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Superior Tribunal de Justiça

HABEAS CORPUS Nº 84.179 - MS (2007/0127518-3)

RELATORA : MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA


IMPETRANTE : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MATO GROSSO DO
SUL
ADVOGADO : NANCY GOMES DE CARVALHO - DEFENSORA PÚBLICA
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO DO
SUL
PACIENTE : EDSON CARNEIRO DA SILVA (PRESO)
EMENTA

HABEAS CORPUS . ROUBO DUPLAMENTE MAJORADO. PENA-BASE


FIXADA ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS
DESFAVORÁVEIS. CONDENAÇÕES ANTERIORES NÃO
IMPUGNADAS. MAUS ANTECEDENTES E PERSONALIDADE.
CONSEQUÊNCIAS DO DELITO. ABALO PSICOLÓGICO À VÍTIMA.
BIS IN IDEM . INOCORRÊNCIA. CULPABILIDADE E MOTIVAÇÃO.
CONHECIMENTO DA ILICITUDE DO FATO E OBJETIVO DE LUCRO
FÁCIL. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. MAIS DE UMA MAJORANTE.
AUMENTO ACIMA DO MÍNIMO. FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO.
SÚMULA Nº 443/STJ. ORDEM DE OFÍCIO.
1. Hipótese em que o Juiz de primeiro grau fixou a pena-base do paciente
acima do mínimo legal por considerar desfavoráveis as seguintes
circunstâncias judiciais: culpabilidade, antecedentes, personalidade, motivos e
consequências do delito. Para tanto, justificou que o paciente "tinha
consciência da ilicitude de seu ato", registra péssimos antecedentes criminais e
objetivou o lucro fácil e imediato, bem como que as vítimas sofreram abalo
psicológico em razão da ameaça sofrida com arma de fogo.
2. As condenações anteriores do paciente por outros delitos, não impugnadas
na impetração, configuram os maus antecedentes e justificam o aumento da
pena pela valoração negativa da personalidade.
3. No tocante às consequências do crime, não há que falar em bis in idem,
pois a pena-base foi aumentada não em razão do emprego de arma de fogo, o
que serviu como majorante, mas pela forma como se fez tal uso, de maneira
cruel, amarrando-se a vítima com fita adesiva e apontando-se a arma para o
seu pescoço, engatilhando-a e desengatilhando-a sucessivamente, causando
abalo psicológico à vítima.
4. O conhecimento da ilicitude do fato é pressuposto da culpabilidade, não
servindo para exasperar a reprimenda na primeira fase da dosimetria da pena.
5. O intento de obter lucro fácil é inerente ao próprio tipo penal de roubo, o que
inviabiliza seja utilizado para acrescer a pena-base.
6. "O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de roubo
circunstanciado exige fundamentação concreta, não sendo suficiente para a
sua exasperação a mera indicação do número de majorantes" (Súmula nº
443/STJ).
7. Habeas corpus parcialmente concedido, inclusive de ofício, para reduzir a
reprimenda imposta ao paciente.

ACÓRDÃO
Documento: 970276 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 24/05/2010 Página 1 de 13
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Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça: "A Turma, por
unanimidade, concedeu parcialmente a ordem de habeas corpus, inclusive de ofício, nos
termos do voto da Sra. Ministra Relatora." Os Srs. Ministros Og Fernandes, Celso Limongi
(Desembargador convocado do TJ/SP) e Haroldo Rodrigues (Desembargador convocado do
TJ/CE) votaram com a Sra. Ministra Relatora.
Presidiu o julgamento a Sra. Ministra Maria Thereza de Assis Moura.

Brasília, 06 de maio de 2010(Data do Julgamento)

Ministra Maria Thereza de Assis Moura


Relatora

Documento: 970276 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 24/05/2010 Página 2 de 13
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HABEAS CORPUS Nº 84.179 - MS (2007/0127518-3)

RELATORA : MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA


IMPETRANTE : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MATO GROSSO DO
SUL
ADVOGADO : NANCY GOMES DE CARVALHO - DEFENSORA PÚBLICA
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO DO
SUL
PACIENTE : EDSON CARNEIRO DA SILVA (PRESO)

RELATÓRIO

MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA:

Trata-se de habeas corpus impetrado em favor de EDSON CARNEIRO DA


SILVA, impugnando acórdão da 1ª Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de Mato
Grosso do Sul (Apelação Criminal nº 2006.019165-3).
O paciente foi condenado à pena de 8 anos, 8 meses e 24 dias de reclusão, em
regime fechado, e 126 dias-multa, pela prática do crime previsto no artigo 157, § 2º, I e II, do
Código Penal. A reprimenda foi fixada nestes termos (fl. 114/115):

Dosimetria das penas em observação ao princípio constitucional da


individualização da pena (art. 5º, inciso XLVI, da Constituição Federal) e
seguindo os critérios norteadores dos arts. 59 e seguintes do Código Penal:
A culpabilidade ressoa grave, com a conduta do acusado sendo
altamente reprovável, eis que tinha consciência da ilicitude de seu ato e
condições de agir de maneira diferente e não o fez.
Embora não possa ser considerado reincidente, o acusado registra
péssimos antecedentes criminais (roubo, formação de quadrilha, homicídio
tentado e furto tentado), como se vê das certidões de fls. 81, 83, 88, 142 e
145/146.
A conduta social do acusado não foi devidamente averiguada na
instrução.
Diante das incursões criminais que possui, entendo que a personalidade
do acusado se denota voltada para a senda do crime, inclusive porque a
prática do delito versado nestes autos não foi um episódio esporádico em
sua vida.
Os motivos para a prática do crime são injustificáveis e normais nesse
gênero de delito, uma vez que visava lucro fácil e imediato através da
prática de delitos e sem a necessidade de trabalho.
As circunstâncias do crime não serão consideradas nesta fase, pois
constituem qualificadoras do delito de roubo que serão consideradas
oportunamente.
As conseqüências forma graves, eis que as vítimas sofreram com a
ameaça praticada com arma de fogo e carregarão pelo resto de suas vidas o
abalo psicológico e emocional sofrido.
Por fim, o comportamento das vítimas em nada influiu para a ação do
acusado.
Assim, diante da existência de circunstâncias judiciais desfavoráveis
Documento: 970276 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 24/05/2010 Página 3 de 13
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(culpabilidade, antecedentes, personalidade, motivos e consequências do
delito) e atendendo aos elementos do art. 59 do Código Penal, fixo a
pena-base em 06 (seis) anos de reclusão e pagamento de 90 (noventa)
dias-multa.
Circunstâncias atenuantes e agravantes:
Não vislumbro a presença de nenhuma circunstância agravante ou
atenuante.
Causas de aumento ou de diminuição de pena:
Em face da existência de duas qualificadoras (ameaça exercida pelo
emprego de arma de fogo e concurso de agentes), majoro as penas em 2/5
(dois quintos), ou seja, em 02 (dois) anos, 04 (quatro) meses e 24 (vinte e
quatro) dias de reclusão e 36 (trinta e seis) dias-multa, totalizando-as em 08
(oito) anos, 04 (quatro) meses e 24 (vinte e quatro dias) de reclusão e
pagamento de 126 (cento e vinte e seis) dias-multa.

Inconformada, a Defesa apelou ao Tribunal de Justiça do Estado do Mato


Grosso do Sul, que negou provimento ao recurso, sob os seguintes fundamentos (fls. 172/173):

O magistrado possui discricionariedade para aplicar a pena-base dentro


dos limites do art. 59 do CP, a fim de embasar seu convencimento, e a
decisão foi muito bem fundamentada, uma vez que o réu possui
antecedentes em fl. 142 - 3 (três) incidências por crime patrimoniais e 01
(uma) por tentativa de homicídio -, personalidade voltada à prática de
delitos, tendo em vista que o crime foi praticado com o emprego de arma,
diminuindo, assim, a possibilidade de resistência das vítimas.
(...)
De acordo com o depoimento de uma das vítimas em fl. 53, o meio
pelo qual o roubo ocorreu chegou a ser até cruel, pois o declarante foi
amarrado por uma fita adesiva. Outra vítima ficou o tempo todo com a
arma apontada ao seu pescoço, ao tempo em que um dos acusados
engatilhava e desengatilhava a arma. Com esses fatos relatados e outros
encontrados nos autos, causaram abalo psicológico emocional às vítimas, e
que também fio levado em consideração pelo ilustre juiz a quo na fixação da
pena-base.
Sobre a alegação da defesa, em que teria ocorrido bis in idem por conta
de o juiz ter analisado as consequências do crime na fase do artigo 59 do
CP, não assiste razão, pois devem ser analisadas somente nesta fase, o que
foi feito pela magistrado, como preleciona o art. 59, caput : (...)

Daí o presente mandamus , no qual o impetrante sustenta que o magistrado


levou em consideração, para a majoração da pena-base, apenas circunstâncias próprias do
tipo penal.
Aduz que a culpabilidade considerada para aumentar a pena é "a mesma
culpabilidade em sentido estrito, que se não restasse configurada não sofreria o paciente a
reprovação a ele imposta", bem como que as considerações da personalidade são de cunho
genérico.
Afirma que o magistrado considerou graves as consequências em virtude do
Documento: 970276 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 24/05/2010 Página 4 de 13
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emprego de arma de fogo, o que é um "absurdo jurídico". Ressalta que apenas os maus
antecedentes realmente justificam a exacerbação da reprimenda, razão pela qual o acórdão
atacado carece de adequada fundamentação.
Requer a concessão da ordem para que a pena-base fixada seja reformulada,
nos termos do art. 59 do Código Penal.
A liminar foi indeferida às fls. 164/165.
Foram prestadas informações às fls. 170/174.
O Ministério Público Federal opina pela denegação da ordem (fls. 176/182).
É o relatório.

Documento: 970276 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 24/05/2010 Página 5 de 13
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EMENTA

HABEAS CORPUS . ROUBO DUPLAMENTE MAJORADO. PENA-BASE


FIXADA ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS
DESFAVORÁVEIS. CONDENAÇÕES ANTERIORES NÃO
IMPUGNADAS. MAUS ANTECEDENTES E PERSONALIDADE.
CONSEQUÊNCIAS DO DELITO. ABALO PSICOLÓGICO À VÍTIMA.
BIS IN IDEM . INOCORRÊNCIA. CULPABILIDADE E MOTIVAÇÃO.
CONHECIMENTO DA ILICITUDE DO FATO E OBJETIVO DE LUCRO
FÁCIL. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. MAIS DE UMA MAJORANTE.
AUMENTO ACIMA DO MÍNIMO. FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO.
SÚMULA Nº 443/STJ. ORDEM DE OFÍCIO.
1. Hipótese em que o Juiz de primeiro grau fixou a pena-base do paciente
acima do mínimo legal por considerar desfavoráveis as seguintes
circunstâncias judiciais: culpabilidade, antecedentes, personalidade, motivos e
consequências do delito. Para tanto, justificou que o paciente "tinha
consciência da ilicitude de seu ato", registra péssimos antecedentes criminais e
objetivou o lucro fácil e imediato, bem como que as vítimas sofreram abalo
psicológico em razão da ameaça sofrida com arma de fogo.
2. As condenações anteriores do paciente por outros delitos, não impugnadas
na impetração, configuram os maus antecedentes e justificam o aumento da
pena pela valoração negativa da personalidade.
3. No tocante às consequências do crime, não há que falar em bis in idem,
pois a pena-base foi aumentada não em razão do emprego de arma de fogo, o
que serviu como majorante, mas pela forma como se fez tal uso, de maneira
cruel, amarrando-se a vítima com fita adesiva e apontando-se a arma para o
seu pescoço, engatilhando-a e desengatilhando-a sucessivamente, causando
abalo psicológico à vítima.
4. O conhecimento da ilicitude do fato é pressuposto da culpabilidade, não
servindo para exasperar a reprimenda na primeira fase da dosimetria da pena.
5. O intento de obter lucro fácil é inerente ao próprio tipo penal de roubo, o que
inviabiliza seja utilizado para acrescer a pena-base.
6. "O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de roubo
circunstanciado exige fundamentação concreta, não sendo suficiente para a
sua exasperação a mera indicação do número de majorantes" (Súmula nº
443/STJ).
7. Habeas corpus parcialmente concedido, inclusive de ofício, para reduzir a
reprimenda imposta ao paciente.

VOTO

MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA(Relatora):

Da análise dos autos, constata-se que o Juiz de primeiro grau fixou a


pena-base do paciente em 6 anos de reclusão, 2 anos acima do mínimo legal, por considerar
desfavoráveis as seguintes circunstâncias judiciais: culpabilidade, antecedentes, personalidade,
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motivos e consequências do delito.
Para tanto, justificou que o paciente "tinha consciência da ilicitude de seu ato",
registra péssimos antecedentes criminais e objetivou o lucro fácil e imediato, bem como que as
vítimas sofreram abalo psicológico em razão da ameaça sofrida com arma de fogo.
Entendo que os antecedentes e a personalidade estão concretamente
motivadas, em razão das condenações anteriores do paciente por outros delitos, não
impugnadas na impetração. Configurados os maus antecedentes, justifica-se também o
aumento da pena pela valoração negativa da personalidade. Nesse sentido:

HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. CONDENAÇÃO.


DOSIMETRIA DA PENA. REPRIMENDA FIXADA ACIMA DO
MÍNIMO. ANTECEDENTES E PERSONALIDADE. GRANDE
QUANTIDADE DE DROGA. ADEQUADA FUNDAMENTAÇÃO. ART.
42 DA LEI Nº 11.343/06. CULPABILIDADE INTENSA. ELEMENTOS
INERENTES AO TIPO PENAL. CONSTRANGIMENTO ILEGAL.
1. Mostra-se devidamente fundamentada a sentença condenatória que
exasperou a pena-base por considerar desfavoráveis os antecedentes e a
personalidade do paciente, haja vista a existência de vários registros
criminais não impugnados na impetração.
2. A grande quantidade de droga (18 kg de maconha) justifica a fixação
da pena-base acima do mínimo legal, destacando-se, inclusive, que tal
circunstância, assim como a personalidade e a conduta social, prepondera
sobre as demais previstas no art. 59 do Código Penal, a teor do art. 42 da
Lei nº 11.343/06.
3. Merece reparo o ponto da sentença que exacerbou a sanção, em
razão da culpabilidade, com afirmações genéricas e abstratas relacionadas à
gravidade do crime, não se referindo a qualquer peculiaridade do caso
concreto, mas a circunstâncias inerentes ao próprio tipo penal de tráfico de
drogas.
4. Ordem parcialmente concedida para reduzir a pena imposta ao
paciente a 8 (oito) anos de reclusão e 800 (oitocentos), mantidos os demais
termos da sentença e do acórdão.
(HC 94.179/MS, minha Relatoria , SEXTA TURMA, julgado em
09/03/2010, DJe 29/03/2010)

No tocante às consequências do crime, também entendo que a valoração


negativa se deu de forma fundamentada, não havendo que falar em bis in idem. Na verdade,
a reprimenda foi aumentada não porque foi empregada arma de fogo, o que serviu como
majorante, mas pela forma como se fez tal uso, de maneira cruel, amarrando-se a vítima com
fita adesiva e apontando-se a arma para o seu pescoço, engatilhando e desengatilhando a
arma sucessivamente, causando-lhe abalo psicológico. Veja-se:

HABEAS CORPUS . DOSIMETRIA. ROUBO TRIPLAMENTE


AGRAVADO. PENA-BASE. APLICAÇÃO ACIMA DO MÍNIMO
LEGALMENTE PREVISTO. POSSIBILIDADE DE EXAME.
CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS DESFAVORÁVEIS. SANÇÃO
Documento: 970276 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 24/05/2010 Página 7 de 13
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MOTIVADA. MANTENÇA JUSTIFICADA. COAÇÃO ILEGAL
DEMONSTRADA.
1. A revisão da pena imposta pelas instâncias ordinárias, apesar de
admissível via habeas corpus, é possível, mas somente em situações
excepcionais, de manifesta ilegalidade ou abuso de poder reconhecíveis de
plano, sem maiores incursões em aspectos fáticos e probatórios ou em
circunstâncias.
2. Estando a aplicação da pena-base acima do mínimo devidamente
justificada não somente pela consideração da culpabilidade acentuada do
paciente, mas também em razão de seus péssimos antecedentes criminais,
sua personalidade, voltada à prática criminosa, e ainda em razão das
consequências traumáticas advindas às vítimas, não há o que se falar em
constrangimento ilegal.
CONFISSÃO ESPONTÂNEA. REINCIDÊNCIA. COMPENSAÇÃO.
AGRAVANTE NÃO APLICADA. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO
ILEGAL.
1. Inviável compensar-se o aumento pela agravante da reincidência
com a mitigação pela incidência da atenuante da confissão espontânea,
quando a primeira sequer foi reconhecida e aplicada na espécie.
3. Ordem denegada.
(HC 105.820/DF, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA,
julgado em 13/08/2009, DJe 14/09/2009)

Contudo, o conhecimento da ilicitude do fato é pressuposto da culpabilidade,


não servindo para exasperar a reprimenda na primeira fase da dosimetria da pena. Nesse
sentido, confiram-se os seguintes precedentes desta Corte:

HABEAS CORPUS . ROUBO SIMPLES (TENTATIVA). FIXAÇÃO


DA PENA-BASE ACIMA DO PATAMAR MÍNIMO. VALORAÇÃO
INDEVIDA DE CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS DESFAVORÁVEIS.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL CARACTERIZADO.
1. Havendo circunstâncias judiciais desfavoráveis, pode a pena-base
ser fixada acima do patamar mínimo.
2. A alusão à potencial consciência da ilicitude não pode ser utilizada
para exasperar a reprimenda a título de culpabilidade, pois não tivesse o
agente o conhecimento da ilicitude não poderia ser responsabilizado.
3. Na linha da iterativa jurisprudência desta Casa, inquéritos em
andamento e ações penais sem trânsito em julgado não podem ser utilizadas
para exasperar a sanção a título de maus antecedentes, personalidade ou
conduta social.
4. Se as circunstâncias e os motivos do crime não estão comprovados
nos autos não podem eles ser utilizados contra o ora paciente.
5. Ordem concedida para, afastando da condenação as circunstâncias
judiciais indevidamente valoradas, reduzir a pena recaída sobre o paciente,
de 3 (três) anos de reclusão e 10 (dez) dias-multa para 2 (dois) anos e 8
(oito) meses de reclusão, a ser cumprida em regime aberto, além do
pagamento de 6 (seis) dias-multa.
(HC 112.894/MG, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA,
julgado em 23/02/2010, DJe 22/03/2010)

Documento: 970276 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 24/05/2010 Página 8 de 13
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HABEAS CORPUS . FURTO QUALIFICADO. IMPOSSIBILIDADE
DE DESCLASSIFICAÇÃO PARA APROPRIAÇÃO INDÉBITA. PEDIDO
DE AFASTAMENTO DA QUALIFICADORA DE ABUSO DE
CONFIANÇA. IMPROCEDÊNCIA. AGENTE QUE SE VALEU DA
CONDIÇÃO DE GERENTE DA EMPRESA-VÍTIMA. RELAÇÃO DE
CONFIANÇA. PENA-BASE. REAJUSTAMENTO. CONSEQUÊNCIAS
DO CRIME.
1. Não comporta guarida o pleito de desclassificação. A uma, porque a
via estreita do habeas corpus não admite o revolvimento aprofundado das
provas coligidas no processo sob o crivo do contraditório. A duas, porque
a sentença, de maneira fundamentada concluiu tratar-se a hipótese de furto
qualificado mediante abuso de confiança.
2. No caso, o paciente teria provocado a retirada, em seu proveito, de
determinado equipamento da empresa da qual era gerente, maquinário este
de que não tinha a posse.
3. Encontra-se justificado o reconhecimento da qualificadora de abuso
de confiança, dado que o paciente ostentava a condição de gerente,
circunstância essencial para a consecução da subtração.
4. A pena-base deve ser fixada concreta e fundamentadamente (art. 93,
IX, CF) de acordo com as circunstâncias judiciais previstas no art. 59 do
Código Penal, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e
prevenção do delito.
5. A imputabilidade, a exigibilidade de conduta diversa e o potencial
conhecimento da ilicitude constituem pressupostos da culpabilidade como
elemento integrante do conceito analítico do crime, ao passo que a
"culpabilidade" prevista no art. 59 do Código Penal diz respeito ao grau de
reprovabilidade da conduta do agente, esta, sim, a ser valorada no momento
da fixação da pena-base.
6. Na hipótese, o juiz de primeiro grau teve a culpabilidade do paciente
"em grau alto" com amparo nos mencionados aspectos inerentes à própria
compleição analítica do delito, o que não admite a jurisprudência desta
Casa.
7. No tocante às consequências do crime, a pena-base está
suficientemente motivada, amparando-se o magistrado no prejuízo
contínuo causado à vítima, já que subtraído equipamento seu destinado à
fabricação de discos de aço ou flanges de aperto, deixando a empresa de
produzir e auferir lucro durante todo o período em que esteve privada da
res.
8. Reajustamento da pena-base, levando-se em consideração apenas as
consequências do crime.
9. Ordem concedida parcialmente para reduzir a pena do paciente de 2
(dois) anos e 4 (quatro) meses de reclusão e 13 (treze) dias-multa a 2
(dois) anos e 2 (dois) meses de reclusão e 11 (onze) dias-multa, mantidos o
regime prisional aberto e a substituição de pena.
(HC 90.161/SC, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA,
julgado em 09/02/2010, DJe 08/03/2010)

HABEAS CORPUS . FURTO SIMPLES (ART. 155, CAPUT DO CPB).


DOSIMETRIA DA PENA. PENA-BASE ACIMA DO MÍNIMO LEGAL (1
ANO E 6 MESES). PENA TOTAL: 1 ANO DE RECLUSÃO. REGIME
INICIAL SEMIABERTO. AUSÊNCIA DE JUSTIFICATIVA IDÔNEA
PARA A MAJORAÇÃO DA PENA-BASE E IMPOSIÇÃO DO REGIME
Documento: 970276 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 24/05/2010 Página 9 de 13
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MAIS GRAVOSO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO.
SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR
RESTRITIVA DE DIREITOS. MEDIDA QUE NÃO SE MOSTRA
SOCIALMENTE RECOMENDÁVEL. PACIENTE QUE VOLTOU A
DELINQUIR APÓS USUFRUIR DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DE
OUTRO PROCESSO POR CRIME CONTRA O PATRIMÔNIO.
PARECER DO MP MPF PELA DENEGAÇÃO DA ORDEM. ORDEM
PARCIALMENTE CONCEDIDA, APENAS PARA FIXAR O REGIME
INICIAL ABERTO PARA O CUMPRIMENTO DA PENA.
1. As assertivas de que o paciente parece ser dotado de personalidade
voltada para o crime, bem como de que agiu com culpabilidade, porque
possuía pleno conhecimento acerca da ilicitude do fato, não constituem
fundamento para fixar o regime prisional mais gravoso a réu condenado
por furto simples e primário. Essa consciência sobre a ilicitude diz respeito
à culpabilidade que caracteriza o tipo e não às circunstâncias judiciais do
art. 59 do CPB. Precedentes do STJ.
2. Há desproporção no decreto condenatório que, ao réu primário,
beneficiado com a atenuante da confissão espontânea e da menoridade,
sem circunstância judicial desfavorável, impõe o regime inicial semiaberto,
que tem como critério quantitativo pena bem mais elevada do que a aplicada
na hipótese (1 ano de reclusão).
3. O CPB, em seu art. 44, além de prever as condicionantes objetivas
de admissibilidade da substituição das penas privativas de liberdade por
restritivas de direito, acrescenta algumas cláusulas abertas que permitem
que o Julgador pondere a adequação da medida, caso a caso. No caso, a
medida não se mostra mesmo recomendável, porquanto o paciente,
beneficiado com a suspensão condicional em outro processo por crime
contra o patrimônio, voltou a delinquir..
4. Ordem parcialmente concedida, para fixar o regime aberto para o
início do cumprimento da reprimenda.
(HC 149.171/MG, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO,
QUINTA TURMA, julgado em 04/02/2010, DJe 15/03/2010)

O intento de obter lucro fácil, de sua parte, é inerente ao próprio tipo penal de
roubo, o que inviabiliza seja utilizado para acrescer a pena-base. Confira-se:

HABEAS CORPUS . PENA-BASE FIXADA ACIMA DO MÍNIMO


LEGAL. VALORAÇÃO INDEVIDA DE CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS.
NECESSIDADE DE READEQUAÇÃO DA REPRIMENDA.
RECONHECIMENTO DA CONTINUIDADE DELITIVA.
IMPOSSIBILIDADE. CONDUTAS QUE CARACTERIZAM
HABITUALIDADE CRIMINOSA. EXTORSÕES MEDIANTE
SEQUESTRO E FORMAÇÃO DE QUADRILHA ARMADA.
CONCOMITANTE CONDENAÇÃO. BIS IN IDEM . INEXISTÊNCIA.
DELITOS AUTÔNOMOS.
1. A presença de circunstâncias judiciais desfavoráveis autoriza a
fixação da pena-base acima do patamar mínimo. Entretanto, a utilização de
circunstâncias inerentes ao tipo penal para exasperar a reprimenda enseja
constrangimento ilegal.
2. No caso, valorou-se negativamente a culpabilidade, porque o
paciente seria perfeitamente capaz de entender a ilicitude de seus atos. Ora,
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não possuísse tal discernimento seria inimputável. Já o lucro fácil é inerente
a delitos contra o patrimônio, devendo, assim, afastar-se a valoração
desfavorável dos motivos do crime.
3. De acordo com a Súmula nº 241, "a reincidência penal não pode ser
considerada como circunstância agravante e, simultaneamente, como
circunstância judicial".
4. Na data dos fatos, pesava contra o paciente somente uma
condenação definitiva, sendo, pois, indevida a dupla exasperação.
5. "O entendimento desta Corte é no sentido de que a reiteração
criminosa indicadora de delinqüência habitual ou profissional é suficiente
para descaracterizar o crime continuado" (STF – RHC 93.144/SP, Relator
Ministro Menezes de Direito, DJ 9.5.08).
6. Não se pode confundir continuidade delitiva com habitualidade
delitiva. Vê-se que, no caso presente, vários indivíduos se uniram, de forma
estável e duradoura, para a reiterada prática de crimes, não havendo falar
em aplicação do benefício.
7. É possível, num mesmo contexto, a concomitante condenação pelos
crimes de extorsão mediante sequestro qualificada e formação de quadrilha,
pois os delitos são autônomos e independentes.
8. Ordem parcialmente concedida para, de um lado, afastando da
condenação as circunstâncias judiciais indevidamente valoradas, reduzir a
pena recaída sobre o paciente, de 35 (trinta e cinco) anos de reclusão para
30 (trinta) anos e 8 (oito) meses de reclusão; de outro lado, permitir a
progressão de regime, desde que preenchidos os requisitos previstos no
art. 112 da Lei de Execução Penal.
(HC 67.631/RJ, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA,
julgado em 11/12/2009, DJe 01/02/2010)

Assim, das cinco circunstâncias judiciais consideradas desfavoráveis ao


paciente, penso que apenas três estão devidamente justificadas (antecedentes, personalidade e
consequências). De rigor, portanto, que seja reduzida a sanção imposta ao paciente,
observando-se os princípios da proporcionalidade e razoabilidade.
Na terceira fase de aplicação da pena, constata-se que o magistrado
aumentou-a de 2/5 apenas em razão do número de majorantes, sem qualquer fundamentação
concreta que justifique o acréscimo superior ao mínimo legal de 1/3. Impõe-se, no ponto, a
concessão da ordem de ofício. A matéria foi recentemente sumulada, constando do enunciado
nº 443 da Súmula desta Corte, in verbis :

O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de roubo


circunstanciado exige fundamentação concreta, não sendo suficiente para a
sua exasperação a mera indicação do número de majorantes.

Dessarte, fica a pena-base do paciente fixada em 5 anos e 4 meses de


reclusão e 48 dias-multa, que acrescida de 1/3 em razão das duas majorantes (emprego de
arma de fogo e concurso de agentes), fica definitivamente estabelecida em 7 (sete) anos, 1
(um) mês e 10 (dez) dias de reclusão, e 64 (sessenta e quatro) dias-multa.

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Diante do exposto, concedo parcialmente a ordem, inclusive de ofício, para
reduzir a reprimenda imposta ao paciente nos autos da Ação Penal nº 045.03.000186-7, da 1º
Vara de Sidrolândia/MS, a 7 (sete) anos, 1 (um) mês e 10 (dez) dias de reclusão, e 64
(sessenta e quatro) dias-multa.
É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEXTA TURMA

Número Registro: 2007/0127518-3 HC 84179 / MS


MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 20060191653 45030001867 802003

EM MESA JULGADO: 06/05/2010

Relatora
Exma. Sra. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA
Presidenta da Sessão
Exma. Sra. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. BRASILINO PEREIRA DOS SANTOS
Secretário
Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA

AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL
ADVOGADO : NANCY GOMES DE CARVALHO - DEFENSORA PÚBLICA
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL
PACIENTE : EDSON CARNEIRO DA SILVA (PRESO)

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes contra o Patrimônio - Roubo Majorado

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, concedeu parcialmente a ordem de habeas corpus, inclusive
de ofício, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora."
Os Srs. Ministros Og Fernandes, Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ/SP)
e Haroldo Rodrigues (Desembargador convocado do TJ/CE) votaram com a Sra. Ministra
Relatora.
Presidiu o julgamento a Sra. Ministra Maria Thereza de Assis Moura.

Brasília, 06 de maio de 2010

ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA


Secretário

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