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EXCELENTISSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DO XX TRIBUNAL DO

JURI DA COMARCA DE XXXX – SP

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, pelo Promotor


de Justiça signatário, no uso de suas atribuições institucionais, com fundamento no art.
129, I, da Constituição Federal, e no art. 41, do Código de Processo Penal vem, à
presença de Vossa Excelência, oferecer
DENÚNCIA
Em face de José Ramos dos Santos, nacionalidade, estado civil, ocupação,
portador da cédula de identidade n° XXXX, inscrito sob o CPF ° XXXX, natural de
XXXX, residente na Rua XXXX, n° XXX, bairro XXXX, município de XXX.

Pelas razões e fundamentos de direito a seguir expostos.


1 – DOS FATOS CRIMINOSOS

José Ramos dos Santos, conforme consta nos autos de inquérito policial, de n.
1968-84.2015.8.26.0052, matou Shirley Souza, que estava grávida de seis meses, no dia
26 de março de 2020, na Rua Manoel Rodrigues Mexelhão, n. 15, São Paulo, inclusive,
realizando a ocultação posterior do cadáver.
Tal qual foi apurado pelas autoridades policiais, o denunciado mantinha um
relacionamento amoroso com a vítima desde março de 2019, residindo em residências
separadas. No local do crime, que é casa do irmão do denunciado, Adriano Ramos dos
Santos, José veio a manter relações sexuais com Shirley, que acabou por revelar não
estar grávida dele, mas sim de outro sujeito que atende pelo nome de Eduardo,
confirmando suspeitas anteriores do denunciado. Importa destacar que o denunciado fez
questão de acalmar a vítima afirmando que nada aconteceria a ela após as revelações
feitas.
Após isto, a vítima se despiu com o intuito de tomar banho, momento em que
José se aproveitou para, pegando Shirley desprevenida, aplicar um golpe gravata por
trás, ao qual já havia caído sem vida no chão. Em ato contínuo, o suspeito se dirigiu
para o banheiro para tomar banho.
Logo após tomar banho, não satisfeito, o suspeito com uma faca corta a cabeça
da vítima, por meio da utilização de uma faca, colocando a cabeça da vítima na sua
mochila após enrolar ela em um saco plástico. No que se refere ao que sobrou do corpo,
o suspeito o amarrou em um edredom e colocou sacos plásticos no tronco e nos pés para
não escorrer sangue, após o qual escondeu o corpo atrás de compartimento da casa
próprio para o armazenamento de botijão de gás.
No entanto, em função do mau cheiro do local, o denunciado retirou o corpo da
vítima do local e levou para a viela do Tico-Tico, próximo ao local do crime, o
colocando sob uma escada.

2 – DA IMPUTAÇÃO E DOS ASPECTOS JURÍDICOS

Assim agindo, está José Ramos dos Santos incurso nas sanções dos arts. 121, §
2°, IV e VI, § 7°, I, e 211, do Código Penal, recaindo em crime de homicídio
qualificado em concurso material com o crime de ocultação de cadáver.
Neste sentido, o denunciado matou dolosamente Shirley Souza, nas
circunstâncias descritas anteriormente, recaindo no tipo penal base do art. 121, do
Código Penal:

Art. 121. Matar alguém


Pena - reclusão, de seis a vinte anos.

Além disto, o denunciado ocultou o cadáver logo após a consumação do crime,


separando a cabeça do corpo e colocando ela dentro de sua mochila, bem como
escondendo o corpo da vítima, em um primeiro momento em um local reservado dentro
da casa, e posteriormente em uma viela próxima ao local do crime. Assim, recai no tipo
penal base do art. 211, do Código Penal:

Art. 211 - Destruir, subtrair ou ocultar cadáver ou parte dele:


Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

Toda a materialidade delitiva, bem como autoria e dolo estão comprovados por
meio da vasta descrição presente no inquérito policial de n. 1968-84.2015.8.26.0052,
que fornece a circunstância espacial e temporal do crime, as motivações e os meios de
realização da conduta delituosa.
Importante mencionar que quando se tem a realização de um homicídio
qualificado com posterior ocultação de cadáver é consenso na jurisprudência e na
doutrina que a situação é de um concurso material de crimes, visto que a ocultação do
cadáver não é um mero meio de exaurimento do crime de homicídio. Assim, cita-se as
palavras do penalista Cleber Masson:

Cuida-se, em verdade, de uma forma especial de motivo torpe, pois


buscar de qualquer modo, com um crime, executar outro delito,
ocultá-lo, dele escapar ou em razão dele lucrar revela a intensa
depravação moral do agente. Configura-se a agravante genérica
mesmo que não seja iniciado o delito almejado pelo agente. Basta sua
intenção de cometê-lo. Contudo, quando forem realizados os dois
delitos, por eles responderá o sujeito, em concurso material (art.
69 do CP)." (MASSON, Cleber. Código Penal Comentado. 4. ed. Rio
de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2016. p. 401).
A fundamentação decorre do art. 69 do Código Penal, que trás a previsão para o
concurso material de crimes:

Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou


omissão, prática dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se
cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja
incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de
detenção, executa-se primeiro aquela.
 
Não obstante, a jurisprudência brasileira não é omissa a respeito destes casos,
sendo consenso nos tribunais pátrios que em tal situação tem-se um concurso material
de crimes:

HABEAS CORPUS – Homicídio qualificado e ocultação de


cadáver, em concurso material de delitos – Flagrante e preventiva
bem decretada, e já mantida em Habeas Corpus anterior – Não há
fragilidade indiciária – Denúncia – Inteligência dos artigos 312 e 313
do Código de Processo Penal – Requisitos objetivos e subjetivos
verificados – Revogação da prisão preventiva incabível – Saúde
mental do paciente ainda não questionada no juízo a quo – Ordem
DENEGADA. (Tribunal de Justiça de São Paulo TJ-SP - Habeas
Corpus Criminal: HC XXXXX-55.2022.8.26.0000 SP
XXXXX55.2022.8.26.0000)

Além do mais, o agente premeditadamente acalmou a vítima para que ela fosse
em segurança tomar banho, e, se aproveitando da situação, a pegou desprevenida por
trás e aplicou um golpe com o intuito de matá-la. Neste contexto, o indivíduo recai na
forma qualificada de homicídio, conforme art. 121, § 2°, IV:

Art. 121 ...


§ 2° Se o homicídio é cometido:
 IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro
recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
Não obstante, o denunciado a matou por ciúmes, em função do filho que a
vítima carregava não ser biologicamente seu, o que demonstra com clareza o sentimento
de posse que este tinha para com ela. Assim, fica nítido que o homicídio em questão se
trata de feminicídio, visto que ocorreu por razões da condição de ser mulher, conforme
art. 121, § 2°, VI:

Art. 121 ...


§ 2° Se o homicídio é cometido:
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino;

Outrossim, sabendo que a mulher se encontrava nesta condição, o suspeito


cometeu feminicídio contra mulher gestante, recaindo na causa de aumento de pena que
consta no art. 121, § 7°, I:

Art. 121 ...


§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a
metade se o crime for praticado:      
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;

4 – DA CONCLUSÃO E REQUERIMENTOS FINAIS

Desta forma, diante tudo que fora exposto, pede e requer o MINISTÉRIO
PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO que seja recebida e processada a presente
denuncia, nos termos do art. 396, do Código de Processo Penal.
Ultrapassada a fase de absolvição sumária, requer seja designada audiência de
instrução e julgamento e, uma vez comprovadas a materialidade a autoria delitivas,
requer seja acatada a pretensão punitiva ora deduzida, com a prolação de sentença
condenatória.
Testemunhas arroladas:

1. _____________________
2. _____________________
3. _____________________
4. _____________________
Cidade, data

Assinatura

Promotor de Justiça

Matrícula n. XXXX

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