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EXCELENTÍSSIMA SENHOR DOUTOR JUÍZ DE DIREITO DA VARA CRIMINAL

DA COMARCA DE DIAS D’ÁVILA – BAHIA

PROCESSO Número: 0000254-03.2018.8.05.0074


Classe: AÇÃO PENAL - PROCEDIMENTO ORDINÁRIO

ISMAEL ALVES DE FARIAS, brasileiro, nascido em Pojuca, Bahia, em 08/10/


1983, filho de Antonio Gomes Farias e Laura Maria Alves de Farias, portador de
identidade de n. 1132184860 (SSP/Ba), policial militar sob matricula de nº
305074536, já devidamente qualificado nos autos de processo tombado sob o
número em epígrafe declinado, vêm muito respeitosamente à augusta presença de
Vossa Excelência, por meio de seu advogado devidamente constituído, apresentar 

DEFESA PRÉVIA,

com fulcro no artigo 396 do Código de Processo Penal, do Código de Processo


Penal, consoante as razões de fato e de direito adiante descritas.

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I. DOS FATOS.

Narram os autos do caderno anexo que na noite do dia 28 de junho de 2016, por
volta das 19 horas, policiais militares teriam recebido informação acerca da
existência de um grupo de homens armados no morro do Cajueirinho, nesta
cidade, para onde se deslocaram.
Nas proximidades da praça da Concórdia a guarnição da PETO, integrada pelos
denunciados, abordou o adolescente Kevin dos Santos de Oliveira.
Consta ainda que foram feitas diligências na casa de Ricardo, de onde os policiais
teriam retirado, um botijão de 13 kg, um aparelho reprodutor de DVD, uma
televisão de 14 polegadas, a quantia de R$ 45,00 que estava no bolso da jaqueta
de Ricardo, o aparelho de telefone celular e carregador, além de roupas e sapato.
Também adentraram as residências de "Sid", "Marcelo" e "Seu Bicho", havendo
notícia da prisão deste último porque teriam sido apreendidos tóxico e uma balança
com o mesmo.
Logo após a diligência os militares, alega a acusação supostamente ao invés de
promover a apresentação dos conduzidos na Depol local, dirigiram-se até a sede
do Comando local da Polícia Militar onde exibiram os mesmos ao lado das
motocicletas, registrando o fato em fotografias que circularam pela cidade por meio
de rede social (whatsapp). mesmo cientes de que um deles — Kevin dos Santos de
Oliveira, tratava-se de adolescente.
As vítimas Kevin e Ricardo foram, posteriormente, submetidas a exame médico
pericial apresentando as lesões constantes dos laudos que seguem (fls. 46/47 e
57/58).”
Conclui-se do procedimento acusatório que as condutas dos agentes enquadram-
se no tipo penal descrito no art. 1°, I, 'a', c/c 84o, 1 e II, da Lei n.o 9.455/97, c/c art.
29 e art. 61, II, 'c' ambos do Código Penal, e art. 1o, 1, 'a', c/c 84o, 1, da Lei n.

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9.455/97, c/c art. 29 e art. 61, II, 'c' (recurso que tornou impossível a defesa do
ofendido), ambos do CP, e artigos 230 e 232, ambos da Lei n.o 8.069/90, todos na
forma do art. 69 do mesmo Código Penal.

DA VERDADE DOS FATOS

O acusado, em conjunto com os demais corréus que compunha a guarnição à


época, “receberam a informação de que havia um homem armado nas imediações
da Concórdia, próximo ao Entroncamento e partiram para averiguar. Avistaram o
aludido homem na rua, sozinho, caminhando, e promoveram sua abordagem; que
com ele foi encontrado um simulacro de arma de fogo; que depois dessa
abordagem foram direto para a Delegacia de Polícia.
Em verdade, a denúncia anônima relatava que havia um grupo de homens que
estariam armados nas proximidades da BA 093, em uma rua onde de um lado
existem casas e do outro mato, realizando assaltos a transeuntes. Como havia a
notícia de que eram vários homens se deslocaram para averiguar mais de uma
guarnição.
Assim sendo, a guarnição do acusado estava em um veículo padronizado e foi pela
parte do Entroncamento, próximo da rodovia BA 093, enquanto as outras
guarnições se deslocaram pela rua onde estariam ocorrendo os supostos assaltos.
No momento da abordagem, o acusado avistou o dito elemento sozinho, conforme
narra na exordial acusatória, tendo conhecimento que as outras guarnições, na
mesma noite, efetuaram a abordagem de duas pessoas, fato que não presenciou.
Ato continuo, a guarnição do acusado abordou o homem com o simulacro e,
ficaram na rua aguardando as demais guarnições chegarem, visto que elas haviam
partido em perseguição aos demais.
Seguiram posteriormente para apresentação dos meliantes à DEPOL, junto à
autoridade policial, em estrito cumprimento à lei, rechaçando toda alegação
contrária, atípica à atuação idônea e ilibada do ora acusado.

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Ante a todo o exposto, ausentes indícios mínimos de autoria e materialidade
delitivas, deve ser o denunciado absolvido dos crimes lhes imputados na denúncia,
tendo em vista estar provada a inexistência do fato.

II. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS.


a. DA INEXISTÊNCIA DE MATERIALIDADE DELITIVA.
Revela a denúncia que supostamente as vítimas teriam sido submetidas a intenso
sofrimento físico e moral, consistente na prática de tortura por parte dos policiais
militares denunciados, decorrentes de ação contundente da guarnição integrante
do ora réu.
Excelência, data máxima vênia, os fatos são fantasiosos e não há que prosperar a
denúncia.
Em princípio, imperioso se ponderar que, não obstante as alegações inseridas às
fls. 80 do Termo de Declarações de KEVIN DOS SANTOS DE OLIVEIRA, no
procedimento apuratório:
“que foi vítima de violência por parte de Policiais Militares; que apresentada várias
fotografias de figuras masculinas, o declarante não consegue identificar dentre
elas os policiais que lhe agrediram; que o fato ocorreu à noite, em local ermo e
escuro, e o declarante estava tonto em função das agressões que sofrera, motivo
pelo qual não tem condições de fazer o reconhecimento dos agressores. Nada
mais a declarar.” (grifos nosso).
Verifica-se do laudo pericial, às fls. 64/65 , tão somente edema e equimose,
incompatível com incapacidade total ou parcial, bem como contrárias as narrativas
de torturas gravíssimas imputadas aos supostos acusados.
Já a suposta vítima RICARDO CÉSAR CARDOSO NORMANDO, declara no Termo
de Declarações, às fls. 56/58, “que o declarante é usuário de maconha; que
chegou a comprar uma bala de maconha com uns rapazes que estavam no local;
que dentre os rapazes citados estavam as pessoas de Sid, Tiago e Kevin; que no
local havia cerca de oito pessoas contando com o declarante; que como estavam

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em cima de um morro o declarante e os demais puderam observar a chegada da
polícia militar; que o declarante, assim como os demais, ficaram assustados e
resolveram correr, cada para um lado; que em determinado momento, quando
ainda estava dentro do mato, o declarante se bateu com Tiago e juntos pegaram
um caminho pata sair na pista; que também encontraram Kevin dentro do mato,
mas este não quis seguir com o declarante e Tiago porque ficou com medo; que
Kevin disse que ficaria dentro do mato, escondido; que quando o declarante e
Tiago chegaram na pista esbarraram com uma guarnição da PETO”. Estas são as
declarações que mereceram confiança e credibilidade à exordial acusatória.
Destarte, os laudos periciais colacionados às fls. 53/54, não gozam de
credibilidade oficial suficiente a insculpir qualquer édito condenatório, pois embora
ateste a existência de “escoriação labial”, na pessoa de RICARDO CÉSAR
CARDOSO NORMANDO, não aponta nenhuma incapacitação parcial / temporária
ou permanente e também se descortina que tais não derivam de qualquer conduta
ilícita perpetrada pelos acusados, tendo em vista que, primeiro, as próprias vítimas
e testemunhas, quando ouvidas, declararam que presenciaram a prática de
nenhuma tortura, em segundo, as lesões existentes são compatíveis com os atos
de fuga, e, em terceiro, os laudos não corroboram aos atos gravíssimos (e
inverídicos!) descritos pelas vítimas.
Em sequência, ouvido perante o Órgão Ministerial, o suposto acusado ISMAEL
ALVES DE FARIAS, às fls. 42/44, assim afirmou:
[...]não se recorda dos nomes e nem das pessoas de Kevin e Ricardo; que ao ver as
fotografias de fls. 13 se recorda de ter participado de diligência que prendeu apenas a
pessoa que está à direita, de casaco onde se lê “NICOBOC”; que sua guarnição, composta
também por Sd Luciano e o Sgt Clóvis, recebeu a informação de que havia um homem
armado nas imediações da Concórdia, próximo ao Entroncamento e partiram para averiguar;
que avistaram o aludido homem na rua, sozinho, caminhando, e promoveram sua
abordagem; que com ele foi encontrado um simulacro de arma de fogo; que depois dessa
abordagem foram direto para a Delegacia de Polícia; que em verdade a denúncia anônima
relatava que havia um grupo de homens que estariam armados nas proximidades da BA 093,
em uma rua onde de um lado existem casas e do outro mato, realizando assaltos a
transeuntes; que como havia a notícia de que eram vários homens se deslocaram para

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averiguar mais de uma guarnição; que a guarnição do depoente estava em um veículo
padronizado e foi pela parte do Entroncamento, próximo da rodovia BA 093, enquanto as
outras guarnições se deslocaram pela rua onde estariam ocorrendo os supostos assaltos;
que a pessoa indicada na foto estava saindo do mato e foi surpreendida pela guarnição do
declarante; que no momento da abordagem o declarante avistou o dito elemento sozinho,
mas o declarante tem conhecimento que as outras guarnições, na mesma noite, efetuaram a
abordagem de duas pessoas; que o declarante não presenciou os colegas das demais
guarnições efetuarem a abordagem e prisão dessas outras pessoas; que também não sabe
dizer se essas duas pessoas são as mesmas da fotografia onde consta o homem que a
guarnição do declarante abordou; que não foi a guarnição do declarante que apresentou os
outros dois abordados; que assim que a guarnição do declarante abordou o homem com o
simulacro ficaram na rua aguardando as demais guarnições chegarem, visto que elas haviam
partido em perseguição aos demais; que o declarante acredita que estavam todos dentro de
mato existente no local e com a aproximação da Polícia eles se dividiram e empreenderam
fuga, sendo apenas um abordado pelo declarante; que não sabe dizer onde as motocicletas
foram encontradas porque não foi a guarnição do depoente quem as apresentou; que as
outras guarnições estavam em um veícuio- e motocicletas padronizados; que assim que as
outras guarnições chegaram com os dois homens detidos seguiram todos juntos para a
Depol para apresentação: que não sabe dizer o motivo da prisão dos dois homens; que não
lembra das motocicletas terem sido apreendidas nessa ocasião; que segundo a denúncia
anônima estaria havendo disparos de arma de fogo no local da diligência; que o homem que
foi abordado pelo declarante disse que estava apenas com o simulacro e as armas de fogo
estariam com os homens que fugiram e que foram abordados depois pelas outras duas
guarnições; que não sabe dizer se foram encontradas armas com esses homens mas o
declarante acredita que não porque não foi apresentada arma de fogo na Depol no dia
mencionado; que não conhecia os três homens apresentados e também não tinha
conhecimento de que um deles era menor de idade: que se recorda de ter visto duas motos
na Delegacia, uma aparentava ser uma Bis e a outra acredita que seja modelo XRE, mas não
sabe dizer como elas foram parar lá; que não se recorda de antes de fazer a apresentação
dos"homens pararam na Companhia da Polícia Militar; que vendo a fotografia de fls, 13
verifica que a que consta os três homens foi tirada na Companhia da PM, mas não se
recorda de ter parado naquele local; que não se recorda de ter visto, na Depol”.

Corroborando neste sentido, às fls. 45/47, o suposto acusado JOSÉ CLÓVIS SIVA
DO NASCIMENTO, ressaltou que:

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que receberam denúncia anônima informando que havia elementos armados, inclusive já
tendo efetuado disparos de arma de fogo e que estariam vendendo drogas: que moradores
locais ligaram para a Central informando; que essa denúncia foi anônima; que além da
guarnição composta também pelos soldados Ismael e Luciano, havia outras três guarnições,
duas de veículos padronizados e o terceiro grupamento estava em motocicletas
padronizadas; que também participaram duas guarnições da CIPE Polo; a informação dizia
que o fato estaria ocorrendo em cima de um morro na rua do Cajueirinho, perto do
Entroncamento; que se deslocaram para averiguar o fato; que a denúncia informava a
existência de cerca de seis homens; que a PM conseguiu deter três deles e um estava com
um simulacro de arma de fogo; que as guarnições efetuaram cerco do local e os homens no
intuito de fugir foram para o lado da pista (rodovia BA 093) onde já tinha uma guarnição de
viatura, a de moto e a viatura do declarante; que o declarante depois ficou sabendo que os
demais haviam corrido para o lado do mato; que em verdade os três homens quando saíram
na pista, o fizeram espalhados, saíram em locais diferentes [...] que o declarante foi
juntamente com sua guarnição até a casa desse homem, no bairro da Concórdia, no fundo
da empresa Concórdia; que no interior da casa desse homem foi apreendida cocaína e uma
balança de precisão; que não se recorda o nome do homem, mas na hora foi dito apenas seu
apelido; que esse homem foi apresentado na Delegacia na mesma noite pela guarnição do
declarante; que na Delegacia o abordado primeiramente disse que quem tinha entregue o
esconderijo das motos e o traficante havia sido Tiago: [...]

Por fim, às fls. 39/41, em seu termo de declarações, o acusado LUCIANO DOS
SANTOS SOUZA;
“ que se recorda que receberam informação da Central de que havia uma denúncia anônima
informando que na rua do Cajueirinho havia uma movimentação suspeita de jovens; que o
local informado era um campo onde há uma construção abandonada; que devido as
peculiaridades da área que era extensa e composta por vegetação rasteira, pediram apoio de
outras guarnições; que eram de3 a 4 guarnições, uma delas de motocicletas, todas
padronizadas; que as outras guarnições foram por um lado e apenas a do declarante foi por
um outro lado fazendo um cerco no local; que em determinado momento viram um homem
vestindo uma blusa azul saindo do mato e resolveram aborda-lo encontrando com o mesmo
um simulacro de arma de fogo; que esse homem perguntou aos policiais que se ele
entregasse duas motos roubadas seria liberado e os policiais responderam que sim e ele
indicou o local onde as motos estavam; que as motocicletas roubadas estavam no mato: que
uma era CB 300 e a outra era uma moto pequena, acha que POP 100 ou cinquentinha, tipo
Biz; que compunha a guarnição do depoente o Sgt Clóvis e o Sd Ismael.”

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Portanto, das declarações colhidas se extrai, com clareza, que não houve a prática
de qualquer agressão por parte dos denunciados quando da realização da
operação policial.
Porém, não bastasse isso, se dimana que as ditas lesões descritas nos laudos
periciais não se conformam às condutas imputadas aos acusados, na medida que
todas elas decorrem do próprio intento criminoso das alegadas vítimas quando se
evadiram do local dos fatos durante a atuação policial.
Os laudos periciais informam pequenas lesões e escoriações em algumas vítimas,
mas todas compatíveis com a prática de fuga executada por elas, por via
acidentada, tendo em vista que perpassaram por macegas, arbustos, cercas e
muros.
Destarte, se depreende, sem muito esforço lógico, que ainda que presentes
algumas lesões, é consabido que derivam da tentativa de fuga empreendia pelos
acusados, mas, ainda assim, não raro, presos por crimes se lesionam com o
objetivo de tentar se esquivar da imputação penal que lhes pesa e, ao mesmo
tempo, criminalizar a atuação dos agentes da lei que, no estrito cumprimento do
dever legal, inviabiliza a prática de seus atos criminosos.
Os laudos de lesões foram confeccionados praticamente uma semana após a
ocorrência dos fatos e, neste ínterim, muito provavelmente as supostas vítimas se
auto lesionaram, sem contar que a maior parte das aludidas lesões decorreu da
fuga tentada pelos criminosos, conforme relatado nos autos.
É importante citar, nesse diapasão, que acerca da alegação acusatória de que a
guarnição teria “dirigido-se até a sede do Comando local da Polícia Militar onde
exibiram os mesmos ao lado das motocicletas, registrando o fato em fotografias
que circularam pela cidade por meio de rede social (whatsapp)”, reitera que não
constitui conduta dos supostos acusados tais alegações, tanto é que nas certidões
juntadas aos autos não tem sequer um registro de processo disciplinar. Ocorre
que, as supostas vítimas, os quais são os verdadeiros criminosos, teve suas

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respectivas prisões declaradas em decorrência de flagrância de fato tipificado pelo
Código Penal, tendo sido registradas diversas denuncias anônimas, motivo pelo
qual já circulavam na cidade tais informações e já era a notável atuação militar que
culminou com a justa prisão dos agora ofendidos e que, ao tempo, se tratavam de
presos pela prática de crimes patrimoniais e trafico de drogas.
Vale ressaltar que as alegadas vítimas, todas elas, se tratam de pessoas voltadas
a hábitos ilícitos, com folhas de antecedentes criminais recheadas pelos mais
variados crimes, maiormente os previstos na Lei de Tóxicos, e estão acostumadas
a manusear estórias guiando-se unicamente pelos seus objetivos delinquenciais, a
fim de se protegerem da atuação da lei, ou seja, são pessoas cuja “mentira é,
muita vez, tão involuntária como a transpiração.” 
Em contrapartida, todos os policiais militares, quando ouvidos perante este ínclito
Juízo, afirmaram, de maneira uníssona e consistente às provas dos autos, que a
operação policial por eles realizada transcorreu sem maiores embaraços,
apontando-se como único entrave a tentativa de fuga por parte de alguns
abordados, por meio de um terreno macegoso e irregular existente aos fundos da
casa onde se abrigavam os traficantes e que, deste intento criminoso, as pretensas
vítimas sofreram as lesões superficiais descritas nos laudos periciais.
A jurisprudência pátria, em casos análogos, é uníssona. Veja-se:

APELAÇÃO CRIMINAL - TORTURA - CONDENAÇÃO - IMPOSSIBILIDADE -


MATERIALIDADE DO CRIME E AUTORIA DELITIVA NÃO COMPROVADAS.
Havendo dúvida acerca da materialidade e da autoria, imperativa é a
absolvição dos acusados da imputação do crime de tortura. 

APELAÇÃO CRIMINAL – CRIME DE TORTURA – PRETENDIDA


ABSOLVIÇÃO – DÚVIDAS QUANTO À AUTORIA E MATERIALIDADE –
INSUFICIÊNCIA DE PROVAS – RECURSO PROVIDO. Aplica-se o princípio
do in dubio pro reo para absolver o condenado por crime de tortura, se as
provas existentes são insuficientes para sustentar decreto condenatório. 

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Ante a todo o exposto, se extrai, com certeza suficiente a elidir qualquer
responsabilidade dos denunciados, que inexiste prova sedimentar acerca da
tortura alegada pelas vítimas, o que não deixa alternativa a este Juízo senão a
absolvição de todos eles, com base no art. 386, I do Código de Processo Penal.

b. DA INEXISTÊNCIA DE AUTORIA DELITIVA.

Ressoa absolutamente demonstrado que as palavras das pretensas vítimas não se


revestem de sobeja fidedignidade para estear uma sentença condenatória,
sobretudo porque todas são discrepantes entre si e às demais provas dos autos.
Em contrapartida, os depoimentos das demais testemunhas, todas policiais que
participaram da operação policial, atestam o estrito respeito às leis e às normas
regulamentares durante a ação militar, haja vista que assentem que, em que pese
tenha havido resistência à atuação policial por parte das alegadas vítimas, a
condução da prisão em flagrante se deu sem a necessidade do exercício da força
e, do mesmo modo, sem qualquer excesso criminoso.
Diante disso, duas versões se apresentam nos autos, a prestada pelos militares,
todos a ostentar condecorações em seus assentamentos funcionais decorrentes
dos excelentes préstimos à sociedade, e a prestada pelas vítimas, que se tratam
de pessoas afamadas pelo histórico de cometimento de crimes nesta Comarca.
A jurisprudência não divaga e firma posição no sentido de que as palavras dos
policiais, enquanto agentes públicos, revestem-se de presunção de idoneidade
(legitimidade e veracidade), de modo a assumir sobreposição probatória na
elucidação de crimes. Veja-se:

[...] Os testemunhos dos agentes públicos não podem ser tidos por inidôneos ou
suspeitos, simplesmente em virtude de se dedicarem ao combate ao crime, já que,
nessa condição, presume-se que estão a agir no cumprimento do dever a eles

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imposto pelo ordenamento jurídico e com respeito aos limites da legalidade. 3 -
Recurso conhecido e improvido. 
[...] Os depoimentos prestados por agentes policiais possuem idoneidade e seu
valor probatório é de suma importância para a comprovação da autoria delitiva. [...]  

A estratégia de denunciar agentes públicos com o intuito de se safar de


imputações delituosas é praxe no empreendimento criminoso das supostas vítimas,
Excelência, tendo em vista que, conforme sedimentado nos autos por ocasião da
oitiva da testemunha que os prendeu em momento posterior, também intentaram
denunciar os militares, mas, diferente da situação dos autos, não lograram êxito na
tarefa delituosa de ludibriar o poder judiciário.
A jurisprudência perfilha este entendimento ao sedimentar que a condenação pelo
crime de tortura pressupõe vigoroso conjunto probatório, tendo em vista os
deletérios efeitos, principais e acessórios, dos castigos abstratos impostos pela
legislação adjetiva e, assim, em casos como o exposto se torna forçoso o decreto
absolutório. In verbis:

APELAÇÃO CRIMINAL - CRIME DE TORTURA - PLEITO MINISTERIAL DE


CONDENAÇÃO - IMPOSSIBILIDADE - AUTORIA E MATERIALIDADE NÃO
COMPROVADA - ABSOLVIÇÃO POR INSUFICIÊNCIA DE PROVA QUE SE
IMPÕE - RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. 1. A absolvição do crime
de tortura se faz necessária quando o Laudo de Exame de Lesões Corporais
produzido não corrobora as declarações prestadas pelas vítimas quando
ouvidas em juízo. 2. Não respondendo a prova pericial de forma específica no
sentido de que os meios empregados para produção das lesões nas vítimas
foram insidiosos ou cruéis, impróprio considerar que o acusado incidiu nas
iras do artigo 1º, inciso I, alínea a c⁄c artigo 4º, inciso I, da Lei n.º 9455⁄97,
pois a resposta para tal quesito, é fundamental, com o fim de verificar se os
meios empregados para prática das lesões tiveram a característica de tortura
como crime autônomo ou se as lesões foram oriundas de uma ação policial
que por suas características próprias podem gerar pequenas lesões. 3.
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Simples indícios de autoria não são suficientes para um decreto condenatório.
4. Recurso conhecido e improvido. [8]
APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME DE TORTURA. AUSÊNCIA DE
MATERIALIDADE. INSUFICIÊNCIA DE PROVAS SEGURAS QUANTO À
AUTORIA DELITIVA. ABSOLVIÇÃO. NECESSIDADE. RECURSO PROVIDO.
1. Não se pode falar em manutenção de um decreto condenatório quando as
provas não se mostram firmes e seguras quanto à materialidade do grave
delito de tortura. 2. Existindo meros indícios e prova geradora de dúvida
quanto à autoria do delito, sendo essa negada pelos acusados, a absolvição é
medida que se impõe, em observância ao princípio ''in dubio pro reo''. 3.
Recurso provido. Determino a reintegração de ambos os apelantes ao cargo
de Policial Militar do Estado de Minas Gerais, inclusive com todas as
vantagens e benefícios eventualmente já existentes. [9]
PENAL E PROCESSO PENAL. CRIME DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL E
TORTURA. RETRATAÇÃO DAS OFENDIDAS. LAUDO DE EXAME DE
CORPO DE DELITO INCONCLUSIVO. DÚVIDA QUANTO À
MATERIALIDADE E AUTORIA. ABSOLVIÇÃO. 1. Absolve-se o apelante pela
prática dos crimes de estupro de vulnerável e tortura quando o conjunto
probatório carreado aos autos não é suficiente para comprovar a
materialidade e a autoria dos delitos, uma vez que as ofendidas/vítimas se
retrataram das acusações ao réu, admitindo que foram influenciadas por tia a
mentir e também porque não se extrai dos demais depoimentos a
comprovação dos abusos sexuais e de tortura. 2. Apelação provida para
absolver o réu dos crimes que lhe foram imputados. [10]

Ante a todo o exposto, se extrai, com fidúcia suficiente a elidir qualquer


responsabilidade dos denunciados, que inexiste prova sedimentar acerca da
prática de tortura pelos acusados, o que não deixa alternativa a este Juízo senão a
absolvição de todos eles, com base no art. 386, III do Código de Processo Penal.

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c. DA AUSÊNCIA DE CIRCUNSTÂNCIA ELEMENTAR DO TIPO PENAL
DESCRITO NO ART. 1º DA LEI Nº. 9.455/1997.

Da dicção literal do art. 1º, da Lei nº. 9.455/1997, se depreende que constitui o


crime de tortura constranger alguém, mediante o emprego de violência ou grave
ameaça, causando-lhe intenso sofrimento físico e mental, com o fim específico de
obter declaração, confissão, informação, provocar ação, omissão criminosa ou
como forma de castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.
Depreende-se que o delito acima inserto se trata de tipo penal subjetivo, ou seja,
não requer tão somente o dolo genérico, consistente em causar intenso sofrimento
físico e mental mediante emprego de violência ou grave ameaça, mas exige o dolo
específico de obter declaração, confissão, informação, provocar ação, omissão
criminosa ou como forma de castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.
Inexistindo a vontade livre e consciente do agente de produzir estes resultados,
consubstanciados em finalidades previstas em lei, não se tem por tipificado o
delito.
No caso dos autos, se observa que os elementos normativos, de valoração
necessária, não se encontram devidamente satisfeitos, o que conduz à atipicidade
da conduta, uma vez que, ainda que tivesse havido alguma agressão, não se
demonstra a finalidade específica de obter confissão, informação ou declaração,
sobretudo porque evidenciado durante toda a instrução policial que os materiais
ilícitos foram encontrados pelos militares logo no início da operação policial.
Depreende-se que para a tipificação escorreita do crime em discussão não basta
que seja causado sofrimento à vítima, mas que o sofrimento seja “intenso” e,
assim, se descortina, maiormente das imagens de vídeo juntadas aos autos, que
todas as supostas vítimas saíram caminhando do compartimento de segurança da
viatura no momento que eram entregues à autoridade policial judiciária, bem como,
que as lesões descritas nos laudos periciais não confirmam qualquer agressão
veemente.

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Diante disso, se aflora que se exibe atípica a conduta descrita nos autos, tendo em
vista que não se apresenta amolde ao tipo penal descrito no art. 1º, da Lei
nº. 9.455/1997.

d. DA DESCLASSIFICAÇÃO DO CRIME.

Conforme se explicita da literalidade da lei, o delito de tortura possui substratos


subjetivos sem os quais o crime não se tipifica, mas isso não impede que a
conduta se ajuste a tipo penal subsidiário.
No caso dos autos, se denota que ausentes os elementos subjetivos da tortura e,
também, descrição de qualquer conduta apta a ter gerado lesões ou mesmo
demonstração devida de lesões, conforme laudos e demais informes processuais.

e. DO IMPROVIMENTO DO PEDIDO DE CONDENAÇÃO MINISTERIAL.

Entendeu o Ministério Público, que deve ser julgada procedente a denúncia em


desfavor dos acusados de forma generica, sob o argumento de que restaria
comprovada a materialidade, com base na certificação conferida pelos laudos
periciais, e a autoria, com espeque na declaração das vítimas.
Não há que proceder o requerimento condenatório do Parquet, Excelência.
Primeiro, a materialidade é tortuosa, uma vez que todas as lesões descritas nos
laudos são compatíveis com os atos de fuga praticados pelas supostas vítimas
durante a abordagem policial; as descrições das condutas não se compatibilizam
às falaciosas agressões descritas e, por fim, as fotos juntadas aos autos não
demonstram a autoria delitiva pela divulgação das imagens.
Carece ainda, diante dos fatos, de circunstância elementar suficiente a tipificar o
crime de tortura estampado no art. 1º da Lei nº. 9.455/97, de sorte a que se
amoldaria atípica a conduta dos militares ainda que fosse verdadeira, uma vez que
não se demonstrou nos autos a finalidade específica exigida.

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Portanto, não deve medrar as alegações do Ministério Público, imperando-se a
este respeitável juízo a expedição do édito absolutório.

III. DOS REQUERIMENTOS.

Ante a todo o exposto:

Requer seja absolvido sumariamente o réu dos crimes lhes imputados na denúncia
acusatória, tendo em vista a ausência de autoria e materialidade delitivas e restar
atípica a conduta.

Por se tratar de lidima justiça,

Nestes termos,
Pede e espera deferimento.

Dias d’Ávila - Bahia, 05 de julho de 2023.

Belª BRUNA CAROLINA NERY


OAB/BA n. 44.747

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