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ESTADO DE MATO GROSSO

PODER JUDICIÁRIO

SEGUNDA CÂMARA CRIMINAL

Número Único: 1018678-34.2021.8.11.0000


Classe: HABEAS CORPUS CRIMINAL (307)
Assunto: [Injúria, Ameaça, Cerceamento de Defesa]
Relator: Des(a). PEDRO SAKAMOTO

Turma Julgadora: [DES(A). PEDRO SAKAMOTO, DES(A). LUIZ FERREIRA DA SILVA, DES(A). RUI RAMOS RIBEIRO]

Parte(s):
[MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO - CNPJ: 14.921.092/0001-57 (TERCEIRO INTERESSADO),
MARIA DE FATIMA COSTA DE ASSIS - CPF: 036.692.941-04 (VÍTIMA), JUÍZO DA 3ª VARA CRIMINAL DA COMARCA
DE JUARA (IMPETRADO), WESLEN PEREIRA DOS SANTOS - CPF: 042.611.741-70 (PACIENTE), Juízo da Terceira
Vara da Comarca de Juara/MT (IMPETRADO), DEFENSORIA PUBLICA DO ESTADO DE MATO GROSSO - CNPJ:
02.528.193/0001-83 (IMPETRANTE)]

ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a SEGUNDA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal
de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência Des(a). RUI RAMOS RIBEIRO, por meio da Turma
Julgadora, proferiu a seguinte decisão: POR UNANIMIDADE, DENEGOU A ORDEM.

EMENTA

HABEAS CORPUS – AMEAÇA E VIOLAÇÃO DE DOMICÍLIO – AÇÃO PENAL – NULIDADE DA


CITAÇÃO POR WHATSAPP – NÃO OCORRÊNCIA – RESPALDO NORMATIVO E JURISPRUDENCIAL –
CONTEXTO DE PANDEMIA – REGIME DE TELETRABALHO – INEXISTÊNCIA DE DÚVIDA ACERCA DA
IDENTIDADE DO DENUNCIADO – OFICIAL DE JUSTIÇA DOTADO DE FÉ PÚBLICA – APRESENTAÇÃO DE
RESPOSTA À ACUSAÇÃO – AUSÊNCIA DE PREJUÍZO – CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO DEMONSTRADO
– ORDEM DENEGADA.

Considerando-se o contexto de pandemia vivenciado e o regime de teletrabalho instituído


no âmbito do Poder Judiciário, deve ser reputada válida a citação realizada por meio do aplicativo de
mensagens eletrônicas WhatsApp quando não houver dúvida acerca da identidade do acusado,
sobretudo quando não demonstrada a ocorrência de prejuízo à defesa.

RELATÓRIO

Trata-se de habeas corpus, com pedido de liminar, impetrado em favor de Weslen Pereira
dos Santos, apontando como autoridade coatora o Juiz da 3ª Vara da Comarca de Juara/MT.

Depreende-se dos autos que o Ministério Público do Estado de Mato Grosso ofereceu
denúncia contra o paciente, imputando-lhe os crimes tipificados nos artigos 147, caput, e 150, caput, do
Código Penal.

Em síntese, a impetrante afirma que a citação do paciente, realizada por meio do aplicativo
de mensagens WhatsApp , é inválida, seja porque desprovida de respaldo legal, seja porque não observadas as
diretrizes estabelecidas pelo Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Habeas Corpus n. 641.877/DF, para
o reconhecimento da validade do ato.
Com tais considerações, requer seja declarada a nulidade da citação, bem como seja
determinada a sua renovação em conformidade com os parâmetros estabelecidos no referido precedente (Id.
n. 105759959).

Junta documentos (Id. n. 105759960).

O pedido de liminar foi indeferido (Id. n. 106016950).

A autoridade apontada como coatora prestou informações (Id. n. 106492017).

Instada a se manifestar, a douta Procuradoria-Geral de Justiça recomendou a denegação


da ordem (Id. n. 109383997).

É o relatório.

VOTO RELATOR

Satisfeitos os pressupostos de instauração e desenvolvimento válido do processo, conheço


do habeas corpus.

Como relatado, o Ministério Público do Estado de Mato Grosso ofereceu denúncia contra
Weslen Pereira dos Santos , imputando-lhe os delitos tipificados nos artigos 147, caput, e 150, caput, do
Código Penal.

Em linhas gerais, a impetrante alega que a citação do paciente, realizada por meio do
aplicativo de mensagens WhatsApp , é inválida, seja porque desprovida de respaldo legal, seja porque não
observadas as diretrizes estabelecidas pelo Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Habeas Corpus n.
641.877/DF, para o reconhecimento da validade do ato.

Sem razão, contudo.

Atentas ao contexto de pandemia vivenciado, bem como ao disposto nos artigos 5º, inciso
LXXVIII, e 37, caput, da Constituição da República, nos artigos 6º e 236, § 3º, do Código de Processo Civil, e nos
artigos 3º, 185 e 222, § 3º, do Código de Processo Penal, a Presidência, a Vice-Presidência e a Corregedoria-
Geral do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso editaram a Portaria Conjunta n. 412/2021, que
“autoriza, durante o regime especial de teletrabalho instituído em razão da pandemia da COVID-19, a
utilização de meios eletrônicos para a comunicação dos atos processuais pelos oficiais de justiça”, permitindo a
citação de acusados por meio de recursos tecnológicos como o aplicativo WhatsApp .

Na espécie, a oficial de justiça incumbida da citação do paciente certificou o seguinte:

“Certifico, eu, Tania Regina Waldow Schneider, Oficiala de Justiça, em cumprimento ao r.


mandado extraído do presente auto, no dia 02/08/2021, efetuei ligação ao número 66 98400 9016
aonde o requerido informou que estava trabalhando em área rural na Fazenda Bama. Assim, em
consonância com a Portaria-Conjunta 372 de 05 de Junho de 2020 editada por membros do Tribunal
de Justiça de Mato Grosso, autorizando e priorizando o cumprimento de mandados de CITAÇÃO E
INTIMAÇÃO por meios eletrônicos e ainda através do WhatsApp ou por e-mail, após as formalidades
legais e de estilo, bem como, a confirmação dos dados pessoais da parte, EFETUEI A CITAÇÃO DO
REQUERIDO WESLEN PEREIRA SANTOS lendo-lhe integralmente o mandado, sendo que ao final,
sanadas as dúvidas, a parte se disse ciente, momento em que, finalizado o ato de citação, o enviei
via WhatsApp imagem do mandado, para conhecimento e responder ao feito. O Requerido
manifestou compreensão cabal do ato e de seus reflexos jurídicos.

Devolvo o r. mandado para os devidos fins, asseverando que o referido é verdade e dou fé”
(Id. n. 105759960, p. 22; sic ).

Nota-se que a referida certidão é acompanhada de screenshots da conversa travada entre a


mencionada servidora e o paciente por meio do aplicativo de mensagens WhatsApp , imagens estas que
comprovam, inclusive, a realização de videochamada entre ambos, ato que permitiu a adequada identificação
do acusado (Id. n. 105759960, p. 24).

A despeito disso, a Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso requereu ao impetrado a


declaração da nulidade do ato, argumentando que “o contato telefônico para fins de citação ou notificação não
é albergado pela legislação processual penal, equivalendo à ausência de citação”, e que nem sequer consta
“registro da cédula de identidade do denunciado” (Id. n. 105759960, p. 15).

O magistrado, contudo, com muita propriedade, indeferiu o pedido, consignado o seguinte:

“De acordo com o art. 357 do CPP, são requisitos da citação por mandado:

I – leitura do mandado ao citando pelo oficial e entrega da contrafé, na qual se


mencionarão dia e hora da citação;

II – declaração do oficial, na certidão, da entrega da contrafé, e sua aceitação ou


recusa.

Diante da pandemia causada pela COVID-19, aliada à evolução da sociedade e


disponibilização de meios modernos e efetivos de comunicação, com utilização em massa pelas
pessoas no cotidiano, seja no ambiente de trabalho, nos órgãos e atos oficiais ou na vida pessoal e
familiar, regulamentou-se a utilização de telefone e de aplicativo de conversas para prática de atos
processuais, entre eles a citação e a intimação.

O mundo moderno exige que as instituições públicas evoluam na mesma velocidade das
relações privadas, sob pena de se tornarem totalmente obsoletas e ineficientes.

Formalidades outrora consideras imprescindíveis perderam espaço para a eficácia e


celeridade de mecanismos simplificados, sem perder de vista as garantias individuais e processuais.

Certo é que nenhum ato será e nunca foi cem por cento seguro e livre de vícios. A título de
exemplo cito a assinatura por meio de certificado digital, considerada altamente segura e eficaz.
Pergunto, alguém pode ter certeza que o subscritor da peça processual é realmente aquele que a
produziu? Obviamente que não, pois um assessor, servidor ou até mesmo um estagiário, de posse do
token e da senha, pode perfeitamente produzir e juntar aos autos peças processuais em nome do
sujeito processual (juiz(a), promotor(a) de justiça, defensor(a) público(a), advogado(a), etc).

Será que diante desses riscos devemos regredir e voltar a datilografar ou mesmo rubricar as
petições, manifestações ou decisões, tornando absolutamente ineficiente a prestação jurisdicional.
Penso que não.

No presente caso, analisando o ato citatório praticado pelo(a) Oficial de Justiça, que usou
comunicação síncrona (ligação via celular) e assíncrona (conversas pelo WhatsApp), constato, sem
sombra de dúvida, que os requisitos previstos no art. 357 do CPP foram satisfeitos, havendo
manifestação clara e inequívoca da compreensão do(a) ré(u) sobre o procedimento.

Não se pode olvidar que o Oficial de Justiça possui fé pública. Isso significa dizer que os atos
por ele praticados no exercício da função pública presumem-se verdadeiros e válidos, até que se
prove o contrário.

Em outras palavras, realizada a certificação da prática do ato processual pelo Oficial de


Justiça, da mesma maneira como ocorre no caso da citação presencial, é necessário que se prove a
existência de algum vício para anular o procedimento, o que não ocorre nos autos” (Id. n. 105759960,
pp. 11-12; sic ).

O Superior Tribunal de Justiça, defrontando-se com a questão em casos recentes, tem assim
decidido:

“PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EM HABEAS CORPUS. CITAÇÃO


VIA WHATSAPP. NULIDADE. PRINCÍPIO DA NECESSIDADE. INADEQUAÇÃO FORMAL E MATERIAL. PAS DE
NULlITÉ SANS GRIEF. AFERIÇÃO DA AUTENTICIDADE. CAUTELAS NECESSÁRIAS. OBSERVAÇÃO.
AGRAVO DESPROVIDO.

1. A citação do acusado revela-se um dos atos mais importantes do processo. É por meio
dela que o indivíduo toma conhecimento dos fatos que o Estado, por meio do jus puniendi lhe
direciona e, assim, passa a poder demonstrar os seus contra-argumentos à versão acusatória
(contraditório, ampla defesa e devido processo legal).

2. No Processo Penal, diversamente do que ocorre na seara Processual Civil, não se pode
prescindir do processo para se concretizar o direito substantivo. É o processo que legitima a pena.

3. Assim, em um primeiro momento, vários óbices impediriam a citação via Whatsapp, seja
de ordem formal, haja vista a competência privativa da União para legislar sobre processo (art. 22, I,
da CF), ou de ordem material, em razão da ausência de previsão legal e possível malferimento de
princípios caros como o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa.

4. De todo modo, imperioso lembrar que ‘sem ofensa ao sentido teleológico da norma não
haverá prejuízo e, por isso, o reconhecimento da nulidade nessa hipótese constituiria consagração de
um formalismo exagerado e inútil’ (GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antonio Magalhães;
FERNANDES, Antonio Scarance. As nulidades no processo penal. 11. ed. São Paulo: RT, 2011, p. 27).
Aqui se verifica, portanto, a ausência de nulidade sem demonstração de prejuízo ou, em outros
termos, princípio pas nullité sans grief.

5. Abstratamente, é possível imaginar-se a utilização do Whatsapp para fins de citação na


esfera penal, com base no princípio pas nullité sans grief. De todo modo, para tanto, imperiosa a
adoção de todos os cuidados possíveis para se comprovar a autenticidade não apenas do número
telefônico com que o oficial de justiça realiza a conversa, mas também a identidade do destinatário
das mensagens.

6. Como cediço, a tecnologia em questão permite a troca de arquivos de texto e de


imagens, o que possibilita ao oficial de justiça, com quase igual precisão da verificação pessoal, aferir
a autenticidade da conversa. É possível imaginar, por exemplo, a exigência pelo agente público do
envio de foto do documento de identificação do acusado, de um termo de ciência do ato citatório
assinado de próprio punho, quando o oficial possuir algum documento do citando para poder
comparar as assinaturas, ou qualquer outra medida que torne inconteste tratar-se de conversa
travada com o verdadeiro denunciado. De outro lado, a mera confirmação escrita da identidade pelo
citando não nos parece suficiente.

7. Necessário distinguir, porém, essa situação daquela em que, além da escrita pelo citando,
há no aplicativo foto individual dele. Nesse caso, ante a mitigação dos riscos, diante da concorrência
de três elementos indutivos da autenticidade do destinatário, número de telefone, confirmação
escrita e foto individual, entendo possível presumir-se que a citação se deu de maneira válida,
ressalvado o direito do citando de, posteriormente, comprovar eventual nulidade, seja com registro
de ocorrência de furto, roubo ou perda do celular na época da citação, com contrato de permuta, com
testemunhas ou qualquer outro meio válido que autorize concluir de forma assertiva não ter havido
citação válida.

8. No caso concreto, ao menos três elementos permitem concluir pela autenticidade do


receptor das mensagens: (a) o número telefônico disponível para contato com o acusado; (b) a
confirmação de sua identidade por telefone; e (c) a foto individual do denunciado, no aplicativo, que,
inclusive, coincide com a foto de identificação civil também constante dos autos.

9. Agravo desprovido” (STJ, Agravo Regimental no Habeas Corpus n. 141.245/DF, Rel. Min.
Ribeiro Dantas, Quinta Turma; data do julgamento: 13.4.2021; data da publicação: 16.4.2021).
“PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO. INADEQUAÇÃO. CITAÇÃO VIA
WHATSAPP. NULIDADE. PRINCÍPIO DA NECESSIDADE. INADEQUAÇÃO FORMAL E MATERIAL. PAS DE
NULlITÉ SANS GRIEF. AFERIÇÃO DA AUTENTICIDADE. CAUTELAS NECESSÁRIAS. NÃO VERIFICAÇÃO NO
CASO CONCRETO. WRIT NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.

1. Esta Corte - HC 535.063/SP, Terceira Seção, Rel. Ministro Sebastião Reis Junior, julgado
em 10/6/2020 - e o Supremo Tribunal Federal - AgRg no HC 180.365, Primeira Turma, Rel. Min. Rosa
Weber, julgado em 27/3/2020; AgR no HC 147.210, Segunda Turma, Rel. Min. Edson Fachin, julgado
em 30/10/2018 -, pacificaram orientação no sentido de que não cabe habeas corpus substitutivo do
recurso legalmente previsto para a hipótese, impondo-se o não conhecimento da impetração, salvo
quando constatada a existência de flagrante ilegalidade no ato judicial impugnado.

2. A citação do acusado revela-se um dos atos mais importantes do processo. É por meio
dela que o indivíduo toma conhecimento dos fatos que o Estado, por meio do jus puniendi lhe
direciona e, assim, passa a poder demonstrar os seus contra-argumentos à versão acusatória
(contraditório, ampla defesa e devido processo legal).

3. No Processo Penal, diversamente do que ocorre na seara Processual Civil, não se pode
prescindir do processo para se concretizar o direito substantivo. É o processo que legitima a pena.

4. Assim, em um primeiro momento, vários óbices impediriam a citação via Whatsapp, seja
de ordem formal, haja vista a competência privativa da União para legislar sobre processo (art. 22, I,
da CF), ou de ordem material, em razão da ausência de previsão legal e possível malferimento de
princípios caros como o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa.

5. De todo modo, imperioso lembrar que ‘sem ofensa ao sentido teleológico da norma não
haverá prejuízo e, por isso, o reconhecimento da nulidade nessa hipótese constituiria consagração de
um formalismo exagerado e inútil’ (GRINOVER, Ada Pellegrini; GOMES FILHO, Antonio Magalhães;
FERNANDES, Antonio Scarance. As nulidades no processo penal. 11. ed. São Paulo: RT, 2011, p. 27).
Aqui se verifica, portanto, a ausência de nulidade sem demonstração de prejuízo ou, em outros
termos, princípio pas nullité sans grief.

6. Abstratamente, é possível imaginar-se a utilização do Whatsapp para fins de citação na


esfera penal, com base no princípio pas nullité sans grief. De todo modo, para tanto, imperiosa a
adoção de todos os cuidados possíveis para se comprovar a autenticidade não apenas do número
telefônico com que o oficial de justiça realiza a conversa, mas também a identidade do destinatário
das mensagens.

7. Como cediço, a tecnologia em questão permite a troca de arquivos de texto e de


imagens, o que possibilita ao oficial de justiça, com quase igual precisão da verificação pessoal, aferir
a autenticidade da conversa. É possível imaginar-se, por exemplo, a exigência pelo agente público do
envio de foto do documento de identificação do acusado, de um termo de ciência do ato citatório
assinado de próprio punho, quando o oficial possuir algum documento do citando para poder
comparar as assinaturas, ou qualquer outra medida que torne inconteste tratar-se de conversa
travada com o verdadeiro denunciado. De outro lado, a mera confirmação escrita da identidade pelo
citando não nos parece suficiente.

8. Necessário distinguir, porém, essa situação daquela em que, além da escrita pelo citando,
há no aplicativo foto individual dele. Nesse caso, ante a mitigação dos riscos, diante da concorrência
de três elementos indutivos da autenticidade do destinatário, número de telefone, confirmação
escrita e foto individual, entendo possível presumir-se que a citação se deu de maneira válida,
ressalvado o direito do citando de, posteriormente, comprovar eventual nulidade, seja com registro
de ocorrência de furto, roubo ou perda do celular na época da citação, com contrato de permuta, com
testemunhas ou qualquer outro meio válido que autorize concluir de forma assertiva não ter havido
citação válida.

9. Habeas corpus não conhecido, mas ordem concedida de ofício para anular a citação via
Whatsapp, porque sem nenhum comprovante quanto à autenticidade da identidade do citando,
ressaltando, porém, a possibilidade de o comparecimento do acusado suprir o vício, bem como a
possibilidade de se usar a referida tecnologia, desde que, com a adoção de medidas suficientes para
atestar a identidade do indivíduo com quem se travou a conversa” (STJ, Habeas Corpus n.
641.877/DF, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Quinta Turma; data do julgamento: 9.3.2021; data da
publicação: 15.3.2021).

Também este órgão colegiado, recentemente, assim decidiu:

“HABEAS CORPUS – LESÃO CORPORAL E AMEAÇA – AÇÃO PENAL – NULIDADE DA CITAÇÃO


POR WHATSAPP – NÃO OCORRÊNCIA – RESPALDO NORMATIVO E JURISPRUDENCIAL – CONTEXTO DE
PANDEMIA – REGIME DE TELETRABALHO – INEXISTÊNCIA DE DÚVIDA ACERCA DA IDENTIDADE DO
DENUNCIADO – OFICIAL DE JUSTIÇA DOTADO DE FÉ PÚBLICA – APRESENTAÇÃO DE RESPOSTA À
ACUSAÇÃO – AUSÊNCIA DE PREJUÍZO – CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO DEMONSTRADO – ORDEM
DENEGADA.

Considerando-se o contexto de pandemia vivenciado e o regime de teletrabalho instituído


no âmbito do Poder Judiciário, deve ser reputada válida a citação realizada por meio do aplicativo de
mensagens eletrônicas WhatsApp quando não houver dúvida acerca da identidade do acusado,
sobretudo quando não demonstrada a ocorrência de prejuízo à defesa ” (TJMT, Habeas Corpus n.
1018026-17.2021.8.11.0000, de minha relatoria, Segunda Câmara Criminal; data do julgamento:
12.11.2021).

Na espécie, além de a impetrante não ter apontado nenhuma evidência de que o


interlocutor da oficial de justiça nas referidas screenshots não seria o paciente, constata-se que, após a decisão
do magistrado, indeferindo a declaração de nulidade da citação, o réu compareceu aos autos, apresentando
resposta à acusação (Id. n. 105759960, pp. 3-9), de modo que não há falar em prejuízo.

Além disso, nota-se que, antes de se proceder à citação pelo método ora contestado pela
impetrante, foi tentada a citação pessoal do paciente no endereço indicado na denúncia, e somente em
virtude da não consecução da diligência (Id. n. 105759960, p. 29) é que foi efetuada a notificação via
WhatsApp.

Ademais, as mencionadas screenshots evidenciam fotografia do paciente, razão pela qual,


apesar de a cédula de identidade propriamente dita não ter sido apresentada, é possível certificar que se trata
efetivamente do indivíduo mencionado na peça acusatória e cuja fotografia consta do caderno inquisitivo que
instrui a ação penal.

Diante do exposto, em consonância com o parecer ministerial, denego a ordem.

É como voto.

Data da sessão: Cuiabá-MT, 24/11/2021

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