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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ – UNESA

CURSO SUPERIOR TECNÓLOGICO EM SEGURANÇA PÚBLICA – CSTSP

Ramon César Silva

A PROBLEMÁTICA DA SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL:


ASPECTOS HISTÓRICOS E ANÁLISE CRÍTICA

Artigo a ser apresentado à Banca do Exame do Curso


Superior de Tecnólogo em Segurança Pública da
Universidade Estácio de Sá – CSTSP/UNESA, como
requisito para aprovação na disciplina de TCC em
Segurança Pública.

ORIENTADOR

Professora Katia de Mello Santos

Teófilo Otoni – MG
Outubro de 2020
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A PROBLEMÁTICA DA SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL:


ASPECTOS HISTÓRICOS E ANÁLISE CRÍTICA

THE PROBLEMATICS OF PUBLIC SECURITY IN


BRAZIL:HISTORICAL ASPECTS AND CRITICAL ANALYSIS

Autor: Ramon César Silva


Orientadora: Katia de Mello Santos

RESUMO

A segurança pública é a função dos governos que garante a proteção dos cidadãos, pessoas em
seu território, organizações e instituições contra ameaças ao seu bem-estar - e à prosperidade de
suas comunidades. Para enfrentar os desafios crescentes na área de segurança pública, as
instituições e organizações públicas responsáveis podem usar sua própria inteligência para
enfrentar com antecedência possíveis ameaças. Eles otimizam suas estruturas internas, usam
sinergias e equilibram cuidadosamente os custos e benefícios de suas medidas, onde sua
importância para a sociedade é indiscutível.

Palavras-chave: Segurança; sociedade; poder público.

ABSTRACT

Public security is the function of governments that ensures the protection of citizens, people in
their territory, organizations and institutions against threats to their well-being – and the
prosperity of their communities. To address the growing challenges in the area of public security,
responsible institutions and public organizations can use their own intelligence to face potential
threats in advance. They optimize their internal structures, use synergies and carefully balance
the costs and benefits of their measures, where their importance to society is undisputed.

Keywords: Public security; society; public power.


1. INTRODUÇÃO

A segurança é uma das principais atividades humanas, que através de normas,


conscientização, comportamentos, princípios, leis e doutrinas vêm sendo seguidas
pelos cidadãos como garantia de vida e patrimônio. Cada vez mais, a segurança pública
vem sendo ameaçada em virtude do aumento descontrolado da violência, fator
associado ao aumento da criminalidade, desequilíbrio social, racial, econômico,
desempregos, marginalidade nos centros urbanos e processos migratórios. (ATENAS,
2010, p. 96).

Bem como o acesso à saúde, à educação e à moradia, a segurança apresenta-se como


um direito fundamental na Constituição Federal em vigor, a qual delega ao Estado o dever de
assegurá-lo. Mas será que o Estado tem cumprido com essa obrigação? A sensação inafastável
de medo e insegurança já se faz presente na vida de grande parte da sociedade civil brasileira,
sobretudo nos grandes centros urbanos, onde a regra são muros altos, cerca elétrica, arame
farpado, câmeras de segurança e portas e janelas trancadas. O fenômeno da violência e da
criminalidade recrudesceu e banalizou-se sobretudo nas últimas décadas, que o digam os
noticiários, já que a questão da segurança pública efetivou-se na pauta diária da imprensa.
O fracasso das políticas públicas e abordagens tradicionais de enfretamento ao crime e à
violência têm ensejado estudos, debates e propostas para o sistema de segurança, muitas de
cunho inovador e experimental. Algumas vozes até pedem uma mudança total de paradigma,
como a polêmica proposta do fim da polícia militar. A ideia de uma segurança pública mais
democrática com maior ênfase na prevenção, o surgimento de novos atores e métodos, a noção
de polícia comunitária ou simplesmente uma polícia que junte eficiência e respeito aos direitos
humanos, sobressaem como indicativos de um novo momento da segurança pública no Brasil,
com cadeiras reservadas para o debate e a mudança.
Nesse sentido, o presente trabalho tem por escopo a análise da configuração da segurança
pública no Brasil em seu formato atual por meio de uma pesquisa bibliográfica e referencial dos
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seus aspectos históricos e do levantamento dos pontos de vista de profissionais da área,


especialistas, juristas e jornalistas.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1 Biografia da Segurança Pública no Brasil

A violência no Brasil tal qual se apresenta atualmente é resultante do processo histórico


e tem suas origens fincadas na colonização. Séculos atrás, a abordagem hostil empregada no
domínio colonial português sobre o território brasileiro e, seguidamente, o longo e duro período
escravagista podem ser entendidos como marcos inaugurais do estabelecimento das
desigualdades, da miséria, da violência e do crime na nossa cultura, elementos importados
ironicamente da Europa civilizada para um Brasil ainda selvagem. Daí em diante nossa História
foi escrita com o sangue de conflitos, insurreições, golpes e guerras. Naturalmente, como
resposta, visando à manutenção da ordem, a semente da segurança pública foi plantada e se
desenvolveu com tempo.

Com a transferência da família real portuguesa para o Brasil, em 1808, foi criada a
Intendência Geral da Polícia da Corte e do Estado do Brasil no Rio de Janeiro.
Delegada a desempenhar a função de polícia judiciária, estabelecia punições,
fiscalizava o cumprimento das mesmas e também era responsável pelos serviços
públicos como abastecimento de água, obras urbanas, iluminação e outros serviços
urbanos da cidade (MARCINEIRO e PACHECO, 2005, p. 9).

No ano seguinte, criou-se a Divisão Militar da Guarda Real de Polícia, em cuja estrutura
já podíamos identificar traços do modelo militar. Entre suas incumbências estavam as de
capturar escravos e transgressores da ordem e da lei e reprimir as ações de contrabando. Naquele
momento, saliente-se, ainda não se denotavam noções claras ou referências precisas acerca da
concepção de segurança pública.
Uma das questões fundamentais na definição do Sistema de Justiça Criminal brasileiro
pode ser apontada a partir do contexto do século XVIII, que marca a expansão e
consolidação da atividade de mineração do ouro e a consequente mudança do foco da
coroa portuguesa na, então, colônia brasileira: da produção do açúcar do Nordeste
brasileiro, administrado a partir da cidade de Salvador, para o ouro das Minas balizado
pela mudança da capital e da burocracia para a cidade do Rio de Janeiro. Assim, um
aspecto fundamental da consolidação da exploração colonial na época do ouro foi o
desenvolvimento dos instrumentos de manutenção da ordem pública e do monopólio
do exercício legítimo da violência por parte das autoridades coloniais. Este
desenvolvimento, entretanto, foi profundamente marcado, de um lado, pelas
características do Estado patrimonialista português e, de outro, pela resistência e
rebeldia de vários setores da população, especialmente entre aqueles que detinham
poder econômico ou militar. (BATITUCCI, 2010, p. 17).

Gleice Bello da Cruz (2.013) assinala que, no ano de 1822, pós declaração da
Independência do Brasil, as noções de segurança do indivíduo e segurança do país ainda se
confundiam. A autora destaca que “durante o Período Imperial, o país entrou em conflitos
internos e externos, e a força policial, chamada de Guarda Real, atuou no espaço da defesa
interna e da segurança nacional, agindo conjugadamente com o Exército Brasileiro” (Cruz,
2013).
No Período Regencial (1831), deu-se a substituição da Guarda Real pelo chamado Corpo
de Guardas Municipais Voluntários Permanentes por província. Posteriormente, a denominação
foi alterada e cada província determinou uma nomenclatura consoante a unidade federativa
(Polícia Militar do Estado da Bahia, por exemplo). Ainda nesse período nasceu a Guarda
Nacional, uma organização paramilitar criada, em teoria, para defender a Constituição e o
Império, prezando pela ordem interna.
No Rio de Janeiro, tivemos, em 1866, a criação da Guarda Urbana, precursora do Corpo
Civil da Polícia: uma força não militarizada com atividades de ronda a qual foi extinta em 1889.
Nesse mesmo ano, quando proclamada a República, ficou definida a responsabilização dos
governos estaduais pela manutenção da ordem e segurança pública e pela defesa e garantia da
liberdade e dos direitos dos cidadãos. Contudo Fernandes e Costa (1998) nos lembra que “as
violências cometidas pelos senhores continuavam a encontrar, em certos casos, o apoio da
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polícia. A polícia e a justiça não impediam as arbitrariedades dos senhores”. Por volta da década
de 1920, observa-se que a Organização Policial (Forças Públicas), em função das colaborações
com as Forças Armadas, passou a adotar seus regulamentos, conferindo à polícia uma ideologia
de cunho dominante/repressor.

No Governo Vargas, o Brasil passou a ter alguns conflitos diante das exigências da
sociedade, que reivindicava a democracia, através de eleições e de uma nova
Constituição. Com o receio de ser contraposto, o governo federal decidiu controlar as
Forças Públicas, oficializando a Força Reserva de Primeira Linha do Exército. Ocorreu
a primeira referência sobre as Forças Públicas, hoje a Polícia Militar, como
organização. Em 1946, a União continua com a atribuição da legislação anterior,
contudo, a Constituição da época denominava as Forças Públicas de “Polícias
Militares”, caracterizando-as ainda como força auxiliar instituída para segurança
interna e manutenção da ordem nos estados (Cruz, 2013, p.96)

Na década de 60, o Brasil viveu novamente momentos de tensões e conflitos políticos e


sociais, sobretudo a partir de 1.964. Durante o regime militar, o controle sobre o quadro das
Polícias Militares e a centralização da segurança nas Forças Armadas caracterizou-se pela
repressão como meio de preservar a ordem e os objetivos nacionais.
Terminado o período da Ditadura, uma nova Constituição foi promulgada, em 05 de
outubro de 1988. A segurança pública é contemplada pelo artigo 144 que (atualizado) prescreve
que:
A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida
para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio,
através dos seguintes órgãos: I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III -
polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V - polícias militares e corpos de
bombeiros militares; VI - polícias penais federal, estaduais e distrital. (BRASIL,
2019).

A redação exposta foi dada pela Emenda Constitucional nº 104, de 2019, a qual
apresentou uma inovação jurídica (seguindo as tendências internacionais, sobretudo europeias):
a transformação da carreira de agente de segurança penitenciário em Polícia Penal, à qual se
destinou a segurança dos estabelecimentos penais.
2.2 A Sociedade e Segurança Pública hoje

Para Sonnenburg (2009), a cidadania diz respeito à relação do indivíduo com os demais
componentes da sociedade e também com o Estado. Essas relações, não obstante, muito mais
comumente do que gostaríamos (como apontam as estatísticas), são conflituosas.

A paz não é uma simples ausência de conflitos, e sim a capacidade de gerenciar


conflitos para que não se chegue ao confronto e que possa, a partir desse confronto,
trazer rupturas entre os lados. O conflito é aceito e a discordância em relação ao ponto
de vistas das pessoas faz parte da nossa convivência. A imposição do ponto de vista ou
gosto de alguém é que torna o conflito um problema a ser administrado e não a simples
diferença de sua preferência (MORETTI, 2018).

É da passagem do conflito do plano abstrato para o concreto que se justifica a existência


do conceito de crime e de pena, da vigência do Direito, por exemplo o Código Penal, bem como
dos sistemas de segurança pública em atividade. O ordenamento jurídico está constantemente
sendo revisado e aprimorado com vistas ao atingimento do ideal de paz social e justiça.
Convivemos, todavia, em uma sociedade altamente complexa e em constante mudança
influenciada por um sem-número de variáveis em que: a lei é infrigida o tempo todo, a polícia
comete excessos e abusos, a população se vê refém do medo e da insegurança, áreas
metropolitanas com milhares de moradores são controladas pelo tráfico de drogas paralelamente
à ação do Estado, nossa população carcerária se aproxima (e logo deve ultrapassar) o número
de 800.000 detentos... eis, simplificadamente, o quadro pintado de sangue da realidade da
violência e do crime no Brasil, para o qual as políticas públicas e a configuração dos sistemas
de segurança pública de que dispomos tem se mostrado insuficiente no sentido de alcançar uma
resolução definitiva. Apesar desta longa lista de deficiências, tem havido tentativas de
modernização de reforma nos últimos anos. Ainda se trata de exceções à regra, todavia
representam a possibilidade de uma perspectiva de mudança de paradigma para o futuro da
segurança pública brasileira.
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Consoante o entendimento de Vargas (2020), a reconstrução da segurança pública exige


um novo paradigma de pensamento e ação: o cooperativo, que aposta na capacidade coletiva do
país de inovar, compartilhar experiencias e ajudar-se reciprocamente. Entre as deficiências mais
comuns no campo da segurança pública, o autor sublinha: investimentos insuficientes (de
recursos materiais e humanos); má formação dos policiais; uma herança autoritária (a Polícia e
a serviço do Estado e não do povo); insistência na guerra (objetivo de aniquilar o “inimigo”,
muitas vezes ignorando os custos sociais); conflitos com comunidades pobres estigmatizadas; e
corrupção policial.

O problema da segurança pública às vezes parece ser uma questão de calibre, ou um


nó que será desfeito quando a polícia atingir um poder de fogo superior ao do
inimigo. Como resultado, a segurança pública é altamente militarizada em suas
estruturas, doutrinas, treinamento, estratégia e tática. As operações de segurança
pública em áreas pobres se assemelham a operações militares em território inimigo:
invasões, postos de controle e assim por diante. Neste contexto, não é de estranhar que
devam ocorrer inúmeros abusos dos direitos humanos, sobretudo no que diz respeito
ao uso da força. Tiroteios em comunidades pobres produzem uma alta taxa de
mortalidade, incluindo vítimas acidentais. Existem também alegações frequentes de
tortura de prisioneiros e condenados (Vargas, 2020)

2.3 A violência em dados

A criminalidade tem efeitos expressivos sobre o desenvolvimento econômico do país.


As avaliações de investimento no Brasil inserem a criminalidade e a violência como uma das
restrições principais ao florescimento dos negócios. Para Buvinic e Morrison (1999) devem ser
incluídos nas estimativas dos custos da criminalidade e da violência: custos diretos (o valor de
todos os bens e serviços utilizados para prevenir a violência ou oferecer tratamento às suas
vítimas ou agressores, incluindo custos de saúde, polícia, justiça e prisão, bem como recursos
gastos com segurança privada.; custos não médios (taxas de mortalidade e morbidade que
resultam em dor, sofrimento e morte, mas não necessariamente em gastos com saúde ou perdas
econômicas facilmente quantificáveis); efeitos multiplicadores econômicos (efeitos sobre o
capital humano, participação da força de trabalho, salários e rendimentos, poupança e
crescimento macroeconômico); efeitos multiplicadores sociais (erosão do capital social,
transmissão intergeracional da violência e menor qualidade de vida).
Segundo estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o
Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), divulgado na edição do Atlas da Violência de
2.017, as despesas com segurança pessoal e segurança pública equivalem a cerca de 5,9% do
Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil (aproximadamente R$ 389 bilhões na época), dando a
dimensão assombrosa do impacto econômico da violência em todo o país. Em relação ao mesmo
período, o Brasil foi apontado pela ONU (Organização das Nações Unidas) como o país mais
violento da América do Sul, ficando atrás apenas da Venezuela.
Em 2015, conforme, 10º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, registraram-se 3.320
pessoas mortas em intervenções policiais no Brasil. No mesmo ano, 350 policiais morreram
assassinados no País, sendo dois terços fora de serviço. Conclusão: o Brasil ficou no topo do
ranking dos países com maior letalidade policial. Em outras palavras, temos a polícia que mais
mata e que mais morre no mundo.
No estudo do Instituto Igarapé, denominado “Segurança do cidadão na América Latina”,
de abril de 2018, o Brasil ocupava o 13º lugar no ranking mundial de homicídios, com uma
média de 27,8 homicídios a cada 100 mil habitantes. Foram 30.873 jovens vítimas de homicídios
no ano de 2018, o que significa uma taxa de 60,4 homicídios a cada 100 mil jovens e 53,3% do
total de homicídios do país. Os homicídios ainda responderam por 48,4% dos óbitos de jovens
de 15 a 19 anos. Do total das vítimas de homicídio em 2018, 75,7% eram negros. Entre eles, a
taxa foi de 37,8 por 100 mil habitantes, enquanto entre os não-negros a taxa foi de 13,9. A chance
de uma pessoa negra morrer de forma violenta no Brasil é 2,7 maior que uma pessoa não-negra.
Em 2018, uma mulher foi assassinada no Brasil a cada duas horas, totalizando 4.519 vítimas.
30,4% desse número teriam sido feminicídios, alta de 6,6% em relação a 2017. Na última
década, o país teve um aumento de 8,3% na taxa de homicídios de mulheres em residência
(IPEA, 2020). Ainda em 2018, 6.160 pessoas foram mortas por policiais em serviço ou folga –
um aumento de 18%, em comparação com o ano anterior.
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Deu-se no país uma queda de 19% no número de vítimas de crimes violentos em 2019
em relação a 2018. Ainda assim, em todo o ano passado, houve 41.635 assassinatos no país.

2.4. Políticas de Segurança Pública

Como responder a números tão assustadores e estatísticas tão sangrentas? É aí que


entram as chamadas políticas de segurança pública.
Aqui no Brasil, a segurança pública foi inserida na agenda das políticas públicas em
período relativamente recente se comparada às demais políticas sociais. Apenas nas últimas duas
décadas é que se pode identificar a atuação mais decisiva dos poderes públicos na provisão desse
bem jurídico. Verificam-se nesse período experiências inovadoras pontuais e localizadas na
formação policial, na atuação mais focalizada da polícia preventiva, na incorporação de
tecnologias de informação na gestão de dados, na atuação operacional mais articulada e
integrada entre as polícias.

Uma das principais iniciativas foi a criação de um Fundo Nacional de Segurança


Pública (Fundo Nacional de Segurança Pública) para custear projetos, no âmbito
estadual e municipal, que atendessem prioritariamente aos requisitos da eficiência,
responsabilidade e respeito aos direitos humanos. A ideia que começou a se formar era
que o governo federal induziria políticas públicas reformistas em nível estadual por
meio de financiamento seletivo, sem ferir a sensibilidade de ninguém. A Secretaria
Nacional de Segurança Pública (SENASP) do Ministério da Justiça, órgão de atuação
até então muito discreta, foi reorganizada e fortalecida para fiscalizar e cumprir suas
novas atribuições (CANO,2006).

Sobressai, nesta seara, a Política Nacional de Segurança Pública (PNaSP), que se define
como o conjunto de princípios, diretrizes, objetivos que condicionará a estratégia de segurança
pública a ser implementada pelos três níveis de governo de forma integrada e coordenada,
visando à preservação da vida, à manutenção da ordem pública, ao meio ambiente conservado
a garantia da incolumidade das pessoas e do patrimônio, o enfrentamento e prevenção à
criminalidade e à violência em todas as suas formas, assim como o engajamento da sociedade,
a transparência e publicidade das boas práticas.
Destaque também para o Pronasci (Programa nacional de segurança pública com
cidadania), instituído pela lei 11.530 de 2007 e desenvolvido pelo Ministério da Justiça, visando
à valorização dos profissionais da segurança pública, o combate à corrupção policial, a
reestruturação do sistema penitenciário e o envolvimento da comunidade na prevenção da
violência.
A despeito das iniciativas e programas encabeçados, o Brasil engatinha (quando
considerado no plano internacional) em se tratando da implementação de políticas públicas de
segurança, deixando ainda muito a desejar. O poder público é negligente e omisso e não vemos
a sociedade civil, que tanto é afligida pelo problema, exigir de seus representantes a prioridade
desse tema nas pautas do Congresso e na agenda política do governo.

3.CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Reordenamento da organização policial deve fomentar e criar condições para a


implementação efetiva de modernas práticas de gestão, com emprego das
metodologias de planejamento, de forma a suportar e permitir o desenvolvimento de
processos, técnicas e métodos que possibilitem um levantamento situacional realista,
a definição dos objetivos institucionais e a avaliação das implicações das decisões a
serem tomadas. O exercício sistêmico do planejamento aplicado a gestão visa reduzir
as incertezas no processo de tomada de decisões estratégicas, ao mesmo tempo em que
aumenta a eficácia das ações policiais a eficiência das organizações e a efetividade das
políticas públicas (SEGURANÇA, 2005).

À luz dessas considerações, explicita-se que o debate reducionista acerca da ênfase da


política de segurança pública em torno do social ou da polícia deve ceder lugar à discussão
centrada em um modelo de polícia integrado. É preciso pensarmos um rearranjo de nossos
modelos, cartilhas e protocolos de segurança, encarando os problemas sociais como um
emaranhado de fios interligados que dão forma à rede da problemática do tecido social.
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No que se refere à prevenção criminal é preciso investir em treinamento policial


humanitário, aproximar polícia e comunidade e (embora leve tempo) refazer a imagem
estereotipada que a polícia adquiriu com a soma de muitos erros imperdoáveis em operações e
intervenções. Em outras palavras, é preciso reorientarmos o papel da polícia de força repressora
para polícia cidadã, uma polícia que seja menos força e mais inteligência, que trabalhe mais com
informações do que com armas, uma polícia disposta a servir ao seu propósito: proteção.
Já no tocante ao combate à reincidência, continuar enchendo as unidades prisionais e
construir outas novas é insustentável e nem passa perto de constituir uma solução. O
endurecimento das penas também não é o caminho ideal. O que se faz realmente necessário é a
humanização sistêmica dos sistemas prisional e socioeducativo com investimentos e dedicação
incessante para desatar o nó entre o crime e suas células instaladas nos ambientes carcerários.
Primeiro que devemos priorizar a oferta de trabalho, educação e profissionalização aos
indivíduos privados de liberdade. Todo o seu tempo na verdade deve ser preenchido no sentido
de torná-lo um membro produtivo da sociedade, preparando-o para o desafio da sua reinserção
e adequação social e no mercado de trabalho. É preciso dar a essas pessoas uma oportunidade
que eles não encontram a não ser no crime.
Por fim, encerramos por dizer que uma reforma social dessa magnitude só é plausível
como resultado a longo prazo e implica décadas de trabalho duro do poder público com
cumplicidade amiga da sociedade. Mas é inenagável que precisamos começar essa mudança e o
melhor momento é agora.

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