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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS

Quinta Vara Criminal de Brasília

Número do processo: 0729949-58.2020.8.07.0001

Classe judicial: MEDIDAS INVESTIGATÓRIAS SOBRE ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS (311)

AUTORIDADE POLICIAL: MINISTERIO PUBLICO DO DISTRITO FEDERAL E DOS


TERRITORIOS

INDICIADO: EDUARDO HAGE CARMO, EMMANUEL DE OLIVEIRA CARNEIRO, ERIKA


MESQUITA TEIXEIRA

DECISÃO

Chamo o feito à ordem, para correção de erros materiais percebidos apenas após o registro da
decisão, mas que em nada alteram seu conteúdo decisório, para que passe a vigorar com o seguinte teor:

Trata-se de representação da GAECO/MPDFT, requerendo a decretação de medidas cautelares de


prisão preventiva, busca e apreensão e acesso ao inteiro teor dos dados contidos em aparelhos eletrônicos
que venham a ser eventualmente apreendidos, em desfavor de EDUARDO HAGE CARMO e
EMMANUEL DE OLIVEIRA CARNEIRO, para a garantia da ordem pública, evitando-se a reiteração
criminosa e a continuidade do esquema criminoso supostamente mantido pelos agentes políticos da
cúpula da Secretaria de Saúde do Distrito Federal e para garantia da aplicação da lei penal.

Número do documento: 20092417010259600000069078957


https://pje.tjdft.jus.br:443/consultapublica/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=20092417010259600000069078957
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Requer, ainda, a decretação da medida cautelar de proibição de frequência às dependências da Secretaria
de Saúde do Distrito Federal em desfavor de ERIKA MESQUITA TEIXEIRA, Gerente de Aquisições
Especiais da SES/DF, nos termos do art. 319, II, do Código de Processo Penal.

Consta da representação, que trata da Operação “Falso Negativo” – FASE 3, em extensa e detalhada
petição de 323 (trezentas e vinte e três) laudas, acompanhada de diversos documentos e relatórios
analíticos da Divisão de Investigação da GAECO/MPDFT), com base, especialmente, em diversos laudos
decorrentes de arquivos apreendidos em poder e outros investigados, já presos na “FASE 2” da presente
investigação, que foi conduzida perante a Corte Especial deste TJDFT, até a exoneração do Secretário de
Estado da Saúde do Distrito Federal, FRANCISCO ARAÚJO (ID 72490172 e 72490173), que tratam de
procedimentos de dispensa de licitações para aquisição de testes rápidos pelo método IgG e IgM do
COVID-19, bem como pelo método swab e aquisições de testes para detecção qualitativa específica de
IgG e IgM do COVID-19, por meio de amostras de sangue e plasma, tendo havido contratações com
diversas empresas, que apontam a prática de suposto esquema criminoso capitaneado por JORGE
ANTÔNIO CHAMON JÚNIOR, Diretor do Laboratório Central de Saúde Pública (LACEN), com o
auxílio do agora ex-Subsecretário de Administração Geral da Secretaria de Saúde do Distrito Federal
(SUAG/SES-DF), IOHAN ANDRADE STRUCK, além de EDUARDO SEARA MACHADO POJO DO
REGO, ex-Subsecretário-Adjunto de Gestão em Saúde, RICARDO TAVARES MENDES, ex-Secretário
Adjunto de Assistência à Saúde, EDUARDO HAGE CARMO, ex-Subsecretário de Vigilância à Saúde,
RAMON SANTANA LOPES AZEVEDO, ex-Assessor Especial da SES/DF e mais dois integrantes
descobertos nesta última fase: EMMANUEL DE OLIVEIRA CARNEIRO, ex-Diretor da Diretoria de
Aquisições Especiais e ERIKA MESQUITA TEIXEIRA ex-Gerente de Aquisições Especiais, os quais,
por meio desses procedimentos, procederam a dispensas ilegais de licitação com preços “superfaturados”
dos referidos testes para COVID-19, bem como direcionamento dos certames em favor de empresas que
estariam envolvidas em um possível conluio com tais servidores, sendo que tais fornecedoras, dentre
outras participantes, estariam oferecendo os produtos por valores muito maiores das cotações de mercado
e também o preço que valem pelas empresas importadoras em dólar, causando um prejuízo ao Erário do
Distrito Federal de, no mínimo, R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais).

Cumpre ressaltar que, agora na presente FASE 3, teria sido desvendado com base na fase anterior, um
outro “superfaturamento”, agora na quantia de R$ 18.000.000,00 (dezoito milhões de reais) advindos dos
cofres públicos, de modo que o MPDFT aponta “a existência de provas contundentes dos crimes de fraude
à licitação (artigos 90 e 96 da Lei nº 8666/93), lavagem de dinheiro, contra a ordem econômica (cartel),
organização criminosa, corrupção ativa e passiva, com o consequente prejuízo de mais de 18 milhões de
reais aos cofres públicos”, tratando-se, na realidade, de uma organização criminosa que “vem se
utilizando do arcabouço normativo relativo à dispensa de licitação viabilizada pela pandemia para, sob o
manto da aparência de legalidade de procedimentos relativos a licitações dispensáveis e, em conluio com
empresas previamente escolhidas que ofertam produtos com preços superfaturados, consolidar a trama de
desvio de dinheiro público.”

Aduz, ainda, que “as investigações criminais iniciadas pelo GAECO-MPDFT que conduziram a
deflagração da Operação Falso Negativo, em julho do corrente ano, descortinaram, senão a maior
organização criminosa entranhada no atual Governo do Distrito Federal, certamente a mais letal, pois se
alimenta da morte de inúmeras vítimas da nova espécie de coronavírus (SARS-COVID19)”. Salienta que,
em razão da pandemia, a legislação especial que tinha por finalidade viabilizar a aquisição de produtos
por preço mais acessível e de forma desburocratizada, serviu de álibi e foi usada intencionalmente de
modo deturpado para dissimular crimes de gravidade inquestionável. Defende que, “contrariando a lógica
legal, a gestão da Secretaria de Saúde do Distrito Federal aceitou pagar preços predatórios em manifesta
contramão à finalidade pública pretendida pelas normas em referência.”

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Todo o esquema em tese delituoso, contando com a participação de várias empresas, mediante prévio
ajuste ilegal para se sagrarem vencedoras e fornecerem os bens “superfaturados”, se deu nos dois
procedimentos acima mencionados, por meio de um sofisticado modo de dar falsa aparência de legalidade
aos procedimentos, mediante conjunto de atos administrativos sucessivos, com desvio de finalidade, em
tese, que acarretaram, além do prejuízo ao patrimônio público do Distrito Federal, uma demora excessiva
no fornecimento e comercialização dos testes, fatos esses de elevada gravidade, considerando a crescente
expansão de contaminação e de milhares de mortes desde março deste ano pelo coronavírus no Brasil,
inclusive no Distrito Federal.

É o relatório. DECIDO.

Verifico a presença do fumus commissi delicti, eis que há provas da materialidade de crimes previstos na
Lei de Licitações, em conjunto com os diversos diálogos interceptados mediante autorização deste Juízo e
mensagens e degravações de áudios de whatsapp obtidos nos celulares apreendidos durante o
cumprimento das medidas de busca e apreensão, demonstrando a intensa comunicação os representados e
os demais suspeitos das práticas delitivas em apuração.

Conforme decisão do Exmo. Desembargador Humberto Adjuto Ulhôa, Relator da presente Operação
“Falso Negativo – FASE 2”, a atuação do grupo em tese criminoso, que se encontrava na “cúpula” de
comando da Secretaria de Saúde do Distrito Federal até o momento de suas prisões, é bastante robusta a
fundamentação acerca da existência de materialidade e indícios de autoria delitiva dos representados,
inclusive de EDUARDO HAGE CARMO, que veio a ser posto em liberdade por meio de ordem de
Habeas Corpus concedida pelo Superior Tribunal de Justiça, nos seguintes termos:

“Conforme indica a farta documentação colacionada pelo Ministério Público, os representados, servidores
do GDF, sob a liderança do atual Secretário de Saúde, uniram-se para a prática de crimes de fraude à
licitação, lavagem de dinheiro, contra a ordem econômica, organização criminosa, corrupção ativa e
passiva, aproveitando-se do dinheiro público destinado justamente à saúde, revertido ao enfrentamento da
pandemia mundial desencadeada pelo COVID-19.

As investigações criminais foram iniciadas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime
Organizado do MPDFT e culminaram na deflagração da Operação Falso Negativo, em julho do corrente
ano. Durante a referida investigação e diante da complexidade, reiteração, gravidade e pluralidade de
agentes, foi necessária a utilização de meios mais eficazes para a busca das informações, que culminou no
deferimento de 77 (setenta e sete) mandados de busca e apreensão, além de pedidos de interceptação
telefônica e bloqueio de bens, bem como afastamentos de sigilo fiscal e bancário, ocasião em que restou
apreendido farto material probatório que levou à elaboração de diversos relatórios investigativos, dentre
os quais, os Relatórios nºs 11/2020 e 12/2020 da Divisão de Investigação do GAECO/MPDFT e
Relatórios nºs 21/2020, 22/2020 e 23/2020 da Assessoria de Análise Processual e de Informações do
GAECO/MPDFT, que revelaram a efetiva participação do Secretário de Saúde do Distrito Federal em
crimes e fraudes ocorridas nas dispensas de licitação nºs 16/2020 e 20/2020 para aquisição de insumos
destinados ao enfrentamento da COVID-19. Durante o desenrolar das investigações, os dados colhidos
revelaram sérios e robustos indícios de que FRANCISCO ARAÚJO FILHO, Secretário de Saúde do
Distrito Federal, atuou no comando e no controle da organização criminosa instituída para fraudar as
aludidas dispensas de licitação nºs 16/2020 e 20/2020, ambas destinadas à aquisição de insumos
destinados ao enfrentamento da COVID-19. As investigações também apontam o comando de
FRANCISCO ARAÚJO FILHO nas demais dispensas de licitações para aquisição de insumos destinados

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ao combate ao COVID19 e que, evidentemente, serão tratadas em outras investigações. Os elementos de
informação dão conta de que os crimes foram praticados de modo coordenado e cada integrante com seu
papel bem delineado, típico de organização criminosa, devidamente estruturada e compartimentada.
Segundo a narrativa minuciosa apresentada pelo Ministério Público, coube a FRANCISCO ARAÚJO
FILHO as decisões sobre quais as empresas seriam beneficiadas e, a partir de então, o grupo se articulava
para montar processos forjados e dar ares de legalidade ao certame viciado, desde seu nascedouro. A
participação de cada um dos representados e a divisão de suas tarefas foram devidamente esclarecidas na
peça inicial. Em breve síntese, escolhida a empresa beneficiada por FRANCISCO ARAÚJO FILHO
(Secretário de Saúde - SES), JORGE CHAMON (Diretor do LACEN), IOHAN ANDRADE STRUCK
(Subsecretário de Administração Geral - SUAG), EDUARDO SEARA MACHADO POJO DO REGO
(Secretário Adjunto de Gestão em Saúde - SAG), RICARDO TAVARES MENDES (então Secretário
Adjunto de Assistência à Saúde - SAA), EDUARDO HAGE CARMO (Subsecretário de Vigilância à
Saúde - SVS) e RAMON SANTANA LOPES AZEVEDO (Assessor Especial do Secretário de Saúde -
ASESP), todos da administração superior da Secretaria de Saúde do DF, articulavam-se entre si para a
montagem de um projeto básico que atendesse aos interesses das empresas e do núcleo de servidores
públicos da organização criminosa, chefiada pelo Secretário de Saúde. Assim, sem que fosse realizado
nenhum estudo que contabilizasse a quantia necessária de testes para o atendimento à população; sem
pesquisas de preços; com publicação de aviso em feriado e com prazos ordinariamente inexequíveis; além
da juntada de propostas coberturas/fictícias – a partir de todos esses atos concatenados foram cumpridas
as etapas do esquema criminoso, tudo a fim de concretizar a violação ao caráter competitivo do certame e
desviar o dinheiro público da saúde, conforme identificado pelo Ministério Público.”

O Ministério Público sintetiza o papel de cada integrante da organização criminosa da seguinte forma:

“(...) FRANCISCO ARAÚJO FILHO, Secretário de Saúde: É ele quem decide qual empresa será
contratada; os prazos exíguos para apresentação de propostas; e até mesmo o quantitativo de testes a
serem adquiridos. Sua atuação é direcionada para lesar os cofres públicos e auferir vantagens pessoais.
Utiliza-se da novel legislação em relação à dispensa de licitação para produtos vinculados ao combate a
COVID - 19 para fraudar os procedimentos administrativos, indicando empresas “parceiras” para
contratarem com a SES/DF. Fica evidente, conforme a investigação, que a cadeia de comando obedece
rigorosamente a sua vontade, especialmente quando há determinação quanto à quantidade de testes a
serem adquiridos e os prazos que devem ser concedidos nas licitações, tarefas essas absolutamente
estranhas às suas funções. Essa atuação fica ainda mais nítida quando se verifica que a empresa LUNA
PARK BRINQUEDOS foi contratada pela SES/DF embora tenha oferecido o maior valor por unidade de
teste na dispensa de licitação, a sua documentação tenha sido oferecida fora do prazo e o parecer inicial
relativo à sua proposta tenha sido pela rejeição. Da mesma forma, o seu protagonismo se evidencia
quando se observa a contratação da empresa BIOMEGA. O projeto básico para tal contratação foi
literalmente elaborado pela própria empresa, enviada ao Secretário e este a repassou aos seus
subordinados para adequação e contratação pela Secretaria de Saúde do DF. Os áudios e mensagens
demonstram essa atuação em benefício da BIOMEGA. Também se demonstra, aqui, que o quantitativo a
ser adquirido foi alterado por determinação do próprio Secretário, que desejava que a empresa fornecesse
100.000 testes iniciais e não os 90.000 publicados no edital. O projeto básico foi então alterado por sua
determinação, conforme mostram os áudios e mensagens constantes do procedimento investigativo e da
presente medida cautelar.

RAMON SANTANA LOPES AZEVEDO, Assessor Especial do Secretário de Saúde: Cuida


pessoalmente de materializar a execução dos interesses do Secretário de Saúde nas licitações da SES/DF,
se articula com as empresas privadas buscando boas contratações que favoreçam o grupo e com os demais
integrantes do grupo em nome do Secretário. As conversas captadas no whatsapp dos telefones
apreendidos mostram que RAMON se articula com empresas e tem como missão buscar bons negócios
para o grupo, chegando a dizer para CHAMON, em áudio, que localizou um fornecedor que teria
1.000.000 de testes e que se fosse assim “daria pra comprar a quantidade que desejavam”, ao que convida
CHAMON para “vistoriar” o produto. Em outra passagem constante na cautelar, JORGE CHAMON,

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demonstrando extrema preocupação com o recebimento de testes que sequer sabiam de onde eram e
afirmando que não havia nenhum contrato vigente, envia mensagem para RAMON SANTANA, buscando
com este último a solução para o grave problema, fato a demonstrar que RAMON tem o controle dos
interesses e das “encomendas” do Secretário de Saúde, tendo ainda a função de corrigir os erros e
“limpar” os rastros cometidos pela organização criminosa. Nesse sentido, em relação aos testes recebidos
inicialmente sem origem conhecida, o próprio RAMON indica para JORGE que aqueles testes eram do
drive thru e tranquilizou JORGE ao afirmar que trataria da questão. Da mesma forma, quando o grupo
criminoso possui questões mais delicadas a tratar, cabe a RAMON convocar os integrantes para reuniões
pessoais com o Secretário de Saúde que, conforme deixam claro, não podem ser tratadas por telefone.
Além do mais, as interceptações telefônicas realizadas com autorização da 5ª Vara Criminal de Brasília
também ratificam e demonstram a função de RAMON como controlador dos membros da organização e
de suas falas em relação as investigações, já que participa ativamente de reuniões de advogados com os
demais membros da organização atingidos na 1ª fase da Operação Falso Negativo, no caso, IOHAN e
CHAMON. Portanto, também é função de RAMON “blindar” o Secretário de Saúde contra eventuais
ataques dos demais membros da organização e preveni-lo quanto a eventuais “falas” desfavoráveis.

EDUARDO HAGE CARMO, Subsecretário de Vigilância à Saúde: O papel primordial de HAGE é


conferir “falsa” validade aos projetos básicos, já que assina todos em conjunto com JORGE
CHAMON. Como autoridade máxima da Vigilância à Saúde, sua chancela no projeto básico busca
afastar eventuais alegações de invalidade ou conluio na edição e lançamento de tais documentos. Da
mesma forma, também é função de HAGE na organização criminosa buscar soluções para atender
as ordens ilegais do Secretário de Saúde, como no caso da BIOMEGA, onde ele articulou-se com os
demais membros para alterar o quantitativo de testes de 90.000 para 100.000, conforme havia sido
determinado pelo Secretário. HAGE tem pleno conhecimento e domínio das ilegalidades, tanto é
que, antes da assinatura do novo projeto básico com 100.000 testes para a empresa BIOMEGA,
CHAMON o avisa que “colocaram uma empresa aí”, ou seja, a fala antecede a própria escolha. O
cargo de Subsecretário confere à HAGE a “mobilidade” e o “poder” necessários para ajustar as
escolhas pré-estabelecidas pelo Secretário de Saúde, como nesse caso. Articula-se, especialmente
com JORGE CHAMON, mantendo com este contato direto, conforme se percebe dos áudios
enviados pelo próprio CHAMON na cautelar. Por fim, áudio captado e enviado por CHAMON
para HAGE mostra que ele tinha pleno conhecimento do superfaturamento que vinha ocorrendo na
SES/DF, quando CHAMON claramente diz que já havia “oferecido pagar até o dobro pelos testes”.

RICARDO TAVARES MENDES, Secretário Adjunto de Assistência à Saúde: Membro fundamental e


segundo na hierarquia da célula criminosa dos servidores públicos. Em relação à contratação da
BIOMEGA, após sugestões de CHAMON para o Secretário de Saúde quanto à realização de inserções no
projeto básico no intuito de conferir “ares de legalidade” a mais uma contratação viciada que o grupo
estava operacionalizando, a ordem do “Chefe” (Secretário de Saúde) foi para que a articulação desse novo
esquema fosse feita com RICARDO TAVARES (SAA). CHAMON encaminha para RICARDO
TAVARES a minuta inicialmente enviada pelo Secretário de Saúde e pede sua aprovação, dando de tudo
ciência a Ricardo que inclusive os testes seriam da marca WONDFO. Demonstrando a hierarquia na
cadeia de comando e o poder de RICARDO, POJO envia mensagem para CHAMON sobre os testes
rápidos e diz que já havia falado com RICARDO TAVARES, demonstrando que precisava da autorização
deste e dizendo que a demanda dos testes do drive thru viria da SVS (Subsecretária de Vigilância
Sanitária), também dominada pelo grupo, na pessoa de EDUARDO HAGE. Em áudio para HAGE,
CHAMON afirma que elaborou a proposta com RICARDO, ou seja, todo e qualquer projeto do grupo
precisava do aval de RICARDO TAVARES para seguimento. A comprovar que RICARDO TAVARES é
o número 2 na hierarquia da SES e que toda a ordem do Secretário de Saúde só tem seguimento após sua
chancela, ele afirma para CHAMON que já havia recebido comando direto do Secretário de Saúde para
seguir com o contrato aditivo da BIOMEGA, determinando todos os passos que CHAMON deveria
seguir. Determina, inclusive, que o contrato deveria ser aditivado em seu percentual máximo, ou seja,
50% e, evidentemente, sem nenhuma justificativa para tal quantitativo. A função primordial de
TAVARES, como segundo na cadeia de comando, é implementar as ordens do Secretário de Saúde nas
dispensas de licitações da SES para o combate ao COVID19, tanto é que mensagens captadas no
Whatsapp de JORGE CHAMON demonstram que RICARDO é quem determina a abertura de novo
processo de drive thru e estabelece, naquele momento, até mesmo o quantitativo (120 mil testes). Em

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menos de 1 hora, CHAMON obedece à ordem e cria no sistema o novo processo de drive thru. Essa
função decisória/executiva de RICARDO TAVARES no grupo criminoso fica ainda mais evidente, pois
ele também articula para que os planos da organização criminosa não sejam frustrados pelo aparecimento
de possíveis “concorrentes” fora do esquema. Para isso, TAVARES determina a CHAMON a inserção de
cláusulas restritivas no edital do novo drive thru, com a ordem de que IOHAN fosse avisado para dar
seguimento ao plano, tudo conforme constam nas mensagens obtidas no aparelho celular do Diretor do
LACEN.

EDUARDO SEARA MACHADO POJO DO REGO, Secretário Adjunto de Gestão em Saúde: POJO é o
terceiro membro na sucessão organizacional, tendo status de Secretário Adjunto, assim como RICARDO.
Percebe-se que POJO recebe comandos diretos do Secretário de Saúde e age na intermediação dessas
ordens com os demais subordinados e operadores da organização criminosa, os quais estão em células
inferiores, para que tudo saia perfeito nas dispensas de licitações. Percebe-se, ainda, que POJO também
tem a tarefa de lidar diretamente com as empresas fornecedoras de testes e informá-las do que é preciso
para que “tudo saia perfeito na dispensa de licitação”, recebendo instruções de o que a empresa deve
apresentar, instruções estas vindas de células compostas por membros de escalão inferior, a exemplo de
EMANNUEL. Atua articuladamente com IOHAN STRUCK, Subsecretário de Administração
Geral-SUAG, na tramitação do procedimento licitatório direcionada à contratação da empresa de interesse
do Secretário da Saúde, ou seja, na prática de atos administrativos visando unicamente atender aos ensaios
da organização criminosa. Nesse sentido, contando com o apoio dos subordinados ERIKA MESQUITA
TEIXEIRA e EMANNUEL DE OLIVEIRA CARNEIRO, respectivos Gerente de Aquisições Especiais e
Diretor de Aquisições Especiais - GEAQ/SUAG, combinaram nos bastidores – conforme demonstrado
pelo laudo pericial do aparelho celular de IOHAN e de JORGE CHAMON – as providências
administrativas a serem adotadas para que a LUNA PARK BRINQUEDOS se sagrasse vencedora da
dispensa de licitação nº 16/2020. Feito o ajuste, cada um deles proferiu despachos e outros andamentos no
procedimento de modo que, ao final, a LUNA realmente foi consagrada vencedora. Exemplo disso foram
os comandos dados por EDUARDO POJO no grupo do WhatsApp intitulado de “PRIORIDADES” para
que fosse oportunizado à empresa LUNA PARK o prazo para cumprir as exigências editalícias, tal como
descrito no item 51 da inicial da ação cautelar. Em corroboração, trocas de mensagens entre EDUARDO
POJO e EMANNUEL demonstram a preocupação de POJO em saber se a empresa LUNA PARK havia
mandado a documentação que faltava. Outra demonstração de atuação concertada entre POJO e IOHAN
em atendimento à determinação do líder FRANCISCO ARAÚJO é conversa entre ambos no aplicativo
WhatsApp a respeito do quantitativo testes rápidos que deveria constar no projeto básico do 2º
procedimento analisado – drive thru. Após insistência de FRANCISCO ARAÚJO no montante de
100.000 testes, EDUARDO POJO informa essa alteração a IOHAN – haja vista que até então seriam
90.000 testes – que, por sua vez, responde em seguida ao informar o cumprimento da ordem e envia o
projeto básico atualizado. Além disso, foi captada mensagem de voz em que POJO ajusta com JORGE
CHAMON a aposição de prazo exíguo no projeto básico para apresentação de propostas nessa 2ª
contratação, tudo isso para frustrar o caráter competividade e, assim, deixar o caminho aberto para que a
BIOMEGA saísse vencedora.

IOHAN ANDRADE STRUCK, Subsecretário de Administração Geral: tem papel de destaque e


relevância na organização criminosa. Acompanha todos os trâmites dos procedimentos licitatórios,
controla o que vai para a publicação e os ofícios com as informações que as empresas devem apresentar,
além de montar os processos com os documentos necessários para que o procedimento tenha aparência de
licitude. Tem pleno acesso ao e-mail dispensalicitação.sesdf@gmail.com e determina o que deve ou não
ser juntado aos respectivos processos administrativos, tudo a favorecer a livre atuação do grupo criminoso
e evitar deixar rastros das ilicitudes, contando sempre com a ajuda dos subordinados da DAESP e GEAQ,
respectivamente, Diretoria e Gerência de Aquisições Especiais. IOHAN também controla o que deve ir ou
não para a publicação, sempre após receber autorização do Secretário de Saúde e, ainda, o que deve ser
pago, tudo sob as ordens de FRANCISCO. Percebe-se que IOHAN é o homem de confiança do Secretário
de Saúde em relação aos procedimentos administrativos nas dispensas de licitações da SES/DF. Além do
mais, é IOHAN STRUCK quem elabora os atos de reconhecimento e ratificação de dispensa de licitação,
quando tais atos são assinados pelos dois. Isso porque, percebe-se que os despachos eletrônicos de
RECONHECIMENTO e de RATIFICAÇÃO de dispensa são encaminhados juntos e é sempre IOHAN
quem assina primeiro. Outra essencial função de IOHAN é emitir as notas de empenho quando o
Secretário determina o pagamento, ou seja, é IOHAN quem detém a “chave do cofre”, tanto é que

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constantemente é procurado pelas empresas. Isso fica evidente quando IOHAN é chamado pela pessoa de
“Mauro dos testes da BIOMEGA”, o qual cobra o pagamento pelos serviços contratados. Também é
responsável, na companhia de EDUARDO POJO e dos subordinados ERIKA e EMANNUEL, pela
adoção de atos administrativos direcionados à contratação da empresa de interesse do Secretário da
Saúde, conforme explicado acima. Fato bastante expressivo desse papel de IOHAN foi a sua intensa
articulação para que o contrato firmado com a BIOMEGA fosse aditado em 50%. Não obstante a
inviabilidade de se atestar a vantajosidade da prorrogação contratual, IOHAN teve que se movimentar
para fazer com que JORGE CHAMON proferisse manifestação favorável ao aditivo, providência
indispensável para o aditamento almejado pela organização criminosa.

JORGE CHAMON, Diretor do Laboratório Central: responsável pela elaboração de manifestações


desprovidas de respaldo técnico-científico e pela adoção de providências estranhas à sua competência,
tudo isso para atender as expectativas do grupo criminoso. A principal função de CHAMON dentro dessa
célula criminosa é orientar tecnicamente o grupo como proceder, a forma de como devem ser lançados
alguns itens no edital para “evitar problemas” e, especialmente, tem ele a tarefa de chancelar os projetos
básicos e justificar, falsamente, os quantitativos que estão sendo comprados, já que se sabe que o
montante de testes adquiridos pela SES não tem respaldo nas necessidades da população do DF, mas na
vontade e aleatoriedade expressas pelo Secretário de Saúde. Ele ainda atua entrosado com IOHAN na
confecção de despachos em feriados e finais de semana para agilizar procedimento de dispensa de
licitação de modo a inviabilizar a concorrência, em típico direcionamento na contratação. JORGE
CHAMON ainda é a autoridade incumbida de proceder à análise da habilitação das empresas interessadas
na contratação. Nesse aspecto, ele realiza diversas ilegalidades ao habilitar empresas que não
apresentavam a documentação necessária, chamando a atenção o fato de ele ter habilitado a LUNA PARK
BRINQUEDOS mesmo ela tendo indicado item totalmente estranho ao objeto do certame – detecção da
Hepatite C. E isso após o mesmo JORGE CHAMON ter, em momento anterior, reprovado essa mesma
proposta comercial. JORGE CHAMON ainda foi capaz de aprovar a proposta da LUNA PARK sem que
tivesse realizado qualquer análise sobre a qualidade técnica do produto a ser entregue, haja vista que a
empresa sequer havia indicado a marca/laboratório do produto na proposta. JORGE CHAMON, então,
fica encarregado de redigir documentos necessários ao andamento da dispensa de licitação, mas que, para
isso, ele se vale de argumentos claramente genéricos e sem qualquer fundamento idôneo apto a embasar a
sua conclusão favorável aos desejos dos envolvidos no esquema criminoso. Outro fato relevante foram
conversas travadas entre ele e FRANCISCO ARAÚJO que revelam que JORGE CHAMON recebeu o
projeto básico de FRANCISCO que havia sido elaborado por representante da BIOMEGA. Também se
constatou o reencaminhamento de um arquivo contendo todo o detalhamento do projeto de drive thru,
também confeccionado pela empresa BIOMEGA. Tudo isso antes mesmo de, formalmente, haver
instauração do procedimento licitatório correspondente. Destaca-se ainda o fato de JORGE CHAMON ter
indicado ao Secretário da Saúde a marca WONDFO para os produtos da contratação do drive thru desde o
início das tratativas nos bastidores entre eles, marca esta que acabou sendo a efetivamente entregue pela
BIOMEGA à SES/DF. A atividade do grupo criminoso é compartimentada, sendo que a atuação de cada
um, por vezes, é mais destacada em um expediente do que em outro, ficando nítida, todavia, a conjugação
de esforços comuns para atender aos interesses da organização criminosa. Cada expediente analisado
possui viés próprio que extrapolam e contrariam os deveres inerentes aos seus cargos públicos. (...) (grifo
nosso)

Pois bem. Para além do robusto teor probatório fruto das Fases 1 e 2 da Operação “Falso Negativo”,
quanto aos aqui representados EDUARDO HAGE CARMO e EMMANUEL DE OLIVEIRA
CARNEIRO, existem fatos novos aptos a ensejar a contemporaneidade das condutas descobertas, desde o
mês de abril do corrente ano, bem e a urgência e relevância da medida de prisão preventiva ser decretada
inaudita altera pars, fatos esses, inclusive, que só puderam ser apreciados, após a realização dos laudos
pertinentes, o que só ocorreu após a concessão da ordem de Habeas Corpus em favor do acusado
EDUARDO, conforme exigência do art. 312, § 2º, do Código de Processo Penal, com a inclusão do
dispositivo pela Lei nº 13.964/19.

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No que se refere a EDUARDO HAGE CARMO, conforme se depreende da leitura da decisão do exmo.
Sr. Ministro Rogério Schietti, o motivo principal que ensejou a sua colocação em liberdade foi a
consideração de sua possível atividade acessória na cúpula da SES/DF, consistente, basicamente, em
assinatura de expedientes necessários para a efetivação das dispensas de licitação superfaturadas, bem
como a articulação com os demais membros de cúpula para a consecução das ordens do ex-Secretário de
Saúde do Distrito Federal, FRANCISCO ARAÚJO FILHO.

Entretanto, conforme se vê claramente dos elementos de prova irrepetíveis, como interceptações


telefônicas e acesso a dados em aparelhos celulares após deferimento por este Juízo, obtidos como
resultado da FASE 1 da Operação Falso Negativo, foi constatada que a sua atuação foi principal, e não
acessória.

Conforme salientado pelo Ministério Público, os laudos periciais e respectivos relatórios de análise só
ocorreram após 28/8/2020, data da concessão da supra mencionada ordem de Habeas Corpus em favor do
representado EDUARDO HAGE.

Diversos elementos apontam seu protagonismo, especialmente quanto à tramitação e resultado da


Dispensa de Licitação nº 20/2020 – SES/DF, encartada ao Processo Eletrônico SEI/GDF nº
00060.00180684/2020-52, teve como escopo a contratação de empresa especializada para execução de
serviços, no formato Drive Thru, consistentes na realização de testes rápidos do tipo IgG e IgM para
detecção do Covid-19, incluindo a disponibilidade de recursos humanos habilitados, gerenciamento de
resíduos, alimentação, gerenciamento de dados (envio de dados para a Secretaria de Vigilância em Saúde
e para a Secretaria Adjunta de Assistência) e emissão de resultado físico e eletrônico para atender às
demandas da Secretaria de Saúde. O procedimento administrativo referenciado iniciou-se com o Projeto
Básico-SES/SUAG/CEIC, datado de 1º de maio de 2020 , assinado por JORGE CHAMON, Diretor do
LACEN, e por EDUARDO HAGE, Subsecretário de Vigilância à Saúde - e previu o oferecimento de
6.000 Testes Rápidos por dia para Coronavírus (COVID-19), do tipo IgG e IgM, no intervalo de 15 dias,
totalizando 90.000 testes, a serem realizados em 15 unidades distribuídas pelo DF, quantitativo este, que,
por insistência e ordem do ex-Secretário de Saúde FRANCISCO ARAÚJO, foi aumentada para 100.000.

Conforme o Relatório nº 22/2020-ANAPI/GAECO/MPDFT, o arquivo encaminhado por whatsapp ao


Secretário de Saúde FRANCISCO ARAÚJO contendo a minuta do projeto básico da DL nº 20/2020 –
SES/DF e reencaminhado ao Diretor do LACEN, JORGE CHAMON, é de autoria de ROBERTA
CHELES DE ANDRADE VEIGA, a Coordenadora de Licitações da Empresa BIOMEGA MEDICINA
DAGNÓSTICA LTDA. Inclusive, desde já, registre-se que não somente a minuta/modelo de projeto
básico é de sua autoria como também foi ela quem apresentou e assinou a proposta vencedora da
BIOMEGA, a qual está devidamente encartada nos autos da dispensa de licitação. Coincidentemente, a
proposta que vigorou e foi aprovada pela SES/DF (identificada como “Modelo – Termo de Referência
Corona 01.05.2020”), após tramitação no “Dia do Trabalhador”, é idêntica, contendo, inclusive os
mesmos erros de ortografia, daquela repassada por EDUARDO HAGE no dia 8 de abril de 2020,
intitulada “Modelo – Termo de Referência Corona 8.4.2020”.

Conforme bem delineado no Relatório nº 34/2020/ANAPI/GAECO (reitero, produzido em 5/9/2020,


portanto após a soltura de EDUARDO HAGE), o primeiro a receber o expediente produzido por
ROBERTA CHELES da BIOMEGA foi EDUARDO HAGE, o que ocorreu 25 dias antes de ser
anunciado o resultado oficial da futura dispensa de licitação para contratação dos serviços de drive thru
(DL nº 20/2020/SES/DF) e não somente no dia 01/05/2020. Houve, portanto, tempo suficiente para a

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articulação criminosa, negociações espúrias com empresas, ajustes no projeto básico/termo de referência
para favorecer a BIOMEGA e a escolha do melhor momento para a deflagração da DL, o que foi feito,
relembre-se, durante o feriado do Dia do Trabalhador (01 de maio de 2020).

Nesse sentido, os atos para contratação da BIOMEGA desenvolveram-se tanto no âmbito interno da
SES/DF, como no âmbito externo, com a ação conjunta dos servidores e dos particulares ligados àquela
empresa. Como adiantado, em 09 de abril de 2020, EDUARDO HAGE telefonou e conversou com
JORGE CHAMON e, em seguida, encaminhou um arquivo com a extensão “PDF”, com o seguinte título:
“Modelo – Termo de Referencia Corona 08.04.2020.pdf”.

Ou seja, repete-se aqui o mesmo padrão identificado no Relatório nº 22/2020/ANAPI/GAECO com o


envio do arquivo de mesmo nome, mas com data de 08.04.2020. E nem se diga que essa prova descoberta
e obtida, a partir do telefone de EDUARDO HAGE, está isolada.

Ao serem analisadas as mensagens trocadas entre CHAMON e HAGE, todas alocadas no telefone celular
deste último (apreendido na 2ª FASE DA OPERAÇÃO FALSO NEGATIVO), imediatamente a
Assessoria de Análise de Informações passou a confrontá-las com o conteúdo extraído do telefone celular
de JORGE CHAMON (apreendido na 1ª FASE DA OPERAÇÃO FALSO NEGATIVO – Laudo nº
53.116), obtendo análise comparativa positiva para 100% das mensagens. Ou seja, as mesmas mensagens
constantes do telefone de HAGE também estão alocadas no telefone celular de CHAMON, corroborando
assim o conteúdo extraído do aparelho de EDUARDO HAGE.

Assim como já havia sido indicado no Relatório nº 22/2020/ANAPI/GAECO, ao se abrir o novo arquivo,
é possível verificar que se trata de uma espécie de indicação do conteúdo mais importante do “futuro”
termo de referência/projeto básico da SES/DF para contratação de serviços de testes rápidos do tipo drive
thru. Tal arquivo também foi encaminhado, em 1/05/2020, no formato “word/.doc”, pelo Secretário de
Saúde, FRANCISCO ARAUJO FILHO, a JORGE CHAMON, consoante detalhadamente analisado no
Relatório nº 22/2020-ANAPI/GAECO.

Nesse sentido, apurou-se que EDUARDO HAGE foi o principal articulador para que a BIOMEGA fosse
a vencedora do referido procedimento, inclusive em razão de contato telefônico realizado por ele a
ROBERTA CHELES, funcionária da empresa BIOMEGA, de acordo com a análise do RELATÓRIO N.
34/2020-ANAPI/GAECO.

E, quase duas semanas após a homologação do certame, EDUARDO HAGE perguntou para JORGE
CHAMON acerca da sensibilidade dos testes utilizados no drive trhu, tendo JORGE CHAMON afirmado
que o drive thru estava usando a marca WONDFO, marca diversa da ofertada pela empresa no início da
dispensa de licitação, o que não enfrentou obstáculos, em razão da ausência total de fiscalização dos
serviços. Ademais, a empresa demonstrou ter poder e influência suficiente sobre o Secretário de Saúde
para entregar a marca que desejasse, sem qualquer preocupação com o definido no resultado da dispensa
de licitação”, conforme Relatório nº 21/2020-ANAPI/GAECO.

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Para que se entenda definitivamente a gravidade do direcionamento de licitação relativo à prestação de
serviço de drive thru para uso de testes de detecção da COVID-19, isso chamou a atenção e provocou
indignação, inclusive, de uma das empregadas da própria empresa BIOMEGA. O relatório nº 18 da
Divisão de Investigação do GAECO aponta que EDUARDO HAGE e o aqui representado EMMANUEL,
além de ter trabalhado diretamente na contratação da BIOMEGA, tinha plena e inequívoca ciência de que
não havia qualquer fiscalização nos testes contratados via drive thru, e que os procedimentos utilizados
estavam fora da legalidade. Inclusive, a empregada da BIOMEGA relata a EMMANUEL que a cada
momento uma marca de teste diferente é utilizada, bem como a ineficiência do sistema, mostrando-se
absolutamente incrédula e revoltada da forma como a testagem era conduzida pela empresa e que “eles
não tão nem aí” (a empresa) e “só querem saber de ganhar dinheiro”. O próprio EMANNUEL relata: “E
ganharam muito dinheiro viu”. A sequência de mensagens e os áudios são estarrecedores. Ou seja, a
população do Distrito Federal, na área de saúde, está absolutamente desamparada, especialmente
considerando que o servidor público que lidava com as contratações participava e anuía com todas as
ilegalidades. O áudio entre eles, oriundo do dia 5/7/2020, dois meses após a homologação do certame, é
estarrecedor:

“Sabe quando você não quer acreditar?”, “Por que que não faz as coisas direito?”, “Eu estava
muito indignada lá na testagem, justamente por conta disso, cara!”, “Todo dia chegava teste marca
diferente né? fabricante diferente, a especificidade era diferente...” “...ninguém tá nem aí, sabe? Pro
ser humano...se a pessoa vai morrer vai, se não vai...eles não ‘tão’ nem aí, eles só querem saber de
ganhar dinheiro!”. Em 05/07/2020, às 19:46h, EMMANUEL diz: “Qual a marca dos testes que vcs
usavam?”, “Ah tá, cada dia era um”, “Triste”, “E ganharam muito dinheiro viu”. Em 05/07/2020, às
19:47h, WANESSA responde: “eco, wodfo” e, em áudio explica que lembrava apenas “desses dois”,
em referência ao eco e wodfo, que “a cada semana, a cada quinze dias” mudava a marca. (grifo
nosso)

Logo, é forçoso concluir que a nova decretação da prisão preventiva contra EDUARDO HAGE está
respaldada pela parte final do caput do artigo 316 do CPP. Isso porque, consoante detalhado alhures,
sobrevieram fortes razões que justifiquem novo decreto condenatório contra ele, as quais, sobretudo,
demonstram a sua posição de destaque no mecanismo da organização criminosa, e não mera participação
secundária, sobressaindo notória a relevância de suas tarefas no âmbito da organização criminosa
especialmente pelo fato de que tinha pleno conhecimento de todo o esquema delituoso, e especificamente
no que se refere à contratação da empresa BIOMEGA, cuja proposta, EM BRANCO, já estava na posse
dele desde março de 2020, e que havia sido por ele repassada aos demais investigados para fins de sua
posterior utilização nessa dispensa de licitação de drive thru de detecção de testes da COVID-19, já
sabendo de antemão que seria a empresa a ser considerada vencedora e adjudicatária de quantias
milionárias advindas dos cofres públicos do Distrito Federal. Inclusive, o resultado foi publicado em
menos de 24 (vinte e quatro) horas após intensa tramitação no feriado do dia 1º/5/2020 (um sábado,
inclusive), tendo a homologação da dispensa em favor dessa empresa ocorrido logo na segunda feira, dia
3/5/2020, por exigência expressa do Secretário de Estado Francisco Araújo.

No que se refere ao representado EMMANUEL DE OLIVEIRA CARNEIRO, viu-se, das conversas


obtidas por meio de aplicativo de comunicações, que desde março deste ano, o Ministério Público, em sua
representação, trouxe diversas conversas do dia 20/3/2020 entre ele e EDUARDO POJO, vangloriando-se
de responder a outros processos perante do TCDF, especialmente no que se refere à análise de caso de
superfaturamento de medicamentos destinados ao tratamento de Hepatite tipo “C”, visto que não foram
sequer responsabilizados pelo TCDF, nem mesmo foi-lhes determinada recomendação da Corte de Contas
nesse particular, motivo de piada e orgulho entre eles. Conforme faziam pouco caso do Membro do
Ministério Público de Contas do Distrito Federal, disseram que as compras relativas às substâncias
ALFAEPOETINA e RIBAVIRINA teriam sido “500 vezes” mais caras e não foram responsabilizados,

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motivo pelo qual concluem que se tais compras teriam justificativa para aquisição, o que mais não teria?
EMMANUEL continua dizendo que “arrasou muito” e que “saiu ILESO”, pois, segundo seus cálculos, o
superfaturamento teria ocorrido em 4100% (quatro mil e cem por cento).

Não bastasse isso, ficou constatado que EMMANUEL, que se encontra na mesma situação fática de
EDUARDO POJO, diante do engajamento e das diligências empregadas para a consecução dos fatos
criminosos aqui investigados, anteriormente demonstrados na FASE 2 desta Operação, estava muito bem
a par de todo o esquema em tese delituoso e cumpria, dolosamente todas as determinações ilícitas, sempre
causando elevado prejuízo ao Distrito Federal por meio das dispensas de licitação direcionadas e
superfaturadas, levadas a efeito pela SES/DF, a comando do ex-Secretário de Saúde FRANCISCO
ARAÚJO. Nesse sentido, é o teor do diálogo transcrito no Relatório nº 17/2020 da Divisão de
Investigação do GAECO/MPDFT, em que EDUARDO POJO, falando com “Eduardo Amor”, afirmou
que o Secretário de Saúde sempre quer que compre “roubando”:

A pessoa identificada como “Eduardo Amor”, trata-se de EDUARDO DE SOUSA PAULA, cônjuge de
EDUARDO SEARA MACHADO POJO DO REGO. Em 05/05/2020, às 13:45h, POJO afirma: “eu acho
que o círculo está se fechando”, “ele BERRAVA e falava que daqui a 15 dias ele não estará mais
aqui”, “se eu não conseguir comprar testes”, EDUARDO diz: “Vixe amor”, “Mas ele quer que
compre roubando”, “Fica mais difícil né”, POJO responde: “SEMPRE AMOR”,
“SEMPREEEEEEEEE”, “não tem uma que dá certo”, “é impressionante”, EDUARDO comenta:
“Então”, POJO completa: “as que ele não se mete”, EDUARDO: “Se fizesse certo já tinha
comprado”. (grifo no original)

Houve, ainda, mensagens trocadas entre EDUARDO e EMMANUEL ainda mais concretas.
EMMANUEL revela espanto, inclusive, quanto ao preço “oferecido” pela LUNA PARK, a loja de
brinquedos que foi beneficiária do esquema delituoso, qual seja de R$ 180,00 (cento e oitenta reais) por
unidade de teste para detecção da COVID-19, preço, inclusive, que foi o mais alto dentre os lances
oferecidos pelas outras participantes, possivelmente meras figurantes do certame, visto que, à época, em
março deste ano, cada um dos testes custaria apenas R$ 9,00 (nove reais), conforme arquivos
encaminhados entre eles. Além disso, a proposta da empresa LUNA PARK, de que já tinha posse
antecipadamente, foi transmitida a EDUARDO POJO, sem qualquer assinatura, antes mesmo de qualquer
formalização ou publicação do resultado do procedimento de dispensa de licitação, a indicar, estreme de
dúvidas, a ciência da ilicitude de todos os fatos relacionados às compras de testes rápidos.

Finalmente, no que se refere à atuação de ERIKA MESQUITA TEIXEIRA, Gerente de Aquisições


Especiais, suas ações nos procedimentos de interesse da organização eram executadas por ordens diretas
de EMMANUEL CARNEIRO e IOHAN STRUCK, geralmente transmitidas a esses por EDUARDO
POJO, o qual se articulava com os demais integrantes da cúpula da saúde e com as empresas privadas,
ficando suficientemente demonstrado que ela executou diversos atos nos processos de dispensa de
licitação que ocasionaram prejuízo milionário ao erário do Distrito Federal.

Como dito, ERIKA não tinha elevado poder decisório, muito embora tenha executado atos relevantes e,
sem os quais, as fraudes executadas pelo grupo não poderiam ter sido levadas a efeito. Dentre estes atos,
é fácil identificar a proteção e a prioridade conferidas à empresa LUNA PARK. Nesse sentido, ficou
demonstrado que, sob as ordens diretas de EMMANUEL, ERIKA assinou despacho encaminhando o
processo da LUNA PARK para alocação de recursos na ordem de R$ 16.200.000,00, valor este que se
refere, exatamente, ao montante descrito na proposta da LUNA PARK para fornecimento de 90.000 testes

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rápidos, o que se deu por volta de 18 horas do dia 30 de abril, podendo-se concluir que ela também tinha
conhecimento de que a LUNA PARK já havia sido escolhida antes da formalização da vitória nos autos,
exatamente porque FRANCISCO ARAÚJO sequer havia declarado a LUNA como vencedora do certame.
A ordem para pagamento da empresa parceira transitou pela cadeia de comando e alcançou a Gerência de
Aquisições Especiais, que foi prontamente executada por ela.

Também assim, após o término dos prazos, viu-se por meio do Laudo nº 54.039/2020, e do Relatório nº
17/2020/DI/GAECO, que EDUARDO POJO e EMMANUEL conversaram sobre a necessidade de
solução para o “caso LUNA PARK”, tendo EMMANUEL determinado à ERIKA que executasse a tarefa
de forma a não deixar rastros e dificultar futura investigação ou auditoria, ao que POJO exclamou
“Ótimo!”

Presente também o periculum libertatis quanto aos representados EDUARDO HAGE e EMMANUEL,
uma vez que se trata de facção criminosa com nível elevado de organização. Na esteira do que já foi
decidido na Fase 2 da presente apuração, não há dúvida de que os fatos são gravíssimos, porque
praticados em momento de grande sensibilidade e mobilidade mundial para o enfrentamento da
emergência de saúde pública, de importância internacional decorrente do COVID-19, para dispensar
licitações e adquirir produtos superfaturados e de qualidade duvidosa, principalmente em favor das
empresas LUNA PARK BRINQUEDOS e BIOMEGA.

Portanto, a periculosidade social das condutas é intensa e evidente. Como se vê, trata-se de perigo
concreto, não meramente abstrato a justificar a decretação da prisão preventiva também destes
representados providência extremada da prisão preventiva, diante, inclusive, das evidências de ajustes de
discursos entre os integrantes da cúpula da Secretaria de Saúde, além do embaraço à fiscalização dos
processos administrativos, demonstram que a prisão cautelar também tem sua imprescindibilidade
lastreada no juízo prospectivo quanto à probabilidade de que os investigados, uma vez em liberdade,
possam atrapalhar a colheita de elementos probatórios voltados ao esclarecimento de qualquer dos fatos
em apuração.

Atendidos, portanto, os requisitos do artigo 312, do CPP, na medida em que a prisão preventiva dos
representados é necessária para garantia da ordem pública e para evitar a reiteração criminosa, com a
desarticulação, definitiva, do suposto esquema criminoso investigado.

Considerando todo esse contexto, de fato a prisão preventiva é essencial também para propiciar a devida
instrução criminal e impedir os investigados de continuarem em sua escalada criminosa, pois, ainda que
exonerados, o contexto fático revela a grande influência que possuíam sobre os servidores e, quiçá,
ainda possuem, situação esta que deverá ser acautelada até análise final das provas capturadas e
pleno conhecimento de todos os envolvidos.

Frise-se, por fim, que o caso se amolda perfeitamente ao descrito no art. 313, incisos I e II, do CPP.

Ademais, não há dúvidas de que a medida de busca e apreensão requerida pela autoridade policial
também é imprescindível para que se investigue de forma mais aprofundada os delitos em questão, posto

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ser extremamente provável que haja elementos relacionados ao presente feito nos domicílios dos
investigados, a fim de robustecer os elementos de informação já juntados aos autos. E, mais, após a busca
e a apreensão de bens relacionados ao objeto desta operação, é provável que sejam encontrados nomes de
terceiros também envolvidos no esquema delituoso em questão, em documentos escritos e,
principalmente, nos dados telefônicos dos aparelhos que porventura venham a ser apreendidos.

Logo, demonstrado o fumus boni iuris, com base na fundamentação anterior, é forçoso concluir que está
presente o periculum in mora da medida, nos termos das alíneas “b”, “c”, “f” e “h” do § 1º do art. 240 do
CPP, pois não há outro meio eficaz para a obtenção das provas requeridas e há a necessidade de se
buscarem e apreenderem celulares, computadores, tablets, dispositivos de armazenamento de mídias etc.,
coisas achadas ou obtidas por meios criminosos, instrumentos de falsificação ou de contrafação e objetos
falsificados ou contrafeitos, cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder, quando haja
suspeita de que o conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à elucidação do fato e qualquer outro
elemento de convicção vinculado ao presente caderno investigatório.

Quanto ao pedido de acesso aos dados telefônicos, como se sabe, e de acordo com a jurisprudência do
STJ sobre o tema, não se aplica a Lei 9296/96, por não se tratar de hipótese de interceptação telefônica,
mas simples acesso aos dados contidos nos terminais telefônicos.

Todavia, apesar de o sigilo dos dados ser assegurado constitucionalmente, pode ser restringido em
excepcionais hipóteses, sendo o caso vertente dos autos uma delas, pois se busca, a um só tempo, a
robustecer a instrução criminal e favorecer as investigações policiais, nos termos da fundamentação acima
expendida.

Ademais, o acesso aos aparelhos eletrônicos apreendidos tanto em poder dos representados quanto em
suas residências se revela ainda mais importante na presente operação, visto que se valem de
comunicações por meio eletrônico para a suposta realização e perpetuação do esquema criminoso
decorrente de direcionamentos de licitação em favor de certas empresas e fraudes aos procedimentos de
dispensa de licitação para aquisição de testes rápidos para detecção do COVID-19 no Distrito Federal,
fora ainda possíveis delitos de peculato e lavagem de dinheiro, tudo em possível âmbito de organização
criminosa mantida pelos agentes públicos que atuavam na cúpula da Secretaria de Estado de Saúde do
Distrito Federal, de modo que tais dispositivos, certamente possuem informações sensíveis sobre os
crimes em apuração e, provavelmente, de outros ainda não identificados.

Como se vê da presente FASE 3 da Operação “Falso Negativo”, a obtenção de dados em aparelhos


apreendidos nas fases anteriores se mostrou uma forma bastante eficaz para o prosseguimento e
aprofundamento das investigações realizadas até então.

Posto isso, nos moldes da fundamentação “supra”, DEFIRO OS PEDIDOS FORMULADOS na presente
medida cautelar para:

a) DECRETAR A PRISÃO PREVENTIVA, de EDUARDO HAGE CARMO (CPF nº 261.925.605-44)


e EMMANUEL DE OLIVEIRA CARNEIRO (CPF nº 011.881.751-57), para a garantia da ordem

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pública, da aplicação da lei penal, por conveniência da instrução criminal e para impedir a reiteração
criminosa, consubstanciada na manutenção do esquema criminoso perante a Secretaria de Saúde do
Distrito Federal acima mencionado, nos termos dos arts. 312, “caput”, e 313, I, do CPP, podendo ser
presos em qualquer local onde forem encontrados;

b) DECRETAR MEDIDA CAUTELAR DIVERSA DA PRISÃO, consistente na PROIBIÇÃO DE


FREQUÊNCIA EM QUAISQUER DEPENDÊNCIAS DA SECRETARIA DE SAÚDE DO DISTRITO
FEDERAL em desfavor de ERIKA MESQUITA TEIXEIRA, CPF 049.947.151-22, para garantia da
ordem pública, evitando-se a reiteração de novas infrações, e conveniência da instrução criminal, nos
termos do art. 319, II, do Código de Processo Penal.

c) DEFERIR os pedidos de busca e apreensão domiciliar, nos termos do art. 240, § 1º, do Código de
Processo Penal, nos seguintes endereços:

- SQS 205, BLOCO “I”, APT. 404, ASA SUL, BRASÍLIA/DF (vinculado a EDUARDO HAGE
CARMO)

- QNA 9, CASA 11, TAGUATINGA NORTE/DF (vinculado a EMMANUEL DE OLIVEIRA


CARNEIRO)

d) AUTORIZAR O ACESSO INTEGRAL E A EXTRAÇÃO DE TODOS OS DADOS, NOS TERMOS


DO ART. 5º, XII, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL em eventuais aparelhos eletrônicos e aparelhos
celulares que sejam encontrados no cumprimento da medida de busca e apreensão e/ou que estejam em
sua posse ou portados pelos representados ou em suas residências, especialmente:

I - Arquivos eletrônicos de qualquer natureza, agendas eletrônicas ou manuscritas, hard drives,


computadores, laptops, pen drives, disquetes, mídias, telefones celulares, smartphones, tablets, todo e
qualquer papel ou documento que contenha material probatório de interesse da investigação, valores em
moeda nacional ou estrangeira que sejam de alto valor (acima de R$ 5.000,00 – inclusive em moeda
estrangeira) e desde que não haja imediata comprovação da origem lícita;

II – DETERMINO QUE autoridades encarregadas das apurações poderão ter livre acesso a quaisquer
dados armazenados nos dispositivos apreendidos (com a quebra de senhas, se for o caso) e inclusive
acessar, no local das buscas, caso necessário, todos eles (computadores, smartphones, celulares, tablets,
etc.), ainda que contenham comunicações registradas no próprio aparelho ou em qualquer aplicativo.

DOU À PRESENTE DECISÃO FORÇA DE MANDADO DE PRISÃO e MANDADO JUDICIAL,


com o fim de viabilizar o imediato cumprimento de todas as medidas de prisão preventiva, de
proibição de acesso às dependências da SES/DF por parte da representada ÉRIKA MESQUITA
TEIXEIRA, de busca e apreensão e acesso aos dados de aparelhos eletrônicos que vierem a ser
apreendidos.

Número do documento: 20092417010259600000069078957


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Assinado eletronicamente por: ANA CLAUDIA DE OLIVEIRA COSTA BARRETO - 24/09/2020 17:01:02 Num. 73092561 - Pág. 14
Em atenção ao resguardo, sigilo, simultaneidade e sucesso das diligências, DETERMINO A
PROIBIÇÃO da divulgação dos mandados nos Sistemas de Registro, exatamente porque os
investigados podem se valer dos bancos de dados públicos para consulta.

Outrossim, considerando as especificidades das apurações, determino que esta decisão, com força
de mandado judicial, ou, caso excepcionalmente seja necessária ulterior expedição de mandados
avulsos, sejam expedidos aos cuidados e para cumprimento pelo Ministério Público do Distrito
Federal e Territórios, por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado
(GAECO/MPDFT), que se encarregará de requisitar auxílio policial para o cumprimento das
diligências, caso seja necessário.

O GAECO/MPDFT deverá comunicar de imediato, quando do seu cumprimento, que deverá ocorrer no
prazo de 15 (quinze) dias após o recebimento da presente ordem judicial.

Anote-se que as informações obtidas devem ser mantidas em sigilo, visto que a publicidade poderá
inviabilizar a investigação e a aplicação da Lei Penal.

Observe-se o segredo de justiça que se reveste a presente medida, bem como as disposições do CNJ.

Finalmente, quanto ao pedido de levantamento do sigilo das medidas cautelares destes autos, decidirei
após o cumprimento das medidas cautelares ora deferidas.

Cumpra-se. Dê-se ciência à GAECO/MPDFT.

COMUNIQUE-SE À SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL para que


adote as providências necessárias à proibição do acesso da representada ÉRIKA MESQUITA TEIXEIRA
às dependências da SES/DF.

Providências pela Secretaria para a expedição do necessário.

BRASÍLIA, DF, 24 de setembro de 2020 16:58:14.

ANA CLAUDIA DE OLIVEIRA COSTA BARRETO

Juíza de Direito

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