à sua clientela colaboravam para a manutenção do regime.
(COSTA, 1989, apud FERNANDES; COSTA, 1998, p.315).

Já por volta da década de 1920, as Organizações Policiais ao colaborarem com as


Forças Armadas adotaram os regulamentos desta instituição, onde passaram a ser conside-
radas como forças auxiliares do exército, e o conjunto de suas ações ideológicas permeavam
ainda o conceito repressor e dominador, cuja razão dava-se pelo conceito de trabalhar para
defender a Nação e os Estados em conjunto com as Forças Armadas.
Nesse ínterim, com o passar do tempo, a sociedade brasileira passou a pleitear pela
democracia, bem como pela realização de eleições diretas e a formalização de uma nova
Constituição. Diante disto, o Presidente Vargas, com receio de ser deposto do cargo, resolveu
controlar as forças públicas de segurança, onde fora criada a Força Reserva de Primeira
Linha do Exército, conforme previa o Art. 5º e 167 da CF, de 1934 (sendo a instituição da
Força Pública caracterizada como Polícia Militar).
CRUZ (2013, p. 3) ainda aduz que: [...] “Em 1946, a União continua com a atribuição
da legislação anterior, contudo, a Constituição da época denominava as Forças Públicas de

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“Polícias Militares”, caracterizando-as ainda como força auxiliar instituída para segurança
interna e manutenção da ordem nos estados”.
Importante destacar que em meados da década de 1960, mais especificamente no ano
de 1964, instituiu-se no Brasil o regime militar ou ditadura Militar1, período caracterizado
pela repressão e extinção de incontáveis direitos, sendo que, com o término do período di-
tatorial, e com a promulgação da Constituição de 1988, definiu-se o conceito de segurança
pública como vemos;

Art. 144- A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de


todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das
pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I – polícia federal; II
– polícia rodoviária federal; III – polícia ferroviária federal; IV – polícias civis;
V – polícias militares e corpos de bombeiros militares (BRASIL, Constituição
Federal, 1988, Art. 144).

Outrora, o conceito de segurança pública no Brasil, desde a colonização, voltou-se


para um fator, claro, de proteção ao Estado. Apesar das diversas formas de atuação dos
órgãos policiais, durante os séculos, sempre se teve as primícias de as atenções voltadas ao
Estado, e, com o passar dos séculos, a identificação da necessidade de prover um melhor

1 Ditadura militar no Brasil: resumo de como teve início.


A ditadura foi iniciada pela derrubada do presidente João Goulart, o Jango. Ele tinha assumido a presidência em setembro de 1961,
depois da renúncia de Jânio Quadros. [...]o cenário político brasileiro não era dos melhores, especialmente porque um partido con-
servador — União Democrática Nacional (UDN) — incentivava ações golpistas no País. O golpe de 1964 foi uma forma de pro-
mover a derrubada do trabalhismo no Brasil– um projeto político que atuava pelo bem-estar social com a utilização de políticas
pró-povo. [...]O golpe teve início quando um grupamento militar em Juiz de Fora, Minas Gerais, se e marchou rebelou na direção
do Rio de Janeiro a partir de 31 de março de 1964. [...] outras forças militares também se mobilizaram, não houve reação por parte
de Jango, e, em 1 de abril, os parlamentares brasileiros declararam que o cargo de presidente estava vago. [...] O golpe teve início
quando um grupamento militar em Juiz de Fora, Minas Gerais, se é marchou rebelou na direção do Rio de Janeiro a partir de 31 de
março de 1964. Ditadura Militar durou 21 anos (de 1964 a 1985), e foi um período autoritário, que teve início com o golpe de 1964 e
só foi encerrado com a eleição de Tancredo Neves, em 1985. A ditadura pegou pesado com a galera e foi marcada por censura, au-
toritarismo, perseguição contra cidadãos brasileiros com cassações, prisões ilegais, tortura física e psicológica, além de assassinato.
Valores como democracia, Direitos Humanos e igualdade social estão bastante em alta no Enem, então, vale a pena prestar atenção
nisso! a Ditadura aconteceu entre 1964 e 1985. Nesse período, o Brasil foi governado por presidentes que detinham uma grande
centralização de poder. Foram cinco os presidentes do Brasil no período ditatorial. Os cinco militares que governaram o Brasil du-
rante a ditadura foram: Humberto Castello Branco (1964-1967), Artur da Costa e Silva (1967-69), Emílio Médici (1969-1974), Ernesto
Geisel (1974-1979) João Figueiredo (1979-1985). Durante todos esses anos, não havia liberdade de expressão e os presidentes
detinham poderes autocráticos. Houve uma forte perseguição de cidadãos brasileiros, marcada por ações como sequestro, tortura e
desaparecimento de cadáveres. Outro ponto importante da Ditadura Militar foram os Atos Institucionais, que permitiam a cassação
de direitos de civis e parlamentares, as prisões arbitrárias e outras medidas autoritárias. O mais conhecido é o AI-5, decretado em
dezembro de 1968. [...] Havia, ainda, um bipartidarismo depois do AI-2, que determinou o fechamento de todos os partidos que sur-
giram no Brasil durante o período da Quarta República. Surgiram, então, a Aliança Renovadora Nacional (Arena) representando
os militares, e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), representando uma oposição consentida. Na economia, destacamos o
período do Milagre Econômico, que aconteceu entre 1969 e 1973. Ele teve origem em uma política desenvolvimentista aplicada a
partir do governo de Castello Branco e resultou em altas taxas de crescimento anual. O resultado desse período não foi dos melhores,
já que o poder de compra da população diminuiu. O fim da Ditadura Militar no Brasil aconteceu em 1985, após uma eleição indireta
decorrente da pressão pela abertura democrática do País. Foi então que Tancredo Neves foi eleito presidente – e faleceu antes de
ser empossado. Seu vice, José Sarney, assumiu o poder e iniciou o processo de reconstrução da democracia no Brasil, conhecido
como Nova república. (sem autoria, Blog descomplica, 2022).

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conceito no fator de segurança devido às instabilidades instaladas nas ruas, onde se viu no
poder público a necessidade de aprimoramento do atendimento à população diante de um
evidente caos social.
Entretanto, apenas com a Constituição de 1931 a questão segurança pública passou a
ser mais fundamentada, donde se trouxe um conceito parecido ao atual. Deste modo, com
referida Constituição se estabeleceram, Art. 144, as subdivisões das forças policiais, com
alteração recente onde se criara a terminologia da Polícia Penal, sendo que, nos moldes apre-
sentados nesta divisão, há classificação dos órgãos policiais como preventivo e investigativo.
Deste modo, as atribuições das Polícias Militares e Rodoviárias consubstanciam-se
em uma forma de polícia preventiva, devendo sua atuação ocorrer como forma de evitar-se
que as infrações penais ocorram, sendo que às Polícias de cunho investigativas (Federal de
Civil) cabe apresentar através de cadernos preparatórios (inquéritos policiais) o compilado
de informações para uma eventual aplicação penal.

O CONCEITO DE SEGURANÇA NO BRASIL APÓS A CONSTITUIÇÃO DE


1988 E A INEFICÁCIA DO GOVERNO NA QUESTÃO DA SEGURANÇA
PUBLICA

Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, houvera mudanças significativas


no conceito de segurança pública, conforme aponta a CF/1988 em seu Art. 144:

A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é


exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas
e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I – Polícia federal;
II – Polícia rodoviária federal;
III – polícia ferroviária federal
IV – Polícias civis;
V – Polícias militares e corpos de bombeiros militares (BRASIL, Constituição
Federal, 1988).

Nesse ínterim, trouxe, ainda, o texto Constitucional que cabe a cada ente federativo
prover a segurança de maneira a garantir a ordem pública, baseada nos preceitos constitu-
cionais; conduzir a gestão e fazer com que as polícias cumpram suas prerrogativas.
Deste modo, após a edição da Carta Magna, destacou-se a necessidade do apri-
moramento da ordenação policial, Decreto nº. 6950/2009, donde o Conselho Nacional de
Segurança Pública tem como viés a centralização de esforços no sentido de combater aos
mais diversos tipos de crimes, sendo este órgão subsidiado pelo Ministério da Justiça e
Segurança Pública.
Um dos parâmetros estabelecidos pelo Conselho seria a criação do Plano Nacional
de Segurança Pública, cujo princípio pauta-se no do fortalecimento dos órgãos policiais;

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contudo, a norma não supriu os parâmetros conciliados, devido a não participação de di-
versas vertentes da sociedade.
CRUZ, 2013, p. 4, apud Santos, 2005, aduz que:

A Constituição de 1988 trouxe algumas mudanças para a sociedade, contudo


mantém algumas questões da Constituição anterior em relação à segurança
pública. Um exemplo é a atuação de um dos órgãos responsáveis pela segu-
rança pública, Polícia Militar, em defesa do estado, como aparelho controlador
de uma maioria excluída, seguindo assim uma ideologia de controle social.
Essa ideologia lembra a ideia do panóptico2 na concepção de Foucault, ou
seja, um dispositivo de poder disciplinador coercitivo (SANTOS, 2005).

No entanto, a questão da segurança pública diante das mudanças comportamentais por


parte da população fez com que as “polícias” buscassem determinadas adequações com o
fim de assistir e promover a ordem pública, buscando a interação dos órgãos responsáveis
por prover a segurança com a comunidade em que se encontra instalada.
Porém, sabe-se que a questão de Ordem Pública, no ponto de vista de CRUZ (2013,
p. 4), não se refere, somente, à função desempenhada pelas organizações policiais, mas,
também, à necessidade de adequação da gestão pública em fazer com que o Estado garanta
a eficiência dos serviços voltados ao atendimento à população, buscando a efetivação das
políticas públicas voltadas à educação, segurança, saúde, habilitação, bem como desfa-
zer o mito de que esse assunto é somente pauta da Justiça Criminal, algo que não condiz
com a Carta Magna.
Todavia, o Estado brasileiro e seus afins, nas últimas décadas, apesar do lançamento
de projetos para efetivação da segurança pública, deixaram aquém do desejado, pois como
apresentamos anteriormente existem relatórios apontando o déficit de agentes públicos na
segurança do país.
Assim, deve-se levar em consideração a ineficiência do governo em relação à segu-
rança pública e demais questões básicas, bem como debruçar mais atenção aos sujeitos
que compõem as forças de segurança, que, por vezes, trabalham em “dobro” para tentar
cobrir a falta de efetivo e dar continuidade aos trabalhos realizados.
Se não bastasse, a Constituição Federal, 1988, estabelece no seu art. 5° o direito à
segurança ao cidadão e seus estrangeiros fornecida pelo Estado: “Art. 5º Todos são iguais
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos es-
trangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade.” (BRASIL, Constituição Federal, 1988).

2 Filosofo que concentrou seu trabalho na relação entre poder e governabilidade e práticas de subjunção;

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Entretanto, observa-se que na práxis isso não acontece da forma como preconiza o
Texto Maior, posto que a segurança pública no Brasil esteja fragilizada, sendo que os gover-
nantes não “conseguem” reverter essa situação, já que continuam a insistir no erro da falta
de investimento e de estudos técnicos que busquem uma evolução técnica e com vistas a
prover uma “nova cara” à antiga segurança pública, a qual se mostra ineficaz.
Neste conceito, cabe ao Governo Federal e aos Legisladores criarem mecanismos
para uma questão política voltada à área de segurança que se torne mais efetiva, tendo em
vista que o atual modelo traz algumas questões controvertidas, embora o Brasil seja exem-
plo mundial quanto ao maior contingente de Militares da América do Sul, tanto nas Forças
Armadas quanto em suas forças auxiliares.
Deste modo, tem-se que o sistema brasileiro é falho no geral e com isso desencadeia-
-se um efeito cascata dominó que começa em outras áreas do governo e acaba abalando
toda uma estrutura. Sabe-se que o Exército Brasileiro, como exemplo, somente pode ter
atuação em áreas urbanas com a aprovação da Presidência da República e com a análise
e anuência dos legisladores; contudo, poderia o poder público, “conforme atribuição consti-
tucional” estabelecer que as Forças Armadas exerçam suas funções e passem a monitorar
as fronteiras, buscando assim evitar que, por exemplo, o tráfico de drogas e armas chegue
aos centros urbanos.
Aponta Araújo (2019, p. 32) apud Abreu e Lourenço 2010 que: “sabemos que o ser
humano é resultante das relações sociais: sua personalidade violenta pé decorrente, de
acordo com a regra, derivada de seu ambiente social – marcado pela violência – onde o ser
humano teve seu processo de socialização”.
E, seguindo sua linha de estudo:

Em tempos mais remotos, era possível afirmar com determinada certeza que
a violência se associava, quase que de maneira exclusiva, a pobreza. Se o
ambiente habitado fosse violento, era necessário conviver com elas e com seus
efeitos. Eram reflexos de uma vida marcada por uma condição miserável e pela
exclusão, impulsionado por meio de um comportamento violento. A violência
ocorria em famílias que eram socialmente desestruturadas, localizando-se nas
áreas urbanas que vivenciavam o espelhamento da pobreza: as favelas e as
periferias. (ARAÚJO apud Abreu e Lourenço, 2010, p.32).

A par disso tudo, pode-se colocar como um ponto crítico, para os agentes públicos,
a falta de efetivo, o baixo salário, o risco de vida, além de outros elementos, já que ainda
existam locais do país em que policiais trabalham com equipamentos obsoletos ou com
a falta destes equipamentos aliada à pressão psicológica devido a seus turnos de traba-
lho. Se não fosse o bastante, vários policiais acabam apresentando traumas e problemas

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como transtornos compulsivos e psicológicos, que afetam diretamente sua relação física
com o emocional, em razão dos imbróglios expostos.

O SISTEMA ATUAL DE SEGURANÇA PÚBLICA DO BRASIL

O sistema de segurança no Brasil hoje é composto por quatro subdivisões definidas


por Araújo (2019, p, 30) apud Moreira Neto (1990), como: “[...] policial, penitenciário, judi-
cial e do Ministério Público, os quais fazem uma interação e se inter-relacionam de modo
a se complementarem, prestando à população determinados tipos de serviços de maneira
específica, qual seja a Segurança Pública”.
Para tanto, em 2007, o Governo Federal, por meio da Lei n. 11630, criou o Programa
Nacional de Segurança Pública com Cidadania, (PRONASCI), com viés de melhorar o con-
ceito de segurança pública no Brasil. Referido programa almeja o intercâmbio das famílias
e comunidades, bem como a busca pelo alinhamento da segurança pública ao conceito de
repressão e prevenção da criminalidade. Para Gonçalves (2022, p. 14) apud Lira (2016, p.19):

Em 2007, o governo federal instituiu o Programa Nacional de Segurança Pú-


blica com Cidadania (Pronasci), que conjugava ações, como o Projeto de
Jovens em Território Vulnerável (Protejo) e o Projeto Mulheres da Paz, com
foco na prevenção, controle e repressão da criminalidade urbana violenta,
estabelecendo políticas sociais e ações de proteção às vítimas. A seleção
das localidades atendidas pelo Pronasci, chamadas de “territórios da paz”,
obedeceu a critérios da estatística e análise criminal que evidenciavam esses
espaços como mais vulneráveis às violências letais.

Nesta senda, pode-se definir o sistema de segurança brasileiro em suas divisões e


atribuições, cabendo ao Governo Federal, Estadual e aos Municípios gerir estes órgãos.
Assim, tem-se que a Polícia Federal tem sua administração cabível ao Governo Federal,
tratando-se da polícia judiciária, que atua em crimes contra a ordem pública de interesse
da União, cabendo à Polícia Federal a fiscalização marítima, aérea e a das fronteiras; coibir
o tráfico de drogas, o contrabando de forma geral e o descaminho, entre outras funções
reguladas por normativas.
Neste panorama, a Polícia Rodoviária Federal atua também sob a administração
do Governo Federal, competindo a ela a fiscalização das rodovias federais. Já a Polícia
Ferroviária Federal deve fiscalizar a malha ferroviária nacional, enquanto que a Força
Nacional de Segurança é configurada como um órgão composto por polícias da federação,
sob a administração do Ministério da Justiça e Segurança, possuindo como papel fundamen-
tal o pronto emprego em casos de grande repercussão, sendo que é uma tropa para pronto
emprego em distintas situações, e, por não constar na CF, não é denominada como Polícia.

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Tem-se ainda a Polícia Civil, uma espécie de Polícia Judiciária, que atua em crimes
contra a ordem pública de interesse dos estados-federados, cuja função é a de investiga-
ção dos crimes e a condução de inquéritos policiais, com a finalidade apresentar ao Poder
Judiciário os inquéritos policiais que instruem o processo penal, bem como os crimes de não
competência da Polícia Federal.
Enquanto que as Polícias Militares são de responsabilidade dos Estados, consubs-
tanciando-se em uma força para emprego imediato, competente para a prevenção e a
repressão aos mais diversos tipos de infrações, sendo também conhecidas como forças
auxiliares do Exército.
Por fim, o Corpo de Bombeiros Militares afiguram-se como um órgão gerido pelo go-
verno dos estados-federados, tendo como papel principal a defesa civil, como, por exemplo,
atuando em incêndios, enchentes, desabamentos etc. E, a Polícia Rodoviária Estadual, ad-
ministrada, também, pelos governos dos estados-federados, cujas atribuições são voltadas
a coibir as infrações nas rodovias estaduais.
Dito isso, por meio da Emenda Constitucional n. 104/2019 alterou-se o artigo 144 da
Constituição, em que se criou a terminologia da Polícia Penal, cujas atribuições são as de
segurança e fiscalização das unidades penais, de responsabilidade da União e dos Estados:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de


todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das
pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
[...]
[...] VI - polícias penais federal, estaduais e distritais.
[...]
§ 5º-A. Às polícias penais, vinculadas ao órgão administrador do sistema
penal da unidade federativa a que pertencem, cabe a segurança dos estabe-
lecimentos penais.
§ 6º As polícias militares e os corpos de bombeiros militares, forças auxiliares
e reserva do Exército subordinam-se, juntamente com as polícias civis e as
polícias penais estaduais e distritais, aos Governadores dos Estados, do Distrito
Federal e dos Territórios. (BRASIL, Constituição Federal, 1988).

Ressalta-se, entretanto, que dentro de cada instituição existem departamentos espe-


cializados responsáveis por suas áreas de atuação como, por exemplo, na Polícia Civil o
departamento de Narcóticos, de Homicídios; e nas Polícias Militares, os grupos de Operações
Especiais (Choque, Bope, Força Tática etc.).
Salutar que o “Poder de Polícia”, no Estado de Direito, não se afere somente às forças
policiais, sendo que todos os órgãos de fiscalização, tais como, Receita Federal, Vigilância
Sanitária, IBANA, ANAC, ANTT, dentre outros, também por força de suas funções, têm poder
de polícia, ou seja, poder de polícia não se confunde e se restringe às polícias, sejam elas
administrativas ou judiciárias.

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Desta banda, cabe ao Poder Judiciário o julgamento das infrações previstas em lei,
após analisados todos os meios e manifestações, como, por exemplo, do Ministério Público,
órgão fiscalizador das Leis e responsável pelo controle externo das atividades policiais.
Conquanto, em relação ao sistema penitenciário, apesar de ser formalmente adminis-
trado pelo Poder Executivo, há obediência a critérios estabelecidos pelas diretrizes penais
impostas pelo Poder Judiciário, contidos na Lei de Execuções Penais, sendo que cabe ao
Juiz Corregedor dos Presídios a regulamentação do estabelecimento ao qual esteja ligado
em decorrência do cargo.
A partir desse viés, para Gonçalves (2022, p. 31) apud Greco, 2012, [...] “as policias
civis e militares passam por uma crise existencial, sendo várias desculpas para a inoperância
das mesmas, que insistem em manter um sistema arcaico de funcionamento”, concluindo
que: “[...] assim, em caso de falhas, todos tentam jogar as responsabilidades no Estado,
não assumindo a sua responsabilidade por uma grande parte dos problemas, que por vezes
medeiam suas ações, contribuindo para o aumento da criminalidade”.
Se não bastasse, a formação dos policiais depende da aprovação em concursos
Públicos, artifício extremamente necessário, pois as partes são confrontadas e a seleção
torna-se mais justa.
Por conseguinte, Gonçalves (2022, p. 34) aduz que a CF/88, em seu Artigo 37, elenca
dispositivos que devem ser observados pelo poder público na realização de concursos, como:

[...]
I – os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que
preencham os requisitos estabelecidos em lei;
[...]
III – o prazo de validade do concurso público será de até dois anos, prorrogável
uma vez, por igual período;
IV – durante o prazo improrrogável previsto no edital de convocação, aquele
aprovado em concurso público de provas ou de provas e títulos será convocado
com prioridade sobre novos concursados para assumir cargo ou emprego, na
carreira;
V – os cargos em comissão e as funções de confiança serão exercidos, pre-
ferencialmente, por servidores ocupantes de cargo de carreira técnica ou pro-
fissional, nos casos e condições previstos em lei;
[...]
VIII – a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pes-
soas portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão;
IX – a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para
atender a necessidade temporária de excepcional interesse público; (BRASIL,
Constituição Federal, 1988, Artigo 37).

Por conseguinte, reserva-se o ingresso de pessoas com deficiência o patamar de 5%


(cinco por cento) das vagas destinadas ao evento, conforme estabelecido pelo Decreto Lei n.
3298/1999. Contudo, o Artigo 38 da referida normativa aduz que em duas situações não se

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aplicam esse direito, qual seja o cargo de confiança e o de comissão, em que a nomeação
dá-se por ato do Governante, conforme o interesse da administração pública.
A guisa disso, o ingresso em carreira policial, em todas as esferas, é realizado por
força de concursos públicos de ampla concorrência e obedecidos os critérios estabelecidos
pelos editais, respeitando, por exemplo, as leis referentes a cotas.
Entretanto, após a aprovação em concurso público existem as provas técnicas de ca-
ráter eliminatório, que abrangem os testes psicotécnicos, exames físicos e conhecimentos
gerais da área da futura atuação, além da investigação social, onde a vida do(a) candidato(a)
é consultada na localidade onde reside, apurando-se o seu contexto social.
Por outro lado, após a aprovação em todas as fases do concurso, os policiais já forma-
dos em academias próprias passam a ser avaliados por sua chefia imediata, pelo período
de três anos, subdivididos em seis semestres, onde a chefia imediata leva à Administração
as aptidões dos novos policiais.
Salutar que o estágio probatório também tem efeito desclassificatório, sendo que o
agente público avaliado deve cumprir uma pontuação mínima para que, após os três anos
desta prova técnica, seja definitivamente efetivado. Assim sendo, e de acordo com o ex-
posto até o momento, destaca-se a importância para o presente trabalho de se “almejar” a
conceituação “ideal” de segurança pública no Brasil, o que se passa a discorrer.

QUAL O CONCEITO “IDEAL” DE SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL?

O fator predominante no modelo de segurança pública no Brasil traz as tratativas da


gestão governamental, pois, como demonstrado, cabe ao Estado gerir, organizar, planejar e
instituir as diretrizes necessárias para o funcionamento, como prevê a Constituição Federal.
Fontoura e Schimdt (2019, p. 3) apud Sapori (2007, p.17) salientam que:

A manutenção da ordem pública é, indubitavelmente, um dos principais bens


coletivos da sociedade moderna, sendo o combate à criminalidade uma atribui-
ção estatal estruturante, juntamente com o provimento da saúde e da educa-
ção. Do ponto de vista institucional, os Estados democráticos contemporâneos
procuram garantir a manutenção da ordem mediante a obediência a diversos
institutos legais que estabelecem os parâmetros de seu poder de atuação.
Vigora no Estado democrático de direito, nessa ótica, a máxima ordem da lei.

Neste contexto, com base no estatuto constitucional, a questão da segurança pública


trata-se de um “arranjo organizacional, pois a atuação do Estado através dos órgãos policiais
busca impedir e prevenir o crime, e na repressão dos autores ou infratores das leis penais”.
(MATOS, 2013.p. 21).
Para Fontoura e Schimdt (2019, p.5), apud Sapori (2007, p.18):

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O arranjo institucional da segurança pública compõe-se de um complexo sis-
tema organizacional e legal que, por sua vez, divide-se em subsistemas com
características próprias e singulares, mas que estão articulados, em princípio
por uma divisão de trabalho e complementaridade de funções. Estão inseri-
dos nesse processo sistêmico o subsistema policial, o subsistema judicial e
o subsistema prisional.

Se não bastasse, baseado neste parâmetro, Matos (2013, p. 19) argumenta que:

O Poder Judiciário não está taxativamente ali incluído, mas a formulação de


políticas de segurança pública, voltada para uma participação popular mais
efetiva e, portanto, comunitária, especificamente na parte que se refere do
texto constitucional “[...] direito e responsabilidade de todos...”, sinaliza, por
derivação interpretativa constitucional, que o sistema de defesa social – que
constitui o conjunto de órgãos e instituições que compõem a rede de proteção
da sociedade em especial no que se Direito & refere aos aspectos da política
criminal, o situa como um dos atores desse processo, assim como o Ministério
e a Defensoria Públicas, além do sistema prisional.9 Tais instituições traba-
lhando de forma integrada e conjunta com as polícias podem contribuir para
o êxito da política criminal e de um sistema policial que atue respeitando as
diretrizes do estado democrático de direito, objetivando a redução dos índices
de criminalidade em todas as suas vertentes e a consequente melhoria da
qualidade de vida da população.

Assim sendo, a segurança pública deveria ser vista como uma situação desejável e não
uma função, donde se afirma que: “[...] dessa noção resulta que os atuais chamados órgãos
de segurança pública são órgãos de execução da defesa social, normalmente incluídos na
denominação genérica de “polícia”, que atuam, entre outros órgãos, para a proteção integral
da população, visando à segurança pública”. (ROCHA, 2011, p.8).
Porém, a questão de ordem pública, quando bem realizada pelo poder público, contribui
para a almejada e talvez utópica “paz social”, bem como pacifica as relações intersubjetivas
entre cidadãos e instituições públicas e privadas.
Assim sendo, e de acordo com o estudado alhures, tem-se que existem muitas vertentes
as quais causam o desconforto em relação à insegurança pública, uma vez que, subsistam
muitos paradigmas localizados em um país de dimensões continentais, principalmente nas
regiões sudeste e sul, em que a proporção entre forças de segurança e população são as
mais perto da idealizada, enquanto que em outras regiões, como principalmente no norte
e nordeste, tem-se a questão premente da falta de efetivo e principalmente de estrutura.
Hodiernamente resta notório que, como se observa nos noticiários, as forças de segu-
rança, por vezes, se sucumbem diante do preparo mais especializado dos criminosos, pois
estes, em muitas circunstâncias, estão à frente das organizações policiais, principalmente
em relação à estrutura organizacional e armamento.
De igual modo, Soares (2006, p.91), elucida que:

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Roubos a bancos, residências e ônibus, assim como os sequestros, particular-
mente os “sequestros relâmpagos”, também têm se tornado comuns e perigo-
sos, em todo o país, porque, em função, também nesse caso, da disponibilidade
de armas, essas práticas, que, por definição, visariam exclusivamente ao pa-
trimônio, têm se convertido em crimes contra a vida – a expansão dos “roubos
seguidos de morte” ou latrocínios constitui o triste retrato dessa tendência.

Ou seja, de acordo com a citação acima, em 2006 verificava-se o aumento gradativo


em relação aos crimes e a discrepância com o contingente da segurança pública, prin-
cipalmente em ralação a crimes contra o patrimônio, o que corrobora e desencadeia em
crimes contra a vida.
Por todo o exposto neste capítulo de livro, mister ressaltar a necessidade de uma maior
aproximação das comunidades com a gestão da segurança pública, com vistas a se criarem
mecanismos pautados na finalidade de efetividade de as polícias cumprirem seu mister legal,
que é o de servir e proteger a população.

CONCLUSÃO

À guisa de notas conclusivas, o atual papel da segurança pública no Brasil é difícil, pois
o Brasil, de fronteiras continentais, é prova da ineficácia de seus órgãos fiscalizadores. Assim
sendo, o caos na segurança pública, principalmente nos grandes centros com extensões às
pequenas localidades, origina-se com a falta ou a precária fiscalização de nossas fronteiras,
o que propicia que o descaminho, o tráfico de drogas e de armas cheguem às cidades. Assim
sendo, apesar das grandes apreensões realizadas a contento, estatisticamente falando, de
cada dez apreensões apenas três ou quatro têm o material retido e fora de circulação.
Neste viés, agregamos não somente a falta de policiamento ostensivo nas fronteiras
para que haja coibição da prática criminosa, mas o fato é notório em relação à grande falta
de policiais para o cumprimento de suas missões. Assim sendo, a ineficácia do poder públi-
co, em principalmente prover os recursos para a segurança, vem se consolidando durante
os anos, o que desencadeou ao ponto de que os “criminosos”, hoje em dia, têm o apoio
logístico necessário, conquanto o poder de polícia, por vezes, não disponha ao mesmo de
meios de locomoção para o combate à criminalidade.
Em razão disso, a necessidade da atenção na questão de segurança pública se volta
ao fator social, onde, além da segurança, a educação, a saúde, a assistência social, dentre
outros fatores têm papel fundamental em razão aos índices de criminalidade. Veja-se, por
exemplo, nas comunidades dos grandes centros, a atuação muitas vezes do poder paralelo
desempenha o papel estatal em muitas destas localidades, pois não existe a presença do
poder público, e quando existe, é dotado de precariedade.

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Infelizmente, a situação, ao médio prazo, não prevê melhorias devido à falta de inves-
timento nesta área de atuação, que é de competência exclusiva do poder público, como
prevê a Constituição Federal.
Por fim, no decorrer do presente texto pôde-se verificar que a atuação da comunidade
junto ao serviço policial tem se mostrado favorável em alguns locais, donde através dos
Conselhos de Segurança ocorrem elaborações de planejamentos necessários no que tan-
genciam a atuação das forças naquela localidade a partir da realidade e vulnerabilidade da
população, vista sob o prisma da necessidade de aprimoramento das técnicas e de fortale-
cimento das polícias, o que reverbera em um estudo breve por força do poder público, com
o viés de adequação do conceito de polícia à realidade, onde a participação popular junto
aos órgãos de segurança se volte para o bem comum, qual seja o de prover à sociedade o
serviço necessário que reformule o conceito de segurança pública.

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