O Ministério Público denunciou três homens por associação para o tráfico de drogas e porte ilegal de armas. Dois foram presos com drogas e armas e um ofereceu suborno a um policial. Após interrogatórios e depoimentos, o promotor pediu a condenação de dois e a absolvição parcial do terceiro. A defesa requereu a absolvição ou desclassificação dos crimes.
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Título original
TÉCNICA DE SENTENÇA - CPIII B - DIA 29.05.2023 - SESSÃO IV (2).pdf
O Ministério Público denunciou três homens por associação para o tráfico de drogas e porte ilegal de armas. Dois foram presos com drogas e armas e um ofereceu suborno a um policial. Após interrogatórios e depoimentos, o promotor pediu a condenação de dois e a absolvição parcial do terceiro. A defesa requereu a absolvição ou desclassificação dos crimes.
O Ministério Público denunciou três homens por associação para o tráfico de drogas e porte ilegal de armas. Dois foram presos com drogas e armas e um ofereceu suborno a um policial. Após interrogatórios e depoimentos, o promotor pediu a condenação de dois e a absolvição parcial do terceiro. A defesa requereu a absolvição ou desclassificação dos crimes.
ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
-EMERJ-
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO PARA A
CARREIRA DA MAGISTRATURA
PROGRAMA DO CURSO
CPIII B 1 2023 – TÉCNICA DE SENTENÇA
As aulas do módulo serão ministradas nas seguintes datas: 26/05, 29/05 e
30/05.
SESSÃO IV: Dia 29/05/2023 - 10h 10min às 12h
Prof. Dr. Guilherme Grandmasson Ferreira Chaves
TEMA: Direito Penal. Tráfico de drogas e Associação para o tráfico.
Receptação. Corrupção ativa. Concurso Material.
CASO CONCRETO:
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro ofereceu denúncia
em face de Romero, nascido em 20/12/1989; de Samuel, nascido em 8/3/1997; e de Josiel, nascido em 10/9/1987, alegando que, em data que não se pode precisar, mas certamente até o dia 17 de dezembro de 2017, na comunidade do Lixão, nesta comarca, os denunciados, com vontades livres e conscientes, em comunhão de ações e desígnios entre si e com o adolescente infrator Sérgio, associaram-se e mantiveram-se associados a outros indivíduos ainda não identificados, mas todos subordinados à facção criminosa "Comando Carmim", que atua na localidade, para o fim de lá praticar, reiteradamente ou não, o delito de tráfico ilícito de entorpecentes, consistente na guarda, depósito, transporte e venda no varejo de substâncias entorpecentes. Alega o Ministério Público que a função desempenhada pelo acusado Josiel era aquela vulgarmente conhecida como "atividade", ou seja, responsável por comunicar aos demais integrantes da organização criminosa, via rádio transmissor, sobre a aproximação da polícia no local, enquanto o acusado Samuel trabalhava na "contenção", isto é, na segurança armada da localidade, dos seus comparsas e das drogas comercializadas. Já o denunciado Romero era um dos gerentes da comunidade, isto é, um dos responsáveis pelo tráfico de drogas na comunidade do Lixão. O Ministério Público afirma que, no dia 17 de dezembro de 2017, na comunidade do Lixão, nesta comarca, os denunciados Romero e Samuel, com vontades livres e conscientes, em comunhão de ações e desígnios entre si e com o adolescente infrator Sérgio, traziam consigo, para fins de tráfico e sem autorização legal, 168,3g de cloridrato de cocaína, distribuída em 300 invólucros plásticos, bem como 17,9g de cloridrato de cocaína, do tipo "crack", distribuída em 165 invólucros plásticos, além de 642g de erva seca, picada e prensada, do tipo cannabis sativa L., vulgarmente conhecida como maconha, dividida em 350 invólucros plásticos. Narra o Ministério Público que, para a realização dessa atividade criminosa de tráfico ilícito de entorpecentes, os denunciados Romero e Samuel empregaram armas de fogo, tendo em vista que portavam, sem autorização legal, uma pistola calibre 9mm, da marca Bersa, modelo Thunder Pro, numeração de série F35793, com um carregador e 17 munições intactas, bem como uma pistola calibre 40, da marca Bersa, modelo Thunder, com um carregador e quatro munições intactas. Narra o Ministério Público que policiais militares estavam em operação na comunidade do Lixão quando, na Rua 8, o acusado Josiel foi visto segurando um rádio transmissor, da marca Motorola, modelo Boafeng. Apesar de ter tentado fugir correndo, Josiel foi alcançado e preso, ocasião em que se verificou que o rádio transmissor estava ligado e recebia diversas informações de outros comunicadores sobre a atividade de tráfico de drogas no local. Com a aproximação policial, três pessoas foram vistas fugindo pela Rua do Mangue. Após a perseguição, os policiais conseguiram localizar, dentro de uma casa em construção, os denunciados Samuel, que estava na posse de uma pistola calibre 9mm, da cocaína e da maconha acima descritas, além do adolescente infrator Sérgio, que levava consigo o "crack" anteriormente citado eR$ 46,00 em espécie. Nas mesmas condições de tempo e local, o acusado Romero, com vontade livre e consciente, ofereceu ao policial militar Fabiano a quantia de R$ 5.000,00, a fim de que não fosse conduzido preso em flagrante pelos crimes acima narrados. Ademais, nas mesmas condições de tempo e local, Romero, com vontade livre e consciente, ocultava, em proveito próprio, a motocicleta CG Titan 160 CC, de cor vermelha, sem placa, que sabia ser produto de crime. Por esses motivos, o Ministério Público pede as condenações dos acusados, na seguinte maneira: I - Josiel, nas práticas do crime previsto no art. 35, caput, da Lei n° 11.343/06; II - Samuel, na prática dos crimes previstos nos artigos 33, caput; 35, caput, ambos c/c art. 40, incisos IV e VI, todos da Lei no 11.343/06, na forma do art. 69 do Código Penal; III - Romero, na prática dos crimes previstos nos artigos 33, caput; 35, caput, ambos c/c art. 40, incisos IV e VI, todos da Lei n° 11.343/06; e nos artigos 180 e 333, ambos do Código Penal, na forma do art. 69 do Código Penal. Em resposta à acusação, a defesa alega que a denúncia apresenta os fatos de modo generalizado, sem especificar as circunstâncias concretas e individualizar condutas. Seria indispensável, em relação ao crime de associação, informar o local, o período, as ações pormenorizadas e as provas referentes ao crime. É preciso considerar que, para o reconhecimento do crime de associação para fins de tráfico, é imprescindível um vínculo associativo permanente, duradouro e estável. Além disso, ainda que se considere a prática do art. 33 da Lei n. 11.343/06, a coautoria nem sequer induz necessariamente ao delito do art. 35 da Lei n. 11.343/06, pois, caso contrário, não haveria de se falar em tipicidade. Dessa forma, os acusados requerem a absolvição de todas as imputações contidas na denúncia. Subsidiariamente, Samuel e Josiel requerem que a imputação do crime previsto no art. 35 da Lei 11.343/06 seja desclassificada para a do art. 37 do mesmo diploma legal. Requerem, ainda, a aplicação do redutor do art. 33, §4°, da Lei n. 11.343/03, no patamar máximo de dois terços, a fixação do regime aberto e a substituição da pena, nos moldes do art. 44 do Código Penal. Em juízo, a testemunha Fabiano disse: "que estava em operação para coibir o tráfico na localidade conhecida como comunidade do Lixão, quando avistou Samuel, Josiel e o menor Sérgio correndo em sua direção, fugindo de outra guarnição; que, ato contínuo, o depoente e o seu colega de farda esperaram os acusados se aproximarem para realizar a abordagem; que, feita a revista pessoal, foram encontrados uma arma de fogo e material entorpecente; que, posteriormente, foi dada voz de prisão, momento em que o menor decidiu informar aos policiais militares o local onde a droga ficava armazenada; que, no local apontado por Sérgio, estava Romero, e, feita a abordagem, este informou aos agentes onde estava a arma de fogo e também informou que era o braço direito do Chapinha do Beira, um dos donos da facção criminosa Comando Carmim; que, posteriormente, Romero veio a oferecer a quantia de R$ 5.000,00 reais para não o prenderem". Em juízo, a testemunha Hudson disse: " que estava em operação na comunidade do Lixão, quando avistou Josiel, Samuel e o menor Sérgio; que estes estavam fugindo; que realizou a abordagem dos acusadoseencontrou armas e drogas; que o menor informou onde a droga ficava armazenada; que, nesse mesmo local, Romero foi encontrado; que não estava no momento em que Romero ofereceu a quantia aos seus colegas de profissão, porém teve conhecimento dos fatos ao término da operação". Em seu interrogatório o réu Josiel confirmou os fatos; aduziu que exercia a função de ‘radinho‘ e que recebia a quantia de R$ 30,00 por dia, além de também ser responsável por informar quando a policia entrava na comunidade. Em seu interrogatório, o réu Samuel confirmou os fatos; alegou que foi preso com uma arma de fogo Bessa 9mm, quando exercia a função de segurança para a facção criminosa; acrescentou que conhecia os outros réus somente de vista e que, por isso, não saberia dizer se trabalhavam para o tráfico; acrescentou que recebia a quantia de R$ 35,00 por dia. Em alegações finais, o Ministério Público pede a condenação dos acusados Josiel e Samuel, nos termos da denúncia, e pede que seja parcialmente procedente em relação a Romero, isto é, com a absolvição da prática da conduta do art. 180 do Código Penal, mantendo-se-lhe, entretanto, a condenação nos demais termos da denúncia, uma vez que entende não haver provas acerca da origem ilícita do bem para a caracterização do crime de receptação. Os acusados, em alegações finais, mantêm o pedido de absolvição e, subsidiariamente, na hipótese de sentença condenatória, em relação aos acusados Samuel e Josiel, pedem a desclassificação do crime do art. 35 da Lei nº 11.343/06 para o definido no art. 37 do mesmo diploma legal, ou a aplicação da diminuição em patamar máximo, nos termos do art. 33, §4º, da Lei n. 11.343/06. Requerem a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direito e a aplicação do regime aberto. A defesa sustenta ser impossível a condenação do crime de receptação, por falta de provas e, principalmente, pelo fato de o Ministério Público pedir a absolvição, uma vez que condenar nesse caso violaria o sistema acusatório do Processo Penal. Aduz que, mesmo que fique compreendida a prática de crime por parte dos acusados, faz-se necessária a aplicação do art. 37 da Lei n° 11.343/06, haja vista que Samuel reconheceu colaborar com o tráfico na função de "atividade", e o acusado Josiel reconheceu atuar na função de "radinho", pois este apenas portava um rádio transmissor. Ademais, por derradeiro, os acusados sustentam não ser possível que policiais militares que efetuaram a prisão sejam testemunhas, porque estes não têm a imparcialidade e o desinteresse necessários para desempenhar tal função de maneira salutar. FAC de Romero, a fls. 223-226, apresenta uma anotação com trânsito em julgado, pelo art. 33 da Lei n. 11.343/06, além de outra anotação do mesmo dispositivo, aguardando julgamento. FAC de Samuel, a fls. 227-228, não tem anotação. FAC de Josiel, a fls. 229-231, tem duas anotações aguardando julgamento, pelo art. 35 da Lei n. 11.343/06 e pelo art. 16 da Lei n. 10.826/03. Laudo de Exame de Material Entorpecente, a fls. 300-304, descreveu a existência de: A) 642 g de erva seca, pesados por amostragem, acondicionados em trezentos e cinquenta invólucros de plástico, B) 168,3 g de pó branco- amarelado, pesados por amostragem, acondicionados em trezentos pequenos invólucros de plástico, e cerca de C) 17,9 g de material pulverulento amarelado, prensado, pesados por amostragem, acondicionados em cento e sessenta e cinco pequenos invólucros de plástico. Laudo de Exame de Descrição Material, a fls. 310-314, descreveu a existência de dois aparelhos de comunicação, sendo um aparelho da marca BAOFENG, modelo BF-A5, operando na frequência 400-470MHz, e o outro da marca KNUP, modelo KP-M0006, operando na frequência 400-470MHz. Laudo de Exame em Arma de Fogo e Munições, a fls. 317-320, em que os armamentos apreendidos e submetidos a testes de eficácia apresentaram capacidade para produzir disparos; os armamentos examinados são classificados como sendo de uso restrito. Elabore a sentença. Não há necessidade de relatório.