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Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão

PJe - Processo Judicial Eletrônico

13/02/2023

Número: 0802923-79.2022.8.10.0053
Classe: MANDADO DE SEGURANÇA CÍVEL
Órgão julgador: 1ª Vara de Porto Franco
Última distribuição : 07/12/2022
Valor da causa: R$ 1.212,00
Assuntos: Abuso de Poder
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
CLAUDIO RESENDE DOS SANTOS (IMPETRANTE) MERISON DA CONCEICAO SANTOS GONCALVES
(ADVOGADO)
KELMA SOCORRO COSTA SALES (ADVOGADO)
MUNICIPIO DE CAMPESTRE DO MARANHAO - CAMARA VINICIUS ARAUJO CARVALHO (ADVOGADO)
MUNICIPAL (IMPETRADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
84795 13/02/2023 12:28 Sentença Sentença
026
Processo n°: 0802923-79.2022.8.10.0053

Ação: MANDADO DE SEGURANÇA CÍVEL (120)

IMPETRANTE: CLAUDIO RESENDE DOS SANTOS

IMPETRADO: MUNICIPIO DE CAMPESTRE DO MARANHAO - CAMARA MUNICIPAL

SENTENÇA

Trata-se de Mandado de Segurança impetrado por CLÁUDIO REZENDE DOS SANTOS, em face
da MESA DIRETORA DA CÂMARA MUNICIPAL DE CAMPRESTE DO MARANHÃO-MA e contra
a presidência da mesa diretora na pessoa de ALCIONE DE ARAÚJO CUNHA RESENDE
aduzindo que é vereador eleito e empossado do município de Campestre do Maranhão, tendo
sido eleito presidente da Casa de Leis para o biênio de 2023/2024, em eleição antecipada,
ocorrido no dia 03/05/2022, contudo, havia sido preterido em razão de nova eleição ocorrido em
13 de dezembro de 2022.

Com a inicial vieram os documentos ID nº 82072222.

Devidamente intimado o impetrado prestou informações ID nº 82988933, esclarecendo que no dia


23 de novembro de 2022, foi apresentado Representação pelo vereador Walder Oliveira Sousa,
alegando que a eleição ocorrida havia sido nula pois não havia observado a data prevista na Lei
Orgânica do Município e Regimento Interno da Câmara de Vereadores que previa como data para
sua realização entre os dias 1º à 15 de dezembro do último ano do primeiro biênio da
legislatura. Em razão da Representação apresenta, a Câmara de Vereadores em deliberação
datada de 28/11/2022, anulou a eleição datada de 03 de maio de 2022 e determinou a realização
de nova eleição, tendo a então presidente sido reeleita.

Em manifestação, o Órgão ministerial requereu fosse juntado aos autos a comprovação da


votação e aprovação do Requerimento nº 008/2022, juntado em ID nº 82073385 - Pág. 1, bem
como o ato que deu publicidade a eleição ocorrida em 03/05/2022, a qual foi juntada.

Após, manifestou-se o órgão ministerial pela concessão da segurança vindicada, inclusive com a
determinação da antecipação dos efeitos da tutela como forma de se evitar nulidade nos atos
vindouros da Câmara de Vereadores de Campestre do Maranhão praticados por mesa eleita
irregularmente, sob a justificativa de que no próprio requerimento de novas eleições, o requerente
não imputa qualquer irregularidade praticado por nenhum dos componentes eleitos da mesa e
sequer é seguido o rito previsto no Regimento Interno, por esse motivo alega que não há
possibilidade do afastamento do impetrante da função à qual foi devidamente eleito.

Vieram os autos conclusos.

É o relatório. DECIDO.

Assinado eletronicamente por: JOSE FRANCISCO DE SOUZA FERNANDES - 13/02/2023 12:28:04 Num. 84795026 - Pág. 1
https://pje.tjma.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=23021312280415700000079169382
Número do documento: 23021312280415700000079169382
Consiste o mandado de segurança em ação constitucional utilizada para tutela de urgência, em
face do poder público, de direito líquido e certo diante de lesão ou ameaça de lesão. O inciso
LXIX do art. 5º da Constituição, acerca da garantia constitucional do mandado de segurança,
enuncia conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não
amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso
de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder
Público.

O direito líquido e certo protegido por mandado de segurança é aquele “que se apresenta
manifesto na sua existência, delimitado na sua extensão e apto a ser exercitado no momento da
impetração” (MEIRELES, Hely Lopes. Mandado de Segurança, 26. Ed. São Paulo: Malheiros,
2003, p. 36-37). É, em síntese, aquele comprovado de plano, exigindo prova pré-constituída de
situações e fatos que alicerçam o direito sustentado pelo demandante.

Nesse sentido, a doutrina elenca quatro requisitos para o cabimento do mandado de segurança:
I) ação comissiva ou omissiva da autoridade pública ou agente particular que atua por delegação
no exercício da função pública, II) ilegalidade ou abuso de poder, III) lesão ou ameaça a direito e
IV) proteção ao direito líquido e certo; não amparado por habeas corpus ou habeas data.

No que tange ao direito líquido e certo, na clássica lição de Hely Lopes Meirelles, “é o que se
apresenta manifesto na sua existência, delimitado na sua extensão e apto a ser exercido no
momento da impetração” (Mandado de Segurança, Ação Popular, Ação Civil Pública, Mandado
de Injunção, Habeas Data, p. 25); ou seja, é o alto grau de plausibilidade, comprovado de plano.

Ainda nesse condão, é cediço que a complexidade dos fatos e do direito invocado, não afastam,
por si só, as hipóteses de cabimento do mandado de segurança, desde que sejam eles
incontroversos. O writ só é afastado pela complexidade processual, ou seja, com a necessidade
de elucidar fatos através da instrução probatória, eis que no remédio constitucional a
plausibilidade de o direito alegado deve ser comprovada de plano, através de prova pré-
constituída.

A finalidade do mandado de segurança está adstrita à invalidação de atos de autoridade ou a


supressão de efeitos de omissões administrativas capazes de lesar direito líquido e certo, seja
individual ou coletivo, não admitindo dilação probatória, comportando unicamente prova
documental e previamente constituída.

No concernente à legitimidade, tem-se que ancorados nos preceitos que potencializam o princípio
da aplicabilidade imediata dos direitos fundamentais, pode-se dizer que são legitimados para
impetrar à referida ação constitucional, não só a pessoa física, como a jurídica, nacional ou
estrangeira, residente ou não no Brasil, bem como os órgãos públicos despersonalizados e as
universalidades reconhecidas por lei.

Ademais, no que toca ao pólo passivo, nota-se que o mandado de segurança será manejado, em
face da autoridade impetrada que, por sua vez, será também a autoridade pública, ou o agente
particular que atue no exercício de atribuições do poder público, por meio de delegação. Destarte,
a pessoa jurídica a que se encontra vinculada a autoridade coatora, deverá ser cientificada da
demanda para, querendo, integrar a lide (art. 7º, inciso II, da lei nº. 12.016/2009), porquanto
padecedora dos efeitos decorrentes da concessão da ordem.

In casu, alega o Impetrante, que é vereador eleito e empossado do município de Campestre do


Maranhão, tendo sido eleito presidente da Casa de Leis para o biênio de 2023/2024, em eleição
antecipada, ocorrido no dia 03/05/2022, contudo, havia sido preterido em razão de nova eleição
ocorrido em 13 de dezembro de 2022. Assim, requer sejam suspensos todos os atos
administrativos que possam embaraçar o exercício de direito líquido e certo do Impetrante.

Assinado eletronicamente por: JOSE FRANCISCO DE SOUZA FERNANDES - 13/02/2023 12:28:04 Num. 84795026 - Pág. 2
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Observa-se que a Lei Orgânica do Município de Campestre do Maranhão estabelece que
compete à Câmara de Vereadores elaborar seu regimento interno, dispondo dentre outros
assuntos, a eleição da mesa, sua composição e suas atribuições: Art. 36 . A Câmara Municipal,
observando o disposto nessa Lei Orgânica, compete elaborar seu Regimento Interno, dispondo
sobre a organização política e provimento de cargo dos seus serviços especialmente, sobre: (...)
III – Eleição da mesa, sua composição e suas atribuições;

Diante do dispositivo citado, resta evidente que à Câmara cabe deliberar sobre a eleição de sua
mesa diretiva, sendo que em seu regimento interno prevê que a eleição de renovação da mesa se
daria entre os dias 1º e 15 de dezembro: Art. 9º. A eleição para renovação da Mesa Diretora
realizar-se-á em sessão ordinária, entre os dias 01 a 15 de dezembro, observado o §3º do Art. 8º,
sendo os eleitos empossados no 1º (primeiro) dia de janeiro do ano subsequente, em sessão
extraordinária convocada para esta finalidade. Em Requerimento nº 08/2022 (ID º 82073385),
assinado por todos os 9 (nove) vereadores do município de Campestre do Maranhão, foi proposta
a alteração da data da eleição da mesa diretiva da Câmara de Vereadores para o biênio de
2023/2024, para o dia 03 de maio de 2022 e posse no dia 01 de janeiro de 2023, alteração essa
que foi acatada por todos os mesmos vereadores, que em ata de sessão ordinária data de 19 de
abril de 2022 (ID nº 83824216) aprovaram a alteração legislativa através da Lei nº 008/2022.

Observa-se que o vereador que firmou o Requerimento de realização de novas eleições, Walder
de Olivera Sousa, também assinou o requerimento de antecipação das eleições, como também
participou da sessão que aprovou a proposta legislativa de alteração da data da eleição. Houve a
aprovação de lei que modificou a data da eleição para presidente da Câmara de Vereadores
referente ao biênio de 2023/2024 para dia 03 de maio de 2022, quando o impetrante, juntamente
como os demais componentes da mesa, foi devidamente eleito.

o Estado Democrático de Direito se solidifica pelos ditames legais, estabelecendo como pilar a
observância dos princípios positivados no art. 37 da Constituição Federal, como o princípio da
legalidade:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos poderes da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade,
moralidade e eficiência e, também, ao seguinte: O princípio da legalidade norteia toda a atividade
da Administração Pública e demonstra que a Câmara de Vereadores é obrigada a cumprir o
comando normativo por si aprovado inclusive na execução dos atos administrativos que
concretizam o mandamento abstrato previsto em lei, de forma vinculada, não sendo possível
aceitar a modificação do resultado de uma eleição por episódios circunstanciais ou mesmo
caprichos. De certo que, os eleitos para a perda de sua função, conforme previsão no Regimento
Interno imprescinde de formalização de processo de destituição, estabelecido nos art. 23 e 24 do
Regimento Interno

Art. 23. É passível de destituição o membro que exorbite de suas atribuições ou delas se omita,
mediante processo regulado nos artigos seguintes (...)

Art. 24. O processo de destituição terá início por representação subscrita por, no mínimo, um
terço dos Vereadores, necessariamente lida em Plenário, na fase do Expediente, com ampla e
circunstanciada fundamentação sobre as irregularidades imputadas.

Assiste razão o impetrante, com efeito, como visto no próprio requerimento de novas eleições, o
requerente não imputa qualquer irregularidade praticado por nenhum dos componentes eleitos da
mesa e sequer é seguido o rito previsto no Regimento Interno, por esse motivo não há
possibilidade do afastamento do impetrante da função à qual foi devidamente eleito.

Assinado eletronicamente por: JOSE FRANCISCO DE SOUZA FERNANDES - 13/02/2023 12:28:04 Num. 84795026 - Pág. 3
https://pje.tjma.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=23021312280415700000079169382
Número do documento: 23021312280415700000079169382
Por todo exposto, e com base na fundamentação supra, DEFIRO A LIMINAR vindicada e,
estando o feito maduro para o julgamento, CONCEDO A SEGURANÇA nos termos do
artigo 5°, LXIX da CRFB/1988 e artigo 1° da lei 12.016/2009, tornando sem efeito a eleição
sub judice, determinando o retorno ao status quo ante e evitando a nulidade dos atos
vindouros da Câmara de Vereadores de Campestre do Maranhão praticados por mesa eleita
irregularmente.

Sem custas e honorários, a teor do previsto no art. 12, inciso I, da Lei estadual nº. 9.109/2009 e
art. 25 da Lei federal nº. 12.016/2009.

Intimem-se as partes.

Após o trânsito em julgado, arquivem-se os presentes autos com as cautelas de estilo.

Publique-se. Registre-se. Intime-se. Cumpra-se.

Porto Franco. datada e assinada eletronicamente.

José FRANCISCO de Souza FERNANDES

Juiz de Direito

Assinado eletronicamente por: JOSE FRANCISCO DE SOUZA FERNANDES - 13/02/2023 12:28:04 Num. 84795026 - Pág. 4
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