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ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

-EMERJ-

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO PARA A


CARREIRA DA MAGISTRATURA

PROGRAMA DO CURSO

CPIII B 1 2023 – TÉCNICA DE SENTENÇA

As aulas do módulo serão ministradas nas seguintes datas: 26/05, 29/05 e


30/05.

SESSÃO IV: Dia 29/05/2023 - 10h 10min às 12h

Prof. Dr. Guilherme Grandmasson Ferreira Chaves

TEMA: Direito Penal. Tráfico de drogas e Associação para o tráfico.


Receptação. Corrupção ativa. Concurso Material.

CASO CONCRETO:

O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro ofereceu denúncia


em face de Romero, nascido em 20/12/1989; de Samuel, nascido em 8/3/1997; e
de Josiel, nascido em 10/9/1987, alegando que, em data que não se pode
precisar, mas certamente até o dia 17 de dezembro de 2017, na comunidade do
Lixão, nesta comarca, os denunciados, com vontades livres e conscientes, em
comunhão de ações e desígnios entre si e com o adolescente infrator Sérgio,
associaram-se e mantiveram-se associados a outros indivíduos ainda não
identificados, mas todos subordinados à facção criminosa "Comando Carmim",
que atua na localidade, para o fim de lá praticar, reiteradamente ou não, o delito
de tráfico ilícito de entorpecentes, consistente na guarda, depósito, transporte e
venda no varejo de substâncias entorpecentes.
Alega o Ministério Público que a função desempenhada pelo acusado
Josiel era aquela vulgarmente conhecida como "atividade", ou seja, responsável
por comunicar aos demais integrantes da organização criminosa, via rádio
transmissor, sobre a aproximação da polícia no local, enquanto o acusado
Samuel trabalhava na "contenção", isto é, na segurança armada da localidade,
dos seus comparsas e das drogas comercializadas. Já o denunciado Romero era
um dos gerentes da comunidade, isto é, um dos responsáveis pelo tráfico de
drogas na comunidade do Lixão.
O Ministério Público afirma que, no dia 17 de dezembro de 2017, na
comunidade do Lixão, nesta comarca, os denunciados Romero e Samuel, com
vontades livres e conscientes, em comunhão de ações e desígnios entre si e com
o adolescente infrator Sérgio, traziam consigo, para fins de tráfico e sem
autorização legal, 168,3g de cloridrato de cocaína, distribuída em 300 invólucros
plásticos, bem como 17,9g de cloridrato de cocaína, do tipo "crack", distribuída
em 165 invólucros plásticos, além de 642g de erva seca, picada e prensada, do
tipo cannabis sativa L., vulgarmente conhecida como maconha, dividida em 350
invólucros plásticos.
Narra o Ministério Público que, para a realização dessa atividade
criminosa de tráfico ilícito de entorpecentes, os denunciados Romero e Samuel
empregaram armas de fogo, tendo em vista que portavam, sem autorização legal,
uma pistola calibre 9mm, da marca Bersa, modelo Thunder Pro, numeração de
série F35793, com um carregador e 17 munições intactas, bem como uma pistola
calibre 40, da marca Bersa, modelo Thunder, com um carregador e quatro
munições intactas.
Narra o Ministério Público que policiais militares estavam em operação
na comunidade do Lixão quando, na Rua 8, o acusado Josiel foi visto segurando
um rádio transmissor, da marca Motorola, modelo Boafeng. Apesar de ter tentado
fugir correndo, Josiel foi alcançado e preso, ocasião em que se verificou que o
rádio transmissor estava ligado e recebia diversas informações de outros
comunicadores sobre a atividade de tráfico de drogas no local.
Com a aproximação policial, três pessoas foram vistas fugindo pela
Rua do Mangue. Após a perseguição, os policiais conseguiram localizar, dentro
de uma casa em construção, os denunciados Samuel, que estava na posse de
uma pistola calibre 9mm, da cocaína e da maconha acima descritas, além do
adolescente infrator Sérgio, que levava consigo o "crack" anteriormente citado
eR$ 46,00 em espécie.
Nas mesmas condições de tempo e local, o acusado Romero, com
vontade livre e consciente, ofereceu ao policial militar Fabiano a quantia de R$
5.000,00, a fim de que não fosse conduzido preso em flagrante pelos crimes
acima narrados. Ademais, nas mesmas condições de tempo e local, Romero,
com vontade livre e consciente, ocultava, em proveito próprio, a motocicleta CG
Titan 160 CC, de cor vermelha, sem placa, que sabia ser produto de crime.
Por esses motivos, o Ministério Público pede as condenações dos
acusados, na seguinte maneira:
I - Josiel, nas práticas do crime previsto no art. 35, caput, da Lei n°
11.343/06;
II - Samuel, na prática dos crimes previstos nos artigos 33, caput; 35,
caput, ambos c/c art. 40, incisos IV e VI, todos da Lei no 11.343/06, na forma do
art. 69 do Código Penal;
III - Romero, na prática dos crimes previstos nos artigos 33, caput; 35,
caput, ambos c/c art. 40, incisos IV e VI, todos da Lei n° 11.343/06; e nos artigos
180 e 333, ambos do Código Penal, na forma do art. 69 do Código Penal.
Em resposta à acusação, a defesa alega que a denúncia apresenta os
fatos de modo generalizado, sem especificar as circunstâncias concretas e
individualizar condutas. Seria indispensável, em relação ao crime de associação,
informar o local, o período, as ações pormenorizadas e as provas referentes ao
crime. É preciso considerar que, para o reconhecimento do crime de associação
para fins de tráfico, é imprescindível um vínculo associativo permanente,
duradouro e estável. Além disso, ainda que se considere a prática do art. 33 da
Lei n. 11.343/06, a coautoria nem sequer induz necessariamente ao delito do art.
35 da Lei n. 11.343/06, pois, caso contrário, não haveria de se falar em tipicidade.
Dessa forma, os acusados requerem a absolvição de todas as
imputações contidas na denúncia. Subsidiariamente, Samuel e Josiel requerem
que a imputação do crime previsto no art. 35 da Lei 11.343/06 seja
desclassificada para a do art. 37 do mesmo diploma legal. Requerem, ainda, a
aplicação do redutor do art. 33, §4°, da Lei n. 11.343/03, no patamar máximo de
dois terços, a fixação do regime aberto e a substituição da pena, nos moldes do
art. 44 do Código Penal.
Em juízo, a testemunha Fabiano disse: "que estava em operação para
coibir o tráfico na localidade conhecida como comunidade do Lixão, quando
avistou Samuel, Josiel e o menor Sérgio correndo em sua direção, fugindo de
outra guarnição; que, ato contínuo, o depoente e o seu colega de farda
esperaram os acusados se aproximarem para realizar a abordagem; que, feita a
revista pessoal, foram encontrados uma arma de fogo e material entorpecente;
que, posteriormente, foi dada voz de prisão, momento em que o menor decidiu
informar aos policiais militares o local onde a droga ficava armazenada; que, no
local apontado por Sérgio, estava Romero, e, feita a abordagem, este informou
aos agentes onde estava a arma de fogo e também informou que era o braço
direito do Chapinha do Beira, um dos donos da facção criminosa Comando
Carmim; que, posteriormente, Romero veio a oferecer a quantia de R$ 5.000,00
reais para não o prenderem".
Em juízo, a testemunha Hudson disse: " que estava em operação na
comunidade do Lixão, quando avistou Josiel, Samuel e o menor Sérgio; que
estes estavam fugindo; que realizou a abordagem dos acusadoseencontrou
armas e drogas; que o menor informou onde a droga ficava armazenada; que,
nesse mesmo local, Romero foi encontrado; que não estava no momento em que
Romero ofereceu a quantia aos seus colegas de profissão, porém teve
conhecimento dos fatos ao término da operação".
Em seu interrogatório o réu Josiel confirmou os fatos; aduziu que
exercia a função de ‘radinho‘ e que recebia a quantia de R$ 30,00 por dia, além
de também ser responsável por informar quando a policia entrava na
comunidade.
Em seu interrogatório, o réu Samuel confirmou os fatos; alegou que foi
preso com uma arma de fogo Bessa 9mm, quando exercia a função de
segurança para a facção criminosa; acrescentou que conhecia os outros réus
somente de vista e que, por isso, não saberia dizer se trabalhavam para o tráfico;
acrescentou que recebia a quantia de R$ 35,00 por dia.
Em alegações finais, o Ministério Público pede a condenação dos
acusados Josiel e Samuel, nos termos da denúncia, e pede que seja
parcialmente procedente em relação a Romero, isto é, com a absolvição da
prática da conduta do art. 180 do Código Penal, mantendo-se-lhe, entretanto, a
condenação nos demais termos da denúncia, uma vez que entende não haver
provas acerca da origem ilícita do bem para a caracterização do crime de
receptação.
Os acusados, em alegações finais, mantêm o pedido de absolvição e,
subsidiariamente, na hipótese de sentença condenatória, em relação aos
acusados Samuel e Josiel, pedem a desclassificação do crime do art. 35 da Lei
nº 11.343/06 para o definido no art. 37 do mesmo diploma legal, ou a aplicação
da diminuição em patamar máximo, nos termos do art. 33, §4º, da Lei n.
11.343/06. Requerem a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva
de direito e a aplicação do regime aberto.
A defesa sustenta ser impossível a condenação do crime de
receptação, por falta de provas e, principalmente, pelo fato de o Ministério Público
pedir a absolvição, uma vez que condenar nesse caso violaria o sistema
acusatório do Processo Penal. Aduz que, mesmo que fique compreendida a
prática de crime por parte dos acusados, faz-se necessária a aplicação do art. 37
da Lei n° 11.343/06, haja vista que Samuel reconheceu colaborar com o tráfico
na função de "atividade", e o acusado Josiel reconheceu atuar na função de
"radinho", pois este apenas portava um rádio transmissor. Ademais, por
derradeiro, os acusados sustentam não ser possível que policiais militares que
efetuaram a prisão sejam testemunhas, porque estes não têm a imparcialidade e
o desinteresse necessários para desempenhar tal função de maneira salutar.
FAC de Romero, a fls. 223-226, apresenta uma anotação com trânsito
em julgado, pelo art. 33 da Lei n. 11.343/06, além de outra anotação do mesmo
dispositivo, aguardando julgamento.
FAC de Samuel, a fls. 227-228, não tem anotação.
FAC de Josiel, a fls. 229-231, tem duas anotações aguardando
julgamento, pelo art. 35 da Lei n. 11.343/06 e pelo art. 16 da Lei n. 10.826/03.
Laudo de Exame de Material Entorpecente, a fls. 300-304, descreveu a
existência de: A) 642 g de erva seca, pesados por amostragem, acondicionados
em trezentos e cinquenta invólucros de plástico, B) 168,3 g de pó branco-
amarelado, pesados por amostragem, acondicionados em trezentos pequenos
invólucros de plástico, e cerca de C) 17,9 g de material pulverulento amarelado,
prensado, pesados por amostragem, acondicionados em cento e sessenta e
cinco pequenos invólucros de plástico.
Laudo de Exame de Descrição Material, a fls. 310-314, descreveu a
existência de dois aparelhos de comunicação, sendo um aparelho da marca
BAOFENG, modelo BF-A5, operando na frequência 400-470MHz, e o outro da
marca KNUP, modelo KP-M0006, operando na frequência 400-470MHz.
Laudo de Exame em Arma de Fogo e Munições, a fls. 317-320, em
que os armamentos apreendidos e submetidos a testes de eficácia apresentaram
capacidade para produzir disparos; os armamentos examinados são classificados
como sendo de uso restrito.
Elabore a sentença. Não há necessidade de relatório.

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