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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0342.12.012864-6/001 Númeração 0251266-


Relator: Des.(a) Domingos Coelho
Relator do Acordão: Des.(a) Domingos Coelho
Data do Julgamento: 18/09/2013
Data da Publicação: 26/09/2013

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO COMINATÓRIA C/C


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - PERFIL FALSEADO NO ORKUT -
REDE SOCIAL - INTERNET - OFENSA À IMAGEM, NOME E HONRA DO
USUÁRIO - NECESSIDADE DE EXCLUSÃO DO PERFIL FALSO.
MANUTENÇÃO DA DECISÃO AGRAVADA.

Havendo nos autos prova suficiente ao convencimento do julgador a respeito


da verossimilhança das alegações do usuário de que teria sido criado perfil
falso em site de relacionamento, expondo indevidamente seu nome, sua
imagem e honra, é de se dar provimento ao pedido de antecipação de tutela
para evitar dano irreparável ou de difícil reparação.

Recurso improvido.

AGRAVO DE INSTRUMENTO CV Nº 1.0342.12.012864-6/001 - COMARCA


DE ITUIUTABA - AGRAVANTE(S): GOOGLE BRASIL INTERNET LTDA. -
AGRAVADO(A)(S): GLAUCIA FERREIRA DE OLIVEIRA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 12ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal


de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos
julgamentos, à unanimidade, em NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO.

DES. DOMINGOS COELHO

RELATOR.

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DES. DOMINGOS COELHO (RELATOR)

VOTO

Trata a espécie sub examine de Agravo de Instrumento intentado


por GOOGLE INTERNET DO BRASIL LTDA em face da decisão de fls. 61/TJ
proferida pelo d. Julgador da 2ª Vara Cível da Comarca de Ituiutaba que nos
autos da ação de obrigação de fazer c/c danos morais, movida por GLAUCIA
FERREIRA DE OLIVEIRA, deferiu o pedido liminar para determinar o
cancelamento do perfil falso, em nome da Agravada, no site de
relacionamentos - ORKUT -, retirando também todo o conteúdo inserido nas
redes de internet e das pesquisas junto ao site de buscas GOOGLE, em
nome daquela, sob pena de multa.

Em suas razões de inconformismo, aduz a Agravante que a decisão


monocrática não merece prosperar porque os usuários do ORKUT possuem
inequívoca ciência de que todas as informações e conteúdo inseridos
naquele site são de integral responsabilidade dos usuários.

Afirma sobre a irreversibilidade da medida determinada na decisão


agravada, posto que a remoção do conteúdo de serviços disponibilizados
pela Agravante não permite o restabelecimento posterior dos mesmos, razão
pela qual requereu a concessão do efeito suspensivo ao presente recurso.

Às fls. 90-91/TJ foi indeferido o efeito suspensivo pleiteado.

O d. Julgador primevo prestou as informações, às fls. 102/TJ,


mantendo a decisão objurgada.

INTIMADA, a Agravada apresentou defesa, as fls.105-114/TJ,


refutando os argumentos expostos nas minutas e pugnando pela
manutenção da decisão combatida.

Recurso próprio, tempestivo e regularmente preparado.

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Presentes os pressupostos recursais de admissibilidade e ausentes


preliminares a serem analisadas, passo ao exame do mérito.

Sem razão ao Agravante.

No caso em exame, após detida análise, principalmente do


conteúdo das informações publicadas em perfil no site de relacionamento
Orkut, percebe-se que a Agravada não nega ter criado inicialmente um perfil
naquele mundialmente conhecido "site" de relacionamentos.

Ocorre que a Agravada alegou e comprovou que sua imagem e


alguns dados pessoais estariam sendo usados por falsários/hackers sendo
ofendida em seu nome e imagem, através de inserções de mensagens
falsas, características deturpadas, e uso de seu nome em outra rede social -
Facebook, sem autorização, fato que atinge a honra e o íntimo de qualquer
pessoa.

A Agravada inicialmente enviou uma comunicação simples ao


Agravante, como se infere às fls. 45/TJ, respondida pela Google às fls. 50/TJ,
bem como uma outra notificação, às fls. 51-55/TJ, enviada meses depois
daquele primeiro pedido, sem que, contudo, tenha ocorrido qualquer medida
satisfatória para a resolução do problema, obtendo a agravada apenas
simples respostas, conforme se infere dos documentos de fls. 50/TJ e fls.
57/TJ.

Desta forma, verifica-se que, por ora, como mencionado na decisão


objurgada, realmente, encontram-se presentes os requisitos autorizadores da
concessão da liminar em tutela antecipada, quais sejam a verossimilhança
das alegações e a prova inequívoca, na medida em que a página virtual
oferece conteúdo atentatório ao nome, à imagem e à honra da Agravada,
restando patente a plausibilidade do seu direito de ver o artigo excluído de
imediato.

Ademais, há relevante receio de que as declarações


desabonadoras lançadas na página virtual permaneçam acessíveis a

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todo e qualquer usuário da internet, o que poderia agravar eventual dano


causado à agravada.

Nem há que se falar em irreversibilidade da medida, como alegou a


Agravante, tendo-se em vista que ninguém é obrigado a manter-se associado
ou integrado, menos ainda em redes sociais, como determina o artigo 5º,
inciso XX, da Constituição Federal, tratando-se de livre escolha do aderente
requerer a sua exclusão de qualquer associação ou grupo, ainda mais
quando envolvida em dados, mensagens e características falseadas.

É cediço que para a concessão da antecipação de tutela pleiteada é


necessária a presença concomitante dos requisitos elencados no art. 273, do
CPC, quais sejam: existência de prova inequívoca hábil a convencer o
julgador da verossimilhança das alegações, e fundado receio de dano
irreparável ou de difícil reparação.

Esses requisitos, básicos e essenciais ao deferimento da medida


em tese, necessariamente, deverão ser observados pelo d. Julgador com as
cautelas naturais inerentes ao exercício da atividade jurisdicional, analisando,
com rigor, a gravidade e a extensão do prejuízo alegado pela demandante, e
a real existência da verossimilhança do direito deduzido pela parte.

A esse respeito, confiram:

"PROCESSUAL CIVIL E CIVIL - APELAÇÃO - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO


POR DANOS MORAIS - SITE DE RELACIONAMENTO - ORKUT -
EXPOSIÇÃO DE IMAGEM - TEXTO DE CONTEÚDO PEJORATIVO E
DIFAMATÓRIO - NÃO IDENTIFICAÇÃO DO USUÁRIO -
RESPONSABILIDADE DAS EMPRESAS PROPRIETÁRIAS DO SITE (...)
PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA - REJEIÇÃO -
RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA - ARTS. 14, 20 E 23 DO CDC -
TEORIA DO RISCO - DEVER DE INDENIZAR - RECONHECIMENTO -
QUANTUM INDENIZATÓRIO - PRUDÊNCIA E MODERAÇÃO -
OBSERVÂNCIA NECESSÁRIA - MAJORAÇÃO - CABIMENTO - (...) O
prestador do serviço de site de relacionamento,

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que disponibiliza na internet um serviço sem dispositivos de segurança e


controle mínimos e, ainda, permite a publicação de material de conteúdo
livre, sem sequer identificar o usuário, deve responsabilizar-se pelo risco
oriundo do seu empreendimento e de forma objetiva por incidência do CDC. -
Recursos conhecidos. (...)." (TJMG - Apelação Cível n° 1.0024.07.794839-
6/001 - 17ª CC - Relatora Des. MÁRCIA DE PAOLI BALBINO - Publicação.:
12/01/2011).

Também o Colendo STJ decidiu quando em julgamento Ação Civil


Pública que, verbis:

"A internet é o espaço por excelência da liberdade, o que não significa dizer
que seja um universo sem lei e infenso à responsabilidade pelos abusos que
lá venham a ocorrer.

No mundo real, como no virtual, o valor da dignidade da pessoa humana é


um só, pois nem o meio em que os agressores transitam nem as ferramentas
tecnológicas que utilizam conseguem transmudar ou enfraquecer a natureza
de sobreprincípio irrenunciável, intransferível e imprescritível que lhe confere
o Direito brasileiro.

Quem viabiliza tecnicamente, quem se beneficia economicamente e,


ativamente, estimula a criação de comunidades e páginas de relacionamento
na internet é tão responsável pelo controle de eventuais abusos e pela
garantia dos direitos da personalidade de internautas e terceiros como os
próprios internautas que geram e disseminam informações ofensivas aos
valores mais comezinhos da vida em comunidade, seja ela real, seja virtual.

Essa co-responsabilidade - parte do compromisso social da empresa


moderna com a sociedade, sob o manto da excelência dos serviços que
presta e da merecida admiração que conta em todo mundo - é aceita pelo
Google, tanto que atuou, de forma decisiva, no sentido de excluir páginas e
identificar os gângsteres virtuais. Tais medidas, por óbvio, são insuficientes,
já que reprimir certas páginas ofensivas já criadas, mas nada fazer para
impedir o surgimento de outras tantas, com conteúdo igual ou assemelhado,
é, em tese, estimular um jogo de

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Tom e Jerry, que em nada remedia, mas só prolonga, a situação de


exposição, de angústia e de impotência das vítimas das ofensas." (STJ -
REsp 1117633/RO, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, 02ª TURMA, julgado
em 09/03/2010, DJe 26/03/2010 - grifo meu)

No caso em espeque, como outrora mencionado, presentes os


requisitos para o deferimento da tutela antecipada, inexistindo motivos para
reformar/cassar a decisão objurgada.

Destarte, em razão do exposto, NEGO PROVIMENTO AO


RECURSO para manter in totum, pelos seus próprios e jurídicos
fundamentos, a bem lançada decisão de primeiro grau.

Custas recursais, ao final pelo vencido.

DES. JOSÉ FLÁVIO DE ALMEIDA - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. NILO LACERDA - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO."

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