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EXMO. (A) SR. (A) DR. (A) JUIZ (A) DA 1ª VARA DO TRIBUNAL DO JÚRI DA
COMARCA DE TERESINA/PIAUÍ,
PROCESSO Nº 0804216-92.2022.8.18.0140
AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PIAUÍ – 15ª PROMOTORIA DO JÚRI
ACUSADOS: JOÃO PAULO DE CARVALHO GONÇALVES RODRIGUES, FRANCISCO
DAS CHAGAS SOUSA, GUILHERME DE CARVALHO GONÇALVES SOUSA
VÍTIMAS: LUIAN RIBEIRO DE OLIVEIRA e ANAEL NATAN COLINS SOUZA DA SILVA
MEMORIAIS
I – DA DENÚNCIA
Em resumo, JOÃO PAULO DE CARVALHO GONÇALVES RODRIGUES,
FRANCISCO DAS CHAGAS SOUSA e GUILHERME DE CARVALHO GONÇALVES
SOUSA foram denunciados por esse Órgão Ministerial em 21.02.2022, em virtude da prática –
entre a noite de 12.11.2021 e a madrugada de 13.11.2021 – dos crimes de: DUPLO HOMICÍDIO
QUALIFICADO, tipificado no art. 121, §2º, incisos I (motivo torpe), III (tortura/meio cruel) e IV
(recurso que impossibilitou a defesa do ofendido), do Código Penal; em concurso material (art. 69
do Código Penal) com os crimes de DESTRUIÇÃO, SUBTRAÇÃO OU OCULTAÇÃO DE
CADÁVER, na modalidade ocultação, previsto no art. 211 do Código Penal; e SEQUESTRO E
CÁRCERE PRIVADO QUALIFICADO, previsto no art. 148, §1º, inciso IV (praticado contra
menores de 18 anos), também do Código Penal, contra as vítimas LUIAN RIBEIRO DE
OLIVEIRA e ANAEL NATAN COLINS SOUZA DA SILVA, sob as diretrizes da Lei nº 8.072/90
(Lei dos Crimes Hediondos).
Núcleo das Promotorias de Justiça do Tribunal do Júri – Rua Lindolfo Monteiro, 911 – Fátima
15ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA
II – DO PROCESSO
Aos 15 (quinze) dias do mês de novembro de 2021, por volta das 16h, na estrada vici-
nal do Povoado Anajá, em um terreno de mata densa, vizinho à chácara do professor Inácio, Zona
Rural Leste, nesta capital, os menores LUIAN RIBEIRO DE OLIVEIRA e ANAEL NATAN
COLINS SOUZA DA SILVA foram encontrados mortos e em estado de putrefação avançado (ID:
24007426 - Págs. 9/15 e 24007428 - Págs. 1/5 – Recognição Visuográfica de Local de Morte Vio-
lenta), vítimas de disparos de arma de fogo, conforme se infere dos Laudos de Exames Periciais –
Cadavéricos acostados aos autos (ID: 24007428 - Págs. 14/16 e Num. 24007429 - Págs. 01/12).
Ab initio, as investigações se processaram nos autos da cautelar n° 0842206-
54.2021.2021.8.18.0140 (apartados). Objetivando o andamento das investigações e a elucidação
fática do delito foi determinada ordem de busca e apreensão (Decisão inserta no ID: 22943126)
nos seguintes endereços:
1. Av. Senador Candido Ferraz nº 1770, Apt. 501, bairro Jóquei, Teresina-PI;
2. Rua Herculândia nº 3331, bairro Planalto Uruguai, Teresina-PI;
3. Residencial Nova Alegria, Quadra AO, Casa 01, bairro Santo Antônio, Teresina-
PI;
4. Av. João XXIII, 7237 - Gurupi, Teresina - PI, 64049-010 - Ibiza Pub, essa com
a autorização de apreensão do veículo CAMINHONETE MMC L200 TRITON PRATA,
PLACA OUB-9973, da arma de fogo GLOCK G28 SINARM 201400842937500, ou
outra encontrada, bem como dos veículos tipo sedan claro (TOYOTA COROLLA e/ou
HONDA CIVIC).
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GABRIEL, deixando-o em seu lar. Em seguida, dirigiram-se a rua da casa de ANAEL, momento
em que se separaram, ao passo que MARCELO DE SOUSA ALVES e MARCOS VINÍCIUS
FERREIRA VILAÇO foram para suas casas, sendo a última vez que viram as vítimas.
Estima-se que as vítimas, agora em dupla, encaminharam-se até uma festa que
acontecia no “BAR IBIZA DRINKS E EVENTOS”, localizado na Avenida João XXIII, nº 7237,
chegando ao local às 02h56min, sendo recepcionados por ISRAEL ALVES DE SOUSA,
segurança do local.
ISRAEL ALVES DE SOUSA, relatou que, por conta do horário (já ultrapassava as
02h da manhã) a bilheteria do evento estava fechada, e teve que chamar MARIA LAYLA DE
MACEDO COSTA (esposa do responsável pelo evento) para atender os meninos.
Ouvida, MARIA LAYLA afirmou que atendeu LUIAN, ocasião em que o menor
declarou fazer parte da lista de convidados de “MAGO”. Entretanto, a testemunha assentou que
não conhecia “MAGO”, pessoa indicada por LUIAN como convidante. Historiou, ainda, ter
oportunizado a entrada da vítima na festa mediante o pagamento de R$ 70,00 (setenta reais),
referente ao valor do ingresso.
Retomando o depoimento de ISRAEL, vê-se que LUIAN, sem dinheiro para comprar
os ingressos, se retirou do local, ocasião em que o segurança fechou o portão. O depoente também
grifou que LUIAN estava com um pedal da motocicleta em uma das mãos e, passados alguns
minutos, ouviu um barulho de confusão que imergia do terreno ao lado (residência de
FRANCISCO), mas, em razão do som alto da festa, não soube dizer do que se tratava.
LUIAN e ANAEL, visando ingressar na festa de modo clandestino, decidiram
percorrer a lateral do muro do estabelecimento (adentrando ao enorme terreno vizinho) para, na
parte menos vigiada, transpassar para a estabelecimento onde ocorria a festa, todavia, durante essa
travessia, foram interceptados por FRANCISCO.
FRANCISCO, ainda em sede inquisitorial, disse que estava dentro de casa quando
ouviu seu cachorro latir e percebeu uma movimentação suspeita. Foi então que se dirigiu para a
parte externa de casa, deparando-se com a presença dos dois meninos e, com o auxílio do seu filho
GUILHERME, dominou os menores.
Em razão das várias versões apresentadas pelos acusados, não foi possível confirmar
se, no momento supradito, FRANCISCO ou GUILHERME faziam uso de arma de fogo,
havendo apenas indicativos apontando que GUILHERME blefou ao gritar que estava armado,
obrigando os menores a se renderem e se deitarem no chão.
JOÃO PAULO, em seu primeiro depoimento, também na fase inquisitiva, disse ter
recebido – na madrugada de 13.11.2021, por volta das 02h – uma ligação de sua tia/madrinha
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Dito assim, os autos apontam que os acusados resolveram ceifar a vida das vítimas
como forma de discipliná-las, a fim de que não mais invadissem a propriedade de FRANCISCO,
bem assim evitar represálias dos familiares daquelas, fugindo ao mero conceito de vingança e
alcançando desproporção na conduta e repugnância moral, sobretudo quando sopesado que dois
dos três acusados eram advogados.
IV. II – Da crueldade/tortura
A presença da qualificadora de crueldade dispensa maiores esclarecimentos, haja vista
a notoriedade das ações empreendidas pelos acusados, comprovadas no exame pericial cadavérico,
que explicitam a gravidade das lesões sofridas pelos adolescentes, o que corrobora com a confissão
de JOÃO PAULO DE CARVALHO GONÇALVES RODRIGUES, afirmando que os menores
foram agredidos pelo seu primo GUILHERME DE CARVALHO GONÇALVES SOUSA. Além,
de disparos na cabeça das vítimas (na nuca).
Descrita essa situação, indubitável asseverar ainda que a exclusão de qualificadoras da
conduta criminal só pode ocorrer quando essas forem manifestamente improcedentes, o que não é
o caso. Dessa forma, cabe apenas ao Conselho de Sentença, juiz natural da causa, decidir sobre a
ocorrência ou não dessas circunstâncias típicas. Senão vejamos o entendimento do Tribunal de
Justiça do estado de Minas Gerais:
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VII – DO PEDIDO
Ao teor do exposto, estando caracterizado os crimes de DUPLO HOMICÍDIO
QUALIFICADO tipificado no art. 121, §2º, incisos I, III e IV do Código Penal, em CONCURSO
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